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A ADOÇÃO DE CRIANÇAS NO BRASIL: OS ENTRAVES JURÍDICOS E INSTITUCIONAIS Raquel Antunes de Oliveira Silva RESUMO O objetivo deste trabalho de pesquisa é analisar a política de adoção de crianças no Brasil por meio de entrevistas e interações feitas com algumas famílias adotantes e especialistas que atuam na área de adoção, delineando o percurso evolutivo do processo por meio da modificação do ordenamento jurídico. Buscando nas histórias levantadas como se desenvolveu o processo, bem como a singularidade de cada caso. A pesquisa privilegia especialmente a questão da adoção no Brasil, propõe uma abordagem do tipo qualitativa, história oral, com foco em depoimentos, tendo como referência pessoas envolvidas no movimento de adoção, as quais fazem parte do meu convívio, sendo 3 (três) casos na cidade de São Paulo, SP e 1(um) em Alpinópolis, MG, assim como 2 (duas) especialistas que atuam na área de adoção da cidade de São Paulo, SP. Foram realizadas entrevistas, e seus resultados submetidos à análise de conteúdo que envolveu descrição e discussão. Toda a pesquisa atendeu aos princípios metodológicos e à fundamentação (teórica e prática) da Psicologia Educacional. Tem como ponto de partida o ECA e a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, que dispõe sobre adoção; que alterou os dispositivos legais ainda em vigência no Brasil em 2009. Todas essas modificações configuram uma evolução na questão da adoção no Brasil dando a sua prática um novo formato a adoção como meio para a desinstitucionalização da criança, garantindo-lhe as condições de exercício de seu direito ao carinho, ao acolhimento e atenção pessoais e prolongados, para que desenvolva bons relacionamentos e comportamentos sociais que são proporcionados no convívio familiar equilibrado e num convívio justo. Além de que a adoção oferece condições para que vários indivíduos realizem o sonho de construírem uma família, de serem pais e mães e, acima de tudo, para que crianças possam ser filhos e a conviver em família. Palavras-Chave: Adoção, Criança, Família, ECA.

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A ADOÇÃO DE CRIANÇAS NO BRASIL: OS ENTRAVES JURÍDICOS E INSTITUCIONAIS

Raquel Antunes de Oliveira Silva

RESUMO O objetivo deste trabalho de pesquisa é analisar a política de adoção de crianças no Brasil por meio de entrevistas e interações feitas com algumas famílias adotantes e especialistas que atuam na área de adoção, delineando o percurso evolutivo do processo por meio da modificação do ordenamento jurídico. Buscando nas histórias levantadas como se desenvolveu o processo, bem como a singularidade de cada caso. A pesquisa privilegia especialmente a questão da adoção no Brasil, propõe uma abordagem do tipo qualitativa, história oral, com foco em depoimentos, tendo como referência pessoas envolvidas no movimento de adoção, as quais fazem parte do meu convívio, sendo 3 (três) casos na cidade de São Paulo, SP e 1(um) em Alpinópolis, MG, assim como 2 (duas) especialistas que atuam na área de adoção da cidade de São Paulo, SP. Foram realizadas entrevistas, e seus resultados submetidos à análise de conteúdo que envolveu descrição e discussão. Toda a pesquisa atendeu aos princípios metodológicos e à fundamentação (teórica e prática) da Psicologia Educacional. Tem como ponto de partida o ECA e a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, que dispõe sobre adoção; que alterou os dispositivos legais ainda em vigência no Brasil em 2009. Todas essas modificações configuram uma evolução na questão da adoção no Brasil dando a sua prática um novo formato – a adoção como meio para a desinstitucionalização da criança, garantindo-lhe as condições de exercício de seu direito ao carinho, ao acolhimento e atenção pessoais e prolongados, para que desenvolva bons relacionamentos e comportamentos sociais que são proporcionados no convívio familiar equilibrado e num convívio justo. Além de que a adoção oferece condições para que vários indivíduos realizem o sonho de construírem uma família, de serem pais e mães e, acima de tudo, para que crianças possam ser filhos e a conviver em família. Palavras-Chave: Adoção, Criança, Família, ECA.

ABSTRACT The general objective of this research is to analyze Brazilian policy for adoption of children through interviews and interactions with some adopting families and experts who work in the adoption field, outlining the evolution course of the process by changing the legal system. Seeking through the stories searched both how the process was developed as well as the singularity of each case. The research focuses especially on the issue of adoption in Brazil, It proposes a qualitative, oral history methodology, based on personal depositions taken from people involved in the movement of adoption, the ones who are part of my living: 4 (four) cases in São Paulo, SP, and 1 (one) in Alpinópolis, MG, plus 5 (five) experts working in adoption field of São Paulo city, SP. Interviews will be conducted, the results will be submitted to content analysis which will involve description and discussion. All research will comply with methodological principles and grounding (theoretical and practical) of Educational Psychology. It has a starting point in ECA (Child and Adolescent Statute) and Law No. 12010 of August 3rd, 2009, which rules for adoption and changed the legal provisions still in effect on Brazil in 2009. All these changes comprise a development on the issue of adoption in Brazil giving its process a new format - the adoption as a way of de-institutionalization of children, assuring them of the conditions for exercising their right to love, to acceptance, to personal attention and similar, aiming at developing good relationships and social behaviors that are provided by balanced family and fair living. Besides, adoption offers conditions for many people to achieve the dream of raising a family, being fathers and mothers and, foremost, adoption provides for children the condition of, not only being offspring, but also having family life. Keywords: Adoption, Child, Family, ECA.

INTRODUÇÃO

Após ter adquirido os meus dois títulos Pedagoga e Psicopedagoga e como

pesquisadora na área de Psicologia Educacional, mergulhada no mundo do saber e

com a minha vida profissional a todo vapor, necessitei dar uma pausa aos meus

trabalhos, mas, o motivo foi maravilhoso, eu e minha família fomos agraciadas com a

vinda de mais um filho, ganhei “literalmente” meu filho caçula, nasceu no nosso

âmbito familiar no dia 05 de dezembro de 2003, com trinta e cinco dias de vida,

2.950gr. e 51cm, o Du, interrompeu prazerosamente todas as atividades cotidianas

da família.

A adoção transformou nossas vidas e a dedicação integral aos cuidados de

meu filho se transformaram em prioridade na minha vida, ou seja, por hora minha

pesquisa tinha ficado em segundo plano e sem arrependimentos.

Não sabia que estava imersa a uma questão tão necessitada de pesquisa de

cuidados. Passado um tempo, regressei aos trabalhos junto dos membros da equipe

do projeto de Encontros de Equipe Técnicas de Unidade de Atendimento Social,

retornando ao convívio acadêmico, nesta época meu menino já completara seis

anos de idade.

Numa conversa muito aberta e marcante um grande amigo me perguntou se

eu não gostaria de dar continuidade ao Mestrado e me propôs pesquisar o tema que

vivenciava há seis anos “a adoção”. Seria um retorno ao Curso de Mestrado em

Psicologia Educacional do Unifieo, achei o convite bastante interessante e ousei

atende-lo, sabendo que teria que recomeçar, pois era uma nova área de

conhecimento.

Durante algum tempo acompanhei a pesquisa de dissertação de Mestrado da

pesquisadora Juliana Gama Izar (p.20, 2010),que enfatizava a evidência da

necessidade de capacitar os funcionários técnico dos abrigos, cujas equipes eram

formadas, na maioria das vezes por psicólogos e assistente sociais, sendo rara a

participação de um pedagogo em sua composição. Essa questão levou a formação

de uma rede de trabalho, a qual tive a honra de fazer parte, que atendeu seis

abrigos do estado de São Paulo, um grupo de especialistas coordenado pelos

Professores Doutores Roberto da Silva (FE-USP) e João Clemente Souza Neto

(UNIFIEO), desenvolvendo as seguintes temáticas: A Metodologia Sistêmica;

História da Criança Brasileira; O Trabalho do Técnico: a utilização do genograma e

do sociodrama; Abrigo: história, família e comunidade; A História das Entidades

Sociais no Brasil; O trabalho com a Família.

Penso que neste momento a pedagogia Social tinha iniciado seus trabalhos

na Faculdade de Educação da USP, tendo como “pai idealizador brasileiro” o Prof.

Dr. Roberto da Silva1

Na sequência dos trabalhos do grupo, a partir de então constituído, foram

idealizados e realizados os três Congressos de Pedagogia Social e (I, II e III CIPS),

assim como à essa organização do IV CIPS, que está em pleno acontecimento.

Com a escolha do tema adoção e evolvida e influenciada por tantos casos

existentes a minha volta e pela própria experiência de vida vi-me capaz de seguir

com a proposta da pesquisa.

A adoção no Brasil é tema, hoje, muito debatido, porém há muito o que ser

feito para ajustar o sistema, apesar das várias mudanças já ocorridas.

Dados atuais do Jornal do Brasil, edição de 04/07/2011, online, registra que

mais de 500 crianças já foram adotadas por meio do Cadastro Nacional de Adoção

(CNA) que vem sendo apoiado e mantido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

que regulariza o processo em todo o país. Não posso considerar este o retrato

espelhado de todo o território brasileiro, mas posso considerar um recorte do

território, o que nos faz refletir sobre os dados. Esses trazem informações do final do

mês de junho/2011 e se refere apenas às adoções realizadas pelo sistema, também

nesta edição é registrado o número de 4.685 de crianças e adolescentes disponíveis

para adoção. Assim como 27.052 pessoas estão inscritas no sistema Unificado para

Adoção no Brasil, deste número 22.451 deixaram claro o desejo de adotar crianças

com até um ano de idade, somente 8.834 dos pretendentes inscritos aceitam

crianças negras e 22.201 não querem adotar irmãos. Esses dados, ainda, nos

revelam que apesar de muito se falar sobre adoção, das diversas campanhas

dirigidas à população, ainda existem muitas crianças necessitadas de um lar de uma

família

Este trabalho visa acompanhar uma pesquisa qualitativa, histórica oral, foram

entrevistadas 4 (quatro) famílias adotantes e 2 (dois) especialistas da área de

adoção. Esta análise visa alertar para a necessidade da adoção que ameniza a

1 SILVA, Roberto da. Professor Associado da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

situação dos abrigos, que são poucos para atender à demanda de crianças e

adolescentes necessitadas, cujo direito de convívio familiar é estabelecido por lei.

Tendo como problematização o seguinte questionamento: “Como as famílias

percorrem o caminho da adoção, enfrentando os rituais jurídicos e psicológicos do

processo de adoção no Brasil?”.

A pesquisa tem objetivo não de trazer soluções, mas sim de levantar

questionamentos que levem a discussão e reflexão sobre as possibilidades de

ajustamento em pró da necessidade das várias crianças abrigadas e cadastradas no

sistema de adoção, assim como analisar e refletir sobre a história da adoção de

crianças no Brasil e os caminhos percorridos por famílias que optaram pela adoção,

quer seja ela de qualquer classificação ou natureza; além de ponderar quais foram

os rituais jurídicos e psicológicos deste processo.

DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS

A família como espaço de formação da criança

A criança ao nascer necessita de proteção da mãe para que consiga

desenvolver seu emocional primitivo, cujas decorrências vão além da fase da

infância. A mãe que não precisa ser necessariamente a que deu a luz, tem papel

fundamental nesse processo.

Essa atuação e/ou interação mãe e filho só se manifesta e se sustenta num

ambiente familiar é nele que a mãe e filho encontram espaço favorável para

estabelecer a construção do desenvolvimento emocional. As diversas afetividades

que se instalam no ambiente familiar produzem as condições favoráveis ao

processo.

A convivência familiar é fundamental para que a criança se adapte a vida em

sociedade, seus valores e a sua solides prepara as relações com as adversidades

culturais e sociais, características do período de maturidade.

A idéia de família tem se modificado ao longo dos anos, a família não é mais

somente um sinônimo de família patriarcal e extensa, típica do período colonial,

instituição vertical baseada no parentesco, em lealdades pessoais e na

territorialidade, conforme constatou Paulo Freire (1993).

Na verdade, família é uma construção sócio-cultural que se transforma, agregando elementos novos, que libera de outros e que

altera no tempo e no espaço os seus modelos e atitudes, fatores que contribuem para o que se chama de definições de fam´lia. ...são construídas dentro de contextos históricos específicos, que lhes dão características culturais especiais, de acordo com os valores, a cultura, a crença e os hábitos predominantes nesses contextos.(Em defesa da convivência familiar e comunitária, 2004).

É através da família que a criança obtém um ambiente adequado para a

prendizagem empírica, podendo chegar ao desenvovimento físico cognitivo afetivo e

social adequado.

Tendo a família papeis tão importantes, ela merece que a observemos dentro

do seu contexto sócio-econômico, de sua época e de seus aspectos étnicos e

religiosos.

A família é considerada de extrema importância para assegurar a

sobrevivência dos filhos, os seres humanos, ao nascer não tem capacidade de suprir

suas necessidades, é a família que se encarrega de suprir as necessidades

primárias, quais sejam: alimentação, segurança, saúde, afeto etc.

É no espaço familiar, através do convívio, da troca de afetos e dos diálogos

que a criança absorve os valores éticos e humanitários e onde os laços de

solidariedade se enraizam propiciando a construção dos valores culturais. A falta de

afeto pode prejudicar o desenvolvimento emocional do bebê e dos demais membros

da família.

...é importante que a família repense sua forma de organização a fim de ajudar a criança na superação das dificuldades, buscando, se necessário, as contribuições de profissionais capacidados. RODRIGUES E ROSIN (2007).

A família deve também, constantemente refletir e dialogar, em conjunto sobre

a sua forma de agir com a criança, pois há inúmeras intervensões externas,

advindas da comunidade, que afetam o desenvolvimento de todos os seus

membros.

Os rompimentos afetivos e suas consequências

Para falar sobre os rompimentos afetivos, é importante dar uma breve

explanação sobre a formação dos vínculos afetivos e a importância desses para o

indivíduo. Segundo WINNICOT, (2008) a construção do sujeito emocionalmente

saudável se dá desde o nascimento, através da mãe, ou de seu cuidador.

Ainda WINNICOT (2008), diz que a boa ou a má formação dos vínculos

afetivos da criança dependem da dedicação constante daquele que cuidará do bebê

Os rompimentos afetivos por variados motivos, falecimento, viagem,

separação de casais, opção de vida, enfim, são tantos os fatores que implicam na

separação de entes queridos e/ou entre sujeitos e esses fatores muitas das vezes

implicam em problemas, transtornos emocionais que afligem os indivíduos durante

toda a sua vida, algumas vezes imperceptíveis, outras facilmente detectadas a

“olhos nus”.

Dificilmente uma criança privada do convívio familiar desenvolverá a sua

identidade pessoal necessária para o convívio em sociedade.

Da institucionalização à adoção

Atualmente aproximadamente 80 mil crianças e adolescentes vivem em

abrigos no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

São crianças, adolescentes e/ou jovens que enfrentam problemas de

violência, negligência e abandono; colocadas nas instituições, chamadas abrigos,

por motivos variados (carência financeira da família, abandono, doença dos pais,

prisão dos pais ou responsáveis, orfandade, abuso sexual, mendicância e violência

doméstica etc.) alojados, pois em tais instituições, crianças, adolescentes e jovens

que convivem com uma realidade que nem sempre é percebida pela sociedade.

Também as crianças que hoje habitam em abrigos não são somente aquelas

abandonadas pelas próprias famílias, parte delas são crianças que saíram de suas

casas e viveram experiências de vida pelas ruas e rejeitam a sua própria família.

Não que tenham esquecido ou deixado de valorizar a convivência familiar, mas não

querem se sujeitar aos conflitos familiares que viviam. Outra questão que pode levar

a criança a ser abrigada é a tentativa de seus responsáveis tentar livrá-las do

envolvimento com as drogas.

Com a intervenção do ECA, na década de 90, os abrigos passaram a lutar,

através de ações por parte da sua equipe, para que seus abrigados tivessem retorno

às famílias.

Retrospectiva e história da adoção

Conforme consta no site do Ministério Público/RS: Adoção passo a passo, a

definição da origem da palavra adoção vem do adoptare que significa escolher,

perfilhar, dar o seu nome a, optar, juntar, desejar. Do ponto de vista jurídico, a

adoção é um procedimento legal que consiste em transferir todos os direitos e

deveres de pais biológicos para uma família substituta, conferindo para

crianças/adolescentes todos os direitos e deveres de filho, quando e somente

quando forem esgotados todos os recursos para que a convivência com a família

original seja mantida.

Já no Direito Romano, encontramos o seguinte conceito: “adoptio est actus

solemnis quo in loco fili vel nepotis adscicitur qui natura talis non est”, ou seja: a

adoção é o ato solene pelo qual se admite em lugar de filho quem pela natureza não

é. (RODRIGUES, 1995. p. 22.).

Com o passar dos tempos os conceitos foram se modificando, sendo

definidos pelas várias culturas existentes.

Um dos conceitos mais abrangente de aspecto social, afetivo e moral,

encontrei nas palavras de João Seabra Diniz (2010):

Podemos definir a adoção como inserção num ambiente familiar, de forma definitiva e com aquisição de vínculo jurídico próprio da filiação, segundo as normas legais em vigor, de uma criança cujos pais morreram ou são desconhecidos, ou, não sendo em o caso, não podem ou não querem assumir o desempenho das suas funções parentais, ou são pela autoridade competente, considerados indignos para tal. (DINIZ, 2010, I, p.67)

A adoção hoje, não consiste em dar filhos para aqueles que por motivos de infertilidades não os podem conceber, ou por “ter pena” de uma criança, ou ainda, alívio para a solidão. O objetivo da adoção é cumprir plenamente às reais necessidades da criança, proporcionando-lhe uma família, onde ela se sinta acolhida, protegida, segura e amada. (DINIZ, 2010, I, p.67)

Ainda o ECA define a adoção na Subseção IV. Da adoção. Art. 39. A adoção

de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei.

§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência.

Os primeiros registros encontrados sobre adoção retratam o período Pré-

Romano. A expedição francesa de J. de Morgam, em 1901, descobriu o Código de

Hammurabi, escrito no período da Idade Antiga (ou Antiguidade), que se estendeu

desde a invenção da escrita (4000 a.C. a 3500 a.C.) até a queda do Império

Romano do Ocidente (476 d.C.) e início da Idade Média (século V).

Tal documento, já definia regras sobre a adoção na Babilônia.

...importante fato que se conclui, ao analisar o modo pelo qual a adoção é tratada pelo código em questão, é que, uma vez adotado de modo irrevogável, tinha o filho adotivo os mesmos direitos hereditários do filho natural... Observa-se o forte senso de justiça que possuía o Código de Hammurabi. Da mesma forma que a sociedade babilônia, a hindu também previa em sua legislação, o instituto da adoção. (ALVIM, 1989, pg. 1).

Das leis e crenças religiosas dos egípcios, dos persas, dos hebreus e,

posteriormente dos gregos e romanos decorria, para as famílias, a necessidade de

terem um filho afim de que o culto doméstico, considerado como a base da

organização familiar, não corresse o risco de se extinguir. A adoção era, pois, uma

necessidade. Contudo, já na Antiguidade, ela vinha seguida de muita perversidade,

resultante do conjunto das crenças e da cultura da época.

A História mostra que há um grande número de registros referentes à questão

adoção, sobre os quais os pesquisadores se baseiam para aprofundar seus estudos

(ALVIM, 1989). Nesses registros encontramos os sujeitos personagens que

protagonizam as várias histórias, o adotante e o adotado.

Moisés, a figura majestosa do Antigo Testamento (Bíblia Sagrada, Êxodo

2,10), o grande líder e legislador, que trouxe aos homens a Revelação de Deus, na

cultura judaica e cristã, nas tábuas dos Dez Mandamentos, conhecido também como

“filho das águas”, por ter sido abandonado num cesto às margens do Rio Nilo, foi

adotado pela filha do faraó e criado como membro da corte egípcia.

Dentro, também do contexto cristão menciono o adotante José, (Bíblia

Sagrada, Novo Testamento, São Matheus I). Personagem célebre do Novo

Testamento Bíblico que foi designado por Deus para se casar com Maria, mãe de

Jesus, a quem adotou como filho. Hoje é conhecido, no catolicismo, como São José,

tendo sido proclamado “protetor da Igreja católica romana”.

José é um pobre carpinteiro noivo da jovem Maria. Certo dia é chamado pelo Rei Herodes para trabalhar em uma distante terra. Quando retorna recebe a notícia de que sua futura esposa está grávida do Espírito Santo. Ele, não querendo difamá-la, resolve deixá-la secretamente. Mas numa noite, em sonho, lhe aparece um anjo do Senhor. Ele lhe diz para desposar Maria que dará à luz ao filho de Deus. (Bíblia Sagrada, 2003)

Não se pode deixar de mencionar o período da dominação de Napoleão

Bonaparte, na França, que constitui outro marco na história da adoção. Primeiro

código moderno a regulamentar o instituto, nele a adoção possui um forte caráter

político uma vez que Bonaparte, figura forte politicamente, não possuía filhos e

precisava de um herdeiro para seu trono. (VARGAS, 1998)

Nos tempos atuais encontramos algumas histórias fictícias como a do herói

“Super-homem”, personagem da literatura infantil, que foi abandonado, para sua

proteção, pelos pais biológicos do Planeta Kripton e fora adotado e criado por um

casal de humanos. Passa então, a proteger os seres humanos dos perigos, por

possuir super-poderes (VARGAS, 1998). Ou ainda nas produções da Walt Disney,

constamos alguns outros personagens: o Rei Leão – adotado pela dupla: Timão, um

rato do deserto e Pumba, um porco selvagem, animais de outra espécie, que cuidam

do novo integrante da família para que plenamente se desenvolva. (VARGAS, 1998).

Também, uma produção de cinema, de elevada crítica, pela sua peculiaridade, é o

filme “O pequeno Stuart Little”. A história de um garoto de 9 anos que reluta em

aceitar a idéia dos pais de adotar um rato como filho. No filme a historia inicia em um

orfanato e o ratinho Stuart é um dos abrigados da instituição. Este personagem

procura seu lugar no mundo e algo que possa chamar de lar, num universo que é

definitivamente gigantesco para ele. A história tem final feliz e o ratinho é adotado

pela família a qual desenvolve grande afetividade. Estas duas últimas produções

cinematográficas trás a reflexão sobre as vivências possíveis e o respeito às

diferenças de raça, cor, etnia etc.

São histórias que abordam a questão de forma literária e nos remetem a

refletir sobre as reais situações dos seres envolvidos nesse processo, e é neste

momento que incluo mais um personagem como protagonista das histórias a mulher

que abandona seu filho.

O fato de mulheres entregarem o filho que conceberam em adoção cria problemas de várias ordens, sejam éticas, institucionais, socioculturais. (MOTTA, 2005).

Essas protagonistas que ocupam papéis tão secundários nas histórias,

merecem toda atenção da sociedade, pois muitas dessas mães abandonam e/ou

entregam seus filhos por absoluto sentimento de incapacidade de criá-los e os

motivos dessa incapacidade podem sociais, financeiros, psicológicos, enfim são

tantos os motivos que podem levar uma mulher a abdicar de seu filho e muitas

vezes esses motivos fogem do entendimento da sociedade em geral.

A falta de investigação em nosso meio científico a respeito das mães que entregam seus filhos em adoção nos torna carentes não só de dados que permitam formular alguma idéia sobre o que significou para elas a separação desse filho, mas também de como evoluiu sua vida após terem se separado da criança, ou seja, não conhecemos seu luto nem seu modo de lidar com ele.

A ADOÇÃO NO BRASIL

No Brasil, no segundo e terceiro séculos de colonização as crianças

concebidas fora do casamento e ou filhas de moças brancas e solteiras, de família

de classe média alta, eram abandonadas em calçadas, florestas, terrenos baldios e

praias, esse tipo de abandono chamado de abandono selvagem teve um número

considerável de ocorrências.

Para controlar o abandono selvagem a igreja católica instaurou a Roda dos

Expostos. As crianças eram depositadas na Roda dos Expostos e eram acolhidas

pelas Santas Casas de Misericórdia, garantindo o sigilo sobre as mães biológicas

das crianças, normalmente as brancas solteiras de classe média. Neste período os

preceitos e as regras que orientavam a organização familiar, eram os do

cristianismo. A procriação fora do casamento era recriminada e ficavam sujeita a

sanções, tanto religiosas como sociais.

Se na época colonial as crianças eram abandonadas porque eram geradas

fora dos preceitos da moral cristã, hoje, ao abandono somaram-se novos motivos - a

inexistência de programas sociais que orientem sobre planejamento familiar, a falta

de instrução sobre o uso de métodos anticonceptivos, ou ainda a falta de auxílio de

qualquer espécie, seja moral, afetivo ou econômico, às famílias.

O Código Civil Brasileiro, de 1916, estipulou que somente poderia adotar o

maior de 50 anos, sem descendentes legítimos ou legitimados, e desde que fosse,

pelo menos, 18 anos mais velho que o adotado (art. 368 e seguintes).

A adoção internacional, por sua vez, aparece como prática regular, após a

Segunda Guerra Mundial, em face da existência de multidões de crianças órfãs, sem

qualquer possibilidade de acolhimento em suas próprias famílias. Crianças da

Alemanha, Itália, Grécia, do Japão, da China e de outros países foram adotadas por

casais norte-americanos e europeus. Segundo o Serviço Internacional de Adoção,

milhares de crianças foram encaminhadas para o exterior sem que tivessem os

documentos indispensáveis à regularização de sua cidadania. Das crianças

adotadas na Itália, entre 1985 e 1990, quase 80% eram provenientes da América

Latina. Já na França, das 5.348 crianças adotadas, entre 1990 e 1992, 21% eram

brasileiras (COSTA, 1998).

O descontrole, os abusos verificados, especialmente a venda e o tráfico

internacional de crianças, no país de origem e no de acolhida, fez nascer à

necessidade de serem estabelecidas normas eficazes de garantia das adoções e de

proteção aos infantes.

A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e a saúde; mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. (ECA, Art. 7, Cap. I)

Na América Latina, as mudanças legislativas tiveram início no final da década

de 1980, buscando atender aos princípios da Convenção das Nações Unidas sobre

os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em

20.11.89. Passou-se a considerar a criança como sujeito de direitos, afirmando o

seu direito a ter um nome, a partir do nascimento, assim como o direito a ter uma

nacionalidade; o direito de conhecer e conviver com seus pais, a não ser quando

incompatível com seu melhor interesse; afirmando o caráter excepcional da adoção

internacional, entre tantas outras disposições que vêm elencadas em seus 56

artigos, dos quais destaco dois dos artigos da I Parte do Documento:

Art.1 Para efeitos da presente convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes. Art.2 1 – Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de sexo, idioma, crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional, étnica ou social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da criança, de seus pais ou de seus representantes legais.

Questões referentes ao abandono e a adoção de crianças e adolescentes

deveriam fazer parte das reflexões e proposições acerca da política social brasileira.

Desde que o Brasil foi descoberto, e ainda durante o período de colonização

portuguesa, ações referentes à prática do abandono e da adoção começaram surgir.

Contudo, as ações do Estado em relação a tais práticas, sobretudo em relação à

adoção e/ou colocação de crianças e adolescentes em famílias substitutas, sempre

atenderam aos interesses daqueles que não poderiam gerar biologicamente seus

próprios filhos em detrimento dos interesses das crianças e adolescentes

disponibilizadas para adoção.

Pode-se dizer que a Roda dos Expostos oficializou e institucionalizou o

abandono no Brasil. A fundação de instituições-abrigo de níveis federal e estadual

como a FUNABEM e a FEBEM, tornaram ainda mais degradante a situação das

crianças e adolescentes abandonados que, uma vez institucionalizados, passaram

por processos de subjetivação extremamente comprometedores. A subjetivação

ocorre quando há uma ruptura do indivíduo com a sua história não só

transgeracional, mas também com a história humana, diz Roberto da Silva (2003).

A situação da criança brasileira pobre é ainda mais agravada pela

circunstância de sua história revelar um processo de contínuo maus tratos,

abandono, brutalidade, violência, fome, abuso sexual, exploração no trabalho,

privação de lazer, perambulação por ruas e praças, extermínio, mortalidade precoce.

Afirma João Clemente de Souza Neto (2003, p.73.)

Esses fatos, para nós, caracterizam um quadro de política de genocídio. Alguns autores têm constatado que tanto a criança quanto o adolescente são as principais vítimas do processo de acumulação capitalista. Sua condição não é melhor do que a dos trabalhadores, com o agravante de serem pessoa em desenvolvimento.

A falta de políticas sociais bem fundamentadas para assegurar os direitos

sociais da infância e da adolescência, acaba tendo por consequência uma política

de genocídio. Em busca de soluções para a situação da criança brasileira, o governo

cria Leis ou altera as existentes, assim como cria programas de ação social, porém,

não são suficientes para resolver todas as questões a que estão sujeitas as crianças

oriundas de famílias de baixa renda, conforme aponta Souza Neto (2003, p.74):

Provavelmente, a primeira grande Lei que procurou defender os direitos das crianças tenha sido a Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871. [...]... iniciou um processo de libertação e essa é sua peculiar importância.

Segundo Roberto da Silva (2003), os Códigos dos Menores de 1927 e o de

1979, ao darem ao juiz pleno poderes os direitos de pátrio poder, de tutela, de

legitimação dos filhos ilegítimos, constituíram-no como figura responsável por

normatizar e intermediar as relações de pais e filhos de famílias desestruturadas e

precárias com o Estado.

E devido ao grande índice de abandono o Código Penal, datado de 1940,

ainda em vigor, estabeleceu penas de detenção de seis meses a três anos ao

genitor que abandonasse crianças, aumentando a pena de reclusão de um a cinco

anos, se do abandono resultassem lesões corporais de natureza grave, e se o

abandono causasse a morte da criança, a pena era de quatro a doze anos,

agravada se o abandono ocorresse em lugar deserto onde não fosse possível o

socorro da criança.

Repensar a questão do abandono e da adoção de crianças e adolescentes,

hoje, significa dar passos no sentido de re-significar valores, desmitificar crenças

limitantes e reconsiderar, acima de tudo, o interesse da criança e do adolescente.

ECA - Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990 - Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.

Nos termos do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (Cap. III, Art. 19)

assiste às crianças e aos adolescentes o direito de serem criados e educados “no

seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta”

OS TIPOS DE ADOÇÃO NO BRASIL

Conforme mostra a Cartilha da Associação dos Magistrados Brasileiros AMB -

existem alguns tipos de adoção mais conhecidos:

A adoção tardia que se refere à adoção de crianças maiores ou de

adolescentes. O que nos faz pensar que a adoção seja uma prerrogativa de recém-

nascidos e bebês e de que as crianças maiores seriam adotadas fora de um tempo

ideal. Desconsidera-se, com isso, que grande parte das crianças em situação de

adoção tem mais de 2 anos de idade e que nem todos pretendentes à adoção

desejam bebês como filhos. O termo Adoção tardia tem uma desigualdade de

interpretações sobre idades. Há quem fale em 2 anos como idade limite, e há quem

fale em a partir de 5 ou 6.

A adoção pronta e direta, ou Intuitu Personae é aquela em que a mãe

biológica decide para quem deseja entregar o seu filho. Na maioria dos casos, a

mãe procura a Vara da Infância e da Juventude, acompanhada do pretendente à

adoção, para legalizar um convívio que já esteja acontecendo de fato. É um tema

bastante polêmico, há juízes que entendem que a adoção pronta é sempre

desaconselhável, pois é difícil avaliar se a escolha da mãe é voluntária ou foi

induzida ou se os pretendentes à adoção são adequados, além da possibilidade de

uma situação de tráfico de crianças. Esse tipo de adoção, também é muito comum

no Brasil visto que as maiorias dos casais que não podem ter filhos querem adotar

crianças recém nascida, branca e com boa saúde. E muitas mulheres, no final da

gravidez, desvendam a intenção de confiar seu filho à adoção, pelo fato de não

terem condições de criar e educar seus filhos, ou mesmo, por não se acharem em

condições de assumir a responsabilidade de serem mães, estabelece contato com

casais, que manifestam o desejo de adotar a criança e, passam a dar às futuras

mães toda a assistência necessária, para que tenham um bom parto e a criança

nasça saudável.

E depois do parto a mãe biológica entrega seu filho ao casal adotante, que,

pode iniciar a pratica da “adoção à brasileira”, em muitos casos os pais adotantes

buscam, por meios legais, a adoção do seu filho, que correm o risco, sem saber, de

ver a criança confiscada e levada para alguma instituição, onde esperará os tramites

da adoção, fato esse que tem ocorrido repetidas vezes.

Os trâmites legais visam atender casais e/ou pessoas, em obediência quanto

à ordem cronológica dos inscritos no Cadastro Único dos Adotantes, que

previamente, se habilitam à adoção, pois já fizeram a sua inscrição junto à Vara da

Infância e Juventude tornando-se pretendentes à adoção.

Com efeito, já no § 1º, da Nova Lei da Adoção, afirma que a intervenção

estatal visa à orientação, apoio e promoção social da família natural, “junto à qual a

criança e o adolescente devem permanecer”. A adoção, segundo esse mesmo

parágrafo, é a última medida a se tomar, na “absoluta impossibilidade” de ficar com

a família.

A lei garante a adoção burocrática determinada pelo Estado, sem qualquer

condição de os detentores do poder familiar escolherem uma família ideal para o

filho que não podem criar, cabendo ao Estado e não aos pais biológicos dizer quem

deve adotar a criança.

Adoção à brasileira é a expressão utilizada para designar uma forma de

procedimento, que desconsidera os trâmites legais do processo de adoção. Este

procedimento consiste em registrar como filho biológico uma criança, sem que ela

tenha sido concebida como tal. O que as pessoas que assim procedem em geral

desconhecem é que a mãe biológica tem o direito de reaver a criança se não tiver

consentido legalmente com a adoção ou se não tiver sido destituída do Poder

Familiar.

A adoção ideal é aquela que possibilita a vida em família, para as crianças e

os adolescentes, de qualquer faixa etária, que não tem lar tenham qualidade de vida

e obtenham o seu desenvolvimento psicofísico, como explicita SILVA, ROBERTO

(2003). Essa uma das mais tocantes definições para a luta contra o abandono de

crianças no Brasil.

A adoção necessária - crianças que possuem perfis geralmente rejeitados

pelos pretendentes à adoção, como as crianças que apresentam idade mais

avançada e/ou problemas de saúde.

A criança, que sofreu ruptura com as figuras às quais esteve vinculada, pode reconstruir o seu eu primário a partir das novas representações dela própria, das quais participará, fundamentalmente, a interiorização das novas imagens parentais. (MALDONADO, 1998)

A Adoção Internacional – ou adoção transnacional é qual acontece quando os

pais adotivos é domiciliado em um país e o adotado domiciliado em outro.

Adoção por pessoa jurídica - Esse tipo de adoção é mais utilizada para

auxiliar financeiramente as pessoas envolvidas, não tem nada haver com a adoção

paterno ou materno-filial, uma relação de pai e/ou mãe e filho. Pela adoção se um

vínculo familiar, que dá origem a sentimentos só existentes entre seres humanos. O

que não está presente nas chamadas pessoas jurídicas.

A Adoção de embriões – nos tempos atuais com a evolução da ciência e da

engenharia genética a questão da fertilização humana assistida está presente,

caminhando para uma necessidade governamental em legislar a questão de adoção

de embrião humano. O tema atualíssimo e de delicada discussão tem movido

estudiosos que implantam debates que visam estabelecer critérios para continuidade

de pesquisas. Tais técnicas conceptivas resolvem a questão da esterilidade do

casal, que terá seu filho, mas, por outro lado, causam graves problemas jurídicos,

sociais, psicológicos, bioéticos e de ordem médica.

A Adoção por homossexual – Para uma melhor compreensão do termo

trazemos a definição de homossexualidade, encontrada no

pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade, que deriva do gregohomos que significa

igual, combinado com a palavra em latim sexus que quer dizer sexo, refere-se a

qualidade própria e inerente de um ser, que se sente atraído fisicamente,

emocionalmente e esteticamente por outro ser do mesmo sexo.

O homossexualismo pode abarcar a união entre dois homens, ou o

relacionamento entre duas mulheres, envolvendo o âmbito sexual. Essa união,

atualmente, é denominada homoafetiva.

Na Lei brasileira não existe qualquer posicionamento à respeito do assunto.

Cabe ainda dizer se no ECA em seu Art. 42. dispõe que “Podem adotar os maiores

de vinte e um anos, independentemente de estado civil”, portanto não é necessário

que o sujeito que pretende adotar seja casado. Além do quê, o art. 43 do referido

estatuto consagra que “...a adoção poderá ser deferida quando apresentar reais

vantagens para o adotante e fundar-se em motivos legítimos.". Qualquer pessoa

seja ela casada, ou solteira, homossexual ou heterossexual, que demonstre ter um

lar respeitoso e tenha disponibilidade afetiva, que comprometa-se com as

responsabilidades de ser pai e/ou mãe, podem adotar.

Este tema é debatido por controvérsias, sendo de intensa preocupação por

parte dos legisladores. Em países, como a Holanda e Dinamarca, já concedem aos

homossexuais o direito não só de se casarem, mas também de adotarem crianças.

Alguns estudos demonstraram, que crianças criadas por casais de homossexuais

receberam uma boa educação e não se tornaram necessariamente homossexuais, o

que é uma preocupação social.

É sabido que a adoção por homossexuais é um tema muito polêmico e a

Sociedade Brasileira ainda apresenta bastante resistência em aceitar tal fato. Porém

é certo que se trata de objeto de intensa exploração por parte da mídia e é provável

que, muito em breve o tema seja legalizado em favor da adoção por parte de

homossexuais.

As pesquisas que trabalham com esse tipo de abordagem precisam levar em

conta os vários sujeitos participantes do processo, ou seja, aquele que quer adotar,

aquele que quer ser adotado ou esta a essa mercê, sem excluir aquele que doa o

sujeito a ser adotado.

CONCLUSÃO

Com intenção de alcançar o objetivo proposto nesta pesquisa, foi realizado

um levantamento bibliográfico com leituras, análise e sistematização dos textos

levantados que buscou analisar a evolução do processo de adoção por meio das

modificações e dos ordenamentos jurídicos, no Brasil.

Também foi elaborado um roteiro com 21 (vinte e uma) perguntas: (ver para

entrevistar 4 (quatro) famílias adotantes e 2 (dois) especialistas (ver anexo 1.2) da

área de adoção. Com a ajuda desse roteiro foi possível identificar as classificações

das adoções realizadas pelas famílias entrevistas, assim como reuniu outras várias

e valorosas informações que dizem respeito ao sentimento daquele que adota,

assim como do adotado.

Para que as entrevistas fossem feitas tive que aguardar a disponibilidade

tanto das famílias adotantes, como dos especialistas. Uma entrevista foi feita em

Alpinópolis, MG, local onde uma das famílias reside e as outras em São Paulo, SP,

onde as outras famílias fixam residência.

Assim que as entrevistas foram feitas, passei a fase da análise e de leitura

assim como de reflexão e interpretação qualitativa, histórica oral, dos dados

colhidos, a partir dos autores que embasam teoricamente esta pesquisa. Explicito

que a presente pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética, e os

roteiros para a realização das entrevistas foram aplicadas com as devidas

autorizações de seus participantes.

Nesta fase final do trabalho busquei a utilização da construção do

Genograma, um método utilizado por técnicos de abrigos.

O PERFIL DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Nessa pesquisa procuramos estudar 4 (quatro) famílias, que se

disponibilizaram as entrevistas, autorizando seu registro, dentre as quais 3 (três) são

de São Paulo, SP e 1 (uma) de Alpinópolis, MG. Assim como, também, contou com

a disponibilidade de 2 (dois) especialistas da área que, também, se submeteram a

entrevista e passaram a devida autorização de registro.

Ao todo, na pesquisa, segundo os dados coletados, registrou-se o total de 10

(dez) participantes, entre pais/mães adotivos de crianças brasileiras heterossexuais

e 2 (duas) especialistas da área, ambas do sexo feminino. Conforme informações

(ver anexo 3.1), os participantes apresentaram idade: 3 (três) entre 31-40 anos de

idade, 4 (quatro) entre 41-50 anos de idade, 2 (dois) entre 51-60 anos de idade, 1

entre 61-70 anos de idade.

O que se refere ao grau de instrução dos entrevistados, (ver anexo 3.2) os

dados nos trouxe as seguintes informações: 2 (dois) participantes tem o Ensino

Fundamental Completo, 4 (quatro) o Ensino Médio, 1 (um) Graduação em

andamento e 3 (três) Ensino Superior com Pós-Graduação.

Quanto ao estado civil dos entrevistados, membros das famílias, (pais e

mães), conforme informações (ver anexo 3.3.), todos são casados. Enquanto as

duas especialistas, uma declarou ser solteira e a outra divorciada. Três famílias

residem na Metrópole em São Paulo, SP e uma em Rural Alpinópolis, MG.

A quantidade, idade e números de crianças adotadas pelas famílias

entrevistadas, temos: o 1º. Casal de MG adotou 2 (duas) crianças, com idade 6 e 8

anos, ambas do sexo masculino, o 2º. Casal de SP adotou 1 (uma) criança recém-

nascida do sexo feminino, o 3º. Casal de SP adotou 1 (uma) crianças recém-nascida

do sexo masculino e o 4º. Casal de SP adotou 3 (três) crianças, com idade de 6, 8 e

9 anos de idade. Totalizando a efetivação de 7 (sete) adoções de crianças

brasileiras, sendo 4 (quatro) do sexo feminino e 3(três do sexo masculino.

O que refere ao tipo de adoção concretizada foi registrado a seguinte

informação: Do total de 7 (sete) crianças, 5 (cinco) adoção foi classificada como

adoção tardia, 1 (uma) foi classificada como adoção pronta e direta e 1 (uma) como

adoção ideal. Numa tentativa de dar maior visibilidade dos sujeitos que

protagonizam essa pesquisa e para perceber alguns elementos do lugar de sua fala

montamos alguns quadros:

Quadro 3.1. – Refere-se à idade dos entrevistados

Idade Quantidade Porcentagem

31 - 40 3 30%

41 – 50 4 40%

51 – 60 2 20%

61 - 70 1 10%

Total 10 100%

Quadro 3.2. – Refere-se ao grau de instrução dos entrevistados

Grau de instrução Quantidade Porcentagem

Ensino Fundamental 2 20%

Ensino Médio 4 40%

Graduação em andamento

1 10%

Graduação - -

Pós-graduação 3 30%

Total 10 100%

Quadro 3.3. – Refere-se ao estado civil dos entrevistados

Estado Civil Quantidade Local de residência Porcentagem

Solteira 1 SP 10%

Casada 8 1 em SP e 8 MG 80%

Amasiada - -

Divorciada 1 SP 10%

Viúva - -

Total 10 10 100%

Quadro 3.4. – Refere-se a quantidade, idade e número de crianças dotadas

Quantidade de crianças adotadas por casal

Idade Quantidade

1º. Casal = 2 6 e 8 anos Masculino

2º. Casal = 1 recém nascida Feminino

3º. Casal = 1 recém nascido Masculino

4º. Casal = 3 6, 8 e 9 anos Feminino

Total 7 7 -

Quadro 3.5. Refere-se ao tipo de adoção realizada

Classificação da adoção Quantidade Porcentagem

Adoção tardia 5 71, 4%

Adoção pronta e direta 1 14, 3%

Adoção à brasileira - -

Adoção ideal 1 14,3%

Total 7 100%

Numa rápida olhada nos quadros acima, apesar de não ser um estudo

quantitativo se percebe um pouco do retrato da família brasileira, nos aspectos das

suas relações afetivas e jurídicas, e mesmo nas questões das faixas etárias. Outra

questão que apresentam e que são casais um pouco mais velhos, já não são jovens,

os que adotaram são casados, ou seja tem as suas relações juridicamente

equacionadas, os outros dois que responderam que não são casados são os

especialistas.

Neste estudo há uma tendência para a adoção tardia, que são as crianças

mais velhas, ressalto aqui que este é um conceito jurídico, isto é são crianças acima

de 7 anos de idade, não sei se isso é relevante para a vida de uma pessoa. O s

outros dois casos um 1 é direta e a outro ideal. Nesse aspecto contraria um pouco

as projeções de que a maior parte das adoções são ideais, ou seja, adoções de

recém-nascido.

As entrevistas mostram que as pessoas estavam atrás de fazerem adoção

ideal, mas ao terem contato com as crianças mudaram a sua percepção e a sua

forma de generosidade optando pela criança que precisava de ajuda adoção tardia.

Para entender melhor essas famílias que buscaram a adoção, como forma de

realização familiar, aplicamos em cada uma a técnica do genograma, para visualizar

um pouco a sua trajetória:

O genograma é um mapa utilizado pelos técnicos de abrigos, para verificarem

as reais possibilidades da criança permanecer junto aos seus familiares

consanguinios e os outros mais próximos:

A primeira família, que identificamos no genograma, como Família 1, a

adoção foi classificada como adoção tardia, envolvendo duas crianças do sexo

masculino, residentes em Alpinópolis, MG, em bairro rural, conforme registrado no

genograma é o caso de dois irmãos, que foram adotados quando tinham 6 e 8 anos,

o casal adotante não tiveram filhos biológicos. Declararam ter na família outros

casos de adoção por parte de tios, quando se decidiram pela adoção procuraram o

Conselho Tutelar e foram encaminhados a Vara da Infância e Juventude para

fazerem a inscrição no Cadastro de adoções. Já tinham um perfil de criança

desejado, que era um recém-nascido, mas quando se depararam com o caso dos

dois irmãos, mudaram de idéia quanto ao perfil da criança. Durante o processo de

adoção fizeram duas entrevistas com assistente social e uma com o juiz da comarca.

Não lhes foram indicado nenhum grupo de discussão sobre adoção, assim como

não foi feita nenhuma visita domiciliar, nem antes da adoção nem depois. Depois de

decidirem ficar com as duas crianças em apenas uma semana já os levaram para

casa. O casal está com a guarda provisória por tempo indeterminado, mas adoção

definitiva ainda não saiu. A maior dificuldade do casal foi lidar com os traumas das

crianças que os deixavam muito nervosos, trazendo problemas de saúde, familiar e

social principalmente na escola onde estudavam, tiveram que pagar vários

especialistas da saúde física e mental para os dois. Os pais adotivos disseram que

apoiarão os dois filhos se quiserem buscar a as suas raízes. A sugestão que deram

para o governo é que todo criança quando adotada deveria ter ajuda financeira para

que os pais adotivos possam arcar com as despesas que serão gastas com os

vários especialistas que, com certeza deverão consultar.

Nesta segunda família identificada no genograma como Família 2, registra

uma adoção ideal, envolvendo uma criança do sexo feminino, residentes em São

Paulo, SP, é o caso de adoção de uma recém-nascida, cujos pais não tinham na

época da adoção filhos biológicos, depois de quatro anos de casados e três abortos

naturais, decidiram pela adoção, na época, 1978, como não tinham informações

como deveriam proceder, procuraram o Juizado de Menores, foram muito bem

recebidos e orientados. Tinham um perfil de criança desejada, menina, recém-

nascida, fizeram 2 entrevistas com a assistente social, tiveram uma visita domiciliar,

somente antes da criança chegar, aguardou 7 meses para a serem chamados para

verem a filha adotiva. Não foi indicado a eles nenhum grupo de discussão sobre

adoção. Conforme a criança foi crescendo eles foram contando para ela que ela era

dotada, após um ano que estavam com a criança, tiveram seu filho biológico do sexo

masculino, depois de alguns anos tiveram o terceiro filho, também do sexo

masculino, e também biológico, todos sabem sobre a adoção e nunca apresentaram

nenhum problema quanto a questão. No final da entrevista declarara que é

necessário dar muito amor, somente assim a criança adotada deixa a rebeldia.

Na terceira família classificada no genograma como Família 3, a adoção foi

classificada como adoção pronta e direta, que envolve um recém-nascido do sexo

masculino, cujos os pais já tinham dois filhos biológicos do sexo feminino, a primeira

com 20 anos e a segunda com 12 anos. Declaram que sempre conversavam a

respeito de adotarem uma criança, queriam menino com idade acima de 4 anos, na

família já haviam muitos casos de adoções, em ambas partes. Também explicaram

que como falavam abertamente que tinham a intenção de adotar uma criança, foram

procurados e lhes entregaram o filho adotivo, criança recém-nascida (35 dias de

vida). E já com a criança nas mãos o casal foi procurar os parâmetros legais para

regularizar a situação. A mãe biológica se comprometeu a ir até a presença do juiz

entregar oficialmente a criança aos pais adotivos, declarando-se incapaz de criar

seu filho. Assim o fez, o Juiz aceitou a questão da entrega e imediatamente deu a

guarda por tempo indeterminando ao casal adotante. Vale dizer que o casal não

havia feito a inscrição na Vara da Infância, como pretendente a pais adotivos. Tudo

foi feito às presas e com o consentimento do juiz que entendeu a situação tanto da

mãe biológica como dos pais adotivos. Foi realizada 3 entrevistas com a família

adotante, pais e filhos. Não foi indicado nenhum grupo de discussão que envolvesse

o tema adoção. Apenas uma visita domiciliar foi feita. A adoção definitiva se efetivou

após um ano da adoção. Tiveram problemas com a justiça, pois a mãe biológica foi

acusada de maus tratos e abandono de menor. A Delegada que registro a denúncia

chamou a mãe biológica e os pais adotivos para darem esclarecimentos, que tão

logo foram feitos, tendo sido provado a legalidade da adoção o caso foi encerrado.

Sempre que podem conversam com o filho sobre o tema adoção e a criança já sabe

que é adotivo, porém não dá para perceber se ele entende qual o sentido da

palavra. Também acham importante apoiar a criança se um dia ela quiser buscar

suas raízes. Os pais declaram que ele sabe que é muito amado. Sugerem que a

questão da necessidade da adoção das crianças abrigadas, aguardando por um lar,

tenha uma maior divulgação.

E na quarta família entrevistada, identificada no genograma, classificada

também como adoção tardia, envolve 3 (três) crianças do sexo feminino. O casal

não possui filhos biológicos, decidiram adotar uma criança, procuraram o Fórum e

fizeram sua inscrição no cadastro de adoção. Foram muito bem recebidos e

orientados. Declararam ser natural a questão de adoção em suas vidas, pois seus

familiares já viviam situações semelhantes. No começo quando procuraram uma

criança para adotar, queriam uma menina recém-nascida, porém se depararam com

uma menina de 6 anos de idade, com a qual se identificaram e entraram com o

pedido de adoção da criança, que foi negado, pois a menina tinha mais duas irmãs,

8 e 9 anos de idade, que também estavam abrigadas junto a ela. Conversaram entre

si, marido e mulher, à respeito da situação e decidiram pedir pela adoção das três.

Confessaram que foi muito difícil, pois, as meninas mais velhas sabiam que a

princípio eles queriam somente a irmãzinha mais nova. Ao todo fizeram 3 entrevistas

com a assistente social, a eles foram indicados grupos de apoio a família adotante o

GAASP. Apenas uma visita domiciliar foi feita. A adoção demorou nove meses. A

adoção definitiva saiu depois de quatro anos. Disseram que iriam apoiar suas filhas

na busca de suas raízes apenas depois que elas completassem 18 anos de idade.

Sugeriram que a legislação fosse revista, pois a mãe adotiva teve apenas um mês

para ficar com as meninas depois de adotadas, ainda pelo fato da mais nova ter 6

anos, caso contrário não poderia se beneficiar da lei. Disseram que é imprescindível

um tempo de licença maior para que se estabeleça um mínimo de convívio entre a

família principalmente quando se trata de adoção tardia. No final do depoimento

deixaram bem claro, também, a necessidade de o governo ceder um apoio

financeiro para as famílias adotante, principalmente quando se tratar de adoção

tardia, condição que deixa muitas seqüelas tanto nas crianças que se encontram

afetadas emocionalmente, necessitando ajuda psicológica, tanto para o adotado,

quanto para o adotante.

Também as duas 2 (duas) especialistas da área de adoção, foram

entrevistadas, ambas residem e atuam profissionalmente em São Paulo, SP. A

primeira, 66 anos de idade, é representante do CONANDA pela PUC/SP, ajudou a

elaborar o ECA, é Professora Doutora em Educação. Declara na entrevista que após

a criação do ECA a legislação avançou muito em relação aos direitos das crianças e

do adolescente, porém ainda paira num processo moroso. Também enfatiza que a

decisão sobre a adoção ou não de determinada criança, são analisados por pessoas

com visão mais jurídicas do que humana e afetiva, o que muitas vezes fere os

direitos da criança e adolescente. Disse ainda que a nova lei de adoção tentou

agilizar os processo de adoção, mas que pouco se percebe o avanço. A segunda

especialista entrevistada, 31 anos de idade, Pedagoga e Mestre em Educação

declarou em sua entrevista que atuou profissionalmente em alguns abrigos, o que

lhe despertou o interesse pelo tema: abandono, abrigo e adoção. Também falou que

antes do ECA a crianças não eram respeitadas em seus direitos e após a criação do

ECA a prática da adoção teve uma melhora, mas ainda continua se tratando de uma

prática complicada e muitas vezes dolorosa, tanto para o adotado como para o

adotante. Enfatiza o fato de que as adoções não devam ficar somente sob o

comando dos juízes da Vara da Infância e Juventude, esta decisão tem que ser feita

juntamente às equipes técnicas multiplinares que atuam nos abrigos. Afirma com

convicção que ainda existem muitos problemas que envolvem a questão da adoção.

Ao seu ver, a principal reformulação trazida pela nova lei de adoção é a

determinação de que as crianças não deverão permanecerem mais de dois anos

nos abrigos.

A análise dos casos envolveu descrição, reflexão e discussão, não somente

dos dados levantados e dos procedimentos de seu exame como, também, dos

resultados obtidos, atendendo aos princípios metodológicos e à fundamentação

(teórica e prática) da Psicologia Educacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na finalização da presente pesquisa, que tem como objetivo analisar a política

de adoção de crianças no Brasil através de entrevistas e interações feitas com

algumas famílias adotantes e especialistas que atuam na área de adoção,

delineando o percurso evolutivo do processo por meio da modificação do

ordenamento jurídico, percebeu-se a extensão do delineamento dos trabalhos,

portanto, o quanto o projeto inicial foi pretensioso.

O levantamento histórico e etnográfico do tema adoção foi revelado de forma

prazerosa e fundamentado. A cada linha escrita era como se o papel quisesse mais

e mais escritas, a vontade de querer saber mais foi tomada aumentando a cada

tema desenvolvido.

A Lei 12.010/2009, que alterou o ECA, 1990, no que diz respeito à lei de

adoção brasileira foi de valiosa contribuição social, validando a busca pela

manutenção da criança no seio familiar, junto a seus parentes consaguínios ou por

consideração, até que se esgote qualquer possibilidade, não permitindo que famílias

inaptas o a receba.

Existem muitos casos em que não há possibilidade da criança permanecer

sob a guarda de seus parentes próximos, sendo melhor que a criança passe pelo

processo de adoção, que será retirado do ambiente onde sofreu dores e traumas

causados anteriormente, para que a sua qualidade de vida seja garantida.

Não há dados pesquisados que nos forneçam garantias para generalizar,

cada caso é um caso, e todos deverão ser analisados na sua individualidade,

tomando cuidado para não deixar a legalidade formal ultrapassar os limites do bom

senso.

Vale destacar alguns procedimentos, dentre os tópicos que constituem a nova

lei de adoção que foram exigidos para que o processo de adoção se estabeleça:

- Que se deva haver um preparo prévio dos pais adotivos para receber o

adotando em sua nova casa. Também o lar que receberá a criança deverá ser

inspecionado, visando à segurança de todos.

- Os responsáveis pelo abrigo deverão comunicar ao juiz competente no

prazo de 24 (vinte e quatro) horas, quando receberem uma criança. Essa decisão

visa à inteira proteção dos direitos do menor, deverá também informar a ocorrência

da possibilidade de adoção, ao órgão competente.

- Punições mais severas, detectada a adoção informal, evitando-se que os

direitos do adotando sejam violados, diante do desinteresse legal de seus adotantes.

- O poder público deve dar assistência às mães, ou famílias que desejam

entregar os filhos à adoção, tendo em vista à proteção e bem estar da criança, até

mesmo antes de sua transferência para outra família.

- A adoção internacional somente será efetivada, quando não houver qualquer

possibilidade de que a criança seja integrado a uma família nata, cujo idioma e

costumes forem mais próximos da sua realidade.

A reformulação da lei de adoção trás esperanças a milhares de crianças

abrigadas de serem adotadas e encontrarem um lar seguro onde terão conforto e

afeto familiar e poderão chegar à vida adulta identificando e compreendendo “de

fato” o termo democracia e direitos humanos, assim como se reconhecendo como

seres humanos, respeitados.

Outros questionamentos sobre o tema adoção no Brasil foram surgindo

durante o percurso desta pesquisa, porque como já havia mencionado no projeto

inicial desta pesquisa, essa questão esta diretamente ligada a seres humanos e (ou)

sujeitos distintos que devem ser respeitados nas suas diversidades. Esgotar todas

as possibilidades de discussão e trazer respostas a tudo, não é o que a pesquisa

pretendeu.

A reunião dos diversos estudos desenvolvidos, assim como com o auxílio das

famílias e dos especialistas da área de adoção, que se sujeitaram às entrevistas,

nortearam caminhos para busca de somente algumas das respostas, convidamos os

interessados pelo tema, que se tornem nossos companheiros nesta busca

necessária, mesmo que isso se torne uma constante.

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