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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA VICE-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – VRPPG CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
SOCIODRAMA COMO PRÁTICA INTEGRATIVA NA AÇÃO DE CUIDADORES DE IDOSOS
ROSÂNGELA AUGUSTA DA SILVA VASCONCELOS ALVES
Fortaleza - Ceará 2009
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ROSÂNGELA AUGUSTA DA SILVA VASCONCELOS ALVES
SOCIODRAMA COMO PRÁTICA INTEGRATIVA NA AÇÃO DE CUIDADORES DE IDOSOS
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Vieira de Lima Saintrain
Fortaleza - Ceará 2009
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ROSÂNGELA AUGUSTA DA SILVA VASCONCELOS ALVES
SOCIODRAMA COMO PRÁTICA INTEGRATIVA NA AÇÃO DE CUIDADORES DE IDOSOS
Linha de Pesquisa: Análise da Situação de Saúde Núcleo temático: Saúde do Idoso
Data da Aprovação: ____/____/____
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Prof.ª Dr.ª Maria Vieira de Lima Saintrain
Orientadora – Universidade de Fortaleza - UNIFOR
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Prof.ª Dr.ª Ana Ruth Macedo Monteiro
Membro Efetivo - Universidade Estadual do Ceará - UECE
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Prof.ª Dr.ª Luiza Jane Eyre de Souza Vieira
Membro Efetivo – Universidade de Fortaleza - UNIFOR
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Prof. Dr. Francisco Martins de Sousa
Membro Suplente – Universidade Estadual do Ceará - UECE
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DEDICATÓRIA
À minha mãe e ao meu pai(in memorian), por terem me dado a vida, um berço afetivo e uma formação moral que me permite alcançar a importância de buscar sempre a evolução espiritual.
Ao meu marido Roberto, por ter sido meu elo de amor na criação de uma nova matriz familiar, que me acolhe com alegria.
Com amor e carinho, aos meus filhos Diego e Naura, a quem tenho gratidão por terem me escolhido como mãer, por existirem na minha vida, pela oportunidade de aprender a cuidar, por estarem dando continuidade à nossa existência.
A todos os meus familiares de Belo Horizonte, pela torcida sempre confiante frente às minhas conquistas.
Ao meu genro e nora, que participaram com acolhimento deste momento.
Em especial, à minha irmã Ione, cuidadora de coração e alma, que me ensinou com as próprias mãos os anseios e caminhos do cuidar de idosos.
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AGRADECIMENTOS
A Deus e a Nossa Senhora da Conceição pela minha vida e pela proteção
incondicional.
À minha professora Ana Maria, da 5ª série por ter ajudado a me sentir capaz para
seguir o caminho do estudo.
À minha orientadora, Professora Maria Vieira de Lima Saintrain, pela aceitação,
paciência, carinho e confiança ao abraçar as minhas idéias... e compartilhar comigo sua
sabedoria.
À Mariana Lima de Araujo, meu ego-auxiliar nas idas e vindas do Lar Torres, pela sua
presença ativa, responsável e meiga.
Aos funcionários do Mestrado em Saúde Coletiva da UNIFOR, pelo carinho e
cooperação nestes dois anos.
A todos os meus professores e mestres que contribuíram para a constituição do meu
conhecimento e concretização desta etapa.
Com muito carinho, aos cuidadores de idosos do Lar Torres de Melo que confiaram a
mim seus corações, que cuidaram de mim para que este trabalho se realizasse, sempre com
amor no cuidar e sonhos por realizar.
Ao Lar Torres de Melo por ter me acolhido.
A todos os meus amigos que respeitaram meu recolhimento neste momento de criação.
Em especial, ao meu sobrinho Caio, que no auge das suas descobertas infantis,
inspirou-me na espontaneidade, criatividade e esperança para prosseguir na minha busca.
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“Tudo que existe e vive precisa ser cuidado para continuar existindo. O cuidado vive do amor, da ternura, da carícia e da convivência”.
Leonardo Boff
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RESUMO
Introdução A Saúde Coletiva confronta-se com o envelhecimento acelerado da população mundial, o que suscitou, deste campo de conhecimento, respostas criativas e adequadas para atender a esta realidade. No Brasil, observam-se avanços na elaboração e execução de políticas públicas e programas de atenção ao idoso. Em contrapartida, existem desafios no que se refere à necessidade crescente de cuidadores de idosos. A utilização do sociodrama pode contribui na construção coletiva da consciência e desenvolvimento do papel profissional com vista à promoção do cuidado humanizado e do autocuidado. Objetivos 1) conhecer a autopercepção dos cuidadores sobre ser cuidador de idosos no contexto de instituições de longa permanência; 2) avaliar a autopercepção dos cuidadores de idosos sobre seu papel profissional, após a utilização de sociodramas tematizados. Metodologia Estudo de natureza qualitativa, realizado em uma instituição de longa permanência, em Fortaleza – CE. Participaram do estudo seis cuidadores, de ambos os sexos, com escolaridade até o nível médio, atuando alternadamente conforme escala institucional. Para coleta de dados utilizou-se na primeira fase: questionário de identificação sócio-demográfica e entrevista semi-estruturada contendo seis perguntas sobre a percepção do cuidador referente ao seu papel profissional, fundamentadas teoricamente pela Teoria dos Papéis; na segunda fase: realizaram-se seis sociodramas com etapas de aquecimento, dramatização e compartilhar, fundamentados na teoria da Sociatria. O tratamento dos dados baseou-se na Análise de Conteúdo de Bardin (2008). Resultados Na Fase 1, todos os cuidadores tiveram dificuldade inicial de interagir, superou-se com utilização de atividades lúdicas focalizando a confiança para fortalecimento dos vínculos. Os sentimentos relacionados aos idosos e ao trabalho permeiam o cuidar com amor, como se fosse cuidar de algum familiar, enquanto o cuidar de si torna-se secundário. O fortalecimento do potencial individual e grupal favoreceu a integração da primeira fase com a segunda, dada a capacidade do sociodrama de intervir na dinâmica dos papéis. A aprendizagem pessoal surgiu como resultado do “dar e receber” na ação de cuidar. Na Fase 2, o despertar do potencial criativo catalisou a afetividade grupal, a ética do papel profissional e a vontade de solucionar conflitos com união, força e coragem. Os cuidadores relataram que após os sociodramas houve influência na autoestima, consciência do autocuidado e fortalecimento do grupo. A consciência do papel pôde ser desvelada pelo surgimento de novas necessidades no grupo: valorização pessoal, melhores condições de trabalho e reconhecimento institucional. Conclusão A autopercepção do papel profissional expandiu, visto que os sociodramas se mostraram capazes de ampliar a percepção do cuidar de si, proporcionaram ferramentas que estimularam o autoconhecimento, a criatividade, a integração grupal e a corresponsabilidade no papel de multiplicador desta experiência. Desse modo, o sociodrama surgiu como prática integrativa viável para o cuidado com o cuidador e formação profissional humanizada na Promoção da Saúde dos cuidadores de idosos.
Palavras-chave: Papel profissional, Sociodrama.Cuidador. Idoso. Promoção da Saúde.
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ABSTRACT
Introduction: Public healthcare faces the accelerated aging of the world´s population, a fact that led to the development of adequate and creative initiatives to respond to such reality. In Brazil we can see advancements in the elaboration and execution of public policies and healthcare programs for senior citizens.Objectives: 1. Assess the self-perception of the caregivers regarding their profession in the framework of long-term care institutions. 2. Analyze the caregivers´ self-perception regarding their professional role, after the utilization of thematic social dramas. Methodology: This is a qualitative study carried out at a long-term care institution in Fortaleza-CE. Six caregivers of both sexes took part in this study, all with a literacy level of up to secondary education, who performed their jobs in an alternated fashion according to the institution´s work schedule. Data collection was done, during the first stage, through a social and demographic identification questionnaire and a semi-structured interview composed of six questions about their perception regarding their professional role, based on the Roles Theory; during the second stage, six thematic sociodramas were performed, including warm-up, dramatization and sharing activities, which were based on the sociatry theory. Data were assessed based on Bardin´s content analysis (2008). Results: In stage 1, all caregivers had an initial difficulty in interacting. This was overcome using games, focusing on the building of trust to strengthen the interpersonal bonds. The feelings related to the senior citizens and to their work let us perceive approaches of care with love, as if the patient were a relative, while taking care of themselves was a secondary issue. The strengthening of both the individual and group potential favored the integration of the first and second stages thanks to the sociodrama´s ability to have an effect on role dynamics. Personal learning was the result of the “give and receive” nature of the caregiving work. In stage 2, the awakening of the creative potential catalyzed the group´s affection, the ethics of the professional role and the will to solve conflicts through unity, strength and courage. The caregivers told that they felt an increased self-esteem, self-care awareness and group strengthening after the performance of the sociodramas. The role awareness could be perceived due to the appearance of new needs within the group, such as personal valorization, better work conditions and institutional recognition. Conclusion: the self-perception of the professional role was expanded, considering that the sociodramas were able to widen the self-care awareness, offered tools to stimulate the knowledge of their own, creativity, group integration and joint responsibility in the multiplying power of this experience. The sociodrama was an integrative, viable practice for the caring of the caregiver and for the humanized professional qualification in Healthcare Promotion of senior citizens´ caregivers.
Key words: Professional role. Sociodrama. Caregivers. Elderly. Healthcare Promotion.
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SUMÁRIO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................9
2. ARTIGO 1 ............................................................................................................................11
RESUMO..............................................................................................................................11
ABSTRACT..........................................................................................................................12
INTRODUÇÃO....................................................................................................................13
METODOLOGIA.................................................................................................................17
RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................20
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................................27
REFERÊNCIAS....................................................................................................................29
3. ARTIGO 2 ............................................................................................................................32
RESUMO..............................................................................................................................32
ABSTRACT..........................................................................................................................33
INTRODUÇÃO....................................................................................................................33
METODOLOGIA.................................................................................................................38
RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................44
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................................57
REFERÊNCIAS....................................................................................................................58
CONSIDERAÇÕES REFLEXIVAS....................................................................................62
REFERÊNCIAS........................................................................................................................64
APÊNDICES ............................................................................................................................69
ANEXOS ..................................................................................................................................73
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Epidemiologia do Envelhecimento, área emergente que se ocupa das condições que
levam à incapacidade funcional, aumento da dependência, além das doenças responsáveis pela
morbimortalidade entre idosos, revela um acelerado aumento no envelhecimento da
população mundial (ROUQUAYROL e ALMEIDA FILHO, 2003).
Segundo Caldas e Saldanha (2004), em todos os países, o cuidado ao idoso é feito por
um sistema de suporte informal, representado pela família, amigos, vizinhos e membros da
comunidade. Nesse suporte, a ação do grupo familiar e suas atividades têm caráter voluntário
e não remunerado. Já os idosos isolados das famílias, dependentes e abandonados, que
necessitam de assistência do Estado, recebem cuidados por meio de parcerias com a
comunidade local, vizinhanças, organizações não governamentais - ONGs, setor privado e
organizações religiosas.
No Brasil, as instituições que cuidam de idosos de forma permanente, denominam-se
instituições de longa permanência de idosos - ILPI’s, que podem ser governamentais ou não
governamentais. As ILPI’s têm caráter residencial, são destinadas a domicilio coletivo de
pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar. Nestas
instituições, os cuidadores desenvolvem atividade remunerada, com vínculo empregatício
(BRASIL, 2009).
O Estado adotou decisões do Ministério da Saúde na determinação de políticas
públicas e ações em saúde que atendam à demanda advinda da realidade do idoso e do seu
cuidador. Como exemplo, pode-se mencionar o Pacto pela Vida, no item que estabelece
compromisso com a saúde dos idosos e com a formação e educação permanentes dos
cuidadores de idosos (BRASIL, 2006).
A intervenção na prática do cuidador de idosos é um tema que se sobressai na
realidade do envelhecimento populacional, em especial, no convívio dos cuidadores com
idosos cuja capacidade funcional foi comprometida por doenças que acarretam alterações
psíquicas e algum nível de dependência. Despertando assim, interesse por estudos focalizando
a autopercepção dos cuidadores de idosos sobre seu papel profissional e a aplicação de
práticas integrativas de intervenção.
Nesse contexto foi elaborado um projeto, tendo como objetivos: conhecer a
autopercepção dos cuidadores de idosos sobre seu papel profissional utilizando como
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referencial teórico a teoria dos papéis e avaliar a autopercepção dos cuidadores após
intervenções fundamentadas na Sociatria tendo como método o sociodrama tematizado. Desse
modo, formou-se um grupo com seis cuidadores cuja idade variou de 34 a 58 anos, buscando,
com base na investigação e intervenção, avaliar: a) dados sociodemográficos. b) a
autopercepção sobre “o que é ser cuidador de idosos? c) avaliar a autopercepção sobre o papel
de cuidador de idosos após participarem de seis sociodramas tematizados.
Os dados obtidos no estudo foram organizados em dois artigos, analisados conforme a
abordagem qualitativa, na tentativa de estabelecer vínculo entre os dados e os objetivos
propostos.
No primeiro artigo, sob o título “Autopercepção do papel profissional de cuidadores
de idosos sob a perspectiva da teoria dos papeis” buscou-se compreender o que é ser cuidador
para o grupo de cuidadores; integrar este conhecimento com aspetos individuais e coletivos
que influenciam na intersubjetividade do desempenho do papel de cuidador, com base na
Teoria dos Papéis, visando melhoria para o exercício profissional.
No segundo artigo, intitulado “Promoção da Saúde: sociodrama na prática integrativa
de cuidadores de idosos” objetivou-se avaliar a autopercepção dos cuidadores de idosos sobre
seu papel profissional, após a realização de seis sociodramas tematizados: construindo
vínculos; cuidar de si; humanização do cuidado; potencial criativo; matriz afetiva da rede
sociométrica e por último, autoavaliação.
A relevância social desta pesquisa interventiva reside na crença no potencial criativo
humano como fator de transformação das relações sociais e no sociodrama como instrumento
capaz de favorecer o desenvolvimento pessoal e profissional.
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2. ARTIGO 1
AUTOPERCEPÇÃO DO PAPEL PROFISSIONAL DE CUIDADORES DE IDOSOS SOB A PERPECTIVA DA TEORIA DOS PAPEIS
RESUMO
Introdução Com o aumento da população idosa adotaram-se decisões na determinação de políticas públicas e ações em saúde que atendam à demanda advinda da realidade do idoso e seu cuidador. Objetivo Conhecer a autopercepção dos cuidadores sobre ser cuidador de idosos no contexto de instituições de longa permanência na perspectiva da teoria dos papéis. Metodologia Estudo qualitativo, realizado em instituição de longa permanência, em Fortaleza – CE. Participaram do estudo seis cuidadores de idosos, de ambos os sexos, com escolaridade até o nível médio, atuando alternadamente, conforme escala institucional. Os idosos possuíam grau de dependência parcial e total. Para coleta de dados utilizou-se: questionário de identificação sócio-demográfica e entrevista semi-estruturada contendo seis perguntas sobre a percepção do cuidador referente ao seu papel profissional. Fundamentou-se teoricamente pela Socionomia-Teoria dos Papéis e para tratamento dos dados, utilizou-se Análise de Conteúdo de Bardin. Resultados Sintetizaram-se quatro unidades temáticas e treze categorias: a) papel profissional e identidade pessoal, onde sentimentos relacionados aos idosos e ao trabalho permeiam as categorias: cuidar com amor, confia em mim, aprendo com eles; b) cuidar e cuidar-se apresentando sentimentos vinculados às figuras parentais associados ao modo de cuidar: tratando minha mãe, apoio em quem gosto, me dou mais valor; c) papel profissional e identidade grupal prevalecendo a interação entre dar e receber: atenção, relação com respeito, menos arrogância; d) co-responsabilidade grupal redimensiona o papel profissional: ouvir mais, raça, cuidado, respeito. Considerações Finais Desvelaram-se novas respostas pelos cuidadores, voltadas à necessidade de fortalecer o potencial individual e grupal, com vistas ao redimensionamento do papel profissional.
Palavras-chave: Autopercepção. Papel Profissional. Cuidador. Idoso.
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ABSTRACT
Introduction: The growing elderly population led to the adoption of certain measures in the determination of public policies and healthcare interventions aimed to meet the demands of both the senior citizens and their caregivers. Objective: Evaluate the caregivers´ self-perception about being an elderly caregiver in the context of long-term care institutions, under the perspective of the roles theory. Methodology: This is a qualitative study carried out at a long-term care institution in Fortaleza-CE. Six caregivers of both sexes took part in this study, all with a literacy level of up to secondary education, who performed their jobs in an alternated fashion according to the institution´s work schedule. The patients had a partial or total dependence on their caregivers. Data collection was done through a social and demographic identification questionnaire and a semi-structured interview with six questions about their perception regarding their professional role, based on the Socionomy – Roles Theory. Data were assessed based on Bardin´s content analysis. Results: Four thematic units and thirteen categories were defined: a) The professional role and the personal identity, where feelings toward the elderly patients and towards their work were grouped in the following categories: care with love, trust me, I learn with them; b) Taking care of the patient and of my own, showing feelings related to parental figures associated to how they perform their job: Taking care of my mother, take support in those who I like, a higher self-esteem; c) the professional role and the group identity, mostly through the interaction between giving and receiving: attention, relationship based on respect, less arrogance; d) The group´s joint responsibility gives the professional role a new dimension: listen more, race, care, respect. Conclusion: New responses were found, related to the need to strengthen both individual and group potentials, aimed to give the professional role a new dimension.
Key words:. Self concept. Professional Role. Caregivers. Elderly.
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INTRODUÇÃO
Ante a realidade do envelhecimento da população mundial, os cuidadores de idosos
despontam como agentes sociais para atender a uma demanda epidemio-demográfica que
envolve a complexidade do ato de cuidar de idosos.
De acordo com Boff (1999), o “cuidado”, juntamente com o trabalho humano
caracterizam “um modo de ser-no-mundo”, dão significado à existência. Assim, o cuidador de
idosos em instituições de longa permanência - ILPI desenvolve uma atividade que une o
cuidado ao trabalho profissional. Apesar de a preocupação social, do Estado e de as políticas
desenvolvidas para proteção ao idoso terem evoluído, esforços e cuidados ainda precisam ser
despendidos em relação aos cuidadores.
Nesse sentido, há uma preocupação crescente dos autores ligados à saúde coletiva, em
impulsionar ao estabelecimento de alianças com outras áreas do conhecimento, como as
ciências humanas e sociais, na busca por compreender e intervir na realidade que envolve o
idoso e seu cuidador.
Os cuidadores de idosos são verdadeiros agentes terapêuticos cujo vínculo se
estabelece pelo “cuidado profissional” em contrapartida àqueles que se dedicam a ‘cuidar do
outro’ no sentido fraternal, da caridade como valor de relação humana, como nos vínculos
afetivo/familiar e do voluntariado. Portanto, faz-se necessário conhecer o aspecto subjetivo e
a realidade em que estão inseridos estes profissionais a fim de proporcionar ações favoráveis
ao desempenho do seu papel.
O ofício de cuidador de idosos é uma profissão em ascensão e requer atenção do
Estado e da sociedade quanto à ética do cuidado institucional ou domiciliar que caracteriza a
sua prática. Há, entre os estudiosos, questionamentos sobre a ética do cuidado:
(...) essa “nova” profissão porta desafios bastante delicados. O relacionamento entre o velho e o seu cuidador implica, na verdade, uma intervenção terapêutica que pode ser tanto benéfica quanto iatrogênica, tendo ressonâncias na vida de ambos (MAFFIOLETTI e LOYOLA, 2003, p.284).
A Política Nacional de Saúde do Idoso (BRASIL, 1999) refere-se a dois tipos de
cuidadores: formal e informal. O primeiro é caracterizado como a pessoa que recebe
treinamento em instituições de ensino e que, de posse de certificado profissionalizante, presta
serviço remunerado a idosos em instituições. O cuidador informal é aquela pessoa que
apresenta grau de parentesco e se responsabiliza pelo cuidado ao idoso.
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Esta pesquisa pautou seu estudo no cuidador formal, pois na realidade brasileira o
acolhimento de qualidade ao idoso no próprio seio familiar nem sempre é possível e constitui
atualmente um dos desafios enfrentados na atenção ao idoso; muito embora Bretas et al
(2007) ressaltem a importância da família, da sociedade e do Estado no amparo aos idosos,
preferencialmente mantendo-os em seus próprios lares.
Alguns avanços, contudo, já ocorreram, mas ainda se faz necessário que o Estado e os
demais setores da sociedade adotem medidas integradas de cuidado e proteção ao idoso que
necessita de suporte institucional, preenchendo em parte a ausência ou deficiência do cuidado
familiar.
Para suprir essa realidade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA
aprovou a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 34, de 31 de dezembro de 2007, que
define normas de funcionamento das ILPI’s, responsáveis pelo atendimento integral em
instituição asilar, prioritariamente aos idosos sem famílias.
No Brasil, os “Cuidadores de Idosos” têm sua atividade registrada na Classificação
Brasileira de Ocupações – CBO do Ministério do Trabalho e Emprego, código 5.40.90.0
descrito como: acompanhante de idosos, cuidador de pessoas idosas e dependentes, cuidador
de idosos domiciliar, cuidador de idosos institucional e gero-sitter (BRASIL, 2008a).
Essa mesma legislação descreve o cuidador de idosos como pessoas que “Cuidam de
idosos, a partir de objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis
diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura,
recreação e lazer da pessoa assistida”.
Neste estudo, o cuidador foi referenciado com base em uma visão integrada do ser
humano, a concepção holística, que concebe o homem e o mundo como um todo integrado e
não como uma coleção de partes dissociadas. Essa idéia ultrapassa a visão centrada em
resultados como fator de competência e desenvolvimento profissional (CAPRA, 1982).
O ato de cuidar requer um pensamento que remete à reflexão ético-afetiva e
transcende a dimensão cognitiva e técnica: “significa então desvelo, solicitude, diligência,
zelo, atenção, bom trato... estando diante de uma atitude fundamental, de um modo de ser
mediante o qual a pessoa sai de si e centra-se no outro com desvelo e solicitude” (BOFF,
1999, p. 91).
Ainda é precária a formação de profissionais da saúde, entre os quais é possível incluir
os cuidadores de idosos. A formação e a qualificação oferecidas a eles para o desempenho de
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suas funções, a necessidade de políticas públicas e o desenvolvimento de aspectos
intersubjetivos e habilidades específicas precisam ainda ser desenvolvidas no exercício da sua
prática.
Aliado à falta de treinamento específico para a avaliação da capacidade funcional, evidências indicam que os profissionais de saúde não estão habilitados na identificação e intervenção nas síndromes geriátricas — apesar da abordagem tecnicamente correta de problemas clínicos isolados (MOTTA e AGUIAR, 2007, p.3,4).
A formação e a educação permanentes de profissionais para atender às necessidades
do idoso, viabilização de ações intersetoriais e apoio a estudos e pesquisas que contribuam
para a promoção do envelhecimento ativo e saudável foram reforçadas mais recentemente por
meio de políticas e pactos para atenção ao idoso. A participação do Sistema Único de Saúde -
SUS em prol da formação e educação permanente dos profissionais cuidadores se firmou ao
criar o Programa Nacional de Formação de Cuidadores de Idosos (BRASIL, 2008a).
Quanto ao desenvolvimento profissional do cuidador de idosos, é importante destacar
que autores como Cerqueira e Oliveira (2002), Maffioletti e Loyola (2003), Giacomim (2005),
Silveira (2006), Motta e Aguiar (2006), Guerreiro (2007), Marques (2008) vêm
desenvolvendo pesquisas na área de Saúde e Psicologia, sublinhando a importância dessa
temática na realidade brasileira.
Tais iniciativas ampliam a perspectiva da prática do cuidador com novos saberes, que
favorecem a compreensão da percepção e consciência crítica do papel profissional.
A integração das áreas do conhecimento e o incentivo às equipes multidisciplinares
abriram espaço para vertentes da Psicologia aplicar seu conhecimento, métodos e técnicas de
investigação e intervenção grupal em práticas sociais e comunitárias no cuidado ao sujeito.
Com base nessas circunstâncias enseja-se a investigação da percepção do cuidador
sobre seu papel profissional com base no referencial teórico da Socionomia e na Teoria dos
Papéis desenvolvidos por Jacob Levy Moreno (1898/1974).
A Socionomia, ciência que estuda as relações interpessoais e a dinâmica dos grupos
humanos, baseia-se na visão de homem presente no projeto socionômico, retrata o ser humano
como unidade social, e não só orgânica; um ser espontâneo e criativo. Propõe método e
técnicas de intervenção grupal com base na espontaneidade e a criatividade como
catalisadoras das relações “télicas” (afetivas), que igualam e garantem ao indivíduo seu
espaço na sociedade (MORENO 1992).
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Já a Teoria dos Papéis tem suporte no princípio de que a formação do ‘eu’ é precedida
pela formação de papéis que o indivíduo representa desde o nascimento e estrutura-se,
inicialmente, da adoção de um papel pronto (imitação) – ‘role-taking’; evoluindo para a
representação de papéis – ‘role- playing’ e culminando com o ‘role-creating’, no qual o
indivíduo já tem liberdade para criar papéis de acordo com sua personalidade e habilidades.
Foi pela observação da representação teatral que Moreno desenvolveu a Teoria dos
Papéis, pautado na crença de que todos possuem, de forma inata, o ‘fator espontaneidade’
garantindo ao indivíduo condições de estabelecer relação consigo e com os outros por meio
de respostas adequadas e criativas no desempenho de papéis sociais. A exemplo: pai, filho,
avô, amigo, cuidador etc.
Moreno (1993) desenvolveu a idéia de que o papel tem caráter social e relacional, com
função na comunicação interpessoal e estruturação afetiva, social e cultural dos indivíduos e
grupos. Para ele, cada indivíduo possui um mundo privado, com ideias e experiências
individuais que formam os papéis psicodramáticos e outros denominados sociodramáticos que
expressam idéias e experiências coletivas. Ambos são inseparáveis, podendo-se apreender que
(...) todo e qualquer papel consiste numa fusão de elementos privados e coletivos. Todo papel tem duas faces, uma pessoal e uma coletiva. O mundo que cerca a pessoa pode ser desmontado em sucessivas camadas, como uma cebola (...) os papeis privados apresentam-se como um revestimento que confere aos papéis coletivos uma coloração individual, algo diferente em cada caso (MORENO, 1993, p.410-411).
O vínculo que intermedeia o papel e o contrapapel se faz com base na “tele”, conceito
moreniano que explica a dimensão dos sentimentos nos relacionamentos interpessoais,
tomando as pessoas pelo que são e por quem são: “o captar, apreciar e sentir os verdadeiros
traços que caracterizam o outro” (KELLERMANN, 1998, p. 116).
Segundo Martin (1996), a aprendizagem do papel inicia-se na infância, por meio do
vínculo mãe (papel) e bebê (contrapapel) que propicia a adoção de papéis e origem dos
demais papéis ao longo da vida, além da assimilação da cultura.
Para Moreno (1993), a força do potencial criativo dos indivíduos e a
corresponsabilidade nas relações interpessoais favorecem o desenvolvimento e desempenho
dos papéis que se assume na vida, inclusive o profissional.
A percepção do papel do cuidador implica compreensão da relação com o idoso de
forma que se avaliem os sentimentos que a constroem, considerando a importância da tele que
sustenta o vínculo e seus aspectos atraentes e também os repulsivos das relações entre as
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pessoas envolvidas. Desse modo, a busca por um contato autêntico, ou encontro, no qual os
cuidadores desempenhem seu papel por afinidades positivas, que vão além da competência
técnica, fortalecerá o cuidador para a ação do cuidar e cuidar-se.
A compreensão da estruturação do papel com base nas experiências relacionais,
considerando os aspectos afetivos, sociais e culturais incluindo a formação do eu e da
identidade profissional permitirá avaliar a percepção do cuidador sobre seu papel e
desempenho profissional.
Despertar no cuidador a consciência do potencial criativo inerente ao ser humano no
desempenho dos seus papéis poderá favorecer autoavaliação de suas habilidades e interesses
profissionais que beneficiará a expressão espontâneo/criativa de novas respostas frente às
necessidades na ação do cuidar de idosos (‘role-creating’).
Olhar para esta realidade sob a perspectiva do papel como unidade de conduta
sociocultural, contribui para ampliar a autopercepção acerca do papel profissional e viabilizar
o autoconhecimento do cuidador. Ao desenvolver o cuidar e o autocuidado de modo afetivo e
efetivo, a aprendizagem adquirida pela troca de saberes com os idosos e outros profissionais,
desencadeará respostas criativas advindas da prática, favorecendo o “empoderamento” do
cuidador e dos profissionais envolvidos na ILPI.
O presente estudo tem como objetivo conhecer a percepção dos cuidadores sobre o
que é ser cuidador de idosos no contexto de ILPI’s. A necessidade de realizar esta pesquisa
está relacionada ao interesse por compreender as dimensões do papel profissional do cuidador
de idosos, sob a perspectiva da teoria dos papéis, partindo da percepção de que ele próprio
tem do seu trabalho, de si e da expressão sociocultural do ato de cuidar de idosos.
METODOLOGIA
Este ensaio caracteriza-se por uma abordagem qualitativa, a qual ressalta a relevância
dos significados subjetivos que os indivíduos atribuem às suas atividades e a seus ambientes
(FLICK, 2004).
Os cuidadores foram avaliados, além da sua capacidade técnica, nos aspectos da
subjetividade e da intersubjetividade, imprescindíveis às atividades desenvolvidas no cuidar,
aliadas a fatores socioculturais e institucionais que envolvem sua ação junto aos idosos, no
contexto institucional da ILPI.
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Na lição de Gonzalez Rey (2005), a informação na pesquisa qualitativa não se apóia
somente na coleta de dados segue o curso progressivo e aberto de uma formulação e
interpretação que acompanha todos os momentos da pesquisa.
A pesquisa teve como locus o Lar Torres de Melo, instituição de utilidade pública,
filantrópica, que há 102 anos disponibiliza serviços de proteção social na modalidade de
abrigamento como instituição de longa permanência de idosos. Situada na cidade de
Fortaleza-CE, esta ILPI se mostra aberta a desenvolver trabalhos em parceria com instituições
de ensino, pesquisa e extensão, que possam contribuir com a melhoria das condições de saúde
e trabalho visando ao atendimento de qualidade aos idosos.
Para viabilizar a pesquisa, a instituição concedeu o seu Relatório de Atividades do ano
de 2007, proporcionando dados administrativos, financeiros e de recursos humanos,
juntamente com a lista do total de seus 13 cuidadores de idosos.
Do total de cuidadores, seis participaram integralmente, dois foram excluídos por
motivo de férias e cinco em razão da incompatibilidade de horário, em função da escala de
trabalho.
A coleta de dados ocorreu no ano de 2009. Os instrumentos para a coleta de dados
constituíram-se de um questionário e de entrevista semiestruturada. Os sujeitos foram
identificados pela sigla CI (cuidador de idosos) seguida pelo número de ordem na pesquisa:
C1 a C6.
Utilizou-se do questionário, para caracterização dos sujeitos, como: idade, sexo, estado
civil, escolaridade, renda, tempo de serviço na instituição como cuidador, participação em
curso para cuidador de idosos, se por iniciativa própria ou da ILPI, grau de dependência dos
idosos dos quais cuida, conhecimento sobre o Guia para Cuidadores de Idosos (2008) e
exercício de atividades anteriores.
Em seguida, foram realizadas as entrevistas, as quais permitiram que o sujeito
penetrasse na verdade, pois, na intersubjetividade do diálogo, explicitam-se o que seria dito
ou realizado, deixado de dizer e/ou de realizar, revelando o que pode ou não ser realizado
(CARVALHO, 2008). As entrevistas foram aplicadas individualmente, abordando aspecto
individual (privado) e coletivo (público) sobre o papel de cuidador de idoso, tendo por base
seis perguntas condutoras, versando sobre:
1 O que é para você ser cuidador de idosos? 2 Que sentimentos você identifica quando
pensa no desempenho do papel de cuidador? 3 O que você faz para cuidar de si que reflita
19
positivamente no seu trabalho? 4 O que acha que os cuidadores desta ILPI necessitam para o
desempenho profissional? 5 O que você tem de melhor para oferecer nesse momento? 6 O que
acha que precisa melhorar em você para contribuir com o crescimento do grupo de
cuidadores?
As respostas foram gravadas e transcritas na sua íntegra, o método da Análise de
Conteúdo preconizado por Laurence Bardin (2008) foi utilizado para organização e
tratamento dos dados. Seguiram-se as etapas de pré-análise, exploração do material,
codificação, categorização, inferência e interpretação dos dados. A análise de conteúdo é
definida como:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2008, P.44).
Dentre as técnicas utilizadas para a realização da análise de conteúdo, optou-se pela
análise categorial e temática. A análise categorial trata do desmembramento do discurso em
categorias, em que os critérios de escolha e de delimitação orientam-se pela dimensão da
investigação dos temas relacionados ao objeto de pesquisa, identificados nos discursos dos
sujeitos pesquisados (BARDIN, 2008).
Durante a pesquisa, foram seguidos ainda os princípios socionômicos desenvolvidos
por Moreno (1992) acerca do observador participante, em que pesquisador e sujeito são vistos
como seres em relação, ambos portadores de potencial criativo, portanto, devendo ser
respeitados na sua intersubjetividade.
Participaram da pesquisa seis cuidadores, cuja idade variou de 34 a 58 anos, de ambos
os sexos. Com relação à renda familiar, houve variação de 1 a 2 salários mínimos, podendo
ser considerados de baixa renda. Quanto ao grau de escolaridade e educação continuada
apenas quatro cuidadores concluíram o ensino médio, enquanto os demais terminaram apenas
o ensino fundamental, e, nenhum cuidador participou de curso para cuidador de idosos.
Todos os cuidadores cuidam de idosos com grau de dependência parcial e total e
nenhum deles conhece o Guia Prático de Cuidadores de Idosos, lançado pelo Ministério da
Saúde (BRASIL, 2008b).
Os cuidadores relataram interesse em participar do trabalho, embora inicialmente
demonstrassem dificuldade para falar sobre si e sua atividade laboral. O relato dos seis
20
cuidadores de idosos foi sintetizado em quatro unidades temáticas e treze categorias. A Teoria
dos Papéis serviu para as inferências e interpretação dos dados sobre a percepção e
desempenho do papel na concepção dos cuidadores. Para compreensão da análise, utilizou-se
de pré-categorias, reunidas em unidades e significados. As categorias foram representadas no
quadro 1.
Quadro 1 - Análise Temática do Papel Profissional UNIDADE TEMÁTICA SIGNIFICADO CATEGORIAS Papel profissional e identidade pessoal – PPIP
Percepção do cuidador sobre o ato de cuidar de idosos como aspecto individual do papel profissional
(...)faço com amor e carinho.
( ...) eles confiam em mim
Gratificante, aprendo cada
dia com a presença deles
(idosos) Cuidar e Cuidar-se – CC Dimensionamento dos
sentimentos e os cuidados com o idoso e consigo mediante o desempenho profissional
(...) como eu esteja tratando a minha mãe.
(...) me apoio numa pessoa que eu gosto (marido, idosos, namorado, colega...)
me dou mais valor, leio um bom livro...
Papel profissional e identidade grupal – PPIG
Percepção do cuidador sobre o ato de cuidar de idosos interagindo com outros cuidadores no aspecto coletivo do papel profissional
Atenção
Relação com respeito;
Arrogância
Corresponsabilidade Grupal - Dar e Receber- CRGDR
Redimensionamento do papel profissional desvelando novas respostas para a ação do cuidador na ILPI
Ouvir mais(...)
Raça
Cuidado(... )
Respeito
Fonte: Dados da pesquisa
O estudo foi iniciado após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
de Fortaleza, Parecer nº 038/2009, e coleta de dados, quando da assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido, em cumprimento às normas legais e éticas para pesquisa,
determinadas na Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para responder à questão “Qual a autopercepção dos cuidadores sobre o seu papel
profissional ?”, foram agrupados elementos da percepção dos mesmos sobre o papel
profissional. Descreveram a autopercepção delineando aspectos subjetivos e objetivos que
caracterizaram o modo de cuidar: com sentimentos positivos de amor e carinho; transferindo
21
afeto de figuras de referência (mãe, avós, etc) para os idosos; assegurando que cuidem de si
no futuro; aprendendo sobre a vida; descuidando do autocuidado; autocuidado vinculado a
outras pessoas ou nos idosos; necessidades de dar atenção, receber respeito e ouvir mais da
equipe.
No iniciar da discussão sobre as categorias é importante ressaltar que os dados foram
analisados e interpretados de acordo com a Teoria dos papéis.
UNIDADE TEMÁTICA 1: Papel profissional e Identidade Pessoal – PPIP
As primeiras categorias analisadas estão relacionadas a aspectos da autopercepção do
papel de cuidador de idosos:
(C1) faço com amor e carinho;
(C4) eles confiam em mim;
(C2) Gratificante aprendo cada dia com a presença deles (idosos).
A autopercepção destes cuidadores sobre o seu papel profissional surgiu imbricada em
aspectos individuais de sua personalidade, o que a enriquece de verdades e confirma a
complexidade que envolve a atividade perceptiva:
(...) a noção de percepção cobre outros objetos, numa ampliação de significado (...) o próprio ego, para se dar um exemplo, seria objeto de apreensão perceptual, o que significa dizer que assim como apreendemos objetos que nos cercam, também apreendemos a nós mesmos. (PENNA, 1993, p. 13).
Perguntados sobre sua percepção quanto ao papel de cuidador de idosos, os cuidadores
se referiram objetivamente ao ato de cuidar com sentimentos positivos de amor e carinho.
( ...) gosto do meu trabalho; tem deles que eu gosto mesmo de coração, como se fosse
meu parente(C4), satisfatório; eu amo o que faço(C6).
Cattani e Girardon-Perlini (2004) observaram a existência de um componente afetivo
associado ao ato de cuidar que reafirma na mensagem dos cuidadores a descrição de cuidar
vinculada a sentimentos. Este modo de perceber transcende a realidade objetiva para a
autopercepção individual: ... eu gosto muito de cuidar; Amor; muito carinho; sinto até
saudades... (C4); com amor e carinho (C1); na folga fico triste (C2); tem deles que eu gosto
mesmo de coração (C4).
Desse modo, a emoção suscitada no ato de cuidar, bem como o sentimento de que o
cuidar desperta no idoso: eles confiam em mim (C4) representa a interação da objetividade do
22
papel profissional e a intersubjetividade que caracteriza o vínculo do cuidador com o idoso,
tornando gratificante (C2) o desempenho do seu papel.
Garroutte et al (2008) ressaltaram a importância da aprendizagem no cuidado
culturalmente competente, aquele que considera aspectos culturais do paciente num processo
de interação e aprendizagem para os envolvidos na relação.
A aprendizagem foi outro elemento citado pelos cuidadores como aspecto adquirido
com os idosos durante o desempenho do seu papel e que contribui para o crescimento
pessoal: Gratificante, aprendo cada dia com a presença deles (C2). Nesta fala, constatou-se
que o significado de cuidar está aliado ao que aponta Moreno (1992) sobre a fusão de
elementos privados e coletivos que compõem o papel e definem a aprendizagem no seu
desempenho.
Nesse sentido, a teoria dos papéis, ao afirmar a importância do vínculo afetivo na
formação da tele (sentimentos mútuos) que estrutura o papel, confirma a importância dos
sentimentos, interesses, crenças nas relações interpessoais. A percepção do papel, da
intersubjetividade presente na interação com o contrapapel (idoso) favorece a tele e remete à
melhoria no ato de cuidar.
UNIDADE TEMÁTICA 2: Cuidar e Cuidar-se – CC
As categorias seguintes estão relacionadas ao cuidar no dimensionamento dos
sentimentos e cuidados com o idoso e o cuidar-se mediante o desempenho profissional.
(C3) ...como eu esteja tratando a minha mãe.
(C1,C2,C4,C5;)... me apoio numa pessoa que eu gosto (marido, idosos, namorado,
colega);
(C6)...me dou mais valor, leio um bom livro.
O cuidado ao idoso foi comparado pelos cuidadores àquele aprendido no âmbito
familiar, principalmente no cuidado à mãe e avós. Em C5, denota-se uma transferência de
afetos para os idosos (...) olho para eles e me lembro da minha mãe;
A projeção de como gostariam de ser tratados no seu futuro também surgiu como fator
condicionante de um tratamento afetivo com o idoso: lembro do meu amanhã (...) tenho dois
filhos e não sei como vai ser meu amanhã (C5). Tal achado é corroborado por Karsch (1998),
23
quando aponta o compromisso e a solidariedade no cuidado ao desejo de retribuir cuidados
recebidos na infância e aversão à projeção do futuro como tendo seu envelhecimento no
contexto asilar.
Já Cattani e Girardon-Perlini (2004) entendem a dedicação ao cuidado como forma de
ser valorizado e reconhecido socialmente. A cultura valoriza aqueles que cumprem obrigações
para com os mais necessitados, como forma de corresponsabilidade com o outro.
O conceito de “tele” se origina do vínculo mãe e bebê e se define como a menor
unidade de sentimentos que interage em uma relação. Há situações em que descrevem:
“Sempre tive amor por eles, aquele cuidado todo; minha mãe ta idosa; digo que eu jamais
iria abandonar ela (C5).
Para cuidar de si, apenas um cuidador reportou-se ao desenvolvimento pessoal e
intelectual como forma de se cuidar: (...) me amar mais; me dou mais valor; leio um bom
livro, meditar, pensar, me ver no presente, lá no meu futuro, me ver como eu gosto; o resto a
Deus pertence (C6).
Considerando que o homem não é um ser só, esta forma de cuidado é satisfatória
desde que não se restrinja a esta única forma. Nesse sentido, Schulz (2009) defende a
necessidade de estratégias de intervenção como suporte à saúde e integração social para a
melhoria da qualidade de vida de cuidadores e idosos.
Enquanto isso, cinco cuidadores se remetem à busca de apoio em outra pessoa ou até
mesmo ao próprio idoso: (...) quando passo o dia sem contato daí a pouco eu vou ali, eles me
abraçam; eu levo eles para médico aí eu me cuido também (C4); Quando eu estou triste,
chateada; sento para conversar com eles (C2); me apoio numa pessoa que eu gosto (C5);
com meu marido (C1).
Estes achados são corroborados por Cerqueira e Oliveira (2002) em seu programa de
apoio e orientação aos cuidadores de idosos. Nesse sentido, o Guia prático do cuidador de
idosos (BRASIL, 2008 c) orienta que:
É fundamental que o cuidador reserve alguns momentos do seu dia para se cuidar, descansar, relaxar e praticar alguma atividade física e de lazer, tais como: caminhar, fazer ginástica, crochê, tricô, pinturas, desenhos, dançar, etc (...) Capacitação/orientações sobre questões gerais relacionadas ao envelhecimento e específicas sobre cuidados, de acordo com os tipos e graus da dependência, para cuidar melhor e para promover o autocuidado. (BRASIL, 2008 c).
24
Além do aspecto cultural que envolve o cuidar, percebeu-se que o cuidador expressa a
busca da relação “télica” vivida com figuras importantes de sua vida, repetindo-as ao retribuir
o cuidado amoroso com o idoso, denotando uma interação entre aspectos de papéis privados
com o profissional. Pressupostos da teoria dos papéis apontam o contexto como foco ideal
para manter o equilíbrio e adequação dos papéis evitando distorções e prejuízo em seu
desempenho.
UNIDADE TEMÁTICA 3: Papel profissional e identidade grupal – PPIG
A atividade de cuidar na ILPI caracteriza-se como atividade grupal, que implica
integração do aspecto individual (privado) e coletivo (público) do papel de cuidador.
Nesse sentido, analisar as respostas dos cuidadores sobre o que precisam melhorar
para atuar em grupo com outros cuidadores remete novamente aos aspectos que se sustentam
da afetividade presente no vínculo com o outro (contrapapel).
(C2, (C5 ) Atenção;
(C4) Relação com respeito;
(C6) Arrogância
Para C1, C2 e C5, C3, C4, C6 respectivamente, o que precisam melhorar em relação
ao grupo são paciência, atenção, agilidade, respeito na relação, reduzir a arrogância. São
estes atributos ligados ao desenvolvimento individual (papel privado) mobilizado diariamente
no vínculo com os idosos e entre si.
O desenvolvimento do papel profissional, com base na Teoria dos Papéis foi utilizado
por Sant’Anna e Brito (2006) para descrever e discutir a constituição do papel de psicólogos
em instituições de saúde mental. Os resultados obtidos também foram discutidos com base
nos aspectos individuais e coletivos do papel profissional: (...) empregamos o conceito de
papel (Moreno, 1979) como recurso teórico para descrever as dimensões coletivas e
individuais e o processo de desenvolvimento da ação dos profissionais de Psicologia.
(SANT’ANNA E BRITO, 2006, p.369).
Autores de outros países como Li (2009); Schuette (2009); Choi (2009); Shimizu
(2009) preocupam-se com o número de cuidadores em relação a elevada demanda no
mercado, com a qualidade da formação, treinamento, retorno financeiro e qualidade de vida
dos cuidadores com vistas à obtenção de cuidado de qualidade aos idosos.
25
Embora a unidade temática esteja investida do aspecto coletivo do papel profissional,
observou-se que os cuidadores disponibilizaram ao grupo o próprio crescimento e
desenvolvimento de valores num gesto de primazia. Esta parece ser uma característica do
grupo desta ILPI.
Moreno (1992), em seu estudo do vínculo intragrupal apontou a relação com respeito
ao outro como dimensão saudável dos grupos humanos. Não obstante, o grupo tenha
transcendido aspectos da racionalidade: desempenho diário, produtividade, resistência física,
precisão, políticas de proteção etc em prol de aspectos afetivos, notou-se a ambivalência de
sentimentos. Nos aspectos a melhorar (arrogância, paciência, etc) se contrapõem face as
atitudes afetivas expressas no cuidar “com carinho” e na ausência de análise crítica do seu
papel e da instituição.
No plano da ação humanizada expressa no cuidar “com carinho” este aspecto pode ser
considerado bom, contudo, no plano da consciência crítica do papel de cuidador temos denota
a necessidade de desenvolvimento da percepção do papel profissional, com vistas à auto-
realização, autenticidade na identidade grupal e ação profissional transformadora.
UNIDADE TEMÁTICA 4: Corresponsabilidade Grupal - Dar e Receber- CRGDR
A ação do cuidador na ILPI exige novas respostas para solucionar situações cotidianas
e inusitadas que vivencia em sua relação com o idoso e com outros profissionais no dia a dia.
Esse contexto, entretanto, compõe um processo maior envolvendo técnicas,
conhecimento atualizado e afetividade que se distribuem por meio do binômio “dar e
receber”, permeando vínculos que vão além do papel/contrapapel: cuidador/idoso e
cuidador/ILPI até a corresponsabilidade com o redimensionamento do papel profissional no
âmbito individual e coletivo.
A categoria Dar e Receber implica todas as demais, pois o sentido do cuidar e ser
cuidado em ambas as direções unifica a relação entre os envolvidos no cuidar.
As categorias obtidas nessa temática foram subdivididas em Dar (o que é oferecido
para o grupo) e Receber (as necessidades do grupo):
Da;r
Ouvir mais e Raça
Receber
26
Cuidado, respeito
A necessidade do grupo em se postar no ponto de ouvir mais o outro e de receber
cuidado e respeito denotou no contexto geral do grupo a busca do equilíbrio entre o dar e
receber no qual “eu posso lhe ouvir mais e quero receber cuidado e respeito e vice versa”.
Desse modo, conhecer a necessidade e o tipo de afeto que circula no vínculo favoreceu a
compreensão das relações no grupo.
Nesta perspectiva, os próprios cuidadores traçaram uma relação entre o que querem
dar e o que querem receber para obter bem-estar, o que pode fornecer subsídios para
compreender as expectativas e projeções dos cuidadores, oriundas em função de necessidades
pessoais e em decorrência do desempenho do papel.
Observa-se congruência entre o que querem dar no exercício do papel com o que
querem receber como busca do cuidado com respeito, paciência, compreensão e amizade para
si também. Esta perspectiva de buscar cuidado significa caráter predominantemente afetivo
(aspecto privado do papel) em detrimento do caráter técnico (aspecto coletivo) do papel
profissional.
Desse modo, o equilíbrio entre estes dois aspectos pode favorecer a profissionalização
do trabalho do cuidador com ganhos de reconhecimento profissional e social. Jylhã (1990)
reforçou a importância da interdisciplinaridade na promoção do bem-estar psicológico de
idosos solitários, o apoio entre pares e integração social. Do mesmo modo, ressalta-se aqui a
importância de intervenção com os cuidadores para que possam atender a esta demanda
social.
A teoria do papel tem um caráter social e relacional, com função na comunicação
interpessoal, estruturação afetiva, social e cultural, encontrando respaldo na
corresponsabilidade. Nesse sentido, Moreno (1992) acredita que a corresponsabilidade é um
elemento fundamental de crescimento individual e grupal, propulsor do potencial criativo e da
coesão grupal.
O homem potencialmente criativo se mostrou no dar “raça” (força de trabalho)
enquanto a cooperação mediante outros cuidadores da equipe representou a
corresponsabilidade para que sejam cuidados e respeitados. O papel se expressa na relação e
envolve a ação. Portanto, o dar e receber são categorias que podem se desenvolver
contribuindo para o amadurecimento das etapas de estruturação dos papéis, evoluindo do role
27
taking para o role creating, concretizando-se nas atividades diárias com idosos e na vida
pessoal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A afetividade como modo de cuidar (com amor e carinho) prevaleceu na autopercepção
sobre o papel profissional dos cuidadores. Tal fato denotou potencial de cuidar no
desempenho do papel, contudo, cabe ressaltar a necessidade de reverter o cuidado do cuidador
para si, de modo que amplie a consciência de autocuidado como aspecto positivo do ato de
cuidar.
Na autopercepção dos cuidadores sobre seu papel a deficiência no aspecto coletivo de
formação, atualização profissional e limitações na prática do cuidador em ILPI’s
demonstraram que estes aspectos precisam ser desenvolvidos, como forma de cuidar melhor
do cuidador e melhorar seu desempenho profissional.
O descuido com o autocuidado; o referencial familiar como modelo prevalente do
cuidar; a ausência de cursos de formação e o desconhecimento do Guia Prático dos
Cuidadores de Idosos comprometem a competência e o desempenho profissional.
A ausência de questionamentos acerca das condições ambientais de trabalho, da
sobrecarga sobre a saúde, da auto-realização, da qualificação em serviço, da remuneração, do
número reduzido de cuidadores, por exemplo, se compatibiliza com um desempenho pouco
crítico dos cuidadores, até mesmo deficiente no seu papel como agente social. Tal realidade
demanda ações e políticas públicas como suporte de profissionalização do cuidador, à sua
saúde e integração em redes de apoio social.
Embora a trajetória de reconhecimento da atuação na ILPI tenha surgido como visão
humanizada do cuidado, não isenta o cuidador de buscar uma consciência mais crítica do
exercício profissional, aplicável ao contexto geral da atenção ao idoso e do seu cuidador.
No olhar do cuidador para si, para o idoso e para o grupo, emergiram valores entre o
que receber e o que melhorar, suscitando necessidade de desenvolvimento do papel
profissional com vistas à humanização do trabalho, reconhecimento da cidadania,
conscientização no desempenho do papel profissional, ressaltando atitudes de valorização e
corresponsabilidade no trabalho.
A Teoria dos Papéis incorporada como arcabouço teórico pode favorecer a ação do
cuidador no sentido de aplicar técnicas para o desenvolvimento do papel profissional – Role
28
playing, potencializando assim, novas respostas para seu desempenho profissional. Este
pressuposto se coaduna com a finalidade de Promoção da Saúde, discussão sobre políticas
públicas voltadas para a formação e qualificação dos cuidadores, conforme proposto pelo
Sistema Único de Saúde.
29
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32
3. ARTIGO 2
PROMOÇÃO DA SAÚDE: SOCIODRAMA NA PRÁTICA DE CUIDADORES DE IDOSOS
RESUMO
Introdução A Saúde Coletiva confronta-se com o envelhecimento acelerado da população mundial, que aumentou a demanda por cuidadores de idosos e a necessidade de intervir nesta realidade com práticas integrativas de promoção do cuidado e autocuidado, numa visão ampliada de homem. Objetivo Avaliar a autopercepção dos cuidadores de idosos sobre seu papel profissional, após a utilização de sociodramas tematizados. Metodologia Estudo de natureza qualitativa, realizado em instituição de longa permanência, em Fortaleza – CE em 2009. Participaram do estudo seis cuidadores, de ambos os sexos, com escolaridade até o nível médio, atuando em dias alternados, conforme escala institucional. Para coleta de dados foram usados: questionário de identificação sociodemográfico e método de intervenção sociodramática. Realizaram-se seis sociodramas, com etapas de aquecimento, dramatização e compartilhar. Fundamentou-se teoricamente na Sociatria e em Bardin para análise dos dados. Resultados Os temas dos sociodramas formaram categorias temáticas: 1) Construindo vínculos: todos tiveram dificuldade de interagir, superou-se com atividade lúdica; 2) Cuidar de si: motivou-se para o autocuidado com ação dramática; 3) Humanização do cuidado: elaborou-se coletivamente valores para o cuidado; 4)Potencial Criativo: percebeu-se vontade de melhorar as dificuldades inter-relacionais; 5) Matriz afetiva da rede sociométrica: após resolução de conflito grupal relataram alívio, união e força grupal; 6) Autoavaliação: redimensionamento do papel profissional denotando consciência do papel com surgimento de temas grupais - ser mais valorizado, melhores condições de trabalho e necessidade de reconhecimento institucional. Conclusão após os sociodramas, novas respostas dos cuidadores evidenciaram o “empoderamento” deles e do grupo, reforçando a importância de intervenções grupais para a melhoria da autopercepção no exercício profissional como Promoção da Saúde.
Palavras-chave: Sociodrama. Cuidador. idoso. Promoção da Saúde.
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ABSTRACT
Introduction: Public healthcare faces the challenge of a fast-aging world´s population, and therefore the demand for senior citizens caregivers has increased, together with the need to act on this reality with integrative care and self-care promotional activities within a widened vision of man. Objective: Evaluate the self-perception of the caregivers regarding their professional role after the utilization of thematic sociodramas. Methodology: This is a qualitative study carried out at a long-term care institution in Fortaleza-CE in 2009. Six caregivers of both sexes took part in this study, all with a literacy level of up to secondary education, who performed their jobs in an alternated fashion according to the institution´s work schedule. Data collection was done through a social and demographic identification questionnaire based on the performance of social dramas. Six thematic social dramas were performed, including warm-up, dramatization and sharing activities, based on the Sociatry Theory and Bardin to Data analysis . Results: The themes of the sociodramas conformed thematic categories, namely: 1) Building bonds: everyone had difficulties in interacting, which were overcome by gaming activities; 2) Taking care of myself: the self-care deficiency was overcome through the dramatic activities; 3) Humanization of caregiving: caregiving values were collectively elaborated; 4) Creative potential: we perceived a will to improve relational hardships; 5) Affective matrix of the sociometric network: after the resolution of the group conflicts they reported a sensation of relief, unity and group force; 6) Self evaluation: Redimensioning of the professional role: we saw an awareness of their role after the appearance of new group themes, such as a higher valorization, better work conditions and the need for an institutional recognition. Conclusion: After the sociodramas, the caregivers´ new responses made an evident “empowerment” of them both as individuals and as a group, strengthening the importance of group activities for the improvement of self-perception in the framework of the professional practice in the field of healthcare promotion.
Key words: Sociodrama. Caregivers. Elderly. Health promotion.
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INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional provocou grande preocupação aos autores ligados a
Saúde Coletiva, impulsionando-os ao estabelecimento de alianças com outras áreas do
conhecimento, como as ciências humanas e sociais, com vistas à ação interdisciplinar nos
aspectos dos cuidados de Promoção da Saúde dos idosos e seus cuidadores.
O termo Promoção da Saúde surgiu no Brasil em 1992, com a realização da VIII
Conferência Nacional de Saúde, no mesmo ano da I Conferência Internacional de Promoção
da Saúde realizada no Canadá, marco mundial desse movimento. “O conceito de promoção da
saúde propõe a articulação de saberes técnicos, populares e a mobilização de recursos
institucionais e comunitários, públicos e privados para seu enfrentamento e resolução”.
(BUSS, 2000 p.165).
Nesse sentido, este artigo busca responder às necessidades que emanam da realidade
do cuidador de idosos em instituição de longa permanência para idosos - ILPI. Compreender o
cuidador de idosos e intervir no nível do desempenho do papel profissional tornou-se hoje
uma necessidade premente, pois em sua ação com o idoso, confronta-se com deficiência na
formação profissional, limitações financeiras e estruturais inerentes ao ambiente e cultura
institucionais.
Tal realidade compromete a habilidade técnica e relacional, envolvendo questões
como remuneração baixa, problemas de saúde, sobrecarga de trabalho e consciência dos
direitos e obrigações inerentes à profissionalização dos cuidadores. Esta situação pode gerar
repercussões psíquicas inevitáveis, como preocupações, angústias, medos, alterações na
autoimagem e algum nível de incapacidade no desempenho do papel de cuidador.
Considerando ainda a ação do cuidador pelo prisma da sua formação precária
e/ou ausente cuja atuação se dá no aspecto subjetivo do cuidar do próximo em detrimento do
uso da capacidade teórica e técnica, surgiu o interesse por um modelo de intervenção com
base na prática integrativa cujos subsídios proporcionem a resolução de problemas.
Motivada por esse interesse e pelas incursões feitas no campo da psicologia
clínica e social é que a Sociatria e o sociodrama foram escolhidos como fundamentação
teórica e prática para este estudo. A sociatria, por tratar-se de uma abordagem teórica que
objetiva a intervenção intrapsíquica e interrelacional em indivíduos e nos vínculos grupais; o
sociodrama, por se constituir como método de intervenção grupal proposto pela Sociatria.
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A Sociatria surgiu em meados do século XX como um ramo da Socionomia, ciência que
trouxe como contribuição às ciências sociais e humanas uma fundamentação teórica
priorizando o estudo e a intervenção nas relações interpessoais e nos grupos sociais. A
Socionomia pode ser definida como:
A ciência que trata das leis naturais que regem os sistemas sociais de modo geral, dos grupos humanos e do desenvolvimento do homem fundamentado na sua natureza inter-relacional (...)Traz em sua proposição um projeto de planificação social com características auto-organizativas e auto-afirmativas, a exemplo do que caracteriza a ciência moderna, especialmente a Teoria Sistêmica. (COSTA, 2000, p.136).
Ao desenvolver a Socionomia, Moreno (1898/1974) considerou que a subjetividade
humana se expressa através das relações interpessoais, do desempenho dos papéis sociais e de
constantes atos criativos. Considerando o homem como co-responsável pelo seu próprio
crescimento, autor e co-autor do seu projeto de vida, empenhou-se no estudo dos processos de
transformação social e criou um projeto socionômico com três ramificações:
Sociodinâmica, estuda a estrutura interna de grandes e pequenos grupos; Sociometria,
estuda a medida dos sentimentos nas relações interpessoais permitindo que se conheçam a
estrutura e dinâmica dos grupos sociais e a Sociatria, intervém terapeuticamente nos
indivíduos e nos sistemas sociais, utilizando como métodos de ação o psicodrama, a
psicoterapia de grupo e o sociodrama (Costa, 1996).
A Sociatria valoriza o lúdico como instrumento de intervenção psicossocial, trouxe
como contribuição o estudo e as intervenções terapêuticas voltadas para compreensão e
intervenção na intersubjetividade que permeia os grupos sociais (SILVA, 2004).
O sociodrama foi eleito como recurso metodológico por ser capaz ainda de intervir
nos grupos favorecendo o resgate e estabelecimento dos vínculos afetivos e
profissionais, autoconhecimento, interação grupal, consciência do papel profissional,
ética das relações e a co-responsabilidade social.
“Se existir responsabilidade, ela deve necessariamente ir além da mera responsabilidade com a existência pessoal. Ela deve ser uma responsabilidade com o Todo! E como eu poderia assumi-la sem ter uma função criadora neste mundo e sem ser parceiro em sua criação?” (MORENO, 1992, p. 11).
Sua ação atua na dinâmica individual e grupal de modo a despertar a
espontaneidade e criatividade humana, entendida como capacidade de dar respostas novas
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e adequadas às situações vividas individualmente ou em grupo, no sentido de buscar um
projeto maior de planificação social.
A Revolução Criadora Moreniana é a proposta de recuperação da espontaneidade e da criatividade, através do rompimento com padrões de comportamento esteriotipados, com valores e formas de participação na vida social que acarretam a automação do ser humano (conservas culturais) (GONÇALVES, 1988, p.46).
Marra (2004) faz referência a duas modalidades de sociodrama: aquele que nasce da
demanda do grupo cujo tema emergirá do momento de interação com os participantes e o
tematizado, aquele no qual o tema já está pré-definido por um plano de ação. Este último
serviu de base para o presente estudo. Para esta autora, o sociodrama
... é um método psicopedagógico de trabalho com grupos que facilita a aprendizagem de papéis, idéias, conceitos e atitudes por meio da vivência sociopedagógica. Ele se apóia na ação e no conceito de espontaneidade, que são concebidos como resposta própria do indivíduo adequado às relações de seu contexto social. Tem uma proposta de transformação nos indivíduos e sistemas sociais. (MARRA, 2004, p. 47).
O sociodrama segue os mesmos princípios do psicodrama - uma forma de
psicoterapia, um método de diagnóstico e tratamento, que se caracteriza pela utilização de
técnicas de ação. Difere do psicodrama por trabalhar com foco na dinâmica grupal,
favorecendo a expressão de situações e conflitos grupais, o que promove sua reorganização. O
sociodrama desenvolve-se obedecendo a contextos, instrumentos, etapas e técnicas.
Segundo Moreno (1993), os contextos dividem-se em social – representa a realidade
social do indivíduo; grupal – refere-se à realidade vivida pelo indivíduo no grupo num dado
momento; psicodramático – diz respeito à realidade objetiva e subjetiva do grupo, que são
dramatizadas no contexto imaginário: “como se”.
Os sociodramas se estruturam com instrumentos que são utilizados durante a ação
sociodramática: cenário, protagonista, diretor, egoauxiliares e público. O cenário, criado e
montado para a ação dramática, permite interação, fantasia e realidade; o protagonista é
representado pelo grupo, que se apresenta com sentimentos para a ação dramática; o diretor é
responsável pelo aquecimento do grupo, encaminhamento para a ação dramática; os
egoauxiliares são pessoas que vão auxiliar o diretor no desenvolvimento da ação dramática e
têm funções de ator, auxiliar e observador social do grupo; público – refere-se às pessoas do
grupo que participa da ação como espectador, em determinado momento.
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A ação sociodramática estrutura-se em três etapas: aquecimento – consiste na
preparação do grupo para a ação dramática; dramatização – é a representação do conflito ou
situação trazida pelo grupo; compartilhar – ocorre ao final da ação, momento em que cada
indivíduo do grupo poderá falar sobre seus sentimentos e experiência de vida em relação à
ação sociodramática desenvolvida.
Nery et al (2006) vêem o sociodrama como um método de pesquisa interventiva, que
busca compreender os processos grupais e intervir em uma de suas situações-problema, por
meio da ação dramática e da comunicação entre as pessoas.
Cabe enfatizar a importância do cuidado com o cuidador, o que inclui aspectos de sua
saúde física e mental. Dentre os transtornos presentes, a Síndrome de Burnout é hoje
considerada a mais frequente entre profissionais da Saúde. a Síndrome de Burnout
caracteriza-se por uma constelação de sintomas funcionais, psíquicos e comportamentais, tais
como irritabilidade, fadiga intensa, exaustão, cefaléia, distúrbios do sono, depressão,
irritabilidade (FLORIANI, 2006, P.527). Segundo o autor, esta Síndrome requer tratamento
adequado que envolve farmacoterapia, psicoterapia e o desenvolvimento de hábitos benéficos
à saúde, como: relaxamento ou meditação, exercícios físicos regulares, ritmo de trabalho
compatível com a vida social, delegar tarefas e desenvolver a espiritualidade.
Normalmente os cuidadores de idosos não recebem orientações sobre como se cuidar
no contexto do ambiente de trabalho para preservar a saúde física e emocional (FLORIANI,
2006). Frente a esta realidade, o Guia prático do cuidador de idosos aborda o item “cuidando
do cuidador” trazendo orientações que podem ajudar a preservar a saúde e aliviar a sua tarefa.
Dentre elas, que o cuidador deve contar com a ajuda de outras pessoas, como a da família,
amigos ou vizinhos, definir dias e horários para cada um assumir parte dos cuidados.
(BRASIL, 2008, b).
A sobrecarga física e mental sob a saúde do trabalhador, a ausência de consciência do
autocuidado e de políticas públicas que orientem sobre o papel do cuidador, atuam como
fatores desfavoráveis à sua autoestima e desempenho adequado ao seu papel profissional.
Sobre este tema Figueiredo (2008, p. 349) reforça que:
... a importância de cuidarmos do nosso corpo tendo em vista que um corpo cansado e fisiologicamente acabado não conseguirá produzir e render ao máximo e interferirá de forma negativamente na assistência ao ser humano, hospitalizado ou não (2008, p.349).
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Ante tal realidade, utilizar o sociodrama como recurso metodológico na Promoção da
Saúde do cuidador de idosos vem ao encontro do interesse pessoal do pesquisador quanto ao
desenvolvimento dos potenciais humanos, de modo a contribuir para o “empoderamento” do
cuidador em todos os níveis da organização humana: individual, grupal e social.
A necessidade de realizar intervenção utilizando o sociodrama está vinculada à crença
de que trata de uma prática integrativa no sentido de que esta metodologia enfatiza a escuta
acolhedora, o desenvolvimento do vínculo terapêutico, a consciência do autoconhecimento
como fundamental para o ‘cuidar de si’ e a integração do ser humano com o meio ambiente e
a sociedade.
Nesse sentido, tem-se como objetivo avaliar a autopercepção dos cuidadores de idosos
sobre seu papel profissional, após a realização de sociodramas tematizados. O intuito é
reforçar a idéia de que a aplicação do sociodrama tematizado promove o desenvolvimento dos
potenciais humanos trazendo valorização e profissionalização para os agentes que
transformam a realidade do idoso.
METODOLOGIA
Considerando a complexidade da pesquisa acerca da subjetividade que envolve o
cuidado ao idoso e seu cuidador, foi utilizada uma abordagem do tipo qualitativa. Aspectos da
subjetividade e intersubjetividade presentes nas relações devem ser efetivados para o
fortalecimento do vínculo entre os cuidadores e o pesquisador, como matriz para o êxito da
intervenção.
Na ação do Cuidador foi considerada como suporte a interação dos contextos
histórico, econômico, psicossocial e cultural, tanto para a compreensão do idoso como do seu
papel de cuidador, no contexto global da realidade institucional.
A pesquisa teve como locus o Lar Torres de Melo, uma instituição de utilidade
pública, filantrópica, que há 102 anos disponibiliza serviços de proteção social na modalidade
de abrigamento como instituição de longa permanência de idosos (ILPI). Situada na cidade de
Fortaleza-CE, esta ILPI se mostra aberta a desenvolver trabalhos em parceria com instituições
de ensino, pesquisa e extensão.
A ILPI possui 13 cuidadores de idosos. Deste total, seis participaram integralmente da
pesquisa, dois foram excluídos por encontrar-se em período de férias e cinco não puderam
participar da pesquisa em razão da incompatibilidade de horário, em função da escala de
trabalho e insuficiência de cuidadores para substituição.
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A coleta de dados ocorreu nos meses de março a julho de 2009. A pesquisa
compreendeu duas fases, onde na fase I, houve a caracterização do grupo e aplicação de
entrevistas. Na fase II realizaram-se seis sociodramas sendo que, no último, aplicou-se uma
autoavaliação, abordando todo o trabalho realizado. A autoavaliação foi compartilhada ao
final deste encontro.
A ação interventiva sociodramática se realizou com seis sociodramas tematizados, no
espaço físico da própria Instituição, consistindo em um encontro semanal, com duração de
duas horas e intervalo para lanche de quinze minutos.
Os instrumentos para a coleta de dados, foram:
a) questionário de identificação, como idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda,
tempo de serviço na instituição como cuidador, participação em curso para
cuidador de idosos, se por iniciativa própria ou da ILPI, grau de dependência dos
idosos dos quais cuida, exercício de suas atividades anteriores e conhecimento
sobre o Guia para Cuidadores de Idosos; e
b) método do sociodrama, etapa na qual os sociodramas tematizados, cujo tema já
estava definido por um plano de ação, versaram sobre aspectos do papel
profissional de cuidadores de idosos: Construindo vínculos; Consciência do
autocuidado; Humanização do cuidado; Potencial criativo; Matriz afetiva da rede
sociométrica; Redimensionamento do papel profissional.
Na figura 1 é possível localizar o espaço da sociatria e do sociodrama no arcabouço
teórico da obra de Moreno, sistematizada por Costa (1996) e adaptado para este estudo.
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Quadro 1. Arcalcabolço teórico da Sociatria
SOCIONOMIA
SOCIODINÂMICA SOCIOMETRIA SOCIATRIA
RAMIFICAÇÕES CIENTÍFICAS
•Teatro Espontâneo
•Role Playing
•Jornal Vivo
•Teatro de Reprise
•Sociodrama•Psicodrama•Psicoterapia de Grupo
•Axiodrama
MÉTODOS
Técnicas: duplo, espelho, inversão de papéis, projeção de futuro, solilóquio, maximização, concretização, etc
Teste SociomTeste SocioméétricotricoTeste de Expansividade Teste de Expansividade
AfetivaAfetivaTeste do 1Teste do 1ºº EncontroEncontroTeste dos PapTeste dos PapééisisTeste da EspontaneidadeTeste da Espontaneidade
Fonte: adaptada de Costa (2006).
Desse modo, tanto a Sociatria como o sociodrama constitui uma proposta compatível
com o pensamento e projeto de transformação social, representado atualmente nas práticas
integrativas em Saúde Coletiva.
Para os sociodramas, foram feitas abordagens teóricas e atividades lúdicas, como
ações dramáticas, técnica de desenho, técnica de escultura, jogos dramáticos e projeção de
vídeo relativo ao tema proposto, priorizando sempre o papel profissional e como lidar com o
aspecto pessoal, relacional e social no seu desempenho.
Nos sociodramas, com o compartilhar, enfatizou-se tanto no momento inicial do
aquecimento como ao final, a importância da subjetividade com exercícios físicos ligados a
atividades lúdicas ou expressão verbal das emoções vivenciadas.
Foi entregue aos cuidadores o Guia prático do cuidador de idosos para que lessem e
tirassem as dúvidas ao longo dos sociodramas com intuito de ampliar a autopercepção sobre o
seu papel e consciência crítica sobre a potência de ação de cada cuidador.
Para tanto, utilizou-se ainda de uma linguagem clara e adequada ao contexto e nível de
escolaridade dos sujeitos, sempre remetendo a exemplos do dia a dia da ILPI ou da vida
social.
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Nesta pesquisa, a equipe foi composta pela pesquisadora, denominada na linguagem
psicodramática de ‘diretora’, responsável pelo cumprimento dos princípios éticos e execução
das ações interventivas; um processador (observador participante) que fez a observação da
atividade e da dinâmica do grupo para registro escrito e gravado dos dados durante toda a
pesquisa.
Na coleta de dados, os sujeitos foram entrevistados individualmente e submetidos a
intervenção sociodramática em grupo, tendo a oportunidade de usar registro escrito, fotos e
gravações. Preservando a privacidade, os cuidadores foram identificados pela sigla CI
(cuidador de idosos), seguida pelo número de ordem na pesquisa: C1 a C6.
Para compreensão e interpretação do conteúdo a ser obtido no Sociodrama, optou-se
pelo referencial teórico da Sociatria (MORENO, 1993). Os seis Sociodramas tematizados
abordaram temas-chave que suscitaram um contato com a dimensão subjetiva da relação
profissional e com o ato de cuidar na vivência grupal, no dia a dia do cuidador.
No tratamento dos dados, utilizou-se a Análise de Conteúdo de Laurence Bardin
(2008) na qual a comunicação foi analisada em função dos conteúdos implícitos e explícitos
nos sociodramas. Buscou-se compreender a autopercepção dos cuidadores acerca do papel
profissional no decorrer dos sociodramas, considerando os temas trabalhados.
Definimos o tema como o elemento da mensagem que constitui o alicerce da mensagem. O tema desempenha esta função devido ao facto de identificar aquilo acerca deque se vai falar, razão pela qual surge em posição inicial (Morais, 1997, p.26).
Na análise utilizou-se de pré-categorias, estabelecidas para as atividades
sociodramáticas, da autopercepção do cuidador e da interação no grupo, após os sociodramas.
Para compreensão e interpretação do conteúdo obtido, optou-se pela técnica complementar de
análise temática, caracterizada pelos significados presentes nas mensagens, os quais foram
sintetizados em um quadro para análise das categorias (BARDIN, 2008 p.45).
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Quadro 2. Análise Temática dos Socidramas
UNIDADE TEMÁTICA
SIGNIFICADO CATEGORIAS
Construindo vínculo
Formação do vínculo de confiança com equipe de pesquisa e com o grupo viabilizando a afetividade nas relações.
Não observei se tem diferença de um pro outro...
Consciência do autocuidado
Dimensionamento dos sentimentos e cuidados consigo, nos níveis individuais e sociais
As brincadeiras fizeram a gente ser criança de novo e esquecer dos problemas ...
Humanização do cuidado
Percepção do cuidador sobre a humanização do cuidado por meio da relação com o idoso.
Sinto que cada vez que passa o grupo vai ficando mais forte, mais unido. Eu digo como é bom trabalhar nesse grupo...!
Potencial Criativo Despertar o potencial criativo individual e grupal para a potência de ação do cuidador
Porque eu gosto mais de trabalhar no grupo da manhã do que no da escala de hoje, porque me sinto mais leve...
Matriz afetiva da rede sociométrica
Identificação de sentimentos que influenciam as relações podendo tornar o grupo coeso.
Aconteceu uma coisa, tem pessoa do grupo implicando comigo...
Autoavaliação Autoavaliação sobre as novas respostas para a prática do cuidador na ILPI
...foi muito bom fazer o curso, ver quem eu sou de verdade
As sessões de sociodrama: o cuidador em cena
As sessões tiveram periodicidade semanal obedecendo à escala de trabalho dos
cuidadores, com duração de duas horas e intervalo para lanche. O grupo tornou-se fechado a
partir do segundo encontro não podendo ingressar novos cuidadores. A equipe de trabalho
passa a ser denominada de Unidade Funcional representada pelo diretor, papel assumido pela
pesquisadora, e, ego-auxiliar, assumido por uma estagiária de psicologia com conhecimento
da abordagem sociodramática. Utilizou-se a sala da Terapia Ocupacional para a realização dos
sociodramas. Sua localização, próximo à quadra de esportes, provocou desconforto auditivo
ao longo de várias sessões. Em contrato prévio com os cuidadores para assinatura do termo de
aceitação de participação na pesquisa confirmou-se a freqüência e pontualidade.
No desenvolver das atividades as cadeiras foram organizadas em semicírculo, na
tentativa de aproximar-se do setting sociodramático (palco). Os temas foram preconcebidos,
mas cabe ao diretor utilizar a espontaneidade e criatividade, adequação, bom senso e
princípios éticos para incluir situações e temas novos, que surgissem no aqui-e-agora do
momento grupal. Desse modo iniciam-se as três etapas de uma sessão.
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Na fase do Aquecimento o diretor iniciou um diálogo com o grupo no intuito de
perceber a expectativa e o clima grupal em função do tema. Na verdade o aquecimento é a
preparação interna, a mobilização da espontaneidade do grupo para a ação dramática seguinte.
No aquecimento pode utilizar-se de jogo dramático, técnica de expressão corporal
(aquecimento físico) ou atividade de reflexão mental (aquecimento mental) complementando
com música que se adéqüe ao ritmo ou tema.
Na fase da Dramatização o grupo entra em cena para desenvolver a atividade proposta
e o centro do semicírculo se amplia tornando-se o palco da ação sociodramática. Neste
momento a ação se desenrola de acordo com o tema e os conteúdos que vão surgindo no
grupo. Mesmo que um indivíduo se sobressaia como protagonista, sempre estará
representando a dinâmica grupal, devendo a ação ser direcionada para o coletivo, pois no
sociodrama o grupo é o protagonista. O diretor atua em consonância com o ego auxiliar e vai
definindo a dramatização de acordo com o aqui-e-agora, podendo ser vivenciado pelo grupo
cenas do passado, presente ou futuro. Se for necessário, utilizar-se-á nesse momento de
técnicas sociodramáticas que permitam a clarificação da situação e o desemaranhamento de
possíveis conflitos. Para tanto, devem-se considerar o vínculo do grupo com o diretor, os
objetivos propostos para a intervenção e a evolução do grupo.
No primeiro encontro se prioriza atividades que favoreçam a formação do vínculo
entre a equipe e o grupo e entre elementos do próprio grupo, criando um continente afetivo de
confiança e segurança, propicio a realização das sessões seguintes. Para tanto, o diretor e
egoauxiliares devem estar atentos às expressões verbais e não verbais, ao clima afetivo do
grupo e a necessidade de alterações na condução da atividade para adequar-se ao momento
grupal. Ao finalizar esta etapa, todos os elementos vivenciados, as imagens formadas pelo
grupo, a comunicação expressa ou contida serão compartilhados na etapa seguinte .
Na fase do Compartilhar o diretor inicia a atividade na qual cada membro do grupo
expõe seus sentimentos em função das fases anteriores. È importante que o diretor explique e
até exemplifique a função do compartilhar. Este momento é muito rico, promove o
autoconhecimento, desenvolve a percepção de si e do outro e é extremamente ético pois ao
falar de si, evita-se o julgamento ao protagonista (indivíduo ou grupo), auxiliando na
aprendizagem do respeito às diferenças em situações vivenciadas no coletivo. Desse modo,
cada sessão de sociodrama cumprirá estas fases, de acordo com o objetivo, tema e atividades
estabelecidas previamente ou durante a sessão. As aquisições do grupo como as falas e
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expressões cênicas durante as atividades vão sendo observadas pelo ego-auxiliar, as quais
complementarão os conteúdos para análise.
McLennan (2008) aponta o sociodrama como recurso eficiente para a aprendizagem
grupal por meio de temas. Seguindo este pensamento, escolheram-se temas com base nas
necessidades inerentes ao papel de cuidador e nos aspectos institucionais que caracterizam os
cuidadores do Lar Torres de Melo.
Durante a pesquisa, foram seguidos ainda os princípios socionômicos desenvolvidos
por Moreno (1992) acerca do observador participante, em que pesquisador e sujeito são vistos
como seres em relação, ambos portadores de potencial criativo, portanto, devendo ser
respeitados na sua intersubjetividade.
O estudo iniciou após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
de Fortaleza, sob Parecer nº 038/2009. Enquanto isso a coleta de dados teve início após
consentimento dos sujeitos e assinatura de termo de consentimento em cumprimento às
normas legais e éticas para pesquisa, determinadas na Resolução nº 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram da pesquisa seis cuidadores, cuja idade variou de 34 a 58 anos, de ambos
os sexos. Com relação à renda familiar houve variação de 1 a 2 salários mínimos, podendo ser
considerados população de baixa renda. Quanto ao grau de escolaridade e educação
continuada, apenas quatro cuidadores concluíram o ensino médio, enquanto os demais apenas
o ensino fundamental.
Todos os cuidadores cuidam de idosos com grau de dependência parcial e total,
nenhum cuidador participou de curso para cuidador de idosos e não conhece o Guia Prático de
Cuidadores de idosos.
Tais dados evidenciaram uma negligência que pode ser pessoal e/ou institucional
relativas à aquisição de informações (cursos) e uso do suporte social, como espaço de se
informar e relacionar-se.
O suporte social pode agir como um tipo de cuidado ao cuidador: uma forma de
relacionamento interpessoal, grupal ou comunitário que dá ao indivíduo um sentimento de
proteção e apoio capaz de propiciar redução do estresse e bem-estar psicológico (CAMPOS,
2007, p.46).
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SOCIODRAMA I: Construindo Vínculos
Não observei se tem diferença de um pro outro...
1. Sociodrama Construindo vínculos
Aquecimento:
Apresentação – Equipe e o Grupo
Expectativas e reflexões sobre o convite (convite: saco com bombons, cortador de unha e presilha de cabelo) e as diferenças entre coisas e pessoas. Dramatização:
Ação integrativa: A história do meu nome.
Compartilhar algo que gosta de fazer para relaxar da sobrecarga do trabalho. Compartilhar: sentimentos pessoais após o momento grupal.
A maioria dos cuidadores apresentou inicialmente dificuldade de estabelecer vínculos
entre si e com a equipe. Afirmaram não ter costume de fazer encontros em grupo, contudo o
‘contrato afetivo’ dos pesquisadores com o grupo favoreceu a confiança e ensejou o início da
integração.
McLennan ( 2008) observou que o sociodrama favorece o desenvolvimento da auto-
confiança e autoexpressão de sentimentos no grupo. Aproveitou-se desse achado para utilizar
como objeto intermediário cuidador/pesquisador uma discussão sobre diferença nos kits que
acompanharam o convite para o primeiro sociodrama.
A discussão evoluiu para o aspecto positivo de lidar bem com as diferenças
interpessoais no contexto grupal como forma de estabelecer vínculos saudáveis. Foi
perguntado se costumavam observar as diferenças entre as coisas, pessoas, entre eles e os
idosos, por exemplo. A maioria respondeu que não observava as diferenças, achava que era
tudo igual, como se pode identificar na fala: Agora que falou das diferenças eu vi, mas não
tava pensando nisso, os idosos eu sei que são diferentes mas eu ainda não tinha parado para
pensar nisso antes...(C3). Agora eu to vendo um monte de diferenças, até no kit do homem,
diferente do meu...(C1, feminina).
Desse modo, iniciou o vínculo entre os cuidadores e pesquisadora, o que foi
fundamental para o sucesso da atividade sociodramática seguinte, uma dinâmica sobre “A
história do meu nome”. Para Silva (1999) o vínculo é primordial para desenvolver a
autopercepção e a ‘tele’, sentimento mútuo que solidifica as relações, inicia-se no grupo
familiar e se estende a outros grupos humanos, dando a este sustentação.
SOCIODRAMA II: Consciência do Autocuidado
As brincadeiras fizeram a gente ser criança de novo e esquecer dos problemas ...
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2. Sociodrama Consciência do autocuidado
Aquecimento: compartilhar sobre impressões do sociodrama anterior
Dramatização:
Jogo: Meu brinquedo preferido ( brincar e compartilhar)
Jogo:Minha atividade preferidas para ser cuidado
Técnica de Escultura momento grupal I
Compartilhar: sentimentos pessoais no momento grupal.
Sobre a consciência do autocuidado, observou-se que a maioria dos cuidadores
desempenha o papel sem a consciência do seu potencial criativo e da importância do cuidado
com a saúde e da convivência grupal, o que pode interferir na sua saúde, desempenho e
relações sociais. Como tais papéis não estão conscientes, os trabalhadores, mesmo com sua
identidade comprometida, continuam a atuar neles, levando sua vida para estados de desgaste
e estresse. (FATOR, 2005, p.45).
No compartilhar do grupo sobre coisas e atividades que gostariam de fazer para se
sentir cuidados, surgiram depoimentos tais como: ir à igreja, passear no shopping, praia,
jogar baralho, passear com namorado, ir à casa da filha, trabalhar em casa, se relacionar
bem com o cônjuge, dentre outros que ajuntaram valores de afinidades comuns. No entanto,
encontram-se presos em obstáculos pessoais e financeiros que os tornam distantes do plano
da realização dessas vontades. Há necessidade de motivação e conscientização da necessidade
do autocuidado, o que amplia a percepção e consciência do papel profissional com a busca de
melhorias para si e para a profissão.
Nesse sentido, a consciência do papel dos cuidadores ainda não alcançou um nível de
compreensão e liberdade. Constatou-se um bloqueio da espontaneidade e criatividade
impedindo o exercício do potencial criativo e a possibilidade de compreensão do papel
profissional nas dimensões individuais e grupais.
Marra e Fleury (2008) lembram que, para o criador do Psicodrama, o homem sozinho
é uma impossibilidade; sempre há o homem e o outro, ou seja, para cada papel existe o seu
contrapapel e a afetividade atua como núcleo gerador dos vínculos, definindo as relações e os
grupos. Liberar a espontaneidade seria um modo de atingir a homeostase biopsíquico e social.
A necessidade de ampliar intervenções psicossociais destinadas a
reduzir o estresse do cuidador levou Patterson e Grant (2003) a avaliar como mais eficazes
as que incluem intervenção centrada na resolução de problemas e gestão de comportamento,
cujo foco inclui componente social (apoio social) e combinação de condições sociais e
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cognitivas (problema /resolução). Perguntados sobre o que fazem no dia de folga, a maioria
acusou assistir à televisão e dormir. Sobre o sentimento neste momento do sociodrama:
(...) meus colegas me perguntaram como foi o encontro e eu disse que ótimo. As
brincadeiras fizeram a gente ser criança de novo e esquecer dos problemas (C1.);
estou alegre (C3), (C2) ;
estou satisfeito. Eu quero fazer uma homenagem à C5 porque foi aniversário dela e eu
gosto muito de trabalhar com ela (C6).
(C4)To bem!
Drummond e Souza (2008) acentuam que o sociodrama investiga as relações grupais
com a proposta de trazer leveza e alegria à arte de conviver. Destacam que os vínculos
ocorrem por meio das ações, trazendo uma reflexão que favorece a mudança de
conhecimentos, comportamentos e atitudes em prol de relações mais saudáveis consigo e com
o outro.
Ao utilizar neste sociodrama os recursos lúdicos das brincadeiras de infância,
favoreceu a consciência do autocuidado e expressão da espontaneidade e criatividade: brincar
de bonecas (cuidar), de futebol (interagir em grupo), pular corda etc. Nesse mesmo sentido,
Marra (2004) aponta o sociodrama como método que favorece a aprendizagem de papéis,
ideias, conceitos e atitudes por meio da vivência.
Ainda, quando a identidade grupal estava em formação, foi oportuno aproveitar do 2º
sociodrama para realizar a construção da escultura do grupo, feita com o próprio corpo. Neste
instante, após a formação da imagem, surgiu como resultado uma estrutura de formato ainda
irregular, na qual os cuidadores distavam uns dos outros, denotando uma imagem
fragmentada, que espelha fragilidade no desenvolvimento de valores que fortalecem a
identidade grupal.
A escultura representa a metáfora de conteúdos internos, portanto, podemos tomar a
imagem formada como expressão de um conjunto de conteúdos internos representativos da
realidade do grupo (BARBERÁ e KNAPP, 1997).
Reafirmando, Drummond e Souza (2008) observam que o co-inconsciente grupal,
código comum de comunicação, se faz na vivência do grupo e vai apontando o nível de saúde.
Ao final do compartilhar, notou-se maior integração no grupo, indício de ampliação
48
perceptual do papel e da autoconsciência do cuidar de si. Este indicativo favorece a
continuidade da atividade sociodramática no sentido do crescimento do grupo.
SOCIODRAMA III: Humanização do Cuidado
Sinto que cada vez que passa o grupo vai ficando mais forte, mais unido. Eu digo
como é bom trabalhar nesse grupo!
3. Sociodrama: Humanização do cuidado
Aquecimento:
Compartilhar sobre sociodrama anterior
Caminhada individual e coletiva sobre diferentes pisos; refletir sobre o cuidado humanizado
Dramatização:
Reflexão dialogada sobre as necessidades, problemas, expectativas e participação social do grupo de cuidadores quanto à atividade de cuidar de idosos em ILP.
Técnica do desenho: algo que simbolize o cuidar do idoso.
Jogo dramático : linha de evolução do papel – do bebê ao profissional.
Vivência terapêutica: reverência aos idosos
Compartilhar: sentimentos pessoais no momento grupal
Logo no compartilhar inicial, por uma dificuldade de comunicação, o grupo relatou
estar preocupado se ia haver o sociodrama III. Tal fato significou corresponsabilidade com o
grupo e com a equipe, ressaltando o desejo, mesmo que inconsciente, de ser cuidado.
(...) essa semana eu disse...ela (pesquisadora) vai ligar (...) não vai não. (C1)
(...) ah, então vai ter né?(C6)
Neste sociodrama, o momento da caminhada coletiva (orientada para que fosse em
silêncio, caminhando sozinho, em dupla, trios, todos juntos e vivenciando a comunicação com
olhares), teve o intuito de promover maior interação dos cuidadores. Enquanto caminhavam,
refletiam com base em questões apontadas pela pesquisadora sobre o cuidado humanizado, os
idosos, o cuidar na ILPI, as necessidades, problemas, participação social e expectativas
quanto ao papel de cuidador de idosos.
Este momento ensejou o contato consigo mesmo e com o outro, ressaltando,
posteriormente, na consciência do cuidado humanizado ao idoso:
Ta tudo bem, tava ajeitando o almoço e pensando em vir(C1).
49
O dinheiro que a senhora dá para passagem é a desculpa que eu uso para justificar
para meu marido para eu vir para cá (C4).
Hoje é meu dia de folga, acaba sendo uma distração para mim. tem que ter amor; tem
que ter jeito de falar, são pessoas sofridas, que as vezes os filhos não querem aí botam
aqui(C5).
...me passa muita tristeza; porque nem sempre posso transferir o sentimento que eles
desejam; um sentimento bom quando eu posso ajudá-los(C2).
Na atividade seguinte foi solicitado um desenho individual: “desenhar como se sentem
como cuidadores de idosos, algo que simbolize o cuidar do idoso”(pesquisadora). A tarefa foi
finalizada com uma exposição dos desenhos com os seguintes símbolos e expressões:
... flor – flor meiga, como os idosos, lembra assim uma coisa carinhosa e a luz é o que
me faz pensar;
... coração – eu botei o coração, coração grande porque lembra amor, carinho, é o
que a gente sente quando cuida deles...
... estrela e lua - estrela que nunca se apaga é idoso e a e lua que brilha é o cuidador;
... uma idosa índia – Esse desenho é da Cumadinha, gosto muito dela, assim mesmo
ela sendo pessoa difícil. Esta pessoa é uma ídia (índia). Ela é muito difícil porque é uma
índia, trouxeram ela para morar aqui, ela não quer ficar na cama, comer, tomar banho, só
quer ficar no quintal. Ela é difícil porque ela vivia solta e aqui não pode.
...mão, que representa o cuidado...
carro de transporte de idosos da ILPI - ah, é o que eu gosto de fazer, levo eles para o
hospital, médico, fico pra lá e prá cá mas eu gosto; levo também pra passear, é bom. Meu
Mario é idoso também acho que é por isto que eu gosto, levo eles para uma consulta e
aproveito meu tempo, vou cuidando deles e de mim também.
Corroborando estes resultados, Trinca (1987) expressa que o desenho é capaz de
projetar a imagem corporal que poderá ser relacionada a projeções como autoconceito,
imagem ideal do eu e atitudes para com os outros.
Na atividade seguinte, relativa a vivência sobre a evolução dos papéis na vida (de filho
até o papel de cuidador de idosos), pôde-se observar a influência da afetividade no
desempenho do papel. Vieram à tona sentimentos relacionados aos idosos dos quais cuidaram
50
e se identificaram afetivamente, deixando lembranças positivas, contudo, permeadas de
sentimentos de tristeza.
... Senti saudade da tia Lulu, até comentei com (C1) que ela também sentiu. eu
também fiquei triste porque antes daqui eu cuidava da mãe de Dra (D1) e eu lembrei muito
dela (choro) (C1)
Por conta deste resultado, abriu-se espaço para os cuidadores compartilharem
sentimentos de tristeza pelas perdas de idosos. Foi feita uma vivência terapêutica na condução
do grupo reverenciar e se despedir dos idosos, referidos pelo grupo.
To bem mas desculpa professora, eu não pensei que ia me emocionar tanto..foi uma
idosa que a família me ajudou muito e ajuda até hoje. Ajudou meu filho a estudar, foi muito
boa para mim, eu não era daqui(ILPI), depois é que eu vim pra cá(C1).
Eu to mais aliviada pela C1 porque agora eu também lembrei de uma idosa que cuidei
muito tempo e ela se foi, mas tô tranqüila agora..(C4).
Eu também me apego, cuido com amor, carinho, gosto do que faço, mas é difícil
pensar no futuro deles...(C5)
No sentido de atitudes para com os outros, amor e carinho se revelam como atitude
dos cuidadores com os idosos, sendo que, às vezes, transcende os limites do papel
profissional. Cuidar de outra pessoa é uma habilidade que pode ser ensinada, os benefícios do
sociodrama são bem-sucedidos quando se fala em criar, cuidar e nutrir relações no exercício
de intervenções de cunho educativo (MCLENNAN, 2008).
De acordo com Moreno (1992) os papéis que se desempenha na vida se fundem em
elementos privados (sentimentos) e coletivos (socioculturais), o que torna necessário saber o
limite entre um e outro para não haver distorção das funções e incongruência no desempenho
dos mesmos.
SOCIODRAMA IV: Potencial Criativo
... Porque eu gosto mais de trabalhar no grupo da manhã do que no da escala de hoje,
porque me sinto mais leve (C2).
51
4. Sociodrama: Potencial criativo
Aquecimento:
Compartilhar sobre sociodrama anterior, caminhar em ritmos diferentes, refletir sobre o potencial criaativo individual e grupal
Dramatização:
Escolhas pessoais no trabalho
Espaço de conversa sobre relações conflitantes no grupo
Compartilhar: sentimentos pessoais no momento grupal.
Entrega do Guia de cuidadores de idosos (Ministério Saúde/2008)
Estimulou-se neste sociodrama o potencial criativo individual e grupal, iniciando pelo
reconhecimento de características, diferenças individuais e desafios para o sucesso nas
interações grupais. Moreno (1992) enfatiza que no grupo, cada pessoa funciona como agente
terapêutico do outro.
Nesta ação, foram levados em consideração todos os cuidadores da ILPI. Do debate
sobre a impossibilidade de se escolher com quem trabalhar, emergiram as seguintes falas:
Eu já trabalhei nos dois grupos. Eu me dou bem com a C1, é muito bom trabalhar
com ela. Mas eu me dou bem nos dois grupos (C6). Eu era cismada quando trabalhava em
grupo, mas a minha profissão fez com que eu mudasse, porque eu tive de trabalhar com
grupos e ... (C5) .
Os resultados desse momento remeteram ao uso de técnica dramática para
esclarecimento de dúvidas que estavam conflitando a relação entre (C6) e (C5). Ficou
evidente a necessidade de espaço de conversas para a harmonização das relações de trabalho.
Drummond e Souza (2008, p.159) expressam que as diferenças não são como
patologias (algo a ser curado), mas como uma estrutura que pode ser usada de forma positiva.
Reconhecer as características de personalidade das pessoas com as quais trabalhamos facilita
a convivência e o manejo de várias situações relacionais.
Nesse ponto, ressalta-se que a Socionomia considera as disfunções como alterações
originadas de bloqueios da espontaneidade, em face de desvios das normas e padrões socio-
culturais bem como o vazio espiritual que pode afetar a identidade pessoal e social dos
indivíduos (MORENO, 1999).
Quanto às características, referidas pelo grupo, que necessitavam melhoras nos
relacionamentos, prevaleceu a necessidade de proteção:
52
... A minha característica são de os outros me botarem para baixo (C3); também me
chamam de lerda porque sou calma (C2).
SOCIODRAMA V: Matriz Afetiva da Rede Sociométrica
Aconteceu uma coisa, tem pessoa do grupo implicando comigo...
5. Sociodrama: Matriz aAfetiva da Rede Sociométrica
Aquecimento: Jogo das bolas invisíveis
Dramatização:
Vivência do encontro compreensão de conflitos entre equipes
Comunicação
Rede sociométrica
Compartilhar: sentimentos pessoais no momento grupal.
Encerramento: lanche especial
No sentido de reafirmar a necessidade que o ser humano tem do outro para a
realização de tarefas do dia a dia, o aquecimento pelo ‘Jogo das bolas invisíveis’ deu
mobilidade ao grupo e sustentação para a ‘Vivência do Encontro’. Nesta vivencia, o cuidador
percorreu física e mentalmente o trajeto feito pela bola até o outro e do outro para si. Esta
atividade favoreceu a compreensão de conflitos na rede sociométrica e interdependência dos
seus integrantes.
Neste sociodrama, C5 expôs relação conflituosa com um cuidador da equipe não
participante da pesquisa e C6 se incluiu no foco deste conflito.
Tem uma implicância aqui com nós dois..., tudo de ruim acontece com nós dois,
sempre nós dois... todo mundo senta na cama mas só pega nós dois(C5 e C6);
Eu já disse, deixa! não senta na cama e aí resolve(C1);
Começou quando me viram sentado na cama ...eu tava deitado, foi só inveja ...
Foi ruim porque não veio falar direto comigo, então virou fofoca, mas eu não guardo
mágoa eu faço é ironizar... (C6)
Ambos exaltados se perceberam como alvo de implicâncias. Retomaram-se as
discussões sobre rede sociométrica, comunicação, características sociais, fofocas, regras para
cumprir, concordar, discordar e até burlar, mas é preciso saber as consequências numa
convivência grupal. Nesta ocasião, C3 também se incluiu no foco da discussão:
53
... é a primeira vez que me sinto a vontade para falar nesse assunto; Eu sofri muito
com isso, a minha família pensava que eu tava era com depressão e eu dizia que era a
comida daqui. Ela não deixava nem eu me defender vinha como leoa para cima de mim ...eu
só fazia chorar o tempo todo, não comia... to começando aliviar agora(C3)
Chegaram para me contar coisa dela...eu ficava entre as duas tentando defender C3
(C1)
Gente que tem passado sujo fica julgando ela que chegou agora (C6)
De fato, o compartilhamento deste momento e o aconselhamento ao grupo abordando
problemas inter-relacionais, como crenças, opiniões pessoais, cumprimento de regras
institucionais, preservação da auto-imagem, valores culturais e adequação da espontaneidade
nas relações de trabalho e apoio institucional trouxeram sentimentos de compreensão.
Segundo McLennan ( 2008), na discussão oral e reflexão entre os participantes de um
grupo de sociodrama, estes têm a oportunidade de pensar em sua participação e imaginar
como podem estender esta experiência e aprendizagem para suas vidas.
Para melhorar precisava o outro conversar também... mas eu tô muito magoada e não
conseguia. Agora eu to com alívio(C1,C3);
Podemos continuar, ta bom, foi gratificante (C6),
O outro grupo devia participar também (C5),
A gente aprende até para fazer em casa (C1)
(C4)... em silêncio.
(C2) cada dia aprende mais um pouco.
A necessidade de espaço de conversa em uma rede de apoio à importância da rede
sociométrica, que comporta um conjunto de relações afetivas (matriz) na vida do indivíduo,
incluindo sentimentos de aceitação, rejeição e indiferença: “a matriz sociométrica é uma
realidade que transcende os limites grupais, espalhando-se em redes psico-socio-emocionais
através das formações sociais (...) são configurações fortes devido a sua gênese afetiva”.
(COSTA, 1996, p.47).
...de dois em dois meses ela faz uma reunião para funcionários mas ninguém fala,
diferente daqui que todo mundo fala(...) a senhora é psicóloga, ela é chefe(C2).
54
No sentido de harmonizar o grupo e consolidar um modelo de resolução de conflitos,
a vivência interna com a música “te ofereço paz” e vivência (olhos fechados) das figuras
parentais imaginando os pais perto de si.
De acordo com a técnica de constelação familiar de Bert Hellinger (2006), os pais
devem ser evocados mentalmente para trazer sentimentos de segurança e confiança a
indivíduos e grupos. Após sua realização, a técnica desencadeou sentimentos expressos em
palavras, ditos frente a frente, contato ponta com ponta de dedo: desculpa, compreensão,
ética, esperança, união, consideração.
Intervir na rede sociométrica dos cuidadores viabilizou a comunicação, harmonizou
sentimentos e favoreceu a coesão grupal no sentido de consolidar respostas novas na
resolução de problemas, contribuindo, desta forma, com o cuidar de idosos na Instituição.
SOCIODRAMA VI: Autoavaliação
6. Sociodrama: Autoavalição
Aquecimento: Jogo de palavras: pensar, sentir, agir, relacionar-se e espiritualizar-se.
Dramatização
Escultura grupal II
Vídeo educativo – Índia arvore
Avaliação dos sociodramas anteriores
Mensagens à equipe não participante
Compartilhar
Encerramento: Festa de são João (julho/2009)
Este sociodrama teve caráter avaliativo e objetivou sintetizar as impressões, sentimentos e
expressões após a vivência dos sociodramas.
Iniciou-se a avaliação avançando na discussão acerca do redimensionamento do papel
profissional com um jogo de palavras para refletir sobre a prevalência de cada uma no papel
profissional (pensar, sentir, agir, relacionar-se e espiritualizar-se) serviu como aquecimento do
grupo para montagem da Escultura II.
Ao contrário da Escultura I, realizada no sociodrama II onde foi espelhada uma
imagem de fragmentação dos indivíduos impedindo a formação de uma imagem coesa pouco
desenvolvimento de valores para a identidade grupal, a Escultura II espelhou um grupo bem
definido, com estrutura coesa constituindo valor como identidade grupal bem estruturada.
55
Alguns quiseram sair para ver de fora a escultura que demonstrou um grupo próximo e
harmônico. O conteúdo verbal foi expresso para dar nome à escultura do grupo: união, força e
coragem.
Gomes (2006) obteve achado semelhante usando a escultura, no qual surgiram
palavras compartilhadas como: união de forças, participação, decisão conjunta,
determinação.
Utilizou-se um vídeo demonstrativo da importância da coesão do grupo na resolução
de problemas e em seguida usou-se um quadro de avaliação coletiva dos sociodramas
anteriores, contendo três questões cujo intuito foi identificar melhorias nos níveis individual,
grupal e social quanto ao desenvolvimento do papel profissional:
a) O que melhorou para o cuidador? Prá mim foi a auto-estima, desempenho e
qualidade, calma, atenção e respeito ao trabalho... Agora estamos mais seguros
para falar o que sentimos.
b) O que melhorou para o grupo? Mais forte, aproximou mais a gente, tá mais calmo,
mais unido (todos).
c) O que o cuidador ainda precisa? melhor condição de trabalho, salários, cursos,
palestras, ser valorizado, EPI (equipamento de proteção individual),
reconhecimento pela instituição.
Os participantes sugeriram repassar opiniões, como multiplicadores, sintetizando suas
aquisições em mensagens ao grupo que não participou, dizendo que:
...foi muito bom fazer o curso, ver quem eu sou de verdade. Conhecer os meus amigos
de trabalho e estar aqui; eles iriam ficar mais fortes; que pena! Perderam um ótimo
aprendizado, não só em relação ao grupo, mas a eles mesmos; pude aprender mais coisa, ter
mais paciência com os idosos, eu já tinha e melhorou mais ainda, eles aprenderiam a ouvir
mais porque eles estão trabalhando com seres humanos; minha pessoa como profissional
melhorou muito...desejo que eles cresçam pelo menos 50% do que quem fez o curso.
Silva (2008) utilizando método de ação dramática para desenvolvimento do papel de
agente de trânsito, concluiu que a grande transformação dos participantes se deu ao se
descobrirem individualmente e como grupo, esta descoberta fortaleceu a equipe e o projeto.
Solicitado que o grupo se posicionasse no lugar da personagem do vídeo a que
assistiram (uma criança que reuniu pessoas para solucionar um problema), os cuidadores
56
posicionados em fila, como na técnica de constelação familiar para inclusão de indivíduos ou
grupos (Hellinger, 2006), brotaram um compartilhar para com os colegas que não
participaram da pesquisa:
Querida equipe, vocês não puderam fazer o curso, nós pudemos, aprendemos muito
nos tornamos mais responsáveis para compreender vocês, já que estamos um passo a frente,
temos dificuldades e diferenças, mas vamos focalizar na esperança de que vocês possam
também mudar, como aprendi aqui, que vocês também têm o potencial criativo e um Deus
dentro de vocês. Acreditamos com isto que esta centelha divina vai brilhar em vocês,
enquanto isso nós estamos aqui como equipe, trabalhando juntos com vocês. Honramos vocês
com tudo que são e estamos aqui para seguirmos juntos cada um com suas diferenças.
Como encerramento, aproveitou-se o mês de julho e realizou-se uma festa de são João,
com o intuito de criar uma imagem final de encontro e alegria no grupo.
Assim como Valcarce (2009) acreditou-se que a intervenção sociodramática pode
favorecer o redimensionamento do papel profissional na rede social de serviços em saúde com
vistas à promoção da saúde.
Diante do objetivo proposto de avaliar a autopercepção dos cuidadores de idosos sobre
seu papel profissional, após a intervenção com sociodramas tematizados, o relato do grupo
apontou como resultados o autoconhecimento, facilidade de expressar seus sentimentos e
idéias denotando despertar da espontaneidade e potencial criativo, melhoria da consciência do
autocuidado, integração e coesão do grupo, alegria pela participação na atividade e pelo
aprendizado trazido pela vivência em seu grupo de trabalho. A ausência de questionamentos
acerca do papel de cuidador foi substituída após os sociodramas por um pensamento reflexivo
no qual o grupo se achou mais forte, seguro e unido. Foi capaz de expressar necessidade de
melhoria salarial, curso, melhores condições de trabalho e valorização pela instituição.
57
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sociodramas, como potencializadores de afetividade e criatividade, proporcionaram
um pensar e agir racionais que favoreceram a compreensão da autopercepção e reflexão
acerca do papel profissional, dando “empoderamento” ao cuidador e ao grupo de cuidadores
no sentido da Promoção da Saúde.
A consciência do papel profissional após os sociodramas proporcionou pensamentos
reflexivos fazendo com que o grupo expressasse suas necessidades para o exercício
profissional, se achando mais forte e unido.
Nesse sentido, a intersubjetividade aliada à objetividade do exercício do papel
profissional constituiu aspecto fundamental no desempenho do cuidador, na sua relação com o
idoso e outros cuidadores.
A capacidade de o sociodrama intervir terapeuticamente nos grupos sociais mostrou-se
útil para as situações de compreensão, autopercepção, desenvolvimento e treinamento do
papel profissional, haja vista os relatos do grupo em autoavaliação: gratidão pela aquisição de
autoconhecimento e aprendizagem profissional com melhoria das relações.
Nesta pesquisa, o cuidador despontou timidamente como um agente de transformação
social na busca de preservar a auto-estima, evoluindo para um desempenho de qualidade,
desde que aliado a melhores condições de trabalho e salários, cursos, palestras, recursos
materiais e reconhecimento do seu desempenho profissional pela Instituição.
Como limitações à pesquisa e aos cuidadores o desafio foi o excesso de som em
atividades externas, desencontro dos cuidadores devido às escalas e desconhecimento do Guia
para cuidadores, tudo isto evidenciou negligência na organização institucional e do cuidador
em relação à aquisição de informações (cursos) e uso do suporte social, como espaço de se
informar e relacionar-se.
Ante o olhar do cuidador para si e para o grupo, torna-se prioridade a continuidade de práticas
integrativas com intervenções grupais que favoreçam a saúde, o desempenho profissional e a
educação permanente em serviço. A metodologia sociodramática mostrou-se útil para as
situações de compreensão, autopercepção, desenvolvimento e treinamento do papel
profissional. Enfatiza: a escuta acolhedora, a humanização do cuidado, o desenvolvimento do
vínculo terapêutico e promoção da saúde por meio da integração do ser humano com o meio
ambiente e a sociedade.
58
Conclui-se que a trajetória de serviços prestados à comunidade pela ILPI é
reconhecida pela humanização do cuidado oferecida aos idosos. Tal cuidado humanizado
torna - a responsável em sua ação ao realçar aspectos da subjetividade e intersubjetividade dos
cuidadores criando espaços de conversa e suporte social, com vistas à expressão da potência
de ação no seu exercício profissional.
59
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62
CONSIDERAÇÕES REFLEXIVAS
A realidade do cuidador, como também da população idosa, porta avanços e desafios
para o Estado e vários setores da sociedade. A importância de práticas integrativas com
abordagens de Promoção da Saúde, pautadas na interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e
intersetorialidade se tornam protagonistas na realidade das instituições de longa permanência
e no contexto geral da prática de profissionais cuidadores.
Nesta pesquisa, a autopercepção dos cuidadores sobre o seu papel profissional surgiu
imbricada em aspectos individuais de sua personalidade como a afetividade, o que a enriquece
de verdades em relação ao cuidado amoroso com os idosos na ILPI.
As intervenções sociodramáticas favoreceram o reconhecimento de limites
estruturantes entre os aspectos subjetivos (pessoais) e intersubjetivos (coletivos) do papel
profissional como fundamentais para o desempenho profissional: identidade pessoal,
espontaneidade e potencial criativo (capacidade de resolução de problemas), autocuidado,
autoestima, humanização do cuidado sem sobrecarga para a saúde, identidade grupal,
corresponsabilidade, coesão grupal e potência de ação grupal.
O desenvolvimento de valores no cuidar gerou a necessidade de mudança de
características pessoais e grupais numa forma explícita de prioridade ao bem-estar do grupo.
Tais reflexões evidenciaram questões até então ocultas e abriram perspectivas de
“empoderamento do grupo” na busca da necessidade de integração de conhecimentos,
autocuidado e inserção social, melhores condições de trabalho, de formação e educação
continuada (cursos, palestras, etc).
A consciência do papel profissional desenvolveu-se ao longo do estudo com a
expansão da autopercepção de si e dos outros e grupo passou a ser visto também como
suporte social. As esculturas utilizadas em dois momentos mostraram no segundo momento
uma imagem mais integrada do grupo com sentimentos de união e força grupal.
A prática integrativa com utilização do sociodrama resultou, após as intervenções
grupais, na confirmação da eficácia desta metodologia. Tais reflexões conduziram à evidência
do amor e carinho com que cuidam dos idosos, da disponibilidade de ouvir mais o outro, de
receber cuidado e respeito e do desejo de inclusão de todos os cuidadores na pesquisa,
apontando para uma busca de equilíbrio grupal. Esta disponibilidade interna de mudança
favoreceu, na fala dos cuidadores, o desempenho profissional.
63
Dentre os desafios identificados, o não reconhecimento do Guia Prático de Cuidadores
de idosos, a necessidade de espaço de conversa e de melhores condições físicas de trabalho
evidenciou uma negligência que pode ser pessoal e/ou institucional em relação à aquisição de
informações (cursos, palestras) e uso do suporte social, como espaço de se informar, pensar,
agir sentir e relacionar-se.
Tais desafios impulsionam cada vez mais ao empreendimento de esforços que
garantam uma boa formação dos profissionais que lidam no seu cotidiano com a dimensão do
cuidar de idosos.
O sociodrama como metodologia economicamente viável e eficaz, pode contribuir
para a Promoção da Saúde e desenvolvimento do papel profissional dos cuidadores, inserindo-
os no contexto social, dando maior relevância à sua prática na rede de atenção básica ao
cuidado com idosos.
64
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ZIMERMAN,G.I.Velhice – aspectos biopsicossociais. 1.a edição, Porto Alegre: ARTMED, 2000.
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APÊNDICES
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APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, Rosângela Augusta da Silva, psicóloga e estudante do curso de Mestrado em Saúde Coletiva da UNIFOR, estou desenvolvendo uma pesquisa com cuidadores de idosos, com o objetivo de utilizar o sociodrama no intuito de potencializar a sua prática profissional, em instituições de longa permanência para idosos.
Deste modo, venho solicitar sua colaboração para participar da pesquisa, respondendo a um formulário e permitindo a realização das ações interventivas- sociodramas, ressaltando que sua participação será de algada importância para conclusão dessa pesquisa.
Esclareço que as informações coletadas na avaliação somente serão utilizadas para os objetivos da pesquisa; que o senhor(a) tem liberdade de desistir a qualquer momento de participar da pesquisa; que a avaliação só será realizada com seu consentimento; que as informações ficarão em sigilo e que seu anonimato será preservado; e que em nenhum momento o senhor(a) terá prejuízo no seu tratamento nem terá encargo financeiro.
Com os resultados desta investigação espero redimensionar o desempenho do papel profissional, promovendo novas respostas no dia-a-dia da instituição de longa permanência, fornecer subsídios para as políticas públicas para a formação e educação permanente do cuidador de idosos.
O Sr(a) receberá uma cópia deste termo de consentimento, onde constam o telefone e o local onde possa ser encontrada, podendo tirar suas dúvidas sobre a pesquisa e sobre sua participação, agora ou a qualquer momento.
Em caso de esclarecimento entrar em contato conosco.
Pesquisadora responsável: Rosângela Augusta da Silva
Mestrado em Saúde Coletiva - UNIFOR - telefone (85) 3477-3280
Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFOR - telefone (85) 3477-3160
Universidade de Fortaleza - Avenida Washington Soares, 1321 – Bairro Edson Queiroz, Fortaleza, CE, CEP: 60811-905.
Declaro que, após convenientemente esclarecido(a) pela pesquisadora e ter
entendido o que me foi explicado, concordo em participar da pesquisa.
Fortaleza, _______ de ____________________ de _______
_______________________________________________ Participante da pesquisa
71
APÊNDICE B
QUESTIONÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO
Data: ___/ ___ /____
Dados sociodemográficos
1. Nome: ___________________________________________________________________
Obs: no texto da pesquisa os nomes serão referenciados de forma fictícia para preservar a
confidencialidade e privacidade dos sujeitos da pesquisa.
2. Sexo: ( ) 1- masculino 2- feminino
3. Idade: _____________
4.Estado civil: ______________________
5. Atividade laboral: __________________________
6. Renda familiar mensal:
1- até 1 SM 2- >1 até 2 SM 3. > 2 até 3 SM 4.( ) > 3 SM
7. Escolaridade (em anos de estudo concluídos): ( )
1) Nenhuma 2) De 1 a 3 3) De 4 a 7 4) De 8 a 11
5) De 12 a mais 6) Não se aplica 7) Ignorado
8. Tempo de trabalho nesta Instituição: _________________
9. Tempo de trabalho na função de Cuidador: __________________
10. Relacione os idosos dos quais cuida ao grau de dependência do cuidador:
Parcial ( ) Total ( ) Ambas ( )
11 Fez curso(s) para exercer a função de Cuidador? ( )SIM ( ) NÃO
Qual?___________________________________________
Foi por iniciativa própria ou da instituição? ____________________
12. Você já conheceu o novo Guia para Cuidadores de idosos/2008 do Ministério da Saúde?
( ) SIM ( ) NÃO .
Caso afirmativo, foi por iniciativa própria ou da instituição? ___________
13. Você já desempenhou outras atividades anteriormente? ( ) SIM ( ) NÃO
Caso afirmativo, descreva a(s) atividade(s):
72
APÊNDICE C
ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Data:______________
Cuidador: _____________________________
Questões:
1. O que é para você ser cuidador de idosos?
2. Que sentimentos você identifica quando pensa no desempenho do papel de cuidador?
3. O que você faz para cuidar de si que reflita positivamente no seu trabalho?
4. O que acha que os cuidadores desta ILPI necessitam para o desempenho profissional?
5. O que você tem de melhor para oferecer nesse momento?
6. O que acha que precisa melhorar em você para contribuir com o crescimento do grupo
de cuidadores?
73
ANEXOS
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ANEXO A
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