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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Lucimeire Valério de Matos A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO CONTEXTO DE FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA Taubaté SP 2012

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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ

Lucimeire Valério de Matos

A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO CONTEXTO DE

FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO

FÍSICA

Taubaté – SP

2012

Lucimeire Valério de Matos

A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO CONTEXTO DE

FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO

FÍSICA.

Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre em Desenvolvimento Humano pelo Curso de Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté Área de Concentração: Formação, Políticas e Práticas Sociais Orientador: Prof. Dr. Renato Rocha

Taubaté – SP

2012

LUCIMEIRE VALÉRIO DE MATOS

A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO CONTEXTO DE

FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO

FÍSICA.

Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre em Desenvolvimento Humano pelo Curso de Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté, Área de Concentração: Desenvolvimento Humano, Políticas Sociais e Formação Orientador: Prof. Dr. Renato Rocha

Data: ___________________________ Resultado: _______________________

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Renato Rocha – Universidade de Taubaté - UNITAU

Assinatura _________________________________

Profa. Dra. Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão – Universidade de Taubaté

- UNITAU

Assinatura _________________________________

Prof. Dr. Roberto Tadeu Iaochite – Universidade Estadual Paulista - UNESP

Assinatura _________________________________

SUMÁRIO

1. Introdução 04

2. Revisão de literatura 08

2.1 O desenvolvimento humano 07

2.2 Trabalho docente do profissional de Educação 17

2.3 O contexto de formação de professores de Educação Física 26

2.4 O cenário das academias de ginástica, o contexto de atuação do

profissional estudado

31

2.5 A atuação do professor de Educação Física 35

3. Problema 38

4. Justificativa 38

5. Objetivo geral 41

5.1 Objetivos específicos 41

6. Método 42

6.1 Natureza da pesquisa 42

6.2 Procedimento de coleta dos dados 43

6.2.1 A coleta dos dados 43

6.3 O contexto da pesquisa e participantes 47

6.3.1 As academias 47

6.3.2 Os sujeitos de pesquisa 47

6.4 Procedimentos de análise dos dados 48

7. Resultados e discussão dos dados 52

7.1 Categoria 1. Processo de Formação 52

7.2 Categoria 2. Contexto de Formação 58

7.3 Categoria 3. Práticas de Formação 64

7.4 Categoria 4. Variáveis ligadas às Práticas Profissionais 73

8. Considerações Finais 78

Referências 80

Anexo 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 88

Apêndice 1: Roteiro da Entrevista semiestruturada 90

Apêndice 2: Transcrição das Entrevistas 91

Apêndice 3: Memorial 129

RESUMO

Neste estudo de caso, do tipo exploratório de natureza qualitativa e

delineamento transversal, objetiva-se analisar a trajetória profissional de

professores de Educação Física atuantes no contexto de academias de

ginástica da cidade de Taubaté-SP. A base teórica pesquisa são os

referenciais de Urie Bronfenbrenner e a Teoria Bioecológica do

Desenvolvimento Humano (TBDH), que está intrinsecamente ligada às

estabilidades e mudanças que acontecem nas características do individuo e à

interferência do contexto em seu desenvolvimento. Foram entrevistados 20

professores de Educação Física que atuam profissionalmente em academias

de ginástica: 10 recém-ingressantes ingressos nesse mercado de trabalho e 10

experientes (mais de dez anos de atuação). Os dados foram coletados em dois

momentos. No primeiro deles todos foram entrevistados de forma semi-

estruturada e, no segundo, foram colhidas narrativas orais de apenas dois

professores. Para análise das entrevistas da narrativa oral optou-se pela

análise de contexto. Os resultados apontam que a identidade profissional e o

processo formativo se dão pelas trajetórias vividas, e que o contexto de

atuação é um referencial trazido dos ambientes dos quais esses sujeitos

participaram ao longo de suas vidas. A certeza da necessidade de formação

continuada é vigente, e aspectos relativos à idade, ao corpo e à saúde

preocupam os sujeitos, no que se refere à continuidade eficaz do seu trabalho.

Com base na TBDH e nos resultados, constatou-se que o ambiente –

macrossistema academia de ginástica – influenciou a identidade, a formação e

a escolha de atuação dos profissionais entrevistados, alterando suas ações

enquanto professores.

Palavras-chaves: Contexto de formação. Identidade Profissional. Academia de

Ginástica. Desenvolvimento Humano.

ABSTRACT

This case study, of exploratory type from transversional delineament and

qualitative one, focus on analyzing the Professional Road of teachers of

physical education in the context f academies of gym in Taubaté – SP. The

theoretical bases of this research are references of Urie Bronfenbrenner and

the Biological theory of human Development, which is intrinsically linked to

stabilizations and changings which happen in the individual features and also in

the inference of the context in this development. There were 20 teachers who

were interviewed and who acted professionally in gym academies: 10 recent

beginners in this job market and 10 experienced (with more than 10 years of

work). The data were collected in two moments. In the first, all of them were

interviewed in a semi-structured way, and in the second, oral narrative of two

teachers were taken. To analyze the interviews of oral narratives it was done a

context analysis. The results pointed that the professional identity and the

formative process happen by the lived road, and that the context of action is a

referential which is brought from the environment from which these individuals

take part along their lives. The certainty of the necessity of continuous formation

is up to date, and aspects related to the continuous efficiency of their work.

Based in TBDH and in the results, it was verified that the environment – gym

academy of macros system influenced the identity, the formation and the choice

of action of the professionals who were interviewed, changing their actions

while teachers.

Keywords: context of formation, professional identity, gym academy, human

development

Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de

nós mesmos somos desconhecidos – e não sem motivo.

Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um

dia nos encontrássemos? Com razão alguém disse: “onde

estiver teu tesouro, estará também teu coração”. Nosso

tesouro está onde estão as colmeias do nosso

conhecimento. Estamos sempre a caminho delas, sendo

por natureza criaturas aladas e coletoras do mel do

espírito, tendo no coração apenas um propósito- levar

algo “para casa”

Friedrich Nietzsche

Agradecimentos

A Deus, pela oportunidade e privilégio de ter um trabalho que

desempenho com satisfação e esmero, com o qual tanto aprendo e ensino, e

do qual tenho orgulho.

Aos meus pais, eternos incentivadores, que em todos os momentos,

felizes e tristes, desse Mestrado, estiveram ao meu lado. Aos meus irmãos

Lucilene e Leandro, pessoas queridas e meus exemplos mais expressivos. À

minha família, sem a qual perco todas as referências.

Ao meu querido Rodrigo, pessoa que divide comigo todos os momentos,

meu marido, amigo, companheiro. Nós dois acreditamos um no outro!

Ao professor Renato, meu orientador, que me acolheu quando me vi

sem um “porto seguro”. Com sua delicadeza e serenidade de atos e palavras,

sempre acreditou em mim, incentivando-me e inspirando-me segurança, para

que eu conseguisse seguir em frente.

Aos amigos alunos, pessoas queridas que fazem parte do meu

cotidiano, dentre os quais Carolina, Vera, Érico, Olga, José Bento, Elke,

Pollyana, Ana Cláudia, Regiane, Fabiana, Letícia e Lisiane. Vocês me

ajudaram muito, nessa trajetória.

À professora, amiga e prima Andréia Alda Valério, que gentilmente

realizou a revisão gramatical deste trabalho, meus sinceros agradecimentos

pela colaboração e por se colocar disponível para sanar minhas dúvidas.

À amiga Sofia Mariotto que, por meio de atitudes, gestos, palavras e

ações, sempre com seu olhar amigo e sincero, contribuiu em muitos momentos

para que este trabalho fosse levado a termo.

À amiga Mariana Benatton, pelo incentivo, que sempre beneficiou

minhas ações profissionais e acadêmicas.

Aos meus amigos e professores da primeira turma de Mestrado em

Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté. Unidos conseguimos

realizar e superar os desafios.

Aos alunos e funcionários do Colégio Anglo Cassiano Ricardo, que

contribuíram para que este trabalho fosse realizado da melhor maneira

possível, colaborando para que minhas ausências no decorrer deste Mestrado

fossem permitidas e incentivando-me a aperfeiçoar-me como profissional.

E a todos os professores das academias de ginástica pelas quais passei,

por seus depoimentos, imprescindíveis para a realização desta pesquisa.

INTRODUÇÃO

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Educação Física

precisa buscar sua identidade como área de estudo fundamental para a

compreensão e o entendimento do ser humano como produtor de cultura.

Muitos educadores se preocupam com essas questões e vêm buscando

alternativas para superá-las, realizando trabalhos na área psicomotora,

humanista e desenvolvimentista. Essas são vertentes que conduzem a um

reestudo da importância do trabalho com o movimento. Assim, os professores

de Educação Física encontram, no trabalho com a Aptidão Física e Saúde,

uma alternativa viável e educacional para suas aulas (BRASIL, 1999, p. 68).

Segundo Oliveira (2000), a atuação profissional em Educação Física

passa por cinco grandes áreas: escola (da creche ao ensino superior); saúde

(hospitais, clínicas); lazer (clubes, hotéis, animação de festas); esporte

(profissional e amador: clubes esportivos, empresas, prefeituras); e, empresas

(indústrias, academias, escolinhas de esportes). Como se pode observar, o

leque de atuação do profissional da área ampliou-se significativamente. Nesses

espaços, destaca-se a indústria das academias de ginástica, que se apresenta

como segmento econômico mais representativo. Esse espaço pode ser

compreendido como um local onde é oferecido um conjunto de atividades que

buscam a melhoria e o bem-estar do indivíduo por meio de alterações

morfológicas, fisiológicas e/ou psicológicas.

O interesse em estudar esse assunto surgiu a partir da trajetória pessoal

da pesquisadora, quando iniciou o curso de Educação Física na cidade de

Taubaté. Percebeu, logo nos primeiros anos da graduação, o quanto esse

mercado de trabalho era promissor. Havia, naquela época, 1993, poucos

professores que trabalhavam na área do condicionamento físico, mas as

temáticas que se relacionavam com o assunto sempre a interessaram. As

academias de ginástica despontavam num mercado em grande expansão.

Até o final dos anos 1980, a atuação do profissional de ginástica em

academia seguia um referencial determinado por discurso técnico da Educação

Física com suportes biológicos visualizados nos textos de fisiologia do

exercício, biomecânica e metodologia do treinamento desportivo.

Posteriormente, passou a sofrer influência das mudanças ocorridas nas

ciências, destacando-se aqui as ciências sociais (OLIVEIRA, 2006). A ação do

profissional de Educação Física caracterizava-se por uma relação próxima de

trocas na perspectiva de atender aos alunos nas suas necessidades práticas

de atividades corporais.

Esta pesquisa, proveniente do Programa de Mestrado em

Desenvolvimento Humano, tem como um de seus objetivos a discussão sobre

o estudo dos contextos de atuação dos profissionais. Buscam-se respostas

para explicar como ocorre a formação e quais são as possíveis contribuições

para o desenvolvimento do indivíduo. Privilegia-se o estudo, tanto das práticas

sociais e da formação em seus mais variados contextos, como das teorias que

compreendem o ser humano na sua complexidade, de modo a enaltecer uma

inter-relação dos diversos aspectos que influenciam o profissional nesse

processo de sua formação.

A teoria que alicerça este estudo surge e baseia-se nos referenciais de

Urie Bronfenbrenner, sob uma perspectiva ecológica que contempla uma visão

sistêmica de mundo, expressando a relação entre o indivíduo, o ambiente e a

ocupação de cada um. Bronfenbrenner (2002) define o desenvolvimento como

a concepção que cada indivíduo desenvolve junto ao seu ambiente e sua

relação com ele, bem como o progresso de sua capacidade de descobrir,

sustentar ou alterar suas propriedades.

O primeiro contato da pesquisadora com essa área de atuação foi como

estagiária, logo no início da licenciatura. Como já se utilizava desses serviços,

seu ingresso foi facilitado. Com o passar dos anos, observou as lacunas

existentes na formação desses professores que decidem trabalhar nas

academias de ginástica. O tecnicismo aprendido na graduação dificulta o

desenvolvimento desse profissional, e as disciplinas estudadas distanciam-no

do produto com o qual vai trabalhar: o indivíduo.

Os capítulos transcorrem por meio do embasamento teórico de acordo

com a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano proposta por Urie

Bronfenbrenner (2011), em uma versão transformada e ampliada da clássica

fórmula de Kurt Lewin (1935), que primeiramente propõe que o comportamento

é uma função articulada do indivíduo com o ambiente. Em seguida, estimula

uma substituição e observa que o desenvolvimento também é função articulada

do indivíduo com o ambiente.

O que se acrescenta é a percepção de que o desenvolvimento envolve

um parâmetro não encontrado na fórmula de Lewin: a dimensão do tempo.

“No plano puramente descritivo, o desenvolvimento humano pode ser

definido como o fenômeno de constância e mudança das características da

pessoa ao longo do seu ciclo vital” (BRONFENBRENNER, 2011, p. 139).

A equação de Lewin revisada demonstra que existem dois tipos de

forças que interagem, produzindo constância e mudanças no desenvolvimento.

O tempo e o processo traduzem a fórmula que segue:

“As características da pessoa em um dado tempo de sua vida são uma

função conjunta das características da pessoa e do ambiente durante o ciclo de

vida da pessoa ao longo do tempo” (BRONFENBRENNER, 2011, p. 139).

A ênfase, neste estudo, está nos contextos (ambientes) e na influência

deles na formação de professores de Educação Física que optam por atuar nas

academias de ginástica, trazendo as características inerentes de tais processos

no desenvolvimento humano. São abordados na revisão de literatura os

conceitos sobre a socialização e a identidade que se inicia antes do ingresso

desse indivíduo na Universidade. Apresentam-se aqui os contextos que

formam esses professores e o cenário de atuação do profissional estudado,

mostrando aspectos relativos ao seu cotidiano dentro das academias de

ginástica, demonstrando aos leitores interessados a relevância do estudo, uma

vez que a maior contribuição desta pesquisa se dá pelo escasso número de

estudos científicos desenvolvidos nesse contexto em especial.

Quanto ao método, apresenta-se o tipo de estudo realizado, os

instrumentos de coleta, as características do contexto e dos participantes da

pesquisa, e os procedimentos escolhidos para a análise dos dados.

Os resultados são apresentados conjuntamente com a discussão dos

dados, e alguns gráficos oferecem melhor detalhamento das categorias

originárias, após análise.

Finalizando, considera-se o contexto de formação e atuação dos

professores de Educação Física que apresentaram em suas identidades

construídas o desejo de partir para uma área de atuação que se sustenta a

cada década como um promissor mercado de trabalho.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O Desenvolvimento Humano. A partir de pressupostos sobre a Teoria do Desenvolvimento Humano estudada por Urie Bronfenbrenner (1979/2002), é possível afirmar que ele está intrinsecamente ligado às estabilidades e mudanças que acontecem nas características biológicas, psicológicas e sociais dos indivíduos, no decorrer da suas vidas (ASPESI; CHAGAS; DESSEN, 2005). O estudo científico moderno do desenvolvimento humano é caracterizado pelo compromisso de compreender como ocorrem as relações e as interações entre o indivíduo e os níveis ecológicos de seu desenvolvimento. Essa teoria encontra-se centrada na temporalidade histórica, inserida nos processos relacionais pessoa-contexto e nos modelos de mudanças dinâmicas que transcorrem no sistema ecológico e que influenciam os indivíduos e os contextos em relação a métodos sensíveis à mudança (LERNER, 2011). Para Bronfenbrenner (1979/2002), o desenvolvimento humano deve ser considerado como o processo pelo qual o indivíduo se desenvolve, conseguindo diferenciar, validar e ampliar o ambiente ecológico, tornando-se mais motivado e capaz de se envolver em atividades que revelem suas propriedades, sustentando ou reestruturando esse ambiente em vários níveis de complexidade ou aumentando sua forma e conteúdo. A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano aponta que o desenvolvimento representa uma transformação que atinge a pessoa, e que não tem caráter efêmero quando se trata do indivíduo, de uma situação ou de um contexto. O desenvolvimento acontece a partir de uma reorganização contínua dentro de uma unidade tempo-espaço, e essas mudanças se realizam em diferentes níveis: das ações, das percepções do indivíduo, das atividades e das relações que ele estabelece com o mundo (POLONIA; DESSEN; SILVA, 2005). Nos últimos anos, Bronfenbrenner e os autores que estudam a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano têm trabalhado na reformulação da abordagem e trouxeram como modificação para o novo modelo de pesquisa a consideração da bidirecionalidade em relação à pessoa e ao ambiente em que ela atua. Em outros campos de pesquisa essa bidirecionalidade também se faz presente, e vem sendo analisada nas pesquisas sociais de um modo geral. Os indivíduos e os ambientes atuam como sistemas de influência na construção da identidade do professor, em específico na do professor de educação física, que está em formação. Assim, o que constitui um ser que está se desenvolvendo são as relações de reciprocidade criadas entre ele e seus diferentes ambientes (BRONFENBRENNER, 2002). Buscar conhecimento sobre a relação homem/ambiente, contextualizar suas perspectivas de interações/transações (Yunes, 2004) e refletir sobre as possibilidades de desenvolvimento saudável requerem a compreensão de um ser humano inserido em diferentes ambientes, próximos e distantes. Desse modo, Bronfenbrenner (2002) estuda a concepção da pessoa em desenvolvimento, no ambiente e, em especial, em sua interação com o meio em que transita. Esse desenvolvimento traz mudança duradoura na maneira pela qual o indivíduo percebe e lida com o ambiente. Haddad (1997) e Krebs (2001) afirmam que o paradigma proposto por Bronfenbrenner (2002) tem suas raízes fundamentadas na teoria de campo de Kurt Lewin, e que a equação definida por ele é C = F (PA), ou seja, “[...] o comportamento (C) é uma função (F) do estado da pessoa (P) e seu ambiente (A)” (HADDAD, 1997 p. 29). A teoria de Lewin, estabelecida nas décadas de 30 e 40, afirma que para entender o comportamento é necessário considerar o indivíduo e o ambiente como variáveis dependentes. Bronfenbrenner (2002), utilizando a fórmula original de Lewin, substitui o termo comportamento pelo termo desenvolvimento, resultando em D = F (PA) (desenvolvimento é uma função do estado da pessoa e do seu ambiente).

Essa mudança traz reflexão também sobre a dimensão temporal, enfatizando as diferenças conceituais entre comportamento e desenvolvimento, pois modificações no comportamento podem constituir adaptações temporárias a um dado ambiente, enquanto no desenvolvimento os padrões de comportamento são internalizados e mantêm uma consistência independente de ambiente (HADDAD, 1997). Consequentemente, a estrutura desse ambiente não se limita a uma situação que ocorre em um ambiente imediato, afetando diretamente o indivíduo em desenvolvimento. Os objetos e as pessoas que interagem nesse processo influenciam o desenvolvimento do indivíduo. É importante apontar, no conceito de ambiente, a visão sistêmica de que todos os elementos envolvidos no contexto cotidiano do indivíduo em desenvolvimento têm a sua importância (BRONFENBRENNER, 2002). Essa teoria de desenvolvimento humano, publicada no final da década de 1970, foi formulada expondo ao campo científico importantes premissas para o planejamento e desenvolvimento de pesquisas em ambientes naturais. Seus escritos faziam uma séria crítica ao modo tradicional de se estudar o desenvolvimento humano, referindo-se, entre outras coisas, à grande quantidade de pesquisas concluídas sobre desenvolvimento “fora do contexto”.

Para Urie Bronfenbrenner, essas investigações focalizavam somente a pessoa em desenvolvimento em ambiente restrito e estático, sem a devida consideração das múltiplas influências dos contextos em que os sujeitos viviam (BRONFENBRENNER, 2002). Nesse novo modelo, que passa a ser chamado de Bioecológico, é proposto o construto teórico denominado “processos proximais”. O enfoque primordial desse processo apresenta-se da maneira como os potenciais genéticos são ativados e tornam-se importantes para o funcionamento do indivíduo em seus níveis psicológicos (POLONIA; DESSEN; SILVA, 2005). Com uma noção ampliada desses processos, afirma-se que eles, ao longo do tempo, são os mecanismos que produzem o desenvolvimento humano. Para que isso ocorra, o indivíduo deve estar envolvido em uma atividade que perdure regularmente e em períodos extensos de tempo. Assim, essa atividade se torna crescente e complexa, e os processos proximais podem ser entendidos como os tipos de atividades desenvolvidas diariamente e nas quais os indivíduos estão envolvidos (POLONIA; DESSEN; SILVA, 2005).

Desse modo, é possível afirmar que a formação profissional de professores que atuam em academias de ginástica é a todo momento influenciada pelos indivíduos e pelo ambiente. A partir dos estudos formulados por Bronfenbrenner, o modelo consolidado pelos processos proximais constituía-se de quatro componentes que se interligavam: (a) o processo de desenvolvimento, envolvendo a dinâmica da relação entre o indivíduo e o contexto; (b) a pessoa, com suas singularidades, características biológicas, seus processos cognitivos, emocionais e comportamentais; (c) o contexto do desenvolvimento humano, definido como os sistemas entrelaçados da ecologia do desenvolvimento humano; e, (d) tempo, definido como o que se relaciona diretamente às dimensões da temporalidade (como exemplos: tempo ontogênico, o tempo histórico e o tempo familiar), compondo o cronossistema responsável por moderar as mudanças ocorridas ao longo da vida de cada indivíduo (BRONFENBRENNER, 2011). A importância desses processos se constitui a partir da referência do indivíduo com o ambiente em que ele transita. As formas de interação entre eles é o dado mais importante nesse processo, enfatizando que operam ao longo do tempo e que são os mecanismos primários que produzem o desenvolvimento humano. O processo faz a interligação entre os diferentes níveis em que a pessoa convive e constitui seus papéis e atividades diárias. O desenvolvimento intelectual, emocional, social e moral de um indivíduo, criança ou adulto, demanda sempre os mesmos critérios: que esse indivíduo em desenvolvimento participe ativamente de situações progressivamente mais complexas e recíprocas com pessoas, objetos e símbolos dentro de um ambiente, e que, para

ser concretizada, essa interação deve ocorrer em uma base regular e em períodos de tempo estendidos. Esse processo faz com que o indivíduo em desenvolvimento venha a ter concepção maior e diferenciada do meio e de quanto esse ambiente provoca impacto, fazendo com que ele esteja sempre em crescimento dinâmico, e com que, progressivamente, o meio o reestruture (BRONFENBRENNER, 2002). Em referência à pessoa, a frequente mudança em tudo que acontece no decorrer da sua vida é preponderante no seu desenvolvimento. A abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano destaca a importância de se considerar as características da pessoa em desenvolvimento, como suas convicções, nível de atividade, temperamento, além de suas metas e motivações (MARTINS; SZYMANSKI, 2004). Em seus estudos, Bronfenbrenner (2011) prioriza a pessoa com suas características biopsicossociais, haja vista que em suas formulações anteriores existia uma lacuna com relação ao elemento chave da teoria. Essa lacuna era decorrente da falta de estudos sobre o contexto do indivíduo. Para moldar o sentido do desenvolvimento futuro de uma pessoa três características são importantes, considerando-se sua capacidade de influenciar a direção e a força dos processos proximais durante o ciclo de vida. São elas: as disposições que podem ativar os processos proximais em um domínio particular do desenvolvimento do indivíduo e que continuam sustentando suas operações; os recursos bioecológicos de capacidade, experiência, conhecimento e habilidades necessários para que sejam eficientes os processos proximais em cada estágio de desenvolvimento humano desse indivíduo; e, por último, características do processo que convidam ou desencorajam reações do contexto social e que podem provocar ou interromper a operação dos processos proximais.

A diferenciação dessas três formas considera suas combinações e os padrões de estrutura da pessoa, o que pode explicar as diferenças entre a direção e a força dos processos proximais resultantes e seus efeitos no desenvolvimento (BRONFENBRENNER, 2011).

Bronfenbrenner (2011) demonstra que, quando ocorre a integração entre

a pessoa e o contexto, o resultado é uma rica compreensão do sistema

ecológico em que essa pessoa está inserida. Suas novas formulações da

Teoria do Desenvolvimento Humano acrescentam qualidades à pessoa que

são importantes e que moldam seu desenvolvimento futuro. Nas versões

anteriores, que se iniciaram em 1974, e nas quais o ambiente (contexto) não

era enfatizado com sua real importância, o entrelaçamento entre microssistema

e macrossistema acontecia, mas os aspectos principais não eram tão

pontuados. Com isso, as três principais características da pessoa foram

também incorporadas na definição de microssistema, por exemplo, as

características dos pais, dos amigos, familiares, professores, cônjuges, ou de

pessoas que participam da vida da pessoa em desenvolvimento de maneira

regular, ativa, e por um período prolongado de tempo (BRONFENBRENNER,

2011).

Segundo Bronfenbrenner (2002, p. 18):

A ecologia do desenvolvimento humano envolve o estudo científico da acomodação progressiva, mútua, entre um ser humano ativo, em desenvolvimento, e as propriedades mutantes dos ambientes imediatos em que a pessoa em desenvolvimento vive, conforme esse processo é afetado pelas relações entre esses ambientes, e pelos contextos mais amplos em que os ambientes estão inseridos.

O contexto compreende o ambiente global do indivíduo, onde

acontecem os processos desenvolvimentais. Os vários ambientes abrangem,

tanto os mais imediatos, nos quais vive a pessoa em desenvolvimento, como

os mais remotos, em que a pessoa nunca esteve, mas que se relacionam e

têm o poder de influenciar o curso do desenvolvimento humano (MARTINS ;

SZYMANSKI, 2004).

Connolly e Valsiner (2003, p. 11, apud Dessen e Guedea, 2005)

observam que:

[...] os organismos em desenvolvimento tornam-se flexíveis, operando em qualquer nível que seja necessário para encontrar as condições ambientais. A relevância da irreversibilidade do tempo torna-se óbvia aqui: um sistema em desenvolvimento que encontra as condições ambientais X, ‘em um dado momento’, necessita adaptar-se não somente àquele estado já conhecido das demandas ambientais, mas também em modos que ‘antecipem as possíveis mudanças’ nestas demandas, em um momento subsequente.

Segundo Polonia, Dessen e Silva (2005), o tempo pode ser percebido no sentido histórico ou no sentido de como ocorrem as mudanças nos eventos no decorrer dos anos de vida de um indivíduo. Eventos históricos podem alterar o curso de desenvolvimento humano, em qualquer direção, não só para indivíduos, mas para segmentos grandes da população. As mudanças na estrutura da família, no poder econômico, na disponibilidade de emprego e no local de moradia constituem exemplos que podem interferir nesse desenvolvimento. Para Bronfenbrenner (2002), o desenvolvimento humano exige mais do que a observação direta do comportamento das pessoas que circulam em um mesmo local; o importante, na reformulação da sua teoria, é a interação em ambientes próximos e distantes nos quais os indivíduos estão inseridos. São essas as estruturas a que o autor se refere, como um jogo de bonecas russas encaixadas uma dentro da outra, interferindo mutuamente entre si e afetando o desenvolvimento do indivíduo. Cada uma das estruturas é chamada pelo autor de: micro, meso, exo e macrossistema.

Nesse caso, Bronfenbrenner (2002 p. 18) afirma que o microssistema é

um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais experienciados pela

pessoa em desenvolvimento num dado ambiente com características físicas e

materiais específicas. Assim, ambientes como a casa, a escola e a academia

de ginástica que o indivíduo frequenta fazem parte de suas interações

pessoais, constituindo um microssistema.

Os padrões de interação, conforme persistem e progridem por meio do tempo, constituem os veículos de mudança comportamental e de desenvolvimento pessoal. Igual importância é atribuída às conexões entre os indivíduos presentes no ambiente, à natureza desses vínculos e à sua influência direta e indireta sobre o indivíduo em desenvolvimento (HADDAD, 1997, p. 36-37)

O mesossistema, segundo Bronfenbrenner (2002, p. 21):

Inclui as inter-relações entre dois ou mais ambientes nos quais a pessoa em desenvolvimento participa ativamente (tais como, para uma criança, as relações em casa, na escola e com os amigos da vizinhança; para um adulto, as relações na família, no trabalho e na vida social).

Um exossistema envolve um ou mais ambientes que o indivíduo não

frequenta como participante ativo, mas onde acontecem episódios que o

afetam e que influenciam seu desenvolvimento. O autor cita três exemplos: o

trabalho dos pais, a rede de apoio social e a comunidade em que a família está

inserida (BRONFENBRENNER, 2002).

O macrossistema engloba os sistemas de crenças de uma cultura que

estão envoltos em um corpo de conhecimento, recursos materiais, estilos de

vida, hábitos do dia a dia, oportunidades, desafios e obstáculos. Nessa

estrutura, o desenvolvimento humano deve ser analisado frente aos diferentes

impactos culturais submersos nas questões da moralidade, valores na

educação dos filhos, construção da identidade e traços da personalidade

(POLONIA; DESSEN; SILVA, 2005).

Bronfenbrenner (2002), em seus estudos sobre as díades como

estruturas caracterizadas por relações recíprocas que o indivíduo inicia no nível

mais interno do esquema ecológico e que podem ocorrer a partir de relações

como mãe e filho, irmão e irmã, mulher e marido, professor e aluno, entre

outras, aponta que o reconhecimento dessas relações proporciona a chave

para as mudanças no comportamento do indivíduo, o qual também é afetado

pelo ambiente. Assim, nos ambientes em que ocorrem as díades, o

desenvolvimento humano sempre acontece como uma consequência.

Por conseguinte, sempre que uma pessoa, em um ambiente, presta

atenção às atividades e ao comportamento de outra pessoa, ou mesmo

interfere nessas ações, ocorre, pode-se afirmar, uma relação que é

estabelecida por uma díade (BRONFENBRENNER, 2002).

A díade é importante para o desenvolvimento em dois aspectos. Primeiro, ela por si só constitui um contexto crítico para o desenvolvimento. Segundo, ela serve como o bloco construtor básico do microssistema, possibilitando a formação de estruturas interpessoais maiores- tríades, tétrades e assim por diante (BRONFENBRENNER, 2002, p.46).

As díades podem assumir três formas funcionais distintas, quanto ao seu

poder para fomentar o crescimento psicológico do indivíduo. São elas: Díade

observacional, estabelecida quando um indivíduo está observando de forma

cuidadosa e continua a atividade de outro, e este outro indivíduo, por sua vez,

reconhece o interesse do outro, por exemplo, o filho observando a mãe fazer

uma refeição; Díade de atividade conjunta, aquela em que duas pessoas

participam e realizam alguma coisa juntas, não necessariamente fazendo a

mesma coisa, as atividades podem ser diferentes, mas devem ser

complementares. Exemplo dessa díade pode ser a mãe lendo histórias escritas

em um livro enquanto a criança aponta e nomeia as gravuras descritas nesse

livro.

Uma díade de atividade conjunta apresenta condições favoráveis não só para a aprendizagem no curso da atividade comum, mas também para uma crescente motivação para buscar e completar a atividade quando os participantes não estiverem mais juntos (BRONFENBRENNER, 2002, p. 47).

Segundo Bronfenbrenner (2002), a díade de atividade conjunta é

importante, pois a partir dela se procede ao fato de se intensificar o

desenvolvimento entre os indivíduos e apresentar propriedades características

de todas as díades, definidas pela reciprocidade, equilíbrio do poder e relação

afetiva.

Conclui-se que a Díade primária é aquela que continua a existir em uma

aprendizagem, independentemente do tempo, para ambos os participantes,

mesmo quando eles não estão juntos. Os dois indivíduos aparecem nos

pensamentos de cada um, são ligados por fortes sentimentos emocionais e

continuam a influenciar o comportamento um do outro mesmo quando não

estão juntos. Um exemplo: o que amigos sentem quando estão há muito tempo

sem se ver, quando sentem a falta um do outro, ou quando imaginam o que o

outro deve estar fazendo.

Em referência ao trabalho nos contextos das academias de ginástica, e

sobretudo com seres humanos, as relações entre as pessoas, com todas as

sutilezas que caracterizam as relações humanas estudadas por

Bronfenbrenner (2011) e Lenoir (2003), a negociação, controle, persuasão,

sedução, promessa, etc., evocam atividades como instruir, supervisionar,

servir, ajudar, entreter, divertir, cuidar, controlar. São atividades que se

desdobram em modalidades complexas que a intervenção da linguagem, a

afetividade, a personalidade, o ensinar e aprender engajam perfeitamente

naquilo que um professor precisa para alcançar êxito na sua prática.

Essas ações apontam para a necessidade de se estudar o significado de

socialização e de identidade profissional, que serão discutidas adiante.

2.2 Trabalho docente do profissional de Educação Física

A docência ou o ato de ensinar vem se constituindo há pelo menos

quatro séculos; progressivamente, essa função de instruir a sociedade trouxe

importantes impactos sobre a economia e os demais aspectos da vida coletiva,

sobretudo políticos. A verdade é que o conceito moderno de cidadania está

extremamente ligado ao ato de ensinar (TARDIF; LESSARD, 2009).

Tardif e Lessard (2009) trazem em seus estudos que o mundo social

onde vivemos hoje seria incompreensível se nós não nos esforçássemos por

reconhecer que a maioria dos indivíduos que convivem em uma sociedade são

pessoas escolarizadas em diferentes graus e sob diferentes formas. Nesse

caso, podemos afirmar que a figura do professor e do contexto onde esses

indivíduos se encontram têm o mesmo reconhecimento. A figura do professor

no contexto social tem grande importância para a pesquisa científica. A esfera

social moderna, por meio dos seus indivíduos, seus movimentos sociais, suas

políticas e suas organizações, volta a refletir sobre si mesma para assumir-se

como objeto de atividades, projetos de ação e de transformação sem os quais

a figura do professor, dentro desse processo, seria indispensável.

Giddens (1987; 1996, apud Tardif e Lessard, 2009) aponta que a

sociedade moderna discorre alguns conceitos sobre essa teoria: longe de ser

uma ocupação secundária ou periférica em relação à hegemonia do trabalho

material, o trabalho docente compõe um fator imprescindível para a

compreensão das transformações na atualidade das sociedades trabalhistas.

Essa teoria se sustenta em quatro constatações que resumidamente se

inserem no trabalho docente.

A primeira delas é formada por trabalhadores produtores de bens

materiais, no entanto esta categoria está em queda livre há pelo menos

cinquenta anos, não sendo mais a principal responsável pelo vetor da produção

e da transformação dessas sociedades, ao passo que os trabalhadores da área

Quanto à seleção/opção pelos autores citados nessa parte do trabalho, muito embora digam respeito ao trabalho do professor na escola, a autora acredita que essas contribuições dadas por eles podem ser pensadas para o trabalho do professor que atua nas academias de ginástica.

dos prestadores de serviços crescem absurdamente. Em suma, a revolução

dos serviços extrapolou a revolução industrial (TARDIF; LESSARD, 2009).

A segunda é formada por grupos de cientistas e técnicos que se

destacam em suas colocações. São esses grupos que criam e controlam o

conhecimento teórico, técnico e prático necessário às decisões, às inovações,

às mudanças sociais e à gestão de conhecimentos cognitivos e tecnológicos.

Isso levou autores como Tardif e Lessard (2009, apud Naisbitt,1982;

Stehr,1994) a afirmarem que momentaneamente estamos numa sociedade da

informação e do conhecimento e que as ocupações socialmente importantes

estão envolvidas na gestão, distribuição e criação de conhecimentos.

A terceira é formada por especialistas na gestão dos problemas

econômicos e sociais auxiliados pelos conhecimentos fornecidos pelas ciências

naturais e sociais. Essa categoria de profissionais surgiu devido ao

aparecimento de novas atividades trabalhistas que se relacionam

historicamente às profissões e aos profissionais que representam tipicamente

os especialistas. Cresce o número das profissões e das semiprofissões. As

atividades burocráticas também ganharam destaque nessa categoria, que

trabalha na esfera da gestão social e que se utiliza da estatística e de vários

instrumentos de medida, teorias dos comportamentos, análises e pesquisas

frequentes. Em grande parte, os debates atuais sobre a profissionalização do

ensino devem ser relacionados a essa evolução das profissões e das

atividades burocráticas conhecidas também como “atividades racionais”

(TARDIF; LESSARD, 2009).

Quarta constatação: é formada por ofícios e profissões que têm seres

humanos como “elemento de trabalho”, sendo ocupações que se relacionam ao

trabalho interativo que tem como característica principal a relação estabelecida

entre os indivíduos em uma organização, seja ela escolar, hospitalar, de

serviços sociais, etc., organizações em que um trabalhador e um ser humano

se utilizam de seus serviços. As transformações em curso demonstram o

crescente status que esses ofícios gozam, na organização socioeconômica,

nas sociedades modernas avançadas.

As ocupações socialmente centrais (educação, serviços terapêuticos,

academias de ginástica, serviços psicológicos e médicos, trabalhos de

enfermaria, serviços sociais, etc.), em que funcionários exercem seu trabalho

na presença de pessoas, através das quais relações interpessoais são

desenvolvidas, constituem um processo de trabalho que reside em mudar ou

melhorar a situação humana das pessoas e, em muitos casos, a dela própria. É

o caso da medicina, das terapias, da educação, da readaptação entre muitas

outras profissões (TARDIF; LESSARD, 2009).

De acordo com Tardif e Lessard (2009), as interações humanas vão

surgindo no cerne dessas profissões, exigindo desses trabalhadores maiores

qualificações e conhecimentos abstratos, geralmente adquiridos em

universidades, onde as teorias terapêuticas, psicológicas, sociológicas,

diagnóstica, sistema de classificação de pessoas, concepções pedagógicas,

entre outras, devem ser esclarecidas e estudadas de forma eficaz.

Uma vez estabelecidas as interações humanas, conceitos complexos

como necessidade, personalidade, desenvolvimento, projetos de vida,

orientação, inserção, aprendizagem, desenvolvimento de si, saúde, autonomia,

entre outros, devem ser estudados e ampliados, para que os trabalhadores

prestem serviços de qualidade aos que os procuram, assumindo compromissos

junto aos indivíduos.

Com a demanda social aumentada, os profissionais competentes e

especializados diversificam o trabalho destinado às pessoas. Foucault (1984,

apud Tardif e Lessard, 2009) afirma que serviços como os dos sexólogos,

gerontólogos, terapeutas, especialistas da organização do lazer ou da saúde

física e mental, e de trabalhadores que se especializam em crescimento

pessoal, acupuntura, massagem e orientação vocacional o trabalho que está

intimamente ligado a ajudar o próximo), multiplicarão de maneira fenomenal.

Em suma, segundo Tardif e Lessard (2009, p. 20 e 21):

Essas constatações e os fenômenos que elas indicam mostram que as análises clássicas baseadas sobre o paradigma hegemônico do trabalho material, sejam de inspirações marxista, funcionalista, ou liberal não correspondem bem às transformações em curso nos últimos cinqüenta anos. Além disso, tudo leva a crer que essas transformações estão longe de concluir-se, considerando-se as

tendências atuais, caracterizadas pela globalização das economias, dos intercâmbios e das comunicações e pela desestruturação/reestruturação das práticas e das formas de trabalho.

Para Carrolo (1997), socialização e identidade são conceitos distintos,

todavia não se separam. Estão sendo sempre redescobertos e capacitam uma

perspectiva multidimensional, ultrapassando as limitações dos conceitos que

incidem dos quadros epistemológicos de cada ciência como condição inicial da

sua utilização operacional. Com isso, há de serem abordados os domínios da

Antropologia Psicanalítica, da Psicossociologia e da Sociologia, permitindo um

estudo que satisfaça o processo de construção da identidade como produto da

socialização. Parte-se de aspectos consensuais entre as diversas contribuições

das áreas, para se entender os conceitos que seguem neste capítulo sobre a

socialização e a identidade profissional.

A construção da identidade profissional tem relações estreitas com o

ambiente de formação oferecido. Dessa maneira, formar professores significa

estimular o pensamento crítico reflexivo e fornecer a eles subsídios para que

ocorra o desenvolvimento da autonomia e da colaboração. De acordo com

Nóvoa (1995, p. 25), “[...] estar em formação implica um investimento pessoal,

um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vista

à construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional.”

Antes de qualquer consideração sobre a identidade do profissional de

Educação Física, deve-se entender o que significa esse termo, o que

caracteriza uma profissão.

Segundo Souza (2001), nas raízes etimológicas "profissão" vem da

palavra latina “professio”, do verbo “profiteri”, que quer dizer confessar,

testemunhar, declarar abertamente. A palavra surge atrelada a uma forma de

vida que é publicamente assumida e reconhecida. É interessante lembrar que

era exigido aos primeiros professores das universidades que fizessem uma

profissão de fé, numa cerimônia pública, num misto de influências laicas e

religiosas. Neste sentido, "profissão" opunha-se a "ofício", ao chamado

"métier", pois enquanto a primeira assumia um saber reconhecido e professado

em público, o segundo, aliado à ideia de negócio ou trabalho manual, sugeria

um conhecimento mais esotérico, mais secreto, revelado apenas aos iniciados,

ou seja, aos aprendizes dos artesãos.

Após a definição do termo “profissão”, retorna-se à temática central, com

o intuito de realizar analogias referentes à identidade e à formação do

profissional de Educação Física que atua no contexto estudado, as academias

de ginástica, bem como sobre o quanto ele reinventa sua própria história e o

quanto faz uso dela no seu cotidiano de trabalho.

Para Carrolo (1997), na sociedade a dimensão profissional adquiriu uma

importância considerável na medida em que o emprego é, no cotidiano do

indivíduo, um atributo que estrutura a sua identidade social. Vem disso a

importância profissional, pois, a partir do que esse indivíduo consegue prove,r

inicia-se o próprio sustento, seus ideais se transformam e sua identidade é

reestruturada a todo o momento.

Outro ponto de convergência discute a concepção dinâmica e

construtivista da identidade como sendo o produto do processo de sucessivas

socializações. O individuo realiza o que corresponde a uma transação externa

do sujeito com o mundo exterior, e a outra, interna, do sujeito consigo mesmo.

(CARROLO, 1997).

A identidade emerge no centro de muitas interações e tem sempre uma

função inacabada. Fundamenta-se no domínio de várias perspectivas: a de

Mead (1934), teoria da individuação como apropriação subjetiva do mundo

(tomar o papel de...); a de Parsons e Merton (1950), a teoria da socialização

antecipadora partindo da distinção entre grupos de pertença (in-group) e de

referência (out-group); a de Berger e Lucksman (1976); e, da construção social

da realidade e da concepção de Bourdieu (1972), de socialização como

aquisição de habitus (CARROLO, 1997).

Desse modo, Carrolo (1997) faz apontamentos de como se dá a formação da

identidade profissional do professor, que, de acordo com o pesquisador, é o

resultado da soma, tanto da identidade estruturante, quanto da individual, as

quais não podem ser separadas dos mecanismos de mobilidade social.

Compreendem, pois, uma dupla articulação que une ambas as trajetórias: as

individuais condicionadas e as de sistemas estruturados. A primeira refere-se

ao mundo interno do indivíduo, e a segunda, ao mundo externo.

As experiências sociocorporais vividas por profissionais que atuam no

contexto das academias de ginástica e o estudo da forma como eles a utilizam

como um filtro no processo individual, o modo como as identidades

profissionais se manifestam, determinando suas escolhas por ambientes e

contextos de atuação, definindo interesses, relações e a própria valorização da

profissão, influenciando a formação desses professores, foram aspectos

considerados para trazer a identidade profissional para esta pesquisa como um

fator a ser estudado.

Na atualidade, a Educação Física pode ser definida como uma área das

Ciências Biológicas que estuda as atividades corporais em suas dimensões

culturais, sociais e biológicas. É uma área do conhecimento que vai além da

questão da saúde, relacionando-se com elementos que constituem aspectos

financeiros, gestão de pessoas, aspectos estéticos, emocionais e relações

interpessoais. É possível afirmar que são inúmeras as contribuições que ela

pode trazer, por meio dos seus professores e dos ambientes de atuação de

cada um. A área deixa de ter como foco principal o esporte ou os exercícios

sistematizados que se restringiam apenas à promoção da saúde. Os

conhecimentos advindos das Ciências Humanas, que pesquisam essas

questões acima citadas, emergem de forma crescente no campo da Educação

Física.

É importante salientar que, quando se inicia a discussão sobre

identidade profissional do educador físico e sobre o fato de que o professor é

um profissional, essa distinção tenta expressar um entendimento comum entre

professores e alunos do curso de Educação Física: de que para atuar no

espaço não escolar não se faz necessário ter conhecimento pedagógico e de

que o indivíduo que atua no espaço não escolar é um profissional, e não um

professor (FIGUEIREDO, 2004).

Os “saberes sociais” são o conjunto de saberes que estão disponíveis

numa sociedade, e os saberes educacionais, o conjunto correspondente aos

processos de formação e de aprendizagem, que foram elaborados e

destinados a instruir os indivíduos que formam essa sociedade.

Fundamentados nesses saberes, os professores efetivam os processos de

formação e são responsáveis por definir sua prática em relação aos saberes

que possuem e transmitem (TARDIF, 2002).

Contudo, segundo Tardif (2002), a relação dos professores com os

saberes não podem se resumir exclusivamente à transmissão dos conceitos e

conhecimentos. Durante suas práticas, diferentes saberes se integram e

determinam relações, sendo o saber docente repleto de pluralidades. A riqueza

do contato com o outro e a transformação do conhecimento adquirido pelas

experiências já vivenciadas pelo educador são fatores pontuais, quando se faz

referência aos saberes.

O mesmo autor, no texto "Saberes Profissionais dos Professores e

Conhecimentos Universitários: elementos para uma epistemologia da prática

profissional dos professores e suas consequências em relação à formação para

o magistério" (2000), argumenta que as experiências sociais/culturais do futuro

professor agem/funcionam como um filtro através do qual ele

seleciona/aceita/adere/ rejeita os conhecimentos dos cursos de formação.

Esses filtros (cognitivos, sociais e afetivos), processadores de

informações, perduram ao longo do tempo, pois têm sua origem na história

escolar e na história de vida desses profissionais. Para o autor, essas

experiências sociais são responsáveis pelo fato de que alguns professores,

mesmo depois que passaram pelo processo formativo, continuam com

conhecimentos cristalizados e encontram dificuldade em mudar suas

concepções anteriores.

A identidade está associada, tanto à analogia, concordância e

uniformidade, quanto à singularidade e individualidade. O próprio termo traz a

complexidade do conceito, ao qual apresenta significados opostos. Muitas

vezes pode ser o significado daquilo que é idêntico, embora sejam seres ou

objetos distintos; em outras ocasiões pode determinar uma característica do

que é único e que, assim, distingue-se totalmente dos outros.

Para Chamon (2003), a identidade apresenta-se desse modo, em sua

própria definição, como sendo ao mesmo tempo aquilo que torna semelhante e

diferente, único e igual aos outros, oscilando entre a alteridade radical e a

semelhança total. A ideia de identidade instala uma tensão dialética entre o

mesmo e o outro, o que é semelhante e o que é diferente, e permeia as

análises feitas, teorias desenvolvidas e debates travados sobre o conceito.

A identidade que o indivíduo deseja ter, desse modo, subentendido o

processo biográfico e a identidade para as outras pessoas, é um processo

desenvolvido por meio das relações estabelecidas. A articulação entre essas

duas faces distintas é a chave para o processo da construção da identidade

profissional (CARROLO, 1997).

A construção da identidade parte de que ela não é um dado imutável e

de que não pode ser adquirida; é um continuum num processo que cada

indivíduo desenvolve particularmente. A profissão de professor surgiu em dado

contexto histórico, respondendo às necessidades justapostas pelas

sociedades, adquirindo estatuto de legalidade.

Desse modo, ao repensar o tema da pesquisa, que está extremamente

ligado ao ambiente no qual este indivíduo se encontra, e sobre o quanto as

relações que se estabelecem nesse ambiente são importantes para o seu

desenvolvimento e a sua trajetória profissional, deve-se citar Nóvoa (1995), que

observa, em seus estudos, a existência de verdadeiro movimento

socioeducativo em torno das histórias de vida, com enorme profusão de

abordagens que necessitam de esforço de elaboração teórica baseada numa

reflexão sobre as práticas, e não numa óptica normativa e prescritiva. Esse

autor afirma que o movimento socioeducativo deve ser enriquecido em bases

de ação, sempre no sentido de integrar a teoria à prática (NÓVOA, 1995).

Reconhecer que, na atualidade, as ações produtivas e a dimensão

profissional do indivíduo se desdobram nos processos identificatórios do

trabalhador, por meio da sua atividade profissional, leva à compreensão de que

o trabalho é, nos dias de hoje, um elemento constituinte da subjetividade

humana e, portanto, faz parte da identidade do indivíduo (COUTINHO;

KRAWULSKI; SOARES, 2007).

A essa formação da identidade podem ser atribuídos, a priori, dois

processos que são respectivamente correspondentes, como cita Carrolo (1997,

p. 29):

A esfera subjetiva, que é a aquisição da identidade para si ou desejada por parte dos candidatos, envolve o percurso biográfico, a perspectiva pessoal do espaço e do processo de formação. E a esfera social, que é a identidade atribuída pelos outros, a visão dos

colegas e formadores, a forma de como esse profissional relaciona e avalia seu trabalho no seu contexto de atuação.

O referido autor afirma que, na medida em que a identidade profissional

de um ponto de vista social resulta da adequação entre a identidade para si e a

identidade para os outros, torna-se possível compreender a construção da

identidade profissional por meio da descrição de três fatores:

- do dispositivo de formação, pela análise dos conteúdos e da atividade

de formação impregnadas de referências ao universo profissional;

- do processo identitário biográfico, por meio das representações e

percepções individuais dos formandos, acerca, não só da formação recebida,

mas também dos trajetos socioprofissionais vividos e da projeção de si mesmo

na carreira futura;

- do processo relacional, pelo estudo dos objetivos de formação e da

avaliação do perfil do profissional dos candidatos, que traduzem o

reconhecimento da identidade a que aspiram (CARROLO, 1997 p. 31).

A questão da formação profissional e a trajetória da construção

identitária dos profissionais de Educação Física atuantes nas academias de

ginástica constituem um tema de discussão contínua. Na área da Educação

Física, o processo histórico de profissionalização buscou estabelecer espaço

no mercado de trabalho para a intervenção profissional, realizada, inicialmente,

quase que com exclusividade, no âmbito escolar (OLIVEIRA, 2000;

NASCIMENTO, 2002).

No espaço compreendido nesses limites de atuação, até 1970 havia

poucas oportunidades para a atuação desses profissionais. As academias de

ginástica e outros setores só tiveram incremento, no Brasil, a partir dos anos

1980 (OLIVEIRA, 2006). A evolução das necessidades da sociedade, a

preocupação com o desenvolvimento da melhoria da saúde e a atuação de

professores de Educação Física em contextos que fugiam da escola e dos

esportes de rendimento determinou que houvesse mudança no perfil da

profissionalização e necessidade de formar professores que atuassem em

espaços de promoção da saúde.

De acordo com Nascimento (2002, p. 48):

Há uma proliferação de novas estruturas de prestação de serviços esportivos, especialmente as academias de ginástica particulares. Com a diversificação de oportunidades de práticas esportivas

oferecidas à comunidade em troca de pagamentos, estas estruturas esportivas são um novo mercado de trabalho e que proporcionam novos espaços de intervenção profissional.

Isso posto, há de se considerar alguns aspectos relativos à história da

formação de professores de Educação Física no Brasil e algumas tendências

presentes no debate educacional sobre essa formação, citando teóricos

reflexivos (STEFANE, MIZUKAMI, 2002, apud SCHÖN, 1983; NÓVOA, 1992;

PÉREZ-GÓMEZ, 1992; ZEICHNER, 1993).

Apresentam-se, adiante, aspectos importantes no que se refere à

história da formação desses profissionais, indicando considerações para

reformulações de concepções das especificidades da área, relacionando as

aprendizagens por eles realizadas por meio da experiência profissional, do

confronto vivido nos cursos de formação, e adentrando os contextos e

situações em que esses profissionais trabalham.

2.3 O Contexto de Formação de Professores de Educação Física

A partir da introdução das técnicas esportivas no Brasil, em 1920, vários

Estados começam a incluir a Educação Física nas escolas. O processo de

escolarização da disciplina, na época, deu-se a partir de um projeto

educacional que implicou a elaboração de um conjunto de leis voltadas para a

implementação da prática obrigatória nas escolas brasileiras (STEFANE;

MIZUKAMI, 2002).

Em 1925, foi criada a primeira escola para a formação de professores de

Educação Física, que pertencia à Marinha e utilizava métodos ginásticos

relacionados à formação militar. Somente na Constituição de 1937 foi

formalizada, em quase todos os graus e níveis de ensino (exceção ao Ensino

Superior), a configuração da necessidade de formação de recursos humanos

para o trabalho com a Educação Física, que até então era ministrada pelos

militares da época.

Em 1939, durante o governo de Getúlio Vargas, foram criadas as

primeiras instituições de formação de professores de Educação Física, ligadas

ao meio civil, entre elas, a Escola de Educação Física de São Paulo e a Escola

Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.

Apesar de o ensino ser ministrado por professores que não eram militares de

formação, ainda continuavam sendo fortemente influenciado por esse meio

(STEFANE; MIZUKAMI, 2002).

Por volta de 1940, Augeste Listello criou o Método Desportivo

Generalizado e consolidou as práticas esportivas no âmbito escolar,

preocupando-se com a performance atlética e com fatores físicos e fisiológicos

nas aulas de Educação Física. Nessa fase, a formação dos professores era

mais voltada para o enfoque esportivo, não se diferenciando muito da instrução

militar.

Segundo Stefane e Mizukami (2002), a formação profissional naquela

época era de técnicos em Educação Física. O curso era concluído em dois

anos. Para ingressar nesse curso exigia-se somente o curso secundário

fundamental. Em 1945, com a destituição de Vargas, Linhares assume o

governo e promulga o Decreto-Lei nº 8.270/45, que altera a duração do curso

para três anos. Somente em 1953, a Lei da Equivalência nº 1.821/53 altera a

forma de ingresso no Ensino Superior, obrigando os cursos de Educação Física

a exigirem prestação de cursos vestibulares e o certificado de conclusão do

Ensino Médio para que os alunos pudessem ingressar nos cursos de

Licenciatura.

Em 1969, frente à situação política em que vivia o Brasil, a Educação

Física foi incluída como disciplina obrigatória também no Ensino Superior. A

intenção era manter a ordem e a segurança nacional, tendo o caráter de

esporte de rendimento. Com esse objetivo, houve grande desenvolvimento

científico nas áreas de fisiologia do esforço nas Escolas de Educação Física,

acontecendo assim uma expansão dos cursos de formação nessa área, em

especial do ensino privado (STEFANE e MIZUKAMI, 2002).

A partir dos anos 1970, iniciam-se as discussões relacionadas às

práticas sobre os conceitos da psicomotricidade. Os aspectos técnicos e

táticos, que até então eram considerados essenciais na formação dos

professores de Educação Física, começam a ser questionados, e os processos

de aprendizagem, as tarefas da escola, os processos cognitivos, afetivos,

sociais e psicomotores passam a ser discutidos nos campi das universidades,

bem como as disciplinas que compreendem esses conceitos (DARIDO e

RANGEL, 2005).

Como cita Taffarel (1993, p. 36, apud Stefane; Mizukami, 2002):

Demarcam-se posições diferenciadas, cada vez mais explicitadas, nas discussões sobre as funções da Educação Física, sua legitimidade e sua autonomia. Em um amplo espectro, ainda não muito bem delineado, encontram-se tantos os que defendem a Educação Física na perspectiva da aptidão física, da saúde [...] como os que questionam este papel e buscam compreender a Educação Física como componente da cultura corporal esportiva.

De 1979 a 1984, muitos seminários foram promovidos na tentativa de

ampliar as discussões sobre a formação de professores para o Ensino

Fundamental e Médio e sobre os currículos das Escolas de Educação Física.

Havia profissionais que defendiam um currículo único e obrigatório para todos

os cursos de formação. Em contrapartida, outros profissionais queriam atribuir

a autonomia às instituições, para construção e deliberação de seus próprios

currículos. A Resolução n º 3/87, concretizada no Parecer nº 215/87, tratou do

perfil do licenciado, do bacharel e do técnico esportivo, e apresentou uma

proposta de currículo mínimo que buscava caracterizar o perfil profissional e

que definia áreas de abrangência do currículo e a duração mínima do curso

para quatro anos, indicando que a formação deve ser a partir de uma

Formação Geral (Humanista e Técnica) e da parte que trata do

Aprofundamento de Conhecimentos Específicos (BORGES, 1998 p. 29 e 30).

Pensando em formação profissional num contexto mais amplo, Schön

(1983, apud STEFANE; MIZUKAMI, 2002) relata, em seus estudos, que, a

partir dos anos 1970, houve uma crise nas profissões e em seus profissionais,

devido a insatisfação com os modelos de formação da época, os quais eram

concebidos a partir da racionalidade técnica.

Num primeiro momento, a crise deu-se em profissões não docentes,

mas, após uma concepção instrumental e de aplicação de conhecimentos

relacionados ao exercício profissional docente, os questionamentos quanto às

características das especificidades e à natureza dos processos de

aprendizagem emergiram também numa crise profissional, e o caráter

puramente técnico e de aplicação que permeava os processos formativos do

professor de Educação Física começaram a ser discutidos.

Como citam Tani (1984); Medina (1989) (apud STEFANE; MIZUKAMI,

2002), houve uma crise na Educação Física que pode ser considerada positiva,

pois incentivou a busca de novos modelos e teorias de conhecimento que

fundamentaram e direcionaram a formação dos professores da área, com a

redefinição de sua identidade social e socioprofissional no universo das

práticas corporais, revisando a concepção de formação de um professor

generalista ou especialista.

Em março de 1998 foi criado o Conselho Federal de Educação Física

(CONFEF), com a finalidade de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício das

atividades próprias dos profissionais de Educação Física (CONFEF/CREF,

1998) e, consequentemente, de regulamentar a profissão.

No final de século XX, a Educação Física propôs-se a oferecer aos

indivíduos, de todas as idades, uma ação comprometida com a melhoria da

sociedade e, no Brasil, chegava a hora de um novo posicionamento

relacionado ao oferecimento de uma Educação Física de qualidade.

Com isso, o CONFEF tem a missão de redigir a Carta Brasileira de

Educação Física, pelo que representa e pela sua competência legal.

A partir do delineamento de ideias, resultantes do esforço participativo

dos profissionais de Educação Física, da comunidade científica e acadêmica e

dos Conselheiros do CREF, essa Carta foi redigida com as devidas

contribuições para um melhor entendimento no que diz respeito: ao profissional

brasileiro de Educação Física, ao objeto da Educação Física no Brasil, às

referências para uma Educação Física de qualidade, à preparação de

profissionais para oferecer uma Educação Física eficiente em todos os

ambientes a que se propõe ser oferecida, à indispensável Educação Física de

qualidade ministrada por professores graduados com curso de licenciatura, à

responsabilidade dos Governos federais, estaduais e municipais em oferecer

Educação Física com qualidade no que se refere aos profissionais e espaços

oferecidos à população.

Da Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF/CREF, 1999), vale

ressaltar, nesta pesquisa, o parágrafo de número 7, que observa a busca de

uma Educação Física de qualidade nos diversos ambientes a que se propõe

que seja oferecida.

A Educação Física, ao ser praticada em espaços distintos de toda

ordem, como academias, clubes, condomínios, praias, áreas públicas e outros,

e para que se torne de qualidade, é necessário que se organize de forma

democrática, para que possam ser oferecidas às pessoas condições de

igualdade em suas práticas.

Informando aos seus beneficiários sua importância ao longo de suas

vidas e desenvolvendo padrões de interesse em praticá-las, a competência dos

profissionais passa a ser responsabilidade dos programas e dos

estabelecimentos que a oferecem. Instalações e equipamentos para a prática

devem ser compatíveis com os objetivos e especificidades de cada indivíduo, e

as referências éticas devem ser cumpridas em todas as circunstâncias

(CONFEF/CREF, 1999).

A orientação segura e a intervenção profissional devem ser prestadas

somente por profissionais graduados e habilitados. A partir desse requisito de

desenvolvimento, tornam-se previsíveis a identificação e o estabelecimento de

focos de especialização profissionais a serem implementados e

competentemente desenvolvidos por meio da efetivação de estudos, pesquisas

e cursos, visando preparar esse contingente de profissionais para a resolução

qualificada, competente, compromissada e ética dos problemas emergentes de

toda a população nacional (AQUINO, 2006).

Segundo Stefane e Mizukami (2002), os cursos de formação inicial e os

programas de formação continuada de professores de Educação Física muito

se beneficiaram com as contribuições teórico-metodológicas, no que se refere

aos processos formativos e ao desenvolvimento profissional da docência.

Esses referenciais contribuíram para que dificuldades, dilemas e problemas,

que atualmente são enfrentados fossem superados de forma mais compatível

com a natureza dos processos desenvolvidos por seus profissionais.

A Educação Física, nos dias atuais, exerce papel importante na

promoção da saúde. Contudo, para a população em geral, é relacionada

apenas ao aspecto biológico, sobretudo dentro das escolas. Observe-se, no

entanto, que não é exclusiva a esse ambiente, pois também ocorre no trabalho

desenvolvido em academias, clubes, "escolinhas de esportes", orientação ao

exercício, dentre outros.

A estreita vinculação entre Educação Física e saúde e Educação Física

e esporte tem sido, ao longo dos anos, a principal referência dos alunos que

ingressam no curso de Educação Física e, ao mesmo tempo, um entrave para

que se possa compreender a Educação Física em uma dimensão educacional

mais ampla e em suas interfaces com diferentes campos de saberes (TARDIF;

LESSARD 2009).

Em seus estudos, Barros (2006) afirma que até a década de 1970 havia

poucas oportunidades, além das escolas, para que os professores de

Educação Física atuassem. Com a evolução da sociedade e do conhecimento

veiculado na área, Nascimento (2002) enfatiza que a probabilidade de os

professores trabalharem fora do contexto das escolas elevou-se

acentuadamente

Essa é a preocupação principal de alguns docentes da Educação Física

em universidades que formam professores. Assim, torna-se propício o

questionamento sobre qual deve ser o perfil dessa formação. Formamos

professores ou profissionais em Educação Física para atuarem em espaços

não escolares?

Pensando nesse processo e retomando a formação e trajetória dos

profissionais de Educação Física que atuam nas academias de ginástica,

segundo Nascimento (2002), estudos demonstram que poucos graduandos da

licenciatura pretendiam seguir a profissão como professores escolares. Entre

as razões está o fato de que o mercado de trabalho extraescoltar é mais amplo,

e as possibilidades, mais diversificadas (STEINHILBER, 1996). Yamamoto

(2005) adverte que muitos profissionais que atuam na área não formal da

Educação Física têm o título de licenciado.

2.4 O cenário das academias de ginástica, o contexto de atuação do

profissional estudado

Neste estudo, entende-se ser importante realizar uma breve revisão de

outros trabalhos que contextualizam as academias de ginástica como objeto de

estudos, assim como as devidas representações sociais dos indivíduos desse

contexto. A idéia principal é a de que se possa refletir sobre questões mais

gerais que apareçam nessa área de atuação do professor de Educação Física.

Os autores Capinussu e Costa (1989) afirmam, em seus estudos, que o

surgimento das academias de ginástica ocorreu no século XIX, na Europa,

mais precisamente em Bruxelas. Esses espaços eram conhecidos como

ginásios, e seu objetivo era o “ensino da cultura física” por meio da utilização

de aparelhos. No século XX, as academias começaram a proliferar na Europa e

nos Estados Unidos, onde as práticas mais oferecidas eram o halterofilismo, a

ginástica e o balé.

No Brasil, as academias de ginástica surgiram nos anos 1920, e a

primeira delas foi criada por um imigrante japonês, em Belém (PA). Nas

décadas de 1930 e 1940, surgiram outras academias em outras regiões do

país, tendo como atividade principal o halterofilismo e, em alguns casos, a

ginástica feminina.

Novaes (1991) discute, em seu trabalho, a formação profissional em

Educação Física nessas décadas, trazendo como cenário a cidade do Rio de

Janeiro. O autor relata que a maioria dos professores que trabalhava com

ginástica era de origem europeia e não tinha formação acadêmica de nível

superior. Somente a partir das décadas de 1940 e 1950 professores com

formação em nível superior começaram a ministrar aulas nesses espaços.

Atualmente, verifica-se, em algumas academias de ginástica, a mesma

situação: alguns profissionais não têm formação superior e ministram aulas de

ginástica ou trabalham nas salas de musculação. Mas essa realidade vem se

modificando e mudando, em decorrência da regulamentação do profissional de

Educação Física, a partir da lei n. 9.696/98, que criou o Conselho Federal e os

Conselhos Regionais de Educação Física – CONFEF, ou Sistema

CONFEF/CREF. Esses órgãos compreendem a área escolar e a não-escolar, e

têm a função de fiscalizar esses espaços e obrigar os profissionais a se

cadastrarem e a terem o registro profissional.

Sadi (2003) reafirma as ações do Conselho Federal de Educação Física

e o modo como é balizada a plataforma política:

– exclusão dos chamados leigos pela equivocada compreensão de que

o conhecimento científico não advém da experiência, promoção de obstáculos

às artes e à cultura;

– elitização da Educação Física em atividades individualizantes e o

consequente abandono das práticas de experiência coletiva acumuladas na

escola e na comunidade;

– (re)conceituação do objeto de estudo e intervenção profissional,

denominado Educação Física;

– configuração de um novo espaço institucional, virgem e potente para a

exploração mercantil, baseado na obtenção de credencial conferida pelo

Conselho(CREF, 1999).

Tubino (1980) afirma que o grande crescimento das academias nas

principais cidades brasileiras se deu a partir dos anos 1970. Tal fato ocorreu

em conjunto com a divulgação do método Cooper de condicionamento físico,

proveniente dos Estados Unidos. Esse método disseminava a ideia de que

todos os indivíduos poderiam realizar alguma prática corporal, estivessem

preparados ou não. Unido a essa questão, o aumento de pesquisas buscando

comprovar os benefícios da prática de exercícios sistemáticos incentivou os

indivíduos a frequentarem as academias de ginástica, dedicando parte de seu

tempo a essa atividade, e esse contexto começou a fazer parte da vida da

população.

Durante os anos 1980, houve uma mudança no perfil dos profissionais

de ginástica que atuavam no Brasil, fortemente influenciados pelo movimento

norte-americano das aulas ritmadas, aqui conhecido como “ginástica aeróbica”

(COELHO FILHO, 1997).

A partir dessa nova proposta de aulas, os profissionais ligados à área

das academias de ginástica começavam a estruturar seus discursos com a

fundamentação teórica da área das ciências biológicas, valendo-se dos dados

provenientes da fisiologia do exercício, biomecânica e metodologia do

treinamento esportivo. Essas inúmeras possibilidades de práticas corporais,

oferecidas pelas academias de ginástica no final da década de 1980, e,

posteriormente, as inserções das lutas, do balé, da natação, entre outras

modalidades, transformaram esse contexto em um negócio bastante lucrativo,

atraindo empresários e investidores não ligados a esse setor. Surgiram, então,

grandes empresas em busca de um público cada vez maior e diversificado

(COELHO FILHO, 1997).

Nesse contexto, em que se pauta este estudo, de produtores de bens e

serviços ligados às práticas corporais, à relação professor aluno e aos

processos de interação entre os indivíduos que nele estão inseridos, foram

encontrados poucos trabalhos científicos. Assim, como as academias de

ginástica devem ser tomadas como objeto de estudos acadêmicos, prevê-se

que esta pesquisa talvez possa contribuir para a realização de outros trabalhos

realizados nessa área de atuação.

A maior parte desses estudos tem priorizado uma abordagem do ponto

de vista biológico, com metodologias provenientes das ciências sociais.

Refletem a necessidade de um olhar mais cuidadoso, levando em

consideração, não somente os benefícios de uma prática sistemática de

exercícios, mas também os papéis de desenvolvimento humano que possam

vir a surgir nos profissionais (professores) e indivíduos (alunos) que estão

nesse contexto.

Atualmente, as academias de ginástica têm-se mostrado como mercado

de grande interesse, devido ao aumento do número de unidades, o que vem a

gerar abertura maior para o campo profissional, tanto pela sua conquista

significativa na mídia, como nos campos de investimento financeiro. Entretanto,

as instituições têm recebido críticas em relação a seu papel educacional,

devido à adesão a um determinado padrão de beleza e consumo, e ao

modismo. Com isso, deve-se considerar a importância de estudos críticos,

principalmente no que se refere à formação do professor que atua nesse

mercado, à sua ação interdisciplinar e à sua preparação para atender seus

alunos de forma eficiente.

O sentido de um trabalho interdisciplinar está na sabedoria de aprender

a intervir no mundo sem destruir o construído. A importância de rever o velho

para torná-lo novo ou tornar novo o velho é outro procedimento interdisciplinar.

Em seus manuscritos de aula intitulados Cuidados na elaboração de princípios

(manuscrito de sala de aula com seis páginas, sem data, não publicada pela

autora), Ivani Fazenda aponta a importância de se olhar os fenômenos sob

múltiplos enfoques, de questionar e investigar conceitos e de habituar-se ao

exercício da ambiguidade. Para ela, a lógica interdisciplinar é a da invenção, da

descoberta, da pesquisa, da produção científica, gestada em um ato de

vontade, em um desejo planejado, crivado de liberdade. Um professor

acostumado à prática interdisciplinar passa a identificar aspectos próprios do

conhecimento do homem, percebe que a coisa a conhecer não se esgota nela

mesma. Vivencia, assim, a possibilidade de se deixar conduzir por outras

dimensões que não apenas as concretas, ou racionais, privilegiando aspectos

subjetivos do conhecimento humano. A aprendizagem interdisciplinar coloca

em dúvida a racionalidade dos ensinos ou didáticas, analisa os processos, a

afetividade, o efeito da força e a força dos efeitos, as dimensões sociais e

institucionais, as estratégicas organizacionais, a articulação de saberes, toda e

qualquer proposição que tenha a diversidade como princípio.

2.5 A Atuação do Professor de Educação Física

Segundo Carreiro da Costa (1994), Rangel-Betti e Galvão (2001), a

aprendizagem do ser professor não começa na licenciatura, mas com as

inúmeras experiências que os futuros professores vivenciaram no decorrer de

sua formação escolar.

Em se tratando especificamente da Educação Física, aborda-se que

foram “[...] as ideias pedagógicas, os modelos de ensaio e padrões de

comportamento que moldaram a sua maneira de pensar as finalidades da

Educação Física” (CARREIRO DA COSTA, 1994, p.27).

A graduação é a fase de formação inicial do profissional, o período em

que o professor adquire os conhecimentos científicos e pedagógicos e as

competências necessárias para enfrentar de maneira adequada a carreira

docente. Se essa fase não provocar mudanças na concepção que os alunos

carregam para o curso, decorrentes de suas experiências, as ideias anteriores

exercerão influência permanente e decisiva na sua prática pedagógica

(CARREIRO DA COSTA, 1994).

As Escolas de Ensino Superior, que atualmente formam os futuros

profissionais que atuarão no mercado das academias de ginástica, refletem os

currículos tradicionais e esportivos ou o técnico-científicos. Na maioria das

vezes, esses alunos saem das Instituições com esse tipo de formação e

apresentam certa insegurança no início da profissão, uma vez que, para muitos

deles, a preparação para o magistério ocorre apenas no último ano de

formação, na disciplina “Prática de Ensino”, que parece ser insuficiente para

fornecer sozinha a segurança na atuação pedagógica (BETTI, RANGEL-BETTI,

1996).

Sem intervir na forma como o professor deve e pode ensinar, considera-

se que um modelo a ser tomado como base é o proposto por Schön (1992),

baseado em estudos de John Dewey e complementado por Pérez-Gómes

(1992). Segundo esse modelo, o professor reflete o tempo todo sobre suas

ações, construindo e comparando as estratégias de ação e formulação de

novas pesquisas, bem como há o aparecimento de teorias e categorias que

compreendem novos modos de enfrentar e definir problemas (PEREZ-GÓMEZ.

1992).

Basicamente, a proposta de Schön (1992) resume-se a três momentos

distintos da construção de novas formas de conhecimento sobre o ensino: o

conhecimento da ação, a reflexão na ação, e a reflexão sobre a ação.

O conhecimento da ação acontece um pouco antes de o professor iniciar

sua aula. É o momento em que reflete sobre as possibilidades humanas e

materiais que possui. Já a reflexão na ação ocorre durante a aula, no instante

exato em que ela está acontecendo, possibilitando ao professor tomar novas

decisões sobre os problemas que vão surgindo. Imediatamente após a aula (e

durante certo tempo), o professor passa a refletir sobre os acontecimentos que

ocorrem na aula, sobre a forma como tomou decisões, quais poderiam ser

diferentes, o que faltou para que fosse melhor, enfim, o que deu certo ou

errado (RANGEL et al, 2005).

Para Perrenoud (1993), os professores devem trabalhar sempre a

prática da investigação, que auxilia a vê-la com outros olhos. Ao se propor a

interrogação, a identificação de problemas e possíveis soluções, possivelmente

ocorre uma contribuição para a melhor formação do professor reflexivo.

Tal atitude se encaixa perfeitamente nos moldes do professor reflexivo

que atua em academias de ginástica. Antes mesmo de iniciar sua aula, ele

deve estar atento a todas as questões acima citadas, para que o

desenvolvimento da aula contemple sua satisfação em ser professor e a de

seus alunos. Assim, ele se transforma em investigador de sua própria prática

profissional.

Como cita Carreiro da Costa (1994), o sucesso para as aulas em

Educação Física exige que o professor tenha “[...] capacidade de articular

habilidades de diagnóstico, de instrução, de gestão e de remediação,

adaptando o comportamento à especificidade da situação educativa”

(CARREIRO DA COSTA, 1994, p. 32).

Desse modo, é possível entender que a prática profissional é formada da

união do conteúdo transmitido durante a formação com a história de vida

pessoal e a experiência do dia a dia. A intenção de aprender cada vez mais

transforma a educação em educação permanente, com a valorização da

profissão de professor, o domínio sobre o conteúdo e o entendimento de que a

troca entre os pares é essencial (RANGEL-BETT, GALVÃO, 2001).

Quando se adota a prática reflexiva como metodologia e postura

profissional, promovem-se reflexões sobre as ações individuais e coletivas.

Surge, então, a preocupação com a responsabilidade social, e os contextos

profissionais fazem a diferença. O profissional que reflete sobre a sua prática,

não apenas com relação a suas aulas, mas sobre o contexto de sua profissão,

valorizando-a igualmente e trocando as informações advindas dessas reflexões

com outros professores, entende que a prática é a união do conteúdo

transmitido durante a formação com a história de vida pessoal e a experiência

do dia a dia.

A intenção de aprender cada vez mais, transformando sua educação em

uma educação continuada, o domínio sobre o conteúdo a ser ensinado e o

entendimento de que a troca entre os pares é essencial vem a ser um fator

determinante para abordar uma prática interdisciplinar (RANGEL-BETTI,

GALVÃO, 2001).

O professor atuante nesse mercado está a todo momento agindo de

forma interdisciplinar, a partir dos conceitos iniciais que traduzem essa relação:

a espera, a cautela e a humildade. Essas são atitudes que refletem a postura a

que o profissional deve estar atento para melhor compreender a relação

professor-aluno que é estabelecida no contexto da academia: o quanto esse

professor foi influenciado pelos conceitos advindos da interdisciplinaridade e o

como ele será capaz de mudar comportamentos do seu aluno/cliente, no

contexto estudado nesta pesquisa.

A espera pelo objetivo a ser alcançado pelo aluno nem sempre “está

junto” com a vontade do professor. A cautela em abordar exercícios que serão

propostos pelo professor é de sua maior responsabilidade, e a humildade de se

colocar no lugar do outro é uma ação de intermediação para que o processo de

ensino-aprendizagem seja eficiente para ambos.

A interdisciplinaridade está presente na educação contemporânea; no

entanto, o conceito ainda se mantém difuso, dando origem a inúmeros

questionamentos. Devido ao fato de a Educação Física ser multidisciplinar, os

educadores físicos pressupõem sempre estar agindo sob bases

interdisciplinares, o que muitas vezes não é real, pois os conceitos descritos

pelos sujeitos estudados ainda estão longe do que realmente se entende como

interdisciplinar. Sendo assim, é importante que se tenha bem definido o

significado da palavra interdisciplinaridade, o seu sentido para a educação e

sua abrangência para o ensino e a pesquisa.

Diferentemente de uma prática multidisciplinar ou disciplinar, a prática

interdisciplinar nasce de uma vontade constituída e tem, na dúvida, um

componente básico da reflexão. Ela sempre busca suprir uma necessidade

sociocultural. Essa busca pressupõe um fim almejado pelo homem e um

engajamento com o processo produtivo. Nesse sentido, é importante que o

sujeito da ação perceba-se como ser que acumulou experiências de vida e que

observa as intenções que determinarão ou direcionarão o seu agir pessoal,

particular, individual. Só assim ele terá condições de adquirir novas formas de

perceber, conhecer e agir em outras determinantes situações.

3. PROBLEMA

Como se constrói a identidade e a formação de professores de

Educação Física atuantes nas academias de ginástica?

4. JUSTIFICATIVA

O quadro social brasileiro de profissionais da área de educação física

aponta para o crescente interesse de professores recém-ingressantes no

mercado de trabalho pela atuação em academias de ginástica. Esse campo de

atuação é o segundo maior mercado de trabalho procurado por professores de

educação física, e são poucos os estudos científicos que compreendem esse

ambiente (VIDAL, 2008).

A regulamentação da profissão de Educação Física no Brasil,

homologada em 1998, representa a interação de vários vetores sociais, iniciada

já na década de 1940. Seu objetivo é garantir à sociedade o oferecimento de

serviços de qualidade nas áreas da saúde e educação, por profissionais

especializados que utilizam como meio às atividades físicas nas diversas

manifestações da cultura corporal, em que as academias de ginástica se

inserem.

As pesquisas demonstram o crescente potencial mercadológico das

academias de ginástica como centros especializados de serviços de saúde.

Toscano (2000) alerta sobre a necessidade da incorporação dos conceitos

epidemiológicos na prática dos profissionais de Educação Física, para a devida

fundamentação técnica e respaldo nas suas intervenções como profissionais

de saúde.

A relevância social deste estudo pauta-se em promover a saúde, estar

em contato direto com as pessoas e com seus objetivos a serem alcançados,

tratar algumas patologias passíveis de reabilitação por meio do exercício físico,

saber que o ser humano é afetado a todo momento por aquilo que seu corpo

pode realizar, melhorar a autoestima das pessoas e a relação interpessoal,

educar para que o cidadão saiba que seu corpo é a sua casa, e que, por isso,

deve cuidar dele, ensinar conceitos sobre qualidade de vida e sociabilização.

Estes são elementos essenciais para se tornar um bom profissional.

Conceitua-se epidemiologia como uma ciência responsável pelo estudo

dos fenômenos relacionados com o binômio saúde-doença, bem como com

seus determinantes em grupos da população,

Pitanga (2004, p. 49) afirma:

Dessa forma, observa-se que existe relação muito próxima entre epidemiologia da atividade física, saúde e qualidade de vida, todos com inserções e componentes de ordem biopsicossocial, comportamental e ambiental. Assim, maiores níveis de prática de atividades físicas parecem ser um dos fatores determinantes da saúde, que por sua vez, estando nas proximidades do pólo positivo deverá influenciar na melhoria da qualidade de vida da população.

Não obstante, esses professores atuantes em academias têm uma

grande preocupação com sua futura atuação nesse mercado, pois percebem,

em sua formação, principalmente aqueles que cursam a Licenciatura, que

aspectos relacionados aos conceitos necessários para essa prática são

contemplados com menor frequência.

Embora seja sabido que cursando Licenciatura as disciplinas serão

direcionadas para a área pedagógica, a necessidade em inserir-se no mercado

de trabalho após a formação ocorre de maneira adversa, visto que o primeiro

emprego é fator determinante para os jovens professores.

A preocupação com esse quadro que caracteriza a identidade e a

formação desse profissional é o mote deste estudo, que analisa a trajetória

profissional de professores de Educação Física atuantes no contexto das

academias de ginástica, na cidade de Taubaté-SP. É objeto de estudo,

também, o conhecimento dos fatores que conduzem a essa escolha: trabalhar

em academias. Pontuar o quanto as interferências na vida dos indivíduos

pesquisados foram influenciadas pelo seu contexto de interação é um fator que

se mostra relevante para entender o painel histórico social que se forma nos

dias atuais.

Segundo Mizukami (1996), a experiência pessoal é importante na

aprendizagem profissional, e o significado dessa experiência pode ser

considerado como uma fonte básica, embora não seja a única para a prática

desse indivíduo nos contextos em que vai atuar. É relevante citar que, no inicio

da atuação, a experiência de ter sido aluna e de participar ativamente desse

ambiente favoreceu a esta pesquisadora ingresso e identificação com a área.

Diante dessas colocações parece claro que a formação de professores começa muito antes da entrada nos cursos de formação e, ao mesmo tempo, é um processo interminável, já que se prolonga por toda vida profissional (LOURENCETTI; MIZUKAMI, 2002 p. 52).

As academias constituem ambiente extremamente benéfico para a

construção das díades apontadas pelo professor Bronfenbrenner. Aspectos

relacionados ao desenvolvimento humano do professor, seu comportamento,

sua formação, as histórias de vida e o que foi determinante para sua escolha

também são pontuados nesta pesquisa.

Isso posto, os resultados obtidos com esta pesquisa podem indicar

caminhos para a ressignificação dos currículos de formação, de modo que

incluam assuntos que despertem a curiosidade dos alunos em formação para

outras áreas de atuação, além daquelas dos contextos escolares. Novos

horizontes ampliariam assim o seu campo de atuação, sua autoestima, seu

interesse em investir num plano de carreira que valorize todas as etapas de

vida profissional.

No Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano, a linha de

pesquisa em que se insere esta pesquisadora transcorre dos contextos de

formação, áreas de atuação dos diversos profissionais e, por isso, seu

interesse em aprofundar os estudos enriquecendo seu contexto profissional e

aperfeiçoando os aspectos do desenvolvimento humano intrínsecos da relação

professor-aluno.

5. OBJETIVO GERAL

Analisar a trajetória profissional de professores de Educação Física

atuantes no contexto das academias de ginástica da cidade de Taubaté-SP.

5.1 Objetivos Específicos

Conhecer os fatores que conduzem a escolha pelo trabalho em

academias;

Analisar as influências de contexto de interação no percurso de

formação profissional.

6. MÉTODO

6.1 Natureza da pesquisa

Esta pesquisa é um estudo de caso do tipo exploratório cuja natureza é

qualitativa, e o delineamento é transversal. A análise de conteúdo é o método

de tratamento dos dados. De acordo com Gil (2002), trata-se de uma pesquisa

cujo propósito é estudar características de uma população e cujos sujeitos são

selecionados acreditando-se que, por meio deles, se torne possível aprimorar

os conhecimentos acerca do universo em que estão inseridos. Isso permite a

análise das crenças desses sujeitos, seus valores, seus temores relacionados

à profissão e outras formas de pensar a profissão.

Yin (1984) elucida a importância das questões propostas que

diferenciam estudos de caso de outras modalidades de pesquisa nas ciências

sociais. O autor afirma que a estratégia é geralmente utilizada quando as

questões importantes do estudo referem-se ao como e ao porquê, quando o

pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco da

pesquisa vai ao encontro de um fenômeno contemporâneo em um ambiente

natural.

Uma investigação científica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos; enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidência (...) e beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e análise dos dados (YIN, 2001, p. 32-33).

O autor acrescenta que estudos de caso são usados também nas etapas

exploratórias das pesquisas de fatos e acontecimentos pouco estudados. No

caso desta pesquisa, que é um estudo de caso, percebe-se que, na maioria

das vezes, há sujeitos e contextos associados à escola e ao treinamento de

alto rendimento nas pesquisas que se relacionam à Educação Física, e poucas

referências no que diz respeito aos profissionais que decidem atuar no contexto

estudado (academias de ginástica). Como cita Yin (1984):

Note-se: que, aqui, aparece um outro critério que justifica a escolha do estudo de caso com abordagem adequada de um problema de pesquisa: tratar-se de fenômeno pouco investigado, o qual exige estudo aprofundado de poucos casos, que leve à identificação de

categorias de observação ou à geração de hipóteses para estudos posteriores.

Chizzotti (2001) afirma que metodologias distintas e particulares são

criadas e que não se apoiam em leis ou generalizações de um determinado

fenômeno. Deve-se levar em consideração que o evidenciado é o caráter de

imprevisibilidade e especificidade dos resultados obtidos, e não a restrição do

conhecimento a dados fragmentados, pois assim o processo de

desenvolvimento da pesquisa apresenta maior relevância.

Como cita Minayo (1996, p. 21-22), a pesquisa qualitativa:

Responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificada. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo nas relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

6.2 Procedimentos de coleta dos dados

6.2.1 A coleta dos dados

Os dados foram coletados a partir da entrevista semiestruturada

individual e da utilização de dados sociodemográficos (anexo 2), para obtenção

de informações que respondessem ao objetivo desta pesquisa que, por sua

vez, relaciona-se aos professores atuantes nas academias.

A entrevista semiestruturada, instrumento escolhido, possui flexibilidade

em relação ao que o pesquisador deseja para a posterior análise dos dados. É

necessário que ele experimente contato direto com os sujeitos participantes,

que estabeleça uma forma de comunicação positiva e que procure demonstrar

empatia, favorecendo o ambiente da entrevista (BARDIN, 2010). As relações

com o pesquisador, a confiabilidade e o interesse pelo assunto são

fundamentais para instituir um conjunto de necessidades do sujeito em relação

a sua participação na pesquisa e ao desenvolvimento da sua capacidade de

expressar-se durante a investigação (GONZALEZ REY, 1999).

Isso posto, passa-se à descrição das etapas de coleta de dados, que

aconteceram em duas fases distintas, a saber:

Primeira fase: ocorreu por meio da entrevista semiestruturada. O roteiro da

entrevista foi feito a partir de um instrumento que despertasse o interesse

dos sujeitos em respondê-lo, e foram construídas perguntas a partir de três

blocos temáticos referentes aos aspectos que influenciaram os sujeitos

quanto à escolha da profissão:

o Bloco 1 – teve como objetivo central investigar o que os levou a

escolher a profissão, bem como descobrir o porquê de sua

atuação neste mercado específico de trabalho;

o Bloco 2 – teve como objetivo realizar questões relacionadas à

idade e ao tempo de atuação nesse contexto, bem como

descobrir a sua preocupação com os aspectos econômicos nesse

segmento de trabalho;

o Bloco 3 – teve como objetivo elaborar questões pertinentes à

interdisciplinaridade e a sua atuação, e à questão relacionada à

formação continuada.

Segunda fase: ocorreu a partir de uma pergunta disparadora. Nessa fase a

pesquisadora volta a campo para entrevistar dois sujeitos que já haviam

respondido à entrevista semiestruturada na primeira fase e cujas respostas

foram ao encontro dos objetivos da pesquisa. Portanto, os dados coletados

desses dois professores, por meio de narrativa oral, foram o foco da análise

desta pesquisa. Segundo Gonzalez Rey (1999), a narrativa oral como

instrumento a ser investigado deve produzir dados válidos para que possam

ser convertidos em fonte de informação sobre o assunto a ser pesquisado,

e essa informação só terá significado dentro do conjunto das informações

produzidas pelo sujeito que será estudado.

As pesquisas em torno das narrativas orais sobre a formação de

professores no domínio das ciências da educação são relativamente recentes.

Essa perspectiva metodológica surge no final do século XIX, na Alemanha,

como alternativa à sociologia positivista, sendo usada primeiramente pelos

sociólogos americanos, de forma bastante sistemática (FINGER; NÓVOA,

1988).

Segundo Finger e Nóvoa (1988), diferentemente do “padrão” seguido

pelas ciências sociais, quando do surgimento de uma nova metodologia de

ensino, o método autobiográfico não provocou grandes debates

epistemológicos. Entretanto, as ciências da educação rapidamente

compreenderam sua importância como instrumento de investigação, sobretudo

quanto à formação de profissionais.

Valorizando os processos de formação e assumindo a totalidade da história de vida de uma pessoa, o método biográfico facilita o desenvolvimento de uma sociologia holística da formação, mais adequada à especificidade de cada indivíduo. Enquanto instrumento de investigação-formação, o método biográfico permite considerar um conjunto alargado de elementos formadores, normalmente negligenciados pelas abordagens clássicas e, sobretudo, possibilita que cada indivíduo compreenda a forma como se apropriou destes elementos formadores (FINGER; NÓVOA, 1988, p. 13).

A importância dessa metodologia investigativa partiu das considerações

acerca da teoria sobre o desenvolvimento humano, dos estudos de

Bronfenbrenner (2011), Tardiff (2009), Bolívar (2002), Nóvoa (1995), entre

outros autores que abordam a identidade e a formação de professores. Em um

segundo momento da pesquisa, essas questões foram pertinentes para uma

nova coleta e análise dos dados obtidos pela pesquisadora junto aos sujeitos

entrevistados.

Partindo da adequação dos princípios epistemológicos e metodológicos,

compreende-se que as histórias de vida são, nos dias de hoje, utilizadas nos

estudos das ciências humanas e da formação do adulto, pois partem dos

saberes tácitos ou experienciais, bem como da revelação das aprendizagens

construídas ao longo da vida como uma reflexão do conhecimento de si.

A pesquisa biográfica científica no contexto de formação de professores

possibilita a compreensão dos modos como esses profissionais da área da

Educação Física dão sentido ao seu trabalho e atuam em seu ambiente

profissional. Neste estudo priorizam-se as academias de ginástica. Busca-se

explicitar as dimensões do passado que pesam sobre as situações do presente

e a sua projeção na melhor forma da ação. Fica claro para os pesquisadores

que, de fato, o professor, como pessoa, realiza no seu ato de ensinar um

conjunto reservado de habilidades e conhecimentos pessoais que obteve ao

longo de sua vida particular (BOLÍVAR, 2002).

Compreende-se, assim, que nesse cenário é pertinente refletir sobre si,

como profissional e como pessoa, pois, quando se trata de formação, são

dados inseparáveis. Nesse contexto estudado, compreende-se que as

narrativas orais podem auxiliar na identificação dos novos sentidos que esses

profissionais atribuem ao seu pensar, fazer e sentir.

Queiroz (1988) relata que a história de vida no quadro da narrativa oral

pode incluir depoimentos, entrevistas, biografias, autobiografias, enfim, toda

história de vida encerra um conjunto de depoimentos, e, embora o pesquisador

tenha sido quem articulou e escolheu as questões e esboçou o roteiro temático,

ele é o narrador que decide o que narrar.

Dessa forma, justifica-se o regresso à coleta de dados com dois dos

sujeitos que já estavam no grupo inicial e que trouxeram informações de maior

familiaridade ao aspecto estudado da pesquisa. As respostas sobre a

formação, inserção e desenvolvimento humano foram dadas por esses dois

professores e, portanto, eles foram os selecionados para a análise dos dados

coletados também em uma segunda entrevista.

Nesse segundo momento, a pesquisadora voltou a campo em busca de

informações mais específicas no que tange a formação, o contexto estudado

(as academias de ginástica), a inserção desses professores nesse contexto e

as questões levantadas sobre o desenvolvimento humano.

É importante ressaltar que, na relação construída entre pesquisadora e

sujeito, emergiram alguns questionamentos estudados durante o percurso do

mestrado, pois, em alguns momentos, os papéis pareciam estar invertidos,

uma vez que eram os participantes que se mostravam curiosos por

determinados assuntos. Nessas ocasiões, foi necessário que a pesquisadora

assumisse postura aberta e interativa, quando ela própria era questionada

sobre aspectos que até então eram desconhecidos pelos sujeitos, o que a fez

afastar-se de preconceitos e julgamentos pré-estabelecidos, pois, para ela, o

tema definido era muito familiar.

Esse processo de aproximação e afastamento e de estranhamento

daquilo que parece “comum” não é nada tranquilo, visto que não se com segue

distanciamento de alguns valores arraigados na vivência cotidiana, e mais uma

vez, entram em cena os conceitos discutidos durante o processo de formação

profissional, tão peculiar a cada sujeito.

6.3 O contexto da pesquisa e participantes

6.3.1 – As academias

Conforme dados obtidos junto ao sistema CONFEF/CREF 4, da região

do Estado de São Paulo, na cidade de Taubaté o número de academias

devidamente cadastradas nesse Conselho é 55. Dentre essas academias, foi

feito um recorte com as 10 maiores, considerando como critério principal

trabalhar junto àquelas legalmente registradas.

Optou-se por estudar os professores das academias de médio e grande

porte da cidade de Taubaté, e, como critérios utilizados para classificar as

academias, foram analisados:

Espaço físico;

Localização geográfica;

Número total de alunos matriculados e de funcionários;

Modalidades oferecidas;

Com relação ao espaço físico, todas as academias possuem ao menos

duas salas de ginástica, uma sala para musculação, sala para avaliação física,

estacionamento e vestiários. Todas estão localizadas em áreas centrais na

cidade de Taubaté. O número de alunos matriculados varia entre 300 e 500,

em cada academia, e as modalidades oferecidas são as mais variadas

possíveis.Os professores geralmente ministram mais de uma modalidade

específica.

6.3.2 Os sujeitos de pesquisa

Foram entrevistados cerca de 20 professores, dois de cada academia

selecionada: o mais experiente e o mais jovem integrante, com menos tempo

de formação. Após a leitura das respostas obtidas, percebeu-se que somente

dois dos professores responderam a questões que iam ao encontro do objetivo

desta pesquisa, e de maneira mais detalhada; por esse motivo, foram os

escolhidos para que realizassem novamente a entrevista. Dessa vez, somente

uma pergunta disparadora foi utilizada para que pudessem emergir as

informações necessárias que respondessem aos questionamentos.

A caracterização dos 20 sujeitos estudados:

As faixas etárias dos professores variavam entre 22 e 45 anos de

idade;

Foram entrevistados aleatoriamente homens e mulheres que se

disponibilizaram entre 15 e 20 minutos no decorrer das próprias aulas

e nas instalações das academias;

Todos os professores foram formados pela mesma Universidade.

Os professores assinaram o termo de esclarecimento livre e esclarecido,

ficando cientes de que suas entrevistas seriam usadas para fins da pesquisa. O

Projeto de Pesquisa foi devidamente enviado ao Comitê de Ética da

Universidade de Taubaté e aprovado em 11/02/2011: nº do protocolo, 011/11.

Para análise dos dados, os professores foram categorizados de 1 a 10

seguidos das letras A (para os recém-formados) ou B (para os experientes).

6.4 Procedimentos de análise dos dados

Para o tratamento dos dados, utilizou-se a “análise de conteúdo” das

comunicações apresentada por Bardin (2010), privilegiando como técnica a

proposta de análise temática/categorial baseada no estabelecimento de

categorias e definição de temas. A análise de conteúdo como método empírico

apresenta características sistemáticas e objetivas. Seu campo de aplicação é

bastante vasto, pois praticamente todas as formas de comunicação são

passíveis de uma análise dessa natureza, dependendo, evidentemente, dos

objetivos a serem alcançados e da interpretação que se pretende fazer.

Segundo Bardin (2010), as fases da análise de conteúdo dividem-se em:

pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados; inferência

e interpretação do pesquisador. A autora observa que, quando se faz uma

entrevista, é muito raro estabelecer um filtro categorial único e homogêneo,

pois o material verbal é extremamente complexo.

A função dos papéis sociais dos sujeitos envolvidos e seus interesses

devem ser considerados, pois exprimem o quanto o “lugar social” direciona a

fala. Cabe ao pesquisador identificar a presença de “outras vozes” ou daquilo

que foi “silenciado”, para que possa ser extraído o necessário para as referidas

análises.

A primeira fase é a organização e sistematização dos conteúdos, que

possibilitam o planejamento das etapas sucessivas a serem desenvolvidas. A

essa etapa caberia a escolha dos documentos para a investigação, juntamente

com “leitura flutuante” dos materiais. O pesquisador deixa-se invadir por

percepções, ideias e questionamentos, formulando as hipóteses, definindo os

índices e indicadores que podem ser determinantes das “unidades de registros”

ou os “temas” presentes na mensagem.

A pré-análise tem como objetivo a organização, embora ela própria seja

composta por atividades não estruturadas, abertas, por oposição à exploração

sistemática dos documentos (BARDIN, 2010, p. 121-122).

O momento da exploração dos materiais é quando são realizadas as

operações de codificação, partindo de regras já formuladas a partir daquilo que

se procura. É a parte do processo que visa transformar os dados brutos do

texto e identificar as “unidades de registro” ou “temas-eixo”, que são as

unidades de base necessárias à categorização. São como “pequenas gavetas”,

que permitem melhor classificação, com base em critérios para obtenção

daquilo que se procura. Essa análise considera o texto como um todo e aponta

a frequência ou ausência dos termos de sentido, utilizando-se do critério dos

“temas” com base na regra de recorte.

No processo de codificação acontece a transformação a partir de regras

precisas. Nessa etapa, é preciso saber por que se analisa de determinada

maneira, e explicar esse processo significa modificar os dados brutos do texto,

aglutinando-os por recorte, agregação e enumeração, e permitindo a

representação do conteúdo, ou sua expressão, para analisar as características

do texto que serviram de índices. Como cita Holsti (1969, apud BARDIN, 2010),

a codificação é o processo que transforma os dados brutos de forma

sistemática, agregando-os em unidades, as quais permitem uma descrição

adequada das características pertinentes ao conteúdo.

E, finalizando as etapas, a última é a de tratamento dos resultados. Inclui

a inferência, como o levantamento de proposições e a interpretação, que

consiste em tornar significativos os resultados, por meio de operações

estatísticas simples, como as porcentagens, por exemplo, destacando os

dados obtidos em diagramas, quadros de resultados, figuras.

Aos participantes foi permitido que fizessem suas considerações. Os

sentimentos de vergonha, embaraço, medo e insegurança foram observados

quando percebiam que a entrevista seria gravada. Por isso houve preocupação

em oferecer-lhes o tempo necessário para que formulassem suas respostas, e,

em alguns momentos, a interferência da pesquisadora foi necessária para se

concluir um pensamento e para que os dados fossem mais significativos e

concretos.

A seguir, iniciam-se as análises das entrevistas, que aconteceram após

a transcrição na íntegra das fitas gravadas; só então são apresentados os

resultados da análise de conteúdo como proposta deste trabalho.

Após ouvir e ler inúmeras vezes as entrevistas, fazendo uso das

percepções, observações dos entrevistados e ideias centrais, foram feitas

algumas anotações de questionamentos, enumerando o que surgia. Esse

momento foi chamado de exploração do material, um momento em que o

pesquisador recorre às entrevistas com o intuito de perceber as prováveis

categorias que surgem dos dados e que agrupam representações semelhantes

dos sujeitos participantes da pesquisa.

Em seguida, foi feita a codificação desse material, organizado por meio

de três escolhas, para que a análise quantitativa e das categorias fossem

elencadas. O recorte foi feito a partir do que prevalecia nos discursos dos

sujeitos participantes, no que tange as unidades de registro, ou seja, a

repetição de respostas dadas por sujeitos diferentes foi um fator que classificou

e agregou essas respostas em uma categoria. A abordagem do mesmo tema

feita por sujeitos diferentes também foi um fator considerado para o surgimento

de uma nova categoria (BARDIN, 2010).

Utilizando a regra de recorte temático, foram escolhidos os trechos

significativos do discurso de cada participante, procurando manter seu

contexto. Esses indicadores serviram como o corpus para a elaboração das

unidades de registro ou dos temas eixos, formando as categorias de análise.

Com esses indicadores, foram estabelecidos os temas-eixo, aglutinados

em quatro categorias: processos de formação, contextos de formação, práticas

de formação e variáveis ligadas às práticas profissionais.

A análise dos dados foi realizada em dois momentos distintos.

Primeiramente as entrevistas foram formuladas aos 20 professores,

subdivididos em dois grupos, os recém-ingressados e os mais experientes

atuantes nos contextos das academias de ginástica. Num segundo momento,

com bases nessas entrevistas foram selecionados dois sujeitos participantes

que responderam aos questionamentos feitos durante as entrevistas Esses

sujeitos se enquadraram nos conceitos oriundos do desenvolvimento humano,

fazendo com que a pesquisadora voltasse a campo e, a partir de uma pergunta

disparadora, novas entrevistas fossem realizadas. Desse modo, por meio das

narrativas orais, chegou-se mais próximo das respostas.

Compreende-se, assim, que nesse cenário é pertinente refletir sobre si

como profissional e como pessoa, pois, quando se trata de formação, são

dados inseparáveis e, diante desse contexto estudado, as narrativas orais

podem auxiliar na identificação dos novos sentidos que esses profissionais

atribuem ao seu pensar, fazer e sentir.

Assim, buscou-se, com essa metodologia, uma ferramenta valiosa que

fornecesse dados, não só sobre a vida profissional do sujeito participante, mas

também, a partir da análise da história de vida, sobre a compreensão do

porquê das escolhas profissionais do sujeito.

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS

A amostra foi constituída por profissionais da área da Educação Física

que atuam no mercado das academias de ginástica. Os sujeitos foram divididos

em dois grupos, de acordo com o tempo de atuação nesse mercado: o grupo

dos recém-ingressados e o dos experientes. O primeiro grupo foi formado em

sua maioria por homens (70%), com média de idade de 24,8±2,7 anos e

atuando há 2±0,7 anos. Contrariamente, no grupo dos mais experientes foram

as mulheres a maioria (70%), com média de idade de 37,5±6,3 anos, atuantes

há 17±5,5 anos nas academias de ginástica.

As unidades de registro apresentadas como as mais elucidadas na

pesquisa serviram como norte para conduzir as discussões. Entende-se que,

no discurso dos participantes, as unidades de registro ou seus temas eixo

estão intrinsecamente relacionadas ao tema da pesquisa. Em todos os

momentos, nas inúmeras vezes em que se observaram as entrevistas,

aspectos comuns à formação da pesquisadora foram contestados, e isso, de

certa forma, facilitou a busca por uma compreensão dos significados das

questões mencionadas pelo professor sujeito desta pesquisa. Tentou-se

respeitar a diferença entre os dois grupos pesquisados: o primeiro, pela falta de

experiência no trabalho de modo geral; e o segundo, algumas vezes, pela falta

do conhecimento. Ponderou-se sempre que, para este último grupo, a pesquisa

pode trazer contribuições para melhoria de sua práxis.

CATEGORIA 1- PROCESSOS DE FORMAÇÃO

Ao se analisar o porquê de os professores participantes da pesquisa

terem optado por fazer a graduação em Educação Física, constata-se sua

identificação com os esportes desde a infância e no período escolar, e o

incentivo dos pais e parentes próximos, quanto à prática da atividade física.

Isso leva a refletir sobre o papel dos pais e educadores no desenvolvimento

dos jovens filhos-alunos.

Corroborando os dados encontrados nesta pesquisa, Silva e Carneiro

(2006) demonstram que a maioria dos alunos ingressantes mencionou ter

escolhido Educação Física por iniciativa própria, sem influência direta de outras

pessoas. Daqueles que relataram alguma influência, a maioria citou os pais

como os principais estímulos para escolha do curso. Nesse mesmo estudo

constatou-se que os alunos optaram por ingressar na graduação em Educação

Física devido ao fato de já participarem ativamente de atividades físicas. Já

tinham envolvimento com a área e um bom desempenho nos esportes.

Como: Bom, durante 17 anos passei por diversos estilos de artes marciais, fui atleta e sempre incentivado a fazer esporte. (professor, 1 – recém-ingressante).

Inicialmente porque eu me identificava com a profissão, eu adorava fazer esportes no colégio (professor.7 – recém-ingressante).

Foi a área que eu mais me identifiquei, sempre fiz esportes e é uma área que se preocupa com o bem-estar das pessoas e eu to gostando muito da minha escolha (professor. 8 – recém-ingressante).

A Figura 1 reforça a relação que os professores relataram com a

identificação com os esportes como causa que os motivaram a atuar no

contexto das academias de ginástica como processo de formação.

Figura 1. Motivação para atuar na academia de ginástica: identificação com os

esportes de professores recém-ingressantes e experientes. Resultados expressos em

quantidade de indivíduos que responderam positivamente à categoria

Depois de estudar a teoria bioecológica do desenvolvimento humano,

mais especificamente para o contexto de formação do indivíduo, é possível

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afirmar, segundo Bronfenbrenner (2002), que o ambiente em que o indivíduo se

insere é responsável pelo seu desenvolvimento. Pode ser a casa, a sala de

aula, ou a academia de ginástica, que os professores pesquisados muitas

vezes frequentaram desde crianças. Assim, esse ambiente específico pode ter

influenciado sua escolha de atuação profissional. Isso pode ser evidenciada

nas seguintes falas:

[a escolha] a princípio foi poder incentivar as pessoas a cuidar melhor da saúde, ter um melhor desempenho de vida, de qualidade de vida... (professor 1 - experiente).

[...] eu nasci sabendo que seria uma professora de Educação Física, primeiro porque eu sempre amei esportes, só que assim eu gostava de dar aulas, de ensinar... (professor. 9 - experiente).

Eu sempre gostei muito de esporte, tem uma tia minha que é professora de Educação Física, então ela me incentivou muito nessa área (professor 2 - experiente).

Os acontecimentos responsáveis por influenciarem o desenvolvimento

humano de um indivíduo derivam-se quase que invariavelmente das

expectativas de comportamentos associados a determinadas posições na

sociedade. Esses papéis alteram a maneira pela qual a pessoa é tratada, o

modo como age, o que faz, e, inclusive, o que pensa e sente

(BRONFENBRENNER, 2002).

O percurso profissional sustenta-se em dois planos de análise: o

desenvolvimento profissional e a construção da identidade profissional. Esse

mesmo percurso é o resultado da ação conjunta de três processos de

desenvolvimento: o processo de crescimento pessoal, o processo de aquisição

de competências e eficácias no ensino e o processo de socialização

profissional (GONÇALVES, 2000).

Corroborando esses processos, aponta-se, nesta pesquisa, que os

indivíduos foram de certa forma influenciados pelo contexto das academias,

quando de sua escolha profissional.

Uma característica da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano

Destacada por Bronfenbrenner (2011) é a existência de conexões entre

pessoas no contexto. São conexões formuladas em termos, nem tanto de

sentimentos interpessoais, mas de convivência entre várias pessoas que

ocupam o mesmo ambiente. Elas realizam tarefas comuns e se caracterizam

por estarem inseridas no mesossistema, que engloba as relações entre dois ou

mais ambientes dos quais a pessoa em desenvolvimento participa ativamente.

Carreiro da Costa et al (1996), em seus estudos, observam que o aluno,

ao ingressar nos cursos de Educação Física, encontra reduzido conflito de

interesses quanto ao quadro curricular, principalmente devido à aprendizagem

motora vivida dentro e fora do contexto da escola. Tal aprendizagem é

fundamental para sua escolha e continuidade na formação. Assim, as

experiências motoras sociais prévias e na graduação influenciam e modelam o

perfil do recém-ingressado no curso.

[...] a professora era muito boa, e depois na faculdade eu vi que era algo mais sério e mais interessante e comecei a gostar ainda mais (professor 7 - recém ingressante).

Pesquisadora: Então você teve o exemplo de uma boa professora, isso fez com que você se interessasse pela área? Sim, isso mesmo (professor 10 – recém-ingressante)

[...] o meu contexto foi muito é... (pausa) muito particular de uma professora que eu admirava de uma academia (professor 1 - experiente) (Figura 2).

Figura 2. Motivação dos profissionais recém-ingressantes e experientes para atuar na

academia de ginástica: exemplos de bons professores. Resultados expressos em

quantidade de indivíduos que responderam positivamente à categoria.

Ao citarem os exemplos dos bons professores que tiveram ao longo das suas

vidas nas escolas, ou mesmo nas academias de ginástica, supunham que

esses bons professores que atuavam nas academias de ginástica de certa

forma foram responsáveis pela sua escolha, pois a maior parte dos sujeitos

teve contato com esses contextos ainda muito jovens.

Isso evidencia que o professor que é visto como modelo a ser seguido e

como profissional competente contribui para a formação de novos professores

mais humanizados. Na trajetória dos professores pesquisados, fica claro o

processo de construção de significados que partiram da interação com o outro

(ser social), de sua inserção na cultura, no ambiente, o que permitiu ao

professor fazer parte da história desses sujeitos.

Ao considerar os fatores de influência da profissão docente, Goodson

(2000) argumenta que uma característica frequentemente observada nas

narrativas é o aparecimento de um professor preferido, o qual influenciou

significativamente o docente durante seu tempo de estudante.

Diferenciando-se dessa constatação, no estudo realizado com alunos

ingressantes no curso de Educação Física, Botti; Mezzaroba (2007)

encontraram que a única influência de escolha pelo curso não considerada

pelos investigados foi a relação com os seus professores de Educação Física.

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Para os autores, este é um registro preocupante e que gera inúmeras reflexões

e dúvidas sobre o papel desse profissional em qualquer contexto de sua

intervenção.

Observando a prática docente, Schön (1998), com base em estudos de

Dewey (1952), realizou atividades relacionadas a reformas curriculares,

propondo que a formação dos profissionais não mais se dê nos moldes de um

currículo normativo que primeiro apresenta a ciência, depois a sua aplicação e

por último um estágio que supõe a aplicação, pelos alunos, dos conhecimentos

técnico-profissionais (PIMENTA; GHEDIN, 2002).

Corroborando essa discussão, a construção da identidade do indivíduo

se dá pelas relações que ele estabelece com seu meio social.

A experiência que obtive na vida escolar, a identificação com a área desportiva, de treinamento, que eu me identifiquei bastante, queria me aprofundar mais nessa área (professor 2- recém ingressante).

Bom, eu sempre gostei de esporte, sempre fiz atividades físicas, as aulas de Educação Física no colégio, era uma das que eu não faltava (professor 3- experiente).

Como cita Ciampa (1987, apud COUTINHO; KRAWULSKI; SOARES

2007), a relação com o outro acontece, pois as identidades de ambos,

professores e alunos, refletem-se como espelhos. Essa troca pode ser

considerada como uma forma dialética entre indivíduo e o ambiente, como

ambos se identificam e como a transformação acontece, reproduzindo

ativamente a experiência social desses indivíduos.

O conceito de bom professor é associado a uma situação histórica, com

implicações sociológicas, culturais e políticas. Essa situação, apresentada pela

sua forma de ser, individual e profissionalmente, inclui certas obliquidades

provenientes das características psicológicas e sociológicas. Contudo, é no

cotidiano que se estabelecem os valores dos alunos e o ‘bom’ está relacionado

ao correto, ao eficiente, à satisfação do aluno por aquilo que o professor

transmite. Sendo assim, a qualidade de ‘ser bom’ está numa sucessão de fatos

intrinsecamente relacionados à competência, à destreza, à habilidade, entre

outras características reservadas ao docente. (PEREIRA; GARCIA, 1996).

Para Luckesi (1992), os alunos são os melhores indivíduos e os mais

capazes de opinar a respeito dos seus professores. São eles que podem dar

reais e fiéis informações a respeito das práticas cotidianas dos seus mestres,

pois eles as vivenciam em sua plenitude.

Quando está em um determinado contexto, o indivíduo apropria-se da

cultura desse ambiente a partir das relações que são estabelecidas. Com base

em Vygotsky (2002), é possível afirmar que, desde que o ser humano nasce,

seus gestos são significados pelo outro. Ele é sujeito histórico, projeto humano

em construção e depende dos outros para ser tornar humano. Não há como

fugir da premissa de que marca e é marcado, transforma e é transformado pela

cultura, na interação com o meio físico e social. Por meio das relações com o

outro, os indivíduos vão internalizando/apropriando-se da cultura, em

permanentes atos de significação.

Segundo Vygotsky (2002, p.75), é possível caracterizar o que ele chama

de processo de internalização, justificando-se, assim, uma série de

transformações:

Um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro, entre pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da criança (intrapsicológica). Isso se aplica igualmente para a atenção voluntária, para a memória lógica e para a formação de conceitos. Todas as funções superiores originam-se das relações reais entre indivíduos humanos.

Bons professores de Educação Física atuantes nas academias de

ginástica não ensinam somente exercícios em aulas coreografadas, ou em

aparelhos de última geração. Também orientam seus alunos sobre aspectos do

desenvolvimento humano, quando se referem às atitudes que devem ser

tomadas em relação ao próprio bem-estar físico e mental, à importância de

cuidar melhor da sua saúde, da alimentação. De alguma maneira, induzem os

alunos a levarem uma vida ativa e saudável e, principalmente, mostram que,

por meio do exercício físico inúmeros fatores de risco para a saúde podem ser

amenizados. Ou seja: o professor, além de ser um expert em sua área de

atuação, preocupa-se com o desenvolvimento global do seu aluno.

CATEGORIA 2- CONTEXTOS DE FORMAÇÃO

A discussão sobre a questão referente ao lugar específico – academia

de ginástica – onde atuam os professores objeto desta investigação, considera

que a identificação é o ponto mais conciso das análises, pois leva à reflexão de

que o perfil do profissional que conclui o curso de Educação Física vem sendo

mudado, e de que o ambiente modifica o comportamento do sujeito que nele

está inserido.

Com o espaço de intervenção ampliado, o profissional de Educação

Física passa a ser caracterizado como um profissional liberal, que sofre

influências e que influencia diretamente o mercado de trabalho, buscando

assegurar o seu espaço, tanto no mercado formal como no informal,

enfrentando fortes pressões de concorrência e competição. Assim, o

diagnóstico do mercado de trabalho indica profundas mudanças na área.

Entende-se que a profissão e o profissional de Educação Física estão em plena

fase de transformação de atuação e formação profissional (OLIVEIRA, 2000).

Ah, bom, na academia de ginástica é que eu gosto de trabalhar... (professor 4- recém-ingressante).

Quando eu entrei na faculdade, eu já entrei com a ideia de trabalhar com musculação [...] foi desde o começo que quis atuar nesse contexto (professor 5 - recém ingressante).

Acredito que lidar com pessoas adultas é mais fácil do que lidar com crianças dentro das escolas, por isso eu decidi ficar nas academias de ginástica (professor 7 - recém ingressante).

Os professores pesquisados relataram que vivenciaram desde muito

cedo o ambiente das academias de ginástica. Assim, a identificação com o

ambiente, enquanto contexto de formação, foi determinante na escolha da

atuação profissional (Figura 3).

De acordo com Nascimento (2002), estudos apontam como principais

tendências no mercado de trabalho em Educação Física a redução progressiva

de postos de trabalho nos campos considerados mais tradicionais, como

escolas e clubes, e o aumento crescente de postos de trabalho junto a outras

instituições não tradicionais, como empresas, hospitais etc., no âmbito

municipal e privado. Acredita-se que no futuro serão equilibrados os números

de profissionais do campo educativo e dos campos municipais.

Figura 3. A identificação e influência do ambiente das academias de ginástica como contexto de formação de professores recém-ingressantes e experientes. Resultados expressos em quantidade de indivíduos que responderam positivamente à categoria

Bronfenbrenner (2002) enfatiza a importância crucial de estudos sobre

ambientes de interação, para que se possam abandonar descrições

particularísticas e processos sem conteúdo. Isso porque o desenvolvimento da

pessoa é profundamente afetado pelo ambiente em que ela transita.

Do longo do ciclo de vida, o desenvolvimento humano ocorre por meio de processos de interação recíproca, progressivamente mais complexos entre um organismo humano biopsicológico em atividade e as pessoas, objetos e símbolos existentes no seu ambiente externo imediato (BRONFENBRENNER, 2011, p. 46)

O ambiente, de acordo com a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento

Humano, difere da teoria anterior (Teoria Ecológica), não apenas em

abrangência, mas também em conteúdo e estrutura. A orientação ecológica

levantava e traduzia em termos operacionais a posição da teoria encontrada

nos estudos sobre a ciência social, mas não contemplava o ambiente do

indivíduo. Esse ambiente é um dos responsáveis pelo comportamento e

desenvolvimento do indivíduo, e também deve ser associado à maneira como a

pessoa percebe e se relaciona com o próprio ambiente e com as pessoas

(BRONFENBRENNER, 2002).

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Esses padrões duradouros de interação no contexto imediato são denominados como processos proximais. Exemplos de padrões duradouros de processo proximal são encontrados no aqui e agora na amamentação ou conforto do bebê; nas brincadeiras com uma criança pequena; nas atividades entre crianças; no grupo ou na ação solitária; na leitura; na aprendizagem de novas habilidades; nas atividades físicas (grifo meu); na solução de problemas, no cuidado de pessoas doentes; na elaboração de planos; na execução de tarefas complexas e na aquisição de conhecimentos (BRONFENBRENNER, 2011, p. 46).

Reconhecendo-se as interações que seguem, é possível observar que,

tanto o professor recém-ingressante, como o mais experiente, no contexto das

academias de ginástica, dentro da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento

Humano, estão intrinsecamente ligados ao macrossistema (academias de

ginástica), que engloba valores e crenças de uma cultura ou subcultura

envoltos em um corpo de conhecimentos, costumes, estilos de vida, estrutura

de oportunidades, obstáculos e opções de trabalho no curso de vida (DESSEN;

COSTA JUNIOR, 2005).

Soeiro (2006) identificou em sua pesquisa que a academia foi o local

que ofereceu maior oportunidade de emprego para os recém-formados (as

vagas foram distribuídas de forma equilibrada entre bacharéis e licenciados),

seguido do campo escolar. O mercado de trabalho é regido pela cultura vigente

e atualmente a sociedade valoriza a questão do corpo e da saúde, o que

garante o acesso dos profissionais de Educação Física à atuação específica

nesse âmbito.

[...] Trabalhei no começo com como estagiário em diversas áreas, o que me levou a ter um amplo conhecimento (professor 1 – recém- ingressante). (Figura 4).

Foi a oportunidade que apareceu para mim e acabei me identificando com a área de academia de ginástica (professor. 2 – recém-ingressante).

[...] Porque daí eu comecei na faculdade e já começou a surgir oportunidade na própria academia (professor 8 - experiente).

Práticas de formação que tomem como referência as dimensões

coletivas contribuem para a emancipação profissional e para a consolidação de

uma profissão que pretende ser autônoma na produção de seus saberes e dos

seus valores (NÓVOA,1995; IMBERNÓN, 2001).

O professor/profissional exerce sua profissão e precisa combinar

sistematicamente elementos teóricos com as situações vivenciadas na prática.

Assim, sua atuação é mais do que conceber a prática de ensino e o estágio

como ingrediente da atividade formadora; trata-se de colocar a prática como

uma das características centrais da formação do professor (LIBÂNEO, 1998).

Figura 4. Estágio como contexto de formação de professores recém-ingressantes no contexto das academias de ginástica. Resultados expressos em quantidade de indivíduos que responderam positivamente à categoria.

A pessoa na Teoria estudada tem características idiossincráticas, o que

é atributo dela, tais como suas crenças, seus valores e seu estilo de vida, que

influenciam suas opções nos contextos de atuação. Existem três elementos

que compõem e evidenciam essas influências e que são responsáveis também

pelo seu desenvolvimento, dando-lhe consistência e forma, alterando a direção

e o poder dos processos proximais e sua interação com o ambiente (DESSEN;

COSTA JUNIOR, 2005).

[...] a minha mãe desde cedo já me colocou para procurar uma atividade física que me trouxesse um retorno, para melhorar meu condicionamento, para emagrecer porque eu era muito gordinho quando criança (professor recém ingressante - narrativa oral). [...] bom eu desde pequena e outro através de uma foto, até foi surpreendente eu me vi como organizadora de um evento dentro da escola e quando eu olhei aquela eu foto eu disse: Meu Deus quantos anos eu tinha para a professora de Educação Física já me dar essa responsabilidade (professor experiente- narrativa oral).

Segundo Dessen e Costa Junior (2005), os elementos que alteram o

curso de vida dos indivíduos são: as acomodações, que retratam o conjunto

dos processos proximais no âmbito do domínio particular do desenvolvimento,

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e que permitem a continuidade das operações dos referidos processos; os

recursos bioecológicos, que envolvem as habilidades, experiências,

conhecimentos e capacidades essenciais para que os processos proximais

funcionem em cada estágio de desenvolvimento; as ações, que podem

estimular ou inibir as reações referentes ao ambiente social imediato.

Essas novas reformulações da noção de pessoa, com suas características moldando seu desenvolvimento futuro, expandem e se integram à conceituação original de ambiente, o que implica olhar a pessoa sob a ótica de sistemas que se acomodam e se ajustam, do micro ao macrossistema (DESSEN; COSTA JUNIOR, 2005, p. 82).

O processo inicial, relacionado na Teoria Bioecológica, pode ser descrito

pela unidade mais básica de análise, a díade entre a relação professor/aluno.

Assim, a díade estabelecida no contexto das academias de ginástica

caracteriza-se pelas relações recíprocas entre os indivíduos que ali convivem.

Citando Bronfrenbrenner (2002, p.6), “[...] a partir de dados diádicos

parece que, se um dos membros do par passa por um processo de

desenvolvimento, o outro também passa”, o que caracteriza os processos

desenvolvimentais que ocorrem em determinados contextos.

A importância desenvolvimental das transições ecológicas deriva-se do fato de que elas quase invariavelmente envolveram uma mudança de papel, isto é, das expectativas de comportamentos associados a determinadas posições na sociedade. Os papéis têm um poder mágico de alterar a maneira pela qual a pessoa é tratada, como ela age, o que ela faz, e inclusive o que ela pensa (...). Os eventos desenvolvimentais que são mais imediatos e potentes como influência no desenvolvimento de uma pessoa são as atividades que outras pessoas realizam com ela ou na sua presença. O ativo envolvimento ou a mera exposição àquilo que os outros estão fazendo geralmente inspira a pessoa a realizar atividades semelhantes sozinhas (BRONFENBRENNER, 2002, p. 7).

CATEGORIA 3- PRÁTICAS DE FORMAÇÃO

Atualmente a formação de professores, na maioria dos cursos de

graduação, transcorre de maneira prática e, na área da Educação Física, isso

acontece com maior frequência, uma vez que os conteúdos e habilidades

oferecidos nos cursos de graduação acabam priorizando esses conhecimentos.

Tais conceitos são importantes para o saber-fazer do profissional dessa área,

transmitindo-lhe a formação técnica de como executar os procedimentos que

irá trabalhar ao longo da sua carreira, e capacitando-o a atuar em variados

contextos. Entretanto, esse cenário vem sendo alterado gradativamente, em

defesa de uma formação mais humanitária-biológica do que tecnicista

(DARIDO, 2005).

A partir dos relatos obtidos pelos professores participantes da pesquisa,

percebe-se que a formação inicial não é suficiente, mas é o início do processo

de formação que acompanhará sua trajetória. Observa-se, nas entrevistas,

preocupação com a formação continuada, com a realização de cursos extras

curriculares que poderão aprimorar suas práxis, fazendo com que produzam

seus próprios conceitos e opiniões e não se acomodem, trabalhando com os

mesmos conteúdos durante vários anos.

Conforme Tardif (2002), o saber docente é plural e profundamente

social, uma vez que, além de estar ancorado na individualidade, é sempre

ligado ao trabalho, ao ensino, à instituição e à sociedade. Sendo assim, a

formação profissional constitui uma sólida instância de composição de saberes,

em que as questões socioculturais devem ser amplamente debatidas.

Corroborando com essa característica da formação profissional:

O desenvolvimento profissional dos professores é objetivo de propostas educacionais que valorizam a sua formação não mais baseada na racionalidade técnica, que os considera meros executores de decisões alheias, mas em uma perspectiva que reconhece sua capacidade de decidir. Ao confrontar suas ações cotidianas com as produções teóricas, é necessário rever as práticas e as teorias que as informam, pesquisar a prática e produzir novos conhecimentos para a teoria e para a prática de ensinar. Assim, as transformações das práticas docentes só se efetivarão se o professor ampliar sua consciência sobre a própria prática (...) o que pressupõe os conhecimentos teóricos e críticos da realidade (Pimenta, Anastasiou, 2002, p. 13).

Nas falas fica evidenciado tal aspecto das práticas de formação:

Também foram diversos cursos, e hoje já estou concluindo a pós-graduação, um curso de um ano e meio de extensão na área da Preparação Física (professor 1-recém ingressante). Nossa, eu fiz muitos cursos na área da ginástica, agora estou fazendo pós graduação em Treinamento Desportivo e quero fazer mais cursos ainda (professor 5- recém ingressante). Tenho duas pós-graduações, trabalhei com a parte de personal trainer e agora estou fazendo um curso de biomecânica (professor 3- experiente).

[...] fiz vários cursos pequenos extracurriculares, fiz uma especialização em Fisiologia do Exercício, fiz mestrado em Ciências Biológicas e agora estou começando outra pós em Marketing Esportivo (professor 4- experiente).

É interessante observar que, na busca por formação continuada, tanto o

professor recém-ingressante quanto o mais experiente mencionam que ela é

importante em sua prática profissional. Entretanto, considerando o tempo de

formação e a procura por especialização, observa-se que, proporcionalmente,

os mais experientes sempre procuraram cursos de curta duração, enquanto o

recém-ingressantes optam por cursos de especialização lato sensu (Figura 5).

Tal fato pode estar atrelado à necessidade mercadológica, uma vez que no

passado o mais importante era a experiência e, atualmente, a formação

continuada é mais valorizada no currículo do profissional.

Figura 5. Relação cursos de curta e média duração na formação continuada de

professores recém-ingressantes e experientes atuantes no contexto das academias de

ginástica.

As trajetórias e ciclos de vida no desenvolvimento dos indivíduos

acontecem a partir das interações e eventos abordados em determinados

contextos. É nesses ambientes que a história pessoal vai sendo construída e

remodelada. Essa trajetória forma-se com base nos elos comportamentais

estabelecidos entre um período antecedente e outro consequente; assim, os

relatos acima reproduzidos demonstram a importância dada pelos professores

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Pós-graduação Cursos de Extensão

Formação Continuada

Recém-Ingressantes Experientes

mer

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e In

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ídu

os

(sujeitos) quando afirmam a necessidade da formação continuada, iniciada

ainda enquanto estavam na universidade (DESSEN; COSTA JUNIOR, 2005).

Para que isso ocorra, é necessário que o professor perceba o que está

além das suas perspectivas, que reflita de maneira crítica, para descobrir o seu

verdadeiro papel no contexto em que deseja atuar. Freire (1996, p. 43) observa

que “[...] é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode

melhorar a próxima prática”.

A afirmação questionável é que, quando o professor inicia o processo

reflexivo de suas práticas, ele tem ciência da importância da formação

continuada para a proliferação dos seus saberes, tornando-se o próprio

responsável por estar devidamente preparado para tomar decisões e enfrentar

os desafios da profissão docente. Para complementação dessas afirmações,

veja-se o que afirma Schön (2000, p. 15):

A racionalidade técnica diz que os profissionais são aqueles que solucionam problemas instrumentais, selecionando os meios técnicos mais apropriados para propósitos específicos. Profissionais rigorosos solucionam problemas instrumentais claros, através da aplicação da teoria e da técnica derivadas de conhecimento sistemático, de preferência científico.

O mercado de trabalho, de um modo geral, vem sofrendo modificações.

Surgem modernas e distintas ocupações, e exigem-se do profissional:

qualificação, atualização de conhecimentos, aptidões diversificadas e

capacitação de qualidade nos serviços prestados à população. Nesse sentido,

as academias de ginástica e os professores atuantes nesse setor necessitam

aprimoramento contínuo e ininterrupto. Isso porque a proliferação de estruturas

de prestação de serviços esportivos, em especial as academias de ginástica

particulares, e a diversidade de práticas oferecidas à população transformam

constantemente o espaço de intervenção do professor de Educação Física,

impondo-lhe conhecimentos diferenciados para poder atuar de modo

competitivo no mercado de trabalho (NASCIMENTO, 2002).

As afirmações dos sujeitos da pesquisa demonstram essa necessidade

de aprimoramento e atualização:

Nossa, eu procurei vários cursos, porque eu não tive nada disso na faculdade, como eu fiz há muito tempo atrás, hoje em dia eu sei que tem uma disciplina de ginástica de academia, na minha época não tinha (professor 5- experiente).

Ah, eu sempre fiz os congressos fora do estado, os cursos de extensão universitária, só mesmo a faculdade não supriu as minhas necessidades de atuar nesse contexto (professor 6- experiente).

[...] principalmente na minha época não tinha nada muito voltado para a ginástica, era uma coisa muito antiga, então fui buscar cursos fora de ginástica (professor 7- experiente).

Como a profissão e o mercado de atuação desse profissional se

transformam de acordo com as características e necessidades da sociedade, a

preocupação com a formação continuada, as disciplinas curriculares e a

separação em cursos de bacharelado e licenciatura estão em questão.

De acordo com Souza Neto (2004), a formação do professor generalista

formado em uma perspectiva humanística, por exemplo, a licenciatura plena

em Educação Física, torna-o apto a atuar, tanto em ambientes educacionais,

como nos não educacionais. Já ao especialista formado como bacharel,

caberia a atuação em um ramo específico da área, particularmente dentro de

um conceito mais pragmático e técnico de formação, como nas academias de

ginástica.

O fato é que apenas uma pequena parcela de recém-ingressantes é

sensível e se interessa pela perspectiva de uma Educação Física apresentada

à população com seus aspectos biopsicológicos, ou seja, uma área de atuação

para a melhoria global do indivíduo. Os relatos que seguem demonstram esse

aspecto:

[...] a parte positiva acho que desde o momento que você acorda, estando numa área prazerosa, fazendo o que a gente gosta vem para o trabalho mais feliz, mais consciente (professor recém ingressante narrativa oral).

Melhorando a qualidade de vida, ela vai melhorando seu próprio desempenho não é só na academia, mas na vida pessoal (professor recém ingressante narrativa oral).

[...] eu tenho uma turma que cheguei a trabalhar com Educação Física Escolar dentro da academia, ai a gente busca desde outras disciplinas, matemática, português, história para elaborar as atividades (professor 9- recém ingressante).

A maioria dos professores participantes deste estudo, recém-

ingressados no mercado de trabalho, teve seus currículos direcionados à

formação de bacharel; já os mais experientes tiveram sua formação voltada

para a licenciatura. Tal fato pode ser comprovado nos depoimentos de alguns

deles, que relatam que as disciplinas utilizadas para atuação no contexto das

academias de ginástica não faziam parte da grade curricular de sua formação.

Assim, o desejo de trabalhar junto às academias de ginástica fez com

que esses profissionais atuantes há mais tempo buscassem formação

continuada e diferenciada.

A questão curricular tem sido discutida constantemente. Nascimento

(2002) destaca que em ambas as habilitações, bacharelado e licenciatura, o

curso tem presenciado uma diversidade de intervenções de formação, o que

vem gerando contradições, tanto de interpretação acerca das próprias

habilitações, como da formação de profissionais competentes para atuação em

diversos segmentos da área, do ensino formal da disciplina de educação física

às áreas não-formais.

A preparação do profissional em Educação Física passou por mudanças,

propondo-se a ele o desenvolvimento de conceitos e atitudes junto aos

procedimentos adotados e criados nas aulas. Nas academias de ginástica,

esse profissional é responsável pela elaboração das aulas, pela motivação e

satisfação dos seus alunos e pela consecução de seus objetivos.

As características inerentes ao professor, como o carisma, a amplitude

dos conceitos e procedimentos adotados durante a aula, fazem com que os

alunos reflitam e entendam os significados de tais procedimentos, salientando,

não só os aspectos físicos, mas também os benefícios que a prática bem

orientada traz aos indivíduos.

A atuação desse profissional está em pleno desenvolvimento, e o

espaço de trabalho, em ampla expansão. Com isso, o conhecimento científico

é cada vez mais necessário para o exercício da profissão, e a preocupação

com a produção de conhecimentos aplicados e direcionados para o professor

que atua nesse segmento vem crescendo a cada ano. A proliferação das

academias de ginástica e musculação é fenômeno mundial, e representa

significativamente uma parcela empregadora dos professores. Portanto, torna-

se necessário melhor conhecimento e aprimoramento nesse setor, bem como

experiência para atuar nesse mercado.

Num primeiro momento da pesquisa, quando foi realizada a análise da

questão quatro, “Além do contexto da academia, você atua em outro local de

trabalho?”, os professores recém-ingressados, bem como aqueles com mais de

dez anos de atuação, pela primeira vez associaram a mesma fala que está

diretamente ligada a essa categoria. Após ouvir as entrevistas, foi possível

reunir as respostas, que eram muito semelhantes. Quando eles citaram a

atuação em outro contexto de trabalho, embora para eles seja um contexto

localizado fora das academias, a atuação estava sempre relacionada à

atividade física, como personal trainer, modalidades realizadas na água e

outras ocupações em ambientes intrinsecamente ligados à saúde.

Sim, fora da academia de ginástica, hoje eu atuo com preparação física de esportes, como o basquete, artes marciais, corrida, mountain bike, triátlon entre outros (professor 1- recém ingressante).

Atuo, atualmente, eu atuo como personal trainer, e também com avaliação física e ginástica laboral (professor 3 - recém ingressante).

Estou trabalhando também, indiretamente, na área da Educação Física, trabalho como guarda-vidas no Sesc, e com algumas aulas de natação também (professor 2 - recém ingressante).

É hoje em dia eu atuo como personal, e ainda dou algumas poucas aulas em uma academia (professor, 1- experiente).

Atuo em uma escola e tenho um grupo de corridas (professor 5- experiente).

Atuo sim, eu trabalho na área administrativa da academia e ministro cursos de ginástica, alongamentos, enfim tudo relacionado à academia (professor 9 - experiente).

Essa identificação implica, no que diz respeito à perspectiva individual e

à constituição da representação de si e da autoestima do indivíduo do ponto de

vista social e do quanto ele pertence àquele grupo, melhor desempenho de seu

papel e de suas representações, dentre as quais está incluída a profissão.

Sendo assim, os processos psicossociais que o indivíduo desenvolve ao longo

da vida, como pessoa inserida numa sociedade, são indissociáveis e

constituem a identidade pessoal e profissional de cada um (COUTINHO,

KRAWULSKI e PENNA SOARES, 2007).

De acordo com Moita (1992), a identidade pessoal é um sistema de

múltiplas identidades e encontra a sua riqueza na organização dinâmica dessa

diversidade. Remete para a percepção subjetiva que um sujeito tem da sua

individualidade, e inclui noções como consciência de si, definição de si.

O mesmo autor observa que a identidade profissional dos professores

pode ser chamada de uma "montagem compósita". A construção, que tem uma

dimensão espaço-temporal, atravessa a vida profissional desde a fase da

opção pela profissão até a aposentadoria, passando pelo tempo concreto da

formação inicial e pelos diferentes espaços institucionais em que a profissão se

desenrola. É construída sobre saberes científicos e pedagógicos, e também

sobre referências de ordem ética e deontológica. É uma construção que tem a

marca das experiências feitas, das opções tomadas, das práticas

desenvolvidas, das continuidades e descontinuidades, quer quanto às

representações, quer quanto ao trabalho concreto.

O processo de construção de uma identidade profissional própria não é

estranho à função social da profissão, ao estatuto da profissão e do

profissional, à cultura do grupo profissional e ao contexto sociopolítico em que

se desenrola (MOITA, 1992).

Segundo Bronfenbrenner, apud Dessen e Costa Junior (2005, p. 31), o

modelo bioecológico de estudo do Desenvolvimento Humano:

[...] estabelece um novo paradigma teórico e metodológico, concebendo o desenvolvimento humano como fruto das interações bidirecionais entre um indivíduo biopsicologicamente ativo e todo o sistema ecológico humano, que abarca desde contextos mais imediatos (microssistemas), como a família e o ambiente de trabalho, além das relações estabelecidas entre eles (mesossistemas), até aqueles mais amplos (exossistemas e macrossistemas), como a sociedade e a cultura.

O contexto das academias de ginástica representa, na atualidade, o

ambiente em que se praticam atividades físicas, uma vez que o cotidiano impôs

aos indivíduos uma vida pouco saudável e nível elevado de estresse. Isso torna

mais relevante o papel do professor que se insere nesse ambiente. O conceito

de prática de atividade física surge e passa a ser necessidade social, para a

pessoa que deseja uma vida saudável (LEITE NETO, 1994).

O surgimento das academias vem com a proposta de oferecer à

população urbana a possibilidade da prática regular de atividade física que

modela o corpo de acordo com a atual estética exigida socialmente, e também

com a proposta de promover conscientização quanto à saúde e ao cuidado

com o estilo de vida pessoal, com a alimentação, o descanso e a

sociabilização. Com isso, o público e o número de profissionais que atuam

nesse mercado aumentam consideravelmente (VERRY, 1997).

Apropriar-se do local de trabalho e identificar-se com ele é um processo

dinâmico, temporal e particular. É por meio dessa identificação que os

indivíduos se desenvolvem como seres humanos, com sentimentos intensos

pelas qualidades que são inerentes ao local de trabalho. A identificação com

determinado ambiente traz sentimento de pertença, conceito indissociável do

processo de socialização.

De acordo com Valera e Pol (1994, p. 163):

As pessoas e a coletividade necessitam identificar-se com um espaço físico próprio assim como com um grupo que lhes forneça as chaves para criar e compartilhar seu modo de ser. Quer dizer, necessitam de modelos referenciais. O que chamamos cultura – a cultura popular – os valores éticos, estéticos e relacionais compartilhados, estão no mais profundo dos processos psicológicos.

Assim, o profissional de Educação Física que decide atuar de forma

constante nesse ambiente deve tornar-se sujeito desse espaço, apropriando-se

dele, transformando-o em lugar onde possa fazer uso da sua criatividade,

aumentar sua produção de conhecimento e renda, sua espontaneidade e a

expressão da suas emoções, reconhecendo, desse modo, suas similaridades,

identificações e diferenças (PEIRÓ, 1986).

A observação que ajusta essa categoria em particular é a vontade da

maioria dos participantes da pesquisa em atuar como professores particulares,

popularmente chamados aqui no Brasil de personal trainer. Essa ocupação é

orientada por profissionais graduados em Educação Física, que realizam as

aulas em academias de ginástica ou nas residências dos alunos que os

contratam.

Refletindo sobre o conceito da Educação Física e dos profissionais que

a desempenham, é possível afirmar que, tanto no campo científico, como no

pedagógico, é a disciplina que pode ser entendida por meio de termos

“culturalistas”, tema já debatido nas aulas de Educação Física e por

profissionais que a realizam. A ocupação dos professores particulares passa

por esse viés, quando está ligada às tendências da região em que trabalham, à

influência da mídia e aos modismos em geral (BETTI, 1996).

O professor de Educação Física que trabalha com esse segmento de

mercado deve, antes de tudo, gostar de praticar as atividades que irá propor

aos seus alunos/clientes, tornando-se indispensáveis algumas habilidades,

como: resistência muscular, capacidade cardiovascular, dinamismo,

criatividade, capacidade de liderança, carisma, capacidade de ver o indivíduo

como um todo, alteridade, entre outras tantas características peculiares ao

desenvolvimento humano.

Por fim, reconhece-se que a atuação desse professor como prestador de

aulas particulares é uma nova forma de trabalho, por meio da qual ele

desenvolve potencialidades pessoais e profissionais a partir das necessidades

do seu aluno/cliente, necessidades essas oriundas de características

intrínsecas do desenvolvimento humano.

CATEGORIA 4- VARIÁVEIS LIGADAS ÀS PRÁTICAS PROFISSIONAIS

À luz do que foi descrito pelos participantes da pesquisa, foi possível

constatar a preocupação dos profissionais em se envolver com as questões

relativas à saúde do corpo. Tal inquietação faz com que a prestação de

serviços se volte mais para a produtividade profissional em grande escala e ao

excesso do desgaste físico a que o profissional é submetido. Abaixo, alguns

relatos:

[...] pois o medo de lesões e ficar sem trabalhar aumentava a cada dia, hoje estou concluindo minha pós já pensando em diminuir o ritmo e a quantidade de aulas após os 35 anos de idade (professor 1 - recém-ingressante).

Me preocupo porque a gente depende do nosso corpo...eu acho que todo professor deve pensar nisso porque principalmente quem dá aula de ginástica tem um desgaste maior (professor. 6 – recém-ingressante).

Ah eu me preocupo muito eu acho que dou conta por mais uns seis ou sete anos, depois eu vou ter que ir para outra área, eu acho que o físico mesmo é que não vai aguentar (professor 10 - recém-ingressante).

[...] nós não somos atletas, mas temos uma vida competitiva, uma vida que cada dia mais precisa ter condições físicas para a gente poder trabalhar e atuar bem na nossa área (professor 1 - experiente).

[...] mas devido a minha idade eu decidi passá-la (a aula de ginástica) para um professor mais novo, então obviamente a gente tem que pensar no nosso futuro (professor 9 - experiente).

[...] então eu me dedico com muito amor, me dedico com toda a minha garra, porque tem o lado bom e tem o lado difícil que muitas pessoas não sabem, nós que levamos a sério a Educação Física (professor experiente - narrativa oral).

Ao serem questionados sobre a influência do fator idade na prática

profissional, ambos os grupos de professores estudados relataram a

preocupação com a saúde do corpo físico. Tal preocupação está diretamente

associada ao manter-se ativo por período maior de tempo (Figura 6).

Figura 6. Associação entre preocupação com o corpo e contexto de prática profissional relativo à idade de professores recém-ingressantes e experientes atuantes nas academias de ginástica

Outros aspectos relatados nas falas dos sujeitos correspondem ao que é

positivo e negativo na atuação como professor de Educação Física. A

sobrecarga excessiva de aulas desgastantes, as questões relativas à voz, às

disfunções osteoarticulares, entre outras, aparecem nos relatos. Percebe-se

que, em alguns momentos, mesmo que se goste da área de atuação, é

necessário retroceder nas atividades para que a extensão da carreira seja

desempenhada com eficiência e sucesso.

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Recém-Ingressantes Experientes

Preocupação com o Corpo

Núm

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Em contraste, a experiência pertence à esfera subjetiva dos sentimentos: por exemplo, antecipações, pressentimentos, esperanças, dúvidas ou crenças pessoais. Esses sentimentos surgem também nos primeiros meses de vida, continuando ao longo da vida, sendo caracterizados por estabilidade e mudança (...) Podem também ser vinculados a atividades nas quais o indivíduo se engaje: por exemplo, aquelas que ele mais ou menos gostam de fazer. A característica mais distintiva das qualidades experienciais, no entanto, é que elas são “carregadas emocional e motivacionalmente”, englobando amor e ódio, alegria e tristeza, curiosidade e tédio, desejo e repulsa, costumeiramente, com ambas as polaridades existentes ao mesmo tempo, mas geralmente em graus diferentes (BRONFENBRENNER, 2011 p. 45).

Para a Educação Física existir, é necessário um intermediário humano

(o educador, o professor/profissional) entre o desenvolvimento humano (o

aluno, o atleta ou o cliente) e os estímulos (o exercício, o movimento, os jogos,

o esporte, etc.). Esse intermediário deve provocar o processo de

desenvolvimento total do indivíduo. De acordo com Betti (2004, p.1):

O olhar específico da Educação Física sobre o corpo e a cultura só poderia dar-se nesse espaço de intervenção pedagógica-profissional, repleto de intencionalidades, e que envolve uma inter-relação humana (o profissional/professor e o aluno/atleta/cliente) em um ambiente cultural.

Ao serem questionados sobre o que faziam para garantir um trabalho

eficiente durante suas jornadas semanais, todos os participantes se mostraram

preocupados com o treinamento destinado a eles mesmos, com a alimentação

e com o descanso. Para Mendes et al (2002), os professores consideram o

trabalho fonte de prazer e sustento, bem como de sofrimento, sempre

sugerindo uma contradição à qual todo trabalhador é submetido.

É eu me alimento bem, nas horas vagas eu faço algumas atividades para me manter ativo, mas falta tempo para focar em treinamentos (professor. 2- recém-ingressante).

Com certeza todo mundo tem que se cuidar bem para quando ficar mais velho “ficar inteiro (professor. 4- recém-ingressante).

A parte de dormir, de alimentação que é mais difícil, agora se manter ativo, a gente acaba se mantendo porque você tem que dar aula junto, então você faz junto com seus alunos, agora dormir e a alimentação nem sempre dá para fazer certo (professor. 5- experiente).

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), com o passar

dos anos a saúde passou a ser conceituada como “estado de completo bem-

estar físico, mental e social”. Sendo assim, ela – saúde – pode ser influenciada

por diversos fatores, tanto positiva como negativamente. Nos conceitos de

promoção e prevenção predomina o enfoque comportamental de mudanças de

estilo de vida, sendo a saúde ainda compreendida como ausência de doença.

Diante disso, para que os serviços de saúde promovam a saúde é necessário

que os profissionais compreendam e ampliem sua visão de promoção à saúde,

incluindo-se como atores críticos e participantes do processo de construção e

reformulação desse conceito.

Não é uma condição estática, que existe somente quando não se está

doente, mas processo de aprendizagem, tomada de decisão e ação para a

otimização do bem-estar próprio (HARRIS, 1989, apud DEVIDE, 1996).

Manter-se ativo, alimentado e conciliar o tempo de descanso foram

condições elencadas como as principais para que os aspectos saudáveis do

professor estivessem preservados:

[...] então tudo isso (descanso, alimentação e treino) engloba a nossa saúde no geral...a gente deve dar o exemplo para os nossos alunos que estamos bem, com saúde e com algo de bom para passar para eles (professor experiente- narrativa oral).

[...] a gente acaba se cuidando um pouco mais porque eu acho que a imagem que a gente passa para as pessoas é super importante porque é ruim quando um aluno chega para você querendo cuidar da estética, do visual e vê um professor bem desleixado. É meio complicado (professor recém-ingressante- narrativa oral).

[...] eu tento ter uma boa noite de sono, essa é minha prioridade. Eu tento trabalhar com um nutrólogo para fazer a parte nutricional e eu não quero ter carência de nenhuma vitamina, faço uma alimentação equilibrada (professor 1- experiente).

Entretanto, os pesquisados afirmaram ter dificuldades para associar tais

necessidades com a rotina exaustiva de trabalho por eles desempenhada. Tal

preocupação foi constatada por Palma (2003), em investigação com

professores de Educação Física que atuam em academias de ginástica.

Naquele estudo, foi constatado que os professores trabalham em média 48,6

horas/semana, que realizam esforço físico situado em 14,02, na escala de

percepção de esforço desenvolvida por Borg, e que mais da metade apresenta

queixa de dores relacionadas à ocupação profissional.

Neste estudo, detectou-se que os profissionais entrevistados em algum

momento relataram forte preocupação com o fator idade associado com o

gasto energético durante o trabalho. Porém, devido à preocupação e ao desejo

desses profissionais em desempenhar eficientemente seu papel dentro das

academias de ginástica, é constante a motivação e atenção para se manterem

ativos, realizando dieta equilibrada e saudável, bem como descansando

suficientemente para iniciar nova jornada de trabalho.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa leva à reflexão sobre o quanto o desenvolvimento

do indivíduo está intrinsecamente relacionado ao ambiente em que ele decide

atuar e o quanto essa atuação se dá a partir de pressupostos que, na maioria

das vezes, partem de premissas ocorridas no desenvolvimento da criança e do

adolescente.

O referencial teórico estudado demonstra outros caminhos para se

estudar a Educação Física como promotora do Desenvolvimento Humano

Global do individuo. Isso porque foi estudado um referencial não comum aos

autores da área, com observações distintas daquelas das Ciências Sociais. Os

limites desta pesquisa deram-se quando temas não comuns à formação do

profissional de Educação Física foram questionados. Observaram-se avanços

quando esses mesmos profissionais demonstraram interesse em contar sua

própria história e se interessaram de maneira concreta por temas até então

desconhecidos por eles, temas que os fizeram refletir sobre sua prática diária,

por exemplo, a interdisciplinaridade.

A escolha em atuar no contexto das academias de ginástica passa pela

identificação com esse ambiente antes, durante e depois da formação. Antes,

enquanto alunos-clientes desses espaços de prática de atividade física ou

mesmo nas aulas de educação física escolar; quando se identificam com o

contexto academia de ginástica, no estágio ou na continuidade de suas

atividades físicas regulares; e, depois, quando buscam nesse contexto de

formação atingir as metas almejadas pelos alunos – desenvolvimento inter e

intraindivíduo.

As características comuns no tema abordado que fazem parte integrante

da linha de pesquisa adotada foram observadas no contexto estudado,

podendo ser claramente vistas nos micro, meso, eso e macrossitema.

No microssistema, quando o indivíduo entra na academia de ginástica;

no mesossistema, quando as relações interpessoais são estabelecidas nesse

contexto; no esossistema, quando o individuo participa ativamente de eventos

que acontecem nas academias de ginástica; e, no macrossistema, que se

refere a toda a organização em que ele está inserido.

As díades primárias, observacional e de atividade conjunta, que são

fatores preponderantes nesta pesquisa, estão presentes nas inter-relações

estabelecidas entre professor e aluno.

A formação continuada é outro fator a ser estimulado no profissional

atuante nessa área, uma vez que surgem a todo o momento diferentes

modalidades de aulas coreografadas e pré-coreografadas. Cursos de pós-

graduação, extensões universitárias e participação em congressos são bons

exemplos de práticas voltadas para a busca dessa melhoria na atuação

profissional. Isso porque os participantes da pesquisa relataram,

subliminarmente, que no curso de Educação Física as disciplinas que

compuseram a grade curricular e que os habilitaram a atuar nesse contexto

estão aquém do ideal, no que se refere às horas distribuídas nos currículos e

também ao rol dos conteúdos oferecidos.

Os resultados apontaram que os professores de Educação Física que

optaram por trabalhar no mercado das academias de ginástica, em sua

maioria, foram influenciados por bons modelos profissionais e por parentes

próximos. As relações interpessoais que acontecem nesses ambientes também

são determinantes na escolha por esse contexto de atuação.

Por fim, é notória a preocupação com a saúde do corpo físico relativo ao

contexto de prática profissional. A maioria observou a idade como ponto crucial

referente a tal apreensão. Entretanto, a percepção em se manter nesse espaço

de atuação muda conforme a experiência é adquirida. Isto é, para os Recém-

ingressantes, a beleza física parece ser determinante para a continuidade na

academia, enquanto os mais experientes valorizam os anos de prática, o que

faz com que rendam mais sem tanto desgaste.

Diante das observações relatadas pelos professores pesquisados,

considera-se que estudos futuros poderão ser direcionados para análise dos

currículos de Educação Física, no que se refere à interdisciplinaridade na

formação e na atuação dos futuros profissionais, principalmente para aqueles

que intencionam atuar no contexto das academias de ginástica.

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Anexo 1

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário, em uma

pesquisa realizada pela aluna Lucimeire Valério de Matos, matriculada no

Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de

Taubaté. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de

aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em

duas vias. Uma delas é sua, e a outra é do pesquisador responsável. Em caso

de recusa você não será penalizado de forma alguma.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA

Título da Pesquisa: “A Academia de Ginástica como Contexto de Formação do

Profissional de Educação Física”

Pesquisador orientador: Professor Dr. Renato Rocha

Telefone para contato: (12) 00000000 (inclusive ligações a cobrar)

Pesquisador responsável: Lucimeire Valério de Matos

Telefone para contato: (12) 00000000(inclusive ligações a cobrar)

A pesquisa tem como objetivo analisar a trajetória profissional de

professores de Educação Física atuantes no contexto das academias de

ginástica, na cidade de Taubaté-SP, desde que entram no mercado de

trabalho, e após alguns anos de experiência. Essa pesquisa tem características

de um estudo exploratório o que proporciona maior familiaridade com o

problema, com vistas a torná-la mais explícita ou construir hipóteses. O objetivo

principal é o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições.

A pesquisa abordará a investigação científica considerando como esses

indivíduos atuam no contexto de trabalho, no caso, as academias de ginástica;

quais os fatores que os levaram a atuar nesse contexto, bem como

preocupações pertinentes ao seu trabalho, inclusive no que se refere à atuação

de maneira interdisciplinar com as outras áreas da saúde, facilitando sua

promoção.

Os sujeitos entrevistados serão os recém-ingressados nesse mercado

de trabalho e professores que atuam há mais dez anos nesse contexto, com a

intenção de contrapor as respostas obtidas na entrevista semiestruturada a

eles serão esclarecidos a importância e objetivos da pesquisa e então

convidados a participar. O grupo formado irá responder a entrevista (em

anexo), formando assim o grupo de sujeitos que serão avaliados pelas análises

de conteúdo.

A identidade dos professores não será revelada em nenhum momento

da pesquisa, e o material respondido pelos sujeitos será destruído após as

análises. Os resultados da pesquisa estarão à disposição dos interessados

junto ao Programa do Mestrado.

Não haverá nenhuma forma de pagamento aos participantes da

pesquisa que poderão retirar seu termo de consentimento a qualquer momento

sem nenhum prejuízo.

Este estudo permite contribuir para a melhor formação e atuação desses

profissionais e, principalmente, pode conhecer qual a importância dessa

trajetória na vida desses profissionais.

Professora pesquisadora: Lucimeire Valério de Matos

RG: / CPF: / CREF: 006814-G/SP

CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO

Eu____________________________________RG_________________

____, abaixo assinado, concordo em participar do estudo como sujeito. Fui

devidamente informado e esclarecido pela pesquisadora Lucimeire Valério de

Matos sobre a pesquisa, e os procedimentos nela envolvidos, assim como

sobre os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-

me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem

nenhum prejuízo a minha pessoa, e que o anonimato das informações por mim

prestadas será assegurado em todas as etapas da pesquisa.

Local e data:

Assinatura do participante:

Apêndice: 1

Roteiro da entrevista semiestruturada:

1-O que o levou a ser professor de Educação Física?

2-Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

3-Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto da academia?

4-Além do contexto da academia, você atua em outro local trabalho?

5-O que você faz para manter-se ativo e “aguentar” a sua própria rotina de

trabalho?

6-Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia? Dê

exemplos de como você faz isso?

7-Você procurou cursos extracurriculares ou a sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Pergunta da narrativa oral: No seu processo de vida como se deu a escolha

pela Educação Física?

Dados sócio-demográficos dos participantes da pesquisa:

1- Idade

2- Gênero

3- Local de formação

4- Tempo de formação

5- Experiência/local de atuação

Apêndice 2:

Transcrição das entrevistas

Transcrição das entrevistas dos professores recém-ingressados.

Professor 1- 2 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Bom, durante 17 anos passei por diversos estilos de artes marciais, fui atleta e

sempre incentivado a fazer esportes, aí tive diversos treinadores que tinham

diversos estilos diferenciados de treinamentos, isso sempre me deixava um

pouco confuso porque cada um tinha seu estilo, seu método particular, e isso

me estimulou a ter mais curiosidade em estudar o corpo humano, os músculos

que nós utilizamos, né, nos movimentos, os próprios movimentos e os

diferentes métodos de treinamentos usados por eles.

2- Quando começou a trabalhar o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Bom, após o teste de aptidão física, tendo como resultado a área de

biociências, prestei o vestibular determinado a ser um professor de Educação

Física (gaguejou... mostrando insegurança), utilizei minha carreira, né, para

conhecer vários estilos de aula, novas pessoas, trabalhei no começo como

estagiário em diversas áreas, o que me levou a ter um amplo conhecimento,

é... trabalhei com natação, com a ginástica, com a musculação, e hoje tomei

um rumo que me levou a trabalhar com a musculação e, praticamente 80% da

minha carga horária, com a ginástica nas academias.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Sim, em 2010, o ano passado, foram mais de 1000 aulas de ginástica, mais de

20 provas de corridas de rua e mountain bike (provas de competição de

bicicletas) e tive que largar alguns esportes que praticava, pois o medo de

lesões e ficar sem trabalhar aumentava a cada dia, hoje estou concluindo

minha pós já pensando em diminuir o ritmo e a quantidade de aulas após os 35

anos de idade.

4- Além do contexto da academia, você trabalha em outro local de

trabalho?

Sim, fora a academia de ginástica, hoje eu atuo com preparação física de

esportes, como o basquete, artes marciais, corrida, mountain bike, triatlon entre

outros.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Bom principalmente ter uma boa alimentação, mesmo com tantas aulas

durante o dia. Fica claro que eu preciso ter um treinamento adequado e busco

sempre isso, descanso em todos os momentos que tenho uma folga, sempre

procuro dormir, ter uma boa noite de sono. Aos finais de semana, hoje já não

trabalho mais, me preocupo um pouco mais com meu lazer, tento trabalhar

sempre com alegria e sempre tendo um gosto pela profissão.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Bom, principalmente respeitando que cada um trabalha na sua área, nunca

tentando invadir o espaço de outros profissionais. Tenho bons profissionais

hoje para ser indicados em caso de urgência, como um bom nutricionista, um

bom ortopedista e um bom fisioterapeuta. Trabalhando em conjunto com esses

profissionais, tenho certeza que todos os meus clientes terão ótimos resultados

no futuro. Pesquisadora: então o exemplo que você usa para fazer isso é a

indicação de outros profissionais? Sim, na verdade eu acho que cada um tem

que ter o respaldo da sua área, não adianta eu como educador físico querer

passar uma receita para emagrecer ou mesmo para ganhar massa muscular,

ou qualquer coisa desse tipo, ou querer tratar uma lesão mesmo nunca tendo

estudado sobre isso.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou a sua formação acadêmica

foi suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Bom, desde 2006, no início da faculdade, da graduação, passei por mais de 10

cursos ministrados pela body systems (sistema de franquias criado na Nova

Zelândia que comercializa programas pré-coreografados de aulas para as

academias), em São Paulo. Na área de ginástica, pela Fepam (Federação

Paulista de Musculação), também foram diversos, e hoje já concluindo a pós-

graduação, um curso de um ano e meio de extensão na área da Preparação

Física.

Professor 2-2 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

A experiência que obtive na vida escolar, a identificação com a área desportiva,

de treinamento, que eu me identifiquei bastante, queria me aprofundar mais

nessa área.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Foi a oportunidade que apareceu para mim e acabei me identificando com

essa área de academias de ginástica.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Ah, pretendo evoluir, fazer pesquisas, me aprofundar e pegar mais experiência

e de uma certa forma, também trabalhar em outros locais de trabalho, não

pretendo ficar só nas academias, pretendo iniciar nas escolas também eu acho

um contexto muito interessante em estar trabalhando.

4- Além do contexto da academia, você trabalha em outro local de

trabalho?

Estou trabalhando também, indiretamente, na área da Educação Física,

trabalho como guarda-vidas no Sesc, e com algumas aulas de natação

também.

5- O que faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Pretendo me alimentar bem, é... Nas horas vagas, faço algumas atividades

para estar me mantendo ativo, mas falta sempre tempo para focar em

treinamentos.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Ah, variando o gênero de cada aluno, você pode estar trabalhando a

interdisciplinaridade, um exemplo assim: Um aluno que tem uma obesidade

mórbida... a gente pode estar trabalhando junto com uma nutricionista, uma

endócrina, para poder estar acompanhando, fazendo um trabalho em conjunto,

para que tenha um resultado mais significativo.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou a sua formação acadêmica

foi suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Ah, realizei cursos de hidroginástica, em academias também como instrutor,

quando tenho tempo faço algumas pesquisas sobre o âmbito meu de atuação

profissional, gosto muito da água e aprendi a gostar durante a faculdade,

pretendo estar fazendo uma pós-graduação futuramente, a formação ali na

graduação é mais um básico, mas quando você sai e vai atuar na área você vê

que é muito pouco, muito vago para você estar atuando de forma bem eficiente

em todos os âmbitos que você deseja trabalhar.

Professor 3-2 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

A princípio era a área de atuação mais fácil para arrumar emprego, mercado de

trabalho facilitado.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Logo que eu entrei na faculdade, eu fui convidado a fazer estágio e eu já

praticava musculação e artes marciais e foi aí que me identifiquei.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Me preocupo sim, no entanto que procuro fazer cursos extras, estudar para

concursos, pois na nossa região é difícil remuneração então a longo prazo

talvez não seja tão satisfatório.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Atuo, atualmente, eu atuo como personal trainer, e também com avaliação

física e ginástica laboral.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Bom, a gente tem que sempre programar alguns horários para estar fazendo,

treinando e fazendo atividades físicas, já que a gente não tem muitos horários

específicos, pois alunos de personal a gente atende desde as 6 da manhã até

à meia-noite trabalhando então a gente tem que programar alguns “horários

chaves” para estar fazendo.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Bom, na academia a interdisciplinaridade seria, por exemplo, a gente estar

atuando com recuperação de alunos lesionados, é estar trabalhando dentro da

Educação Física a recuperação, seria voltado para área da fisioterapia, com a

recomendação do próprio fisioterapeuta ou dos médicos, tem também as

pessoas que vêm das escolas que faz a Educação Física dentro das

academias aí a gente tenta fazer algo que seja melhor para o desenvolvimento

do aluno, e não só o objetivo de ficar forte que é o que eles realmente querem.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Bom, eu tive que realizar outros cursos extracurriculares, já que a própria

faculdade não foi suficiente para atuar na área da academia, os cursos foram,

por exemplo: de anatomia, biomecânica da Fepam (Federação Paulista de

Musculação), cursos de primeiros socorros, fora os cursos para as aulas de

ginástica que tem que fazer em São Paulo, entre outros cursos.

Professor 4-1 ano de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Preconceito. Pesquisadora: como assim preconceito? Contra os gordinhos, os

magrinhos, essas coisas assim.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Ah, bom, na academia de ginástica é que eu gosto de trabalhar...hoje em dia

muitas pessoas falam, só vai para a musculação, para a ginástica, as pessoas

que “aguentam”, e não é bem assim que funciona a parte do fitness.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Com certeza, todo mundo tem que se cuidar bem para quando ficar mais velho

“ficar inteiro”.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não, só academia.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Eu pratico muitos esportes, eu tenho o meu horário para treinar.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Bom, trabalhar de maneira interdisciplinar é trabalhar junto a equipes de outras

áreas, fisioterapia, nutrição, a gente tem os nossos alunos que chegam até a

gente e falam professor quero emagrecer, então a gente encaminha eles para

um nutricionista, o nutricionista encaminha para o esteticista quando a pele

começa a ficar flácida, enfim coisas que sejam eficientes.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Nossa, eu fiz muitos cursos na área da ginástica, agora tô fazendo Pós-

Graduação em Treinamento Desportivo e quero fazer mais cursos ainda, a

minha formação acadêmica foi bastante deficiente para que eu atue nesse

contexto.

Professor 5-2 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Resolvi ser professor porque na época, há uns 10 anos atrás, eu tinha uma

academia junto a minha esposa, e ela era é a responsável pela academia, eu

trabalhava na parte administrativa, fazendo as matrículas, enfim, então fui fazer

um curso no Enaf (Encontro Nacional de Educação Física) para melhorar essa

questão, e lá eu achei interessante, essa movimentação, essa energia dos

cursos, das academias.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Quando eu entrei na faculdade, eu já entrei com a idéia de trabalhar com

musculação, eu sempre treinei, sempre pratiquei esportes, e acreditei que na

musculação eu ia ter uma afinidade maior, foi desde o começo que quis atuar

nesse contexto.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Foi uma... foi um fato que me preocupou bastante quando eu entrei na

faculdade, porque eu já entrei não muito novo, e eu não sabia se, depois de

formado, eu ia ter espaço, justamente por causa da idade, então eu procurei

fazer a faculdade o melhor possível e, graças a Deus, no ano seguinte, após eu

sair da faculdade, eu consegui um emprego e tô até então.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não, só academias mesmo.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Eu procuro todos os dias, quando dá tempo, eu treino, procuro me alimentar

bem, e o descanso não está muito bom, mas eu tento fazer com que ele seja

qualitativo, digamos assim... descanso pouco porque a carga de trabalho é

grande, mas por enquanto é o que da para fazer.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

No momento eu não tenho essa interdisciplinaridade, mas nós já trabalhamos

com alunos pós cirúrgicos que em conjunto fazia um trabalho com fisioterapia,

ah mais ou menos nesse sentido, geralmente é quando a gente trabalha junto

ou com um fisioterapeuta ou com outro profissional da área da saúde.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Na época da faculdade eu fazia cursos, fiz cursos voltados para a musculação,

fiz alguns voltados na área da fisioterapia, e tô fazendo pós-graduação em

treinamento desportivo. A faculdade não foi ineficiente, mas faltou

conhecimentos mais específicos, acho que a faculdade dá uma base para

gente então a gente não pode só se valer dela para poder trabalhar, temos que

estar estudando sempre e se atualizando.

Professora 6 -3 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Ai, meu Deus (muito insegura em responder as questões) eu sempre pratiquei

esportes desde criança, ginástica olímpica, e foi por causa do esporte.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Eu comecei a fazer estágio, tive a oportunidade de fazer esse estágio na

academia, achei até que nunca fosse gostar de trabalhar na academia, achei

que eu fosse mais para a área de esporte, de treinamento, e a partir do estágio

eu gostei de atuar nessa área.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Me preocupo porque a gente depende do nosso corpo né... eu acho que todo

professor deve pensar nisso porque principalmente quem dá aula de ginástica,

tem um desgaste maior e a gente depende do corpo.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não, só como personal.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Eu sou atleta de mountain bike e de corrida de aventura.

6- Para você o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

É a gente tem contato direto e indireto com médicos, fisioterapeutas e, para

mim, trabalho interdisciplinar é assim, várias áreas da saúde atuando junto.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Logo que me formei fiz a especialização em treinamento desportivo e tô

procurando fazer outra pós.

Professora 7-3 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Inicialmente porque eu me identificava com a profissão, eu adorava fazer

esportes no colégio, eu gostava das aulas de Educação Física na escola, a

professora era muito boa, e depois na faculdade eu vi que era algo mais sério e

mais interessante e comecei a gostar ainda mais.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Acredito que é porque lidar com pessoas adultas é mais fácil do que lidar com

crianças dentro das escolas, por isso eu decidi ficar nas academias.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação

no contexto das academias?

Eu deveria me preocupar, mas confesso que se eu me preocupasse de

verdade eu não daria tantas aulas, mas tô me preocupando atualmente e

pensando no futuro trocar da área do fitnees, da ginástica, para uma área de

pilates, algo mais tranquilo.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não só nas academias.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Eu me alimento bem, tento descansar nos períodos de folga, uso das minhas

aulas para fazer meu próprio treino.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Tá, eu tento seguir critérios da época da faculdade que a gente aprendeu, tento

manter a lógica de treino, a metodologia das aulas de ginástica, com uma

sequência correta, dá explicação para os alunos, corrigi-los.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Acredito que a base da faculdade é muito simples e não dá, eu fiz pós-

graduação, fiz curso de ginástica, vários cursos de alongamentos, da body

systems, entre outros eu fiz um geral, para ter uma base de tudo um pouco.

Professor 8 -1 ano de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Foi a área que eu mais me identifiquei, sempre fiz esportes e é uma área que

se preocupa com o bem-estar das pessoas e eu tô gostando muito da minha

escolha.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Então a Educação Física tem várias áreas de atuação e como eu procurava

mais a liberdade de trabalho, com um ambiente mais informal, eu achei nessa

área o meu espaço ideal de trabalho.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

No momento isso não é uma preocupação, mas é algo que a gente tem que ter

em mente, porque como o tempo vai passando, é uma área que está tendo

sempre muitas renovações, a gente tem que estar sempre bem informado para

não deixar o tempo passar e a gente ficar para trás, tem que aproveitar

enquanto a gente tá mais jovem para se atualizar.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Eu tento ter as minhas horas de lazer, passear e me distrair, mas eu também

me preocupo em ter o meu tempo para treinar também, porque eu gosto muito.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Olha... sempre explorando todos os recursos que a academia tem, a gente faz

as amizades com os alunos e conhece o que eles mais gostam e também tem

que saber trabalhar em parceria com os nossos outros colegas de trabalho,

fazendo um plano de aula que tem como objetivo sair daquela rotina, tentando

sempre atingir o objetivo dos alunos.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Na verdade a formação acadêmica é muito importante mais... muita coisa a

gente tem que buscar por fora, eu sempre fiz muitos cursos, de avaliação

física, aulas de ginástica, personal, a minha formação acadêmica não foi

suficiente para eu atuar nesse contexto de trabalho que eu escolhi.

Professor 9 -2 anos de atuação

1-O que o levou a ser professor de Educação Física?

Bom, eu trabalhava com capoeira...dava aulas de capoeira, através de, por

necessidade de saber trabalhar direito, buscar trabalhar melhor com pessoas,

eu decidi entrar na faculdade de Educação Física, mas por causa da capoeira.

2-Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Quando eu comecei nas academias com a capoeira, eu sempre trabalhei

dentro das academias, depois eu comecei a treinar na musculação e depois

comecei a trabalhar com a musculação também dentro das academias.

3-Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias de ginástica?

Não, na verdade tem essa preocupação hoje em dia a gente se preocupa em

estar bem...no visual do professor, mas eu percebo que vem mudando a

importância da Educação Física, um bom profissional não importa o seu

aspecto físico e sim o que ele tem de conhecimento para passar.

4-Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não, só nas academias.

5-O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Eu tento manter um estilo de vida o mais saudável possível, treinar e comer e

descansar bem.

6-Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Depende do...do.. objetivo, por exemplo eu tenho, eu tenho uma turma que eu

cheguei a trabalhar com uma turma de Educação Física escolar na academia,

aí a gente busca desde outras disciplinas, matemática, português, história, para

elaborar as atividades com eles com isso também, eu tentava trazer a

capoeira...as lutas, eu também trazia outros professores que trabalhavam com

ginástica por exemplo para mostrar para os alunos... assim como uma

atividade extracurricular entende?

7-Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Fui sim, atrás de cursos de avaliação física, musculação que é no que eu

trabalho e estou terminando um curso de pós-graduação em Fisiologia, mas a

grade curricular da faculdade é bem incompleta...a gente sente a necessidade

de se especializar, porque quando aparece a oportunidade de emprego a gente

sempre quer trabalhar, eu vejo a importância em você ser um bom profissional

especialista, você não vai em um médico especialista, pois é, o professor de

Educação Física também deve ser especialista em alguma área, tem tantas né,

Lu?

Professora 10-2 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Foi uma ótima professora de Educação Física que eu tive na escola.

Pesquisadora: Então você teve o exemplo de uma boa professora, isso fez com

que você se interessasse pela área? Sim, isso mesmo.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Foi mais o perfil...eu comecei trabalhando na escola, daí meus horários não

“batiam” porque eu tenho filhos...essas coisas, aí eu preferi trabalhar em uma

área em que meus horários pudessem ser mais flexíveis com os horários das

crianças.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação

no contexto das academias de ginástica?

Ah, eu me preocupo muito...eu acho que eu “dou conta” por mais um seis ou

sete anos, depois eu vou ter que ir para outra área, eu acho que o físico

mesmo é que não vai aguentar.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não, eu só atuo nas academias.

5- O que você faz para manter-se ativo e “aguentar” a sua própria rotina

de trabalho?

Eu tomo um suplemento para me ajudar a dar ânimo e faço ginástica

também...eu tiro um horário para eu poder fazer o meu exercício.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Então, eu até tento fazer isso...mas como eu estou agora com bastante alunos

de personal eu não estou conseguindo fazer isso não...tentar pesquisar as

outras áreas para indicar aos alunos da academia...,é isso Lu?

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Ah, sim, eu tive que fazer muitos cursos depois que saí da faculdade, fiz o

curso de personal, fiz o de nutrição, fiz alguns cursos de técnicos de arbitragem

e acho que na faculdade faltam muitas disciplinas para a gente poder atuar

com segurança nesse segmento das academias de ginástica.

Transcrição das entrevistas dos professores com mais de 10 anos de atuação

Professora 1 -13 anos atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Lu, a princípio foi poder incentivar as pessoas a cuidar melhor da saúde, ter um

melhor desempenho de vida, de qualidade, de... É condições de ela ser

independente por mais tempo.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Quando eu comecei a trabalhar, o meu contexto foi muito é... (pausa) muito

particular de uma professora que eu admirava de uma academia, hoje ela nem

mora mais em Taubaté, mais foi uma proposta de trabalho que ela me

incentivou, a gostar da atividade voltada para a academia, atividade física

dentro da academia e aí eu me apaixonei e ela me idolatrava, me botava

“super para cima”, dizia que eu era ótima no que eu fazia e achei que eu tinha

jeito para a coisa e fui embora, até hoje em dia está dando muito certo.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Me preocupo, me preocupo muito, acho até que a gente poderia ter um

conselho regional que desse a nós uma aposentadoria mais precoce do que

vem sendo proposto, né? Porque atleta tem uma aposentadoria muito mais

jovem do que a nossa, e nós, nós não somos” atletas”, mais temos uma vida

competitiva, uma vida que cada dia mais precisa ter condições físicas para a

gente poder trabalhar e atuar bem na nossa área, não que nós façamos

exercícios o dia todo, mais é uma atividade que requer gasto energético

absurdo e uma suplementação diferenciada de um ser humano que faz uma

hora de atividade física, então eu acredito que a gente poderia pensar sobre

isso e, é... (pausa) não acreditando de depois dos 50 dos 60 eu poderia ser

personal trainer (risos) como eu sou hoje, mas o que fazer depois, né...(pausa)

é uma questão que a gente tem que pensar sim!

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

É, hoje em dia eu atuo como personal, e ainda dou algumas poucas aulas em

uma academia. Nas residências, eu observo o que ela me oferece para que eu

possa desenvolver atividades físicas sem que ele precise ter uma academia

dentro da casa dele.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Eu tento ter uma boa noite de sono, essa é a minha prioridade, eu jamais vou

admitir que alguma coisa me tire o sono (risos) a não ser problemas com a

minha filha, mais uma boa noite de sono, eu tento trabalhar com um nutrólogo

para fazer a parte nutricional e eu não ter carência de nenhuma vitamina,

alimentação bem equilibrada, treino também, faço a minha corrida, caminhada,

pilates, eu tenho um condicionamento físico legal. Pesquisadora: então você

tira um horário do seu dia, da sua semana, para você fazer atividade física?

Sim, eu faço atividade física.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

A minha, a minha... (demonstração de insegurança) proposta com os alunos

exatamente é essa, se ele não tem um acompanhamento médico eu peço para

que ele comece a ter, então assim: Eu tenho parceria com cardiologista,

nutricionista, com um geriatra, e, às vezes, até um fisioterapeuta, então esses

alunos, a maioria que eram sedentários, eles acabam até gostando do

resultado, acreditam no trabalho, e diminuem a ocasião de dores, de ida aos

ortopedistas, para tomarem os remédios, então eles começam a acreditar que

o trabalho interdisciplinar é muito mais gratificante e eficiente do que o

atendimento só de uma especialidade.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Não é (pausa)... na verdade eu saí da faculdade, com muita gana de querer

conhecimento né...assim a proposta que a faculdade me deu foi, é...observar o

que eles tinham de proposta dentro da minha área e acreditando que naquela

parte de diferenciados, que a gente tinha aula com a professora Edna que

atuava lá na AACD (Associação de Apoio às Crianças Diferenciadas), aquilo

me incentivou a buscar algo a mais dentro da Educação Física, porque, eu não

queria trabalhar com ginástica rítmica, não queria trabalhar com escola, e a

proposta do currículo era muito voltada para a ginástica olímpica, natação, e

aquela coisa toda do tecnicismo, e eu queria ir um pouquinho além disso, eu

queria trabalhar de forma que eu...é...ficasse limitada com crianças, eu queria

trabalhar com adultos na reabilitação, então eu fui para São Paulo e lá eu

busquei os cursos de condicionamento físico e a reabilitação para grupos

especiais, fiz especialização na FMU, depois os congressos que eu participei

em alguns estados, todos voltados para área da terceira idade, fiz cursos de

personal trainer e também a parte de cardiologia dentro do esporte que eu

também gosto bastante, junto a profissionais que atuam em renomados

hospitais do brasil.

Professor 2 -10 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Eu sempre gostei muito de esporte, tem uma tia minha que é professora de

Educação Física, então ela me incentivou muito nessa área, daí eu fui, joguei

basquete por Taubaté, não é porque fui atleta, mas sempre gostei muito

mesmo do esporte.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Eu gosto muito da parte da musculação, eu não gosto da ginástica, step, essas

coisas, a musculação que me atrai muito porque eu gosto muito de

treinamento, de resultado, isso me atrai muito, atingir os objetivos e não fazer

uma aula simplesmente por fazer.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

No começo eu me preocupava, mas depois, assim, eu com 30 anos já vou

estar “velhaco” para dar aula, né... de musculação, aí eu vi que quanto mais

velho, a experiência realmente é muito importante e eu acho que não tem mais

tanto vida útil mais agora para trabalhar na área da saúde.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Atuo como mergulhador, sou professor de mergulho, sou instrutor de resgate, e

personal trainer, dentro da parte de treinamento.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Eu aproveito a aula que eu passo para os alunos e faço junto com eles, as

aulas de corrida e de caminhada, eu aproveito, e faço a minha atividade junto

dos meus alunos.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Trabalhar de maneira interdisciplinar para mim é você sempre conversar com

os outros profissionais e não ser só uma equipe interdisciplinar de vários

profissionais, mas de pessoas que tenham interação, por exemplo, a

fisioterapeuta chegar para mim e dizer: Olha, professor, ele precisa de

fortalecimento “assim e assado” no quadríceps para ele, essa conversa que é

para mim interdisciplinar. Interdisciplinar é muito melhor do que o

multidisciplinar.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Não, procurei e continuo procurando, sou formado em Educação Física, pós-

graduado em personal trainer, avaliação física e musculação, procurei muitos

cursos voltados para treinamento e nas áreas que eu gosto de atuar, também

fiz um curso de nutrição, o qual não prescrevo, mas tenho uma noção para

melhor orientar meus alunos.

Professora 3 -10 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Bom, eu sempre gostei de esporte, sempre fiz atividades físicas, as aulas de

Educação Física no colégio, era uma das aulas que eu não faltava, e o fato de

eu trabalhar com fitness agora, é uma das coisas que eu mais adoro é o

resultado mais imediato para mim, como professora.

2- Quando começou a trabalhar, o que o fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

É, sem dúvida o resultado mais imediato, é o que você gosta e o que você

propõe para a pessoa, você tem um contato individual, tal... A parte estética, a

performance e a gratificação que a pessoa tem pelo bom resultado.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Ah sim, muito (as duas riem).

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Trabalho também em uma clínica de estética, e trabalho com personal que

também não deixa de ser uma atuação no fitness do mesmo jeito.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Eu treino e muito (risos).

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Bom, interdisciplinar é conseguir unir o útil e o agradável, é o meu conceito de

trabalho interdisciplinar atualmente é trabalhar com outras equipes, com outros

profissionais da área da fisioterapia, psicólogos, médicos e tudo mais, unindo

todos esses dá um “pacote muito bacana”, é você conseguir trabalhar com a

área que é o perfil da estética, a parte médica que é para que você não lesione,

é você dar um acompanhamento bacana na parte nutricional, e a parte do

fisioterapeuta.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Não, eu tive que fazer realmente outros cursos, a faculdade não é suficiente, a

gente sai muito cru, tenho duas pós-graduações, trabalhei com a parte de

personal, agora to fazendo um curso de biomecânica, para poder atender

melhor junto a fisioterapeutas e o que tem de atual no mercado.

Professor 4 -12 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Desde muito pequeno eu gostava de praticar esportes, principalmente lutas,

achei que eu tinha a ver com essa área. Pesquisadora: então você foi para

área da Educação Física porque você sempre se identificou com o esporte?

Isso, exatamente.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Na verdade, na área da Educação Física as principais áreas de atuação que eu

vi na época que eu fiz a faculdade eram as áreas das escolas e as áreas das

academias, escola eu realmente não me identifico em nada, não me imagino

trabalhando em escolas, sobrou a academia e que também gosto muito dessa

área.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Não, acho que eu ainda tenho muita “lenha para queimar”, dá para ir ainda

muito longe, dentro dessa minha área de atuação.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Na verdade, fora daqui, eu atuo como fisiologista do exercício na Cardiocentro,

eu entrei lá em novembro de 2010 e faço alguns atendimentos lá para

encaminhamentos médico e orientação para prescrição de treinamentos.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Há três meses nada, não está sobrando tempo.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Então, na verdade, eu tô atuando nos dois locais de maneira interdisciplinar, na

Cardiocentro interagindo com os médicos, eles encaminham para mim e eu

para eles para que eu possa fazer meu trabalho com segurança e aqui na

academia, na verdade, quando a gente inaugurou a “Siempre” a gente pensou

em fazer um trabalho que pudesse interagir com os profissionais da área da

Educação Física, da Fisioterapia, da Estética, aqui a gente tem alguns médicos

e a gente conseguiu fazer um treinamento da equipe toda para que todos

conseguissem realmente trabalhar de forma conjunta, um encaminhando para

o outro, para fazer um trabalho complementar entre as áreas.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

É, na verdade, procurei vários, fiz vários cursos pequenos extracurriculares, fiz

uma especialização em Fisiologia do Exercício que me habilitou a trabalhar na

Cardiocentro, fiz um mestrado em Ciências Biológicas, uma especialização em

Exercícios Aplicados à Reabilitação Cardíaca, e agora tô começando uma

outra especialização em Administração e Marketing Esportivo.

Professora 5 -20 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Olha (risos), nossa Lucimeire, é uma longa história... Pesquisadora: então

conta, porque eu preciso saber da longa história. É quando eu tinha uns 9

anos, eu fui fazer jazz, eu queria fazer dança, ai, minha amiga... lá eu fiquei,

engrenando, emendando uma coisa na outra e não sai mais, então foi lá dentro

das aulas de dança que eu descobri que eu queria fazer Educação Física, aí foi

um “pulo”.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Então já foi por isso mesmo, eu já fazia as aulas de dança... Pesquisadora:

Você já estava dentro de uma academia? Isso eu já estava dentro de uma

academia, daí coincidiu naquela época que surgiu a aeróbica de alto impacto, e

eu percebi que não era mais tão delicada para dançar jazz, (risos), não era tão

suave, meiga... aí juntou uma coisa muito legal, porque tinha música,

coreografia, era o que eu gostava e aí eu acabei entrando porque eu já vivia

nesse ambiente de academias.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Óbvio, óbvio...penso, penso, faz tempo já, viu, não é de agora, não.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Atuo, atuo em escolas e tenho um grupo de corrida.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Caramba, o que eu faço? Pesquisadora: É, o que você faz de atividade física,

se você se preocupa com isso, se você se preocupa com a alimentação, enfim,

mas você faz, ou você sabe que tem que fazer mas não faz? Mais ou menos,

Lucimeire, a parte de dormir, de alimentação que é o mais difícil, agora se

manter ativo, você acaba se mantendo porque você tem que dar aula junto,

então você faz junto com seus alunos, agora dormir e alimentação nem sempre

dá para fazer certo.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Nossa, seria bom se pudesse fazer isso, interdisciplinar, eu entendo que tinha

que ter um nutricionista, um fisioterapeuta, uma equipe trabalhando em

conjunto, nunca tive isso e nunca entendi isso direito também.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Nossa, eu procurei vários cursos, porque eu não tive nada disso na faculdade,

como eu fiz há muito tempo atrás, hoje em dia eu sei que tem uma disciplina de

ginástica de academia, na minha época não tinha, tinha que “meter a cara”

mesmo, e se virar, eu fiz um monte de cursos, não sei nem te dizer quantos...

eu sempre me preocupei com a continuidade de cursos após formada porque

eu vi que na faculdade eu não havia aprendido atuar nessa área.

Professora 6 -18 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Porque eu sempre gostei muito de esportes, eu desde criança pratiquei, então

eu acho que eu não podia fazer outra faculdade.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

É pouca paciência com criança, e eu gosto muito desse ambiente de

academias, eu me identifico muito, eu não gosto do ambiente escolar, eu gosto

de atividades voltadas mesmo para esse ambiente que eu sempre atuei.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Sem dúvida alguma, eu me preocupo muito com isso.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não, atuo também na área de gerenciamento de vendas mais aqui dentro da

academia.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Continuo praticando atividade física.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Na verdade (pausa), eu acho que eu nunca parei para pensar sobre isso, talvez

se eu fiz isso, se eu fiz... fiz sem saber o que estava fazendo.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Ah eu sempre fiz os congressos fora do estado, os cursos de extensão

universitária, só mesmo a faculdade não supriu as minhas necessidades de

atuar nesse contexto.

Professora 7 -17 anos de atuação

1 - O que o levou a ser professor de Educação Física?

Olha, minha filha, é porque era a minha cara, eu até tentei fazer outra coisa...

computação, minha mãe quase me matou, mas eu saí depois de quatro meses

e fiz o que eu sempre quis mesmo.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Eu sempre gostei, desde criança, eu queria ser professora de ginástica,

sempre dancei, sempre gostei dessa área, do ambiente de academia, eu nunca

trabalhei em escola, só em academia.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Penso... penso com certeza.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não só aqui, mas aqui em duas áreas, na parte mais burocrática da

organização e também dando aulas, mas sempre aqui na academia.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Atualmente as próprias aulas que eu dou, porque não dá tempo, e como as

aulas que eu dou são muito desgastantes, eu me utilizo do meu trabalho para

fazer o meu próprio treino.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Ah, a gente tenta trabalhar em conjunto com as outras áreas aqui, com os

outros professores da musculação, com fisioterapeutas, por exemplo: mesmo

não tendo um nutricionista presente a gente procura orientar o aluno, os que

têm problemas com obesidade nos procuram primeiro, mas a gente tenta focar

na sala toda, que tem gente que chega do trabalho sem comer, sem se

alimentar bem, então a gente tenta orientar sempre.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Não, só com a faculdade não, principalmente na minha época não tinha nada

muito voltado para a ginástica, era uma coisa muito antiga, então fui buscar

cursos fora... de ginástica, atualmente na body systems (sistema de franquias

criado na Nova Zelândia que comercializa programas pré-coreografados de

aulas para as academias) tem os programas, fiz uma pós-graduação e procuro

sempre me atualizar.

Professor 8 -25 anos de atuação

1- O que o levou a ser professor de Educação Física?

Quando eu comecei a malhar, eu tinha uns 16...17 anos, na época do colégio,

a gente não sabia muito o que queria né, eu me inspirei muito no Ronaldo da

Hata (academia antiga situada em Taubaté) porque eu treinava lá com ele,

comecei a fazer ginástica, comecei a ver diferença no corpo, e ele fazia

faculdade e eu comecei a frequentar muito a academia dele e comecei a curtir,

né, aí veio aquela mistura da parte profissional com o bem-estar, porque a

gente com 18...19 anos, a gente é bem imaturo, e não sabe direito se o que a

gente tá querendo ali é porque a gente tá vendo um resultado na gente ou se é

o que você queria fazer o resto da vida mesmo.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Ah, foi exatamente por causa disso, porque a partir daí eu comecei a faculdade

e já começou a surgir oportunidade na própria academia ,né, de dar aula, e foi

onde eu me identifiquei, bastante, com essa área de academia, de ginástica

localizada, eu sempre me identifiquei bastante com o ambiente.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Super, né... super. Até porque hoje em dia, pelo ritmo de aula, pelo ritmo de

vida que a gente tem, sábado e domingo eu me proíbo de fazer alguma coisa,

me proíbo.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Não.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Olha... hoje são 8 aulas de bike (aulas que acontecem sobre uma bicicleta

ergométrica) por semana, dois ou três treinos de karatê por semana, um ou

dois dias na musculação, e acho que tá bom já, né? (Risos).

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Interdisciplinar é...trabalhar com outras aulas, seria? Ele pergunta para mim, eu

respondo: Outras áreas? Você faz isso, trabalha com outras áreas da saúde,

por exemplo? Você faz isso? Ele responde: mas na academia, não hoje eu não

atuo, é mais o pessoal do fitness que hoje tá bem dividido, cada um atua na

sua área específica... a gente hoje trabalha com mais tipos de aulas, mas em

outras áreas, não (se mostra muito confuso em responder).

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Pelo contrário, né, eu tive que fazer muitos cursos, faço cursos de extensão

universitária, fiz uma pós em Fisiologia, e tô sempre fazendo cursos na minha

área, porque quando fiz faculdade as aulas de ginástica para atuar dentro das

academias eu acho que nem existiam (risos).

Professora 9 -23 anos de atuação

1 - O que o levou a ser professor de Educação Física?

Bom, meu pai comenta até hoje que eu nasci sabendo que iria ser uma

professora de Educação Física, primeiro porque eu sempre amei esportes, fiz

tudo o quanto foi de esportes que você possa imaginar, só que assim...eu

gostava de dar aulas, ensinar...então quando foi para eu escolher, eu escolhi a

área dentro do fitness, da Educação Física dentro das academias para eu lidar

porque no início eu trabalhava com dança, e eu gostava muito de ver as

pessoas bem, com saúde, além disso a minha saúde em dia também.

2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Foi até, vamos dizer assim: Seguindo o momento do fitness, então, como eu

disse, eu era uma professora de dança, de jazz, e dança chegou um certo

momento que deu uma queda muito grande, nisso nós fomos encaminhados

para a ginástica aeróbica da época, depois para a ginástica local e step e

quando lançou as aulas da body systems, muitos alunos já queriam saber

como funcionava, nós fomos os pioneiros trazendo esse tipo de aula para

Taubaté, e daí por diante foi embora, coisa que até hoje em dia é muito

engraçado, devido eu dar aulas de body combat...eu sou uma professora muito

técnica, acabei entrando em uma arte marcial a qual eu consegui ter bons

resultados...então foi o gosto mesmo em poder dar aulas, sentir o prazer nos

olhos dos alunos, sentindo o desenvolvimento e o objetivo alcançado por ele,

eu pratico muito isso, eu planejo a minha aula, eu converso com os alunos, eu

quero saber a necessidade que eles têm, eu gosto de passar a parte teórica e

a minha conscientização, eu escolhi trabalhar nas academias pelo gosto e não

pela obrigatoriedade que a escola traz, eu nunca me vi trabalhando numa

escola.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Com certeza...eu hoje, acabei de participar de um curso em São Paulo, e uma

das coisas mais difíceis para mim foi largar por exemplo o body combat, que é

uma aula que eu amo, que eu sempre fui elogiada pelos alunos pela aula que

eu dava, mais devido a minha idade eu decidi passá-la para um professor mais

novo, então obviamente a gente tem que pensar no nosso futuro, eu já fui

daquelas professoras loucas que dava 11 aulas por dia, mas aos poucos eu fui

diminuindo esse número de aulas, sendo que eu comecei a ministrar curso, eu

abri o meu leque de trabalho, também fiz pedagogia, e trabalho com a parte

administrativa porque sou proprietária de uma academia, e é uma área que eu

gosto muito.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Atuo sim, eu trabalho na área administrativa da academia e ministro cursos de

ginástica, alongamentos, enfim tudo relacionado à academia.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Bom, eu sempre tive uma alimentação muito saudável, e até assim é natural

isso para mim, eu gosto de comer natural, depois com um nutricionista eu

aprendi a comer nos melhores horários, a parte física como professora eu

tenho que até saber equilibrar, porque a gente acaba sobrecarregando.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Bom, disciplina é tudo. Eu vou falar um pouco da parte administrativa, eu

coloco para os funcionários que o comprometimento deles com os alunos é

muito grande, eu tento fazer com que todos os meus funcionários trabalhe em

prol do bem-estar do aluno....é tentar fazer com que o funcionário vai além do

que se pede que ele faça.

8- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Lu, eu sempre fiz muitos cursos, continuo fazendo, minha graduação foi muito

insuficiente para se trabalhar nesse mercado da ginástica. E hoje procuro os

cursos de gerenciamento, vendas e marketing para ficar envolvida com os

assuntos da administração da academia.

Professora 10 -12 anos de atuação

1 - O que o levou a ser professor de Educação Física?

Eu sempre gostei de esportes, sempre pratiquei esportes, principalmente em

academias desde a minha adolescência, e também sempre pensando na

questão da saúde. O exercício físico ajuda, e muito, na saúde do indivíduo,

esses são os fatores mais importantes, eu sempre me identifiquei com as s

academias, e depois a questão da saúde.

2- Quando começou a trabalhar o que fez você atuar nesse contexto

(academias de ginástica)?

Como eu disse anteriormente, na verdade eu sempre fiz esportes em uma

academia, então talvez por esse motivo eu tenha identificado com essa área da

Educação Física.

3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no

contexto das academias?

Sim, me preocupo e muito.

4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?

Sim, atualmente eu trabalho em duas empresas com ginástica laboral.

5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de

trabalho?

Bom, primeiro eu procuro fazer exercícios físicos, né, e uma alimentação um

tanto quanto que equilibrada, eu estou sempre ativa.

6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?

Dê exemplos de como você faz isso?

Interdisciplinar? É, bem, na academias em si eu procuro fazer uma interação

com os alunos, independente das suas idades, inclusive no meu lugar de

atuação, hoje, em dia, as faixas etárias são as mais variadas possíveis, então

eu procuro integrar a todos.

7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi

suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?

Eu procurei, eu sempre procuro, aliás a cada ano eu procuro fazer uma

reciclagem nas modalidades que eu ministro nas academias para que a gente

possa ficar por dentro das novidades, na faculdade a gente até tem uma noção

de tudo, mais temos a obrigação de trazer o que há de novo para que nossos

alunos mantenham-se envolvidos e estimulados a treinar.

Transcrições das narrativas orais

Boa tarde Giovani, eu gostaria que você respondesse para mim: No seu

processo de vida como se deu a escolha pela Educação Física?

Bom inicialmente desde os 10 anos de vida né eu estou dentro de uma

academia, a minha mãe desde cedo já me colocou para procurar uma atividade

física que me trouxesse um retorno, para melhorar meu condicionamento, para

emagrecer porque eu era muito gordinho quando criança, é(pausa) eu entrei

para a musculação com 15 anos pela primeira vez, foi onde eu tive contato com

o Maurício (professor de Educação Física, bastante conhecido na cidade de

Taubaté que atua há mais de 20 anos no contexto de academias de ginástica),

que me deu toda a atenção, me instruiu super bem a partir disso eu tive um

desenvolvimento muito bom, comecei emagrecer, comecei a “esticar”, já estou

ah, aqui na Academia Ophicina do Corpo desde de 2002 e a partir disso eu

comecei a participar de vários grupos, de dança, de aulas coreografadas, de

apresentações, complementava com futebol, com as lutas e isso veio me

trazendo um gosto pela atividade.

Em 2005 eu procurei uma psicóloga, doutora Méia, onde eu fiz um teste

vocacional só para comprovar o que eu já tinha quase certeza e o resultado

deu que a área da Educação Física seria um bom caminho a seguir

profissionalmente, partir disso foram quatro anos é (pausa para lembrar dos

anos da graduação) é eu acho que as pessoas importantes nesse caminho

foram né a Rosane aqui a proprietária dessa academia que eu trabalho

atualmente, a professora Lucimeire que me ajudou muito a parte da

aprendizagem da musculação é fora isso outras pessoas Gustavo Manara,

Reinaldo (todos professores de Educação Física que atuam nesse contexto na

cidade de Taubaté há pelo menos 15 anos) sempre profissionais da Educação

Física,foram essas as pessoas representativas no seu trabalho, com certeza e

ainda mais os próprios professores né os próprios professores das artes

marciais que não eram formados que eu via neles um déficit muito grande por

não ter uma formação na área da Educação Física e por ter um gosto

gigantesco pelas lutas eu achava que quando eu me formasse eu poderia de

uma forma ou outra também partir para esse lado, mas acabei ficando mesmo

nas áreas da musculação e mais ainda na área de ginástica onde me trouxe

maior retorno. E no que diz respeito aos prós e os contras no trabalho nas

academias de ginástica, na sua qualidade de vida no trabalho o que acha que é

positivo estar dentro dessa profissão, trabalhando nesse contexto e o que você

acha negativo dentro desse contexto, existe isso para você? Você pensa

diferente?

Sim, com certeza vamos falar da parte positiva, a parte positiva acho

que desde o momento que você acorda, estando numa área prazerosa,

fazendo o que a gente gosta a gente vem para o trabalho mais feliz, mais

consciente, a gente acaba se cuidando um pouco mais porque eu acho que a

imagem que a gente passa para as pessoas é super importante porque é ruim

quando um aluno chega para você querendo cuidar da estética, do visual e vê

um professor bem desleixado é meio complicado, então por si, a gente mesmo

tem que começar a se alimentar bem, descansar mais para evitar certos

desgastes, no meu caso como eu cheguei a dar mais de1000 aulas no ano de

2010 é eu senti muito o corpo pedindo um descanso, é então assim eu sei que

eu tenho que dormir um pouco mais, tenho que suplementar um pouco mais,

então eu sigo uma dieta com nutricionistas, eu sigo treinamento por outros

profissionais da área, tenho que reduzir um pouco mais os meus desgastes

físicos, hoje eu não jogo mais futebol, eu não luto mais, acabei me preservando

um pouco mais para a minha profissão. Para conseguir trabalhar, sim, para

poder trabalhar com um pouquinho mais de qualidade, falando nos contras né

nos pontos negativos é infelizmente a gente não agrada à todos, por mais que

a gente estude, reformule nosso currículo anualmente, as vezes você acaba

montando um treino para a pessoa, a pessoa pensa que você é o pior

professor do mundo porque não teve resultado né, infelizmente alguns alunos

ainda não entendem que o resultado não depende só de nós, professores,

dependem deles também, outros pontos negativos é o próprio desgaste, é

acordar sempre cedo ter uma rotina acordando por volta das 6:00 horas da

manhã e indo dormir por volta das 11:00 da noite mesmo tentando ir dormir um

pouco mais cedo, se alimentando um pouco melhor, mas o corpo acaba

sentindo, então vez ou outra você tem um “dorzinha” no joelho, tem as costas

um pouco travada, ok. Na parte positiva fala um pouco para mim das relações

interpessoais, assim do que você vê no processo de desenvolvimento humano

o que você pode gerar de positivo para o seu aluno que chega aqui na

academia? É muito gratificante quando um aluno chega para gente, eu acho

que um dos maiores objetivos que a gente tem é a perda de peso, é a melhora

do condicionamento físico, as vezes não é nem, no fundo disso tem a estética,

mais eles acabam nem tanto tocando nesse assunto e a partir da hora que eles

entendem toda aquela rotina de trabalho que a gente desenvolve para eles,

para eles seguirem, as dicas de alimentação, mesmo não sendo da nossa área

de nutrição, mas algumas dicas que a gente dá, a pessoas acaba levando para

dentro de casa é a gente vê que semanalmente, mensalmente a pessoas vai

tendo um resultado, ela vai emagrecendo, melhorando a qualidade de vida, ela

vai melhorando o seu próprio desempenho não só na academia mas na vida

pessoal, é, as amizades que nós criamos dentro da academia, que assim na

verdade o aluno chega muitas vezes na academia apenas para conversar com

a gente, para se divertir, então você acredita que esse é um ambiente o qual

ele tenha a possibilidade de estabelecer esse tipo de relação interpessoal, sim

eu acho que muitas vezes o aluno não tem isso fora daqui, ou ele tem um dia

muito estressante e acaba procurando na academia uma válvula de escape né,

e a gente tenta da melhor forma possível ajudar para que ele reconheça os

seus pontos fracos e melhorar a vida dele socialmente né, eu acho que as

vezes o aluno quer conversar, quer desabafar e a gente acaba sendo um

psicólogo (risos) e muitas vezes essa amizade vai até para fora do ambiente da

academia, acaba virando grandes amigos e essa é a melhor relação que um

professor pode querer, partindo do seu trabalho, trazendo mais felicidade e

bem estar para as pessoas.

Rosane bom dia, eu gostaria que você respondesse para mim: No seu

processo de vida como se deu a escolha pela Educação Física?

Lá vai (risos) lá vai, bom eu desde pequena e outro através de uma foto,

até foi surpreendente eu me vi como organizadora de um evento dentro da

escola e quando eu olhei aquela eu foto eu disse: Meu Deus quantos anos eu

tinha para a professora de Educação Física já me dar essa responsabilidade de

coreografar com as meninas da minha sala uma apresentação da primavera,

que era na época, eu lembro muito bem que a minha mãe é quem fez as

roupas e tudo e foi tão engraçado que eu tinha apenas 10 para 11 anos de

idade, foi na época em que eu mudei para Taubaté, então isso como você já

percebeu começou a muito tempo atrás, o meu pai mesmo fala que eu já dava

aula para as minhas bonecas e batia palmas, e eu já tinha um dom para ser

professora e meu “lance” com o esporte em si era muito, muito grande, então já

vem desde que eu era pequena e eu sempre fui do esporte, comecei na

natação,tive a possibilidade porque eu era vizinha da USP em São Paulo de

começar a natação, fazer depois ginástica olímpica e fazer ginástica rítmica era

maravilhoso né que eu aproveitei a parte do meu corpo assim de flexibilidade,

de força de tudo que eu podia explorar com aquela idade, nisso eu mudei para

Taubaté e aqui não tinha a ginástica olímpica que eu tanto amava, então eu

acabei fazendo um, era em um clube no Sesc que chamava mini esporte, você

tinha uma noção de cada modalidade, eu defendo até hoje isso porque é

importantíssimo na idade que eu estava com 12 anos assim, ter uma noção e

depois você fazer sua própria escolha, então eu já sabia que de tudo aquilo, eu

gostava mais era dança, mas gostei muito do vôlei e fui jogadora de vôlei até

ser jogadora de vôlei por Taubaté e anos e anos eu segui, durante uns seis

anos, mas nunca esqueci a dança, quando eu estava para poder já me formar,

depois do segundo ano de colégio assim eu já sabia que eu queria a Educação

Física e foi assim primordial uma frase do meu pai porque a minha idéia era ir

embora para Belo Horizonte e meu pai mesmo falou Rô fica em Taubaté para

você fazer o seu vestibular e tudo né, porque você já é bem conhecida em

Taubaté, me formei muito nova e antes até, um parênteses ai, logo que eu

comecei a Educação Física, eu comecei já a pensar no futuro, imaginar o que

eu gostaria de trabalhar, porque eu gostava de tudo, então assim eu fui

encurtando igual a uma monografia que a gente vai cortando, todas as

atividades no sol, todas as atividades em piscina que por mais que eu goste de

nadar eu sou vaidosa, então ah vai estragar meu cabelo ,minha pele e eu

comecei a sim a ligar para a dança e o que mais me motivava na dança e em

academia é que os alunos vinham por vontade própria era diferente de ir numa

escola onde os alunos eram, é obrigados a fazer a Educação Física, mas eu

sei que se eu desse aula na escola eu poderia transformar ou tentar mudar a

ideia do aluno, porque antigamente sabemos nós que o professor jogava uma

bola ali para nós e eu tive professores dessa forma, jogava e a gente fazia o

que queria, ou senão eram 10 voltas de corrida em volta da quadra, alguns

bons alunos conseguiam , outros quase “morrendo” tinham por obrigação fazer

aquilo lá, então eu afunilei bastante onde eu já tinha decidido voltar para a

academia, fazer algo em dança e nisso já me matriculei desde o primeiro ano

da faculdade em aula de dança e eu sabia que era um dom meu, tanto que no

primeiro ano eu já fui para o grupo de dança e tudo e dali e já sabia do meu

futuro era dar aula de dança, então iniciei na Educação Física querendo

trabalhar só com danças, mas como me formei muito cedo, eu me imaginei

fazendo outra faculdade que com 21 anos fazer outra coisa, nisso eu pensei

novamente em voltar para Belo Horizonte e meu pai novamente:Rô hoje você

já é conhecida em Taubaté então é legal você colocar, estabelecer raízes

mesmo e tudo para poder já dar continuidade no que você realmente quer e

gosta que é a educação Física que ele sabia que eu não ia trabalhar com

Fisioterapia, fiz Pedagogia o que me ajudou na parte administrativa que na

época era chamado de complementação de licenciatura, que era a

administração pedagógica, isso me ajudou muito a eu ser depois, proprietária

de academia de ginástica, e ai pela frente da dança foi vindo as tendências,

então da dança veio a ginástica aeróbica que já era ligada a coreografia,

depois veio o step, logo teve a localizada( tipo de aula de ginástica), era uma

aula muito próxima a dança, com músicas, movimentos ritmados, e nisso

vieram as aulas Body Pump (uma outra modalidade de aula que refere-se a um

tipo de franquia a qual o professor por meio de pagamento mensal recebe as

aulas e as músicas para orientar os alunos) Body Combat, Body Jam (aulas

dessa mesma franquia chamada Body Sistemys), depois vieram outros tipos de

aulas e principalmente o Body Balance que é uma aula que faz com que você

desenvolva o equilíbrio, relaxa, alonga, o que eu também preciso exercer como

administradora, onde eu vou buscando sempre ferramenta pensando sempre

no futuro, então de 11 aulas que eu dava antigamente por dia, hoje eu dou

duas ou três aulas por dia e estou mais ligada a administração da academia, eu

graças a Deus, sempre tive esse dom administrativo muito forte em mim e meu

pai também como uma figura muito importante na minha vida profissional

(momento em que a professora se emociona) ele teve( pausa) eu me emociono

sempre em falar que ele virou e falou: Rô independente do que você decidiu

fazer, você é uma menina muito estudiosa, faz tudo com amor, seja uma das

melhores que é o que eu tento ser sempre, então aprendo muito todos os dias,

com todas as faixas etárias, com todos os profissionais de cada modalidade,

cada funcionário que aqui trabalha, tentando e tudo me melhorar a cada dia,

como pessoa, como chefe, como gestora de pessoas, sei que eu quero viver

muito ainda, hoje com 43 anos já, desde os 19 ou 18, desde os 17 melhor

dizendo, dentro da ginástica, da academia e tudo, é tenho muita experiência

vivida graças a Deus, mas eu sei que eu não nada, e sempre estudo, pretendo

continuar fazendo os meus cursos, fazendo novas aulas, aprendendo coisas

novas dentro da nossa profissão porque eu não gosto de ficar na mesmice, eu

gosto de desafios, então foi desafiador eu fazer novas modalidades, trazer

essas novas modalidades para Taubaté( a academia que ela é proprietária foi a

pioneira em trazer essa franquia já citada anteriormente na cidade), voltar a

estudar pois quando fui fazer uma pós graduação eu me especializei em

coluna, e sei que isso eu vou ajudar pessoas a não terem dor e melhorarem

seu condicionamento físico, né na sua vida toda, então eu me dedico com

muito amor, me dedico com todas as minhas garras, porque tem o lado bom e

tem o lado difícil que muitas pessoas não sabem, nós que levamos a sério a

Educação Física, primeiro nós temos o cuidado e objetivo e o planejamento

para as nossas aulas, então o cuidado é que se eu dou aula segunda, quarta e

sexta, essas aulas não podem ser para os mesmos grupos musculares, se eu

tenho uma aluna, ou um aluno que vai casar e eu sei que ele tem um objetivo

de viajem, eu sei que vou ter que fazer um condicionamento para ele melhorar,

dentro daqueles tres meses ou o quanto de tempo ele se dispõe para o

treinamento específico, então eu faço planejamento semanal, ou mensal, ou

semestral ou anual se é um aluno de personal né o que for, então esses são os

cuidados básicos para que a gente possa manter os alunos, eu posso dizer

minha academia tem 20 anos e eu tenho alunos que estão há 18 aqui com a

gente na academia, então esse é o lado bom porque eles tem um objetivo a ser

alcançado e a gente tem uma gratificação, uma gratidão enorme por ver tudo

isso acontecer e o lado vamos dizer assim, não tão positivo é o lado de

desgaste da gente, eu falo com todos os nossos professores também, pensa

no futuro, se você vai hoje ter essa condição de dar tantas aulas por dia,

trabalhar também na parte administrativa de uma academia, ter alguns alunos

de personal que é uma renda legal também ou outras coisas afim, então nós

temos o desgaste físico que é grande, então por exemplo, eu casada eu separo

alguns dias e falo,hoje eu sou a mulher do Fernando, porque a gente precisa

de um tempo para o lazer, e um tempo para estar com o corpo em dia também

e ter essa energia que a gente passa para os nossos alunos e para a empresa

que no meu caso, para tentar ter uma vida feliz em todos os nossos ambientes

de convívio, seja ele profissional ou social, tem o desgaste também dos

“radicais livres”, na pele,então tudo isso engloba a nossa saúde no geral, as

mulheres professoras que são mais vaidosas devem procurar sempre se cuidar

mais porque querendo ou não a gente deve dar o exemplo para os nossos

alunos que estamos bem, com saúde e com algo de bom para passar para ele,

tem também o desgaste da voz, como você pode ver ela é sempre um pouco

rouca, então estamos sempre que contatar outros profissionais como

fonoaudiólogos para nos ajudar a cuidar da nossa saúde e eu não falo só a

beleza exterior, essa eu acredito ser importante para a primeira impressão que

o aluno/cliente vai ter de você, mas esse mesmo aluno percebe na maioria das

vezes se essa é só uma beleza exterior se você não cuida do seu corpo de

dentro para fora também, eu graças à Deus sou uma pessoa muito bem

humorada e eu não tenho esse lance de ai hoje eu não acordei bem e tal e hoje

eu to de mau humor eu sempre sou bem humorada, mas tem algumas coisas

que tem pessoas que não me conhecem e por algumas vezes me verem em

outros ambientes, com o pensamento fixo em conta para pagar, bancos para ir,

as vezes no centro da cidade, me olham com uma seriedade e acham que eu

sou um pouco brava, não em algum momento do dia eu tenho que ser séria

porque eu me dedico para as coisas acontecerem, eu preciso fazer a”academia

virar”, tenho funcionários e eles dependem de mim para estarem em dia com

suas obrigações financeiras então eu acho importante ser séria em alguns

momentos e ambientes, então esse ano por exemplo eu percebi que faltava

mão de obra especializada para tratar os clientes/alunos novo que chegavam

para conhecer a nossa academia, o nosso trabalho o que me fez voltar a

trabalhar nove, dez horas por dia, cuidando da administração e da secretaria

também o que me recompensa muito, pois hoje eu estou muito mais próxima

dos meus alunos, dos meus professores e passando à eles como eu gosto e

acredito que deve ser uma recepção, as pessoas bem tratadas, ser tratadas

com educação e carinho, conceitos esses que como fiquei muito afastada por

conta da administração acabaram passando despercebidas a mim no cartão de

visitas de um ambiente que é a recepção, então eu to fechando um ano muito,

muito feliz, acabei de receber um certificado em Qualidade e Atendimento o

que me deixa muito grata. É realmente a compensação de um grande esforço,

mas que valeu a pena. Eu acredito no valor que as pessoas dão ao trabalho e

acho que quando a gente se dedica tudo dá certo, eu sempre tive isso na

minha cabeça e está dando muito certo. Eu sempre acreditei que pudesse

oferecer saúde e bem estar para as pessoas, tendo elas condições financeiras

ou não, então eu procuro fazer um preço legal, acessível para que a maior

parte das pessoas que queiram ter uma qualidade de vida orientada através do

exercício possa fazer parte dessa grande família que é a Ophicina do Corpo.

Os alunos vêm obviamente até aqui para poder fazer o seu exercício físico,

mas para poder se sentir bem, para poder conversar com as pessoas, ter o seu

lazer, o seu momento de desestressar, e sair daqui com o alto astral muito

elevado.

Apêndice 3:

MEMORIAL

“A Ecologia do Desenvolvimento Humano é o estudo científico da progressiva acomodação mútua, durante todo o ciclo de vida, entre um ser humano ativo em crescimento e as propriedades em mudança nos contextos imediatos os quais a pessoa em desenvolvimento vive. Nesse processo ela é afetada pelas relações entre contexto imediato e os distantes, estando todos esses encaixados” (BRONFENBRENNER, 2011, p.138).

Um pouco do caminho percorrido...

Desde que entrei na escola, com 5 anos de idade, sempre estudei no

mesmo colégio, E.E.P.S.G. Monteiro Lobato. Lá passei 11 anos da minha vida,

bons momentos pedagógicos, sem ter noção do que era isso, mas como foram

recheados de alegria, ótimos professores, outros nem tanto, mas a maioria me

fez ser o ser humano que sou hoje, com minhas dúvidas, incertezas e desafios

pessoais.

Estar, nos dias atuais, pesquisando sobre identidade profissional,

formação de professores e contextos interdisciplinares, faz compreender minha

inserção no mundo como ser humano, como me apresento perante algumas

situações, na minha vida pessoal, no meu trabalho, e refletir como a escola foi

importante na minha relação com o outro. Citando Ciampa (1987 p. 59), que

destacou o papel da relação com o outro, visto que... a identidade do outro

reflete na minha e a minha na dele, o que me faz pensar na dialética entre

indivíduo e sociedade, na qual um se identifica e se transforma a partir do outro

depois de assimilada a realidade, o sujeito a reproduz na sua experiência

profissional.

Outro fato bastante interessante, que venho apresentar na minha

dissertação, é a relação do indivíduo com o ambiente no qual ele transita, e as

interferências que esse ambiente provoca em todos os papéis nos quais ele

tenha de atuar no percurso da sua vida, ora como aluna, ora como professora,

ora como esposa, ora como filha, enfim todos os inúmeros substantivos que se

justapõem ao sujeito, nesse caso eu. As capacidades humanas e sua

realização dependem em grau significativo, do contexto social e institucional

mais amplo da atividade que cada indivíduo decide realizar, os processos e o

produto que esse indivíduo vai se converter varia inevitavelmente ao lugar e

época em que tais situações acontecem e acrescenta que o desenvolvimento

humano é o produto pela qual uma pessoa percebe e lida com o ambiente

(BRONFENBRENNER, 2002).

Sou de uma família de três irmãos, minha irmã mais velha sempre foi

meu maior exemplo e, de certa forma, o maior desafio na adolescência: boa

filha, estudiosa, queria ser dentista e é sempre o orgulho dos meus pais.

Eu, filha do meio, rebelde, intransigente, aluna regular, que nunca

repetiu o ano, mas também nunca foi a primeira da classe, como era a irmã,

passei por “maus bocados” com meus pais, que, na ignorância angelical deles

(que são meus maiores incentivadores) adoravam me comparar a ela, e isso

me irritava muito.

E, mais uma vez, reportando-me aos estudos sobre identidade, do

conflito que vivenciava na minha família, as comparações que eram inevitáveis,

e a minha vontade de mostrar que também poderia ser uma filha a quem eles

tivessem orgulho, “coisas de adolescente”, destaco o papel fundamental do

exercício na minha evolução como pessoa e na conquista da identidade, que

resultou, em relações sociais positivas as quais foram capazes de impor a

diferença na relação com o outro.

Chegou o vestibular, minha irmã exemplo, na época cursando o 2ºano

de Odontologia, chegou à difícil hora de dizer aos meus pais que gostaria de

ser professora, e de Educação Física. Não foi fácil convencê-los, os

argumentos que meus pais apresentavam eram muitos, desde os salários

baixos até a desvalorização da profissão que, para eles, tinha muito mais a ver

com ludicidade, brincadeira, nada muito sério.

Eu sempre fui gordinha, tinha apelidos indesejáveis na escola, mas

sempre me desempenhei bem nas aulas de Educação Física, até porque era

uma das poucas oportunidades que tinha para me exercitar. Com 14 anos, tive

um problema sério de coluna, foi quando um médico pediu a minha mãe que

me matriculasse em uma academia de ginástica e foi nesse contexto que

minha vocação veio à tona.

Lá, comecei a emagrecer, minha auto-estima melhorou muito e decidi

que gostaria de trabalhar nesse contexto, minha identificação foi total. Costa

(1988) afirma... “é o sistema de representações que se mostra à consciência do

sujeito como aquilo que não é apenas atributo do meu eu ou de alguns eu, mas

o traço identificatório comum a todos os eu”.

Ingressei na faculdade em 1993. Com as disciplinas teóricas, nenhum

problema, pois estudar o corpo humano e seu funcionamento até hoje me

instiga muito, uma máquina exemplar. Cuidar do corpo faz a gente se sentir

bem, mente sã corpo são, um complementa o outro sempre. Nas disciplinas

práticas, algumas dificuldades, já que as modalidades com bolas nunca foram

o meu ponto forte; alguns problemas criados depois resolvidos; passei pela

faculdade sem maiores dificuldades.

No primeiro ano, estagiei numa escola estadual, com alunos que

cursavam da sétima série ao ensino médio. Foi o meu contato inicial na área

pedagógica. Confesso que, na época, não gostei nem um pouco, pois nas

escolas os alunos só queriam jogar bola, e eu não era uma boa professora de

modalidades esportivas, queria mostrar o que eu sabia fazer direito as aulas de

ginástica, minha primeira frustração profissional. As crianças daquele contexto

não queriam, não gostavam e nem ao menos conheciam a tal da ginástica.

Fiquei nessa escola um ano e saí para começar a trabalhar na academia de

ginástica, afinal de contas era disso que eu gostava e sabia fazer bem feito.

Trabalhei durante 16 anos nesse local, num mesmo lugar, conheci

muitas pessoas, criaturas com as mais diversas representações sociais.

Nunca mais havia tido contato com a escola. Em 2001, um professor,

pai de uma grande amiga, prestes a se aposentar, me chamou para trabalhar

com ele num colégio particular de Taubaté. Quando o convite foi feito, eu

pensei na minha falta de experiência em se trabalhar na escola, no meu

primeiro contato que não havia sido muito agradável, na minha falta de

habilidades com as modalidades em geral, mas o salário era tentador, e meu

amigo prontamente se mostrou capaz de me ajudar de início nessa minha nova

empreitada profissional. Eu aceitei o desafio de iniciar uma nova fase e não

decepcionar.

Esse colégio só atende o Ensino Médio em Taubaté, e eu só trabalharia

com as meninas, uma vez que a escola separava as turmas de Educação

Física por gênero. Minha surpresa de início foi a falta de alunas, o número

muito pequeno de alunas adepta às aulas. Observando a falta de interesse das

mesmas, fui até elas e perguntei o que elas gostariam de fazer nas aulas,

argumentando que, com tantas possibilidades de se movimentar, era quase

impossível, na idade delas, não gostarem de fazer nada, nenhum movimento.

E qual foi minha surpresa (uma das melhores). Elas gostariam de fazer

ginástica! Pronto! Uma parte dos meus problemas estavam resolvidos, eu

conseguiria desenvolver algum tipo de aula eficiente com aquelas meninas,

porque também gosto sempre de afirmar que o exercício deve ser direcionado

sempre para o bem-estar geral do indivíduo. Ficar correndo em volta da

quadra, sem nenhum propósito, nunca foi o meu ideal de professora. Tem de

haver significado, tem de ser bom para “alguma coisa”, de dar prazer. Essa

metodologia tradicionalista da Educação Física não atrai mais ninguém, muito

menos aos jovens informados e contextualizados. PCNS (1999 p.67) afirma

que a Educação Física precisa buscar sua identidade como área de estudo

fundamental para a compreensão e entendimento do ser humano enquanto

produtor de cultura.

Estar numa escola onde o professor é valorizado como educador me fez

voltar para uma especialização. Fiquei 10 anos sem estudar, fazendo cursos e

congressos, mas sem nenhum compromisso maior com a pesquisa acadêmica,

e em 2006, decidi fazer uma especialização Latu-Senso em Educação Física

Escolar. Foi nesse curso que aprendi a fazer pesquisa, ou melhor, iniciei meus

estudos em pesquisa, pois quando terminei a graduação não era necessário

que se apresentasse uma monografia como conclusão. Esse mundo da

pesquisa científica iniciava-se na minha carreira. Aprofundei-me nos estudos

que se relacionavam com o ensino médio, meus sujeitos adoráveis de

pesquisa, os adolescentes, são seres que me despertam o tempo todo, me

estimulam a sempre estudá-los, eternas “caixinhas de surpresas”. Fiz uma

pesquisa-ação, pesquisei sobre o meu dia a dia na escola, obtive sucesso, e

até hoje faço o planejamento participativo que estudei para minha monografia.

Nesse curso, conheci um professor o coordenador cuja história

profissional tinha alguma semelhança com a minha, gostávamos do mesmo

assunto. Ginástica, e, mais uma vez, estudei e com um embasamento teórico

muito maior o assunto de que tanto gostava. Esse professor me incentivou a

continuar os estudos, informando-me sobre a possível abertura do mestrado

em que encontro matriculada hoje, curso esse que me instiga, orienta, e me

transforma a cada dia.

Logo que iniciei o Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano,

a intenção era estudar a formação dos professores de Educação Física, o

contexto de atuação, e quanto o professor reflexivo, que se utiliza das

ferramentas da interdisciplinaridade para realizar sua práxis de maneira

eficiente é o profissional da atualidade. Alguns caminhos tornaram-se difíceis

até chegar ao meu orientador, depois de algumas indecisões relacionadas às

linhas de pesquisa, a escolha da orientação e outros percalços aqui estou

mostrando um pouco da minha trajetória como pesquisadora a qual me

encontro perto do produto final, a dissertação.