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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Lucimeire Valério de Matos
A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO CONTEXTO DE
FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO
FÍSICA
Taubaté – SP
2012
Lucimeire Valério de Matos
A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO CONTEXTO DE
FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO
FÍSICA.
Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre em Desenvolvimento Humano pelo Curso de Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté Área de Concentração: Formação, Políticas e Práticas Sociais Orientador: Prof. Dr. Renato Rocha
Taubaté – SP
2012
LUCIMEIRE VALÉRIO DE MATOS
A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO CONTEXTO DE
FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO
FÍSICA.
Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre em Desenvolvimento Humano pelo Curso de Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté, Área de Concentração: Desenvolvimento Humano, Políticas Sociais e Formação Orientador: Prof. Dr. Renato Rocha
Data: ___________________________ Resultado: _______________________
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Renato Rocha – Universidade de Taubaté - UNITAU
Assinatura _________________________________
Profa. Dra. Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão – Universidade de Taubaté
- UNITAU
Assinatura _________________________________
Prof. Dr. Roberto Tadeu Iaochite – Universidade Estadual Paulista - UNESP
Assinatura _________________________________
SUMÁRIO
1. Introdução 04
2. Revisão de literatura 08
2.1 O desenvolvimento humano 07
2.2 Trabalho docente do profissional de Educação 17
2.3 O contexto de formação de professores de Educação Física 26
2.4 O cenário das academias de ginástica, o contexto de atuação do
profissional estudado
31
2.5 A atuação do professor de Educação Física 35
3. Problema 38
4. Justificativa 38
5. Objetivo geral 41
5.1 Objetivos específicos 41
6. Método 42
6.1 Natureza da pesquisa 42
6.2 Procedimento de coleta dos dados 43
6.2.1 A coleta dos dados 43
6.3 O contexto da pesquisa e participantes 47
6.3.1 As academias 47
6.3.2 Os sujeitos de pesquisa 47
6.4 Procedimentos de análise dos dados 48
7. Resultados e discussão dos dados 52
7.1 Categoria 1. Processo de Formação 52
7.2 Categoria 2. Contexto de Formação 58
7.3 Categoria 3. Práticas de Formação 64
7.4 Categoria 4. Variáveis ligadas às Práticas Profissionais 73
8. Considerações Finais 78
Referências 80
Anexo 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 88
Apêndice 1: Roteiro da Entrevista semiestruturada 90
Apêndice 2: Transcrição das Entrevistas 91
Apêndice 3: Memorial 129
RESUMO
Neste estudo de caso, do tipo exploratório de natureza qualitativa e
delineamento transversal, objetiva-se analisar a trajetória profissional de
professores de Educação Física atuantes no contexto de academias de
ginástica da cidade de Taubaté-SP. A base teórica pesquisa são os
referenciais de Urie Bronfenbrenner e a Teoria Bioecológica do
Desenvolvimento Humano (TBDH), que está intrinsecamente ligada às
estabilidades e mudanças que acontecem nas características do individuo e à
interferência do contexto em seu desenvolvimento. Foram entrevistados 20
professores de Educação Física que atuam profissionalmente em academias
de ginástica: 10 recém-ingressantes ingressos nesse mercado de trabalho e 10
experientes (mais de dez anos de atuação). Os dados foram coletados em dois
momentos. No primeiro deles todos foram entrevistados de forma semi-
estruturada e, no segundo, foram colhidas narrativas orais de apenas dois
professores. Para análise das entrevistas da narrativa oral optou-se pela
análise de contexto. Os resultados apontam que a identidade profissional e o
processo formativo se dão pelas trajetórias vividas, e que o contexto de
atuação é um referencial trazido dos ambientes dos quais esses sujeitos
participaram ao longo de suas vidas. A certeza da necessidade de formação
continuada é vigente, e aspectos relativos à idade, ao corpo e à saúde
preocupam os sujeitos, no que se refere à continuidade eficaz do seu trabalho.
Com base na TBDH e nos resultados, constatou-se que o ambiente –
macrossistema academia de ginástica – influenciou a identidade, a formação e
a escolha de atuação dos profissionais entrevistados, alterando suas ações
enquanto professores.
Palavras-chaves: Contexto de formação. Identidade Profissional. Academia de
Ginástica. Desenvolvimento Humano.
ABSTRACT
This case study, of exploratory type from transversional delineament and
qualitative one, focus on analyzing the Professional Road of teachers of
physical education in the context f academies of gym in Taubaté – SP. The
theoretical bases of this research are references of Urie Bronfenbrenner and
the Biological theory of human Development, which is intrinsically linked to
stabilizations and changings which happen in the individual features and also in
the inference of the context in this development. There were 20 teachers who
were interviewed and who acted professionally in gym academies: 10 recent
beginners in this job market and 10 experienced (with more than 10 years of
work). The data were collected in two moments. In the first, all of them were
interviewed in a semi-structured way, and in the second, oral narrative of two
teachers were taken. To analyze the interviews of oral narratives it was done a
context analysis. The results pointed that the professional identity and the
formative process happen by the lived road, and that the context of action is a
referential which is brought from the environment from which these individuals
take part along their lives. The certainty of the necessity of continuous formation
is up to date, and aspects related to the continuous efficiency of their work.
Based in TBDH and in the results, it was verified that the environment – gym
academy of macros system influenced the identity, the formation and the choice
of action of the professionals who were interviewed, changing their actions
while teachers.
Keywords: context of formation, professional identity, gym academy, human
development
Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de
nós mesmos somos desconhecidos – e não sem motivo.
Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um
dia nos encontrássemos? Com razão alguém disse: “onde
estiver teu tesouro, estará também teu coração”. Nosso
tesouro está onde estão as colmeias do nosso
conhecimento. Estamos sempre a caminho delas, sendo
por natureza criaturas aladas e coletoras do mel do
espírito, tendo no coração apenas um propósito- levar
algo “para casa”
Friedrich Nietzsche
Agradecimentos
A Deus, pela oportunidade e privilégio de ter um trabalho que
desempenho com satisfação e esmero, com o qual tanto aprendo e ensino, e
do qual tenho orgulho.
Aos meus pais, eternos incentivadores, que em todos os momentos,
felizes e tristes, desse Mestrado, estiveram ao meu lado. Aos meus irmãos
Lucilene e Leandro, pessoas queridas e meus exemplos mais expressivos. À
minha família, sem a qual perco todas as referências.
Ao meu querido Rodrigo, pessoa que divide comigo todos os momentos,
meu marido, amigo, companheiro. Nós dois acreditamos um no outro!
Ao professor Renato, meu orientador, que me acolheu quando me vi
sem um “porto seguro”. Com sua delicadeza e serenidade de atos e palavras,
sempre acreditou em mim, incentivando-me e inspirando-me segurança, para
que eu conseguisse seguir em frente.
Aos amigos alunos, pessoas queridas que fazem parte do meu
cotidiano, dentre os quais Carolina, Vera, Érico, Olga, José Bento, Elke,
Pollyana, Ana Cláudia, Regiane, Fabiana, Letícia e Lisiane. Vocês me
ajudaram muito, nessa trajetória.
À professora, amiga e prima Andréia Alda Valério, que gentilmente
realizou a revisão gramatical deste trabalho, meus sinceros agradecimentos
pela colaboração e por se colocar disponível para sanar minhas dúvidas.
À amiga Sofia Mariotto que, por meio de atitudes, gestos, palavras e
ações, sempre com seu olhar amigo e sincero, contribuiu em muitos momentos
para que este trabalho fosse levado a termo.
À amiga Mariana Benatton, pelo incentivo, que sempre beneficiou
minhas ações profissionais e acadêmicas.
Aos meus amigos e professores da primeira turma de Mestrado em
Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté. Unidos conseguimos
realizar e superar os desafios.
Aos alunos e funcionários do Colégio Anglo Cassiano Ricardo, que
contribuíram para que este trabalho fosse realizado da melhor maneira
possível, colaborando para que minhas ausências no decorrer deste Mestrado
fossem permitidas e incentivando-me a aperfeiçoar-me como profissional.
E a todos os professores das academias de ginástica pelas quais passei,
por seus depoimentos, imprescindíveis para a realização desta pesquisa.
INTRODUÇÃO
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Educação Física
precisa buscar sua identidade como área de estudo fundamental para a
compreensão e o entendimento do ser humano como produtor de cultura.
Muitos educadores se preocupam com essas questões e vêm buscando
alternativas para superá-las, realizando trabalhos na área psicomotora,
humanista e desenvolvimentista. Essas são vertentes que conduzem a um
reestudo da importância do trabalho com o movimento. Assim, os professores
de Educação Física encontram, no trabalho com a Aptidão Física e Saúde,
uma alternativa viável e educacional para suas aulas (BRASIL, 1999, p. 68).
Segundo Oliveira (2000), a atuação profissional em Educação Física
passa por cinco grandes áreas: escola (da creche ao ensino superior); saúde
(hospitais, clínicas); lazer (clubes, hotéis, animação de festas); esporte
(profissional e amador: clubes esportivos, empresas, prefeituras); e, empresas
(indústrias, academias, escolinhas de esportes). Como se pode observar, o
leque de atuação do profissional da área ampliou-se significativamente. Nesses
espaços, destaca-se a indústria das academias de ginástica, que se apresenta
como segmento econômico mais representativo. Esse espaço pode ser
compreendido como um local onde é oferecido um conjunto de atividades que
buscam a melhoria e o bem-estar do indivíduo por meio de alterações
morfológicas, fisiológicas e/ou psicológicas.
O interesse em estudar esse assunto surgiu a partir da trajetória pessoal
da pesquisadora, quando iniciou o curso de Educação Física na cidade de
Taubaté. Percebeu, logo nos primeiros anos da graduação, o quanto esse
mercado de trabalho era promissor. Havia, naquela época, 1993, poucos
professores que trabalhavam na área do condicionamento físico, mas as
temáticas que se relacionavam com o assunto sempre a interessaram. As
academias de ginástica despontavam num mercado em grande expansão.
Até o final dos anos 1980, a atuação do profissional de ginástica em
academia seguia um referencial determinado por discurso técnico da Educação
Física com suportes biológicos visualizados nos textos de fisiologia do
exercício, biomecânica e metodologia do treinamento desportivo.
Posteriormente, passou a sofrer influência das mudanças ocorridas nas
ciências, destacando-se aqui as ciências sociais (OLIVEIRA, 2006). A ação do
profissional de Educação Física caracterizava-se por uma relação próxima de
trocas na perspectiva de atender aos alunos nas suas necessidades práticas
de atividades corporais.
Esta pesquisa, proveniente do Programa de Mestrado em
Desenvolvimento Humano, tem como um de seus objetivos a discussão sobre
o estudo dos contextos de atuação dos profissionais. Buscam-se respostas
para explicar como ocorre a formação e quais são as possíveis contribuições
para o desenvolvimento do indivíduo. Privilegia-se o estudo, tanto das práticas
sociais e da formação em seus mais variados contextos, como das teorias que
compreendem o ser humano na sua complexidade, de modo a enaltecer uma
inter-relação dos diversos aspectos que influenciam o profissional nesse
processo de sua formação.
A teoria que alicerça este estudo surge e baseia-se nos referenciais de
Urie Bronfenbrenner, sob uma perspectiva ecológica que contempla uma visão
sistêmica de mundo, expressando a relação entre o indivíduo, o ambiente e a
ocupação de cada um. Bronfenbrenner (2002) define o desenvolvimento como
a concepção que cada indivíduo desenvolve junto ao seu ambiente e sua
relação com ele, bem como o progresso de sua capacidade de descobrir,
sustentar ou alterar suas propriedades.
O primeiro contato da pesquisadora com essa área de atuação foi como
estagiária, logo no início da licenciatura. Como já se utilizava desses serviços,
seu ingresso foi facilitado. Com o passar dos anos, observou as lacunas
existentes na formação desses professores que decidem trabalhar nas
academias de ginástica. O tecnicismo aprendido na graduação dificulta o
desenvolvimento desse profissional, e as disciplinas estudadas distanciam-no
do produto com o qual vai trabalhar: o indivíduo.
Os capítulos transcorrem por meio do embasamento teórico de acordo
com a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano proposta por Urie
Bronfenbrenner (2011), em uma versão transformada e ampliada da clássica
fórmula de Kurt Lewin (1935), que primeiramente propõe que o comportamento
é uma função articulada do indivíduo com o ambiente. Em seguida, estimula
uma substituição e observa que o desenvolvimento também é função articulada
do indivíduo com o ambiente.
O que se acrescenta é a percepção de que o desenvolvimento envolve
um parâmetro não encontrado na fórmula de Lewin: a dimensão do tempo.
“No plano puramente descritivo, o desenvolvimento humano pode ser
definido como o fenômeno de constância e mudança das características da
pessoa ao longo do seu ciclo vital” (BRONFENBRENNER, 2011, p. 139).
A equação de Lewin revisada demonstra que existem dois tipos de
forças que interagem, produzindo constância e mudanças no desenvolvimento.
O tempo e o processo traduzem a fórmula que segue:
“As características da pessoa em um dado tempo de sua vida são uma
função conjunta das características da pessoa e do ambiente durante o ciclo de
vida da pessoa ao longo do tempo” (BRONFENBRENNER, 2011, p. 139).
A ênfase, neste estudo, está nos contextos (ambientes) e na influência
deles na formação de professores de Educação Física que optam por atuar nas
academias de ginástica, trazendo as características inerentes de tais processos
no desenvolvimento humano. São abordados na revisão de literatura os
conceitos sobre a socialização e a identidade que se inicia antes do ingresso
desse indivíduo na Universidade. Apresentam-se aqui os contextos que
formam esses professores e o cenário de atuação do profissional estudado,
mostrando aspectos relativos ao seu cotidiano dentro das academias de
ginástica, demonstrando aos leitores interessados a relevância do estudo, uma
vez que a maior contribuição desta pesquisa se dá pelo escasso número de
estudos científicos desenvolvidos nesse contexto em especial.
Quanto ao método, apresenta-se o tipo de estudo realizado, os
instrumentos de coleta, as características do contexto e dos participantes da
pesquisa, e os procedimentos escolhidos para a análise dos dados.
Os resultados são apresentados conjuntamente com a discussão dos
dados, e alguns gráficos oferecem melhor detalhamento das categorias
originárias, após análise.
Finalizando, considera-se o contexto de formação e atuação dos
professores de Educação Física que apresentaram em suas identidades
construídas o desejo de partir para uma área de atuação que se sustenta a
cada década como um promissor mercado de trabalho.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O Desenvolvimento Humano. A partir de pressupostos sobre a Teoria do Desenvolvimento Humano estudada por Urie Bronfenbrenner (1979/2002), é possível afirmar que ele está intrinsecamente ligado às estabilidades e mudanças que acontecem nas características biológicas, psicológicas e sociais dos indivíduos, no decorrer da suas vidas (ASPESI; CHAGAS; DESSEN, 2005). O estudo científico moderno do desenvolvimento humano é caracterizado pelo compromisso de compreender como ocorrem as relações e as interações entre o indivíduo e os níveis ecológicos de seu desenvolvimento. Essa teoria encontra-se centrada na temporalidade histórica, inserida nos processos relacionais pessoa-contexto e nos modelos de mudanças dinâmicas que transcorrem no sistema ecológico e que influenciam os indivíduos e os contextos em relação a métodos sensíveis à mudança (LERNER, 2011). Para Bronfenbrenner (1979/2002), o desenvolvimento humano deve ser considerado como o processo pelo qual o indivíduo se desenvolve, conseguindo diferenciar, validar e ampliar o ambiente ecológico, tornando-se mais motivado e capaz de se envolver em atividades que revelem suas propriedades, sustentando ou reestruturando esse ambiente em vários níveis de complexidade ou aumentando sua forma e conteúdo. A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano aponta que o desenvolvimento representa uma transformação que atinge a pessoa, e que não tem caráter efêmero quando se trata do indivíduo, de uma situação ou de um contexto. O desenvolvimento acontece a partir de uma reorganização contínua dentro de uma unidade tempo-espaço, e essas mudanças se realizam em diferentes níveis: das ações, das percepções do indivíduo, das atividades e das relações que ele estabelece com o mundo (POLONIA; DESSEN; SILVA, 2005). Nos últimos anos, Bronfenbrenner e os autores que estudam a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano têm trabalhado na reformulação da abordagem e trouxeram como modificação para o novo modelo de pesquisa a consideração da bidirecionalidade em relação à pessoa e ao ambiente em que ela atua. Em outros campos de pesquisa essa bidirecionalidade também se faz presente, e vem sendo analisada nas pesquisas sociais de um modo geral. Os indivíduos e os ambientes atuam como sistemas de influência na construção da identidade do professor, em específico na do professor de educação física, que está em formação. Assim, o que constitui um ser que está se desenvolvendo são as relações de reciprocidade criadas entre ele e seus diferentes ambientes (BRONFENBRENNER, 2002). Buscar conhecimento sobre a relação homem/ambiente, contextualizar suas perspectivas de interações/transações (Yunes, 2004) e refletir sobre as possibilidades de desenvolvimento saudável requerem a compreensão de um ser humano inserido em diferentes ambientes, próximos e distantes. Desse modo, Bronfenbrenner (2002) estuda a concepção da pessoa em desenvolvimento, no ambiente e, em especial, em sua interação com o meio em que transita. Esse desenvolvimento traz mudança duradoura na maneira pela qual o indivíduo percebe e lida com o ambiente. Haddad (1997) e Krebs (2001) afirmam que o paradigma proposto por Bronfenbrenner (2002) tem suas raízes fundamentadas na teoria de campo de Kurt Lewin, e que a equação definida por ele é C = F (PA), ou seja, “[...] o comportamento (C) é uma função (F) do estado da pessoa (P) e seu ambiente (A)” (HADDAD, 1997 p. 29). A teoria de Lewin, estabelecida nas décadas de 30 e 40, afirma que para entender o comportamento é necessário considerar o indivíduo e o ambiente como variáveis dependentes. Bronfenbrenner (2002), utilizando a fórmula original de Lewin, substitui o termo comportamento pelo termo desenvolvimento, resultando em D = F (PA) (desenvolvimento é uma função do estado da pessoa e do seu ambiente).
Essa mudança traz reflexão também sobre a dimensão temporal, enfatizando as diferenças conceituais entre comportamento e desenvolvimento, pois modificações no comportamento podem constituir adaptações temporárias a um dado ambiente, enquanto no desenvolvimento os padrões de comportamento são internalizados e mantêm uma consistência independente de ambiente (HADDAD, 1997). Consequentemente, a estrutura desse ambiente não se limita a uma situação que ocorre em um ambiente imediato, afetando diretamente o indivíduo em desenvolvimento. Os objetos e as pessoas que interagem nesse processo influenciam o desenvolvimento do indivíduo. É importante apontar, no conceito de ambiente, a visão sistêmica de que todos os elementos envolvidos no contexto cotidiano do indivíduo em desenvolvimento têm a sua importância (BRONFENBRENNER, 2002). Essa teoria de desenvolvimento humano, publicada no final da década de 1970, foi formulada expondo ao campo científico importantes premissas para o planejamento e desenvolvimento de pesquisas em ambientes naturais. Seus escritos faziam uma séria crítica ao modo tradicional de se estudar o desenvolvimento humano, referindo-se, entre outras coisas, à grande quantidade de pesquisas concluídas sobre desenvolvimento “fora do contexto”.
Para Urie Bronfenbrenner, essas investigações focalizavam somente a pessoa em desenvolvimento em ambiente restrito e estático, sem a devida consideração das múltiplas influências dos contextos em que os sujeitos viviam (BRONFENBRENNER, 2002). Nesse novo modelo, que passa a ser chamado de Bioecológico, é proposto o construto teórico denominado “processos proximais”. O enfoque primordial desse processo apresenta-se da maneira como os potenciais genéticos são ativados e tornam-se importantes para o funcionamento do indivíduo em seus níveis psicológicos (POLONIA; DESSEN; SILVA, 2005). Com uma noção ampliada desses processos, afirma-se que eles, ao longo do tempo, são os mecanismos que produzem o desenvolvimento humano. Para que isso ocorra, o indivíduo deve estar envolvido em uma atividade que perdure regularmente e em períodos extensos de tempo. Assim, essa atividade se torna crescente e complexa, e os processos proximais podem ser entendidos como os tipos de atividades desenvolvidas diariamente e nas quais os indivíduos estão envolvidos (POLONIA; DESSEN; SILVA, 2005).
Desse modo, é possível afirmar que a formação profissional de professores que atuam em academias de ginástica é a todo momento influenciada pelos indivíduos e pelo ambiente. A partir dos estudos formulados por Bronfenbrenner, o modelo consolidado pelos processos proximais constituía-se de quatro componentes que se interligavam: (a) o processo de desenvolvimento, envolvendo a dinâmica da relação entre o indivíduo e o contexto; (b) a pessoa, com suas singularidades, características biológicas, seus processos cognitivos, emocionais e comportamentais; (c) o contexto do desenvolvimento humano, definido como os sistemas entrelaçados da ecologia do desenvolvimento humano; e, (d) tempo, definido como o que se relaciona diretamente às dimensões da temporalidade (como exemplos: tempo ontogênico, o tempo histórico e o tempo familiar), compondo o cronossistema responsável por moderar as mudanças ocorridas ao longo da vida de cada indivíduo (BRONFENBRENNER, 2011). A importância desses processos se constitui a partir da referência do indivíduo com o ambiente em que ele transita. As formas de interação entre eles é o dado mais importante nesse processo, enfatizando que operam ao longo do tempo e que são os mecanismos primários que produzem o desenvolvimento humano. O processo faz a interligação entre os diferentes níveis em que a pessoa convive e constitui seus papéis e atividades diárias. O desenvolvimento intelectual, emocional, social e moral de um indivíduo, criança ou adulto, demanda sempre os mesmos critérios: que esse indivíduo em desenvolvimento participe ativamente de situações progressivamente mais complexas e recíprocas com pessoas, objetos e símbolos dentro de um ambiente, e que, para
ser concretizada, essa interação deve ocorrer em uma base regular e em períodos de tempo estendidos. Esse processo faz com que o indivíduo em desenvolvimento venha a ter concepção maior e diferenciada do meio e de quanto esse ambiente provoca impacto, fazendo com que ele esteja sempre em crescimento dinâmico, e com que, progressivamente, o meio o reestruture (BRONFENBRENNER, 2002). Em referência à pessoa, a frequente mudança em tudo que acontece no decorrer da sua vida é preponderante no seu desenvolvimento. A abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano destaca a importância de se considerar as características da pessoa em desenvolvimento, como suas convicções, nível de atividade, temperamento, além de suas metas e motivações (MARTINS; SZYMANSKI, 2004). Em seus estudos, Bronfenbrenner (2011) prioriza a pessoa com suas características biopsicossociais, haja vista que em suas formulações anteriores existia uma lacuna com relação ao elemento chave da teoria. Essa lacuna era decorrente da falta de estudos sobre o contexto do indivíduo. Para moldar o sentido do desenvolvimento futuro de uma pessoa três características são importantes, considerando-se sua capacidade de influenciar a direção e a força dos processos proximais durante o ciclo de vida. São elas: as disposições que podem ativar os processos proximais em um domínio particular do desenvolvimento do indivíduo e que continuam sustentando suas operações; os recursos bioecológicos de capacidade, experiência, conhecimento e habilidades necessários para que sejam eficientes os processos proximais em cada estágio de desenvolvimento humano desse indivíduo; e, por último, características do processo que convidam ou desencorajam reações do contexto social e que podem provocar ou interromper a operação dos processos proximais.
A diferenciação dessas três formas considera suas combinações e os padrões de estrutura da pessoa, o que pode explicar as diferenças entre a direção e a força dos processos proximais resultantes e seus efeitos no desenvolvimento (BRONFENBRENNER, 2011).
Bronfenbrenner (2011) demonstra que, quando ocorre a integração entre
a pessoa e o contexto, o resultado é uma rica compreensão do sistema
ecológico em que essa pessoa está inserida. Suas novas formulações da
Teoria do Desenvolvimento Humano acrescentam qualidades à pessoa que
são importantes e que moldam seu desenvolvimento futuro. Nas versões
anteriores, que se iniciaram em 1974, e nas quais o ambiente (contexto) não
era enfatizado com sua real importância, o entrelaçamento entre microssistema
e macrossistema acontecia, mas os aspectos principais não eram tão
pontuados. Com isso, as três principais características da pessoa foram
também incorporadas na definição de microssistema, por exemplo, as
características dos pais, dos amigos, familiares, professores, cônjuges, ou de
pessoas que participam da vida da pessoa em desenvolvimento de maneira
regular, ativa, e por um período prolongado de tempo (BRONFENBRENNER,
2011).
Segundo Bronfenbrenner (2002, p. 18):
A ecologia do desenvolvimento humano envolve o estudo científico da acomodação progressiva, mútua, entre um ser humano ativo, em desenvolvimento, e as propriedades mutantes dos ambientes imediatos em que a pessoa em desenvolvimento vive, conforme esse processo é afetado pelas relações entre esses ambientes, e pelos contextos mais amplos em que os ambientes estão inseridos.
O contexto compreende o ambiente global do indivíduo, onde
acontecem os processos desenvolvimentais. Os vários ambientes abrangem,
tanto os mais imediatos, nos quais vive a pessoa em desenvolvimento, como
os mais remotos, em que a pessoa nunca esteve, mas que se relacionam e
têm o poder de influenciar o curso do desenvolvimento humano (MARTINS ;
SZYMANSKI, 2004).
Connolly e Valsiner (2003, p. 11, apud Dessen e Guedea, 2005)
observam que:
[...] os organismos em desenvolvimento tornam-se flexíveis, operando em qualquer nível que seja necessário para encontrar as condições ambientais. A relevância da irreversibilidade do tempo torna-se óbvia aqui: um sistema em desenvolvimento que encontra as condições ambientais X, ‘em um dado momento’, necessita adaptar-se não somente àquele estado já conhecido das demandas ambientais, mas também em modos que ‘antecipem as possíveis mudanças’ nestas demandas, em um momento subsequente.
Segundo Polonia, Dessen e Silva (2005), o tempo pode ser percebido no sentido histórico ou no sentido de como ocorrem as mudanças nos eventos no decorrer dos anos de vida de um indivíduo. Eventos históricos podem alterar o curso de desenvolvimento humano, em qualquer direção, não só para indivíduos, mas para segmentos grandes da população. As mudanças na estrutura da família, no poder econômico, na disponibilidade de emprego e no local de moradia constituem exemplos que podem interferir nesse desenvolvimento. Para Bronfenbrenner (2002), o desenvolvimento humano exige mais do que a observação direta do comportamento das pessoas que circulam em um mesmo local; o importante, na reformulação da sua teoria, é a interação em ambientes próximos e distantes nos quais os indivíduos estão inseridos. São essas as estruturas a que o autor se refere, como um jogo de bonecas russas encaixadas uma dentro da outra, interferindo mutuamente entre si e afetando o desenvolvimento do indivíduo. Cada uma das estruturas é chamada pelo autor de: micro, meso, exo e macrossistema.
Nesse caso, Bronfenbrenner (2002 p. 18) afirma que o microssistema é
um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais experienciados pela
pessoa em desenvolvimento num dado ambiente com características físicas e
materiais específicas. Assim, ambientes como a casa, a escola e a academia
de ginástica que o indivíduo frequenta fazem parte de suas interações
pessoais, constituindo um microssistema.
Os padrões de interação, conforme persistem e progridem por meio do tempo, constituem os veículos de mudança comportamental e de desenvolvimento pessoal. Igual importância é atribuída às conexões entre os indivíduos presentes no ambiente, à natureza desses vínculos e à sua influência direta e indireta sobre o indivíduo em desenvolvimento (HADDAD, 1997, p. 36-37)
O mesossistema, segundo Bronfenbrenner (2002, p. 21):
Inclui as inter-relações entre dois ou mais ambientes nos quais a pessoa em desenvolvimento participa ativamente (tais como, para uma criança, as relações em casa, na escola e com os amigos da vizinhança; para um adulto, as relações na família, no trabalho e na vida social).
Um exossistema envolve um ou mais ambientes que o indivíduo não
frequenta como participante ativo, mas onde acontecem episódios que o
afetam e que influenciam seu desenvolvimento. O autor cita três exemplos: o
trabalho dos pais, a rede de apoio social e a comunidade em que a família está
inserida (BRONFENBRENNER, 2002).
O macrossistema engloba os sistemas de crenças de uma cultura que
estão envoltos em um corpo de conhecimento, recursos materiais, estilos de
vida, hábitos do dia a dia, oportunidades, desafios e obstáculos. Nessa
estrutura, o desenvolvimento humano deve ser analisado frente aos diferentes
impactos culturais submersos nas questões da moralidade, valores na
educação dos filhos, construção da identidade e traços da personalidade
(POLONIA; DESSEN; SILVA, 2005).
Bronfenbrenner (2002), em seus estudos sobre as díades como
estruturas caracterizadas por relações recíprocas que o indivíduo inicia no nível
mais interno do esquema ecológico e que podem ocorrer a partir de relações
como mãe e filho, irmão e irmã, mulher e marido, professor e aluno, entre
outras, aponta que o reconhecimento dessas relações proporciona a chave
para as mudanças no comportamento do indivíduo, o qual também é afetado
pelo ambiente. Assim, nos ambientes em que ocorrem as díades, o
desenvolvimento humano sempre acontece como uma consequência.
Por conseguinte, sempre que uma pessoa, em um ambiente, presta
atenção às atividades e ao comportamento de outra pessoa, ou mesmo
interfere nessas ações, ocorre, pode-se afirmar, uma relação que é
estabelecida por uma díade (BRONFENBRENNER, 2002).
A díade é importante para o desenvolvimento em dois aspectos. Primeiro, ela por si só constitui um contexto crítico para o desenvolvimento. Segundo, ela serve como o bloco construtor básico do microssistema, possibilitando a formação de estruturas interpessoais maiores- tríades, tétrades e assim por diante (BRONFENBRENNER, 2002, p.46).
As díades podem assumir três formas funcionais distintas, quanto ao seu
poder para fomentar o crescimento psicológico do indivíduo. São elas: Díade
observacional, estabelecida quando um indivíduo está observando de forma
cuidadosa e continua a atividade de outro, e este outro indivíduo, por sua vez,
reconhece o interesse do outro, por exemplo, o filho observando a mãe fazer
uma refeição; Díade de atividade conjunta, aquela em que duas pessoas
participam e realizam alguma coisa juntas, não necessariamente fazendo a
mesma coisa, as atividades podem ser diferentes, mas devem ser
complementares. Exemplo dessa díade pode ser a mãe lendo histórias escritas
em um livro enquanto a criança aponta e nomeia as gravuras descritas nesse
livro.
Uma díade de atividade conjunta apresenta condições favoráveis não só para a aprendizagem no curso da atividade comum, mas também para uma crescente motivação para buscar e completar a atividade quando os participantes não estiverem mais juntos (BRONFENBRENNER, 2002, p. 47).
Segundo Bronfenbrenner (2002), a díade de atividade conjunta é
importante, pois a partir dela se procede ao fato de se intensificar o
desenvolvimento entre os indivíduos e apresentar propriedades características
de todas as díades, definidas pela reciprocidade, equilíbrio do poder e relação
afetiva.
Conclui-se que a Díade primária é aquela que continua a existir em uma
aprendizagem, independentemente do tempo, para ambos os participantes,
mesmo quando eles não estão juntos. Os dois indivíduos aparecem nos
pensamentos de cada um, são ligados por fortes sentimentos emocionais e
continuam a influenciar o comportamento um do outro mesmo quando não
estão juntos. Um exemplo: o que amigos sentem quando estão há muito tempo
sem se ver, quando sentem a falta um do outro, ou quando imaginam o que o
outro deve estar fazendo.
Em referência ao trabalho nos contextos das academias de ginástica, e
sobretudo com seres humanos, as relações entre as pessoas, com todas as
sutilezas que caracterizam as relações humanas estudadas por
Bronfenbrenner (2011) e Lenoir (2003), a negociação, controle, persuasão,
sedução, promessa, etc., evocam atividades como instruir, supervisionar,
servir, ajudar, entreter, divertir, cuidar, controlar. São atividades que se
desdobram em modalidades complexas que a intervenção da linguagem, a
afetividade, a personalidade, o ensinar e aprender engajam perfeitamente
naquilo que um professor precisa para alcançar êxito na sua prática.
Essas ações apontam para a necessidade de se estudar o significado de
socialização e de identidade profissional, que serão discutidas adiante.
2.2 Trabalho docente do profissional de Educação Física
A docência ou o ato de ensinar vem se constituindo há pelo menos
quatro séculos; progressivamente, essa função de instruir a sociedade trouxe
importantes impactos sobre a economia e os demais aspectos da vida coletiva,
sobretudo políticos. A verdade é que o conceito moderno de cidadania está
extremamente ligado ao ato de ensinar (TARDIF; LESSARD, 2009).
Tardif e Lessard (2009) trazem em seus estudos que o mundo social
onde vivemos hoje seria incompreensível se nós não nos esforçássemos por
reconhecer que a maioria dos indivíduos que convivem em uma sociedade são
pessoas escolarizadas em diferentes graus e sob diferentes formas. Nesse
caso, podemos afirmar que a figura do professor e do contexto onde esses
indivíduos se encontram têm o mesmo reconhecimento. A figura do professor
no contexto social tem grande importância para a pesquisa científica. A esfera
social moderna, por meio dos seus indivíduos, seus movimentos sociais, suas
políticas e suas organizações, volta a refletir sobre si mesma para assumir-se
como objeto de atividades, projetos de ação e de transformação sem os quais
a figura do professor, dentro desse processo, seria indispensável.
Giddens (1987; 1996, apud Tardif e Lessard, 2009) aponta que a
sociedade moderna discorre alguns conceitos sobre essa teoria: longe de ser
uma ocupação secundária ou periférica em relação à hegemonia do trabalho
material, o trabalho docente compõe um fator imprescindível para a
compreensão das transformações na atualidade das sociedades trabalhistas.
Essa teoria se sustenta em quatro constatações que resumidamente se
inserem no trabalho docente.
A primeira delas é formada por trabalhadores produtores de bens
materiais, no entanto esta categoria está em queda livre há pelo menos
cinquenta anos, não sendo mais a principal responsável pelo vetor da produção
e da transformação dessas sociedades, ao passo que os trabalhadores da área
Quanto à seleção/opção pelos autores citados nessa parte do trabalho, muito embora digam respeito ao trabalho do professor na escola, a autora acredita que essas contribuições dadas por eles podem ser pensadas para o trabalho do professor que atua nas academias de ginástica.
dos prestadores de serviços crescem absurdamente. Em suma, a revolução
dos serviços extrapolou a revolução industrial (TARDIF; LESSARD, 2009).
A segunda é formada por grupos de cientistas e técnicos que se
destacam em suas colocações. São esses grupos que criam e controlam o
conhecimento teórico, técnico e prático necessário às decisões, às inovações,
às mudanças sociais e à gestão de conhecimentos cognitivos e tecnológicos.
Isso levou autores como Tardif e Lessard (2009, apud Naisbitt,1982;
Stehr,1994) a afirmarem que momentaneamente estamos numa sociedade da
informação e do conhecimento e que as ocupações socialmente importantes
estão envolvidas na gestão, distribuição e criação de conhecimentos.
A terceira é formada por especialistas na gestão dos problemas
econômicos e sociais auxiliados pelos conhecimentos fornecidos pelas ciências
naturais e sociais. Essa categoria de profissionais surgiu devido ao
aparecimento de novas atividades trabalhistas que se relacionam
historicamente às profissões e aos profissionais que representam tipicamente
os especialistas. Cresce o número das profissões e das semiprofissões. As
atividades burocráticas também ganharam destaque nessa categoria, que
trabalha na esfera da gestão social e que se utiliza da estatística e de vários
instrumentos de medida, teorias dos comportamentos, análises e pesquisas
frequentes. Em grande parte, os debates atuais sobre a profissionalização do
ensino devem ser relacionados a essa evolução das profissões e das
atividades burocráticas conhecidas também como “atividades racionais”
(TARDIF; LESSARD, 2009).
Quarta constatação: é formada por ofícios e profissões que têm seres
humanos como “elemento de trabalho”, sendo ocupações que se relacionam ao
trabalho interativo que tem como característica principal a relação estabelecida
entre os indivíduos em uma organização, seja ela escolar, hospitalar, de
serviços sociais, etc., organizações em que um trabalhador e um ser humano
se utilizam de seus serviços. As transformações em curso demonstram o
crescente status que esses ofícios gozam, na organização socioeconômica,
nas sociedades modernas avançadas.
As ocupações socialmente centrais (educação, serviços terapêuticos,
academias de ginástica, serviços psicológicos e médicos, trabalhos de
enfermaria, serviços sociais, etc.), em que funcionários exercem seu trabalho
na presença de pessoas, através das quais relações interpessoais são
desenvolvidas, constituem um processo de trabalho que reside em mudar ou
melhorar a situação humana das pessoas e, em muitos casos, a dela própria. É
o caso da medicina, das terapias, da educação, da readaptação entre muitas
outras profissões (TARDIF; LESSARD, 2009).
De acordo com Tardif e Lessard (2009), as interações humanas vão
surgindo no cerne dessas profissões, exigindo desses trabalhadores maiores
qualificações e conhecimentos abstratos, geralmente adquiridos em
universidades, onde as teorias terapêuticas, psicológicas, sociológicas,
diagnóstica, sistema de classificação de pessoas, concepções pedagógicas,
entre outras, devem ser esclarecidas e estudadas de forma eficaz.
Uma vez estabelecidas as interações humanas, conceitos complexos
como necessidade, personalidade, desenvolvimento, projetos de vida,
orientação, inserção, aprendizagem, desenvolvimento de si, saúde, autonomia,
entre outros, devem ser estudados e ampliados, para que os trabalhadores
prestem serviços de qualidade aos que os procuram, assumindo compromissos
junto aos indivíduos.
Com a demanda social aumentada, os profissionais competentes e
especializados diversificam o trabalho destinado às pessoas. Foucault (1984,
apud Tardif e Lessard, 2009) afirma que serviços como os dos sexólogos,
gerontólogos, terapeutas, especialistas da organização do lazer ou da saúde
física e mental, e de trabalhadores que se especializam em crescimento
pessoal, acupuntura, massagem e orientação vocacional o trabalho que está
intimamente ligado a ajudar o próximo), multiplicarão de maneira fenomenal.
Em suma, segundo Tardif e Lessard (2009, p. 20 e 21):
Essas constatações e os fenômenos que elas indicam mostram que as análises clássicas baseadas sobre o paradigma hegemônico do trabalho material, sejam de inspirações marxista, funcionalista, ou liberal não correspondem bem às transformações em curso nos últimos cinqüenta anos. Além disso, tudo leva a crer que essas transformações estão longe de concluir-se, considerando-se as
tendências atuais, caracterizadas pela globalização das economias, dos intercâmbios e das comunicações e pela desestruturação/reestruturação das práticas e das formas de trabalho.
Para Carrolo (1997), socialização e identidade são conceitos distintos,
todavia não se separam. Estão sendo sempre redescobertos e capacitam uma
perspectiva multidimensional, ultrapassando as limitações dos conceitos que
incidem dos quadros epistemológicos de cada ciência como condição inicial da
sua utilização operacional. Com isso, há de serem abordados os domínios da
Antropologia Psicanalítica, da Psicossociologia e da Sociologia, permitindo um
estudo que satisfaça o processo de construção da identidade como produto da
socialização. Parte-se de aspectos consensuais entre as diversas contribuições
das áreas, para se entender os conceitos que seguem neste capítulo sobre a
socialização e a identidade profissional.
A construção da identidade profissional tem relações estreitas com o
ambiente de formação oferecido. Dessa maneira, formar professores significa
estimular o pensamento crítico reflexivo e fornecer a eles subsídios para que
ocorra o desenvolvimento da autonomia e da colaboração. De acordo com
Nóvoa (1995, p. 25), “[...] estar em formação implica um investimento pessoal,
um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vista
à construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional.”
Antes de qualquer consideração sobre a identidade do profissional de
Educação Física, deve-se entender o que significa esse termo, o que
caracteriza uma profissão.
Segundo Souza (2001), nas raízes etimológicas "profissão" vem da
palavra latina “professio”, do verbo “profiteri”, que quer dizer confessar,
testemunhar, declarar abertamente. A palavra surge atrelada a uma forma de
vida que é publicamente assumida e reconhecida. É interessante lembrar que
era exigido aos primeiros professores das universidades que fizessem uma
profissão de fé, numa cerimônia pública, num misto de influências laicas e
religiosas. Neste sentido, "profissão" opunha-se a "ofício", ao chamado
"métier", pois enquanto a primeira assumia um saber reconhecido e professado
em público, o segundo, aliado à ideia de negócio ou trabalho manual, sugeria
um conhecimento mais esotérico, mais secreto, revelado apenas aos iniciados,
ou seja, aos aprendizes dos artesãos.
Após a definição do termo “profissão”, retorna-se à temática central, com
o intuito de realizar analogias referentes à identidade e à formação do
profissional de Educação Física que atua no contexto estudado, as academias
de ginástica, bem como sobre o quanto ele reinventa sua própria história e o
quanto faz uso dela no seu cotidiano de trabalho.
Para Carrolo (1997), na sociedade a dimensão profissional adquiriu uma
importância considerável na medida em que o emprego é, no cotidiano do
indivíduo, um atributo que estrutura a sua identidade social. Vem disso a
importância profissional, pois, a partir do que esse indivíduo consegue prove,r
inicia-se o próprio sustento, seus ideais se transformam e sua identidade é
reestruturada a todo o momento.
Outro ponto de convergência discute a concepção dinâmica e
construtivista da identidade como sendo o produto do processo de sucessivas
socializações. O individuo realiza o que corresponde a uma transação externa
do sujeito com o mundo exterior, e a outra, interna, do sujeito consigo mesmo.
(CARROLO, 1997).
A identidade emerge no centro de muitas interações e tem sempre uma
função inacabada. Fundamenta-se no domínio de várias perspectivas: a de
Mead (1934), teoria da individuação como apropriação subjetiva do mundo
(tomar o papel de...); a de Parsons e Merton (1950), a teoria da socialização
antecipadora partindo da distinção entre grupos de pertença (in-group) e de
referência (out-group); a de Berger e Lucksman (1976); e, da construção social
da realidade e da concepção de Bourdieu (1972), de socialização como
aquisição de habitus (CARROLO, 1997).
Desse modo, Carrolo (1997) faz apontamentos de como se dá a formação da
identidade profissional do professor, que, de acordo com o pesquisador, é o
resultado da soma, tanto da identidade estruturante, quanto da individual, as
quais não podem ser separadas dos mecanismos de mobilidade social.
Compreendem, pois, uma dupla articulação que une ambas as trajetórias: as
individuais condicionadas e as de sistemas estruturados. A primeira refere-se
ao mundo interno do indivíduo, e a segunda, ao mundo externo.
As experiências sociocorporais vividas por profissionais que atuam no
contexto das academias de ginástica e o estudo da forma como eles a utilizam
como um filtro no processo individual, o modo como as identidades
profissionais se manifestam, determinando suas escolhas por ambientes e
contextos de atuação, definindo interesses, relações e a própria valorização da
profissão, influenciando a formação desses professores, foram aspectos
considerados para trazer a identidade profissional para esta pesquisa como um
fator a ser estudado.
Na atualidade, a Educação Física pode ser definida como uma área das
Ciências Biológicas que estuda as atividades corporais em suas dimensões
culturais, sociais e biológicas. É uma área do conhecimento que vai além da
questão da saúde, relacionando-se com elementos que constituem aspectos
financeiros, gestão de pessoas, aspectos estéticos, emocionais e relações
interpessoais. É possível afirmar que são inúmeras as contribuições que ela
pode trazer, por meio dos seus professores e dos ambientes de atuação de
cada um. A área deixa de ter como foco principal o esporte ou os exercícios
sistematizados que se restringiam apenas à promoção da saúde. Os
conhecimentos advindos das Ciências Humanas, que pesquisam essas
questões acima citadas, emergem de forma crescente no campo da Educação
Física.
É importante salientar que, quando se inicia a discussão sobre
identidade profissional do educador físico e sobre o fato de que o professor é
um profissional, essa distinção tenta expressar um entendimento comum entre
professores e alunos do curso de Educação Física: de que para atuar no
espaço não escolar não se faz necessário ter conhecimento pedagógico e de
que o indivíduo que atua no espaço não escolar é um profissional, e não um
professor (FIGUEIREDO, 2004).
Os “saberes sociais” são o conjunto de saberes que estão disponíveis
numa sociedade, e os saberes educacionais, o conjunto correspondente aos
processos de formação e de aprendizagem, que foram elaborados e
destinados a instruir os indivíduos que formam essa sociedade.
Fundamentados nesses saberes, os professores efetivam os processos de
formação e são responsáveis por definir sua prática em relação aos saberes
que possuem e transmitem (TARDIF, 2002).
Contudo, segundo Tardif (2002), a relação dos professores com os
saberes não podem se resumir exclusivamente à transmissão dos conceitos e
conhecimentos. Durante suas práticas, diferentes saberes se integram e
determinam relações, sendo o saber docente repleto de pluralidades. A riqueza
do contato com o outro e a transformação do conhecimento adquirido pelas
experiências já vivenciadas pelo educador são fatores pontuais, quando se faz
referência aos saberes.
O mesmo autor, no texto "Saberes Profissionais dos Professores e
Conhecimentos Universitários: elementos para uma epistemologia da prática
profissional dos professores e suas consequências em relação à formação para
o magistério" (2000), argumenta que as experiências sociais/culturais do futuro
professor agem/funcionam como um filtro através do qual ele
seleciona/aceita/adere/ rejeita os conhecimentos dos cursos de formação.
Esses filtros (cognitivos, sociais e afetivos), processadores de
informações, perduram ao longo do tempo, pois têm sua origem na história
escolar e na história de vida desses profissionais. Para o autor, essas
experiências sociais são responsáveis pelo fato de que alguns professores,
mesmo depois que passaram pelo processo formativo, continuam com
conhecimentos cristalizados e encontram dificuldade em mudar suas
concepções anteriores.
A identidade está associada, tanto à analogia, concordância e
uniformidade, quanto à singularidade e individualidade. O próprio termo traz a
complexidade do conceito, ao qual apresenta significados opostos. Muitas
vezes pode ser o significado daquilo que é idêntico, embora sejam seres ou
objetos distintos; em outras ocasiões pode determinar uma característica do
que é único e que, assim, distingue-se totalmente dos outros.
Para Chamon (2003), a identidade apresenta-se desse modo, em sua
própria definição, como sendo ao mesmo tempo aquilo que torna semelhante e
diferente, único e igual aos outros, oscilando entre a alteridade radical e a
semelhança total. A ideia de identidade instala uma tensão dialética entre o
mesmo e o outro, o que é semelhante e o que é diferente, e permeia as
análises feitas, teorias desenvolvidas e debates travados sobre o conceito.
A identidade que o indivíduo deseja ter, desse modo, subentendido o
processo biográfico e a identidade para as outras pessoas, é um processo
desenvolvido por meio das relações estabelecidas. A articulação entre essas
duas faces distintas é a chave para o processo da construção da identidade
profissional (CARROLO, 1997).
A construção da identidade parte de que ela não é um dado imutável e
de que não pode ser adquirida; é um continuum num processo que cada
indivíduo desenvolve particularmente. A profissão de professor surgiu em dado
contexto histórico, respondendo às necessidades justapostas pelas
sociedades, adquirindo estatuto de legalidade.
Desse modo, ao repensar o tema da pesquisa, que está extremamente
ligado ao ambiente no qual este indivíduo se encontra, e sobre o quanto as
relações que se estabelecem nesse ambiente são importantes para o seu
desenvolvimento e a sua trajetória profissional, deve-se citar Nóvoa (1995), que
observa, em seus estudos, a existência de verdadeiro movimento
socioeducativo em torno das histórias de vida, com enorme profusão de
abordagens que necessitam de esforço de elaboração teórica baseada numa
reflexão sobre as práticas, e não numa óptica normativa e prescritiva. Esse
autor afirma que o movimento socioeducativo deve ser enriquecido em bases
de ação, sempre no sentido de integrar a teoria à prática (NÓVOA, 1995).
Reconhecer que, na atualidade, as ações produtivas e a dimensão
profissional do indivíduo se desdobram nos processos identificatórios do
trabalhador, por meio da sua atividade profissional, leva à compreensão de que
o trabalho é, nos dias de hoje, um elemento constituinte da subjetividade
humana e, portanto, faz parte da identidade do indivíduo (COUTINHO;
KRAWULSKI; SOARES, 2007).
A essa formação da identidade podem ser atribuídos, a priori, dois
processos que são respectivamente correspondentes, como cita Carrolo (1997,
p. 29):
A esfera subjetiva, que é a aquisição da identidade para si ou desejada por parte dos candidatos, envolve o percurso biográfico, a perspectiva pessoal do espaço e do processo de formação. E a esfera social, que é a identidade atribuída pelos outros, a visão dos
colegas e formadores, a forma de como esse profissional relaciona e avalia seu trabalho no seu contexto de atuação.
O referido autor afirma que, na medida em que a identidade profissional
de um ponto de vista social resulta da adequação entre a identidade para si e a
identidade para os outros, torna-se possível compreender a construção da
identidade profissional por meio da descrição de três fatores:
- do dispositivo de formação, pela análise dos conteúdos e da atividade
de formação impregnadas de referências ao universo profissional;
- do processo identitário biográfico, por meio das representações e
percepções individuais dos formandos, acerca, não só da formação recebida,
mas também dos trajetos socioprofissionais vividos e da projeção de si mesmo
na carreira futura;
- do processo relacional, pelo estudo dos objetivos de formação e da
avaliação do perfil do profissional dos candidatos, que traduzem o
reconhecimento da identidade a que aspiram (CARROLO, 1997 p. 31).
A questão da formação profissional e a trajetória da construção
identitária dos profissionais de Educação Física atuantes nas academias de
ginástica constituem um tema de discussão contínua. Na área da Educação
Física, o processo histórico de profissionalização buscou estabelecer espaço
no mercado de trabalho para a intervenção profissional, realizada, inicialmente,
quase que com exclusividade, no âmbito escolar (OLIVEIRA, 2000;
NASCIMENTO, 2002).
No espaço compreendido nesses limites de atuação, até 1970 havia
poucas oportunidades para a atuação desses profissionais. As academias de
ginástica e outros setores só tiveram incremento, no Brasil, a partir dos anos
1980 (OLIVEIRA, 2006). A evolução das necessidades da sociedade, a
preocupação com o desenvolvimento da melhoria da saúde e a atuação de
professores de Educação Física em contextos que fugiam da escola e dos
esportes de rendimento determinou que houvesse mudança no perfil da
profissionalização e necessidade de formar professores que atuassem em
espaços de promoção da saúde.
De acordo com Nascimento (2002, p. 48):
Há uma proliferação de novas estruturas de prestação de serviços esportivos, especialmente as academias de ginástica particulares. Com a diversificação de oportunidades de práticas esportivas
oferecidas à comunidade em troca de pagamentos, estas estruturas esportivas são um novo mercado de trabalho e que proporcionam novos espaços de intervenção profissional.
Isso posto, há de se considerar alguns aspectos relativos à história da
formação de professores de Educação Física no Brasil e algumas tendências
presentes no debate educacional sobre essa formação, citando teóricos
reflexivos (STEFANE, MIZUKAMI, 2002, apud SCHÖN, 1983; NÓVOA, 1992;
PÉREZ-GÓMEZ, 1992; ZEICHNER, 1993).
Apresentam-se, adiante, aspectos importantes no que se refere à
história da formação desses profissionais, indicando considerações para
reformulações de concepções das especificidades da área, relacionando as
aprendizagens por eles realizadas por meio da experiência profissional, do
confronto vivido nos cursos de formação, e adentrando os contextos e
situações em que esses profissionais trabalham.
2.3 O Contexto de Formação de Professores de Educação Física
A partir da introdução das técnicas esportivas no Brasil, em 1920, vários
Estados começam a incluir a Educação Física nas escolas. O processo de
escolarização da disciplina, na época, deu-se a partir de um projeto
educacional que implicou a elaboração de um conjunto de leis voltadas para a
implementação da prática obrigatória nas escolas brasileiras (STEFANE;
MIZUKAMI, 2002).
Em 1925, foi criada a primeira escola para a formação de professores de
Educação Física, que pertencia à Marinha e utilizava métodos ginásticos
relacionados à formação militar. Somente na Constituição de 1937 foi
formalizada, em quase todos os graus e níveis de ensino (exceção ao Ensino
Superior), a configuração da necessidade de formação de recursos humanos
para o trabalho com a Educação Física, que até então era ministrada pelos
militares da época.
Em 1939, durante o governo de Getúlio Vargas, foram criadas as
primeiras instituições de formação de professores de Educação Física, ligadas
ao meio civil, entre elas, a Escola de Educação Física de São Paulo e a Escola
Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.
Apesar de o ensino ser ministrado por professores que não eram militares de
formação, ainda continuavam sendo fortemente influenciado por esse meio
(STEFANE; MIZUKAMI, 2002).
Por volta de 1940, Augeste Listello criou o Método Desportivo
Generalizado e consolidou as práticas esportivas no âmbito escolar,
preocupando-se com a performance atlética e com fatores físicos e fisiológicos
nas aulas de Educação Física. Nessa fase, a formação dos professores era
mais voltada para o enfoque esportivo, não se diferenciando muito da instrução
militar.
Segundo Stefane e Mizukami (2002), a formação profissional naquela
época era de técnicos em Educação Física. O curso era concluído em dois
anos. Para ingressar nesse curso exigia-se somente o curso secundário
fundamental. Em 1945, com a destituição de Vargas, Linhares assume o
governo e promulga o Decreto-Lei nº 8.270/45, que altera a duração do curso
para três anos. Somente em 1953, a Lei da Equivalência nº 1.821/53 altera a
forma de ingresso no Ensino Superior, obrigando os cursos de Educação Física
a exigirem prestação de cursos vestibulares e o certificado de conclusão do
Ensino Médio para que os alunos pudessem ingressar nos cursos de
Licenciatura.
Em 1969, frente à situação política em que vivia o Brasil, a Educação
Física foi incluída como disciplina obrigatória também no Ensino Superior. A
intenção era manter a ordem e a segurança nacional, tendo o caráter de
esporte de rendimento. Com esse objetivo, houve grande desenvolvimento
científico nas áreas de fisiologia do esforço nas Escolas de Educação Física,
acontecendo assim uma expansão dos cursos de formação nessa área, em
especial do ensino privado (STEFANE e MIZUKAMI, 2002).
A partir dos anos 1970, iniciam-se as discussões relacionadas às
práticas sobre os conceitos da psicomotricidade. Os aspectos técnicos e
táticos, que até então eram considerados essenciais na formação dos
professores de Educação Física, começam a ser questionados, e os processos
de aprendizagem, as tarefas da escola, os processos cognitivos, afetivos,
sociais e psicomotores passam a ser discutidos nos campi das universidades,
bem como as disciplinas que compreendem esses conceitos (DARIDO e
RANGEL, 2005).
Como cita Taffarel (1993, p. 36, apud Stefane; Mizukami, 2002):
Demarcam-se posições diferenciadas, cada vez mais explicitadas, nas discussões sobre as funções da Educação Física, sua legitimidade e sua autonomia. Em um amplo espectro, ainda não muito bem delineado, encontram-se tantos os que defendem a Educação Física na perspectiva da aptidão física, da saúde [...] como os que questionam este papel e buscam compreender a Educação Física como componente da cultura corporal esportiva.
De 1979 a 1984, muitos seminários foram promovidos na tentativa de
ampliar as discussões sobre a formação de professores para o Ensino
Fundamental e Médio e sobre os currículos das Escolas de Educação Física.
Havia profissionais que defendiam um currículo único e obrigatório para todos
os cursos de formação. Em contrapartida, outros profissionais queriam atribuir
a autonomia às instituições, para construção e deliberação de seus próprios
currículos. A Resolução n º 3/87, concretizada no Parecer nº 215/87, tratou do
perfil do licenciado, do bacharel e do técnico esportivo, e apresentou uma
proposta de currículo mínimo que buscava caracterizar o perfil profissional e
que definia áreas de abrangência do currículo e a duração mínima do curso
para quatro anos, indicando que a formação deve ser a partir de uma
Formação Geral (Humanista e Técnica) e da parte que trata do
Aprofundamento de Conhecimentos Específicos (BORGES, 1998 p. 29 e 30).
Pensando em formação profissional num contexto mais amplo, Schön
(1983, apud STEFANE; MIZUKAMI, 2002) relata, em seus estudos, que, a
partir dos anos 1970, houve uma crise nas profissões e em seus profissionais,
devido a insatisfação com os modelos de formação da época, os quais eram
concebidos a partir da racionalidade técnica.
Num primeiro momento, a crise deu-se em profissões não docentes,
mas, após uma concepção instrumental e de aplicação de conhecimentos
relacionados ao exercício profissional docente, os questionamentos quanto às
características das especificidades e à natureza dos processos de
aprendizagem emergiram também numa crise profissional, e o caráter
puramente técnico e de aplicação que permeava os processos formativos do
professor de Educação Física começaram a ser discutidos.
Como citam Tani (1984); Medina (1989) (apud STEFANE; MIZUKAMI,
2002), houve uma crise na Educação Física que pode ser considerada positiva,
pois incentivou a busca de novos modelos e teorias de conhecimento que
fundamentaram e direcionaram a formação dos professores da área, com a
redefinição de sua identidade social e socioprofissional no universo das
práticas corporais, revisando a concepção de formação de um professor
generalista ou especialista.
Em março de 1998 foi criado o Conselho Federal de Educação Física
(CONFEF), com a finalidade de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício das
atividades próprias dos profissionais de Educação Física (CONFEF/CREF,
1998) e, consequentemente, de regulamentar a profissão.
No final de século XX, a Educação Física propôs-se a oferecer aos
indivíduos, de todas as idades, uma ação comprometida com a melhoria da
sociedade e, no Brasil, chegava a hora de um novo posicionamento
relacionado ao oferecimento de uma Educação Física de qualidade.
Com isso, o CONFEF tem a missão de redigir a Carta Brasileira de
Educação Física, pelo que representa e pela sua competência legal.
A partir do delineamento de ideias, resultantes do esforço participativo
dos profissionais de Educação Física, da comunidade científica e acadêmica e
dos Conselheiros do CREF, essa Carta foi redigida com as devidas
contribuições para um melhor entendimento no que diz respeito: ao profissional
brasileiro de Educação Física, ao objeto da Educação Física no Brasil, às
referências para uma Educação Física de qualidade, à preparação de
profissionais para oferecer uma Educação Física eficiente em todos os
ambientes a que se propõe ser oferecida, à indispensável Educação Física de
qualidade ministrada por professores graduados com curso de licenciatura, à
responsabilidade dos Governos federais, estaduais e municipais em oferecer
Educação Física com qualidade no que se refere aos profissionais e espaços
oferecidos à população.
Da Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF/CREF, 1999), vale
ressaltar, nesta pesquisa, o parágrafo de número 7, que observa a busca de
uma Educação Física de qualidade nos diversos ambientes a que se propõe
que seja oferecida.
A Educação Física, ao ser praticada em espaços distintos de toda
ordem, como academias, clubes, condomínios, praias, áreas públicas e outros,
e para que se torne de qualidade, é necessário que se organize de forma
democrática, para que possam ser oferecidas às pessoas condições de
igualdade em suas práticas.
Informando aos seus beneficiários sua importância ao longo de suas
vidas e desenvolvendo padrões de interesse em praticá-las, a competência dos
profissionais passa a ser responsabilidade dos programas e dos
estabelecimentos que a oferecem. Instalações e equipamentos para a prática
devem ser compatíveis com os objetivos e especificidades de cada indivíduo, e
as referências éticas devem ser cumpridas em todas as circunstâncias
(CONFEF/CREF, 1999).
A orientação segura e a intervenção profissional devem ser prestadas
somente por profissionais graduados e habilitados. A partir desse requisito de
desenvolvimento, tornam-se previsíveis a identificação e o estabelecimento de
focos de especialização profissionais a serem implementados e
competentemente desenvolvidos por meio da efetivação de estudos, pesquisas
e cursos, visando preparar esse contingente de profissionais para a resolução
qualificada, competente, compromissada e ética dos problemas emergentes de
toda a população nacional (AQUINO, 2006).
Segundo Stefane e Mizukami (2002), os cursos de formação inicial e os
programas de formação continuada de professores de Educação Física muito
se beneficiaram com as contribuições teórico-metodológicas, no que se refere
aos processos formativos e ao desenvolvimento profissional da docência.
Esses referenciais contribuíram para que dificuldades, dilemas e problemas,
que atualmente são enfrentados fossem superados de forma mais compatível
com a natureza dos processos desenvolvidos por seus profissionais.
A Educação Física, nos dias atuais, exerce papel importante na
promoção da saúde. Contudo, para a população em geral, é relacionada
apenas ao aspecto biológico, sobretudo dentro das escolas. Observe-se, no
entanto, que não é exclusiva a esse ambiente, pois também ocorre no trabalho
desenvolvido em academias, clubes, "escolinhas de esportes", orientação ao
exercício, dentre outros.
A estreita vinculação entre Educação Física e saúde e Educação Física
e esporte tem sido, ao longo dos anos, a principal referência dos alunos que
ingressam no curso de Educação Física e, ao mesmo tempo, um entrave para
que se possa compreender a Educação Física em uma dimensão educacional
mais ampla e em suas interfaces com diferentes campos de saberes (TARDIF;
LESSARD 2009).
Em seus estudos, Barros (2006) afirma que até a década de 1970 havia
poucas oportunidades, além das escolas, para que os professores de
Educação Física atuassem. Com a evolução da sociedade e do conhecimento
veiculado na área, Nascimento (2002) enfatiza que a probabilidade de os
professores trabalharem fora do contexto das escolas elevou-se
acentuadamente
Essa é a preocupação principal de alguns docentes da Educação Física
em universidades que formam professores. Assim, torna-se propício o
questionamento sobre qual deve ser o perfil dessa formação. Formamos
professores ou profissionais em Educação Física para atuarem em espaços
não escolares?
Pensando nesse processo e retomando a formação e trajetória dos
profissionais de Educação Física que atuam nas academias de ginástica,
segundo Nascimento (2002), estudos demonstram que poucos graduandos da
licenciatura pretendiam seguir a profissão como professores escolares. Entre
as razões está o fato de que o mercado de trabalho extraescoltar é mais amplo,
e as possibilidades, mais diversificadas (STEINHILBER, 1996). Yamamoto
(2005) adverte que muitos profissionais que atuam na área não formal da
Educação Física têm o título de licenciado.
2.4 O cenário das academias de ginástica, o contexto de atuação do
profissional estudado
Neste estudo, entende-se ser importante realizar uma breve revisão de
outros trabalhos que contextualizam as academias de ginástica como objeto de
estudos, assim como as devidas representações sociais dos indivíduos desse
contexto. A idéia principal é a de que se possa refletir sobre questões mais
gerais que apareçam nessa área de atuação do professor de Educação Física.
Os autores Capinussu e Costa (1989) afirmam, em seus estudos, que o
surgimento das academias de ginástica ocorreu no século XIX, na Europa,
mais precisamente em Bruxelas. Esses espaços eram conhecidos como
ginásios, e seu objetivo era o “ensino da cultura física” por meio da utilização
de aparelhos. No século XX, as academias começaram a proliferar na Europa e
nos Estados Unidos, onde as práticas mais oferecidas eram o halterofilismo, a
ginástica e o balé.
No Brasil, as academias de ginástica surgiram nos anos 1920, e a
primeira delas foi criada por um imigrante japonês, em Belém (PA). Nas
décadas de 1930 e 1940, surgiram outras academias em outras regiões do
país, tendo como atividade principal o halterofilismo e, em alguns casos, a
ginástica feminina.
Novaes (1991) discute, em seu trabalho, a formação profissional em
Educação Física nessas décadas, trazendo como cenário a cidade do Rio de
Janeiro. O autor relata que a maioria dos professores que trabalhava com
ginástica era de origem europeia e não tinha formação acadêmica de nível
superior. Somente a partir das décadas de 1940 e 1950 professores com
formação em nível superior começaram a ministrar aulas nesses espaços.
Atualmente, verifica-se, em algumas academias de ginástica, a mesma
situação: alguns profissionais não têm formação superior e ministram aulas de
ginástica ou trabalham nas salas de musculação. Mas essa realidade vem se
modificando e mudando, em decorrência da regulamentação do profissional de
Educação Física, a partir da lei n. 9.696/98, que criou o Conselho Federal e os
Conselhos Regionais de Educação Física – CONFEF, ou Sistema
CONFEF/CREF. Esses órgãos compreendem a área escolar e a não-escolar, e
têm a função de fiscalizar esses espaços e obrigar os profissionais a se
cadastrarem e a terem o registro profissional.
Sadi (2003) reafirma as ações do Conselho Federal de Educação Física
e o modo como é balizada a plataforma política:
– exclusão dos chamados leigos pela equivocada compreensão de que
o conhecimento científico não advém da experiência, promoção de obstáculos
às artes e à cultura;
– elitização da Educação Física em atividades individualizantes e o
consequente abandono das práticas de experiência coletiva acumuladas na
escola e na comunidade;
– (re)conceituação do objeto de estudo e intervenção profissional,
denominado Educação Física;
– configuração de um novo espaço institucional, virgem e potente para a
exploração mercantil, baseado na obtenção de credencial conferida pelo
Conselho(CREF, 1999).
Tubino (1980) afirma que o grande crescimento das academias nas
principais cidades brasileiras se deu a partir dos anos 1970. Tal fato ocorreu
em conjunto com a divulgação do método Cooper de condicionamento físico,
proveniente dos Estados Unidos. Esse método disseminava a ideia de que
todos os indivíduos poderiam realizar alguma prática corporal, estivessem
preparados ou não. Unido a essa questão, o aumento de pesquisas buscando
comprovar os benefícios da prática de exercícios sistemáticos incentivou os
indivíduos a frequentarem as academias de ginástica, dedicando parte de seu
tempo a essa atividade, e esse contexto começou a fazer parte da vida da
população.
Durante os anos 1980, houve uma mudança no perfil dos profissionais
de ginástica que atuavam no Brasil, fortemente influenciados pelo movimento
norte-americano das aulas ritmadas, aqui conhecido como “ginástica aeróbica”
(COELHO FILHO, 1997).
A partir dessa nova proposta de aulas, os profissionais ligados à área
das academias de ginástica começavam a estruturar seus discursos com a
fundamentação teórica da área das ciências biológicas, valendo-se dos dados
provenientes da fisiologia do exercício, biomecânica e metodologia do
treinamento esportivo. Essas inúmeras possibilidades de práticas corporais,
oferecidas pelas academias de ginástica no final da década de 1980, e,
posteriormente, as inserções das lutas, do balé, da natação, entre outras
modalidades, transformaram esse contexto em um negócio bastante lucrativo,
atraindo empresários e investidores não ligados a esse setor. Surgiram, então,
grandes empresas em busca de um público cada vez maior e diversificado
(COELHO FILHO, 1997).
Nesse contexto, em que se pauta este estudo, de produtores de bens e
serviços ligados às práticas corporais, à relação professor aluno e aos
processos de interação entre os indivíduos que nele estão inseridos, foram
encontrados poucos trabalhos científicos. Assim, como as academias de
ginástica devem ser tomadas como objeto de estudos acadêmicos, prevê-se
que esta pesquisa talvez possa contribuir para a realização de outros trabalhos
realizados nessa área de atuação.
A maior parte desses estudos tem priorizado uma abordagem do ponto
de vista biológico, com metodologias provenientes das ciências sociais.
Refletem a necessidade de um olhar mais cuidadoso, levando em
consideração, não somente os benefícios de uma prática sistemática de
exercícios, mas também os papéis de desenvolvimento humano que possam
vir a surgir nos profissionais (professores) e indivíduos (alunos) que estão
nesse contexto.
Atualmente, as academias de ginástica têm-se mostrado como mercado
de grande interesse, devido ao aumento do número de unidades, o que vem a
gerar abertura maior para o campo profissional, tanto pela sua conquista
significativa na mídia, como nos campos de investimento financeiro. Entretanto,
as instituições têm recebido críticas em relação a seu papel educacional,
devido à adesão a um determinado padrão de beleza e consumo, e ao
modismo. Com isso, deve-se considerar a importância de estudos críticos,
principalmente no que se refere à formação do professor que atua nesse
mercado, à sua ação interdisciplinar e à sua preparação para atender seus
alunos de forma eficiente.
O sentido de um trabalho interdisciplinar está na sabedoria de aprender
a intervir no mundo sem destruir o construído. A importância de rever o velho
para torná-lo novo ou tornar novo o velho é outro procedimento interdisciplinar.
Em seus manuscritos de aula intitulados Cuidados na elaboração de princípios
(manuscrito de sala de aula com seis páginas, sem data, não publicada pela
autora), Ivani Fazenda aponta a importância de se olhar os fenômenos sob
múltiplos enfoques, de questionar e investigar conceitos e de habituar-se ao
exercício da ambiguidade. Para ela, a lógica interdisciplinar é a da invenção, da
descoberta, da pesquisa, da produção científica, gestada em um ato de
vontade, em um desejo planejado, crivado de liberdade. Um professor
acostumado à prática interdisciplinar passa a identificar aspectos próprios do
conhecimento do homem, percebe que a coisa a conhecer não se esgota nela
mesma. Vivencia, assim, a possibilidade de se deixar conduzir por outras
dimensões que não apenas as concretas, ou racionais, privilegiando aspectos
subjetivos do conhecimento humano. A aprendizagem interdisciplinar coloca
em dúvida a racionalidade dos ensinos ou didáticas, analisa os processos, a
afetividade, o efeito da força e a força dos efeitos, as dimensões sociais e
institucionais, as estratégicas organizacionais, a articulação de saberes, toda e
qualquer proposição que tenha a diversidade como princípio.
2.5 A Atuação do Professor de Educação Física
Segundo Carreiro da Costa (1994), Rangel-Betti e Galvão (2001), a
aprendizagem do ser professor não começa na licenciatura, mas com as
inúmeras experiências que os futuros professores vivenciaram no decorrer de
sua formação escolar.
Em se tratando especificamente da Educação Física, aborda-se que
foram “[...] as ideias pedagógicas, os modelos de ensaio e padrões de
comportamento que moldaram a sua maneira de pensar as finalidades da
Educação Física” (CARREIRO DA COSTA, 1994, p.27).
A graduação é a fase de formação inicial do profissional, o período em
que o professor adquire os conhecimentos científicos e pedagógicos e as
competências necessárias para enfrentar de maneira adequada a carreira
docente. Se essa fase não provocar mudanças na concepção que os alunos
carregam para o curso, decorrentes de suas experiências, as ideias anteriores
exercerão influência permanente e decisiva na sua prática pedagógica
(CARREIRO DA COSTA, 1994).
As Escolas de Ensino Superior, que atualmente formam os futuros
profissionais que atuarão no mercado das academias de ginástica, refletem os
currículos tradicionais e esportivos ou o técnico-científicos. Na maioria das
vezes, esses alunos saem das Instituições com esse tipo de formação e
apresentam certa insegurança no início da profissão, uma vez que, para muitos
deles, a preparação para o magistério ocorre apenas no último ano de
formação, na disciplina “Prática de Ensino”, que parece ser insuficiente para
fornecer sozinha a segurança na atuação pedagógica (BETTI, RANGEL-BETTI,
1996).
Sem intervir na forma como o professor deve e pode ensinar, considera-
se que um modelo a ser tomado como base é o proposto por Schön (1992),
baseado em estudos de John Dewey e complementado por Pérez-Gómes
(1992). Segundo esse modelo, o professor reflete o tempo todo sobre suas
ações, construindo e comparando as estratégias de ação e formulação de
novas pesquisas, bem como há o aparecimento de teorias e categorias que
compreendem novos modos de enfrentar e definir problemas (PEREZ-GÓMEZ.
1992).
Basicamente, a proposta de Schön (1992) resume-se a três momentos
distintos da construção de novas formas de conhecimento sobre o ensino: o
conhecimento da ação, a reflexão na ação, e a reflexão sobre a ação.
O conhecimento da ação acontece um pouco antes de o professor iniciar
sua aula. É o momento em que reflete sobre as possibilidades humanas e
materiais que possui. Já a reflexão na ação ocorre durante a aula, no instante
exato em que ela está acontecendo, possibilitando ao professor tomar novas
decisões sobre os problemas que vão surgindo. Imediatamente após a aula (e
durante certo tempo), o professor passa a refletir sobre os acontecimentos que
ocorrem na aula, sobre a forma como tomou decisões, quais poderiam ser
diferentes, o que faltou para que fosse melhor, enfim, o que deu certo ou
errado (RANGEL et al, 2005).
Para Perrenoud (1993), os professores devem trabalhar sempre a
prática da investigação, que auxilia a vê-la com outros olhos. Ao se propor a
interrogação, a identificação de problemas e possíveis soluções, possivelmente
ocorre uma contribuição para a melhor formação do professor reflexivo.
Tal atitude se encaixa perfeitamente nos moldes do professor reflexivo
que atua em academias de ginástica. Antes mesmo de iniciar sua aula, ele
deve estar atento a todas as questões acima citadas, para que o
desenvolvimento da aula contemple sua satisfação em ser professor e a de
seus alunos. Assim, ele se transforma em investigador de sua própria prática
profissional.
Como cita Carreiro da Costa (1994), o sucesso para as aulas em
Educação Física exige que o professor tenha “[...] capacidade de articular
habilidades de diagnóstico, de instrução, de gestão e de remediação,
adaptando o comportamento à especificidade da situação educativa”
(CARREIRO DA COSTA, 1994, p. 32).
Desse modo, é possível entender que a prática profissional é formada da
união do conteúdo transmitido durante a formação com a história de vida
pessoal e a experiência do dia a dia. A intenção de aprender cada vez mais
transforma a educação em educação permanente, com a valorização da
profissão de professor, o domínio sobre o conteúdo e o entendimento de que a
troca entre os pares é essencial (RANGEL-BETT, GALVÃO, 2001).
Quando se adota a prática reflexiva como metodologia e postura
profissional, promovem-se reflexões sobre as ações individuais e coletivas.
Surge, então, a preocupação com a responsabilidade social, e os contextos
profissionais fazem a diferença. O profissional que reflete sobre a sua prática,
não apenas com relação a suas aulas, mas sobre o contexto de sua profissão,
valorizando-a igualmente e trocando as informações advindas dessas reflexões
com outros professores, entende que a prática é a união do conteúdo
transmitido durante a formação com a história de vida pessoal e a experiência
do dia a dia.
A intenção de aprender cada vez mais, transformando sua educação em
uma educação continuada, o domínio sobre o conteúdo a ser ensinado e o
entendimento de que a troca entre os pares é essencial vem a ser um fator
determinante para abordar uma prática interdisciplinar (RANGEL-BETTI,
GALVÃO, 2001).
O professor atuante nesse mercado está a todo momento agindo de
forma interdisciplinar, a partir dos conceitos iniciais que traduzem essa relação:
a espera, a cautela e a humildade. Essas são atitudes que refletem a postura a
que o profissional deve estar atento para melhor compreender a relação
professor-aluno que é estabelecida no contexto da academia: o quanto esse
professor foi influenciado pelos conceitos advindos da interdisciplinaridade e o
como ele será capaz de mudar comportamentos do seu aluno/cliente, no
contexto estudado nesta pesquisa.
A espera pelo objetivo a ser alcançado pelo aluno nem sempre “está
junto” com a vontade do professor. A cautela em abordar exercícios que serão
propostos pelo professor é de sua maior responsabilidade, e a humildade de se
colocar no lugar do outro é uma ação de intermediação para que o processo de
ensino-aprendizagem seja eficiente para ambos.
A interdisciplinaridade está presente na educação contemporânea; no
entanto, o conceito ainda se mantém difuso, dando origem a inúmeros
questionamentos. Devido ao fato de a Educação Física ser multidisciplinar, os
educadores físicos pressupõem sempre estar agindo sob bases
interdisciplinares, o que muitas vezes não é real, pois os conceitos descritos
pelos sujeitos estudados ainda estão longe do que realmente se entende como
interdisciplinar. Sendo assim, é importante que se tenha bem definido o
significado da palavra interdisciplinaridade, o seu sentido para a educação e
sua abrangência para o ensino e a pesquisa.
Diferentemente de uma prática multidisciplinar ou disciplinar, a prática
interdisciplinar nasce de uma vontade constituída e tem, na dúvida, um
componente básico da reflexão. Ela sempre busca suprir uma necessidade
sociocultural. Essa busca pressupõe um fim almejado pelo homem e um
engajamento com o processo produtivo. Nesse sentido, é importante que o
sujeito da ação perceba-se como ser que acumulou experiências de vida e que
observa as intenções que determinarão ou direcionarão o seu agir pessoal,
particular, individual. Só assim ele terá condições de adquirir novas formas de
perceber, conhecer e agir em outras determinantes situações.
3. PROBLEMA
Como se constrói a identidade e a formação de professores de
Educação Física atuantes nas academias de ginástica?
4. JUSTIFICATIVA
O quadro social brasileiro de profissionais da área de educação física
aponta para o crescente interesse de professores recém-ingressantes no
mercado de trabalho pela atuação em academias de ginástica. Esse campo de
atuação é o segundo maior mercado de trabalho procurado por professores de
educação física, e são poucos os estudos científicos que compreendem esse
ambiente (VIDAL, 2008).
A regulamentação da profissão de Educação Física no Brasil,
homologada em 1998, representa a interação de vários vetores sociais, iniciada
já na década de 1940. Seu objetivo é garantir à sociedade o oferecimento de
serviços de qualidade nas áreas da saúde e educação, por profissionais
especializados que utilizam como meio às atividades físicas nas diversas
manifestações da cultura corporal, em que as academias de ginástica se
inserem.
As pesquisas demonstram o crescente potencial mercadológico das
academias de ginástica como centros especializados de serviços de saúde.
Toscano (2000) alerta sobre a necessidade da incorporação dos conceitos
epidemiológicos na prática dos profissionais de Educação Física, para a devida
fundamentação técnica e respaldo nas suas intervenções como profissionais
de saúde.
A relevância social deste estudo pauta-se em promover a saúde, estar
em contato direto com as pessoas e com seus objetivos a serem alcançados,
tratar algumas patologias passíveis de reabilitação por meio do exercício físico,
saber que o ser humano é afetado a todo momento por aquilo que seu corpo
pode realizar, melhorar a autoestima das pessoas e a relação interpessoal,
educar para que o cidadão saiba que seu corpo é a sua casa, e que, por isso,
deve cuidar dele, ensinar conceitos sobre qualidade de vida e sociabilização.
Estes são elementos essenciais para se tornar um bom profissional.
Conceitua-se epidemiologia como uma ciência responsável pelo estudo
dos fenômenos relacionados com o binômio saúde-doença, bem como com
seus determinantes em grupos da população,
Pitanga (2004, p. 49) afirma:
Dessa forma, observa-se que existe relação muito próxima entre epidemiologia da atividade física, saúde e qualidade de vida, todos com inserções e componentes de ordem biopsicossocial, comportamental e ambiental. Assim, maiores níveis de prática de atividades físicas parecem ser um dos fatores determinantes da saúde, que por sua vez, estando nas proximidades do pólo positivo deverá influenciar na melhoria da qualidade de vida da população.
Não obstante, esses professores atuantes em academias têm uma
grande preocupação com sua futura atuação nesse mercado, pois percebem,
em sua formação, principalmente aqueles que cursam a Licenciatura, que
aspectos relacionados aos conceitos necessários para essa prática são
contemplados com menor frequência.
Embora seja sabido que cursando Licenciatura as disciplinas serão
direcionadas para a área pedagógica, a necessidade em inserir-se no mercado
de trabalho após a formação ocorre de maneira adversa, visto que o primeiro
emprego é fator determinante para os jovens professores.
A preocupação com esse quadro que caracteriza a identidade e a
formação desse profissional é o mote deste estudo, que analisa a trajetória
profissional de professores de Educação Física atuantes no contexto das
academias de ginástica, na cidade de Taubaté-SP. É objeto de estudo,
também, o conhecimento dos fatores que conduzem a essa escolha: trabalhar
em academias. Pontuar o quanto as interferências na vida dos indivíduos
pesquisados foram influenciadas pelo seu contexto de interação é um fator que
se mostra relevante para entender o painel histórico social que se forma nos
dias atuais.
Segundo Mizukami (1996), a experiência pessoal é importante na
aprendizagem profissional, e o significado dessa experiência pode ser
considerado como uma fonte básica, embora não seja a única para a prática
desse indivíduo nos contextos em que vai atuar. É relevante citar que, no inicio
da atuação, a experiência de ter sido aluna e de participar ativamente desse
ambiente favoreceu a esta pesquisadora ingresso e identificação com a área.
Diante dessas colocações parece claro que a formação de professores começa muito antes da entrada nos cursos de formação e, ao mesmo tempo, é um processo interminável, já que se prolonga por toda vida profissional (LOURENCETTI; MIZUKAMI, 2002 p. 52).
As academias constituem ambiente extremamente benéfico para a
construção das díades apontadas pelo professor Bronfenbrenner. Aspectos
relacionados ao desenvolvimento humano do professor, seu comportamento,
sua formação, as histórias de vida e o que foi determinante para sua escolha
também são pontuados nesta pesquisa.
Isso posto, os resultados obtidos com esta pesquisa podem indicar
caminhos para a ressignificação dos currículos de formação, de modo que
incluam assuntos que despertem a curiosidade dos alunos em formação para
outras áreas de atuação, além daquelas dos contextos escolares. Novos
horizontes ampliariam assim o seu campo de atuação, sua autoestima, seu
interesse em investir num plano de carreira que valorize todas as etapas de
vida profissional.
No Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano, a linha de
pesquisa em que se insere esta pesquisadora transcorre dos contextos de
formação, áreas de atuação dos diversos profissionais e, por isso, seu
interesse em aprofundar os estudos enriquecendo seu contexto profissional e
aperfeiçoando os aspectos do desenvolvimento humano intrínsecos da relação
professor-aluno.
5. OBJETIVO GERAL
Analisar a trajetória profissional de professores de Educação Física
atuantes no contexto das academias de ginástica da cidade de Taubaté-SP.
5.1 Objetivos Específicos
Conhecer os fatores que conduzem a escolha pelo trabalho em
academias;
Analisar as influências de contexto de interação no percurso de
formação profissional.
6. MÉTODO
6.1 Natureza da pesquisa
Esta pesquisa é um estudo de caso do tipo exploratório cuja natureza é
qualitativa, e o delineamento é transversal. A análise de conteúdo é o método
de tratamento dos dados. De acordo com Gil (2002), trata-se de uma pesquisa
cujo propósito é estudar características de uma população e cujos sujeitos são
selecionados acreditando-se que, por meio deles, se torne possível aprimorar
os conhecimentos acerca do universo em que estão inseridos. Isso permite a
análise das crenças desses sujeitos, seus valores, seus temores relacionados
à profissão e outras formas de pensar a profissão.
Yin (1984) elucida a importância das questões propostas que
diferenciam estudos de caso de outras modalidades de pesquisa nas ciências
sociais. O autor afirma que a estratégia é geralmente utilizada quando as
questões importantes do estudo referem-se ao como e ao porquê, quando o
pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco da
pesquisa vai ao encontro de um fenômeno contemporâneo em um ambiente
natural.
Uma investigação científica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos; enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidência (...) e beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e análise dos dados (YIN, 2001, p. 32-33).
O autor acrescenta que estudos de caso são usados também nas etapas
exploratórias das pesquisas de fatos e acontecimentos pouco estudados. No
caso desta pesquisa, que é um estudo de caso, percebe-se que, na maioria
das vezes, há sujeitos e contextos associados à escola e ao treinamento de
alto rendimento nas pesquisas que se relacionam à Educação Física, e poucas
referências no que diz respeito aos profissionais que decidem atuar no contexto
estudado (academias de ginástica). Como cita Yin (1984):
Note-se: que, aqui, aparece um outro critério que justifica a escolha do estudo de caso com abordagem adequada de um problema de pesquisa: tratar-se de fenômeno pouco investigado, o qual exige estudo aprofundado de poucos casos, que leve à identificação de
categorias de observação ou à geração de hipóteses para estudos posteriores.
Chizzotti (2001) afirma que metodologias distintas e particulares são
criadas e que não se apoiam em leis ou generalizações de um determinado
fenômeno. Deve-se levar em consideração que o evidenciado é o caráter de
imprevisibilidade e especificidade dos resultados obtidos, e não a restrição do
conhecimento a dados fragmentados, pois assim o processo de
desenvolvimento da pesquisa apresenta maior relevância.
Como cita Minayo (1996, p. 21-22), a pesquisa qualitativa:
Responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificada. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo nas relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
6.2 Procedimentos de coleta dos dados
6.2.1 A coleta dos dados
Os dados foram coletados a partir da entrevista semiestruturada
individual e da utilização de dados sociodemográficos (anexo 2), para obtenção
de informações que respondessem ao objetivo desta pesquisa que, por sua
vez, relaciona-se aos professores atuantes nas academias.
A entrevista semiestruturada, instrumento escolhido, possui flexibilidade
em relação ao que o pesquisador deseja para a posterior análise dos dados. É
necessário que ele experimente contato direto com os sujeitos participantes,
que estabeleça uma forma de comunicação positiva e que procure demonstrar
empatia, favorecendo o ambiente da entrevista (BARDIN, 2010). As relações
com o pesquisador, a confiabilidade e o interesse pelo assunto são
fundamentais para instituir um conjunto de necessidades do sujeito em relação
a sua participação na pesquisa e ao desenvolvimento da sua capacidade de
expressar-se durante a investigação (GONZALEZ REY, 1999).
Isso posto, passa-se à descrição das etapas de coleta de dados, que
aconteceram em duas fases distintas, a saber:
Primeira fase: ocorreu por meio da entrevista semiestruturada. O roteiro da
entrevista foi feito a partir de um instrumento que despertasse o interesse
dos sujeitos em respondê-lo, e foram construídas perguntas a partir de três
blocos temáticos referentes aos aspectos que influenciaram os sujeitos
quanto à escolha da profissão:
o Bloco 1 – teve como objetivo central investigar o que os levou a
escolher a profissão, bem como descobrir o porquê de sua
atuação neste mercado específico de trabalho;
o Bloco 2 – teve como objetivo realizar questões relacionadas à
idade e ao tempo de atuação nesse contexto, bem como
descobrir a sua preocupação com os aspectos econômicos nesse
segmento de trabalho;
o Bloco 3 – teve como objetivo elaborar questões pertinentes à
interdisciplinaridade e a sua atuação, e à questão relacionada à
formação continuada.
Segunda fase: ocorreu a partir de uma pergunta disparadora. Nessa fase a
pesquisadora volta a campo para entrevistar dois sujeitos que já haviam
respondido à entrevista semiestruturada na primeira fase e cujas respostas
foram ao encontro dos objetivos da pesquisa. Portanto, os dados coletados
desses dois professores, por meio de narrativa oral, foram o foco da análise
desta pesquisa. Segundo Gonzalez Rey (1999), a narrativa oral como
instrumento a ser investigado deve produzir dados válidos para que possam
ser convertidos em fonte de informação sobre o assunto a ser pesquisado,
e essa informação só terá significado dentro do conjunto das informações
produzidas pelo sujeito que será estudado.
As pesquisas em torno das narrativas orais sobre a formação de
professores no domínio das ciências da educação são relativamente recentes.
Essa perspectiva metodológica surge no final do século XIX, na Alemanha,
como alternativa à sociologia positivista, sendo usada primeiramente pelos
sociólogos americanos, de forma bastante sistemática (FINGER; NÓVOA,
1988).
Segundo Finger e Nóvoa (1988), diferentemente do “padrão” seguido
pelas ciências sociais, quando do surgimento de uma nova metodologia de
ensino, o método autobiográfico não provocou grandes debates
epistemológicos. Entretanto, as ciências da educação rapidamente
compreenderam sua importância como instrumento de investigação, sobretudo
quanto à formação de profissionais.
Valorizando os processos de formação e assumindo a totalidade da história de vida de uma pessoa, o método biográfico facilita o desenvolvimento de uma sociologia holística da formação, mais adequada à especificidade de cada indivíduo. Enquanto instrumento de investigação-formação, o método biográfico permite considerar um conjunto alargado de elementos formadores, normalmente negligenciados pelas abordagens clássicas e, sobretudo, possibilita que cada indivíduo compreenda a forma como se apropriou destes elementos formadores (FINGER; NÓVOA, 1988, p. 13).
A importância dessa metodologia investigativa partiu das considerações
acerca da teoria sobre o desenvolvimento humano, dos estudos de
Bronfenbrenner (2011), Tardiff (2009), Bolívar (2002), Nóvoa (1995), entre
outros autores que abordam a identidade e a formação de professores. Em um
segundo momento da pesquisa, essas questões foram pertinentes para uma
nova coleta e análise dos dados obtidos pela pesquisadora junto aos sujeitos
entrevistados.
Partindo da adequação dos princípios epistemológicos e metodológicos,
compreende-se que as histórias de vida são, nos dias de hoje, utilizadas nos
estudos das ciências humanas e da formação do adulto, pois partem dos
saberes tácitos ou experienciais, bem como da revelação das aprendizagens
construídas ao longo da vida como uma reflexão do conhecimento de si.
A pesquisa biográfica científica no contexto de formação de professores
possibilita a compreensão dos modos como esses profissionais da área da
Educação Física dão sentido ao seu trabalho e atuam em seu ambiente
profissional. Neste estudo priorizam-se as academias de ginástica. Busca-se
explicitar as dimensões do passado que pesam sobre as situações do presente
e a sua projeção na melhor forma da ação. Fica claro para os pesquisadores
que, de fato, o professor, como pessoa, realiza no seu ato de ensinar um
conjunto reservado de habilidades e conhecimentos pessoais que obteve ao
longo de sua vida particular (BOLÍVAR, 2002).
Compreende-se, assim, que nesse cenário é pertinente refletir sobre si,
como profissional e como pessoa, pois, quando se trata de formação, são
dados inseparáveis. Nesse contexto estudado, compreende-se que as
narrativas orais podem auxiliar na identificação dos novos sentidos que esses
profissionais atribuem ao seu pensar, fazer e sentir.
Queiroz (1988) relata que a história de vida no quadro da narrativa oral
pode incluir depoimentos, entrevistas, biografias, autobiografias, enfim, toda
história de vida encerra um conjunto de depoimentos, e, embora o pesquisador
tenha sido quem articulou e escolheu as questões e esboçou o roteiro temático,
ele é o narrador que decide o que narrar.
Dessa forma, justifica-se o regresso à coleta de dados com dois dos
sujeitos que já estavam no grupo inicial e que trouxeram informações de maior
familiaridade ao aspecto estudado da pesquisa. As respostas sobre a
formação, inserção e desenvolvimento humano foram dadas por esses dois
professores e, portanto, eles foram os selecionados para a análise dos dados
coletados também em uma segunda entrevista.
Nesse segundo momento, a pesquisadora voltou a campo em busca de
informações mais específicas no que tange a formação, o contexto estudado
(as academias de ginástica), a inserção desses professores nesse contexto e
as questões levantadas sobre o desenvolvimento humano.
É importante ressaltar que, na relação construída entre pesquisadora e
sujeito, emergiram alguns questionamentos estudados durante o percurso do
mestrado, pois, em alguns momentos, os papéis pareciam estar invertidos,
uma vez que eram os participantes que se mostravam curiosos por
determinados assuntos. Nessas ocasiões, foi necessário que a pesquisadora
assumisse postura aberta e interativa, quando ela própria era questionada
sobre aspectos que até então eram desconhecidos pelos sujeitos, o que a fez
afastar-se de preconceitos e julgamentos pré-estabelecidos, pois, para ela, o
tema definido era muito familiar.
Esse processo de aproximação e afastamento e de estranhamento
daquilo que parece “comum” não é nada tranquilo, visto que não se com segue
distanciamento de alguns valores arraigados na vivência cotidiana, e mais uma
vez, entram em cena os conceitos discutidos durante o processo de formação
profissional, tão peculiar a cada sujeito.
6.3 O contexto da pesquisa e participantes
6.3.1 – As academias
Conforme dados obtidos junto ao sistema CONFEF/CREF 4, da região
do Estado de São Paulo, na cidade de Taubaté o número de academias
devidamente cadastradas nesse Conselho é 55. Dentre essas academias, foi
feito um recorte com as 10 maiores, considerando como critério principal
trabalhar junto àquelas legalmente registradas.
Optou-se por estudar os professores das academias de médio e grande
porte da cidade de Taubaté, e, como critérios utilizados para classificar as
academias, foram analisados:
Espaço físico;
Localização geográfica;
Número total de alunos matriculados e de funcionários;
Modalidades oferecidas;
Com relação ao espaço físico, todas as academias possuem ao menos
duas salas de ginástica, uma sala para musculação, sala para avaliação física,
estacionamento e vestiários. Todas estão localizadas em áreas centrais na
cidade de Taubaté. O número de alunos matriculados varia entre 300 e 500,
em cada academia, e as modalidades oferecidas são as mais variadas
possíveis.Os professores geralmente ministram mais de uma modalidade
específica.
6.3.2 Os sujeitos de pesquisa
Foram entrevistados cerca de 20 professores, dois de cada academia
selecionada: o mais experiente e o mais jovem integrante, com menos tempo
de formação. Após a leitura das respostas obtidas, percebeu-se que somente
dois dos professores responderam a questões que iam ao encontro do objetivo
desta pesquisa, e de maneira mais detalhada; por esse motivo, foram os
escolhidos para que realizassem novamente a entrevista. Dessa vez, somente
uma pergunta disparadora foi utilizada para que pudessem emergir as
informações necessárias que respondessem aos questionamentos.
A caracterização dos 20 sujeitos estudados:
As faixas etárias dos professores variavam entre 22 e 45 anos de
idade;
Foram entrevistados aleatoriamente homens e mulheres que se
disponibilizaram entre 15 e 20 minutos no decorrer das próprias aulas
e nas instalações das academias;
Todos os professores foram formados pela mesma Universidade.
Os professores assinaram o termo de esclarecimento livre e esclarecido,
ficando cientes de que suas entrevistas seriam usadas para fins da pesquisa. O
Projeto de Pesquisa foi devidamente enviado ao Comitê de Ética da
Universidade de Taubaté e aprovado em 11/02/2011: nº do protocolo, 011/11.
Para análise dos dados, os professores foram categorizados de 1 a 10
seguidos das letras A (para os recém-formados) ou B (para os experientes).
6.4 Procedimentos de análise dos dados
Para o tratamento dos dados, utilizou-se a “análise de conteúdo” das
comunicações apresentada por Bardin (2010), privilegiando como técnica a
proposta de análise temática/categorial baseada no estabelecimento de
categorias e definição de temas. A análise de conteúdo como método empírico
apresenta características sistemáticas e objetivas. Seu campo de aplicação é
bastante vasto, pois praticamente todas as formas de comunicação são
passíveis de uma análise dessa natureza, dependendo, evidentemente, dos
objetivos a serem alcançados e da interpretação que se pretende fazer.
Segundo Bardin (2010), as fases da análise de conteúdo dividem-se em:
pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados; inferência
e interpretação do pesquisador. A autora observa que, quando se faz uma
entrevista, é muito raro estabelecer um filtro categorial único e homogêneo,
pois o material verbal é extremamente complexo.
A função dos papéis sociais dos sujeitos envolvidos e seus interesses
devem ser considerados, pois exprimem o quanto o “lugar social” direciona a
fala. Cabe ao pesquisador identificar a presença de “outras vozes” ou daquilo
que foi “silenciado”, para que possa ser extraído o necessário para as referidas
análises.
A primeira fase é a organização e sistematização dos conteúdos, que
possibilitam o planejamento das etapas sucessivas a serem desenvolvidas. A
essa etapa caberia a escolha dos documentos para a investigação, juntamente
com “leitura flutuante” dos materiais. O pesquisador deixa-se invadir por
percepções, ideias e questionamentos, formulando as hipóteses, definindo os
índices e indicadores que podem ser determinantes das “unidades de registros”
ou os “temas” presentes na mensagem.
A pré-análise tem como objetivo a organização, embora ela própria seja
composta por atividades não estruturadas, abertas, por oposição à exploração
sistemática dos documentos (BARDIN, 2010, p. 121-122).
O momento da exploração dos materiais é quando são realizadas as
operações de codificação, partindo de regras já formuladas a partir daquilo que
se procura. É a parte do processo que visa transformar os dados brutos do
texto e identificar as “unidades de registro” ou “temas-eixo”, que são as
unidades de base necessárias à categorização. São como “pequenas gavetas”,
que permitem melhor classificação, com base em critérios para obtenção
daquilo que se procura. Essa análise considera o texto como um todo e aponta
a frequência ou ausência dos termos de sentido, utilizando-se do critério dos
“temas” com base na regra de recorte.
No processo de codificação acontece a transformação a partir de regras
precisas. Nessa etapa, é preciso saber por que se analisa de determinada
maneira, e explicar esse processo significa modificar os dados brutos do texto,
aglutinando-os por recorte, agregação e enumeração, e permitindo a
representação do conteúdo, ou sua expressão, para analisar as características
do texto que serviram de índices. Como cita Holsti (1969, apud BARDIN, 2010),
a codificação é o processo que transforma os dados brutos de forma
sistemática, agregando-os em unidades, as quais permitem uma descrição
adequada das características pertinentes ao conteúdo.
E, finalizando as etapas, a última é a de tratamento dos resultados. Inclui
a inferência, como o levantamento de proposições e a interpretação, que
consiste em tornar significativos os resultados, por meio de operações
estatísticas simples, como as porcentagens, por exemplo, destacando os
dados obtidos em diagramas, quadros de resultados, figuras.
Aos participantes foi permitido que fizessem suas considerações. Os
sentimentos de vergonha, embaraço, medo e insegurança foram observados
quando percebiam que a entrevista seria gravada. Por isso houve preocupação
em oferecer-lhes o tempo necessário para que formulassem suas respostas, e,
em alguns momentos, a interferência da pesquisadora foi necessária para se
concluir um pensamento e para que os dados fossem mais significativos e
concretos.
A seguir, iniciam-se as análises das entrevistas, que aconteceram após
a transcrição na íntegra das fitas gravadas; só então são apresentados os
resultados da análise de conteúdo como proposta deste trabalho.
Após ouvir e ler inúmeras vezes as entrevistas, fazendo uso das
percepções, observações dos entrevistados e ideias centrais, foram feitas
algumas anotações de questionamentos, enumerando o que surgia. Esse
momento foi chamado de exploração do material, um momento em que o
pesquisador recorre às entrevistas com o intuito de perceber as prováveis
categorias que surgem dos dados e que agrupam representações semelhantes
dos sujeitos participantes da pesquisa.
Em seguida, foi feita a codificação desse material, organizado por meio
de três escolhas, para que a análise quantitativa e das categorias fossem
elencadas. O recorte foi feito a partir do que prevalecia nos discursos dos
sujeitos participantes, no que tange as unidades de registro, ou seja, a
repetição de respostas dadas por sujeitos diferentes foi um fator que classificou
e agregou essas respostas em uma categoria. A abordagem do mesmo tema
feita por sujeitos diferentes também foi um fator considerado para o surgimento
de uma nova categoria (BARDIN, 2010).
Utilizando a regra de recorte temático, foram escolhidos os trechos
significativos do discurso de cada participante, procurando manter seu
contexto. Esses indicadores serviram como o corpus para a elaboração das
unidades de registro ou dos temas eixos, formando as categorias de análise.
Com esses indicadores, foram estabelecidos os temas-eixo, aglutinados
em quatro categorias: processos de formação, contextos de formação, práticas
de formação e variáveis ligadas às práticas profissionais.
A análise dos dados foi realizada em dois momentos distintos.
Primeiramente as entrevistas foram formuladas aos 20 professores,
subdivididos em dois grupos, os recém-ingressados e os mais experientes
atuantes nos contextos das academias de ginástica. Num segundo momento,
com bases nessas entrevistas foram selecionados dois sujeitos participantes
que responderam aos questionamentos feitos durante as entrevistas Esses
sujeitos se enquadraram nos conceitos oriundos do desenvolvimento humano,
fazendo com que a pesquisadora voltasse a campo e, a partir de uma pergunta
disparadora, novas entrevistas fossem realizadas. Desse modo, por meio das
narrativas orais, chegou-se mais próximo das respostas.
Compreende-se, assim, que nesse cenário é pertinente refletir sobre si
como profissional e como pessoa, pois, quando se trata de formação, são
dados inseparáveis e, diante desse contexto estudado, as narrativas orais
podem auxiliar na identificação dos novos sentidos que esses profissionais
atribuem ao seu pensar, fazer e sentir.
Assim, buscou-se, com essa metodologia, uma ferramenta valiosa que
fornecesse dados, não só sobre a vida profissional do sujeito participante, mas
também, a partir da análise da história de vida, sobre a compreensão do
porquê das escolhas profissionais do sujeito.
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS
A amostra foi constituída por profissionais da área da Educação Física
que atuam no mercado das academias de ginástica. Os sujeitos foram divididos
em dois grupos, de acordo com o tempo de atuação nesse mercado: o grupo
dos recém-ingressados e o dos experientes. O primeiro grupo foi formado em
sua maioria por homens (70%), com média de idade de 24,8±2,7 anos e
atuando há 2±0,7 anos. Contrariamente, no grupo dos mais experientes foram
as mulheres a maioria (70%), com média de idade de 37,5±6,3 anos, atuantes
há 17±5,5 anos nas academias de ginástica.
As unidades de registro apresentadas como as mais elucidadas na
pesquisa serviram como norte para conduzir as discussões. Entende-se que,
no discurso dos participantes, as unidades de registro ou seus temas eixo
estão intrinsecamente relacionadas ao tema da pesquisa. Em todos os
momentos, nas inúmeras vezes em que se observaram as entrevistas,
aspectos comuns à formação da pesquisadora foram contestados, e isso, de
certa forma, facilitou a busca por uma compreensão dos significados das
questões mencionadas pelo professor sujeito desta pesquisa. Tentou-se
respeitar a diferença entre os dois grupos pesquisados: o primeiro, pela falta de
experiência no trabalho de modo geral; e o segundo, algumas vezes, pela falta
do conhecimento. Ponderou-se sempre que, para este último grupo, a pesquisa
pode trazer contribuições para melhoria de sua práxis.
CATEGORIA 1- PROCESSOS DE FORMAÇÃO
Ao se analisar o porquê de os professores participantes da pesquisa
terem optado por fazer a graduação em Educação Física, constata-se sua
identificação com os esportes desde a infância e no período escolar, e o
incentivo dos pais e parentes próximos, quanto à prática da atividade física.
Isso leva a refletir sobre o papel dos pais e educadores no desenvolvimento
dos jovens filhos-alunos.
Corroborando os dados encontrados nesta pesquisa, Silva e Carneiro
(2006) demonstram que a maioria dos alunos ingressantes mencionou ter
escolhido Educação Física por iniciativa própria, sem influência direta de outras
pessoas. Daqueles que relataram alguma influência, a maioria citou os pais
como os principais estímulos para escolha do curso. Nesse mesmo estudo
constatou-se que os alunos optaram por ingressar na graduação em Educação
Física devido ao fato de já participarem ativamente de atividades físicas. Já
tinham envolvimento com a área e um bom desempenho nos esportes.
Como: Bom, durante 17 anos passei por diversos estilos de artes marciais, fui atleta e sempre incentivado a fazer esporte. (professor, 1 – recém-ingressante).
Inicialmente porque eu me identificava com a profissão, eu adorava fazer esportes no colégio (professor.7 – recém-ingressante).
Foi a área que eu mais me identifiquei, sempre fiz esportes e é uma área que se preocupa com o bem-estar das pessoas e eu to gostando muito da minha escolha (professor. 8 – recém-ingressante).
A Figura 1 reforça a relação que os professores relataram com a
identificação com os esportes como causa que os motivaram a atuar no
contexto das academias de ginástica como processo de formação.
Figura 1. Motivação para atuar na academia de ginástica: identificação com os
esportes de professores recém-ingressantes e experientes. Resultados expressos em
quantidade de indivíduos que responderam positivamente à categoria
Depois de estudar a teoria bioecológica do desenvolvimento humano,
mais especificamente para o contexto de formação do indivíduo, é possível
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afirmar, segundo Bronfenbrenner (2002), que o ambiente em que o indivíduo se
insere é responsável pelo seu desenvolvimento. Pode ser a casa, a sala de
aula, ou a academia de ginástica, que os professores pesquisados muitas
vezes frequentaram desde crianças. Assim, esse ambiente específico pode ter
influenciado sua escolha de atuação profissional. Isso pode ser evidenciada
nas seguintes falas:
[a escolha] a princípio foi poder incentivar as pessoas a cuidar melhor da saúde, ter um melhor desempenho de vida, de qualidade de vida... (professor 1 - experiente).
[...] eu nasci sabendo que seria uma professora de Educação Física, primeiro porque eu sempre amei esportes, só que assim eu gostava de dar aulas, de ensinar... (professor. 9 - experiente).
Eu sempre gostei muito de esporte, tem uma tia minha que é professora de Educação Física, então ela me incentivou muito nessa área (professor 2 - experiente).
Os acontecimentos responsáveis por influenciarem o desenvolvimento
humano de um indivíduo derivam-se quase que invariavelmente das
expectativas de comportamentos associados a determinadas posições na
sociedade. Esses papéis alteram a maneira pela qual a pessoa é tratada, o
modo como age, o que faz, e, inclusive, o que pensa e sente
(BRONFENBRENNER, 2002).
O percurso profissional sustenta-se em dois planos de análise: o
desenvolvimento profissional e a construção da identidade profissional. Esse
mesmo percurso é o resultado da ação conjunta de três processos de
desenvolvimento: o processo de crescimento pessoal, o processo de aquisição
de competências e eficácias no ensino e o processo de socialização
profissional (GONÇALVES, 2000).
Corroborando esses processos, aponta-se, nesta pesquisa, que os
indivíduos foram de certa forma influenciados pelo contexto das academias,
quando de sua escolha profissional.
Uma característica da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano
Destacada por Bronfenbrenner (2011) é a existência de conexões entre
pessoas no contexto. São conexões formuladas em termos, nem tanto de
sentimentos interpessoais, mas de convivência entre várias pessoas que
ocupam o mesmo ambiente. Elas realizam tarefas comuns e se caracterizam
por estarem inseridas no mesossistema, que engloba as relações entre dois ou
mais ambientes dos quais a pessoa em desenvolvimento participa ativamente.
Carreiro da Costa et al (1996), em seus estudos, observam que o aluno,
ao ingressar nos cursos de Educação Física, encontra reduzido conflito de
interesses quanto ao quadro curricular, principalmente devido à aprendizagem
motora vivida dentro e fora do contexto da escola. Tal aprendizagem é
fundamental para sua escolha e continuidade na formação. Assim, as
experiências motoras sociais prévias e na graduação influenciam e modelam o
perfil do recém-ingressado no curso.
[...] a professora era muito boa, e depois na faculdade eu vi que era algo mais sério e mais interessante e comecei a gostar ainda mais (professor 7 - recém ingressante).
Pesquisadora: Então você teve o exemplo de uma boa professora, isso fez com que você se interessasse pela área? Sim, isso mesmo (professor 10 – recém-ingressante)
[...] o meu contexto foi muito é... (pausa) muito particular de uma professora que eu admirava de uma academia (professor 1 - experiente) (Figura 2).
Figura 2. Motivação dos profissionais recém-ingressantes e experientes para atuar na
academia de ginástica: exemplos de bons professores. Resultados expressos em
quantidade de indivíduos que responderam positivamente à categoria.
Ao citarem os exemplos dos bons professores que tiveram ao longo das suas
vidas nas escolas, ou mesmo nas academias de ginástica, supunham que
esses bons professores que atuavam nas academias de ginástica de certa
forma foram responsáveis pela sua escolha, pois a maior parte dos sujeitos
teve contato com esses contextos ainda muito jovens.
Isso evidencia que o professor que é visto como modelo a ser seguido e
como profissional competente contribui para a formação de novos professores
mais humanizados. Na trajetória dos professores pesquisados, fica claro o
processo de construção de significados que partiram da interação com o outro
(ser social), de sua inserção na cultura, no ambiente, o que permitiu ao
professor fazer parte da história desses sujeitos.
Ao considerar os fatores de influência da profissão docente, Goodson
(2000) argumenta que uma característica frequentemente observada nas
narrativas é o aparecimento de um professor preferido, o qual influenciou
significativamente o docente durante seu tempo de estudante.
Diferenciando-se dessa constatação, no estudo realizado com alunos
ingressantes no curso de Educação Física, Botti; Mezzaroba (2007)
encontraram que a única influência de escolha pelo curso não considerada
pelos investigados foi a relação com os seus professores de Educação Física.
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Para os autores, este é um registro preocupante e que gera inúmeras reflexões
e dúvidas sobre o papel desse profissional em qualquer contexto de sua
intervenção.
Observando a prática docente, Schön (1998), com base em estudos de
Dewey (1952), realizou atividades relacionadas a reformas curriculares,
propondo que a formação dos profissionais não mais se dê nos moldes de um
currículo normativo que primeiro apresenta a ciência, depois a sua aplicação e
por último um estágio que supõe a aplicação, pelos alunos, dos conhecimentos
técnico-profissionais (PIMENTA; GHEDIN, 2002).
Corroborando essa discussão, a construção da identidade do indivíduo
se dá pelas relações que ele estabelece com seu meio social.
A experiência que obtive na vida escolar, a identificação com a área desportiva, de treinamento, que eu me identifiquei bastante, queria me aprofundar mais nessa área (professor 2- recém ingressante).
Bom, eu sempre gostei de esporte, sempre fiz atividades físicas, as aulas de Educação Física no colégio, era uma das que eu não faltava (professor 3- experiente).
Como cita Ciampa (1987, apud COUTINHO; KRAWULSKI; SOARES
2007), a relação com o outro acontece, pois as identidades de ambos,
professores e alunos, refletem-se como espelhos. Essa troca pode ser
considerada como uma forma dialética entre indivíduo e o ambiente, como
ambos se identificam e como a transformação acontece, reproduzindo
ativamente a experiência social desses indivíduos.
O conceito de bom professor é associado a uma situação histórica, com
implicações sociológicas, culturais e políticas. Essa situação, apresentada pela
sua forma de ser, individual e profissionalmente, inclui certas obliquidades
provenientes das características psicológicas e sociológicas. Contudo, é no
cotidiano que se estabelecem os valores dos alunos e o ‘bom’ está relacionado
ao correto, ao eficiente, à satisfação do aluno por aquilo que o professor
transmite. Sendo assim, a qualidade de ‘ser bom’ está numa sucessão de fatos
intrinsecamente relacionados à competência, à destreza, à habilidade, entre
outras características reservadas ao docente. (PEREIRA; GARCIA, 1996).
Para Luckesi (1992), os alunos são os melhores indivíduos e os mais
capazes de opinar a respeito dos seus professores. São eles que podem dar
reais e fiéis informações a respeito das práticas cotidianas dos seus mestres,
pois eles as vivenciam em sua plenitude.
Quando está em um determinado contexto, o indivíduo apropria-se da
cultura desse ambiente a partir das relações que são estabelecidas. Com base
em Vygotsky (2002), é possível afirmar que, desde que o ser humano nasce,
seus gestos são significados pelo outro. Ele é sujeito histórico, projeto humano
em construção e depende dos outros para ser tornar humano. Não há como
fugir da premissa de que marca e é marcado, transforma e é transformado pela
cultura, na interação com o meio físico e social. Por meio das relações com o
outro, os indivíduos vão internalizando/apropriando-se da cultura, em
permanentes atos de significação.
Segundo Vygotsky (2002, p.75), é possível caracterizar o que ele chama
de processo de internalização, justificando-se, assim, uma série de
transformações:
Um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro, entre pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da criança (intrapsicológica). Isso se aplica igualmente para a atenção voluntária, para a memória lógica e para a formação de conceitos. Todas as funções superiores originam-se das relações reais entre indivíduos humanos.
Bons professores de Educação Física atuantes nas academias de
ginástica não ensinam somente exercícios em aulas coreografadas, ou em
aparelhos de última geração. Também orientam seus alunos sobre aspectos do
desenvolvimento humano, quando se referem às atitudes que devem ser
tomadas em relação ao próprio bem-estar físico e mental, à importância de
cuidar melhor da sua saúde, da alimentação. De alguma maneira, induzem os
alunos a levarem uma vida ativa e saudável e, principalmente, mostram que,
por meio do exercício físico inúmeros fatores de risco para a saúde podem ser
amenizados. Ou seja: o professor, além de ser um expert em sua área de
atuação, preocupa-se com o desenvolvimento global do seu aluno.
CATEGORIA 2- CONTEXTOS DE FORMAÇÃO
A discussão sobre a questão referente ao lugar específico – academia
de ginástica – onde atuam os professores objeto desta investigação, considera
que a identificação é o ponto mais conciso das análises, pois leva à reflexão de
que o perfil do profissional que conclui o curso de Educação Física vem sendo
mudado, e de que o ambiente modifica o comportamento do sujeito que nele
está inserido.
Com o espaço de intervenção ampliado, o profissional de Educação
Física passa a ser caracterizado como um profissional liberal, que sofre
influências e que influencia diretamente o mercado de trabalho, buscando
assegurar o seu espaço, tanto no mercado formal como no informal,
enfrentando fortes pressões de concorrência e competição. Assim, o
diagnóstico do mercado de trabalho indica profundas mudanças na área.
Entende-se que a profissão e o profissional de Educação Física estão em plena
fase de transformação de atuação e formação profissional (OLIVEIRA, 2000).
Ah, bom, na academia de ginástica é que eu gosto de trabalhar... (professor 4- recém-ingressante).
Quando eu entrei na faculdade, eu já entrei com a ideia de trabalhar com musculação [...] foi desde o começo que quis atuar nesse contexto (professor 5 - recém ingressante).
Acredito que lidar com pessoas adultas é mais fácil do que lidar com crianças dentro das escolas, por isso eu decidi ficar nas academias de ginástica (professor 7 - recém ingressante).
Os professores pesquisados relataram que vivenciaram desde muito
cedo o ambiente das academias de ginástica. Assim, a identificação com o
ambiente, enquanto contexto de formação, foi determinante na escolha da
atuação profissional (Figura 3).
De acordo com Nascimento (2002), estudos apontam como principais
tendências no mercado de trabalho em Educação Física a redução progressiva
de postos de trabalho nos campos considerados mais tradicionais, como
escolas e clubes, e o aumento crescente de postos de trabalho junto a outras
instituições não tradicionais, como empresas, hospitais etc., no âmbito
municipal e privado. Acredita-se que no futuro serão equilibrados os números
de profissionais do campo educativo e dos campos municipais.
Figura 3. A identificação e influência do ambiente das academias de ginástica como contexto de formação de professores recém-ingressantes e experientes. Resultados expressos em quantidade de indivíduos que responderam positivamente à categoria
Bronfenbrenner (2002) enfatiza a importância crucial de estudos sobre
ambientes de interação, para que se possam abandonar descrições
particularísticas e processos sem conteúdo. Isso porque o desenvolvimento da
pessoa é profundamente afetado pelo ambiente em que ela transita.
Do longo do ciclo de vida, o desenvolvimento humano ocorre por meio de processos de interação recíproca, progressivamente mais complexos entre um organismo humano biopsicológico em atividade e as pessoas, objetos e símbolos existentes no seu ambiente externo imediato (BRONFENBRENNER, 2011, p. 46)
O ambiente, de acordo com a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento
Humano, difere da teoria anterior (Teoria Ecológica), não apenas em
abrangência, mas também em conteúdo e estrutura. A orientação ecológica
levantava e traduzia em termos operacionais a posição da teoria encontrada
nos estudos sobre a ciência social, mas não contemplava o ambiente do
indivíduo. Esse ambiente é um dos responsáveis pelo comportamento e
desenvolvimento do indivíduo, e também deve ser associado à maneira como a
pessoa percebe e se relaciona com o próprio ambiente e com as pessoas
(BRONFENBRENNER, 2002).
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Esses padrões duradouros de interação no contexto imediato são denominados como processos proximais. Exemplos de padrões duradouros de processo proximal são encontrados no aqui e agora na amamentação ou conforto do bebê; nas brincadeiras com uma criança pequena; nas atividades entre crianças; no grupo ou na ação solitária; na leitura; na aprendizagem de novas habilidades; nas atividades físicas (grifo meu); na solução de problemas, no cuidado de pessoas doentes; na elaboração de planos; na execução de tarefas complexas e na aquisição de conhecimentos (BRONFENBRENNER, 2011, p. 46).
Reconhecendo-se as interações que seguem, é possível observar que,
tanto o professor recém-ingressante, como o mais experiente, no contexto das
academias de ginástica, dentro da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento
Humano, estão intrinsecamente ligados ao macrossistema (academias de
ginástica), que engloba valores e crenças de uma cultura ou subcultura
envoltos em um corpo de conhecimentos, costumes, estilos de vida, estrutura
de oportunidades, obstáculos e opções de trabalho no curso de vida (DESSEN;
COSTA JUNIOR, 2005).
Soeiro (2006) identificou em sua pesquisa que a academia foi o local
que ofereceu maior oportunidade de emprego para os recém-formados (as
vagas foram distribuídas de forma equilibrada entre bacharéis e licenciados),
seguido do campo escolar. O mercado de trabalho é regido pela cultura vigente
e atualmente a sociedade valoriza a questão do corpo e da saúde, o que
garante o acesso dos profissionais de Educação Física à atuação específica
nesse âmbito.
[...] Trabalhei no começo com como estagiário em diversas áreas, o que me levou a ter um amplo conhecimento (professor 1 – recém- ingressante). (Figura 4).
Foi a oportunidade que apareceu para mim e acabei me identificando com a área de academia de ginástica (professor. 2 – recém-ingressante).
[...] Porque daí eu comecei na faculdade e já começou a surgir oportunidade na própria academia (professor 8 - experiente).
Práticas de formação que tomem como referência as dimensões
coletivas contribuem para a emancipação profissional e para a consolidação de
uma profissão que pretende ser autônoma na produção de seus saberes e dos
seus valores (NÓVOA,1995; IMBERNÓN, 2001).
O professor/profissional exerce sua profissão e precisa combinar
sistematicamente elementos teóricos com as situações vivenciadas na prática.
Assim, sua atuação é mais do que conceber a prática de ensino e o estágio
como ingrediente da atividade formadora; trata-se de colocar a prática como
uma das características centrais da formação do professor (LIBÂNEO, 1998).
Figura 4. Estágio como contexto de formação de professores recém-ingressantes no contexto das academias de ginástica. Resultados expressos em quantidade de indivíduos que responderam positivamente à categoria.
A pessoa na Teoria estudada tem características idiossincráticas, o que
é atributo dela, tais como suas crenças, seus valores e seu estilo de vida, que
influenciam suas opções nos contextos de atuação. Existem três elementos
que compõem e evidenciam essas influências e que são responsáveis também
pelo seu desenvolvimento, dando-lhe consistência e forma, alterando a direção
e o poder dos processos proximais e sua interação com o ambiente (DESSEN;
COSTA JUNIOR, 2005).
[...] a minha mãe desde cedo já me colocou para procurar uma atividade física que me trouxesse um retorno, para melhorar meu condicionamento, para emagrecer porque eu era muito gordinho quando criança (professor recém ingressante - narrativa oral). [...] bom eu desde pequena e outro através de uma foto, até foi surpreendente eu me vi como organizadora de um evento dentro da escola e quando eu olhei aquela eu foto eu disse: Meu Deus quantos anos eu tinha para a professora de Educação Física já me dar essa responsabilidade (professor experiente- narrativa oral).
Segundo Dessen e Costa Junior (2005), os elementos que alteram o
curso de vida dos indivíduos são: as acomodações, que retratam o conjunto
dos processos proximais no âmbito do domínio particular do desenvolvimento,
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e que permitem a continuidade das operações dos referidos processos; os
recursos bioecológicos, que envolvem as habilidades, experiências,
conhecimentos e capacidades essenciais para que os processos proximais
funcionem em cada estágio de desenvolvimento; as ações, que podem
estimular ou inibir as reações referentes ao ambiente social imediato.
Essas novas reformulações da noção de pessoa, com suas características moldando seu desenvolvimento futuro, expandem e se integram à conceituação original de ambiente, o que implica olhar a pessoa sob a ótica de sistemas que se acomodam e se ajustam, do micro ao macrossistema (DESSEN; COSTA JUNIOR, 2005, p. 82).
O processo inicial, relacionado na Teoria Bioecológica, pode ser descrito
pela unidade mais básica de análise, a díade entre a relação professor/aluno.
Assim, a díade estabelecida no contexto das academias de ginástica
caracteriza-se pelas relações recíprocas entre os indivíduos que ali convivem.
Citando Bronfrenbrenner (2002, p.6), “[...] a partir de dados diádicos
parece que, se um dos membros do par passa por um processo de
desenvolvimento, o outro também passa”, o que caracteriza os processos
desenvolvimentais que ocorrem em determinados contextos.
A importância desenvolvimental das transições ecológicas deriva-se do fato de que elas quase invariavelmente envolveram uma mudança de papel, isto é, das expectativas de comportamentos associados a determinadas posições na sociedade. Os papéis têm um poder mágico de alterar a maneira pela qual a pessoa é tratada, como ela age, o que ela faz, e inclusive o que ela pensa (...). Os eventos desenvolvimentais que são mais imediatos e potentes como influência no desenvolvimento de uma pessoa são as atividades que outras pessoas realizam com ela ou na sua presença. O ativo envolvimento ou a mera exposição àquilo que os outros estão fazendo geralmente inspira a pessoa a realizar atividades semelhantes sozinhas (BRONFENBRENNER, 2002, p. 7).
CATEGORIA 3- PRÁTICAS DE FORMAÇÃO
Atualmente a formação de professores, na maioria dos cursos de
graduação, transcorre de maneira prática e, na área da Educação Física, isso
acontece com maior frequência, uma vez que os conteúdos e habilidades
oferecidos nos cursos de graduação acabam priorizando esses conhecimentos.
Tais conceitos são importantes para o saber-fazer do profissional dessa área,
transmitindo-lhe a formação técnica de como executar os procedimentos que
irá trabalhar ao longo da sua carreira, e capacitando-o a atuar em variados
contextos. Entretanto, esse cenário vem sendo alterado gradativamente, em
defesa de uma formação mais humanitária-biológica do que tecnicista
(DARIDO, 2005).
A partir dos relatos obtidos pelos professores participantes da pesquisa,
percebe-se que a formação inicial não é suficiente, mas é o início do processo
de formação que acompanhará sua trajetória. Observa-se, nas entrevistas,
preocupação com a formação continuada, com a realização de cursos extras
curriculares que poderão aprimorar suas práxis, fazendo com que produzam
seus próprios conceitos e opiniões e não se acomodem, trabalhando com os
mesmos conteúdos durante vários anos.
Conforme Tardif (2002), o saber docente é plural e profundamente
social, uma vez que, além de estar ancorado na individualidade, é sempre
ligado ao trabalho, ao ensino, à instituição e à sociedade. Sendo assim, a
formação profissional constitui uma sólida instância de composição de saberes,
em que as questões socioculturais devem ser amplamente debatidas.
Corroborando com essa característica da formação profissional:
O desenvolvimento profissional dos professores é objetivo de propostas educacionais que valorizam a sua formação não mais baseada na racionalidade técnica, que os considera meros executores de decisões alheias, mas em uma perspectiva que reconhece sua capacidade de decidir. Ao confrontar suas ações cotidianas com as produções teóricas, é necessário rever as práticas e as teorias que as informam, pesquisar a prática e produzir novos conhecimentos para a teoria e para a prática de ensinar. Assim, as transformações das práticas docentes só se efetivarão se o professor ampliar sua consciência sobre a própria prática (...) o que pressupõe os conhecimentos teóricos e críticos da realidade (Pimenta, Anastasiou, 2002, p. 13).
Nas falas fica evidenciado tal aspecto das práticas de formação:
Também foram diversos cursos, e hoje já estou concluindo a pós-graduação, um curso de um ano e meio de extensão na área da Preparação Física (professor 1-recém ingressante). Nossa, eu fiz muitos cursos na área da ginástica, agora estou fazendo pós graduação em Treinamento Desportivo e quero fazer mais cursos ainda (professor 5- recém ingressante). Tenho duas pós-graduações, trabalhei com a parte de personal trainer e agora estou fazendo um curso de biomecânica (professor 3- experiente).
[...] fiz vários cursos pequenos extracurriculares, fiz uma especialização em Fisiologia do Exercício, fiz mestrado em Ciências Biológicas e agora estou começando outra pós em Marketing Esportivo (professor 4- experiente).
É interessante observar que, na busca por formação continuada, tanto o
professor recém-ingressante quanto o mais experiente mencionam que ela é
importante em sua prática profissional. Entretanto, considerando o tempo de
formação e a procura por especialização, observa-se que, proporcionalmente,
os mais experientes sempre procuraram cursos de curta duração, enquanto o
recém-ingressantes optam por cursos de especialização lato sensu (Figura 5).
Tal fato pode estar atrelado à necessidade mercadológica, uma vez que no
passado o mais importante era a experiência e, atualmente, a formação
continuada é mais valorizada no currículo do profissional.
Figura 5. Relação cursos de curta e média duração na formação continuada de
professores recém-ingressantes e experientes atuantes no contexto das academias de
ginástica.
As trajetórias e ciclos de vida no desenvolvimento dos indivíduos
acontecem a partir das interações e eventos abordados em determinados
contextos. É nesses ambientes que a história pessoal vai sendo construída e
remodelada. Essa trajetória forma-se com base nos elos comportamentais
estabelecidos entre um período antecedente e outro consequente; assim, os
relatos acima reproduzidos demonstram a importância dada pelos professores
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Pós-graduação Cursos de Extensão
Formação Continuada
Recém-Ingressantes Experientes
Nú
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os
(sujeitos) quando afirmam a necessidade da formação continuada, iniciada
ainda enquanto estavam na universidade (DESSEN; COSTA JUNIOR, 2005).
Para que isso ocorra, é necessário que o professor perceba o que está
além das suas perspectivas, que reflita de maneira crítica, para descobrir o seu
verdadeiro papel no contexto em que deseja atuar. Freire (1996, p. 43) observa
que “[...] é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode
melhorar a próxima prática”.
A afirmação questionável é que, quando o professor inicia o processo
reflexivo de suas práticas, ele tem ciência da importância da formação
continuada para a proliferação dos seus saberes, tornando-se o próprio
responsável por estar devidamente preparado para tomar decisões e enfrentar
os desafios da profissão docente. Para complementação dessas afirmações,
veja-se o que afirma Schön (2000, p. 15):
A racionalidade técnica diz que os profissionais são aqueles que solucionam problemas instrumentais, selecionando os meios técnicos mais apropriados para propósitos específicos. Profissionais rigorosos solucionam problemas instrumentais claros, através da aplicação da teoria e da técnica derivadas de conhecimento sistemático, de preferência científico.
O mercado de trabalho, de um modo geral, vem sofrendo modificações.
Surgem modernas e distintas ocupações, e exigem-se do profissional:
qualificação, atualização de conhecimentos, aptidões diversificadas e
capacitação de qualidade nos serviços prestados à população. Nesse sentido,
as academias de ginástica e os professores atuantes nesse setor necessitam
aprimoramento contínuo e ininterrupto. Isso porque a proliferação de estruturas
de prestação de serviços esportivos, em especial as academias de ginástica
particulares, e a diversidade de práticas oferecidas à população transformam
constantemente o espaço de intervenção do professor de Educação Física,
impondo-lhe conhecimentos diferenciados para poder atuar de modo
competitivo no mercado de trabalho (NASCIMENTO, 2002).
As afirmações dos sujeitos da pesquisa demonstram essa necessidade
de aprimoramento e atualização:
Nossa, eu procurei vários cursos, porque eu não tive nada disso na faculdade, como eu fiz há muito tempo atrás, hoje em dia eu sei que tem uma disciplina de ginástica de academia, na minha época não tinha (professor 5- experiente).
Ah, eu sempre fiz os congressos fora do estado, os cursos de extensão universitária, só mesmo a faculdade não supriu as minhas necessidades de atuar nesse contexto (professor 6- experiente).
[...] principalmente na minha época não tinha nada muito voltado para a ginástica, era uma coisa muito antiga, então fui buscar cursos fora de ginástica (professor 7- experiente).
Como a profissão e o mercado de atuação desse profissional se
transformam de acordo com as características e necessidades da sociedade, a
preocupação com a formação continuada, as disciplinas curriculares e a
separação em cursos de bacharelado e licenciatura estão em questão.
De acordo com Souza Neto (2004), a formação do professor generalista
formado em uma perspectiva humanística, por exemplo, a licenciatura plena
em Educação Física, torna-o apto a atuar, tanto em ambientes educacionais,
como nos não educacionais. Já ao especialista formado como bacharel,
caberia a atuação em um ramo específico da área, particularmente dentro de
um conceito mais pragmático e técnico de formação, como nas academias de
ginástica.
O fato é que apenas uma pequena parcela de recém-ingressantes é
sensível e se interessa pela perspectiva de uma Educação Física apresentada
à população com seus aspectos biopsicológicos, ou seja, uma área de atuação
para a melhoria global do indivíduo. Os relatos que seguem demonstram esse
aspecto:
[...] a parte positiva acho que desde o momento que você acorda, estando numa área prazerosa, fazendo o que a gente gosta vem para o trabalho mais feliz, mais consciente (professor recém ingressante narrativa oral).
Melhorando a qualidade de vida, ela vai melhorando seu próprio desempenho não é só na academia, mas na vida pessoal (professor recém ingressante narrativa oral).
[...] eu tenho uma turma que cheguei a trabalhar com Educação Física Escolar dentro da academia, ai a gente busca desde outras disciplinas, matemática, português, história para elaborar as atividades (professor 9- recém ingressante).
A maioria dos professores participantes deste estudo, recém-
ingressados no mercado de trabalho, teve seus currículos direcionados à
formação de bacharel; já os mais experientes tiveram sua formação voltada
para a licenciatura. Tal fato pode ser comprovado nos depoimentos de alguns
deles, que relatam que as disciplinas utilizadas para atuação no contexto das
academias de ginástica não faziam parte da grade curricular de sua formação.
Assim, o desejo de trabalhar junto às academias de ginástica fez com
que esses profissionais atuantes há mais tempo buscassem formação
continuada e diferenciada.
A questão curricular tem sido discutida constantemente. Nascimento
(2002) destaca que em ambas as habilitações, bacharelado e licenciatura, o
curso tem presenciado uma diversidade de intervenções de formação, o que
vem gerando contradições, tanto de interpretação acerca das próprias
habilitações, como da formação de profissionais competentes para atuação em
diversos segmentos da área, do ensino formal da disciplina de educação física
às áreas não-formais.
A preparação do profissional em Educação Física passou por mudanças,
propondo-se a ele o desenvolvimento de conceitos e atitudes junto aos
procedimentos adotados e criados nas aulas. Nas academias de ginástica,
esse profissional é responsável pela elaboração das aulas, pela motivação e
satisfação dos seus alunos e pela consecução de seus objetivos.
As características inerentes ao professor, como o carisma, a amplitude
dos conceitos e procedimentos adotados durante a aula, fazem com que os
alunos reflitam e entendam os significados de tais procedimentos, salientando,
não só os aspectos físicos, mas também os benefícios que a prática bem
orientada traz aos indivíduos.
A atuação desse profissional está em pleno desenvolvimento, e o
espaço de trabalho, em ampla expansão. Com isso, o conhecimento científico
é cada vez mais necessário para o exercício da profissão, e a preocupação
com a produção de conhecimentos aplicados e direcionados para o professor
que atua nesse segmento vem crescendo a cada ano. A proliferação das
academias de ginástica e musculação é fenômeno mundial, e representa
significativamente uma parcela empregadora dos professores. Portanto, torna-
se necessário melhor conhecimento e aprimoramento nesse setor, bem como
experiência para atuar nesse mercado.
Num primeiro momento da pesquisa, quando foi realizada a análise da
questão quatro, “Além do contexto da academia, você atua em outro local de
trabalho?”, os professores recém-ingressados, bem como aqueles com mais de
dez anos de atuação, pela primeira vez associaram a mesma fala que está
diretamente ligada a essa categoria. Após ouvir as entrevistas, foi possível
reunir as respostas, que eram muito semelhantes. Quando eles citaram a
atuação em outro contexto de trabalho, embora para eles seja um contexto
localizado fora das academias, a atuação estava sempre relacionada à
atividade física, como personal trainer, modalidades realizadas na água e
outras ocupações em ambientes intrinsecamente ligados à saúde.
Sim, fora da academia de ginástica, hoje eu atuo com preparação física de esportes, como o basquete, artes marciais, corrida, mountain bike, triátlon entre outros (professor 1- recém ingressante).
Atuo, atualmente, eu atuo como personal trainer, e também com avaliação física e ginástica laboral (professor 3 - recém ingressante).
Estou trabalhando também, indiretamente, na área da Educação Física, trabalho como guarda-vidas no Sesc, e com algumas aulas de natação também (professor 2 - recém ingressante).
É hoje em dia eu atuo como personal, e ainda dou algumas poucas aulas em uma academia (professor, 1- experiente).
Atuo em uma escola e tenho um grupo de corridas (professor 5- experiente).
Atuo sim, eu trabalho na área administrativa da academia e ministro cursos de ginástica, alongamentos, enfim tudo relacionado à academia (professor 9 - experiente).
Essa identificação implica, no que diz respeito à perspectiva individual e
à constituição da representação de si e da autoestima do indivíduo do ponto de
vista social e do quanto ele pertence àquele grupo, melhor desempenho de seu
papel e de suas representações, dentre as quais está incluída a profissão.
Sendo assim, os processos psicossociais que o indivíduo desenvolve ao longo
da vida, como pessoa inserida numa sociedade, são indissociáveis e
constituem a identidade pessoal e profissional de cada um (COUTINHO,
KRAWULSKI e PENNA SOARES, 2007).
De acordo com Moita (1992), a identidade pessoal é um sistema de
múltiplas identidades e encontra a sua riqueza na organização dinâmica dessa
diversidade. Remete para a percepção subjetiva que um sujeito tem da sua
individualidade, e inclui noções como consciência de si, definição de si.
O mesmo autor observa que a identidade profissional dos professores
pode ser chamada de uma "montagem compósita". A construção, que tem uma
dimensão espaço-temporal, atravessa a vida profissional desde a fase da
opção pela profissão até a aposentadoria, passando pelo tempo concreto da
formação inicial e pelos diferentes espaços institucionais em que a profissão se
desenrola. É construída sobre saberes científicos e pedagógicos, e também
sobre referências de ordem ética e deontológica. É uma construção que tem a
marca das experiências feitas, das opções tomadas, das práticas
desenvolvidas, das continuidades e descontinuidades, quer quanto às
representações, quer quanto ao trabalho concreto.
O processo de construção de uma identidade profissional própria não é
estranho à função social da profissão, ao estatuto da profissão e do
profissional, à cultura do grupo profissional e ao contexto sociopolítico em que
se desenrola (MOITA, 1992).
Segundo Bronfenbrenner, apud Dessen e Costa Junior (2005, p. 31), o
modelo bioecológico de estudo do Desenvolvimento Humano:
[...] estabelece um novo paradigma teórico e metodológico, concebendo o desenvolvimento humano como fruto das interações bidirecionais entre um indivíduo biopsicologicamente ativo e todo o sistema ecológico humano, que abarca desde contextos mais imediatos (microssistemas), como a família e o ambiente de trabalho, além das relações estabelecidas entre eles (mesossistemas), até aqueles mais amplos (exossistemas e macrossistemas), como a sociedade e a cultura.
O contexto das academias de ginástica representa, na atualidade, o
ambiente em que se praticam atividades físicas, uma vez que o cotidiano impôs
aos indivíduos uma vida pouco saudável e nível elevado de estresse. Isso torna
mais relevante o papel do professor que se insere nesse ambiente. O conceito
de prática de atividade física surge e passa a ser necessidade social, para a
pessoa que deseja uma vida saudável (LEITE NETO, 1994).
O surgimento das academias vem com a proposta de oferecer à
população urbana a possibilidade da prática regular de atividade física que
modela o corpo de acordo com a atual estética exigida socialmente, e também
com a proposta de promover conscientização quanto à saúde e ao cuidado
com o estilo de vida pessoal, com a alimentação, o descanso e a
sociabilização. Com isso, o público e o número de profissionais que atuam
nesse mercado aumentam consideravelmente (VERRY, 1997).
Apropriar-se do local de trabalho e identificar-se com ele é um processo
dinâmico, temporal e particular. É por meio dessa identificação que os
indivíduos se desenvolvem como seres humanos, com sentimentos intensos
pelas qualidades que são inerentes ao local de trabalho. A identificação com
determinado ambiente traz sentimento de pertença, conceito indissociável do
processo de socialização.
De acordo com Valera e Pol (1994, p. 163):
As pessoas e a coletividade necessitam identificar-se com um espaço físico próprio assim como com um grupo que lhes forneça as chaves para criar e compartilhar seu modo de ser. Quer dizer, necessitam de modelos referenciais. O que chamamos cultura – a cultura popular – os valores éticos, estéticos e relacionais compartilhados, estão no mais profundo dos processos psicológicos.
Assim, o profissional de Educação Física que decide atuar de forma
constante nesse ambiente deve tornar-se sujeito desse espaço, apropriando-se
dele, transformando-o em lugar onde possa fazer uso da sua criatividade,
aumentar sua produção de conhecimento e renda, sua espontaneidade e a
expressão da suas emoções, reconhecendo, desse modo, suas similaridades,
identificações e diferenças (PEIRÓ, 1986).
A observação que ajusta essa categoria em particular é a vontade da
maioria dos participantes da pesquisa em atuar como professores particulares,
popularmente chamados aqui no Brasil de personal trainer. Essa ocupação é
orientada por profissionais graduados em Educação Física, que realizam as
aulas em academias de ginástica ou nas residências dos alunos que os
contratam.
Refletindo sobre o conceito da Educação Física e dos profissionais que
a desempenham, é possível afirmar que, tanto no campo científico, como no
pedagógico, é a disciplina que pode ser entendida por meio de termos
“culturalistas”, tema já debatido nas aulas de Educação Física e por
profissionais que a realizam. A ocupação dos professores particulares passa
por esse viés, quando está ligada às tendências da região em que trabalham, à
influência da mídia e aos modismos em geral (BETTI, 1996).
O professor de Educação Física que trabalha com esse segmento de
mercado deve, antes de tudo, gostar de praticar as atividades que irá propor
aos seus alunos/clientes, tornando-se indispensáveis algumas habilidades,
como: resistência muscular, capacidade cardiovascular, dinamismo,
criatividade, capacidade de liderança, carisma, capacidade de ver o indivíduo
como um todo, alteridade, entre outras tantas características peculiares ao
desenvolvimento humano.
Por fim, reconhece-se que a atuação desse professor como prestador de
aulas particulares é uma nova forma de trabalho, por meio da qual ele
desenvolve potencialidades pessoais e profissionais a partir das necessidades
do seu aluno/cliente, necessidades essas oriundas de características
intrínsecas do desenvolvimento humano.
CATEGORIA 4- VARIÁVEIS LIGADAS ÀS PRÁTICAS PROFISSIONAIS
À luz do que foi descrito pelos participantes da pesquisa, foi possível
constatar a preocupação dos profissionais em se envolver com as questões
relativas à saúde do corpo. Tal inquietação faz com que a prestação de
serviços se volte mais para a produtividade profissional em grande escala e ao
excesso do desgaste físico a que o profissional é submetido. Abaixo, alguns
relatos:
[...] pois o medo de lesões e ficar sem trabalhar aumentava a cada dia, hoje estou concluindo minha pós já pensando em diminuir o ritmo e a quantidade de aulas após os 35 anos de idade (professor 1 - recém-ingressante).
Me preocupo porque a gente depende do nosso corpo...eu acho que todo professor deve pensar nisso porque principalmente quem dá aula de ginástica tem um desgaste maior (professor. 6 – recém-ingressante).
Ah eu me preocupo muito eu acho que dou conta por mais uns seis ou sete anos, depois eu vou ter que ir para outra área, eu acho que o físico mesmo é que não vai aguentar (professor 10 - recém-ingressante).
[...] nós não somos atletas, mas temos uma vida competitiva, uma vida que cada dia mais precisa ter condições físicas para a gente poder trabalhar e atuar bem na nossa área (professor 1 - experiente).
[...] mas devido a minha idade eu decidi passá-la (a aula de ginástica) para um professor mais novo, então obviamente a gente tem que pensar no nosso futuro (professor 9 - experiente).
[...] então eu me dedico com muito amor, me dedico com toda a minha garra, porque tem o lado bom e tem o lado difícil que muitas pessoas não sabem, nós que levamos a sério a Educação Física (professor experiente - narrativa oral).
Ao serem questionados sobre a influência do fator idade na prática
profissional, ambos os grupos de professores estudados relataram a
preocupação com a saúde do corpo físico. Tal preocupação está diretamente
associada ao manter-se ativo por período maior de tempo (Figura 6).
Figura 6. Associação entre preocupação com o corpo e contexto de prática profissional relativo à idade de professores recém-ingressantes e experientes atuantes nas academias de ginástica
Outros aspectos relatados nas falas dos sujeitos correspondem ao que é
positivo e negativo na atuação como professor de Educação Física. A
sobrecarga excessiva de aulas desgastantes, as questões relativas à voz, às
disfunções osteoarticulares, entre outras, aparecem nos relatos. Percebe-se
que, em alguns momentos, mesmo que se goste da área de atuação, é
necessário retroceder nas atividades para que a extensão da carreira seja
desempenhada com eficiência e sucesso.
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Em contraste, a experiência pertence à esfera subjetiva dos sentimentos: por exemplo, antecipações, pressentimentos, esperanças, dúvidas ou crenças pessoais. Esses sentimentos surgem também nos primeiros meses de vida, continuando ao longo da vida, sendo caracterizados por estabilidade e mudança (...) Podem também ser vinculados a atividades nas quais o indivíduo se engaje: por exemplo, aquelas que ele mais ou menos gostam de fazer. A característica mais distintiva das qualidades experienciais, no entanto, é que elas são “carregadas emocional e motivacionalmente”, englobando amor e ódio, alegria e tristeza, curiosidade e tédio, desejo e repulsa, costumeiramente, com ambas as polaridades existentes ao mesmo tempo, mas geralmente em graus diferentes (BRONFENBRENNER, 2011 p. 45).
Para a Educação Física existir, é necessário um intermediário humano
(o educador, o professor/profissional) entre o desenvolvimento humano (o
aluno, o atleta ou o cliente) e os estímulos (o exercício, o movimento, os jogos,
o esporte, etc.). Esse intermediário deve provocar o processo de
desenvolvimento total do indivíduo. De acordo com Betti (2004, p.1):
O olhar específico da Educação Física sobre o corpo e a cultura só poderia dar-se nesse espaço de intervenção pedagógica-profissional, repleto de intencionalidades, e que envolve uma inter-relação humana (o profissional/professor e o aluno/atleta/cliente) em um ambiente cultural.
Ao serem questionados sobre o que faziam para garantir um trabalho
eficiente durante suas jornadas semanais, todos os participantes se mostraram
preocupados com o treinamento destinado a eles mesmos, com a alimentação
e com o descanso. Para Mendes et al (2002), os professores consideram o
trabalho fonte de prazer e sustento, bem como de sofrimento, sempre
sugerindo uma contradição à qual todo trabalhador é submetido.
É eu me alimento bem, nas horas vagas eu faço algumas atividades para me manter ativo, mas falta tempo para focar em treinamentos (professor. 2- recém-ingressante).
Com certeza todo mundo tem que se cuidar bem para quando ficar mais velho “ficar inteiro (professor. 4- recém-ingressante).
A parte de dormir, de alimentação que é mais difícil, agora se manter ativo, a gente acaba se mantendo porque você tem que dar aula junto, então você faz junto com seus alunos, agora dormir e a alimentação nem sempre dá para fazer certo (professor. 5- experiente).
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), com o passar
dos anos a saúde passou a ser conceituada como “estado de completo bem-
estar físico, mental e social”. Sendo assim, ela – saúde – pode ser influenciada
por diversos fatores, tanto positiva como negativamente. Nos conceitos de
promoção e prevenção predomina o enfoque comportamental de mudanças de
estilo de vida, sendo a saúde ainda compreendida como ausência de doença.
Diante disso, para que os serviços de saúde promovam a saúde é necessário
que os profissionais compreendam e ampliem sua visão de promoção à saúde,
incluindo-se como atores críticos e participantes do processo de construção e
reformulação desse conceito.
Não é uma condição estática, que existe somente quando não se está
doente, mas processo de aprendizagem, tomada de decisão e ação para a
otimização do bem-estar próprio (HARRIS, 1989, apud DEVIDE, 1996).
Manter-se ativo, alimentado e conciliar o tempo de descanso foram
condições elencadas como as principais para que os aspectos saudáveis do
professor estivessem preservados:
[...] então tudo isso (descanso, alimentação e treino) engloba a nossa saúde no geral...a gente deve dar o exemplo para os nossos alunos que estamos bem, com saúde e com algo de bom para passar para eles (professor experiente- narrativa oral).
[...] a gente acaba se cuidando um pouco mais porque eu acho que a imagem que a gente passa para as pessoas é super importante porque é ruim quando um aluno chega para você querendo cuidar da estética, do visual e vê um professor bem desleixado. É meio complicado (professor recém-ingressante- narrativa oral).
[...] eu tento ter uma boa noite de sono, essa é minha prioridade. Eu tento trabalhar com um nutrólogo para fazer a parte nutricional e eu não quero ter carência de nenhuma vitamina, faço uma alimentação equilibrada (professor 1- experiente).
Entretanto, os pesquisados afirmaram ter dificuldades para associar tais
necessidades com a rotina exaustiva de trabalho por eles desempenhada. Tal
preocupação foi constatada por Palma (2003), em investigação com
professores de Educação Física que atuam em academias de ginástica.
Naquele estudo, foi constatado que os professores trabalham em média 48,6
horas/semana, que realizam esforço físico situado em 14,02, na escala de
percepção de esforço desenvolvida por Borg, e que mais da metade apresenta
queixa de dores relacionadas à ocupação profissional.
Neste estudo, detectou-se que os profissionais entrevistados em algum
momento relataram forte preocupação com o fator idade associado com o
gasto energético durante o trabalho. Porém, devido à preocupação e ao desejo
desses profissionais em desempenhar eficientemente seu papel dentro das
academias de ginástica, é constante a motivação e atenção para se manterem
ativos, realizando dieta equilibrada e saudável, bem como descansando
suficientemente para iniciar nova jornada de trabalho.
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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa leva à reflexão sobre o quanto o desenvolvimento
do indivíduo está intrinsecamente relacionado ao ambiente em que ele decide
atuar e o quanto essa atuação se dá a partir de pressupostos que, na maioria
das vezes, partem de premissas ocorridas no desenvolvimento da criança e do
adolescente.
O referencial teórico estudado demonstra outros caminhos para se
estudar a Educação Física como promotora do Desenvolvimento Humano
Global do individuo. Isso porque foi estudado um referencial não comum aos
autores da área, com observações distintas daquelas das Ciências Sociais. Os
limites desta pesquisa deram-se quando temas não comuns à formação do
profissional de Educação Física foram questionados. Observaram-se avanços
quando esses mesmos profissionais demonstraram interesse em contar sua
própria história e se interessaram de maneira concreta por temas até então
desconhecidos por eles, temas que os fizeram refletir sobre sua prática diária,
por exemplo, a interdisciplinaridade.
A escolha em atuar no contexto das academias de ginástica passa pela
identificação com esse ambiente antes, durante e depois da formação. Antes,
enquanto alunos-clientes desses espaços de prática de atividade física ou
mesmo nas aulas de educação física escolar; quando se identificam com o
contexto academia de ginástica, no estágio ou na continuidade de suas
atividades físicas regulares; e, depois, quando buscam nesse contexto de
formação atingir as metas almejadas pelos alunos – desenvolvimento inter e
intraindivíduo.
As características comuns no tema abordado que fazem parte integrante
da linha de pesquisa adotada foram observadas no contexto estudado,
podendo ser claramente vistas nos micro, meso, eso e macrossitema.
No microssistema, quando o indivíduo entra na academia de ginástica;
no mesossistema, quando as relações interpessoais são estabelecidas nesse
contexto; no esossistema, quando o individuo participa ativamente de eventos
que acontecem nas academias de ginástica; e, no macrossistema, que se
refere a toda a organização em que ele está inserido.
As díades primárias, observacional e de atividade conjunta, que são
fatores preponderantes nesta pesquisa, estão presentes nas inter-relações
estabelecidas entre professor e aluno.
A formação continuada é outro fator a ser estimulado no profissional
atuante nessa área, uma vez que surgem a todo o momento diferentes
modalidades de aulas coreografadas e pré-coreografadas. Cursos de pós-
graduação, extensões universitárias e participação em congressos são bons
exemplos de práticas voltadas para a busca dessa melhoria na atuação
profissional. Isso porque os participantes da pesquisa relataram,
subliminarmente, que no curso de Educação Física as disciplinas que
compuseram a grade curricular e que os habilitaram a atuar nesse contexto
estão aquém do ideal, no que se refere às horas distribuídas nos currículos e
também ao rol dos conteúdos oferecidos.
Os resultados apontaram que os professores de Educação Física que
optaram por trabalhar no mercado das academias de ginástica, em sua
maioria, foram influenciados por bons modelos profissionais e por parentes
próximos. As relações interpessoais que acontecem nesses ambientes também
são determinantes na escolha por esse contexto de atuação.
Por fim, é notória a preocupação com a saúde do corpo físico relativo ao
contexto de prática profissional. A maioria observou a idade como ponto crucial
referente a tal apreensão. Entretanto, a percepção em se manter nesse espaço
de atuação muda conforme a experiência é adquirida. Isto é, para os Recém-
ingressantes, a beleza física parece ser determinante para a continuidade na
academia, enquanto os mais experientes valorizam os anos de prática, o que
faz com que rendam mais sem tanto desgaste.
Diante das observações relatadas pelos professores pesquisados,
considera-se que estudos futuros poderão ser direcionados para análise dos
currículos de Educação Física, no que se refere à interdisciplinaridade na
formação e na atuação dos futuros profissionais, principalmente para aqueles
que intencionam atuar no contexto das academias de ginástica.
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Anexo 1
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário, em uma
pesquisa realizada pela aluna Lucimeire Valério de Matos, matriculada no
Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de
Taubaté. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de
aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em
duas vias. Uma delas é sua, e a outra é do pesquisador responsável. Em caso
de recusa você não será penalizado de forma alguma.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA
Título da Pesquisa: “A Academia de Ginástica como Contexto de Formação do
Profissional de Educação Física”
Pesquisador orientador: Professor Dr. Renato Rocha
Telefone para contato: (12) 00000000 (inclusive ligações a cobrar)
Pesquisador responsável: Lucimeire Valério de Matos
Telefone para contato: (12) 00000000(inclusive ligações a cobrar)
A pesquisa tem como objetivo analisar a trajetória profissional de
professores de Educação Física atuantes no contexto das academias de
ginástica, na cidade de Taubaté-SP, desde que entram no mercado de
trabalho, e após alguns anos de experiência. Essa pesquisa tem características
de um estudo exploratório o que proporciona maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-la mais explícita ou construir hipóteses. O objetivo
principal é o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições.
A pesquisa abordará a investigação científica considerando como esses
indivíduos atuam no contexto de trabalho, no caso, as academias de ginástica;
quais os fatores que os levaram a atuar nesse contexto, bem como
preocupações pertinentes ao seu trabalho, inclusive no que se refere à atuação
de maneira interdisciplinar com as outras áreas da saúde, facilitando sua
promoção.
Os sujeitos entrevistados serão os recém-ingressados nesse mercado
de trabalho e professores que atuam há mais dez anos nesse contexto, com a
intenção de contrapor as respostas obtidas na entrevista semiestruturada a
eles serão esclarecidos a importância e objetivos da pesquisa e então
convidados a participar. O grupo formado irá responder a entrevista (em
anexo), formando assim o grupo de sujeitos que serão avaliados pelas análises
de conteúdo.
A identidade dos professores não será revelada em nenhum momento
da pesquisa, e o material respondido pelos sujeitos será destruído após as
análises. Os resultados da pesquisa estarão à disposição dos interessados
junto ao Programa do Mestrado.
Não haverá nenhuma forma de pagamento aos participantes da
pesquisa que poderão retirar seu termo de consentimento a qualquer momento
sem nenhum prejuízo.
Este estudo permite contribuir para a melhor formação e atuação desses
profissionais e, principalmente, pode conhecer qual a importância dessa
trajetória na vida desses profissionais.
Professora pesquisadora: Lucimeire Valério de Matos
RG: / CPF: / CREF: 006814-G/SP
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO
Eu____________________________________RG_________________
____, abaixo assinado, concordo em participar do estudo como sujeito. Fui
devidamente informado e esclarecido pela pesquisadora Lucimeire Valério de
Matos sobre a pesquisa, e os procedimentos nela envolvidos, assim como
sobre os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-
me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem
nenhum prejuízo a minha pessoa, e que o anonimato das informações por mim
prestadas será assegurado em todas as etapas da pesquisa.
Local e data:
Assinatura do participante:
Apêndice: 1
Roteiro da entrevista semiestruturada:
1-O que o levou a ser professor de Educação Física?
2-Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
3-Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto da academia?
4-Além do contexto da academia, você atua em outro local trabalho?
5-O que você faz para manter-se ativo e “aguentar” a sua própria rotina de
trabalho?
6-Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia? Dê
exemplos de como você faz isso?
7-Você procurou cursos extracurriculares ou a sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Pergunta da narrativa oral: No seu processo de vida como se deu a escolha
pela Educação Física?
Dados sócio-demográficos dos participantes da pesquisa:
1- Idade
2- Gênero
3- Local de formação
4- Tempo de formação
5- Experiência/local de atuação
Apêndice 2:
Transcrição das entrevistas
Transcrição das entrevistas dos professores recém-ingressados.
Professor 1- 2 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Bom, durante 17 anos passei por diversos estilos de artes marciais, fui atleta e
sempre incentivado a fazer esportes, aí tive diversos treinadores que tinham
diversos estilos diferenciados de treinamentos, isso sempre me deixava um
pouco confuso porque cada um tinha seu estilo, seu método particular, e isso
me estimulou a ter mais curiosidade em estudar o corpo humano, os músculos
que nós utilizamos, né, nos movimentos, os próprios movimentos e os
diferentes métodos de treinamentos usados por eles.
2- Quando começou a trabalhar o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Bom, após o teste de aptidão física, tendo como resultado a área de
biociências, prestei o vestibular determinado a ser um professor de Educação
Física (gaguejou... mostrando insegurança), utilizei minha carreira, né, para
conhecer vários estilos de aula, novas pessoas, trabalhei no começo como
estagiário em diversas áreas, o que me levou a ter um amplo conhecimento,
é... trabalhei com natação, com a ginástica, com a musculação, e hoje tomei
um rumo que me levou a trabalhar com a musculação e, praticamente 80% da
minha carga horária, com a ginástica nas academias.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Sim, em 2010, o ano passado, foram mais de 1000 aulas de ginástica, mais de
20 provas de corridas de rua e mountain bike (provas de competição de
bicicletas) e tive que largar alguns esportes que praticava, pois o medo de
lesões e ficar sem trabalhar aumentava a cada dia, hoje estou concluindo
minha pós já pensando em diminuir o ritmo e a quantidade de aulas após os 35
anos de idade.
4- Além do contexto da academia, você trabalha em outro local de
trabalho?
Sim, fora a academia de ginástica, hoje eu atuo com preparação física de
esportes, como o basquete, artes marciais, corrida, mountain bike, triatlon entre
outros.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Bom principalmente ter uma boa alimentação, mesmo com tantas aulas
durante o dia. Fica claro que eu preciso ter um treinamento adequado e busco
sempre isso, descanso em todos os momentos que tenho uma folga, sempre
procuro dormir, ter uma boa noite de sono. Aos finais de semana, hoje já não
trabalho mais, me preocupo um pouco mais com meu lazer, tento trabalhar
sempre com alegria e sempre tendo um gosto pela profissão.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Bom, principalmente respeitando que cada um trabalha na sua área, nunca
tentando invadir o espaço de outros profissionais. Tenho bons profissionais
hoje para ser indicados em caso de urgência, como um bom nutricionista, um
bom ortopedista e um bom fisioterapeuta. Trabalhando em conjunto com esses
profissionais, tenho certeza que todos os meus clientes terão ótimos resultados
no futuro. Pesquisadora: então o exemplo que você usa para fazer isso é a
indicação de outros profissionais? Sim, na verdade eu acho que cada um tem
que ter o respaldo da sua área, não adianta eu como educador físico querer
passar uma receita para emagrecer ou mesmo para ganhar massa muscular,
ou qualquer coisa desse tipo, ou querer tratar uma lesão mesmo nunca tendo
estudado sobre isso.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou a sua formação acadêmica
foi suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Bom, desde 2006, no início da faculdade, da graduação, passei por mais de 10
cursos ministrados pela body systems (sistema de franquias criado na Nova
Zelândia que comercializa programas pré-coreografados de aulas para as
academias), em São Paulo. Na área de ginástica, pela Fepam (Federação
Paulista de Musculação), também foram diversos, e hoje já concluindo a pós-
graduação, um curso de um ano e meio de extensão na área da Preparação
Física.
Professor 2-2 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
A experiência que obtive na vida escolar, a identificação com a área desportiva,
de treinamento, que eu me identifiquei bastante, queria me aprofundar mais
nessa área.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Foi a oportunidade que apareceu para mim e acabei me identificando com
essa área de academias de ginástica.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Ah, pretendo evoluir, fazer pesquisas, me aprofundar e pegar mais experiência
e de uma certa forma, também trabalhar em outros locais de trabalho, não
pretendo ficar só nas academias, pretendo iniciar nas escolas também eu acho
um contexto muito interessante em estar trabalhando.
4- Além do contexto da academia, você trabalha em outro local de
trabalho?
Estou trabalhando também, indiretamente, na área da Educação Física,
trabalho como guarda-vidas no Sesc, e com algumas aulas de natação
também.
5- O que faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Pretendo me alimentar bem, é... Nas horas vagas, faço algumas atividades
para estar me mantendo ativo, mas falta sempre tempo para focar em
treinamentos.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Ah, variando o gênero de cada aluno, você pode estar trabalhando a
interdisciplinaridade, um exemplo assim: Um aluno que tem uma obesidade
mórbida... a gente pode estar trabalhando junto com uma nutricionista, uma
endócrina, para poder estar acompanhando, fazendo um trabalho em conjunto,
para que tenha um resultado mais significativo.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou a sua formação acadêmica
foi suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Ah, realizei cursos de hidroginástica, em academias também como instrutor,
quando tenho tempo faço algumas pesquisas sobre o âmbito meu de atuação
profissional, gosto muito da água e aprendi a gostar durante a faculdade,
pretendo estar fazendo uma pós-graduação futuramente, a formação ali na
graduação é mais um básico, mas quando você sai e vai atuar na área você vê
que é muito pouco, muito vago para você estar atuando de forma bem eficiente
em todos os âmbitos que você deseja trabalhar.
Professor 3-2 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
A princípio era a área de atuação mais fácil para arrumar emprego, mercado de
trabalho facilitado.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Logo que eu entrei na faculdade, eu fui convidado a fazer estágio e eu já
praticava musculação e artes marciais e foi aí que me identifiquei.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Me preocupo sim, no entanto que procuro fazer cursos extras, estudar para
concursos, pois na nossa região é difícil remuneração então a longo prazo
talvez não seja tão satisfatório.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Atuo, atualmente, eu atuo como personal trainer, e também com avaliação
física e ginástica laboral.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Bom, a gente tem que sempre programar alguns horários para estar fazendo,
treinando e fazendo atividades físicas, já que a gente não tem muitos horários
específicos, pois alunos de personal a gente atende desde as 6 da manhã até
à meia-noite trabalhando então a gente tem que programar alguns “horários
chaves” para estar fazendo.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Bom, na academia a interdisciplinaridade seria, por exemplo, a gente estar
atuando com recuperação de alunos lesionados, é estar trabalhando dentro da
Educação Física a recuperação, seria voltado para área da fisioterapia, com a
recomendação do próprio fisioterapeuta ou dos médicos, tem também as
pessoas que vêm das escolas que faz a Educação Física dentro das
academias aí a gente tenta fazer algo que seja melhor para o desenvolvimento
do aluno, e não só o objetivo de ficar forte que é o que eles realmente querem.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Bom, eu tive que realizar outros cursos extracurriculares, já que a própria
faculdade não foi suficiente para atuar na área da academia, os cursos foram,
por exemplo: de anatomia, biomecânica da Fepam (Federação Paulista de
Musculação), cursos de primeiros socorros, fora os cursos para as aulas de
ginástica que tem que fazer em São Paulo, entre outros cursos.
Professor 4-1 ano de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Preconceito. Pesquisadora: como assim preconceito? Contra os gordinhos, os
magrinhos, essas coisas assim.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Ah, bom, na academia de ginástica é que eu gosto de trabalhar...hoje em dia
muitas pessoas falam, só vai para a musculação, para a ginástica, as pessoas
que “aguentam”, e não é bem assim que funciona a parte do fitness.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Com certeza, todo mundo tem que se cuidar bem para quando ficar mais velho
“ficar inteiro”.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não, só academia.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Eu pratico muitos esportes, eu tenho o meu horário para treinar.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Bom, trabalhar de maneira interdisciplinar é trabalhar junto a equipes de outras
áreas, fisioterapia, nutrição, a gente tem os nossos alunos que chegam até a
gente e falam professor quero emagrecer, então a gente encaminha eles para
um nutricionista, o nutricionista encaminha para o esteticista quando a pele
começa a ficar flácida, enfim coisas que sejam eficientes.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Nossa, eu fiz muitos cursos na área da ginástica, agora tô fazendo Pós-
Graduação em Treinamento Desportivo e quero fazer mais cursos ainda, a
minha formação acadêmica foi bastante deficiente para que eu atue nesse
contexto.
Professor 5-2 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Resolvi ser professor porque na época, há uns 10 anos atrás, eu tinha uma
academia junto a minha esposa, e ela era é a responsável pela academia, eu
trabalhava na parte administrativa, fazendo as matrículas, enfim, então fui fazer
um curso no Enaf (Encontro Nacional de Educação Física) para melhorar essa
questão, e lá eu achei interessante, essa movimentação, essa energia dos
cursos, das academias.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Quando eu entrei na faculdade, eu já entrei com a idéia de trabalhar com
musculação, eu sempre treinei, sempre pratiquei esportes, e acreditei que na
musculação eu ia ter uma afinidade maior, foi desde o começo que quis atuar
nesse contexto.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Foi uma... foi um fato que me preocupou bastante quando eu entrei na
faculdade, porque eu já entrei não muito novo, e eu não sabia se, depois de
formado, eu ia ter espaço, justamente por causa da idade, então eu procurei
fazer a faculdade o melhor possível e, graças a Deus, no ano seguinte, após eu
sair da faculdade, eu consegui um emprego e tô até então.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não, só academias mesmo.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Eu procuro todos os dias, quando dá tempo, eu treino, procuro me alimentar
bem, e o descanso não está muito bom, mas eu tento fazer com que ele seja
qualitativo, digamos assim... descanso pouco porque a carga de trabalho é
grande, mas por enquanto é o que da para fazer.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
No momento eu não tenho essa interdisciplinaridade, mas nós já trabalhamos
com alunos pós cirúrgicos que em conjunto fazia um trabalho com fisioterapia,
ah mais ou menos nesse sentido, geralmente é quando a gente trabalha junto
ou com um fisioterapeuta ou com outro profissional da área da saúde.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Na época da faculdade eu fazia cursos, fiz cursos voltados para a musculação,
fiz alguns voltados na área da fisioterapia, e tô fazendo pós-graduação em
treinamento desportivo. A faculdade não foi ineficiente, mas faltou
conhecimentos mais específicos, acho que a faculdade dá uma base para
gente então a gente não pode só se valer dela para poder trabalhar, temos que
estar estudando sempre e se atualizando.
Professora 6 -3 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Ai, meu Deus (muito insegura em responder as questões) eu sempre pratiquei
esportes desde criança, ginástica olímpica, e foi por causa do esporte.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Eu comecei a fazer estágio, tive a oportunidade de fazer esse estágio na
academia, achei até que nunca fosse gostar de trabalhar na academia, achei
que eu fosse mais para a área de esporte, de treinamento, e a partir do estágio
eu gostei de atuar nessa área.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Me preocupo porque a gente depende do nosso corpo né... eu acho que todo
professor deve pensar nisso porque principalmente quem dá aula de ginástica,
tem um desgaste maior e a gente depende do corpo.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não, só como personal.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Eu sou atleta de mountain bike e de corrida de aventura.
6- Para você o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
É a gente tem contato direto e indireto com médicos, fisioterapeutas e, para
mim, trabalho interdisciplinar é assim, várias áreas da saúde atuando junto.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Logo que me formei fiz a especialização em treinamento desportivo e tô
procurando fazer outra pós.
Professora 7-3 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Inicialmente porque eu me identificava com a profissão, eu adorava fazer
esportes no colégio, eu gostava das aulas de Educação Física na escola, a
professora era muito boa, e depois na faculdade eu vi que era algo mais sério e
mais interessante e comecei a gostar ainda mais.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Acredito que é porque lidar com pessoas adultas é mais fácil do que lidar com
crianças dentro das escolas, por isso eu decidi ficar nas academias.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação
no contexto das academias?
Eu deveria me preocupar, mas confesso que se eu me preocupasse de
verdade eu não daria tantas aulas, mas tô me preocupando atualmente e
pensando no futuro trocar da área do fitnees, da ginástica, para uma área de
pilates, algo mais tranquilo.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não só nas academias.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Eu me alimento bem, tento descansar nos períodos de folga, uso das minhas
aulas para fazer meu próprio treino.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Tá, eu tento seguir critérios da época da faculdade que a gente aprendeu, tento
manter a lógica de treino, a metodologia das aulas de ginástica, com uma
sequência correta, dá explicação para os alunos, corrigi-los.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Acredito que a base da faculdade é muito simples e não dá, eu fiz pós-
graduação, fiz curso de ginástica, vários cursos de alongamentos, da body
systems, entre outros eu fiz um geral, para ter uma base de tudo um pouco.
Professor 8 -1 ano de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Foi a área que eu mais me identifiquei, sempre fiz esportes e é uma área que
se preocupa com o bem-estar das pessoas e eu tô gostando muito da minha
escolha.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Então a Educação Física tem várias áreas de atuação e como eu procurava
mais a liberdade de trabalho, com um ambiente mais informal, eu achei nessa
área o meu espaço ideal de trabalho.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
No momento isso não é uma preocupação, mas é algo que a gente tem que ter
em mente, porque como o tempo vai passando, é uma área que está tendo
sempre muitas renovações, a gente tem que estar sempre bem informado para
não deixar o tempo passar e a gente ficar para trás, tem que aproveitar
enquanto a gente tá mais jovem para se atualizar.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Eu tento ter as minhas horas de lazer, passear e me distrair, mas eu também
me preocupo em ter o meu tempo para treinar também, porque eu gosto muito.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Olha... sempre explorando todos os recursos que a academia tem, a gente faz
as amizades com os alunos e conhece o que eles mais gostam e também tem
que saber trabalhar em parceria com os nossos outros colegas de trabalho,
fazendo um plano de aula que tem como objetivo sair daquela rotina, tentando
sempre atingir o objetivo dos alunos.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Na verdade a formação acadêmica é muito importante mais... muita coisa a
gente tem que buscar por fora, eu sempre fiz muitos cursos, de avaliação
física, aulas de ginástica, personal, a minha formação acadêmica não foi
suficiente para eu atuar nesse contexto de trabalho que eu escolhi.
Professor 9 -2 anos de atuação
1-O que o levou a ser professor de Educação Física?
Bom, eu trabalhava com capoeira...dava aulas de capoeira, através de, por
necessidade de saber trabalhar direito, buscar trabalhar melhor com pessoas,
eu decidi entrar na faculdade de Educação Física, mas por causa da capoeira.
2-Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Quando eu comecei nas academias com a capoeira, eu sempre trabalhei
dentro das academias, depois eu comecei a treinar na musculação e depois
comecei a trabalhar com a musculação também dentro das academias.
3-Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias de ginástica?
Não, na verdade tem essa preocupação hoje em dia a gente se preocupa em
estar bem...no visual do professor, mas eu percebo que vem mudando a
importância da Educação Física, um bom profissional não importa o seu
aspecto físico e sim o que ele tem de conhecimento para passar.
4-Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não, só nas academias.
5-O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Eu tento manter um estilo de vida o mais saudável possível, treinar e comer e
descansar bem.
6-Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Depende do...do.. objetivo, por exemplo eu tenho, eu tenho uma turma que eu
cheguei a trabalhar com uma turma de Educação Física escolar na academia,
aí a gente busca desde outras disciplinas, matemática, português, história, para
elaborar as atividades com eles com isso também, eu tentava trazer a
capoeira...as lutas, eu também trazia outros professores que trabalhavam com
ginástica por exemplo para mostrar para os alunos... assim como uma
atividade extracurricular entende?
7-Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Fui sim, atrás de cursos de avaliação física, musculação que é no que eu
trabalho e estou terminando um curso de pós-graduação em Fisiologia, mas a
grade curricular da faculdade é bem incompleta...a gente sente a necessidade
de se especializar, porque quando aparece a oportunidade de emprego a gente
sempre quer trabalhar, eu vejo a importância em você ser um bom profissional
especialista, você não vai em um médico especialista, pois é, o professor de
Educação Física também deve ser especialista em alguma área, tem tantas né,
Lu?
Professora 10-2 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Foi uma ótima professora de Educação Física que eu tive na escola.
Pesquisadora: Então você teve o exemplo de uma boa professora, isso fez com
que você se interessasse pela área? Sim, isso mesmo.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Foi mais o perfil...eu comecei trabalhando na escola, daí meus horários não
“batiam” porque eu tenho filhos...essas coisas, aí eu preferi trabalhar em uma
área em que meus horários pudessem ser mais flexíveis com os horários das
crianças.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação
no contexto das academias de ginástica?
Ah, eu me preocupo muito...eu acho que eu “dou conta” por mais um seis ou
sete anos, depois eu vou ter que ir para outra área, eu acho que o físico
mesmo é que não vai aguentar.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não, eu só atuo nas academias.
5- O que você faz para manter-se ativo e “aguentar” a sua própria rotina
de trabalho?
Eu tomo um suplemento para me ajudar a dar ânimo e faço ginástica
também...eu tiro um horário para eu poder fazer o meu exercício.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Então, eu até tento fazer isso...mas como eu estou agora com bastante alunos
de personal eu não estou conseguindo fazer isso não...tentar pesquisar as
outras áreas para indicar aos alunos da academia...,é isso Lu?
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Ah, sim, eu tive que fazer muitos cursos depois que saí da faculdade, fiz o
curso de personal, fiz o de nutrição, fiz alguns cursos de técnicos de arbitragem
e acho que na faculdade faltam muitas disciplinas para a gente poder atuar
com segurança nesse segmento das academias de ginástica.
Transcrição das entrevistas dos professores com mais de 10 anos de atuação
Professora 1 -13 anos atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Lu, a princípio foi poder incentivar as pessoas a cuidar melhor da saúde, ter um
melhor desempenho de vida, de qualidade, de... É condições de ela ser
independente por mais tempo.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Quando eu comecei a trabalhar, o meu contexto foi muito é... (pausa) muito
particular de uma professora que eu admirava de uma academia, hoje ela nem
mora mais em Taubaté, mais foi uma proposta de trabalho que ela me
incentivou, a gostar da atividade voltada para a academia, atividade física
dentro da academia e aí eu me apaixonei e ela me idolatrava, me botava
“super para cima”, dizia que eu era ótima no que eu fazia e achei que eu tinha
jeito para a coisa e fui embora, até hoje em dia está dando muito certo.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Me preocupo, me preocupo muito, acho até que a gente poderia ter um
conselho regional que desse a nós uma aposentadoria mais precoce do que
vem sendo proposto, né? Porque atleta tem uma aposentadoria muito mais
jovem do que a nossa, e nós, nós não somos” atletas”, mais temos uma vida
competitiva, uma vida que cada dia mais precisa ter condições físicas para a
gente poder trabalhar e atuar bem na nossa área, não que nós façamos
exercícios o dia todo, mais é uma atividade que requer gasto energético
absurdo e uma suplementação diferenciada de um ser humano que faz uma
hora de atividade física, então eu acredito que a gente poderia pensar sobre
isso e, é... (pausa) não acreditando de depois dos 50 dos 60 eu poderia ser
personal trainer (risos) como eu sou hoje, mas o que fazer depois, né...(pausa)
é uma questão que a gente tem que pensar sim!
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
É, hoje em dia eu atuo como personal, e ainda dou algumas poucas aulas em
uma academia. Nas residências, eu observo o que ela me oferece para que eu
possa desenvolver atividades físicas sem que ele precise ter uma academia
dentro da casa dele.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Eu tento ter uma boa noite de sono, essa é a minha prioridade, eu jamais vou
admitir que alguma coisa me tire o sono (risos) a não ser problemas com a
minha filha, mais uma boa noite de sono, eu tento trabalhar com um nutrólogo
para fazer a parte nutricional e eu não ter carência de nenhuma vitamina,
alimentação bem equilibrada, treino também, faço a minha corrida, caminhada,
pilates, eu tenho um condicionamento físico legal. Pesquisadora: então você
tira um horário do seu dia, da sua semana, para você fazer atividade física?
Sim, eu faço atividade física.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
A minha, a minha... (demonstração de insegurança) proposta com os alunos
exatamente é essa, se ele não tem um acompanhamento médico eu peço para
que ele comece a ter, então assim: Eu tenho parceria com cardiologista,
nutricionista, com um geriatra, e, às vezes, até um fisioterapeuta, então esses
alunos, a maioria que eram sedentários, eles acabam até gostando do
resultado, acreditam no trabalho, e diminuem a ocasião de dores, de ida aos
ortopedistas, para tomarem os remédios, então eles começam a acreditar que
o trabalho interdisciplinar é muito mais gratificante e eficiente do que o
atendimento só de uma especialidade.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Não é (pausa)... na verdade eu saí da faculdade, com muita gana de querer
conhecimento né...assim a proposta que a faculdade me deu foi, é...observar o
que eles tinham de proposta dentro da minha área e acreditando que naquela
parte de diferenciados, que a gente tinha aula com a professora Edna que
atuava lá na AACD (Associação de Apoio às Crianças Diferenciadas), aquilo
me incentivou a buscar algo a mais dentro da Educação Física, porque, eu não
queria trabalhar com ginástica rítmica, não queria trabalhar com escola, e a
proposta do currículo era muito voltada para a ginástica olímpica, natação, e
aquela coisa toda do tecnicismo, e eu queria ir um pouquinho além disso, eu
queria trabalhar de forma que eu...é...ficasse limitada com crianças, eu queria
trabalhar com adultos na reabilitação, então eu fui para São Paulo e lá eu
busquei os cursos de condicionamento físico e a reabilitação para grupos
especiais, fiz especialização na FMU, depois os congressos que eu participei
em alguns estados, todos voltados para área da terceira idade, fiz cursos de
personal trainer e também a parte de cardiologia dentro do esporte que eu
também gosto bastante, junto a profissionais que atuam em renomados
hospitais do brasil.
Professor 2 -10 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Eu sempre gostei muito de esporte, tem uma tia minha que é professora de
Educação Física, então ela me incentivou muito nessa área, daí eu fui, joguei
basquete por Taubaté, não é porque fui atleta, mas sempre gostei muito
mesmo do esporte.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Eu gosto muito da parte da musculação, eu não gosto da ginástica, step, essas
coisas, a musculação que me atrai muito porque eu gosto muito de
treinamento, de resultado, isso me atrai muito, atingir os objetivos e não fazer
uma aula simplesmente por fazer.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
No começo eu me preocupava, mas depois, assim, eu com 30 anos já vou
estar “velhaco” para dar aula, né... de musculação, aí eu vi que quanto mais
velho, a experiência realmente é muito importante e eu acho que não tem mais
tanto vida útil mais agora para trabalhar na área da saúde.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Atuo como mergulhador, sou professor de mergulho, sou instrutor de resgate, e
personal trainer, dentro da parte de treinamento.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Eu aproveito a aula que eu passo para os alunos e faço junto com eles, as
aulas de corrida e de caminhada, eu aproveito, e faço a minha atividade junto
dos meus alunos.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Trabalhar de maneira interdisciplinar para mim é você sempre conversar com
os outros profissionais e não ser só uma equipe interdisciplinar de vários
profissionais, mas de pessoas que tenham interação, por exemplo, a
fisioterapeuta chegar para mim e dizer: Olha, professor, ele precisa de
fortalecimento “assim e assado” no quadríceps para ele, essa conversa que é
para mim interdisciplinar. Interdisciplinar é muito melhor do que o
multidisciplinar.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Não, procurei e continuo procurando, sou formado em Educação Física, pós-
graduado em personal trainer, avaliação física e musculação, procurei muitos
cursos voltados para treinamento e nas áreas que eu gosto de atuar, também
fiz um curso de nutrição, o qual não prescrevo, mas tenho uma noção para
melhor orientar meus alunos.
Professora 3 -10 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Bom, eu sempre gostei de esporte, sempre fiz atividades físicas, as aulas de
Educação Física no colégio, era uma das aulas que eu não faltava, e o fato de
eu trabalhar com fitness agora, é uma das coisas que eu mais adoro é o
resultado mais imediato para mim, como professora.
2- Quando começou a trabalhar, o que o fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
É, sem dúvida o resultado mais imediato, é o que você gosta e o que você
propõe para a pessoa, você tem um contato individual, tal... A parte estética, a
performance e a gratificação que a pessoa tem pelo bom resultado.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Ah sim, muito (as duas riem).
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Trabalho também em uma clínica de estética, e trabalho com personal que
também não deixa de ser uma atuação no fitness do mesmo jeito.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Eu treino e muito (risos).
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Bom, interdisciplinar é conseguir unir o útil e o agradável, é o meu conceito de
trabalho interdisciplinar atualmente é trabalhar com outras equipes, com outros
profissionais da área da fisioterapia, psicólogos, médicos e tudo mais, unindo
todos esses dá um “pacote muito bacana”, é você conseguir trabalhar com a
área que é o perfil da estética, a parte médica que é para que você não lesione,
é você dar um acompanhamento bacana na parte nutricional, e a parte do
fisioterapeuta.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Não, eu tive que fazer realmente outros cursos, a faculdade não é suficiente, a
gente sai muito cru, tenho duas pós-graduações, trabalhei com a parte de
personal, agora to fazendo um curso de biomecânica, para poder atender
melhor junto a fisioterapeutas e o que tem de atual no mercado.
Professor 4 -12 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Desde muito pequeno eu gostava de praticar esportes, principalmente lutas,
achei que eu tinha a ver com essa área. Pesquisadora: então você foi para
área da Educação Física porque você sempre se identificou com o esporte?
Isso, exatamente.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Na verdade, na área da Educação Física as principais áreas de atuação que eu
vi na época que eu fiz a faculdade eram as áreas das escolas e as áreas das
academias, escola eu realmente não me identifico em nada, não me imagino
trabalhando em escolas, sobrou a academia e que também gosto muito dessa
área.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Não, acho que eu ainda tenho muita “lenha para queimar”, dá para ir ainda
muito longe, dentro dessa minha área de atuação.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Na verdade, fora daqui, eu atuo como fisiologista do exercício na Cardiocentro,
eu entrei lá em novembro de 2010 e faço alguns atendimentos lá para
encaminhamentos médico e orientação para prescrição de treinamentos.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Há três meses nada, não está sobrando tempo.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Então, na verdade, eu tô atuando nos dois locais de maneira interdisciplinar, na
Cardiocentro interagindo com os médicos, eles encaminham para mim e eu
para eles para que eu possa fazer meu trabalho com segurança e aqui na
academia, na verdade, quando a gente inaugurou a “Siempre” a gente pensou
em fazer um trabalho que pudesse interagir com os profissionais da área da
Educação Física, da Fisioterapia, da Estética, aqui a gente tem alguns médicos
e a gente conseguiu fazer um treinamento da equipe toda para que todos
conseguissem realmente trabalhar de forma conjunta, um encaminhando para
o outro, para fazer um trabalho complementar entre as áreas.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
É, na verdade, procurei vários, fiz vários cursos pequenos extracurriculares, fiz
uma especialização em Fisiologia do Exercício que me habilitou a trabalhar na
Cardiocentro, fiz um mestrado em Ciências Biológicas, uma especialização em
Exercícios Aplicados à Reabilitação Cardíaca, e agora tô começando uma
outra especialização em Administração e Marketing Esportivo.
Professora 5 -20 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Olha (risos), nossa Lucimeire, é uma longa história... Pesquisadora: então
conta, porque eu preciso saber da longa história. É quando eu tinha uns 9
anos, eu fui fazer jazz, eu queria fazer dança, ai, minha amiga... lá eu fiquei,
engrenando, emendando uma coisa na outra e não sai mais, então foi lá dentro
das aulas de dança que eu descobri que eu queria fazer Educação Física, aí foi
um “pulo”.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Então já foi por isso mesmo, eu já fazia as aulas de dança... Pesquisadora:
Você já estava dentro de uma academia? Isso eu já estava dentro de uma
academia, daí coincidiu naquela época que surgiu a aeróbica de alto impacto, e
eu percebi que não era mais tão delicada para dançar jazz, (risos), não era tão
suave, meiga... aí juntou uma coisa muito legal, porque tinha música,
coreografia, era o que eu gostava e aí eu acabei entrando porque eu já vivia
nesse ambiente de academias.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Óbvio, óbvio...penso, penso, faz tempo já, viu, não é de agora, não.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Atuo, atuo em escolas e tenho um grupo de corrida.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Caramba, o que eu faço? Pesquisadora: É, o que você faz de atividade física,
se você se preocupa com isso, se você se preocupa com a alimentação, enfim,
mas você faz, ou você sabe que tem que fazer mas não faz? Mais ou menos,
Lucimeire, a parte de dormir, de alimentação que é o mais difícil, agora se
manter ativo, você acaba se mantendo porque você tem que dar aula junto,
então você faz junto com seus alunos, agora dormir e alimentação nem sempre
dá para fazer certo.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Nossa, seria bom se pudesse fazer isso, interdisciplinar, eu entendo que tinha
que ter um nutricionista, um fisioterapeuta, uma equipe trabalhando em
conjunto, nunca tive isso e nunca entendi isso direito também.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Nossa, eu procurei vários cursos, porque eu não tive nada disso na faculdade,
como eu fiz há muito tempo atrás, hoje em dia eu sei que tem uma disciplina de
ginástica de academia, na minha época não tinha, tinha que “meter a cara”
mesmo, e se virar, eu fiz um monte de cursos, não sei nem te dizer quantos...
eu sempre me preocupei com a continuidade de cursos após formada porque
eu vi que na faculdade eu não havia aprendido atuar nessa área.
Professora 6 -18 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Porque eu sempre gostei muito de esportes, eu desde criança pratiquei, então
eu acho que eu não podia fazer outra faculdade.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
É pouca paciência com criança, e eu gosto muito desse ambiente de
academias, eu me identifico muito, eu não gosto do ambiente escolar, eu gosto
de atividades voltadas mesmo para esse ambiente que eu sempre atuei.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Sem dúvida alguma, eu me preocupo muito com isso.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não, atuo também na área de gerenciamento de vendas mais aqui dentro da
academia.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Continuo praticando atividade física.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Na verdade (pausa), eu acho que eu nunca parei para pensar sobre isso, talvez
se eu fiz isso, se eu fiz... fiz sem saber o que estava fazendo.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Ah eu sempre fiz os congressos fora do estado, os cursos de extensão
universitária, só mesmo a faculdade não supriu as minhas necessidades de
atuar nesse contexto.
Professora 7 -17 anos de atuação
1 - O que o levou a ser professor de Educação Física?
Olha, minha filha, é porque era a minha cara, eu até tentei fazer outra coisa...
computação, minha mãe quase me matou, mas eu saí depois de quatro meses
e fiz o que eu sempre quis mesmo.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Eu sempre gostei, desde criança, eu queria ser professora de ginástica,
sempre dancei, sempre gostei dessa área, do ambiente de academia, eu nunca
trabalhei em escola, só em academia.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Penso... penso com certeza.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não só aqui, mas aqui em duas áreas, na parte mais burocrática da
organização e também dando aulas, mas sempre aqui na academia.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Atualmente as próprias aulas que eu dou, porque não dá tempo, e como as
aulas que eu dou são muito desgastantes, eu me utilizo do meu trabalho para
fazer o meu próprio treino.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Ah, a gente tenta trabalhar em conjunto com as outras áreas aqui, com os
outros professores da musculação, com fisioterapeutas, por exemplo: mesmo
não tendo um nutricionista presente a gente procura orientar o aluno, os que
têm problemas com obesidade nos procuram primeiro, mas a gente tenta focar
na sala toda, que tem gente que chega do trabalho sem comer, sem se
alimentar bem, então a gente tenta orientar sempre.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Não, só com a faculdade não, principalmente na minha época não tinha nada
muito voltado para a ginástica, era uma coisa muito antiga, então fui buscar
cursos fora... de ginástica, atualmente na body systems (sistema de franquias
criado na Nova Zelândia que comercializa programas pré-coreografados de
aulas para as academias) tem os programas, fiz uma pós-graduação e procuro
sempre me atualizar.
Professor 8 -25 anos de atuação
1- O que o levou a ser professor de Educação Física?
Quando eu comecei a malhar, eu tinha uns 16...17 anos, na época do colégio,
a gente não sabia muito o que queria né, eu me inspirei muito no Ronaldo da
Hata (academia antiga situada em Taubaté) porque eu treinava lá com ele,
comecei a fazer ginástica, comecei a ver diferença no corpo, e ele fazia
faculdade e eu comecei a frequentar muito a academia dele e comecei a curtir,
né, aí veio aquela mistura da parte profissional com o bem-estar, porque a
gente com 18...19 anos, a gente é bem imaturo, e não sabe direito se o que a
gente tá querendo ali é porque a gente tá vendo um resultado na gente ou se é
o que você queria fazer o resto da vida mesmo.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Ah, foi exatamente por causa disso, porque a partir daí eu comecei a faculdade
e já começou a surgir oportunidade na própria academia ,né, de dar aula, e foi
onde eu me identifiquei, bastante, com essa área de academia, de ginástica
localizada, eu sempre me identifiquei bastante com o ambiente.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Super, né... super. Até porque hoje em dia, pelo ritmo de aula, pelo ritmo de
vida que a gente tem, sábado e domingo eu me proíbo de fazer alguma coisa,
me proíbo.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Não.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Olha... hoje são 8 aulas de bike (aulas que acontecem sobre uma bicicleta
ergométrica) por semana, dois ou três treinos de karatê por semana, um ou
dois dias na musculação, e acho que tá bom já, né? (Risos).
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Interdisciplinar é...trabalhar com outras aulas, seria? Ele pergunta para mim, eu
respondo: Outras áreas? Você faz isso, trabalha com outras áreas da saúde,
por exemplo? Você faz isso? Ele responde: mas na academia, não hoje eu não
atuo, é mais o pessoal do fitness que hoje tá bem dividido, cada um atua na
sua área específica... a gente hoje trabalha com mais tipos de aulas, mas em
outras áreas, não (se mostra muito confuso em responder).
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Pelo contrário, né, eu tive que fazer muitos cursos, faço cursos de extensão
universitária, fiz uma pós em Fisiologia, e tô sempre fazendo cursos na minha
área, porque quando fiz faculdade as aulas de ginástica para atuar dentro das
academias eu acho que nem existiam (risos).
Professora 9 -23 anos de atuação
1 - O que o levou a ser professor de Educação Física?
Bom, meu pai comenta até hoje que eu nasci sabendo que iria ser uma
professora de Educação Física, primeiro porque eu sempre amei esportes, fiz
tudo o quanto foi de esportes que você possa imaginar, só que assim...eu
gostava de dar aulas, ensinar...então quando foi para eu escolher, eu escolhi a
área dentro do fitness, da Educação Física dentro das academias para eu lidar
porque no início eu trabalhava com dança, e eu gostava muito de ver as
pessoas bem, com saúde, além disso a minha saúde em dia também.
2- Quando começou a trabalhar, o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Foi até, vamos dizer assim: Seguindo o momento do fitness, então, como eu
disse, eu era uma professora de dança, de jazz, e dança chegou um certo
momento que deu uma queda muito grande, nisso nós fomos encaminhados
para a ginástica aeróbica da época, depois para a ginástica local e step e
quando lançou as aulas da body systems, muitos alunos já queriam saber
como funcionava, nós fomos os pioneiros trazendo esse tipo de aula para
Taubaté, e daí por diante foi embora, coisa que até hoje em dia é muito
engraçado, devido eu dar aulas de body combat...eu sou uma professora muito
técnica, acabei entrando em uma arte marcial a qual eu consegui ter bons
resultados...então foi o gosto mesmo em poder dar aulas, sentir o prazer nos
olhos dos alunos, sentindo o desenvolvimento e o objetivo alcançado por ele,
eu pratico muito isso, eu planejo a minha aula, eu converso com os alunos, eu
quero saber a necessidade que eles têm, eu gosto de passar a parte teórica e
a minha conscientização, eu escolhi trabalhar nas academias pelo gosto e não
pela obrigatoriedade que a escola traz, eu nunca me vi trabalhando numa
escola.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Com certeza...eu hoje, acabei de participar de um curso em São Paulo, e uma
das coisas mais difíceis para mim foi largar por exemplo o body combat, que é
uma aula que eu amo, que eu sempre fui elogiada pelos alunos pela aula que
eu dava, mais devido a minha idade eu decidi passá-la para um professor mais
novo, então obviamente a gente tem que pensar no nosso futuro, eu já fui
daquelas professoras loucas que dava 11 aulas por dia, mas aos poucos eu fui
diminuindo esse número de aulas, sendo que eu comecei a ministrar curso, eu
abri o meu leque de trabalho, também fiz pedagogia, e trabalho com a parte
administrativa porque sou proprietária de uma academia, e é uma área que eu
gosto muito.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Atuo sim, eu trabalho na área administrativa da academia e ministro cursos de
ginástica, alongamentos, enfim tudo relacionado à academia.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Bom, eu sempre tive uma alimentação muito saudável, e até assim é natural
isso para mim, eu gosto de comer natural, depois com um nutricionista eu
aprendi a comer nos melhores horários, a parte física como professora eu
tenho que até saber equilibrar, porque a gente acaba sobrecarregando.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Bom, disciplina é tudo. Eu vou falar um pouco da parte administrativa, eu
coloco para os funcionários que o comprometimento deles com os alunos é
muito grande, eu tento fazer com que todos os meus funcionários trabalhe em
prol do bem-estar do aluno....é tentar fazer com que o funcionário vai além do
que se pede que ele faça.
8- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Lu, eu sempre fiz muitos cursos, continuo fazendo, minha graduação foi muito
insuficiente para se trabalhar nesse mercado da ginástica. E hoje procuro os
cursos de gerenciamento, vendas e marketing para ficar envolvida com os
assuntos da administração da academia.
Professora 10 -12 anos de atuação
1 - O que o levou a ser professor de Educação Física?
Eu sempre gostei de esportes, sempre pratiquei esportes, principalmente em
academias desde a minha adolescência, e também sempre pensando na
questão da saúde. O exercício físico ajuda, e muito, na saúde do indivíduo,
esses são os fatores mais importantes, eu sempre me identifiquei com as s
academias, e depois a questão da saúde.
2- Quando começou a trabalhar o que fez você atuar nesse contexto
(academias de ginástica)?
Como eu disse anteriormente, na verdade eu sempre fiz esportes em uma
academia, então talvez por esse motivo eu tenha identificado com essa área da
Educação Física.
3- Você se preocupa com o fator idade, pensando no tempo de atuação no
contexto das academias?
Sim, me preocupo e muito.
4- Além do contexto da academia, você atua em outro local de trabalho?
Sim, atualmente eu trabalho em duas empresas com ginástica laboral.
5- O que você faz para manter-se ativo e aguentar a sua própria rotina de
trabalho?
Bom, primeiro eu procuro fazer exercícios físicos, né, e uma alimentação um
tanto quanto que equilibrada, eu estou sempre ativa.
6- Para você, o que é trabalhar de maneira interdisciplinar na academia?
Dê exemplos de como você faz isso?
Interdisciplinar? É, bem, na academias em si eu procuro fazer uma interação
com os alunos, independente das suas idades, inclusive no meu lugar de
atuação, hoje, em dia, as faixas etárias são as mais variadas possíveis, então
eu procuro integrar a todos.
7- Você procurou cursos extracurriculares ou sua formação acadêmica foi
suficiente para atuar nesse contexto? Quais cursos realizou?
Eu procurei, eu sempre procuro, aliás a cada ano eu procuro fazer uma
reciclagem nas modalidades que eu ministro nas academias para que a gente
possa ficar por dentro das novidades, na faculdade a gente até tem uma noção
de tudo, mais temos a obrigação de trazer o que há de novo para que nossos
alunos mantenham-se envolvidos e estimulados a treinar.
Transcrições das narrativas orais
Boa tarde Giovani, eu gostaria que você respondesse para mim: No seu
processo de vida como se deu a escolha pela Educação Física?
Bom inicialmente desde os 10 anos de vida né eu estou dentro de uma
academia, a minha mãe desde cedo já me colocou para procurar uma atividade
física que me trouxesse um retorno, para melhorar meu condicionamento, para
emagrecer porque eu era muito gordinho quando criança, é(pausa) eu entrei
para a musculação com 15 anos pela primeira vez, foi onde eu tive contato com
o Maurício (professor de Educação Física, bastante conhecido na cidade de
Taubaté que atua há mais de 20 anos no contexto de academias de ginástica),
que me deu toda a atenção, me instruiu super bem a partir disso eu tive um
desenvolvimento muito bom, comecei emagrecer, comecei a “esticar”, já estou
ah, aqui na Academia Ophicina do Corpo desde de 2002 e a partir disso eu
comecei a participar de vários grupos, de dança, de aulas coreografadas, de
apresentações, complementava com futebol, com as lutas e isso veio me
trazendo um gosto pela atividade.
Em 2005 eu procurei uma psicóloga, doutora Méia, onde eu fiz um teste
vocacional só para comprovar o que eu já tinha quase certeza e o resultado
deu que a área da Educação Física seria um bom caminho a seguir
profissionalmente, partir disso foram quatro anos é (pausa para lembrar dos
anos da graduação) é eu acho que as pessoas importantes nesse caminho
foram né a Rosane aqui a proprietária dessa academia que eu trabalho
atualmente, a professora Lucimeire que me ajudou muito a parte da
aprendizagem da musculação é fora isso outras pessoas Gustavo Manara,
Reinaldo (todos professores de Educação Física que atuam nesse contexto na
cidade de Taubaté há pelo menos 15 anos) sempre profissionais da Educação
Física,foram essas as pessoas representativas no seu trabalho, com certeza e
ainda mais os próprios professores né os próprios professores das artes
marciais que não eram formados que eu via neles um déficit muito grande por
não ter uma formação na área da Educação Física e por ter um gosto
gigantesco pelas lutas eu achava que quando eu me formasse eu poderia de
uma forma ou outra também partir para esse lado, mas acabei ficando mesmo
nas áreas da musculação e mais ainda na área de ginástica onde me trouxe
maior retorno. E no que diz respeito aos prós e os contras no trabalho nas
academias de ginástica, na sua qualidade de vida no trabalho o que acha que é
positivo estar dentro dessa profissão, trabalhando nesse contexto e o que você
acha negativo dentro desse contexto, existe isso para você? Você pensa
diferente?
Sim, com certeza vamos falar da parte positiva, a parte positiva acho
que desde o momento que você acorda, estando numa área prazerosa,
fazendo o que a gente gosta a gente vem para o trabalho mais feliz, mais
consciente, a gente acaba se cuidando um pouco mais porque eu acho que a
imagem que a gente passa para as pessoas é super importante porque é ruim
quando um aluno chega para você querendo cuidar da estética, do visual e vê
um professor bem desleixado é meio complicado, então por si, a gente mesmo
tem que começar a se alimentar bem, descansar mais para evitar certos
desgastes, no meu caso como eu cheguei a dar mais de1000 aulas no ano de
2010 é eu senti muito o corpo pedindo um descanso, é então assim eu sei que
eu tenho que dormir um pouco mais, tenho que suplementar um pouco mais,
então eu sigo uma dieta com nutricionistas, eu sigo treinamento por outros
profissionais da área, tenho que reduzir um pouco mais os meus desgastes
físicos, hoje eu não jogo mais futebol, eu não luto mais, acabei me preservando
um pouco mais para a minha profissão. Para conseguir trabalhar, sim, para
poder trabalhar com um pouquinho mais de qualidade, falando nos contras né
nos pontos negativos é infelizmente a gente não agrada à todos, por mais que
a gente estude, reformule nosso currículo anualmente, as vezes você acaba
montando um treino para a pessoa, a pessoa pensa que você é o pior
professor do mundo porque não teve resultado né, infelizmente alguns alunos
ainda não entendem que o resultado não depende só de nós, professores,
dependem deles também, outros pontos negativos é o próprio desgaste, é
acordar sempre cedo ter uma rotina acordando por volta das 6:00 horas da
manhã e indo dormir por volta das 11:00 da noite mesmo tentando ir dormir um
pouco mais cedo, se alimentando um pouco melhor, mas o corpo acaba
sentindo, então vez ou outra você tem um “dorzinha” no joelho, tem as costas
um pouco travada, ok. Na parte positiva fala um pouco para mim das relações
interpessoais, assim do que você vê no processo de desenvolvimento humano
o que você pode gerar de positivo para o seu aluno que chega aqui na
academia? É muito gratificante quando um aluno chega para gente, eu acho
que um dos maiores objetivos que a gente tem é a perda de peso, é a melhora
do condicionamento físico, as vezes não é nem, no fundo disso tem a estética,
mais eles acabam nem tanto tocando nesse assunto e a partir da hora que eles
entendem toda aquela rotina de trabalho que a gente desenvolve para eles,
para eles seguirem, as dicas de alimentação, mesmo não sendo da nossa área
de nutrição, mas algumas dicas que a gente dá, a pessoas acaba levando para
dentro de casa é a gente vê que semanalmente, mensalmente a pessoas vai
tendo um resultado, ela vai emagrecendo, melhorando a qualidade de vida, ela
vai melhorando o seu próprio desempenho não só na academia mas na vida
pessoal, é, as amizades que nós criamos dentro da academia, que assim na
verdade o aluno chega muitas vezes na academia apenas para conversar com
a gente, para se divertir, então você acredita que esse é um ambiente o qual
ele tenha a possibilidade de estabelecer esse tipo de relação interpessoal, sim
eu acho que muitas vezes o aluno não tem isso fora daqui, ou ele tem um dia
muito estressante e acaba procurando na academia uma válvula de escape né,
e a gente tenta da melhor forma possível ajudar para que ele reconheça os
seus pontos fracos e melhorar a vida dele socialmente né, eu acho que as
vezes o aluno quer conversar, quer desabafar e a gente acaba sendo um
psicólogo (risos) e muitas vezes essa amizade vai até para fora do ambiente da
academia, acaba virando grandes amigos e essa é a melhor relação que um
professor pode querer, partindo do seu trabalho, trazendo mais felicidade e
bem estar para as pessoas.
Rosane bom dia, eu gostaria que você respondesse para mim: No seu
processo de vida como se deu a escolha pela Educação Física?
Lá vai (risos) lá vai, bom eu desde pequena e outro através de uma foto,
até foi surpreendente eu me vi como organizadora de um evento dentro da
escola e quando eu olhei aquela eu foto eu disse: Meu Deus quantos anos eu
tinha para a professora de Educação Física já me dar essa responsabilidade de
coreografar com as meninas da minha sala uma apresentação da primavera,
que era na época, eu lembro muito bem que a minha mãe é quem fez as
roupas e tudo e foi tão engraçado que eu tinha apenas 10 para 11 anos de
idade, foi na época em que eu mudei para Taubaté, então isso como você já
percebeu começou a muito tempo atrás, o meu pai mesmo fala que eu já dava
aula para as minhas bonecas e batia palmas, e eu já tinha um dom para ser
professora e meu “lance” com o esporte em si era muito, muito grande, então já
vem desde que eu era pequena e eu sempre fui do esporte, comecei na
natação,tive a possibilidade porque eu era vizinha da USP em São Paulo de
começar a natação, fazer depois ginástica olímpica e fazer ginástica rítmica era
maravilhoso né que eu aproveitei a parte do meu corpo assim de flexibilidade,
de força de tudo que eu podia explorar com aquela idade, nisso eu mudei para
Taubaté e aqui não tinha a ginástica olímpica que eu tanto amava, então eu
acabei fazendo um, era em um clube no Sesc que chamava mini esporte, você
tinha uma noção de cada modalidade, eu defendo até hoje isso porque é
importantíssimo na idade que eu estava com 12 anos assim, ter uma noção e
depois você fazer sua própria escolha, então eu já sabia que de tudo aquilo, eu
gostava mais era dança, mas gostei muito do vôlei e fui jogadora de vôlei até
ser jogadora de vôlei por Taubaté e anos e anos eu segui, durante uns seis
anos, mas nunca esqueci a dança, quando eu estava para poder já me formar,
depois do segundo ano de colégio assim eu já sabia que eu queria a Educação
Física e foi assim primordial uma frase do meu pai porque a minha idéia era ir
embora para Belo Horizonte e meu pai mesmo falou Rô fica em Taubaté para
você fazer o seu vestibular e tudo né, porque você já é bem conhecida em
Taubaté, me formei muito nova e antes até, um parênteses ai, logo que eu
comecei a Educação Física, eu comecei já a pensar no futuro, imaginar o que
eu gostaria de trabalhar, porque eu gostava de tudo, então assim eu fui
encurtando igual a uma monografia que a gente vai cortando, todas as
atividades no sol, todas as atividades em piscina que por mais que eu goste de
nadar eu sou vaidosa, então ah vai estragar meu cabelo ,minha pele e eu
comecei a sim a ligar para a dança e o que mais me motivava na dança e em
academia é que os alunos vinham por vontade própria era diferente de ir numa
escola onde os alunos eram, é obrigados a fazer a Educação Física, mas eu
sei que se eu desse aula na escola eu poderia transformar ou tentar mudar a
ideia do aluno, porque antigamente sabemos nós que o professor jogava uma
bola ali para nós e eu tive professores dessa forma, jogava e a gente fazia o
que queria, ou senão eram 10 voltas de corrida em volta da quadra, alguns
bons alunos conseguiam , outros quase “morrendo” tinham por obrigação fazer
aquilo lá, então eu afunilei bastante onde eu já tinha decidido voltar para a
academia, fazer algo em dança e nisso já me matriculei desde o primeiro ano
da faculdade em aula de dança e eu sabia que era um dom meu, tanto que no
primeiro ano eu já fui para o grupo de dança e tudo e dali e já sabia do meu
futuro era dar aula de dança, então iniciei na Educação Física querendo
trabalhar só com danças, mas como me formei muito cedo, eu me imaginei
fazendo outra faculdade que com 21 anos fazer outra coisa, nisso eu pensei
novamente em voltar para Belo Horizonte e meu pai novamente:Rô hoje você
já é conhecida em Taubaté então é legal você colocar, estabelecer raízes
mesmo e tudo para poder já dar continuidade no que você realmente quer e
gosta que é a educação Física que ele sabia que eu não ia trabalhar com
Fisioterapia, fiz Pedagogia o que me ajudou na parte administrativa que na
época era chamado de complementação de licenciatura, que era a
administração pedagógica, isso me ajudou muito a eu ser depois, proprietária
de academia de ginástica, e ai pela frente da dança foi vindo as tendências,
então da dança veio a ginástica aeróbica que já era ligada a coreografia,
depois veio o step, logo teve a localizada( tipo de aula de ginástica), era uma
aula muito próxima a dança, com músicas, movimentos ritmados, e nisso
vieram as aulas Body Pump (uma outra modalidade de aula que refere-se a um
tipo de franquia a qual o professor por meio de pagamento mensal recebe as
aulas e as músicas para orientar os alunos) Body Combat, Body Jam (aulas
dessa mesma franquia chamada Body Sistemys), depois vieram outros tipos de
aulas e principalmente o Body Balance que é uma aula que faz com que você
desenvolva o equilíbrio, relaxa, alonga, o que eu também preciso exercer como
administradora, onde eu vou buscando sempre ferramenta pensando sempre
no futuro, então de 11 aulas que eu dava antigamente por dia, hoje eu dou
duas ou três aulas por dia e estou mais ligada a administração da academia, eu
graças a Deus, sempre tive esse dom administrativo muito forte em mim e meu
pai também como uma figura muito importante na minha vida profissional
(momento em que a professora se emociona) ele teve( pausa) eu me emociono
sempre em falar que ele virou e falou: Rô independente do que você decidiu
fazer, você é uma menina muito estudiosa, faz tudo com amor, seja uma das
melhores que é o que eu tento ser sempre, então aprendo muito todos os dias,
com todas as faixas etárias, com todos os profissionais de cada modalidade,
cada funcionário que aqui trabalha, tentando e tudo me melhorar a cada dia,
como pessoa, como chefe, como gestora de pessoas, sei que eu quero viver
muito ainda, hoje com 43 anos já, desde os 19 ou 18, desde os 17 melhor
dizendo, dentro da ginástica, da academia e tudo, é tenho muita experiência
vivida graças a Deus, mas eu sei que eu não nada, e sempre estudo, pretendo
continuar fazendo os meus cursos, fazendo novas aulas, aprendendo coisas
novas dentro da nossa profissão porque eu não gosto de ficar na mesmice, eu
gosto de desafios, então foi desafiador eu fazer novas modalidades, trazer
essas novas modalidades para Taubaté( a academia que ela é proprietária foi a
pioneira em trazer essa franquia já citada anteriormente na cidade), voltar a
estudar pois quando fui fazer uma pós graduação eu me especializei em
coluna, e sei que isso eu vou ajudar pessoas a não terem dor e melhorarem
seu condicionamento físico, né na sua vida toda, então eu me dedico com
muito amor, me dedico com todas as minhas garras, porque tem o lado bom e
tem o lado difícil que muitas pessoas não sabem, nós que levamos a sério a
Educação Física, primeiro nós temos o cuidado e objetivo e o planejamento
para as nossas aulas, então o cuidado é que se eu dou aula segunda, quarta e
sexta, essas aulas não podem ser para os mesmos grupos musculares, se eu
tenho uma aluna, ou um aluno que vai casar e eu sei que ele tem um objetivo
de viajem, eu sei que vou ter que fazer um condicionamento para ele melhorar,
dentro daqueles tres meses ou o quanto de tempo ele se dispõe para o
treinamento específico, então eu faço planejamento semanal, ou mensal, ou
semestral ou anual se é um aluno de personal né o que for, então esses são os
cuidados básicos para que a gente possa manter os alunos, eu posso dizer
minha academia tem 20 anos e eu tenho alunos que estão há 18 aqui com a
gente na academia, então esse é o lado bom porque eles tem um objetivo a ser
alcançado e a gente tem uma gratificação, uma gratidão enorme por ver tudo
isso acontecer e o lado vamos dizer assim, não tão positivo é o lado de
desgaste da gente, eu falo com todos os nossos professores também, pensa
no futuro, se você vai hoje ter essa condição de dar tantas aulas por dia,
trabalhar também na parte administrativa de uma academia, ter alguns alunos
de personal que é uma renda legal também ou outras coisas afim, então nós
temos o desgaste físico que é grande, então por exemplo, eu casada eu separo
alguns dias e falo,hoje eu sou a mulher do Fernando, porque a gente precisa
de um tempo para o lazer, e um tempo para estar com o corpo em dia também
e ter essa energia que a gente passa para os nossos alunos e para a empresa
que no meu caso, para tentar ter uma vida feliz em todos os nossos ambientes
de convívio, seja ele profissional ou social, tem o desgaste também dos
“radicais livres”, na pele,então tudo isso engloba a nossa saúde no geral, as
mulheres professoras que são mais vaidosas devem procurar sempre se cuidar
mais porque querendo ou não a gente deve dar o exemplo para os nossos
alunos que estamos bem, com saúde e com algo de bom para passar para ele,
tem também o desgaste da voz, como você pode ver ela é sempre um pouco
rouca, então estamos sempre que contatar outros profissionais como
fonoaudiólogos para nos ajudar a cuidar da nossa saúde e eu não falo só a
beleza exterior, essa eu acredito ser importante para a primeira impressão que
o aluno/cliente vai ter de você, mas esse mesmo aluno percebe na maioria das
vezes se essa é só uma beleza exterior se você não cuida do seu corpo de
dentro para fora também, eu graças à Deus sou uma pessoa muito bem
humorada e eu não tenho esse lance de ai hoje eu não acordei bem e tal e hoje
eu to de mau humor eu sempre sou bem humorada, mas tem algumas coisas
que tem pessoas que não me conhecem e por algumas vezes me verem em
outros ambientes, com o pensamento fixo em conta para pagar, bancos para ir,
as vezes no centro da cidade, me olham com uma seriedade e acham que eu
sou um pouco brava, não em algum momento do dia eu tenho que ser séria
porque eu me dedico para as coisas acontecerem, eu preciso fazer a”academia
virar”, tenho funcionários e eles dependem de mim para estarem em dia com
suas obrigações financeiras então eu acho importante ser séria em alguns
momentos e ambientes, então esse ano por exemplo eu percebi que faltava
mão de obra especializada para tratar os clientes/alunos novo que chegavam
para conhecer a nossa academia, o nosso trabalho o que me fez voltar a
trabalhar nove, dez horas por dia, cuidando da administração e da secretaria
também o que me recompensa muito, pois hoje eu estou muito mais próxima
dos meus alunos, dos meus professores e passando à eles como eu gosto e
acredito que deve ser uma recepção, as pessoas bem tratadas, ser tratadas
com educação e carinho, conceitos esses que como fiquei muito afastada por
conta da administração acabaram passando despercebidas a mim no cartão de
visitas de um ambiente que é a recepção, então eu to fechando um ano muito,
muito feliz, acabei de receber um certificado em Qualidade e Atendimento o
que me deixa muito grata. É realmente a compensação de um grande esforço,
mas que valeu a pena. Eu acredito no valor que as pessoas dão ao trabalho e
acho que quando a gente se dedica tudo dá certo, eu sempre tive isso na
minha cabeça e está dando muito certo. Eu sempre acreditei que pudesse
oferecer saúde e bem estar para as pessoas, tendo elas condições financeiras
ou não, então eu procuro fazer um preço legal, acessível para que a maior
parte das pessoas que queiram ter uma qualidade de vida orientada através do
exercício possa fazer parte dessa grande família que é a Ophicina do Corpo.
Os alunos vêm obviamente até aqui para poder fazer o seu exercício físico,
mas para poder se sentir bem, para poder conversar com as pessoas, ter o seu
Apêndice 3:
MEMORIAL
“A Ecologia do Desenvolvimento Humano é o estudo científico da progressiva acomodação mútua, durante todo o ciclo de vida, entre um ser humano ativo em crescimento e as propriedades em mudança nos contextos imediatos os quais a pessoa em desenvolvimento vive. Nesse processo ela é afetada pelas relações entre contexto imediato e os distantes, estando todos esses encaixados” (BRONFENBRENNER, 2011, p.138).
Um pouco do caminho percorrido...
Desde que entrei na escola, com 5 anos de idade, sempre estudei no
mesmo colégio, E.E.P.S.G. Monteiro Lobato. Lá passei 11 anos da minha vida,
bons momentos pedagógicos, sem ter noção do que era isso, mas como foram
recheados de alegria, ótimos professores, outros nem tanto, mas a maioria me
fez ser o ser humano que sou hoje, com minhas dúvidas, incertezas e desafios
pessoais.
Estar, nos dias atuais, pesquisando sobre identidade profissional,
formação de professores e contextos interdisciplinares, faz compreender minha
inserção no mundo como ser humano, como me apresento perante algumas
situações, na minha vida pessoal, no meu trabalho, e refletir como a escola foi
importante na minha relação com o outro. Citando Ciampa (1987 p. 59), que
destacou o papel da relação com o outro, visto que... a identidade do outro
reflete na minha e a minha na dele, o que me faz pensar na dialética entre
indivíduo e sociedade, na qual um se identifica e se transforma a partir do outro
depois de assimilada a realidade, o sujeito a reproduz na sua experiência
profissional.
Outro fato bastante interessante, que venho apresentar na minha
dissertação, é a relação do indivíduo com o ambiente no qual ele transita, e as
interferências que esse ambiente provoca em todos os papéis nos quais ele
tenha de atuar no percurso da sua vida, ora como aluna, ora como professora,
ora como esposa, ora como filha, enfim todos os inúmeros substantivos que se
justapõem ao sujeito, nesse caso eu. As capacidades humanas e sua
realização dependem em grau significativo, do contexto social e institucional
mais amplo da atividade que cada indivíduo decide realizar, os processos e o
produto que esse indivíduo vai se converter varia inevitavelmente ao lugar e
época em que tais situações acontecem e acrescenta que o desenvolvimento
humano é o produto pela qual uma pessoa percebe e lida com o ambiente
(BRONFENBRENNER, 2002).
Sou de uma família de três irmãos, minha irmã mais velha sempre foi
meu maior exemplo e, de certa forma, o maior desafio na adolescência: boa
filha, estudiosa, queria ser dentista e é sempre o orgulho dos meus pais.
Eu, filha do meio, rebelde, intransigente, aluna regular, que nunca
repetiu o ano, mas também nunca foi a primeira da classe, como era a irmã,
passei por “maus bocados” com meus pais, que, na ignorância angelical deles
(que são meus maiores incentivadores) adoravam me comparar a ela, e isso
me irritava muito.
E, mais uma vez, reportando-me aos estudos sobre identidade, do
conflito que vivenciava na minha família, as comparações que eram inevitáveis,
e a minha vontade de mostrar que também poderia ser uma filha a quem eles
tivessem orgulho, “coisas de adolescente”, destaco o papel fundamental do
exercício na minha evolução como pessoa e na conquista da identidade, que
resultou, em relações sociais positivas as quais foram capazes de impor a
diferença na relação com o outro.
Chegou o vestibular, minha irmã exemplo, na época cursando o 2ºano
de Odontologia, chegou à difícil hora de dizer aos meus pais que gostaria de
ser professora, e de Educação Física. Não foi fácil convencê-los, os
argumentos que meus pais apresentavam eram muitos, desde os salários
baixos até a desvalorização da profissão que, para eles, tinha muito mais a ver
com ludicidade, brincadeira, nada muito sério.
Eu sempre fui gordinha, tinha apelidos indesejáveis na escola, mas
sempre me desempenhei bem nas aulas de Educação Física, até porque era
uma das poucas oportunidades que tinha para me exercitar. Com 14 anos, tive
um problema sério de coluna, foi quando um médico pediu a minha mãe que
me matriculasse em uma academia de ginástica e foi nesse contexto que
minha vocação veio à tona.
Lá, comecei a emagrecer, minha auto-estima melhorou muito e decidi
que gostaria de trabalhar nesse contexto, minha identificação foi total. Costa
(1988) afirma... “é o sistema de representações que se mostra à consciência do
sujeito como aquilo que não é apenas atributo do meu eu ou de alguns eu, mas
o traço identificatório comum a todos os eu”.
Ingressei na faculdade em 1993. Com as disciplinas teóricas, nenhum
problema, pois estudar o corpo humano e seu funcionamento até hoje me
instiga muito, uma máquina exemplar. Cuidar do corpo faz a gente se sentir
bem, mente sã corpo são, um complementa o outro sempre. Nas disciplinas
práticas, algumas dificuldades, já que as modalidades com bolas nunca foram
o meu ponto forte; alguns problemas criados depois resolvidos; passei pela
faculdade sem maiores dificuldades.
No primeiro ano, estagiei numa escola estadual, com alunos que
cursavam da sétima série ao ensino médio. Foi o meu contato inicial na área
pedagógica. Confesso que, na época, não gostei nem um pouco, pois nas
escolas os alunos só queriam jogar bola, e eu não era uma boa professora de
modalidades esportivas, queria mostrar o que eu sabia fazer direito as aulas de
ginástica, minha primeira frustração profissional. As crianças daquele contexto
não queriam, não gostavam e nem ao menos conheciam a tal da ginástica.
Fiquei nessa escola um ano e saí para começar a trabalhar na academia de
ginástica, afinal de contas era disso que eu gostava e sabia fazer bem feito.
Trabalhei durante 16 anos nesse local, num mesmo lugar, conheci
muitas pessoas, criaturas com as mais diversas representações sociais.
Nunca mais havia tido contato com a escola. Em 2001, um professor,
pai de uma grande amiga, prestes a se aposentar, me chamou para trabalhar
com ele num colégio particular de Taubaté. Quando o convite foi feito, eu
pensei na minha falta de experiência em se trabalhar na escola, no meu
primeiro contato que não havia sido muito agradável, na minha falta de
habilidades com as modalidades em geral, mas o salário era tentador, e meu
amigo prontamente se mostrou capaz de me ajudar de início nessa minha nova
empreitada profissional. Eu aceitei o desafio de iniciar uma nova fase e não
decepcionar.
Esse colégio só atende o Ensino Médio em Taubaté, e eu só trabalharia
com as meninas, uma vez que a escola separava as turmas de Educação
Física por gênero. Minha surpresa de início foi a falta de alunas, o número
muito pequeno de alunas adepta às aulas. Observando a falta de interesse das
mesmas, fui até elas e perguntei o que elas gostariam de fazer nas aulas,
argumentando que, com tantas possibilidades de se movimentar, era quase
impossível, na idade delas, não gostarem de fazer nada, nenhum movimento.
E qual foi minha surpresa (uma das melhores). Elas gostariam de fazer
ginástica! Pronto! Uma parte dos meus problemas estavam resolvidos, eu
conseguiria desenvolver algum tipo de aula eficiente com aquelas meninas,
porque também gosto sempre de afirmar que o exercício deve ser direcionado
sempre para o bem-estar geral do indivíduo. Ficar correndo em volta da
quadra, sem nenhum propósito, nunca foi o meu ideal de professora. Tem de
haver significado, tem de ser bom para “alguma coisa”, de dar prazer. Essa
metodologia tradicionalista da Educação Física não atrai mais ninguém, muito
menos aos jovens informados e contextualizados. PCNS (1999 p.67) afirma
que a Educação Física precisa buscar sua identidade como área de estudo
fundamental para a compreensão e entendimento do ser humano enquanto
produtor de cultura.
Estar numa escola onde o professor é valorizado como educador me fez
voltar para uma especialização. Fiquei 10 anos sem estudar, fazendo cursos e
congressos, mas sem nenhum compromisso maior com a pesquisa acadêmica,
e em 2006, decidi fazer uma especialização Latu-Senso em Educação Física
Escolar. Foi nesse curso que aprendi a fazer pesquisa, ou melhor, iniciei meus
estudos em pesquisa, pois quando terminei a graduação não era necessário
que se apresentasse uma monografia como conclusão. Esse mundo da
pesquisa científica iniciava-se na minha carreira. Aprofundei-me nos estudos
que se relacionavam com o ensino médio, meus sujeitos adoráveis de
pesquisa, os adolescentes, são seres que me despertam o tempo todo, me
estimulam a sempre estudá-los, eternas “caixinhas de surpresas”. Fiz uma
pesquisa-ação, pesquisei sobre o meu dia a dia na escola, obtive sucesso, e
até hoje faço o planejamento participativo que estudei para minha monografia.
Nesse curso, conheci um professor o coordenador cuja história
profissional tinha alguma semelhança com a minha, gostávamos do mesmo
assunto. Ginástica, e, mais uma vez, estudei e com um embasamento teórico
muito maior o assunto de que tanto gostava. Esse professor me incentivou a
continuar os estudos, informando-me sobre a possível abertura do mestrado
em que encontro matriculada hoje, curso esse que me instiga, orienta, e me
transforma a cada dia.
Logo que iniciei o Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano,
a intenção era estudar a formação dos professores de Educação Física, o
contexto de atuação, e quanto o professor reflexivo, que se utiliza das
ferramentas da interdisciplinaridade para realizar sua práxis de maneira
eficiente é o profissional da atualidade. Alguns caminhos tornaram-se difíceis
até chegar ao meu orientador, depois de algumas indecisões relacionadas às
linhas de pesquisa, a escolha da orientação e outros percalços aqui estou
mostrando um pouco da minha trajetória como pesquisadora a qual me
encontro perto do produto final, a dissertação.