9º semestre - direito de família

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 MÓDULO 1. Direito de Família. Introdução:  Do conceito de direito de família. O direito de família é ramo do Direito Civil que trata das regras que regem as relações entre as pessoas na família [1], levando em conta a influência dessas relações sobre as pessoas e os bens. São princípios  do Direito de Família os da afeição, da igualdade jurídica dos cônjuges e conviventes, da igualdade jurídica dos filhos, da liberdade, do pluralismo familiar e do superior interesse da criança e do adolescente [2].  As regras de direito de família afetam o indivíduo dentro do núcleo social restrito (pequeno ), em que ele nasce, cresce e se desenvolve, disciplinando suas relações de ordem pessoal e patrimonial. Algumas regras tratam do indivíduo tendo em vista a sua pessoa (regulam direitos pessoais do indivíduo, dentro da órbita do direito de família).  Ex.: leis que tratam dos efeitos pessoais do casamento ou da filiação, ou que conferem ao filho o direito de promover a investigação de sua paternidade, ou que dão ao órfão o direito de ser posto sob tutela ou autorizam o cônjuge do incapaz a requerer a sua interdição. Há regras que tratam de direito de natureza patrimonial. Ex.: referentes ao regime de bens entre cônjuges, ao regime patrimonial na união estável, à hipoteca legal, disciplinada no direito das coisas (vimos no 4º ano), com repercussão no direito de família. Da importância do direito de família:  O direito de família é muito importante, por cuidar de direitos individuais (poder familiar, direito e obrigações de prestar alimentos, dever de fidelidade se a família se tiver originado do casamento, ou de união estável; dever de fidelidade e assistência decorrente da condição de cônjuge; etc.). O direito de família é importante também por seu aspecto social. Há interesse do Estado na sólida organização da família e na segurança das relações humanas.  A família é a base da sociedade   estabelece a organização econômica e as raízes morais da sociedade. O Estado, ao preservar a família, se preserva   e o faz por leis que asseguram o desenvolvimento estável e a intangibilidade de seus elementos institucionais.  A lei regula as relações ligadas ao indivíduo (a lei concede alimentos ao parente pobre, confere ao cônjuge que casou sob coação o direito de anular o casamento, defere ao herdeiro do ausente o direito de solicitar a abertura da sucessão provisória do desaparecido etc. Todas

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Aspectos de direito de família

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  • MDULO 1. Direito de Famlia.

    Introduo:

    Do conceito de direito de famlia. O direito de famlia ramo do Direito Civil que trata das

    regras que regem as relaes entre as pessoas na famlia[1], levando em conta a influncia

    dessas relaes sobre as pessoas e os bens.

    So princpios do Direito de Famlia os da afeio, da igualdade jurdica dos cnjuges e

    conviventes, da igualdade jurdica dos filhos, da liberdade, do pluralismo familiar e do superior

    interesse da criana e do adolescente[2].

    As regras de direito de famlia afetam o indivduo dentro do ncleo social restrito (pequeno), em

    que ele nasce, cresce e se desenvolve, disciplinando suas relaes de ordem pessoal e

    patrimonial.

    Algumas regras tratam do indivduo tendo em vista a sua pessoa (regulam direitos

    pessoais do indivduo, dentro da rbita do direito de famlia). Ex.: leis que tratam dos

    efeitos pessoais do casamento ou da filiao, ou que conferem ao filho o direito de promover a

    investigao de sua paternidade, ou que do ao rfo o direito de ser posto sob tutela ou

    autorizam o cnjuge do incapaz a requerer a sua interdio.

    H regras que tratam de direito de natureza patrimonial. Ex.: referentes ao regime de bens

    entre cnjuges, ao regime patrimonial na unio estvel, hipoteca legal, disciplinada no direito

    das coisas (vimos no 4 ano), com repercusso no direito de famlia.

    Da importncia do direito de famlia:

    O direito de famlia muito importante, por cuidar de direitos individuais (poder familiar,

    direito e obrigaes de prestar alimentos, dever de fidelidade se a famlia se tiver originado do

    casamento, ou de unio estvel; dever de fidelidade e assistncia decorrente da condio de

    cnjuge; etc.).

    O direito de famlia importante tambm por seu aspecto social. H interesse do Estado

    na slida organizao da famlia e na segurana das relaes humanas.

    A famlia a base da sociedade estabelece a organizao econmica e as razes

    morais da sociedade. O Estado, ao preservar a famlia, se preserva e o faz por leis que

    asseguram o desenvolvimento estvel e a intangibilidade de seus elementos institucionais.

    A lei regula as relaes ligadas ao indivduo (a lei concede alimentos ao parente pobre,

    confere ao cnjuge que casou sob coao o direito de anular o casamento, defere ao herdeiro

    do ausente o direito de solicitar a abertura da sucesso provisria do desaparecido etc. Todas

  • essas medidas visam diretamente ao interesse do indivduo); e as relaes que interessam

    ordem social.

    Obs.: As leis de interesse individual indiretamente impactam a sociedade porque preservam a

    harmonia social e a estabilidade da famlia

    H ainda as leis que preservam a famlia diretamente, seu desenvolvimento e sobrevivncia.

    Ex.: leis que impedem casamento entre parentes consanguneos at terceiro grau, ou entre

    pessoas j casadas. Isto porque o incesto enfraquece a famlia.

    Natureza do direito de famlia:

    A famlia a clula bsica da sociedade, alicerce de toda a organizao social, de modo que o

    Estado tende a preserv-la e fortalec-la.

    Por isso a CF diz que a famlia vive sob a proteo especial do Estado.

    O interesse do Estado pela famlia faz do direito de famlia (que disciplina as relaes jurdicas

    que se constituem dentro da famlia) se situe mais perto do direito pblico que do direito

    privado. Por isso quase todas as normas de direito de famlia so de ordem pblica (cogentes).

    Trata-se de direito privado porque as normas so dirigidas s pessoas fsicas, e no s

    pessoas jurdicas de direito pblico. Mas diante da enorme importncia pblica no cumprimento

    de tais normas, essas se caracterizam como cogentes, de ordem pblica (no podem ser

    alteradas por disposio contratual, salvo rarssimas excees, como ocorre na escolha do

    regime de bens para o casamento).

    S em matria de regime de bens que as partes podem convencionar da forma como querem

    (autonomia da vontade).

    Da que os direitos se perdem se mal exercidos, e no por prescrio ou renncia. H mais

    deveres que direitos. Ex.: o poder familiar (antigo ptrio poder) mais um dever que um direito

    No Direito Romano era prerrogativa quase ilimitada do chefe de famlia. Hoje, mais um dever,

    para zelar pela pessoa e bens dos filhos, com severas sanes pelo descumprimento. A chefia

    da sociedade conjugal, antes conferida ao marido, era o dever de zelar pela famlia e sustent-

    la. A tutela e a curatela so conjunto de deveres impostos ao tutor e ao curador, que os recebe

    e os deve cumprir, como um munus publicus.

  • Ento o Estado intervm no direito de famlia, para dar proteo. Como exemplo, o Estado

    pode suspender ou destituir o pai ou a me do poder familiar; fiscaliza a tutela e a curatela; fixa

    e modifica a guarda de filhos; confere o direito de adoo mediante ao judicial.

    Como direitos individuais, subjetivos, os direitos de famlia so personalssimos, intransferveis,

    intransmissveis por herana, irrenunciveis ligam-se pessoa em virtude de sua posio na

    famlia, no podendo o titular transmiti-los ou deles se despir. Ex.: ningum pode transmitir ou

    renunciar sua condio de filho; o marido no pode transmitir seu direito de contestar a

    paternidade do filho havido por sua mulher; ningum pode ceder seu direito de pleitear

    alimentos, ou a prerrogativa de demandar o reconhecimento de sua filiao havida fora do

    matrimnio.

    Do conceito de famlia. A famlia no pessoa jurdica, no tem personalidade jurdica.

    O CC no define, e a Constituio j a desvinculou do casamento pode ser constituda

    fora do casamento, e at por um dos genitores e sua descendncia (monoparental) art. 226,

    CF.

    Lato sensu famlia a formada por todas as pessoas ligadas por vnculo de sangue

    ancestral comum. Incluem-se dentro de famlia todos os parentes consanguneos.

    Stricto sensu abrange os parentes naturais ou civis em linha reta e os colaterais sucessveis

    at o 4 grau. Alcana ainda os afins, parentes em linha reta e irmos do cnjuge.

    Sentido ainda mais restrito famlia o conjunto de pessoas compreendido pelos pais e sua

    prole. com este sentido que certos dispositivos a ela se refere. Ex.: a proteo ao bem

    de famlia

    Mas o direito de famlia se refere famlia no sentido mais amplo. Trata da tutela, da

    ausncia, dos alimentos, envolvendo relaes entre pessoas que no esto

    necessariamente ligadas por parentesco to prximo.

    O direito de famlia no CC/1916: No CC/1916 o assunto era tratado no Livro I da parte

    especial.

    Dentro do direito de famlia (contedo), havia trs temas:

    1. Casamento (instituto bsico de onde na maioria dos casos resulta a famlia). Aqui se tratava

    da celebrao do matrimnio, seus efeitos jurdicos, do regime de bens, da dissoluo da

    sociedade conjugal etc. (art. 226, CF/88);

  • O CC/1916 nesse ponto trazia captulos sobre direitos e deveres do marido e, separadamente,

    direitos e deveres da mulher. Hoje o art. 226, 5 da CF extingue as diferenas ambos so

    iguais na sociedade conjugal, e tm os mesmo direitos e obrigaes.

    Na poca do Cdigo de Hamurabi, leis sobre os direitos da mulher diziam que se o homem se

    deparasse com o adultrio da mulher, poderia mat-la ou decidir se ela ficaria viva e viraria

    escrava. E a mulher no tinha os mesmos direitos. Em caso de estupro, por ex., a lei dizia que

    o estuprador seria morto, e a mulher ficava isenta de pena, como se fosse culpada pela

    agresso.

    2. Relaes de parentesco. A CF equiparou de forma absoluta em direitos e obrigaes os

    filhos, no art. 227, 6. Outras leis tratam da questo de filiao, como o ECA (Lei n 8.069/90)

    e a Lei n. 8.560/92, que trata de investigao de paternidade.

    3. Institutos de direito protetivo tutela, curatela e ausncia.

    O regime do CC/1916: O CC/1916 no tratava da famlia estabelecida fora do casamento,

    considerada ento ilegtima. S tratava da possibilidade de reconhecimento de filho natural,

    tratado como ilegtimo (o art. 358 do CC/1916 vedava o reconhecimento aos filhos incestuosos

    e adulterinos).

    Hoje a famlia estabelecida fora do casamento tambm tem proteo, o que teve muita

    contribuio da jurisprudncia.

    Leis trabalhistas e previdencirias do companheira prerrogativas que antes eram somente

    da esposa. Art. 16 da lei 8.213/1991 os companheiros(as) so beneficirios do segurado (art.

    226, 3 da CF); na declarao de IR companheiro pode ser posto com dependente para fins

    de gastos deduzidos do rendimento tributvel.

    Na vigncia do CC/1916 muitas eram as relaes de concubinato, at porque quem s casava

    no religioso, antes da CF/88 (art. 226) era s concubino, e no interior muitos de boa-f s

    casavam no religioso. E tambm porque no existia o divrcio, ento o indivduo

    desquitado e com novo relacionamento era concubino. O casamento era indissolvel por

    determinao constitucional at 1977.

    Mas a unio fora do casamento era realidade social e a jurisprudncia apresentava solues.

    Leis que encerraram a discriminao entre filhos, no concubinato, e atualizaram o direito

    de famlia:

    - Lei do Divrcio n 6.515/77;

  • - CF/88 art. 226 (3, 4 etc.);

    - Lei n. 8.560, de 29.12.1992, sobre investigao de paternidade e registro de nascimento

    dos filhos havidos fora do casamento.

    - Leis n. 8.971, de 29.12.1994 e Lei n. 9.278, de 10.5.1996, que regulamentam o art. 226 da

    CF. A 1 confere aos companheiros direito sucesso e a alimentos. A Lei n 9.278/96 mais

    abrangente considera unio estvel qualquer tipo de unio entre homem e mulher, mesmo

    impedidos de casar, mesmo com durao menor que 5 anos, e mesmo sem prole comum. O

    art. 5 desta lei cria presuno relativa de serem comuns os bens adquiridos durante a

    convivncia.

    Direito de famlia no CC/2002.

    O assunto tratado no Livro IV da parte especial.

    O CC/2002 atualiza a lei para adequ-la s leis inovadoras e CF/88.

    - Tt. I: do direito pessoal: regras do casamento, sua celebrao, validade e causas de

    dissoluo. Preocupa-se com a proteo dos filhos, dispe sobre as relaes de parentesco

    (tratando da igualdade plena entre os filhos, cf. a CF).

    - Tt. II: normatiza o direito patrimonial decorrente do casamento, com nfase ao

    regime de bens e aos alimentos entre parentes, cnjuges e conviventes. Agora trata do

    bem de famlia, antes (CC/1916) no Livro II, que cuidava dos bens (parte geral).

    - Tt. III: unio estvel e seus efeitos. Colocada separadamente esta entidade familiar

    porque na verso primitiva do projeto, elaborado na dcada de 70, no se cogitava da proteo

    dessa forma de estabelecimento da famlia.

    - Ttulo IV: regras sobre institutos de direito protetivo tutela e curatela (a ausncia

    agora tratada na parte geral, pois o assunto de extino da personalidade art. 22 e s. do

    CC/2002).

    Obs.: o novo CC no inova quanto celebrao, efeitos e causas de dissoluo do

    matrimnio so as regras do CC/1916 com as modificaes nele introduzidas.

    DO CASAMENTO.

    Definio.

    Negcio jurdico solene, passvel de dissoluo judicial e extrajudicial, que visa unir duas

    pessoas, para regularem suas relaes sexuais, com coabitao e fidelidade recproca,

    cuidarem da prole comum e se prestarem mtua assistncia.

    Natureza Jurdica:

  • 1. Casamento como contrato teoria contratualista ou clssica:

    contrato de direito de famlia.

    Pensamento do comeo do sc. XVIII e que certamente inspirou o legislador francs de 1804:

    casamento contrato cuja validade e eficcia decorrem exclusivamente da vontade das

    partes. Tal concepo reao ideia de carter religioso, que via no matrimnio um

    sacramento.

    2. Casamento como instituio teoria institucionalista.

    Neste caso o casamento conjunto de regras impostas pelo Estado, que forma um todo e ao

    qual as partes tm apenas a faculdade de aderir, pois, com a adeso, a vontade dos cnjuges

    se torna impotente e os efeitos da instituio se produzem automaticamente.

    3. Casamento como mescla de contrato e ato institucional teoria mista.

    O casamento tem caractersticas de contrato por ser negcio jurdico, ato de vontade, que se

    anula pelos vcios do consentimento e pode ser objeto de distrato, hoje, cumpridos os

    requisitos, at no cartrio de notas, via extrajudicial.

    O casamento no um contrato semelhante aos demais do direito privado, mas tambm no

    s instituio. Trata-se de ato complexo, em que se une o elemento volitivo (vontade) ao

    elemento institucional ( contrato e instituio e, para alguns, ainda um sacramento).

    O casamento depende da vontade dos nubentes. O oficial pblico que preside a cerimnia

    do casamento no se contenta em autenticar a vontade dos cnjuges, como o notrio

    que processa uma escritura. necessria a celebrao do casamento cf. a lei (art. 1.535,

    CC/2002). O presidente do ato, ouvida a afirmao, dos nubentes, de que persistem no

    propsito de casar por livre e espontnea vontade, declarar efetuado o casamento nestes

    termos:

    De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por

    marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados.

    Ento: casamento instituio em que os cnjuges ingressam por manifestao de sua

    vontade, feita de acordo com a lei contrato de direito de famlia, diferente dos outros

    contratos de direito privado.

    E como tal instituio interessa ao Estado, regida por normas cogentes os efeitos do

    casamento so necessrios, inafastveis por vontade das partes. Ex.: dever de fidelidade,

  • obrigao de mtua assistncia. Os efeitos ocorrem automaticamente, impostos pela lei, para

    preservar na sua estrutura a instituio do casamento.

    Obs.: Antes da Lei do Divrcio, lei n 6.515/77, a indissolubilidade do casamento decorria do

    art. 175, 1 da CF de 1967 redigida pela EC n. 1/69.

    - A Igreja era contrria dissoluo do vnculo.

    - A EC n. 9, de 28.6.1977, alterou o 1 do art. 175 da CF/67 e admitiu o divrcio.

    Finalidades do casamento:

    1. disciplinar as relaes sexuais entre os cnjuges;

    2. proteo da prole;

    3. mtua assistncia.

    Formalidades preliminares.

    O Estado disciplina celebrao e formalidades preliminares.

    No pode haver impedimento matrimonial entre os nubentes. E para verificar a inexistncia de

    impedimentos, a celebrao do matrimnio precedida de processo de habilitao, levado a

    efeito perante o oficial do Registro Civil. Neste processo as partes instruem o pedido com os

    documentos exigidos por lei para mostrar que esto em condio de casar e no mesmo

    processo podem ser opostos impedimentos matrimoniais, como veremos.

    O processo de habilitao envolve precaues, para impedir que o casamento ocorra sem as

    formalidades legais ou com infrao de algum impedimento decorrente da lei. Trata-se de ato

    preventivo do Estado, para evitar casamento vedado por lei.

    O Estado diante do casamento assume: 1. A atitude preventiva, no processo de habilitao, em

    que se probe o matrimnio se se verificar empecilho. 2. Atitude repressiva, quando o

    casamento se realiza mesmo com empecilho (impedimento)[3], com a nulidade, como

    veremos, ou anulao.

    Atitude preventiva do Estado habilitao.

    O objetivo dar publicidade, com editais, ao casamento, convocando pessoa que saiba de

    impedimento para que venha op-lo, evitando a realizao do casamento. Ex.: pessoa j

    casada.

    A habilitao de casamento se inicia com o requerimento de habilitao e a apresentao,

    pelos nubentes, dos docs. exigidos pela lei art. 1.525 e s. do CC/2002.

  • Documentos exigidos para a habilitao ao casamento (o requerimento para casar,

    instrudo com os documentos, pode ser assinado pelos nubentes ou por procurador):

    Obs.: a celebrao do casamento gratuita, mas a habilitao somente gratuita para

    quem se declarar pobre na acepo jurdica do termo, sob as penas da lei art. 1.512,

    pargrafo nico, CC/2002.

    Art. 1.525, CC/2002.

    I. certido de nascimento (no CC/1916 era certido de idade) ou documento

    equivalente (no CC/1916 era prova equivalente);

    Para identificar o nubente, demonstrando o lugar do nascimento, filiao etc., e provar a sua

    idade, evitando infringir impedimento da lei capacidade para o casamento (art. 1.517 a 1.520,

    CC/2002).

    Probe-se o casamento das pessoas sujeitas ao poder familiar, tutela ou curatela, enquanto

    no autorizadas pelo pai, tutor ou curador, e dos menores de 16 anos.

    No CC/1916 art. 183, XII no se podiam casar mulher menor de 16 e homem menor de 18

    anos. Hoje o art. 5, I da CF trata da igualdade em direitos e obrigaes de homens e

    mulheres.

    A certido deve demonstrar que o indivduo tem mais de 16 anos ou deve juntar autorizao.

    A lei aceita documento equivalente[4] (art. 1.525, I, 2 parte, novo CC). Documento

    equivalente certido de nascimento e batismo extradas de livros da igreja e relativas a

    ocorrncias anteriores instituio do registro civil aqui no Brasil, e justificao de idade

    atravs de depoimentos de 2 testemunhas perante juiz de paz ou civil (o que era possvel por

    dec. de 1890, hoje j revogado).

    Hoje a certido de nascimento (registro de nascimento) necessria para o exerccio da

    cidadania e para a dignidade, que so princpios fundamentais do Estado Democrtico de

    Direito (art. 1, II e III da CF). Ento a lei facilita a abertura regular do assento de nascimento,

    inclusive estabelecendo a gratuidade do registro e 1 certido respectiva, simplificando ainda o

    requerimento extemporneo, com a dispensa de multa. Assim, o nubente no registrado no

    momento oportuno pode regularizar a sua situao facilmente para instruir o processo de

    habilitao com a certido respectiva.

  • Obs.: a idade importante ainda para o regime de bens, pois a lei prev o regime de

    separao de bens para nubentes com mais de 70 (setenta) anos art. 1.641, II, com a

    redao de 9.12.2009, pela Lei n 12.344).

    II. autorizao por escrito das pessoas de que so dependentes legalmente, ou ato

    judicial que a supra.

    Art. 1517 a 1.520 e 1.537, CC/2002.

    Trata de pessoas sujeitas ao poder familiar (antigo ptrio-poder), e de outros incapazes

    dependem todos da anuncia dos pais, tutores ou curadores, para o casamento.

    O menor de 16 a 18 anos pode se casar, como vimos, mas continua sendo menor, sujeito ao

    poder familiar, e por isso precisa da autorizao.

    Ento: o processo de habilitao do menor deve ser instrudo ou com a prova de emancipao

    ou com a autorizao de um ou de ambos os pais, ou com autorizao do tutor, se o menor

    estiver sob tutela.

    ** Se o representante do incapaz nega consentimento, injustamente, cabe ao[5] para que o

    juiz supra o consentimento. Cf. art. 1.519, CC.

    O CC no diz o que denegao de consentimento injusta cabe ao juiz analisar. Assim se

    verificar se o pai ou tutor tem preconceito racial ou religioso, ou cime, ou se realmente teme

    pelo enlace para proteger justamente o filho.

    Na ao, o interessado ante a recusa pede a citao do recusante para que em cinco dias

    traga suas razes, sob pena de ver suprida judicialmente a anuncia, sua revelia. Aduzidas

    as razes e havendo provas a ser produzidas, o juiz designa audincia de instruo e

    julgamento, e profere em seguida a sentena. Se suprir o consentimento, o juiz manda passar

    alvar, nele transcrevendo a sua deciso.

    ** Da sentena cabe recurso para a instncia superior (recurso voluntrio, da parte, e no ex

    officio). O recurso do genitor vencido na demanda pode tornar a ao intil, porque o

    recurso se processa to lentamente que quando sai o resultado o nubente j maior de

    idade. O NOVO CC NO DIZ EXPRESSAMENTE QUE A DECISO IRRECORRVEL,

    ENTO CONTINUA CABENDO RECURSO VOLUNTRIO.

  • Obs.: OCC/1916 art. 185 e 186 determinava que ambos os pais deviam autorizar, mas, se

    no concordassem, prevalecia a vontade paterna; e se o casal fosse separado ou divorciado,

    ou tivesse o casamento anulado, prevalecia a vontade da pessoa que estivesse com os filhos

    (redao dada pela lei do divrcio). A CF no art. 5, I e art. 226, 5, estabelece a igualdade

    entre os cnjuges. Hoje se os pais discordam, qualquer um deles pode recorrer autoridade

    judiciria para a soluo da divergncia art. 1.517 e 1.631 do novo CC.

    Obs.: casamento realizado com autorizao judicial est necessariamente sujeito ao regime da

    separao de bens (art. 1.641, III do CC/2002).

    Obs.: a autorizao voluntariamente outorgada pelos pais, tutores e curadores pode ser

    revogada at a celebrao do casamento (art. 1.518, CC/2002).

    III. declarao de duas testemunhas, maiores, parentes ou estranhos, que atestem

    conhec-los e afirmem no existir impedimento que os iniba de casar.

    A prova visa reforar a validade do casamento.

    IV. declarao do estado, domiclio e da residncia atual dos contraentes e de seus

    pais, se forem conhecidos.

    Tal declarao feita e assinada pelos prprios nubentes, em conjunto ou separadamente.

    Visa uma identificao mais precisa, para fixao dos dados a respeito dos mesmos se os

    nubentes residem em diferentes circunscries, o que se verifica por tal documento, o oficial

    pblico ordena que os editais de casamento sejam publicados numa e noutra. (art. 1.527,

    CC/2002).

    V. Certido de bito do cnjuge falecido, da anulao do casamento anterior ou do

    registro do divrcio.

    Isto para evitar o matrimnio de pessoas j casadas, o que infrao a impedimento

    matrimonial art. 1.521, VI do novo CC.

    Note-se que o divrcio pode ser extrajudicial, feito no cartrio de notas, preenchidos os

    requisitos que sero ainda examinados.

    Obs.: o CC/2002 prev a declarao de morte presumida, para instruir o processo de

    habilitao art. 7. Pode ser decretada a morte presumida, sem decretao de ausncia: I. se

    for extremamente provvel a morte de quem estava em perigo de vida; II. se algum,

    desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, no for encontrado at 2 anos aps o trmino

    da guerra. Pargrafo nico: a declarao da morte presumida, nesses casos, somente poder

  • ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguaes, devendo a sentena fixar a data

    provvel do falecimento.

    Se o cnjuge est desaparecido, h como se provar o desaparecimento, conf. as regras da

    ausncia. A morte presumida decorrente da ausncia, quando autorizada a abertura da

    sucesso definitiva (art. 1.571, 1 c.c/ art. 6, 37 e s.), se reconhecida a ausncia, permite a

    habilitao do vivo a novo casamento. Se o ausente (presumido morto) retorna, quando

    o vivo j estabeleceu novo casamento, este casamento no se prejudica.

    Processo de habilitao: Com os documentos apresentados pelos interessados, o oficial

    lavra os proclamas de casamento por edital, fixando-o em lugar ostensivo do cartrio e se

    publica pela imprensa. Tal edital convocao para que todos aqueles que saibam da

    existncia de impedimento capaz de infirmar o projetado casamento venham op-lo.

    Se ningum apresentar impedimento e o oficial no descobrir impedimentos em 15 dias a partir

    da afixao do edital em cartrio (e no da publicao do edital), o oficial entrega aos nubentes

    certido de que esto habilitados a casar nos prximos 90 dias. Aps esse prazo, de

    caducidade, deve ser feita nova habilitao.

    Da dispensa de proclamas.

    O pargrafo nico do art. 1.527 do novo CC permite a dispensa da publicao de proclamas

    quando houver urgncia na realizao do casamento.

    Urgncia o juiz aprecia os casos porque a lei no disse o que urgente para fins de

    casamento. Ex.: doena grave com risco de morte; necessidade de viagem inadivel.

    Para alcanar a dispensa de publicao do edital os contraentes dirigem petio ao juiz, com

    os motivos da urgncia e os docs. que os comprovam. A finalidade do processo a imediata

    realizao do casamento, por isso deve ser rpido.

    DOS IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS.

    Definio: Consentimento e celebrao so elementos sem os quais o casamento no se

    concebe (elementos de EXISTNCIA).

    Requisitos de validade (de constituio vlida) do casamento, determinados por lei, so

    condies relativas aos nubentes.

  • Casamentos que violam as regras de impedimentos so inconvenientes, ameaam a ordem

    pblica, ou representam agravo aos direitos dos nubentes, por prejudicarem interesses de

    terceiros. Ex.: pessoa que tem a qualidade de casada. E se tais pessoas mesmo com a

    proibio se casarem, ocorre nulidade ou anulabilidade, ou ainda outra espcie de sano

    (veremos).

    Histria: o direito cannico determinava uma srie de impedimentos e, o CC/1916, dezesseis

    (art. 183, CC/1916).

    Incapacidade e impedimento diferenas:

    Obs.: o 183 do CC/1916 no fazia distino e por isso sofria crtica.

    incapacidade matrimonial ocorre quando a pessoa no pode se casar com ningum. Ex.:

    menor de 16; pessoa j casada.

    Impedimento matrimonial se baseia em falta de legitimao, conf. o direito processual;

    No se trata aqui de incapacidade genrica, mas de inaptido do nubente para se casar com

    determinada pessoa. Ex.: ascendente com descendente; colaterais em 2 grau. A pessoa no

    incapaz para o casamento, pode casar com outrem s no pode casar com certa pessoa por

    falta de legitimao (no pode casar com o pai, o filho ou o irmo).

    Das espcies de impedimentos matrimoniais classificao:

    Obs.: a classificao cf. os efeitos que decorrem de sua infrao.

    1. Impedimentos dirimentes.

    Conceito so os que levam a infirmar o casamento: o casamento nulo ou anulvel.

    1.1. impedimentos propriamente ditos (chamados de absolutamente dirimentes no

    CC/1916)

    Art. 1.521, CC. Levam nulidade absoluta do casamento.

    Isto porque so proibies impostas no interesse da sociedade (para preservar a famlia e a

    moral). Ento no h transigncia da lei se forem desobedecidos os seus termos. A infrao

    ofensa ordem pblica e aos interesses da sociedade. Cf. art. 1.548, CC.

    Objetivos: impedir npcias incestuosas, vedando casamento entre parentes consanguneos ou

    afins, ou entre pessoas que se apresentam, dentro da famlia, em posio idntica dos

    parentes; preservar a monogamia; evitar casamento que tenha raiz no crime.

    Dos casos: no se podem casar -

    a) ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil. (art. 1.521, I

    novo CC).

  • No podem se casar ainda adotante e adotado. Neste caso o impedimento no fisiolgico,

    mas moral o adotante pai ou me.

    b) afins em linha reta (no CC/1916 falava-se ainda: seja o vnculo decorrente ou no do

    casamento).

    1.521, II, CC/2002.

    Parentesco por afinidade o que liga uma pessoa aos parentes de seu cnjuge. A afinidade s

    impede o casamento se em linha reta afins em linha colateral podem se casar.

    Ento no se podem casar genro e sogra, nora e sogro. Mas podem se casar os cunhados. A

    afinidade em linha reta no se extingue com a dissoluo do casamento. Cf. art. 1.595,

    2 do CC. Obs.: de acordo com o CC (1 do art. 1.595), o parentesco por afinidade se limita

    aos ascendentes, descendentes e irmos do cnjuge ou companheiro.

    c) o adotante com o cnjuge do adotado e o adotado com o cnjuge do adotante.

    Art. 1.521, III, CC.

    O adotante em face da viva do adotado figura como sogro a adoo imita a natureza, e o

    impedimento de ordem moral parentesco civil (antes o impedimento j existia, e nem se

    falava ainda em parentesco civil entre adotante e adotado).

    Obs.: Hoje, nem h necessidade deste dispositivo no Brasil, porque o art. 1.521, II j traz o

    impedimento para afins em linha reta e adotante e adotado so parentes por afinidade em

    linha reta.

    d) irmos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, at o 3 grau inclusive.

    Art. 1.521, IV do CC.

    Colaterais so parentes que descendem de tronco comum, sem descenderem uns dos outros.

    BILATERAIS OU GERMANOS SO OS IRMOS QUE TM O MESMO PAI E A MESMA

    ME.

    Unilaterais so os irmos que tem s um genitor comum.

    Obs.: at 1890 no podiam se casar at colaterais em 4 grau (primos-irmos). Em 1890, dec.

    reduziu a proibio para colaterais de 2 grau ento tios e sobrinhas podiam se casar. O

    CC/1916 que determinou impedimento at (inclusive) colaterais em 3 graus e o CC manteve

    tal regra.

  • Para Silvio de Salvo Venosa[6], o casamento entre colaterais em terceiro grau tio(a) e

    sobrinha(o) possvel, desde que apresentado atestado de sanidade que afirme no existir

    inconveniente para o matrimnio sob o ponto de vista da sade dos cnjuges e da prole sem

    tal documento o casamento nulo. Isto por fora do Dec.-Lei n 3.200/1941. Esta tambm a

    opinio de doutrinadores como Maria Helena Diniz e Flavio Monteiro de Barros. O Projeto de

    Lei n 6.960 prev acrscimo de pargrafo ao dispositivo para permitir o casamento de

    colaterais em terceiro grau.

    e) o adotado com o filho do adotante.

    Art. 1.521, V, CC. A lei redundante, porque adotado e filho do adotante so irmos, portanto

    colaterais em segundo grau, impedidos de se casar pelo inciso anterior.

    Quando editado o CC/1916, s podia adotar quem no tinha filho (e contava com 50 anos),

    ento o impedimento era de casar com filho superveniente, do adotante. Com a possibilidade

    de adoo por quem j tinha filho, a redao da lei mudou no pode casar com filho do

    adotante (no mais superveniente, porque o filho j poderia existir).

    f) as pessoas casadas.

    Para preservar a monogamia.

    A bigamia assim punida no campo civil e no penal[7].

    Conforme o CC, o casamento s se dissolve com a morte, o registro de sentena de divrcio

    (lei 6.515/77), o divrcio no cartrio de notas, e a morte presumida decorrente de ausncia,

    quando autorizada a abertura de sucesso definitiva (art. 1.571, 1, c.c/ art. 6, 37 e s. do CC),

    ou nos casos de declarao de morte presumida do art. 7, mesmo sem a decretao de

    ausncia (antes, no CC/1916, a ausncia no dissolvia o casamento, nem em caso de

    sucesso definitiva e o cnjuge que ficava no podia se casar de novo. No CC/1916, cf. art.

    315, s a morte e, depois de 1977, o divrcio, dissolvia o casamento).

    g) o cnjuge sobrevivente com o condenado por homicdio ou tentativa de homicdio

    contra o seu consorte.

    Art. 1.521, VII do novo CC.

    O impedimento existe mesmo que no haja cumplicidade no homicdio ou tentativa do

    homicdio. O cnjuge sobrevivente no precisa estar conivente com o criminoso, com quem

    agora quer se casar. Antes, por lei de 1890, a cumplicidade era exigida para haver o

    impedimento.

  • O impedimento s abrange o homicdio doloso, e no o culposo. No culposo no h o intuito de

    eliminar um dos cnjuges, para desposar o outro, de modo que no h razo para punir o autor

    com um impedimento matrimonial.

    - preciso que o delinquente tenha sido condenado por tentativa de homicdio ou por

    homicdio. Se foi absolvido, ou se o crime prescreveu, no h impedimento extinguiu-se a

    punibilidade.

    Obs.: O CC/1916 trazia a hiptese de impedimento sob pena de nulidade para o

    casamento entre o cnjuge adltero e seu co-ru, exigindo prova do adultrio, o que era

    difcil, e com o intuito de punir o adultrio, o que era criticado por muitos.

    1.2. Causas de anulabilidade (chamadas no CC/1916 de impedimentos relativamente

    dirimentes).

    Da invalidade do casamento 1.550, CC novo: anulvel o casamento de quem no

    completou a idade mnima para casar; do menor em idade nbil, mas no autorizado

    pelo representante legal; por vcio da vontade, cf. arts. 1556 a 1558 do CC.

    Sua infrao leva anulabilidade do casamento. Isto porque as proibies aqui interessam

    menos sociedade do que s prprias pessoas mencionadas na lei. E a lei visa proteger mais

    tais pessoas que a sociedade. De modo que tais pessoas podem requerer a anulao do

    casamento, ou silenciar (ficando inertes o casamento convalesce do vcio que portava).

    Os impedimentos visam proteger pessoas cujo consentimento defeituoso, ou so ainda

    imaturas para o matrimnio. Ento a lei permite que em certo prazo desfaam o vnculo

    matrimonial.

    Espcies (no se podem casar, sob pena de anulabilidade):

    a) pacientes de coao.

    O caso de vcio do consentimento coao. Obs.: temor reverencial no coao para fins

    de anulabilidade.

    b) os sujeitos a poder familiar, tutela, ou curatela, enquanto no obtiverem, ou lhes no for

    suprido, o consentimento do pai, tutor ou curador.

    O consentimento do incapaz s vlido se houver assistncia dos representantes legais. Isto

    para todos os atos jurdicos, o casamento inclusive vimos os casos de suprimento judicial do

    consentimento.

  • c) menores de 16 anos.

    O menor de 16 imaturo para o casamento. As idades antes de 1890 eram de 12 para a

    mulher e de 14 para o homem, nos direitos civil e cannico. Em 1890 aumentou para 14 e 16

    para mulher e homem, respectivamente, e no CC/1916 era 16 e 18 anos.

    Antes a idade se fixava por inaptido fsica, hoje por inaptido intelectual.

    - se o casamento ocorre antes do 16, podem pedir anulao o cnjuge menor, seus

    representantes legais e seus ascendentes (art. 1.552, CC).

    - Exceo (art. 1.520, CC): menor de 16 pode casar sem impedimento em caso de

    gravidez. melhor que o filho tenha lar constitudo. No conveniente a anulao do

    casamento de seus pais.

    Obs.: no h casamento que evite imposio de pena criminal a redao do CC original trata

    de casamento vlido antes dos 16 anos para evitar a imposio de pena, estando a vtima de

    acordo. Para tanto era preciso obter em juzo o suprimento de idade da menor.

    2. Causas suspensivas (ou impedimentos proibitivos, ou impedientes).

    A infrao a esses impedimentos provoca reao mais tnue da lei, que no o proclama nulo

    nem permite a sua anulao. O casamento continua vlido, mas os infratores ficam sujeitos ao

    regime obrigatrio de separao de bens.

    Aqui as proibies so impostas no interesse da prole do casamento anterior ou para evitar a

    dvida quanto paternidade; ou ento no interesse do nubente presumivelmente influenciado

    pelo outro cnjuge.

    Espcies (no devem casar):

    Art. 1.523, CC.

    I. vivo ou viva que tiver filho do cnjuge falecido, enquanto no fizer inventrio

    dos bens do casal e der partilha aos herdeiros.

    Finalidade da lei: impedir o matrimnio para evitar a confuso entre o patrimnio do novo casal

    com o patrimnio dos filhos do casamento anterior. Com inventrio e partilha dos bens do 1

    casal, apura-se o que pertence aos filhos do casamento anterior, evitando-se a confuso.

    Se o vivo ou a viva casam, desrespeitando o impedimento, o novo casamento no sofre

    ameaa de anulao as npcias so vlidas. Mas o infrator sofre a pena do art.1.641, I do

    CC.

    Obs.: art. 1.523, pargrafo nico: possvel ao solicitando ao juiz a no aplicao da pena

    caso se prove que no h prejuzo (para o herdeiro).

  • II. viva ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou por ter sido

    anulado, at 10 meses depois do comeo da viuvez, ou da dissoluo da sociedade

    conjugal 1.523, II, novo CC.

    Obs.: salvo se antes de findo o prazo provar nascimento de filho ou inexistncia de gravidez.

    (pargrafo nico do art. 1.523, CC).

    - tal impedimento visa evitar a turbatio sanguinis, possvel confuso quanto paternidade de

    filho.

    III. Divorciado(a), enquanto no houver sido homologada ou decidida a partilha dos

    bens do casal.

    IV. tutor ou curador e os seus descendentes, ascendentes, irmos, cunhados ou

    sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto no cessar a tutela ou

    curatela, e no estiverem saldadas as respectivas contas.

    Obs.: pargrafo nico do art. 1.523 salvo se provar inexistncia de prejuzo ao tutelado ou

    curatelado.

    - Tal impedimento visa impedir o casamento de pessoas que se encontram, de certo modo,

    sob o poder de outrem, que se poderia valer de seu poder para conseguir anuncia no

    espontnea.

    - A lei quer que por o tutor que cuidou mal dos bens da tutelada no queira usar seu poder

    (ascendncia) para casar com a mesma e, confundindo os patrimnios, livrar-se de prestar

    contas.

    Oposio dos impedimentos matrimoniais.

    Trata-se de ato de pessoa legitimada, praticado antes da celebrao do casamento, indicando

    ao oficial perante quem se processa a habilitao, ou ao juiz que celebra a solenidade, a

    existncia de um dos fatos indicados na lei como obstativo do matrimnio.

    Preventivamente, a lei amplia as possibilidades de oposio, permitindo a qualquer pessoa

    maior a apresentao de impedimento. E a apresentao do impedimento obrigao de

    quem est ciente da existncia do impedimento.

    Os impedimentos so opostos por declarao escrita, instruda com as provas do fato alegado,

    e assinatura do opoente. Se no tiver prova, o opoente deve dizer o lugar onde as provas

    podem ser encontradas (ex.: municpio em que o nubente est registrado como casado), ou

    nomear 2 testemunhas, residentes no municpio, que afirmem o impedimento.

  • A oposio do impedimento susta a realizao do casamento at deciso final. Ento o

    dispositivo possibilita srio abuso, alcanvel por interposio maliciosa de impedimento. O

    legislador correu tal risco, para facilitar a oposio de impedimentos, evitando a realizao de

    casamentos portadores de defeitos insanveis.

    Os nubentes podem fazer prova contrria ao impedimento, sujeitando o opoente de m-f a

    responder civil e criminalmente por seu ato.

    Obs.: as causas suspensivas s podem ser opostas por parentes em linha reta, ou colaterais,

    em 2 grau, dos nubentes, quer o parentesco seja consanguneo, quer seja afim. So

    impedimentos que interessam apenas aos nubentes e sua famlia, de sorte que se os

    interessados no os querem levantar, para a sociedade e perante a lei irrelevante que o

    casamento se realize.

    Nesses casos, a infrao no implica o desfazimento do casamento as consequncias legais

    decorrentes da realizao do casamento, como a obrigao do regime de bens de separao

    de bens (total), passam a incidir automaticamente, remediando os efeitos da desobedincia ao

    impedimento.

    O CC trata como impedimentos propriamente ditos apenas os bices antes considerados

    dirimentes absolutos, a eles reservando a oposio por qualquer pessoa capaz. art. 1.522,

    pargrafo nico, inova: se o juiz, ou oficial de registro, tiver conhecimento da existncia de

    algum impedimento, ser obrigado a declar-lo, impondo uma obrigao antes de carter

    facultativo.

    O procedimento para a oposio tanto dos impedimentos como das causas suspensivas

    estabelecido pelos art. 1.529 e 1.530 do CC.

    [1] Silvio Lus Ferreira da Rocha, Direito Civil 4 Direito de Famlia. So Paulo: Malheiros

    Editores. 2011. P. 14.

    [2] Idem. Ibidem.

    [3] Porque a sociedade hoje complexa e numerosa, e mesmo com a publicao de editais, na

    fase preventiva, pode ser que ningum aparea para dizer que h impedimento, como o fato de

    o nubente j ser casado.

    [4] Prova equivalente era a expresso no CC/1916.

    [5] Ao supletria do consentimento (dos pais para o casamento do filho menor, por ex.) o

    nus da prova de quem negou consentimento, para que justifique a sua oposio. O autor

    no precisa produzir nenhuma prova o que negou se explica e o juiz toma conhecimento das

  • razes da denegao do consentimento e julga. exceo regra de que quem alega prova

    inverso do nus da prova o ru deve provar que seu motivo justo, ou perde a ao.

    [6] Silvio de Salvo Venosa, Cdigo Civil Interpretado. 2 ed., Ed. Atlas. So Paulo, 2011. P.

    1569.

    [7] Nas Ordenaes a pena para o bgamo ou para a bgama era de morte, com indenizao

    material feita com os bens do delinquente.

    MDULO 2. Ementa: Celebrao do casamento. Provas do casamento. Casamento nulo e

    anulvel. Do casamento putativo.

    Da celebrao do casamento.

    Cerimnia do casamento. A lei confere muita importncia ao casamento, uma das formas de

    constituio da famlia. Ento a sua celebrao tem muitas formalidades.

    Tudo para garantir livre manifestao de vontade, chamar a ateno dos nubentes para a

    relevncia do ato que esto praticando e dar publicidade ao ato.

    Os contraentes, mediante petio instruda com prova de habilitao, requerem,

    autoridade que houver de presidir o ato, a designao de dia, lugar e hora para a cerimnia,

    que se realizar na sede do cartrio de Registro Civil, portas abertas, com toda a publicidade.

    Os Estados devem legislar para organizar a eleio de juiz de paz (art. 98, II, CF).

    JUIZ DE PAZ: rgo judicirio composto de cidados eleitos pelo voto direto, universal e

    secreto, com mandato de quatro anos e competncia para, na forma da lei, celebrar

    casamentos, verificar, de ofcio ou em face de impugnao apresentada, o processo de

    habilitao e exercer atribuies conciliatrias, sem carter jurisdicional, alm de outras

    previstas na legislao.

    Em caso de fora maior, ou se as partes quiserem e a autoridade celebrante consentir, a

    cerimnia se celebra em outro local, pblico ou privado. Para se assegurar a publicidade, as

    portas ficam abertas durante o ato (simblico), sendo livre o ingresso no recinto de qualquer

    pessoa.

    Obs.: se as partes no tiverem motivos relevantes e apenas quiserem, o casamento s se

    realiza noutro local que no a sede do cartrio se anuir o celebrante. Mas em caso de fora

    maior, como no caso de doena grave, o presidente do ato no tem escolha e deve celebrar na

    residncia do nubente doente, ainda que noite, se houver urgncia.

  • duas testemunhas assistem cerimnia, e podem ser ou no parentes dos noivos. Se um

    dos nubentes for analfabeto: 4 testemunhas. Caso a celebrao seja em prdio particular, so

    necessrias 4 testemunhas, ainda que os nubentes sejam alfabetizados (art. 1.539, 2, CC).

    O sistema brasileiro admite o casamento por procurao, desde que esta outorgue poderes

    especiais ao mandatrio para receber, em nome do outorgante, o outro contraente.

    Art. 1.542, CC: casamento pode ser celebrado por procurao, por instrumento pblico, com

    poderes especiais. 1 - a revogao do mandato no necessita chegar ao conhecimento do

    mandatrio; mas, celebrado o casamento sem que o mandatrio ou o outro contraente

    tivessem cincia da revogao, responder o mandante por perdas e danos. 2. O nubente

    que no estiver em iminente risco de vida poder fazer-se representar no casamento

    nuncupativo. 3. A eficcia do mandato no ultrapassar 90 dias; 4. S por instrumento

    pblico se poder revogar o mandato; estabelecendo ainda a anulabilidade do casamento

    realizado pelo mandatrio, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogao do

    mandato, e no sobrevindo coabitao entre os cnjuges; e equipara revogao a invalidade

    do mandato judicialmente decretada (art. 1.550, V e pargr. nico).

    art. 1.535, CC: presentes os noivos, em pessoa ou por procurador especial, bem como as

    testemunhas e o of. do registro (que funciona como escrivo), o celebrante, depois de ouvir dos

    nubentes a afirmao de que querem casar-se, declarar efetuado o casamento, nestes

    termos: de acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos

    receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados.

    Depois lavra-se assento no livro do registro, com todos os minuciosos requisitos do art.

    1.536 do CC e art. 70 da Lei de Regs. Pbls. (Lei n 6.015/73).

    A celebrao do casamento imediatamente suspensa se algum dos nubentes negar o

    propsito de casar-se, manifestar arrependimento, ou declarar que sua concordncia no

    livre e espontnea (art. 1.538, CC). Nesse caso, mesmo que a pessoa volte atrs e queira

    casar, a lei no permite que se retrate no mesmo dia. Isto para assegurar a plena

    liberdade na manifestao do consentimento (evitando-se a coao).

    CELEBRAO DO CASAMENTO PERANTE AUTORIDADE DIPLOMTICA:

    A lei permite o casamento de estrangeiros perante as autoridades diplomticas ou consulares

    do pas de ambos os nubentes.

    Ex.: dois italianos, ou dois alemes, residentes no Brasil podem, se quiserem, consorciar-se

    perante o cnsul de sua ptria.

  • o casamento feito cf. formalidades e rituais do pas estrangeiro, e valer no Brasil como se

    tivesse sido realizado no exterior. Os nubentes devem pertencer ao mesmo pas estrangeiro

    em questo. No pode ocorrer o casamento se as pessoas pertencerem a pases diversos, ou

    se algum dos nubentes for brasileiro.

    possvel ainda o casamento de dois brasileiros no exterior, quando legalizada a certido

    respectiva perante a autoridade diplomtica brasileira. Tal casamento, entretanto, deve ser

    registrado no Brasil.

    Art. 1.544, CC: permite a celebrao do casamento diretamente perante as autoridades

    competentes. Nesta hiptese o casamento considerado como que realizado no Brasil,

    embora necessrias tambm as providncias prprias.

    1.544, CC/2002: o casamento de brasileiros, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas

    autoridades ou os cnsules brasileiros, dever ser registrado em 180 dias, a contar da volta de

    um ou de ambos os cnjuges ao Brasil, no cartrio do respectivo domiclio, ou, em sua falta, no

    1 Ofcio da Capital do Estado em que passarem a residir.

    Casamento in extremis:

    Aqui h risco de morte a um dos nubentes.

    E o casamento necessrio para alcanar os efeitos civis do matrimnio a lei permite a sua

    celebrao, com dispensa das mais importantes formalidades: processo de habilitao e

    publicao de proclamas, e a prpria presena da autoridade (que dispensada). O

    casamento celebrado perante apenas 6 testemunhas que com os nubentes no tenham

    parentesco em linha reta, ou na colateral, em 2 grau (art. 1.540, CC).

    Obs.: Lei de 1890 s validava o casamento realizado nessas circunstncias quando o

    enfermo tivesse filho do outro contraente, vivesse concubinado com ele, ou quando o homem

    houvesse raptado ou deflorado a mulher.

    Obs.: no casamento normal os parentes podem ser testemunhas, pois os interesses de

    nubentes e parentes geralmente coincidem. Aqui no podem, porque os interesses podem no

    coincidir.

    Os nubentes declaram perante as 6 testemunhas que livre e espontaneamente querem

    receber-se por marido e mulher.

    Homologao do casamento in extremis:

    Realizado o casamento, as testemunhas tm 10 dias (art. 1.541, CC no CC/1916, art. 200,

    eram 5 dias) para comparecer perante a autoridade judicial mais prxima, a quem pediro que

    lhes sejam tomadas por termo as seguintes declaraes:

    I. que foram convocadas por parte do enfermo;

    II. que este parecia em perigo de vida, mas em seu juzo;

  • III. que em sua presena declararam os contraentes livre e espontaneamente receber-se

    por marido e mulher.

    Nos casamentos celebrados em iminente risco de vida, sem a presena da autoridade

    competente, os depoimentos das testemunhas sero reduzidos a termo, dentro de trs dias,

    pelo processo das justificaes avulsas, e o juiz verificar se os contraentes poderiam ter-se

    habilitado na forma comum e decidir, a final, no prazo de 10 dias, ouvidos os interessados que

    o requererem.

    Cf. art. 1.541, CC.

    Ento: autuado o pedido, ouvidas as testemunhas, verificado que os contraentes poderiam ter-

    se habilitado na forma comum (se houvesse tempo), o juiz decidir a final. Passada em julgado

    a deciso, o juiz mandar registr-la no livro do registro dos casamentos.

    O assento lavrado retroage para que os efeitos do casamento datem da celebrao, quanto ao

    estado dos cnjuges.

    - A lei parte da presuno de que o enfermo no sobreviver, e o casamento assim

    celebrado normalmente vai gerar todos os efeitos aps a morte daquele contraente. Mas se o

    enfermo convalescer, poder ratificar o casamento em presena da autoridade competente e

    do oficial do registro, no havendo, em tal hiptese, necessidade de se proceder quelas

    formalidades acima mencionadas (a doutrina mantm o prazo de 10 dias).

    - O juiz deve ser cauteloso no exame do processo, porque o casamento feito sem as

    principais formalidades e pode prejudicar os sucessores do enfermo, que acabam perdendo

    direitos hereditrios.

    Do casamento religioso. O Projeto de Lei n 6.960/2002 trata de devolver autonomia ao

    casamento religioso. A equiparao do casamento religioso ao civil ocorreria, nos termos desse

    Projeto, desde que celebrado e registrado por entidade religiosa devidamente habilitada junto

    Corregedoria Geral de Justia de cada Estado ou Distrito Federal.

    Antes o direito cannico tratava da celebrao do casamento e suas nulidades.

    Em Portugal e no Brasil-Imprio o casamento de catlicos era celebrado por sacerdotes

    catlicos. S em 1861 que a lei regulou o casamento de no catlicos.

    - com a proclamao da Repblica, em 1889, separou-se Igreja e Estado (fim do Imprio), e

    o Dec. n. 181, de 24.1.1890, estabelece o casamento civil no Brasil.

  • - Hoje se prev a eficcia da cerimnia religiosa lei 6.015, de 31.12.1973 arts. 71 a 75

    (Lei de Registros Pblicos). E consoante art. 226, CF e CC/2002 art. 1.515 e 1.516.

    Hoje no Brasil: vale o casamento civil, e o casamento religioso.

    se s houver casamento religioso, este s tem eficcia se levado a efeito com todas

    as formalidades impostas pela Lei processo de habilitao, idntico ao reclamado para

    o casamento civil (art. 1.516, caput, CC/2002). A Lei n 6.015/73 trata da habilitao para o

    casamento nos arts. 67 a 69, e o CC nos art. 1.525 a 1.532.

    na prtica poucos s fazem o religioso, com o cumprimento das formalidades legais,

    requerendo posteriormente a eficcia civil desse casamento. Porque, neste caso, mais fcil

    fazer o civil tambm.

    O casamento religioso sem as formalidades no tem eficcia civil.

    O casamento religioso com efeitos civis. At 1890, o casamento no Brasil era religioso.

    Decreto (n. 181) de 1890 criou o casamento civil, negando efeitos civis ao matrimnio realizado

    perante a Igreja. O mero casamento religioso passa em 1890 a gerar simplesmente

    concubinato (art. 72, 4 da Constituio de 1891 estabelecia que a Repblica s reconhece o

    casamento civil, cuja celebrao ser gratuita).

    Mas por causa dos sentimentos religiosos da populao brasileira, a CF de 1934 d eficcia ao

    casamento religioso desde que a habilitao dos nubentes, a verificao e oposio dos

    impedimentos se fizessem perante a autoridade civil e observada a lei civil (art. 146 da

    CF/1934 o casamento civil continuava gratuito; o casamento religioso, de qualquer religio,

    desde que o rito no contrarie a ordem pblica ou os bons costumes, produzir os mesmos

    efeitos que o casamento civil, desde que, perante a autoridade civil, na habilitao dos

    nubentes, na verificao dos impedimentos e no processo de oposio, sejam observadas as

    disposies da lei civil e seja ele inscrito no Reg. Civil. O registro ser gratuito e obrigatrio. A

    lei estabelecer penalidades para a transgresso dos preceitos legais atinentes celebrao

    do casamento).

    No CCOM2002 os efeitos civis do casamento religioso dependem dos procedimentos dos art.

    1.515 e 1.516, mantendo dualidade de situaes j existentes (homologada ou no,

    previamente, a habilitao).

    Art. 1.515: o casamento religioso que atender s exigncias da lei para a

    validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro prprio,

    produzindo efeitos a partir da data de sua celebrao.

  • Art. 1.516: O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos

    requisitos exigidos para o casamento civil. 1. O registro civil do casamento religioso dever

    ser feito em 90 dias da sua realizao, por comunicao do celebrante ao ofcio competente,

    ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente a

    habilitao regulada neste Cdigo. Aps tal prazo, o registro depender de nova

    habilitao 2. O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas no CC, ter

    efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil,

    mediante prvia habilitao perante a autoridade competente e observado o prazo do art.

    1.532. 3: ser nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos

    consorciados houver contrado com outrem casamento civil.

    Das provas do casamento.

    importante evidenciar o casamento, prov-lo os efeitos so muito importantes na rbita

    privada (e pblica). Ex.: presuno de paternidade dos filhos nele havidos; condio de meeiro

    do cnjuge; condio de herdeiro do cnjuge; nulidade de outros casamentos posteriores ou o

    estabelecimento de um regime e bens entre os cnjuges.

    Obs.: antes, o casamento tinha que ser provado tambm para saber se o filho era legtimo ou

    ilegtimo hoje isto no necessrio, porque todos os filhos so iguais, tm igual tratamento

    CF, art. 227, 6.

    o casamento ato solene: s pode ser provado com a certido do registro.

    Mas o rigor no pode ser excessivo: se for impossvel produzir a prova requerida, e o

    casamento realmente se realizou, a lei traz excees para que o casamento seja provado por

    outras formas. Ex.: casamento no exterior e casamento cuja celebrao se evidencia em

    processo judicial.

    A certido do registro.

    1.543, CC/2002: o casamento realizado no Brasil se prova pela certido do registro (O

    CC/1916, art. 202, dizia ainda: feito ao tempo de sua celebrao. Esta frase no mais

    necessria, porque o registro pode ser feito tambm depois da celebrao, quando o

    casamento religioso registrado para efeitos civis posteriormente o registro no precisa ser

    simultneo boda).

    O casamento registrado no livro de registro, e a certido deste registro prova o casamento.

  • Exceo: destruio dos livros do registro por incndio, enchente, revoluo, guerra

    etc. Nestes casos as partes podem pleitear direitos decorrentes da sua condio de cnjuges

    apenas por no conseguirem obter certido do respectivo registro. Trata-se de exceo regra

    geral supra justificada a falta ou perda do registro civil, admissvel outra espcie de prova.

    Obs.: tal exceo s possvel se justificar a perda ou falta do registro. O interessado deve

    justificar a destruio do registro; e depois, por outros docs., ou testemunhas, evidencia a

    existncia do casamento. Ex.: provado que o registro de casamento foi destrudo em

    Terespolis durante as chuvas de 2011, quem se casou naquela cidade pode provar o

    casamento por outros meios que no a certido do assento. Ex.: certido de nascimento de

    filho do casal.

    Obs.: a lei admite a exceo mas rigorosa. Para provar o casamento por outro meio, primeiro

    deve provar que no possvel alcanar a certido do registro civil.

    Alguns julgados afirmam que havendo dvida sobre a prova do casamento, o juiz deve

    se inclinar pela sua existncia.

    Deve haver cautela por parte do juiz que analisa outros meios de prova. O risco de se

    reconhecer direitos de cnjuge a quem tem unio estvel, por exemplo.

    POSSE DO ESTADO DE CASADOS.

    a lei determina a prova do estado de casados, para facilitar a prova do casamento 1.545 e

    1.547, CC.

    A lei atribui ao fato representado pela posse do estado de casado fora para dar juridicidade

    a uma situao que no se achava provada por isso muitos procuram emprestar-lhe ainda

    maiores efeitos, a fim de consider-la como elemento capaz de sanear os eventuais defeitos

    formais do casamento.

    A lei considera tal situao (posse do estado de casado) em 2 hipteses, completando-se o

    tema com consideraes sobre a eventual ampliao de seus efeitos.

    Conceito: posse do estado de casados a situao ostensiva de duas pessoas que vivem

    como cnjuges (coabitao), no propsito de figurar como tal aos olhos de todos. Como a

    posse, situao de fato, apresenta-se como exteriorizao do domnio (situao de direito),

    tambm a posse do estado de casados se manifesta por um comportamento que,

    provavelmente, revela a existncia de um casamento, criando uma presuno de sua

    existncia.

  • A permisso de emprestar efeito posse do estado de casado se funda na ideia de que s

    vezes, mesmo celebrado o casamento no foi registrado (por negligncia do of. do registro

    civil), ou ento na ideia de que os cnjuges, ou outras pessoas que saberiam onde tal registro

    se encontra, j so mortos.

    Sua importncia:

    1. na prova do casamento de pessoas falecidas ou que no possam manifestar

    vontade;

    CCOM2002: amplia a proteo aos filhos, quando os cnjuges no puderem manifestar

    vontade (203, CC/1916 dizia parecido: se os cnjuges esto vivos mas por molstia mental no

    podem declarar o local de seu matrimnio, a regra por igual se aplica).

    Obs.: a proibio (supra) - de contestar o casamento de pessoas que faleceram na posse do

    estado de casados no absoluta. H exceo: no h proibio se ficar provado, mediante

    certido do registro civil, que uma delas j era casada quando contraiu o matrimnio

    impugnado. E a proibio de contestar no to ampla: s atua se os indigitados cnjuges j

    houverem falecido (no atual sistema), ou estiverem impossibilitados de se manifestar (novo

    CC), e para evitar prejuzo prole comum.

    A posse do estado de casado (situao de fato) exterioriza uma situao de direito, que no se

    pode comprovar porque no se sabe o local do casamento por falta de informao. Caso

    contrrio (vivos e capazes de se expressar), os cnjuges indicariam o local onde poderia se

    obter a certido comprovadora do casamento.

    Obs.: s se pode invocar a posse do estado de casados para proteger a prole comum. Ento,

    se o pai (ascendente) quer provar o casamento para herdar do filho, no pode se fundar na

    posse do estado de casado art. 1.545, CC.

    2. na dvida entre provas a favor e contra o casamento.

    Art. 1.547, CC.

    Aqui h litgio sobre a existncia do casamento, sem prova convincente de um lado ou de

    outro, e a posse do estado de casado usada. O julgamento favorvel ao casamento se os

    dois viveram ou vivem na posse do estado de casados.

    A deciso do juiz subjetiva, o que leva ao enfraquecimento da lei que estabelece rigor para

    formalizar o casamento. Qualquer concubinato pode ser promovido a casamento, se houver

  • litgio (requisito fcil) sobre a matria e se o julgador, ante a inexistncia de registro, mas diante

    de outra prova contrria, reconhecer que h dvida entre prova a favor e contra o matrimnio.

    3. Como elemento saneador de eventuais defeitos de forma.

    (art. 1.547 do CC).

    A posse do estado de casados deve gerar uma consequncia ainda mais ampla: sanar os

    eventuais vcios formais do casamento.

    Prova do casamento celebrado no exterior.

    A prova cf. a lei do pas onde se celebrou: aplicao do princpio geral locus regit actum.

    A lei permite (vimos) o casamento de 2 brasileiros no exterior perante agente consular

    brasileiro. Aqui a prova do casamento feita por certido do assento no registro do consulado.

    O CC/2002 determina o registro do casamento em cartrio brasileiro em 180 dias a contar da

    volta de um ou de ambos os cnjuges ao Brasil.

    Casamento cuja celebrao se evidenciou em processo judicial:

    Neste caso a inscrio da sentena no livro do registro civil ter efeito retroativo, tanto no que

    concerne aos cnjuges como aos filhos. Ento supe-se realizado o casamento na data

    proclamada no julgado, de modo que seus efeitos operem desde ento, e no apenas a partir

    do registro.

    A sentena substitui registro defeituoso (destrudo ou adulterado), e uma vez registrada gera

    todos os efeitos do assento original, a partir da data da celebrao.

    Do casamento nulo e anulvel.

    Essa matria se relaciona com os impedimentos que estudamos e suas espcies e efeitos.

    Antes, a questo da anulao do casamento era mais importante, porque no havia divrcio,

    ento a anulao era a nica forma de encerrar o vnculo matrimonial (alm da morte).Hoje

    mais fcil o divrcio, prescindindo inclusive de prazo prvio de separao (desde a EC

    n 66/2010) e podendo ser feito extrajudicialmente, de modo que os processos

    anulatrios so raros.

    A diferena entre ato nulo e anulvel a sua importncia social. O nulo ofende a ordem pblica

    por conter vcio mais grave, o que impede a sua ratificao; o anulvel prejudica interesse

    particular e pode ser convalidado.

  • O MP pode requer a nulidade qualquer que seja a hiptese de nulidade absoluta, e no

    s quando celebrado o casamento perante autoridade incompetente, como fazia

    parecer o CC/1916.

    Casamentos anulveis podem ser anulados no prazo legal que varia de 180 dias a 4 anos

    - o prazo decadencial para ao anulatria[1]; e a ao de nulidade imprescritvel, no

    cessando jamais o direito de prop-la.

    Obs.: o casamento anulvel se convalesce do vcio pelo silncio das partes (ratificao

    tcita ou presumida). J os atos nulos no podem ser ratificados. Ento os nulos so

    imprescritveis.

    Casamento anulvel qualquer pessoa pode opor impedimentos dirimentes (atitude

    preventiva do Estado, para evitar casamento viciado) antes da sua realizao, mas s pode

    propor ao de nulidade do casamento os particulares que tenham interesse em tal soluo.

    porque, depois que j foi feito o casamento, mesmo com vcio, o Estado muda de atitude

    agora o importante que o casamento persista; s os interessados (quem tem legtimo

    interesse) podem pleitear a anulao.

    Morto um dos cnjuges, mesmo que o caso seja de nulidade absoluta, cessa o interesse

    social em obter declarao de ineficcia do casamento, de modo que tal declarao s poder

    ser pedida por particulares que mostrem esse interesse e a sua legitimidade.

    Do casamento inexistente:

    Tal teoria surge para a matria de casamento.

    Aqui falta pressuposto de existncia (vontade, declarao de vontade e objeto idneo).

    Surge tal conceito (ato inexistente) porque na doutrina francesa no havia nulidade sem texto

    de lei (disposio expressa de lei). Ento o juiz nada podia fazer em face de casamento

    defeituoso se no havia lei prevendo a nulidade. Houve casamento entre pessoas do mesmo

    sexo e criou-se a tese de casamento inexistente. Usa-se tal qualificao hoje para casamento

    em que no houve celebrao; matrimnio sem manifestao de vontade dos nubentes.

    Com a teoria do ato inexistente, o casamento no subsistia nessas hipteses mesmo sem lei

    para a ao de nulidade.

    diferenas entre atos nulos e inexistentes:

    1. Na ao de nulidade a lei exige procedimento comum com rito ordinrio, em que

    nomeado curador que defenda o vnculo. Se o casamento inexistente no necessria

    nenhuma ao para proclamar a ineficcia (ou pelo menos no se exigem os rigores e

    solenidades da ao anulatria).

  • No caso do ato inexistente as partes podem solicitar ao juiz a declarao de inexistncia, sem

    as formalidades da ao anulatria (basta rito sumrio e simples despacho do juiz na petio

    no nem ao, mas mera diligncia com fim exclusivamente declaratrio, sem os rigores do

    processo contencioso). Enquanto o casamento nulo tem vcios que lhe do existncia precria,

    o inexistente simples aparncia, se bem que s vezes o juiz ou a parte tenha necessidade de

    proclamar a sua inexistncia jurdica. O juiz pode declarar a inexistncia ex officio (enquanto

    alguns autores, como Silvio Rodrigues e Pontes de Miranda, acham que o ato nulo s pode ser

    anulado por pleito do MP ou da parte interessada).

    2. O casamento nulo ou anulvel pode ser declarado putativo, se foi contrado de boa-f

    pelos cnjuges ou por um deles. J o casamento inexistente, que nada, no pode obter

    declarao de putatividade.

    3. No casamento inexistente, teoricamente os pseudocnjuges podem contrair nova unio

    sem anular a precedente, pois o 1 casamento no existe.

    Das crticas teoria do ato inexistente:

    Para Silvio Rodrigues, a ideia de ato inexistente intil basta a considerao de atos nulos

    e anulveis. Se o casamento no foi lavrado no livro de registro, no h unio jurdica, nem a

    necessidade de procedimento judicial para declarar a inexistncia. Trata-se de nada jurdico,

    como o casamento na novela, no teatro. Mas se foi lavrado o assento de casamento, no

    importa que os nubentes tenham o mesmo sexo, ou que a celebrao tenha sido presidida por

    pessoa inteiramente incompetente, ou que os nubentes no tenham manifestado

    consentimento. Existe um fato juridicamente relevante, que ou nulo e no gera efeitos na

    rbita do Direito (embora exista em face do Direito, no um nada jurdico); ou o ato

    anulvel. No se trata de fato jurdico, mas de ato humano e ilcito, que existe em face do

    Direito (ato ilcito).

    E para cancelar o registro a lei exige ao ordinria com todas as solenidades reclamadas para

    ao de nulidade do casamento s com tal ao os interesses das partes e da sociedade

    esto protegidos. As partes na ao tm o interesse de defesa mais amplamente assegurado;

    e a sociedade conta com a presena do MP na lide e do defensor do vnculo (o novo CC no

    fala o mesmo sobre defensor do vnculo), e assim a sociedade fica mais bem defendida.

    Seria erro (segundo Silvio Rodrigues) cancelar registro de casamento por mero despacho

    judicial na petio inicial, sem oitiva da outra parte e fora de processo ordinrio regular. O

    registro s se cancela aps sentena, com trnsito em julgado, proclamando a nulidade do

  • casamento. Se no, haveria insegurana jurdica na sociedade. mais vantajoso ento falar

    em nulidade absoluta apenas, a falar em ato inexistente e nulidade.

    Ainda, se o casamento inexistente no pode ser considerado putativo, o cnjuge de boa-f e

    os filhos ficam privados dos efeitos da putatividade, o que inconveniente.

    Se a ideia de inexistncia pode conduzir a novo casamento mesmo sem sentena judicial que

    declare sem efeito o casamento anterior, sua admisso perigosa, por abrir as portas

    bigamia.

    Para encerrar a ideia inconveniente de casamento inexistente, s superar o preconceito de

    que no h nulidade sem texto. E tal preconceito nunca houve no direito brasileiro.

    Casos de nulidade absoluta:

    - Casamento contrado com infrao de impedimento propriamente dito (absolutamente

    dirimente): casamento entre parentes consanguneos ou afins; ou entre pessoas que na famlia

    possuem posio idntica aos parentes; ou entre pessoas j casadas; ou o casamento que tem

    razes no crime.

    - Casamento contrado pelo enfermo mental sem o necessrio discernimento para os atos da

    vida civil (1.548, I, CC novo).

    Casos de anulabilidade do casamento:

    Aqui no h interesse social em desfazer o casamento a anulao protege diretamente e

    principalmente interesse individual.

    Tem ao anulatria quem se casou em certas circunstncias e quer agora se proteger,

    defender seus interesses. Ex.: pessoas coagidas ou que no atingiram idade nupcial.

    possvel que as pessoas interessadas queiram manter o casamento e no desfaz-lo e o

    fato no ofende a sociedade.

    Das hipteses:

    - Casamento contrado perante autoridade incompetente.

    Art. 1.560, II e 1.554, novo CC nulidade pode ser alegada em at 2 anos se o casamento

    foi celebrado por autoridade incompetente. Se no o for, o casamento fica ratificado por

    inrcia das partes.

  • - Coao ou casamento por incapaz de consentir: s os prprios nubentes ou seus

    representantes podem requerer a anulao (ato anulvel, e no nulo). O casamento feito

    por incapaz de consentir: s quem devia consentir e no o fez pode pedir anulao e

    s se no tiver assistido ao ato, porque se assistiu e no ops impedimento porque

    (presume-se) consentiram.

    Coao (art. 1.550, III, e 1.558, CC): prazo de 4 anos para propor ao (1.560, IV, CC).

    Obs.: inovao do novo CC: 1.559 a coabitao, havendo cincia do vcio, valida o ato.

    Obs.: art. 153, CC: no coao o simples temor reverencial.

    - Pessoas incapazes de consentir e menores sujeitos ao poder familiar ou tutela:

    Casamento anulvel se no houver autorizao do representante o menor pode se casar a

    partir dos 16 anos, mas precisa de autorizao. Obs.: ato anulvel pode ser ratificado pelos

    cnjuges, ou se ningum alegar vcio (art. 1.550, II, CC). Prazo para anular: ao deve ser

    proposta em 180 dias, pelo incapaz, assim que deixa de ser, ou por seus representantes

    legais ou seus herdeiros necessrios o prazo contado do dia em que cessou a

    incapacidade, no 1 caso, e a partir do casamento, no 2o; e no terceiro caso o prazo se

    conta da morte do incapaz a regra de se preservar o casamento quando sua

    celebrao houverem assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por

    qualquer modo, manifestado sua aprovao (art. 1.555, CC).

    Art. 1.550, I, CC: anulao do casamento de quem no atingiu a idade nbil.

    A anulao do casamento dos menores de 16 anos ser requerida: pelo prprio cnjuge

    menor, por seus representantes legais, por seus ascendentes art. 1.552, CC.

    Obs.: casamento de menor no anulado se dele resultou gravidez (CC, art. 1.551).

    O CC permite a confirmao do casamento pelos interessados que se casaram antes dos

    16 anos, assim que completem 16 anos. Podem confirmar o casamento com a autorizao de

    seus representantes legais, se necessria, ou com suprimento judicial (art. 1553, CC).

    - Anulao do casamento realizado pelo mandatrio, sem que ele ou o outro contraente

    soubesse da revogao do mandato, e no sobrevindo a coabitao entre os cnjuges (art.

    1.550, V). Equipara-se revogao a invalidade do mandato judicialmente decretada (art.

    1.550, pargr. nico). E aqui o prazo decadencial de 180 dias, a partir da data em que o

    mandante tiver conhecimento da celebrao (1.560, 2).

  • - Anulao do casamento por erro essencial.

    a causa mais frequente na prtica (218 e 219 do CC/1916). Para o CCOM2002 (art. 1556,

    CCOM2002), trata-se de anulabilidade por vcio de vontade (vontade livre mas no consciente)

    um dos nubentes ao consentir erra quanto pessoa do outro cnjuge (erro essencial).

    O art. 1.557 diz o que erro essencial:

    I. o que diz respeito identidade do outro cnjuge, sua honra e boa fama, sendo

    esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportvel a vida em comum ao

    cnjuge enganado.

    Obs.: trata-se de identidade fsica e civil, ou social. Identidade fsica difcil criar

    dvida. Identidade civil: conjunto de atributos e qualidades com que a pessoa aparece na

    sociedade. O erro sobre a identidade civil se manifesta como causa de anulao do casamento

    quando algum descobre, em seu cnjuge, depois do casamento, algum atributo inesperado e

    inadmitido, certa qualidade repulsiva, capaz de lhe transformar a personalidade, faz-lo pessoa

    diferente daquela querida.

    O erro sobre a honra tambm amplo. Erro sobre a honra erro sobre a dignidade da pessoa

    que vive honestamente. O juiz decide o que, de acordo com a sua poca, considera ser

    honesto, moral, cf. a honra.

    II. A ignorncia de crime, anterior ao casamento, que por sua natureza torne

    insuportvel a vida conjugal (no CC/1916 o crime tinha que ser inafianvel e a

    condenao tinha que ser por sent. condenatria transitada em julgado).

    III. A ignorncia, anterior ao casamento, de defeito fsico irremedivel ou de molstia

    grave e transmissvel, por contgio ou herana, capaz de pr em risco a sade do outro

    cnjuge ou de sua descendncia.

    Obs.: Defeito fsico irremedivel aquele capaz de tornar inatingvel um dos fins do

    casamento. Sua prova pode ser pericial ou resultar das circunstncias.

    Nesse caso a lei presume juris et de jure ser intolervel a vida em comum para o cnjuge

    enganado, que v frustrada justa expectativa de satisfao sexual, procurada no casamento

    diante da impotncia no h como atingir um dos fins do casamento. Da a presuno de que a

    vida em comum, para o cnjuge enganado, se torna insuportvel.

    A existncia das molstias graves traz ao cnjuge repulsa ao outro e a vida se torna

    insuportvel. Da deferida a anulao se demonstrar que a doena anterior ao matrimnio,

    grave e transmissvel. O pleito pode ser ilidido se o ru provar, ou as circunstncias

    demonstrarem, que o postulante tinha cincia do fato anteriormente ao enlace.

    IV. (este inciso no havia no 219 do CC/1916) A ignorncia, anterior ao casamento, de

    doena mental grave que, por sua natureza, torne insuportvel a vida em comum ao cnjuge

    enganado.

    Ento so requisitos para anular: 1. que a circunstncia ignorada ao casamento por um dos

    cnjuges preexista ao casamento (se o crime praticado depois do casamento ou se a doena

  • vem depois das npcias, no h vcio do consentimento). 2. QUE a descoberta da verdade,

    depois do casamento, torne intolervel a vida em comum para o cnjuge enganado (obs.: no

    inciso III, supra, a insuportabilidade presumida).

    Prazo: 3 anos para anular casamento por erro essencial, cf. art. 1.560, III, CC.

    Obs.: defloramento da mulher ignorado pelo marido: era hiptese de anulao prevista no

    CC/1916, revogada pela CF/88 (no h no CCOM2002).

    Obs.:

    Em caso de erro essencial com fulcro nos incisos I e II a coabitao, havendo cincia do

    vcio, valida o ato (1.559, CC). Os julgados devem considerar apenas a coabitao continuada,

    voluntria e consciente, intencionalmente relevando o vcio, como impeditiva da anulao do

    casamento.

    Obs.: deve ser demonstrada a insuportabilidade da vida em comum esta prova elemento

    essencial ao acolhimento da pretenso. E a coabitao j por si contraditria alegao de

    rejeio ao relacionamento, aps a cincia do vcio.

    PROCESSO ANULATRIO:

    Nulidade ou anulao do casamento: ao ordinria, para assegurar ampla defesa. O proc. se

    inicia pelo pedido de separao de corpos, ajuizada pelo autor (art. 1.562, CC). Concedida a

    separao, o cnjuge poder pedir alimentos provisionais, que lhe sero arbitrados, cf. suas

    necessidades e as possibilidades do ru.

    A separao de corpos e os alimentos provisionais so medidas cautelares, preparatrias do

    processo principal. Ento: se a ao principal no for ajuizada em 30 dias, aquelas medidas

    perdem a sua eficcia.

    Da sentena que declara a anulao ou nulidade do casamento deve o juiz, de ofcio,

    ordenar a remessa dos autos ao tribunal superior, haja ou no recurso voluntrio da parte

    vencida as decises aqui so sujeitas ao duplo grau de jurisdio, no produzem efeito

    seno depois de confirmadas em superior instncia.

    Transitada em julgado, a deciso anulatria deve ser averbada no registro civil.

    Do casamento putativo:

    A anulao do casamento assunto de menor interesse, j que h o divrcio (vimos). Ento os

    efeitos da putatividade passam a ser de menor interesse tambm.

    Casamento nulo: h interesse pblico no desfazimento do vnculo matrimonial, o vcio maior.

    A sentena de nulidade tem efeito retroativo e extingue o ato. Cessa o regime de bens entre os

    cnjuges; as doaes propter nuptiae retornam ao doador (pois foram feitas condicionalmente

    se o casamento seguisse); volta-se a utilizar o nome anterior ao casamento (se com o

  • casamento houve modificao); e os esposos perdem o direito de se sucederem, na ordem da

    vocao hereditria (porque deixam de ser esposos).

    Consequncias deste casamento: a mulher no deve contrair novo matrimnio nos 10 meses

    subsequentes ao trmino da coabitao, para evitar a confuso sobre a paternidade do filho

    que nascer nesse nterim salvo se no intervalo der luz um filho. Outra consequncia: efeito

    civil do casamento para os filhos.

    Casamento anulvel: Aqui o vcio menos grave, e s atinge as partes envolvidas.

    Por causa da boa-f do prejudicado, o casamento anulado ou at nulo tem todos os efeitos do

    casamento vlido, at a data da decretao da nulidade a boa-f de um ou de ambos os

    cnjuges purifica o ato, dando-lhe efeitos enquanto durar trata-se do casamento putativo.

    filhos: independentemente da nulidade ou anulao, recebem os efeitos civis do casamento

    presuno de paternidade, independentemente da boa-f dos cnjuges (art. 1.561, 2, CC -

    se ambos os cnjuges estavam de m-f ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis s aos

    filhos aproveitaro).

    Conceito de casamento putativo: (putare = imaginar, pensar)

    o casamento reputado ser o que no . A lei, por fico, em vista da boa-f dos contraentes

    ou de um deles, atribui ao casamento anulvel, ou mesmo nulo, os efeitos do casamento

    vlido, at a data da sentena que o invalidou (se o casamento nulo ou anulvel, mas feito de

    boa-f por ambos os cnjuges, os efeitos do casamento alcanam os cnjuges de boa-f e os

    filhos[2]. Se o casamento feito de boa-f s por um dos cnjuges, s este e os filhos

    aproveitam os efeitos civis. Se o casamento feito de m-f por ambos os cnjuges, os efeitos

    s alcanam os filhos). Trata-se de homenagem da lei boa-f, protegendo os interesses do

    cnjuge inocente (a boa-f) e a prole (porque antes, no CC/1916, se o filho era adulterino ou

    incestuoso, ou seja, se o filho era ilegtimo, no podia nem ser reconhecido. A CF/88, art. 227,

    6, equipara todos os filhos, independentemente da natureza da filiao) art. 1.561,

    CC.

    Hoje, como os filhos sempre recebem os efeitos do casamento, independentemente do vcio,

    no importa mais saber se o casamento putativo ou no, em relao aos filhos no h mais

    o intuito de proteo dos filhos. Por isso o tema perdeu importncia.

    Origem histrica do casamento putativo: Alguns acham que vem do direito cannico

    (porque no Direito Romano havia o divrcio, e o casamento no tinha tanta importncia, ento

    no se falava muito em anulao, da no se falar tambm em casamento putativo, ou efeitos

    do casamento anulado); outros acham que vem do Direito Romano. Foi no Direito cannico

    que se construiu e elaborou a teoria do casamento putativo, como hoje.

  • O Direito Cannico trouxe muitos impedimentos matrimoniais. Ento muitas pessoas, por

    ignorncia ou erro, ainda que de boa-f, infringiam tais impedimentos. Da a necessidade de

    atenuar o rigor da pena de nulidade, pelo menos em relao aos contraentes de boa-f e

    prole, para benefici-los. Surge e se desenvolve a a concepo de casamento putativo (h

    quem pense que surge no Direito Romano e se desenvolve no Direito cannico).

    Ento o casamento putativo surge porque aquele que se dispe a casar e sem culpa no tem o

    casamento, acreditando em sua obteno, fica em situao injusta. Mas antes havia mais

    requisitos para o casamento putativo hoje basta a boa-f de um dos cnjuges. Antes era

    necessria ainda a celebrao na Igreja e a publicao de editais.

    A regra do art. 1.561 do novo CC antiga, igual do art. 75 do Dec. n. 181/1890.

    Os efeitos do casamento putativo so comparados por alguns aos efeitos do casamento

    desfeito por divrcio, ou por morte de um dos cnjuges.

    Obs.: momento em que se reclama a boa-f: momento da celebrao do casamento (e no

    durante toda a vida conjugal. Exige-se que o casamento tenha sido contrado de boa-f, e no

    que a boa-f subsista at a data da anulao. A m-f posterior no afeta os efeitos civis que a

    lei declara). De modo que, se depois os cnjuges tm cincia do impedimento dirimente, que

    leva nulidade do casamento, isso no impede a putatividade. Antes havia tese defendendo

    que os cnjuges deviam se separar assim que tomassem conhecimento do impedimento. Este

    entendimento no prevalece modernamente.

    O erro de fato e o erro de direito: Para levar ao casamento putativo o direito cannico exigia

    que o erro fosse escusvel (no podia se beneficiar a pessoa que fizesse erro grosseiro, por

    sua prpria negligncia).

    Questo: s o erro de fato justifica a declarao de putatividade, ou pode-se tambm admitir o

    erro de direito?

    Embora no se possa ignorar a lei, para beneficiar maior nmero de pessoas com a declarao

    de putatividade, tanto o erro de fato quanto o de direito justificam o casamento putativo o

    casamento ser anulado ou declarado nulo, mas continua prestigiado o cnjuge de boa-f com

    os efeitos do casamento.

    - Para efeito de prova alguns acham que preciso distinguir a hiptese de erro de fato da

    hiptese de erro de direito. No 1 caso, de erro de fato, deve-se presumir a boa-f dos

    cnjuges, enquanto no caso de erro de direito os cnjuges tm o nus de provar a boa-f, se

    pretendem a declarao de putatividade.

    Efeitos da putatividade:

  • para os cnjuges: os efeitos do casamento putativo variam cf. estejam ambos ou um

    s deles de boa-f (1 do 1.561, novo CC).

    - se ambos estavam de boa-f:

    a) so vlidas as convenes antenupciais, que operam at a data da anulao. Ento, ao se

    proceder partilha dos bens, atender-se- ao que a se houver ajustado.

    b) Se a dissoluo decretada depois da morte de um dos cnjuges, o outro herda

    integralmente o do falecido, se no houver descendentes e ascendentes. Se a morte de uma

    das partes advm depois da anulao, inexistem direitos sucessrios entre os antigos

    cnjuges, pois no h mais como falar em cnjuge sobrevivente.

    c) As doaes propter nuptiae no devem ser devolvidas.

    - se apenas um dos cnjuges est de boa-f: nenhum efeito beneficia o outro,

    enquanto todos os nus dele decorrentes o sobrecarregam. E o consorte de boa-f pode

    ou no invocar a existncia do casamento para se beneficiar dos efeitos civis dele

    derivados.

    Reclamando a aplicao da putatividade, o cnjuge de boa-f aproveita as vantagens do

    casamento: tem direito penso alimentcia, beneficia-se do acordo antenupcial, pode usar o

    sobrenome do consorte etc.

    De outro lado, anuladas as npcias por culpa de um dos cnjuges, incorrer na perda de todas

    as vantagens havidas do cnjuge inocente e na obrigao de cumprir as promessas que lhe fez

    no contrato antenupcial (art. 1.564, I e II, CC).

    Para os filhos os efeitos civis incidem mesmo sem a boa-f de ambos os cnjuges.

    - Antes da CF/88, a principal consequncia do casamento putativo era a legitimao

    (proteo) dos filhos havidos durante ou antes do casamento invalidado.

    - Mas o art. 227, 6 da CF/88 extingue a necessidade de tal efeito da putatividade: equipara

    os filhos, qualquer que seja a natureza da filiao.

    - Ento os filhos sempre recebem os efeitos do casamento, como se este fora vlido:

    participam da sucesso de seus genitores, ficam sujeitos ao poder familiar, tm direito aos

    sobrenomes de famlia etc.[3]

    Do culpado pela anulao do casamento: O culpado pela anulao do casamento perde

    todas as vantagens havidas do cnjuge inocente (ento, para o cnjuge culpado, a lei ignora a

    existncia e os efeitos do casamento) e fica obrigado a cumprir as promessas que lhe fez no

    contrato antenupcial.

    [1] Era de 10 dias a 2 anos o prazo para a ao anulatria no CC/1916.

    [2] Ex.: efeito de emancipar o menor entre 16 e 18 anos que se casa.

  • [3] Antigamente, na redao primitiva do CC/1916, o cnjuge de m-f perdia o ptrio poder

    sobre os filhos, que passava a ser exercido exclusivamente pelo genitor de boa-f, e ainda no

    sucedia ao filho, embora este, naturalmente, o sucedesse.

    MDULO 3. Ementa: Efeitos jurdicos do casamento. Direitos e deveres dos cnjuges.

    EFEITOS JURDICOS DO CASAMENTO.

    O CC/1916 trazia regras j ultrapassadas no cap. I, Disposies gerais, no Tt. II: 229 o

    casamento gera o efeito jurdico de legitimar o a famlia (isto porque a CF anterior no art. 175

    afirmava que a famlia era constituda pelo casamento a famlia fora do casamento no era

    considerada, e nem os filhos nela havidos). Hoje a CF no art. 226, 3 protege a famlia

    constituda fora do matrimnio.

    Outras regras (CC/1916): art. 230: o regime de bens se inicia do casamento, o que mantido

    no novo CC (1.639, 1) - porque antes do CC/1916 o regime de bens passava a vigorar

    quando os cnjuges tinham relao sexual tinham consumado o casamento (teoria do Direito

    Cannico). Era necessrio provar a no consumao do casamento para dizer que no se

    havia estabelecido o regime de bens ento os bens no se presumiam comuns, por ex., no

    regime da comunho universal.

    E art. 230, (CC/1916): regime de bens irrevogvel[1].

    Deveres recprocos entre os cnjuges:

    CF/88 direitos e deveres iguais, para os cnjuges, em relao sociedade conjugal (art. 226,

    5).

    Hoje, no se fala mais em deveres e direitos do homem e direitos e deveres da mulher, mas

    sobre direitos e deveres dos cnjuges.

    O CC/2002 trata da igualdade entre cnjuges no exerccio dos direitos conjugais o CC trata

    dos efeitos jurdicos do casamento em captulo prprio, destinado sua eficcia: art. 1565 e s.

    CC/2002 e os efeitos jurdicos do c