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Judas faz as "saudações de praxe". Fala de si mesmo de maneira humilde. Não faz prosopopéia, não se gloria do fato de ser um dos "irmãos do Senhor" (3). Também a realidade de ser "irmão de Tiago", a maior figura eclesiástica do Concilio da Igreja Cristã de Jerusalém, não é "explorada" por ele. Bastava uma singela e educada alusão ao "parentesco" (verso 1). Além disso, apesar de sua preocupação com o perigo que rondava a Igreja, ele afirmou três convicções intocáveis que habitavam seu coração com relação aos "amados" aos quais ele está escrevendo: eles são chamados por Deus para servirem-no na História e gozarem-no na eternidade; são amados por Deus — e disso ele não duvida, pois vira a paixão alucinante que movera seu "irmão-Senhor" até a cruz em favor dos seres humanos, especialmente "os que o receberam"; são guardados em Jesus Cristo, aquele que oferece inquebráveis asas de galinha para os pintinhos que desejam abrigar-se à sua sombra [verso 1; Mt 23.37). Como um bom-pastor escritor, Judas prepara o coração das suas ovelhas leitoras afirmando — independentemente do duro conteúdo que o seu livro possuiria — suas intenções e objetivos inquestionáveis em relação ao seu público-alvo: que a misericórdia, a paz e o amor se multiplicassem numa "dízima periódica" de virtudes nas vidas deles (verso 2). Depois dessa "introdução", o nosso pastor-escritor se põe como que a explicar a razão pela qual ele — reconhecidamente um homem de coração pastoral — teve que assumir ares tão proféticos nesse livro que estava sendo algo que não desejava. Em outras palavras Judas diz: "Desse meu livro poderia se dizer que foi escrito a contragosto, forçado por situações de emergência." (Versos 3 e 4.) É sempre de bom alvitre explicar aos leitores o "contexto", as condições que nos levam a produzir certas reflexões. Talvez essa seja então a "deixa" para eu mesmo explicar meus motivos quanto a escrever este pequeno comentário comparativo da nossa realidade eclesiástica com a realidade dos dias do "irmão do Senhor". De fato, eu estava me preparando para escrever outras coisas quando me vi forçado a escrever este Síndrome de Lúcifer. Talvez seja porque minha mente reagiu de modo pastoral às notícias que tive a respeito de "certos indivíduos que se introduziram" em igrejas às quais estou especialmente ligado pelos laços de indissolúvel preocupação pastoral. Ou ainda, talvez seja pela triste visão que tenho de certos "apóstolos de vento" que andam por aí

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Judas faz as "saudações de praxe". Fala de si mesmo de maneira humilde. Não faz prosopopéia, não se gloria do fato de ser um dos "irmãos do Senhor" (3). Também a realidade de ser "irmão de Tiago", a maior figura eclesiástica do Concilio da Igreja Cristã de Jerusalém, não é "explorada" por ele. Bastava uma singela e educada alusão ao "parentesco" (verso 1).

Além disso, apesar de sua preocupação com o perigo que rondava a Igreja, ele afirmou três convicções intocáveis que habitavam seu coração com relação aos "amados" aos quais ele está escrevendo: eles são chamados por Deus para servirem-no na História e gozarem-no na eternidade; são amados por Deus — e disso ele não duvida, pois vira a paixão alucinante que movera seu "irmão-Senhor" até a cruz em favor dos seres humanos, especialmente "os que o receberam"; são guardados em Jesus Cristo, aquele que oferece inquebráveis asas de galinha para os pintinhos que desejam abrigar-se à sua sombra [verso 1; Mt 23.37).

Como um bom-pastor escritor, Judas prepara o coração das suas ovelhas leitoras afirmando — independentemente do duro conteúdo que o seu livro possuiria — suas intenções e objetivos inquestionáveis em relação ao seu público-alvo: que a misericórdia, a paz e o amor se multiplicassem numa "dízima periódica" de virtudes nas vidas deles (verso 2). Depois dessa "introdução", o nosso pastor-escritor se põe como que a explicar a razão pela qual ele — reconhecidamente um homem de coração pastoral — teve que assumir ares tão proféticos nesse livro que estava sendo algo que não desejava. Em outras palavras Judas diz: "Desse meu livro poderia se dizer que foi escrito a contragosto, forçado por situações de emergência." (Versos 3 e 4.) É sempre de bom alvitre explicar aos leitores o "contexto", as condições que nos levam a produzir certas reflexões. Talvez essa seja então a "deixa" para eu mesmo explicar meus motivos quanto a escrever este pequeno comentário comparativo da nossa realidade eclesiástica com a realidade dos dias do "irmão do Senhor".

De fato, eu estava me preparando para escrever outras coisas quando me vi forçado a escrever este Síndrome de Lúcifer. Talvez seja porque minha mente reagiu de modo pastoral às notícias que tive a respeito de "certos indivíduos que se introduziram" em igrejas às quais estou especialmente ligado pelos laços de indissolúvel preocupação pastoral. Ou ainda, talvez seja pela triste visão que tenho de certos "apóstolos de vento" que andam por aí