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  • Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaEmbrapa Recursos Genticos e Biotecnologia

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Frutas Nativas da Regio Centro-Oste do

    Brasil

    Editores Tcnicos

    Roberto Fontes VieiraTnia da Silveira Agostini Costa

    Dijalma Barbosa da SilvaFrancisco Ricardo Ferreira

    Sueli Matiko Sano

    Embrapa Recursos Genticos e BiotecnologiaBraslia, DF

    2006

  • Exemplares desta edio podem ser adquiridos na

    Embrapa Recursos Genticos e BiotecnologiaServio de Atendimento ao CidadoParque Estao Biolgica, Av. W/5 Norte (Final) Braslia, DF CEP 70770-900 Caixa Postal 02372 PABX: (61) 448-4600 Fax: (61) 340-3624http://www.cenargen.embrapa.bre.mail:[email protected]

    Comit de PublicaesPresidente: Sergio Mauro FolleSecretrio-Executivo: Maria da Graa Simes Pires NegroMembros: Arthur da Silva Mariante Maria de Ftima Batista Maurcio Machain Franco Regina Maria Dechechi Carneiro Sueli Correa Marques de Mello Vera Tavares de Campos CarneiroSupervisor editorial: Maria da Graa Simes Pires NegroNormalizao Bibliogrfi ca: Maria Iara Pereira MachadoEditorao eletrnica: Maria da Graa Simes Pires NegroCapa: Andressa Vargas Ermel

    1 edio1 impresso (2006): 300

    Todos os direitos reservadosA reproduo no autorizada desta pulicao, no todo ou em parte,

    constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.160).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP).Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia

    F 945 Frutas nativas da regio Centro-Oeste / Roberto Fontes Vieira ... [et al.] (editores). -- Braslia: Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, 2006. 320 p.

    ISBN 978-85-87697-44-8

    1. Frutas nativas - Centro-Oeste Brasil. I. Vieira, Roberto Fontes.

    581.464817 CDD 21.

  • AutoresAilton Vitor Pereira - Embrapa Transferncia de Tecnologia Escritrio de Negcios de Goinia, Km 4, BR 153, Goinia, GO, Caixa postal 714, CEP 74.001-970, E-mail:[email protected]

    Alessandra Pereira Fvero - Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, CP 02372, 70770-900, Braslia-DF. E-mail: [email protected]

    Amanda Caldas Porto - CNPq/IBAMA/ Laboratrio de Conservao de Plantas Medicinais e Aromticas/ E-mail: [email protected], Orientao Suelma Ribeiro Silva;

    Ana Paula Soares Machado Gulias - CNPq- PROBIO / E-mail: [email protected]

    Antonieta Nassif Salomo - Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, Parque Estao Biolgica PqEB s/n, Av. W5 Norte (fi nal), Caixa postal 02372, Braslia, DF, CEP 70.770-900, E-mail: [email protected]

    Camila Lopes Jorge - Mestre em Fitopatologia / Email: [email protected]

    Carolyn Elinore Barnes Proena - Fundao Universidade de Braslia, Departamento de Botnica, C.P. 4457. CEP 70919-970 Braslia DF. E-mail: [email protected]

    Dijalma Barbosa da Silva - Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, Parque Estao Biolgica PqEB s/n, Av. W5 Norte (fi nal), Caixa postal 02372, Braslia, DF, CEP 70.770-900, E-mail: [email protected]

    Elainy Botelho Carvalho Pereira - Agncia Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundirio AGENCIARURAL, Rua Jornalista Geral Vale, 331, Caixa postal 331, Setor Leste Universitrio, Goinia, GO, CEP 74.610-060, E-mail: [email protected]

    Ernane Ronie Martins - Universidade Federal de Minas Gerais Campus Montes Claros. CP: 135. Montes Claros, MG. CEP: 39404-006. E-mail: [email protected]

    Fabio Gellape Faleiro - Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73310-970, Planaltina, DF; E-mail: fi [email protected], [email protected]

  • Fernanda Vidigal Duarte Souza - Embrapa Mandioca e Fruticultura, CP 007, 44380-000, Cruz das Almas- BA. E-mail: [email protected]

    Francisco Ricardo Ferreira - Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, CP 02372, 70770-900, Braslia-DF. E-mail: [email protected]

    Graziella Garritano - CNPq-PROBIO/ Email: [email protected]

    Ildo Eliezer Lederman - Embrapa/IPA. E-mail: [email protected]

    Joo Emmanoel Fernandes Bezerra - Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuria IPA, Av. San Martin, 1371, Bonji. CEP 50761-000 Recife PE. E-mail: [email protected]

    Jos Felipe Ribeiro - Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73310-970, Planaltina, DF E-mail: [email protected]

    Jos Renato Santos Cabral - Embrapa Mandioca e Fruticultura, CP 007, 44380-000, Cruz das Almas- BA. E-mail: [email protected]

    Jos Teodoro de Melo - Embrapa Cerrados, km 18 BR 020 Rodovia/BSB/Fortaleza CEP 73310-970 - Planaltina-DF, Caixa Postal 08223, E-mail: [email protected]

    Josu Francisco da Silva Junior - Embrapa Tabuleiros Costeiros, Av. Beira Mar, 3250, Praia 13 de Julho. CEP 49025-040 Aracaju SE. E-mail: [email protected]

    Juliana Pereira Faria - CNPq/PROBIO, Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, Caixa Postal 02372, CEP 70770-900, Braslia, DF. E-mail: [email protected]

    Lzaro Jos Chaves - Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Gois, Campus Samambaia, Caixa Postal 131, Goinia, GO. CEP 74001-970. E-mail: [email protected]

    Luis Carlos Bernacci - Instituto Agronmico de Campinas, Caixa Postal Campinas, SP

    Marcelo Fideles Braga - Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73310-970, Planaltina, DF; E-mail: fi [email protected], [email protected]

  • Mrcia Aparecida de Brito - CNPq, Braslia, DF, E-mail: [email protected]

    Maria Magaly V. da Silva Wetzel - Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, Caixa Postal 02372, CEP 70770-900, Braslia, DF

    Mariana Pires de Campos Telles - Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Gois, Campus Samambaia, Caixa Postal 131, Goinia, GO. CEP 74001-970. E-mail: [email protected]

    Nilton T. V. Junqueira - Embrapa Cerrados Caixa Postal 08223, CEP 73301-970, Planaltina, DF. E-mail: [email protected]

    Paulo Cezar Lemos de Carvalho - Universidade Federal da Bahia

    Paulo Santelli - Departamento de Botnica, UnB

    Paulo Srgio Nascimento Lopes - Universidade Federal de Minas Gerais Campus Montes Claros. CP: 135. Montes Claros, MG. CEP: 39404-006.E-mail: [email protected]

    Renata C. Martins - Departamento de Botnica, UnB. C. Postal 4457, CEP 70.919-970. E-mail: [email protected]

    Roberto Fontes Vieira - Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, Caixa Postal 02372, CEP 70770-900, Braslia, DF, E-mail: [email protected]

    Rogrio Carvalho Fernandes - Universidade Federal de Minas Gerais - Campus Montes Claros. CP: 135. Montes Claros, MG. CEP: 39404-006

    Ronaldo Veloso Naves - Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Gois, Caixa Postal 131, CEP 74001.970, Goinia-Go. E-mail: [email protected]

    Sueli Matiko Sano - Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73301-970, Planaltina, DF. E-mail: [email protected]

    Tnia da Silveira Agostini Costa - Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, Caixa Postal 02372, CEP 70770-900, Braslia, DF. E-mail: [email protected]

    Tarciso S. Filgueiras - Reserva Ecolgica do IBGE

  • SUMRIO

    ESPCIES DE MAIOR RELEVNCIA PARA A REGIO CENTRO-OESTE........12

    ABACAXI DO CERRADO......................................................................................26

    ARA...................................................................................................................42

    ARATICUM.............................................................................................................64

    BARU......................................................................................................................76

    BURITI..................................................................................................................102

    CAGAITA..............................................................................................................120

    CAJUS DO CERRADO........................................................................................136

    COCO-CABEUDO.............................................................................................154

    GABIROBA...........................................................................................................164

    JATOB-DO-CERRADO......................................................................................174

    MANGABA............................................................................................................188

    MARACUJ-DO-CERRADO................................................................................216

    MURICI..................................................................................................................236

    PEQUI...................................................................................................................248

    PRA-DO-CERRADO..........................................................................................290

    JENIPAPO............................................................................................................304

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

    12

    ESPCIES DE MAIOR RELEVNCIA PARA A REGIO

    CENTRO-OESTE

    Tnia da Silveira Agostini-CostaDijalma Barbosa da Silva

    Roberto Fontes VieiraSueli Matiko Sano

    Francisco Ricardo Ferreira

    HISTRICO

    As frutas nativas brasileiras e, especialmente as de ocorrncia na regio Centro-Oeste, j eram usadas pelos povos indgenas desde pocas remotas. Essas espcies desempenharam um papel fundamental na alimentao dos desbravadores e colonizadores da regio, principalmente, no que se refere ao fornecimento de vitaminas e de alguns minerais essenciais sade.

    At meados do sculo XX, a regio Centro-Oeste possua baixa densidade demogrfi ca, uma pequena atividade agrcola de subsistncia com predominncia da criao extensiva de gado. A partir dos anos 60, com a adoo de uma poltica de interiorizao e de integrao nacional, esta regio foi inserida no contexto de produo de alimentos e energia do pas. Com a ocupao das terras do Cerrado por agricultores, surgiu a necessidade de desenvolver pesquisas para buscar solues para os principais problemas que limitavam as atividades agrcolas na regio, considerada como uma das maiores fronteiras agrcolas do mundo. Paralelo construo de Braslia, foram feitos diversos relatos sobre utilizao de plantas do cerrado, pelo Professor Ezequias Heringer e pela Dra. Mitzi Brando, entre outros, que j naquele perodo destacavam a riqueza de espcies frutferas do cerrado, como o pequi (HERINGER, 1970), o baru (FILGUEIRAS e SILVA, 1975) e vrias outras espcies comestveis (FERREIRA, 1972 e 1973).

    Com a criao do Centro de Pesquisa Agropecuria dos Cerrados, Embrapa Cerrados, foi implementado um programa de pesquisa na rea de recursos naturais, no qual foi contemplado um levantamento botnico e de uso das plantas mais importantes j utilizadas pela populao local. A partir de ento, foram iniciadas pesquisas para avaliar o potencial de produo e as possibilidades de cultivo destas espcies nativas, visando sua possvel insero no sistema de produo agrcola da regio. Publicaes como Aproveitamento alimentar de espcies nativas

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

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    dos cerrados: araticum, baru, cagaita e jatob (ALMEIDA et al., 1987), Cozinha goiana (ORTENCIO, 2000), cuja primeira edio foi publicada em 1967, e Cerrado: aproveitamento alimentar (ALMEIDA, 1988) destacam a importncia das espcies nativas e descrevem receitas sobre o aproveitamento de frutas nativas da regio Centro-Oeste, com grande nfase para o pequi, o buriti, o baru e o araticum.

    A descrio botnica de vrias espcies foi publicada em Cerrado: espcies vegetais teis (ALMEIDA et al., 1998). O destaque para o potencial latente destas frutas foi observado aps a conveno da biodiversidade realizada no Brasil em 1992, quando foi dada nfase aos recursos genticos autctones e ao seu uso, conferindo um valor agregado maior a espcies at ento relegadas ao segundo plano pelos melhoristas genticos e agricultores. At ento, as informaes sobre as frutas nativas na regio Centro-Oeste foram publicadas de forma dispersa. Em 1994, informaes botnicas, agronmicas e nutricionais sobre 35 espcies das frutas mais importantes para esta regio foram reunidas em um livro (SILVA et al., 1994), posteriormente ampliado e re-editado com 57 espcies (SILVA et al., 2001).

    A mais conhecida divulgadora da cultura e dos costumes goianos, Cora Coralina, na cidade de Gois, GO, conhecida por ter produzido os mais variados doces de frutas da regio. Recentemente, podemos citar algumas iniciativas de processamentos, como as sorveterias de polpas de frutas nativas estabelecidas em Goinia, GO; em Uberlndia, MG e em Braslia, DF; as polpas congeladas de frutas nativas, produzidas em Montes Claros, MG, e as barras de cereais, produzidas em Pirinpolis, GO. O Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, atravs da Feira da Pequena Agricultura Familiar, que acontece em Braslia, DF, desde 2004, tem trazido oportunidade para a comercializao e a divulgao de produtos regionais brasileiros, onde se verifi ca o grande potencial existente quanto aos sabores, cores e aromas de frutas nacionais, com seu valor nutritivo desconhecido.

    Atualmente, graas ao desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que viabilizaram a sua utilizao em bases econmicas, a regio se transformou em um importante plo de produo de alimentos no pas. Entretanto, muitos produtos agrcolas, como as frutas nativas, tradicionalmente utilizadas pela populao local ainda no foram inseridas no contexto do agronegcio brasileiro, seja por aspectos scio-culturais, forma de explorao extrativista, falta de tecnologia para a produo em escala ou mesmo pelo desconhecimento do seu potencial de aproveitamento. O grande desafi o das espcies autctones envolve a produo e a comercializao, onde esforos pontuais aprimoram o conhecimento e possibilitam o avano deste novo mercado.

    A regio Centro-Oeste do Brasil abrange 3 biomas: o Cerrado, o Pantanal e parte de Floresta Amaznica (Figura 1). Da rea total dos biomas cerrado e pantanal, predominantes na regio Centro-Oeste, apenas 16,8% foram consideradas reas de cerrado no antropizado, atravs do uso de imagens de satlite.

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

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    Figura 1. Ocorrncia dos biomas Cerrado e Pantanal nos estados do Brasil; destaque para a regio Centro-Oeste. Confeco: Srgio Eustquio de Noronha. Fonte: Mapa dos Biomas do Brasil - Primeira Aproximao escala 1:5.000.000, IBGE, 2004.

    O Cerrado ocorre, predominantemente, no Planalto Central do Brasil e ocupa cerca de 23% do territrio nacional (206 milhes de hectares), constituindo o segundo maior bioma do Pas. Apresenta uma fl ora, que considerada a mais rica dentre as savanas do mundo, estimando-se um nmero entre 4 mil e 10 mil espcies de plantas vasculares (SOUZA et al., 2002; PEREIRA, 1997). A

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

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    acelerada explorao agropecuria desenvolvida no cerrado, durante as ltimas dcadas, teve como conseqncia, alm do desenvolvimento scio-econmico da regio, a remoo da vegetao nativa atravs dos desmatamentos realizados, em sua maioria, sem planejamento e fi scalizao, prejudicando a biodiversidade, a sustentabilidade e causando desequilbrios ecolgicos neste ecossistema (SILVA et al., 2001; MENDONA, 1999).

    O Pantanal Matogrossense uma das maiores extenses midas contnuas do planeta. Sua rea de 138.183 km2, com 65% de seu territrio no estado de Mato Grosso do Sul e 35% no Mato Grosso. A regio uma plancie aluvial infl uenciada por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai, onde se desenvolve uma fauna e fl ora de rara beleza e abundncia. Pela elevada diversidade, exuberncia e importncia das reservas naturais, esta rea foi reconhecida pela UNESCO, no ano 2000, como Reserva da Biosfera. Cerca de duas mil espcies de plantas foram classifi cadas de acordo com seu potencial como forrageiras, apcolas, frutferas e madeireiras.

    A regio Centro-Oeste, apesar de ter experimentado um rpido processo de urbanizao nos ltimos anos, bero de diversas etnias indgenas e comunidades tradicionais, quilombolas, caipiras, entre outras. Alm destas, destaca-se, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, uma populao que vive entre as maiores reas inundveis do planeta, subsistindo base de atividades agropastoris nas fazendas da regio ou em pequenas propriedades beira dos rios, a populao pantaneira.

    Atualmente, um dos grandes problemas das comunidades tradicionais do Centro-Oeste, a ausncia de segurana alimentar, reforada pela falta de mecanismos que promovam a gerao de renda.

    O Cerrado e o Pantanal apresentam uma grande riqueza de espcies que podem ser consideradas Plantas do Futuro, ainda subutilizadas por comunidades locais, quer por desconhecimento cientfi co ou pela falta de incentivos para sua comercializao. A substituio da vegetao natural e o manejo inadequado de muitas culturas tm levado perda de oportunidades que poderiam benefi ciar os agricultores familiares e as comunidades tradicionais que habitam a regio Centro-Oeste.

    As frutas nativas so muito utilizadas para o consumo in natura ou para a produo de doces, gelias, sucos e licores sendo, assim, potencial para famlias que se favorecem com o eco-turismo regional, prtica em crescente ascenso na regio Centro-Oeste. Estas frutas esto adaptadas aos solos locais e praticamente no necessitam de insumos qumicos, apresentando baixo custo de implantao e manuteno do pomar. Alm de serem usadas na formao de pomares domsticos e comerciais, as frutas nativas do cerrado podem ser utilizadas com sucesso na recuperao de reas desmatadas ou degradadas; no plantio intercalado com refl orestas; no enriquecimento da fl ora; no plantio em parques e jardins; no plantio em reas acidentadas, para controle de eroso e no plantio de reas de proteo ambiental. Alm destas caractersticas, muitas espcies fazem parte da fl ora apcola

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

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    do cerrado e suas folhas e cascas so empregadas na medicina popular (SILVA et al., 2001). Uma grande variedade destas frutas nativas est sendo comercializada em feiras da regio Centro-Oeste, nas margens das rodovias, nas Centrais de Abastecimento (CEASAs) e, at mesmo, em redes de hipermercados, com preos competitivos e com grande aceitao pelo consumidor.

    O crescente aumento no consumo de frutas constitui uma importante tendncia da dcada. Fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes caracterizam a funo diferenciada que as frutas exercem sobre o adequado desenvolvimento e funcionamento do organismo. Fitoqumicos especiais desempenham um importante potencial protetor e preventivo de doenas causadas pelo estresse oxidativo, que incluem distrbios cardiovasculares, cnceres, catarata, reumatismos e muitas outras doenas auto-imunes (SLOAN, 1999; KAUR e KAPOOR, 2001). O aumento do fl uxo de informaes disponveis nos meios de comunicao aliado ao crescimento das infl uncias multiculturais, busca por uma dieta mais saudvel e s grandes variedades de sabores e cores que as frutas tropicais conferem as refeies, est provocando uma mudana nos hbitos alimentares da populao.

    Na Tabela 1 esto listadas 71 frutas nativas que ocorrem no cerrado e no pantanal da regio Centro-Oeste do Brasil. Tendo em vista a baixa remunerao e o baixo poder aquisitivo dos pequenos agricultores instalados nesta regio, torna-se necessrio identifi car alternativas que permitam, ao mesmo tempo, melhorar o padro de qualidade de vida dos agricultores e gerar emprego e renda para as comunidades rurais. As frutas nativas identifi cam-se perfeitamente com o perfi l da pequena propriedade rural, podendo ser utilizadas em maiores escalas, em funo da demanda apresentada pelo mercado.

    TABELA 1. Principais frutas nativas na regio Centro-Oeste do BrasilNome popular Nome cientfi co FamliaAbacaxi do cerrado Ananas ananassoides BromeliaceaeAmora preta Rubus brasiliensis RosaceaeAmora-do-mato Ximenia americana OlacaceaeAra Psidium fi rmum, Psidium pohlianum MyrtaceaeAra-branco, ara Psidium myrsinoides MyrtaceaeAraticum, cabea-de-negro, marolo Annona crassifl ora, A. coriacea AnnonaceaeBabau Attalea brasiliensis Arecaceae (Palmae)Bacupari Salacia crassifl ora HippocrateaceaeBacupari, saput Peritassa campestris HippocrateaceaeBacuri Platonia insignis ClusiaceaeBanha de galinha Swartzia langdorfi i LeguminosaeBaru Dipteryx alata LeguminosaeBuriti Mauritia fl exuosa Arecaceae (Palmae)

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

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    Nome popular Nome cientfi co Famlia

    Buritirana, xiriri Mauritiella armata Arecaceae (Palmae)Cagaita Eugenia dysenterica MyrtaceaeCajazinho do cerrado Spondias cf. lutea AnacardiaceaeCaju-de-rvore-do-cerrado Anacardium othonianum AnacardiaceaeCaju rasteiro Anacardium pumilum AnacardiaceaeCaju Anacardium occidentale AnacardiaceaeCatol Attalea barreirensis Arecaceae (Palmae)Catol, piaaba Attalea exigua Arecaceae (Palmae)Chich Sterculia striata SterculiaceaeCoco-guariroba Syagrus oleracea Arecaceae (Palmae)Coco-indai Attalea geraensis Arecaceae (Palmae)Coquinho Syagrus fl exuosa Arecaceae (Palmae)Curriola, Gro-de-galo Pouteria ramifl ora, P. torta SapotaceaeFruta-de-ema Parinari obtusifolia ChrysobalanaceaeGabiroba Campomanesia pubescens, C.

    cambessedeanaMyrtaceae

    Gravat Bromelia balansae BromeliaceaeGuapeva Pouteria cf. guardneriana SapotaceaeIng Inga alba Leguminosae Jacarati Jacaratia heptaphylla CaricaceaeJatob Hymenaea stigonocarpa, H. stilbocarpa, H. coubaril Leguminosae

    Jenipapo Genipa americana RubiaceaeJeriva Syagrus romanzoffi ana Arecaceae (Palmae)Lobeira Solanum lycocarpum SolanaceaeMacaba Acrocomia aculeata Arecaceae (Palmae)Mama cadela Brosimum gaudichaudii MoraceaeMamozinho-do-mato Carica glandulosa CaricaceaeMangaba Hancornia speciosa SapotaceaeMaracuj do cerrado Passifl ora spp. Passifl oraceae

    Marmelada de bezerro, Marmelada-de-cachorro, goiaba preta

    Alibertia edulis Rubiaceae

    Marmelada-de-cachorro Alibertia sessilis RubiaceaeMarmelada Alibertia concolor, A. macrophylla Rubiaceae

    Melancia do cerrado Melacium campestre Cucurbitaceae

    MuriciByrsonima coccolobifolia, B. crassa, B. pachyphylla, B. umbelata, B. variabilis

    Malpighiaceae

    Murici, muricizo Byrsonima verbascifolia MalpighiaceaeMurta Eugenia punicifolia Myrtaceae

    Mutamba, embira Guazuma ulmifoliaSterculiaceae

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

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    Nome popular Nome cientfi co FamliaOlho-de-boi, caqui-do-cerrado Diospyros burchelli EbenaceaePalmito-da-mata Euterpe edulis Arecaceae (Palmae)Pequi Caryocar brasiliense, C. coriaceum Caryocaraceae

    Pra do cerrado Eugenia klostzchiana MyrtaceaePerinha Eugenia lutescens MyrtaceaePitanga vermelha Eugenia calycina MyrtaceaePitanga-roxa Eugenia unifl ora MyrtaceaePitomba da mata Talisia esculenta SapindaceaePitomba-de-Leite Manilkara spp. SapotaceaePitomba-do-cerrado Eugenia luschnathiana MyrtaceaePua Mouriri pua MemecilaceaeSapucaia Lecythis pisonis LecythidaceaeSaput, Bacupari Salacia elliptica Hippocrateaceae

    SELEO DE FRUTAS NATIVAS

    A experincia demonstrada em pases desenvolvidos, onde se procura agregar valor propriedade agrcola, com atividades como o eco-turismo associadas aos produtos locais, tem levado a redescoberta destes produtos, agora de uma forma empresarial. Desta forma, torna-se evidente a abertura de um mercado de produtos locais, associados ao desenvolvimento sustentvel e s caractersticas da cultura regional. As diferentes frutas nativas apresentam valores diferenciados em funo do sabor e do aroma peculiar, do valor nutricional agregado, da disponibilidade das frutas, que ainda no apresentam plantios comerciais, da facilidade ou difi culdade de colheita, que no mecanizada, e conservao ps-colheita.

    A seleo de espcies proposta neste trabalho visou destacar as frutas que apresentam maior potencial para a explorao sustentada a mdio e a curto prazo, com base no seu potencial econmico, nutricional, social e ambiental, com perspectiva de fomentar seu uso pelo pequeno agricultor e por comunidades rurais.

    O projeto Plantas do Futuro1 teve como um de seus objetivos selecionar as espcies de frutas nativas da regio Centro-Oeste que apresentam maior potencial

    1 O projeto Plantas do Futuro foi realizado com apoio do PROBIO/MMA e coorde-nado pela Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia. O projeto promoveu um seminrio regional, em 2005, com especialistas nos grupos de espcies medicinais, aromticas, fruteiras, ornamentais e forrageiras, de maior relevncia para a regio Centro-Oeste. A identifi cao das espcies de maior prioridade para pesquisa e desenvolvimento foi feita atravs de consulta participativa.

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

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    para a explorao sustentada, com base em seu potencial econmico, nutricional, social e ambiental, com perspectiva de fomentar seu uso pelo pequeno agricultor e por comunidades rurais.

    A identifi cao das espcies de maior prioridade para pesquisa e desenvolvimento foi feita atravs de consulta participativa a profi ssionais de diferentes reas tcnicas e de diferentes instituies (privadas, governamentais e no governamentais). A consulta visou avaliar o grau de impacto exercido pelas frutas nativas conhecidas por cada um dos consultores, com notas variando entre 0 e 10, para os seguintes impactos:

    Impacto agronmico: viabilidade de sementes e/ou mudas, produtividade no campo, resistncia a pragas e doenas, etc;

    Impacto nutricional: potencial alimentar e valor nutricional da fruta (teor e biodisponibilidade de vitaminas, minerais, antioxidantes, etc.);

    Impacto tecnolgico: disponibilidade atual de tcnicas, protocolos e equipamentos para processamento ps-colheita;

    Impacto ambiental: potencial para explorao sustentada, favorecendo a preservao da espcie nativa considerada;

    Impacto econmico: capacidade atual ou potencial para gerao de renda, tanto no campo quanto na indstria;

    Impacto social: potencial para enriquecimento da alimentao regional e/ou gerao de emprego e renda na agricultura familiar.

    O resultado da avaliao foi discutido pelos participantes e as espcies de frutas nativas pr-selecionadas foram classifi cadas em dois grupos, de acordo com a perspectiva de fomentar seu uso pelo pequeno agricultor e por comunidades rurais. 1. Frutas de elevado potencial de explorao sustentada a curto prazo:

    Pequi (Caryocar brasiliense Camb.); Mangaba (Hancornia speciosa Gomes); Cagaita (Eugenia dysenterica DC.); Baru (Dipteryx alata Vog.); Araticum (Annona crassifl ora Mart.); Maracuj do cerrado (Passifl ora setacea); Caju (Anacardium othonianum Rizzini); Buriti (Mauritia fl exuosa L.f.); Gabiroba (Campomanesia cambessedeana O. Berg.);

    2. Frutas com potencial de explorao sustentada a mdio prazo:

    Jatob (Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne);

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

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    Jenipapo (Genipa americana L.); Ara (Psidiumguianeense Swartz); Coquinho (Butia capitata (Mart.) Becc.); Pra do cerrado (Eugenia klotzchiana Berg.); Abacaxi do cerrado (Annanas ananassoides (Baker) L.B. Smith); Murici (Byrsonima verbascifolia (L) DC.).

    As informaes sobre cada uma destas 16 espcies foram discutidas (Tabela 2), complementadas e compiladas, originando os prximos captulos desta publicao, que se dispem na forma de uma reviso tcnico-cientfi ca.

    PRINCIPAIS AES E NECESSIDADES DE PESQUISA

    Nos ltimos anos, rgos de pesquisa, ensino, proteo ambiental e extenso rural da regio tm estudado e divulgado o potencial de utilizao das espcies do cerrado, alm de investir na conscientizao dos agricultores quanto importncia de preserv-las e utiliz-las de forma racional e sustentvel. Apesar do esforo de vrios grupos de cientistas no estudo das fruteiras nativas da regio do cerrado nos ltimos 30 anos, foi constatado, durante o Seminrio Plantas do Futuro/2005, que inmeras questes bsicas ainda precisam ser respondidas.

    A mangaba e o pequi so as espcies com maior volume de informaes disponveis na literatura, destacando-se dois eventos exclusivos: o Simpsio sobre a Cultura da Mangaba, em dezembro de 2003, em Aracaju, SE, e o Frum Nacional de Pesquisadores e Extrativistas do Cerrado, sobre o pequi, em novembro de 2005, em Montes Claros, MG. A importncia econmica e social da mangaba na regio Centro-Oeste no se compara importncia da mesma fruta no Nordeste brasileiro, mas esta espcie pode se tornar de grande importncia para o extrativismo na primeira regio, onde ocupa um nicho nas encostas, no adequado para a mecanizao ou ocupao agrcola.

    Desta forma, de fundamental importncia a realizao de pesquisas nas reas de conservao de recursos genticos. Atividades como coleta, caracterizao da variabilidade gentica destas fruteiras e sua conservao in situ e ex situ, em bancos de germoplasma e colees devem ser priorizadas como forma de preservar estas espcies, ora ameaadas pela expanso da agricultura na regio. Devido forma de explorao atual, extrativista e predatria, pesquisas participativas com as comunidades devem ser iniciadas como forma de garantir a sustentabilidade ecolgica deste sistema e a sobrevivncia destas comunidades. Em relao ao cultivo, muitos estudos ainda precisam ser realizados nas reas de propagao e plantio; prticas culturais, fi tossanidade, melhoramento, sistemas de produo e colheita. Na rea de tecnologia ps-colheita, pesquisas sobre a melhor forma de processamento, conservao efi ciente e obteno de padres de qualidade precisam

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 1

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    ser estimuladas e desenvolvidas. Para favorecer a comercializao do produto, a implementao de avaliaes sobre a cadeia produtiva, o mercado e a agregao de valor se faz importante. Em se tratando de frutas nativas, que geralmente so produzidas e comercializadas pelo pequeno agricultor e pelas comunidades locais, as estratgias para divulgao dos resultados de pesquisa e treinamento de pessoal devem ser especialmente planejadas e implementadas. Considerando a relevncia das espcies frutferas nativas da regio Centro-Oeste e o atual estado da arte da pesquisa, sugere-se aos rgos de fomento pesquisa direcionarem recursos fi nanceiros e incentivos a projetos que proponham o aprimoramento do conhecimento tcnico-cientfi co sobre as espcies de fruteiras nativas ora selecionadas. Visando ainda, maximizar o uso dos recursos fi nanceiros e econmicos, sugere-se tambm, a conduo de trabalhos em redes, com a participao de equipes multidisciplinares e multi-institucionais.

    Tabela 2. Critrios e conhecimento disponvel para cada fruta nativa, visando priorizao em pesquisa e desenvolvimento

    Categorias

    CRITRIOS DE AVALIAO

    Abac

    axi-d

    o-ce

    rrado

    Ara

    Arati

    cum

    Baru

    Buriti

    Caga

    ita

    Caju

    Coqu

    inho

    Gabir

    oba

    Jatob

    Jenip

    apo

    Mang

    aba

    Mara

    cuj

    Muric

    i

    Pequ

    i

    Pra

    -do-

    cerra

    do

    Conhecimentos disponveis 2 1 1 2 1 2 2 1 2 1 2 3 1 1 3 2Importncia Social 1 1 2 2 3 1 3 3 3 1 1 2 1 2 3 1Importncia ambiental 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3Conservao

    Necessidade de conservao de germoplasma 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3Melhoramento realizado 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1Variabilidade gentica 3 3 3 3 2 3 3 3 3 2 2 3 3 3 3 3

    Uso e ManejoUso mltiplo da espcie 2 2 2 2 3 2 2 3 2 2 2 2 2 2 3 1Uso Consorciado com pastagem 1 1 2 3 1 2 3 1 1 3 3 1 1 1 2 1Alternncia de produo de

    frutos** 3 3 1 1 3 3 3 3 2 3 3 1 3 2 2 1Densidade no ambiente de

    ocorrncia 1 3 2 2 3 3 3 3 3 2 1 2 1 3 1 1Freqncia ou distribuio 1 2 2 1 3 1 2 2 3 3 2 1 2 3 3 1Necessidade de manejo no

    cerrado 2 2 3 2 3 2 2 2 2 2 2 3 3 1 3 3

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    Categorias

    CRITRIOS DE AVALIAO

    Abac

    axi-d

    o-ce

    rrado

    Ara

    Arati

    cum

    Baru

    Buriti

    Caga

    ita

    Caju

    Coqu

    inho

    Gabir

    oba

    Jatob

    Jenip

    apo

    Mang

    aba

    Mara

    cuj

    Muric

    i

    Pequ

    i

    Pra

    -do-

    cerra

    do

    Potencial para CultivoFacilidade de obteno de

    sementes 2 3 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 3 2 1Facilidade de propagao por

    semente 1 3 2* 3 2* 3 3 1 3 3 3 3 2* 1 1* 3Facilidade de propagao

    assexuada 3 1 2 2 1 1 3 1 1 3 3 3 3 1 2 1Presena de mudas no campo 2 3 1 3 3 3 2 1 3 3 2 1 1 1 1 2Taxa de estabelecimento ps-

    plantio 3 3 2 3 3 3 3 3 2 3 3 1 3 2 2 3Potencial de produo de frutos

    por planta 3 3 1 3 3 3 2 3 3 2 3 2 1 3 3 3Tolerncia a pragas e doenas 2 1 1 3 3 3 1 3 1 2 3 2 1 2 1 2Conhecimento sobre prticas

    culturais 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 2 1 2 1 1 1

    Potencial de adaptao ao cultivo 3 3 1 1 1 1 3 3 2 2 3 3 3 1 1 3

    Perodo juvenil curto 3 3 3 2 1 2 3 2 3 2 2 3 3 2 1 3

    ComercializaoFacilidade de transporte e

    armazenamento 2 1 2 3 3 1 2 3 1 3 3 1 3 2 2 1

    Extenso da safra 2 3 2 2 3 1 1 2 1 1 2 2 2 2 3 1

    Freqncia de adultos produtivos 3 3 1 3 3 3 2 3 3 3 2 2 3 2 2 1

    Porcentagem de fruto aproveitvel 3 2 1 3 3 2 2 3 2 1 3 2 3 2 2 2

    Tecnologia de processamento 1 1 2 2 2 2 3 2 2 2 3 2 3 1 2 1Padres de qualidade para

    processamento 1 1 1 2 1 1 2 1 1 1 2 2 2 1 2 1

    Valor nutricional 1 2 2 2 3 1 2 2 2 2 2 2 2 2 3 1

    Importncia comercial e mercado 1 2 2 3 1 1 3 2 2 1 2 3 2 2 3 1Aceitao do fruto (sabor e

    aroma) 1 2 2 2 2 1 2 2 2 1 1 3 2 2 2 2

    Critrios e categorias estabelecidas no Seminrio Plantas do Futuro, Braslia, 2005: 1- baixa; 2- mdia; 3- alta.*Com quebra de dormncia; ** variao de produo em funo do ano.

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    REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALMEIDA, S. P. de. Cerrado: aproveitamento alimentar. 2. ed. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1988. 188 p.

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    ALMEIDA, S. P. de; SILVA, J. A. da; RIBEIRO, J. F. Aproveitamento alimentar de espcies nativas dos cerrados: araticum, bar, cagaita e jatob. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1987. 83 p. (EMBRAPA-CPAC. Documentos, 26).

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    CORRA, M. P. Dicionrio das plantas teis do Brasil e das exticas cultivadas. Rio de Janeiro: IBDF, 1978. v. 5. 687 p.

    FERREIRA, M. B. Frutos comestveis do Distrito Federal. II. Piqui, mangaba, marolo e mamozinho. Cerrado, Brasilia, v. 5, n. 20, p. 22-25, 1973.

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    HERINGER, E. P. O pequizeiro (Caryocar brasiliense, Cambess.). Brasil Florestal, Brasilia, DF, v. 1, n. 2, p. 28-31, 1970.

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    MENDONA, R. S. Caracterizao de sub-populaes de cagaita (Eugenia dysenterica DC) da regio sudeste do estado de Gois. 1999. 170 f. Tese (Mestrado) - Faculdade de Agronomia, Universidade

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    ABACAXI DO CERRADO Francisco Ricardo FerreiraAlessandra Pereira Fvero

    Jos Renato Santos CabralFernanda Vidigal Duarte Souza

    NOMES COMUNS: anana ou nana, anans-de-raposa (Brasil, Par), curibijul, maya pion, piuela, anans-do-ndio (Figura 1).

    Figura 1. Ananas ananassoides (Baker) L.B. Smith.

    NOME CIENTFICO: Ananas ananassoides (Baker) L.B. Smith. Sinonmia: Ananas comosus var. ananassoides (Baker) Coppens e Leal.

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    FAMLIAO abacaxi do cerrado pertence ordem Bromeliales, famlia Bromeliaceae,

    subfamlia Bromelioideae. Com aproximadamente 50 gneros e cerca de 2000 espcies, esta a maior famlia de distribuio natural restrita ao Novo Mundo, com exceo da Pitcairnia feliciana (Aug.Chev.) Harms e Mildbr, nativa da Guin. As bromeliceas possuem um grande poder adaptativo, visto que o hbito de comportamento pode variar de terrestre a epfi ta, vegetam em vrios tipos de habitat, desde ambientes com sombreamento total queles expostos a pleno sol, sob umidade elevada a condies extremamente ridas, desde o nvel do mar at altitudes elevadas, e em clima quente e tropical mido a frio e subtropical seco. Distribuem-se por ampla rea geogrfi ca, desde o centro dos Estados Unidos at as regies norte da Argentina e do Chile (SMITH, 1934). As bromeliceas caracterizam-se pelo talo curto, uma roseta de folhas estreitas e rijas, infl orescncias terminais racemosas ou paniculadas, fl ores hermafroditas, actinomrfi cas, trmeras, com boa diferenciao entre clice e corola, seis estames, ovrio spero a nfero, trilocular, com placenta axilar e numerosos vulos, frutos tipo cpsulas ou bagas, sementes pequenas, nuas, aladas ou pilosas, com endosperma reduzido e um pequeno embrio. A maioria das espcies epfi ta, outras so rupcolas ou terrestres. Desenvolveram estruturas e mecanismos particularmente adaptados para absoro, armazenamento e economia de gua e nutrientes, que so: (i) estrutura da roseta foliar, (ii) habilidade de absorver gua e nutrientes atravs das folhas e razes areas, (iii) tecido aqfero especializado das folhas com habilidade de armazenar gua, (iv) tricomas multicelulares que refl etem a radiao, (v) espessa cutcula, (vi) localizao dos estmatos em sulcos limitando a evapotranspirao e, (vii) metabolismo CAM (crassulacean acid metabolism), que o metabolismo cido das crassulceas, uma via metablica para sntese de carboidratos, que algumas espcies apresentam, principalmente plantas de folhas suculentas, como o caso das bromeliceas. Essas espcies abrem os estmatos a noite, perodo em que absorvem o dixido de carbono, armazenando-o sob a forma de cido mlico, o qual transformado em glicose pelo efeito da luz solar durante o dia (FERREIRA et al., 2005).

    O sistema radicular no bem desenvolvido e sua funo principalmente voltada para a fi xao da planta. As bromeliceas so divididas em trs subfamlias: a Pitcarnioideae, a Tillandsioideae, e a Bromelioideae. As Pitcarnioideae so geralmente terrestres, com as margens das folhas armadas, fl ores hipgenas e epgenas, cpsulas secas e deiscentes contendo sementes nuas ou com apndice, adaptadas disperso elica. As Tillandsioideae incluem mais espcies epfi tas, com a margem das folhas lisas, fl ores geralmente hipgenas, e cpsulas deiscentes e secas contendo muitas sementes plumosas, adaptadas disperso elica. As Bromelioideae, foco de maior ateno neste trabalho, so as mais numerosas. Esto dispersas desde o leste brasileiro at a bacia amaznica. So preferencialmente

  • Frutas Nativas da Regio Centro-Oeste do Brasil Captulo 2

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    epfi tas apresentando folhas freqentemente espinhosas, fl ores epgenas e frutos do tipo baga coricea, contendo sementes nuas e adaptadas disperso por pssaros ou mamferos. Mostram a tendncia de fuso de algumas partes da fl or, como, por exemplo, fuso entre carpelos, originando a formao de frutos indeiscentes e fuso em diferentes nveis de spalas, ptalas e fi lamentos. Esta tendncia pode ser observada, particularmente, nas espcies do gnero Ananas, na formao de frutos sincrpicos devido fuso dos ovrios (Ferreira et al., 2005).

    O abacaxi cultivado [Ananas comosus (L.) Merril] a espcie mais importante da famlia Bromeliaceae. No entanto, na mesma subfamlia Bromelioideae, algumas espcies de Aechmea e Bromelia produzem frutos comestveis, como Aechmea bracteata (Swartz) Grisebach, A. kuntzeana Mez, A. longifolia (Rudge) L.B. Smith e M.A.Spencer, A. nudicaulis (L.) Grisebach, Bromelia antiacantha Bertoloni, B. balansae Mez, B. chrysantha Jacquin, B. karatas L., B. hemisphaerica Lamarck, B. nidus-puellae (Andr) Andr ex. Mez, B. pinguin L., B. plumieri (E. Morren) L.B. Smith, e B. trianae Mez (RIOS e KHAN, 1998). Os mais comuns so localmente consumidos e conhecidos atravs de nomes vulgares como cardo ou banana-do-mato, piuelas (abacaxi pequeno), ou karatas, gravat e croat, derivados de nomes indgenas e atribudos s bromeliceas terrestres. Outras bromeliceas so cultivadas como plantas ornamentais, para extrao de fi bras ou usadas na medicina tradicional (CORRA, 1952; PURSEGLOVE, 1972; REITZ, 1983; RIOS e KHAN, 1998).

    Atualmente a classifi cao taxonmica dos gneros Ananas e Pseudananas, est passando por modifi caes, baseada em observaes morfolgicas e estudos com marcadores moleculares (LEAL, 1990; LEAL e COPPENS dEECKENBRUGGE, 1998; DUVAL et al., 2005)

    Inicialmente, o centro de origem do gnero Ananas, que inclui Ananas comosus (L.) Merril, espcie qual pertencem todas as cultivares de abacaxi de interesse frutcola, foi defi nido como a regio compreendida entre 15S e 30S de latitude e 40W e 60W de longitude, rea que engloba o Centro-Oeste e Sudeste do Brasil e Nordeste do Paraguai (COLLINS, 1960). Posteriormente, Leal e Antoni (1981) propem nova rea, na regio localizada entre 10N e 10S de latitude e 55W e 75W de longitude, justifi cando que a fl ora desta regio endmica e contm o maior nmero de espcies do gnero Ananas. Atualmente sabe-se que o centro de diversidade do gnero Ananas muito mais amplo, englobando diversas regies brasileiras e alguns pases circunvizinhos, notadamente da regio Amaznica (FERREIRA et al., 2005).

    DESCRIOO Ananas ananassoides (Baker) L.B. Smith apresenta folhas com at 2m de

    comprimento; lminas lineares, longas, estreitas, geralmente de largura inferior a 4 cm, subdensamente serrilhadas, espinhos ascendentes. Escapo alongado, delgado, dimetro geralmente inferior a 15 mm; brcteas escapulares largas, subfoliceas.

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    Infl orescncia pequena a mdia com 15 cm de comprimento no mximo, geralmente menor, globosa a cilndrica. Fruto com pouco desenvolvimento aps a antese, globular a cilndrico, tamanho de pequeno a mdio, inferior a 15 cm de comprimento, fi xado a um pednculo longo e fi no, geralmente com muitas sementes, polpa branca, fi rme e fi brosa, com altos teores de acar e cido; roseta de brcteas foliceas apical (coroa), relativamente bem desenvolvida na maturao.

    HABITAT E DISTRIBUIO GEOGRFICAAnanas ananassoides a espcie do gnero com maior variabilidade

    morfolgica e ampla distribuio geogrfi ca. Distribui-se por toda a Amrica do Sul tropical, ao Leste dos Andes. Ocorre da Colmbia Guiana Francesa, de Norte a Sul do Brasil, no Paraguai e Norte da Argentina. Vegeta em savanas (cerrados) e em campinas amaznicas (LEME e MARIGO, 1993) ou em fl orestas pouco sombreadas. No entanto, alguns gentipos tm sido observados em fl orestas tropicais densas, nas Guianas. Adaptou-se aos solos pobres, arenosos e pedregosos, com a capacidade de reteno de gua limitada, onde formam populaes de densidades variveis. Segundo Fvero et al. (2006), A. ananassoides tem comportamento cosmopolita, de ocorrncia na regio Norte, Centro-Oeste e parte do Nordeste do Brasil.

    ASPECTOS ECOLGICOSO A. ananassoides nativo principalmente nas condies de vegetao de

    cerrado. As regies de coleta de A. ananassoides tm como principais caractersticas sua ocorrncia em latossolos, argissolos ou neossolos, em depresses, planaltos ou plancies, altitude entre 0 a 800m e temperatura mdia de 23 a 27C ( Fvero et al. 2006).

    RECURSOS GENTICOSVariabilidade e eroso gentica. O Brasil um dos principais centros de

    diversidade gentica de Ananas e Pseudananas. Portanto, ocorre uma ampla variabilidade gentica desses dois gneros nas condies brasileiras. O Ananas ananassoides tem ocorrncia generalizada em varias regies do Brasil, assim como em outros paises circunvizinhos, sendo, portanto, a espcie com maior diversidade do gnero Ananas.

    O Ananas ananassoides pode ser propagado de forma sexuada, atravs de sementes ou de forma assexuada, atravs de mudas. Na natureza, a maior parte das populaes monoclonal, porm algumas so policlonais e existem, tambm, as populaes de origem seminfera, apresentando grandes variaes morfolgicas atribudas principalmente origem sexual (DUVAL et al., 1997).

    Devido a sua adaptao a diferentes tipos de condies climticas, o Ananas ananassoides est amplamente distribudo na natureza, o que confere maior alento

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    30

    para a sua preservao. No obstante, a eroso gentica devido, principalmente, a ao antrpica, pela expanso da fronteira agrcola, pela construo de barragens, pela ampliao dos centros urbanos, dentre outros, tem reduzido populaes causando perda de material gentico. Para minimizar os efeitos da eroso gentica, tm sido desenvolvidos projetos de coleta, conservao e uso de germoplasma de A. ananassoides.

    Conservao de germoplasma. A Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia e a Embrapa Mandioca e Fruticultura, desenvolvem h mais de duas dcadas, projetos de coleta, intercmbio e conservao de germoplasma de abacaxi, atravs dos quais foi possvel montar um Banco Ativo de Germoplasma (BAG), que conta atualmente com 734 acessos, sendo cerca de 15% (112 acessos) de Ananas ananassoides (CABRAL et al.,1998; FERREIRA e CABRAL, 2002). O material do BAG est parcialmente caracterizado e avaliado, principalmente para caractersticas que visam o melhoramento do abacaxi para a produo do fruto (SANTOS et al., 1999; SOUZA et al, 2000; QUEIROZ et al., 2001; QUEIROZ et al., 2003; CABRAL et al., 2004; FERREIRA e CABRAL, 2003; DUVAL et al., 2005).

    A coleta, a conservao, a caracterizao e a avaliao de germoplasma de abacaxi, incluindo Ananas ananassoides, podem indicar gentipos que apresentem caractersticas para uso direto por parte dos produtores e/ou que tenham interesse imediato ou potencial para a utilizao em programas de melhoramento gentico (Ferreira e Cabral, 1998).

    Os principais bancos de germoplasma de Ananas so: o da Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, BA (Figura 2); o do CIRAD (Centre de Coopration Internationale em Recherche Agronomique pour le Dveloppement), na Martinica, e o do USDA (United States Department of Agriculture), no Hava, EUA. Outros bancos menores so mantidos em instituies pblicas na Venezuela, Costa do Marfi m, Malsia, Okinawa, Taiwan, Austrlia, dentre outros pases e tambm em outras instituies brasileiras.

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    Figura 2. Banco de germoplasma de Ananas ananassoides (Baker) L.B. Smith., Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, BA.

    O primeiro banco de germoplasma de abacaxi foi constitudo no Hava para sustentar o programa de melhoramento do Pineapple Research Institute daquele estado americano, iniciando-se, a partir de 1914, a importao de acessos de diversos pases. Posteriormente, os melhoristas Baker e Collins (1939), conscientes da variabilidade gentica limitada dos materiais disponveis, organizaram expedies de coleta na Amrica do Sul e reuniram representantes de vrias espcies e cultivares tradicionais (BAKER e COLLINS, 1939).

    Em 1929 foi iniciada uma coleo de espcies e variedades de Ananas no Instituto Agronmico do Estado de So Paulo (IAC), que na dcada de 30, foi enriquecida com novas coletas e introdues. Em 1938 foram obtidos os primeiros hbridos de Branco x Rondon, Amarelo x Rondon, Viridis x Rondon, dentre outros, de folhas completamente inermes, caracterstica conferida pela cultivar Rondon. Naquela poca, a coleo do IAC era composta por cerca de 20 acessos (CAMARGO, 1939).

    Em 1977 a EMBRAPA iniciou seu programa de melhoramento e conservao de germoplasma de abacaxi e, deste ento, foram incrementados intercmbios com bancos nacionais e internacionais. Tambm foram organizadas vrias expedies de coleta, que permitiram coletar mais de 400 acessos.

    O CIRAD-FLHOR iniciou a formao de um banco de germoplasma de

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    abacaxi em 1940, na Guin, composto por cultivares importadas. Esse banco foi transferido inicialmente para Costa do Marfi m, em 1958, e posteriormente, em 1985, uma duplicata do banco foi instalada na Martinica.

    Ao longo do tempo, houve a conscientizao por parte dos melhoristas para a necessidade de se ampliar a diversidade gentica para que se aumentasse a efi cincia dos programas de melhoramento. Essa conscientizao surgiu em vrios pases. Surgiu tambm a necessidade do estabelecimento de parcerias no trabalho de pesquisa, de coleta e de conservao dos recursos genticos. Nas ltimas dcadas, vrias parcerias permitiram uma ampliao importante dos recursos genticos disponveis.

    Uma primeira parceria entre a Universidade Central de Venezuela e o CIRAD-FLHOR, com a colaborao do IPGRI (International Plant Genetic Resources Institute), propiciou a execuo de quatro expedies de coleta na Venezuela, resultando em uma centena de clones silvestres e cultivares tradicionais que foram mantidos na Venezuela e na Martinica (LEAL et al. 1986).

    Em 1989, a EMBRAPA iniciou uma parceria com o CIRAD-FLHOR, dentro de um projeto fi nanciado pela Comunidade Europia. Seis expedies de coleta foram organizadas: no Amap (junho-julho/1992), Acre e Norte do Mato Grosso (setembro-outubro/1992), Guiana Francesa (maro-abril/1993), Amazonas (Rio Negro em julho-agosto/1993, Rio Solimes em novembro-dezembro/1993) e Sul e Sudeste do Brasil (maio-junho/1994). Foram coletados 413 acessos de espcies silvestres e clones de cultivares tradicionais.

    Desde 1997, uma nova parceria rene a EMBRAPA, o FONAIAP (Venezuela), o CIRAD-FLHOR e a Universidade do Algarve (Portugal) em um projeto comum de avaliao de germoplasma de abacaxi, visando obteno a mdio prazo de variedades melhoradas, com apoio da Unio Europia. Este projeto teve como objetivo em curto prazo a caracterizao morfolgica, agronmica e molecular do material vegetal coletado recentemente, com destaque para a pesquisa que visa identifi cao de fontes de resistncia s doenas e pragas importantes, como a fusariose, a mancha negra, a broca Strymon basilides (Geyer) e vrios nematides.

    Alm das parcerias estabelecidas e voltadas para a coleta de germoplasma, outras formas de enriquecimento das colees vm sendo conduzidas, dentre elas, o intercmbio bilateral entre pases tem proporcionado a ampliao da variabilidade gentica disponvel para os diferentes programas de melhoramentos desenvolvidos ao redor do mundo.

    Graas a esse esforo que foi empreendido para alavancar os programas de melhoramento de abacaxi, foi possvel resgatar e conservar, mais de uma centena de acessos de Ananas ananassoides, muitos dos quais foram coletados em condies de cerrado. Todo esse material vem sendo mantido em campo, no BAG da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas BA.

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    USOS E FORMA DE EXPLORAO

    O fruto de Ananas ananassoides apresenta caractersticas muito rsticas, evidenciando uma espcie que necessita ser domesticada e, atravs de seleo, chegar-se a frutos mais prximos dos padres de consumo. De maneira geral os frutos so pequenos, muito fi brosos, com alto teor de aucares e tambm com alta acidez, o que confere um sabor pouco agradvel. No obstante esses aspectos, o fruto pode ser consumido ao natural, mas principalmente pode ser utilizado na confeco de sucos, refrescos e sorvetes.

    Alem disso, a espcie pode ser utilizada como planta produtora de fi bra, como medicinal, industrial (produo de bromelina), ou como ornamental. Ananas ananassoides tem um grande potencial no ramo do agro-negcio de planta ornamental (Figura 3), pois suas fl ores e frutos possuem pednculo longo permitindo o corte e o uso em arranjos, com durabilidade de at 40 dias. Atividades de pr-melhoramento tm sido realizadas com essa espcie no intuito de buscar diversas caractersticas de interesse em um s material, como pednculo longo e fi rme, com a insero frutopednculo resistente, infrutescncia e coroa colorida, relao coroa-fruto prximo a um, entre outras.

    Figura 3. Arranjo feito com infrutescncias e folhas de Ananas ananassoides. Foto: Marie France Duval.

    A planta e o fruto so utilizados, via de regra, de forma extrativa, ou em pequenos plantios em quintais, geralmente so usadas pelas populaes locais e raramente so comercializadas.

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    TECNOLOGIA E PROCESSAMENTO PS-COLHEITA

    Como a produo consumida logo aps a colheita, no se dispe de muita informao sobre tecnologia e processamento ps-colheita. De maneira geral, os produtos so confeccionados de forma artesanal e em condies caseiras, para consumo familiar. O fruto, por exemplo, quando consumido in natura, colhido e imediatamente utilizado. Tendo em vista o aspecto peculiar de extrativismo ou cultivo caseiro, o fruto conservado na planta at o momento de sua utilizao.

    VALOR NUTRICIONAL

    So poucos os estudos de composio nutricional de Ananas ananassoides. Os dados de caracterizao e avaliao de germoplasma tm mostrado que se trata de uma planta com frutos com altos teores de aucares, com alta acidez e, provavelmente, rica em vitamina C e em elementos minerais. Como o Ananas ananassoides geneticamente muito prximo do abacaxi cultivado (Ananas comusus), pode-se supor que os dados da composio qumica de ambos possam ter alguma semelhana. Neste particular, Medina et al. (1978) do mais detalhes da composio do fruto de abacaxi, confi rmando que um fruto rico em vitaminas, especialmente vitamina C e tambm muito rico em potssio.

    INFORMAES SOBRE O CULTIVO

    Esta espcie, principalmente por ser rstica, de fcil cultivo, de ampla adaptao em vrios ambientes, de uso imediato e de grande potencial para a explorao sustentada por pequenos agricultores da regio do cerrado.

    Pode ser propagada por sementes e por mudas, mas para propagao comercial, recomenda-se a utilizao da muda, mantendo o gentipo igual ao do genitor. A propagao por sementes utilizada nos trabalhos de melhoramento, onde ocorre segregao. A. ananassoides, como a maioria das espcies de Ananas, considerada uma espcie algama, e pode ser hibridizada com diversas outras espcies em condies naturais ou artifi ciais. Sementes foram estudadas para a conservao in vitro da espcie e seu uso no melhoramento (FIGUEIREDO et al, 2003).

    Os tratos culturais, tais como, preparo e correo do solo, plantio, adubao, tratamento fi tossanitrio, fl orao artifi cial, colheita, etc., podem ser adaptados do abacaxi (Ananas comusus), tendo em vista a similaridade que deve ocorrer em ambas as espcies. Cunha et al. (1999) e Reinhardt et al. (2000) apresentam detalhes do cultivo de abacaxi.

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    IMPORTNCIA SCIO-ECONMICA

    A explorao de Ananas ananassoides para obteno de fruto ainda incipiente, portanto, do ponto de vista econmico, uma atividade pouco expressiva. J do ponto de vista social, esta atividade, quer seja extrativista quer seja atravs de pequenos plantios, tem importncia relevante, tendo em vista a sua peculiaridade de fi xar o homem no campo e oferecer formas alternativas de emprego e renda, alem de prover uma fonte alternativa de alimentao saudvel.

    Para a explorao de Ananas ananassoides como planta ornamental, pode-se trabalhar com timas perspectivas, tendo em vista que o Produto Interno Bruto do negcio envolvendo fl ores e plantas ornamentais, no Brasil, est estimado em US$ 1,2 bilhes. Este mercado vem crescendo cerca de 20% ao ano no Brasil. Atualmente, o cultivo e a comercializao de plantas ornamentais, principalmente as tropicais vem se expandindo na regio Nordeste, com destaque para os Estados de Pernambuco, Cear e Bahia, em funo da sua beleza, exuberncia e durabilidade das suas fl ores. Dentre as plantas tropicais utilizadas como ornamentais, o abacaxi vem se destacando. Atualmente, a espcie Ananas lucidus est sendo cultivada no Estado do Cear e suas infl orescncias exportadas para a Europa; a espcie Ananas bracteatus apresenta grande potencial pela beleza da infl orescncia e da coroa, ambos parentes silvestres de Ananas ananassoides. A produo de mudas de qualidade foi possvel graas ao desenvolvimento, realizado pela Embrapa, de protocolos para a propagao in vitro tanto do Ananas lucidus como da variedade porteanus (CORRA, 1952; CAVALCANTE et al., 1999). O Ananas ananassoides objeto deste estudo, ainda pouco explorado para o agro-negcio ornamental, apresenta um grande potencial, tendo em vista a sua enorme diversidade gentica.

    O mercado de fl ores e plantas ornamentais representa um importante papel social e na gerao de empregos, pelo fato de ser a atividade agrcola que pode proporcionar maior rentabilidade por rea cultivada, retorno fi nanceiro mais rpido e praticada, essencialmente, em pequenas reas de agricultura familiar. H espao no mercado mundial para maior participao de fl ores no tradicionais, o que favorece as espcies de clima tropical e, no pas, encontram-se microrregies excepcionalmente favorveis (LAMAS, 2002).

    A produo de abacaxi ornamental ainda muito pequena, mas o mercado crescente, principalmente o mercado exportador, dentre outros fatores, pela maior longevidade das infl orescncias, quando comparadas com as fl ores comumente utilizadas, como as rosas.

    CONSIDERAES FINAIS

    O abacaxi do cerrado, Ananas ananassoides, a nica espcie do gnero Ananas nativo nas condies de vegetao de cerrado, uma espcie

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    semidomesticada, apresentando plantas muito rsticas, com produo de frutos de qualidades muito inferiores ao abacaxi cultivado (Ananas comosus), sendo consumida localmente na forma extrativista ou atravs de pequenos plantios. Existe uma enorme variabilidade gentica desta espcie dispersa na natureza, sendo que uma amostra representativa dessa variabilidade tem sido resgatada e est sendo conservada em bancos de germoplasma. Alem da produo de frutos, o Ananas ananassoides pode ser considerado uma espcie com mltiplas aptides, como planta produtora de fi bras, planta industrial para produo de bromelina, e com grande e imediata perspectiva de planta ornamental.

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    ARA

    Joo Emmanoel Fernandes BezerraIldo Eliezer Lederman

    Josu Francisco da Silva JuniorCarolyn Elinore Barnes Proena

    NOMES COMUNS: Ara, ara-comum, ara-verdadeiro, ara-azedo, ara-mirim

    Figura 1. Frutos maduros de Ara (Psidium guineense Swartz) nativo na regio Centro-Oeste do Brasil.

    NOME CIENTFICO: Psidium guineense Swartz. Sinonmias: P. costa-ricense O. Berg, P. ooideum O. Berg, P. laurifolium O. Berg, P. molle Bertol., P. rotundifolium Standl., P. araca Raddi, P. schippii Standl., P. polycarpon Lamb., P. schiedeanum O. Berg, P. sericifl orum Benth., P. sprucei O. Berg, P. umbrosum O. Berg.

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    INTRODUOAs plantas conhecidas popularmente por Ara ou Araazeiro so

    mirtceas de ampla disseminao no territrio nacional. Por essas denominaes so encontradas inmeras espcies do gnero Psidium produtoras de frutos comestveis. Psidium guineense Swartz apresenta importncia destacada no somente para a Regio Centro-Oeste, mas tambm para grande parte do Brasil.

    Entre as vrias utilizaes dos araazeiros destacam-se o aproveitamento domstico dos frutos e da madeira, alm do uso da raiz, casca e folhas na medicina popular. Acredita-se que o incentivo ao consumo in natura e o cultivo dessas frutas, juntamente com a produo artesanal e agroindustrial de alimentos podero benefi ciar muitas comunidades locais.

    Apesar dos vrios tipos de aproveitamento que podem ser oferecidos pelas diversas espcies, os araazeiros ainda no possuem expresso econmica no contexto da fruticultura nacional, no existindo, inclusive, pomares comerciais.

    A ausncia de informaes agronmicas, aliada s ameaas de extino em reas remanescentes, torna necessria a sua conservao, bem como o desenvolvimento de pesquisa em recursos genticos e melhoramento, propagao vegetativa, nutrio mineral e adubao, prticas culturais e processamento industrial.

    TAXONOMIAA famlia Myrtaceae rene cerca de 102 gneros e 3.024 espcies,

    distribudas e cultivadas em diversos pases de climas tropical e subtropical, no entanto quatro gneros se destacam como os mais importantes entre as fruteiras de interesse econmico Feijoa, Eugenia, Myrciaria e Psidium (MANICA et al., 2000).

    O gnero Psidium originrio das Amricas Tropical e Subtropical e constitudo de cerca de 100 espcies de rvores e arbustos (Landrum e Kawasaki, 1997), das quais a mais importante a goiabeira (P. guajava L.). O gnero engloba tambm inmeras outras espcies produtoras de frutos comestveis, madeireiras e ornamentais, com grande potencial para explorao comercial. Entre essas espcies, os araazeiros so merecedores de maior ateno, especialmente devido a algumas caractersticas especfi cas de seus frutos, como sabor extico, teor elevado de vitamina C e boa aceitao pelos consumidores (MANICA et al., 2000; PIRES et al., 2002).

    Ainda existe grande confuso quanto nomenclatura cientfi ca das espcies de Psidium (CORRA, 1978; MEDINA, 1988; MATTOS, 1993; THE UNIVERSITY OF MELBOURNE, 2004; IPNI, 2004; LANDRUM, 2005; MISSOURI BOTANICAL GARDEN, 2005; USDA-ARS-GRIN, 2005), com algumas espcies necessitando de confi rmao sobre a sua utilizao pois, segundo Mattos (1993), foram estudadas apenas atravs de material botnico herborizado (ramos e fl ores). As espcies que ocorrem na Regio Centro-Oeste podem ser visualizadas na Tabela 1.

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    Atualmente, no Brasil, as espcies com maior interesse para explorao comercial dos seus frutos so P. guineense Swartz e P. cattleyanum Sabine, sendo esta ltima originria do Sul do Brasil e distribuda do Rio Grande do Sul at a Bahia. Seus frutos so considerados dos melhores entre as espcies de aras. Outras tambm so utilizadas para a produo de frutos no Brasil, como P. acutangulum DC., P. australe Cambess., P. cinereum Mart. ex DC. e P. longipetiolatum Legrand (DEMATT, 1997; MANICA et al., 2000).

    Na regio Centro-Oeste, as espcies mais comuns, alm de P. guineense, so P. laruotteanum Cambess, P. myrsinites DC. e P. fi rmum O. Berg, sendo a primeira e a ltima muito consumidas in natura. P fi rmum, segundo Silva et al. (2001), um arbusto de 1,0 a 1,5 m de altura, que produz de 30 a 80 frutos de 4 a 14 g, casca amarelada e polpa branca, sendo muito usado no preparo de doces e gelias. Tambm ocorre em mata seca P. sartorianum (O. Berg) Nied., rvore de grande porte com fruto pequenos, tambm muito utilizada no Mxico, e que ocorre por todas as matas secas da America do Sul, chamada em Gois de pelada por causa da casca lisa.

    DESCRIO

    Psidium guineense Swartz um arbusto ou rvore pequena de 6 m de altura, cujas infl orescncias durante o crescimento inicial so cobertas com plos marrom-avermelhados, variando para cinza-amarelados, com cerca de 0,3 a 0,5 mm de comprimento (Figuras 2 e 3). Os brotos so aveludados, s vezes glabros; a casca mais antiga geralmente polida e muitas vezes escamosa e resistente. As folhas so coriceas de cor marrom-amarelada ou marrom-avermelhada de formato elptico, elptico-oblongo ou obovado, com 4 a 11,5 cm de comprimento e 1 a 2 cm de largura, normalmente aveludadas na parte inferior; com pice obtuso, arredondado ou agudo; e base tambm arredondada ou aguda; os pecolos medem de 4 a 12 cm de espessura, canelados, geralmente pubescentes e raramente glabros. A nervura principal plana na parte superior e proeminente na parte inferior. As nervuras laterais so em nmero de 1 a 10. Os botes fechados medem 10 a 13 mm de comprimento com pednculos medindo entre 5 e 25 mm, podendo chegar at 30 mm de comprimento e 1 a 2 mm de espessura. O clice no estado inicial fechado completamente e repartido longitudinalmente em cinco pequenas partes. As ptalas tm um comprimento em torno de 7 a 11 mm; os estames so em nmero de 160 a 300 medindo entre 7 e 10 mm de comprimento. As anteras medem 1 a 3 mm de comprimento mais ou menos deiscentes, com algumas glndulas no conetivo; estiletes medindo 8 a 10 mm de comprimento e o ovrio tri, tetra ou pentalocular com 50 a 100 vulos por lculo. O fruto subgloboso, podendo ser tambm elipsoidal com 1 a 3 cm de comprimento, geralmente com polpa amarela e sementes na quantidade de 22 a 100 podendo chegar at 250 sementes por fruto, as quais, medem 3 a 4 mm

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    de comprimento (LANDRUM et al., 1995, citados por SILVA, 1999). Frutos da coleo de germoplasma da Empresa Pernambucana de Pesquisa

    Agropecuria IPA tm apresentado pesos que variam de 5,5 a 11,7 g, podendo atingir at 17,8 g (Bezerra e Lederman, dados no publicados).

    Tabela 2: Espcies de Araazeiro de ocorrncia na regio Centro-Oeste do Brasil.

    Espcie Sinonmia Nome vulgar rea de ocorrncia

    P s i d i u m guineense Swartz

    P. costa-ricense O. Berg, P. ooideum O. Berg, P. laurifolium O. Berg, P. molle Bertol., P. rotundifolium Standl., P. araca Raddi, P. schippii Standl., P. polycarpon Lamb., P. schiedeanum O. Berg, P. sericifl orum Benth., P. sprucei O. Berg, P. umbrosum O. Berg

    Ara, ara-comum, ara-v e r d a d e i r o , a r a - a z e d o , a r a - m i r i m , Brazilian guava, Guinea guava, goyavier du Brsil

    Sul do Mxico ao Norte da Argentina e Brasil

    P s i d i u m s a r t o r i a n u m (O. Berg) Nied.

    P. microphyllum Britton, P. m i n u t i f l o r u m Amsh., P. molinae Amshoff, P. quinquedentatum Amshoff, P. solisii Standl., P. yucatanense L u n d e l l

    Ara, pelada, p i c h i c h e , a r r a y n , g u a y a b i l l o

    Mxico, Amrica Central, Cuba, Norte da Amrica do Sul, Brasil (MG, DF, GO, SP)

    Psidium bergianum (Nied.) Burret

    Goiaba-do-campo Cerrados de MG, DF e GO e CE

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    Espcie Sinonmia Nome vulgar rea de ocorrncia

    Psidium cinereum Mart. ex DC. (Apresenta a var. grandifolium O. Berg. e a var. i n c a n e s c e n s (Mart. ex DC)

    P. sericeum O. Berg A r a - f u m a a , ara-c inzento, ara-do-campo, a r a - f e l p u d o

    MG, SP, SC, RS, GO, DF e MS.

    P s i d i u m fi rmum O. Berg

    Ara, Ara-r a s t e i r o

    MG, GO, DF

    Psidium rufum DC. A r a - c a g o , a r a - p e r i n h a

    BA ao RJ e MG e DF

    Psidium australe C a m b e s s .

    Ara-do-campo, a r a - a z e d o

    Bacias dos rios Uruguai e Paran (PR, SC, RS, DF, GO, MG, Norte da Argentina e Paraguai)

    Psidium luridum (Spreng) Burret (Apresenta a var. paucifl ora ( C a m b e s s . ) M a t t o s )

    P. acutatum (O. Berg) Burret, P. alattum O. Berg

    Ara, ara-da-pedra, ara-d o - c a m p o .

    MG, PR, SC, RS, Paraguai, Uruguai e Argentina

    Psidium salutare (Kunth) O. Berg

    P. ciliatum Benth., P. gentlei Lundell, P. lanceolatum O.Berg

    Ara, guayabo a r r a y a n , m a n a g u ( R e p b l i c a D o m i n i c a n a ) , guayabita (Cuba)

    Mxico a Venezuela, Brasil (GO, DF). Ampla distribuio na Amrica do Sul

    P s i d i u m basanthum O. Berg

    SP, MG, DF

    Psidium hians Mart. Ara-da-caatinga TO, GOPsidium nigrum Mattos e Legrand

    M T

    P s i d i u m l a r u o t t e a n u m C a m b e s s

    P. aerugineum O. Berg, P. pohlianum O. Berg in Mart., P. rigidum (O. Berg) Burret

    A r a - c a s c u d o MG, DF, SP, MS, RS, BA

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    Espcie Sinonmia Nome vulgar rea de ocorrncia

    Psidium kennedyanum Morong

    P. persicifolium O. Berg

    Goiabinha MS, PR, Argentina e Paraguai

    Psidium myrsinites DC

    P. myrsinoides O. Berg

    Ara-bravo, ara-de-veado, ara-liso

    CE, BA, TO, GO, DF, MG, MA, PI

    Psidium striatulum DC.

    P. parvifl orum Benth., P. aquaticum Benth., P. turbinifl orum DC., P. aquaticum Benth.

    Guyana, Amaznia (Brasil), MT

    P s i d i u m m a r a n h e n s e O. Berg

    GO

    Psidium riparium Mart. ex DC.

    P. paraense O. Berg, P. s i e b e r i a n u m O. Berg, P. t h y r s o d e u m (Kuntze) K. Schum.

    Goiaba-da-praia, a r a - d a - m a t a

    PA, TO, GO

    P s i d i u m canum Mattos

    A r a - d a - m a t a DF, GO

    Psidium lourteigii D. Legrand

    GO

    Psidium macedoi E. Kausel

    GO (endmico de Niquelndia)

    P s i d i u m turbinatum Mattos

    GO

    Fontes: Pio-Corra, 1978; Medina, 1988; Mattos, 1993; The University of Melbourne, 2004; IPNI, 2004; Landrum, 2005; Missouri Botanical Garden, 2005; USDA-ARS-GRIN, 2005

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    FIGURA 2. Psidium guineense Swartz. na Coleo de Germoplasma de Ara da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuria IPA. A. Planta; B. Frutos.

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    FIGURA 3. Botes fl orais, fl or e fruto maduro de Psidium guineense Swartz

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    HABITAT E DISTRIBUIO GEOGRFICADe uma maneira geral, os araazeiros esto distribudos em quase todos os

    estados do Brasil, existindo relatos de espcies que ocorrem do Rio Grande do Sul at a Amaznia. Essas plantas vegetam nos mais diferentes ecossistemas, sendo que P. guineense ocorre nas restingas, tabuleiros, cerrades e capoeiras, enquanto P. cattleyanum ocorre na fl oresta latifoliada semi-decdua, matas ciliares, matas de altitude e tambm nas restingas do Sul do Brasil (BRANDO et al., 2002).

    Com relao aos centros de diversidade de fruteiras do Brasil, Giacometti (1993) cita que no centro de diversidade Sul-Sudeste, o qual se estende desde o nordeste do Rio Grande do Sul, centro de Santa Catarina, Paran e So Paulo at o sul de Minas Gerais, em sua maior parte no Planalto Meridional Brasileiro, encontra-se predominantemente as Mirtceas e entre essas, o gnero Psidium. Neste centro j foram indicadas por Mattos (1993) 18 espcies nativas, inclusive P. cattleyanum de fruto amarelo, P. myrtoides, de fruto vermelho, e P. australis, de porte ano. Giacometti (1993) tambm cita o setor do centro Mata Atlntica, que vai do Cabo de So Tom, no Rio de Janeiro, a Tramanda, no Rio Grande do Sul, onde predomina a espcie P. cattleyanum, assim como o Centro Nordeste/Caatinga e o setor do Centro Mata Atlntica, que vai do Rio Real ao Sul de Vitria no Esprito Santo (Zona da Mata e reas de transio), onde predomina a espcie P. guineense.

    Psidium guineense de origem sul-americana e apresenta uma ampla rea de distribuio. No Brasil, ocorre desde a Regio Norte at a ilha de So Sebastio, em So Paulo, alcanando ainda a Guatemala, Caribe e o Peru. Na regio do Brasil Central, foram coletadas amostras em Gois, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins, atualmente depositadas no Herbrio da Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, em Braslia. Nos Estados do Nordeste, encontrada nas regies do Litoral e Zona da Mata, principalmente nas reas dos tabuleiros costeiros, caracterizados por possurem solos pobres, cidos e arenosos, mas tambm no Sul do Piau e regio da Chapada Diamantina. Ainda citam-se como 2regies de ocorrncia a Argentina e o Mxico. (ANDRADE LIMA, 1957; CORRA, 1978; MATTOS, 1993; DEMATT, 1997, EMBRAPA, 2006).

    ASPECTOS ECOLGICOSSegundo Silva (1999), nas condies da Zona da Mata de Pernambuco, P.

    guineense fl oresce praticamente durante todo o ano, com picos coincidindo com a poca de menor pluviosidade. A maturao de frutos ocorre dois a trs meses aps a fl orao. Plantas da coleo de germoplasma do IPA tm apresentado frutifi cao no perodo de janeiro a julho, com pico nos meses de maro a abril (Bezerra e Lederman, dados no publicados). No cerrado de Minas Gerais, fl oresce de agosto a setembro (BRANDO et al., 2002)

    Em condies naturais, no Sul do Brasil, conforme Raseira e Raseira (1996), P. cattleyanum fl oresce de outubro a novembro. Em plantas cultivadas, observou-se

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    duas pocas principais de fl orescimento, sendo a primeira de setembro a outubro e a segunda, em dezembro. Em alguns anos, verifi ca-se uma terceira poca de fl orao, em maro. Nos cerrados de Minas Gerais, Brando et al. (2002) relatam que a fl orao se d de julho a dezembro e a frutifi cao iniciada no ano seguinte.

    Correia et al. (2000), estudando as caractersticas fi siolgicas de P. guineense temperatura e umidade do ar, radiao fotossinttica ativa, temperatura foliar, resistncia difusiva e transpirao, em trs acessos promissores da coleo de germoplasma do IPA (IPA-6.4, IPA-9.1 e IPA-9.4) e em trs horrios (8h, 11h e 15h), observaram que as plantas de todos os acessos no restringem as trocas gasosas nas horas mais quentes do dia. O acesso IPA-9.4 mostrou-se mais sensvel baixa luminosidade que os demais, sendo este e o IPA-6.4 mais adaptados do que o IPA-9.1. Em condies de disponibilidade hdrica adequadas, a radiao fotossinttica ativa foi o fator ambiental de maior infl uncia sobre as trocas gasosas do araazeiro.

    RECURSOS GENTICOSVariabilidade e eroso gentica. Informaes sobre a eroso gentica

    em araazeiros em todo o Brasil so indisponveis, no entanto presume-se que essas espcies esto com acentuada perda de genes, em funo da devastao dos ecossistemas nos quais as populaes ocorrem de forma nativa. A coleta de germoplasma faz-se necessria, uma vez que, seguramente, muito tem sido perdido em funo da destruio desses ecossistemas. Os recursos conservados ex situ so praticamente inexistentes, exceo se faz a poucas colees ativas mantidas em instituies de pesquisa do pas e colees didticas em algumas universidades e organizaes estaduais de pesquisa agropecuria.

    Conservao de germoplasma. As sementes de P. guineense no devem ser armazenadas, uma vez que tm sua qualidade fi siolgica reduzida, com perdas signifi cativas no vigor e germinao (Cisneiros et al., 2003), o que faz com que o seu germoplasma ex situ seja obrigatoriamente conservado a campo. Nesse sentido, apenas duas colees de germoplasma so conhecidas no pas, a de P. guineense, no IPA e a de P. cattleyanum, na Embrapa Clima Temperado. A primeira foi implantada na Estao Experimental de Itapirema, em Goiana, PE, a partir de 1989, com 108 acessos propagados por semente e mantidos sob condies de campo. A grande maioria desses gentipos (104 acessos) proveniente da Ilha de Itamarac, PE, e apenas quatro tm como procedncia a UNESP-FCAV de Jaboticabal, SP (SILVA, 1999; SILVA JUNIOR et al. 1999).

    A segunda coleo constituda de oito acessos (Raseira, 1999) implantados tambm em campo, a partir de 1985, na sede da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, RS. O germoplasma foi coletado principalmente nos arredores de Pelotas e Rio Grande, no Planalto Central do Rio Grande do Sul (Iju e Passo Fundo) e no Sul

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    do Paran. Do germoplasma coletado nos municpios de Pelotas e Rio Grande, h material oriundo das zonas litornea e colonial (RASEIRA e RASEIRA, 1996).

    Ambas as colees apresentam boa manuteno. O nvel de utilizao da coleo da Embrapa Clima Temperado bom e a partir da mesma foi possvel disponibilizar para os produtores duas cultivares de araazeiro: a Ya-Cy (frutos de pelcula amarela) e a Irapu (frutos de pelcula vermelho-escuro) (RASEIRA e RASEIRA, 2000a; RASEIRA e RASEIRA, 2000b). Com relao coleo do IPA, foram selecionadas por meio de seleo massal cinco gentipos promissores (IPA-6.4, IPA-9.1, IPA-6.3, IPA-9.4 e IPA-16.2) (LEDERMAN et al., 1997).

    Outras colees de fruteiras no Brasil mantm alguns exemplares de araazeiro, como a do Instituto Agronmico de Campinas - IAC (dois acessos de P. cattleyanum); a da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrcola EBDA, na Estao Experimental de Fruticultura de Conceio do Almeida, BA (quatro acessos de Psidium sp.); a da UNESP-FCAV, em Jaboticabal, SP (um acesso de P. guineense e um acesso de P. acutangulum); a da Empresa de Pesquisa Agropecuria do Rio de Janeiro Pesagro-Rio, na Estao Experimental de Maca, RJ (cinco acessos de P. cattleyanum); e a da Universidade Federal da Bahia, localizada na Escola de Agronomia, em Cruz das Almas, BA (cinco acessos de Psidium sp., conhecido popularmente como ara-cago) (CARVALHO, 1999; DONADIO, 1999; LUNA, 1999; VEIGA, 1999; VIEIRA et al., 1999).

    USOS E FORMAS DE EXPLORAOOs aras so consumidos in natura e so utilizados para preparo de doces

    (a popular araazada), compotas, sucos, polpas congeladas e gelias. A raiz diurtica e anti-diarrica, e a casca usada em cortumes; as folhas e, sobretudo, os brotos so adstringentes, sendo empregados para controle de diarria. A folha tambm fornece material tintorial. A madeira prpria para vigas, moures, cercas, cabos de ferramentas e instrumentos agrcolas, mveis fi nos, lenha e carvo. A planta pode ainda ser utilizada para fi ns ornamentais em jardins, stios e quintais (CORREA, 1978; DEMATT, 1997; BRANDO et al., 2002).

    Psidium cattleyanum pode ser utilizada em refl orestamento para recuperao ambiental de reas degradadas (Brando et al., 2002).

    Psidium friedrichsthalianum pode ser usada como porta-enxerto para goiabeira visando resistncia aos nematides (DAZ-SILVEIRA, 1975, citado por MOREIRA et al., 2003).

    A explorao do araazeiro d-se por extrativismo em reas naturais e pomares domsticos.

    VALOR NUTRICIONALA composio centesimal e os teores de minerais de P. guineense variam

    em funo dos ndices pluviomtricos, altitude, clima e solo das regies de colheita (CALDEIRA et al., 2004). Outros fatores, tais como a origem do material gentico, a

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    poca de produo e o estdio de maturao do fruto, tambm exercem infl uncia na composio e valor nutricional do ara. A composio centesimal e o valor calrico total dos frutos de ara coletados no Mato Grosso do Sul podem ser visualizados na Tabela 2.

    TABELA 2. Composio centesimal do fruto de araazeiro (Psidium guineense Swartz) coletado em Mato Grosso do Sul.

    Determinaes* Composio (% ou g/100 g)Umidade 85,12 1,413Resduo mineral fi xo 0,85 0,049Lipdeos 1,02 0,245Glicdeos redutores, em glicose 4,74 0,259Glicdeos no redutores, em sacarose 0,29 0,138Glicideos no redutores, em amido 2,80 0,241Protena bruta 1,00 0,214Fibra 4,28 1,189Valor calrico total (kcal/100 g) 44,50* Resultado mdio e desvio-padro de 20 frutos de cada lote analisado. Fonte: Caldeira et al. (2004).

    Com base nesses dados, os frutos de ara no podem ser considerados alimentos calricos, pois apresentam valor energtico de apenas 44,5 kcal/100 g. Segundo Caldeira et al. (2004), o ara pode ser considerado uma boa fonte de minerais quando comparados com frutos mais comumente consumidos pela populao, como a ma, a pra e o abacaxi. Os teores de minerais do ara coletado em Mato Grosso do Sul encontram-se na Tabela 3.

    TABELA 3. Teores de minerais presentes no fruto de araazeiro (Psidium guineense Swartz) coletado em Mato Grosso do Sul.

    Nutrientes Teor (mg/100 g)MacroelementosClcio 26,78Magnsio 17,86Fsforo 17,86Potssio 212,78Sdio 0,38MicroelementosFerro 0,36Mangans 0,30Zinco 0,16