72390721 pes como os da corca

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    PS COMO OS DA CORA NOS LUGARES ALTOSA MONTANHA DE ESPECIARIAS

    Venha depressa, meu amado, e seja como uma gazela, ou como umcervo novo saltando sobre os montes cobertos de especiarias.

    (Cntico dos Cnticos 8.1!PREFCIO ALEGORIA

    "is algumas e#plica$%es para o leitor a respeito deste livro.&nos atr's, ainda jovem, no incio de minha carreira mission'ria na )alestina, *uisurpreendida certa manh+ pela rela$+o entre o *ruto nnuplo do "sprito, de -'latas.//,/0, e as nove especiarias mencionadas na descri$+o do jardim *echado e dopomar de rom+s de Cntico dos Cnticos .1/,10. 2urante muitos e *elizes momentosde 3uietude, estudei com a ajuda da 4lora o* the 5ible 64lora da 5blia7, de Canon

    ristram, e 4rom Cedar to 9:ssop 62o cedro ao hissopo7, todos os detalhes das 'rvores eplantas enumeradas nesses versculos e as li$%es 3ue podemos aprender ao compar';lascom o *ruto do "sprito.)or conseguinte, anos mais tarde, 3uando decidi escrever esta se3s comoos da Cor$a nos lugares altos (Vida, 1?8?!, as li$%es da3ueles preciosos momentos de3uietude voltaram;me @ memAria.&ssim como as 'rvores de especiarias 3ue crescem nos Bugares &ltos desse livro da5blia s+o alegorias, n+o reais, n+o hesitei em adaptar e, em alguns casos, alterarligeiramente alguns detalhes em rela$+o ao nome real das especiarias enumeradas emCntico dos Cnticos. )or isso, a descri$+o das especiarias celestiais 3ue crescem nosBugares &ltos n+o deve ser levada ao e#tremo. )ermiti;me certa licen$a po>tica&s personagens desta histAria s+o na verdade personi*ica$%es in*elizes e torturantes,traduzidas pelos nomes 3ue carregam, de atitudes da mente, do cora$+o e dotemperamento. "m )>s como os da cor$a nos lugares altos, as personagens eram

    inimigas de -rande;Dedrosa, 3ue tentava esconder sua jornada aos Bugares &ltos.Eeste livro, tentei dei#ar o mais claro possvel 3ue as caractersticas e *ra3uezas detemperamento com 3ue nascemos e 3ue, com *re3m outras caractersticas de temperamento personi*icadas neste livro, podem todasser gloriosamente trans*ormadas em seu e#ato oposto. H amor toma nas m+os nossosde*eitos e de*ormidades e, com eles, como no caso do enganoso IacA, modela prncipese princesas de 2eus. E+o se deve supor 3ue nas conversas, na montanha das"speciarias, entre o )astor;Jei e -ra$a e -lAria ponho palavras na boca do Falvador,3ue ele nunca disse e 3ue pelas 3uais a*irma a autoridade da verdade inspirada. Hs

    di'logos pretendem apenas indicar a comunh+o sincera e natural 3ue pode haver entre3ual3uer alma amorosa e o Fenhor do amor e a *orma em 3ue podemos aprender comele, 3uando lhe pedimos 3ue nos esclare$a os problemas 3ue nos con*undem. 2a mesma

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    *orma, ele pode *azer com 3ue tomemos consci=ncia da trilha pessoal 3ue cada um denAs deve seguir.&penas compartilho a *orma como minha mente e minha compreens+o se iluminaram amedida 3ue tentava, dia a dia, ser totalmente receptiva ao amor e aos ensinamentos doFalvador. E+o tenho dKvida de 3ue, 3uais3uer 3ue sejam meus pensamentos a respeitodessas coisas, eles ainda s+o muitssimo inade3uados e *icam muito a3u>m da real,indescritvel e gloriosa verdade. &inda h' Bugares &ltos, em 3uantidade in*initaG onde >possvel chegar, e podemos apenas descrever vislumbres do 3ue e#perimentamos nasubida. Fem dKvida, as coisas mais ador'veis e e#celentes ainda est+o @ *rente-ostaria de dar uma palavra a respeito dos versos e cnticos apresentados neste livro.)essoalmente, acho Ktil e#pressar e resumir em versos as novas li$%es 3ue aprendo e anova luz 3ue recebo. Lsso possibilita 3ue eu as grave na memAria de uma *orma 3ue meseja *'cil lembr';las. M possvel 3ue outras pessoas tamb>m achem esses versos Kteis,para a mesma *inalidade. "les *oram todos escritos especialmente para este livro, masalguns deles tamb>m aparecem em dois de meus livros, Nnveiled -lor: 6-lAria revelada7e he 9eavenl: )oOers 6Hs poderes celestiais7.

    CAPTULO 1SENHORA SOMBRIA AGOURENTA

    "ra uma manh+ maravilhosa de primavera no vale da 9umilha$+o, e tudo pareciades*rutar os c'lidos raios solares e o ar suave e per*umado. &s pastagens estavamrevestidas de verde vi$oso, e as 'rvores *rut*eras usavam manto de *esta, com *loresbrancas e rosas. &s *lores silvestres dan$avam alegremente na brisa, en3uanto asabrAteas, com o sol brilhando atrav>s de suas *lores brancas transparentes,permaneciam em *ila, como tochas de cera, no ngreme declive acima do lago azul.Eas

    pastagens atrav>s das 3uais corre o rio, as ovelhas saltavam sobre as m+es, e crian$asbrincavam de esconde;esconde entre as rochas. &ves de todos os tipos e tamanhostrabalhavam com vigor na constru$+o de ninhos, e inKmeras notas, chamados e gorjeiosecoavam no ar, en3uanto abelhas e grilos emitiam um suave e constante zumbido. udoisso *azia com 3ue o dia *osse per*eito no vale, tudo o 3ue respirava e se movia estavaao ar livre para dar as boas;vindas @ primavera. Contudo, @ sombra de algumas 'rvoresvelhas, escuras e retorcidas, do outro lado da estrada principal 3ue corta a vila da-rande &preens+o, havia um jardim coberto de ervas daninhas e repolhos de aspectodoentio. Eo meio do jardim, encontrava;se um chal>, j' bem decadente, com as portas eas janelas trancadas. 2a chamin>, levantava;se uma leve e *urtiva espiral de *uma$a 3uesubia pelo ar de maneira discreta, como se tivesse vergonha de chamar a aten$+o numdia t+o per*eito como a3uele. Eo interior do chal>, a senhora Fombria &gourenta,

    escondida pela *uma$a da pe3uena estu*a, jazia sentada numa cadeira, usando umvestido de cor sombria e enrolada num #ale cinza ainda mais sombrio. "m sua*isionomia, estampava;se o ar da mais pro*unda penKria e tristeza. Huviu;se uma vivabatida @ porta, e, 3uase antes do hesitante "ntre da senhora Fombria &gourenta, suavizinha, senhora Valente, j' estava no meio da sala. H contraste entre as duas mulheresera t+o grande 3ue todos em -rande &preens+o se perguntavam como era possvele#istir amizade (se > 3ue se pode chamar assim a3uele relacionamento unilateral! entreas duas. Contudo, a amizade delas datava da >poca de escola, e a senhora Valente,como diziam os vizinhos, parecia ter a estranha inten$+o de n+o permitir 3ueterminasse. & senhora Valente entrou na sala, parou por um instante e emitiu um somrouco, como um ronco.

    ; Deu 2eus, &gourenta ; e#clamou ela. ; H 3ue voc= est' *azendo com as janelas*echadas num dia lindo como esteP "ssa *uma$a horrvel da estu*a vai acabar su*ocandovoc=. ; )or *avor, *eche de uma vez a porta, Valente ; disse irritada a senhora&gourenta. ; & corrente de ar est' terrvel, e esse desagrad'vel vento leste sempre piora

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    meu reumatismo, e a dor > insuport'vel. ; Vento leste ; disse a senhora Valente comoutro ronco ; &gourenta, minha 3uerida, o ar est' per*umado como o de um dia dever+o, e a leve brisa vem diretamente do sul.;Deu cata;vento n+o mente jamais ; replicou a senhora &gourenta com *irmeza. ;Quando o observei esta manh+, o vento vinha do leste. &l>m disso, sinto o vento emtodo o meu corpo, em cada osso e em cada junta. Eem preciso da con*irma$+o do cata;vento. ; 2ei#e;me, pelo menos, abrir a janela do lado sul ; pediu a senhora Valente.; ", 3uerida &gourenta, dei#e;me convenc=;la a pr de lado esse #ale sombrio e a vestiralgo mais *resco e bonito para sair um pouco l' *ora comigo ; acrescentou ela em tommisterioso. ; &conteceu uma coisa maravilhosa e inesperada, e vim a3ui com o propAsitode lev';la at> meu chal> para 3ue voc= compartilhe esse prazer comigo. odavia, asenhora &gourenta recusou;se a *icar curiosa ou interessada."m vez disso, ati$ou o *ogo, *azendo com 3ue uma grossa e su*ocante espiral de *uma$ase elevasse na sala. & seguir, com um arrepio de *rio a lhe percorrer o corpo, pediuR ;)or *avor, dei#e essa janela 3uieta, Valente Desmo 3ue *osse um dos dias mais 3uentes,n+o me aventuraria a sair de casa, pois meu almana3ue diz 3ue hoje o dia ser' sombrio,um dia de trevas, escurid+o e perigo. "stou certa de 3ue algo ruim acontecer' comigo seme aventurar a sair. enho muita *> no meu almana3ue e nunca dei#o de seguir seus

    conselhos. ; Que almana3ue > esseP ; gritou a senhora Valente, caminhando at> aparede em 3ue estava pregada uma gravura enorme e horrenda. ; )or 3ue, &gourentaPE+o me diga 3ue voc= gosta de astrologia "ste almana3ue > publicado por umaempresa conhecida por suas trapa$as, gente 3ue vive de e#plorar os medos alheios. Lsso> um disparate total & senhora &gourenta, o*endida, respondeu com asperezaR ; Euncavi meu precioso almana3ue errar. Quando ele diz 3ue haver' in*ortKnio e calamidade,sempre acontece algum tipo de in*ortKnio e alguma calamidade, e n+o sou tola a pontode desdenhar a previs+o para hoje. )ortanto, *icarei em casa. ; -ostaria 3ue voc= medei#asse arrancar essa coisa horrvel da parede e jogar no *ogo ; implorou, e#asperada, asenhora Valente. ; 2ei#e;me pendurar a3ui um da3ueles calend'rios com letrasvermelhas 3ue gosto de usar. )ara o dia de hoje, meu calend'rio dizR "ste > o dia em3ue o Fenhor agiuG alegremo;nos e e#ultemos neste dia.

    ; Eada *ar' com 3ue eu me des*a$a do meu valioso almana3ue ; disse a pobre senhora&gourenta ; e n+o vou me aventurar a colocar os p>s *ora de casa hoje. enho certeza de3ue uma calamidade se apro#ima, assim como sei 3ue me chamo Fombria &gourenta. ;Fe eu tivesse um nome desses ; gritou a senhora Valente, perdendo a paci=ncia derepente ; com certeza o trocaria por um melhor. & senhora &gourenta *icoupro*undamente o*endida, mas sempre 3ue a am'vel e *acilmente irrit'vel vizinha perdiaa paci=ncia, ela reagia com a resigna$+o de um m'rtir. )or isso, em tom de resignadacensura, retrucouR ; M um nome muito antigo e honrado, Valente. I' *oi provado 3ueremonta a um perodo anterior ao dilKvio. Hs Fombrios &gourentos e#istem h' maistempo do 3ue se pode calcular.& senhora Valente riu com vontade do absurdo 3ue a amiga acabara de dizer, emboraessa *osse uma da3uelas ocasi%es em 3ue gostaria muito de pr um pouco de juzo nacabe$a da pobre tola 3ue tinha diante de si.

    inha, contudo, um motivo oculto, conhecido apenas dela e do )astor;Che*e, para serpaciente com sua in*eliz vizinha e aprender a aceita;la, de *orma amorosa, e#atamentecomo era. &ssim, respondeu alegre, embora sem muito tatoR ; 5em, os Fombrios&gourentos pr>;diluvianos devem estar e#tintos, pois n+o havia nenhum deles na arca.)ergunto;me 3uem seria tolo o bastante para adotar o nome da *amlia de novo &senhora &gourenta *icou o*endida demais para responder. &pertou mais o #ale em tornodos ombros, tiritando de *rio, e parecia ignorar 3ue havia mais algu>m com ela na casa.& senhora Valente sentiu a consci=ncia pesar, pela maneira terrvel em 3ue dei#ara alngua disparar 3uando, no *undo, 3ueria apenas ajudar a amiga. "la logo se desculpou,dizendo;se arrependidaR ; 2esculpe;me, 3uerida &gourenta Fei 3ue n+o devia ter dito

    isso, mas como gostaria 3ue voc= me dei#asse ajud';la a sair dessa in*elicidade em 3uecaiu e convenc=;la a se des*azer desse esprito de tristeza Queria tanto 3ue voc=vestisse o manto de louvor

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    estava atnita com a notcia, a temvel notcia. Eada do 3ue ela sentia podia ser maisimprAprio, mais horrvel e mais humilhante 3ue o retorno da3uela desditosa mo$a manca3ue todos desprezavam e cuja partida tentaram impedir. &gora ela estava ali, curada ;ao 3ue parecia ;, rodeada de amigas e coberta de glAria e honra, um membro da *amliado Jei 3ue retomava 3uase como rainha do vale, o mesmo vale em 3ue *ora uma3ual3uer, in*eliz e desprezada. &l>m disso, ela retomava bem a tempo de ver seusparentes mais prA#imos na mais humilhante situa$+o possvel ; sua prima 2esanimada(3ue *izera um bom casamento!, agora abandonada pelo marido e sem recursos, vivia de*avor na casa da m+eG Jancorosa, casada com um b=bado 3ue 3uase a matou, vivendona maior mis>ria, num sAt+o minKsculoG seu primo Covardia, com 3uem ela se recusaraa casar (um grande insulto!, agora estava na pris+o. )oderia seu retorno ser maisinoportunoP )oderia ela, Fombria &gourenta, imaginar calamidade maiorP Deualmana3ue sempre diz a verdade, pensou, sentindo a3uele ba3ue no cora$+o, algo 3ueraramente sentia. 2e *ato, um dia de calamidade "u n+o poderia so*rer um golpe mais*orte. odavia, n+o disse uma palavra. Com muito es*or$o, conseguiu reprimir asamargas lamenta$%es 3ue 3uase escaparam de seus l'bios, pois se deu conta de 3uen+o era normal uma tia lamentar o *ato de uma sobrinha manca retomar curada e, acimade tudo, como membro da *amlia do Jei. & senhora &gourenta pensou com amarguraR

    Fe *osse algum dos nossos parentes 3ue me tivesse contado a novidade, elesentenderiam muito bem meus sentimentos e talvez at> pud>ssemos lamentar juntos,mas Valente > di*erente, ela jamais entenderia isso. &ssim, a senhora &gourentacontinuou sentada, em g>lido sil=ncio. ; Vamos, &gourenta ; disse a senhora Valente de*orma persuasiva, depois de esperar em v+o uma mani*esta$+o de prazer ou deinteresse da vizinha. ; Vamos @ minha casa, para 3ue voc= mesma veja a deliciosarealidade 3ue acabo de contar a voc=. Venha e d= as boas;vindas a -ra$a e -lAria,des*rute a alegre companhia das outras amigas. "s3ue$a a dor por um tempo e regozije;se com os outros. 4inalmente, a senhora &gourenta encontrou as palavras. ; Hbrigada,Valente ; disse ela ;, mas nada me convencer' a sair de casa hoje, nem a *azer algo t+oinsensvel 3uanto buscar alegria pessoal numa *esta, en3uanto minhas *ilhas comem op+o da desgra$a e meu *ilho de*inha na pris+o. Quanto a -rande;Dedrosa, ; prosseguiu

    incapaz de esconder a amargura (ela, com certeza, n+o chamaria a mo$a por nenhumnome novo 3ue o Jei tivesse escolhido para ela! ;, n+o pode e#istir sobrinha maisirreverente e ingrata. H *ato de ela resolver voltar agora para e#ultar com o in*ortKnio deseus parentes > apenas outro e#emplo da sua natureza insensvel. "u, da minha parte,n+o darei a ela nenhuma oportunidade de *azer isso. Valente, imploro 3ue voc= voltepara sua *esta e me dei#e o consolo da solid+o em minha in*elicidade. & senhoraValente, pesarosa, percebeu 3ue n+o *aria nenhum bem *icando mais tempo ali e 3ue3ual3uer inconveni=ncia a mais apenas aumentaria a resist=ncia e o ressentimento davizinha. &ssim, com tristeza, saiu apAs *alhar na miss+o 3ue ela, na verdade, jamaisimaginou bem;sucedida. & senhora Fombria &gourenta, sozinha em casa, continuou apensar na desastrosa notcia, e 3uanto mais pensava na novidade pior esta lhe parecia.Que golpe cruel do destino, permitir 3ue a mo$a retomasse justo agora. Fe ela tivesse secasado com Covardia, como deveria, agora estaria t+o desgra$ada, humilhada edesditosa 3uanto a sogra e tamb>m seria um Atimo bode e#piatArio, algu>m em 3uem a*amlia pudesse descarregar sua desgra$a. Contudo, em vez disso, ressurgegloriosamente livre e provida de um nome novo e nobre. ; Lsso > escandaloso ; solu$ou asenhora &gourenta. ; Como a vida > injusta Nm golpe do destino & calamidade dascalamidades "la jazia ali sentada, acalentando sua amargura, havia mais de meia hora3uando ouviu uma leve batida @ porta. Com um repugnante sentimento de press'gio,perguntou rispidamenteR ; Quem >P ; Fou eu, sua sobrinha, 3uerida tia )osso entrarP ; ecom isso a porta se abriu. -ra$a e -lAria entrou na melancAlica sala. & senhora Fombria&gourenta, a despeito de si mesma, olhou com 'vida curiosidade para a mo$a 3ue umdia *ora S-rande;DedrosaT. Viu 3ue era 3uase verdade o 3ue Valente lhe contaraR a mo$a

    havia mudado muito. "stava t+o ereta e caminhava com tanto desembara$o e e3uilbrio3ue dava a impress+o de estar bem mais alta 3ue antes. &gora 3ue a boca de*ormadaendireitara podia encarar os outros sem constrangimento. "stava, de *ato, muito

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    di*erente da *eia criatura dos tempos antigos. & senhora Fombria &gourenta pensouRContudo, n+o dei#a de ser uma pessoa comum. Eo meio de uma multid+o, ela n+o sedestacaria, a n+o ser talvez pela e#press+o de calma e serena *elicidade em sua *ace epor essa luz em seus olhos.-ra$a e -lAria hesitou um momento @ porta e, como a tia n+o lhe dirigiu nenhumapalavra de cumprimento, caminhou calmamente em dire$+o @ *igura cinzenta e tensaencurvada na cadeira de balan$o ao lado da estu*a. Lnclinando;se, beijou gentilmente a*ace da tia. & senhora Fombria &gourenta recuou como se um r>ptil tivesse seapro#imado dela e empurrou a sobrinha. ; E+o h' necessidade de *alsas demonstra$%esde a*eto, -rande;Dedrosa ; disse ela com *rieza. ; 2ispenso seu beijo. & sobrinha olhou;acom compai#+o, mas respondeu com ternuraR ; )osso entender como se sente, 3ueridatia.Fei 3ue, in*elizmente, sempre *ui insensvel e nada atenciosa, pouco me importando comseus desejos. Contudo, soube 3ue voc= teve muitas tristezas desde a Kltima vez em 3uenos vimos, e meu cora$+o so*re por voc=. -ostaria de poder ajud';la de alguma maneiraou de, pelo menos, ser solid'ria com sua dor. ; "la parou por um momento e, emseguida, acrescentou timidamenteR ; Voc= sabe 3ue mudei, pois desde 3ue *ui emboraaprendi a amar. &gora, tenho um novo nome e, espero, uma nova natureza. ; 4oi o 3ue

    ouvi da senhora Valente ; retrucou a tia com *rieza. ; Das, com certeza, n+o a chamareipor outro nome 3ue n+o seu nome verdadeiro. )osso lhe garantir 3ue ser' necess'riomais 3ue apenas um novo nome para 3ue eu me es3ue$a de como voc= era. )ara mim,voc= sempre ser' -rande;Dedrosa.; 5em, tamb>m posso entender isso ; disse -ra$a e -lAria. ; Fe lhe agrada, pode mechamar pelo meu antigo nome, mas ; acrescentou com um sorriso ; -ra$a > um nomemais curto e mais *'cil de dizer e e#pressa e#atamente como alcancei a *elicidade, a paze a cura. Querida tia &gourenta, 3uem me dera poder convenc=;la a dei#ar sua dor evoltar;se para a3uele 3ue me ajudou de *orma t+o bondosa e maravilhosa Nm rubor deraiva apareceu na *ace da tia.; "ntendo 3ue voc= se re*ere ao... ; ela titubeou antes de pro*erir o nome t+o odiado ; ao)astor, -rande;Dedrosa ; Fim ; respondeu a sobrinha, muito s>ria. ; Lmploro... E+o

    )robo voc= de mencionar esse nome de novo para mim ; 3uase gritoua senhora Fombria &gourenta, com a voz tr=mula de raiva. ; Voc= sabe muito bem o 3uetodos nAs pensamos do seu comportamento vergonhosoR abandonar os parentes,mostrando;se t+o insensvel Fabe o 3ue aconteceu depoisPFabia 3ue *oi esse... "sse seu )astor 3uem acusou *alsamente meu in*eliz *ilho Covardia3ue essa mentira o levou @ pris+oP Deu *ilho, meu Knico *ilho, tratado e condenado a seismeses de pris+o, como um criminoso comum-ra$a e -lAria, 3ue viera ao chal> com o cora$+o transbordando de amor e compai#+o eansiava ajudar a tia a sair da3uela tristeza 3ue ela mesma j' conhecera, n+o conseguiupensar em nada para dizer. "la tinha lembran$as pessoais do horripilante Covardia esabia muito bem 3ue algumas vtimas desa*ortunadas haviam *icado *elizes pelo )astorhav=;las livrado das garras dele. &l>m disso, talvez um perodo na pris+o *osse uma li$+osalutar, embora amarga. E+o achava, por>m, 3ue *osse o melhor momento para dizerisso @ m+e dele. &ssim, *icou sem saber o 3ue dizer. -ra$a e -lAria pensava consigomesma 3ue o incrvel contraste com tudo o 3ue ela imaginara encontrar tornava tudoindescritivelmente di*cil. Como as coisas pareciam di*erentes, vistas l' dos Bugares&ltos, no Jeino do &mor, onde todo pensamento > de amor e onde suas companheiras,&legria e )az, estavam sempre com ela Bembrou;se de como, havia pouco tempo,estivera sentada ao lado do Jei nos jardins reais e de como olharam para o vale aliembai#o, sentindo o cora$+o doer e palpitar com o desejo de ajudar os parentes dela.Eada parecia muito di*cil para o amor alcan$ar, bastava salv';los e libert';los das coisas3ue os atormentavam e @s 3uais estavam escravizados. Eo entanto, ali, *ace a *ace coma realidade, como tudo parecia di*erente, 3uase insuportavelmente di*erente &li estava

    sua tia, encarcerada no prAprio so*rimento, sem conseguir pensar em mais nada nem seinteressar por mais nada, pois todos os seus pensamentos eram prisioneiros de suadesdita. &li, *ora do Jeino do &mor, era como viver num mundo de trevas, em 3ue n+o

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    e#istia o amor. -ra$a e -lAria pensava, desesperadaR Como descer @ masmorra daminha tia e tirar;lhe as algemas das 3uais ela, na verdade, parece gostar e n+o 3uerer selibertarP Como recomendar;lhe o Knico Bibertador, se ela acreditava ser ele a causa detoda a sua in*elicidadeP Fim, na verdade, era bem di*erente sentir o anseio compassivode ajudar e salvar l' no alto, na glAria e na luz do Jeino do &mor. Das como *azer isso aoimergir na verdadeira realidadeP Como alcan$ar o cora$+o encarcerado numa pris+oine#pugn'vel, ou pelo menos despertar um *ugaz desejo de liberta$+oP-ra$a e -lAria lembrava;se de todas as conversas 3ue tiveram nos Bugares &ltos e detodos haverem concordado em 3ue a3uele era o melhor momento para ajudar a senhoraFombria &gourenta e sua *amlia, pois as adversidades 3ue caram sobre eles por certo*ariam com 3ue desejassem a ajuda do )astor, mas agora constatava 3ue n+o era assim.Vinham;lhe @ mente as palavras do JeiR )reciso de algu>m 3ue *ale por mim, pois elesn+o vir+o a mim por si mesmos. Bembrava;se tamb>m de haver gritado de alegria e dee#ulta$+o por ser escolhida porta;voz dele, bem como do tom de voz 3ue ele usara aoperguntarR -ra$a e -lAria, voc= acha 3ue eles a ouvir+oP. H 3ue ela respondeuP 2iga;me o 3ue devo *alar, e *alarei pelo Fenhor. 2e repente, pensouR Fim, essa > a resposta."le me dir' o 3ue *alar. "le tem de me ensinar. E+o posso dizer nada agora, mas vouprocur';lo. Conto;lhe tudo e pe$o 3ue me ensine o 3ue *azer e como chegar @ pris+o da

    minha tia. Contudo, ela *ez uma Kltima tentativa de abrandar o antagonismo da tia paracom elaR ; Queridssima tia, espero 3ue voc= me dei#e vir a3ui de vez em 3uando parav=;la e *azer o 3ue puder para ajud';la. Quem sabe da prA#ima vez voc= me dei#acontar como *ui libertada de todos os meus medos e m'goas.; Hbrigada, -rande;Dedrosa ; *alou a tia com voz *ria. ; Das n+o estou interessada emouvir. I' sei tudo o 3ue voc= vai dizer, e nada disso me interessa. -ra$a e -lAria,sentindo;se como algu>m 3ue tentava derrubar uma *ortaleza ine#pugn'vel com um*r'gil cristal, levantou;se e preparou;se para sair. )assou os bra$os em volta da tia ebeijou;lhe a *ace *ria e impassvel, dizendo com suavidadeR ; &penas me dei#e am';la, tia&gourenta.2ei#e;me reparar de alguma *orma meu desamor do passado. 2ei#e;me vir a3ui visitarvoc= e minha prima 2esanimada e ajud';las como puder. "ntretanto, a Knica resposta

    3ue recebeu *oi estaR ; -rande;Dedrosa, voc= escolheu seu caminho, e esse n+o > o meucaminho. E+o hesito em dizer 3ue, embora a desdita tenha se abatido sobre mim e a boasorte tenha sorrido para voc=, n+o desejo de *orma alguma 3ue voc= sinta pena de mimnem 3ue me trate com condescend=ncia. )osso estar prostrada, desolada edesamparada, mas n+o serei tratada com condescend=ncia. E+o precisa se incomodarem me visitar outra vez. -ra$a e -lAria dei#ou o chal> muito triste, a se perguntar se arealidade poderia estar mais distante de seus sonhos radiantes e altrustas. )or algunsmomentos, sentiu;se 3uase vencida. Eo entanto, chegar ao chal> em 3ue ela eDisericArdia haviam morado e encontrar a amiga e a senhora Valente alvoro$adas ealegres com os preparativos da *esta, para a 3ual o prAprio )astor;Che*e havia sidoconvidado, ver &legria e )az (3ue ela dei#ara no chal>, pois, se levasse as duas criadaspara visitar a tia in*eliz, esta com certeza pensaria 3ue -ra$a e -lAria estava 3uerendose mostrar! e receber a amorosa sauda$+o delas *oi um b'lsamo para seu cora$+o."nt+o disse consigo mesmaR 2a prA#ima vez 3ue visitar tia &gourenta, levarei &legria e)az comigo.&ntes da chegada dos convidados, a alvoro$ada senhora Valente sA teve tempo de pu#';la de lado e sussurrarR ; "nt+o, minha 3uerida, como voc= se saiu e 3ue tipo de recep$+orecebeu da pobre &gourentaP ; "la me disse 3ue era para eu nunca mais visit';la ;respondeu -ra$a e -lAria com pesar. ; Feria uma pena se ela *alou s>rio. ; Voc= n+oimagina a 3uantidade de vezes 3ue ela me disse a mesma coisa ; replicou a senhoraValente, animada. ; "la protestaria de imediato se eu a levasse ao p> da letra. Euncapreste aten$+o @s coisas 3ue a pobre &gourenta diz minha 3uerida. "la est' *aminta deamor, mas n+o *az a menor id>ia de 3ue > disso 3ue precisa. &penas continue a am';la,

    pois o amor sempre vence. & senhora Valente, como se pode imaginar, tamb>m estevecom o )astor nos Bugares &ltos e usa no cora$+o a *lorida planta do amor, 3ue a tornacidad+ da3uele reino. Ea3uele momento, ouviram passos do lado de *ora e o som de

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    vozes alegres e risonhas. H )astor;Che*e entrou no chal> rodeado de amigos, e a *estacome$ou. & chaleira cantava sobre o piso da lareira, os convidados conversavam e riamalegremente, o gato amarelo ronronava deitado sobre os joelhos do )astor;Che*e e ogato branco e preto estava enrolado no colo de -ra$a e -lAria. Hs c+es pastoresestavam deitados @ porta, balan$ando o rabo. & senhora Valente estava ocupada,enchendo sem parar as #caras de ch'. H chal> era, sem dKvida, o lugar mais alegre detoda a vila ; como se um pedacinho do Jeino do &mor tivesse sido transplantado para ovale. H 3ue, obviamente, era o caso. ; Fe a pobre &gourenta estivesse a3ui ; suspirou asenhora Valente. "m seguida, olhou para o )astor e viu 3ue os olhos dele estavam *i#osnela, como se pudesse ler os pensamentos dela. & senhora Valente deu um sorrisinhosatis*eito e disse para si mesmaR Vai dar tudo certo. "le, mais 3ue 3ual3uer um de nAs,3uer 3ue isso aconte$a. & pobre &gourenta e sua *amlia podem 3uerer escapar do amordele, mas isso n+o ser' *'cil."nt+o, continuou a andar pela sala, enchendo #caras e atendendo a todos e, semperceber, *icou ao lado do )astor;Che*e, a pessoa mais alegre e agrad'vel da sala.

    CAPTULO 2A MONTANHA DAS ROMS

    (AMOR)

    A LEI DO AMOR

    &o *im do dia, o )astor chamou -ra$a e -lAria e suas duas companheiras, e come$arama caminhada de volta para casa, aos Bugares &ltos. Eo caminho, en3uanto pulavam esaltavam na encosta da montanha, em dire$+o ao pico, j' brilhando com a luz vermelhae rosada do sol poente, -ra$a e -lAria pensava na visita 3ue *izera @ tia &gourenta.Deditava consigo mesma 3ue precisava conversar com o )astor;Jei e pedir;lhe 3uee#plicasse as coisas 3ue a estavam con*undindo antes de retomar ao vale, poisprecisava saber 3ue mensagem poderia demover sua tia enclausurada na3uela sombriamasmorra. "las tinham p>s de cor$a, por isso saltavam na encosta da montanha ealcan$aram o topo bem depressa. &ssim 3ue chegaram ao jardim do Jei, onde estavamhospedadas, -ra$a e -lAria contou;lhe 3ue precisava de ajuda. "le lhe garantiu 3ue no

    dia seguinte, bem cedinho, iriam juntos @ montanha das Jom+s e l' conversariam sobreo assunto.-ra$a e -lAria encheu;se de alegria e de muitas e#pectativas. Eunca estivera namontanha das Jom+s e amava conhecer os recantos dos Bugares &ltos e admirar agloriosa cadeia de montanhas de novos ngulos. &s primeiras horas da manh+, 3ue elapassava com o )astor;Jei, antes de iniciar o trabalho do dia, eram sempre as mais*elizes de sua vida. Duitas vezes, ele a chamava muito antes de o sol nascer, econversavam por duas ou tr=s horas antes 3ue algu>m aparecesse.Ea manh+ seguinte, no momento em 3ue o primeiro brilho rosado de um alvorecer dever+o surgiu no pico da montanha, do lado oposto do vale, e a estrela da manh+ aindabrilhava no c>u, -ra$a e -lAria ouviu a voz do Jei a cham';la. "la saltou e seguiu;o

    depressa. &ntes, pararam um pouco para admirar a beleza dos picos brancos de neve3ue pareciam se erguer em dire$+o ao c>u sem nuvens, como 3ue tentando alcan$ar oprimeiro raio de sol, por cujo nascimento ansiavam. H sil=ncio era de tirar o *lego.Quando o primeiro raio de sol surgiu sobre a montanha ao longe e o declive brancotingiu;se de um tom rosa pro*undo, -ra$a e -lAria olhou para o Jei e disse;lheR "Espero

    pelo Senhor mais do que as sentinelas pela manh; sim, mais do que as sentinelasesperam pela manh!"(Falmos 10UR!."le pegou a m+o de -ra$a e -lAria, e subiram pulando e saltando em dire$+o @montanha das Jom+s."n3uanto caminhavam, ela entoou um cnticoRH pico da montanha na alvoradaComo no incio da manh+

    H pico nevado da montanha)rocura saudar a alvorada

    amb>m meu cora$+o anseia e busca ua *ace

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    " brilha com gra$a.Como os picos ao nascer do sol "levo minha mente a ti.Veste;me com glAria4aze;me arder em louvor"m vestes de amor2e chamas *lamejantes."m mantos brancos como a neve "les saKdam seu senhor, o sol.

    amb>m espero teu esplendor, Corro com p>s alados,&gora 3ue nos encontramos, Concede;me doce comunh+o.&ssim, cantando e saltando lado a lado, chegaram a uma parte da cadeia de montanhasdesconhecida de -ra$a e -lAria. Wrvores *rut*eras de todas as esp>cies cresciam embelos pomares, por>m havia mais rom+zeiras 3ue 'rvores de outras esp>cies. "la j'percebera 3ue o Jei gostava mais das rom+s 3ue das outras *rutas e na3uela manh+entendeu a raz+o de ele as achar t+o encantadoras. & rom+zeira produzia *lores e *rutosao mesmo tempo, ambos vermelho;claro, belssimos. H *undo das p>talas era pinceladode uma cor 3ue lembrava a al*azema. &ssim, com as *olhas, de um verde vivo, as *lorese os *rutos vermelho;claros *ormavam um 3uadro admir'vel contra o *undo azul;tur3uesa do c>u. & emo$+o dei#ou;a sem *lego. &s 'rvores *orneciam sombra *resca, e,

    3uando se sentaram ao ch+o debai#o de uma das maiores rom+zeiras, parecia 3ueestavam num pe3ueno caramanch+o, de *rente para outra cadeia de montanhas, asmais altas 3ue j' vira. ; 2ize;me, Fenhor ; disse ela, apAs um breve momento de3uietude, em 3ue descansara ao lado dele, deliciando;secom a3uela presen$a e a3uietando seu cora$+o e sua mente para poder ouvi;lo eaprender tudo o 3ue ele lhe 3uisesse ensinar ;, por 3ue (assim me parece! amas arom+zeira mais 3ue as outras 'rvores e por 3ue esta montanha > coberta de rom+zeirasP; "stamos nas montanhas das "speciarias ; *alou o Jei ;, uma cadeia de nove montanhasem 3ue crescem meus *rutos e especiarias prediletos. "ssas rom+zeiras s+o a melhorimagem do primeiro do *ruto nnuplo do "sprito, o amor. & rom+zeira, como voc= podever, > uma 'rvore perene, e os povos do Hriente dizem 3ue > seguro deitar e descansarembai#o dela por3ue os espritos malignos n+o ousam se apro#imar dessa maravilhosa'rvore. &s *lores s+o lindas, o *ruto > delicioso, e *azemos um suco saud'vel ere*rescante com ele.H *ruto tamb>m > repleto de belas sementes. 2iz;se 3ue pelo menos uma semente decada *ruto vem do )araso. "la > bela, *ecunda, perene, saud'vel e a*asta os espritosmalignos. Voc= ainda pergunta por 3ue as pessoas acham a rom+zeira uma das 'rvoresmais *ascinantesP ; )osso entender muito bem isso ; respondeu ela. ; amb>m notei 3uea encosta da montanha > o lugar mais bonito de todos os 3ue j' vi. 2a3ui, temos umavis+o totalmente nova. Contudo, n+o > ali, bem abai#o de nAs, 3ue *ica o vale da9umilha$+oP ; Fim ; disse ele. ; Voc= est' certa. 2iga;me, -ra$a e -lAria, o 3ue voc=acha desta nova vistaP "la *icou muito tempo 3uieta ao lado dele, contemplando ocen'rio. entava absorver toda a3uela maravilha. &lto, muito alto no c>u, elevava;se

    uma cadeia de picos cintilantes, encobertos por uma neblina de luz t+o o*uscante 3ueela teve de cobrir os olhos. "m primeiro plano, *ormando um contraste *ascinante com aluz, havia uma montanha bem mais bai#a, lindamente modelada em *orma de pirmide,por>m negra como carv+o, do sop> ao topo, como se tivesse sido varrida pelo *ogo ; umagrande mancha na paisagem per*eita. Ea verdade, o contraste era magn*ico. &montanha escura parecia uma proscrita solit'ria, destruda, incapaz de se esconder doe#traordin'rio grupo de espectadores vestidos de branco imaculado, uma criminosa nua,*or$ada a permanecer na presen$a de seus juzes.-ra$a e -lAria sentiu as l'grimas brotarem ao olhar para a montanha escura edevastada, 3ue contrastava de *orma t+o terrvel com o resto da paisagem. H 3ue mais acomoveu *oi ver 3ue a montanha n+o conseguia esconder a prApria vergonha.)ermanecia est'tica, com cada marca terrvel de sua runa e#posta ao e#ame dos picos

    imaculados."la olhou para a montanha por muito tempo at> 3ue a voz do Jei a chamou de volta deseu devaneio. "le disseR

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    & justi$a > a condi$+o de tudo o 3ue est' em harmonia com a lei do Nniverso e, por isso,> justa. & injusti$a > tudo o 3ue est' em desarmonia com a lei do amor e, por isso, >injusta. H amor 3ue n+o *az mal ao prA#imo cumpre a lei 3ue > a base do Nniverso. &santidade, a *elicidade e a saKde s+o resultados da total separa$+o de tudo o 3ue >contr'rio @ lei do amor, e os santos s+o a3ueles separados para o amor. Hs pecadoress+o pobres in*elizes 3ue desobedeceram @ lei do amor e, assim, atraram todo tipo demale*cios para si mesmos, como as coisas ruins de 3ue o vale est' repleto. Quando osseres humanos amam, eles cumprem a lei de seu ser. Quando desobedecem @ lei doamor, interrompem e *rustram a lei da vida. Quando amam, s+o saud'veis, *elizes evivem em harmonia. Quando dei#am de amar e come$am a ter pensamentos de inveja,ressentimento, amargura, rancor e egosmo, come$am a destruir a si mesmos, pois todoo seu ser est' envenenado por pensamentos de desamor.; Deu Fenhor e Jei, o 3ue > o verdadeiro amorP ; 3uis saber -ra$a e -lAria. ; Como oreconhecemosP; "u sou o amor ; *alou com toda clareza o Jei. Fe voc= 3uiser saber como > o verdadeiroamor, olhe para mim, pois sou a e#press+o da lei *undamental do Nniverso. ", comosempre demonstrei a voc= e aos demais, a caracterstica do amor > a disposi$+o deaceitar os seres humanos e#atamente como s+o, por mais maculados e destrudos pelo

    pecado 3ue estejam, e reconhecer a unidade com eles no pecado e na necessidadedeles.M tamb>m reconhecer 3ue o cora$+o humano precisa amar e ser amado, e repousa aprApria cerne da humanidade.)ois, a menos 3ue voc=s, *ilhos e *ilhas dos homens sejam amados e tamb>m amem osoutros mais 3ue a si mesmos, n+o se tornar+o o 3ue est+o destinados a serR *ilhos e*ilhas do 2eus 3ue > amor."le ent+o parou de *alar no momento em 3ue um grupo de servas do Jei chegava @montanha das Jom+s a *im de colher os belos *rutos. "n3uanto trabalhavam numaencosta perto dali, come$aram a cantar.& letra da can$+o era assimR

    &mor > unidade. Hh, como > doce Hbedecer a essa leiH desamoroso)recisa muito do nosso amor.X amor, rogamos, *a$a;nos umCom a dor e a necessidade dos homens.Fomos um na necessidade de amor (2emonstremos o verdadeiro amor! &penas o amordo alto a3uece4az nosso esprito crescer. &ma;nos, nosso cora$+o pede, 2ei#e;nos amar ; e viverde verdade

    amb>m somos um Ea necessidade de amar ou de morrer. &mar os outros ; averdadeira *elicidade,&mar a si mesmo ; a verdadeira mentira

    H amor de si mesmo ; a luta interior,H amo voltado para o e#terior ; a vida verdadeira.&memos e sejamos *rutuosos,&mor > o sopro de 2eus, &mor gera amor eEova vida nasce da morte.E+o h' c>u mais doceQue o encontro de espritos amorosos.

    Quando a can$+o terminou, a Jei apontou a vasta paisagem na dire$+o da montanhaEegra e disseR ; Veja como tudo o 3ue o amor cria est' claramente presente na lei doNniverso e como todas as coisas *ormadas e modeladas pelas m+os do Criador, 3uandoobedecem @ lei do prAprio ser, s+o capazes de dar a si mesmos e reconhecem 3ue est+ounidas @s necessidades de todos. Hbserve como essa lei est' escrita em tudo @ suavolta." -ra$a e -lAria observou. 5em abai#o no vale, estavam as verdes pastagens em 3ue osrebanhos pastavam. "la imaginou a mirade de *olhinhas de grama se entregando

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    voluntariamente para alimentar os rebanhos e manadas. Bembrou;se das incont'veis*lores silvestres emanando do$ura, beleza e per*ume at> mesmo em lugares em 3ue n+ohavia ningu>m para apreciar essas virtudes, nenhum e#pectador para admir';las,prontas a ser pisadas e 3uebradas e a vicejar por toda a vida sem receber louvor nemrecompensa."m seguida, contemplou as 'rvores do amor @ volta deles na montanha, viu comoestavam carregadas de *rutos 3ue outros colheriam e apreciariam e percebeu como elasencontravam o sentido de sua e#ist=ncia na3uele minist>rio de entrega.Bevantou os olhos para o sol 3ue brilhava no alto, espalhando sua luz e calor livrementesobre todos, sobre o mau e o bom, sobre o injusto e o justo, sobre todos come3uanimidade )ercebeu 3ue, na3uela doa$+o de si mesmo, na entrega de si mesmo ena disposi$+o de participar e se tornar um com todos 3ue se abriam para receber sua luze calor, repousava o grande smbolo do amor per*eito. "la observou os cArregosdescendo apressados montanha abai#o a *im de se entregar para revigorar todas ascoisas ao longo de suas margens. )ara todos os lugares 3ue olhava, percebia nanatureza a gra$a e#ultante de dar e compartilhar para, assim, tornar;se uma com todos."m seguida, pensou nas muitas criaturas 3ue desobedeciam @ essa lei do NniversoR ospredadores sempre @ ca$a de alimento para si mesmos, sem dar nada a ningu>m, a n+o

    ser aos seus *ilhotesG os parasitas e as videiras selvagens 3ue arruinaram a montanhaEegra. )ercebeu como todas as coisas eram destrutivas 3uando n+o se mantinham emharmonia com a lei do amor e da unidade. )ercebeu tamb>m 3ue, na verdade, a3uela leiestava escrita em cada parte de seu ser e pensouR &mar > algo 3ue d' alegria e tamb>m> saud'vel. M uma grande tristeza rejeitar o amor e viver apenas para si mesmo.Vejo 3ue tudo > e#atamente como ele diz. H amor deve se e#pressar no doar. "leencontra seu caminho 3uando se torna um com os outros, assim como encontrou uma*orma de entregar sua vida por nAs e, desse modo, ser um conosco Jealmente, todatristeza 3ue e#iste no vale > por3ue seus habitantes est+o desobedecendo a essa lei dae#ist=ncia deles, sem nem mesmo perceber 3ue *azem isso. "n3uanto ainda estavasentada pensando em todas essas coisas, o Jei come$ou a cantar, e esta > a letra dacan$+o. 3ue ele ensinou a -ra$a e -lAria l' no alto da montanha das Jom+sR Vivemos

    por uma leiRH amor ama doar;se, e doar;se, e doar;se

    " essa lei real"strutura o Nniverso.& alegria duradouraFA e#iste no cora$+o 3ue compartilha.& vida se entrega mil vezes e mais&os praticantes da grande lei do amor.H amor 3ue ama alguns, mas n+o todos,M muito *raco e pe3ueno.Fe ama a um, ele perece,)ois esse amor > humano, n+o divino.H amor n+o gosta de descansar&t> aben$oar totalmente o amado.H amor salta para salvar todos os 3ue caem," encontra alegria em entregar tudo.Quando terminou a can$+o, o Jei levantou;se e disseR; "st' na hora de voltarmos ao ador'vel trabalho de se doar e compartilhar.2epois de dizer essas palavras, dirigiu;se para a encosta da montanha. Iuntos, saltandoe pulando com seus p>s de cor$a, desceram em dire$+o ao pe3ueno tapete verde l'embai#o, onde *icava o vale da 9umilha$+o, 3ue precisava muito de seu minist>rio deamor.

    CAPTULO 3DESANIMADA E RANCOROSA

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    &margura e sua mulher Durmura$+o eram os donos da pousada de -rande &preens+o. Hpr>dio da pousada, com ar3uitetura pitoresca e cheia de arestas, *icava em meio @sombra das 'rvores num canto do enorme gramado da vila. 2e um lado da pousada,*icava o campo de cr3ueteG do outro, havia um agrad'vel jardim, ocupado na hora doch'. 4icava @ margem do rio, onde havia barcos para alugar. H bar era limpo eaconchegante e *ora pintado recentemente ; um agrad'vel lugar de encontro dosmoradores da vila. Hs *azendeiros de todo o vale, nos dias de mercado, reuniam;se napousada -rande &preens+o. &margura e sua mulher n+o sA eram prAsperos, comotamb>m se orgulhavam de dirigir um negAcio respeit'vel, na verdade, um hotelmoderno, agrad'vel e *re3m vivia na pousada e ajudava no trabalho. Casara;se comJancorosa, *ilha de senhora Fombria &gourenta, mas o casamento provou ser dos maisin*elizes, pois Dal;9umorado tinha a reputa$+o de ter o temperamento mais inst'vel davila. Lrritava;se *acilmente com tudo e com todos, en3uanto ela, pobre menina, eraconhecida por ter a lngua mais a*iada das redondezas. Dal;9umorado, pouco tempoapAs o retorno de -ra$a e -lAria @ vila, *ora condenado a seis meses de pris+o por 3uase

    haver matado a jovem esposa apAs uma bebedeira, 3uando a espancou para valer. Hpior de tudo *oi 3ue isso aconteceu justamente no momento em 3ue toda a vilacomentava 3ue sir Jeceio )oltr+o abandonara 2esanimada, irm+ de Jancorosa.& honor'vel senhora Jeceio )oltr+o, logo 3ue se casou, n+o se dignava visitar muitasvezes Jancorosa na pousada, mas desde a trag>dia do abandono pelo marido um la$ode so*rimento e pesar pareceu *ormar;se entre as irm+s, e a desdita provocou umagrande mudan$a na orgulhosa 2esanimada. 2esde a doen$a da irm+, ia todos os dias aosAt+o, o mais *urtivamente possvel, para ver em 3ue podia ajudar e con*ortarJancorosa. alvez o resultado visvel dessa atitude n+o *osse de grande valia, j' 3ue2esanimada sempre desprezara os a*azeres dom>sticos e n+o sabia 3uase nada delimpeza, cozinha ou en*ermagem. amb>m tinha pouco con*orto verbal a o*erecer. 4aziatudo em sil=ncio e com tristeza, um ritual mais melancAlico 3ue seu nome. Desmo

    assim, a3uelas visitas di'rias eram o Knico raio de luz ; se > 3ue podemos consider';lasde alguma *orma recon*ortantes ; na in*eliz e#ist=ncia da irm+. & constata$+o de 3uepelo menos uma pessoa no mundo se importava com ela era um con*orto para a alma dapobre e desamparada mo$a.& senhora Fombria &gourenta estava t+o arrasada com as humilha$%es e desgra$as 3uehaviam se abatido sobre sua *amlia 3ue n+o havia meio de convence;la a sair de casa eencarar os olhares de curiosidade ou de pena dos vizinhos. &pesar disso, preparava emandava pe3uenas por$%es de comida para a *ilha ; sopas, caldos, ovos ou alguma coisade 3ue pudesse se privar. 2esanimada tamb>m n+o 3ueria, como a m+e, en*rentar osolhares dos vizinhos. &ssim, todos os dias esperava o hor'rio de menor movimento nasruas da vila para ir ao sAt+o, onde passava a maior parte do dia. )arecia at> 3ueajudando a irm+ encontrava algum consolo para o prAprio so*rimento, pois esta pareciaimersa em dores ainda mais pro*undas. "las n+o conversavam muito. Contudo, @s vezes,3uando a pobre Jancorosa vencida pela *ra3ueza e pelo cansa$o caa em angustiadochoro, 2esanimada sentava;se ao seu lado e segurava de *orma desajeitada sua m+o (osFombrios &gourentos tinham di*iculdade para demonstrar solidariedade e a*eto! semdizer nenhuma palavra. "ra tudo o 3ue ela podia *azer, mas essa atitude con*ortava ediminua o so*rimento da irm+ muito mais do 3ue 2esanimada podia imaginar. Certamanh+, 2esanimada, depois de lavar dois pratos, #caras e pires trincados, varreu och+o, tirou um pouco de pA da moblia e, pegando sua bolsa de costura, sentou;se aolado da irm+. "m sil=ncio, come$ou a ajud';la com a costura. 9avia uma imensa cesta depe$as para consertar. & senhora Durmura$+o e#igia 3ue Jancorosa ajudasse o m'#imopossvel durante a convalescen$a, e, como ela n+o podia mais *icar limpando a cozinha,

    seu trabalho agora era consertar as roupas de cama e toalhas do hotel. "las trabalhavamem sil=ncio havia algum tempo, 3uando ouviram uma leve batida @ porta. Hlharamassustadas e con*usas uma para a outra. Quem poderia serP Jancorosa evitava a todo

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    custo receber visitas dos vizinhos, e Durmura$+o as desencorajava com veem=ncia.Quanto mais depressa o triste episAdio *osse silenciado e es3uecido melhor, e seJancorosa *icasse *ora da vista, sem conversar com ningu>m, as pessoas es3ueceriammais depressa o assunto.5ateram de novo @ porta, e aparentemente o visitante resolveu entrar sem permiss+o, j'3ue ningu>m respondia. & porta se abriu, e -ra$a e -lAria entrou na sala acompanhadade suas duas belas amigas, &legria e )az.Jancorosa, ao ver a prima, a*undou na cadeira e cobriu o rosto com as m+os, como setentasse se esconder. 2esanimada continuou sentada ao lado da irm+, imAvel e emsil=ncio, *azendo apenas um leve movimento involunt'rio, como se 3uisesse se interporentre a visitante e a irm+. -ra$a e -lAria avan$ou at> elas e olhou para as primas com arde sKplica. "m seguida, ajoelhando;se ao lado de Jancorosa, passou os bra$os em voltada *igura encolhida e, com l'grimas correndo pela *ace, disse suavementeR ; Hh,Jancorosa )or *avor, n+o me a*aste. 2ei#e;me *icar um pou3uinho com voc=. Voc= n+oimagina como meu cora$+o so*re desde 3ue retornei do vale h' alguns dias e soube doseu so*rimento, Hh "stou t+o contente de tamb>m encontrar 2esanimada a3ui 4aziamuito tempo 3ue eu n+o via voc=s. 2iga apenas 3ue est' um pou3uinho contente de mever e 3ue me dei#ar' *icar a3ui. Eenhuma das irm+s disse nada, mas Jancorosa, de

    repente, caiu em l'grimas e encostou a cabe$a no ombro da prima ajoelhada, como sea*inal a amargura do seu cora$+o encontrasse uma v'lvula de escape. "las continuaramassim por algum tempo, sem dizer uma palavra, at> 3ue os convulsivos solu$oscessaram. -ra$a e -lAria pegou um len$o, en#ugou a *ace molhada da prima e a beijourepetidas vezes. 9ouve uma breve interrup$+o. &s duas mo$as altas, despercebidas at>ent+o, saram de seu lugar e disseram com do$uraR ; )or *avor, venham se revigorar I'dei#amos tudo arrumado. 2esanimada e Jancorosa olharam para cima, surpresas, e seencolheram, como se estivessem com vergonha ou sem gra$a. & mesinha *eia edescascada estava coberta com um pano. Fobre a mesa, havia um vaso no 3ual *oramarrumadas algumas *lores de aroma suavssimo, brancas como a neve e com uma coroadourada no centro. &l>m das *lores, havia pratos com morangos silvestres e mirtilos.Hutro prato continha damascos, ma$+s e rom+s. 9avia ainda um p+o, um pouco de

    manteiga macia e um *avo de mel *resco ; 3uitutes 3ue jamais haviam entrado na3uelesAt+o soturno nem no lKgubre chal> da senhora Fombria &gourenta. "ra o su*icientepara despertar o mais d>bil apetite. )az estava perto do *og+o, derramando 'gua*ervente no bule de ch', e &legria segurava uma garra*a de leite *resco num das m+os eum pe3ueno pote de creme na outra. Jancorosa olhou para a irm+ e, espantada comtantas surpresas, n+o encontrou palavras para dizer.&ssim, 2esanimada *alou com uma voz 3ue tentava imitar o antigo tom arroganteR ; E+opodemos aceitar caridade. Como se... Como se... ; " parou, como se n+o conseguisseterminar de pronunciar o nome da prima, e acrescentou com voz tr=mulaR ; Y *ssemospedintes, -ra$a e -lAria. ; H 3ue, na verdade, nAs somos ; acrescentou Jancorosa. ; Lston+o > caridade ; disse -ra$a e -lAria com uma risadinha. ; Colhemos esses morangos emirtilos hoje de manh+ nos Bugares &ltos, antes de descermos para o vale. &s outras*rutas s+o dos jardins do Jei, e o mel, da colm>ia real. Dinhas 3ueridas primas, ningu>mpode achar 3ue est' aceitando caridade 3uando o presente > de um Jei&s irm+s olharam uma pata a outra. Jancorosa, cujo apetite n+o *ora despertado pornada em sua doen$a e *ra3ueza, olhou com desejo para as *rutas *rescas sobre aador'vel mesa. 2esanimada, percebendo o olhar da irm+, levantou;se e pegando;a pelam+o disse simplesmenteR ; Duito obrigada a voc=s. Jancorosa est' t+o doente e t+o*raca 3ue seria um absurdo recusar a o*erta. Como ela disse, n+o temos o direito de serorgulhosas. &s tr=s sentaram;se @ mesa, e &legria e )az serviram;nas com desembara$oe amabilidade. Como primeiro ato, cortaram o p+o em tentadoras e *inas *atias. 2epoisserviram os morangos com creme. "n3uanto elas comiam, &legria preparou as ma$+s eas rom+s, e )az, os nutritivos e deliciosos ovos me#idos. Jancorosa, a despeito de estar

    vivendo na3uele sAt+o miser'vel, sentia;se como uma rainha lisonjeada com *inos3uitutes. Nm leve colorido surgiu em sua *ace, e uma pe3uenaluz brilhou em seus olhos.

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    -ra$a e -lAria, en3uanto as irm+s se deliciavam com a comida, descrevia para elas oslugares no topo da montanha em 3ue cresciam os morangos, as encostas cobertas demirtilos, os pinheiros com pinhas a3uecidas ao sol, o ador'vel aroma de especiarias e ozumbido das abelhas nos campos de *lores. Jelatou;lhes tamb>m alguns detalhes dos

    jardins do Jei e contou;lhes das rom+zeiras sob cuja sombra haviam tomado o desjejumna3uela manh+. 4alou;lhes a respeito do amor 3ue o Jei sentia pelas rom+zeiras e dacren$a dos povos orientais 3ue viviam do outro lado da montanha, segundo a 3ualnenhum esprito maligno se apro#imava da rom+zeira por ser a 'rvore do &mor.2esanimada e Jancorosa, aos poucos, come$aram a se soltar, de incio hesitantes em*azer perguntas. 2esanimada 3ueria saber da *lor branca com centro dourado e dearoma delicioso, 3ue ela nunca vira antes. -ra$a e -lAria *icou um pouco ruborizada aoresponder 3ue eram as *lores do amor 3ue cresciam nos Bugares &ltos, mas n+o revelou3ue colhera a3uele bu3u= e#atamente da 'rvore 3ue o )astor plantara em seu cora$+o.&s irm+s tamb>m indagaram da jornada de -ra$a e -lAria, mas ela n+o parecia capaz decontar muita coisa a respeito disso. )arecia interessada em *alar apenas da bondade do)astor e de como ele a ajudara. &ssim, a cada pergunta, voltava a *alar do )astor. &s tr=sprimas, ao *inal do delicioso lanche, conversavam com naturalidade, como velhasamigas. &lgo novo brotara no relacionamento delas. Dais estranho ainda *oi 3ue,

    en3uanto &legria e )az recolhiam os restos da re*ei$+o, insistindo em levar a lou$a parao *undo do aposento, algo aconteceu com 2esanimada e Jancorosa. Vacilantes e em vozbai#a, come$aram a contar as prAprias m'goas, mas paravam a todo instante, como sealguma coisa as impedisse de continuar. & pobre Jancorosa n+o pro*eriu nenhumaacusa$+o 3uando os nomes de Jeceio )oltr+o, Dal;9umorado e Covardia passaram pelosseus l'bios ; ela at> murmurou algumas desculpas pelo marido. 2esanimada, com um*orte rubor a lhe marcar a *ace, murmurou algo a respeito de sua *rieza, atitudeorgulhosa e inaptid+o para o casamento, pois *ora incapaz de con3uistar e conservar oamor do marido. -ra$a e -lAria, tamb>m com certa hesita$+o, contou;lhes suae#peri=ncia. 4alou;lhes da planta em seu cora$+o, 3ue ela supunha *osse o amor, masdescobriu ser o egosmo, esse amor possessivo 3ue ansiava por ser amado, e toda aangKstia 3ue ele lhe causara at> 3ue, l' no alto da montanha, a planta *ora arrancada de

    seu cora$+o. Contou;lhes tamb>m como suas duas companheiras, risteza e Fo*rimento,trans*ormaram;se em &legria e )az nos Bugares &ltos. &s duas criadas, ao sermencionadas, sorriram radiantes.)arecia 3ue, de maneira milagrosa, @ medida 3ue ela *alava, o sAt+o aba*ado e triste see#pandira e se trans*ormara. "ra como se estivessem sentadas na encosta da montanha,ao abrigo dos pinheiros, com o ar *resco da montanha soprando sobre elas, os picoscobertos de neve brilhando l' em cima e a grande 3ueda dY'gua entoando uma can$+oaos seus ouvidos en3uanto descia para o vale. -ra$a e -lAria cantou outro cntico 3ueaprendera na montanha das Jom+s.X amor santoZ chama ardente

    )or 3ue ainda devo perambularP&*astei;me do cora$+o de 2eus" anseio voltar para casa."mite tua verdade, A Buz brilhante,)ara 3ue eu possa seguir;te at>,)or *im, antes de a noite cair,Chegar ao topo de tua santa colina.Dinha alma anseia por habitar l'Eo Bugar Fanto,", 3uando o v>u *or desvelado, Ver a *ace de meu )ai.X tu de 3uem meu esprito procede" vagueia nessa selva,

    V=, carrego teu santo nome,Beva para casa tua *ilha errante.

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    Quando ela acabou de cantar, ouviu;se outra batida @ porta ; um som bai#o, por>mmuito claro. 2esanimada e Jancorosa, mais uma vez, assustaram;se e olharamintrigadas uma para a outra. 2epois olharam para -ra$a e -lAria. Nma cor ador'vela*lura @ *ace desta, e seus olhos brilhavam como estrelas. "la soube no mesmo instantede 3uem era a m+o 3ue batera @ porta da3uele sAt+o sombrio. "n3uanto as duas primasa *i#avam atnitas, novas batidas soaram, agora um pouco mais altas e mais insistentes.; Hh e#clamou -ra$a e -lAria. ; Jancorosa e 2esanimada, est'vamos *alando dele. M o)astor&bra a porta e diga para ele entrar. )arecia 3ue cada gota de sanguedesaparecera da *ace j' muito p'lida de Jancorosa. "la encolheu;se, lan$ando um olharassustado em torno do miser'vel cmodo e tamb>m para sua roupa es*arrapada, 3uemal cobria as *eridas de seu corpo. "la encolheu;se e cobriu o rosto com as m+os. )orum momento, um sil=ncio mortal invadiu a sala. )arecia ser possvel ouvir a batida docora$+o de cada uma das mulheres 3ue estavam ali. "nt+o, em meio ao sil=ncio,bateram @ porta pela terceira vez, e uma voz grave e gentil de homem perguntouR ;)osso entrarP 2esanimada levantou;se. remia da cabe$a aos p>s, mas tocou o bra$o dairm+ e, sem dizer nenhuma palavra e com ar de sKplica, apontou para a porta.Jancorosa, a in*eliz e desamparada dona da3uele sAt+o sombrio, atravessou a sala aostrope$os e abriu a porta.

    H )astor, alto, poderoso e de apar=ncia real, mas com um ar de in*inita compai#+o nosemblante, entrou no pe3ueno cmodo. Jancorosa olhou;o apenas uma vez e jogou;seaos p>s dele, pedindoR ; Fenhor tenha piedade de mim "le estendeu a m+o paralevant';la do ch+o, por>m antes 3ue pudesse *azer isso ou dizer alguma palavra,2esanimada, a outrora orgulhosa nora do velho senhor emor, ajoelhou;se aos p>s dele,ao lado da irm+, sussurrando com l'bios tr=mulosR ; enha misericArdia de mim tamb>m,Fenhor... E+o me dei#e *ora da sua gra$a.& *isionomia do )astor, en3uanto erguia as duas irm+s e lhes dirigia palavras de amor ecompai#+o, era de algu>m 3ue realizara o desejo de seu cora$+o ; do Falvador convictode 3ue agora podia dar incio @ obra sobrenatural da salva$+o. -ra$a e -lAria, com&legria e )az de p> atr's dela, observava a cena, dizendo em seu cora$+oR E+o, nemmesmo nos Bugares &ltos conhecemos uma alegria como esta.

    "sse sAt+o n+o > outro, sen+o a casa de 2eusG esta > a porta dos c>us (-=nesis /8.1[!.

    CAPTULO 4A MONTANHA DA CNFORA

    (ALEGRIA)A !IT"RIA DO AMOR

    )oucos dias apAs a e#peri=ncia relatada no captulo anterior, o Jei chamou -ra$a e-lAria, mais uma vez, e comunicou;lhe 3ue gostaria de lev';la a outro local dos Bugares&ltos. &ssim, atravessou com ela a montanha das Jom+s em dire$+o @ outra parte damesma cadeia de montanhas. H c>u, l' em cima, nos Bugares &ltos, acima das nuvens eda n>voa do vale, era sempre maravilhoso e sem nuvens, e a luz era t+o clara e

    brilhante 3ue era impossvel ter uma vis+o ampla, en#ergar a longa distncia. Ea3ueleincio de manh+ em particular (os momentos de companheirismo e comunh+o solit'rioscom o Jei ocorriam, em geral, bem cedinho, antes de se iniciarem os labores do dia!,-ra$a e -lAria reparou 3ue, embora l' no alto da montanha tudo estivesse calmo e o c>ucontinuasse limpo, os vales estavam encobertos com vaga1h%es de nuvens muitoencrespadas. Ea verdade, parecia estarem olhando para um mar de 'guas revoltas, e,de tempos em tempos, das pro*undezas abai#o deles, ouvia;se o barulho de trov%es.2epois de atravessar a montanha das Jom+s, chegaram @3uela 3ue o Jei disse chamar;se montanha da Cn*ora, pois ela *ora especialmente reservada para o cultivo dessaespeciaria.& cn*ora, 3ue > o arbusto da hena, crescia ali e produzia o mais agrad'vel dos per*umese uma tintura muito valiosa.

    -ra$a e -lAria olhou em volta com grande deleite. &s encostas ali estavam cobertas n+ode rom+zeiras, mas com pe3uenos arbustos per*umosos, carregados de cachos depe3uenas *lores brancas 3ue e#alavam um doce aroma. "sses arbustos *orneciam a

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    especiaria 3ue chamamos alegria. H bos3ue per*umado parecia e#ercer uma atra$+oespecial sobre os p'ssaros. -ra$a e -lAria nunca vira tantos deles reunidos num sA local.Hs arbustos ondulavam com o movimento de pouso e partida das aves, 3ue voavam emgrandes bandos, tecendo belas *ormas com sua plumagem brilhando contra o c>u. Hmovimento das asas agitava o ar @ medida 3ue mergulhavam no c>u ou investiam parao alto, e os adejos pareciam rajadas de vento soprando na encosta da montanha. odosos p'ssaros gorjeavam juntos, de *orma melodiosa e diversa, como uma or3uestra. Hlugar inteiro respirava vida com o bater das asas, as rajadas de vento e os gorjeios. Hdoce e penetrante per*ume de cn*ora dos arbustos dominava a paisagem. udo era t+oagrad'vel 3ue -ra$a e -lAria n+o pde se conterR ria alto, banhada em alegria, e batiapalmas. \ medida 3ue caminhavam ao longo da encosta da montanha, o Jei contou;lheum pouco a respeito da natureza dos arbustos de can*ora, 3ue produzem o *ruto daalegria. "#plicou;lhe 3ue antes de produzirem o Aleo per*umado > preciso 3ue a terra emvolta da raiz seja adubada com uma substncia amarga. "ssa substncia, e#trada pelaraiz, > trans*ormada no Aleo do contentamento. "m certas esta$%es do ano, logo antesdas pesadas chuvas de inverno e de a neve come$ar a cair, antes de os arbustosdesbotarem e as *olhas carem ao ch+o, dei#ando os ramos totalmente desnudos, ostrabalhadores do Jei tratam o solo dessa maneira. H Jei, en3uanto contava essas coisas,

    olhou para sua companheira e disse com um belo sorrisoR ; "ssa esta$+o > chamada anoite do pesar, o perodo em 3ue os arbustos *icam desnudos e derramam a substnciaamarga no solo para ser lavada pelas chuvas 3ue caem do c>u. I' a esta$+o atual > amanh+ da alegria, o perodo em 3ue os arbustos est+o carregados de *lores e o Aleoest' pronto para ser e#trado deles, o momento em 3ue todo pesar e todas ase#peri=ncias amargas s+o trans*ormados em contentamento. -ra$a e -lAria, escute ogorjeio dos p'ssaros e veja se entende o cntico deles."les *icaram em sil=ncio alguns momentos at> 3ue, de repente, o gorjeio dos p'ssarostornou;se compreensvel, um belo cntico 3ue ela podia ouvir claramente."ra assimRHu$a os triun*antes chamados de amor& alegria nasce da dor,

    & alegria > o pesar @s avessas, & dor re*eita de novo.Cora$%es partidos levantam os olhos e v=emQue essa > a vitAria do amor.&3ui, coisas destrudas se tornam novas, & m'cula > limpa,9' mantos para voc=, n+o trapos, " alegria onde havia l'grima.Hnde o pecado > temvel, encontramos poder, &gora, a gra$a > muito mais abundante.Hu$a "sses cnticos de jKbilo odas as criaturas cantam,Dagn*ica a alegria de toda na$+o, H amor > o Jei dos reis.Vejam, cegos -ritem mudos& alegria > a supera$+o da m'goa."n3uanto escutava o cntico, -ra$a e -lAria relembrava sua longa, amarga e di*cil

    jornada at> os Bugares &ltos, @ >poca em 3ue risteza e Fo*rimento eram suascompanheiras, 3uando parecia 3ue a longa noite do pesar n+o teria *im. "n3uantorelembrava sua jornada, pensou 3ue nunca ouvira uma can$+o t+o bonita nementendera t+o bem a maravilhosa verdade de 3ue a alegria > a supera$+o da m'goa,3uando esta > totalmente trans*ormada."nt+o disse para si mesmaR Fe outras noites do pesar me alcan$arem, n+o vou termedo delas, pois sei 3ue s+o apenas a esta$+o em 3ue os arbustos reais da cn*ora sepreparam para produzir o Aleo do contentamento. Hh Como ele tem pensamentos eplanos maravilhosos Como ele > benevolente e bondoso Feus caminhos de gra$aprecisam ser descobertos Que eu sempre reaja @ m'goa de *orma 3ue ela se trans*ormena alegria dele. &li e nas encostas cresciam muitas 'rvores, e eles se sentaram @ sombrade uma delas e come$aram a conversar.

    2a montanha da Cn*ora, eles avistavam, despontando acima das nuvens e da n>voa, osbrilhantes os tran3

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    contraste entre a alegria e beleza da3uela encosta e a desola$+o da montanha Eegra."la ouviu a voz do Jei, como 3ue respondendo aos seus pensamentosR ; -ra$a e -lAria,voc= j' pensou na alegria 3ue sinto em ser o FalvadorP )egar algo des*igurado, destrudoe arruinado pelo mal e trans*orm';lo em algo encantador, bom e permanente, algo 3uen+o pode ser destrudo de novoP Eada pode ser mais compensador 3ue alcan$ar essetriun*o. H pre$o pago > compensado pelo amor com e#ulta$+o e alegria indizvel egloriosa. "n3uanto *alava, ele observava o topo da montanha Eegra, enegrecido pelo*ogo, 3ue despontava acima das nuvens de n>voa encaracolada, o semblante iluminadocom amor e alegria indescritveis. Come$ou ent+o a entoar outra can$+o das montanhas,e -ra$a e -lAria *icou deslumbrada com a combina$+o de m'goa e alegria 3uecompunham a letra e a mKsica.H clamor de todas as coisas corrompidasR)or 3ue nos *izestes assimP Carregar a angKstia da vidaG )or 3ue n+o amais a nAsP

    +o destrudas 3ue 2eus chora ; 5oas apenas para re*ugo.H clamor de cada cora$+o partidoR)or 3ue nascemos para issoP & nAs coube apenas o mal,Eenhuma b=n$+o da terra. )or 3ue *izestes 3ue nasc=ssemosFe n+o conhecemos nenhum amor sobre a terraP

    H clamor de cada mente desesperan$ada ascende diante do trono do amorRHlhai;nos, 2eus Hu estais cegoP& culpa > sA nossaPFe estais a, respondei;nos,)or 3ue nos *izestesP Hu por 3ue nos *izestes assimP" a voz do amor responde da cruzRCarrego tudo contigoG Compartilho todas as tuas perdas,

    rans*ormarei todas as coisas em novas.Eingu>m so*re sozinho em seu pecado, "u *iz ; eu carrego ; eu e#pio.

    9ouve um longo sil=ncio apAs a can$+o, depois, o Jei disseR ; -ra$a e -lAria, voc= sabe3ue basta ao discpulo ser como o seu mestre para tamb>m aprender a vencer o mal

    com o bem. E+o e#iste absolutamente nenhuma e#peri=ncia em sua vida terrena, pormais terrvel, so*rida, injusta, cruel ou maligna, 3ue a possa *erir se voc= permitir 3ue eua ensine a aceitar a adversidade com alegria e a reagir a ela com jKbilo, como eu *iz,com amor, perd+o e disposi$+o para carregar o resultado dos erros cometidos pelosoutros. Cada prova$+o, cada teste, cada di*iculdade, cada e#peri=ncia aparentementeinjusta pela 3ual voc= passa > apenas uma oportunidade 3ue lhe > o*erecida parasubjugar uma coisa ruim e e#trair dela algo para o louvor e a glAria de 2eus. Voc=s,*ilhos e *ilhas de &d+o, s+o os seres mais aben$oados 3ue e#istem por vivenciar oso*rimento e a m'goa, pois o so*rimento os aper*ei$oa, e o poder de 2eus para vencer omal com o bem os trans*orma em *ilhos e *ilhas dele. Fe entender seu destino, voc= seregozijar' com cada e#peri=ncia de prova$+o, tribula$+o e at> mesmo persegui$+o 3ueatravesse seu caminho. Voc= passar' a considerar tudo motivo de grande alegria. )or

    causa de Cristo, voc= sentir' prazer na incerteza, na reprova$+o, na necessidade, napersegui$+o e no in*ortKnio, pois da *ra3ueza voc= tira *or$a. Dedite sobre as coisas3ue lhe contei a3ui, na montanha da &legria, en3uanto descemos para o vale. &li voc=encontrar' as coisas malignas e cru>is 3ue atormentam seus parentes e, isso mesmo, area$+o desa*ei$oada deles ao seu desejo de compartilhar a alegria 3ue sente. Bembre;seda li$+o 3ue aprendeu a3ui, na montanha, e considere tudo motivo de grande alegria,pois essa > uma oportunidade gloriosa para aprender a vencer o mal com o bem ecompartilhar a vitAria do amor. &ssim, seguiram seu caminho, saltando pela encosta damontanha em dire$+o ao vale. -ra$a e -lAria sentia uma nova alegria em seu cora$+o,agora 3ue alcan$ara uma nova compreens+o do propAsito do trabalho deles l' embai#o,nos lugares de dor e in*ortKnio.

    CAPTULO #AMARGURA E MURMURAO

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    &lguns dias apAs os eventos relatados no captulo anterior, &margura e sua mulher,Durmura$+o, estavam sentados na saleta ntima, no *undo da pousada, *azendo are*ei$+o do meio;dia. )arecia 3ue algo in3uietava os dois, mas nenhum deles mencionounada. &margura comia em total sil=ncio, e sua mulher estava atare*ada com os tr=s*ilhos, o ca$ula, ; Jesmungo, *ilho e herdeiro, e as g=meas, as pe3uenas Folu$os eChoramingas, 3ue, com o babador amarrado em volta do pesco$o, batiam a colher notampo da cadeirinha, e#igindo aten$+o. Durmura$+o vestia os *ilhos com capricho etinha motivo para se sentir orgulhosa da apar=ncia e beleza deles. Eo entanto, as tr=scrian$as, apesar da tenra idade, reclamavamde *orma ruidosa 3uando a vontade delasn+o era satis*eita na mesma hora. Durmura$+o n+o conseguia mais se manter calada,virou;se para o marido e perguntou;lhe com raivaR ; 5em, &margura, o 3ue voc= me dizdessas visitas constantes do )astor ao sAt+o, para ver Jancorosa e a irm+ delaP&margura n+o respondeu e continuou a comer em taciturno sil=ncio. ; 5em ; voci*erou amulher de novo. ; Voc= ouviu o 3ue eu disseP Hu *icou surdo de repenteP ("ra *'cilperceber de 3uem as 3ueridas Folu$os e Choramingas herdaram a determina$+o deconseguir aten$+o! )or *im, &margura *alou. ;&cho 3ue n+o h' nenhum mal nessasvisitas ; *oi seu curto coment'rio. ; Hh Voc= achaP ; retrucou a mulher, en*urecida. ;5em, dei#e;me dizer 3ue, se a notcia das visitas do )astor @ pousada se espalhar pela

    vila, nossa clientela ir' se a*astar, pois sempre e#iste a possibilidade de se encontraremcom ele. Lsso vai arruinar nosso negAcio. odos o odeiam. ;E+o e#iste a mnimapossibilidade de ningu>m encontr';lo a3ui ; disse &margura. ; "le n+o imp%e suapresen$a @s pessoas. ; &s pessoas v+o come$ar a *alar de nAs ; retrucou Durmura$+o. ;V+o achar 3ue estamos sob a in*lu=ncia dele. E+o gosto disso. I' tivemos muitosproblemas. )ense apenas na *orma em 3ue ele convenceu sua prima -rande;Dedrosa aabandonar tudo e ir para as montanhas, e como todos os nossos conhecidos *icaramdesgostosos com isso E+o podemos nos dar ao lu#o de dei#ar 3ue suspeitem de nAs.&margura parou por um instante antes de responder. 2epois, *alou em voz bai#aR ; E+osei como algu>m pode negar 3ue a melhor coisa 3ue aconteceu @ minha prima *oi ir como )astor. &dmito 3ue ela pode at> despertar inveja pelo 3ue aconteceu a ela ; Verdade; e#clamou a esposa com as *aces cada vez mais enrubescidas de raiva. ; &cho 3ue me

    lembro de voc= e outros irem atr's da a*ortunada prima para tentar traz=;la de volta.&cho tamb>m 3ue ela estava en*eiti$ada o bastante para apedrej';la. &l>m do mais,essa tentativa tamb>m dei#ou Hrgulho, primo dela, aleijado para sempre Nm leve rubortamb>m cobriu as *aces do marido, mas n+o houve mudan$a no tom de voz 3uando derespondeu calmamente; Lsso > verdade, mas tent'vamos rapt';la @ *or$a, e essa *oi aKnica *orma 3ue ela encontrou para se de*ender. Quando penso na atual situa$+o dela eno 3ue teria acontecido se tiv>ssemos conseguido traz=;la de volta, *or$ando;a a secasar com Covardia Covarde, n+o posso dei#ar de ach';la a pessoa mais a*ortunada domundo. ; 4ez uma breve pausa e, a seguir, levantando um pouco a voz, prosseguiuR ; Feo )astor puder *azer a mesma coisa por a3uela pobre in*eliz 3ue vive no sAt+o,realmente n+o vou tentar impedi;lo. & mulher encarou;o com raiva, mas n+o como seestivesse surpresa de ele pensar assim. ; H 3ue aconteceu com voc=P ; Lnterpelou ela,apAs uma pausa. ; Voc= nunca mais *oi o mesmo depois de sua tentativa *racassada detrazer -rande;Dedrosa de volta, 3uando a perseguiu at> a3uela montanha. H maridocontinuou a comer com os olhos *i#os no prato e depois respondeu, em tom ainda maisamorosoR ; Voc= est' certa. E+o sou mais o mesmo.Durmura$+o olhou;o estarrecida e um pouco aturdida. Eo entanto, recuperou;se logo docho3ue e voltou ao ponto principal. ;5em, digo a voc=, &margura... " escreva minhaspalavras, pois, com certeza, elas ser+o con*irmadas Fe voc= dei#ar o )astor continuar avisitar Jancorosa a3ui nesta casa, nosso negAcio ser' arruinado, totalmente arruinado. Hmarido levantou a cabe$a pela primeira vez e lan$ou;lhe um olhar pro*undo.Durmura$+o percebeu 3ue os olhos dele estavam sombrios de amargura e transmitiamoutra emo$+o 3ue n+o conseguiu identi*icar. ; \s vezes ; disse ele devagar, a voz

    denotando um leve tom so*rido, acho 3ue n+o me importaria se o negAcio viesse a *alirdesde 3ue pud>ssemos nos livrar de todas as coisas detest'veis 3ue nos rodeiam.

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    Durmura$+o o*egou, pois o susto a dei#ou com di*iculdade para respirar, mas logo serecuperou e perguntou, num tom de voz 3ue misturava raiva e acusa$+oR ; Voc= temconversado com o )astor, &marguraP Fem *alar nada, ele assentiu, balan$ando a cabe$a.; Voc= tem ido *urtivamente ao sAt+o ; e#plodiu a mulher. ; Como pode *azer uma coisadessasP Como pode dei#ar 3ue a3uele homem o in*luencieP Como pode permitir 3ue eleo conven$a a *azer o 3ue ele 3uer, a *azer com 3ue voc= 3ueira tirar o alimento da bocados nossos pobres *ilhinhos Voc=, sentado a ; continuou cada vez mais e#altada ;, vemme dizer 3ue n+o se importa se nosso negAcio *alir. Eosso hotel & pousada maisprAspera e bem administrada de todo o vale E+o me admira voc= ter engolido aspalavras ; "scute Durmura$+o ; disse o marido como se, de repente, resolvesse *alartudo com *ran3ueza. ; "scute o 3ue tenho a dizer. Que tipo de negAcio > este a*inalP)ergunte a si mesma com honestidade. Voc= diz 3ue ele > respeit'vel e lucrativo.&credita mesmo nissoP Veja os *rutos do negAcio, Durmura$+o. Veja o 3ue aconteceucom seu pobre e desmoralizado irm+o Dal;9umorado. E+o *osse nosso respeit'vel bar,ele estaria na pris+o por 3uase matar a esposaP )ense na3uela pobre menina l' emcima. "la n+o sA perdeu o *ilho, mas provavelmente tamb>m *oi privada da alegria depoder ser m+e. Hlhe para nossos *ilhos e ponha;se no lugar dela."le continuou sem esperar resposta, a emo$+o e a dor *azendo sua voz tremerR ;Veja

    meu primo Covardia Covarde, pobre coitado. amb>m est' preso por atacar uma pessoae perturbar a ordem en3uanto estava sob a in*lu=ncia da bebida... 5ebida 3ue eletamb>m conseguiu em nosso respeit'vel bar. ; Covardia Covarde sempre *oi briguentoe metido a valent+o ; interrompeu Durmura$+o. ; E+o *oi a primeira vez 3ue ele secomportou dessa maneira. "le apenas conseguiu o 3ue merecia h' muito tempo. ;"#atamente ; concordou o marido, em tom grave. ; FA 3ue as e#plos%es de valentia delesempre aconteceram depois de ele beber, e ele bebe no seu respeit'vel bar desde 3uedei#ou a escola. &li's, como voc= sabe muito bem, ele bebia escondido muito antesdisso. & esposa *icou em sil=ncio. ;" pense no e*eito de tudo isso sobre nossos *ilhos ;continuou &margura com voz embargada pela emo$+o. ; "streme$o sA de pensar napossibilidade de esse destino chegar ainda mais perto de casa. I' imaginou se nossos*ilhos seguirem o mesmo caminho e *icarem sob o domnio da mesma maldi$+oP Voc=

    ainda se espanta de eu achar 3ue seria um alvio nos des*azermos deste negAcioP)arecia 3ue as palavras dele apenas aumentavam a *Kria dela. ; udo isso > coisa do)astor ; e#clamou ela 3uase su*ocando de raiva. ; 4oi o )astor 3uem ps essespensamentos na sua cabe$a. H 3ue mais ele lhe *alouP Vamos, *ale ; "le disse ;respondeu lentamente o marido ; 3ue jamais conheceremos a verdadeira paz e*elicidade, nem mesmo a verdadeira prosperidade, se n+o nos des*izermos destenegAcio. ; "u sabia ; gritou ela, *uriosa. ; M e#atamente o 3ue ele diria 2esistir de tudopelo 3ue lutamos, de tudo o 3ue conseguimos com o trabalho duro de uma vida inteira2esistir do dinheiro 3ue ganhamos com trabalho honesto, justamente 3uando estamos*icando ricosP Iusto agora 3ue o negAcio > o mais prAspero do valeP H 3ue voc= vai*azerP HrarP H 3ue ele o*erece em trocaP ; "le nos levar' para trabalhar para ele ;respondeu o marido em voz bai#a. ; Vamos ser pastores )astores ; & senhoraDurmura$+o *icou t+o agitada 3ue 3uase su*ocou ao *alar. ; "le vai nos dar um chal> de3uatro cmodos, um gato, um cachorro e algumas galinhas Hra, bolas "n3uanto *alava,ela olhava atrav>s da janela e e#aminava a propriedade 3ue governava de *orma t+ocompetente e com indiscutvel controle. "la contemplou o jardim cheio de *lores, a cercaviva aparada do verdejante campo de cr3uete e o rio com os botes de cores alegres.&trav>s da porta entreaberta, podia ouvir o tilintar de copos no bar e o som de vozes erisadas ocasionais. Conseguia distinguir a voz do novo barman, um homem competentee e#periente, de nome &*iado. 4elizmente, ele era bem di*erente do *ra3uinho Dal;9umorado. "la podia ouvir as mo$as rindo na cozinha en3uanto *aziam sua re*ei$+oantes de come$ar o movimentado hor'rio do almo$o e visualizou a 'rea deestacionamento cheia de carros e motocicletas. "les haviam conseguido tudo a3uilo com

    trabalho duro e compet=ncia (pois, ponderava Durmura$+o com complac=ncia, ningu>mpodia negar 3ue eles *ormavam um casal esperto e competente! e, nos poucos anos decasados, haviam trans*ormado o velho bar caindo aos peda$os, 3ue &margura herdara

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    do pai, na3uele atraente, moderno e muito bem *re3ias es3uisitasn+o v+o encontrar solo *>rtil a3ui. emo 3ue, se ele tentar *or$ar a entrada, ter' amesma recep$+o 3ue teve hoje cedo no chal> da senhora &gourenta. H marido n+o dissenada, por isso ela continuou, rindo com prazer en3uanto *alavaR ; 9oje, en3uanto andavapela vila, vi a bondosa senhora Valente, com o )astor a rebo3ue, abrir o port+o do chal>da senhora &gourenta e bater @ porta. 4i3uei um pouco curiosa e esperei para ver o 3ueaconteceria, e o 3ue voc= acha 3ue aconteceuP & senhora &gourenta, enrolada no #alemais *eio e velho 3ue j' vi, abriu uma *resta da porta. & senhora Valente, sem perceber a

    perturba$+o da senhora &gourenta, disse com a3uela voz irritantemente animadaR YY&3uiest' ele, 3uerida &gourenta, e tentou entrar. & pobre senhora &gourenta emitiu umsom 3ue parecia um grasnado e desandou a *alarR Voc= n+o v= 3ue n+o estou vestidapara receber ningu>mP, e bateu;lhe a porta na cara. &cho 3ue ele n+o vai 3uerer voltart+o cedo @ casa dela )ensei 3ue ia passar mal de tanto rir & lembran$a do incidenteparecia ter o mesmo e*eito perigoso sobre ela, pois 3uase engasgou de tanto rir."n3uanto ainda ria e en#ugava as l'grimas, uma voz suave *alou atrav>s da porta semi;aberta atr's dela. ; )osso entrarP -ostaria de *alar com voc=. ; ", sem esperar resposta,o )astor entrou na sala. 5em, uma coisa era zombar do )astor pelas costas, e outra bemdi*erente era en*rent';lo cara a cara. 9avia algo t+o r>gio e imponente na atitude dele3ue sua presen$a chegava a dar medo. Eum instante, &margura pulou da cadeira epu#ou a melhor poltrona para o )astor, e seus modos, apesar da *isionomia sombria e

    abatida, demonstravam uma vivacidade contida, como se a visita n+o *osse de modoalgum indesej'vel. Durmura$+o parou de rir, e a e#press+o de desd>m em seusemblante, como 3ue por encanto, sumiu, e ela se ouviu dizendo ao visitante 3ueacabara de rotular de e#c=ntrico e *an'tico e a 3uem amea$ara bater a porta na caraR ;)or *avor, sente;se. H Fenhor aceita um re*rescoP "le sacudiu a cabe$a, sentou;se napoltrona e disse calmamente para &marguraR ; Deu amigo, voc= pensou sobre o 3ue lhedisse da Kltima vez em 3ue nos encontramosP ; Fim ; disse &margura bai#inho, num tomestranho, muito di*erente do vozeir+o 'spero habitual. ; Fim, minha esposa e eudiscutamos justamente a respeito do 3ue o Fenhor disse. H cora$+o da senhoraDurmura$+o so*reu um ba3ue ao ouvir o marido, mas estava determinada a resistir @in*lu=ncia do )astor sobre ele e a n+o permitir 3ue ele a *izesse perder o reino em 3ueseu cora$+o residia. E+o disse nada, mas reuniu toda a sua *or$a de vontade e todas assuas energias com o propAsito de resistir ao )astor. Contudo, contra a prApria vontade,levantou os olhos e o encarou. Viu 3ue ele a olhava como se pudesse ler seuspensamentos, por>m havia no semblante dele um ar de terna compai#+o 3ue asurpreendeu, e ela sentiu, com algum temor, 3ue talvez ele pudesse derrubar suasde*esas. &inda sem dizer nada, concentrou com mais determina$+o em sua capacidadepara resistir. ; M di*cil para um rico entrar no Jeino do &mor ; disse o )astor, dirigindo;sea ela. ; )or 3u=P ; perguntou a senhora Durmura$+o, apertando obstinadamente osl'bios. ; )or 3ue ningu>m pode amar a 2eus e tamb>m ao dinheiro ; disse o )astor. ; Lsson+o > possvel.; Fe o Fenhor me desculpar ; disse a senhora Durmura$+o com voz *ria ;, gostaria dedizer 3ue n+o posso ser acusada de n+o amar a 2eus. Vou regularmente @ igreja

    (sempre 3ue o hotel permite!, contribumos com mais generosidade 3ue a maioria daspessoas para as obras de caridade, as 3ue achamos 3ue merecem nosso apoio, e todosos meus *ilhos *oram batizados. Quanto a amar o prA#imo ; como a mim mesma

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    adentraram o jardim tristonho e tomado por ervas daninhas do chal> da senhoraFombria &gourenta. H )astor levantou a m+o e bateu na porta *echada. & porta abriu;seum pouco, e o rosto p'lido e triste da senhora &gourenta espreitou *urtivamente. &o vero )astor, ela encolheu;se toda, como se esperasse levar um golpe. "le esperou, semdizer nada, apenas olhando para ela. )or *im, a dona do chal>, tremendo da cabe$a aosp>s, abriu a porta um pouco mais, e o )astor entrou. Vendo;o 3ue acontecera, a jovial ematernal senhora Valente *ez meia;volta e correu em dire$+o @ rua como se tivesseenlou3uecido."la atravessou correndo a porta da pousada subiu a escada dos *undos e, sem bater,irrompeu sAt+o adentro. &li, 2esanimada e Jancorosa trabalhavam juntas ao lado dagrande cesta de roupas para consertar."las levantaram os olhos, atnitas, 3uando ouviram o rudo da porta se abrindo e viram asenhora Valente de p> diante delas, rindo e chorando en3uanto tentava recuperar o*lego. ; Fua m+e... ; disse ela o*egante, e por um momento n+o conseguiu dizer maisnada. 2epois, numa e#plos+o de alegria e l'grimas, soltou sua maravilhosa novidadeR ;Fua m+e acaba de receber o )astor em seu chal>

    CAPTULO $A MONTANHA DO NARDO

    (PA%)A E&PIAO FEITA POR AMOR

    H Jei levou -ra$a e -lAria @ montanha do Eardo, ou da )az, a parada seguinte na cadeiade montanhas das "speciarias. Ea encosta dessa montanha, crescia uma variedade dearbustos 3ue precisavam de terras altas, pois era necess'rio 3ue *icassem bem acimadas nuvens e da n>voa 3ue muitas vezes encobriam as encostas das montanhas maisbai#as. H nardo real n+o podia ser produzido em nenhum outro lugar do mundo, mascrescia em abundncia nos Bugares &ltos. "ra dessa encantadora planta medicinal 3ue oJei produzia o *amoso b'lsamo da paz, um grande con*orto para toda in3uieta$+o, dorou *ebre. "ra e#trado da raiz do arbusto na *orma de Aleo arom'tico. odos oshabitantes dos Bugares &ltos carregavam consigo urna por$+o desse Aleo, em especial

    nas visitas ao vale l' embai#o, e tamb>m se ungiam todos os dias com o Aleo. )or essaraz+o, -ra$a e -lAria deliciava;se em contemplar os arbustos, dos 3uais era e#trado oAleo, os 3uais cresciam com tanta abundncia 3ue a encosta da montanha estava revestida com a planta. "la tamb>m descobriu inKmeras correntes de 'gua e cArregos 3uedesciam a montanha, levando o alimento do 3ual a raiz dos arbustos e#traa earmazenava a propriedade curativa da paz. & montanha do Eardo era uma verdadeira*onte de jardim, um po$o de 'guas vivas, 3ue descem do Bbano (Cntico dos Cnticos.1!. &s razes dos arbustos, 'vidas e sedentas, procuravam a 'gua ao longo dasmargens, aceitando e bebendo tudo o 3ue as correntes de 'gua traziam para elas. E+orejeitavam nada, aceitavam tudo com alegria e depois trans*ormavam os nutrientes nummaravilhoso e arom'tico b'lsamo curador. "n3uanto caminhavam entre os arbustos, oJei e#plicava a -ra$a e -lAria a verdadeira natureza da paz, a 3ual sA alcan$amos aoaceitar com alegria tudo o 3ue 2eus permite 3ue venha a nAs ao longo da jornada davida, e a natureza dos cArregos do prazer, 3ue descem cantando dos Bugares &ltosRenho grande alegria em *azer a tua vontade, A meu 2eus. &ssim, as correntes de'gua e os riachos regam o solo para 3ue ele alimente os arbustos da paz. 2epois,ensinou outro cntico das montanhas para elaR

    Ea aceita$+o, repousa a paz,X meu cora$+o, a3uieta;teG2ei#a cessar tuas in3uieta$%es" aceita a vontade dele.)ois este teste n+o > tua escolha,Das dele ; por isso, regozija;te.

    Eo plano dele n+o h' nada)ara te entristecerRFe essa > a escolha dele para ti,

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    &ceita;a e s= *eliz.4a$a disso algo ador'vel )ara a glAria de teu Jei.5asta de suspiros e murmKrios,Canta a ador'vel gra$a dele, )ois isso 3ue te a*lige representa teu *uturoEum lugar de abundncia.2e teus temores ele te libertar'Ea aceita$+o, repousa a paz.

    Eo meio do pomar de arbustos, a 'gua das piscinas e os lagos *ormados pelasincont'veis correntes de 'gua curativa *luam at> desaguar num grande reservatArio de'gua azul, semelhante @ sa*ira. Eessas piscinas e lagos, nadavam pei#es de coresbrilhantes, como maravilhosas jAias vivas, saltando no meio do tapete de vitArias;r>gias.& paisagem era de uma beleza encantadora, por>m talvez a coisa mais deliciosa erecon*ortante *osse o agrad'vel sil=ncio e a calma 3ue a tudo a*agavam, pois amontanha situava;se um pouco atr's das outras montanhas, 3ue a protegiam dos ventose das tempestades. "ra t+o silencioso l' no alto 3ue sA aos poucos se tornavam audveiso murmKrio das correntes de 'gua, o suave zunido das abelhas, alguma nota ocasionalemitida por um p'ssaro e o arrulho dos pombos 3ue *aziam seus ninhos nos arbustos dapaz. H Jei e sua companheira, ao chegar ao grande reservatArio, sentaram;se no declive

    acima dele. B', do topo da montanha, podiam ver bem l' embai#o o vale da 9umilha$+o.&li's, o Jei e#plicou 3ue o caminho mais curto dos Bugares &ltos para o vale era atrav>sda encosta da montanha do Eardo, mas acrescentou 3ue as chuvas e tempestades, t+ocomuns nas partes mais bai#as das montanhas, em geral eram mais *ortes e violentase#atamente na encosta em 3ue estavam sentados. \s vezes, podia;se at> ouvir combastante clareza os trov%es e relmpagos rasgando as nuvens abai#o do local em 3ueestavam. Contudo, a 3uietude do vale da )az, no Bugar &lto da montanha, n+o eraperturbada nem mesmo por um sopro de 3ual3uer tempestade 3ue casse. Hs dois*icaram sentados algum tempo, em absoluto sil=ncio. -ra$a e -lAria n+o podia dei#ar decomparar a pro*unda tran3m de como sentiam ser um com todos os degradados,miser'veis e desamparados, no meio dos 3uais trabalhavam. \s vezes, *icavamdesesperados com o so*rimento 3ue viam @ sua volta, em especial por causa da piedadee da angKstia 3ue lhes despertavam as crian$as inocentes nascidas na3uele ambientede maldade e degrada$+o. "las n+o tinham escapatAriaR estavam condenadas a ser

    corrompidas e a en*rentar so*rimento e in*ortKnio ainda mais pro*undos. -ra$a e -lAria,en3uanto pensava nessas coisas, deu um pe3ueno suspiro. inha a impress+o de 3uetoda a paz, beleza e encanto dos Bugares &ltos *ora eclipsado e obscurecido, como se*osse errado estar sentada ali, nas regi%es celestiais, en3uanto a vida no vale l'embai#o era t+o cruel e assustadoramente di*erente. Que direito tinha ela de des*rutartantas coisas belas e boas en3uanto muitos outros jamais teriam a menor oportunidadede e#perimentar a3uelas alegrias. Ea verdade, talvez nem mesmo soubessem dae#ist=ncia do Jei do &mor, ao lado de 3uem ela estava sentada. "nt+o ouviu a voz deledizendoR ; -ra$a e -lAria, > correto e > uma b=n$+o 3ue voc= comece a sentir a angKstiado so*rimento do mundo e a entender sua unidade com todas as vidas maculadas ecorrompidasG 3ue comece a compreender o 3ue isso representa para o cora$+o do &more a perceber 3ue o amor n+o pode descansar en3uanto o mal n+o *or vencido e

    consumido. Eo alto desta montanha, 3ueria 3ue voc= aprendesse a verdade de 3ue oamor n+o pode descansar at> 3ue a verdadeira paz reine, at> 3ue a paz, a harmoniaper*eita com a lei do amor, esteja no cora$+o de todos os homens. "sse > o estmulo

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    propulsor e o motivo de todo testemunho e do minist>rio de amor em 3ue voc= est'sendo treinada. )ois o amor deve compartilhar com os outros, sen+o ele morre.

    enho de dar aos outros tudo o 3ue recebi, ou ele dei#ar' de ser amor. H amor sA podeviver em seu cora$+o @ medida 3ue se propaga por meio do compartilhamento. H amor >a *or$a motriz 3ue condiciona os 3ue me amam a en*rentar tudo, at> a morte, a *im delevar as boas;novas do amor de 2eus @3ueles 3ue nunca as ouviram.Lsso > amor pelo Cordeiro de 2eus, 3ue carrega o pecado do mundo e ainda devecarreg';lo e so*rer com os pecadores at> 3ue toda criatura maculada pelo pecado, por*im, se a*aste de seu pecado e bus3ue o poder libertador dele.)ois o &mor, en3uanto o pecado persistir, corromper e arruinar suas criaturas, n+opoder' descer da cruz nem dei#ar de carregar o pecado do mundo.Quando ele terminou de *alar, um pesado sil=ncio se apoderou da montanha do Eardo,como se todas as coisas vivas se curvassem em adora$+o. H Jei 3uebrou o sil=ncio3uando come$ou a entoar um cntico."stas s+o as palavras do cntico 3ue -ra$a e -lAria ouviu, mas nenhuma palavra podee#pressar seu sentido plenoR

    H Fenhor > o &mor, ele ouve todo clamor,Fua bondade transborda,

    Eenhum cora$+o *erido > ignorado por eleEem dei#ado sem con*orto."le, em seu amor, inclina;se para estar"m cada so*rimento nosso.

    H Fenhor > o &mor.H &mor e#pulsa o medo"le 3uebra todas as cadeias do pecadoGH gemido do cora$+o doente de pecado ele ouve" sente toda a sua dor.E+o h' erro 3ue o homem cometaQue o Cordeiro de 2eus tamb>m n+o so*ra.

    X, entenda se puder(M o &mor 3uem suplica!Fempre 3ue voc= *ere um *ilho do homemH 4ilho de 2eus tamb>m sangra." o cora$+o de 2eus sA pode parar de doerQuando todo pecado estiver morto.

    CAPTULO 'O RESGATE DE AUTOPIEDADE

    & senhora Valente, num alvoro$o de *elicidade e energia, estava ocupada com as tare*asmatinais do chal>. &trav>s da porta aberta da cozinha, ela podia ver, no jardim, a galinha

    marrom 3ue ensinava a nova ninhada de pintainhos amarelos a achar minhocas epetiscos. Hs patinhos chapinhavam no riacho, e o gato amarelo pestanejava ao solen3uanto as abelhas zuniam por todo o jardim. Eo chal> ao lado, DisericArdia cantavaen3uanto *azia seu trabalho. Que dia maravilhoso 2isse para si mesma a senhoraValente. H tipo de dia em 3ue alguma coisa especial pode acontecer. "spero 3ue ohorrvel almana3ue da pobre &gourenta n+o preveja calamidade para hoje. Fer' 3uedevo ir v=;iaP Queria tanto saber o 3ue aconteceu depois 3ue o )astor entrou em seuchal> Eo momento em 3ue pensava assim, ouviu o port+o se abrindo. Hlhou para *ora eviu uma mulher alta, com um belssimo #ale estilo oriental bordado com cores vibrantes,cujos desenhos eram *eitos com *ios dourados e prateados 3ue cintilavam @ luz do sol,tornando a pe$a de uma beleza 3uase o*uscante.

    & aten$+o da senhora Valente *oi arrebatada pelo #ale de cores vibrantes. "stava t+oatnita e t+o absorta com o *ato de uma mulher trajada de *orma t+o deslumbranteentrar em seu jardim e caminhar em dire$+o @ porta da cozinha 3ue, por um momento,n+o reconheceu a rec>m;chegada. &ssim 3ue reconheceu a3uela mulher, perdeu o

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    *lego, maravilhada. Feus olhos *icaram enevoados pelas l'grimas de alegria, e tudo*icou indistinto. ; &gourenta, minha 3uerida Dal acredito em meus olhos ; e#clamouela, 3uando conseguiu controlar a voz. ] M voc= mesmoP "stava pensando em voc=, sedevia ir v=;la. Das isto > mil vezes melhor