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    Ler Os Maias

    Ea de Queirs

    Jos Maria Ea de Queirs nasceu em 1845 na Pvoa de Varzim no seio de umafamlia culta. Entre 1861 e 1866, frequentou o curso de Direito na Universidade deCoimbra onde tomou contacto com as correntes ideolgicas e literrias europeias daaltura, nomeadamente, o positivismo, o socialismo e o realismo e o naturalismo. Aconheceu Antero de Quental e Tefilo Braga, dois dos futuros representantes daGerao de 70.Em 1867, integrou um grupo de amigos, chamado o Cenculo, que promovia tertliasliterrias e ideolgicas e do qual faziam parte Jaime Batalha Reis, Ramalho Ortigo,Oliveira Martins, Tefilo Braga, Antero de Quental, entre outros.Em 1869 e 1870, Ea de Queirs viajou at ao Egipto para assistir inaugurao doCanal de Suez e esta viagem inspirou alguns dos seus trabalhos como, por exemplo,

    A Relquia, apenas publicado em 1887.Em 1871, participou nas chamadas Conferncias do Casino Lisbonense, proferindo aquarta conferncia intitulada A Nova Literatura, o Realismo como Nova Expresso daArte que lanou os fundamentos da sua concepo do Realismo.Em 1872, Ea iniciou a sua carreira diplomtica como Cnsul de Portugalsucessivamente em Havana, Newcastle, Bristol e Paris.Este afastamento do meio portugus e a experincia de vida no estrangeiropermitiram-lhe observar Portugal de forma mais objectiva. Alis, foi em Inglaterra queEa de Queirs escreveu a parte mais significativa da sua obra romanescaconsagrada crtica da vida social portuguesa.A 16 de Agosto de 1900, Ea de Queirs, um dos maiores romancistas de toda anossa literatura, morreu em Paris.

    Conferncias Democrticas do Casino Lisbonense

    O grupo dos jovens intelectuais que se sublevaram contra Castilho na QuestoCoimbr juntou-se novamente aps a concluso dos seus cursos, desta vez emLisboa, e acrescido de outras personalidades. Juntos formaram o Cenculo, um grupoque promovia tertlias literrias e ideolgicas em nome da livre discusso de ideias eideais, composto por Antero de Quental, Ea de Queirs, Tefilo Braga, RamalhoOrtigo, Jaime Batalha Reis, Salomo Saragga, Manuel Arriaga, Germano Meireles eGuerra Junqueiro.

    Foi no Cenculo que nasceu o projecto das Conferncias Democrticas do CasinoLisbonense, uma consequncia natural das discusses ideolgicas travadas duranteas reunies de artistas e literatos. O programa das Conferncias definia como seuprincipal objectivo reflectir acerca dos problemas responsveis pelo estado dedecadncia do pas e pelo seu afastamento em relao Europa culta.Com uma forte inteno democrtica, as Conferncias simbolizavam uma tentativa decolocar Portugal a par da actualidade europeia, ligando-o ao movimento moderno,agitando na opinio pblica as grandes questes da Filosofia e da Cincia Moderna"e estudando as condies de transformao poltica, econmica e religiosa dasociedade portuguesa.Assim, em 1871, numa altura em que no panorama internacional decorriam inmerosacontecimentos, tais como a Comuna de Paris (principal insurreio operria e popular

    do sculo XIX), a unificao da Itlia e as guerras na Polnia e na Irlanda, surgiram as

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    Conferncias Democrticas do Casino Lisbonense, que pretendiam abordar temasmuito diversificados.

    1 Conferncia: O Espri to das Conf ernc ias, de Antero de Quental.A conferncia inaugural afirmou a necessidade de regenerar Portugal "pela educaoda inteligncia e pelo fortalecimento da conscincia dos indivduos".

    2 Conferncia: Causas da Decadnci a dos Povo s Penin sulares, de Antero deQuental.A segunda conferncia apontou como principais causas de decadncia do nosso povoo obscurantismo do catolicismo ps-tridentino, que tinha aniquilado as liberdadeslocais e individuais, e a poltica expansionista ultramarina, que havia impedido odesenvolvimento da pequena burguesia.

    3 Conferncia: A Literatura Portugu esa, de Augusto Soromenho.A terceira conferncia denunciou a decadncia da literatura portuguesa e defendeu anecessidade de "dar por base educao a moral, o dever, do que aproveitar a

    literatura".4 Conferncia: A L iteratura Nova (O Realismo como Nov a Expres so deArte),de Ea de Queirs.Na quarta conferncia, Ea de Queirs lanou os fundamentos da sua concepo deRealismo, influenciada por Flaubert, Proudhon e Taine.

    5 Conferncia: O Ensino, de Adolfo Coelho.A quinta conferncia coube a Adolfo Coelho, que, de uma forma revolucionria, propsa reorganizao do ensino em Portugal, designadamente a "separao completa doEstado e da Igreja".

    As conferncias foram interrompidas antes da sexta, por portaria ministerial domarqus de vila e Bolama, onde se alegava que estas se tinham sustentado em"doutrinas e proposies que atacavam a religio e as instituies polticas do Estado".Estavam ainda anunciadas as seguintes conferncias, que espelhavam a pluralidadede temas que os seus mentores pretendiam abordar:

    - Os Historiadores Crticos de Jesus, de Salomo Saragga;- O Socialismo, de Batalha Reis;- A Repblica, de Antero de Quental;- A Instruo Primria, de Adolfo Coelho;- Deduo Positiva da Ideia Democrtica, de Augusto Fuschini.

    Os conferencistas reagiram contra a proibio com um protesto pblico, com o qual sesolidarizaram vrios intelectuais, como Alexandre Herculano, que acudiram em defesada liberdade de expresso.

    A Ger ao de 70

    A Gerao de 70, tambm conhecida como Dissidncia de Coimbra, comeou porser constituda por um grupo de jovens intelectuais da ltima metade do sculo XIX, doqual fizeram parte alguns dos maiores vultos da literatura portuguesa, como Antero deQuental, Ea de Queirs, Ramalho Ortigo, Tefilo Braga e Guerra Junqueiro. Estegrupo de jovens afirmou-se como elite intelectual entre 1865, data do polmico texto

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    de Antero contra Castilho (Bom senso e Bom gosto), e 1871, data das Confernciasdo Casino.Na dcada de 1870, Portugal vivia os efeitos dos movimentos do Fontismo e daRegenerao. A Gerao de 70, claramente voltada para os valores da educao e dacultura, rebelou-se contra o progresso predominantemente material e mercantilista deFontes Pereira de Melo. Manifestando um grande descontentamento face situaopoltica, cultural e social do pas, os membros da Gerao de 70defendiam uma maiorabertura e receptividade de Portugal cultura europeia e a urgncia de uma reformacultural no pas.O cariz revolucionrio desta elite intelectual era sustentado pela assimilao de ideiasinovadoras da cultura europeia, nomeadamente atravs de leituras de autoresfranceses e alemes e do conhecimento de movimentos insurreccionais estrangeiros,como a Comuna de Paris1. Racionalistas, herdeiros do positivismo de Comte, doidealismo de Hegel e do socialismo utpico de Proudhon e Saint-Simon, os jovens daGerao de 70 protagonizaram uma autntica revoluo cultural no nosso pas,nomeadamente atravs da Questo Coimbr e das Conferncias do Casino.

    Quem foram os membros da Ger ao de 70?

    Antero de Quental (1842-1890): incontestavelmente o mestre da Gerao de 70,assumindo um papel claramente interventivo nas Conferncias do Casino. tambmeste grande poeta que protagoniza a Questo Coimbr contra Feliciano de Castilho.

    Ea de Queirs (1845-1900): conheceu Antero enquanto estudante em Coimbra etornou-se um escritor emblemtico do romance portugus e um paradigma doRealismo, que defendeu acerrimamente.

    Ramalho Ortigo (1836-1915): apesar de inicialmente ser aliado de Castilho contra

    Antero, integrou a Gerao e assumiu um papel preponderante na Questo Coimbr.EscreveuAs Farpas.

    Tefilo Braga (1843-1924): deixou um esplio considervel nos estudos literrios, napoltica, na investigao dos costumes portugueses e na tradio oral. Foicompanheiro de Antero na Questo Coimbr e, mais tarde, Presidente da Repblica.

    Guerra Junqueiro (1850-1923): escreveu poesia e fez parte do Cenculo e dosVencidos da Vida. Foi ministro aps a implantao da Repblica.

    Oliveira Martins (1845-1894): foi deputado, ministro, jornalista, economista einvestigador e um amigo prximo de Antero e Ea. Deixou importantes contributos nos

    estudos histricos, nomeadamente com Histria de Portugal ou PortugalContemporneo.

    A Questo Coimbr

    A Questo Coimbr, tambm conhecida como a Questo do Bom Senso e BomGosto, foi a primeira e uma das mais importantes manifestaes do grupo que viria aser apelidado de Gerao de 70. Na linha da frente estiveram sempre Antero deQuental, o Prncipe da Mocidade, e Tefilo Braga, j conhecidos no mundo dasletras.

    O motivo que desencadeou a revolta coimbr, ou, como lhe chamou Antero deQuental, a famosa Questo Literria ou a Questo de Coimbra, foi aparentemente

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    trivial. Em 1865, Pinheiro Chagas publicou o Poema da Mocidade, uma biografia lricatpica do saudosismo ultra-romntico. Na carta-posfcio redigida por Antnio Felicianode Castilho, este aludiu moderna escola de Coimbra e sua poesia ininteligvel,referncias claramente adversas a Antero e a Tefilo.Este ataque directo, aliado ao desejo de polmica dos acadmicos coimbres, levouAntero a lanar um opsculo, intitulado Bom Senso e Bom Gosto, as duas virtudes queCastilho lhes negava. Antero contestava o exagero cansativo do gosto ultra-romnticopersonificado em Castilho e na sua escola, que apelidou de "Escola do Elogio Mtuo",uma vez que os seus membros mais no faziam do que elogiarem-se constantemente.Num tom, de certo modo, panfletrio, Antero delineou um conceito novo da misso doescritor, reivindicando a liberdade e a independncia de esprito, contra as teocraciasliterrias. Este protesto, que se investiu de um carcter essencialmente moral, afirmoua insubmisso iconoclasta dos jovens de Coimbra escola de Castilho.Quando os intelectuais conservadores acorreram em defesa de Castilho, instaurou--sea batalha. Os artigos, folhetins e opsculos em apoio de uma e de outra partemultiplicaram-se. Do lado da nova gerao, aberta s recentes correntes europeias,seguiu-se o opsculo de Antero, A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, e o

    panfleto de Tefilo, Teocracias Literrias. Do lado do patriarca literrio, surgiuLiteratura de Hoje, do ilustre Ramalho Ortigo, que viria a integrar mais tarde aGerao de 70. A batalha entre o Romantismo agonizante e o novo Realismofervilhante prolongou-se pelo ano de 1866. A partir de Maro desse ano, a polmicacomeou a declinar em quantidade e qualidade.Com a Questo Coimbr entraram em conflito o velho sentimentalismo do Ultra-romantismo vernculo e o novo esprito cientfico europeu. Apareceu um novo lirismosocial, humanitrio e crtico que se insurgiu contra a tirania do gosto literrioprotagonizada por Castilho. No entanto, a questo no foi s literria, mas denunciouincompatibilidades mais profundas, espelhando um movimento poltico, histrico efilosfico de grande amplitude. Sacudiu, tambm, o marasmo da vida cultural do pas,e, se no contribuiu, desde logo, para a introduo do Realismo em Portugal, veio

    demarcar as fronteiras entre os autnticos romnticos e o Ultra-romantismo obsoleto econvencional.

    Os romances de Ea de Queirs

    Ea de Queirs foi um grande mestre do romance portugus moderno.O romance um gnero narrativo ficcional em prosa, mais longo que a novela e oconto, em que as personagens so apresentadas com maior densidade psicolgica eo tempo e o espao so elementos mais elaborados. Este gnero narrativo de largaprojeco cultural , de acordo com a entrada romance do Dicionrio de

    Narratologia, de Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, fruto de uma popularidade e deuma ateno por parte dos seus cultores que, sobretudo a partir do sculo XVIII, fezdele decerto o mais importante dos gneros literrios modernos.

    O Crime do Padre Amaro a primeira verso surge nas pginas da RevistaOcidental, em 1875.O Primo Baslio 1878O Mandarim - foi publicado em folhetins no Dirio de Portugal, em 1880.A Relquia - 1887Os Maias - 1888A Cidade e as Serras editado postumamente, em 1901.A Correspondncia de Fradique Mendes obra pstuma.

    A Ilustre Casa de Ramires editado em volume no ano da morte do autor.

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    Realismo

    A escola literria do Realismo surge, na 2. metade do sculo XIX, como reaco aosexcessos do Romantismo.

    Afastando-se da tendncia romntica para a imaginao e para a fuga da realidade, oautor realista procura representar, acima de tudo, a verdade absoluta e objectiva. Oobjectivismo recusa, ento, o subjectivismo e individualismo romnticos. Deste modo,o homem realista deixa de se centrar no seu EU para passar a preocupar-se emcompreender a realidade que o rodeia. Para isso, serve-se da tcnica da observaominuciosa dos factos, das impresses sensveis e da ateno dada aos aspectosfsicos e, principalmente, psicolgicos do homem.

    Esta preocupao pela observao minuciosa dos factos e da sua anlise d origem a

    narrativas longas e lentas, que pintam uma realidade com pormenor e sem esconderos aspectos menos agradveis dos elementos retratados.

    Para alm da recusa do subjectivismo romntico, a reaco realista rejeita tambm osseus ideais, passando, por exemplo, a procurar a representao do momento presentee do quotidiano, ao contrrio do Romantismo voltado para o passado histrico e paraos nacionalismos.

    Observando o presente com fidelidade, a literatura passa a ser um instrumento dedenncia social, onde se analisa criticamente os vcios da sociedade suacontempornea, corporizados na classe dominante, a burguesia, retratada em

    personagens-tipo, e satirizando as instituies tradicionais conservadoras como aFamlia, a Igreja e o Estado. Na fico realista, a personagem e a sua caracterizaocontribuem para a compreenso do enredo, pois possvel estabelecer uma relaoentre as atitudes e comportamentos das personagens, descritas de maneira objectivae lgica, e a sociedade da poca.

    A objectividade realista conseguida a partir de uma linguagem simples e poucorebuscada de compreenso imediata. Alm disso, a tendncia da descrio minuciosae exacta no d espao linguagem metafrica e hiperblica dos romnticos.

    Realismo segundo Ea de Queirs

    Segundo Ea de Queirs, na 4. Conferncia do Casino a 12 de Junho de 1871, oRealismo a negao da arte pela arte; a proscrio do convencional, do enftico edo piegas. a abolio da retrica considerada como arte de promover a comoousando da inchao do perodo, da epilepsia da palavra, da congesto dos tropos. aanlise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o realismo uma reacocontra o romantismo: o romantismo era a apoteose do sentimento; o realismo a

    anatomia do carcter. a crtica do homem. a arte que nos pinta a nossos prprios

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    Naturalismo

    O Naturalismo constitui o perodo literrio, da dcada de 80, que se segue aoRealismo. Este movimento esttico partilha com o Realismo a ideia de que a Arte deveser o retrato fiel da realidade, no entanto, influenciado pelo Positivismo de Comte epela teoria evolucionista de Charles Darwin, o Naturalismo considera que o romancistano se deve limitar a observar os acontecimentos e exp-los, mas tambm ainterpretar os factos e os fenmenos sociais, com o rigor prprio da cincia. Destemodo, o romance adquirir um valor social e cientfico.

    O escritor naturalista, tal como o Realismo, tambm se baseia na observao edescrio do meio social, contudo, acredita que o indivduo o resultado deinfluncias do meio, da educao e de factores do momento histrico que condicionamo seu comportamento. Para os naturalistas, a hereditariedade, a educao e o meio

    passam a explicar os comportamentos desviantes do indivduo, conferindo-se aresponsabilidade desses comportamentos a factos externos como o meio e factoresde ordem hereditria e educacional.

    Tematicamente, esta escola literria debruou-se sobre o adultrio (como resultado deuma errada educao assente em princpios romnticos); o jogo; o alcoolismo (comodeformao do carcter); a criminalidade; a misria e a doena (como por exemplo aloucura), mas sempre a partir duma anlise rigorosa do meio social e sem descurardos aspectos patolgicos.

    Os termos Realismo e Naturalismo so usados, muitas vezes, como sinnimos, isto

    porque, de facto, existem muitos pontos em comum entre o romance realista e onaturalista. Alis, por vezes, difcil classificar um autor ou uma obra, comopertencente a uma destas correntes literrias. Por exemplo, Ea de Queirs considerado por alguns crticos realista e, por outros, naturalista.

    No entanto, existem algumas diferenas. Por exemplo, enquanto o Realismo descrevee analisa o comportamento humano, o Naturalismo, fortemente influenciado pela teoriaevolucionista de Charles Darwin, observa o homem por meio do mtodo cientfico,tentando perceber as causas do seu comportamento, porque acredita que s atravsdeste mtodo cientfico se pode chegar ao conhecimento objectivo dos factos e das

    situaes. O Naturalismo acredita que o comportamento humano o resultado daconfluncia de factores determinantes (a hereditariedade, a educao e o ambiente)sobre os indivduos e que estes condicionam as suas aces, o seu carcter e o seuprprio destino.

    Assim, possvel concluir que o Naturalismo um prolongamento do Realismo, sque mais intenso, pois ao aprofundar a viso cientfica do Realismo, torna-a aindamais objectiva.

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    Os Maias

    ESTRUTURA

    A estrutura d Os Maias , desde logo, anunciada, no ttulo e subttulo da obra.

    I - O TtuloOs Maias

    O ttulo Os Maias reporta-se histria da famlia Maia ao longo de trs geraes.

    Primeira gerao: a de Afonso da Maia, nascido antes do sculo, vtima de Portugalmiguelista.

    Segunda gerao: a de Pedro da Maia, representante da fase de instaurao doLiberalismo.

    Terceira gerao: a de Carlos da Maia, representante da decadncia dos ideaisliberais.

    A intriga

    O romance d Os Maias, ttulo que remete para o estudo desta famlia fidalga,apresenta duas intrigas.

    1. A intriga secundria que, organizada em torno da relao amorosa de Pedro daMaia e Maria Monforte, narra a histria da segunda gerao dos Maias.

    Estrutura da intriga secundria:

    - Pedro da Maia v Maria Monforte;- Pedro namora Maria Monforte;- Pedro casa com Maria Monforte;

    - Maria Monforte foge;- Pedro suicida-se.

    2. A intriga principal narra os amores incestuosos entre Carlos da Maia e MariaEduarda (a histria da terceira gerao dos Maias).

    Estrutura da intriga principal:

    - Carlos da Maia v Maria Eduarda no Hotel Central;- Carlos visita Rosa, a pedido de Miss Sara;- Carlos conhece Maria Eduarda na casa desta;- declarao de Carlos a Maria Eduarda;

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    - consumao do incesto inconsciente;- encontro de Maria Eduarda com Guimares;- revelaes de Guimares a Ega;- revelaes de Ega a Carlos;- revelaes de Carlos a Afonso;- consumao do incesto, agora consciente;- encontro de Carlos com Afonso;- morte de Afonso;- revelaes a Maria Eduarda;- partida de Maria Eduarda.

    II. O SubttuloEpisdios d a Vida Romnt ica

    Em alternncia com esta histria, nomeadamente com a intriga principal, desenrolam-se mltiplos episdios a que se costuma chamar a Crnica de Costumes da vida deLisboa, alis sugerida no subttulo Episdios da Vida Romntica.

    Episdios da crnica de costumes:

    jantar no Hotel Central;as corridas de cavalos no hipdromo;jantar dos Gouvarinhos;o jornalismo portugus do sculo XIX;o sarau literrio.

    Existe uma relao entre a intriga e a crnica de costumes, por exemplo, no HotelCentral que Carlos v Maria Eduarda. No entanto, a crnica de costumes como temautonomia em relao intriga trata-se de uma aco aberta, ao passo que a intriga,porque pressupe desenlace, constitui uma aco fechada.

    H ainda outras aces secundrias que ajudam a compreender a aco principal econtribuem para a realizao dos objectivos de crtica social, tais como: osrelacionamentos amorosos adlteros de Ega e Raquel Cohen e entre Carlos e a

    Condessa de Gouvarinho; o comportamento e as atitudes de figurantes,nomeadamente de Dmaso, Eusebiozinho e Palma Cavalo; e o paralelismo entre aeducao britnica de Carlos da Maia e a educao portuguesa de Pedro da Maia eEusebiozinho.

    O subttulo Episdios da Vida Romntica remete, ento, para os episdios e acessecundrias que retratam os costumes, gostos, tradies, divertimentos, aspectossociais, questes polticas e educativas da sociedade portuguesa da Regenerao,que criticada pela apatia e ociosidade em que vive e pela ausncia de espritocrtico.

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    Ficha de leitura de Os Maias

    1. Aco (intriga)1.1. Aces secundrias

    Numa tentativa de se explicar os antecedentes familiares de Carlos, em analepse(recuo no tempo) iniciado logo depois das primeiras oito pginas (esta existncia nemsempre assim correra), so-nos dadas breves referncias existncia tranquila deCaetano da Maia, sob padres do absolutismo vigente, a juventude movimentada deAfonso guiado pelas ideias liberais, e -nos narrada a histria de Pedro da Maia (suaeducao tradicional e seus amores trgicos com Maria Monforte). Esta sntesehistrica de trs geraes da famlia Maia -nos dada em narrativa de ritmo acelerado,com predomnio do pretrito perfeito. As funes cardinais ou ncleos desta intrigarelativa a Pedro da Maia so (segundo Carlos Reis):

    F1 - Pedro da Maia v Maria Monforte (p. 22);F2 - Pedro namora Maria Monforte (p. 26);

    F3 - Pedro casa com Maria Monforte (p. 30);F4 - Maria Monforte foge (p. 44);F5 - Pedro suicida-se (p. 52).

    Esta pequena intriga de que Pedro da Maia protagonista, com insistncia sobre asua educao, sobre o temperamento doentio da me Maria Eduarda Runa e sobre assuas prprias tendncias romnticas, funciona como um precedente familiarexplicativo (indcios) de muita coisa que se passar na vida de Carlos e de MariaEduarda. Esta intriga secundria dOs Maias est, pois, para a intriga central como acausa est para o efeito. Neste particular, este romance segue a tcnica naturalista(positivista): dadas determinadas causas, seguem-se infalivelmente determinadosefeitos (determinismo hereditrio). Esta intriga secundria (de Pedro) existe, pois, emfuno da intriga central (de Carlos).

    1.2. Aco central

    A intriga central (do captulo III at ao fim) apresenta a histria dos Maias a partir doOutono de 1875, quando a famlia se encontrava reduzida a dois vares, o senhor dacasa, Afonso da Maia, um velho j, quase um antepassado, mais idoso do que osculo, e seu neto Carlos, centrando-se sobretudo nos amores trgicos de Carlos eMaria Eduarda.So estas as funes cardinais ou ncleos da intriga principal:

    F1 - Carlos da Maia v Maria Eduarda (p. 156);F2 - Carlos visita Rosa (p. 257);F3 - Carlos conhece Maria Eduarda (p. 350);F4 - declarao de Carlos (p. 409);F5 - consumao do incesto (p.438);F6 - encontro de Maria Eduarda com Guimares (p. 537);F7 - revelaes de Guimares a Ega (p. 615);F8 - revelaes de Ega a Carlos (p. 640);F9 - revelaes de Carlos a Afonso (p. 645);F10 - incesto consciente (p. 658);F11 - encontro de Carlos com Afonso (p. 667);F12 - morte de Afonso (p. 668);

    F13 - revelaes a Maria Eduarda (p. 683);F14 - partida de Maria Eduarda (p. 687).

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    Poderamos reduzir estes ncleos aos momentos mais dinmicos da narrativa, isto ,aos pontos fundamentais da intriga:

    F1 - Carlos da Maia v Maria Eduarda;F2 - Carlos conhece Maria Eduarda;F3 - declarao de Carlos;F4 - consumao do incesto;F5 revelaoF6 separao de Carlos e Maria Eduarda.

    J dentro da intriga central h outras aces secundrias: episdio romntico deCarlos com a mulher do empregado do Governo Civil de Coimbra (cap. IV); ligaescom a espanhola Encarnacion, que trouxera de Lisboa para Coimbra (cap. IV);ligaes adlteras de Carlos com a condessa de Gouvarinho (caps. V, VI, VII, X, XI,XII, XIII); relaes adlteras de Joo da Ega com Raquel Cohen (caps. IV, V, VI); ahistria de Eusebiozinho, molengo e tristonho, da sua educao sob as saias dame, do fracasso do seu segundo casamento, pois, no dizer de Ega, era derreado

    pancada pela mulher (caps. III, IV, VII); a sequncia da Corneta do Diabo em queaparece um artigo injurioso contra Carlos da responsabilidade de Dmaso,conseguindo Ega evitar a sua divulgao (cap. XV).As aces secundrias assinaladas tm uma certa ligao com a aco central,mesmo parecendo, primeira vista, que no. Assim, essas episdicas e superficiaisrelaes amorosas de Carlos tm a funo de realar, por um processo antittico, oprofundo amor existente na relao Carlos/Maria Eduarda. A educao deEusebiozinho, tal como a de Pedro da Maia, serve de contraponto educaomoderna, de tipo ingls, que Afonso da Maia fizera ministrar ao seu neto Carlos. Maisestreita ainda a ligao entre o episdio da Corneta do Diabo e a linha central doromance. Com efeito, a ligao amorosa Carlos/Maria Eduarda vinha frustrar asaspiraes de Dmaso, pelo que este faz publicar o artigo. Alm disso a carta

    vergonhosa que Ega faz escrever a Dmaso (em consequncia do artigo) que provocao encontro daquele com Guimares, o qual, como destinador, revelar o fatdicosegredo que desencadear a tragdia.A Intriga Central desenvolve-se num ritmo extraordinariamente lento, devido no ss aces secundrias inseridas por alternncia na aco central, mas tambm esobretudo aos longos episdios mais descritivos do que narrativos, de crtica social.Estes quadros, ou frescos, sendo momentos de pausa ou catlises, travam o ritmoda narrativa, pois so momentos estticos em que personagens e tipos sociais seexibem demoradamente.Destaquemos os seguintes episdios de crtica social: o jantar no Hotel Central, (cap.VI), as corridas no hipdromo (cap. X), ojantar na casa dos Gouvarinhos (cap. XVI), opasseio pela baixa lisboeta (cap. XVIII) em que Carlos e Ega comentam com

    pessimismo o passado das suas vidas e os males da sociedade portuguesa.Note-se que tambm estes quadros de crtica social tm pontos de contacto com aaco central. Em todos eles, intervm o protagonista Carlos e fcil de ver certasmotivaes relacionadas com a sua paixo por Maria Eduarda. Por exemplo, foi scorridas para ver Maria Eduarda e foi no fim do espectculo que recebeu uma cartadela. No pessimismo de Carlos e Ega, no episdio final, paira ainda a sombra, emboraj longnqua, da tragdia do amor incestuoso.De notar que se d nesse ltimo episdio como que a fuso do plano da tragdia(intriga) com o plano da comdia (crtica de costumes). Assim, se compreende queCarlos tenha conservado, at ao eclodir da tragdia, uma certa dignidade e venhaagora a cair num certo ridculo quando, ao mesmo tempo que corria juntamente comEga para apanhar o americano, repetia que no correria para nada deste mundo.

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    H, portanto, n Os Maias dois planos que s no dizemos paralelos porque se tocamem vrios pontos: o plano da intriga (plano da tragdia) e o plano da crtica decostumes (plano da comdia).

    1.3. Dimenso trgica d Os Maias

    A intriga central d Os Maias dotada das caractersticas fundamentais da tragdiaclssica:a) O tema do incesto prprio da tragdia, pois em si de grande impactoemocional por ser uma ocorrncia anormal e pela impossibilidade de soluo doconflito por ele provocado. Ele , por exemplo, o tema fulcral da tragdia de Sfocles,O Rei dipo.b) importante a aco do DESTINO que se manifesta, por exemplo, no facto deMaria Monforte ter escolhido para nome de seu filho Carlos Eduardo (carlos EduardoStuart foi o ltimo dos Stuarts, o fim de uma famlia); na afirmao de Ega a respeitode Carlos e Maria Eduarda ambos insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente,

    esto marchando um para o outro (de notar a fora invencvel do destino expressapelos advrbios de modo); na referncia a Afonso da Maia, j perto do desfecho fatal,Mas o velho afastou-se, todo dobrado sobre a bengala, vencido enfim por aqueleimplacvel destino que, depois de o ter ferido na idade da fora com a desgraa dofilho, o esmagava ao fim da velhice com a desgraa de neto; no aparecimento casualde Guimares (a fora motora do destinadorno momento das fatdicas revelaes).c) So inmeros os PRESSGIOS ou indcios: Quando o procurador Vilaa pretendia dissuadir Afonso de vir habitar oRamalhete: por fim aludia mesmo a uma lenda, segundo a qual eram sempre fataisaos Maias as paredes do Ramalhete. Afonso da Maia, ao ver Maria Monforte pela primeira vez junto de Pedro:Maria, abrigada sob uma sombrinha escarlate, trazia um vestido cor-de-rosa, toda em

    folhos, quase cobria os joelhos de Pedro Afonso () olhava cabisbaixo aquelasombrinha escarlate que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia, pareciaenvolv-lo todo, como uma larga mancha de sangue alastrando a caleche (note -secomo todo este envolvimento vermelho prenuncia a morte trgica de Pedro). Ega, embora com uma certa ironia, avisava Carlos envolvido no grande amor:hs-de vir a acabar, desgraadamente como ele (Pedro) numa tragdia infernal Depois de Carlos ter ganhado no jogo, durante as corridas, a vasta ministradada Baviera disse-lhe: mefiez-vous! (sorte no jogo). Carlos achava que Maria Eduarda era psicologicamente parecida com o av (enestas piedades Carlos achava-lhe semelhanas com o av); Maria Eduarda, por seulado, considerava Carlos parecido fisionomicamente com sua me ( extraordinrio,mas verdade, pareces-te com minha me!). O narrador, ao descrever o quarto em que se consumaria o incesto: o leito ()bordado a flores de oiro, () enchia a alcova, esplndido e severo, e como erguidopara as voluptuosidades grandiosas de uma paixo trgica).d) A intriga dotada dos ingredientes fundamentais da tragdia clssica: PERIPCIAS, sobretudo a peripcia fundamental, aquela que provoca a sbitamutao dos sucessos, isto , as revelaes casuais de Guimares a Ega, quando,ao entregar-lhe o cofrezinho, lhe disse: entrega-o da minha parte a Carlos ou irm. RECONHECIMENTO, ou anagnrise, que corresponde ao conhecer, isto ,ficam a saber que so irmos. O reconhecimento coincide com o clmax, ou pontomais alto da emoo dramtica.

    CATSTROFE, que se segue logicamente ao reconhecimento e que consistena morte de Afonso e na separao de Carlos e Maria Eduarda.

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    e) As PERSONAGENS que intervm directamente na intriga trgica so NOBRESe conservam sempre uma certa dignidade at acabar a aco trgica.Note-se que, mesmo nos primeiros amores, episdicos, de Carlos, nunca estapersonagem caiu no ridculo: foi sempre ele que tomou a iniciativa de cortar com essasligaes, por motivos de humanidade, ou de honra.Carlos, assim como Maria Eduarda, s foram recuperados para o mundo da comdia,quando deixaram de ser personagens da tragdia. Por exemplo, quando Carlos, noepisdio final, corria para o americano, ao mesmo tempo que repetia que no correrianem para um monte de oiro, j era uma personagem de comdia.

    Os Maias Aco (intriga)

    D-se o nome de Aco ao conjunto de acontecimentos que constituem uma narrativae que so relatados. Neste conjunto devem distinguir-se os factos que so mais emenos importantes para a histria, isto , verificar a relevncia dos acontecimentos. AAco Central constituda pelo ou pelos acontecimentos principais. A Aco

    Secundria constituda pelos acontecimentos menos importantes e que geralmentecontribuem para uma melhor compreenso da Aco Central, completando-a. Como evidente, as vrias aces que surgem numa narrativa no esto desligadas umasdas outras, mas relacionam-se entre si. H trs maneiras diferentes de estabeleceressa relao: porencadeamento, quando as aces surgem ordenadas temporalmente; porencaixe, introduzindo-se uma aco dentro de outra; por alternncia, quando as aces se desenrolam separada e alternadamente,

    entrelaando-se e podendo fundir-se num determinado momento da narrativa.

    Aco: reporta-se sucesso e encadeamento de acontecimentos.

    Intriga: designa os vrios incidentes que constituem a aco.Enredo: denominao entretenimento das partes do discurso e dos incidentes.Diegese ou histria: exprime a sequncia linear de acontecimentos funcionais ligadosa diferentes actantes (personagens ou foras que funcionam como sujeitos lgicos daaco).

    Paralelismo das intrigas n' Os Maias

    Os Maias apresentam dois nveis de aco - o da Crnica de costumes - queconstitui uma aco aberta por no ter um desenlace, ao contrrio da Intriga queconstitui uma aco fechada. A intriga, por sua vez, subdivide-se em secundria,relativa relao amorosa de Pedro da Maia e Maria Monforte, e principal, centradana relao incestuosa entre Carlos da Maia e Maria Eduarda. Entre as duas intrigaspode observar-se um paralelismo. Em primeiro lugar, a intriga principal s acontecepor terem sido criadas condies para tal pela intriga secundria. Em segundo lugar,h entre elas vrios pontos em comum: tanto Pedro como Carlos frequentam umambiente devasso, ambos so objecto de uma paixo avassaladora e infeliz a queAfonso da Maia se ope, devido aos antecedentes das amadas. Em ambos osromances, surge um elemento desencadeador do drama; em ambos os casos, resta-lhes o suicdio (fsico, no caso de Pedro e psicolgico, no caso de Carlos). Assim,apesar dos programas educacionais opostos de Pedro e Carlos, ambos so vtimas domeio em que de inserem, que os levar frustrao dos seus ideais e capacidades.

    Intriga secundria

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    Na intriga secundria, Pedro da Maia conhece Maria Monforte por quem se apaixonaviolentamente e com quem casa, contra a vontade do pai. De repente, a felicidade dePedro acaba, quando Maria Monforte foge com Tancredo, um napolitano por quem seenamora, levando consigo a filha Maria Eduarda. Pedro, desesperado, dirige-se para oRamalhete e, aps contar tudo ao pai, suicida-se, deixando o seu filho Carlos aAfonso.

    Intriga principal

    A intriga central tem incio quando Carlos da Maia v Maria Eduarda no Hotel Central.Apaixonam-se e mantm uma relao incestuosa, desconhecendo que so irmos. Guimares o responsvel pelo reconhecimento de Maria Eduarda, desencadeando atragdia.

    Os Maias - aco (estrutura trgica da intriga)

    A aco trgica d Os Maias

    A aco trgica d Os Maias assenta em quatro facetas, relacionadas entre si: afuno dos pressgios, o papel do destino como sua fora motriz, as caractersticastemticas da intriga (onde se inclui o tema do incesto) e o prprio desenrolar da fbulaantiga.

    Tragdia

    Pea teatral cuja aco dramtica tem um desfecho funesto.Atribui-se a sua origem Grcia Antiga, nomeadamente s celebraes em honra aodeus grego Dionsio (conhecido entre os romanos como Baco).Segundo Aristteles, a tragdia clssica devia cumprir trs condies: possuirpersonagens de elevada condio (heris, reis, deuses), ser contada numa linguagemelevada e digna e ter um final triste, com a destruio ou loucura de um ou vriaspersonagens sacrificadas ao tentar rebelar-se contra as foras do destino.

    Os pressgios ou indcios

    O pressgio constitui todo o tipo de afirmao ou acontecimento que pode fazerprever uma fatalidade e corresponde quilo a que, em anlise estrutural da narrativa,se chama indcio, isto , uma unidade narrativa que a partir das atitudes daspersonagens fornece informaes de natureza psicolgica ou ideolgica, veiculandoprenncios.

    Pressgios que podemos encontrar n Os Maias

    Caracterizao de Maria Monforte

    Sob as rosinhas que ornavam o seu chapu preto os cabelos loiros, dum oiro fulvo,ondeavam de leve sobre a testa curta e clssica: os olhos maravilhosos iluminavam-na

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    toda; a friagem fazia-lhe mais plida a carnao de mrmore: e com o seu perfil gravede esttua, o modelado nobre dos ombros e dos braos que o chale cingia - pareceu aPedro nesses instantes alguma coisa de imortal e superior terra.

    Os Maias, cap. I

    Maria Monforte caracterizada como uma deusa. Esta personagem relacionada coma Vnus Citereia que se encontra no jardim do Ramalhete. Por um lado, esta esttuasimboliza a feminilidade perversa responsvel pela tragdia da famlia. Por outro lado,o facto de ser de mrmore faz-nos relembrar a tragdia clssica e sugere a morte, porser o material usado nas campas e tambm pela cor branca associada frieza damorte.

    Descrio de Maria Monforte, quando Afonso a v pela primeira vez.

    Maria, abrigada sob uma sombrinha escarlate, trazia um vestido cor de rosa cujaroda, toda em folhos, quasi cobria os joelhos de Pedro sentado ao seu lado: as fitas doseu chapu, apertadas num grande lao que lhe enchia o peito, eram tambm cor derosa: e a sua face, grave e pura como um mrmore grego, aparecia realmenteadorvel, iluminada pelos olhos dum azulsombr io, entre aqueles tons rosados. ()Afonso no respondeu: olhava cabisbaixo aquela sombr inhaescarlate, que agora seinclinava sobre Pedro, quasi o escondia, parecia envolv-lo todo - como uma largamancha de sangue alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.

    Os Maias, cap. I

    O sombrio dos olhos azuis de Maria Monforte sugere o luto e a desolao queassomar a famlia Maia, devido ao comportamento desta personagem.

    A sombrinha escarlate que se inclinava sobre Pedro como uma larga mancha desangueagoura a poa de sangue que se ensopava no tapetena noite do suicdio dePedro, quando se confirma a tragdia.

    Comentrio de Vilaa

    - H trs anos, quando o Sr. Afonso me encomendou aqui as primeiras obras,lembrei-lhe eu que, segundo uma antiga lenda, eram s emp re fatais aos Maias as

    paredes do Ramalhete. O Sr. Afonso da Maia riu de agouros e de lendas Poisfatais foram!

    Os Maias, cap. XVII

    O pressgio de que as paredes do Ramalhete seriam fatais para a famlia Maiaacabou por se cumprir, como reconhece Vilaa depois do desenlace trgico.

    Comentrio de Ega

    - Tu s simplesmente, como ele, um devasso; e hs-de vir a acabardesgraadamente como ele, numa tr agdia in fer nal!

    http://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_01.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_01.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_01.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_01.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_17.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_17.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_17.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_01.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_01.html
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    sangue, dentro de um prato de cobre. E para maior excentricidade, a um canto, decima de uma coluna de carvalho, uma enorme coruja empalhada fixava no leito deamor, com um ar de meditao sinistra, os seus dois olhos redondos e agoirentosMaria Eduarda achava impossvel ter ali sonhos suaves.

    Os Maias, cap. XI

    A cabea degolada sugere o poder destruidor da catstrofe e o sangue remete para aconsanguinidade incestuosa.A coruja, ave nocturna associada escurido da noite e a um envolvimento fnebre,remete para a tristeza de uma morte.

    Suicdio de Pedro

    Antes de Pedro se su icid ar, h algun s in dcios que nos levam a pensar que algotrgi co vai acon tecer :

    A calma demonstr ada por Pedro.

    (...) depois veio junto do pai, com o passo mal firme, mas a voz muito calma

    Beijou-lhe a mo e saiu devagar.

    O sofrimento que Pedro sente.

    (...) na face que ergueu, envelhecida e lvida, dois sulcos negros faziam-lhe os olhosmais refulgentes e duros.

    A inquietao de Afonso.

    (...) no pde sossegar (...)

    (...) demorou-se ainda ali, com um livro na mo, sem ler (...).

    A calma evidenciada por Pedro da Maia pode ser explicada pelo facto de j ter tomadouma deciso que poria fim ao seu sofrimento: o suicdio. Esta calma contrasta com ainquietude de Afonso que parece pressentir que algo trgico est prestes a acontecer.

    A estrutura trgica da intriga principal

    A intriga principal estrutura-se volta de trs elementos da tragdia clssica antiga: aPeripcia, o Reconhecimento e a Catstrofe. A Peripcia, que consiste naalterao de uma ordem estabelecida, provocada pelas revelaes de Guimares aEga. O Reconhecimento, ou seja, a descoberta de um facto que desencadeiamudanas, sucede com as revelaes de Guimares a Ega e consequentemente deEga a Carlos. desta forma, que o protagonista constata que vive uma relaoincestuosa, pois a mulher que ama sua irm. A Catstrofe, isto , osacontecimentos finais e dolorosos que constituem o desenlace da tragdia, ocorre coma morte de Afonso da Maia que no resiste ao facto de testemunhar a relaoincestuosa que, conscientemente, Carlos mantm com Maria Eduarda e com aposterior e irreversvel separao dos dois amantes. Esta destruio consuma-se pormeio da verdade imposta pelo destino, corporizado por Guimares, o mensageiro das

    http://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_11.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_11.htmlhttp://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/htmls/Capitulo_11.html
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    revelaes fatdicas que, ao mudar definitivamente a vida de Carlos e de MariaEduarda, desencadeia a tragdia final.

    Revelaes de Ega

    No curto silncio que caiu, um chuveiro mais largo, alagando o arvoredo do jardim,cantou nas vidraas. Carlos ergueu-se arrebatadamente, numa revolta de todo o ser:- E tu acreditas que isso seja possvel? Acreditas que suceda a um homem como eu,como tu, numa rua de Lisboa? Encontro uma mulher, olho para ela, conheo-a durmocom ela e, entre todas as mulheres do mundo, essa justamente h-de ser minha irm! impossvel... No h Guimares, no h papis, no h documentos que meconvenam!E como Ega permanecia mudo, a um canto do sof, com os olhos no cho:-Dize alguma coisagritou-lheCarlos. Duvida tambm, homem, duvida comigo!...

    Perante as revelaes de Ega, Carlos fica revoltado.Carlos, tentando lutar contra aquilo que o destino lhe reservou, no aceita o que ouve .

    O incesto, que designa uma unio sexual entre parentes consanguneos, era umatemtica fulcral na tragdia devido impossibilidade de uma soluo pacfica, uma vezque os protagonistas sofrem quer se mantenham unidos quer se separem.

    Os Maias - aco (Episdios da Vida Romntica)

    Episdios da Vida Romntica

    NOs Maias, a par da histriada famlia Maia, encontramosepisdios que funcionamcomouma caracterizao crtica esatrica da sociedadeportuguesa do sculo XIX, emforma de crnica de costumes.

    O jantar no Hotel Central

    Episdio que aborda a crtica literria e a literatura, a situao financeira do pas e amentalidade limitada e retrgrada dos portugueses.A se retrata a polmica que marcou a Questo Coimbr, na discusso de Ega eAlencar defensores, respectivamente, do Realismo/Naturalismo e da moral do Ultra-

    romantismo.

    O jantar no Hotel Central, em que Ega pretende homenagear Cohen (marido deRaquel, sua amante),proporciona o primeiro encontro de Carlos da Maia com MariaEduarda e permite tambm que este contacte, pela primeira vez, com a elite lisboeta.O episdio abre com o tema da literatura. Polmica relativamente a diferentesmovimentos literrios:- Romantismo e Ultra-romantismo- Realismo e Naturalismo.

    Posio de Ega, Carlos, Craft e Alencar relativamente ao Realismo/ Naturalismo:

    Carlos da Maia - Considera exagerado o cientifismo na literatura.Craft - Critica a forma crua como se apresenta a realidade nos livros.

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    Alencar- Compara o Realismo/ Naturalismo a excremento.Ega - Defende o Realismo/ Naturalismo de forma exagerada, inclusivamente ocientifismo na literatura.

    Apesar de nesta passagem, Carlos e Craft criticarem o Naturalismo. Ambos recusam oUltra-romantismo de Alencar e o exagero de Ega. Estas personagens apresentam-secomo apologistas da moderao, recusando o exagero das correntes.

    Outro assunto focado neste jantar foi as finanas do pas:

    O Cohen colocou uma pitada de sal beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o

    emprstimo tinha de se realizar absolutamente. Os emprstimos em Portugal constituam

    hoje uma das fontes de receita, to regular, to indispensvel, to sabida como o imposto. A

    nica ocupao mesmo dos ministrios era esta cobrar o imposto e fazer o emprstimo. E

    assim se havia de continuar...

    Carlos no entendia de finanas: mas parecia-lhe que, desse modo, o pas ia alegremente e

    lindamente para a bancarrota. Num galopezinho muito seguro e muito a direito disse o Cohen, sorrindo. Ah! sobre

    isso, ningum tem iluses, meu caro senhor. Nem os prprios ministros da Fazenda!... A

    bancarrota inevitvel; como quem faz uma soma...

    Ega mostrou-se impressionado. Olha que brincadeira, hem! E todos escutavam o Cohen. Ega,

    depois de lhe encher o clice de novo, fincara os cotovelos na mesa para lhe beber melhor as

    palavras.

    A bancarrota to certa, as coisas esto to dispostas para ela continuava o Cohen

    que seria mesmo fcil a qualquer, em dois ou trs anos, fazer falir o pas.

    O assunto do estado deplorvel das finanas pblicas e do endividamento do pas

    tratado despreocupadamente nesta conversa, durante a qual sobressai o cinismo deCohen e a sua falta de responsabilidade ao exprimir, calmamente, que osemprstimos so a principal e indispensvel fonte de receitas do pas.

    De salientar os advrbios de predicado com valor modal (a vermelho), de carcterirnico, que acentuam a crtica ao estado deplorvel das finanas de Portugal, e aforma verbal que se encontra no gerndio (a azul) e que explicita a despreocupaodo banqueiro Cohen relativamente situao financeira do pas.

    Neste episdio o tema da poltica tratado de forma superficial.O discurso demolidor de Ega serve a inteno crtica de Ea que pretende atingir as

    instituies pblicas e os valores da poca.

    Repara neste excerto que se segue soluo pouco sria de Ega paraa decadnciado pas: a invaso espanhola e o afastamento violento da Monarquia.

    E no silncio que se fez, Dmaso, que desde as informaes sobre a rapariga do Ermidinha

    emudecera, ocupado a observar Carlos com religio, ergueu a vozpausadamente, disse, com ar

    de bom senso e de finura:

    Se as coisas chegassem a esse ponto, se se pusessem assim feias, eu c, cautela, ia-me

    raspando para Paris...

    Ega triunfou, pulou de gosto na cadeira. Eis ali, no lbio sinttico de Dmaso, o gritoespontneo e genuno do brio portugus!

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    A discusso literria entre Alencar e Ega cai nos ataques pessoais que culminamnuma cena de pancadaria. O desajuste entre as suas atitudes e o espao social emque se encontram, acaba por fazer estalar o verniz da alta sociedade lisboeta quetenta apresentar-se como civilizada.

    As corridas de cavalos

    Episdio que satiriza a tendncia dos portugueses de imitar aquilo que se faz noestrangeiro. As corridas no hipdromo permitem, igualmente, apreciar de forma irnicae caricatural a sociedade burguesa lisboeta do sculo XIX que vive de aparncias,onde ntido o contraste entre o ser e o parecer.Mas, como refere Afonso da Maia,Portugal estava habituado a touradas e no a corridas de cavalos.

    Descrio do espao em que decorre este acontecimento, o Hipdromo: o espao emque decorrem as corridas degradado, o recinto parece uma quintarola, as bancadasso improvisadas e besuntadas de tinta.

    Expresses ou vocbulos que sublinham o seu estado degradado: por pintar, malpregadas.Expresses, de carcter depreciativo, que remetem para o mau gosto com que estavadecorado: de arraial, besuntada.

    O comportamento da assistncia ridicularizado a partir da descrio pejorativa dasvestimentas requintadas que no se adequam ao evento desportivo.- as roupas quentes, imprprias para usar no Vero - "(...) com jaquetes claros (...)";"(...) de sobrecasaca (...)".- as roupas exageradamente requintadas - "(...) vestidos srios de missa (...)"; "(...)chapus emplumados Gainsborough (...)".- a falta de entusiasmo pelo acontecimento - "(...) sem um rumor, numa pasmaceira

    tristonha (...)".- a falta de -vontade das pessoas - "(...) pareciam embaraados e quasearrependidos do seu chique.".

    O episdio das Corridas de Cavalos retrata aquilo que h de ftil e postio na altasociedade lisboeta do sculo XIX. A tentativa falhada de imitar o que h no estrangeiroculmina com a desordem final deste evento que denuncia, mais uma vez, a oposioentre o ser e o parecer.

    O desejo de Carlos agora era achar Dmaso, saber porque falhara a visita aos Olivais e

    depois ir-se embora para o Ramalhete, esconder aquela melancolia que o enevoava, estranha e

    pueril, misturada de irritabilidade, fazendo-lhe detestar as vozes que lhe falavam, o ratat da

    msica, at a beleza calma da tarde... Mas ao dobrar a esquina da tribuna, topou com Craft,

    que o deteve, o apresentou a um rapaz loiro e forte com quem estava falando alegremente. Era

    o famoso Clifford, o grande sportman de Crdova. Em redor sujeitos tinham parado,

    embasbacados para aquele ingls legendrio em Lisboa, dono de cavalos de corridas, amigo do

    rei de Espanha, homem de todos os chiques. Ele, muito vontade, um pouco poseur, com um

    simples veston de flanela azul como no campo, ria alto com o Craft do tempo em que tinham

    estado no colgio de Rugby. Depois pareceu-lhe reconhecer Carlos, amavelmente.

    No se tinham encontrado havia quase um ano, em Madrid, num jantar, em casa de Pancho

    Caldern? E assim era. O aperto de mo que repetiram foi mais ntimo e Craft quis que

    fossem regar aquela flor de amizade com uma garrafa de mau champanhe. Em roda crescera a

    pasmaceira.

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    Trindade, onde se pe a nu a inutilidade de uma oratria balofa, o lirismo ultra-romntico de Alencar e a falta de gosto artstico de uma sociedade que bateu palmasa isto tudo, mas no ouviu a talentosa exibio musical de Cruges.

    c) ESPAO PSICOLGICO manifesta-se sobretudo em personagensmodeladas, revelado nos monlogos interiores. Mas este espao no relevante nOsMaias, em que as personagens so predominantemente planas.

    O espao

    Espao fsico

    No se deve encarar o espao de uma narrativa apenas como o lugar fsico ondedecorre a aco. De facto, o espao pode tambm referir-se ao ambiente social e

    cultural onde se inserem as personagens. O espao fsico e geogrfico refere-se aolugar ou lugares onde decorre a aco. Pode definir-se como um espao aberto oufechado, interior ou exterior, pblico ou privado, etc. O espao social e cultural refere-se ao meio e situao econmica, cultural ou social das personagens. Atravs destetipo de espao podem ser definidos grupos sociais, conjuntos de valores e crenasdesses grupos, posio que ocupam na sociedade, referncia s tradies e costumesculturais, etc.

    N' Os Maias h que distinguir dois tipos de espao fsico: os espaos exteriores, queacompanham o percurso de Carlos ao longo da aco, e os espaos interiores quereflectem e acentuam determinadas caractersticas das personagens.

    Espaos exteriores

    Lisboa o espao privilegiadoao longo de todo o texto, as suas ruas, as suaspraas, os seus hotis, os seus locais de convvio, os seus teatros constituem-sequase como personagens ao longo do romance. Lisboa o local onde se centra avida social de Carlos e simboliza a decadncia da sociedade portuguesa dasegunda metade do sculo XIX.

    Coimbra o local dos estudos de Carlos o smbolo da bomia estudantil. Nesteambiente marcado pelo diletantismo vive as suas primeiras aventuras romnticas.

    Sintra um lugar idlico que representa a beleza paradisaca com a sua soberbapaisagem, lembrando o passado histrico e romntico. Este local de passeio daalta burguesia do sculo XIX tem vrias ligaes com as personagens. O Palcioda Vila, pela sua austeridade, pode ser comparado ao Ramalhete e,metaforicamente, a Afonso. O Palcio da Pena, solitrio no cume da serra, comoque perdido na paisagem romntica, liga-se figura de Pedro. O Palcio deSeteais, abandonado, remete para o Ramalhete j no final da obra, aps dez anosde abandono e a riqueza paisagstica de Sintra evoca Santa Olvia.

    Santa Olvia o solar da famlia Maia, em Resende, na margem esquerda dorio Douro e constitui um lugar mgico para onde esta famlia se desloca pararecuperar as foras perdidas. um espao rural, conotado positivamente, quesimboliza a fertilidade da terra por oposio a Lisboa, o local da degradaofamiliar.

    EstrangeironOs Maias, o estrangeiro, apesar de no ser descrito na obra,

    um recurso para resolver complicaes. em Inglaterra que Afonso da Maia seexila para fugir intolerncia miguelista. em Itlia e em Frana que Pedro da

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    Maia e Maria Monforte vivem o amor que Afonso da Maia no aceita. Depois doincesto, para Frana que parte Maria Eduarda, onde vai desposar um nobre. tambm em Frana, Paris, onde Carlos da Maia se refugia, depois de toda a suavida ter falhado.

    Espaos interiores

    Ramalhete era a residncia da famlia Maia, em Lisboa, situada na rua de SoFrancisco. So-nos descritas as salas de convvio e de lazer; o escritrio deAfonso que parece uma severa cmara de prelado; o quarto de Carlos maisparecido a um quarto de bailarina; e o jardim cheio de simbolismos. Ao longo daobra, o Ramalhete constitui um marco de referncia fundamental, o seu apogeu ea sua degradao acompanham o percurso da famlia.

    Consultrio situado em pleno Rossio indicia a dualidade intrnseca suapersonalidade. Por um lado, um homem do mundo por educao e vivncia e, poroutro lado, um homem de cincia por formao e ideal. A sua decorao revela a

    disperso e o diletantismo inerentes aos jovens da sua gerao. Apesar daausteridade, a presena de um piano e de fotografias de actrizes semi-nuas criamum ambiente de sensualidade e de divertimento pouco adequado aoapaziguamento do estado doloroso dos doentes.

    Tocaera o recanto idlico, nos Olivais, onde Maria Eduarda e Carlos partilharamas curtas juras de amor. Propriedade de Craft, arrendada por Carlos parapreservar a sua privacidade amorosa, representa, simbolicamente, o ninho deamor de Carlos e Maria Eduarda. A sua decorao extica, com mveis eporcelanas rabes e japonesas, deixa adivinhar o confronto de culturas erespectivos valores e a luxria dos amarelos e dourados remete para o gosto dassensaes fortes, moralmente proibidas, pressagiando o incesto.

    Vila Balzac situada algures na Graa, a casa e o retiro amoroso de Ega. A

    denominao literria que Ega d a este local reflecte a sua dualidade literria e asua personalidade contraditria, pois tal como o escritor francs realista Balzac,tambm Ega se divide entre o romantismo e o realismo. Este local, que tem comocor predominante o vermelho, denuncia a dimenso dissoluta da vida de Ega. Aausncia de decorao na sala remete para a faceta intelectual desta personagem

    Casa de Maria Eduardasituada na rua de So Francisco, propriedade da mede Cruges que amavelmente aluga o primeiro andar a Castro Gomes e a MariaEduarda. Para Carlos, a sala acolhedora, mas o quarto oferece-lhe sensaesdspares, pois aliado ao bom gosto e ao requinte de algumas peas, destacam-seduas que marcam a dissonncia: o manual de interpretao de sonhos e umaenorme caixa de p-de-arroz ornamentada como se fosse de uma cocote. Estesdois objectos pressagiam a dualidade de Maria Eduarda, ligam-se a Afrodite,deusa do amor e elemento perverso do ser feminino.

    Espao social

    A obra Os Maias um romance de espao social, porque nele desfilam uma galeriaimensa de personagens-tipo que ao tipificarem determinado grupo social caracterizama sociedade lisboeta oitocentista. A crnica de costumes remete para este tipo deespao que reflecte a dicotomia entre o ser e o parecer destas personagens que seapresentam em ambientes onde demonstram os seus comportamentos descritos luzda inteno satrica do autor

    Personagens-tipo classe social que representam:

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    antecedentes hereditrios: E ento Carlos Eduardo partira para uma longa viagempela Europa. Um ano passou. Chegara esse Outono de 1875: e o av, instalado enfimno Ramalhete, esperava por ele ansiosamente.Recuperava-se, portanto, aqui o presente da histria: Afonso da Maia e Carlosinstalados no Ramalhete, o centro onde todos os acontecimentos da trgica histria deamor se haveriam de repercutir.Toda esta analepse, que se desenvolve ao longo dos primeiros quatro captulos, nopretende explicar os antecedentes familiares de Maria Eduarda, mas apenas deCarlos. certamente por isso que se opera uma outra analepse (da pg. 506 515cap. XV) em que Maria Eduarda conta a Carlos pormenores da sua infncia, educaoe atribulaes pessoais. De notar que, enquanto na primeira longa analepse o pontode vista era do narrador omnisciente, aqui h focalizao interna em Maria Eduarda,que conta o que sabe, e s o que sabe, ficando portanto o mistrio, que ser reveladopor Guimares (o mistrio era necessrio para manter at ao clmaxo segredo dapaternidade de Maria Eduarda).H ainda outra analepse contida numa carta de Maria Monforte encontrada no clebrecofre trazido por Guimares, em cujo sobrescrito se lia: Pertence a minha filha Maria

    Eduarda, que acabava de esclarecer o mistrio da paternidade desta personagem eque Ega leu perante o espanto de Vilaa.O narrador omnisciente manteve-se margem destas revelaes feitas por MariaEduarda, para que no ultrapassem o conhecimento que ela tinha das suas origens,isto , para que no se revelasse o segredo da sua paternidade seno no momentoexacto de uma intriga com caractersticas de tragdia.

    c) Relao entre o Tempo da Histria e o Tempo do Discurso Aorelacionarmos o tempo da histria (tempo cronolgico) com o tempo da narrativa(tempo do discurso, verificamos que cerca de sessenta anos da vida dos Maias (tempoda histria) so narrados em menos de noventa pginas (tempo da narrativa), aopasso que pouco mais de um ano da vida de carlos (de 1875 at ao princpio de 1877

    tempo da histria) narrado em mais de seiscentos pginas (tempo da narrativa). Conclui-se, portanto, que no h correspondncia entre o tempo da histria e o tempoda narrativa. H, pois, ANISOCRONIAS no tratamento do tempo. A anisocronia maisevidente a desproporo entre os sessenta anos da vida dos Maias (tempo dahistria) e as cerca de noventa pginas que os cobrem (tempo do discurso). Htentativas de ISOCRONIAS mesmo na intriga introdutria, por exemplo no largoespao do discurso atribudo educao de Pedro, mas sobretudo na intriga principal,em que se atribui um largo espao do discurso (mais de seiscentas pginas) aosamores de Carlos e Maria Eduarda e aos episdios da vida romntica.Tanto as anisocronias como as isocronias so perspectivadas sob o ponto de vista donarrador omnisciente: ele que decide quais os tempos histricos que merecem maislonga cobertura pelo tempo narrativo, ou tempo do discurso.

    Como que o narrador consegue reduzir o tempo narrativo? De duas formas: peloSUMRIO ou resumo e pela ELIPSE. Isto , os acontecimentos ou so comprimidos(referidos de modo abreviado), como sucede, por exemplo, com a juventude deAfonso, ou so simplesmente suprimidos perodos da histria que est a ser narrada,como deixam entender expresses como estas: Mas esse ano passou, outros anospassaram (pg. 53); outros anos tranquilos passaram sobre Santa Olvia (p. 85).E como que o narrador consegue afrouxar a velocidade narrativa do discurso, isto ,como que consegue conferir ao tempo do discurso uma durao idntica dahistria, ou seja, como consegue a isocronia?As cenas dialogadas so um dos processos mais usados para retardar o ritmonarrativo, pois assemelham-se representao teatral, isto , autntica durao dosepisdios. Assim sucede em episdios como o jantar no Hotel Central, as corridas, osarau do Teatro da Trindade, etc., em que a descrio e o dilogo criam um ritmonarrativo que tende a respeitar o tempo da histria (isocronia).

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    Ao longo do romance so vrias as referncias a acontecimentos histricos quecontribuem para a construo do efeito do real, ou seja, induzem o leitor a aceitar quea histria d Os Maias to real quanto os acontecimentos referidos:

    (Afonso atirara) foguetes de lgrimas Constituio (...) - a Constituio de 1822.

    A Constituio de 1822 nasceu na sequncia da Revoluo Liberal de 1820 e umdos textos mais importantes e inovadores do constitucionalismo portugus. A leifundamental foi votada pelas Cortes Extraordinrias e Constituintes, reunidas em 1821e jurada pelo rei D. Joo VI. Apesar de muito bem elaborada, teve uma curtssimavigncia em dois momentos distintos: o primeiro vai de Setembro de 1822 a Junho de1823 (golpe de Estado denominado Vilafrancada) e o segundo inicia-se com aRevoluo de Setembro, entrando em vigor de Setembro de 1836 a Abril de 1838.

    In Infopdia

    E no meio desta festana, atravessada pelo sopro romntico da Regenerao, l sevia sempre, taciturno e encolhido, o pap Monforte (...) - a Regenerao de 1850.

    (Carlos) lia Proudhon, Augusto Comte, Herbert Spencer (...) - os filsofos daGerao de 70.

    Esse mundo de fadistas, de faias, parecia a Carlos merecer um estudo, umromance... Isto levou logo a falar-se do Assommoir, de Zola e do realismo (...) -LAssomoir, romance naturalista de Zola, publicado em 1873.

    Mas eu lhe digo, meu querido Ega, nas colnias todas as coisas belas, todas ascoisas grandes esto feitas. Libertaram-se j os escravos (...). - o fim da escravaturanas colnia portuguesas, decretado em 1869.

    sobretudo atravs do clima de desencanto, de desiluso generalizada, de constantecrtica ao poder e s instituies que a Histria aparece ao longo do romance,revelando-nos o Portugal decadente e descaracterizado dos finais do sculo XIX.

    d) O tempo psicolgicoO tempo psicolgico aquele que exprime a vivnciasubjectiva das personagens, na medida em que constitui a percepo que estas tmdo decorrer do tempo.O privilgio do ponto de vista de certas personagens, como Carlos e Ega, faz porvezes que o tempo seja como que filtrado pelas suas vivncias subjectivas: um anopode parecer uma eternidade e muitos anos, um momento. esse tempo psicolgicoque ressalta de expresses como estas: Como tudo passa! (Carlos); Carlosrecordava aquela tarde Como tudo isto era j vago e remoto!; Como tudo passara!(Ega recordando a alegre casa dos Olivais); curioso, s vivi dois anos nesta casa, e nela que me parece estar metida a minha existncia inteira! (Carlos ao visitar oRamalhete).A subjectividade do tempo, manifestada sobretudo por estas duas personagens,reflecte bem o amargo pessimismo que se instala sobretudo no final do romance,

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    naquela cena em que Carlos e Ega, ao visitarem o Ramalhete abandonado, sentemvivamente a nostalgia do tempo perdido: Como tudo passava!De notar que, no desenrolar da intriga central, enredada nos episdios de crticasocial, quase no se d conta da passagem do tempo. S quando o leitor se apercebedo envelhecimento das personagens (Afonso alquebrado, Carlos mais gordo, Egacareca) que se d conta da passagem do tempo.O tempo apresenta-se, assim, neste romance, como o smbolo do marasmo social, daestagnao, de uma sociedade esttica em que o presente apenas o repisar dopassado, sem perspectivas para o futuro.Como sntese, revejamos, neste esquema, a estrutura interna d Os Maias:

    INTRODUO: introduo da aco, histria do Ramalhete, retrato deAfonso.

    Tempo: Outono de 1875.Espao focado: Lisboa, o Ramalhete.

    ANALEPSE:

    a) Juventude de Afonso.Espao focado: Lisboa, Santa Olvia, Inglaterra.b) Infncia de Pedro

    Espao focado: Inglaterra, Itlia, Lisboa (sobretudo Benfica).c) Educao, amores e suicdio de Pedro

    Espao focado: Lisboa (Benfica e Arroios), Itlia, Frana.d) Infncia e educao de Carlos

    Espao focado: Santa Olvia.e) Juventude de Carlos em Coimbra

    Espao focado: Coimbra (Pao de Celas).f) Viagem de Carlos pela Europa aps a formatura

    Espao focado: Inglaterra, Esccia, Milo, etc.

    Tempo: toda esta analepse estende-se de 1820 at ao Outono de 1875.

    ACO CENTRAL: A vida de Carlos aps a viagem pela Europa, comespecial incidncia na sua trgica paixo amorosa.

    Espao focado: Lisboa, com especial incidncia sobre o Ramalhete e sobredeterminados ambientes, como o jantar no Hotel Central, as corridas decavalos, o episdio do jornal A Tarde, o sarau do Teatro da Trindade; Olivais,Sintra, etc.Tempo: do Outono de 1875 a fins de 1876.

    EPLOGO: os acontecimentos que se seguiram ao desvendar dosegredo, com destaque para o incesto consciente, morte de Afonso eseparao de Carlos e Maria Eduarda.

    Espao focado: Lisboa (sobretudo a baixa lisboeta do tempo do LargoCames Avenida da Liberdade), o Ramalhete, etc.Tempo: de 1877 a 1878 (viagem de Carlos e Ega; de 1878 a Janeiro de 1887(da fixao de Carlos em Paris at ao seu regresso e estada em Lisboa).

    4. Delimitao da aco

    Se considerarmos apenas a aco central (e intriga propriamente dita, que foca osamores Carlos/Maria Eduarda), trata-se de uma NARRATIVA FECHADA. Com efeito,as personagens morrem, ou fisicamente como Afonso, ou moralmente como Carlos e

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    5.1.3. Figurantes (tm a funo de ajudar a construir o ambiente, no tendointerveno na aco.)

    5.2.Concepo ( dada pela dimenso e complexidade psicolgica da personagem.)

    5.2.1. Planas - Personagens estticas, sem vida interior, sem densidade psicolgica,dado que no alteram o seu comportamento, nem evoluem psicologicamente;definidas de forma linear por um ou vrios traos que as acompanham ao longo daobra.

    5.2.2. Modeladas ou redondas - Personagens dinmicas e com densidadepsicolgica, cheias de vida interior, capazes de surpreenderem o leitor pelas suasatitudes e comportamentos.

    5.3. Caracterizao

    5.3.1. Processos de caracterizao

    a) Directa- Atravs dos elementos fornecidos pelo narrador.- Atravs das palavras da personagem e das outras personagens.- Com a descrio dos aspectos fsicos e psicolgicos.- As personagens revelam os seus problemas, as suas intenes ou as suasideias atravs de monlogos, de cartas, de canes, de sonhos...

    b) IndirectaA partir das atitudes, dos gestos, dos comportamentos e sentimentos dapersonagem ou a partir dos smbolos que a acompanham, o leitor forma assuas prprias opinies acerca das caractersticas fsicas ou psicolgicas dapersonagem.

    5.3.2. Nveis de caracterizao

    a) Fsico- Indicao de particularidades como altura, estatura, cor dos olhos

    - A caracterizao fsica geralmente feita de forma directa, mas o facto de apersonagem ser apresentada a carregar grandes pesos indica uma constituiofsica robusta, dando-nos, assim, uma caracterstica fsica de forma indirecta.

    b) Psicolgico- Indicao de particularidades como hbitos, sentimentos, temperamento,relacionamento com os outros- A caracterizao psicolgica feita de forma directa , normalmente, realizadaatravs de adjectivos como sensato, teimoso, obstinado, perspicaz, tolerante,agressivo- Quando realizada de forma indirecta, ao leitor que cabe a atribuio dasqualidades a uma personagem, deduzida atravs do seu comportamento eatitudes.

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    c) Social- Indicao de particularidades como profisso, estatuto econmico, nvelcultural- A caracterizao social feita de forma directa , normalmente, realizadaatravs de adjectivos como rico, pobre, culto, desfavorecido, desempregado- Quando realizada de forma indirecta o leitor que tem de inferir a qualidadeda personagem, tendo em conta, por exemplo, o local onde mora apersonagem, a roupa que veste

    (A roupa que a personagem veste pode dar indicaes de vrios nveis: roupa demarca muito cara pode revelar o meio social a que pertence; roupa amarrotada e queno combina pode indicar uma personagem desleixada, desmazelada.Uma expresso como olhos de um azul perspicaz indica, ao mesmo tempo, umaspecto fsico, a cor dos olhos, e um aspecto psicolgico, a perspiccia dapersonagem.)

    H n Os Maias duas espcies de caracterizao: a DIRECTA, feita sobretudo pelonarrador atravs do retrato mais ou menos pormenorizado, que aparece quandosurgem pela primeira vez em cena as personagens, e a INDIRECTA, dada pelaactuao das personagens e confirmando, no geral, a directa.Podemos dividir as personagens em dois grupos: personagens da comdia (cenas davida romntica) e personagens da tragdia (intriga central).As personagens da comdia, ou dos ambientes (episdios da crtica social) sopersonagens PLANAS, verdadeiros tipos sociais que encarnam os defeitos da poca.

    Personagens de ambiente

    Dmaso Salcede o tipo do novo-rico, sem personalidade, ridiculamente gorducho egabarola.Filho de um agiota, o representante do novo-riquismo e, da deformao moral.A cobardia, a vaidade, o egosmo, a arrogncia, a traio e falta de integridade moralso alguns dos seus defeitos.Obcecado pelo chique a valer, vive dividido entre a admirao bacoca por Carlos,que considera "um tipo supremo de chique", e os cimes e a inveja que asuperioridade do amigo e a sua relao com Maria Eduarda lhe provocam. o autor da carta annima a Castro Gomes e da pulhice da notcia no jornal Cornetado Diabo.Dmaso gabarola e considera-se um sedutor e quebra-coraes. A capacidade deseduo que julga ter contrasta com a sua aparncia fsica.Dmaso tenta imitar os comportamentos importados do estrangeiro, principalmente deFrana, por isso, emprega muitos galicismos (vocbulos de origem francesa) queacentuam a sua caricatura: chique, coup, soire, adresse.Ao tentar imitar e impressionar Carlos, provando que tambm chique, cometeexageros ao nvel da linguagem e ao nvel das atitudes, denunciando o desajusteentre o ser e o parecer de Dmaso. Este deseja provar que se sabe comportar comoum gentleman, no entanto, no consegue. provinciano e tacanho, com uma nicapreocupao na vida: o chique a valer.Dmaso, alm de personagem da crnica de costumes, tambm, como seu tioGuimares, personagem da intriga. Com efeito, era Dmaso que Carlos procurava no

    hipdromo para que lhe proporcionasse o encontro com Maria Eduarda e seriaGuimares, com o fatdico cofre, que provocaria o desenlace trgico.

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    Eusebiozinho surge logo de criana, educado sob as saias da me e das tias, comoanttese de Carlos, educado maneira inglesa. Como adulto o tipo do molengo,tristonho e corrupto. Ainda se casou, mas cedo perdeu a mulher, passando a vivertristemente afogado numa gravata de vivo.Personagem que tipifica o modelo educativo oposto ao de Carlos, e que d num adultomolengo e tristonho que procura, para se distrair, a sordidez dos bordeis. umafigura insignificante, vtima da educao romntica.

    Toms de Alencar - Poeta que representa o Ultra-Romantismo por oposio aoRealismo e ao Naturalismo, defendidos por Joo da Ega. Atravs desta personagem criticada a estagnao intelectual portuguesa, fechada s ideias novas que floresciamno estrangeiro e que se traduzia numa literatura sentimentalista e alheada darealidade, enraizada em valores tradicionais e obsoletos. Frequentador da casa dePedro da Maia e seu amigo, orientava as leituras de Maria Monforte. Alencar o autorde Vozes d Aurora, Elvira e Flor de Martrio. um crtico severo da Ideia

    Novssima, isto , do Naturalismo. Caracterizam-no a lealdade, a generosidade e asinceridade. uma autnticapersonagem-tipo que nos aparece logo caracterizado directamente apartir do seu retrato, ou melhor, da sua caricatura, tal o exagero dos traos (pg. 159),como o prottipo do poeta ultra-romntico. Esta caracterizao directa plenamenteconfirmada atravs da sua actuao, da sua linguagem declamatria, do seunacionalismo exacerbado, do seu apego ao que antigo, dos ttulos piegas dos seuslivros e dos seus ataques ao Realismo (essa literatura latrinria).Esta uma das personagens que nos aparece logo de incio completamentedesenhada. Atravs de todo o romance, nada de novo surge nesta personagem:sempre igual a si prprio, Alencar o tipo, ou melhor, a caricatura mais bemconseguida deste romance.

    Outros tipos representativos de classes aparecem ainda n Os Maias: Palma Cavaloe o Neves (jornalistas corruptos); Cohen (classe dos banqueiros); O Conde deGouvarinho (classe dos polticos), etc..

    Personagens tipo

    Para alm das personagens Alencar, Dmaso e Eusebiozinho, existem outras demenor relevo, mas tambm importantes para retratar a crnica de costumes, so aschamadas personagens-tipo (personagens que representam um grupo, uma classesocial ou uma profisso. Desta forma, so uma sntese dos defeitos e virtudes dessesgrupos). No so os elementos individualizantes destas que interessa conhecer, massim as suas caractersticas enquanto retrato de um determinado grupo e contextosocial especfico.

    GuimaresAntigo trabalhador do jornal Rappel. o tio de Dmaso que vive emParis, simpatizante do comunismo. o portador da declarao de Maria Monforte quevai provocar o reconhecimento e desencadear a catstrofe.

    Cruges Simboliza o msico idealista, que se distingue da mediocridade culturalnacional pelo verdadeiro amor arte. O seu objectivo compor uma pera que oimortalize, mas falta-lhe a motivao, devido ao meio social em que se insere.

    Neves Deputado e director do jornal A Tarde, representa o jornalista que procurainfluenciar politicamente os seus leitores.

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    Palma (Cavalo) Director do jornal Corneta do Diabo, representa o meiojornalstico decadente e corrupto de Lisboa. Encara o jornalismo como uma forma deganhar dinheiro, deixando-se, facilmente subornar. Representa o jornalismo barato,escandaloso e sem escrpulos.

    Steinbroken Ministro da Finlndia, grande conhecedor de vinhos e uma autoridadeno whist. Representa a impresso dos estrangeiros face complexidade nacional.No emite opinies e assume-se como observador um tanto confuso e distante dopanorama nacional. Este distanciamento transparece no seu discurso, ondepredominam as expresses lingusticas que se caracterizam pela ausncia de umsignificado concreto, como o caso da sua clere afirmao cest grave.

    Craft Amigo de Ega e de Carlos, herdou da sua cultura britnica a correco e arectido de carcter. rico e dedica o seu tempo a viajar e a coleccionar obras dearte. Verdadeiro gentleman, marcado pelo diletantismo e desocupao que o irovitimar.

    Personagem de pouca relevncia na aco, mas que surge como modelo do que deveser um homem, aspecto que Ea evidencia quando o apresenta como um gentlemande boa raa inglesa () cultivado e forte, de maneiras graves, de hbitos rijos,sentindo finalmente, pensando com rectido.

    Sousa Neto Oficial superior do Ministrio da Instruo Pblica, representa aineficcia e a mediocridade intelectual e cultural da Administrao Pblica. Amigo doconde de Gouvarinho, caracterizado pela sua ignorncia e falta de cultura.

    Os Vilaas (pai e filho) So os procuradores da famlia Maia e representam oburgus tpico e conservador, honesto e prudente. Apesar de empregados da casados Maia, foram sempre tratados com familiaridade. Aps a morte do pai, Manuel

    Vilaa assume a funo de procurador.

    Condessa de Gouvarinho Mulher ftil, sensual, provocante, adltera e vazia depreconceitos, com traos de romantismo; personifica a degradao moral daaristocracia lisboeta. Apaixona-se por Carlos, com quem tem uma curta relaoamorosa. Despreza o marido pela sua mediocridade e pela sua precria situaoeconmica.Simbolizas as mulheres que no encontram a felicidade no casamento e procuramfora dele outras emoes.

    Conde de Gouvarinho Ministro e par do Reino, representa a incompetncia polticae o Portugal velho e conservador.

    Mesquinho e medocre, utiliza um discurso empolgado e revela uma grandeincapacidade para a anlise poltica.Apesar de ocupar altos cargos, revela-se desconhecedor dos mais elementaresassuntos. o representante da alta poltica, do poder institudo. um polticoincompetente.

    Jacob Cohen Director do Banco Nacional, o representante da alta finananacional. No hesita em aproveitar a situao econmica do pas em proveito prprio., por isso, um banqueiro de duvidosa competncia. de tal forma vaidoso e obtusoque nem se apercebe da relao entre a sua mulher e Ega. Simboliza a burguesia quese encontra em lugares de poder, sem possuir a inteligncia e flexibilidade mentalnecessrias para analisar o mundo que o rodeia.

    Raquel Cohen uma mulher provocante, divinamente bela, leviana e adltera.

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    Esta amante de Ega simboliza as mulheres portuguesas, com uma educaoromntica e um casamento pouco atraente, que procuram no adultrio uma forma dedar emoo s suas vidas.

    Estrutura actancial

    As personagens da intriga trgica, embora algumas delas possam potencialmente seralgo MODELADAS, como Carlos e Ega, dotados de uma certa profundidadepsicolgica revelada pelas suas frequentes atitudes inesperadas, a verdade que oautor no se preocupou em explorar, pela introspeco, o ntimo dramtico denenhuma delas. Assim, poderia explorar o drama ntimo de Pedro ao ver-seabandonado por sua mulher, mas prefere pr-lhe fim ao conflito interior pelo suicdio;poderia desenvolver o drama interior de Carlos e Maria Eduarda ao saberem-seirmos, mas prefere faz-los ir para o estrangeiro; poderia investigar o drama ntimode Afonso (alis, uma personagem potencialmente modelada), aps ter conhecimento

    das relaes incestuosas de seu neto e neta, mas f-lo morrer imediatamente.Conclui-se, portanto, que mesmo as personagens da intriga trgica so dotadas de umcerto esquematismo que as priva de profundidade psicolgica - so, pois,personagens PLANAS.Vejamos agora o papel de cada uma das personagens principais da intriga central,investigando a estrutura actancial d' Os Maias:

    Sujeito - Carlos da MaiaObjecto - Maria EduardaDestinador - Guimares

    Destinatrios - Carlos da Maia, Maria Eduarda e Afonso da MaiaOponente - Afonso da MaiaAdjuvante - Joo da Ega

    Todas estas personagens, com excepo de Afonso da Maia e, de certo modo, MariaEduarda, alm de serem personagens da intriga trgica, so tambm participantes nascenas da vida romntica. Afonso da Maia a nica personagem que no acaba por sedissolver na comdia da vida. Para o conservar na mesma dignidade com que oconduziu ao longo da intriga, o autor preferiu dar-lhe a morte. Carlos e Ega surgem, nofim do romance, ao mesmo tempo crticos e criticados. clara a intromisso de Egano ambiente ridculo da comdia, quando foi escorraado de casa do senhor Cohenpor causa das relaes adlteras com Raquel Cohen. J Carlos foi preservado porEa, ao longo de toda a intriga trgica, de cair no ridculo. Nos dois primeiros casos derelaes de amor bomio, foi Carlos que lhes ps fim por razes humanitrias (casoda mulher do empregado do Governo Civil), ou por uma questo de honra (caso daespanhola Encarnacion). Enquanto Ega foi escorraado da casa dos Cohen, Carlos foiele que resolveu cortar as relaes com a condessa de Gouvarinho. Enquanto fossepersonagem de tragdia, Carlos teria de conservar pelo menos uma certa dignidade.S no ltimo captulo, depois do desfecho da intriga trgica que Carlos se dissolvetambm claramente na comdia da vida (veja-se a sua corrida para apanhar oamericano a fim de chegar a tempo a um jantar, ele e o Ega, ao mesmo tempo que

    assentavam que no valia a pena correr para nada...

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    (...) lembrava, como dizia Carlos, um varo esforado das idades hericas, um D.Duarte de Meneses ou um Afonso de Albuquerque." - Homem de carcter

    "No, no era Meneses, nem Albuquerque, apenas um antepassado bonacheiro queamava os seus livros, o conchego da sua poltrona, o seu whist ao canto do fogo." -Culto e requintado nos gostos

    "Parte do seu rendimento ia-se-lhe por entre os dedos, esparsamente, numa caridadeenternecida." Generoso

    Esta existncia nem sempre assim correra com a tranquilidade larga e clara dum belo rio devero. O antepassado, cujos olhos se enchiam agora duma luz de ternura diante das suasrosas, e que ao canto do lume relia com gosto o seu Guisot, fora, na opinio de seu pai, algumtempo, o mais feroz Jacobino de Portugal! E todavia, o furor revolucionrio do pobre mooconsistira em ler Rousseau, Volney, Helvetius, e a Enciclopdia; em atirar foguetes de lgrimas Constituio; e ir, de chapu liberal e alta gravata azul, recitando pelas lojas manicasOdes abominveis ao Supremo Arquitecto do Universo. Isto, porm, bastara para indignar opai. Caetano da Maia era um portugus antigo e fiel que se benzia ao nome de Robespierre, e

    que, na sua apatia de fidalgo beato e doente, tinha s um sentimento vivo - o horror, o dio aoJacobino, a quem atribua todos os males, os da ptria e os seus, desde a perda das colniasat s crises da sua gota. Para extirpar da nao o Jacobino, dera ele o seu amor ao Sr.infante D. Miguel, Messias forte e Restaurador providencial... E ter justamente por filho umJacobino, parecia-lhe uma provao comparvel s s de Job!

    Cap. I

    Neste excerto bem visvel o contraste que existe entre Afonso da Maia,representante do liberalismo, e seu pai, Caetano da Maia, um conservador e religioso,representante do absolutismo.

    Afonso da Maia Caetano da Maia

    Valores Valores liberais Valores tradicionais e conservadores

    Leituras Guizot, Rousseau, Volney,

    Helvcio

    Preferncias polticas Liberalismo

    Antijacobino

    Miguelista convicto

    Pedro da Maia

    Lendo com ateno o retrato de Pedro (pg. 20), verificamos que se trata de umretrato pormenorizado, maneira naturalista, em que ressaltam os elementospsicossomticos (pequenino e nervoso, ablico, passivo, instvel), a hereditariedade(mais ligado aos Runas do que aos Maias), o meio ou ambiente, primeiro dereligiosidade piegas e depois de romantismo torpe.Segundo a lgica do Naturalismo, tal constituio, tal educao e tal ambiente

    levariam seguramente a um casamento de amor primeira vista, falhado, e aosuicdio.

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    Personagem que reflecte uma grande instabilidade emocional, fruto da hereditariedadee que a educao no corrigiu. Alia a valentia fsica cobardia moral, facto confirmadocom a reaco do suicdio face fuga da mulher.

    Hereditariamente, o retrato de Pedro da Maia assemelha-se ao ramo familiar dosRunas.

    "Somente Afonso sentia que sua mulher no era feliz. Pensativa e triste, tossia sempre pelassalas. noite sentava-se ao fogo, suspirava e ficava calada... Pobre senhora! A nostalgia doPas, da parentela, das igrejas, ia-a minando. Verdadeira lisboeta, pequenina e trigueira, semse queixar e sorrindo palidamente, tinha vivido desde que chegara num dio surdo quela terrade hereges e ao seu idioma brbaro: sempre arrepiada, abafada em peles, olhando com pavoros cus fuscos ou a neve nas rvores, o seu corao no estivera nunca ali, mas longe, emLisboa, nos adros, nos bairros batidos do sol. A sua devoo (a devoo dos Runas!) sempregrande, exaltara-se, exacerbara-se quela hostilidade ambiente que ela sentia em redor contraos papistas. E s se satisfazia noite, indo refugiar-se no sto com as criadas portuguesas,

    para rezar o tero agachada numa esteira gozando ali, nesse murmrio de ave-marias empas protestante, o encanto de uma conjurao catlica!"

    Os Maias, captulo I

    Pedro da Maia o melhor exemplo da caracterizao imposta pelo romanceexperimental naturalista que assenta na tese de que o ser humano o produto dosfactores naturalistas que o condicionam. Assim, a hereditariedade, o meio em quevive e a sua educao que justificam as suas opes de vida: um casamento instvele falhado e, por fim, o suicdio.

    HereditariedadeRepara nas expresses que caracterizam Pedro da Maia, associadas aos recursosexpressivos que acentuam a sua debilidade fsica e moral:

    " (...) todo o seu ser resolvia-se a espaos em crises de melancolia negra (...) " -Adjectivo que sublinha o carcter negativo das suas crises de melancolia.

    (...) tendo pouco da raa, da fora dos Maias (...)" - Quantificador que sugere oafastamento do ramo familiar dos Maias.

    (...) dois olhos maravilhosos e irresistveis (...) " - Dupla adjectivao que remete paraa subjectividade do seu olhar.

    " (...) dois olhos (...) prontos sempre a humedecer-se, faziam-no assemelhar a um belorabe." - Comparao que sugere a tristeza de Pedro.

    (...) sem curiosidades (...) " - Preposio que designa a sua abulia (falta de vontade). (...) mudo, murcho, amarelo (...) " - Tripla adjectivao que acentua a sua fragilidadee debilidade fsica e mental.

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    Caracterizao de Maria Monforte:Testa: curta e clssica;Olhos:maravilhosos iluminavam-na toda;Cabelos:cabelos loiros, dum oiro fulvo, ondeavam de leve;Pele: mais plida a carnao de mrmore;Temperamento: perfil grave de esttua;O amado v-a como: alguma coisa de imortal e superior terra.

    A caracterizao de Maria Monforte sugere uma beleza renascentista quecorrespondia representao de uma mulher de olhos claros e luminosos, de longos eondulados cabelos de oiro, de pele branca e delicada, de um temperamento sereno ede uma beleza celestial perfeita que a tornavam objecto de contemplao espiritual.

    Recursos expressivos de que se serve o narrador para caracterizar MariaMonforte:- a comparao que sugere a sua idealizao;- a dupla adjectivao que qualifica uma parte de seu rosto e explicita a sua belezarenascentista;- o adjectivo no grau comparativo de superioridade que sublinha a brancura da suapele;- o adjectivo abstracto que qualifica os seus olhos e remete para o carcter celestial eangelical da sua beleza;- o diminutivo que remete para a sua feminilidade.

    Jogo de contrastes de que Ea se serve para realar a beleza renascentista deMaria MonforteO jogo de contrastes conseguido a partir docarcter cromticoda linguagem deEa,isto , o modo como explora as cores:

    - o doirado dos cabelos de Maria Monforte realado ao contrastar com a cor pretado chapu que usa.- a brancura da pele de Monforte realada ao contrastar com a "face tisnada deseu pai.- a diferena entre as personagens descritas nesta passagem conseguida a partir docontraste entre o branco do chapu do pai que reala a sua pele morena e o preto dochapu de Maria Monforte que reala a sua tez branca.

    Maria Monforte uma mulher sensual, intil, egosta, excessiva, leitora de novelas queapelavam ao mundo da paixo e fantasia. Revela-se leviana e amoral, e nela queradicam todas as desgraas da famlia Maia.

    Maria Eduarda

    No captulo XV, pg. 508, em analepse, caracterizada Maria Eduarda (ela prpriafala da sua infncia, do ambiente em que vivia, para se justificar perante Carlos). Ainsistncia sobre a infncia e a juventude, idades em que se forjam as personalidades,e sobre a influncia do meio um elemento que torna esta caracterizao (directa)prpria do romancenaturalista. Mas, o facto de o narrador apenas referir, em discursoindirecto, as palavras de Maria Eduarda, que, autocaracterizando-se, serforosamente subjectiva, afasta esta caracterizao dos moldes do rigor cientficonaturalista. De qualquer modo, esse relato da sua vida passada mais umaexplicao das suas relaes amorosas anteriores de Carlos do que a explicaodos seus amores trgicos com Carlos.

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    Eduarda est vigente uma das preocupaes da esttica naturalista: a influnciaperniciosa do meio, uma vez que Maria Eduarda quase que responsabiliza osambientes em que viveu e a companhia da me para explicar a sua vida dispersiva evivida ao sabor de amizades de circunstncia. Do ponto de vista estrutural, estaautocaracterizao de Maria Eduarda constitui uma ruptura face s normas donaturalismo. Por um lado, as premissas que explicam o comportamento dapersonagem surgem depois de ele se ter consumado e, por outro lado, no onarrador a revelar o passado de Maria Eduarda, mas sim a prpria personagem

    EgaAmigo inseparvel de Carlos da Maia, caracteriza-se por ser um irreverente,excntrico, revolucionrio, bomio, exagerado, provocador, sarcstico, crtico,anarquista e satnico. partidrio do Naturalismo e ope-se ao poeta, ultra-romntico,Alencar. o alter-ego de Ea que, ao