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Principais Resultados do Estudo da Cadeia Produtiva do Mel de Abelhas do Estado do Piaui: Pesquisa Socioeconomic a o desenvolvimento da apicultura no Estado do Piaui represent a uma altemativa de gran- de importancia socio-economica diante da crise agricola atual. Milhares de familias esUio dire- ta e indiretamente envolvidas na prodw;;ao e no processamento dos produtos apicolas, princi- palmente do mel de abelhas. A importancia mencionada provocou a necessidade do desenvol- vimento de estudo mais amplo que permitisse uma compreensao totalizadora dos entraves que tem limitado 0 desenvolvimento deste agronegocio no estado. 0 trabalho objetiva apresentar 0 resultado do estudo da cadeia produtiva do mel do Piaui, atraves de analise dos gargalos iden- tificados entre os elos constituintes desta cadeia. A pesquisa foi realizada atraves da aplicacrao de questionarios e realizacrao de entrevistas junto aos principais agentes produtivos, prestadores de servicros, englobando desde 0 produtor ate 0 consumidor. A principal recomendacrao aponta para a necessidade de criacrao de um Forum comum de debates entre os atores sociais (publi- cos e privados), no intuito de estabelecer uma parceria socio-politica entre os agentes produti- vos que permita otimizar os beneficios gerados ao longo da cadeia. Palavras-chave: Abelha, Apicultura, Cadeia produtiva, Desenvolvimento Rural, Mel de Abelha. The development of the beekeeping in the State of Piaui represents an alternative of great socio-economical importance before the current agricultural crisis. Thousands of families are direct and indirectly involved in the production and processing of the beekeeping products, mainly honey. The mentioned importance originated the need of the development of a wider study allowing a global understanding of the fators limiting the development of this agribusiness in the state. This work aimed to present the result of a study on the honey bee productive chain, in the state of Piaui, analysising the identified hindrance factors among the links of this chain. The research enclosed questionnaires application and interviews to the main producti ve agents and other related people, covering the whole chain, from the producer to the consumer. The main research conclusion points out the need for creating a common Forum for discussion among the social actors (both public and private), with the objective of establishing a socio- political partnership among the productive agents, allowing the optimization of the benefits generated along the chain. Word-key: Bee, Beekeeping, Productive chain, Rural Development, Honey Bee. I Eng. Agr6nomo, Ph. D. Ciencias Sociais, Pesquisador da EMBRAPA Meio Norte. Caixa Postal 01, CEP: 64.001-970, Teresina - PI. E-Mail: [email protected]

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  • Principais Resultados do Estudo da Cadeia Produtiva do Mel de Abelhasdo Estado do Piaui: Pesquisa Socioeconomic a

    o desenvolvimento da apicultura no Estado do Piaui represent a uma altemativa de gran-de importancia socio-economica diante da crise agricola atual. Milhares de familias esUio dire-ta e indiretamente envolvidas na prodw;;ao e no processamento dos produtos apicolas, princi-palmente do mel de abelhas. A importancia mencionada provocou a necessidade do desenvol-vimento de estudo mais amplo que permitisse uma compreensao totalizadora dos entraves quetem limitado 0 desenvolvimento deste agronegocio no estado. 0 trabalho objetiva apresentar 0resultado do estudo da cadeia produtiva do mel do Piaui, atraves de analise dos gargalos iden-tificados entre os elos constituintes desta cadeia. A pesquisa foi realizada atraves da aplicacraode questionarios e realizacrao de entrevistas junto aos principais agentes produtivos, prestadoresde servicros, englobando desde 0 produtor ate 0 consumidor. A principal recomendacrao apontapara a necessidade de criacrao de um Forum comum de debates entre os atores sociais (publi-cos e privados), no intuito de estabelecer uma parceria socio-politica entre os agentes produti-vos que permita otimizar os beneficios gerados ao longo da cadeia.

    Palavras-chave: Abelha, Apicultura, Cadeia produtiva, Desenvolvimento Rural, Melde Abelha.

    The development of the beekeeping in the State of Piaui represents an alternative ofgreat socio-economical importance before the current agricultural crisis. Thousands of familiesare direct and indirectly involved in the production and processing of the beekeeping products,mainly honey. The mentioned importance originated the need of the development of a widerstudy allowing a global understanding of the fators limiting the development of this agribusinessin the state. This work aimed to present the result of a study on the honey bee productive chain,in the state of Piaui, analysising the identified hindrance factors among the links of this chain.The research enclosed questionnaires application and interviews to the main producti ve agentsand other related people, covering the whole chain, from the producer to the consumer. Themain research conclusion points out the need for creating a common Forum for discussionamong the social actors (both public and private), with the objective of establishing a socio-political partnership among the productive agents, allowing the optimization of the benefitsgenerated along the chain.

    Word-key: Bee, Beekeeping, Productive chain, Rural Development, Honey Bee.

    I Eng. Agr6nomo, Ph. D. Ciencias Sociais, Pesquisador da EMBRAPA Meio Norte. Caixa Postal 01, CEP:64.001-970, Teresina - PI. E-Mail: [email protected]

  • No inicio da decada de 70, come
  • ;.--. " .. '. -.MercadoInlerno

    EnlidadeRepresenlanledo Apicullores

    A partir cia metade da decada de 90,aumentaram os niveis de exigencia das insti-tui

  • destinados no Piau! (R$ 26.000.000,00, ate ju-nho de 1998) tern dinamizado significativamen-te 0 numero de investimentos ou emprestimossolicitados.

    Quanto a relar;iio do agellte fillallcei-ro com os projetistas, esta tern sido marcadanao s6 pela ausencia de urn cadastramentodos profissionais habilitados a elaborar proje-tos na area, mas tambem por uma analise pou-co criteriosa dos projetos submetidos ao ban-co. Isso tern levado, a urn superdimen-sionamento dos projetos, provocando, em con-sequencia, a inviabilidade de muitos empre-endimentos. A pesquisa constatou que a gran-de maioria dos projetos, mesmo ap6s a ela-bora

  • A relal;uo entre a apicultura e a pes-quisa agricola no Brasil e de pouca aproxi-mar;ao, quando comparada a outras ativida-des agricolas. No Piaui, essa relar;iio e aindarecente. Em 1999,0 CNPq aprovou 0 segun-do projeto de pesquisa, da Embrapa Meio-Norte. Este visava estudar a cadeia produtivado mel no Estado do Piaui. Os resultados temservido de base para a definir;ao de novos pro-jetos. Outra iniciativa, ainda mais recente, ma-terializa-se na proposir;ao da criar;iio de umNucleo de Referencia Nacional em Pesquisado Agronegocio Apicola. Essa iniciativaviabilizani uma significativa infra-estmtura fi-sica e de recursos humanos (pesquisadoresespecialistas em apicultura) a ser criada, naEmbrapa Meio-Norte, 0 que dinamizani, sig-nificativamente, as atividades de pesquisa, niioso no Estado, mas tambem na regiiio Nordes-te e, mesmo, no Brasi!.

    A relal;uo entre a pesquisa agricolae a assist en cia tecnica tambem tem se ca-racterizado por uma baixa aproxima

  • mento. 0 fato de a atividade apicola no Brasilso tel' sido, muito recentemente, reconhecidacomo atividade economica, provocou umacerta corrida em busca da regulamenta
  • A relac;ao entre as entidades coo-perativas dos apicultores e as industriasde beneficiamento tem sido marcada portensoes, posta que as duas institui90es se tra-tam como detentoras de interesses opostos.Por um lado, as cooperativas e associa90esbuscam pre90s compensadores para 0 produ-to dos apicultores. Por outro, as industrias ado-tam estrategias de deprecia9ao do pre90 domel adquirido por perceberem, nas cooperati-vas e associa90es, uma fnigH estruturaorganizacional para a comercializa9ao.

    Esse quadro suscita, mais uma vez, anecessidade do estabelecimento de uma rela-9ao de parceria entre estas institui90es, a fimde que se ganhem condi90es de lueratividademaior para os dois elos da eadeia produtiva.Estas condi90es se apresentam, basicamente,na transferencia de lucratividade do processode intermedia9ao, que podeni ter sua inter-ven9ao. reduzida a partir do momento em quea parceria industria - entidades forestabelecida.

    Tendo exemplo como maioria das ativi-dades economic as de origem agricola, na api-eultura do Piaui, a maior parte da renda gera-da ao longo da cadeia produtiva tem tambemsido retida nos elos da distribui9ao e logistica.Na pnitica, urnnumero significativo de ata-cadistas ou "corretores" de mel, maisconhecidos como intermediarios, vemimplementando uma politica agressiva decompra direta ao apicultor. No entanto, 0pre90 pago pelos "corretores" aos apicultorese sempre muito baixo em rela9ao as condi-90es do mercado. Essa pnitica gera uma situ-a9ao paradoxalmente dificil para os apiculto-res em rela9ao a viabiliza9ao do negocio.

    Com uma eficiente infra-estmtura delogistica e distribui9ao, esses intermediariosrepassam 0 mel para industrias debeneficiamento das regioes SuI e Centro-SuIdo pais que, apos envaza-Io, distribuem-nopara os pontos de comercializa9ao em todo 0

    pais, inclusive, em alguns casos, para 0 pro-prio Estado do Piaui. Assim, pelo meeanismode deprecia9ao do pre90 pago ao produtor,viabiliza-se 0 processo de reten9ao da rendagerada; ao longo da cadeia produtiva, noeloda distribui9ao e da logistica. A pesquisa de-tectou casos em que 0 mel, vendido pelo api-euItor a R$ 1,00, chegava as gondolas dos su-permercados ou as prateleiras das farmaciasa R$ 10,00, um incremento de 1.000% no va-lor pago ao produtor.

    Observa-se, entao, de forma bastanteevidente, uma danosa falta de estrutura decomercializa9ao por parte dos apicultores,traduzida no desconheeimento das caracteris-tieas dos mercados, na ausencia de uma poli-tica de marketing, na inexistencia de capitalde giro tanto dos apicultores quanto das enti-dades associativas, na falta de organiza9aoestrategiea de uma eseala de produ9ao, nodespreparo tecnico e financeiro dos produto-res para agregar valor ao produto "dentro dasua propria porteira" e no desaeompanhamentoda conjuntura mercadologica.

    Na relac;ao atacadista-industria debeneficiamento, aquele, na maioria dos ca-sos, cumpre 0 papel de fomecedor de mate-ria-prima para esta. No campo, encontra-se,basicamente, dois tipos de atacadistas. Um eo atacadista de fato, constituido, ou seja, aqueleque possui seu proprio capital e obtem resul-tados financeiros no processo deintermedia9ao propriamente dito. Ele comprao mel diretamente do apicultor, sempre a pre-90S inferiores aos de mercado e 0 revende aindustria de beneficiamento, agregando 0 di-ferencial de pre90 necessario para reproduzir,de forma ampliada, 0 que foi inicialmente in-vestido. 0 outro tipo nao chega a ser, de fato,um atacadista, mas sim um comprador de mel,a servi90 de uma industria determinada, ins-taurando-se, quase sempre, uma rela9ao tra-balhista entre os dois agentes. Esse atacadis-ta e eontratado pela industria, principalmente

  • as que se localizam nos est ados do Sui e Su-deste do Brasil, para localizar os apicultoresque dispoem de mel e necessitam da vendapara cumprir compromissos imediatos. Nes-tes casos, 0 capital necessario ao pagamentodos apicultores e fornecido pela industria debeneficiamento. Este tipo de intermediario naose beneficia da intermedia~ao, ainda que sem-pre se apresente como detentor de recursosproprios para a realiza~ao do negocio.

    As conseqliencias provocadas pelosdois tipos de intennediarios, no que se refereaos apicultores, foram analisadas quando setratou da rela~ao entre os apicultores e os ata-cadistas. No que tange it indLlstria debeneficiamento, 0 primeiro tipo - 0 atacadistapropriamente dito - gera conseqliencias ne-gativas para ela, a partir do momenta que eagregado ao valor do produto um diferencialde pre~o, relativo ao custo do capital investi-do, acrescido do lucro que este ator, constitu-inte da cadeia produtiva, realiza. Ja 0 segundotipo gera conseqliencias positivas para ela apartir do momento que elimina a figura do ver-dadeiro atacadista. Ao mesmo tempo, esteprocesso promove a transferencia da renda,que ficaria retida no elo da inteI111edia~ao,paraa propria industria. Significa dizer que a in-dustria obtem os lucros decorrentes do pro-cesso de agrega~ao de valor ao produto aposseu beneficiamento, somados aos lucros obti-dos no proprio processo de intermedia~ao dacompra da materia-prima.

    A rela~iio entre 0 consumidor e 0comercio varejista e marcada por um nivelimportante de desinforma~ao. A pesquisa ob-servou que um percentual de 35%, dos 115consumidores entrevistados, informou queconsome mel como apiterapico (remedio),basicamente influenciados por cren~as, repas-sadas por seus antepassados ou por propa-gandas das proprias industrias beneficiadorasde mel misturado com extratos de propolis e

    de plantas "medicinais", como aroma, 0 alho,o agriao, 0 limao, a acerola, entre outros.

    o nLlmero dos consumidores que con-somem mel como alimento foi de 36%. Estedado indica 11mcrescimento importante nestacategoria de consumidores. Dos entrevistados,14% consomem mel para fins terapeuticos ealimenticios, ao mesmo tempo. Somado esteindice ao dos que 0 consomem apenas comfins terapeuticos (35%), totaliza 49% dos queo fazem com esta ultima finalidade. Do res-tante, apenas 1% consome 0 produto comocosmetico. Os outros 14% responderam quenao consomem mel de nenhuma maneira.

    Algumas proje~oes mostram que 0 po-tencial de aumento do consumo de mel noBrasil e ainda muito grande. Conforme Silva(1996), e consumido no pais, aproximadamen-te, e em media, apenas 200g. de mel por pes-soa por ano, enquanto no Canada, EstadosUnidos e Australia a media e de cerca de 850g.por pessoa par ano.

    No comercio varejista, predomina avenda de mel direto do apicultor, op~ao esco-Ihida por 58 % dos entrevistados que dec1ara-ram consumir me!' Ja 19% responderam queo compram em supermercados, 9% no comer-cio especializado, 5% em farmacias e 9% emestabelecimentos variados. Faz parte, tambem,do circuito de comercializa~ao, 0 mercado in-formal (ambulantes), apontado por 25% dosentrevistados.

    o comercio informal ainda ocupa umespa~o relativamente importante nacomercializa~ao do mel. A pesquisa identifi-cou que existe, da parte de alguns consumido-res, uma imagem de que 0 mel legitimo (semadultera~ao) e 0 vendido pelo proprio apicul-tor, em garrafas de vidro de um litro, sem ro-tulo e com tampa improvisada, feita de sabugode milho ou outro material similar. A ideia deque 0 me! que passa por um processo indus-trial de envase nem sempre e de melhor qua-lidade, representa a opiniao de 25% dos con-

  • sumidores entrevistados que preferem com-pra-Io dos vendedores ambulantes. A pesqui-sa identificou que 57% dos entrevistados naosabem diferenciar 0 mel centrifugado do es-premido. No entanto, este canal decomercializa9ao nao atende as exigencias ba-sicas da legisla9ao, como adequa9ao da em-balagem, existencia de ratulo, carimbo do SIF,cadigo de barras, data de fabrica9ao e valida-de, entre outras. Intluenciam este processo 0pre90 mais acessivel do produto e 0 des co-nhecimento dos atributos de qualidade a eleinerentes, 0 que significa, por sua vez, a igno-rancia dos riscos a satide, evidenciados na faltade condi90es de higiene durante 0 processode envase do mel.

    No Estado do Piaui, 0 mercado exter-no internacional ainda e significativamentedesconhecido pel a maioria dos apicultores esuas institui90es. Nao foi encontrado, pelapesquisa, nenhum apicultor ou entidade apicolaque tivesse passado por alguma experienciade exporta9ao de mel. Este mercado se mos-tra complexo e relativamente dominado poralgumas empresas de importa9ao e exporta-

  • gias centrais no conjunto das politicas que vi-sam a competitividade da apicultura piauiense.Com efeito, a redw;:8.odos custos de produ-
  • renciados obtidos pelo produto e a sua cres-cente demanda.

    A apicultura piauiense assume grandeimportiincia socioeconomica, pois milhares defamilias estiio direta e indiretamente envolvi-das na produqiio e processamento dos produ-tos apicolas. Por ser uma atividade com ca-racteristicas proprias de agricultores familia-res, com rentabilidade superior a maioria dasatividades agropecmirias exercidas pOl' eles,vem cumprindo papel importante na fixaqiiodos homens e mulheres no meio rural. Essesgrupos estiio conseguindo estabelecer novasrelaqoes com 0 mundo extralocal, a partir dasuperaqiio da sua historica condiqiio de pro-dutores de produtos predominantemente des-tinados ao autoconsumo.

    Para 0 caso do Nordeste, este fenome-no se apresenta como um dos mais fecundosobjetos de pesquisa para os proximos anos,tendo em vista as possibilidades de ampliaqiiode oportunidades de geraqao de ocupaqiio ede renda, a partir da inserqiio de algumas are-as da regiiio, como eo caso do Estado do Piaui,no mercado global das chamadas "especiali-dades", a partir de nichos de mercado de altovalor agregado.

    o conhecimento dos principais garga-los que limitam 0 desenvolvimento desta ativi-dade permite as instituiqoes pllblicas e priva-das desenvolverem estrategias cooperativasque busquem enfrentar 0 conjunto desses en-traves e viabilizar melhores resultados para 0conjunto dos agentes economicos componen-tes da cadeia produtiva. Neste sentido, estequadro requer a criaqiio de um Forum de dis-cussiio, constituido pelos diversos atores soci-ais, que desenvolva aq6es no sentido de har-monizar, na medida do possivel, os diferentese, muitas vezes, cont1itantes interesses dos

    agentes economlCOS referidos. Trata-se deuma abordagem totalizante da cadeia produti-va, que considera a possibilidade de realiza-qao de uma parceria sociopo1itica capaz deproporcionar beneficios para todos, atraves dagovernanqa dos interesses contlitantes.

    GOODMAN, D.; WATTS, M. Reconfiguringthe rural or fording the divide':: capitalistreestructuring and the global agro-foodsystem. The Journal of Peasant Studies,v. 22, n, 1, p. 1-49, Oct. 1994.

    SILVA,E. Cadeia produtiva: produtos apicolas.Pindamonhangaba: Secretaria de Agricul-tura e Abastecimento de Siio Paulo, 1996.17 p.

    SILVANDER, B. Conventions de qualite,concurrence et cooperation: cas du "labelrouge" dans la filiere volailles. In:ALLAIRE, G.; BOYER, R. La grandetransformation de l'agriculture. Paris:Economica, 1995. p. 73-96.