53 | o jovem | dezembro de 2012

22
o jovem o jovem Entrevista | É justo dizer que o protagonismo do Vice-Presidente da bancada do CDS na AR triplicou no último ano. Sabe porquê. [p.10] João Almeida Dossier | Tudo sobre “O Sistema Fiscal” – 2ª Parte, por Miguel Ribeiro. [p.6] Convidado | Rafael Borges, militante da JP Alcobaça, assina o espaço desta edição. [p.8] Opinião | Navega pelos vários textos assinados pelos militantes da Maia. [p.4 - 21] Jornal Oficial da Juventude Popular da Maia 53 | Dez 2012 | Ano XXVI www.jpmaia.com

Upload: juventude-popular-da-maia-jp-maia

Post on 20-Mar-2016

215 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Edição nº 53 d'O Jovem.

TRANSCRIPT

o jovem o jovem

Entrevista | É justo dizer que o

protagonismo do Vice-Presidente

da bancada do CDS na AR triplicou

no último ano. Sabe porquê. [p.10]

João Almeida

Dossier | Tudo sobre “O Sistema

Fiscal” – 2ª Parte, por Miguel

Ribeiro. [p.6]

Convidado | Rafael Borges,

militante da JP Alcobaça, assina

o espaço desta edição. [p.8]

Opinião | Navega pelos vários

textos assinados pelos

militantes da Maia. [p.4 - 21]

Jornal Oficial da Juventude Popular da Maia

53 | Dez 2012 | Ano XXVI www.jpmaia.com

2 | dezembro 2012 o jovem

ficha técnica

Propriedade: Comissão Política Concelhia da Juventude Popular da Maia | Edição: Manuel Oliveira | Colunistas desta edição: João Ribeirinho Soares, Manuel Oliveira, Hugo Silva, Miguel Ribeiro | Entrevistado desta edição: João Pinho de Almeida | Convidado especial desta edição: Rafael Borges | www.jpmaia.com | [email protected] | Distribuição Digital | Dezembro 2012 | O Jovem 1985 - 2012

sumário

Manuel Oliveira [pág.4 e 18] João Ribeirinho [pág.4 ] Hugo Silva [pág.20 ]

opinião

Liberalismo Clássico | 2ª Parte por Miguel Ribeiro [pág.12]

dossier convidado especial

Rafael Borges [pág.8]

entrevista João Almeida, Vice-Presidente parlamentar do CDS

[pág.10]

dossier O sistema fiscal – 2ª Parte [pág.6]

EDITORIAL Comissão Política Concelhia Juventude Popular da Maia

6ª Edição “Juntos Por Um Sorriso”

notícia

Sim, é verdade que João Almeida foi capa d’O Jovem há

exactamente um ano. Mas consideramos que há pessoas

que merecem mais destaque do que outras. João Almeida é

provavelmente a figura do CDS que mais cresceu

mediaticamente no último ano. Não só pelo simples facto de

ser o porta-voz do partido mas essencialmente porque não

tem receio de defender aquilo que aparentemente todos

pensam mas quase nenhuns têm coragem de se bater. O

João, e permitam-nos tratar assim uma pessoa que

consideramos amiga desta concelhia, tem marcado

inúmeros pontos junto do eleitorado CDS com as suas

posições sobre o Orçamento do Estado, a carga fiscal e a

retoma da Economia. Quem o conhece, como nós, sabe que

ele

ele não é só mais um político. E muito menos uma

promessa. Este ano, o João virou uma certeza.

O convidado desta edição também já virou certeza de

qualidade no seio da nossa Juventude Popular. Rafael

Borges assina o espaço convidado deste mês com um

brilhante texto sobre a realidade catalã num momento em

que se mediatiza uma vontade de independência.

Não percas ainda a segunda parte do dossier sobre “O

Sistema Fiscal” assinado pelo Luís Ribeiro e os textos de

opinião do Manuel Oliveira, do Hugo Silva e do João

Ribeirinho Soares. Bom 2013!

Uma certeza

Todos os anos a Juventude Popular da Maia desenvolve uma

campanha que já está enraizada no seio da concelhia e

daqueles que acompanham a nossa actividade. A “Juntos

Por Um Sorriso” vai já no seu sexto ano e, como sempre,

pretende reunir contributos solidários com vista às

Instituições de Particulares de Solidariedade Social da Maia.

Este ano não foi diferente com o registo elevado de entregas

de roupas e brinquedos que chegaram um pouco de todo o

lado.

Recordamos que nos últimos anos já apoiamos várias

associações espalhadas pelo concelho como a ENIGMA, a

ASMAN, A Causa da Criança ou a Socialis. A Juventude

Popular da Maia entende que o mínimo que podemos fazer

neste momento de particular dificuldade para todos é

continuar a promover iniciativas que possam efectivamente

criar um maior conforto e, claro está, um sorriso.

A contestação social e política à medida da Taxa Social

Este é o Norte! Por Terras de Lidador

por João Ribeirinho Soares Presidente da Distrital do Porto da JP

por Manuel Oliveira Presidente da Juventude Popular da Maia

Com oposição desta…

facebook.com/juventudepopularmaia

“Pelintra é que não!”

Caros leitores,

Não poderia deixar de vos escrever sobre um assunto

que veio a público esta semana e que envolve

directamente a nossa região: a questão do

financiamento da Casa da Música.

Não posso deixar de lamentar a demissão do Conselho

de Administração da mesma por alegado

incumprimento de um acordo de financiamento da

Casa da Música por parte do Estado Central. Em geral,

seria a primeira pessoa numa altura de crise como a

que vivemos a reclamar cortes na despesa estatal no

“sector da cultura”. No entanto, assistimos neste caso

à utilização da Casa da Música e do seu Conselho de

Administração como bodes expiatórios de supostos

cortes na despesa e nas gorduras do Estado.

Pena tenho eu que o Centro Cultural de Belém (CCB),

aquela obra faraónica do agora inquilino do Palácio

com o nome do mesmo local, não sofra tratamento

semelhante e continue a albergar às custas de todos

nós elefantes brancos como a exposição permanente

daquele que utilizou dinheiros públicos para se

transformar accionista de referência de muitas

empresas cotadas em bolsa. Esta discriminação

negativa além camuflar o centralismo com vestes de

austeridade mostra uma vez mais a incapacidade por

parte do Governo em cortar na verdadeira despesa

pública. Lisboa deve continuar a ser a capital do

império mesmo que este esteja falido e decrépito. O

que importa são as aparências. Tal como me disse o

ex-Presidente da JSD, Duarte Marques, a propósito do

seu Congresso à boa moda Socrática, “pelintra é que

não”!

facebook.com/jpdistritalporto

opinião 4 | setembro 2012 o jovem

Confesso que há medida que vou habitando cada vez

mais com o poder local a minha perplexidade cresce.

Não é por sermos amadores que temos de ser

necessariamente maus. Não é por irmos levantar o

braço e dizer umas bacoradas de tempos em tempos

que precisamos de demonstrar o porquê deste povo

estar a passar pelas torturas da má gestão e

incompetência. Mas não haverá ninguém que tenha o

mínimo de bom senso e nível?

Já aqui escrevi várias vezes: o concelho da Maia

necessita mas não é dos piores casos a nível de

reforma administrativa e territorial. No entanto, a

reforma vai avançar e a Assembleia Municipal da Maia,

como todas as restantes do país, foi chamada a

pronunciar-se sobre a redução. Com uma proposta do

PSD local, a Assembleia votou a aglomeração de

várias freguesias passando o concelho das actuais

dezassete para onze freguesias. Obviamente que para

a JP Maia soube a pouco mas para o PS Maia foi uma

oportunidade do mais demagógico que vi. Armados

em defensores da “tradição”, os deputados do PS

Maia lançaram sobre todos os que votaram

favoravelmente a promessa de que as gerações

futuras julgariam esta traição à identidade. Patético.

Não satisfeitos, dois meses depois, nova Assembleia

Municipal o PS Maia volta à carga com a proposta de

juntar à acta o nome dos presidentes de junta que

supostamente votaram contra a reforma nas suas

Assembleias de Freguesia e posteriormente votaram a

favor na Assembleia Municipal sobre o pretexto que

“as gerações futuras devem saber desta traição”.

Profundamente patético. Com op0sição desta, quem

precisa de fazer campanha?

o CDS votou contra a Constituição de 1976?

Elaborada pelos 250 deputados eleitos em 25 de Abril de

1975 para a Assembleia Constituinte, a Constituição

portuguesa de 1976 foi aprovada a 2 de Abril apenas com

os votos contra do CDS, e entrou em vigor a 25 de Abril.

O seu texto original reflecte o período em que foi

elaborada, pelo que não são de estranhar as marcas

ideológicas de um período político conturbado, em que

muitos defendiam o rumo ao socialismo sem classes.

Desde 1976, a actual Constituição foi já revista sete vezes

sendo o CDS e a JP os órgãos políticos que continuam a

defender uma reforma profunda deste documento. A

estrutura jovem de direita apregoa mesmo uma nova

Constituição.

Sabias que...

Preâmbulo | Constituição de 76

O Sistema Fiscal

por Luís Miguel Ribeiro

<< rendimento das pessoas singulares enquanto o IRC tinha como objectivo tributar o lucro real das pessoas colectivas.

Imposto de Valor Acrescentado

Com a substituição do IT pelo IVA procedeu-se a uma

importante reforma do sistema da tributação do

consumo. O nosso sistema fiscal deixou de contar com

um imposto monofásico, incapaz de gerar as receitas

desejadas, excessivamente concentrado no estádio do

grossista e com pouca apetência para tributar os

serviços, e passou a contar com um imposto,

plurifásico, gerador de um excelente nível de receitas e

com um âmbito de incidência bastante mais alargado.

No âmbito da incidência subjectiva, o IT incidia apenas

sobre os produtores e os grossistas. Com a introdução

do IVA esta incidência estendeu-se também aos

prestadores de serviços e aos retalhistas. No âmbito da

incidência objectiva, com o IVA, passaram a ser

tributadas transacções que antes não eram passíveis de

IT, mas sim de tributação especial, tais como o imposto

ferroviário, o imposto de turismo, as percentagens

cobradas a favor do Fundo de Socorro Social, alguns

artigos da Tabela Geral do Imposto de Selo e o Imposto

de Selo sobre especialidades farmacêuticas.

Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

O IRS é um imposto que incide sobre o valor anual dos

rendimentos dos contribuintes singulares, depois de

efectuadas as correspondentes deduções e

abatimentos. As suas principais características

decorrem de um princípio constitucional que consagra a

progressividade do imposto com o objectivo de

6 | dezembro 2012 o jovem

>> segunda parte

Principais fontes de receita tributária

Enquadramento Histórico

Uma das primeiras grandes alterações do sistema fiscal

em Portugal deu-se no inicio dos anos 80 devido ao

pedido de adesão à comunidade económica europeia

(CEE) onde as exigências feitas pelos estados membros

através da 6ª Directiva (77/388/CEE do Conselho, de 17

de Maio de 1977), tendo sido criado o Imposto sobre o

Valor Acrescentado (IVA) em substituição do Imposto

sobre as Transacções (IT) com o intuito de tributar a

vertente da despesa.

Foi com a reforma fiscal de 1988 que se instituíram duas

alterações no campo da tributação do rendimento

através do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas

Singulares (IRS) e o Imposto sobre o Rendimento das

Pessoas Colectivas (IRC). O IRS surgiu com o objectivo

de tributar, de uma forma global e personalizada, o

rendimento das pessoas singulares enquanto o IRC

Secretário-Geral da Juventude Popular da Maia

Junho de 2012

diminuir as desigualdades sociais.

O rendimento tributável do contribuinte é apurado,

após sujeição das suas diferentes categorias de

rendimento às regras estipuladas no CIRS feitas as

respectivas deduções e abatimentos ao seu rendimento

líquido total. Assim, o rendimento líquido total é

calculado somando os rendimentos de cada uma das

categorias pelas quais se pode decompor o rendimento

do contribuinte, após as respectivas deduções.

Ao valor apurado e de acordo com o sistema de taxas

progressivas, é aplicada a correspondente taxa. O valor

que resulta desta multiplicação designa-se por colecta.

Finalmente, e para cálculo do imposto final, o CIRS

concede ainda outro tipo de deduções, designadas por

deduções à colecta. A liquidação do imposto é realizada

junto da DGCI, sendo a mesma voluntária, valendo o

princípio da verdade da declaração, podendo os dados

declarados serem confirmados pela AF se existirem

dúvidas. Em caso de não cumprimento o contribuinte

sujeita-se a uma multa e a que o imposto seja calculado

por via administrativa.

Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas

A par do IRS foi instituído o IRC, que substituiu a

contribuição industrial e introduziu importantes

alterações na tributação das pessoas colectivas, no que

concerne ao lucro tributável, taxas a adoptar e à

questão das duplas tributações dos lucros distribuídos.

A base do imposto em IRC é o lucro. De acordo com o

CIRC, o lucro tributável não é mais do que a soma

algébrica do resultado líquido do exercício e das

variações patrimoniais positivas e negativas verificadas

no mesmo período e que não foram reflectidas naquele

resultado. No caso das entidades residentes, o IRC

recairá sobre todos os rendimentos, incluindo os

obtidos fora do território português. No caso das

entidades não residentes, o IRC incidirá apenas sobre os

rendimentos obtidos em território português.

Nota Comparativa

Apesar da moralidade implícita na aplicação dos

impostos, desde que foram criados em 1987 as receitas

provenientes desses impostos têm aumentado

anualmente. O IVA destaca-se como a principal fonte

de receita do Estado assim como o ISP – Imposto sobre

produtos petrolíferos e energéticos – o ISV – Imposto

sobre Veículos – e o IUC – Imposto único de circulação.

O IRC é o terceiro imposto com maior relevância a nível

de receita.

dossier

isse-se durante demasiado tempo que a Senyera é estandarte de um sentimento

inconsequente, da abstracção colectiva de um povo que insiste em forjar para si uma

identidade, senão inexistente, artificial. Chamou-se-lhe um pouco de tudo: Franco acusou-a

de ser um farrapo de “cobardes” – insulto que, aliás, tinha também o hábito de dirigir aos

portugueses -; a intelligentsia madrilena tentou associá-la a um pretenso – e raramente

verificável - egoísmo regionalista. A historiografia do regime, refém do statu quo, procurou

ignorá-la; os mídia, pela sua parte, insistiram em negar-lhe história e significado. A isso,

seguiu-se uma chuva de mitologia política e anos de propaganda apologética do Estado

imperial. À evidência empírica de que os países mais pequenos funcionam – nenhum dos dez

Estados mais prósperos do mundo, diz-nos o CIA World Factbook, é mais populoso que a

Catalunha -, normalmente, melhor que os grandes, responderam com uma falácia que,

levada até às últimas consequências, serviria para desprovir de relevância o próprio conceito

de soberania popular: a de uma unidade que se sobrepõe – e justifica – tudo o resto. Também

aí se deu uma máscara de inevitabilidade a uma escolha que poucos quiseram forçar sobre

muitos: dar à aglomeração de realidades etnonacionais distintas uma aura de imperativo

conjuntural é ignorar que, longe de seguir uma rationale económica, ela é a aplicação prática

da agenda política – e partidarizada - de uma minoria distante.

Não custa, aliás, imaginar o que diria hoje a propaganda que agrilhoa a Catalunha se, em vez

de ter possibilitado a restauração da independência portuguesa, o 1º de Dezembro tivesse

significado o seu esmagamento definitivo. Talvez explicassem porque fizeram da democracia

um anátema dizendo que “os portugueses”, imagine-se a ignomínia, “sempre falaram

castelhano”. Continuariam, provavelmente: “o 1º de Dezembro, na verdade, não foi uma

tentativa de secessão. Os portugueses apenas apoiaram as ambições do seu compatriota, o

Duque de Bragança. Nada mais que isso.”

Não quis a História – nem permitiram os portugueses – que se confirmasse este cenário. Em

1668, 28 anos depois do golpe palaciano de 1640, a monarquia dos Habsburgos, batida em

todas as grandes batalhas que travou com os rebeldes portugueses, acabou por resignar-se

ao óbvio: com ou sem a aprovação da Casa de Áustria, Portugal parecia tudo menos inclinado

para a ideia de voltar a ser governado desde Madrid. Não o aceitou sem resignação, é certo.

Que não o fez sem um nível de humilhação, de opróbrio histórico, é igualmente verdade. Mas

Portugal readquiriu a liberdade perdida em 1580. Depois de seis décadas de uma dominação

despótica, draconiana, verbalizada numa língua que não a sua, da prepotência constante de

um monarca que não sentiam como seu e sujeição a uma tirania que vinha de longe, os

portugueses lograram a concretização final daquilo que, 5 séculos antes, haviam proclamado

em Almacave: como antes, alcançaram a liberdade com as suas próprias mãos; como antes,

fizeram-no através da (re)constituição de um Estado próprio. E, se assim sucedeu em

Portugal, o mesmo, porém, não ocorreu no outro extremo peninsular. Lá, os catalães,

abandonados pela França e finalmente esmagados pelas forças do centralismo castelhano,

sofreram um processo de descaracterização que dura há séculos. Em 1714, a Catalunha viu

anulada a autonomia político-jurídica de que tinha gozado até então e, um ano depois, foi

revogada a Constituição Catalã de 1585.

Não surpreende, por isso, o insensato júbilo com que Madrid recebeu o resultado das

Da Catalunha

Vogal do Gabinete de Estudos da JP

Rafael Borges

facebook.com/rafael.borges.16

8 | dezembro 2012 o jovem

D

<<

Não surpreende, por isso, o insensato júbilo com que Madrid recebeu o resultado das eleições catalãs de 25 de Novembro. O

PP, que na Catalunha não é mais que a 4º força política, chegou ao absurdo de anunciar, em tom de vitória, “a recusa popular

da agenda secessionista de Mas”. O governo central, pela sua parte, atreveu-se a prever a morte do sentimento soberanista. E

até o secretário-geral do PSOE, cuja filial catalã sofreu uma pesada derrota na noite eleitoral do passado 25 de Novembro,

encontrou no debacle eleitoral da Convergència i Unió motivos suficientes para artificializar uma certa sensação de triunfo.

Afinal, referiu, as urnas castigaram um Artur Mas que, embora vitorioso, perdeu 10% dos votos.

A verdade, contudo, insistiu em distanciar-se do triunfalismo centralista. Com ou sem uma pesada queda eleitoral, Mas

conseguiu, ainda assim, segurar a presidência da Generalitat. Isso apesar do desgaste causado por anos de uma austeridade

cujos efeitos raramente poupam quem a aplica. O próprio Mariano Rajoy deveria compreender isso. Com efeito, Artur Mas

conseguiu algo que poucos políticos lograram até agora: sobreviver à crise. Parece, aliás, ter sido a contenção orçamental o

grande catalisador do colapso eleitoral da CiU: em lugar de um partido soberanista e favorável a políticas de austeridade,

milhares de catalães optaram por forças políticas que aliassem independentismo a uma oposição consistente a um programa

de cortes e restrição orçamental. Longe de ter rejeitado o caminho soberanista, o povo catalão reforçou-o, fixou-o numa

trajectória de que dificilmente poderá sair: o Parlament saído do último acto eleitoral revela o consenso que se gerou em volta

do direito a decidir. Em 135 deputados, 107 são agora favoráveis a uma consulta popular; desses, 87 votariam a favor da

independência. Em 2010, eram 20.

Não há – nem pode haver - dúvida de que o futuro da Catalunha merece um debate profundo, alargado, aberto a todas as

opções que sejam reflexo da vontade generalizada dos cidadãos. A independência não é uma obrigação: não há qualquer

determinismo histórico que a defina como via única para o futuro do povo catalão. Mas, se há coisa que dificilmente poderá ser

posta em causa – pelo menos por um democrata -, é a própria legitimidade desse debate. Pode – e deve – questionar-se a

desejabilidade da opção soberanista; os catalães podem - e, novamente, devem – ter a possibilidade de escolher o statu quo.

Também isso é autodeterminação. Aquilo para que não há justificação lógica possível – novamente, se partirmos do

pressuposto democrático – é a oposição à própria escolha. E é precisamente essa a posição assumida pelo governo de Madrid:

não um convite, um apelo à aceitação da hispanidade, mas uma negação da hipótese de a legitimar ou rejeitar.

É somente isso, apenas essa prova de maturidade democrática que os catalães fizeram questão de pedir ao Estado Espanhol

quando, no passado dia 25 de Novembro, elegeram o seu novo Parlament. E é também apenas isso que Espanha, um Estado

que nem sempre foi construído de acordo com a vontade dos que dela fazem parte, deve à história e a si mesma. Numa era em

que a nacionalidade pertence não a monarcas, não ao espartilho de uma submissão imposta pela tradição, hábitos ou

decretos, mas aos próprios indivíduos, faz particular sentido recordar as palavras de um pensador em cujas palavras se respira

a própria essência da Liberdade, Ludwig von Mises: “Nenhum povo deve ser obrigado a manter-se numa associação política

que não deseja.” E completa: “Uma nação, portanto, não tem o direito de dizer a uma província: pertences-me, quero anexar-

te. Uma província consiste dos seus habitantes. Se alguém tem o direito de ser ouvido neste caso, são precisamente esses

habitantes. Disputas de fronteira devem ser resolvidas por plebiscito.” Fossem estas frases lidas mais vezes, e não haveria,

como há na Catalunha, povos sem voz.

convidado especial

10 | dezembro 2012 o jovem

João

Talvez nenhuma outra figura no CDS tenha, no último

ano, ganho um protagonismo maior. O Presidente

honorário da JP e deputado pelo Porto assumiu, na

frontalidade que o caracteriza, a voz dos

descontentes com políticas que asfixiam os

contribuintes. Uma entrevista que se impunha.

entrevista

Almeida

O ano de 2012 é avaliado por muitos como de

afirmação para o deputado João Almeida. Concordas

com esta análise?

Sinceramente, não gosto de subjectivar estas coisas,

muito menos quando me dizem respeito. Tenho

experiência suficiente para saber que em política, muitas

vezes, trabalhamos muito e poucos dão por isso. Mais

importante que as avaliações individuais, tendo sido um

ano difícil, foi verificar que todo o Grupo Parlamentar do

CDS esteve à altura.

Tens tido amplo destaque com as tuas posições sobre

o Orçamento de Estado. É ou não um bom

Orçamento?

Considero que não é um bom orçamento. Dificilmente o

seria, devido aos constrangimentos impostos pelo

Memorando de Entendimento. No entanto, penso que

teria sido possível ter um orçamento menos mau. A

partir do momento em que se percebeu que a execução

de 2012 não estava a correr como previsto, devia-se ter

trabalhado para construir alternativas que evitassem

este orçamento. O CDS fez o suficiente para o melhorar.

Quer no Governo, quer no Parlamento. Infelizmente,

sem o sucesso desejado e merecido.

Foste especialmente crítico em relação às novas

medidas fiscais impostas por Vítor Gaspar. Que

caminho apontas para a retoma económica?

O caminho tem de permitir conciliar reformas estruturais

- úteis e inadiáveis – com a manutenção de um nível de

actividade económica e de emprego razoáveis. Ou seja,

não podemos estar a criar condições para ter uma

economia mais competitiva e entretanto deixá-la

moribunda, às portas da morte. Essa é uma das razões

que tornam esta carga fiscal excessiva e

contraproducente.

12 | dezembro 2012 o jovem

À volta do Orçamento do Estado para 2013 tem

também girado a estabilidade do Governo. Como vês

o futuro da coligação?

O futuro da coligação tem de ser pensado em função do

futuro do país. Esta coligação fez-se porque o momento

do país assim exigia. Temos de fazer o possível para que

não seja a instabilidade política a piorar, ainda mais, a

situação de Portugal. Isso é viável, desde que haja

respeito pela identidade de cada partido e, sobretudo, se

as soluções forem bem discutidas, construídas e

apresentadas.

E o do Partido? Parece-te que o CDS tem saído

prejudicado devido à sua presença neste Governo?

O desgaste pelo exercício do poder existe sempre. É

mais difícil para um partido que, não tendo ganho as

eleições, está no governo. Daqueles que hoje exigem

muito ao CDS, muitos nunca votam no partido. Têm

direito de exigir, mas devem ser lembrados que um CDS

com mais força poderia ter mais influência.

Os três ministérios do CDS têm tido um percurso

calmo e longe da crítica falsa. Como avalias as

prestações de Paulo Portas, Assunção Cristas e Pedro

Mota Soares?

São três ministérios diferentes, com diferentes

responsabilidades no contexto actual. Penso que todos

têm estado à altura dos desafios. É indiscutível o papel

essencial do Paulo Portas na internacionalização da

nossa economia, do Pedro Mota Soares no combate

titânico contra o impacto da crise nos mais vulneráveis e

da Assunção Cristas na projecção de um sector

relevantíssimo para a retoma.

<<

<<

Um desafio. Indica três medidas/notícias (do Governo,

Partido, Empresas, etc…) nos últimos tempos que sejam

um exemplo do caminho que Portugal tem de seguir.

Esta é difícil. Em primeiro lugar, as diferentes notícias do

sucesso que várias empresas portuguesas vão

conseguindo nos mais diversos mercados. Em segundo

lugar, a valorização das nossas Universidades, cada vez

mais destacadas nas classificações internacionais,

reconhecendo a qualidade dos seus cursos. Em terceiro

lugar, sem hierarquia, a resistência da Casa da Música ao

corte de que foi alvo, em divergência com o tratamento

especial dado ao CCB. A iniciativa empresarial, a

academia e a cultura. Três formas extraordinárias de

conquistarmos o mundo de hoje.

Por último, que mensagem gostarias de deixar aos

militantes da Juventude Popular e aos leitores d’O

Jovem?

Desejo a todos um Santo Natal e um ano de 2013 melhor

que as espectativas. Nunca deixem de acreditar em

vocês, nos vossos valores e no vosso país.

Falemos do Distrito do Porto. Com o trabalho que

semanalmente os deputados fazem no terreno, como

vês neste momento a situação da região?

A nossa região é uma das mais afectadas pela crise. O

facto de uma região tão produtiva atravessar um período

tão difícil diz muito sobre o momento que vivemos. O

Norte foi sempre mais independente do investimento

público, por isso, mais que qualquer outra região, precisa

de menos impostos e menos restrições para poder

produzir mais riqueza e criar mais emprego. É também

muito importante valorizar activos regionais muito

relevantes como Porto de Leixões e o Aeroporto Sá

Carneiro. Em relação ao Aeroporto é essencial que a

privatização da ANA não signifique perder a gestão

autónoma e, consequentemente, a competitividade.

O desemprego jovem está num valor incrivelmente alto.

Achas que Portugal perdeu a sua geração mais

qualificada?

Não necessariamente. É evidente que isso é uma

preocupação, mas não apenas por serem jovens. O

problema é que o país não tem um ambiente propício ao

investimento e à criação de oportunidades. Isso reflecte-

se nos mais jovens, mas é um problema cada vez mais

estrutural. Ainda vamos a tempo de alterar essa

situação, mas a cada dia estamos a perder jovens em

cuja formação investimos e a quem não conseguimos

dar uma perspectiva de futuro.

13 | setembro 2012 o jovem

A Juventude Popular da Maia agradece a

colaboração de Isabel Santiago Henriques que

disponibilizou as fotos que ilustram esta entrevista.

>>

junta-te a

ESPERANÇA? ESPERANÇA?

a nós!

ma das reflexões que devemos fazer dos anos de

democracia desde Novembro de 1975 prende-se com a

relação causa-efeito da governação com os programas

de assistência a que Portugal tem recorrido. Todos

sabemos da assustadora média que o Estado português

regista desde o primeiro pedido de intervenção do Dr.

Soares: de doze em doze anos vamos ao tapete, à

bancarrota. Isto não só é assustador como também é

terrorífico. E nenhuma geração deve viver com o terror

de passar por uma crise económica e social que destrói e

humilha pelo menos uma vez por década. Será que desta

vez vamos aprender?

Creio que Reagan disse uma vez que nenhum Estado

emagrece voluntariamente. Ou seja, a apetência normal

dos Estados é crescerem em quase todas as direcções:

na sua intervenção económica, na assistência social, na

educação. Portugal não foge à regra. Aliás, o nosso país

como fruto de uma revolução profundamente socialista

não poderia ter trilhado outro caminho senão aquele que

coloca o Estado no centro da vida dos seus cidadãos. Por

cá, o hábito de um sistema de ensino de doze anos

praticamente gratuito, um acesso à saúde facilitado no

mais pequeno e irrelevante acto médico e um sem

número de soluções de “protecção” social foi vendido

em todos os processos eleitorais pelo bloco central, pela

esquerda radical e até, em alguns casos, pelo CDS na sua

ala mais conservadora de esquerda. No entanto, e como

bem sentimos hoje, a venda foi profundamente

desonesta e alimentou um monstro que engole, ao

mesmo tempo, os capazes e os incapazes colocando-os

num insustentável pé de igualdade.

E o programa de assistência externa a Portugal é muito

isto: reduzir o peso do Estado e mostrar-lhe qual é o seu

verdadeiro papel. Este processo hercúleo que

inevitavelmente afecta irremediavelmente

O fim do mito

inevitavelmente afecta todos nós deve ler-se nas

entrelinhas das notícias que falam na refundação do

Estado Social, na diminuição do número de professores,

nas privatizações, nos cortes às Fundações, na dispensa

de funcionários públicos. Tudo isto foi acordado e tudo

isto é mais do que essencial para desafogar a despesa

do Estado. Neste ponto, tanto Pedro Passos Coelho

como Vítor Gaspar têm feito um esforço para serem

claros e falar verdade. O Estado não pode viver acima

das suas possibilidades e os portugueses não podem,

como disse o Ministro das Finanças e eu subscrevo,

exigir ao Estado aquilo pelo qual não estão dispostos a

pagar. Se nos alienarmos da pornográfica carga fiscal

que as mesmas personagens nos têm imposto, e isso é

que provoca o grande contra-senso sobre tudo o que

concluímos em cima, eu diria que finalmente se está a

mostrar ao Estado o fim da linha no seu percurso

paternalista.

Todos perceberam mas todos tiveram medo de assumir

mais cedo que o caminho de um Estado omnipresente

seria a médio-longo prazo destruidor. Como se habitua

alguém a receber um presente todos os dias, os

portugueses foram habituados a quase tudo ter e a

pouco contribuírem para isso. Agora, o ajustamento

está e vai continuar a doer, e muito. E demorará tantos

anos quantos aqueles em que se construiu o reino do

facilitismo e da gratuitidade. Bem, que pelo menos não

seja em vão. Que se abra o ensino às reais necessidades

de mercado, que se ajuste os actos médicos ao seu real

custo e se promova o mercado privado de saúde, que se

alimente cada vez menos o apetite de ficar pensionista

em idade activa, que se reforce a defesa, a segurança e

optimize a Justiça. Que se meta o Estado no seu lugar e

que não tenha retorno. O mito socialista acabou.

Enterre-se.

Manuel Oliveira

U

Presidente da Juventude Popular da Maia facebook.com/oacm1

18 | dezembro 2012 o jovem opinião

<<

Coligações oje, quando cheguei a casa fiz o que normalmente faço,

ler o jornal para andar minimamente informado.

Estranhamente, uma notícia com algum optimismo apesar

de nos últimos tempos ter sido sempre a falar do

orçamento de estado e todas as consequências negativas

que de lá virão. Sim, vêm muitas coisas más, mas não é

disso que quero falar. Citando uma noticia do Jornal de

Noticias, “a maioria dos portugueses tem uma atitude

"muito positiva" quanto à possibilidade de criarem o seu

próprio emprego ”. A criação do próprio emprego continua

a ser uma forma eficaz de nos sentirmos concretizados de

uma forma profissional e pessoal pois vamos criar algo que

nos completa, que nos satisfaz, nos identifica. Claro que

este emprego não deve ser criado simplesmente de uma

forma descontrolada. Existe uma série de entidades que

nos podem ajudar. Como é lógico, têm que ser pagas por

esse trabalho executado e não existe grandes apoios nesse

sentido. No entanto, a criação tem que partir de algum

lado. Onde existem oportunidades de negócio? Só ouvimos

falar que empresas exportadoras têm a maioria de apoio

para a sua criação. Claro que sim, ainda hoje continuamos a

importar mais do que exportamos. Essa variação é superior

a mil milhões de euros mensais como podemos constatar

no Boletim Mensal de Estatística publicado pelo Instituto

Nacional de Estatística. Desta forma, as medidas de apoio

direccionadas a empresas exportadoras é uma forma de

ajudar a minimizar esta diferença.

Pensando de uma outra forma, quanto é que importamos?

Será que não existe potencial para investirmos

relativamente ao consumo interno? Portugal “importa”

cerca de 4,5 mil milhões de euros mensalmente. Sim,

mensalmente. Sendo 3 mil milhões de transacções

realizadas com países da União Europeia. São valores

extraordinários se olharmos com olhos de ver potencial

para investir. Como é lógico existem bens que não temos

cá, obrigatoriamente temos de os importar. Isto quer dizer,

não pudemos olhar para estes valores e pensar que a sua

totalidade é possível produzir em Portugal. Este Boletim

não tem a informação detalhada, mas dá para ver que

existem estores/grupos que poderíamos investir mais.

Hugo Silva

Farmácias de Luto Um futuro à espera

Militante da Juventude Popular da Maia facebook.com/silvah55

H

19 | setembro 2012 o jovem

existem estores/grupos que poderíamos investir mais.

Observando estes grupos de uma forma mais simplista

,podemos verificar que cerca de 2 mil milhões de euros

mensais das nossas importações podem e devem ser

criadas condições em Portugal para produzir ou

transformar se decidirmos voltar às nossas origens,

agricultura, pesca, vestuário, etc. Porque não o fazemos?

Porque não se investe?

Bem, à partida existem dois motivos, ambos por culpa do

bom velho/novo português. Uma extraordinária forma de

negociação quando vê muito dinheiro à frente, como foram

as nossas negociações para entrarmos para a Comunidade

Europeia, porque todos queremos ser doutores e

engenheiros e porque durante décadas esquecemo-nos

que não existe país que funcione sem um sector produtivo

e um sector transformista. E sim, nós somos bons nestes

dois sectores, existem muitos bons exemplos.

Mas o mais importante disto tudo é algo muito simples.

Temos que ser criativos, lutadores e negociadores. A única

sugestão que posso dar é algo que estou a fazer. Tentem

negociar com uma entidade como o IAPMEI ou ANJE para

efectuar o pagamento do serviço que estamos a pedir em

prestações (visto que os apoios que têm aparecido do

Estado estão direccionados para jovens – Impulso Jovem),

e aproveitem a informação existente em alguns sites de

Internet que são muito úteis (http://www.ei.gov.pt/guia-

empreendedor).

Portanto, vamos levantar a cabeça, vamos olhar à nossa

volta com olhos de ver procurando oportunidades de

sermos empreendedores. Vamos ser revolucionários e

irreverentes e nunca desistir porque o futuro está a nossa

espera!

<<