53 | o jovem | dezembro de 2012
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Edição nº 53 d'O Jovem.TRANSCRIPT
o jovem o jovem
Entrevista | É justo dizer que o
protagonismo do Vice-Presidente
da bancada do CDS na AR triplicou
no último ano. Sabe porquê. [p.10]
João Almeida
Dossier | Tudo sobre “O Sistema
Fiscal” – 2ª Parte, por Miguel
Ribeiro. [p.6]
Convidado | Rafael Borges,
militante da JP Alcobaça, assina
o espaço desta edição. [p.8]
Opinião | Navega pelos vários
textos assinados pelos
militantes da Maia. [p.4 - 21]
Jornal Oficial da Juventude Popular da Maia
53 | Dez 2012 | Ano XXVI www.jpmaia.com
2 | dezembro 2012 o jovem
ficha técnica
Propriedade: Comissão Política Concelhia da Juventude Popular da Maia | Edição: Manuel Oliveira | Colunistas desta edição: João Ribeirinho Soares, Manuel Oliveira, Hugo Silva, Miguel Ribeiro | Entrevistado desta edição: João Pinho de Almeida | Convidado especial desta edição: Rafael Borges | www.jpmaia.com | [email protected] | Distribuição Digital | Dezembro 2012 | O Jovem 1985 - 2012
sumário
Manuel Oliveira [pág.4 e 18] João Ribeirinho [pág.4 ] Hugo Silva [pág.20 ]
opinião
Liberalismo Clássico | 2ª Parte por Miguel Ribeiro [pág.12]
dossier convidado especial
Rafael Borges [pág.8]
entrevista João Almeida, Vice-Presidente parlamentar do CDS
[pág.10]
dossier O sistema fiscal – 2ª Parte [pág.6]
EDITORIAL Comissão Política Concelhia Juventude Popular da Maia
6ª Edição “Juntos Por Um Sorriso”
notícia
Sim, é verdade que João Almeida foi capa d’O Jovem há
exactamente um ano. Mas consideramos que há pessoas
que merecem mais destaque do que outras. João Almeida é
provavelmente a figura do CDS que mais cresceu
mediaticamente no último ano. Não só pelo simples facto de
ser o porta-voz do partido mas essencialmente porque não
tem receio de defender aquilo que aparentemente todos
pensam mas quase nenhuns têm coragem de se bater. O
João, e permitam-nos tratar assim uma pessoa que
consideramos amiga desta concelhia, tem marcado
inúmeros pontos junto do eleitorado CDS com as suas
posições sobre o Orçamento do Estado, a carga fiscal e a
retoma da Economia. Quem o conhece, como nós, sabe que
ele
ele não é só mais um político. E muito menos uma
promessa. Este ano, o João virou uma certeza.
O convidado desta edição também já virou certeza de
qualidade no seio da nossa Juventude Popular. Rafael
Borges assina o espaço convidado deste mês com um
brilhante texto sobre a realidade catalã num momento em
que se mediatiza uma vontade de independência.
Não percas ainda a segunda parte do dossier sobre “O
Sistema Fiscal” assinado pelo Luís Ribeiro e os textos de
opinião do Manuel Oliveira, do Hugo Silva e do João
Ribeirinho Soares. Bom 2013!
Uma certeza
Todos os anos a Juventude Popular da Maia desenvolve uma
campanha que já está enraizada no seio da concelhia e
daqueles que acompanham a nossa actividade. A “Juntos
Por Um Sorriso” vai já no seu sexto ano e, como sempre,
pretende reunir contributos solidários com vista às
Instituições de Particulares de Solidariedade Social da Maia.
Este ano não foi diferente com o registo elevado de entregas
de roupas e brinquedos que chegaram um pouco de todo o
lado.
Recordamos que nos últimos anos já apoiamos várias
associações espalhadas pelo concelho como a ENIGMA, a
ASMAN, A Causa da Criança ou a Socialis. A Juventude
Popular da Maia entende que o mínimo que podemos fazer
neste momento de particular dificuldade para todos é
continuar a promover iniciativas que possam efectivamente
criar um maior conforto e, claro está, um sorriso.
A contestação social e política à medida da Taxa Social
Este é o Norte! Por Terras de Lidador
por João Ribeirinho Soares Presidente da Distrital do Porto da JP
por Manuel Oliveira Presidente da Juventude Popular da Maia
Com oposição desta…
facebook.com/juventudepopularmaia
“Pelintra é que não!”
Caros leitores,
Não poderia deixar de vos escrever sobre um assunto
que veio a público esta semana e que envolve
directamente a nossa região: a questão do
financiamento da Casa da Música.
Não posso deixar de lamentar a demissão do Conselho
de Administração da mesma por alegado
incumprimento de um acordo de financiamento da
Casa da Música por parte do Estado Central. Em geral,
seria a primeira pessoa numa altura de crise como a
que vivemos a reclamar cortes na despesa estatal no
“sector da cultura”. No entanto, assistimos neste caso
à utilização da Casa da Música e do seu Conselho de
Administração como bodes expiatórios de supostos
cortes na despesa e nas gorduras do Estado.
Pena tenho eu que o Centro Cultural de Belém (CCB),
aquela obra faraónica do agora inquilino do Palácio
com o nome do mesmo local, não sofra tratamento
semelhante e continue a albergar às custas de todos
nós elefantes brancos como a exposição permanente
daquele que utilizou dinheiros públicos para se
transformar accionista de referência de muitas
empresas cotadas em bolsa. Esta discriminação
negativa além camuflar o centralismo com vestes de
austeridade mostra uma vez mais a incapacidade por
parte do Governo em cortar na verdadeira despesa
pública. Lisboa deve continuar a ser a capital do
império mesmo que este esteja falido e decrépito. O
que importa são as aparências. Tal como me disse o
ex-Presidente da JSD, Duarte Marques, a propósito do
seu Congresso à boa moda Socrática, “pelintra é que
não”!
facebook.com/jpdistritalporto
opinião 4 | setembro 2012 o jovem
Confesso que há medida que vou habitando cada vez
mais com o poder local a minha perplexidade cresce.
Não é por sermos amadores que temos de ser
necessariamente maus. Não é por irmos levantar o
braço e dizer umas bacoradas de tempos em tempos
que precisamos de demonstrar o porquê deste povo
estar a passar pelas torturas da má gestão e
incompetência. Mas não haverá ninguém que tenha o
mínimo de bom senso e nível?
Já aqui escrevi várias vezes: o concelho da Maia
necessita mas não é dos piores casos a nível de
reforma administrativa e territorial. No entanto, a
reforma vai avançar e a Assembleia Municipal da Maia,
como todas as restantes do país, foi chamada a
pronunciar-se sobre a redução. Com uma proposta do
PSD local, a Assembleia votou a aglomeração de
várias freguesias passando o concelho das actuais
dezassete para onze freguesias. Obviamente que para
a JP Maia soube a pouco mas para o PS Maia foi uma
oportunidade do mais demagógico que vi. Armados
em defensores da “tradição”, os deputados do PS
Maia lançaram sobre todos os que votaram
favoravelmente a promessa de que as gerações
futuras julgariam esta traição à identidade. Patético.
Não satisfeitos, dois meses depois, nova Assembleia
Municipal o PS Maia volta à carga com a proposta de
juntar à acta o nome dos presidentes de junta que
supostamente votaram contra a reforma nas suas
Assembleias de Freguesia e posteriormente votaram a
favor na Assembleia Municipal sobre o pretexto que
“as gerações futuras devem saber desta traição”.
Profundamente patético. Com op0sição desta, quem
precisa de fazer campanha?
o CDS votou contra a Constituição de 1976?
Elaborada pelos 250 deputados eleitos em 25 de Abril de
1975 para a Assembleia Constituinte, a Constituição
portuguesa de 1976 foi aprovada a 2 de Abril apenas com
os votos contra do CDS, e entrou em vigor a 25 de Abril.
O seu texto original reflecte o período em que foi
elaborada, pelo que não são de estranhar as marcas
ideológicas de um período político conturbado, em que
muitos defendiam o rumo ao socialismo sem classes.
Desde 1976, a actual Constituição foi já revista sete vezes
sendo o CDS e a JP os órgãos políticos que continuam a
defender uma reforma profunda deste documento. A
estrutura jovem de direita apregoa mesmo uma nova
Constituição.
Sabias que...
Preâmbulo | Constituição de 76
O Sistema Fiscal
por Luís Miguel Ribeiro
<< rendimento das pessoas singulares enquanto o IRC tinha como objectivo tributar o lucro real das pessoas colectivas.
Imposto de Valor Acrescentado
Com a substituição do IT pelo IVA procedeu-se a uma
importante reforma do sistema da tributação do
consumo. O nosso sistema fiscal deixou de contar com
um imposto monofásico, incapaz de gerar as receitas
desejadas, excessivamente concentrado no estádio do
grossista e com pouca apetência para tributar os
serviços, e passou a contar com um imposto,
plurifásico, gerador de um excelente nível de receitas e
com um âmbito de incidência bastante mais alargado.
No âmbito da incidência subjectiva, o IT incidia apenas
sobre os produtores e os grossistas. Com a introdução
do IVA esta incidência estendeu-se também aos
prestadores de serviços e aos retalhistas. No âmbito da
incidência objectiva, com o IVA, passaram a ser
tributadas transacções que antes não eram passíveis de
IT, mas sim de tributação especial, tais como o imposto
ferroviário, o imposto de turismo, as percentagens
cobradas a favor do Fundo de Socorro Social, alguns
artigos da Tabela Geral do Imposto de Selo e o Imposto
de Selo sobre especialidades farmacêuticas.
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
O IRS é um imposto que incide sobre o valor anual dos
rendimentos dos contribuintes singulares, depois de
efectuadas as correspondentes deduções e
abatimentos. As suas principais características
decorrem de um princípio constitucional que consagra a
progressividade do imposto com o objectivo de
6 | dezembro 2012 o jovem
>> segunda parte
Principais fontes de receita tributária
Enquadramento Histórico
Uma das primeiras grandes alterações do sistema fiscal
em Portugal deu-se no inicio dos anos 80 devido ao
pedido de adesão à comunidade económica europeia
(CEE) onde as exigências feitas pelos estados membros
através da 6ª Directiva (77/388/CEE do Conselho, de 17
de Maio de 1977), tendo sido criado o Imposto sobre o
Valor Acrescentado (IVA) em substituição do Imposto
sobre as Transacções (IT) com o intuito de tributar a
vertente da despesa.
Foi com a reforma fiscal de 1988 que se instituíram duas
alterações no campo da tributação do rendimento
através do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares (IRS) e o Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Colectivas (IRC). O IRS surgiu com o objectivo
de tributar, de uma forma global e personalizada, o
rendimento das pessoas singulares enquanto o IRC
Secretário-Geral da Juventude Popular da Maia
Junho de 2012
diminuir as desigualdades sociais.
O rendimento tributável do contribuinte é apurado,
após sujeição das suas diferentes categorias de
rendimento às regras estipuladas no CIRS feitas as
respectivas deduções e abatimentos ao seu rendimento
líquido total. Assim, o rendimento líquido total é
calculado somando os rendimentos de cada uma das
categorias pelas quais se pode decompor o rendimento
do contribuinte, após as respectivas deduções.
Ao valor apurado e de acordo com o sistema de taxas
progressivas, é aplicada a correspondente taxa. O valor
que resulta desta multiplicação designa-se por colecta.
Finalmente, e para cálculo do imposto final, o CIRS
concede ainda outro tipo de deduções, designadas por
deduções à colecta. A liquidação do imposto é realizada
junto da DGCI, sendo a mesma voluntária, valendo o
princípio da verdade da declaração, podendo os dados
declarados serem confirmados pela AF se existirem
dúvidas. Em caso de não cumprimento o contribuinte
sujeita-se a uma multa e a que o imposto seja calculado
por via administrativa.
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas
A par do IRS foi instituído o IRC, que substituiu a
contribuição industrial e introduziu importantes
alterações na tributação das pessoas colectivas, no que
concerne ao lucro tributável, taxas a adoptar e à
questão das duplas tributações dos lucros distribuídos.
A base do imposto em IRC é o lucro. De acordo com o
CIRC, o lucro tributável não é mais do que a soma
algébrica do resultado líquido do exercício e das
variações patrimoniais positivas e negativas verificadas
no mesmo período e que não foram reflectidas naquele
resultado. No caso das entidades residentes, o IRC
recairá sobre todos os rendimentos, incluindo os
obtidos fora do território português. No caso das
entidades não residentes, o IRC incidirá apenas sobre os
rendimentos obtidos em território português.
Nota Comparativa
Apesar da moralidade implícita na aplicação dos
impostos, desde que foram criados em 1987 as receitas
provenientes desses impostos têm aumentado
anualmente. O IVA destaca-se como a principal fonte
de receita do Estado assim como o ISP – Imposto sobre
produtos petrolíferos e energéticos – o ISV – Imposto
sobre Veículos – e o IUC – Imposto único de circulação.
O IRC é o terceiro imposto com maior relevância a nível
de receita.
dossier
isse-se durante demasiado tempo que a Senyera é estandarte de um sentimento
inconsequente, da abstracção colectiva de um povo que insiste em forjar para si uma
identidade, senão inexistente, artificial. Chamou-se-lhe um pouco de tudo: Franco acusou-a
de ser um farrapo de “cobardes” – insulto que, aliás, tinha também o hábito de dirigir aos
portugueses -; a intelligentsia madrilena tentou associá-la a um pretenso – e raramente
verificável - egoísmo regionalista. A historiografia do regime, refém do statu quo, procurou
ignorá-la; os mídia, pela sua parte, insistiram em negar-lhe história e significado. A isso,
seguiu-se uma chuva de mitologia política e anos de propaganda apologética do Estado
imperial. À evidência empírica de que os países mais pequenos funcionam – nenhum dos dez
Estados mais prósperos do mundo, diz-nos o CIA World Factbook, é mais populoso que a
Catalunha -, normalmente, melhor que os grandes, responderam com uma falácia que,
levada até às últimas consequências, serviria para desprovir de relevância o próprio conceito
de soberania popular: a de uma unidade que se sobrepõe – e justifica – tudo o resto. Também
aí se deu uma máscara de inevitabilidade a uma escolha que poucos quiseram forçar sobre
muitos: dar à aglomeração de realidades etnonacionais distintas uma aura de imperativo
conjuntural é ignorar que, longe de seguir uma rationale económica, ela é a aplicação prática
da agenda política – e partidarizada - de uma minoria distante.
Não custa, aliás, imaginar o que diria hoje a propaganda que agrilhoa a Catalunha se, em vez
de ter possibilitado a restauração da independência portuguesa, o 1º de Dezembro tivesse
significado o seu esmagamento definitivo. Talvez explicassem porque fizeram da democracia
um anátema dizendo que “os portugueses”, imagine-se a ignomínia, “sempre falaram
castelhano”. Continuariam, provavelmente: “o 1º de Dezembro, na verdade, não foi uma
tentativa de secessão. Os portugueses apenas apoiaram as ambições do seu compatriota, o
Duque de Bragança. Nada mais que isso.”
Não quis a História – nem permitiram os portugueses – que se confirmasse este cenário. Em
1668, 28 anos depois do golpe palaciano de 1640, a monarquia dos Habsburgos, batida em
todas as grandes batalhas que travou com os rebeldes portugueses, acabou por resignar-se
ao óbvio: com ou sem a aprovação da Casa de Áustria, Portugal parecia tudo menos inclinado
para a ideia de voltar a ser governado desde Madrid. Não o aceitou sem resignação, é certo.
Que não o fez sem um nível de humilhação, de opróbrio histórico, é igualmente verdade. Mas
Portugal readquiriu a liberdade perdida em 1580. Depois de seis décadas de uma dominação
despótica, draconiana, verbalizada numa língua que não a sua, da prepotência constante de
um monarca que não sentiam como seu e sujeição a uma tirania que vinha de longe, os
portugueses lograram a concretização final daquilo que, 5 séculos antes, haviam proclamado
em Almacave: como antes, alcançaram a liberdade com as suas próprias mãos; como antes,
fizeram-no através da (re)constituição de um Estado próprio. E, se assim sucedeu em
Portugal, o mesmo, porém, não ocorreu no outro extremo peninsular. Lá, os catalães,
abandonados pela França e finalmente esmagados pelas forças do centralismo castelhano,
sofreram um processo de descaracterização que dura há séculos. Em 1714, a Catalunha viu
anulada a autonomia político-jurídica de que tinha gozado até então e, um ano depois, foi
revogada a Constituição Catalã de 1585.
Não surpreende, por isso, o insensato júbilo com que Madrid recebeu o resultado das
Da Catalunha
Vogal do Gabinete de Estudos da JP
Rafael Borges
facebook.com/rafael.borges.16
8 | dezembro 2012 o jovem
D
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Não surpreende, por isso, o insensato júbilo com que Madrid recebeu o resultado das eleições catalãs de 25 de Novembro. O
PP, que na Catalunha não é mais que a 4º força política, chegou ao absurdo de anunciar, em tom de vitória, “a recusa popular
da agenda secessionista de Mas”. O governo central, pela sua parte, atreveu-se a prever a morte do sentimento soberanista. E
até o secretário-geral do PSOE, cuja filial catalã sofreu uma pesada derrota na noite eleitoral do passado 25 de Novembro,
encontrou no debacle eleitoral da Convergència i Unió motivos suficientes para artificializar uma certa sensação de triunfo.
Afinal, referiu, as urnas castigaram um Artur Mas que, embora vitorioso, perdeu 10% dos votos.
A verdade, contudo, insistiu em distanciar-se do triunfalismo centralista. Com ou sem uma pesada queda eleitoral, Mas
conseguiu, ainda assim, segurar a presidência da Generalitat. Isso apesar do desgaste causado por anos de uma austeridade
cujos efeitos raramente poupam quem a aplica. O próprio Mariano Rajoy deveria compreender isso. Com efeito, Artur Mas
conseguiu algo que poucos políticos lograram até agora: sobreviver à crise. Parece, aliás, ter sido a contenção orçamental o
grande catalisador do colapso eleitoral da CiU: em lugar de um partido soberanista e favorável a políticas de austeridade,
milhares de catalães optaram por forças políticas que aliassem independentismo a uma oposição consistente a um programa
de cortes e restrição orçamental. Longe de ter rejeitado o caminho soberanista, o povo catalão reforçou-o, fixou-o numa
trajectória de que dificilmente poderá sair: o Parlament saído do último acto eleitoral revela o consenso que se gerou em volta
do direito a decidir. Em 135 deputados, 107 são agora favoráveis a uma consulta popular; desses, 87 votariam a favor da
independência. Em 2010, eram 20.
Não há – nem pode haver - dúvida de que o futuro da Catalunha merece um debate profundo, alargado, aberto a todas as
opções que sejam reflexo da vontade generalizada dos cidadãos. A independência não é uma obrigação: não há qualquer
determinismo histórico que a defina como via única para o futuro do povo catalão. Mas, se há coisa que dificilmente poderá ser
posta em causa – pelo menos por um democrata -, é a própria legitimidade desse debate. Pode – e deve – questionar-se a
desejabilidade da opção soberanista; os catalães podem - e, novamente, devem – ter a possibilidade de escolher o statu quo.
Também isso é autodeterminação. Aquilo para que não há justificação lógica possível – novamente, se partirmos do
pressuposto democrático – é a oposição à própria escolha. E é precisamente essa a posição assumida pelo governo de Madrid:
não um convite, um apelo à aceitação da hispanidade, mas uma negação da hipótese de a legitimar ou rejeitar.
É somente isso, apenas essa prova de maturidade democrática que os catalães fizeram questão de pedir ao Estado Espanhol
quando, no passado dia 25 de Novembro, elegeram o seu novo Parlament. E é também apenas isso que Espanha, um Estado
que nem sempre foi construído de acordo com a vontade dos que dela fazem parte, deve à história e a si mesma. Numa era em
que a nacionalidade pertence não a monarcas, não ao espartilho de uma submissão imposta pela tradição, hábitos ou
decretos, mas aos próprios indivíduos, faz particular sentido recordar as palavras de um pensador em cujas palavras se respira
a própria essência da Liberdade, Ludwig von Mises: “Nenhum povo deve ser obrigado a manter-se numa associação política
que não deseja.” E completa: “Uma nação, portanto, não tem o direito de dizer a uma província: pertences-me, quero anexar-
te. Uma província consiste dos seus habitantes. Se alguém tem o direito de ser ouvido neste caso, são precisamente esses
habitantes. Disputas de fronteira devem ser resolvidas por plebiscito.” Fossem estas frases lidas mais vezes, e não haveria,
como há na Catalunha, povos sem voz.
convidado especial
10 | dezembro 2012 o jovem
João
Talvez nenhuma outra figura no CDS tenha, no último
ano, ganho um protagonismo maior. O Presidente
honorário da JP e deputado pelo Porto assumiu, na
frontalidade que o caracteriza, a voz dos
descontentes com políticas que asfixiam os
contribuintes. Uma entrevista que se impunha.
entrevista
Almeida
O ano de 2012 é avaliado por muitos como de
afirmação para o deputado João Almeida. Concordas
com esta análise?
Sinceramente, não gosto de subjectivar estas coisas,
muito menos quando me dizem respeito. Tenho
experiência suficiente para saber que em política, muitas
vezes, trabalhamos muito e poucos dão por isso. Mais
importante que as avaliações individuais, tendo sido um
ano difícil, foi verificar que todo o Grupo Parlamentar do
CDS esteve à altura.
Tens tido amplo destaque com as tuas posições sobre
o Orçamento de Estado. É ou não um bom
Orçamento?
Considero que não é um bom orçamento. Dificilmente o
seria, devido aos constrangimentos impostos pelo
Memorando de Entendimento. No entanto, penso que
teria sido possível ter um orçamento menos mau. A
partir do momento em que se percebeu que a execução
de 2012 não estava a correr como previsto, devia-se ter
trabalhado para construir alternativas que evitassem
este orçamento. O CDS fez o suficiente para o melhorar.
Quer no Governo, quer no Parlamento. Infelizmente,
sem o sucesso desejado e merecido.
Foste especialmente crítico em relação às novas
medidas fiscais impostas por Vítor Gaspar. Que
caminho apontas para a retoma económica?
O caminho tem de permitir conciliar reformas estruturais
- úteis e inadiáveis – com a manutenção de um nível de
actividade económica e de emprego razoáveis. Ou seja,
não podemos estar a criar condições para ter uma
economia mais competitiva e entretanto deixá-la
moribunda, às portas da morte. Essa é uma das razões
que tornam esta carga fiscal excessiva e
contraproducente.
12 | dezembro 2012 o jovem
À volta do Orçamento do Estado para 2013 tem
também girado a estabilidade do Governo. Como vês
o futuro da coligação?
O futuro da coligação tem de ser pensado em função do
futuro do país. Esta coligação fez-se porque o momento
do país assim exigia. Temos de fazer o possível para que
não seja a instabilidade política a piorar, ainda mais, a
situação de Portugal. Isso é viável, desde que haja
respeito pela identidade de cada partido e, sobretudo, se
as soluções forem bem discutidas, construídas e
apresentadas.
E o do Partido? Parece-te que o CDS tem saído
prejudicado devido à sua presença neste Governo?
O desgaste pelo exercício do poder existe sempre. É
mais difícil para um partido que, não tendo ganho as
eleições, está no governo. Daqueles que hoje exigem
muito ao CDS, muitos nunca votam no partido. Têm
direito de exigir, mas devem ser lembrados que um CDS
com mais força poderia ter mais influência.
Os três ministérios do CDS têm tido um percurso
calmo e longe da crítica falsa. Como avalias as
prestações de Paulo Portas, Assunção Cristas e Pedro
Mota Soares?
São três ministérios diferentes, com diferentes
responsabilidades no contexto actual. Penso que todos
têm estado à altura dos desafios. É indiscutível o papel
essencial do Paulo Portas na internacionalização da
nossa economia, do Pedro Mota Soares no combate
titânico contra o impacto da crise nos mais vulneráveis e
da Assunção Cristas na projecção de um sector
relevantíssimo para a retoma.
<<
Um desafio. Indica três medidas/notícias (do Governo,
Partido, Empresas, etc…) nos últimos tempos que sejam
um exemplo do caminho que Portugal tem de seguir.
Esta é difícil. Em primeiro lugar, as diferentes notícias do
sucesso que várias empresas portuguesas vão
conseguindo nos mais diversos mercados. Em segundo
lugar, a valorização das nossas Universidades, cada vez
mais destacadas nas classificações internacionais,
reconhecendo a qualidade dos seus cursos. Em terceiro
lugar, sem hierarquia, a resistência da Casa da Música ao
corte de que foi alvo, em divergência com o tratamento
especial dado ao CCB. A iniciativa empresarial, a
academia e a cultura. Três formas extraordinárias de
conquistarmos o mundo de hoje.
Por último, que mensagem gostarias de deixar aos
militantes da Juventude Popular e aos leitores d’O
Jovem?
Desejo a todos um Santo Natal e um ano de 2013 melhor
que as espectativas. Nunca deixem de acreditar em
vocês, nos vossos valores e no vosso país.
Falemos do Distrito do Porto. Com o trabalho que
semanalmente os deputados fazem no terreno, como
vês neste momento a situação da região?
A nossa região é uma das mais afectadas pela crise. O
facto de uma região tão produtiva atravessar um período
tão difícil diz muito sobre o momento que vivemos. O
Norte foi sempre mais independente do investimento
público, por isso, mais que qualquer outra região, precisa
de menos impostos e menos restrições para poder
produzir mais riqueza e criar mais emprego. É também
muito importante valorizar activos regionais muito
relevantes como Porto de Leixões e o Aeroporto Sá
Carneiro. Em relação ao Aeroporto é essencial que a
privatização da ANA não signifique perder a gestão
autónoma e, consequentemente, a competitividade.
O desemprego jovem está num valor incrivelmente alto.
Achas que Portugal perdeu a sua geração mais
qualificada?
Não necessariamente. É evidente que isso é uma
preocupação, mas não apenas por serem jovens. O
problema é que o país não tem um ambiente propício ao
investimento e à criação de oportunidades. Isso reflecte-
se nos mais jovens, mas é um problema cada vez mais
estrutural. Ainda vamos a tempo de alterar essa
situação, mas a cada dia estamos a perder jovens em
cuja formação investimos e a quem não conseguimos
dar uma perspectiva de futuro.
13 | setembro 2012 o jovem
A Juventude Popular da Maia agradece a
colaboração de Isabel Santiago Henriques que
disponibilizou as fotos que ilustram esta entrevista.
ma das reflexões que devemos fazer dos anos de
democracia desde Novembro de 1975 prende-se com a
relação causa-efeito da governação com os programas
de assistência a que Portugal tem recorrido. Todos
sabemos da assustadora média que o Estado português
regista desde o primeiro pedido de intervenção do Dr.
Soares: de doze em doze anos vamos ao tapete, à
bancarrota. Isto não só é assustador como também é
terrorífico. E nenhuma geração deve viver com o terror
de passar por uma crise económica e social que destrói e
humilha pelo menos uma vez por década. Será que desta
vez vamos aprender?
Creio que Reagan disse uma vez que nenhum Estado
emagrece voluntariamente. Ou seja, a apetência normal
dos Estados é crescerem em quase todas as direcções:
na sua intervenção económica, na assistência social, na
educação. Portugal não foge à regra. Aliás, o nosso país
como fruto de uma revolução profundamente socialista
não poderia ter trilhado outro caminho senão aquele que
coloca o Estado no centro da vida dos seus cidadãos. Por
cá, o hábito de um sistema de ensino de doze anos
praticamente gratuito, um acesso à saúde facilitado no
mais pequeno e irrelevante acto médico e um sem
número de soluções de “protecção” social foi vendido
em todos os processos eleitorais pelo bloco central, pela
esquerda radical e até, em alguns casos, pelo CDS na sua
ala mais conservadora de esquerda. No entanto, e como
bem sentimos hoje, a venda foi profundamente
desonesta e alimentou um monstro que engole, ao
mesmo tempo, os capazes e os incapazes colocando-os
num insustentável pé de igualdade.
E o programa de assistência externa a Portugal é muito
isto: reduzir o peso do Estado e mostrar-lhe qual é o seu
verdadeiro papel. Este processo hercúleo que
inevitavelmente afecta irremediavelmente
O fim do mito
inevitavelmente afecta todos nós deve ler-se nas
entrelinhas das notícias que falam na refundação do
Estado Social, na diminuição do número de professores,
nas privatizações, nos cortes às Fundações, na dispensa
de funcionários públicos. Tudo isto foi acordado e tudo
isto é mais do que essencial para desafogar a despesa
do Estado. Neste ponto, tanto Pedro Passos Coelho
como Vítor Gaspar têm feito um esforço para serem
claros e falar verdade. O Estado não pode viver acima
das suas possibilidades e os portugueses não podem,
como disse o Ministro das Finanças e eu subscrevo,
exigir ao Estado aquilo pelo qual não estão dispostos a
pagar. Se nos alienarmos da pornográfica carga fiscal
que as mesmas personagens nos têm imposto, e isso é
que provoca o grande contra-senso sobre tudo o que
concluímos em cima, eu diria que finalmente se está a
mostrar ao Estado o fim da linha no seu percurso
paternalista.
Todos perceberam mas todos tiveram medo de assumir
mais cedo que o caminho de um Estado omnipresente
seria a médio-longo prazo destruidor. Como se habitua
alguém a receber um presente todos os dias, os
portugueses foram habituados a quase tudo ter e a
pouco contribuírem para isso. Agora, o ajustamento
está e vai continuar a doer, e muito. E demorará tantos
anos quantos aqueles em que se construiu o reino do
facilitismo e da gratuitidade. Bem, que pelo menos não
seja em vão. Que se abra o ensino às reais necessidades
de mercado, que se ajuste os actos médicos ao seu real
custo e se promova o mercado privado de saúde, que se
alimente cada vez menos o apetite de ficar pensionista
em idade activa, que se reforce a defesa, a segurança e
optimize a Justiça. Que se meta o Estado no seu lugar e
que não tenha retorno. O mito socialista acabou.
Enterre-se.
Manuel Oliveira
U
Presidente da Juventude Popular da Maia facebook.com/oacm1
18 | dezembro 2012 o jovem opinião
Coligações oje, quando cheguei a casa fiz o que normalmente faço,
ler o jornal para andar minimamente informado.
Estranhamente, uma notícia com algum optimismo apesar
de nos últimos tempos ter sido sempre a falar do
orçamento de estado e todas as consequências negativas
que de lá virão. Sim, vêm muitas coisas más, mas não é
disso que quero falar. Citando uma noticia do Jornal de
Noticias, “a maioria dos portugueses tem uma atitude
"muito positiva" quanto à possibilidade de criarem o seu
próprio emprego ”. A criação do próprio emprego continua
a ser uma forma eficaz de nos sentirmos concretizados de
uma forma profissional e pessoal pois vamos criar algo que
nos completa, que nos satisfaz, nos identifica. Claro que
este emprego não deve ser criado simplesmente de uma
forma descontrolada. Existe uma série de entidades que
nos podem ajudar. Como é lógico, têm que ser pagas por
esse trabalho executado e não existe grandes apoios nesse
sentido. No entanto, a criação tem que partir de algum
lado. Onde existem oportunidades de negócio? Só ouvimos
falar que empresas exportadoras têm a maioria de apoio
para a sua criação. Claro que sim, ainda hoje continuamos a
importar mais do que exportamos. Essa variação é superior
a mil milhões de euros mensais como podemos constatar
no Boletim Mensal de Estatística publicado pelo Instituto
Nacional de Estatística. Desta forma, as medidas de apoio
direccionadas a empresas exportadoras é uma forma de
ajudar a minimizar esta diferença.
Pensando de uma outra forma, quanto é que importamos?
Será que não existe potencial para investirmos
relativamente ao consumo interno? Portugal “importa”
cerca de 4,5 mil milhões de euros mensalmente. Sim,
mensalmente. Sendo 3 mil milhões de transacções
realizadas com países da União Europeia. São valores
extraordinários se olharmos com olhos de ver potencial
para investir. Como é lógico existem bens que não temos
cá, obrigatoriamente temos de os importar. Isto quer dizer,
não pudemos olhar para estes valores e pensar que a sua
totalidade é possível produzir em Portugal. Este Boletim
não tem a informação detalhada, mas dá para ver que
existem estores/grupos que poderíamos investir mais.
Hugo Silva
Farmácias de Luto Um futuro à espera
Militante da Juventude Popular da Maia facebook.com/silvah55
H
19 | setembro 2012 o jovem
existem estores/grupos que poderíamos investir mais.
Observando estes grupos de uma forma mais simplista
,podemos verificar que cerca de 2 mil milhões de euros
mensais das nossas importações podem e devem ser
criadas condições em Portugal para produzir ou
transformar se decidirmos voltar às nossas origens,
agricultura, pesca, vestuário, etc. Porque não o fazemos?
Porque não se investe?
Bem, à partida existem dois motivos, ambos por culpa do
bom velho/novo português. Uma extraordinária forma de
negociação quando vê muito dinheiro à frente, como foram
as nossas negociações para entrarmos para a Comunidade
Europeia, porque todos queremos ser doutores e
engenheiros e porque durante décadas esquecemo-nos
que não existe país que funcione sem um sector produtivo
e um sector transformista. E sim, nós somos bons nestes
dois sectores, existem muitos bons exemplos.
Mas o mais importante disto tudo é algo muito simples.
Temos que ser criativos, lutadores e negociadores. A única
sugestão que posso dar é algo que estou a fazer. Tentem
negociar com uma entidade como o IAPMEI ou ANJE para
efectuar o pagamento do serviço que estamos a pedir em
prestações (visto que os apoios que têm aparecido do
Estado estão direccionados para jovens – Impulso Jovem),
e aproveitem a informação existente em alguns sites de
Internet que são muito úteis (http://www.ei.gov.pt/guia-
empreendedor).
Portanto, vamos levantar a cabeça, vamos olhar à nossa
volta com olhos de ver procurando oportunidades de
sermos empreendedores. Vamos ser revolucionários e
irreverentes e nunca desistir porque o futuro está a nossa
espera!