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Revista do Instituto do Ceará (HISTÓRICO, GEOGRÁFICO E ANTROPOLÓGICO) Cඈආංඌඌඞඈ ൽൺ Rൾඏංඌඍൺ Presidente Lúcio Gonçalo de Alcântara Eleitos Francisco Fernando Saraiva Câmara Geová Lemos Cavalcante Marcelo Gurgel Carlos da Silva Tomo CXXXI – Ano CXXXI (Publicada anualmente, sem interrupção, desde 1887, ano da fundação do Instituto do Ceará). 2017 Dedimus profecto grande patientiae documentum Fortaleza – Ceará – Brasil Revista do Instituto do Ceará Fortaleza Vol. 131 XXX p. 2017 6

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Revista do Instituto do Ceará(HISTÓRICO, GEOGRÁFICO E ANTROPOLÓGICO)

C R

PresidenteLúcio Gonçalo de Alcântara

EleitosFrancisco Fernando Saraiva Câmara

Geová Lemos CavalcanteMarcelo Gurgel Carlos da Silva

Tomo CXXXI – Ano CXXXI(Publicada anualmente, sem interrupção, desde 1887,

ano da fundação do Instituto do Ceará).

2017

Dedimus profecto grandepatientiae documentum

Fortaleza – Ceará – Brasil

Revista do Instituto do Ceará Fortaleza Vol. 131 XXX p. 2017

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Além dos 131 Tomos correspondentes aos cento e trinta anos de existência do Instituto do Ceará, foram editados os Tomos Especiais seguintes:1924 – TE – 1º Centenário da Confederação do Equador1929 – TE – Falecimento do Dr. Thomaz Pompeu de Sousa Brasil1938 – TE – Falecimento do Barão de Studart1956 – TE – 1º Centenário do Barão de Studart1972 – TE – Sesquicentenário da Independência do Brasil1977 – TE – 90º Aniversário do Instituto do Ceará1984 – TE – 1º Centenário da abolição dos escravos no Ceará1987 – TE – 1º Centenário de fundação do Instituto do Ceará

Endereço: Rua Barão do Rio Branco, 1594 - Centro60025-061 – Fortaleza – Ceará – BrasilTelefone: (85) 3021.7559http: www.institutodoceara.org.bre-mail: [email protected]

P - P

O W

M S

N

A matéria assinada é de responsabilidade do respectivo autor

Revista do Instituto do Ceará

Revista do Instituto do CearáFortaleza:V. anualTrimestral até 19281. Geografi a, História, Antropologia – periódicoInstituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico)

CDU: 91 + 93.572 (05 ISSN 0100-3585

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Verifi cação de Merecimento DefesaFrancisco Ésio de Sousa

José Augusto Bezerra Pedro Sisnando Leite

Defesa do PatrimônioCarlos Mauro Cabral Benevides

Ubiratan Diniz Aguiar Francisco Adegildo Férrer

RevistaFrancisco Fernando Saraiva Câmara

Geová Lemos CavalcanteMarcelo Gurgel Carlos da Silva

Conselho FiscalEdnilo Gomes de Soárez – Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez – José Filomeno Moraes Filho

HistóriaPedro Alberto de Oliveira SilvaEduardo de Castro Bezerra Neto

Gisafran Nazareno Mota Jucá

Geografi aRaimundo Elmo de Paula Vasconcelos

Maria Clélia Lustosa CostaEustógio Wanderley Correia Dantas

AntropologiaEduardo Diatahy Bezerra de Menezes

Glória Maria Santos Diógenes Rejane Maria Vasconcelos Accioly de Carvalho

Instituto do Ceará(Histórico, Geográfi co e Antropológico)

Diretoria (4 mar. 2017 - 4 mar. 2019)

Presidente de Honra Paulo Ayrton Araújo Presidente L G A 1º Vice-Presidente O M D 2º Vice-Presidente P S L Diretor da Biblioteca e Arquivo P A O S Diretor de Comunicação M Â A (N ) Secretário-Geral G L C 1º. Secretário J F L 2º. Secretário A T P 1º. Tesoureiro J E M C J 2º. Tesoureiro L P K F

Conselho Superior Consultivo

Presidente Carlos Mauro Cabral BenevidesJosé Augusto Bezerra

José Liberal de Castro - Cid Sabóia de CarvalhoPaulo Elpídio de Menezes Neto

Comissões

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Revista do Instituto do Ceará(Histórico, Geográfi co e Antropológico)

Fundado a 4 de março de 1887, na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, onde tem sede e domicílio.

Sociedade civil, de caráter científi co e cultural, sem fi ns lucrati-vos, duração por tempo indeterminado. Reconhecida de utilidade pública pelo Decreto Federal n. 94.364, de 22 de maio de 1987, Lei Estadual n. 100, de 15 de maio de 1936, e Lei Municipal n. 5.784, de 13 de dezembro de 1983.

Tem por fi nalidade específi ca o estudo da História, da Geo-grafi a, da Antropologia e das Ciências correlatas, especialmente do Ceará.

Para alcançar seus objetivos precípuos, realiza sessões ordinárias, especiais e solenes, e mantém: – intercâmbio cultural com instituições científi cas e literá rias na-

cionais e estrangeiras; – a Revista do Instituto do Ceará, em que se publicam colabora-

ções de Sócios, documentos históricos e outros trabalhos que a comissão de redação achar conveniente;

– um Museu Histórico e Antropológico de caráter regional; – Biblioteca, Hemeroteca, Mapoteca e Arquivo; – Auditório Pompeu Sobrinho, para solenidades.

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Ao Leitor

umprimos o dever estatutário de lançar tempestivamente mais um número da Revista do Instituto do Ceará, prosseguindo a tradição iniciada em 1887; este é o 131º volume da Revista.

Nesta edição a Revista está menos densa, haja vista que a Dire-toria deliberou destinar ao Boletim as matérias relacionadas a discursos generalizados, permanecendo na Revista somente os discursos proferidos em solenidades de posse de Sócios Efetivos; o Boletim deixa de ser uma publicação de caráter facultativo para tornar-se obrigatória, editado si-multaneamente com a Revista.

O Leitor poderá estranhar que a Revista não insira qualquer Artigo ou Nota concernente ao Bicentenário da Revolução Pernambucana de 1817; esta, não obstante constituir objeto direto dos interesses da família Alencar e ter como cenário exclusivamente o Cariri cearense, foi tema de estudos percucientes do Gen. Carlos Studart Filho, ex-Presidente do Instituto do Ceará, publicados na Revista relativa ao ano de 1960.

O artigo do Gen. Carlos Studart é de real interesse e, considerando sua extensão, resolvemos publicá-lo como Separata da Revista de 2017, numa homenagem à Revolução de 1817.

Lúcio AlcântaraPresidente

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ARTIGOS

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IGREJA DO PEQUENO GRANDEOrigens, arquitetura e obras integradas

J L C *

presente artigo, originalmente escrito de modo descontínuo, com diferentes fi nalidades específi cas, viu seus propósitos iniciais frus-trados. Retido pelo autor por algum tempo, o trabalho aparece agora publicado na Revista do Instituto do Ceará com outros objetivos, entre os quais, evidenciar aspectos signifi cativos de uma inconfundível edifi cação religiosa fortalezense, bem como, paralelamente, atender a desejos de pessoas, por este ou aquele intuito, interessadas na divulgação de outras faces da matéria1.

O trabalho compõe-se, pois, de partes que guardam entre si, ora maior, ora menor conexão, assim expostas:

a. A presença das irmãs de Caridade no Ceará.b. A Imaculada Conceição de Maria e a devoção do “Pequeno

Grande”.c. A arquitetura religiosa oitocentista - o neogoticismo.d. A Igreja do Pequeno Grande - arquitetura e obras confl uentes.

O autor deparou obstáculos em reunir materialidades e imaterialida-des, enfi m, num artigo único, juntar comentários sobre obras de arquitetura e referências a atividades religiosas, sociais e educacionais oitocentistas.

1 Atendimento prazeroso a amigas, antigas alunas do Colégio da Imaculada Conceição, e a companheiros de sodalício, entre os quais, Geová Lemos Cavalcante, integrante de círculo de estudos da Cúria Arquidiocesana de Fortaleza e seguro conhecedor da história religiosa estadual.

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.

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Eis por que o trabalho fi cou dividido em tópicos aparentemente autônomos, nos quais os itens a. e b., objetivaram contextualizar o tema, enquanto os itens – c. e d. mantêm correlação direta ou indireta com a arquitetura da igreja. Quanto ao exposto nos dois primeiros itens, o autor do texto, arquiteto de profi ssão, expressa desculpas antecipadas, peniten-ciando-se da ousadia de se envolver com matéria alheia ao seu ofício.2

Cumpre, todavia, adiantar que considerações sobre a igreja, perti-nentes à sua estrutura metálica, já foram apresentadas no artigo Arquite-tura do Ferro no Ceará, publicado pelo autor na Revista do Instituto do Ceará – tomo 106, de 1992: 74-76. O presente trabalho, contudo, amplia a matéria já divulgada, com menções a origens institucionais religiosas do orago da igreja e do nome popular por que é conhecida. Ao mesmo tempo, dedica-se ao exame de alguns aspectos característicos da edifi cação, evidenciando particularidades observadas nos seus interiores. A versão original do texto, contudo, aparece agora reduzida, a fi m de atender aos padrões editoriais da Revista.

1. As Irmãs de Caridade e o Ceará

O Ceará conheceu incontestável progresso após os anos centrais do século XIX, acompanhando, aliás, o rumo seguido pelo próprio País. Nada mais natural se verifi cassem transformações perceptíveis, materiais e imateriais, especialmente na Capital, que passava a ocupar posto hege-mônico nos quadros urbanos da Província.

A presença das Irmãs de Caridade, verifi cada na ocasião, constituiu importante reforço nas intenções formuladas para enfrentar uma conjunção de problemas patentes no campo da educação, da saúde e da ação social, problemas cujas soluções, por motivos diversos, eram buscadas, tanto pelo poder público, como também, concomitantemente, pela militância católica e pela própria sociedade.

No plano assistencial, portanto, o governo da Província, à parte suas próprias ações públicas, encontraria substancial apoio oferecido pela

2 As informações prestadas sobre as origens do culto e da imagem do Menino Jesus de Praga procedem de anotações tomadas pelo autor em contatos pessoais com frades Carmelitas Des-calços da Basílica de Santa Teresinha, no Rio de Janeiro (rua Mariz e Barros, 354). Trechos do artigo referentes a São Vicente de Paulo, bem como alusões à Congregação das Irmãs de Caridade e às Damas da Caridade, apoiam-se em notícias divulgadas em publicações editadas por aquelas instituições, em particular, pela Associação das Voluntárias da Caridade, entidade de cujo quadro social participa a esposa do autor.

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11Igreja do Pequeno Grande

Igreja e pela ajuda de particulares. À época, cabe lembrar, as atividades religiosas se interpenetravam nos programas governamentais, visto que a Constituição Imperial, conquanto garantisse a liberdade de culto, reco-nhecia o Catolicismo como culto de Estado.

A contribuição religiosa, vale lembrar, efetivava-se por via do exercício da caridade, isto é, pela prática indistinta da bondade em favor do próximo, exercida pelo amor de Deus. Por seu turno, a participação laica nos programas sociais traduzia-se pelo exercício da fi lantropia, quer dizer, pela cooperação prestada em nome da solidariedade humana, tanto exercida por via de instituições benefi centes como, diretamente, por ini-ciativas pessoais. No tocante a estes últimos meios de contribuição, nem sempre todos os modos de auxílio dos súbditos se pautavam por atitudes integralmente altruísticas. Na verdade, embora aceitas as ofertas com visível agrado imperial, nas mais das vezes, em contrapartida, transfor-mavam-se em fonte de distribuição de comendas e de títulos honorífi cos e nobiliárquicos, concedidos aos fi lantropos, em sinal de reconhecimento de Sua Majestade, distinção, aliás, altamente almejada nos círculos burgueses, impregnados de aspirações aristocráticas.

1.1 A França seiscentista e a origem da Congregação das Irmãs de Caridade

As Irmãs de Caridade chegaram ao Ceará em 1865. Na época, a Congregação já contava com mais de dois séculos de experiência em ati-vidades de ação social, desenvolvidas em ambientes fortemente abalados por incontáveis atribulações religiosas, políticas, econômicas e sociais.

A França, terra de origem das Irmãs, havia conhecido violentas perturbações provocadas pelo entrechoque entre católicos e reformistas, particularmente no quartel fi nal do século XVI e nos anos iniciais da centúria seguinte. A confi rmação de Henrique IV (1553-1610) como rei, em 1589, monarca protestante, matreiramente convertido, permitiu um acordo entre as partes confrontantes, segundo o qual fi cava reconhecida a liberdade de culto, embora continuasse o catolicismo como religião de Estado.

Na época, verdadeiras guerras entre huguenotes e católicos haviam devastado o país, quer desorganizando o cotidiano das populações pobres, quer conduzindo gradativamente a nobreza à mercê do poder real. O pro-

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cesso de recuperação recorreria, pois, a um centralismo administrativo, criando condições para futura implantação do absolutismo monárquico, vitorioso nos dois séculos seguintes. Nesse quadro instável, Henrique IV, já referido, mentor das bases de organização da França moderna, encontrou em seu fi lho, Luís XIII (1601-1643), o continuador das ações direcionadas à integração nacional, árdua tarefa confi ada à capacidade de Armand Jean de Plessis (1585-1642), o cardeal Richelieu, poderoso primeiro ministro do rei.

No âmbito da Igreja, de modo paralelo, a corrupção e o desinte-resse campeavam frouxamente, afetando todos os setores. Os segmentos religiosos superiores imbricavam-se na vida palaciana, enquanto o baixo clero se mantinha ignorante e indolente. Além do mais, o exercício da pregação católica deparava fortes difi culdades internas criadas pela difusão do jansenismo, além de agravado pelas disputas com os calvinistas, estes agora amparados pela liberdade de crença. Nesse ambiente tumultuado, emerge a fi gura de Vicente de Paulo.

1.2. São Vicente de Paulo

Vicente de Paulo (Vincent de Paul) nasceu em Pouy em 1581, no sul da França, junto dos Pirineus, perto de Toulouse. Faleceu em Paris em 1660. Jovem de origem camponesa modestíssima, aceitou a sugestão paterna de abraçar a vida religiosa, entendida como um meio de ascen-são social. Nos cursos de formação, distinguiu-se por sua inteligência e perspicácia.

Instalado em Paris por volta de 1608, uma acusação de desonesti-dade, embora rapidamente desfeita, fez com que Vicente considerasse de modo interrogativo o sentido de sua vida, fato que o levou a defi nir de vez sua opção pelo amparo aos desvalidos. Engajado como preceptor dos fi lhos da rica família Gondi, à qual fi caria ligado por laços de amizade, pôde participar das altas camadas sociais parisienses. Logo percebeu que nelas conseguiria encontrar meios materiais necessários ao desenvolvimento de uma ação social em favor dos carentes, impregnada não apenas do “amor afetivo pelos pobres, mas do amor efetivo pelos pobres”. A designação, para servir numa pequena paróquia rural sem recursos e envolvida pelo calvinismo, serviu-lhe de experiência e demonstrou de imediato sua imensa capacidade de organizador e seu irresistível poder de persuasão, caracterizado pela simplicidade da palavra.

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13Igreja do Pequeno Grande

Novamente em Paris, circunstâncias fortuitas levaram-no a con-viver com setores conspícuos da nobreza e da alta burguesia. De início, havendo participado da corte de Henrique IV, tornou-se um dos capelães da primeira mulher do rei, Margarida de Valois (1553-1615), a rainha Margot. Sua dedicação ao trabalho, sua fortaleza de espírito, sua rijeza de caráter, sua integridade moral e seus dotes intelectuais fi zerem-no, de pronto, admirado e respeitado nos elevados ambientes que frequentava.

Em quaisquer situações, contudo, jamais renunciou aos projetos de evangelização por meio da caridade, ditados por sua vivência no meio humilde em que nasceu, pelo convívio com os menos favorecidos e com os próprios condenados pela lei, pois fora Capelão Geral das Galés. Após morte de Henrique IV, a rainha Maria de Médicis (1573-1642), italiana, segunda mulher do rei, tornou-se regente em nome do futuro rei Luís XIII (1601-1643), fi lho do casal, ainda menor. Na ocasião, consolidou-se o poder de Armand-Jean Du Plessis, o cardeal Richelieu, primeiro ministro da regente, já mencionado, o qual, pouco depois, mantido ministro pelo novo rei, se tornou executor implacável dos desígnios do jovem soberano.

Nesse período, a fi gura de Vicente de Paulo projetou-se com des-taque, visto o onipotente ministro de Luís XIII lhe valorizar o trabalho de ação social. Por certo, não o apreciava exatamente do ponto de vista ético e cristão, uma vez que o prestigiava como um agente amortecedor de pressões sociais, como um meio de evitar problemas maiores à po-pulação pobre e desamparada de Paris e de muitas regiões da França, grupo numerosos de pessoas que recebiam efi caz ajuda das organizações dirigidas pelo padre.

A morte de Richelieu em 1642, a ascensão do seu protegido, o primeiro ministro cardeal Júlio Mazarino (1602-1661), agora a serviço de Ana da Áustria (1601-1666), rainha regente, mãe do futuro rei Luís XIV (1638-1715), viúva de Luís XIII desde 1643, fi zeram com que Vicente se desligasse dos círculos palacianos. Recebido com manifesto desagrado pelo novo ministro, que era íntimo da rainha e de cujos favores femininos usufruía, a Vicente nada lhe restava salvo afastar-se da corte.

Retirou-se então, em defi nitivo, de um mundo em que buscara en-contrar acolhida para obtenção de ajuda material prestada pelos ricos em favor dos pobres, dos doentes e das crianças, particularmente dos órfãos e dos abandonados.3

3 As imagens de São Vicente de Paulo sempre o mostram acompanhando crianças desvalidas,

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O posicionamento coerente e claro de suas ideias ante os proble-mas sociais da época fi zeram São Vicente de Paulo autor de volumosa obra doutrinária, em que se contam mensagens, sermões, conferências, refl exões, normas e milhares de cartas que escreveu.4 Sua vida explica as diversas organizações religiosas por ele criadas, dentre as quais importa as-sinalar as Damas da Caridade, hoje Voluntárias da Caridade, a Congregação da Missão dos Padres Lazaristas e a Congregação das Filhas da Caridade, à parte o apoio direto às Religiosas da Visitação – as Salesianas de Santa Joana de Chantal (1572-1641), instituições estas todas dedicadas à ação social na França, posteriormente espalhadas pelos mais distantes países.5

1.3. As Filhas da Caridade

Nos propósitos de exercício da caridade, Vicente de Paulo deci-diu obter não apenas ajuda fi nanceira de senhoras de posses, nobres ou burguesas, mas também procurou incitá-las aos trabalhos de assistência pessoal aos necessitados e doentes.

Sem encontrar de início a esperada compreensão e prestes a desistir de seu intento, recebeu apoio de Luísa de Marillac (1591-1660), antiga

como se vê no pátio do Colégio da Imaculada Conceição e na igreja do Pequeno Grande, na cidade da Fortaleza.

4 Além de Vicente de Paulo [de Paul], francês, constam das listas hagiográfi cas da Igreja Católica pelo menos dois santos homônimos, ambos ibéricos, porém nascidos em tempos mais recua-dos. Um deles era um jovem diácono natural de Saragoça, Vicente, que viveu nos primeiros séculos do Cristianismo, martirizado quando do começo das perseguições. Em Portugal, o culto do diácono Vicente remonta à época da fundação do reino, em meados do século XII, particularmente na cidade de Lisboa, da qual o santo é um dos patronos. Relíquias suas teriam sido encontradas em terras lusitanas, o que lhe ensejou várias homenagens, entre as quais a denominação - cabo de São Vicente, conferida ao ponto mais ocidental do continente europeu, no Algarve. Entende-se também, por que, três décadas depois do Descobrimento do Brasil, os colonizadores, em 1532, já rendiam preito a São Vicente, o diácono, consagrando-lhe o nome na primeira aglomeração urbana fundada em terras brasileiras, vila localizada no litoral de São Paulo.

5 Outro santo homônimo é São Vicente Ferrer (1357-1418). Doutor em teologia pela Uni-versidade da Catalunha, ingressou na Ordem dos Dominicanos e tornou-se famoso por sua eloquência e por seus milagres. É o padroeiro da cidade cearense de Lavras da Mangabeira. O sobrenome do santo reproduzia a profi ssão de seu pai, pois Ferrer (com acento na última sílaba), em catalão, signifi ca ferreiro. (GOES, 1950: 25-26; 79-80; 154-155. ROIG, 1950: 266; 266-268; 268-269; TAVARES, 1990:145). Acrescente-se que as perseguições iniciais aos cristãos, nomeadamente na península ibérica, redundaram na canonização de muitos mártires, cujas biografi as são obscuras ou omitidas, entre os quais um santo de nome Vicente, supliciado conjuntamente com suas irmãs Sabina e Cristeta. (ROIG, 1950: 269).

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15Igreja do Pequeno Grande

íntima da corte da rainha Maria de Médicis. Viúva ainda jovem, Luísa foi orientada por Vicente no sentido de tentar a organização de pequenos grupos de moças procedentes de camadas nas quais as tarefas de traba-lhos manuais mais árduos não fossem desconhecidas. Após prepará-las consoante suas respectivas capacidades, ser-lhes-iam, portanto, atribuídas funções assistenciais e educacionais específi cas.

Na busca de sistematizar os esforços de Luísa de Marillac, Vicente resolveu formar, em 1633, uma congregação religiosa feminina dedicada a trabalhos exercidos diretamente nas comunidades. Assim, em vez de encaminhar as jovens para a vida em clausura, como era corrente, procu-rou envolvê-las nos dramas sociais da população, oferecendo-lhes “por mosteiro, as casas dos doentes; por cela, um quarto de aluguel; por capela a igreja paroquial e, por claustro, as ruas da cidade”.

O novo e desconhecido grupo de missionárias causou espanto, acirrando posições contrárias, externadas por aqueles que viam na re-clusão conventual contemplativa o caminho mais fácil para as mulheres obterem a salvação. A necessária licença papal para institucionalizar a Congregação, apesar de difi cultada por conhecidos preconceitos, foi fi nalmente conseguida. Cumpre lembrar que a estas proposições inova-doras se agregava a condição de não estarem as noviças obrigadas a fazer determinados votos públicos solenes, exigidos pela Igreja das demais ordens femininas. Explica-se, deste modo, por que as Filhas da Caridade, posteriormente conhecidas por Irmãs da Caridade, não são propriamente consideradas freiras.

1.4. A romanização da Igreja, o bispado do Ceará e os padres lazaristas

Os problemas de recuperação de um prestígio abalado pela Revo-lução Francesa e pelos efeitos de suas extensões ideológicas ocorridos em outros países, logo agravadas por pressões napoleônicas sobre o Papado, levaram a Igreja Católica a reconsiderar muitas de suas posições, princi-palmente no tocante à disciplina eclesiástica e ao comportamento moral do clero, buscando afi rmar sua independência ante as injunções do poder temporal. Esta diretriz novecentista fi cou conhecida como romanização da Igreja.

Na consequente aplicação das novas diretrizes romanas no campo da ação religiosa em terras brasileiras, verifi cou-se a criação do bispado do

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Ceará em 1853/18546, todavia, somente instalado em 1861. Dom Antônio Luís dos Santos (1817-1891), fl uminense de Angra dos Reis, o primeiro bispo da nova diocese, revelou-se executor fervoroso das recentes decisões papais retifi cadoras.

A fi m de disciplinar a vida sacerdotal cearense, em que pontifi cavam claros e generalizados exemplos de desvios de conduta, designadamente quanto ao celibato clerical, Dom Luís decidiu fundar, em 1864, um se-minário episcopal, onde pudesse formar gerações de padres preparados sob a nova orientação. Deste modo, fez trazer para o Ceará um grupo de religiosos franceses da Congregação da Missão, mais conhecidos como padres lazaristas, assim denominados por alusão a um antigo, amplo e de-sativado lazareto (antigo Priorado da Ordem Hospitalária de São Lázaro), em Paris, onde Vicente de Paulo os havia instalado sete anos depois de fundada a Missão, em 1625.

No Ceará, os padres foram instalados em um edifício cuja pedra fundamental fora lançada pelo bispo Dom Luís em 1862, destinado a abri-gar órfãs. A obra, levantada junto à igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha, estava quase concluída, mas, pouco depois, desmoronou-se parcialmente e, reconstruída, foi alugada ao governo da Província em 1864, a fi m de nela instalar o Seminário Episcopal, fundado na ocasião. (BEZERRA, 1895: 195).

1.5. Fundação do Colégio da Imaculada Conceição

Logo em seguida à chegada dos padres lazaristas, Dom Luís fez vir para o Ceará, em 1865, um primeiro grupo de Irmãs de Caridade, todas francesas, encarregadas do estabelecimento de um colégio de meninas. Consoante as práticas de São Vicente, a nova instituição receberia pensio-nistas de posses, cujas contribuições manteriam o orfanato. As religiosas fi caram temporariamente acomodadas nos “prédios n. 26 e 28 sitos á rua Formosa [Barão do Rio Branco], esquina das Flores [Castro e Silva]” (BEZERRA, 1895: 195), alugados pelo Bispado, operação paga com as quantias recebidas do governo da Província, pela cessão do prédio onde fora instalado o Seminário Episcopal.

6 A Lei Geral nº 693, de 17 de agosto de 1853, autorizou o governo imperial a solicitar à Santa Sé a criação de um bispado no Ceará, efetivada pela bula Pro Animarum Salute, de 8 de julho de 1854. (STUDART, 1896, t. II: 150 e 152).

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17Igreja do Pequeno Grande

Foram-lhes então cedidas, por vinte anos, as instalações do chamado Colégio de Educandos, escola governamental erguida em uma das saídas para o leste da Cidade, via urbana então praticamente desabitada, a futura rua do Colégio, depois, avenida Santos Dumont. Vencido o prazo inicial, a concessão de uso do imóvel foi ampliada para mais cinquenta anos e posteriormente cedido à Congregação em defi nitivo, tempo ao longo do qual veio a receber inúmeros amplos acréscimos e reformas (Figuar 1).

1.6. O Colégio de Educandos

O prédio do Colégio de Educandos, cedido ao Colégio da Imacu-lada Conceição, fora edifi cado para servir de hospital destinado a abrigar pessoas atacadas por uma epidemia de cólera-mórbus prevista, mas que não se confi rmou. Antônio Bezerra (1895:195-196) explica textualmente:

Foi mandado construir este edifício em 1855 pelo presidente Francisco Xavier Paes Barretto para servir de hospital aos moradores do Ou-teiro7 caso fosse esta capital invadida pelo Cholera-morbus, mas não tendo apparecido nessa epocha a terrível epidemia, e devendo crear-se uma casa de educandos, na qual se recolhessem os meninos orphãos e desvalidos da Provincia, conforme determinava a lei nº 749, de 5 de agosto do mesmo anno, passou elle para esse fi m a ser aproveitado.

Por necessidade de acomodações, o prédio ganhou um acréscimo, “cujas obras foram executadas pela planta do engenheiro Ernesto Augusto Amorim do Valle e inaugurado em 1857, sendo inaugurado no dia lº de março de 1857.” (BEZERRA, 1895: 194 e 195).

Um desenho de José dos Reis Carvalho, executado como pintor da Comissão Científi ca de Exploração, que visitou o Ceará entre 1859 e 1861 (Figura 2), mostra a edifi cação nos dias em que ainda funcionava o “Collegio de Educandos”, recém-inaugurado. No alinhamento, à rua e à frente do conjunto construído, aparece um gradil de ferro, com o respectivo portão de entrada, elementos estes ainda hoje os mesmos em uso, apesar 7 Duas das discretas elevações, notadas na planície onde se assenta a parte primitiva da Cidade,

eram conhecidas por outeiros. Havia o Outeiro da Prainha, onde se localizava o Seminário, e o Outeiro do Colégio, assim denominado por alusão ao Colégio de Educandos e, logo depois, ao da Imaculada Conceição. Ambos os topônimos desapareceram absorvidos por referências urbanas mais prestigiosas. A denominação outeiro era também conferida a saraus literários, correntes na Vila, nos anos iniciais do século XIX.

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da introdução de dois apoios de alvenaria junto do portão. Atrás da gra-de, vê-se um bloco, ao qual se acopla uma ala perpendicular, e que leva a outro bloco, nos fundos, paralelo ao corpo da frente, talvez formando um pátio interno. O conjunto, que então se desenvolvia em pavimento térreo, tinha todas as esquadrias arrematadas com vergas em arco pleno (ainda hoje as mesmas), bem como mostrava os paramentos contornados no alto por uma platibanda, em cujo trecho central do bloco voltado para a rua, erguia-se um frontão triangular. Estas soluções formais, em triân-gulos ou em semicírculos, pautavam-se por normas características das obras neoclássicas, aliás, também observadas nas duas pequenas capelas laterais, então já construídas e até hoje preservadas, embora modifi cadas fi sicamente e utilizadas com outros fi ns.

1.7. A Santa Casa de Misericórdia

Quase na mesma ocasião da chegada das Irmãs de Caridade trazidas pelo Bispado, um novo grupo de Irmãs, também francesas, estabeleceu-se no Ceará, vindas do Rio de Janeiro por intermédio do governo da Pro-víncia. Abria-se outra frente de atividades, encarregadas, que foram, as recém-chegadas, dos serviços de enfermagem e de manutenção da Santa Casa de Misericórdia. Essa instituição benemérita, que havia sido fundada por lei provincial em 1846, sob a denominação de Hospital de Caridade, embora visse os trabalhos de construção de sua sede logo começados, somente os teve concluídos quase um decênio depois (a referência é feita a um bloco térreo, inicial, posteriormente ampliado nas extremidades e acrescido de andar superior). Na ocasião, como o governo provincial deparasse grandes difi culdades em fazer a nova instituição funcionar, os empecilhos somente foram superados depois de 1861, quando o hospital fi cou entregue a uma irmandade leiga, organizada especialmente para administrá-lo, e teve o nome mudado para Santa Casa de Misericórdia. Acolhia-se no Ceará, por assim dizer, tardiamente, a designação de an-tiquíssima instituição portuguesa dedicada à assistência hospitalar ultra-marina, criada em 1499 pela rainha Dona Leonor, esposa de Dom João II. Destinadas inicialmente a atendimento de navegantes do mar-oceano, as Santas Casas de Misericórdia integravam os programas lusitanos de expansão do Reino. Cedo tiveram o seu modelo reproduzido em cidades portuárias brasileiras, particularmente na Bahia, no Rio de Janeiro e em

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Santos, sedes das primeiras unidades. Em dias posteriores, as Santas Casas de Misericórdia espalharam-se em todo o País.

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As irmãs da Santa Casa e do Colégio logo passaram a constituir um grupo único, não somente na vida, mas igualmente na morte, como o atesta o amplo conjunto tumular, que também passou a asilar os padres da Missão, conjunto instalado pouco após os dias de chegada das Irmãs, atrás da capela do Cemitério de São João Batista, doação da rica família Albano.

1.8. As Damas da Caridade

Na França, pouco antes de fundadas a Congregação das Filhas da Caridade e a Congregação dos Padres da Missão, Vicente de Paulo havia tentado outros modos de exercício sistemático de amparo aos desafortu-nados. Criara a Associação das Damas da Caridade, depois denominada Associação das Senhoras da Caridade e, atualmente, Associação das Voluntárias da Caridade. As Damas da Caridade constituíram, pois, a primeira grande instituição fundada por São Vicente, em 1617. Formavam um laicato feminino, de início dirigido por Luísa de Marillac, empenhado em atividades assistenciais voltadas para o amparo material e moral dos necessitados, atividades hoje exercidas em mais de cem países e coorde-nadas pela Associação Internacional de Caridades, com sede em Bruxelas. O setor cearense das Voluntárias da Caridade foi fundado em Fortaleza em 1888, sob a denominação de Associação das Senhoras da Caridade.8

***

No âmbito das ações vicentinas, vale ainda acrescentar uma orga-nização masculina de ajuda aos pobres, denominada Sociedade de São Vicente de Paulo, fundada na França, em 1833, por um grupo de jovens liderados por Frederico Ozanam (1813-1853). No Brasil, a primeira Con-ferência da Caridade, vicentina, foi instalada no Rio de Janeiro em 1872,

8 A Regional cearense das Voluntárias da Caridade fi gura como a mais antiga organização femi-nina estadual dedicada à ação social em favor dos desvalidos. Possui sede própria, localizada na rua João Lopes nº 238, esquina com a rua Costa Barros.

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dedicada a São José. No Ceará, aparece como mais antiga a Conferência de São Francisco, fundada no Aracati em 1879. Logo depois, em 1882, já surgia na Capital uma associação congênere.9

2. A Imaculada Conceição e a devoção do Pequeno Grande

Como já assinalado, este artigo tem como objetivo o estudo da igreja fortalezense do Colégio da Imaculada Conceição, construída pelas Irmãs de Caridade. Apresentadas, pois, as origens do Colégio, da Congregação das Irmãs de Caridade e de outras instituições vicentinas afi ns, impõe-se oferecer considerações sobre o orago da capela do Colégio, evidenciado na devoção das Irmãs de Caridade à Concepção Imaculada de Maria, em-bora seja a capela popularmente conhecida sob a denominação de Igreja do Pequeno Grande.

2. 1. Origens portuguesas do culto à Imaculada Conceição

O culto de Nossa Senhora da Imaculada Conceição remonta a tem-pos imemoriais, apesar de difundido na Europa de modo amplo por volta de fi ns do primeiro milênio. Não se deve esquecer de que o nascimento de Jesus, livre da mácula do pecado original, é tema corrente nos primeiros escritos cristãos.

Em Portugal e, por via de consequência, em suas antigas colônias, a Imaculada Conceição de Maria sempre despertou devoção de todas as camadas da população. Adquiriu, entretanto, marcante vulto após a ascensão da dinastia de Bragança ao trono, em 1640, quando, após a co-roação, o novo rei, Dom João IV (1604-1656), consagrou Nossa Senhora da Conceição como padroeira do Reino.

Para melhor entendimento, esclareça-se que Nossa Senhora da Con-ceição era a padroeira da Vila Viçosa, localidade portuguesa, alentejana, onde se ergue o palácio ducal dos Braganças, casa nobre de origem mul-tissecular.10 Consoante a tradição, a pequena imagem venerada na igreja 9 Distinguidas expressões do mundo católico fortalezense integraram e integram a Sociedade

de São Vicente de Paulo, valendo nomear o Barão de Studart, por sua extremada dedicação à causa. Em Fortaleza, a Sociedade de São Vicente de Paulo funciona em prédio próprio, situado na rua Jaime Benévolo nº 51, à praça do Coração de Jesus.

10 A Vila Viçosa alentejana inspirou a denominação da Vila Viçosa [do Ceará], instalada em 1759, em substituição à extinta missão jesuítica da Ibiapaba. Esclareça-se que, quando da expulsão da Companhia de Jesus das terras do Reino, as aldeias das missões jesuíticas foram

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matriz da Vila Viçosa lusa havia pertencido a Nuno Álvares Pereira (1360-1431). Condestável do Reino, triunfador em seguidos embates militares, mas principalmente o grande vencedor dos castelhanos na batalha decisiva de Aljubarrota, em 1385, Nuno Álvares comandou a vitória que evitou Portugal se submetesse ao domínio estrangeiro. Na ocasião, Dom João I (1357-1433) foi proclamado rei e fundador da nova dinastia, dita de Avis, nome da ordem militar de que o novo soberano era o Mestre.

O novo rei, Dom João I, que tinha o Condestável como seu in-separável braço guerreiro, distinguiu-o em sua corte como a fi gura de prestígio maior, consolidado por estreitos laços de amizade pessoal e vinculação familiar. Tais honrarias não impediram que Nuno Álvares, já viúvo, renunciasse às glórias do mundo e ingressasse em um convento carmelita, onde professou como frei Nuno de Santa Maria. O antigo co-mandante militar, tendo-se despojado de todos os seus bens materiais e vivendo quase como um mendigo, morreu em odor de santidade, vindo a ser beatifi cado. O casamento de Dona Beatriz, fi lha de Nuno Álvares Pereira, com Dom Afonso, fi lho natural de Dom João I, fez com que este, por investidura, alçasse o jovem Afonso à superior posição de 1º duque de Bragança, encabeçando a linhagem dos Braganças, casa cujo poderio, com o tempo, viria a se emparelhar com o dos próprios soberanos portugueses.

A propósito de tributos a Maria, não se deve esquecer de que, por anterior e longo período, Nossa Senhora da Assunção tornara-se padroeira dos territórios portugueses, em retribuição à promessa de vitória feita por Dom João I, às vésperas da batalha de Aljubarrota. Como já referido, a derrota infl igida aos castelhanos em 14 de agosto de 1385, véspera do dia consagrado à Assunção, assegurou a manutenção do trono lusitano e a independência do reino, abrindo caminho para as futuras aventuras marítimas portuguesas. Invocação cultuada desde a ascensão da dinastia de Avis, o novo rei, em cumprimento à promessa solene, iniciou a cons-trução do mosteiro e da igreja de Santa Maria da Vitória, conjunto mais conhecido como mosteiro da Batalha, obra notável, de destacado renome no acervo da arquitetura medieval europeia.

Quase três séculos depois, em 1640, quando Portugal se livrou de um domínio espanhol de seis décadas, Dom João IV, já mencionado, descen-

substituídas por “vilas de índios”, criadas na ocasião, com nomes de localidades lusitanas. No Ceará, datam também da época (1759 / 1760), as “vilas de índios” de Soure (Caucaia), Arronches (Parangaba) e Messejana (Paupina).

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dente de Nuno Álvares Pereira e de Dom João I, seguindo velha devoção familiar, ao assumir o trono, resolveu consagrar o Reino e territórios colo-niais a Nossa Senhora da Conceição. Essa decisão do rei bragantino serviu de incentivo ao culto daquela invocação mariana, com ampla repercussão no Brasil, claramente comprovada tanto pelo incontável número de igrejas e vilas, desde então consagradas à Imaculada Conceição de Maria, como pela difusão generalizada do onomástico entre as mulheres.

2.2. As Irmãs de Caridade francesas e o culto da Imaculada Conceição

As raízes e a difusão do culto luso-brasileiro à Imaculada Conceição, conquanto antigo e arraigado no povo, na verdade, pouco se relacionava com as origens de idêntica devoção francesa, também multissecular, pro-fessada pelas irmãs transferidas para o Ceará. A reverência das religiosas à Imaculada Conceição se consolidara sob o incentivo direto de São Vicente de Paulo, em suas constantes menções à “Virgem Maria”, à parte estímulos então recentemente provocados por ocorrências extraordinárias, imbricadas na vida da própria Congregação. Entre fatos singulares, tem-poralmente próximos, alinhavam-se três episódios de excepcional relevo.

Primeiro, as aparições à noviça Catarina Labouré (1806-1876), verifi cadas em 1830, na capela da própria casa central da Congregação, em ocasiões nas quais Maria exortava o culto à Imaculada Conceição, por via da devoção à Medalha Milagrosa. A Capela de Nôtre Dame de la Médaille Miraculeuse logo se transformaria em concorridíssimo espaço de peregrinação católica em zona central de Paris, nas proximidades de Montparnasse.11

Segunda ocorrência, de grande repercussão nos meios católicos, foi a proclamação do dogma da Imaculada Conceição de Maria, pelo Papa Pio IX, em 1854.

Finalmente, como terceiro fato, por assim dizer, já contemporâneo da chegada das irmãs ao Ceará, somaram-se as aparições de Maria, em 1858, a uma jovem camponesa, Bernadette Soubirous (1844-1879), em Lourdes, as quais rapidamente transformaram uma desconhecida loca-lidade do sul da França em afamado centro de romaria universal. Nas 11 A capela localiza-se na rue du Bac, bem perto, aliás, da igreja da Casa-sede dos padres da

Missão, ditos lazaristas, na rue de Sèvres, em cujo altar-mor repousa São Vicente

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aparições, Bernadette dizia ter ouvido Maria afi rmar textualmente: “Eu sou a Imaculada Conceição”.12

A devoção da Imaculada Conceição, tão apegada às Irmãs de Ca-ridade, unindo velhas tradições francesas e luso-brasileiras, encontrou no Ceará campo fértil, com manifestações que se refl etiram explicitamente no nome do colégio, cuja capela, embora consagrada canonicamente à Imaculada Conceição, logo porém se tornou conhecida como Igreja do Pequeno Grande. A denominação, sem dúvida, originou-se de uma ima-gem de Jesus Menino aposta em uma das peanhas laterais da igreja, que sobressai por representá-Lo adolescente, com destacados atributos de realeza. Conquanto mostrada no templo conjuntamente com as demais imagens, sem dúvida foi distinguida como novidade hagiológica, logo querida das fortalezenses, com particular devoção feminina.

2.3. A fi gura de Jesus Menino na iconografi a cristã

Na iconografi a cristã, a fi gura de Jesus conheceu variações no trans-correr das eras. Nos tempos das perseguições romanas, disfarçavam-No simbolicamente sob o desenho de um peixe ou de um círculo. Reconhecido o Cristianismo, as representações mais antigas passaram a mostrá-Lo habitualmente como o Bom Pastor, carregando um cordeiro nos ombros. Nos tempos fi nais do primeiro milênio, aparece com frequência a fi gura de Cristo em Maestà, por infl uência bizantina.

No ocidente europeu, ou melhor, na Itália renascentista, o direcio-namento estético assumido pela pintura e pela escultura na representação da fi gura humana, logo induziria reconstituições pictóricas naturalistas de cenas da vida de Jesus, transcorridas da Anunciação à Ascensão, tantas vezes com interpretações triunfais, em glória, com biótipo latino ou ger-mânico, louro, representações que permaneceriam no imaginário cristão, daqueles dias até o presente13. No período barroco seriam infl uenciadas pela dramaticidade das concepções artísticas da época, concentradas nos episódios trágicos da Paixão e, em especial, no Cristo crucifi cado.

A fi gura de Jesus Menino, cabe mencionar, desde o Pré-renasci-mento, sempre atraiu os artistas, todavia, representada com frequência 12 Lourdes fi ca no sul da França, junto dos Pirineus e próximo de Pouy, localidade onde nasceu

São Vicente de Paulo.13 Na imagem da igreja fortalezense do Pequeno Grande, há pouco mencionada, a fi gura de

Jesus Menino tem aparência germânica, mostrando olhos azuis... (Figura 7).

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em passagens da Natividade e da fuga para o Egito. Lembravam-No, portanto, quase recém-nascido, embora algumas referências às vezes O mostrassem mais desenvolvido fi sicamente, em companhia da Mãe. Já a fi gura de Jesus adolescente, contudo, pouco aparece nas representações hagiológicas cristãs, talvez em decorrência das raras menções lidas nas Escrituras, quase sempre restritas ao cotidiano, na ofi cina de carpintaria de São José ou às cenas no templo de Jerusalém, entre os doutores da Lei.

Estas últimas representações despertariam maior atenção em perío-dos posteriores, integrantes do ciclo de imagens do Menino, mostrado já isoladamente, desacompanhado dos pais. Uma delas, de interesse deste artigo, merece registro. Envolve criações poéticas de origem medieval, nascidas e propagadas pela imaginação devota dos romanos. Conforme antigos relatos, em dias contemporâneos ao nascimento de Jesus, o im-perador Augusto, teria perguntado à sibila Tilbur se haveria no mundo alguém com maior poder que sua própria pessoa. A profetisa ofereceu uma visão que deixou o imperador profundamente abalado, na qual uma fi gura feminina – Maria, acompanhada do Filho, apresentava-O ainda menino, subentendendo uma resposta clara à indagação. O episódio, transformado em lenda, constitui a origem remota das imagens de Jesus Menino, posto em plano superior, quando em confronto com poderosos, qual o onipotente imperador romano.

O fato extraordinário, ora mencionado, teria ocorrido em local de Roma, onde se veio a erguer a igreja de Santa Maria in Aracoeli, na colina do Capitólio, obra iniciada pelos frades franciscanos no século XIII, em substituição a um mosteiro desativado, cuja origem remontava aos dias iniciais do cristianismo. A igreja franciscana preservou no altar-mor um quadro, talvez datado do ano mil, em que estavam representados a Virgem e o Menino Jesus. Posteriormente, os frades mandaram esculpir uma imagem do Menino, em madeira extraída de uma oliveira do jardim de Getsêmani, em Jerusalém, peça colocada no transepto da igreja. A imagem do Santo Bambino di Aracoeli tornou-se uma das mais amadas e veneradas pelos romanos, origem da devoção, que se difundiu na cristandade. Furtada recentemente, a imagem acha-se substituída por uma cópia.

Essas referências históricas, ora incluídas com propósitos de con-textualização do tema em curso, deixam perceber que a representação de Jesus Menino procede de tempos remotos, contudo, reafi rmada com grande empenho em dias bem mais à frente, no século XVI, sob o incen-

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tivo de Santa Teresa de Ávila (1515-1582), com forte repercussão ibérica, despertando vivo interesse nos ambientes conventuais de freiras e frades carmelitas, quando o Menino se mostra representado segundo inúmeras invocações, geralmente conhecidas pelos nomes das cidades ou regiões respectivas.

O culto ao Menino Jesus em Portugal manteria correlação com a vas-ta igreja do Menino Deus na Alfama, em Lisboa, realização maneirista de traços pré-barrocos, mandada construir por Dom João V em 1711, quando aguardava o nascimento de seu primogênito. A igreja, até hoje inacabada (faltam-lhe as torres), foi projetada por João Antunes (1643-1712), mas concluída por Ludovice, nome lusitanizado de Johann Friedrich Ludwig (1673-1752), arquiteto alemão radicado em Portugal, onde realizou gran-des obras, entre as quais o famoso conjunto conventual de Mafra.

A devoção ao Menino Jesus propagou-se no Brasil antigo, como o comprovam as várias igrejas dedicadas à invocação. Escusado relacionar paróquias, capelas e templos dedicados ao Menino Deus, espalhados no território nacional, orago, aliás, consagrado na nomenclatura urbana de bairros de muitas cidades do País. Entre outras, no próprio Ceará, cumpre pelo menos nomear a igreja do Menino Deus, erguida na cidade do Sobral, nas primeiras décadas do século XIX, por duas carmelitas procedentes do Recife. Na igreja sobralense, o Menino aparece representado duplamente, tanto no altar-mor como no forro da nave, em relevo, mas não se mostra sozinho, porque postado entre Nossa Senhora e São José, compondo um quadro da Sagrada Família, obra do artista Firmino da Silva Amorim.

2.4. A devoção tcheca ao Menino Jesus de Praga

As imagens do Menino Deus com as insígnias de Rei, segurando com a mão um globo terrestre, mais conhecida pela invocação de Menino Jesus de Praga, datam de época menos distante, pairando dúvidas quanto à sua verdadeira origem. Segundo algumas fontes, manteria vínculos com a corte de Felipe II, em Madrid, no século XVI, cidade de onde o culto se teria espalhado nos domínios daquele soberano, em territórios imensos, que abrangiam partes centrais da Europa, entre as quais as terras da Boêmia. Conforme narram outros, a devoção teria nascido à mesma época, porém na própria Boêmia, na atual República Tcheca ou, mais precisamente, na cidade de Praga, fato que explicaria a denominação Menino Jesus de Praga.

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Não se pode, entretanto, esquecer de que outras imagens de Jesus--Menino já atraíam fi eis na Espanha, em seus territórios europeus e em suas colônias, como o Jesús Santo Niño de Atocha, em Madri,14 e tam-bém imagens correntes em Malines, na Bélgica, país então sob domínio espanhol.15

A imagem original, conhecida como Menino Jesus de Praga, encon-tra-se à vista dos fi eis na igreja de Nossa Senhora da Vitória, igreja con-ventual dos carmelitas, situada em rua homônima, nos arredores da zona mais antiga da capital tcheca. A arquitetura da igreja refl ete culturalmente a própria época, constituindo uma das mais importantes contribuições ao notável acervo barroco da cidade. O mosteiro foi construído nos começos dos Setecentos, por empenho de um dos imperadores alemães, destinado a abrigar frades patrícios seus.

Feita de madeira, revestida de cera, a imagem do Menino Jesus de Praga mede apenas 48 centímetros de altura, dispondo de faustoso guarda--roupa, exibido na troca periódica dos trajes que a envolvem, executados por freiras hábeis e devotas. Apresenta Jesus-Menino com vestes talares, portando à cabeça uma coroa real e, como gesto identifi cador, abençoa os fi eis com dois dedos da mão direita estendidos, enquanto, com a mão esquerda, segura um globo terrestre. Este último atributo faz crer que o culto do Menino-Rei, de Praga, dataria de época relativamente próxima, quando muito de fi ns do século XVI, já que o reconhecimento da forma esférica da Terra havia sido fi nalmente confi rmado pelas teorias de Nicolau Copérnico (1473-1543), formuladas em dias quase contemporâneos dos inícios da devoção.

A tradição confere duas origens à imagem, embora ambas as versões não colidam, afi gurando-se possível admitir que uma delas constituiria prosseguimento da outra. A primeira versão assinala que a pequena ima-gem chegou a Praga como dote de casamento da princesa espanhola Maria 14 A devoção ao Santo Niño de Atocha recua aos tempos da ocupação dos mouros, na Espanha.

Procede de lendas em que cristãos, prisioneiros em Atocha (hoje basílica e trecho central da cidade de Madri), eram alimentados furtivamente por um menino, o Niño Jesús. A imagem vista na Basílica de Atocha e em cópias, mostra, entretanto, o Menino sentado, vestido de peregrino, com um chapéu de abas amplas na cabeça e equipamentos de romaria nas mãos Propagado na América espanhola, o culto despertou fervorosa devoção, particularmente no México.

15 Malines é uma cidade belga (Mechelen, em fl amengo), localizada perto de Bruxelas, que se tornou famosa no século XVII pela produção de estatuetas despidas (a fi m de serem vestidas). Entre outras, destacavam-se imagens do Menino Jesus, às vezes, portando à cabeça uma coroa real, com um globo à mão esquerda e concedendo a benção com dois dedos da mão direita, de modo semelhante à imagem de Praga.

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Manriques de Lara y Mendoza, em fi ns do século XVI, havendo sido doada ao convento em 1613. Desde então, ocorreram fatos prodigiosos atribuídos ao culto devotado ao Menino, quer no campo da felicidade geral, livrando a cidade de invasões militares e da peste, quer no atendi-mento de rogos pessoais. Como se aventou, a origem ibérica da imagem apareceria denunciada na correlação simbólica entre o globo terrestre e o domínio universal, pretendido pelos reis da Espanha, imperadores da Áustria, senhores de grande parte da Europa, e cujo domínio se estendia através dos mares, alcançando as Américas e as terras distantes da Ásia e da Oceania. Essa visão do mundo, presente na conhecida frase de Carlos V (1500-1558) - “em meus domínios, o sol nunca se põe”, continuou vigente, e com maior força, na corte de seu fi lho, Felipe II (1527-1598). Este soberano, detentor de copiosos títulos, entre os quais o de rei de Portugal e de suas colônias, inclusive do Brasil, desfrutava de temível poderio, mantido pelos menos até o desastre da Invencível Armada, em 1588. Por outro lado, e por tais razões, como já foi insinuado, não se sabe se a imagem, incentivando aos fi eis a invocação do Menino Jesus, como verdadeiro Rei do Universo, seria um modo sutil de contestar o mando insaciável da Casa d’Áustria.

A outra versão, mais repetida, esclarece que Policena, princesa tcheca pertencente à poderosa grei dos Lubkowitz, doou a imagem aos carmelitas da igreja de Nossa Senhora da Vitória, vestida com trajes exe-cutados por ela própria, a princesa. No ato da doação, Policena confessou estar entregando aos frades um precioso tesouro pessoal, para o qual pedia fossem prestadas todas das honrarias.

Esta última versão, como se percebe, não contradita a procedência espanhola da devoção, pois os fatos se alinham em sequência cronológica, deixando apenas de fi car esclarecido como a pequena imagem teria passado das mãos de Maria Manriques de Lara às de Policena Lubkowitz. Cabe, porém, lembrar que ambas as fi guras femininas integravam os mesmos círculos palacianos da cidade de Praga, além de algumas fontes até afi r-marem que Maria de Lara seria mãe de Policena.

2.5. O Pequeno Grande

A exposição da imagem na igreja do mosteiro, em Praga, como se assinalou, fez aumentar a devoção ao Menino Jesus, a quem se atribuíam ocorrências milagrosas, em benefício de pessoas e da cidade. A fi m de

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evitar os percalços de mais guerras de religião, noviças carmelitas teriam sido transferidas para Munique, na Baviera, região alemã onde os cató-licos formavam maioria. É provável que essa peregrinação forçada haja redundado na difusão do culto do Menino Jesus em meios germânicos, onde teria surgido a expressão popular que exaltava o Klein Gross, o Pequeno Grande.16

Em Praga, fi nda a guerra, destruído o convento por nova onda de invasores, a imagem foi mutilada, perdendo uma das mãos. Durante certo tempo, a pequena imagem fi cou esquecida de todos, menos de um frade chamado Cirilo, que a havia guardado, escondendo-a, em busca de livrá--la de mais danos. Frei Cirilo teve de enfrentar várias provações, sempre marcadas pela indiferença quanto à preservação da imagem. Obrigado, por obediência, a repassar aos seus superiores as dádivas em dinheiro que conseguia dos fi eis, destinadas a recompor a imagem, o frade via os seus desígnios seguidamente se frustrarem. Um dia, enfi m, alguém se prontifi -cou em ajudar frei Cirilo, mandando restaurá-la. O êxito do trabalho não pôde, todavia, ser de imediato comprovado pela população, por faltarem condições dignas para expor a pequena escultura, já que o convento e a igreja haviam sido praticamente destruídos pelos hussitas.

Superados os desentendimentos gerados pelas guerras de religião e obtida fi nalmente a paz, decidiu a princesa Lubkowitz mandar construir a nova igreja, de feição barroca, inaugurada em 1644. A imagem, entronizada em um nicho, na parte inferior do altar-mor do templo, começou desde então a atrair milhares de peregrinos. O Menino Jesus de Praga integra o ciclo das imagens desnudas (às vezes, esculturas de madeira não propria-mente despidas, mas envolvidas com representações entalhadas à guisa de singelas camisolas), que devem ser ricamente vestidas, no presente caso, com especial guarda-roupa confeccionado por irmãs carmelitas.17

16 O autor deparou referências à expressão Klein Gross em citações alusivas a documentos do ano de 1737, preservados na Biblioteca Nacional Tcheca, escritos em alemão, da autoria de um frade carmelita descalço, frei Emericus A. Stephano, O. Carm. Disc. Esses documentos antigos aparecem enfeixados sob o título geral - Pragerisches Gross und Klein: Das ist: Geschichts-Verfassung dess in seinen seltsamen Gnaden (...). (https : // www. Tripadvisor.com > Prague). Segundo se depreende, fariam referência à história da instituição do culto do “Pequeno Grande [Grande Pequeno] de Praga” e a “graças especiais alcançadas”.

17 Segundo a tradição, as primeiras vestes foram feitas pela princesa Lubkowitz. As cores das roupas do Menino Jesus guardam referências simbólicas, que variam conforme as épocas litúrgicas. Branco – cor da pureza, da gloria e da santidade: no Natal e na Páscoa. Roxo - cor da penitência: no Advento e na Quaresma. Vermelho – cor do sangue e do fogo: na Semana Santa, Pentecoste e festas da Santa Cruz. Azul – cor do céu: nas festas da Imaculada Conceição e da Assunção. Verde - cor da esperança e da vida: nos demais dias do ano.

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29Igreja do Pequeno Grande

2.6. Expansão devocional do Menino Jesus de Praga: o Brasil

A devoção ao Menino Jesus de Praga espalhou-se gradativamente pela Europa. Por fi m, cruzou os mares, chegando ao Brasil somente na terceira década do século XX, pelas mãos dos carmelitas. A versão brasi-leira “ofi cial”, quer dizer, a cópia autêntica da imagem original da cidade de Praga, encontra-se sob guarda da Ordem dos Carmelitas Descalços, exposta numa capela especialmente construída como anexo da igreja basilical de Santa Teresinha, na rua Mariz e Barros, no Rio de Janeiro, ponto permanente de atração de incontável número de fi eis.

Como já referido, as circunstanciadas informações sobre a história da imagem do Menino Jesus de Praga foram conseguidas pessoalmente pelo autor em contatos verbais e em leituras oferecidas pelos frades carmelitas da Basílica, cuja pedra fundamental foi lançada em 1921 e festivamente inaugurada em 1927. O templo teve como orago Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), desde logo identifi cada com esta denominação, a fi m de diferençá-la de Santa Teresa de Jesus, espanhola de Ávila, mística, famosa doutora da Igreja, nome de alta expressão na literatura de seu país, já referida anteriormente.

A jovem Teresa do Menino Jesus, freira carmelita francesa de Li-sieux, falecida à fl or da idade, havia sido beatifi cada um pouco antes, em 1923, e canonizada em 1925. Esses atos papais obtiveram ampla repercus-são no Brasil, onde a nova santa logo se tornou conhecida afetivamente pelo diminutivo de Santa Teresinha de Jesus, onomástico feminino desde então acolhido com fervoroso agrado nas pias batismais brasileiras.18

3. Arquitetura religiosa do século XIX, dita neogótica. Antecedências

Encerrada a necessária introdução relativa às devoções católicas da Imaculada Conceição de Maria e do Menino Jesus de Praga, este artigo dirige-se, por fi m, a considerações sobre a igreja do Pequeno Grande, obra de arquitetura inscrita no capítulo das chamadas realizações neogóticas. 18 Como se comenta mais à frente, a chegada da imagem do Menino Jesus de Praga à igreja

fortalezense do Pequeno Grande ocorreu duas décadas antes da exposição da imagem na Basílica de Santa Teresinha, igreja carmelita, no Rio de Janeiro. Veio juntamente com as demais imagens da igreja, todas executadas por Heaulme-Buisine, em Lille, cidade situada na fronteira da França com a Bélgica, país este onde foi fundida a estrutura metálica da capela.

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Este termo alude, em sua origem e em seu emprego, concepções arqui-tetônicas, as quais, de um modo ou de outro, no transcorrer do século XIX e ainda no século XX, subentendiam projetos de edifi cações novas, correlacionadas, todavia, em suas aspirações e em suas formas, com grandes realizações do período medieval. Enfi m, designavam tentativas de realizar proposições que se inspiravam ou que tentavam transcrever, de modo aparentemente aproximado, as famosas catedrais góticas, admiradas por seus valores construtivos, simbólicos e espaciais, reconsiderados com entusiasmo pelo romantismo.

Para melhor entendimento da matéria, parece de interesse promo-ver-se apreciação, mínima que seja, dos conceitos estéticos com os quais habitualmente se identifi cam aquelas realizações arquitetônicas da Idade Média. Ante tal propósito, serão consideradas, de início, as obras da fase fi nal daquele período, eleitas por projetistas do século XIX como modelos referenciais para transcrição. Em seguida, far-se-á um rápido exame de posições valorativas opostas, assumidas no Renascimento, que procuravam desqualifi car e desprezar as realizações medievais. Por último, tentar-se-á apreciar o conjunto de atributos estéticos, simbólicos e técnicos, que os admiradores oitocentistas do médiévisme buscaram resgatar e reproduzir.

3.1. Arte medieval e mutações conceituais

Comumente, considera-se a Idade Média como uma dilatada fase da história europeia, com duração aproximada de um milênio, que se estende entre a derrocada do Império Romano e a tomada de Constantinopla, em 1453, ou a descoberta da América, em 1492. Das incontáveis trans-formações verifi cadas no transcorrer daquele longo período, entretanto, somente interessam à temática deste artigo as mudanças observadas nos últimos séculos do ciclo. Ante tal ensejo, episódios alusivos às invasões dos bárbaros e à implantação do feudalismo e da cavalaria ganham pouco signifi cado quando postos em confronto com as radicais mutações eco-nômico-sociais verifi cadas na parte fi nal da Idade Média, com refl exos na vida urbana.19 Essas alterações, interligadas a um novo sistema eco-nômico e social em formação, dito capitalista, visavam deliberadamente 19 Arnold Hauser divide a Idade Média em Alta Idade Média (feudalismo; economia natural),

Idade Média Plena (cavalaria cortesã) e Baixa Idade Média (burguesia cidadã). Observa, contudo, que “o feudalismo, a cavalaria e a burguesia estão mais separados entre si do que a Antiguidade se distancia da Idade Média e esta, do Renascimento.” (HAUSER, 1958, v.2: 167 ).

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à obtenção do lucro, então estimulado por um comércio inter-regional desenvolvido particularmente nas rotas de ligação, terrestres e marítimas, do Mediterrâneo com o mar do Norte. As inovações econômicas, imbri-cadas no surgimento de uma nova classe social, a burguesia, redundariam numa revitalização das atividades urbanas com amplo rebatimento no campo da Arquitetura.20

Se, em termos de História da Arte, haveria para Hauser aproxima-ções mais estreitas entre a Baixa Idade Média e o Renascimento (ver nota 19), por certo, tal afi rmação se justifi caria na pintura e, principalmente, na escultura, em consequência da aceitação das formas naturalistas como meio de expressão. Na arquitetura, porém, afl orariam muitas divergên-cias entre os dois períodos, não apenas no plano estético ou simbólico, mas também como resultado direto da adoção de processos construtivos dessemelhantes.

3.2. Baixa Idade Média - Arquitetura Românica

Por bom tempo, a arquitetura da Baixa Idade Média fi cou referida como arquitetura gótica. Os autores de fi ns do século XIX vieram, porém, a dividi-la em duas fases distintas - a arquitetura românica e a arquitetura gótica, propriamente dita.

A arquitetura românica, assim chamada porque contemporânea da formação das línguas românicas, desenvolveu-se entre fi ns do século X até meados do século XII. Nascida na França, com forte diversidade regional, difundiu-se na Europa, declaradamente em Portugal, quando adquiriu marcas locais características. Nas obras religiosas, manteve quase sempre o plano basilical das igrejas cristãs primitivas, acrescido de um espaço em hemiciclo na parte posterior, a abside, algumas vezes cercada de absidíolas (pequenas absides).21 Nos processos construtivos e nas formas, com refl exo na organização espacial, introduziram-se solu-ções procedentes do Oriente Próximo (Pérsia, Síria), isto é, tetos curvos, resolvidos com abóbadas de berço.

20 Nem todos os autores concordam com que a urbanização europeia desenvolvida na Baixa Idade Média procedeu unicamente da expansão das rotas de comércio. O exame de certas referências discordantes, algumas admitidas pelo autor, transcende o escopo deste trabalho.

21 “Do gr. apsís, pelo lat. abside, por via erudita.” (NASCENTES, 1966: 5). Signifi ca arco, abóbada. Certamente, por reconhecimento à sua origem grega, alguns fi lólogos recomendam o uso do vocábulo apside, “como forma preferível a abside”. (JUCÁ FILHO, 1986: 72)

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Estas últimas lembrariam um meio cilindro emborcado, nascido de um arco pleno que se desloca ao longo de retas paralelas, abóbadas cujas cargas, distribuídas sobre paredes maciças, recebiam o reforço de contra-fortes, destinados a absorver os empuxos laterais, solução já conhecida dos romanos na Antiguidade.

Nas obras românicas, também foram empregadas abóbadas de ares-tas, constituídas pela interpenetração de duas abóbadas de berço com iguais diâmetros. Na verdade, as arestas correspondiam às diagonais formadas pelos cruzamentos das abóbadas, compondo um conjunto cujo peso era absorvido pelas colunas de apoio, por meio de trompas e pendentes. No período, como inovação estrutural, já aparecem os arcos quebrados (vistos na nave da abadia francesa de Cluny, na Borgonha), que seriam depois intensamente adotados na arquitetura gótica.

3.3. Baixa Idade Média – Arquitetura Gótica

As denominações usuais, concedidas a escolas artísticas, quase sempre se originaram de intenções pejorativas, emitidas em busca de desqualifi car proposições até então reconhecidas. As desconsiderações, na verdade, sempre foram proferidas pelos antagonistas, a fi m de favorecer a aceitação de criações novas. Ou, ao contrário, as novidades recebiam reprovações dos antigos, emitidas contra os inovadores. Entende-se por que Rafael Sânzio, convidado pelo papa Leão X a opinar sobre projetos da nova igreja de São Pedro, cuja construção se programava em Roma, teria afi rmado que não se deveria optar por uma solução “gótica”. Sem dúvida, externava uma atitude preconceituosa contra realizações medie-vais, que desconheciam ou não se pautavam pelos cânones estéticos das obras renascentistas, correntes nos tempos do artista. Cometia, entretanto, claro equívoco quando do emprego do vocábulo gótico com o propósito de desmerecer obras medievais, visto designá-las como edifi cações devidas aos godos, isto é, a povos apontados como bárbaros. A referência incorria, assim, em perceptível engano, agravado com o fato de que os godos jamais se notabilizaram como construtores.

De um modo ou de outro, com o transcorrer do tempo, o adjetivo gótico incorporou-se ao léxico das línguas ocidentais e hoje não há como substituí-lo. Passou a designar obras artísticas da Baixa Idade Média, datadas do século XII até o século XVI, com preferência para realizações religiosas francesas dos anos duzentos.

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3.3.1. Nascimento do mundo moderno

As novas e amplas mudanças ocorridas na última fase da Idade Média procediam da revitalização do comércio inter-regional, estimuladas pela venda de produtos até então desconhecidos na Europa, divulgados nos contatos com o Oriente, quando das Cruzadas. Desde então, consolidou--se a importação europeia de alimentos exóticos (o açúcar, o arroz), dos tecidos de algodão e de seda, das tapeçarias. Por sua vez, as navegações, benefi ciadas com o uso da agulha imantada, a bússola, puderam escolher rotas seguras, prenunciando os descobrimentos de terras desconhecidas. A pólvora, usada nos fogos de artifício, logo se transformaria em instrumento bélico de destruição no Ocidente, de tal sorte que, nas fortifi cações, as altas muralhas de defesa sofreriam completa remodelação formal, requerendo desenho em condições de anular ou resistir aos impactos das armas de fogo. A divulgação do emprego dos números arábicos (na verdade, indianos, usados na Espanha ocupada pelos mouros), redundou na adoção do sistema dito de partidas dobradas, predecessor da contabilidade mercantil. Em-pregados no exercício de atividades lucrativas, os números comprovavam os ganhos ou as perdas nos negócios, agora facilmente quantifi cáveis. De igual modo, os banqueiros logo passariam a recorrer às cartas de crédito nas transações com praças distantes, medida que facilitava, com segurança, o incremento de suas atividades fi nanceiras. Enfi m, atraídos pelas mutações, todos procuravam o desfrute de uma cópia vultosa de inovações aplicadas em favor do desenvolvimento de um capitalismo nascente.

3.3.2. A arquitetura gótica

Nesse contexto em transição, surgiram novos programas arquitetô-nicos, gerando edifi cações envolvidas por novos valores. Umas represen-tavam o fortalecimento das comunidades urbanas, traduzindo o poderio das administrações municipais autônomas, enriquecidas22. Enquanto isto, outras realçavam mais ainda a presença da Igreja secular, representada pela 22 Assinala Paulo Thedim Barreto que, como símbolos arquitetônicos do poder municipal, sur-

giram “edifícios que no tempo e no espaço são: Hôtel de Ville, em França; Palazzo Publico ou Palazzo della Regione ou ainda Palazzo della Comunità, na Itália; Casas Consistoriales, Casas de Ayuntamiento ou Cabildos, na Espanha; Paços do Concelho, em Portugal e Casas Câmara e Cadeia, no Brasil.” (1947: 21). Os cabildos, vale assinalar, eram instituições ca-racterísticas das colônias espanholas nas Américas.

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autoridade episcopal, cujo prestígio emergia, traduzido simbolicamente na construção das grandes catedrais, obras amparadas na contribuição material das corporações de ofícios e no fervor religioso dos habitantes das cidades.23

3.3.2.1. As catedrais

As catedrais góticas tornaram-se o símbolo arquitetônico da última fase da Idade Média. Reproduziam, de modo ampliado, o plano basilical das igrejas românicas, com nave central, ladeada de uma ou, às vezes, duas fi las de naves secundárias, as quais prosseguiam até as partes posteriores das igrejas, entre a abside e o coro. Essas vias de circulação - os deambu-latórios, formavam longos caminhos internos, utilizados em procissões devotas e festivas. A nave central aparecia cortada pelo transepto, espécie de curta nave transversal, após a qual estavam instalados o cadeiral do cabido diocesano e a cadeira onde o bispo tomava assento, a cátedra, palavra grega que signifi ca assento e gerou o termo catedral.

Os projetos arquitetônicos das catedrais limitavam-se, porém, a uma representação gráfi ca sumária, o “risco” fornecido pelo responsável pela obra, desenho em que transparecia apenas uma visão do conjunto. A execução das partes da obra era confi ada aos respectivos mestres, que as desenvolviam consoante interpretação pessoal, quer conferida aos desenhos, quer conforme as técnicas dos seus ofícios. Por tal razão, havia certa aparência de unidade, quando a obra era vista de longe, mas, examinadas de per si, as partes pareciam autônomas, o que chocava os olhos renascentistas.

Na montagem estrutural, surgiram as abóbadas nervuradas, novi-dade inconfundível como traço identifi cador da arquitetura gótica, conse-quente no agenciamento espacial. Na verdade, as nervuras, ou melhor, as ogivas, constituíam um modo de reforço das já mencionadas abóbadas de arestas.24 Ordenavam, assim, um sistema de apoio com dois arcos que se 23 Diferentemente da arquitetura conventual do período românico, a participação leiga assumiu

manifesto vulto nas obras do período gótico, de modo que muitos mestres (arquitetos) são identifi cados por seus nomes, bem como seus desenhos (dos “geometreiros”) chegaram aos nossos dias.

24 . “OGIVA, s. f. do lat. augere, augmentar (archit.) arco formado de duas curvas, que se encon-tram no vertice em angulo mais ou menos agudo, arcus decussatus).” (RODRIGUES, 1876: 273). Arcus decussatus (lat.) é um arco cruzado. Da palavra ogiva, cabe lembrar, originou-se a expressão arquitetura ogival.

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entrecortavam - os cruzamentos de ogivas, unidos no alto por uma peça de pedra, a chave. Complementado com duas duplas de arcos laterais – ditos arcos duplos e arquivoltas, esse sistema estrutural sustentava os tramos da coberta da nave central (e das naves laterais), coberta que aparecia resolvida como uma espécie de laje discretamente curva, composta por painéis de placas de pedra. O conjunto descarregava em pilares compos-tos por feixes de colunas esbeltas, cujos desenhos e modos de união se modifi caram com o tempo.

As abóbadas da nave central atingiam grande altura, sustentadas por colunas esbeltas, contraventadas exteriormente por escoras, os arcos botantes, destinados a transferir os empuxos para robustos apoios verti-cais externos.25 Como não havia propriamente necessidade de paredes de sustentação, os vazios laterais fi cavam preenchidos por vitrais.

As fachadas de frente das catedrais geralmente voltavam-se para o poente, de sorte a receberem o sol da tarde, que penetrava na nave através de um imenso vitral circular, a rosácea, inundando o espaço de luz multi-colorida. As portadas de acesso, constituídas de sequências de reentrâncias externas, fi cavam literalmente ocupada por imagens bíblicas ou de santos, esculpidas em pedra. A larga e pesada porta de entrada contava com duas folhas que funcionavam separadas por em um mainel, no qual se encai-xava uma imagem26, solução muitas vezes repetida nas portadas laterais, abertas nos transeptos. Na parte frontal superior, era comum a introdução de uma faixa contínua, em que se alinhavam estátuas de fi guras bíblicas. Finalmente, como coroamento, implantavam-se os tambores das torres, cujas agulhas de raro foram então concluídas.

25 A nave central da catedral de Amiens (1236-1288), concepção de Robert de Luzarches, obra prima da arquitetura gótica, tem cerca de 120 metros de extensão (com mais 15 metros, da capela em abside) e 60 metros de largura no transepto. Alcança os 42,50 metros de altura, do piso à chave da abóbada, altura mais elevada do que um edifício contemporâneo de 14 pavimentos! Como a nave, isoladamente, conta com 14,50 metros de largura, os espaços in-ternos, invadidos pela luz, vinda alto, através dos vitrais, provocam forte impacto ascensional, marcado por exaltação mística em muitos fi eis.

26 No mainel da porta de ingresso da catedral de Amiens, vê-se o Beau Dieu, uma das mais famosas esculturas góticas, magnífi ca obra da fase artística de idealização da fi gura humana, embora já com traços do natural. A referência se impõe porque a imagem duocentista de Amiens já mostra o Cristo concedendo a benção com os dois dedos da mão direita, embora porte a Bíblia com a mão esquerda. A posterior substituição do livro pelo globo terrestre, de certo modo constituiria uma distante antecipação das imagens do Menino Jesus de Praga e versões assemelhadas.

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Composta por elementos portadores de valores simbólicos, contu-do, cuja decodifi cação, conquanto cifrada tornava-se compreensível aos fi eis. Exaltada poeticamente por Victor Hugo como a “oração de pedra”, a catedral gótica era edifi cação construída com elementos duros, embora parecessem desmaterializados por via de soluções estruturais inovadoras.

3.3.2.2. As capelas

Paralelamente às grandes catedrais, impõe-se lembrar, também se construíam igrejas menores, capelas de nave única. Entre as mais desta-cadas, avulta a Sainte Chapelle, levantada na Île de da Cité, em Paris, a “gaiola de vitrais”, maravilha da arte gótica, inaugurada em meados do século XIII (1248), obra da época de Luís IX, São Luís, rei de França. As soluções das capelas de espaço unifi cado teriam a reprodução tentada, na medida do possível, em versões neogóticas no século XIX, entre as quais, cabe antecipar, se inscreveria como exemplar modesto, mas valioso, a igreja fortalezense do Pequeno Grande.

3.4. O Renascimento e a perda de prestígio da arte medieval

A Itália, por suas raízes históricas e por sua posição geográfi ca, em ponto central do mar Mediterrâneo, não conhecera propriamente o feu-dalismo. Sobre o mais, algumas de suas cidades cedo haviam recuperado ou adquirido o antigo prestígio, em particular, Veneza e Gênova, portos ligados ao comércio com o Oriente. Na Baixa Idade Média, as atividades de intermediação mercantil com centros ativos, no mar do Norte e na Europa Central, redundariam na rápida criação de riquezas, traduzindo nova situação fi nanceira de que participavam poderosas comunas italianas, entre as quais Florença, cidade de banqueiros.

Até então respeitados como artesãos qualifi cados, os artistas uniram-se ao prestigioso grupo intelectual dos humanistas, na busca de valorizar socialmente suas atividades, integradas agora em um elevado status. (HAUSER, 1958, v.2, pássim). Entre os argumentos favoráveis à aliança, as obras artísticas, até então tidas como criações materiais, passaram a ser consideradas como cosa mentale, isto é, participantes do conjunto de obras produzidas intelectualmente. Ao fi m, benefi ciada por um quadro histórico em rápidas mudanças, a união entre humanistas e artistas, op-

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tando por um elo comum, tomou o acervo de obras greco-romanas como fonte normativa, estabelecendo novos conceitos de beleza baseados em referências estéticas da antiguidade, desde então nomeadas como “clássi-cas”.27 Nas artes visuais - na arquitetura, recorriam como padrão de beleza a relações numéricas abstratas e, na pintura e na escultura, optavam por representações naturalistas, auxiliadas, quer pelo estudo anatômico das proporções do corpo humano, quer pelo emprego das leis da perspectiva, as quais procuravam traduzir grafi camente o modo com que os nossos olhos veem o mundo. Na arquitetura renascentista, como recurso construtivo, cabe acrescentar, avultaria o emprego das cúpulas, soluções construtivas largamente empregadas na Roma Imperial, mas então resolvidas com traçados esféricos. Desde o Renascimento, porém, as cúpulas passariam a recorrer a novas curvas, alteadas e elegantes.

Por sua vez, as recentes injunções com um capitalismo em marcha, que sustentavam o mecenato, passavam a exigir, tanto a defi nição do tempo de execução dos trabalhos consoante prazos determinados, bem como a valorização da autoria individual das obras de arte (direito de propriedade intelectual), pois, em dias medievais, os trabalhos eram coletivos, impreg-nados de fervor religioso, postos à conta das corporações de ofícios e sem prazos de conclusão, qual ocorria nas obras das catedrais.

As proposições de equilíbrio e tranquilidade da arte renascentista, no entanto, logo seriam perturbadas pelo tumulto e pelas incertezas da vida. Ainda nos últimos anos do século XVI, na procura de resistir às tran-sições, muitas obras de arte logo absorveriam uma ambiguidade temática, temporal e espacial, patente em realizações conhecidas posteriormente como maneiristas, as quais, por sua vez, em meados dos anos seiscentos, seriam suplantadas pelas criações barrocas, apaixonadas e atormentadas.28

27 “Clássico. Do lat. classicu, ‘da primeira das cinco classes em que se dividia o povo romano’. Aulio Gélio aplicou aos escritores de primeira ordem”. (NASCENTES, 1966: 181). À versão romana de superioridade social, teria sido acrescentado um sentido paradigmático, conferido na Idade Média, nas universidades, aos textos selecionados, que deveriam ser estudados em classe.

28 O termo Renascença ou Renascimento tem origem oitocentista francesa (Renaissance), denominação imprópria, porque na Idade Média não houve o desaparecimento das artes, mas transformações. Maneirismo é palavra de procedência italiana - manierismo (opera alla maniera de), pertinente a obras com aparência renascentista, portanto, concebidas à maneira renascentista, isto é, por que já marcadas tanto pela ambiguidade na interpretação temática, como por apresentarem ora fi ngida tranquilidade, ora duplicidade espacial e temporal, obser-vadas em uma mesma obra. Barroco seria vocábulo de provável raiz portuguesa, designativo de pérolas de formas irregulares. Todas estas e outras expressões do léxico artístico, qual se verifi cou com gótico, são discutíveis, porém não há como se lhes recusar o emprego.

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3.5. Exacerbação artística e desorientação criativa

De modo contrário à interdição das obras de arte nos templos, de-fendida pela Reforma Protestante, as comunidades católicas reafi rmariam suas crenças, abraçando o maneirismo e, fi nalmente, o barroco, como exacerbado meio artístico de elocução de seus sentimentos religiosos, embora a contribuição de motivos leigos passasse gradativamente a avultar nas artes.

A descoberta da América e a emergência do mundo colonial, aos poucos, retirariam da Itália o comando econômico europeu, de tal sorte que as criações artísticas encontrariam na França um novo centro de difusão cultural. A adoção da arte barroca como expressão artística dominante na literatura, na música, na arquitetura, na pintura, na escultura, na decora-ção e, por fi m, nos jardins, ocorreria com obras postas agora a serviço do absolutismo político, triunfante sob Luís XIV (1638-1715), em seu longo reinado (1643-1715).

A corte de Luís XV (1710-1775), seu bisneto e sucessor, cansada da pompa e da etiqueta do extenso reinado anterior, optaria pela graça e pela leveza das formas, pela suavidade das corres, embora mantivesse as curvas barrocas, todavia, contidas, comumente ditas conchoidais, tomadas à natureza. Acolhidas em ambientes palacianos sonsos e dissolutos, essas obras fi caram conhecidas como realizações rococó ou também como estilo Luis XV, cujas proposições, logo difundidas na Europa, penetrariam no Brasil colonial por via lusitana na decoração pictórica das igrejas e no mobiliário.

3.5.1. Impasse e soluções com revivals

No começo do século XIX, a burguesia, hegemônica e inserida em nova etapa do capitalismo, agora em sua fase industrial, ansiava por criar manifestações culturais próprias. Posta à frente dos acontecimentos, dona do poder político e econômico, nada mais consequente do que pretender conduzir a face material e simbólica do domínio, enfi m, assumir o comando da produção arquitetônica. As aspirações, entretanto, concretizaram-se no surgimento de revivals, quer dizer, em tentativas de refl orescimento artístico inspiradas no passado, traduzidas em proposições posteriormente conhecidas como os “neos”. De início, em reproduções historicistas espe-

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cífi cas, porém, logo depois, buscaram amparo em contribuições formais tomadas de modelos diversifi cados, do que resultou uma mistura estilística denominada ecletismo arquitetônico.29

Na França, essas manifestações de retorno a um classicismo, caracterizadas por uma concisão formal, com o emprego de elementos decorativos que valorizavam a linha, já haviam sido retomadas em me-ados dos Setecentos, no reinado de Luís XVI (1754-1793), neto de Luís XV. Opunham-se ao barroquismo contido do rococó, embora também se trasladassem em obras leves e elegantes, projetadas sob patrocínio real. Essas proposições, tempos adiante denominadas “neoclássicas”, seriam absorvidas pela burguesia, vitoriosa após a Revolução de 1789, e mantidas em dias e anos subsequentes.

A propósito destas alusões, impõe-se, entretanto, esclarecer que, após o transcurso de longo período, desde o Renascimento, inúmeros fa-tores haviam confl uído para que uma nova mudança estética começasse a se anunciar, já patente em torno de meados do século XVIII, infl uenciada por posicionamentos morais de origem iluminista. Visavam à busca de um equilíbrio de formas, uma sinceridade construtiva, uma simplicidade despojada de excessos decorativos, característica das obras da antiguidade greco-romana. Esses anseios artísticos de vertente clássica podiam ser agora comprovados materialmente nos achados das ruínas de Pompeia, cidade soterrada pelas cinzas do Vesúvio no ano de 79 dC., mas recen-temente descobertos e mantidos com relativa integridade. Participavam das pregações de Johann Joachim Winckelmann (1717-1768), criador dos estudos de História da Arte como disciplina autônoma, com metodologia e epistemologia próprias, além de admirador apaixonado da arte grega, a qual, por lhe parecer haver atingido uma perfeição formal não ultrapas-sável, nada restaria aos contemporâneos, salvo imitá-la.

Nesse quadro em transição, torna-se compreensível que, no começo do século XIX, a burguesia, tentasse criar manifestações próprias, entre-tanto, como já assinalado, efetivadas segundo versões “neoclássicas”, continuadas nos dias napoleônicos e em anos posteriores. A denominação logo geraria inúmeras variantes irmãs, tais como neogótico, neorromânico, 29 A expressão ecletismo procede do grego – eklegò = escolher. Na arquitetura, adotava propos-

tas do pensador francês Victor Cousin (1792-1867), apresentadas com o intuito de contornar divergências conceituais, as quais deveriam ser substituídas por asserções que melhor se afi gurassem, eleitas em cada sistema fi losófi co. Muitos autores julgam as manifestações dos “neos” de modo indistinto, considerando-as todas como obras ecléticas.

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neobizantino, neomanuelino, neomourisco, neocolonial e tantas mais, conhecidas como “neos”.30

No Brasil, as novas mensagens neoclássicas conheceriam propa-gação direta por meio dos componentes da Missão Artística Francesa, de 1816, e também na contribuição desse grupo à instalação da Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro.31

3.6. Origens do neogoticismo

A expressão neogoticismo, repita-se, congrega obras que tentaram traduzir aspirações de resgate de realizações do período fi nal da Idade Média, denominadas góticas. A distância temporal de seis séculos, entre os dias das realizações góticas e das obras neogóticas, explica as diferenças estéticas, simbólicas e construtivas que as separam.

O neogoticismo, embora divulgado largamente na Europa e nas Américas, contou basica e inicialmente com proposições britânicas e francesas. Aquelas, já anunciadas na segunda metade do século XVIII, e as segundas, desenvolvidas ao longo do transcorrer dos anos novecentos. Aceitas no Brasil na segunda metade dos Oitocentos, realizações neogóti-cas tardias ainda ocorreriam na primeira metade do século XX. No presente texto, impõe-se esclarecer, a inclusão de um feixe de informações sobre a arquitetura medieval e de períodos subsequentes objetivou fazer perceber as difi culdades de reprodução arquitetônica do passado, tentada pelos chamados “neos”, tais as mutações sociais, técnicas, estéticas ocorridas em um longo transcurso do tempo.

3.6.1. As vertentes britânicas

As primeiras manifestações arquitetônicas neogóticas britânicas se traduziram por obras monumentais - as Casas do Parlamento, em Londres, todavia, sem emprego de processos construtivos medievais. Na verdade, caracterizavam-se pela aplicação de elementos decorativos de procedência gótica em construções correntes, elementos os quais, sem 30 O emprego do adjetivo de raiz grega neo visava a diferençar as obras novas de anteriores

denominações genéricas, ditas clássicas. Assim se explica por que essas criações artísticas fi cariam conhecidas, desde o século XIX, como obras neoclássicas, formando termos afi ns, subjacentes à ideia de revivals.

31 As primeiras manifestações neoclássicas no Brasil ocorreram por via portuguesa, um pouco antes, isoladas e discretas, em Ouro Preto e em Salvador. Antecederam a introdução do neoclassicismo da Academia Imperial de Belas Artes, que se difundiu sob amparo ofi cial.

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dúvida, ofereciam inovações que resultavam numa aparência alheia à arte clássica. O rompimento estético procederia de expressões correlacionadas com o empirismo inglês, apoiadas nas teses defendidas por John Locke (1632-1704), que valorizavam os sentidos. As teses sensualistas de Locke, em favorecendo as experiências individuais, infl uenciaram o pensamento de Joseph Addison (1672-1719) e, logo depois, de Edmund Burke (1729-1797). Este último, ao exaltar o sublime, entendia que a beleza não era o único valor da arte. O prazer estético, no dizer Burke, ocorria na mente do observador, assumindo modos de emoção que variavam conforme as pessoas e as circunstâncias, tais as sensações provocadas pelo contato com o mundo real por via dos sentidos.

As idéias de Locke, particularmente aquelas que fundamentavam o seu Ensaio sobre o Entendimento Humano, espalharam-se pela Europa, assumindo diferentes direções, com rebatimentos de forte repercussão. Ao rejeitar o inatismo e entender que as ideias nasciam da experiência sensível e da refl exão, Locke induzia à percepção individualizada da natureza. (LOCKE, 1973: 151-162; 173-178; 181-184). Sua opinião, incitando a imaginação, proclamava indiretamente a liberdade pessoal de criação artística, favorecendo, em última instância, o surgimento do romantismo. As novas ideias vinham assim confrontar-se com as normas canônicas do classicismo, reafi rmadas na Renascença, as quais se ampa-ravam em concepções estéticas praticamente impessoais, determinadas pelas relações harmônicas das partes com o todo, em última instância, relações de cunho matemático.

O romantismo, em arquitetura, de certo modo, tomado como sinô-nimo de neogoticismo, encontraria larga aceitação na literatura de língua inglesa, particularmente nos romances históricos e na poesia. Na própria arquitetura, presa às vezes a um viés decorativo sob infl uência dessa li-berdade de considerar até os próprios sistemas estruturais, redundaria na Inglaterra em particularismos estéticos.32

3.6.2. As manifestações neogóticas na França

Os excessos da Revolução Francesa haviam destruído bens de pro-priedade da nobreza e das altas esferas da Igreja, já nacionalizados, atos

32 As abóbadas, quadrados ou retângulos (barlongas) inicialmente divididos em quatro partes, logo depois, em seis (sexpartidas), vieram a conhecer múltiplas fragmentações, quase sempre com intenções decorativas, principalmente na Inglaterra, país onde receberam variações, traduzidas pelo perpendicular style.

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que provocaram vigorosas denúncias na Assembleia Nacional, em cujos debates surgiram ideias pertinentes à criação de serviços ofi ciais destinados à preservação ofi cial de obras de arquitetura antiga remanescentes, embora somente instituídos bem depois, em 1830.33 Ao contrário, porém, do que se poderia esperar, por través nacionalista, a escolha de obras a preservar não contemplou bens temporalmente mais próximos, pertencentes à no-breza. Houve opção por muralhas urbanas e igrejas medievais, obras bem mais antigas, tomadas como testemunho material da formação histórica da França, desde então denominadas “monumentos históricos”.

Como o estudo das realizações arquitetônicas da Baixa Idade Média era interditado na École de Beaux Arts e na École Polytechnique, os arquitetos encarregados da restauração das obras medievais tiveram que pesquisar nos próprios canteiros de obras, quer os materiais de cons-trução antigos, quer os respectivos processos construtivos empregados, bem como se obrigaram a formar quadros de artesãos especializados em técnicas vetustas. Os conhecimentos adquiridos estimularam trabalhos de “conclusão” de muitas catedrais inacabadas, designadamente as torres, em bom número, componentes de arremate “inventados” no século XIX. Posteriormente, induziram a edifi cação de obras “góticas”novas, com supostas feições à antiga, enfi m, as chamadas realizações “neogóticas”.34

Diferentemente do uso do tempo no passado medieval, a necessidade de defi nição de prazos rápidos para execução das obras e a superação da demora, causada pelo uso de processos artesanais, estimularam a execução de variantes construtivas, com métodos e materiais contemporâneos, às vezes industrializados, conduzindo à criação de formas imitadas das obras góticas, todavia, sem funções estruturais explícitas.35

33 Um século depois, essas proposições repercutiriam no Brasil, concretizadas na criação do Serviço (hoje, Instituto) do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1937.

34 Num conjunto de 120 catedrais construídas (FLEXA RIBEIRO, J. v.2., 1962: 41), as mutações espaciais, estruturais e decorativas, ocorridas em obras demoradas, fi zeram-nas atravessar demorados períodos estéticos, difi cultando os trabalhos de restauração e de “conclusão” de muitas obras e inviabilizando muitas propostas de revivals neogóticos.

35 Na época, apesar de ratifi cada, por vigoroso suporte técnico-analítico, a deliberada liberdade de “invenção” empregada nos trabalhos franceses de restauração, explica a mistura de posições românticas com soluções racionais, assumidas por prestigiosos arquitetos do período, entre os quais o nome respeitado de Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc (1814-1879).

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3.7. Arquitetura do ferro

Entre os novos recursos aceitos na execução de obras neogóticas, ocorreu o emprego de estruturas metálicas, usuais nas pontes ferroviá-rias e então já adaptadas às edifi cações. Essas estruturas pré-fabricadas, montáveis e desmontáveis, vinham atender à execução rápida de obras com largos vãos, erguidas rapidamente com técnicas avançadas, particu-larmente em locais sem disponibilidades de materiais. Assim, no mundo britânico, e também na França, surgiriam empresas especializadas, usinas de fundição e aciarias, que executavam, ora projetos específi cos, ora edi-fi cações padronizadas, neste caso, montadas conforme seus catálogos de componentes, embora também admitissem obras mistas, recorrendo aos seus sistemas próprios e aos de terceiros, principalmente às alvenarias.

Em fi ns do século XIX, gigantescas estruturas metálicas, com am-plíssimos vãos, foram executadas para atendimento a novos programas arquitetônicos, entre os quais as grandes exposições comemorativas, destinadas a exibir as últimas conquistas da indústria, aliás, quase sempre obras de duração efêmera.

As edifi cações metálicas obtiveram vasta aceitação no Brasil (mer-cados, estações ferroviárias, armazéns). Em Fortaleza, devem ser citados o Mercado de Ferro (1897), a Igreja do Pequeno Grande (1903), o Teatro José de Alencar (1910) e o cinema Majestic (1917, já demolido), os três últimos, realizações mistas, de ferro e alvenaria.

4. A igreja do Pequeno Grande

A nova capela do Colégio da Imaculada Conceição, mais conheci-da como igreja do Pequeno Grande, teve a pedra fundamental assentada em 27 de novembro de 1896, entretanto, construída com demoras, pois a inauguração somente ocorreu em 21 de novembro de 1903 (Figura 3). É provável que, desde o início, algumas diretrizes do projeto da igreja já estivessem defi nidas, entre as quais o emprego de estrutura metálica, neste caso, talvez a primeira programada no Estado. A dúvida na afi rmação procede da falta de informações precisas, uma vez que na mesma época, ou até em data anterior, mas desconhecida, foram iniciadas as obras do

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Mercado de Ferro, realização municipal de origem francesa, rapidamente construída e inaugurada logo depois, em 18 de abril de 1897.36

Na Cidade, algumas novidades arquitetônicas vistas na igreja do Colégio haviam sido antecipadas, desde cedo, pelo amplo uso de vocabu-lário decorativo neogótico, com largo emprego no Ceará, principalmente, vergas de portas e janelas com arcos quebrados, platibandas rasgadas com ameias e merlões, além de arremates com pináculos. Alguns desses elementos já eram correntes em meados do século XIX, como o compro-vam os desenhos preparados pela Comissão Científi ca de Exploração, que visitou a Província entre 1859 e 1861. Cumpre também acrescentar que pequenas capelas sepulcrais em pedra lioz, de desenho neogótico, vindas desmontadas de Portugal, já apareceriam remontadas no Cemitério de São João Batista, na última década dos Oitocentos.37

4.1. Organização espacial da Igreja

A igreja do Pequeno Grande consta de nave única, com vãos ven-cidos por pórticos de perfi s metálicos, cujos trechos correspondentes à coberta apresentam forma pontiaguda, objetivando o surgimento de abas do telhado íngremes (ponto de 1:1). Um conjunto de meios-pórticos se reúne na cabeceira posterior da igreja, criando uma espécie de abside poligonal. Fortes cabos de aço, trabalhando como tirantes, destinam-se a absorver os empuxos laterais, ajudados por pequenas rosáceas lobuladas, que servem como elemento de reforço estrutural, benefi ciando a hiperestaticidade dos pórticos, cujos componentes – verticais e inclinados, aparecem engastados com arruelas. (Figura 4).

A igreja, como já assinalado, participa de um conjunto de edifi cações religiosas ditas neogóticas, comuns em diversas regiões do Brasil naquele 36 Destas referências estão excluídas as pontes, por não constituírem obras arquitetônicas, isto

é, por não gerarem espaços destinados ao abrigo humano. Cabe lembrar que as primeiras pontes rodoviárias cearenses, lançadas desde a década de 1860, recorriam a longarinas de ferro, sobre as quais se aplicava o tabuado do piso, fi cando o conjunto apoiado em grossas paredes confrontantes, de pedra, erguidas às margens dos cursos d’água. Como realizações das décadas fi nais do século XIX, integralmente metálicas, citem-se as pontes ferroviárias, em especial aquela que vence o rio Coreaú, na Granja, singela e elegante, e a do Quixeramobim, a mais longa do Ceará.

37 Em termos de obras arquitetônicas, provavelmente as primeiras manifestações neogóticas no Brasil teriam ocorrido no Recife, na casa do comerciante inglês Henry Gibson, de 1847 (com aspecto de edifício administrativo), e numa capela do cemitério de Santo Amaro, construída em 1855, segundo projeto de José Mamede Ferreira. (ver SILVA, G. GOMES DA, 1987: 185).

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período. A ideia de construí-la, supõe-se, pode ter-se inspirado na igreja das irmãs vicentinas, também francesas, erigida um pouco antes, em colégio homônimo no Rio de Janeiro, hoje matriz e basílica menor. Situada no fundo da enseada de Botafogo, a fl echa esguia da igreja, conquanto hoje mal percebida, outrora avultava sobre casario de pouca altura do bairro. A torre única, axial, marco identifi cador de ambas as igrejas, a guanabarina e a fortalezense, comparecia como solução formal corrente na mor parte das edifi cações religiosas da época. Salvo este pormenor, aliás, então generalizado, deve-se assinalar que as duas igrejas não guardam qualquer outra semelhança na organização dos seus espaços e nem nos seus sistemas construtivos ou decorativos.38

A nova igreja fortalezense vinha substituir uma dupla de pequenas capelas erguidas nas extremidades do edifício do colégio, desde então preservadas, mas hoje destinadas a outros usos, ambas já erguidas quando da construção primitiva do Colégio de Educandos.39 A capela, à direita da entrada do colégio, era dedicada a Nossa Senhora de Lourdes, enquanto a da esquerda, a Nossa Senhora da Conceição.40

A igreja é contornada exteriormente por paredes de alvenaria de tijolos, sem função estrutural. A coberta, íngreme, em duas águas, com cumeeira longitudinal, foi resolvida com telhas planas de ardósia, material importado, cujo emprego, com peças autênticas ou de imitação, entrou em moda nos avarandados laterais de muitas casas fortalezenses da época. O respaldo das paredes exteriores é pontuado com pináculos e os vazios res-pectivos aparecem coroados por tímpanos ogivais, cegos e argamassados, 38 A igreja da Imaculada Conceição, do no Rio de Janeiro, obedeceu ao projeto do padre Júlio

José Clavelin (1834-1909), francês, da congregação dos lazaristas. (GUIA [CZAIJKOWSKY, J.], 2000. 109). Embora projetada duas décadas antes, a igreja somente foi inaugurada em 1886, apresentando nave central, ladeada por duas naves secundárias, arrematadas com imitação de abóbadas ogivais do tipo barlongo, além de interiores intensamente decorados. O Padre Clavelin já havia construído a igreja neogótica de Nossa Senhora Mãe dos Homens, no Caraça, em Minas Gerais, menor e mais modesta.

39 Faz-se ideia da aparência antiga da então sede do Colégio de Educandos à vista do desenho de José dos Reis Carvalho, intitulado Collegio dos educandos na Capital do Ceará, preservado no Museu Dom João VI, da EBA/UFRJ, desenho possivelmente elaborado em 1859, no qual aparecem as duas capelas laterais. (Ver BESERRA, J. R. T. (org.), 2016: 228-29).

40 O desenho de Reis Carvalho, como já mencionado, mostra as duas pequenas capelas ainda com a aparência antiga, hoje alterada. Referências sobre as funções originais das pequenas capelas aparecem no romance A afi lhada, de Manoel Oliveira Paiva, designadamente, a capela de Nossa Senhora de Lourdes. Na capela nova, maior, dita Igreja do Pequeno Grande, ocorrem cenas do romance As três Marias, de Raquel de Queirós, educada no Colégio da Imaculada Conceição.

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elementos decorativos comuns, à época, na Cidade. Os vãos da abside, onde os paineis de contorno se desdobram em panos amplos, foram preen-chidos por vitrais coloridos, que exibem efígies de santos correlacionados com a congregação. Há um correr de vitrais de produção industrializada, circulares semelhantes, decorativos, no alto das paredes laterais, portando uma marca mariana, vista na Medalha Milagrosa. No interior da Igreja se observam excelentes obras de marcenaria, importadas (retábulo e púlpito), executadas em pinho de Riga e trabalhadas com motivos neogóticos. No forro, que acompanha a inclinação das abas da coberta, vêem-se pinturas devotas, em mandorla.41 As imagens de santos foram todas executadas por Heaulme Buisine, da cidade de Lille, na França, assunto considerado mais à frente.

4.2. Projeto e construção da Igreja

No atual estado das pesquisas, não se confi rmam dados mais pre-cisos quanto a certos aspectos da história da Igreja. Há referências de que a estrutura foi adquirida na Bélgica e alusões vagas ao autor do projeto, que seria Isaac Correia do Amaral (Guaramiranga, CE / 1859 – Guarami-ranga, CE / 1942), entretanto, informação não comprovada. Educado na Alemanha e amador de arquitetura, Amaral seria responsável por outros projetos fortalezenses do período, tais como a igreja dos Remédios, no Benfi ca, hoje com interiores alterados, erguida em terras de propriedade de sua família, e também projetista de um teatro inconcluso, posteriormente demolido, que havia começado a construir no centro da praça Marquês do Herval, a atual praça José de Alencar. Amaral mantinha parceria com o engenheiro escocês Robert Gow Bleasby (1861-1927), radicado no Ceará desde o último decênio do século XIX, provável encarregado de defi nir os elementos construtivos dos projetos da dupla.

O rastreamento histórico encontra difi culdades, principalmente na consulta à falta de documentação guardada nos arquivos do Colégio. Afi rma o Barão de Studart (Datas e Factos para a História do Ceará, v.3, p. 7-166) que a Capela, com pedra fundamental lançada em 27 de novem-bro de 1896, foi inaugurada em 21 de novembro de 1903, conforme se lê na placa comemorativa respectiva. Os jornais fortalezenses desta última 41 Pinho de Riga é termo genérico. Havia preferência pela faia. Mandorla é denominação comum

no vocabulário artístico. Trata-se de palavra italiana que signifi ca amêndoa. O modo com que as pinturas foram aplicadas no forro permanece considerado com suposições.

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data e de datas próximas não fazem citação do evento, omissão difícil de explicar, pois as dimensões do edifício e a importância religiosa e social da Igreja devem ter merecido comemorações à altura na Cidade de então.42

As referências à Igreja, contemporâneas da inauguração, são raras. Um artigo de Soriano Albuquerque (1906: 171-174), descreve-a, tecendo comentários sobre aspectos simbólicos da edifi cação, consoante conceitos da época. Outro artigo, da autoria de João Brígido, de 12.09.1902, elogia o esforço das mulheres e das associações femininas do Ceará em favor da conclusão de varias igrejas da Cidade. Ao citar o Pequeno Grande, assegura que “tudo foi pedido no estrangeiro, ou obtido e realizado no Paiz, sem assistencia ou conselho de alguem mais do que um carpinteiro e um pedreiro da terra, que armaram um tecto metalico que aos profi s-sionais pareceu um verdadeiro enigma.” (CARVALHO, J. Antologia de João Brígido, p. 189).

Se, por um lado, as palavras de João Brígido excluem a participa-ção erudita de Amaral e Bleasby na obra, por outro, nota-se não haver o articulista percebido que os trabalhos de ereção de uma estrutura singela e relativamente pouco pesada, não avultavam como “enigma”, orientados que estavam os montadores pelo emprego repetido de peças devidamente numeradas, todas reproduzidas em desenhos pertinentes. Além do mais, dispunham da facilidade de dirimir ocasionais dúvidas por meio de con-sultas a uma maqueta do conjunto, remetida juntamente com a estrutura, a qual, na verdade, muito simples, era constituída de pórticos formados por pares de apoios verticais simétricos (colunas) e de pares de vigas inclinadas, assim dispostas para servirem de sustentação à coberta. O restante da edifi cação, isto é, o emprego das alvenarias de tijolos e de pi-sos de tabuado já era usual na Cidade em obras de maior porte, enquanto as demais peças de madeira - retábulo e púlpito, por suas dimensões, deviam ter sido importados já prontos ou divididos em blocos facilmente acopláveis. Talvez apenas a aplicação das telhas de ardósia e dos vitrais constituísse novidade construtiva, além do esmero exigido no preparo dos

42 A ereção de igrejas neogóticas no Brasil manteve prosseguimento ainda durante boa parte da primeira metade do século XX, com obras novas ou conclusões. Algumas mostram evidente mistura com outros “neos”, como as catedrais de São Paulo e Fortaleza, providas de cúpulas (!). Do período, na capital cearense, como obra signifi cativa, mencione-se a igreja do Cristo-Rei, além da pequena igreja do Espinho, nos arredores da cidade do Limoeiro. Os interiores da Igreja do Cristo-Rei tentam reproduzir em concreto armado e reboco a aparência estrutural das igrejas góticas, como se sabe, construídas em pedra aparelhada.

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elementos de adorno das fachadas, provavelmente pré-moldados in loco e executados com a ajuda de fôrmas remetidas da França.

4.3. O livro de anotações de Irmã Gagné

Interessado pelas origens da igreja, o autor veio a manter contacto com a então superiora do Colégio da Imaculada Conceição, Irmã Elizabeth Silveira. Entre boas e más noticias, tomou conhecimento de que todos os documentos antigos da instituição haviam sido incinerados por ordem de uma das últimas dirigentes da Casa. Felizmente, de modo inacreditável, salvara-se da destruição um pequeno e precioso livro de anotações de irmã Gagné, supervisora das obras de edifi cação da igreja do Pequeno Grande, no qual estavam relacionadas todas as despesas realizadas à época. Como o livrinho de irmã Gagné, ao que consta, também desapareceu, pouco ou nada se pode acrescentar à matéria. Quando muito, reexaminá-la. Por tal razão, o autor preferiu retranscrever, com alterações mínimas, a parte pertinente às anotações de irmã Gagné, incluída como “adendo” em artigo seu, publicado há duas décadas e meia, na Revista do Instituto do Ceará:43

Escrito ora em francês ora em português, ou misturando as duas línguas, o livro merece estudo mais prolongado, o que ultrapassaria os limites destas apreciações.

Clémence Thérèze Gagné era francesa da Borgonha (Dijon, 1837 - Fortaleza, 1917). Veio para o Ceará em 1865, onde vi-veria por mais de meio século. Integrava o primeiro grupo de Irmãs de Caridade trazidas por dom Luís. Tornou-se superiora do Colégio em 1882, após o afastamento voluntário de irmã Bazet (1822-1887). Supervisionou a construção da Igreja do Pequeno Grande, cujas obras se realizaram com relativa lenti-dão, certamente por serem fi nanciadas com recursos da própria congregação ou obtidas por doações de fi eis.

Apesar de ter o assentamento da pedra fundamental ocorrido em 27 de setembro de 1896, os trabalhos provavelmente come-çaram somente em 1897 ou, com maior possibilidade, em 1898, depois do recebimento da estrutura metálica. A imprecisão das

43 Transcrição de trecho do artigo intitulado Arquitetura do ferro no Ceará, publicado pelo autor na Revista do Instituto do Ceará – t. 106, 1992, p. 90-92.

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datas decorre do fato de nem sempre fi carem muito claras as anotações feitas pela Irmã.

Nelas, não parece ter havido intenção de apresentar em blo-cos separados, a relação dos gastos com a aquisição de materiais de construção e, em páginas distintas, a lista das despesas ocor-ridas com a mão-de-obra. Como as circunstâncias não teriam permitido o completo cumprimento de propósito semelhante, as anotações desconhecem às vezes a desejada sequência, fato de que resulta um baralhamento das informações.

No que se refere a elementos estruturais, a mistura de dados torna-se evidente. A parte do livro alusiva a despesas com mão--de-obra assinala em 5.11.1898: “N’esta data tendo-se acabado de subir os arcos de ferro offereci ao Mestre José 500$000 que só entregarei quando elle precisar”, aliás, quantia paga uma semana depois. Enquanto isto, a parte do livro atinente a gastos com material indica:

Armação de ferro de la Chapelle - achat: 14:400$000 / Transport - 6:024$000 / Débarquement - 400$000 / Douane – 1:900$000 / total – 22:724$000 / 21 de janeiro de 1889. Telhado de la Chapelle / Modèle du toit / transport / douane / 214$000 / ardoises, achat douane / transport – 8:952$000 (introduziram-se acentos quando houve omissão, na grafi a original).

Como se vê, não há referência à data em que foram pagas as despesas com a compra da estrutura (no valor de 14:400$000), sem dúvida, saldadas antes de 5 de novembro de 1898. Fica também subentendido que os fabricantes, como de hábito, enviaram um “modèle du toit”, que dizer, uma maqueta do telhado ou, mais precisamente, da estrutura metálica, a fi m de servir de orientação na montagem, juntamente com as ardósias da coberta, importadas na ocasião.

No livro da Irmã Gagné, não aparecem citados nem Isaac do Amaral nem Robert Bleasby, quer como projetistas, quer como construtores. Consta, todavia, o pagamento de 1:400$000, alusivos a uma “facture de l’architecte Croin”, não se sabe se projetista da Igreja ou se talvez intermediário do Colégio na compra da estrutura (teria recebido 1 % do valor da encomenda).

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Possivelmente interferiu na aquisição das imagens dos santos à fi rma Heaulne Buisine, de Lille (cidade francesa fronteiriça da Bélgica). Assim se supõe porque, logo em seguida, a Irmã Gagné fala em “la ste des Collones (Buisine)”, referindo-se sem dúvida às imagens apostas no alto das peanhas, no caso, junto das colunas (colonnes) de ferro, como ainda hoje vistas no interior da igreja.

Quanto à mão-de-obra, de acordo com as anotações da irmã Gagné, os trabalhos de montagem da estrutura e de carpintaria fi caram a cargo do mestre José Cabrinha, enquanto o mestre Deodato Leite da Silva realizou as obras de alvenaria. Peças complementares de ferro (grade da comunhão?) foram prova-velmente executadas na Fundição Cearense, a mais antiga do Estado, fundada em 1856.

O livro não pormenoriza devidamente a procedência do ma-terial importado (estrutura, ardósias, vitrais, retábulo, púlpito, pisos de cerâmica, luminárias etc). Sob este aspecto, lamenta-se admitir que uma pesquisa nos velhos papeis da Alfândega for-talezense ou em documentação de algum intermediário local envolvido na aquisição, importação ou desembarque do material (Boris Frères?), difi cilmente responderia às indagações. Assim se acredita, porque, de modo geral, os manifestos das cargas relacionavam os quantitativos (tantas imagens, tantas peças), mas não minuciavam os qualitativos (imagem deste santo, vitral com aquela fi gura). Tal não impede, como se tenta mais adiante, sejam levantadas algumas suposições, com possibilidade de posterior comprovação.

O custo das obras atingiu “até o dia da Inauguração / 21 de 9 brº / 273:137$240 Rs”, subindo aproximadamente a 280 con-tos com o acréscimo de alguns serviços. Era uma importância bastante elevada, quase a metade das despesas feitas sete anos depois com a construção do Teatro José de Alencar (despesas ofi cialmente proclamadas pelo governo estadual).

Análise, rápida que se faça, dos dados constantes do livro de Irmã Gagné demonstra ter sido a maior parte dos gastos locais destinada a despesas com mão-de-obra, principalmente com a “cerragem” (sic), isto é, com corte e aparelhamento de

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madeiras do piso, trabalho, no mínimo, parcialmente executado de modo artesanal.

O valor percentual da estrutura com relação às despesas totais foi reduzido, quer se considere o preço da estrutura, em si (5%), quer se acresçam os pagamentos de transporte e de tributos alfandegários (8%). O emprego de material importado (estrutura, ardósias, vitrais, pisos, tubulações, retábulo, púlpito, imagens etc) atingiu aproximadamente uma quarta parte do custo total do empreendimento. ..........................................................................................

As difi culdades fi nanceiras das religiosas na construção da Igreja devem ter sido prementes, pois no livro de irmã Gagné constam despesas com a realização de uma quermesse, quando houve até aquisição de cachaça (“caxaça), certamente destinada a animar a festa.44

4.4. Mais informações

Ainda na elucidação de circunstâncias que intervieram na execu-ção da obra, vale incluir informações publicadas em 1965, na Revista do Centenário do Colégio da Imaculada Conceição, em que a ex-aluna Isa-bel Magalhães presta depoimento relevante, aliás, também parcialmente transcrito na citada Revista do Instituto do Ceará (1992: 92):

Por falta de recursos fi nanceiros, a construção foi interrompida em 1897, sendo reiniciada em 1898, até a conclusão da obra, graças à ação meritória da Irmã Chambeaudrie, que doou à igreja uma herança da família. Para edifi car uma obra de fôlego, as Senhoras de Caridade, Filhas de Maria e Irmãs lutaram ingentemente, angariando dinheiro e, sobretudo, convencendo o povo da de um templo suntuoso. O pai da Irmã Mahieu viajou [da França] para a Bélgica, exclusivamente para assistir a armação do arcabouço de ferro, antes de enviá-lo a Fortaleza. (...) A concepção de um arquiteto francês, de nome ignorado, trouxe para a acanhada Fortaleza de fi ns do século XIX os requintes da arte francesa de todos os tempos. (1965, p. 47).

44 Pour la kermesse 9bro 1899 / Luz setilène – 500$000 / lampião, velas bougies / Gaz – caxaça – 215$000 (Livro de despesas, cit. p.5).

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A “armação do arcabouço”, mencionada no depoimento da ex-alu-na, executada segundo um modèle du toit (citado por de Irmã Gagné), realmente constituía prática usual. Nas obras pré-fabricadas, as estruturas metálicas eram previamente montadas nas usinas, com vistas à verifi cação de eventuais desencontros. Uma vez inspecionadas e aprovadas, eram numeradas, desmontadas, acondicionadas e embarcadas para o exterior. Todas as grandes empresas mantinham, junto das fundições, espaços onde eram antecipadamente erguidas as estruturas. Os percentuais já apontados, pertinentes ao custo das construções metálicas, por sua vez, explicam a opção, corrente à época, por obras arquitetônicas importadas, mais baratas, tecnicamente mais avançadas e com prazos de entrega e montagem mais rápidos.

4.5. Heaulme-Buisine, Lille

As considerações já expendidas não esclarecem certas dúvidas sobre a origem do projeto e a construção da capela do Pequeno Grande. Sem dúvida, afi gura-se difícil, e até impossível, a obtenção de mais da-dos além daqueles expostos. Tal, entretanto, não impede que se persiga a busca de informações ou se levantem algumas hipóteses viáveis, para posterior comprovação.

A referência feita por Irmã Gagné a la ste. des Collones (Buisine), relativa à aquisição das imagens, como já comentado, oferece algumas trilhas. A denominação Heaulme-Buisine Lille aparece registrada no pedestal das imagens (estátuas), divulgando o nome de uma fi rma espe-cializada da cidade de Lille, fundada por dois sócios, Charles Buisine, escultor, e Francis Heaulme, pintor e vitralista. Informações francesas da época, pertinentes à realização de obras semelhantes à igreja fortalezense, citam outras “églises néogotiques”, às quais Heaulme-Buisine fornece-ram todo o recheio dos templos – imagens, pinturas, vitrais e também o mobiliário (retábulos, púlpitos), candelabros, luminárias, pisos, coberta, além de possível intermediação na compra de estruturas metálicas. Sem dúvida, por ampliação de seus negócios, a fi rma tornara-se, não apenas executante, mas também prestigiosa agenciadora de serviços atinentes à arte religiosa.

A extensão deste artigo, que já ultrapassa (um pouco) os padrões gráfi cos da Revisa do Instituto do Ceará, infelizmente retringe a apre-

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sentação de ilustrações. Também não permite se listem e se comentem todas as peças de arte que enriquecem a Igreja - imagens [esculturas] de variadas dimensões, vitrais, pinturas de forro em mandorlas e fi guras em alto-relevo, além de componentes de acabamento da obra.

4.6. Estatuária, pinturas e vitrais

No pertinente às imagens [esculturas], no alto, no centro do retábu-lo, destaca-se Maria Imaculada (Figuras 5 e 6), à parte representações de Jesus Cristo (Jesus Menino, Coração de Jesus – em imagem e em pintura, Jesus Crucifi cado e a Santa Ceia, em relevo, no frontal do altar.), bem como a imagem de São José. Assinalem-se santos franceses como São Luís, rei de França (o rei Luís IX), São Roque de Montpellier, São João Vianney (o Cura d’Ars) e os santos de congregações vicentinas, também franceses, como São João Perboyre e São Francisco Regis Clet, estes dois últimos, padres lazaristas martirizados na China, beatifi cados à época, portanto, bem-aventurados, como expressa a legenda, em francês (Bhx, isto é, bienheureux), ambos aliás duplamente representados na Igreja, em imagens e em vitrais. A esses santos vicentinos devem-se somar o próprio São Vicente de Paulo e santa Luíza de Marillac, em imagens, bem como as santas Bernadette Soubirous [?] e Catarina Labouré, ambas em vitrais, e a última também em imagem. No forro, pintados em mandorlas, veem-se os doze apóstolos, encabeçados por São Pedro e São Paulo (este, substituindo Judas...), ambos também apresentados em imagens. Além de São Miguel Arcanjo, em imagem (escultura), veem-se anjos guardiões em pintura, no forro, ladeando Jesus, que seguram faixas, talvez destinadas a serem preenchidas com dizeres especiais. Possivelmente, a fi m de atender a predileções locais, há imagens de Santa Cecília, venerada por pessoas dedicadas |à música, de Santo Expedito e de São Sebastião, soldados roma-nos, aquele, padroeiro dos estudantes e o último, patrono de uma “secção” religiosa [ ? ] de irmãs e alunas. Apontem-se também imagens de Santo Antônio e São Francisco de Assis, devoções caras aos cearenses, às quais se podem acrescentar imagens de Santa Inês e Santa Luzia, esta última protetora dos olhos. Citem-se ainda, a confi rmar, imagens de devoções menos difundidas, como Santa Germana, pastora, e Santa Catarina de Alexandria, esta mostrando como atributo de identifi cação a roda dentada com que foi martirizada, bem como, São Francisco de Sales, fundador das religiosas da visitação de Nossa Senhora (Salésias).

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A lista não se encontra completa, pois o autor mantém dúvidas na identifi cação de algumas imagens (esculturas), entretanto, com provável acerto nas pinturas.45

A relação do conjunto de imagens, bem como todo o material en-viado à Igreja, talvez pudessem ser recompostos por meio de pesquisas efetuadas nos arquivos da fi rma Heaulme-Buisine. Em resposta à consulta do autor sobre hipóteses de investigação, os Arquivos do Departamento do Nord, localizados na cidade de Lille, informaram que aquela fi rma encerrou suas atividades já há algum tempo e que apenas a parte mais recente do seu acervo documental se acha guardada na referida repartição francesa. Desconhecem o destino tomado pelos comprovantes das ativi-dades da empresa nos anos entre 1897 e 1903, período de construção da Igreja do Pequeno Grande.

Conquanto admitida a vaga possibilidade de se obterem futuras notícias de interesse, ainda assim, nada resta objetivamente ao autor, salvo limitar-se ao que dispõe no momento.

4.7. A imagem do Pequeno Grande

A festejada imagem do Menino Jesus, com padrões germânicos de beleza juvenil, louro, de olhos azuis, permanece exposta na peanha, junto da parede da fachada ocidental, onde se encontra desde a inauguração da Igreja, em 1903. (Figura 7) Dez anos depois, em 1913, como prova da acolhida da devoção na Cidade, uma fi el, Maria Luiza, já expressava agradecimentos ao “Menino Jesus Pequeno e Grande”, conforme o atesta uma das placas votivas aplicadas sob a peanha.

Vale também consignar os dizeres da faixa de exortação ao culto do Menino, estendida ao pé da imagem da igreja fortalezense, que com-provam de modo inequívoco, a fi el reprodução do original cultuado na igreja conventual de Praga.46

45 Nas pinturas do forro, em mandorlas, seriam - no lado do nascente: apóstolos Paulo (com uma espada), André, João, Bartolomeu, Matias e Tadeu. No lado poente: Pedro (com uma chave), Tiago Maior, Felipe, Tomás, Mateus e Simão.

46 Segundo a tradição, frei Cirilo teria escutado em certa ocasião um pedido do Menino: Tende piedade de mim, que eu terei pena de vós. Quanto mais me honrardes, mais vos favorecerei [vos abençoarei]. Aos pés da imagem, na igreja fortalezense, como dito, desenrola-se uma a faixa , à guisa de fi lactéria, a qual transcreve, em francês, como dístico de incentivo do culto, a parte fi nal do apelo, muito conhecido dos devotos do Menino: Plus vous m’honorez plus je vous favoriserez.

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55Igreja do Pequeno Grande

Escasseam, entretanto, respostas objetivas a perguntas sobre a ra-zão da escolha da cópia de uma imagem venerada na Europa Central, na igreja de um convento tcheco, devoção de carmelitas, imagem executada na França e enviada a uma comunidade vicentina francesa, radicada em longínquo país americano!... Como vago indício de intencionalidade na remessa, interroga-se se a opção pela cor azul do manto da imagem do Menino teria sido proposital, visto serem azuis as vestes que a imagem original de Praga traja simbolicamente no dia consagrado à Imaculada Conceição.

Ainda outra pergunta: como se teria divulgado rapidamente na Cidade a denominação “Pequeno Grande”, de provável origem alemã, conferida pelos fortalezenses à Igreja?

***

Como se percebe, quando aberta ao culto (menos nas pedras das fundações e na alvenaria de tijolos das paredes, e talvez em madeiras do piso), a Igreja do Pequeno Grande constituía uma edifi cação totalmente francesa, engastada no espaço urbano de uma Fortaleza em progresso. Preservada cuidadosamente há mais de um século com meios próprios, por uma instituição educacional religiosa integrada à vida cearense47, a Igreja avulta como fato incomum, numa cidade que pouco ou nada se preocupa com o seu passado material e imaterial.

***

À parte considerações sobre arquitetura medieval, a presença francesa no mundo moderno, em particular nos meios culturais, explica o amplo espaço que ocupa neste trabalho. O fato encontraria pelo menos três esclarecimentos. Primeiro, pelo incontestável prestígio da França, alcançado durante o século XIX na Europa e nas Américas, traduzido em incontáveis cometimentos intelectuais e refi namentos sociais, com forte impacto no campo da Arquitetura – neoclássica, neogótica e eclética. O prestígio, acrescente-se, permaneceria no Brasil ainda em boa parte do século XX, no âmbito dos conceitos modernistas de racionalismo arquite-tônico (pregações de Le Corbusier e generalizada difusão do emprego do concreto armado, proposição construtiva de origem francesa). Segundo, 47 Na preservação da Igreja, avulta a vigilante participação afetiva e material das integrantes da

Associação de Ex-alunas do Colégio da Imaculada Conceição (AECIC).

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pela presença francesa no Brasil, tantas vezes pessoal, por via de institui-ções culturais, laicas e religiosas. Terceiro, pelo próprio tema deste artigo, pertinente à igreja fortalezense do Pequeno Grande, obra de procedência material francesa, erguida por uma comunidade religiosa francesa.

***

O autor agradece a prestimosa colaboração de amigas e amigos – Neiliane Alves Bezerra, bibliotecária da Universidade Federal do Ceará, Francisco Augusto Salles Veloso, arquiteto dos quadros do IPHAN, e Ricardo Figueiredo Bezerra, arquiteto e professor da Universidade Fe-deral do Ceará.

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Sumário

O presente artigo trata da capela do Colégio da Imaculada Con-ceição, mais conhecida como Igreja do Pequeno Grande, valioso marco arquitetônico fortalezense. Parte do texto interessa-se pelas origens religiosas do culto, acompanhadas de comentários paralelos sobre as congregações, direta ou indiretamente, vinculadas à Igreja. A outra parte analisa o histórico da construção, as circunstâncias e os conceitos estéticos normativos acatados na obra, bem como lastima as difi culdades, talvez não superáveis, de se obterem mais informações, ainda necessárias a uma melhor elucidação da presença francesa na edifi cação.

Abstract

This work intents to analyse the chapel of Immaculate Conception School, known as the Church of Holy Child, precious architectural land-mark in the city of Fortaleza, Brazil. The fi rst part of this work deals with the origins of that church, its Catholic worship, parallel by appreciations, related to religious congregations directly or indirectly linked to the chapel. The second part examines historic facts about its construction, as well as the circunstances and the normative esthetical concepts applied in the building. On other hand, this work meets some diffi culties, that cannot probably be overcome, in terms of obtaining necessary information to explain details of French infl uence in that church architectural project.

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Figura 2. Colégio de Educandos. Fortaleza. Desenho a crayon e nanquim de José dos Reis Carvalho, c. 1859. Coleção Museu Dom João VI. Escola de Belas Artes da Universi-

dade Federal do Rio de Janeiro.

Figura 1. Colégio da Imaculada Conceição e Igreja do Pequeno Grande. Foto Francisco A. Veloso, 2017.

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Figura 3. Igreja do Pequeno Grande. Vista externa. Coleção do autor.

Figura 4. Igreja do Pequeno Grande. Vista interna. Observar a estrutura metálica, o altar e o retábulo, os vitrais, as imagens ao longo da nave e as pinturas de forro.

Foto Francisco A. Veloso.

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61Igreja do Pequeno Grande

Figura 5. Altar e retábulo de madeira com motivos neogóticos

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Figura 6. Imagem da Imaculada Conceição exposta no altar com destaque.

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63Igreja do Pequeno Grande

Figura 7. Igreja do Pequeno Grande. Menino Jesus de Praga: observar o biótipo do Menino e a inscrição iden-tifi cadora. Foto Francisco A. Veloso.

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A vitória de Tasso Jereissati para o Senado em 2014 e a polêmica questão das “Bases Eleitorais”*

R V A C **M L T ***

Resumo do trabalho:

foco desse texto é a análise da campanha vitoriosa de Tasso Jereissati para o Senado em 2014, mesmo com a derrota do candidato ao governo pelo PMDB de sua chapa, Senador Eunício Oliveira, presidente estadual do PMDB, e supostamente detentor de “bases eleitorais” que o credenciavam a apresentar-se como candidato de oposição aos Ferreira Gomes. O candidato ao Senado Mauro Filho (PROS), indicação pessoal do então governador Cid Ferreira Gomes, foi derrotado por ampla margem de votos em quase todos os municípios do Estado, inclusive em Fortaleza. Em síntese, Camilo Santana, fi liado ao PT, mas considerado “cidista”, elege-se governador, mas a oposição (PSDB) conquista a única vaga em disputa para o Senado. Os resultados eleitorais conduzem a uma discussão sobre a função de chefes políticos em campanhas para o Senado que tendem a ser atreladas às disputas para o governo estadual. A campanha de Tasso em 2014 destaca-se por ter sido produzida por uma equipe publicitária distinta, centrando-se na reconstrução da imagem política o candidato. A vitória de Tasso (PSDB) é considerada indicativa de fortalecimento da oposição e, por consequência, da redução da hegemonia dos Ferreira Gomes na política do Ceará .

Palavras-chaves: Eleições, Bases eleitorais, Senado.

** Sócia Efetiva do Instituto do Ceará.

* Texto apresentado no 10º. Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política. Belo Ho-rizonte, 2015.

*** Universidade Federal do Ceará (UFC).

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Introdução

Quais especifi cidades em campanhas para o Senado tornam difícil recorrer a noção de “bases eleitorais” para explicar vitórias e derrotas? Como os eleitores decidem o voto para o Senado? A tendência predomi-nante evidenciada em dados eleitorais é que os eleitores votem em can-didatos da mesma chapa do candidato ao governo ou tenham o seu apoio, do mesmo modo que candidatos de oposição pertençam à mesma chapa.

O que são as chamadas “bases eleitorais”? A noção tem signifi cados distintos quando aplicada a diferentes tipos de eleições. Nas municipais (prefeito e vereador) reporta-se a laços mais diretos estabelecidos entre candidatos e eleitores caucionados pelo acionamento, pelos primeiros, de formas de atendimento de demandas que lhes proporciona uma adesão relativamente estável que se traduz em votos. Nas eleições estaduais e federais as relações dos candidatos com os eleitores na conquista de votos são mediadas pelos chamados “chefes políticos” municipais, que podem ser prefeitos, vereadores ou lideranças com infl uência sobre segmentos do eleitorado. A expressão “chefe político” tem origem no contexto de sociedades predominantemente rurais nas quais o domínio dos patrões se estendia de forma direta sobre as relações sociais e políticas, justifi cando assim a nomeação pejorativa de “currais eleitorais”. No Brasil as duas nomeações (chefes políticos e currais eleitorais) continuam a ser utili-zadas mesmo quando a urbanização, as mudanças na economia rural e a ampliação da presença do Estado alteraram signifi cativamente formas anteriores de controle social e político. Vale ressaltar que deputados esta-duais e federais consideram como suas “bases eleitorais” os municípios ou regiões onde obtiveram grande concentração de votos e para as quais direcionam grande parte de suas atividades parlamentares na busca de atender “pleitos” daqueles que considera representar mais diretamente.1

Admitimos que no caso de eleições para o Senado há particularidades no funcionamento das chamadas “bases eleitorais”. Tomo duas situações para exemplifi car situações distintas: na primeira, regra geral, ocorre uma transferência das bases eleitorais do candidato do governador ou que inte-gram a aliança do candidato ao governo pela oposição com supostas chances de vitória. A segunda, espécie de “ponto fora da curva”, acontece quando o candidato a Senador não depende dos votos do candidato a governador e 1 Ver BEZERRA, 1999.

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67A vitória de Tasso Jereissati para o Senado em 2014 e a polêmica questão das “Bases Eleitorais”

sua campanha assume um formato próprio, com formas diferenciadas de comunicação com os eleitores que vão além da intermediação de “chefi as políticas” municipais reportando-se mais a uma “política de imagem”. A campanha de eleição de Tasso ao Senado em 2002 e a derrota em 2010, se encaixam na primeira alternativa. Ele venceu em 2002 quando apoiou e teve o apoio de Cid Gomes candidato ao governo, e perdeu em 2010, quando mesmo vinculado ao PSDB, esperava contar com as “bases eleitorais” do governador (PROS) de quem continuara aliado, o que não aconteceu. Sua campanha, atrelada a essa certeza, não pode ser reestruturada quando a poucas semanas do pleito, o apoio do governador foi, por imposição do então presidente Lula, publicamente dado aos dois outros candidatos, José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (PMDB)2. Uma vitória considerada certa, as pesquisas duas semanas antes do pleito o posicionavam como primeiro colocado, transformou-se em fragorosa derrota.

A campanha de Tasso ao Senado em 2014 se enquadra perfeitamente à segunda situação. Candidato de oposição ao governo federal, e principal-mente no plano estadual aos Ferreira Gomes, sua campanha vitoriosa foi produzida em moldes independentes e originais, descolada da campanha de Eunício Oliveira, candidato ao governo por sua coligação.

Os exemplos mencionados sugerem que as chamadas “bases elei-torais” em geral não podem ser consideradas pertencentes aos candidatos ao Senado, o que explicaria casos em que candidatos até então desco-nhecidos ou com baixa expressividade política sejam facilmente eleitos quando apoiados pelo governador. Entretanto em situações extraordiná-rias, sugestivas de redução da hegemonia do governador em exercício, é possível que aconteçam vitórias de candidatos ao Senado que se elegem por suas próprias forças mesmo quando o candidato ao governo de sua chapa é derrotado.

O foco desse texto é exatamente a análise da campanha vitoriosa de Tasso Jereissati para o Senado em 2014, mesmo com a derrota do candidato ao governo pelo PMDB de sua chapa, Senador Eunício Oliveira, presidente estadual do PMDB, e supostamente detentor de “bases eleitorais” que o credenciavam a apresentar-se como candidato de oposição aos Ferreira Gomes. O candidato ao Senado Mauro Filho (PROS), indicação pessoal do então governador Cid Ferreira Gomes, foi derrotado por ampla margem de votos em quase todos os municípios do Estado, inclusive em Fortaleza.2 Ver CARVALHO e AQUINO, 2011.

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Em síntese, Camilo Santana, fi liado ao PT, mas considerado “ci-dista”, elege-se governador, mas a oposição (PSDB) conquista a única vaga na disputa para o Senado. O que a vitória de Tasso nos ensina sobre o papel de “bases eleitorais” em campanhas para o Senado Federal? Para tentar encontrar resposta, ainda que imprecisa, a uma questão tão ampla, recorremos aos seguintes procedimentos: a) análise do cenário político eleitoral que em 2014 viabilizou o retorno de Tasso à política depois de ter declarado em 2010 seu afastamento defi nitivo para dedicar-se à família e aos seus negócios; b) análise do formato e estratégias de comunicação utilizados nos programas de TV do HGPE para atingir diretamente o elei-torado, reduzindo o peso da mediação de “chefes políticos”; c) análise do comportamento de “chefes políticos” nas decisões de apoiar Tasso para o Senado sem indispor-se com os Ferreira Gomes ou com suas “bases eleitorais”; d) quadro dos resultados eleitorais para o governo e Senado com destaque para a comparação de desempenho de Tasso na capital e em municípios do interior nos quais o candidato do governador, Camilo Santana, obteve mais ou menos votos que ele.

1. Disputas para o Senado no Ceará

Nomeada de Câmara Alta, o Senado Federal é a instância parla-mentar mais importante no sistema bicameral brasileiro. Por ser uma representação por Estado, a eleição para o Senado, tal como para postos executivos, é majoritária e oferece aos eleitos a vantagem de desfrutar de um mandato de oito anos, durante o qual é possível candidatar-se sem prejuízos a outros cargos. Presidentes e governadores ao fi nal de seus mandatos no executivo encontram no Senado a opção preferencial para continuar na política. Um caso exemplar é de José Sarney, que depois de encerrado seu mandato como presidente da República foi eleito Senador pelo Amapá em 1991 (mesmo sendo ele político do Maranhão) e reeleito sucessivamente para o mesmo cargo por ele ocupado até 2015.

Neiva (2005) destaca que 21 dos 27 presidentes eleitos na fase republicana foram Senadores antes ou depois dos mandatos, e 31,4% já tinham sido governadores no período de 1982-1988. Contraditoriamen-te, no entanto, não é raro que suplentes assumam o mandato de Senador sem ter obtido nenhum voto. Segundo Ferreira (2009), 174 suplentes de Senadores exerceram mandato no período de 1989-2008.

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69A vitória de Tasso Jereissati para o Senado em 2014 e a polêmica questão das “Bases Eleitorais”

Por outro lado nos interessa destacar que a indicação de candidatos ao Senado nem sempre é feita considerando o critério de densidade eleitoral dos mesmos, mas sim em razão de ligações pessoais que mantêm com governadores em exercício ou candidatos à reeleição, ou por conveniências na montagem de coligações partidárias.

Uma breve análise dos Senadores eleitos no Ceará pós-redemocrati-zação é ilustrativa disso. Em 1986 Cid Sabóia de Carvalho, por indicação do governador Gonzaga Mota, elege-se Senador pelo PMDB na onda do triunfo de Tasso Jereissati ao governo do Estado e do partido de oposição aos governos militares. Vale lembrar que Cid Carvalho fora derrotado em 1982 quando se candidatou a deputado estadual. No mesmo ano (1986) Mauro Benevides elege-se para ocupar a segunda vaga ao Senado. Neste caso, porém, tratava-se de político profi ssional com longa carreira na política cearense que teve início em 1955 com sua eleição para vereador pelo antigo PSD, para deputado estadual em 1959, reelegendo-se suces-sivamente por mais quatro mandatos. Com o bipartidarismo imposto pelo regime militar, fi liou-se ao partido de oposição, o MDB, destacando-se no Ceará como integrante do movimento pela redemocratização do país.

Beni Veras elege-se ao Senado em 1990, tendo sido indicado candi-dato pelo então governador com quem mantinha profundas relações pes-soais e políticas que remontavam ao movimento dos empresários do CIC que projetou Tasso na política cearense em 1986. Sem que antes tenham sido vitoriosos em nenhuma campanha parlamentar, Sérgio Machado em (1994) e Luiz Pontes (1998), já fi liados ao PSDB, elegem-se ao Senado como representantes do tassismo.

Ao deixar o governo, em 2002, Tasso elege-se Senador e para a segunda vaga, por obra e graça do seu prestígio pessoal, elege a ex-mulher de Ciro Gomes, Patrícia Saboya (então fi liada ao PDT).

A ascensão do PT à presidência da República em 2002 implicou em alterações relevantes para o quadro da política cearense. Tasso (PSDB) mantinha aliança no plano estadual com os Ferreira Gomes, ainda que fi liados a partidos diferentes e tendo posições opostas em relação ao governo federal. No Senado (de 2007 a 2010), Tasso destacou-se como um dos mais veementes opositores do PT e de Lula, enquanto os Ferreira Gomes os apoiava.

Em 2010 a pretensão do então governador Cid Gomes era apoiar Eunício Oliveira (PMDB) para uma vaga do Senado e a Tasso Jereissati

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para a segunda vaga. Como já dito neste texto, a intervenção do então presidente Lula, candidato à reeleição, que aconteceu nas duas semanas fi nais da campanha, provocou uma reviravolta nos resultados previstos. Cid Gomes declara apóio a José Pimentel, candidato do PT ao Senado e Tasso, até então o primeiro colocado nas pesquisas, cai rapidamente para a terceira colocação. Esse episódio marca o rompimento das relações informais, de mútuo apóio político entre Tasso e os Ferreira Gomes.

Derrotado em 2010, a novidade em 2014 foi o retorno de Tasso para disputar a única vaga do Senado, desta feita integrando a coligação oposicionista. (PMDB / PSC / DEM / PSDC / PRP / PSDB / PR / PTN / PPS). Os Ferreira Gomes elegem o candidato ao governo, Camilo Santa-na, do PT, mas não conseguem repetir a escrita até então vigente de levar junto o seu candidato ao Senado, Mauro Filho.

O que destacamos aqui é o diferencial da campanha de Tasso em 2014 no HGPE. Produzida nos moldes de uma campanha independente e inovadora ela em nada lembra o padrão de campanhas para o Senado até então vigentes, não mais que ecos das campanhas para o governo estadual. A convocação feita aos eleitores, “Quem vota em Tasso para o Senado vota em Eunício para governador”, é sugestiva da inversão do prestígio da campanha de Tasso em relação à de governador.

2. Cenário pré-eleitoral e eleitoral: sinais de enfraquecimento do monopólio dos Ferreira Gomes?

Duas declarações do Senador do PMDB e até então aliado Senador Eunício Oliveira, repercutiram na mídia como sinalizações de rebeldia ao comando do governador e sua base partidária na direção da sucessão estadual: “Agora é vez dos aliados” e “Esta eleição não vai ser de poste”. Considerando que a imagem do governador e de sua gestão já não apre-sentavam percentuais de popularidade incontestáveis (pesquisa do Ibope, realizada entre os dias de novembro a 2 de dezembro de 2013, apontou que 20% dos eleitores reprovavam o governo Cid Gomes, e apenas 38% consideravam sua gestão ótima ou boa) ele não poderia se dar ao luxo de indicar de forma monocrática quem seria o candidato à sua sucessão, solapando assim a principal característica do atual ciclo político, o con-trole pessoal e isolado dos processos decisórios relativos à indicação de candidatos aos cargos majoritários do poder executivo ao governo estadual

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e prefeitura da capital. A ampla aliança política, que em 2006 elegeu o atual governador, reelegendo-o em 2010, garantindo-lhe também ampla maioria na Assembleia, apresentava sinais de corrosão. As disputas internas do PT entre os que defendiam a manutenção da aliança do partido com o governo estadual e os que a contestavam, já se anunciavam em 2012, na disputa pela prefeitura de Fortaleza quando a prefeita do PT Luizianne Lins, rompe a aliança com o governador Cid Gomes e os dois lançam candidatos próprios para a prefeitura de Fortaleza, (Roberto Cláudio e Elmano Freitas), nomes que até o início da campanha eram desconhecidos do grande eleitorado e por isso nomeados “candidatos poste”3. A vitória de Roberto Cláudio, candidato do governador, sobre Elmano Freitas, candidato da prefeita ocorrida no 2º turno, fortaleceu os Ferreira Gomes para as negociações que foram feitas nas eleições estaduais de 2014, na medida em que a corrente petista da ex-prefeita Luizianne Lins que lhe fazia oposição ferrenha perdeu o comando estadual do partido. O PT fi cou assim dividido: oposição na capital ao prefeito Roberto Cláudio (e ao cidismo); no plano estadual a direção do partido exercida por José Guimarães manteve apoio a Cid Gomes, com o argumento de que essa aliança era condição essencial para dar continuidade ao projeto petista a nível federal.

Os rumos da sucessão presidencial em 2014 eram decisivos para o governador Cid Gomes, justifi cando seu rompimento com o PSB, comandado por Eduardo Campos que se lançou candidato à presidência da República, para fi liar-se ao recém-fundado PROS (janeiro de 2010) e desse modo expressar apoio irrestrito à reeleição da presidente Dilma Roussef. Uma demonstração de força de Cid foi carrear para o PROS a quase totalidade dos deputados estaduais e federais e prefeitos não só do PSB, mas de outros partidos de sua base política. Em reunião realizada no Centro de Eventos (01 de outubro de 2013) Cid anuncia “agora somos o PROS e vamos à luta”. No próprio momento de sua criação o PROS converte-se no maior partido do Ceará, contando com o governador, o prefeito da capital, 37 prefeitos de municípios do interior, o presidente da Assembléia Legislativa (Zezinho Albuquerque), 5 deputados federais, 8 deputados estaduais e 287 vereadores, numa indicação clara de que a dinâmica política cearense é determinada por pessoas e grupos políticos e não por instâncias partidárias. Vale salientar, entretanto, que a força 3 Ver CARVALHO e LOPES, 2011.

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demonstrada naquele momento pode dissolver-se se considerarmos que um governador em fi m de gestão, e sem mandato político não oferece perspectivas sólidas de manutenção do controle da máquina do Estado.

Sem dúvida o maior problema enfrentado por Cid Gomes em 2014 era a pretensão inegociável do Senador Eunício Oliveira (seu aliado nas campanhas de 2006, 2010 e 2012) de se lançar candidato ao governo es-tadual pelo PMDB, maior partido da base governista federal e estadual. Eunício argumentava que as concessões feitas em disputas anteriores lhe dava o direito de cobrar, em 2014, o apoio do governador à sua candidatura ao governo do Estado. Ficou claro desde o início que o apoio solicitado não lhe seria concedido, pois a vitória de Eunício Oliveira não poderia ser diretamente tributada ao governador, enfraquecendo assim o “cidismo”. Por outro lado Cid teve ainda que administrar dentro de suas “bases” a disputa entre aqueles que pretendiam ser indicados à sua sucessão (o vice-governador Domingos Filho, os deputados estaduais Zezinho Albu-querque e Mauro Filho, Leônidas Cristino, e membros do seu secretariado, Isolda Cela, Arialdo Pinho, e Camilo Santana). A decisão do governador foi adiada até o esgotamento do prazo da justiça eleitoral para a realização das convenções partidárias (30 de junho). A escolha de Camilo Santana, fi liado ao PT, mas considerado “cidista”, certamente foi fruto de acordo entre o governador e o comando estadual do PT, o que poderá reduzir a margem de controle de Cid sobre a gestão do seu sucessor. Eunício Oli-veira ampliava esforços para fortalecer a oposição. A ele uniram-se dois dos maiores críticos políticos dos Ferreira Gomes, Roberto Pessoa (PR), ex-prefeito de Maracanaú, e Tasso Jereissati (PSDB), derrotado ao Senado em 2010. O primeiro ocupou o lugar de vice na chapa para o governo e o segundo, revendo a decisão de “aposentadoria” política aceitou o desafi o de enfrentar aqueles que considerava seus traidores e responsáveis por sua derrota em 2010. Com a adesão de partidos menores e conhecendo bem o inimigo a ser enfrentado, a oposição se apresentava para a batalha eleitoral com um suporte não desprezível de forças políticas. O cenário brevemente descrito, com a reorganização da oposição e perspectiva de uma campanha competitiva, era favorável à decisão de Tasso de retornar à política desta feita em um confronto direto com os Ferreira Gomes, escrevendo outro desfecho para sua carreira política.

O quadro das duas principais coligações para as candidaturas ma-joritárias fi cou assim composto:

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Tabela 1 - Coligações e candidaturas majoritárias no Ceará nas eleições de 2014.

Coligação Candidato ao governo

Candidato ao Senado

Situação

Para o Ceará seguir mudandoPROS/ PRB/ PP/ PDT/ PT/ PTB/ PSL/ PRTB/ PHS/ PMN/ PTC/ PV/ PEN/ PPL/ PSD/ PCdoB/ PTdoB/ SD

Camilo Santana (PT) Mauro Filho (PROS)

Oposição

Ceará de todosPMDB / PSC / DEM / PSDC / PRP / PSDB / PR / PTN / PPS

Eunício Oliveira (PMDB)

Tasso Jereissati (PSDB)

Fonte: elaboração própria com base nos dados do TRE-CE.

3. A campanha de Tasso ao Senado no HGPE: estratégias discursivas

A grande aposta do Governador Cid Ferreira Gomes era que o início do Horário Eleitoral de Propaganda na TV faria decolar seus candidatos ao governo do Estado e Senado, que pouco conhecidos do grande eleito-rado, partiam de índices muito baixos de intenção de voto nas pesquisas publicadas na fase pré-eleitoral.

As estratégias discursivas utilizadas nos primeiros programas de Camilo (governo) e Mauro Filho (Senado) objetivavam apresentar os candidatos aos eleitores e vincular suas imagens aos bons frutos da gestão do governo Cid Gomes nas áreas de saúde, com a construção de UPAS e Hospitais Regionais; de educação com o Programa Alfabetização na Idade Certa (PAIC), inauguração de escolas de formação técnica para o ensino médio; dos resultados dos programas sociais realizados no Estado em parceria com o Governo Federal, tais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.

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O fato de que tanto Camilo, como Mauro Filho terem sido secretá-rios de estado nos dois governos de Cid Gomes permitia que fossem apre-sentados como coautores do projeto de um Ceará Melhor cuja continuidade seria por eles assegurada. O argumento dos ganhos para o Ceará de ter um governador e um Senador que estariam do mesmo lado da presidenta Dilma consagrava a defesa do situacionismo verticalizado.

Aos candidatos de oposição ao governo, Eunício Oliveira e ao Senado Tasso, caberia em tese a tarefa de construir uma contra imagem do governo de Cid extensiva aos seus candidatos: o aumento da crimina-lidade, as prioridades dadas a projetos considerados “elefantes brancos” como a construção de um Aquário; as carências das populações sertanejas agravadas pela seca. Ou seja, os alvos principais não eram os próprios candidatos, mas àquele que os indicara, o governador em exercício.

Não analisamos neste texto nem a campanha de Eunício Oliveira ao governo nem a de Mauro Filho ao Senado, fi xando-nos na campanha de Tasso ao Senado no horário eleitoral da TV. Vale ressaltar que embora sejam majoritárias e com razoável tempo de TV, campanhas ao Senado são, via de regra, tratadas como apêndices das campanhas ao governo, e por consequência não se tornam objeto de análise. A campanha de Tasso ao Senado em 2014 rompe a tendência mencionada. Ela contou com equipes qualifi cadas de marketing, publicitários e técnicos em audiovisual espe-cifi camente voltados para a produção de forma totalmente independente da campanha do candidato ao governo de sua coligação.

Depoimentos de dois jovens profi ssionais que trabalharam no grupo de comunicação da campanha foram bastante elucidativos. Eles desta-caram as inovações introduzidas na linguagem e na estética para tornar a campanha interessante e efi caz:

A linguagem, a gente teve que se adaptar, a linguagem como a gente tá chegando nas pessoas é bem diferente. Até ele (Tasso) tipo, como cara que também se modernizou pra caramba, ele não fi cou no passado, ele se adequou. E acho que ele é um cara bem mutável, o discurso dele continua super relevante (...) tipo ele é um cara que ele se reinventa se for necessário e continua relevante e marcante. Acho que um dos aspectos bacana dessa campanha foi isso, porque a gente conseguiu fazer essa fusão, tipo corrigir alguns supostos erros (Yohana, publici-tária, entrevista realizada em 11 de dezembro de 2015).

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O objetivo central da campanha era “reinventar” a imagem pública do Tasso Jereissati, com a fusão entre a imagem do “grande homem”, construída nos já longínquos “governos da mudança”, e a do “homem acessível”, com quem qualquer pessoa do povo poderia conversar, partilhar os seus problemas. O pressuposto é que existia uma imagem negativa e falsa de Tasso, que os opositores lhe tinham atribuído e que era necessá-rio desmontar: pessoa autoritária, intocável, distante do povo e de suas difi culdades:

A gente tentou passar o que ele é de verdade. Nessa campanha a gente tentou ser o mais verdadeiro possível, tipo, o Tasso ele é aquela pessoa que a gente mostrou. O cara mais verdadeiro, as vezes sério, mas as vezes brincalhão, mas sempre com esse espírito (Yohana, publicitária, entrevista realizada em 11 de dezembro de 2015).

Com o objetivo de identifi car quais estratégias discursivas foram priorizadas na campanha, selecionamos para análise programas de Tasso no HGPE na TV que oferecem claras pistas materiais dos sentidos que se pretendia fossem partilhados pelos eleitores. Isto porque o que vai ao ar é objeto de um planejamento prévio que fi ltra o que dizer, e principal-mente o como dizer, de modo a tocar os eleitores quer com argumentos irrecusáveis quer pela mobilização de emoções positivas, como afi rmado por um dos publicitários entrevistados:

Nada foi criado por acaso, tipo, por mais que tivesse um apelo visual super agradável, tudo aquilo estava conectado como o que tava na pesquisa, isso é que foi bacana (...) tudo era testado porque a gente queria saber o que as pessoas curtiam de verdade, mostrar pra elas quem era o candidato de verdade” (Idem).

O engajamento entusiasta dos jovens profi ssionais que trabalha-ram na campanha, que disseram acreditar politicamente no que estavam fazendo, provavelmente contribuiu para o sucesso da campanha: “As vezes se precisasse eu tava lá, no corte, na câmara, ajudando a direção. Funcionou tudo assim, as pessoas tinham um comprometimento muito grande” (Idem).

Embora se tratasse de uma candidatura de oposição, evitou-se na campanha o ataque aos adversários. O foco era posicionar a imagem de Tasso de modo singular, situando-o como personagem de um enredo político próprio que transitava do passado ao presente para falar sobre a promessa

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de um futuro melhor: o “grande homem” que 2010 anunciara seu afasta-mento da política, em 2014 atende ao apelo do povo para a ela retornar.

O primeiro programa que foi ao ar em 20 de agosto, atualiza a ima-gem do Tasso que em sua primeira campanha para o governo do Estado em 1986 representara a grande mudança para um Ceará moderno. O que se festejava era a volta do “galeguim dos óios azul”, como então chamado de forma carinhosa. Os depoimentos dos que viveram um passado anterior aos “governos das mudanças” são confrontados com as realizações que modernizaram o Ceará:

Eu era muito pequeno mas eu via o galeguim dos óios azul, quando ele veio para mudar tudo, naquela época era tudo difícil, os meios de transporte, água ninguém tinha em casa (José Airton, morador de Quixadá, HGPE de Tasso para o Senado em 2014).Eu vejo o Tasso, o Tasso da época, ele era um governo presente em todas as ações que se fazia no Estado (Ednaldo, vaqueiro, morador de Crato).Tudo que nós temos hoje foi por conta dele, Castanhão, Aeroporto, Porto do Pecém... (Felipe Dantas, morador de Fortaleza, HGPE de Tasso para o Senado em 2014).

Os depoimentos são intercalados com falas de Tasso:

Olha, no Ceará em 86 nós vivíamos uma crise de identidade muito grande, olhava ao redor e via a imagem do estado que devia a todo mundo e não pagava, o estado com maior índices de analfabetos do Brasil, o estado com maior índice de mortalidade infantil e resolvemos enfrentar essa situação participando como vocês estão fazendo hoje. Eu acho uma das grandes vitórias que eu tive, senão a maior vitória nesse primeiro governo, foi ver o cearense andar por aí, em qualquer parte e dizer, “eu sou cearense!” e o cara dizer, “poxa, que bacana o que vocês estão fazendo por lá” (Tasso Jereissati, HGPE de Tasso para o Senado em 2014).

Ainda no mesmo programa outro lado da imagem de um “Tasso próximo ao povo” é ressaltado em depoimentos: “Tasso foi quem abriu as portas do Estado do Ceará para as lideranças meu fi lho!” (D. Tatá, líder comunitária, moradora de Fortaleza, HGPE de Tasso para o Senado em 2014) ou “O Tasso sabe ouvir e sabe falar na hora certa” (Jairson da Sil-va, educador físico, Fortaleza, HGPE de Tasso para o Senado em 2014).

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A confi rmação mais uma vez é dada pelo próprio candidato: “a gente dava recursos para um grupo de pessoas numa mesma comunidade, desde que eles tivessem um projeto que melhorasse a vida das pessoas naquela comunidade” (Tasso Jereissati, HGPE de Tasso para o Senado em 2014).

O slogan da sua campanha, “Tasso o Senador de todos os cearen-ses”, é uma denúncia implícita ao domínio do governador sobre Mauro Filho, seu principal oponente da disputa ao Senado. O argumento é o de que “ser independente” é condição de um bom desempenho no Senado:

(...) o mais importante prá isso é que o Senador seja independente, que não tenha medo de governo, não tenha padrinhos que o orientem, que não tenha outros interesses, não tenha chefe, isso eu garanto pra vocês, a minha independência total e compromisso só com o Ceará, com os cearenses (Tasso Jereissati, HGPE de Tasso para o Senado em 2014).

O programa que foi ao ar no dia 22 de agosto, intitulado “Tasso e Você’, evidencia de forma paradigmática a intenção de mobilizar fortes emoções ao dar a conhecer a face humana do candidato. O cenário inicial, o distrito de Antônio Diogo em Redenção, onde está situado o mais antigo hospital do Ceará a receber doentes com hanseníase, confere autenticidade à narrativa feita pelo senhor José Arimateia. Sentado em uma cadeira de rodas, deixando à mostra a falta de mãos perdidas para a doença, ele fala no interior da sua casa, ambiente simples mas bem cuidado, para fazer re-velações sobre quem era o “Tasso verdadeiro”. A narrativa é acompanhada por imagens em preto e branco da campanha de Tasso em 1986, registros de sua presença em eventos em que era cercado e abraçado pelo povo.

Em 86 eu fui convidado para representar o Antônio Diogo e a classe hanseniana. Tasso muito novo e na parte dos meus discursos eu digo, Olha a oposição diz que o senhor não quer saber de pobre, de defi ciente, de cego ou que tenha qualquer doença contagiosa, eu olhei pra ele e as lágrimas tava descendo. Ele me abraçou, ele entrou pra Colônia, até hoje não saiu da minha memória… Da postura dele em abraçar cada paciente, que tinha que fazia pena e dó, e começou a nossa história. Nunca ele desprezou um pedido nosso! Energia, lavanderias públicas e acima de tudo, a água para nós consumirmos. Obrigado meu Deus! Por um dia ter botado no nosso caminho Tasso Jereissati. Nós vamos ter ele pra defender os nossos irmãozinhos que sofria tanto quanto eu sofri. É essa história que eu tenho pra contar (José Arimatéia, morador de Redenção, HGPE de Tasso para o Senado em 2014).

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Figura 1- José Arimatéia no HGPE de Tasso para o Senado em 2014.

Fonte: HGPE de Tasso Jereissati para o Senado em 2014

No mesmo programa outra imagem de Tasso é construída em uma cenografi a reiteradamente utilizada em toda a campanha: um estúdio onde o candidato trava uma conversa coloquial com jovens. A cenografi a se incorpora ao que é dito reforçando a imagem de Tasso que se quer mos-trar, ao mesmo tempo que rechaça àquela difundida por seus opositores (político autoritário, pouco afeito ao diálogo).

Jovem: Tasso gostaria de saber qual o seu sonho para o futuro do Ceará?

Tasso: O meu sonho para o futuro do Ceará eu acho que foi o sonho da minha geração quando nós entramos na política, eu acho que é o sonho de vocês também, que todos os cearenses tivessem saúde de qualidade, tivesse uma formação de boa qualidade e um bom emprego com renda. Nasci aqui e meu pai foi morar fora depois eu voltei pra cá com cerca de 20 anos nunca mais saí daqui, fi quei morando aqui, meus fi lhos nasceram aqui, os meus netos quero que morem aqui. Nós temos que fazer uma política que não olhe só o presente, fazer aquilo que é popular no momento e não aquilo que é necessário para garantir um futuro bom para todos (HGPE de Tasso para o Senado em 2014).

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A função do narrador com afi rmações intercaladas aos depoimentos era de oferecer uma síntese das realizações de Tasso:

Narrador: Ele foi o governador e Senador do Porto, Aeroporto, Castanhão, da Indústria e do emprego no sertão. Por isso no Ceará o povo chama ele assim, num é “Tasso Jereissati” é o nosso “Galeguim”.

Narrador: O governo Tasso levou água para 4 milhões de pessoas, e a rede elétrica passou de 15% para 81% do Ceará (Idem).

Figura 2 - Tasso e os jovens no HGPE

Fonte: HGPE de Tasso Jereissati para o Senado em 2014.

A presença do seu “Lunga”, popularmente conhecido por ser do “contra”, por sua tolerância zero a mentiras e a indagações óbvias, ilustra que até ele se rendeu a importância de apoiar Tasso:

“Seu Lunga: Esse é um homem que o Brasil precisa;Narrador em off: Senador bom até ‘seu Lunga elogia’;Predomina em quase todos os programas a cenografi a da conversa

encenada: Tasso com você; Tasso com Maria; Tasso com Tereza; Tasso com Liduina. São pessoas reais que falam emocionadas de suas experiên-cias quando trabalharam em projetos do governo de modo especial como agentes de saúde da família, no projeto São José.

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A “cearensidade” é buscada na música de forró, nas cantorias e no cordel, com a presença de seus autores que declaram apoio à candidatura de Tasso.

O último programa do HGPE é ilustrativo do tom descontraído e original que se desejava alcançar ao apresentar-se como “festa surpresa” para celebrar a volta de Tasso à política e antecipar a certeza de sua vitória. Os organizadores da “festa” são os que apareceram ao longo da campanha, pessoas reais, com nome e sobrenome, que chegam um a um para reiterar seus sentimentos em relação ao candidato:

Pedro Caldas (estudante): Senador, eu queria lhe agradecer pelo senhor ter aceitado a voltar ser candidato ao Senado. Como o senhor sabe, não sou só eu que quer agradecer para o senhor, pelo senhor ter voltado. Tem muita gente que quer agradecer para o senhor também, e que está aqui e veio lhe agradecer pessoalmente. Mario Costa (trabalhador): Em nome do povo maranguapense vim desejar boa sorte nessa reta fi nal, que o senhor possa contar conosco. E novamente agradecer por tudo o que o senhor fez. Pela família ma-ranguapense quando trouxe as empresas para Maranguape. E como eu disse na primeira vez, eu não sou de abraçar macho, só meu fi lho e meu pai que eu perdi com 9 anos, mas novamente a você eu repito esse abraço com a sua permissão. Dona Tatá (líder comunitária): Essa vitória é encantada, porque em cada casa do Mucuripe, que eu tenho andado, que eu tenho visitado, fora mesmo no interior, e só ando, aonde as pessoas dizem assim, “Eu sou Tasso!”. Por isso, eu quero lhe dizer é a vitória mais linda que o senhor teve e vai ter porque Nossa Senhora Aparecida está do seu lado. Thiago (Estudante): Santa Quitéria hoje é eternamente grata ao se-nhor por causa do açude Edson Queiroz. Se não fosse o açude Edson Queiroz, Santa Quitéria estaria hoje enfrentando uma grande seca. Sirano (cantor de forró que interpretava a música da campanha): O orgulho do cearense e de ser cearense, foi depois do Tasso Jereissati, com as mudanças que fez no Ceará (Idem).

Ao fi nal Tasso agradece e retribui as homenagens que lhe foram prestadas:

Eu nunca fi z nada sozinho, tudo foi, absolutamente acompanhado de muita gente boa como essas que estão aqui. Essa campanha não foi feita por mim, foi feita por você, e acho que foi a Dona Tatá que disse, que talvez essa campanha seja uma das mais bonitas, se não a

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mais bonita, pra mim com certeza. Sentia mesmo o afeto das pessoas me recebendo de braços abertos. Que me deu uma sensação e um sentimento de satisfação, de vitória espiritual e de realização, porque, como eu disse, eu vou levar sempre comigo (Idem).

O cantador Luizinho de Irauçuba encerra o programa com uma toada sobre Tasso, na qual ele é comparado aos grandes homens que fi zeram a história política do Brasil;

Diz a história brasileira, que homem que diz e faz, tem que fi car na história registrado nos anais, Getúlio em Rio Grande, Tancredo em Minas Gerais, na politica e no debate igual Tasso Jereissati no Brasil não nasce mais. Eu trouxe a minha viola, no repente aqui eu louvo em nome dos forrozeiros, em nome do nosso povo, tudo que o Tasso faz tem 100% de aprovo. Eu vim trazer um abraço, eu sempre votei no Tasso e pretendo votar de novo (Idem).

4. Chefi as Políticas e resultados eleitorais nas eleições para governo e Senado em 2014.

As pesquisas eleitorais anteriores ao início ofi cial da campanha apontavam para uma ampla vitória de Eunício para o governo. Somente em setembro Camilo começou a crescer nas intenções de voto. Nas pesquisas do segundo turno Camilo já aparecia à frente do peemedebista, tendência que se confi rmou nos resultados eleitorais expostos no quadro abaixo.

Tabela 2 - Resultado do 2º turno - Governador do Ceará - 2014.

Candidato % de votos Total de votos SituaçãoCamilo Santana (PT) 53,35 2.417.668 Eleito

Eunício Oliveira (PMDB) 46,65% 2.113.940 Não eleitoFonte: elaboração própria com base nos dados do TRE-CE.

Na disputa para o Senado desde a fase pré-eleitoral as pesquisas indicavam a vitória de Tasso sobre o candidato do governador, Mauro Filho. Acreditava-se, no entanto, que a alteração desses dados seria uma questão de tempo, e que em 2014, como em disputas anteriores, os can-didatos vitoriosos ao governo e Senado seriam os indicados pelo então governador Cid Gomes.

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O “efeito Cid” funcionou para seu candidato a governador, Camilo Santana, mas não para seu candidato ao Senado, Mauro Filho.

Em todas as pesquisas divulgadas na fase pré-eleitoral Tasso man-teve-se sempre como primeiro colocado. Em pesquisa Datafolha realizada nos dias 8 a 19 de setembro, Tasso atinge 58% contra 19% Mauro. Com-putando-se apenas os votos válidos ele alcançava 74%. A tendência de Tasso era ascendente, e sua vitória em nenhum momento foi ameaçada pelos resultados de Mauro Filho. Em pesquisa Datafolha, realizada em 18 e 19 de setembro, 83% dos eleitores que afi rmaram votar em Eunício, declaravam voto em Tasso para o Senado e apenas 19% em Mauro Filho, enquanto entre os eleitores de Camilo 44% declaravam voto em Tasso e apenas 39% em Mauro. Ou seja, na percepção dos eleitores as duas cam-panhas para o governo e Senado pareciam estar desvinculadas.

O que mais surpreendia, é que as intenções de voto eram favoráveis a Tasso tanto nos municípios do interior, onde se esperava que as “bases eleitorais” governistas fossem mais fortes, como em Fortaleza: Tasso tinha 60% de votos no interior e Mauro Filho apenas 20%. Em Fortaleza e Região Metropolitana, onde (com exceção de sua primeira eleição para governador e a de Ciro Gomes para a prefeitura de Fortaleza em 1988) sempre fora derrotado, Tasso apresentava em 2014 índices de 54% de intenção de votos, enquanto Mauro aparecia com 18%.

A vitória de Tasso confi rmou-se em 5 de outubro: ele venceu em 121 dos 184 municípios cearenses, totalizando 2.314.796 votos enquanto Mauro Filho, segundo colocado, obteve 1. 573.732.

Tabela 3- Resultado das eleições para o Senado no Ceará em 2014.

Candidato Total de votos % de votos SituaçãoTasso Jereissati (PSDB) 2.314.796 57,91 Eleito Mauro Filho (PROS) 573.732 39,37 Não eleito

Fonte: elaboração própria com base nos dados do TRE-CE.

Tomando como referência as eleições de 2014, é possível fazer algumas inferências sobre o papel que as “chefi as políticas” exerceram para a vitória de Camilo ao governo e Tasso Jereissati ao Senado.

Para além de um território defi nido onde determinado candidato concentra sua votação, a base eleitoral é um espaço de relações sociais sob

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o qual o político/candidato vincula-se a partir de relações de conhecimen-to, amizade e compadrio mantidas com/entre lideranças locais e eleitores a fi m de obter apoio eleitoral (BEZERRA, 1999). Como dito acima, as bases eleitorais pressupõem que a adesão dos eleitores a determinados candidatos é mediada pelos “chefes políticos” municipais que ganham maior importância quanto mais distantes e/ou mais desconhecidos sejam os candidatos. São eles que ao prestar apóio a determinados candidatos contribuem para viabilizar sua eleição. É por meio deles que os postulantes se integram à comunidade e à base eleitoral onde pleiteiam obter votos. Em função do sistema eleitoral misto, os chefes políticos exercem funções e/ou são acionados de modo diferenciado para os cargos de deputados federais e estaduais e para governadores e Senadores, por exemplo. Para as candidaturas proporcionais, os postulantes tendem a ser votados dis-tritalmente, ou seja, suas bases eleitorais costumam ser concentradas em regiões e/ou grupo de municípios próximos (ou grupos de interesse). Ao contrário, em eleições estaduais majoritárias, os postulantes a governador e a Senador são obrigados a buscar votos em todos os municípios.

É evidente que o apóio da base política do governador Cid foi decisivo para a vitória de Camilo para o governo. Porém vale ressaltar que os resultados mostram uma campanha altamente competitiva. Camilo venceu o primeiro turno com 47,8% dos votos, contra 46,41% de Eunício. A apertada vitória levou a disputa entre os dois candidatos para o 2º turno no qual Camilo elege-se com 2.417.668 votos (53,35%) e Eunício obtém 2.115.849 votos (46,65%). Destacamos que o anúncio da candidatura de Camilo (PT) só ocorreu no fi nal de junho de 2014, a três meses do plei-to. No plano federal, o PMDB continuava apoiando o PT e a presidente Dilma não veio ao Ceará no 2º turno para não criar problemas entre dois candidatos que eram seus aliados.

Como compreender a vitória avassaladora de Tasso na maioria dos municípios do interior? Os termos chefi as políticas e bases eleitorais tal como defi nidos na ciência política são aplicáveis à análise da vitória de Tasso para o Senado em 2014? Tasso venceu em 121 dos 184 municípios cearenses, totalizando 2.314.796 votos (57,91%), Mauro Filho seu prin-cipal opositor, obteve 1.573.732 votos (39,7%).

Em Fortaleza, onde é baixa a atuação de chefes políticos, a vitória de Tasso confi rmou-se com 29,24% dos votos contra 20,03% de Mauro Filho. Tasso obteve no primeiro turno um número de votos maior que os candidatos ao governo, Camilo e Eunício.

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Admitindo que prefeitos atuem como chefes políticos em seus municípios, é interessante ressaltar que Tasso levava desvantagem neste item em relação ao candidato do governador, Mauro Filho. O quadro abaixo mostra a evolução de prefeitos eleitos por partido nas eleições de 2008 e 2012.

Tabela 4 – Evolução de prefeitos eleitos em 2008 e 2012 no Ceará

Partidos 2008 2012 EvoluçãoPSB 22 29 17PT 14 30 16

PSD 0 27 27PMDB 33 21 -12PRB 17 16 -2PDT 2 8 -3

PSDB 54 8 -46PC do B 5 7 2

Fonte: Diário do Nordeste.

As alterações identifi cadas explicam-se pelas vinculações dos pre-feitos não aos partidos, mas aos grupos políticos que dominam a política no estadual. Foi o que aconteceu nas eleições de 2012, quando os partidos que elegeram maior número de prefeitos foram os que tinham ingressado no partido do governador (PSB) ou estavam em sua base política. Em contrapartida o PSDB, partido de Tasso, que em 2008 elegera o maior número de prefeitos do Ceará (54), em 2012 na oposição aos Ferreira Gomes, elegeu apenas 8.

A saída dos Ferreira Gomes do PSB em 2013 para fi liar-se ao PROS, partido recém criado, novamente ocasionou grandes modifi cações no número de prefeitos por partido, re-confi gurando o mapa político e partidário estadual. O título de matéria do jornal o Estado (18 de janeiro de 2014) é bastante elucidativo: “Quatro siglas comandam 77,7% das prefeituras do Ceará”.

O PROS, tornou-se o maior partido do Ceará passando a comandar 66 prefeituras, ou seja, 35,86% dos 184 municípios cearenses. Outros partidos da coligação situacionista também se benefi ciaram com o “troca--troca” do ano anterior, caso do PT que passou dos 16 prefeitos eleitos em 2012 para 29. O PROS administrava, além de Fortaleza, outros grandes

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municípios como Aquiraz, Beberibe, Cascavel, Eusébio e Maranguape, e o PT tinha os prefeitos de Sobral e Barbalha. Na coligação oposicionista o PMDB, que em 2012 rompeu com o grupo dos Ferreira Gomes, apre-sentava-se em 2014 como o maior partido com 22 prefeitos, número bem menor que o da coligação situacionista.

Nas eleições de 2014, considerando que deputados estaduais e fede-rais tendem a atuar como chefes políticos em suas bases eleitorais apoiando candidaturas majoritárias, a situação era também plenamente favorável à coligação dos Ferreira Gomes que com o “troca troca” de partidos ocorrida no ano anterior contava com a maior bancada de deputados federais e estaduais. Os dois principais partidos da coligação situacionista, PROS e PT, contavam com 15 deputados estaduais e o PSDB deixou de ter presença no poder legislativo com a ida do seu único deputado estadual, Fernando Hugo, para o PROS, que justifi cou assim sua decisão: “Deixei o PSDB devido principalmente ao esvaziamento quantitativo, o que difi culta as eleições” (GLOBO, 2014).

Comparando os resultados eleitorais obtidos em 2014 pelo PROS e PSDB para a Câmara Federal e Assembléia Legislativa temos os se-guintes números: PROS lançou nove candidatos a deputados federais, elegeu três4, acumulando 614.852 votos; PSDB concorreu com oito candidatos, mas elegeu apenas um5, recebendo apenas 196.987 dos votos válidos. Para a Assembléia Legislativa, o PROS teve dezenove postulantes, dos quais doze6 foram eleitos, conquistando um total de 919.367 votos válidos; com 17 concorrentes, PSDB elegeu apenas um7, obtendo 86.794 votos.

À guisa de ilustração, analisamos a disputa de bastidores em busca de apoio político de chefi as políticas dos municípios de Acarape e Barreira recorrendo a entrevistas realizadas com um assessor de Mauro Filho e com lideranças políticas dos municípios citados8.4 Os deputados federais eleitos pelo PROS foram Domingos Neto (185.226 votos), Leônidas

Cristino (91.085 votos) e Balman (87.666 votos).5 Raimundo Gomes de Matos, com 95.145 votos.6 Zezinho Albuquerque (95.253 votos), Dr. Sarto (85.310 votos), Sérgio Aguiar (85.060 votos),

Ivo Gomes (73.055 votos), Roberto Monteiro 67.018 votos), Wellington Landim (66.213 vo-tos), Duquinha (64.414 votos), Odilon Aguiar (57.454 votos), Antônio Granja (51.368 votos), Laís Nunes (48.929 votos), Jeová Mota (48.659 votos) e Miriam Sobreira (44.541 votos).

7 Carlos Matos, que conquistou 29.036 votos.8 A escolha pelos municípios deveu-se a proximidade com ambos devido ao desenvolvimento

de pesquisas de doutoramento de Monalisa Lima Torres.

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Todos ressaltaram a importância da “cobrança de fi delidade nos períodos eleitorais”, sobretudo em função das novas alianças costuradas após a ruptura do PMDB com o PROS dos Ferreira Gomes, forçando chefes políticos a montar arranjos eleitorais heterogêneos de modo a agradar os candidatos com quem se consideravam compromissados.

Em função do alinhamento político ao PROS, Franklin, principal chefe político e prefeito de Acarape, apoiou os dois candidatos da coli-gação situacionista: governador Camilo Santana e Senador Mauro Filho (PROS). Franklin contou com as lideranças políticas e vereadores de sua base aliada no apoio aos seus candidatos. O mais importante líder político da oposição, Acélio Freitas (PRTB), candidato a deputado estadual, montou outra composição na qual apoiava candidatos da coligação oposicionista: governador Eunício Oliveira (PMDB), Senador Tasso Jereissati (PSDB). Camilo venceu no município com 3.995 votos, pouco mais que Eunício, que obteve 3.764 votos; para o Senado Mauro Filho obteve 3.692 e Tasso, 4.033 votos.

Em Barreira, Antônio Peixoto (PMDB), prefeito do município, desde sua entrada na política mantém relações com Mauro Benevides (PMDB) e com Mauro Filho, dos quais recebeu apoio durante toda a sua carreira política no município. Como pemedebista desde as origens do partido, Peixoto também fez campanha para Eunício Oliveira ao Senado em 2010 e recebeu dele apoio para sua reeleição à prefeitura em 2012. Com as clivagens ocorridas para as eleições de 2014, Peixoto foi procurado pelas assessorias políticas de ambos os grupos que lhes cobraram apoio. Em função de compromissos assumidos, Peixoto apoiou Mauro Filho (PROS) para o Senado e Eunício Oliveira (PMBD), para governador. Essa composição gerou desconforto principalmente para a assessoria de Mauro Filho que, esperava apoio incondicional as suas candidaturas majoritá-rias (Senado e governo do estado), chegando a postar nas redes sociais o desapontamento com “algumas lideranças políticas do Ceará pela falta de compromisso com o deputado Mauro Filho, que sempre os apoiou”9. 9 Segundo a assessoria política de Mauro Filho, Peixoto havia fechado acordo para apoiar as

candidaturas de Mauro Filho e Camilo Santana, mas por impasses em sua base de sustentação no município (pressão de alguns vereadores pemedebistas) e pelos resultados da pesquisa de intenção de votos apontando a grande vantagem de Eunício sobre seu principal concor-rente, Camilo; Peixoto optou por compor com Eunício para o governo e Mauro Filho para o Senado. No segundo turno, Peixoto divide seu grupo de modo a continuar apoiando Eunício e ter uma liderança política de sua base apoiando, com sua permissão, Camilo Santana, que vence no município.

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Parte da oposição ao prefeito no município também apoiou Eunício para o governo e Tasso para o Senado. Segundo Teobaldo Muniz, assessor de Mauro Filho, não foi raro o fato de prefeitos “fecharem” com Mauro e Camilo e depois de “voltar aos municípios, conversando com as bases, e vendo os resultados das pesquisas, irem negociar com Eunício”.

Os dados gerais, considerando o número de prefeitos e de deputados federais e estaduais da base eleitoral dos Ferreira Gomes, levam a crer que a vitória de Tasso não pode ser tributada aos chefes políticos municipais, mas à forma como sua imagem foi re-elaborada na campanha ao Senado em 2014. Colocando-se acima das querelas “situação versus oposição”, evitando o enfrentamento direto ao adversário (como faziam Eunício e Camilo), Tasso garantia a preferência tanto de eleitores de Eunício quanto de Camilo.

5. A vitória de Tasso em 2014: repercussões possíveis sobre o “cidismo”

Vale ressaltar que em 2014 o controle da máquina do governo esta-dual e da prefeitura de Fortaleza favorável a Camilo Santana e Mauro Filho, tinha no outro prato da balança o peso de uma candidatura ao governo do PMDB, partido com fortes raízes municipais, e para o Senado, Tasso Jereissati, que recorreu à memória de sua imagem pública consagrada como modernizador da política do Estado para atacar a dominação da política cearense por um grupo familiar, os Ferreira Gomes.

Admitimos que o voto em Tasso apresentava um caráter suprapar-tidário, ou seja, pouco dependente de partidos políticos e do trabalho de “chefes políticos”, mas sim do sucesso da estratégia de atualizar a sua imagem na memória dos eleitores mais velhos e de apresentá-la de forma positiva aos jovens. O fato inusitado de um candidato a Senador ter mais prestígio que do candidato a governador de sua chapa foi confi rmado. A votação de Tasso foi superior à de Eunício e sua vitória aconteceu na maioria dos municípios do interior e na capital.

No Ceará aconteceu uma desvinculação entre a disputa presidencial e a disputa para o Senado: o voto na presidente Dilma, que alcançou mais de 60%, não inviabilizou a vitória de Tasso, candidato do PSDB, maior partido de oposição ao PT e ao lulismo.

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Em uma situação de transição política reduz-se a efi cácia do princi-pal argumento que sustenta a estratégia da verticalização do situacionismo que invoca as vantagens do alinhamento das esferas do poder federal, estadual e municipal: “é bom que todos estejam do mesmo lado”. Em um quadro de incerteza é melhor, como dito no ditado popular, “não arriscar todos os ovos em um mesmo cesto”.

Outro sinal de que um ciclo de poder começa a esgotar sua capacida-de de reprodução é a tendência de desagregação dos grandes condomínios partidários com a saída de partidos ou de políticos de projeção que irão se tornar articuladores da oposição aos antigos aliados. Foi o que aconteceu em 2014 com a decisão de Eunício Oliveira de romper a aliança com Cid Gomes, para se lançar candidato ao governo pelo PMDB. A escolha do candidato à sua sucessão foi do governador Cid Gomes, mas desta feita dependeu de negociações: para desistir da pretensão de candidatar-se ao Senado, José Guimarães exigiu que o candidato ao governo fosse do PT. Vale ressaltar que a principal liderança política que consagra a existência e continuidade de um ciclo político, enfrenta difi culdades quando ela própria não pode candidatar-se à reeleição e indica um candidato para sucedê-lo. A escolha de um candidato sem força política própria foi a opção de Cid, que assim pretendia ter a lealdade total de quem lhe devia a vitória.

A oposição ao cidismo encontrava abrigo também na tendência do PT liderada por Luizianne Lins, candidata a deputada federal, que assim como Elmano Freitas e Eudes Xavier, candidatos a deputado estadual, se recusaram a fazer campanha para os candidatos de um governo que consideravam inimigo.

Um exemplo a destacar é notícia do jornal O Povo sobre a decla-ração de um candidato a deputado da coligação situacionista, Fernando Hugo, que entrou na justiça para reivindicar o direito de não incluir em sua propaganda eleitoral os nomes dos candidatos ao governo e Senado. Vale lembrar os riscos da opção de Cid Gomes de não se afastar do governo para candidatar-se ao parlamento, permanecendo no comando direto da campanha eleitoral. Sem mandato, o ex-governador passa a depender da fi delidade do governador em exercício. Por outro lado o ônus da derrota do candidato ao Senado, indicado por Cid Gomes, recaiu mais fortemente sobre o padrinho do que sobre o afi lhado, Mauro Filho, um candidato pouco conhecido dos eleitores.

Em março e abril de 2016 a movimentação partidária do grupo dos Ferreira Gomes que sai do PROS para fi liar-se ao PDT provocou novas e signifi cativas modifi cações no quadro político estadual. O PDT torna-se a

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maior sigla partidária na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa enquanto o PROS perde todos os seus representantes. Essa foi sem dúvida uma demonstração de força política dos Ferreira Gomes, que abrigado em um partido de maior relevância ao nível nacional pretende mais uma vez viabilizar a candidatura de Ciro Gomes à presidência da República em 2018. O principal nome do PDT no Ceará, o deputado Heitor Ferrer, há 26 anos no partido, tendo sido candidato a prefeito com expressiva vota-ção em 2012, afasta-se do partido onde não teria chance de candidatar-se mais uma vez à prefeitura de Fortaleza em 2016, considerando que o neopedetista e prefeito, Roberto Claudio, será candidato à reeleição. Em entrevista ao jornal O Povo Heitor Ferrer, declarou que sua permanência no PDT era incompatível com a entrada dos Ferreira Gomes de quem sempre fora opositor na Assembléia. Ao anunciar seu ingresso no PSB (que já dera abrigo aos Ferreira Gomes), ele faz um ataque bombástico aos Ferreira Gomes acusando-os de exercer ação predatória sobre os partidos aos quais se fi lia: “O PDT virou um bom bife para um “bom predador”.

Ao nível nacional duras críticas ao nomeado oportunismo dos Ferreira Gomes também foram feitas pelo Senador Cristovão Buarque, fi gura histórica do partido que ameaçado em seu projeto de candidatura à presidência em 2018 pela força dos neopedetistas cearenses, sai do partido fi liando-se ao PSB.

Se considerarmos o quadro atual da política no Ceará não há dúvidas sobre a força do grupo político dos Ferreira Gomes. Entretanto as grandes mudanças, ao nível do governo federal, provavelmente trarão refl exos sobre a continuidade de sua hegemonia que tem suporte no situacionis-mo verticalizado. A crise econômica e os escândalos da “lava jato”, que abalaram o PT culminando com o processo de impeachment da Presidente Dilma Roussef e seu afastamento da presidência, são fatores que tendem a desestabilizar as posições dos Ferreira Gomes que já não podem contar com aliados fortes como Lula e Dilma. Ao contrário, os irmãos Cid e Ciro Gomes endereçam ao atual presidente em exercício, Michel Temer, xingamentos públicos, o que os coloca, não só apenas como adversários mas inimigos.

O quadro de forças na política estadual pode mudar em razão do fortalecimento no Estado do Senador Eunício Oliveira (PMDB) e de Tasso Jereissati (PSDB) com repercussões nos próximos pleitos de 2016 e 2018.O fl uxo acelerado dos acontecimentos políticos torna temerário quaisquer prognósticos eleitorais.

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Quadro natural e a ocupação do territorio cearense

M C L C *

As producções são de algudão; arros, carnes secas, e courama, o Pau Brazil; as Madeira de Cor, a Cascarrilha, o Oleo de Cupaûba, outros mtos generos, que a indulencia daquelles Povos, desfavorecida da indústria, de socorro, e protecção tem abandonado a sua cultura, e tráfego, o que bem se comprova, e vinte e tantas madeiras, que tem, pa construão naval, da Coxonilha, Anil, Café, canella, Pimenta e a Ipepacuanha. Sendo hum terreno de tanta fecundide que na pretérita seca inaudita, mandou aos Portos do seu consumo, para sima de trinta mil arrobas de algudão, quarenta mil arrobas de carne seca, e cem mil couros sagados, e outros mtos generos: Comtudo Exmo Snr he a Capitania do Seará, reputada de pequeno interesse, e conciderada, igual Continente, ao dos Zimbar, e ao dos Monomotapas em Africa (Memória escrita em 1799 sobre a Capitania do Ceará por seu primeiro governador Bernardo Manoel de Vasconcelos).

1. Abandono, pobreza e riqueza da capitania do Ceará

ocalizado no Nordeste brasileiro, entre o Estado do Maranhão e Grão-Pará (criado em 1621) e o Estado do Brasil,1 o Ceará pertenceu seguidamente a um e a outro estado, até ser fi nalmente incorporado à Ca-pitania Geral de Pernambuco e só se constituiu como capitania autônoma em 1799. Foi uma das capitanias brasileiras que mais tempo demorou aser ocupada, pois não era terra propícia à produção de açúcar, não tinha

1 Em 1621, as terras portuguesas no Novo Mundo foram divididas em duas grandes áreas, o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão. Em 1655, o Ceará, que pertencia ao estado do Maranhão, foi desanexado e unido à Capitania Geral de Pernambuco.

* Sócia Efetiva do Instituto do Ceará.

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metais preciosos em seu subsolo e seu clima semiárido era sujeito a secas periódicas. O Ceará colonial não atraía economicamente e, portanto, não interessava a nenhum donatário. Seus problemas agravavam-se com a resistência dos índios ferozes que habitavam a região. Quem se aventu-rasse por ali também teria que enfrentar as correntes aéreas e marítimas da costa que difi cultavam a navegação durante a maior parte do ano (GIRÃO, 1984, p. 25).

Nem todos concordavam com esse diagnóstico sobre as desvan-tajosas condições naturais do Ceará. Em relatório datado de 1799, o governador2 Bernardo Manuel de Vasconcelos alega que as remessas de dinheiros para Pernambuco empobreciam o Ceará, pois todo o comércio realizava-se pelo porto do Recife.

A desgraça com que se cobre, aquella importante collonia, emquanto a mim, he a mais principal, não ter huma navegação directa a Capital de Lisboa, pois maior parte delles, legítimos de Pernambuco, não merecendo por isso o Siará, a menor contemplação, nem o menor empenho, que faci-lite o seu augmento. (..) os gêneros, que produzem o Siará, os embarcão em Sumacas, que vão a Pernambuco, Bahia, e Rio de Janeiro, levados por hum frete maior do que pagarião, se viecem em direitura a Capital (VASCONCELOS, 1799)

2 A natureza na província do Ceará

Apesar da imagem de semiaridez e miséria, a província do Ceará não era homogênea, nela encontrando-se regiões com relevo, hidrografi a, vegetação e climas variados, assim como ocupação do solo diferenciada em função da demanda local, do mercado externo e do tipo de tecnologia adotado.

A maior parte da população cearense concentrava-se nas áreas mais úmidas do interior da província. Nas áreas semiáridas, identifi cadas com o sertão, a ocupação era rarefeita, adensando-se mais nos vales dos rios, todos eles temporários. A ocupação do litoral acentuou-se mais no fi nal do século XIX com as vilas portuárias e após a política de controle das fron-teiras com o estabelecimento de colônias de pescadores (DANTAS, 2003). 2 A partir de 1799, o Ceará torna-se independente de Pernambuco e tem como administradores

a fi gura do Governador. Depois de 1824, a província é administrada por presidentes nomea-dos por meio de carta Imperial. Com a proclamação da República Federativa do Brasil, em 15 de novembro de 1889, as unidades da federação recebem a denominação de Estado, e o administrador, de Presidente.

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95Quadro natural e a ocupação do território cearense

Figura 1 : Carta geográfi ca da província do Ceará (1888)

Fonte: Instituto do Ceará. Carta Geographica pelo Professor J. G. Dias Sobreira, 1888.

Entre as elevações, designadas de modo genérico de “serras”, des-tacavam-se os maciços cristalinos (inselbergs) e planaltos sedimentares, as conhecidas chapadas, onde o clima se apresentava mais úmido, com temperaturas mais amenas e vegetação mais densa. O Oceano Atlântico limitava a província ao Norte, e as chapadas cercavam o Ceará, estabele-cendo as demais fronteiras. Ao sul, a chapada do Araripe o confi nava com Pernambuco; a oeste, a chapada da Ibiapaba o limitava com o Piauí; e a leste, a chapada do Apodi o separava do Rio Grande do Norte. Entre os

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maciços cristalinos, nas proximidades de Fortaleza, na direção sul, está o complexo de serras de Aratanha, Maranguape e Baturité. Um pouco mais afastada na direção noroeste, a Serra de Uruburetama. Na zona norte, nas proximidades de Sobral, está o complexo Meruoca-Rosário. Outros maci-ços pontuam o sertão, estando mais distantes da capital, como a Serra das Matas, Pereiro, Estevão (Quixadá), Bastiões, Maia, Pedra Branca, Santa Rita, Quincuncá (SILVA, 2000, p. 33). Nas “serras” úmidas, principalmente nas vertentes de barlavento, de solos mais profundos, desenvolviam-se as fl orestas (mata Atlântica em Baturité), áreas que foram cultivadas com fruteiras, cana-de-açúcar e o café plantado à sombra das árvores.

A depressão sertaneja, recoberta pela vegetação de caatinga, engloba áreas planas e suaves, onduladas com altitudes inferiores a 500 metros, posicionadas por entre os maciços residuais e os planaltos sedimentares. Essas amplas superfícies de aplainamento foram elaboradas sob condições climáticas semiáridas. Nessa unidade geoambiental, é difícil o acúmulo de água, pois são elevadas as taxas de evaporação, os rios são intermi-tentes, e inexiste água no subsolo. Nessa área, principalmente nos vales, estabeleceram-se grandes fazendas, em que dominaram a criação de gado, o cultivo de algodão para exportação e as culturas de subsistência. Na maioria, os trabalhadores eram homens livres, agregados, que trabalhavam em regime de parceria (rendeiros) ou de quarta, como vaqueiros. O sertão é caracterizado não só pela natureza, mas também pelo modo de vida do sertanejo e sua população (SILVA, 2000).

O sertão é entrecortado por planícies fl uviais, áreas planas, com grande signifi cado socioeconômico no semiárido. As mais expressivas ocorrem ao longo dos rios Jaguaribe, Acaraú, Coreaú, Banabuiú, Choró, Salgado e Curu, sendo acompanhadas de matas galerias, destacando-se a carnaúba no baixo curso, grande produto de exportação no início do século XX. No litoral, nos baixos cursos fl uviais e estuários, nas zonas de contato das águas doces dos rios com água salgada do mar, desenvolvem-se as planícies fl uviomarinhas (SILVA, 2000).

Os tabuleiros pré-litorâneos são superfícies planas, suavemente on-duladas, modeladas em sedimentos areno-argilosos e arenosos, revestidos por caatinga arbórea arbustiva, com condições climáticas semiáridas e subúmidas. Ricos em lagoas perenes, provenientes do lençol subterrâneo armazenado no interior dos depósitos sedimentares da Formação Barreiras. Ocupados por criação do gado, culturas de subsistência, os tabuleiros pas-

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97Quadro natural e a ocupação do território cearense

saram a ser de interesse comercial, com o cultivo de cajueiros e coqueiros, na segunda metade do século XX.

No litoral, em que dominava a atividade da pesca, as planícies lito-râneas são formadas por praias e dunas, intercaladas por planícies fl uvio-marinhas, contando ainda com a presença de falésias e lagoas interdunares.

A natureza é descrita por muitos viajantes, naturalistas e estudiosos. Alguns fi cavam admirados pela mudança brusca na paisagem do período de estiagem para o das chuvas. O inglês Henry Koster atravessou o Ceará no fi nal do ano de 1810, período de seca, e observou cursos de água secos, vegetação morta e as estradas tomadas por levas de retirantes famintos. No entanto, ao retornar a Recife, no início de 1811, fi cou surpreso com a rápida capacidade de recuperação da caatinga, logo após as primeiras chuvas. (KOSTER, 1942). No livro A Secca do Norte, o Barão de Capa-nema também descreve a transformação prodigiosa da paisagem cearense, em seguida aos primeiros aguaceiros. Studart ressalta que esse fenômeno ocorre também no reino animal.

É um phenômeno que a todos espanta o viço com que os vegetais brotam do solo cearense logo após as primeiras águas; é um encanto, tudo se transforma como sob a acção de algum feiticeiro. E o que se nota nos vegetais se verifi ca egualmente no reino animal após a secca, a creação augmenta desmensuradamente; como que a natureza esteve em hibernação e, ora desperta e em trabalho, quer ressarcir as perdas, que soffreu, e ostenta então máxima pujança (STUDART, 1924, p.242).

“O Ceará torna-se então o país mais bonito do mundo”. É assim que o geógrafo Pierre Denis descreve a brusca mudança que ocorre na paisa-gem após as primeiras chuvas: “É a eclosão desordenada da vegetação; algo como a rápida e mágica primavera das terras boreais” (1909, p. 272).

O botânico Freire Alemão, que esteve no Ceará em 1859, descre-ve em seu diário, em 31 de maio de 1859, a vasta e arenosa costa do rio Grande, cujas dunas (combros de areais) estão constantemente migrando pela ação contínua dos ventos.

Essa areia seja lançada à praia pelo mar, ou seja, trazida pelo correr da costa quando ela toma a direção dos ventos gerais, enquanto não acham obstáculo, tornam a acumular-se, e vêm a formar montes mais ou menos vastos de modo a formar pela linha da costa uma sorte de muro. (FREIRE ALEMÃO, 1964, p. 224).

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Na beira-mar, encontravam-se as matas baixas e cerradas. Os ta-buleiros, planícies arenosas, eram cobertas de “moitas de mato baixo e carrasquenho”. Os matos juntos às serras assemelhavam-se às caatingas do sertão e eram chamadas simplesmente de matas, e seus habitantes de matutos. “Os sertões são de natureza muito especiais, na qualidade das terras e nas vegetações que é de campos e capões de caatinga (que é uma mata alta)”. O botânico obteve essas informações sobre as plantas e madeiras do Ceará, com o fazendeiro Sr. Costa, de Aratanha (FREIRE ALEMÃO, 1964, p. 199-200).

Freire Alemão fi cou impressionado pelo aspecto particular do “país”, mas surpreso, pois era inteiramente diverso da ideia que fazia: “campinas rasas cobertas de gramíneas e com algumas árvores disper-sas”. O pesquisador percebeu pela vegetação, a transição das ribeiras do Jaguaribe, cobertas pela carnaúba sempre verdejante, para as matas de tabuleiros e o sertão.

Eis agora o que vi – um país todo montuoso, tendo às vezes lombadas de muitas milhas de extensão, deixando entre si estreitos vales, ou grotões; demasiadamente pedregosos, e raras vezes mostrando uma vargem de certa extensão, ou uma meia laranja rasa e larga; com intervalos de léguas vê-se o leito arenoso e largo dum rio, antes torrente, pois só correm no tempo das chuvas. Esses montes, tabuleiros e vales são cobertos de caatingas ou carrascos, isto é, duma vegetação especial, e de árvores soltas, cujo porte é o de uma laranjeira ordinária, daí para baixo, e raramente o mais alto. Tudo está sem folha, e como se por ali houvesse passado o fogo; por baixo dessas árvores o terreno é todo coberto de panasco, e mimoso, que são os pastos suculentos de toda a sorte de gado, e que também seco tem o aspecto loiro de uma vasta e contínua seara. Quando um homem se acha no alto dum desses oiteiros, torrados, e que lança a vista ao longe observa no meio dessa aridez correrem cintas largas duma verdura admirável, que são segundo as voltas dos rios e das grotas frescas; são pela maior parte magnífi cas oiticicas, que se parecem com gigantescas mangueiras, e que tanto mais virentes são quanto maior é a seca, diz a gente do país. Nem uma gota d’água por misericórdia, senão nas cacimbas dos leitos ou vizinhanças dos rios (FREIRE ALEMÃO, 1964, p. 153).

O sul do Ceará, o Cariri também foi visitado pela comissão científi ca (1859–1861), que destacou a fertilidade na chapada do Araripe. Freire Alemão acreditava que, se houvesse “indústria e capitais” poderiam ser

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99Quadro natural e a ocupação do território cearense

realizados estabelecimentos agrícolas em cima da chapada, que tinha um “clima delicioso”. Para isso, seria necessária a construção de cisternas nas casas, e “cacimbas impermeáveis para bebedouro do gado, banhos, lavagens, etc.”

O Araripe não é verdadeiramente uma serra, mas sim um chapadão, cuja elevação sobre as serras vizinhas não excede de 1.000 pés... O seu chão é tão absorvente que nas grandes chuvas as águas não duram sobre o terreno, tudo se some, para se escoar em numerosas nascentes pela fralda, e redondeza de toda a montanha, o que faz a fertilidade das terras em roda numa zona de 1 a 2 léguas de largura, acompanhando a sinuosidade da serra (FREIRE ALEMÃO, 1964, p. 299).

Freire Alemão refl etiu também sobre o efeito do clima sobre a po-pulação cearense, resultado da mistura do branco com indígena, biótipo diverso dos moradores do Rio de Janeiro:

A beleza das formas desta gente, e que em meninos, são alguns tão claros como ingleses, e que fazem contraste com os da nossa gente de lá do Rio, mal conformados e doentios em geral, pode ser devida em parte à infl uência do clima, em geral saudável e ameno; mas creio tem grande parte nisso a mistura com o sangue americano, quando no Rio predomina a mistura do sangue africano. A esta mescla americana será também devida a clareza de inteligência, a viveza, e desembaraço que mostra o povo, e que os assemelham um pouco com os da raça espanhola do sul da América? (FREIRE ALEMÃO, 1964, p. 214).

Pierre Denis (1909), ao tratar do elemento etnográfi co, ressaltou o domínio da raça primitiva dos habitantes do Ceará – os índios “se mistu-raram aos novos ocupantes da terra”. A população rural preservou melhor os traços físicos do índio: “a tez bronzeada, os cabelos negros e lisos, os traços um pouco achatados de indígena”. Alguns apresentam uma “fi gura de caráter verdadeiramente asiático” (p. 271).

3 O progresso vem do sertão − na rota das Charqueadas

Com o aumento da demanda pelo açúcar no mercado europeu, a atividade açucareira, que tinha Pernambuco como principal centro produtor da região, passou a exigir cada vez mais terras litorâneas para plantio. A Carta Régia de 1701 “proibia a criação de gado até dez léguas contadas

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a partir da faixa litorânea, quando o gado atenderia, de forma individual, aos centros do litoral, da Bahia ao Maranhão” (JUCÁ, 1994, p. 17). Com isso, o boi foi expulso para o sertão, o que permitiu a ocupação do interior pelas grandes fazendas de gado. A pecuária tinha função complementar à economia açucareira, fornecendo-lhe meio de transporte, animais de tração, alimento e couro. No fi nal do século XVII, a partir da expansão da pecuária, o sertão do Ceará começa a ser povoado, e essa será a base econômica da capitania durante todo o século XVIII.

As fazendas de gado se espalharam pelo sertão, ocupando a ribeira dos principais rios, os vales fl uviais. O gado vinha, principalmente, através de duas grandes trilhas. A primeira partia da Bahia, onde a criação de gado desenvolvera-se nas cercanias de Salvador, estendia-se depois para o norte, acompanhando a margem esquerda do rio São Francisco até atingir o sul do Piauí, o sudeste do Maranhão e o Ceará. A rica região do Cariri, no sul do Ceará, foi colonizada pelos baianos seguidos pelos sergipanos, e, pela qualidade de seu solo, era também produtora de cana-de-açúcar (V. GIRÃO, 1995). Assim, como defi niu Capistrano de Abreu, eram baianos os sertões de dentro. A outra trilha de expansão da criação de gado partia de Olinda, em Pernambuco, em direção norte-nordeste, atravessava os sertões da Paraíba e do Rio Grande do Norte e alcançava o vale do Acaraú no Ceará. Sendo, portanto, ainda segundo Capistrano de Abreu, pernam-bucanos os sertões de fora.

Se a Bahia ocupava os sertões de dentro, escoavam-se para Per-nambuco os sertões de fora, começando de Borborema e alcançando o Ceará, onde confl uíam as correntes baiana e pernambucana. A estrada que partia da ribeira do Acaracu atravessava o Jaguaribe, procurava o Alto Piranhas e por Pombal, Patos, Campina Grande, bifurcava-se o Paraíba e Capibaribe, avantaja-se toda região. Também no Alto Piranhas confl uíram o movimento baiano e o movimento pernambucano, como já foi indicado (ABREU, 2000, p. 156).

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101Quadro natural e a ocupação do território cearense

Figura 2 : As estradas do gado no Ceará do século XVIII.

Fonte: DANTAS, 2000.

A costa cearense se dividia, então, em trechos específi cos – Jaguari-be, Siará e Acaraú. Durante o período colonial, designava-se Siará apenas os trechos adjacentes ao pequeno rio que desce da Serra de Maranguape (CASTRO, 1982). Foi nas margens dos dois maiores rios cearenses, Jagua-ribe e Acaraú, que se desenvolveram as grandes fazendas de gado, fatores essenciais para o processo de ocupação e de colonização da capitania. As boiadas atravessavam o sertão do Ceará em direção aos principais centros populacionais litorâneos, acompanhando, principalmente, os cursos dos rios. A Estrada Geral do Jaguaribe partia das nascentes do rio Salgado, no Cariri, descia por ele até o rio Jaguaribe, cujo leito acompanhava, atraves-sava lugares que, posteriormente, deram origem às cidades de Russas e Icó, até chegar ao Aracati. A Estrada das Boiadas ou dos Inhamuns, ligava

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o sertão central cearense ao Piauí; a estrada Nova das Boiadas ligava Per-nambuco ao Ceará através da Paraíba e do Rio Grande do Norte; a Estrada da Caiçara, na região Norte, acompanhando o rio Acaraú, ligando Sobral ao litoral. Inicialmente o gado era conduzido em pé, pelos “caminhos das boiadas”. Mas a impossibilidade de concorrer com fazendeiros das áreas mais próximas ao litoral, o extravio de muitas reses pelo caminho e o desgaste que os animais enfrentavam para vencer as grandes distâncias, onde, muitas vezes, faltavam pasto e água, fez surgir, na segunda metade do século XVIII, as chamadas ofi cinas, charqueadas ou feitorias. O gado era abatido, transformado em carne seca salgada e em couro nessas fábri-cas, e o produto fi nal era exportado para as vilas litorâneas (V. GIRÃO, 1994). Essa atividade mostrou-se muito lucrativa, e boiadas que antes se dirigiam às feiras de Pernambuco e da Bahia passaram a rumar para a foz dos rios, onde se situavam as ofi cinas e os curtumes que benefi ciavam a carne e o couro do gado.

Aos poucos, foram-se instalando, em diversos pontos do sertão ce-arense, currais e ranchos, locais de encontro para atender às necessidades dos rebanhos e dos tangedores de gado; estabeleceram-se feiras mensais e anuais, e foram sendo construídas capelas. As charqueadas favoreceram o desenvolvimento de muitas localidades do interior do Ceará durante o século XVIII. Prosperaram as vilas localizadas em terminais de exportação como Aracati, Granja, Camocim e Acaraú que produziam sal, possuíam barras acessíveis à navegação de cabotagem e condições favoráveis à secagem e conservação do produto (ventos constantes e baixa umidade relativa do ar). Nessas vilas, ofi cinas produziam a carne de sol, conhecida também como carne do Ceará (V. GIRÃO, 1994).

A precariedade dos caminhos difi cultava as relações comerciais entre as diversas regiões do Ceará. A zona leste, onde domina o Vale do Jaguaribe, tinha como centro coletor da produção interiorana a vila de Icó, um cruzamento de caminhos que vinham do Piauí, sertão cearense e pernambucano, Cariri e litoral. Essa produção descia o rio Jaguaribe para ser exportada pelo porto do Aracati. Por esse centro, também eram distribuídos os produtos importados, chegados pelo porto de Recife. A produção da zona norte era concentrada em Sobral e desse centro descia os vales dos rios, em direção aos portos de Acaraú e Camocim. Ao Sul, a região do Cariri mantinha algumas trocas com o sertão e com Aracati, mas, devido a sua localização e condições naturais favoráveis à produção

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103Quadro natural e a ocupação do território cearense

da cana-de-açúcar, era fortemente ligada a Recife. As diferentes regiões se comunicavam diretamente com Recife, pois o Ceará ainda estava su-bordinado politicamente à capitania de Pernambuco. Fortaleza, de certa forma, estava em desvantagem em relação a outras vilas da capitania, por fi car isolada das zonas de maior produção, ou seja, excluída das rotas comerciais, ligadas à pecuária.

Na Memória escrita, em 1799, sobre a Capitania do Ceará, o pri-meiro governador Manoel Bernardo de Vasconcelos afi rma que, das vilas e povoações estabelecidas pelos europeus e seus descendentes, vinha, a seu ver, em primeiro lugar, a Vila de Santa Cruz de Aracati, situada às margens, do Rio Jaguaribe. Ali, pela facilidade da barra, estabelecera-se a principal Feitoria das Carnes Secas, onde eram sacrifi cados todos os anos mais de cinquenta mil reses e se embarcavam mais de vinte mil arrobas de algodão. A segunda vila era a de Sobral, situada às margens do Rio Acaraú, de forte comércio. A terceira vila mais importante era a de Icó, situada no centro, no vale do Jaguaribe, a mais de seiscentas léguas do mar e que servia de depósito para as produções do interior da Capitania. Essas duas últimas vilas, situadas em locais onde se cruzavam importantes caminhos, tiveram sua origem em ranchos estabelecidos no meio do caminho das boiadas onde ocorriam as feiras. Dessa maneira, formaram-se muitas das vilas e cidades cearenses. Como diz Ho ornaert: “Ao longo das ‘estradas de ribeira’ nascem os currais, e cada curral pede uma capela e cada capela precisa da presença de um padre, pelo menos esporadicamente” (1994, p. 53).

De fato, a Igreja Católica também desempenharia papel fundamental no desenvolvimento das primeiras aglomerações urbanas no Ceará. Os aldeamentos indígenas criados pelos jesuítas contribuíram para ocupar, agregar e concentrar a população do interior em torno da igreja, propi-ciando também o desenvolvimento de um pequeno comércio local. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759, os aldeamentos passaram a ter uma organização puramente civil, sendo os maiores elevados a vilas, e os menores a lugares (ABREU, 2000). Estas vilas dos séculos XVIII e XIX, originadas de aldeamentos indígenas, como Crato, Missão Velha, Viçosa do Ceará, Granja, Caucaia, Pacajús, Baturité, Parangaba e Messejana – tiveram papel importante na difusão da cultura e da educação (SO UZA, 2005). Com a expulsão dos jesuítas, a presença da Igreja se manteve por meio de outras ordens e foi fator de coesão das aglomerações que iam surgindo.

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No fi nal do século XVIII, doze vilas tinham sido instaladas no Cea-rá: Aquiraz (1713), Fortaleza (1726), Icó (1738), Aracati (1748), Caucaia (1759), Viçosa do Ceará (1759), Crato (1764), Baturité (1764), Sobral (1773), Granja (1775), Quixeramobim (1789) e Guaraciaba do Norte (1796) (SOUZA, 2005). As principais vilas cearenses fi cavam no sertão ou tinham sua prosperidade associada à criação do gado. A ocupação e a pros-peridade do Ceará cearense se deram, portanto, do interior para o litoral.

[...] a luta entre a marinha e o sertão, um facto commum a todas as antigas capitanias, occupadas na criação do gado, e povoadas por gentes idas do rio S. Francisco, isto é, do interior para o litoral [...] Como no Ceará o sertão investiu contra o litoral, chegando a dominar-lo na Confederação do Equador; como o litoral resistiu ao sertão e por fi m domou-o; como estes dois elementos unidos se amalgamaram e conciliaram, formando hoje uma população homogênea e enthusiasta de sua terra... (AB REU, 1899/1996, p. 230-231).

Diferente da rede urbana dendrítica, característica dos países co-loniais, onde as cidades eram especializadas na captação de produtos no interior e drenagem deles para o mercado europeu, no espaço cearense, o sertão dominou o litoral.

Nele (Ceará) a demanda externa não é um fator preponderante na organização espacial pretérita, nele não se dispõe de uma cidade primaz litorânea. Sua economia era, até meados do século XVIII, regional, atrelada à demanda da zona da mata. Não dispunha de uma cidade primaz, mas de conjunto de cidades interioranas, articuladas e especializadas na produção e comercialização da carne seca, fi cando sua capital litorânea isolada na zona costeira, sem estabelecer vínculos com outros centros urbanos coloniais (DA NTAS, 2003, p. 208).

No começo do século XIX, a província do Ceará tinha 24 freguesias e dezesseis vilas, já dispunha então de alguns serviços e equipamentos: uma junta da Real Fazenda (criada em 1799), um ouvidor geral da comar-ca; um juiz de fora na capital (nomeado em 1810), que servia, ao mesmo tempo, de procurador da coroa, juiz da alfândega e auditor da tropa; duas companhias de tropa paga de infantaria e artilharia, que protegiam a capital; um hospital real militar, nove regimentos milicianos e contava ainda com duas casas de inspeção de algodão, uma na vila de Aracati e outra na de Fortaleza.

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105Quadro natural e a ocupação do território cearense

O crescimento da região motivou o Ministro Rodrigo de Sousa Coutinho, em 2 de junho de 1800, a comunicar ao presidente Bernardo de Vasconcelos que “um tal de Barão de Humboldt”, natural de Berlim, estava viajando pela América portuguesa, fazendo mapas e observações geográfi cas e topográfi cas. Ordenava, em nome do Príncipe Regente, D. João, que lhe fossem obstadas tais pretensões vedadas pelas leis portu-guesas aos estrangeiros. O príncipe temia que Humboldt pudesse “tentar com novas ideias e capciosos princípios, os ânimos dos povos seus fi éis vassallos existentes nesses vastos Domínios”. Seguindo essa orientação, Bernardo de Vasconcelos, em mensagem transmitida às câmaras das vilas cearenses prometeu recompensa de 200$000 a quem prendesse o Barão de Humboldt, “pelas razões políticas do Estado exigirem a segurança de hum tal homem muito principalmente no estado actual das cousas” (apud ST UDART, 1896, p. 440).

Figura 3: Vilas do Ceará no século XIX.

Fonte: Souza, 2005

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4 O melhor clima do mundo

Em Memória sobre a capitania independente do Ceará, escrita em 18 de abril de 1814, o ex-governador Luiz Barba Alardo de Menezes (1808-1812) considera aspectos positivos da terra cearense, o fato de “se não encontrarem durante ella, baixos” e a facilidade de reconhecimento, por apresentarem grandes montanhas visíveis em toda a extensão de cento e quarenta léguas, da barra do rio Mossoró, que a divide da capitania do Rio Grande do Norte, a leste, até a Amarração, que a separa da vila de São João da Parnaíba, da capitania do Piauí, a oeste. Também destaca o potencial da região, a salubridade do ar e a qualidade da água, dos quais seria prova a longevidade dos cearenses.3

Tem poucos rios navegáveis, mas infi nitas ribeiras, immensas serras de prodigiosa producção de todos os gêneros, especialmente de algo-dões, excellentes águas, saborosos fructos e os seus ares talvez sejão os melhores deste continente, como se comprova do grande número de pessoas, que tem de avançada idade (B. A. MENEZES, 1897, p. 39).

O presidente da província Francisco de Sousa Martins, em relató-rio datado de 1° de agosto de 1840, afi rmava que o clima do Ceará era extremamente sadio, não havendo “risco de contágio, ou enfermidades endêmicas, que fação estragos na nossa população.” O Brigadeiro José Maria da Silva Bitencourt, que sucedeu Sousa Martins, em seu relatório de 1° de junho de 1843, também exalta a salubridade do solo, dizendo

3 Lombard, em 1877, trata da longevidade da população brasileira, destacando o cearense: “En ce qui regarde l’ensemble du pays, nous n’avons aucun document exact; nous savons seulement que la longévité est l’un des traits caractéristiques de la démographie brésilenne. Chaque province peut citer des exemples de ce genre: la Revista médica fl uminense de 1839 asignalé plus de trente-cinq centenaire. L’un des plus remarquables est celui d’André Vital de la province de Céara qui vécut jusqu’à 124 ans; il était entouré de ses descendants au nombre de cent quarant-neuf et mourut en 1775. Ces cas de longévité témoignent en faveur de l’ex-cellence du climat pour les vieillards” ( LOMBARD, 1877, p .456).Lombard, em 1877, trata da longevidade da população brasileira, destacando o cearense: “Em relação ao país como um todo, nós não possuímos nenhum documento exato; sabemos apenas que a longevidade é um dos traços característicos da demografi a brasileira. Cada província pode citar exemplos desse gênero: a Revista médica fl uminense de 1839 identifi cou mais de 35 centenários. Um dos que mais notáveis é o de André Vital da província do Ceará que viveu até os 124 anos; estava cercado de seus descendentes em número de 149 e morreu em 1775. Esses casos de longevidade testemunham em favor da excelência do clima para os mais velhos” (LOMBARD, 1877, p .456).

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que o mesmo “não tem aprezentado d’aquellas epidemias mortíferas, que assolão outros lugares; e com quanto tenhão as febres intermitentes se dezenvolvido n’esta passagem d’estação com mais vigor, não tem sido mortíferas”. E conclui dizendo que “a Providência, que vigilante preside aos destinos do Brasil, tem affastado desta Província a ceifadora bexiga”.

Mas os grandes entusiastas da salubridade e fertilidade da terra foram mesmo os médicos, cientistas e intelectuais cearenses da virada do século XIX para o XX. A salubridade é ressaltada pelo médico e historiador Barão de Studart, em Geographia do Ceará:

Sob o ponto de vista do seu clima, que é justamente proclamado como dos mais saudáveis do Brasil, se poderá dividir o Ceará em três zonas: a do litoral, que comprehende a faixa marítima até 30 km para o inte-rior, quente e humida, caracterizando-se por ventanias, que a açoitam de continuo, sendo o vento dominante o Sueste, seguindo-se-lhe o SUSSUESTE e ESSUESTE; a das serras frescas e menos humidas; a do sertão, quente e secca... Não é, pois a temperatura com suas pe-quenas variantes o que caracteriza o clima do Ceará; das chuvas, sim, dependem as suas estações, e essas, rigorosamente fallando, poder-se-á dizer que são duas, o inverno e o verão,4 a primeira indo de fevereiro a junho ou para melhor dizer principiando com o solstício de março (STU DART, 1924, p. 253).

José Cândido Freire, em seu artigo “O melhor clima do mundo”, defende a ideia de que a alguns quilômetros de Fortaleza, nas serras de Maranguape, Aratanha, Baturité e do Estevão, numa altitude em torno de 800m acima do nível do mar, durante todo ano, é uma “eterna primavera”. “O céu é quase sempre límpido e estrellado”, e, no termômetro, a som-bra, todo o ano, a temperatura é entre 14 a 29°. O autor do texto, citando Hyppocrates, diz que este “aconselhava a seus conterrâneos residirem no clima sadio por conhecer n’ella acção benéfi ca no physico e no moral” (FRE IRE, 1908, p. 77).

O senador Tho maz Pompeu de Souza Brasil, no Ensaio Estatístico sobre a Província do Ceará, de 1863, afi rma que a salubridade do Ceará é “uma das mais bem reputadas do Brasil”, atraindo tuberculosos de todo o país em função das “causas topográfi cas e meteorológicas”, que a tornam:

4 No Nordeste brasileiro, é popularmente chamado de inverno o período das chuvas e de verão o período de estio, que dura mais de oito meses por ano.

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[...] excepcionalmente seca, sujeita a longas estiadas, que difi cultam à sua superfície os pântanos ou alagados, viveiros do paludismo... Devido a estas condições, exerce desde longa data o Ceará persisten-te atração sobre grande parte dos habitantes dos próximos Estados, até o Amazonas, a ponto de ser havido como o mais efi caz sanatório para os enfermos que vem pedir a seu clima restaurantes melhoras ao enfraquecimento da saúde, ao esgotamento vital produzido pela ação deprimente das temperaturas úmidas e quentes (BRA SIL, 1997, p. 473).

Outro elemento que o autor utiliza para justifi car a qualidade do clima é a sua ação particular no rápido crescimento da população. Pierre Denis (1909, p. 271), ao tratar da fecundidade das mulheres cearenses, afi rma que ela é “proverbial, mesmo no Brasil”. Isto se deve ao céu do Ceará, que “se é avaro de chuvas, pelo menos é salubre”. Dados do re-censeamento de 1872, inclusos no Relatório da Divisão de Estatística de 2 de agosto de 1876, atestam este fato:

A despeito das calamidades climáticas, porventura as mais ruinosas nesta parte do continente americano, a progressão vegetativa da população cearense é verdadeiramente excepcional, senão assom-brosa, superior a de qualquer outra região brasileira, favorecida por melhores condições topográfi cas e meteorológicas. [...] Todos esses elementos eram contrários ao crescimento rápido da população, salvo a benignidade do clima. Apesar da escassez de terras lavradias para a lavoura de cana, próxima dos portos, das rivalidades dos primeiros povoadores, do aniquilamento da raça indígena, de secas devastado-ras e repetidas, continha o Ceará a população mais densa do Brasil, exceptuando o Rio de Janeiro por condições excepcionais, em 1872, segundo o arrolamento daquele anno. A prova era decisiva: o Ceará em confronto com as demais províncias irmãs, favorecidas pela chuva, pela fertilidade do solo, pela ação ofi cial no seu povoamento, contava 6 habitantes por quilometro quadrado contra 11,3 no Rio de Janeiro; 5,6 em Pernambuco; 5,9 em Alagoas; 2,3 em São Paulo; e 1,8 no Rio Grande do Sul (apud BRA SIL, 1922, p. 475).

Essa ideia é reforçada pelo farmacêutico Rodolpho Theóphilo, que considera o clima das serras, semelhante ao da Europa, na primavera, o mais saudável para os neo-hipocráticos:

O clima do Ceará é quente e humido no littoral, fresco nas serras, quente e secco no sertão; em geral, porem mui salubre [...] O calor é moderado pela brisa constante do mar e frescura das noutes. Nas

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serras mais elevadas a temperatura, sobre tudo de maio a setembro, é egual a de alguns paizes da Europa, na primavera. ... Na capital, a média thermometrica annual é de 26°6. No alto sertão, o calor sobe, no máximo, a 37° a sombra. Nas serras da Ibiapaba, Araripe, Baturité, Aratanha e Maranguape, nos mezes de junho a agosto, o thermometro tem descido a 14° e não sobe além de 24° (THE OPHILO, 1901, p. 11).

A estabilidade climática, a pequena alteração nas estações (estação das chuvas e estação seca), a temperatura amenizada pelos ventos alísios que refrescam a cidade de Fortaleza, o solo arenoso que rapidamente ab-sorve as águas de chuva e impede a formação de manguezais e alagados, o direcionamento da construção da cidade voltada para o oriente, todos esses aspectos são acentuados nos diversos artigos e livros do Barão de Studart (Geographia do Ceará, 1924 e Climatologia, epidemias e endemias do Ceará, 1909); do Sen ador Pompeu (Secca e fome de 1825, 1826 e 1827, publicado em 1895); de Thomaz Pompeu de Souza Brazil (O Ceará no seculo XX, 1909; O Ceará no centenário da Independência do Brasil, 1922); de Rodolpho Theophilo (Seccas no Ceará, 1901) e de José Cân-dido Freire (O melhor clima do mundo, Almanach dos municipios, 1908).

Freire Alemão, em alguns momentos, faz elogios ao clima e ao povo do Ceará, mas, em outros, critica-o pela aversão aos estrangeiros, principalmente portugueses, pelo antimonarquismo e a imagem grandiosa que fazem de sua terra.

Mesmo a respeito do Brasil, eles têm idéia tão exagerada da sua província que se persuadem ser o Ceará superior a todas em tudo; e enfi m para eles Brasil é Ceará. Dêem-nos dois meses de chuva so-mente em cada ano que o Ceará não precisa de mais nada! (FREIRE ALEMÃO, 1964, p. 316).

Esse discurso marcado pelo amor à terra natal e pela vontade de encontrar soluções para os problemas do Ceará é característico dos inte-lectuais e cientistas cearenses. A confi ança na capacidade e produtividade da terra e da sua gente, na enorme e rápida capacidade de recuperação diante das intempéries colocaria sempre em pauta a questão: o que falta-ria ao Ceará para o seu rápido desenvolvimento? O entusiasmo de Barão de Studart, em relação à salubridade e à fertilidade do solo cearense só era alterado quanto ele falava sobre as grandes estiagens que afl igiam a população nordestina.

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Fora o Ceará uma região de chuvas regulares e bem distribuídas e no Brasil nenhum Estado lhe levaria vantagens; corta-lhe, porém, o vôo para incomparáveis destinos a secca, que o persegue, devido a sua especial disposição geographica e às correntes aéreas que o cortam (STUDART, 1924, p. 253).

O que faltava ao Ceará era, portanto, vencer o seu maior inimigo: a seca.

5 Soluções: açudes etc.

A seca foi o maior problema enfrentado pelos governantes do Ce-ará. A busca de soluções para sanar suas consequências é tema constante nos relatórios dos presidentes da província. Propostas de construção de açudes, represas, poços artesianos e de ações para preservação das matas aparecem na maior parte deles.

O senador José Martiniano de Alencar, presidente do Ceará entre 1834 e 1838, foi um dos mais dinâmicos governantes da província da qual era fi lho, ao contrário dos presidentes que o antecederam. Ele não concordava com a imagem de miséria e sede que muitos tinham de sua província e acreditava que faltava apenas um impulso para fazer desa-brochar as riquezas de seu solo, tal como manifestou em mensagem ao Imperador D. Pedro II:

Nossa Província, que fora muita gente faz della a mais triste idéia, suppondo que nem água temos para beber, quanto a mim não necessita senão de um impulso para se verifi car o seu melhoramento. Está em vossas mãos dál-o, o mais fará o solo abençoado, o clima bello em que vivemos (apud NOG UEIRA, 1889, p. 113).

Alencar propôs vários meios para tentar atenuar as consequências da seca. Chegou mesmo a oferecer prêmios para incentivar a construção de açudes por particulares:

O fazendeiro, creador ou lavrador que no Ceará construir, em sua fa-zenda ou à margem da estrada pública, açude de pedra e cal, receberá pelos cofres da Província uma gratifi cação de 10$000 reis por cada braça de extensão, somente necessária à repreza das águas; e o que construir de terraço, receberá uma gratifi cação de 5$000 reis, paga pelo mesmo modo, comtanto que plante o terraço arvoredos, devendo

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a sua serventia ser pública unicamente para o uso das águas, sendo o proprietário ou proprietários obrigados a conserval-o e reparal-o (Decreto datado de 5.8.1832, apud NOGUEIRA, 1889, p. 114).

Homem moderno, informado sobre os progressos da técnica e da ciência, Alencar já conhecia os poços artesianos, mas receava que sua província não pudesse arcar com as despesas e a responsabilidade de ser a primeira a experimentar esse avanço.

Não me atrevo a induzir-vos por ora a pôr em effeito as fontes ar-tezianas; porque ainda supponho esta empreza superior às nossas possibilidades, convindo antes esperarmos que ellas appareçam em alguma outra província do Brasil, para então com melhor conheci-mento de causa nos propormos a effectual-a em nossa Província (apud NOGUEIRA, 1889, p. 113).

Em 1837, Alencar mandou construir, em Fortaleza, o Reservató-rio d’água do Pajeú, que foi reconstruído em 1879 na administração do Presidente Dr. José Júlio de Albuquerque Barros (NOGUEIRA, 1889).

O país em parte montanhoso e coberto de fl orestas virgens, em parte semeados de savanas verdejantes ou áridas, segundo a estação, é anu-almente desolado pelo fl agelo da seca, que aí faz por vezes horríveis estragos, destruindo a vegetação, os animais e até os homens. Esta circunstância impede naturalmente a agricultura e a indústria de se desenvolverem em maior escala. O mal não é, entretanto irremediável. Poder-se-ia por meio de barragens praticadas nas gargantas das mon-tanhas construírem-se imensos reservatórios e regas que salvariam as plantações durante a estação seca. [...] É fato que a confi guração das serras desta província tornaria extremamente fácil o estabelecimento destas barragens. [...] Seria bom também tornar úteis quanto possível as águas do Jaguaribe e de seus afl uentes, e ao mesmo tempo fazer o ensaio de poços artesianos, que em muitos lugares da Europa tem produzido os mais felizes resultados (NOG UEIRA, p. 245).

Para o presidente Ignácio Corrêa de Vasconcelos – que governou o Ceará entre 1844 e 1847 – a solução contra a seca era, além da construção de açudes, a preservação das matas. A seu ver, sendo o Ceará desprovido de lagos e rios e também não possuía grandes matas “que conservassem o solo sempre molhado e humido, purifi cando os ares, e attrahindo a ele-tricidade”, o que traria como consequência a chuva. Um preservacionista

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avant la lettre, Corrêa de Vasconcelos criticava a destruição das matas que, na sua opinião, era a principal causa da esterilidade do solo.

A província tem despresado um dos pontos mais importantes em que deveria occupar, e visto com olhos de indiferença suas poucas mattas a cahirem ao golpe destruidor do machado do agricultor ignorante! Disto tem resultado a esterilidade de nossos invernos, e, por conseguinte a penúria e a miséria com que muitas e muitas vezes temos visto a braços [...] A nossa primeira necessidade é certamente a água: e já que não tivemos a ventura de possuir lagos e rios perenes para refrescarem os nossos campos, ao menos conservemos as poucas mattas que temos e procuremos crear outras (REL ATÓRIO, 1º. 07.1847, p. 4 e 18).

Entre as medidas práticas e de resultado imediato implementadas por Correia de Vasconcelos, destacam-se a recuperação do açude do Pajeú, em Fortaleza e a construção de represas nas lagoas de Mecejana, Jererahú e Maraponga. Ele também obteve recursos junto ao governo imperial para construir um açude na lagoa dos Fundões, na estrada da Imperatriz (RELATÓRIO, 1º. 07.1847 apud BRASIL, 1922, p. 416).

Em 1858, o Dr. Silveira de Sousa apresentou à Assembleia Provin-cial do Ceará relatório em que defende a aplicação de recursos públicos na construção de açudes:

É para mim fóra de dúvida a necessidade de continuarmos a auxiliar pelos cofres públicos a construcção de semelhantes obras na Província: e mesmo mais para adiante será preciso talvez emprehendel-as directa-mente a sua custa. Esses açudes contribuirão de modo muito poderoso para sanar-se o mal das seccas e dos invernos escassos que nos affl igem, pois é sabida a infl uência que os grandes e multiplicados depósitos d’água, principalmente quando bem circumdados de arvoredos, exer-cem na formação e quedas das chuvas (apud BRASIL, 1922, p. 417).

No relatório do ano seguinte, ele recomendou que se realizassem estudos técnicos no Ceará a fi m de que fosse projetada a melhor maneira de se distribuir reservatórios de água pela Província: “Um plano de cons-trucção simultâneo ou mesmo successivo de taes depósitos d’água, e de arboricultura em escala suffi ciente, suppõe recursos não só pecuniários mas de muitas outras espécies que não possuímos” (BRASIL, 1922, p. 418).

Em 1859, o Senador Pompeu publica a “Memória sobre a conserva-ção das matas, e arboricultura como meio de melhorar o clima da província

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do Ceará”, folheto reunindo coletânea de artigos do jornal O Cearense, para distribuição entre os agricultores e criadores cearenses, a fi m de convencê-los “das verdades incontestáveis bebidas em factos authenticos, e na authoridade de sábios respeitáveis”. A campanha empreendida pelo Senador Pompeu tinha como objetivo “fazer parar o pernicioso systema da devastação das matas e a conveniência de tratar-se a arboricultura, como meio de preservar a província do fl agello das seccas, já tão freqüentes”. Afi rma que faz isto “com o desejo de ser útil a nossa província a cuja prosperidade dedicamos todos os nossos exforços” (BRA SIL, 1859, p.20).

Com este objetivo chegam a Fortaleza, em 25 de julho de 1859, 14 camelos, importados da Argélia e acompanhados de quatro árabes encar-regados de tratar e ensinar a lidar com os animais. O objetivo principal era a aclimatação de dromedários que pudessem fornecer novos recursos e ser úteis à região. A experiência realizada com sucesso na Austrália foi um fracasso no Brasil e motivo de muitas polêmicas nos jornais brasileiros.

A construção de açudes continua sendo a grande alternativa para conviver com a seca. O Dr. Piquet, no artigo “O Açude do Quixadá”, afi r-mava que a irrigação seria o grande regulador das chuvas, que ocorriam concentradas e irregularmente espaçadas no Ceará. Em cálculos realizados para a construção do açude do Cedro, em Quixadá, inaugurado em 1906, concluiu: “Não é exagero admittirmos que 250 millímetros de chuvas, mesmo muito subdivididos, deem para substituir quatro irrigações, em um anno de secca, ou o que equivale, a irrigação de um mez” (apud BRASIL, 1922, p. 431).

A memória produzida por Raja Gabaglia motivou interessante po-lêmica em torno da questão da açudagem como solução para o problema das secas do Ceará. Vários intelectuais brasileiros ocuparam as páginas de alguns dos jornais do Rio de Janeiro para tratar do assunto. O tema também esteve na pauta dos debates durante algumas sessões do Instituto Polytechnico do Rio de Janeiro (18 de outubro de 1877) e da Associação Brasileira de Aclimação, presidida pelo Conselheiro Beaurepaire Rohan (10 de outubro de 1877) (BRASIL, 1922).

O principal crítico das propostas de Raja Gabaglia foi seu colega Viriato de Medeiros, que, em artigos do Correio Mercantil, em 1860, e posteriormente no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, em 1877, combateu algumas medidas propostas, particularmente a açudagem. Me-deiros alertava contra o perigo das inundações, que viriam a ser causadas,

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e da grande evaporação das águas dos açudes, em função das elevadas temperaturas da região. Seus argumentos foram vigorosamente rebatidos pelo Conselheiro Beaurepaire Rohan, pelo Senador Pompeu e por todos os conhecedores das condições físicas do Ceará (BRASIL, 1922, p. 426).

O conselheiro Rohan sugeria a plantação de árvores em torno dos açudes, de preferência, frutíferas para alimentação dos homens, formando uma “espécie de oásis a semelhança dos que se observam nos desertos”. O Dr. Glazou defendia, para maior efi cácia dos açudes, a plantação de árvores que teriam por fi nalidade a “formação de humidade, a protec-ção dos tanques e de seus peixes”. Já o Barão de Capanema propunha a “construcção de cisternas e o preparo do feno como meio de attenuar os effeitos da secca”. Divergia dos outros sobre a solução de açude por entender que ele servia “antes de foco miasmático, resultado de detrictos orgânicos, vindo prejudicar a salubridade pública, do que de aguada e agente fertilisante do solo” (BRASIL, 1922, p. 452).

Já o engenheiro André Rebouças apresentou proposta mais ampla e mais avançada para a província do Ceará. Além da implantação de vias férreas, uma espécie de reforma agrária, ou seja, a “desapropriação dos terrenos marginaes a essas estradas para serem divididos em lotes e nelles fi xados os emigrantes”. Sugeria também:

a execução de obras e melhoramento nos portos marítimos e fl uviaes notoriamente o de Fortaleza, Mucuripe, Aracaty, etc., abertura de poços indianos e instantâneos, construcção de cisternas venesianas, prepara-ção de silos algerianos, estabelecimento de pescarias na foz dos rios do Ceará e melhoramentos da foz dos rios para prevenir inundações nas epochas das chuvas (BRASIL, 1922, p. 448).

Desses debates, participaram também membros da comissão de Engenheiros que estiveram na Província durante o primeiro semestre de 1878, em plena seca. Essa nova comissão – composta por Nabuco de Araú-jo, Lassance Cunha, Julius Pinkas, Henrique Foglare, Adolpho Schwarz e Leopoldo Schrimerpor – tinha por objetivo percorrer o Ceará e encontrar meios de abastecer a província de água, nos anos secos, fornecendo a quantidade necessária para o uso da população e a irrigação da lavoura. A Comissão chegou a Fortaleza a 13 de janeiro de 1878 e permaneceu até 22 de junho de 1878, quando foi dissolvida. Projetou plantas de açudes para Quixadá, Quixeramobim, Sobral, Granja, Acarahú e para o vale do

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Gererahú. Uma das sugestões que apresentou foi a da transposição das águas do Rio São Francisco5 para o Rio Jaguaribe, a fi m de irrigar o Ceará.

A commissão de engenheiros, além dos trabalhos de prolongamento da estrada de ferro de Baturité, apresentou parecer ao governo sobre o estabelecimento de observatórios meteorológicos, construcção de um canal para ligar o São Francisco ao Jaguaribe, estradas de ferro, cisternas, poços artezianos e arborisação (BRASIL, 1922, p. 422-23).

Desde 1877, os especialistas concordavam sobre os meios de evitar os efeitos devastadores das secas: construção de estradas de ferro e de reservatórios de água para irrigação. Durante a grande seca de 1877-79, pequenos açudes foram construídos. A estrada de ferro de Baturité foi encampada pelo Império e prolongada, atingindo esta cidade, em 1882. A estrada de ferro de Sobral-Camocim, iniciada durante esta seca, foi inaugurada em 1882.

O engenheiro inglês J. J. Revy organizou estudos, planos e or-çamentos para a construção de três grandes reservatórios de água para a irrigação da província: Quixadá, Itacolomy e Lavras. No documento Exposição sobre açudes – appenso ao Relatório do Senador Leão Vello-so a 30 de junho de 1881, destacou a fertilidade das terras cearenses e a possibilidade de grande incremento na produtividade da região com a utilização de técnicas modernas.

As planícies do Icó, Limoeiro e Russas, são as mais férteis com que a natureza tem dotado qualquer paiz. É também notório que estas pla-nícies carecem só de chuvas a intervallos regulares para produzirem tudo com perfeição e abundancia. Há 4 mezes de chuvas e 8 de secca. Si, pois, não se deixasse escapar água alguma pelos rios, si a água da chuva que agora vae para o oceano podesse ser retida e distribuída durante a estação secca do anno, tal quantidade seria suffi ciente para humedecer essas planícies durante 8 mezes de secca nos annos ordi-nários, absolutamente do mesmo modo como si a estação chuvosa tivesse continuado sem interrupção durante o anno inteiro (apud BRASIL, 1922, p. 452).

5 No século XXI, a transposição do Rio São Francisco voltou à pauta de discussões no Congresso Nacional e da imprensa brasileira, com discordâncias, principalmente dos políticos da Bahia, que temiam que o desvio das águas prejudicasse a agricultura do Estado. Em 2007, tiveram início as obras de transposição.

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Acreditava que, com os plantios regados pelas obras de irrigação, o vale do Jaguaribe poderia acomodar muito bem a metade da população da província.

O povo se mudaria e se estabeleceria nestas planícies nos tempos or-dinários, e formaria novos centros, novas aldeias, novas villas. Pouco a pouco, retirar-se-ia do árido sertão, e quasi é desnecessário dizer que na occasião da próxima secca não haveria emigração alguma, porque o povo já estaria estabelecido nas planícies irrigadas dos valles (apud BRASIL, 1922, p. 453).

Revy observou que o algodão plantado no Ceará, de forma irre-gular, sem obedecer a princípios modernos e aperfeiçoados, conseguia “competir nos mercados europeos com vantagem de qualidade e pre-ço”. Sua fi bra “de excellente qualidade, superior ao de Nova-Orleans”, tinha grande aceitação. Essa circunstância demonstrava, a seu ver, a riqueza do solo e do clima do Ceará adequados ao cultivo do algodão: “planta delicada e de grande valia”. Ele acreditava que a construção de açudes, a utilização de técnicas modernas para a irrigação, o uso do arado, que era praticamente desconhecido, o preparo da terra com estrumo e a cultura sistemática e profunda do algodão, semelhante à praticada nos Estados Unidos, promoveria um excepcional crescimento da produção agrícola.

A introdução de obras de irrigação modernas nas férteis planícies dos valles da província mudaria completamente a situação. Introduziria os progressos da agricultura moderna: mudaria os costumes e o modo de vida do povo... A introdução dos trabalhos systemáticos de irrigação há de melhorar sem dúvida o actual processo agrícola que é primitivo (a pud BRASIL, 1922, p. 453).

O presidente criticou o incentivo à migração de cearenses por meio do fornecimento de passagens para saída da província. Argumentava que o custo era mais elevado para o Estado, do que conservá-los na província; que a permanência dos “retirantes” em sua terra evitava a grande mortalidade, resultante do êxodo, principalmente entre as crianças; e que os migrantes chegavam impossibilitados para o trabalho, “necessitando de aclimatação”, vivendo da caridade do governo e dos particulares, transformando-se em boêmios, que infestavam as grandes cidades.

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117Quadro natural e a ocupação do território cearense

Esses aspectos também foram tratados pelo Presidente do Estado Dr. Antonio Pinto Nogueira Accioly. Em mensagem enviada ao congresso estadual em 1º de Julho de 1905, Nogueira Accioly discorreu sobre as medidas necessárias para combater ou conviver com as secas, defendendo a irrigação e a construção de estradas de ferro que favorecessem o escoa-mento da produção agrícola.

A nossa e a extranha experiência indicou, de há muito, com máxima nitidez, o único remédio effi caz – a extensão das grandes obras de irrigação, e a construcção de ferros-vias de penetração, que de par com o augmento da producção agrícola lhe dêm fácil e prompto accesso aos mercados consumidores (apud BRASIL, 1922, p. 455).

Accioly acreditava na salubridade e na fertilidade do solo cearense e em que estas se tornariam estáveis com a regularização do suprimento de água por meio da construção de açudes.

A excepcional salubridade do solo cearense, sua inesgotável pro-ductividade, sua proximidade dos grandes centros consumidores, são condições primárias de bom êxito, as quaes não será indifferente o capital desde que se consiga regularizar o supprimento d’água a lavoura, systematica e continuamente, como já alcançaram os povos asiáticos, alguns dos quaes reputados inferiores por sua organização política e intellectual (apud BRASIL, 1922, p. 460).

O açude do Cedro, em Quixadá, o mais antigo do Brasil, foi iniciado em 1884, pelo engenheiro inglês Jules Jean Revy. Sua obra foi interrompida diversas vezes, e concluída pelo engenheiro Bernardo Piquet Carneiro, sendo inaugurado em 1906, pelo presidente Afonso Pena (COSTA, 2002). Construído por iniciativa do imperador D. Pedro II, empregou, em grande parte, mão-de-obra dos fl agelados da seca.

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Figura 4: A barragem do Cedro em Quixadá

Fonte: Arquivos Nirez

Os diagnósticos sobre a seca e as propostas para a superação deste problema culminaram na criação da Inspetoria de Obras Contra as Se-cas – IOCS, em 1909. Posteriormente, em 1919, esse órgão passou a ser chamado de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS, até meados dos anos 1940, com sua transformação no atual Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS.

Durante séculos, a população cearense conviveu com secas, migra-ções e epidemias. De acordo com as decisões políticas, o desenvolvimento técnico e científi co e o pensamento dominante de cada época, medidas foram adotadas visando a atender a população e evitar maiores catás-trofes sociais e econômicas. No entanto, em vários momentos, elas não conseguiram impedir a grande mortandade da população e a destruição da economia cearense.

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119Quadro natural e a ocupação do território cearense

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Ceará mestiço

O B *

MIRAGENS E TRAVESSIAS

Marco de miragens e travessias, Porto sem cais, leito seco de rio Habitado por vazio e correntezaÁgua fugaz de áridas baciasEm seu chão, nada perdura ou se fi xa Nem a secura conhece a certezaTudo se arrisca, mas direto não passaSonha, disfarça, divaga e vagueia Errante e sem rumo, vagabundeiaFeito vela ao vento, jangada sem prumo Ave sem pouso, que no ar borda rendas Aranha a tecer tendas ao relento.

Neste País toda a vida é provisória Arranha-céus, cidades, catedraisAlicerces de ilusória eternidadeCom seus vitrais de sol e descampados.Terra de barbatões desencantados Cavaleiros andantes, claridadesNarrativa sem termo e sem inícioPrecipício sem antes nem depoisErmo andor onde a vida se compôsEm vastas solidões desencarnadasFeito um ciclope de dor e poesia. Bastião onde o mar é perecívelPois um dia em sertão transmudaráSeu clamor de impossível maresiaSeu galope de ondas transportadas.

* Doutor em Sociologia; professor da Universidade Estadual do Ceará

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Esta Pátria eu trago nos meus ombrosFeito rede de escombros encardidaComo teia de fundas cicatrizesMar de varizes, aguda feridaAo corpo, colada como tecidaNa pele em fl or, em dor xilogravada.

Geografi a de severas estiagens Rotas de sangue, nômades heresiasChão de sonhos e ásperas poesiasQue no ar se levantam em viagensArabescos, barroca arquiteturaDe um bicho rarefeito em miragensOlhos sujos de sal, cabeça chataFeito um cão, um cachorro vira-lataQue se ergue em solar iluminura.

ESPELHO DA MEMÓRIA

m terras áridas, sob o sol do Equador, caldeando etnias de três continentes, índios, brancos e negros teceram um Ceará mestiço, cuja cultura, em síntese sempre inacabada, desafi a permanentemente nossa compreensão.

Para mirá-lo será preciso construir espelho de múltiplos prismas, capaz de penetrar os desvãos do nosso rosto e interrogar as rugas de nossa memória. Espelho que se vá moldando com o barro de nosso chão e com a poeira alegre de nossos terreiros, que se vá compondo com os objetos colhidos nos baús de nossos ancestrais e nas tendas de nossos feirantes, que se vá urdindo com os cipós da caatinga e com os fi os das redes e la-birintos, que se vá polindo com a ponta afi ada das facas peixeiras e com as espadas alumiosas de nossos reisados, que se ilumine com os círios dos santuários e romarias. Espelho de sol que se aventure com as velas de nossa imaginação encardidas pela brisa atlântica e pelo mormaço dos carrascais.

Talvez a luz de tal espelho, feita de calor e cristal, possa aclarar os caminhos dos muitos cearás. Dos cearás do sertão, das serras, das praias e dos vales úmidos. Dos cearás das chuvas e das secas, da fartura e da fome. Dos cearás do gado, do algodão, do caju, da oiticica e da carnaúba. Dos cearás de taipa e cimento armado, de marcas de ferro e grafi tes. Dos

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cearás dos vaqueiros, pescadores, artesãos, mascates, moleques e santos guerreiros. Dos cearás do charque, da farinha, do milho, da moda, do cinema e da rapadura. Dos cearás das rebeliões visionárias, dos coronéis impiedosos e dos poetas irreverentes. E dos muitos outros cearás que se possa descobrir.

Talvez o brilho de tal espelho faça algum narciso às avessas, agu-çar a memória e mirar pela primeira vez com espanto e prazer seu rosto caboclo. Talvez o ajude a perceber como suas as mãos hábeis e ligeiras das rendeiras, a língua astuta e prolixa dos camelôs e repentistas, os pés andarilhos dos retirantes, as pernas arqueadas dos vaqueiros, o andar ondeante do jangadeiro, a dança sapateada dos brincantes, o riso trocista dos caretas e mateus e o canto anasalado das beatas.

Forjar a face de um espelho que, aos poucos, nos revele os traços, não é tarefa fácil. Nos anima saber que ajudará um povo, carregado de sonhos e miudezas, a melhor receber seus hóspedes e a projetar, mundo afora, a formosura de sua imagem.

CEARÁ: UMA CULTURA MESTIÇA

Como quase todo o Brasil, o Ceará tem uma cultura mestiça, for-mada a partir de etnias oriundas de três continentes, branca-europeia, afro-negra e ameríndia. Se comparado aos demais Estados brasileiros e nordestinos, chama a atenção uma maior contribuição ameríndia, ao lado da sempre hegemônica presença branca de origem europeia e de uma relativamente menor participação negra, na conformação étnica de sua gente e de sua cultura.

Some-se a isto uma série de outros fatores, cuja enumeração faremos a seguir. Entre eles, a colonização retardada (em pelo menos cem anos) de seu território, acentuando a persistência de traços indígenas. Em seguida, a ocupação pela civilização branco-europeia sendo feita a partir do interior em direção ao litoral. Do ponto de vista geográfi co, a ausência de zonas de transição (agreste e mata) entre sertão e litoral, determinando o largo predomínio do semiárido e diferenciando-o de outros Estados nordestinos. No que se refere à economia, os diversos ciclos, pelos quais passou sua história, notadamente o da pecuária e o do algodão, mas também o da carnaúba, o do caju etc. Como tipos característicos, a presença marcante do vaqueiro nos primeiros séculos da colonização determinando muitas

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das peculiaridades do cearense, além da presença de outros tipos como o jangadeiro, o roceiro, a rendeira etc. Em relação ao clima, as estações que dividem o ano em um período chuvoso e outro sem chuvas. Além disso, o fenômeno da seca que com o adensamento da população transformou-se em catástrofe social, desorganizando periodicamente a sociedade com a intensifi cação do êxodo rural. Ainda do ponto de vista geográfi co, as di-versidades sub-regionais, incluindo sertão, litoral, serras e vales úmidos, e a existência do Cariri, zona de exceção dentro do semiárido, verdadeiro caldeirão de culturas. No que diz respeito à atividade produtiva, a ausência de uma tradição agroindustrial marcante compensada por uma vocação comercial e artesanal notável. Quanto à vida social, a urbanização recente e o crescimento agigantado de Fortaleza, a modernização acelerada da sociedade coexistindo com formas arcaicas de cultura e o aguçamento das desigualdades e dos contrastes sociais. Vale acrescentar, a presença dos santuários de Juazeiro do Norte e de Canindé, os dois maiores centros do catolicismo popular no Nordeste. E ainda, o nomadismo, o despojamento, o desapego à terra e ao patrimônio, a inventividade e o espírito aventurei-ro, a hospitalidade, o cosmopolitismo, a molecagem e outras tendências psicossociais de sua gente. Enfi m, estes e uma série de outros traços e fenômenos com implicações sócioculturais, que somados ajudaram a tecer o amálgama cultural que informa a originalidade do Ceará.

A CULTURA DO SERTÃO

O sertão semiárido, com sua economia fundada nos ciclos do gado e do algodão, ocupando quase todo o território cearense, é responsável pelas características principais da cultura cearense. Nele, por quase dois séculos, dominou o que Capistrano de Abreu chamou de civilização do couro, onde quase tudo girava em torno do boi. Do seu couro eram feitas as tiras que amarravam a taipa das paredes da casa, se fazia a mobília, o vestuário, as máscaras e inúmeros outros objetos. A carne comia-se nas três refeições ou transformava-se em charque, para vender. O leite bebia-se quatro vezes ao dia, virava manteiga, queijo, doce ou coalhada. Até hoje, no sertão, do boi, nem mesmo o berro se perde, porque imitado pelo vaqueiro em seus aboios longos e tristonhos.

Os traços dessa cultura vaqueira ainda infl uenciam fortemente o imaginário sertanejo. Seus marcos são as fazendas de gado, outrora enor-

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mes territórios a estenderem-se em volta de uma casa-grande de paredes grossas, muitos alpendres, grandes depósitos e pouca mobília. Nelas moram os fazendeiros com suas famílias, rodeados pelas casas de taipa de seus agregados, pelos engenhos de rapadura, aviamentos de farinha, roças de subsistência e ofi cinas artesanais onde se sobressai a fi gura do mestre seleiro. A festa mais importante, ainda hoje, ocorre na data do santo padroeiro que, até o século passado, se fazia coincidir com a apartação do gado, da qual se originou a atual vaquejada.

Nos meados do século XIX, toma vulto o cultivo e o comércio do algodão, obrigando roceiros e fazendeiros a levantarem cercas para demarcar seus espaços. O boi passou a ser criado em confi namento, a população adensou-se, obrigando o desenvolvimento da produção de ali-mentos. Apareceu a fi gura do roceiro, desenvolveu-se o comércio, antes restrito às feiras e aos mascates que percorriam o interior. Surgiram as cidades, não apenas em torno das fazendas (como no início), mas também no cruzamento de caminhos e em volta dos portos de embarque do algodão e de outros produtos de exportação.

O sertanejo em geral, a exemplo do vaqueiro, seu tipo mais ca-racterístico, é profundamente religioso. Devoto do santo padroeiro de sua freguesia, sua religião mistura elementos do catolicismo ortodoxo e de rituais mágicos populares, originários de cultos animistas africanos e ameríndios. É ao mesmo tempo penitencial e festeira, fatalista e terrena, punitiva e redentorista. Expressa-se nas romarias, como a de Canindé, e nos ritos das irmandades de penitentes, mas também nas festas de padro-eiro, renovações de santos, danças devocionais de São Gonçalo, lapinhas e pastoris. Inclui o uso de patuás, relíquias, escapulários, ex-votos, rezas fortes, superstições, mastros, cruzeiros, altares naturais e de carregação, salas de santos e outros objetos, instalações e procedimentos mágicos.

A diversão do sertanejo, pelo menos até meados deste século, era cachaça e samba. Samba de terreiro ou latada, baile rústico ao som da rabeca, da viola e, mais recentemente, da sanfona. Além disso, eram as festas da Igreja Católica, os batizados, os casamentos e as festas de pa-droeiro, com suas quermesses e leilões. Hoje, além dessas, são os forrós e as vaquejadas.

Na época natalina, formam-se os pastoris e brinca-se o boi, nos reisados de caretas (ou de couro), folguedo onde o boi é a fi gura principal, acompanhado de Pai Francisco (o vaqueiro) e de Catirina (sua mulher).

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Entram no brinquedo ainda outras fi guras, como o Doutor, o Padre, o Urubu, o Babau, o Jaraguá, a Ema e a Burrinha.

A introdução das relações capitalistas no meio rural, a divisão das propriedades, a decadência da pecuária, o quase desaparecimento da criação extensiva, o empobrecimento da fl ora e da fauna, o tempo e a modernidade, enfi m, modifi caram a vida no sertão e o próprio vaqueiro.

Ele, que antes, nas fazendas de gado, constituía um segmento de profi ssionais de elite, hoje, pouco difere dos demais trabalhadores rurais. Virou assalariado como os outros, ganhando remuneração miserável, por volta de um salário mínimo.

As mudanças nas relações de trabalho se resultaram na quebra dos laços de dependência, entre patrão e vaqueiro, provocaram também a ruptura dos laços de amizade e lealdade. Se desapareceram as relações de sujeição, desapareceu também o compadrio e a afetividade, que pos-sibilitavam gestos de generosidade, por parte do fazendeiro.

Como conseqüência, o vaqueiro troca com freqüência de fazenda. Falta-lhe segurança no emprego. Nas travessias com o gado, foi substituído pelo caminhão. Pouco se liga à terra, ao gado, à fazenda e ao patrão. Seu nomadismo por vocação, tornou-se uma imposição do meio social. Migra com facilidade, mudando de profi ssão.

Em contrapartida, cresceu entre os vaqueiros e demais trabalhadores rurais, a inclinação gregária, o sentimento de pertença a uma mesma classe, a solidariedade e a tendência a somar forças em defesa de reivindicações comuns. Por isto, o aparecimento de associações reunindo a categoria que, além da defesa dos interesses dos associados, organizam missas, cortejos, festas e outros eventos, para promover a outrora legendária fi gura do vaqueiro. São conhecidas as atividades das associações de vaqueiros de inúmeros municípios, entre eles Canindé, Morada Nova e Tauá.

A cozinha sertaneja, a exemplo da cearense em geral, é a fusão do tempero antigo de Portugal, dos seus modos tradicionais de fazer doces e conservas (que inclui a herança moura, sarracena e árabe), com a alimen-tação indígena, os frutos da terra, a mandioca, o milho e as batatas, além de elementos vários de origem negro-africana. Sua culinária é sazonal, divide-se em uma culinária da estação chuvosa e uma culinária do verão. Explode em abundância na época da colheita, que corresponde às festas juninas (Santo Antônio, São João e São Pedro), quando mostra toda a sua pujança. No sertão domina a carne e o leite, embora apareçam também o milho, a mandioca, o feijão e o arroz (que, juntos, viram baião de dois).

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Além do artesanato em couro, que tem na arte do seleiro seu núcleo central, encontra-se um sem número de outros artesanatos, com destaque para os trançados de palhas, cipós e fi bras vegetais, para a louça de barro e o fabrico da rede.

A CULTURA DO LITORAL

O litoral cearense, extenso e arenoso, embora marcado por traços da cultura do sertão, que muitas vezes chega até ele, guarda peculiarida-des que lhe dão feições culturais próprias. Sua cultura gira em torno da pesca e outras atividades artesanais. Tem no jangadeiro e em sua mulher, rendeira ou labirinteira, seus tipos característicos. O jangadeiro é o pes-cador de águas salgadas, que utiliza a jangada como embarcação, por ele próprio fabricada.

Como resultado do aperfeiçoamento das antigas embarcações in-dígenas, operado por infl uência da arte náutica ibérica, surgiu a jangada imortalizada pelos poetas e feitos dos jangadeiros. Em seu tamanho maior, ela tem de seis a sete paus (duas bordas, dois meios e dois ou três centros), mede de 8 a 9 metros de comprimento, por 1,80 m. a 2 m. de largura. Em seguida, aparece a jangada tipo paquete (de 4,50 m por 1 a 1,30 m). O bote (de 3 m por 80 cm) é a menor delas. As jangadas grandes costumam levar quatro tripulantes: o Mestre, o Proeiro, o Bico-de-proa e o Contrabico.

As jangadas eram construídas, antigamente, pelos próprios janga-deiros, em processo totalmente artesanal, com rolos de madeiras leves, como a piúba e a timbaúba, justapostos e unidos por espeques de ma-deira. Com o escasseamento destas madeiras, entretanto, e para permitir melhor abrigo nas viagens mais longas, de algumas décadas para cá, as jangadas passaram a ser feitas de tábuas, tendo um porão, que permite não só o armazenamento do pescado, mas até o descanso dos pescadores. As velas tradicionalmente são confeccionadas de algodãozinho branco, porque pegam melhor o limo da maresia e a gordura do peixe, fi cando mais resistentes com o tempo.

No litoral Oeste do Estado, principalmente nos municípios mais próximos ao Piauí, como Camocim e Acaraú, a jangada é substituída pela canoa, como embarcação preferida dos pescadores. A canoa, que também é impulsionada por uma vela triangular, embora mais rápida quando pega vento, tem a desvantagem de naufragar com maior facilidade.

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Jangadas e canoas não permitem permanências prolongadas no mar, com pernoites repetidos. Geralmente, quando as utilizam, os pescadores embarcam madrugada cedo e voltam à tardinha, estacionando suas em-barcações para a pesca de linha, ou tarrafa, na risca do horizonte (quando visto de terra, claro). Para a pesca da lagosta, que exige percursos mais longos e permanências mais demoradas no mar, são utilizadas lanchas, isto é, barcos lagosteiros a motor.

Além da pesca mar a dentro, no litoral cearense é praticada a pesca de arrastão ou de linha, à beira-mar, e a pesca de curral, com os pescadores tomando o curioso nome de vaqueiros, pois, segundo dizem “criam peixes”. Há ainda a pesca, na foz dos rios, realizada em botes ou pequenas canoas, praticada, quase sempre, por aqueles que “não se dão” com o balanço do mar.

São estas as embarcações “cavalgadas” pelo pescador cearense, em suas lidas marítimas, nas quais passa metade de sua vida, homem anfíbio que é, meio do mar, meio da terra. Navegador pouco afeito às longas travessias, suas incursões limitam-se às proximidades do litoral. Mais lírico do que épico, o mar concentra seu espírito, como algo maravilhoso e cheio de mistério, mas não para ser vencido ou dominado. Ao contrário do vaqueiro que objetiva vencer o boi, o pescador vive na defensiva, a um só tempo ele deseja e teme o mar, nunca o ataca.

Um tanto desligado da vida em terra, o pescador é um imaginoso. Na solidão das águas seu espírito solta-se em histórias inverossímeis e ocorrências extraordinárias: narrativas de naufrágios e salvamentos mi-raculosos, aparições de seres encantados e animais humanizados, piratas, corsários, aventureiros vários, sereias, toninhas que protegem os náufragos, tubarões assassinos, baratas do mar, botos, peixes voadores etc. Também as furnas, pedras e lagos do litoral estão povoados de mistério. Correm lendas sobre serrotes encantados, aventureiros perdidos, princesas prisio-neiras, pedras que soam, furnas que dão acesso a cidades subterrâneas, tesouros guarnecidos por monstros, pedras que se enchem e se esvaziam com a respiração do mar, ou os mais estranhos acontecimentos que se possa conceber. Em algumas praias, como Jericoacoara, por exemplo, todo um complexo de mitos e lendas, narrado por seus contadores de história, povoa o imaginário dos nativos.

A casa do pescador, que já foi tradicionalmente de palha de coqueiro, hoje é de taipa, à semelhança das habitações da gente pobre da zona rural.

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Casa pequena, com chão de areia solta, dois ou três compartimentos e, quando muito, um alpendre (uma puxada, como dizem) na frente. Quando está no mar, o pescador veste calça e blusa frouxas de algodão tingido com cascas de árvores, como o cajueiro. Usa na cabeça chapéu de palha pintado de branco, em tinta impermeável. Sua esposa ocupa-se dos serviços domésticos e dos artesanatos do labirinto ou da renda, da confecção de tarrafas e redes de pesca ou do crochê.

Quando está em terra, o pescador ocupa o tempo bebericando aguar-dente de cana nos botecos, embalado pelo som de um violão, por canções cheias de nostalgia e histórias de mar. Gosta de folguedos. A dança do Coco de Praia, a Caninha Verde, o Fandango, o Reisado de Caretas, os Pastoris, as Congadas e o Teatro de Bonecos (Cassimiro Coco ou mamulengos) são os mais tradicionais.

Os homens velhos e mesmo os moços impossibilitados (por falta de gosto ou de saúde) para as tarefas do mar, ainda assim, ocupam-se de atividades a ele ligadas. São peixeiros (vendedores de peixe, que saem com pencas deles amarradas nas extremidades de uma vara, apoiada no ombro), ou artesãos vários. Compõem desenhos em garrafas, utilizando as areias coloridas das dunas, fabricam miniaturas de jangadas e outras em-barcações em madeira mole, esculpem fi guras em cascos de tartaruga, etc.

As mulheres dedicam-se ao paciente artesanato do labirinto e da renda, que lhes preenche o dia, enquanto aguardam a volta dos fi lhos e maridos, ocupados na pesca. Sentadas em posição oriental, tendo à frente suas almofadas ou bastidores, as rendeiras e labirinteiras, junto com suas artes, compõem a paisagem tradicional de nossas praias.

No Ceará, a renda e o labirinto espalharam-se (especialmente do século XIX aos meados do século passado) por todo o litoral, introdu-zindo-se numerosas vezes no interior. Ainda hoje, podem ser vistas em comunidades pesqueiras de muitas das nossas praias, mesmo naquelas onde o cotidiano foi tomado pela presença de turistas, como em Jericoacoara, Prainha e Canoa Quebrada. Tal foi a incidência destes artesanatos em nosso Estado, que por muito tempo o Ceará foi conhecido como a terra da mulher rendeira, personagem imortalizada na famosa modinha criada por Lampião. Em alguns lugares, como no município de Cascavel, é também ocupação tradicional de homens e mulheres a fabricação de louça de barro.

Na alimentação tradicional da população praiana, domina o pescado e o caju. Os peixes e crustáceos aparecem na forma de vários pratos, entre

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eles a peixada, o peixe frito passado na farinha, o peixe na água grande, o peixe à delícia, a lagosta ao natural, os casquinhos de siri, a sopa de cabeça de peixe, o peixe cozido com caju azedo, a carangueijada, etc. O caju é aproveitado ao natural, ou como: caju cristalizado, carne de caju, doce de caju em calda e em massa, mocororó, cajuína, suco de caju, castanha assada, tijolinho de castanha, batida de caju etc. Há ainda a fruta do murici, com sua apreciada cambica.

A CULTURA DO CARIRI

O grande Cariri compreende territórios não só do Ceará, como também de Pernambuco e da Paraíba, incluindo regiões de serras (Araripe, Caririaçu e Borborema), sertões e vales. No Ceará, localiza-se no extre-mo sul do Estado, abrangendo 25 municípios e uma área razoavelmente povoada, que tem como centro político e econômico o chamado Vale do Cariri, formado por terrenos especialmente férteis, que reúne os municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, cujas sedes, ligadas por largas avenidas, formam hoje, praticamente, uma mesma unidade urbana. Fazem parte do Cariri cearense, além dos municípios citados, Missão Velha, Jardim, Araripe, Campos Sales, Nova Olinda, Potengi, Santana do Cariri, Abaiara, Aurora, Barro, Brejo Santo, Jati, Mauriti, Milagres, Penaforte, Porteiras, Altaneira, Antonina do Norte, Assaré, Caririaçu, Farias Brito, Granjeiro e Várzea Alegre.

Considerada uma espécie de oásis em meio ao semiárido, a região do Cariri sempre foi vista como um território especial dentro do Nordes-te brasileiro, tanto por sua localização (no centro geográfi co da região), quanto pela excelência de seu solo e de seu clima, entre outros fatores. Em épocas pré-cabralinas foi domínio da nação dos cariris, espécie de reduto sagrado dos indígenas, que combateram tenazmente em defesa de seu território, por mais de 30 anos, o invasor branco. No Brasil Colônia, atraiu exploradores vindos dos mais diferentes centros de irradiação co-lonizadora, localizados na costa e no interior brasileiro, desde São Paulo, passando pela Bahia e Pernambuco e indo até o Maranhão, que nele se estabeleceram com fazendas de gado e engenhos de rapadura.

A estas migrações, somou-se uma outra, iniciada em 1898, a partir do chamado milagre de Juazeiro que, alimentada por motivações religiosas, continua a atrair para a região, populações de peregrinos procedentes de todo o País, especialmente do Nordeste. Cabe assinalar, também, que por

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ocasião das secas periódicas que se abatem sobre o semiárido, o Cariri funciona ordinariamente como refúgio de fl agelados.

Esta capacidade particular de atração sobre a população dos Esta-dos próximos (e até mais distantes), fez do Cariri, não apenas uma região privilegiada, em termos de cultura, dentro do Ceará, mas o transformou numa espécie de caldeirão cultural do Nordeste. Nele se cruzaram e se cruzam correntes migratórias provenientes tanto das zonas canavieiras da Bahia e de Pernambuco, onde a presença do negro é marcante, como dos sertões profundos da Bahia e do Piauí (com seus remanescentes in-dígenas), sem falar na Paraíba, no Rio Grande do Norte e nas Alagoas, Estado que, no século passado, parece ter dado a maior contribuição para o enriquecimento cultural da região. Desta maneira, os vários Nordestes, o do sertão, o da mata, o do agreste, o da praia, o da serra, com suas dife-rentes culturas, estão reunidos no Cariri. Nele se pode encontrar marcas da cultura ibérica medieval, com seus acentuados traços mouriscos, da cultura negra-africana, com suas danças e batucadas, da cultura ameríndia com sua magia anímica, caldeadas com elementos modernos das mais diferentes proveniências.

A partir do Juazeiro do Norte, onde o zelo do Padre Cícero pela arte do povo foi exemplar, esta cultura explode em exuberância. Aquele sacerdote, uma espécie de santo popular para os nordestinos, não apenas organizou a cidade em torno de ofícios, mas transformou o exercício das diferentes artes, em práticas religiosas, missões dadas por ele, em nome de Deus, às quais os artistas deviam se dedicar e deixar como herança para seus fi lhos e netos.

Daí a origem da mística que encerra o trabalho dos artistas e arte-sãos, não apenas do Juazeiro, como de todo o Cariri e até mesmo de outras regiões onde chega a infl uência do santo sertanejo. Mais que um meio de prover a subsistência em sua materialidade, é uma expressão de vida e de fé, uma forma de transcendência e de afi rmação do espírito. Formas estas que se renovam anualmente, em cada grande romaria, quando levas de romeiros trazem seus ex-votos, cantos, danças e outras formas de devoção, para o santuário do Juazeiro do Norte, considerado, hoje, a grande meca dos nordestinos, centro do território sagrado do “Meu Padim Padre Cíço”, como lhe chamam os romeiros.

Toda esta cultura, alicerçada na tradição e no sagrado, nascida em terreiros e ofi cinas caseiras, exibe-se em feiras, como as do Crato e de Potengi, e em festas, como a dos Caretas, em Jardim, ou a de Santo Antô-

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nio, em Barbalha. Às vezes, feiras e festas se confundem, nas milhares de tendas e pequenas barracas armadas ao longo das ruas e caminhos, durante as romarias de Juazeiro ou nas festas de padroeiro. Outras vezes, antigos feirantes se ocupam em mercados, em numerosas casas de comércio, e até em lugares especializados em arte, como o Centro Cultural Mestre Noza e a Editora de Cordel Lira Nordestina, em Juazeiro do Norte, ou a Casa do Homem Cariri, em Nova Olinda. Mas não é raro se ver as ruas e caminhos cortados por grupos de brincantes e devotos, agrupados em reisados, bandas cabaçais, lapinhas e pastoris, ou em irmandades de pe-nitentes e de dançadores de São Gonçalo.

Hoje, o território cultural do Cariri tem como centro a grande ima-gem do Pe. Cícero, erguida no cimo da Serra do Horto, marco do mundo romeiro.

A CULTURA DAS SERRAS

Encravadas no sertão semiárido, as serras não se constituem de todo uma região cultural à parte, no Ceará. Suas vegetações de mata, seus climas temperados, suas divisões em pequenas propriedades, entretanto, junto com outros fatores, fazem decorrer variações culturais, não de todo insignifi cantes. A começar pelo temperamento do homem serrano, bem mais tranqu ilo e pacífi co que o sertanejo. A ele não é exigido, nem a eco-nomia de energia, nem os grandes rasgos de coragem, que caracterizam o homem do sertão.

Talvez o traço que mais diferencie a cultura das serras, seja a maior presença do negro, assim como do trabalho coletivo, decorrente da incidência mais numerosa de engenhos de rapadura e alambiques de aguardente. Isto é notável, principalmente na Serra do Araripe, mas tam-bém na Ibiapaba e nas serras de Aratanha e Baturité. Ao mesmo tempo, observa-se, em algumas delas, a permanência marcante de traços indígenas, notadamente na arquitetura popular, no mobiliário e acervo de utensílios domésticos, na Ibiapaba, mas também na Serra da Meruoca, próximo a Sobral. Chama a atenção, a qualidade da louça de barro da Ibiapaba, onde se destacam as feiras de São Benedito e Ipu, bem como do artesanato de trançado, especialmente o de palha e fi bras vegetais (que chegou a cons-tituir o principal sustentáculo econômico da Serra de São Pedro, onde fi ca a cidade de Caririaçu).

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A culinária é enriquecida com os derivados da cana-de-açúcar, o açúcar mascavo, o mel com farinha, queijo ou batata doce, o puxa-puxa, o alfenin, a batida, a rapadura, a aguardente, o caldo-de-cana, o rolete--de-cana, etc. Como a fruticultura é abundante, multiplicam-se os doces, inclusive de buriti. Entre os folguedos encontram-se vários tipos de reisa-dos, como o Reisado de Bailes (serra do Araripe), o Reisado de Caboclos (na serra da Meruoca), o Reisado de Caretas (na serra de Baturité), etc. E, ainda, a dança do coco de roda (na serra do Araripe), os dramas (na serra de Baturité), a dança de São Gonçalo, etc.

Todo este imenso acervo cultural, herdado de nossos antepassados, é legado dos mais preciosos, cuja guarda e proveito cabe às novas gera-ções. Devemos dele fazer uso, não o dilapidando ou tornando-o estático e fechado a mudanças e infl uências exteriores, pois isto signifi caria seu defi nhamento. Mas renovando-o e enriquecendo-o frente aos desafi os que o presente nos coloca, seja no diálogo com outras culturas, seja com a soma de novas invenções.

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Perda da memória judaica na escrita histórica brasileira

A P C A S *

Resumo

criação do Estatuto da Pureza do Sangue, de Toledo, Espa-nha, em 1449, século XV e, a posterior conversão forçada dos judeus da Península Ibérica (mais precisamente em 1492, em Castela, e em 1497, em Portugal) constituem parte de um processo histórico que desencadeou interesse especial pelas terras recém descobertas na América. De acordo com RAIZMAN (1937), tais terras, distantes daquelas em que aconte-ciam as perseguições aos judeus, apresentaram-se como possibilidade de recomeço de vida, livre dos olhares dos inquisidores apoiados pelo poder dos reis. O presente trabalho, por meio da análise das circunstâncias envolvendo a imigração dos cristãos-novos para o Brasil, explica de que forma o quadro de perseguição e antissemitismo ibérico, infl uenciando na transferência do preconceito e da exclusão do elemento semita para o extrato social do brasileiro camufl ando a presença judaica, quando não, excluindo-a da escrita histórica e, por conseguinte, do currículo escolar da disciplina de História do Brasil. Desta forma, analisamos a relação entre o desconhecimento dessa parte de nossa história e o dano por ele ocasionado no processo de formação da Memória e da Identidade da po-pulação brasileira a partir da ocultação, nos livros de História de ensinos Fundamental e Médio, da temática relativa à presença e infl uência dos judeus na formação do povo brasileiro.

Palavras-chave: Memória. Identidade. Antissemitismo.

* Professora do Colégio Militar de Fortaleza

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Introdução

Suponho que o que fi z em todos esses anos foi acumular aprendizados. Mas, naquela época, pareceu-me que eu estava tentando descobrir o que fazer em seguida e adiar um balanço: analisar a situação, avaliar as possibilidades, escapar às consequências, repensar tudo. Não se chega a muitas conclusões dessa maneira, ou, pelo menos, a nenhuma duradou-ra, de forma a resumir tudo perante Deus e o mundo é de certo modo uma farsa. Um bocado de gente não sabe exatamente para onde vai, suponho; mas eu sei com certeza onde estive.(GEERTZ, 2001, p. 15)

Geertz (2001), falando sobre “Paisagem e acidente: Uma vida de aprendizagem”, relata o quanto é complicado, no fi nal de uma vida improvisada, chamar essa vida de sábia. Todavia, ao dizer que, ao longo dos anos, o que fez foi acumular aprendizado, o autor afi rma que pelo menos uma coisa aprendeu ao ir juntando os retalhos de sua carreira acadêmica: “tudo depende do momento”. Concordamos com Geertz no tocante ao tempo e oportunidade, entendemos ser o momento oportuno para promover uma refl exão das interfaces estabelecidas entre memória e identidade partindo da premissa do desconhecimento de parcela con-siderável da população brasileira a respeito da vinda dos cristãos novos para o Brasil, associada ao quadro de perseguição religiosa na Península Ibérica. A assertiva ora apresentada é pautada na prática como docente do Ensino Médio do SCMB – Sistema Colégio Militar do Brasil, onde nos foi possível observar o distanciamento da abordagem acadêmica sobre o assunto em relação aos registros nos livros de história produzidos para o público de Educação Básica. Acreditamos ser o momento oportuno em face das muitas lacunas nos livros didáticos no que concerne à presença dos cristãos novos no Brasil Colônia. Identifi camos muitos trabalhos acadêmicos cuja tônica repousa sobre a temática Inquisição no Brasil, todavia percebemos uma dicotomia na forma como os cristãos novos são representados na escrita da história; nos artigos acadêmicos a exemplo da Conspiração do Silêncio de Anita Novinsky (neste o bandeirante Antônio Raposo Tavares é apresentado como um homem com história de família destruída pela perseguição religiosa) e nos manuais produzidos para o Ensino Fundamental e Médio (ora apresentado como bandeirante respon-sável pela expansão territorial do Brasil, ora como o bandeirante violento

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que destruía as aldeias, aprisionava os índios. Acreditamos ser necessário facilitar o acesso do referido conhecimento ao público da Educação Bá-sica a fi m de que o mesmo reúna as condições essenciais para responder questões elementares pertinentes a sua própria história.

Como dito anteriormente, e, apesar do crescente interesse pela temática Inquisição no Brasil, assim como a presença dos cristãos no-vos no Brasil Colônia, observamos a ausência de informação nos livros didáticos acerca da contribuição daquele segmento populacional para o desenvolvimento do Brasil e de seu papel na construção da identidade do povo brasileiro, sequer encontramos menção sobre quem eram os cristãos novos e porque estavam vindo para o Brasil. Embora não encontremos nos livros didáticos as informações necessárias para identifi carmos a presença dos cristãos novos nos primórdios da colonização brasileira, percebemos seus hábitos e costumes espalhados pelas terras do Brasil, os quais perma-necem destacando as marcas de uma cultura semita entranhada nas raízes da população brasileira, visíveis para quem as conhece, porém ocultas para o segmento social que dela se apropriou e reproduziu em mais de cinco séculos de existência; na verdade não podemos afi rmar que tal grupo de suas origens se esqueceu se lhe foi cerceado o direito de conhecê-la.

LE GOFF (2013, p.21) considera que a história não é uma ciência como as outras, considera também que falar de história não é fácil, além disso, as difi culdades de linguagem introduzem-nos ao próprio âmago das ambiguidades da história. Ambiguidades se não bem compreendidas, às vezes, geram perturbações da memória, é evidente que as perturbações da memória advindas de uma amnésia coletiva em relação a presença dos cristãos novos no Brasil já é coisa do passado no meio acadêmico, necessário é que fato semelhante ocorra no ensino básico.

Se herdamos costumes e práticas de origem judaica, e as mesmas evidenciam-se a cada momento em pesquisas científi cas, em reportagens, e, se a antroponímia é uma realidade no Brasil, adiar uma análise da si-tuação certamente não nos será de grande utilidade no conhecimento de nossas origens. Entendemos como relevante saber de onde viemos, quem realmente somos, para então termos condição de decidir para onde ir.

As abordagens feitas em sala de aula – 1º Ano do Ensino Médio do CMF- frequentemente em torno da Memória e Identidade despertou um novo olhar dos alunos culminando em questionamentos como: quem eram os portugueses que vieram para o Brasil nos séculos XV e XVI? Quais os

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reais interesses dessas pessoas ao virem para o Brasil? O que realmente estava no imaginário do europeu que abandonou sua terra, sua zona de comodidade, para explorar uma terra distante e desconhecida? Somente as demandas econômicas seriam sufi cientes para justifi car o deslocamento para o Brasil? Esses questionamentos, dentre tantos outros, são complexos para serem respondidos somente com o auxílio do livro didático, ainda que sejam de grande valor para elucidar as demandas ora elencadas.

Assim, buscando valorizar a contextualização, a intertextualidade, a interdisciplinaridade e os conhecimentos prévios e de mundo dos alunos, desafi o de grande monta, seguindo a concepção da História Integrada, o trabalho desenvolvido pela disciplina de História no 1º Ano do Ensino Médio do CMF, nos anos de 2015 e 2016, proporcionou ao corpo discen-te uma compreensão mais plena dos fatos históricos abordados em sala, desta maneira como na montagem de um grande quebra cabeça, as peças começaram a se encaixar, os fatos históricos conectados em um emara-nhado de interesses começaram a ser desnudados. A História do Brasil Colônia ganhou signifi cado diferenciado, mais conectado com a História europeia, os traços ambíguos, antes pouco perceptíveis da mentalidade luso-brasileira nos três primeiros séculos da colonização além de se tor-narem visíveis, tornaram-se inteligíveis.

Da mesma forma, a preocupação do SCMB em elaborar um currí-culo mais consistente acenou a possibilidade de trabalho com temas como Memória, Patrimônio e Preservação, aproximando realidade e conteúdo, ressignifi cando velhos conhecidos personagens de uma história calcada em uma narrativa polarizada entre heróis e vilões, selvagens e civiliza-dos, a exemplos de Gaspar da Gama e de Fernão de Noronha e Antônio Raposo Tavares.

Tomemos como mote a interação entre passado e presente em Le Goff (2013, p 28) pensemos o passado como uma construção e uma rein-terpretação constante a fi m de identifi carmos a função social do passado na história. Nesse sentido, a construção da escrita historiográfi ca brasileira é melhor compreendida na medida em que o conhecimento do mesmo e suas múltiplas reinterpretações buscam harmonizar passado, presente e futuro. Evidentemente que existem rupturas e descontinuidades na escrita histórica as quais precisam ser consideradas, todavia, existem conectores de grande relevância necessitando de visualização e valoração, caso claro dos costumes judaicos no Brasil.

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Considerando, portanto, a interação entre passado e presente, ou seja, a função social do passado na história, verifi camos que os arquivos do passado continuam incessantemente a enriquecer-se na medida em que novas leituras de documentos são realizadas a exemplo dos processos inquisitoriais da Torre do Tombo em Portugal, à relação passado-presente, acrescenta-se o horizonte futuro.

Desse modo, não seriam exatamente essas novas leituras de do-cumentos referentes à Inquisição, entre tantos outros espalhados pelo Brasil uma legítima fonte do historiador contemporâneo. Acreditamos ser necessário que a informação histórica, fornecida pelo historiador de ofício, inúmeras vezes vulgarizada pela escola, venha a corrigir esta his-tória tradicional falseada. Desta forma, a história cumprirá seu papel de esclarecer a memória e retifi cará os erros cometidos. Sabemos que passado e presente são diferenciados e muitas vezes se opõem, mas reconhecemos ser indispensável a atenção ao discurso da Igreja e Estado em relação aos judeus e cristãos novos tanto na Península Ibérica quanto no Brasil, os processos inquisitoriais e testemunhos daquele período fornecem uma di-mensão do passado cujos domínios científi cos necessitam ser expandidos.

Desenvolvimento

O reordenamento da disciplina de História, proposto SCMB, em 2011, possibilitou uma maior integração entre os conteúdos, pois a proposta de um currículo escolar intenso favoreceu, sobretudo a partir do ano de 2015, o trabalho em sala de aula com maior aproximação de temáticas comumente pesquisadas nas universidades relacionadas ao povo português que veio para o Brasil entre os séculos XV e XVIII. Assim, o estudo da História por meio de datas, fatos e nomes, já em desuso no SCMB, passou a ser substituído por um estudo voltado para a História Social e Cultural.

O cotidiano tornou-se mais presente nas aulas, o etnocentrismo cedeu espaço para o regional. A valorização da História local propiciou abordagens de temas pouco valorizados nos livros didáticos, especialmente no que tange à História do Brasil. Nesse contexto de conquistas, a leitura do artigo sobre jesuítas e bandeirantes (NOVINSKY,1992) favoreceu a abertura de novas frentes de pesquisa referentes à História do Brasil, associando o presente, costumes judaicos no nordeste brasileiro, ao pas-sado, Inquisição, perseguição, intolerância religiosa e a contribuição do

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elemento semita na formação econômica e social do Brasil. Isso porque, entendemos que:

A memória, por conservar certas informações, contribui para que o passado não seja totalmente esquecido, pois ele acaba por capacitar o homem a atualizar impressões ou informações passadas, fazendo com que a história se eternize na consciência humana. O passado só permanece “vivo” através de trabalhos de síntese da memória, que nos dão a oportunidade de revivê-lo a partir do momento em que o indivíduo passa a compartilhar suas experiências, tornando com isso a memória “viva”. (LE GOFF, 1982, p. 15. Grifos do autor.)

Assim, compreendendo as relações entre o conteúdo de História do Brasil no período colonial e os costumes presentes na memória brasilei-ra, tidos como “naturais”, “de família”, a partir do cotidiano familiar do brasileiro, pretendemos promover um debate entre o pensar, o escrever e o fazer do historiador. Nossa proposta se justifi ca pelos questionamentos surgidos durante as aulas de História, nas turmas do 1º Ano do Ensino Médio, no ano de 2015, conforme já nos reportamos.

No que diz respeito à ideia de patrimônio, entendemos que ele não se limita apenas ao sentido de herança ou de mero valor afetivo. Refere--se também aos bens produzidos por nossos antepassados que resultam em experiências e memórias individuais, das quais é formada a memória coletiva. Nesse sentido, há que se pensar a herança cultural como fonte de informações signifi cativas, no que diz respeito à história de um país, ao passado de uma sociedade e, dessa maneira, ao elemento formador da identidade de grupos ou categorias sociais.

A partir do conceito de memória coletiva constituída das memórias individuais CASCUDO (1967, p. 13) nos alerta para o fato de precisarmos nos habituar a considerar os fatos triviais de nossa vida popular como fontes históricas, enfatiza que em força testemunhável eles em nada fi cam atrás dos velhos documentos e crônicas, o autor se utiliza entre outros argumentos de dois livros: DENUNCIAÇÕES DE PERNAMBUCO (S.Paulo, 1929), e o LIVRO DAS DENUNCIAÇÕES referentes a 1618-1619 (Rio de Janeiro, 1936). Os dois, conforme Cascudo, registram “os usos e costumes judaicos na quotidianidade brasileira, os essenciais e característicos. ” (Grifo nosso). Consideremos a atuação do Santo Ofício em terras brasileiras como a mais longa da história, visto que, em nenhum

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outro lugar a inquisição prolongou-se por tanto tempo quanto em território brasileiro, então é de se pensar que aqueles “fatos triviais da vida popular” enfatizados por Cascudo, mantiveram-se resistentes ao tempo como fontes históricas espalhadas pelo Brasil.

Não nos interessa nesse momento mapear os costumes de origem judaica disseminados entre a população brasileira, mas alertar para o valor dos referidos hábitos e costumes enquanto fragmentos de memória.

Em 18 de novembro de 1536, D. Diogo da Silva, em Évora, Portu-gal,criou o código orientador das denúncias e confi ssões, incluindo índice da falsa fé. O Monitório mandava denunciar ou confessar (Cascudo,1967, p. 125) os objetos suspeitos ao exercício da fé legítima, elencando uma relação de costumes denunciantes da origem judaica de seu praticante. Entre eles estavam: guardar os sábados em modo e forma judaica, não fazendo trabalho algum, fazendo uso de vestidos e joias de festa, fazendo limpeza de suas casas às sextas-feiras, entre outros; degolar a carne e as aves à forma e ao modo judaicos, atravessando-lhes a garganta, provando o cutelo na unha do dedo da mão e cobrindo o sangue com terra, além de se solenizam ou solenizaram a páscoa do pão ázimo. Tudo isso sem falar nas restrições alimentares.

Os elementos identifi cadores de judaizantes enumerados no Mo-nitório ainda podem ser encontrados no dia a dia de famílias brasileiras, principalmente naquelas que residem em cidades interioranas. Não signi-fi ca dizer que toda família identifi cada com “costumes de judeus” tenha raízes judaicas, mas apresentam costumes e tradições aprendidos com o pai, que aprendeu com o avô, ou mãe que aprendeu com avó, e assim por diante. Esses elementos, portanto, constituem-se reveladores do vínculo com aquele grupo. Quando faltam palavras, os costumes falam, na fala de Cascudo, fatos triviais do cotidiano.

Nesse sentido, a preservação do patrimônio é essencial para o de-senvolvimento de uma nação, tendo em vista ser ele, espelho da formação sociocultural e afi rmação da identidade cultural de um grupo, de um povo. Mas como valorizar ou preservar aquilo que não conhecemos ou sequer reconhecemos como nosso? A situação agrava-se quando, em nome da aparente naturalidade do cotidiano, negligenciamos a percepção do dife-rente e massifi camos elementos culturais de diversas etnias no ideal de construção da identidade de um povo. No nosso caso, do povo brasileiro. Na aparência, o povo brasileiro, católico praticante; na essência, isto é, na intimidade, judeu.

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Assim, diante da diversidade étnica e cultural e dos resquícios de judaísmo, nas terras mais distantes do sertão nordestino brasileiro, com o trabalho árduo do historiador poderemos desmistifi car as falsifi cações dos discursos nada inocentes a respeito do saber histórico no tocante à origem do branco-português que colonizou o Brasil. Examinemos o caso a seguir, cujas abordagens foram revisadas a partir de novas leituras.

Ao tratarmos dos múltiplos processos históricos em torno da Inqui-sição na Península Ibérica, Expansão Marítima e Comercial, ocupação e colonização do Brasil ao longo dos séculos XV e XVI nas aulas do 1º Ano do Ensino Médio- CMF, como dito em momento anterior, a permanência de conectores interligando tais processos históricos imbricados entre a política e a religião, na Península Ibérica atraíram a atenção dos discen-tes ao ponto de os mesmos relacionarem OS SÁBIOS DE PORTUGAL COM OS DESCOBRIMENTOS E A PERSEGUIÇÃO DA IGREJA. Nesse momento, pergunta-se: quem eram os detentores do conhecimento que possibilitou as grandes expedições marítimas e comerciais da época? Quantos são os livros didáticos que trazem informações sobre Abraão Cresques, agraciado com o título de “Mestre de mapas e compassos”, Isaac Naffucci, especialista na execução de relógios e quadrantes, Abraão Zacuto, médico, astrônomo, matemático, também conhecido como “o astrônomo do rei João”, tantas são as reminiscências das relações entre os sábios e reis da Península Ibérica que forneceriam material para vá-rios livros, entretanto, nosso interesse em citá-los tem por objetivo único demonstrar que a importância dos judeus (e árabes) no desenvolvimento cultural e econômico daquela região da Europa não foi empecilho para as práticas antissemitas no momento da aliança entre Estado e religião, esta última personifi cada pela Igreja Católica.

As práticas dos soberanos portugueses e espanhóis em consonân-cia com a Igreja, sejam elas por razões econômicas ou ideológicas, cada vez mais se impõem às investigações realizadas, e, a cada nova pesquisa perpetrada, a dos mecanismos mediante os quais os grupos de interesse têm focado suas atenções, deparamo-nos com estreitas relações entre cristãos-novos, inquisição e colonização do Brasil.

Tomando essa questão inicial como ponto de refl exão, constatamos a necessidade de se fazerem considerações críticas acerca da escrita his-toriográfi ca brasileira, no que diz respeito à postura dos livros didáticos com relação aos refl exos do antissemitismo ibérico na formação do povo

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brasileiro. Especialmente, no que tange a ausência do papel desempenhado pelos cristãos-novos nos aspectos econômico, social e cultural do Brasil Colônia do currículo escolar.

Decorrente de tal obscurantismo acerca da questão apresentada, impõe-se um desconhecimento por parte da grande maioria dos brasileiros, quanto à presença de judeus tanto na região açucareira quanto na área de mineração, o registro nos livros didáticos é alusivo ao branco, ao europeu ou ao português. Quem realmente era esse português? Qual a bagagem cultural por ele transportada para a “terra de papagaios”? Surpreendentes constatações fazemos quando evocarmos à memória o passado desse grupo no tocante às tensões e a carga de preconceito envolvendo-os na Península Ibérica, sobretudo nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII, inclusive na ação da Inquisição em território brasileiro.

Fato é que, se na Península Ibérica, a conversão forçada e as chamas da fogueira, queimando carne humana, eram instrumentos utilizados com o fi m de apagar a memória judaica, no Brasil, decisões como as do Primeiro Sínodo Diocesano de Fortaleza (1888) refl etem as relações de confl ito e exclusão consolidadas pela aliança entre Estado e Igreja, extensão das ações praticadas pelos colonizadores. Os fragmentos extraídos do Sínodo Diocesano Fortalezense, celebrado na Igreja Catedral de Fortaleza, à época sob o bispado de Dom Joaquim José Vieira, são provas incontestes da contínua discriminação e exclusão daqueles que professassem fé diferente, notadamente os judeus.

É proibido pelos Sagrados Canones dar sepultura em lugar sagrado aos judeus, pagãos e a toda classe de infi éis, aos católicos apostatas ou excomungados – V..., e o durante-; aos que se suicidaram por ira, desespero ou outra causa semelhante - ..... Enfi m, a todos aqueles a quem por direito canônico deve-se negar sepultura eclesiástica. (VIEIRA. 1888, p. 197)Estatuimos que os Cemitérios, que d’hoje em diante se originem, se reserve uma parte, á qual se não estenderá a benção da Igreja, e onde se dará sepultura aos parvulos que fallecerem sem Baptismo e a todos aquele a quem se nega sepultura ecclesiastica.Não se exige absolutamente, que aquella parte seja separada por muro ou cerca: basta que – aliquo modo discerni possit. (IBIDEM, p. 197)

As determinações registradas no livro do Primeiro Sínodo de For-taleza são enfáticas quanto a proibição de sepultar judeu em cemitério

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administrado pela Igreja Católica, embora posteriormente tenham sido criadas áreas segregacionais. Egon e Frida Wollf (1983) nos alertam para o fato de os cemitérios, espaços aparentemente democráticos, represen-tarem fontes inestimáveis no tocante à pesquisa sobre a presença judaica no Brasil. O cemitério São João Batista, em Fortaleza, inaugurado em 5 de abril de 1866, possuía a parte fi nal destinada ao sepultamento das ca-madas mais pobres e de indivíduos tidos como anátemas, notemos que a inauguração do cemitério data de 1866, ou seja, anterior ao Sínodo (1888), a parte frontal estava reservada para as famílias ricas da cidade. Nesse sentido, o sínodo de 1888 institucionalizou uma prática discriminatória já corrente na cidade.

Assim, as fontes documentais que compõem o cenário, seja ele urbano materializado no Cemitério ou rural apresentado nas análises do padre Lira (1988), demonstram que a memória é prova inconteste da discriminação e do preconceito nos primeiros séculos de nossa história, o que constatamos ao olharmos os cemitérios, principalmente os mais antigos. Desta maneira, esse espaço da cidade apresenta-se como lugar de segregação. Por conseguinte, é ambiente de cultura e aprendizado.

Analisando as imagens esculpidas nas lápides e a demarcação de território dos católicos e não católicos, reconhecemos que essas ocorrências tão comuns à época, merecem atenção na compreensão do Cemitério São João Batista, em Fortaleza, como um livro de história a céu aberto, cuja leitura de suas “páginas” pode ser de grande proveito se observarmos as inscrições nas lápides, em alguns casos, revelam a origem do sepultado, em outros, tal origem foi camufl ada. Tal constatação foi observada, a partir de 2004, quando o Papa João Paulo II reconheceu publicamente as atrocidades cometidas pelo tribunal do Santo Ofício aos judeus, naquele momento o sumo pontífi ce fez um pedido de perdão àquele grupo social, coincidentemente, alguns túmulos da área frontal que eram tidos como jazigos de católicos, passaram a ter suas lápides substituídas por novas lápides com inscrições em hebraico ou símbolos da cultura judaica.

As raízes dessa questão, mormente no que se refere aos cristãos-no-vos, adquiriu força nos últimos anos em função dos trabalhos realizados nos arquivos inquisitoriais resultando em detalhado material como o li-vro Gabinete de Investigação da pesquisadora Anita Waingort Novinsky (2007)), cujas páginas revelaram aspectos desconhecidos sobre a história dos judeus sefaraditas no Brasil, uma história que está à disposição para ser (re) conhecida pelos brasileiros, por meio dos livros didáticos.

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Os fatos outrora ocultados, cujo desconhecimento explicava-se pela impossibilidade de acesso às fontes de pesquisa dos arquivos inquisitoriais, constituem obstáculo superado a partir da segunda metade do século XX, após a abertura dos arquivos da Torre do Tombo em Portugal. Após libe-rado o acesso à fonte documental preservada na Torre do Tombo, novos aspectos e interpretações acerca da historiografi a brasileira vinculada a história judaica na Península Ibérica adquiriram visibilidade.

Segundo Novisky, “Portugal abriu os depósitos do Santo Ofício para o grande público e revelou uma história colonial jamais escrita”. (NOVISKY,1992.). Paralelamente, portais abriram-se permitindo novas análises documentais, assim como novas e intrigantes interpretações sobre a ocupação e a colonização do Brasil no período colonial, oportunizando a reinterpretação histórica de temáticas sedimentadas na escrita da história brasileira. Trata-se da análise do passado na intenção de esclarecer alguns aspectos facilitadores da compreensão do presente de famílias anussins.

Le Goff, ao tratar da relação passado-presente, no discurso histórico, ressalta que o “[...] futuro, tal como o passado, atrai os homens de hoje, que procuram suas raízes e sua identidade e, mais que nunca, fascina-os. ” (LE GOFF, 1982, p 223). Nesse sentido, o passado é sempre atual, porque nele se encontra o fi o que nos conduz às razões do nosso hoje. Assim, a origem semita, o papel desempenhado por parte do europeu que veio para Brasil no período colonial, o contexto em que se deu saída deles de Portugal, associada à possível ascendência judaica de parte da população brasileira, originam questões impossibilitadas de solucionar somente com a leitura do livro didático. Desta forma, podemos inferir que as abordagens a respeito do assunto desenvolvidas no âmbito escolar precisam aproximar a realidade de mundo e o conteúdo curricular.

Seguindo a trilha da história, nas análises do já citado artigo “A Conspiração do silêncio, uma história desconhecida sobre os bandeirantes judeus no Brasil”, encontramos a tentativa de ressignifi car a fi gura de An-tônio Raposo Tavares, personagem a quem a história ofi cial transformou de assassino violento a herói nacional, apresentado pela historiografi a clássica na vertente do bandeirismo enquanto movimento de fúria de-vastadora cujos agentes movidos por interesses econômicos atacaram violentamente as Reduções Jesuíticas. (NOVINSKY.2016, p.154). De acordo com a pesquisadora, “Que interesses econômicos tenham feito parte dos planos dos bandeirantes é bem compreensível, mas os docu-

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mentos mostram que existia uma razão ideológica muito forte que infl uiu nessa guerra sangrenta” (IBIDEM).A simples perspectiva de investigar as razões da violenta ação dos bandeirantes já se apresenta como ponto de interesse diferenciado para o estudante do Ensino Médio, constituindo-se como momento de rever conceitos estabelecidos, não se trata de buscar razões para inocentar ou condenar Raposo Tavares em suas ações, mas sim entender a ação violenta daquele bandeirante de forma contextualizada.

Jaime Cortesão foi o primeiro autor que relacionou o fenômeno das Bandeiras com o Santo Ofício da Inquisição e apresenta o bandeirante – que nas palavras do Barão do Rio Branco foi o iniciador e o principal idealizador da política geográfi ca da expansão do Brasil para o sudeste – como um lutador contra a opressão e a teocracia dos jesuítas, defendendo a liberdade de cada homem de resistir a uma religião imposta pela força. (CORTESÃO, 1958). A imagem que os estudantes terão dos bandeiran-tes e do movimento das Bandeiras ao concluir o Ensino Médio pode ser bastante ambígua; um assassino cruel ou um guerreiro lutando contra a opressão e a teocracia jesuítica em favor da liberdade.

Situações como as descritas acima apresentam desafi os teóricos, políticos e epistemológicos na narrativa das Bandeiras e bandeirantes. Por um lado, aparece a imagem de um assassino cruel, vilão ou nas palavras de Júlio Mesquita Filho, “[...] Antônio Raposo Tavares foi herói de uma das mais famosas façanhas de que guarda memória a história da humanidade”.

Os arquivos da Torre do Tombo revelam que Raposo Tavares co-nhecia pessoalmente todas as cerimônias judaicas, haja vista que Maria da Costa, sua madrasta, presa pela Inquisição juntamente com parte da família, na confi ssão perante o Inquisidor, refere-se a todas as tradições que seguia em sua casa. Ela era cristã-nova, cripto-judia e fervorosa pra-ticante da religião judaica. Sua família foi reduzida à miséria depois de passar seis anos nos cárceres do Santo Ofício. De que forma toda a situação familiar interferiu nas ações do bandeirante jamais saberemos, pois, a sua vida é em grande parte uma lacuna. Todavia, a questão que desejamos trazer para o campo da refl exão é o quanto o pouco conhecimento ou desconhecimento dessas informações prejudicou a escrita historiográfi ca brasileira. Se houve intencionalidade ou não em ocultar tais dados, nesse momento não nos interessa, mas a necessidade de inclusão de tais aspectos históricos nos manuais utilizados no âmbito da Escola Básica acreditamos ser uma causa justa.

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À medida que se reconhece o duplo e contraditório viés (herói/ vilão) relatado a respeito do bandeirante, necessário se faz também reconhecer o valor da pesquisa histórica nos arquivos inquisitoriais, não intencionando submeter jesuítas, bandeirantes ou quaisquer outras personagens ao tri-bunal da História. Entretanto, seguir a trilha munido dos equipamentos disponíveis, desvendar a gênese da História do Brasil na perspectiva de uma história integrada é essencial, pois a conexão entre a Europa civilizada e a América ‘selvagem’ carece de maior compreensão.

Em meio ao processo de refl exão histórica, consideramos a memória como valioso recurso para se pensar o passado, sua relação com a época presente e o entrelaçamento de tempos, fragmentos históricos de lugares e objetos, potencializando elementos importantes na construção do conheci-mento, ao mesmo tempo, fornecendo, peças essenciais para a construção de pontes facilitadoras da compreensão entre o antissemitismo na Península Ibérica e a colonização do Brasil, bem como costumes judaicos no Brasil contemporâneo com perseguição religiosa na Península Ibérica e a vinda de portugueses “católicos” para o Brasil no período colonial.

Nesse sentido, é possível, observar que o lugar da memória nos últimos anos, vem se elastecendo consideravelmente, abrangendo não somente uma espacialidade em si, mas tudo aquilo que se relaciona com este espaço, sejam signos, monumentos, objetos ou imagens. Tais frag-mentos, no entanto, enquanto materiais da memória, só ascendem a uma legitimidade e utilidade para a ciência histórica, a partir de uma construção que é feita pelo historiador.

Cascudo nos adverte: “O povo ainda vê o judeu pelos olhos quinhentistas. Vê uma fi gura abstrata, individualizada mentalmente, somando os atributos negativos imputados pela antiguidade acusadora”. (CASCUDO,1967, p.121); à medida que as pesquisas histórias avançam comprovando a permanência de costumes judaicos no Brasil, surgem novas interrogações em torno da verdadeira origem dos portugueses que vieram para o Brasil no período colonial, assim como, sobre as razões que os levava a adentrar no interior do território brasileiro, seriam somente de cunho econômico? Vale ressaltar que o século XVI fora hostil e cruel na sistemática regressiva ao prestígio judaico na Península Ibérica, o Tribunal do Santo Ofício instalou-se realmente em 1547, como desejava D. João III.

Para alguns historiadores, o Brasil nunca teve um tribunal da in-quisição instalado ofi cialmente. Embora o inquisidor Heitor Furtado de

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Mendonça tenha ouvido e feito o registro de denúncias na Bahia (1593-1595) e, em 1619, o bispo D. Marcos Teixeira tenha enviado para Lisboa, após nova visita da Inquisição ao Brasil, cerca de 90 pessoas acusadas de judaísmo.

Fato detectado é que os efeitos da ação da parceria entre Estado e Igreja que nortearam a colonização do Brasil permanecem vistas, embora mudas e muitas vezes invisíveis, à espera de serem lidas.

Raizman esclarece, ao escrever “História dos israelitas no Brasil”, que a fi nalidade de sua obra era arredar as sombras que obscurecem certos pontos da História do Brasil que, quando omitidas, são focalizados sob luzes equivocadas. O autor se refere ao que chama de “[...] intencionados disfarces lançados sobre o nome dos judeus célebres que são apresentados como portugueses sem que haja a mais leve menção das suas verdadeiras origens. ” (RAIZMAN, 1937, p. 2).

Assim, o autor, ao tratar do descobrimento do Brasil, destaca o papel de importantes cristãos novos, tais como: Mestre José Vizinho, Abuhab da Fonseca e Gaspar da Gama. Este último, judeu vindo de Gôa, experiente navegador, conselheiro de Vasco da Gama que “[...] prestou uma das mais efi cientes colaborações para que Cabral aportasse na nova terra. ” (Ibidem, p.9). Ainda, segundo o autor:

Gaspar da Gama, dotado de um espírito arguto e de grande iniciativa, ao pisar as bravias e belas plagas do Brasil, logo compreendeu a extra-ordinária importância desse novo descobrimento para os seus irmãos oprimidos e sem direitos, os judeus de Portugal, pelos benefícios e melhorias que ali poderiam encontrar. (Ibidem, p.9).

O relato de Raizman (1937) enfatiza a contribuição do experiente navegador e conselheiro de Vasco da Gama, Gaspar da Gama, a mesma pessoa que o referido autor afi rma ter sido envolvido em certa ocasião em uma denúncia levada às autoridades: Francisco Martins Pinheiro, fi -lho do juiz de igual nome, deveria chegar do estrangeiro trazendo grande quantidade de Bíblias Hebraicas. Um sério inquérito foi instaurado, mas demasiado tarde, pois numerosas Bíblias haviam sido vendidas aos judeus. Embora nada tenha sido apurado contra Gaspar da Gama (ou Almeida) foi verifi cado que sua esposa, em outra ocasião, também espalhara inúmeras bíblias para serem lidas nas sinagogas e consultadas pelos rabinos. O autor é categórico ao afi rmar:

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É inegável que Gaspar da Gama estava informado desse comercio e nelle consentia; sua própria esposa, fi lha de christãos-novos, lia a Biblia, conhecia correctamente o hebraico e esforçava-se ativamente pela difusão do judaísmo. (Ibidem, p.16).

Donde se conclui que o mesmo Gaspar da Gama, experiente na-vegador, profundo conhecedor dos caminhos dos mares, companheiro e conselheiro de Vasco da Gama, presente na armada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil em 1500, era casado com uma cristã nova, quiçá também o fosse. Teria o espírito arguto de Gaspar da Gama realmente visualizado no Brasil a possibilidade de um recomeço para os judeus perseguidos em Portugal?

Na tela que ora pintamos, não poderíamos deixar de trazer a imagem de Fernão de Noronha, o qual, chefi ando um consórcio de judeus – cristãos novos – e aproveitando-se do interesse da Coroa portuguesa no rico co-mércio de especiarias, deu início (1502) a negociações junto à Metrópole com a intenção de conseguir o arrendamento da terra recém-descoberta. Vale ressaltar que, por dez anos, o Brasil permaneceu arrendado a Fernão de Noronha, a quem D. Manoel permitiu a realização da sugestão dada por Gaspar da Gama, quando este arrendou a colônia àquele. O acordo fi rmado em 1503, inicialmente por três anos, foi, com algumas alterações, renovado em 1506, 1509, 1511 extensível até 1515.

Em maio de 1503, Fernão de Noronha partiu de Portugal com destino ao Brasil. A chegada do rico comerciante em solo brasileiro, acompanhado de uma frota de seis navios, data de 24 de junho de 1504, no mesmo ano em que seus navios retornaram a Portugal com um grande carregamento de pau-brasil, à época mais conhecido como “madeira judaica”.

Ao tratar do assunto, NOVINSKY, A et al.2015, no capítulo inti-tulado Judeus pioneiros na agricultura, lemos: “A descoberta do Novo Mundo abriu novos horizontes e esperanças para os judeus convertidos, que enfrentaram numerosas difi culdades até se estabelecerem defi nitiva-mente em terras em que eram aceitos. ”

As muitas lacunas em livros didáticos, em relação à origem dos primeiros portugueses a ocupar as terras brasileiras e, efetivamente, iniciarem a colonização do Brasil, implicam em verdadeiros buracos ne-gros na gênese da população brasileira. Desse modo, entendemos que o espaço mais adequado para se trabalhar um tema de tamanha relevância é a sala de aula da Educação Básica e, particularmente, do Ensino médio.

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O conhecimento acerca das pesquisas realizadas em âmbito acadêmico merece chegar aos jovens brasileiros, eles precisam conhecer suas ori-gens, assegurando-lhes o direito de avaliar melhor sua própria história, permitindo-lhes o reconhecimento de práticas cotidianas cujas origens perderam-se no tempo, pontos de memória ofuscados pela escrita histórica.

Distribuídos por todo o Brasil, os cristãos-novos, cuja maioria era de cripto-judaizante, em suas migrações forçadas pelas circunstâncias e com o claro intento de escapar da perseguição que reinava na Península Ibérica, encontraram nas terras brasileiras um refúgio, um local onde pudessem recomeçar suas vidas livres dos tentáculos da Inquisição.

O temor de serem descobertos pelos inquisidores os impulsionou a construírem uma vida recatada, com ritos judaicos praticados em se-gredo. Lira (1988, p. 5) comenta que foi tão desumana a perseguição aos judeus que muitíssimos deles chegaram, em nossa região, a ensinar seus fi lhos a nunca se referirem a seus antepassados. Esses judeus podem ter calado suas vozes, porém os hábitos e costumes transmitidos ainda fa-lam até hoje, revelando uma parte da identidade da população brasileira. WIZNITZER (IBIDEM), logo no Prefácio anuncia: “A historiografi a negligenciou completamente a história romântica e fascinante dos judeus que, no Brasil-Colônia, professavam livre ou secretamente sua religião”. (WIZNITZER, 1966).

Bezerra Neto (2016, p.23), tratando da evolução da tolerância para a discriminação racial e religiosa, enfatiza o rompimento da convivência pacífi ca entre os diferentes grupos de mouros e judeus da Península Ibé-rica por meio da criação do Estatuto de Pureza de Sangue em 1449, em Toledo, Castela.

O Estatuto determinava que os cristãos deveriam ser de “sangue limpo”. Era entendido em termos de o sangue não ter sido inoculado com o sangue das nações infectas. Estas incluíam mouros, judeus e negros. Adiante foram incluídos os ciganos. Após os descobrimentos, os indígenas. (REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ, 2016, p. 23. Grifos do autor).

Não teria essa discriminação iniciada na Espanha, posteriormente estendida a Portugal sido transferida para o Brasil colonial? De que maneira tal ideia se perpetuaria na escrita histórica? Queiroz (2013) ao tratar do discurso ideológico presente na formação do Estado brasileiro no início

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do século XX, ressalta que, o mito fundador brasileiro, em que se sustenta a fusão das três raças (índio, negro e branco), surge, com a fi nalidade de negar a diversidade cultural aqui existente, diversidade presente na gênese de cada uma dessas “raças”, desta forma dar-se-ia a consolidação da ideia de uma só Nação – a brasileira. “Com a formação do Estado brasileiro no início do século XIX, a ideia de organização social ocidental que se apresentava à época refl etia claramente a adoção da fórmula: um Estado, uma Nação. Nesse sentido, a “cúpula” detentora do poder político-eco-nômico entendia ser necessária a identifi cação dos habitantes do Brasil a uma única Nação, um único Povo. “

Assim, observamos que a imposição violenta das normas criadas pelo poder político-religioso assegurou a negação das tradições, reli-giões, organizações sociais e territoriais e dos próprios sistemas jurídicos das etnias formadoras do “povo brasileiro”, ocasionando a construção de uma cultura velada, quase imperceptível em suas múltiplas formas. Não obstante, inúmeras etnias tenham resistido, algumas ainda resistem, isolando-se e/ou reconstruindo e reconfi gurando seu modo de vida, em busca da possibilidade de manterem vivas suas identidades étnicas e cul-turais, exemplo notório dessa realidade é produção por Elaine Eiger & Luize Valente (2004/2005) do documentário “A Estrela Oculta do Sertão” narrando a saga dos judeus no Nordeste brasileiro, a todo momento fi ca registrado no documentário a permanência de hábitos e costumes de ori-gem judaica no interior do Nordeste do Brasil, cujas origens anteriormente eram desconhecidas.

Observamos que na verdade, as normas de discriminação e o pre-conceito, realidade, na Península Ibérica dos séculos XV e XVI, foram transferidas para o tecido social brasileiro, por meio da parceria Estado e Igreja Católica, fato que justifi caria a necessidade de ocultamento ou diluição identitária do segmento semita em território brasileiro.

Retomemos a Bezerra Neto (2016, p. 22-23) esclarecendo quanto à lógica do termo “sangue limpo” ou expressão “pureza de sangue”, o autor afi rma que tal entendimento diz respeito à etnia.

“...ser de “sangue limpo”. Era entendido em termos de sangue cris-tão não ter sido inoculado com sangue de nações infectas. Estas incluíam mouros, judeus e negros. Adiante foram incluídos os ciganos. Após os descobrimentos os indígenas’

Vasta é a literatura que associa os judeus à imagem de um grupo fechado e próspero, características presentes naqueles que controlavam

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as bases da economia na Península Ibérica, no momento em que se deu a criação do Estatuto de Pureza de Sangue, e a posterior instituição do Tribunal do Santo Ofi cio, com todas as implicações legais decorrentes de tais instrumentos.

As múltiplas ações, resultantes da aliança entre Estado e Igreja, assim como, a posterior construção no dizer de Queiroz (2013), do mito fundador do povo brasileiro, em que se sustenta a fusão de três raças, pode ter cumprido seu papel com relação ao fato de negar a diversidade cultural presente no âmbito de cada uma dessas etnias, afi rmando, por conseguinte, a existência no país de uma só Nação – a brasileira. Todavia não logrou êxito na extinção da memória semita entranhada na mentalidade do brasileiro e conservada principalmente nas cidades do interior do país, apesar da obsessão de não parecer judeu ou judaizante.

O que o constatamos nesse momento é a materialidade do passado fazendo-se presente nos hábitos e costumes de uma história sufocada pela necessidade de sobrevivência de um grupo estigmatizado, discriminado e perseguido na Península Ibérica. Perseguição transferida para o Brasil colonial, atualmente revelada através dos processos inquisitoriais, trata-se do passado enquanto objeto da história e da reconstrução incessante do saber histórico.

Em Le Goff (2013) aprendemos a pensar que a história é bem a ciência do passado, porém com a condição de saber que este passado se torna objeto da história, por uma reconstrução incessantemente e ainda que “[...] a tomada de consciência da construção do fato histórico, da não inocência do documento, lançou luz reveladora sobre os processos de manipulação que se manifestam em todos os níveis do saber histórico” (LE GOFF, p. 12). Desta forma, consideramos pertinente retomarmos a questão inicial do “momento oportuno” (GEERTZ, 2001, p. 15) , mo-mento de confronto das representações históricas com as realidades que elas representam (Le Goff, p. 13), momento de contextualizar o Projeto de Lei 43/2013, aprovado em 30 de janeiro de 2015 pelo Governo Portu-guês, incluindo-o no artigo 169 da Constituição Portuguesa e aprovação por parte do Conselho de Ministros da Espanha de um anteprojeto de lei visando modifi car o artigo 23 do Código Civil Espanhol para agilizar a concessão da nacionalidade espanhola aos judeus sefarditas.

Em entrevista ao Jornal El Paris, o autor do Projeto que concede cidadania aos judeus sefaraditas, Ministro da Justiça da Espanha, Alber-

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to Ruiz Gallardón afi rma que as medidas legais nada mais são do que uma tentativa de reparação daquilo que teria sido “um dos erros mais importantes na história da Espanha como foi a expulsão dos judeus em 1492.” (Jornal El Paris, Madri, 4 jun. 2014). Acreditamos que a adoção de medidas reparadoras como a restituição da cidadania aos judeus sefar-ditas têm grande valor, todavia não substituem a narrativa histórica nos manuais usados nas escolas brasileiras. As mudanças de atitude frente ao consentimento e aceitação da sociedade no que se refere a presença e atuação dos cristãos novos na construção histórica do Brasil, facilitam a compreensão do conteúdo pertinente a história do Brasil Colonial, per-mitindo que velhos conhecidos, personagens de uma história com uma narrativa polarizada em heróis e vilões, selvagens e civilizados possam ser reconhecidos como pessoas com seus medos, fragilidades, ambições, lutas e conquistas. Por outro lado, possibilitará o estabelecimento da identidade escamoteada resultante de uma “amnésia coletiva” em relação à presença dos cristãos novos no Brasil. Tal esquecimento, a nosso ver, tem acarre-tado problemas na construção da memória histórica, social e coletiva da nação. Os saberes e linguagens concernentes ao papel dos cristãos novos na História brasileira, é foco de investigação crescente no meio acadêmico. Faz-se necessário que da mesma forma, ocorra no Ensino Básico. Para além dos problemas oriundos da “cultura do silêncio” favorecida pela discriminação, as informações ora expostas, a demarcação de território anteriormente mencionada e os dados extraídos do Primeiro Sínodo de Fortaleza, expõem uma página de nossa história conhecida no ambiente acadêmico em concomitância com o despertar da história regional para usos e costumes locais associados ao universo judaico, principalmente, no nordeste brasileiro.

CONCLUSÃO

Os resultados da pesquisa evidenciam a natureza das relações en-tre os fatores políticos e religiosos como força motriz da imigração dos cristãos novos para o Brasil, assim como a adequação comportamental dos judeus às exigências políticas e religiosas da época com a fi nalidade de consolidar o processo de integração dessas pessoas na sociedade colo-nial. Fato curiosamente comprovado no cemitério São João Batista desde 1866, ou seja, três anos antes do Primeiro Sínodo Fortalezense quando

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já era proibido dar sepultura aos não católicos. A legitimação da referida segregação foi sacramentada pelo Sínodo de 1888, ele regulamentava a utilização do espaço através da separação da parte fi nal do cemitério para sepultamento dos mais pobres, dos anátemas e dos judeus, e a parte frontal da necrópole era destinada aos católicos, cuja exuberância dos túmulos sinalizava o status do sepultado. Tais situações já seriam sufi cientes para demonstrar a segregação e a exclusão presentes na sociedade, onde o es-paço funerário era regido pela mesma lógica de organização da sociedade do outro lado dos muros da necrópole. A recente substituição de lápides e epitáfi os de túmulos na parte frontal do cemitério, pertencentes a pessoas aparentemente católicas por outras com inscrições em hebraico ou sím-bolos judaicos, atestam a verdadeira origem do sepultado, demonstrando as estratégias utilizadas por famílias ricas de Fortaleza com a fi nalidade de serem aceitas como católicas, embora não o fossem de origem. Seriam estes comportamentos verdadeiras negociações de identidades?

Na verdade, entendemos ser possível afi rmar que a ação da Igreja respaldada pelo Estado primeiramente na Espanha e posteriormente em Portugal submeteu os judeus daquela região ao controle, vigilância e ex-propriação de seus bens criando condições que os forçava a buscar uma forma de sobrevivência fora da Europa; nesse sentido, o êxito das Gran-des Navegações é em parte devido ao conhecimento dos semitas, elite cultural na Península Ibérica, assim como, resultado da necessidade de sobrevivência e do capital judaico. Podemos afi rmar que na frota dirigida por Cabral, constituída por mais de mil e quinhentos homens, viaja como conselheiro, Gaspar da Gama, judeu vindo de Gôa, profundo conhecedor dos caminhos dos mares. O experiente navegador e conselheiro de Cabral visualizou a extraordinária importância daquelas terras para seus irmãos oprimidos em Portugal.

O anseio por encontrar um lugar onde os judeus não seriam perse-guidos, já era fato na Espanha desde o século IX quando um homem que se dizia chamar Eldadhad-Dani apareceu na Espanha afi rmando ser da tribo de Dã. Entre os historiadores ele é conhecido como Eldade, o Danita, e suas narrativas infl uenciaram fortemente o imaginário judaico e estimularam a busca pelas terras onde um povo ameaçado e sem pátria pudesse viver em paz. Nesse contexto, os documentos comprovam que as comunidades judaicas em Barcelona mantinham contato com as comunidades judaicas dos mais variados locais. No século XII, encontramos o diário do rabino

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Benjamim de Tubela, que em 1159 havia partido em uma viagem de treze anos pela Europa, Ásia e África; os relatos dessa viagem são de grande relevância histórica, geográfi ca e antropológica, além de demonstrarem mais uma vez, o desejo de encontrar um local onde os judeus teriam li-berdade. Sabemos que no século XV, o conhecimento de mundo que se tinha era baseado em mapas exploratórios – Em sua maioria feito pelos semitas, árabes e judeus – narrativas de viagens ou histórias de marinheiros e observamos que de igual maneira, os forçados, cristãos novos - séculos XV e XVI - foram contaminados pelo desejo de encontrar um lugar onde fosse possível viver longe das desgraças ocasionadas pelo antissemitismo. Encontramos no século XVI, Fernando de Noronha, cristão novo, chefi an-do um consórcio de judeus (cristãos novos) aproveitando-se do interesse do Rei D. Manuel I, no rico comércio de especiarias para arrendar a terra recém-descoberta, mais uma vez nos foi possível constatar que a ação de Fernão de Noronha ocorreu sob orientação do infl uente Gaspar da Gama, o mesmo experiente navegador e conselheiro de reis e de Cabral. Tais afi rmações são ratifi cadas pelo mais antigo documento, de 3 de outubro de 1502, sobre a concessão feita ao cristão novo Fernando Dalla Rogna, também conhecido como Fernando de Noronha, e o documento de 6 de outubro de 1503, primeira menção do nome Noronha em conexão com o Brasil em um acordo fi rmado entre D. Manuel I e mercadores alemães. Vale ressaltar que o poderoso armador Fernando de Noronha fez uso da sua fortuna para amparar os judeus entre os anos de 1498, 1506 e 1536, anos marcados pela violenta perseguição à comunidade judaica. Fernando de Noronha comprava-lhes as propriedades, facilitando-lhes o êxodo para terras distantes, fora do controle da Igreja e do Estado, portanto, mais liberais, onde pudessem realizar suas aspirações de viver em liberdade.

Certamente a história que ora narramos não consta nos manuais de história utilizados pelos jovens brasileiros, nem tão pouco a história de João Ramalho sobre quem Rocha Pombo admite ter ele chegado ao Brasil em 1497, elemento muito útil no processo de colonização da povoação de São Vicente e de Santos, a quem Martim Afonso de Souza elevou ao cargo de capitão mor. João Ramalho é mais um exemplo do europeu identifi cado através das “práticas de vida” como judeu. Não são poucos os ‘brancos’, ‘portugueses’, ‘degredados’, marginalizados ou não que tiveram suas histórias diluídas nas páginas dos manuais produzidos para uso na Escola de Ensino Básico do Brasil.

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Em face destas e tantas outras revelações, questionamos o desco-nhecimento da população brasileira acerca dos primeiros “brancos”, “por-tugueses” ou cristãos novos que forçados pelas circunstâncias buscaram nas terras distantes a oportunidade de recomeçar suas vidas. Entretanto, convém destacar que a ação do Tribunal do Santo Ofício atuou por tre-zentos anos na América, em nenhum outro lugar o Santo Ofício atuou por igual tempo. Essa longa atuação seria um indicativo das ‘anomalias’ existentes na estrutura social desta parte do mundo?

Acreditamos que a exclusão dessas informações interfere na construção da Memória da população brasileira, no reconhecimento de sua própria identidade, visto que, os hábitos e costumes deixados pelos cristãos novos fazem parte do imaginário do povo brasileiro; o uso de caixão coletivo que nunca era usado em algumas cidades do interior de Pernambuco, a utilização de mesas coloniais com duas gavetas, uma para guardar comida casher e outra com alimentos que fugiam a dieta alimen-tar do judeu. Tantos costumes cuja origem é desconhecida da população. Ressalte-se o falar “cantando do nordestino” com as orações cantadas de uso tão comuns entre os semitas.

Não pretendemos esgotar o assunto, nem o poderíamos, intenciona-mos bem mais iniciar uma prospecção em direção ao conceito sedimen-tado de povo brasileiro, mais quem é o povo brasileiro? Como vimos a idealização de tal conceito é por natureza questionável, tendo em vista, a elaboração do mito fundador do povo brasileiro com fusão das três raças, tal mito por si só já refl ete a ideia de homogeneizar o diferente, o conceito, a nosso ver, erroneamente construído de raça brasileira contribuiu para a camufl ar a diversidade cultural de forma a escamotear a verdadeira origem do chamado povo brasileiro. Em decorrência das várias leituras e análises realizadas ao logo do presente trabalho nos foi possível perceber que a escrita historiográfi ca brasileira ainda é, mesmo que inconscientemente, marcada pelo preconceito no tocante ao papel desempenhado pelos cristãos novos (judeus) na formação étnica e cultural do Brasil.

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159Perda da memória judaica na escrita histórica brasileira

REFERÊNCIAS

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NOVINSKY, A et al. Os Judeus que construíram o Brasil: Fontes inéditas para uma nova visão da história. 2 ed. São Paulo: Planeta Brasil, 2015.

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QUEIROZ. Paulo Eduardo Cirino de. A construção da Teoria do Indigenato: do Brasil colonial à Constituição republicana de 1988.Conteúdo Jurídico, Bra-sília-DF: 06 jun.2013 Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-construcao-da-teoria-do-indigenato-do-brasil-colonial-a-consti-tuicao-republicana-de-1988,43728.html>.2013. Acesso em: 10 mar. 2017.

SALVADOR, J G. Cristãos-Novos Jesuítas e Inquisição. São Paulo: EDUSP, 1968.VIEIRA, JOAQUIM JOSÉ DOM, ACTAS E CONSTITUIÇÕES DO PRIMEIRO

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(Vol. I-III); Benjamim de Aguila Editor (Vol. IV-X), 1905-1917. Pag. 63

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CONFERÊNCIAS

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O Cearense, de Parsifal Barroso, em diálogo com Precisa-s e do Ceará, de Gilberto Freyre, e O Outro

Nordeste, de Djacir Menezes

A G *

á mais de 70 anos, em 25 de agosto de 1944, o autor de Casa Grande & Senzala, Gilberto Freyre, já famoso dentro e fora do país, sobretudo por essa obra-marco na cultura brasileira, pronunciava, no Theatro José de Alencar, a conferência “Precisa-se do Ceará”, que iria ter impacto tão forte sobre o cearense Parsifal Barroso, então com 31 anos de idade, a ponto dessa primeira impressão transformar-se em ideia viva, que germinaria por vinte e cinco anos, quando, enfi m, fl oresce no livro O Cearense.

Se a força sugestiva da conferência do mestre de Apipucos, acima citada1, foi decisiva, para o autor desse livro, na idealização do roteiro de pesquisa sobre a atuação dos cearenses, com suas especifi cidades (ou sua cearensidade), como grandes construtores do Brasil, a leitura ante-rior do livro O Outro Nordeste, de Djacir Menezes (de 1937), instituíra a primeira diretriz do interesse de Parsifal Barroso pelo estudo sobre o Ceará e os cearenses. O livro de Djacir lança uma perspectiva de nossa região diferente daquela apresentada pelo olhar freyreano em Nordeste, livro também de 1937. Enquanto Freyre, explicitamente, detém-se na análise do Nordeste, então menos conhecido, o Nordeste gordo da cana-de-açúcar, Djacir estuda o Nordeste magro, da seca e civilização do couro.

1 Publicada em 28 de agosto de 1944, no Unitário, em Fortaleza, e em 9 de setembro de 1944, no O Jornal, no Rio de Janeiro.

* Sócia Efetiva do Instituto do Ceará.

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Enquanto, pois, a leitura de O Outro Nordeste conscientizara o jovem cearense da necessidade de “encontrar na alma coletiva o princípio de explicação dessa especifi cidade que se confunde com a essência do seu próprio ser” (p.23/24), ou seja, a cearensidade, a conferência de Gilberto Freyre, ao confrontar a cultura da Bahia e a do Ceará, indica-lhe linhas da pesquisa para analisar essa especifi cidade do cearense.

Entre os traços mais marcantes que o sociólogo Freyre enxerga no povo cearense, explicitadas em seu texto-conferência, saliento: a “com-binação de duas tendências que só combinadas me parecem psicológica e culturalmente criadoras ou fecundas: provincianismo e universalismo; regionalismo e cosmopolitismo; continentalismo e oceanismo”; que , aliás, aqui na UFC nos parece bem familiar, pois aproxima-se do lema criado pelo Prof. Antônio Martins para nossa Universidade: “Do regional para o universal”; “o espírito de iniciativa, de luta e de aventura do cearense”, que exemplifi ca com “triunfos nas armas, na guerra do Paraguai, na co-lonização da Amazônia, no comércio, na indústria, nas letras, na arte da administração, está também ligado à história da liberdade no Brasil”; a vocação para o que chama de “destino supra-estadual ou supra-regional de unifi cador do Brasil”: “A história do Ceará pode, como a dos outros Estados, ser quietamente escrita sob critério estadual ou regional. A his-tória do cearense, porém, de tal modo se vem confundindo com a história da autocolonização do Brasil e da unifi cação brasileira que só deve ser traçada sob o critério mais dinamicamente transregional. Para o escritor pernambucano, “o regionalismo autêntico é, por natureza orgânico: um regionalismo inseparável do inter-regionalismo. Um regionalismo que tem na interdependência das regiões sua principal ou essencial condição de vida. Um regionalismo em que a espontaneidade de vida e de cultura que se deseje para a gente de uma região, em vez de um ideal de sufi ciência, importa no máximo de interdependência entre as regiões que formam uma nação…”

A preocupação da intelectualidade nordestina com a importância de nossa região, em sua duplicidade que, aliás, vem a ser multiplicidade, nascera em décadas anteriores e se intensifi cara, entre os anos 20 e 30, com forte atuação de Gilberto Freyre, na organização do I Congresso Brasileiro de Regionalismo, realizado em Recife, em 26, e do Manifesto Regiona-lista, lido na ocasião. Nos anos 30, como sabemos, Freyre publica, com grande sucesso, a monumental obra Casa-Grande & Senzala, em 1933.

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165O Cearense, de Parsifal Barroso, em diálogo com Precisa-s e do Ceará, de

Gilberto Freyre, e O Outro Nordeste, de Djacir Menezes

Na literatura de fi cção, o ciclo regionalista do chamado romance de 30, que domina a cena literária brasileira – iniciado com o paraibano José Américo de Almeida e seu romance A Bagaceira, de 28 -, apresenta, como locus e personagem, o Nordeste múltiplo, da seca, da cana de açúcar, do cacau, do banditismo, da religiosidade e do messianismo, dos senhores e escravos, dos sobrados e mocambos, do cais do porto e do mar, das peque-nas cidades e das capitais, pela pena de autores e obras que ultrapassam as fronteiras da região e mesmo do país: o magistral Graciliano Ramos, do Nordeste da seca, em vários romances, em especial, na belíssima obra Vidas Secas (38); nossa cearense Rachel de Queiroz, que surpreendeu o país com seu jovem talento, em O Quinze (30); José Lins do Rego, do Nordeste da cana-de-açúcar, iniciando o ciclo do engenho com O Menino de Engenho (32) e fi nalizando-o, com sua obra-prima, Fogo Morto (43); Jorge Amado, com sua farta bibliografi a dos anos 30 e 40, de que cito o Cacau (33), Terras do sem fi m (1943), do ciclo do cacau, Mar Morto (36) e Capitães da Areia (37), do ciclo de locus em Salvador da Bahia, Seara Vermelha (46), do Nordeste da seca. Lembro esse clássico conjunto de obras do ciclo regionalista, e poderia lembrar muitas outras mais, para mostrar o quadro cultural em que Parsifal Barroso vive sua juventude e forma sua consciência de ser nordestino e cearense.

Ao centrar o foco de seu interesse justamente na análise da es-pecifi cidade do ser cearense e ao mesmo tempo nordestino, o escritor intentava partir de um estudo multidisciplinar em um centro univer-sitário de pesquisas. Na impossibilidade de realização dessa pesquisa com cientistas, parte para escrita de um livro que já se tem chamado de provocador. Não é o livro de especialista, derivado de comprovação e análise de dados de pesquisa, é a obra do intelectual que lê textos que o instigam ao assunto e vê a realidade através de sua experiência como professor, político, parlamentar, governante. Ao convidar o autor de O Outro Nordeste para prefaciar seu livro, Parsifal implicitamente reconhece sua dívida intelectual com o estudioso que o despertou para as questões do nosso Nordeste.

Na apresentação do livro, intitulada “Convições à fl or da pele”, Djacir Menezes comenta: “O autor sabe que a sociologia já saiu daquela fase ingênua de um geografi smo que procurava nos fatores da mesologia física a explicação sumária da vida da comunidade e da fi sionomia cultural (...) Tanto assim que vai à cata dos motivos situados na trama complexa

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das relações humanas, que tecem costumes, estilos de ação política, ins-tituições” (p.11).

Ao longo dos seis capítulos de O Cearense, o autor, no intuito de “conhecer a origem e a natureza da especifi cidade que marca a presença do cearense, identifi cando-o tão facilmente” (p.21), desenvolve o tema da cearensidade: “... resolvi formular um roteiro para a análise da fascinante cearensidade, esperando receber críticas e suscitar debates, a bem do pró-prio aperfeiçoamento dos estudos e das pesquisas”, que desejava virem a surgir. Aliás, parece ser essa, também, a intenção do Instituto Myra Eliane ao lançar uma segunda edição da obra.

Através de referências a estudos de diferentes autores, sobretudo do Nordeste e do Ceará, e à sua própria observação, o autor descreve e analisa uma série de traços que compõem o perfi l histórico, geofísico, psicológico, comportamental e cultural do cearense. De sua morfologia braquicéfala, à sua relação dolorosa com o meio árido, sujeito à alternância de períodos chuvosos e períodos de seca; sua proverbial imprevidência, (p.86), considerada por Rodolfo Teófi lo como o maior defeito do cearense; “sua prodigiosa capacidade de sobrevivência, exercida através de uma extrema e fabulosa versatilidade” (p.87); seu “fatalismo impressionista, de tendência mágica, em que sempre se espera de Deus ou do Governo”(p.89) e o levam, também, à atração por jogos, sorteios (p. 93); sua cozinha de sobrevivência e sua tendência ao exagero no linguajar; seu “anseio constante de libertação” que o estudioso relaciona ao encerramento do cearense em uma ferradura de serras – “grande e alta muralha de Ibiapaba” (p.64) - , seu “confi namento dentro do fundo do saco”, como mostra em todo o Capítulo III; a “tendência para coexistência de contrastes” em sua personalidade (p. 97), como a indiferença e a irreverência, o modo de ser expansivo e desconfi ado ao mesmo tempo (p.98), a tendência espartana convivendo com a de fazedor de uma cultura de grande riqueza; a valentia versus medo do imprevisível; o imediatismo e a improvisação, que impe-dem o apego às tradições, mas perenizam a fi delidade ao clã (que Parsifal defi ne como “espírito familista de clã”, p. 116), a ambivalência da vocação para o Ceará-Migrante e para o Ceará-Moleque (p.103). Apesar de todas essas ambiguidades, o autor alerta: “todas as formas de comportamento e atitudes do cearense (...) se prendem a um princípio de unidade orgânica, baseada na cearensidade “ (p.105).

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167O Cearense, de Parsifal Barroso, em diálogo com Precisa-s e do Ceará, de

Gilberto Freyre, e O Outro Nordeste, de Djacir Menezes

Na última página de O Cearense, quando apresenta suas conclusões sobre o estudo que empreendeu, o autor alerta para o fato de que “somente possuem o valor de inferências indutivas”:

“O roteiro aberto por Gilberto Freyre para o estudo da origem da cearensidade também possibilita o alcance dessa outra perspectiva, em que os círculos fechados da formação cearense se devem abrir, para que melhor se possa atender aos anseios de libertação que vive, permanente-mente, no espírito do povo mais brasileiro do nosso país”.

Iniciamos esta fala referindo-nos ao ano de 1944, momento em que o jovem Parsifal assistia a conferência do mestre Gilberto Freyre, no Theatro José de Alencar, daremos um salto para o iníco dos anos 70, no Auditório José Albano, a meia quadra de onde estamos, quando assisti a uma palestra informal com que Dr. Parsifal lançou O Cearense, no Centro de Humanidades da UFC.

Logo no início de seu depoimento de apresentação do próprio livro, o autor desceu os degraus que separam a tradicional mesa de conferên-cias, colocada em patamar mais alto para permitir aos assistentes melhor visualização dos conferencistas, e fi cou próximo aos alunos, caminhando no estreito corredor no centro do auditório. Encontro nas últimas linhas do prefácio de Djacir Menezes, uma imagem bem próxima do que vi: “e quase estou a ver seus gestos rasgados, em braçadas que, na rua, param o trânsito, nessa espontaneidade sonora que tem, acima de tudo, a sinceridade das convicções à fl or da pele”.

Se a muitos alunos causou espécie a bonomia e a simplicidade do Dr. Parsifal, para mim, foi um reencontro com sua cearensidade. Eu já o conhecia, pois o intelectual era amigo de meu pai, Luciano Cavalcante Mota, desde a infância, sendo ambos de 1913, e algumas vezes ia a nossa casa, um casarão de aspecto conventual, situada nas proximidades da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha, mais conhecida como Igreja do Seminário, para conversarem os dois sobre assuntos de literatura e cultura. Dou outro salto para 1977, quando Dr. Parsifal amiudou visitas ao amigo Luciano, casado com Angela Laís Pompeu Rossas Mota, minha mãe, bis-neta do Senador Pompeu, sobre quem o autor de O Cearense pronunciaria discurso, no Instituto do Ceará, na rememoração desse grande vulto da História do nosso Estado, no centenário de seu falecimento, ocorrido em 6 de junho de 1877. Papai, que há muito vinha fazendo pesquisas sobre o assunto, dispôs-se a ajudar o amigo ocupadíssimo, colhendo bibliografi a,

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documentos, dados, elaborando roteiro, síntese, enfi m, colaborando para que o estudioso cearense pudesse cumprir o que prometera no último parágrafo de seu discurso de posse como sócio efetivo do Instituto do Ceará, em 4 de dezembro de 1967: “Que Deus me ajude a ser digno da memória de nossos maiores, a ser fi el ao legado que me confi astes, e a poder servir, através de minhas atividades nesta Casa do Ceará, à terra e ao povo de que venho”. (Parsifal Barroso. Discurso de Posse. Revista do Instituto do Ceará, 1967, p.306.)

(Conferência pronunciada no Auditório da Reitoria da UFC, em sessão sobre O Cearense, de Parsifal Barroso, no dia 28 de agosto de 2017).

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EFEMÉRIDES

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Datas e Fatos Para a História do Ceará

M. A. A (N )*

Janeiro / 2008

07 - Inaugura-se o novo Fórum Autran Nunes, no Edifício Dom Helder Câmara, na Avenida Tristão Gonçalves, 912, no Centro.

10 - Morre, aos 53 anos de idade, o cantor e compositor Stélio Rome-ro do Valle (Stélio Valle), vítima de um acidente vascular cerebral -AVC. O músico era segunda geração do Pessoal do Ceará e par-ticipante da Massafeira. Seu sepultamento acontece às 11h do dia seguinte, no Cemitério São João Batista. Nascera aos 25/05/1950. Era também formado em Administração de Empresas.

17 - Morre, vítima de insufi ciência respiratória em conseqüência do mal de Alzheimer, o geógrafo, astrônomo, desenhista, compositor e professor Rubens de Azevedo, aos 86 anos de idade. Rubens foi desenhista, pintor, escritor, poeta, compositor, um dos fundadores da Sociedade Cearense de Artes Plásticas – SCAP; fundou em For-taleza a Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia - SBAA, a primeira do País, construiu o Observatório Astronômico Popular Camille Flamarion, em sua casa, na Rua Jaime Benévolo nº 757. Foi o primeiro desenhista a fazer tiras em quadrinhos para jornal, em 1946. Foi professor de Geografi a da UECE. Era membro efeti-vo do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico). É sepultado no Cemitério de São João Batista no dia seguinte às

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.

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15h30min. Nascera em Fortaleza, CE, no dia 30/10/1921. Hoje tem seu nome perpetuado no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no Planetário Rubens de Azevedo.

18 - A Base Aérea de Fortaleza tem novo comandante, quando assume o coronel aviador Manoel Araújo da Silva Júnior, em substituição a Rogério Gammerdinger Veras, do mesmo posto.

21 - Incêndio de grandes proporções, irrompe por volta das 9h30, des-truindo o depósito das Lojas Rabelo, situado na Avenida Francisco Sá nº 5655, no bairro Colônia. O fogo começou numa área repleta de colchões e alastrou-se rapidamente. Labaredas consumiram cen-tenas de eletrodomésticos armazenados no local. Não há vítimas.

22 - Realizada na Associação Cearense de Imprensa - ACI, eleições para a nova Diretoria. A Chapa 1, é encabeçada pela jornalista Ivonete Maia (presidente), Isabel Pinheiro (1º vice-presidente) e Wilame Moura (2º vice-presidente). A Chapa 2 tem à frente Gerson do Valle (presidente), Zairton Cavalcante (1º vice-presidente) e João Ramos (2º vice-presidente). Cerca de 300 associados têm direito a voto. A diretoria anterior foi afastada pela acusação de fraude no prêmio ACI de Jornalismo 2007. O episódio resultou na saída dos envol-vidos, levando a associada Sílvia Helena Braun a assumir, provi-soriamente, a direção da entidade até que uma nova eleição fosse realizada. O trecho onde se localiza a sede da entidade, o Edifício Perboyre e Silva (Palácio da Imprensa) na Rua Floriano Peixoto nº735, no Centro de Fortaleza, é liberado para que os associados possam estacionar seus veículos durante a votação. Após a apura-ção, sai vencedora a Chapa 1, encabeçada pela jornalista Ivonete Maia, que volta à presidência da entidade após 16 anos, numa es-magadora vitória de 172 x 16.

23 - O radialista Paulo Lélis morre, na madrugada, aos 56 anos de ida-de, vítima de infarto fulminante. O radialista usava marca-passo, e também há um ano lutava contra um câncer. Seu corpo é velado na Funerária Ternura, Rua Padre Valdivino nº 2255, na esquina com a Rua Tiburcio Cavalcante no dia seguinte e cremado dois dias após

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173Datas e Fatos Para a História do Ceará

pela manhã, no Jardim Metropolitano, no Eusébio. Há 18 anos, Paulo Lélis era coordenador de programação da AM 810 Verdinha e narrador do Programa Garras na Patrulha, apresentado na própria rádio e na TV Diário.

31 - Morre, em Fortaleza, às 6h30min, vítima de câncer, o advogado e empresário do ramo gráfi co Luiz Esteves Neto. Seu corpo é velado na Funerária Ternura e sepultado no Cemitério Parque da Paz. Era um dos proprietários da Tiprogresso. Presidiu a FIEC. Nascera em Fortaleza no dia 21/12/1925.

Fevereiro / 2008

20 - Eclipse lunar total ocorre, com início às 22h43min, reunindo no Colégio Christus mais de 100 pessoas. O fi nal é às 3h17min do dia seguinte, quando a Lua sai totalmente da penumbra. Segundo o astrônomo Saulo Machado, integrante do Clube de Astronomia de Fortaleza - Casf, o último eclipse lunar aconteceu no dia 3 de março do ano anterior. Entretanto, não foi possível visualizá-lo, já que no momento estava chovendo em Fortaleza.

21 - Às 19h30min realiza-se a solenidade de posse da nova diretoria da Academia Cearense de Retórica que reconduz, pela oitava vez, no cargo de presidente o médico Maurício Cabral Benevides (Maurí-cio Benevides). A solenidade tem lugar na sede da Academia Cea-rense de Letras, na Rua do Rosário nº1, no Centro.

Março / 2008

13 - Toma posse, em solenidade iniciada às 18h30min, na Academia Fortalezense de Letras - AFC, como titular da Cadeira nº 34, cujo patrono é Francisco de Paula Ney, Ubiratan Diniz Aguiar (Ubiratan Aguiar), sendo saudado pelo acadêmico João Soares Neto. A sole-nidade tem lugar na sede da Academia Cearense de Letras.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017174

27 - Toma posse, na Cadeira nº 39, patroneada por Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, na Academia Cearense de Retórica, o advogado Hé-lio das Chagas Leitão (Hélio Leitão), que é saudado pelo consócio Ernando Uchoa Lima. A solenidade tem lugar na sede da Academia Cearense de Letras.

Abril / 2008

03 - A geógrafa Maria Clélia Lustosa Costa toma posse em cadeira no Insti-tuto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico), na Rua Barão do Rio Branco nº 1594, na Praça do Carmo, em solenidade iniciada às 19h, sendo saudada pela historiadora Valdelice Carneiro Girão.

08 - Criada, em Assembleia Geral da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira - Regional de Fortaleza - ANV-FEB, a Medalha Heróis Expedicionários do Ceará.

17 - Falece, na madrugada, aos 55 anos de idade, o reitor da Universidade Federal do Ceará - UFC, professor Ícaro de Sousa Moreira, vítima de morte súbita, após chegar de Brasília, onde participou do encon-tro da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior - ANDIFES. Os cursos da UFC suspendem as aulas e a Rádio Universitária FM passa a transmitir programação especial. O vice-reitor Jesualdo Pereira Farias decreta luto ofi cial de três dias, com suspensão de todas as atividades. O corpo do rei-tor é velado no Salão Nobre da Reitoria. O sepultamento acontece às 10 horas do dia 19, no Cemitério Parque da Paz, após missa de corpo presente na Reitoria. Ícaro Moreira nascera em 23/05/1952, no município de Campo Maior (PI). Era graduado em Química pela UFC (1976), com mestrado em Química Inorgânica pela UFC e doutorado em Química (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo (1990). Realizou estágio de pós-doutorado em Bioinorgânica na Rutgers University, NJ-USA (1991-1992).

18 - Fechado há quase uma década, inaugura-se o edifício do antigo San Pedro Hotel, localizado na esquina da Rua Floriano Peixoto com a

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175Datas e Fatos Para a História do Ceará

Rua Castro e Silva, no Centro histórico, totalmente reformado que passa a abrigar o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CREA/CE, vindo do Bairro de Fátima. Um dos obje-tivos do CREA é colaborar com o Programa de Revitalização do Centro da Cidade.

20 - Morre, pela manhã, aos 28 anos de idade, o guitarrista Rodrigo Gon-dim Costa, vítima de dengue hemorrágica.

24 - A seção cearense da Associação Brasileira de Advogados - ABA-Ce é instalada às 20h30min, no Auditório Waldir Diogo, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC, quando são empossados Gladson Mota, presidente e Pedro Jorge Medeiros, vice-presidente; na ocasião é homenageado o advogado Ernando Uchôa Lima.

25 - Falece, no início da tarde, aos 63 anos de idade, bacharel em direito, diretor-presidente do Grupo de Comunicação O Povo, Demócrito Rocha Dummar (Demócrito Dummar),. causando consternação e perplexidade ao meio empresarial e à imprensa cearense. Seu cor-po é velado na Assembleia Legislativa do Ceará e nos jardins da sede do jornal O Povo, na Avenida Aguanambi. O enterro ocorre às 16 horas do dia seguinte, no Cemitério Parque da Paz. Nascera a 12/03/1945 em Fortaleza, CE.

Maio / 2008

12 - Solenidade de entrega da Medalha Jurandir Picanço a 22 agraciados como parte das comemorações dos 60 anos da Faculdade de Medi-cina da Universidade Federal do Ceará - UFC.

13 - Na festa de aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima, na praça Pio IX, em frente à Igreja de Fátima, é inaugurada uma Imagem de Nossa Senhora de Fátima, com 15 metros. A bên-ção é dada pelo bispo auxiliar de Fortaleza, dom José Luiz Ferreira Salles, que entrega o novo monumento à cidade juntamente com a prefeita Luisianne de Oliveira Lins (Luisianne Lins).

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Revista do Instituto do Ceará - 2017176

19 - Morre, aos 90 anos de idade, o farmacêutico Edgar Rodrigues de Paula, proprietário da Farmácia e Drogaria Oswaldo Cruz. Aten-dia diariamente em sua farmácia, gratuitamente. Edgar era cearense nascido em 26/05/1918.

31 - Atropelado, às 11h30min, por uma motocicleta, na Rua General Sampaio, próximo a sua residência, no Centro da Capital, o escritor José Alcides Pinto que fazia uma de suas andanças rotineiras pela cidade. É levado ao Instituto Doutor José Frota - IJF. No hospital, é atendido pelo médico Almir Gomes, membro da Sociedade Brasi-leira dos Médicos Escritores - Sobrames. Alcides sofre ferimentos graves, com ruptura de órgãos vitais e traumatismo craniano.

Junho / 2008

02 - Declarado morto, às 12h50min, no Instituto Doutor José Frota – IJF, onde estava interno desde 31/05/2008, o professor, bibliotecônomo, escritor e poeta José Alcides Pinto. A morte cerebral fora diagnos-ticada na noite do dia primeiro. Seu corpo é velado na Academia Cearense de Letras - ACL, seguindo depois para Santana do Acaraú, onde fi ca na Biblioteca Pública Municipal Poeta José Alcides Pinto. À tarde passa sobre a ponte do Rio Acaraú pela última vez e segue em direção à sua terra natal, o lugarejo Parapuí (São Francisco do Estreito), onde, nascera em 10/09/1923. Ele se auto cognominava “o poeta maldito” por abordar em sua obra o sexo e a morte. Em 1945, partiu para o Rio de Janeiro, onde se formaria em jornalismo e biblioteconomia. Ocupou cargo no então existente Ministério da Educação e da Cultura e foi professor da UFC. Abandonou os em-pregos públicos para se dedicar, exclusivamente, à literatura.

17 - Falece, às 7h55min, Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau (Violeta Arraes), ex-reitora da URCA, ex-secretária de Cultura do Estado, idealizadora e fundadora da Fundação Araripe. Em 1998 foi agraciada com o Troféu Sereia de Ouro. Seu sepultamento ocorre no Crato, CE; nascera em Araripe, a 05/05/1926.

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177Datas e Fatos Para a História do Ceará

20 - Toma posse, no Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antro-pológico), na Rua Barão do Rio Branco nº 1594, em solenidade iniciada às 17h, como sócio efetivo, o professor Luiz de Gonzaga Fonseca Mota (Gonzaga Mota), sendo saudado pelo professor Pe-dro Sisnando Leite.

21 - Morre, aos 82 anos de idade, o engenheiro civil Elzir de Alencar Araripe Cabral (Elzir Cabral), que é sepultado, no Cemitério Par-que da Paz, no dia seguinte. Foi, por duas vezes, superintendente da Rede Ferroviária Federal S/A - RFFSA. Elzir Cabral foi presidente do Ferroviário Atlético Clube na segunda metade dos anos 60, sen-do o principal responsável pela aquisição do terreno onde hoje está localizado o estádio do clube coral, que por dever de justiça recebe, em 1969, seu nome. Nascera em Fortaleza, CE, no dia 21/01/1926.

28 - Cerra suas portas, defi nitivamente, após 33 anos de atividades, a úl-tima loja Tok-Discos, que fi cava na esquina da Rua Major Facundo com Rua Guilherme Rocha, na Praça do Ferreira, baixos do Edifí-cio Granito, mesmo local onde outrora funcionou a loja Broadway. Foi fundada pelos empresários Flávio Carneiro e Ethel Angert.

Julho / 2008

05 - O professor de direito da Faculdade Católica Rainha do Sertão, cea-rense Raphael Almeida Basílio Brito, falece, aos 32 anos, em um acidente, ao saltar de pára-quedas, na cidade de Boituva, em São Paulo, onde fi ca o Centro de Treinamento de Pára-quedismo. No ar, colidiu com outro pára-quedista, que sobreviveu ao choque. Seu corpo é velado na Funerária Ternura em seguida é cremado, como era seu desejo.

15 - Falece, na madrugada, o ex-procurador geral de Justiça, Nicéforo Fernandes de Oliveira, aos 68 anos de idade. Ele havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral no último dia 30 de junho, e desde en-tão, estava internado. Nicéforo foi procurador-geral de Justiça em três ocasiões: Em setembro de 1996; setembro de 1998, tendo ain-

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Revista do Instituto do Ceará - 2017178

da exercido o cargo interinamente em 2005. O procurador havia se ausentado de suas funções no Ministério Público, no dia 30 de abril, para candidatar-se a prefeito do município de Independência. A missa de corpo presente ocorre no fi nal da manhã de ontem na sede da Procuradoria Geral de Justiça, Centro da cidade. Após a missa, o corpo é transladado para Independência, sua cidade natal, para o sepultamento.

26 - Falece, vítima de pneumonia, no Hospital Gênesis, aos 99 anos de idade, o odontólogo, advogado, jornalista e poeta Kideniro Fla-viano Teixeira (Kideniro Teixeira), que iniciou suas atividades em Manaus, AM. Autor de “Lanterna Azul”, “Mandacarus” e “Santel-mos e Nebulosas, era natural de Ipaporanga, CE., onde nascera em 16/08/1908.

27 - Incêndio de grandes proporções destrói antigo prédio localizado na rua Barão do Rio Branco nº716, onde funcionavam A Financeira, Associação dos Servidores Públicos Nacionais e a loja de festas Balão Mágico que são destruídas. O incêndio começou por volta da meia-noite e só completamente apagado às 7h30min. As equipes do Corpo de Bombeiros usam cinco tanques de água para conter as chamas e estimam que 80% do prédio foi atingido. Não houve pessoas feridas.

31 - Iniciadas as obras para construção do edifício do Ministério Público do Trabalho, localizado na Praia de Iracema, próximo ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, com a demolição de galpão de 4,5 mil metros quadrados que já armazenou algodão e cera de car-naúba destinados à exportação e alimentos da merenda escolar. O novo prédio terá 12 andares. O antigo prédio tem cerca de 50 anos e já se chamou Casa Machado, quando armazenava algodão, de-pois Companhia Brasileira de Armazenamento - Cibrazen e, com a fusão desta com a Companhia Brasileira de Alimentos - Cobal e com a Companhia de Financiamento da Produção - CFP, surgiu a Companhia Nacional de Abastecimento - Conab, que também ar-mazenou alimentos da merenda escolar.

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179Datas e Fatos Para a História do Ceará

Agosto / 2008

06 - Acidente Aéreo quando o monomotor, de prefi xo PU-AIX, cai por volta das 9h40min, no bairro do Siqueira, minutos após o aparelho haver decolado em vôo de instrução do Aeródromo Feijó, distante cerca de 500 metros aproximadamente do local do acidente, dei-xando seus tripulantes, o piloto Cícero Cândido Lima e o co-piloto Pompeu Costa Souza, gravemente feridos. Eles são socorridos por um dos helicópteros da Coordenadoria Integrada de Operações Aé-reas - Ciopaer, além de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). As vítimas são internadas no Hospital Regional da Unimed, com fraturas nas pernas, contusões e ferimen-tos generalizados. A causa do acidente foi uma pane no motor.

13 - O delegado de Polícia Civil, do 19º Distrito Policial, no Conjunto Esperença, Cid Júnior Peixoto do Amaral, de 60 anos, morre por volta das 18 horas, ao ser atingido com um tiro de uma pistola 380 próximo à orelha, disparado pelo procurador de Justiça aposentado, Ernandes Lopes Pereira, do Amapá, de 59 anos, dentro da mansão do procurador, na Rua Xeréu, localidade de Precabura, Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza.

14 - Morre, pela manhã, o general Manoel Theophilo Gaspar de Oliveira Neto. Estava internado há 15 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Militar de Fortaleza e faleceu em conseqüên-cia de falência múltipla de órgãos. O corpo é velado no Memorial do 10º Grupo de Artilharia de Campanha - GAC e o sepultamento acontece às 11h do dia seguinte no Cemitério São João Batista. In-gressou no Exército como aspirante em 1947. Em 1955, estudou na Escola de Aperfeiçoamento de Ofi ciais - EsAO do Rio de Janeiro e voltou para Fortaleza na ano seguinte. Retornou mais uma vez ao Rio, em1958, para ingressar na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército - Eceme. Após servir em Fortaleza, Manaus e Teresina, foi nomeado comandante do 10º Grupo de Obuses (hoje Grupo de Artilharia de Campanha, transferido de Fortaleza para Boa Vista) em 1967. O general Manoel Theophilo nascera em Fortaleza, no dia 27/06/1924.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017180

14 - O jornalista Hildebrando Torres Espínola (Hildebrando Espínola), 89 anos, falece às 15h vítima de insufi ciência cardíaca. O corpo é velado na Funerária Ternura e o sepultamento acontece às 10h do dia seguinte, no Parque da Paz. Natural de João Pessoa, PB, Hil-debrando Espínola foi procurador do Instituto de Previdência de Assistência dos Servidores do Estado - IPASE. Destacou-se, ainda, como professor de sociologia e fundador da Escola de Administra-ção da Universidade Estadual do Ceará. Como jornalista trabalhou na extinta Gazeta de Notícias e foi correspondente do Estado de São Paulo. Hildebrando marcou sua passagem na imprensa do Ceará e do País por ter sido o primeiro jornalista brasileiro dar visibilidade nacional à destruição do Sítio Caldeirão.

19 - Morre o empresário Edson Queiroz Filho, aos 56 anos de idade, vítima de ataque cardíaco. Ele passou mal quando fazia exercícios numa academia na avenida Washington Soares, recebeu atendimen-to no local, chegou a ser levado para o hospital São Matheus, mas não resistiu. Ele sofria de problemas cardíacos. Entre 1995 e 1997, chegou a ser deputado federal, quando renunciou ao mandato. Tam-bém foi candidato a prefeito de Fortaleza, em 1996. Engenheiro mecânico formado pela UFC (1974) e industrial. Seu corpo é vela-do na Funerária Ternura, Rua Padre Valdivino nº 2255, na esquina com a Rua Tiburcio Cavalcante. Edson Queiroz Filho nascera em 06/10/1951, em Fortaleza.

21 - Assume o comando da 10ª Região Militar - Soares Moreno o gene-ral-de-divisão Vitor Carulla Filho em substituição ao general-de--divisão Sérgio Domingos Bonato. A solenidade de passagem de comando, na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, é presidida pelo general-de-exército Marius Luiz Teixeira Neto, comandante militar do Nordeste.

22 - Toma posse, na Academia Cearense de Letras - ACL, na Rua do Rosário nº1, como membro efetivo, Francisco César Asfor Rocha, na cadeira nº 22 que tem como patrono Justiniano de Serpa e seu antecessor foi Manuel Eduardo Pinheiro Campos (Eduardo Cam-pos), sendo saudado pelo acadêmico Napoleão Nunes Maia Filho.

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181Datas e Fatos Para a História do Ceará

25 - O jornalista José Edilmar Norões Coelho, diretor-geral de programa-ção do Sistema Verdes Mares, recebe a Medalha do Pacifi cador, em reconhecimento aos serviços prestados à 10ª Região Militar - 10ª RM e ao Exército Brasileiro. A comenda é entregue pelo comandante da 10ª RM, general Vitor Carulla Filho, no 23º Batalhão de Caçadores, durante comemoração do Dia do Soldado da Guarnição de Fortaleza (25 de agosto), data de nascimento do Patrono do Exército Brasilei-ro, Marechal Luís Alves de Lima e Silva - o Duque de Caxias.

27 - O presidente da seção cearense da Associação Brasileira de Advoga-dos -ABA-Ce, Gladson Mota, assume, como membro da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará - Amlece, na cadeira que tem como patrono o jurista José Martins Rodrigues. A solenidade é realizada na Academia Cearense de Letras, na Rua do Rosário nº 1.

Setembro / 2008

03 - O desembargador cearense Francisco César Astor Rocha (César Ro-cha) assume a presidência do Superior Tribunal de Justiça - STJ, nomeado pelo presidente da República.

05 - O ministro José Paulo Sepúlveda Pertence recebe, no auditório do Pleno do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, na Avenida Gene-ral Afonso Albuquerque Lima, no Cambeba, a Medalha do Mérito Judiciário Clóvis Bevilaqua.

08 - Por volta das 17h30, o empresário Vicente Derivan Cruz de Araújo, 53 anos, dono da Gráfi ca Status, é morto a tiros quando saía da sua empresa na Rua Liberato Barroso, 867, no Centro.

08 - Inaugurado, na Rua Padre Valdivino nº1688, no Dionísio Torres, o Complexo Funerário Ethernus, ou simplesmente Funerária Ether-nus, do Grupo Nobre.

11 - A Academia Cearense de Letras - ACL realiza a solenidade de outor-ga da Medalha Thomaz Pompeu aos acadêmicos decanos Abelar-do Fernando Montenegro (Abelardo Montenegro) e Artur Eduardo Benevides, com saudação proferida por Pedro Paulo Montenegro.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017182

22 - Inaugura-se o novo Portão das Armas da Base Aérea de Fortaleza, dentro das comemorações dos 72 anos da corporação. As duas tor-res da frente, da antiga construção, com o arco onde vem o nome da corporação militar, permanecem. Mas foi demolida a edifi cação que abrigava as janelas laterais. No lugar, agora existem quatro vias para entrada e saída. Em cada via, uma câmera de segurança ajuda na vigilância. A edifi cação destruída datava da década de 1930 e fora projetada pelo arquiteto húngaro Emilio Hinko.

26 - Toma posse, em solenidade na sede da Academia Cearense de Le-tras, no Palácio da Luz, na Rua do Rosário nº 1, como novo presi-dente da Academia Fortalezense de Letras - AFL, o escritor João Soares Neto, que substitui o professor Ednilo Gomes Soárez. A sua eleição ocorreu no dia 17 e ele presidirá a casa durante o biênio 2008-2010. O novo vice-presidente é o empresário José Newton Lopes de Freitas (Newton Freitas).

29 - A 38ª edição do Troféu Sereia de Ouro homenageia, à noite, no Theatro José de Alencar, quatro personalidades cearenses que con-quistaram destaque em âmbito nacional. A comenda, instituída e entregue pelo Sistema Verdes Mares, premia a escritora Ana Miran-da, o ministro da Previdência Social, José Barroso Pimentel (José Pimentel), o professor José Osvaldo Beserra Carioca e o ministro do Tribunal de Contas da União, Ubiratan Diniz de Aguiar (Ubi-ratan Aguiar). Em nome dos homenageados, Ana Miranda faz o agradecimento.

Outubro / 2008

05 - Os eleitores de Fortaleza vão às urnas para escolha de prefeito e vereadores. Os candidatos a prefeitura são: a prefeita Luisianne de Oliveira Lins (Luisianne Lins) (PT); Moroni Bing Torgan (Moro-ni Torgan) (Dem); Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Gomes (Patrícia Sabóia) (PDT); Renato Roseno (PSOL); Pastor Neto Nunes (PSC); José Ribamar Aguiar Júnior (PTC); Sérgio Braga Barbosa (PPS); Adahil Barreto (PR); e Carlinhos Vasconcelos (PCB). Luisianne

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183Datas e Fatos Para a História do Ceará

Lins conquista a vitória no primeiro turno ao obter 593.778 (50,16%) sobre o segundo colocado, Moroni Torgan 295.921 (25,00%). O ve-reador mais votado foi João Alfredo Teles Melo (PSOL).

07 - Falece à tarde, aos 75 anos de idade, vítima de infarto fulminante do miocárdio, o empresário João Batista Melo, fundador dos mercadi-nhos São Luiz. O corpo é velado no Complexo Velatório Ethernus, onde no dia seguinte é celebrada a missa de corpo presente às 14h e o sepultamento acontece às 16h, no Cemitério Parque da Paz. Nas-cera em Fortaleza, CE, no dia 24/06/1933.

07 - Morre, vítima de câncer, o cantor e compositor Valter de Sousa Moura (Valter Moura), irmão dos cantores Carlos Augusto (faleci-do) e Henrique Moura. Nascera em Fortaleza em 08/05/1927.

10 - Morre o conhecido sanfoneiro cearense João Aguiar Sampaio (Ju-linho do Acordeon), aos 63 anos de idade. Estivera recentemente em visita à sua terra natal. Foi para o Rio de Janeiro em 1954, ano em que gravou seu primeiro disco, um 78rpm na Sinter, trazendo “Baião Macumba” e “Baiãozinho Bom”, feitos com Evaldo Gou-veia. Julinho nascera em 07/09/1922.

10 - Assume a cadeira de sócio efetivo do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico), o magistrado Fernando Luís Ximenes Rocha (Fernando Ximenes), na vaga deixada pelo escritor Rubens de Azevedo, falecido em 17/01/2008.

14 - Às 19h, abertura do 59º Salão de Abril no Centro de Referência do Professor, na Rua Conde D’Eu nº 560 no Centro. A exposição pode-rá ser visitada de segunda a sexta-feira dentro do período de 15 de outubro a 23 de novembro.

16 - Com a bênção do pároco da Catedral Metropolitana de Fortaleza, padre Clairton Alexandrino, é inaugurada, com 11 metros de altu-ra, a Estátua de Santa Edwiges, na frente da Igreja que tem seu nome, que tem como pároco o padre Manuel de Castro Ferreira, na Avenida Presidente Castello Branco (Leste-Oeste), no bairro Moura Brasil. A construção da estátua levou quase três meses e foi resul-

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Revista do Instituto do Ceará - 2017184

tado de projeto do vereador Willame Correia, que também esteve presente ao evento. A Prefeitura de Fortaleza, através da Secretaria Executiva Regional - I, contratou o artista Franciné Macário Diniz para construir a imagem.

23 - Toma posse, no cargo de reitor da Universidade Federal do Ceará - UFC, o professor Jesualdo Pereira Farias, que fi cará à frente do destino da UFC nos próximos quatro anos. A solenidade acontece na Concha Acústica, marcando também a nomeação do professor Hen-ry Campos, atual pró-reitor de Extensão, como vice-reitor da UFC. A cerimônia tem início com a apresentação da orquestra Jovem UFC--Sesi. Jesualdo Pereira Farias recebe o cargo do pró-reitor de Admi-nistração, no exercício da Reitoria, professor Luís Carlos Saunders.

Novembro / 2008

02 - Falece, na madrugada, aos 84 anos de idade, a educadora Maria Antonieta Cals de Oliveira, irmã do ex-governador do Ceará, César Cals de Oliveira Filho, vítima de falência múltipla dos órgãos. O corpo da educadora é sepultado, no fi m da tarde, no Cemitério São João Batista. Antonieta foi professora primária e diretora do grupo educacional Visconde do Rio Branco e delegada do MEC no Ceará.

13 - O governador Cid Ferreira Gomes (Cid Gomes) (PSB) recebe o títu-lo de cidadão de Fortaleza na Câmara Municipal e na ocasião anun-cia que serão abertas as propostas da licitação para a construção do Pavilhão de Feiras do Estado e licitação do projeto de revitalização do rio Maranguapinho, que deverá benefi car mais de 300 mil pes-soas e dar um fi m a áreas de risco que se formam em Maracanaú, Fortaleza e Caucaia. A cerimônia de entrega do título a Cid, que é sobralense, reune autoridades como o presidente da Assembleia Legislativa, Domingos Gomes de Aguiar Filho (Domingos Filho) (PMDB), o presidente em exercício do Tribunal de Justiça, desem-bargador Rômulo de Deus, o vice-governador Francisco Pinheiro (PT), o senador Inácio Arruda (PCdoB), parte do secretariado, lide-ranças empresariais, vereadores e parlamentares de vários partidos.

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185Datas e Fatos Para a História do Ceará

Dezembro / 2008

08 - A Câmara Municipal de Fortaleza -CMF concede, à noite, ao mi-nistro do Supremo Tribunal Federal - STF, Marco Aurélio Mello o título de Cidadão Fortalezense, projeto do presidente da Câmara, Tin Gomes, que justifi cou a homenagem em discurso.

11 - Morre, em Fortaleza, o músico e compositor Manoel Ferreira Lima. Ingressara na Polícia Militar do Ceará em 1962. Foi regente da Ban-da de Música da PMC na década de 1980. Passou para a reserva em 1985 e prestou serviço na Secretaria de Cultura do Estado. É sepultado no Cemitério Parque da Paz. Nascera em Iguatu, CE, a 09/01/1932.

22 - Morre, aos 64 anos de idade, vítima de insufi ciência cardíaca, o pu-blicitário Luciano Miranda que tem o corpo velado na Eternus, na Rua Padre Valdivino. Nascera a 15/04/1944.

Janeiro / 2009

09 – Morre, em Brasília, o jornalista e advogado Edísio Sobreira Gomes de Matos (Edísio Gomes de Matos). Nascera em Fortaleza, CE., em 02/04/1927.

19 – Morre o comerciante Francisco de Assis Pereira de Alencar (Fran-cisco Alencar), em Brasília, aos 83 anos de idade. Foi um dos pioneiros com loja na avenida W-3. Nascera em Aurora, CE., a 24/12/1926.

21 - Morre, pela manhã, aos 77 anos de idade, após passar 6 dias na Uni-dade de Terapia Intensiva do Hospital São Mateus, em Fortaleza, o médico dermatologista e ex-prefeito de Fortaleza, Juracy Vieira de Magalhães (Juraci Magalhães), Ele estava sedado, respirando por aparelhos, com ventilação mecânica em coma induzido. Juraci tinha câncer de pulmão há 12 anos, e foi considerado curado. Entre-tanto, o câncer volta e se espalha pelo fígado. Seu corpo é sepultado no Cemitério Parque da Paz. Em 1988, fora eleito vice-prefeito na

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Revista do Instituto do Ceará - 2017186

chapa de Ciro Gomes e com a renúncia deste, para ser candidato a governador do Ceará, Juraci assumiu a prefeitura. Foi prefeito de Fortaleza de 1990 a 1993 e novamente de 1997 a 2004. Nascera em Senador Pompeu a 12/02/1931.

23 - Morre, pela manhã, no Hospital São Matheus, em Fortaleza, vítima de falência múltipla dos órgãos, o jornalista e radialista Francisco Afrânio de Lima Peixoto (Afrânio Peixoto), aos 82 anos de idade. Estava internado há 20 dias. Durante anos, dirigiu a Rádio Uira-puru, da qual foi fundador, superintendeu o Grupo Cidade de Co-municação e foi presidente da Associação Cearense de Emissoras de Rádio e Televisão-Acert. É sepultado no dia seguinte às 9h no Cemitério Parque da Paz após ser velado na Funerária Paz Eterna, na Rua Júlio Siqueira, 854, Bairro Joaquim Távora. Nascera em Fortaleza, no dia 05/09/1926.

29 - Assume a presidência da Academia Cearense de Letras-ACL, em so-lenidade realizada em sua sede, na Rua do Rosário nº 1, com início às 19h, o médico e escritor Pedro Henrique Saraiva Leão.

Fevereiro / 2009

01 - Morre, aos 86 anos de idade, o jurista e poeta José Teúnas Ferreira de Andrade (Teúnas Andrade), cearense de Acaraú, Ce., onde nascera no dia 11/11/1922 na Fazenda Corrente.

10 - Eleita a Corte Momina para o Carnaval de 2009. Rei Momo: Djanir Pinheiro Landim; Rainha do Carnaval: Juliana Araújo; Princesa: Izabel Girão, Rei Momo Infantil João Pedro e Rainha Infantil Lay-za, no Oásis Clube.

Março / 2009

02 - Morre, vítima de parada cardiorrespiratória, o professor, educador e escritor José Costa Matos que estava internado há 32 dias no Hos-

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187Datas e Fatos Para a História do Ceará

pital São Matheus, após diagnóstico de um linfoma. O velório e o sepultamento ocorrem no Cemitério Jardim Metropolitano. Nascera em 29/10/1927, na cidade de Ipueiras, CE. Formado em Letras An-glo-Germânicas pela Universidade Federal do Ceará - UFC, ensi-nou em diversas instituições de ensino em Fortaleza e no Interior, além de ser funcionário público do Tesouro Nacional. Autor de vá-rios livros de prosa e poesia, em que o sertão se confi gurava como paisagem principal, ele ocupava a cadeira número 29 da Academia Cearense de Letras- ACL.

04 - Falecimento, aos 79 anos de idade, da escritora e historiadora Ma-ria Noélia Rodrigues da Cunha, autora do livro “Praças de For-taleza”, imprescindível no estudo de nossa cidade. Nascera em 24/12/1929.

21 - Eleita Miss Ceará 2009 a aluna de letras e modelo Khrisley Karlle-ni, de 23 anos de idade, Miss Pacajus, em festa no Hotel Vila Galé. O segundo lugar fi cou com a Miss Caucaia, Juliana Marinho, de 18 anos de idade, que recebeu os títulos de Beleza Ceará e Miss Turismo. Já o terceiro lugar fi cou com a Miss Crato, Irislana Brito, de 21 anos de idade. O título de Miss Simpatia fi cou com a Miss Horizonte, Cláudia Pessoa, de 18 anos de idade.

22 - Morre, em São Paulo, SP., o ex-deputado e empresário Etevaldo No-gueira Lima, aos 76 anos de idade, no Hospital Sírio-Libanês, onde fora submetido a uma intervenção cirúrgica na aorta e próstata. O corpo é velado na Assembleia Legislativa durante o dia seguinte sendo levado à tarde ao Cemitério Jardim Metropolitano onde é cremado. Nascera em Pedro II, PI., em 08/07/1932.

30 - O Governo do Estado condecora dois cearenses com a Medalha da Abolição, a maior comenda do Estado, que é entregue pelo go-vernador Cid Gomes ao presidente do Superior Tribunal de Justi-ça - STJ, Francisco César Asfor Rocha (César Rocha), e ao cantor e compositor Raimundo Fagner Cândido Lopes, às 20 horas no Theatro José de Alencar.

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Abril / 2009

01 - Morre, à tarde, vítima câncer na próstata, o artista plástico cearen-se Francisco Nogueira da Silva. Premiado por três vezes no tra-dicional Salão de Abril, o artista, muito comentado pelo domínio da pintura naïf. Era funcionário da Universidade Federal do Ceará desde 1966, sempre na referencial Faculdade de Arquitetura, onde produziu muitas de suas obras. Nascera em 1941.

09 - Ocorre em Fortaleza a maior chuva do ano, com 108 milímetros no intervalo de 24 horas, medidos pela Fundação Cearense de Meteo-rologia e Recursos Hídricos (Funceme), com medidor na estação do Castelão.

11 - Morre o radialista Paulo Rodrigues, aos 69 anos de idade, vítima de infarto do miocárdio. Ele atuava como plantonista da equipe es-portiva Paulino Rocha, da Rádio Verdes Mares AM. Seu corpo é sepultado no dia seguinte no cemitério Parque da Paz. Paulinho era o único portador de defi ciência visual a atuar nesse tipo de função no rádio brasileiro. Tinha uma memória privilegiada, capaz de citar, com detalhes, dados de jogos acontecidos há anos.

15 - Morre, vítima de hepatite medicamentosa, no Hospital São Mateus, o jornalista, publicitário, compositor e fi lósofo Francisco Augusto Pontes, ex-secretário de cultura do Estado (1991-1993). Seu corpo é velado na Funerária Ternura e o sepultamento ocorre no Cemitério São João Batista. Nascera em 30/12/1935.

18 - Falecimento do advogado e poeta Edmilson Sousa Lima, autor do livro “Sinestesia de Um Poeta Perdido no Tempo”. Nascera em Ca-mocim, Ceará, em 22/04/1915.

Junho / 2009

01 - Morre, no fi m da manhã, o fundador e presidente do Instituto do Câncer do Ceará - ICC, médico cirurgião Haroldo Gondim Juaçaba (Haroldo Juaçaba), aos 90 anos, vítima de insufi ciência respira-

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189Datas e Fatos Para a História do Ceará

tória, no Hospital São Raimundo, em Fortaleza. O velório ocorre na capela do Hospital São Raimundo, onde acontece a missa de corpo presente e o enterro no Cemitério São João Batista. Harol-do Juaçaba, foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará - UFC. Nascera em Fortaleza no 31/03/1919.

15 - Morre, por volta das 14h, aos 85 anos de idade, em Fortaleza, o mé-dico obstetra Silas de Aguiar Monguba (Silas Monguba), fundador e presidente do Desafi o Jovem do Ceará e do Hospital Batista, ví-tima de insufi ciência cardíaca e renal. Seu corpo é velado na Igreja Batista Alvorada, na Avenida Padre Antônio Tomaz, 2083, Aldeota, sendo o sepultamento no dia seguinte no Cemitério Parque da Paz. Foi soldado da Força Expedicionária Brasileira - FEB, na II Guerra Mundial. Nascera em Manaus, AM., em 29/09/1923.

15 - Morre, em Fortaleza, aos 90 anos de idade, o poeta, médico cardiologista e professor universitário Heládio Feitosa e Castro, cearense nascido em Tauá, CE em 08/04/1919.

15 - Morre aos 54 anos de idade, o jogador de futebol Onofre Aloísio Ba-tista (Tiquinho), vítima de falência múltipla dos órgãos. Seu corpo é velado na sede do Ceará Sporting Club, na Avenida João Pessoa e é sepultado no Cemitério Jardim Metropolitano.

22 - Morre, pela madrugada, aos 87 anos de idade, o advogado e político Gonçalo Claudino Sales, vítima de falência múltipla dos órgãos. Era formado pela Faculdade de Direito de Minas Gerais em 1949. Foi deputado estadual em 1967 e 1971. Lider político, pertenceu à Aliança Renovadora Nacional – Arena e ao Partido da Frente Li-beral - PFL. Foi Secretário de Administração do Ceará de 1971 a 1974. De 1975 a 1979 foi deputado federal. Foi também Secretário de Administração e de Segurança Pública e ainda Procurador Geral do Estado. Nascera em Novo Oriente, CE., no dia 12/02/1922. Seu corpo é velado na Funerária Eternus e enterrado no Cemitério Par-que da Paz.

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Julho / 2009

09 - Morre o poeta e publicitário Bartholomeu Pinto Neves (Paulo Bar-tô). Era nascido em Fortaleza em 01/06/1933.

14 - Morre, à noite, em Fortaleza, CE, vítima de parada cardíaca, Luiz de Arruda Veras, 78 anos de idade. Por 40 anos, seu Veras, como era conhecido, trabalhou na área administrativa do jornal O Povo. Na-tural de Vitória de Santo Antão, PE, e foi revelado pelo Central de Caruaru na década de 50, o que despertou interesse no Sport Club do Recife. Além do Sport e Central em Pernambuco, Veras ainda jogou no Galicia da Bahia, América de Minas, Corinthians Paulista, Remo do Pará, Fortaleza Esporte Clube, e Usina Ceará. Fixou resi-dência na capital Cearense. Ele também participou da diretoria da Associação Cearense de Imprensa - ACI por 30 anos.

Agosto / 2009

02 - Morre o mais antigo atleta da galeria de ídolos do Ceará Sporting Club, aos 94 anos, de idade, vítima de infecção generalizada o ex--goleiro Adhemar Nunes Freire, o Pintado, ex-atleta alvinegro, sen-do sepultado com a bandeira do clube, no fi m da tarde, no cemitério São João Batista, no Centro. Era nascido no mesmo ano da funda-ção do Ceará Sporting Club (1914). Pintado defendeu o Vovô entre as décadas de 30 e 40, sendo campeão em 31, 32 e 48. Se transferiu para o futebol carioca, onde defendeu Madureira e Botafogo - sa-grou-se campeão carioca em 1935 pelo time de General Severiano. Professor de inglês, chegou a ocupar o cargo de diretor em algumas escolas de Fortaleza. Recentemente, lutava contra o câncer e há três anos passou a sofrer do mal de Alzheimer. Adhemar Nunes Freire foi também rádio amador, com o prefi xo PY7-VJS.

25 – No quilômetro 6,5 da BR116, em Salgueiro, PE, ocorre o abalroa-mento de um caminhão com uma camioneta na qual viajavam os engenheiros da Empresa Industrial Técnica S/A – EIT no trabalho de supervisão das obras da ferrovia Transnordestina, que vai ligar o polo gesseiro de Pernambuco ao Porto do Pecém. Os engenhei-

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191Datas e Fatos Para a História do Ceará

ros são quatro, sendo que três entram em óbito: Bolívar Barreira Gadelha Filho, Rogério Gomes de Carvalho e Apolônio Sérgio de Oliveira. O quarto, Miranda Júnior, sofre fraturas mas escapa. O motorista do caminhão também falece.

Setembro / 2009

02 - Morre o advogado tributarista Manoel Lourenço dos Santos, vítima de enfarte do miocárdio. Foi professor do Curso de Direito da UFC, Ve-reador, chegando a dirigir a casa e substituiu o prefeito Acrísio Morei-ra da Rocha por sete meses. Seu corpo é velado na Funerária Ethernus e sepultado no Cemitério Parque da Paz. Nascera no dia 20/03/1926.

07 - Morre, no Instituto do Câncer, o conhecido jogador de futebol Mo-zart Araújo Gomes (Mozarzinho), que alegrou as torcidas durante boa parte de sua vida. Jogou no Fortaleza Esporte Clube, no Náuti-co de Recife, no Fluminense, no Ceará Sporting Club, no América e no Ferroviário. Era fi lho de Mozart e irmão de Moésio Gomes. Foi vitimado por um câncer no pulmão. Seu corpo é velado na Funerá-ria Ethernus e sepultado no Cemitério de São João Batista. Nascera em Fortaleza, CE, no dia 05/01/1939.

20 - Morre, em Brasília, DF, vítima de leucemia, o jornalista Paulo Cabral de Araújo, aos 87 anos de idade, presidente do Condomínio Acioná-rio dos Diários Associados. Paulo Cabral iniciou sua profi ssão aos 12 anos, dirigindo seu jornal O Exemplo, editado pelo Centro Infantil de Cultura, em Fortaleza, CE. Seu irmão José Cabral era locutor da Cea-rá Rádio Clube e ele iniciou a seu lado fazendo as propagandas. Era orador fl uente. Foi prefeito de Fortaleza no período 1951-1955. Seu corpo é sepultado no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Nascera em Guaiúba, município de Pacatuba, CE, em 23/08/1922.

23 - Morre, no Hospital Antônio Prudente, o poeta popular, xilógravo e escultor, Alberto Porfírio da Silva, aos 83 anos de idade, vitima de insufi ciência respiratória ocasionada por silicose. Seu corpo é vela-do na Casa do Cantador, que ele dirigiu, e enterrado no dia seguinte,

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às 8h30, no cemitério de Parangaba. Porfírio, nascera em Quixadá, no dia 23/12/1926.

23 - Falece no Rio de Janeiro, aos 88 anos de idade, o engenheiro, profes-sor Theóphilo Benedicto Ottoni Netto (Teófi lo Otoni). Consultor de renome nacional e internacional, o professor Theóphilo Ottoni foi, especialmente, contratado pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente - Semace, para oferecer parecer técnico, econômico e am-biental sobre o EIA/Rima da barragem do Castanhão, no Estado do Ceará. Era professor Titular e Chefe do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Era cearense, nascido em Orós, CE em 1921.

25 - Realiza-se mais uma entrega do Troféu Sereia de Ouro, pelo Sistema Verdes Mares no Theatro José de Alencar com início às 21h. Os agraciados são a escritora Isabel Idelzuite Lustosa da Costa (Isabel Lustosa), o desembargador Fernando Luís Ximenes Rocha (Fer-nando Ximenes), o padre Luiz Ferdinando Torres da Costa e Silva (Fred Solon) e o empresário Honório Pinheiro.

Outubro / 2009

06 - Enterro, às 17h, no Cemitério Parque da Paz, dos restos mortais do estudante ativista e guerrilheiro Bérgson Gurjão Farias, mem-bro do PC do B que participava da guerrilha do Araguaia e que foi barbaramente assassinado por paraquedistas do Exército em 08/05/1972, sendo pendurado de cabeça para baixo em uma árvore como exemplo. Foi enterrado no Cemitério de Xambioá. Seu cor-po foi encontrado em 1996 pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal. Seu corpo recebeu a denominação de X-2. Sua família participou de um banco de DNA para identifi ca-ção do corpo. Antes do sepultamento é inaugurado um memorial em sua homenagem na Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará - UFC, com a participação do governador Cid Ferreira Gomes e da prefeita Luizianne Lins. Bérgson nascera em Fortaleza, a 17/05/1947.

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193Datas e Fatos Para a História do Ceará

11 - Morre, aos 86 anos de idade, o professor Pedro Hemetério, lutador de jiu-jitsu. Era nascido em 11/07/1923.

18 - Morre, vítima de câncer na próstata, aos 69 anos de idade, o jornalista Pedro Paulo Ribeiro, especializado em economia. Foi funcionário da Superintendência Nacional do Abastecimento - Sunab e traba-lhou no jornal O Povo. Seu corpo é velado na Funerária Paz Eterna e sepultado no Cemitério Memorial, em Caucaia. Nascera em 1940.

Novembro / 2009

09 - Morre, aos 58 anos de idade, vítima de hepatite C, o ex-atleta Fran-cisco Gomes de Sousa (Chinezinho), famoso por suas atuações no futebol cearense. Iniciou no Calouros do Ar em 1965, transferindo--se para o Galícia, da Bahia onde foi campeão em 1968. Seu corpo é velado na sede do Fortaleza Esporte Clube, onde ele esteve por dez anos, sendo sepultado no Cemitério São João Batista.

10 - Morre, aos 76 anos de idade, vítima de enfi zema pulmonar, o poeta, jornalista, escritor, editor e livreiro Manoel Coelho Raposo (Ma-noel Raposo), comunista stalinista. Manteve em Fortaleza a Feira do Livro, livraria que lhe foi tomada sendo os livros queimados, pelo governo da ditadura em 1964, ocasião em que foi preso. Edi-tou a revista “O Saco”. Seu corpo é cremado no Cemitério Jardim Metropolitano. Nascera em Crateús no dia 24/04/1933.

10 - Lançamento, na Academia Cearense de Letras -ACL, na Rua do Ro-sário nº1, do livro “Poetas da Academia Cearense de Letras (1894-2009)”, de autoria do médico, escritor e historiador José Murilo de Carvalho Martins (Murilo Martins), com apresentação pelo escritor Pedro Paulo Montenegro.

10 - Entrega do Título de Cidadão Cearense ao médico Osvaldo Augusto Gutiérrez Adrianzém, no Plenário 13 de Maio da Assembleia Legis-lativa, no Edifício Senador César Cals, na Rua Barbosa de Freitas, proposição do deputado professor José Teodoro Soares.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017194

10 - Inaugurado, com a presença do presidente Luiz Lula Inácio da Silva, o Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte de Fortaleza - Cuca Che Guevara, espaço de expressão e produção cultural para jovens da Capital construído no local do antigo Clube de Regatas da Barra do Ceará, na Avenida Presidente Castelo Branco nº6417, na Barra do Ceará. É a primeira unidade, sendo previstos outros Cucas em outros bairros da cidade.

18 - Morre, em Joaquim Pires, PI, vítima de infarto, o padre jesuíta Ferdi-nando Torres da Costa e Silva (Fred Sólon), que tem o corpo velado na Igreja do Cristo Rei até a cremação no Cemitério Metropolitano do Eusébio. Suas cinzas são lançadas do alto do morro do mosteiro dos jesuítas em Baturité, conforme sua vontade. Nascera em For-taleza, CE, em 06/08/1932. Era fi lho do professor Luís Mozart da Costa e Silva (Mozart Solon) e irmão da memorialista Vânia Torres.

23 – Morre, na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Antônio Pru-dente, onde estava internado há um mês por conta de complicações decorrentes de diabetes, vítima de ataque cardíaco, aos 83 anos de idade, o ex-jogador do Gentilândia e um dos principais pesquisado-res do futebol no Estado, Ayrton Teixeira Monte (Airton Monte), pai do cronista homônimo. Foi crônista esportivo e narrador da Rádio Dragão do Mar. Trabalhou como balconista na Livraria Comercial, na Praça do Ferreira. É enterrado no Cemitério São João Batista, no Centro.

26 - Morre, aos 76 anos de idade, o técnico em planejamento turístico e profi ssional de relações públicas, o professor José Everardo Guedes Montenegro (Everardo Montenegro), que tem o corpo velado na Funerária Ternura, na Rua Padre Valdivino nº 2255, na esquina com a Rua Tiburcio Cavalcante e é sepultado no Cemitériio Parque da Paz.

26 - Morre o advogado, jornalista e professor Antônio Carlos Campos de Oliveira, da turma da Faculdade de Direito do Ceará de 1937.

27 - Morre o diplomata Gerard Achile Boris (Gerard Boris), ex-cônsul da França no Ceará.

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195Datas e Fatos Para a História do Ceará

Dezembro / 2009

03 - Morre o desembargador Wilton Machado Carneiro, aos 64 anos de idade, vítima de ataque cardíaco. É sepultado no dia seguinte no Cemitério Parque da Paz.

05 - A jornalista Kérsia Maia Porto Amorim (Kérsia Porto), de 29 anos de idade, e o marido, Francisco Antônio de Lima Amorim, 33 anos de idade, sargento da Polícia Militar, são encontrados mortos por volta das 3h30min da manhã em frente a um condomínio no Mon-tese. A polícia suspeita de crime passional: homicídio seguido de suicídio. O sepultamento do sargento acontece no mesmo dia no Cemitério Jardim Metropolitano, localizado no Anel Viário, en-quanto o da jornalista ocorre no dia seguinte no Cemitério Parque da Saudade, em Caucaia.

07 - Falece, em uma fazenda localizada defronte ao trevo de Aracoia-ba, Maria José Lima, a (Dona Zezé do Cirandinha), vítima de uma ataque cardíaco fulminante, um dia depois que o Bebelú (ex Res-taurante Cirandinha), foi derrubado. Aos 80 anos, ao saber da no-tícia, disse para a fi lha Olga, “prepare minha mortalha, nada mais me interesa aqui”. É cremada e no dia 12 após missa na igreja de Santa Luzia, Praia de Iracema, a família, amigos e clientes jogam suas cinzas no mar do Cirandinha, respeitando seu último desejo. Nascera em Canabrava dos Mourões, hoje Ararendá, município de Crateús, em 22/06/1929.

07 - Eleita Presidente do Centro Industrial do Ceará - CIC,a empresária Roseane Oliveira de Medeiros, primeira mulher a ser eleita para o cargo. Sua posse será no dia 25.

08 - Morre a jornalista precursora da crônica social no Ceará, Maura Ce-leste Corrêa Barbosa (Maura Barbosa), que por muitos anos assi-nou a coluna “Mundanismo” nas páginas do jornal O Povo. Nascera a 10/01/1917 no Aracati, CE.

14 - Morre o advogado Edival de Melo Távora (Edival Távora), ex-se-cretário de Justiça, ex-vereador e ex-diretor da Imprensa Ofi cial do Estado. Nascera em Iguatu, Ce, a 15/05/1922.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017196

25 - Morre, em Campo Grande, MS, o escritor cearense Zorrilo de Al-meida Sobrinho, bancário aposentado do Banco do Brasil. Nascera em Fortaleza, CE, no dia 28/03/1927.

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REGISTRO BIBLIOGRÁFICO

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O Advento do Regionalismo Brasileiro a partir do livro – O Nordeste Brasileiro – Invenção, Espaço E

Dinâmica

F Ésio S *

Figura 1: Imagem do livro.

Lançamento do Livro – O NORDESTE BRASILEIRO – Invenção, Espaço e Dinâmica, ocorrido em 21 de agosto de 2017, Auditório – BA-RÃO DE STUDART DO INSTITUTO DO CEARÁ.

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017200

Fases de seu Processo Histórico Evolutivo

Figura 2 - Mesa diretora que presidiu os trabalhos do lançamento do livro O Nordeste Bra-sileiro – Invenção, Espaço e Dinâmica – vendo-se, ao centro, o escritor e ex-governador do

Estado do Ceará – Doutor Lúcio Alcântara – Presidente do Instituto do Ceará – À esquerda, a escritora Heloisa Caracas de Souza e, à direita, o autor do livro – Francisco Ésio de Souza.

Figuras 3 e 4 - F. ESIO DE SOUZA – Autografando no Auditório - Barão de Studart - do Instituto do Ceará, em Fortaleza (CE) 21.8.2017.

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201O Advento do Regionalismo Brasileiro a partir do livro – O Nordeste Brasileiro

Figuras 5 e 6 - O Autor - Ésio de Souza - autografando no stand do Senado Federal em 01 de setembro de 2017, por ocasião da XVIII BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO, realiza-

da no Rio de Janeiro, de 31.8 a 10.9.2017.

Como se vê, no mês seguinte, o livro já constava do acervo do stand do Senado Federal, quando da ocorrência da XVIII Bienal do Livro 2017, no Rio de Janeiro, oportunidade em que passou, dali por diante, a facultar que todos os brasileiros, habitantes de qualquer parte desse imenso país pudessem lê-lo. Em face da visibilidade que, o - Conselho Editorial do Senado Federal – impõe às suas publicações.

Mas que passos foram dados até chegar a feitura deste Livro?

O Brasil bipolarizado entre Norte e Sul (herança Sebastiana), que perdurou de 1574 a 24 de dezembro de 1919, quando, por força do Decreto de Nº 3.965, de 25 de dezembro do mesmo ano, do presidente Epitácio Pessoa, em que situa o Polígono das Secas não mais no Norte, mas, no Nordeste.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017202

Figura 7 - Mostrando o Brasil espacial dividido em duas partes: Norte e Sul. Por Norte, en-tende-se a porção situada acima da linha divisória e, por Sul, o espaço a meridional iniciado

pelo território do estado do Espirito Santo até os confi ns do Brasil.

Neste longo período de 345 anos, que perpassou diversos regimes políticos administrativos do Brasil - do Colonial, Imperial ao Republicano - até nossos dias, o país vivenciou uma variada gama de tratamento em função do momento circunstancial de cada Estado Nacional em sua época.

Assim, nos fi xemos, com mais ênfase, no que diz respeito à invenção do Nordeste político e de suas consequências administrativas. Contudo, sem antes deixar de mencionar o surgimento de obras tais Os Retirantes, de José de Patrocínio (1889) e, sobretudo, Os Sertões (1902) de Euclides da Cunha, que, em última instância, tem muito a ver com as adversas condições climáticas do Norte seco e, em sucessivo, Polígono das Secas, para depois adotar-se o vocábulo Nordeste.

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203O Advento do Regionalismo Brasileiro a partir do livro – O Nordeste Brasileiro

Figura 8 - POLÍGONO DAS SECAS

Apesar do cenário de onde se desenrolou a luta de Antônio Con-selheiro ter sido às margens do Vaza Barris (BA), área tão árida quanto o Quixeramobim (CE), seu berço natal, mas, num contraponto, a drama-ticidade da contenda foi tão surreal que impressionou e amedrontou a infante República, pela qual cuidou logo de fazer algo para o Norte seco.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017204

Quanto ao Polígono das Secas, criado por Nylo Peçanha (1909), nele foi idealizada a feitura da monumental obra - Solo e Água no Polí-gono das Secas (1949) de - Guimarães Duque -, técnico então pertencente aos quadros do Departamento Nacional de Obras Contras as Secas que, mesmo após o surgimento do termo Nordeste, continuou com seu espaço físico aprisionado ao semiárido, o qual, desgraçadamente, não deixa de se expandir, até o presente, por conta do processo de desertifi cação que experimenta a região em função das mudanças climáticas do Planeta Terra.

Senão veja-se a resolução da SUDENE, tomada recentemente no âmbito dessa temática (1), onde mais de “54 novos municípios foram incorporados ao espaço do semiárido”, dentre os quais 36 integram a base física do Estado do Piauí; 15 à do Ceará e 03 ao Estado da Bahia. A decisão foi adotada pelo Conselho Deliberativo da SUDENE, no Recife (PE), em reunião de 27 de julho de 2017.

Com base na mesma fonte, a área considerada crítica quanto ao fator hídrico (2) “chega a 1.189 municípios reconhecidos como parte do semiárido do país, onde, presentemente, vive uma população superior a 25 milhões de habitantes”. Compete, ainda, esclarecer que o fato de ser reconhecida como área-problema, vale dizer que passa a desfrutar de um tratamento diferenciado, para melhor, por parte do Estado Nacional.

Voltando a Euclides da Cunha, o impacto do lançamento de Os Sertões, na cidade do Rio de Janeiro, nos primórdios da República do Brasil - Governo Rodrigues Alves (1902-1906) - foi de tamanha monta que, passados dois meses, o livro já estava esgotado. Forçando assim, que, no período de 1902 – 1905 fossem editados e publicados três edições do respectivo livro, a evidenciar, assim, o grau de interesse e a importância que a população do país dispensou à temática do livro.

Feita esta aparente digressão, voltemos, assim, ao vocábulo Nordes-te, não o geográfi co, mas, como já dito, o político, que gerou, a partir de 1919, uma riqueza de obras inspiradas na crueza e consequências das secas periódicas que assolam historicamente o semiárido brasileiro. Em ordem cronológica surgem: O Nordeste Brasileiro – Habitat e Gens (1920), tese de Agamenon Magalhães, como precondição para ingresso como professor de Geografi a no Ginásio pernambucano, no Recife. Passados não mais de 05 anos (1925), é lançado o livro Nordeste – Aspectos da Infl uência da Cana sobre a Vida e a Paisagem do Nordeste do Brasil, de autoria do Mestre Gilberto Freyre, por ocasião das comemorações do centenário do Jornal Diário de Pernambuco, no Recife.

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205O Advento do Regionalismo Brasileiro a partir do livro – O Nordeste Brasileiro

Assim, pode-se deduzir que os políticos criaram o Nordeste; os escritores apadrinharam e as Instituições o consolidaram. Tais: o Banco do Nordeste do Brasil (1952), a Superintendência do Desenvolvimento Nordeste SUDENE (1959). A SUDENE, por intermédio do Grupo de Trabalho de Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), entendeu que não seria factível se prender à estratégia espacial vinculada exclusivamente a uma base física, para a época, das mais difíceis de promover o desen-volvimento, porquanto os bloqueios eram dos mais limitantes (escassez hídrica, solos litólicos, rios intermitentes...). Em função disso, expandiu-se territorialmente à busca de interagir com outras sub-regiões e obter proveito de um sinergismo entre as mesmas.

E assim, decidiu-se: a) Fortalecer a Economia do Semiárido; b) Diversifi car a Zona da Mata; c) Expandir a Fronteira Agrícola do Nor-deste, incorporando parte do Meio-Norte maranhense e d) Tutorarem-se na Industrialização como o carro chefe do desenvolvimento econômico e social da Região.

Figura 9 - Mapa do Nordeste da SUDENE.

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Tão logo, após a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE 1959), o regionalismo brasileiro ampliou-se e fortaleceu-se pela criação de outras Superintendências: Superintendências do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam 1966); Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco 1967), Sudesul... Época em que o regionalismo brasileiro agigantou-se!

Em sucessivo, registrou-se uma verdadeira explosão de obras inspi-radas no Nordeste. Citarei apenas algumas, as mais antigas, a exemplo de o Desenvolvimento Econômico Regional - O Nordeste Brasileiro (1964), de Stefan H. Robock, técnico norte-americano que assessorava o Banco do Nordeste do Brasil. Na sequência publica-se (1966), o livro O Outro Nordeste, de autoria do cearense Djacir Menezes, então pertencente ao quadro de sócios efetivos do Instituto Histórico do Ceará. Seguido de O Nordeste Brasileiro – uma experiência de desenvolvimento regional (1979), de autoria de outro cearense João Gonçalves de Souza, ex-supe-rintendente da SUDENE e ministro no Governo Castelo Branco.

FASE DO DESENVOLVIMENTO RURAL INTEGRADO

Figura 10 - Em que se evidencia a queda dos Planos Diretores e a ascensão dos Projetos Es-peciais – POLONORDESTE, PROJETO SERTANEJO, PROHIDRO... Seminário realizado

na sede da SUDENE, no Recife (PE) 1977, onde se vê, da esquerda para direita – Pedro Sisnando Leite ( Técnico do BNB); Ranan Weizmann – professor do Instituto de Ciência da Faculdade Agropecuária da Universidade Hebraica – Rehovot – Israel; José Lins Albuquer-que (superintendente da SUDENE); Assessor do Prof. Weizmann; Francisco Ésio de Souza (SUDENE). Coordenador Regional do POLONOEDESTE. Foto do acervo particular de

Ésio de Souza. Recife (PE). Abril 1977.

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207O Advento do Regionalismo Brasileiro a partir do livro – O Nordeste Brasileiro

Contudo, vale frisar que a expressão maior do Brasil, nesta temática, esbarra na obra de Celso Furtado, o primeiro Superintendente da SUDENE - governo do Presidente Juscelino Kubitschek (1955-1960), que é voltada, não só para o Brasil, mas para toda a América Latina. Entretanto, como obra emblemática do arsenal intelectual de Celso Furtado, destaca-se o clássico - Formação Econômica do Brasil (1959)

Em assim sendo, o Nordeste brasileiro, no âmbito de seu esforço desenvolvimentista, na visão de uma retrospectiva histórica, mostra-se pra-ticamente esgotado nos seus diversos aspectos: físicos, social, econômico.

O NORDESTE BRASILEIRO: INVENÇÃO, ESPAÇO E DINÂMICA - Uma Pequena História a Título de Complemento

Como acima explicitado, não é fácil visualizar um veio em que se possa explorar com ideias que ainda não tenham sido trabalhadas por outrem, isto é, com novas interpretações. Contudo, compete aceitar que sempre existirão cientistas, pesquisadores e escritores que terão êxito em sua missão, haja vista o quanto é rica a imaginação de cada ser humano. Em meu caso específi co, escrever sobre o Nordeste brasileiro foi resultante de um processo cumulativo de conhecimentos sobre a região, iniciado, principalmente, em 1963, quando ingressei nos quadros da SUDENE de Celso Furtado até os dias de hoje, na condição de jubilado.

Oriundo do Semiárido e permanecido nele até os 27 anos de idade, quando migrei para outro ecossistema, a Zona da Mata, que, à primeira vista, me impressionou pela pujança canavieira. Outro clima, outro sistema produtivo, outro agente produtivo, outra cultura!

Após esse período, trabalhando na Zona da Mata, mas residindo, no Recife, passei a viajar por todo o Nordeste, do Maranhão ao Norte de Minas Gerais, visitando região, por região, coordenando uma equipe com-posta por técnicos de diversas áreas, oportunidade em que penetramos nas entranhas do Nordeste caatingueiro do ponto de vista dos recursos naturais.

Para avaliar o quanto foi penoso empreender estas excursões, por terra, no mundo rural nordestino, da época (1969), relatamos que, nesse ano, acabávamos de chegar à cidade de Bom Jesus do Gurgueia e arre-dores de Gilbués, onde a área registrava um alto grau de subdesenvolvi-mento em função dos bloqueios advindos da defi ciência da infraestrutura

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(precariedades das vias de acesso, bem como das enormes carências de higiene e conforto que padeciam as pousadas); despreparo dos recursos humanos; falta de capital e de gestores aptos para romperem a inércia e promoverem o desenvolvimento.

Em um contraponto, o Vale do Gurgueia, no Alto Parnaíba, Estado do Piauí, fosse uma área dotada de uma de excelente base física: solos fér-teis, planos, riqueza hídrica, sobretudo de águas subterrâneas, ainda, assim, fi cava aprisionada ao estágio de pobreza. Porquanto, diferenças abissais de níveis culturais existiam entre o homem nordestino, do século XX, e o homem desenvolvido do Planeta Terra, visto que, naquele mesmo ano de 1969, - Neiil Armstrong - estivesse pisando na Lua pela primeira vez.

Vale dizer que, essas pesquisas, como o dito, não se limitaram apenas ao Piauí, mas, sim, a todas as Unidades políticas que integravam a área física da SUDENE. Porquanto, era de interesse da Autarquia conhecer mais detalhadamente o espaço físico do Nordeste nos seus diversos aspectos tais: Recursos Naturais; Sistema de Produção; Estrutura Fundiária; Comercia-lização... Para tal, conforme a metodologia estabelecida pelo consultor da FAO para assuntos de planejamento, junto à SUDENE, diga-se Departa-mento de Agricultura e Abastecimento (DAA) - onde Manuel Figueroa era lotado - Divisão de Planejamento e Programação, sob a chefi a de Carlos Miranda - para os quais este trabalho serviria de poderoso subsidio para a criação das Comissões Estaduais de Planejamento Agrícola (CEPAS).

Assim, a referida metodologia constituía-se das seguintes fases para cada Grupo de Trabalho, Estado por Estado: a) Consultar e analisar, na própria sede da SUDENE, todo o acervo bibliográfi co relativo ao Es-tado eleito; b) deslocar-se para o Estado, ora em estudo e se reunir com os técnicos radicados na capital de cada Unidade da aérea da SUDENE; (ver fi gura 11) c) deslocar-se para o interior do Estado, região por região físiográfi ca do IBGE, onde a equipe da SUDENE, entrevistava-se com técnicos e agricultores locais para, em seguida, percorrer a região, ora visitada e cotejar in loco suas caraterísticas, com vistas em mensurar até que ponto a realidade, de cada área, coincidia com as informações já colhidas, bem como à visão da equipe. (Ver fi gura 12)

Feito isto, regressava-se à sede da SUDENE quando era elaborado o relatório fi nal. Uma vez realizada a consolidação dos relatórios de todos os Grupos de Trabalho, obtinha-se, assim, uma radiografi a mais próxima da realidade de cada Estado.

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Figura 12.Figura 11.

Figura 11 – Técnicos integrantes de diversos órgãos do Ceará, reunidos no Escritório da SUDENE – Fortaleza (CE), para debater as potencialidades e restrições dos Recursos Naturais do Estado. Onde se identifi ca, da esquerda para direita, o Eng. Agrônomo – 1 José Ismar Parente – EPACE – camisa branca e óculos escuros; 2. Não identifi cado. 3. Prof. José Matias Filho – Escola de Agronomia UFC; 4. Não identifi cado. 5. Não identifi cado, 6. Eng. Civil Cássio Borges (DNOCS); 7. Eng. Agrônomo - Francisco Ésio de Souza (SUDENE) Coordenador. 8. Eng. Agrônomo Raul Nylo C. Bezerra SUDENE Coordenador Adjunto, 9. Não identifi cado. Acervo de Ésio de Souza. Ano de1969. Figura 12 – Técnicos da SUDENE à espera do veículo que os conduzirá, em viagem de estudos, à zona rural do Estado, no âmbito dos Recursos Naturais, iniciados, então, pelo Estado da Paraíba. Da esquerda para direita - Francisco Ésio de Souza (Coordenador); um colega recém-incorporado à equipe e Raul Nylo C. Bezerra. Acervo de Ésio de Souza - Ano de 1968.

NOVOS TEMPOS - outros cenários se descortinam com mais progresso para a região Nordeste

Entendo que esta fase, iniciada por Nylo Peçanha, Epitácio Pessoa e reforçada por Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, exauriu-se no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Num contraponto, felizmente, o início deste Século XXI sinaliza que novos paradigmas presidirão os destinos de nossa Região. Como dito, anteriormente, o mo-delo, de então, com pressupostos ultrapassados, não mais suporta a nova ordem ditada pelo Planeta Terra. Em que o conhecimento e a tecnologia geram outras vertentes, fazendo com que, em alguns casos, tal no próprio Nordeste, as desvantagens se transformassem em potencialidades. Exem-plo das altas insolações que antes estiolavam as lavouras, agora geram

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fontes alternativas de energias. Igualmente o que acontece com os ventos, dessalinização das águas e outras inovações.

Presentemente, o Estado do Ceará é considerado (3) “o pioneiro no Brasil em instalação de fontes renováveis de energia eólica e solar”.

Figura 13 - Usina Eólica de Amontada (CE) – Fonte – Divulgadora – Fortaleza (CE) 22.09.2016.

Os sinais que a nova tendência da região aponta, nos seus diversos aspectos, são vistos a olho nu. Senão, observem no âmbito comercial pela mudança do perfi l da pauta de exportação (4) “balança comercial do CE muda de perfi l com a industrialização das exportações”. Porquanto, “o complexo industrial e portuário do Pecém (Cipp), onde está a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), é o principal responsável pela transformação”.

Dando um salto atrás no tempo, veja-se, comparativamente, a composição da pauta de exportação do Ceará de ontem e de hoje. Com o pretérito dominado por produtos primários – “castanha de caju, couros e peles, e calçados de plástico ou borracha”. Enquanto isso, o presente é reluzente com “as chapas de aço que começaram a ser produzidas pela

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Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) há pouco mais de um ano e já respondem por metade de tudo que o Estado exporta.” sem se falar na dimensão, que tende a assumir, o vantajoso negócio do turismo.

E não é de se dizer, que tais fatos sejam exclusivos do Ceará, mas de toda a região.

Presentemente, os grandes fatores limitantes residem nos gestores, sejam públicos ou privados, bem como na baixa capacidade dos recursos humanos que ainda continuam pouco qualifi cados, longe muito, muito longe, dos padrões do primeiro mundo.

Pensamento este, que encontro apoio de R. Bielschowsky (5) quando afi rma que “ o atraso institucional signifi ca que há desperdício de parte do excedente, através de investimentos improdutivos e de consumo supérfl uo. O Estado não é capaz de dedicar-se às tarefas do desenvol-vimento, o empresariado é pouco agressivo e lento para a incorporação de novas técnicas, e muito especialmente, a classe proprietária agrícola (latifundiários) é pouca vocacionada para o investimento e o progresso técnico – ou, ainda pior, dedicada a consumo conspícuo de bens de alto coefi ciente importado, desperdiçando poupança potencial”.

Para concluir, entendo também que, daqui para frente, os esforços para o desenvolvimento da região Nordeste, despendido por cientistas, técnicos, escritores, pesquisadores e gestores, se concentrarão, não mais na linha retrospectiva, de onde a região nasceu, a partir de seus bloqueios, as Secas, mas, sim, na contemporaneidade temporal, pela visão proativa dos estudos de natureza prospectiva das potencialidades de seus recur-sos naturais que imporão, naturalmente, o advento de um novo modelo tecnológico.

1. Jornal O Povo de 28 de julho de 2017 2. Ob. cit.3. Jornal Diário do Nordeste de 19 e 20 de agosto de 20174. Ob. Cit. 5. Ricardo Bielschowsky – Técnico da CEPAL - BRASIL – Celso

Furtado e o Pensamento Econômico Latino Americano – Semi-nário Internacional CELSO FURTADO – a Sudene e o Futuro do Nordeste. Recife, 08 e 09 de junho de 2000.

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REGISTRO GENEALÓGICO

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Registro Genealógico

G L C *

orges da Fonseca, na Nobiliarchia Pernambucana, dizia que havia o costume de se fazer “genealogia de orelha”, ou seja, por ouvir dizer, sem base documental; esse costume permanece. Para não inci-dirmos na crítica do notável linhagista e com o objetivo de subsidiar os estudiosos, requeremos Certidão do Arquivo Público do Estado do Ceará dando a conhecer os herdeiros de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe (anteriormente Tristão Gonçalves Pereira de Alencar) e de sua esposa Anna Triste Araripe, originalmente Ana Porcina de Alencar Araripe (cf. Pedro Alberto de Oliveira Silva, Revista do Instituto do Ceará, 2009). Com efeito, estão depositados no Arquivo Público o Inventário de Tristão com declaração de sua viúva-inventariante D. Anna Triste de Araripe, e o Inventário desta com a declaração de sua fi lha-inventariante Maria Araripe Macedo. A 3 de dezembro de 1832, D. Anna, residente no lugar Corgo, da Villa de Arronches (Parangaba), declara que Tristão havia falecido a 31 de outubro de 1824, havendo do seu casamento com a inventariante os fi lhos Xilderico, Neutel, Aderaldo, Corolina, Maria, Tristão e Delicar-liense. Fato de grande importância: D. Anna informa, por último, existir PEDRO NATURAL COM IDADE 23. A mãe de Pedro é incógnita. Pedro Alberto, descendente de Pedro Jaime de Alencar Araripe (que formara o nome composto PEDRO JAIME), estudou a genealogia do 1º fi lho de Tristão. Entre Pedro e Xilderico, o 2º fi lho, há somente a diferença de 1 ano de idade, concluindo-se que Tristão levou para o casamento com Anna o fi lho Pedro com menos de 1 ano de idade. Francisco Augusto de Araújo Lima (Siará Grande – Uma Província no Nordeste Oriental do Brasil, vol. IV, 2016, p. 2080) demonstra que Pedro Jaime, antes de casar-se com Isabel Sabina da Silva, convivera com Isabel Maria da Conceição,

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.

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a mãe que seria incógnita, indicando como prova o livro de casamentos da freguesia de Quixeramobim; a celebração da cerimônia realizou-se no dia 28 de outubro de 1835 e no livro está expresso que “pelas oito horas da noite em casa de morada de José Joaquim da Silva Lobo, emitidas as diligencias de estillo, de Licença minha, o Padre Bento Antunes Fer-nandes casou a Pedro Jaime de Alencar Araripe, fi lho natural de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, e Isabel Maria da Conceição, já falecidos, com Isabel Sabina da Silva, fi lha legítima de José Joaquim da Silva Lobo, e Simoa Joaquina da Silva; o nubente natural da freguesia do Crato, e a nubente natural da freguesia do Icó”.

No inventário de D. Anna Triste, falecida a 15 de outubro de 1874, iniciado a 18 de outubro de 1875, a fi lha-inventariante Maria Araripe Macedo relaciona os fi lhos e netos-herdeiros, alguns fi lhos com nomes compostos, omitindo obviamente Pedro Jaime, fi lho somente de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe.

Aos pesquisadores interessados, convém aduzir que Ana Triste era irmã do Padre Joaquim Ferreira Lima, alcunhado LIMA SECA. Era prima do Padre Joaquim Ferreira Lima; este para diferenciar do primo homôni-mo fi cou conhecido como LIMAVERDE e que, ultrapassando as normas eclesiais, criou a prolífi ca e ilustrada família LIMAVERDE. Era também prima do Padre José Ferreira Lima Sucupira (irmão do Padre Limaverde), viúvo com alguns fi lhos; ordenou-se sacerdote e foi o exemplar 1º Vigário Geral do 1º Bispo do Ceará, D. Luiz Antônio dos Santos.

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217Registro Genealógico

CERTIDÃO: - Em cumprimento ao despacho supra do Sr. Diretor do Arquivo Público, certifi camos que, dando busca nos Inventários do Cartório de Órfãos de Fortaleza, recolhidos a este Arquivo, foi encontrado na caixa 08, Processo 12, o inventário de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, do teor seguinte: -

Corgo – Juizo d’Orphaos pella Lei anno 1832

Inventario que mandou fazer o Juiz de Fora e Orphaos pella Lei Vicente Ferreira dos Reis dos bens que fi carão por falecimento do Tenente Coronel Tristão Gonçalves d’Alencar Araripe Cazado que foi com Dona Anna Triste d’Araripe por lhe aver fi cado fi lhos de maior

O Escrm O Escr.m d’Orphãos

MLJamanaInventariante Erdr.a Dona Anna Triste d’Araripe

Xilderico idade 22Neutel idade 20Aderaldo idade 18Carolina idade 17Maria idade 16Tristão idade 11Delicarliense idade 10Pedro Natural com idade 23

Anno do Nacimento de Nosso Senhor Jezus Cristo de mil oito centos trinta e dous annos aos trez dias do mez de Dezembro do dito anno neste Citio do Corgo termo da Villa de Arronches Provincia do Ceara Grande em casas de morada de Dona Anna Triste d’Araripe onde foi vindo o

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Juiz de fora, e orphaos pella Lei Vicente Ferreira dos Reis commigo Escrivão de seo cargo ao diante nomiado e sendo ahi mandou o dito Juiz vir a Dona Anna Triste d’Araripe Viuva que fi cou por falecimento do Tenente Coronel Tristão Gonçalves d’Alencar Araripe a quem deferio o Juramento dos Santos Evangelios emcarregando-lhe que com boa e sam conciencia declarace a este Inventario o dia mez e anno em que faliceo o dito seo marido e se avia deixado Testamento que o aprezentasse para selhe dar compri[mento] as suas desposiçons e outro[ssim] [dec]larasse quantos fi lhos lhes [corroído] fi cado de seo matrimonio, e tou [corroído] dinheiro ouro prata escra[vos] [corroído] mais bens tanto moveis como de rahiz dividas activas e passivas pena de que emcobrindo algua couza em couza emcorreria nas da lei de perjuro e subnegados e de pagar noviado aos Erdeiros seos fi lhos e recebido por ella o dito Juramento assim o prometeo fazer, e logo declarou que o dito seo marido falecera no dia trinta e hum de outubro de mil oito centos vinte e quatro e que avia morrido abintestado e que os fi lhos que lhe avião fi cado declararia no fi m do prezente auto assim como toudos os bens moveis e de raiz e toudas as dividas activas e passivas sem encobrir couza algua de que para constar mandou o dito Juiz fazer este Auto em que com a Inventariante asignou eu Manoel Tavares da Luz Jamana o Escrevy.

Ferreira dos ReisAnna Triste d Araripe

É o que contém em dito livro que foi digitado fi elmente. Eu, Liduina Queiroz de Vasconcelos, ________________, digitei e conferi. ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Fortaleza, 06 de junho de 2017.

Márcio de Souza PortoDiretor do Arquivo Público do Estado do Ceará

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219Registro Genealógico

CERTIDÃO: - Em cumprimento ao despacho supra do Sr. Diretor do Arquivo Público, certifi camos que, dando busca nos Inventários do Cartório de Órfãos de Fortaleza, Estado do Ceará, recolhidos a este Arquivo, foi encontrado na Caixa n.o 48, Processo 03, do teor seguinte:

Fort.a = Juiso de Orfaos = Anno 1875.

Autoamento de um petição de Joaquim de Macedo Pimentel, Tutor dos Orfãos Elvira e Maria herdeiras da fi nada Dona Anna Triste de Araripe, pedindo para se procedeo ao Inventario da dita fi nada.

O Escram Intr.o digo Escrivão Ajud.te

Barroso

Anno do Nassimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos setenta e cinco, aos dezeseis dias do mez de Outubro do dito anno, nesta cidade da Fortalesa em meu Cartorio autoei e preparei na forma do estylo a petição de Joaquim de Macedo Pimentel, Tutor dos Orfãos Elvira e Maria, herdeiras da fi nada Dona Anna Triste de Araripe, em que pede para se proceder ao Inventario da dita fi nada: e tudo é o que adiante se segue: do que fi z este termo. Eu Antonio Felino Barroso Escrivão Ajudante o escrevi.

Juramento à Inventariante.

Anno do Nassimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos setenta e cinco aos desoito dias do mez de Outubro do dito anno nesta cidade da Fortalesa do Ceará em casa de morada do Juiz de Orfãos Doutor Antonio Coelho Machado da Fonseca onde eu Escrivão Ajudante de seu Cargo me achava e sendo ahi presente Dona Maria de Araripe Macedo o Juiz lhe deferio o Juramento dos Santos Evangelhos de bem e

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fi elmente, com bôa e sã consciencia desse a este digo consciencia dar a este Inventario o dia, mez, anno do fallecimento de sua mãe Dona Anna Triste de Araripe: se tinha feito Testamento o apresentasse; e fi nalmente declarasse quais erão os herdeiros da dita fi nada e que idade tinhão, e que desse a a discripção déste Inventario todos os bens que havião fi cado, sem ocultar cousa alguma, sob as penas da Lei. E sendo por ella acceito dito Juramento declarou que sua mãe Dona Anna Triste de Araripe falleceo no dia quinse de Outubro do anno passado, sem testamento algum fi lhos e netos, seus herdeiros, cujos nomes e idades declarará no titulo dos herdeiros, e que prometia dar a carregação todos os bens que tinhão fi cado por morte de sua mãe, sob as penas da Lei: do que mandou o Juiz fazer este auto em que assignarão. Eu Antonio Felino Barroso Escrivão Ajudante o escrevi

Machado da FonsecaMaria de Araripe Macedo.

Titulo de Herdeiros.Inventariante

D. Maria de Araripe Macedo, fi lha da fallecida.Filhos.

1o Capitão Xilderico de Alencar Araripe: fallecido e representado por seus 10 fi lhos.

1.o D. Carolina Alencar Araripe de Freitas, casada com Antonio Manoel de Freitas Fragoso.2.o Alferes Luiz de Alencar Araripe, de maior idade.3.o D. Edemia, de maior idade4.o D. Candida de maior idade5.o D. Olimpia de maior idade6.o D. Ortulina de maior idade7.o D. Erene de maior idade8.o Neuton de maior idade9.o Cap.m Segisnando Cicero de Alencar Araripe de maior idade10.o D. Maria Ambrosina de Farias, fallecida e representada por seus 3 fi lhos:

1.o D. Maria Farias de Oliveira, casada com Joaquim José de Oliveira Filho

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221Registro Genealógico

2.o Dor Xilderico de Araripe Farias, casado.3.o Tristão de Araripe Farias, casado.

2.o Neutel Nostron de Alencar Araripe, falecido e representado por seus 10 fi lhos:

1.o D. Umbelina de Araripe Cavalcante de Albuquerque, casada com Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque.2.o D. Matildes casada com Octaviano Cicero de Alencar Araripe.3.a D. Julia, casada com Vicente das Chagas Rangel4.a D. Anna casada com Martiniano Vernek da Cunha Prata.5.a Alferes Tristão Sucupira de Alencar Araripe, maior, 6.o D. Maria de Alencar Lima de menor idade.7.o Cecilia menor idade8.o João menor idade9.o Elvira menor idade10.o Maria menor idade

3.o Aderaldo de Alencar Araripe, viuvo.4o D. Carolina Clarence de Araripe Sucupira, fallecida e representada por seus 10 fi lhos:

1.o D. Dorgival de Araripe Sucupira, solteira de maior idade2.o D. Josefa Sucupira Pereira, fallecida e representada por seus 3 fi lhos:

1.o Cadete Jozé Caetano Sucupira Pereira, maior.2.o D. Carolina, casada com o Tente Ernesto de Alencar Araripe.3.o Elvira Sucupira Pereira menór3.a D. Dulce Sucupira Maia, casada com Raimundo Pereira Maia.4.a D. Anclides Sucupira Teixeira, casada, fallecida, e representada por sua fi lha, menór Carolina.5.o Cap.m Carolino Bolivar de Araripe Sucupira, casado.6.o D. Isabel Sucupira Pereira, fallecida e representada por sua fi lha menór, Maria Angelica.7.o D. Anna de Araripe Sucupira de maior idade.8.o Fausta Sucupira Macedo, casada com Joaquim de Macedo Pimentel.

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9.o Cadete Filadelifi o de Araripe Sucupira de maior idade, solteiro.10.o D. Maria Carolina de Araripe Sucupira, de maior idade.

5.o Dona Maria de Araripe Macedo, viuva, é a Inventariante.6.o Desembargador Tristão de Alencar Araripe.7.o Delicarliense Donimonde de Alencar Araripe, maior.Declarou a Inventariante que o herdeiro Cadete Filadelfi o está fora da Provincia porem não se sabe onde.

O Escram Ajd.te Barroso

É o que contém em dito livro que foi digitado fi elmente. Eu, Liduina Queiroz de Vasconcelos, _________________, digitei e conferi. ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Fortaleza, 06 de Junho de 2017.

Márcio de Souza Porto

Diretor do Arquivo Público do Estado do Ceará

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NOTAS E TRANSCRIÇÕES

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A saga do cangaço: verdades e mentiras

M P P *

rebeldia rural sempre ocorre quando o acesso à terra e as con-dições econômicas e sociais são perversas para a gente pobre. No nordeste do Brasil, o latifúndio e o coronelismo geraram e alimentaram o cangaço.

Com o povoamento da faixa costeira começaram os confl itos entre ricos e pobres, depois da desocupação por extermínio e/ou afastamento dos índios. Na zona canavieira, o pequeno bando de José Gomes (Cabe-leira) – (século XVIII), e no Recôncavo Baiano as estripulias de Lucas da Feira (século XIX), marcaram o começo do cangaceirismo nordestino, bafejado pelos ventos marinhos.

A interiorização curraleira, com a chegada de gente e boiadas, foi processo violento, tingido pelo sangue no viver cotidiano, na lida com os bichos e lutas de famílias, normalmente pelo domínio das terras. Isto sem falar da resistência dos índios.

As fazendas que iam se estabelecendo, latifúndios originados das sesmarias, passaram ao domínio dos coronéis de barranco, com seus agregados – agricultores e vaqueiros. Para os serviços de segurança, demonstrados na expansão das terras tomadas de vizinhos mais fracos e no controle dos pobres, apareceram os jagunços, componentes de tropas privadas. Era a usurpação do poder do Estado, ausente e distante, no isolamento das caatingas.

Dos jagunços saíram os primeiros cangaceiros, formando grupos autônomos, bem ligados aos interesses dos coronéis, prestando-lhes fa-vores de sua emergente profi ssão, tais como garantia de proteção, vendas de armas e munições e apoios políticos. Daí, o aumento da violência nos sertões. Desde seu começo, o cangaço se mostrou serviçal, dependente dos grandes coronéis, sem preocupação social. Esta é uma verdade, que muitos teimam em não aceitar.

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.

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É possível identifi car zonas de origem dos maiores contingentes de cangaceiros, espalhadas no bioma das caatingas, destacando-se as ribeiras do Pajeú, Moxotó e Ipanema, em terras pernambucanas da bacia do rio São Francisco. O prestígio concedido aos bandoleiros, pelos sertanejos, era medido pelo grau de repulsa que tinham pelas forças volantes, com seus policiais atrabiliários.

O cangaço com maior visibilidade e melhor organização, durou cerca de 70 anos, compreendidos entre 1870 e 1940. Dentro deste período, posso distinguir cinco fases e seus principais cangaceiros: primeira fase – cangaço primitivo, que se espraia nas décadas fi nais do século XIX, com destaque para Jesuíno Brilhante (1844 – 1879), nascido Jesuíno Alves de Melo Calado; segunda fase – cangaço em ascensão, dos fi ns do século XIX até 1922, quando se projetaram Antônio Silvino (1875 – 1944), apelido de Manoel Batista de Morais e Sinhô Pereira (1896 – 1979), codinome de Sebastião Pereira da Silva; terceira fase – apogeu do cangaço, de 1922 a 1928, com a fi gura maior de Lampião (1898 – 1938), nome guerreiro de Virgulino Ferreira da Silva; quarta fase – ressurgência do cangaço e sua acomodação, (1928 – 1938), concentrando ações na Bahia e Sergipe, ainda bem representado por Lampião; quinta fase – fi nal do cangaço (1938 – 1940), com a projeção solitária de Christino Gomes da Silva Cleto (1902 – 1940), vulgo Corisco.

Na realidade, o cangaço entrou em agonia na Grota do Angico (SE), no dia 28 de julho de 1938, data da morte de Lampião.

Com o fi m do cangaço, de imediato, os pistoleiros, isolados na prá-tica de seus crimes, passaram a ser os personagens de destaque na prática da violência no nordeste do Brasil.

Os cangaceiros podem ser classifi cados, em razão dos motivos de ingresso nas hordas criminosas: cangaço de vingança, cangaço meio de vida, cangaço de refúgio e cangaço de aventureiros e/ou facínoras.

Nos sertões, era bem visto todo aquele que praticasse vinganças de crimes ou injúrias, incluindo-se entre estas as sofridas por familiares. Elas (as vinganças) decorriam de lutas entre famílias, ofensas à moral sexual de mulheres ou de assassinatos, todas em virtude da ausência e/ou parcialidade da Justiça. Este cangaço de vingança tinha motivação nobre na cultura sertaneja. Poucos deixaram a vida bandoleira, após o alcance de seus objetivos. A maioria passou para o cangaço meio de vida, por im-possibilidades de reingressos na sociedade dos sertões e/ou de fugas, em

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buscas de outros espaços. Com o correr do tempo, normalmente gostavam da permanência na senda do crime.

Com respeito ao cangaço meio de vida, seu melhor e mais longo representante foi Lampião. Era o cangaço que muito praticava extorsões, roubos e negócios escusos com os coronéis, e corrompia militares das forças volantes. Foi o tipo mais agressivo e sujo de cangaço.

Constituía procedimento comum o ingresso no cangaço de refúgio por gente foragida da Justiça ou perseguida por soldados, jagunços e mesmo sertanejos de suas ambiências, inclusive por relações familiares com cangaceiros já conhecidos.

No último tipo do cangaço estavam aventureiros, facínoras natos e os que desejavam ascensão econômica e social, todos de comportamento anômalo na sociedade das caatingas.

Os cangaceiros eram jovens e vigorosos, capazes de suportar grandes provações, como fome e sede, realizar longas caminhadas com a tralha nas costas, deslocando-se em vida nômade, sem rumos certos. Bem conheciam o ambiente, seus caminhos, trilhas e depósitos naturais de água; usavam recursos da própria natureza, como alimentos e remédios. Tal conhecimento lhes deu condições fundamentais de sobrevivência. Além das técnicas de luta adaptadas às caatingas, eles se mostraram bons despistadores, com diferentes práticas de esconder os rastros, desapare-cendo nos chãos semiáridos, em verdadeira prática do mimetismo. Tudo isto, sem falar na bem montada rede de coiteiros, informantes, deslavado suborno de comandantes de volantes e apoios de coronéis amigos.

O cangaço foi efi cazmente combatido somente após o recrutamento de sertanejos pelas forças volantes, como os chamados nazarenos, que também eram adaptados às terras e secas regionais e tinham a mesma cultura. Gente incorruptível!

Os chefes dos bandos, em geral, eram pequenos proprietários, tidos como “arranjados”; a cabroeira saía das camadas mais pobres dos sertanejos analfabetos.

Sabe-se que cangaceiros emprestavam dinheiro aos coronéis, em declarada prática da agiotagem. Comandantes de volantes evitavam per-seguí-los e até mesmo visitavam os coitos para jogatinas, bebedeiras e efetivação de negócios. Mantiveram extensas redes de coiteiros, que lhes serviam por medo ou gozo de vantagens. Coronéis foram intermediários (laranjas) na compra de propriedades. A maior vontade de Lampião era

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se tornar fazendeiro, comprando terras em nome de pessoas graúdas, pois não podia registrá-las em seu próprio nome.

Em geral, as vítimas do cangaço estavam entre os desprovidos de fortuna; a principal exceção da regra foi o comerciante Luiz Gonzaga de Souza Ferraz, da cidade de Belmonte (PE), morto a mando de Lampião, atendendo pedido de vingança que lhe fez Sinhô Pereira. O primeiro, não matou seus inimigos José Alves Saturnino e José Lucena de Albuquerque Maranhão, como propalava desejar, apesar de não lhe faltarem oportu-nidades para tais crimes. Embora tenha se tornado inimigo dos grandes coronéis José Pereira Lima (PB) e Petronilo de Alcântara Reis (Coronel Petro) – (BA), ambos, em tempos passados, foram seus amigos.

Não vejo qualquer ação revolucionária dos cangaceiros. Eles con-tribuíram para a permanência do coronelismo sertanejo e do latifúndio explorador dos pobres.

Entre os eminentes chefes de bandos, Jesuíno Brilhante e Sinhô Pereira tinham traços de nobreza nas origens e/ou propósitos de vingança; tais predicados ocorreram, em menor escala, com Antônio Silvino. Corisco buscou o cangaço de refúgio e Lampião foi a maior expressão, no espaço e no tempo, do cangaço meio de vida.

Lampião praticou boas ações, pequenas e raras, no trato com os sertanejos despossuídos de riquezas. Em contrapartida, foi um facínora sanguinário, assolando populações e propriedades. Contribuiu para o atraso da economia regional, pela destruição de patrimônios dos que não aceitavam suas imposições e/ou eram inimigos dos seus amigos.

Na gestão dos bandos cangaceiros, os chefes eram monocráticos, ouvindo apenas familiares e comparsas mais antigos. Tudo dependia deles. A cabroeira analfabeta servia de “massa de manobra”, chegando mesmo ao assalariamento. Não existia a propalada liberdade na bandidagem. Os chefes eram subservientes a coronéis protetores; os cabras eram verdadei-ros escravos dos chefes. Estes podiam, inclusive, condená-los à morte. Em geral, o cangaço foi opção sem volta. As fugas eram impedidas, porque os que desejavam sair do cangaço podiam indicar às volantes os coronéis e sertanejos coiteiros, a localização de coitos e de aguadas. Quando muito, havia transferências para bandos confederados, mas as deserções foram notáveis.

Com o ingresso de mulheres no bando de Lampião em 1930, tão louvado como afi rmação do feminismo, não houve tal progresso. É verdade

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que Maria Bonita foi por livre vontade, pois já era mulher adulta e estava separada do marido; as demais, foram raptadas, forçadas por situações adversas ou então se mostraram simples aventureiras. Estavam ainda em plena mocidade e geralmente eram virgens.

Com exceção de Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita) – (1909 – 1938), mulher de Lampião, e de Sérgia da Silva Chagas (Dadá) – (1911 – 1994), mulher de Corisco, as outras se tornaram simples escravas sexuais dos companheiros, tolerando infi delidades e sendo punidas com a morte, no caso de comportamentos semelhantes aos deles. Perdendo os compa-nheiros, não podiam fi car solteiras ou voltarem para os lares de origem, pelas já apontadas medidas de segurança. Tinham que conseguir novos amantes, ou eram simplesmente executadas. Existem registros relativos a 81 cangaceiras. Poucas delas voltaram a viver com suas famílias, após a morte dos companheiros.

Houve forte conservadorismo. Os cangaceiros combateram todas as coisas que trouxessem modernidade aos sertões nordestinos. Foram contrários à construção de estradas e montagem de redes telegráfi cas, que lhes reduziam o poder de mando. Apesar disto, gostavam de muitas práticas do meio urbano e litorâneo, expressas no comer e beber, no vestir e na divulgação de imagens do seu viver.

A modernidade chegou ao domínio das caatingas com as estradas e as comunicações, diminuindo o isolamento das suas populações e abrindo novas perspectivas de vida, inclusive pela emigração para o sudeste do Brasil. O cangaço, na forma tradicional, encontrou seu fi m com o advento do Estado Novo, unitário e ditatorial, que causou abalo no coronelismo sertanejo, suporte maior dos bandidos das caatingas.

A maior mentira da saga do cangaço é a do ataque e luta ao/com o bando de Lampião, na Grota do Angico (SE), em 28 de julho de 1938. Em verdade, foi uma farsa montada pela volante de João Bezerra. Com o consumo de bebidas e alimentos envenenados, cangaceiros já eram defun-tos ou estavam moribundos. Os soldados queriam promoções, dinheiro e jóias. Uma vergonha, seguida do desfi le e exposição macabra das cabeças dos mortos. Não houve luta, mas simples simulação bárbara!

As literaturas de cordel e de fi cção tentam cristalizar o mito de bondade de Lampião, o mesmo acontecendo com o cinema. Em verdade, procuram um paradigma da coragem do povo nordestino e de sua afi r-mação no contexto nacional. O esquerdismo do cangaceiro é sonho de desavisados, inocentes ou safados!

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Raimundo Cela, ilustrador

L A *

pintor Raimundo Cela (Sobral,1890 – Niterói,1954) é tido, em sua atividade, como o cearense mais reconhecido no Brasil ainda hoje celebrado pelos críticos e historiadores de arte. Anos mais tarde seu conterrâneo Antonio Bandeira (Fortaleza,1922 – Paris, 1967), em outras circunstâncias de tempo e lugar, haveria de seguir-lhe os passos da fama. Cela transitou entre Camocim, Fortaleza e Rio de Janeiro desenhando, pintando, gravando e também ensinando nas capitais do Ceará e do país. Na capital cearense, deu aulas de desenho no Colégio Floriano, ministrou a disciplina de matemática no Ginásio Farias Brito, lecionou desenho de aguadas, perspectiva e sombras na Escola de Agronomia. De volta ao Rio, foi o primeiro professor de gravura na Escola Nacional de Belas Artes, onde estudara, levado pelo amigo arquiteto Arquimedes Memória, cea-rense de Ipu, então diretor do estabelecimento. Nesta modalidade, aliás, é considerado pioneiro e mestre, mesmo com uma produção pequena no gênero. Cursou ainda a Escola Politécnica de onde saiu engenheiro civil e geógrafo, realizado sonho do pai, com conhecimento que lhe permitiu adotar soluções felizes para composição e perspectiva de seus quadros1. Chegou a se inscrever no concurso para a vaga de professor da cadeira de Perspectiva, Sombras e Estereotomia na Escola Nacional de Belas Artes com a tese “Perspectivas das Sombras Solares”, vindo a desistir do certame por motivo de doença. Seu percurso no país é interrompido por uma jornada europeia centrada na França como prêmio - e não foi o único que recebeu - de viagem da Exposição Geral de Belas Artes em 1917 que

1 FIRMEZA, Nilo de Brito (Estrigas). A arte e o tempo. In: Exposição Raimundo Cela 1890 - 1954: pinturas, desenhos, gravuras. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2004. p. 18.

* Presidente do Instituto do Ceará.

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venceu com a tela Último Diálogo de Sócrates de estilo acadêmico. Só viajaria em 1920, adiamento determinado por uma espécie de mal-estar rotulado como esgotamento nervoso, ocorrência que se repetiria mais uma vez ao longo de sua existência. Aí permaneceu cerca de três anos regres-sando, após um episódio admitido pelos médicos como uma hemorragia cerebral, e fragilizado pela morte do pai, fi xa-se em Camocim onde dirige uma usina geradora de eletricidade ali permanecendo por quinze anos.

Isolado na pequena cidade costeira, foi ignorado pelo efervescente meio artístico carioca, dado como um desertor da arte e até suspeito de haver falecido. Ledo engano, equívoco mencionado por alguns de seus biógrafos. No depoimento do fotógrafo, pintor e poeta Otacílio de Aze-vedo que, honrado, sucedi na Academia Cearense de Letras, por ocasião de visita que fez ao atelier do pintor recluso, este declara-se deslumbrado com a profusão e a beleza de obras de sua autoria reveladoras de intenso labor artístico. Ao pé do oceano, fascinado por sua beleza, radicado na fímbria do sertão, que no Ceará encontra o mar, onde, inspirado, colheu a paisagem, os tipos populares e a faina de heróis anônimos motivos temáticos de que nunca se afastaria. Considerado o pintor do Nordeste, empresta à sua produção um viés sociológico, etnográfi co, que o consagra e atrai para si o preconceito do anacronismo. Nacionalista, sustenta que todo pintor brasileiro deva se restringir a temas nacionais. O período de retiro assinala a transição do academicismo inaugural para uma pintura conservadora, com pouca infl uência europeia, ao mesmo tempo moderna, como registram alguns estudiosos de sua obra. Coerente, desdenha dos modernistas2 e jamais adere ao movimento que então despontava inova-dor e pujante. Considerado pintor da família dos lineares, isto é, aqueles em cujas obras sobressaem os valores do desenho e da linha, guarda, contudo, em seus quadros, um equilíbrio com as manchas de pintura3. Neles ressumbram dinamismo e força captados, por exemplo, na tensão que marca os jangadeiros confrontados com a arrebentação.

Arredio, introspectivo, às vezes ríspido, avesso a intimidades e a convívios mundanos, tornou-se conhecido por ser um homem esquisito4 2 SOLDON, Renato. História alegre de um homem triste. In: Exposição Raimundo Cela 1890

- 1954: pinturas, desenhos, gravuras. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2004. p. 159.3 TEIXEIRA, Cláudio Valério. Métodos e processos na pintura de Raimundo Cela. In: Exposição

Raimundo Cela 1890 - 1954: pinturas, desenhos, gravuras. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2004. p. 97.

4 _______. Métodos e processos na pintura de Raimundo Cela. In: Exposição Raimundo Cela 1890 - 1954: pinturas, desenhos, gravuras. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2004. p. 100.

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de rígidos princípios morais comportamento que terá contribuído para subtração de parcela ponderável de merecida glória em vida e póstuma. A produção de Raimundo Cela é vasta e, como visto, diversifi cada quanto à forma de expressão. Não faltasse outra, sem registro anterior, que só agora conheci, ilustrador de livro. Ofertado pelo amigo Francisco Olivar, o maior livreiro de rua do Rio de Janeiro, grande conhecedor do ofício, que trafega desembaraçado entre a intelectualidade carioca, veio às minhas mãos o livro Senzalas, Rio de Janeiro (1919), de Alberto Deodato (Maroim,1896 – Belo Horizonte,1978) sergipano, formado em direito no Rio de Janeiro, emigrado para Minas Gerais onde ocupou cargos públicos e fez carreira no magistério, no jornalismo e na política. Foi signatário do “Manifesto dos Mineiros” em outubro de 1943 reivindicando a redemocratização do país. Ensinou fi nanças e direito internacional na Faculdade de Direito de Minas Gerais da qual foi diretor. Vereador em 1936, cassado com o ad-vento do Estado Novo, fi liado à UDN foi constituinte estadual em 1947 e Deputado Federal (1950 – 1954). Opositor de Vargas, tramou contra ele no episódio que culminou com o suicídio do presidente. Do mesmo modo acompanhou Magalhães Pinto na conspiração político-militar que depôs João Goulart. Escreveu em jornais de Minas e do Rio e publicou vários livros que versaram sobre direito, política, romances e contos além de peças de teatro.

Senzalas é um livro de contos inspirados na paisagem natural e humana do sertão nordestino descrito em linguagem candente na vigên-cia de severa estiagem, fenômeno recorrente na região. Recolhe letras de modinhas entoadas ao som da viola, manifestações expressivas da cultura matuta. Foi elogiado em carta dirigida por Lima Barreto ao autor que integra o fundo do jornalista e escritor no acervo da Biblioteca Na-cional5. O trabalho consta de três narrativas ilustradas em consonância com os conteúdos de cada uma delas. Ao todo são seis ilustrações cuja atribuição à Cela vem no fi nal do livro em forma de agradecimento do autor: “As ilustrações do meu livro devo-as a Raymundo Cella, o grande artista cearense”. Todas reproduzem o estilo inconfundível do premiado artífi ce. Na página de abertura da publicação há uma imagem do autor que sugere a reprodução de uma fotografi a.

5 BARRETO, Lima, escritor e jornalista. Carta a Alberto Deodato, fazendo comentários elogiosos ao livro Senzalas. Rio [de Janeiro, 19--]. Texto escrito a lápis. Provável minuta de carta. 4 p. Acidifi cado. Orig. Ms. Série Correspondência enviada. Coleção Lima Barreto.

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Os Retirantes, oferecido ao conterrâneo Jackson de Figueiredo, descreve a seca e como afeta a natureza e ameaça a sobrevivência dos sertanejos. A emigração forçada e dorida, lamentável fenômeno social com o qual convivemos até recentemente, está retratada de forma a captar o semblante melancólico dos sertanejos atingidos pela tragédia climática que ceifa vidas e esperanças. Não falta no enredo o perfi l autoritário do coronel nordestino lavado em sangue pelo pai que vinga a fi lha abusada. O artista volta ao tema na gravura “Retirantes” (Circa, 1923 – 1952) na qual um casal diante do mar, fi ta o horizonte com o pensamento cheio de incertezas anúncio do sofrimento que os aguarda.

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237Raimundo Cela, ilustrador

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Revista do Instituto do Ceará - 2017238

Gente Simples é a história de um recém-formado bacharel em direito na capital federal que regressa ao interior de Sergipe para as homenagens da família enquanto espera ser nomeado para uma função na metrópole. Entediado, acolhe as manifestações festivas provincianas na vila e no decadente engenho de fogo morto de familiares encantados com a visita do membro ilustre.

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239Raimundo Cela, ilustrador

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Com o passar do tempo se rende à rotina de tertúlias com autoridades locais, o aconchego de parentes e amigos que acaba em casamento com a prima de antemão lhe destinada. A temporada prevista para ser breve termina convertida em residência defi nitiva. O conto sugere uma nota autobiográfi ca pois o autor, concluído o curso de direito, retorna ao seu estado natal onde exerce por algum tempo a promotoria em Capela até se transferir para Belo Horizonte.

A Botija, dedicado a Jorge Lafour e Cyro Cunha, é o relato de um personagem, em cuja alma habita a cobiça, morador de um casarão mal-assombrado povoado de fantasmas remanescentes de um período de esplendor e misérias humanas comuns à escravidão. Com o espírito atiçado pela ambição, imagina que passeia pelo solar uma alma penada pelo dinheiro que enterrara. Sôfrego, cava o chão em busca da sonhada riqueza sem perceber a cobra que desliza por seu corpo até sufocá-lo enrodilhada em seu pescoço

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241Raimundo Cela, ilustrador

Espécie de apólogo moral, condenação da cupidez que desconhece limites e riscos na obstinação infrene à procura da fortuna. Ao mesmo tempo serve de contraponto à imagem opilada e indolente do Jeca sem “a moléstia e a calúnia” do caipira de Lobato.

Tudo indica que a experiência de Cela como ilustrador de livros não se repetiria apesar do êxito alcançado com seu traço sem similar e a feliz conciliação entre texto e imagem, mais uma faceta deste artista poliédrico.

BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO, Paulo Ayrton. Raymundo Brandão Cela. Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, v. 104, n. 104, p.170-175, 1990.

CEARÁ. Secretaria da Cultura. Raimundo Cela: luz natureza e cultura. Forta-leza: Skol, 1994. 132 p.

DEODATO, Alberto. Senzalas. 1919. 121 p.Exposição Raimundo Cela 1890 - 1954: pinturas, desenhos, gravuras. Rio de

Janeiro: Pinakotheke, 2004. 47 p.FIRMEZA, Nilo de Brito (Estrigas). Raimundo Cela 1890 – 1954. Rio de Janeiro:

Pinakotheke, 2004. 400 p.

WEBGRAFIA

FGV – CPDOC. Alberto Deodato. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografi co/alberto-deodato-maia-barreto. Acesso em: 23 nov. 2017.

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A reforma da Instrução Pública de 1920: Sobre leis, decretos e regulamentos

F A F *

ara que se perceba o alcance da reforma “Lourenço Filho” no Ceará, no biénio 1922/23, faz-se necessário que se tome conhecimento de alguns dados acerca do contexto sócio-educacional do Estado e da situa-ção em que se encontravam as escolas públicas nos anos que antecedem à década de 20.

Num relatório, apresentado ao Presidente do Estado, em junho de 1917, o desembargador José Moreira da Rocha, Secretário dos Negócios do Interior e da Justiça, fez um relato da “grave situação” em que se encontrava a educação cearense, de forma bastante desalentadora. As carências apontadas são inúmeras, destacando-se, dentre outras, as se-guintes: “ausência de imóveis apropriados para as escolas, insufi ciência de imobiliário e de condições higiénicas; concessões exageradas de licenças a professoras que, não conseguindo remover-se de uma escola para outra, apelavam para aquele expediente; “má distribuição” geográfi ca das escolas cuja localização, muitas vezes, atendia apenas a conveniências particulares, não possuindo, na maioria dos casos, nem mesmo o número necessário de alunos ao seu funcionamento; “falta de estímulo e recompensas a profes-soras das escolas isoladas” que, nelas permaneciam por longos anos, em total esquecimento, ao contrário de outras apadrinhadas que conseguiam, “de forma graciosa”, transferência para as de melhor localização; uma certa inefi ciência dos serviços da Inspectoria da Instrução Pública do Estado no que se refere, principalmente, à fi scalização, favorecendo, dessa forma, o mau funcionamento das escolas.

Dentre as soluções, apontadas por aquela autoridade, para uma possível superação “daquelas anormalidades”, destacamos algumas que,

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017244

se adotadas, no seu entender, concorreriam para atenuá-las: “a necessidade de se prosseguir com efi ciência a reconstituição e alargamento dos insti-tutos professorais e dos métodos docentes; o desdobramento das escolas primárias”, a exemplo do que já se fazia em Minas Gerais, São Paulo e na capital federal; “o aproveitamento de edifícios, mobiliário, professores mais competentes, atribuindo-lhes gratifi cação remuneradora;” instituição de novos cursos matinais e vespertinos e a padronização de mecanismos efi cazes a fi m de se evitar multiplicação de licenças, transferências gra-ciosas de docentes, tão prejudiciais aos interesses dos alunos”1.

Com efeito, e com suporte nos preceitos de prosperidade, progresso da Pátria e formação moral e intelectual, é que se promulgam os decretos, leis e regulamentos do período, formando um terreno apropriado para ins-tituir uma política educacional de controle do ensino, com a propaganda de gratuidade e abertura de matrículas, dando ascensão ao governo Justiniano de Serpa como inovador para a abertura democrática do ensino primário; e um aparelhamento apropriado para o ensino normal, formador de futuros professores, a partir da instrumentalização de normas e condutas efi cientes para um corpo docente a favor de um Estado Nacional recém-inaugurado.

A Lei 1.733, de 7 de agosto de 1920, trata das transferências das cadeiras mistas do ensino primário em alguns lugarejos cearenses: Arraial Serrinha (Município de Parangaba), para o arraial Pecy (Município de Parangaba); Povoação de S. João de Jaguaribe (Município de Limoeiro) para o arraial Assumpção (Município de Fortaleza); arraial S. Pedro de Timbahúba (Município de Itapipoca) para o arraial Poço dos Pãos (Mu-nicípio de S. Matheus).

A Lei nº. 1.734, de 16 de agosto de 1920, suprime os cursos se-cundários e primários noturnos de Sobral e Crato, criados anteriormente, com a Lei nº. 1.748, de 29 de setembro de 1917. Com a Lei 1.751, de 19 setembro de 1920, suspende o serviço de inspeção escolar regional, criado com a lei de 1.383, de 2 de outubro de 1916.

Art. 1º. – Fica suprimido o serviço de inspeção escolar regional, criado em virtude da Lei nº 1. 383, de 2 de outubro de 1916. Art. 2º. – Esta lei entrará em vigor desde a data de sua promulgação.

1 Nas primeiras décadas da República, a escolarização converteu-se numa das grandes preocu-pações da opinião pública. Não só os educadores, mas também os intelectuais, jornalistas e homens públicos empenharam-se em vigoroso debate de problemas educacionais nos centros urbanos. A inclusão de temas sobre educação nas falas e programas de diversos Presidentes de Estados e/ou organizações foi utilizada para angariar simpatias ou lhes atribuir importância.

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245A reforma da Instrução Pública de 1920

Na Lei 1.761, de 17 de setembro de 1920, o artigo 1º altera o artigo 4º. do Regulamento da Escola Normal da seguinte forma:

Art. 1º - O art. 4º do Regulamento da Escola Normal, aprovado pelo Decreto Legislativo nº. 1.696, de 4 de novembro de 1918, é alterado pela presente lei:

§ 1º - O ensino de Francez é dividido em duas cadeiras: - a primeira cadeira comprehendendo os dois primeiros annos e a segunda cadeira o terceiro ano.

§ 2º - O professor de Francez, em disponibilidade, passará a cathedrático e regerá a primeira cadeira. No art. 2º. – As aulas da primeira cadeira funcionaram em dias alternados nos 1º e 2º ano, com três horas de lição por semana.

Os referidos artigos da Lei 1.761 passam a redefi nir o quadro de horários e aulas de Francês e nomeiam o professor da referida disciplina a catedrático, cargo antes direcionado para as principais disciplinas do currículo escolar da Escola Normal.

A Lei. 1.788, de 9 de outubro de 1920, continua as alterações do Regulamento da Escola Normal, aprovado pelo Decreto 1.626 de 4 de novembro de 1918.

Art. 1º - § 1º- O art. 47 § único estava, assim, redigido: A commissão a que se refere o artigo precedente, será composta do professor da cadeira, ou de quem legalmente o substitua, e de outro professor ou mesmo designado pelo director, que o presidirá ou nomeará outro membro do corpo docente para occupar esse lugar.

§ 2º. – Ao art. 57 será acrescentou-se o§ único – Nas medias trimestraes das aulas de arte, o total será sempre dividido por três para cada aulaseparadamente, mesmo no caso verifi cado de não ter a aluna obtido nota alguma em qualquer trimestre.

§ 3º. – O Art. 166, § único fi cará assim: o professor cathedratico, nomeado director, continuará no exercício de sua cadeira, tendo direito aos seus próprios vencimentos e mais à gratifi cação mensal de duzentos mil reis (200$000). Art. 2º. – Ficará supprimida, quando vagar, uma das cadeiras em que se divide o ensino deFrancez da Escola Normal.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017246

O Dr. Moreira da Rocha recomendava, em documento, “a necessi-dade de organização de escolas normais em pontos estratégicos do Estado para atender à carência, por região; criação de cursos secundários em cidades populosas para facilitar o ensino normal, apropriado às diversas circunstâncias e circunscrições territoriais e substituição do sistema de escolas isoladas por grupos escolares”.

O Presidente do Estado, João Thomé de Saboya e Silva, em men-sagem, na abertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa, em 1º de julho em 1917, manifestava a ideia de reformar a instrução pública. Com relação ao ensino normal, o dr. Thomé de Saboya chega, inclusive, a pôr em dúvida, a qualidade e efi cácia do ensino ministrado no único curso de formação de magistério, existente na capital, afi rmando, perante os depu-tados daquela mesma casa legislativa que:”nem sempre, como facilmente se pode compreender, o diploma de habilitação conferido pela Escola Normal aos alunos que terminam o curso, exprime o grau de preparo que devem ter para o exercício para o magistério público”.

Para um estudo mais aprofundado da situação do ensino no Estado do Ceará, na época, Ver: Relatório da Secretaria dos Negócios do Interior e da Justiça do Ceará, desembargador Dr. José Moreira da Rocha, ao Pre-sidente da Província, Dr. João Thomé de Sabóia e Silva, em 1° junho de 1919. Tipografi a Gadelha, Fortaleza. As demais citações que se seguem foram retiradas desse relatório.

Com relação à situação do ensino primário, esta era, ainda mais grave. A título de ilustração, basta lembrar, por exemplo, que aquele relatório apontava a existência, na época, de apenas 422 escolas públi-cas para atender a uma população, em idade escolar, que ultrapassava a 200.000 crianças. Face aos números expostos, pode-se concluir que, numa perspectiva mesmo otimista, somente a décima parte daquele contingente teria acesso à instrução elementar, enquanto, a grande maioria, estava, a priori, excluída da escola; fatos que,segundo ele, por si só já justifi cavam a necessidade de uma reforma urgente e efi caz do ensino normal e pri-mário do Estado.

Segundo o Dr. Thomé de Saboya, a reformulação, em questão, deveria, pois, começar pela organização e reestruturação da Escola Nor-mal, de sorte que “o seu produto estivesse a altura das necessidades do magistério como a sociedade cearense o exigia”.

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247A reforma da Instrução Pública de 1920

Pelo que se sabe, a Escola Normal do Estado, somente teve seu currículo reformulado no ano de 1918. Por força de um novo regulamento, adotou-se um curso dividido em quatro anos. Pelo mesmo regulamento, foi extinta a escola anexa (Escola de Aplicação) destinada à prática das normalistas nos dois últimos anos do curso. Foram incluídas, ainda as cadeiras de Inglês, Noções de Economia Doméstica, Datilografi a, Es-tenografi a, Noções de Escrituração Mercantil e Ginástica Sueca, numa tentativa, segundo Sousa (1955), “de se preparar a mulher para competir com o homem nos labores dos escritórios comerciais”, oferecendo-se a normalistas uma educação mais científi ca, habilitando-as ao desempenho de trabalhos de ordem geral que lhes possibilitassem, em caso de neces-sidade, prover ao próprio sustento.

Da proposta de educação “científi ca”, que lhes era oferecida, cons-tava, pelo que se percebe o ensino de matemática e das ciências naturais. O programa de matemática consistia numa revisão de Aritmética e no ensino da Escrituração Mercantil, principalmente na parte aplicável à contabilidade doméstica.

A distribuição da matérias do ensino (cadeiras e aulas) pelos quatro anos do curso, assim como o número das horas de lição, por semana passou a obedecer à seguinte ordem2.

1º ANOPortuguês 3 horasFrancês 2Aritmética 3Geometria prática 2Geografi a 2História geral 2Caligrafi a 3Música 2Trabalhos de agulha 2Ginástica sueca 2

2 Art. 4º do Regulamento para a Escola Normal do Ceará, aprovado pelo Decreto Legislativo nº 1626, de 4 de novembro de 1918.

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2º ANOPortuguês 3 horasFrancês 2Aritmética 3Geometria prática 2Geografi a 2História geral e instrução cívica 2Física e Química 2Desenho 3Caligrafi a 3Musica 2Trabalhos de agulha 1Ginastica sueca 2

3º ANOPortuguês 3 horas

Francês 2Inglês 3Pedagogia 3Botânica e Higiene 2Corografi a do Brasil e Cosmografi a 1História do Brasil 2Álgebra 2Música 1Trabalhos de agulha 2Datilografi a e Estenografi a 2Ginástica sueca 1

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4º ANOPortuguês 3 horas

Inglês 3Pedagogia 3Zoologia e Higiene 2Corografi a do Brasil e Cosmografi a 1Economia Domestica 1Música 1Datilografi a e Estenografi a e Escritura Mercantil 3Ginástica sueca 1

Na Escola Normal do Estado criaram-se também, à época, um gabinete de ciências fi sico-químicas e naturais, um museu pedagógico com o material necessário ao ensino prático e uma biblioteca para uso dos professores e das alunas.

Segundo Moreira de Sousa (1955), os efeitos principais da parti-cipação direta de Lourenço Filho foram: edifi cação de escolas, pelo Go-verno do Estado, no período, aumento da matrícula escolar e frequência, “concurso” para vaga de professores, material escolar (carteiras, livros, mapas, quadros, murais, etc.), inspeção médico-escolar e Regulamento da Instrução Pública, em 1923.

Vale ressaltar que a Reforma Lourenço Filho não se ateve apenas ao âmbito didático, não se restringiu a refazer a estrutura interna das escolas; constitui verdadeiro movimento social, encetou uma renovação completa na mentalidade local. O grande pedagogo entrou, para isso, em contacto com elementos do clero, do jornalismo, da intelectualidade e da política. Sua personalidade transbordante arrebanhava o interesse de todos, inclusive a adesão permanente do Presidente do Estado. Vale notar a colaboração constante de Newton Craveiro, como auxiliar valioso do reformador.

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REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS

Antologia do Ceará. Fortaleza (Setor de Obras Raras – Privativa da Biblioteca Pública Menezes Pimentel).

Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza. (1900-1950), Tomo LXVIII, 1958. Diário de Debates. Fortaleza, 17 de junho de 1922, segunda-feira, ano III, nº 12.

Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Ata das Sessões dos Debates da Lei. 1.953 (Ensino Primário). Setor de Obras

Raras. Biblioteca Governador Menezes Pimentel, Fortaleza, CE. Documentos Parlamentares, IV Vol. Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Relatório da Secretaria dos Negócios do Interior e da Justiça, 1919. Fortaleza:

Tipografi a Gadelha. Relatórios da Diretoria da Escola Normal, 1921-1923. Documentos da Escola Normal do Ceará. Arquivo Público do Ceará. Relatórios de Contratos da Diretoria Geral da Instrução Pública, 1928.

Arquivo Público do Ceará. Relatórios do Dr. João Hipólito de Azevedo e Sá, Diretor da Escola Normal,

1924- 1925.

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Primeiras posturas do Ceará

L M R *

“Daqui se tiram os Regimentos.Registro das Posturas desteSenado da Câmara desta Vila deSão José de Ribamar.

sendo neste mesmo dia dezesseis de Agosto de mil e setecentos perguntando os Juízes e Vereadores do Senado desta Câmara e nova Vila se guardavam as Leis de Sua Majestade que Deus Guarde tão pontual e inteiramente como se ordena e se há conta, peso e medida no que se compra e se os ofi ciais e mais trabalhadores do povo se são pagos de seu trabalho, se padece o povo algumas fomes ou já teve nascidas da falta do governo político e achando que as leis de Sua Majestade se não guardam como o dito Senhor nelas ordena, nem se venda em toda esta Capitania (pouco?) nem se compra por medida nem peso nem coisa tenha por certo nem os ofi ciais e trabalhadores se lhes tomem assinalando estipêndio ou jornal algum donde resulte intrigas, vexames, enganos e injustiças e outrossim que por falta de governo político padece este povo todo, muitas fomes e outros trabalhos e exaustões, o que nisto Acordaram em Câmara as Posturas seguintes nas Ordenações e Leis de Sua Majestade e usando da faculdade e jurisdição que o mesmo Senhor lhe concede, pelo que Acordaram // Que para se guardarem as Leis de Sua Majestade como elas ordenam, que os Juízes tomem logo conhecimento das coisas que lhe tocam e prendam e castiguem aos criminosos conforme as leis e Ordena-ções de Sua Majestade // Que os Almotacés façam oralmente correições

* Sócio Correspondente do Instituto do Ceará.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017252

ao menos uma vez cada mês exatamente em que se examine se guardam as leis do dito Senhor e as Posturas desta Câmara // Que o Alcaide. (1)......

... ...........juramento para se governar e acudirão as diligências que lhe for obrigado // Que à custa da Câmara se façam pesos de ferro, balanças e medidas de toda a sorte pela regra dos que há de usar toda a Vila e seu Termo como os de Pernambuco para que nenhuma pessoa possa nesta Vila e seu Termo usar de outro peso ou medida com pena que no Regimento se lhes assinará // Que visto padecer esta Capi-tania geralmente falta de farinhas e pescados se obriguem os moradores que tiverem modo e próximo a que plantem farinhas e pesquem com redes mandandolhes os Indios que necessário forem a cada um para lhes trabalharem // Que para se evitarem os enganos o Rol que nas Aldeias se fazem aos índios tenham pessoas de qualquer qualidade que seja, vá vender aguardente nas Aldeias nem nos seus confi ns ou ranchos ou roça nem também vender se não dentro da Vila e por medida certa e aquilada com pena de 4 mil réis pagos da cadeia pela primeira, e, pela segunda 6 meses de cárcere e degredo // Que logo se fi zessem Regimentos para todos os ofi ciais e povo se governar como fi zeram // Regimento para os Almotacés // Que todos os meses façam correição na Vila e examinem as medidas e pesos e achando qualquer falsidade prendam ao delinquente condenado na pena que pelo seu Regimento lhes for assinalado. Exami-nem as coisas de comida e bebida, se vendem por mais do justo preço e se são aumentadas e se são boas e sadias ou podres e nocivas à saúde e que aumentassem (em quantidade) todos os dias e peixe, e carne todos os sábados de modo que sempre os mantimentos da terra sejam baratos // Que todas as condenações e prisões façam termo e assento para se dar conta à Câmara // Os caminhos, estradas uma légua distante à roda da Vila estejam fáceis de passar, pode a Câmara obrigar aos moradores da Vila só a que concorram para os tais caminhos e para isto os Almotacés os poderão obrigar // Fora da Vila e demais partes onde houver vendas farão correição cada 6 meses // Regimento para o Alcáide que seja pontual em fazer as diligências todas as vezes que for requisitado // Que acuda a todos os requerimentos que se fi zerem da parte de El-Rei e acudam as brigas e pendências prendendo aos que brigarem ou forem agressores // Que seja pontual em execução digo em executar os mandados da Câmara e que para prender vá junto com o Escrivão // Regimento aos que vendem

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253Primeiras posturas do Ceará

coisas comestíveis e bebidas // Que ninguém venda carnes nem peixes nem farinha até a invernada e frutos da Terra ou Mar sem ser almotaçada, com pena de 2 mil réis // Que a carne se venda por peso afi lado (aferido) que serão obrigados a ter próprios os que vendem, com pena de 4 mil réis // Que o peixe seco se almotace cada semana e o fresco cada dia, com pena de 2 mil réis // E que ninguém venda vinhos nem aguardente, azeite ou vinagre senão por medida afi lada, com pena de 4 mil réis pagos da cadeia // Que ninguém venda pano fi no ou outra fazenda e drogas senão por vara e litro cada, que tiram próprio com pena de 2 mil réis pagos da Cadeia // Que a linha de fi o fi no de algodão se não venda por mais de 320, e o grosso a 200 réis. E a arroba de algodão em caroço a 500 réis. E a vara de pano fi no de algodão se não venderá por mais de 320 réis; e sendo ordi-nário a 240 e sendo grosso de resgate a 160 réis; de tecer sendo grosso a 25 réis e fi no a 40 réis; ordinário a 30 réis // Que nenhum linhão de pano de algodão faça pano menor de 3 palmos de largo com pena de 3 mil réis pagos da Cadeia // Dos ofi ciais de ofi cio braçal como Carpinteiro, Pedreiro, Ferreiro e outros semelhantes se lhes pague por cada dia de trabalho 400 réis seco // Que os ofi ciais de ofi cio mais leve como alfaiate, sapateiro e outros semelhantes se lhes pagará por cada um dia 200 réis seco // Que os Homens brancos de trabalho braçal de enxada se lhes pague por cada dia 200 réis seco // Que os pretos de enxada e machado se lhes pague por cada dia 100 réis seco // Que aos índios do mesmo trabalho se lhes pague por cada dia a 30 réis e de comer e este estipêndio se lhes pague em di-nheiro ou em fazenda como a dinheiro e nunca se lhe pagará aos índios o seu trabalho com aguardente com pena de 2 mil réis e tornará a pagar aos índios // Que os índios que se alugarem a passar lotes de gado desta Ca-pitania para fora, se lhes pagará por dia 6 vintens e de comer e sendo para dentro da Capitania com o próprio trabalho do gado se lhes pagará 80 réis por dia e de comer // Que os índios moços que servirem os Amos se lhes pague por cada ano 1.500 réis e de vestir mas se os tais Amos ensinarem aos tais moços algum ofi cio ou arte com que depois possam ganhar sua vida não serão obrigados os ditos Amos os primeiros 3 anos a pagar-lhes, só dar-lhes de vestir e fazendo-se-lhes roupas pagarão sua jornada como justo for // Que os ofi ciais....................................... . . .. . ... .............ginete por 10 tostões.......................................................... ................ por 1.400 como cochim e a risada de ferro .................................................................................................................. e

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o mais necessário por 3 mil réis e de tudo..............................a ........................................com coberta 5 mil réis // A sela bordada apa-relhada de tudo, bem feita, por 6 mil réis // Mais.................................... 3 sapateiras que por umas botas joelheiras bem feitas devem só 1.400 réis, digo, 1.500 // Por botas de capote 10 tostões // Por sapatos de 4 pontos até 8 pontos, de viado, com salto ordinário, por 5 tostões // Por sapatos de cordação polidos 7 tostões, digo, por 750, de mulher, 400 réis, de menino sapatos de cordação 240 e viado 200 réis // Por chinelas de viado e anéis, 320 // Que todo o ofi cial de ferreiro de obra preta não venda a libra de ferro lavrado em obra mais de 100 réis // Que todos os que tiverem gados venham por si ou por seus procuradores ou seus criadores a esta Câmara registrar suas marcas e sinais de orelha com pena de 4 mil réis // O Escri-vão da Câmara tome as marcas e divisas e sinais de orelha e as registrará no Livro a que tocar e pelo registro delas lhe pagarão por marca e divisa e sinal de orelha 200 réis // Regimento de obras de alfaiate // Levará o Alfaiate por feitio de seus calções com seu forro e algibeiras 240 réis; por uma casaca com seu forro ao uso do feitio não levarão mais que 500 réis; por um gaieta de cor, forrada, não levará mais que uma pataca e sento sem forro 240 réis de feitio; por uma saia de fazenda de lã não levará mais”.(Este documento termina aqui, faltando, ao que parece, a última folha)

Fonte:Arquivo Público Nacional, Livro da Câmara do Aquiraz, Códice 1.107 fl s. 2/3v.

O documento, em virtude do péssimo estado do livro, deixa algumas lacunas.

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Estátuas a Lampião

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eja-se que falo no plural, pois muitas, inúmeras serão, e não demorará muito, as que vão ser levantadas ao grande brasileiro, Virgu-lino Ferreira da Silva, nas maiores cidades deste nosso continental País, notadamente no Nordeste. País que ele tanto serviu, durante vários anos, fazendo pleno jus às homenagens que lhe vêm sendo prestadas ... com invertida justiça.

Lampião, alcunha do admirável pernambucano de Serra talhada, valoroso combatente, com o seu famigerado grupo, a fugir sempre das polícias estaduais em sua perseguição, o guerreiro indômito tem sido objeto e conteúdo de quantos querem tema para as suas publicações livrescas, jornalísticas, televisionadas e outras como tais. Desde os espontâneos versos de livrinhos de cordel até livros de consagrados vates e escritores: romances, obras poéticas, tomos de reportagem, peças de teatro, fi lmes de cinema sucedem-se e são devoradamente lidos ou assistidos pelos que, incautos, se comprazem em conhecer, por esses meios de comunicação, as investidas do banditismo, do marginalismo contra a ordem constituída e o bem-estar comum. Leio o bem feito editorial do jornal O POVO, edição de 19 de setembro passado, sob o título – “O Caldo de Cultura ainda fer-vente” e dou com esse tópico: “De Lampião, o menos que se pode dizer é que nas livrarias de Fortaleza estão expostas pelo menos seis obras sobre sua vida e morte, e, outras, ao que se sabe, acham-se a caminho do prelo”.

E a coisa vai além: uma das nossas redes de televisão, de respon-sabilidade e extensão internacionais, faz pouco tempo empregou o seu enorme prestígio promovendo a ida de familiares do extraordinário cidadão brasileiro até o local em que, com os seus facínoras, ele foi sumariamente liquidado pelas tropas legais, com as respectivas cabeças cortadas para me-lhor documentação do fato; e não me admirarei se, ali, naquele esconderijo

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de locas e de pedras, não for erguido um Memorial do tamanho daquele, ou maior, que se construiu em Brasília em honra do Presidente Juscelino!

O endeusamento do bandoleiro insigne toma vulto e já o consideram um mito. E (onde está o juízo dessa gente, meu Deus!), na última parada cívico-militar de 7 de setembro, a maior de nossas festas patrióticas, ao lado dos garbosos militares de todas as Armas – Exército, Marinha, Aero-náutica, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Colégio Militar, e ao lado de guapos jovens representantes dos diversos colégios particulares da nossa Capital, lá estava desfi lando vaidoso, ao som dos tambores, ao lado de sua rameira Maria Bonita, o valoroso Lampião, com a sua roupa típica, o seu chapéu de couro agaloado, que já fez moda , com o seu bacamarte a tiracolo, os seus cintos de cartucheiras e o seu apavorante punhal de meio metro de comprimento!!! E aqui forneço um esclarecimento: dias antes do desfi le, fui procurado, em nossa casa, por dois professores encarregados da organização da parada da Independência, a fi m de me consultarem sobre certos pontos da caracterização dos desfi lantes. Ao ver que entre estes estaria prevista a presença simbólica de Lampião e sua amante, fi z-lhes ver ser contra-senso injustifi cável que, numa homenagem à Pátria, fi gurasse o execrado jagunço. Concordaram comigo... e o jagunço desfi lou. No citado editorial do O POVO encontro estoutro período: “Espanta e choca que um personagem de tal quilate, com todos os seus antecedentes, seja quase transformado em herói da noite para o dia (refere-se a outro ilustre brasileiro – o Fernando da Gata). Acontece, porém, que como todos os bandidos, o marginal, nascido no sertão do Ceará e abatido pela Polícia de Minas Gerais não é apenas um grão de areia que tentou, a seu modo, fi tar as estrelas. É um descendente em linha direta de muitos outros delin-quentes que a nossa sociedade fabricou desde as mais remotas épocas. ”

E digo eu: ninguém se tome de espanto se em volta do túmulo do perigoso gatuno se fi zerem, logo mais, romarias de pessoas, com velas acesas, esperando milagres de sua inocente alma! Os jornais publicaram clichê do velório de Fernando, no qual se vê uma chorosa moça a depo-sitar fl ores sobre o seu esquife, alegando que o fazia... por simples gesto humano! É o começo da conversa...

O fascínio em torno dos grandes criminosos, não só no Brasil po-rém no mundo todo, é fenômeno que desafi a os sociólogos e estudiosos dessa matéria. A Sociologia é a ciência que analisa e interpreta as causas ou questões sociais dos grupos humanos, e faz poucos dias se efetivou,

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257Estátuas a Lampião

em Fortaleza, um congresso de seus cultores. Que estes aprofundem as suas pesquisas nesse tocante da fascinação que se registra em torno das atividades danosas de desajustados, olhando com simpatia, chegando a uma espécie de veneração pelos que pensam pouco, ou não pensam...

Por que bandidos, reunidos em grupos, maiores ou menores, matam friamente, defl oram, estupram, saqueiam, sequestram fazendeiros para extorquir das famílias, avultadas quantias, apavoram populações inteiras, destroem, incendeiam, saqueiam, merecem tal glorifi cação? Glorifi cação de gente inculta, e glorifi cação, o que é mais sério, de gente altamente letrada!

Dizer fi lhos, tais marginais, de um chamado “caldo de cultura” é afi rmação fácil. No caso do russano da Gata temos o exemplo: criou-se ele no caldo de cultura de sua cidade natal, ao lado de centenas de meninos de igual condição social e somente ele feriu o ambiente de pacatez dos outros, crescidos em boa forma, ordeiros, trabalhadores, ajustados ao seu ambiente. É que não tem base a afi rmação, aliás cediça, dos efeitos do tal “caldo de cultura”. O marginal, exceção – isto sim – é resultante de suas taras, de suas inclinações más, inatas, que tanto há preocupado os criminólogos de todos os continentes.

Sobre o fenômeno do banditismo no Nordeste, para seu melhor conhecimento, deve ser lido, em todas as páginas, o livro Fanáticos e Cangaceiros, de Abelardo Montenegro, e de sua leitura muita explicação se tirará para a devida informação acerca do assunto, desde os recursos dos tempos de nossa formação histórica até hoje.

E manifestem-se os nossos sociólogos, sem temor da complexidade da misteriosa mitologização, cuja modifi cação acho difícil, mas ao menos saberemos a sua razão de ser.

(Transcrito do jornal O POVO do dia 24 de outubro de 1982.)

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Sessão do dia 06 de fevereiro de 2017

Aos 06 dias do mês de fevereiro de 2017, às 14 horas e 30 minutos reuniram-se em assembleia geral os sócios efetivos do Instituto do Ceará, em nossa sede situada no município de Fortaleza, Estado do Ceará, na Rua Barão do Rio Branco, nº1594, bairro Centro, Cep 60025-061, no Auditório Carlos Studart Filho, cujo estatuto está registrado no Livro A-1, fl s. 134v, sob o número de ordem 709 em 09/11/1970, e CNPJ: 07.369.960/0001-72 para eleger a diretoria que conduzirá os destinos do Instituto no biênio que vai de 04/03/2017 a 04/03/2019. Assumindo a presidência dos trabalhos, o Presidente do Instituto, Ednilo Gomes de Soárez, falou da razão de ser da Assembleia e passou a presidência da Mesa ao sócio Marcelo Gurgel Carlos da Silva, para isso designado no Edital de Convocação. A Assem-bleia se desenvolveu de acordo com o edital que vai a seguir transcrito:

EDITAL

ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA

O Presidente do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e An-tropológico), usando da competência que lhe confere o artigo 49, g, do Estatuto do Instituto do Ceará, e considerando os termos do art. 38, c, do aludido Estatuto, e da Instrução Normativa nº 01/2013, RESOLVE: Art. 1º- Convocar Assembleia Geral Ordinária para eleger os membros do Conselho Superior Consultivo, dos integrantes da Diretoria, do Conselho Fiscal e das Comissões Permanentes, a ser realizada na sede do Instituto, na Rua Barão do Rio Branco 1594, Fortaleza-Ceará.§ 1º - Os eleitos, integrantes da Diretoria prevista no artigo 44 do Estatuto, cumprirão mandato de 2 (dois) anos a iniciar-se em 04 de março de 2017.§ 2º - Os membros do Conselho Superior Consultivo e das Comissões tomarão posse posteriormente.Art. 2º - A Assembleia Geral Ordinária será instalada em primeira con-vocação às 14.30h do dia 06 de fevereiro de 2017 com a presença da maioria absoluta dos associados aptos a votar (art. 21, c, do Estatuto) e, em segunda convocação, às 15h do mesmo dia, com a presença de 1/3

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dos associados em iguais condições, encerrando-se a votação às 17h._Art. 3º - As chapas que concorrerão às eleições deverão ser registradas até às 18h do dia 05 de janeiro de 2017, podendo ser designadas por número ou nome, com a seguinte composição:I – Conselho Superior Consultivo – 5 (cinco) membros;II – Diretoria:Presidente1º Vice-Presidente2º Vice-PresidenteDiretor da Biblioteca e ArquivoDiretor de Comunicação Secretário-Geral1º Secretário2º Secretário1ºTesoureiro2º TesoureiroII - Conselho Fiscal – 3 (três) membrosIII – Comissões Permanentes

a) História – 3 (três) membrosb) Geografi a – 3 (três) membrosc) Antropologia – 3 (três) membrosd) Comissão de Verifi cação de Mérito Científi co Cultural – 3

(três) membrose) Comissão de Defesa do Patrimônio Cultural – 3 (três) membrosf) Comissão da Revista- 3 (três) membros.

Parágrafo Único – É proibida a acumulação de cargo do Conselho Fiscal com o de membro da Diretoria.Art. 4º - As chapas conterão os nomes dos candidatos e respectivos cargos.Parágrafo Único – No caso de registro de mais de uma chapa, o candidato somente poderá participar de uma chapa.Art. 5º - O requerimento de registro das chapas será assinado pelo candi-dato a Presidente da Diretoria e dirigido ao Presidente da Mesa Eleitoral.Parágrafo Único - O Presidente da Mesa Eleitoral homologará o pedido de registro dentro do prazo de 5 (cinco) dias da data do protocolo do requeri-mento de registro, cabendo recurso à Diretoria em caso de indeferimento parcial ou total, que, em caráter defi nitivo, decidirá em igual prazo.Art. 6º - O processo eleitoral será conduzido por uma Mesa Eleitoral composta pelos sócios Marcelo Gurgel Carlos da Silva – Presidente

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- Antonio Claudio Ferreira Lima e Ubiratan Diniz Aguiar, Secretários--Escrutinadores. Parágrafo Único – Os membros da Mesa Eleitoral não poderão integrar as chapas.Art. 7º - Encerrada a votação, a Mesa Eleitoral iniciará imediatamente a apuração e, ao concluí-la, proclamará o resultado do pleito.Art. 8º - Os casos omissos serão decididos pela Mesa Eleitoral.

Fortaleza, 21 de novembro de 2016

Ednilo SoárezPresidente

Não tendo havido quorum às quatorze horas e trinta minutos, o Presidente da Mesa Marcelo Gurgel Carlos da Silva abriu os trabalhos da Assembleia às quinze horas, constatando a presença de vinte e seis sócios, número superior ao exigido pelo Estatuto. A seguir, a relação dos sócios presentes: Pedro Alberto de Oliveira Silva, Francisco Fernando Saraiva Câmara, Eduardo de Castro Bezerra Neto, Paulo Ayrton Araújo, Paulo Elpídio de Menezes Neto, Miguel Angelo de Azevedo (Nirez), Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, Pedro Sisnando Leite, Gisafran Nazareno Mota Jucá, Rejane Vasconcelos Accioly de Carvalho, Francisco Ésio de Sousa, José Augusto Bezerra, José Filomeno Moaraes Filho, Ednilo Go-mes de Soárez, Lúcio Gonçalo de Alcântara, Juarez Fernandes Leitão, Affonso Taboza Pereira, Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, Cid Saboia de Carvalho, Geová Lemos Cavalcante, Osmar Maia Diógenes, Luciano Pinheiro Klein Filho, Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Glória Maria dos Santos Diógenes, Ubiratan Diniz de Aguiar e José Eurípedes Maia Chaves Júnior.

Em seguida o Presidente, na ausência do sócio Antônio Cláudio Ferreira Lima, designou para escrutinador ad hoc o sócio efetivo Fran-cisco Fernando Saraiva Câmara. Havendo apenas uma chapa registrada, denominada União, o Presidente da Mesa, Marcelo Gurgel Carlos da Silva deu início à votação com cédula e urna, como preceitua o Estatuto, votando os sócios sem preocupação de ordem ou precedência. Finda a votação, a apuração apresentou o seguinte resultado: votos favoráveis à chapa proposta, vinte e seis; nenhum voto branco ou nulo. O Presidente

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da Mesa, Marcelo Gurgel Carlos da Silva, proclamou eleitos, por unani-midade dos votantes, os componentes da Chapa União, a seguir citados, para os cargos respectivos:

CHAPA UNIÃO

Presidente de Honra: Paulo Ayrton AraújoPresidente: Lúcio Gonçalo de Alcântara1º Vice-Presidente: Osmar Maia Diógenes2º Vice-Presidente: Pedro Sisnando LeiteDiretor da Biblioteca e Arquivo: Pedro Alberto de Oliveira SilvaDiretor de Comunicação: Miguel Ângelo de Azevedo (NIREZ)Secretário-Geral: Geová Lemos Cavalcante1º Secretário: Juarez Fernandes Leitão2º Secretário: Affonso Taboza Pereira1º Tesoureiro: José Eurípedes Maia Chaves Junior2º Tesoureiro : Luciano Pinheiro Klein Filho

Conselho Superior ConsultivoPresidente : Carlos Mauro Cabral Benevides Membros: José Augusto BezerraJosé Liberal de Castro Cid Sabóia de CarvalhoPaulo Elpídio de Menezes Neto

Comissões

HistóriaPedro Alberto de Oliveira SilvaEduardo de Castro Bezerra NetoGisafran Nazareno Mota Jucá

Geografi aRaimundo Elmo de Paula VasconcelosMaria Clélia Lustosa CostaEustógio Wanderley Correia Dantas

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AntropologiaEduardo Diatahy Bezerra de MenezesGlória Maria Santos DiógenesRejane Maria Vasconcelos Accioly de Carvalho

Verifi cação de MerecimentoFrancisco Ésio de SousaJosé Augusto BezerraPedro Sisnando Leite

Defesa do Patrimônio CulturalCarlos Mauro Cabral BenevidesUbiratan Diniz AguiarIsabelle Braz Peixoto da Silva

RevistaFrancisco Fernando Saraiva CâmaraGeová Lemos CavalcanteMarcelo Gurgel Carlos da Silva

Conselho FiscalPresidente -Ednilo Gomes de Soárez Membros – Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez – José Filo-

meno Moraes Filho

Retomando a direção dos trabalhos e nada mais havendo a tratar, o Presidente EDNILO GOMES DE SOÁREZ deu por encerrada a As-sembléia Geral da qual eu, AFFONSO TABOZA PEREIRA, Segundo Secretário da Diretoria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente, e pelos sócios presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

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Sessão do dia 13 de fevereiro de 2017

Aos treze dias do mês de fevereiro de dois mil e dezessete, reuniu-se a diretoria do Instituto na sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco n° 1594, no auditório General Carlos Studart Filho, para a décima oitava e última sessão ordinária do Biênio 2015/2017. Presentes oito sócios efeti-vos a seguir relacionados: Presidente Ednilo Gomes de Soárez, presidente eleito para o próximo biênio Lúcio Gonçalo de Alcântara, Vice-Presidente Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, Secretário Geral Osmar Maia Diógenes, Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante, Segundo Secre-tário Affonso Taboza Pereira, Diretor Cultural Juarez Fernandes Leitão e o ex-Presidente José Augusto Bezerra.

Iniciando os trabalhos às quinze horas, o Presidente Ednilo fez referência à formação de um grupo de whatsapp congregando os sócios efetivos do Instituto, iniciativa a seu ver muito interessante que tem per-mitido contato fácil e informal entre os confrades. Lamentou, porém, a veiculação nesse aplicativo, de comentário infeliz de um consócio sobre a natureza das nossas reuniões que, segundo o comentário, praticamente se atém a assuntos burocráticos e administrativos. Lembrou o Presidente que não é bem assim pois, além das reuniões mensais da diretoria, quando são efetivamente tratados assuntos de caráter administrativo e outros, do interesse de sócios presentes, levantados na hora, a instituição promove mensalmente uma palestra sobre temas de relevante interesse cultural, a cargo de membros do IC ou de personalidades de fora. Segundo informou na ocasião o Diretor Cultural Juarez Fernandes Leitão, no segundo ano deste biênio foram pronunciadas dez palestras, dentro do Ciclo Anual de Conferências, todas altamente prestigiadas; falha apenas nos meses de dezembro, devido às comemorações natalinas, inclusive nossa festa de Natal, e o mês de janeiro, normalmente reservado a férias e viagens dos sócios. Quanto à sugestão veiculada na mesma mensagem de que se façam reuniões quinzenais, lembrou o Presidente a difi culdade de reunir os sócios numa cidade grande como a nossa, em horário nem sempre conveniente para todos. Na verdade, se juntarmos reuniões e palestras, a frequência ao Instituto passa a ser, em média, quinzenal. Referiu-se à posse do futu-ro presidente Lúcio Alcântara, no dia 4 de março próximo, quando será distribuída a nossa tradicional e centenária Revista do Instituto, edição 2016, primorosamente trabalhada pelo Primeiro Secretário Geová Lemos

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Cavalcante, e também uma pequena revista com a prestação de contas de sua gestão, da qual mandou imprimir trezentos exemplares. Fez blague ao lembrar que a edição da Revista de 2015 saiu com quinhentas e vinte páginas correspondendo, nas suas palavras, a uma pequena biblioteca de cinco livros de cem páginas. Disse da sua satisfação de transferir a pre-sidência do Instituto a um consócio da envergadura de Lúcio Alcântara, com ampla bagagem de serviços prestados à comunidade como Prefeito de Fortaleza, Deputado Federal, Senador, Vice-Governador e Governa-dor do nosso estado, e senhor de imensa bagagem cultural. Disse ainda que passa a presidência com a casa em ordem, instalações reparadas, e Auditório Carlos Studart Filho e parte do térreo do palacete com pisos novos. O Diretor Cultural Juarez Fernandes Leitão reportou-se à suges-tão da Vice-Presidente Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, para a edição de um número temático da Revista, no ano do bicentenário de nascimento do Senador Pompeu. Foi lembrado que a primeira proposi-ção da Vice-Presidente Angela foi feita na reunião de cinco de setembro de dois mil e dezesseis, com aprovação unânime da diretoria, e teve os seguintes termos, conforme consta da ata daquela reunião, a seguir trans-crita: A Vice-Presidente Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez sugeriu que começássemos a pensar nas comemorações do bicentenário do Se-nador Pompeu, que ocorrerá no próximo ano. Sugeriu incluir também nos planos do Instituto as comemorações do bicentenário da Revolução Pernambucana de 1817. Em extensa mensagem de whatsapp datada do dia sete do corrente mês, na qual enaltece as vantagens de termos este instrumento prático de comunicação a nosso dispor, nossa vice-presidente lança ao fi nal a seguinte proposição: Quem sabe seja o caso de editarmos um número especial da nossa Revista, dedicado aos vários aspectos da participação do Senador na vida do Ceará e do Brasil? Na sequência de mensagens do whatsapp, o sócio efetivo Filomeno Moraes assim se pronunciou: Excelente ideia. Conte comigo Angela. E em seguida, Affonso Taboza: Acho interessantíssima a ideia de se editar um número especial da Revista sobre o tema. A proposição da vice-presidente se reduziu a esse número temático, na Revista de 2017. A extensão da ideia para que se torne um procedimento sistemático, alterando a tradicional feição editorial da Revista – sugestão apresentada meses atrás e não aceita na ocasião – veio na sequência de mensagens de whatsapp e email, partidas de outros sócios, e poderá ser discutida a seu tempo, sob a nova diretoria.

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O Presidente Ednilo citou a importante ação do sócio efetivo Lúcio Gon-çalo de Alcântara junto ao Banco do Nordeste, que garantiu fundos para a publicação da edição deste ano da nossa Revista. Lembrou em seguida o compromisso da Presidência de visita ao Senhor General Comandante da Décima Região Militar, juntamente com o futuro presidente Lúcio Alcântara e o sócio Affonso Taboza, na próxima segunda-feira, quando entregará àquela autoridade convite para a solenidade de posse do novo presidente. Lembrando ser aquela a última reunião da atual diretoria, agradeceu o empenho dos diretores durante sua gestão, lembrando que cada um cumpriu sua tarefa estatutária, o que muito facilitou seu trabalho. O Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante apresentou uma coleção de seis livros de Leonardo Mota, considerada sua obra completa, doação de seu neto Fernando Mota à nossa biblioteca.

E nada mais havendo a tratar, deu o Presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Dire-toria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente, e pelos diretores presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 04 de março de 2017

Aos 04 dias do mês de março de 2017, às 17 horas, reuniu-se o Instituto no Auditório Tomaz Pompeu Sobrinho em sua sede, sita no mu-nicípio de Fortaleza, Estado do Ceará, na Rua Barão do Rio Branco nº 1594, bairro Centro, Cep 60025-061, cujo estatuto está registrado no Livro A-1, fl s. 134v, sob o número de ordem 709 em 09/11/1970, e CNPJ: 07.369.960/0001-72 para a posse da nova diretoria eleita em Assembleia Geral Ordinária de 06 de fevereiro de 2017, para exercer o mandato no biênio que vai de 04/03/2017 a 04/03/2019. Presentes vinte e nove sócios efetivos a seguir relacionados: Pedro Alberto de Oliveira Silva, Francisco Fernando Saraiva Câmara, Eduardo de Castro Bezerra Neto, Carlos Mau-ro Cabral Benevides, Paulo Elpídio de Menezes Neto, José Liberal de Castro, Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, Pedro Sisnando Leite, Rejane Vasconcelos Accioly de Carvalho, Francisco Ésio de Sousa, José

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Augusto Bezerra, Ednilo Gomes de Soárez, Maria Clélia Lustosa Costa, Fernando Luiz Ximenes Rocha, Lúcio Gonçalo de Alcântara, Juarez Fer-nandes Leitão, Affonso Taboza Pereira, Angela Maria Rossas Mota de Gugiérrez, Francisco Adegildo Férrer, Geová Lemos Cavalcante, Osmar Maia Diógenes, Eustógio Wanderley Correia Dantas, Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Isabelle Braz Peixoto da Silva, Luciano Pinheiro Klein Filho, Antônio Cláudio Ferreira Lima, Glória Maria dos Santos Diógenes, Ubiratan Diniz de Aguiar e José Eurípedes Maia Chaves Júnior. Presen-tes também diversas autoridades e convidados, dentre os quais destacamos o Excelentíssimo Senhor Governador do Estado, Camilo Sobreira Santa-na, o Excelentíssimo Senhor General de Divisão Estevam Cals Theóphi-lo Gaspar de Oliveira, Comandante da Décima Região Militar, a senhora Suzana Ribeiro, da Sociedade Amigas do Livro, e o ex-governador e sócio resignatário do Instituto Luiz de Gonzaga Fonseca Mota. Iniciando os trabalhos o cerimonialista, em rápidas palavras, disse da razão de ser da solenidade e tratou de compor a mesa de honra com as seguintes per-sonalidades: Presidente Ednilo Gomes de Soárez, presidente eleito Lúcio Gonçalo de Alcântara, governador Camilo Sobreira Santana, comandan-te da Décima Região Militar general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, presidente da Academia Cearense de Letras Ubiratan Diniz Aguiar, representante da presidência do Senado Federal João Melo e o presidente do Tribunal de Contas dos Municípios Domingos Gomes de Aguiar Filho. Em seguida anunciou o toque do Hino Nacional Brasileiro, a cargo de harmonioso grupo musical, que os presentes ouviram e canta-ram em posição de respeito. Assumindo a palavra, o presidente Ednilo Gomes de Soárez disse da sua alegria de passar a presidência da Casa a um homem de bem, que todos os cearenses conhecem, pois foi prefeito de Fortaleza, governador do Estado, deputado federal e senador, além de secretário estadual da saúde e vice-governador. Lembrou que Lúcio Al-cântara preside o Instituto do Câncer do Ceará e a Sociedade Cearense de Assistência aos Cegos, que presta serviço relevante aos pobres portadores de doenças no aparelho ocular. Enalteceu a conduta ética do presidente que logo mais assumiria o cargo, ao longo dos muitos anos em que cum-priu as diversas missões para as quais foi eleito ou convidado. Lembrou que Lúcio, além de ser um profundo conhecedor da nossa história, é um dos seus principais protagonistas na contemporaneidade. E não se furtou a celebrar sua felicidade por ter desposado a ilustríssima senhora e aca-

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dêmica renomada Maria Beatriz do Rosário Alcântara, literata de escol, membro da Academia Cearense de Letras. Agradeceu de coração o apoio da sua diretoria e a colaboração dos sócios ao longo de seus dois manda-tos. E não esqueceu a dedicação e prestimosidade do nosso corpo de funcionários. E concluiu sua oração parafraseando o presidente Epitácio Pessoa ao transmitir o cargo ao sucessor presidente Artur Bernardes: “Desejo que o doutor Lúcio Alcântara e sua diretoria façam pelo Institu-to do Ceará tudo que eu desejaria ter feito”. Nesse momento, o cerimo-nialista anunciou a troca de lugares na mesa entre os dois presidentes, o que sai e o que entra. E para simbolizar a transferência do comando da Casa, o presidente que sai entregou ao que entra um exemplar da Revista do Instituto em sua centésima trigésima edição, referente ao ano de dois mil e dezesseis, lançada naquele momento, data de aniversário da Casa, seguindo a tradição. Em seu discurso após empossado, o presidente Lúcio Alcântara agradeceu, de início, ao governador Camilo Santana, cuja pre-sença naquela solenidade atribuía a seu apreço à cultura pois, segundo suas palavras, todos sabem o que é a agenda de um governador de estado. Informou, a seguir, que o avô materno do governador, Professor Sobreira Amorim, integrou os quadros do Instituto como sócio efetivo. Cumpri-mentou o ex-presidente Ednilo Soárez por sua profícua administração, dois biênios à frente da casa; cumprimentou um a um os componentes da mesa, e mais os deputados estaduais Carlos Matos, Capitão Wagner e Fernanda Pessoa, e outras autoridades estaduais e municipais. Saudou o provedor da Santa Casa de Misericórdia, Engenheiro Luiz Marques e um amigo que atravessou o oceano para se fazer presente à solenidade, Pro-fessor Luiz Gomes, de Portugal. E citou sua mulher, dona Beatriz Alcân-tara, “o barco e a vela que o ajudaram e ajudam a singrar os mares da vida”. Disse da responsabilidade de assumir mais este cargo executivo, após tantos já desempenhados no passado, acumulando com suas tarefas de presidente de duas instituições privadas de ponta na área da saúde, o Instituto do Câncer do Ceará e a Sociedade Cearense de Assistência aos Cegos, o Instituto dos Cegos, esta última até por dever e tradição familiar, inaugurada que foi por seu saudoso pai, Dr. Valdemar Alcântara; que entre acertos e erros caminhou pelo labirinto da existência, movido pelo ideal de servir; que só uma convocação como a recebida dos sócios efe-tivos da Casa poderia fazê-lo aceitar tal desafi o; que ter sido eleito para compor o quadro efetivo desta veneranda instituição, para ele, segundo

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suas palavras, já foi uma honra, e que diria então de sua escolha pelos confrades para presidi-la... que era chegada a hora de dar uma contribui-ção mais efetiva a essa grande instituição fundada há cento e trinta anos por um grupo de sábios, com a fi nalidade de estudar a cultura e a história da nossa terra; que sua atividade política hoje é residual, um rescaldo, do qual não se podem livrar facilmente os que optam pela vida pública; enalteceu as mais recentes administrações da entidade, capitaneadas por Eduardo Campos, José Augusto Bezerra e Ednilo Soárez, responsáveis pela condução do Instituto à atual pujança; lembrou a fi gura ínclita do Barão de Studart, médico e historiador, pilastra moral e intelectual sobre a qual se ergueu e consolidou o grêmio ora reunido em solene ocasião; apresentou em poucas palavras a diretriz de sua futura administração, que visa antes de tudo a busca de maior participação e presença da sociedade e dos estudiosos no Instituto, e no usufruto de seus tesouros culturais; que é preciso agir para remover, da cabeça de muitos, o preconceito dos que ainda enxergam na laboriosa dedicação de investigadores da História, uma inutilidade e desperdício, uma esquisitice de gente estranha; que devere-mos estar mais próximos da academia, das universidades, das instituições congêneres, em favor da produção intelectual; que os conhecimentos contidos na nossa rica biblioteca chegariam mais facilmente aos estudio-sos se jogados no mundo virtual, usando os largos recursos da atual tec-nologia; concitou os associados a ajudá-lo na tarefa ingente de tocar a instituição para cuja direção foi eleito, numa demonstração de confi ança. Agradeceu aos que aceitaram partilhar com ele essa responsabilidade, integrando a sua diretoria, e lançou uma palavra aos funcionários, de cuja dedicação dependerá em grande parte o êxito da gestão que se inaugura. Agradeceu fi nalmente às autoridades, amigos e familiares que prestigiaram o evento com suas presenças, numa hora incômoda, fi nal de tarde de sá-bado, e a cada um transmitiu um abraço agradecido. Terminado o belo discurso do presidente, o cerimonialista citou, como abaixo vai transcrito, os nomes dos eleitos para compor a nova diretoria em pleito realizado em 6 de fevereiro de 2017, conforme Edital de Convocação do dia 21 de novembro de 2016, e pediu que cada um fi casse de pé ao ter o nome mencionado. Chapa União: Presidente, Lúcio Gonçalo de Alcântara; primeiro vice-presidente, Osmar Maia Diógenes; segundo vice-presiden-te, Pedro Sisnando Leite; diretor de biblioteca e arquivo, Pedro Alberto de Oliveira Silva; diretor de comunicação, Miguel Ângelo de Azevedo

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(Nirez); secretário geral, Geová Lemos Cavalcante; primeiro secretário, Juarez Fernandes Leitão; segundo secretário, Affonso Taboza Pereira; primeiro tesoureiro, José Eurípedes Maia Chaves Júnior; segundo tesoureiro, Luciano Pinheiro Klein Filho. Conselho Fiscal. Presidente: Ednilo Gomes de Soárez. Membros: Angela Maria Rossas Mota de Gu-tiérrez, José Filomeno Moraes Filho. Ato contínuo, o presidente Lúcio Alcântara declarou empossados os membros da diretoria citados, como previsto no artigo 44 do Estatuto para o biênio dois mil e dezessete, dois mil e dezenove, e passou a palavra ao senhor Governador Camilo Santa-na para suas considerações. O governador disse do seu reconhecimento à importância do Instituto para a cultura do nosso estado, e festejou o fato de ter seu avô pertencido aos quadros da instituição. O cerimonialista convidou o presidente da Academia de Ciências Sociais do Ceará, senhor José Ribeiro da Silva, para outorga de comenda daquela instituição ao ex-presidente Ednilo Soárez, o que foi feito, nas palavras do presidente, com grande honra para a Academia que representa. A comenda, Diploma de Sócio Honorário, foi entregue pelo nosso segundo vice-presidente Pedro Sisnando Leite, membro daquela Academia e autor da proposição. Assumindo a palavra, o presidente Lúcio Alcântara convidou a senhora Beatriz Alcântara, sua esposa, para fazer entrega do diploma de Amiga do Instituto do Ceará à senhora Fani Soárez, esposa do presidente que sai. O presidente convidou a sócia Maria Clélia Lustosa Costa a fazer entrega do diploma de Amiga do Instituto à senhora Bernadete Bezerra, esposa do ex-presidente José Augusto Bezerra. Seguiram-se apresentação a car-go do grupo musical que deu ar festivo à solenidade, e coquetel nas salas contíguas. Foram distribuídos aos presentes um exemplar da Revista do Instituto, edição dois mil e dezesseis, lançada na data, uma revista con-tendo a prestação de contas do presidente que sai, uma monografi a de autoria do sócio Melquíades Pinto Paiva, intitulada Um Brilhante e Pro-dutivo Cientista: Antônio Adauto Fonteles Filho (1944 – 2016), e uma monografi a de autoria do sócio Geová Lemos Cavalcante, intitulada Dom Antônio de Almeida Lustosa. Finalizando, o Presidente empossado decla-rou que os membros do Conselho Superior Consultivo e os integrantes das Comissões Permanentes, respectivamente prevista no artigo 39 e 64 do Estatuto, serão empossados posteriormente, e que estão assim consti-tuídos: Conselho Superior Consultivo: presidente, Carlos Mauro Cabral Benevides. Membros: José Augusto Bezerra; José Liberal de Castro, Cid

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Saboia de Carvalho, Paulo Elpídio de Menezes Neto. Comissões. História: Pedro Alberto de Oliveira Silva, Eduardo de Castro Bezerra Neto, Gisafran Nazareno Mota Jucá. Geografi a: Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos, Maria Clélia Lustosa Costa, Eustógio Wanderley Correia Dantas. Antro-pologia: Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, Glória Maria Santos Diógenes, Rejane Maria Vasconcelos Accioly de Carvalho. Verifi cação de Merecimento: Francisco Ésio de Sousa, José Augusto Bezerra, Pedro Sisnando Leite. Defesa do Patrimônio Cultural: Carlos Mauro Cabral Benevides, Ubiratan Diniz Aguiar, Isabelle Braz Peixoto da Silva. Revis-ta: Francisco Fernando Saraiva Câmara, Geová Lemos Cavalcante, Mar-celo Gurgel Carlos da Silva. E para constar, eu, Affonso Taboza Pereira, segundo secretário da diretoria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo presidente, e pelos sócios presentes.

LÚCIO GONÇALO DE ALCÂNTARA AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 13 de março de 2017

A os treze dias do mês de março de dois mil e dezessete, reuniu-se a diretoria do Instituto na sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco n° 1594, no auditório General Carlos Studart Filho, para a primeira reunião ordinária do Biênio 2017/2019. Presentes onze sócios efetivos a seguir relacionados: Presidente Lúcio Gonçalo de Alcântara, Primeiro Vice-Presidente Osmar Maia Diógenes, Segundo Vice-Presidente Pedro Sisnando Leite, Secretário-Geral Geová Lemos Cavalcante, Primeiro Secretário Juarez Fernandes Leitão, Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira, Primeiro Tesoureiro José Eurípedes Maia Chaves Júnior, Segundo Tesoureiro Luciano Pinheiro Klein Filho, Diretor de Biblioteca e Arquivo Pedro Alberto de Oliveira Silva, membro do Conselho Superior Consultivo José Liberal de Castro, e membro do Conselho Fiscal José Filomeno de Moraes Filho.

Iniciando os trabalhos às quinze horas, o Presidente Lúcio Alcântara deu as boas vindas aos sócios, agradeceu-lhes por suas presenças e disse

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da sua satisfação por estar conduzindo a primeira reunião da Diretoria empossada no último dia quatro de março, e reiterou sua mensagem aos sócios, dirigida através de e-mail, no sentido de que estará na sede do Ins-tituto do Ceará nas tardes de segundas-feiras, nas tardes de quartas-feiras e quando for possível nas manhãs das sextas-feiras; isso sempre em caráter informal, pois cumprindo as normas estatutárias estará sempre no dia 20 de cada mês para o Ciclo de Conferências, e uma vez por mês, rotineira-mente, em data previamente fi xada para a reunião ordinária da Diretoria. O Presidente Lúcio disse que em suas ausências o Primeiro Vice-Presidente Osmar Diógenes o representará plenamente. O Presidente informou que a conta do Instituto no Banco do Brasil ainda estava sem movimento, visto que o Cartório Morais Correia não procedera ao registro da Ata de posse da Diretoria, mas esperava que no decorrer da semana isso seria superado. O Primeiro Vice-Presidente Osmar Diógenes, Secretário-Geral na gestão anterior, fez uma explanação sobre a situação patrimonial e fi nanceira e, a pedido do Primeiro Tesoureiro José Eurípedes Maia Chaves Junior, deu informações precisas sobre as receitas fi nanceiras, esclarecendo que além das contribuições dos sócios havia uma receita proveniente de um aluguel do imóvel contiguo com frente para a Rua Senador Pompeu, locado à empresa Pague Menos. Nesse momento, o sócio José Liberal de Castro externou sua preocupação com a situação desse imóvel alugado, integrante de um todo do qual fazem parte o auditório Gen. Carlos Studart Filho e a Biblioteca, pois o Instituto não teria uma situação jurídica consolidada sobre esse imóvel, que é de propriedade do Estado do Ceará, estando sob a posse do Instituto. Diante da preocupação do sócio Liberal de Castro, o sócio Geová Lemos Cavalcante, Secretário-Geral, informou que não há qualquer dúvida jurídica em relação a esse imóvel, acrescentando que, em reunião anterior da Diretoria, demonstrara cabalmente que o Instituto tem a posse pacífi ca do imóvel mediante lei estadual da época do governador Tasso Jereissati, autorizando a concessão de uso do imóvel, que retornará à posse do Estado caso haja a extinção do Instituto, mau uso do imóvel ou desvio de sua fi nalidade. A contrapartida exigida do Instituto consiste em franquear suas instalações ao público e divulgar a cultura cearense. Não há prazo determinado para o exaurimento. A concessão, em termos de segurança jurídica para o Instituto, é superior a um contrato de comodato. Diante disso, o Presidente Lúcio ponderou que essa matéria não deveria se inserir nas preocupações da Diretoria até que o Instituto porventura

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fosse acionado pelo governo do Estado. Aproveitando o ensejo, o sócio José Liberal de Castro, arquiteto, fez longa exposição histórica sobre mudanças de sede do Instituto. Lembrou que anteriormente a entidade ocupou a antiga sede do Grupo Escolar Rodolfo Teófi lo, na Avenida da Universidade; que o Reitor da UFC, Antônio Martins Filho, comprou o palacete Jeremias Arruda e o trocou pela antiga sede do Grupo Escolar, que passou a sediar a Faculdade de Ciências Econômicas, perto da Reitoria; o Instituto então passou a ocupar o Palacete, sua sede atual. Esclareceu que Jeremias Arruda foi um comerciante que ascendeu economicamente no fi nal da década dos anos dez do século XX; comprou a chácara que pertencia ao arquiteto Adolfo Herbster e construiu um imóvel residencial para uso próprio, inaugurando-o em 1920, que é, com modifi cações, a atual sede do Instituto do Ceará; em 1926 Jeremias Arruda sofreu um infortúnio comercial em razão de contrato de exportação fi rmado com o Banco do Brasil e em vista disso vendeu o imóvel ao banco português ULTRAMARINO, retirando-se com sua família para o Rio de Janeiro. Entrementes, o novo proprietário, após sucessivas locações, vendeu o Palacete para a imobiliária José Gentil, de quem a Universidade Federal do Ceará, por gestões do Reitor Martins Filho, também sócio do Instituto do Ceará, e graças ao empenho do sócio Raimundo Girão, comprou o imóvel e procedeu ao contrato de permuta com o Instituto. A seguir, Li-beral de Castro passou a detalhar aspectos da caracterização do edifício, classifi cado sob a tipologia de “casa de porão alto”, sem escada interna, equipamento introduzido para adaptar às novas funções, tendo em vista que em época próxima abrigara o Ginásio Municipal Filgueiras Lima. No governo Gonzaga Mota, foi construído o auditório Thomaz Pompeu So-brinho, e no governo Ciro Gomes, graças ao interesse da arquiteta Marfi sa Aguiar, então Secretária de Desenvolvimento Urbano, foram construídos o atual auditório Gen. Carlos Studart Filho e a Biblioteca, com projetos arquitetônicos e recursos do Estado. Retomando a palavra o Presidente Lúcio Alcântara informou que no próximo dia 20 de março será iniciado o Ciclo de Conferências, começando com o Eng. Hipérides Macêdo, autori-dade reconhecida nacionalmente, que abordará o tema A Questão Hídrica do Ceará; Juarez Leitão, Diretor Cultural, apelou aos presentes para que convidassem pessoas para prestigiar o evento, lembrando que somente em três ocasiões o Instituto teve “casa cheia”: as conferências pronunciadas pelo médico Wellington Alves, sobre o Padre Cícero; pelo acadêmico da

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ACL Dimas Macedo, dissecando a fi gura da matriarca Fideralina Augusto Lima; e por ele próprio, falando sobre a personalidade de Virgilio Távora, o grande político cearense. O Presidente Lúcio Alcântara pediu opinião dos presentes sobre o melhor auditório para as Conferências, tendo o sócio Geová Lemos Cavalcante sugerido o auditório Barão de Studart, reservando-se o auditório Gen. Carlos Studart Filho para as reuniões da Diretoria e outras reuniões internas, fi cando o auditório Thomaz Pompeu Sobrinho para solenidades. A sugestão foi acolhida. O Presidente solicitou ao sócio Affonso Taboza que fi zesse estudo sobre revisão da cobertura do Palacete e da Biblioteca, em vista das inúmeras goteiras apresentadas com as últimas chuvas.

E nada mais havendo a tratar, deu o presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Dire-toria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente, e pelos sócios presentes.

LÚCIO GONÇALO DE ALCÂNTARA AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 20 de março de 2017

Aos vinte dias do mês de março de dois mil e dezessete, reuniu-se o Instituto do Ceará em sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco nº 1594, auditório General Carlos Studart Filho, sob a presidência do sócio Lúcio Gonçalo de Alcântara, para dar cumprimento à pauta prevista e participar da primeira palestra do Ciclo de Conferências de 2017, a ser proferida pelo competente e respeitado engenheiro Hypérides Macedo, sob o título A Questão Hídrica no Ceará. Presentes quatorze sócios efe-tivos a seguir relacionados: Paulo Elpídio de Menezes Neto, José Liberal de Castro, Pedro Sisnando Leite, José Augusto Bezerra, Maria Clélia Lustosa Costa, Lúcio Gonçalo de Alcântara, Juarez Fernandes Leitão, Affonso Taboza Pereira, Francisco Adegildo Férrer, Geová Lemos Caval-cante, Osmar Maia Diógenes, Eustógio Wanderley Correia Dantas, Mar-celo Gurgel Carlos da Silva e Eurípedes Maia Chaves Júnior. Presença

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honrosa do presidente do Conselho Regional de Engenharia, CREA-Ce, engenheiro Victor Frota Pinto, e de vários convidados e pessoas interes-sadas no tema. Abrindo a sessão às quinze horas, o presidente saudou a todos, sócios e convidados, agradeceu por suas presenças e disse da fi na-lidade da sessão. Passou em seguida a descrever como deve se desenvol-ver a pauta das sessões plenárias, às quais pretende dar um cunho mais formal: palavra do presidente, citação das efemérides a cargo do sócio Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), espaço para comunicações dos sócios, apresentação do palestrante a cargo do diretor cultural Juarez Fernandes Leitão, e a palestra. Saudou em seguida o engenheiro Victor Frota Pinto, presidente do CREA-CE, agradeceu pelas publicações que trouxe da Academia Cearense de Engenharia, e lembrou que seu avô, Guilherme Sousa Pinto, foi sócio efetivo do Instituto, e que seu pai, Professor Frota Pinto, psiquiatra, foi médico de destaque em nosso estado e seu professor na UFC, e teve o centenário de nascimento comemorado no ano passado. Lembrou que, no corrente ano, teremos quatro centenários de sócios do Instituto, todos já falecidos: Mozart Soriano Aderaldo, João Hipólito Campos de Oliveira, Waldery Magalhães Uchoa e Itamar Santiago Espín-dola. A ideia seria reverenciá-los numa única sessão solene, discursos limitados a quinze minutos para cada homenageado, estando desde já abertas as inscrições para os quatro sócios que desejarem ser porta-vozes do Instituto. Lembrou também, como fato histórico importante a ser co-memorado no corrente ano, o bicentenário da Revolução Pernambucana de mil oitocentos e dezessete, onde o Ceará teve participação relativa-mente modesta, destacando-se a heroína Bárbara de Alencar e seu fi lho, o diácono José Martiniano de Alencar. Sugeriu que o diretor cultural Juarez Leitão marque uma data para a comemoração e abra inscrições para quem deseja falar, de preferência pessoa que domine o assunto. Os sócios Marcelo Gurgel Carlos da Silva e Juarez Fernandes Leitão discor-reram sobre as formas como as academias a que pertencem, respectiva-mente a Cearense de Medicina e a Cearense de Letras, comemoraram os centenários de nascimento de sócios já falecidos. Outro fato importante lembrado pelo presidente foi o bicentenário de Dom Luiz, primeiro bispo do Ceará, comemorado recentemente pela Associação dos ex-Alunos do Seminário do Crato, por ele fundado em primeiro de março de mil oito-centos e setenta e cinco. A fundação do seminário propiciou à cidade do Crato merecer o título de Capital Cultural do Cariri. Adiantou o presiden-

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te que é intenção sua promover este ano um encontro cultural no Cariri. Iriam ele, o diretor cultural e sócios que o desejassem, até o Crato, com parada no Icó, onde poderiam admirar o rico patrimônio arquitetônico daquela cidade, e estender o percurso a Nova Olinda e outras atrações da área. Em seguida o presidente abriu espaço para manifestações dos com-panheiros, pronunciando-se os sócios Paulo Elpídio de Menezes Neto e Clélia Lustosa Costa. O presidente passou a palavra ao diretor cultural para apresentação do palestrante. Juarez Leitão iniciou sua fala dizendo da honra de termos como palestrante o engenheiro Hypérides Macedo, fi gura conhecida nacionalmente pelos seus conhecimentos sobre recursos hídricos. Segundo Juarez, Hypérides chega a ser conhecido como o Senhor das Águas, tão vastos são seus conhecimentos sobre o tema. Foi Secretá-rio de Recursos Hídricos do Ceará por dez anos, e foi também Secretário de Infraestrutura do Ministério da Integração Nacional. É formado em engenharia civil, e produtor de ensaios profundíssimos sobre a temática em que se especializou. Hypérides, segundo seus contemporâneos de colégio, era considerado um menino prodígio. O presidente Lúcio aduziu que nosso palestrante foi também Secretário de Planejamento do Estado do Ceará e, ato contínuo, lhe passou a palavra. Hypérides Macedo de início caracterizou nosso estado como situado no semiárido, em região trópico-equatorial e não tropical, e heterogênea, com pequenas manchas de solo agricultável perdidas no meio do cristalino. Em sua fala de cin-quenta minutos, utilizando em abundância gráfi cos e dados estatísticos, nos transmitiu os seguintes conceitos importantes sobre a hidrologia e seu planejamento no Ceará: água, estradas e energia devem andar juntas, uma ao lado da outra; o desperdício de água se dá principalmente pela evapo-ração, cuja média equivale a três vezes o que a chuva nos dá; os açudes devem ser profundos pois a evaporação se dá pelo espelho d’água e é tanto maior quanto maior for esse espelho; a média de evaporação na região faz a lâmina d’água perder um centímetro de altura por dia, dado que o DNOCS também divulga; só há um meio de evitar essa perda ex-cessiva de água que é guardá-la em copo fundo (espelho pequeno) em vez de armazená-la numa bacia (espelho grande) pois ela é proporcional à superfície e não ao volume; a palavra açude vem do árabe, a partir da dominação desse povo na península ibérica; o açude armazena em espaço profundo para uso na seca a água que a chuva espalha na bacia hidrográ-fi ca; os açudes não devem ter capacidade maior que o volume d’água que lhe pode dar sua bacia hidrográfi ca; e citou o açude Cedro como exemplo

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clássico, projetado sem um conhecimento conveniente da bacia; em con-sequência do que acima foi dito, os açudes grandes têm alto rendimento porque têm maior profundidade e os pequenos, baixo rendimento; o co-nhecimento que se tem de açudagem e recursos hídricos veio da Univer-sidade de Stanford, nos Estados Unidos, da qual foi aluno o primeiro superintendente do DNOCS; a tecnologia da USP, empregada no sistema Cantareira e no Sudeste, é bem mais recente e veio do Canadá, que nos mandou o engenheiro Billings, que deu nome à grande barragem de São Paulo; as barragens têm três saídas d’água, evaporação, sangria e utiliza-ção; a melhor política é usar a água ao máximo para consumo e produção, em vez de “economizar” e perder para a evaporação; a água quando em deslocamento em canais tem menor evaporação, e quando em adutoras tem zero de perda, portanto o menor prejuízo se dá quando em desloca-mento; a melhor política é a construção de adutoras ligando cidades, assim preservando as águas e eliminando o uso de carros pipas que seriam adutoras sobre rodas; a melhor política é retirar a água dos açudes para os canais, e daí para as adutoras, saindo de um sistema que perde para um que perde menos, e daí para um que não perde; comparou a água da trans-posição do São Francisco a um pneu sobressalente que será usada quando faltar água nos açudes, afi rmando que ninguém vai pensar em encher açude com água canalizada, pois quem enche açude é chuva; a grande vantagem da transposição é permitir que o Nordeste use ao máximo sua água pra consumo humano e produção de grãos, sabendo que tem um socorro hídrico se houver seca; que o Canal da Integração, neste estado, ganhou esse nome porque se pretendeu integrar água, estrada e energia passando pelas manchas de solo bom; existem açudes de primeira ordem, como o Castanhão, de segunda ordem, como o Banabuiu, e de terceira ordem que são os pequenos açudes próximos das nascentes dos rios e das cidades; mesmo sendo de pequeno rendimento, são necessários e funda-mentais e fornecem água limpa, suportando às vezes dois ou três anos de seca; criticou a política de saneamento vigente que polui os rios, e afi rmou que o São Francisco não está isento disso, recebendo esgotos de cidades próximas; criticou a instalação de ocupações em terrenos de pedra ou massapê, onde nada se pode produzir; preconizou a utilização de barragens de pedra solta arrumada no leito dos riachos para retenção de água sub-terrânea próximo à superfície do solo. Neste ponto encerrou sua palestra e se pôs à disposição do auditório para perguntas. Levantaram questões

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os seguintes sócios e convidados: Affonso Taboza Pereira, José Augusto Bezerra, Marcos Montes, Francisco Adegildo Férrer, Eustógio Wanderley Dantas e Osmar Maia Diógenes. Das respostas de Hypérides, pudemos extrair: O melhor aproveitamento das águas se dá pelo uso máximo e manutenção em canais e adutoras; o plano B para as águas do São Fran-cisco é a ligação do Tocantins aos canais do São Francisco já construídos ou em construção, já em estudo. O presidente Lúcio Alcântara lembrou que há muito desperdício de água na irrigação, e que inundar terras para plantar arroz padece de lógica, e que há muito desperdício também no abastecimento das grandes cidades, chegando a trinta por cento. Hypéri-des aduziu que a irrigação surgiu no Egito, no Rio Nilo, cem anos DC. Havia também na Mesopotâmia. A mais efi ciente é a do gotejamento, da qual Israel foi pioneiro. Pedro Sisnando Leite fez ligeiro pronunciamento e ofereceu ao palestrante um livro de sua autoria, intitulado Soluções para a Seca. Retomando a palavra o presidente Lúcio Alcântara agradeceu mais uma vez ao palestrante e a presença de sócios e convidados.

E nada mais havendo a tratar, deu o presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Dire-toria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente, e pelos sócios presentes.

LÚCIO GONÇALO DE ALCÂNTARA AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 03 de abril de 2017

Aos 03 dias do mês de abril de 2017, no auditório Gen. Carlos Studart Filho, reuniu-se a Diretoria do Instituto do Ceará, sob a presi-dência do sócio Lúcio Alcântara. Constatou-se a presença dos seguintes sócios: Lúcio Alcântara, Osmar Diógenes, Pedro Sisnando Leite, Miguel Angelo Azevedo (Nirez), Geová Lemos Cavalcante, Juarez Leitão, José Eurípedes Maia Chaves Junior, Luciano Pinheiro Klein Filho e José Li-beral de Castro. O sócio Affonso Taboza Pereira, 2º Secretário, justifi cou sua ausência. O Presidente Lúcio Alcântara concedeu a palavra ao sócio Miguel Angelo Azevedo (Nirez), Diretor de Comunicação, para que se

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referisse às Efemérides. Nirez reportou-se ao dia 03 de abril, e dessa data registrou cronologicamente:1649 – Desembarcam no Mucuripe os integrantes da segunda ocupação holandesa, comandada por Matias Beck; impedido pela arrebentação do mar, decidiu estabelecer-se à margem esquerda do riacho Marajaitiba (Pajeú), sobre o morro Marajaik, onde constrói um forte, com traçado do engenheiro Ricardo Caar, denominando-o de Schoonenborch, em homena-gem ao governador holandês em Pernambuco Walter van Schoonenborch, a quem era subordinado;1901 – Morre na cidade do Rio Grande, Rio Grande do Sul, onde era radicado, o cearense José Arthur Montenegro, sócio do Instituto Histó-rico e Geográfi co Brasileiro (IHGB), do Instituto Histórico da Bahia, do Instituto Histórico e Arqueológico de Pernambuco, do Instituto Histórico e Geográfi co Argentino, da Academia Real de Ciências de Lisboa, e da Academia Cearense;1919 – Chega a Fortaleza o cientista Henrique Morize, diretor do Obser-vatório Astronômico do Rio de Janeiro, a fi m de preparar os elementos precisos para a observação do eclipse solar em Sobral a ocorrer em 29 de maio;1924 – Falece em Fortaleza o negociante francês de ascendência judaica, Benoit Levy, com longa residência no Ceará;2008 – Toma posse como Sócia Efetiva do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico) a geógrafa Maria Clélia Lustosa Costa, sendo saudada pela Sócia Valdelice Carneiro Girão.

Ao encerrar, o sócio Nirez passou às mãos do Presidente um texto em que rememora a criação do Parque da Liberdade, vulgarmente co-nhecido como Cidade da Criança, solicitando que o Instituto dirija-se ao Prefeito Roberto Cláudio, pleiteando que mantenha o nome criado em 1890, ou seja, Parque da Liberdade. O Presidente transmitiu o texto ao Secretário Geral para as providências pertinentes.

Retomando a palavra, o Presidente Lúcio Alcântara informou que a conta do Instituto no Banco do Brasil já estava regularizada, pois todos os obstáculos burocráticos foram superados, para em seguida comunicar que no dia 20 do corrente mês, às 15 h, haverá uma sessão especial para homenagear os sócios falecidos que se vivos fossem fariam 100 anos de idade, nessa ordem: Mozart Soriano Aderaldo,

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João Hipólito Campos de Oliveira, Waldery Magalhães Uchoa e Ita-mar Santiago Espindola, cujos panegíricos estarão a cargo dos sócios Marcelo Gurgel, Euripedes Chaves Junior, Cláudio Ferreira Lima e Geová Lemos Cavalcante. O presidente concedeu a palavra aos sócios Pedro Sisnando e Juarez Leitão e, respectivamente, o primeiro comu-nicou que brevemente será publicado pelo Senado Federal o livro que organizou, sob o título O GRANDE NOVO NORDESTE DE VIRGI-LIO TÁVORA, com edição de 1000 exemplares, graças ao empenho do Presidente Lúcio Alcântara junto ao Senador Eunício Oliveira, presidente do Senado Federal, enquanto o segundo comunicou que representou o Instituto do Ceará na solenidade realizada no auditório da Universidade do Vale do Acaraú em Sobral, na noite do último 31 de março, quando o dr. Francisco Edmo Gomes Linhares tomou posse na Cadeira 25 da Academia Sobralense de Estudos e Letras, antes ocupa-da pelo professor José Teodoro Soares, tendo como patrono o médico sobralense Vicente Cândido Figueira de Sabóia, Visconde de Sabóia. O sócio Geová Lemos Cavalcante pediu a palavra para informar que a última revista (nº 471) do Instituto Histórico e Geográfi co Brasileiro (IHGB) publica importante estudo da professora doutora Ana Paula Barcelos Ribeiro da Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, abordando o intercâmbio realizado entre o Instituto do Ceará e o IHGB nas primeiras décadas do século XX. O sócio Luciano Klein disse que pela relevância do tema, esse texto deveria ser reproduzido na Revista do Instituto. A sugestão foi aprovada e o sócio Geová Cavalcante fi cou encarregado de manter contato com a autora, pedindo-lhe autorização para reproduzir o artigo. E nada mais havendo a tratar, o Presidente Lúcio Alcântara declarou encerrada a reunião e eu, Geová Lemos Ca-valcante, Secretário-Geral, diante da ausência do 2º Secretário Affonso Taboza Pereira, lavrei a presente Ata.

LÚCIO ALCÂNTARA GEOVÁ LEMOS CAVALCANTEPRESIDENTE SECRETÁRIO GERAL

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Sessão do dia 20 de abril de 2017

Aos vinte dias do mês de abril de dois mil e dezessete, reuniu-se o Instituto do Ceará em sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco nº 1594, no auditório Barão de Studart, sob a presidência do sócio Lúcio Gonçalo de Alcântara, para dar cumprimento à pauta prevista e prestar homenagem aos quatro sócios efetivos que, no corrente ano, completariam centenário de nascimento. Presentes dez sócios efetivos a seguir relacio-nados: Pedro Sisnando Leite, Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), Lúcio Gonçalo de Alcântara, Juarez Fernandes Leitão, Affonso Taboza Pereira, Geová Lemos Cavalcante, Osmar Maia Diógenes, Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Antônio Cláudio Ferreira Lima e Eurípedes Maia Chaves Júnior. Presença honrosa de familiares dos quatro sócios homenageados, espe-cialmente convidados para o evento. Abrindo a sessão às quinze horas, o presidente Lúcio Alcântara saudou a todos, agradeceu a presença dos convidados e disse da razão de ser da sessão plenária, destinada a home-nagear a memória dos quatro sócios efetivos que completariam cem anos em dois mil e dezessete, se vivos fossem. Lamentou não ter conseguido entrar em contato com familiares de alguns, e se desculpou pelo horário do evento, meio da tarde de um dia tumultuado na cidade, incluindo in-cêndios de ônibus urbanos por agitadores de rua, causas prováveis de participação menor que a esperada. Citou em seguida os quatro homena-geados pela ordem cronológica de nascimento, Mozart Soriano Aderaldo, João Hipólito Campos de Oliveira, Waldery Magalhães Uchoa e Itamar Santiago Espíndola, fazendo na ocasião ligeiros comentários sobre a vida de cada um. Em seguida referiu-se às efemérides do dia vinte de abril na História do Ceará, conforme documento preparado pelo sócio efetivo Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), onde consta: mil novecentos e qua-torze, chegada a Fortaleza, procedente de Juazeiro do Norte, do médico Floro Bartolomeu, chefe da Sedição de Juazeiro, causa da deposição do Presidente da Província, Coronel Franco Rabelo; mil novecentos e deze-nove, chegada a Fortaleza dos cientistas Andrew Thompson e Daniel Wise, membros da Comissão Americana Carnegie Institution, para observar o eclipse solar de vinte e nove de maio, que comprovaria a Lei da Relativi-dade de Albert Einstein; mil novecentos e vinte e nove, pelo navio Pedro II, chega a Fortaleza a estátua de José de Alencar, a ser inaugurada na Praça Marquês do Herval, hoje Praça José de Alencar; mil novecentos e

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trinta e três, início da construção do Edifício Granito; mil novecentos e quarenta e um, inauguração da Capela de Nossa Senhora Aparecida, na Pirocaia, hoje bairro Montese; mil novecentos e cinquenta e seis, assina-tura, no Cartório Martins, da escritura de transferência para a Universi-dade Federal do Ceará do prédio da Faculdade de Medicina, situado na Praça José de Alencar, e do Hospital de Isolamento, situado em Poranga-bussu; mil novecentos e sessenta e três, assunção do Comando do 23 BC pelo Coronel Tácito Teóphilo Gaspar de Oliveira, ex-presidente deste Instituto; mil novecentos e setenta e três, fundação do Clube do Calham-beque do Ceará, para congregar possuidores de carros antigos; mil nove-centos e noventa, o Corpo de Bombeiros é desvinculado da Polícia Mili-tar do Ceará, por lei assinada pelo Governador Tasso Jereissati. Em se-guida o presidente Lúcio Alcântara passou a palavra ao diretor cultural Juarez Fernandes Leitão, para anunciar os quatro oradores que falariam sobre as vidas e as atividades de cada um dos homenageados. Juarez Leitão citou em rápidas palavras fatos interessantes da vida de Mozart Soriano Aderaldo; de João Hipólito Campos de Oliveira, disse ser um homem belo, inteligente e cordial, que sabia ouvir as pessoas; de Waldery Magalhães Uchoa, disse não ter tido o privilégio de conhecê-lo, mas sabe que ele marcou sua passagem na História do Ceará; sobre Itamar Espín-dola, falou de suas palestras animadíssimas na Casa de Juvenal Galeno, e da sua maneira peculiar e educada de saudar as pessoas. Citou os quatro oradores da tarde: Marcelo Gurgel Carlos da Silva, que falaria sobre a vida de Mozart Soriano Aderaldo; Eurípedes Chaves, que falaria sobre João Hipólito Campos de Oliveira; Cláudio Ferreira Lima, que falaria sobre Waldery Uchoa; e Geová Lemos Cavalcante, sobre Itamar Santiago Espíndola. Tomando a palavra, o presidente cumprimentou o diretor cul-tural por sua inteligente introdução e explicou que as homenagens aos quatro sócios falecidos seriam feitas em alocuções curtas, por motivos óbvios. Ao citar o primeiro orador, o presidente Lúcio Alcântara anunciou o lançamento do livro do homenageado, intitulado A Praça, no dia vinte e dois de abril, data do seu aniversário, no Cine São Luiz, com apresen-tação do nosso sócio Juarez Leitão. Ato contínuo, Marcelo Gurgel iniciou sua alocução, começando pelas origens do homenageado. Nascido no Maranhão em mil novecentos e dezessete, aos seis anos de idade Mozart Soriano Aderaldo veio para o Ceará acompanhando os pais. Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Ceará e Administração pela Funda-

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ção Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, teve atuação expressiva no serviço público, podendo-se citar os seguintes cargos por ele ocupados: prefeito nomeado de Senador Pompeu aos vinte anos de idade, diretor da Impren-sa Ofi cial, consultor jurídico da Secretaria de Agricultura, secretário de estado do Governo Plácido Castelo, chefe da assessoria técnica do Go-verno Parsifal Barroso, chefe da assessoria do primeiro Governo Virgílio Távora, além de professor de escolas de ensino superior. Escritor, histo-riador, poeta e genealogista, membro efetivo do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras, Mozart Soriano Aderaldo teve presença efetiva na vida social do estado, ornado pelas virtudes que o caracteriza-vam, como a coerência e a ética. Católico convicto, não fazia concessões quando se tratava de defender os valores de sua religião. Como intelectual, foi vibrante jornalista e festejado memorialista, frequentando também o território do ensaio. Ocupou a Cadeira dezenove deste sodalício, cujo patrono é José Albano. O orador seguinte foi o sócio Eurípedes Maia Chaves Júnior, que teve a seu cargo traçar o perfi l de João Hipólito Cam-pos de Oliveira. Iniciando suas palavras, Eurípedes lembrou que, à seme-lhança dos outros três homenageados, João Hipólito foi bacharel em di-reito, condição que era quase uma segunda natureza entre os diplomados, desde o Império até o fi m da Primeira República. Nascido em Fortaleza, fez nesta cidade seus estudos preliminares no Colégio Nogueira e o se-cundário no Liceu do Ceará. Cursou o CPOR de Fortaleza, recebendo a patente de Aspirante a Ofi cial de Infantaria e atingindo a seguir o posto de Segundo Tenente da Reserva de Segunda Classe. Diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela faculdade de Direito do Ceará e como Técnico Comercial pela Escola de Comércio Carlos de Carvalho. Professor afamado de inglês, frequentou o Lafayette College, na Pensilvânia, e a Syracuse Universitity em Nova York. Apaixonado por Geografi a, fez cursos especializados na Universidade do Brasil, UFRJ, e na Faculdade Católica de Filosofi a do Ceará. Desempenhou funções técnicas no Tribu-nal Regional do Trabalho da Sétima Região e, ao se aposentar, passou a exercer a advocacia trabalhista. Lecionou em diversos colégios e escolas superiores e compôs inúmeras bancas examinadoras. Foi mordomo da Santa Casa de Misericórdia, revisor da Constituição do Ceará em mil novecentos e setenta, membro do Conselho Universitário da UFC, mem-bro da Sociedade Cearense de Geografi a e História e sócio efetivo do Instituto do Ceará. Uma vida densa, teve o nosso homenageado. Sua

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passagem no Instituto do Ceará, de quase quatro décadas, foi muito pro-dutiva, atuando ele em várias funções, inclusive na vice-presidência. A sessão ordinária de 20 de setembro de 1994 foi dedicada à sua memória, fi cando o panegírico a cargo do sócio Mozart Soriano Aderaldo, secun-dado por vários oradores, que externaram sua admiração pelo consócio extinto. Ao sócio Antônio Cláudio Ferreira Lima coube traçar o perfi l de Waldery Uchoa. Nascido em Canindé em mil novecentos e dezessete, Waldery Uchoa fez seus primeiros estudos em sua terra natal. Transferin-do-se para Fortaleza, aí continuou seus estudos secundários, matriculan-do-se em seguida na Faculdade de Direito, onde conquistou o diploma de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Foi fácil constatar, desde cedo, seus pendores intelectuais e políticos. Aos vinte anos, ingressou no ser-viço público como professor primário, galgando a partir daí diversos postos importantes. Em mil novecentos e quarenta e sete, aos trinta anos, elegeu-se deputado estadual constituinte, quando se destacou pelo des-cortino e equilíbrio, tornando-se intransigente defensor do municipalismo e dos interesses econômicos do estado. Filiou-se a várias entidades de interesse profi ssional, cultural e regional, tais como a Ordem dos Advo-gados do Brasil, seção do Ceará, à Associação Cearense dos Municípios, à Casa de Juvenal Galeno e outras. Muito presente na imprensa, escrevia com frequência artigos para os jornais Unitário e O Povo sobre economia, estatística e literatura. Foi fundador e editor de revistas e jornal, publica-ções inseridas na sua área de interesse, municipalismo e regionalismo. Tomou posse como membro do Instituto em mil novecentos e cinquenta e sete, aos quarenta anos de idade, aqui permanecendo até mil novecentos e sessenta e quatro, quando veio a falecer, aos quarenta e sete anos. Em todos os fatos importantes da sua vida foi precoce, inclusive na morte. E assim conclui Cláudio Ferreira Lima sua oração sobre o homenageado: “Em reconhecimento pelos serviços prestados a Fortaleza, por lei de vinte e um de julho de mil novecentos e sessenta e cinco, tornou-se Wal-dery Uchoa nome de rua, por sinal uma importante artéria que atravessa cinco bairros, Gentilândia, Benfi ca, Montese, Jardim América e Damas”. O quarto orador da tarde foi o sócio Geová Lemos Cavalcante. Coube-lhe discorrer sobre a vida de Itamar Santiago Espíndola. Nascido em Forta-leza, com raízes familiares em Pacatuba, vindo de família de intelectuais e personalidades de destaque no Estado, Itamar Espíndola foi presidente da OAB-Ce, advogado padrão e escritor fecundo, membro da Academia

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Cearense de Letras. Cultor do vernáculo, foi fundador da Academia Cea-rense da Lingua Portuguesa, junto com Hélio Melo, também membro deste Instituto. Dentre tantos aspectos interessantes da vida de Itamar Espíndola, Geová Lemos Cavalcante centrou-se numa atividade de Itamar pouco lembrada, a de revisor. Segundo Geová, tal tarefa era própria de pessoas com farto conhecimento da língua, por razões óbvias. Por ter sido ele também revisor em tempos passados e valorizar muito a atividade, garimpou através de acurada pesquisa em publicações da era do linotipo, verdadeiras joias de cacófatos e mudanças de sentido de palavras ou fra-ses por simples toca ou omissão de letras. Tais falhas, que resultavam muitas vezes numa palavra ou sentença jocosa, eram geralmente atribuí-das aos revisores que, muitas vezes – imagina-se – agiam intencional-mente, por simples humor. Itamar era considerado o Mestre da Revisão, tal a qualidade do seu trabalho e a correção dos textos submetidos à sua acuidade visual e de percepção. Celibatário, católico convicto, faleceu aos setenta e quatro anos, deixando sete sobrinhos que lhe cultuam a memó-ria. Teve como sucessor no Instituto do Ceará o Monsenhor Francisco Sadoc de Araújo. Após a exposição de Geová, o presidente deu aos mem-bros das famílias dos homenageados, oportunidade de se pronunciarem. Pediu então a palavra e expressou seu agradecimento ao Instituto um membro da família de Mozart Soriano Aderaldo, bastante aplaudido pelos presentes.

E nada mais havendo a tratar, deu o presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, segundo secretário da diretoria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo presidente, e pelos sócios presentes.

LÚCIO GONÇALO DE ALCÂNTARA AFFONSO TABOZA PEREIRA

PRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 22 de maio de 2017

Aos vinte e dois dias do mês de maio de dois mil e dezessete, reu-niu-se o Instituto do Ceará em sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco nº 1594, no auditório General Carlos Studart Filho, sob a presi-dência do sócio Lúcio Gonçalo de Alcântara, para dar cumprimento à

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pauta prevista e ouvir palestra proferida pelos pesquisadores Augusto Barbosa e Marcos Davis Carlos Viana sobre o naufrágio da embarcação conhecida como Iate Palpite, ocorrido na costa cearense, que transporta-va valioso acervo de pesquisas científi cas da época. Presentes nove sócios efetivos a seguir relacionados: Pedro Sisnando Leite, Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), Ésio de Sousa, Lúcio Gonçalo de Alcântara, Juarez Fernandes Leitão, Affonso Taboza Pereira, Geová Lemos Cavalcante, Marcelo Gurgel Carlos da Silva e Eurípedes Maia Chaves Júnior. Presen-ça honrosa de muitos convidados e pessoas interessadas no tema. Abrin-do a sessão às quinze horas e trinta minutos, o presidente Lúcio Alcânta-ra saudou as pessoas presentes, agradeceu a visita dos convidados e disse da razão de ser da sessão plenária, já registrada linhas acima. Informou que, em recente viagem ao Rio, visitou o Instituto Histórico e Geográfi co Brasileiro, onde combinou com seu presidente, historiador Arno Wehling, uma visita daquele ilustre homem de cultura ao Instituto do Ceará, onde realizaria uma palestra; ao mesmo tempo tratou de assegurar nossa pre-sença em outubro no Colóquio dos Institutos Históricos do Brasil, no Rio. Nessa ocasião o presidente do IHGB anunciará a criação de uma comissão para preparar as comemorações dos duzentos anos da Independência. Informou também que a Revista daquele Instituto será eletrônica, deven-do ter impressos apenas trezentos exemplares. Outra atividade importan-te na viagem do Presidente Lúcio ao Rio foi a visita ao Departamento de Documentação Histórica da Marinha, onde esteve com o Almirante Matias. Lembrou que teremos este ano a comemoração dos cento e sessenta anos da Capitania dos Portos do Ceará, e informou que o Instituto se unirá àquela Organização Militar nas comemorações, podendo, inclusive, sediar uma palestra sobre o tema. Exibiu ainda uma revista, recebida naquela visita, com ampla matéria sobre a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará. Passou em seguida a palavra ao sócio efetivo Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) para a leitura das efemérides do dia vinte e dois de maio, cujo resumo vai a seguir exposto: 1927, fundada a Aliança dos Carpintei-ros, presidida por João Araújo Lima; 1935, fundada a seção cearense da Aliança Nacional Libertadora, ANL; 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, o 6º Regimento de Aviação passa a se chamar Base Aérea de Fortaleza; 1944, fundação do time de futebol Vila União Futebol Clu-be, presidido por Moacir Machado; 1945, fundação da Federação Teatral Cearense, presidida por Antônio Viana Rodrigues; 1946, fundação do Iate

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Clube do Ceará, com sede no Aeroporto da Barra do Ceará, tendo como primeiro presidente o Major Sílvio Santa Rosa; 1956, fundação do Curso Vicente Leite, de artes plásticas, que depois se transformou em Escola de Belas Artes do Ceará; 1957, o deputado Wilson Roriz apresenta, na As-sembleia Legislativa, projeto de criação do Estado do Cariri; 1980, toma posse como sócio efetivo do Instituto, Eduardo de Castro Bezerra Neto; 1995, morre, aos setenta e oito anos de idade, o escritor e jornalista Clo-domir Girão. Concluída a leitura das efemérides, o Presidente Lúcio Al-cântara passou a palavra ao Diretor Cultural Juarez Fernandes Leitão para apresentação dos conferencistas. Juarez evocou seus velhos tempos de aluno do Seminário de Fortaleza (Seminário da Prainha), quando subia às torres da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e de lá, contemplando a placidez do mar, via carcaças de navios vítimas de naufrágio, muitas carcaças, e se perguntava o que teria acontecido àqueles barcos, e sobre-tudo que emoções teriam sentido seus ocupantes nas horas tensas do naufrágio. E confessa ter fi cado curioso mais recentemente, quando sou-be da publicação de um livro contando a história dos naufrágios ocorridos em nossas costas. E festejou a oportunidade que teria, naquela tarde, de ouvir o Doutor Augusto Barbosa e seu companheiro de pesquisa sobre naufrágios, Marcos Davis Carlos Viana, que iriam contar histórias de alguns desses infortúnios ocorridos na costa cearense, com foco na em-barcação denominada Iate Palpite. Deu as boas vindas aos palestrantes em nome do Instituto que, em sua vida mais que centenária, tem obtido bons frutos na reconstrução da história do Ceará. O Presidente, a seguir, passou a palavra ao senhor Augusto Barbosa, que discorreu sobre as pes-quisas que costuma fazer sobre o tema, apoiadas em visitas demoradas às carcaças afundadas, das quais resulta sempre amplo material fotográfi co, colhido em horas e horas de mergulho e exploração das condições em que estão essas carcaças. Informou que tem projetos no Ceará e em outros estados. Falou sobre a competência e entusiasmo de seu companheiro de trabalho Marcos Davis, e o zelo e prazer com que mergulha e esquadrinha tudo em torno dos restos dessas embarcações. E passou a palavra para Marcos Davis, que se disse adepto do esporte de mergulho desde criança por indução de seu pai. E, quando adulto, passou a se interessar por pes-quisa sobre o que restou de navios que guardavam sua história no fundo do mar. Grande ajuda lhe deu a Biblioteca Menezes Pimentel, onde colheu subsídios na leitura de jornais antigos, e assim conseguiu criar um acervo

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considerável de conhecimentos sobre o tema. Referiu-se à ação destruido-ra dos submarinos alemães que, nos anos mil novecentos e quarenta e dois e quarenta e três, afundaram vários navios brasileiros, alguns na costa cearense, levando o Brasil à Segunda Guerra Mundial. Daí surgiu o interesse pelo Iate Palpite, pequeno navio contratado para transportar de Camocim para Fortaleza o acervo das pesquisas da Comissão Científi ca Exploradora, criada pelo Imperador Pedro II para estudar as riquezas mi-nerais, hidrológicas, botânicas, e outras, do nordeste do Pais. A comissão iniciou seus trabalhos pelo Ceará, e todo o material colhido na primeira fase foi embarcado no Iate Palpite, e se perdeu com o naufrágio nas alturas da foz do Rio Acaraú em março de mil oitocentos e sessenta e um. Em dois mil e onze os pesquisadores resolveram mergulhar num local onde se dizia ter naufragado um navio, que alguns imaginavam ser o Palpite. Vá-rios mergulhos foram feitos a sete metros de profundidade onde estavam os restos, e constatou-se, pelas dimensões e características, que tal navio, movido a vela, era o Palpite, Nada do que transportava o navio, naufraga-do há cento e cinquenta anos, foi encontrado, tendo os pesquisadores fo-tografado apenas algumas peças da embarcação, como a âncora e partes da estrutura. Maior parte – eles imaginam – estava enterrada na areia, encontrando-se destroços espalhados num raio de trinta e cinco metros aproximadamente. As observações e fotografi as foram feitas ao longo de quatro mergulhos de duração de cinquenta minutos cada. Foram exibidas muitas fotos, tendo o expositor ministrado verdadeira aula sobre embar-cações da categoria do Palpite. Segundo sua informação, há oitenta por cento de certeza de que tal embarcação era o Palpite. Cem por cento de certeza só se pode ter quando encontrada no local alguma peça com o nome da embarcação, o que não ocorreu neste caso. Os expositores fi zeram in-teressantes comentários sobre outros naufrágios ocorridos em nossas costas, inclusive alguns na Enseada do Mucuripe, demonstrando grande interesse pelo tema bem como alto nível de conhecimento. O Presiden-te Lúcio perguntou aos palestrantes se não foi encontrado algum equipa-mento de pesquisa científi ca, pois sabe-se que D. Pedro II, mandara ad-quirir na Europa o que havia de mais moderno na época. O palestrante Augusto Barbosa explicou que nada foi encontrado e, se algo ainda exis-tisse, estaria debaixo do casco. E como não se pode violar o estado em que se encontram esses destroços sem autorização do Ibama, nada foi feito. Em seguida foi exibido um documentário. Seguiu-se debate, tendo parti-

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cipado o sócio Eurípedes Maia Chaves Júnior e o visitante Roberto Bonfi m. Findo o debate, o Presidente Lúcio Alcântara agradeceu aos palestrantes e elogiou sua dedicação à causa e seu alto grau de conhecimento.

E nada mais havendo a tratar, deu o Presidente por encerrada a ses-são da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Diretoria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente e pelos sócios presentes.

LÚCIO GONÇALO DE ALCÂNTARA AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 19 de setembro de 2017

Sob a presidência do Sócio Lúcio Alcântara, com a presença dos membros da Diretoria: Osmar Diógenes, Geová Lemos Cavalcante, Miguel Ângelo Azevedo (Nirez), Luciano Pinheiro Klein Filho e com a participação do Sócio José Liberal de Castro, membro da Comissão de Defesa do Patrimônio, reuniu-se a Diretoria do Instituto do Ceará, no auditório Gen. Carlos Studart Filho, iniciando-se com as Efemérides, a cargo do Diretor Nirez:

FATOS OCORRIDOS EM FORTALEZA NO DIA 19 DE SETEMBRO:

1861 - Chega a Fortaleza o primeiro bispo do Ceará, Dom Luís Antônio dos Santos. Com sua posse passou a antiga Matriz à Catedral. Pela Lei geral nº 693, de 18/08/1853, foi impetrado pelo governo Imperial ao Santo Padre uma Bula criando os bispados de Minas (Diamantina) e do Ceará. Até então o Ceará era subordinado ao Bispado de Pernambuco. O desmembramento se deu pela Bula “Pro animarum salute”, de 08/07/1854, do Papa Pio XI, sendo escolhido para ocupar o Bispado do Ceará o padre João Quirino Go-mes que não aceitou. Foi então escolhido em 31/01/1859, e confi rmado em 28/09/1861, Dom Luís Antônio dos Santos, futuro Marquês do Monte Pascoal e Arcebispo Primaz do Brasil, na Bahia. Era fl uminense de Angra dos Reis, onde nasceu a 1º de março de 1817.

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1894 - Fundada, na Rua Major Facundo nº 16 (antigo, atual 538), na Praça do Ferreira, a Farmácia Pasteur por Leopoldo Domingues, que após nove anos vendeu ao farmacêutico Francisco Alves Linhares Filho, que por sua vez vendeu ao Sr. Eduardo de Castro Bezerra em 1905.

1906 - Aberta a Farmácia Holanda, de Joaquim Brasil de Holanda Cavalcante, na Rua Senador Pompeu nº 100 (antigo).

1926 - Morre em Fortaleza o catedrático da Faculdade de Direito Antônio Antonele de Castro Bezerra (Antonele Bezerra), aos 32 anos incompletos. Era cearense de Pacoti, nascido em 04/11/1894, e hoje é nome de rua no Meireles, onde funcionou por muitos anos a Câmara Municipal de Fortaleza.

1932 - Inaugura-se o novo prédio do Serviço Sanitário do Estado. O velho prédio do quartel do Batalhão de Segurança, que foi ocupado pela Escola de Aprendi-zes Artífi ces, na esquina da Rua General Sampaio com Rua Liberato Barroso, é demolido e ergue-se, em seu lugar, novo prédio, em estilo Art-Déco, que abrigou o Serviço Sanitário do Estado depois Diretoria de Saúde Pública (hoje Secretaria de Saúde), transformado no Centro de Saúde, fundado naquele ano por iniciativa do sanitarista Amílcar Barca Pelon.

1943 - Inaugurada a Casa dos Cegos (hoje Instituto dos Cegos), criada pela So-ciedade de Assistência aos Cegos, com a cooperação da Legião Brasileira de Assistência - LBA e do Rotary Clube de Fortaleza. Discursaram o Padre Arquimedes da Silva Bruno (Arquimedes Bruno) e Raimundo Girão.

1952 - Realiza-se em Fortaleza o primeiro pregão da Bolsa de Mercadorias do Ceará, assinalando o início do funcionamento daquele órgão que fora ins-talado no dia 24/08/1951.

1997 - Morre, aos 57 anos de idade, o arquiteto Reginaldo Rangel, responsável pelo projeto do edifício do Hospital Regional da Unimed, na Avenida Vis-conde do Rio Branco. Nascera a 22/10/1940.

2002 - Francisco Taylor Teixeira de Lavor, que adotou o codinome ‘’Mão Branca’’ na vida profi ssional, morre na madrugada, por volta dos 15min, acometido por uma infecção generalizada. Havia dois meses e seis dias internado no Hospital de Messejana, depois de sofrer duas paradas cardíacas e duas ressuscitações, no dia 12 de julho, quando trabalhava na Assembleia Legislativa - onde era assessor parlamentar. Às 16 horas, o corpo foi sepultado, no Cemitério da Paz. Taylor foi um dos pioneiros na TV do Ceará, no começo da década de 70, dos programas policiais. Sua trajetória pelas telas cearenses fi cou marcada por reportagens somente com a câmera, microfone e uma mão coberta por uma luva branca, narradas por sua voz grave.

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2007 - Falece, às 16h30min, aos 84 anos de idade, o advogado, escritor, jorna-lista, radialista e dramaturgo cearense Manuel Eduardo Pinheiro Campos (Eduardo Campos), carinhosamente chamado de Manuelito pelos amigos e colegas de trabalho. Sofrera um AVC hemorrágico e nos últimos dias, vinha se recuperando e chegara a receber alta. Às vésperas de deixar o hospital Monte Klinikum, sofre sucessivas paradas cardíacas. Foi um dos braços fortes dos “Diários e Emissoras Associados” no Ceará; dirigiu simultaneamente a “Ceará Rádio Clube”, a “TV Ceará”, canal 2, e os jornais “Correio do Ceará” e “Unitário”. Foi também fundador e presidente da Associação Cearense de Rádio e Televisão – Acert - e do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Ceará. Participou do grupo “Clã”, importante movi-mento literário cearense. Presidiu a Academia Cearense de Letras - ACL. Foi secretário de Cultura e Desporto do Governo Virgílio Távora. Na data do falecimento, era presidente do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico). Em 1990, o jornalista e escritor foi uma das personalidades agraciadas com o troféu “Sereia de Ouro” concedido pelo Sistema Verdes Mares. Seu velório tem início à noite, na Igreja Presbiteriana da Aldeota. O sepultamento ocorre no dia seguinte, às 16h, no Jardim Metropolitano. Natural de Guaiúba, nascera em 11/01/1923.

O Presidente Lúcio Alcântara fez uma explanação sobre os custos de produção da Revista do Instituto do Ceará, ressaltando que uma das medidas para redução dos custos seria excluir do texto da Revista os discursos dos sócios, mantendo-os os discursos relacionados à posse e por isso submetia ao exame da Diretoria, a redação para a nova Instrução Normativa sobre a Revista; esclareceu que Instrução Normativa disciplina os direitos autorais dos artigos publicados, como forma de resguardar os interesses do Instituto; o texto foi aprovado, fazendo parte desta Ata e será publicado no Boletim:

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 01/2017

O Presidente do Instituto do Ceará, considerando o que decidiu a Diretoria em reunião do dia 19 de setembro de 2017, Resolve expedir a seguinte Instrução Normativa:

Art.1º. A Revista do Instituto do Ceará tem periodicidade anual, publicada sob a responsabilidade direta do Presidente do Instituto, nos termos do art. 49, f, do Estatuto, coadjuvado por Comissão, integrada por 3 sócios

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efeitos, eleita em Assembleia Geral para cumprir mandato de 2 anos.§ 1º. Sempre que possível, a Revista será divulgada no dia 04 de março, data de fundação do Instituto do Ceará;§ 2º. Para os atos de recebimento e seleção preliminar das matérias enca-minhadas para publicação na Revista, o Presidente designará 1 membro da Comissão da Revista para exercer a função de Coordenação.

Art. 2º. A Revista compor-se-á das seguintes seções:I - ArtigosII – Discursos de posse e recepção de Sócios Efetivos III – Conferências, Palestras e EfeméridesIV –Documentos históricosV - Bibliografi asVI - Notas e TranscriçõesVII - Atas das reuniões do InstitutoVIII - A relação dos Presidentes do InstitutoIX- A relação dos Sócios Efetivos, desde a fundação, por ordem

de antiguidadeX - A relação dos Sócios Beneméritos, Honorários, Colaboradores

e Correspondentes;

Parágrafo Único. O Relatório anual do Secretário-Geral e os discursos de Sócios Efetivos, não relacionados à posse, serão publicados no Boletim do Instituto.

Art. 3º. Na distribuição dos artigos serão observados os seguintes critérios:I – Abrirá a Revista trabalho de autoria do Presidente do Instituto;II – Após o artigo do Presidente, seguir-se-ão os artigos dos Sócios

Efetivos por ordem de antiguidade;III – Artigos dos Sócios Remidos, Honorários, Colaboradores e

Correspondentes;IV – Artigos de pessoas estranhas ao quadro social, por ato discri-

cionário da Comissão.

Art.4º. Os artigos serão remetidos à Comissão da Revista em Compact Disc (CD) acompanhado de uma cópia digitalizada em fonte Times New Roman, tipo 12, em papel A4, entrelinha de 1,5cm, com o mínimo de 10 e

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o máximo de 30 páginas, admitindo-se excepcionalmente trabalho superior a este limite, mediante justifi cativa escrita da Comissão.§ 1º. A publicação dos artigos é condicionada ao cumprimento das normas previstas nesta Instrução Normativa e da avaliação da Comissão da Revista.§ 2º. A Comissão poderá determinar que os artigos sejam previamente diagramados em gráfi ca credenciada, acompanhados de revisão do autor ou de profi ssional habilitado.§ 3º. O autor de artigo publicado na Revista cede e transfere ao Instituto do Ceará, de modo gratuito, integral, irrevogável, irretratável e sem prazo determinado, os direitos autorais sobre a matéria publicada, reservando-se ao cedente os direitos de utilização sobre a obra publicada, tanto por meio impresso quanto eletrônico, devendo em qualquer caso ser preservado o direito do cessionário; Art. 5º. A Comissão da Revista, a seu critério, estabelecerá cronograma para recebimento de matérias, diagramação, revisão, impressão e lança-mento.§ 1º. Na revisão, a Comissão da Revista utilizará os procedimentos ado-tados pelo Manual de Redação da Presidência da República;§ 2º. Como responsável pelos trabalhos de revisão da Revista, o Presidente do Instituto designará um membro da Comissão da Revista ou profi ssional estranho aos quadros sociais. § 3º. Para cumprimento do cronograma, a gráfi ca propiciará acesso às provas somente aos integrantes da Comissão da Revista. § 4º. O material a ser encaminhado à gráfi ca receberá a aprovação expressa do Presidente do Instituto do Ceará.

Art. 6º. Cada Sócio Efetivo terá direito a receber gratuitamente um exemplar da Revista e os autores de matéria nela inserida receberão dois exemplares.

Art. 7º. Os casos omissos serão examinados e supridos pela Comissão da Revista, sob a supervisão do Presidente do Instituto do Ceará.

Art. 8º. Fica revogada a Instrução Normativa nº 02/2014, publicada na Revista do Instituto do Ceará relativa ao ano de 2014.

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Revista do Instituto do Ceará - 2017296

Fortaleza, 19 de setembro de 2017

Lúcio Alcântara - Presidente Osmar Diógenes - 1º Vice-PresidentePedro Sisnando Leite – 2º Vice-PresidentePedro Alberto de Oliveira Silva – Diretor da Biblioteca e ArquivoMiguel Ângelo de Azevedo (Nirez) – Diretor de ComunicaçãoGeová Lemos Cavalcante – Secretário-GeralJuarez Fernandes Leitão – 1º SecretárioAffonso Taboza Pereira - 2º SecretárioJosé Eurípedes Maia Chaves Júnior – 1º TesoureiroLuciano Pinheiro Klein Filho – 2º Tesoureiro

Após a aprovação da Instrução Normativa, o Presidente Lúcio Alcântara submeteu à Diretoria a proposta de indicação dos historiadores Francisco Anderson Tavares Lyra Silva, de Natal, e João Bosco Serra e Gurgel, de Brasilia, para comporem o quadro de Sócios Correspondentes, propostas previamente analisadas pela Comissão de Mérito Cientifi co e Cultural; a indicação foi aceita e será objeto de deliberação de Assembleia Geral. Em seguida, o Presidente comunicou que nos dias 25, 26 e 27 do próximo mês de outubro ocorrerá o VII Colóquio dos Institutos Históricos Brasi-leiros, no Rio de Janeiro, evento patrocinado pelo Instituto Histórico e Geográfi co Brasileiro (IHGB). O Instituto do Ceará será representado por seu Presidente e pelo Secretário-Geral. Ainda com a palavra, o Presidente comunicou que no inicio do próximo mês haverá o III Outubro Cultural, uma promoção do Instituto sob a coordenação da Sócia Efetiva Clélia Lus-tosa e colaboração da Diretora Administrativa Marinez Feitosa. Informou que viajará para Portugal no dia 22 próximo, demorando-se por 20 dias no exterior, oportunidade em que a assumirá a presidência do Instituto o 1º Vice-Presidente Osmar Diógenes. Ao encerrar a sessão, o Presidente Lúcio Alcântara conclamou a todos para que comparecessem ao lançamento do livro “O Grande Novo Nordeste de Virgílio Távora”, de autoria do Sócio Pedro Sisnando Leite, ato a verifi car-se no Auditório Barão de Studart amanhã, dia 20, às 15.30h. Na ausência justifi cada do 2º Secretário Affonso Taboza Pereira, eu, Geová Lemos Cavalcante – Secretário-Geral – lavrei a presente Ata, subscrita pelo Presidente Lúcio Alcântara.

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PAUTA DA REUNIÃO DO DIA 31 DE OUTUBRO DE 2017

1. EFEMÉRIDES DO NIREZ

2. VII COLÓQUIO DOS INSTITUTOS HISTÓRICOS

3. PRONAC

4. PROPOSTA DE ADMISSÃO DO HISTORIADOR JORGE COUTO PARA SÓCIO CORRESPONDENTE

5. PROPOSIÇÃO DOS SÓCIOS PAULO ELPIDIO, JOSÉ FILO-MENO MORAES E CLAUDIO FERREIRA LIMA

6. DOAÇÃO DE LIVROS: JOSÉ LIBERAL DE CASTRO, LIMÉRIO MOREIRA DA ROCHA E JOSÉ HENRIQUE DE ALMEIDA BRAGA

7. CONTRIBUIÇÃO FINANCEIRA PARA O INSTITUTO (ABATIMENTO DO IMPOSTO DE RENDA)

8. CONVOCAÇÃO DE ASSEMBLEIA GERAL PARA ELEI-ÇÃO DE SÓCIOS CORRESPONDENTES

Sessão do dia 31 de outubro de 2017

Aos trinta e um dias do mês de outubro de dois mil e dezessete, reuniu-se a Diretoria do Instituto na sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco n° 1594, no auditório General Carlos Studart Filho, para a quarta sessão ordinária do Biênio 2017/2019. Presentes oito sócios efetivos a seguir relacionados: Presidente Lúcio Gonçalo de Alcântara, Vice-Presidente Osmar Maia Diógenes, Secretário Geral Geová Lemos Cavalcante, Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira, Primeiro Te-soureiro José Eurípedes Maia Chaves Júnior, Diretor de Biblioteca e

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Revista do Instituto do Ceará - 2017298

Arquivo Pedro Alberto de Oliveira Silva, sócios Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez e Luciano Pinheiro Klein Filho. Saudando os presen-tes o presidente iniciou a sessão, fazendo referência ao sétimo colóquio dos institutos históricos, que deveria ter ocorrido semana passada no Rio de Janeiro, evento que ocorre a cada dois anos, sob a égide do Instituto Histórico e Geográfi co Brasileiro. O Instituto do Ceará se faria represen-tar por seu presidente e por seu secretário geral. O evento foi cancelado devido à difícil situação fi nanceira do IHGB, decorrente da desocupação de espaços antes alugados do prédio sede (dois andares), cuja receita de aluguel garante a vida da Instituição. Assim fi cou prejudicada a agenda que tratará das comemorações dos duzentos anos da Independência do Brasil. A reunião para tratar desse tema foi adiada sine die. Tratou em seguida do PRONAC - Programa Nacional da Cultura (Lei Rouanet). O Instituto tinha uma pendência de trinta e três mil reais, decorrente da falta de um documento referente ao recebimento de CDs num programa de fi nanciamento anterior. Diligências feitas por nosso pessoal e gestões da presidência e da secretaria Geral possibilitaram a solução do proble-ma. Em seguida o presidente tratou da aprovação pela Diretoria de três nomes indicados para sócios correspondentes do IC, todos já devidamente aprovados pela Comissão de Avaliação de Mérito. São eles: João Bosco Serra e Gurgel, cearense de Acopiara, jornalista e biógrafo, ex-presidente da Casa do Ceará em Brasília, para sócio correspondente naquela cidade; Francisco Anderson Tavares Silva, membro do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte, para sócio correspondente em Natal-RN; e o Professor Jorge Couto, português, que escreveu uma tese sobre os bens dos jesu-ítas no Nordeste Brasileiro, tendo sido parte do seu material colhido no Instituto do Ceará; foi Diretor da Biblioteca Nacional de Portugal e do Instituto Camões, e é professor de História na Universidade de Lisboa; indicado para sócio correspondente naquela cidade. Diante dos currículos apresentados, a diretoria aprovou os três nomes. Outro item tratado foi a nomeação pela presidência de comissão integrada pelos sócios Paulo Elpídio de Menezes Neto, José Filomeno Moraes Filho e Antônio Cláu-dio Ferreira Lima, para examinar a viabilidade de se dar andamento ao projeto de Tomaz Pompeu Sobrinho, tema recorrente neste Instituto, que consiste em se escrever a história do Ceará, focalizando separadamente os diversos aspectos da vida e atividades desenvolvidas no Estado, tais como: a cultura, o desenvolvimento econômico, as guerras e revoluções, e

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assim por diante. A comissão deverá apresentar suas conclusões ao corpo de associados. Por sugestão do secretário geral Geová Lemos Cavalcante, fi cou decidido que as conclusões seriam submetidas ao crivo da Comissão de História, composta dos sócios Pedro Alberto de Oliveira Silva, Gisafran Nazareno Mota Jucá e Eduardo de Castro Bezerra Neto. As conclusões seriam debatidas pelos associados, não se excluindo colaborações de historiadores e pessoas alheias ao quadro social interessadas no tema. Segundo o sócio Pedro Alberto, trata-se de uma pesquisa ambiciosa que – lembrou a sócia Angela Gutiérrez – será publicada e, portanto, alguém terá de redigir o texto, ou os textos. O presidente Lúcio Alcântara opinou que devemos começar e atacar as questões por partes, e que fatalmente teremos de procurar apoio de pessoas de fora, mas que a prioridade seria de sócios do Instituto. A sócia Angela acrescentou que esse é um trabalho de profundidade que não se resolverá em um ano ou dois, e que é preciso que se pense num fi nanciamento para pesquisa e publicação. Várias su-gestões e comentários surgiram em torno do tema, fi cando a impressão de que ele despertará entre os sócios grande interesse. Passando para outro item da pauta, o presidente anunciou a doação de livros para a biblioteca destacando entre os doadores nosso sócio José Liberal de Castro, que ofertou ao Instituto um valioso livro de sua autoria. O Presidente fi xou a data de 15 de dezembro para a comemoração do Natal. Em seguida tratou da situação fi nanceira, tendo o secretário geral lembrado a possibilidade de doação pelos sócios de dedução legal do Imposto de Renda em favor do Instituto. O presidente comunicou que o portão fi cará fechado para evitar a entrada de meliantes, e que será aberto com uso do interfone. Em seguida convidou os sócios presentes a o acompanharem até o Palacete, onde haveria o encerramento do Outubro Cultural com entrega de certifi -cados de conclusão do Curso de Restauração de Livros, uma apresentação musical com a participação de um tenor italiano, e um coquetel.

E nada mais havendo a tratar, deu o presidente por encerrada a ses-são da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Diretoria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente, e pelos sócios presentes.

LÚCIO GONÇALO DE ALCÂNTARA AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

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Revista do Instituto do Ceará - 2017300

Sessão do dia 20 de novembro de 2017

Aos 20 dias do mês de novembro de 2017, reuniu-se o Instituto do Ceará em Assembleia Geral Extraordinária, em sua sede situada à Rua Barão do Rio Branco 1595, auditório General Carlos Studart Filho, para decidir sobre aprovação de três nomes indicados para sócios correspon-dentes do IC, todos já devidamente aprovados pela Comissão de Avaliação de Mérito em face da riqueza de seus currículos. São eles: João Bosco Serra e Gurgel, cearense de Acopiara, jornalista e biógrafo, ex-presidente da Casa do Ceará em Brasília, para sócio correspondente naquela cidade; Francisco Anderson Tavares Silva, membro do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte, para sócio correspondente em Natal-RN; e o Professor Jorge Couto, português, que escreveu tese sobre os bens dos jesuítas no Nordeste Brasileiro, tendo sido parte do seu material colhido no Instituto do Ceará; foi Diretor da Biblioteca Nacional de Portugal e do Instituto Camões, e é professor de História na Universidade de Lisboa; indicado para sócio correspondente naquela cidade. Presentes à Assembleia o pre-sidente Lúcio Gonçalo de Alcântara, os sócios Eduardo de Castro Bezerra Neto, José Liberal de Castro, Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), Pedro Sisnando Leite, Gisafran Nazareno Mota Jucá, Francisco Ésio de Sousa, José Augusto Bezerra, Ednilo Gomes de Soárez, Juarez Ferandes Leitão, Affonso Taboza Pereira, Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, Geová Lemos Cavalcante, Osmar Maia Diógenes, Luciano Pinheiro Klein Filho, Glória Maria dos Santos Diógenes e José Eurípedes Maia Chaves Júnior. Verifi cado o quorum, o presidente Lúcio Alcântara expôs aos presentes o objetivo da Assembleia, citou nomes e currículos dos candidatos a só-cios correspondentes, informou sobre sua aprovação pela Comissão de Avaliação de Mérito e pela Diretoria em sua Sessão Ordinária de 31 de outubro passado. Ato contínuo, cumpridas as formalidades estatutárias estabelecidas para tal, a Assembleia aprovou por unanimidade dos pre-sentes os três nomes propostos. O presidente Lúcio Alcântara declarou-os aprovados para o cargo de sócios correspondentes conforme a proposta, e determinou ao secretário geral que fossem informados os interessados mediante correspondência.

Nada mais havendo a tratar, deu o presidente por encerrada a Assembleia Geral Extraordinária, antes, porém, convidando os sócios e pessoas presentes a permanecerem no recinto do auditório, para ouvir a

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palestra que seria em seguida pronunciada pelo professor Fernando Motta, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mormon), sobre pesquisa genealógica. E da Assembleia lavrei esta ata que vai assinada por mim, Affonso Taboza Pereira, segundo secretário da Diretoria, pelo presidente Lúcio Gonçalo de Alcântara, e pelos sócios presentes.

LÚCIO GONÇALO DE ALCÂNTARA AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

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SÓCIOS FUNDADORES, PRESIDENTES E SÓCIOS

EFETIVOS

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Sócios Fundadores

Paulino Nogueira Borges da FonsecaJoakim de Oliveira CatundaJoão Augusto da Frota (Pe.)

Guilherme Studart (Barão de Studart)João Baptista Perdigão de OliveiraAntônio Augusto de Vasconcelos

Antônio Bezerra de MenezesJúlio César da Fonseca Filho

José SombraVirgílio Brígido

Juvenal Galeno da Costa e SilvaVirgílio Augusto de Moraes

Presidentes

1. P N B F 04.03.1887 a 15.06.19082. T P S B 15.08.1908 a 06.04.19293. G S (B S ) 06.04.1929 a 25.09.19384. T P S 25.09.1938 a 09.11.19675. R R A B 09.11.1967 a 20.03.19686. C S F 20.03.1968 a 06.04.19827. M S A 06.04.1982 a 04.03.19838. T T G O 04.03.1983 a 04.03.19859. A M F 04.03.1985 a 06.03.198910. M S A 06.03.1989 a 04.03.199111. G S N 04.03.1991 a 04.03.199512. T T ó G O 04.03.1995 a 04.03.199713. P A A 04.03.1997 a 04.03.200114. G S N 04.03.2001 a 04.03.200315. M E P C 04.03.2003 a 19.09.200716. J A B 19.09.2007 a 27.05.201317. E G S 27.05.2013 a 04.03.201718. L G D A 04.03.2017 ---------

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Revista do Instituto do Ceará - 2017306

Sócios Efetivos por ordem de antiguidade

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

001 – Paulino Nogueira Borges da Fonseca 27.02.1841 04.03.1887 04.03.1887 15.06.1908

002 – Joakim de Oliveira Catunda 02.12.1834 04.03.1887 04.03.1887 28.07.1907

003 – João Augusto da Frota (Pe.) 24.01.1849 04.03.1887 04.03.1887 02.04.1942

004 – Guilherme Studart(Barão de Studart) 05.01.1856 04.03.1887 04.03.1887 25.09.1938

005 – João Baptista Perdigão de Oliveira 23.08.1854 04.03.1887 04.03.1887 28.02.1929

006 – Antônio Augusto de Vasconcelos 23.12.1852 04.03.1887 04.03.1887 10.03.1930

007 – Antônio Bezerra de Menezes 21.02.1841 04.03.1887 04.03.1887 28.08.1921

008 – Júlio César da Fonseca Filho 10.10.1850 04.03.1887 04.03.1887 21.04.1931

009 – José Sombra 04.12.1852 04.03.1887 04.03.1887 16.03.1888

010 – Virgílio Brígido 24.04.1854 04.03.1887 04.03.1887 20.10.1920

011 – Juvenal Galeno da Costa e Silva 27.10.1836 04.03.1887 04.03.1887 07.03.1931

012 – Virgílio Augusto de Moraes 21.12.1854 04.03.1887 04.03.1887 06.05.1914

013 – Thomaz Pompeu de Sousa Brasil 30.06.1852 27.02.1889 12.03.1889 06.04.1929

014 – Manoel Soriano de Albuquerque 08.01.1877 24.12.1912 24.12.1912 05.09.1914

015 – Rodolfo Marcos Teófi lo 06.05.1853 24.12.1912 24.12.1912 02.07.1932

016 – Bruno Rodrigues da Silva Figueiredo (Pe) 06.10.1852 24.12.1912 24.12.1912 29.09.1930

017 – Antônio Teodorico da Costa 12.08.1861 24.12.1912 24.12.1912 04.06.1939

018 – Álvaro Otacílio Nogueira Fernandes 14.09.1873 24.12.1912 24.12.1912 08.01.1953

019 – Álvaro Gurgel de Alencar 10.01.1861 20.09.1915 20.09.1915 02.07.1945

020 – José Lino da Justa 23.09.1863 1915 1915 22.03.1952

021 – Rodolfo Ferreira da Cunha (Pe.) 26.09.1880 1922 1922 19.04.1967

022 – Carlos Studart Filho 17.06.1896 20.09.1928 27.09.1928 06.04.1982

023 – Thomaz Pompeu de Sousa Brasil Sobrinho 16.11.1880 20.09.1928 27.09.1928 09.11.1967

024 – Eusébio Néri Alves de Sousa 14.08.1883 20.09.1928 27.09.1928 22.09.1947

025 – José da Cunha Sombra 21.03.1883 25.06.1929 05.07.1929 21.04.1932

026 – Álvaro Bomílcar da Cunha 14.04.1874 05.10.1929 05.11.1929 12.09.1957

027 – Júlia Carneiro Leão de Vasconcelos 07.09.1880 20.04.1930 05.06.1930 20.01.1951

028 – Valdemar Cromwel do Rego Falcão 25.01.1895 20.09.1930 05.11.1930 02.10.1946

029 – José Pedro Soares Bulcão 13.05.1873 05.10.1931 31.10.1931 17.07.1942

030 – Antônio Martinz de Aguiar e Silva 04.03.1893 05.10.1931 31.10.1931 30.08.1974

031 – Guilherme de Sousa Pinto 13.06.1883 05.10.1931 31.10.1931 14.09.1939

032 – José Carvalho 11.02.1872 05.10.1931 31.10.1931 15.02.1933

033 – Carlos Livino de Carvalho 17.02.1881 05.10.1931 31.10.1931 02.04.1960

034 – Leonardo Ferreira Mota 01.05.1891 05.10.1931 05.01.1932 02.01.1948

035 – Manuel Antônio de Andrade Furtado 28.01.1890 20.07.1932 05.09.1932 16.04.1968

036 – Djacir de Lima Menezes 16.11.1907 20.04.1933 20.05.1933 08.06.1996

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307Sócios Fundadores, Presidentes e Sócios Efetivos

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

037 – Hugo Vítor de Guimarães e Silva 17.11.1898 05.03.1936 14.04.1936 16.11.1950

038 – José Valdo Ribeiro Ramos 04.04.1901 20.02.1936 05.04.1936 04.12.1961

039 – Abner Carneiro de Vasconcelos 09.12.1884 20.03.1936 05.04.1936 03.02.1972

040 – Clodoaldo Pinto 27.10.1896 20.03.1936 05.04.1936 12.07.1979

041 – Maria Rodrigues Peixe (Alba Valdez) 12.12.1874 05.02.1936 10.05.1936 04.02.1962

042 – Misael Gomes da Silva (Pe.) 21.09.1885 20.04.1938 05.05.1938 20.08.1984

043 – João Franklin de Alencar Nogueira 27.10.1867 04.06.1941 19.07.1941 02.12.1947

044 – Dolor Uchoa Barreira 13.04.1893 04.06.1941 19.07.1941 30.06.1967

045 – Raimundo Girão 03.10.1900 04.06.1941 19.07.1941 24.07.1988

046 – Plácido Aderaldo Castelo 11.01.1906 04.06.1941 19.07.1941 17.06.1979

047 – Joaquim Alves de Oliveira 10.02.1894 20.11.1942 06.01.1943 08.06.1952

048 – Antônio Martins Filho 22.12.1904 20.11.1942 06.01.1943 20.12.2002

049 – Demócrito Rocha 14.04.1888 20.11.1942 06.01.1943 29.11.1943

050 – Luís Cavalcante Sucupira 11.05.1901 20.11.1942 06.01.1943 11.07.1997

051 – Francisco Dias da Rocha 23.08.1869 04.12.1943 20.03.1944 25.07.1960

052 – Manuel do Nascimento Fernandes Távora 21.03.1877 04.12.1943 13.05.1944 23.09.1973

053 – Dom Antônio de Almeida Lustosa 11.02.1886 20.03.1944 29.04.1944 14.08.1974

054 – Raimundo Renato de Almeida Braga 20.12.1905 20.05.1944 31.08.1944 13.06.1968

055 – Carlos Feijó da Costa Ribeiro 05.04.1885 20.01.1948 17.02.1948 10.10.1958

056 – Josa Magalhães 08.01.1896 05.02.1948 17.03.1948 31.10.1983

057 – Francisco Martins (Fran) 13.03.1913 20.03.1948 27.06.1948 29.06.1996

058 – José Bonifácio de Sousa 01.11.1901 05.06.1950 20.09.1950 17.04.1970

059 – Florival Alves Seraine 19.04.1910 05.06.1950 21.10.1950 04.01.1999

060 – Mozart Soriano Aderaldo 22.04.1917 05.06.1950 27.10.1950 25.06.1995

061 – Boanerges Facó 30.09.1882 05.06.1950 17.01.1951 04.08.1970

062 – Francisco Alves de Andrade e Castro 21.11.1913 20.12.1950 30.03.1951 06.10.2001

063 – José Guimarães Duque 21.09.1903 20.04.1953 30.09.1953 12.05.1978

064 – Manuel Albano Amora 19.10.1915 04.06.1955 25.08.1955 02.06.1991

065 – Hugo Catunda Fontenele 10.08.1899 04.06.1955 25.08.1955 07.03.1980

066 – Luís Teixeira Barros 26.01.1920 04.06.1955 25.08.1955 07.04.2000

067 – José Sobreira de Amorim 14.05.1912 04.06.1955 25.08.1955 06.03.1974

068 – José Denizard Macedo de Alcântara 01.09.1921 04.06.1955 25.08.1955 12.11.1983

069 – Ismael de Andrade Pordeus 25.12.1912 04.06.1955 25.08.1955 06.09.1964

070 – Paulo Fernandes Bonavides 20.05.1925 04.06.1955 25.08.1955 –

071 – João Batista Saraiva Leão 25.12.1895 04.06.1955 25.08.1955 30.12.1977

072 – José Aurélio Saraiva Câmara 20.06.1921 04.06.1955 25.08.1955 09.04.1974

073 – Joaquim Braga Montenegro 28.02.1907 04.06.1955 25.08.1955 20.11.1979

074 – Manuel Eduardo Pinheiro Campos 11.01.1923 20.08.1956 16.11.1956 19.09.2007

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Revista do Instituto do Ceará - 2017308

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

075 – Waldery Magalhães Uchoa 16.08.1917 20.10.1956 20.03.1957 21.10.1964

076 – Antônio Filgueiras Lima 21.05.1909 20.12.1956 23.04.1957 28.09.1965

077 – João Hipólito Campos de Oliveira 05.05.1917 04.04.1957 20.08.1957 04.09.1994

078 – José Parsifal Barroso 05.07.1913 20.10.1966 04.12.1967 26.04.1986

079 – Zélia Sá Viana Camurça 16.12.1924 04.09.1967 09.04.1968 –

080 – Oswaldo de Oliveira Riedel 20.07.1913 20.06.1968 04.11.1969 21.01.1989

081 – Antônio Gomes de Freitas 23.03.1904 21.10.1968 04.11.1969 15.07.1976

082 – Geraldo da Silva Nobre 31.08.1924 21.10.1968 28.11.1969 26.06.2005

083 – Raimundo Teles Pinheiro 20.03.1908 21.01.1974 04.07.1974 13.11.1987

084 – Virgílio de Moraes Fernandes Távora 29.09.1919 21.01.1974 04.07.1974 03.06.1988

085 – Guarino Alves de Oliveira 02.05.1921 21.01.1974 04.07.1974 28.10.1999

086 – Raimundo Aristides Ribeiro 12.03.1912 21.01.1974 04.07.1974 11.09.2003

087 – José Oswaldo de Araújo 17.03.1894 20.09.1974 04.12.1974 02.09.1975

088 – Pedro Alberto de Oliveira Silva 24.07.1937 20.09.1974 04.12.1974 –

089 – Vinicius Antonius Holanda de Barros Leal 16.10.1922 20.09.1974 04.12.1974 13.04.2010

090 – Melquíades Pinto Paiva 06.03.1930 20.09.1974 04.12.1974 –

091 – Francisco Fernando Saraiva Câmara 24.08.1930 05.05.1975 17.10.1975 –

092 – Hélio de Sousa Melo 19.12.1921 05.05.1975 17.10.1975 28.11.2001

093 – Francisco de Assis Arruda Furtado 10.05.1923 21.07.1975 17.10.1975 09.09.2013

094 – José Teixeira de Freitas 09.05.1918 21.07.1975 17.10.1975 08.07.1994

095 – José Caminha Alencar Araripe 01.05.1921 20.12.1976 26.04.1977 12.06.2010

096 – Itamar Santiago Espíndola 14.09.1917 20.12.1976 26.04.1977 13.08.1992

097 – Eduardo de Castro Bezerra Neto 16.12.1934 04.02.1980 22.05.1980 –

098 – Manuel Lima Soares 08.11.1923 20.10.1980 20.02.1981 06.05.1990

099 – Abelardo Fernando Montenegro 30.05.1912 20.10.1980 20.03.1981 26.04.2010

100 – Tácito Theóphilo Gaspar de Oliveira 12.01.1914 20.10.1980 23.04.1981 30.08.2011

101 – Rubens de Azevedo 30.10.1921 22.06.1981 04.09.1981 17.01.2008

102 – Antônio Nilson Craveiro Holanda 22.06.1935 04.04.1978 24.02.1982 02.04.2015

103 – Maria da Conceição Sousa 21.09.1913 21.06.1982 20.08.1982 09.02.1991

104 – Caio Lóssio Botelho(*) 19.04.1933 06.02.1984 04.04.1984 –

105 – Cláudio Martins 10.05.1910 06.02.1984 23.04.1984 17.06.1995

106 – Carlos Mauro Cabral Benevides 21.03.1930 05.11.1984 23.08.1985 –

107 – Paulo Ayrton Araújo 05.01.1925 20.06.1986 20.08.1986 –

108 – Joaquim Lobo de Macêdo (Joaryvar Macedo) 20.05.1937 20.01.1988 22.02.1988 29.01.1991

109 – Vladir Pontes Menezes 12.07.1934 04.08.1988 30.08.1988 –

110 – Valdelice Carneiro Girão 21.02.1926 20.09.1988 04.11.1988 18.07. 2014

111 – José Borges de Sales 10.02.1911 21.08.1989 20.12.1989 12.05.2006

112 – Paulo Elpídio de Menezes Neto 13.01.1936 05.09.1990 20.11.1990 –

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309Sócios Fundadores, Presidentes e Sócios Efetivos

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

113 – José Liberal de Castro 21.05.1926 22.04.1991 22.07.1991 –

114 – João Alfredo de Sousa Montenegro 15.12.1930 06.05.1991 20.06.1991 28.11.2013

115 – Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) 15.05.1934 05.09.1991 21.10.1991 –

116 – Francisco Sadoc Araújo (Pe.) 17.12.1931 05.04.1993 17.07.1993 –

117 – Marcelo Caracas Linhares 15.03.1924 07.11.1994 05.12.1994 14.08.2007

118 – Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes 28.04.1935 20.12.1994 20.02.1995 –

119 – José Cláudio de Oliveira 24.05.1926 20.09.1995 25.10.1995 03.06.2010

120 – Oswaldo Evandro Carneiro Martins 17.08.1922 20.09.1995 17.11.1995 16.07.2013

121 – José Murilo de Carvalho Martins (*) 31.03.1929 06.01.1997 27.06.1997 _

122 – Pedro Sisnando Leite 13.05.1933 05.06.1997 23.10.1997 _

123 – José Aroldo Cavalcante Mota 27.01.1933 22.09.1997 13.11.1997 20.06.2017

124 – Francisco Edson Cavalcante Pinheiro 30.01.1923 05.04.1999 21.06.1999 16.04. 2014

125 – Gisafran Nazareno Mota Jucá 20.09.1948 05.01.2000 24.04.2000 _

126 – Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos 20.06.1934 10.08.2000 25.10.2000 _

127 – Rejane Maria Vasconcelos Accioly de Carvalho 23.08.1944 05.04.2002 05.06.2002 _

128 – Francisco Ésio de Souza 24.09.1935 22.04.2002 25.07.2002 _

129 – Dário Moreira de Castro Alves 14,12.1927 17.03.2004 17.08.2004 06.06.2010

130 – José Augusto Bezerra 01.06.1948 20.06.2005 05.08.2005 -

131 – José Filomeno Moraes Filho 20.11.1952 05.10.2005 25.11.2005 -

132 – Ednilo Gomes de Soárez 03.08.1939 05.10.2006 22.11.2006 -

133 – Maria Clélia Lustosa Costa 05.09.1953 05.12.2007 03.04.2008 -

134 – Luiz de Gonzaga Fonseca Mota (**) 09.12.1942 26.04.2008 20.06.2008 -

135 – Fernando Luiz Ximenes Rocha 23.11.1952 21.05.2008 10.10.2008

136 – Lúcio Gonçalo de Alcântara 16.05.1943 05.02.2013 08.03.2013

137 – Juarez Fernandes Leitão 11.03.1948 05.02.2013 08.03.2013

138 – Affonso Taboza Pereira 06.11.1935 05.02.2013 08.03.2013

139 – Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez 23.01.1945 20.03.2013 24.04.2013

140 – Francisco Adegildo Férrer 14.03.1944 20.03.2013 24.04.2013

141 – Cid Sabóia de Carvalho 25.08.1935 20.03.2013 24.04.2013

142 – Geová Lemos Cavalcante 08.08.1942 20.03.2013 24.04.2013

143 – Osmar Maia Diógenes 11.08.1932 15.07.2013 23.08.2013

144 – Eustógio Wanderley Correia Dantas 03.01.1964 23.09.2013 17.10.2013

145 – Marcelo Gurgel Carlos da Silva 13.03.1953 27.11.2013 23.01.2014 -

146 – José Reginaldo Lima Verde Leal 20.07.1944 27.11.2013 23.01.2014 03.11.2015

147 – Isabelle Braz Peixoto da Silva 21.10.1958 01.12.2014 27.02.2015

148 – Luciano Pinheiro Klein Filho 02.02.1964 01.12.2014 26.03.2015

149 – Antônio Cláudio Ferreira Lima 01.031947 20.07.2015 27.11.2015

150 – Glória Maria dos Santos Diógenes 22.05.1958 17.11.2015 18.03.2016

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Revista do Instituto do Ceará - 2017310

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

151 – Ubiratan Diniz de Aguiar 07.09.1941 15.02.2016 24.05.2016

152 – José Eurípedes Maia Chaves Júnior 13.06.1956 28.08.2016 14.10.2016

(*) Sócio remido(**) Sócio resignatário

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311Sócios Fundadores, Presidentes e Sócios Efetivos

Sócios Efetivos atuais e seus endereços

01 PAULO FERNANDES BONAVIDESAv. Curió, 2810 – Casa 281 – Lagoa Redonda60831 – 370 FORTALEZA, CE

(85) 34768262

02 ZÉLIA SÁ VIANA CAMURÇARua Idelfonso Albano nº 154 – ap. 20060415 – 110 FORTALEZA, CE

(85) 32192525(85) 32192101

03 PEDRO ALBERTO DE OLIVEIRA SILVARua José Carlos Gurgel Nogueira, 16460175 – 830 FORTALEZA, CE

(85) 32341417(85) 99921.5550(85) 32657211

04 MELQUÍADES PINTO PAIVARua Baronesa de Poconé, 71 ap. 70122471 – 270 RIO DE JANEIRO, RJAv. Antônio Justa, 3300 – ap. 602 60165 – 090 FORTALEZA, CE

(85) 32241385(21) 25382498

05 FRANCISCO FERNANDO SARAIVA CÂMARARua João Cordeiro, 255460110 – 301 FORTALEZA, CE

(85) 32262532

06 EDUARDO DE CASTRO BEZERRA NETORua José Moacir Bezerra, 105560833 – 414 FORTALEZA, CE

(85) 34665420(85) 999270677

07 CARLOS MAURO CABRAL BENEVIDESSHIS – QI 05 – Conj.17 – Casa 8 – Lago Sul71165 – 170 – BRASÍLIA, DFRua Joaquim Nabuco, 1550 – 2º andar60125 – 120 FORTALEZA, CE

(61) 32155607(61) 999754542(85) 32644238(85) 999811075

08 PAULO AYRTON ARAÚJORua José Vilar, 2350 – ap. 100060125 – 001 FORTALEZA, CE

(85) 32240004

09 VLADIR PONTES MENEZESRua Barão do Rio Branco, 159460025 – 061 FORTALEZA, CE

(85) 30217559

10 PAULO ELPÍDIO DE MENEZES NETORua Silva Jatahy, 355 – ap. 50260165 – 070 FORTALEZA, CERua Bartolomeu Mitre, 335 – ap 40122431 – 000 RIO DE JANEIRO, RJ

(85) 32484666(85) 32480007(21) 22395273

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Revista do Instituto do Ceará - 2017312

11 JOSÉ LIBERAL DE CASTRORua Gervásio de Castro, 5060015 – 310 FORTALEZA, CE

(85) 32235142

12 MIGUEL ÂNGELO DE AZEVEDO (Nirez)Rua Prof. João Bosco, 56060430 – 690 FORTALEZA, CE

(85) 32816102(85) 32816949(85) 999826439

13 FRANCISCO SADOC DE ARAÚJOAv. da Ressurreição, 92662020 – 540 SOBRAL, CE

(85) 32617837(88) 36131460

14 EDUARDO DIATAHY BEZERRA DE MENEZESRua Dr. Márlio Fernandes, 14060810 – 025 FORTALEZA, CE

(85) 32617968(85) 32619027(85) 32412209

15 PEDRO SISNANDO LEITERua Dr. Zamenhof, 400 – ap. 130160176 – 060 FORTALEZA, CE

(85) 32623328(85) 999827646

16 GISAFRAN NAZARENO MOTA JUCÁRua Francisco Holanda, 992 – ap. 50160130 – 040 FORTALEZA, CE

(85) 32723469(85) 32723503(85) 999881013

17 RAIMUNDO ELMO DE PAULA VASCONCELOSRua Carlos Barbosa, 463 ap. 70160120 – 170 FORTALEZA, CE

(85) 32494365(85) 991129650

18 REJANE MARIA VASCONCELOS ACCIOLY DE CARVALHORua Fausto Cabral, 86160155 – 410 FORTALEZA, CE

(85) 32621756(85) 999960960

19 FRANCISCO ÉSIO DE SOUZARua Henriqueta Galeno, 714 - ap. 70260135 – 420 FORTALEZA, CE

(85) 32616745(85) 999972704

20 JOSÉ AUGUSTO BEZERRAAv. Rui Barbosa, 748 - ap. 80060115 – 220 FORTALEZA, CE

(85) 32681330(85) 32640933(85) 34580727

21 JOSÉ FILOMENO MORAES FILHORua Carolina Sucupira, 1377 ap. 130160175 – 000 FORTALEZA, CE

(85) 32616508(85) 999093808

22 EDNILO GOMES DE SOÁREZAv. Beira Mar, 4777 - ap.150060165 – 125 FORTALEZA, CE

(85) 40067977(85) 999289087(85) 32634959

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313Sócios Fundadores, Presidentes e Sócios Efetivos

23 MARIA CLÉLIA LUSTOSA COSTA Rua Silva Jatahy, 400 - Bloco B ap. 90160165 – 070 FORTALEZA, CE

(85) 32486470(85) 988981091

24 FERNANDO LUIZ XIMENES ROCHARua Silva Jatahy, 500 – ap. 170060165 – 070 FORTALEZA, CE

(85) 32077262 (85) 32424420

25 LUCIO GONÇALO DE ALCÂNTARAAv. Antônio Justa, 3320 - - ap. 30160165 – 090 FORTALEZA, CE

(85) 32429009(85) 32576927 (85) 32884680

26 JUAREZ FERNANDES LEITÃORua Silva Jatahy, 760 ap. 100060170 – 150 FORTALEZA, CE

(85) 32422034(85) 999873411

27 AFFONSO TABOZA PEREIRARua Pereira Valente, 486 - ap. 130160160 – 250 FORTALEZA, CE

(85) 988576650(85) 31819066

28 ANGELA MARIA ROSSAS MOTA DE GUTIÉRREZRua Deputado Moreira da Rocha, 86560160 – 060 FORTALEZA, CE

(85) 32487804(85) 996434545

29 FRANCISCO ADEGILDO FÉRRERRua Mário Mamede, 61260415 – 000 FORTALEZA, CE

(85) 996201133(85) 32813848(85) 32835051

30 CID SABÓIA DE CARVALHORua Gustavo Sampaio, 199960455 – 001 FORTALEZA, CE

(85) 32873090(85) 999843966

31 GEOVÁ LEMOS CAVALCANTERua Barbalha, 77 - ap. 20060165 – 100 FORTALEZA, CE

(85) 32614931(85) 988474931

32 OSMAR MAIA DIÓGENESRua Thomaz Pompeu, 565 ap. 80060160 – 080 FORTALEZA, CE

(85) 32481753(88) 988051108

33 EUSTÓGIO WANDERLEY CORREIA DANTASRua Mestre Aníbal, 32061600 – 000 CAUCAIA, CE

(85) 999044859

34 MARCELO GURGEL CARLOS DA SILVARua Vicente Leite, 2439 ap. 60060170 – 151 FORTALEZA, CE

(85) 999868566

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Revista do Instituto do Ceará - 2017314

35 LUCIANO PINHEIRO KLEIN FILHORua Teresa Cristina, 227 – Centro60015 – 140 FORTALEZA, CE

(85) 32122370(85) 988471115

36 ISABELLE BRAZ PEIXOTO DA SILVARua Oito de Setembro, 1130 – apto. 140360175 – 210 FORTALEZA, CE

(85) 32671992(85) 996681369

37 ANTÔNIO CLÁUDIO FERREIRA LIMA Rua Nunes Valente, 1440 – ap. 102.60125-035 FORTALEZA, CE

(85) 3224.7633(85) 99199.0909

38 GLÓRIA MARIA DOS SANTOS DIÓGENESAv Antônio Sales, 1317 - s- 100760150 – 200 fortaleza, CE

(85)3246-2280

39 UBIRATAN DINIZ DE AGUIARRua Chanceler Edson Queiroz, 200 ap. 1301 torre Felice – cond. Verdi60810 – 145 FORTALEZA, CE

(85) 999281514

40 JOSÉ EURÍPEDES MAIA CHAVES JÚNIORAvenida Rui Barbosa, 3334 – Joaquim Távora60115 – 222 FORTALEZA, CE

(85)3257-5657(85)99952-6516

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ÍNDICEAo LeitorLúcio Alcântara ....................................................................................5

ARTIGOSIgreja do Pequeno Grande: Origens, arquitetura e obras integradasJosé Liberal de Castro ..........................................................................9

A vitória de Tasso Jereissati para o Senado em 2014 e a polêmica questão das “Bases Eleitorais”Rejane Vasconcelos Accioly Carvalho ................................................65

Quadro natural e a ocupação do territorio cearenseMaria Clélia Lustosa Costa ................................................................93

Ceará mestiçoOsvald Barroso .................................................................................123

Perda da memória judaica na escrita histórica brasileiraAna Paula Cavalcante Alencar da Silva ...........................................137

CONFERÊNCIASO Cearense, de Parsifal Barroso, em diálogo com Precisa-se do Ceará, de Gilberto Freyre, e O Outro Nordeste, de Djacir MenezesAngela Gutiérrez ...............................................................................163

EFEMÉRIDESDatas e Fatos Para a História do Ceará (2008-2009)M. A. Azevedo (Nirez) .......................................................................171

REGISTRO BIBLIOGRÁFICOO Advento do Regionalismo Brasileiro a partir do livro – O Nordeste Brasileiro – Invenção, Espaço e Dinâmica.Francisco Ésio de Souza ...................................................................199

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REGISTRO GENEALÓGICOGeová Lemos Cavalcante .................................................................215

NOTAS E TRANSCRIÇÕESA saga do cangaço: verdades e mentirasMelquíades Pinto Paiva ....................................................................225

Raimundo Cela, ilustradorLúcio Alcântara .........................................................................................233

A reforma da Instrução Pública de 1920: Sobre leis, decretos e regulamentosFrancisco Adegildo Ferrer ...............................................................243

Primeiras posturas do CearáLimério Moreira da Rocha ...............................................................251

Estátuas a LampiãoRaimundo Girão................................................................................255

ATAS DAS SESSÕES ........................................................... 261

SÓCIOS FUNDADORES,PRESIDENTES E SÓCIOS EFETIVOSSócios Fundadores ............................................................................305Presidentes ........................................................................................305Sócios Efetivos por ordem de antiguidade ........................................306Sócios Efetivos atuais e seus endereços ............................................311ÍNDICE .............................................................................................315

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© Revista do Instituto do Ceará 2017

Coordenação e RevisãoGeová Lemos Cavalcante

Projeto Gráfi co Sandro Vasconcelos

DiagramaçãoLéo de Oliveira

Capa e Tratamento de Imagem da CapaGeraldo Jesuino da Costa

Foto da CapaJosé Liberal de Castro

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