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Jovens capazes de se indignar Neste número Buscamos jovens capazes de se in- dignar!”. Li esta mensagem estampada na camisa de uma jovem argentina quando participei de uma manifesta- ção em defesa dos direitos da juven- tude em Mar Del Plata, Argentina, em outubro de 2009. Mais de mil jovens encontravam-se ali reunidos em fun- ção das comemorações da “Semana por los Derechos de la Juventud”. De acordo com o relatório da Organização Internacional do Traba- lho, um em cada cinco jovens latino -americanos não está trabalhando nem estudando. Dentre os 106 mi- lhões de jovens do continente, cerca de 17 milhões estão desempregados. Segundo a CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, em 2004 o analfabetismo atingia 13% dos jovens da América Latina e apenas 6,5% deles chegavam ao ensino superior. Estes dados nos ajudam a entender os resultados da pesquisa coordenada pelo Ibase e pelo Instituto Polis – intitulada “Ju- ventudes Sul-Americanas Diálogos para a Democracia Regional” – que apontou as demandas por educação de qualidade e por maiores oportuni- dades de trabalho como as reivindica- ções mais recorrentes entre os jovens. Apesar da crescente onda de mo- bilização juvenil dos últimos anos, é importante destacar que a luta em defesa dos direitos da juventude não é uma novidade na América Latina, mas remonta aos anos oitenta, mar- cados pela grave crise econômica e social, pela intensa organização da sociedade civil e pelo desenrolar dos processos de redemocratização. No - nal desta década, começaram a surgir os primeiros espaços institucionais de juventude nos países sul-americanos. A defesa dos direitos dos jovens tem ganhado espaço nas agendas políticas, pautado diretrizes e ações dos gover- nos e dos movimentos sociais. Contu- do, a parcela de jovens que se organiza ainda constitui uma minoria no conjunto da po- pulação latino- -americana. É preciso buscar a ampliação da participação juvenil em nos- sos contextos locais e promo- ver articulações com os países vizinhos a fim de fortalecer as lutas, ampliar o raio de ação e o impacto dos movimentos. Como cristãos, acredito que temos um importante papel a desempenhar neste processo, pois somos chamados a lutar pela manifestação da justiça e do Reino de Deus neste mundo. Ao participar das mobilizações juvenis, me recordo da carta de Paulo aos Romanos (Rm 12:2) e de seu convite ao inconformismo, à transforma- ção e renovação de nossas mentes. Sejamos jovens capazes de nos in- dignar diante dos problemas e tragé- dias que acometem as juventudes lati- no-americanas. Demonstremos nossa compaixão, nosso inconformismo e tomemos parte nas lutas pela cons- trução de um mundo mais justo, em conformidade com os valores do Rei- no, para que experimentemos a boa, perfeita e agradável vontade do Pai. AO CHAMADO RESPONDENDO Sarah Nigri Historiadora e representante da ABUB no Conjuve (jan/2008 a mar/2010) “Buscamos jovens capazes de se indignar” diz a camiseta da jovem

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Jovens capazes de se indignarNeste número

Buscamos jovens capazes de se in-dignar!”. Li esta mensagem estampada na camisa de uma jovem argentina quando participei de uma manifesta-ção em defesa dos direitos da juven-tude em Mar Del Plata, Argentina, em outubro de 2009. Mais de mil jovens encontravam-se ali reunidos em fun-ção das comemorações da “Semana por los Derechos de la Juventud”. De acordo com o relatório da Organização Internacional do Traba-lho, um em cada cinco jovens latino -americanos não está trabalhando nem estudando. Dentre os 106 mi-lhões de jovens do continente, cerca de 17 milhões estão desempregados. Segundo a CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, em 2004 o analfabetismo atingia 13% dos jovens da América Latina e apenas 6,5% deles chegavam ao ensino superior. Estes dados nos ajudam a entender os resultados da pesquisa coordenada pelo Ibase e

pelo Instituto Polis – intitulada “Ju-ventudes Sul-Americanas Diálogos para a Democracia Regional” – que apontou as demandas por educação de qualidade e por maiores oportuni-dades de trabalho como as reivindica-ções mais recorrentes entre os jovens. Apesar da crescente onda de mo-bilização juvenil dos últimos anos, é importante destacar que a luta em defesa dos direitos da juventude não é uma novidade na América Latina, mas remonta aos anos oitenta, mar-cados pela grave crise econômica e social, pela intensa organização da sociedade civil e pelo desenrolar dos processos de redemocratização. No fi-nal desta década, começaram a surgir os primeiros espaços institucionais de juventude nos países sul-americanos. A defesa dos direitos dos jovens tem ganhado espaço nas agendas políticas, pautado diretrizes e ações dos gover-nos e dos movimentos sociais. Contu-do, a parcela de jovens que se organiza

ainda constitui uma minoria no conjunto da po-pulação latino--americana. É preciso buscar a ampliação da p a r t i c i p a ç ã o juvenil em nos-sos contex tos locais e promo-ver articulações com os países vizinhos a fim de fortalecer as

lutas, ampliar o raio de ação e o i m p a c t o d o s m o v i m e n t o s . Como cristãos, acredito que temos um importante papel a desempenhar neste processo, pois somos chamados a lutar pela manifestação da justiça e do Reino de Deus neste mundo. Ao participar das mobilizações juvenis, me recordo da carta de Paulo aos Romanos (Rm 12:2) e de seu convite ao inconformismo, à transforma-ção e renovação de nossas mentes. Sejamos jovens capazes de nos in-dignar diante dos problemas e tragé-dias que acometem as juventudes lati-no-americanas. Demonstremos nossa compaixão, nosso inconformismo e tomemos parte nas lutas pela cons-trução de um mundo mais justo, em conformidade com os valores do Rei-no, para que experimentemos a boa, perfeita e agradável vontade do Pai.

AO CHAMADORESPONDENDO

Sarah Nigri Historiadora e representante da ABUB no

Conjuve (jan/2008 a mar/2010)“Buscamos jovens capazes de se indignar” diz a camiseta da jovem

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UMA SÓ MISSÃO

EXPEDIENTE: Respondendo ao Chamado é um informativo de divulgação do ministério de diaconia da Aliança Bíblica Universitária do Brasil. Equipe desta edição: Alexandre Brasil, Alexandre Rosa, Caio Marçal, Carlos Eduardo Fernandes, Elias Albuquerque, Giovanna Amaral (Mtb 2055/GO), Marcella Campos, Márcia Aguilar, Marcus Vinicius Matos, Morgana Boostel, Patrick Timmer, Priscila Vieira (Mtb 4687/PR), Sarah Nigri. Diagramação: Thiago Pereira. Endereço para correspondência: Av. Pedro Bueno, 1831, CEP 04342-011, São Paulo, SP. E-mail: [email protected].

O encontro “Missão sem medo de sonhar”, promovido pela Rede Miquéias, reuniu 85 jovens cristãos de 12 países da América Latina. Com o objetivo de fomentar a reflexão sobre Missão Integral, o evento ocorreu no Uruguai, em abril de 2009. Os participantes foram selecionados pelo envolvimento em organizações cristãs preocupadas com o desenvolv imento e a promoção de justiça em suas localidades.

“Encontro”: Rede Miquéias reúne jovens latino-americanos

Para Morgana Boostel, que representou a Rede FALE no evento, a experiência poderia ser resumida na palavra “encontro”: “t i ve a o p o r t u n i dad e d e m e encontrar comigo mesma, no meu sentimento de latinidade; pude me encontrar com pessoas cujo coração pulsa por justiça; pude me encontrar com organizações que trabalham sério pela promoção do reino de Deus aqui na terra”. A Rede Miquéias é um grupo

m u n d i a l q u e agrega mais de 330 agências evangélicas d e a p o i o c r i s t ão, desenvolvimento e justiça, com o intento de promover ajuda mútua no combate às necessidades dos pobres e oprimidos, através da Missão Integral.

N’Ele,Alexandre Brasil Fonseca

Coordenador Geral da Rede FALE

“Missão sem medo de sonhar”: momento de oração e compartilhar em pequenos grupos

“Uma só Vida. Uma só Verdade. Um só Senhor.”: sob este tema a ABUB realiza em 2010 mais um Congresso Nacional. O tema coloca em seu cen-tro a questão da verdade, algo que tem sido questionado de forma recorrente pela ciência, principalmente em suas vertentes relativistas e pós-modernas. Afirmar “uma só verdade” parece indicar que não há espaços para dúvidas, só certezas. Não entendo a fé cristã nessa direção, porém, esta seria uma conversa que necessitaria de muito mais páginas do que este jornal tem e certamente não cabe neste editorial. O ponto que gos-

taria de sublinhar neste espaço está relacionado a uma quarta expressão, que creio que precisa ser incluída em nosso horizonte neste congresso e em nosso cotidiano: Uma só missão. Missão que acolhe os que so-frem; que se compadece com o próximo e que só tem sentido no momento em que denuncia a opressão de satanás e do pecado que atingem o ser humano e a criação. A ABUB tem sido um movimento que no Brasil e no mundo tem se destacado pela afirmação de uma proposta de viver e compartilhar o Evangelho que demarca a radicali-

dade de entendê-lo em sua integrali-dade. Precisamos, mais do que nunca, superar as dicotomias que tanto nos acompanham, e a postura que entende ação social e evangelização como facetas distintas da missão. Só há uma missão e essa passa necessari-amente pela proclamação e por ações de amor e de justiça. O Respondendo Ao Chamado nasceu em 2006 e é fruto de uma caminhada que naquele momento nos chamava a estar “sempre prepara-dos para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês” (I Pe 3.15). Esse desafio permanece, com a convicção da nova vida em Cristo, de Seu Sen-horio e de Sua Missão.

Jovens que participam da Rede FALE saíram às ruas em manifestações para garantir direitos à população. No Rio de Janeiro (RJ), o FALE-Rio pro-moveu, no dia 1º de maio - Dia do Trabalhador, uma manifes-tação na Central do Brasil, com música, pregação e discursos em megafone. Em Campo Largo (PR), a Rede FALE Paraná organiza o “Movimento Con-strução”, que luta para garantir melhorias no transporte público para a população de bairros da cidade. Já em Curitiba (PR), a Rede somou forças ao protesto contra a corrupção na Assem-bléia Legislativa do Paraná do dia 8 de junho, organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil - OAB/PR.

FALE “na Rua”

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A moeda está na boca do peixe

zada e desarticulada. Precisamos nos reeducar para ter capacidade de ler cri-ticamente a realidade, aprender a dia-logar, unir esforços, e caminhar jun-tos. Temos que buscar uma ação edu-cativa, como propõe Gadotti (1989, p.71), onde o “ato pedagógico exige [...] vontade de caminhar junto e não de se sacrificar na vanguarda”. Nesse sentido, “a educação vai mais à frente, na medida em que tiver menos heróis [...] que se imolam em holocausto.” As questões sociais no Brasil são com-plexas e não serão superadas pela atu-ação isolada do Estado ou mesmo de organizações da sociedade civil. Com-partilhar a construção de alternativas para que as diferenças sociais sejam su-peradas é um começo. A “moeda está na boca”, a esperança é viva, o desafio está posto e as oportunidades são vas-tas. Quem irá?

O envolvimento com PPJ é atender ao ide de Jesus. A princípio, pode soar estranha tal afirmação. Simão Pedro também deve ter estranhado Jesus tê--lo mandado pescar com anzol um pei-xe, para obter recursos e pagar seus im-postos (Mt 17:24-27). Nosso mestre nos ensina a exercermos a cidadania, nos chama a envolver-nos socialmente. Se Pedro deixasse aquela “moeda na boca do peixe”, além de não ter o recur-so para atender à exigência do tributo, ela iria para o estômago do peixe e se perderia. Ter a oportunidade de envol-ver-se socialmente e participar da arti-culação de políticas públicas juntamen-te com a sociedade civil e o governo é levantar a voz para a justiça. É exercer, como cristãos, nossa responsabilidade social que perpassa por fiscalizar; inter-rogar e influenciar nas resoluções do poder público; e fomentar os espaços para diálogo e discussão entre este e os múltiplos segmentos da sociedade civil.

A participação política e social de jovens cristãos é uma temática pou-co debatida nas igrejas evangélicas. Daí a sensação de estranhamento ao relacionarmos esse “engajamento” com nosso chamado para a constru-ção do Reino de Deus. Na perspecti-va da missão integral, a libertação que vem com o Evangelho não é apenas da alma, mas também do corpo e da vida. É possível que muitos jovens evan-gélicos já estejam envolvidos em tra-balhos sociais e voluntários, organiza-dos pelas igrejas em que congregam, porém com atuação local, individuali-

“Precisamos nos reeducar para ter capacidade de ler criticamente a realidade, aprender a dialogar, unir

esforços, e caminhar juntos”

Reflexões sobre a ABUB e a luta pela promoção de Políticas Públicas de/para/com Juventude

O Senado Federal aprovou na quarta-feira, dia 7 de julho, em primeiro e segundo turno, a Pro-posta de Emenda à Constituição conhecida como PEC da Juven-tude, que insere o termo “jovem” no capítulo dos Direitos e Garan-tias Fundamentais da Constitui-ção Federal. O texto garante, as-sim, acesso a direitos que já são constitucionalmente assegurados às crianças, adolescentes e idosos. Para entrar em vigor, a propos-ta depende de promulgação pelo Congresso Nacional.

PEC da Juventude é aprovada

Marcia Aguilar Representante da ABUB no Conjuve

Ilustração: Frits Ahlefeldt - http://www.hikingartist.com - Falling fishes

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Uma experiência de diaconia na cidade de Marabá (PA)

Em busca de ‘cura substancial’ para a Grota Criminosa O projeto de restauração da ‘Grota Criminosa’ foi divulgado pela primeira vez em 2005, no Curso de Férias da ABU-Marabá. Contudo, o embrião da idéia nasceu um ano antes, quando estudantes da Uni-versidade Federal do Pará (UFPA) sentiram o desejo de lutar para restaurar o pequeno rio – chamado de ‘Grota’ – que passava em frente à universidade em que se reuniam. Esse espírito gerou uma série de ações com impactos não apenas na universidade, mas em toda a ci-dade de Marabá e região. Nos anos seguintes, os estudantes realizaram um trabalho de pesquisa que incluía o levantamento de dados sociológicos e ambientais da ‘Grota Criminosa’. Descobriram que, na década de 1950, o rio era conhecido como ‘Grota das Pacas’, em referência aos animais que viviam às margens do leito. Tratava-se de um ecossistema rico e equilibrado, com diversidade de flora e fauna, onde populações indígenas e urbanas praticavam a caça e a pesca. Segundo Cidalice de Souza, que chegou à região em 1976, “a grota era limpa e bonita, pessoas pescavam, tomavam banho e lavavam roupa”. A grota era mais larga, mais profunda e com mais correnteza. Nela havia castanheiras, matas cili-

ares e pelo menos sete espécies de peixes. A urbanização, in-tensificada após a dé-cada de 1970, trouxe vários problemas. A companhia Vale do Rio Doce se destacou como o grande agente a n t r o p i z a d o r n a região: a construção da Estrada de Ferro Carajás, com a finali-dade de transportar minério, foi responsável pelo aterra-mento e degradação de parte da mata ciliar, na região do bairro Nova Marabá. Diante da inexistência de plane-jamento habitacional para a instalação das famílias que chegavam à procura de empregos, toda a infra-estrutura da área foi comprometida: casas foram construídas nas proximidades, der-ramando esgoto em toda a extensão da Grota; os ecossistemas locais deram lugar ao lixo e, conseqüente-mente, ao desequilíbrio ecológico. Este histórico levou o presidente da ABU – na época, o estudante de agronomia Elias Albuquerque –, a propor aos membros da ABU-Marabá que estudassem o problema, realizando visitas e entrevistas nas comunidades. Elias assumiu a respon-sabilidade de fazer seu trabalho de conclusão de curso sobre a situação, aprofundando a pesquisa e levando em conta a legislação ambiental. O objetivo era alcançar a restauração, nas palavras de Francis Schaeffer, uma ‘cura substancial’ da Grota Crimi-nosa, em resposta à poluição e morte. Toda essa mobilização, susten-tada com oração e compromisso com a Missão Integral, repercutiu

nos estudantes e gerou diversos frutos. Em 2007, Carlos Eduardo Fernandes e Elias Albuquerque viajaram até Curitiba (PR) para um treinamento do Centro de Assistên-cia e Desenvolvimento Integral – CADI. Levando o aprendizado para casa, montaram o projeto ‘Coram Deo’, com o objetivo de promover atividades de desenvolvimento co-munitário na cidade de Marabá. Conseguiram formar uma equi-pe de oito membros e contavam com o apoio das igrejas Assem-bléia de Deus, Igreja Cristã Evan-gélica e Igreja Batista Bíblica. No final de 2007, Carlos Eduardo ouviu falar da Rede FALE – que promovia a campanha ‘FALE por Saneamento Ambiental no Brasil’ – e apresentou no Encontro Nacional da rede a proposta de que a campanha abrangesse uma etapa local. Nas pa-lavras de Carlos, “foi um casamento que deu certo, pois a ABU-Marabá já tinha iniciado atividades na Grota, a Rede Fale tinha o desejo de realizar uma campanha local e foi possível planejar ações no município [...]. A batalha que era local se tornou nacional”.

Sem saneamento básico, residências emitem dejetos “in natura” na Grota Criminosa

Sarau da justiça (2007), em Marabá (PA)

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Alexandre RosaCarlos Eduardo Fernandes

Elias AlbuquerqueMarcus Vinicius Matos

‘Amplificando 2009’ – FALE por Saneamento Ambiental em Marabá (PA)

Distribuição de 3.000 cartões Ore&Envie+ Visita a 5 igrejas em Marabá e Belém; + 150 boletins de oração entregues para Igrejas; + 500 cartões distribuídos na Grota Criminosa; + 200 cartões assinadosMobilização de mais de 1.500 pessoas+ Participação de 21 jovens da Rede FALE, de todas as regiões do país; + 3 mesas de debate no FSM 2009 (400 participantes)Inserção diária na mídia local

RESULTADOS GERAIS

A campanha se iniciou com o lançamento do cartão na cidade de Marabá, realizado em uma camin-hada pela ‘Grota Criminosa’. O alvo era a o presidente da companhia siderúrgica Vale do Rio Doce e o cartão postal solicitava apoio e patrocínio da empresa a pesquisas e ações de restauração da Grota. Além dos moradores e das Igrejas da cidade, as ações conquistaram o apoio dos setores públicos. A vere-adora Júlia Rosa, então presidente da Câmara dos Vereadores, e Liliam Carvalho de Oliveira, representante da Secretaria Municipal de Meio Am-biente, manifestaram publicamente seu apoio à ação dos jovens. Poste-riormente, conseguiu-se também o apoio do Senador Flecha Ribeiro. O ‘Amplificando’ teve, ainda, duas outras atividades que contaram com apoio decisivo da ABU-Belém: a re-alização do Fórum Nacional da Rede FALE e a participação dos estudantes no Fórum Social Mundial (2009), em que foi realizada mesa de debate sobre ‘Saneamento Ambiental’. As atividades – que contaram com a presença do pastor Ariovaldo Ramos e da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva – deram ampla visibili-dade a situação da Grota Criminosa.

Dentre as dificuldades que en-frentam para a restauração da grota, as disputas políticas e a “especulação eleitoral”, estão entre os principais entraves. Políticos sempre prom-etem “resolver o problema”, porém, geralmente a solução proposta é aterrar a nascente e transformá-la num córrego de esgoto. As secretarias municipais de meio ambiente e de obras não trabalham em conjunto e não há outros estudos, além do reali-zado pelos estudantes da ABU/Fale, sobre o impacto ambiental das obras executadas na região. Quem mais sofre é a população menos favorecida que reside nas partes “invisíveis” e

remotas da Grota. Ali crianças morrem de doenças de fácil prevenção, famílias perdem seus bens em enchentes e não há qualquer tipo de assistência digna a esses moradores. O projeto de res-tauração da Grota Criminosa foi pensa-do em quatro fases. A primeira foi realizada pelo grupo da ABU-

Marabá que mapeou e diagnosticou o problema. Em seguida, o projeto Coram Deo iniciou ações de desen-volvimento e educação comunitária na região. A terceira fase se iniciou com a campanha nacional promovida pela Rede FALE, dando visibilidade e chamando autoridades à sua res- ponsabilidade com a população e o meio ambiente. Atualmente, vivemos a quarta fase do projeto, em que ABU-Marabá, Rede Fale e Projeto Elites – que substitui o projeto Coram Deo – somam esforços em diversas frentes com um propósito comum: a restau-ração ambiental de forma substancial. Estão previstas novas atividades que incluem reuniões com parlamentares e empresários, eventos de conscienti-zação e ações de educação popular e ambiental. Com novas perspectivas de parcerias e financiamento, planeja-se, também, um maior número de atividades de capacitação e educação ambiental junto à comunidade local. Por fim, o grupo aguarda, para julho de 2010, uma resposta oficial da Vale aos cartões enviados.

O futuro da campanha em Marabá

+ TV Boas Novas

Passeata de abertura do Fórum Social Mundial 2009, em Belém (PA)

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A compreensão e vivência de uma fé distante do contexto social distin-guiu, no Brasil, prática evangélica de questões políticas. Em entrevista ao Respondendo ao Chamado (RAC), o teólogo Valdir Steurnagel defende que, no Brasil, a própria separação entre fé e vida pública é fruto da con-juntura política das décadas de 60 e 70 do século passado. A Missão Integral, que surge neste período, difundiu no meio evangélico a necessidade de compreender as implicações sociais da vida cristã. Trinta anos depois, não é difícil encontrar igrejas e cristãos envolvidos em projetos sociais que atuam com crianças, adolescentes, famílias em situação de risco , vítimas da desigualdade social – ainda que a atuação seja tímida em relação à de-manda, parece haver consenso quanto à necessidade dos cristãos agirem nes-ta área. Já a compreensão desta mes-ma necessidade, que é a promoção da justiça, no campo da política, costuma ser mais polêmica no meio evangélico. Nesta entrevista, Valdir fala sobre a responsabilidade cristã na política cotidiana, que é o exercício da cidada-nia e da vida pública. O teólogo ainda aponta temas que, sob a perspectiva da Missão Integral, devem pautar a ação evangélica no campo político. Valdir é Teólogo Sênior da World Vi-sion International (Visão Mundial), função responsável por zelar pela identidade cristã da Organização e atuar como embaixador global junto a igrejas e outras entidades. Sua tra-jetória é marcada pela formação teológica – Valdir é doutor em Mis-siologia pela Escola Luterana de Teologia de Chicago – e pela atuação na área social, especialmente junto à Visão Mundial. Também é colunista da revista Ultimato e membro das

Política e vocação cristã: Um olhar da Missão integral

diretorias do Movimento Lausanne para a Evangelização Mundial e da Aliança Evangélica Mundial.

RAC- Até a década de 1960, discutia-se a “responsabilidade social da igreja”. Essa foi também a ênfase da Teologia da Missão Integral, que se desen-volveu nas décadas seguintes?

VS- É difícil afirmar que “até a dé-cada de 1960, discutia-se a ‘respon-sabilidade social da igreja’”, pois o protestantismo/evangelicalismo, do qual creio que você está falando, tem uma dificuldade intestina em caminhar unido e se desagrega com grande facilidade. Mas é verdade que o protestantismo histórico brasileiro expressava forte compromisso em torno à responsabilidade social da igreja antes da ditadura que se ini-ciou em 1964. A partir daí, a ênfase passou a estar numa espiritualidade desencarnada e descontextualizada que se preocupava muito mais com a “salvação das almas” do que com o compromisso de fé público e ético dos cristãos.

Internamente, a ditadura militar brasileira cuidava para que as igrejas fossem as mais apáticas e passivas possível em termos de engajamento político-social. Externamente, a em-presa missionária norte-americana enviava à América Latina muitos missionários que eram produto de

uma formação bíblico-teológica fundamentalista e adeptos de uma ideologia que via em qualquer preo-cupação com a justiça ou em qualquer participação política e social crítica, expressões de um comunismo ateu que tinha de ser combatido a ferro e fogo. A teologia da Missão Inte-gral da igreja nasceu de uma dupla preocupação. Por um lado ela queria se apropriar e afirmar os postulados básicos da Reforma Protestante, que se expressava numa identidade evangélica. E, por outro lado, via que o evangelho precisava seguir o mod-elo da encarnação de Jesus e tinha, portanto, uma dimensão não apenas cultural mas também social, política e econômica.

RAC- Se hoje, temos convicção da nossa responsabilidade social, enquanto cristãos, como é possível desenvolver esta “vocação” em termos de política?

VS- A vivência da vocação é, na maioria das vezes, pública; e, como pública, ela é também política. A política, entendida como o exer-cício da cidadania, é necessária e inevitável. A enfermeira que cuida bem dos pacientes do hospital e zela para que eles tenham um cuidado humano e profissional está fazendo política – o que é o caso com tantas outras profissões. Neste sentido a Missão Integral afirma o sacerdócio geral de todos os santos, que é um dos postulados básicos da Reforma.Assim, no exercício da nossa vocação, somos agentes políticos e nessa vivên-

“a [Missão Integral] via que o evangelho precisava seguir

o modelo da encarnação de Jesus e tinha, portanto, uma dimensão não apenas

cultural mas também social, política e econômica”

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cia política abraçamos, vivemos e anunciamos a política do Reino de Deus, que é marcada pelo amor, pela ética, pelo serviço e pela alegria.Se pensamos na política partidária, no entanto, precisamos dizer que ela é uma expressão legítima do exercício da vocação, ainda que seja apenas uma expressão, aliás limitada, da vocação política. Mas parece que você quer aprofundar isso um pouco mais.

RAC- Como deve ser o envolvimento dos cristãos com as diferentes esferas da Política – partidária, conselhos de políticas públicas, judiciário etc?

VS- Como a sua própria pergunta indica, a política partidária é uma ex-pressão da própria política pública. O Brasil valoriza e se pauta pela existên-cia dos poderes legislativo, executivo e judiciário, e cada um deles tem o seu processo de participação ao qual os cristãos se submetem e do qual participam, sempre pautados pelos princípios da justiça, da verdade, do serviço e do amor. O que parece

vivermos nos dias de hoje é um pro-cesso de descrédito nesses poderes e especialmente no poder político, que tem se mostrado incapaz e indesejoso de se reinventar à luz dos desafios e oportunidades do nosso tempo e desta geração e acaba se constituindo num dos órgãos de maior descrédito na nossa sociedade. Assim, se você me perguntar se os cristãos devem participar na política partidária eu diria que sim, desde que não o fa-çam sozinhos e tenham um grupo de prestação de contas e desde que se alinhem aos poucos grupos que ainda expressam um compromisso com uma vivência política que tenha a marca da boa cidadania, da prática da justiça e de uma legítima preocupação com os mais pobres e vulneráveis da nossa sociedade.

RAC- Existem temas ou bandeiras obrigatórias para um cristão que, comprometido com a Teologia da Missão Integral, leva sua fé ao espaço público?

VS- Durante esta entrevista eu já citei várias vezes a palavra “justiça”. Este me parece um tema inegociável para o cristão. Essa justiça questiona e substitui as inúmeras expressões de injustiça em meio às quais vivemos.Outro tema fundamental é o compro-misso com o pobre e o vulnerável em nossa sociedade. E estes são muitos!

O evangelho de Jesus Cristo tem um viés a favor do pequeno e do pobre, e é esse evangelho que devemos seguir.Hoje a preocupação com o meio ambiente, as mudanças climáticas, a preservação da natureza, a proteção dos mananciais e dos mares, são todos temas inegociáveis na composição de uma agenda vocacional para os cris-tãos. Há certamente outras questões fundamentais, entre as quais a bioé-tica, que precisam ser priorizadas em nossa agenda e vocação. Mas creio que os temas mencionados já apontam para um jeito de olhar para o mundo sob a perspectiva da criação, da compaixão e da redenção.

Creio ser importante mencionar, no entanto, que estes temas não esgotam o cardápio da vivência missionária da igreja. Na Visão Mundial nós dizemos que o nosso testemunho cristão se dá pela vida, através das nossas ações, pa-lavras e através dos sinais milagrosos com os quais Deus nos agracia. Essas diferentes expressões testemunhais é que formam o conjunto missionário para o qual Deus vocacionou a sua igreja.

RAC- Quais os caminhos da Missão Integral hoje? VS- Os caminhos da Missão Integral hoje devem ser os mais simples. Afinal, a vivência missionária nada mais é que o seguimento individual e coletivo a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.

“ já citei várias vezes a palavra “justiça”. Este me

parece um tema inegociável para o cristão. Essa justiça

questiona e substitui as inúmeras expressões de

injustiça em meio às quais vivemos”

“no exercício da nossa vocação, somos agentes

políticos e nessa vivência política abraçamos,

vivemos e anunciamos a política do Reino de Deus, que é marcada pelo amor, pela ética, pelo serviço e

pela alegria”

Marcus Vinicius MatosSecretário executivo da Rede FALE

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Diaconia na ABUB: uma história de iniciativas missionárias “Trabalho missionário é levar aos outros as boas novas da salvação que transformaram nossas vidas. É um trabalho entre índios, pequenas cidades e vilas perdidas no interior do país e esquecidas dos homens, fora do Brasil, em outros países carentes do Evangelho. Também le-var Cristo para as pessoas que estão muito próximas de nós, em nossa casa, escola, trabalho, vizinhança”. O trecho do informativo “Al-cance”, edição de maio e junho de 1977, retrata um tempo em que várias iniciativas missionárias de estudantes e profissionais surgiram após o 1º Congresso Missionário da Aliança Bíblica Universitária (CM), realizado em janeiro de 1976, na ci-dade de Curitiba (PR).“Todos estes projetos (Corumbá, Funil, Jornal Kairós, Corpo de Psicólogos Cris-tãos, Koinonia, Encontros de Cri-ação Literária, Hospital Maranata), e outros que surgiram em meio à ABU evidenciam que, mais que nunca, é tempo de trabalho missionário. Muitas dessas experiências são frutos diretos do Congresso Missionário. Outras são anteriores à janeiro de 1976” (informativo Alcance/ 1977). O Congresso Missionário de 76 – “Jesus Cristo, Senhorio, Propósito e Missão” – reuniu mais de 600 es-tudantes, profissionais e pastores.

Pouco tempo depois, foi estrutu-rada a Assessoria a Projetos Missio-nários (APROM). Seu objetivo era prestar assessoria aos novos projetos de diaconia que estavam surgindo. Por cinco anos a APROM contou com financiamento integral da Visão Mundial e era composta por quatro assessores (Paul e Yolanda Fres-ton, Rubens Osório, Jadyr Braga). Mais tarde, a APROM passou a se chamar Secretaria de Diaconia da ABUB. A equipe produziu diversos materiais de apoio, como “Base Bí-blica para Ação Social, Planejamento de Projetos, Trabalho com Comuni-

Embora o Congresso Missionário de Curitiba tenha sido um marco para o desenvolvimento da Diaconia no ministério da ABU, a teologia do servir chegou ao Brasil junto com os primeiros missionários da Comu-nidade Internacional de Estudantes Evangélicos (ou IFES, sigla em in-glês).Em documentos históricos, há um panfleto de 1959 em que o professor da Universidade de Zurique (Suiça), Hans Burki, convidado pela ABUB, ministrou palestras em várias universidades brasileiras, levando discussões sobre “Educação como in-vestimento de capital de uma nação”, entre outras. Nesta mesma época, desenvolvia-se um projeto da ABU em favela de São Paulo, conforme fotos do arquivo da entidade.

“A comunicação se estabeleceu entre Deus e os corações se dis-puseram a ouvi-lo e obedecê-lo” (informativo Alcance/ edição de 1976). Os relatos descrevem um despertamento empolgante. Jovens sentiram uma profunda sede pela justiça e por viver intensamente o Reino de Deus ainda nesta terra. O avivamento ocorrido no Con-gresso de Curitiba ganhou um papel central no desenvolvimento dos projetos de Diaconia da ABUB. Um dos marcos foi o Pacto de Curitiba, organizado em 17 tópicos que resum-iram propostas e objetivos de atuação missionária.

Equipe para “encorajar e incentivar”

dade”, entre outros. “Alguns projetos já haviam começa-do entre os grupos da ABU e da ABP. Alguns eram contínuos, outros pon-tuais, em época de férias. O trabalho da nossa equipe era o de encorajar e ajudar os projetos existentes e in-centivar a criação de outros projetos por parte de outros grupos da ABU e ABP”, relata o sociólogo Paul Freston, ex-integrante da APROM. Tão logo formada a APROM, é lan-çado o “Caminhos”, informativo de oportunidades missionárias para es-tudantes e profissionais cristãos. Em uma edição de 1979, Caminhos traz doze projetos missionários da ABUB e dez oportunidades de atuação em outras missões. Por exemplo, passar o mês de férias na Ilha do Bananal - com ensino de música e jogos educativos para índios Karajás e viagem com o barco da Sociedade Bíblica do Brasil, equipado com instrumentos médicos, para atender a população ribeirinha no Rio Amazonas.

Alicerce: Teologia do servir

Arquivo da ABUB - Outubro de 1963

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De 1976 a 2006: projetos e ações

O projeto Castelão foi uma das maiores referências do trabalho de Diaconia da ABUB. Nascido em 1976 na cidade de Fortaleza (CE), pertenceu à ABUB até 2004 quando sua direção foi passada à ONG Projeto Social Semente da Igreja de Cristo na Aldeota. Sob coorde-nação da ABUB, o projeto manteve uma escola e uma creche (com alfabetização de crianças e adultos, espaço multidisciplinar, biblioteca, projeto de leitura, apoio escolar e também aconselhamento cristão). “Começamos em um galinheiro. Tivemos que limpar e pintar. As crianças não aprendiam por falta de alimentação. Faltava tudo, inclusive luz. Incluímos a alimentação e o aprendizado melhorou. Quando nos pediram o terreno tivemos que pedir empréstimos! Fechamos a compra de uma casinha sem qualquer dinheiro em conta. Fizemos pela fé porque as crianças não podiam ir para a rua. Acho que, além das pessoas atendi-das, participantes como eu foram os mais abençoados. Ali pudemos ver a realidade brasileira e sair do nosso isolacionismo cego e doente. Deus

nos formou e fortaleceu na luta pela justiça”, descreve José Miranda Filho, pioneiro no Projeto Castelão. “O Castelão foi uma benção para nós de Fortaleza que estávamos di-retamente envolvidos - bem como foi uma benção para os abuenses distantes de Fortaleza, através do modelo do exercício da Mordo-mia Cristã”, relata Everton Cord-eiro, líder da ABP Fortaleza e presi-dente do Projeto Castelão na dé-cada de 90 e, atualmente, voluntário. Como muitos abeuenses deixaram de apoiar com trabalho voluntário e doações, hoje o Projeto enfrenta dificuldades em se manter. “Fun-cionamos em um espaço alugado no bairro, pois tivemos que vender o prédio. Este local está muito abaixo do que tínhamos anteriormente. Temos menos funcionários e menos recursos financeiros, mas mantivemos o número de crianças (mais de 400)”, completa Cordeiro.

Se você quiser conhecer mais e con-tr ibuir, acesse o s i te da Prossica: http://projetoprossica.blogspot.com/

A Rede Fale é uma rede de defesa de direitos que atua com cartões postais Ore e Envie, man-ifestações públicas, atividades de formação e participação no Conselho Nacional de Juventude. “O Fale teve início a partir de atividades de grupos de ABU durante o Congresso da União Nacional de Estudantes (no final da década de 90 - em Goiânia e depois em Belo Horizonte), com a promoção de palestras, cele-brações e manifestações”, explica o sociólogo e coordenador geral da Rede Fale, Alexandre Brasil.Por ocasião da conferência mis-sionária de Urbana (realizada pelo movimento estudantil amer-icano) em dezembro de 2000, integrantes da ABU conheceram participantes da rede “Speak” (que foi criada por integrantes do movimento estudantil inglês). Percebendo a criatividade da id-eia, estes abeuenses começaram a formar um movimento bra-sileiro semelhante, centralizado na reflexão sobre temas latino-americanos. Os primeiros cartões foram criados e publicados nos anos de 2001 e 2002. Até este ano foram lançadas 17 campanhas diferentes.

Conheça mais e participe da Rede Fale: http://www.fale.org.br

REDE FALE

Alicerce: Teologia do servir

Projeto Castelão

Projeto missionário da ABUB em Fortaleza, conhecido como “Projeto Castelão”

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O exercício de refletir sobre o que significa desenvolver ações de serviço na ABUB, à luz de um rico histórico de envolvimento nesta área no movimento, é no mínimo instigante e emocionante. Ainda mais animador é o horizonte cheio de perspectivas para que essa agenda seja, além de resga-tada, reinventada. Não é menos importante, no entanto, estarmos cientes dos desafios e das possibi-lidades que esse esforço e desejo representam. Em primeiro lugar, penso que um aspecto fundamental quando falamos de Diaconia na ABUB é compreender que precisamos entender a Diaconia não como um departamento à parte, separado, como algo que institucionalmente resolve a abrangência do que en-tendemos ser a nossa compreen-são de missão. É necessário, sim, pensar a Diaconia como fruto da nossa concepção e entendimento de missão, como algo que está presente transversalmente - quase que implicitamente - em todas as nossas atividades, projetos e iniciativas. Daí surge a necessidade de integrar a ‘Diaconia’ no todo da formação do movimento. Trata-se não (apenas) de gerir projetos e de articular ações e parcerias, mas de caminhar para que no conjunto da capacitação do movimento estejamos enfatizando a integrali-

dade da missão, e sinalizando o que queremos e expressamos em nossa visão para os próximos anos: o de sermos estudantes (e profis-sionais) que, transformados pelo Evangelho, impactem a igreja, o mundo estudantil e a sociedade. Colocam-se, assim, os desafios de pensarmos a Diaconia de forma articulada com a nossa formação e de não reforçarmos em nossa estrutura qualquer resquício de dicotomias no nosso entendi-mento de missão. Além disso, é imprescindível ter como referên-cia sempre os grupos locais, que, na base, são quem de fato constitui o movimento ABUB. É necessário, portanto, pensar a Diaconia por meio de ações que façam sentido para os grupos locais da ABUB e, mais ainda, que reflitam a natureza estudantil do nosso movimento. Neste sentido, é necessário en-carar o fato de que estamos na uni-versidade, e de que precisamos di-alogar com esse contexto. A chave do diálogo pode nos ajudar nesse esforço de compreender como de-senvolver ações de Diaconia pau-tadas pela experiência estudantil. Além do diálogo, outro eixo que pode nortear o desafio de abraçar a integralidade da missão no movi-mento é o da participação. Podem-os entender isso tanto em termos de participação em estruturas institucionais (da universidade, de conselhos de políticas públicas

etc), em movimentos sociais, ou em grupos que promovem causas específicas, mas também, de forma mais genérica, como um ato pro-positivo e intencional de ‘estar no mundo’, buscando ser sal da terra e luz do mundo, como resposta ao chamado radical da encarnação. Por último, um aspecto que se configura como desafio e possibi-lidade para a Diaconia na ABUB são as parcerias com organizações, movimentos e grupos que estão presentes na universidade ou que desenvolvem atividades fora e para além dela. As parcerias permitem a existência de estruturas ágeis e ações conjuntas e representam o potencial de ampliar iniciativas e de agregar pessoas, grupos e projetos. Os desafios estão postos, as possibilidades estão abertas para nós, e o chamado está à porta; resta-nos, agora, responder.

Patrick Timmer Secretário Geral Adjunto da ABUB

Após exatos 30 anos do Con-gresso Missionário de Cu-ritiba, Viçosa (MG) recebeu em janeiro de 2006 o Missão: ‘Esperança Viva em Jesus’. Participaram mais de mil es-tudantes e profissionais de todo o

Brasil. A programação foi intensa com seminários, oficinas, con-ferências de temáticas diversas, além de apresentações artísticas. “Aprendi muito e cresci muito! Muitos conceitos mudaram! Muitas ideias novas. Uma vida

inteira na mão de Deus! ‘Eis me aqui, eu irei Senhor’”, citação da estudante Jessica Craveiro, na primeira edição de Respondendo ao Chamado.

Desafios da Diaconia Hoje

Giovanna AmaralAssessora de Comunicação da ABUB

MISSÃO 2006

Acampamento Mário Lago - Foto de C.Muniz , disponível em www.flickr.com

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“Juventude, política e religião”: projeto grava entrevistas com líderes protestantes das décadas de 1950 e 1960 O projeto “Juventude, política e religião: diálogos intergeracionais” iniciou no fim de maio a segunda etapa de gravações de entrevistas com protagonistas da atuação sócio-políti-ca evangélica nas décadas de 1950 e 1960. Até agora foram sete entrevis-tados: Zwínglio Dias, Carlos Cunha, David Malta, Anivaldo Padilha, Key Yuasa, Jether Ramalho e Joaquim Beato. O material será editado por jovens da atualidade envolvidos com movimentos e redes sociais e políti-cas. A proposta é resgatar a memória das relações entre política e cristian-ismo evangélico no Brasil e direcionar esta experiência para a motivação e formação da juventude religiosa que atua no contexto contemporâneo. O projeto prevê também a produção de documentário média-metragem que será disponibilizado para organi-zações de juventude religiosa.Para An-ivaldo Padilha, leigo metodista que at-uou no movimento ecumênico e estu-dantil nos anos 60 – foi preso e exilado do país durante “os anos de chumbo” –, o resgate da memória pode levar ao despertamento para novas formas de testemunho e espiritualidade. Ele enfatiza que “cada geração tem que buscar o seu caminho” e que o descon-hecimento sobre este período foi “de-liberadamente criado no sentido de um processo de amadurecimento na consciência social cristã evangélica”. O diretor do projeto, Marcus Vinicius de Matos, explica que “além de registrar estas experiências, a ini-ciativa propõe estabelecer um diálogo intergeracional entre os grupos evan-gélicos politicamente atuantes nos dois períodos. Assim, propomos que os jovens editem o conteúdo áudio-visual produzido durante as

gravações, de modo a criar a pos-sibilidade de apropriação da história destes ex-jovens”.As entrevistas são centradas na história de vida dos personagens e privilegiam temas como a Confederação Evangélica do Brasil – CEB e o setor de Responsa-bilidade Social surgido dentro dela; a Conferência do Nordeste, cujo título, “Cristo e o processo revolucionário brasileiro”, deu nome à primeira edição do projeto; relações entre religião e política, igreja e sociedade e a repercussão da ditadura militar dentro das igrejas institucionais. O projeto é realizado pelo ISER, Rede FALE e Movimento Ecumênico de Estudantes de Teologia (MEET), e apoiado pelo Conselho Latino-Americano de Igrejas (CL AI), World Student Christian Federation (WSCF) e Fundação Luterana de Diaconia.

Gravação de entrevista com Joaquim Beato e participação dos pesquisadores (da esq. para a dir.): Joaquim Beato, Sarah Nigri, Franqueline Terto, Flavio Conrado e Gedeon Alencar

O projeto “Juventude, política e religião...” começou em 2005, sob a coordenação dos pesquisa-dores Flávio Conrado dos Santos (Instituto de Estudos da Re-ligião- ISER),e Alexandre Brasil (Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ). Entre 2005 e 2006, além de pesquisas sobre o período abordado, foram co-letadas 16 horas de entrevistas. Em 2007, o projeto apresenta o primeiro material editado: o curta-metragem “Cristo e o Pro-cesso revolucionário brasileiro”, realizado com o depoimento do sociólogo Waldo César. O filme enfoca o evento conhecido como Conferência do Nordeste, que ocorre em Recife, em 1962, com o polêmico tema que nomeia o documentário.

Primeira etapa: 16 horas de entrevistas

Priscila Vieira e Souza Coordenadora de comunicação da Rede FALE

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Espiritualidade revolucionária: entre o Jesus do deserto e o Cristo da história A maior aspiração dos cristãos é conhecer a Deus. A meta das discipli-nas espirituais que desenvolvemos em nossa jornada é manter uma relação viva com o Pai, pois fomos criados por Ele e para Ele. Nas Escrituras, Davi é identificado como o “homem segun-do o coração de Deus”. Foi ele quem registrou o maior número de orações na Bíblia. O Salmo 15 nos coloca uma questão importante: quem são esses que desfrutam de tamanha intimi-

dade com Deus? Quem são os que desenvolvem esta espiritualidade excelente, tão desejada por todos? As respostas oferecidas no mercado da religião são muitas: há quem pense que esta condição requer a doação de gordas ofertas para líderes religi-osos ou para a execução de ‘grandes empreendimentos’ da fé. Outros se baseiam no cumprimento rigoroso de um cardápio de leis e normas para al-cançar a “pureza espiritual”. Há ainda uma vasta literatura que oferece mé-todos para aproximação do sagrado. É o próprio Davi, contudo, quem revela o perfil daqueles que desfru-tam da presença de Deus: homens e mulheres que andam com integ-ridade; promovem a justiça; cuja língua não é usada como arma para ferir o próximo; não participam de negócios enganosos e não permitem que o inocente seja injustiçado. Diante da agenda desafiadora do Salmo 15, percebemos que não podemos perder tempo com ‘mod-elos’ e ‘esquemas’. A espiritualidade não é uma questão de forma, mas de

essência. Jesus criticou severamente os fariseus que ofereciam o dízimo da hortelã, da arruda e das hortal-iças, mas eram incapazes de prati-car a justiça e a piedade (Lc. 11:42) A espiritualidade cristã, portanto, não se resume ao interesse pela vida interior. Deus nos chama a uma vida integrada, em que o que somos se traduz em ações em prol da manifes-tação do seu Reino e de sua justiça. Por isso, é fundamental integrar em nossa vida tanto o ‘Jesus do deserto’ quanto o ‘Cristo da história’, que se revelou na periferia do mundo, anun-ciando um Reino que inclui pobres,

cegos e excluídos (Lc. 4:18, 19). A verdadeira adoração é aquela que se inicia a sós com Deus e se perpetua na comunidade. É uma espiritualidade revolucionária, pois não se conforma com este sistema pecaminoso que transforma pessoas em coisas. Quem, afinal, conhece o Pai? Eis a resposta de Deus a Jeremias: “Julgou a causa do aflito e do necessitado, e por isso lhe sucedeu bem. Não é isto me conhecer? Diz o Senhor”. ( Jr. 22:16)

Caio Marçal Secretário de Mobilização da Rede FALE

“ SENHOR, quem habitará no teu tabernácuo? Quem

morará no teu santo monte”? Sl. 15:1