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Boletim do Instituto

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  • 1Boletim Informativo IBRASPP - Ano 02, n 03 - ISSN 2237-2520 - 2012 /02

    (In)Transcendncia, Medidas Cautelares Reais e o Cutelo de Sanson: Mudam-se os tempos (mas no)

    mudam-se as vontades?

    Os Mtiplos Processos Punitivos Brasileiros e a Conveno Americana de Direitos Humanos: uma necessria reflexo sobre a cumulao da ao civil

    de improbidade administrativa com a ao penal e o princpio do non bis in idem.

    A Conveno de So Jos da Costa Rica e o Direito (e garantia) ao Duplo Grau de Jurisdio

    Lei 12.694/2012: O juiz oculto e o desprezo s garantias processuais penais

    Caso Escher e outros vs. Brasil e sua importncia para o processo penal brasileiro

    Processo Penal e Direitos Humanos: notas sobre a convencionalizao do processo penal na perspectiva

    da Corte Interamericana de Direitos Humanos

    Artigo 282, 3, do Cdigo de Processo Penal: possibilidade de condenao

    do estado brasileiro na esfera internacional?

    Limites Emendatio libelli em face da garantia da defesa na CADH

    Informe de JurisprudnciaCorte Internacional de Direitos Humanos.

    Caso Escher vs. Brasil - Julgado em 06.07.2009.

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    EDITORIALHora de refletir!

    H exatos vinte anos o Brasil ratificava o texto da Conveno Interamericana de Direitos Humanos, Tratado firmado pelos pases membros da Organizao dos Estados Americanos na Conferncia Especializada de Direitos Humanos de 22 de novembro de 1969 que entrou em vigor em 18 de julho de 1978, comprometendo-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exerccio a toda pessoa que est sujeita sua juris-dio, sem qualquer discriminao.Dentre os denominados direitos civis e polti-cos, a Conveno fez expressa referncia ao direito vida e integridade pessoal, proibio da escravido e da servido, e no artigo 7 ao direito liberdade pessoal, estabelecendo a proibio da deteno e do encarceramento arbitrrio, o direito de recorrer, sem demora, a um juiz ou tribu-nal, para que este decida sobre a legalidade da priso, a proibio da priso por dvi-das, e o direito de toda pessoa presa ser conduzida, sem demora, presena de um juiz, de ser posta em liberdade, ainda que provisria e mediante condies, e de ser julgada em um prazo razovel.Em seu artigo 8, outrossim, a Conveno especifica uma srie de direitos e garantias mnimas que, combinados, conformam o denominado devido processo legal, ou justo processo, dentre os quais se desta-cam a publicidade dos atos processuais, o direito de ser julgado em um prazo razovel por um tribunal independen-te, imparcial e previamente determinado por lei; de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intrprete quando no compreenda o idioma do tribunal; de ser prvia e pormenorizadamente co-municado da acusao formulada; de ter assegurado o tempo necessrio e os meios adequados preparao de sua defesa; de defender-se pessoalmente ou por defen-sor de sua preferncia, com ele podendo se comunicar livremente; de ser assistido por defensor gratuitamente nomeado pelo Estado quando no puder constituir um particular ou no o fizer no prazo legal; de indicar e inquirir as testemunhas, e inclu-sive obter o seu comparecimento perante o tribunal; de no ser obrigado a depor

    contra si mesmo nem a se declarar culpa-do; de recorrer da sentena a um tribunal superior; de no ser coagido a confessar; e de no ser novamente processado por fato pelo qual tenha sido absolvido em sentena transitada em julgado.No obstante a amplitude dos direitos e garantias enunciados como uma espcie de denominador mnimo comum de um devido processo, passados j quarenta e trs anos da assinatura da Conveno e vinte anos da sua ratificao pelo Brasil, nem todos esses direitos e garantias foram efetivamente incorporados ao ordenamen-to jurdico brasileiro, e alguns, embora previstos na Constituio Federal ou no Cdigo de Processo Penal, no encontram aderncia na law in action, a demonstrar a significativa dificuldade seno resistn-cia dos legisladores e dos atores jurdi-cos no reconhecimento do processo penal como um efetivo instrumento de garantia. A identificar essa realidade, as recentes reformas do Cdigo de Processo Penal vieram ampliar a iniciativa probatria dos juzes, incrementando os riscos de con-taminao subjetiva do julgador.No tocante aos procedimentos, o interrogatrio foi realocado para o final da instruo, sem qualquer previso de apresentao do preso em flagrante autoridade judicial em um prazo razovel, como determina o artigo 7 da CIDH.Est disciplinado um juzo oral e contra-ditrio, mas na prtica os debates seguem sendo convertidos em memoriais e o princ-pio da identidade fsica do juiz permanece relegado ao plano terico.Tambm ao plano terico foi relegada a tentativa de alocar o juiz em uma posiode imparcialidade no curso da instruo criminal, diante da interpretao juris-prudencial dada ao alterado artigo 212 do CPP. Mas no s isso. Recente legislao veio possibilitar a identificao gentica de investigados e condenados por deli-tos hediondos ou praticados mediante violncia contra a pessoa, em absoluta desconsiderao garantia contra a au-to-incriminao. E tambm por lei or-dinria restou autorizada a instituio de um juizado colegiado

    de primeira instncia para proferir de-cises secretas em processos que tenham como objeto delitos praticados por or-ganizaes criminosas, vedada a publici-dade de eventuais votos divergentes, em afronta s garantias do juiz natural e da publicidade do processo penal. A tudo isso se soma, enfim, a ausncia de Defensoria Pblica em vrios Estados da Federao.Resulta, em sntese, desse contexto, uma espcie de repristinao de uma ideolo-gia passada, que tinha no Direito Penal e Processual Penal instrumentos a servio de uma poltica criminal expansionista e orientada garantia do sistema e do prprio Estado, em sentido exatamente oposto aos ideais da Conveno Americana de Direitos Humanos e incompatvel com a atual con-cepo democrtica dos Estados de Direi-to, tudo a exigir uma reflexo sobre os ru-mos do processo penal.O momento, pois, de celebrao dos vinte anos da ratificao da Conveno America-na de Direitos Humanos pelo Brasil, um momento de reflexo; no de comemo-rao. O cenrio desenhado pelos recentes passos reformistas est a indicar a necessi-dade de se marcar uma posio contrria a instrumentalizao meramente utilitarista do processo penal, e para tanto, nada mais adequado do que relembrar os termos do Tratado h vinte anos internalizado no ordenamento jurdico brasileiro, de cujo texto emana um mnimo de garantias in-violveis que, por um lado, exigem uma adequao das leis processuais penais aos padres humanitrios,e por outro, fun-cionam como um mecanismo de proibio do retrocesso.

    Scios-fundadores

    Diretoria/PresidenteVice-Presidente

    SecretrioTesoureira

    Departamento Editorial

    Departamento Cientfico

    Coordenadorias Regionais

    Conselho Consultivo

    Coordenadores ReginaisBahia

    Distrito FederalGois

    MaranhoMato Grosso do Sul

    RondniaSanta Catarina

    Rio de Janeiro

    Rio Grande do Sul

    Nereu Jos GiacomolliAndr Machado MayaNereu Jos GiacomolliAndr Machado MayaGuilherme Rodrigues AbroDenise Jacques MarcantonioAndr Machado MayaCristina Di GesuVitor Guazzelli PeruchinGuilherme Rodrigues AbroRodrigo Mariano da RochaFabiano Kingeski ClementelAlexandre Morais da RosaAlexandre WunderlichAury Lopes Jr.Fabrcio Dreyer de villa PozzebonFauzi Hassan ChoukrGeraldo PradoJacinto Nelson de Miranda CoutinhoLuis Gustavo GrandinettiCastanho de CarvalhoMaria Thesesa Rocha de Assis MouraMaurcio Zanoide de Moraes

    Marcelo Fernandez UraniEdimar Carmo da SilvaFelipe Vaz de QueirozThayara Silva Castelo BrancoRoberto Ferreira FilhoAlexandre MatzenbacherMaciel ColliDiogo Rudge MalanLeonardo Costa PaulaLuiz Fernando Pereira NetoSalah Hassan Khaled Jr.Bruno Siligman de Menezes

    Fundado em 02/03/2010

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    Estrutura e Organizao Editor-Chefe

    Assessoria Editorial

    Conselho Diretivo

    Conselho EditorialIntegrantes estrangeiros

    Integrantes nacionais

    Andr Machado MayaCleopas Isaias Santos,Denise Luz, Gabriel Divan,Marcelo SantAnnaAndr Machado Maya,Nereu Jos Giacomolli,Guilherme Rodrigues Abro,Giovani Agostini Saavedra

    Jun Montero Aroca - EspanhaTeresa Armenta Deu - EspanhaMara Flix Tena Aragn - EspanhaRaul Cervini - UruguaiRafael Hinojosa Segovia - EspanhaDaniel Obligado - ArgentinaRui Cunha Martins - PortugalAlexandre Morais da Rosa,Aury Lopes Jr.,Diogo Rudge Malan,Elmir Duclerc Ramalho JuniorFauzi Hassan Choukr,Giovani Agostini Saavedra,Gustavo H. R. I. Badar,Jos Antonio Paganella Boschi,Marcelo Caetano Guazzelli Peruchin,Marcelo Machado Bertolucci,Marcos Eberhardt,Marcos Vincius Boschi, Marta Saad.

    Normas de submisso

    Artigos devem ser inditos e obedecer linha editorial do peridico;Os artigos devem obedecer aos seguintes critrios:Arquivo em formato doc;Mximo de 7.500 caracteres com espao;Espaamento entre linhas simples, pargrafos justificados e fonte Minion Pro tamanho 11;Citaes em formato autor-data, conforme exemplo:(GIACOMOLLI, 2008, p. xx.)Notas explicativas de at 1.500 caracteres com espao, no final do texto.Referncias bibliogrficas ao final do texto.Os artigos devem ser remetidos em duas vias para o e-mail [email protected] at a data final indicada no editalde chamada de artigos, publicado no site do IBRAPP (www.ibraspp.com.br), constando na identificao do assunto a expresso artigo boletim. Ambos os arquivosdevem ser em formato doc, sendo um identificado e outro devidamente desidentificado, para fins de avaliao.Os artigos sero avaliados pelo mtodo do duplo blind peer review que possibilita a anlise dos trabalhos sem identificao, garantindo iseno para os autores e para os avaliadores

    EditoraPlanejamento Grfico

    Linha editorial

    Periodicidade

    AtlasColosseo Design Processo Penal, Direitos Humanos e DemocraciaSemestral

    Ricardo GloecknerDcio Alonso Gomes,Ney Fayet Junior,Odone Sanguin,Rafael Braude Canterji,Roberto Kant de Lima,

    Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo,Vera Regina Pereira de Andrade,Walter Bittar

    Conselho de Pareceristas

    Revista e Boletim IBRASPP

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    (In)Transcendncia, Medidas Cautelares Reais e o Cutelo de Sanson: Mudam-seos tempos (mas no) mudam-seas vontades? I-II

    Leonardo Costa de PaulaRodrigo Fernandes

    No ano de 1661, Nicolas Fouquet, vis-conde de Melun e de Vaux, foi superin-tendente das finanas do reino no incio do governo de Lus XIV. Foi processado porque em tese sua fortuna seria derivada de peculato na Frana. Fouquet foi conde-nado morte, mas, graas influncia de seus amigos, sua pena foi convertida em priso perptua. A narrativa epigrafada mostra que mais de trs sculos depois no intil a seguinte previso:

    Artigo 5 - Direito integridade pessoal;(...)3 A pena no pode passar da pessoa do de-linqente.Conveno Americana de Direitos Hu-manos.

    No dia 6 de novembro de 2012 tero se passado 20 anos da incorporao ao Di-reito brasileiro da Conveno America-

    na de Direitos Humanos, ratificada pelo Brasil em 7 de setembro de 1992, 23 anos aps sua elaborao, em 1969. As ltimas duas dcadas viram, contudo, concorrerem entre si tendncias contra-ditrias no mbito da concretizao dos direitos humanos. No plano do processo penal, a efetivao de direitos e garantias teve e tem nas tendncias expansivas e utilitaristas da poltica criminal podero-sas foras de conteno, que vm incre-mentando os j antigos traos de nossa tradio autoritria e inquisitiva.Por vezes, no embate dessas foras, a re-sistncia Constituio e aos tratados in-ternacionais de Direitos Humanos acaba por atingir mesmo garantias que so con-quistas de sculos passados, a tornar pan-tanoso o que j foi terreno firme.Ocorre que a Constituio da Repblica no convive bem com posies antidemo-crticas; e a partir da soluo para quem no se conforma lanar mo de argu-mentos retricos de justificao, em ver-dade logo destitudos (ou destituveis) se se tiver a boa vontade de no ceder ten-tao de trilhar o caminho de vilipndio da Constituio. (COUTINHO, 2009).Um dos pontos mais sensveis desse cho-que exatamente o das medidas caute-lares pessoais e reais, que seguem a trilha expansionista do punitivismo.A evoluo da espetacularizao das prises e constries patrimoniais, no bojo da pirotecnia das megaoperaes policiais, com seus nomes marcantes (...) para alm das sirenes e algemas (LOPES JR., 2012, p. 903), um sinal desse emergencialis-

    mo penal de que o gigantismo processual, aponta Ferrajoli, um componente que tem representado, por sua vez, um terre-no propcio para qualquer tipo de abuso possvel (2004, p. 823). justamente no contexto de persecuo a novas condutas e pessoas, mormente aquelas relacionadas ao exerccio da atividade econmica e empresarial, que se insere o incremento das cautelares reais, cuja sistematicidade, no decorrer do sculo XX, sempre foi causa de confuso. Nas palavras de Gustavo Badar (2007, p. 13/14), nos ltimos anos, cresceu mui-to a utilizao das esquecidas medidas cautelares patrimoniais que, at bem pouco tempo, no tinham relevncia prtica. Procurou-se atingir criminosos e organizaes criminosas no fim espe-cfico de suas atividades: o lucro.

    Os novos contornos dados ao seques-tro de bens, hipoteca legal e mesmo s apreenses, cada vez mais amplos e abertos no vm desacompanhados de restries e relativizaes quase sempre incompatveis com as bases do sistema de justia penal constitucionalmente consagrado. Medidas que, cada vez mais, buscam, via decisionismo judicial, atingir indiscriminada-mente bens dos investigados ou acusados, acabam por esfacelar barreiras como as da legalidade e culpabilidade, comprometen-do, tal qual no caso de Fouquet, no sculo XVII, a intranscendncia da pena.Transportado para o contexto de constries patrimoniais, seu exemplo seria incomum nas buscas e apreenses realizadas em operaes policiais no Brasil atual?A pessoalidade recebeu tratamento ex-presso no Pacto de So Jos da Costa Rica. De fato, a definio j era clara na Constituio da Repblica de 1988, segun-do a qual nenhuma pena passar da pes-soa do condenado, podendo a obrigao de reparar o dano e a decretao do per-dimento de bens ser, nos termos da lei, es-tendidas aos sucessores e contra eles exe-cutadas, at o limite do valor do patrimnio transferido.O expansionismo do Estado Penal tor-na, nesse contexto, correta a advertncia de Nilo Batista et alli (2006, p. 132/133) de que o estado de polcia estende a responsabilidade a todos que cercam o infrator, rompendo a superao, anotada por Maier (2004, p. 89), de la venganza de sangre del ofendido o sus parientes [que] se logr, tras una evolucin secular, mediante la creacin del poder penal del Estado.O pano de fundo se forma para transpor ao Processo Penal o que corolrio do Direito Penal, ou seja, o princpio da in-transcendncia deve se projetar sobre as cautelares no processo penal, evitando um mal maior que a prpria pena a ser apli-cada, com a punio, sem processo, do crculo de pessoas que envolve o acusado.Como bem aponta Aury Lopes Jr. (Op. Cit.), no processo penal as medidas as-securatrias buscam a tutela do processo (assegurando a prova) e, ainda, desem-

    Leonardo Costa de PaulaCoordenador Regional do IBRASPP, Mestreem Direito Pblico pela UNESA, Professorde Direito Processual Penal da UCAM, pesquisador do Grupo de Estudo Matrizes Autoritrias do Cdigo de Processo Penal(FND-UFRJ), advogado criminal.

    Rodrigo FernandesEspecialista em Direito Penal Econmicoe Europeu pelo IDPEE-FDUC, Bacharelem Cincias Jurdicas e Sociais pela FND-UFRJ, pesquisador do Grupo de Estudo Matrizes Autoritrias do Cdigo de Processo Penal(FND-UFRJ), advogado criminal.

    Na solido em que passou seus ltimos anos de vida, recordando Fausto, o prestgio e a adulao que o cercavam quando era todo-poderoso, teve pelo menos o consolo de saber que um de seus protegidos,o escritor Paul Pellisson, jamais o abandonou, levando to longe a sua solidariedade a ele que o monarca o enviou para a Bastilha, onde passou mais de quatro anos. E l tambm foram presos o filho, o mdico, o joalheiro e o criado de quarto de Fouquet, sem culpa nem julgamento.(Danillo Nunes)

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    Referncias:

    BADAR, Gustavo Henrique R. I.A Lei n 11.435, de 28.12.2006 e o novo arresto no Cdigo de processo penal. Boletim IBCCRIM, So Paulo, ano 14, n 172, p. 13-14, mar. 2007.

    COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda.A absurda relativizao de princpios e normas: razoabilidadee proporcionalidade. Texto apresentado no Encontro do Grupo Cain, realizado nos dias 12 e 13 de fevereiro de 2009, Rio de Janeiro.

    LOPES JR. Aury.Direito processual penal e sua conformidade constitucional.So Paulo: Saraiva, 2012.

    FERRAJOLI, Luigi.Derecho y razn: teoria del garantismo penal. 6. ed.Madrid: Trotta, 2004.

    MAIER, Julio B. J.Derecho procesal penal: fundamentos. 2. ed.Buenos Aires: Del Puerto, 2004, p. 89.

    NUNES, Danillo.A Bastilha e a revoluo. Rio de Janeiro: Record,1989, p. 20 e 21.

    ZAFFARONI, E. Ral; BATISTA, Nilo, ALAGIA; Alejandro; SLOKAR, Alejandro.Direito Penal Brasileiro: primeiro volume Teoria geraldo Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan, 3. ed. 2006.

    penham uma importante funo de tu-tela do interesse econmico da vtima. No h simplicidade no atendimento aos requisitos para a relativizao de direitos fundamentais operada pelas cautelares, muito embora a tendncia seja do uso de argumentos retricos com base na pro-porcionalidade (COUTINHO, Op. Cit.).Apesar de nas cautelares reais o periculum libertatis da medida assecuratria receber um referencial conceitual um pouco dis-tinto daquele que norteia o sistema das cautelares pessoais, j que a liberdade a de disponibilidade do bem, o princpio da pessoalidade condiciona, tanto quanto na priso, a aplicabilidade de qualquer restrio.Se a pena no pode passar da pessoa do condenado e a perda de bens em favor da Unio um dos efeitos da condenao, o acautelamento de coisas no pode, sob nenhuma hiptese, atingir a liberdade pessoal e o patrimnio dos familiares do ru. Este um dos eixos axiolgicos do Direito Penal moderno e, no por outra razo, consagrado pela Constituio e pelos tratados de Direitos Humanos de que o Brasil signatrio, dentre os quais se destaca o art. 5, 3, do Pacto de So Jos da Costa Rica, incorporado ao direito in-terno pelo Decreto 678/92.A luta pela aproximao democrtica e pela efetivao dos direitos humanos passa, em tempos de estrondo miditico de megaoperaes e da sedutora expanso do Estado Penal, tambm, pela trincheira das garantias.Que no seja preciso se chegar ao aniversrio de 40 anos da CADH para que se possa celebrar a superao, pela defesa do hu-manismo, da vingana e do escancara-mento da violncia estatal, de modo que ao patbulo de Sanson no sejam arrasta-dos os familiares e amigos do acusado ain-da durante o processo penal, como ocor-reu na suspensa execuo de Fouquet.

    Notas:I. Referncia ao conhecido poema de CAMES,Luis de. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.II. Texto confeccionado para o 3 Boletim semestraldo IBRASPP com foco na Conveno Americanade Direitos Humanos.

    Os mltiplos Processos Punitivos Brasileiros e a Conveno Americana de Direitos HumanosUma necessria reflexo sobre a cumulao da ao civilde improbidade administrativa com a ao penal e o princpiodo non bis in idem.

    Denise Luz

    Quem se v sob suspeita de ter praticado ilcito contra a Administrao Pblica no Brasil fica submetido a uma srie de procedimentos investigatrios e sancionadores, cumulativos e independentes entre si, nas distintas esferas, civil, penal e administrativa.O presente ensaio avalia a legitimidade da cumulao do processo para apurar ato de improbidade administrativa (Lei n 8.429/92) com o processo penal sobre os mesmos fatose contra os mesmos sujeitos.Essa delimitao do contedo da abordagem decorre do fato de que so esses os veculos processuais existentes no Direito brasileiro que podem ter como consequncia punitivaa suspenso dos direitos polticos (art. 15, III, e V, CF).A suspenso de direitos pena nos termos do artigo 5, XLVI, e, da CF, o que inviabiliza negar o carter sancionador da ao de im-probidade administrativa em que pese seja processada na esfera cvel (arts. 17 e 18 da Lei 8.429/92) e tenha tambm objetivo reparatrio. Assim, o problema que se coloca se a opo legislativa de submeter o acusado a ambos os processos, para julgamento dos mesmos fatos, viola a proibio de bis in idem ou de double jeopardy.A resposta dogmtica adotada no Brasil a da independncia das instncias. No caso es-pecfico do ilcito em voga, a cumulao de processos e sanes vem fundamentada na parte final do 4 do art. 37 da CF que prev a responsabilidade por atos de improbidade sem prejuzo da ao penal cabvel.

    O Pacto de So Josda Costa Rica, diferentemente do Convnio Europeu sobre Direitos Humanos que probea duplicidade apenasde sanes criminais, d grande amplitude clusulado non bis in idem.

    Denise LuzMestre em Cincias Criminais (PUCRS)Especialista em Direito do Estado (UFRGS)Advogada

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    Com base nesse dispositivo, est consagrada, na doutrina e na jurisprudncia, a possibi-lidade de responsabilizao pelas duas vias. O STF decidiu, na Reclamao 2138, que as condutas da Lei n 8.429/92 so tambm tipificadas na Lei n 1.079/50, como crimes de responsabilidade, e que, nos dois casos, esto submetidas ao mesmo regime jurdico, o poltico-administrativo. Por isso, as autori-dades submetidas Lei n 1.079/50 no po-dem ser responsabilizadas pela Lei n 8.429/92 em razo da proibio de bis in idem. O STF deixou assentado que a identidade dos ilcitos de improbidade administrativa, para fins de incidncia do princpio do non bis in idem, apenas com os crimes de responsabilidade (Lei n 1.079/50) e no com os crimes comuns. Isso porque a lei especial - Lei n 1.079/50, regulamentadora do artigo 85, V, da CF, prevaleceria sobre a lei geral Lei n 8.429/92, regulamentadora do artigo 37, 4, da CF, ambas submetidas ao mesmo regime jurdico.Todavia, quando os atos definidos como de improbidade administrativa coincidem com delitos comuns, h incidncia de dois regimes jurdicos distintos, o poltico-administrativo e o penal, vigorando a regra da independn-cia das instncias e fazendo com que no se aplique em favor do acusado a vedao de bis in idem ou de double jeopardy.Na ADIN 2.797, o STF julgou inconstitucional a Lei n1.0628/2002 que acrescentou os par-grafos 1 e 2 ao art. 84 do CPP, por entender que a Lei atacada equipararia a ao de im-probidade administrativa ao penal. Em que pese o STF tenha reconhecido que a ao de improbidade tem forte contedo penal, decidiu que se trata de uma ao cvel, sub-metida s regras gerais do direito processual civil e no do processual penal. Nisso residi-ria a distino entre os regimes e afastaria a alegao de dupla punio pelo mesmo fato, j que o princpio do non bis in idem probe a aplicao cumulativa somente de penas de mesma natureza.Ocorre que os julgamentos do STF passaram ao largo das normas estabelecidas na Con-veno Americana de Direitos Humanos (CADH) a qual passou a integrar o Direito interno por meio do Decreto 628/92. O Pacto de So Jos da Costa Rica, diferentemente do

    Convnio Europeu sobre Direitos Humanos que probe a duplicidade apenas de sanes criminais, d grande amplitude clusula do non bis in idem. Aquele probe que o mesmo acusado seja processado ou punido mais de uma vez pelos mesmos fatos, sem limitar a vedao identidade de regimes jurdicos.Esse entendimento restou manifesto pela Corte Interamericana de Direitos Hu-manos (CIDH) no julgamento do caso Loayza Tamayo v. Peru:

    el principio de non bis in idem est contemplado en el artculo 8.4 de la Convencin en los siguientes trminos: 4 El inculpado absuelto por una sentencia firme no podr ser sometido a nue-vo juicio por los mismos hechos. Este principio busca proteger los derechos de los individuos que han sido procesados por determinados hechos para que no vuelvan a ser enjuiciados por los mismos hechos. A diferencia de la fr-mula utilizada por otros instrumentos inter-nacionales de proteccin de derechos humanos (por ejemplo, el Pacto Internacional de Dere-chos Civiles y Polticos de las Naciones Unidas, artculo 14.7, que se refiere al mismo delito), la Convencin Americana utiliza la expresin los mismos hechos, que es un trmino ms amplio en beneficio de la vctima.

    O Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) tambm afirmou, no caso Sergey Zolotukhin v. Russia, que a CADH d maior amplitude Clusula do non bis in idem do que a Conveno Europeia, dispensando es-foro argumentativo decisrio para identi-ficar o carcter substancial da sano ou do processo, se penal ou no.Essa interpretao, que tanto da CIDH, quanto do TEDH, dever ter efeitos para impedir a convivncia de dois sistemas de punio no direito brasileiro, um pela impro-bidade administrativa e outro pela via penal. Sobretudo, porque a CADH, no art. 23, item 2, s admite restrio aos direitos polticos pela via da condenao criminal, aplicada em um processo penal com todas as garan-tias que lhe so prprias. Esses so aspectos que o STF ter que, em algum momento, enfrentar, tendo em vista as restries das normas supranacionais da CADH, independente de consider-las de

    estatura constitucional - para derrogar a par-te final do art. 37, 4, e o art. 15, V, ambos da CF, ou apenas supralegal - para tornar sem efeito o artigo 12 da Lei 8429/92 na parte em que estipula a pena de suspenso dos direi-tos polticos (Cf. STF. Julgamento conjunto do RExt 349703, do HC 87585, HC 92566 e RExt. 466343).

    Referncias:

    BRASIL - Supremo Tribunal FederalAo Direta de Inconstitucionalidade n 2797-2-DF. Relator:Min. Seplveda Pertence. Plenrio, Deciso por Maioria, Braslia, DF, 15/09/2005.Disponvel em: www.stf.jus.br. Acesso em: 02 ago. 2011.

    BRASIL - Supremo Tribunal FederalReclamao n 2.138-6-DF. Relator Originrio: Min. Nelson Jobim. Relator para o Acrdo: Ministro Gilmar Mendes. Plenrio, Deciso por Maioria, Braslia, DF, 08/08/2007.Disponvel em: www.stf.jus.br. Acesso em: 02 ago. 2011.

    BRASIL - Supremo Tribunal FederalJulgamento conjunto do Recurso Extraordinrio 349.703, do Habeas Corpus 87.585, Habeas Corpus 92.566 e Recurso Extraordinrio 466343, Relator: Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2008, DJe 05/06/2009.Disponvel em www.stf.jus.br. Acesso em 29/12/2011.

    COUNCIL OF EUROPEEuropean Court Of Human Rights. Case of Sergey Zolotukin versus Russia (Application no. 14939/03) Grand Chamber. Strasbourg, Judgment of 10 February 2009.Disponvel em: http://cmiskp.echr.coe.int/tkp197/view.Acesso em 09/02/2012.

    COUNCIL OF EUROPE. European Court Of Human Rights. Case of Sud Fondi versus Italy (Application no 75909/01). Second Section. Strasbourg, judgment of 20 january, 2009. Disponvel em: < http://www.echr.coe.int>. Acesso em 22/08/2011.

    ORGANIZAO DOS ESTADOS AMERICANOSCorte Interamericana de Direitos Humanos. Caso Loayza Tamayo v. Peru. Sentena de Mrito. So Jos, julgado em 17de setembro de 1997.Disponvel em: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_33_esp.pdf. Acesso em: 15/08/2011.

    Notas

    I. Cf. Art. 8.4 da Conveno Americana dos Direitos Humanos: O acusado absolvido por sentena passada em julgado no poder ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos. Cf. art. 4, 1, da Emenda n 07 ao Convnio Europeu de Direitos Humanos: No one shall be liable to be tried or punished again in criminal proceedings under the jurisdiction of the same State for an offence for which he has already been finally acquitted or convicted in accordance with the law and penal procedure of that State.(...). (grifou-se)II. O prprio TEDH tem firme que a classificao interna de cada pas quanto natureza do ilcito meramente formal e no o mais importante, porque possvel que a adoo do rtulo de ilcito civil ou administrativo sirva apenas para afastar garantias estabelecidas pelo Convnio Europeu exclusivamente para processos penais. Por isso, o TEDH entende que o termo offence no texto do Protocolo n 7, art. 4, precisa ser interpretado e aplicado de modo a garantir efetividade prtica aos direitos, no apenas terica ou ilusria. Assim, mesmo que um ilcito seja classificado pela legislao do Estado signatrio como no-penal, a Corte de Estrasburgo tem aplicado o princpio do non bis in idem para impedir que o mesmo acusado seja submetido a um segundo processo sancionador para apurar as mesmas ofensas, ainda que sob regimes jurdicos distintos. Vide o caso Sud Fondi v. Italy.

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    A Conveno de So Jos da Costa Rica e o Direito (e garantia) ao Duplo Grau de Jurisdio

    Ingo Wolfgang Sarlet

    As relaes entre os tratados internacionais de Direitos Humanos (doravante DH) e a Constituio Federal de 1988 (doravante CF) seguem ocupando um espao de destaque na extensa pauta dos temas de atualidade e repercusso na esfera doutrinria e jurispru-dencial brasileira. Tendo em conta o mote do presente boletim, iremos centrar a nossa ateno no exemplo do direito-garantia a um duplo grau de jurisdio, que, pelo menos em matria criminal, expressamente assegura-do em convenes internacionais ratificadas pelo Brasil (v. artigo 8, n. 2, h, do Pacto de So Jos da Costa RicaI e art. 14, n. 5, do Pacto In-ternacional de Direitos Civis e PolticosII). Quanto a tal tpico, de se lembrar que o STF, que numa primeira fase mesmo aps o advento da CF e a ratificao dos tratados de DH referidos, vinha entendendo que o siste-ma jurdico brasileiro no agasalha, seja de modo implcito, seja mediante recurso aos documentos internacionais, a garantia de a pessoa condenada em esfera criminal recor-rer da deciso para uma instncia superior e independenteIII, passou, mais recentemente - pelo menos de acordo com o que se pode ex-trair de alguns julgados - a admitir um direito ao duplo grau de jurisdio em matria criminal, inclusive mediante invocao dos tratados in-ternacionais de DH que contemplam expres-samente tal direitoIV. J no campo da literatura, embora a relativamente frequente o ponto de vista de que, independentemente de sua previso em tratado internacional de DH, o direito-garantia do duplo grau de jurisdio assume a feio de direito implicitamente consagrado pela CFV, no esta a linha argu-mentativa que aqui estamos a trilhar.

    Tomando como refernciaa hiptese do julgamentoem Instncia nica no mbitoda assim chamada competnciaoriginria dos Tribunais, de se lembrar que no a existncia de excees e limites a um direito fundamental [...] que desnaturam o seu reconhecimento, eficciae aplicabilidade como tal.

    Ingo Wolfgang SarletDoutor e Ps-Doutor em Direitopela Universidade de Munique, Alemanha. Professor Titular da Faculdadede Direito e dos Programas de Mestradoe Doutorado em Cincias Criminaise Direito da PUCRS, Juiz de Direitono RS, autor das obras A Eficciados Direitos Fundamentais (11. ed.)e Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituio Federalde 1988 (9. ed.), ambas editadas pelaEditora Livraria do Advogado,Porto Alegre.

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    LITERATURA PENAL

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    teo de um direito fundamental j consagra-do, expressa ou implicitamente pela CF, em sinergia com as exigncias dos tratados de DH ratificados pelo Brasil e que dispem sobre a matria. Assim, basta atentar para a dico do artigo 14, 5, do Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos (toda pessoa cul-pada por um delito ter o direito de recorrer da sentena condenatria e da pena para uma instncia superior, em conformidade com a lei) e do artigo 8, h, da Conveno de So Jos da Costa Rica, de acordo com o qual assegurado o direito de recorrer da sentena a juiz ou tribunal superior. De acordo com a normativa internacional, que integra o catlogo nacional dos direitos fundamentais, a essncia, ou o que se poder designar de ncleo essencial do direito ao duplo grau de jurisdio, est precisamente na possibilidade de recorrer, ainda mais em caso de conde-nao criminal, a um Juiz ou Tribunal Supri-or. Ainda que no se trate de direito imune a alguma restrio, tais restries, ainda mais quando no expressamente previstas no texto constitucional. A previso de competncias originrias e/ou falta de previso de recursos, seja na CF, seja nas leis, no constitui justifica-tiva constitucionalmente legtima para emba-sar uma restrio, mormente quando invasiva do ncleo essencial. Dito de outro modo, ou se assegura em matria criminal, com ainda maior nfase em se tratando de imposio de pena de priso, um recurso a autoridade judiciria superior, capaz de rever a deciso recorrida, ou no se estar assegurando o di-reito humano e fundamental ao duplo grau de jurisdio. luz do exposto, no concernente ao poder-de-ver de realizar um controle de convencional-idade, convm lembrar que este se d tanto no mbito de um controle difuso quanto pela via de um controle abstrato e concen-trado, tal como propem Valrio MazzuoliVIII e Luiz Guilherme MarinoniIX, de modo que no apenas o STF (ainda que a este caiba dar o passo mais relevante), mas de modo geral todos os Juzes e Tribunais so convocados a contribuir com o reconhecimento e efic-cia do direito ao duplo grau de jurisdio no direito brasileiro. Nesse sentido, se ver-dade que ao longo dos ltimos anos o STF pas-sou a reconhecer um direito ao duplo grau

    de jurisdio, segue problemtica a questo da supresso de tal possibilidade quando dos julgamentos em instncia originria nos Tribunais. Que a ausncia de recurso espe-cfico mediante expressa previso legal no constitui argumento suficiente a impedir que se atribua ao direito de recorrer em matria criminal sua eficcia, j foi demonstrado pelo prprio STF em outras hipteses que envolvem a omisso legislativa. Alm disso, poderia o STF, como igualmente o praticou em outras oportunidades, apelar ao legislador para corrigir o problema, sem prejuzo de al-ternativas disponveis, como, por exemplo, assegurar, a requerimento da parte, a remes-sa, para efeitos de apreciao das razes re-cursais, ao Tribunal imediatamente superior. De todo modo, no se trata aqui de explorar todas as possibilidades do tema, mas apenas enfatizar a sua relevncia e a necessidade de seguir discutindo a matria, ainda mais se a inteno for a de que a ordem jurdica interna e o sistema internacional dos DH estejam em harmonia.

    Tomando como referncia a hiptese do julgamento em Instncia nica no mbito da assim chamada competncia originria dos Tribunais, de se lembrar que no a existncia de excees e limites a um direito fundamental (basta remeter aqui ao exemplo da proibio da pena de morte e mesmo do manejo do habeas corpus no caso de punio aplicada na esfera militar) que desnaturam o seu reconhecimento, eficcia e aplicabili-dade como tal. Por outro lado, a ausncia de previso de modalidade recursal especfica no sistema processual infraconstitucional e mesmo o silncio quanto a uma competncia especfica para sua apreciao no necessaria-mente impediria o STF de neste caso tambm, a exemplo do que ocorreu com o mandado de injuno e o prprio habeas data, de recorrer a institutos j consagrados no ordenamento nacional, apelando ao legislador para corrigir as lacunas. No se pode olvidar, neste con-texto, que tambm a garantia do duplo grau de jurisdio est, por fora do disposto no artigo 5, pargrafo 1, da CF, sujeita ao re-gime da aplicabilidade imediata das normas de direitos fundamentais, ainda que se possa discutir a respeito de seu significado concreto em cada caso. Precisamente no que diz respeito ao papel a ser exercido pelos tratados internacionais de DH incorporados ao direito interno, cumpre anotar que mesmo a tese da hierarquia supra-legal dos tratados de DH em relao a toda e qualquer norma legal ou infralegal interna - tese atualmente consagrada pelo STF - no afasta (pelo contrrio, impe) o reconheci-mento, em matria criminal, de um direito ao duplo grau de jurisdio. Cumpre lembrar, na esteira do que j foi referido, que o STF, ao decidir no sentido da proscrio mediante um efeito paralisante da eficcia de toda e qualquer hiptese legal prevendo a priso civil do depositrio infiel, seja ela criada antes da aprovao do tratado, seja ela introduzida posteriormenteVI,realizou, pela primeira vez, aquilo que Valrio de Oliveira Mazzuoli bem designou de um controle de convencionali-dadeVII. Ora, no mbito de tal controle, no apenas se trata de afastar a aplicao de normativa infraconstitucional em sentido contrrio, mas tambm de interpretar o mbito de pro-

    NotasI. Decreto Legislativo n 27/1992 e Decreto Executivo no 678/1992, que aprova e promulga a Conveno Americana sobre Direitos Humanos ou Pacto de So Jos da Costa Rica.II. Decreto Legislativo n 226/1991 e Decreto Executivo no 592/1992, que aprova e promulga o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polticos.III. V., em carter meramente ilustrativo, o AI 513044 AgR/SP, Relator Ministro Carlos Velloso, julgamento em 22.02.2005, DJ 08.04.2005, no sentido de que no h, no ordenamento jurdico-constitucional brasileiro, a garantia constitucional do duplo grau de jurisdio.IV. V., por exemplo, o AI 601832 AgR/SP, Relator Ministro Joaquim Barbosa, julgamento em 17.03.2009, Segunda Turma, DJ 02.04.2009, que, embora em tese admitindo o duplo grau de jurisdio em matria penal, sustentou no se tratar de princpio absoluto, visto se tratar, no caso julgado, de competncia originria do Tribunal Regional Federal (condenao pela prtica do crime previsto no art. 288 do Cdigo Penal, crime de quadrilha, e consequente perda do cargo de Juiz Federal), sendo

    taxativas as hipteses recursais constantes Constituio, dentre outros fundamentos esgrimidos pelo Relator. Reconhecendo o duplo grau de jurisdio em matria penal, em combinao com o direito de apelar em liberdade, v. ainda o HC 88420/PR, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento em 17.04.2007.V. Cf. o nosso Valor de alada e limitao do acesso ao duplo grau de jurisdio: problematizao em nvel constitucional luz de um conceito material de direitos fundamentais, in: Revista da AJURIS (Associao dos Juzes do Rio Grande do Sul, n 66, 1996, p. 85 e ss. Por ltimo v. o ensaio de Rubens R.R. Casara, O Direito ao Duplo Grau de Jurisdio e a Constituio: Em busca de uma compreenso adequada, in: Geraldo Prado e Diogo Malan (Coord.), Processo Penal e Democracia. Estudos em Homenagem aos 20 Anos da Constituio da Repblica de 1988, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 495-510.VI. Cf. especialmente o voto do Ministro Gilmar Mendes no RE 466.343, Rel. Ministro Cezar Peluso, publicado no DJ em 05.06.2009.VII. Cf., por todos, MAZZUOLI, Valrio de Oliveira, O Controle Jurisdicional de Constitucionalidade das Leis, 2. ed., So Paulo: RT, 2011. VIII. Cf. MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pblico, op. cit., p. 394 e ss.IX. Cf. MARINONI, Luiz Guilherme, Controle de Con-vencionalidade, in: SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional, So Paulo: RT, 2012, p. 1187 e ss.

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    Lei 12.694/2012: O juiz oculto e o desprezo s garantias processuais penais

    Andr Machado Maya

    Compreendido o processo penal como um instrumento com dupla finalidade, pois im-prescindvel concretizao da pretenso acusatria estatal e ao exerccio do direito de defesa por parte do acusado, I no propria-mente novidade a tenso que nele se verifica entre o interesse pblico no esclarecimento dos fatos e na consequente concretizao da potestade punitiva, por um lado, e o interesse individual do ru em no ser declarado culpado, por outro. Alis, foi justa-mente em razo dessa tenso resultante da relao Estado indivduo que se desen-volveram as mais variadas normas de garantia dos direitos fundamentais orientadas a limi-tar o exerccio do poder estatal (SCARANCE FERNANDES, 2005, p. 17), dentre as quais merece destaque a Declarao Americana de Direitos Humanos, por seu especfico catlo-go de direitos e garantias judiciais.Tambm no constitui novidade, no atual contexto democrtico, que a legitimidade da persecuo penal e, portanto, das decises judiciais, sejam condenatrias ou absolutrias, depende invariavelmente da irrestrita ob-servncia das garantias individuais estabele-cidas na legislao interna Leis Ordinrias e Constituio Federal , e nos diplomas inter-nacionais Conveno Americana de Direi-tos Humanos , nesse especfico caso diante da assinatura e da ratificao desse Tratado pelo Brasil e da previso constitucional da sua validade perante o direito interno como normas materialmente constitucionais (Ar-tigo 5, 2 e 3, CF/1988). A propsito, ensina Scarance Fernandes que um processo penal eficiente aquele que em tempo ra-zovel, permitir atingir um resultado justo, seja possibilitando aos rgos da persecuo penal agir para fazer atuar o direito punitivo,

    seja assegurando ao acusado as garantias do processo legal. (2008, p. 10). Recentes alteraes legislativas, no obstante, tm conformado uma tendncia utilitarista do processo penal, em sentido oposto ao pre-conizado pela CIDH e em ntido desprezo s garantias processuais penais, seja aumentan-do o poder de iniciativa probatria dos juzes, seja relativizando exageradamente as hipte-ses de nulidade, seja criando a possibilidade de ser o suspeito obrigado, por determinao judicial, a fornecer material gentico para sua identificao (Lei 12.654/12). Exemplo mais recente dessa realidade a Lei 12.694/12 que, pautada em especfica casustica, autoriza a formao excepcional e discricionria de um juizado colegiado para a prtica de quaisquer atos processuais referentes a processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por organizaes criminosas (art. 1, caput), e mais: permite a reunio secre-ta de seus integrantes ( 4) e a publicidade apenas parcial de suas decises, pois vedada a referncia a voto divergente de qualquer dos seus membros ( 6). Como compatibi-lizar tal procedimento com as garantias do juiz natural, da ampla defesa e da publicidade do processo e das decises judiciais?A garantia do juiz natural j h tempos deixou de ser compreendida como de natureza es-tritamente individual da parte para ser enfocada como uma garantia pblica da jurisdio propriamente dita, diretamente relacionada com a legitimidade da ativi-dade jurisdicional; um princpio universal, fundante do Estado Democrtico de Direito (LOPES JR., 2012, 449). No Brasil, est rela-cionada proibio dos tribunais de exceo e consagra a garantia do juzo pr-determi-nado por lei, de modo que ningum pode ser julgado por juzo estabelecido aps o fato delituoso, evitando com isso a criao de rgos para julgar, de maneira excep-cional, determinadas pessoas ou matrias (SCARANCE FERNANDES, 2005, p. 135). Pois a Lei 12.694/12 autoriza o magistra-do competente para o julgamento do feito, quando identificar circunstncias que pos-sam acarretar risco sua integridade fsica, a decidir pela formao de um colegiado com-posto por juzes competentes para matria penal e em exerccio no primeiro grau de

    jurisdio; um juizado formado posterior-mente ao fato e para a tomada de uma espe-cfica deciso, em uma espcie de repartio da competncia fixada previamente e, por consequncia, do prprio juiz natural; uma atribuio ex post de competncia a rgos jurisdicionais originariamente incompe-tentes, algo inusitado no sistema proces-sual brasileiro por estabelecer uma regra de competncia opcional, no cogente, segun-do a qual diferentes colegiados podem ser formados no curso de um nico processo. Enfim, uma indita e flagrantemente in-constitucional relativizao da garantia do juiz natural.No suficiente isso, o pargrafo 4 do artigo 1 da citada Lei autoriza que as reunies do colegiado sejam secretas sempre que a publici-dade possa resultar prejuzo eficcia da de-ciso judicial. A CIDH, no entanto, assegura a publicidade do processo penal, excetuados unicamente os casos em que a sua limitao seja necessria para preservar os interesses da justia (art. 8.5). Mas a reduo da publici-dade autorizada pela CIDH no se confunde com o segredo. Diferentes so as situaes de restrio da publicidade dos atos processuais em relao ao ru e a terceiros, sociedade ou imprensa. A restrio autorizada pela CIDH est limitada a esse aspecto externo ao processo, quando necessria para preservar os interesses da justia, como nos casos em que, por exemplo, para evitar tumultos diante de casos de grande repercusso, proibida a entrada de pessoas estranhas ao processo na sala de julgamento [hiptese essa prevista tambm na CF/1988, em seu artigo 93, IX]. O segredo em relao ao prprio acusado, excetuadas hipteses extremas e objetiva-mente delimitadas como, por exemplo, as medidas cautelares, em que a publicidade se concretiza a posteriori, nos remete a um processo de matriz inquisitorial, de cunho autoritrio, incompatvel com os princpios democrticos.A propsito, registre-se que a prpria Constituio Federal brasileira de-termina que todos os atos de quaisquer dos Poderes do Estado devem obedecer, dentre outros princpios, o da publicidade [arti-go 37, caput]. A previso legal, nesse ponto, dada sua generalidade, de questionvel constitucionalidade.

    Andr Machado MayaDoutorando e mestre em Cincias Criminais pela PUCRS. Especialistaem Cincias Penais (PUCRS)e em Direito do Estado (UniRitter). Assessor de desembargador juntoao Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul. Vice-Presidente do Instituto Brasileiro de Direito ProcessualPenal IBRASPP.

    Verificada a existncia de riscos integridade fsica do juiz, diante de circunstnciasconcretas, no seria a hiptese de se declarar ele suspeitopara o julgamento do feitoao invs de formar um juizado e, com isso, ocultar-sena impessoalidade deum rgo colegiado?

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    penal pela reduo seno desprezo das garantias individuais em detrimento de uma lgica utilitarista pautada na ideologia do Di-reito Penal do inimigo. Configurado est o Processo Penal do inimigo: um processo em que todas as garantias so relativas.

    Referncias:

    LOPES JR., Aury.Direito Processual Penal. 9. ed. Saraiva: So Paulo, 2012.

    SCARANCE FERNANDES, Antonio.Processo Penal Constitucional. 5. ed. Revista dos Tribunais:So Paulo, 2005.

    SCARANCE FERNANDES, Antonio. Reflexes sobre a noo de eficinciae de garantismo no processo penal. In: - GAVIO DE ALMEIDA, Jos Raul; ZANOIDE DE MORAES, Maurcio [Coord.]. Sigilo no Processo Penal Eficincia e garantismo. Revista dos Tribunais: So Paulo, 2008.

    ZANOIDE DE MORAES, Maurcio.Publicidade e Proporcionalidade na persecuo penal brasileira.In: SCARANCE FERNANDES, Antonio; GAVIO DE ALMEIDA, Jos Raul; [Coord.]. Sigilo no Processo Penal Eficincia e garantismo. Revista dos Tribunais: So Paulo, 2008.

    Notas:I - Um instrumento a servio da mxima eficcia das garantias constitucionais, na lio de Aury Lopes Jr.II - A propsito, destaca Maurcio Zanoide de Moraes que Somente quando os cidados sabem, por meio da publicidade, como, quando, por que e por quem os atos estatais so produzi-dos, alcanando legitimidade interna e externa, estes passam a ser aceitos e respeitados por todos. No h quem, na condio de cidado, aceite atos pblicos sendo produzidos de maneira sigilosa. (2008, p. 41)

    Por terceiro, e sem a mnima pretenso de esgotar os pontos controvertidos da Lei em comento, sobressai a difcil coexistncia entre a vedao de referncia dos votos divergentes [6] e a garantia da ampla defesa. Como im-pedir que o ru e sua defesa tcnica tomem conhecimento da existncia de um voto di-vergente, ou das razes de uma deciso a seu favor? A Lei no deixa claro se a vedao se refere existncia de um voto divergente ou ao seu fundamento, mas, qualquer que seja a hiptese, a violao garantia da ampla defesa inegvel. Tambm nesse ponto se verifica insupervel incompatibilidade para com a garantia da publicidade e da moti-vao das decises judiciais. Se o motivo de tal medida preservar o magistrado, com es-foro poder-se-ia admitir a previso de no identificao da autoria de cada um dos vo-tos individualmente, apenas com a assinatu-ra de todos ao final, mas de modo algum, no mbito de um Estado Democrtico, pode-se trabalhar com a publicao apenas parcial de uma deciso criminal.Em sntese, e ainda que restrito o presente ensaio unicamente aos aspectos procedimen-tais da citada Lei, os pontos aqui suscitados representam apenas algumas das mais varia-das dificuldades que podem se apresentar no plano da prtica, como, por exemplo, a ausncia de previso recursal em face da deciso de formao do colegiado. Outra: verificada a existncia de riscos integridade fsica do juiz, diante de circunstncias con-cretas, no seria a hiptese de se declarar ele suspeito para o julgamento do feito ao invs de formar um juizado e, com isso, ocultar-se na impessoalidade de um rgo colegiado? Ou: possvel a um magistrado que, por exemplo, tenha recebido ameaas de morte, manter uma posio de imparcialidade apenas porque repartida a competncia com outros colegas?Enfim, no ano em que a internalizao da CIDH no ordenamento jurdico brasileiro completa duas dcadas, tempo muito alm do suficiente para a adequao da legislao interna e das estruturas de poder estatais aos padres humanitrios da persecuo penal, a Lei n 12.694/12 vem escancarar uma reali-dade diametralmente oposta, coroando um movimento utilitarista que pauta o processo

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    Caso Escher e outros vs. Brasile sua importncia para o processopenal brasileiro

    Diogo Malan

    No ltimo dia 06.07.2009 a Corte Interameri-cana de Direitos Humanos (CIDH), ao julgar o caso Escher e outros vs. Brasil, condenou o Estado brasileiro por violaes aos direi-tos fundamentais vida privada, honra e reputao, consagrados no artigo 11 da Conveno Americana de Direitos Humanos (CADH).Em apertada sntese, os fatos que enseja-ram tal condenao foram interceptaes telefnicas autorizadas pelo Juzo da Comar-ca de Loanda/PR a pedido da Polcia Militar paranaense em 1999, cujos alvos eram inte-grantes de organizaes sociais supostamente ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). O teor das comunicaes telefnicas inter-ceptadas foi posteriormente divulgado pela Secretaria de Segurana Pblica do Paran durante entrevista coletiva e por diversos veculos da mdia.A CIDH entendeu caracterizada a violao ao sobredito dispositivo da CADH em decor-rncia dos seguintes fatos: (i) os alvos da in-terceptao telefnica no estavam sendo submetidos a procedimento investigativo formal; (ii) a interceptao durou quarenta e nove dias, sem comprovao de prorrogao judicialmente autorizada ao final da primeira quinzena; (iii) a deciso judicial autorizadora da medida extrema no estava devidamente fundamentada; (iv) o Ministrio Pblico no foi notificado da decretao da medida em apreo; (v) o sigilo sobre o contedo das co-municaes interceptadas, que estavam sob custdia do Estado, foi violado.No nosso objetivo emitir juzo de valor sobre as questes fticas debatidas nessa sen-tena da CIDH, e sim apontar a importncia de algumas das premissas jurdicas fixadas

    no bojo desse ato decisrio para o processo penal brasileiro. Com efeito, ao condenar o Estado Brasileiro a Corte de So Jos da Costa Rica reafirmou a importncia e a normatividade do direi-to fundamental ao sigilo de comunicaes telefnicas. A CIDH incluiu expressamente no mbito de proteo do direito fundamental a no sofrer ingerncias arbitrrias ou abusivas na vida privada por parte do Estado ou de particu-lares (artigo 11 da CADH) a inviolabilidade das comunicaes telefnicas ( 113 e 114).No obstante, a sentena reafirma que a in-tangibilidade das conversas telefnicas no caracteriza direito fundamental absoluto, podendo ele sofrer restries desde que estas no tenham cariz abusivo ou arbitrrio. Para legitimar tais restries, necessria a presena de trs requisitos cumulativos: (i) legalidade; (ii) legitimidade dos fins; (iii) idoneidade, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito ( 116 e 129).Quanto ao primeiro aspecto, a Corte en-tende que a medida restritiva deve ter seus pressupostos, circunstncias autorizadoras e procedimento probatrio definidos, de forma clara e detalhada, na lei em sentido formal e material ( 130 a 132).Mais adiante, a CIDH reafirma que a de-ciso judicial autorizadora deve estar funda-mentada de maneira substancial, atravs de argumentao racional que considere as ale-gaes das partes processuais e os elementos informativos carreados aos autos, alm de demonstrar a ponderao de todos os requi-sitos legais da medida ( 139).Ademais disso, a Corte entendeu ser dever do Estado assegurar o sigilo sobre o teor de comunicaes telefnicas interceptadas du-rante investigao criminal, para fins de: (i) proteo da vida privada dos alvos da inter-ceptao; (ii) resguardo da eficcia da prpria apurao dos fatos; (iii) viabilizao de adequa-da administrao da Justia. Assim, o sobredito teor deve ser acessvel a nmero reduzido de servidores pblicos ( 162).Ante o exposto, lcito concluir que a sen-tena prolatada pela CIDH no caso Escher e outros vs. Brasil representa importante prece-dente jurisprudencial no sentido de reafirmar a importncia, mbito de proteo e densa

    estrutura normativa do direito fundamental inviolabilidade de comunicaes telefnicas (URBANO CASTRILLO, 2011) consagrado no artigo 11 da CADH.Nada obstante, no sistema de administrao da Justia criminal brasileira infelizmente ain-da persiste caldo cultural de base ideolgica autoritria, portanto refratrio assimilao dos valores democrticos hauridos do Pacto de So Jos da Costa Rica e da jurisprudncia da CIDH, inclusive a fora normativa do direito fundamental inviolabilidade de comuni-caes telefnicas.Consequncia direta desse fenmeno social certo grau de banalizao do emprego da medida cautelar de interceptao de comu-nicaes telefnicas verificada na prtica fo-rense contempornea. (CASTRO, 2008, p. 13)Com efeito, malgrado se trate de meio de bus-ca de prova de cariz excepcional, cuja finali-dade permitir a descoberta e localizao de provas materiais, o que se v na prtica sua vulgarizao como instrumento investigativo de prima ratio, mesmo havendo outras for-mas possveis de apurao dos fatos.O que pior: no so raras no Pas as inter-ceptaes telefnicas autorizadas com base somente em notcia-crime annima ou sem a imprescindvel instaurao formal de pro-cedimento investigativo previsto em lei (v.g. procedimentos administrativos criminais amorfos; medidas cautelares atpicas etc.) ou at mesmo nos autos de procedimentos ad-ministrativos ou processos judiciais de na-tureza extrapenal.Tampouco so incomuns decises judiciais autorizadoras da medida em apreo ou sua prorrogao que possuem fundamentao aparente, sequer ponderando casuisticamente os requisitos constitucionais (artigo 5, XII, LIII e LIV da Lei Magna) e legais (artigos 1 e 2 da Lei n. 9.296/96) da medida extrema, dentre os quais avulta a importncia da propor-cionalidade. (GONZALEZ-CUELLAR SER-RANO , 1990)No plano miditico, tambm se verifica cer-to grau de fetichizao consciente ou inconsciente do poder punitivo, hoje a referncia hegemnica do discurso dos meios de comunicao de massa. (BATISTA, 2005, p. 85/91) Reflexo disso a sedimentao de cultura favorecedora da permissividade e

    Diogo MalanAdvogadoProfessor Adjunto de Processo Penalda FND/UFRJDoutor em Processo Penal pela USPAssociado e Representante Regionaldo IBRASPP do Rio de Janeiro

    Always the eyes watching you and the voice enveloping you. Asleep or awake, workingor eating, indoors or outof doors, in the bath or in bed no escape. Nothing was your own except the few cubic centimeters inside your skull.GEORGE ORWELL, Nineteen eighty-four

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    impunidade quanto ao crime (artigo 10 da Lei n. 9.296/96) de divulgao do contedo sigiloso de conversas telefnicas intercepta-das que esto sob a guarda do Estado, inclu-sive para fins simblicos ou miditicos (v.g. propaganda institucional de rgos pblicos).De fato, aparenta prevalecer no sistema de ad-ministrao de Justia criminal a concepo de que o direito ao sigilo de comunicaes telefnicas supostamente seria subterfgio para acobertar atos criminosos, a exigir pron-to sacrifcio no altar da defesa social contra a criminalidade. Tal grave deformao cultural impede a percepo da importncia desse direito como instrumento de proteo da ci-dadania contra o arbtrio, a onipotncia e o exerccio abusivo do poder estatal.A resistncia a esse discurso, na academia e no foro, imprescindvel para a construo de um Processo Penal democratizado e respeito-so dos compromissos internacionais assumi-dos pelo Estado brasileiro na tutela dos Direi-tos Humanos. Oxal a sentena prolatada no caso Escher e outros vs. Brasil sirva de alerta para a necessidade de se levar a srio o di-reito fundamental ao sigilo de comunicaes telefnicas neste Pas. (DWORKIN, 1978)

    Bibliografia:

    BATISTA, Nilo.A criminalizao da advocacia, In: Revista de Estudos Criminais, Porto Alegre, n 20, p. 85-91, out./dez. 2005.

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    CIDH,Caso Escher e outros vs. Brasil, sentena de mritode 06.07.2009.

    Notas:I. CIDH, Caso Escher e outros vs. Brasil, sentena de mritode 06.07.2009.Disponvel em: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/ seriec_200_esp1.pdf. Acesso em 08.07.2012.II. No mesmo sentido: CIDH, Caso Tristn Donoso vs. Panam, sentena de mrito de 27.01.2009 ( 55 a 57).Disponvel em: http://corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_193_ing.pdf. Acesso em 08.07.2012.III. Sobre o conceito de autoritarismo na acepo de ideologia poltica, ver: FRAGOSO, Christiano. Autoritarismo e sistema penal, p. 86-92. Tese de Doutorado apresentada Faculdade de Direito da UERJ (2011). Sobre a formao cultural inquisitiva dos protagonistas do sistema penal brasileiro, ver: CARVALHO, Salo. O papel dos atores do sistema penal na era do punitivismo, p. 73 e ss. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

    Disponvel em: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_200_esp1.pdf. Acesso em 08.07.2012.

    CIDH,Caso Tristn Donoso vs. Panam, sentena de mritode 27.01.2009.Disponvel em: http://corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_193_ing.pdf. Acesso em 08.07.2012.

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    URBANO CASTRILLO, Eduardo de.El derecho al secreto de las comunicaciones. Madrid:La Ley, 2011.

    Processo Penal e Direitos Humanos: notas sobre a convencionalizao do processo penal na perspectiva da Corte Interamericana de Direitos Humanos

    Eduardo Pitrez de Aguiar Corra

    A garantia do devido processo art. 6 da Conveno Europeia e art.8 da Conveno Americana o direito mais invocado e in-fringido tanto no Sistema Europeu como no Interamericano de direitos humanos.Segundo contabilizado pela Corte Euro-peia de Direitos Humanos, as violaes ao art. 6 da Conveno, entre os anos de 1959 e 2010, ocorreram 8.019 (oito mil e dezenove) vezes, assim divididas: direito a um proces-so justo (right to a fair trail), 3.461; durao dos procedimentos (length of proceedings), 4.469; no aplicao (non enforcement), 89. Incluindo o art. 5 da Conveno, que pos-sui dimenso processual, agregam-se outros 1.944 casos (ECHR, 2011).J os nmeros contabilizados pela Corte In-teramericana, considerando-se os artigos 8 (garantias judiciais) e 25 (proteo judicial), informam que desde o incio do funciona-mento da Corte at o ano de 2009 haviam sido reconhecidas violaes a estes dispositivos convencionais 187 (cento e oitenta e sete) vezes, sendo 94 (noventa e quatro) ao artigo 8 e 93 (noventa e trs) ao artigo 27. Acaso in-cludos na perspectiva processual os artigos 4 (direito vida), 5 (direito integridade pes-soal) e 7 (direito a liberdade pessoal), o nme-ro ainda maior (CIDH, 2010).

    Os artigos 8 e 25 da Conveno Americana consagram, respectivamente, as Garan-tias Judiciais e o Direito Proteo Judicial. Todavia, o devido processo no se esgota nesses dispositivos, estando entranhado, exemplificativamente, tambm nos artigos 4 (direito vida), 5 (direito integridade pes-soal), 7 (direito liberdade pessoal), 9 (princ-pio da legalidade e retroatividade), 24 (igual-dade ante a lei) e 27 (limites suspenso de garantias) do Pacto (RESCIA, 1998, p. 1.296; GARCIA RAMIREZ, pp. 660 662). Embora as garantias judiciais previstas no artigo 8 da Conveno no sejam exclusivas do processo penal, a anlise do devido proces-so na Corte Interamericana foi feita princi-palmente a partir de litgios relacionados com persecues penais.(GARCIA RAMIREZ, p. 667), desvelando, uma vez mais, a relao entre direitos humanos e direito penal.Alm das violaes reconhecidas em casos contenciosos, no exerccio de sua funo consultiva a Corte Interamericana emitiu opinies que explicitam sua compreenso so-bre devido processo na perspectiva dos direi-tos humanos. Assim, verbi gratia, na Opinio Consultiva n 8/87, El Habeas Corpus Bajo Suspensin de Garantas, na Opinio Consul-tiva n 9/87, Garantas Judiciales en Estados de Emergncia e na Opinio Consultiva 16/99, Derecho a la Informacin sobre la Asisten-cia Consular en el Marco de las Garantas del Debido Proceso Legal, e na Opinio Consul-tiva 18/03, Condicion Jurdica y Derechos de los Migrantes Indocumentados.Esses dados indicam, desde logo, a im-portncia das garantias processuais penais no mbito dos Sistemas de proteo aos

    Eduardo Pitrez de Aguiar CorraProfessor Assistente da Faculdade de Direitoda Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Pesquisador Visitante da Corte Interamericanade Direitos Humanos (2011). Doutorandoem Cincias Criminais (PUCRS). Mestreem Cincias Criminais (PUCRS).

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    direitos humanos, no sendo demasiado afir-mar que ocupam uma posio protagonista. Isto decorre, fundamentalmente, da relao entre direito penal e direitos humanos, e do nullum crimen nulla poena sine iudicio.Assim sendo, desde que se compreenda a necessria incorporao das deliberaes to-madas no mbito do Sistema Interamericano no direito nacional, e a conexo que se esta-belece entre este Sistema e o Europeu via dilogo jurisprudencial - a compreenso do processo penal, atualmente, no pode ser feita seno em conformidade com estas referncias.A Constituio da Repblica, em seu artigo 5, 2, expressamente incorpora ao direi-to brasileiro os tratados internacionais que, em tema de direitos humanos, aplicam-se imediatamente como direitos fundamen-tais, tendo em vista o disposto no artigo 5, 1 da Carta (PIOVESAN, 2000, p. 101). A insero do 3 no artigo 5 da Consti-tuio no modifica a compreenso, seno que permite distinguir os tratados de direi-tos humanos materialmente constitucionais, como a Conveno Americana, e os for-malmente constitucionais, como os que, posteriormente disciplina do 3, vierem a ser aprovados pelo quorum nele referido (LOPES JR., p. 155).Tambm o artigo 1 do Projeto de Cdigo de Processo Penal (PLS 156/2009) como o art. 1, inc. I, do Cdigo vigente - expres-samente estabelece clusula de abertura do processo penal brasileiro para os tratados e convenes internacionais de que o Brasil firmatrio, assim: O processo penal reger-se-, em todo o territrio nacional, por este Cdi-go, bem como pelos princpios fundamen-tais constitucionais e pelas normas previstas em tratados e convenes internacionais dos quais seja parte a Repblica Federativa do Brasil.Para alm disso, as deliberaes dos rgos do Sistema de Proteo dos Direitos Humanos produzem modificaes no direito proces-sual penal interno em hipteses que se ante-cipam atuao jurisdicional. No Brasil, den-tre outros exemplos, a chamada Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) resultado de uma recomendao da Comisso Interamericana de Direitos Humanos de Simplificar os pro-cedimentos judiciais penais a fim de que pos-sa ser reduzido o tempo processual, sem afe-

    tar os direitos e garantias de devido processo, relativamente aos casos de violncia domstica contra a mulher (OEA, 2001, 61.4.b). H, inclusive, a consagrao de um novo direito fundamental em grande medida vinculado ao processo penal (art. 5, inc. LXXVIII, CF), em virtude de uma incorporao de referncias internacionais e de consolidada jurisprudn-cia da Corte Interamericana de Direitos Hu-manos sobre a durao (i)lcita do processo.Independentemente da anlise do mrito das providncias em grande medida crimi-nalizantes -, no caso brasileiro, se se concebe que a Lei 11.340/2006 cria procedimentos preliminares especficos, Tribunais prprios (Juizados de Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher), medidas penais, processuais e de execuo, possvel perceber a criao de um contexto jurdico-processual-penal total-mente novo em virtude da interveno de um rgo interamericano de proteo dos direi-tos humanos. Basta conhecer que o Conselho Nacional de Justia (CNJ) divulgou que, at dezembro de 2011, haviam sido instaura-dos 685.905 (seiscentos e oitenta e cinco mil novecentos e cinco) procedimentos penais desde a criao da Lei 11.340/2006, dos quais 408.000 (quatrocentos e oito mil) j foram jul-gados e encerrados. Nesse perodo, as prises em flagrante alcanaram o nmero de 26.416 (vinte e seis mil quatrocentos e dezesseis), e as prises preventivas chegaram a 4.146 (quatro mil cento e quarenta e seis) (CNJ, 2012). Vale ressalvar que os nmeros reais so muito maiores, na medida em que nem todos os rgos policiais e judicirios prestam infor-maes aos registros do Conselho.Evidenciando o potencial transformador e a insero das decises das Cortes de Direitos Humanos com os sistemas processuais pe-nais dos Estados, GARAPON cita o exemplo da Frana, pas em que afirma estar haven-do uma ampla reviso das prticas judiciais no mbito do sistema de justia criminal em virtude de decises da Corte Europeia (2011, p. 29). Os juzes franceses, de uma posio inicial de resistncia, fundada na pr-con-cepo de que o instrumento convencional os limitava, passaram a perceber que se tratava de um mecanismo de ampliao de seu pa-pel garantidor das liberdades individuais, de modo que atualmente se acham em uma fase

    de apropriao do instrumento, no como algo externo, mas como parte das fontes sua disposio. (2011, p. 35)De fato, em grande medida no mbito do processo penal que se concretizam ou no os direitos assegurados nas Convenes de Direitos Humanos. Como sustentou MEDINA QUIROGA, o devido processo uma pedra angular do sistema de proteo dos direitos humanos; , por excelncia, a garantia de todos os direitos humanos e um requisito sine qua non para a existncia de um Estado de Direito (2003, p. 267).No por outra razo reconhecido no direito internacional dos direitos humanos um princpio de efetividade dos instrumentos processuais destinados a garantir os direitos humanos (effet utile), e que a Corte considera estar positivado no artigo 25.1 da Conveno Americana (Proteo Judicial e Recurso Efe-tivo) (OC-9/87, 24).Mesmo quando se autoriza, excepcional-mente, a suspenso de garantias reconheci-das na Conveno, positiva-se o carter in-derrogvel, inclusive em Estados de exceo, de alguns dos direitos nela consagrados, e das garantias judiciais indispensveis para a proteo de tais direitos (artigo 27 da Con-veno). Em verdade, a Conveno America-

    na o primeiro instrumento internacional de direitos humanos que probe expressamente a suspenso de garantias judiciais indis-pensveis (OC-8/87, 36).Comprovando a relao entre salvaguarda de direitos humanos e devido processo, a Corte declarou que o devido processo legal no pode suspender-se mesmo em situaes plasma-das no artigo 27 de guerra, perigo pblico ou emergncia que ameace a independncia ou segurana do Estado (OC-9/87, 30).O devido processo assegurado na Conveno Americana impe a existncia, suficincia e eficcia de um processo formal e material-mente adequado proteo dos direitos hu-manos, tendo em vista (i) as obrigaes gerais dos Estados, estabelecidas nos artigos 1 e 2 da Conveno, e (ii) a assuno de deveres de reconhecimento, respeito e garantia dos direitos nela reconhecidos.(RAMIREZ, 2006, p. 651)De fato, de acordo com o estabelecido nos ar-tigos 1.1 e 2 da Conveno Americana, os Estados tm, respectivamente, a Obrigao de Respeitar os Direitos e o Dever de adotar Disposies de Direito Interno. Trata-se, so-bretudo no artigo 2, da positivao no espao interamericano do princpio segundo o qual os Estados ao firmarem um tratado assumem a obrigao de conformar seu ordenamen-to jurdico aos dispositivos convencionais, no podendo objetar ao seu cumprimento o direito interno (art. 27 da Conveno de Vie-na) (CANADO TRINDADE, pp.134-135).A exegese da Corte Interamericana a propsi-to dos deveres dos Estados de cumprimento da Conveno compreende uma obrigao positiva e uma obrigao negativa. Nesse sen-tido, na Opinio Consultiva n 14/94, sobre a Responsabilidade Internacional por Expe-dio e Aplicao de Leis Violatrias da Con-veno (arts.1 e 2 da Conveno Americana), restou consignado que a obrigao de ditar as medidas que forem necessrias para tornar efetivos os direitos e liberdades reconhecidos na Conveno, compreende a de no dit-las quando elas conduzam a violar esses direitos e liberdades(OC-14/94, 36). Este dever de adotar medidas alcana a todos os poderes (a Repblica Federativa do Brasil), e no somente ao executivo, mas a jurisdio assume um papel fundamental a aplicao-, devendo controlar a convencionalidade dos

    Comprovando a relao entre salvaguarda de direitos humanos e devido processo,a Corte declarou queo devido processo legal no pode suspender-se mesmoem situaes plasmadasno artigo 27 de guerra, perigo pblico ou emergnciaque ameace a independnciaou segurana do Estado (OC-9/87, 30).

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    atos do legislativo e do executivo e de seus prprios, por bvio - tendo em vista que, em mbito domstico, a jurisdio a ltima instncia de salvaguarda dos direitos humanos.Nesse sentido, a jurisdio deve adotar as orien-taes advindas do Sistema Interamericano como um standard mnimo de garantias. Tornou-se uma regra geral no Direito Inter-nacional dos Direitos Humanos o entendi-mento segundo o qual as garantias previstas nas Convenes no podem jamais ser inter-pretadas para limitar um direito ou liberdade concebida de maneira mais garantista no mbito do direito interno ou em outro trata-do (FANEGO, 2005, p. 248). No contexto americano a Corte Interamaricana de Direi-tos Humanos refere-se ao princpio da norma mais favorvel (princpio pro homine), segun-do o qual se a uma situao so aplicveis duas normas distintas, deve prevalecer a norma mais favorvel a pessoa humana.(OC 18/03, 21), cuja sedes materiae se acha no art.29 da Conveno.Especificamente com relao ao devido pro-cesso garantido na Conveno Americana, a Corte de San Jos considera que o artigo 8.1 da Conveno deve interpretar-se de manei-ra ampla, de modo que dita interpretao se apoie tanto no texto literal dessa norma como em seu esprito, e deve ser apreciado de acor-do com o artigo 29, inciso c, da Conveno, segundo o qual nenhuma disposio da mesma pode interpretar-se com excluso de outros direitos e garantias inerentes ao ser hu-mano ou que derivem da forma democrtica representativa de governo. (CIDH, Blake vs. Guatemala, 96).Ademais, considera-se que a clusula do devido processo tem uma natureza progres-siva e evolutiva, na medida em que o desen-volvimento histrico do processo, na perspec-tiva da proteo do indivduo e da realizao da justia, traz consigo a incorporao pro-gressiva de novos direitos processuais. So exemplos deste carter evolutivo do processo os direitos a no se autocriminar e a prestar declaraes na presena de advogado. Nesta mesma perspectiva estabeleceu-se de forma progressiva um conjunto de garantias esta-belecidas no artigo 14 do Pacto Internacion-al de Direitos Civis e Polticos, a que podem e devem agregar-se, sob o mesmo conc-

    to, outras garantias aportadas por diversos instrumentos de Direito Internacional. (OC-16/99, 117).Ainda que no se pretenda uma identidade continental, um nvel de uniformidade na pro-teo de um acusado um objetivo declara-do no mbito da cooperao dos Estados no campo dos direitos humanos (CROQUET, 2011, p.93). Para tanto, imprescindvel inclusive para evitar a responsabilidade inter-nacional do Brasil - que a jurisdio nacional saia do isolamento em que atualmente se en-contra e incorpore, de fato, as orientaes de garantia construdas no direito internacional dos direitos humanos, deixando-se permear pelos preceitos civilizatrios que encerram. Mas para isso preciso, antes de tudo, humildade.

    Referncias Bibliogrficas:

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    Artigo 282, 3, do Cdigo de Processo Penal: possibilidade de condenao do estado brasileiro na esfera internacional?

    Mariana Py Muniz

    A Lei n 12.403/11, pode-se dizer, que trouxe um novo regime jurdico da priso processual, da liberdade provisria, inovando ao estatuir um rol de medidas cautelares alternativas ao crcere. Nesse contexto, restaram estabeleci-dos no artigo 282 os critrios necessrios aplicao das medidas cautelares e mais es-pecificamente, em seu pargrafo 3, a instau-rao de um contraditrio cautelar.Partindo-se do pressuposto que a estrutura processual eminentemente dialtica, o con-traditrio revela-se imprescindvel, qui, por se considerar como marca distintiva dos de-mais procedimentos. Entretanto, a doutrina h muito pautava a cautelaridade no processo penal fora da compreenso estrita de processo, justamente porque no havia como se falar em contra-ditrio pleno, prvio ou concomitante constrio.Dessa forma, evidente o avano legislativo, na medida em que trouxe o contraditrio antecipado deciso acerca da concesso ou no das medidas cautelares, de forma obrigatria, exceto em caso de urgncia ou de perigo de ineficcia da medida, quan-do o contraditrio, ento, dar-se- de forma postergada, diferida.Mas em que se traduz este contraditrio?Segundo JUNIOR (2012), o contraditrio conduz ao direito de audincia e s alegaes mtuas das partes na forma dialtica. Em assim sendo, o contraditrio englobaria o direito de as partes debaterem frente ao Juiz como forma de participao efetiva no pro-cesso, alm, claro, de assim tambm restar possibilitado o exerccio do direito de defe-sa. Nesse sentido o artigo 5, inciso LV, da

    Constituio Federal de 1988, que reconhece o contraditrio como um direito fundamental. E veja-se que o contraditrio vem por primeiro conceituar-se como direito humano. E por isso que a Conveno Americana de Direitos Humanos pontua o contraditrio, muito mais especificamente no que diz com o direito liberdade pessoal, em seu artigo 7.5., exigindo a apresentao sem demora da pessoa detida presena do juiz. Nesse sentido, tambm o seu artigo 8.1., o qual discorre sobre as garan-tias judiciais.Assim, o alcance pretendido pelo pargrafo 3 do artigo 282 do CPP abrange estas dis-posies. O Brasil signatrio da Conveno Americana de Direitos Humanos, tendo-a ratificado em 1992. Mais do que isso, a redao do artigo 5, 2, da CF tambm assim j im-poria, sem precisar se ingressar na discusso da supralegalidade ou no dos tratados in-ternacionais protetivos de direitos humanos, j que o que se pretende a interpretao e a leitura conjunta do dispositivo legal de direito interno em questo (lei ordinria) e daqueles da Conveno. Resulta evidente, portanto, que nas hipteses de flagrante delito convertido em priso pre-ventiva, bem como na decretao de priso preventiva autnoma, exceto quando houver urgncia ou perigo de ineficcia da medi-da, impe-se a oitiva do preso e a sua apre-sentao ao Juzo competente.Isso porque a legislao permitiu um tmi-do contraditrio, ainda que no tenha ela deixado claro de que forma e quem exerce-ria este direito.Com razo, a lei nos fala em intimao da parte contrria, que melhor se traduziria em acusado ou indiciado, ao menos, no se imagina o contrrio. Ao depois, a intimao se daria para qu? Apresentao de resposta escrita? Para a realizao de uma audincia?Veja-se que diante o que j foi ressaltado, e, em tendo o Brasil se comprometido, segun-do o que dispe o artigo 1 da Conveno, a respeitar os direitos e liberdades nela reconhe-cidos e a garantir seu livre e pleno exerccio a toda pessoa que esteja sujeita sua jurisdio, nos parece que imperiosa seria a realizao de audincia, qui, diante do que enuncia o artigo 7.5. da Conveno. O ideal seria o juiz ao receber o pedido de me-

    dida cautelar, intimar o indiciado ou acusado para uma audincia e, esta, em caso de perigo ou ineficcia da medida, poderia se dar aps o decreto de priso, quanto mais isso se tor-na imprescindvel nos casos de substituio, cumulao ou revogao da medida cautelar e decretao da preventiva (uma de suas novas hipteses, introduzidas pela Lei n 12.403/11. Ver art. 312, pargrafo nico).No sem razo que SANGUIN (2003) ao discorrer acerca da priso provisria na Espanha, nos coloca: (...) La introduccin de la audincia previa refuerza la idea de que el derecho al contradictorio incluye, adems, el derecho del preso provisional a ser odo per-sonalmente por la autoridad judicial antes de adoptar la prisin provisional (...).Entretanto, questiona-se: a aplicao da referida norma tem ocorrido desta forma no plano judicial interno? Se sim, ao menos no o que diz a prtica judiciria diria. Nessa es-teira, h a possibilidade de responsabilizao do Estado Brasileiro no plano internacional pelo descumprimento daquilo que se obrigou a reconhecer, respeitar e efetivar? Segundo PIOVESAN (2012), o sistema in-ternacional de proteo dos direitos hu-manos constitui o legado maior da chama-da Era dos Direitos, que tem permitido a internacionaizao dos direitos humanos e a humanizao do Direito Internacional con-temporneo. A barbrie do totalitarismo rompeu e negou o valor da pessoa humana, razo pela qual o ps-guerra implica reconstruir os direitos humanos, tanto na esfera internacional, bem como na de direito interno, o que se verifi-cou com a emergncia de um novo direito constitucional. Dessa sorte, o advento da Declarao Univer-sal de 1948 e posteriormente, por que o que aqui nos interessa, da Conveno Americana de Direitos Humanos de 1978, com o desen-volvimento de um sistema regional inter-americano de proteo dos direitos humanos. A Conveno estabelece um aparato de moni-toramento e implementao dos direitos que enuncia, o qual integrado pela Comisso Interamericana e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Esta ltima o rgo jurisdicional do sistema regional, apresentan-do competncia consultiva e contenciosa.

    Mariana Py MunizMestranda em Cincias Criminais pela PUCRS. Defensora Pblica do Estado do Rio Grandedo Sul.

    [...] o no cumprimento do artigo em comento [282, 3, CPP] na sua extenso completa, viola a Conveno e, consequentemente, gera para o Estado Brasileiro a possibilidade de vir a ser condenadono mbito internacional [...]

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    ditrio se inexistente partes. O contraditrio dialtico, e, assim, pressupe partes adver-sas. O sistema acusatrio aponta para a di-viso de papeis no processo penal: a Defesa, a Acusao e o Juiz. Logicamente, cumpre aos atores processuais no se calar, dando voz ao impugnar as decises e ao requerer o efeti-vo cumprimento da norma em sua extenso completa, chamando ao artigo 282, 3, do CPP, um real contraditrio, aquele corolrio do disposto na Conveno Americana de Direitos Humanos.Contraditrio como Direito Humano e Fun-damental, quele condutor do direito de audincia, do direito de ser ouvido e de dar as suas razes ao Julgador, possibilitando-se, com isso, o direito de convencer o Magistrado acerca dos seus motivos, ou, ainda, com o in-tuito de justificar a face igualitria da justia, pois de acordo com JUNIOR (Op. Cit. 2012) ao citar W.GOLDSCHMIDT, quien presta audiencia a uma parte, igual favor debe a la outra.Em poca em que se discute a superlotao carcerria, em que se pugna pela reduo dos nmeros de presos provisrios no Pas, parece-me que a adoo do artigo 282, 3, do CPP e sua consequente aplicao em sua devida extenso, causaria impacto sur-preendente e positivo no (des)encarceramento cautelar. Mas isto, com certeza, demanda caminhar o caminho1.

    Pois bem, ligando-se o aqui formulado ao que j se disse anteriormente, parece lgico afir-mar que em sendo o Brasil Estado-parte da Conveno, submetido jurisdio da Corte, ao desrespeitar o disposto nos seus artigos 7.5 e 8.1, estaria sujeito a ser condenado no plano internacional.Veja-se que no plano do direito interno, o descumprimento do artigo 282, 3, do CPP gera a nulidade da deciso proferida, atacvel via habeas corpus, o que no exclui a possi-bilidade de arguio do aqui disposto, como insero do chamado controle jurisdicional de convencionalidade das leis. GOMES (2011) pontua que diante do que dispe a Conveno no sentido de que toda a pessoa detida deve ser apresentada, sem demora, autoridade judiciria competente, a violao dessa garantia torna a priso arbi-trria, conforme Informe Anual da Comisso Interamericana de Direitos Humanos, 1994, p. 186, El Salvador. E, tanto isso faz sentido, que o Informe Anual da Corte Interamerica-na do ano de 2011 (http://corteidh.or.cr ) vem a reforar essa mesma premissa.O artigo 282, 3, do CPP inova ao trazer o contraditrio para dentro do processo cau-telar e o faz numa dimenso at ento no percebida pelos seus operadores, na medida em que a norma em questo apresenta reci-procidade quilo que a Conveno dispe. Dessa forma, o no cumprimento do arti-go em comento na sua extenso completa, viola a Conveno e, consequentemente, gera para o Estado Brasileiro a possibilidade de vir a ser condenado no mbito internacional, porque embora cumpra parte do seu dever, no que diz com a adoo de disposies de direito interno, o que se v do artigo 2 da Conveno, falha ao no estabelecer de forma eficaz quele direito, ao qual se comprometeu a garantir atravs do livre e pleno exerccio a toda pessoa sujeita sua jurisdio. A Lei n 12.403/11 avanou com a insero do con-traditrio no plano do processo cautelar, o que h alguns anos, representaria motivo de severa crtica, seno heresia jurdica, no dizer de JUNIOR (Op. Cit., 2012). Entretanto, a devida extenso a ser dada ao contraditrio, na condio de direito humano e fundamen-tal, ainda carece de efetivao. Mas, cabe aqui mais uma considerao. No existe contra-

    Referncias:

    BRASIL. Constituio (1988).Constituio da Repblica Federativa do Brasil.Braslia, DF: Senado Federal, 1988.

    BRASIL. Cdigo de Processo Penal.So Paulo, Verbo Jurdico, 2012.

    CORTE Interamericana de Direitos Humanos.http://corteidh.or.brFELDENS, Luciano. Direitos Fundamentais e Direito Penal.2. ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012.

    GIACOMOLLI, Nereu Jos.Priso Liberdade e as Cautelares Alternativas ao Crcere. Marcial Pons, 2012.

    GOMES, Luiz Flvio e MARQUES, Ivan Lus (Coord.).Priso e Medidas Cautelares. Comentrios Lei 12.403,de 4 de maio de 2011. So Paulo, Revista dos Tribunais, 2011.

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    JUNIOR, Aury Lopes.O Novo Regime Jurdico da Priso Processual, Liberdade Provisria e Medidas Cautelares Diversas.Atualizado Lei 12.403/11. Rio de Janeiro: Lumen Jris, 2011. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional.5. ed., Rio de Janeiro: Lumen Jris, 2010.

    PIOVESAN, Flvia.Direitos Humanos e Justia Internacional. 3. ed., So Paulo: Saraiva, 2012.

    SANGUIN, Odone. Prisin Provisional Y Derechos Funda-mentales. Valncia: Tirante lo Blanch, 2003. VILAR, Silvia Barona. Prision Provisional Y Medidas Alternativas. Barcelona: Libreria Bosch, 1988.

    NotasI. Vale aqui a transcrio do poema de Antnio Machado, poeta sevilhano: Caminante, son tus huellas el camino, y nada ms; caminante, no hay camino, se hace camino al andar. Al andar se hace camino, y al volver la vista atrs, se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante, no ya camino, sino estrelas en la mar. http://ocanto.esenviseu.net/destaque/machado.htm

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    1 edio (2012) | 208 pginas

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    Limites Emendatio libelli em face da garantia da defesa na Cadh

    Thiago Pires Fidelis da Luz

    O presente artigo tem a pretenso de, sucin-tamente, apresentar crticas e concluses pre-liminares de pesquisa que realizamos acerca dos l