AULA 05

� Êxtase de Santa Teresa, de Gian Lorenzo Bernini, 1645-1652.

� Bernini representou nesse quadro um dos êxtases místicos de Santa Teresa de Ávila. A escultura é marcada pelo desequilíbrio e pela sinuosidade, características relevantes da arte barroca.

� Em 1517, em pleno contexto do Renascimento, o clérigo Martinho Lutero voltou-se

contra a Igreja Católica, condenando atitudes como o comércio de indulgências e

o comportamento imoral de parte do clero.

� Apoiado por uma parcela significativa da nobreza alemã, Lutero comandou a

separação de parte do clero em relação à Igreja romana. Esse cisma (separação de

um grupo religioso em relação a uma igreja original) ficaria conhecido como

Reforma Protestante, movimento que se alastrou inicialmente por países como

Alemanha, Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido e Escandinávia.

� Depois de séculos dominando absoluta a fé dos países europeus, a Igreja Católica não assistiria passiva ao movimento reformista, que provocava o afastamento de grande número de fiéis. Para dar conta desse novo contexto, a instituição tomou uma série de atitudes que ficariam conhecidas como Contrarreforma. Bispos e cardeais reuniram-se no Concílio de Trento, entre os anos de 1545 e 1563, estabelecendo regras para disciplinar o comportamento do clero e confrontar o crescimento do protestantismo. Criou-se o Index Librorum Prohibitorum, lista de livros cuja leitura era condenada, bem como foi reorganizada a Inquisição, congregação que defendia a doutrina católica perseguindo os que eram tidos por hereges, chegando a queimar muitos condenados em fogueiras acesas em praça pública. A Companhia de Jesus, ordem religiosa criada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola, exerceria também um papel determinante na difusão dos ideais contrarreformistas pelo mundo.

� Foi nesse contexto, por volta de 1600, em Roma, que se desenvolveu e irradiou para todo o ocidente um estilo marcado pela exuberância e grandeza. Da literatura à pintura, da escultura à arquitetura, a arte ganhou aspectos dramáticos, sugerindo o conflito existencial de uma época marcada por forte dualidade: de um lado, as conquistas do racionalismorenascentista; de outro, a forte censura da Contrarreforma.

� O aspecto retorcido e carregadodessa arte foi associado a um tipo de pérola irregular chamada barroca. Daí se originou no vocabulário das artes o termo Barroco para designar o movimento estético que marcaria profundamente os reinos católicos e as suas distantes colônias d’além-mar.

� Baldaquino da Basílica de São Pedro, criado por Gian Lorenzo Bernini.

� Baldaquino é uma construção sustentada por colunas, que resguarda um altar. Nessa obra de Bernini, percebe-se o gosto pela sinuosidade: as colunas são torcidas, o que dá à estrutura uma forte sensação de movimento.

� Gosto pelas linhas curvas: nas artes plásticas, por meio da sinuosidade das formas.

� Na literatura, pela sintaxe invertida.

� Jogo de opostos: nas artes plásticas, pode ser identificado no jogo do claro/escuro. Na literatura, pelo uso intensivo de antíteses (oposição entre duas palavras ou ideias) e paradoxos (antítese que leva a uma contradição, ferindo o senso comum).

� Saturação de elementos: o excesso é uma das marcas barrocas. As artes plásticas são carregadas de detalhes.

� Cultismo: textos verbais marcados pelo uso intenso de metáforas, enumerações (referência a vários itens, um a um) e paralelismos (série de frases que apresentam estruturas gramaticais idênticas).

� Conceptismo: textos verbais marcados pela argumentação sinuosa e exuberante.

� Nos primórdios da colonização brasileira, a literatura estava relacionada à

produção de escritos que informavam aos portugueses as características da

colônia recém-descoberta. Era a chamada literatura de informação, que teve

como primeiro documento a carta de Pero Vaz de Caminha informando a

descoberta de novas terras ao rei português. Ainda no século XVI, os jesuítas

produziram diversas obras voltadas à conversão dos índios, principalmente autos,

que encenavam os valores teológicos cristãos – era a chamada literatura de

formação. A esse conjunto de obras ligadas ao início do processo de colonização

brasileira dá-se o nome de Quinhentismo.

� O processo de colonização foi lento e cheio de percalços. No século XVII, com o

desenvolvimento da atividade açucareira no nordeste, núcleos urbanos como

Salvador e Recife escoavam a produção da monocultura e já apresentavam

expressões artísticas afinadas com o Barroco que se fazia na Europa. Intensificou-

se ali uma produção cultural cujos modelos eram europeus – tanto no que se refere

aos padrões estéticos como aos posicionamentos e preconceitos sociais –, mas que

já deixava transparecer elementos específicos da cultura nacional, marcada pela

forte presença indígena e negra.

� Gregório de Matos (Salvador, 1636 – Recife, 1696) era filho de um fidalgo

português que explorava o trabalho escravo na produção do açúcar. Foi dos

primeiros brasileiros a cursar Leis em Coimbra, estabelecendo-se na Europa por

mais de vinte anos. Ao retornar ao Brasil, logo abandonou a advocacia e partiu

pelo interior do recôncavo baiano em curiosa trajetória poética, fazendo poemas

de gênero elevado, em que se apropriava do melhor da tradição europeia da

lírica amorosa, religiosa e reflexiva.

� Gregório de Matos também granjeou fama com as suas poesias de gênero baixo, em que abusava de palavrões e de termos tupis e africanos para criticar a sociedade nordestina de seu tempo. Sua sátira mordaz atingia a todos: desde os nobres poderosos até os índios e os escravos. Gregório de Matos é o primeiro letrado a trazer a pluralidade étnica e social do nosso país para o campo da poesia. Diante dos preconceitos típicos de sua época, condenou a ganância dos nobres, a imoralidade do clero, a luxúria dos mestiços. Embora conhecido como o “Boca do Inferno”, sua poesia satírica exercia a função moral de escancarar os vícios e insatisfações daquela sociedade que iniciava o seu processo de consolidação marcada pelo patriarcalismo, pela monocultura e pelos ideais da Contrarreforma.

� Antonio Vieira (Lisboa, 1608 – Salvador, 1697) veio para o Brasil com sete anos de idade. Ordenou-se padre no colégio jesuítico de Salvador em 1634, sendo logo respeitado por seus dotes de orador. Seguiu para a Corte em 1640, onde alcançou fama e prestígio com a nobreza.

� Mas o padre abandonou essa carreira europeia brilhante para dedicar-se durante quase dez anos à catequização dos índios no Maranhão. Ao regressar a Lisboa, teve problemas com a Inquisição, chegando a ser preso por conta de sua defesa em relação aos judeus e pelas suas ideias sebastianistas. Voltando finalmente a Salvador, já idoso, passou o resto de seus dias revisando sua vasta obra.

� Vieira é um dos maiores prosadores do nosso idioma.

� Sempre amparado pelo cristianismo católico, não teve medo de afrontar poderosos escravagistas coloniais nem de criticar os próprios padres de Igreja, como no célebre “Sermão da Sexagésima”.

� Padre Antonio Vieira aborda o próprio ato de fazer sermões. Trata-se, portanto, de um texto metalinguístico. O jesuíta questiona o porquê de os sermões contemporâneos não serem eficazes na moralização dos cristãos. Negando que a culpa possa ser atribuída a Deus, o padre chega à conclusão de que o fracasso dos sermões deve-se aos padres que se preocupavam mais em causar efeito estético nos espectadores (por meio de intensos jogos de opostos) do que em defender e propagar a fé cristã. A argumentação sinuosa e carregada é uma característica do conceptismo, mas não se pode negar que o trecho apresenta um gosto pela exuberância que é tipicamente cultista. Na verdade, esses dois traços de estilo costumam se manifestar associadamente.

� Com o desenvolvimento da extração de metais preciosos em Minas Gerais, no decorrer do século XVIII, a arte barroca ganhou forte impulso. Nas cidades que nasciam em decorrência da atividade aurífera eram logo erguidas edificações cheias de esplendor. O maior nome das artes plásticas brasileiras deste período é Francisco Antonio Lisboa, conhecido como Aleijadinho (1730-1814). Filho legítimo de um português com uma escrava, Aleijadinho representa bem a aclimatação das tendências artísticas europeias à realidade nacional. Arquiteto, entalhador e escultor, foi o responsável pela construção e ornamentação de templos importantes em diversas cidades mineiras, como Ouro Preto, São João del-Rei e Congonhas do Campo.

� Retábulo (obra de arte que fica atrás dos altares) da capela-mor da igreja de São Francisco, em São João del-Rei. O esplendor do retábulo da Igreja de São João del-Rei demonstra o luxo e o detalhismo das obras de Aleijadinho.