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1 Literatura Portuguesa IV 2º aula Mario Cesariny PASTELARIA Afinal o que importa não é a literatura nem a crítica de arte nem a câmara escura Afinal o que importa não é bem o negócio nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio Afinal o que importa não é ser novo e galante -- ele há tanta maneira de compor uma estante Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício Não é verdade rapaz? E amanhã há bola antes de haver cinema madame blanche e parola Que afinal o que importa não é haver gente com fome porque assim como assim ainda há muita genteque come Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente: Gerente! Este leite está azedo! Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo No riso admirável de quem sabe e gosta ter lavados e muitos dentes brancos à mostra DISCURSO SOBRE A REABILITAÇÃO DO QUOTIDIANO (XIII) e é preciso correr é preciso ligar é preciso sorrir é preciso suor é preciso ser livre é preciso ser fácil é preciso a roda o fogo de artifício é preciso o demónio ainda corpulento é preciso a rosa sob o cavalinho é preciso o revólver de um só tiro na boca é preciso o amor de repente de graça

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Literatura Portuguesa IV 2º aula Mario Cesariny PASTELARIA Afinal o que importa não é a literatura nem a crítica de arte nem a câmara escura Afinal o que importa não é bem o negócio nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio Afinal o que importa não é ser novo e galante -- ele há tanta maneira de compor uma estante Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício Não é verdade rapaz? E amanhã há bola antes de haver cinema madame blanche e parola Que afinal o que importa não é haver gente com fome porque assim como assim ainda há muita genteque come Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente: Gerente! Este leite está azedo! Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo No riso admirável de quem sabe e gosta ter lavados e muitos dentes brancos à mostra DISCURSO SOBRE A REABILITAÇÃO DO QUOTIDIANO (XIII) e é preciso correr é preciso ligar é preciso sorrir é preciso suor é preciso ser livre é preciso ser fácil é preciso a roda o fogo de artifício é preciso o demónio ainda corpulento é preciso a rosa sob o cavalinho é preciso o revólver de um só tiro na boca é preciso o amor de repente de graça

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é preciso a relva de bichos ignotos e o lago é preciso digam que é preciso é preciso comprar movimentar comércio é preciso ter feira nas vértebras todas é preciso o fato é preciso a vida da mulher cadáver até de manhã é preciso um risco na boca do pobre para averiguar de como é que eles entram é preciso a máquina a quatro mil vóltios é preciso a ponte rolante no espaço é preciso o porco é preciso a valsa o estrídulo o roxo o palavrão de costas é preciso uma vista para ver sem perfume e outra menos vista para olhar em silêncio é preciso o logro a infância depressa o peso de um homem é demais aqui é preciso a faca é preciso o touro é preciso o miúdo despenhado no túnel é preciso forças para a hemoptise é preciso a mosca um por cento doméstica é preciso o braço coberto de espuma a luz o grito o grande olho gelado E é preciso gente para a debandada é preciso o raio a cabeça o trovão a rua a memória a panóplia das árvores é preciso a chuva para correres ainda é preciso ainda que caias de borco na cama no choro no rogo na treva é precisa a treva para ficar um verme roendo cidades de trapo sem pernas DISCURSO SOBRE A REABILITAÇÃO DO QUOTIDIANO (XIV) hoje, dia de todos os demónios irei ao cemitério onde repousa Sá-Carneiro a gente às vezes esquece a dor dos outros o trabalho dos outros o coval dos outros ora este foi dos tais a quem não deram passaporte de forma que embarcou clandestino não tinha política tinha física mas nem assim o passaram e quando a coisa estava a ir a mais tzzt… uma poção de estricnina

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deu-lhe a moleza foi dormir preferiu umas dores no lado esquerdo da alma uns disparates com as pernas na hora apaziguadora herói à sua maneira recusou-se a beber o pátrio mijo deu a mão ao Antero, foi-se, e pronto, desembarcou como tinha embarcado Sem Jeito Para o Negócio

RAIO DE LUZ

Burgueses somos nós todos ou ainda menos. Burgueses somos nós todos desde pequenos. Burgueses somos nós todos ó literatos. Burgueses somos nós todos ratos e gatos Burgueses somos nós todos por nossas mãos. Burgueses somos nós todos que horror irmãos. Burgueses somos nós todos ou ainda menos. Burgueses somos nós todos desde pequenos

CESARINY, Mario. Manual de prestigitação (1956). Lisboa, Biblioteca dos editores independentes, 2008. ______. Pena Capital (1957). Lisboa, Assírio & Alvim, 2004. ______. Nobilíssima visão (1959). Lisboa, Assírio & Alvim, 1991.

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Alexandre O'Neill

TOMA LÁ CINCO Encolhes os ombros, mas o tempo passa... Ai, afinal, rapaz, o tempo passa! Um dente que estava são e agora não, Um cabelo que ainda ontem preto era, Dentro do peito um outro, sempre mais velho coração, E na cara uma ruga que não espera, que não espera.. No andar de cima, uma nova criança Vai bater no teu crânio os pequeninos pés. Mas deixa lá, rapaz, tem esperança: Este ano talvez venhas a ser o que não és... Talvez sejas de enredos fácil presa, Eterno marido, amante de um só dia... Com clorofila ficam os teus dentes que é uma beleza! Mas não rias, rapaz, que o ano só agora principia... Talvez lances de amor um foguetão sincero Para algum coração a milhões de anos-dor Ou desesperado te resolvas por um mero Tiro na boca, mas de alcance maior... Grande asneira, rapaz, grande asneira seria Errar a vida e não errar a pontaria... Talvez te deixes por uma vez de fitas, De versos de mau hálito e mau sestro, E acalmes nas feias o ardor pelas bonitas (Como mulheres são mais fiéis, de resto...)

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"ALBERTINA" OU "O INSETO-INSULTO" OU "O QUOTIDIANO RECEBIDO COMO MOSCA"

Para o Casais Monteiro

O poeta está só, completamente só. Do nariz vai tirando alguns minutos De abstração, alguns minutos Do nariz para o chão Ou colados sob o tampo da mesa Onde o poeta é todo cotovelos E espera um minuto de beleza. Mas o poeta é aos novelos; Mas o poeta já não tem a certeza De segurar a musa, aquela que tantas vezes, arrastou pelos cabelos... A mosca Albertina, que ele domesticava, Vem agora ao papel, como um inseto-insulto, Mas fingindo que o poeta a esperava... Quase mulher e muito mosca, Albertina quer o poeta para si, Quer sem versos o poeta. Por isso fica, mosca-mulher, por ali... — Albertina!, deixa-me em paz, consente Que eu falhe neste papel tão branco e insolente Onde belo e ausente um verso eu sei que está! — Albertina! eu quero um verso que não há!... Conjugal, provocante, moreno e azulado, O inseto levanta, revoluteia, desce E, em lugar do verso que não aparece, No papel se demora como um insulto alado. E o poeta sai de chôfre, por uns tempos desalmado...

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UM ADEUS PORTUGUÊS Nos teus olhos altamente perigosos vigora ainda o mais rigoroso amor a luz dos ombros pura e a sombra duma angústia já purificada Não tu não podias ficar presa comigo à roda em que apodreço apodrecemos a esta pata ensanguentada que vacila quase medita e avança mugindo pelo túnel de uma velha dor Não podias ficar nesta cadeira onde passo o dia burocrático o dia-a-dia da miséria que sobe aos olhos vem às mãos aos sorrisos ao amor mal soletrado à estupidez ao desespero sem boca ao medo perfilado à alegria sonâmbula à vírgula maníaca do modo funcionário de viver Não podias ficar nesta casa comigo em trânsito mortal até ao dia sórdido canino policial até ao dia que não vem da promessa puríssima da madrugada mas da miséria de uma noite gerada por um dia igual Não podias ficar presa comigo à pequena dor que cada um de nós traz docemente pela mão a esta pequena dor à portuguesa tão mansa quase vegetal Não tu não mereces esta cidade não mereces esta roda de náusea em que giramos até à idiotia

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esta pequena morte e o seu minucioso e porco ritual esta nossa razão absurda de ser Não tu és da cidade aventureira da cidade onde o amor encontra as suas ruas e o cemitério ardente da sua morte tu és da cidade onde vives por um fio de puro acaso onde morres ou vives não de asfixia mas às mãos de uma aventura de um comércio puro sem a moeda falsa do bem e do mal Nesta curva tão terna e lancinante que vai ser que já é o teu desaparecimento digo-te adeus e como um adolescente tropeço de ternura por ti.

Adília Lopes

# A minha Musa antes de ser a minha Musa avisou-me cantaste sem saber que cantar custa uma língua agora vou-te cortar a língua para aprenderes a cantar a minha Musa é cruel mas eu não conheço outra NO MORE TEARS Quantas vezes me fechei para chorar na casa de banho da casa de minha avó lavava os olhos com shampoo e chorava chorava por causa do shampoo depois acabaram os shampoos

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que faziam arder os olhos no more tears disse Johnson & Johnson as mães são filhas das filhas e as filhas são mães das mães uma mãe lava a cabeça da outra e todas têm cabelos de crianças loiras para chorar não podemos usar mais shampoo e eu gostava de chorar a fio e chorava sem um desgosto sem uma dor sem um lenço sem uma lágrima fechada à chave na casa de banho da casa da minha avó onde além de mim só estava eu também me fechava no guarda-vestidos mas um guarda-vestidos não se pode fechar por dentro nunca ninguém viu um vestido a chorar ANONIMATO E AUTOBIOGRAFIA 1. Um escritor de romances escabrosos (o seu tema predilecto foi a relação incestuosa entre três irmãos) decidiu permanecer anónimo não por ter vergonha de assinar romances escabrosos mas para tornar ainda mais escabrosos os romances assim os leitores suspeitavam que os romances eram autobiográficos e se ele os assinasse com o seu nome os leitores ficavam a saber que ele era um filho único é claro que como filho único vivia fascinado pelo incesto entre dois irmãos que inspirou Chateaubriand (e não podia perceber o aforismo de Joyce é tão fácil esquecer um irmão como um guarda-chuva) mas mesmo que se considere como eu que a leitura de um livro pode ser tão importante na vida de uma passoa como ter um irmão dois irmãos não são três irmãos 2. Um poeta assinava os poemas com o seu nome mas um romance por ser autobiográfico assinou com um pseudónimo pouco banal

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contava no romance (e foi isto que o levou a decidir-se por um pseudónimo) que comia ao pequeno-almoço alheiras às rodelas com salada de tomate no supermercado quando pediu à empregada da charcutaria às 8h30 da manhã duas alheiras a empregada perguntou-lhe se ele tinha escrito As singularidades de Carolina (era o nome do romance) ele ficou tão embaraçado que pediu à mãe para ser ela a comprar as alheiras e os tomates mas quando a mãe chegava ao lugar da hortaliça com um saco de plástico cheio de alheiras o indiano do lugar perguntava-lhe logo se ela tinha escrito As singularidades de Carolina. 3. Um terceiro escritor escreveu uma autobiografia em que se limitou a contar que ao pequeno almoço bebia café com leite e comia pão com geleia de laranja assinou a autobiografia com o seu nome e nenhuma empregada de supermercado o importunou mas depois de ter o livro publicado sempre que bebia café com leite e comia pão com geleia de laranja ao pequeno almoço sentia-se mal como se estivesse num palco ou num circo a ter de beber café com leite e a ter de comer pão com geleia de laranja diante dos olhso que a abolem a privacidade e por se sentir assim passou a comer flocos de aveia # Não gosto tanto de livros como Mallarmé parece que gostava eu não sou um livro e quando me dizem gosto muito dos seus livros gostava de poder dizer como o poeta Cesariny olha eu gostava é que tu gostasses de mim

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os livros não são feitos de carne e osso e quando tenho vontade de chorar abrir um livro não me chega preciso de um abraço mas graças a Deus o mundo não é um livro e o acaso não existe no entanto gosto muito de livros e acredito na Ressurreição dos livros e acredito que no Céu haja bibliotecas e se possa ler e escrever # Em 81 disse à Dr.ª Manuela Brazette, psiquiatra, “Eu sou feia”. Ela disse-me “Não é ser feia. Não há pessoas feias. Não tem é atractivos sexuais”. Lembrei-me então do homem que em 74, tinha eu 14 anos, se cruzou comigo no Arco do Cego. Lembrei-me do homem, da cara do homem vagamente, mas lembrei-me muito bem do que ele me tinha dito ao passar por mim. Tinha-me dito “Lambia-te esse peitinho todo”. Lembrei-me também da meia-dúzia de outros homens que durante a minha adolescência me tinha dito quando eu passava “Coisinha boa” e “Borrachinho”. Ainda hoje me sinto profundamente agradecida a esses homens. Pensei que estavam a avacalhar, que eram uns porcalhões. Mas quem estava a avacalhar era a Dr.ª Manuela Brazette, ela é que é uma porcalhona. Acho que um homem nunca consegue ser mau para uma mulher como outra mulher. # 1 Os ricos são magros os pobres são gordos nos hipermercados o brioche é mais barato do que o pão Maria Antonieta tinha razão foi no que deu a Revolução Francesa (se não tem pão comam brioche)

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2 Estou gorda e quero ser gorda mas não quero ser pobre e não preciso que me cortem a cabeça Maria a psiqiatra e a poesia deram-me uma cabeça nova 3 Engordei 43kg de 86 para cá agora como estou já caibo num quadro de Rubens (segundo o Osório Mateus no meu caso era mais fácil entrar para o quadro de um pintor que para o quadro de uma empresa) LOPES, Adília. Dobra. Lisboa, Assírio & Alvim, 2009.

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Daniel Maia Pinto Rodrigues

SINGULAR TEMPO PLURAL Em Outubro passado saí à noite com a cunhada de um amigo o que me pareceu sexualmente correcto. Tratava-se o espécime de alguém bem alinhavado o que também me pareceu sexualmente correcto. Leveia-a a jantar a um bonito restaurante trocámos umas ideias trocámos uns olhares engraçámos com os pontos em comum e tudo estava a correr bem. Falava eu das castas e tradições do vinho que bebíamos quando, sentindo-lhe o bouquet ao dar um gole em grã seigneur o estafermo do líquido me entrou para os pulmões, circunstância infeliz que provocou de imediato imponente e borrifada engasgadela mesmo ali à frente da carinha dela o que francamente me pareceu sexualmente incorrecto. Mais tarde, quando já tinha a algum custo recuperado o élan fui com ela dar uma volta pela linha costeira. Durante o passeio, disse-me que estava a gostar muito de ouvir os Roxette o que me pareceu sexualmente correcto. Depois abordou a política. explicou-me que já não era mas que tinha sido daquele partido que agora, por sinal, está bastante partido no mau sentido do termo. Foi logo a seguir que me falou do mar. Disse-me que o mar, poucos quilómetros adiante era lindo!

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Eu estava já a afiambrar as ideias e não tardava muito ia entrar naquela fase em que nos armamos em carapau. Mas naqueles poucos quilómetros que faltavam para o sítio onde o mar é lindo o carro ficou sem bateria. Ainda esgrimi, atrapalhado um incómodo diálogo com o démarreur mas o carro, pois sim, já dali não saiu o que, convenhamos foi de todo sexualmente incorrecto. Passou-se uma semana, um mês sucederam-se os outubros e, talvez pelo que se passou naquela noite mas creio que não, as nossas vidas levaram rumos diferentes. Através do tempo quando levo alguém a ver o sítio onde o mar é lindo fico com a sensação de que é sempre um pouco depois. POEMA TIPICAMENTE MASCULINO Até porque em geral não estão demasiado connosco no dia seguinte não nos deverá desagradar a ideia de andar com a mulher dos outros Uma vez imiscuídos em seus lares achemos excelentes os trens de cozinha da Filipa Valha-nos Deus. Adoremos ver repetidamente a recepção no claustro e a lua de mel no vídeo do casamento do D. Duarte e da Dona Isabel. E a ideia realmente inteligentíssima de irem às compras de produtos dois-em-um levando nos sapatos as palmilhas do Dr. Metz

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atingindo assim um moderno três-em-um dever-nos-á deixar profundamente apaixonados A mim andar com a mulher dos outros dá-me uma certa satisfação não digo que não Resta-me uma dúvida será dever-nos-á ou será deveranos não sei porquê mas dever-nos-á soa melhorzinho

O LAGARTO DE GILA Adquiri numa loja o sui generis lagarto de Gila. Em casa observava amiúde o bicho. Um dia lembrei-me de convidar amigos impressionáveis para se boquiabrirem e assustarem o lagarto. Já com os convidados a chegar pareceu-me sentir nos olhos do animal o querer dizer-me que não pretendia ver ninguém. Correspondendo, escondi-o à pressa no quarto de banho de serviço. Os convidados, que suspeitavam ir haver uma surpresa surpreenderam-se por não ter havido surpresa nenhuma. Creio, porém, que consideraram o serão animado. Eu, apesar de não o deixar transparecer achei o convívio aborrecido.

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TOUJOURS L'AMOUR Ia eu para escrever algo acerca do tema Lesbian Love e saiu-me esta maçada acerca do tema Toujours l'amour. Tanto barulho faz com as sacas de plástico! Elas têm fome nas bancadas dos circuitos de futebol nas camionetas e nos comboios nas esplanadas e nas praias têm fome de coisas bodeguentas sobretudo nos bancos dos automóveis. Têm sempre um bom pastel para provar todo e uma sande de fiambrino para o pastelão que as acompanha. Levatam-se higiênica e adequadamente e com uma preocupação a todos os títulos notável pelo próximo e pelo meio ambiente para colocar os invólucros dos pastéis e variadíssimas outras e desnecessáriaos papeis nos postos do lixo enquanto os homens alheios lhes olham para o cu e se satisfazem desde já com as sandes de linguíça que comerão mais tarde. Eu preferia ter chamado a este poema Lesbina love mas considero mais chegado ao texto o título Toujours l'Amour. RODRIGUES, Daniel Maia-Pinto. A sorte favorece os rapazes. Porto, Cadernos Campo alegre, 2001.

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