neoclassicismo 3em slides -...
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NEOAULA 05
NEO� O século XVIII é conhecido como o “Século das
Luzes”, momento de grande desenvolvimento
científico e filosófico. Da Inglaterra, as obras de Isaac
Newton decodificavam as forças da natureza; da
França, irradiava- se o Iluminismo, movimento que
considerava a liberdade de pensamento como um
dos pressupostos e direitos mais básicos do ser
humano. Esses novos ares fizeram com que tudo o
que pudesse ser associado à Contrarreforma (como o
jesuitismo e a ornamentação barroca) fosse visto
como mau gosto e conservadorismo.
� No campo das artes, uma maneira de se distanciar da ornamentação barroca foi a revalorização das matrizes greco-latinas, com todo o seu racionalismo e simplicidade. A estética renascentista voltou também a ser um modelo, bem como as constantes referências à mitologia grega.
� Os poetas elegeram o bucolismo como espaço privilegiado para a expressão de seus sentimentos. A vida simples dos pastores, na sua calma atividade com as ovelhinhas e em plena identificação com uma natureza ordenada, passou a ser vista como uma forma de se afastar do artificialismo barroco, bem como de negar aspectos da vida urbana que se desenvolvia de modo mais profícuo.
O Balanço (década de 1730), de Nicolas Lancret
� Na mitologia antiga essa ambientação
estava relacionada à Arcádia, região
pastoril protegida pelo deus Pã – que tinha
uma aparência híbrida, metade homem,
metade bode. Por conta da recorrência
desse tipo de cenário bucólico na poesia
setecentista, o movimento daí surgido ficou
conhecido também como Arcadismo.
deus Pã
� Veio da Itália uma forma de agremiação de intelectuais chamada “Arcádia”. Trata -
-se de associações cujos membros submetiam suas produções poéticas à
apreciação uns dos outros. Curiosamente, os membros das Arcádias assinavam
seus poemas com pseudônimos inspirados na poesia bucólica clássica. Na vida
real, eram em sua maioria nobres, juristas, letrados; nas reuniões dos grêmios,
contudo, diziam-se pastores e adotavam nomes como Elmano Sadino, Elpino
Nonacriense, Glauceste Satúrnio, etc. A geral aceitação dessa forma de fazer
poético caracteriza o convencionalismo da poesia árcade.
� O convencionalismo da poesia árcade se manifesta pela forte presença de lugares-comuns, identificados por meio de expressões em latim que condensam os seus significados:
� Carpe diem: colhe o dia. Alerta sobre a necessidade de se aproveitar a vida e a juventude, porque a morte é certa.
� Inutilia truncat: corta o inútil. Expressa o desejo de simplicidade, contra o ornamentalismo barroco.
� Aurea mediocritas: equilíbrio de ouro. Elogio da vida simples, sem luxos nem privações.
� Fugere urbem: fuga da cidade. A cidade é associada a um espaço de vaidade e tristeza.
� Locus amoenus: lugar agradável. A natureza é idealizada como um espaço de beleza e de primavera eternas.
Como vimos, o Arcadismo está
estreitamente ligado a Minas Gerais,
região que encontrou no século
XVIII o apogeu da sua história
econômica. Muitos poetas
envolveram-se com a Inconfidência
Mineira, movimento de revolta
contra os abusos da Coroa
portuguesa sobre os colonos.
� É curioso notar que, enquanto as igrejas setecentistas em Minas eram barrocas, a
literatura já se identificava com os novos princípios neoclássicos. Uma explicação
possível para essa dicotomia é o fato de que a poesia era feita pelos letrados da elite
colonial que iam estudar na Europa e lá conheciam as novidades estéticas, enquanto as
igrejas eram erguidas por mestres de obras advindos de classes menos favorecidas,
sendo muitas vezes mulatos, como é o caso do próprio Aleijadinho.
Tomás Antônio Gonzaga nasceu na cidade do Porto, em Portugal, em 1744. Filho de pai brasileiro, veio com a família para o Brasil e passou parte da infância e da adolescência na Bahia. Mais tarde, voltou a Portugal e formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra.
Chegou a exercer a magistratura em Portugal, mas aos 38 anos, chegando a Vila Rica, foi designado para a função de ouvidor. Gonzaga participou da Inconfidência Mineira e foi um de seus mentores, sendo por isso preso durante três anos. Foi condenado à pena de degredo em Moçambique, restabeleceu-se profissionalmente casou com uma moça de família abastada. Lá morreu em 1810.
� Ao chegar a Minas Gerais, Gonzaga apaixonou-se por Maria Doroteia de Seixas Brandão, que contava então com cerca de 16 anos de idade e pertencia a uma das famílias mais ricas da cidade. Fez vários poemas convidando-a a aproveitar a beleza da vida, do amor e da juventude. Nesses textos, contudo, ele não era o juiz Tomás Antônio Gonzaga, nem ela a rica Maria Doroteia: em seus poemas falava o pastor Dirceu, dirigindo-se à meiga pastorazinha Marília. Nascia assim um dos mais interessantes livros da nossa poesia lírico-amorosa: Marília de Dirceu.
� A primeira parte de Marília de Dirceu foi publicada em 1792 e é composta
por poemas marcadamente árcades; são liras (poemas de estrofação e
métrica variadas, marcados pela leveza e musicalidade) em que o pastor
louva a beleza sem par de sua amada, em cenários bucólicos repletos de
deuses da mitologia greco-latina. Em meio a todo esse convencionalismo,
percebe-se a figuração de um desejo de vida simples e amena (padrão de
claridade e ternura), longe do fausto das cortes e dos exageros da arte
barroca.
CONVENCIONALISMO ÁRCADE
O QUE MAIS VALE É O IDEAL DE VIDA SIMPLES
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais que um rebanho, e mais que um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In: Poesia do Ouro. São Paulo: Melhoramentos, 1964. p. 157.)
� A segunda parte de Marília de Dirceu foi publicada em 1799. Segundo a tradição
historiográfica, essa parte foi composta enquanto o poeta estava preso. Os poemas
afastam-se do padrão de claridade e ternura, apresentando-se agora amargurados
e lamentosos. Os cenários deixam o padrão arcádico e se tornam verdadeiros
locus horrendus, com a descrição de escuras masmorras. Essas características
permitem a classificação destes textos como pré-românticos. Há ainda uma
terceira parte na obra Marília de Dirceu, com poemas recolhidos após a morte do
poeta. Contudo, a determinação de autoria desses textos ainda é objeto de
discussão entre os especialistas.
SUBJETIVIDADE SENTIMENTALISMO
[...]
Inda, ó Bela, não vejo
Cadafalso enlutado,
Nem de torpe verdugo
Braço de ferro armado;
Mas vivo neste mundo, ó sorte impia,
E dele só me mostra a estreita fresta
O quando é noite, ou dia.
Olhos baços, sumidos,
Macilento, escarnado,
Barba crescida e hirsuta,
Cabelo desgrenhado.
Ah! que imagem tão digna de piedade!
Mas é, minha Marília, como vive
Um réu de Majestade.(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In: A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 671.)
(Êxtase de Santa Teresa, de Gian Lorenzo Bernini, 1645-1652)
BARROCO
� Contexto: século XVII – Contrarreforma.
� Traços de estilo: Ornamentalismo, Sinuosidade, Jogo de opostos.
� Cultismo: linguagem culta e rebuscada; exuberância nas metáforas.
� Conceptismo: argumentação sinuosa e surpreendente.
� Poesia: Gregório de Matos e Guerra.
� Sermões: Padre Antonio Vieira.
� Contexto: século XVIII – “Século das Luzes”.
� Iluminismo: movimento filosófico que considera a razão como guia de todos os campos da experiência humana.
� Neoclassicismo: retomada dos padrões de elegância e contensão da arte clássica (tanto do Quinhentismolusitano quanto da Antiguidade).
� Presença da mitologia greco-latina.
� Arcadismo: ambientação bucólica e temas pastoris.
� Adoção de pseudônimos pastoris.
TEMAS ÁRCADES:
� Carpe diem: colhe o dia. Aproveitar o tempo presente, sem pensar no amanhã.
� Inutilia truncat: corta o inútil. Expressa a ideia de que não é preciso muita coisa para ser feliz.
� Aurea mediocritas: equilíbrio de ouro. Elogio da vida simples, sem luxos nem privações.
� Fugere urbem: fuga da cidade. A vida na cidade é associada à ostentação e à vaidade.
� Locus amoenus: lugar agradável. Cenários bucólicos, agradáveis. A natureza é idealizada como um espaço de beleza e de primavera eternas.
A pintura de François Boucherapresenta uma cena bucólica de mansidão, felicidade e paz. O pastor e a pastora são pessoas simples, estão descalços, em tranquila comunhão com a natureza.