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  • 5/28/2018 384_completo Como Escrever Uma Monografia

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    M a i o d e 2 9384COMO ESCREVER UMA

    MONOGRAFIA

    Donaldo de Souza Dias

    Mnica Ferreira da Silva

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    Relatrios COPPEAD uma publicao do Instituto COPPEAD de Administrao daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

    CoordenaoProf. Mauricio Mittelman

    Gerncia de PublicaesLucilia Silva

    Reviso e CopidesqueMaria Emlia Barcellos da Silva

    Editorao EletrnicaLucilia Silva

    Referenciao e Ficha CatalogrficaAna Rita Mendona de Moura

    Dias, Donaldo de Souza.Como escrever uma monografia / Donaldo de Souza Dias

    e Mnica Ferreira da Silva. Rio de Janeiro:

    UFRJ/COPPEAD, 2009.72p.; 27cm. (Relatrios Coppead; 384)

    ISBN 978-85-7508-071-9ISSN 1518-3335

    1. Metodologia cientfica. I. Silva, Mnica Ferreira da. II.Ttulo. III. Srie.

    CDD 001.4

    Pedidos para a Biblioteca do COPPEADCaixa Postal 68514 Ilha do Fundo21941-972 Rio de Janeiro RJTelefone: 21-2598-9837Telefax: 21-2598-9835E-mail: [email protected]: www.coppead.ufrj.br

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    COMO ESCREVER UMA MONOGRAFIADonaldo de Souza DiasMnica Ferreira da Silva

    RESUMOEste Relatrio Tcnico apresenta o conhecimento necessrio para o preparo de

    trabalhos acadmicos, em particular monografias de cursos de graduao e de cursosde especializao lato sensu. Os cursos de graduao visam formar profissionais eacadmicos nas reas de atividade necessrias ao desenvolvimento brasileiro. Os

    cursos de ps-graduao lato sensuoferecem um conhecimento mais amplo em umadeterminada rea, porm sem o objetivo de aprofund-lo. Ao trmino de um curso degraduao ou ps-graduao lato sensu o aluno necessita apresentar um trabalhofinal, a Monografia. Os cursos de ps-graduao stricto sensu, por outro lado, soaqueles em que a rea tratada conduzida com muita profundidade, em todas suasfacetas, como ocorre nos cursos de mestrado e doutorado. O trabalho exigido ao fimde um curso de mestrado a Dissertao, enquanto que para obter o ttulo de doutoro aluno necessita defender uma Tese.

    Na primeira parte do Relatrio apresentaremos os conceitos de cincia etrabalho cientfico, planejamento da monografia e ciclo da pesquisa, necessrios parao aluno entender a amplitude do trabalho que tem pela frente e como ele deverorganiz-lo para concluir com xito sua tarefa. Todo trabalho cientfico segue um cicloiniciado pela observao do fenmeno que o pesquisador pretende estudar.Descreveremos como este ciclo ser utilizado para nortear a preparao damonografia. Na segunda parte do Relatrio conduziremos o leitor pelas principaisquestes envolvidas na confeco da sua monografia, captulo a captulo, desde aintroduo da monografia, suas referncias tericas, metodologia de pesquisa, coletae anlise de dados, redao do documento, at as concluses da pesquisa. Na partefinal do Relatrio destacamos estruturas tpicas de pesquisa comumente utilizadas eapresentamos excertos de trabalhos j aceitos, a fim de inspirar o leitor em sua

    jornada investigativa.

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    ABSTRACTThis Technical Report presents the necessary knowledge for preparing academic

    work, in particular monographs for undergraduate and graduate specialization courses.The undergraduate courses aim to form professionals and academics in the areas

    needed for Brazilian development. The graduate specialization courses offer a broaderknowledge in one determined area without the objective of deepening it. At the end ofan undergraduate or graduate specialization course the student needs to present a finalwork, the Monograph. The stricto sensu graduate courses, on the other hand, are thosewhere the treated area is dealt with much depth, in all its facets, as it occurs in themasters and doctors degree courses. The work demanded at the end of a mastersdegree course is the Dissertation, whereas to get a doctors degree the candidate needsto defend a Thesis.

    In the first part of the Report we will present the concepts of science and scientificwork, monograph planning and research cycle, needed for the student to understand

    the scope of the work he has to undergo and how he will have to organize it in order tosuccessfully conclude his task. All scientific work follows a cycle initiated by theobservation of the phenomenon that the researcher intends to study. We will describehow this cycle will be used in order to guide the monograph preparation. In the secondpart of the Report we will lead the reader through the main questions involved in theconfection of its monograph, chapter by chapter, from the monograph introduction, itstheoretical references, research methodology, data collection and analysis, writing ofthe document, until the research conclusions. In the final part of the Report, we detachtypical structures for commonly used research and present excerpts of already acceptedworks in order to inspire the reader in its research journey.

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    SUMRIOPARTE I CONCEITOS BSICOS.......................................................................................... 5

    CAPTULO1AMONOGRAFIA....................................................................................... 6CINCIA........................................................................................................................ 6

    TIPOS DE TRABALHOS CIENTFICOS........................................................................ 7CAPTULO2 OPLANEJAMENTODAMONOGRAFIA................................................. 9O PLANO DE TRABALHO............................................................................................ 9

    CAPTULO3OCICLODAPESQUISA.......................................................................... 14

    PARTE II A REALIZAO DA MONOGRAFIA.................................................................. 17CAPTULO1AINTRODUODAMONOGRAFIA.................................................... 18

    O TEMA DA PESQUISA.............................................................................................. 18TEMA, FONTES DE CONSULTA E QUADRO METODOLGICO........................ 19A PERGUNTA DA PESQUISA..................................................................................... 20O PRODUTO DA PESQUISA: A Minha Monografia............................................ 21

    ASSOCIANDO TEMA, PERGUNTA E PRODUTO.................................................... 24EXEMPLOS DE INTRODUES DE TRABALHOS ACADMICOS......................... 25

    CAPTULO2OREFERENCIALTERICO..................................................................... 26EXEMPLOS................................................................................................................... 28

    CAPTULO3AMETODOLOGIADAPESQUISA.......................................................... 30PERSPECTIVAS FILOSFICAS.................................................................................... 32PESQUISA QUALITATIVA E PESQUISA QUANTITATIVA......................................... 32MTODOS QUALITATIVOS....................................................................................... 33MTODOS QUANTITATIVOS................................................................................... 34EXEMPLOS................................................................................................................... 36

    CAPTULO4ACOLETADEDADOS............................................................................. 38A ENTREVISTA INFORMAL......................................................................................... 41ENTREVISTAS FORMAIS E QUESTIONRIOS.......................................................... 41CUIDADOS COM RELAO AO CONTEDO DAS PERGUNTAS...................... 43A COLETA DE DADOS QUANTITATIVA................................................................... 44CONSIDERAES GERAIS SOBRE COLETA DE DADOS...................................... 44EXEMPLOS................................................................................................................... 45

    CAPTULO5AANLISEDEDADOS............................................................................. 47A ANLISE DE DADOS NA PESQUISA QUALITATIVA............................................. 47EXEMPLOS................................................................................................................... 47

    CAPTULO6ASCONCLUSES................................................................................... 53CAPTULO7AREDAODAMONOGRAFIA............................................................ 57

    MODO DE PESQUISA E MODO DE APRESENTAO.......................................... 57A REDAO................................................................................................................ 59NOTA SOBRE A REDAO DA PESQUISA QUALITATIVA..................................... 61CUIDADOS DE ARMAZENAMENTO........................................................................ 61

    PARTE III ESTRUTURAS TPICAS E EXEMPLOS.................................................................. 63ESTRUTURA TPICA DE UM ESTUDO DE CASO..................................................... 64EXEMPLO DE SUMRIO DE PESQUISA.................................................................... 67

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................................... 69

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    PARTE ICONCEITOS BSICOSNesta primeira parte, sero abordados alguns conceitos necessrios para que vocentenda a amplitude do trabalho que tem pela frente e como poder organiz-lo a fim

    de concluir com xito a sua empreitada.

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    CAPTULO 1A MONOGRAFIA

    Antes de iniciarmos a elaborao de sua monografia, importante conhecer o que

    Cincia, o que um trabalho cientfico, o que diferencia um trabalho cientfico deoutros tipos de contribuies literrias, quais os tipos de trabalhos cientficos existentese, enfim, o que vem a ser uma monografia.

    Neste captulo, apresentamos o conceito de Cincia e discutimos as diferenasentre alguns tipos de trabalhos cientficos.

    CINCIACincia o processo de pesquisa que transforma doxa _ do grego, o que se

    acredita verdadeiro _ em episteme _ o que conhecido como verdadeiro. Emsentido mais conceitual, Cincia seria a busca por entendimento do fenmenoestudado, a busca pelo conhecimento.

    Segundo Kuhn (2005), a Cincia no uma aquisio esttica e cumulativa deconhecimento e, sim, um processo de destruio e reconstruo. O desenvolvimentodo saber no se d atravs de sobreposies de tijolinhos de conhecimento, masatravs de revolues cientficas que ocorrem quando se tenta quebrar um modelo oupadro aceito pela comunidade cientfica. Esse modelo denominado paradigma.

    Para ser aceito como paradigma, um modelo deve explicar um fenmeno de formamelhor que os paradigmas concorrentes. Um paradigma orienta a acumulao defatos e a articulao da teoria, aumentando a eficincia das pesquisas cientficas.

    O processo guiado por um paradigma denominado por Kuhn de cincianormal e, nele, o cientista busca compreender o mundo e ampliar a preciso e oalcance dos modelos aceitos por sua comunidade cientfica, porm, algumas vezes, ocientista se depara com uma nova regra que nega o paradigma existente. A essasquebras de paradigma, as quais serviro para construir um novo paradigma, Kuhnchama de revolues cientficas e a partir dessas revolues que a cincia evolui,reconstruindo-se.

    Segundo Vergara (2000), cincia um processo. Um processo permanente debusca da verdade, de sinalizao sistemtica de erros e correes, predominantementeracional. O pesquisador tem como funo apontar no s os acertos que cometeu,mas tambm os erros em que incorreu a fim de ampliar o conhecimento do leitorsobre o processo de pesquisa que ele elaborou e percorreu.

    extremamente importante que se tenha um plano de trabalho e que se anote oque sai de acordo com o seu plano e o que no ocorreu como voc esperava. Pirsig(1984) afirma que ao usar o mtodo cientfico, anota-se tudo formalmente, de modoque a gente saiba onde est, onde estava, para onde est indo e para aonde quer ir...seno os problemas ficam to complicados e a gente se perde, se confunde, esqueceo que sabe e o que no sabe....

    Neste livro, mostraremos como elaborar seu plano de pesquisa e como esse plano

    pode ser executado.

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    TIPOS DE TRABALHOS CIENTFICOSSabendo o que Cincia, podemos prever o que se espera de um trabalho

    cientfico. Pelo exposto, verificamos que um trabalho cientfico deve se apoiar emestudos anteriores. No h como comear do zero e reinventar a roda. Qualquer

    trabalho cientfico deve apresentar as bases tericas sobre as quais foi desenvolvido,ou seja, o conhecimento j existente sobre o assunto.

    Existem alguns critrios utilizados para definir se um trabalho cientfico ou no.Segundo Eco (2004), um trabalho pode ser dito cientfico quando obedece aosseguintes requisitos que demonstram a seriedade da pesquisa efetuada:

    enfocar um objeto (fsico ou no) definido e reconhecvel pelas outraspessoas que no o autor;

    ser original quanto ao que se diz sobre o objeto, ou dizer algo j conhecido,porm sob uma perspectiva diferente;

    ser til, de alguma forma, humanidade; e apresentar elementos que permitam a contestao ou a verificao de

    hipteses, estimulando a continuao da pesquisa.

    Vergara (2000) acrescenta alguns atributos necessrios para que um trabalhocientfico se diferencie de outras manifestaes do conhecimento, como a arte ou areligio. Segundo a autora, ele deve ser

    consistente: no falsear as teorias apresentadas no texto,

    coerente: a discusso que ele suscita dever ser apresentada de forma

    lgica, profundo: deve buscar todas as facetas do problema estudado, e

    principalmente, receber a aceitao da comunidade cientfica qual opesquisador pertence.

    Existem vrios tipos de trabalhos cientficos; alguns so utilizados para demarcar ofim de um curso lato sensuou stricto sensu, a saber: teses, dissertaes e monografias.

    Vale ressaltar que um Curso lato sensu aquele em que oferecida uma vastagama de conhecimentos sobre determinado assunto, porm sem pretenso deaprofundamento. O termo latosignifica amplo. Nessa categoria, temos os cursos de

    especializao, de aperfeioamento e de extenso, conforme a classificao dainstituio que os oferece. J um curso stricto sensu aquele em que o assunto neleabordado tratado com muita profundidade, em todas as suas facetas como ocorrenos cursos de graduao, mestrado e doutorado.

    O trabalho gerado ao fim de um doutorado denominado Tese. O produto de umcurso de mestrado chamado Dissertao, e o termo utilizado para designar umtrabalho de fim de curso de graduao ou de ps-graduao lato sensu(especializao, aperfeioamento ou extenso) Monografia.

    Vale ressaltar que uma monografia se distingue de uma tese de doutorado ou deuma dissertao de mestrado no que concerne qualidade e aos cuidadosempregados na confeco do produto apresentado ao final do processo de pesquisacientfica.

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    O candidato a doutor deve mostrar seu profissionalismo, seriedade e maturidadeao empreender uma pesquisa. Para tanto, preciso que realce em sua tese os vriostestes efetuados, seja humilde ao fazer afirmativas e aponte os aspectos limitantes desua investigao. O doutor deve mostrar que capaz de reproduzir e estender oconhecimento sobre o tema.

    J em uma dissertao de mestrado, o candidato a mestre pode se limitar a aplicaruma teoria existente verificando como ela se comporta quando aplicada a um novocontexto. Ele deve ser capaz de reproduzir o conhecimento existente sobre o assuntoescolhido.

    Por fim, em uma monografia, o aluno pode, simplesmente, descrever um fenmenotendo como base um modelo terico. Para conhecer esse modelo terico, o alunodever compilar (ler, resumir e organizar) diversos autores que tenham escrito sobre oassunto em questo. O termo monografia significa escrever sobre um s tema.Poderia, assim, ser escrita por vrios autores. No entanto, algumas instituies de

    ensino requerem que cada aluno apresente uma monografia.

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    CAPTULO 2O PLANEJAMENTO DA MONOGRAFIA

    Elaborar uma monografia exige um planejamento cuidadoso. A primeira coisa a

    fazer quando se comea esse tipo de trabalho definir o seu ttulo e elaborar a versoinicial da introduo e do sumrio do texto que pretendemos escrever. necessrioestabelecer de incio o objetivo e o roteiro do estudo.

    As verses iniciais da introduo e do sumrio provavelmente sero revistas maisde uma vez durante a execuo do trabalho, a fim de se adaptarem s contingnciasda pesquisa. Necessitamos manter, a cada momento da tarefa, uma viso clara deaonde pretendemos chegar. importante lembrar que a leitura da introduo e dasconcluses da verso final da monografiadever dar ao leitor uma ideia dos objetivosa que pretendamos alcanar em nossa pesquisa e o nvel em que fomos bem-sucedidos.

    Para desenvolver uma monografia, deve-se conhecer a fundo o que j foidesenvolvido por outros estudiosos e quais foram os seus argumentos. necessriodescobrir o que ainda no foi coberto por eles. essencial definir o tema (motivaoda pesquisa), a pergunta (objetivo da pesquisa) e a relevncia acadmica e prtica doestudo a que estamos empreendendo. Como detalharemos adiante, os dadosdisponveis assumem um papel importante nesse processo.

    Ao escrever a primeira verso da introduo, o pesquisador j deve estar emposio de visualizar o tema, a pergunta e os dados de sua pesquisa. A Figura 1representa essa relao, em que o pesquisador estaria situado na intercesso daquelestrs elementos. No captulo 1 da segunda parte do livro, apresentaremos algumasdicas sobre como escolher seu tema e sua pergunta.

    Figura 1 Tema, Pergunta e DadosO PLANO DE TRABALHO

    Segundo Eco (2004), a redao do sumriocomo hiptese de trabalho, logo deincio, permite uma definio clara do escopo da monografia, embora, no andamento

    Tema Pergunta

    Dados

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    dos trabalhos, ele possa sofrer alteraes. Entretanto, uma eventual reestruturao dosumrio ser mais bem elaborada se tivermos um ponto de partida como referncia.

    O sumrio a relao de captulos e sees, com as suas respectivas subdivises,compondo o esqueleto que preencheremos com os argumentos, dados, anlises etudo o mais que compreende o relatrio final da monografia. Quanto mais minuciosafor a subdiviso do sumrio, melhor ser sua capacidade de explicitar o assunto e deajudar o leitor a seguir o texto no momento da leitura.

    O plano de trabalhocompreende o ttulo, o sumrioe a introduo. Segundo Eco,o plano de trabalho pode ser comparado a um road map que governar odesenvolvimento do documento. no plano de trabalhoque estabelecemos a estruturada nossa pesquisa, obedecendo ao princpio de concatenao de ideias ecumprimento da metodologia.

    Iniciamos o planejamento pela escolha do ttulo da monografia. Um bom ttulo,incluindo um possvel subttulo, j uma boa especificao do trabalho a serrealizado. A seguir, o ttulo formulado como pergunta (pergunta da pesquisa), emque se define o ponto especfico a ser abordado. Essa pergunta constitui partefundamental do trabalho.

    Depois de formulada a pergunta, devem-se estabelecer as etapas do trabalho, naforma de itens do sumrio e do futuro texto. Em seguida, faz-se um esboo daintroduo, que ser, na verdade, um comentrio analtico do sumrio, com o objetivode permitir a fixao de ideias dentro de uma diretriz que, a princpio, no seralterada.

    Essa introduo preliminar serve, tambm, para expor ao orientador as intenesdo pesquisador. De fato, o que distingue esse primeiro esboo de introduo, daquela

    que constar da verso final da monografia, so promessas que, na verso final,sero muito menores, refletindo maior cautela e amadurecimento de ideias. Se aintroduo preliminar no for possvel de ser realizada, o pesquisador provavelmenteno conseguir prosseguir com o tema, no concretizando, portanto, a sua pesquisa.

    Em resumo, o plano de trabalhoque dever consistir de:1. ttulo (relacionado pergunta de pesquisa);2. sumrio (passvel de ser reestruturado vrias vezes, contendo um resumo de

    cada captulo);3. introduo (definio de ideias ao longo de uma diretriz que no ser alterada,

    exceto custa de uma necessria reestruturao do sumrio).

    O objetivo da Introduo da verso final da monografia ajudar o leitor aentender o que se pretende com o estudo, sem prometer o que no pode sercumprido. O ideal de uma boa introduo o leitor se contentar com ela e entender oque se pretende realizar na monografia.

    No captulo 1 da segunda parte deste livro, trataremos especificamente docontedo do captulo de Introduo de sua monografia.

    importante enfatizar que o plano de trabalho e todas as etapas do processodevem ser continuamente reavaliados. Sero introduzidas possveis correes comoresultado das mudanas que ocorrerem durante o desenvolvimento dos trabalhos.

    Existe uma diferena entre o sumrio, descrito anteriormente, e o ndice de umtrabalho cientfico. O sumrio aparece antes do texto, nomeando as principais

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    divises, sees, itens e anexos do documento, na mesma ordem em que a matrianele apresentada no texto, com a respectiva exibio do nmero das pginascorrespondentes. J o ndice aparece no final do documento, sendo constitudo deuma enumerao detalhada de assuntos, nomes de pessoas, nomes geogrficos,acontecimentos, com a indicao de sua localizao no texto.

    Esboce um ttulo para sua monografia a partir do tema de seu interesse e dapergunta que deseja responder dentro desse tema. A seguir, rascunhe um sumrioinicial para sua pesquisa. Esse seu roteiro ser revisto no captulo 1 da segunda partequando voc for elaborar o seu primeiro captulo, ou seja, na introduo de suamonografia.

    O exemplo a seguir, extrado de Dias (1984), apresenta uma possvel organizaodo sumrio. No prximo tpico, veremos quais so os contedos dos captulosgeralmente encontrados em uma monografia.

    O sumrio abaixo a verso final do trabalho de pesquisa de uma tese de

    doutorado. Vale ressaltar que sofreu inmeras modificaes e lapidaes ao longo dapesquisa.

    Ttulo: Especificao de Sistemas de Informao: fatores chave e situao emempresas brasileiras.

    Sumrio:

    Captulo I A Pesquisa

    1. Introduo

    2. Populao

    3. Coleta de dados4. Pergunta da pesquisa

    Captulo II Os Fatores Chave

    1. Introduo

    2. Planejamento de sistemas

    2.1 Teoria

    2.2 Pesquisa

    2.3 Modelo de referncia3. Interao usurio-analista

    3.1 Teoria

    3.2 Pesquisa

    3.3 Modelo de referncia

    4. Uso de mtodos e tcnicas

    4.1 Teoria

    4.2 Pesquisa4.3 Modelo de referncia

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    5. Mudana organizacional

    5.1 Teoria

    5.2 Pesquisa

    5.3 Modelo de referncia

    Captulo III A Metodologia da Pesquisa

    1. Introduo

    2. Hipteses

    2.1 Anlise global

    2.2 Anlise da influncia de fatores isolados na eficcia

    3.Amostra

    4. Questionrios

    4.1 Validade e teste piloto

    5.Variveis

    6. Operacionalizao das hipteses

    6.1 Anlise global path analysis

    6.1.1 Hiptese 1

    6.1.2 Hiptese 2

    6.1.3 Hiptese 3

    6.1.4 Hiptese 46.2 Influncia de fatores isolados

    6.2.1 Hiptese 5

    6.2.2 Hiptese 6

    6.2.3 Hiptese 7

    6.2.4 Hiptese 8

    Captulo IV Anlise dos Resultados

    1.Anlise descritiva2.Anlise estatstica

    2.1Estrato 1

    2.2Estrato 2

    2.3Estrato 3

    2.4Associao entre as variveis que compem os fatores estudados

    2.5Influncia das variveis de controle na eficcia

    Captulo V Concluso

    Anexo A Cpia dos Questionrios

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    Anexo B Respostas ao Questionrio

    Anexo C Aditividade das Variveis

    Anexo D Clculo da Amostra

    Bibliografia

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    CAPTULO 3O CICLO DA PESQUISA

    Todo trabalho cientfico segue um ciclo iniciado pela observao do fenmeno que

    o pesquisador pretende estudar. Neste captulo, apresentaremos esse ciclo erelataremos como ele ser utilizado para nortear a realizao de sua monografia.

    Introduo(cap. 1)

    ReferencialTerico(cap. 2)

    Metodologia(cap. 3)

    Anlisede dados(cap. 5)

    Concluses(cap. 6)

    Observaodo fenmeno

    Coletade dados(cap. 4)

    Introduo(cap. 1)

    ReferencialTerico(cap. 2)

    Metodologia(cap. 3)

    Anlisede dados(cap. 5)

    Concluses(cap. 6)

    Observaodo fenmeno

    Coletade dados(cap. 4)

    Figura 2 O Ciclo da PesquisaO interesse por um tema de pesquisa vem da vivncia direta ou indireta de um

    fenmeno. Por exemplo, o aluno pode decidir conhecer um pouco mais sobre sistemasintegrados de gestoao participar na implantao de um desses sistemas na empresaem que atua (vivncia direta), ou ao ler um artigo que relata como foi a implantaode determinado sistema integrado de gesto em uma empresa qual no tem acesso(vivncia indireta).

    A partir da observao (direta ou indireta) do fenmeno, o pesquisador se senteatrado a descobrir um pouco mais sobre ele. O primeiro passo para elaborar umamonografia definir qual o fenmeno que interessa ao aluno e o que ele pretendedescobrir sobre esse fenmeno. Assim, no primeiro captulo de sua monografia (aintroduo), voc dever informar ao leitor qual o tema de sua pesquisa e o quevoc pretende descobrir sobre esse tema, a sua pergunta.

    O captulo 1 da segunda parte do livro focalizar a introduo da monografia, quedever abordar: a definio do problema da pesquisa; a descrio do estudo que serrealizado; a justificativa de sua importncia; os seus objetivos especficos com aapresentao da pergunta da pesquisa; e a organizao do trabalho.

    Com a definio do tema, voc estar apto a ler e a organizar a teoria existentesobre o assunto. Voc deve mostrar ao leitor que conhece bastante do assunto

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    escolhido, uma vez que voc se props responder uma pergunta sobre esse assunto.Uma das contribuies de um trabalho cientfico a forma pela qual seu autororganiza o conhecimento coletado. Cada pesquisador tem sua forma prpria declassificar e de organizar a teoria existente. O segundo captulo de sua monografiadever conter uma compilao dos textos dos principais autores que j estudaram o

    tema que voc escolheu. O captulo 2 da segunda parte do livro orienta sobre comoplanejar as sees em que seu referencial terico ser dividido, como escolher o quedever ser lido e o que pode ser dispensado, entre outras questes.

    Aps apresentar o referencial terico ao leitor, vem o captulo em que voc deverinform-lo como pretende responder a pergunta de sua pesquisa. Para orient-losobre como fazer o captulo que indica a metodologia utilizada em sua pesquisa,elaboramos o captulo 3, apresentado na segunda parte do livro. Nele, discutimos aescolha do paradigma, o tipo de pesquisa, a importncia de sustentar sua pesquisacom dados empricos, entre outras questes.

    At o terceiro captulo de sua monografia (caso siga a sugesto de captulos daFigura 2), voc ter definido o projeto da sua pesquisa. A execuo da pesquisapropriamente dita englobando coleta de dados, anlise desses dados luz da teoriae apresentao das concluses comea no quarto captulo. Nesse captulo de coletade dados, voc dever descrever o que coletou sobre determinada ocorrncia dofenmeno, a fim de que o leitor perceba o contexto em que voc efetuou suainvestigao.

    No quinto captulo da segunda parte do livro, tratamos de como voc podeproceder anlise dos dados coletados, realando a importncia de uma associaoentre a teoria compulsada no seu referencial terico com a prtica descrita no captulode coleta de dados.

    No sexto captulo de sua monografia, como ser exposto no captulocorrespondente, apresentado na segunda parte do livro, voc estar apto a realar assuas principais contribuies e a sugerir novas pesquisas. A partir das limitaesencontradas por voc no decorrer do seu trabalho, aparecem ideias para novaspesquisas sobre o tema, instigando o leitor a iniciar um novo ciclo da pesquisa a partirdas suas sugestes.

    No stimo captulo da parte II, fazemos algumas consideraes sobre a redao dotrabalho final, que constituiro o produto monografia.

    Encerramos o livro (parte III) apresentando uma estrutura tpica (template) de umestudo de caso e exemplos de captulos de diferentes monografias.

    Cabe ressaltar que, no ciclo da pesquisa, podem ocorrer, e quase sempre ocorrem,retornos. Como pode ser observado na Figura 2, h um relacionamento entrepergunta da pesquisa, referencial terico, mtodo de pesquisa escolhido e dadoscoletados. Caso o pesquisador no obtenha os dados que havia planejado reunir,talvez tenha que rever a metodologia da sua pesquisa. Ao rever a metodologia, serinteressante compilar material terico que utilize metodologia similar para posteriorcomparao. Algumas vezes, a mudana ocorrida (na metodologia, nos dados ou noreferencial) faz com que o aluno precise rever a sua pergunta ajustando-a ao novocontexto de pesquisa. Outras vezes, o aluno chega a mudar de tema e abandonar ociclo inicial. Caso o aluno j tenha compilado bastante material terico, preferveladaptar a pergunta s condies concretas de metodologia e dados que conseguiuviabilizar.

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    Como visto, uma monografia, em geral, possui seis partes principais: introduo,referencial terico, metodologia da pesquisa, coleta de dados, anlise de dados econcluses. Os captulos da segunda parte do livro cobrem questes relativas a cadauma dessas partes orientando, passo a passo, a confeco de sua monografia. Ao fimdos captulos, apresentamos exemplos de monografias j aprovadas e realamos o

    que voc estar apto a fazer com relao sua monografia.

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    PARTE IIA REALIZAO DA MONOGRAFIANesta segunda parte, conduziremos o leitor entre as principais questes envolvidasna confeco de sua monografia captulo a captulo, desde a introduo de sua

    monografia at as concluses finais.

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    CAPTULO 1A INTRODUO DA MONOGRAFIA

    O primeiro captulo da monografia deve dar uma ideia clara do que o pesquisador

    pretende alcanar com o seu trabalho e estimular o leitor a l-lo. A introduo damonografia deve esclarecer qual o tema tratado e qual o problema que a pesquisavisa solucionar.

    Para elaborar a introduo, o pesquisador se depara com trs grandes decises aserem tomadas:

    1. a escolha do tema da pesquisa (qual a importncia e viabilidade do assunto aser abordado na monografia);

    2. a pergunta da pesquisa (qual o problema especfico, dentro do tema escolhido,que ser pesquisado pelo autor);

    3. o produto desejado (qual a contribuio que o autor espera agregar aoconhecimento existente com a monografia que pretende elaborar).

    Neste captulo, discutiremos o processo de tomada de cada uma dessas decises ecomo estaro refletidas no captulo de Introduo da sua monografia.

    O TEMA DA PESQUISAO autor deve, de incio, escolher um tema para sua pesquisa, ou seja, o assunto

    sobre o qual deseja realizar sua contribuio. Usualmente, as decises relativas aotema da monografia e ao nvel de contribuio para o conhecimento que o trabalho

    pretende gerar so tomadas de forma simultnea e no sequencial.Um bom tema de monografia deve atender dois critrios principais: importnciae

    viabilidade.

    A importncia do tema, tambm chamada de relevncia, depende do grau decontribuio ao conhecimento que a pesquisa proporcionar. Um tema importantese estiver ligado a uma questo que afete um segmento relevante da comunidadeonde o autor da monografia atua.

    Necessitamos, tambm, verificar se um determinado tema ser vivel de serestudado. A viabilidade da monografiadepender de fatores ligados ao prprio autor,

    tais como a sua capacitao acadmica e as suas limitaes pessoais em termos detempo e possibilidade de dedicao ao trabalho pretendido, face s suas atividades eobrigaes familiares, profissionais e pessoais.

    Alm disso, a viabilidade de qualquer projeto de pesquisa depender dos prazosimposto por terceiros, em especial, dos prazos oficiais da instituio a que o aluno estligado. No menos importante, verificar os prazos do prprio orientador, caso esteesteja para viajar, se ausentar do pas ou, eventualmente, se aposentar.

    Viabilidade envolve, tambm, uma avaliao comparativa entre o estgio atual deconhecimento sobre o tema pretendido e o estgio a que pretendemos atingir, isto , aavaliao do tamanho da empreitada a que estamos nos candidatando, conforme

    veremos adiante. Caso nos faltem informaes e no seja possvel coletar os dados

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    necessrios, ou no tenhamos o arcabouo metodolgico adequado para realizar oestudo pretendido, corremos o risco de no conseguir atingir nossos objetivos.

    Alm de atender aos dois critrios apontados, o tema da pesquisa dever motivar eser prazeroso, pelo menos para os pblicos a seguir:

    O prprio pesquisador. Do contrrio, ele poder se desestimular ao longo doprojeto. Se o aluno pretender trabalhar futuramente na rea acadmica, recomendvel que escolha um tema que o motive a realizar estudos posteriores.

    O orientador da monografia. Pelas mesmas razes, este dever se sentirmotivado a manter o aluno entre as suas prioridades, colaborando com ideiase sugestes. Naturalmente, para que isso seja possvel, o tema da pesquisadeve envolver um assunto sobre o qual o orientador possua razovelconhecimento, inclusive sobre as possveis dificuldades metodolgicas dotrabalho.

    A instituio a qual o aluno pertence, incluindo os futuros membros da bancaexaminadora. A escolha do tema deve levar em considerao a existncia deprofissionais, na sua e em outras instituies acadmicas, que tenham interessena rea de conhecimento em que voc pretende pesquisar.

    Um cuidado a ser tomado definir claramente o escopo da pesquisa, ou seja, ostpicos a serem efetivamente abordados e aqueles tpicos que, embora faam partedo escopo mais amplo do tema, ficaro explicitamente de fora do estudo. No sedevem criar falsas expectativas nos leitores, em especial, na banca examinadora.Deve-se esclarecer aquilo que estar sendo efetivamente coberto, o que poder sermuito til para que outros pesquisadores e avaliadores entendam at onde o

    pesquisador pretende avanar no conhecimento sobre o tema.TEMA, FONTES DE CONSULTA E QUADRO METODOLGICO.Eco (2004) estabelece cinco regras bsicas para conduzir o iniciante na escolha do

    tema da sua pesquisa. Discutiremos a seguir cada uma delas:

    O tema deve refletir os interesses do candidato. O pesquisador deve ter em menteque passar por um longo perodo de tempo trabalhando e envolvido com o tema aser escolhido. Caso o assunto no lhe seja agradvel, logo a convivncia com o tematornar-se- de difcil gerenciamento, prejudicando, com certeza, a qualidade dapesquisa a realizar.

    As fontes de consulta devem estar acessveis. A barreira imposta pela falta deacesso consulta pode inviabilizar tambm todo o processo pela incapacidade de seestabelecer um acervo terico que suporte a anlise. Por outro lado, a dificuldade emse obterem os dados necessrios tambm pode inviabilizar todo o processo. Por vezes,determinadas empresas ou organizaes refutam o fornecimento de seus dadosproprietrios por razes de ordem comercial ou estratgica. Algumas organizaes so fazem mediante a assinatura de um documento da instituio acadmica assumindoo compromisso de que o uso desses dados permanea confidencial, isto , semnenhuma referncia sua fonte quando da sua divulgao. Se tal documento nopuder ser fornecido ou for de difcil obteno, o andamento da pesquisa poder ficar

    comprometido.

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    As fontes de consulta devem ser manejveis, ou seja, devem estar ao alcancecultural do candidato. O pesquisador deve ter os conhecimentos necessrios paraanalisar o contedo obtido nas fontes de consulta que sero exploradas. Por vezes, osoriginais das obras que tratam do tema escolhido podem estar em uma lnguaestrangeira, indicando a necessidade de o pesquisador ter habilidade naquela lngua.

    A incapacidade dessas leituras pode prejudicar a qualidade do produto finalelaborado.

    O quadro metodolgico da pesquisa deve estar ao alcance da experincia docandidato. O pesquisador deve se familiarizar com o mtodo de pesquisa adotadopela instituio a que est vinculado e escolher um tema que seja factvel dentro dametodologia empregada. Esse quesito tambm deve ser considerado com relao aodomnio dos mtodos de tratamento dos dados a serem levantados. Assim, sugere-seque o iniciante domine essas duas vertentes.

    O professor escolhido como orientador deve ser adequado. O orientador deve

    possuir as competncias na rea de conhecimento do tema a ser definido, parapermitir uma orientao que resulte em um trabalho de qualidade e contribuio paraa Cincia. O grau de domnio desse aspecto influir na intensidade do direcionamentodo pesquisador no alcance de seu objetivo final. Vale realar, tambm, que um bomrelacionamento pessoal entre orientador e orientado facilitar enormemente otrabalho: afinal, um trabalho de cunho intelectual ser gerado a partir desse convvio,e a afinidade de ideias pode auxiliar a viabilizar a tarefa.

    Salomon (2004) prope algumas fontes de inspirao para um pesquisadorencontrar temas instigantes: observao direta do fenmeno, reflexo acerca dofenmeno, dvida sobre algo tido como senso comum, experincia pessoal, analogia

    com fenmeno de outra rea, participao em seminrios, leitura de revistas da reaetc.

    Antes de encerrarmos esta seo, faz-se oportuno registrar um cuidado especial napreparao de uma monografia. Esse fator est relacionado com a amplitude e aprofundidade da pesquisa. Trabalhos muito abrangentes abrem espao para crticasdurante sua defesa devido possibilidade de que algumas omisses venham aacontecer devido amplitude da investigao. Dessa forma, h a necessidade de selimitar o escopo da pesquisa, de maneira a torn-la gerencivel, com um nveladequado de profundidade, a fim de evitar crticas da banca que vai avaliar amonografia. Quanto mais se restringir o campo de estudo, melhor e com mais

    segurana se trabalhar dentro do espao de tempo concedido.A PERGUNTA DA PESQUISAPara que um trabalho cientfico tenha sucesso, Vergara (2000) reala a

    importncia da definio do tema da pesquisa e da formulao do problema dapesquisa (ou pergunta da pesquisa). O tema apresenta carter mais geral, e deonde provm a pergunta da pesquisa, ou seja, de onde provm o problema a serpesquisado. Um mesmo tema pode suscitar diversas perguntas a serem trabalhadas.Por exemplo, dentro do tema Adoo de Tecnologia, temos as possveis perguntas aseguir:

    Como o perfil psicolgico influencia a adoo de determinada tecnologia?

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    O quanto a diferena sexual impacta a adoo de um sistema deinformaes em uma organizao?

    Quais os impactos do treinamento na adoo de uma tecnologia?

    Vergara sugere que o problema especfico a ser investigado na pesquisa seja

    redigido sob a forma de pergunta. Esse formato exibe quatro vantagens:1. evita digresses estreis ou confusas em torno do tema, pois uma pergunta

    usualmente mais direta do que uma redao afirmativa;

    2. evidencia a distino entre o tema mais amplo e o problema especfico dapesquisa;

    3. torna mais claro, para o autor e para o leitor, aquilo a que se pretende darresposta com a pesquisa;

    4. permite que, ao final da pesquisa, se valide se foi atingido o objetivo. Basta lerde novo a pergunta e verificar se a pesquisa forneceu a ela uma respostaadequada.

    Todas as consideraes feitas anteriormente sobre a importncia e sobre aviabilidade do tema valem tambm para a pergunta da pesquisa.

    A autora prope ainda que se definam claramente os seguintes objetivos para otrabalho:

    objetivo final: trata-se de dar resposta ao problema estudado e, quando a perguntada pesquisa for clara e concisa, esse objetivo deriva diretamente dela;

    objetivos intermedirios: so as etapas necessrias para alcanar o objetivo final.

    Em outras palavras, correspondem quelas perguntas mais especficas, intermedirias,cujas respostas permitiro responder pergunta maior da pesquisa.

    Existem trs caminhos para se definir o objetivo de sua pesquisa: a partir de dadosexistentes, a partir de perguntascolocadas pelo pesquisador, ou, simultaneamente, apartir das perguntase dados.

    Quando se parte de dados j existentes, a inteno do pesquisador deve serchegar a uma melhor descrio do fenmeno ou sugesto de novas variveisrelevantes. Nesse tipo de abordagem, os objetivos da pesquisa se situaro no domniode descrio do fenmeno ou de sugesto de variveis relevantes.

    Quando se parte de perguntas j levantadas na literatura ou propostas peloprprio autor, o objetivo do pesquisador torna-se responder ou entender taisperguntas. Esse mtodo parte da teoria para a formulao de perguntas e, destas,para a obteno de dados.

    O PRODUTO DA PESQUISA: A Minha MonografiaO aluno deve definir qual a sua inteno e ambio com relao pesquisa que o

    levar realizao da sua monografia. Espera-se, nas monografias de graduao eps-graduao lato sensu, que o aluno contribua para o crescimento do acervo de

    conhecimento sobre o tema estudado atravs do teste de teorias e modelos existentesna literatura.

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    Trata-se, tambm, de decidir se a nfase do trabalho ser em uma aplicaoprtica (possibilidade de implantao imediata dos resultados e concluses dotrabalho) ou na gerao de novos conhecimentos (reviso crtica de trabalhosexistentes ou contribuio ao estoque de conhecimentos da rea estudada).

    A aplicao prtica encontra bastante apelo entre muitos estudantes, uma vez quese volta para a soluo de problemas reais, o que torna possvel mostrar claramente asua relevncia. Entretanto, existem algumas armadilhas que podem levar ao insucessona busca de soluo para problemas prticos. Dentre elas, enfatizamos a possvelcarncia de conhecimentos do pesquisador sobre a natureza do problema estudado edos seus fundamentos tericos.

    Por outro lado, para se modificar o nvel de conhecimento sobre a realidade, necessrio conhecer muito bem o estgio do conhecimento existente sobre essarealidade. As informaes que necessitam ser buscadas dependero,fundamentalmente, do conhecimento acumulado sobre o tema estudado at o

    momento. Bento e Ferreira (1982) propem a existncia de quatro nveis deinformao sobre um determinado tema:

    informaes sugestivas. Resultam da deciso do pesquisador em buscar ideiassobre um determinado assunto, do qual ainda se conhece muito pouco. Oobjetivo do pesquisador se prende a buscar melhor entendimento e descriodo fenmeno, identificao das suas variveis mais relevantes e formulao dehipteses para estudos futuros. Os meios em geral utilizados para alcanar talfim so pesquisas bibliogrficas, levantamento de opinies e estudo intensivode um ou mais casos reais;

    informaes preditivas. A partir do momento em que j existe um volumerazovel de informao sobre um determinado fenmeno, torna-se apropriadoidentificar, no caso de um estudo quantitativo, possveis associaes entrevariveis. De modo a cumprir esse objetivo, parte-se de hipteses, para cujavalidao ou refutao, podemos empregar diversas tcnicas, como: pesquisasde campo (surveys), entrevistas, questionrios, observao e anlise de registrosdocumentais;

    informaes decisivas. A partir do momento em que fatores explicativos jforam sugeridos e a sua associao foi confirmada, podemos verificar aexistncia de relaes de causa e efeito entre eles. Esse tipo de relao vai almda simples associao entre variveis, uma vez que pressupe que uma varivelse modifica no tempo em funo de outra varivel. Alm disso, uma relao decausa e efeito implica que, caso a experincia seja repetida em outrasorganizaes, a presena da referida causa dever levar ao mesmo efeito,eventualmente atenuado ou ampliado pela existncia de fatores moderadores.A busca de informaes decisivas parte de experimentos, que podero serrefutados ou aceitos atravs de tcnicas estatsticas;

    informaes sistmicas. O acmulo de informaes decisivas sobre umdeterminado problema pode permitir que se busque entend-lo dentro de umcontexto mais amplo, no sistema de fenmenos a que ele pertence. A partir

    desse momento, torna-se possvel propor, consciente e organizadamente, ummodelo ou sugestes que modifiquem o status ou a situao em estudo,gerando um entendimento mais amplo do fenmeno.

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    Esses nveis de informao compem uma escada de informaes (Figura 3) naqual no possvel alcanar um degrau superior sem antes ter sido galgado oimediatamente inferior.

    Entendida a sequncia acima, fica claro que o pesquisador, ao decidir o seu nvel

    de contribuio, precisa entender em que estgio se encontra o conhecimentoacumulado em sua rea de interesse. No adianta ser ambicioso demais e tentar obterinformaes que estiverem afastadas mais de um degrau daquelas j obtidas poroutros pesquisadores. Tambm no adianta ser modesto demais e no contribuir parao aumento do nvel de informao relativamente ao que j foi alcanado por outros.

    A reviso da literatura sobre o tema estudado muito importante e dever permitirao pesquisador entender o estgio atual de conhecimento acumulado em sua rea,alm de tomar conhecimento de possibilidades de pesquisa com base em trabalhos deautores que o precederam, assim como permitir que ele avalie adequadamente asdificuldades metodolgicas que poder vir a enfrentar. A colaborao do orientador

    fundamental neste momento.

    Figura 3 - Escada de Informaes (adaptado de Bento e Ferreira, 1982) importante observar que, s vezes, o orientador pode sugerir um tema depesquisa que seja de seu interesse especfico, relacionado a uma pesquisa maior j em

    andamento, ou em vias de ser iniciada, para a qual o estudo do aluno contribuircomo uma parte de um trabalho maior. A vantagem desse caminho o alunoencontrar um professor motivado e com conhecimento sobre o assunto. Por outrolado, existem duas desvantagens que no devem ser ignoradas: a primeira a de oaluno poder acabar por aceitar um tema que no lhe interessa muito, apenas paraatender ao que supe ser o desejo do orientador; a segunda a de isso poderprorrogar o trabalho do aluno para dele se extrarem mais dados que interessarosomente ao projeto maior do professor, mas, talvez, nada agregue ao trabalho do

    aluno.

    LiteraturaCasos

    HiptesesSuposies

    ExperimentosModelos

    PerguntasHiptesesSuposies

    Associaes

    Causa-efeito

    Sistema

    INFORMAES(Nvel de Conhecimento)

    SUGESTIVAS

    PREDITIVAS

    DECISIVAS

    SISTMICAS

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    Vale a pena aqui uma observao sobre a forma como a monografia ser escrita.Afinal, o produto da pesquisa no para consumo apenas do autor. Por essa razo, importante que ele busque um estilo de redao que, sem perder o rigor acadmico ecientfico, seja capaz de motivar o leitor leitura do trabalho at o fim. Dessa forma,poder o pesquisador vir a contar com mais sugestes e colaboraes para a

    continuao das suas pesquisas, alm de, provavelmente, aumentar as chances de asua pesquisa vir a ser til a outros.

    ASSOCIANDO TEMA, PERGUNTA E PRODUTOA escolha do tema norteia o processo de pesquisa, definindo a sua viabilidade e a

    sua importncia. Assim, a definio do tema da monografia e a elaborao dapergunta da pesquisa devem merecer uma maior ateno por parte do pesquisador.

    Uma monografia formulada a partir de um tema mal escolhido e de uma perguntamal elaborada pode ter dificuldades em garantir os requisitos necessrios para seraprovada pela comunidade cientfica a qual pertence. Como colocado por Vergara(2000), se a definio adequada de um problema, por si s, no garante o xito deuma produo cientfica, a definio inadequada, certamente, garante seu insucesso.

    Salomon (2004) reafirma a importncia dessa dedicao inicial em definir tema,pergunta e produto: todo o desenvolvimento da monografia depende, obviamente, daescolha do assunto: se for feliz, ter mais condies de xito; se infeliz, estar fadadoao fracasso.

    Para que tenhamos conscincia de aonde desejamos chegar em nossa pesquisa,Booth, Colomb e Williams (2000) sugerem um exerccio que visa combinar tema,pergunta e produto. Tendo como base o que voc deseja pesquisar, complete asseguintes lacunas:

    Estou estudando sobre ____ (o tema, o assunto que desperta meu interesse), a fimde descobrir ____ (o que no sei sobre o tema, minha pergunta), pois ____ (por quedesejo pesquisar esse par tema/pergunta, qual o fundamento lgico, a relevncia).

    O exemplo abaixo, extrado da pesquisa de Silva e Dias (2004), mostra comoassociar os trs elementos de uma pesquisa:

    Estou estudando sobre a inteno de uso de um SI a fim de descobrir como obrasileiro reage quanto aceitao de um sistema de informaes em que a altagerncia da organizao expressa a sua expectativa com relao a essa aceitao,pois quero descobrir quais consideraes devem ser feitas pela organizao quando

    da elaborao e introduo de um novo sistema de informaes.Aps completar as lacunas propostas, voc estar apto a iniciar seu captulo deintroduo. Esse exerccio ser apenas um resumo inicial da sua pesquisa, mas permiteque voc v aprimorando e lapidando os objetivos da sua monografia. O captulo deintroduo da monografia dever se estender mais nesses pontos (tema, pergunta eproduto), a fim de deixar claro para o leitor as contribuies que voc pretendeoferecer. Uma possvel organizao para a Introduo da sua monografia aseguinte:

    1.1.- Descrio do problema e sua importncia1.2.- Objetivo geral da pesquisa

    1.3.- Relevncia da pesquisa1.4.- Organizao do texto

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    No item 1.1, voc trataria do tema que o motivou a pesquisar. No item 1.2,apresentaria a pergunta da sua pesquisa e quais as contribuies pretendidas; no item1.3, realaria a importncia e justificativa terica e prtica de seu estudo. Por fim, noitem 1.4, indicaria ao leitor o que ele encontraria nas prximas pginas de seutrabalho.

    Alm de aprimorar a sua introduo, reveja o ttulo e o sumrio sugeridos nocaptulo 2 da primeira parte deste livro (O Planejamento da Monografia). Suamonografia comea a se concretizar.

    EXEMPLOS DE INTRODUES DE TRABALHOS ACADMICOSOs exemplos abaixo apresentam algumas formas de organizar o captulo de

    introduo.I. - Ttulo: Excelncia na Gesto Organizacional e a Performance da Gesto doConhecimento: a viso das grandes empresas no Brasil(Spiller, 2006)

    INTRODUO1.1 - Definio do Problema 11.2 - A Pergunta da Pesquisa 31.3 - Objetivos do Estudo 71.4 - Justificativas para a Realizao do Estudo 81.5 - Delimitao do Estudo 101.6 - Relevncia do Estudo 111.7 - Organizao do Estudo 12

    II. - Ttulo: Fatores Humanos e sua Influncia na Inteno de Uso de Sistemas deInformao(Silva, 2006)

    INTRODUO1.1 A Pergunta da Pesquisa 11.2 Objetivos 51.3 Delimitao do Estudo 61.4 Relevncia do Estudo 61.5 Organizao do Estudo 8III. - Ttulo: Integrao Organizacional e Tecnologia da Informao: um estudo na

    indstria farmacutica(Carneiro, 2004)INTRODUO1.1 Formulao da Situao Problema 41.2 Colocao do Problema e Justificativa 71.3 Relevncia do Estudo 71.4 Organizao do Estudo 9

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    CAPTULO 2O REFERENCIAL TERICO

    O referencial terico o alicerce para o desenvolvimento de uma monografia.

    Atravs dele, vamos encontrar o tema e levantar as hipteses que devero ser testadasou as suposies a verificar no decorrer do trabalho. Ele compreende o levantamentobibliogrfico que dar suporte ao estudo. Por isto tambm chamado de revisobibliogrfica. Ele deve conter o que segue:

    uma compilao dos textos dos principais autores que estudaram o tema damonografia;

    a identificao das contribuies mais importantes que estes autores fizeram aotema;

    os pontos em que os pesquisadores anteriores no foram capazes de apresentarcontribuies e que podero ser explorados para o aumento do conhecimentosobre o tema.

    Conforme vimos anteriormente, no que se refere busca do tema, o pesquisadordever atentar para os critrios de cientificidade, viabilidade e contribuio aoconhecimento em sua rea de estudos. Em decorrncia do tema estabelecido, surgeento a pergunta da pesquisa, que estabelece o desafio a ser explorado e delimita ocampo de trabalho a ser pesquisado.

    A definio da pergunta da pesquisa envolve as seguintes etapas:1.Reviso bibliogrfica2. Identificao da pergunta especfica da pesquisa

    3.Escolha das hiptese/suposies de trabalho4.Operacionalizao destas hipteses ou suposies

    Durante a reviso bibliogrfica, vrias perguntas podero ser relacionadas ao temaescolhido, porm devemos eleger como pergunta especfica aquela para a qualpodemos obter dados e que tenha o maior interesse para o pesquisador. Todo essetrabalho ser, portanto, resultado de consulta a livros, artigos, trabalhos j elaboradose pesquisas anteriores realizadas na rea de concentrao do pesquisador.

    Uma vez definida a pergunta especfica o pesquisador passa a um novo estgio dareviso bibliogrfica, a busca das hipteses ou suposies. Vergara (2000) define

    Hipteses, ou suposies, so a antecipao da resposta ao problema. Seeste formulado sob a forma de pergunta, a hiptese ou a suposio o sosob a forma de afirmao. A investigao realizada de modo que se possaconfirmar ou, ao contrrio, refutar a hiptese, ou a suposio.

    Vergara associa a definio de hiptese a instrumento do mtodo quantitativo. Jpara o mtodo qualitativo, Vergara acredita ser mais apropriado o estabelecimento desuposies. Hipteses sero provadas ou negadas com dados numricos, e suposiesavaliadas atravs de argumentos e teorias.

    A Figura 4 apresenta o relacionamento entre a reviso bibliogrfica, a pergunta, ashipteses/suposies e a possibilidade de obteno de dados para a pesquisa. Noestgio de busca de hipteses/suposies, j tendo decidido qual a pergunta

    especfica do estudo, o investigador identifica a contribuio que outros pesquisadoresj fizeram ao tema e verifica em que pontos eles no foram capazes de apresentar

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    contribuies. A partir da poder optar por continuar a linha de pensamento jexistente, estendendo ou completando os esforos anteriores, ou propor umaabordagem nova ao tema.

    Figura 4 - Pesquisa Bibliogrfica, Pergunta, Hipteses/Suposies e Possibilidade deDados adaptado de Bento e Ferreira (1982)No estgio de busca de hipteses ou suposies, a reviso bibliogrfica ser

    orientada em funo da pergunta especfica. O desenvolvimento de hipteses ousuposies pode ser obtido atravs de:

    Dilogo com o orientador ou com outros pesquisadores da rea. Anlise de problemas semelhantes em diferentes circunstncias. Anlise de situaes anlogas em outras reas de conhecimento. Visualizao de possveis solues para o problema.

    O intercmbio com pesquisadores mais experientes a respeito de nossaspreocupaes sobre a pesquisa em andamento permitir a emulao de sugestesque, certamente, sero teis para a realizao do trabalho.

    Testar uma hiptese ou avaliar uma suposio observar a forma pela qual, naprtica, ela poder ser considerada como falsa ou verdadeira. Esse processo poderacontecer atravs do desenvolvimento de duas etapas.

    Em um primeiro momento, devemos definir qual a prtica que estamosconsiderando, ou seja, como assumimos ou definimos que um determinado fenmenoacontece. Isso poder ser alcanado pela fragmentao da realidade que se desejaestudar.

    Buscado

    Tema

    Busca:Hipteses/Suposies

    PerguntaEspecfica

    Escolha:Hipteses/Suposies

    Possibilidade deDados

    Operacionalizao dasHipteses/Suposies

    REVISO BIBLIOGRFICA

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    Em um segundo momento, definimos uma regra de medida, isto , como ofenmeno ser interpretado. Em outras palavras, descrevemos o fenmeno em termosda populao envolvida, bem como da variabilidade1que ele pode apresentar.

    A operacionalizao de uma hiptese ou suposio a transformao dosconceitos existentes nas hipteses/suposies em fenmenos passveis de medio oude avaliao. Caso isto venha a se mostrar invivel, devemos conduzir novas escolhasde hipteses ou suposies.

    Cada pesquisador dever achar o caminho mais adequado situao do seuestudo. Entretanto, no basta definir as hipteses ou suposies, h que coloc-las embases operacionalizveis. O pesquisador poder encontrar no referencial tericocoligido modelos ou instrumentos para medir as variveis quantitativas e mtodos paratrabalhar os dados qualitativos coletados. Entretanto, podero ser encontradasdificuldades, seja pela dificuldade em se obterem dados, seja pela utilizao devariveis para avaliar hipteses ou suposies, que levem necessidade de buscarhipteses ou suposies alternativas.

    EXEMPLOSSeguem exemplos para ilustrar o que foi apresentado acima eles mostram a

    articulao dos elementos apresentados no captulo. Lembramos que, nem sempre,so requeridas perguntas intermedirias na elaborao de monografias.

    Exemplo 1 (Dias, 2002) Tema: Motivao para o uso de microcomputadores,

    Pergunta da pesquisa: O nvel educacional do usurio influncia as suas atitudesem relao aos microcomputadores?

    Mtodo utilizado: Quantitativo

    Hiptese: H diferena na utilidade percebida no uso de microcomputadores entreestudantes de graduao, ps-graduao e escola elementar.

    Hiptese: H diferena na facilidade percebida no uso de microcomputadoresentre estudantes de graduao, ps-graduao e escola elementar.

    Hiptese: H diferena no prazer percebido no uso de microcomputadores entreestudantes de graduao, ps-graduao e escola elementar.

    Exemplo 2 (Spiller, 2004) Tema: Inteligncia competitiva na indstria de distribuio de combustveis no

    Brasil: um estudo de caso,

    Pergunta da pesquisa: As empresas pertencentes amostra escolhida demonstraminteresse e preocupao a respeito da adoo de prticas pertinentes Inteligncia Competitiva?

    Mtodo utilizado:Qualitativo. Suposio: As empresas adotam mtodos e tcnicas dirigidos especialmente para

    as atividades de Inteligncia Competitiva.

    1Variabilidade refere-se s gradaes que o fenmeno apresenta que sejam relevantes para o estudoem questo.

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    Suposio: As empresas investem em recursos materiais e tecnolgicos visando obteno de dados, informaes e conhecimentos sensveis.

    Exemplo 3 (Chao, 2004) Tema:Fatores motivacionais relativos ao uso de tecnologia por diretores de arte

    em agncias de propaganda. Pergunta central da pesquisa: Como diretores de arte de agncias de propaganda

    do Rio de Janeiro lidam com a tecnologia oferecida pelos microcomputadoresno seu ambiente de trabalho?

    Mtodo utilizado:Qualitativo. Pergunta intermediria 1: Quais foram as principais mudanas causadas pela

    introduo do computador nas agncias de propaganda? Suposio: O nmero de profissionais alocados no Estdio foi reduzido

    drasticamente.

    Suposio: O trabalho do diretor de criao foi alterado pelo advento docomputador. Pergunta intermediria 2: Quando e como os diretores de arte comearam a usar

    computador? Suposio: O primeiro contato com os computadores ocorreu no ambiente de

    trabalho. Pergunta intermediria 3: Que grau de prazer os diretores de arte sentem ao usar

    computador? Suposio: Os diretores de arte que comearam a usar computador antes de

    ingressar na vida profissional sentem mais prazer em trabalhar com ele. Pergunta intermediria 4: Que grau de facilidade os diretores de arte tm em usar

    computador como ferramenta de cunho profissional? Suposio: Os diretores de arte que aprenderam a usar os computadores mais

    jovens tm maior facilidade em lidar com ele. Pergunta intermediria 5: Que grau de utilidade os diretores de arte atribuem ao

    computador no ambiente de trabalho? Suposio: A utilidade percebida o principal fator motivacional para o uso de

    computador.

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    CAPTULO 3A METODOLOGIA DA PESQUISA

    A Figura 5 apresenta o relacionamento entre o tema, a pergunta, as hipteses ou

    suposies, o mtodo e os dados da pesquisa. Embora aquela figura mostre umaexecuo sequencial das etapas do ciclo de pesquisa, na fase inicial de nosso estudo,temos de considerar simultaneamente a pergunta da pesquisa e a disponibilidade dedados para escolher o mtodo mais adequado para realizar a pesquisa. A pergunta dapesquisa, a disponibilidade de dados e o nvel de conhecimento existente sobre o temaajudam a definir o mtodo de pesquisa mais apropriado (qualitativo, quantitativo,experimento etc.) para realizar nossa investigao. Ajudam, ainda, a dar uma ideia daviabilidade da pesquisa que se pretende realizar.

    Figura 5 Metodologia da PesquisaO tema, pergunta e hipteses/suposies da pesquisa j foram abordados

    anteriormente. No prximo captulo discorreremos sobre a coleta dos dados a seremutilizados no estudo realizado para a elaborao da monografia.

    Neste captulo, concentramo-nos na discusso do processo utilizado para aexecuo de uma pesquisa, usualmente denominado de metodologia da pesquisa.

    Os mtodos da pesquisa podem ser classificados de vrias maneiras, entretanto,uma das distines mais comuns est entre mtodos qualitativos e os quantitativos depesquisa. Esclarecemos que, quando falamos no texto em suposies, estamos falandode um termo utilizado principalmente em pesquisas qualitativas. Por outro lado,quando falamos em hiptesesestamos falando de um termo utilizado principalmente

    em pesquisas quantitativas e experimentos. Testar uma hiptese algo que estintrinsecamente ligado utilizao de procedimentos estatsticos.

    Tema

    Pergunta

    Hiptese ouSuposio

    Metodo

    Dados

    Gera

    Gera

    Utiliza

    Processa

    Testa

    Responde

    Satisfaz

    P

    rojeto

    E

    xecuo

    Qualitativa

    Quantitativa

    Experimento

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    O processo de definio da metodologia de pesquisa composto de quatro etapasprincipais: (a) a unidade de anlise, (b) o esquema lgico da pesquisa, (c) a definioda coleta de dados e (d) o quadro de referncia para a leitura de resultados.

    Braga e Gouva (2003) representam esse processo atravs do modeloapresentado na Figura 6. No modelo explicitada a recorrncia entre aquelas etapas,nas quais o pesquisador vai redefinindo os pontos abordados conforme vai avanandono processo de estruturao de sua metodologia.

    Figura 6 - Definio da metodologia de pesquisa

    (Fonte Braga e Gouva, 2003)Descrevemos a seguir essas etapas.1. Unidade de Anlise Representa a populao a ser estudada e a amostra

    dessa populao que ser utilizada. A unidade de anlise determina o grau degeneralizao da pesquisa, ou seja, o quanto ela ser vlida externamente.Assim, para definir a validade externada pesquisa o leitor precisa conhecer emque populao (ou universo) ela foi aplicada e que amostradessa populaofoi estudada.

    Yin (1989) define validade externa como o estabelecimento do domniopara o qual as concluses de um estudo podem ser generalizadas. O autordiferencia validade externa de confiabilidade, que, segundo ele, ademonstrao de que as operaes de um estudo, como, por exemplo, osprocedimentos de coleta de dados, podem ser repetidos com os mesmos

    resultados.

    Suposies ou Hipteses da Pesquisa

    Unidade de Anlise Validade externa Delimitao e escopo Populao e amostra

    Regra de Definio

    Definio da Coleta de DadosFonte: primria / secundria Documental / entrevista / questionrio Origem dos documentos, perguntas das entrevistas ou questionrios.Forma de registrar os dados e avaliao da confiabilidade

    Esquema Lgico da PesquisaValidade Interna

    Justificativa das variveisJustificativa do modelo

    Escolha do tipo de pesquisa quantitativa qualitativa experimento

    Quadro de Leiturados Resultados

    Tcnicas de anlisee seu domnio

    Definio de comose interpretaros resultados

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    2. Esquema lgico da pesquisa Define como ser avaliada a unidade de anlisee que mtodo ser utilizado para avali-la. A qualidade do esquema lgico avaliada pela validade internada pesquisa.Por exemplo, em uma pesquisa qualitativa, a validade interna pode avaliar aqualidade da estrutura textual, a correo do contedo do texto, o valor socialda mensagem e o seu significado poltico.Em uma pesquisa quantitativa, a validade interna avalia se o esquema lgicoapresenta uma boa definio das variveis que sero medidas e se as relaesque sero verificadas entre essas variveis esto consistentes com os dados aserem utilizados.

    3. Coleta de dados Define como as informaes sobre a unidade de anlisesero obtidas, como veremos no prximo captulo.

    4. Quadro de referncia para leitura dos resultados Em uma pesquisaquantitativa seria, por exemplo, a forma como os dados sero tratados,

    permitindo aceitar ou refutar a hiptese da pesquisa relativa unidade deanlise.

    PERSPECTIVAS FILOSFICASToda pesquisa baseada em algumas suposies subjacentes sobre o que

    constitui pesquisa vlida e que mtodos de pesquisa so apropriados.Positivismo

    Positivistas geralmente assumem que a realidade objetiva e pode ser descrita porpropriedades que so independentes do observador (pesquisador) e de seusinstrumentos de avaliao. Os estudos positivistas geralmente tentam testar teoriasnuma tentativa de aumentar a compreenso sobre os fenmenos. Em linha com isso,usualmente classificamos uma pesquisa como positivista, se h evidncia deproposies formais, medidas quantificveis de variveis, teste de hipteses e apossibilidade de inferncias sobre um fenmeno a partir de uma amostra de umadeterminada populao.Interpretativismo

    O interpretativismo assume que o acesso realidade somente pode ser feitoatravs de construes sociais, tais como a lngua, a conscincia e os significadoscompartilhados. Os estudos interpretativos geralmente tentam compreender os

    fenmenos atravs dos significados que as pessoas lhes atribuem e os mtodosinterpretativos de pesquisa visam produzir uma compreenso do contexto do fenmenoem estudo. Eles buscam entender, tambm, o processo pelo qual o fenmenoinfluencia o seu contexto e como, por ele, influenciado. A pesquisa interpretativa nodefine previamente variveis dependentes e independentes, mas foca na complexidadeque emerge da situao estudada.

    PESQUISA QUALITATIVA E PESQUISA QUANTITATIVAA pesquisa qualitativa envolve o uso de dados qualitativos, tais como entrevistas,

    documentos e dados de observao participante, para a compreenso e explicao

    dos fenmenos. As pesquisas qualitativas podem ser encontradas em muitas disciplinase campos, usando uma variedade de enfoques, mtodos e tcnicas.

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    MTODOS QUANTITATIVOSOs mtodos quantitativos de pesquisa mais utilizados na academia so: a survey,

    tambm chamada pesquisa emprica, e o experimento.A Survey Pesquisa Emprica)

    Uma survey geralmente realizada quando um pesquisador ou uma instituionecessita realizar uma investigao que envolva uma grande quantidade de dadosquantitativos.

    Aps definidos o objetivo e a metodologia a ser utilizada na pesquisa,desenvolvemos o projeto para realizar a nossa survey. Isso envolver vrias atividadesrelacionadas: (i) definir regras para localizar os possveis respondentes; (ii) projetar asamostras apropriadas; (iii) estabelecer o mtodo de coleta de dados; (iv) desenhar epr-testar o questionrio a ser utilizado nas entrevistas que sero realizadas; (v)estabelecer o plano de anlise dos dados coletados. Deve ser feito, ainda, um planopara resolver os casos de no resposta.

    Embora um projeto de pesquisa emprica possa ser bem concebido, o trabalhopreparatrio seria intil se ela fosse executada impropriamente. Antes das entrevistas,as organizaes estudadas e seus respondentes devem ser convidados a participar dapesquisa e informados, atravs de uma comunicao formal, da finalidade dapesquisa. Em muitas surveys,deve ser dada, tambm, informao ao respondente arespeito da natureza voluntria ou imperativa da pesquisa e informar como as suasrespostas sero utilizadas.

    Quando as entrevistas terminarem e os questionrios estiverem devidamentepreenchidos, devem ser processados de forma a agregar totais, mdias e outrasestatsticas que possam ser teis para a finalidade da pesquisa. Decises sero

    necessrias com relao a como tratar dados faltantes e no respondidos.Quando um arquivo, devidamente depurado, for produzido, o pesquisador poder

    processar no computador os clculos estatsticos definidos no seu esquema lgico dapesquisa.

    Um ponto destacado por Castro (1978) o uso de ferramentas para a conduoda pesquisa e a elaborao da monografia. Castro reala que a paixo pelasferramentas no deve ter importncia decisiva na seleo do tema, embora aadequao do assunto aos gostos do pesquisador seja condio importante paraaumentar a probabilidade de concluso do trabalho.

    Algumas vezes, o pesquisador se deixa fascinar por determinada tcnica e passa autiliz-la indiscriminadamente, personificando o ditado para quem s tem martelo,todo parafuso prego. Uma boa monografia pode ser realizada com emprego detcnicas elaboradas, inclusive acrescentando-lhe qualidade, mas a existncia datcnica, por si s, no garante uma monografia de boa qualidade. Havendo umatcnica mais simples aplicvel, evidencia-se a falta de procura por otimizao derecursos, que pode desmerecer o pesquisador. A criatividade deve presidir tanto aescolha do tema quanto a escolha dos caminhos a percorrer para chegar aosresultados. O emprego de caminhos simples e engenhosos pode acrescentarqualidade ao trabalho.

    O Experimento

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    O experimento tem como base a observao do fenmeno em um ambientecontrolado. O pesquisador elabora um cenrio de pesquisa, define as variveis aserem observadas e os sujeitos a serem analisados (o grupo experimental e o grupo decontrole).

    Quando no h grupo de controle que permita verificar se as diferenas medidaspossam ser atribudas ao acaso ou a um efeito placebo, fala-se em pr-experimento.

    Quando o fenmeno no permite o controle de todas as variveis em estudo ouquando o grupo de controle no se origina do mesmo grupo de onde foramselecionados os sujeitos do grupo experimental, denomina-se quasi-experimento.

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    EXEMPLOSExemplo de Estudo de Caso

    Este exemplo contempla a dissertao de Dias (2007) cujo tema adoo detecnologia.

    A pergunta da pesquisaO tema geral desta pesquisa a aceitao de tecnologia, tomando como base o

    modelo TAM (Technology Acceptance Model). A tecnologia escolhida para estudo osoftware DOSVOX. Essa ferramenta um sistema operacional para portadores dedeficincia visual que traduz dgitos em sons. A investigao foca nos usurios doDOSVOX dentro e fora do Instituto Benjamin Constant. De um ponto de vista maisespecfico, buscou-se examinar os motivos que influenciaram a adoo dessatecnologia, ou melhor, como a tecnologia influencia na vida dos portadores dedeficincia visual. Assim, a pergunta central da pesquisa :

    Como os fatores motivacionais influenciam a inteno de uso de uma ferramentade software para portadores de deficincia visual?Com objetivo de entender o segmento dos respondentes com relao s

    percepes investigadas no modelo, foram formuladas as seguintes perguntas:Pergunta 1: Qual a expectativa social e profissional dos usurios portadores de

    deficincia visual?Pergunta 2: Quais as mudanas decorrentes da introduo do computador na vida

    de um portador de deficincia visual?Pergunta 3: Como a ferramenta DOSVOX percebida, de forma geral, pelos

    portadores de deficincia visual?Pergunta 4: Como a presso social impacta na utilizao de uma ferramenta de

    software para portadores de deficincia visual?Pergunta 5: Como a facilidade de uso impacta na utilizao de uma ferramenta de

    software para portadores de deficincia visual?Pergunta 6: Como a utilidade percebida impacta na utilizao de uma ferramenta

    de software para portadores de deficincia visual?Tipo de pesquisaQuanto a seus fins e meios, uma pesquisa exploratria de estudo de caso, no

    sentido de ser uma investigao emprica executada no local onde ocorre certo

    fenmeno, para a obteno de dados primrios por meio da realizao de entrevistasabertas.

    O universo desta pesquisa formado pelos usurios do DOSVOX e que, em suamaioria, esto relacionados ao Instituto Benjamin Constant instalado no Rio deJaneiro.

    Sujeitos da pesquisaOs sujeitos desta pesquisa so portadores de deficincia visual que utilizam o

    software DOSVOX.Nesta pesquisa, foram entrevistados dez portadores de deficincia visual, sendo

    cinco homens e cinco mulheres. Nove freqentam o Instituto Benjamin Constant no Riode Janeiro e um se encontra em Braslia, onde ocupa um cargo em uma instituiopblica.

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    CAPTULO 4A COLETA DE DADOS

    Conforme enfatizamos anteriormente, existe uma forte ligao entre a pergunta da

    pesquisa, o mtodo de pesquisae a disponibilidade de dadospara que o pesquisadorpossa conduzir o seu estudo com sucesso. fundamental termos em mente, desde oincio de nosso trabalho, que necessitamos ter acesso a dados que permitam testarnossas suposies ou hipteses para chegar s respostas que buscamos em nossapesquisa. Na parte da coleta de dados inevitvel que a prtica tome um lugarimportante mais uma vez, fatores como custo e tempo no podem ser ignorados devem ser considerados ao lado de aspectos como volume e validade dasinformaes.

    Segundo Trivios (1995), um dado tudo aquilo que o pesquisador procurarpara fundamentar o estudo de algum fenmeno. Nessa busca pela fundamentao e

    pela obteno dos dados, podem ocorrer algumas situaes indesejveis e de difcilsoluo para o prosseguimento da pesquisa.Uma das possveis ocorrncias a pressa na elaborao dos mecanismos da

    captura de dados em virtude de um calendrio apertado a ser cumprido pelopesquisador. Tenta-se eliminar etapas para ganhar tempo e erros so introduzidos noprocesso. Outro exemplo de situao indesejvel nessa etapa da investigao pode serdecorrente de uma falha de avaliao sobre a disponibilidade dos dados, ou seja,pode ser que os dados se tornem inacessveis em virtude de obstculos interpostospelas fontes que os detm.

    Chamando a ateno para as observaes de Leite (1978), transcritas a seguir,

    quando, nos momentos iniciais da pesquisa, avaliamos a obteno das informaesde que necessitamos:

    A visualizao de todo o trabalho necessria execuo da tese, a fim deque se possa saber quais dados, de fato, so relevantes ao tema;

    A coleta de dados irrelevantes em nada ajuda a execuo da tese, pelocontrrio, atrapalha-a;

    necessrio verificar, antecipadamente, e com a mxima precauo, se todosos dados necessrios podem ser obtidos com as restries fsicas, temporais efinanceiras a que o pesquisador est sujeito.

    Os dados de que necessitamos podem ser de dois tipos: dados primriose dadossecundrios. Os dados primrios so aqueles que coletamos diretamente na fonte emque so gerados. Exemplos de dados primrios seriam a observao direta do fato queestamos estudando ou a coleta de dados junto a pessoas que vivenciaram a situaoem questo. J os dados secundrios so aqueles que, j tendo sido coletados eregistrados por outrem, se encontram disposio do pesquisador em livros, revistas,relatrios, pginas na internet, arquivos digitais, etc.

    Leite (1978) tambm efetua uma classificao desses dois grandes conjuntos dedados, denominando de dados primriosqueles que so obtidos pela experincia dopesquisador atravs da sua ao no campo, utilizando sondagens, entrevistas e

    questionrios que podem ser aplicados pelo correio, por telefone ou atravs decontato pessoal. J os dados secundrios so geralmente obtidos atravs da

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    consulta a estatsticas e publicaes de rgos governamentais, entidades de classeou organizaes privadas ou tambm de bases de dados j estabelecidas em funode pesquisas anteriormente realizadas.

    A utilizao de dados secundriosna pesquisa, se essa for a melhor soluo para otema e questo em estudo, requer que o pesquisador se assegure da sua existncia epossibilidade de acesso. A coleta de dados primriosexige tcnicas que dependem donvel de participao e controle do pesquisador no processo de coleta.Participaoo nvel de envolvimento do observador na situao sendo observada. Controle ograu com que a observao padronizada e manipulvel, com o devido rigorcientfico, claro, pelo pesquisador.

    Atravs de um esquema de duas dimenses, apresentado no Quadro 1, Mann(1983) chega a quatro tipos diferentes de observaes possveis: observao noparticipante (observao de pssaros); observao participante; observao emlaboratrio; e entrevista/questionrio. Diferentes mtodos de pesquisa (estudo decaso, experimento, pesquisa de campo, etnografia etc.), com necessidades diferentesde interveno, recomendaro graus adequados de participao e de controle dopesquisador na fase de coleta de dados. Em geral, podemos usar vrias tcnicas decoleta de dados, com objetivo de enriquecer nossa anlise, ainda que algumastcnicas possam ser incompatveis com o tipo de dado que estamos coletando.

    Mnimo PARTICIPAO MximoCONTROLE

    Observao dePssaros ObservaoParticipanteObservao emLaboratrio Entrevista eQuestionrioMximo

    Quadro 1 - Controle vs. Participao na Coleta de Dados(Fonte: Mann, 1983)Ao se analisar o Quadro 1, no se deve imaginar que a coleta de dados sempre se

    situe nos extremos mximo e mnimo de participao e controle. Em geral, agradao intermediria de participao e controle em coleta de dados o queusualmente acontece nas pesquisas que realizamos.

    Detalhamos a seguir os quatro tipos de participao e controle sugeridos.

    No controlada e no participante (Observao de pssaros)Nesta tcnica de observao, o fato observado no tem conhecimento de estar sob

    observao. Dessa forma, o pesquisador no introduz nenhuma alterao nocomportamento da situao. Por outro lado, ele tambm no pode controlar oobservado, mesmo que queira obter alguma informao adicional somente odesenrolar normal da situao serve como material para a coleta de dados. Essatcnica muito usada para pesquisar fenmenos naturais.

    H duas dificuldades na conduo deste tipo de pesquisa:1) pode ser difcil observar o fato sem se ser percebido;2) pode ser ilegal ou no tico observar pessoas, seus comportamentos e atos,

    registr-los sistematicamente fazendo anotaes para posterior anlise, sem que aelas tenham conhecimento a respeito.

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    Controlada e no participante (Observao em laboratrio)Nesta tcnica de observao, o pesquisador tambm no interfere diretamente na

    situao estudada enquanto a observa. No entanto, a situao a ser focada previamente preparada. O pesquisador, embora no participante, tem controle sobre asituao a ser observada.

    A tcnica de observao em laboratrio se presta melhor observao decomportamentos e reaes em grupos e experimentos relativamente pequenos simplesmente porque difcil organizar grandes experimentos em torno de uma situaopr-formatada.

    Segundo Mann, a observao em laboratrio engloba a observao de atores emum ambiente criado pelo observador com o propsito especfico de um experimento.Esse mtodo pode ser aplicado por socilogos ou psiclogos e adequado paraestudos em situaes especficas de curta durao, pois, h limitao nessa tcnica,devido a no ser vivel a manuteno da experincia por um longo tempo. Alm disso,

    h de se ter cuidado quanto a restries ticas relacionadas aos tipos de experimentosrealizados.

    Pouco controle e grande participao (Observao participante)Neste caso, o observador praticamente se comporta como se fosse um membro do

    grupo que pretende observar. A tcnica de observao participante se mostraparticularmente til quando a situao a ser observada 1) pouco conhecida; 2) no claramente visvel para observadores externos; 3) intencionalmente escondida dopblico.

    Entretanto, participar de um grupo de pessoas sem se identificar como umobservador externo envolve uma questo tica e, alm disso, pode pr todo o trabalhoa perder caso os membros efetivos do grupo venham a descobrir que vinham sendoobservados sem seu conhecimento e sintam-se enganados. Por outro lado, se o grupofor informado da presena do observador poder vir a modificar o seu comportamento,e a pesquisa poder ser prejudicada.

    Esta tcnica muito usada em etnografia.

    Participao controlada (Entrevista e Questionrio)Enquanto as tcnicas anteriores so usualmente utilizadas para observar

    comportamentos e reaes, a entrevista e o questionrio so adequados basicamente coleta de opinies. Por essa razo, conforme (Selltiz et al., 1987), esses instrumentossomente se prestam obteno de material que uma pessoa possa relatar e estejadisposta a faz-lo. Para o autor, as tcnicas de observao descritas anteriormenteso dirigidas para a descrio e entendimento de comportamentos. Questionrios eentrevistas servem mais para se obterem informaes sobre as percepes, ossentimentos, as crenas, as motivaes ou os planos de uma pessoa.

    Embora possa parecer, a princpio, que o pesquisador detm o controle total dasituao (ele seleciona as perguntas que quer ver respondidas e, se assim o desejar,pode selecionar as alternativas padro para as respostas), na realidade ele acaba tendode conseguir aproximao com o respondente para obter a sua boa vontade. Este, porsua vez, caso imagine que as suas respostas podero ter consequncias pessoais,sociais ou profissionais, poder se sentir tentado a no revelar a verdade. Vale lembrarque o termo entrevista pode ser utilizado para designar trabalhos diversos, como a

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    matria que um reprter elabora ou os relatos contidos em um texto que contmopinies de pessoas. Contudo, o tipo de entrevistaque interessa s Cincias aquelaque efetivamente contribui para que se teste e valide uma teoria ou proposio.

    Trivios (1995) apresenta uma maneira de classificar os mtodos de coleta,aproximando-os de uma aglutinao em torno do mtodo da pesquisa, apesar de dizerque no podemos afirmar categoricamente que os instrumentos que usamos pararealizar a coleta de dados sejam diferentes na pesquisa qualitativa daqueles que soempregados na investigao quantitativa.

    Segundo Trivios, o pesquisador qualitativo deve considerar que o seu garimpo pordados deve envolver a sua participao pessoal e a de quem deseja retirar asinformaes desejadas, como o caminho mais adequado para consecuo do seuobjetivo. Nesse sentido, os instrumentos mais indicados para uma pesquisa qualitativaseriam: a entrevista semi-estruturada, a entrevista aberta ou livre, o questionrio aberto,a observao livre, o mtodo clnico e o mtodo de anlise de contedo.

    A ENTREVISTA INFORMALNa entrevista informal h bastante liberdade com relao s perguntas e s

    respostas. O pesquisador inicia com uma pergunta introdutria ou um tema instigantee permite que o entrevistado faa suas digresses. Caber ao entrevistador, contudo,retornar ao tema principal to logo perceba que a conversa est deixando de serpertinente.

    Uma das vantagens da entrevista informal que, como ela se parece com umaconversa, tudo tende a fluir de forma natural. Outra vantagem que o pesquisadorno coloca um limite s respostas, e estas podero ir alm daquilo que ele, em suaconcepo provavelmente limitada sobre o assunto, poderia supor ser possvel.

    Uma grande desvantagem desta tcnica, no entanto, que ela carece depadronizao, ou seja, possvel que dois pesquisadores diferentes, ao entrevistar amesma pessoa, obtenham resultados distintos. Alm disso, o pesquisador, com seuritmo, entonao, expresses e gestos, pode vir a influenciar, ainda queinadvertidamente, a resposta do entrevistado.

    Outra desvantagem desse procedimento encontra-se no fato de que, uma vez queno so definidas respostas padro, pode-se tornar extremamente difcil estabelecercategorias para classificar os dados coletados. Alm disso, as pessoas podem se sentirinibidas ou constrangidas a falar sobre determinado tema ou a falar a verdade, por

    receio de eventuais consequncias sua reputao pessoal ou sua seguranaprofissional.Em funo de suas caractersticas, a entrevista informal se presta melhor a estudos

    exploratrios, em que ainda haja pouca informao acumulada e sistematizada sobreum determinado fenmeno.

    ENTREVISTAS FORMAIS E QUESTIONRIOSNa entrevista formal e questionrio, o pesquisador seleciona as perguntas e define

    as respostas possveis para cada pergunta (em alguns casos, as perguntas doquestionrio podem conter espao para observaes adicionais do entrevistado).

    Caso se tenha tido o devido cuidado na seleo dos respondentes e na coleta dasrespostas, os dados obtidos podero receber tratamento estatstico. Com a entrevista

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    facilidade de preenchimento, a aparncia (lay-out) e a adequao para o respondentedo meio de coleta utilizado.

    CUIDADOS COM RELAO AO CONTEDO DAS PERGUNTASCom relao ao contedo das perguntas feitas a pessoas em entrevistas ou

    questionrios, Selltiz (1987) destaca alguns tipos, cada um dos quais merece cuidadosespeciais:

    Contedo dirigido principalmente para a verificao de fatos. Nesse caso, aquesto garantir a veracidade das respostas para que haja realmente fatos a estudar.As pessoas podem falsear a verdade inadvertidamente (por exemplo, falhas dememria) ou intencionalmente.

    Uma forma de se lidar com esse tipo de problema comparar a opinio de vriaspessoas para verificar se elas parecem coerentes entre si, sendo que as contradiesnas descries, eventualmente surgidas, podem ser importantes para futuras pesquisas.

    Deve-se procurar descobrir pessoas que estejam em condies de conhecer os fatos.Uma forma de verificao da exatido do fato a comparao das descriesfornecidas por vrias pessoas. Se possvel, as afirmaes devem ser verificadas atravsde anlises e registros estatsticos.

    Huber & Power (1985) citam quatro razes primrias para explicar porquerespondentes produziriam respostas incorretas, em especial quando se trata de dadosretrospectivos: suas limitaes perceptuais e cognitivas resultam em erros inadvertidos;eles no possuem informaes cruciais sobre os eventos de interesse; eles foramquestionados atravs de procedimentos ou instrumentos no apropriados; eles estomotivados a faz-lo.

    Contedo dirigido principalmente verificao de crenas quanto a fatos. Emalgumas pesquisas, o pesquisador no est em busca da verdade objetiva, mas daforma como as