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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 220 altura os fortes tinham gente à volta, mas quando esses animais desapareceram o cavalo 3 percebeu que as estruturas tinham ficado acabadas. Quatro construções em ferro cheias de animais armados e de devastadora pólvora, que a Quinta da Confusão não estava a ver como incendiar para detonar os fortes. Questionado sobre o que se iria fazer a seguir, o cavalo 3 disse que preferia esperar. Um ataque directo a um forte podia acabar em desastre, pelo que era necessário encontrar outra estratégia. O tempo dos soldados para pensarem acabou no momento em que se começaram a ver várias luzes no ar, que pareciam estar a aproximar- se dos archeiros. Todas aparentavam partir do forte inimigo mais próximo. E era verdade. Os animais dessa fortificação tinham decidido atacar as tropas da Quinta da Confusão, usando a sua catapulta para lhes atirarem pólvora. Os postos de observação dos archeiros estavam a 200 metros do forte, o alcance máximo da catapulta, pelo que apenas a estrutura mais próxima acabou por ser bombardeada. As outras, fora de alcance, foram poupadas. Mas a vala anti-veículo, mais próxima, foi duramente atingida. Os soldados viam os cilindros a aterrar ao redor da vala, e as explosões a mandarem terra e barras de ferro ao ar. Se a situação continuasse assim, em breve a terra na zona dos bombardeamentos ficaria tão esburacada que um veículo poderia passar pela vala anti-veículo. Ao ver os bombardeamentos, o cavalo 3 teve uma ideia. O forte focava- se numa única zona, aquela onde estavam os inimigos… Mas e se os inimigos fossem para outras áreas e daí tentassem atacar o forte de surpresa? A estratégia era arriscada: se os animais do forte descobrissem os inimigos na sua zona de alcance facilmente acabariam com eles mandando- lhes pólvora. Por isso, o cavalo 3 recomendou extrema cautela aos soldados: era preciso rastejar pelo terreno lentamente para não se chamar a atenção dos inimigos. Assim foi. Deixando o forte a bombardear as linhas defensivas da Quinta da Confusão, os soldados afastaram-se da área atacada, passaram pela vala anti-veículo e começaram a avançar em direcção ao forte. Lentamente, metro após metro, os animais foram-se aproximando a rastejar da construção de ferro onde se refugiavam 100 inimigos. Como penetrar no forte? Logo se veria quando se lá chegasse. À medida que se iam aproximando, os soldados podiam ver que os animais da Herdade dos Ovos estavam atentos às linhas defensivas, tentando sempre ver algum inimigo na zona. «Em vão», pensavam os soldados, porque todos eles estavam já à volta do forte. Até que um dos animais conseguiu alcançar a porta da fortificação, fechada por três trancas de metal. O soldado pôs-se de pé, e logo ouviu um ruído. Era a catapulta a ser activada mais uma vez, a mandar mais um cilindro de pólvora para a vala anti- veículo. O soldado então teve uma ideia: se ele subisse para o tecto do forte e fechasse o espaço por onde a pólvora saía repentinamente, sem dar tempo aos inimigos de abortarem o lançamento, o cilindro bateria no tecto,

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império

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altura os fortes tinham gente à volta, mas quando esses animais desapareceram o cavalo 3 percebeu que as estruturas tinham ficado acabadas. Quatro construções em ferro cheias de animais armados e de devastadora pólvora, que a Quinta da Confusão não estava a ver como incendiar para detonar os fortes. Questionado sobre o que se iria fazer a seguir, o cavalo 3 disse que preferia esperar. Um ataque directo a um forte podia acabar em desastre, pelo que era necessário encontrar outra estratégia. O tempo dos soldados para pensarem acabou no momento em que se começaram a ver várias luzes no ar, que pareciam estar a aproximar-se dos archeiros. Todas aparentavam partir do forte inimigo mais próximo. E era verdade. Os animais dessa fortificação tinham decidido atacar as tropas da Quinta da Confusão, usando a sua catapulta para lhes atirarem pólvora. Os postos de observação dos archeiros estavam a 200 metros do forte, o alcance máximo da catapulta, pelo que apenas a estrutura mais próxima acabou por ser bombardeada. As outras, fora de alcance, foram poupadas. Mas a vala anti-veículo, mais próxima, foi duramente atingida. Os soldados viam os cilindros a aterrar ao redor da vala, e as explosões a mandarem terra e barras de ferro ao ar. Se a situação continuasse assim, em breve a terra na zona dos bombardeamentos ficaria tão esburacada que um veículo poderia passar pela vala anti-veículo.

Ao ver os bombardeamentos, o cavalo 3 teve uma ideia. O forte focava-se numa única zona, aquela onde estavam os inimigos… Mas e se os inimigos fossem para outras áreas e daí tentassem atacar o forte de surpresa? A estratégia era arriscada: se os animais do forte descobrissem os inimigos na sua zona de alcance facilmente acabariam com eles mandando-lhes pólvora. Por isso, o cavalo 3 recomendou extrema cautela aos soldados: era preciso rastejar pelo terreno lentamente para não se chamar a atenção dos inimigos. Assim foi. Deixando o forte a bombardear as linhas defensivas da Quinta da Confusão, os soldados afastaram-se da área atacada, passaram pela vala anti-veículo e começaram a avançar em direcção ao forte. Lentamente, metro após metro, os animais foram-se aproximando a rastejar da construção de ferro onde se refugiavam 100 inimigos. Como penetrar no forte? Logo se veria quando se lá chegasse. À medida que se iam aproximando, os soldados podiam ver que os animais da Herdade dos Ovos estavam atentos às linhas defensivas, tentando sempre ver algum inimigo na zona. «Em vão», pensavam os soldados, porque todos eles estavam já à volta do forte. Até que um dos animais conseguiu alcançar a porta da fortificação, fechada por três trancas de metal. O soldado pôs-se de pé, e logo ouviu um ruído. Era a catapulta a ser activada mais uma vez, a mandar mais um cilindro de pólvora para a vala anti-veículo. O soldado então teve uma ideia: se ele subisse para o tecto do forte e fechasse o espaço por onde a pólvora saía repentinamente, sem dar tempo aos inimigos de abortarem o lançamento, o cilindro bateria no tecto,

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voltaria para o chão e eles decerto teriam que fugir ou morreriam com a explosão de toda a pólvora. E, quando isso acontecesse, a Quinta da Confusão podia atacá-los de surpresa e vencê-los. Satisfeito com a sua ideia, o soldado agarrou-se à borda do tecto do forte e, esforçando-se para não fazer barulho, içou-se para o alto do edifício. Logo viu a porta do alçapão do tecto, que abria para cima, e mais um cilindro de pólvora a ser catapultado para o exterior. «O próximo ficará lá dentro», pensou o animal.

Como já não o podiam ver do forte, o soldado pôs-se de pé e foi devagar até ao alçapão. Depois, deitou-se no tecto e espreitou pelo espaço. A catapulta, algo que a Quinta da Confusão nunca vira, estava a ser carregada para mais um lançamento. O animal pôs a pata na tampa do alçapão, e preparou-se para a fechar mal a arma fosse activada. Os inimigos que manejavam a catapulta, não sabendo de que tinham um soldado no tecto do forte, contaram «Três, dois, um…» e largaram o braço da arma. De imediato, o animal empurrou a tampa do alçapão, e o cilindro de pólvora bateu no tecto e voltou para o chão. Mas os animais da Herdade dos Ovos apagaram rapidamente o rastilho do cilindro, contrariando aquilo que o soldado esperava. O animal, porém, não desistiu: abriu a tampa do alçapão e derrubou um archote com a sua espada, que caiu em cima da catapulta. Esta começou a arder de imediato, e as chamas cedo se aproximaram perigosamente das caixas com pólvora, que estavam abertas. Dessa vez a estratégia resultou: os animais do forte perceberam que não iam conseguir apagar as chamas e preferiram fugir da fortificação. Tiraram as trancas da porta e saíram apressadamente do forte. Mas foram apanhados de surpresa pelas tropas da Quinta da Confusão: de súbito, uma centena de soldados do país apareceram do nada (os animais da Herdade dos Ovos não os tinham visto deitados no chão ao saírem do forte) e avançaram empunhando a espada para eles. Os animais estavam tão juntos que quando conseguiram tirar as armas e avançar para o inimigo já este os tinha alcançado e morto alguns deles. O combate era precisamente aquilo que o cavalo 3 queria evitar: um confronto directo entre as duas facções. Mas, como os inimigos estavam fora do forte e não tinham pólvora, podia ser que a Quinta da Confusão vencesse. E venceu mesmo: os inimigos eram mortos às dezenas, enquanto que os soldados só perdiam um ou outro combatente. Isso devido à peça metálica encomendada pelos comandantes militares aos cientistas no Dia 7: o peitoral. Literalmente, um salva-vidas para os soldados. O combate prosseguiu até já só restarem 20 animais da Herdade dos Ovos contra 100 soldados da Quinta da Confusão. Claramente em desvantagem, contra um inimigo numeroso, bem defendido e treinado, os animais preferiram render-se a morrer numa batalha perdida. Depuseram as armas e levantaram as patas, dizendo «Rendemo-nos. Não combateremos mais».

A rendição punha um dilema ao Comandante Supremo do Exército da Quinta da Confusão, o cavalo 3. O que fazer com os inimigos capturados?

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Deixá-los ir, correndo o risco de irem para junto dos aliados? Matá-los para se acabar com o problema logo ali? Ou prendê-los até a guerra acabar? O cavalo 3 optou pela terceira hipótese, e logo os soldados se mostraram a favor. Os inimigos seriam desarmados e postos numa cerca atrás das linhas defensivas da Quinta da Confusão, vigiados por 10 soldados. Quando a guerra acabasse, seriam libertados. O comandante garantiu aos animais capturados que podiam fazer o que bem entendessem dentro da cerca, desde que não fugissem. Apenas seriam presos para que não se juntassem aos outros animais da Herdade dos Ovos. Logo a cerca foi construída, usando-se material que não fora usado nos postos de observação dos archeiros, e os 20 prisioneiros de guerra foram postos lá dentro. Dez soldados foram destacados para os vigiarem, e garantirem de que não fugiam. Assim, o cavalo 3 recompensou o soldado que fizera os animais do forte fugirem promovendo-o a Comandante da Cavalaria, a divisão do Exército onde estava o animal, visto que o anterior fora um dos 20 mortos da Quinta da Confusão no confronto. Poucos segundos depois, o incêndio do forte alcançou a pólvora. Ouviu-se um grande barulho, e as paredes do forte saltaram como papéis a voarem com o vento. O tecto caiu de imediato, cobrindo as chamas da fortificação. A explosão impedira a Quinta da Confusão de obter a catapulta e a pólvora, mas ao mesmo tempo poupara aos soldados o trabalho da demolição. Assim, as chamas que sobreviveram ao desabamento do tecto foram apagadas com neve e o que restou do forte foi demolido. O cavalo 3 optou por não se fazer uma vala anti-veículo, uma vez que esta seria bombardeada pelo forte mais próximo. Assim, abdicando de 50 metros de terreno, os soldados apenas construíram os postos de observação dos archeiros. E, na área mais próxima do forte, afastaram-nos para estarem fora da zona de alcance da catapulta inimiga. A Quinta da Confusão dominava já 600 metros de terreno, contra 400 ainda dominados pelo inimigo. Mas ainda restavam 3 fortes e 400 inimigos para combater. Ainda haveria muitos combates pela frente até finalmente a Quinta da Confusão conseguir anexar toda a Herdade dos Ovos.

Longe dos combates da Guerra contra a Herdade dos Ovos, dois animais que andavam perto da Quinta da Perfeição depararam-se com um animal que nunca tinham visto: uma galinha. Esta estava dentro do ninho, e afastou-se quando os animais se aproximaram com os archotes. Com isso, os dois puderam ver dentro do ninho algo que também nunca tinham visto: ovos. Os animais pegaram neles e observaram-nos. O que poderia ser aquilo? Aparentemente pareciam ocos, pelo que os dois partiram-nos para ver o conteúdo. Logo a gema e a clara escorreram para fora das cascas. Um dos animais provou então o conteúdo do ovo, e achou-o tão bom que decidiu ir à procura de mais ovos. Importa dizer que não era a primeira vez que os animais da Quinta da Confusão viam galinhas: havia relatos da

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existência desses animais feitos por capturadores. Mas a existência de ovos era algo que se desconhecia. Por isso, a feira da Quinta da Perfeição comprou por bom preço os ovos dos dois animais, e poucos minutos bastaram para que fossem vendidos a animais ansiosos por comerem o novo alimento. Surgiam assim os ovos na Quinta da Confusão.

Gastronomia (3): Ervas, uvas e ovos

Depois da descoberta dos ovos, as galinhas das zonas ao redor do Império da Quinta da Confusão não tiveram descanso. Dezenas de animais partiram em busca dessas aves e também dos ovos, e assim o ovo foi-se tornado mais barato e comum no império de minuto para minuto. A descoberta de um cientista da Quinta da Confusão contribuiu para torná-lo ainda mais popular: este abriu o seu primeiro ovo junto de uma fogueira, mas ao fazê-lo sem querer derramou o conteúdo numa pedra junto do fogo. O cientista não ligou, e abriu outro ovo com mais cuidado. Mas, para espanto seu, o ovo derramado na pedra começou a perder a sua transparência. A gema permaneceu laranja, e a clara transparente ficou branca como a neve. Intrigado, o cientista tirou um pouco desse ovo e comeu-o. O ovo estrelado soube-lhe ainda melhor do que o ovo cru, e logo ele correu a espalhar a notícia junto dos outros cientistas da quinta. Estes fizeram o mesmo, e também apreciaram o ovo estrelado. Mas fritar os ovos usando-se pedras próximas do fogo não era prático, porque o ovo frequentemente escorria para o chão e, além disso, as pedras estavam bastante quentes. Era preciso uma nova invenção para se poder fritar ovos sem problemas. Assim, após alguns minutos de debate e alguns esboços feitos, os cientistas criaram a invenção ideal para se fritarem os ovos: o fogão. Para se tirarem os ovos do fogão inventaram-se espátulas, e para se os comer inventaram-se pratos, garfos e facas. Cinco invenções civis de seguida, portanto, algo único na história da Quinta da Confusão.

Índice de Tecnologia:

Militar -8 (escudo de ferro, espada de ferro, cinto de ferro, bainha de couro, bicicleta de guerra, arco, flecha, peitoral) Transportes-7 (Aéreos-0) (Marítimos -2) (barco a remos de Modelo 1 e de Modelo 2) (Terrestres-5) (carroça de 2 rodas, carroça de 4 rodas, carruagem, bicicleta, estrada de terra batida) Civil -28 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada, botijas de ar, machado, banheira, canalizações, corda, argola de couro, vidro, janela, tapete rolante, engrenagens, ouro, papel de couro, mapa, ponteiro, tinteiro, fogão, espátula, prato, garfo, faca)

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Construções-7 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos, indústria, quartel)

O fogão consistia numa caixa de madeira forrada a argila, como os altos-fornos, tendo 50 cm de lado e 1 metro de altura. Num dos lados tinha uma porta com uma janela, onde se metia a lenha que ia aquecer o fogão. A parte de cima era de metal, e era aí que se fritariam os ovos: acendia-se o fogão, punha-se o ovo em cima da placa metálica e era só esperar que o ovo ficasse pronto. Depois, bastava apagar o fogo, tirar o ovo para um prato com a espátula e comê-lo com o garfo e a faca. Tanto o garfo como a faca, a espátula e o prato eram em madeira. O conjunto todo levava algum tempo a fabricar, mas os fabricantes de instrumentos conseguiram acabar os primeiros em minutos. Logo os conjuntos foram comprados por animais que queriam usar a nova novidade em alimentação. E logo estes descobriram que não tinham só de comer ovos estrelados: se os abrissem para cima de um prato e os mexessem com o garfo antes de os porem no fogão obtinham ovos mexidos, igualmente saborosos. O fogão, que tornava fácil aquecer a comida, estimulou a criatividade dos animais: houve quem polvilhasse os ovos com ervas antes de os pôr a fritar, originando omeletas de ervas que fizeram sucesso no império. Outros pratos menos comuns foram também criados: alguns animais mais arrojados puseram uvas a fritar, ou misturaram-nas fritas ou cruas com os ovos e as ervas. Nem todos os animais gostaram desses pratos mais arrojados, mas alguns gostaram e passaram a comer esses pratos frequentemente. Dava-se assim um melhoramento notável na alimentação dos animais da Quinta da Confusão.

19:00

Três horas depois do começo do Cerco da Herdade dos Ovos, o cavalo 3 decidiu dar ordem de ataque à terceira das cinco fortalezas da Herdade dos Ovos. A táctica usada na segunda fortaleza resultara na perfeição, pelo que o comandante supremo decidiu repeti-la. O forte que iria ser atacado não atirara um só cilindro de pólvora, porque os animais da fortificação tinham percebido que não acertariam em nada, apenas gastariam munições em vão. De novo os soldados da Quinta da Confusão se deitaram no chão e começaram a rastejar, lentamente, em direcção ao forte inimigo. Metro após metro, tal como na vez anterior, os soldados foram-se aproximando da fortificação. Até que um deles, liderado pelo animal que inventara essa estratégia, subiu ao alto do forte para fazer como o seu comandante: derrubar um archote do interior do forte para cima da catapulta para forçar os ocupantes da construção a saírem de lá. O alçapão do tecto estava fechado, mas quis o destino que este se abrisse mal o soldado subiu para o tecto. Através das vozes no interior do forte, o animal percebeu porquê: um

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dos ocupantes da fortificação vira no exterior o que parecia ser um animal a rastejar, e logo outros animais viram mais gente no exterior. O alçapão fora aberto porque ninguém tinha dúvidas de que eram soldados da Quinta da Confusão, logo era preciso atacá-los com pólvora. Mas o soldado do tecto não permitiu isso. Quando o primeiro cilindro foi lançado, o animal fechou repentinamente o alçapão do tecto. O cilindro fez ricochete no tecto e voltou para o chão. Mas o soldado sabia que os animais do segundo forte tinham apagado o rastilho a tempo, pelo que ele tentou impedir isso. Mal ouviu o cilindro bater no chão, o animal abriu o alçapão e derrubou um archote, que caiu mesmo em cima do cilindro. A madeira começou de imediato a arder, e ninguém foi capaz de apagar o rastilho a tempo. Quando o cilindro explodiu, a detonação fez explodir toda a pólvora do forte e este foi pelos ares. Tal como no segundo forte, as paredes do terceiro soltaram-se do chão e do tecto como papéis, e o soldado do tecto até se sentiu empurrado para cima antes de voltar a cair. A diferença era que todos os ocupantes do forte estavam lá dentro no momento da explosão, e por isso estavam todos mortos. Os soldados enterraram os falecidos, demoliram o forte e depois trouxeram para sul as estruturas dos archeiros. A Quinta da Confusão já dominava 800 metros de terreno na Herdade dos Ovos. Faltava só vencer os fortes mais povoados, que decerto dariam mais luta.

Dois cientistas da Quinta da Perfeição decidiram partir para sul, por dois motivos: por um lado queriam confirmar a teoria de que a Quinta do Douro ficava meio km a sul da Quinta da Perfeição, e por outro queriam ver se obtinham pólvora. Se a Quinta do Douro comerciava com a Herdade dos Ovos, então decerto teria essa arma na sua posse. Uma vez levada a pólvora para o império, então já se poderia tentar descobrir os seus constituintes. Assim foi. Os dois cientistas, levando uma carroça, partiram para sul. Ao fim de meio km de distância encontraram, como esperado, a Quinta do Douro. Confirmava-se assim na prática a ideia proposta pelos descobridores da quinta. Mas haveria lá pólvora à venda? Os cientistas agiram com cautela, ao entrarem na feira. Se a pólvora não existisse na feira e no entanto eles perguntassem por ela, o empregado do balcão poderia desconfiar da origem dos cientistas. Isso porque um habitante local decerto saberia o que a feira vendia, tal como um habitante da Herdade dos Ovos saberia com a troca de informações entre os países. E sabe-se lá o que faria a Quinta do Douro, que obtinha mercadorias vitais da Herdade dos Ovos, se descobrisse dois habitantes da Quinta da Confusão nos seus domínios. Tudo, no entanto, se resolveu da melhor maneira. Na feira estava afixada a tabela dos preços, onde aparecia a pólvora. Era óbvio, portanto, que a Quinta do Douro possuía essa arma. Assim, os cientistas compraram um barril de pólvora e embarcaram-no na sua carroça, partindo de imediato para a Quinta da Perfeição. Quando lá chegaram, entregaram a pólvora aos

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outros cientistas. Estes agradeceram o esforço, e começaram a analisar a pólvora na tentativa de descobrir os seus constituintes15. Após alguns minutos de trabalho, os cientistas conseguiram descobrir o segredo da pólvora. Estava descoberto o primeiro explosivo da Quinta da Confusão.

Índice de Tecnologia:

Militar -9 (escudo de ferro, espada de ferro, cinto de ferro, bainha de couro, bicicleta de guerra, arco, flecha, peitoral, pólvora) Transportes-7 (Aéreos-0) (Marítimos -2) (barco a remos de Modelo 1 e de Modelo 2) (Terrestres-5) (carroça de 2 rodas, carroça de 4 rodas, carruagem, bicicleta, estrada de terra batida) Civil -28 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada, botijas de ar, machado, banheira, canalizações, corda, argola de couro, vidro, janela, tapete rolante, engrenagens, ouro, papel de couro, mapa, ponteiro, tinteiro, fogão, espátula, prato, garfo, faca) Construções-7 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos, indústria, quartel)

De imediato, os fabricantes de instrumentos começaram a fabricar a pólvora. Os soldados do país que combatiam na Herdade dos Ovos decerto iriam gostar de receber a arma (desde o começo do Cerco da Herdade dos Ovos que não se tinham notícias da guerra), pelo que era preciso acabar-se um carregamento decente rapidamente. Sabia-se lá se a pólvora poderia fazer a diferença entre a vitória e a derrota no cerco.

Sete horas após o começo da queda da produção de ouro na Mina de Ouro da Quinta da Perfeição, os mineiros declararam o esgotamento da mina. Com efeito, havia 15 minutos que escavavam a terra sem encontrarem a mais ínfima pepita de ouro. Era óbvio que a exploração da mina terminava ali, pelo que os mineiros não insistiram mais. Levando o pouco ouro explorado nas horas anteriores, estes pregaram por cima da placa com o nome da mina uma segunda placa a dizer «Mina esgotada» e partiram para a Quinta da Perfeição. O fim da produção de ouro no império não era muito grave: como este não tinha utilização prática alguma, as suas vendas tinham cessado com os altos preços do produto. Seria bem pior se, pelo contrário, tivesse esgotado uma das minas de ferro ou a única mina de carvão do império. O principal papel do ouro era o seu valor económico, algo que (por enquanto) não interessava muito na Quinta da Confusão.

15 A pólvora é constituída, de uma forma básica, por 15 partes de salitre (ou

nitrato de potássio), 3 partes de carvão vegetal e 2 partes de enxofre.