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1 POPULISMO POLÍTICO: CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO DISCURSO DE GLORIA ÁLVAREZ, EM SETEMBRO DE 2014, NO “I PARLAMENTO IBEROAMERICANO” DE ZARAGOZA, ESPANHA Aliny Figueiredo Ferreira 1 Leticia Gabrielly dos Santos 2 José Natanael Ferreia 3 RESUMO: Este trabalho foi elaborado como atividade do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre “Estado, Direito e Ideologia”, do Curso de Direito da AJES – Faculdades de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena, da cidade de Juína, situada no noroeste do Estado de Mato Grosso, e estudou o fenômeno do “populismo”, entendido como um mal para os regimes políticos democráticos e para as instituições do Estado Republicano, e também para as instituições da sociedade civil, uma vez que se materializa sobre os discursos ideológicos alardeados por líderes políticos carismáticos que, em regra, buscam dividir a sociedade em campos opostos e inconciliáveis, para que possam assumir o governo de seus Estados e se manterem no poder por tempo longo e incerto, valendo-se, justamente, dos discursos ideológicos populistas e de políticas públicas igualmente ideológicas e populistas, tudo em prejuízo do interesse público, do regime democrático e das instituições republicanas. Para o estudo e elaboração do trabalho, tomou-se por referência o discurso proferido pela politóloga guatemalteca Gloria Álvarez, no I Parlamento Iberoamericano, realizado em Zaragoza, na Espanha, no ano de 2014, oportunidade em que ela bem delineou os males que o populismo político causa aos povos e aos Estados que são governados por agentes que seguem essa forma de atuação política. Como referencial teórico, adotou-se a coletânea de 1 FERREIRA, Aliny Figueiredo. Acadêmica do segundo semestre do Curso de Direito da AJES – Faculdades de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena, em Juína, Estado de Mato Grosso - [email protected] 2 SANTOS, Leticia Gabrielly dos. Acadêmica do segundo semestre do Curso de Direito da AJES – Faculdades de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena, em Juína, Estado de Mato Grosso - [email protected] 3 FERREIRA, José Natanael. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista – UNIP – Campinas/SP; Mestre em Educação pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo — UNISAL — Americana/SP; Mestre em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP – Piracicaba/SP; Professor e Coordenador do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre “Estado, Direito e Ideologia” da AJES – Faculdades de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena, em Juína, Estado de Mato Grosso - [email protected]

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POPULISMO POLÍTICO: CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO DISCURSO

DE GLORIA ÁLVAREZ, EM SETEMBRO DE 2014, NO “I PARLAMENTO

IBEROAMERICANO” DE ZARAGOZA, ESPANHA

Aliny Figueiredo Ferreira1

Leticia Gabrielly dos Santos2

José Natanael Ferreia3

RESUMO:

Este trabalho foi elaborado como atividade do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre

“Estado, Direito e Ideologia”, do Curso de Direito da AJES – Faculdades de Ciências

Contábeis e Administração do Vale do Juruena, da cidade de Juína, situada no noroeste do

Estado de Mato Grosso, e estudou o fenômeno do “populismo”, entendido como um mal para

os regimes políticos democráticos e para as instituições do Estado Republicano, e também

para as instituições da sociedade civil, uma vez que se materializa sobre os discursos

ideológicos alardeados por líderes políticos carismáticos que, em regra, buscam dividir a

sociedade em campos opostos e inconciliáveis, para que possam assumir o governo de seus

Estados e se manterem no poder por tempo longo e incerto, valendo-se, justamente, dos

discursos ideológicos populistas e de políticas públicas igualmente ideológicas e populistas,

tudo em prejuízo do interesse público, do regime democrático e das instituições republicanas.

Para o estudo e elaboração do trabalho, tomou-se por referência o discurso proferido pela

politóloga guatemalteca Gloria Álvarez, no I Parlamento Iberoamericano, realizado em

Zaragoza, na Espanha, no ano de 2014, oportunidade em que ela bem delineou os males que o

populismo político causa aos povos e aos Estados que são governados por agentes que

seguem essa forma de atuação política. Como referencial teórico, adotou-se a coletânea de

1 FERREIRA, Aliny Figueiredo. Acadêmica do segundo semestre do Curso de Direito da AJES – Faculdades de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena, em Juína, Estado de Mato Grosso - [email protected] 2 SANTOS, Leticia Gabrielly dos. Acadêmica do segundo semestre do Curso de Direito da AJES – Faculdades de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena, em Juína, Estado de Mato Grosso - [email protected] 3 FERREIRA, José Natanael. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista – UNIP – Campinas/SP; Mestre em Educação pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo — UNISAL — Americana/SP; Mestre em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP – Piracicaba/SP; Professor e Coordenador do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre “Estado, Direito e Ideologia” da AJES – Faculdades de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena, em Juína, Estado de Mato Grosso - [email protected]

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artigos organizada pelo historiador Jorge Ferreira e publicada em 2013 sob a forma de livro,

com o nome de O populismo e sua história: debate e crítica, no qual afirma que o

“populismo”, como “noção para explicar a política brasileira de 1930 a 1964, tornou-se uma

das mais bem-sucedidas imagens que se firmaram nas Ciências Humanas no Brasil”. Por certo

que não será esgotado o tema, mas refletirá o entendimento das pesquisadoras nesse seu

primeiro artigo científico abordando esse fenômeno político, o “populismo”, no contexto da

política brasileira.

PALAVRAS-CHAVE: Populismo político. Discurso ideológico. Divisão da sociedade.

Males à República e à democracia.

ABSTRACT:

This work was done as an activity of the Study and Research Group on “State Law and

Ideology”, the Law Course of Ajes – Faculty of Sciences Accounting and Administration

Valley Juruena, the city of Juína, located in the northwest state of Mato Grosso, and studied

the phenomenon of “populism”, understood as an evil to democratic political regime and

institutions of the Republican State, and also to the institutions of civil society, as it

materializes on the ideological discourses flaunted by leaders charismatic politicians who, as a

rule, seek to divide the society into opposing and irreconcilable camps, so that they can take

over the government of their states and remain in power for long and uncertain time, making

use precisely of the populist ideological discourses and political also ideological and populist

public, all to the detriment of the public interest, the democratic system and republican

institutions. Towards the study and development of the work, taken up by reference the

speech by Guatemalan Gloria Alvarez, at First Parliament Iberoamericano realized in

Zaragoza, Spain, in 2014, at which she and outlined the evils that populism political causes to

people and states which are ruled by agents who follow this form of political action. The

theoretical referential adopted the collection of articles organized by the historian Jorge

Ferreira and Published in 2013 in the form of book, with the name of Populism and it is

history: debate and criticism, in which he states that “populism” as “notion to explain

Brazilian politics from 1930 to 1964, has became one of the most successful images that were

signed in the Humanities in Brazil.” Certainly it will not exhausted the subject, but will reflect

the understanding of the researches that his first article addressing this political phenomenon,

“populism” in the context of Brazilians politics.

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KEY WORDS: Political populism. Ideological speech. Division of Society. Harm the

republic and democracy

SUMÁRIO. 1. Introdução. 2. O discurso de Glória Álvarez, proferido no “I Parlamento

Iberoamericano da Juventude”, em Zaragoza, Espanha. 3. O populismo político como

expressão ideológica de poder. 4. Considerações finais. Referências bibliográficas.

Referências de sítios da rede mundial de computadores

I. INTRODUÇÃO

Entre os dias 17 a 19 de setembro de 2014, a milenar cidade de Zaragoza, no nordeste

da Espanha, foi sede do “I Parlamento Iberoamericano da Juventude” (“1er Parlamento

Iberoamericano de la Juventud”), que se realizou na Diputación Provincial de Zaragoza y las

Cortes de Aragón, e contou com a presença de diversos líderes políticos e estudantis da

Iberoamérica, entendendo-se por Iberoamérica o grupo de países formado por Espanha e

Portugal, e pelos países da América Latina (Américas Central e do Sul) colonizados por

aqueles países europeus, e teve por tema “Democracia e Participação Política” (“Democracia

y Participación Política”). Autoridades de governos, líderes políticos, reitores de

universidades, lideranças estudantis e de organizações da sociedade civil de 18 (dezoito)

países estiveram presentes. As sessões foram presididas por Ricardo Martinelli Berrocal,

Armando Calderón Sol e Luis Alberto Lacalle, ex-presidentes do Panamá (2009 a 2014), El

Salvador (1994 a 1999) e Uruguai (1990 a 1995), respectivamente, e diversos temas foram

debatidos pelos conferencistas presentes no evento, e também por teleconferências. Entre os

assuntos tratados, debateram-se, dentre outros tantos temas, as liberdades individuais e

direitos humanos, a integração da região iberoamericana, e incentivos à participação política.

Sem qualquer demérito aos demais conferencistas, nesse “I Parlamento

Iberoamericano da Juventude” um discurso destacou-se. E após ser postado na rede mundial

de computadores (internet), no site “youtube” (“www.youtube.com”), este alcançou, em

pouquíssimo tempo, a marca superior a um milhão de acessos, tornando-se aquilo que se

denomina “viral”, na linguagem dos internautas: os vídeos da internet que, em curto espaço de

tempo, são acessados e vistos por milhões de pessoas em torno do globo terrestre,

assemelhando-se a uma epidemia transmitida por vírus (daí o termo “viral”). O discurso, de

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pouco mais de onze minutos, proferido no dia 18 de setembro de 2014, foi bastante e

suficiente para, na forma de seu conteúdo e em razão da jovialidade de quem o proferiu, trazer

fama e reconhecimento internacional à conferencista: Gloria Álvarez, politóloga da

Guatemala, onde participa do Movimiento Civico Nacional – MCN, uma organização social

sem fins lucrativos, atuante politicamente para “construir uma Guatemala livre e em paz”,

segundo consta da própria página da organização na rede mundial de computadores4.

Nesse famoso discurso, Gloria Álvarez, após tratar dos males que o populismo político

causa às pessoas e às instituições da República, sugere desmantelá-lo por meio da tecnologia,

com o uso intensivo das telecomunicações e, principalmente, com o uso intensivo da rede

mundial de computadores (internet). E merece destaque especial a frase reproduzida por ela, e

acreditada tanto ao jornalista argentino Mariano Grondona, quanto ao analista político

espanhol Florentino Portero, professor de História Contemporânea da Universidade de

Madrid: o populismo ama tanto dos pobres que os multiplica.

E é esse discurso de Gloria Álvarez que se tomou por base referencial para a

elaboração deste trabalho científico.

II. O DISCURSO DE GLÓRIA ÁLVAREZ, PROFERIDO NO “I PARLAMENTO

IBEROAMERICANO DA JUVENTUDE”, EM ZARAGOZA, ESPANHA

O “I Parlamento Iberoamericano da Juventude” foi organizado pela Red Iberoamérica

Lider, que se trata de uma organização social

concebida en los valores de: Libertad, Igualdad, Democracia, Educación y Respeto , los cuales guían el actuar de la organización, creada con la intención de agrupar a través de una red iberoamericana, los distintos movimientos juveniles políticos que defiendan los derechos fundamentales, la democracia, la libertad y el pluralismo político existentes en el conjunto de países de habla hispana que conforman el continente americano en conexión con la península ibérica. La creación e implementación de esta red se dirige a consolidar, dentro de los movimientos juveniles iberoamericanos el denominado “Capital Social”, que comprende lo relativo a la multipicidad de beneficios tales como la confianza, reciprocidad y el pluralismo entre un amplio grupo de personas que militan en partidos políticos iberoamericanos, hasta culminar en la cooperación y el intercambio de experiencias para el desarrollo de proyectos e iniciativas de desarrollo social. Es nuestro deber definir y difundir una visión política clara sobre: gobierno, sociedad civil, gobernabilidad, seguridad nacional, empresa, mercado, y organismos internacionales. Todo ello supone una fuente de valor añadido tanto para los miembros de la red asociada a él, como para para quienes estén cercanos a su

4 ALVAREZ, Gloria. Disponível em: <https://www.facebook.com/MCNGuatemala/info?tab=overview> Acesso em: 07 set. 2015, às 15h07

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área de influencia, teniendo como meta constituir un beneficio para la sociedad en su conjunto.5

Centrado nessa proposta, e com o objetivo de integrar bajo una única organización, a

distintas agrupaciones juveniles políticas y jóvenes líderes comprometidos con los valores de

la organización, o “I Parlamento Iberoamericano da Juventude” realizou-se entre os dias 17 a

19 de setembro de 2014, na cidade de Zaragoza, e contou com a presença de diversas

autoridades políticas e acadêmicas da Espanha, Portugal, e de países por eles colonizados,

para tratar e discutir assuntos diversos ligados, principalmente, pela relação e atuação de

jovens nas áreas da política, dos direitos humanos, da democracia, da segurança jurídica, da

erradicação da violência e de novos modelos de desenvolvimento6.

No dia 18 de setembro, segundo dia do evento, subiu ao “púlpito do Parlamento” a

cientista política (politóloga) Gloria Álvarez, da Guatemala, representante do Movimiento

Civico Nacional – MCN, para a sua fala sobre desmantelar o populismo através da

tecnologia. Mal sabia ela que, ao terminar seu discurso, pouco mais de dez minutos após tê-lo

iniciado, ambos (ela, a palestrante, e o discurso) se tornariam fenônemos mundiais de

visualização, tornando-se “virais” na internet7, dado que o tema por ela nele abordado ─ e

como foi por ela abordado ─ causou impacto entre os que os viram e entre os que os

assistiram, justamente por se encontrar distante da linguagem dos discursos dos jovens,

mesmos dos jovens engajados e atuantes em movimentos políticos, sociais ou sindicais, e

também distante do entendimento de tantos quantos realizam estudos acadêmicos acerca do

tema atinente ao populismo como fenômeno político de massas e de governo de Estados.

Ela iniciou sua fala dizendo que o populismo acaba com as instituições do Estado,

reescrevendo Constituições para adequá-las aos desejos dos líderes políticos corruptos que se

tem na América Latina. E, segundo ela, uma das razões para a existência e instalação de

populistas nos governos é, justamente, o péssimo trabalho dos sistemas governamentais

anteriores, que terminam trazendo crises entre as populações que, no desespero, recorrem aos

líderes populistas. Os quais chegam ao poder não raro pelas vias democráticas, e, por isso e

em razão disso, esses líderes justificam sua eternização no poder referenciando-se que o

conseguiram pela vontade do povo e por vias democráticas admitidas pelo ordenamento do

Estado. Muito embora ela não cite nomes, pode-se buscá-los na América Latina, tomando-se

5 Disponível em <http://www.iberoamericalider.org/objetivos/> Acesso em: 26 set. 2015, às 18h35. 6 Disponível em <http://www.iberoamericalider.org/parlamento-iberoamericano-de-la-juventud-2014/> Acesso em: 26 set. 2015, às 18h45 7 Disponível em <http://www.iberoamericalider.org/parlamento-iberoamericano-de-la-juventud-2014/> Acesso em: 26 set.2015, às 19h39

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por referência, apenas nos últimos tempos, o Brasil de Fernando Henrique Cardoso, a

Venezuela de Hugo Chávez Frías, a Bolívia de Juan Evo Morales Ayma, em que houve, por

iniciativa desses governantes, alteração nas Constituições de seus países, apenas para que

permanecessem mais tempo no poder. As alterações que levaram a efeito não valeriam ─ e

não valeram ─ para o futuro, mas para eles próprios. Há, também, o caso da Rússia, de

Vladimir Vladimirovitch Putin, que governou esse país por oito anos, afastou-se por quatro

anos, indicando Dmitri Anatolievitch Medvedev seu candidato a sucessor que, de fato, o

sucedeu. Terminado os quatros anos de governo de Medvedev, Putin candidatou-se e foi

eleito, para mais um mandato de seis anos. Nesses países, todos os governantes foram eleitos

e se beneficiaram de alterações nas Constituições, sempre pela via democrática (porém, nem

sempre por meios democráticos de atuação).

Na sequência do discurso, Gloria desdenha do debate sempre havido entre esquerda x

direita, e propõe a discussão entre populismo x República, para mencionar a relevância que

oferece a três direitos fundamentais: o direito à vida, o direito à liberdade e o direito à

propriedade privada. E explica que tais direitos existem em todas as pessoas, que os podem

exercê-los, sem, no entanto, impedir que outras pessoas os exerçam concomitantemente. No

entanto, e segundo ela, existe outro rol de direitos que, para poderem ser oferecidos e

utilizados por alguém, exige que alguém ou alguns renunciem aos seus direitos de

propriedade: direito à saúde, à educação, à vestimenta. Esses direitos são requeridos pelos

povos e são concedidos pelos governantes. Segundo o entendimento expresso por ela, nesse

ponto é que os governos falham, pois concedem esse rol de direitos a todos do povo sem, no

entanto, especificar quem renunciará aos seus direitos de propriedade para o financiamento

dos direitos concedidos a todos. Os governos, os governantes e os candidatos a tais postos não

explicitam quem pagará para que todos tenham tais direitos. E, ainda na sua fala, por não

dizerem quem deixará de ganhar para que todos ganhem, é que nasce no povo a decisão de

seguir os líderes populistas, os quais sempre prometem os direitos almejados pelo povo sem

informar qual ou quais parcelas ou setores da sociedade poderão ser prejudicados (como o

aumento dos impostos, por exemplo). Afirma ela que no populismo atua-se com as paixões e

com as ilusões das pessoas, sem interpor qualquer lógica ou racionalidade entre esses

sentimentos e a realidade fática a ser enfrentada. Os líderes populistas aproveitam-se das

necessidades emocionais e materiais das pessoas para lhes impor governos ditatoriais à custa

de ofensivas às instituições da República.

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Na sequência, explica as três formas de governo na concepção aristotélica (formas

puras: monarquia, aristocracia e democracia, que podem se converter em três formas impuras:

ditadura, oligarquia e demagogia), salientando que nos países da América Latina florescem

oligarquias e demagogias. E faz sua missão de fé na forma republicana de governo, por existir

nela a institucionalidade, o respeito e o governo por meio das instituições da República, e,

segundo sua fala, o populismo encarrega-se de destruir as instituições da República.

Alegando que os líderes populistas anulam lógicas e razões para, simplesmente, jogar

com as paixões das pessoas, ela afirma que o populismo ama tanto os pobres que os

multiplica, repetindo frase cuja autoria ora se atribui tanto ao jornalista argentino Mariano

Grondona, quanto ao analista político espanhol Florentino Portero, professor de História

Contemporânea da Universidade de Madrid, e um dos conferencistas do evento. O populismo

anula a dignidade das pessoas, por mantê-las deseducadas e no desconhecimento, imaginando

que precisam de um líder político para guiá-las. O populismo buscaria a multiplicação da

miséria para obter o voto através da barganha por qualquer bem material, utilizando de

discursos que procuram dividir a sociedade entre os que possuem (os maus) e os que não

possuem (o povo, os bons, a quem os líderes populistas buscam proteger).

E, como arma na luta contra o populismo e contra os líderes populistas, Gloria Álvarez

propõe ─ propôs ─ o uso da tecnologia para se disseminar educação e conhecimentos, para

que as pessoas possam se autodeterminar, e, conscientes, deixarem de admirar falsos líderes e

seus governos populistas. Assevera que para que uma pessoa possa estar bem, nada impede

que outras também estejam. Não há a luta de classes pregada pelos líderes populistas. Mas

esse conhecimento somente chegaria ao povo por meio do uso da tecnologia para a educação.

Mas, para tanto, precisa ser resgatado nos parlamentos o interesse pelo debate de ideias, com

argumentos baseados na lógica e na razão. E reitera que as ferramentas da “era do

conhecimento” são a chave para se terminar com o populismo como forma de governo que

possibilita a postergação da pobreza, da ignorância e da submissão dos povos.

Por fim, encerrando, propõe que na assinatura da Declaração de Zaragoza, haja o

compromisso de se acabar com o populismo utilizando a tecnologia, e como ferramenta a

República, porque, segundo ela, é o único sistema que resgata as instituições baseando-se na

razão, na lógica, nos argumentos e na troca de ideias.

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Esse discurso trouxe fama à palestrante, e a tornou estrela em tantos programas de entrevistas

em diversos países da América Latina. O resultado desses programas são vários vídeos

disponíveis para consultas na rede mundial de computadores (internet), no site (youtube)8.

Desde então, Gloria Álvarez, elevada ao status de celebridade, viajou por países

explicando suas ideias referenciadas no famoso discurso de Zaragoza. No Brasil, onde esteve

em meados do ano de 2015, marcou presença em programas noturnos de entrevistas em redes

de televisão, em blogs de revistas semanais eletrônicas, e foi motivo de reportagens em

revistas semanais. Aqueles que não a conheciam, passaram a conhecê-la e ao seu famoso

discurso. Na Guatemala, atualmente possui o programa de rádio Viernes de Gloria, na

emissora Libertópolis, e, mais recentemente, estreiou um programa de televisão na Azteca

Guatemala Comunicações.

Em uma época de celebrizações instantâneas, em que pessoas, animais, atos, fatos ou

atividades tornam-se conhecidas em todo o mundo em questão de horas, por simples toques e

acessos à rede mundial de computadores, tornando-se “virais” por meio das reproduções e

repercussões nas denominadas “redes sociais”, o discurso de Gloria Álvarez celebrizou-se na

internet, sendo visto por milhões de pessoas, as quais se tocaram por ele basicamente por três

questões bastante importantes:

─ foi pronunciado por uma jovem líder política, militante de movimentos sociais em

seu país de origem, a Guatemala, mas sem experiência no exercício de função pública na estrutura do poder político estatal, porém, muito bem articulada nas teorias das Ciências Políticas;

─ a originalidade do discurso ─ o uso da tecnologia para combater politicamente

uma forma de atuação política muito característica da Hispanoamérica e, portanto, bastante conhecida por todos os presentes ─ exposto em tom sério, firme, e majestático, conciliando e incluindo todos os presentes como representantes dos seus povos em torno da proposta que apresentou;

─ a criatividade da proposta apresentada, muito embora não detalhada, pois

envolveu aspectos conhecidos de e por todos os presentes, haja vista que, de modo direto ou indireto, todos ali presentes, em maior ou menor grau de intensidade, estavam envolvidos com a política partidária, com a atuação política em movimentos sociais, com a academia e com o ensino superior, com as comunicações e com as tecnologias mais atualizadas de comunicação, inclusive com o uso intensivo das redes sociais: quando Gloria Álvarez propôs incorporar na luta pelo poder político o uso da tecnologia ─ aí incluídas as redes sociais para divulgação de ensinos e conhecimentos político-sociais ─ para um público de

8ALVAREZ, Gloria. Gloria Alvarez atinge repercussão ao mundial ao explicar como o populismo esta dominando... Disponível em: <https://www.youtube.com/results?search_query=gloria+%C3%A1lvarez> Acesso em: 26 set. 2015, às 22h00

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jovens que dela são usuários atuantes, ela soube bem utilizar raciocínios que, por ela sabido ─ dado que uma profissional das Ciências Políticas ─ encontrariam ecos e concordâncias no público para quem eram dirigidos;

─ e, consciente ou inconscientemente, ela também sabia que o vídeo dos discursos

proferidos no Parlamento seriam postados nos sites da internet e reproduzidos nas redes sociais.

Tudo considerado, e mesmo que não tenha sido intencional, a apresentação da cientista

política Gloria Álvarez no “I Parlamento Iberoamericano da Juventude” (“1er Parlamento

Iberoamericano de la Juventud”) foi midiática, ou seja, própria para ser sucesso na mídia

virtual e, nesse sentido, também foi um sucesso, haja vista que a catapultou para o status de

“celebridade da internet”, e isso corroborou, em muito, para sua atuação política e profissional

posterior àquele evento.

No entanto, sem desprezar ou minimizar a relevância do texto pronunciado em

Zaragoza, por Gloria Álvarez, pois a ela deve-se dar o crédito da iniciativa de trazer à

discussão um tema político, sobre o qual a academia demonstra pouco interesse em debater.

Não se pode deixar de considerar que ela apresenta uma proposta de resolução que não condiz

com a complexidade do tema que abordou.

Ao final de seu discurso, ela comenta que o povo deseducado não possui

conhecimentos suficientes para exigir e debater com a classe política com lógica e razão, e

sugere como alternativa, que se utilize o instrumental tecnológico para transmitir

conhecimentos e educação ao povo, para que ele, então, possa já instruído, reivindicar seus

direitos. Segundo ela, esse método é bastante facilitado pelas circunstâncias atuais, uma vez

que a tecnologia, em suas diversas facetas, está ao alcance de todos e em todos os lugares.

Por estar falando em palco cuja plateia era formada por pessoas oriundas de países de

uma mesma raiz histórica ─ o “iberoamericanismo” ─, Gloria Álvarez deixou entender que a

transmissão de conhecimentos e de educação por ela sugerida poderia se dar de modo

assemelhado e quase uniforme, pois os diversos povos lá representados compartilhavam os

mesmos idiomas e culturas. Portanto, eles ─ lideranças ali representadas ─ poderiam, a partir

de agora, compartilhar as mesmas ideias com seus povos ─ no caso, as ideais liberais que

estava a defender, em contraponto às ideias populistas combatidas em seu discurso.

Sem perceber, ela também estava incorrendo em um discurso ideológico, pois, por via

transversa, estava se colocando, e a todos aos ali presentes, como representantes de seus

povos, como “protetores” das pessoas que compunham as sociedades dos seus respectivos

países. Estava ela ─ e aos presentes ─ assumindo o papel de “educadores de povos”,

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desconsiderando que essa hipótese, se real, se dá no processo histórico de “criação,

amadurecimento e fortalecimento” das instituições estatais.

Pode-se afirmar que, nesse seu modo de entender, Gloria Álvarez contraria antigo

posicionamento de Paulo Freire, segundo o qual “ensinar não é transferir conhecimento, mas

criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”9.

É comum que pessoas que acendam a posições sociais de lideranças tendam a assumir

a representação de toda a coletividade ─ mesmo sem terem quaisquer espécies de mandatos.

Isso é assim desde tempos imemoriais, mas, com ressalto, desde tempos revolucionários

franceses, em que alguns revolucionários tomaram em suas mãos a representação do povo

francês e, sob o argumento ideológico de integrarem a mesma nação francesa, arvoraram-se, a

si mesmos, em integrantes de um poder constituinte originário:

Os Representantes da Nação Francesa, reunidos em Assembleia Nacional, reconhecem quem têm, por seus mandatos, o especial encargo de regenerar a Constituição do Estado. [...] Os Representantes da Nação Francesa, exercendo a partir desse momento as funções de PODER CONSTITUINTE [...] reconhecem e consagram com um promulgação positiva e solene a [...] declaração dos direitos do homem e do cidadão [...]10

Embora sua fala procure afastar e combater as tendências ideológicas denominadas

“de esquerda”, caracterizadas pelas ideias estatizantes e populistas presentes nas condutas dos

líderes populistas. A solução que Gloria Álvarez propõe/propôs também possui um viés

ideológico, pois não só apresenta solução simplista para um assunto de gênese complexa,

como também se arvora, ela mesma e aos demais presentes, como legítimos líderes

possuidores da representação política e do arsenal de conhecimento suficiente para, à

distância e por meio da utilização do ferramental tecnológico, combater e acabar, nos mais

diversos países ibero-americanos, com todas as formas de condutas e de políticas populistas,

as quais possuem raízes históricas. O populismo integra o processo histórico e político dos

povos americanos, especialmente daqueles com ascendência ibérica.

Em favor da palestrante e de seu discurso, deve-se compreender que ela não dispunha

de tempo bastante e suficiente para detalhar sua proposta, eis que falava em um evento regido

e regulado por um cerimonial que controlava o tempo das falas, no qual mais oradores

também estavam inscritos e escalados para falar ao mesmo público. É por isso que ela lançou

9 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31ª ed. ─ São Paulo : Paz e Terra, 1996, p. 47 10 SIEYÈS, Emmanuel Joseph. Exposição Refletida dos Direitos do Homem e do Cidadão (do original francês Préliminaire de la Constitution. Reconnaissance et Exposition Raisonnée des Droits de l’Homme et du Citoyen – Verasailles : 1789 ─ tradução de Emerson Garcia). ─ Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2008, p. 55e 56

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a ideia e não detalhou sobre como executá-la in concreto. Também em seu favor deve-se

lembrar de que ela, como cientista política, sabia do que falava e para quem falava, e se não

expôs sobre como realizar o que propunha foi por falta do tempo necessário para fazê-lo.

Com tais ressalvas, reafirma-se que não é tão simples a solução para se excluir do

cenário político os líderes populistas e seus discursos salvacionistas, e não será resultado de

uma ou outra conduta ou ação social, mas será, sim, fruto do processo histórico de educação e

de evolução das relações desenvolvidas pela sociedade nos respectivos Estados11.

Há muito, dissertando sobre a educação do homem, Immanuel Kant já entendia esse

processo histórico de evolução das condições sociais, muito embora não utilizasse esse termo

em específico:

É entusiasmante pensar que a natureza humana será sempre melhor desenvolvida e aprimorada pela educação, e que é possível chegar a dar àquela forma, a qual em verdade convém à humanidade. Isso abre perspectiva para uma futura felicidade da espécie humana. O projeto de uma teoria da educação é um ideal muito nobre e não faz mal que não possamos realiza-lo. Não podemos considerar uma Idéia como quimérica e como um belo sonho só porque se interpõem obstáculos à sua realização12.

Analisando a fala de Gloria Álvarez, talvez ela se mostrasse mais sintonizada com a

realidade e com os saberes acadêmico-doutrinários se propusesse o combate ao populismo

político e aos males por ele causados às instituições republicanas sob uma perspectiva

histórica, sugerindo procedimentos que considerassem o natural processo de evolução das

sociedades humanas em suas várias facetas: culturais, jurídicas, políticas, sociais etc.

III. O POPULISMO POLÍTICO COMO EXPRESSÃO IDEOLÓGICA DE PODER

Karl Marx e Friedrich Engels, em famosa passagem de obra A Ideologia Alemã13

(publicada, primeiramente, em 1932), afirmam que, em razão do seu processo de vida

histórico, há uma tendência de os homens interpretarem a realidade como se fosse à imagem

invertida dos objetos que formam-se na retina, desejando disser, com isso, que nem sempre

se consegue entender o mundo real ─ principalmente as circunstâncias históricas que geram

11 A propósito do “papel do indivíduo na História”, sugere-se a leitura de A concepção materialista da história, de Guiorgui Plekhãnov (8ª ed. ─ Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1980) 12 KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia (tradução de Francisco Cock Fontanella). 5ª ed. ─ São Paulo : Unimep, 2006, p. 16 e 17 13 MARX, Karl; ENGLES, Friedrich. A Ideologia Alemã. Disponível em <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000003.pdf>. Acesso em 27.set.2015, às 8h55

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as desigualdades sociais e as relações sociais de poder e de dominação ─, porque sempre se

está inserido e condicionado à historicidade das próprias relações sociais de poder e de

dominação que se pretende entender e interpretar. Ou, em outras palavras, o homem não

consegue raciocinar fora (além) das condições sociais da época em que vive: o homem que

viveu no sistema feudal não conseguiria raciocinar conforme as condições socioeconômicas

do sistema capitalista e, do mesmo modo, a pessoa que vive, atualmente, sob-roupagem do

modo de produção capitalista, não consegue entender e raciocinar segundo as condições

materiais e socioeconômicas do sistema escravagista que vigeu nos tempos das primeiras

grandes civilizações humanas, (suméria, egípcia, macedônica, grega, persa, romana, mongol

etc.).

Ao considerarmos o “famoso discurso de Gloria Álvarez”, e o analisarmos com rigor

acadêmico, é possível notar raciocínios e tendências ideológicas (segundo o conceito de

ideologia oferecido por Marx e Engels14)15, haja vista que ela se conduz por soluções bastante

simplistas (o uso da tecnologia) para combater e acabar, de vez, com uma forma de atuação

política complexa (o populismo político), enraizada nos costumes, na história política, e no

processo histórico de muitos Estados do globo, e não somente de Estados da Hispanoamérica.

A eleição de políticos populistas e o uso de políticas públicas populistas para ascensão

e manutenção no poder não são características exclusivas dos países colonizados por Espanha

e Portugal. No entanto, deve-se louvar o discurso dela porque, partindo de uma jovem

cientista política, não se coaduna com os discursos de jovens que militam em movimentos

sociais, os quais sempre tendem a considerar que a sociedade e o Estado devem responder

14 “Como vemos, são sempre indivíduos determinados, com uma atividade produtiva que se desenrola de um determinado modo, que entram em relações sociais e políticas determinadas. É necessário que, em cada caso particular, a observação empírica mostre nos fatos, e sem qualquer especulação ou mistificação, o elo existente entre a estrutura social e política e a produção.estrutura social e o Estado resultam constantemente do processo vital de indivíduos determinados; mas não resultam daquilo que estes indivíduos aparentam perante si mesmos ou perante outros e sim daquilo que são ira ,realidade, isto é, tal como trabalham e produzem materialmente. Resultam portanto da forma como atuam partindo de bases, condições e limites materiais determinados e independentes da sua vontade. A produção de idéias, de representações e da consciência está em primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade material e 'ao comércio material dos homens; é a linguagem da vida real. As representações, o pensamento, o comércio intelectual dos homens surge aqui como emanação direta do seu comportamento material. O mesmo acontece com a produção intelectual quando esta se apresenta na linguagem das leis, política, moral, religião, metafísica, etc., de um povo. São os homens que produzem as suas representações, as suas idéias, etc., mas os homens reais, atuantes e tais como foram condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e do modo de relações que lhe corresponde, incluindo até as formas mais amplas que estas possam tomar A consciência nunca pode ser mais do que o Ser consciente e o Ser dos homens é o seu processo da vida real. E se em toda a ideologia os homens e as suas relações nos surgem invertidos, tal como acontece numa câmera obscura isto é apenas o resultado do seu processo de vida histórico, do mesmo modo que a imagem invertida dos objetos que se forma na retina é uma conseqüência do seu processo de vida diretamente físico” ─ A Ideologia Alemã - Disponível em <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000003.pdf>. Acesso em 27.set.2015, às 8h55 15 CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia? (Coleção Primeiros Passos – 13). 2ª ed. ─ São Paulo : Brasiliense, 2008

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pelas carências e faltas dos indivíduos (inclusive de caráter), aliviando as responsabilidades

pessoais e aumentando, exponencialmente (mas nem sempre de forma lógica e racional) a

responsabilidade e o dever da sociedade e do Estado por falhas e erros individuais, visão essa

apregoada, principalmente, por aqueles que se dizem socialistas ou comunistas.

Ao contrário, o discurso de Gloria Álvarez se situa na faixa de atuação política que se

classifica como “de centro-direita”, porque busca não responsabilizar as instituições estatais

pelas carências ou mazelas sociais, mas, sim, procura salvaguardar instituições estatais e o

regime republicano pela conscientização das pessoas, das contradições, ilogicidades,

irracionalidades e males contidos nos discursos e na atuação dos líderes populistas e na

prática de políticas públicas populistas que tendem a ceder direitos que possuem custos

financeiros, sem, contudo, cuidarem de explicar a fonte dos recursos necessários (recursos

esses que, direta ou indiretamente, são retirados pelo Estado de toda a sociedade, inclusive das

parcelas não beneficiadas ou, até mesmo, das parcelas da sociedade prejudicadas pelas

políticas populistas).

Entretanto, o ponto central do já “famoso discurso” é o combate ao populismo.

Para tratar desse tema neste trabalho, adotou-se conceitos, contextos, entendimentos e

historicidade trazidas na terceira edição da obra O populismo e sua história: debate e crítica

(2013), que se trata de coletânea de artigos sobre o tema, elaborados por diversos professores

sob a coordenação e organização de Jorge Ferreira16, autor e professor-adjunto do

Departamento de História da Universidade Federal Fluminense.

Logo na Introdução dessa obra, Jorge Ferreira explica que, no Brasil, o termo

“populismo” e as primeiras formulações a seu respeito tiveram origem “no contexto da

democratização de 1945”, e que essas formulações não se limitaram apenas às “categorias

teóricas com respaldo acadêmico”, mas também, e principalmente,

procuraram fabricar imagens politicamente desmerecedoras do adversário, esforçando-se para elaborar uma representação negativa daquele que se queria combater no decorrer da luta política. [...] O “populismo”, portanto, surgiu primeiro como uma linguagem desmerecedora e negativa do adversário político, e somente depois como uma categoria explicativa de âmbito acadêmico17.

E, situando o contexto dos estudos dos artigos que estavam compondo a coletânea,

Jorge Ferreira, na mesma Introdução, deixa delineado:

16 FERREIRA, Jorge (org.). O populismo e sua história: debate e crítica. 3ª ed. ─ Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2013, p. 379 a 380 17 FERREIRA, op. cit., p. 8 e 9

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O “populismo”, como noção para explicar a política brasileira de 1930 a 1964, tornou-se uma das mais bem-sucedidas imagens que se firmaram nas Ciências Humanas no Brasil. O ano de 1930 seria o início do “populismo na política brasileira”. 1945 marcaria rearranjos institucionais que teriam permitido a sua continuidade na experiência democrática; 1964, finalmente, significaría o seu colapso.18

Compatibilizando essa demarcação histórica trazida na obra O populismo e sua

história: debate e crítica, tem-se que:

─ o ano de 1930 marcou, no âmbito internacional, a eleição de Adolf Hitler para o

parlamento alemão (à época, o Reichstag), em eleições em que o Partido Nacional-Socialista (Nazista) conquistou, aproximadamente, 18% (dezoito por cento) das cadeiras em disputa. Essas eleições marcaram o início da meteórica ascensão de Hitler ao poder político alemão, e também marcaram a consolidação do partido nazista no cenário interno e externo da Alemanha, fatos esses que, direta ou indiretamente, culminaram com as circunstâncias belicistas que resultaram na Segunda Grande Guerra (1939 a 1945);

─ Benito Amilcare Andrea Mussolini, líder do fascismo italiano, já se mostrava um

dos principais governantes europeus, preparando o expansionismo bélico italiano, que se iniciou, efetivamente, em 1935, com a invasão da Abissínia, na África (atual, Etiópia). A prática política arbitrária, autoritária, centralizadora, e de fortalecimento do poder do Estado em desfavor das liberdades individuais imposta e praticada por Benito Mussolini (que se autodenominou, a partir de 1936, com o título de "Sua Excelência Benito Mussolini, Chefe de Governo, Duce do Fascismo e Fundador do Império"), consolidada na expressão por ele consagrada "Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado” influenciou governos de diversos países, inclusive o “Governo Varguista” do Brasil;

─ Getúlio Dornelles Vargas assumia o poder político de governo no Brasil como

“Chefe do Governo Provisório (1930 a 1934) no contexto da Revolução de 1930, a qual impediu a posse do Presidente eleito Júlio Prestes Albuquerque”. Vargas governaria o Brasil por quinze anos ininterruptos, governando de forma ditatorial, principalmente após 1937, quando instituiu o Estado Novo por meio da outorga de uma nova Constituição com tendência fascista, tanto que foi denominada de “Constituição Polaca”, por se orientar pela Constituição polonesa. O governo Vargas, autoritário e fascista em sua essência, marcou a inflexão política e econômica do Brasil, de um Estado rural, dependente economicamente de sua produção agrícola, especialmente da exportação de café, para um Estado nacional intervencionista com tendências à industrialização. Com a regulamentação do trabalho urbano por meio da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, incentivando, mesmo que indiretamente, o êxodo rural para a formação da mão de obra necessária ao industrialismo (inicio da formação de uma indústria de base metalúrgica e da melhoria da infraestrutura urbana do país). Depois, de 1951 a 1956, Vargas voltou a governar o país já na democratização pós Segunda Guerra. Nessa época, no processo nacional-desenvolvimentista, houve a criação da Petrobrás (1953);

18 FERREIRA, op. cit., p. 7

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─ entre os anos de 1945 a 1964, o Brasil vivenciou um período de liberdades

individuais, com uma Constituição (de 1946) que possibilitou a democratização do país, inclusive com a experiência do sistema político pluripartidário, representativo de diversas tendências ideológicas. No seio desse período democrático elegeram-se Presidentes da República políticos havidos como populistas: Getúlio Dorneles Vargas (1951 a 1956; Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956 a 1961), construtor e fundador de Brasília; Jânio da Silva Quadros (de janeiro a agosto de 1961, quando renunciou). Esses ex-presidentes possuíam como características comuns uma boa oratória, o domínio do discurso e das plateias nos comícios (porque, antes, as eleições presidenciais eram acontecimentos cívico-populares, que lotavam as praças municipais por ocasião dos grandes comícios eleitorais), as ideias salvadoras, o dom de resolver questões estruturais da sociedade brasileira, o carisma e a habilidade para liderar e para convencer. Alguns deles possuíam, certamente, tendências autoritárias, a exemplo de Vargas e de sua história, outros, porém, não demonstravam essa tendência em seus discursos e condutas (Juscelino);

─ no pós Segunda Guerra, no âmbito mundial, vivia-se o combate ideológico entre

as grandes potências, liderados pelo Estado Unidos (capitalista, de tendência liberal) e pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS (capitaneadas pela Rússia, comunista, de tendência estatizante). Esse embate ideológico, que se denominou Guerra Fria, permeou por décadas, dividindo povos e Estados, às vezes literalmente, como na Alemanha, Vietnam e Coreia, até a queda do comunismo-socialismo no inicio da última década do século XX. Nos anos 60, a Guerra Fria estava em seu auge, com a corrida espacial e com a guerra dos mísseis entre Estados Unidos e URSS, e com essas duas potências econômicas e políticas tentando influenciar e conquistar governos mundo afora, e impedir que a adversária, vista como inimiga conquistasse governos mundo afora;

─ no seio da Guerra Fria dos anos 60 foi que se deu, no Brasil, o Golpe Militar de 31

de março de 1964, chamado de Revolução de 64, iniciando-se um período militarista de governo que se espraiou até finais da década 80, quando houve a redemocratização do Brasil com a instalação do Congresso Nacional Constituinte (Assembleia Nacional Constituinte) de 1987-1988, e com a promulgação da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988, ora vigente, que traduziu a redemocratização do país pós-regime militar. Entre 1964 e 1988, não houve eleição de líderes populistas para o governo central do país, ou porque não haviam eleições, mas escolhas pelo Congresso Nacional de candidatos militares indicados por militares (Humberto de Alencar Castello Branco, 1964 a 1967; Arthur da Costa e Silva, 1967 a 1969; Emílio Garrastazu Médici, 1969 a 1974; Ernesto Geisel, 1974 a 1979, e João Baptista Figueiredo, 1979 a 1985), ou porque as escolhas pelo Congresso Nacional se deram entre candidatos civis, em um sistema bipartidário vigente desde meados dos anos 60 (Tancredo Neves e José Sarney. Tancredo Neves foi eleito, mas não tomou posse, por adoecer e falecer antes de fazê-lo. José Sarney, eleito Vice-Presidente de Tancredo Neves, tomou posse e governou de 1985 a 1990, quando, então, pela primeira eleição presidencial democrática e direta pós regime militar, foi eleito Fernando Collor de Mello, que governou de 1990 a 1992, destituído do governo por um processo político que

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levou ao seu impeachment. Foi substituído pelo vice-presidente, Itamar Franco, que terminou o mandato, governando de 1992 a 1995).

Sobre as características comuns dos líderes políticos populistas, pode-se dizer que,

invariavelmente, todos surgem no bojo de alguma crise pela qual a sociedade civil aparta-se

da sociedade políticas, e ambas descreem das instituições do Estado. Nessas crises, a

sociedade civil, por ver se avolumarem as carências e as contradições sociais, deixa de

acreditar nas instituições estatais por não ver resultado social efetivo, e por sentir que essas

instituições atuam em favor dos grandes grupos econômicos e políticos. Por sua vez, a

sociedade política, ao sentir o enfraquecimento da respeitabilidade das pessoas pelas

instituições do Estado, apropria-se, política e economicamente, da estrutura estatal para obter

maiores benefícios para os grupos familiares, políticos e econômicos (entendidas como as

oligarquias) de quem recebem apoio ou a quem representam. Chega-se, nesse estágio, à

apropriação do governo pelas oligarquias, as quais sempre atuam para garantir e aumentar

privilégios políticos e econômicos, e para se perpetuarem no poder de governo. Nesse estágio

de desgaste social, como se para evitar uma conflagração bélica, surgem os líderes populistas,

geralmente das classes sociais menos abastadas econômica, cultural e politicamente, trazendo,

como bandeira de luta, as ideias e os planos salvacionistas. Não raro, os lideres políticos

populistas e salvacionistas também costumam surgir do seio das próprias oligarquias, somente

que trazem consigo discursos contrários aos privilégios dos grupos oligárquicos, traduzindo,

em palavras, os anseios do povo contrários aos privilégios e à discriminação social. Os

discursos salvacionistas dos líderes políticos populistas são formatados para que alcancem o

corpo social, especialmente as classes sociais menos favorecidas, onde se encontram os votos

em volume considerável para a chegada ao poder de governo.

Nos anos 1930, as teses favoráveis à construção de uma Estado com capacidade para planejar/organizar/dirigir o desenvolvimento econômico e intervir nos conflitos sociais e políticos ganharam terreno, e os regimes fascista italiano e nazista alemão passaram a ser indicados como alternativas de sucesso aos regimes liberais em descrédito. Mesmo governantes contrários ao nazi-fascismo procuraram introduzir em seus países um Estado forte, promotor de legislação social e mediador dos conflitos sociais, tendo à frente um líder carismático em contato direto com as massas. Alguns regimes da América Latina do pós-30 adotaram essa política denominada populista por muitos autores19. O varguismo, o cardenismo e o peronismo, analisados em conjunto ou separadamente, foram considerados expressão mais típicas do populismo [...]: algumas análises caracterizam o ´populismo brasileiro como um todo indiferenciado cujos marcos cronológicos situam-se entre 1930-1964; outras se referem ao populismo varguista (1930-54); outras ainda consideram que apenas o segundo

19 CAPELATO, Maria Helena Rolim. (FERREIRA, Jorge ─ org.). O populismo e sua história: debate e crítica. 3ª ed. ─ Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2013, p. 128

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período Vargas (1951-54) pode ser definido como populista; há, também, as que periodizam o populismo brasileiro entre 1945-5420.

Regionalizando esse entendimento para o Brasil, teve-se esse fato com a chegada ao

poder de Getúlio Vargas, em 1930, no contexto da Revolução de 1930, que se tratou de um

conflito armado em território nacional, muito decorrente da crise econômica gerada com a

“quebra da Bolsa de Nova Iorque” em 1929, e que foi liderado por oligarquias que se

contrapunham a oligarquias. Não bastassem esses fatores econômicos advindos da economia

norte-americana, também as ideias fascistas (derivadas das ascensões fascistas e nazistas na

Itália e Alemanha da Europa Ocidental) faziam eclodir no país movimentos sociais

reivindicatórios, e isso tudo contribuiu para que o desejo revolucionário, agora amparado no

anseio popular, alçasse outras lideranças ao cenário político nacional e ao poder central. Nesse

cenário, Getúlio Vargas, dono de discurso fácil e contagiante, à frente dos “revolucionários de

30”, foi escolhido para Chefe do Governo Provisório. E, nesse contexto, e com autoridade

centralizadora, assumiu o poder por quinze anos, governando com viés ditatorial conseguido

com alterações na formatação do modelo constitucional do país, principalmente após a

outorga da “Constituição Polaca”, de 1937. Muito embora com tendências políticas fascistas e

nacionalistas, o Governo Vargas conduziu-se, economicamente, pela tendência capitalista,

impondo alterações na legislação regente das relações de trabalho urbano (com a promulgação

da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT), e introduzindo alterações na estrutura

econômica do país, direcionando investimentos estatais para a industrialização,

principalmente com incentivos à indústria de base. Houve forte intervenção do Estado na

seara econômica, com a criação de empresas estatais siderúrgicas e de exploração de petróleo

e gás (tanto porque, à época, o país não contava com grandes grupos econômicos privados

capazes de realizarem, por si mesmos, os investimentos necessários à modernização do

projeto econômico em curso) e incentivos econômicos e políticos aos investimentos de grupos

econômicos estrangeiros no país, para a instalação da indústria automobilística, por exemplo.

Nos bastidores do poder, entretanto, vigorava a repressão à liberdade de expressão e às

liberdades políticas, com prisões, deportações e mortes de “inimigos do regime” ou de

“subversivos” internos.

Vencida a Segunda Guerra, em que foram derrotados os sistemas fascista e nazista

pelas forças lideradas pelos blocos capitaneados por Estados Unidos (de tendência liberal

capitalista) e pela Rússia (com viés comunista, estatizante e politicamente autoritário), os

demais Estados sucederam seus governos sob os auspícios de um ou de outro desses blocos. 20 CAPELATO, op. cit., 132

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O Brasil redemocratizou-se após os anos da ditadura de Vargas, e seguiu pelo sistema

capitalista, porém, com forte intervenção estatal sob a ótica no nacionalismo varguista.

Entretanto, movimentos contestatórios e reformistas proliferaram no país, que também se

encontrava sob as tensões da Guerra Fria. Eleito Jânio Quadros, ele, no ano de 1961, mesmo

ano em que foi empossado,ele renunciou à Presidência. E o Brasil se viu tensionado por

disputas políticas tanto no seio da sociedade civil, quanto no interior dos quartéis das Forças

Armadas (que se pautavam, então, pela doutrina da segurança nacional = a luta interna contra

os subversivos, e a luta externa contrária à influência comunista, principalmente da influência

político-ideológica advinda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, da

Europa Oriental, e de Cuba, que, no final dos anos cinquenta, fora palco de uma revolução

comunista que fez ascender ao poder o grupo político liderado por Fidel Alejandro Castro

Ruz, líder supremo e ditador inconteste de 1959 a 2008, quando passou o comando ao seu

irmão Raúl Modesto Castro Ruz. Cuba e os cubanos, de 1959 até os dias atuais, somente

conheceram os Irmãos Castro como governantes).

Com a renúncia de Jânio Quadros, e após período de turbulências sobre quem o

substituiria, uma vez que seu Vice-Presidente, João Belchior Marques Goulart, não era aceito

pela cúpula militar, que o entendia sensível às ideias comunizantes, e com o discurso de evitar

a ascensão dos movimentos reformistas-comunistas no país, os militares, a 31 de março de

1964, tomaram o poder político de governo, e ali permaneceram, sucendendo presidentes

militares (marechais e generais) até o ano de 1985, quando o último presidente militar, João

Baptista de Oliveira Figueiredo, desceu do poder e o transmitiu ao civil José Sarney, que

assumiu a Presidência da República como Vice-Presidente de Tancredo Neves, que havia sido

eleito Presidente no Colégio Eleitoral (pelo Congresso Nacional), mas que não chegou a

tomar posse por ter sido acometido de grave doença que o levaria à morte ainda em 21 de

abril de 1985. No governo de Sarney, o Brasil experimentou períodos de instabilidades e

retrações econômicas, com índices inflacionários de até oitenta por cento de inflação ao mês.

Nesse contexto de instabilidade econômica e insegurança da sociedade civil criou-se o

cenário para a eleição de um outro líder populista salvacionista.

Muitas décadas depois da eleição de Vargas, teve-se a eleição de Fernando Collor de

Mello, em 1989, acontecida em um momento de crise econômica e política no cenário

brasileiro. O Governo de José Sarney, seu antecessor imediato, estava enfraquecido pela

elevada carga inflacionária que assolava o país, situação que lhe corroia o apoio político e o

respeito da sociedade civil. Collor, então, foi eleito atacando violentamente o presidente em

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exercício, José Sarney, transformando-o não em adversário político, mas inimigo público. Ao

mesmo tempo em que se apresentava como o “caçador de marajás”, assim por ele considerado

os servidores públicos que, segundo seu discurso, recebiam elevadas remunerações da

Administração, sem a contraprestação de serviços.

A ascensão de Vargas resultou em um governo autoritário e em uma ditadura fascista

que durou, no seu todo, aproximadamente quinze anos (1930 a 1945), e a eleição de Fernando

Collor resultou em um escândalo político que apresentou ao país o primeiro Presidente da

República destituído do exercício de seu cargo por um processo político conduzido pelo

Congresso Nacional, e presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal – STF, que

levou ao seu impedimento de continuar no cargo. Collor foi deposto do cargo de Presidente da

República por um processo de impeachment. Foi sucedido por seu Vice-Presidente Itamar

Augusto Cautiero Franco, que terminou o mandato. Quem o sucedeu foi Fernando Henrique

Cardoso, que devolveu a estabilidade econômica ao país, reduzindo os níveis inflacionários a

patamares socialmente aceitáveis. Nesse palco de estabilidade, Fernando Henrique patrocinou

uma reforma constitucional para introduzir no cenário político brasileiro o instituto da

reeleição dos cargos do Poder Executivo (Presidente, Governadores de Estado e do Distrito

Federal, e de Prefeitos de Municípios). A reeleição dos cargos do Poder Executivo era

instituto desconhecido da política brasileira, embora tradicional no modelo norte-americano.

Décadas depois do término do Governo de José Sarney, ele e Fernando Collor se

encontraram eleitos no Congresso Nacional, como senadores pelo Amapá e por Alagoas,

respectivamente, constituindo parte da base de apoio parlamentar dos governos de Luiz Inácio

Lula da Silva (2003 a 2011) ─ que sucedeu ao governo de Fernando Henrique Cardoso ─ e de

Dilma Vana Rousseff (eleita, primeiramente, em 2010, e reeleita em 2014).

Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2011) foi eleito e reeleito sob a bandeira da ética,

empunhada desde o início do processo de redemocratização (primórdios da década de

oitenta), quando fundou seu partido político e disputou três eleições presidenciais antes de ser

eleito e reeleito a partir de 2002. Com um discurso populista, com ênfase na ética, na ascensão

da classe trabalhadora ao poder, e em defesa das empresas estatais e da riqueza petrolífera do

“pré-sal’ (petróleo e gás localizado em águas profundas nas costas marítimas brasileiras), Lula

chegou a Presidente da República, reelegeu-se e elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, no

entanto, a “realidade mostrou a realidade de seus discursos”, e ambos foram protagonistas dos

maiores escândalos políticos e financeiros envolvendo desvios de recursos públicos para

partidos políticos da base de apoio de seus governos, para garantir votações favoráveis no

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Congresso Nacional. Esses escândalos de desvios de recursos públicos para benefício de

oligarquias familiares e político-partidárias, dada à dimensão, sequência e complexidade,

ainda estão sendo desvendados pelo Poder Judiciário e pela grande imprensa brasileira. Lula e

Dilma foram e são protagonistas dos chamados “escândalo do mensalão”, “escândalo do

petrolão” e “escândalo do eletrolão”, envolvendo corrupção ativa e passiva de agentes

públicos, crimes de formação de quadrilha, uso da Justiça Eleitoral para encobrir desvio de

recursos públicos para contas de partidos políticos. Esses são apenas alguns dos crimes pelos

quais muitos de seus partidários políticos e empresários apoiadores foram presos e

condenados pela justiça brasileira. Porém, ainda em meados de 2015 não é possível

dimensionar e quantificar o volume real dos dinheiros desviados dos cofres públicos por essas

lideranças políticas que ascenderam ao poder pleiteando a oportunidade de “defender os

interesses éticos e os direitos das camadas sociais mais pobres”.

Deste pequeno resumo dos acontecimentos políticos brasileiros no período de 1930 a

2015, já se percebe que, sob certo aspecto, Gloria Álvarez acertou no diagnóstico, pois como:

─ promessas de campanhas, os discursos populistas servem para “vender” ilusões às

classes sociais menos favorecidas, mostrando ao público a face que os respectivos líderes populistas e seu staff desejam mostrar, dissimulando a essência do interesse de classe oligárquica que desejam e que necessitam ocultar21;

─ forma de administrar, o populismo político corrói instituições da República pelo

aparelhamento dela por partidários políticos que desconhecem princípios elementares de gestão da coisa pública, e corrobora para a eternização e miserabilização da sociedade civil, conseguida pela implementação de políticas públicas de fidelização de eleitores, tudo em prol de projetos de poder dos líderes políticos populistas e de seus grupos econômicos, políticos e familiares de apoio;

─ política de governo, a conduta dos líderes populistas e a administração da coisa

pública por eles levada a efeito conduzem ao agigantamento da máquina pública pela estatização de setores da economia; pela contratação irracional de servidores para os quadros públicos; pelo empobrecimento do Estado (seja pelos gastos desmedidos e não quantificados em “programas sociais” de fidelização de eleitores, seja pelos desvios éticos de conduta e de recursos públicos para fins pessoais e político-partidários); pela adoção de políticas públicas voltadas à segmentação social pela divisão de classes sociais por etnia, por padrões econômicos, por tendências ideológicas, e por opções sexuais e religiosas; pelo cerceamento de liberdades individuais e de imprensa; pelo aviltamento de valores históricos e pela revisão da história, e, principalmente, pelo centralismo político-ideológico e pela busca pela eternização no poder, normalmente obtidos por revisões dos textos constitucionais para abrigar normas que possibilitem

21 ALVES, Alaôr Caffé. Estado e Ideologia: aparência e realidade. ─ São Paulo : Brasiliense, 1987

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reeleições continuadas, e tudo coroado pelo desejo incessante dessas lideranças políticas populistas de implantar o sistema de partido único ou de bipartidarismo.

Explicando a importância do ideário que acerca os princípios da igualdade e da

liberdade como sendo comum às correntes político-ideológicas liberais e socialistas não

radicais, João Pereira Coutinho esclarece:

De fato, deixando de lado os casos extremos das ideologias radicais, como o comunismo ou o facismo, mesmo ideologias não radicais como o liberalismo ou o socialismo democrático parecem comungar desta observação [...]: um liberal ou um socialista democrático poderão alinhavar, sem grande dificuldade, os princípios que orientam as suas ideias ou ações políticas, independemente do contexto em que elas se inscrevem. A defesa da liberdade ou da igualdade será tão relevante para um liberal ou para um socialista democrático do século XIX, como será para um liberal ou para um socialista democrático do século XXI.

E continua ele: O liberalismo e o socialismo democrático, apesar das suas múltiplas roupagens temporais ou espaciais, são capazes de partilhar um ideário que lhes confere uma reconhecível identidade. E, pela mesma ordem de ideias, uma sociedade será tão mais desejável quanto maior for a liberdade (para um liberal) ou a igualdade (para um socialista democrático) nela existentes. [..] Enganam-se os que pensam que o conservadorismo não é uma ideologia. [...] O conservadorismo poderá ser assim apresentado como uma “ideologia de emergência” [...]: porque emerge em face de uma ameaça específica de caráter radical; e porque o faz quando essa ameaça põe em risco os fundamentos institucionais da sociedade.22.

Se Gloria Álvarez acertou no diagnóstico, o prognóstico por ela oferecido não pode ser

considerado absolutamente correto, haja vista ser por demais simplistas diante da

complexidade do tema por ela tratado, mas, não se pode deixar de observar que seu discurso

retrata sua experiência acadêmica e também sua atuação política como integrante de um

Movimiento Civico Nacional – MCN– guatemalteco. Há subentendido em sua fala, o viés

liberal de sua concepção político-ideológica. E a concepção liberal dos institutos políticos e

jurídicos da liberdade, da igualdade e da propriedade ─ valores exaltados no discurso de

Gloria Álvarez ─ é, sob certos aspectos, assemelhada à concepção que deles fazem os que

interpretam a realidade social sob viés conservador. Para ambas as correntes político-

ideológicas ─ a liberal e a conservadora ─ a liberdade, a igualdade e a propriedade são

principios e valores a serem preservados e observados pelas instituições do Estado.

22 COUTINHO, João Pereira. As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e a reacionários. ─ São Paulo : Três Estrelas, 2014, p. 28 e 29

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IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na política, são comuns os discursos salvacionistas com propostas irrefutáveis para

atendimento das carências sociais, disseminados por líderes políticos populistas, cuja meta é

alcançar o poder político de governo nos Estados considerados, para, então, ali se manterem

pelo maior prazo possibilitado pela legislação ou pelas circunstâncias sociais.

O que caracteriza e unifica essas propostas irrefutáveis de atendimento das carências

sociais trazidas pelos líderes populistas é que elas não são explicadas e nem detalhadas de

modo racional ou lógico. Essas lideranças não se preocupam em demonstrar as fontes e os

volumes de recursos públicos necessários para implementação das soluções propostas por

eles, porque, o que se evidencia nessas lideranças populistas é, justamente, a crença de que

elas sabem o que deverão fazer quando eleitos, acrescida à crença de que farão quando eleitos.

Os discursos salvacionistas dos líderes populistas os transmutam em dignos e

legítimos representantes das classes sociais menos favorecidas, e os afirmam como

conhecedores de todas as soluções para as mazelas sociais. Por essas razões é que, no

imaginário popular, são havidos como os únicos capazes de implementar as soluções

salvacionistas que apregoam. Esses discursos com ideais de salvação, expostos com a boa e

articulada retórica que caracteriza os líderes populistas, possuem o dom de alçar tais líderes ao

patamar de defensores dos fracos e dos oprimidos. Quando atingem esse patamar no ideário

popular, dificilmente deixam de ser eleitos para os cargos políticos nas estruturas de poder de

seus Estados. Então, eleitos, adotam políticas públicas na forma de ações, programas,

projetos, subsídios e incentivos a setores da sociedade, de modo a dividir o corpo social entre

fracos e poderosos, ricos e pobres, bons e maus, e eles se postam sempre como protetores dos

interesses e direitos dos fracos, dos pobres, dos bons. No entanto, pairando acima dessas

políticas públicas de tendências sociais, tais lideranças, como oligárquicas que são, adotam

disposições concretas para privilegiar, econômica e politicamente, seus grupos de apoio,

porém, sem que deixarem que tais disposições cheguem ao conhecimento popular.

Embora seja mais comum vicejarem em países pobres e em países de economias

emergentes, a verdade é que os políticos populistas, com seus empáticos discursos

salvacionistas, são presentes nos mais diversos Estados, até mesmo nos Estados Unidos da

América, pátria-mãe de todo o ideal liberal. Com as ressalvas cabíveis, pode-se afirmar que o

quadragésimo quarto presidente americano, Barack Hussein Obama II, foi eleito com um

discurso perfeitamente classificável como populista, a iniciar pelo seu slogan de 2008: "yes,

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we can". O que possibilita minimizar os males das ações dos políticos populistas americanos é

a força, a maturidade e a história das instituições republicanas dos Estados Unidos da

América. A República americana é uma instituição consolidada no processo histórico; a

República de quase todos os países americanos com raízes ibéricas ainda está em processo de

formação e de consolidação, a exemplo da República Federativa do Brasil, que, como país

democrático, possui experiência de pouco mais de meio século (1945 a 1964, e de 1988 aos

dias atuais, haja vista que, no período de 1889 ─ ano da Proclamação da República, a 1930, a

democratização brasileira, e o processo político de sua concretização, ainda era bastante

incipiente e arcaico em sua estrutura de representação política, porque privilegiava as

oligarquias políticas dos Estados da Região Sudeste, especialmente de Minas Gerais, de São

Paulo e do Rio de Janeiro.

É importante considerar que o populismo não viceja somente em Estados de

tendências políticas liberais capitalistas: é tão ou mais comuns em países socialistas-

comunistas, nos quais o apoio popular é obtido e mantido com políticas autoritárias,

centralizadoras e dissimuladoras implementadas pelas lideranças dos regimes de partidos

políticos únicos, porém, mesmo nesses Estados de oligarquias socialistas ou comunistas, faz-

se necessário que os líderes sejam populares e populistas, para que obtenham e mantenham o

respeito do povo sem a necessidade de utilizarem ostensivamente a força do ius imperii.

Quando Gloria Álvarez afirma que o populismo abala as instituições da República, ela

acerta, haja vista que é comum políticos eleitos buscarem aparelhar as estruturas

administrativas dos órgãos e entidades do Estado com parentes e com apoiadores político-

partidários, para se eternizarem no poder. Nesse aspecto, a América Latina é exemplar na

quantidade desses “espécimes”, entretanto, não se deve ter a ilusão de que setores específicos

da sociedade possuem as soluções necessárias para extirpar as mazelas sociais causadas pelas

condutas das lideranças populistas e das políticas públicas por eles adotadas.

Os líderes e as lideranças são importantes, porque são eles que ofertam opções àqueles

a quem lideram. Porém, mais importante é o tempo histórico. Somente a história para

demonstrar se as instituições do Estado possuem as condições ótimas e necessárias para, em

um processo dialógico, resistirem às pressões políticas das lideranças populistas, que sempre

tendem a impor obrigações que, mesmo lentamente, corroem as bases de sustentação da

República, e continuarem se consolidando como referência do poder estatal.

Podem ser citadas como exemplo de tais pressões políticas levadas a efeito pelos

líderes populistas que alcançam os postos de governo as suas constantes tentativas de

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cerceamento da liberdade de imprensa (seja pela censura pura e crua, seja por uso do dinheiro

público para incentivar veículos de imprensa para que mantenham a linha editorial desejada

pelos governantes). Também o aparelhamento do Estado com pessoas despreparadas para o

exercício de cargos e de funções públicas, mas fiéis às ordens dos mandatários políticos-

populistas, contribui para o enfraquecimento das instituições republicanas, como bem

aventado no discurso proferido por Gloria Álvarez. No entanto, a solução não é tão simples

como ela deixa transparecer, porque, se assim fosse, o combate aos males do populismo já

tinha obtido sucesso em todos os países, haja vista que tais males são bastante conhecidos.

O populismo, como forma de atuação político e como modo de exercício do poder de

governo nos diversos Estados, ainda persistirá e ainda obterá sucesso, haja vista que os

discursos populistas possuem o condão de tocar sentimentos e paixões das populações, pois

que proferidos por lideranças políticas carismáticas, cada vez mais preparadas tecnicamente

para bem se mostrarem ao povo como seus salvadores. Mas é falsa a impressão de que tudo

está perdido. Todo perspectiva deve ser considerada no processo histórico. E, em regra, o

processo histórico tende a conduzir à evolução das instituições (administrativas, jurídicas,

políticas etc.) e, principalmente, à evolução do respeito à cidadania e à dignidade da pessoa

humana. Essa evolução não é uniforme em todas as sociedades e em todos os Estados, mas é

característica do processo evolutivo da sociedade humana. E é sob essa perspectiva histórica

que se deve entender que o populismo político poderá ser superado por formas mais racionais

e lógicas de exercício do poder político de governo.

E é preciso entender essa perspectiva histórica, para que não se reproduzam discursos

ideológicos como formas fáceis de solução de situações sociais complexas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTHUSSER, Louis. Ideologia y aparatos ideológicos e Estado. Freud y Lancan. ─ Buenos Aires : Nueva Visión, 2011 ALVES, Alaôr Caffé. Estado e Ideologia: aparência e realidade. ─ São Paulo : Brasiliense, 1987 CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia? (Coleção Primeiros Passos – 13). 2ª ed. ─ São Paulo : Brasiliense, 2008 COUTINHO, João Pereira. As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e a reacionários. ─ São Paulo : Três Estrelas, 2014

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FERREIRA, Jorge (org.). O populismo e sua história: debate e crítica. 3ª ed. ─ Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2013 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31ª ed. ─ São Paulo : Paz e Terra, 1996 KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia (tradução de Francisco Cock Fontanella). 5ª ed. ─ São Paulo : Unimep, 2006 MILL, John Stuart. O Governo Representativo (tradução de E. Jacy Monteiro). 2ª ed. ─ São Paulo : Ibrasa, 1983 PLEKHÃNOV, Guiorgui. A concepção materialista da história, de Guiorgui Plekhãnov 8ª ed. ─ Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1980 PLATÃO. A República. ─ São Paulo : Martin Claret, 2002 POKROVSKI, Mikhail Nikolaevitch. História das Ideologias (quatro volumes). ─ Lisboa : Estampa, 1972 SIEYÈS, Emmanuel Joseph. Exposição Refletida dos Direitos do Homem e do Cidadão (do original francês Préliminaire de la Constitution. Reconnaissance et Exposition Raisonnée des Droits de l’Homme et du Citoyen – Verasailles : 1789 ─ tradução de Emerson Garcia). ─ Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2008 REFERÊNCIAS DE SITES DA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES <https://www.facebook.com/MCNGuatemala/info?tab=overview>. Acesso em 07 set 2015, às 15h07 <https://www.youtube.com/results?search_query=gloria+%C3%A1lvarez>. Acesso em 26 set 2015, às 22h00 <http://www.iberoamericalider.org/parlamento-iberoamericano-de-la-juventud-2014/>. Acesso em 26 set 2015, às 18h45 <http://www.iberoamericalider.org/objetivos/>. Acesso em 26 set 2015, às 18h35 <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000003.pdf>. Acesso em 27 set 2015, às 8h55