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Literatura 3 o Médio Embora nem todos os artistas e pensadores concordem com Kant, podemos inferir, da lei- tura do texto acima, que a compreensão do mundo que nos cerca depende muito da per- cepção que dele temos. Em outras palavras, Kant afirma que não somos capazes de co- nhecer inteiramente os objetos reais, mas que o nosso conhecimento deles é fruto do que somos capazes de pen- sar sobre eles. Percebemos os objetos através de nossos sentidos e es- sa forma de perceber é própria, peculiar, de cada um de nós. Em outras palavras, nem todos percebemos o mundo da mesma forma. REFLETINDO SOBRE A CONVERSA Partindo do tema dessa nossa primeira aula: Literatura & percepção de mundo, vamos ver o que nos têm a dizer a esse respeito Marilena Chauí (filósofa), José Saramago (romancista), Fernando Pessoa e Mário Quintana (poetas). A percepção humana O que é a percepção? An- tes de mais nada, é um modo de nossa consciência relacionar-se com o mundo exterior pela mediação de nosso corpo. Em segundo lugar, é um certo modo de a consciência relacionar-se com as coisas, quando as toma como realidades qua- litativas (cor, odor, tama- nho, forma, distâncias, a- gradáveis, desagradáveis, dotadas de fisionomia e de sentido, belas, feias, diferentes umas das outras, partes de uma paisagem etc.). CHAUÍ. Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994. PARA INÍCIO DE CONVERSA Cursos de Literatura têm como característica principal despertar a sensibilidade do aluno para o mundo que o cerca. Mais do que um mero acúmulo de informações sobre períodos e estéticas literárias, o estudo da Literatu- ra visa a construção de um novo sentido para a realidade que nos cerca. Assim como a Arte busca a criação de obras capazes de refletir um determinado estado de espírito, baseando-se em um determinado conceito estético, e a Filosofia a construção de um sentido para à realidade, a Literatura tem por objetivo explorar a plurissignificação da lingua- gem. PROLONGANDO A CONVERSA A percepção do mundo O que os objetos são, em si mesmos, fora da maneira como nossa sensibilidade os recebe, permanece total- mente desconhecido para nós. Não conhecemos coisas alguma a não ser o nosso modo de perceber tais objetos um modo que nós é peculiar e não necessariamente compartilhado por todos os seres [...] KANT. Immanuel. In __ Os pensadores. São Paulo: Abril, 1994. LITERATURA & PERCEPÇÃO DE MUNDO Componentes interdisciplinares trabalhados: Literatura, Arte, Filosofia 01 Língua Portuguesa Prof. Abrahão Dicas A fim de ampliar os seus conheci- mentos sobre o tema dessa aula, considere as dicas a seguir: Vídeo o primeiro filme da trilogia Matrix, de Larry & Andy Wachows- ki Livro A biblioteca Mágica de Bibbi Bokken, de Jostein Gaarder & Klaus Hageruf Música O buraco do espelho, de Arnaldo Antunes; Quase Tudo, de Péricles Cavalcanti & Arnaldo An- tunes; Por aí, de Nei Lisboa. Importante Analise as formas geométricas por apresentadas ao longo desta aula, bem como a tela de Salvador Dali, para ter uma exata dimensão do que diz Kant e Marilena Chauí, quando afirmam que percebemos o mundo pelos nossos sentidos e traduzimos esse sentimento na forma de algo: um objeto, um cheiro, um sentimento.

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Page 1: 3 Literatura · PDF file · 2011-02-08artistas e pensadores concordem com Kant, ... Fernando Pessoa e Mário Quintana (poetas). A percepção humana O que é a percepção? An-tes

Literatura 3o

Médio

Embora nem todos os artistas e pensadores concordem com Kant, podemos inferir, da lei-tura do texto acima, que a compreensão do mundo que nos cerca depende muito da per-

cepção que dele temos.

Em outras palavras, Kant afirma que não somos capazes de co-nhecer inteiramente os objetos reais, mas que o nosso conhecimento deles é fruto do que somos capazes de pen-

sar sobre eles.

Percebemos os objetos através de nossos sentidos e es-sa forma de perceber é própria, peculiar, de cada um de nós. Em outras palavras, nem todos percebemos o mundo

da mesma forma.

REFLETINDO SOBRE A CONVERSA

Partindo do tema dessa nossa primeira aula: Literatura & percepção de mundo, vamos ver o que nos têm a dizer a esse respeito Marilena Chauí (filósofa), José Saramago (romancista), Fernando Pessoa e Mário

Quintana (poetas).

A percepção humana

O que é a percepção? An-tes de mais nada, é um modo de nossa consciência relacionar-se com o mundo exterior pela mediação de nosso corpo. Em segundo lugar, é um certo modo de a consciência relacionar-se com as coisas, quando as toma como realidades qua-litativas (cor, odor, tama-nho, forma, distâncias, a-gradáveis, desagradáveis, dotadas de fisionomia e de sentido, belas, feias, diferentes umas das outras, partes

de uma paisagem etc.).

CHAUÍ. Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Cursos de Literatura têm como característica principal despertar a sensibilidade do aluno para o mundo que o cerca. Mais do que um mero acúmulo de informações sobre períodos e estéticas literárias, o estudo da Literatu-ra visa a construção de um novo sentido para a realidade

que nos cerca.

Assim como a Arte busca a criação de obras capazes de refletir um determinado estado de espírito, baseando-se em um determinado conceito estético, e a Filosofia a construção de um sentido para à realidade, a Literatura tem por objetivo explorar a plurissignificação da lingua-

gem.

PROLONGANDO A CONVERSA

A percepção do mundo

O que os objetos são, em si mesmos, fora da maneira como nossa sensibilidade os recebe, permanece total-mente desconhecido para nós. Não conhecemos coisas alguma a não ser o nosso modo de perceber tais objetos – um modo que nós é peculiar e não necessariamente

compartilhado por todos os seres [...]

KANT. Immanuel. In __ Os pensadores. São Paulo: Abril, 1994.

LITERATURA & PERCEPÇÃO DE MUNDO

Componentes interdisciplinares trabalhados: Literatura, Arte, Filosofia

01

Lín

gu

a P

ort

ug

uesa

P

ro

f. A

brah

ão

Dicas

A fim de ampliar os seus conheci-mentos sobre o tema dessa aula, considere as dicas a seguir:

Vídeo – o primeiro filme da trilogia Matrix, de Larry & Andy Wachows-ki

Livro – A biblioteca Mágica de Bibbi Bokken, de Jostein Gaarder & Klaus Hageruf

Música – O buraco do espelho, de Arnaldo Antunes; Quase Tudo, de Péricles Cavalcanti & Arnaldo An-

tunes; Por aí, de Nei Lisboa.

Importante Analise as formas geométricas

por apresentadas ao longo desta aula, bem como a tela de Salvador Dali, para ter uma

exata dimensão do que diz Kant e Marilena Chauí, quando afirmam que percebemos o mundo pelos nossos sentidos e

traduzimos esse sentimento na forma de algo: um objeto, um cheiro, um sentimento.

Page 2: 3 Literatura · PDF file · 2011-02-08artistas e pensadores concordem com Kant, ... Fernando Pessoa e Mário Quintana (poetas). A percepção humana O que é a percepção? An-tes

EXERCITANDO A PERCEPÇÃO

Qual o mais alto do três?

Quantos cubos você vê?

El Toreador - Salvador Dali

A bagagem do viajante

O viajante gosta dos seus vinte sentidos, e a todos acha pouco, embora seja capaz, por exemplo, e por isso se contente com os cinco que trouxe ao nascer, de ouvir o que vê, de ver o que ouve, de cheirar o que sente nas pontas dos dedos, e saborear na língua o sal que neste momento exato está ouvindo e vendo na onda que vem...

Do alto, o viajante bate palmas à vida!

SARAMAGO. José. In Viajem a Portugal. São Paulo: Compa-

nhia das Letras.

O SENTIMENTO DO SER NO MUNDO

Quando olho para mim não me percebo. Tenho tanto a mania de sentir Que me extravio às vezes ao sair Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo, Pertencem ao meu modo de existir, E eu nunca sei como hei de concluir As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei, Se ma verdade, sinto o que sinto. Eu Serei tal qual pareço em mim?

Serei tal qual me julgo verdadeiramente? Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu, Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

PESSOA. Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.

No retrato que me faço – traço a traço – às vezes me pinto nuvem às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão...

e, desta lida, em busco pouco a pouco – minha eterna semelhança,

no final, que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco!

QUINTANA. Mário.Velório sem defunto. Porto Alegre: Merca-do Aberto, 1992.

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