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Fortalecimento da SRF Com certeza este será um ano que ficará marcado no País. Além do processo eleitoral e da crise política, é preciso destacar as operações desencadeadas por órgãos de Estado que resultaram em inúmeras prisões e na retomada de uma atuação mais forte de instituições como a Secretaria da Receita Federal.

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Fortalecimento da SRF

Com certeza este será um ano que ficará marcado no País. Além doprocesso eleitoral e da crise política, é preciso destacar as opera-ções desencadeadas por órgãos de Estado que resultaram em inú-meras prisões e na retomada de uma atuação mais forte de institui-ções como a Secretaria da Receita Federal. Outro exemploemblemático são as operações finalizadas pela Polícia Federal, queem grande parte nasceram de ações fiscalizadoras da Receita Fede-ral. É justamente esse tipo de trabalho que reforça nossa posiçãopela necessidade, cada vez maior, de fortalecimento do Estado e,por conseqüência, da Administração Tributária Brasileira.

Vivemos um novo momento no Brasil. Consolidamos, a cada dia, apercepção de que é preciso investir no Estado, de que é precisovalorizar o serviço público e dar ao servidor condições para que elepossa atuar. Quando políticas dessa natureza são implementadas,os resultados são colhidos por toda a sociedade. Consolida-se hoje,na SRF, um processo de fortalecimento dos setores de repressão.Nesta edição da Tributus apresentamos alguns exemplos interes-santes. Nas reportagens a seguir, você acompanhará o trabalho queestá sendo realizado pela DIREP, com a estrutura de equipes K-9,que contam com cães farejadores de drogas. A SRF também estáinvestindo na formação de equipes de servidores que comandarãohelicópteros que serão usados em operações de fiscalização emtodo o País. Essas equipes são formadas por Técnicos e AuditoresFiscais.

Mas, é preciso ir além. Não basta apenas criar os instrumen-tos, é necessário estimular a participação de todos neste pro-jeto que se reverterá em benefícios para todo o País. Os Téc-nicos da Receita Federal apóiam iniciativas que tenham porobjetivo tornar a Receita Federal uma referência ainda maiorde serviço público de qualidade.

Acreditamos e atuamos para que o serviço público neste Paíspasse a ser visto por todos como um dos alicerces fundamen-tais para a transformação socioeconômica. O Brasil só pode-rá avançar e reduzir as desigualdades quando o Estado forentendido como um instrumento de consolidação de políticaspúblicas voltadas à redução das desigualdades e à diminuiçãodas injustiças e quando o servidor público for consideradoessencial para a construção de uma nova realidade.Boa leitura a todos.

Paulo Antenor de OliveiraPresidente do Sindireceita.

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Cães atuarão comequipes de repressãoao contrabando edescaminho

Sindireceita aprovaproposta de dois turnosde 6h nos CAC

Sindireceita lançaprograma “Receitade Cidadania” naTV Comunitária

Receita pretendefiscalizar 100% dosviajantes que vãoao Paraguai

PresidentePaulo Antenor de Oliveira

Vice-PresidenteJether Abrantes

Secretário GeralHonório Alves Ribeiro

Dir. Finanças e AdministraçãoIrivaldo Lima Peixoto

Dir. Finanças e Adm. AdjuntoHugo Leonardo Braga

Dir. Comunicação e InformáticaJosé Geraldo do Ó Carneiro

Dir. Assuntos JurídicosDoralice Neves Perrone

Dir. Adj. Assuntos JurídicosRoberto Carlos dos Santos

Dir. Assuntos ParlamentaresRodrigo Ribeiro Thompson

Dir. Defesa Prof. e Est. TécnicosAlcione Policarpo

Dir. Formação SindicalAugusto da Costa Corôa

Dir. de AssuntosPrevidenciários

Edmilson César de LimaDir. Aposentados e Pensionistas

Hélio Bernades

Editora ExecutivaCinda Serra

2466 DRT/MGReportagem

Letícia FigueiredoRafael Godoi

Andréa PóvoasEstagiário

Adolfo BritoRevisão

Cinda SerraProjeto Gráfico,

capa e diagramaçãoDan Rocha

FotosComunicação Sindireceita,

Radiobrás e Agências Câmarae Senado

IlustraçõesOcelos

RevisãoCELP

Tiragem15.000 exemplares

*Permitida a reprodução, desde que citada a fonte.Não nos responsabilizamos pelo conteúdo de artigos

assinados.

Em nove mesesReceita apreendeumercadorias avaliadasem R$ 602 milhões

Diretoria Executiva Nacional

Triênio 2005/2007

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Os últimos quatro anos foram intensos na Câmarados Deputados. A

legislatura passada com certeza fi-cará marcada na história do Paíscomo uma das mais conturbadas doperíodo político recente do País. Acomeçar pela disputa pela Presidên-cia da Casa que, pela pri-meira vez, lançou aoposto mais alto umcandidato vindo dochamado “baixoclero”. Mas, a eraS e v e r i n oCavalcanti duroupouco e terminoude forma melancó-lica com a renún-cia. Após sua sa-

ída, chegou à Presidência da Casa,o deputado Aldo Rebelo. Vindo doPC do B, Rebelo enfrentou momen-tos difíceis na condução dos traba-lhos. Além da forte crise política,teve de administrar crises sérias,como a cassação de parlamentares,processos no Conselho de Ética e

uma pauta repleta de pro-postas de interesse do

País.

Os próximos anostambém serão demuito trabalho. Emmeio a uma criseque parece não terfim, a Câmara dosDeputados terá mais

quatro anos para ace-lerar e aprovar matéri-

as importantes e, princi-palmente, recuperar sua

imagem desgastada por episódios,como as denúncias de “mensalão”,e pelo envolvimento de deputados devários partidos na máfia das ambu-lâncias. Fatos que, além de atingir aimagem dos parlamentares, colocamem risco a imagem da Instituição.

Nas últimas eleições, a renovaçãoda Câmara dos Deputados subiu6,4%, passando de 41,6% em 2002,para 48% neste ano. De acordo como Departamento Intersindical de As-sessoria Parlamentar (DIAP), a re-novação segue a média das três últi-mas eleições, sendo que em 1994 arenovação ficou em 55%.Conseguiram se reeleger 267 parla-mentares (52%), 11 deles suspeitosde envolvimento nos dois principaisescândalos de corrupção. Dos 49deputados acusados pela CPI dosSanguessugas que respondem a pro-

As reformas seguramenteAs reformas seguramenteAs reformas seguramenteAs reformas seguramenteAs reformas seguramentevoltarão à pauta, dovoltarão à pauta, dovoltarão à pauta, dovoltarão à pauta, dovoltarão à pauta, do

Congresso e do País.Congresso e do País.Congresso e do País.Congresso e do País.Congresso e do País.Tanto a política como aTanto a política como aTanto a política como aTanto a política como aTanto a política como a

tributária, por serem pactostributária, por serem pactostributária, por serem pactostributária, por serem pactostributária, por serem pactossociais de demoradasociais de demoradasociais de demoradasociais de demoradasociais de demorada

e minuciosa articulação,e minuciosa articulação,e minuciosa articulação,e minuciosa articulação,e minuciosa articulação,ainda passarão porainda passarão porainda passarão porainda passarão porainda passarão por

muitos debates emuitos debates emuitos debates emuitos debates emuitos debates enegociações.negociações.negociações.negociações.negociações.

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cesso no Conselho de Ética e quetentaram se eleger, seis saíram vito-riosos e outros cinco deputados sus-peitos de integrarem o mensalãoretornaram à Câmara.

O presidente da Câmara dos De-putados, Aldo Rebelo (PcdoB - SP),acredita, no entanto, que a repercus-são dos escândalos envolvendo par-lamentares deixou uma lição. “Acre-dito firmemente que os últimos acon-tecimentos imprimiram nos antigose novos deputados um compromis-so mais forte com a sua função detrabalhar pelo povo e para o povo,ajudando o Brasil a resolver os gra-ves problemas sociais que o afetamhá tanto tempo”, afirma em entre-vista à Revista Tributu$.

De acordo com o presidente da Câ-mara, passadas as eleições de 2006,as conversações acerca do novo go-verno já inflamam o Congresso Na-cional. “As forças políticas aqui re-presentadas já estão participandoativamente de negociações sobre quepropostas podem ser compartilhadas6

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pela base do governo e a oposição”.

Rebelo confirma, que entre as pri-oridades do segundo mandato deLuís Inácio Lula da Silva à frenteda Presidência, estão o desenvolvi-mento da economia, acontinuidade da dis-tribuição de renda eos investimentos emeducação. Segundo opresidente, as refor-mas política e tribu-tária também volta-rão à pauta do Con-gresso em 2007. Vejaa seguir a íntegra daentrevista com AldoRebelo.

TRIBUTU$ -

Como a Câmara dosDeputados deve secomportar nos doisúltimos meses do ano? Que matéri-as serão votadas?

Presidente Aldo Rebelo - Há ma-térias importantes na pauta, como o

Fundeb e o segundo turno do fim dovoto secreto no Legislativo, além demedidas provisórias que estão blo-queando as votações. O encerramen-to das eleições permitirá uma pre-sença maior de deputados. Teremos

também a apreciação do OrçamentoGeral da União de 2007, depois deuma série de audiências públicas atéa votação em plenário prevista para15 de dezembro.

TRIBUTU$ -

V. Ex.ª acreditaque haverá evolução

em alguns temas dapauta ou as discussões da

crise política continuarão do-minando o debate?

Presidente Aldo Rebelo - Os pro-cessos decorrentes da crise políticaestão em andamento no Conselho deÉtica e nas CPIs, mas há uma novi-dade em curso que inflama o Con-gresso: as conversações acerca do

novo governo. As for-ças políticas aqui re-presentadas já estãoparticipando ativa-mente de negociaçõessobre que propostaspodem ser comparti-lhadas pela base dogoverno e a oposição.Acho que, passada adisputa eleitoral, econsiderando a vitórialegítima e expressivado presidente Lula, éhora do entendimentoem defesa dos interes-ses nacionais.

TRIBUTU$ - Existe alguma nego-ciação em torno do PLC 20/06, quetrata da Super-Receita, para que esseprojeto seja aprovado ainda este ano?

Presidente Aldo Rebelo - A apro-vação do projeto que institui a Re-ceita Federal do Brasil na Câmarafoi uma vitória da atual legislatura.A fusão da Secretaria da Receita Fe-deral, do Ministério da Fazenda, coma Secretaria de Receita

A renovação daA renovação daA renovação daA renovação daA renovação daCâmara ficou dentroCâmara ficou dentroCâmara ficou dentroCâmara ficou dentroCâmara ficou dentro

dos índices históricos,dos índices históricos,dos índices históricos,dos índices históricos,dos índices históricos,abaixo de 50%.abaixo de 50%.abaixo de 50%.abaixo de 50%.abaixo de 50%.

Sabemos que no conjuntoSabemos que no conjuntoSabemos que no conjuntoSabemos que no conjuntoSabemos que no conjuntoa Casa está maisa Casa está maisa Casa está maisa Casa está maisa Casa está maispreparada, compreparada, compreparada, compreparada, compreparada, com

integrantes experientesintegrantes experientesintegrantes experientesintegrantes experientesintegrantes experientesem outras atividadesem outras atividadesem outras atividadesem outras atividadesem outras atividades

políticas.políticas.políticas.políticas.políticas.

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Previdenciária, do Ministério da Pre-vidência Social, vai permitir a cen-tralização da arrecadação de tribu-tos da União e a administração dascontribuições atualmente na jurisdi-ção do Instituto Nacional do SeguroSocial (INSS). O projeto aguardavotação agora no Senado.

TRIBUTU$ - Quais serão as prio-ridades do Governo Lula no primei-ro ano do novo mandato? As refor-mas política e tributária estão napauta?

Presidente Aldo Rebelo - O gover-no já sinalizou que o desenvolvimen-to da economia, a continuidade dadistribuição de renda e os investi-mentos em educação serão as gran-des prioridades do segundo manda-to. As reformas seguramente volta-rão à pauta, do Congresso e do País.Tanto a política como a tributária,por serem pactos sociais de demo-rada e minuciosa articulação, aindapassarão por muitos debates e nego-ciações.

TRIBUTU$ - Na opinião de V.Ex.ª, o que necessita ser feito paramelhoria da qualidade da Adminis-tração Pública? Como o Legislativopode contribuir nesse sentido?

Presidente Aldo Rebelo - A admi-nistração vem evoluindo muito noBrasil. Prestam-se bons serviços emtodos os setores. Falta ainda, entreoutros aperfeiçoamentos, facilitar oacesso dos cidadãos a informaçõesde seu interesse, como o andamentode um processo. Nisso a Câmara éexemplar ao pôr à disposição de to-dos os dados completos da ativida-de parlamentar no portal da Câma-

ra (www.camara.gov.br).

TRIBUTU$ - Qual a análise queV. Ex.ª faz sobre a nova composi-ção da Câmara dos Deputados? Oque pode ser feito para a melhoriada imagem da Casa perante a socie-dade?

Presidente Aldo Rebelo - A reno-vação da Câmara ficou dentro dosíndices históricos, abaixo de 50%.

Sabemos que no conjunto a Casaestá mais preparada, com integran-tes experientes em outras atividadespolíticas. Acredito firmemente que osúltimos acontecimentos imprimiramnos antigos e novos deputados umcompromisso mais forte com a suafunção de trabalhar pelo povo e parao povo, ajudando o Brasil a resolveros graves problemas sociais que oafetam há tanto tempo.

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Os prejuízos do Brasil com abiopirataria podem passarde US$ 2,4 bilhões ao ano.

Além da perda do material genético,a população ainda é obrigada a pa-gar royalties por medicamentos eoutros produtos desenvolvidos comsubstâncias extraídas ilegalmente dabiodiversidade brasileira. A falta decontrole da diversidade genética le-vou o Tribunal de Contas daUnião (TCU) a realizar umaauditoria que detectou falhasnos instrumentos de controleusados pelo Governo Federalpara combater a biopiratariae a entrada de pragas invaso-ras no País.

O ministro BenjaminZymler, relator do processo,apontou que atualmente nãoexiste fiscalização na frontei-ra Brasil-Colômbia-Peru, es-pecialmente na região do mu-nicípio de Tabatinga (AM), oque torna a área vulnerável àentrada de pragas, que podem gerarprejuízos à agricultura nacional eimpedem o combate à biopirataria.

De acordo com a fiscalização, é mí-nima a presença de agentes do Insti-tuto Brasileiro de Meio Ambiente(Ibama) nos aeroportos brasileirose a vistoria de bagagens e passagei-ros só ocorre quando “há interessetributário da Receita Federal que, aodetectar algum material genético,solicita a ajuda do Ibama”. Ainda deacordo com o relatório, “por ser o

órgão mais atuante, com maior quan-tidade de postos e servidores nosaeroportos, a Secretaria da ReceitaFederal, indiretamente, contribuipara a fiscalização do fluxo indevidode espécies e material genético”, des-creve. A Auditoria constatou tam-bém que a atuação da Polícia Fede-ral tem sido prejudicada pela ausên-cia de previsão legal do crime de

biopirataria e impossibilidade depunir os infratores. Além disso, a PFenfrenta dificuldades devido à faltade funcionários, de equipamentos bá-sicos e à deficiência no fluxo de in-formações entre as unidades.

O Tribunal também considerou in-suficientes as ações de incentivo aouso sustentável da biodiversidadebrasileira. Entre as falhas apontadasestá a ausência de obrigatoriedadena concessão de patentes, de infor-mação da origem do material e da

falta de exigência na comprovaçãolegal de obtenção do recurso, o quepode provocar prejuízos ainda mai-ores ao País. De acordo com o rela-tório, o Instituto Nacional de Pro-priedade Intelectual (INPI) não es-taria cumprindo as determinações doArtigo 31 da Medida Provisória2186-16/2001 que exige a informa-ção da origem do material genético

ou do conhecimento tradici-onal utilizado no processo ouproduto sobre o qual se re-quer a concessão de patente.O INPI não cumpre a deter-minação por considerar queo Artigo 31 não é auto-executável, ou seja, deveriater sido regulamentado peloPoder Executivo. Esse enten-dimento acabou gerando di-vergências com o Ministériodo Meio Ambiente (MMA),cujos técnicos entendem quea concessão do direito de pro-priedade industrial ficou con-

dicionada ao cumprimento da MP.A discussão vem sendo travada noPaís desde 2001, mas havia perdidoforça até que o TCU solicitou à Ad-vocacia Geral da União (AGU) umparecer consolidando o entendimen-to sobre o tema. A Advocacia já re-cebeu o parecer do TCU, mas aindanão concluiu a avaliação, que nãotem prazo para ser encerrada. Norelatório, o TCU, além de solicitar apacificação do entendimento a res-peito da aplicação da norma, alerta

O ministro BenjaminO ministro BenjaminO ministro BenjaminO ministro BenjaminO ministro BenjaminZymler, relator doZymler, relator doZymler, relator doZymler, relator doZymler, relator do

processo, apontou queprocesso, apontou queprocesso, apontou queprocesso, apontou queprocesso, apontou queatualmente não existeatualmente não existeatualmente não existeatualmente não existeatualmente não existe

fiscalização na fronteirafiscalização na fronteirafiscalização na fronteirafiscalização na fronteirafiscalização na fronteiraBrasil-Colômbia-Peru,Brasil-Colômbia-Peru,Brasil-Colômbia-Peru,Brasil-Colômbia-Peru,Brasil-Colômbia-Peru,

especialmente na regiãoespecialmente na regiãoespecialmente na regiãoespecialmente na regiãoespecialmente na regiãodo município dedo município dedo município dedo município dedo município deTabatinga (AM)Tabatinga (AM)Tabatinga (AM)Tabatinga (AM)Tabatinga (AM)

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para os prejuízos que podem ser ge-rados ao País por conta dessaindefinição, como o registro de pa-tentes de substâncias nativas do Bra-sil sem o devido recolhimento deroyalties, e o estímulo à biopirataria.O presidente do INPI, RobertoJaguaribe, acredita em uma soluçãopara o impasse ainda este ano. Se-gundo ele, um grupo de trabalho for-mado por representantes dos dois ór-gãos está tratando da questão.

O secretário da 4ª Secretária deControle Externo do TCU, IsmarBarbosa Cruz, lembra que orelatório aprovado pelos mi-nistros do TCU trouxe cercade 20 determinações e reco-mendações de melhorias parao controle da biodiversidadebrasileira. O tribunal determi-nou que a Infraero adote asmedidades necessárias paracorrigir as falhas nos proce-dimentos de manuseio dospallets de madeira nos aero-portos para reduzir os riscosde contaminação. Determinoutambém que os ministérios doMeio Ambiente, Ciência eTecnologia e do Desenvolvimento,Indústria e Comércio definam o pla-no estratégico para o Centro deBiotecnologia da Amazônia. O TCUainda recomendou à Secretaria deDefesa e Agropecuária que instalepostos de fiscalização em Tabatinga,com as condições de segurança ne-cessárias. O tribunal também alertoupara a falta de controle da exporta-ção de animais aquáticos vivos queatinge o montante anual de R$ 1 mi-lhão. Os fiscais, conforme destaca orelatório, não estão capacitados paraidentificar as espécies, não têm co-nhecimentos dos valores e acabamsendo enganados por exportadores.

Ismar Barbosa explica que, após aconclusão da auditoria, o TCU de-termina novas verificações periódi-cas que avaliam se as medidas apro-vadas estão sendo implementadas. Aprioridade, afirma Cruz, é dada paraas determinações e recomendaçõesque possuem prazo para serimplementadas. O monitoramentopode durar até 24 meses, dependen-do da natureza da operação. Odescumprimento das determinaçõesdo tribunal pode gerar multas de atéR$ 30 mil e sansões ao responsável

pelo órgão. Ao final desse processo,o TCU também faz uma avaliaçãodo impacto dos resultados e das me-didas implementadas. Ismar Barbo-sa explica que o TCU deve ampliarsua atuação na defesa dabiodiversidade. Segundo ele, um tra-balho está sendo realizado por tri-bunais de contas e organismos decontrole de vários países para justa-mente estabelecer mecanismos simi-lares de avaliação dos instrumentosde controle da biodiversidade. “Aintenção é estimular fiscalizaçõesambientais em todo o mundo. A áreade biodiversidade foi apontada comoprioridade para o período de 2005 a2007”, disse.

Divergência entre INPI eMMA atrasa análise de

novas patentesO levantamento realizado pelo Ins-

tituto Socioambiental (ISA) mostraa divergência entre o Instituto Naci-onal de Propriedade Intelectual(INPI) e o Ministério do Meio Am-biente (MMA), isso atrasou a pro-dução de novos medicamentos fabri-cados a partir de composto naturalpara tratamento de diabetes, câncere tratamento alternativo anti-hiv

(AIDS). Na relação de 110pedidos relacionados a mate-rial genético encaminhados aoINPI, apenas 18 apresenta-vam a indicação, ainda assimparcial do local onde é encon-trada a substância e somente2 indicavam o local correto dacoleta.

Entre as solicitações estão aprodução de medicamentofitoterápico para o mal dealzheimer, o uso de plantas naprodução de remédios paracólicas e cálculos renais, a

fava para cura de veneno de cobra,o processo para obtenção de cristaisde veneno de cobras, as substânciasà base de veneno de escorpião, asmedicações a partir da babosa e atépomada de uso curativo feita comrepolho. Todos os pedidos de regis-tro de patentes estão nessa relaçãoque envolvem tanto o acesso a re-cursos genéticos quanto os conheci-mentos tradicionais.

A mudança no processo de conces-são desse tipo específico de patenteestá sendo discutida em várias esfe-ras do governo e poderá serimplementada ainda este ano. A me-dida também eliminaria umadistorção entre a política interna de

O tribunal tambémO tribunal tambémO tribunal tambémO tribunal tambémO tribunal tambémalertou para a faltaalertou para a faltaalertou para a faltaalertou para a faltaalertou para a falta

de controle dade controle dade controle dade controle dade controle daexportação de animaisexportação de animaisexportação de animaisexportação de animaisexportação de animais

aquáticos vivosaquáticos vivosaquáticos vivosaquáticos vivosaquáticos vivosque atingeque atingeque atingeque atingeque atinge

o montante anualo montante anualo montante anualo montante anualo montante anualde R$ 1 milhãode R$ 1 milhãode R$ 1 milhãode R$ 1 milhãode R$ 1 milhão

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registro de patente e as alegações dogoverno brasileiro que, por meio doMinistério das Relações Exteriores(MRE) pressiona a OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC) juntocom outras nações consideradas asmaiores reservas genéticas do mun-do. A intenção é adequar o Tratadosobre os Direitos de Propriedade In-telectual Relacionados ao Comércio(TRIPS) aos dispositivos da Con-venção sobre a Diversidade Bioló-gica (CDB), da qual o Brasil é sig-natário, e que exige a comprovaçãode legalidade de acesso e, principal-mente, estabelece mecanismos paraa repartição dos benefícios obtidoscom as patentes.

Esse é o primeiro passo para quese institua no País um regime efeti-vo de compensação pelo uso dos re-cursos naturais.

O diretor do Departamento doPatrimônio Genético do Ministériodo Meio Ambiente, Eduardo VélezMartin, acredita que esse impasseestá próximo de uma solução. Se-gundo ele, o Brasil precisa definiressa questão internamente, até paramanter a coerência com as ações queestão sendo tomadas em âmbito ex-terno, de defesa da obrigatoriedadeda declaração de origem e de parti-lha dos benefícios. A mudança , aprincípio, pode gerar aumento decusto para empresas que operamcom bioprospecção, mas esse custoserá compensado, segundo ele, pelamelhora da conservação natural.“Além de ser uma questão de justiçacom o País e com as comunidadestradicionais que usam essas substân-cias e têm esse conhecimento tradi-cional, esse reconhecimento tambémdemonstra, por parte das empresas,compromisso socioambiental”, de-fende.

O assessor de políticas públicas doISA, Henry de Novion, também de-fende a aplicação do Artigo 31 daMP. Um dos responsáveis pelo estu-do analisou os pedidos de patentesencaminhados ao INPI e acredita serpreciso reforçar os mecanismos decontrole sobre essas solicitações. Eleressalta que a bioprospecção devecrescer nos próximos anos e o Bra-sil, se não tomar providências, po-derá ser ainda mais prejudicado pelabiopirataria. O Brasil, destacaNovion, pode ser um dos princi-pais provedores de recursos ge-néticos, mas, se não houvercontrole, além do prejuízoimediato com a extraçãoindevida dessas substân-cias, o País poderá,como ocorreu em al-guns casos, serobrigado a pagarroyalties paraadquirir medi-camentos feitoscom materialgenético encon-trado em terri-tório nacional,ou produzidos apartir do conhe-cimento de povosindígenas e comu-nidades que vivemnas florestas. Elealerta ainda que essedesinteresse pode, in-clusive, induzir formasindevidas de exploraçãocomercial de florestasnativas, como a extraçãode madeira. “A declaraçãode origem e a partilha dos be-nefícios, ao contrário, podemestimular a participação dessascomunidades, o que facilitará abioprospecção e a descoberta de pro-dutos”, defende.

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O combate ao tráfico dedrogas na 7ª Região Fiscal receberá o reforço de

Nanquim e Argus. Nanquim é umcão da raça Labrador que está sen-do treinado para farejar drogas edeve atuar em aeroportos no Espí-rito Santo. Já Argus,da raça Pastor Bel-ga Malinois, serádestacado, princi-palmente, para ope-rações em portos,regiões aduaneiras eoperações em estra-das. Esses são ape-nas dois dos cincocães farejadores queestão sendo prepara-dos para atuar comas equipes do Nú-cleo de Repressãoao Contrabando eD e s c a m i n h o(NUREP), formadapor Técnicos e Auditores. Os ani-mais integram a Unidade de CãesFarejadores – K9 do NUREP/ESe serão destacados para operaçõesde combate ao tráfico de drogas naAlfândega de Vitória-ES, portos,aeroportos e estradas do estado.

Os cinco cães foram incorporadosrecentemente à linha de frente daReceita Federal. Os primeiros trei-namentos e grupos são para o com-

bate ao tráfico de entorpecentes,mas os animais podem auxiliartambém no combate ao contraban-do de armas e munições. Os cãessão adestrados com o auxílio debrinquedos recheados com drogase em momento algum têm contato

direto com a substância. No trei-namento, a droga é colocada em tu-bos de pvc ou em bolsas de lonaimpermeável, que impedem o con-tato direto com as substâncias. Pormeio de exercícios, que mais pa-recem brincadeiras, o animal se fa-miliariza com o cheiro da substân-cia e, depois, nas operações, sem-pre fará a associação do odor comseu “brinquedo”. Após o términodo adestramento, esses cães fare-

jarão sete tipos de entorpecentes,como maconha, cocaína, heroína,haxixe, exctase e skank.

No começo de outubro, o Núcleode Repressão ao Contrabando eDescaminho, sediado na Alfânde-

ga de Vitória-ES, re-alizou o curso básicode treinamento decães, ministrado peloinstrutor GustavoMachado Jantorno,na Unidade de CãesFarejadores – K9. Otreinamento contoucom a participação decinco Técnicos e Au-ditores do NUREP/ES e da DIREP/SRRF da 7ª RegiãoFiscal, formada pelosestados do EspíritoSanto e do Rio de Ja-

neiro. O trabalho exige que cadaservidor fique responsável peloadestramento e condução de seucão. Eles formam os primeiros con-juntos de ação repressiva na áreade combate ao contrabando de dro-gas.

Nessa etapa, os cães da raça Bel-ga Malinois e Labrador tiveram oprimeiro contato com os profissio-

Os primeirosOs primeirosOs primeirosOs primeirosOs primeirostreinamentos e grupostreinamentos e grupostreinamentos e grupostreinamentos e grupostreinamentos e grupos

são para o combatesão para o combatesão para o combatesão para o combatesão para o combateao tráfico deao tráfico deao tráfico deao tráfico deao tráfico de

entorpecentes, masentorpecentes, masentorpecentes, masentorpecentes, masentorpecentes, masos animais podemos animais podemos animais podemos animais podemos animais podemauxiliar também noauxiliar também noauxiliar também noauxiliar também noauxiliar também no

combate ao contrabandocombate ao contrabandocombate ao contrabandocombate ao contrabandocombate ao contrabandode armas e munições.de armas e munições.de armas e munições.de armas e munições.de armas e munições.

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nais que os conduzirão em opera-ções de combate ao contrabando edescaminho em toda a jurisdição da7ª Região Fiscal. O trabalho deadestramento exige um contatoconstante entre o profissional e ocão nas dependências dos portos,aeroportos, portos secos, aviões eônibus.

As equipes K-9, de acordo com ochefe do NUREP Vitória, CarlosHenrique da Silva Chavier, tor-narão as ações de fiscalização maiseficientes. Segundo ele, com a pre-sença do cão farejador é possível,em até 15 minutos, vistoriar cercade 50 malas, trabalho que levariahoras se fosse realizado apenaspelos servidores. Chavier acrescen-ta ainda que, mesmo se todas asmalas fossem abertas, não seriapossível para um servidor localizarpequenas quantidades de drogasque estivessem escondidas embrinquedos ou em outros objetos.Já o cão consegue farejar o entor-pecente, ainda que escondido den-tro de outros compartimentos oucamuflados em bichos de pelúcia,como costuma ocorrer. Em portos,a ação do cão será ainda mais es-sencial. Rapidamente, segundoChavier, o animal pode localizar emum contêiner o entorpecente, ain-da que esteja sob toneladas de ou-tros produtos. “Sem dúvida, nossotrabalho será intensificado. Essa émais uma ação de repressão queestá sendo implantada e com cer-teza se reverterá no aumento dasapreensões de drogas em nossa re-

gião”, acrescenta. Na avaliação dochefe do NUREP, a atuação da uni-dade K-9 fortalecerá a presença daReceita Federal em áreas estraté-gicas. “São ações, que reunidasampliam as chances de apreensãoe de combate ao tráfico de drogas”,diz.

O chefe do NUREP deVitória, CarlosHenrique, diz que ini-cialmente as equipesatuarão no Espírito

Santo, mas a intenção é levar essetrabalho para o Rio de Janeiro.Carlos Henrique defende a expan-são desse trabalho para todo o País.Segundo ele, só no controle defronteira nos Estados Unidos háaproximadamente 1.350 equipesformadas por um condutor e umcão. “Seguramente, temos condi-

ções de aumentar o número deequipes K-9, o que reforçará deforma substancial nossa atuaçãono controle aduaneiro”, acres-

centa.

O Técnico OttílioQueiroz Deutz Júniorintegra o grupo quetrabalhará na Uni-dade K-9 no Espí-rito Santo. Ele in-

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gressou na Receita Federal em 1986, quando come-çou a atuar na DRF de Vitória no controle aduaneiro.Segundo Ottílio Queiroz, em todos esses anos ele acu-mulou experiência ao trabalhar diretamente no con-trole aduaneiro e a presença do cães facilitará a fisca-lização. Ele destaca que, com o crescimento do volu-me de cargas transportadas e com a sofisticação, cadavez maior, das quadrilhas, a Receita Federal precisausar todos os meios possíveis para auxiliar no com-bate ao tráfico de drogas. “Normalmente, as apreen-sões ocorrem ou por denúncias ou por acaso. Temosde mudar essa realidade”, avalia.

Ottílio Queiroz explica que a idéia inicial é usar oscães pastores em portos. Por ser um cão de maiorporte, ele diz que a presença do animal em áreas demaior presença de pessoas poderia criar algum cons-trangimento. Para essas ocasiões, deve ser usado oLabrador, um cão de menor porte e aparência maisdócil, mas que também tem um faro apurado. “Nossaintenção é que esse trabalho passe a fazer parte darotina de fiscalização”, disse. Queiroz acredita que,com mais esse reforço a Receita Federal fortalece suaatuação e amplia o trabalho em parceira com outrosórgãos de repressão, como a Polícia Federal.

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Atualmente, o Técnico daReceita Federal CarlosAlberto Tisott é um dos

poucos servidores que estará habili-tado no próximo ano a ser piloto einstrutor de vôo do helicóptero EC135T2i que faz parte do projeto deaviação fazendária da Receita Fede-ral, aprovado em 2004 pelo secretá-rio da Receita Jorge Rachid. CarlosTisott concluiu, no mês de setembro,os cursos teórico e prático de quali-ficação do helicóptero do Exércitoque conta com apoio das Superin-tendências da 7ª Região Fiscal daReceita Federal e do Exército Bra-sileiro, cujo convênio foi firmado atémarço de 2007. O curso de treina-mento de qualificação com o Exér-cito teve início em julho deste ano e

deve durar até o final de novembro,mês em que representantes da 7ªRegião Fiscal da RF receberão pro-visoriamente os dois helicópteros EC135T2i na Alemanha. Os recursospara a compra dos helicópteros sãooriundos do Programa de Moderni-zação da Administração Tributáriae Aduaneira (PMATA) cuja verba foiliberada pelo Governo Federal em2005 para a equiparação da Recei-ta Federal. Segundo o TRF, o moti-vo do convênio ser firmado até mar-ço do próximo ano é que a Secreta-ria da Receita Federal receberá de-finitivamente os helicópteros, emabril de 2007. “Com a aquisição de-finitiva dos helicópteros, a Receitapoderá iniciar as missões de fiscali-zação, inteligência, combate ao con-

trabando, descaminho e fiscalizaçãoaduaneira em todo o território naci-onal”, explica Tisott. As aeronavesforam adquiridas no ano passado pormeio de licitação internacional coma assinatura de contrato feita pelaDivisão de Programação e Logística(Dipol) da 7ª Região Fiscal da Re-ceita Federal.

“O objetivo do projeto de aviaçãofazendária é aumentar a capacidadeda Receita Federal. O helicópteroserá uma ferramenta para maximizara atuação da Secretaria da ReceitaFederal. Nós queremos que a Recei-ta seja mais aparelhada operandocom lanchas, helicópteros e viatu-ras”, explica Carlos Alberto Tisottque concluiu a primeira etapa do

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processo de qualificação operacionaldos futuros instrutores de vôo daaviação fazendária no helicópteroPantera do Exército Brasileiro, nacidade paulista de Taubaté, já a se-gunda fase deverá ser concluída emnovembro, no Batalhão do Exérci-to, em Taubaté. No dia 11 de outu-bro, o Técnico também concluiu otreinamento para habilitação de tipoem helicóptero EC 135, realizado nasede da Helicópteros do Brasil S.A(Helibras), em Itajubá/MG e no ae-roporto de Jacarepaguá/RJ. “A ob-tenção dessa qualificação ocorreu emum vôo ‘cheque’realizado pelo ge-rente Regional da Aviação Civil naárea do Rio de Janeiro, Gerac 3, ocoronel João Luiz de Seixas Cruz”,diz Tisott. O curso é vinculado aocontrato de aquisição dohelicóptero.Além dessas etapas, oTRF terá de concluir a última fase,a de manuntenção operacional, atémarço de 2007, data do término doconvênio com o Exército Brasileiro.

As experiências do Técnico no co-mando da aeronáutica como chefe daseção de navegação do esquadrãoPantera, na base aérea de Santa Ma-

ria/RS, e chefe substituto da seçãode licitação da Dipol da Superin-tendência da 10ª Região Fiscal daReceita Federal contribuíram paraque ele participasse daimplementação do projeto de avia-ção fazendária da Receita Federaljunto com outros servidores da ins-tituição em 2004, ano em que rece-beu o convite da Superitendência da7ª Região Fiscal do Rio de Janeiro.“Na verdade, o projeto iniciou em1999 com outros colegas que come-çaram a pensar na idéia da ReceitaFederal ter um projeto de aviaçãofazendária. O projeto se chamavaGRYPHV”, lembra Tisott. Mas, so-mente no ano de 2004, o grupo con-correu a uma licitação internacionalpara adquirir os dois helicópteros demodelo alemão EC 135T2i pelaEurocopter, cuja representante noBrasil é a Helibrás. “Se não fosse osuperintendente da 7ª RF, CésarAugusto Barbiere, esee projeto nãoteria ido para frente. Foi ele que le-vou a idéia do projeto até o secretá-rio Jorge Rachid. Hoje, a 7ª RegiãoFiscal patrocina todo o projeto”.

Para formar a primeira turma de

pilotos, a Receita Federal buscouservidores da carreira de Auditoriada Receita (ARF) que tivessem ex-periência em aviação militar, prefe-rencialmente em missões de vigilân-cia marítima e de fronteita, já quenão ainda existe um órgão de avia-ção fazendária na instituição. “Nofuturo, o servidor que quiser parti-cipar não precisa ter experiência emaviação”, diz Tisott. Atualmente,onze servidores da carreira ARF fa-zem parte do projeto de aviaçãofazendária: três já foram pilotos dehelicópteros e buscam a qualifica-ção como instrutores de vôo, comoé o caso de Tisott, outros três têmexperiência como pilotos de avião equerem a qualificação como pilotosde helicóptero e os restantes nuncaforam pilotos e buscam a formaçãoem piloto de helicóptero. Além doTRF, ainda existem dois Técnicosque estão frequentando o curso bá-sico de formação de piloto na unida-de militar da Marinha do Brasil, emSão Pedro d’Aldeia, no Rio de Ja-neiro, que tem previsão de términopara fevereiro de 2007. Os três ser-vidores da RF que têm experiênciacomo piloto de avião já finalizaramo curso de piloto para helicóptero,em São Paulo. No final, a ReceitaFederal contará com três instrutoresde vôo e oito pilotos qualificados naaeronave adquirida.

De acordo com Carlos Tisott, aimportância da Secretaria da Recei-ta Federal ter no futuro instrutoresde vôo possibilitará a própria insti-tuição treinar outros servidores paraserem pilotos sem precisar fazer li-citações. “Com os três instrutores devôo, a Receita Federal não precisa-rá abrir licitação todas as vezes quequiser formar uma nova turma de

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pilotos. Isso reflete em economia,sem precisar gastar tanto”. No futu-ro, a Receita quer adquirir outroshelicópteros para aumentar a suafrota.

Apesar do helicóptero EC 135T2inão ser do mesmo modelo com o qualé feito os treinamentos no Exércitobrasileiro, ambos têm característicasbastante similares: são bimotores quepodem voar sob condições de maltempo e realizar vôos noturnos semprejudicar as missões. “O objetivodo convênio é possibilitar que nósvoemos em diversas condições detempo”. Segundo Carlos Tisott , ohelicóptero EC 135 permitirá à Re-ceita desenvolver missões em terra emar, inclusive na floresta Amazôni-ca, e é considerado um dos mais so-fisticados, tanto que, no Brasil, de-vem existir, no máximo, quatro mo-delos.

No futuro, para ser piloto da Re-ceita Federal; os requisitos principaisserão: ser servidor da carreira ARF,já que realizará missões de sigilo dainstituição, e passar nos exames doCentro de Medicina Aeroespacial(Cemal) da Aeronáutica. Depois, oservidor cursará a parte teórica so-bre o sistema da aeronave e a parteprática, em que estará acompanha-do de um instrutor de vôo. SegundoTisott, se o servidor não tem qualifi-cação como piloto, a etapa teóricado curso pode durar 6 meses e a parteprática pode chegar a 8 meses deduração. Para aquele que já tem ex-periência como piloto de helicópte-ro, a primeira etapa pode ser de ape-nas três semanas e a parte práticachegar a quatro semanas, dependen-do da habilidade do servidor nessetipo de aeronave.

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Em nove meses, as apreensõesde mercadorias ilegais noPaís já superam os resulta-

dos alcançados em todo o ano pas-sado. Entre janeiro e setembro desteano, a Receita Federal apreendeumercadorias avaliadas em R$ 602milhões. No ano passado, as opera-ções de repressão resultaram emapreensão de mercadoriascontrabandeadas e pirateadas queequivalem a, aproximadamente, R$596 milhões. Além de apreensões deeletroeletrônicos e produtos deinformática, o trabalho da Receitaretirou de circulação quase 600 ar-

mas de fogo, 18 milmunições

de vários calibres, cerca de 3 milhõese 500 mil unidades de medicamen-tos e mais de 84 milhões de maçosde cigarros e similares. Além disso,apenas na “Operação Fronteira Blin-dada”, realizada de janeiro a julhode 2006, em Foz do Iguaçu, na Fron-teira com o Paraguai, foram apreen-didas 3,4 toneladas de drogas, amaior parte, 3,2 toneladas, de ma-conha.

Esses resultados são fruto de inves-timentos em modernização da Recei-ta Federal e na capacitação de seusservidores. Em 2005, foi criada a Di-visão de Repressão aos Crimes deContrabando, Descaminho e Pirata-ria (Direp), composta por servido-res treinados para coordenar, plane-jar e executar operações de repres-são em tempo integral. “Hoje, coma criação da Direp, temos condições

de fazer operações-sur-presa em todo oterritório nacio-nal. Não há ope-rações apenas

em situa-

ções previstas, mas também fora dehora, 24 horas. Existem operaçõescomeçando 2h, 3h da madrugada”,afirma o chefe da Direp, Mauro deBrito.

As operações de vigilância e repres-são também contam com investimen-tos pesados na aquisição de equipa-mentos modernos e potentes, comoscanners de última geração, viatu-ras, lanchas e dois helicópteros queserão entregues até abril de 2007.Somado a isso, a legislação já prevêo uso de arma especial para servi-dores da Carreira de Auditoria daReceita Federal para defesa pesso-al, uma vez que a atividade é consi-derada de alto risco.

Atualmente, a maioria das opera-ções da Receita Federal em portos,aeroportos e pontos de fronteira con-ta com o apoio policial. Para o che-fe da Direp, no entanto, a Institui-ção iniciou um processo que futura-mente dará maior autonomia a es-sas operações. Para ele, não são to-das as operações da Receita Federalque necessitam de colaboração daspolícias Federal e Rodoviária Fede-ral, mas ainda há dependência desseapoio e, com investimentos em se-gurança, a tendência é a Instituiçãobuscar maior autonomia. “Precisa-mos de segurança institucional paraas nossas operações, e portanto pre-cisamos melhorar essa auto-segu-

rança para que possamos ter mai-or autonomia. A conquista pormeio da legislação do uso de

arma é apenas o começo. Temos

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de buscar autonomia e é esse pro-cesso que está se desencadeando den-tro da Receita Federal. Autonomiacompleta”, destaca Brito. Confira aseguir a íntegra da entrevista com ochefe da Direp, Mauro de Brito.

TRIBUTU$ - Fale sobre o objeti-vo da Direp e sua atuação desde quefoi criada.

Mauro de Brito - A Direp foi cria-da com o objetivo de estruturar asregiões fiscais, dotá-las com equipa-mentos e com equipes de servidoresdevidamente treinados para coorde-nar, planejar e executar operações derepressão aos crimes de contraban-do, descaminho e pirataria. As 10regiões fiscais já contam com a Direpinstalada nas Superintendências e háquatro Núcleos Especiais de Repres-são (Nurep) em locais estratégicos:Santos/SP, Uberaba/MG, Manaus/AM e Vitória/ES.

A atuação da Direp se dá em todoo território nacional, nos portos, ae-roportos e pontos de fronteira, mas,principalmente, na zona secundária,em rotas e locais de venda e consu-mo de produtos ilícitos como nos co-mércios, feiras, depósitos, transpor-tadoras, correios, shoppings e cen-tros de distribuição.

As operações de repressão e vigi-lância têm aumentado constantemen-te. De janeiro a setembro de 2006,foram realizadas 1.025 operações,sendo que, na 7ª Região Fiscal, osdados foram atualizados até o mêsde junho. No ano passado, realiza-mos, em todo o País, 1.300 opera-ções e este ano a previsão é que sechegue a 1.500. São muitos os exem-plos de operações bem sucedidas,como a Dilúvio, a Fronteira Blinda-da, a Atlântida, a Conexão Miami,a Firewall. Os principais produtosapreendidos ainda são os deinformática e eletroeletrônicos. Mas,

até setembro, apreendemos quase600 armas de fogo, 18 mil muniçõesde vários calibres, cerca de 3 milhõese 500 mil unidades de medicamen-tos, mais de 84 milhões de maços decigarros e similares, 5.688 veículos,1.817 máquinas de jogos de azar,além de brinquedos, bebidas, calça-dos, óculos de sol e inseticidas.

TRIBUTU$ - Como era o planeja-mento das operações de repressão ecomo é atualmente?

Mauro de Brito - Antes da criaçãoda Direp, para realizar uma opera-ção em Foz do Iguaçu, por exem-plo, tínhamos de buscar 40, 50 pes-soas de outros setores da ReceitaFederal. Hoje, com a criação daDirep temos condições de fazer ope-rações-surpresa em todo o territórionacional. Não há operações apenasem situações previstas, mas tambémfora de hora, 24 horas. Existem ope-rações começando 2h, 3h da madru-gada. Isso faz com que peguemos ocrime de surpresa porque o crimino-so acompanha a nossa movimenta-ção.

TRIBUTU$ - Os projetos dos Nú-cleos Especiais (Nurep), como o cur-so de treinamento de habilitação emhelicópteros e o treinamento de cãesfarejadores estão ligados à Direp?

Mauro de Brito - Isso tudo estáligado à Direp, que faz parte do pla-no de modernização da Receita Fe-deral. A idéia do curso de habilita-ção em helicópteros nasceu a partirde um grupo de colegas, ex-comba-tentes da aeronáutica. Eles criaramum projeto-piloto há sete anos e ago-ra se achou por bem implementaro projeto. Esse mesmo grupo foidestacado para coordenar essestrabalhos. Eles estão conclu-indo recentemente, na Ma-rinha do Brasil, um trei-namento específico com

os pilotos que darão início ao núcleode aviação da Receita Federal. O tra-balho está sendo feito na 7ª RegiãoFiscal, no Rio de Janeiro, e a previ-são é de que, em abril de 2007, che-guem os primeiros dois helicópteros.Vamos contar com mais esse instru-mento moderno de combate à ativi-dade criminosa, pois os servidoresda Receita exercem uma atividadede alto risco.

Vitória/ES também foi pioneira, nacriação do primeiro núcleo de cãesfarejadores do Brasil. Eles preten-dem, dentro de um planejamento fei-to pelas Direp, transformar-se emunidade escola que possa atender oresto do país através de treinamentoe por meio de fornecimento de ma-trizes de animais. É um projeto im-portantíssimo, chamado K9, e temsido muito bem conduzido pela 7ªRF.

TRIBUTU$ - E quanto ao porte dearma para os servidores da ReceitaFederal. O que ainda falta para re-gulamentação?

Mauro de Brito - O porte de armapara os servidores da Carreira Au-ditoria da Receita Federal já é umarealidade. Estamos trabalhando naregulamentação interna, mas a legis-lação já prevê o uso da arma especi-al para Técnicos e Auditores. A ca-libre 380 está totalmente liberada. OExército baixou portarias e autori-

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zou a aquisição pessoal e individualda ponto 40, que precisa de solicita-ção especial do interessado à Recei-ta Federal. A Coordenação-Geral deGestão de Pessoas (Cogep) tambémjá anunciou que o processo da car-teira funcional está em andamento,devemos tê-lo em pouco tempo. Mas,isso ainda não é a solução para aReceita Federal. A Divisão e a Co-ordenação Aduaneira estão traba-lhando com a possibilidade de avan-çar para a arma institucional.

TRIBUTU$ - Na verdade, os ser-vidores da Receita Federal que atu-am nas fronteiras, portos e aeropor-tos sempre fizeram trabalho de polí-cia, o que se percebe é que estavamtotalmente despreparados para essaatividade.

Mauro de Brito - Isso é um pro-cesso, temos de conduzir dessa for-ma, não é uma atividade que vai seinstrumentar de uma hora para ou-tra. Hoje, os servidores da ReceitaFederal podem requisitar apoio po-

licial e nósnão abri-

mos mão dessa requisição. Em de-terminado momento, sentimos queainda dependemos muito da compa-nhia das polícias, mesmo que todo oplanejamento das operações seja daReceita Federal. Precisamos de se-gurança institucional para as nossasoperações, portanto, precisamos me-lhorar essa auto-segurança para quepossamos ter uma autonomia mai-or. A conquista, por meio de legisla-ção do uso de arma é apenas o co-meço. Temos de buscar autonomia eé esse processo que está se desenca-deando dentro da Receita Federal.Autonomia completa. Mas, os cole-gas devem ter paciência para espe-rar que esse processo aconteça deforma natural, até porque a mudan-ça é muito radical. Preparar a Insti-tuição para que ela possa comportaro uso de arma de forma ostensiva éum longo processo. Primeiro, temosque preparar os nossos dirigentes, asestruturas e os funcionários.

TRIBUTU$ - Como estão sendorealizados os treinamentos?

Mauro de Brito - A Direp Nacio-nal está iniciando uma discussãocom a Escola de AdministraçãoFazendária (Esaf) para realizar oscursos-padrão. Hoje, todas as regi-ões já fizeram treinamento vincula-do à questão do uso de arma paradefesa pessoal. O que se quer para opróximo ano é sistematizar e acom-

panhar esses treinamentos. A par-tir do início do ano que vem, va-mos definir um modelo para quetodos os colegas que forem tra-balhar na atividade de vigilân-cia e repressão obrigatoria-mente passem por treinamen-tos básicos.

TRIBUTU$ - A ReceitaFederal destinou muitos re-cursos às Direp paraestruturação e compra deequipamentos?

Mauro de Brito - No ano de 2005e em 2006, todas as divisões foramcontempladas com viaturas, veícu-los modernos e potentes. Estamos nafase final da compra de equipamen-tos para a comunicação e os unifor-mes estão sendo adquiridos pelasregiões fiscais. Foi aprovada a aqui-sição de 26 lanchas, algumas delasjá entregues. Há também os helicóp-teros e, até o final do ano, serão con-cluídos os processos de licitaçãopara compra de scanners.

Atualmente, temos uma dificulda-de muito grande na fiscalização por-que, muitas vezes, a mercadoria pas-sa escondida em fundo falso de veí-culos ou misturada com outras car-gas. Como exemplo, podemos citarcargas de milho ou farinha, vindasda Argentina, com produtos eletrô-nicos, ou soja, vinda do Paraguai.Estamos adquirindo esses scannersjustamente para aparelhar melhor asDirep. Realmente foi feito um gran-de investimento, que ainda não estácompleto, ele não se maturou dentroda atividade.

TRIBUTU$ - Como será o unifor-me?

Mauro de Brito - Já existe umaprevisão. O uniforme será com ascores e o símbolo da Receita Fede-ral. Não está prevista a diferencia-ção de uniforme entre as categorias.O que pode acontecer, como nas di-versas Instituições que conhecemos,é futuramente aperfeiçoarmos o uni-forme para que contemple a infor-mação da categoria. A Direp traba-lha com equipes, por issp preserva-mos muito a criação de grupos quesão compostos de Técnicos, Audito-res e de outras carreiras auxiliares.De forma alguma entendemos quedeve haver essa diferenciação, atéporque, dentro do grupo, é que ascoisas acontecem.

TRIBUTU$ - O Sr. acredita que a

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nova aduana da Ponte da Amizadereduzirá a entrada de produtos ilíci-tos no Brasil, uma vez que a regiãoé considerada a principal rota de con-trabando, pirataria e descaminho?

Mauro de Brito - Nós vamos me-lhorar muito. A previsão da nova es-trutura traz consigo uma nova filo-sofia de controle. Trabalharemoscom novos sistemas, que controla-rão a bagagem de cada cidadão quepassar naquele local. Naturalmenteque só isso não resolve o problema.Temos hoje dificuldade de pessoalpara atender todas as atividades daPonte. Também não podemos esque-cer, que se o controle é intensificadonaquela região, há uma migração dofluxo de mercadoria para outrasfronteiras.

Mas, nós apostamos muito no tra-balho integrado entre as polícias ecom o Conselho Nacional de Com-bate à Pirataria. Acredito também noaparelhamento das divisões de re-pressão e defendo que a estruturaçãodaquele ponto de fronteira deve seestender para os demais.

Outra solução é trabalhar intensi-vamente nos centros de outros paí-ses, acabando com a estrutura doscriminosos, ou seja, fazer trabalhosde inteligência agregado aos de re-pressão. Isso já está sendo feito comas divisões de repressão juntamentecom a Polícia Federal e o MinistérioPúblico, o que colabora com a iden-tificação das redes criminosas. Tam-bém estamos iniciando um processode troca de informação com os paí-ses do Mercosul, justamente com ointuito de tentar impedir que essamercadoria chegue ao mercado con-sumidor brasileiro.

Sabe-se que grandes empresas têmusado países como o Paraguai, Uru-guai e Bolívia apenas como passa-gem, sendo que o destino da merca-doria é o Brasil e a Argentina. O Bra-

sil tem hoje 200 milhões de habitan-tes e a Argentina tem outros 45 mi-lhões. Os dois países totalizam 80%do mercado consumidor doMercosul. A estimativa é de que, em2006, o Paraguai exporte 400 mi-lhões de CDs e DVDs virgens, aprincipal matéria-prima da pirataria.O Paraguai tem um consumo de 5milhões, quando muito, então, 395milhões ou vem para o Brasil ou vãopara o mercado consumidor da Ar-gentina.

Outro trabalho importantíssimoque o Sindireceita tem feito com oConselho Nacional de Combate àPirataria é o trabalho de educação,de conscientização da populaçãobrasileira, pois, ao aceitar o contra-bando, o descaminho e a pirataria,na verdade estamos dando um “tirono pé”, estamos gerando emprego láfora ao invés de gerar emprego aqui.A sociedade ainda não compreendeubem isso. Mas, à medida que os tra-balhos vão sendo feitos, o nível deconsciência vai se elevando.

TRIBUTU$ - Qual a política de es-colha dos servidores que atuam ouquerem atuar na Direp?

Mauro de Brito - Como é uma ati-vidade especial, defendemos que operfil das pessoas que venham a tra-balhar conosco também seja adequa-do. A Receita Federal é muito gran-de, ela pode adaptar os servidoresem uma atividade na qual possa ren-der melhor. No caso da Direp, o pri-meiro passo é o voluntarismo, pes-soas que acreditam no trabalho egostam dele. Posteriormente, vamosanalisar, na prática, se o servidor re-almente tem condições de trabalharou não. Queremos, no futuro, fazerseleções especiais e que a segundaetapa do curso de formação tenhamatérias específicas dessa área.

A previsão é de que a atividade che-gue a contar, a médio e longo pra-

zos, com aproximadamente 1.200servidores. Começamos no ano pas-sado com menos de 100 servidores.Em 2006, vamos fechar com 250.Pretendemos também dobrar o quan-titativo de pessoas qualificadas ecom dedicação exclusiva para essaatividade especial em 2007.

TRIBUTU$ - Há previsão de no-vos concursos para a Receita Fede-ral?

Mauro de Brito - A Receita estána expectativa de renovação cons-tante. Assim como as polícias estãoconseguindo fazer concursos todosos anos, acho que nós temos de ado-tar essa política também. Temos, noentanto, um processo anterior a isso,de integração da Receita Federal àReceita Previdenciária. Assim, tere-mos um incremento de pessoas e pre-cisaremos adequar esses dois gruposde trabalho. Se a unificação das Ins-tituições não acontecer, acredito quea Receita Federal deve pleitear no-vos concursos, até porque, mesmocom a entrada dos servidores do úl-timo concurso, ainda nos deparamoscom insuficiência para atender a de-manda de certos locais.

TRIBUTU$ - Na sua opinião,quais outros métodosincrementariam o controle?

Mauro de Brito - O Brasil estámelhorando os seus procedimentosde análise de risco usando sistemasmodernos. Um exemplo disso é oHarphia que está sendo desenvolvi-do em São Paulo e deve ser agrega-do aos instrumentos de análise derisco até o final do ano. O Harphia éum sistema de análise de risco quebusca a interação de bancos de da-dos, por meio do uso de inteligênciaartificial. Os bancos de dados, aoserem cruzados uns com os outros,conseguem definir melhor os indíci-os de irregularidades.

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Para o próximo ano, LuizInácio Lula da Silva, o presidente reeleito, terá muitos

desafios pela frente. O principal de-les é fazer o País crescer acima de5% e administrar um orçamento deR$1.511,5 trilhão, boa parte delecomprometido com o pagamento dosjuros da dívida pública. O cientistapolítico da Universidade de Brasília,José Donizeth, e o consultorlegislativo da Câmara dos Deputa-dos, Magno Correia, acreditam queo fato de o governo ter comprometi-do boa parte do orçamento nacionalpara pagar as dívidas prejudicará osinvestimentos no País. Correia lem-bra que só neste ano o governo des-tinou R$ 160 bilhões para pagar osjuros da dívida que tem crescido bas-tante nos últimos anos. “Quando seexamina a estrutura orçamentária daUnião, constata-se que o grande pro-blema é pagar uma conta impagável.A dívida financeira impede que hajamais investimentos na área social. Ocrescimento da despesa com pesso-al é muito menor do que a despesafinanceira. O que ocorre é que a dí-vida toma cada vez mais espaço doorçamento público, que passa a serprivado porque grande parte do quese arrecada é destinado e voltado aisso”, ressalta o consultor da Câma-ra. Já para o cientista político JoséDonizeth o governo terá de aumen-tar mais a arrecadação do Estado.“Como o governo firmou um com-promisso de garantir esse déficit no-minal, sobram poucos recursos parainvestir. Há uma espécie de“engessamento” da política econô-

mica brasileira. No atual patamar decrescimento, a maior parte dos re-cursos estão comprometidos, não háflexibilidade”. Atualmente, as con-tribuições sociais, administradaspela Secretaria da Receita Federal,chegam a R$ 176,3 bilhões, a metado governo é aumentar para R$195,4bilhões, de acordo com o Ministériodo Planejamento, Gestão e Orçamen-to. Na opinião de Gilberto Guerzoni,consultor legislativo do Senado Fe-deral, é necessário haver redução dosgastos. “É um problema que precisaser enfrentado com bastante cuida-do a partir do próximo ano, senãoteremos problemas no financiamen-

to da despesa pública”, afirma.

Nos últimos anos, o Governo Lulainvestiu mais no serviço público eencargos sociais, só neste ano foramdestinados em torno de R$ 112 bi-lhões. Para o ano que vem, a previ-são é de R$ 127 bilhões, conformemostra o gráfico. Segundo GilbertoGuerzoni, um dos motivos foi o au-mento do salário mínimo.”No atualgoverno, tivemos um investimentosignificativo com a previdência so-cial devido ao aumento do saláriomínimo neste ano”, diz. O cientistapolítico José Donizeth acredita queno próximo ano o Governo Lula con-

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tinuará investindo pesado na áreasocial, um dos carros-chefe da ges-tão do presidente. “Acho que devehaver uma maior inserção de seto-res até então marginalizados na eco-nomia monetária, ou seja, uma es-pécie de monetarização de uma par-te da economia que está fora do mer-cado. Isso se daria por meio de bol-sas e subsídios para a populaçãocarente”, acredita Donizeth. Em re-lação ao funcionalismo público,Magno Correia, o consultorlegislativo da Câmara, diz que a ex-pectativa é o governo ampliar as ne-gociações com os servidores. “A ex-pectativa é que, no segundo manda-to do presidente Lula, a dependên-cia do governo em relação ao movi-mento dos servidores públicos seamplie e possibilite que haja algu-ma evolução na legislação, inclusi-ve com a perspectiva de resgatar al-guns direitos que ficaram no cami-nho”, ressalta Correia.

Reforma da PrevidênciaSegundo estudo realizado pela

Consultoria de Orçamento e Fisca-lização Financeira da Câmara dosDeputados, o orçamento das recei-tas para a seguridade social no ano

de 2007 será de R$ 309 bilhões. Orelatório constata que, após adesvinculação das receitas de impos-tos e contribuições sociais das Re-ceitas da União, as receitas daseguridade social passaram a não sersuficientes para cobrir suas despe-sas, recebendo o respectivo orçamen-to de transferência de pouco mais deR$ 25 bilhões do orçamento fiscal.Para diminuir o déficit da previdên-cia social, foram feitas duas refor-mas uma no Governo FernandoHenrique Cardoso, em 1998, e ou-tra no Governo Lula, no ano de 2003,que tiveram como alvo o servidorpúblico. Atualmente, o regime geraldo servidor público estabelece, comolimite de idade para aposentadoria,60 anos para o homem e 55 anospara a mulher, e, no regime geral daPrevidência, o tempo de contribui-ção é de 35 anos.

Segundo o consultor Magno Cor-reia, apesar de especialistas afirma-rem que a previdência social é defi-

citária, o problema estáno déficit fiscal.

“A Previdência ésuperavitária.Eu acredito quea última soluçãoé fazer o que

vem sendo feito.Reduzir cada

vez mais a par-t i c i p a ç ã o

dos gas-

tos sociais em detrimento das des-pesas financeiras, compromete o Es-tado. Chegará um ponto em que nãoadiantará fazer reforma da Previdên-cia porque não há mais ninguém re-cebendo aposentadoria e pensão, jáque a despesa financeira abocanhoutudo. Na minha opinião, a soluçãonão é reduzir a despesa da Previdên-cia e conter o crescimento dela. OEstado é financiado para pagar ju-ros e não para promover o cresci-mento do País. Isso é uma insensa-tez. Na verdade, o endividamento doEstado está sendo canalizado para osistema financeiro, havendodespropriação do patrimônio públi-co por parte de um segmento parti-cular específico”, ressalta Correia.Na opinião do especialista, uma novadiminuição na despesa com os ser-vidores públicos não resolve o pro-blema. “O regime geral da Previdên-cia foi uma reforma na lei sem nin-guém saber, isso diminuiu as despe-sas com aposentadorias e pensões”.Segundo ele, uma nova reforma daprevidência não resolve a questão dodéficit. “Se a reforma resolvesse, nósestaríamos há dez anos com as con-tas equilibradas. Se o problema es-tivesse aí, a primeira reforma já te-ria resolvido. Na 15º reforma da Pre-vidência não sobrará nenhum apo-sentado e pensionista”, afirma. Mas,para os estudiosos José Donizeth eGilberto Guerzoni, no próximo ano,o governo terá de fazer uma novareforma: “Como a previdência soci-

A reforma deveA reforma deveA reforma deveA reforma deveA reforma deveaumentar o limiteaumentar o limiteaumentar o limiteaumentar o limiteaumentar o limite

de idade no regimede idade no regimede idade no regimede idade no regimede idade no regimedos servidoresdos servidoresdos servidoresdos servidoresdos servidores

subindo tanto dosubindo tanto dosubindo tanto dosubindo tanto dosubindo tanto dohomem quanto dahomem quanto dahomem quanto dahomem quanto dahomem quanto da

mulher.mulher.mulher.mulher.mulher.

““Gilberto GuerzoniGilberto GuerzoniGilberto GuerzoniGilberto GuerzoniGilberto Guerzoni

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al é deficitária, terá de passar poruma segunda etapa. A tendência éfazer essa reforma por etapas parabuscar um equilíbrio maior entre asaposentadorias dos setores públicoe privado. Mesmo assim, eu nãocreio que a reforma solucionará de-finitivamente o desequilíbrio. Naminha opinião, teria de haver o au-mento do teto da aposentadoria emfunção do envelhecimento da popu-lação. Por outro lado, isso gera pro-blema com a empregabilidade dapopulação mais jovem que tem mai-or dificuldade de ingressar no mer-cado de trabalho”, afirma o cientis-ta político José Donizeth.O consul-tor legislativo Gilberto Guerzoni, éda mesma opinião. “Uma próximareforma no regime geral da Previ-dência é absolutamente inevitável. Épreciso lembrar que o problema seresolve por uma geração. Provavel-mente, a próxima reforma deve es-tabelecer um limite de idade para oregime geral e aumentar o limite deidade no regime próprio dos servi-dores públicos subindo os limitestanto do homem quanto da mulherpara 65 anos. No caso do regimegeral da Previdência, a emenda 20tentou estabelecer um limite de ida-de, mas caiu por um voto na Câma-ra dos Deputados. Isso possibilitouque as pessoas se aposentassemmuito cedo, porque basta ter 35 anosde contribuição independentementeda idade”, diz Guerzoni.

Reforma TributáriaDe acordo com dados do Ministé-

rio da Fazenda, a carga tributáriabruta total no Brasil, abrangendo aUnião, osEstados e os municípiosaumentou de 34% do PIB em 2001para 37, 37% do PIB em 2005 (vejagráfico). Para este ano, a expectati-va é haver um novo aumento da tri-butação, o presidente reeleito afir-

ma que haverá austeridade fiscal apartir do próximo ano. ParaDonizeth, o cientista político daUNB, uma das razões do aumentona carga tributária é a elevação dataxa de juros e investimentos na áreasocial. “Com a inflação sob contro-le, pouco a pouco a taxa de jurosvai caindo. Normalmente, o paíscomprometido com o aspecto socialtem uma taxação alta, isso ocorrecom todos os países sociais demo-cratas da Europa. A tributação égrande porque é a única forma deinvestir no social. Hoje, o Brasil éum dos países que mais investem naárea social, não só na América Lati-na”, explica Donizeth. Na opinião deGilberto Guerzoni, as propostasapresentadas à reforma não têm pre-ocupação em reduzir a carga tribu-tária. “Até agora, o que foi aprova-do significou as prorrogações daCPMF (Contribuição Provisória so-

bre Movimentação Financeira) e daDRU (Desvinculação de Receitas daUnião). Fora isso, o resto não temefeito prático no sistema tributário.A reforma que tramita hoje e voltoupara a Câmara dos Deputados é aque se refere ao ICMS (Imposto so-bre Circulação de Mercadorias) quequer racionalizar as legislações es-taduais criando uma legislação úni-ca na União. Na prática, os gover-nadores terão de desistir de legislarsobre a receita dos seus estados, de-sistindo de arrecadar esse imposto.Do ponto de vista da racionalidade,essa tem uma lógica, mas do pontode vista da federação é complicado”,afirma o consultor. Já Magno Cor-reia, consultor da Câmara, defendeque a arrecadação dos impostos deveser a principal receita no sistema tri-butário e não as contribuições soci-ais. “O ente público deveria funcio-nar essencialmente com os impostos.

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No Orçamento da União, observa-se que os impostos minguam e ascontribuições sociais aumentamexponencialmente, porque não sãodistribuídos para estados, municípi-os e Distrito Federal, enquanto nosimpostos há desconcentração. É evi-dente que as contribuições sociaisnão podem continu-ar sendo a principalreceita, porque issosignifica dizer queaquilo que deveriaser feito com gastosocial está sendocomprometido. Pa-rece paradoxo, masnós estamos aumen-tando as contribui-ções sociais paraque reduza osgastos.Atualmente,a receita de impos-tos chega a R$ 80bilhões enquanto areceita de contribui-ções é de R$ 320bilhões. Há uns dezanos, esta era maior que aquela. Ve-rifica-se que a receita de impostossumiu e a de contribuições cresceumuito nos últimos tempos,”diz Cor-reia. Para o consultor, é preciso queo governo discuta mais sobre a re-forma tributária. “Como financiar oEstado e para quê está sendo finan-ciado? Por que financiaremos o Es-tado? O que faremos com o dinheiroarrecadado pelo Estado? Essas dis-cussões precisam ser debatidas an-tes de o governo pensar em fazer umareforma tributária, senão fará 30 re-formas tributárias e não mudaránada, ressalta.

Reforma PolíticaFazer uma reforma nos partidos

políticos é uma das metas do Gover-no Lula para o ano que vem. A re-

forma, considerada pelo presidentereeleito a mãe de todas as reformas,tem como objetivo acabar com pro-blemas de caixa dois e desvio de di-nheiro nos partidos. Para os estudi-osos José Donizete e Magno Correia,a fidelidade partidária e o financia-mento público das campanhas são

pontos que precisam ser incluídos nareforma política. Donizeth defendeque é preciso melhorar arepresentatividade dos partidos.“Observa-se que há umdescolamento grande dos par-tidos em relação aos proble-mas e desafios do país. Naminha opinião, a claúsula debarreira já vem corrigindoparte desses problemas. Ospartidos teriam de se vincu-lar mais aos programas degoverno atuando de formamais objetiva com relação àrealidade do país. Nota-se quenão há um grau de com-prometimento eenvolvimentod i r e t oc o m

os problemas sociais e políticos doPaís por parte dos políticos. Os par-tidos só se organizam na época deeleições, são máquinas partidárias enão estruturas voltadas para os pro-blemas político-sociais”, afirma. Naopinião do consultor, Magno Cor-reia, somente com a conscientização

da população haveráconsistência nos parti-dos políticos. “A pri-meira questão essenci-al é haver a recupera-ção da vontade popular,enquanto o eleitor nãose convencer que o votoque deposita na urna ésó o primeiro e não oúltimo do processo elei-toral, não teremos con-dições de ter partidosconsistentes”, ressaltaCorreia. Outro pontodestacado por ele é aquestão de parlamenta-res que não têm nenhu-ma representatividade.“Nós temos uma ban-

cada enorme de suplentes no Sena-do, o indivíduo é eleito e, na verda-de, afasta-se do mandato e coloca al-

guém que não passoupelo crivo popular.

A falta derepresentatividadedos mandatos ea falta de con-sistência dospartidos ocor-rem porquenão há estí-mulo da parti-

Fazer uma reforma nosFazer uma reforma nosFazer uma reforma nosFazer uma reforma nosFazer uma reforma nospartidos políticos é uma daspartidos políticos é uma daspartidos políticos é uma daspartidos políticos é uma daspartidos políticos é uma das

metas do Governo Lula para ometas do Governo Lula para ometas do Governo Lula para ometas do Governo Lula para ometas do Governo Lula para oano que vem. A reforma,ano que vem. A reforma,ano que vem. A reforma,ano que vem. A reforma,ano que vem. A reforma,

considerada pelo presidenteconsiderada pelo presidenteconsiderada pelo presidenteconsiderada pelo presidenteconsiderada pelo presidentereeleito a mãe de todas asreeleito a mãe de todas asreeleito a mãe de todas asreeleito a mãe de todas asreeleito a mãe de todas as

reformas, tem como objetivoreformas, tem como objetivoreformas, tem como objetivoreformas, tem como objetivoreformas, tem como objetivoacabar com problemas de caixaacabar com problemas de caixaacabar com problemas de caixaacabar com problemas de caixaacabar com problemas de caixadois e desvio de dinheiro nosdois e desvio de dinheiro nosdois e desvio de dinheiro nosdois e desvio de dinheiro nosdois e desvio de dinheiro nos

partidos.partidos.partidos.partidos.partidos.

“Magno CorreiaMagno CorreiaMagno CorreiaMagno CorreiaMagno Correia

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cipação popular num processo a lon-go prazo. Hoje, o mandato é exerci-do pelo parlamentar sem nenhumaobrigação de prestação de contaspara quem o elege”, diz. Para solu-cionar essa questão, Magno Correiasugere que, no sistema partidário eeleitoral, cada grupo da sociedade te-nha um representante no CongressoNacional. “Porque não fazemos umarepresentação objetivamente trans-portada de grupos de interesses de-finidos? Isso proporcionará identi-dade entre quem ele-ge e quem é eleito, seconseguir estabelecerisso, quem elege, par-ticipará do mandatode quem é eleito. Osmandatos dos deputa-dos e senadores têmde defender interesseslegítimos e abertos”.Já Guerzoni acreditaque a reforma nospartidos não resolve-rá o problema. “Nes-te ponto, eu sou céti-co em relação à refor-ma política. O Con-gresso Nacional, comtodos os seus defeitose qualidades, é um re-trato muito bom da sociedade brasi-leira, refletindo as qualidades e de-feitos. Qualquer que seja a regra elei-toral, vamos ter um Congresso mui-to parecido com que temos hoje. Aquestão da fidelidade partidária é umproblema do partido e do eleitor. Émuito mais da nossa cultura políti-ca. Outra questão é mudar o nossosistema eleitoral de lista aberta, por-que o eleitor vota num candidato dapolítica A e elege o da corrente polí-tica Z. As soluções propostas pelogoverno podem trazer mais proble-mas do que soluções. Na minha opi-nião, é complicado adotar isso”, res-salta o consultor legislativo do Se-

nado Federal.

Financiamento públicoDepois de escândalos de caixa-dois

nas campanhas, o financiamentopúblico ganhou mais destaque nasdiscussões do governo. Especialis-tas acreditam que esse tipo de finan-ciamento pode reduzir o abuso depoder econômico e até acabar com acorrupção nos partidos, além de pos-sibilitar a eleição aos candidatos que

não têm condições econômicas. “Amelhor forma de contrabalancear évincular as eleições ao financiamentopúblico, isso reduziria o abuso dopoder econômico e os candidatos quedefendem os interesses públicos, masnão possuem recursos para a cam-panha eleitoral, teriam oportunida-de. Isso seria uma espécie de demo-cratização do acesso ao poder pú-blico por parte de pessoas que nãopossuem recursos econômicos. Emgrande parte, a forma usada para ar-recadação do recurso define o man-dato, ou seja, uma boa parte dospolíticos eleitos acabam sendo repre-sentantes de grupos de pressão pou-

co comprometidos com os interes-ses nacionais”, defende o cientistapolítico da UNB, José Donizeth. Naopinião do consultor GilbertoGuerzoni, o sistema de lista aberta,adotado hoje no Brasil, dificulta ofinancimento público. “Não há dú-vidas de que o sistema eleitoral delista aberta torna muito difícil o fi-nanciamento público, já que cadacandidato faz a sua campanha. Se opróximo governo quiser implantarisso, ele terá de tornar as campanhas

uma questão muitomais partidária do quealgo próprio do candi-dato. Por isso, o nos-so sistema de listaaberta não serve”, ex-plica.

Uma das razões denão se discutir o finan-ciamento público dascampanhas, segundoo consultor MagnoCorreia, é que os man-datos dos partidos sãovinculados aos inte-resses de quem elege.“Se nós tivessemos in-teresses legítimos eelegêssemos os depu-

tados e senadores, os assuntos seri-am discutidos à luz do dia. O pro-blema é que eles representam os in-teresses de quem financia sem saberquem é. É preciso estabelecer que odinheiro gasto na campanha será pú-blico e limitado. De tal forma, quefacilite a igualdade e a oportunidadedo eleitor, escolher ou não o candi-dato pelo poder econômico, mas peloque tem a melhor proposta. Os man-datos dos deputados e senadores têmde ter o objetivo de defender interes-ses, legítimos e abertos que sabemosquais são. Daí, aquela minha pro-posta de os segmentos sociais pode-rem ter representantes no Congres-

A melhor forma deA melhor forma deA melhor forma deA melhor forma deA melhor forma decontrabalancear é vincular ascontrabalancear é vincular ascontrabalancear é vincular ascontrabalancear é vincular ascontrabalancear é vincular as

eleições ao financiamentoeleições ao financiamentoeleições ao financiamentoeleições ao financiamentoeleições ao financiamentopúblico, isso reduziria o abusopúblico, isso reduziria o abusopúblico, isso reduziria o abusopúblico, isso reduziria o abusopúblico, isso reduziria o abuso

do poder econômico e osdo poder econômico e osdo poder econômico e osdo poder econômico e osdo poder econômico e oscandidatos que defendem oscandidatos que defendem oscandidatos que defendem oscandidatos que defendem oscandidatos que defendem osinteresses públicos, mas nãointeresses públicos, mas nãointeresses públicos, mas nãointeresses públicos, mas nãointeresses públicos, mas não

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oportunidadeoportunidadeoportunidadeoportunidadeoportunidade

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José DonizethJosé DonizethJosé DonizethJosé DonizethJosé Donizeth28

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so Nacional”, afirma. Um estudorealizado pelo consultor mostra queos maiores financiadores de campa-nha no País são empresas que têmparticipação em fundo de pensão.“Na época da reforma da Previdên-cia, eu tive a oportunidade de solici-tar à Polícia Civil do Rio de Janeiroque fosse investigada a origem dosrecursos provenientes de financia-mento de campanha de uma série deempresas, todas com pesadas parti-cipações nos fundos de pensão. Issoocorreu porque não temos avinculação das campanhas com ofinanciamento público”, ressaltaCorreia.

Projeto Super-ReceitaDe acordo com os consultores Gil-

berto Guerzoni e Magno Correia, ébem provavél que o Congresso Na-cional vote o Projeto PLC 20/06, aSuper-Receita, no próximo ano. Naopinião do consultor legislativo doSenado Federal, Gilberto Guerzoni,com a reeleição do atual presidente,o projeto deve avançar mais rapida-mente. “É difícil prever se haverámais alguma modificação na Super-Receita, já que é uma questão polí-tica. O último problema que houvena tramitação envolveu o Código deDefesa do Contribuinte que, na mi-nha opinião, não tem uma relaçãodireta com o projeto, mas sim indi-reta. O Código do Contribuinte temde existir independentemente sefor cobrado por um, dois, trêsòrgãos do governo.É interes-sante observar que há poucadiscussão em tor-

no do conceito da Super-Receita dese ter um órgão único de cobrançade tributos que cobre os impostos decontribuições da Receita e as con-tribuições previdenciárias”, ressaltao consultor do Senado Federal, Gil-berto Guerzoni. Um dos pontos des-tacados pelo consultor da Câmara éa inclusão do Código de Defesa doContribuinte no Projeto. “Há um sis-tema tributário injusto. As pessoastendem a acreditar que, quando pa-gam impostos estão jogando dinhei-ro fora, então tentam não paga-lós.Como nós temos um máquinaarrecadadora muito eficaz, masagressiva, ela assusta. A inclusão doCódigo de Defesa do Contribuintemostra qual foi o pensamento dequem recebeu o projeto PLC 20/06no Senado Federal. Acho que a pro-posta da Super-Receita de se criaruma carreira única é extremamenteracionalizadora. Se for aprovado,haverá ganhos para o Estado brasi-leiro”, afirma Correia.

O projeto Super-Receita propõe acriação de uma carreira única daCarreira de Auditoria da ReceitaFederal do Brasil composta peloscargos de nível superior de Auditor-

Fiscal da Recei-ta Federal doBrasil e deAnalista-Tri-butário da Re-

ceita Federal do Brasil e esteve di-versas vezes na pauta de votaçõesda Comissão de Assuntos Econômi-cos (CAE) no Senado Federal, masdevido às eleições, ainda não foi vo-tado. A Super-Receita visa promo-ver uma significativa alteração na or-ganização administrativa do setor dearrecadação e fiscalização de tribu-tos de competência da União, medi-ante a instituição da Secretaria daReceita Federal do Brasil(SRFB),resultado da fusão da Secretaria daReceita Federal do Ministério daFazenda (SRF), da qual é sucesso-ra, e da Secretaria da ReceitaPrevidenciária do Ministério da Pre-vidência Social (SRP).

Entre os principais benefícios doprojeto para a categoria estão a al-teração do cargo de Técnico da Re-ceita Federal para Analista-Tributá-rio da Receita e a Gratificação deIncremento da Fiscalização e Arre-cadação (GIFA) integral para apo-sentados e pensionistas. Hoje, o Téc-nico aposentado recebe 47,5% daGIFA enquanto o ativo recebe 95%.No projeto também foi incluída asubemenda nº 55, de autoria do se-nador Luiz Otávio (PMDB/PA), queatribui reconhecimento maior dasatribuições do Técnico da ReceitaFederal. “Parece-nos adequado pro-mover uma ampliação nas atribui-ções dos Analistas-Tributários daReceita Federal do Brasil não ape-nas para fazer justiça a esses servi-dores, como para permitir melhorfuncionamento da Secretaria da Re-ceita Federal do Brasil”, afirmou oex-relator do projeto, RodolphoTourinho (PFL/BA).

Caso seja aprovada, a Super-Re-ceita possibilitará uma maior efici-ência no aparelho fiscal-arrecadadortanto em nível federal como em ou-tras esferas político-administrativas.

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A finalidade primordial deuma Administração Tributária é, dentro de um marco

legal, arrecadar para garantir a ma-nutenção do Estado.

Os resultados daarrecadação devemser analisados sob aótica quantitativa equalitativa. O incre-mento na arrecada-ção não significa ne-cessariamente quemais contribuintespassaram a cumprirespontaneamentesuas obrigações tri-butárias, ou queaqueles que não cum-priam passaram afazê-lo, já que tantoos acréscimos comoos decréscimos po-dem estar relaciona-dos à fatores econômicos ou à mu-danças legislativas.

Além das condições normativas eoperacionais, a realidade social émovida por condições subjetivas,disso decorre a urgente necessidadede maior ênfase aos aspectos socio-lógicos envolvidos na relação Fisco-Contribuinte, já que a análise daque-les possibilita a abertura de perspec-tivas no intento de prever as tendên-cias do comportamento do contribu-inte

A complexidade do sistema tribu-tário brasileiro pode conduzir ao nãocumprimento das obrigações tribu-

tárias de maneira não intencional,significa dizer que o contribuinte tema intenção de cumprir de maneiracorreta, mas não o faz por desconhe-cer a legislação, não compreendê-la,

ou por não conseguir acompanhar assuas mudanças. A intenção em cum-prir, mas a impossibilidade derealizá-lo também pode estar relaci-onada à falta de recursos financei-ros do contribuinte.

Em abril deste ano procedeu-se auma pesquisa de opinião com 300contribuintes de distintos setores. Oobjetivo era descobrir as variáveisque afetam o cumprimento espontâ-neo das obrigações tributárias, comoa visão do contribuinte sobre a Ad-ministração e o Sistema Tributári-os, o grau de aceitação dos tributos,o nível de percepção de risco e de

impunidade além de outros elemen-tos que influem na decisão de inten-cionalmente não cumprir.

Perguntados se consideravam osistema tributário jus-to, 96% dos contribu-intes afirmaram quenão. Esta percepçãopode ser uma das cau-sas do não cumpri-mento tributário, poisos que assim agem,justificam o seu com-portamento como ummecanismo deredistribuição da car-ga tributária.

Sobre a percepçãodo cumprimento dasobrigações tributári-as, 63,66% acreditamque apenas uma mino-ria cumpre. Este resul-tado demonstra a ne-

cessidade de reforçar a imagem daAdministração Tributária, pois aoperceber que esta é permissiva aonão cumprimento, os contribuintestendem a acreditar que a sua atitudenegativa frente ao cumprimento nãoserá detectada, tampouco sanciona-da. Relaciona-se também com a ne-cessidade de se reafirmar valores, onão cumprimento deve ser conside-rado um comportamento perniciosoà sociedade, pois o não-cumpridorutiliza-se dos serviços e dos bens pú-blicos sem haver colaborado para oseu financiamento.

Na pergunta aberta sobre qual se-

A complexidade doA complexidade doA complexidade doA complexidade doA complexidade dosistema tributáriosistema tributáriosistema tributáriosistema tributáriosistema tributário

brasileiro pode conduzirbrasileiro pode conduzirbrasileiro pode conduzirbrasileiro pode conduzirbrasileiro pode conduzirao não cumprimento dasao não cumprimento dasao não cumprimento dasao não cumprimento dasao não cumprimento dasobrigações tributárias deobrigações tributárias deobrigações tributárias deobrigações tributárias deobrigações tributárias demaneira não intencional,maneira não intencional,maneira não intencional,maneira não intencional,maneira não intencional,

significa dizer que osignifica dizer que osignifica dizer que osignifica dizer que osignifica dizer que ocontribuinte tem acontribuinte tem acontribuinte tem acontribuinte tem acontribuinte tem a

intenção de cumprir deintenção de cumprir deintenção de cumprir deintenção de cumprir deintenção de cumprir demaneira correta, mas não omaneira correta, mas não omaneira correta, mas não omaneira correta, mas não omaneira correta, mas não o

faz por desconhecer afaz por desconhecer afaz por desconhecer afaz por desconhecer afaz por desconhecer alegislação.legislação.legislação.legislação.legislação.

““

30

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ria o fator capaz de impulsionar ocumprimento espontâneo das obri-gações tributárias, 43,8% menciona-ram que a transparência, traduzidacomo a comprovação da aplicaçãodos recursos provenientes da arre-cadação e uma melhor prestação deserviços em prol da população oslevaria a cumprir de maneira espon-tânea.

Este dado reflete um cenário muitonegativo, já que as pessoas passama não querer cumprir em função deque o valor pago pelos tributos é malutilizado.

Esta pesquisa não serviu apenascomo um instrumento de coleta dedados, mas apresentou como senti-

do imediato descobrir os fatores queestavam impedindo um maior nívelde cumprimento espontâneo e a par-tir deste dado formular a ação sane-adora. O sentido mediato era alertarpara a necessidade de criação deuma área dentro da Secretaria daReceita Federal voltada ao campo daSociologia Tributária, uma vez quese está trabalhando com informaçõespertencentes àquela ciência,mutáveis, que precisam ser acom-panhadas e revistas ao longo do tem-po.

Quando a Administração Tributá-ria mostra ao cidadão que se inte-ressa em conhecer a sua opinião esuas expectativas, faz com que este

se sinta parte importante no proces-so e a relação entre ambos passa aser caracterizada por uma posturamais positiva e pró-ativa.

Esta é uma forma de se incutir nocontribuinte a consciência fiscal,pois este passa a perceber que nãoocupa posição oposta na dicotomiaFisco–contribuinte, e sim que ambosperseguem um objetivo comum.

Donato Rugilo Neto é Técnico daReceita Federal, mestre em Admi-nistração Tributária e FazendaPública pelo CentroInteramericano de AdministraçãoTributária (CIAT) e trabalha naSAANA/DRF/ Itajaí.

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A carga excessiva de trabalho nos Centros de Atendimento ao Contribuinte

(CAC) fez com que pelo menos 20%dos Técnicos da Receita Federal,aprovados no último concurso, e queseriam lotados no CAC Luz, em SãoPaulo, desistissem de assumir a fun-ção de atendente. Esse é apenas umdos fatos que comprova que as con-dições de trabalho em determinadosCentros de Atendimento ao Contri-buinte (CAC) e em algumas Agên-cias são inviáveis.

O Sindireceita recebeu, nos últimosmeses, denúncias de que os Técni-cos da Receita Federal que atuam noatendimento ao contribuinte enfren-tam uma jornada de trabalho queultrapassa as 6 horas diárias. Em

algumas situações, a carga horáriachega a 10 horas por dia.

Atualmente não há um horáriopadrão de funcionamento dos CAC.Em algumas capitais, os servidoresque atuam nos CAC fazem apenasum turno. Em outros lugares, alémdo serviço de atendimento ao públi-co, o mesmo servidor ainda executao trabalho interno.

O CAC Luz, o maior do País, é umexemplo disso. Nele, apenas 52 ser-vidores atendem diariamente cercade 4 mil contribuintes, em dias con-siderados normais. O CAC fica aber-to ao público das 8h às 12h, mas, aofecharem as portas, os servidoresainda atendem os contribuintes queestão nas dependências do centro,

terminando o atendimento por voltadas 14h. Às 15h retornam para fa-zer o serviço interno. Após as 6 ho-ras de atendimento contínuo, o ser-vidor ainda tem uma carga pesadade serviços para executar. A cargahorária no CAC Luz é absurdamen-te alta. O nível de estresse é muitoelevado. “Esses Técnicos que saíramda Secretaria da Receita Federalagravaram ainda mais os problemasdecorrentes da falta de recursos”,afirma a chefe do CAC, Elaine Oli-veira de Souza Vieira.

De acordo com o chefe do CAC dePorto Velho/RO, Ronaldo CastroBezerra, apesar do horário defuncionamento da suaunidade não ser cor-rido (8h às 12h e

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14h às 18h), a partir do meio-dia,sempre há contribuintes esperandoatendimento, forçando os atendentesa permanecerem em seus postos detrabalho no horário em que seria parao almoço. “Isso na prática repre-senta horário corrido de mais de 4hininterruptas. Soma-se também ofato dos servidores terem de retornarno período da tarde, após uma ma-nhã de intenso estresse”, destaca.

Após as denúncias, o Sindireceitavem buscando alternativas para so-lucionar o problema. Durante a 39ªReunião Ordinária do Conselho Na-cional de Representantes Estaduais(CNRE), realizada nos dias 5 e 6 deagosto, foi aprovada por unanimi-dade a proposta de que a DiretoriaExecutiva Nacional “realize estu-dos, urgente, a serem apresen-tados à Administração

p a r aimplementação

de 2 turnos de 6h nosCentros de Atendimento ao

Contribuinte”.

Em reunião na Secretaria da Re-ceita Federal, realizada no dia 21 desetembro, o presidente doSindireceita, Paulo Antenor de Oli-veira, levou a sua preocupação aosecretário Jorge Rachid quanto àsaúde dos Técnicos que trabalhamnos centros de atendimento e questi-

onou sobre a possibilidade de im-plantação de um horário padrão emtodas as unidades dos CAC. “Sabe-mos que esta é uma questão com-plicada porque depende de mão-de-obra, mas peço que a Administra-ção olhe a situação com atenção”,destacou Antenor. De acordo com odiretor de aposentados e pensionis-tas, Hélio Bernades, todos os pro-blemas do contribuinte com a Insti-tuição caem nas mãos dos Técnicose outros servidores que atuam nosCAC. “Esse funci-onário tem,

m u i t a svezes, que fa-

zer até papel depsicólogo. É onde há o

maior número de processosadministrativos e os colegas são

pressionados o tempo todo por ra-pidez no atendimento”, ressaltou.

O supervisor de atendimento da 1ªRegião Fiscal, José Raimundo daSilva, diz que o CAC é o espelho daReceita Federal. “Se o contribuintefor bem atendido no CAC, ele vaiconsiderar que a Receita Federal oatendeu bem”. Conforme osupervisor, o Sistema de Apoio aoGerenciamento do Atendimento(SAGA) é uma ferramenta importan-te para fazer uma melhor avaliaçãodo atendimento e será instalada emtoda a 1ª Região Fiscal até o mês dedezembro. “Com ele poderemos veras demandas de serviços poratendentes e, assim, avaliaremos

onde se está precisando de mais ser-vidores. Em todos os CAC da 1ª RFo sistema já foi instalado, mas das36 Agências apenas duas o possu-em”.

Padronização do horárioNa opinião do chefe do CAC de

Porto Velho, na falta de empenho dealguns dirigentes em implantar ho-rário corrido em sua jurisdição, a

saída seria a padronização do horá-rio nos CAC de todo o País. “As-sim, nos lugares onde não existemhorário corrido, os servidores nãotrabalhariam em excesso em relaçãoaos demais onde existe tal prática”,afirmou Bezerra.

A chefe do CAC de João Pessoa/PB, Silvania Motta Braga, tambémdiz que é favorável à padronizaçãodo horário de atendimento ao públi-co em um único expediente corrido,como, por exemplo, de 8 às 13h.“Aliás, esta é a maior reclamaçãodos atendentes. Isso também facili-taria os treinamentos dos servidores,bem como a administração do CACem geral”, disse.

Os Técnicos que trabalham noCAC Belém/PA afirmam que a pa-dronização do horário é uma saída,desde que não exceda as 6 horasininterruptas, mesmo que para issosejam necessárias duas turmas de

33

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atendimento. Essa também é a rei-vindicação constante do chefe-subs-tituto do CAC de Florianópolis/SC,Egídio Bonin, ao superintendente edelegado da unidade. No entanto, eleafirma que “nunca são ouvidos”.

Alguns chefes de CAC, no entan-to, afirmam que a proposta deve serbem discutida porque cada regiãotem uma realidade e costumesdistintos.

Trabalho estressanteAgilidade, paciência, atenção, co-

nhecimento técnico, educação,profissionalismo, respeito ao con-tribuinte, saber ouvir, controle emo-cional, integridade, transparência,excelente capacidade de expressãoverbal, compromisso com a Insti-tuição e, principalmente, empatia sãoalguns dos atributos que um Técni-co necessita para desenvolver umtrabalho de excelência nos Centrosde Atendimento ao Contribuinte. Noentanto, em condições precárias, odesempenho dos Técnicos fica com-prometido. Além da carga horáriaexcessiva, eles alegam que há insu-ficiência de servidores, estrutura fí-sica deficiente, falta de cursos decapacitação e de reconhecimento dosdirigentes e de servidores de outrossetores. Em alguns CAC, os servi-dores ou estão em licença médica,ou, às vezes, são remanejados paraoutras atividades que não envolvem

diretamente o atendimento ao pú-blico.

Devido à sobre-carga de

trabalho e horá-rio de atendimento

em dois turnos, no CACFlorianópolis, por exemplo,

os Técnicos vivem estressadose freqüentemente são afastados

com dores lombares, lesões por es-forço repetitivo, torcicolos e outros.

No CAC Taguatinga, em Brasília,a situação é ainda mais complicada.O CAC foi palco de constantes con-flitos no início deste ano, em razãodo fechamento do CAC Gama/DF,o que fez elevar o número de contri-buintes a serem atendidos naquelelocal. Para conter a onda deagressividade dos contribuintes, foinecessária a presença constante depoliciais.

Segundo o chefe do CACMadureira, no Rio de Janeiro, Pau-lo Pinho, o estresse está em todas aspartes, nas famílias, nas comunida-des e não deixaria de estar nos lo-cais de trabalho. “Lidamos comdesencontros de informações nos sis-temas de apoio com relação a algunsprocedimentos. Temos também oestresse motivado pelo excesso debarulho, além disso, deparamos-noscom contribuintes agressivos e igno-rantes”. Outra preocupação de Pi-nho é relacionada às reclamações dos

contribuintes. De acor-do com ele, a de maior inci-

dência é a questão das declaraçõesde pessoas físicas em malha fiscal.“Em nosso município, o plantão fis-cal vem transferindo suas demandaspara os CAC. Mas, para evitar queo contribuinte fique nesse vai-e-vem,nós solucionamos a maior parte dasquestões trazidas por eles”, desaba-fa.

Na avaliação do chefe do CACTeresina/PI e diretor de Comunica-ção do Sindireceita, José Geraldo doÓ Carneiro, além do desgaste natu-ral causado por serviços de atendi-mento ao público, há barreiras in-ternas que já deveriam ter sido der-rubadas para melhorar o atendimen-to ao contribuinte. Por exemplo, oscolegas do PCC e do Serpro, que têmuma vasta bagagem dos sistemas ede procedimentos do setor, são im-pedidos de efetuar determinadosatendimentos devido a restrições desenhas previstas nas portarias dedefinições de perfis de usuários. Isso,muitas vezes, ocasiona a espera pordeterminados serviços, havendoatendentes livres, sobrecarregandoparte do atendimento e provocandoconflito entre os contribuintes e aschefias.

A chefe do CAC Maceió/AL,Adélia Lima de Carvalho Almeida,também concorda que o serviço deatendimento ao público é bastanteestressante. “Diariamente nos depa-

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ramos com pessoas reclamando daalta carga tributária e da aplicaçãoindevida dos atributos arrecadados,diante dos escândalos envolvendopolíticos brasileiros. Nós, do aten-dimento, é que temos de ouvir o de-sabafo e a revolta dos contribuintes”,disse. Para a Técnica, porém, ape-sar de tudo, os colegas trabalhamcom prazer e sentem-se recompen-sados quando terminam um períodode grande atendimento.

A chefe do CAC Brasília, Marlenede Fátima Cambraia Viana, destacaque a clientela dos CAC é muitodiversificada e que os atendentes têmde ter “jogo de cintura” e colocarem-se, muitas vezes, no lugar do contri-buinte. “Temos uma clientela que vaido advogado que acha que sabe tudoao contribuinte que não entendenada. Hoje mesmo, eu atendi umasenhora que se acabou em lágrimasporque estava devendo R$ 40 milpara a Receita. Às vezes, as pessoasentram mesmo em crise”. A Técnicaconsidera que o apoio psicológicoseria interessante para a qualidadede vida dos atendentes, para fortale-cer seu lado emocional. “Isso já foifalado em alguns treinamentos e se-ria bom que fosse pensado para ofuturo”.

Reclamações dosContribuintes

Entre as principais reclamações docontribuinte, foram destacadas pe-los chefes de CAC a demora no re-cebimento de restituição, principal-mente quando a declaração está namalha fiscal (malha fina), a falta declareza nas informações constantesna Internet, a falta de estações deauto-atendimento, as alteraçõesconstantes da legislação tributária,

a demora na emissão dos cartões deCPF, por parte dos conveniados, ademora no cadastramento para dé-bito automático de parcelamento e otempo de espera no atendimento.

Na opinião de Paulo Pinho, chefedo CAC Madureira, algo pode serfeito para fornecer serviços que re-almente satisfaçam aos anseios da-queles que comparecem em busca deatendimento. O Técnico afirma queo principal é o respeito ao cargo. AReceita também teria de fazer o seupapel. “A Administração deve for-necer cursos de capacitação ao cor-po funcional, boas instalações, equi-pamentos adequados e deve haveruma relação mais próxima e huma-na entre administradores e servido-res”.

A grande meta da chefe do CACBrasília é que os servidores façamtodos os trabalhos com segurança.“Atualmente, todos fazem de tudo,porém um ou outro trabalha commais segurança em determinadosserviços. Temos especialistas emConta Corrente Pessoas Física e Ju-rídica e em CNPJ, por exemplo.Queremos chegar à excelência detodos trabalharem tudo com a mes-ma segurança. Estamos programan-do um treinamento interno no próxi-mo ano”, enfatiza a Técnica Marle-ne.

Atendimento Virtual

Em dezembro de 2005, a InstruçãoNormativa da Secretaria da ReceitaFederal n° 580 instituiu o CentroVirtual de Atendimento ao Contri-buinte (e-CAC) com o objetivo dedesafogar os centros convencionaise de propiciar aos contribuintes umaoutra opção: o atendimentointerativo.

Dados da Secretaria da ReceitaFederal afirmam que, até o mês deoutubro de 2006, as empresas e pes-soas físicas com certificação digitalacessaram o e-CAC 14 milhões devezes. No entanto, os Técnicos queatuam nos CAC acreditam que ocentro virtual ainda é muito recentee não há como avaliar se ele real-mente reduziu o número de servi-ços no atendimento pessoal ao con-tribuinte. “O interessante para nósseria que o contribuinte não preci-sasse vir. A nossa intenção é fazercom que ele seja atendido de manei-ra confortável, na casa dele ou noescritório. Mas a Internet ainda nãoé uma realidade brasileira”, afirmaa chefe do CAC Brasília.

Entre as opções de atendimento àspessoas físicas e jurídicas, medianteo uso de certificados digitais (e-CPFou e-CNPJ), que o e-CAC possibili-ta estão:

- Consulta e regularização das si-tuações cadastral e fiscal;

- Entrega de declarações e outrosdocumentos;

- Obtenção de cópias de declara-ções e de outros documentos;

- Alteração e solicitação de cance-lamento da inscrição no CPF e noCNPJ;

- Emissão de certidões;

- Cadastramento eletrônico de pro-curações;

- Acompanhamento de tramitaçãode processos fiscais;

- Parcelamento de débitos fiscais;

- Compensação de créditos fiscais;

- Leilão de mercadorias apreendi-das.

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O Sindicato Nacional dosTécnicos da Receita Federal (Sindireceita) iniciou,

em outubro, a transmissão do pro-grama “Receita de Cidadania”. Como programa de TV, que está sendotransmitido pela TV Comunitária deBrasília (Net - canal 8), oSindireceita pretende aproximar aReceita Federal e, principalmente otrabalho dos Técnicos, dos cidadãos.

O programa de entrevista é apre-sentado pelo presidente da DEN,Paulo Antenor de Oliveira. A primei-ra edição contou com a presença dojornalista, analista político e diretorde documentação do DepartamentoIntersindical de Assessoria Parla-mentar (Diap), Antônio Augusto deQueiroz. Durante 30 minutos, o di-retor do Diap traçou um cenário doCongresso para a próxima

legislatura. Antônio Augusto anali-sou o cenário político para o próxi-mo governo e apresentou um qua-dro das bancadas dos partidos napróxima legislatura.

O segundo programa foi gravadocom o presidente do Conselho Naci-onal de Combate à Pirataria e Deli-tos contra a Propriedade Intelectu-al, Luís Paulo Barreto, que falousobre as ações desenvolvidas no Paísde combate à pirataria e da parceiracom o Sindireceita para a divulga-ção da campanha “Pirata: tô fora!Só uso original”. O presidente daDEN também entrevistou o deputa-do Federal Marco Maia (PT/RS) queanalisou a situação política atual doPaís. Durante a entrevista, ele tam-bém falou sobre as prioridades polí-ticas do próximo governo e as difi-culdades que devem ser enfrentadas

nos próximos anos.

Paulo Antenor destaca que por meiodo programa, o Sindireceita poderátratar de temas que são do interesseda categoria, e têm relevância paraa sociedade. Ainda segundo ele, oprograma também ajudará a divul-gar as ações da categoria, que temse empenhado para tornar a ReceitaFederal um órgão cada vez mais fortee eficiente. “Nosso objetivo é convi-dar pessoas que têm um papel rele-vante na sociedade e que podemampliar debates que interessam atodo o País, como, por exemplo, ocombate ao contrabando e à pirata-ria”, diz Paulo Antenor.

O presidente do Sindireceita, Pau-lo Antenor, destaca ainda que nospróximos programas serão convida-das autoridades para tratar de assun-tos como carga tributária, serviçopúblico e a tramitação de projetosvoltados para o fortalecimento daAdministração Tributária. “Abrimosmais um canal democrático de dis-cussão com a sociedade e com o go-verno. É dessa forma que queremoscontinuar apresentado nossas pro-postas”, disse.

Em breve, todos os programas quesão assistidos pela TV Comunitária(Net - canal 8), poderão ser vistostambém por meiodo endereço eletrônicowww.tvcomunitariadf.com.br.

A intenção também é colocar à dis-posição todo o conteúdo no sítio doSindireceita.

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A Medida Provisória 302/06,que reajustou o salário dosTécnicos da Receita Fede-

ral, foi transformada na Lei Ordiná-ria 11.356/2006 e publicada no Di-ário Oficial da União no dia 20 deoutubro.

A MP 302/06 foi aprovada peloCongresso Nacional da forma comofoi enviada pelo Executivo. Tanto naCâmara dos Deputados quanto noSenado Federal. Foi aprovada poracordo de líderes, sem alterações. Aotodo, mais de 52 mil servidores ati-vos, aposentados e pensionistas fo-ram beneficiados com a medida, cujoimpacto financeiro gira em torno deR$ 1,25 bilhão em 2006.

Devido à votação às pressas da MP302/06 pelos parlamentares não foipossível avançar em pontos defen-didos pelo Sindireceita, como a pa-ridade, a diminuição da diferença en-tre o salário inicial e final e adesvinculação da GIFA (Gratifica-ção por Incremento à Fiscalização eà Arrecadação) das metas dearrecadação.O Sindireceita chegoua apresentar emendas, mas nenhu-ma delas foi acatada. As emendastratavam, entre outros assuntos, daparidade integral da GIFA entre ati-vos e aposentados, do avanço na re-lação remuneratória entre Técnicose Auditores, da redução do númerode padrões da Carreira Auditoria, daincorporação da GAT ao vencimen-to básico e do aumento do percentualda GIFA e da GAT.

O período eleitoral foi o principalcomplicador na análise dessa e demais sete medidas que tratavam dosplanos de carreira de diversas cate-gorias dos servidores. No SenadoFederal, a MP 302/06 foi aprovada

no dia 17 de outubro por causa daaproximação do segundo turno daseleições. Se os senadores alterassemo texto original, a MP teria de voltarà apreciação da Câmara dos Depu-tados. Como a medida venceria nodia 27, véspera das eleições, os se-nadores resolveram aprovar a maté-ria, sem ampla discussão, para quea MP não perdesse a validade e im-plicasse a descontinuidade do salá-rio dos servidores. O líder do gover-no, senador Romero Jucá (PMDB-RR), no entanto, afirmou que o go-

verno tem o compromisso de discu-tir algumas demandas dos servido-res e que determinadas reivindica-ções poderão ser contempladas pormeio de nova Medida Provisória oupor um Projeto de Lei.De acordo com o diretor de Aposen-tados e Pensionistas do Sindireceita,Hélio Bernades, que acompanhou avotação da MP 302/06, “isso nãosignifica, porém, a garantia de cum-primento dos pleitos da categoria,como a paridade da GIFA entre ati-vos e aposentados”. 37

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Os servidores públicos titulares de cargo efetivo ou emcomissão, quando infringem

as regras de conduta para o exercí-cio da função pública, constituídasde deveres e proibições legalmentecapitulados (arts. 116, 117 a 120,129 a 132 e outros, da Lei 8.112/90), sujeitam-se ao exercício do po-der disciplinar da Administração Pú-blica, que é a prerrogativa de puniros transgressores com as penalida-des previstas em lei: advertência,suspensão, multa, destituição de car-go ou de função em comissão, cas-sação de aposentadoria ou disponi-bilidade e demissão (arts. 127, I aVI, e 130, § 2º, Lei 8.112/90), ob-servado o devido processo legal, com

a instauração de sindicânciapunitiva (para aplica-

ção de penali-

dades de advertência ou até 30 diasde suspensão: art. 145, II, Lei 8.112/90) ou de processo administrativodisciplinar (para aplicação de penasde suspensão de mais de 30 dias edemais sanções não comportadas nasede do procedimento sindicante: art.146, L. 8.112/90).

Merecem comentário algumas re-centes tendênciasjurisprudenciais sobreas garantias dos ser-vidores públicosacusados nasindicância ou noprocesso adminis-trativo disciplinar.

Prescrição da pretensãopunitiva antes da abertura

do procedimento sindicante oudo processo administrativo

disciplinar.

A primeira questão a ser observa-da é se houve a instauração do pro-cesso administrativo disciplinar ou

da sindicância apenadora, na datade publicação da portaria ou de-

creto pertinente, não se verifi-cou após já estar prescrito odireito de o Estado punir a in-fração administrativa. Seadrede decorridos mais decinco anos do conhecimentoda irregularidade pelo órgão

administrativo competen-te, descabe a abertura

de feitosancionador,

por força do

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óbice prescricional. Se o fato apu-rado se enquadra em falta estrita-mente disciplinar, passível de penasde suspensão ou advertência, o lap-so temporal entre o conhecimento dofato pela Administração Pública e ainstauração do feito punitivo reduz-se e não poderá ser superior a 2 anose 180 dias, respectivamente (art.145, II e III e § 1º, L. 8.112/90). Umavez decorrido o intervalo temporalmáximo, estará prescrita a preten-são punitiva e findo o direito estatalde a transgressão funcional renderapuração e punição contra o servi-dor público.

Destaque-se que a mera aberturade sindicância puramenteinvestigativa, em cujo fim não seaplica punição ao servidor investi-gado, não interrompe o fluxo doprazo prescricional, efeito somentealcançado em caso de sindicância-processo, de natureza apenadora,na esteira da jurisprudência do col.Superior Tribunal de Justiça.

Impedimento e suspeição dosmembros do colegiado

sindicante ou processante.

Por força do princípio daimpessoalidade da AdministraçãoPública e do pressuposto de isençãoe imparcialidade dos colegiadosprocessantes, estão impedidos deatuar como seus membros os servi-dores que: a) tiverem interesse noassunto que deflagrou o feitoapenador; b) estiverem litigando ju-dicial ou administrativamente com oprocessado; c) tiverem sido os auto-res da denúncia da irregularidade(representantes), ou tiverem elabo-rado perícia na fase de sindicânciaou processual sobre a matéria dosautos, além de terem sido ouvidoscomo testemunhas no feito sindicanteou no processo disciplinar realizadopor anterior comissão; d) forem pa-rentes consangüíneos ou afins, em

linha reta ou colateral, até o terceirograu, cônjuge ou companheiro doservidor acusado (art. 149, § 2º, L.8.112/90, c.c. arts. 18 a 20 e 69, daLei Federal 9.784/99).

Os servidores que, em sindicânciainvestigativa prévia, concluírampelo cometimento de infração dis-ciplinar pelo servidor investigadonão podem ser novamente designa-dos para atuar no processo admi-nistrativo disciplinar, porquanto jáformaram convencimento pela cul-pabilidade do acusado, de forma quenão mais atendem os pressupostosde isenção e imparcialidade (art. 150,caput, Lei 8.112/90), entendimentojurisprudencial dos Tribunais Regi-onais Federais da 1ª Região (AG2005.01.00.064319-5/DF, 2ª Turma,julgamento em 17/5/2006) e da 4ªRegião (REO 12072, Processo:200004010650490/PR, 4ª Turma,decisão de 17/10/2000).

De igual modo, os integrantes doconselho processante que elabora-ram, previamente, indiciação e re-latório pela punição do processadonão podem ser renomeados paracoleta de provas adicionais, no casode a autoridade julgadora conver-ter o julgamento em diligência, coma necessária designação de novo trioinstrutor, haja vista que a tendênciaseria de antecipada manutenção daopinião já declinada conclusivamen-te acerca da responsabilidade doindiciado pelos componentes docolegiado anteriormente indicado, osquais, ao subscreverem essas peçasacusatórias, formaram peremptori-amente seu convencimento sobre aculpabilidade do servidor, e, com arebertura da fase de instrução, teri-am que apreciar o novo quadroprobatório colhido diante daqueleoutrora já reunido nos autos, comvistas a elaborar, de espírito desem-baraçado, nova peça indiciatória erelatório, o que não pode sucedercom quem teria de desmentir cente-

nas ou dezenas de laudas que escre-veu pela condenação do servidor.

Garantias do acusado quedevem ser respeitadas pela

comissão de processoadministrativo disciplinar na

instalação e instruçãoprocessual

Além do direito de propor a colhei-ta de prova testemunhal, o proces-sado deve ser notificado, com pelomenos três dias úteis de antecedên-cia (art. 26, § 2º, Lei Federal 9.784/99), para comparecer às audiênci-as de inquirição de testemunhas,porquanto o colegiado oficial deveproporcionar certo tempo para pre-paração da defesa no ato processu-al, e não prejudicar a atividadedefensória mediante manobras desúbita intimação para a prática deatos processuais. Faculta-se ao acu-sado ou a seu defensor contraditaros depoentes suspeitos e apontar-lhesa falta de isenção para prestar depo-imento como testemunhascompromissadas, lançando, em ata,as razões pertinentes. É prerrogati-va da defesa reinquirir as testemu-nhas após as perguntas da comissão.O indeferimento desmotivado dequestões, quando acarretar prejuízopara o acusado, poderá implicar anulidade relativa do ato processuale da eventual sanção imposta ao fimdo processo disciplinar, se embasadano meio probatório viciado.

O acusado pode formular protes-tos, exigir a transcrição em ata dequestões indeferidas pelo presidentedo colegiado disciplinar e deve fis-calizar a reprodução das respostasdas testemunhas por este na ata deaudiência, porquanto os registrosdevem corresponder à fidedignaexpressão do depoimento, na formacapitulada no Código de ProcessoPenal (art. 215), subsidiariamenteaplicável ao processo administrati-

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vo disciplinar .

O reconhecimento pessoal do acu-sado não pode ser realizado, comose pode verificar na praxe de algunsórgãos administrativos, na audiên-cia de testemunhas (perguntando-seao depoente se reconhece o servidorporventura presente durante a inqui-rição como o autor da infração ad-ministrativa apurada), mas seguir osprocedimentos subsidiariamenteaplicáveis do Código de ProcessoPenal, com a colocação de pessoasassemelhadas para visualização doparticular ou vítima que realizará oreconhecimento, cabendo reclama-ção oral ou por escrito, medianteconsignação na ata de audiência.

Privilégio contra aauto-incriminação

Também é prerrogativa constituci-onal do funcionário (privilégio con-tra a auto-incriminação), quando dointerrogatório (que deve ser realiza-do somente no fim da coleta das de-mais provas), deixar de responder aperguntas incriminadoras ou quepossam acarretar-lhe prejuízo pró-

prio ou à sua família, além de que odireito positivo assegura que o silên-cio do acusado não poderá ser inter-pretado em seu desfavor, nem carac-terizar confissão (art. 186, caput eparágrafo único, Código de Proces-so Penal, com a redação dada pelaLei nº 10.792/2003).

Se o acusado tiver sido ouvido nafase de sindicância ou no início doprocesso administrativo disciplinar,é seu direito ser interrogado nova-mente ao fim da instrução, sob penade cerceamento de defesa, segundotendência jurisprudencial do Supe-rior Tribunal de Justiça (1). A au-sência de interrogatório é inaceitá-vel acinte ao devido processo legale à garantia de ampla defesa e con-traditório, implicante da nulidadeprocessual.

O interrogatório é ato processualem que o acusado pode, conhecendoo inteiro teor das provas colhidaspelo colegiado oficial, apresentarsuas justificativas e razõesdefensórias orais pessoalmente aocolegiado instrutor, sendo, outros-sim, o momento em que a comissãodeve expor seus pontos-de-vista so-

bre os fatos apurados e externareventuais conclusões censuradorasdecorrentes do acervo probatórioreunido, dando a conhecer ao servi-dor no que fundamenta o juízoacusatório, a fim de que possa ha-ver a resposta e esclarecimento pelofuncionário. Não se pode admitir adeslealdade do conselho disciplinarde calar logo no ordinariamente úl-timo ato de instrução (salvo se defe-rido pleito fundado no art. 161, § 3°,da Lei 8.112/90 ou se convertido ojulgamento em diligência para cole-ta de provas complementares, porordem da autoridade julgadora), queprecederá a lavra de peça acusatóriade indiciação ou absolutória sumá-ria (se o trio processante deixar delavrar ato indiciatório, por conside-rar o acusado inocente ou não serpossível o exercício do direito depunir por outro motivo).

Se houver a conversão do julga-mento em diligência, em face de aautoridade julgadora considerar im-portante a coleta de novos meios deprova capazes de permitir uma de-cisão mais segura, o colegiadoprocessante nomeado para esse fimdeve lavrar nova ato de indiciação,abrir prazo para razões escritas eelaborar novo relatório conclusivo,confrontando o teor das peças ante-riormente redigidas com os novoselementos instrutórios colacionados,aditando, confirmando ou modifi-cando, no que couber, os dois atosda trinca oficial, à luz do conteúdodos novos dados de instrução colhi-dos.

Nomeação dedefensor “ad hoc” para atos

de instrução

O acusado que deixar de compa-recer a atos instrutórios, dos quaistambém não participou seu advo-gado constituído, possui a prerro-gativa de ter defensor “ad hoc”

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nomeado para o ato processual, sobpena de cerceamento de defesa, se-gundo a orientação da jurisprudên-cia do Superior Tribunal de Justiça(4) e do Tribunal Regional Federal da1ª Região (5).

Relatório

No relatório, não podem ser arti-culadas acusações de fatos novosno relatório, não externadas naindiciação, sob pena de cerceamen-to de defesa (Tribunal Regional Fe-deral da 4ª Região, REOMS n°97.04.62230-9/SC,DJ de 2.8.2000), senão houver oportu-nidade de pronunci-amento do acusadoou seu defensor so-bre as novasincrepações, antesdo julgamento.

De outra banda, sehouver oreenquadramentojurídico das acusa-ções, tem desponta-do tendênciajurisprudencial nosentido de que oindiciado tem, ou-trossim, o direito dese pronunciar pre-viamente ao julgamento acerca damudança de teses acusatórias, sobpena de agressão à garantia cons-titucional do contraditório. Consa-grou o col. Superior Tribunal de Jus-tiça que a autoridade administrativanão pode “alterar a indiciação doservidor pela comissão processante,durante a fase de julgamento”, poisa mudança de acusação implica pre-juízo para a defesa.” (8) Confirma oTribunal Regional Federal da 3ª Re-gião (destaque não original): “A mu-dança do enquadramento legal dainfração de que o servidor é acusa-do, na fase de julgamento do pro-

cesso disciplinar, sem que lhe tenhasido dada nova oportunidade dedefesa, implica violação aos prin-cípios constitucionais do contradi-tório e da ampla defesa. Aplicaçãoanalógica do artigo 384 do Códi-go de Processo Penal.” (9) Igual é adoutrina de Romeu Felipe BacellarFilho.” (10)

O Tribunal Regional Federal da4ª Região decidiu que, na hipótesede mudança da acusação inicial (nocaso concreto embasado na práticade abandono de cargo e

inassiduidade habitual), a puniçãopor fato diverso (improbidade ad-ministrativa) será nula se não rea-berta oportunidade para defesa per-tinente (11). Nesse sentido, o Tribu-nal Regional Federal da 2ª Regiãoestatuiu que “a indiciação de servi-dor, em processo administrativo dis-ciplinar, sem constar da acusaçãoa indicação das normas legaistidas por infringidas, nos fatos atri-buídos ao indiciado, é nula, porviolência ao devido processo le-gal” (12), juízo compartilhado peloTribunal Regional Federal da 4ªRegião. (13)

Julgamento

Referendando a aplicabilidade doprincípio da individualização dapena no processo administrativo dis-ciplinar, o Superior Tribunal de Jus-tiça tem assegurado o direito à con-versão da pena de demissão em sus-pensão se os requisitos do art. 128,da Lei 8.112/90, são favoráveis aoacusado, em particular se existemcircunstâncias atenuantes, ignoradaspela autoridade administrativa.(14) Nomesmo sentido, outros julgados doSTJ (ROMS 10316/SP, o MS 7260/

DF e o ROMS 10269/BA; DJ de 26/04/1999,p. 128, relator o Min.FERNANDO GON-ÇALVES, 6ª Turma).

Se houver a oitiva deórgão jurídico e elabo-ração de parecer pré-vio ao ato decisório, oacusado terá direito dese pronunciar sobreconclusões desfavorá-veis contra elelançadas na peça, alémde constituir cercea-mento de defesa a arti-culação de fatos, tesesacusatórias inovado-ras ou

enquadramentos jurídicos maisgravosos no opinativo, sem a audi-ção do servidor processado antes dojulgamento, segundo orientação docolendo Superior Tribunal de Jus-tiça. Se o julgamento se embasar emacusações e teses acusatórias nãoconstantes da indiciação, dar-se-áirreparável violência ao princípiodo contraditório e da ampla defe-sa, que implica a anulação do atodecisório, consoante o juízo doexcelso Supremo Tribunal Federal(RMS n° 24.699-DF, julgamento em30.11.2004) e do eg. Tribunal Regi-onal Federal da 1ª Região (AC

Se o fato apurado seSe o fato apurado seSe o fato apurado seSe o fato apurado seSe o fato apurado seenquadra em faltaenquadra em faltaenquadra em faltaenquadra em faltaenquadra em falta

estritamente disciplinar,estritamente disciplinar,estritamente disciplinar,estritamente disciplinar,estritamente disciplinar,passível de penas depassível de penas depassível de penas depassível de penas depassível de penas de

suspensão ou advertência, osuspensão ou advertência, osuspensão ou advertência, osuspensão ou advertência, osuspensão ou advertência, olapso temporal entre olapso temporal entre olapso temporal entre olapso temporal entre olapso temporal entre o

conhecimento do fato pelaconhecimento do fato pelaconhecimento do fato pelaconhecimento do fato pelaconhecimento do fato pelaAdministração Pública e aAdministração Pública e aAdministração Pública e aAdministração Pública e aAdministração Pública e a

instauração do feito punitivoinstauração do feito punitivoinstauração do feito punitivoinstauração do feito punitivoinstauração do feito punitivoreduz-se e não poderá serreduz-se e não poderá serreduz-se e não poderá serreduz-se e não poderá serreduz-se e não poderá ser

superior a 2 anos e 180 dias,superior a 2 anos e 180 dias,superior a 2 anos e 180 dias,superior a 2 anos e 180 dias,superior a 2 anos e 180 dias,respectivamenterespectivamenterespectivamenterespectivamenterespectivamente

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94.01.16951-9/DF, relatora aDesembargadora federalASSUSETE MAGALHÃES, 2ªTurma, DJ de 6-11-1995, p. 75776).

Prescrição intercorrente eretroativa no processo adminis-

trativo disciplinar ou nasindicância punitiva

Apesar de a sindicância ou de oprocesso administrativo disciplinarterem sido instaurados em princípiotempestivamente, antes do decursodo prazo prescricional sob a referên-cia do tempo desde que foi conheci-do o fato pela Administração (art.142, I a III e § 1º, da Lei 8.112/90),com o efeito conseqüente da inter-rupção e recontagem, a partir dozero, dos marcos cronológicos parapunição decorridos até a data de ins-tauração do procedimento sindicanteou do processo disciplinar (art. 142,§ 3º, L. 8.112/90), pode ocorrer aextinção do direito de punir estatalpela excessiva demora da tramitaçãosem julgamento do feito (prescriçãointercorrente).

É que, na esteira da jurisprudênciaconsagrada dos colendos SupremoTribunal Federal e Superior Tribu-nal de Justiça, a contagem do lapsoprescricional, interrompida com arespectiva abertura, torna a corrernovamente após findo o limite tem-poral para conclusão e julgamentoda sindicância e do feito disciplinar(art. 142, § 4º, L. 8.112/90), que é,respectivamente, de 80 (art. 145, par.único, e 167, L. 8.112/90) e 140 dias(art. 152, caput, e 167, L. 8.112/90),e não mais pode haver nova inter-rupção, nem sequer com aredesignação da mesma ou de no-vas comissões processantes paraapurar os mesmos fatos.

Assim sendo, em se cuidando defaltas disciplinares que não são clas-

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sificadas como crimes contra a Ad-ministração Pública (15), mas infra-ções exclusivamente funcionais, umavez decorridos os prazos capitula-dos no art. 142, I a III, da L. 8.112/90, após o decurso de 80 ou 140 diasda instauração, conforme se trate,respectivamente, de sindicância ouprocesso administrativo disciplinar,não mais podem ser impostas penasde demissão, cassação de aposenta-doria e disponibilidade ou destitui-ção de cargo ou funçãocomissionados (cinco anos), suspen-são (2 anos) ou advertência (180dias).

Além disso, a jurisprudência do Su-

perior Tribunal de Justiça consagroua prescrição retroativa à data deabertura do processo disciplinar oudo procedimento sindicante pelosmesmos marcos cronológicos. Assimsendo, por exemplo, se instauradoprocesso administrativo disciplinartrês anos após o conhecimento daprática de irregularidade funcionalque se supunha passível de demis-são, considerou-se, aparentemente,não ter ocorrido a prescrição inicialda pretensão punitiva da Adminis-tração Pública até a data de julga-mento. Mas, se o ato decisório re-solveu pela imposição de pena desuspensão no caso, em vez da pena-

lidade demissória, verifica-se a mo-dalidade prescricional retroativa àdata de instauração do feito, vistoque o prazo de dois anos paraaplicabilidade dessa sanção (art.142, II, L. 8.112/90) já havia expi-rado quando da abertura do proces-so, ocorrida somente depois de trêsanos da ciência da irregularidade.

Essas são algumas questões quedevem ser observadas para a vali-dade jurídica do processo punitivona Administração Pública, dentre ou-tras.

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O trabalho na nova Aduanada Receita Federal em Fozdo Iguaçu, fronteira do Bra-

sil com o Paraguai, alterou a rotinana Ponte da Amizade que liga os doispaíses. Desde o final de outubro, afiscalização na região foi intensifi-cada. Agora todas as pessoas quepassam pelo local com mercadoriassão obrigadas a preencher uma De-claração de Bagagem Acompanha-da (DBA), informando os dados pes-soais, a descrição do produto e ovalor dos bens que serão declarados.Vários veículos também podem serfiscalizados de forma simultânea eforam criadas pistas diferentes paracarros, ônibus e motos. Antes dainauguração do prédio, a fiscaliza-ção era feita de forma aleatória li-mitada a no máximo 5% dos pedes-tres e veículos que passavam pelo lo-cal.

O primeiro grande teste da novaAduana foi realiza-

d o

no feriado prolongado de Finados.Somente no sábado, que antecedeuao feriado, mais de cinco mil DBAforam apresentadas. Durante toda asemana, o movimento foi intenso naregião, que teve o maior fluxo de tu-ristas registrado entre a quinta-feira(02) e sábado(04). De acordo com odelegado da Receita Federal em Foz,José Carlos de Araújo, a nova estru-tura permitiu o atendimento dos tu-ristas, mesmo com o aumento con-siderável no fluxo de pessoas e veí-culos durante o feriado prolongado.A meta da Receita é fiscalizar 100%dos viajantes que vão ao Paraguaifazer compras. Segundo Araújo, aexperiência nos primeiros 10 dias de-monstrou que é possível cumprir ameta prevista, mas admitiu que, di-ante das dúvidas sobre os novos pro-cedimentos, foi preciso ampliar operíodo de testes.

Nos primeiros dias, foram fiscali-zados cerca de mil veículos, mas aintenção é elevar esse número para

mais de 1,2 mil. “Nesses 10

dias, pudemos notar uma evoluçãomuito grande no trabalho. No come-ço não havia fluidez, mas consegui-mos reverter essa situação”, disse.A nova Aduana, instalada ao lado doprédio antigo, passa a funcionar 24horas por dia. A intenção, segundoAraújo, é reforçar a fiscalização naPonte da Amizade em todos os perí-odos.

O novo prédio começou a ser usa-do na segunda-feira, dia 24 de outu-bro. São mais 180 Técnicos e Audi-tores Fiscais, além de funcionáriosterceirizados e Policiais Federais.Somente nos primeiros cinco dias deoperação, a Receita Federal recebeumais de 19 mil Declarações de Ba-gagem Acompanhada. Apesar domovimento intenso, especialmentenos dias do feriado, o delegado daReceita Federal em Foz do Iguaçu,José Carlos Araújo, considera que onovo modelo de repressão ao con-trabando e à pirataria na Ponte daAmizade permitirá um controle maisefetivo no local. Ele também desta-ca a melhoria nas condições de tra-balho dos servidores. “A nova es-

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trutura permite muito mais tranqüi-lidade e segurança, não apenas paraos servidores. Hoje, temos mais con-dição para atender os turistas quevêm fazer compras no Paraguai”,disse. José Carlos acrescenta que atendência é a fiscalização se tornarmais eficiente e rápida, especialmen-te depois que os usuários estiveremmais familiarizados com os novosprocedimentos.

A principal alteração está naobrigatoriedade de apresentação daDBA por todos que passarem pelolocal com mercadorias. Cada con-sumidor pode ir ao Paraguai e com-prar até US$ 300. Sobre o valor ex-cedente será cobrado o Imposto deImportação de 50%. Cada usuáriotambém só pode usar esse limite umavez por mês. Caso use mais de umaDBA por mês, também é cobrado oimposto sobre o total da guia, ouseja, independentemente do valor, asegunda compra será tributada, poisa cota de isenção não pode ser par-celada.

Com essas medidas, a Receita pre-tende eliminar a figura do “laranja”,utilizado para transportar as enco-mendas do Paraguai. A Receita Fe-deral já tem mais de 200 mil regis-tros, que permitiram identificar cer-ca de 6 mil “laranjas”, de um totalestimado de 12 mil a 13 mil que atu-am na fronteira. “Conseguimos re-

duzir o fluxo de laranjas na ponte.Agora temos de seguir com outrasações de repressão, em pontos dis-tintos. Esse é um trabalho contínuoe que terá seqüência”, disse.

O delegado Sindical do Sindireceitaem Foz do Iguaçu, Sérgio de PaulaSantos, avalia que a nova estruturatrouxe mais tranqüilidade e seguran-ça para servidores e usuários da pon-te. Mas, Sérgio de Paula não acredi-ta que seja possível fiscalizar 100%dos turistas que passem pelo local,ainda assim ele vê melhora no novoprocedimento. Em sua avaliação, umdos pontos positivos da nova estru-tura é que, ao facilitar o processo dedeclaração, por meio da DBA, a Re-ceita estimula que o turista faça aopção pela via legal, ao mesmo tem-po que desestimula aqueles que atu-am na ilegalidade. Mas, ele defendeque o combate ao contrabando nãofique restrito aos “pequenos”. “Épreciso combater os grandes contra-bandistas, que sempre encontramopções. O contrabando está relacio-nado à questão do câmbio. Se há es-tímulo para importação e exporta-ção legal, o mesmo estímulo econô-mico também gerar aumento do con-trabando”, disse.

O deputado Federal Vitorassi (PT/PR) não acredita que possa ser pos-sível fiscalizar 100% das pessoas

que passam pela Ponte Internacio-nal da Amizade. O deputado, que hávários anos acompanha a situaçãoem Foz, diz que a nova Aduana tra-rá melhores condições, mas consi-dera impossível vistoriar todos quepassam pelo local.

Vitorassi avalia que mesmo que aReceita Federal consiga impedir ocontrabando através da ponte, oscriminosos sempre buscam outrasalternativas. “Temos recebido infor-mações de que os contrabandistasestão usando outras rotas para trans-porte de seus produtos. Essa novasituação vai exigir mais mobilidadedos órgãos de repressão”, disse.Vitorassi reconhece o esforço daReceita, mas adverte que o fim docontrabando exige mais do que açõesrepressivas. “Temos que pensar umplano de desenvolvimento conjunto.Não basta apenas pensar na repres-são do lado de Foz. Se não houverum projeto que envolva as cidadesda fronteira do lado do Paraguai eArgentina continuaremos sem obterresultados efetivos”, disse. Vitorassilembra ainda que parte das pessoasenvolvidas com o contrabando, fo-ram empurradas para essa situaçãojustamente por não encontrar alter-nativas na economia formal. “OSindireceita já mostrou isso, quan-do realizou o seminário em Foz, mastemos que pensar em um projeto de

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desenvolvimento regional, que incluavários setores da economia. Semmedidas mais estruturantes, em bre-ve, teremos que repensar novamen-te toda essa estrutura”, disse.

Estrutura

A Nova Aduana tem sete pistas derolamento, quatro para automóveis,uma para ônibus, uma para motos euma para pedestres. O primeiro con-trole em cada pista é de imigração,realizado pela Polícia Federal. Nolocal também foi instalada umaagência do Banco do Brasil, para re-colhimento de impostos, unidades daVigilância Sanitária, do Ministérioda Agricultura, e da Secretaria deTurismo para melhorar o atendimen-to ao turista.

As obras de construção da novaAduana começaram em outubro de2005. A nova unidade tem 8,4 milmetros quadrados de áreaconstruída. Na construção, foramgastos R$ 7,5 milhões, valor que nãoincluiu os equipamentos instaladosno local, como o circuito de câmeras,que permite controlar o fluxo de pes-soas por meio de uma central. O de-legado da RF explica que, dessa for-ma, é possível acompanhar o movi-mento de pessoas e veículos suspei-tos ainda em território paraguaio. Omecanismo também permite

direcionar servidores para pista decontrole caso haja um aumento nofluxo de pessoas.

Apreensões

Em nove meses, a Receita Federalapreendeu, em Foz do Iguaçu, R$131 milhões em mercadoriascontrabandeadas e piratas. O volu-me é 31% superior ao registrado nomesmo período de 2005, quando asapreensões alcançaram R$ 137,1milhões. Só em setembro, esse volu-me chegou a R$ 15,9 milhões.

Foz do Iguaçu é considerada a prin-cipal porta de entrada de produtoscontrabandeados do Paraguai. AReceita intensificou a fiscalização naregião e tem atuado de forma inte-grada com as polícias para o com-bate à pirataria e ao contrabando. Asações resultaram na redução no vo-lume de produtos irregulares vendi-dos pelo comércio informal dos gran-des centros.

Em setembro, na região, foramapreendidos 291 veículos, entre au-tomóveis, caminhões, ônibus, cami-nhonetes e carretas. De janeiro a se-tembro, esse número atingem 2.470veículos. Entre as mercadorias apre-endidas, estavam aparelhos eletrôni-cos e equipamentos de informática.Os eletrônicos tiveram volume 42%

maior que em setembro de 2005 e ainformática, 29%. Depois aparecemos cigarros, cujas apreensões caíram46%. As de brinquedos também so-freram redução, de 60%. As apreen-sões de CDs e DVDs em setembrosomaram R$ 156 mil, apresentandocrescimento significativo de 334%em relação a igual mês do ano pas-sado. As de bebidas tiveram aumen-to de 207%, totalizando R$ 166 mil.

Com a intensificação na fiscaliza-ção, os contrabandistas adotaramnovos métodos, usando comboiosque chegaram a ter 400 ônibus, natentativa de sair das zonas de fisca-lização. Hoje, esses comboios já nãoexistem mais e, sem seu principalmeio de transportes, os contraban-distas passaram a usar caminhões eveículos particulares para carregaras mercadorias ilícitas. Em 2005,foram apreendidos 641 ônibus e 612automóveis; e, no primeiro semestrede 2006, 952 automóveis e 264 ôni-bus foram apreendidos.

A nova estrutura de fiscalizaçãodeverá intimidar os contrabandistas,que não conseguirão atravessar afronteira transportando mercadoriasparaguaias. Com a informatizaçãoda Nova Aduana, serão realizadoscadastros e conferência de todas pes-soas e veículos que transitarem nolocal.

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O Código Tributário Nacional(CTN) completa 40 anos. Editadosob a égide de um regime de exce-ção, traz, em vários de seus disposi-tivos, marcantes traços daquele pe-ríodo. Embora elaborado por espe-cialistas consagrados – fato que pro-porcionou uma elevada qualidadetécnico-legislativa, para os fins a quese propunha o texto – seu conteúdo,frente à exigência de um Estadomoderno, eficiente, justo e democrá-tico, tornou-se de tal forma ultrapas-sado, que a beleza da forma não con-trabalança o peso de suaobsolescência.

Mas, há de se ter cautela. O riscode se precipitar na substituição deuma lei que está em vigor há relati-vamente bastante tempo é o de trocá-la por algo pior. Quando o ranço ide-ológico rouba a cena e toma o lugardo espírito público e da precisão téc-nica, há grandes chances de que oque poderia ser um grande avançotornar-se um triste retrocesso. Ospoderes constituídos ainda não pro-duziram um texto que pudesse subs-tituir à altura o atual CTN, de talmodo a atender as exigências dostempos atuais – possibilitando umnível de arrecadação razoável, logonão excessivo, para custear os ser-viços públicos, além de alargamen-to da base contribuinte, eliminaçãodos problemas que levam àinformalidade e promoção da cons-ciência geral de cooperação entre a

sociedade e o Estado.

Há de se mudar certas idéias, quese tornaram paradigmáticas. O pró-prio conceito de tributo consagradono CTN tem-no como uma presta-ção compulsória, pura e simplesmen-te, sem dispor sobre sua destinaçãoou sobre qualquer contraprestaçãodo Estado para com o cidadão. Ain-da mais principesca é a regra de quequalquer situação, desde que defini-da em lei, e atendidos certos requisi-tos, pode gerar a obrigação de pa-gar imposto, mesmo quando o entefederativo não demonstre sua viabi-lidade ou racionalidade econômicanem ofereça ao contribuinte a justaretribuição.

A instituição de um tributo deve serorientada por uma motivação bemconhecida do público e a elainexoravelmente atrelada. Devemospensar o país como um grande con-domínio, onde todos têm a obriga-ção fundamental de colaborar como custeio e manutenção dopatrimônio comum e dos serviços deinteresse da coletividade, de acordocom sua capacidade econômica. Poroutro lado, os recursos devem seradministrados e empregados de acor-do com sua razão de estar nos co-fres públicos, de maneira republica-na e por meio de instrumentos de-mocráticos.

Embora o conceito de sujeição tri-butária esteja sedimentado, é preci-

so também sobre ele tecer uma re-flexão filosófica. Atualmente, nanomenclatura legal, o sujeito ativoda relação tributária é o ente públi-co – e o sujeito passivo é o contribu-inte. Ora, sendo (ou devendo ser)uma relação bilateral, é preciso quesejam explicitadas também as obri-gações, na prática, dos entestributantes, que se referem a umajusta contraprestação, na forma debens e serviços públicos, pelo paga-mento dos tributos que exigem emvirtude de lei aprovada por meio deprocessos constitucionais.

Em síntese, o sistema tributário,como um todo, em particular o CTN,deve voltar seu foco não somente aotributo, mas também e, sobretudo,aos direitos do contribuinte e à har-monia e equilíbrio da relação entreeste e os diversos órgãos em que sesubdivide o Estado brasileiro. Nemmesmo com um sentido estritamen-te técnico pode-se admitir tal prece-dência do Estado sobre o cidadão-contribuinte, como hoje vigora, numtempo em que, cada vez mais, a eco-nomia brasileira é afetada pela ma-neira como são aplicados os recur-sos que o fisco retira da sociedade.

*Roberto Carlos dos Santos e Le-andro Tripodi são técnicos da Re-ceita Federal filiados ao Sindireceita– Sindicato Nacional dos Técnicosda Receita Federal.

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