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a Metafisica de Immanuel Kant

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  • Fabiano Conterato1

    Kant

    Biografia

    Immanuel Kant nasceu em Knigsberg na Prssia, Alemanha, no dia 22 de abril de

    1724, filho de artesos de couros. Estudou no Colgio Fredericianum e na universidade de

    Knigsberg. Nesta se tornou professor catedrtico, alm de tornar-se preceptor de filhos das

    famlias ricas. Kant no se casou e nem teve filhos. Nunca saiu de sua cidade natal. Era um

    homem ordenado (metdico), de estatura baixa e muito frgil. Kant falece em 1804 na cidade

    de Knigsberg.

    Consideraes iniciais

    Com este presente trabalho queremos abordar a metafsica de Kant, tendo como base

    principal o livro Critica da Razo Pura (1781). Os principais fundamentos desta obra so: a

    revoluo copernicana, a pretenso de fundamentar a metafsica como cincia, o porqu ela

    no cincia e os elementos do conhecimento.

    Pensamento

    Kant, a partir de seus pensamentos, passa a investigar e a estudar todo o universo

    espiritual do ser humano, na tentativa de encontrar os fundamentos ltimos, necessrios e

    universais que caracterizam o ser humano enquanto tal. Esta pesquisa feita a partir do ser ir

    se tornar posteriormente fonte questionveis do conhecimento dado em relao ao ser

    humano, sobretudo a metafsica, dos sculos XIX e XX.

    Segundo Kant, o universo imaterial, ou melhor, espiritual, considerado em seus

    estudos, composto por diversos dados que so contraditrios entre si. Estes elementos

    podem ser desdobrados, classificados em dois: o conhecimento e a ao humana.

    No primeiro elemento (o conhecimento) so encontradas as possibilidades de

    conhecer, a priori ou a posteriori, seus limites, que raciocinamos a partir do real, e suas

    aplicaes. Anteriormente a Kant, com Descartes e Leibniz, a cincia evidenciava duas

    grandes aplicaes, ou melhor, duas grandes temticas, que eram consideradas uma espcie de

    dogma, ou seja, eram indiscutveis em questo de veracidade (verdade), sendo estes: a

    matemtica e a fsica.1 Acadmico do V nvel de filosofia do Instituto Superior de Filosofia Berthier.

  • Primeiramente, a matemtica, de modo especial, passa a ter o seu desenvolvimento a

    partir do renascimento, no qual Descartes, em seus estudos matemticos, descobre a

    geometria analtica, que tem por base estudar os problemas das formas dos objetos com a

    ajuda da matemtica, no caso de Descartes, estabelecer um ponto em que dois objetos se

    cruzam, sendo que o clculo infinitesimal (que se refere s quantidades infinitamente

    pequenas) foi criado por Newton e Leibniz. Sendo assim, a matemtica tomada como um

    modelo que conduz ao conhecimento cientfico necessrio e universal.

    Ao mesmo lado da matemtica, surgiam grandes pensadores metafsicos ocidentais,

    os quais constituram a metafsica como sendo um grande sistema, ou um cdigo, ou seja, de

    que o prprio conceito metafsico de difcil compreenso, sendo assim, o maior expoente

    destes metafsicos, o prprio Kant, que pretendia dar respostas s indagaes ltimas a cerca

    do ser humano e das realidades das coisas (O que posso saber? O que devo fazer? O que

    posso esperar? O que o homem?), A metafsica sempre foi uma rea filosfica que gerou

    conflitos, sendo que grande parte dos pensadores, filsofos, sempre a questionava a cerca de

    sua veracidade, no qual se pretendiam derrubar os dogmas de que existiam verdades eternas.

    No segundo elemento, a ao humana, se encontra a tica kantiana, onde h uma

    questo sistematizadora de todo o universo das idias, ou seja, o problema da moralidade.

    Aqui, trata-se de saber no se e o que o homem conhece ou pensa a respeito do mundo, mas

    do que deve fazer para alcanar a felicidade, o bem supremo, se que ele mesmo existe.

    O conhecer:

    Na critica da razo pura (que foi publicada pela primeira vez em 1781), Kant passa a

    distinguir duas formas de como podemos conhecer: o primeiro o emprico, ou a posteriori, e

    o segundo o puro, ou o a priori.

    O conhecimento emprico todo o conhecimento fornecido pelas experincias, ex.: A

    porta est aberta (os pensadores, p.7), o telefone toca, ou seja, todo o conhecimento no pode

    ser e estar desvinculado da realidade ou daquilo que percebemos atravs dos sentidos. Neste

    caso o objeto o que passa a determinar e a regular o conhecimento que o ser humano passa

    a ter dos fenmenos que acontecem a sua volta, mesmo estando em estados de movimento ou

    em inrcia.

    Por outro lado, o conhecimento puro no depende dos sentidos, sendo este universal

    e necessrio, ex.: A linha reta entre dois pontos a distncia mais curta (os pensadores, p.

    7), universal, pois, no diz qual linha reta, e necessria, pois, no afirma em que

    necessidade ela a mais curta.

  • neste momento que Kant inicia a sua revoluo copernicana na filosofia, pois, o

    filsofo pretendia demonstrar que o conhecimento puro no mais regulado pelo objeto, mas

    sim que o objeto regulado pelo conhecimento. Neste caso, Kant afirma que, Das coisas

    conhecemos a priori s o que ns mesmos colocamos nelas (Kant, 1980, p. 13), ou seja, o conhecimento a priori a nossa imaginao, que possibilita idias de como seriam certos

    objeto.

    Ao lado do conhecimento a priori e a posteriori, faz-se necessrio distinguir o

    conhecimento, ou melhor, juzo analtico e o sinttico. No primeiro, o analtico, o predicado

    est contido no sujeito. Neste caso, basta apenas analisar e extrair o sujeito. Assim sendo, no

    possvel pensar em corporeidade sem pensar em sua extenso, ex.: Os corpos so extensos

    (os pensadores, p.7). J o juzo sinttico une o sujeito ao predicado formando, assim, um

    nico conceito, ex.: Todos os corpos se movimentam (os pensadores, p. 8).

    Conseqentemente no h como negar que os corpos no possuam uma extenso,

    pois todos tem uma largura ou comprimento, porm, nem todos os corpos podem ser capazes

    do movimento, j que so constitudos de materiais diferentes, como o caso de uma pedra, a

    qual no se movimenta.

    Pode-se ainda classificar os juzos em trs: analtico, sinttico a posteriori e sinttico

    a priori. Os analticos no tm muito a acrescentar ou enriquecer o conhecimento, pois estes

    so apenas repeties. Os sintticos a posteriori tambm carecem de importncia, sendo que

    as experincias se esgotam em si mesmas. O verdadeiro ncleo da cincia do conhecimento

    est situado nos juzos sintticos a priori, que enriquecem e fazem progredir o prprio

    conhecimento.

    Assim sendo, o juzo se constitui como sendo o ato que centraliza o conhecimento

    humano, considerando todas as demais formas de pensamento necessrias para poder

    conhecer um objeto. Neste caso, os juzos se caracterizam por constituir uma sntese do

    pensamento humano no qual possuem a capacidade de conhecer antes as coisas, ou melhor,

    conhecer atravs do pensamento um determinado objeto antes que ele exista, ou seja, criado

    pelo prprio ser humano.

    Assim sendo, a metafsica tende a buscar a mesma classificao que a matemtica e a

    fsica, ou seja, a verdade indiscutvel. Neste caso, para Kant, surgiram trs grandes questes:

    Como so provveis os juzos sintticos a priori na matemtica? Como so provveis os

    juzos sintticos a priori na fsica? como so provveis os juzos sintticos a priori na

    metafsica? (Kant, os pensadores, cap. 35, p. 489).

  • Neste caso, a filosofia deveria se preocupar na investigao de certos princpios que

    seriam os responsveis por sintetizar os dados da experincia, sendo que estes dados seriam

    encontrados na sensibilidade e no entendimento.

    Na critica da razo pura h uma investigao acerca destes princpios, (que recebe o

    nome de esttica transcendental), na qual Kant entende como transcendental o conhecimento

    que se ocupa com os modos de conhecer os objetos, na medida em que seja possvel conhec-

    los a priori. tambm aqui onde se encontram os princpios da matemtica. Em outra parte da

    critica da razo pura, a analtica transcendental, analisa os elementos do entendimento e

    desvela a estrutura da fsica. Em outro aspecto na critica da razo pura tratado o uso que a

    razo faz do entendimento no qual se cria a metafsica.

    O entendimento somente capaz de criar a metafsica, pois, baseia-se na natureza

    da alma humana (BRUGGER, 1969, p. 151), neste caso, a natureza da alma no material,

    contudo o ser humano sai em busca de suas respostas, j expostas acima, fora do mundo

    humano, mas, no mundo espiritual, ou tambm como pode ser chamado, no mundo das idias.

    Espao e tempo:

    O espao e tempo para Kant, esto localizados na esttica transcendental, a mesma

    um dos campos do conhecimento abordados por Kant na critica da razo pura. A esttica

    transcendental caracterizada por Kant por ser derivada de sensao, (...) a cincia de

    todos os princpios a priori da sensibilidade (MORA, 1994, p. 230), a mesma pode ser

    caracterizada como sendo a faculdade da intuio, ou da sensibilidade. aqui que o sujeito

    pode conhecer os objetos e apreend-los racionalmente.

    A matria de todo o conhecimento so as impresses recebidas dos objetos que esto

    a nossa volta. Portanto exprimem certa ordem no mundo, ou uma ordem no espao em que o

    objeto se localiza. Neste caso s possvel conhecer as coisas que esto no espao, mas no o

    espao, que invisvel a nosso ver (olhar).

    O tempo s serve para representar e fundamentar a sucesso de fatos que acontece,

    como o desaparecimento ou o surgimento das coisas. Contudo, o tempo nunca desaparece e o

    espao, consequentemente, tambm no.

    O conhecimento jamais ser possvel sem o tempo e o espao, sendo que o

    conhecimento universal nunca se esgotar nestes dois elementos, que esto sempre unidos.

    O conhecimento:

    Na analtica transcendental, Kant caracteriza os diferentes tipos de juzos (da lgica de

    Aristteles), sendo estes agrupados em grupos de trs: quantidade (universal, particular,

  • singular), qualidade (afirmativo, negativo, indefinido), relao (categricos, hipotticos,

    disjuntivos) e modalidades (problemticos, assertricos, apodticos). Estes juzos constituem

    todo o ncleo da analtica transcendental, a qual est baseada na lgica aristotlica presente no

    Organum (livro de Aristteles), no qual se busca um ponto em que se manifeste a verdade. .

    Este conhecimento lgico nasce em funo da necessidade de sintetizar o

    conhecimento a partir do sujeito. Assim sendo, a conscincia fundamental, pois produz e

    unifica o eu transcendental. tambm a conscincia que constitui o objeto de conhecimento.

    A unidade do conhecimento somente possvel se existe uma sntese da conscincia

    mediante os diversos elementos, sendo estes: a sntese de produo imaginria, que possibilita

    novas representaes, e a sntese dos conceitos, que permite conhecer de fato os elementos.

    Estes trs modos de conhecimento so resultantes de um sujeito capaz de

    conhecimento puro, ou seja, que capaz de sintetizar a natureza das formas ou do

    conhecimento objetual.

    A assimilao perfeita do conhecimento torna possvel a realidade enquanto

    realidade para o sujeito, ou seja, a realidade pensada em realidade de fato, caso contrrio a

    representao seria impossvel.

    A apercepo (assimilao perfeita) no tem um carter centrado no eu, mas sim, no

    objeto que representa a possibilidade de subjetividade. Neste caso h um conhecimento a

    priori possvel, pois um modo e demonstrar como constitudo um objeto.

    A crtica da razo pura de Kant uma esquematizao do transcendental, o qual

    uma arte da alma humana, na qual a natureza da mesma no deixar descobrir os segredos.

    Neste entendimento, Kant diz que o sujeito organiza todas as ideias que concebe a partir de

    suas reflexes alm material, sendo uma dessas reflexes o problema da alma humana.

    A imagem que temos de um objeto produto da faculdade emprica da imaginao.

    O esquema produzido na esttica e na analtica transcendental mostra que todo o

    conhecimento constitudo por sntese dos dados ordenados pela intuio sensvel espao-

    temporal (Kant, os pensadores, cap. 35, p. 494). Ou seja, intuio sensvel do espao e do

    tempo.

    As ideias da razo:

    A metafsica tradicional sempre afirma ou nega a imortalidade da alma humana, sendo

    que esta considerada como sendo o universo enquanto totalidade, pois abrange todo o

    pensamento humano, que sempre est em busca da prova do ser supremo. neste sentido que

    se pode afirmar que a metafsica tem a tendncia de ultrapassar os limites humanos na

    tentativa de atingir o absoluto e compreender os fatos no empricos. Na metafsica possvel

  • pensar em tudo, mas, jamais conhecer, j que, se trata de conhecimentos a priori a cerca dos

    objetos, a mente humana trabalha como sendo constituidor ltimo do objetos.

    A metafsica, para Kant, est baseada no cogito cartesiano: eu penso. Neste caso o

    objeto Eu real. Sendo assim, no h como afirmar que a alma uma substncia, ou seja, no

    h nada que possa ser dito e afirmado que a alma seja.

    Na cosmologia racional, parte da metafsica que ocupada pela totalidade do

    universo, Kant afirma que a razo conduzida a afirmativas, ou seja, chega concluso de

    algo ou que algo infinito. Assim, na metafsica se diria que houve um comeo, mas, o que

    havia antes ou o que haver depois?

    Tomando por exemplo o universo, a razo busca algo que responda as perguntas

    postas acima. Neste caso, busca um ser que causa primeira dentro ou fora do mundo em que

    o ser humano se encontra. Para analisar a existncia de Deus, Kant utiliza o sentido

    aristotlico e divide seu estudo em ontologia, cosmologia, fsico-teologia.

    Na ontologia, com base em Santo Anselmo e Descartes, Kant mostra que a existncia

    uma das categorias a priori do entendimento, e s tem valor quando aplicada na idia

    espao-temporal. Na cosmologia, a partir da enumerao dos fenmenos de Toms de

    Aquino, Kant diz que no h como parar o efeito de causalidade. E na fsico-teologia Kant diz

    que apenas um conceito metodolgico para descrever a realidade, que na qual no possvel

    extrair nada sem sair dos limites da experincia.

    Em sntese a metafsica pretende conhecer as coisas em si sendo que esta uma

    pretenso contraditria, pois o ato de conhecer transforma todas as coisas em fenmenos

    Imperativo categrico:

    No imperativo categrico Kant afirma que a razo no apenas constituda de uma

    dimenso terica, que busca conhecer, mas sim, tambm possui uma dimenso prtica que

    determina o objeto perante a ao. assim que, pode-se afirmar que, a razo cria o mundo

    moral, no qual se encontram os fundamentos da metafsica.

    Este mundo moral, ou filosofia moral pura, est despido de tudo o que emprico,

    assim sendo a moral concebida sem os estmulos e impulsos naturais e sensveis. Assim

    sendo, ela somente concebida pela razo que a leva a conhecer a liberdade como

    necessidade para a vida moral Porm somente se conhece a liberdade atravs da moral, ou

    seja, s se conhece a moral em si mesma. neste sentido que pode-se afirmar que, a razo,

    que interior ao ser humano a que rege o universo das aes humanas.

    O objetivo fundamental de Kant , portanto, estabelecer os princpios a priori, ou seja,

    universais e imutveis da moral. Seu foco o agente moral, suas intenes e motivos. O dever

  • consiste na obedincia a uma lei que se impe universalmente a todos os seres racionais. Eis o

    sentido do imperativo categrico: Age de tal forma que sua ao possa ser considerada como

    norma universal. Toda ao exige a antecipao de um fim, o ser humano deve agir como se

    este fim fosse realizvel. Da a acusao de formalismo tico frequentemente lanada

    contra Kant, j que este principio no estabelece o que se deve fazer, mas apenas um critrio

    geral para o agir tico, sendo este precisamente o seu obejetivo.

    Consideraes finais:

    A metafsica no se ocupa somente da anlise dos conceitos que formamos antes de

    conhecermos os objetos de fato, mas sim de como podemos e queremos conhecer estes

    objetos a priori. A metafsica a pretenso de avanar alm do conhecimento humano, alm

    das aparecias, buscando assim, abrir o horizonte do conhecimento humano para as coisas,

    para os fenmenos ocorrentes a nossa volta. Sendo assim, Kant, em sua metafsica, no foi

    capaz de responder grande questo do porque que a metafsica no se constituiu uma grande

    cincia, vindo a falhar em seu propsito.

    REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

  • BRUGGER; Walter. Dicionrio de filosofia. Trad. Antonio Pinto de Carvalho. Ed. 2. So

    Paulo: Herder, 1969.

    KANT, Immanuel. Os Pensadores. Trad: Valrio Rohden e Udo Moosburger. So Paulo,

    Nova Cultural, 1999.

    KANT, Immanuel. Critica da razo pura. Trad: Rodrigues de Mereje. 2 Ed. So Paulo:

    Edigraf, 1958.

    MORA; Jos Ferrater. Dicionrio de filosofia. Trad. Roberto Leal Ferreira e lvaro Cabral.

    So Paulo: Martins Fontes, 1994.