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RESENHA 26 Psicologia e Promoção de Saúde em Cenários Contemporâneos Carina Sanossian A obra Psicologia e promoção de saúde em cenários contemporâneos, organizada por Manuel Morgado Rezende e Maria Geralda Viana Heleno, docentes do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, aborda em seus 12 capítulos, estudos de pesquisadores de renomadas universidades e associações com o intuito de apresentar ao leitor a diversidade teórica, epistemológica, metodológica de estudos e de intervenções em Psicologia da Saúde, além de explanar a importância das mudanças sociais e culturais para a promoção de saúde nos diversos âmbitos de atuação e nas questões psicopatológicas. No primeiro capítulo, Pathos e promoção de saúde, Rezende comenta a passagem da primeira revolução contemporânea em saúde, focada na prevenção de doenças, para a segunda, marcada pela promoção de saúde em decorrência da Carta de Ottawa de 1986. No decorrer do texto, menciona alguns trechos de Grande sertão: veredas de João Guimarães Rosa e do livro Quando fui outro, de Fernando Pessoa, para trazer à tona a questão da subjetividade do sujeito diante dos avanços da ciência. Em Grupalidade e promoção de saúde, o mesmo autor expõe alguns conceitos da teoria psicanalítica de grupos, enfatizando alguns teóricos como Freud e Bion, além de fazer uma explanação da experiência de Pichon-Rivière com grupos operativos para relacionar com a temática da promoção de saúde. No terceiro capítulo, A caminho da saúde: considerações psicopatológicas, Manoel Tosta Berlinck discorre sobre o significado de psicopatologia, faz um a análise etimológica-filosófica do termo Pathos e destaca a relação entre o paciente e o clínico para ressaltar o cuidado deste último no manejo das paixões na conduta terapêutica. No próximo capítulo, Da clínica privada às instituições: uma trajetória do psicólogo em suas relações com a saúde, Ana Maria Jacó-Vilela e Filipe Degani-Carneiro fazem uma reflexão histórica sobre os saberes da Psicologia e sua inter-relação com as práticas de assistência em saúde, com foco nas instituições do Rio de Janeiro. Descrevem os locais onde ocorreram a inserção da prática psicológica nas décadas de 1920-1940, o surgimento de novos espaços nos anos 50, com enfoque à prática clínica e, por fim, apontam “a crise da psicologia” nos anos de

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RESENHA 26

Psicologia e Promoção de Saúde em Cenários ContemporâneosCarina Sanossian

A obra Psicologia e promoção de saúde em cenários contemporâneos, organizada por Manuel Morgado Rezende e Maria Geralda Viana Heleno, docentes do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, aborda em seus 12 capítulos, estudos de pesquisadores de renomadas universidades e associações com o intuito de apresentar ao leitor a diversidade teórica, epistemológica, metodológica de estudos e de intervenções em Psicologia da Saúde, além de explanar a importância das mudanças sociais e culturais para a promoção de saúde nos diversos âmbitos de atuação e nas questões psicopatológicas. No primeiro capítulo, Pathos e promoção de saúde, Rezende comenta a passagem da primeira revolução contemporânea em saúde, focada na prevenção de doenças, para a segunda, marcada pela promoção de saúde em decorrência da Carta de Ottawa de 1986. No decorrer do texto, menciona alguns trechos de Grande sertão: veredas de João Guimarães Rosa e do livro Quando fui outro, de Fernando Pessoa, para trazer à tona a questão da subjetividade do sujeito diante

dos avanços da ciência. Em Grupalidade e promoção de saúde, o mesmo autor expõe alguns conceitos da teoria psicanalítica de grupos, enfatizando alguns teóricos como Freud e Bion, além de fazer uma explanação da experiência de Pichon-Rivière com grupos operativos para relacionar com a temática da promoção de saúde. No terceiro capítulo, A caminho da saúde: considerações psicopatológicas, Manoel Tosta Berlinck discorre sobre o significado de psicopatologia, faz um a análise etimológica-filosófica do termo Pathos e destaca a relação entre o paciente e o clínico para ressaltar o cuidado deste último no manejo das paixões na conduta terapêutica. No próximo capítulo, Da clínica privada às instituições: uma trajetória do psicólogo em suas relações com a saúde, Ana Maria Jacó-Vilela e Filipe Degani-Carneiro fazem uma reflexão histórica sobre os saberes da Psicologia e sua inter-relação com as práticas de assistência em saúde, com foco nas instituições do Rio de Janeiro. Descrevem os locais onde ocorreram a inserção da prática psicológica nas décadas de 1920-1940, o surgimento de novos espaços nos anos 50, com enfoque à prática clínica e, por fim, apontam “a crise da psicologia” nos anos de

1960 e 1970 e suas possíveis consequências nos dias atuais. No quinto capítulo, estudos e programas de promoção de saúde em universidades brasileiras, Denilson Grecchi e Manuel Morgado Rezende, com a finalidade de descobrir as pesquisas e as intervenções realizadas no campo da saúde mental dos universitários, compartilham a análise da produção científica brasileira publicada nos últimos 28 anos, que citam os conceitos de Promoção da Saúde e da Escola Promotora de Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em Trabalho e família: conflitos e desafios, Joana Vieira dos Santos, Marilia Martins Vizzotto e Gabriela Gonçalves refletem sobre os impactos da globalização com seu ritmo nunca antes vivenciado diante do equilíbrio da vida pessoal e profissional. Para abordar essa temática, mencionam o conceito e o modelo de conflito trabalho-família e família-trabalho. Mostram que as políticas organizacionais amigas das famílias podem auxiliar na minimização desses conflitos e sugerem algumas práticas. No sétimo capítulo, Saúde masculina: construindo diálogos com a psicologia da saúde, Alberto Mesaque Martins, Suellen Santos Lima de Almeida, Virgínia Torres Schall e Celina Maria Modena abordam de forma crítica a questão de gênero, principalmente sobre a construção social das masculinidades e suas implicações na esfera da saúde coletiva. Por meio de um breve histórico dos estudos sobre homens e masculinidades, apontam sobre a invisibilidade do público masculino na elaboração de políticas públicas e enfatizam a importância da transformação dos serviços já existentes para que esse público se reconheça e seja reconhecido nesses espaços, tendo suas necessidades atendidas. No seguinte, Resiliência: uma breve revisão teórica do conceito, Maria do Carmo Fernandes Martins, Silvânia da Silva Onça, Eduarla Resende Emílio e Mirlene Maria Matias Siqueira apresentam a evolução histórica do termo resiliência e fazem uma análise crítica quanto à diversidade de

definições e sobre seus impactos na uniformização dos instrumentos de medida. No nono capítulo, Intervenções para promover a motivação e o bem-estar, Saul Neves de Jesus divide o estudo de investigação-ação do Programa de gerenciamento de estresse e gestão da motivação que realizou com professores, médicos, enfermeiros, estudantes do ensino médio e mulheres grávidas. Ao longo do texto, apresenta uma síntese de cada tópico do curso e no final expõe a análise dos benefícios alcançados. No capítulo seguinte, Parentalidade e doença crônica infantil: autoeficácia e apoio ativo na diabetes, Rute Brites, Maria Odete Nunes e Maria Helena Martins explicam o estudo baseado em uma ampla revisão teórica para identificar se a existência de um filho com diabetes afeta a autoeficácia parental percebida pelos pais e se o apoio ativo na doença se associa a essa percepção. No penúltimo capítulo, A qualidade de vida e pessoas com doenças crônicas, José Luis Pais Ribeiro discute sobre a variedade de definição do termo qualidade de vida e a popularidade do conceito e depois compartilha com o leitor o estudo comparativo entre a qualidade de vida de pessoas com doenças crônicas e de pessoas da comunidade do mesmo gênero e grupo etário. Para sustentar os resultados obtidos, discorre sobre a Teoria de adaptação cognitiva, proposta por Taylor. Por fim, em Justiça restaurativa e psicologia da saúde: algumas considerações sobre a intersecção dos conceitos no contexto da violência, Maria Geralda Viana Heleno e Katiane Holanda Fukamachi explanam o modelo de Justiça Restaurativa proposto por Zehr e a abordagem da psicologia de grupos no manejo dos círculos restaurativos para evidenciar o quanto podem auxiliar na prevenção de possíveis conflitos. A obra alcança seu objetivo e pode ser considerada como um material vasto e rico para estudantes e profissionais da área da saúde e de ciências humanas que desejam ampliar o seu olhar e atuação no cenário contemporâneo. Tem uma boa

www.vetoreditora.com.br

Psicóloga com Pós-graduação em Gestão Estratégica de Pessoas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Membro da equipe comercial da Vetor Editora.

Carina Sanossian

organização nos temas propostos, e uma linguagem técnica, mas de fácil entendimento.