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SER SOCIAL 6 Exclusão social - A desigualdade do século XX EDA SCHWARTZ* VERA MARIA RIBEIRO NOGUEIRA** Introdução Notícias 1 veiculadas em apenas dois dias em um jornal de circulação nacional têm, em comum, o fato de marcarem diferenças, favorecendo distinções e classificações, as quais estruturam o objeto de reflexão do presente texto, que é o fenômeno da exclusão social, ou questão social, como categorizam alguns autores. O que se pretende é resgatar certos ângulos que podem ser considerados quando se reflete sobre tal questão e as expressões contemporâneas que esta assume. * Mestre em Enfermagem pela UFSC, professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria. **Mestre em Serviço Social pela PUC-SP, professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina. 1 "Skinheads, punks e carecas reaparecem nas grandes cidades, assassinando um adestrador de cães porque parecia homossexual e chamando, assim, a atenção para a questão dos "incidentes de ódio!. Muitos outros "inimigos" foram surrados seguindo o mesmo padrão: ataques de muitos contra poucos indefesos, escolhidos aleatoriamente pelo simples fato de serem negros, nordestinos, gays, punks ou judeus "(Folha de S. Paulo, 2000, p. 1); "81% dos jovens presos no Rio tinham sustento e citam como motivo para o crime o desejo de consumir, com 29% até das necessidades materiais básicas atendidas" (Folha de S. Paulo, 2000, p. 1); "Juiz mantém privilégio a paciente que paga no HC.Com a decisão, pacientes que possuem convênios ou que pagam pelos serviços continuarão a usufruir de hotelaria diferenciada e atendimento privilegiado - não estão sujeitos a filas, por exemplo -, ao contrário do que ocorre com pacientes que dependem do SUS"(Folha de S. Paulo, 2000, p.l). 95

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SER SOCIAL 6

Exclusatildeo social - A desigualdade do seacuteculo XX

EDA SCHWARTZ

VERA MARIA RIBEIRO NOGUEIRA

Introduccedilatildeo Notiacutecias1 veiculadas em apenas dois dias em um jornal de circulaccedilatildeo

nacional tecircm em comum o fato de marcarem diferenccedilas favorecendo distinccedilotildees e classificaccedilotildees as quais estruturam o objeto de reflexatildeo do presente texto que eacute o fenocircmeno da exclusatildeo social ou questatildeo social como categorizam alguns autores O que se pretende eacute resgatar certos acircngulos que podem ser considerados quando se reflete sobre tal questatildeo e as expressotildees contemporacircneas que esta assume

Mestre em Enfermagem pela UFSC professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria

Mestre em Serviccedilo Social pela PUC-SP professora do Departamento de Serviccedilo Social da Universidade Federal de Santa Catarina

1Skinheads punks e carecas reaparecem nas grandes cidades assassinando um adestrador de catildees porque parecia homossexual e chamando assim a atenccedilatildeo para a questatildeo dos incidentes de oacutedio Muitos outros inimigos foram surrados seguindo o mesmo padratildeo ataques de muitos contra poucos indefesos escolhidos aleatoriamente pelo simples fato de serem negros nordestinos gays punks ou judeus (Folha de S Paulo 2000 p 1)

81 dos jovens presos no Rio tinham sustento e citam como motivo para o crime o desejo de consumir com 29 ateacute das necessidades materiais baacutesicas atendidas (Folha de S Paulo 2000 p 1)

Juiz manteacutem privileacutegio a paciente que paga no HCCom a decisatildeo pacientes que possuem convecircnios ou que pagam pelos serviccedilos continuaratildeo a usufruir de hotelaria diferenciada e atendimento privilegiado - natildeo estatildeo sujeitos a filas por exemplo - ao contraacuterio do que ocorre com pacientes que dependem do SUS(Folha de S Paulo 2000 pl)

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Enquanto um fenocircmeno social e individual abrangente a exclusatildeo social vem sendo construiacuteda e reconstruiacuteda nas relaccedilotildees cotidianas revestida de matizes ideoloacutegicos que obscurecem aspectos significativos para sua apreensatildeo analiacutetica Pode-se dizer em outros termos que cada um dos domiacutenios do conhecimento que aborda a igualdade e a desigualdade ou seja a exclusatildeo social apresenta uma tendecircncia para segmentar e parcializar a abordagem em focos estritos e de alta densidade explicativa natildeo os articulando entretanto entre si

Buscando relacionar as vaacuterias interfaces da igualdadedesigualdade que conformam a exclusatildeoinclusatildeo social o passo inicial seraacute identificar o significado atribuiacutedo aos direitos sociais e situar os enfoques que vecircm permeando e dando o tom ao debate Com isso se pretende visualizar o seu significado nos diferentes espaccedilos geograacuteficos e distintas temporalidades

Quando se acentua o binocircmio igualdadedesigualdade parte-se do suposto que satildeo termos de uma relaccedilatildeo um natildeo existindo sem o outro independentes tanto do registro em que satildeo abordados isto eacute no plano social cultural econocircmico e poliacutetico como do espaccedilo de sua realizaccedilatildeo ou seja privadopuacuteblico geograacutefico e temporal O que os distingue e os diferencia satildeo os conteuacutedos e significados que lhes satildeo atribuiacutedos o que por sua vez impotildee as formas de sua superaccedilatildeo ou sedimentaccedilatildeo

Assim para se entender o que eacute ser igual e o natildeo ser igual deve-se rever alguns aspectos de sua construccedilatildeo histoacuterica e os processos recentes de globalizaccedilatildeo ou mundializaccedilatildeo com as consequentes derivaccedilotildees para as questotildees da pobreza de raccedilaetnia e de gecircnero2

O binocircmio igualdadedesigualdade se expressa hoje em termos de exclusatildeo social novo e sugestivo nome para a antiga questatildeo social3 que eacute recolocada em novos patamares e enfoques

2 Em relaccedilatildeo agrave igualdade e equidade entre os sexos este foi um dos temas abordados na Conferecircncia Internacional sobre Populaccedilatildeo e Desenvolvimento (1994) que propotildee o alcance da igualdade e a equidade entre homens e mulheres 3A noccedilatildeo de questatildeo social de Robert Castel incorpora os diversos aspectos que lhe dizem respeito fugindo assim de uma abordagem economicista que limita a apreensatildeo do fenocircmeno em sua abrangecircncia Conceitua questatildeo social como uma aporia fundamental sobre a qual uma sociedade experimenta o enigma de sua coesatildeo e tenta conjurar o risco de sua fratura Eacute um desafio que interroga potildee em questatildeo a capacidade de uma sociedade (o que em termos poliacuteticos se chama naccedilatildeo) para existir como um conjunto ligado por relaccedilotildees de interdependecircncia(Castel 1998 p30)

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Para alguns autores4 o termo exclusatildeo eacute impreciso ou seja natildeo existe exclusatildeo existe uma contradiccedilatildeo existem viacutetimas de processos sociais poliacuteticos e econocircmicos excludentes existe o conflito pelo qual a viacutetima de tais processos proclama seu inconformismo seu mal-estar sua revolta sua esperanccedila sua forccedila reivindicativa e sua reivindicaccedilatildeo corrosiva Essas reaccedilotildees natildeo ocorrem fora dos sistemas econocircmicos e de poder Elas constituem tais sistemas fazem parte deles mesmo que negando As reaccedilotildees natildeo ocorrem de fora para dentro mas dentro da realidade que produziu os problemas que as causam (Martins 1997p 14)

Castel et al (1997 p 16) criticam a utilizaccedilatildeo do termo exclusatildeo social argumentando que o uso impreciso desta palavra eacute sintomaacutetico isto eacute oculta e traduz ao mesmo tempo o estado atual da questatildeo social apontando algumas caracteriacutesticas que permitiram o uso controlado da noccedilatildeo em debate A questatildeo social hoje reposta ao que se convencionou chamar nova questatildeo social5 segundo ainda o mesmo autor eacute uma noccedilatildeo analiacutetica mais apropriada para nomear e analisar as sociedades atuais plenas de riscos e fraturas sociais com uma ampliaccedilatildeo desmedida da desigualdade em suas vaacuterias e mutaacuteveis expressotildees

Exclusatildeo social - uma incursatildeo eacutetico-poliacutetica A igualdade enquanto categoria eacutetico-poliacutetica estaacute relacionada

aos direitos fundamentais que constroem a cidadania contemporacircnea significando direitos tanto no que se refere agrave garantia de liberdades civis e poliacuteticas como agrave distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais socialmente produzidos Foi com base nesta possibilidade de igualdade aliada agrave liberdade que se construiacuteram os Estados modernos sendo tais valores reconhecidos como fundamentais nas democracias modernas

4 Entre os autores que discutem a temaacutetica da igualdadedesigualdade nos dias de hoje isto eacute a exclusatildeo social como uma das faces da questatildeo social estatildeo Robert Castel Vera Telles Joseacute de Souza Martins Luis Eduardo Wanderley e Elimar Nascimento

5 Nova questatildeo social - categoria renovada pelos disfuncionamentos da sociedade industrial de massa indicando uma inadaptaccedilatildeo dos antigos meacutetodos de gestatildeo social O disfuncionamento social aliado ao problema do financiamento questionam os princiacutepios organizacionais da solidariedade e da concepccedilatildeo de direitos sociais produzindo um quadro insatisfatoacuterio para pensar a situaccedilatildeo dos excluiacutedos ou desfiliados (ARCOVERDE 1999 p 75)

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Norberto Bobbio (1996) coloca que enquanto liberdade eacute um estado igualdade eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre as pessoas Entatildeo se diz que eacute sempre igualdade em que e igualdade entre quem Sen (1999) confirma que eacute necessaacuterio responder agrave pergunta igualdade de que A equidade seu sentido claacutessico aristoteacutelico supotildee uma diferenccedila ainda que consensual em princiacutepio Refere-se mais agraves partes que cabem a cada um independentemente da igualdade ou natildeo (Nogueira 1999)

Na antiga Greacutecia a ideacuteia de liberdade e a de igualdade caminhavam juntas sendo a primeira a garantia da segunda Aristoacuteteles distinguia uma igualdade numeacuterica - todos serem iguais e identicamente tratados no nuacutemero e volume das coisas recebidas - a distribuiccedilatildeo de partes iguais aos iguais e uma igualdade proporcional - onde a quantidade de um ocircnus ou beneficio eacute funccedilatildeo crescente da caracteriacutestica especificada pela regra da distribuiccedilatildeo (Bobbio 1992 p56) Com o desaparecimento das repuacuteblicas antigas a igualdade foi sendo ampliada e revista com um longo processo de construccedilatildeo feito pela jurisprudecircncia filosofia e cristianismo - a tradiccedilatildeo do pensamento ocidental (Sartori 1994)

No Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Rousseau (1981 p29) eacute taxativo em afirmar que haacute uma igualdade natural entre os homens e uma desigualdade construiacuteda sendo que em sua proposiccedilatildeo de organizaccedilatildeo social uma combinaccedilatildeo bem dosada entre as duas seria favoraacutevel para a manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica e felicidade dos homens Conforme o mesmo autor Rousseau apud Sartori (1994 p 107) eacute exatamente porque a forccedila das circunstacircncias sempre tende a destruir a igualdade que a forccedila da legislaccedilatildeo deve sempre tender a mantecirc-la

Locke em sua Carta acerca da Intoleracircncia (1978 p97) ressalta que

Denomino de bens civis a vida a liberdade a sauacutede fiacutesica e a libertaccedilatildeo da dor e a posse de coisas externas tais como terra dinheiro moacuteveis etc Eacute dever do magistrado civil determinando imparcialmente leis uniformes preservar e assegurar para o povo em geral e para cada suacutedito em particular [sem grifos no original] a posse justa dessas coisas que pertencem a esta vida

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Haveria assim uma igualdade garantida na esfera da sociedade civil para cada cidadatildeo fundamentada em sua existecircncia contratual juriacutedica Eacute interessante observar que a partir da exigecircncia da matildeo-de-obra livre do trabalho assalariado requisito essencial do capitalismo os considerados desiguais passam a ser os mendigos e vagabundos Uma lei de Henrique VIII prevecirc que os vagabundos robustos sejam condenados ao chicote amarrados agrave traseira de uma charrete seratildeo chicoteados ateacute que o sangue jorre de seu corpo Apoacutes o que seratildeo encarcerados (Suret-Canale 1999 p29)

Para Hobbes (1973) os homens deteriam uma igualdade natural competitiva e egoiacutesta que deveria ser dominada por uma ordem superior absoluta - a soberania do Estado responsaacutevel por assegurar a vida e a seguranccedila da sociedade A igualdade entre os homens seria encontrada tanto nos aspectos fiacutesicos como intelectuais e morais conforme o assinalado na seguinte ideacuteia de Hobbes (1973 p48)

A natureza fez os homens tatildeo iguais quanto agraves faculdades do corpo e do espiacuterito que embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo ou de espiacuterito mais vivo do que outro mesmo assim quando se considera tudo isto em conjunto a diferenccedila entre um e outro homem natildeo eacute suficientemente consideraacutevel para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefiacutecio a que outro natildeo possa tambeacutem aspirar tal como ele

Esta igualdade eacute tambeacutem relativa agrave capacidade dos homens de atingir os fins e o bem comum o que pode ser objeto de litiacutegios se os desejos forem os mesmos

Para Hobbes assim como para Aristoacuteteles parece que o sentido de igualdade equivale ao de equidade pois o primeiro eacute expliacutecito quando afirma que as coisas que natildeo podem ser divididas sejam gozadas em comum se assim puder ser e se a quantidade da coisa o permitir sem limite caso contraacuterio proporcionalmente ao nuacutemero daqueles a que a ela tem direito Caso contraacuterio a distribuiccedilatildeo seria desigual e contraacuteria agrave equidade (Hobbes 1973 p 53)

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Fica patente que o criteacuterio usado para a justiccedila eacute o do meacuterito e que a distribuiccedilatildeo equitativa faz parte da natureza O liberalismo claacutessico garantia uma igualdade de proteccedilatildeo agrave liberdade agrave vida e agrave propriedade a todos os indiviacuteduos fundamento do contrato social Persistia a distinccedilatildeo de quem era o indiviacuteduo com liberdades civis garantidas isto eacute os proprietaacuterios excluindo 3

4 se os negros e os iacutendios

Giddens (1996) fala de um modelo gerativo de igualdade que viria a abranger as quatro extensas dimensotildees da modernidade - a reduccedilatildeo da pobreza (absoluta ou relativa) restaurar a degradaccedilatildeo do meio ambiente contestar o poder arbitraacuterio e reduzir o papel da forccedila e da violecircncia na vida social Justifica e sugere que a busca da igualdade deve ultrapassar as tradicionais dicotomias esquerda e direita paiacuteses ricos e pobres e as questotildees de gecircnero que devem ser vistas por outro prisma

Uma das dificuldades para se apreciar a concepccedilatildeo de igualdade eacute a sua dubiedade isto eacute natildeo tem um sentido uacutenico podendo ser aplicada tanto quando se fala em idecircntico como quando se fala em igual o que pode chegar a conotar justiccedila Haacute uma fusatildeo de aspectos naturais com julgamentos de ordem moral o que dificulta resolver o impasse Quando se argumenta partindo de princiacutepios da ordem valorativa a igualdade eacute justa quando se reconhecem as desigualdades naturais Assim para Sartori (1994pll0)

Se a igualdade eacute um princiacutepio moral entatildeo buscamos a igualdade por pensarmos que eacute um objeto justo - natildeo porque os homens sejam idecircnticos mas porque sentimos que devem ser tratados como se fossem (embora na realidade natildeo sejam) Isto eacute atestado historicamente pelo fato de nossos princiacutepios igualitaacuterios mais fundamentais (isto eacute ser igual em liberdade leis iguais igualdades perante alei) natildeo terem derivado da premissa que os homens satildeo idecircnticos [ ] No momento em que separamos o sentido moral do sentido fiacutesico de igualdade percebemos que a verdade eacute exatamente o oposto Afirmamos que eacute justo promover certas igualdades precisamente para compensar o fato de que os homens nascem ou podem nascer diferentes

Contemporaneamente haacute tambeacutem uma cisatildeo entre liberdade e igualdade sendo reconhecido que o liberalismo econocircmico induziu a

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desigualdades no acesso tanto a direitos fundamentais quanto agrave justa distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais proacuteprios da modernidade A ordem societaacuteria atual busca uma seacuterie de igualdades justas que natildeo satildeo coincidentes e natildeo vecircm automaticamente na esteira da liberdade6

No debate sobre a igualdade hoje no plano eacutetico-poliacutetico perpassa o que se denomina igualitarismo complexo que conteacutem um adensamento da ideacuteia de igualdade enriquecendo-a com outros valores e mesmo transigindo em relaccedilatildeo a esta em alguns casos para manter uma justiccedila nos arranjos sociais reordenando assim as desigualdades justas Por outro lado uma restriccedilatildeo ao ideal de igualdade absoluta se justifica a partir da diversidade empiacuterica das pessoas o que forneceria argumentos para a naturalizaccedilatildeo de desigualdades do mundo social Coloca Kersnetzvsky (1999 p6) que o igualitarismo seria condicionado tanto pela presenccedila de outros valores como pela postulaccedilatildeo natural da diversidade humana

Tal posiccedilatildeo teoacuterica contrapotildee-se agraves criacuteticas ao ser humano abstrato disseminada entre a esquerda poacutes-moderna e os teoacutericos mais radicais dos movimentos negro e feminista nos Estados Unidos expressa no elogio indiscriminado da diferenccedila reiterando antigos posicionamentos do seacuteculo passado como o de Edmund Burke e Joseph de Maistre que em plena luta contra a ideacuteia de direitos humanos universais aferravam-se agrave constataccedilatildeo empiacuterica das diferenccedilas (Coelho 1999)

Pierucci (1999) afirma que a luta contra as vaacuterias discriminaccedilotildees ao mesmo tempo que procura afirmar a identidade o valor e a originalidade de um segmento ou grupo legitima que as diferenccedilas sejam enfocadas e as distacircncias alargadas em nome de uma singularidade primaacuteria

Complementando na mesma direccedilatildeo Coelho (1999p3) refere

6 Por exemplo as proposiccedilotildees da social democracia indicam mais ou maior igualdade com uma certa restriccedilatildeo da liberdade desde que natildeo seja incompatiacutevel com o desenvolvimento capitalista Agravetualmente esta tensatildeo vem se fragilizando parece que chegando a um extremo de se olvidar a igualdade Mesmo as propostas da Terceira Via de um modelo gerativo de igualdade acoplando ao de nivelamento (GIDDENS 1996) satildeo deacutebeis em face da situaccedilatildeo de profunda desigualdade distributiva nos e entre os paiacuteses A proposiccedilatildeo de mudanccedila de estilo de vida buscando de outras formas o que Giddens considera bens relevantes - seguranccedila amor proacuteprio e auto-realizaccedilatildeo parece difiacutecil de ser alcanccedilada igualmente por todos

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No fundo o problema dessa e outras ciladas talvez seja redutiacutevel a um mal-entendido linguiacutestico soacute posso defender quem eacute diferente em nome da igualdade mas a defesa do diferente passa a se chamar num modismo poacutes-moderno defesa da Diferenccedila com letras maiuacutesculas e aiacute evidentemente a igualdade fica falando sozinha

Tuacutelio Kahn (2000) recupera o risco simboacutelico que significa os ataques agraves minorias Lembra que os grupos que mantecircm tais praacuteticas satildeo perigosos porque defendem ideacuteias que estatildeo adormecidas na sociedade ainda que abrandadas Isso pode ser evidenciado na seguinte afirmativa de Kahn (2000 p3)

Conheccedilo bons cidadatildeos que natildeo se julgam racistas nem de extrema direita tampouco andam de cabeccedilas raspadas que compartilham em algum grau noccedilotildees do tipo o Sudeste sustenta o resto do paiacutes nossas prisotildees estatildeo cheias de negros e nordestinos os gays satildeo os responsaacuteveis pela epidemia da Aids que xingam os demais de baianos e afirmam que jamais votariam numa nordestina ou num negro para a prefeitura

A igualdade analisada em sua dimensatildeo antropoloacutegica traz a noccedilatildeo da cultura do diferente do exoacutetico do desviante e do anormal A busca do diferente do exoacutetico tem um poder mobilizador que impulsiona ou impulsionou grande parte das descobertas humanas sendo portanto um aspecto positivo no processo civilizatoacuterio Gerd Borhein7 aponta que em passado distante a busca das especiarias das sedas de novos mundos e civilizaccedilotildees - a busca pela novidade enquanto alteraccedilatildeo da mesmice -possibilitou a era das descobertas e o progresso subsequente a busca do outro do diferente do que natildeo eacute igual e que pode contribuir para enriquecer uma civilizaccedilatildeo

Por outro lado a contrapartida do diferente do exoacutetico eacute o que tem de ameaccedilador agraves culturas estabelecidas e que assim deve ser mantido a uma distacircncia segura Os mecanismos para manter tal distacircncia satildeo

7 Conferecircncia pronunciada na 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC em Porto Alegre em 13 de julho de 1999 intitulada Democracia e Alteridade

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diferenciados e estabelecidos pelo corpo social no sentido de manutenccedilatildeo de sua coesatildeo Assim as ameaccedilas devem ser afastadas e o medo eacute transformado em atitudes preconceituosas em esquemas de exclusatildeo do conviacutevio social em privaccedilotildees de todo o tipo Natildeo haacute o sentido da alteridade do respeito ao outro que eacute diferente e que participa de minha existecircncia exatamente como eacute sem ser igual a mim (Jacquard apud Barroco 1999)

Do mesmo modo Riu e Moratoacute(iacute 999p) apontam que

Es la alteridad o causa de distincioacuten entre dos o maacutes cosas o individuos de modo que puede hablarse de lo que es numericamente distinto cuando dos cosas se distinguen solo por ser indiviacuteduos distintos dentro de una misma especie o de lo que es especificamente distinto porque las cosas o indiviacuteduos pertenecen a especies distintas La diferencia permite la distincioacuten y la clasificacioacuten

A diferenccedila portanto tem a possibilidade de classificar o que eacute distinto e de classificar positiva ou negativamente os indiviacuteduos e grupos O atributo que marca a distinccedilatildeo merece um olhar condescendente ou rigoroso em decorrecircncia de sua relaccedilatildeo com o todo social Do mesmo modo a diferenccedila eacute sempre relacional relativa a algo ou a algueacutem Complementando Santos (1995) diz que se deve buscar a igualdade sempre que a diferenccedila inferiorizar as pessoas e manter a diferenccedila quando a igualdade descaracterizar o ser humano enquanto pessoa

Equidade por sua vez impotildee a busca da igualdade por meio do reconhecimento da desigualdade A equidade diz respeito agrave justiccedila agrave imparcialidade em sua acepccedilatildeo original O que eacute justo ou natildeo Em que medida Como aferir a justiccedila Estas questotildees estatildeo no epicentro da discussatildeo sobre a relaccedilatildeo equidade e igualdade

Entre os autores contemporacircneos John Rawls8 eacute que vem tratando de forma sistemaacutetica a relaccedilatildeo entre justiccedila liberdade igualdade e

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8 John Rawls eacute visto como um autor bastante polecircmico sendo que considera sua obra principal Uma Teoria da Justiccedila uma alternativa ao utilitarismo que pensa ser fraacutegil para dar fundamento agraves democracias ocidentais Outros autores como Riu e Morato (1998) apontam que sua proposta reatualiza o utilitarismo

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equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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Enquanto um fenocircmeno social e individual abrangente a exclusatildeo social vem sendo construiacuteda e reconstruiacuteda nas relaccedilotildees cotidianas revestida de matizes ideoloacutegicos que obscurecem aspectos significativos para sua apreensatildeo analiacutetica Pode-se dizer em outros termos que cada um dos domiacutenios do conhecimento que aborda a igualdade e a desigualdade ou seja a exclusatildeo social apresenta uma tendecircncia para segmentar e parcializar a abordagem em focos estritos e de alta densidade explicativa natildeo os articulando entretanto entre si

Buscando relacionar as vaacuterias interfaces da igualdadedesigualdade que conformam a exclusatildeoinclusatildeo social o passo inicial seraacute identificar o significado atribuiacutedo aos direitos sociais e situar os enfoques que vecircm permeando e dando o tom ao debate Com isso se pretende visualizar o seu significado nos diferentes espaccedilos geograacuteficos e distintas temporalidades

Quando se acentua o binocircmio igualdadedesigualdade parte-se do suposto que satildeo termos de uma relaccedilatildeo um natildeo existindo sem o outro independentes tanto do registro em que satildeo abordados isto eacute no plano social cultural econocircmico e poliacutetico como do espaccedilo de sua realizaccedilatildeo ou seja privadopuacuteblico geograacutefico e temporal O que os distingue e os diferencia satildeo os conteuacutedos e significados que lhes satildeo atribuiacutedos o que por sua vez impotildee as formas de sua superaccedilatildeo ou sedimentaccedilatildeo

Assim para se entender o que eacute ser igual e o natildeo ser igual deve-se rever alguns aspectos de sua construccedilatildeo histoacuterica e os processos recentes de globalizaccedilatildeo ou mundializaccedilatildeo com as consequentes derivaccedilotildees para as questotildees da pobreza de raccedilaetnia e de gecircnero2

O binocircmio igualdadedesigualdade se expressa hoje em termos de exclusatildeo social novo e sugestivo nome para a antiga questatildeo social3 que eacute recolocada em novos patamares e enfoques

2 Em relaccedilatildeo agrave igualdade e equidade entre os sexos este foi um dos temas abordados na Conferecircncia Internacional sobre Populaccedilatildeo e Desenvolvimento (1994) que propotildee o alcance da igualdade e a equidade entre homens e mulheres 3A noccedilatildeo de questatildeo social de Robert Castel incorpora os diversos aspectos que lhe dizem respeito fugindo assim de uma abordagem economicista que limita a apreensatildeo do fenocircmeno em sua abrangecircncia Conceitua questatildeo social como uma aporia fundamental sobre a qual uma sociedade experimenta o enigma de sua coesatildeo e tenta conjurar o risco de sua fratura Eacute um desafio que interroga potildee em questatildeo a capacidade de uma sociedade (o que em termos poliacuteticos se chama naccedilatildeo) para existir como um conjunto ligado por relaccedilotildees de interdependecircncia(Castel 1998 p30)

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Para alguns autores4 o termo exclusatildeo eacute impreciso ou seja natildeo existe exclusatildeo existe uma contradiccedilatildeo existem viacutetimas de processos sociais poliacuteticos e econocircmicos excludentes existe o conflito pelo qual a viacutetima de tais processos proclama seu inconformismo seu mal-estar sua revolta sua esperanccedila sua forccedila reivindicativa e sua reivindicaccedilatildeo corrosiva Essas reaccedilotildees natildeo ocorrem fora dos sistemas econocircmicos e de poder Elas constituem tais sistemas fazem parte deles mesmo que negando As reaccedilotildees natildeo ocorrem de fora para dentro mas dentro da realidade que produziu os problemas que as causam (Martins 1997p 14)

Castel et al (1997 p 16) criticam a utilizaccedilatildeo do termo exclusatildeo social argumentando que o uso impreciso desta palavra eacute sintomaacutetico isto eacute oculta e traduz ao mesmo tempo o estado atual da questatildeo social apontando algumas caracteriacutesticas que permitiram o uso controlado da noccedilatildeo em debate A questatildeo social hoje reposta ao que se convencionou chamar nova questatildeo social5 segundo ainda o mesmo autor eacute uma noccedilatildeo analiacutetica mais apropriada para nomear e analisar as sociedades atuais plenas de riscos e fraturas sociais com uma ampliaccedilatildeo desmedida da desigualdade em suas vaacuterias e mutaacuteveis expressotildees

Exclusatildeo social - uma incursatildeo eacutetico-poliacutetica A igualdade enquanto categoria eacutetico-poliacutetica estaacute relacionada

aos direitos fundamentais que constroem a cidadania contemporacircnea significando direitos tanto no que se refere agrave garantia de liberdades civis e poliacuteticas como agrave distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais socialmente produzidos Foi com base nesta possibilidade de igualdade aliada agrave liberdade que se construiacuteram os Estados modernos sendo tais valores reconhecidos como fundamentais nas democracias modernas

4 Entre os autores que discutem a temaacutetica da igualdadedesigualdade nos dias de hoje isto eacute a exclusatildeo social como uma das faces da questatildeo social estatildeo Robert Castel Vera Telles Joseacute de Souza Martins Luis Eduardo Wanderley e Elimar Nascimento

5 Nova questatildeo social - categoria renovada pelos disfuncionamentos da sociedade industrial de massa indicando uma inadaptaccedilatildeo dos antigos meacutetodos de gestatildeo social O disfuncionamento social aliado ao problema do financiamento questionam os princiacutepios organizacionais da solidariedade e da concepccedilatildeo de direitos sociais produzindo um quadro insatisfatoacuterio para pensar a situaccedilatildeo dos excluiacutedos ou desfiliados (ARCOVERDE 1999 p 75)

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Norberto Bobbio (1996) coloca que enquanto liberdade eacute um estado igualdade eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre as pessoas Entatildeo se diz que eacute sempre igualdade em que e igualdade entre quem Sen (1999) confirma que eacute necessaacuterio responder agrave pergunta igualdade de que A equidade seu sentido claacutessico aristoteacutelico supotildee uma diferenccedila ainda que consensual em princiacutepio Refere-se mais agraves partes que cabem a cada um independentemente da igualdade ou natildeo (Nogueira 1999)

Na antiga Greacutecia a ideacuteia de liberdade e a de igualdade caminhavam juntas sendo a primeira a garantia da segunda Aristoacuteteles distinguia uma igualdade numeacuterica - todos serem iguais e identicamente tratados no nuacutemero e volume das coisas recebidas - a distribuiccedilatildeo de partes iguais aos iguais e uma igualdade proporcional - onde a quantidade de um ocircnus ou beneficio eacute funccedilatildeo crescente da caracteriacutestica especificada pela regra da distribuiccedilatildeo (Bobbio 1992 p56) Com o desaparecimento das repuacuteblicas antigas a igualdade foi sendo ampliada e revista com um longo processo de construccedilatildeo feito pela jurisprudecircncia filosofia e cristianismo - a tradiccedilatildeo do pensamento ocidental (Sartori 1994)

No Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Rousseau (1981 p29) eacute taxativo em afirmar que haacute uma igualdade natural entre os homens e uma desigualdade construiacuteda sendo que em sua proposiccedilatildeo de organizaccedilatildeo social uma combinaccedilatildeo bem dosada entre as duas seria favoraacutevel para a manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica e felicidade dos homens Conforme o mesmo autor Rousseau apud Sartori (1994 p 107) eacute exatamente porque a forccedila das circunstacircncias sempre tende a destruir a igualdade que a forccedila da legislaccedilatildeo deve sempre tender a mantecirc-la

Locke em sua Carta acerca da Intoleracircncia (1978 p97) ressalta que

Denomino de bens civis a vida a liberdade a sauacutede fiacutesica e a libertaccedilatildeo da dor e a posse de coisas externas tais como terra dinheiro moacuteveis etc Eacute dever do magistrado civil determinando imparcialmente leis uniformes preservar e assegurar para o povo em geral e para cada suacutedito em particular [sem grifos no original] a posse justa dessas coisas que pertencem a esta vida

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Haveria assim uma igualdade garantida na esfera da sociedade civil para cada cidadatildeo fundamentada em sua existecircncia contratual juriacutedica Eacute interessante observar que a partir da exigecircncia da matildeo-de-obra livre do trabalho assalariado requisito essencial do capitalismo os considerados desiguais passam a ser os mendigos e vagabundos Uma lei de Henrique VIII prevecirc que os vagabundos robustos sejam condenados ao chicote amarrados agrave traseira de uma charrete seratildeo chicoteados ateacute que o sangue jorre de seu corpo Apoacutes o que seratildeo encarcerados (Suret-Canale 1999 p29)

Para Hobbes (1973) os homens deteriam uma igualdade natural competitiva e egoiacutesta que deveria ser dominada por uma ordem superior absoluta - a soberania do Estado responsaacutevel por assegurar a vida e a seguranccedila da sociedade A igualdade entre os homens seria encontrada tanto nos aspectos fiacutesicos como intelectuais e morais conforme o assinalado na seguinte ideacuteia de Hobbes (1973 p48)

A natureza fez os homens tatildeo iguais quanto agraves faculdades do corpo e do espiacuterito que embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo ou de espiacuterito mais vivo do que outro mesmo assim quando se considera tudo isto em conjunto a diferenccedila entre um e outro homem natildeo eacute suficientemente consideraacutevel para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefiacutecio a que outro natildeo possa tambeacutem aspirar tal como ele

Esta igualdade eacute tambeacutem relativa agrave capacidade dos homens de atingir os fins e o bem comum o que pode ser objeto de litiacutegios se os desejos forem os mesmos

Para Hobbes assim como para Aristoacuteteles parece que o sentido de igualdade equivale ao de equidade pois o primeiro eacute expliacutecito quando afirma que as coisas que natildeo podem ser divididas sejam gozadas em comum se assim puder ser e se a quantidade da coisa o permitir sem limite caso contraacuterio proporcionalmente ao nuacutemero daqueles a que a ela tem direito Caso contraacuterio a distribuiccedilatildeo seria desigual e contraacuteria agrave equidade (Hobbes 1973 p 53)

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Fica patente que o criteacuterio usado para a justiccedila eacute o do meacuterito e que a distribuiccedilatildeo equitativa faz parte da natureza O liberalismo claacutessico garantia uma igualdade de proteccedilatildeo agrave liberdade agrave vida e agrave propriedade a todos os indiviacuteduos fundamento do contrato social Persistia a distinccedilatildeo de quem era o indiviacuteduo com liberdades civis garantidas isto eacute os proprietaacuterios excluindo 3

4 se os negros e os iacutendios

Giddens (1996) fala de um modelo gerativo de igualdade que viria a abranger as quatro extensas dimensotildees da modernidade - a reduccedilatildeo da pobreza (absoluta ou relativa) restaurar a degradaccedilatildeo do meio ambiente contestar o poder arbitraacuterio e reduzir o papel da forccedila e da violecircncia na vida social Justifica e sugere que a busca da igualdade deve ultrapassar as tradicionais dicotomias esquerda e direita paiacuteses ricos e pobres e as questotildees de gecircnero que devem ser vistas por outro prisma

Uma das dificuldades para se apreciar a concepccedilatildeo de igualdade eacute a sua dubiedade isto eacute natildeo tem um sentido uacutenico podendo ser aplicada tanto quando se fala em idecircntico como quando se fala em igual o que pode chegar a conotar justiccedila Haacute uma fusatildeo de aspectos naturais com julgamentos de ordem moral o que dificulta resolver o impasse Quando se argumenta partindo de princiacutepios da ordem valorativa a igualdade eacute justa quando se reconhecem as desigualdades naturais Assim para Sartori (1994pll0)

Se a igualdade eacute um princiacutepio moral entatildeo buscamos a igualdade por pensarmos que eacute um objeto justo - natildeo porque os homens sejam idecircnticos mas porque sentimos que devem ser tratados como se fossem (embora na realidade natildeo sejam) Isto eacute atestado historicamente pelo fato de nossos princiacutepios igualitaacuterios mais fundamentais (isto eacute ser igual em liberdade leis iguais igualdades perante alei) natildeo terem derivado da premissa que os homens satildeo idecircnticos [ ] No momento em que separamos o sentido moral do sentido fiacutesico de igualdade percebemos que a verdade eacute exatamente o oposto Afirmamos que eacute justo promover certas igualdades precisamente para compensar o fato de que os homens nascem ou podem nascer diferentes

Contemporaneamente haacute tambeacutem uma cisatildeo entre liberdade e igualdade sendo reconhecido que o liberalismo econocircmico induziu a

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desigualdades no acesso tanto a direitos fundamentais quanto agrave justa distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais proacuteprios da modernidade A ordem societaacuteria atual busca uma seacuterie de igualdades justas que natildeo satildeo coincidentes e natildeo vecircm automaticamente na esteira da liberdade6

No debate sobre a igualdade hoje no plano eacutetico-poliacutetico perpassa o que se denomina igualitarismo complexo que conteacutem um adensamento da ideacuteia de igualdade enriquecendo-a com outros valores e mesmo transigindo em relaccedilatildeo a esta em alguns casos para manter uma justiccedila nos arranjos sociais reordenando assim as desigualdades justas Por outro lado uma restriccedilatildeo ao ideal de igualdade absoluta se justifica a partir da diversidade empiacuterica das pessoas o que forneceria argumentos para a naturalizaccedilatildeo de desigualdades do mundo social Coloca Kersnetzvsky (1999 p6) que o igualitarismo seria condicionado tanto pela presenccedila de outros valores como pela postulaccedilatildeo natural da diversidade humana

Tal posiccedilatildeo teoacuterica contrapotildee-se agraves criacuteticas ao ser humano abstrato disseminada entre a esquerda poacutes-moderna e os teoacutericos mais radicais dos movimentos negro e feminista nos Estados Unidos expressa no elogio indiscriminado da diferenccedila reiterando antigos posicionamentos do seacuteculo passado como o de Edmund Burke e Joseph de Maistre que em plena luta contra a ideacuteia de direitos humanos universais aferravam-se agrave constataccedilatildeo empiacuterica das diferenccedilas (Coelho 1999)

Pierucci (1999) afirma que a luta contra as vaacuterias discriminaccedilotildees ao mesmo tempo que procura afirmar a identidade o valor e a originalidade de um segmento ou grupo legitima que as diferenccedilas sejam enfocadas e as distacircncias alargadas em nome de uma singularidade primaacuteria

Complementando na mesma direccedilatildeo Coelho (1999p3) refere

6 Por exemplo as proposiccedilotildees da social democracia indicam mais ou maior igualdade com uma certa restriccedilatildeo da liberdade desde que natildeo seja incompatiacutevel com o desenvolvimento capitalista Agravetualmente esta tensatildeo vem se fragilizando parece que chegando a um extremo de se olvidar a igualdade Mesmo as propostas da Terceira Via de um modelo gerativo de igualdade acoplando ao de nivelamento (GIDDENS 1996) satildeo deacutebeis em face da situaccedilatildeo de profunda desigualdade distributiva nos e entre os paiacuteses A proposiccedilatildeo de mudanccedila de estilo de vida buscando de outras formas o que Giddens considera bens relevantes - seguranccedila amor proacuteprio e auto-realizaccedilatildeo parece difiacutecil de ser alcanccedilada igualmente por todos

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No fundo o problema dessa e outras ciladas talvez seja redutiacutevel a um mal-entendido linguiacutestico soacute posso defender quem eacute diferente em nome da igualdade mas a defesa do diferente passa a se chamar num modismo poacutes-moderno defesa da Diferenccedila com letras maiuacutesculas e aiacute evidentemente a igualdade fica falando sozinha

Tuacutelio Kahn (2000) recupera o risco simboacutelico que significa os ataques agraves minorias Lembra que os grupos que mantecircm tais praacuteticas satildeo perigosos porque defendem ideacuteias que estatildeo adormecidas na sociedade ainda que abrandadas Isso pode ser evidenciado na seguinte afirmativa de Kahn (2000 p3)

Conheccedilo bons cidadatildeos que natildeo se julgam racistas nem de extrema direita tampouco andam de cabeccedilas raspadas que compartilham em algum grau noccedilotildees do tipo o Sudeste sustenta o resto do paiacutes nossas prisotildees estatildeo cheias de negros e nordestinos os gays satildeo os responsaacuteveis pela epidemia da Aids que xingam os demais de baianos e afirmam que jamais votariam numa nordestina ou num negro para a prefeitura

A igualdade analisada em sua dimensatildeo antropoloacutegica traz a noccedilatildeo da cultura do diferente do exoacutetico do desviante e do anormal A busca do diferente do exoacutetico tem um poder mobilizador que impulsiona ou impulsionou grande parte das descobertas humanas sendo portanto um aspecto positivo no processo civilizatoacuterio Gerd Borhein7 aponta que em passado distante a busca das especiarias das sedas de novos mundos e civilizaccedilotildees - a busca pela novidade enquanto alteraccedilatildeo da mesmice -possibilitou a era das descobertas e o progresso subsequente a busca do outro do diferente do que natildeo eacute igual e que pode contribuir para enriquecer uma civilizaccedilatildeo

Por outro lado a contrapartida do diferente do exoacutetico eacute o que tem de ameaccedilador agraves culturas estabelecidas e que assim deve ser mantido a uma distacircncia segura Os mecanismos para manter tal distacircncia satildeo

7 Conferecircncia pronunciada na 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC em Porto Alegre em 13 de julho de 1999 intitulada Democracia e Alteridade

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diferenciados e estabelecidos pelo corpo social no sentido de manutenccedilatildeo de sua coesatildeo Assim as ameaccedilas devem ser afastadas e o medo eacute transformado em atitudes preconceituosas em esquemas de exclusatildeo do conviacutevio social em privaccedilotildees de todo o tipo Natildeo haacute o sentido da alteridade do respeito ao outro que eacute diferente e que participa de minha existecircncia exatamente como eacute sem ser igual a mim (Jacquard apud Barroco 1999)

Do mesmo modo Riu e Moratoacute(iacute 999p) apontam que

Es la alteridad o causa de distincioacuten entre dos o maacutes cosas o individuos de modo que puede hablarse de lo que es numericamente distinto cuando dos cosas se distinguen solo por ser indiviacuteduos distintos dentro de una misma especie o de lo que es especificamente distinto porque las cosas o indiviacuteduos pertenecen a especies distintas La diferencia permite la distincioacuten y la clasificacioacuten

A diferenccedila portanto tem a possibilidade de classificar o que eacute distinto e de classificar positiva ou negativamente os indiviacuteduos e grupos O atributo que marca a distinccedilatildeo merece um olhar condescendente ou rigoroso em decorrecircncia de sua relaccedilatildeo com o todo social Do mesmo modo a diferenccedila eacute sempre relacional relativa a algo ou a algueacutem Complementando Santos (1995) diz que se deve buscar a igualdade sempre que a diferenccedila inferiorizar as pessoas e manter a diferenccedila quando a igualdade descaracterizar o ser humano enquanto pessoa

Equidade por sua vez impotildee a busca da igualdade por meio do reconhecimento da desigualdade A equidade diz respeito agrave justiccedila agrave imparcialidade em sua acepccedilatildeo original O que eacute justo ou natildeo Em que medida Como aferir a justiccedila Estas questotildees estatildeo no epicentro da discussatildeo sobre a relaccedilatildeo equidade e igualdade

Entre os autores contemporacircneos John Rawls8 eacute que vem tratando de forma sistemaacutetica a relaccedilatildeo entre justiccedila liberdade igualdade e

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8 John Rawls eacute visto como um autor bastante polecircmico sendo que considera sua obra principal Uma Teoria da Justiccedila uma alternativa ao utilitarismo que pensa ser fraacutegil para dar fundamento agraves democracias ocidentais Outros autores como Riu e Morato (1998) apontam que sua proposta reatualiza o utilitarismo

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equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

SER SOCIAL 6

aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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Para alguns autores4 o termo exclusatildeo eacute impreciso ou seja natildeo existe exclusatildeo existe uma contradiccedilatildeo existem viacutetimas de processos sociais poliacuteticos e econocircmicos excludentes existe o conflito pelo qual a viacutetima de tais processos proclama seu inconformismo seu mal-estar sua revolta sua esperanccedila sua forccedila reivindicativa e sua reivindicaccedilatildeo corrosiva Essas reaccedilotildees natildeo ocorrem fora dos sistemas econocircmicos e de poder Elas constituem tais sistemas fazem parte deles mesmo que negando As reaccedilotildees natildeo ocorrem de fora para dentro mas dentro da realidade que produziu os problemas que as causam (Martins 1997p 14)

Castel et al (1997 p 16) criticam a utilizaccedilatildeo do termo exclusatildeo social argumentando que o uso impreciso desta palavra eacute sintomaacutetico isto eacute oculta e traduz ao mesmo tempo o estado atual da questatildeo social apontando algumas caracteriacutesticas que permitiram o uso controlado da noccedilatildeo em debate A questatildeo social hoje reposta ao que se convencionou chamar nova questatildeo social5 segundo ainda o mesmo autor eacute uma noccedilatildeo analiacutetica mais apropriada para nomear e analisar as sociedades atuais plenas de riscos e fraturas sociais com uma ampliaccedilatildeo desmedida da desigualdade em suas vaacuterias e mutaacuteveis expressotildees

Exclusatildeo social - uma incursatildeo eacutetico-poliacutetica A igualdade enquanto categoria eacutetico-poliacutetica estaacute relacionada

aos direitos fundamentais que constroem a cidadania contemporacircnea significando direitos tanto no que se refere agrave garantia de liberdades civis e poliacuteticas como agrave distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais socialmente produzidos Foi com base nesta possibilidade de igualdade aliada agrave liberdade que se construiacuteram os Estados modernos sendo tais valores reconhecidos como fundamentais nas democracias modernas

4 Entre os autores que discutem a temaacutetica da igualdadedesigualdade nos dias de hoje isto eacute a exclusatildeo social como uma das faces da questatildeo social estatildeo Robert Castel Vera Telles Joseacute de Souza Martins Luis Eduardo Wanderley e Elimar Nascimento

5 Nova questatildeo social - categoria renovada pelos disfuncionamentos da sociedade industrial de massa indicando uma inadaptaccedilatildeo dos antigos meacutetodos de gestatildeo social O disfuncionamento social aliado ao problema do financiamento questionam os princiacutepios organizacionais da solidariedade e da concepccedilatildeo de direitos sociais produzindo um quadro insatisfatoacuterio para pensar a situaccedilatildeo dos excluiacutedos ou desfiliados (ARCOVERDE 1999 p 75)

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Norberto Bobbio (1996) coloca que enquanto liberdade eacute um estado igualdade eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre as pessoas Entatildeo se diz que eacute sempre igualdade em que e igualdade entre quem Sen (1999) confirma que eacute necessaacuterio responder agrave pergunta igualdade de que A equidade seu sentido claacutessico aristoteacutelico supotildee uma diferenccedila ainda que consensual em princiacutepio Refere-se mais agraves partes que cabem a cada um independentemente da igualdade ou natildeo (Nogueira 1999)

Na antiga Greacutecia a ideacuteia de liberdade e a de igualdade caminhavam juntas sendo a primeira a garantia da segunda Aristoacuteteles distinguia uma igualdade numeacuterica - todos serem iguais e identicamente tratados no nuacutemero e volume das coisas recebidas - a distribuiccedilatildeo de partes iguais aos iguais e uma igualdade proporcional - onde a quantidade de um ocircnus ou beneficio eacute funccedilatildeo crescente da caracteriacutestica especificada pela regra da distribuiccedilatildeo (Bobbio 1992 p56) Com o desaparecimento das repuacuteblicas antigas a igualdade foi sendo ampliada e revista com um longo processo de construccedilatildeo feito pela jurisprudecircncia filosofia e cristianismo - a tradiccedilatildeo do pensamento ocidental (Sartori 1994)

No Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Rousseau (1981 p29) eacute taxativo em afirmar que haacute uma igualdade natural entre os homens e uma desigualdade construiacuteda sendo que em sua proposiccedilatildeo de organizaccedilatildeo social uma combinaccedilatildeo bem dosada entre as duas seria favoraacutevel para a manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica e felicidade dos homens Conforme o mesmo autor Rousseau apud Sartori (1994 p 107) eacute exatamente porque a forccedila das circunstacircncias sempre tende a destruir a igualdade que a forccedila da legislaccedilatildeo deve sempre tender a mantecirc-la

Locke em sua Carta acerca da Intoleracircncia (1978 p97) ressalta que

Denomino de bens civis a vida a liberdade a sauacutede fiacutesica e a libertaccedilatildeo da dor e a posse de coisas externas tais como terra dinheiro moacuteveis etc Eacute dever do magistrado civil determinando imparcialmente leis uniformes preservar e assegurar para o povo em geral e para cada suacutedito em particular [sem grifos no original] a posse justa dessas coisas que pertencem a esta vida

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Haveria assim uma igualdade garantida na esfera da sociedade civil para cada cidadatildeo fundamentada em sua existecircncia contratual juriacutedica Eacute interessante observar que a partir da exigecircncia da matildeo-de-obra livre do trabalho assalariado requisito essencial do capitalismo os considerados desiguais passam a ser os mendigos e vagabundos Uma lei de Henrique VIII prevecirc que os vagabundos robustos sejam condenados ao chicote amarrados agrave traseira de uma charrete seratildeo chicoteados ateacute que o sangue jorre de seu corpo Apoacutes o que seratildeo encarcerados (Suret-Canale 1999 p29)

Para Hobbes (1973) os homens deteriam uma igualdade natural competitiva e egoiacutesta que deveria ser dominada por uma ordem superior absoluta - a soberania do Estado responsaacutevel por assegurar a vida e a seguranccedila da sociedade A igualdade entre os homens seria encontrada tanto nos aspectos fiacutesicos como intelectuais e morais conforme o assinalado na seguinte ideacuteia de Hobbes (1973 p48)

A natureza fez os homens tatildeo iguais quanto agraves faculdades do corpo e do espiacuterito que embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo ou de espiacuterito mais vivo do que outro mesmo assim quando se considera tudo isto em conjunto a diferenccedila entre um e outro homem natildeo eacute suficientemente consideraacutevel para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefiacutecio a que outro natildeo possa tambeacutem aspirar tal como ele

Esta igualdade eacute tambeacutem relativa agrave capacidade dos homens de atingir os fins e o bem comum o que pode ser objeto de litiacutegios se os desejos forem os mesmos

Para Hobbes assim como para Aristoacuteteles parece que o sentido de igualdade equivale ao de equidade pois o primeiro eacute expliacutecito quando afirma que as coisas que natildeo podem ser divididas sejam gozadas em comum se assim puder ser e se a quantidade da coisa o permitir sem limite caso contraacuterio proporcionalmente ao nuacutemero daqueles a que a ela tem direito Caso contraacuterio a distribuiccedilatildeo seria desigual e contraacuteria agrave equidade (Hobbes 1973 p 53)

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Fica patente que o criteacuterio usado para a justiccedila eacute o do meacuterito e que a distribuiccedilatildeo equitativa faz parte da natureza O liberalismo claacutessico garantia uma igualdade de proteccedilatildeo agrave liberdade agrave vida e agrave propriedade a todos os indiviacuteduos fundamento do contrato social Persistia a distinccedilatildeo de quem era o indiviacuteduo com liberdades civis garantidas isto eacute os proprietaacuterios excluindo 3

4 se os negros e os iacutendios

Giddens (1996) fala de um modelo gerativo de igualdade que viria a abranger as quatro extensas dimensotildees da modernidade - a reduccedilatildeo da pobreza (absoluta ou relativa) restaurar a degradaccedilatildeo do meio ambiente contestar o poder arbitraacuterio e reduzir o papel da forccedila e da violecircncia na vida social Justifica e sugere que a busca da igualdade deve ultrapassar as tradicionais dicotomias esquerda e direita paiacuteses ricos e pobres e as questotildees de gecircnero que devem ser vistas por outro prisma

Uma das dificuldades para se apreciar a concepccedilatildeo de igualdade eacute a sua dubiedade isto eacute natildeo tem um sentido uacutenico podendo ser aplicada tanto quando se fala em idecircntico como quando se fala em igual o que pode chegar a conotar justiccedila Haacute uma fusatildeo de aspectos naturais com julgamentos de ordem moral o que dificulta resolver o impasse Quando se argumenta partindo de princiacutepios da ordem valorativa a igualdade eacute justa quando se reconhecem as desigualdades naturais Assim para Sartori (1994pll0)

Se a igualdade eacute um princiacutepio moral entatildeo buscamos a igualdade por pensarmos que eacute um objeto justo - natildeo porque os homens sejam idecircnticos mas porque sentimos que devem ser tratados como se fossem (embora na realidade natildeo sejam) Isto eacute atestado historicamente pelo fato de nossos princiacutepios igualitaacuterios mais fundamentais (isto eacute ser igual em liberdade leis iguais igualdades perante alei) natildeo terem derivado da premissa que os homens satildeo idecircnticos [ ] No momento em que separamos o sentido moral do sentido fiacutesico de igualdade percebemos que a verdade eacute exatamente o oposto Afirmamos que eacute justo promover certas igualdades precisamente para compensar o fato de que os homens nascem ou podem nascer diferentes

Contemporaneamente haacute tambeacutem uma cisatildeo entre liberdade e igualdade sendo reconhecido que o liberalismo econocircmico induziu a

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desigualdades no acesso tanto a direitos fundamentais quanto agrave justa distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais proacuteprios da modernidade A ordem societaacuteria atual busca uma seacuterie de igualdades justas que natildeo satildeo coincidentes e natildeo vecircm automaticamente na esteira da liberdade6

No debate sobre a igualdade hoje no plano eacutetico-poliacutetico perpassa o que se denomina igualitarismo complexo que conteacutem um adensamento da ideacuteia de igualdade enriquecendo-a com outros valores e mesmo transigindo em relaccedilatildeo a esta em alguns casos para manter uma justiccedila nos arranjos sociais reordenando assim as desigualdades justas Por outro lado uma restriccedilatildeo ao ideal de igualdade absoluta se justifica a partir da diversidade empiacuterica das pessoas o que forneceria argumentos para a naturalizaccedilatildeo de desigualdades do mundo social Coloca Kersnetzvsky (1999 p6) que o igualitarismo seria condicionado tanto pela presenccedila de outros valores como pela postulaccedilatildeo natural da diversidade humana

Tal posiccedilatildeo teoacuterica contrapotildee-se agraves criacuteticas ao ser humano abstrato disseminada entre a esquerda poacutes-moderna e os teoacutericos mais radicais dos movimentos negro e feminista nos Estados Unidos expressa no elogio indiscriminado da diferenccedila reiterando antigos posicionamentos do seacuteculo passado como o de Edmund Burke e Joseph de Maistre que em plena luta contra a ideacuteia de direitos humanos universais aferravam-se agrave constataccedilatildeo empiacuterica das diferenccedilas (Coelho 1999)

Pierucci (1999) afirma que a luta contra as vaacuterias discriminaccedilotildees ao mesmo tempo que procura afirmar a identidade o valor e a originalidade de um segmento ou grupo legitima que as diferenccedilas sejam enfocadas e as distacircncias alargadas em nome de uma singularidade primaacuteria

Complementando na mesma direccedilatildeo Coelho (1999p3) refere

6 Por exemplo as proposiccedilotildees da social democracia indicam mais ou maior igualdade com uma certa restriccedilatildeo da liberdade desde que natildeo seja incompatiacutevel com o desenvolvimento capitalista Agravetualmente esta tensatildeo vem se fragilizando parece que chegando a um extremo de se olvidar a igualdade Mesmo as propostas da Terceira Via de um modelo gerativo de igualdade acoplando ao de nivelamento (GIDDENS 1996) satildeo deacutebeis em face da situaccedilatildeo de profunda desigualdade distributiva nos e entre os paiacuteses A proposiccedilatildeo de mudanccedila de estilo de vida buscando de outras formas o que Giddens considera bens relevantes - seguranccedila amor proacuteprio e auto-realizaccedilatildeo parece difiacutecil de ser alcanccedilada igualmente por todos

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No fundo o problema dessa e outras ciladas talvez seja redutiacutevel a um mal-entendido linguiacutestico soacute posso defender quem eacute diferente em nome da igualdade mas a defesa do diferente passa a se chamar num modismo poacutes-moderno defesa da Diferenccedila com letras maiuacutesculas e aiacute evidentemente a igualdade fica falando sozinha

Tuacutelio Kahn (2000) recupera o risco simboacutelico que significa os ataques agraves minorias Lembra que os grupos que mantecircm tais praacuteticas satildeo perigosos porque defendem ideacuteias que estatildeo adormecidas na sociedade ainda que abrandadas Isso pode ser evidenciado na seguinte afirmativa de Kahn (2000 p3)

Conheccedilo bons cidadatildeos que natildeo se julgam racistas nem de extrema direita tampouco andam de cabeccedilas raspadas que compartilham em algum grau noccedilotildees do tipo o Sudeste sustenta o resto do paiacutes nossas prisotildees estatildeo cheias de negros e nordestinos os gays satildeo os responsaacuteveis pela epidemia da Aids que xingam os demais de baianos e afirmam que jamais votariam numa nordestina ou num negro para a prefeitura

A igualdade analisada em sua dimensatildeo antropoloacutegica traz a noccedilatildeo da cultura do diferente do exoacutetico do desviante e do anormal A busca do diferente do exoacutetico tem um poder mobilizador que impulsiona ou impulsionou grande parte das descobertas humanas sendo portanto um aspecto positivo no processo civilizatoacuterio Gerd Borhein7 aponta que em passado distante a busca das especiarias das sedas de novos mundos e civilizaccedilotildees - a busca pela novidade enquanto alteraccedilatildeo da mesmice -possibilitou a era das descobertas e o progresso subsequente a busca do outro do diferente do que natildeo eacute igual e que pode contribuir para enriquecer uma civilizaccedilatildeo

Por outro lado a contrapartida do diferente do exoacutetico eacute o que tem de ameaccedilador agraves culturas estabelecidas e que assim deve ser mantido a uma distacircncia segura Os mecanismos para manter tal distacircncia satildeo

7 Conferecircncia pronunciada na 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC em Porto Alegre em 13 de julho de 1999 intitulada Democracia e Alteridade

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diferenciados e estabelecidos pelo corpo social no sentido de manutenccedilatildeo de sua coesatildeo Assim as ameaccedilas devem ser afastadas e o medo eacute transformado em atitudes preconceituosas em esquemas de exclusatildeo do conviacutevio social em privaccedilotildees de todo o tipo Natildeo haacute o sentido da alteridade do respeito ao outro que eacute diferente e que participa de minha existecircncia exatamente como eacute sem ser igual a mim (Jacquard apud Barroco 1999)

Do mesmo modo Riu e Moratoacute(iacute 999p) apontam que

Es la alteridad o causa de distincioacuten entre dos o maacutes cosas o individuos de modo que puede hablarse de lo que es numericamente distinto cuando dos cosas se distinguen solo por ser indiviacuteduos distintos dentro de una misma especie o de lo que es especificamente distinto porque las cosas o indiviacuteduos pertenecen a especies distintas La diferencia permite la distincioacuten y la clasificacioacuten

A diferenccedila portanto tem a possibilidade de classificar o que eacute distinto e de classificar positiva ou negativamente os indiviacuteduos e grupos O atributo que marca a distinccedilatildeo merece um olhar condescendente ou rigoroso em decorrecircncia de sua relaccedilatildeo com o todo social Do mesmo modo a diferenccedila eacute sempre relacional relativa a algo ou a algueacutem Complementando Santos (1995) diz que se deve buscar a igualdade sempre que a diferenccedila inferiorizar as pessoas e manter a diferenccedila quando a igualdade descaracterizar o ser humano enquanto pessoa

Equidade por sua vez impotildee a busca da igualdade por meio do reconhecimento da desigualdade A equidade diz respeito agrave justiccedila agrave imparcialidade em sua acepccedilatildeo original O que eacute justo ou natildeo Em que medida Como aferir a justiccedila Estas questotildees estatildeo no epicentro da discussatildeo sobre a relaccedilatildeo equidade e igualdade

Entre os autores contemporacircneos John Rawls8 eacute que vem tratando de forma sistemaacutetica a relaccedilatildeo entre justiccedila liberdade igualdade e

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8 John Rawls eacute visto como um autor bastante polecircmico sendo que considera sua obra principal Uma Teoria da Justiccedila uma alternativa ao utilitarismo que pensa ser fraacutegil para dar fundamento agraves democracias ocidentais Outros autores como Riu e Morato (1998) apontam que sua proposta reatualiza o utilitarismo

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equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Norberto Bobbio (1996) coloca que enquanto liberdade eacute um estado igualdade eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre as pessoas Entatildeo se diz que eacute sempre igualdade em que e igualdade entre quem Sen (1999) confirma que eacute necessaacuterio responder agrave pergunta igualdade de que A equidade seu sentido claacutessico aristoteacutelico supotildee uma diferenccedila ainda que consensual em princiacutepio Refere-se mais agraves partes que cabem a cada um independentemente da igualdade ou natildeo (Nogueira 1999)

Na antiga Greacutecia a ideacuteia de liberdade e a de igualdade caminhavam juntas sendo a primeira a garantia da segunda Aristoacuteteles distinguia uma igualdade numeacuterica - todos serem iguais e identicamente tratados no nuacutemero e volume das coisas recebidas - a distribuiccedilatildeo de partes iguais aos iguais e uma igualdade proporcional - onde a quantidade de um ocircnus ou beneficio eacute funccedilatildeo crescente da caracteriacutestica especificada pela regra da distribuiccedilatildeo (Bobbio 1992 p56) Com o desaparecimento das repuacuteblicas antigas a igualdade foi sendo ampliada e revista com um longo processo de construccedilatildeo feito pela jurisprudecircncia filosofia e cristianismo - a tradiccedilatildeo do pensamento ocidental (Sartori 1994)

No Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Rousseau (1981 p29) eacute taxativo em afirmar que haacute uma igualdade natural entre os homens e uma desigualdade construiacuteda sendo que em sua proposiccedilatildeo de organizaccedilatildeo social uma combinaccedilatildeo bem dosada entre as duas seria favoraacutevel para a manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica e felicidade dos homens Conforme o mesmo autor Rousseau apud Sartori (1994 p 107) eacute exatamente porque a forccedila das circunstacircncias sempre tende a destruir a igualdade que a forccedila da legislaccedilatildeo deve sempre tender a mantecirc-la

Locke em sua Carta acerca da Intoleracircncia (1978 p97) ressalta que

Denomino de bens civis a vida a liberdade a sauacutede fiacutesica e a libertaccedilatildeo da dor e a posse de coisas externas tais como terra dinheiro moacuteveis etc Eacute dever do magistrado civil determinando imparcialmente leis uniformes preservar e assegurar para o povo em geral e para cada suacutedito em particular [sem grifos no original] a posse justa dessas coisas que pertencem a esta vida

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Haveria assim uma igualdade garantida na esfera da sociedade civil para cada cidadatildeo fundamentada em sua existecircncia contratual juriacutedica Eacute interessante observar que a partir da exigecircncia da matildeo-de-obra livre do trabalho assalariado requisito essencial do capitalismo os considerados desiguais passam a ser os mendigos e vagabundos Uma lei de Henrique VIII prevecirc que os vagabundos robustos sejam condenados ao chicote amarrados agrave traseira de uma charrete seratildeo chicoteados ateacute que o sangue jorre de seu corpo Apoacutes o que seratildeo encarcerados (Suret-Canale 1999 p29)

Para Hobbes (1973) os homens deteriam uma igualdade natural competitiva e egoiacutesta que deveria ser dominada por uma ordem superior absoluta - a soberania do Estado responsaacutevel por assegurar a vida e a seguranccedila da sociedade A igualdade entre os homens seria encontrada tanto nos aspectos fiacutesicos como intelectuais e morais conforme o assinalado na seguinte ideacuteia de Hobbes (1973 p48)

A natureza fez os homens tatildeo iguais quanto agraves faculdades do corpo e do espiacuterito que embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo ou de espiacuterito mais vivo do que outro mesmo assim quando se considera tudo isto em conjunto a diferenccedila entre um e outro homem natildeo eacute suficientemente consideraacutevel para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefiacutecio a que outro natildeo possa tambeacutem aspirar tal como ele

Esta igualdade eacute tambeacutem relativa agrave capacidade dos homens de atingir os fins e o bem comum o que pode ser objeto de litiacutegios se os desejos forem os mesmos

Para Hobbes assim como para Aristoacuteteles parece que o sentido de igualdade equivale ao de equidade pois o primeiro eacute expliacutecito quando afirma que as coisas que natildeo podem ser divididas sejam gozadas em comum se assim puder ser e se a quantidade da coisa o permitir sem limite caso contraacuterio proporcionalmente ao nuacutemero daqueles a que a ela tem direito Caso contraacuterio a distribuiccedilatildeo seria desigual e contraacuteria agrave equidade (Hobbes 1973 p 53)

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Fica patente que o criteacuterio usado para a justiccedila eacute o do meacuterito e que a distribuiccedilatildeo equitativa faz parte da natureza O liberalismo claacutessico garantia uma igualdade de proteccedilatildeo agrave liberdade agrave vida e agrave propriedade a todos os indiviacuteduos fundamento do contrato social Persistia a distinccedilatildeo de quem era o indiviacuteduo com liberdades civis garantidas isto eacute os proprietaacuterios excluindo 3

4 se os negros e os iacutendios

Giddens (1996) fala de um modelo gerativo de igualdade que viria a abranger as quatro extensas dimensotildees da modernidade - a reduccedilatildeo da pobreza (absoluta ou relativa) restaurar a degradaccedilatildeo do meio ambiente contestar o poder arbitraacuterio e reduzir o papel da forccedila e da violecircncia na vida social Justifica e sugere que a busca da igualdade deve ultrapassar as tradicionais dicotomias esquerda e direita paiacuteses ricos e pobres e as questotildees de gecircnero que devem ser vistas por outro prisma

Uma das dificuldades para se apreciar a concepccedilatildeo de igualdade eacute a sua dubiedade isto eacute natildeo tem um sentido uacutenico podendo ser aplicada tanto quando se fala em idecircntico como quando se fala em igual o que pode chegar a conotar justiccedila Haacute uma fusatildeo de aspectos naturais com julgamentos de ordem moral o que dificulta resolver o impasse Quando se argumenta partindo de princiacutepios da ordem valorativa a igualdade eacute justa quando se reconhecem as desigualdades naturais Assim para Sartori (1994pll0)

Se a igualdade eacute um princiacutepio moral entatildeo buscamos a igualdade por pensarmos que eacute um objeto justo - natildeo porque os homens sejam idecircnticos mas porque sentimos que devem ser tratados como se fossem (embora na realidade natildeo sejam) Isto eacute atestado historicamente pelo fato de nossos princiacutepios igualitaacuterios mais fundamentais (isto eacute ser igual em liberdade leis iguais igualdades perante alei) natildeo terem derivado da premissa que os homens satildeo idecircnticos [ ] No momento em que separamos o sentido moral do sentido fiacutesico de igualdade percebemos que a verdade eacute exatamente o oposto Afirmamos que eacute justo promover certas igualdades precisamente para compensar o fato de que os homens nascem ou podem nascer diferentes

Contemporaneamente haacute tambeacutem uma cisatildeo entre liberdade e igualdade sendo reconhecido que o liberalismo econocircmico induziu a

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desigualdades no acesso tanto a direitos fundamentais quanto agrave justa distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais proacuteprios da modernidade A ordem societaacuteria atual busca uma seacuterie de igualdades justas que natildeo satildeo coincidentes e natildeo vecircm automaticamente na esteira da liberdade6

No debate sobre a igualdade hoje no plano eacutetico-poliacutetico perpassa o que se denomina igualitarismo complexo que conteacutem um adensamento da ideacuteia de igualdade enriquecendo-a com outros valores e mesmo transigindo em relaccedilatildeo a esta em alguns casos para manter uma justiccedila nos arranjos sociais reordenando assim as desigualdades justas Por outro lado uma restriccedilatildeo ao ideal de igualdade absoluta se justifica a partir da diversidade empiacuterica das pessoas o que forneceria argumentos para a naturalizaccedilatildeo de desigualdades do mundo social Coloca Kersnetzvsky (1999 p6) que o igualitarismo seria condicionado tanto pela presenccedila de outros valores como pela postulaccedilatildeo natural da diversidade humana

Tal posiccedilatildeo teoacuterica contrapotildee-se agraves criacuteticas ao ser humano abstrato disseminada entre a esquerda poacutes-moderna e os teoacutericos mais radicais dos movimentos negro e feminista nos Estados Unidos expressa no elogio indiscriminado da diferenccedila reiterando antigos posicionamentos do seacuteculo passado como o de Edmund Burke e Joseph de Maistre que em plena luta contra a ideacuteia de direitos humanos universais aferravam-se agrave constataccedilatildeo empiacuterica das diferenccedilas (Coelho 1999)

Pierucci (1999) afirma que a luta contra as vaacuterias discriminaccedilotildees ao mesmo tempo que procura afirmar a identidade o valor e a originalidade de um segmento ou grupo legitima que as diferenccedilas sejam enfocadas e as distacircncias alargadas em nome de uma singularidade primaacuteria

Complementando na mesma direccedilatildeo Coelho (1999p3) refere

6 Por exemplo as proposiccedilotildees da social democracia indicam mais ou maior igualdade com uma certa restriccedilatildeo da liberdade desde que natildeo seja incompatiacutevel com o desenvolvimento capitalista Agravetualmente esta tensatildeo vem se fragilizando parece que chegando a um extremo de se olvidar a igualdade Mesmo as propostas da Terceira Via de um modelo gerativo de igualdade acoplando ao de nivelamento (GIDDENS 1996) satildeo deacutebeis em face da situaccedilatildeo de profunda desigualdade distributiva nos e entre os paiacuteses A proposiccedilatildeo de mudanccedila de estilo de vida buscando de outras formas o que Giddens considera bens relevantes - seguranccedila amor proacuteprio e auto-realizaccedilatildeo parece difiacutecil de ser alcanccedilada igualmente por todos

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No fundo o problema dessa e outras ciladas talvez seja redutiacutevel a um mal-entendido linguiacutestico soacute posso defender quem eacute diferente em nome da igualdade mas a defesa do diferente passa a se chamar num modismo poacutes-moderno defesa da Diferenccedila com letras maiuacutesculas e aiacute evidentemente a igualdade fica falando sozinha

Tuacutelio Kahn (2000) recupera o risco simboacutelico que significa os ataques agraves minorias Lembra que os grupos que mantecircm tais praacuteticas satildeo perigosos porque defendem ideacuteias que estatildeo adormecidas na sociedade ainda que abrandadas Isso pode ser evidenciado na seguinte afirmativa de Kahn (2000 p3)

Conheccedilo bons cidadatildeos que natildeo se julgam racistas nem de extrema direita tampouco andam de cabeccedilas raspadas que compartilham em algum grau noccedilotildees do tipo o Sudeste sustenta o resto do paiacutes nossas prisotildees estatildeo cheias de negros e nordestinos os gays satildeo os responsaacuteveis pela epidemia da Aids que xingam os demais de baianos e afirmam que jamais votariam numa nordestina ou num negro para a prefeitura

A igualdade analisada em sua dimensatildeo antropoloacutegica traz a noccedilatildeo da cultura do diferente do exoacutetico do desviante e do anormal A busca do diferente do exoacutetico tem um poder mobilizador que impulsiona ou impulsionou grande parte das descobertas humanas sendo portanto um aspecto positivo no processo civilizatoacuterio Gerd Borhein7 aponta que em passado distante a busca das especiarias das sedas de novos mundos e civilizaccedilotildees - a busca pela novidade enquanto alteraccedilatildeo da mesmice -possibilitou a era das descobertas e o progresso subsequente a busca do outro do diferente do que natildeo eacute igual e que pode contribuir para enriquecer uma civilizaccedilatildeo

Por outro lado a contrapartida do diferente do exoacutetico eacute o que tem de ameaccedilador agraves culturas estabelecidas e que assim deve ser mantido a uma distacircncia segura Os mecanismos para manter tal distacircncia satildeo

7 Conferecircncia pronunciada na 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC em Porto Alegre em 13 de julho de 1999 intitulada Democracia e Alteridade

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diferenciados e estabelecidos pelo corpo social no sentido de manutenccedilatildeo de sua coesatildeo Assim as ameaccedilas devem ser afastadas e o medo eacute transformado em atitudes preconceituosas em esquemas de exclusatildeo do conviacutevio social em privaccedilotildees de todo o tipo Natildeo haacute o sentido da alteridade do respeito ao outro que eacute diferente e que participa de minha existecircncia exatamente como eacute sem ser igual a mim (Jacquard apud Barroco 1999)

Do mesmo modo Riu e Moratoacute(iacute 999p) apontam que

Es la alteridad o causa de distincioacuten entre dos o maacutes cosas o individuos de modo que puede hablarse de lo que es numericamente distinto cuando dos cosas se distinguen solo por ser indiviacuteduos distintos dentro de una misma especie o de lo que es especificamente distinto porque las cosas o indiviacuteduos pertenecen a especies distintas La diferencia permite la distincioacuten y la clasificacioacuten

A diferenccedila portanto tem a possibilidade de classificar o que eacute distinto e de classificar positiva ou negativamente os indiviacuteduos e grupos O atributo que marca a distinccedilatildeo merece um olhar condescendente ou rigoroso em decorrecircncia de sua relaccedilatildeo com o todo social Do mesmo modo a diferenccedila eacute sempre relacional relativa a algo ou a algueacutem Complementando Santos (1995) diz que se deve buscar a igualdade sempre que a diferenccedila inferiorizar as pessoas e manter a diferenccedila quando a igualdade descaracterizar o ser humano enquanto pessoa

Equidade por sua vez impotildee a busca da igualdade por meio do reconhecimento da desigualdade A equidade diz respeito agrave justiccedila agrave imparcialidade em sua acepccedilatildeo original O que eacute justo ou natildeo Em que medida Como aferir a justiccedila Estas questotildees estatildeo no epicentro da discussatildeo sobre a relaccedilatildeo equidade e igualdade

Entre os autores contemporacircneos John Rawls8 eacute que vem tratando de forma sistemaacutetica a relaccedilatildeo entre justiccedila liberdade igualdade e

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8 John Rawls eacute visto como um autor bastante polecircmico sendo que considera sua obra principal Uma Teoria da Justiccedila uma alternativa ao utilitarismo que pensa ser fraacutegil para dar fundamento agraves democracias ocidentais Outros autores como Riu e Morato (1998) apontam que sua proposta reatualiza o utilitarismo

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equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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Haveria assim uma igualdade garantida na esfera da sociedade civil para cada cidadatildeo fundamentada em sua existecircncia contratual juriacutedica Eacute interessante observar que a partir da exigecircncia da matildeo-de-obra livre do trabalho assalariado requisito essencial do capitalismo os considerados desiguais passam a ser os mendigos e vagabundos Uma lei de Henrique VIII prevecirc que os vagabundos robustos sejam condenados ao chicote amarrados agrave traseira de uma charrete seratildeo chicoteados ateacute que o sangue jorre de seu corpo Apoacutes o que seratildeo encarcerados (Suret-Canale 1999 p29)

Para Hobbes (1973) os homens deteriam uma igualdade natural competitiva e egoiacutesta que deveria ser dominada por uma ordem superior absoluta - a soberania do Estado responsaacutevel por assegurar a vida e a seguranccedila da sociedade A igualdade entre os homens seria encontrada tanto nos aspectos fiacutesicos como intelectuais e morais conforme o assinalado na seguinte ideacuteia de Hobbes (1973 p48)

A natureza fez os homens tatildeo iguais quanto agraves faculdades do corpo e do espiacuterito que embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo ou de espiacuterito mais vivo do que outro mesmo assim quando se considera tudo isto em conjunto a diferenccedila entre um e outro homem natildeo eacute suficientemente consideraacutevel para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefiacutecio a que outro natildeo possa tambeacutem aspirar tal como ele

Esta igualdade eacute tambeacutem relativa agrave capacidade dos homens de atingir os fins e o bem comum o que pode ser objeto de litiacutegios se os desejos forem os mesmos

Para Hobbes assim como para Aristoacuteteles parece que o sentido de igualdade equivale ao de equidade pois o primeiro eacute expliacutecito quando afirma que as coisas que natildeo podem ser divididas sejam gozadas em comum se assim puder ser e se a quantidade da coisa o permitir sem limite caso contraacuterio proporcionalmente ao nuacutemero daqueles a que a ela tem direito Caso contraacuterio a distribuiccedilatildeo seria desigual e contraacuteria agrave equidade (Hobbes 1973 p 53)

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Fica patente que o criteacuterio usado para a justiccedila eacute o do meacuterito e que a distribuiccedilatildeo equitativa faz parte da natureza O liberalismo claacutessico garantia uma igualdade de proteccedilatildeo agrave liberdade agrave vida e agrave propriedade a todos os indiviacuteduos fundamento do contrato social Persistia a distinccedilatildeo de quem era o indiviacuteduo com liberdades civis garantidas isto eacute os proprietaacuterios excluindo 3

4 se os negros e os iacutendios

Giddens (1996) fala de um modelo gerativo de igualdade que viria a abranger as quatro extensas dimensotildees da modernidade - a reduccedilatildeo da pobreza (absoluta ou relativa) restaurar a degradaccedilatildeo do meio ambiente contestar o poder arbitraacuterio e reduzir o papel da forccedila e da violecircncia na vida social Justifica e sugere que a busca da igualdade deve ultrapassar as tradicionais dicotomias esquerda e direita paiacuteses ricos e pobres e as questotildees de gecircnero que devem ser vistas por outro prisma

Uma das dificuldades para se apreciar a concepccedilatildeo de igualdade eacute a sua dubiedade isto eacute natildeo tem um sentido uacutenico podendo ser aplicada tanto quando se fala em idecircntico como quando se fala em igual o que pode chegar a conotar justiccedila Haacute uma fusatildeo de aspectos naturais com julgamentos de ordem moral o que dificulta resolver o impasse Quando se argumenta partindo de princiacutepios da ordem valorativa a igualdade eacute justa quando se reconhecem as desigualdades naturais Assim para Sartori (1994pll0)

Se a igualdade eacute um princiacutepio moral entatildeo buscamos a igualdade por pensarmos que eacute um objeto justo - natildeo porque os homens sejam idecircnticos mas porque sentimos que devem ser tratados como se fossem (embora na realidade natildeo sejam) Isto eacute atestado historicamente pelo fato de nossos princiacutepios igualitaacuterios mais fundamentais (isto eacute ser igual em liberdade leis iguais igualdades perante alei) natildeo terem derivado da premissa que os homens satildeo idecircnticos [ ] No momento em que separamos o sentido moral do sentido fiacutesico de igualdade percebemos que a verdade eacute exatamente o oposto Afirmamos que eacute justo promover certas igualdades precisamente para compensar o fato de que os homens nascem ou podem nascer diferentes

Contemporaneamente haacute tambeacutem uma cisatildeo entre liberdade e igualdade sendo reconhecido que o liberalismo econocircmico induziu a

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desigualdades no acesso tanto a direitos fundamentais quanto agrave justa distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais proacuteprios da modernidade A ordem societaacuteria atual busca uma seacuterie de igualdades justas que natildeo satildeo coincidentes e natildeo vecircm automaticamente na esteira da liberdade6

No debate sobre a igualdade hoje no plano eacutetico-poliacutetico perpassa o que se denomina igualitarismo complexo que conteacutem um adensamento da ideacuteia de igualdade enriquecendo-a com outros valores e mesmo transigindo em relaccedilatildeo a esta em alguns casos para manter uma justiccedila nos arranjos sociais reordenando assim as desigualdades justas Por outro lado uma restriccedilatildeo ao ideal de igualdade absoluta se justifica a partir da diversidade empiacuterica das pessoas o que forneceria argumentos para a naturalizaccedilatildeo de desigualdades do mundo social Coloca Kersnetzvsky (1999 p6) que o igualitarismo seria condicionado tanto pela presenccedila de outros valores como pela postulaccedilatildeo natural da diversidade humana

Tal posiccedilatildeo teoacuterica contrapotildee-se agraves criacuteticas ao ser humano abstrato disseminada entre a esquerda poacutes-moderna e os teoacutericos mais radicais dos movimentos negro e feminista nos Estados Unidos expressa no elogio indiscriminado da diferenccedila reiterando antigos posicionamentos do seacuteculo passado como o de Edmund Burke e Joseph de Maistre que em plena luta contra a ideacuteia de direitos humanos universais aferravam-se agrave constataccedilatildeo empiacuterica das diferenccedilas (Coelho 1999)

Pierucci (1999) afirma que a luta contra as vaacuterias discriminaccedilotildees ao mesmo tempo que procura afirmar a identidade o valor e a originalidade de um segmento ou grupo legitima que as diferenccedilas sejam enfocadas e as distacircncias alargadas em nome de uma singularidade primaacuteria

Complementando na mesma direccedilatildeo Coelho (1999p3) refere

6 Por exemplo as proposiccedilotildees da social democracia indicam mais ou maior igualdade com uma certa restriccedilatildeo da liberdade desde que natildeo seja incompatiacutevel com o desenvolvimento capitalista Agravetualmente esta tensatildeo vem se fragilizando parece que chegando a um extremo de se olvidar a igualdade Mesmo as propostas da Terceira Via de um modelo gerativo de igualdade acoplando ao de nivelamento (GIDDENS 1996) satildeo deacutebeis em face da situaccedilatildeo de profunda desigualdade distributiva nos e entre os paiacuteses A proposiccedilatildeo de mudanccedila de estilo de vida buscando de outras formas o que Giddens considera bens relevantes - seguranccedila amor proacuteprio e auto-realizaccedilatildeo parece difiacutecil de ser alcanccedilada igualmente por todos

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No fundo o problema dessa e outras ciladas talvez seja redutiacutevel a um mal-entendido linguiacutestico soacute posso defender quem eacute diferente em nome da igualdade mas a defesa do diferente passa a se chamar num modismo poacutes-moderno defesa da Diferenccedila com letras maiuacutesculas e aiacute evidentemente a igualdade fica falando sozinha

Tuacutelio Kahn (2000) recupera o risco simboacutelico que significa os ataques agraves minorias Lembra que os grupos que mantecircm tais praacuteticas satildeo perigosos porque defendem ideacuteias que estatildeo adormecidas na sociedade ainda que abrandadas Isso pode ser evidenciado na seguinte afirmativa de Kahn (2000 p3)

Conheccedilo bons cidadatildeos que natildeo se julgam racistas nem de extrema direita tampouco andam de cabeccedilas raspadas que compartilham em algum grau noccedilotildees do tipo o Sudeste sustenta o resto do paiacutes nossas prisotildees estatildeo cheias de negros e nordestinos os gays satildeo os responsaacuteveis pela epidemia da Aids que xingam os demais de baianos e afirmam que jamais votariam numa nordestina ou num negro para a prefeitura

A igualdade analisada em sua dimensatildeo antropoloacutegica traz a noccedilatildeo da cultura do diferente do exoacutetico do desviante e do anormal A busca do diferente do exoacutetico tem um poder mobilizador que impulsiona ou impulsionou grande parte das descobertas humanas sendo portanto um aspecto positivo no processo civilizatoacuterio Gerd Borhein7 aponta que em passado distante a busca das especiarias das sedas de novos mundos e civilizaccedilotildees - a busca pela novidade enquanto alteraccedilatildeo da mesmice -possibilitou a era das descobertas e o progresso subsequente a busca do outro do diferente do que natildeo eacute igual e que pode contribuir para enriquecer uma civilizaccedilatildeo

Por outro lado a contrapartida do diferente do exoacutetico eacute o que tem de ameaccedilador agraves culturas estabelecidas e que assim deve ser mantido a uma distacircncia segura Os mecanismos para manter tal distacircncia satildeo

7 Conferecircncia pronunciada na 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC em Porto Alegre em 13 de julho de 1999 intitulada Democracia e Alteridade

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diferenciados e estabelecidos pelo corpo social no sentido de manutenccedilatildeo de sua coesatildeo Assim as ameaccedilas devem ser afastadas e o medo eacute transformado em atitudes preconceituosas em esquemas de exclusatildeo do conviacutevio social em privaccedilotildees de todo o tipo Natildeo haacute o sentido da alteridade do respeito ao outro que eacute diferente e que participa de minha existecircncia exatamente como eacute sem ser igual a mim (Jacquard apud Barroco 1999)

Do mesmo modo Riu e Moratoacute(iacute 999p) apontam que

Es la alteridad o causa de distincioacuten entre dos o maacutes cosas o individuos de modo que puede hablarse de lo que es numericamente distinto cuando dos cosas se distinguen solo por ser indiviacuteduos distintos dentro de una misma especie o de lo que es especificamente distinto porque las cosas o indiviacuteduos pertenecen a especies distintas La diferencia permite la distincioacuten y la clasificacioacuten

A diferenccedila portanto tem a possibilidade de classificar o que eacute distinto e de classificar positiva ou negativamente os indiviacuteduos e grupos O atributo que marca a distinccedilatildeo merece um olhar condescendente ou rigoroso em decorrecircncia de sua relaccedilatildeo com o todo social Do mesmo modo a diferenccedila eacute sempre relacional relativa a algo ou a algueacutem Complementando Santos (1995) diz que se deve buscar a igualdade sempre que a diferenccedila inferiorizar as pessoas e manter a diferenccedila quando a igualdade descaracterizar o ser humano enquanto pessoa

Equidade por sua vez impotildee a busca da igualdade por meio do reconhecimento da desigualdade A equidade diz respeito agrave justiccedila agrave imparcialidade em sua acepccedilatildeo original O que eacute justo ou natildeo Em que medida Como aferir a justiccedila Estas questotildees estatildeo no epicentro da discussatildeo sobre a relaccedilatildeo equidade e igualdade

Entre os autores contemporacircneos John Rawls8 eacute que vem tratando de forma sistemaacutetica a relaccedilatildeo entre justiccedila liberdade igualdade e

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8 John Rawls eacute visto como um autor bastante polecircmico sendo que considera sua obra principal Uma Teoria da Justiccedila uma alternativa ao utilitarismo que pensa ser fraacutegil para dar fundamento agraves democracias ocidentais Outros autores como Riu e Morato (1998) apontam que sua proposta reatualiza o utilitarismo

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equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Fica patente que o criteacuterio usado para a justiccedila eacute o do meacuterito e que a distribuiccedilatildeo equitativa faz parte da natureza O liberalismo claacutessico garantia uma igualdade de proteccedilatildeo agrave liberdade agrave vida e agrave propriedade a todos os indiviacuteduos fundamento do contrato social Persistia a distinccedilatildeo de quem era o indiviacuteduo com liberdades civis garantidas isto eacute os proprietaacuterios excluindo 3

4 se os negros e os iacutendios

Giddens (1996) fala de um modelo gerativo de igualdade que viria a abranger as quatro extensas dimensotildees da modernidade - a reduccedilatildeo da pobreza (absoluta ou relativa) restaurar a degradaccedilatildeo do meio ambiente contestar o poder arbitraacuterio e reduzir o papel da forccedila e da violecircncia na vida social Justifica e sugere que a busca da igualdade deve ultrapassar as tradicionais dicotomias esquerda e direita paiacuteses ricos e pobres e as questotildees de gecircnero que devem ser vistas por outro prisma

Uma das dificuldades para se apreciar a concepccedilatildeo de igualdade eacute a sua dubiedade isto eacute natildeo tem um sentido uacutenico podendo ser aplicada tanto quando se fala em idecircntico como quando se fala em igual o que pode chegar a conotar justiccedila Haacute uma fusatildeo de aspectos naturais com julgamentos de ordem moral o que dificulta resolver o impasse Quando se argumenta partindo de princiacutepios da ordem valorativa a igualdade eacute justa quando se reconhecem as desigualdades naturais Assim para Sartori (1994pll0)

Se a igualdade eacute um princiacutepio moral entatildeo buscamos a igualdade por pensarmos que eacute um objeto justo - natildeo porque os homens sejam idecircnticos mas porque sentimos que devem ser tratados como se fossem (embora na realidade natildeo sejam) Isto eacute atestado historicamente pelo fato de nossos princiacutepios igualitaacuterios mais fundamentais (isto eacute ser igual em liberdade leis iguais igualdades perante alei) natildeo terem derivado da premissa que os homens satildeo idecircnticos [ ] No momento em que separamos o sentido moral do sentido fiacutesico de igualdade percebemos que a verdade eacute exatamente o oposto Afirmamos que eacute justo promover certas igualdades precisamente para compensar o fato de que os homens nascem ou podem nascer diferentes

Contemporaneamente haacute tambeacutem uma cisatildeo entre liberdade e igualdade sendo reconhecido que o liberalismo econocircmico induziu a

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desigualdades no acesso tanto a direitos fundamentais quanto agrave justa distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais proacuteprios da modernidade A ordem societaacuteria atual busca uma seacuterie de igualdades justas que natildeo satildeo coincidentes e natildeo vecircm automaticamente na esteira da liberdade6

No debate sobre a igualdade hoje no plano eacutetico-poliacutetico perpassa o que se denomina igualitarismo complexo que conteacutem um adensamento da ideacuteia de igualdade enriquecendo-a com outros valores e mesmo transigindo em relaccedilatildeo a esta em alguns casos para manter uma justiccedila nos arranjos sociais reordenando assim as desigualdades justas Por outro lado uma restriccedilatildeo ao ideal de igualdade absoluta se justifica a partir da diversidade empiacuterica das pessoas o que forneceria argumentos para a naturalizaccedilatildeo de desigualdades do mundo social Coloca Kersnetzvsky (1999 p6) que o igualitarismo seria condicionado tanto pela presenccedila de outros valores como pela postulaccedilatildeo natural da diversidade humana

Tal posiccedilatildeo teoacuterica contrapotildee-se agraves criacuteticas ao ser humano abstrato disseminada entre a esquerda poacutes-moderna e os teoacutericos mais radicais dos movimentos negro e feminista nos Estados Unidos expressa no elogio indiscriminado da diferenccedila reiterando antigos posicionamentos do seacuteculo passado como o de Edmund Burke e Joseph de Maistre que em plena luta contra a ideacuteia de direitos humanos universais aferravam-se agrave constataccedilatildeo empiacuterica das diferenccedilas (Coelho 1999)

Pierucci (1999) afirma que a luta contra as vaacuterias discriminaccedilotildees ao mesmo tempo que procura afirmar a identidade o valor e a originalidade de um segmento ou grupo legitima que as diferenccedilas sejam enfocadas e as distacircncias alargadas em nome de uma singularidade primaacuteria

Complementando na mesma direccedilatildeo Coelho (1999p3) refere

6 Por exemplo as proposiccedilotildees da social democracia indicam mais ou maior igualdade com uma certa restriccedilatildeo da liberdade desde que natildeo seja incompatiacutevel com o desenvolvimento capitalista Agravetualmente esta tensatildeo vem se fragilizando parece que chegando a um extremo de se olvidar a igualdade Mesmo as propostas da Terceira Via de um modelo gerativo de igualdade acoplando ao de nivelamento (GIDDENS 1996) satildeo deacutebeis em face da situaccedilatildeo de profunda desigualdade distributiva nos e entre os paiacuteses A proposiccedilatildeo de mudanccedila de estilo de vida buscando de outras formas o que Giddens considera bens relevantes - seguranccedila amor proacuteprio e auto-realizaccedilatildeo parece difiacutecil de ser alcanccedilada igualmente por todos

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No fundo o problema dessa e outras ciladas talvez seja redutiacutevel a um mal-entendido linguiacutestico soacute posso defender quem eacute diferente em nome da igualdade mas a defesa do diferente passa a se chamar num modismo poacutes-moderno defesa da Diferenccedila com letras maiuacutesculas e aiacute evidentemente a igualdade fica falando sozinha

Tuacutelio Kahn (2000) recupera o risco simboacutelico que significa os ataques agraves minorias Lembra que os grupos que mantecircm tais praacuteticas satildeo perigosos porque defendem ideacuteias que estatildeo adormecidas na sociedade ainda que abrandadas Isso pode ser evidenciado na seguinte afirmativa de Kahn (2000 p3)

Conheccedilo bons cidadatildeos que natildeo se julgam racistas nem de extrema direita tampouco andam de cabeccedilas raspadas que compartilham em algum grau noccedilotildees do tipo o Sudeste sustenta o resto do paiacutes nossas prisotildees estatildeo cheias de negros e nordestinos os gays satildeo os responsaacuteveis pela epidemia da Aids que xingam os demais de baianos e afirmam que jamais votariam numa nordestina ou num negro para a prefeitura

A igualdade analisada em sua dimensatildeo antropoloacutegica traz a noccedilatildeo da cultura do diferente do exoacutetico do desviante e do anormal A busca do diferente do exoacutetico tem um poder mobilizador que impulsiona ou impulsionou grande parte das descobertas humanas sendo portanto um aspecto positivo no processo civilizatoacuterio Gerd Borhein7 aponta que em passado distante a busca das especiarias das sedas de novos mundos e civilizaccedilotildees - a busca pela novidade enquanto alteraccedilatildeo da mesmice -possibilitou a era das descobertas e o progresso subsequente a busca do outro do diferente do que natildeo eacute igual e que pode contribuir para enriquecer uma civilizaccedilatildeo

Por outro lado a contrapartida do diferente do exoacutetico eacute o que tem de ameaccedilador agraves culturas estabelecidas e que assim deve ser mantido a uma distacircncia segura Os mecanismos para manter tal distacircncia satildeo

7 Conferecircncia pronunciada na 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC em Porto Alegre em 13 de julho de 1999 intitulada Democracia e Alteridade

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diferenciados e estabelecidos pelo corpo social no sentido de manutenccedilatildeo de sua coesatildeo Assim as ameaccedilas devem ser afastadas e o medo eacute transformado em atitudes preconceituosas em esquemas de exclusatildeo do conviacutevio social em privaccedilotildees de todo o tipo Natildeo haacute o sentido da alteridade do respeito ao outro que eacute diferente e que participa de minha existecircncia exatamente como eacute sem ser igual a mim (Jacquard apud Barroco 1999)

Do mesmo modo Riu e Moratoacute(iacute 999p) apontam que

Es la alteridad o causa de distincioacuten entre dos o maacutes cosas o individuos de modo que puede hablarse de lo que es numericamente distinto cuando dos cosas se distinguen solo por ser indiviacuteduos distintos dentro de una misma especie o de lo que es especificamente distinto porque las cosas o indiviacuteduos pertenecen a especies distintas La diferencia permite la distincioacuten y la clasificacioacuten

A diferenccedila portanto tem a possibilidade de classificar o que eacute distinto e de classificar positiva ou negativamente os indiviacuteduos e grupos O atributo que marca a distinccedilatildeo merece um olhar condescendente ou rigoroso em decorrecircncia de sua relaccedilatildeo com o todo social Do mesmo modo a diferenccedila eacute sempre relacional relativa a algo ou a algueacutem Complementando Santos (1995) diz que se deve buscar a igualdade sempre que a diferenccedila inferiorizar as pessoas e manter a diferenccedila quando a igualdade descaracterizar o ser humano enquanto pessoa

Equidade por sua vez impotildee a busca da igualdade por meio do reconhecimento da desigualdade A equidade diz respeito agrave justiccedila agrave imparcialidade em sua acepccedilatildeo original O que eacute justo ou natildeo Em que medida Como aferir a justiccedila Estas questotildees estatildeo no epicentro da discussatildeo sobre a relaccedilatildeo equidade e igualdade

Entre os autores contemporacircneos John Rawls8 eacute que vem tratando de forma sistemaacutetica a relaccedilatildeo entre justiccedila liberdade igualdade e

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8 John Rawls eacute visto como um autor bastante polecircmico sendo que considera sua obra principal Uma Teoria da Justiccedila uma alternativa ao utilitarismo que pensa ser fraacutegil para dar fundamento agraves democracias ocidentais Outros autores como Riu e Morato (1998) apontam que sua proposta reatualiza o utilitarismo

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equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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desigualdades no acesso tanto a direitos fundamentais quanto agrave justa distribuiccedilatildeo dos bens materiais e imateriais proacuteprios da modernidade A ordem societaacuteria atual busca uma seacuterie de igualdades justas que natildeo satildeo coincidentes e natildeo vecircm automaticamente na esteira da liberdade6

No debate sobre a igualdade hoje no plano eacutetico-poliacutetico perpassa o que se denomina igualitarismo complexo que conteacutem um adensamento da ideacuteia de igualdade enriquecendo-a com outros valores e mesmo transigindo em relaccedilatildeo a esta em alguns casos para manter uma justiccedila nos arranjos sociais reordenando assim as desigualdades justas Por outro lado uma restriccedilatildeo ao ideal de igualdade absoluta se justifica a partir da diversidade empiacuterica das pessoas o que forneceria argumentos para a naturalizaccedilatildeo de desigualdades do mundo social Coloca Kersnetzvsky (1999 p6) que o igualitarismo seria condicionado tanto pela presenccedila de outros valores como pela postulaccedilatildeo natural da diversidade humana

Tal posiccedilatildeo teoacuterica contrapotildee-se agraves criacuteticas ao ser humano abstrato disseminada entre a esquerda poacutes-moderna e os teoacutericos mais radicais dos movimentos negro e feminista nos Estados Unidos expressa no elogio indiscriminado da diferenccedila reiterando antigos posicionamentos do seacuteculo passado como o de Edmund Burke e Joseph de Maistre que em plena luta contra a ideacuteia de direitos humanos universais aferravam-se agrave constataccedilatildeo empiacuterica das diferenccedilas (Coelho 1999)

Pierucci (1999) afirma que a luta contra as vaacuterias discriminaccedilotildees ao mesmo tempo que procura afirmar a identidade o valor e a originalidade de um segmento ou grupo legitima que as diferenccedilas sejam enfocadas e as distacircncias alargadas em nome de uma singularidade primaacuteria

Complementando na mesma direccedilatildeo Coelho (1999p3) refere

6 Por exemplo as proposiccedilotildees da social democracia indicam mais ou maior igualdade com uma certa restriccedilatildeo da liberdade desde que natildeo seja incompatiacutevel com o desenvolvimento capitalista Agravetualmente esta tensatildeo vem se fragilizando parece que chegando a um extremo de se olvidar a igualdade Mesmo as propostas da Terceira Via de um modelo gerativo de igualdade acoplando ao de nivelamento (GIDDENS 1996) satildeo deacutebeis em face da situaccedilatildeo de profunda desigualdade distributiva nos e entre os paiacuteses A proposiccedilatildeo de mudanccedila de estilo de vida buscando de outras formas o que Giddens considera bens relevantes - seguranccedila amor proacuteprio e auto-realizaccedilatildeo parece difiacutecil de ser alcanccedilada igualmente por todos

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No fundo o problema dessa e outras ciladas talvez seja redutiacutevel a um mal-entendido linguiacutestico soacute posso defender quem eacute diferente em nome da igualdade mas a defesa do diferente passa a se chamar num modismo poacutes-moderno defesa da Diferenccedila com letras maiuacutesculas e aiacute evidentemente a igualdade fica falando sozinha

Tuacutelio Kahn (2000) recupera o risco simboacutelico que significa os ataques agraves minorias Lembra que os grupos que mantecircm tais praacuteticas satildeo perigosos porque defendem ideacuteias que estatildeo adormecidas na sociedade ainda que abrandadas Isso pode ser evidenciado na seguinte afirmativa de Kahn (2000 p3)

Conheccedilo bons cidadatildeos que natildeo se julgam racistas nem de extrema direita tampouco andam de cabeccedilas raspadas que compartilham em algum grau noccedilotildees do tipo o Sudeste sustenta o resto do paiacutes nossas prisotildees estatildeo cheias de negros e nordestinos os gays satildeo os responsaacuteveis pela epidemia da Aids que xingam os demais de baianos e afirmam que jamais votariam numa nordestina ou num negro para a prefeitura

A igualdade analisada em sua dimensatildeo antropoloacutegica traz a noccedilatildeo da cultura do diferente do exoacutetico do desviante e do anormal A busca do diferente do exoacutetico tem um poder mobilizador que impulsiona ou impulsionou grande parte das descobertas humanas sendo portanto um aspecto positivo no processo civilizatoacuterio Gerd Borhein7 aponta que em passado distante a busca das especiarias das sedas de novos mundos e civilizaccedilotildees - a busca pela novidade enquanto alteraccedilatildeo da mesmice -possibilitou a era das descobertas e o progresso subsequente a busca do outro do diferente do que natildeo eacute igual e que pode contribuir para enriquecer uma civilizaccedilatildeo

Por outro lado a contrapartida do diferente do exoacutetico eacute o que tem de ameaccedilador agraves culturas estabelecidas e que assim deve ser mantido a uma distacircncia segura Os mecanismos para manter tal distacircncia satildeo

7 Conferecircncia pronunciada na 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC em Porto Alegre em 13 de julho de 1999 intitulada Democracia e Alteridade

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diferenciados e estabelecidos pelo corpo social no sentido de manutenccedilatildeo de sua coesatildeo Assim as ameaccedilas devem ser afastadas e o medo eacute transformado em atitudes preconceituosas em esquemas de exclusatildeo do conviacutevio social em privaccedilotildees de todo o tipo Natildeo haacute o sentido da alteridade do respeito ao outro que eacute diferente e que participa de minha existecircncia exatamente como eacute sem ser igual a mim (Jacquard apud Barroco 1999)

Do mesmo modo Riu e Moratoacute(iacute 999p) apontam que

Es la alteridad o causa de distincioacuten entre dos o maacutes cosas o individuos de modo que puede hablarse de lo que es numericamente distinto cuando dos cosas se distinguen solo por ser indiviacuteduos distintos dentro de una misma especie o de lo que es especificamente distinto porque las cosas o indiviacuteduos pertenecen a especies distintas La diferencia permite la distincioacuten y la clasificacioacuten

A diferenccedila portanto tem a possibilidade de classificar o que eacute distinto e de classificar positiva ou negativamente os indiviacuteduos e grupos O atributo que marca a distinccedilatildeo merece um olhar condescendente ou rigoroso em decorrecircncia de sua relaccedilatildeo com o todo social Do mesmo modo a diferenccedila eacute sempre relacional relativa a algo ou a algueacutem Complementando Santos (1995) diz que se deve buscar a igualdade sempre que a diferenccedila inferiorizar as pessoas e manter a diferenccedila quando a igualdade descaracterizar o ser humano enquanto pessoa

Equidade por sua vez impotildee a busca da igualdade por meio do reconhecimento da desigualdade A equidade diz respeito agrave justiccedila agrave imparcialidade em sua acepccedilatildeo original O que eacute justo ou natildeo Em que medida Como aferir a justiccedila Estas questotildees estatildeo no epicentro da discussatildeo sobre a relaccedilatildeo equidade e igualdade

Entre os autores contemporacircneos John Rawls8 eacute que vem tratando de forma sistemaacutetica a relaccedilatildeo entre justiccedila liberdade igualdade e

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8 John Rawls eacute visto como um autor bastante polecircmico sendo que considera sua obra principal Uma Teoria da Justiccedila uma alternativa ao utilitarismo que pensa ser fraacutegil para dar fundamento agraves democracias ocidentais Outros autores como Riu e Morato (1998) apontam que sua proposta reatualiza o utilitarismo

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equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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No fundo o problema dessa e outras ciladas talvez seja redutiacutevel a um mal-entendido linguiacutestico soacute posso defender quem eacute diferente em nome da igualdade mas a defesa do diferente passa a se chamar num modismo poacutes-moderno defesa da Diferenccedila com letras maiuacutesculas e aiacute evidentemente a igualdade fica falando sozinha

Tuacutelio Kahn (2000) recupera o risco simboacutelico que significa os ataques agraves minorias Lembra que os grupos que mantecircm tais praacuteticas satildeo perigosos porque defendem ideacuteias que estatildeo adormecidas na sociedade ainda que abrandadas Isso pode ser evidenciado na seguinte afirmativa de Kahn (2000 p3)

Conheccedilo bons cidadatildeos que natildeo se julgam racistas nem de extrema direita tampouco andam de cabeccedilas raspadas que compartilham em algum grau noccedilotildees do tipo o Sudeste sustenta o resto do paiacutes nossas prisotildees estatildeo cheias de negros e nordestinos os gays satildeo os responsaacuteveis pela epidemia da Aids que xingam os demais de baianos e afirmam que jamais votariam numa nordestina ou num negro para a prefeitura

A igualdade analisada em sua dimensatildeo antropoloacutegica traz a noccedilatildeo da cultura do diferente do exoacutetico do desviante e do anormal A busca do diferente do exoacutetico tem um poder mobilizador que impulsiona ou impulsionou grande parte das descobertas humanas sendo portanto um aspecto positivo no processo civilizatoacuterio Gerd Borhein7 aponta que em passado distante a busca das especiarias das sedas de novos mundos e civilizaccedilotildees - a busca pela novidade enquanto alteraccedilatildeo da mesmice -possibilitou a era das descobertas e o progresso subsequente a busca do outro do diferente do que natildeo eacute igual e que pode contribuir para enriquecer uma civilizaccedilatildeo

Por outro lado a contrapartida do diferente do exoacutetico eacute o que tem de ameaccedilador agraves culturas estabelecidas e que assim deve ser mantido a uma distacircncia segura Os mecanismos para manter tal distacircncia satildeo

7 Conferecircncia pronunciada na 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC em Porto Alegre em 13 de julho de 1999 intitulada Democracia e Alteridade

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diferenciados e estabelecidos pelo corpo social no sentido de manutenccedilatildeo de sua coesatildeo Assim as ameaccedilas devem ser afastadas e o medo eacute transformado em atitudes preconceituosas em esquemas de exclusatildeo do conviacutevio social em privaccedilotildees de todo o tipo Natildeo haacute o sentido da alteridade do respeito ao outro que eacute diferente e que participa de minha existecircncia exatamente como eacute sem ser igual a mim (Jacquard apud Barroco 1999)

Do mesmo modo Riu e Moratoacute(iacute 999p) apontam que

Es la alteridad o causa de distincioacuten entre dos o maacutes cosas o individuos de modo que puede hablarse de lo que es numericamente distinto cuando dos cosas se distinguen solo por ser indiviacuteduos distintos dentro de una misma especie o de lo que es especificamente distinto porque las cosas o indiviacuteduos pertenecen a especies distintas La diferencia permite la distincioacuten y la clasificacioacuten

A diferenccedila portanto tem a possibilidade de classificar o que eacute distinto e de classificar positiva ou negativamente os indiviacuteduos e grupos O atributo que marca a distinccedilatildeo merece um olhar condescendente ou rigoroso em decorrecircncia de sua relaccedilatildeo com o todo social Do mesmo modo a diferenccedila eacute sempre relacional relativa a algo ou a algueacutem Complementando Santos (1995) diz que se deve buscar a igualdade sempre que a diferenccedila inferiorizar as pessoas e manter a diferenccedila quando a igualdade descaracterizar o ser humano enquanto pessoa

Equidade por sua vez impotildee a busca da igualdade por meio do reconhecimento da desigualdade A equidade diz respeito agrave justiccedila agrave imparcialidade em sua acepccedilatildeo original O que eacute justo ou natildeo Em que medida Como aferir a justiccedila Estas questotildees estatildeo no epicentro da discussatildeo sobre a relaccedilatildeo equidade e igualdade

Entre os autores contemporacircneos John Rawls8 eacute que vem tratando de forma sistemaacutetica a relaccedilatildeo entre justiccedila liberdade igualdade e

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8 John Rawls eacute visto como um autor bastante polecircmico sendo que considera sua obra principal Uma Teoria da Justiccedila uma alternativa ao utilitarismo que pensa ser fraacutegil para dar fundamento agraves democracias ocidentais Outros autores como Riu e Morato (1998) apontam que sua proposta reatualiza o utilitarismo

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equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

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SER SOCIAL 6

diferenciados e estabelecidos pelo corpo social no sentido de manutenccedilatildeo de sua coesatildeo Assim as ameaccedilas devem ser afastadas e o medo eacute transformado em atitudes preconceituosas em esquemas de exclusatildeo do conviacutevio social em privaccedilotildees de todo o tipo Natildeo haacute o sentido da alteridade do respeito ao outro que eacute diferente e que participa de minha existecircncia exatamente como eacute sem ser igual a mim (Jacquard apud Barroco 1999)

Do mesmo modo Riu e Moratoacute(iacute 999p) apontam que

Es la alteridad o causa de distincioacuten entre dos o maacutes cosas o individuos de modo que puede hablarse de lo que es numericamente distinto cuando dos cosas se distinguen solo por ser indiviacuteduos distintos dentro de una misma especie o de lo que es especificamente distinto porque las cosas o indiviacuteduos pertenecen a especies distintas La diferencia permite la distincioacuten y la clasificacioacuten

A diferenccedila portanto tem a possibilidade de classificar o que eacute distinto e de classificar positiva ou negativamente os indiviacuteduos e grupos O atributo que marca a distinccedilatildeo merece um olhar condescendente ou rigoroso em decorrecircncia de sua relaccedilatildeo com o todo social Do mesmo modo a diferenccedila eacute sempre relacional relativa a algo ou a algueacutem Complementando Santos (1995) diz que se deve buscar a igualdade sempre que a diferenccedila inferiorizar as pessoas e manter a diferenccedila quando a igualdade descaracterizar o ser humano enquanto pessoa

Equidade por sua vez impotildee a busca da igualdade por meio do reconhecimento da desigualdade A equidade diz respeito agrave justiccedila agrave imparcialidade em sua acepccedilatildeo original O que eacute justo ou natildeo Em que medida Como aferir a justiccedila Estas questotildees estatildeo no epicentro da discussatildeo sobre a relaccedilatildeo equidade e igualdade

Entre os autores contemporacircneos John Rawls8 eacute que vem tratando de forma sistemaacutetica a relaccedilatildeo entre justiccedila liberdade igualdade e

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8 John Rawls eacute visto como um autor bastante polecircmico sendo que considera sua obra principal Uma Teoria da Justiccedila uma alternativa ao utilitarismo que pensa ser fraacutegil para dar fundamento agraves democracias ocidentais Outros autores como Riu e Morato (1998) apontam que sua proposta reatualiza o utilitarismo

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

SER SOCIAL 6

aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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equidade Sua contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre a justiccedila social eacute inegaacutevel ainda que polecircmica e instiga de forma constante debates sobre a temaacutetica

Considera Rawls( 1997) que uma concepccedilatildeo partilhada de justiccedila estabelece e fundamenta a convivecircncia ciacutevica e tem sua expressatildeo formalizada nas cartas constitucionais Distinguindo o conceito de justiccedila da concepccedilatildeo de justiccedila considera que uma instituiccedilatildeo social eacute justa quando natildeo faz distinccedilatildeo arbitraacuteria entre as pessoas na atribuiccedilatildeo de direito e deveres e quando determina um equiliacutebrio adequado entre solicitaccedilotildees plurais e conflitantes entre as pessoas9

A equidade enquanto princiacutepio eacutetico-poliacutetico vem subsidiando propostas de ordenamento que veiculam outra ideacuteia de justiccedila e igualdade Tais posiccedilotildees centradas na confluecircncia sociedade - mercado vecircm merecendo criacuteticas cerradas dos defensores de uma igualdade de resultados como Petrella (1999)

le marcheacute reacutealise la veacuteritable justice sociale par llaquoeacutequiteacuteraquo Contrairement agrave VEtat du bien-ecirctre preacutesenteacute comme un facteur dinjustice parce que sa politique redistributive peacutenaliserait Vinitiative individuelle la laquo socieacuteteacute de marcheacute raquo serait profondeacutement juste En permettant agrave tout individu dentrer en concurrence elle lui donne en effet la possibilite de se prendre en charge dassurer son bien-ecirctre par ses propres initiatives et par sa creacuteativiteacute Cette thegravese presente de grandes ressemblances avec lapenseacutee de John Rawls ainsi qu avec celle des theacuteoriciens de la laquotroisiegraveme voieraquo tel Anthony Giddens maicirctre agrave penser de M Anthony Blair

A igualdade e a desigualdade hoje assumem um perfil especiacutefico decorrente de uma configuraccedilatildeo particular dos modos da sociedade produzir e se reproduzir segundo os princiacutepio dominantes do sistema capitalista Coloca-se a exclusatildeo social como uma situaccedilatildeo de hoje retratada com percuciecircncia por Castel (1998 p23)

9 Esta posiccedilatildeo de Rawls me parece que recoloca um problema jaacute apontado na concepccedilatildeo de cidadania de Marshall que eacute o de definir o que eacute o adequado e qual o limite do arbitraacuterio Ainda que Rawls complemente indicando algumas saiacutedas especialmente a partir de criteacuterios normativos eacute um ponto que provoca polecircmica Penso ainda que eacute nesta posiccedilatildeo que se encontra claramente colocada sua ideacuteia de equidade como imparcialidade

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

SER SOCIAL 6

aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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a presenccedila aparentemente cada vez insistente de indiviacuteduos colocados em situaccedilatildeo de flutuaccedilatildeo na estrutura social e que povoam seus interstiacutecios sem encontrar aiacute um lugar designado Silhuetas incertas agrave margem do trabalho e das fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por periacuteodo longo moradores dos subuacuterbios pobres beneficiaacuterios da renda miacutenima de inserccedilatildeo viacutetimas das readaptaccedilotildees industriais jovens agrave procura de emprego e que passam de estaacutegio a estaacutegio de pequeno trabalho agrave ocupaccedilatildeo provisoacuteria - quem satildeo eles de onde vecircm como chegaram ao ponto em que estatildeo o que vatildeo se tornar

Pode-se afirmar que a exclusatildeo social natildeo eacute um fenocircmeno relativamente novo Vem na esteira do desenvolvimento capitalista desde o seacuteculo passado e decorre da proacutepria natureza de apropriaccedilatildeo que tal sistema exige A exclusatildeo social comeccedilou a caracterizar nossas sociedades democraacuteticas bem antes da globalizaccedilatildeo bem antes da tirania dos mercados financeiros antes do sistema monetaacuterio europeu e vinte anos antes do tratado de Maastricht (Geacuteneacutereux 1999 p22) O que eacute novidade eacute a sua relevacircncia nas uacuteltimas deacutecadas Robert Castel estabelece como marco da forte emergecircncia da noccedilatildeo de exclusatildeo na Franccedila o fim de 1992 e iniacutecio de 199310 Outros autores de tendecircncia culturalista apontam a emergecircncia da exclusatildeo a partir das dificuldades de integraccedilatildeo eacutetnica e religiosas proacuteprias deste fim de seacuteculo bem como o aprofundamento dos radicalismos religiosos e raciais

Sposati (1999 p65) indica que

Para entendermos a exclusatildeo social satildeo necessaacuterios vaacuterios recortes pois se trata ao mesmo tempo de um fenocircmeno um processo uma loacutegica que possui vaacuterias interpretaccedilotildees

Esta multiplicidade de concepccedilotildees permite afirmar que a exclusatildeo social eacute relativa cultural histoacuterica e gradual

10 Castel relaciona a explosatildeo da noccedilatildeo agrave superaccedilatildeo do patamar psicoloacutegico de mais de trecircs milhotildees de desempregados em fins de 1992

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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Isto significa que a exclusatildeo social pode variar entre os paiacuteses em diferentes momentos de um mesmo paiacutes como tambeacutem variar na sua graduaccedilatildeo em um mesmo momento

Enquanto uma categoria imprecisa a exclusatildeo necessariamente deve ser compreendida para aleacutem dos significados que o senso comum lhe atribui A primeira e mais usual identificaccedilatildeo eacute entre exclusatildeo e pobreza visatildeo reducionista e que acentua o caraacuteter econocircmico do processo e limita-o agrave capacidade aquisitiva de bens e materiais de consumo

Nascimento (1994 p61) entende que o excluiacutedo natildeo eacute apenas aquele que se encontra em situaccedilatildeo de carecircncia material mas aquele que natildeo eacute reconhecido como sujeito que eacute estigmatizado considerado nefasto ou perigoso agrave sociedade

A inclusatildeo supotildee uma referecircncia que adentra para a inclusatildeo em determinados costumes e atividades o que remete agrave dimensatildeo cultural Cada cultura constroacutei os seus sistemas de regulaccedilatildeo e exclui mediante esses sistemas os que aparentemente natildeo tecircm capacidade ou possibilidade de seguir tais padrotildees definidos como normais passiacuteveis de discriminaccedilatildeo

A exclusatildeo segundo Castel et al(1997p21) traduz atualmente

situaccedilotildees que traduzem uma degradaccedilatildeo relacionada a um posicionamento anterior Assim eacute a situaccedilatildeo vulneraacutevel de quem vive de um trabalho precaacuterio ou que ocupa uma moradia de onde pode ser expulso se natildeo cumprir os seus compromissos Os excluiacutedos povoam a zona mais perifeacuterica caracterizada pela perda do trabalho e pelo isolamento social

Haacute o que Castel et al (1997) denominam instalaccedilatildeo na precariedade cultura do aleatoacuterio com as pessoas vivendo o dia-a-dia sem a possibilidade de estabelecer planos e projetos de vida fora dos circuitos das relaccedilotildees de utilidade social - os sobrantes - eacute a exclusatildeo da possibilidade do sonho especialmente os jovens

Perante as outras classes da sociedade o pobre desempregado boacuteia-fria crianccedila mulher deficiente percebe-se e eacute percebido enquanto

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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negado Ele eacute o de fora o outro o negado Podemos dizer que isso contribui para a construccedilatildeo da realidade de dominaccedilatildeo-exploraccedilatildeo

A exclusatildeo perpassa com mais forccedila grupos eacutetnicos fragilizados A lei iguala vis-agrave-vis o juriacutedico e simultaneamente os diferencia pelo ajuntamento vis-agrave-vis as condiccedilotildees reais da organizaccedilatildeo social de raccedila etnia (Silva1999a)

Lembrando Bourdier (1989 p 129)

a existecircncia real da identidade supotildee a possibilidade real juriacutedica e politicamente garantida de afirmar oficialmente a diferenccedila qualquer unificaccedilatildeo que assimile aquilo que eacute diferente encerra o princiacutepio da dominaccedilatildeo de uma identidade sobre outra da negaccedilatildeo de uma identidade por outra

Outro autor que aborda a temaacutetica exclusatildeoinclusatildeo de maneira recorrente e atual eacute Boaventura de Sousa Santos (1998a p3) Ao analisar o que denomina fascismos sociais trabalha com a ideacuteia de exclusatildeo -inclusatildeo a partir de uma anaacutelise do contrato social que considera a metaacutefora fundadora da racionalidade social e poliacutetica da modernidade ocidental Como qualquer outro assenta-se em criteacuterios de inclusatildeo -que portanto satildeo tambeacutem de exclusatildeo Segundo Santos (1998b p3) o paradigma do contratualismo moderno eacute a da predominacircncia estrutura] dos processos de exclusatildeo sobre os de inclusatildeo sob duas formas o poacutes-contratualismo e o preacute-contratualismo No primeiro grupos incluiacutedos no contrato social em nome de uma cidadania satildeo dele excluiacutedos e na segunda forma satildeo grupos que nunca estiveram incluiacutedos que natildeo tecircm possibilidade de inclusatildeo

O preacute-contratualismo consiste no bloqueio do acesso agrave cidadania para grupos sociais (por exemplo jovens em busca do primeiro emprego) que anteriormente tinham a expectativa fundada de a ela ascender As exclusotildees produzidas satildeo radicais e inelutaacuteveis a tal ponto que os que a sofrem apesar de formalmente cidadatildeos satildeo de fato excluiacutedos da sociedade civil e lanccedilados em Estado de nature

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Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

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aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Estas duas formas de exclusatildeo levariam ao que se denomina fascismo social que natildeo se trata de um regime poliacutetico mas de uma situaccedilatildeo muito mais grave porque social e civilizacional Indica Santos (1998a) trecircs formas fundamentais da sociabilidade fascista a primeira seria o fascismo do apartheid social a segunda forma a do fascismo paraestatal compreendendo a usurpaccedilatildeo de prerrogativas estatais de regulaccedilatildeo social por atores sociais poderosos que neutralizam ou suplantam o controle social dos Estados11 e a terceira forma seria o fascismo da inseguranccedila Este parece ser o mais perverso pelas consequecircncias que produz conforme Santos (1998b p3)

com a manipulaccedilatildeo discricionaacuteria da inseguranccedila de pessoas e grupos sociais vulnerabilizados por precariedade do trabalho doenccedila ou outros problemas produzindo-lhes elevada ansiedade quanto ao presente e ao futuro de modo a baixar o horizonte de expectativas e criar a disponibilidade para suportar grandes encargos com reduccedilatildeo miacutenima de riscos e da inseguranccedila

Pelo exposto e concordando-se com Baraacuteibar (1999) constata-se que a exclusatildeo social eacute um conceito multidimensional o que implica o resgate de distintas dimensotildees imbricadas entre si para aproximar-se do fenocircmeno Eacute ainda um processo natildeo havendo um limite fixo uma fronteira demarcada do grau de vulnerabilidade que caracteriza a exclusatildeo - um indiviacuteduo transita de uma situaccedilatildeo gradual de desfiliaccedilatildeo a qual se potencializa em diferentes dimensotildees E uma situaccedilatildeo construiacuteda ou produzida por um conjunto de decisotildees poliacuteticas e econocircmicas que reverberam em diferentes aacutereas da vida social

Novo contratualismo e direitos sociais - relaccedilatildeo com a exclusatildeo social

Hoje quando se discute no plano filosoacutefico e acadecircmico ou no plano operacional concreto a igualdade tem cada vez mais sido vinculada

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11 No Brasil exemplo emblemaacutetico deste tipo de fascismo pode ser visto no controle do traacutefico de drogas no abuso do traacutefico de influecircncias nas instacircncias parlamentares na violecircncia e na impunidade dos crimes perpetrados aos sem-terra nos abusos do poder entre outros

SER SOCIAL 6

aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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SER SOCIAL 6

supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ARCOVERDE ACB Questatildeo social no Brasil e Serviccedilo Social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

ARRETCHE M T da S Poliacuteticas sociais no Brasil Trabalho apresentado no seminaacuterio interno de planejamento da Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky Sobrinho Porto Alegre 1995

BANCO MUNDIAL Banco Mundial prevecirc que localizaccedilatildeo seraacute grande tendecircncia nova no seacuteculo XXI Disponiacutevel na internet http worldbankorghtmlextdrextme032pohtm 17 set 1999

BARAacuteIBAR X Articulacioacuten de lo diverso lecturas sobre la exclusioacuten social y sus desafios para el Trabajo Social In Serviccedilo Social e Sociedade n 59 Satildeo Paulo Cortez 1999

BARROCO ML Os fundamentos soacutecio-histoacutericos da eacutetica In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

BAUMAN Z Globalizaccedilatildeo as consequecircncias humanas Rio de Janeiro Jorge Zahar 1999

BOBBIO N Igualdade e Liberdade Satildeo Paulo Ediouro 1996

A Era dos Direitos Rio de Janeiro Campus 1992

N MATEUCCI N PASQUINO G Dicionaacuterio de Poliacutetica Brasiacutelia UNB 1994

O direito agrave vida e a eacutetica da sauacutede In Lua Nova n 30 Satildeo Paulo CEDEC 1993

BERLINQUER G Equidade Seletividade e Assistecircncia agrave sauacutede In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

BORHEIN G Democracia e alteridade Anais da 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC Porto Alegre SBPC 1999

BOURDIEU P O poder simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand 1989

CASTEL R As metamorfoses da questatildeo social Uma crocircnica do salaacuterio Satildeo Paulo Vozes 1998

WANDERLEY BELFIORE-WANDERLEY Desigualdade e a questatildeo social Satildeo Paulo Educ 1997

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SER SOCIAL 6

CHAUI Marilena Convite agrave filosofia 11ed Satildeo Paulo Aacutetica1999

CESARINO JR AF Direito Social Satildeo Paulo USP 1980

COELHO M Elogio da igualdade Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 10 out 1999 5 Cad p 9

COMPARATO FK Reacutequiem para uma Constituiccedilatildeo In LESB AUPIN I (org) O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

COSTA M A S D da A questatildeo da cidadania Sauacutede ciecircncia e sociedade Ano ln lp32-34 janjul 1996

FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

FELIPE ST (Org) Justiccedila como equidade Fundamentaccedilatildeo e interlocuccedilotildees polecircmicas (Kant Rawls Habermas) Florianoacutepolis Insular 1998

FOLHA DE SAtildeO PAULO Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 14 fev2000

Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 15 fev 2000

GEacuteNEREUX J O horror poliacutetico Rio de Janeiro Bertrand 1999

GIOVANELLA L et al Equidade em sauacutede no Brasil In Sauacutede em Debate 4950 Londrina CEBES1996

GIDDENS A Para aleacutem da direita e da esquerda Satildeo Paulo Unesp 1996

GONCcedilALVES R Distribuiccedilatildeo de riqueza e renda alternativa para a crise brasileira In LESBAUPIN I O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

HOBBES T Leviatatilde Os Pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1973

KAHN T O ataque careca Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 4 fev 2000 1 cad p3

KERSTENEZKY C L Desigualdades justas e igualdade complexa In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

KRISCHKE P (org) O contrato social ontem e hoje Satildeo Paulo Cortez 1993

LOCKE J Carta acerca da intoleracircncia Os pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1978

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

LOPES JRL Direito subjetivo e direitos sociais o dilema do Judiciaacuterio no Estado Social de Direito In FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

LOSURDO D Hegel Marx e a tradiccedilatildeo liberal Liberdade Igualdade Estado Satildeo Paulo UNESP 1998

MANGENOT M Lectures dissonantes des nouvelles pauvreteacutes Disponiacutevel nalnternet08 set 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199909 MANGENOT12450html

MARTIN HP SCHUMANN H A armadilha da globalizaccedilatildeo GIoboSatildeo Paulo 1998

MARTINS Joseacute de Souza Exclusatildeo social e a nova desigualdade Satildeo Paulo Paulus 1997

MARX K Os pensadores Abril Cultural Satildeo Paulo 1978

MEDEIROS M Princiacutepios de Justiccedila na alocaccedilatildeo de recursos em sauacutede Texto para discussatildeo n 687 Brasiacutelia Ipea 1999

MONTOYA-AGUILAR C MARIacuteN-LIRA M A Equiteacute internationale dans la couverture par les soins de santeacute primaires exemples de pays en voie de developpement World Health statistics quarterly V39n4p 336-3441986

MORIN E Os rumos da civilizaccedilatildeo Conferecircncia realizada na UFSC em 15 de setembro de 1993 Florianoacutepolis 1993

NASCIMENTO EP A exclusatildeo social no Brasil algumas hipoacuteteses de trabalho e quatro sugestotildees praacuteticas Cadernos do CEAS n52 Salvador Centro de Estudos e Accedilatildeo Social 1994

Modernidade eacutetica um desafio para vencer a loacutegica perversa da exclusatildeo In Proposta Ano 23 n 65 jun Rio de Janeiro FASE 1995

OLIVEIRA C A B de HENRIQUE W Determinantes da pobreza no Brasil um roteiro de estudo Satildeo Paulo em Perspectiva V4 n 2 p 25-28 abrjun 1990

PIERUCCI AF Cilada da diferenccedila Satildeo Paulo 341999

PETRELLA R La depossessioacuten de lEtat Disponiacutevel na Internet 19 ago 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199908PETRELLA 12326html

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SER SOCIAL 6

RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

RAWLS J Uma teoria da Justiccedila Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

RIU AM MORATO JC Dicionaacuterio de Filosofia Mdrid Herder 1996 CD- ROM

ROSANVALLON P A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998

ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1981

SANTOS BS Os fascismos sociais Folha de S Paulo Satildeo Paulo 6 set 1998 lcadp3

Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

SANTOS M Naccedilatildeo ativa naccedilatildeo passiva Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 nov 1998 Caderno Mais p 3

SARTORIG A teoria da democracia revisitada Vol II - As questotildees claacutessicas Satildeo PauloAacutetica 1994

SEN A Sobre eacutetica e economia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1999

SILVA Maria Aparecida de Moraes Errantes do fim do seacuteculo Satildeo Paulo Unesp 1999a

SILVA A A As relaccedilotildees Estado-sociedade e as formas de regulaccedilatildeo social Curso de Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999 (b)

TELLES V S Questatildeo Social afinal do que se trata Satildeo Paulo em perspectiva Vol 10 n4 outVdez Satildeo Paulo SEADE 1995

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

SURET-CANALE J As origens do capitalismo (seacuteculo XV a XIX) In PERRAULT G (Org) O livro negro do capitalismo Satildeo Paulo Record 1999

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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SER SOCIAL 6

aos direitos alccedilando um plano poliacutetico que vem se erigindo desde a Greacutecia antiga Os gregos dentro de sua tradiccedilatildeo democraacutetica instituiacuteram trecircs direitos fundamentais que definem o cidadatildeo liberdade igualdade e participaccedilatildeo no poder A compreensatildeo e o conteuacutedo destes trecircs direitos natildeo tecircm a mesma significaccedilatildeo em diferentes tempos sendo seu conteuacutedo determinado pela forma de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida social e da qual decorre a proacutepria instituiccedilatildeo do Estado moderno e suas transformaccedilotildees

Se para Aristoacuteteles a noccedilatildeo de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela redistribuiccedilatildeo da riqueza social quanto pela participaccedilatildeo no governo para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural entre homens livre e o trabalho origem e fundamento da propriedade privada Marx apud Losurdo (1998) iraacute afirmar que a igualdade soacute se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenccedilas de exploraccedilatildeo e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho

A trajetoacuteria dos direitos desde sua gecircnese em sociedades distintas inclui o aspecto das relaccedilotildees de poder e da divisatildeo de classe Tais pressupostos jaacute consolidados pelo liberalismo no final do seacuteculo XVIT definem as proacuteprias funccedilotildees do Estado e sua separaccedilatildeo da sociedade civil Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da forccedila natildeo tendo interferecircncia na sociedade civil a qual regula o conjunto de relaccedilotildees econocircmicas e sociais Assim o centro da sociedade civil eacute apropriedade privada que diferencia indiviacuteduos grupos e classes sociais e o centro do Estado eacute a garantia desta propriedade sem contudo mesclar poliacutetica e sociedade (Chauiacute 1999 p405) No pensamento liberal portanto satildeo fortalecidas a diferenccedila e a distacircncia entre Estado e sociedade A noccedilatildeo de democracia apresenta-se assim apenas do ponto de vista formal e relativo mas natildeo igualitaacuterio Nesta matriz somente o proprietaacuterio pode aspirar agrave cidadania residindo nisto seu caraacuteter excludente em que a cidadania natildeo transcende o universo das classes detentoras dos meios de produccedilatildeo12 Tais princiacutepios ainda que ampliados marcam a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Simionatto e Nogueira 1999)

12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

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12 Ainda que os princiacutepios do pensamento liberal burguecircs dos seacuteculos XVIII e XIX natildeo tivessem perdido seu valor a inserccedilatildeo das massas na arena poliacutetica ampliou a noccedilatildeo de democracia e com isso a possibilidade de instituiccedilatildeo de novos direitos e a efetiva realizaccedilatildeo de alguns direitos ateacute entatildeo formais

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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SER SOCIAL 6

Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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N MATEUCCI N PASQUINO G Dicionaacuterio de Poliacutetica Brasiacutelia UNB 1994

O direito agrave vida e a eacutetica da sauacutede In Lua Nova n 30 Satildeo Paulo CEDEC 1993

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WANDERLEY BELFIORE-WANDERLEY Desigualdade e a questatildeo social Satildeo Paulo Educ 1997

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COMPARATO FK Reacutequiem para uma Constituiccedilatildeo In LESB AUPIN I (org) O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

COSTA M A S D da A questatildeo da cidadania Sauacutede ciecircncia e sociedade Ano ln lp32-34 janjul 1996

FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

FELIPE ST (Org) Justiccedila como equidade Fundamentaccedilatildeo e interlocuccedilotildees polecircmicas (Kant Rawls Habermas) Florianoacutepolis Insular 1998

FOLHA DE SAtildeO PAULO Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 14 fev2000

Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 15 fev 2000

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GIOVANELLA L et al Equidade em sauacutede no Brasil In Sauacutede em Debate 4950 Londrina CEBES1996

GIDDENS A Para aleacutem da direita e da esquerda Satildeo Paulo Unesp 1996

GONCcedilALVES R Distribuiccedilatildeo de riqueza e renda alternativa para a crise brasileira In LESBAUPIN I O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

HOBBES T Leviatatilde Os Pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1973

KAHN T O ataque careca Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 4 fev 2000 1 cad p3

KERSTENEZKY C L Desigualdades justas e igualdade complexa In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

KRISCHKE P (org) O contrato social ontem e hoje Satildeo Paulo Cortez 1993

LOCKE J Carta acerca da intoleracircncia Os pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1978

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

LOPES JRL Direito subjetivo e direitos sociais o dilema do Judiciaacuterio no Estado Social de Direito In FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

LOSURDO D Hegel Marx e a tradiccedilatildeo liberal Liberdade Igualdade Estado Satildeo Paulo UNESP 1998

MANGENOT M Lectures dissonantes des nouvelles pauvreteacutes Disponiacutevel nalnternet08 set 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199909 MANGENOT12450html

MARTIN HP SCHUMANN H A armadilha da globalizaccedilatildeo GIoboSatildeo Paulo 1998

MARTINS Joseacute de Souza Exclusatildeo social e a nova desigualdade Satildeo Paulo Paulus 1997

MARX K Os pensadores Abril Cultural Satildeo Paulo 1978

MEDEIROS M Princiacutepios de Justiccedila na alocaccedilatildeo de recursos em sauacutede Texto para discussatildeo n 687 Brasiacutelia Ipea 1999

MONTOYA-AGUILAR C MARIacuteN-LIRA M A Equiteacute internationale dans la couverture par les soins de santeacute primaires exemples de pays en voie de developpement World Health statistics quarterly V39n4p 336-3441986

MORIN E Os rumos da civilizaccedilatildeo Conferecircncia realizada na UFSC em 15 de setembro de 1993 Florianoacutepolis 1993

NASCIMENTO EP A exclusatildeo social no Brasil algumas hipoacuteteses de trabalho e quatro sugestotildees praacuteticas Cadernos do CEAS n52 Salvador Centro de Estudos e Accedilatildeo Social 1994

Modernidade eacutetica um desafio para vencer a loacutegica perversa da exclusatildeo In Proposta Ano 23 n 65 jun Rio de Janeiro FASE 1995

OLIVEIRA C A B de HENRIQUE W Determinantes da pobreza no Brasil um roteiro de estudo Satildeo Paulo em Perspectiva V4 n 2 p 25-28 abrjun 1990

PIERUCCI AF Cilada da diferenccedila Satildeo Paulo 341999

PETRELLA R La depossessioacuten de lEtat Disponiacutevel na Internet 19 ago 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199908PETRELLA 12326html

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SER SOCIAL 6

RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

RAWLS J Uma teoria da Justiccedila Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

RIU AM MORATO JC Dicionaacuterio de Filosofia Mdrid Herder 1996 CD- ROM

ROSANVALLON P A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998

ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1981

SANTOS BS Os fascismos sociais Folha de S Paulo Satildeo Paulo 6 set 1998 lcadp3

Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

SANTOS M Naccedilatildeo ativa naccedilatildeo passiva Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 nov 1998 Caderno Mais p 3

SARTORIG A teoria da democracia revisitada Vol II - As questotildees claacutessicas Satildeo PauloAacutetica 1994

SEN A Sobre eacutetica e economia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1999

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TELLES V S Questatildeo Social afinal do que se trata Satildeo Paulo em perspectiva Vol 10 n4 outVdez Satildeo Paulo SEADE 1995

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

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TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo eacute segundo Hobsbawm (1982p77-80) um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria Para o autor ainda que o primeiro artigo da Declaraccedilatildeo indique que os homens nascem e vivem iguais perante as leis observa-se a existecircncia de distinccedilotildees no terreno da utilidade comum uma vez que esta se relaciona agrave proacutepria proposta instituiacuteda como direito natural sagrado inalienaacutevel e inviolaacutevel

Hoje se reconhece que haacute o esgotamento de padrotildees de sociabilidade tradicionais emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas em grande parte antagocircnicas e diferenciadas Na mesma tendecircncia o papel do Estado-naccedilatildeo vem-se remodelando ficando cada vez mais difiacutecil manter os seus mecanismos reguladores das relaccedilotildees e ordenamento social o que causa profundos desgastes no tecido social com o esgarccedilamento contiacutenuo dos direitos sociais

No que se refere ao Estado as mudanccedilas que vecircm sendo processadas em niacutevel mundial se traduzem em alteraccedilotildees juriacutedico-formais nas mais diferentes aacutereas reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteccedilatildeo social e alargando as fronteiras do espaccedilo privado Como consequecircncia direta e objetiva da reduccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico haacute a reduccedilatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas

Outro grande desafio na aacuterea dos direitos eacute a manutenccedilatildeo da garantia do direito ao trabalho Castel et al (1997) quando analisam a significaccedilatildeo do trabalho nas sociedades modernas natildeo em uma relaccedilatildeo apenas de produccedilatildeo mas como uma ponte privilegiada de inserccedilatildeo na estrutura social indicam o problema que eacute a desestabilizaccedilatildeo dos estaacuteveis aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliaccedilatildeo total Parte da populaccedilatildeo mundial jaacute natildeo se enquadra nos direitos civis ficando agrave margem dos ideais do homem com direito agrave vida agrave propriedade agrave liberdade e agrave igualdade Ainda na mesma direccedilatildeo Santos apud Baraacuteibar (1999) destaca que a inutilidade social de grandes camadas de trabalhadores caminha para o que denomina darwinismo social como eacute referido na seguinte citaccedilatildeo

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SER SOCIAL 6

Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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FOLHA DE SAtildeO PAULO Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 14 fev2000

Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 15 fev 2000

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MONTOYA-AGUILAR C MARIacuteN-LIRA M A Equiteacute internationale dans la couverture par les soins de santeacute primaires exemples de pays en voie de developpement World Health statistics quarterly V39n4p 336-3441986

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PIERUCCI AF Cilada da diferenccedila Satildeo Paulo 341999

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RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

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SANTOS BS Os fascismos sociais Folha de S Paulo Satildeo Paulo 6 set 1998 lcadp3

Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

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SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

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Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

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TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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Los indiviacuteduos son convocados a ser responsables por su destino gestores individuales de sus trayetorias sociales sem dependencias en planos pre-determinados El individuo es llamado a ser el senor de su destino cuando todo estaacute fuera de su control El intereacutes inidividual no parece susceptible de poder engregarse y organizarse en la sociedad capitalista

As grandes diferenccedilas sociais impedem que aqueles que estatildeo na base da piracircmide tenham uma vida digna e exerccedilam seu direito de cidadania Entatildeo o documento de cidadatildeo natildeo eacute o tiacutetulo de eleitor mas a carteira de trabalho (Costa 1996)

O direito ao trabalho e ao auto-sustento satildeo inerentes agrave condiccedilatildeo humana De fato um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis poliacuteticos e sociais mas se natildeo houver pleno emprego o direito agrave cidadania de uma parcela da populaccedilatildeo estaacute sendo violado Mas a cidadania das pessoas natildeo se esgota com o emprego Como tudo que eacute humano e a cidadania o eacute evolui e exige cada vez mais

Com o enfraquecimento da accedilatildeo reguladora do Estado os novos compromissos eacuteticos e poliacuteticos assumidos pelas naccedilotildees e o surgimento de novos atores sociais estatildeo levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatecirc-las Tal preocupaccedilatildeo se inscreve ainda se bem que em tempos recentes nos formuladores da ordem poliacutetica ocidental isto eacute as agecircncias de fomento ao desenvolvimento social e financeiro

Internacionalmente o nuacutemero de pessoas que vivem na pobreza absoluta continuaraacute a aumentar Segundo informe do Banco Mundial (1999 p3) cerca de 15 bilhatildeo de pessoas subsistiraacute com o equivalente a um doacutelar por dia esse nuacutemero era de 12 bilhatildeo em 1987 Ateacute 2015 o nuacutemero de pessoas que subsistem abaixo dessa linha internacional poderaacute atingir 19 bilhatildeo

A disparidade de renda tambeacutem tende a ampliar entre os paiacuteses industrializados e os em desenvolvimento sendo a consequecircncia imediata a piora violenta das condiccedilotildees de vida Ainda a respeito do bem-estar e

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qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ARCOVERDE ACB Questatildeo social no Brasil e Serviccedilo Social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

ARRETCHE M T da S Poliacuteticas sociais no Brasil Trabalho apresentado no seminaacuterio interno de planejamento da Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky Sobrinho Porto Alegre 1995

BANCO MUNDIAL Banco Mundial prevecirc que localizaccedilatildeo seraacute grande tendecircncia nova no seacuteculo XXI Disponiacutevel na internet http worldbankorghtmlextdrextme032pohtm 17 set 1999

BARAacuteIBAR X Articulacioacuten de lo diverso lecturas sobre la exclusioacuten social y sus desafios para el Trabajo Social In Serviccedilo Social e Sociedade n 59 Satildeo Paulo Cortez 1999

BARROCO ML Os fundamentos soacutecio-histoacutericos da eacutetica In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

BAUMAN Z Globalizaccedilatildeo as consequecircncias humanas Rio de Janeiro Jorge Zahar 1999

BOBBIO N Igualdade e Liberdade Satildeo Paulo Ediouro 1996

A Era dos Direitos Rio de Janeiro Campus 1992

N MATEUCCI N PASQUINO G Dicionaacuterio de Poliacutetica Brasiacutelia UNB 1994

O direito agrave vida e a eacutetica da sauacutede In Lua Nova n 30 Satildeo Paulo CEDEC 1993

BERLINQUER G Equidade Seletividade e Assistecircncia agrave sauacutede In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

BORHEIN G Democracia e alteridade Anais da 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC Porto Alegre SBPC 1999

BOURDIEU P O poder simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand 1989

CASTEL R As metamorfoses da questatildeo social Uma crocircnica do salaacuterio Satildeo Paulo Vozes 1998

WANDERLEY BELFIORE-WANDERLEY Desigualdade e a questatildeo social Satildeo Paulo Educ 1997

114

SER SOCIAL 6

CHAUI Marilena Convite agrave filosofia 11ed Satildeo Paulo Aacutetica1999

CESARINO JR AF Direito Social Satildeo Paulo USP 1980

COELHO M Elogio da igualdade Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 10 out 1999 5 Cad p 9

COMPARATO FK Reacutequiem para uma Constituiccedilatildeo In LESB AUPIN I (org) O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

COSTA M A S D da A questatildeo da cidadania Sauacutede ciecircncia e sociedade Ano ln lp32-34 janjul 1996

FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

FELIPE ST (Org) Justiccedila como equidade Fundamentaccedilatildeo e interlocuccedilotildees polecircmicas (Kant Rawls Habermas) Florianoacutepolis Insular 1998

FOLHA DE SAtildeO PAULO Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 14 fev2000

Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 15 fev 2000

GEacuteNEREUX J O horror poliacutetico Rio de Janeiro Bertrand 1999

GIOVANELLA L et al Equidade em sauacutede no Brasil In Sauacutede em Debate 4950 Londrina CEBES1996

GIDDENS A Para aleacutem da direita e da esquerda Satildeo Paulo Unesp 1996

GONCcedilALVES R Distribuiccedilatildeo de riqueza e renda alternativa para a crise brasileira In LESBAUPIN I O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

HOBBES T Leviatatilde Os Pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1973

KAHN T O ataque careca Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 4 fev 2000 1 cad p3

KERSTENEZKY C L Desigualdades justas e igualdade complexa In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

KRISCHKE P (org) O contrato social ontem e hoje Satildeo Paulo Cortez 1993

LOCKE J Carta acerca da intoleracircncia Os pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1978

115

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

LOPES JRL Direito subjetivo e direitos sociais o dilema do Judiciaacuterio no Estado Social de Direito In FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

LOSURDO D Hegel Marx e a tradiccedilatildeo liberal Liberdade Igualdade Estado Satildeo Paulo UNESP 1998

MANGENOT M Lectures dissonantes des nouvelles pauvreteacutes Disponiacutevel nalnternet08 set 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199909 MANGENOT12450html

MARTIN HP SCHUMANN H A armadilha da globalizaccedilatildeo GIoboSatildeo Paulo 1998

MARTINS Joseacute de Souza Exclusatildeo social e a nova desigualdade Satildeo Paulo Paulus 1997

MARX K Os pensadores Abril Cultural Satildeo Paulo 1978

MEDEIROS M Princiacutepios de Justiccedila na alocaccedilatildeo de recursos em sauacutede Texto para discussatildeo n 687 Brasiacutelia Ipea 1999

MONTOYA-AGUILAR C MARIacuteN-LIRA M A Equiteacute internationale dans la couverture par les soins de santeacute primaires exemples de pays en voie de developpement World Health statistics quarterly V39n4p 336-3441986

MORIN E Os rumos da civilizaccedilatildeo Conferecircncia realizada na UFSC em 15 de setembro de 1993 Florianoacutepolis 1993

NASCIMENTO EP A exclusatildeo social no Brasil algumas hipoacuteteses de trabalho e quatro sugestotildees praacuteticas Cadernos do CEAS n52 Salvador Centro de Estudos e Accedilatildeo Social 1994

Modernidade eacutetica um desafio para vencer a loacutegica perversa da exclusatildeo In Proposta Ano 23 n 65 jun Rio de Janeiro FASE 1995

OLIVEIRA C A B de HENRIQUE W Determinantes da pobreza no Brasil um roteiro de estudo Satildeo Paulo em Perspectiva V4 n 2 p 25-28 abrjun 1990

PIERUCCI AF Cilada da diferenccedila Satildeo Paulo 341999

PETRELLA R La depossessioacuten de lEtat Disponiacutevel na Internet 19 ago 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199908PETRELLA 12326html

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SER SOCIAL 6

RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

RAWLS J Uma teoria da Justiccedila Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

RIU AM MORATO JC Dicionaacuterio de Filosofia Mdrid Herder 1996 CD- ROM

ROSANVALLON P A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998

ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1981

SANTOS BS Os fascismos sociais Folha de S Paulo Satildeo Paulo 6 set 1998 lcadp3

Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

SANTOS M Naccedilatildeo ativa naccedilatildeo passiva Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 nov 1998 Caderno Mais p 3

SARTORIG A teoria da democracia revisitada Vol II - As questotildees claacutessicas Satildeo PauloAacutetica 1994

SEN A Sobre eacutetica e economia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1999

SILVA Maria Aparecida de Moraes Errantes do fim do seacuteculo Satildeo Paulo Unesp 1999a

SILVA A A As relaccedilotildees Estado-sociedade e as formas de regulaccedilatildeo social Curso de Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999 (b)

TELLES V S Questatildeo Social afinal do que se trata Satildeo Paulo em perspectiva Vol 10 n4 outVdez Satildeo Paulo SEADE 1995

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

SURET-CANALE J As origens do capitalismo (seacuteculo XV a XIX) In PERRAULT G (Org) O livro negro do capitalismo Satildeo Paulo Record 1999

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

qualidade de vida no mundo o mesmo informe do Banco Mundial (1999 p4) aponta que 220 milhotildees de habitantes vivem nas regiotildees urbanas 13 dessa populaccedilatildeo natildeo tem acesso agrave aacutegua potaacutevel e 26 natildeo tecircm acesso sequer agraves formas mais elementares de latrinas

Uma conclusatildeo temporaacuteria ou sumariando tendecircncias Consideramos esta finalizaccedilatildeo melancoacutelica porque todos os

argumentos e eixos analiacuteticos abordados traduzem a perversidade da exclusatildeo - da questatildeo social - da igualdade e da desigualdade construiacuteda E as tendecircncias natildeo satildeo otimistas como desejariacuteamos Temporaacuteria porque ainda que os prognoacutesticos natildeo sejam favoraacuteveis concordamos com a afirmativa de Edgard Morin (1993)13 da insuspeitada forccedila vital das sociedades E assim talvez seja possiacutevel uma alteraccedilatildeo dos rumos do desenvolvimento que vem sendo adotado

Milton Santos (1998) na mesma linha enfatiza que os verdadeiros agentes do futuro do paiacutes encontram-se entre os que estatildeo sendo excluiacutedos da contabilidade da globalizaccedilatildeo14

As lutas contra as desigualdades incluem as criacuteticas ao liberalismo atual conforme palavras de Mangenot (1998 p4-5)

La lutte contre les ineacutegaliteacutes est systeacutematiquement opposeacutee agrave lexercice de la liberte Le libeacuteralisme ordinaire ultra ou neacuteo est defini comme la source et Vexpression de la liberte Pour les laquolibeacuteraux raquo les ineacutegaliteacutes (sociales) sont ineacutevitables Elles tiennent de Vordre naturel celui de la

13 Edgard Morin em conferecircncia realizada em 1993 na UFSC coloca que as sociedades sempre responderam satisfatoacuteria e positivamente aos desafios que lhes tecircm sido feitos citando situaccedilotildees quando tudo parecia perdido vislumbrava-se uma saiacuteda

14 Faz esta afirmaccedilatildeo a partir da discussatildeo a seu ver equivocada da existecircncia de duas naccedilotildees uma ativa e outra passiva A primeira eacute a que se inclui nas contabilidades internacionais e tem seu modelo sancionado e conduzido pelo discurso globalizador tendo como princiacutepios de base as ideacuteias de prosperidade riqueza produccedilatildeo da conformidade Eacute dinacircmica veloz articulada entroacutepica A naccedilatildeo passiva eacute a que participa residualmente do mercado constituiacuteda pela maior parte da populaccedilatildeo e que tem uma situaccedilatildeo cotidiana de inferiorizaccedilatildeo de subalternidade Eacute lenta colada ao seu entorno localmente enraizada Para o autor o enraizamento no meio no entorno apresenta a possibilidade da emergecircncia de uma nova accedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo considerada passiva (Santos1998 p3)

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supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ARCOVERDE ACB Questatildeo social no Brasil e Serviccedilo Social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

ARRETCHE M T da S Poliacuteticas sociais no Brasil Trabalho apresentado no seminaacuterio interno de planejamento da Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky Sobrinho Porto Alegre 1995

BANCO MUNDIAL Banco Mundial prevecirc que localizaccedilatildeo seraacute grande tendecircncia nova no seacuteculo XXI Disponiacutevel na internet http worldbankorghtmlextdrextme032pohtm 17 set 1999

BARAacuteIBAR X Articulacioacuten de lo diverso lecturas sobre la exclusioacuten social y sus desafios para el Trabajo Social In Serviccedilo Social e Sociedade n 59 Satildeo Paulo Cortez 1999

BARROCO ML Os fundamentos soacutecio-histoacutericos da eacutetica In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

BAUMAN Z Globalizaccedilatildeo as consequecircncias humanas Rio de Janeiro Jorge Zahar 1999

BOBBIO N Igualdade e Liberdade Satildeo Paulo Ediouro 1996

A Era dos Direitos Rio de Janeiro Campus 1992

N MATEUCCI N PASQUINO G Dicionaacuterio de Poliacutetica Brasiacutelia UNB 1994

O direito agrave vida e a eacutetica da sauacutede In Lua Nova n 30 Satildeo Paulo CEDEC 1993

BERLINQUER G Equidade Seletividade e Assistecircncia agrave sauacutede In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

BORHEIN G Democracia e alteridade Anais da 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC Porto Alegre SBPC 1999

BOURDIEU P O poder simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand 1989

CASTEL R As metamorfoses da questatildeo social Uma crocircnica do salaacuterio Satildeo Paulo Vozes 1998

WANDERLEY BELFIORE-WANDERLEY Desigualdade e a questatildeo social Satildeo Paulo Educ 1997

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SER SOCIAL 6

CHAUI Marilena Convite agrave filosofia 11ed Satildeo Paulo Aacutetica1999

CESARINO JR AF Direito Social Satildeo Paulo USP 1980

COELHO M Elogio da igualdade Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 10 out 1999 5 Cad p 9

COMPARATO FK Reacutequiem para uma Constituiccedilatildeo In LESB AUPIN I (org) O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

COSTA M A S D da A questatildeo da cidadania Sauacutede ciecircncia e sociedade Ano ln lp32-34 janjul 1996

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FELIPE ST (Org) Justiccedila como equidade Fundamentaccedilatildeo e interlocuccedilotildees polecircmicas (Kant Rawls Habermas) Florianoacutepolis Insular 1998

FOLHA DE SAtildeO PAULO Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 14 fev2000

Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 15 fev 2000

GEacuteNEREUX J O horror poliacutetico Rio de Janeiro Bertrand 1999

GIOVANELLA L et al Equidade em sauacutede no Brasil In Sauacutede em Debate 4950 Londrina CEBES1996

GIDDENS A Para aleacutem da direita e da esquerda Satildeo Paulo Unesp 1996

GONCcedilALVES R Distribuiccedilatildeo de riqueza e renda alternativa para a crise brasileira In LESBAUPIN I O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

HOBBES T Leviatatilde Os Pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1973

KAHN T O ataque careca Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 4 fev 2000 1 cad p3

KERSTENEZKY C L Desigualdades justas e igualdade complexa In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

KRISCHKE P (org) O contrato social ontem e hoje Satildeo Paulo Cortez 1993

LOCKE J Carta acerca da intoleracircncia Os pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1978

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

LOPES JRL Direito subjetivo e direitos sociais o dilema do Judiciaacuterio no Estado Social de Direito In FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

LOSURDO D Hegel Marx e a tradiccedilatildeo liberal Liberdade Igualdade Estado Satildeo Paulo UNESP 1998

MANGENOT M Lectures dissonantes des nouvelles pauvreteacutes Disponiacutevel nalnternet08 set 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199909 MANGENOT12450html

MARTIN HP SCHUMANN H A armadilha da globalizaccedilatildeo GIoboSatildeo Paulo 1998

MARTINS Joseacute de Souza Exclusatildeo social e a nova desigualdade Satildeo Paulo Paulus 1997

MARX K Os pensadores Abril Cultural Satildeo Paulo 1978

MEDEIROS M Princiacutepios de Justiccedila na alocaccedilatildeo de recursos em sauacutede Texto para discussatildeo n 687 Brasiacutelia Ipea 1999

MONTOYA-AGUILAR C MARIacuteN-LIRA M A Equiteacute internationale dans la couverture par les soins de santeacute primaires exemples de pays en voie de developpement World Health statistics quarterly V39n4p 336-3441986

MORIN E Os rumos da civilizaccedilatildeo Conferecircncia realizada na UFSC em 15 de setembro de 1993 Florianoacutepolis 1993

NASCIMENTO EP A exclusatildeo social no Brasil algumas hipoacuteteses de trabalho e quatro sugestotildees praacuteticas Cadernos do CEAS n52 Salvador Centro de Estudos e Accedilatildeo Social 1994

Modernidade eacutetica um desafio para vencer a loacutegica perversa da exclusatildeo In Proposta Ano 23 n 65 jun Rio de Janeiro FASE 1995

OLIVEIRA C A B de HENRIQUE W Determinantes da pobreza no Brasil um roteiro de estudo Satildeo Paulo em Perspectiva V4 n 2 p 25-28 abrjun 1990

PIERUCCI AF Cilada da diferenccedila Satildeo Paulo 341999

PETRELLA R La depossessioacuten de lEtat Disponiacutevel na Internet 19 ago 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199908PETRELLA 12326html

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SER SOCIAL 6

RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

RAWLS J Uma teoria da Justiccedila Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

RIU AM MORATO JC Dicionaacuterio de Filosofia Mdrid Herder 1996 CD- ROM

ROSANVALLON P A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998

ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1981

SANTOS BS Os fascismos sociais Folha de S Paulo Satildeo Paulo 6 set 1998 lcadp3

Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

SANTOS M Naccedilatildeo ativa naccedilatildeo passiva Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 nov 1998 Caderno Mais p 3

SARTORIG A teoria da democracia revisitada Vol II - As questotildees claacutessicas Satildeo PauloAacutetica 1994

SEN A Sobre eacutetica e economia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1999

SILVA Maria Aparecida de Moraes Errantes do fim do seacuteculo Satildeo Paulo Unesp 1999a

SILVA A A As relaccedilotildees Estado-sociedade e as formas de regulaccedilatildeo social Curso de Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999 (b)

TELLES V S Questatildeo Social afinal do que se trata Satildeo Paulo em perspectiva Vol 10 n4 outVdez Satildeo Paulo SEADE 1995

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

SURET-CANALE J As origens do capitalismo (seacuteculo XV a XIX) In PERRAULT G (Org) O livro negro do capitalismo Satildeo Paulo Record 1999

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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SER SOCIAL 6

supposeacutee capacite agrave faire valoir rationnellement ses inteacuterecircts eacutegalement supposeacutes Tout au plus peuvent-elles ecirctre atteacutenueacutees lorsquelles creacuteent des situations politiquement ou eacuteconomiquement dangereuses lorsquelles brouillent Vimage que se donnent ceux qui deacutetiennent savoir richesse consideacuteration pouvoir

Existem hoje evidecircncias que conforme exigecircncias dos novos paradigmas internacionais o avanccedilo e o grau de democratizaccedilatildeo de uma sociedade satildeo medidos natildeo apenas pelos direitos poliacuteticos e humanos mas pelos iacutendices sociais apresentados e o cumprimento das condiccedilotildees miacutenimas para o exerciacutecio da cidadania O ingresso destes novos paradigmas estaacute sendo chamado de cidadania planetaacuteria15

Haacute que se recuperar o que Castoriadis apud Bauman (1999) indica como um dos problemas da condiccedilatildeo contemporacircnea das civilizaccedilotildees modernas que eacute o natildeo questionamento sobre si mesmo Natildeo formular certas questotildees eacute extremamente perigoso mais do que deixar de responder agraves questotildees que jaacute figuram na agenda oficial ao passo que responder o tipo errado de questotildees com frequecircncia ajuda a desviar os olhos das questotildees realmente importantes O preccedilo do silecircncio eacute pago na dura moeda corrente do sofrimento humano (1999 p 11) Ou como coloca Geacutenereux (1999 p26) O debate teacutecnico sufocou o verdadeiro debate poliacutetico que eacute antes de tudo um debate sobre nossas necessidades nossos objetivos comuns sobre o mundo que queremos construir juntos e o mundo que rejeitamos

Concluindo concordamos com o alerta de Santos (1998 p 3) que na situaccedilatildeo de rupturas e fraturas sociais em que se encontra atualmente a sociedade mundial haacute que dar nova radicalidade agrave luta pela democracia desde que se partilhe a ideacuteia da construccedilatildeo da igualdade incorporando mais do que nunca a posiccedilatildeo de Marx sobre a emancipaccedilatildeo humana como a igualdade de todos os homens e a liberdade concreta e real

15 Conforme o Sexto Informe Mundial sobre Desenvolvimento Humano o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento criou o iacutendice de Desenvolvimento Humano a partir da expectativa de vida das populaccedilotildees alfabetizaccedilatildeo e escolaridade combinados com iacutendices de emprego e a PIB real per capita ajustado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ARCOVERDE ACB Questatildeo social no Brasil e Serviccedilo Social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

ARRETCHE M T da S Poliacuteticas sociais no Brasil Trabalho apresentado no seminaacuterio interno de planejamento da Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky Sobrinho Porto Alegre 1995

BANCO MUNDIAL Banco Mundial prevecirc que localizaccedilatildeo seraacute grande tendecircncia nova no seacuteculo XXI Disponiacutevel na internet http worldbankorghtmlextdrextme032pohtm 17 set 1999

BARAacuteIBAR X Articulacioacuten de lo diverso lecturas sobre la exclusioacuten social y sus desafios para el Trabajo Social In Serviccedilo Social e Sociedade n 59 Satildeo Paulo Cortez 1999

BARROCO ML Os fundamentos soacutecio-histoacutericos da eacutetica In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

BAUMAN Z Globalizaccedilatildeo as consequecircncias humanas Rio de Janeiro Jorge Zahar 1999

BOBBIO N Igualdade e Liberdade Satildeo Paulo Ediouro 1996

A Era dos Direitos Rio de Janeiro Campus 1992

N MATEUCCI N PASQUINO G Dicionaacuterio de Poliacutetica Brasiacutelia UNB 1994

O direito agrave vida e a eacutetica da sauacutede In Lua Nova n 30 Satildeo Paulo CEDEC 1993

BERLINQUER G Equidade Seletividade e Assistecircncia agrave sauacutede In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

BORHEIN G Democracia e alteridade Anais da 51deg Reuniatildeo Anual da SBPC Porto Alegre SBPC 1999

BOURDIEU P O poder simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand 1989

CASTEL R As metamorfoses da questatildeo social Uma crocircnica do salaacuterio Satildeo Paulo Vozes 1998

WANDERLEY BELFIORE-WANDERLEY Desigualdade e a questatildeo social Satildeo Paulo Educ 1997

114

SER SOCIAL 6

CHAUI Marilena Convite agrave filosofia 11ed Satildeo Paulo Aacutetica1999

CESARINO JR AF Direito Social Satildeo Paulo USP 1980

COELHO M Elogio da igualdade Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 10 out 1999 5 Cad p 9

COMPARATO FK Reacutequiem para uma Constituiccedilatildeo In LESB AUPIN I (org) O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

COSTA M A S D da A questatildeo da cidadania Sauacutede ciecircncia e sociedade Ano ln lp32-34 janjul 1996

FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

FELIPE ST (Org) Justiccedila como equidade Fundamentaccedilatildeo e interlocuccedilotildees polecircmicas (Kant Rawls Habermas) Florianoacutepolis Insular 1998

FOLHA DE SAtildeO PAULO Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 14 fev2000

Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 15 fev 2000

GEacuteNEREUX J O horror poliacutetico Rio de Janeiro Bertrand 1999

GIOVANELLA L et al Equidade em sauacutede no Brasil In Sauacutede em Debate 4950 Londrina CEBES1996

GIDDENS A Para aleacutem da direita e da esquerda Satildeo Paulo Unesp 1996

GONCcedilALVES R Distribuiccedilatildeo de riqueza e renda alternativa para a crise brasileira In LESBAUPIN I O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

HOBBES T Leviatatilde Os Pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1973

KAHN T O ataque careca Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 4 fev 2000 1 cad p3

KERSTENEZKY C L Desigualdades justas e igualdade complexa In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

KRISCHKE P (org) O contrato social ontem e hoje Satildeo Paulo Cortez 1993

LOCKE J Carta acerca da intoleracircncia Os pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1978

115

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

LOPES JRL Direito subjetivo e direitos sociais o dilema do Judiciaacuterio no Estado Social de Direito In FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

LOSURDO D Hegel Marx e a tradiccedilatildeo liberal Liberdade Igualdade Estado Satildeo Paulo UNESP 1998

MANGENOT M Lectures dissonantes des nouvelles pauvreteacutes Disponiacutevel nalnternet08 set 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199909 MANGENOT12450html

MARTIN HP SCHUMANN H A armadilha da globalizaccedilatildeo GIoboSatildeo Paulo 1998

MARTINS Joseacute de Souza Exclusatildeo social e a nova desigualdade Satildeo Paulo Paulus 1997

MARX K Os pensadores Abril Cultural Satildeo Paulo 1978

MEDEIROS M Princiacutepios de Justiccedila na alocaccedilatildeo de recursos em sauacutede Texto para discussatildeo n 687 Brasiacutelia Ipea 1999

MONTOYA-AGUILAR C MARIacuteN-LIRA M A Equiteacute internationale dans la couverture par les soins de santeacute primaires exemples de pays en voie de developpement World Health statistics quarterly V39n4p 336-3441986

MORIN E Os rumos da civilizaccedilatildeo Conferecircncia realizada na UFSC em 15 de setembro de 1993 Florianoacutepolis 1993

NASCIMENTO EP A exclusatildeo social no Brasil algumas hipoacuteteses de trabalho e quatro sugestotildees praacuteticas Cadernos do CEAS n52 Salvador Centro de Estudos e Accedilatildeo Social 1994

Modernidade eacutetica um desafio para vencer a loacutegica perversa da exclusatildeo In Proposta Ano 23 n 65 jun Rio de Janeiro FASE 1995

OLIVEIRA C A B de HENRIQUE W Determinantes da pobreza no Brasil um roteiro de estudo Satildeo Paulo em Perspectiva V4 n 2 p 25-28 abrjun 1990

PIERUCCI AF Cilada da diferenccedila Satildeo Paulo 341999

PETRELLA R La depossessioacuten de lEtat Disponiacutevel na Internet 19 ago 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199908PETRELLA 12326html

116

SER SOCIAL 6

RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

RAWLS J Uma teoria da Justiccedila Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

RIU AM MORATO JC Dicionaacuterio de Filosofia Mdrid Herder 1996 CD- ROM

ROSANVALLON P A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998

ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1981

SANTOS BS Os fascismos sociais Folha de S Paulo Satildeo Paulo 6 set 1998 lcadp3

Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

SANTOS M Naccedilatildeo ativa naccedilatildeo passiva Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 nov 1998 Caderno Mais p 3

SARTORIG A teoria da democracia revisitada Vol II - As questotildees claacutessicas Satildeo PauloAacutetica 1994

SEN A Sobre eacutetica e economia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1999

SILVA Maria Aparecida de Moraes Errantes do fim do seacuteculo Satildeo Paulo Unesp 1999a

SILVA A A As relaccedilotildees Estado-sociedade e as formas de regulaccedilatildeo social Curso de Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999 (b)

TELLES V S Questatildeo Social afinal do que se trata Satildeo Paulo em perspectiva Vol 10 n4 outVdez Satildeo Paulo SEADE 1995

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

117

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

SURET-CANALE J As origens do capitalismo (seacuteculo XV a XIX) In PERRAULT G (Org) O livro negro do capitalismo Satildeo Paulo Record 1999

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ARCOVERDE ACB Questatildeo social no Brasil e Serviccedilo Social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

ARRETCHE M T da S Poliacuteticas sociais no Brasil Trabalho apresentado no seminaacuterio interno de planejamento da Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky Sobrinho Porto Alegre 1995

BANCO MUNDIAL Banco Mundial prevecirc que localizaccedilatildeo seraacute grande tendecircncia nova no seacuteculo XXI Disponiacutevel na internet http worldbankorghtmlextdrextme032pohtm 17 set 1999

BARAacuteIBAR X Articulacioacuten de lo diverso lecturas sobre la exclusioacuten social y sus desafios para el Trabajo Social In Serviccedilo Social e Sociedade n 59 Satildeo Paulo Cortez 1999

BARROCO ML Os fundamentos soacutecio-histoacutericos da eacutetica In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

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WANDERLEY BELFIORE-WANDERLEY Desigualdade e a questatildeo social Satildeo Paulo Educ 1997

114

SER SOCIAL 6

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FOLHA DE SAtildeO PAULO Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 14 fev2000

Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 15 fev 2000

GEacuteNEREUX J O horror poliacutetico Rio de Janeiro Bertrand 1999

GIOVANELLA L et al Equidade em sauacutede no Brasil In Sauacutede em Debate 4950 Londrina CEBES1996

GIDDENS A Para aleacutem da direita e da esquerda Satildeo Paulo Unesp 1996

GONCcedilALVES R Distribuiccedilatildeo de riqueza e renda alternativa para a crise brasileira In LESBAUPIN I O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

HOBBES T Leviatatilde Os Pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1973

KAHN T O ataque careca Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 4 fev 2000 1 cad p3

KERSTENEZKY C L Desigualdades justas e igualdade complexa In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

KRISCHKE P (org) O contrato social ontem e hoje Satildeo Paulo Cortez 1993

LOCKE J Carta acerca da intoleracircncia Os pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1978

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

LOPES JRL Direito subjetivo e direitos sociais o dilema do Judiciaacuterio no Estado Social de Direito In FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

LOSURDO D Hegel Marx e a tradiccedilatildeo liberal Liberdade Igualdade Estado Satildeo Paulo UNESP 1998

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MARTINS Joseacute de Souza Exclusatildeo social e a nova desigualdade Satildeo Paulo Paulus 1997

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MEDEIROS M Princiacutepios de Justiccedila na alocaccedilatildeo de recursos em sauacutede Texto para discussatildeo n 687 Brasiacutelia Ipea 1999

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MORIN E Os rumos da civilizaccedilatildeo Conferecircncia realizada na UFSC em 15 de setembro de 1993 Florianoacutepolis 1993

NASCIMENTO EP A exclusatildeo social no Brasil algumas hipoacuteteses de trabalho e quatro sugestotildees praacuteticas Cadernos do CEAS n52 Salvador Centro de Estudos e Accedilatildeo Social 1994

Modernidade eacutetica um desafio para vencer a loacutegica perversa da exclusatildeo In Proposta Ano 23 n 65 jun Rio de Janeiro FASE 1995

OLIVEIRA C A B de HENRIQUE W Determinantes da pobreza no Brasil um roteiro de estudo Satildeo Paulo em Perspectiva V4 n 2 p 25-28 abrjun 1990

PIERUCCI AF Cilada da diferenccedila Satildeo Paulo 341999

PETRELLA R La depossessioacuten de lEtat Disponiacutevel na Internet 19 ago 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199908PETRELLA 12326html

116

SER SOCIAL 6

RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

RAWLS J Uma teoria da Justiccedila Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

RIU AM MORATO JC Dicionaacuterio de Filosofia Mdrid Herder 1996 CD- ROM

ROSANVALLON P A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998

ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1981

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Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

SANTOS M Naccedilatildeo ativa naccedilatildeo passiva Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 nov 1998 Caderno Mais p 3

SARTORIG A teoria da democracia revisitada Vol II - As questotildees claacutessicas Satildeo PauloAacutetica 1994

SEN A Sobre eacutetica e economia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1999

SILVA Maria Aparecida de Moraes Errantes do fim do seacuteculo Satildeo Paulo Unesp 1999a

SILVA A A As relaccedilotildees Estado-sociedade e as formas de regulaccedilatildeo social Curso de Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999 (b)

TELLES V S Questatildeo Social afinal do que se trata Satildeo Paulo em perspectiva Vol 10 n4 outVdez Satildeo Paulo SEADE 1995

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

117

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

SURET-CANALE J As origens do capitalismo (seacuteculo XV a XIX) In PERRAULT G (Org) O livro negro do capitalismo Satildeo Paulo Record 1999

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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SER SOCIAL 6

CHAUI Marilena Convite agrave filosofia 11ed Satildeo Paulo Aacutetica1999

CESARINO JR AF Direito Social Satildeo Paulo USP 1980

COELHO M Elogio da igualdade Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 10 out 1999 5 Cad p 9

COMPARATO FK Reacutequiem para uma Constituiccedilatildeo In LESB AUPIN I (org) O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

COSTA M A S D da A questatildeo da cidadania Sauacutede ciecircncia e sociedade Ano ln lp32-34 janjul 1996

FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

FELIPE ST (Org) Justiccedila como equidade Fundamentaccedilatildeo e interlocuccedilotildees polecircmicas (Kant Rawls Habermas) Florianoacutepolis Insular 1998

FOLHA DE SAtildeO PAULO Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 14 fev2000

Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 15 fev 2000

GEacuteNEREUX J O horror poliacutetico Rio de Janeiro Bertrand 1999

GIOVANELLA L et al Equidade em sauacutede no Brasil In Sauacutede em Debate 4950 Londrina CEBES1996

GIDDENS A Para aleacutem da direita e da esquerda Satildeo Paulo Unesp 1996

GONCcedilALVES R Distribuiccedilatildeo de riqueza e renda alternativa para a crise brasileira In LESBAUPIN I O desmonte da naccedilatildeo Balanccedilo do governo FHC Petroacutepolis Vozes 1999

HOBBES T Leviatatilde Os Pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1973

KAHN T O ataque careca Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 4 fev 2000 1 cad p3

KERSTENEZKY C L Desigualdades justas e igualdade complexa In Lua Nova n 47 Satildeo Paulo CEDEC 1999

KRISCHKE P (org) O contrato social ontem e hoje Satildeo Paulo Cortez 1993

LOCKE J Carta acerca da intoleracircncia Os pensadores Satildeo Paulo Abril Cultural 1978

115

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

LOPES JRL Direito subjetivo e direitos sociais o dilema do Judiciaacuterio no Estado Social de Direito In FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

LOSURDO D Hegel Marx e a tradiccedilatildeo liberal Liberdade Igualdade Estado Satildeo Paulo UNESP 1998

MANGENOT M Lectures dissonantes des nouvelles pauvreteacutes Disponiacutevel nalnternet08 set 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199909 MANGENOT12450html

MARTIN HP SCHUMANN H A armadilha da globalizaccedilatildeo GIoboSatildeo Paulo 1998

MARTINS Joseacute de Souza Exclusatildeo social e a nova desigualdade Satildeo Paulo Paulus 1997

MARX K Os pensadores Abril Cultural Satildeo Paulo 1978

MEDEIROS M Princiacutepios de Justiccedila na alocaccedilatildeo de recursos em sauacutede Texto para discussatildeo n 687 Brasiacutelia Ipea 1999

MONTOYA-AGUILAR C MARIacuteN-LIRA M A Equiteacute internationale dans la couverture par les soins de santeacute primaires exemples de pays en voie de developpement World Health statistics quarterly V39n4p 336-3441986

MORIN E Os rumos da civilizaccedilatildeo Conferecircncia realizada na UFSC em 15 de setembro de 1993 Florianoacutepolis 1993

NASCIMENTO EP A exclusatildeo social no Brasil algumas hipoacuteteses de trabalho e quatro sugestotildees praacuteticas Cadernos do CEAS n52 Salvador Centro de Estudos e Accedilatildeo Social 1994

Modernidade eacutetica um desafio para vencer a loacutegica perversa da exclusatildeo In Proposta Ano 23 n 65 jun Rio de Janeiro FASE 1995

OLIVEIRA C A B de HENRIQUE W Determinantes da pobreza no Brasil um roteiro de estudo Satildeo Paulo em Perspectiva V4 n 2 p 25-28 abrjun 1990

PIERUCCI AF Cilada da diferenccedila Satildeo Paulo 341999

PETRELLA R La depossessioacuten de lEtat Disponiacutevel na Internet 19 ago 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199908PETRELLA 12326html

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SER SOCIAL 6

RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

RAWLS J Uma teoria da Justiccedila Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

RIU AM MORATO JC Dicionaacuterio de Filosofia Mdrid Herder 1996 CD- ROM

ROSANVALLON P A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998

ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1981

SANTOS BS Os fascismos sociais Folha de S Paulo Satildeo Paulo 6 set 1998 lcadp3

Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

SANTOS M Naccedilatildeo ativa naccedilatildeo passiva Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 nov 1998 Caderno Mais p 3

SARTORIG A teoria da democracia revisitada Vol II - As questotildees claacutessicas Satildeo PauloAacutetica 1994

SEN A Sobre eacutetica e economia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1999

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SILVA A A As relaccedilotildees Estado-sociedade e as formas de regulaccedilatildeo social Curso de Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999 (b)

TELLES V S Questatildeo Social afinal do que se trata Satildeo Paulo em perspectiva Vol 10 n4 outVdez Satildeo Paulo SEADE 1995

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

117

QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

SURET-CANALE J As origens do capitalismo (seacuteculo XV a XIX) In PERRAULT G (Org) O livro negro do capitalismo Satildeo Paulo Record 1999

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

LOPES JRL Direito subjetivo e direitos sociais o dilema do Judiciaacuterio no Estado Social de Direito In FARIA JE (Org) Direitos humanos direitos sociais e justiccedila Satildeo Paulo Malheiros 1998

LOSURDO D Hegel Marx e a tradiccedilatildeo liberal Liberdade Igualdade Estado Satildeo Paulo UNESP 1998

MANGENOT M Lectures dissonantes des nouvelles pauvreteacutes Disponiacutevel nalnternet08 set 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199909 MANGENOT12450html

MARTIN HP SCHUMANN H A armadilha da globalizaccedilatildeo GIoboSatildeo Paulo 1998

MARTINS Joseacute de Souza Exclusatildeo social e a nova desigualdade Satildeo Paulo Paulus 1997

MARX K Os pensadores Abril Cultural Satildeo Paulo 1978

MEDEIROS M Princiacutepios de Justiccedila na alocaccedilatildeo de recursos em sauacutede Texto para discussatildeo n 687 Brasiacutelia Ipea 1999

MONTOYA-AGUILAR C MARIacuteN-LIRA M A Equiteacute internationale dans la couverture par les soins de santeacute primaires exemples de pays en voie de developpement World Health statistics quarterly V39n4p 336-3441986

MORIN E Os rumos da civilizaccedilatildeo Conferecircncia realizada na UFSC em 15 de setembro de 1993 Florianoacutepolis 1993

NASCIMENTO EP A exclusatildeo social no Brasil algumas hipoacuteteses de trabalho e quatro sugestotildees praacuteticas Cadernos do CEAS n52 Salvador Centro de Estudos e Accedilatildeo Social 1994

Modernidade eacutetica um desafio para vencer a loacutegica perversa da exclusatildeo In Proposta Ano 23 n 65 jun Rio de Janeiro FASE 1995

OLIVEIRA C A B de HENRIQUE W Determinantes da pobreza no Brasil um roteiro de estudo Satildeo Paulo em Perspectiva V4 n 2 p 25-28 abrjun 1990

PIERUCCI AF Cilada da diferenccedila Satildeo Paulo 341999

PETRELLA R La depossessioacuten de lEtat Disponiacutevel na Internet 19 ago 1999 httpwwwmonde-diplomatiquefr199908PETRELLA 12326html

116

SER SOCIAL 6

RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

RAWLS J Uma teoria da Justiccedila Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

RIU AM MORATO JC Dicionaacuterio de Filosofia Mdrid Herder 1996 CD- ROM

ROSANVALLON P A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998

ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1981

SANTOS BS Os fascismos sociais Folha de S Paulo Satildeo Paulo 6 set 1998 lcadp3

Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

SANTOS M Naccedilatildeo ativa naccedilatildeo passiva Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 nov 1998 Caderno Mais p 3

SARTORIG A teoria da democracia revisitada Vol II - As questotildees claacutessicas Satildeo PauloAacutetica 1994

SEN A Sobre eacutetica e economia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1999

SILVA Maria Aparecida de Moraes Errantes do fim do seacuteculo Satildeo Paulo Unesp 1999a

SILVA A A As relaccedilotildees Estado-sociedade e as formas de regulaccedilatildeo social Curso de Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999 (b)

TELLES V S Questatildeo Social afinal do que se trata Satildeo Paulo em perspectiva Vol 10 n4 outVdez Satildeo Paulo SEADE 1995

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

SURET-CANALE J As origens do capitalismo (seacuteculo XV a XIX) In PERRAULT G (Org) O livro negro do capitalismo Satildeo Paulo Record 1999

TELLES V Inuacuteteis para o mundo In Folha de S Paulo Satildeo Paulo Folha da Manhatilde 12 set 1998 Jornal de Resenhas p 8

VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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SER SOCIAL 6

RAMOS CA SANTANA R Desemprego Pobreza e Desigualdade Texto para discussatildeo N 576 Brasiacutelia IPEA 1999

RAWLS J Uma teoria da Justiccedila Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

RIU AM MORATO JC Dicionaacuterio de Filosofia Mdrid Herder 1996 CD- ROM

ROSANVALLON P A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998

ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1981

SANTOS BS Os fascismos sociais Folha de S Paulo Satildeo Paulo 6 set 1998 lcadp3

Por uma concepccedilatildeo multicultural de direitos humanos In Lua Nova n 39 Satildeo Paulo Cedec 1997

A construccedilatildeo multicultural da igualdade e da diferenccedila VII Congresso Brasileiro de Sociologia Rio de Janeiro 1995

SANTOS M Naccedilatildeo ativa naccedilatildeo passiva Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 nov 1998 Caderno Mais p 3

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SIMIONATTO I NOGUEIRA VMR Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Comunicaccedilatildeo Anais do XVI Congreso Latino americano de Escuelas de Trabajo Social ALAETS SantiagoChile 1998

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Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

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QUESTAtildeO SOCIAL E SERVICcedilO SOCIAL

Direito agrave sauacutede discurso praacutetica e valor Uma anaacutelise nos paiacuteses do Mercosul Relatoacuterio de Pesquisa Florianoacutepolis UFSC 1999 41 p Trabalho natildeo publicado

SPOSATI A Globalizaccedilatildeo da economia e processos de exclusatildeo social In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Brasiacutelia CEAD 1999

SURET-CANALE J As origens do capitalismo (seacuteculo XV a XIX) In PERRAULT G (Org) O livro negro do capitalismo Satildeo Paulo Record 1999

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VOIGT Leo O fomento dos famiempresaacuterios uma nova forma de poliacutetica social In GAIGER Luis Inaacutecio (org) Formas de combate e de resistecircncia agrave pobreza Satildeo Leopoldo UNISINOS p127-156 1996

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