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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA ALGUMAS PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO UTILIZADAS NA CULTURA POPULAR E NAS FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO DE OCORRÊNCIA EM AMBIENTE NATURAL DE DUAS ÁREAS DISTINTAS DO TRIÂNGULO MINEIRO-MG Uberlândia 2006

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Page 1: 231 Franciele Silva de Oliveira Martins 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

ALGUMAS PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO UTILIZADAS

NA CULTURA POPULAR E NAS FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO

DE OCORRÊNCIA EM AMBIENTE NATURAL DE DUAS ÁREAS

DISTINTAS DO TRIÂNGULO MINEIRO-MG

Uberlândia

2006

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FRANCIELE SILVA DE OLIVEIRA MARTINS

ALGUMAS PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO UTILIZADAS

NA CULTURA POPULAR E NAS FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO

DE OCORRÊNCIA EM AMBIENTE NATURAL DE DUAS ÁREAS

DISTINTAS DO TRIÂNGULO MINEIRO-MG

Monografia apresentada como requisito obrigatório para obtenção do título de Bacharel em Geografia, pelo Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Orientador: Prof. Dr. Adriano Rodrigues dos Santos.

Uberlândia 2006

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FRANCIELE SILVA DE OLIVEIRA MARTINS

___________________________________________________ Prof. Dr. Adriano Rodrigues dos Santos – Orientador

Universidade Federal de Uberlândia

__________________________________________________ Prof. Dra. Lúcia de Fátima Estevinho Guido

Universidade Federal de Uberlândia

__________________________________________________

Prof. Ms. Jureth Couto Lemos Universidade Federal de Uberlândia

Data: __/__/__ Resultado: _____________

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4

À minha mãe Maria de Fátima, pelo carinho e estímulo.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por todas as graças que recebo;

Ao professor Adriano Rodrigues dos Santos pela amizade e orientação;

À minha família pelo carinho e compreensão, em especial minha mãe Maria de Fátima

pelo incentivo e por acreditar sempre em mim;

Ao meu namorado Júnior pelo carinho, compreensão e por tudo que representa na

minha vida;

À minha grande amiga Paula, pela amizade, por me socorrer nos momentos mais

difíceis e pelo enorme coração que faz dela uma pessoa muito especial;

Às amigas de chá, Fabiane, Alessandra, Flávia, Rosilene e Sandra, pelos lindos dias de

convívio e superação das dificuldades;

À professora Jureth Couto Lemos, pela prazerosa participação nos projetos em

Cruzeiro dos Peixotos;

À Adriana do HUFU, pela atenção e ajuda na identificação das plantas;

À Flávia Aparecida Vieira de Araújo, por nos acompanhar no Distrito de Amanhece,

sempre tão prestativa;

Ao Sr. Divino Cardoso da Silva, o Sr. Leus, pela saída a campo para encontrar plantas

de uso medicinal;

À Srª Vicência Rezende Martins, pela saída a campo, e pela garrafada poderosa;

Ao professor Douglas Gomes dos Santos, pela compreensão e oportunidade de

monitoria;

À banca examinadora, pela disposição e colaboração neste trabalho;

Á todos que de alguma forma fazem parte da pesquisa.

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LISTA DE FOTOS

Foto 1- Momento de entrevista com moradores do Distrito de Cruzeiro dos Peixotos........28 Foto 2- Pé-de-Perdiz..............................................................................................................38

Foto 3- Carobinha..................................................................................................................39

Foto 4- Laranjinha.................................................................................................................39

Foto 5- Laranjinha em seu ambiente natural.........................................................................40

Foto 6- Vergateso..................................................................................................................40

Foto 7- Vergateso em seu ambiente natural .........................................................................41

Foto 8- Ambiente natural de ocorrência do pé-de-perdiz.....................................................41

Foto 9- Manacá do Cerrado .................................................................................................43

Foto 10- Salsa Paredão..........................................................................................................43

Foto 11- Afloramento de basalto...........................................................................................44

Foto 12- Patamares Estruturais..............................................................................................45

Foto 13- Paisagem de Angicos e Aroeiras.............................................................................45

Foto 14- Ambiente natural de ocorrência do Barbatimão......................................................46

Foto 15- Casca do Barbatimão...............................................................................................47

Foto 16- Tronco do Barbatimão.............................................................................................47

Foto 17- Plantas do gênero Vernonia.....................................................................................48

Foto 18- Assa-Peixe (Vernonia ferruginea Less).........................................................................49

Foto 19- Aspecto da copa do Angico.....................................................................................50

Foto 20- Aspecto do tronco do Angico.................................................................................50

Foto 21- Genipapo.................................................................................................................51

Foto 22- Folha do Genipapo..................................................................................................51

Foto 23- Sra Vicência.............................................................................................................52

Foto 24- Sr. Leus...................................................................................................................54

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1- Localização da área de estudo...................................................................................34

Mapa 2 - Mapa Geológico da área de estudo..........................................................................37

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Família, gênero, espécie e nomes populares das plantas encontradas no Distrito de

Amanhece, Araguari-MG.......................................................................................................42

Quadro 2- Família, gênero, espécie e nomes populares das plantas encontradas no Distrito de

Cruzeiro dos Peixotos, Uberlândia-MG.................................................................................48

Quadro 3- Algumas plantas e usos que a Sra Vicência conhece no Distrito de Amanhece,

Araguari-MG........................................................................................................................53

Quadro 4- Algumas plantas e usos que o Sr. Leus conhece no Distrito de Cruzeiro dos

Peixotos, Uberlândia-MG....................................................................................................54

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................. 9

2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 11

3. OBJETIVOS.................................................................................................................... 12

3.1. Geral: ........................................................................................................................ 12

3.2. Específicos ............................................................................................................... 12

4. REVISÃO DE LITERATURA......................................................................................... 13

4.1. A relação homem-meio ao longo da história. ............................................................. 13

4.2. Aspectos gerais sobre plantas medicinais................................................................... 18

4.3. Cerrado: ambiente ecológico e ocupação. .................................................................. 21

4.4. As plantas medicinais nas Farmácias de Manipulação. .............................................. 23

5. METODOLOGIA............................................................................................................ 26

5.1. Procedimentos........................................................................................................... 26

6. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DO TRIÂNGULO MINEIRO ........................................ 29

6.1. Geologia Regional..................................................................................................... 29

6.2. Geomorfologia Regional ........................................................................................... 30

6.3. Solo Regional............................................................................................................ 30 7. LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA ESTUDADA ............... 32

8.RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 38

8.1. Relação Solo/Planta: Tipologias encontradas................................................................38

8.2. Saberes Populares..........................................................................................................52

8.3. Minha Experiência em Manipulação de Fármacos........................................................55

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 57

10. REFERÊNCIAS............................................................................................................. 59

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1. INTRODUÇÃO

A pesquisa com plantas medicinais envolve uma multiplicidade de abordagens que

ainda precisam ser trabalhadas.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que cerca de 80% da

população mundial fez o uso de algum tipo de erva na busca de alívio de alguma

sintomatologia dolorosa ou desagradável. Diante disso a OMS tem incentivado intensamente

a utilização dessas plantas no tratamento de doenças (MARTINS et al., 2000).

Assim, como vem ocorrendo ao longo de muitos anos, a descoberta das

potencialidades da flora mundial, tem oferecido ao homem maiores expectativas de vida. É

oportuno lembrar, no entanto, que esse avanço sobre o que era desconhecido, trouxe alegrias,

mas também angústias, no que tange ao quadro natural.

A cura para as maleitas da sociedade quase sempre esteve na natureza. Até porque é

um sistema único, ou seja, são partes de um mesmo complexo na dinâmica da vida terrestre.

Quando um elemento, no caso o homem, invade ou ultrapassa os limites de um equilíbrio, a

outra face reage ou pode demonstrar sinais de embate. Neste caso, estes sinais já estão bem

visíveis atualmente.

O homem busca a cura na natureza, nas plantas, por exemplo, mas essa mesma

natureza limita a ação antrópica quanto à sua devastação ou degradação. Isso quer dizer que

hoje se tem em mãos técnicas avançadas para se descobrir a cura de várias doenças. No

entanto, essa natureza encontra-se ameaçada pela intensa degradação na qual vem sendo

submetida à longa data.

Neste momento, não é difícil pensar e observar as duas forças a que estão submetidas a

ação humana: é refém da natureza, que durante anos lhe serviu como tábua de experiências e

que agora reage em resposta à degradação. Mas é também refém de uma série de técnicas e

conhecimentos os quais se encontram “limitados” pela descoberta da esgotabilidade dos

recursos naturais.

Diante disso, esta pesquisa procura mostrar que os usos e conhecimentos acerca da

utilização de plantas na terapêutica ainda estão presentes no imaginário popular, mesmo com

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10

a intensa devastação que vem ocorrendo nos Cerrados desde 1970 com o avanço da fronteira

agrícola. Aliado a isso, ainda existe a comercialização de fitoterápicos desse ambiente em

farmácias de manipulação, fato observado durante minha experiência numa farmácia de

Uberlândia, intensificando assim a degradação desse domínio morfoclimático.

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2. JUSTIFICATIVA

No Cerrado brasileiro são encontradas várias espécies vegetais de significativo poder

medicinal. Nesse sentido, cabe aqui assinalar a grande relevância dessa pesquisa que busca

resgatar o uso popular das plantas do Cerrado como remédios naturais. Sendo assim é

extremamente importante para a população local o resgate desse conhecimento.

Diante dessa situação, ou seja, do valor inestimável que assume o Cerrado no contexto

da vida social, tem-se a justificativa dessa pesquisa. Além da relevância social desta pretende-

se também ampliar o universo do conhecimento teórico-científico tendo como fundamental

apoio os conhecimentos populares tradicionais, bem como a observação in loco das plantas do

Cerrado com uso medicinal.

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3. OBJETIVOS

3.1. Geral:

Realizar um levantamento de algumas plantas do Cerrado em seus aspectos

medicinais, seus locais naturais de ocorrência, bem como resgatar a cultura popular no seu

uso, especialmente aquelas usadas em farmácias de manipulação.

3.2. Específicos

� Investigar a relação geológica, geomorfológica e pedológica nas áreas onde as plantas

ocorrem naturalmente;

� Resgatar o uso popular dessas plantas na área estudada como medicamentos naturais;

� Comparar as plantas nativas encontradas com plantas de uso medicinal do Cerrado

usadas em farmácia de manipulação no que se refere ao uso popular e terapêutico.

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4. REVISÃO DE LITERATURA

4.1. A relação homem-meio ao longo da história.

Segundo Drew (1989) as atitudes do homem para com a Terra e suas reações ao

ambiente têm variado através do tempo e ainda variam entre regiões e culturas. O homem pré-

histórico via a natureza como sinônimo de Deus e, portanto, ela devia ser temida e respeitada.

Duarte (1986) caracteriza essa visão como uma concepção mágica da natureza e que

subsiste ainda hoje em algumas sociedades indígenas. Nessa concepção a consciência mítica

justifica a existência do presente pela afirmação de um passado marcado pelo absurdo, que

somente se resolve com a intervenção da divindade.

Assim, como afirma Morais (1999), nesse universo, as diferenças entre os seres não

são grandes para separar o mundo natural do social. Os atributos humanos como paixão, ira,

gratidão, etc, são também comportamentos naturais, percebidos na chuva, na enchente e em

qualquer outro evento natural.

A esse respeito Casini (1975) cita que existe uma

simbiose entre as emoções humanas e forças naturais. Um fluxo contraditório de angústias, entusiasmos, repulsões e simpatias liga o primitivo ao seu ambiente natural, em função das necessidades elementares e dos instintos de sobrevivência (...) (CASINI, 1975 p.17).

Com a instituição de uma sociedade mais dinâmica, baseada no comércio, tem-se a

necessidade de novas explicações para os fatos da natureza (MORAIS, 1999). Nesse período,

principalmente entre os gregos, surge uma nova forma de reflexão sobre a natureza, os

homens e o seu universo (MARÇAL, 2005).

Diante disso é aceito que a visão grega da natureza e, em paralelo, a racionalidade

científica e filosófica tenham tido início no século VI a.C. (COLLINGWOOD, 1949 apud

MORAIS, 1999). Com o advento dessa nova forma de racionalidade não é mais necessário

recorrer a forças sobrenaturais para explicar os fatos da natureza (MORAIS, 1999).

Esse período pode ser caracterizado como uma transição. Nesta, subsiste elementos

mágicos com tentativas de explicar o mundo pela razão. Sobre esse processo Adorno e

Horkheimer (1986) o consideram como um ‘desencantamento do mundo’ pelo qual as pessoas

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vão se libertando do medo de uma natureza desconhecida, à qual atribuem poderes ocultos

para explicar seu desamparo diante dela.

Em face desse desencantamento do mundo, o homem age sobre seu meio causando

uma série de impactos. Os pensadores gregos e romanos consideram o homem como um

criador, um artista que ordenava os elementos da natureza. Diante disso, tiravam proveito

dessa sua característica e buscavam alterar seu meio em seu próprio benefício (REBORATTI,

1999 apud MARÇAL,2005).

Apesar da importância das reflexões de vários filósofos na Antiguidade, quem atingiu

maior objetividade no processo de passagem do saber mítico ao saber racional na observação

da natureza foi Aristóteles. Segundo Lenoble (1990) é com Aristóteles que surge a primeira

percepção desinteressada da natureza. Com ele, a natureza deixa de ser um símbolo regido

pela imaginação e desejos, transformando-a numa concepção mais objetiva ao defini-la como

a soma de seres que existem e por isso passível de investigação. Nesse sentido, Aristóteles

assinalou uma fase decisiva ao dar o primeiro passo na observação e sistematização em

direção ao conhecimento objetivo da natureza.

Segundo Henrique (2004) o fim do período clássico com o advento do cristianismo e

com as invasões dos povos asiáticos denominados pelos europeus de “bárbaros”, ocorreu o

abandono da idéia do homem como um criador na natureza, pela idéia de que um criador

divino concebeu a natureza.

Lenoble (1990) ainda complementa que o cristianismo traz a idéia de que o homem não

está situado na natureza como um elemento num conjunto. O homem é transcendente ao

mundo físico; não pertence à natureza, mas à graça, que é sobrenatural.

Assim deve-se considerar muito importante o peso da idéia cristã no período medieval

como influência a partir de então entre os filósofos, físicos e matemáticos e que fez parte da

concepção de modernidade subseqüente.

Como afirma Capra (1996), nos séculos XVI e XVII, a visão de mundo medieval,

baseada na filosofia aristotélica e na teologia cristã, mudou radicalmente. A noção de um

universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção de mundo como uma máquina.

Essa mudança radical foi realizada pelas novas descobertas em física, astronomia e

matemática, conhecidas como Revolução Científica e associadas aos nomes de Copérnico,

Galilei, Descartes, Bacon e Newton.

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Apesar das tentativas de explicar o mundo racionalmente terem surgido no século VI

a.C., foi somente a partir da Renascença que essa forma de conhecimento encontrou

condições favoráveis diversas para se tornar uma visão de mundo no ocidente. Ou seja, é a

partir do século XVII que a ciência deixa de ser apenas teoria, passando a servir como objeto

de intervenção na natureza com objetivos práticos e econômicos (DUARTE, 1986).

Luz (1988 apud PASCALICCHIO, 1998, p. 45) ainda afirma que:

A partir do Renascimento, a moderna percepção de natureza caracteriza-se pela objetividade, independência e exterioridade. Estas condições são fundamentais para que o homem conheça e molde a natureza, colocando ‘o selo de sua ordem’. A vida e o cosmo são dessacralizados. A busca do conhecimento introduz a prática da observação sistemática (ordens de sentido). A construção de metáforas e a crítica ao saber fazem nascer o experimentalismo, base do método científico moderno, que é, no entanto, profundamente utilitário, exploratório e interventor.

É nesse momento que o homem, com a Revolução Técno-Científica, Iluminismo,

Antropocentrismo, tomou consciência de si mesmo e de sua importância no curso da história.

O poder de construção de tudo o que lhe rodeia lhe deu força e um sentimento de busca pelo

novo, pelo desconhecido. Procurou na razão a fonte de novas “auroras”, e nela se debruçou e

começou a erguer, gestar ideais que partiam da vontade e desejo de conhecer a si mesmo a

partir da descoberta do outro (Natureza). A cada conquista, novas necessidades se colocam

como um desafio para o “novo homem”.

Nesse sentido, o homem ao deixar de subordinar-se à “natureza divina”, passou a

dominar o elemento natural que o “rodeia” como forma de afirmar a existência de um poder

humano, contrapondo-se à crença do incompreensível imaginário que regia a vida em

sociedade.

Segundo Gonçalves (1989), é com Descartes que a oposição sociedade-natureza,

corpo-alma se torna mais completa, constituindo-se no centro do pensamento moderno.

Casseti (1995) ainda complementa que essa separação corpo-alma em Descartes objetiva a

dominação da natureza interna do homem como forma de legitimação da dominação externa,

dando um ordenamento sistemático à ciência. Em outras palavras, isso quer dizer que o

homem, ao conseguir dominar seus pensamentos por meio da razão, consegue estender o

poder de autodomínio ao ambiente, tornando-se o grande senhor da natureza.

Rocha (2000) salienta que:

Esta lógica pela qual o meio ambiente dos lugares é visto somente como um espaço a se ganhar permanece ainda hoje na (ir)racionalidade exploratória e gananciosa dos homens do ocidente (ROCHA, 2000 p.170-171).

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Ao longo do processo de separação homem-meio, encontra-se no início do século XIX

e meados do mesmo século nos Estados Unidos, a criação de uma mentalidade

preservacionista baseada na visão do homem como destruidor da natureza. Neste aspecto

surgiram áreas naturais protegidas com o intuito de afastar o homem dos ambientes ainda não

destruídos pela intervenção humana. Essa idéia de natureza intocada preconizada pelos

naturalistas e pelo romantismo atribuído à beleza cênica dos espaços naturais culminou na

criação do primeiro parque nacional no mundo em meados do século XIX chamado de

Yellowstone. A partir de então esse modelo de áreas selvagens, sem a presença humana,

estendeu-se para outras regiões do mundo, como por exemplo, no Brasil (DIEGUES, 1998).

É sob essa perspectiva de isolamento de áreas naturais frente a ação humana que

aprofunda-se a dicotomia sociedade-natureza. Assim como afirma Pascalicchio (1998, p.45)

“A natureza sem o humano e sem o sagrado é colocada na objetividade.” Essa ruptura,

permeada pelo romantismo confere sutileza aos problemas de caráter social e ambiental

oriundos da expulsão das populações tradicionais que viviam nas áreas transformadas em

parques e a justificativa para continuar a degradar os ambientes que não pertenciam às áreas

protegidas.

É oportuno lembrar, no entanto, que essa idéia de transpor realidades locais para

outras regiões já acontece à longa data. A colonização do Brasil é exemplo disso. Os europeus

chegaram e impuseram seu modo de vida aos habitantes dessa terra. Vestuário, alimentação,

formas de pensar e agir, maneiras de lidar com o solo são alguns exemplos da influência

européia, quando na verdade, já existia um universo cultural constituído pelos povos que aqui

habitavam.

Hoje, vitoriosa, mas não satisfeita por tudo já feito, a humanidade e sua incessante

inquietação ultrapassou ética, modificou formas de pensamento e coloca em risco sua própria

existência.

O pós Segunda-Guerra marca uma série de transformações econômicas, políticas e

ideológicas que provoca uma reestruturação do capitalismo. Nessa reestruturação encontra-se

a redescoberta da natureza.

Nos anos de 1970, com o fortalecimento dos movimentos ambientalistas que

alertavam para o mau uso dos recursos naturais, a relação entre o homem e o meio ambiente

natural começou a ser repensada. “Há uma clara desilusão e percepção da inadequação em

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relação ao modo convencional e antropocêntrico, como a maioria de nós vê e usa a natureza

(...)” (ROA et al., 1983 apud KINKER, 2002, p.16).

Um dos ‘marcos formais’ dessa preocupação com os problemas ambientais reside na

reunião denominada Clube de Roma em 1968 (MARÇAL, 2005). Em seguida várias outras

reuniões são concretizadas destacando-se duas importantes reuniões que se configuram em

dois marcos na discussão dos grandes problemas ambientais como em 1972 (Conferência de

Estocolmo), e em 1992 a II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento (Eco-92).

Este conjunto de eventos e outros não mencionados e documentos produzidos a favor

de uma mudança de postura do homem com seu ambiente acabou por resultar em várias

correntes de pensamento com relação ao tema.

Sendo assim, percebemos que esse retorno à natureza manifesta-se de diferentes

maneiras. É o homem que busca refugiar-se no campo procurando tranqüilidade; é a

preferência por alimentos orgânicos e pela medicina alternativa, como a acupuntura,

homeopatia e ainda pelas plantas medicinais. Significa, em alguns aspectos, o retorno da visão

ocidental de mundo às suas origens, baseadas assim como na filosofia oriental e da qual ela

nunca se distanciou, de uma visão orgânica e ‘ecológica’ segundo Capra (1983).

A característica mais importante da visão oriental do mundo – poder-se-ia mesmo dizer, a essência dessa visão – é a consciência da unidade e da inter-relação de todas as coisas e eventos, a experiência de todos os fenômenos do mundo como manifestações de uma unidade básica. Todas as coisas são encaradas como partes interdependentes e inseparáveis do todo cósmico; em outras palavras, como manifestações diversas da mesma realidade última, indivisível, que se manifesta em todas as coisas e da qual todas as coisas são partes componentes (CAPRA, 1983 , p. 103).

Dessa forma, verifica-se, segundo o autor, que esse retorno às origens míticas tem

ganhado popularidade uma vez que em nossa cultura ocidental, ainda dominada pela visão

mecanicista e fragmentada do mundo, um crescente número de indivíduos começa a se

aperceber do fato de que essa visão constitui a razão subjacente da ampla insatisfação reinante

em nossa sociedade. “Assim muitos têm se voltado para as formas orientais de libertação”

(CAPRA, 1983, p. 27).

Embora o misticismo esteja fortemente representado nas filosofias orientais, ele

também, apesar de forma marginal, está presente na visão ocidental de mundo. Neste aspecto,

o uso de plantas medicinais, tanto no Ocidente como no Oriente, é marcado pelo misticismo,

diferenciando-se pelo grau de intensidade com o qual é praticado.

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4.2. Aspectos gerais sobre plantas medicinais

O uso das espécies vegetais, com fins de tratamento e cura de doenças e sintomas,

remonta ao início da civilização. Desde então, o homem começou um longo percurso de

manuseio, adaptação e modificação dos recursos naturais para seu próprio benefício. Esta

prática milenar ultrapassou todas as barreiras e obstáculos durante o processo evolutivo e

chegou até os dias atuais, sendo amplamente utilizada por grande parte da população mundial

como fonte de recurso terapêutico eficaz (DI STASI, 1996).

Segundo esse autor, o termo plantas medicinal refere-se única e exclusivamente às

espécies vegetais que durante séculos foram sendo incorporadas na cultura de todos os povos

graças ás suas potencialidades terapêuticas e que após estudos criteriosos representam uma

fonte inesgotável de medicamentos aprovados e comumente utilizados, assim como uma rica

fonte de novas substâncias com atividade biológica potencial.

No entanto, é necessário salientar a complexidade que envolve a utilização das plantas

como medicamentos. Muito mais do que um remédio de drogaria, o uso de vegetais na

tentativa de alcançar a cura, envolve magia e misticismo. Faz parte do círculo cultural de cada

povo, construído ao longo do tempo.

É através dessa relação homem-meio, sociedade-natureza que se constrói a cultura de

cada povo, bem como, o universo mítico do qual é inerente. Os documentos arqueológicos, à

disposição, só registram fatos a partir do ano 3.000 a.C., e possibilitam afirmar que muitos

povos, há milênios, tinham conhecimentos do poder de grande quantidade de plantas (IFCRJ,

1985 apud BRAGANÇA, 1996). É o caso da China que se dedicava ao cultivo de plantas

medicinais e, atualmente, mantém laboratórios de pesquisa e cientistas trabalhando

exclusivamente para desenvolver produtos farmacêuticos com ervas medicinais de uso

popular. Sabe-se também que, desde 2300 a.C., os egípcios, assírios e hebreus cultivavam

diversas ervas e traziam de suas expedições tantas outras. Com essas plantas, criavam

purgantes, vermífugos, diuréticos, cosméticos e especiarias para a cozinha, além de líquidos e

gomas utilizados no embalsamento de múmias (MARTINS et al., 2000).

Também na antiga Grécia, as plantas e o seu valor terapêutico ou tóxico eram muito

conhecidos. Hipócrates (460-377 a.C.), considerado o ‘Pai da Medicina’, reuniu em sua obra

‘Corpus Hipocratium’ a síntese dos conhecimentos médicos de seu tempo, indicando para

cada enfermidade o remédio vegetal e o tratamento adequado (MARTINS et al., 2000).

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Foi com as teorias de Hipócrates e Galeno que se originou o procedimento básico da

medicina alopática (cura pelos opostos) em oposição à cura pelos semelhantes, proposta pela

homeopatia.

No Brasil, a utilização de plantas medicinais acontecia antes mesmo da presença dos

colonizadores, o que evidencia, os diferentes saberes construídos em diferentes partes do

mundo ao longo da história. Os indígenas que habitavam o solo brasileiro havia uma

concepção mística da origem de todas as doenças sem causa externa identificável.

Acreditando em fatores sobrenaturais, os pajés associavam o uso de plantas a rituais de magia

e seus tratamentos eram, assim, transmitidos oralmente de uma geração a outra

(SCHROEDER, 1988 apud BRAGANÇA, 1996).

Além da influência da cultura indígena que constitui a base da medicina popular no

Brasil, soma-se a africana e, naturalmente, a européia. A influência africana é pouco

conhecida, mas não menos importante. Para os negros, quando alguém adoecia era porque

estava possuído pelo espírito mau, e um curandeiro se encarregava de expulsá-lo por meio de

exorcismo e pelo uso de drogas, muitas vezes também de origem animal. Já a influência

européia, por sua vez, teve início no Brasil com a vinda dos primeiros padres da Companhia

de Jesus em 1579. Formularam receitas chamadas ‘Boticas dos Colégios’, à base de plantas

para o tratamento de doenças (MARTINS et al., 2000).

Como os nativos não conheciam os meios para enfrentar as doenças trazidas pelos

portugueses, do século XVI ao XVIII, atuavam no Brasil os jesuítas que aprenderam o uso de

plantas medicinais com os pajés e foram gradativamente substituindo estes últimos no

tratamento de doenças que acometiam os indígenas catequizados (SCHROEDER, 1988 apud

BRAGANÇA, 1996).

Portanto, essas informações sobre os usos das plantas medicinais e suas virtudes

terapêuticas foram sendo acumuladas durante séculos, e muito desse conhecimento empírico

se encontra disponível atualmente (DI STASI, 1996). O conhecimento popular é assim, uma

relíquia, que subsiste ao tempo, e demonstra quão profundas são as “raízes” dessa cultura.

O contexto social que envolve a utilização de plantas medicinais como remédio está

imbuído de forte misticismo, um universo que percorre dimensões físicas e psíquicas. Sendo

assim, a eficácia de qualquer tratamento sempre terá um conteúdo simbólico que muitas vezes

é de difícil avaliação. Isto também é verdadeiro no caso de plantas medicinas cuja eficácia

pode ser resultante de um efeito do princípio ativo da mesma sobre o organismo, ou pode ser

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simbólica, agindo também sobre o indivíduo, mas no contexto específico de uma determinada

cultura (AMOROZO, 1996).

O uso de plantas medicinais está cada vez mais difundido, não só no Brasil, como

também em outros países, principalmente na Europa (BACCHI, 1996).

Nesse sentido é interessante diferenciar alguns conceitos que muitas vezes são

utilizados como sinônimos. Produtos naturais representam qualquer substância ou produto de

origem natural, sendo útil como medicamento ou não; já o termo plantas medicinais referem-

se única e exclusivamente às espécies vegetais que durante séculos foram sendo incorporadas

na cultura de todos os povos graças ás suas potencialidades terapêuticas e que após estudos

criteriosos representam uma fonte inesgotável de medicamentos aprovados e comumente

utilizados, assim como uma rica fonte de novas substâncias com atividade biológica potencial

(DI STASI, 1996).

No Brasil, como na maioria dos países ocidentais, a denominada Medicina Oficial se

baseia no sistema alopático de tratamento. A alopatia caracteriza-se por um sistema de

terapêutico de cura pelos contrários, e os medicamentos são denominados e catalogados como

anti-inflamatórios, anti-asmáticos e assim por diante. O conceito de homeopatia foi

introduzido por Samuel Hahnemann em 1796, anuncia que ‘todo medicamento ativo provoca

no organismo humano uma espécie de doença, tanto mais particular, mais característica e

mais intensa, quanto mais ativo é o medicamento’ (JUNG, 1985 apud DI STASI, 1996).

Enquanto na alopatia doses maiores são responsáveis pelos maiores efeitos, na

homeopatia, doses diminutas são utilizadas e quanto maior a diluição maior será a potência do

medicamento homeopático.

Enfim, e onde prendemos nossa atenção, associadas a estes dois sistemas de

terapêutica, encontra-se a fitoterapia, cujo princípio esta baseado na alopatia, diferenciando-se

desta pelo uso de preparados tradicionais, elaborados de plantas medicinais e não

preconizados o uso de substâncias químicas ou sintéticas. Desse modo, a fitoterapia

aproxima-se da homeopatia à medida que esta utiliza produtos de origem natural e muitas

vezes de tinturas padronizadas de plantas medicinais (DI STASI, 1996 ).

Como mencionado, o uso das plantas para fins terapêuticos está inserido em um

contexto social e ecológico que vai, de muitas formas, moldá-lo, de modo que muitas das

peculiaridades desde emprego não podem ser entendidas se não se levar em conta fatores

culturais envolvidos, além do ambiente físico onde ele ocorre (AMOROZO, 1996).

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21

4.3. Cerrado: ambiente ecológico e ocupação.

Segundo Ross (2003) a origem do mosaico botânico brasileiro é resultado da expansão

e retração das Florestas, Cerrados e Caatingas provocada pela alternância de climas úmidos e

secos nas regiões tropicais, durante os períodos glaciais do Quaternário.

A este mosaico paisagístico, Ab’ Saber (2003) o caracteriza como domínios

morfoclimáticos . Dentre eles os Cerrado brasileiros pertencem ao bioma savânico.

Segundo Adámoli e outros (1985) os Cerrados começaram a ser objeto de estudo

científicos a partir dos relatos de naturalistas europeus do século XIX, como von Martius,

Saint-Hilaire e, especialmente, Warning. Este último escreveu o primeiro tratado específico

sobre esse ambiente ecológico. Apesar do interesse despertado, os estudos mais aprofundados

sobre as características ecológicas dos Cerrados só tiveram início na década de 1940, com

pesquisas de Rawistcher, Labouriau, Vanzolini e Ferri.

Várias teorias discutem a origem e a ocorrência de Cerrados. Ross (2003) lembra que

Warming, um dos pioneiros na pesquisa dos Cerrados, defendia na década de 1960 a teoria

climática, isto é, a sazonalidade climática com estações mais secas explicaria os Cerrados.

Warming, além da explicação climática para a ocorrência deste domínio morfoclimático,

também considerava relevante no desenvolvimento da vegetação o fator solo. Rawitsher e

Ferri, na década de 1960 concluíram através de estudos que não havia déficit hídrico e que as

plantas transpiravam a taxas elevadas normalmente com seus estômatos abertos durante o dia.

Anos mais tarde, demonstrou-se que a baixa fertilidade do solo é a principal causa dessas

formações. As espécies típicas de Cerrados só se desenvolvem em solos ácidos e

extremamente pobres em bases trocáveis, principalmente em cálcio.

Segundo Troppmair (2004) os estudos de Arens e Goodland, mostraram que se trata de

um ‘pseudo xeromorfismo’, conseqüência de solos oligotróficos, com altas concentrações de

alumínio e poucos nutrientes são os responsáveis pelo aspecto retorcido da vegetação.

Quanto ao aspecto fisionômico Adámoli e outros (1985) consideram o Cerrado como

uma savana mais ou menos densa, com uma cobertura herbácea contínua, de 50 a 70 cm de

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altura, e com um dossel descontínuo de elementos arbóreos e arbustivos, de galhos retorcidos,

cascas espessas e, em muitas espécies, grandes folhas coriáceas.

Ribeiro e Walter (1998) consideram como principais tipos fitofisionômicos do Cerrado

três conjuntos: formações florestais, formações savânicas e formações campestres. Nas

formações florestais há predomínio de espécies arbóreas com formação de dossel contínuo ou

descontínuo. Nesta formação desenvolvem-se fisionomias associadas aos cursos de água

(Mata Ciliar e Mata de Galeria) e de interflúvios (Mata seca e Cerradão). As formações

savânicas de Cerrado referem-se a áreas com árvores e arbustos espalhados sobre gramíneas e

sem formação de dossel contínuo. Apresenta quatro tipos fitofisionômicos principais sendo

eles o Cerrado sentido restrito, o Parque de Cerrado, o Palmeiral e a Vereda. Já nas formações

campestres predomina espécies herbáceas e algumas arbustivas, sem a presença de árvores

nessa formação. Os três principais tipos fitofisionômicos desta formação são: Campo Sujo,

Campo Rupestre e Campo Limpo.

O Domínio dos Cerrados, assim como os outros ecossistemas brasileiros possuem uma

história de ocupação que muitas vezes está associada ao momento pós “descobrimento”. No

entanto é salutar discorrer que antes mesmo dos europeus chegarem ao Brasil, já existia uma

organização social própria e amplamente associada ao ambiente da qual fazia parte.

O povoamento do Cerrado brasileiro teve início há cerca de 11 000 anos, com caçadores e coletores adaptados às condições ambientais. Posteriormente as populações indígenas passaram a desenvolver uma agricultura diversificada até o século XVIII, quando a região foi ocupada pelo homem branco em busca de ouro, pedras preciosas e índios. Dessa forma, essa região esteve à margem dos ciclos econômicos. Nessa ocasião foram fundadas numerosas cidades, ao tempo em que ocorria uma degradação do meio ambiente, localizada nas áreas de exploração dos recursos minerais. Findo o ciclo da mineração, porém, a região do Cerrado permaneceu economicamente dedicada à criação extensiva do gado e à agricultura de subsistência (PINTO, 1990 p.03).

Até a década de 1950, a região permaneceu praticamente isolada das áreas mais

populosas e economicamente dinâmicas do Brasil. Isolamento este decorrente principalmente

da inexistência de vias de transporte. Entretanto, a construção de Brasília, em 1960, provocou

mudanças radicais na paisagem do Cerrado, com conseqüências marcantes nos aspectos

físicos, biológicos, sociais e culturais. “As antigas cidades têm-se então transformado

rapidamente em pólos ordenadores de desenvolvimento, onde a agricultura e os serviços têm

lugar de destaque” (PINTO, 1990, p.03).

A partir, especialmente de 1975, ocorreu o fenômeno da grande expansão da fronteira

agrícola nos Cerrados (ADÁMOLI et al., 1985). Essa região foi incorporada pelo grande

capital, o agronegócio, e desde então têm servido a interesses puramente econômicos.

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23

A ocupação inadequada e intensiva tem levado a uma descaracterização desse

importante domínio. Os projetos de monocultura, principalmente da soja, têm sido apoiados

pelo próprio governo o que torna a questão ainda mais agravante (ROSS, 2003).

Na Constituição Federal é reservado o dever de se preservar os ecossistemas

brasileiros como patrimônio natural. No entanto, os parlamentares “esqueceram” que o

Cerrado é uma das regiões mais ricas em biodiversidade e não o incluíram na Constituição.

O artigo 225 parágrafo 4º da Constituição Federal de 1988 define

A Floresta amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais

Henriques (2003) lembra que o Cerrado está em desvantagem até mesmo quanto à

proteção oferecida pelas unidades de conservação. O descaso é evidente. Apenas 1,5% da área

total desse domínio estão protegidas pelas unidades de conservação, em comparação com a

floresta amazônica (3,8%) e a mata atlântica (7%).

O autor ainda assinala que a perda irreversível da biodiversidade do Cerrado,

especialmente de espécies endêmicas, representa uma tragédia. Além da agricultura

comercial e de pastagens, a indústria farmacêutica tem aproveitado o valor econômico das

plantas medicinais do Cerrado. No mundo todo, os fitoterápicos movimentam cerca de U$

12,4 bilhões por ano. Neste âmbito, algumas substâncias de plantas do Cerrado, com atividade

farmacêutica importante, já foram patenteadas por pesquisadores estrangeiros. É o caso do

arbusto conhecido como guaçatonga (Casearia sylvestris), comum na região do Cerrado, que

produz compostos que foram patenteados por japoneses em 1998. Outro exemplo de planta

endêmica é a faveira (Dimorphandra mollis). Ela possui alta concentração de um composto

químico conhecido como rutina, de largo emprego na indústria farmacêutica e de cosméticos.

4.4. As plantas medicinais nas Farmácias de Manipulação.

A farmácia de manipulação ou farmácia magistral existe na medicina desde seus

primórdios. Os avanços dessa ciência propiciaram a esta prática tornar-se uma especialidade e

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24

responsabilidade daqueles que sabem fabricar os medicamentos. (FARMACOPÉIA, 2001

apud CERVI, 2002).

O Brasil no início de século XIX possuía péssimas condições sanitárias e de higiene.

Em 1808, a vinda da Família Real e da Corte Portuguesa representou um marco na história da

farmácia, uma vez que um dos primeiros atos de D. João VI foi agilizar o ensino de medicina

e farmácia. (INTERNATIONAL JOURNAL OF PHARMACEUTICAL COMPOUNDING,

2001 apud CERVI, 2002).

Conforme o referido autor sem a presença de uma indústria farmacêutica nacional a

produção magistral era quase toda artesanal e consistia em emulsões, soluções e tinturas

fabricadas conforme relatório internacional e flora brasileira. Os primeiros medicamentos

prontos nas prateleiras das farmácias foram importados da França e os farmacêuticos só

tiveram conhecimento de medicamentos industrializados com a chegada de um médico

polonês formado na França, Chernoviz. Diante das dificuldades de clinicar e de encontrar

matérias-primas o médico decidiu construir um guia médico onde descrevia plantas

medicinais, já que eram abundantes no Brasil e processos de diagnóstico. Denominado

Formulário Chernoviz, este guia serviu entre outros guias para que os farmacêuticos

começassem a produzir medicamentos em série, dando origem às primeiras indústrias

farmacêuticas nacionais. Então, a primeira fase da história da farmácia de manipulação no

Brasil foi de 1832 a 1930, em que havia uma perfeita combinação entre os médicos que

prescreviam e os farmacêuticos que manipulavam as fórmulas até a chegada dos grandes

laboratórios estrangeiros ao país, quando surgem as drogarias.

A partir de 1980 e 1990 assiste-se a um crescimento significativo dessas farmácias no

Brasil cujo principal motivo reside no fato de o governo impor um rigoroso controle de preços

às indústrias desestimulando-as a produzir certos medicamentos, abrindo espaço para a

inserção das farmácias magistrais junto à classe médica (CERVI, 2002).

Segundo o referido autor as farmácias de manipulação possuem características de

pequenas indústrias que formulam medicamentos não seriados, artesanais e seguindo

prescrição médica.

De modo geral, nas farmácias magistrais, como, por exemplo, na farmácia Pharmus

em Uberlândia-MG, são manipuladas fórmulas homeopáticas, alopáticas e fitoterápicas.

Os remédios fitoterápicos podem se apresentar na forma de tinturas, pós, xaropes e

pomadas (SILVA; AGUIAR; MEDEIROS, 2001).

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Os extratos vegetais obtidos de plantas são amplamente utilizados nas farmácias de

manipulação, podendo ser classificados principalmente como extrato seco, extrato fluido e

tintura. Essas matérias-primas são obtidas de grandes laboratórios, como as indústrias

farmacêuticas que processam a planta segundo a finalidade da matéria-prima.

Conforme Marques (2005, p.74)

Os extratos vegetais são preparações líquidas ou em pó obtidas da retirada dos princípios ativos das drogas vegetais por diversas metodologias. Representam manipulações farmacêuticas que tem o objetivo de concentrar as substâncias e reduzir as posologias, aumentar o prazo de validade e conservação de algumas drogas ou voltadas à separação dos ativos efetivamente envolvidos nos efeitos terapêuticos, retirando-se ou minimizando-se a presença de compostos indesejáveis.

De acordo com referido autor as indústrias farmacêuticas utilizam diversos solventes

na produção dos extratos vegetais. São principalmente misturas de água e álcool, bem como

outros solventes como acetato de etila, acetona, etc. A mistura da planta com esses solventes

envolve também diversos métodos os quais utilizam equipamentos industriais na produção

dos extratos fluídos (extrato líquido ou tintura) e extrato seco, isto é os princípios ativos

retirados da planta e deixados na forma de pó com a evaporação do solvente juntamente com

a adição de outros produtos que mantêm a boa conservação da matéria-prima.

Desse modo, as farmácias de manipulação adquirem junto às indústrias farmacêuticas

as matérias-primas que serão utilizadas na manipulação de medicamentos prescritos pelo

médico, o que envolve matérias-primas sintéticas e de origem vegetal.

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5. METODOLOGIA

Dentro do complexo estudo sobre plantas medicinais e com vistas aos objetivos

propostos por esta pesquisa, foi aplicada a metodologia sistêmica de investigação conforme

Bertalanffy (1975). Autor da Teoria Geral dos Sistemas (TGS), considera sistemas como um

conjunto de elementos em interação.

Segundo Christofoletti (1999) dentro dessa visão denominada de holística enquadram-

se outras contribuições de vários autores como a introdução do termo geossistema por

Sotchava (1977) e em outras definições de geossistema defendidas por Bertrand (1972) e

Monteiro (1978), ecodinâmica e ecogeografia de Tricart (1976; 1977; 1979) e Tricart e

Killian (1979); Tricart e Kiewietdejonge (1992), Christofoletti (1979) entre outros.

Dessa forma, esta metodologia permite analisar a paisagem de forma integrada, ou

seja, como resultante da combinação dinâmica de elementos físicos, biológicos e antrópicos,

os quais reagem dialeticamente uns sobre os outros.

5.1. Procedimentos

Para a concretização deste trabalho recorreu-se a uma revisão de literatura versando

sobre plantas medicinais, contexto histórico e aplicação, aspectos fisiográficos das áreas

estudadas e possíveis ações antrópicas, atividades desenvolvidas durante todo o projeto.

O contato inicial com a área de estudo procedeu-se primeiramente no Distrito de

Cruzeiro dos Peixotos, a partir da participação no Projeto aprovado pela PROEX “Resgate

cultural do cultivo e utilização de Fitoterápicos pela população do Distrito de Cruzeiro dos

Peixotos, Município de Uberlândia-MG” que teve início em setembro de 2005 no referido

Distrito. A partir da realização de entrevistas em toda a comunidade durante a primeira fase

deste projeto (Foto 1) chegou-se ao Sr. Divino Cardoso da Silva (Sr. Leus) que demonstrou

possuir grande conhecimento a respeito da utilização de plantas do Cerrado. Posteriormente e

com vistas à realização deste trabalho, entramos em contato novamente com o Sr. Leus e por

meio de uma conversa informal constatamos que ele sabia identificar no campo várias plantas.

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27

Desse modo, a saída a campo no Distrito de Cruzeiro dos Peixotos contou com a participação

do Sr. Leus e foi realizada no dia 25/08/2006. No campo, buscou-se por plantas de ocorrência

natural que ele conhecia e a partir de então se prosseguiu na pesquisa e identificação de cada

planta.

No Distrito de Amanhece, o contato inicial deu-se com uma antiga moradora do

Distrito e que cursa Geografia na Universidade Federal de Uberlândia. Integrante do

PET/Geografia, Flávia Aparecida Vieira de Araújo, apesar de residir em Uberlândia tem sua

família residindo no referido Distrito estando assim fortemente ligada ao cotidiano desse

lugar. Então a partir de conversa informal com Flávia sobre as práticas curativas por meio de

plantas medicinais chegou-se a Sra. Vicência Rezende Martins, moradora de Amanhece.

Sendo assim o primeiro contato que se teve com a Sr. Vicência foi a partir de Flávia que

posteriormente agendou o campo para 19/05/2006. No Distrito de Amanhece, a partir de

conversa informal com a senhora verificou-se a grande sabedoria que possuía e assim

partimos em direção ao campo em busca das plantas que conhecia na região. Para tanto,

percorremos fazendas e área urbana do Distrito.

Após ir a campo realizou-se a identificação das plantas encontradas nas áreas de

estudo. Para isso recorreu-se ao Herbário da Universidade Federal de Uberlândia (HUFU).

Nesta etapa a técnica Adriana ajudou na identificação de algumas plantas com o apoio de

bibliografias diversas.

Posteriormente à fase de campo buscou-se conhecer se as mesmas plantas encontradas

no campo eram também utilizadas na farmácia de manipulação Pharmus. Após confirmar a

ocorrência de algumas plantas de Cerrado na referida farmácia foi realizada uma comparação

no que tange aos usos e aos métodos de preparação pela população local e na farmácia em

estudo.

Para a elaboração da Carta Geológica da área estudada na escala de 1: 600 000

utilizou-se como apoio o Mapa Geológico de Estado de Minas Gerais de 2003. Além desta

outras fontes foram utilizadas como o Mapa Geológico do Projeto RADAMBRASIL de 1983

e Cartas Topográficas em escala de 1: 100 000 de 1970 a 1984, do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística-IBGE. Na confecção desta Carta Geológica empregou-se o software

AutoCAD MAP 13, CorelDRAW 10.5 e SPRING 4.1.

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28

Na abordagem sobre manipulação de fitoterápicos além de recorrer a bibliografias

diversas, relato minha experiência profissional na farmácia de manipulação PHARMUS de

Uberlândia.

Foto 1- Momento de entrevista com moradores do Distrito de Cruzeiro dos Peixotos. Autor: REZENDE, K. 2005.

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29

6. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DO TRIÂNGULO MINEIRO

6.1. Geologia Regional

O Triângulo Mineiro está inserido na Bacia Sedimentar do Paraná sendo esta unidade

representada por rochas de idade Mesozóica, ou seja, arenitos da Formação Botucatu, basaltos

da Formação Serra Geral, e rochas do Grupo Bauru, recobertas em grande parte por

sedimentos cenozóicos de idade Terciária. A base deposicional dessa unidade na região é

formada por rochas pré-cambrianas do Grupo Araxá, Canastra e Bambuí e por rochas de idade

Arqueana representada pelo Complexo Goiano (NISHIYAMA, 1989).

Os basaltos da Formação Serra Geral recobrem grande parte do Triângulo Mineiro e

encontram-se recobertos por rochas sedimentares do Grupo Bauru de idade Cretácea superior

e por rochas sedimentares cenozóica. No que tange à representatividade do Grupo Bauru na

região, destaca-se as Formações Adamantina, Uberaba e Marília cujas rochas estão recobertas

por sedimentos recentes.

Ferrari (1989 apud FERREIRA JÚNIOR, 1996) denominou de Formação Nova Ponte

as rochas cenozóicas que correspondem a depósitos conglomeráticos de até 50 metros de

espessura com níveis argilosos que aparecem no Triângulo Mineiro.

Conforme Barbosa e outros (1970) após a sedimentação do Grupo Bauru na região, o

clima se modifica dando origem à superfícies aplainadas. A dissecação diferencial das

superfícies anteriores deu origem à superfície Sul-Americana de King e caracteriza os

chapadões do Brasil Central.

Mamede (1996) afirma que a cobertura terciária ocorre em áreas de topo, entre 700 e

1340 metros de altitude, configurando-se como remanescentes de uma superfície aplainada.

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6.2. Geomorfologia Regional

Segundo Ab’ Saber (2003), o relevo da área faz parte do Domínio dos Chapadões

Tropicais do Brasil Central. Este sistema de chapadões sedimentares foi classificado por

Baccaro (1991-1996) em quatro categorias: áreas de relevo intensamente dissecado, áreas de

relevo medianamente dissecado, áreas de relevo residual e áreas elevadas de cimeira.

As áreas de relevo intensamente dissecado correspondem à borda da ‘chapada

Uberlândia-Araguari’ (RADAMBRASIL, 1983), com topos mais elevados, entre 700 e 800

metros. Essa compartimentação geomorfológica está associada aos cursos d’água estendendo-

se até o rio Grande e Paranaíba. As formas abruptas, declividades entre 20 e 40º devem-se à

presença de rochas basálticas e rochas do Grupo Araxá.

Nas áreas de relevo medianamente dissecado, topos entre 750 a 900 metros de altitude

e vertentes suaves, as rochas da Formação Adamantina e Marília são as mais representativas

estando sobreposta ao basalto da Formação Serra Geral e recobertas por sedimentos da

Cobertura Cenozóica.

A área de relevo residual é uma unidade intensamente dissecada com declividades que

podem atingir 45º. Corresponde às porções mais elevadas em topos, entre 800 e 900 metros de

altitude, constituindo-se em divisores de água como a Serra do Galga entre Uberlândia e

Uberaba.

As áreas elevadas de Cimeira estão entre 950 e 1050m de altitude, possuem baixas

declividades entre 3 e 5º, sustentadas pela Formação Marília. São marcadas pela baixa

presença de drenagens, vales amplos e úmidos com características de ‘veredas’.

6.3. Solo Regional

De maneira geral, o solo da região inserido no domínio dos Cerrados, é classificado

como latossolo. Segundo Ross (2003) esses solos são geralmente antigos e perderam muitos

nutrientes ao longo de sua história. São mais férteis próximo às drenagens, onde suportam

matas de galeria ou ciliares.

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De acordo com o RadamBrasil (1983) as tipologias de solos presentes no Triângulo

Mineiro são: Latossolo Vermelho-Escuro álico e distrófico, Latossolo Vermelho-Amarelo

álico e distrófico, Latossolo Roxo distrófico e eutrófico, Terra Roxa Estruturada eutrófica,

Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico e eutrófico, Areia Quartzosa álica, Cambissolo álico

e distrófico e Glei Húmico e pouco Húmico álico e distrófico.

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7. LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA ESTUDADA

A presente pesquisa foi desenvolvida tomando-se como base dois Distritos

pertencentes às cidades mineiras de Uberlândia e Araguari (Mapa 1).

Distrito de Amanhece - Araguari/MG

O Distrito de Amanhece localiza-se na porção Norte do município de Araguari entre

as coordenadas 48º11’29” de longitude Oeste e 18º31’58” de latitude Sul , sendo seu acesso

feito por rodovia asfaltada MG 414.

Meio Físico

O município de Araguari está inserido na micro-região do Vale do Paranaíba. O

Distrito de Amanhece localiza-se numa área de topo de Chapada, apresentando formas

tabulares e litologias associadas ao Grupo Araxá e Formação Serra Geral que afloram

margeando o rio Paranaíba. A cobertura detrito-laterítica que recobre as referidas rochas de

idade pré-cambriana e mesozóica é cronocorrelata à Formação Nova Ponte encontrada no vale

do rio Araguari (Mapa 2). Nesta unidade desenvolve principalmente o latossolo vermelho

escuro distrófico e álico que juntos ocupam 28,1 % do município (ROSA, 1992).

Para o referido autor a vegetação original que predomina no município é o campo

cerrado recobrindo um total de (51,3%). Na área de pesquisa foi observado o mesmo tipo

fitofisionômico, recebendo a denominação de Cerrado sentido restrito em Ribeiro e Walter

(1998).

Ocupação

Resende (1991) em sua obra “Amanhece” resgata a história do Distrito com mesmo

nome. Segundo ele, não se sabe ao certo a data em que o primeiro morador chegou ao arraial,

mas sabe-se que Jerônimo Cateto foi o seu fundador. Em 1911, quando José Marques, esposa

e filhos chegaram ao local, Jerônimo e sua família já residia na região. O novo morador

construiu uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Aparecida atraindo outros

moradores para o arraial. Entre as famílias tradicionais da região, além a de José Marques,

existia a família dos Peixotos e Dona Amélia, uma benzedeira de respeito no lugar.

Segundo o autor o nome do Distrito está relacionado com tradição religiosa do lugar.

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Conta-se que, residindo na Bocaina, no lugar denominado Três Pontes, onde mantinham uma propriedade, com escravos inclusive, os padres que tomavam conta da Igreja em Araguari, tinham de deslocar-se até ali para celebrar a missa dominical. Saíam de madrugada da fazenda e, quando passavam na altura da hoje Amanhece o dia estava amanhecendo, surgindo então a idéia do nome (RESENDE, 1991 , p. 12) .

O Distrito de Amanhece foi criado em 1933¹ e nas suas redondezas habitavam

fazendeiros que praticavam cultura de subsistência, criação de gado de forma extensiva,

plantação de cana de açúcar que faziam mover o engenho da fazenda de José Marques.

A agricultura sempre foi a principal atividade econômica do município assim como no

Distrito. A partir de 1970, o Instituto Brasileiro do Café diante das necessidades de

exportação e do GERCA (Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura), colocou em

prática um plano de financiamento de plantio em todo o Brasil. Entre os vários objetivos do

GERCA, destacava-se o de aproveitar áreas novas, especialmente a dos Cerrados.¹

Esse período foi relatado por Rezende (1991) como um fato que transformou

Amanhece profundamente. Começaram a chegar muitas famílias do Estado do Paraná que se

instalaram no Distrito para exploração das plantações de café. Os antigos foram abandonando

o lugar e, apesar das festas religiosas ainda continuarem, aquele modo de vida dos mineiros

fora abalado demasiadamente.

Distrito de Cruzeiro dos Peixotos – Uberlândia/MG

O Distrito de Cruzeiro dos Peixotos localizado na região Norte do município de

Uberlândia entre as coordenadas 48º22’14” de longitude Oeste e 18º43’38” de latitude Sul, é

acessado a partir do anel viário tomando-se a rodovia Neuza Resende em caminho asfáltico

distante aproximadamente 30 Km do referido anel (Mapa 1).

1

1 Informações fornecidas pelo Arquivo Público Municipal de Araguari-MG

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Meio Físico

Na porção norte do município de Uberlândia, próxima do Vale do Rio Araguari, a

paisagem apresenta um relevo fortemente ondulado, com altitude de 800 a 1000 metros e

manchas de solos muito férteis.

O Distrito de Cruzeiro dos Peixotos encontra-se na borda da chapada, numa região de

transição de topo com vertentes suaves para relevo fortemente dissecado em direção ao curso

do rio Araguari. Desse modo, conforme a compartimentação geomorfológica proposta por

Baccaro (1994) e em se tratando de uma área de transição, pode-se incluir Cruzeiro dos

Peixotos na área de relevo medianamente dissecado.

Quanto ao aspecto geológico estão presentes rochas de idade Cenozóica que recobrem

diretamente os basaltos da Formação Serra Geral que se encontram sobrepostas a rochas

cristalinas (Mapa 2).

No que se refere a diferentes escalas de abordagem, as cartas do RadamBrasil (1983)

1.000.000 é um importante recurso para grandes áreas de estudo. Entretanto, no campo é

possível pormenorizar as características e visualizá-las com maior precisão. Nesse sentido, a

litologia que recobre a Formação Serra Geral no município de Uberlândia é a cobertura

detrito-laterítica, e não Formação Marília como mencionado no RadamBrasil (1983).

Desse modo, assim como em Amanhece o Distrito de Cruzeiro dos Peixotos está

inserido na referida cobertura diferenciando-se somente quanto à espessura da camada. No

entanto, essa cobertura Cenozóica nem sempre é mapeável. Por esse motivo a litologia do

Distrito apresentada no mapa geológico (Mapa 2) é Formação Marília.

Em Cruzeiro dos Peixotos o pacote rochoso formado pela cobertura detrito-laterítica é

menos espesso do que em Amanhece conferindo a esta paisagem um aspecto plano enquanto

naquela, nas bordas das vertentes voltadas para o rio Araguari resulta em escarpas erosivas

mantidas pelos derrames basálticos. A este respeito Mamede (1996) explica que quando um

compartimento elevado (área de topo) coalesce com uma superfície de compartimento

rebaixado (associada ao entalhamento do rio Araguari), a cobertura terciária se adelgaça.

Com relação às tipologias de solo descritas no RadamBrasil (1983) predomina em

quase todo o município o latossolo vermelho escuro distrófico. No Distrito este solo apresenta

textura média e observa-se a presença de cascalhos em alguns trechos. Onde aflora o basalto,

o solo pode ser classificado como Terra Roxa Estruturada Eutrófica (RADAMBRASIL,

1983).

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36

A vegetação do Distrito varia de Cerrado sentido restrito a mata. Nas áreas de

afloramento do basalto predomina mata seca ou floresta estacional decidual.

Ocupação

A formação de Cruzeiro dos Peixotos teve início por volta de 1905 quando a família

Peixoto fez um cruzeiro e o colocou, no alto de uma colina, nas terras do Sr. José Camim,

local hoje onde se localiza a igreja de Santo Antônio. Neste local os moradores das fazendas

se reuniam para rezarem o terço e recolher esmolas para a construção desta igreja.²

A construção desta igreja aconteceu depois que José Camin ergueu a capela no local

cumprindo uma promessa de sua esposa D. Cherubina.

Em 1915, o Sr. José Camim doou 10 hectares de terra para o prédio destinado à Escola

Rural Estadual. Em 1918 foi instalado o primeiro armazém de secos e molhados. Com isso as

pessoas começaram a se instalar no local, dando início ao povoado. Entre 1930-1940, foram

instalados um açougue, uma beneficiadora de arroz e uma fábrica de doce, manteiga e leite.

O Distrito foi criado em 1943 pelo decreto-lei nº 1058 da Assembléia Legislativa do

Estado de Minas Gerais.

2 2 Todas as informações sobre a ocupação do Distrito de Cruzeiro dos Peixotos foram fornecidas pela Prefeitura Municipal de Uberlândia.

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8. RESULTADOS E DISCUSSÕES

8.1.Relação Solo/Planta: tipologias encontradas

Em ambos os Distritos as plantas em estudo estão distribuídas na zona urbana e rural

variando conforme antropização e ambiente natural de ocorrência. Apesar da forte

descaracterização que vem sofrendo o Cerrado, ainda existem alguns lugares como nas áreas

estudadas, em que o conhecimento tradicional do uso medicinal de plantas encontra condições

de manifestação. Nesse âmbito, a população que reside nos Distritos dispõe de áreas naturais

onde se desenvolve algumas plantas medicinais nativas da região, fato difícil de ser observado

nos grandes centros urbanos.

Distrito de Amanhece

Em Amanhece, entre as plantas utilizadas e encontradas tem-se pé-de-perdiz - Cróton

antisyphiliticus Mart. - (Foto 2), carobinha - Jacaranda decurrens Cham - (Foto 3),

laranjinha - Styrax ferrugineus Ness. et Mart. - (Fotos 4 e 5) e vergateso - Anemopaegma

arvense (Vell.) Stellf - (Fotos 6 e 7). Todas associadas aos solos provenientes da cobertura

detrítico-laterítica de idade cenozóica, ou seja, Formação Nova Ponte. Ocorrem nas áreas

topograficamente mais elevadas próximo a borda da Chapada.

Foto 2- Pé – de – Perdiz (Cróton antisyphiliticus Mart.) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

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Foto 3- Carobinha (Jacaranda decurrens Cham) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

Foto 4- Laranjinha (Styrax ferrugineus Ness. et Mart.) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

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Foto 5- Laranjinha em seu ambiente natural (Styrax ferrugineus Ness. et Mart.) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

Foto 6- Vergateso (Anemopaegma arvense (Vell.) Stellf) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

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O vergateso e a laranjinha foram encontrados na área urbana do Distrito e as demais

plantas nas fazendas. Desse modo, o ambiente de ocorrência das referidas plantas, mesmo

aquelas presentes nas áreas rurais como, por exemplo, o pé-de-perdiz (Foto 8), já se

encontram descaracterizados pelo desmatamento, fato que é motivo de descontentamento para

Sra Vicência que faz o uso medicinal das plantas que aí ocorrem.

Foto 7 - Vergateso em seu ambiente natural (Anemopaegma arvense (Vell.) Stellf) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

Foto 8-Ambiente natural de ocorrência do Pé-de–Perdiz (Cróton antisyphiliticus Mart.), Cerrado bastante degradado. Autor: ARAÚJO, F.A.V.2006.

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A fim de caracterizar as plantas encontradas nas áreas de estudo realizou-se a

identificação de cada uma delas no Herbário da Universidade Federal de Uberlândia (HUFU)

com família, gênero, espécie e nome popular. Das quatro espécies identificadas (Quadro 1)

duas pertencem à mesma família, Bignoneaceae, sendo Anemopaegma arvense (Vell.) Stellf

(vergateso) e Jacaranda decurrens Cham (carobinha).

FAMÍLIA ESPÉCIE NOME POPULAR

Bignoneaceae Anemopaegma arvense (Vell.)

Stellf Vergateso

Bignoneaceae Jacaranda decurrens Cham Carobinha Euphorbiaceae Cróton antisyphiliticus Mart. Pé-de-perdiz

Stryracaceae Styrax ferrugineus Ness. et

Mart. Laranjinha

Quadro1 - Família, gênero, espécie e nomes populares das plantas encontradas no Distrito de Amanhece/Araguari-MG. Plantas identificadas por: Adriana (HUFU) e Franciele

A Anemopaegma arvense (Vell.) Stellf. (vergateso) é um arbusto perene, decíduo e

nativo dos Cerrados do Brasil Central. É amplamente utilizada em todas as regiões do Cerrado

como afrodisíaco (LORENZI; MATOS, 2002). Na área de estudo, a planta é utilizada para

induzir a gravidez.

A carobinha, Jacarandá decurrens Cham., é um subarbusto com caule aéreo curto e

muito pouco ramificado, chegando a atingir 60 cm de altura. É encontrada em todas as

fisionomias do Cerrado (RODRIGUES E CARVALHO, 2001).

O Cróton antisyphiliticus Mart. (pé-de-perdiz) foi encontrada no Cerrado sentido

restrito e caracteriza-se como um subarbusto ramoso atingindo 30 a 50 cm de altura de base

lenhosa abaixo da superfície do solo apresentando folhas alternas (RODRIGUES E

CARVALHO, 2001).

A espécie Styrax ferrugineus Ness.ex. Mart., conhecida popularmente como laranjinha

possui altura entre 7 e 14 metros, com tronco um pouco tortuoso. Ocorre da Bahia até São

Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, em áreas de Cerrado sentido restrito e em

Cerradões (LORENZI, 1992). Em Amanhece, a planta foi encontrada num quintal de um

morador do Distrito e é utilizada por Sra Vicência na forma de xarope para cura de gripe e

bronquite. Para tanto se usa a flor e folha da laranjinha.

Além destas Srª Viscência, cita outras plantas que usa na formulação de medicamentos

como velame branco, manacá-do-cerrado (Foto 9) e salsa- paredão (Foto 10).

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Foto 10- Salsa Paredão. Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

Foto 9- Manacá do Cerrado. Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

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Distrito de Cruzeiros dos Peixotos

Em Cruzeiro dos Peixotos, onde aflora o basalto, foram encontrados, sob orientação

do Sr. Leus, o assa-peixe branco (Vernonia ferruginea Less.), o angico (Anadenanthera

colubrina (Vell.) Brenan, a aroeira (Myracodruon urundeuva All. ) e o genipapo (Genipa

americana L.). Estas espécies compõem a Mata Mesófila na região.

No Brasil Central estas matas ocorrem principalmente em afloramentos de rochas

básicas como o calcário e o basalto (EITEN, 1983 apud RODRIGUES, 1996).

Ribeiro e Walter (1998) denominam essa formação vegetal como Mata Seca.

Caracteriza-se por diversos níveis de caducifolia durante a estação seca, dependendo das

condições químicas, físicas e principalmente da profundidade do solo. Ocorre nos

interflúvios, em solos ricos em nutrientes e pode ser dividida em três tipos: Mata seca sempre

verde, Mata seca semidecídua e Mata seca decídua.

Na área estudada, verifica-se a Mata seca decídua com afloramentos rochosos de

origem basáltica (Foto 11) formando patamares estruturais (Foto 12) em direção ao curso do

rio Araguari. Em função da litologia e do relevo dissecado, observa-se que o solo é pouco

profundo, porém fértil. A Mata seca pode ser encontrada, como na referida área de estudo, em

solos desenvolvidos em rochas básicas de alta fertilidade (Terra Roxa Estruturada).

Foto 11. Afloramento de basalto em Cruzeiro dos Peixotos, Uberlândia-MG. Autor: MARTINS, F.S.O.2006

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As espécies arbóreas mais freqüentes na mata são Anadenanthera colubrina (Vell.)

Brenan (angico) e Myracodruon urundeuva All. (aroeira) dominando significativamente a

paisagem. (Foto 13)

Foto 12. Patamares Estruturais mantidas pelo basalto. Autor: MARTINS, F.S.O.2006

Foto13. Paisagem formada por Angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan e Aroeira (Myracodruon urundeuva All.) Autor: SANTOS, A.R. 2006.

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O Barbatimão, Stryphnodendron adstringes (Mart.) Coville , foi encontrado em área

de reserva dentro do Distrito (Foto 14) cuja fitofisionomia é o Cerrado sentido restrito. Os

solos são em sua maioria profundos, bem drenados, de média a baixa fertilidade, ligeiramente

ácidos, pertencentes às classes Latossolo Vermelho-Escuro, Latossolo Vermelho-Amarelo ou

Latossolo Roxo. No local, o relevo é plano e o solo desenvolveu-se em litologias da

Cobertura detrito-laterítica com nítida influência da Formação Serra Geral. Neste aspecto, a

área de topo do Distrito apresenta Latossolo Vermelho-Escuro distrófico com presença de

cascalhos em algumas regiões. Nos solos cascalhentos e fortemente antropizado desenvolve-

se uma planta cujo nome popular é urinana e é utilizado no tratamento de infecção de urina e

pedra nos rins.

Além do uso medicinal da casca do tronco do barbatimão, Stryphnodendron

adstringens (Mart.) Coville (Fotos 15 e16), ela também tem sido utilizada como fonte de

anino pelos curtumes, contribuindo para a dizimação dessa espécie no ambiente natural de

ocorrência, ou seja, no Cerrado (JOLY, 1970).

Foto 14. Ambiente natural de ocorrência do barbatimão (Stryphnodendron adstringes (Mart.) Coville) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

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Entre as cinco espécies identificadas (Quadro 2) duas são representadas pela mesma

família, ou seja, Mimosaceae, sendo elas Stryphnodendron adstringes (Mart.) Coville

(barbatimão) e Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan (angico). Do gênero Vernonia

foram encontradas duas plantas quase idênticas (Foto 17) das quais só foi possível identificar

uma espécie de valor medicinal, a Vernonia ferruginea Less (Foto 18).

Foto 15. Casca do Barbatimão (Stryphnodendron adstringes (Mart.) Coville) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

Foto 16- Tronco do Barbatimão (Stryphnodendron adstringes (Mart.) Coville) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

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FAMÍLIA ESPÉCIE NOME POPULAR Anacardiaceae Myracodruon urundeuva All Aroeira

Asteraceae Vernonia ferruginea Less. Assa-peixe Mimosaceae Stryphnodendron adstringes Barbatimão

Mimosaceae Anadenanthera colubrina(

Vell) Brenan Angico

Rubiaceae Genipa americana L. Genipapo Quadro 2. Família, gênero, espécie e nomes populares das plantas encontradas no Distrito de Cruzeiro dos Peixotos, Uberlândia-MG Plantas identificadas por: Adriana (HUFU) e Franciele.

Foto 17. Plantas do Gênero Vernonia. À direita não identificada, à esquerda Vernonia

ferruginea.Less

Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

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A espécie Myracodruon urundeuva All. que recebe o nome popular de aroeira pode

atingir até 24 metros na mata decídua. Apresenta copa ampla e tronco que pode atingir 1

metro de diâmentro. Ocorre nas formações calcáreas e afloramentos rochosos bem drenados

(LORENZI; MATOS, 2002).

O Assa-peixe, Vernonia ferruginea Less caracteriza-se como arbusto com caule

ramificado desde a base com folhas inteiras, simples e alternas.

O Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville, barbatimão, é uma árvore decídua, de

copa alongada de 4 a 5 metros de altura, tronco cascudo e tortuoso. É nativa dos cerrados do

Sudeste e Centro-Oeste brasileiro (LORENZI; MATOS, 2002). No uso popular da área

estudada é utilizada como cicatrizante. Da casca pode-se obter chás para uso interno (casos de

gastrite) ou externo (na cicatrização de feridas). No entanto a ingestão do barbatimão deve ser

cautelosa uma vez que pode se tornar tóxico.

O angico, Anadenanthera colubrina (Vell) Brenan, é uma árvore caducifólia, de copa

aberta e irregular (Foto 19), tronco quase cilíndrico (Foto 20), revestido por casca um pouco

rugosa (LORENZI; MATOS, 2002). Na medicina popular do Distrito é utilizado como

cicatrizante.

Foto 18. Assa-peixe (Vernonia ferruginea Less) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

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Foto 19. Aspecto da copa do angico (Anadenanthera colubrina (Vell) Brenan) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

Foto 20. Aspecto do tronco e da casca do angico (Anadenanthera colubrina (Vell) Brenan) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

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O Genipapo, Genipa americana L., é uma árvore de copa estreita, com altura entre 8 a

14 metros e tronco liso de 40 a 60 cm de diâmetro, conforme fotos 21 e 22 (LORENZI;

MATOS, 2002). Apesar do uso não ser conhecido pelo morador do Distrito de Cruzeiro dos

Peixotos ele a identifica como medicinal. Segundo o autor, o chá das raízes do genipapo é

considerado purgativo e antigonorréico e a casca do tronco antidiarréica.

Foto 21- Genipapo (Genipa americana L.) Autor: MARTINS, F.S.O. 2006.

Foto 22- Folha do genipapo (Genipa americana L.) Autor: MARTINS, F.S.O.2006.

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8.2. Saberes populares

O estudo do ambiente de ocorrência das plantas nas áreas de estudo esteve desde o

princípio norteado pelos saberes populares. Desse modo a identificação de cada uma delas no

campo teve a participação significativa de moradores dos Distritos, ou seja, da Sra. Vicência

em Amanhece e do Sr. Leus em Cruzeiro dos Peixotos.

Distrito de Amanhece

No referido Distrito, a moradora Vicência é uma grande conhecedora das

potencialidades curativas das plantas do Cerrado. (Foto 23). Utiliza várias plantas na

produção de garrafadas destinadas à venda e ao consumo próprio. Para isso estoca diversas

plantas secas para posterior uso.

Além das plantas que a Srª. Vicência identificou no Cerrado como o pé-de-perdiz

(Cróton antisyphiliticus Mart.), vergateso (Anemopaegma arvense (Vell.) Stellf), carobinha

(Jacaranda decurrens Cham) e laranjinha (Styrax ferrugineus Ness. et Mart.), faz uso de

outras como salsa-paredão e manacá do cerrado. Os usos são variados podendo ser na forma

de chás, xaropes, tinturas, garrafadas e outros. Para cada planta existe uma indicação e parte

usada (Quadro 3).

Foto 23- Sra. Vicência preparando a garrafada. Autor: ARAUJO, F.A.V. 2006.

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NOMES POPULARES INDICAÇÕES PARTE USADA

carobinha Infecção e depurativo do

sangue Raiz

vergateso viagra e indutor de gravidez Folha e raiz salsa paredão infecção Raiz

manacá-do-cerrado reumatismo Raiz laranjinha tosse e bronquite Flor e folha

pé-de-perdiz infecção Raiz Quadro 3 – Algumas plantas e usos que a Srª Vicência conhece no Distrito de Amanhece, Araguari-MG.

A família da Srª Vicência foi aquela que chegou à região em 1911 como referido

anteriormente. Neta de José Marques e filha de Palmira, a moradora do Distrito de Amanhece

representa a memória viva da região. Eram quatorze irmãos, hoje são doze irmãos entre os

quais está Srª Vicência e Sebastião, autor de um livro que conta a história do Distrito

mencionada anteriormente.

Distrito de Cruzeiro dos Peixotos

Em Cruzeiro dos Peixotos o Sr. Leus, morador do Distrito, após conversa informal

constatou-se que ele representa a prática cultural na utilização de plantas como remédios

naturais (Foto 24). Além de conhecer as propriedades medicinais de várias plantas do

Cerrado, sabe identificá-la no ambiente onde se desenvolvem. Entre as plantas medicinais que

conhece destaca-se o barbatimão (Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville), o assa-peixe

(Vernonia ferruginea Less), o angico (Anadenanthera colubrina (Vell) Brenan, a aroeira

(Myracodruon urundeuva All. ), o genipapo (Genipa americana L ) e o guatambu (Quadro 4).

No Distrito estudado ainda existe uma forte tradição com respeito à utilização de

plantas como medicamentos. São conhecimentos transmitidos de geração em geração e que

ainda subsiste no cotidiano dessa comunidade.

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O Sr. Leus denomina o Stryphnodendron adstringes (Mart.) como barbatimão roxo em

função da cor da casca, e o indica como cicatrizante. O uso da casca pode ser feito na forma

de chá (gastrite) ou deixar de molho e banhar alguma ferida (uso externo). Do assa-peixe

(Vernonia ferruginea Less) pode-se fazer xaropes ou chás e da aroeira (Myracodruon

urundeuva All.) e guatambu são utilizadas a casca para infecção e fígado respectivamente.

NOMES POPULARES INDICAÇÕES PARTE USADA

Barbatimão Cicatrizante Casca do tronco Assa-peixe Gripe e pneumonia Flor e folha

Angico Cicatrizante Casca do tronco Aroeira Gastrite Casca do tronco

Guatambu Fígado Casca do tronco Genipapo Não conhece Não conhece

Quadro 4 – Algumas plantas e usos que o Sr. Leus conhece no Distrito de Cruzeiro dos Peixotos, Uberlândia-MG.

Verificou-se em trabalho anterior do Programa de Extensão Integração

UFU/Comunidade – PEIC / UFU denominado “ Resgate cultural do cultivo e utilização de

Fitoterápicos pela população do Distrito de Cruzeiro dos Peixotos, Município de Uberlândia-

MG” que a utilização de plantas medicinais envolve praticamente toda a comunidade do

Distrito. Neste projeto constatou-se por meio de entrevistas com os moradores que esta prática

Foto 24- Sr. Leus, morador do Distrito de Cruzeiro dos Peixotos. Autor: MARTINS, F.S.O.2006

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esta fortemente representada no cotidiano da maioria dos moradores, configurando-se como

um elemento importantíssimo na representação da identidade cultural do lugar.

8.3. Minha Experiência em Manipulação de Fármacos

As plantas nativas de Cerrado que foram encontradas no campo e que também são

produzidas na farmácia de manipulação onde construí uma vivência são Barbatimão, Assa-

peixe e Angico. Este último encontra-se na forma de extrato seco e é utilizado na manipulação

de cápsulas. Neste laboratório tive contato com diversos fármacos de origem vegetal e

sintética. O Assa-peixe, diferentemente do Angico, é utilizado na manipulação de xaropes e o

barbatimão é utilizado para formulações de uso externo, como cicatrizante.

Na manipulação de cápsulas, setor que tive um longo contato, podia-se manipular

remédios a partir de fitoterápicos ou associando-os com medicamentos sintéticos.

Os procedimentos de manipulação são variados e estão distribuídos em três

laboratórios. O de manipulação de sólidos (para uso interno), o de semi-sólidos e líquidos

(cremes, géis, xaropes, etc) e o laboratório de Homeopatia.

Com base no procedimento de manipulação de cápsulas praticada diariamente

descrevo-a da seguinte maneira: no início do dia, as receitas são separadas por data e horário

de entrega. Após esta etapa, procede a manipulação em bancadas devidamente esterilizadas

com álcool 70º. As receitas são acompanhas de fichas de pesagem, ou seja, fichas que

contém o número de cápsulas, o nome das matérias primas descritas na receita pelo médico,

bem como as quantidades em grama a serem pesadas. As matérias-primas mais utilizadas, são

encontradas dentro do próprio laboratório em potes identificados com os respectivos nomes.

Após a pesagem de todos os ativos, os mesmos são triturados em um gral de porcelana a fim

de homogeneizá-los. Em seguida todo esse material é passado em uma peneira e depois é

colocado em um cálice. Neste, é possível associar o volume de pó ao tamanho da cápsula que

será necessário para acondicioná-lo. Após esta etapa, a mistura é direcionada para a

encapsulação. Devidamente rotulados, os potes identificados com o nome do cliente, a via de

administração, a posologia e a descrição dos ativos usados na manipulação, eles são

encaminhados para o setor de conferência que certifica os dados corretos do rótulo bem como

avalia se manipulação procedeu corretamente, ou seja, de acordo com a prescrição médica.

Conferidos, os medicamentos podem ser entregues em domicílio ou transferidos para uma

estante até que o cliente volte à loja para buscá-lo.

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Como se pode verificar, os procedimentos de manipulação são bem técnicos e requer

muita atenção do manipulador, já que está se tratando de saúde. Qualquer dose acima ou

abaixo do prescrito pelo médico pode comprometer a saúde do paciente. Por ser um trabalho

artesanal manipulávamos uma fórmula por vez.

Apesar de servir como alternativa às drogarias, as farmácias de manipulação recorrem

em muito a produtos provenientes destas. Muitas vezes o médico prescreve um medicamento

com dose diferente das drogarias, cabendo às farmácias de manipulação adequarem à

necessidade do paciente. Em muitos casos, a manipulação de medicamentos só poderia ser

feita caso não estivesse disponível na drogaria. Desse modo, vejo que essas farmácias servem

como complemento as drogarias e neste aspecto, a produção de fitoterápicos pelas farmácias

de manipulação constitui-se como um diferencial.

Muitos pacientes preferem a manipulação pela opção que fazem por fitoterápicos. Já

observei em vários momentos a preocupação do paciente em relação à origem do remédio,

preferindo, na maioria dos casos os medicamentos derivados de plantas medicinais.

Nesse sentido concordo com Castro (2004), quando afirma que

Mesmo frente a tantas transformações, observamos a persistência de práticas populares de cura que, por muitas vezes, e mesmo hoje têm sido apropriadas pelo saber médico científico. Isto não se deve só às dificuldades econômicas da maior parte da sociedade brasileira, como também ao fato de na cultura popular existir uma sabedoria, uma lógica da sobrevivência; por isso, muitas plantas e crenças se travestiam em fitoterápicos (CASTRO, 2004 p. 438).

Diante disso, existem ainda “remanescentes culturais” que contribuem para a ciência,

no sentido de resultarem em novidade no mercado. Novos produtos são incorporados no

negócio, na teia comercial que combina o elemento técnico inovador com aquele que advém

do conhecimento popular. É claro que esse conhecimento popular, tradicional, exigiu uma

técnica de seu tempo. A referência que se faz, portanto, ao elemento técnico, diz respeito a um

novo contexto social que se vive atualmente.

O “novo” sempre chama a atenção. O que se acaba esquecendo, seja através da neblina

de inovações, seja através do conturbado choque de informações que são lançados

diariamente no cotidiano, é que a novidade apenas é em muitos casos uma exaltação atribuída

pela técnica, de modos de vida ou resultante dela. Se nos diversos âmbitos da vida, isso se faz

sentir, quando o assunto saúde, ele é ainda mais tocante.

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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A riqueza de plantas nativas que existem nos dois Distritos estudados indica que o

Cerrado ainda ocorre naturalmente em algumas regiões. Nestas áreas ainda preservadas é

nítida a relação entre os fatores geológicos, geomorfológicos e pedológicos na determinação

da paisagem.

Neste sentido a relação solo/planta nas áreas de estudo provoca diferenciação no

aspecto da paisagem, conforme observado nas áreas onde ocorre afloramento do basalto

associados a relevo dissecado com predomínio de mata seca.

As diversas plantas de Cerrado identificadas na medicina popular dos referidos

Distritos, indicam o quão estão “enraizadas” as formas de tratamento por meio de plantas

medicinais.

Isto demonstra um significativo valor desse ambiente no contexto social das duas

comunidades, uma vez que a maioria da população faz o uso dessas plantas, constituindo-se

como um reduto de práticas culturais ainda muito vivas no imaginário popular.

É de grande importância resgatar o uso popular de plantas medicinais associando-o aos

locais de ocorrência natural das mesmas, bem como relacioná-lo com farmácias de

manipulação, que priorizam a obtenção do produto final e alteram a relação homem-meio.

Assim, verificou-se que as plantas medicinais do Cerrado além de estarem presentes

no uso popular, estão também inseridas como fitoterápicos nas farmácias de manipulação,

diferindo-se quanto aos métodos de preparação do medicamento.

De acordo com minha experiência em manipulação de fármacos, se verificou que o

procedimento de manipulação em farmácias difere em muito o popular. Neste os

procedimentos na fabricação de remédios são simples como, por exemplo, as garrafadas

produzidas pela Sra Vicência. Naquelas, a manipulação envolve um procedimento técnico,

mas valorizadas atualmente num contexto social de manifestação na preferência dos pacientes

por produtos naturais na terapêutica.

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Desse modo, percebo que as farmácias de manipulação são para a população, um

refúgio sofisticado de meios para a sobrevivência. Num contexto maior, a urbanização das

cidades, destrói os campos de coleta de plantas medicinais. Um mar de asfalto e de

construções erradica as possibilidades de se encontrar na natureza, plantas de poderiam servir

como medicamentos.

Antes, a saúde era produto de intermediação da experiência do caboclo com o seu

meio. Hoje, existe um novo ator social que media a relação indivíduo-saúde. A farmácia de

manipulação, então, assume um duplo sentido, ou seja, assume duas finalidades. O fim

(saúde), passou a ser incorporado pela empresa como meio de realização de sua mercadoria

no mercado. A farmácia dessa maneira estabelece uma nova relação social, ou seja, a mesma

funciona como materialização daquela experiência do caboclo, relíquia nos dias de hoje.

A finalidade dessas empresas é sem dúvida, assim como em outros casos, puramente

lucrativa.

No entanto, é interessante notar a função social que assume.

Ao transformar meios de sobrevivência em fins lucrativos, excluí grande parte da

população que não possui renda para adquirir o medicamento. Configura-se, assim como um

conforto para alguns, e algo distante da realidade de uma maioria. Em alguns casos os

melhores preços, ainda que comparados com os medicamentos de drogaria, ainda estão aquém

da condição de muitas pessoas. É, portanto, do meu ponto de vista um serviço elitista, que não

substitui a antiga relação sociedade – natureza.

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59

10. REFERÊNCIAS

AB’ SABER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

ADÁMOLI, J.; MACEDO, J. AZEVEDO, L. G. de.; MADEIRA NETTO, J. Caracterização da região dos cerrados. In: GOEDERT, W. J. ED (Org.). Solos dos cerrados: tecnologias e estratégias de manejo. São Paulo: Nobel; Brasília: EMBRAPA CPAC, 1985.

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