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MANEJO DE DEJETOS DE SUÍNOS 1 INTRODUÇAO A suinocultura é uma exploração considerada como uma atividade de grande potencial poluidor. Os dejetos gerados pela suinocultura quando mal manejados podem causar grandes desequilíbrios ambientais, como, por exemplo, a proliferação de moscas, contaminação de mananciais e em determinadas regiões provocar o desequilíbrio de minerais existentes no solo. O desafio no manejo dos dejetos é na definição de um sistema capaz de harmonizar a utilização de dejetos como fertilizante e de reduzir o grau de poluição ambiental e que seja compatível com a realidade econômica da atividade e dos produtores. 2 Produção e Características dos dejetos O volume de dejetos líquidos produzidos depende da categoria animal, do manejo, do tipo de bebedouro e do sistema de higienização adotado, freqüência e volume de água utilizada, bem como do numero e categoria de animais (Tabela 1). Tabela 2. Produção media diária de dejetos nas diferentes fases produtivas dos suínos. Categoria de suínos Esterco (kg/animal/dia) Esterco (+ urina kg/ animal/dia)d Dejetos líquidos (I/animal/dia Suínos de 25-1 00 2,30 4,90 7,00 Porcas em 3,60 11,00 16,00 Porcas em lactação 6,40 18,00 27,00 Machos 3,00 6,00 9,00 Leitões 0,35 0,95 1,40 Media 2,35 5,80 8,60 * Considerando-se que o esterco apresentava cerca de 40% de matéria seca. Fonte: Oliveira et al. (1993), adaptada pelo autor. Tabela 3. Características químicas e físicas dos dejetos (mg/litro) produzidos em uma unidade de crescimento e terminação manejada em fossa de retenção. Parâmetro Mínimo Maximo Media Demanda química de oxigênio (DQO) 11530 38448 25543 Sólidos totais 12697 49432 22399 Sólidos voláteis 8429 39024 16389 Sólidos fixos 4268 10408 6010 Sólidos sedimentares 220 850 429 Nitrogênio total 1660 320 3710 1180 2374 578 Potássio total 260 1140 536 Fonte: Manhaes (1996), adaptada por Perdomo (1996). Resultados de analises laboratoriais do Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves. Concórdia, SC. 2.1 Considerações sobre o volume de água presente nos dejetos de suínos As perdas de água aumentam o volume de efluentes, agravando o problema

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DEJETOS SUINICOLAS

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MANEJO DE DEJETOS DE SUÍNOS

1 INTRODUÇAO

A suinocultura é uma exploração considerada como uma atividade de grande potencial poluidor.Os dejetos gerados pela suinocultura quando mal manejados podem causar grandes

desequilíbrios ambientais, como, por exemplo, a proliferação de moscas, contaminação de mananciais e em determinadas regiões provocar o desequilíbrio de minerais existentes no solo.

O desafio no manejo dos dejetos é na definição de um sistema capaz de harmonizar a utilização de dejetos como fertilizante e de reduzir o grau de poluição ambiental e que seja compatível com a realidade econômica da atividade e dos produtores.

2 Produção e Características dos dejetosO volume de dejetos líquidos produzidos depende da categoria animal, do manejo, do tipo de

bebedouro e do sistema de higienização adotado, freqüência e volume de água utilizada, bem como do numero e categoria de animais (Tabela 1).

Tabela 2. Produção media diária de dejetos nas diferentes fases produtivas dos suínos.

Categoria de suínos Esterco (kg/animal/dia)Esterco (+ urina kg/

animal/dia)dDejetos líquidos

(I/animal/dia)

Suínos de 25-1 00 kg 2,30 4,90 7,00

Porcas em gestação 3,60 11,00 16,00

Porcas em lactação 6,40 18,00 27,00

Machos 3,00 6,00 9,00Leitões desmamados 0,35 0,95 1,40

Media 2,35 5,80 8,60* Considerando-se que o esterco apresentava cerca de 40% de matéria seca. Fonte: Oliveira et al. (1993), adaptada

pelo autor.

Tabela 3. Características químicas e físicas dos dejetos (mg/litro) produzidos em uma unidade de crescimento e terminação manejada em fossa de retenção.

Parâmetro Mínimo Maximo Media

Demanda química de oxigênio (DQO) 11530 38448 25543

Sólidos totais 12697 49432 22399Sólidos voláteis 8429 39024 16389

Sólidos fixos 4268 10408 6010

Sólidos sedimentares 220 850 429

Nitrogênio total

Fósforo total

1660

320

3710

1180

2374

578Potássio total 260 1140 536

Fonte: Manhaes (1996), adaptada por Perdomo (1996). Resultados de analises laboratoriais do Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves. Concórdia, SC.

2.1 Considerações sobre o volume de água presente nos dejetos de suínos

As perdas de água aumentam o volume de efluentes, agravando o problema e elevando os custos de armazenamento, tratamento, transporte e distribuição de dejetos. Uma pequena goteira num bebedouro (com pressão de 2,8 kg/cm2) pode significar uma perda de 3,6 m3/dia (Perdomo, 1995).

O bebedouro ideal e aquele que fornece um volume adequado de água por unidade de tempo, com baixa velocidade de escoamento. Um bom bebedouro, em termos de concepção e instalação, proporciona economia de água por animal produzido (Tabelas 4).

Na creche, crescimento e terminação, os bebedouros do tipo nipple devem ser reguláveis em altura.

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Bebedouros tipo nipple, quando muito altos, restringem o acesso e o consumo animal, mas, quando muito baixos, o angulo de inclinação da ponta não favorece a ingestão, fazendo com que os animais acessem de lado e desperdicem tanta água quanto a consumida. De uma forma geral, os bebedouros devem formar um angulo de 50° com a parede da baia e estarem cerca de 15 cm mais elevados que a altura do lombo do animal, exigindo que este se estique ligeiramente e a água possa fluir na quantidade e no tempo desejado. Suínos jovens preferem beber juntos (reflexo da lactação), portanto, bebedouros muito afastados entre si não apresentam um bom rendimento, pois um ou outro será utilizado mais intensivamente.

Para o leitão, a altura dos bebedouros tipo taça deve ser de modo que ele possa submergir o focinho (reflexo do ato de mamar), pois, quando muito alto, ocorrem derramamentos pela tentativa dos animais em aumentar a profundidade da lamina de água. Bebedouros em nível devem ser conectados a linha principal num angulo de 30 a 60º. Usando a pressão do ar e válvulas de flotação simples, pode-se variar a sua altura e comprimento (15 a 30 cm) de acordo com o tamanho dos animais

Tabela 4. Recomendações de modelo, numero, altura e espaço entre bebedouros'.

FaseModelo Bebedouros Altura (cm)

TAQ NIP NIV NAB NBB EEB(m TAÇ NIP NIVLeitões lactentes X Leiteg. 1 5

Leitões desmamados X X 10 2 0,30 15 15-30

Suínos

25 - 50 kg X x 12 2 0,46 46-61 12

50-1 00 kg X X x 15 2 0,91 61-76 25

Porcas em lactação X X 1 1 15-45 76-91

Porcas em gestação X X 15 2 0,91 15 76-91

Cachaços 15 2 0,91 76-91

TAQ - Taça; NIP - nipple, NIV - nível. NAB = Numero de animais por bebedouro; NBB = Numero de bebedouros por baia. EEB = Espaço entre bebedouros. 'Fonte:Midwest Plan Service (1988); Embrapa (1994); Bodman (1994).

3 UTILIZAQAO DE DEJETOS DE SUINOS

3.1 Alimentação animalA baixa energia e os baixos coeficientes de digestibilidade da matéria seca e da proteína do dejeto de suíno e a possibilidade de disseminações de doenças inviabilizam um possível uso em rações de suínos (Tabela 5).

Tabela 5 - Composição química e valores de digestibilidade e energia do esterco de suíno ª

VariávelEsterco de suínos

Fresco Seco estufa Seco Secador Peneirado

Matéria seca % 27,78 95,56 82,28 87,02CDA matéria seca % 35,16 31,83 35,86 33,04

Proteína bruta % 4,03 19,12 16,99 10,78

CDA proteína bruta % 28,93 37,84 36,97 42,11

Matéria mineral % 4,23 18,95 16,61 17,52Cálcio % 0,71 3,39 2,98 0,93

Fósforo total % 0,60 2,67 2,20 0,54

Cobre ppm 35,10 123,50 111,10 94,45

Zinco ppm 270,90 830,20 830,20 62,19

Energia bruta, kcal/kg 1148 3768 3346 3878

Energia digestível!, kcal/kg 413 962 1053 1294

Energia metabolizável ,kcal/kg 321 959 1005 1226

ª /Valores expresses em base de matéria natural. CDA=Coeficiente de digestibilidade aparente.Fonte: Lima et al. (1993).

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Embora haja informações mostrando que os dejetos de suínos possam ser utilizados na alimentação de bovinos de corte, não se recomenda o uso dessa pratica, pois não ha estudos sobre a qualidade do produto final do ponto de vista sanitário, tanto zootécnico como, principalmente, de saúde publica. Alem disso, cortes e embutidos produzidos a partir do emprego de dejetos na alimentação animal certamente teriam difícil aceitação por parte do consumidor.

3.2 Fertilizante orgânico

Qualquer que seja a forma de aplicação no solo, os órgãos de fiscalização e proteção ambiental de alguns estados brasileiros recomendam fazê-lo apos um tempo de retenção hidráulico de 120 dias, visando a sua estabilização e redução do poder poluente.

As dejeções animais contem uma importante quantidade de germes, cerca de 103 a 107 germes por grama de excremento tais como: bacilos da tuberculose, brucelose, salmonelas, larvas de helmintos, vírus Doença de Aujeszky entre outros. Uma adequada retenção pode eliminar grande parte de carga microbiana, alem de reduzir em 50% os níveis de DB05 e eliminar os odores desagradáveis.A quantidade a ser aplicada em adubações depende da necessidade das culturas e da capacidade do solo.

3.3 Produção de biogás

Os dejetos de suínos possuem bom potencial energético em termos de produção de biogás, porque mais que 70,0% dos sólidos totais são constituídos por sólidos voláteis, substrato das bactérias metanogênicas responsáveis pela produção de biogás.

Na biodigestão anaeróbia realizada em biodigestor, e possível, para um período de retenção da biomassa de 20 a 30 dias, produzir-se de 0,30 a 0,50 m3 de biogás. A Tabela 6 apresenta a produção de biogás de acordo com o tamanho do rebanho.

Tabela 6. Volume de biodigestor (BIOD), produção diária de biogás (BIOG) e biofertilizante (BIOF), de acordo com o dimensionamento do rebanho.

Nº de matrizes BIOD (m3) BIOG (m3/d) BIOF (kg/d)

12 25 12 100024 50 25 200036 75 37 300060 125 62 5000

Fonte: Konzen (1983).

4 MANEJO E TRATAMENTO DOS DEJETOS

4.1 Separação de fase

Na separação de partículas maiores que 0,01 mm contidas nos dejetos líquidos pode-se utilizar os seguintes processes: decantação, peneiramento, centrifugação.

a)Decantação

O processo de decantação consiste em armazenar um volume de dejetos líquidos em um reservatório, por determinado período de tempo, para que a fração sólida em suspensão decante, podendo-se, então, separar a fase liquida da sólida.

Estudos desenvolvidos com sistemas de decantação continua, permitem obter reduções de 52% do DQO e aumento.

Para o dimensionamento de um tanque de sedimentação, recomenda-se usar a equação adaptada de Merkel (1981) e de Green & Kramer (1979):

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A = Q/Vs

A = Área do tanque (m2)

Q = Vazão do efluente (m3/hora)

Vs = Velocidade de sedimentação (m/h), variando de 0,1 a 0,3 de acordo com dejetos diluídos a concentrados, respectivamente.

O comprimento e a largura do tanque deve obedecer a relação L = 0,30 C, em que Lea largura e C o comprimento. Ou seja a largura deve corresponder a 30% do comprimento do tanque.

b) Peneiramento

O peneiramento tem como objetivo obter uma fração liquida e outra sólida, com a finalidade de facilitar o processamento dos dejetos. As peneiras podem ser classificadas em estáticas, vibratórias e rotativas. A capacidade de remoção dos sólidos por peneiras é menos eficiente do que a remoção obtida em decantadores. O uso de peneiras com malha de 800 e 500 mícron apresenta eficiência de 40 e 49%, respectivamente, para separação dos sólidos totais dos dejetos.

Peneiras estáticas

São as mais simples e menos eficientes em relação as demais, Requer uma limpeza constante devido ao entupimento. Operação com 9% de sólidos nos dejetos.

Peneiras vibratórias

Realizam movimentos tangenciais e verticais, mantendo os dejetos em fluxo continuo. A vantagem da peneira vibratória é a baixa tendência ao entupimento, comportando crivos de menor diâmetro que a estática e retirando maior quantidade de partículas finas. Podem operar com uma concentração de 16% de sólidos nos dejetos.

Peneiras rotativas

O dejeto semiliquido é carregado na parte superior do tambor. A fração liquida atravessa, os crivos, depositando-se na sua parte inferior, e a fração sólida adere a superfície, sendo retirada por uma lamina de raspagem. Possibilitam operação de forma contínua com pequena ou nenhuma obstrução dos crivos, e a maior capacidade de remover partículas grosseiras e finas.

c) Centrifugação

Bastante eficiente, porem pouco utilizada na suinocultura.

4.2 Armazenamento dos dejetos

É uma das fases mais importantes do sistema de tratamento e utilização. Existem diversos sistemas e formas de armazenamento, porem, dois são os principais modelos de deposito: esterqueiras e lagoas.

a) Esterqueiras

As esterqueiras podem ser construídas com ou sem revestimentos. Para isso, devem ser tornados os seguintes cuidados:

a.1. Sem revestimento

Solos com grande capacidade de impermeabilização, a exemplo dos solos argilosos, sem pedra, as esterqueiras poderão ser escavadas diretamente no solo, sendo que alguns cuidados deverão ser dispensados em áreas com lençóis freáticos muito superficiais. Pode-se revestir as esterqueiras com material impermeável, tais como: argilas, saibros, solocimento, entre outros, com posterior compactação. Alguns órgãos de fiscalização e proteção ambiental exigem um laudo geológico para o não revestimento de lagoas ou esterqueiras.

a.2. Com revestimento

Os revestimento mais comum é o PVC ou polietileno de alta densidade. No sul o tempo de

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retenção dos dejetos nas esterqueiras para redução dos sólidos voláteis, é de 40 a 50 dias.

Recomenda-se uma profundidade mínima de 2,5 metros para evitar influencia da ariação da temperatura na estabilização dos sólidos. A esterqueira deve ser dimensionada para um período de 120 dias de estocagem.

b. Lagoas de estabilização

b.1. Lagoas anaeróbicas.

Seu objetivo e a destruição e estabilização da matéria orgânica, podendo ser utilizado como unidade sedimentadora para a redução da carga orgânica. Requerem menor área superficial e maior profundidade para promover a anaerobiose. A profundidade recomendada varia de 3 a 5 m e sua eficiência de remoção da DBO e da ordem de 50% a 80 %. Sua eficiência de remoção em efluentes com 800 mg/litro de DBO5 é de 51% de sólidos totais, 80% de DBO5, 28% de nitrogênio, 70% do fósforo total e 97,7% de coliformes fecais.

b.2. Lagoas facultativas

As lagoas facultativas possuem uma região aeróbia superficial, uma zona facultativa na porção central e uma região de anaerobiose no fundo da camada sedimentada (lodo). As lagoas facultativas possuem vantagens sobre as lagoas aeróbias uma vez que na zona anaeróbia é removido uma quantidade adicional de carbono por meio da formação de metano. A profundidade das lagoas facultativas depende muito das condições ambientais e do tipo de dejeto a ser tratado. Em lagoas com menos de 1 m de profundidade ocorre emergência de vegetação, criando problemas de odores e de manejo. Em condições de climas mais frios e recomendado o uso de lagoas com profundidades maiores que 1,5 m. Sua eficiência de remoção em efluentes suinicolas com 700 mg/litro de DBO5 e de 42% dos sólidos totais, 42% de DBO5, 57% do nitrogênio, 29% do fósforo total e 97,3% de coliformes fecais.

Para a degradação dos dejetos bruto de suínos sem a pré separação de sólidos recomenda-se considerar uma área superficial de 0,40m² por kg de suíno na granja. Caso seja feita a separação dos sólidos essa área pode ser reduzida em até 50%.

Profundidade em metros Temperatura ambiente Tipo de dejeto

1,0 Uniforme Pré-sedimentado

1,0 a 1,5 Uniforme Sem sedimentação

2,0 a 2,5 variável Sem sedimentação

b.3. Lagoas aeróbicas natural

Geralmente são lagoas pouco profundas (menos de 1m) exigindo grandes áreas superficiais para proporcionar aeração natural do dejeto. Por este motivo não são utilizadas.

b.3. Lagoas aeróbica Aerada

A lagoa aerada mecanicamente e um sistema de tratamento biológico onde a oxigenação e induzida diretamente da superfície por agitação mecânica. Nesse sistema o sólido permanece em suspensão e gradativamente vai sendo degradado como na lagoa facultativa.