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21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental ABES – Trabalhos 1 V-007 – REVISÃO DA PORTARIA 36 GM/90. PREMISSAS E PRINCÍPIOS NORTEADORES Rafael K.X. Bastos (1) Engenheiro Civil (UFJF), Especialização em Engenharia de Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ), Ph.D. em Engenharia Sanitária (University of Leeds), professor e pesquisador do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Chefe do Serviço de Tratamento de Água da UFV. Leo Heller Engenheiro Civil (UFMG), Especialização em Engenharia Sanitária (UFMG), Mestre em Engenharia Sanitária (UFMG), Doutor em Epidemiologia (UFMG), professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais, pesquisador do CNPq, Diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Denise M. E. Formaggia Engenheira Civil (Universidade Mackenzie), Especialização em Engenharia de Saúde Pública (USP), Diretora do Núcleo Regional de Saúde do Litoral Norte – Secretaria de Saúde SP. Leiliane C. Amorim Farmacêutica e Bioquímica (UFMG), Mestrado em Toxicologia (USP), professora e Chefe do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia (UFMG). Petra Sanchez Sanchez Farmacêutica e Bioquímica (USP), Farmacêutica Sanitária (USP), Doutora em Ciências/Microbiologia (USP), Ex-Gerente da Divisão de Análises Microbiológicas da CETESB, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie-Pós-Graduação (SP). Paula D. Bevilacqua Veterinária (UFV), Especialização em Epidemiologia (UFMG), Mestre em Epidemiologia (UFMG), Doutora em Epidemiologia (UFMG), professora do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa. Silvano Silvério Costa Engenheiro Civil (FUMEC-MG), Gerente Técnico de Contaminantes da Água para Consumo Humano- Coordenação Geral de Vigilância Ambiental da Fundação Nacional da Saúde. Jacira Azevedo Cancio Engenheira Sanitarista e Engenheira Civil (UFBA), Especialização em Engenharia de Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ), Assessora de Saúde e Ambiente da Representação no Brasil da Organização Pan- Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde. Endereço:Rua Maestro João Salgado Amorim, 100, Bairro de Lourdes, Viçosa-MG. Telefone: (0**) 31-3899-2356; Fax: (0**) 3899-1482; e-mail: [email protected] RESUMO A recém-publicada Portaria 1469/2000 estabelece o padrão de potabilidade e os procedimentos relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano, revisando, atualizando e ampliando o escopo da Portaria 36 GM/90 de 19 de janeiro de 1990. O processo de revisão da Portaria 36, coordenado pela FUNASA, teve como ponto de partida uma proposta de minuta para a nova legislação elaborada por um grupo de trabalho multidisciplinar - os autores deste trabalho. Apresentam-se neste artigo as bases conceituais e os princípios que nortearam a revisão da Portaria 36, além das principais alterações e inovações introduzidas na Portaria 1469, destacando-se: o enfoque epidemiológico e de gerenciamento de riscos à saúde que permeiam a nova legislação, o alcance e público alvo da mesma, a amplitude de atribuições dos responsáveis pelo controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano, a atualização do padrão de potabilidade e adequação dos planos de amostragem. PALAVRAS-CHAVE: Qualidade da água, controle, vigilância, padrão de potabilidade, legislação.

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21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos 1

V-007 – REVISÃO DA PORTARIA 36 GM/90. PREMISSAS E PRINCÍPIOSNORTEADORES

Rafael K.X. Bastos(1)

Engenheiro Civil (UFJF), Especialização em Engenharia de Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ),Ph.D. em Engenharia Sanitária (University of Leeds), professor e pesquisador do Departamentode Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Chefe do Serviço de Tratamentode Água da UFV.Leo HellerEngenheiro Civil (UFMG), Especialização em Engenharia Sanitária (UFMG), Mestre emEngenharia Sanitária (UFMG), Doutor em Epidemiologia (UFMG), professor doDepartamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de MinasGerais, pesquisador do CNPq, Diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais.Denise M. E. FormaggiaEngenheira Civil (Universidade Mackenzie), Especialização em Engenharia de Saúde Pública (USP), Diretorado Núcleo Regional de Saúde do Litoral Norte – Secretaria de Saúde SP.Leiliane C. AmorimFarmacêutica e Bioquímica (UFMG), Mestrado em Toxicologia (USP), professora e Chefe do Departamentode Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia (UFMG).Petra Sanchez SanchezFarmacêutica e Bioquímica (USP), Farmacêutica Sanitária (USP), Doutora em Ciências/Microbiologia (USP),Ex-Gerente da Divisão de Análises Microbiológicas da CETESB, professora da Universidade PresbiterianaMackenzie-Pós-Graduação (SP).Paula D. BevilacquaVeterinária (UFV), Especialização em Epidemiologia (UFMG), Mestre em Epidemiologia (UFMG), Doutoraem Epidemiologia (UFMG), professora do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa.Silvano Silvério CostaEngenheiro Civil (FUMEC-MG), Gerente Técnico de Contaminantes da Água para Consumo Humano-Coordenação Geral de Vigilância Ambiental da Fundação Nacional da Saúde.Jacira Azevedo CancioEngenheira Sanitarista e Engenheira Civil (UFBA), Especialização em Engenharia de Saúde Pública(ENSP/FIOCRUZ), Assessora de Saúde e Ambiente da Representação no Brasil da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde.

Endereço:Rua Maestro João Salgado Amorim, 100, Bairro de Lourdes, Viçosa-MG. Telefone: (0**) 31-3899-2356;Fax: (0**) 3899-1482; e-mail: [email protected]

RESUMO

A recém-publicada Portaria 1469/2000 estabelece o padrão de potabilidade e os procedimentos relativos aocontrole e vigilância da qualidade da água para consumo humano, revisando, atualizando e ampliando oescopo da Portaria 36 GM/90 de 19 de janeiro de 1990. O processo de revisão da Portaria 36, coordenado pelaFUNASA, teve como ponto de partida uma proposta de minuta para a nova legislação elaborada por um grupode trabalho multidisciplinar - os autores deste trabalho. Apresentam-se neste artigo as bases conceituais e osprincípios que nortearam a revisão da Portaria 36, além das principais alterações e inovações introduzidas naPortaria 1469, destacando-se: o enfoque epidemiológico e de gerenciamento de riscos à saúde que permeiam anova legislação, o alcance e público alvo da mesma, a amplitude de atribuições dos responsáveis pelo controlee vigilância da qualidade da água para consumo humano, a atualização do padrão de potabilidade e adequaçãodos planos de amostragem.

PALAVRAS-CHAVE: Qualidade da água, controle, vigilância, padrão de potabilidade, legislação.

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1. INTRODUÇÃO

Embora se reconheça que a Portaria 36/90 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990) representasse um avanço emrelação à legislação anterior (Portaria 56 Bsb/77), o próprio passar do tempo e o avanço do conhecimentotécnico-científico, tornavam-na já desatualizada em diversos aspectos.

Conforme previsto na própria Portaria 36, dever-se-ia proceder a sua revisão a cada cinco anos. Passados dezanos de sua publicação, diversos setores vinham se manifestando sobre a necessidade de não mais se adiar taliniciativa (FORMAGGIA et al., 1998).

Em maio de 2000, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) através da Coordenação Geral de VigilânciaAmbiental em Saúde/CENEPI, em parceria com a Representação no Brasil da OPAS/OMS, desencadeou oprocesso de revisão da Portaria 36, para o que foram adotados os seguintes encaminhamentos e etapas: (i)articulação com outros setores envolvidos com o assunto; (ii) constituição de um grupo de trabalhomultidisciplinar (os autores deste trabalho) para a elaboração de minuta da nova legislação; (iii) realização deseminários, oficinas de trabalho e consultas públicas para a discussão da proposta e coleta de críticas esugestões; (iv) sistematização das contribuições e consolidação da proposta de minuta da nova Portaria; (v)consolidação por parte da FUNASA do documento final e publicação da nova Portaria em dezembro de 2000(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

Vale ressaltar que ao longo deste processo logrou-se implementar uma discussão de alcance nacional, comampla participação do Setor saúde, através das Secretarias Estaduais e Municipais, dos Serviços de VigilânciaEpidemiológica, Sanitária e Ambiental em Saúde, do Setor de Saneamento, através das Companhias Estaduais,Serviços Municipais e suas entidades representativas, das Universidades, de órgãos ambientais e entidades dasociedade civil, a exemplo do Instituto de Defesa do Consumidor.

2. METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS

O trabalho de elaboração da Minuta de Portaria, permeado pelas etapas acima citadas, envolveu as seguintesatividades: (i) pesquisa bibliográfica sobre o Estado da Arte dos diversos aspectos inerentes à Qualidade daÁgua para Consumo Humano – Controle e Vigilância; (ii) análise crítico-comparativa entre normas elegislação vigentes em diversos países, além dos Guias da OMS (OMS, 1995); (iii) análise crítica da Portaria36, no que diz respeito às Normas de Controle e Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano(CVQACH) e Padrão de Potabilidade; (iv) identificação dos principais aspectos a serem atualizados e, ou,inseridos na nova Portaria.As diversas contribuições temáticas (qualidade, tratamento, distribuição e consumo de água; aspectosepidemiológicos e toxicológicos; exercício do controle e vigilância da qualidade da água) foramsistematizadas e consolidadas por meio de um esforço interdisciplinar, constituindo a minuta da nova portaria.Ao longo da consulta pública, a proposta original foi sendo adequada à realidade (necessidades epossibilidades) apresentada e discutida pelo setor saúde, pelos prestadores de serviços em saneamento, pelaacademia e pela representação dos consumidores.

3. PREMISSAS E PRINCÍPIOS NORTEADORES

O princípio básico norteador da revisão foi o de que a legislação deveria constituir um instrumento efetivo deproteção à saúde, a partir das seguintes premissas: (i) universalidade de aplicação, abrangendo as diversasformas e situações de abastecimento de água; (ii) funcionalidade, definindo atribuições e responsabilidadesdos diversos atores envolvidos no CVQACH, de forma harmônica e integrada; (iii) atualidade, incorporando oque há de mais recente no conhecimento científico; (iv) aceitação, compatibilizando as diversas visões dosatores envolvidos no CVQACH, sem prejuízo da visão maior de proteção à saúde; (v) aplicabilidade,adequando a legislação à realidade nacional; (iv) função, não somente de instrumento normalizador,fiscalizador e punitivo, mas também de fomento às boas práticas; (vii) eqüidade, assegurando direitos dosconsumidores.Quanto à abrangência, era notória a omissão da Portaria 36 em relação à proliferação de diversas formas deabastecimento e fornecimento de água, a exemplo de condomínios, clubes, campings, transporte em veículosetc. Tornava-se necessária uma melhor delimitação de alcance e público-alvo, ou seja, sobre quem devemincidir as exigências da legislação.Em termos de atribuições e responsabilidades, o exercício da Vigilância da Qualidade da Água para ConsumoHumano (VQACH) não se encontrava suficientemente contemplado na Portaria 36, de tal forma que a mesma

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era, preponderantemente, dirigida aos prestadores de serviços, responsáveis pelo Controle da Qualidade daÁgua para Consumo Humano (CQACH). Não obstante, a VQACH é uma responsabilidade do setor saúde hámuito estabelecida, ainda que em termos de amplitude nacional, pouco consolidada (FORMAGGIA et al.,1998). Mais recentemente registram-se novos esforços de implementação de um Programa Nacional deVQACH, no âmbito da Vigilância Ambiental em Saúde integrada com as outras esferas da Vigilância emSaúde: a vigilância sanitária e epidemiológica. Paralela e gradualmente, assiste-se à consolidação do SistemaÚnico de Saúde, transferindo para o município diversas atribuições, dentre elas a dos Serviços de Vigilância.Neste sentido, a Portaria 36 demandava nitidamente atualização, estabelecendo mecanismos eresponsabilidades os mais claros e objetivos possíveis para o exercício eficaz, diferenciado, porém integrado,do CVQACH.À luz do conhecimento acumulado sobre riscos à saúde associados ao abastecimento e consumo de água, anecessidade de atualização do padrão de potabilidade era também notória, incorporando ao máximo e namedida do possível informações sobre: riscos associados à cianobactérias e organismos patogênicos, incluindovírus e protozoários (MEINHARDT et al.,1996; USEPA,1998a, 1999; CHORUS e BARTRAM, 1999.);mecanismos de remoção de patógenos por meio do tratamento de água (NIEMISNKI eONGERTH,1995;.USEPA ,1998b); emprego de indicadores (BASTOS et al., 2000); evidências toxicológicasde agravos à saúde decorrentes da ingestão de substâncias químicas (OMS, 1995). No que tange às substânciasquímicas que representam risco à saúde, a desatualização da Portaria 36 encontrava exemplo nítido nalistagem dos agrotóxicos, incluindo diversas substâncias e princípios ativos já banidos do mercado e por outrolado omitindo outras, de mais recente, porém intensa utilização no país Fazia-se, portanto, necessária aatualização dos parâmetros definidores do padrão de potabilidade (microbiológico e físico-químico) e seusrespectivos Valores Máximos Permitidos (VMP) nas águas destinadas ao consumo humano. Entretanto, umoutro princípio norteou todo o trabalho de revisão da Portaria 36, baseado na seguinte premissaepidemiológica: a adoção de limites de presença de substâncias e organismos potencialmente nocivos à saúdehumana na água consumida, embora necessária, não é suficiente para garantir a desejável proteção à saúde(HELLER, L., 2001 - comunicação pessoal).Este enfoque foi adotado no sentido de superar, na opinião dos autores, algumas das principais limitações daPortaria 36: por demais centrada na definição do padrão de potabilidade, insuficiente na disposição de critériose procedimentos de promoção de boas práticas em todo o sistema de produção/abastecimento de água, além daausência de um enfoque sistêmico de CVQACH, visualizando a dinâmica da água desde o manancial até oconsumo.Os limites do controle laboratorial como instrumento de gerenciamento de riscos à saúde, encontramargumentos em constatações tais como:• Por razões financeiras, de limitações técnico-analíticas e de necessidade de respostas ágeis, no controlemicrobiológico da qualidade da água usualmente recorre-se ao emprego de organismos indicadores;entretanto, reconhecidamente não existem organismos que indiquem a presença/ausência da ampla variedadede patógenos possíveis de serem removidos/inativados ou resistirem/trespassarem os diversos processos detratamento da água (BASTOS et al., 2000).• Do ponto de vista químico, os limites de concentração adotados internacionalmente, muitas vezes partemde estudos toxicológicos ou epidemiológicos com elevado grau de incerteza, arbitrariedade ou nãorepresentatividade (WHO,1996); além disso, não há como assegurar o desejável dinamismo e agilidade nalegislação para corrigir valores de VMP ou incluir/excluir parâmetros.• A amostragem para o monitoramento da qualidade da água baseia-se em princípio estatístico/probabilís-tico incorporando inevitavelmente uma margem de erro/incerteza.

Nesta abordagem, o controle laboratorial constitui apenas uma (importante) etapa do processo degerenciamento de riscos, mas por isto mesmo os planos de amostragem definidos na Portaria 36 mereciamrevisão, por não apresentarem a necessária flexibilidade e abrangência. Entretanto, outras açõescomplementares devem ser agregadas, enfatizando-se (Figura 1):• A atenção à qualidade da água no manancial em um esforço articulado entre o órgão produtor de águapara consumo humano, o sistema público de saúde e órgãos ambientais.• A adoção de boas práticas nos sistemas de abastecimento de água.• A incorporação de um enfoque epidemiológico na VQACH.• O gerenciamento de riscos, promovendo nas situações identificadas como de risco à saúde as necessáriasmedidas preventivas e corretivas, além da adequada informação à população.• A garantia dos direitos dos usuários.

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Fonte: HELER, L., 2001. Comunicação pessoal.

Figura 1 – Diagrama conceitual: relações e abrangência da legislação sobre potabilidade da água.

4. PRINCIPAIS ADEQUAÇÕES E ALTERAÇÕES

Com base nos princípios e premissas anteriormente delineados, a nova Portaria inclui uma série de alterações enovas disposições as quais, didática e sinteticamente, poderiam ser agrupadas como a seguir.

4.1. ALCANCE E PÚBLICO-ALVO

No sentido de superar lacunas de responsabilidades perante a legislação, procurou-se uma melhor delimitaçãopara as formas de abastecimento, fornecimento e consumo de água que deveriam estar sujeitas às ações deCVQACH.A partir das definições de Sistema de abastecimento de água (entendidas como as “soluções clássicas” sobresponsabilidade de poder público, mesmo sob regime de concessão) e soluções alternativas de abastecimentode água (toda modalidade de abastecimento coletivo, distinta dos sistemas), ficou estabelecido que:• Os responsáveis por todo sistema ou solução alternativa, que forneçam água coletivamente paraconsumo humano, deverão obrigatoriamente exercer o controle sistemático da qualidade da água.• Toda a água destinada ao consumo humano deve obedecer ao padrão de potabilidade e está sujeita àvigilância da qualidade da água, exercida pelas autoridades de saúde pública.Desta forma, todos os responsáveis pelo fornecimento coletivo de água, incluindo os sistemas particulares,devem exercer o CQACH, o que implica, dentre outras ações, no monitoramento da qualidade da água e naprestação de contas ao setor saúde e ao público consumidor.Outro entendimento fundamental dos destaques acima é o de que o conceito de potabilidade da água éuniversal e absoluto, independendo de especificidades locais.

4.2. ATRIBUIÇÕES DE COMPETÊNCIA E RESPONSABILIDADES

A legislação procura estabelecer mecanismos os mais claros e objetivos possíveis para o exercício eficaz ediferenciado do CVQACH, sempre sob a perspectiva de gerenciamento de riscos à saúde. No âmbito daVQACH, encontram-se detalhadas as obrigações do setor saúde nas esferas federal (Ministério da Saúde, porintermédio da FUNASA), estadual e municipal.

OPERADOR

MANANCIAISSISTEMA DE

ABASTECIMENTODE ÁGUA

CONSUMIDORES

SISTEMA PÚBLICODE

SAÚDE/VIGILÂNCIA

ÓRGÃOSAMBIENTAIS

Gerenciamentode riscos àsaúde

Controle daqualidade da águade consumo

Boas práticas:- tratamento- distribuição

Controleoperacional;proteção demananciais

Legislação;controle

Vigilância daqualidade daágua

Vigilância daqualidade daágua

Vigilância dasboas práticas

Informação

Participação

1200

Avaliação/Vigilânciaepidemiológica(abastecimento deágua x saúde)

Instituições eações abrangidaspela legislação

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O exercício cotidiano da VQACH inclui, dentre outras ações:• Sistematizar e interpretar dados secundários gerados pelos responsáveis pelo abastecimento de água,órgãos ambientais e gestores de recursos hídricos, em relação à qualidade da água desde o manancial até oconsumo.• Auditar o CQACH.• Implementar um plano próprio de amostragem.O desejado enfoque epidemiológico fica patente nas seguintes obrigações: efetuar, sistemática epermanentemente, avaliação de risco à saúde humana de cada sistema de abastecimento ou solução alternativa,por meio de informações sobre:• A ocupação da bacia contribuinte ao manancial e o histórico das características de suas águas.• As características físicas dos sistemas, práticas operacionais e de controle da qualidade da água.• O histórico da qualidade da água produzida e distribuída.• A associação entre agravos à saúde e situações de vulnerabilidade do sistema.

Por sua vez, cabe aos responsáveis pela operação de sistemas e, ou, soluções alternativas de abastecimento deágua, exercer o CQACH, genericamente por meio de: manter e controlar a qualidade da água, desde omanancial até o consumo; reportar-se em periodicidade definida a autoridade de saúde pública para fins decomprovação de atendimento à legislação.A perspectiva de gerenciamento de riscos à saúde é explicitada em exigências tais como:• Manter avaliação sistemática do sistema de abastecimento de água, com base na ocupação da baciacontribuinte ao manancial, no histórico das características de suas águas, nas características físicas dosistema, nas práticas operacionais e na qualidade da água distribuída.• Promover, em conjunto com os órgãos ambientais e gestores de recursos hídricos, as ações cabíveis paraa proteção do manancial de abastecimento e de sua bacia contribuinte, assim como efetuar controle dascaracterísticas das suas águas, notificando imediatamente a autoridade de saúde pública sempre que houverindícios de risco à saúde ou sempre que as amostras coletadas apresentarem resultados em desacordo com oslimites ou condições da respectiva classe de enquadramento, conforme definido na legislação específicavigente.• Comunicar, imediatamente, à autoridade de saúde pública e informar, adequadamente, à população adetecção de qualquer anomalia operacional no sistema ou não conformidade na qualidade da água tratada,identificada como de risco à saúde.Em termos de “prestação de contas”, cabe a ambos (os responsáveis pelo CVQACH):• Manter registros atualizados sobre as características da água distribuída, sistematizados de formacompreensível aos consumidores e disponibilizados para pronto acesso e consulta pública.• Manter mecanismos para recebimento de queixas referentes às características da água e para a adoçãodas providências pertinentes.Como inovação, a nova Portaria define como obrigação adicional dos responsáveis pelo CQACH:• Fornecer a todos os consumidores, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, informações sobre aqualidade da água distribuída, mediante envio de relatório, dentre outros mecanismos, com periodicidademínima anual e contendo, pelo menos as seguintes informações:- descrição dos mananciais de abastecimento, incluindo informações sobre sua proteção, disponibilidade e

qualidade da água;- estatística descritiva dos valores de parâmetros de qualidade detectados na água, seu significado, origem

e efeitos sobre a saúde; e- ocorrência de não conformidades com o padrão de potabilidade e as medidas corretivas providenciadas.

4.3. PADRÃO DE POTABILIDADE

Os diversos parâmetros e respectivos Valor Máximo Permitido (VMP) que caracterizam a potabilidade daágua foram agrupados em padrão microbiológico, padrão de turbidez da água pós-filtração ou pré-desinfecção,padrão para substâncias químicas de importância para a saúde, padrão radiológico e padrão de aceitação deconsumo.

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4.3.1. PADRÃO MICROBIOLÓGICO (TABELA 1)

Tabela 1 – Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humanoParâmetro VMP1/

Água para consumo humano2/

Escherichia coli ou coliformes termotolerantes3/ Ausência em 100 mLÁgua na saída do tratamentoColiformes totais Ausência em 100 mLÁgua tratada no sistema de distribuição (reservatórios e rede)Escherichia coli ou coliformes termotolerantes3/ Ausência em 100 mL

Coliformes totais

Sistemas que analisam 40 ou mais amostras por mês:- Ausência de 100 mL em 95% das amostrasexaminadas no mês;- Sistemas que analisam menos de 40 amostras pormês;- Apenas uma amostra poderá apresentarmensalmente resultado positivo em 100 mL

1/ Valor Máximo Permitido2/ Água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo fontes individuais como poços, minas,nascentes, dentre outras.3/ A detecção de Escherichia coli deve ser preferencialmente adotada.

Dentre as principais modificações em relação à Portaria 36, destacam-se:• Adoção de termo coliformes termotolerantes em substituição a coliformes fecais.O termo coliformes fecais surgiu da procura, através do teste da termotolerância, de uma diferenciaçãoexpedita das bactérias do grupo coliforme capazes de se multiplicarem a 44,5º C, mais nitidamente associadas àcontaminação de origem fecal (HOFSTRA e HUISIN´T VELD, 1988.).Entretanto, reconhecidamente o grupo dos coliformes fecais inclui espécies de origem não-exclusivamentefecal, podendo ocorrer naturalmente no solo, na água e em plantas. Principalmente em países de clima tropical,mesmo que originalmente introduzidas na água por contaminação não fecal, algumas espécies podem adaptar-se aomeio aquático natural e ou formar biofilmes em canalizações mesmo na presença de pequenas concentrações denutrientes (LOPEZ-TORREZ et al, 1987; GELDREICH, 1990., WHO 1996). O fato de algumas espécies não seremde origem fecal comprometiam a especificidade deste subgrupo para determinação da origem fecal.• Adoção dos seguintes indicadores da qualidade bacteriológica da água:- Água para consumo humano em qualquer situação: ausência de Escherichia coli ou coliformestermotolerantes, sendo a E. coli o indicador de primeira escolhaA E. coli é reconhecidamente o indicador mais preciso de contaminação fecal recente, sendo a sua presençaindicativa da provável ocorrência de microrganismos patogênicos de origem exclusivamente fecal. Nãoobstante, pelo fato de que a presença de coliformes termotolerantes, na maioria das vezes, guarda melhorrelação com a presença de E. coli, seu emprego ainda é aceitável quando não são disponíveis métodos dedetecção rápida da E.coli em programas de monitoramento sistemático. Na avaliação de fontes individuais deabastecimento, a exemplo de poços e nascentes, o emprego dos coliformes totais deve ser utilizado comcritério, devido a elevada probabilidade de resultados falso-positivos (WHO 1996).- Na saída do tratamento: ausência de coliformes totais.A ausência dos coliformes totais é indicativa da eficiência do tratamento, uma vez que apresentam uma taxa dedecaimento (inativação) similar ou superior a dos coliformes termotolerantes e da E. coli (WHO 1996).- No sistema de distribuição: ausência de E. coli ou coliformes termotolerantes e ausência de coliformes totaisem 95% das amostras.Mesmo que o tratamento seja adequado, a água pode sofrer contaminação ao longo da rede de distribuição. Oisolamento de E. coli no sistema de distribuição é um sinal inequívoco de contaminação fecal posterior aotratamento.Alguns coliformes termotolerantes podem, em determinadas condições, se desenvolver nos sistemas dedistribuição de água: na presença de elevadas quantidades de nutrientes, quando a temperatura da água forsuperior a 13 ºC e na ausência de cloro residual livre. Entretanto, por medida de segurança, a detecção decoliformes termotolerantes deve ser interpretada como indício de contaminação (OMS, 1995).

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Embora a detecção de coliformes totais, na ausência de E. coli ou coliformes termotolerantes, não guarde umarelação exclusiva com contaminação de origem fecal, serve como indicador da eficácia do tratamento e daintegridade do sistema de distribuição. Águas insuficientemente tratadas, por exemplo, sem a garantia deresidual de cloro, ou infiltrações podem permitir o acúmulo de sedimentos, matéria orgânica e promover odesenvolvimento de bactérias, incluindo aquelas do grupo coliforme que não E. coli. Por isso, na avaliação daqualidade da água distribuída, em geral, tolera-se a detecção eventual de coliformes totais, mas requer-se aausência sistemática de E. coli ou coliformes termotolerantes. Caso existam dúvidas quanto a presença decoliformes que não correspondam aos gêneros de coliformes mais significativos, as espécies devem seridentificadas a fim de se investigar a natureza da contaminação- Adoção de critério único de avaliação da qualidade da água no sistema de distribuição: 95% de amostrasnegativas para coliformes totais e 100% para coliformes termotolerantes ou E. coli, sem explicitar limitesquantitativosA diversificação de critérios tal como na Portaria 36 dificulta a verificação conclusiva da potabilidade da água.Na nova legislação, o critério passa a ser único e somente qualitativo (presença/ausência de indicadores). Aexclusão da necessidade de quantificação da contaminação é respaldada pela seguinte exigência: amostras comresultados positivos para coliformes totais devem ser analisadas para Escherichia coli, ou, coliformestermotolerantes, devendo, neste caso, ser efetuada a verificação e confirmação dos resultados positivos.Observe-se que a mera presença de E. coli ou coliformes termotolerantes é suficiente para a condenação dapotabilidade da água.À luz do conhecimento acumulado sobre a qualidade microbiológica da água e seu controle, foram introduzidoscritérios explícitos de avaliação da qualidade da água pós-filtração, pré e pós-desinfecção (Tabela 2)..

Tabela 2 – Padrão de turbidez para água pós-filtração ou pré-desinfecçãoTratamento da Água VMP

Desinfecção (água subterrânea) 1,0 UT em 95% das amostrasFiltração rápida (tratamento completo ou filtração direta) 1,0 UTFiltração lenta

Notas: a) Dentre os 5% dos valores permitidos de turbidez superiores aos VMP, o limite máximo paraqualquer amostra pontual deve ser 5,0 UT; b) com vistas a assegurar a adequada eficiência de remoção devírus, Giardia lamblia e Cryptosporidium sp., recomenda-se, enfaticamente, que os processos em filtraçãoestabeleçam como meta a obtenção de efluente filtrado com valores de turbidez inferiores a 0,5 UT em 95%dos dados mensais.

Em linhas gerais, bactérias e vírus são inativados ou destruídos pelo processo de desinfecção, enquanto oscistos de protozoários, preponderantemente, são removidos por filtração (USEPA,1998b). Quanto à resistênciaaos agentes desinfetantes, também em linhas gerais, por ordem crescente apresentam-se as bactérias, vírus ecistos de protozoários (SOBSEY,1989).Assim sendo, os coliformes são bons indicadores da remoção de microrganismos que apresentam a mesmaresistência que os patógenos.Em determinadas situações especialmente, quando a água do manancial é de máqualidade à avaliação da qualidade virológica e parasitológia da água tratada, torna-se necessária além doemprego de indicadores complementares não-biológicos, à exemplo do cloro residual e turbidez.(BASTOS etal, 2000)Os critérios recomendados enfaticamente para a qualidade da água tratada por filtração rápida (turbidezinferior a 0,5 UT em 95% das amostras mensais; máximo de 5,0 UT) são reconhecidos internacionalmentecomo necessários à garantia de uma desinfecção eficiente, de forma a se obter uma remoção conjunta filtração-desinfecção da ordem de: 99,9% de Giardia e 99,99% de vírus (USEPA,1998b)Os critérios mais flexíveis adotados para a filtração lenta (turbidez inferior a 2,0 UT em 95% das amostrasmensais; máximo de 5,0 UT) prendem-se ao fato da reconhecida maior eficiência destas unidades na remoçãode patogênicos.Reconhecendo as crescentes preocupações com a transmissão de vírus e protozoários via sistemas deabastecimento de água tratada (HAAS et al.,1996; ROSE, 1997, USEPA, 1998b, 1999)e, por outro lado, asdificuldades analítico - laboratoriais na detecção destes organismos de forma rotineira, pois, além de onerosas,as técnicas disponíveis requerem muita habilidade, experiência e técnicas internas de controle de qualidade,laboratorial (JAKUBOWSKY, et al, 1996, SOBSEY 1997, ALLEN et al, 2000), optou-se por indicar suaausência como meta de potabilidade.

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Cabe ressaltar que a incorporação da turbidez como indicador de natureza sanitária (e não apenas estética), daqualidade da água, assim como a exigência de filtração para fontes superficiais de abastecimento, reveste-se damesma intençãoNo mesmo sentido, são estabelecidas as seguintes normas e recomendações para uma desinfecção eficiente devírus. (OPAS, 1999):Após a desinfecção, a água deve conter um teor mínimo de cloro residual livre de 0,5 mg/L, sendo obrigatóriaa manutenção de, no mínimo, 0,2 mg/L em qualquer ponto da rede de distribuição, recomendando-se que acloração seja realizada em pH inferior a 8,0 e tempo de contato mínimo de 30 minutos.

4.3.2. PADRÃO DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS

Na Tabela 3 reproduz-se o padrão de potabilidade para substâncias químicas que representam risco à saúdevigente na Portaria 1.469.Para efeito de comparação, encontram-se destacadas em negrito as substâncias incluídas que não constavam naPortaria 36; os destaques em negrito itálico referem-se às substâncias (agrotóxicos) não mais comercializadasno país, porém mantidas devido à sua prolongada persistência no meio ambiente; os valores entre parêntesesreferem-se aos VMP da Portaria 36.Dentre os critérios levados em consideração para estabelecer os parâmetros químicos e seus respectivos VMP,merecem destaque:• Análise das evidências epidemiológicas e toxicológicas dos riscos de saúde associados às diversassubstâncias (OMS,1995, WHO,1996,1998).• Potencial tóxico das substâncias químicas que podem estar presentes na água (naturalmente ou porcontaminação), levando em consideração a classificação das respectivas substâncias pelo IARC (InternationalAgency for Research on Câncer). Este critério foi utilizado, principalmente, para a inclusão de algunsparâmetros que não constavam na Portaria 36.• Possibilidade de obtenção de padrões analíticos e limitação de técnicas analíticas atualmente empregadas.Basicamente, este critério foi utilizado para a não-inclusão de alguns parâmetros constantes em legislações deoutros países ou nos Guias da OMS.• Uso das substâncias químicas no tratamento da água (desinfecção).• Comparação dos valores-guias da OMS, Normas dos EUA (USEPA,2000), Canadá e da ComunidadeEuropéia e os valores máximos permitidos estabelecidos na Portaria 36. Salvo raras exceções, os VMPadotados são os sugeridos pela OMS. Em alguns casos, foram estabelecidas VMP próprios, de acordo com ametodologia recomendada pela OMS para a determinação da ingestão diária tolerável – IDT (OMS, 1995).

4.3.2.1. SUBSTÂNCIAS INORGÂNICAS

Essencialmente, foram mantidas as substâncias contidas na Portaria 36 devido à sua importância para saúdeindicada pelos estudos toxicológicos disponíveis. Foram incluídas outras substâncias (ex.: antimônio), emfunção de sua importância toxicológica. Foi excluída a prata, devido à pequena relevância toxicológica dasconcentrações usualmente encontradas na água.

Tabela 3 – Padrão de potabilidade para substâncias químicas que representam risco à saúde.PARÂMETRO UNIDADE VMP(1)

INORGÂNICASAntimônio mg/L 0,005 (0,05)Arsênio mg/L 0,01 (9,0)Bário mg/L 0,7Cádmio mg/L 0,005Cianeto mg/L 0,07 ( 0,1)Chumbo mg/L 0,01 ( 0,05)Cobre mg/L 2Cromo mg/L 0,05 (1,0)Fluoreto(2) mg/L 1,5Mercúrio mg/L 0,001Nitrato (como N) mg/L 10Nitrito (como N) mg/L 1

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Selênio mg/L 0,01ORGÂNICASAcrilamida µg/L 0,5Benzeno µg/L 5 (10,0)Benzo[a]pireno µg/L 0,7Cloreto de Vinila µg/L 51,2 Dicloroetano µg/L 101,1 Dicloroeteno µg/L 30 (0,3)Diclorometano µg/L 20Estireno µg/L 20Tetracloreto de Carbono µg/L 2 ( 3,0)Tetracloroeteno µg/L 40 (10,0)Triclorobenzenos µg/L 20Tricloroeteno µg/L 70 (30,0)AGROTÓXICOSAlaclor µg/L 20,0Aldrin e Dieldrin µg/L 0,03Atrazina µg/L 2Bentazona µg/L 300Clordano (isômeros) µg/L 0,2 ( 0,3)2,4 D µg/L 30 ( 100)DDT (isômeros) µg/L 2 ( 1,0)Endossulfan µg/L 20Endrin µg/L 0,6 ( 0,2)Glifosato µg/L 500Heptacloro e Heptacloro epóxido µg/L 0,03 ( 0,1)Hexaclorobenzeno µg/L 1 ( 0,01)Lindano (γ-BHC) µg/L 2 ( 3,0)Metolacloro µg/L 10Metoxicloro µg/L 20 ( 30,0)Molinato µg/L 6Pendimetalina µg/L 20Pentaclorofenol µg/L 9 ( 10,0)Permetrina µg/L 20Propanil µg/L 20Simazina µg/L 2Trifluralina µg/L 20CIANOTOXINASMicrocistinas(3) µg/L 1,0DESINFETANTES E PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA DESINFECÇÃOBromato mg/L 0,025Clorito mg/L 0,2Cloro livre mg/L 5Monocloramina mg/L 32,4,6 Triclorofenol mg/L 0,2 ( 0,01)Trihalometanos Total mg/L 0,1

4.3.2.2. SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS

Algumas substâncias foram incluídas em função do significativo emprego industrial no país e, ou, suaimportância para saúde (ex.: o cloreto de vinila – carcinogênico).Cabe ressaltar a inclusão de um VMP para cianotoxinas, mais especificamente microcistinas, em função doreconhecido problema de saúde pública decorrente da presença em excesso de cianobactérias em mananciaiseutrofizados. O não-estabelecimento de VMP para outras cianotoxinas deve-se à escassez de informações enão-disponibilidade de técnicas analíticas padronizadas.

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4.3.2.3. AGROTÓXICOS

Foram incluídos e, ou, excluídos vários princípios ativos de agrotóxicos, com base em informações sobre acomercialização de diversos produtos no Brasil e permissão de uso pelo Ministério da Saúde. Forampriorizados os 50 produtos mais usados no país, principalmente os herbicidas que representam mais de 60% detodos os agrotóxicos comercializados no Brasil. O glifosato, apesar de não possuir toxicidade elevada, foiincluído como medida cautelar de saúde pública, por constituir, de longe, o herbicida mais utilizado no Brasil.

4.3.2.4. DESINFETANTES E PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA DESINFECÇÃO

Para a adoção destes parâmetros foram considerados os diferentes processos de desinfecção (cloro, dióxido decloro e ozonização). O formaldeído e os ácidos haloacéticos foram excluídos, por serem suficientementecobertos pela determinação de bromato e THM.

4.4. PLANOS DE AMOSTRAGEM A SEREM EXECUTADOS PELOS RESPONSÁVEIS PELOABASTECIMENTO DE ÁGUA

Com o objetivo de estabelecer instrumentos mais dinâmicos e eficazes de avaliação de riscos, os planosamostrais sofreram alterações consideráveis, dentre as quais destacam-se: (i) o agrupamento dos parâmetros aserem analisados: “parâmetros operacionais” (turbidez, cor, pH); “parâmetros bacteriológicos” (coliformes ecloro residual), “parâmetros de especial interesse para a saúde” (fluoreto, cianotoxinas, trihalometanos),“demais parâmetros”; (ii) o estabelecimento de planos diferenciados para mananciais subterrâneos esuperficiais; (iii) a redefinição dos pontos de amostragem: água bruta no ponto de captação, pós-filtração oupré-desinfecção, saída do tratamento, sistema de distribuição (reservatórios e rede).Em linhas gerais, os principais impactos decorrentes da alteração proposta seriam: (i) aumento do número deamostras para o controle “operacional” e “microbiológico” (bacteriologia, turbidez, cor, cloro residual e pH)para os sistemas de menor porte e, por outro lado, o estabelecimento de um patamar máximo de amostragempara os sistemas de maior porte (Figura 2); (ii) a exigência de análise semestral e completa da água bruta, deoutro lado, a exigência de análise de todos os “demais parâmetros” no sistema de distribuição apenas quandoos mesmos forem detectados no manancial ou na saída do tratamento; (iii) a exigência de análises mensais daágua bruta para cianobactérias e, quando detectados riscos de saúde, semanais para cianotoxinas na saída dotratamento; (iv) a redução significativa das exigências de análise de trihalometanos; (v) a exigência de análisede turbidez da água filrada ou pré-desinfecção, entendida como um controle de ordem sanitária e nãomeramente estética (indicador da remoção de protozoários por meio da filtração e da eficiência da desinfecçãopara a inativação de vírus).

Figura 2 – Amostragem bacteriológica. Comparação entre as Portarias 36 e 1.469 (rede de distribuição– manancial superficial).

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De início, há que se considerar que a Portaria 1.469 ganha um formato de mais fácil leitura e consulta,facilitando sua aplicação de maneira mais clara e inequívoca.Diferentemente da Portaria 36, a atual legislação assume um caráter efetivo e simultâneo de Controle eVigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, em consonância com a nova estrutura de VigilânciaAmbiental em Saúde em implantação no país e com o princípio de descentralização previsto no SUS.Neste sentido, estabelece a co-responsabilidade do SUS no processo de garantia da qualidade da água, namedida em que exige sua participação não apenas na vigilância da violação de padrões, mas, também, emdiversas ações antes atribuídas somente aos responsáveis pelo CQACH. Por outro lado, isto impõe ao setorsaúde a necessidade de estruturar-se para tal. Por sua vez, o desejado e necessário enfoque epidemiológico àVQACH, somente será alcançado por meio de uma efetiva articulação com outras esferas da vigilância(sanitária e epidemiológica), ou seja, a implementação do conceito de Vigilância em Saúde.Cabe mais uma vez destacar o enfoque sistêmico de gerenciamento de riscos à saúde que permeia toda alegislação, considerando a dinâmica da água desde o manancial até o consumo.A Portaria 1.469 incorpora o que existe de mais recente no conhecimento técnico-científico em relação àqualidade da água para consumo humano, a exemplo dos riscos “emergentes” associados à Giardia,Cryptosporidium e cianobactérias. Entretanto, há de se reconhecer a escassez de informações em basescientíficas e epidemiológicas no país.A introdução de “metas de potabilidade” aponta para a necessidade do desenvolvimento de estudosepidemiológicos que subsidiem avanços futuros.Impõe-se ainda o desafio, sobretudo dos prestadores de serviços de abastecimento de água na elaboração deestudos de impactos econômicos decorrentes das inovações contidas na Portaria 1.469.A nova legislação incorpora ainda princípios estabelecidos na Lei de Defesa do Consumidor, os quais para“saírem do papel”, pressupõem a disposição dos prestadores de serviço em saneamento e saúde de fazeremvaler os preceitos de gestão democrática e transparente, além da ciência e vontade dos consumidores defazerem valer seus direitos.Finalmente, retornando aos princípios norteadores da revisão da Portaria 36, o potencial de aceitação,aplicabilidade e função da nova legislação teve início no próprio processo de sua construção: participativo,transparente e democrático.Vale ainda destacar que os avanços que se esperam da nova Portaria vêm em boa hora, considerando anatureza da prestação de serviços de abastecimento de água – monopólio natural e as recentes alterações nosmodelos de gestão de serviços de saneamento, com a crescente participação da iniciativa privada.

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