ambientes coletivos de condomÍnios horizontais

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Universidade Federal da Paraíba - UFPB Centro de Tecnologia - CT Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS SITUADOS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB: Uma análise da adequação ao uso WILMA FERNANDES PINHEIRO João Pessoa Paraíba 2011

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Page 1: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Centro de Tecnologia - CT

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU

AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

SITUADOS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB:

Uma análise da adequação ao uso

WILMA FERNANDES PINHEIRO

João Pessoa – Paraíba

2011

Page 2: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

2

WILMA FERNANDES PINHEIRO

AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

SITUADOS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB:

Uma análise da adequação ao uso

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU, da Universidade Federal da Paraíba - UFPB, como requisito à obtenção do grau de Mestre.

Área de Concentração - Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo

Linha de Pesquisa - Qualidade Ambiental Urbana e do Edifício

Orientador - Prof. Dr. José Augusto Ribeiro da Silveira

João Pessoa – Paraíba

2011

Page 3: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

3

P654a Pinheiro, Wilma Fernandes.

Ambientes coletivos de condomínios horizontais situados na cidade de João Pessoa-PB: uma análise da adequação ao uso / Wilma Fernandes Pinheiro.-- João Pessoa, 2011.

130f. : il. Orientador: José Augusto Ribeiro da Silveira Dissertação (Mestrado) – UFPB/CT 1. Arquitetura e Urbanismo. 2. Qualidade ambiental urbana.

3. Condomínio horizontal. 4. Ambiente coletivo. 5. Relação ambiente-comportamento.

UFPB/BC CDU: 72+711(043)

Page 4: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

4

Page 5: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

5

Dedico essa conquista a Deus que nos criou com: intelecto; vontades; emoções e criatividade.

Page 6: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

6

AGRADECIMENTOS

A preparação e elaboração desta dissertação não foram fáceis. O desenvolvimento

do trabalho contou com a contribuição de algumas pessoas que disponibilizaram de tempo e

conhecimento. Agradeço a todos e especialmente:

Aos síndicos, funcionários e moradores dos condomínios horizontais que

participaram e contribuíram decisivamente na pesquisa;

Ao orientador Dr. José Augusto, por ter aceitado a participação neste trabalho,

pela demonstração de respeito às minhas opiniões e por colaborar com o meu

crescimento;

Aos membros das bancas examinadoras, em especial Drª Angelina Dias Leão da

UFPB e Drª Gleice A. Elali da UFRN, por oferecerem seus apontamentos e

sugestões, o que colaborou para a continuação e conclusão do trabalho;

Ao meu noivo, Ms. Rodrigo Pessoa, pelo carinho, incentivo, cobranças e atenta

revisão do texto;

Ao Ms. Rodrigo Queiroga pela importante contribuição nos dados estatísticos;

Ao coordenador Dr. Aluísio Braz e ao secretário Sinval Quirino pelas valiosas

informações fornecidas;

A CAPES, financiadora desta pesquisa;

Aos professores do PPGAU, Dr. Hélio Lima, Drª Iana Alexandra, Drª Angelina

Dias Leão, Dr. José Augusto e Dr. Celso Luiz, pelas aulas e experiências

compartilhadas;

Aos companheiros de mestrado, em especial Christiane, Rui, Dimitri e Vladimir

pelo material bibliográfico fornecido;

Aos alunos da graduação da disciplina de Desenho Urbano V da UFPB, pelas

conversas no estágio docência que me levaram a refletir sobre pontos importantes;

Agradeço também a minha amada família - meus queridos pais: João Fernandes e

Francisca de Assis; minhas lindas irmãs Willa e Willianne; meu sobrinho Daniel e meu

cunhado Rogério - pela amizade, apoio, compreensão e atenção. Por fim agradeço as

minhas amigas da Fundação Cidade Viva e aos meus clientes pela compreensão da minha

ausência.

Page 7: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

7

RESUMO

Um tipo de construção que vem se propagando nas cidades brasileiras é o condomínio horizontal. Os ambientes coletivos, no interior dos condomínios horizontais destinados à população de alta renda, são apresentados através de ilustrações, fotos e frases de efeito que vêm incentivando a compra desse tipo de espaço. Mas será que os espaços de uso coletivo dos condomínios são adequados ao uso dos moradores e atendem as expectativas geradas pelas propagandas? As suas características físicas contribuem para o seu funcionamento? Quais as experiências de uso desses espaços? Diante dessas questões surge a preocupação em refletir sobre os ambientes condominiais, na tentativa de contribuir no conhecimento dos atributos físicos e do funcionamento desses espaços, tanto no que se refere aos aspectos positivos quanto aos aspectos negativos. A cidade de João Pessoa teve, nos últimos anos, um acréscimo significativo desse tipo de empreendimento em sua malha urbana. Esta dissertação analisa dois condomínios horizontais da capital paraibana destinados à população de alto padrão, tendo como objetivo geral analisar os ambientes coletivos de condomínios horizontais com ênfase no comportamento e percepção dos moradores e tomando como base a análise da relação do uso com os atributos físicos (acessibilidade, equipamentos de lazer e estética). A pesquisa se baseia na hipótese de que a utilização dos ambientes coletivos em condomínios horizontais está relacionada aos aspectos de projeto. Acredita-se que os projetos desses ambientes são definidos de forma a atender mais os interesses financeiros do que as necessidades dos usuários. Para atingir os objetivos a pesquisa recorreu à área de conhecimento que analisa as relações ambiente-comportamento. Foram utilizados multi-métodos envolvendo: análise de documentos; entrevistas informais; observações de traços físicos; observações de comportamentos e questionário. Os resultados revelam que as crianças usam mais esses ambientes para as atividades de lazer (físicas e sociais), ao passo que a maioria dos moradores adultos e idosos não usa os ambientes coletivos de seus condomínios. A percepção dos usuários indica que as poucas opções de equipamentos de lazer e serviços constituem o principal motivo que dificulta a utilização dos ambientes coletivos condominiais. Com o resultado dessa pesquisa pode-se indicar ações para a melhoria dos ambientes analisados e destacar a importância de avaliações quanto aos atributos físicos desses empreendimentos para que os envolvidos nos projetos reflitam sobre as limitações e demandas dos ambientes coletivos de condomínios horizontais.

PALAVRAS-CHAVE: Condomínio horizontal. Ambiente coletivo. Relação ambiente-comportamento.

Page 8: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

8

ABSTRACT

A construction type that is spreading if in the Brazilian cities it is the horizontal condominium. The collective environments, inside the horizontal condominiums destined to the population of high standard, they are presented through illustrations, pictures and effect sentences that are motivating the purchase of that space type. But will it be that the spaces of collective use of the condominiums are appropriate to the residents' use and do they assist the expectations generated by the propagandas? Do your physical characteristics contribute to your operation? Which the experiences of use of those spaces? Before those subjects the concern appears in contemplating on the atmospheres condominiais, in the attempt of contributing in the knowledge of the physical attributes and of the operation of those spaces, so much in what refers to the positive aspects with relationship to the negative aspects. The city of João Pessoa had, in the last years, a significant increment of that enterprise type in your urban mesh. This dissertation analyzes two horizontal condominiums of the capital paraibana destined to the population of high pattern, tends as general objective to analyze the atmospheres buses of horizontal condominiums with emphasis in the behavior and the residents' perception and taking as base the analysis of the relationship of the use with the physical attributes (accessibility, recreational and aesthetics). The research bases on the hypothesis that the use of the collective environments in horizontal condominiums is related to the project aspects. It is believed that the projects of those atmospheres are defined in way to assist more the financial interests than the users' needs. To reach the objectives the research it fell back upon the knowledge area that analyzes the relationships atmosphere-behavior. Multi-methods were used involving: analysis of documents; informal interviews; observations of physical lines; observations of behaviors and questionnaire. The results show that children use more environments condominium analyzed for leisure activities (physical and social), while the majority of adults and elderly residents do not use the surroundings of their collective condominiums. The perception of users indicates that the few options of leisure facilities and services are the main reason that hampers the use of collective environments condominium. With the result of that research it can be indicated actions for the improvement of the analyzed environments and show the importance of encouraging assessments regarding the physical attributes of these projects for those involved in the projects reflect on the limitations and demands of environments collective condominiums. KEYWORDS: Condominium horizontal. Collective environment. Environment-behavior relationship.

Page 9: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Esquema da pesquisa 20 Figura 2: Mapas comportamentais de ruas nas conformidades de um condomínio horizontal

27

Figura 3: Welwyn Garden City (cidade jardim)

30

Figura 4: Publicidade de Welwyn

30

Figura 5: Llewllyn Park

30

Figura 6: Folder de um condomínio horizontal no bairro Portal do Sol - João Pessoa

35

Figura 7: Folder de um condomínio horizontal no bairro Portal do Sol - João Pessoa

36

Figura 8: Esquema representativo de David Canter

40

Figura 9: Mapa-croqui do Parque Guinle com anotações de observações

42

Figura 10: Mapa comportamental para 11 períodos de observação em uma instituição para idosos

43

Figura 11: Características físicas das vias locais com calçada ideal

47

Figura 12: Quadras curtas e sua rede de usos combinados

48

Figura 13: Mapa de João Pessoa - distribuição dos condomínios horizontais de alto padrão

59

Figura 14: Imagem Quickbird do bairro Portal do Sol com contornos dos condomínios horizontais

61

Figura 15: Condomínios horizontais de alto padrão no litoral sul selecionados para a pesquisa

63

Figura 16: Planta do condomínio A

67

Figura 17: Entorno imediato do condomínio A

68

Figura 18: Forma das vias do condomínio A

69

Figura 19: Via principal do condomínio A

70

Figura 20: Corte da via principal do condomínio A

70

Figura 21: Poste na calçada

71

Figura 22: Jardim ocupando o espaço da calçada

71

Page 10: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

10

Figura 23: Áreas de lazer do condomínio A 72 Figura 24: Iluminação noturna no Playground do condomínio A

73

Figura 25: Árvores e arbustos no playground do condomínio A

74

Figura 26: Árvores e arbustos no playground do condomínio A

74

Figura 27: Mapa comportamental do condomínio A

76

Figura 28: Uso do playground em uma tarde de sábado

77

Figura 29: Uso da quadra poliesportiva em uma tarde de sábado

78

Figura 30: Planta do condomínio B

80

Figura 31: Entorno imediato do condomínio B

81

Figura 32: Forma das vias do condomínio B

82

Figura 33: Caminhos para circulação de pedestres usados como extensão da casa no condomínio B

83

Figura 34: Via principal do condomínio B

83

Figura 35: Corte da via principal do condomínio B

84

Figura 36: Áreas remanescentes do condomínio B

85

Figura 37: Áreas de lazer do condomínio B

86

Figura 38: Seqüência de fotos mostrando a iluminação insuficiente no playground do condomínio B

87

Figura 39: Área esportiva mostrando a calçada da quadra de tênis

88

Figura 40: Área esportiva mostrando mini campo de futebol implantado no limite do muro

88

Figura 41: Salão de festa do condomínio B

89

Figura 42: Estabelecimentos comerciais do condomínio B

89

Figura 43: Rampas de acesso aos estabelecimentos comerciais do condomínio B

90

Figura 44: Salas da academia no condomínio B

90

Figura 45: Mapa comportamental do condomínio B

92

Figura 46: Uso da quadra de tênis em uma tarde de sexta-feira

94

Figura 47: Localização da área de lazer menos utilizado do condomínio B

94

Page 11: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

11

Figura 48: Piscinas, jardins e alto padrão construtivo das residências nos diferentes períodos de implantação é característica marcante dos dois condomínios

95

Figura 49: Portarias dos condomínios A e B

95

Figura 50: Vias com muros e sem vegetação, os muros estreitam os espaços

96

Figura 51: A vegetação amplia psicologicamente os espaços

97

Figura 52: Motivos apontados para escolha do condomínio A

116

Figura 53: Motivos apontados para escolha do condomínio B

116

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Comparação entre loteamento enquadrado na Lei de Parcelamento do Solo (loteamento aberto), loteamento fechado e condomínio horizontal

24

Quadro 2: Principais motivos que influenciam na escolha por condomínios

33

Quadro 3: Síntese dos atributos considerados

45

Quadro 4: Roteiro de perguntas e objetivos

57

Quadro 5: Condomínios horizontais, significados interpretados pela autora dos nomes dos condomínios horizontais, data de aprovação na Prefeitura, localização dos condomínios horizontais direcionados à população de alta renda no município de João Pessoa

62

Quadro 6: Freqüência de uso dos ambientes coletivos e atividades relatadas por alguns respondentes

101

Quadro 7: Freqüência de uso das crianças e atividades relatadas

102

Quadro 8: Freqüência para aspectos a serem adaptados no condomínio A

108

Quadro 9: Freqüência para aspectos a serem adaptados no condomínio B

109

Quadro 10: Categorias de respostas para a pergunta: Porque você considera importante ter áreas de lazer no condomínio horizontal?

112

Quadro 11: Síntese das sugestões para os ambiente coletivos dos condomínios A e B

119

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Cronograma das observações comportamentais sistemáticas 53 Tabela 2: Características gerais do condomínio A

66

Page 12: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

12

Tabela 3: Quantidade de usuários observados em 10 dias de observação no condomínio A

75

Tabela 4: Características gerais do condomínio B

79

Tabela 5: Quantidade de usuários observados em 10 dias de observação no condomínio B

91

Tabela 6: Números de questionários respondidos por condomínio e por sexo

98

Tabela 7: Questionários respondidos por faixa etária

99

Tabela 8: Tempo de moradia dos respondentes

99

Tabela 9: Número de crianças que residem com os respondentes

100

Tabela 10: Freqüência das características que facilitam a utilização dos ambientes coletivos

104

Tabela 11: Freqüência das características que dificultam a utilização dos ambientes coletivos

106

Tabela 12: Freqüência para importância da presença de áreas de lazer no condomínio horizontal

111

Tabela 13: Freqüência dos aspectos relacionados à importância dos ambientes coletivos condominiais

113

Tabela 14: Freqüência para aspectos a serem melhorados no condomínio A

114

Tabela 15: Freqüência para aspectos a serem melhorados no condomínio B

114

Tabela 16: Freqüência da utilização de áreas de lazer fora do condomínio

115

Tabela 17: Freqüência das áreas de lazer fora do condomínio utilizadas pelos moradores

115

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

PB - Paraíba

NBR - Norma Brasileira

APO - Avaliação Pós-Ocupação

CEP - Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos

SISNEP - Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa

CNS - Conselho Nacional de Saúde

Page 13: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

13

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 16

CAPÍTULO 2: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CONDOMÍNIOS

HORIZONTAIS

22

2.1 O que vem a ser condomínio horizontal?

22

2.2 Características dos condomínios horizontais 25

2.2.1 Ambientes coletivos 25

2.2.2 Muros 26

2.2.3 Tipos de condomínios horizontais 28

2.3 Origem dos condomínios horizontais, crescimento dessa

tipologia habitacional no Brasil e influência da publicidade

29

CAPÍTULO 3: CONDICIONANTES PARA ADEQUAÇÃO DOS

AMBIENTES

37

3.1 Adequação

37

3.2 Estudos da relação ambiente-comportamento 39

3.3 Atributos físicos que influenciam na adequação

de ambientes coletivos

44

3.3.1 Acessibilidade 45

3.3.1.1 Acessibilidade física 46

3.3.1.2 Acessibilidade visual 48

3.3.2 Equipamentos de lazer 49

3.3.3 Estética 50

CAPÍTULO 4: DETALHAMENTO DOS PROCEDIMENTOS

METODOLÓGICOS PARA OS ESTUDOS DE CASO

52

4.1 Contato com a administração dos condomínios

52

4.2 Observações dos traços físicos 52

Page 14: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

14

4.3 Observações dos comportamentos 53

4.4 Questionário 54

4.5 Definição dos casos a serem analisados 58

4.5.1 Os condomínios horizontais na cidade de João Pessoa 58

4.5.2 Condomínios selecionados para avaliação 63

CAPÍTULO 5: AVALIAÇÃO DA ADEQUAÇÃO DOS AMBIENTES

COLETIVOS EM CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS NA CIDADE DE JOÃO

PESSOA - PB

65

5.1 O Condomínio A

66

5.1.1 Espaço físico 66

5.1.1.1 Características gerais 66

5.1.1.2 Características do entorno imediato 68

5.1.1.3 Vias de circulação 69

5.1.1.4 Áreas de lazer 72

5.1.2 Análise do uso 75

5.2 O Condomínio B 79

5.2.1 Espaço físico 79

5.2.1.1 Características gerais 79

5.2.1.2 Características do entorno imediato 81

5.2.1.3 Vias de circulação 82

5.2.1.4 Áreas de lazer 86

5.2.2 Análise do Uso 91

5.3 Análise das semelhanças e diferenças 94

5.4 Percepção dos moradores 98

5.4.1 Utilização e atividades nos ambientes coletivos 101

5.4.2 A relação do uso com as características dos ambientes coletivos 104

5.4.2.1 Características que favorecem a utilização dos ambientes

coletivos

104

5.4.2.1 Características que dificultam a utilização dos ambientes

coletivos

106

5.4.3 Necessidade e dificuldades percebidas nos ambientes coletivos 108

5.4.4 Importância atribuída aos ambientes coletivos 111

Page 15: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

15

CAPÍTULO 6: CONSIDERAÇÕES FINAIS 117

REFERÊNCIAS

122

ANEXO

131

Certidão do Comitê de Ética em Pesquisa da UFPB 132

APÊNDICES 133

Apêndice A - Documentos para autorização dos síndicos 133

Apêndice B - Termo de consentimento livre e esclarecido 137

Apêndice C - Quadros resumo elaborados a partir de roteiro de vistoria

nos ambientes coletivos analisados

139

Apêndice D - Questionário aplicado 148

Page 16: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

16

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

De acordo com Lynch (1960) e Rheingantz & Fonseca (2009), os arquitetos sabem

pouco da vivência dos ambientes que eles mesmos projetam, ou seja, são poucos os

projetistas que observam e consideram as reais necessidades e relações dos usuários com

os ambientes. Segundo Ornstein (1992) as etapas de planejamento/programação, projeto e

construção estão mais consolidadas no âmbito da arquitetura, urbanismo e engenharia civil

do que as etapas de uso1. Para ela existe falta de normalização e preconceitos por parte dos

próprios agentes produtores que criam barreiras quanto à avaliação, como forma de

autodefesa.

Um tipo de construção que vem se propagando nas cidades brasileiras é o

condomínio horizontal. Os ambientes coletivos, no interior dos condomínios horizontais

destinados a população de alta renda, são apresentados através de ilustrações, fotos e

frases de efeito que vêm incentivando a compra desse tipo de espaço. Caldeira (2000,

p.265) relata sobre a sedução das propagandas imobiliárias e como os anúncios têm

influenciado as pessoas, transformando conceitos e valores: “Os anúncios apresentam a

imagem de ilhas para as quais se podem retornar todos os dias para escapar da cidade e

para encontrar um mundo exclusivo de prazer entre iguais”.

Mas será que os espaços de uso coletivo dos condomínios são adequados ao uso

dos moradores e atendem as expectativas geradas pelas propagandas? Os ambientes

condominiais realmente funcionam adequadamente? As suas características físicas

contribuem para o seu funcionamento? Quais as experiências de uso desses espaços? Os

espaços coletivos condominiais são suficientes para suprimir as necessidades de áreas

coletivas?

Diante dessas questões surge a preocupação em refletir sobre os ambientes

condominiais, na tentativa de contribuir no conhecimento dos atributos físicos e no

funcionamento desses espaços, tanto no que se refere aos aspectos positivos quanto aos

aspectos negativos.

A importância deste trabalho está relacionada à necessidade de avaliação de

desempenho dos condomínios horizontais de alto padrão diante da repetição sucessiva de

1 A etapa de uso é uma fase de longa duração que se inicia quando o ambiente construído e passa a

ter um papel social pleno (ORNSTEIN, 1992)

Page 17: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

17

diversos produtos. Para Ornstein (1992) a repetição sucessiva de produtos sem um controle

da qualidade ou avaliações de desempenho pode prejudicar as relações humanas, diminuir

a vida útil do ambiente e reproduzir as mesmas falhas de ambientes em uso em projetos

futuros de produtos semelhantes.

A cidade de João Pessoa teve, nos últimos anos, um acréscimo significativo desse

tipo de empreendimento em sua malha urbana. Esta dissertação analisa dois condomínios

horizontais destinados à população de alto padrão, procurando identificar na utilização dos

ambientes coletivos, os problemas ou qualidades quanto aos atributos físicos que

influenciam no uso desses espaços condominiais.

Trabalhos voltados à análise de desempenho puderam ser analisados para o

desenvolvimento da pesquisa, um exemplo destes trabalhos é a avaliação de desempenho,

dos espaços abertos comuns de conjuntos habitacionais, desenvolvida por Reis e Lay

(2002). Esses autores identificaram através da relação das características físicas e seus

efeitos nos moradores a importância do papel desempenhado por espaços abertos

comunais na promoção da vida em comunidade, influenciando no uso e no nível de

satisfação dos moradores de conjuntos habitacionais. Pesquisas sobre desempenho

voltadas aos condomínios verticais de alto padrão (SAMPAIO, 2009; DUARTE, 2006)

revelaram pouco uso dos ambientes coletivos, confirmaram que os moradores não

consideram essas áreas como principal motivo da escolha para moradia e concluíram que

as áreas de lazer surgem para atender a demanda de mercado e incentivar a venda, mas

com o tempo são desvalorizadas e adaptadas. Os estudos de Becker (2005) e Medvedovski

et al (2004) sobre os condomínios horizontais de alto padrão constataram avaliação de

desempenho positiva, o que revela que os moradores se sentem satisfeitos com a moradia

nesses condomínios mesmo contrariando o baixo uso dos espaços coletivos condominiais.

Caldeira (2000, p.268), ao analisar os condomínios em São Paulo, relata que o

pouco uso das áreas comuns nos condomínios pode estar relacionado à falta de

necessidade desses espaços. A autora afirma que:

Apesar do marketing insistente das numerosas instalações para uso comum, em todos os edifícios e condomínios em que fiz pesquisas seu uso é muito baixo, com exceção dos playgrounds. Talvez isso reflita como os moradores se sentem pouco à vontade com a idéia de partilhar um espaço residencial, uma coisa que os anúncios tentam rebater sugerindo que a sociabilidade seria possível “sem inconveniência” e que a densidade da população é baixa. O pouco uso das áreas comuns poderia também indicar que a presença de todas as instalações – algumas delas bastante luxuosas – é mais uma marca de status do que uma condição necessária para uma vida cotidiana mais gratificante.

Page 18: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

18

Para Becker (2005) a necessidade das áreas de lazer de condomínios horizontais é

considerada importante para a satisfação da população residente, contudo Santos (2002

apud Becker, 2005) relata que os ambientes coletivos condominiais são desvalorizados

porque não há prioridade nos projetos ocorrendo uma visível ausência de qualidade espacial

das áreas coletivas. Segundo a autora existem poucas áreas de lazer, geralmente,

localizadas nas proximidades dos muros (em áreas residuais), isso porque há uma

tendência de oferecer o maior número possível de lotes residenciais. Há uma

desvalorização ainda maior desses espaços quando as casas são de grandes dimensões e

possuem áreas de lazer (Tramontano & Santos, 1999).

Da mesma forma, Lopes (2009) destaca que os ambientes coletivos não atendem as

necessidades dos moradores porque esses empreendimentos são projetados segundo as

exigências dos incorporadores que apresentam um programa de necessidades que não se

baseia em pesquisas consistentes. Cooper Marcus & Sarkissian (1986 apud BECKER,

2005) consideram que os aspectos de projeto como acessibilidade, adequação espacial,

aparência, presença de vegetação e mobiliário interferem no uso dos espaços coletivos em

condomínios horizontais.

Diante do exposto, esta pesquisa se baseia na hipótese de que existe relação entre o

uso dos ambientes coletivos em condomínios horizontais e os aspectos de projeto. Acredita-

se que os projetos dos espaços condominiais são definidos de forma a atender mais os

interesses financeiros do que as necessidades dos usuários. Especula-se que os espaços

de uso coletivo dos condomínios não são adequados ao uso dos moradores e não atendem

as expectativas geradas pelas propagandas.

Assim o trabalho tem como objetivo geral analisar os ambientes coletivos de

condomínios horizontais, com ênfase no comportamento e percepção dos moradores, tendo

como base a análise da relação do uso com os atributos físicos (acessibilidade,

equipamentos de lazer e estética). Esse objetivo geral engloba outros objetivos específicos

a serem alcançados e explicitados para o encaminhamento da pesquisa. Dessa forma, são

também objetivos desse trabalho:

Diagnosticar os ambientes coletivos dos condomínios selecionados como estudos

de caso através de observações de traços físicos e da averiguação das atividades;

Verificar a percepção dos moradores quanto à apropriação, às necessidades e à

importância atribuída aos ambientes coletivos analisados;

Indicar propostas de melhorias dos espaços examinados que possam servir para

as discussões e pesquisas de outros condomínios horizontais;

Page 19: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

19

Metodologicamente, para atingir os objetivos, inicialmente foi realizada uma pesquisa

bibliográfica com base em livros, teses, dissertações e artigos científicos que constituem a

contribuição de arquitetos, urbanistas, engenheiros civis, paisagistas, jornalistas, psicólogos

e sociólogos (LYNCH, 1981; JACOBS, 2000; LOPES, 2009; REIS & LAY, 2000, 2006;

CALDEIRA, 2000) que se debruçaram sobre temáticas relacionadas ao comportamento

ambiental, aos espaços livres de aglomerados populacionais e aos condomínios horizontais,

entre outros. Essa revisão de literatura foi importante para trazer suportes teóricos à

pesquisa de campo.

No que se refere ao levantamento de arquivos, foram obtidos folders de condomínios

veiculados pelas corretoras imobiliárias da Paraíba. Também foram utilizadas fotos e mapas

obtidos no site da Prefeitura Municipal de João Pessoa. Esse material, juntamente com as

visitas aos condomínios horizontais inaugurados, permitiu reconhecer o discurso da

propaganda imobiliária e possibilitou localizar, mapear e selecionar os condomínios

horizontais de alto padrão na cidade de João Pessoa.

Na pesquisa de campo realizada nos condomínios selecionados para estudos de

caso foram efetuados os seguintes procedimentos:

1. Solicitação de autorização para acesso aos condomínios;

2. Entrevistas com administradores;

3. Avaliação dos documentos da administração;

4. Levantamento fotográfico dos ambientes coletivos;

5. Levantamento físico dos espaços coletivos;

6. Observações de traços físicos e observações de comportamentos com a intenção

de avaliar a intensidade e a forma de uso dos espaços coletivos (vias de circulação e

áreas de lazer);

7. Elaboração de mapas comportamentais;

8. Aplicação de questionário;

Os documentos da administração dos condomínios, o levantamento fotográfico e o

levantamento físico auxiliaram na compreensão das áreas e na identificação das

características físicas dos condomínios. As observações diretas e os mapas

comportamentais elaborados possibilitaram a verificação da forma como os espaços são

usados. Essa etapa da pesquisa caracteriza-se como uma observação feita pelo pesquisador

em relação ao observado. Nessa investigação foram registradas anotações sobre o

caminhar, o sentar, o brincar, e o estar parado em pé. Por sua vez, o questionário permitiu a

Page 20: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

20

análise da adequação dos ambientes ao uso segundo as observações das pessoas que

habitam nos condomínios horizontais.

Para melhor explicitar o que foi exposto sobre a metodologia, segue o fluxograma

(Figura 1) contendo a organização dos procedimentos realizados na pesquisa.

Figura 1: Esquema da pesquisa

Assim a dissertação está estruturada em seis capítulos. O primeiro capítulo é

constituído por esta introdução, onde é apresentado o problema a ser avaliado, a justificativa

para se estudar tal problema, as hipóteses consideradas, os objetivos e a metodologia

utilizada.

No segundo capítulo, faz-se uma breve reflexão sobre o condomínio horizontal,

objeto de estudo deste trabalho. Com isso, procurou-se apresentar de forma concisa a

contextualização do conceito de condomínio horizontal e os principais aspectos relacionados

aos ambientes coletivos.

1. COLETA DE DADOS

Pesquisa bibliográfica

Observação dos traços físicos

Observação dos comportamentos

Questionário

Caracterização do objeto de

estudo

Informações acerca da

influência dos atributos físicos na adequação dos espaços

Características físicas e atividades

que o espaço sugere

Uso do espaço segundo as

observações da pesquisadora

Uso do espaço e percepções segundo os

usuários

2. ANÁLISES DOS DADOS

3. RESULTADOS

Mapa comportamental

Page 21: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

21

No terceiro capítulo, são abordados conhecimentos relativos ao estudo da relação

ambiente comportamento e à influência dos atributos físicos (acessibilidade, equipamentos

de lazer e estética) na utilização dos espaços.

O quarto capítulo apresenta o percurso metodológico construído na busca de uma

melhor compreensão dos objetos definidos para os estudos de caso.

No quinto capítulo, são apresentados e discutidos os resultados obtidos por

intermédio das observações e da aplicação do questionário. Com isso discorre-se sobre as

impressões dos ambientes coletivos, a partir das observações do pesquisador e da

percepção dos moradores.

Por fim são apresentadas as considerações finais destacando os resultados mais

relevantes da pesquisa, as indicações para melhoria dos espaços examinados, as

conclusões relativas à metodologia utilizada e as orientações para futuras pesquisas.

Page 22: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

22

CAPÍTULO 2: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

O objeto de estudo desta dissertação são os ambientes coletivos de condomínios

horizontais. Este capítulo tem como objetivo trazer informações sobre questões relacionadas

aos condomínios horizontais. Inicialmente apresenta-se a definição do termo condomínio

horizontal levando em conta as definições constantes na legislação, o que permitiu verificar

as diferenças entre condomínio e loteamento, e também possibilitou mostrar que a criação

de ambientes coletivos nos condomínios horizontais se dá num contexto fora de um

enquadramento legal onde o atendimento aos interesses privados na criação desses

espaços se sobrepõe aos interesses estabelecidos pelo Estado. Não cabe aqui o

aprofundamento dessa polêmica, contudo essa abordagem mostrou-se pertinente na

reflexão de que os espaços condominiais são definidos de maneira a atender mais os

interesses financeiros do que as necessidades de uma comunidade. Em seguida são

identificadas características dos condomínios horizontais, trazendo esclarecimentos quanto

aos ambientes coletivos, à segurança e os tipos existentes. Por fim é apresentado um

panorama sobre a origem conceitual e o acelerado crescimento desses condomínios no

Brasil, apontando a influência da argumentação publicitária para a venda deste modelo de

produto imobiliário.

2.1 O que vem a ser condomínio horizontal?

O emprego da expressão “condomínio horizontal” é variado e apresenta problemas

em sua utilização, visto que a questão não está resolvida e continua sendo objeto de

discussão entre os que analisam o assunto. Diante dessa polêmica que envolve a definição

do termo, percebe-se o uso de diferentes denominações e metáforas: condomínios

fechados; condomínios horizontais; loteamentos fechados; condomínios urbanísticos;

condomínios exclusivos; bairros fechados; condomínios especiais; ilhas fortificadas; guetos

verdes; enclaves fortificados2; entre outras.

A palavra condomínio tem origem no latim: “cum” significa conjuntamente e

“dominum” significa domínio, ou seja, uma propriedade conjunta, em que duas ou mais

pessoas são titulares de uma coisa indivisa, concedendo a cada condômino uma parte ou

2 Metáfora usada pela socióloga Tereza Pires Caldeira em seu livro “Cidade de muros: crime

segregação e cidadania em São Paulo” (2000)

Page 23: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

23

fração ideal da mesma coisa (PINASSI,1999). Dessa forma o termo condomínio de

edificações constitui, segundo a Lei dos Condomínios3, o direito exercido por pessoas sobre

as dependências de uso comum, onde cada condômino é proprietário de uma unidade

autônoma e co-proprietário das áreas comuns.

A Lei Federal 6.766, de 1979, que dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano,

define loteamento como “a subdivisão da gleba em lotes destinados à edificação, com

abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento,

modificação ou ampliação das vias existentes” (Art. 2°, §1°).

O condomínio horizontal, geralmente, organiza-se da mesma forma que o

loteamento, enquadrado na Lei de Parcelamento do Solo: uma gleba única que será dividida

em várias unidades independentes, alterando o sistema viário existente, porém o

fechamento das vias de circulação, contrariando a Lei de Parcelamento do Uso do Solo,

revela um impasse quanto ao conceito de loteamento fechado.

Mesmo assim, os condomínios horizontais estão sendo implantados para atender os

interesses privados, desconsiderando a Lei 6.766/79. Diante desse debate está em

tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei 3.057, de 2000, prevendo a alteração da

Lei 6.766/79 e a adoção de novos conceitos quanto ao parcelamento do solo, com o

propósito de fixar legalmente o condomínio horizontal como uma alternativa de

parcelamento do solo urbano.

Gomes (1995) afirma que essa imprecisão, ao se definir o termo condomínio

horizontal, ocorre devido à união em uma só propriedade de dois institutos distintos: o

loteamento e o condomínio. Os titulares dos lotes desses condomínios horizontais

organizam-se de acordo com a Lei de Condomínios, fechando o loteamento para viabilizar o

aspecto condominial aos bens de domínio público que passam a ser ambientes coletivos de

uso restrito.

Provavelmente da fusão dos termos “loteamento fechado” e “condomínio” surgiu à

denominação “condomínio fechado”, revelando uma redundância, pois o vocábulo

condomínio já é por sua própria natureza definido como um espaço fechado, de uso

reservado aos condôminos (SOUZA, 2003).

3 No Brasil, a lei básica que regula o condomínio em edificações é a Lei 4.591/1964 – esta lei

especifica o funcionamento, os direitos e deveres dos condôminos, entres outras. Há também as definições do Novo Código Civil Brasileiro (Lei Federal № 10.406/2002)

Page 24: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

24

Se o condomínio é definido como sendo o direito de propriedade de duas ou mais

pessoas, então um loteamento para ser um condomínio precisa ser fechado, embora, como

afirma Sobarzo & Sposito (2003) e Honda (2008), nem todos os loteamentos fechados são

condomínios. No Quadro 1 apresenta-se uma comparação entre loteamento aberto,

loteamento fechado e loteamento em sistema condominial de acordo com a interpretação de

Honda (2008).

Quadro 1: Comparação entre loteamento enquadrado na Lei de Parcelamento do Solo (loteamento aberto), loteamento fechado e condomínio horizontal

LOTEAMENTO

ENQUADRADO NA LEI DE PARCELAMENTO

DO SOLO

LOTEAMENTO FECHADO

CONDOMÍNIO HORIZONTAL

SOB A FORMA DE

LOTEAMENTO OU EM LOTE

ÚNICO

ADMINISTRAÇÃO

Prefeitura

Associação de moradores e

poder público

Síndico

INFRA-

ESTRUTURA

Pertence ao poder

público

Pertence ao poder público

Particular

CONTROLE DE

ACESSO

Não. Acesso livre

Sim. Porém não é possível proibir o acesso a estranhos

Sim. Acesso restrito

ÁREAS PÚBLICAS

Vias, praças, áreas institucionais, áreas

verdes

Vias de acesso interno,

áreas institucionais, áreas verdes

Não possui áreas públicas

Fonte: Honda (2008)

Na maioria das pesquisas, os termos loteamento fechado e condomínio horizontal

apresentam-se como sinônimos. Mas como se observa no Quadro 1 alguns autores

entendem que o loteamento fechado é diferente do condomínio, afirmando que o primeiro

tem suas áreas de uso comum sob o poder público e o acesso é inibido, mas não é proibido.

No Brasil, o termo condomínio fechado é o mais presente no cotidiano das pessoas

porque é a expressão utilizada pela promoção imobiliária nos jornais e panfletos publicitários

(LOPES, 2008). Nesta pesquisa, dentre os termos mais comuns, preferiu-se o uso da

expressão condomínio horizontal. A escolha apóia-se na interpretação de Souza (2003)

quando afirma que o termo condomínio fechado é redundante. Além disso, compreende-se

que nem todo condomínio é um loteamento e nem todo loteamento fechado é um

condomínio.

Escolhida a definição a ser adotada, segue a descrição desse tipo de moradia

procurando expor as suas principais características.

Page 25: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

25

2.2 Características dos condomínios horizontais

O condomínio horizontal é definido, sobretudo, como um empreendimento destinado

à moradia, ao lazer e à segurança. Para moradia o condomínio oferece lotes para

construção de um conjunto de residências unifamiliares. Quanto ao lazer, o condomínio

horizontal oferece ambientes coletivos e sob o aspecto da segurança estão presentes

muros, cercas, vigilâncias e portarias para restringir o acesso. Trata-se de um conjunto de

residências unifamiliares cercado, geralmente sob a forma de “loteamento”, apresentando

vias de circulação, áreas verdes, áreas de lazer, muros e portarias.

2.2.1 Ambientes coletivos

A escolha do termo ambiente coletivo para a presente pesquisa baseia-se na

interpretação de que quando existem espaços compartilhados, mesmo que o contato seja o

mais simples, se estabelece nesses espaços a ordem do coletivo (MEDVEDOVSKIL et al,

2004).

Os condomínios horizontais produzem espaços internos coletivos semelhantes ao

espaço público, porém o que deveria ser público (a todos) passa a ser coletivo, onde

coletivo é entendido como um público selecionado (DELICATO, 2004). Por isso, o termo

ambiente coletivo foi utilizado nesta pesquisa e em pesquisas que avaliaram o desempenho

dos espaços comuns dos condomínios horizontais (BECKER, 2005; LOPES, 2009;

MEDVEDOVSKI et al, 2004).

Essa alteração dos locais que deveriam ser públicos, segundo o sociólogo Sennet

(1998), é vista como um problema e um desequilíbrio. Ele estudou as mudanças de valores

do público e do privado e afirmou que a idéia de valorização da vida pessoal predomina em

decorrência da cultura capitalista que vem sendo estimulada. Para o referido autor o público,

passou a ser visto, para alguns, como um lugar de desordem e por isso as pessoas

passaram a se proteger em lugares íntimos e distantes, ocasionando o enfraquecimento da

vida pública. Carr et al (1992 apud BASSO, 2001) aponta que essa substituição de locais

abertos para locais fechados criam espaços insuficientes para brincar e socializar,

demonstrando um descuido nas atividades comunitárias.

A idéia do planejamento das atividades comunitárias é prover áreas e equipamentos

para diferentes faixas etárias e grupos sociais. Além disso, devem-se observar as diferentes

Page 26: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

26

funções das áreas destinadas a uma coletividade, que podem se desenvolver em atividades

de circulação e em atividades de permanência (convívio social, manifestações culturais,

esporte, contemplação da natureza, entre outros). Sabe-se que as atividades de

permanência e circulação em ambientes coletivos condominiais podem ser destinadas a

pessoas de diferentes faixas etárias, porém são restritas a um número limitado de usuários

que, geralmente, são de uma mesma classe social.

Os ambientes coletivos de condomínios são considerados por Almada (1986) como

“facilidades urbanísticas”, tradicionalmente de responsabilidade do Estado. Para esse autor

esses espaços se assemelham aos ambientes de lazer dos hotéis embora, nestes, as

condições de consumo do espaço habitacional e dos equipamentos coletivos sejam

reguladas juridicamente. Assim como os hotéis, os condomínios são apresentados pela

propaganda como empreendimentos que misturam ingredientes sociais valorizados como:

ecologia, lazer e valorização corporal, acrescentando outros valores como vida comunitária

e segurança.

Na cidade de João Pessoa, observa-se empiricamente que os ambientes coletivos

de condomínios horizontais oferecem os seguintes equipamentos e serviços: salão de

festas, playground e quadra esportiva. Em alguns condomínios existem resquícios de Mata

Atlântica com trilhas para caminhada. É possível encontrar também equipamentos como

academia, campo de futebol, piscina e salão de jogos. Além disso, os condomínios

contratam educadores físicos para prestar serviços na academia e nas quadras esportivas.

A pesquisa buscará informações que possam esclarecer se esses ambientes entre muros

realmente proporcionam uma vida comunitária que valoriza o lazer.

2.2.2 Muros

No que diz respeito à segurança, os condomínios horizontais são definidos por

Caldeira (2000) como áreas muradas com casas independentes em vez de edifícios de

apartamentos, partilhando as mesmas imagens dos conjuntos de apartamentos, com

entradas controladas por sistema de segurança, mas, normalmente ocupam um grande

terreno.

Segundo Maia (2006) elementos como sistema de segurança, exclusividade social e

segregação espacial podem ser encontrados nos loteamentos abertos, porém os muros dos

condomínios horizontais constituem uma característica fundamental que diferencia os

Page 27: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

27

espaços internos dos condomínios dos espaços de loteamentos comuns, isso porque os

muros dos condomínios desativam o livre acesso. A autora afirma que com a construção

dos muros “as pessoas comuns já não podem transitar por suas ruas, se é que podemos

ainda denominar esses espaços de ruas” (MAIA, 2006, p. 164)

De acordo com Becker (2005) os muros de condomínios horizontais contribuem para

a insegurança do espaço público adjacente por causa da falta de permeabilidade visual e

funcional. As ruas nas proximidades dos condomínios horizontais caracterizam-se por pouco

movimento de pessoas. A autora verificou, através de observações de comportamento, a

intensidade e o tipo de uso das ruas nas conformidades de condomínios horizontais e

concluiu que os muros dos condomínios horizontais desfavorecem o uso do espaço em sua

volta, ao verificar que quanto mais a rua é desprovida de conexões funcionais e visuais mais

elas são evitadas.

Legenda figuras: cor vermelha – sexo feminino; cor azul – sexo masculino; cor marrom – cachorros; figuras

vazias – atividades funcionais; figuras cheiras – atividades socialização e/ou lazer; triângulos – adultos e idosos; círculos – crianças; quadrados – atividade de trabalho; quadrados azuis com s – seguranças; verde – telefone público.

Legenda edificações: cinza – uso residencial; azul – serviços; amarelo – comércio; laranja – guarita de

segurança.

Figura 2: Mapas comportamentais de ruas nas conformidades de um condomínio horizontal

Fonte: Becker (2005, p. 181)

Netto (2006) também denuncia que os muros dos condomínios contribuem para

esvaziar as ruas no entorno imediato. Ele afirma que seguros dentro de áreas privadas, as

pessoas experimentam o medo e a tensão da chegada às residências.

Jacobs (2000, p. 36) critica as áreas muradas ao escrever sobre o uso das calçadas

nas cidades. Ela diz que: “é inútil tentar esquivar-se da questão da insegurança urbana

tentando tornar mais seguros outros elementos da localidade, como pátios internos ou áreas

de recreação cercadas”. Para ela as ruas da cidade devem lidar com desconhecidos, já que

é por elas que eles transitam, além disso, ninguém pode passar a vida numa redoma, todos

necessitam usar as ruas.

Page 28: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

28

Diante dos argumentos dos autores é possível dizer que os muros dos condomínios

horizontais, contrariando a publicidade, podem também representar insegurança para os

moradores na chegada ao condomínio e para as pessoas que precisem circular no seu

entorno. Além da insegurança, os muros funcionam como barreiras para a circulação, na

medida em que não possibilitam os deslocamentos de outras pessoas.

Se por um lado os trabalhos que abordam a questão dos muros em condomínios

focam nos impactos causados no espaço público, o presente estudo pretende verificar as

implicações que ambientes coletivos murados causam nos usos desses ambientes

interiorizados.

2.2.3 Tipos de condomínios horizontais

Quanto aos tipos de condomínios horizontais pode-se dizer que eles são de

diferentes modelos, escalas e padrão. Podem ser de uso residencial, comercial ou para fins-

de-semana e férias, estar localizado em área urbana ou periférica. Podem ser de pequeno,

médio ou grande porte e, quanto ao padrão, podem ser construídos para as diferentes

classes sociais (ALMADA, 1986; BECKER, 2005).

Os condomínios horizontais de uso residencial são os mais presentes nas cidades

brasileiras (BHERING et al, apud BECKER, 2005). Contudo a denominação condomínio

inclui diversos objetos arquitetônicos, de uso comercial e/ou residencial, seja na forma

horizontal, na forma vertical (edifício de apartamentos) ou na forma mista (vertical e

horizontal).

De acordo com Tramontano & Santos (2002), os condomínios horizontais

experimentam variações conforme o padrão e a escala. Segundo eles, a qualidade técnico-

construtiva e espacial depende, em sua maioria, do poder aquisitivo dos proprietários alvos

(freqüentemente classe média e alta). Os autores também afirmam que o poder aquisitivo

dos moradores define os programas funcionais das áreas de lazer. Os espaços para

moradia também variam conforme a renda dos moradores, casas isoladas no lote para os

condomínios de alto padrão e os sobradinhos geminados para os de baixo padrão.

Consideram-se, neste trabalho, que condomínios horizontais de alto padrão são

aqueles que possuem moradias isoladas com qualidade construtiva.

Page 29: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

29

2.3 Origem dos condomínios horizontais, crescimento dessa tipologia

habitacional no Brasil e influência da publicidade

Provavelmente, os primeiros conceitos sobre condomínios horizontais são

provenientes das utopias urbanísticas. De acordo com Benevolo (2006), os utopistas do

século XIX, diante da cidade industrial, buscaram as chamadas “cidades ideais”; com a

fantasia de construir “ilhas de ordem”, harmoniosas e tranqüilas em meio aos problemas

urbanos. Para materializar essa idéia, na segunda década de século XIX, Robert Owen4

elabora um modelo de vida em comum - uma cidadezinha destinada a uma comunidade

restrita, que trabalhe coletivamente no campo e na oficina, e que seja auto-suficiente,

possuindo dentro da cidade todos os serviços necessários. Portanto os conceitos de

exclusividade, coletividade, auto-suficiência, beleza e organização, que são utilizados hoje

pelos promotores dos condomínios horizontais, podem ser percebidas nas idéias socialistas

para as comunidades de Robert Owen, nos “falanstérios”5 (phalanstères) de Charles Fourier

e na “Icaria”6 de Etienne Cabet.

Baseada nas idéias utopistas do início do século XIX as cidades-jardim7 de Ebenezer

Howard (1850 -1928) também empregam outro conceito bastante utilizado pelos

condomínios horizontais: o conceito da casa unifamiliar no verde, enfatizando mais a

privacidade do que as relações sociais (BENEVOLO, 2006).

Hall (2007) e Benevolo (2006) ao escreverem sobre as cidades-jardim relatam

algumas características que nos remetem aos condomínios horizontais residenciais:

combinação entre cidade e campo; grandes áreas verdes; iniciativa privada; propriedade

comunal da terra; baixa densidade; ruas sem tráfego de automóveis; regulamentação;

proibição de abrir casas comerciais em locais residenciais; controle da criação de animais

domésticos; uniformidade das construções e na distribuição do verde; entre outras. A seguir

4 Robert Owen foi um reformista utópico. Seus planos não obtiveram o sucesso almejado quando

colocados em prática. A cidadezinha descrita não obteve sucesso como comunidade auto-suficiente e tornou-se um centro de serviços (BENEVOLO,2006). 5 Os falanstérios são edifícios coletivos servidos por instalações centralizadas, onde os velhos seriam

alojados no térreo, as crianças no mezanino e os adultos nos andares superiores. A realização do falanstério é tentada em vários países, mas sem sucesso. (BENEVOLO,2006, p. 178). 6 Em 1847, Cabet faz um anuncio para a venda de terreno com as seguintes palavras: “Vamos para

Icaria”. A idéia dele foi um grande refeitório circundado por casas em meio a um grande bosque com gramas e flores. Colocada em prática a Icaria foi com o tempo sendo transformada em uma aldeia rural (BENEVOLO,2006, p. 180). 7 Segundo Benevolo (2006) o termo cidade-jardim (garden city) deve ser compreendido como um

bairro satélite de uma cidade, dotado de um relacionamento favorável entre edifícios e áreas verdes.

Page 30: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

30

tem-se imagens da Welwyn Garden City, a segunda cidade Jardim de Howard (figuras 3 e

4), onde podem-se observar áreas verdes, ruas sem tráfego de automóveis e uniformidade

nas construções.

Figura 3: Welwyn Garden City (cidade jardim) Figura 4: Publicidade de Welwyn

Fonte: Hall (2007) Fonte: Hall (2007)

Quanto às primeiras iniciativas dos condomínios residenciais horizontais, como hoje

o entendemos, pode-se afirmar que não se caracterizam como um dado recente na história.

As citações aos primeiros condomínios horizontais remontam ao século XIX. Rybcszski

(1996, p.165 apud Sposito et al, 2006, p.176) faz referência à Llewllyn Park, em Nova

Jersey, cuja implantação se iniciou no ano de 1853, como um empreendimento em que “[...]

inclusive a reserva natural e as ruas eram consideradas propriedades particular, sendo

proibido o acesso, controlado por uma cerca rodeando a área e um portão de entrada”. Para

visualizar esse condomínio construído no século XIX, segue abaixo uma imagem mostrando

a área de acesso ao mesmo.

Figura 5: Llewllyn Park

Fonte: http://www.llewellynpark.com

Ainda no século XIX, surgem nos Estados Unidos as chamadas “gated communities”,

conjunto de residências padronizadas com grandes áreas de lazer para os ricos, localizadas

Page 31: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

31

nas periferias ou subúrbios das cidades norte-americanas. Goldberg (2008, p.47 e 48 apud

Honda) relata que:

[...] gated communities surgiram no final do século XIX para atender à demanda por moradia da camada de renda mais alta da população, como o New York Tuxedo Park e as ruas privadas de St. Louis, [...]. Já na década de 1960, estes empreendimentos ficaram mais comuns, mas ainda eram destinados ao público de alta renda. Somente na década de 70, surgiram os primeiros nichos de mercado, como por exemplo: destinados ao público sênior ou aposentados; empreendimentos com maiores amenidades, alguns com resorts e clubes de campo. Na década de 80, o aquecimento do mercado de real estate e o crescimento da criminalidade nos centros urbanos induziram a proliferação das gated communities também para a classe média.

De maneira geral, os condomínios horizontais fazem parte da história dos norte-

americanos assim como de outros países. Os estudos sobre condomínio horizontal em suas

diferentes denominações no mundo (gated communities nos EUA, barrios cerrados ou

countries na Argentina, Résidences Privées na França, condomínios fechados no Brasil)

revela-o como uma tendência mundial. Segundo Secchi (2009) as comunidades fechadas

podem ser encontradas em qualquer parte do mundo, tanto na América como na Europa

como na China, no mundo árabe, na África, etc. Contudo essa tipologia habitacional no

Brasil possui algumas diferenças das regras estabelecidas nos Estados Unidos. As casas

dos condomínios horizontais brasileiros são construídas pelos próprios proprietários e não

pelos incorporadores, diferentemente das “gated communities” que possuem casas

padronizadas, plantas e fachadas idênticas. Outra peculiaridade dos condomínios

horizontais fora do EUA é a não referência, em suas denominações, da idéia de comunidade

(CALDEIRA, 2000).

No Brasil, os condomínios horizontais começaram a aparecer, sobretudo, na periferia

das cidades, com os chamados “condomínios de férias” nas praias ou no campo (LOPES,

2008). O objetivo era dividir os custos e afastar-se da agitação urbana nos fins de semana e

nas férias. Mas, ao longo do tempo, o condomínio horizontal foi tratado e oferecido como

uma “solução para a violência”, passando a ser opção de residência permanente e se

inserindo também em áreas próximas dos centros da cidade.

Almada (1986) também relata sobre os condomínios de férias afirmando que os

projetos dos primeiros clubes sócio-esportivos instalados, em 1960, na orla marítima do Rio

de Janeiro passaram, com o tempo, de clubes com habitações para habitações com clubes.

Na época, as pessoas interessadas em ocupar a área para legalizar suas residências de

lazer instituíam clubes com equipamentos esportivos e recreativos, cabanas, bangalôs e/ou

apartamentos para os sócios.

Page 32: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

32

Porém o crescimento dos condomínios horizontais, como opção de habitação no

Brasil, acontece a partir da implantação do empreendimento Alphaville, em 19748, nos

arredores do município de São Paulo. O nome Alphaville é uma citação do filme homônimo

de Jean-Luc Godard. A Alphaville de Godard é uma comunidade dominada por um

computador, que controlava todos os acontecimentos e toda liberdade de expressão de

seus habitantes (TEXEIRA, 2002).

De acordo com Texeira (2002), a companhia americana Alphaville conduziu a

fórmula para Campinas em 1997; para Belo Horizonte em 1998; para Curitiba em 2000; para

Goiânia, Salvador, etc. Hoje o grupo Alphaville Urbanismo possui empreendimentos

espalhados em todas as regiões do país, incluindo a Paraíba.

Segundo Caldeira (2000, p.260):

Viver em edifícios com várias famílias, compartilhando o uso quanto a propriedade de áreas comuns, não é uma experiência nova para a classe média brasileira. Os condomínios existem desde 1928 em São Paulo. Embora tenha levado um bom tempo para perderem o estigma de cortiço e se tornarem populares entre a classe média, os apartamentos se generalizam a partir dos anos 70, dadas as mudanças nos financiamentos e o boom de construções que se seguiu. Vários elementos, no entanto, diferenciam os apartamentos da década de 70 dos condomínios fechados dos anos 80 e 90. Apesar do antigo tipo de apartamento continuar a ser construido e ter expandido seu mercado até para as camadas trabalhadoras, os empreendimentos mais sofisticados e caros são de um outro tipo.

Percebe-se que a habitação coletiva, sob a forma de condomínios verticais ou

conjuntos habitacionais não murados, atendia a população de baixa renda e com o tempo

adquiriu uma nova visão: a de condomínio de luxo transmitindo segurança e status. A autora

afirma que a habitação coletiva para a população de alta renda passou a ser constante em

São Paulo, nos anos 80 e 90. Segundo Velho (2002), o condomínio vertical continua sendo

a tipologia de condomínio residencial mais executada porque se adapta mais facilmente ao

tecido urbano e ocupa uma área menor, favorecendo o maior aproveitamento do terreno.

Porém o condomínio horizontal no Brasil tornou-se também um tipo de moradia muito

procurado.

Becker (2005, p.19) elaborou um quadro com os principais motivos que influenciam a

escolha por condomínios como local de moradia (Quadro 2). De acordo com esse quadro o

8 Os primeiros condomínios horizontais, no Brasil, foram implantados antes da aprovação da Lei de

Parcelamento do Solo 6.766/79.

Page 33: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

33

principal motivo que levam as pessoas a morar em condomínios horizontais refere-se à

segurança. Contudo existem outros fatores que podem ser considerados na influência da

escolha por condomínios horizontais, entre eles: a privacidade; os espaços coletivos; o

status; a homogeneidade e os serviços de manutenção.

Quadro 2: Principais motivos que influenciam na escolha por condomínios

LOCALIDADE - CONDOMÍNIO - AUTOR PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES

Brasil - São Paulo/ SP (Alphaville) - megacondomínio - Carvalho et al. (1997)

Segurança, privacidade, aparência, melhor qualidade de vida, gerenciamento privado.

Brasil – Barra da Tijuca/ SP – condomínios mistos - megacondomínios – Coy e Pöhler (2002)

Segurança, os espaços coletivos privados de lazer e recreação, a existência de serviços de manutenção.

Brasil – Goiânia/ Goiás – 1 condomínio horizontal de uso misto - Moura (2003)

Proximidade do verde, privacidade, segurança, vida em comunidade, ambiente homogêneo, melhor qualidade de vida e prestígio.

Brasil – Goiânia/ Goiás – 4 condomínios horizontais de uso residencial - Brandstetter (2001)

Desejo de morar em casa, privacidade, melhorar o padrão da habitação, segurança.

Brasil - São Paulo/ SP, Roberts, apud Filho (2003) Segurança e status social. Brasil - Arujá/ SP – condomínio Arujazinho I, II, III – megacondomínio - Menegatti (2002)

Segurança, convívio social, lazer, status social.

Brasil - São Paulo/ SP – plantas de condomínios horizontais de uso residencial e anúncios publicitários - Santos (2002)

Segurança, privacidade, espaços coletivos de lazer, proximidade do verde, ambiente homogêneo, qualidade de vida, status social.

México – Cidade do México – 5 condomínios horizontais de uso residencial, classes econômicas diversas (baixa, média, alta) - Giglia (2003)

Segurança, privacidade, ambiente homogêneo, status social, prestígio e estilo de vida, gerenciamento e manutenção própria.

Estados Unidos – São Francisco, Los Angeles, Califórnia, Miami – condomínios horizontais de uso misto – Blakely e Snyder (1997; 1998)

Segurança, privacidade, ambiente homogêneo, espaços coletivos privados, gerenciamento e manutenção própria, senso de comunidade, estilo de vida, prestígio, status social, e, a presença de serviços privados (ex. escolas).

Estados Unidos – Texas e Nova York – 2 condomínios fechados - Low (2004)

Busca por maior segurança, maior privacidade e mais espaço.

Canadá – Grant(2003) Privacidade, estilo de vida, senso de comunidade. Inglaterra – 10 condomínios horizontais de uso residencial – Atkinson e Flint (2003)

Segurança e privacidade, e, ainda, localização, presença de espaços de lazer e serviços privados, status social.

Inglaterra – Londres – condomínio tipo alley-gating e horizontal residencial - Landman (2003)

Busca por maior segurança.

Inglaterra – Sheffield – 1 condomínio de uso misto – Blandy e Lister (2003)

Valor da propriedade – como investimento, segurança, presença de espaços coletivos privados de lazer, presença de serviços e comércio, ambiente homogêneo e senso de comunidade.

Inglaterra – Londres – Castell, apud Blandy, et al (2003)

Segurança, serviços e espaços privados coletivos.

França – Região de Leon, Paris – Charmes (2003) Privacidade e segurança. Turquia – Ankara – 1 condomínio vertical de uso residencial - Dundar (2003)

Segurança, ambiente homogêneo, serviços existentes no interior, prestígio, status.

África do Sul – Johannesburg – 2 condomínios horizontais de uso residencial – Jürgens e Gnad(2002)

Segurança, localização, aparência (luxo), privacidade, espaços comuns de lazer e redução da manutenção dos custos.

Arábia Saudita – cidades do Líbano e Riyadh – condomínios horizontais de uso residencial – Glasze e Alkhayyal (2002)

Segurança, espaços coletivos privados de lazer, privacidade, ambiente homogêneo, estilo de vida, gerenciamento e administração privada, status, e com mentos expressão, senso de comunidade.

China – Nanjing e Shanghai – condomínios horizontais de uso misto - Wu (2003)

Serviços existentes no interior, prestígio, status, qualidade das casas.

Fonte: Becker (2005, p.19)

Percebe-se que os condomínios horizontais estão num período de expansão, porém

é importante ressaltar que a sua existência é percebida a mais de um século, quando a

segurança não era a principal preocupação da cidade. De acordo com Caldeira (2000,

p.261) “o enclausuramento foi uma estratégia imobiliária e de marketing”. Portanto acredita-

se que o crescimento dos condomínios horizontais em diversas cidades pode ser atribuído à

Page 34: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

34

força da publicidade, na medida em que influenciam os compradores com divulgações que

valorizam a qualidade desse empreendimento.

Loureiro & Amorim (2005) analisaram as peças promocionais de condomínios em

Recife e verificaram essa influência da publicidade, através de argumentos referentes à

localização, denominação e características arquitetônicas, formais ou programáticas que

são veiculadas de forma distorcida. Quanto à localização os anúncios analisados pelos

autores ressaltam as qualidades da vizinhança (paisagismo, proximidade da praia e

diversidade de usos), muitas vezes, com informações diferentes da realidade. A

denominação dos empreendimentos remete ao status e diferenciação social. As

características do condomínio revelam grande quantidade de serviços e instalações

coletivas e as características arquitetônicas são apresentadas como o sonho de moradia e o

sinônimo de progresso. Para os autores as campanhas publicitárias são instrumentos

poderosos que fortalecem o mercado imobiliário com fundamentos baseados nas

expectativas em torno do morar e de um estilo de vida.

Neste sentido, é possível verificar nos folders publicitários dos condomínios

horizontais da cidade de João Pessoa que as informações sobre a localização enfatizam a

valorização do imóvel com frases do tipo: “lotes na área de maior valorização imobiliária da

Paraíba”, “um bairro que cresce sem parar” e “localização perfeita para quem quer estar

próximo da natureza, das margens nobres do Atlântico, ao lado do Cabo Branco”.

Outro artifício utilizado nas propagandas dos condomínios da cidade de João Pessoa

são as imagens. Elas mostram a localização apresentando a proximidade a áreas

valorizadas como a praia e o logotipo que identifica o condomínio. As imagens destacam

também as pessoas se divertindo e se exercitando em áreas com vista para vegetação.

Contudo as maquetes divulgadas são em perspectivas o que pode dificultar a verificação da

proporção dos espaços. Nos anúncios, não é constante a presença de plantas baixas das

edificações coletivas, sendo encontrado apenas um folder (figura 7) com planta baixa de

edificação contendo salão de festas, cozinha, salão de jogos, sala de ginástica, sauna e

banheiros. Essa planta baixa permite perceber que o espaço da sala de ginástica não se

equipara as academias para atividades de musculação, pois oferece espaço reduzido para

máquinas.

Os empreendimentos lançados em 2010 utilizam do argumento sobre o sucesso da

execução e das vendas para promover a empresa e os condomínios da capital Paraíba. O

Alphaville em João pessoa teve vendas e entrega antecipada e fez o seguinte anúncio: “É

ótimo quando o que você espera ansiosamente é entregue assim: antes e melhor do que o

Page 35: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

35

previsto”. A empresa Capuche, com sede em Natal-RN, vem investindo na Paraíba e após

execução de um condomínio faz a propaganda de outro condomínio com as seguintes

palavras: “Você escolhe: um já é um enorme sucesso, outro está a caminho dele”; “Seja

qual for a sua, será uma ótima escolha”.

Em seguida são apresentados imagens de folders de condomínio horizontal

localizado na cidade de João Pessoa (figuras 6 e 7).

Figura 6: Folder de um condomínio horizontal no bairro Portal do Sol – João Pessoa /PB

Page 36: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

36

Figura 7: Folder de um condomínio horizontal no bairro Portal do Sol – João Pessoa /PB

Page 37: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

37

CAPÍTULO 3: CONDICIONANTES PARA ADEQUAÇÃO DOS AMBIENTES

Apresentado o contexto sobre os condomínios horizontais, nas páginas seguintes

serão tratados os fundamentos sobre o pressuposto dessa pesquisa: os atributos físicos

definidos no projeto dos condomínios horizontais influenciam na adequação/ inadequação

de seus ambientes coletivos.

Nesse sentido, este capítulo apresenta: a definição do termo adequação, dimensão

de desempenho considerada nesta dissertação; informações acerca dos estudos da relação

ambiente-comportamento que apresenta referencial teórico para compreender a relação das

pessoas com os ambientes e os atributos físicos considerados para avaliação da adequação

de ambientes coletivos;

3.1 Adequação

A adequação é a correspondência entre o local e o comportamento dos usuários; é a

capacidade da forma e dos espaços apoiarem ações, comportamentos e atividades sociais.

Adequação é a situação em que a forma e a capacidade dos ambientes, canais e

equipamentos correspondem ao padrão e às ações em que as pessoas normalmente se

envolvem, ou desejam envolver-se, ou seja, a adequabilidade dos cenários

comportamentais, incluindo sua adaptabilidade a ações futura. A adequação representa uma

dimensão básica que está relacionada ao padrão do espaço e como ele corresponde ao

comportamento do cotidiano dos seus usuários (LYNCH, 1981).

Lynch (1981, p.117) sistematizou cinco dimensões genéricas e necessárias para a

execução de bons aglomerados populacionais: a vitalidade; o sentido; a adequação; o

acesso e o controlo. Ele é pioneiro na proposição de teorias para análise de aglomerados

populacionais.

A medida da adequação é o nível de congruência entre o comportamento diário e

intencional e o ambiente espacial. A adequação pode ser alcançada com a modificação do

local, do comportamento ou de ambos (LYNCH, 1981). Lerup (1972 apud Del Rio, 1990)

afirma que a adequação do espaço ao comportamento é um instrumento de medição do

desempenho de um ambiente. Desempenho, por sua vez, é uma propriedade que

caracteriza quantitativamente o comportamento de um produto em uso (ORNSTEIN, 1992).

Page 38: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

38

O termo adequação também possui relação com conceitos como: conforto;

satisfação; eficácia; bom funcionamento que variam de acordo com as expectativas. Um

local adequado a sua função deixa óbvio o seu sentido de competência, a capacidade de

fazer algo bem, de ser adequado ou suficiente (LYNCH, 1981).

Lynch (1960) sugere duas formas para se avaliar a adequação:

Observar a ação das pessoas no local;

Fazer perguntas aos usuários;

Para Günther (2008) são três as formas de compreender o comportamento humano:

observação; experimento e survey. A primeira consiste em observar o comportamento que

ocorre naturalmente, a segunda cria situações e observa o comportamento ante tarefas

definidas para essas situações e a terceira faz perguntas às pessoas sobre o que fazem e

pensam.

A observação de comportamento pode ser direta, ou seja, registrada na hora das

ocorrências ou pode ser indireta feitas depois, identificando as pistas da ocorrência

(WHYTE, 1980). As interpretações realizadas na observação do espaço podem ser

documentadas através de mapas comportamentais e podem também ser documentados

através de vídeos ou fotografias (PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008; DEL RIO, 1990).

Segundo Zeisel (1981 apud ALCANTARA, 2002) a observação no ambiente físico,

externo ou interno, permite gerar dados sobre as atividades, as relações, as regularidades

de conduta, usos esperados, maus usos, oportunidades e limitações comportamentais que o

ambiente proporciona.

Quanto à importância do questionário, Lynch (1981, p. 53) afirma que: “os atos e os

pensamentos dos seres humanos são o terreno final onde se pode julgar a qualidade”, uma

vez que a observação do pesquisador poderá não perceber as dificuldades daqueles que

lidam com elas. Porém as entrevistas e os questionários, muitas vezes, não fornecem

informações confiáveis, pois muito do que as pessoas fazem em seu cotidiano passa

despercebido por elas, além de sofrer a influência do que elas gostariam de fazer

(PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008).

Duarte et al (2005) afirma que o espaço transmite mais informações sobre seus

usuários do que se poderia descobrir por meio de entrevistas e questionários. Mas as

mensagens impressas precisam de “intérprete” para serem desvendadas e os

pesquisadores com formação em arquitetura são aptos para essa tarefa de “tradução”.

Page 39: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

39

Na seqüência, apresentam-se mais informações sobre os estudos da relação

ambiente-comportamento, que auxiliarão a compreender como essa área de conhecimento

pode colaborar na identificação dos atributos que influenciam na adequação dos ambientes.

3.2 Estudos da relação ambiente-comportamento9

Del Rio (1990) dividiu as categorias de análises dos espaços em:

Morfologia urbana;

Análise visual;

Percepção ambiental;

Comportamento ambiental;

Para esse autor a psicologia ambiental integra duas das categorias de análises: a

análise da percepção ambiental e a análise do comportamento ambiental. O objetivo

principal da percepção ambiental é a identificação de imagens públicas e da memória

coletiva, a partir do que os usuários percebem, sendo mais propicia para as pesquisas em

áreas urbanas extensas (DEL RIO, 1990).

O comportamento ambiental analisa os aspectos físicos de cenários de

comportamentos. Segue as definições sobre esta categoria de análise, pois a presente

pesquisa recorreu aos métodos e técnicas empregados neste tipo de estudo para a coleta

de dados.

Ao definir comportamento ambiental, Del Rio (1990) indica que o comportamento e

as ações são influenciados pelo ambiente físico-espacial que nos cerca, ou seja, de acordo

com o seu pensamento, o ambiente sugere, facilita, inibe ou define comportamentos. Lang

(1994) afirma que o entendimento destas relações: ambiente-comportamento e

comportamento-ambiente visa facilitar a construção de espaços mais adequados às

necessidades humanas. Gehl (1987) também declara que o estudo do comportamento

procura captar o espírito do lugar para aproximar o projeto do ambiente mais adequado ao

ser humano.

9 Existem outras denominações para caracterizar esse campo de pesquisa: comportamento ambiental;

comportamento pró-ambiente; projeto do lugar (DEL RIO, 1990; PINHEIRO, 2008; RHEINGANTZ et al, 2009). Essa relação do ambiente com a pessoa é objeto de estudo de profissionais da arquitetura, engenharia civil, desenho industrial, educação ambiental, ergonomia, antropologia, geografia, planejamento urbano, psicologia, sociologia, entre outros (PINHEIRO, 2008).

Page 40: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

40

Nesse contexto Canter (1977 apud DEL RIO et al, 2002) sugere um esquema

representativo da formação do “sentido dos lugares”, na confluência das dimensões física,

comportamental e de percepções, entendendo que a qualidade físico-ambiental dos

espaços é gerada na sobreposição de três esferas: os atributos físicos; as atividades e as

concepções. Para melhor entender o que foi descrito segue o esquema representativo de

David Canter (Figura 8).

Figura 8: Esquema representativo de David Canter

Fonte: Del Rio et al (2002)

O esquema teórico de Canter (figura 8) possibilita compreender um espaço pela

inter-relação de três dimensões básicas: a física, a comportamental e a da percepção do

usuário. Para a primeira, contribuem os atributos físicos. Para a segunda, contribuem o

conjunto de atitudes e comportamentos que o lugar possibilita (comportamento dos

usuários). Para a terceira, contribuem os conceitos deste lugar formados na mente ao

processar as duas outras e ao recorrer às lembranças. Assim sendo, esse campo de

investigação tornar-se interesse de arquitetos que buscam comprovar a qualidade de um

lugar.

Quanto aos métodos empregados nos estudos sobre essas interações Gifford (1997

apud Tomasini, 2002) propõe que os pesquisadores podem utilizar de técnicas da ciência

social, a exemplo de observação, entrevistas, questionários, filmagens, mapas cognitivos e

mapas comportamentais. Tratando-se, portanto, de técnicas da Avaliação Pós-Ocupação

(APO).

Page 41: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

41

Segundo Ornstein (1992), APO é um conjunto interdisciplinar de métodos e técnicas

para levantamento e análise de dados, podendo obter através da avaliação de fatores

técnicos, construtivos, funcionais e de conforto, econômicos, estéticos e comportamentais

de ambientes em uso diagnósticos de aspectos positivos e negativos, levando em conta o

ponto de vista dos especialistas (avaliadores e projetistas) e dos usuários. O objetivo é

definir recomendações para corrigir problemas detectados no ambiente (programas de

manutenção, alterações comportamentais) e utilizar os resultados das avaliações na

produção e uso de ambientes semelhantes.

Nas avaliações comportamentais de ambientes em uso o mapa comportamental

pode ser utilizado. Essa técnica pode ser suplementada por questionários, entrevistas ou

outros procedimentos que contribuam na compreensão dos motivos porque certos locais

são mais ocupados e outros evitados (PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008).

Esse tipo de mapa pode ser realizado em duas modalidades: centrado no lugar e

centrado na pessoa (PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008). No primeiro o ambiente é

representado de forma a mostrar as áreas e os elementos utilizados pelas pessoas. No

segundo o foco está nas pessoas, nos percursos e no modo de utilização do espaço.

No mapa comportamental centrado no lugar, o ambiente é representado em planta

baixa esquemática, incluindo os elementos que podem implicar nas ações dos usuários

como os degraus, mudança de texturas, assentos, etc. Esse mapa representa o local em

setores de comportamento (PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008).

Na presente pesquisa, foi aplicado o mapeamento comportamental centrado no

lugar. A seguir são apresentados exemplos de dois mapas comportamentais centrados no

lugar (Figuras 9 e 10).

Page 42: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

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Figura 9: Mapa-croqui do Parque Guinle com anotações de observações Fonte: Alcantara (2002)

Page 43: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

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Figura 10: Mapa comportamental para 11 períodos de observação em uma instituição para idosos. Fonte: Tomasini (2008)

Page 44: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

44

Sommer & Sommer (1997) são autores referencias neste tipo de avaliação, com as

técnicas de observação, mais especificamente os mapas comportamentais provenientes da

observação naturalística do ambiente (Lee, 1977).

Segundo Rheingantz et al (2009) o mapa comportamental, proveniente da

observação, é empregado por pesquisadores da psicologia ambiental e do desenho urbano

para identificar usos, arranjos espaciais, fluxos, relações espaciais, movimentos e

distribuição das pessoas no espaço e no tempo que permanecem. Para esse autor:

A observação do ambiente físico, seja ele externo ou interno, natural ou construído, permite a produção de informações sobre os usos e atividades esperados ou novos, além das relações nele ocorridas; sobre as regularidades de conduta, bem como acerca da influência do ambiente sobre o comportamento dos usuários. (RHEIGANTZ et al, 2009, p. 35)

Os pesquisadores deste campo de conhecimento admitem que ao compreender as

relações entre as pessoas e o ambiente é possível colaborar na resolução de problemas.

Whyte (1988 apud Rheingantz et al, 2009) fez observações direta, filmes ou fotografias de

praças e parques e empregou mapas comportamentais e tabelas para sintetizar os registros.

Ele analisou graficamente os dados sobre as atividades e a vida social dos ambientes

observados e propôs algumas diretrizes básicas para o desenho de áreas públicas urbanas.

3.3 Atributos físicos que influenciam na adequação de ambientes coletivos

Essa pesquisa trata de uma avaliação qualitativa baseada em observações e

questionário aplicado junto aos moradores, abordando questões como: atividades

desenvolvidas; freqüência de uso; motivação dos usuários; necessidades; etc. Contudo,

como a avaliação de desempenho exige conhecimentos sobre os requisitos que atendem as

necessidades dos usuários e visando facilitar a elaboração do questionário, bem como a

discussão dos resultados das observações de traços físicos, foi estabelecido o que se

considerou como atributos físicos essenciais para o uso de espaços coletivos:

Acessibilidade;

Equipamentos de lazer;

Estética;

Acredita-se aqui que os ambientes coletivos são adequados quando possuem:

facilidade de acesso; possibilidade de ter alguma coisa para fazer naquele espaço e boas

áreas de permanência (GEHL,1987). As atividades de lazer exigem condições espaciais que

Page 45: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

45

possibilitem as ações e, portanto, para se planejar espaços de lazer é necessário

providenciar áreas que favoreçam as atividades.

Para exemplificar essa definição foi elaborado o Quadro 3 contendo os atributos

considerados, subdivididos nos itens a serem avaliados, e as formas de avaliação utilizadas.

Quadro 3: Síntese dos atributos considerados

ATRIBUTOS CONSIDERADOS O QUE OBSERVAR? COMO OBSERVAR?

ACESSIBILIDADE

Facilidade de acesso

Largura da calçada e uso

Adaptação a pessoas com mobilidade reduzida

Iluminação noturna

Visibilidade às áreas de lazer

Percentual de pessoas inseridas em atividades de lazer

Observação de traços físicos

Levantamento de arquivo

Levantamento físico

Observações comportamentais

Questionário

EQUIPAMENTOS DE LAZER

Possibilidade de ter alguma coisa para fazer no espaço

Disposição e quantidade de mobiliário

Usos das áreas de lazer

ESTÉTICA

Satisfação com o espaço

Manutenção e limpeza

Presença de áreas verdes

3.3.1 Acessibilidade

O acesso é essencial para adequação e adaptação de um espaço, pois acessar um

local é condição inicial para poder usá-lo (ALEX, 2008).

Lynch (1981) define acesso como a capacidade de alcançar espaços e atividades,

recursos, serviços, informações ou locais, incluindo a quantidade e a diversidade dos

elementos que podem ser alcançados. Esse autor classifica o acesso em cinco tipos:

1. Acesso a outras pessoas;

2. Acesso às atividades (educacionais, recreativas, médicas, religiosas, financeiras,

etc.);

3. Acesso aos recursos materiais (alimentos e outros produtos);

4. Acesso a locais (espaços abertos, locais simbólicos, belos ambientes naturais,

etc.);

5. Acesso à informação;

Page 46: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

46

Além desses tipos de acesso existem variações no meio de acesso. O acesso físico

é uma coisa, o acesso visual ou auditivo é outro diferente.

CARR (1995 apud ALEX, 2008) classifica o acesso ao espaço em três tipos: físico,

visual e simbólico ou social.

1. O acesso físico visa à facilidade de atingir os destinos desejados através de um

sistema de transportes.

2. O acesso visual ou visibilidade informa aos usuários sobre o local e propicia o

uso.

3. O acesso simbólico ou social refere-se à presença de sinais que sugerem quem

é bem vindo ao lugar. Porteiros e guardas na entrada podem significar ordem e

segurança, mas também impedimento e intimidação.

A seguir detalha-se o entendimento sobre a acessibilidade física e visual.

3.3.1.1 Acessibilidade física

O acesso físico refere-se às condições de travessias e a qualidade dos trajetos. Tem

relação com a ausência de barreiras espaciais ou arquitetônicas (construções, vegetação,

etc.), com as localizações e com as condições de se alcançar o destino desejado.

As vias de circulação são os espaços onde as pessoas realizam seus

deslocamentos. A via compreende a pista, a calçada, o acostamento e o canteiro central.

Para estabelecer condições favoráveis de circulação a NBR 9050 recomenda uma calçada

contínua e livre de obstáculos com 1,50 m de largura. Mascaró (2003) considera que as

características físicas das vias locais devem contemplar largura suficiente para tráfego

restrito de carros e bicicletas e um dimensionamento ideal para as calçadas, com largura de

3,00 m, conforme Figura 11.

Page 47: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

47

Figura 11: Características físicas das vias locais com calçada ideal

Fonte: Mascaró (2003)

Diante do exposto, para a avaliação da acessibilidade física considera-se a

quantidade de espaço disponível para realização de deslocamento e a inexistência de

barreiras. Considera-se também que o acesso precisa prever as diversidades necessárias

de pessoas, de lazer e de cenários. Considerando a diversidade e preocupado com a

abundância de ofertas Lynch (1981, p.183 e 184) afirma que:

Um bom ambiente é um local que oferece um acesso óbvio e fácil a uma variedade moderada de pessoas, produtos e cenários, apesar de esta variedade poder ser expandida se uma pessoa desejar despender energia adicional – um mundo explorável, cujas vastas diversidades possam ser procuradas ou ignoradas perfeitamente à vontade.

Para Lynch, a variedade de cenários comportamentais disponíveis significa a

facilidade de o indivíduo encontrar alguém de quem gosta, ou ser mais competente em

certos aspectos, ou seja, melhorar a adequação. Porém à medida que os níveis de opções

continuam a aumentar, as pessoas começam a valorizar o isolamento e o controle do

acesso. Portanto, a capacidade de controlar o acesso também é um valor importante. O

contra argumento é que aumentar o controle pode aumentar os custos e diminuir as

vantagens do contato entre as pessoas.

Jacobs (2000) ao estudar espaços, como as ruas e as calçadas, defende a mistura

de funções e altas densidades de uso em ruas conectadas e acessíveis. A idéia colocada é

que as ruas quando intensamente utilizadas são informalmente vigiadas, permitindo a

sensação de segurança. A autora coloca os princípios de: ocupação densa, uso misto e

continuidade, e esclarece um princípio para o desenho dos espaços livres: o princípio de

que a maioria das quadras deve ser curta, ou seja, as ruas e as oportunidades de virar

esquinas devem ser freqüentes para favorecer o uso das ruas (Figura 12).

Page 48: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

48

Figura 12 - Quadras curtas e sua rede de usos combinados

Fonte: Jacobs (2000)

Para Lynch (1981) os bons acessos são um dos dispositivos mais importantes para a

adaptação dos espaços às suas ações. A conexão entre as partes, organizando as

atividades em torno de pontos centrais fixos é uma estratégia colocada pelo autor.

3.3.1.2 Acessibilidade visual

A acessibilidade visual é a qualidade de ter uma visão ampla de um espaço, a partir

de um ponto de vista (HIGUCHI, 1989). Está relacionada com as possibilidades de

visualização e pode ser fruto do layout, dos elementos (iluminação, características

topográficas, etc.), da ausência de barreiras visuais e da proximidade com as rotas de

circulação (SERPA, 2007; ALEX, 2008).

Segundo Serpa (2007) locais escondidos pela vegetação, por exemplo, podem

implicar na segurança e trazer um receio e desconfiança. Por outro lado a visibilidade pode

ser contrária a privacidade, contudo é indiscutível que ver o espaço facilita a entrada e a

locomoção das pessoas neste espaço.

O acesso visual permite a vigilância, o senso de propriedade e territorialidade

tornando os usuários mais responsáveis pelo espaço (LYNCH, 2007; NEWMAN, 1973).

Page 49: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

49

3.3.2 Equipamentos de lazer

Para adequar os espaços destinados ao lazer é necessário prover equipamentos e

estimular alternativas criativas para incentivar a utilização. Os equipamentos e mobiliário

adequados devem permitir a execução das diferentes atividades que abrangem os

interesses do lazer.

O lazer é, aqui, entendido como um conjunto de ocupações onde o indivíduo

entrega-se, de forma espontânea e livre de obrigações, para repousar, divertir-se, recrear-se

e desenvolver sua participação social voluntária ou sua capacidade criadora

(DUMAZEDIER, 1976).

Segundo Marcellino (2006) a realização de qualquer atividade de lazer busca a

satisfação de aspirações dos seus praticantes, seja uma satisfação estética, ou uma

satisfação do movimento (exercício físico). Na atividade de contemplação da natureza

predomina o aspecto estético, na atividade esportiva prevalece à satisfação do movimento.

Assim, o lazer pode ser classificado10 em seis conteúdos ou interesses:

1. Interesses artísticos;

2. Interesses intelectuais;

3. Interesses físicos;

4. Interesses manuais;

5. Interesses turísticos;

6. Interesses sociais.

Para Marcellino (2006), os interesses artísticos abrangem: imagem, beleza, emoção

e encantamento. Os interesses intelectuais englobam as informações e a leitura. Os físicos,

os passeios, a pesca, a ginástica e todas as atividades onde predomina o movimento. Os

manuais podem envolver o artesanato e a jardinagem. Os turísticos, o contato com outros

costumes. Por sua vez, os sociais envolvem os relacionamentos, o convívio social, os

contatos face a face.

Considerando os conteúdos do lazer, o ideal seria que cada pessoa praticasse

atividades que envolvessem os distintos grupos de interesses, procurando, exercitar, no

tempo disponível, o corpo, a imaginação, o raciocínio, a habilidade manual, o contato com

os outros costumes e o relacionamento social.

10

Essa classificação também está presente na obra: N.N. FOOTE & L. S. COTTREL, Identity and

interpersonal competerie. A new direction in family research. Chicago. The University of Chicago Press, 1955, 308p.

Page 50: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

50

O interesse social é abordado em muitos trabalhos que avaliam a relação ambiente-

comportamento (ALEX, 2008; BECKER, 2005; ELALI, 2002). De acordo com Hultsman et al

(1987) a variedade de equipamentos e uma disposição que estimule o uso e a interação

entre as pessoas garantirão a adequação. Os bancos, por exemplo, se forem retos se

adéquam a utilização de poucas pessoas e permitem a observação de eventos a sua frente

e a conversa entre dois indivíduos. Já os bancos côncavos encorajam o contanto social

entre grupos de pessoas (COOPER & FRANCIS apud MORAES, 1996).

O desenho do espaço pode contribuir quanto aos atributos físicos proporcionando

áreas convidativas.

A praça pretende ser um foco de atividades no coração de alguma área “intensamente” urbana. Tipicamente, ela será pavimentada e definida por edificações de alta densidade e circundada por ruas ou em contato com elas. Ela contém elementos que atraem grupos de pessoas e facilitam encontros: fontes, bancos, abrigos e coisas parecidas. A vegetação pode ou não ser proeminente. (LYNCH, 1987, p.442)

Segundo Cooper & Sarkissian (apud MORAES, 1996) e Jacobs (2000) as calçadas

também devem ser desenhadas de forma a proporcionar espaços comunitários.

A faixa etária é relevante no estudo dos equipamentos de lazer por causa de

questões motivacionais e de mobilidade. Por exemplo, as pessoas com faixa etária mais

avançada praticam pouca atividade esportiva. Dumazedir (1976) verificou que, entre os

interesses físicos, as pessoas idosas praticam mais os passeios e as caminhadas do que os

esportes. Verificou também que as atividades manuais, a leitura e os lazeres sociais são

bastante citados pelas pessoas idosas.

Já os adolescentes costumam fazer atividades esportivas e utilizam as ruas e locais

que tenham oportunidades para grande socialização (SILVA, 2009). As crianças usam

espaços que transmitam a percepção de segurança (LYNCH, 1981).

3.3.3 Estética

A estética é uma das categorias consideradas no código de obras de João Pessoa,

contudo assim como a maioria das normas brasileiras essa abordagem é tratada apenas

para a construção de edificações, desconsiderando os ambientes abertos. Contudo,

segundo Reis & Lay (2006), o aspecto visual, na elaboração de um projeto arquitetônico ou

urbanístico, é considerado nas análises do ambiente porque influencia na qualidade do

Page 51: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

51

espaço. Para Gehl (1987) e Lynch (1981) os locais que contêm qualidades visuais são

convidativos e motivam a utilização e permanência.

Neste atributo estão os elementos físicos (morfológicos) que estimulam os sentidos,

sobretudo, as sensações visuais. Dentre os aspectos que contribuem para a estética de

espaços abertos pode-se destacar a vegetação e a manutenção (MONTELLI, 2007). A

vegetação é um dos elementos físicos que contribuem para a boa aparência, e se estiver

sendo aplicada de forma conveniente também proporciona conforto térmico. Katzschner

(2003) verificou nas observações do uso dos espaços livres que a presença de vegetação e

água permite uma alta frequência de uso durante estações e tempos diferentes.

De acordo com Lynch (1981) um espaço monótono, onde suas formas se repetem,

seria pouco estimulante. A presença de diferentes vegetações (árvores e plantas de vários

tamanhos e cores), diferentes perspectivas e outros elementos que garantam um visual

mais rico tendem a chamar mais atenção das pessoas (REIS apud SILVA, 2009).

Os aspectos não físicos como a manutenção e o gerenciamento também tem

relações com a estética, pois a boa conservação dos espaços promove satisfação e cuidado

com o local (LANG, 1994) e os cuidados com a vegetação, com a limpeza, com a iluminação

e com os equipamentos são importantes para a percepção de um espaço atraente

esteticamente (REIS & LAY, 2002).

Page 52: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

52

CAPÍTULO 4: DETALHAMENTO DOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

PARA OS ESTUDOS DE CASO

Para alcançar os objetivos propostos foram utilizados métodos e técnicas de coleta

de dados que fazem parte da área de estudos ambiente-comportamento. Assim a

adequação dos espaços coletivos nos condomínios horizontais foi analisada através de:

observações dos traços físicos; observações de comportamentos e questionário. Os

instrumentos utilizados foram fotos, desenhos, anotações de observações, mapas

comportamentais e questionário.

4.1 Contato com a administração do condomínio

O primeiro passo para iniciar a pesquisa de campo foi o contato com os síndicos dos

condomínios avaliados realizado em dezembro de 2010. O objetivo desse encontro foi

coletar informações sobre os condomínios e obter a autorização de acesso (apêndice A)

para a realização dos levantamentos in loco. Foram obtidos também documentos

(desenhos, convenção do condomínio, regimento interno e pesquisas realizadas pela

administração).

Com os consentimentos dos síndicos iniciou-se o levantamento físico e fotográfico

no local. A identificação para os residentes, durante o período de observações e medições,

se deu através do uso de crachá.

4.2 Observações dos traços físicos

As observações dos traços físicos consistem em examinar o espaço físico,

procurando identificar as características físicas e as atividades que o espaço sugere (REIS

& LAY, apud BECKER, 2005). Essas observações foram registradas em mapas, fichas e

fotografias. Os aspectos considerados foram: as condições das calçadas; a iluminação

noturna; a presença de equipamentos e mobiliário; a vegetação (árvores, arbustos e

canteiros); as atividades; a manutenção; os vestígios de uso e as adaptações de uso.

Essa etapa da pesquisa de campo iniciou-se após a autorização dos síndicos. Os

condomínios forneceram mapas, contudo foram necessários levantamentos físicos para

fazer um cadastro atualizado e representar as características observadas.

Page 53: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

53

4.3 Observações de comportamentos

As observações comportamentais foram realizadas durante quatro meses (de janeiro

a abril de 2011), em vários dias e horários diferenciados. Durante essas observações pode-

se perceber, nos dois condomínios, que o horário típico (de maior utilização) é o horário da

tarde a partir das 16:30 horas às 18:00 horas. Esse horário foi escolhido para realização das

observações sistemáticas realizadas durante duas semanas (em todos os dias da semana) e

acrescentadas por mais uma semana em dias alternados, totalizando em cada condomínio

um registro sistemático de 15 horas.

Nas observações preliminares observou-se que no período da manhã o uso é muito

baixo (poucos adultos caminhando e duas a três crianças brincando no playground). Já no

período da noite observou-se maior uso da quadra poliesportiva no condomínio A e maior

uso do playground, do minicampo de futebol e da academia no condomínio B. Contudo, as

observações sistemáticas não foram realizadas no período noturno porque houve, em um

dos condomínios, restrição de acesso nesse turno. Além disso, procurou-se na pesquisa

interferir ao mínimo na rotina dos moradores. Assim os espaços de cada condomínio foram

observados de forma sistematizada conforme Tabela 1, em horário representativo das

16h30min às 18h00min, durante 10 dias. As observações foram realizadas em dias sem

intempéries para não haver alterações de comportamentos em consequência das mudanças

do tempo.

Tabela 1: Cronograma das observações comportamentais sistemáticas

CONDOMÍNIO

24/01/11 à 30/01/11(dias sem intempéries)

21/03/11 à 27/03/11

29/03/11 à 03/04/11 (dias alternados)

11/04/11 à 17/04/11

Percurso percorrido por observação (em

metros)

A 16h30min às 18h30min

16h30min às 18h30min

1.700

B 16h30min às 18h30min

16h30min às

18h30min

Recuperação dos dias de intempéries

1.400

Para a elaboração dos mapas comportamentais optou-se por utilizar como método

de procedimento a observação direta de comportamento através de “mapa comportamental

centrado no lugar”. Nessa observação foram anotadas informações sobre o que os usuários

estavam fazendo, se caminhando, sentado, brincando, parado ou andando de bicicleta. E

paralelamente desenhavam-se no mapa os grupos de pessoas e o arranjo físico. Assim

foram elaborados 10 mapas em cada condomínio com os registros das observações. O

resultado consiste em um mapa síntese de cada condomínio mostrando a utilização de

forma acumulada compreendendo a soma da utilização durante os dez períodos de

Page 54: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

54

observação, de maneira a apresentar todos os registros comportamentais observados

sistematicamente.

O percurso percorrido por observação corresponde a um trajeto nas vias de

circulação que dão acesso as áreas de lazer, contudo vale salientar que a maior parte do

tempo das observações ocorria nas áreas onde se observava maior número de

comportamentos (playground, no condomínio A e via principal, no condomínio B).

Quanto à posição do observador em relação ao observado, acreditava-se que

poderia ser uma limitação para a pesquisa, pois a presença do observador pode inibir as

ações dos usuários. Contudo as observações puderam ser realizadas sem causar

incômodos aos moradores. Durante o período de observações, crianças e adultos

indagavam sobre o que estava sendo feito, mas com o tempo se familiarizaram com a

pesquisa. Quando conveniente acrescentavam-se fotos como documentos da observação

direta, tendo o cuidado de não constranger as pessoas que estavam sendo fotografadas.

4.4 Questionário

O questionário é uma técnica tradicional e, caracteriza-se como um instrumento de

pesquisa que contém uma seqüência ordenada de perguntas relacionadas a um problema

específico (RHEINGANTZ et al, 2009).“É um conjunto de perguntas sobre um determinado

tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua opinião, seus interesses,

aspectos de personalidade e informação bibliográfica” (Yaremko, Harari, Harrison & Lynn,

1986, p. 186 apud GÜNTHER, 2008)

Essa técnica foi escolhida porque possibilita um universo maior de respondentes e

também possui caráter impessoal favorecendo a liberdade de resposta, embora possa

ocorrer baixa taxa de retorno e/ou altas taxas de perguntas sem resposta.

No que diz respeito à maneira de administrar o questionário, Rheingantz et al (2009)

considera que o questionário deve ser respondido sem a presença do pesquisador enquanto

outros autores (GÜNTHER, 2008; ORNSTEIN, 1992) considera a possibilidade de ser

administrado em interação pessoal, em forma de entrevista individual.

Nesta pesquisa, para evitar a baixa taxa de retorno, utilizou-se como metodologia de

entrega dos questionários a visita a todos os domicílios. Assim, foi possível entregar o mesmo

nas residências onde os moradores estavam presentes durante o período de aplicação, que

Page 55: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

55

se realizou no turno da noite, nos dias úteis e nos finais de semana (sábado e domingo)

durante os três turnos. O período de aplicação dos formulários com as questões propostas

ocorreu no intervalo de tempo compreendido entre os dias 16 de março e 17 de abril de

2011.

Foram entregues 68 questionários no condomínio A e 207 no condomínio B. Contudo

o retorno foi determinado pela aceitação e disponibilidade em participar da pesquisa. O

formulário era entregue ao morador e depois de aproximadamente duas horas voltava-se

para receber. Para aqueles que não podiam devolver no mesmo dia pedia-se para deixar na

portaria. Vale salientar que o retorno via portaria foi maior no condomínio A (10

questionários) do que no condomínio B (7 questionários). No final obteve-se 50

questionários respondidos no condomínio A e 102 no condomínio B. Esses números foram

considerados representativos, pois no condomínio A equivale a 57% do número de

residências construídas e no condomínio B corresponde a 35% do número de domicílios.

Salienta-se que, como filtro para a realização da avaliação, foi aceita uma pessoa de cada

residência. Além disso, como seleção da amostra foram abordadas apenas as pessoas com

idade a partir de 18 anos, sendo assim crianças e empregadas domésticas não

responderam questionário.

Por se tratar de uma pesquisa que envolve a participação das pessoas, o projeto de

pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos

da UFPB (CEP). Seguindo o encaminhamento do CEP elaborou-se um termo de

consentimento livre e esclarecido (ver apêndice B) que foi entregue aos respondentes

juntamente com o questionário. Também foi realizado o cadastro no site do Sistema

Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa (SISNEP11). Esses procedimentos são

baseados na Resolução n° 196/96 do CNS.

O questionário foi elaborado segundo a fundamentação teórica e mediante avaliação

de outros questionários aplicados em pesquisas que procuraram avaliar adequação de

espaços (BECKER, 2005; LOPES, 2009; MORAIS, 1996; ALCANTARA, 2002; TOMASINI,

2002). Além disso, as visitas in loco, as entrevistas com a administração (síndicos e

supervisores) e a pesquisa12 de satisfação realizada em 2009 pela síndica do condomínio B

contribuíram para a elaboração das perguntas.

11

Sistema de informação via internet sobre pesquisas envolvendo seres humanos com a finalidade de proteger os direitos dos sujeitos através do Conselho Nacional de Saúde. 12

Essa pesquisa tinha como objetivo verificar os pontos fortes e fracos do condomínio. Foi aplicado a 150 moradores que avaliaram 21 pontos como bom, regular ou insatisfatório. Os quatros itens de

Page 56: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

56

Assim as questões foram formuladas de forma fechada (dicotômicas e de múltipla

escolha) e de forma aberta na tentativa de obter informações não cobertas pelos itens

objetivos e considerando o caráter exploratório da pesquisa. Inicialmente foram colocadas

as perguntas mais gerais (sobre os ambientes) e no final as perguntas pessoais

(características do respondente).

O roteiro de questões13 foi testado em 10 respondentes para verificar a clareza das

perguntas. Durante esse estudo-piloto a autora presenciava o preenchimento do

questionário e solicitava a opinião quanto à compreensão das questões. Esse roteiro foi

dividido em cinco partes. Uma pequena introdução em que se procurou deixar evidente o

objetivo da pesquisa. A segunda parte compreende as informações sobre uso e atividades

desenvolvidas. A terceira corresponde às questões que servirão para a investigação das

qualidades, dificuldades e necessidades dos espaços coletivos. A quarta parte visa

compreender a importância atribuída a respeito dos ambientes analisados. Por fim pergunta-

se sobre alguns aspectos básicos de identificação como: a idade, o sexo, o tempo de

moradia, o número de crianças residentes e a área de conhecimento. A seguir apresenta-se

o Quadro 4 com o roteiro de perguntas e os respectivos objetivos.

maior insatisfação foram respectivamente: playground; salão de festas; assembléias e quadras esportivas. Os quatro itens de maior satisfação foram: coleta de lixo; valor da taxa do condomínio; limpeza e segurança. Após essa pesquisa o condomínio comprou novos brinquedos para o playground. 13

O questionário utilizado na pesquisa encontra-se no fim deste trabalho, apêndice D, pág. 151

Page 57: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

57

Quadro 4: Roteiro de perguntas e objetivos

OBJETIVO PERGUNTA

ANALISAR A UTILIZAÇÃO

DOS AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS

HORIZONTAIS

1. Enumere os ambientes coletivos que você utiliza, em

seu condomínio. Descreva as atividades desenvolvidas

e indique a freqüência de uso conforme a tabela

abaixo:

2. Enumere os ambientes coletivos que a(s) criança(s) de

sua moradia utiliza. Descreva as atividades

desenvolvidas e a freqüência de uso conforme a tabela

abaixo:

INVESTIGAR AS QUALIDADES,

AS DIFICULDADES E AS NECESSIDADES

PERCEBIDAS QUANTOS AOS AMBIENTES

COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

3. Indique até três características que favorecem a utilização dos ambientes coletivos em seu condomínio:

4. Indique até três características que dificultam a

utilização dos ambientes coletivos em seu condomínio:

5. O que você gostaria que fosse adaptado ou

acrescentado nos ambientes coletivos do seu condomínio? Por quê?

COMPREENDER A IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA

AOS AMBIENTES COLETIVOS DOS

CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

6. Para você é importante ter áreas de lazer no

condomínio horizontal?

7. Porque você considera importante ter áreas de lazer no condomínio horizontal?

8. O que poderia ter em ambientes coletivos de

condomínios horizontais para que os moradores utilizassem mais esses espaços?

9. Você costuma visitar áreas de lazer fora do seu

condomínio? Quais?

10. O que foi mais importante na escolha deste condomínio para moradia?

OBTER O PERFIL DOS RESPONDENTES

11. Características dos respondentes: sexo; idade; tempo

de moradia; total de moradores na residência; existência de dificuldade de locomoção

Page 58: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

58

4.5 Definição dos casos a serem analisados

4.5.1 Os condomínios horizontais na cidade de João Pessoa

A cidade de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, teve seu crescimento

populacional acelerado a partir da década de setenta do século XX. Nessa época a

população brasileira passou a residir predominantemente nas cidades devido principalmente

ao processo de emigração do campo. Na capital paraibana, a modernização e o

desenvolvimento urbano deslocaram a população residente no centro da cidade para as

áreas litorâneas. Nos anos noventa, a expansão imobiliária ocupou as áreas do litoral com a

construção de condomínios verticais transformando a orla marítima na “região nobre” da

cidade (GONÇALVES, 1999).

Verifica-se, nos últimos anos (2008 a 2010), o investimento do mercado imobiliário em

condomínios horizontais para a população de alta renda da cidade de João Pessoa. Pode-se

perceber na Figura 13 a distribuição dos condomínios de alto padrão nos bairros de João

Pessoa.

Page 59: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

59

LEGENDA

Condomínios horizontais inaugurados

Condomínio horizontal em construção

Oceano Figura 13: Mapa de João Pessoa - distribuição dos condomínios horizontais de alto padrão Fonte: mapa do i3Geo da Prefeitura Municipal de João Pessoa Organização: Wilma Fernandes, 2010

Page 60: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

60

A localização dos condomínios horizontais de alto padrão em João Pessoa

concentra-se no bairro Portal do Sol14, localizado no litoral sul. Esse bairro tem despertado o

interesse e a ação dos produtores imobiliários devido à presença de áreas não edificadas

(vazios urbanos) e a proximidade à praia. Além disso, essa área possui restrições quanto à

construção de condomínios verticais por estar próxima a Falésia do Cabo Branco,

patrimônio ambiental.

O bairro está em processo de ocupação e possui, portanto, poucos estabelecimentos

ligados ao comércio e serviços. Quanto aos equipamentos públicos destaca-se a Estação

Cabo Branco (Ciência, Cultura e Artes), obra projetada por Oscar Niemeyer.

A construção dos condomínios horizontais no bairro Portal do Sol e os investimentos

de infra-estrutura provenientes da implantação desses empreendimentos têm estabelecido

uma valorização nesta área da cidade. Se no litoral norte tem-se a valorização das

localizações que permitem a construção de condomínios verticais, no Portal do Sol, litoral

sul15, o mercado tem valorizado os condomínios horizontais de alto padrão como espaços

diferenciados e exclusivos. Porém é importante destacar que também existem, no bairro,

residências com baixo padrão construtivo.

14

O nome Portal do Sol ainda é pouco conhecido pela população. Sendo também denominado de Altiplano Cabo Branco (bairro vizinho) ou Cidade Recreio (antigo loteamento). O loteamento Portal do Sol tem ocupações irregulares, algumas invadindo ruas e por isso o projeto do loteamento foi, recentemente, refeito pela Prefeitura – Informações obtidas em visitas ao bairro e na Prefeitura Municipal de João Pessoa. 15

Atualmente o bairro do Altiplano, no litoral sul, está passado por um processo de verticalização.

Page 61: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

61

Figura 14: Imagem Quickbird do bairro Portal do Sol com contornos dos condomínios horizontais Fonte: Prefeitura Municipal de João Pessoa, 2005 Organização: Wilma Fernandes, 2010

Considerando o padrão construtivo das casas e a localização, o município de João

Pessoa possui, no total, dez condomínios horizontais de alto padrão. Desses, sete estão

localizados no bairro Portal do Sol. Os dois condomínios do litoral sul que não estão

localizados no referido bairro estão situados na divisa do mesmo. Apenas um condomínio

não está localizado no litoral sul.

Page 62: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

62

Quadro 5: Condomínios horizontais, significados interpretados pela autora dos nomes dos condomínios horizontais, data de aprovação na Prefeitura, localização dos condomínios horizontais direcionados à população de alta renda no município de João Pessoa

Denominação Significados dos nomes dos condomínios Data de

aprovação na

prefeitura

Localicação

1 Condomínio A Moradia 2001 Portal do Sol

2

Condomínio B

Nome de um bairro muito valorizado na cidade,

Moradia,

Exclusividade

1998

Altiplano

3 Condomínio C Lazer 2005 Portal do Sol

4 Condomínio D Proximidade da praia 2008 Portal do Sol

5 Condomínio E Moradia,

Exclusividade

2008 Portal do Sol

6 Condomínio F Lazer 2009 Portal do Sol

7 Condomínio G Moradia

Lazer

2009 Portal do Sol

8 Condomínio H Lazer 2010 Portal do Sol

9 Condomínio I Segurança 2010 Bairro dos Estados

10 Condomínio J Nome da empresa Em construção Bancários

Observa-se que a implantação de condomínios horizontais de alto padrão na cidade

de João Pessoa inicia-se em 1998 e se prolifera em 2008 e 2009, revelando que esta

tendência de mercado na Paraíba é recente comparando com outros estados brasileiros.

Quanto às denominações é possível verificar nomes que remetem ao status, a segurança e

ao lazer.

Esses condomínios atendem as características estabelecidas anteriormente, a

administração é realizada por um síndico, a infra-estrutura é particular, o acesso é restrito e

as áreas são privado-coletivas. Quanto à tipologia, trata-se de condomínios de uso

residencial, localizados na malha urbana, de pequeno e médio porte e de alto padrão.

Page 63: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

63

4.5.2 Condomínios selecionados para avaliação

Foram selecionados dois condomínios horizontais de alto padrão (figura 15)

localizados no litoral sul para avaliação dos ambientes coletivos:

1. O condomínio A

2. O condomínio B

LEGENDA

Condomínios A e B selecionados para a pesquisa

Condomínios horizontais de alto padrão do litoral sul em processo de ocupação

Oceano

Figura 15: Condomínios horizontais de alto padrão no litoral sul selecionados para a pesquisa Fonte: mapa do i3Geo da Prefeitura Municipal de João Pessoa Organização: Wilma Fernandes, 2010

Esses dois condomínios representam os exemplos do lançamento desse tipo de

empreendimento na capital paraibana, pois foram os primeiros a serem implantados na

cidade e por isso se tornaram referencias para os novos condomínios horizontais

construídos no município de João Pessoa, nas cidades vizinhas e em outras cidades da

Paraíba.

A

B

Page 64: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

64

O Condomínio B é o condomínio horizontal com maior número de casas construídas

(296) isso se justifica pelo seu tamanho e pelo seu tempo de implantação (1998). Foi a partir

desse condomínio horizontal que a população e os promotores imobiliários começaram a

investir nessa tipologia habitacional. O Condomínio A (com 87 residências construídas),

aprovado na Prefeitura em 2001, possui moradores desde 2002. Os outros condomínios

estão em processo de ocupação.

A opção de estudar tais objetos baseou-se nas recomendações, da literatura de

APO, para que as pesquisas na área não ocorram antes de um a dois anos de ocupação,

por isso optou-se por não considerar para os estudos de casos os condomínios em

processo de ocupação.

Page 65: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

65

CAPÍTULO 5: AVALIAÇÃO DA ADEQUAÇÃO DOS AMBIENTES COLETIVOS EM

CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA – PB

Com a apresentação da fundamentação teórica e da metodologia, neste Capítulo,

são descritos os principais resultados. Apresenta-se o espaço físico de cada condomínio

avaliado revelando as características gerais, as características do entorno imediato e as

características das vias de circulação e das áreas de lazer. Apresentam-se também os

comportamentos dos ambientes coletivos de cada condomínio estudado. Com esses

diagnósticos são descritos os pontos mais relevantes quanto às semelhanças e diferenças

detectadas nos dois condomínios avaliados.

Nos diagnósticos obtidos através das observações são apresentadas as informações

sobre os cenários físicos e as funções que os ambientes coletivos dos condomínios

selecionados geram. Tais informações são frutos de visitas in loco, consulta a arquivos da

administração, plantas baixas obtidas e editadas em AutoCAD 2010 (Autodesk), entrevistas

com administradores dos condomínios, relatos dos moradores, levantamentos físicos,

levantamentos fotográficos e anotações de observações realizadas durante todo o período

da pesquisa de campo. O objetivo foi identificar os principais aspectos encontrados (sejam

positivos e/ou negativos) quanto à acessibilidade, equipamentos de lazer e estética e

verificar o que esses espaços sugerem quanto ao uso. Além disso, foram observados os

pontos negativos provenientes das adaptações realizadas.

Visando gerar, no leitor, uma imagem unitária de cada condomínio a avaliação dos

aspectos físicos e comportamentais é apresentada em três itens, o primeiro apresenta o

condomínio A (quanto ao espaço físico e análise do uso – resultados das observações

traços físicos e de comportamentos), o segundo item expõe as características do

condomínio B (também quanto à descrição física e análise do uso) e o terceiro item faz uma

análise dos aspectos encontrados nos dois condomínios.

Por fim são apresentados e analisados os dados provenientes do questionário

aplicado nos dois condomínios, neste caso os resultados são tratados de modo conjunto

para evitar a repetição de assuntos, tendo em vista que as perguntas foram as mesmas para

os dois condomínios.

Page 66: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

66

5.1 O Condomínio A

5.1.1 Espaço físico 5.1.1.1 Características gerais

O projeto do condomínio A contempla seis quadras com 130 lotes residenciais (a

maioria com 435 m2), salão de festas, portaria e uma quadra poliesportiva. Além disso, o

condomínio possui uma área verde de 11.900 m2 e um sistema viário ocupando 24.104 m2.

Os 130 lotes são destinados apenas para moradia e foram reduzidos para 115 lotes porque

13 proprietários fizeram remembramentos. Em visitas in loco, foram verificadas 87

residências construídas, 6 obras e 22 terrenos vazios. Portanto, atualmente, o condomínio

possui 75% dos seus lotes ocupados. A seguir tem-se uma tabela resumindo as

características citadas.

Tabela 2: Características gerais do condomínio A

Número de quadras residenciais 06 Número de lotes 115 Residências construídas 87 Número estimado de moradores * 400 Área total 98.237 m² Área destinada aos equipamentos de lazer 5.600 m² Equipamentos de lazer Salão de festas, quadra poliesportiva e playground Fragmentos de mata 11.900 m

2

Área do sistema viário 24.104 m2

Fechamento do lote Permitido muro em alvenaria nas laterais e nos fundos

Fonte: levantamento de arquivo e pesquisa de campo, 2011. * Para calcular o número de moradores residentes, considerou-se as respostas do questionário aplicado que revelaram uma média de 4,6 pessoas por residência no condomínio A e uma média de 3,9 pessoas por domicíl io no condomínio B.

Na Figura 16 pode-se observar a posição das áreas de lazer, a distribuição dos

elementos que compõem os ambientes coletivos e a ocupação dos lotes.

Page 67: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

67

Figura 16: Planta do condomínio A

Page 68: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

68

5.1.1.2 Características do entorno imediato

O condomínio A está implantado entre vazios urbanos, existindo, em seu entorno

imediato, apenas um aglomerado subnormal, uma edificação abandonada, garagem de

ônibus, poucas residências e um condomínio horizontal em construção.

LEGENDA

Condomínio A Aglomerado subnormal Condomínio horizontal em construção

Figura 17: Entorno imediato do condomínio A Imagem Google Earth – data da imagem 1/19/2008

Av. asfaltada Acesso principal

Rua asfaltada Acesso secundário

Fálesia do Cabo Branco

Page 69: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

69

5.1.1.3 Vias de circulação

Acessibilidade

O condomínio A possui uma malha ortogonal composta de vias privativas, sendo

uma via principal com canteiro central (com 1 metro de largura) e vias secundárias para

circulação de veículos e acessos às residências, como pode ser observado na Figura 18.

Figura 18: Forma das vias do condomínio A

Page 70: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

70

Foi verificada nas vias de circulação deste condomínio a ausência de caminhos

contínuos destinados aos pedestres. Além disso, as calçadas dos condomínios não

possuem dimensionamento ideal e também não são adaptadas para pessoas com

mobilidade reduzida. Existem calçadas com a largura de 1,50 m (largura mínima

recomendável pela NBR 9050), porém há barreiras físicas como postes, rampas, guaritas,

jardins, bancos e jarros que dificultam as caminhadas nas calçadas (ver Figuras 19, 20, 21 e

22). Para reduzir a velocidade dos carros e permitir uma convivência pacífica entre

automóveis e pedestres foram colocados 23 lombadas nas pistas pavimentadas por

paralelepípedos.

Figura 19: Via principal do condomínio A

Figura 20: Corte da via principal do condomínio A

Page 71: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

71

Figura 21: Poste na calçada

Figura 22: Jardim ocupando o espaço da calçada

Estética

As vias de circulação possuem áreas verdes provenientes dos jardins das casas e

canteiro central arborizado. Existe uma rotatória gramada com dois assentos e fonte

iluminada, porém este espaço não possui visualização para as outras áreas de lazer e

sombreamento que propicie a permanência nos horários de incidência solar.

Page 72: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

72

5.1.1.4 Áreas de lazer

Localizados na entrada do condomínio as opções de lazer do condomínio A (Figura

23) oferecem salão de festas, uma quadra poliesportiva e brinquedos com permissão de uso

para crianças de até 10 anos.

Figura 23: Áreas de lazer do condomínio A

Playground

Salão de festas

Quadra esportiva

Page 73: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

73

Acessibilidade

Nas observações, nos registros fotográficos e nos quadro resumos da caracterização

dos equipamentos de lazer (apêndice C - Roteiro das observações, pag. 142) foram

identificadas dificuldades quanto à acessibilidade visual e física. As principais deficiências

encontradas foram: iluminação insuficiente no playground com duas luminárias de 2m de

altura e ausência de adaptações para pessoas com mobilidade reduzida (idosos,

cadeirantes, obesos, gestantes, etc).

Figura 24: Iluminação noturna no Playground do condomínio A

O espaço do salão de festas composto por um ambiente coberto aberto, uma

cozinha com churrasqueira, dois banheiros e um depósito para guarda de mesas e cadeiras

não possui banheiros adaptados para portadores de necessidades especiais.

Estética

Ainda que o levantamento apresente mais as condições insatisfatórias dos espaços,

observou-se que houve neste condomínio planejamento para as áreas de lazer. As árvores

e os arbustos com flores no playground contribuem para a estética, a proteção das crianças

e o sombreamento no período da tarde (Figura 25 e Figura 26). Contudo, nas observações,

foi identificado que o padrão de acabamento e a vegetação dos ambientes coletivos são

inferiores ao das residências. A principal qualidade encontrada nos ambientes coletivos

deste condomínio foi à limpeza e a conservação das áreas verdes.

Page 74: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

74

Figura 25: Árvores e arbustos no playground do condomínio A

Figura 26: Árvores e arbustos no playground do condomínio A

Foto registrada em uma tarde de quarta-feira (15 crianças pequenas brincando, 2 bebês e 6 adultos)

Equipamentos de lazer

A quadra poliesportiva mede 19 m x 33 m e assim como o salão de festas possui

estacionamento. Com piso em concreto, revestida em cimento queimado e pintura, é

cercada com tela em estrutura metálica. Possui boa iluminação noturna para os jogos

através de refletores.

Existem nove brinquedos coloridos: balanços; escada horizontal; trepa-trepa; etapa

argola; mini-tirolesa; dois tipos de balanços duplos; gangorras; casinha com escorregador e

escalada. Todos esses brinquedos são em madeira contendo algumas peças metálicas.

Vale salientar que não há brinquedos para bebês.

Adaptações

No salão de festas foi adaptada uma sala para a administração do condomínio e foi

também adaptado um vestiário e um refeitório para os funcionários. Essas modificações

revelam dois problemas quanto ao uso: o vestiário para os funcionários apresenta

dimensões insuficientes com largura inferior a 1,00 m e a adaptação da sala da

administração permanecendo com as janelas altas não proporciona ventilação na altura do

usuário (ver quadro resumo no apêndice D).

Page 75: AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

75

5.1.2 Análise do uso

De acordo com as observações comportamentais, podem-se perceber no

condomínio A que as atividades de lazer mais frequentes são as brincadeiras no

playground. Segue tabela e mapa comportamental com a identificação das atividades e dos

usuários:

Tabela 3: Quantidade de usuários observados em 10 dias de observação no condomínio A

Atividade Crianças Jovens e

Adultos Idosos Total

Caminhar/ deslocar 20 42 1 63 Andar de bicicleta 11 5 0 21 Brincar ou jogar 59 0 0 59

Ficar parado em pé 0 7 0 7 Sentar 0 24 0 24

Total de pessoas nas áreas comuns (em 10 períodos de observação)

90 93 1 174

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Figura 27: Mapa comportamental do condomínio A

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Neste condomínio, as observações indicam a pouca freqüência de atividades sociais

nas vias de circulação, pois não foram percebidas pessoas em atividade de permanência

nessas áreas. Foram verificados, neste condomínio, moradores caminhando como exercício

e caminhando com animais, porém considera-se que o maior número de pessoas em

deslocamento seja constituído de empregadas domésticas pelo fato de que muitas mulheres

se dirigiam para a parada de ônibus.

Observou-se que o playground é mais utilizado no horário da tarde, entre 16h30min

às 17h30min, pelas crianças e acompanhantes. Neste ambiente pode-se notar a maior

concentração de pessoas sentadas no banco e brinquedos que ficam sombreados pela

árvore, arbustos e edificações.

Figura 28: Uso do playground em uma tarde de sábado

Os ambientes internos da edificação do salão de festas são utilizados durante a

semana pela administração, crianças e funcionários. Já nos finais de semanas o salão de

festas é utilizado para os aniversários. Durante as observações, ficou evidente a ausência

de uma lixeira no playground e nas proximidades do salão de festa em virtude de se ter

verificado lixo jogado na grama.

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Nas áreas remanescentes do salão e playground há espaços gramados e caminhos

em pedrisco. Foi observado a partir das 17h00min funcionários caminhando em um desses

caminhos ou caminhando na pista se dirigindo para a saída, portão de pedestre da portaria.

Próximo a essa saída de pedestre existe uma árvore de grande porte onde os funcionários

guardam suas bicicletas.

Observou-se que a quadra poliesportiva, durante a semana, é usada por crianças no

turno da noite e nos finais de semana é usada nos turnos da tarde e noite.

Figura 29: Uso da quadra poliesportiva em uma tarde de sábado