ambientes coletivos de condomÍnios horizontais
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Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Centro de Tecnologia - CT
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU
AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS
SITUADOS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB:
Uma análise da adequação ao uso
WILMA FERNANDES PINHEIRO
João Pessoa – Paraíba
2011
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WILMA FERNANDES PINHEIRO
AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS
SITUADOS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB:
Uma análise da adequação ao uso
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU, da Universidade Federal da Paraíba - UFPB, como requisito à obtenção do grau de Mestre.
Área de Concentração - Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo
Linha de Pesquisa - Qualidade Ambiental Urbana e do Edifício
Orientador - Prof. Dr. José Augusto Ribeiro da Silveira
João Pessoa – Paraíba
2011
3
P654a Pinheiro, Wilma Fernandes.
Ambientes coletivos de condomínios horizontais situados na cidade de João Pessoa-PB: uma análise da adequação ao uso / Wilma Fernandes Pinheiro.-- João Pessoa, 2011.
130f. : il. Orientador: José Augusto Ribeiro da Silveira Dissertação (Mestrado) – UFPB/CT 1. Arquitetura e Urbanismo. 2. Qualidade ambiental urbana.
3. Condomínio horizontal. 4. Ambiente coletivo. 5. Relação ambiente-comportamento.
UFPB/BC CDU: 72+711(043)
4
5
Dedico essa conquista a Deus que nos criou com: intelecto; vontades; emoções e criatividade.
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AGRADECIMENTOS
A preparação e elaboração desta dissertação não foram fáceis. O desenvolvimento
do trabalho contou com a contribuição de algumas pessoas que disponibilizaram de tempo e
conhecimento. Agradeço a todos e especialmente:
Aos síndicos, funcionários e moradores dos condomínios horizontais que
participaram e contribuíram decisivamente na pesquisa;
Ao orientador Dr. José Augusto, por ter aceitado a participação neste trabalho,
pela demonstração de respeito às minhas opiniões e por colaborar com o meu
crescimento;
Aos membros das bancas examinadoras, em especial Drª Angelina Dias Leão da
UFPB e Drª Gleice A. Elali da UFRN, por oferecerem seus apontamentos e
sugestões, o que colaborou para a continuação e conclusão do trabalho;
Ao meu noivo, Ms. Rodrigo Pessoa, pelo carinho, incentivo, cobranças e atenta
revisão do texto;
Ao Ms. Rodrigo Queiroga pela importante contribuição nos dados estatísticos;
Ao coordenador Dr. Aluísio Braz e ao secretário Sinval Quirino pelas valiosas
informações fornecidas;
A CAPES, financiadora desta pesquisa;
Aos professores do PPGAU, Dr. Hélio Lima, Drª Iana Alexandra, Drª Angelina
Dias Leão, Dr. José Augusto e Dr. Celso Luiz, pelas aulas e experiências
compartilhadas;
Aos companheiros de mestrado, em especial Christiane, Rui, Dimitri e Vladimir
pelo material bibliográfico fornecido;
Aos alunos da graduação da disciplina de Desenho Urbano V da UFPB, pelas
conversas no estágio docência que me levaram a refletir sobre pontos importantes;
Agradeço também a minha amada família - meus queridos pais: João Fernandes e
Francisca de Assis; minhas lindas irmãs Willa e Willianne; meu sobrinho Daniel e meu
cunhado Rogério - pela amizade, apoio, compreensão e atenção. Por fim agradeço as
minhas amigas da Fundação Cidade Viva e aos meus clientes pela compreensão da minha
ausência.
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RESUMO
Um tipo de construção que vem se propagando nas cidades brasileiras é o condomínio horizontal. Os ambientes coletivos, no interior dos condomínios horizontais destinados à população de alta renda, são apresentados através de ilustrações, fotos e frases de efeito que vêm incentivando a compra desse tipo de espaço. Mas será que os espaços de uso coletivo dos condomínios são adequados ao uso dos moradores e atendem as expectativas geradas pelas propagandas? As suas características físicas contribuem para o seu funcionamento? Quais as experiências de uso desses espaços? Diante dessas questões surge a preocupação em refletir sobre os ambientes condominiais, na tentativa de contribuir no conhecimento dos atributos físicos e do funcionamento desses espaços, tanto no que se refere aos aspectos positivos quanto aos aspectos negativos. A cidade de João Pessoa teve, nos últimos anos, um acréscimo significativo desse tipo de empreendimento em sua malha urbana. Esta dissertação analisa dois condomínios horizontais da capital paraibana destinados à população de alto padrão, tendo como objetivo geral analisar os ambientes coletivos de condomínios horizontais com ênfase no comportamento e percepção dos moradores e tomando como base a análise da relação do uso com os atributos físicos (acessibilidade, equipamentos de lazer e estética). A pesquisa se baseia na hipótese de que a utilização dos ambientes coletivos em condomínios horizontais está relacionada aos aspectos de projeto. Acredita-se que os projetos desses ambientes são definidos de forma a atender mais os interesses financeiros do que as necessidades dos usuários. Para atingir os objetivos a pesquisa recorreu à área de conhecimento que analisa as relações ambiente-comportamento. Foram utilizados multi-métodos envolvendo: análise de documentos; entrevistas informais; observações de traços físicos; observações de comportamentos e questionário. Os resultados revelam que as crianças usam mais esses ambientes para as atividades de lazer (físicas e sociais), ao passo que a maioria dos moradores adultos e idosos não usa os ambientes coletivos de seus condomínios. A percepção dos usuários indica que as poucas opções de equipamentos de lazer e serviços constituem o principal motivo que dificulta a utilização dos ambientes coletivos condominiais. Com o resultado dessa pesquisa pode-se indicar ações para a melhoria dos ambientes analisados e destacar a importância de avaliações quanto aos atributos físicos desses empreendimentos para que os envolvidos nos projetos reflitam sobre as limitações e demandas dos ambientes coletivos de condomínios horizontais.
PALAVRAS-CHAVE: Condomínio horizontal. Ambiente coletivo. Relação ambiente-comportamento.
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ABSTRACT
A construction type that is spreading if in the Brazilian cities it is the horizontal condominium. The collective environments, inside the horizontal condominiums destined to the population of high standard, they are presented through illustrations, pictures and effect sentences that are motivating the purchase of that space type. But will it be that the spaces of collective use of the condominiums are appropriate to the residents' use and do they assist the expectations generated by the propagandas? Do your physical characteristics contribute to your operation? Which the experiences of use of those spaces? Before those subjects the concern appears in contemplating on the atmospheres condominiais, in the attempt of contributing in the knowledge of the physical attributes and of the operation of those spaces, so much in what refers to the positive aspects with relationship to the negative aspects. The city of João Pessoa had, in the last years, a significant increment of that enterprise type in your urban mesh. This dissertation analyzes two horizontal condominiums of the capital paraibana destined to the population of high pattern, tends as general objective to analyze the atmospheres buses of horizontal condominiums with emphasis in the behavior and the residents' perception and taking as base the analysis of the relationship of the use with the physical attributes (accessibility, recreational and aesthetics). The research bases on the hypothesis that the use of the collective environments in horizontal condominiums is related to the project aspects. It is believed that the projects of those atmospheres are defined in way to assist more the financial interests than the users' needs. To reach the objectives the research it fell back upon the knowledge area that analyzes the relationships atmosphere-behavior. Multi-methods were used involving: analysis of documents; informal interviews; observations of physical lines; observations of behaviors and questionnaire. The results show that children use more environments condominium analyzed for leisure activities (physical and social), while the majority of adults and elderly residents do not use the surroundings of their collective condominiums. The perception of users indicates that the few options of leisure facilities and services are the main reason that hampers the use of collective environments condominium. With the result of that research it can be indicated actions for the improvement of the analyzed environments and show the importance of encouraging assessments regarding the physical attributes of these projects for those involved in the projects reflect on the limitations and demands of environments collective condominiums. KEYWORDS: Condominium horizontal. Collective environment. Environment-behavior relationship.
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Esquema da pesquisa 20 Figura 2: Mapas comportamentais de ruas nas conformidades de um condomínio horizontal
27
Figura 3: Welwyn Garden City (cidade jardim)
30
Figura 4: Publicidade de Welwyn
30
Figura 5: Llewllyn Park
30
Figura 6: Folder de um condomínio horizontal no bairro Portal do Sol - João Pessoa
35
Figura 7: Folder de um condomínio horizontal no bairro Portal do Sol - João Pessoa
36
Figura 8: Esquema representativo de David Canter
40
Figura 9: Mapa-croqui do Parque Guinle com anotações de observações
42
Figura 10: Mapa comportamental para 11 períodos de observação em uma instituição para idosos
43
Figura 11: Características físicas das vias locais com calçada ideal
47
Figura 12: Quadras curtas e sua rede de usos combinados
48
Figura 13: Mapa de João Pessoa - distribuição dos condomínios horizontais de alto padrão
59
Figura 14: Imagem Quickbird do bairro Portal do Sol com contornos dos condomínios horizontais
61
Figura 15: Condomínios horizontais de alto padrão no litoral sul selecionados para a pesquisa
63
Figura 16: Planta do condomínio A
67
Figura 17: Entorno imediato do condomínio A
68
Figura 18: Forma das vias do condomínio A
69
Figura 19: Via principal do condomínio A
70
Figura 20: Corte da via principal do condomínio A
70
Figura 21: Poste na calçada
71
Figura 22: Jardim ocupando o espaço da calçada
71
10
Figura 23: Áreas de lazer do condomínio A 72 Figura 24: Iluminação noturna no Playground do condomínio A
73
Figura 25: Árvores e arbustos no playground do condomínio A
74
Figura 26: Árvores e arbustos no playground do condomínio A
74
Figura 27: Mapa comportamental do condomínio A
76
Figura 28: Uso do playground em uma tarde de sábado
77
Figura 29: Uso da quadra poliesportiva em uma tarde de sábado
78
Figura 30: Planta do condomínio B
80
Figura 31: Entorno imediato do condomínio B
81
Figura 32: Forma das vias do condomínio B
82
Figura 33: Caminhos para circulação de pedestres usados como extensão da casa no condomínio B
83
Figura 34: Via principal do condomínio B
83
Figura 35: Corte da via principal do condomínio B
84
Figura 36: Áreas remanescentes do condomínio B
85
Figura 37: Áreas de lazer do condomínio B
86
Figura 38: Seqüência de fotos mostrando a iluminação insuficiente no playground do condomínio B
87
Figura 39: Área esportiva mostrando a calçada da quadra de tênis
88
Figura 40: Área esportiva mostrando mini campo de futebol implantado no limite do muro
88
Figura 41: Salão de festa do condomínio B
89
Figura 42: Estabelecimentos comerciais do condomínio B
89
Figura 43: Rampas de acesso aos estabelecimentos comerciais do condomínio B
90
Figura 44: Salas da academia no condomínio B
90
Figura 45: Mapa comportamental do condomínio B
92
Figura 46: Uso da quadra de tênis em uma tarde de sexta-feira
94
Figura 47: Localização da área de lazer menos utilizado do condomínio B
94
11
Figura 48: Piscinas, jardins e alto padrão construtivo das residências nos diferentes períodos de implantação é característica marcante dos dois condomínios
95
Figura 49: Portarias dos condomínios A e B
95
Figura 50: Vias com muros e sem vegetação, os muros estreitam os espaços
96
Figura 51: A vegetação amplia psicologicamente os espaços
97
Figura 52: Motivos apontados para escolha do condomínio A
116
Figura 53: Motivos apontados para escolha do condomínio B
116
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Comparação entre loteamento enquadrado na Lei de Parcelamento do Solo (loteamento aberto), loteamento fechado e condomínio horizontal
24
Quadro 2: Principais motivos que influenciam na escolha por condomínios
33
Quadro 3: Síntese dos atributos considerados
45
Quadro 4: Roteiro de perguntas e objetivos
57
Quadro 5: Condomínios horizontais, significados interpretados pela autora dos nomes dos condomínios horizontais, data de aprovação na Prefeitura, localização dos condomínios horizontais direcionados à população de alta renda no município de João Pessoa
62
Quadro 6: Freqüência de uso dos ambientes coletivos e atividades relatadas por alguns respondentes
101
Quadro 7: Freqüência de uso das crianças e atividades relatadas
102
Quadro 8: Freqüência para aspectos a serem adaptados no condomínio A
108
Quadro 9: Freqüência para aspectos a serem adaptados no condomínio B
109
Quadro 10: Categorias de respostas para a pergunta: Porque você considera importante ter áreas de lazer no condomínio horizontal?
112
Quadro 11: Síntese das sugestões para os ambiente coletivos dos condomínios A e B
119
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Cronograma das observações comportamentais sistemáticas 53 Tabela 2: Características gerais do condomínio A
66
12
Tabela 3: Quantidade de usuários observados em 10 dias de observação no condomínio A
75
Tabela 4: Características gerais do condomínio B
79
Tabela 5: Quantidade de usuários observados em 10 dias de observação no condomínio B
91
Tabela 6: Números de questionários respondidos por condomínio e por sexo
98
Tabela 7: Questionários respondidos por faixa etária
99
Tabela 8: Tempo de moradia dos respondentes
99
Tabela 9: Número de crianças que residem com os respondentes
100
Tabela 10: Freqüência das características que facilitam a utilização dos ambientes coletivos
104
Tabela 11: Freqüência das características que dificultam a utilização dos ambientes coletivos
106
Tabela 12: Freqüência para importância da presença de áreas de lazer no condomínio horizontal
111
Tabela 13: Freqüência dos aspectos relacionados à importância dos ambientes coletivos condominiais
113
Tabela 14: Freqüência para aspectos a serem melhorados no condomínio A
114
Tabela 15: Freqüência para aspectos a serem melhorados no condomínio B
114
Tabela 16: Freqüência da utilização de áreas de lazer fora do condomínio
115
Tabela 17: Freqüência das áreas de lazer fora do condomínio utilizadas pelos moradores
115
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
PB - Paraíba
NBR - Norma Brasileira
APO - Avaliação Pós-Ocupação
CEP - Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
SISNEP - Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa
CNS - Conselho Nacional de Saúde
13
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 16
CAPÍTULO 2: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CONDOMÍNIOS
HORIZONTAIS
22
2.1 O que vem a ser condomínio horizontal?
22
2.2 Características dos condomínios horizontais 25
2.2.1 Ambientes coletivos 25
2.2.2 Muros 26
2.2.3 Tipos de condomínios horizontais 28
2.3 Origem dos condomínios horizontais, crescimento dessa
tipologia habitacional no Brasil e influência da publicidade
29
CAPÍTULO 3: CONDICIONANTES PARA ADEQUAÇÃO DOS
AMBIENTES
37
3.1 Adequação
37
3.2 Estudos da relação ambiente-comportamento 39
3.3 Atributos físicos que influenciam na adequação
de ambientes coletivos
44
3.3.1 Acessibilidade 45
3.3.1.1 Acessibilidade física 46
3.3.1.2 Acessibilidade visual 48
3.3.2 Equipamentos de lazer 49
3.3.3 Estética 50
CAPÍTULO 4: DETALHAMENTO DOS PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS PARA OS ESTUDOS DE CASO
52
4.1 Contato com a administração dos condomínios
52
4.2 Observações dos traços físicos 52
14
4.3 Observações dos comportamentos 53
4.4 Questionário 54
4.5 Definição dos casos a serem analisados 58
4.5.1 Os condomínios horizontais na cidade de João Pessoa 58
4.5.2 Condomínios selecionados para avaliação 63
CAPÍTULO 5: AVALIAÇÃO DA ADEQUAÇÃO DOS AMBIENTES
COLETIVOS EM CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS NA CIDADE DE JOÃO
PESSOA - PB
65
5.1 O Condomínio A
66
5.1.1 Espaço físico 66
5.1.1.1 Características gerais 66
5.1.1.2 Características do entorno imediato 68
5.1.1.3 Vias de circulação 69
5.1.1.4 Áreas de lazer 72
5.1.2 Análise do uso 75
5.2 O Condomínio B 79
5.2.1 Espaço físico 79
5.2.1.1 Características gerais 79
5.2.1.2 Características do entorno imediato 81
5.2.1.3 Vias de circulação 82
5.2.1.4 Áreas de lazer 86
5.2.2 Análise do Uso 91
5.3 Análise das semelhanças e diferenças 94
5.4 Percepção dos moradores 98
5.4.1 Utilização e atividades nos ambientes coletivos 101
5.4.2 A relação do uso com as características dos ambientes coletivos 104
5.4.2.1 Características que favorecem a utilização dos ambientes
coletivos
104
5.4.2.1 Características que dificultam a utilização dos ambientes
coletivos
106
5.4.3 Necessidade e dificuldades percebidas nos ambientes coletivos 108
5.4.4 Importância atribuída aos ambientes coletivos 111
15
CAPÍTULO 6: CONSIDERAÇÕES FINAIS 117
REFERÊNCIAS
122
ANEXO
131
Certidão do Comitê de Ética em Pesquisa da UFPB 132
APÊNDICES 133
Apêndice A - Documentos para autorização dos síndicos 133
Apêndice B - Termo de consentimento livre e esclarecido 137
Apêndice C - Quadros resumo elaborados a partir de roteiro de vistoria
nos ambientes coletivos analisados
139
Apêndice D - Questionário aplicado 148
16
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
De acordo com Lynch (1960) e Rheingantz & Fonseca (2009), os arquitetos sabem
pouco da vivência dos ambientes que eles mesmos projetam, ou seja, são poucos os
projetistas que observam e consideram as reais necessidades e relações dos usuários com
os ambientes. Segundo Ornstein (1992) as etapas de planejamento/programação, projeto e
construção estão mais consolidadas no âmbito da arquitetura, urbanismo e engenharia civil
do que as etapas de uso1. Para ela existe falta de normalização e preconceitos por parte dos
próprios agentes produtores que criam barreiras quanto à avaliação, como forma de
autodefesa.
Um tipo de construção que vem se propagando nas cidades brasileiras é o
condomínio horizontal. Os ambientes coletivos, no interior dos condomínios horizontais
destinados a população de alta renda, são apresentados através de ilustrações, fotos e
frases de efeito que vêm incentivando a compra desse tipo de espaço. Caldeira (2000,
p.265) relata sobre a sedução das propagandas imobiliárias e como os anúncios têm
influenciado as pessoas, transformando conceitos e valores: “Os anúncios apresentam a
imagem de ilhas para as quais se podem retornar todos os dias para escapar da cidade e
para encontrar um mundo exclusivo de prazer entre iguais”.
Mas será que os espaços de uso coletivo dos condomínios são adequados ao uso
dos moradores e atendem as expectativas geradas pelas propagandas? Os ambientes
condominiais realmente funcionam adequadamente? As suas características físicas
contribuem para o seu funcionamento? Quais as experiências de uso desses espaços? Os
espaços coletivos condominiais são suficientes para suprimir as necessidades de áreas
coletivas?
Diante dessas questões surge a preocupação em refletir sobre os ambientes
condominiais, na tentativa de contribuir no conhecimento dos atributos físicos e no
funcionamento desses espaços, tanto no que se refere aos aspectos positivos quanto aos
aspectos negativos.
A importância deste trabalho está relacionada à necessidade de avaliação de
desempenho dos condomínios horizontais de alto padrão diante da repetição sucessiva de
1 A etapa de uso é uma fase de longa duração que se inicia quando o ambiente construído e passa a
ter um papel social pleno (ORNSTEIN, 1992)
17
diversos produtos. Para Ornstein (1992) a repetição sucessiva de produtos sem um controle
da qualidade ou avaliações de desempenho pode prejudicar as relações humanas, diminuir
a vida útil do ambiente e reproduzir as mesmas falhas de ambientes em uso em projetos
futuros de produtos semelhantes.
A cidade de João Pessoa teve, nos últimos anos, um acréscimo significativo desse
tipo de empreendimento em sua malha urbana. Esta dissertação analisa dois condomínios
horizontais destinados à população de alto padrão, procurando identificar na utilização dos
ambientes coletivos, os problemas ou qualidades quanto aos atributos físicos que
influenciam no uso desses espaços condominiais.
Trabalhos voltados à análise de desempenho puderam ser analisados para o
desenvolvimento da pesquisa, um exemplo destes trabalhos é a avaliação de desempenho,
dos espaços abertos comuns de conjuntos habitacionais, desenvolvida por Reis e Lay
(2002). Esses autores identificaram através da relação das características físicas e seus
efeitos nos moradores a importância do papel desempenhado por espaços abertos
comunais na promoção da vida em comunidade, influenciando no uso e no nível de
satisfação dos moradores de conjuntos habitacionais. Pesquisas sobre desempenho
voltadas aos condomínios verticais de alto padrão (SAMPAIO, 2009; DUARTE, 2006)
revelaram pouco uso dos ambientes coletivos, confirmaram que os moradores não
consideram essas áreas como principal motivo da escolha para moradia e concluíram que
as áreas de lazer surgem para atender a demanda de mercado e incentivar a venda, mas
com o tempo são desvalorizadas e adaptadas. Os estudos de Becker (2005) e Medvedovski
et al (2004) sobre os condomínios horizontais de alto padrão constataram avaliação de
desempenho positiva, o que revela que os moradores se sentem satisfeitos com a moradia
nesses condomínios mesmo contrariando o baixo uso dos espaços coletivos condominiais.
Caldeira (2000, p.268), ao analisar os condomínios em São Paulo, relata que o
pouco uso das áreas comuns nos condomínios pode estar relacionado à falta de
necessidade desses espaços. A autora afirma que:
Apesar do marketing insistente das numerosas instalações para uso comum, em todos os edifícios e condomínios em que fiz pesquisas seu uso é muito baixo, com exceção dos playgrounds. Talvez isso reflita como os moradores se sentem pouco à vontade com a idéia de partilhar um espaço residencial, uma coisa que os anúncios tentam rebater sugerindo que a sociabilidade seria possível “sem inconveniência” e que a densidade da população é baixa. O pouco uso das áreas comuns poderia também indicar que a presença de todas as instalações – algumas delas bastante luxuosas – é mais uma marca de status do que uma condição necessária para uma vida cotidiana mais gratificante.
18
Para Becker (2005) a necessidade das áreas de lazer de condomínios horizontais é
considerada importante para a satisfação da população residente, contudo Santos (2002
apud Becker, 2005) relata que os ambientes coletivos condominiais são desvalorizados
porque não há prioridade nos projetos ocorrendo uma visível ausência de qualidade espacial
das áreas coletivas. Segundo a autora existem poucas áreas de lazer, geralmente,
localizadas nas proximidades dos muros (em áreas residuais), isso porque há uma
tendência de oferecer o maior número possível de lotes residenciais. Há uma
desvalorização ainda maior desses espaços quando as casas são de grandes dimensões e
possuem áreas de lazer (Tramontano & Santos, 1999).
Da mesma forma, Lopes (2009) destaca que os ambientes coletivos não atendem as
necessidades dos moradores porque esses empreendimentos são projetados segundo as
exigências dos incorporadores que apresentam um programa de necessidades que não se
baseia em pesquisas consistentes. Cooper Marcus & Sarkissian (1986 apud BECKER,
2005) consideram que os aspectos de projeto como acessibilidade, adequação espacial,
aparência, presença de vegetação e mobiliário interferem no uso dos espaços coletivos em
condomínios horizontais.
Diante do exposto, esta pesquisa se baseia na hipótese de que existe relação entre o
uso dos ambientes coletivos em condomínios horizontais e os aspectos de projeto. Acredita-
se que os projetos dos espaços condominiais são definidos de forma a atender mais os
interesses financeiros do que as necessidades dos usuários. Especula-se que os espaços
de uso coletivo dos condomínios não são adequados ao uso dos moradores e não atendem
as expectativas geradas pelas propagandas.
Assim o trabalho tem como objetivo geral analisar os ambientes coletivos de
condomínios horizontais, com ênfase no comportamento e percepção dos moradores, tendo
como base a análise da relação do uso com os atributos físicos (acessibilidade,
equipamentos de lazer e estética). Esse objetivo geral engloba outros objetivos específicos
a serem alcançados e explicitados para o encaminhamento da pesquisa. Dessa forma, são
também objetivos desse trabalho:
Diagnosticar os ambientes coletivos dos condomínios selecionados como estudos
de caso através de observações de traços físicos e da averiguação das atividades;
Verificar a percepção dos moradores quanto à apropriação, às necessidades e à
importância atribuída aos ambientes coletivos analisados;
Indicar propostas de melhorias dos espaços examinados que possam servir para
as discussões e pesquisas de outros condomínios horizontais;
19
Metodologicamente, para atingir os objetivos, inicialmente foi realizada uma pesquisa
bibliográfica com base em livros, teses, dissertações e artigos científicos que constituem a
contribuição de arquitetos, urbanistas, engenheiros civis, paisagistas, jornalistas, psicólogos
e sociólogos (LYNCH, 1981; JACOBS, 2000; LOPES, 2009; REIS & LAY, 2000, 2006;
CALDEIRA, 2000) que se debruçaram sobre temáticas relacionadas ao comportamento
ambiental, aos espaços livres de aglomerados populacionais e aos condomínios horizontais,
entre outros. Essa revisão de literatura foi importante para trazer suportes teóricos à
pesquisa de campo.
No que se refere ao levantamento de arquivos, foram obtidos folders de condomínios
veiculados pelas corretoras imobiliárias da Paraíba. Também foram utilizadas fotos e mapas
obtidos no site da Prefeitura Municipal de João Pessoa. Esse material, juntamente com as
visitas aos condomínios horizontais inaugurados, permitiu reconhecer o discurso da
propaganda imobiliária e possibilitou localizar, mapear e selecionar os condomínios
horizontais de alto padrão na cidade de João Pessoa.
Na pesquisa de campo realizada nos condomínios selecionados para estudos de
caso foram efetuados os seguintes procedimentos:
1. Solicitação de autorização para acesso aos condomínios;
2. Entrevistas com administradores;
3. Avaliação dos documentos da administração;
4. Levantamento fotográfico dos ambientes coletivos;
5. Levantamento físico dos espaços coletivos;
6. Observações de traços físicos e observações de comportamentos com a intenção
de avaliar a intensidade e a forma de uso dos espaços coletivos (vias de circulação e
áreas de lazer);
7. Elaboração de mapas comportamentais;
8. Aplicação de questionário;
Os documentos da administração dos condomínios, o levantamento fotográfico e o
levantamento físico auxiliaram na compreensão das áreas e na identificação das
características físicas dos condomínios. As observações diretas e os mapas
comportamentais elaborados possibilitaram a verificação da forma como os espaços são
usados. Essa etapa da pesquisa caracteriza-se como uma observação feita pelo pesquisador
em relação ao observado. Nessa investigação foram registradas anotações sobre o
caminhar, o sentar, o brincar, e o estar parado em pé. Por sua vez, o questionário permitiu a
20
análise da adequação dos ambientes ao uso segundo as observações das pessoas que
habitam nos condomínios horizontais.
Para melhor explicitar o que foi exposto sobre a metodologia, segue o fluxograma
(Figura 1) contendo a organização dos procedimentos realizados na pesquisa.
Figura 1: Esquema da pesquisa
Assim a dissertação está estruturada em seis capítulos. O primeiro capítulo é
constituído por esta introdução, onde é apresentado o problema a ser avaliado, a justificativa
para se estudar tal problema, as hipóteses consideradas, os objetivos e a metodologia
utilizada.
No segundo capítulo, faz-se uma breve reflexão sobre o condomínio horizontal,
objeto de estudo deste trabalho. Com isso, procurou-se apresentar de forma concisa a
contextualização do conceito de condomínio horizontal e os principais aspectos relacionados
aos ambientes coletivos.
1. COLETA DE DADOS
Pesquisa bibliográfica
Observação dos traços físicos
Observação dos comportamentos
Questionário
Caracterização do objeto de
estudo
Informações acerca da
influência dos atributos físicos na adequação dos espaços
Características físicas e atividades
que o espaço sugere
Uso do espaço segundo as
observações da pesquisadora
Uso do espaço e percepções segundo os
usuários
2. ANÁLISES DOS DADOS
3. RESULTADOS
Mapa comportamental
21
No terceiro capítulo, são abordados conhecimentos relativos ao estudo da relação
ambiente comportamento e à influência dos atributos físicos (acessibilidade, equipamentos
de lazer e estética) na utilização dos espaços.
O quarto capítulo apresenta o percurso metodológico construído na busca de uma
melhor compreensão dos objetos definidos para os estudos de caso.
No quinto capítulo, são apresentados e discutidos os resultados obtidos por
intermédio das observações e da aplicação do questionário. Com isso discorre-se sobre as
impressões dos ambientes coletivos, a partir das observações do pesquisador e da
percepção dos moradores.
Por fim são apresentadas as considerações finais destacando os resultados mais
relevantes da pesquisa, as indicações para melhoria dos espaços examinados, as
conclusões relativas à metodologia utilizada e as orientações para futuras pesquisas.
22
CAPÍTULO 2: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS
O objeto de estudo desta dissertação são os ambientes coletivos de condomínios
horizontais. Este capítulo tem como objetivo trazer informações sobre questões relacionadas
aos condomínios horizontais. Inicialmente apresenta-se a definição do termo condomínio
horizontal levando em conta as definições constantes na legislação, o que permitiu verificar
as diferenças entre condomínio e loteamento, e também possibilitou mostrar que a criação
de ambientes coletivos nos condomínios horizontais se dá num contexto fora de um
enquadramento legal onde o atendimento aos interesses privados na criação desses
espaços se sobrepõe aos interesses estabelecidos pelo Estado. Não cabe aqui o
aprofundamento dessa polêmica, contudo essa abordagem mostrou-se pertinente na
reflexão de que os espaços condominiais são definidos de maneira a atender mais os
interesses financeiros do que as necessidades de uma comunidade. Em seguida são
identificadas características dos condomínios horizontais, trazendo esclarecimentos quanto
aos ambientes coletivos, à segurança e os tipos existentes. Por fim é apresentado um
panorama sobre a origem conceitual e o acelerado crescimento desses condomínios no
Brasil, apontando a influência da argumentação publicitária para a venda deste modelo de
produto imobiliário.
2.1 O que vem a ser condomínio horizontal?
O emprego da expressão “condomínio horizontal” é variado e apresenta problemas
em sua utilização, visto que a questão não está resolvida e continua sendo objeto de
discussão entre os que analisam o assunto. Diante dessa polêmica que envolve a definição
do termo, percebe-se o uso de diferentes denominações e metáforas: condomínios
fechados; condomínios horizontais; loteamentos fechados; condomínios urbanísticos;
condomínios exclusivos; bairros fechados; condomínios especiais; ilhas fortificadas; guetos
verdes; enclaves fortificados2; entre outras.
A palavra condomínio tem origem no latim: “cum” significa conjuntamente e
“dominum” significa domínio, ou seja, uma propriedade conjunta, em que duas ou mais
pessoas são titulares de uma coisa indivisa, concedendo a cada condômino uma parte ou
2 Metáfora usada pela socióloga Tereza Pires Caldeira em seu livro “Cidade de muros: crime
segregação e cidadania em São Paulo” (2000)
23
fração ideal da mesma coisa (PINASSI,1999). Dessa forma o termo condomínio de
edificações constitui, segundo a Lei dos Condomínios3, o direito exercido por pessoas sobre
as dependências de uso comum, onde cada condômino é proprietário de uma unidade
autônoma e co-proprietário das áreas comuns.
A Lei Federal 6.766, de 1979, que dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano,
define loteamento como “a subdivisão da gleba em lotes destinados à edificação, com
abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento,
modificação ou ampliação das vias existentes” (Art. 2°, §1°).
O condomínio horizontal, geralmente, organiza-se da mesma forma que o
loteamento, enquadrado na Lei de Parcelamento do Solo: uma gleba única que será dividida
em várias unidades independentes, alterando o sistema viário existente, porém o
fechamento das vias de circulação, contrariando a Lei de Parcelamento do Uso do Solo,
revela um impasse quanto ao conceito de loteamento fechado.
Mesmo assim, os condomínios horizontais estão sendo implantados para atender os
interesses privados, desconsiderando a Lei 6.766/79. Diante desse debate está em
tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei 3.057, de 2000, prevendo a alteração da
Lei 6.766/79 e a adoção de novos conceitos quanto ao parcelamento do solo, com o
propósito de fixar legalmente o condomínio horizontal como uma alternativa de
parcelamento do solo urbano.
Gomes (1995) afirma que essa imprecisão, ao se definir o termo condomínio
horizontal, ocorre devido à união em uma só propriedade de dois institutos distintos: o
loteamento e o condomínio. Os titulares dos lotes desses condomínios horizontais
organizam-se de acordo com a Lei de Condomínios, fechando o loteamento para viabilizar o
aspecto condominial aos bens de domínio público que passam a ser ambientes coletivos de
uso restrito.
Provavelmente da fusão dos termos “loteamento fechado” e “condomínio” surgiu à
denominação “condomínio fechado”, revelando uma redundância, pois o vocábulo
condomínio já é por sua própria natureza definido como um espaço fechado, de uso
reservado aos condôminos (SOUZA, 2003).
3 No Brasil, a lei básica que regula o condomínio em edificações é a Lei 4.591/1964 – esta lei
especifica o funcionamento, os direitos e deveres dos condôminos, entres outras. Há também as definições do Novo Código Civil Brasileiro (Lei Federal № 10.406/2002)
24
Se o condomínio é definido como sendo o direito de propriedade de duas ou mais
pessoas, então um loteamento para ser um condomínio precisa ser fechado, embora, como
afirma Sobarzo & Sposito (2003) e Honda (2008), nem todos os loteamentos fechados são
condomínios. No Quadro 1 apresenta-se uma comparação entre loteamento aberto,
loteamento fechado e loteamento em sistema condominial de acordo com a interpretação de
Honda (2008).
Quadro 1: Comparação entre loteamento enquadrado na Lei de Parcelamento do Solo (loteamento aberto), loteamento fechado e condomínio horizontal
LOTEAMENTO
ENQUADRADO NA LEI DE PARCELAMENTO
DO SOLO
LOTEAMENTO FECHADO
CONDOMÍNIO HORIZONTAL
SOB A FORMA DE
LOTEAMENTO OU EM LOTE
ÚNICO
ADMINISTRAÇÃO
Prefeitura
Associação de moradores e
poder público
Síndico
INFRA-
ESTRUTURA
Pertence ao poder
público
Pertence ao poder público
Particular
CONTROLE DE
ACESSO
Não. Acesso livre
Sim. Porém não é possível proibir o acesso a estranhos
Sim. Acesso restrito
ÁREAS PÚBLICAS
Vias, praças, áreas institucionais, áreas
verdes
Vias de acesso interno,
áreas institucionais, áreas verdes
Não possui áreas públicas
Fonte: Honda (2008)
Na maioria das pesquisas, os termos loteamento fechado e condomínio horizontal
apresentam-se como sinônimos. Mas como se observa no Quadro 1 alguns autores
entendem que o loteamento fechado é diferente do condomínio, afirmando que o primeiro
tem suas áreas de uso comum sob o poder público e o acesso é inibido, mas não é proibido.
No Brasil, o termo condomínio fechado é o mais presente no cotidiano das pessoas
porque é a expressão utilizada pela promoção imobiliária nos jornais e panfletos publicitários
(LOPES, 2008). Nesta pesquisa, dentre os termos mais comuns, preferiu-se o uso da
expressão condomínio horizontal. A escolha apóia-se na interpretação de Souza (2003)
quando afirma que o termo condomínio fechado é redundante. Além disso, compreende-se
que nem todo condomínio é um loteamento e nem todo loteamento fechado é um
condomínio.
Escolhida a definição a ser adotada, segue a descrição desse tipo de moradia
procurando expor as suas principais características.
25
2.2 Características dos condomínios horizontais
O condomínio horizontal é definido, sobretudo, como um empreendimento destinado
à moradia, ao lazer e à segurança. Para moradia o condomínio oferece lotes para
construção de um conjunto de residências unifamiliares. Quanto ao lazer, o condomínio
horizontal oferece ambientes coletivos e sob o aspecto da segurança estão presentes
muros, cercas, vigilâncias e portarias para restringir o acesso. Trata-se de um conjunto de
residências unifamiliares cercado, geralmente sob a forma de “loteamento”, apresentando
vias de circulação, áreas verdes, áreas de lazer, muros e portarias.
2.2.1 Ambientes coletivos
A escolha do termo ambiente coletivo para a presente pesquisa baseia-se na
interpretação de que quando existem espaços compartilhados, mesmo que o contato seja o
mais simples, se estabelece nesses espaços a ordem do coletivo (MEDVEDOVSKIL et al,
2004).
Os condomínios horizontais produzem espaços internos coletivos semelhantes ao
espaço público, porém o que deveria ser público (a todos) passa a ser coletivo, onde
coletivo é entendido como um público selecionado (DELICATO, 2004). Por isso, o termo
ambiente coletivo foi utilizado nesta pesquisa e em pesquisas que avaliaram o desempenho
dos espaços comuns dos condomínios horizontais (BECKER, 2005; LOPES, 2009;
MEDVEDOVSKI et al, 2004).
Essa alteração dos locais que deveriam ser públicos, segundo o sociólogo Sennet
(1998), é vista como um problema e um desequilíbrio. Ele estudou as mudanças de valores
do público e do privado e afirmou que a idéia de valorização da vida pessoal predomina em
decorrência da cultura capitalista que vem sendo estimulada. Para o referido autor o público,
passou a ser visto, para alguns, como um lugar de desordem e por isso as pessoas
passaram a se proteger em lugares íntimos e distantes, ocasionando o enfraquecimento da
vida pública. Carr et al (1992 apud BASSO, 2001) aponta que essa substituição de locais
abertos para locais fechados criam espaços insuficientes para brincar e socializar,
demonstrando um descuido nas atividades comunitárias.
A idéia do planejamento das atividades comunitárias é prover áreas e equipamentos
para diferentes faixas etárias e grupos sociais. Além disso, devem-se observar as diferentes
26
funções das áreas destinadas a uma coletividade, que podem se desenvolver em atividades
de circulação e em atividades de permanência (convívio social, manifestações culturais,
esporte, contemplação da natureza, entre outros). Sabe-se que as atividades de
permanência e circulação em ambientes coletivos condominiais podem ser destinadas a
pessoas de diferentes faixas etárias, porém são restritas a um número limitado de usuários
que, geralmente, são de uma mesma classe social.
Os ambientes coletivos de condomínios são considerados por Almada (1986) como
“facilidades urbanísticas”, tradicionalmente de responsabilidade do Estado. Para esse autor
esses espaços se assemelham aos ambientes de lazer dos hotéis embora, nestes, as
condições de consumo do espaço habitacional e dos equipamentos coletivos sejam
reguladas juridicamente. Assim como os hotéis, os condomínios são apresentados pela
propaganda como empreendimentos que misturam ingredientes sociais valorizados como:
ecologia, lazer e valorização corporal, acrescentando outros valores como vida comunitária
e segurança.
Na cidade de João Pessoa, observa-se empiricamente que os ambientes coletivos
de condomínios horizontais oferecem os seguintes equipamentos e serviços: salão de
festas, playground e quadra esportiva. Em alguns condomínios existem resquícios de Mata
Atlântica com trilhas para caminhada. É possível encontrar também equipamentos como
academia, campo de futebol, piscina e salão de jogos. Além disso, os condomínios
contratam educadores físicos para prestar serviços na academia e nas quadras esportivas.
A pesquisa buscará informações que possam esclarecer se esses ambientes entre muros
realmente proporcionam uma vida comunitária que valoriza o lazer.
2.2.2 Muros
No que diz respeito à segurança, os condomínios horizontais são definidos por
Caldeira (2000) como áreas muradas com casas independentes em vez de edifícios de
apartamentos, partilhando as mesmas imagens dos conjuntos de apartamentos, com
entradas controladas por sistema de segurança, mas, normalmente ocupam um grande
terreno.
Segundo Maia (2006) elementos como sistema de segurança, exclusividade social e
segregação espacial podem ser encontrados nos loteamentos abertos, porém os muros dos
condomínios horizontais constituem uma característica fundamental que diferencia os
27
espaços internos dos condomínios dos espaços de loteamentos comuns, isso porque os
muros dos condomínios desativam o livre acesso. A autora afirma que com a construção
dos muros “as pessoas comuns já não podem transitar por suas ruas, se é que podemos
ainda denominar esses espaços de ruas” (MAIA, 2006, p. 164)
De acordo com Becker (2005) os muros de condomínios horizontais contribuem para
a insegurança do espaço público adjacente por causa da falta de permeabilidade visual e
funcional. As ruas nas proximidades dos condomínios horizontais caracterizam-se por pouco
movimento de pessoas. A autora verificou, através de observações de comportamento, a
intensidade e o tipo de uso das ruas nas conformidades de condomínios horizontais e
concluiu que os muros dos condomínios horizontais desfavorecem o uso do espaço em sua
volta, ao verificar que quanto mais a rua é desprovida de conexões funcionais e visuais mais
elas são evitadas.
Legenda figuras: cor vermelha – sexo feminino; cor azul – sexo masculino; cor marrom – cachorros; figuras
vazias – atividades funcionais; figuras cheiras – atividades socialização e/ou lazer; triângulos – adultos e idosos; círculos – crianças; quadrados – atividade de trabalho; quadrados azuis com s – seguranças; verde – telefone público.
Legenda edificações: cinza – uso residencial; azul – serviços; amarelo – comércio; laranja – guarita de
segurança.
Figura 2: Mapas comportamentais de ruas nas conformidades de um condomínio horizontal
Fonte: Becker (2005, p. 181)
Netto (2006) também denuncia que os muros dos condomínios contribuem para
esvaziar as ruas no entorno imediato. Ele afirma que seguros dentro de áreas privadas, as
pessoas experimentam o medo e a tensão da chegada às residências.
Jacobs (2000, p. 36) critica as áreas muradas ao escrever sobre o uso das calçadas
nas cidades. Ela diz que: “é inútil tentar esquivar-se da questão da insegurança urbana
tentando tornar mais seguros outros elementos da localidade, como pátios internos ou áreas
de recreação cercadas”. Para ela as ruas da cidade devem lidar com desconhecidos, já que
é por elas que eles transitam, além disso, ninguém pode passar a vida numa redoma, todos
necessitam usar as ruas.
28
Diante dos argumentos dos autores é possível dizer que os muros dos condomínios
horizontais, contrariando a publicidade, podem também representar insegurança para os
moradores na chegada ao condomínio e para as pessoas que precisem circular no seu
entorno. Além da insegurança, os muros funcionam como barreiras para a circulação, na
medida em que não possibilitam os deslocamentos de outras pessoas.
Se por um lado os trabalhos que abordam a questão dos muros em condomínios
focam nos impactos causados no espaço público, o presente estudo pretende verificar as
implicações que ambientes coletivos murados causam nos usos desses ambientes
interiorizados.
2.2.3 Tipos de condomínios horizontais
Quanto aos tipos de condomínios horizontais pode-se dizer que eles são de
diferentes modelos, escalas e padrão. Podem ser de uso residencial, comercial ou para fins-
de-semana e férias, estar localizado em área urbana ou periférica. Podem ser de pequeno,
médio ou grande porte e, quanto ao padrão, podem ser construídos para as diferentes
classes sociais (ALMADA, 1986; BECKER, 2005).
Os condomínios horizontais de uso residencial são os mais presentes nas cidades
brasileiras (BHERING et al, apud BECKER, 2005). Contudo a denominação condomínio
inclui diversos objetos arquitetônicos, de uso comercial e/ou residencial, seja na forma
horizontal, na forma vertical (edifício de apartamentos) ou na forma mista (vertical e
horizontal).
De acordo com Tramontano & Santos (2002), os condomínios horizontais
experimentam variações conforme o padrão e a escala. Segundo eles, a qualidade técnico-
construtiva e espacial depende, em sua maioria, do poder aquisitivo dos proprietários alvos
(freqüentemente classe média e alta). Os autores também afirmam que o poder aquisitivo
dos moradores define os programas funcionais das áreas de lazer. Os espaços para
moradia também variam conforme a renda dos moradores, casas isoladas no lote para os
condomínios de alto padrão e os sobradinhos geminados para os de baixo padrão.
Consideram-se, neste trabalho, que condomínios horizontais de alto padrão são
aqueles que possuem moradias isoladas com qualidade construtiva.
29
2.3 Origem dos condomínios horizontais, crescimento dessa tipologia
habitacional no Brasil e influência da publicidade
Provavelmente, os primeiros conceitos sobre condomínios horizontais são
provenientes das utopias urbanísticas. De acordo com Benevolo (2006), os utopistas do
século XIX, diante da cidade industrial, buscaram as chamadas “cidades ideais”; com a
fantasia de construir “ilhas de ordem”, harmoniosas e tranqüilas em meio aos problemas
urbanos. Para materializar essa idéia, na segunda década de século XIX, Robert Owen4
elabora um modelo de vida em comum - uma cidadezinha destinada a uma comunidade
restrita, que trabalhe coletivamente no campo e na oficina, e que seja auto-suficiente,
possuindo dentro da cidade todos os serviços necessários. Portanto os conceitos de
exclusividade, coletividade, auto-suficiência, beleza e organização, que são utilizados hoje
pelos promotores dos condomínios horizontais, podem ser percebidas nas idéias socialistas
para as comunidades de Robert Owen, nos “falanstérios”5 (phalanstères) de Charles Fourier
e na “Icaria”6 de Etienne Cabet.
Baseada nas idéias utopistas do início do século XIX as cidades-jardim7 de Ebenezer
Howard (1850 -1928) também empregam outro conceito bastante utilizado pelos
condomínios horizontais: o conceito da casa unifamiliar no verde, enfatizando mais a
privacidade do que as relações sociais (BENEVOLO, 2006).
Hall (2007) e Benevolo (2006) ao escreverem sobre as cidades-jardim relatam
algumas características que nos remetem aos condomínios horizontais residenciais:
combinação entre cidade e campo; grandes áreas verdes; iniciativa privada; propriedade
comunal da terra; baixa densidade; ruas sem tráfego de automóveis; regulamentação;
proibição de abrir casas comerciais em locais residenciais; controle da criação de animais
domésticos; uniformidade das construções e na distribuição do verde; entre outras. A seguir
4 Robert Owen foi um reformista utópico. Seus planos não obtiveram o sucesso almejado quando
colocados em prática. A cidadezinha descrita não obteve sucesso como comunidade auto-suficiente e tornou-se um centro de serviços (BENEVOLO,2006). 5 Os falanstérios são edifícios coletivos servidos por instalações centralizadas, onde os velhos seriam
alojados no térreo, as crianças no mezanino e os adultos nos andares superiores. A realização do falanstério é tentada em vários países, mas sem sucesso. (BENEVOLO,2006, p. 178). 6 Em 1847, Cabet faz um anuncio para a venda de terreno com as seguintes palavras: “Vamos para
Icaria”. A idéia dele foi um grande refeitório circundado por casas em meio a um grande bosque com gramas e flores. Colocada em prática a Icaria foi com o tempo sendo transformada em uma aldeia rural (BENEVOLO,2006, p. 180). 7 Segundo Benevolo (2006) o termo cidade-jardim (garden city) deve ser compreendido como um
bairro satélite de uma cidade, dotado de um relacionamento favorável entre edifícios e áreas verdes.
30
tem-se imagens da Welwyn Garden City, a segunda cidade Jardim de Howard (figuras 3 e
4), onde podem-se observar áreas verdes, ruas sem tráfego de automóveis e uniformidade
nas construções.
Figura 3: Welwyn Garden City (cidade jardim) Figura 4: Publicidade de Welwyn
Fonte: Hall (2007) Fonte: Hall (2007)
Quanto às primeiras iniciativas dos condomínios residenciais horizontais, como hoje
o entendemos, pode-se afirmar que não se caracterizam como um dado recente na história.
As citações aos primeiros condomínios horizontais remontam ao século XIX. Rybcszski
(1996, p.165 apud Sposito et al, 2006, p.176) faz referência à Llewllyn Park, em Nova
Jersey, cuja implantação se iniciou no ano de 1853, como um empreendimento em que “[...]
inclusive a reserva natural e as ruas eram consideradas propriedades particular, sendo
proibido o acesso, controlado por uma cerca rodeando a área e um portão de entrada”. Para
visualizar esse condomínio construído no século XIX, segue abaixo uma imagem mostrando
a área de acesso ao mesmo.
Figura 5: Llewllyn Park
Fonte: http://www.llewellynpark.com
Ainda no século XIX, surgem nos Estados Unidos as chamadas “gated communities”,
conjunto de residências padronizadas com grandes áreas de lazer para os ricos, localizadas
31
nas periferias ou subúrbios das cidades norte-americanas. Goldberg (2008, p.47 e 48 apud
Honda) relata que:
[...] gated communities surgiram no final do século XIX para atender à demanda por moradia da camada de renda mais alta da população, como o New York Tuxedo Park e as ruas privadas de St. Louis, [...]. Já na década de 1960, estes empreendimentos ficaram mais comuns, mas ainda eram destinados ao público de alta renda. Somente na década de 70, surgiram os primeiros nichos de mercado, como por exemplo: destinados ao público sênior ou aposentados; empreendimentos com maiores amenidades, alguns com resorts e clubes de campo. Na década de 80, o aquecimento do mercado de real estate e o crescimento da criminalidade nos centros urbanos induziram a proliferação das gated communities também para a classe média.
De maneira geral, os condomínios horizontais fazem parte da história dos norte-
americanos assim como de outros países. Os estudos sobre condomínio horizontal em suas
diferentes denominações no mundo (gated communities nos EUA, barrios cerrados ou
countries na Argentina, Résidences Privées na França, condomínios fechados no Brasil)
revela-o como uma tendência mundial. Segundo Secchi (2009) as comunidades fechadas
podem ser encontradas em qualquer parte do mundo, tanto na América como na Europa
como na China, no mundo árabe, na África, etc. Contudo essa tipologia habitacional no
Brasil possui algumas diferenças das regras estabelecidas nos Estados Unidos. As casas
dos condomínios horizontais brasileiros são construídas pelos próprios proprietários e não
pelos incorporadores, diferentemente das “gated communities” que possuem casas
padronizadas, plantas e fachadas idênticas. Outra peculiaridade dos condomínios
horizontais fora do EUA é a não referência, em suas denominações, da idéia de comunidade
(CALDEIRA, 2000).
No Brasil, os condomínios horizontais começaram a aparecer, sobretudo, na periferia
das cidades, com os chamados “condomínios de férias” nas praias ou no campo (LOPES,
2008). O objetivo era dividir os custos e afastar-se da agitação urbana nos fins de semana e
nas férias. Mas, ao longo do tempo, o condomínio horizontal foi tratado e oferecido como
uma “solução para a violência”, passando a ser opção de residência permanente e se
inserindo também em áreas próximas dos centros da cidade.
Almada (1986) também relata sobre os condomínios de férias afirmando que os
projetos dos primeiros clubes sócio-esportivos instalados, em 1960, na orla marítima do Rio
de Janeiro passaram, com o tempo, de clubes com habitações para habitações com clubes.
Na época, as pessoas interessadas em ocupar a área para legalizar suas residências de
lazer instituíam clubes com equipamentos esportivos e recreativos, cabanas, bangalôs e/ou
apartamentos para os sócios.
32
Porém o crescimento dos condomínios horizontais, como opção de habitação no
Brasil, acontece a partir da implantação do empreendimento Alphaville, em 19748, nos
arredores do município de São Paulo. O nome Alphaville é uma citação do filme homônimo
de Jean-Luc Godard. A Alphaville de Godard é uma comunidade dominada por um
computador, que controlava todos os acontecimentos e toda liberdade de expressão de
seus habitantes (TEXEIRA, 2002).
De acordo com Texeira (2002), a companhia americana Alphaville conduziu a
fórmula para Campinas em 1997; para Belo Horizonte em 1998; para Curitiba em 2000; para
Goiânia, Salvador, etc. Hoje o grupo Alphaville Urbanismo possui empreendimentos
espalhados em todas as regiões do país, incluindo a Paraíba.
Segundo Caldeira (2000, p.260):
Viver em edifícios com várias famílias, compartilhando o uso quanto a propriedade de áreas comuns, não é uma experiência nova para a classe média brasileira. Os condomínios existem desde 1928 em São Paulo. Embora tenha levado um bom tempo para perderem o estigma de cortiço e se tornarem populares entre a classe média, os apartamentos se generalizam a partir dos anos 70, dadas as mudanças nos financiamentos e o boom de construções que se seguiu. Vários elementos, no entanto, diferenciam os apartamentos da década de 70 dos condomínios fechados dos anos 80 e 90. Apesar do antigo tipo de apartamento continuar a ser construido e ter expandido seu mercado até para as camadas trabalhadoras, os empreendimentos mais sofisticados e caros são de um outro tipo.
Percebe-se que a habitação coletiva, sob a forma de condomínios verticais ou
conjuntos habitacionais não murados, atendia a população de baixa renda e com o tempo
adquiriu uma nova visão: a de condomínio de luxo transmitindo segurança e status. A autora
afirma que a habitação coletiva para a população de alta renda passou a ser constante em
São Paulo, nos anos 80 e 90. Segundo Velho (2002), o condomínio vertical continua sendo
a tipologia de condomínio residencial mais executada porque se adapta mais facilmente ao
tecido urbano e ocupa uma área menor, favorecendo o maior aproveitamento do terreno.
Porém o condomínio horizontal no Brasil tornou-se também um tipo de moradia muito
procurado.
Becker (2005, p.19) elaborou um quadro com os principais motivos que influenciam a
escolha por condomínios como local de moradia (Quadro 2). De acordo com esse quadro o
8 Os primeiros condomínios horizontais, no Brasil, foram implantados antes da aprovação da Lei de
Parcelamento do Solo 6.766/79.
33
principal motivo que levam as pessoas a morar em condomínios horizontais refere-se à
segurança. Contudo existem outros fatores que podem ser considerados na influência da
escolha por condomínios horizontais, entre eles: a privacidade; os espaços coletivos; o
status; a homogeneidade e os serviços de manutenção.
Quadro 2: Principais motivos que influenciam na escolha por condomínios
LOCALIDADE - CONDOMÍNIO - AUTOR PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES
Brasil - São Paulo/ SP (Alphaville) - megacondomínio - Carvalho et al. (1997)
Segurança, privacidade, aparência, melhor qualidade de vida, gerenciamento privado.
Brasil – Barra da Tijuca/ SP – condomínios mistos - megacondomínios – Coy e Pöhler (2002)
Segurança, os espaços coletivos privados de lazer e recreação, a existência de serviços de manutenção.
Brasil – Goiânia/ Goiás – 1 condomínio horizontal de uso misto - Moura (2003)
Proximidade do verde, privacidade, segurança, vida em comunidade, ambiente homogêneo, melhor qualidade de vida e prestígio.
Brasil – Goiânia/ Goiás – 4 condomínios horizontais de uso residencial - Brandstetter (2001)
Desejo de morar em casa, privacidade, melhorar o padrão da habitação, segurança.
Brasil - São Paulo/ SP, Roberts, apud Filho (2003) Segurança e status social. Brasil - Arujá/ SP – condomínio Arujazinho I, II, III – megacondomínio - Menegatti (2002)
Segurança, convívio social, lazer, status social.
Brasil - São Paulo/ SP – plantas de condomínios horizontais de uso residencial e anúncios publicitários - Santos (2002)
Segurança, privacidade, espaços coletivos de lazer, proximidade do verde, ambiente homogêneo, qualidade de vida, status social.
México – Cidade do México – 5 condomínios horizontais de uso residencial, classes econômicas diversas (baixa, média, alta) - Giglia (2003)
Segurança, privacidade, ambiente homogêneo, status social, prestígio e estilo de vida, gerenciamento e manutenção própria.
Estados Unidos – São Francisco, Los Angeles, Califórnia, Miami – condomínios horizontais de uso misto – Blakely e Snyder (1997; 1998)
Segurança, privacidade, ambiente homogêneo, espaços coletivos privados, gerenciamento e manutenção própria, senso de comunidade, estilo de vida, prestígio, status social, e, a presença de serviços privados (ex. escolas).
Estados Unidos – Texas e Nova York – 2 condomínios fechados - Low (2004)
Busca por maior segurança, maior privacidade e mais espaço.
Canadá – Grant(2003) Privacidade, estilo de vida, senso de comunidade. Inglaterra – 10 condomínios horizontais de uso residencial – Atkinson e Flint (2003)
Segurança e privacidade, e, ainda, localização, presença de espaços de lazer e serviços privados, status social.
Inglaterra – Londres – condomínio tipo alley-gating e horizontal residencial - Landman (2003)
Busca por maior segurança.
Inglaterra – Sheffield – 1 condomínio de uso misto – Blandy e Lister (2003)
Valor da propriedade – como investimento, segurança, presença de espaços coletivos privados de lazer, presença de serviços e comércio, ambiente homogêneo e senso de comunidade.
Inglaterra – Londres – Castell, apud Blandy, et al (2003)
Segurança, serviços e espaços privados coletivos.
França – Região de Leon, Paris – Charmes (2003) Privacidade e segurança. Turquia – Ankara – 1 condomínio vertical de uso residencial - Dundar (2003)
Segurança, ambiente homogêneo, serviços existentes no interior, prestígio, status.
África do Sul – Johannesburg – 2 condomínios horizontais de uso residencial – Jürgens e Gnad(2002)
Segurança, localização, aparência (luxo), privacidade, espaços comuns de lazer e redução da manutenção dos custos.
Arábia Saudita – cidades do Líbano e Riyadh – condomínios horizontais de uso residencial – Glasze e Alkhayyal (2002)
Segurança, espaços coletivos privados de lazer, privacidade, ambiente homogêneo, estilo de vida, gerenciamento e administração privada, status, e com mentos expressão, senso de comunidade.
China – Nanjing e Shanghai – condomínios horizontais de uso misto - Wu (2003)
Serviços existentes no interior, prestígio, status, qualidade das casas.
Fonte: Becker (2005, p.19)
Percebe-se que os condomínios horizontais estão num período de expansão, porém
é importante ressaltar que a sua existência é percebida a mais de um século, quando a
segurança não era a principal preocupação da cidade. De acordo com Caldeira (2000,
p.261) “o enclausuramento foi uma estratégia imobiliária e de marketing”. Portanto acredita-
se que o crescimento dos condomínios horizontais em diversas cidades pode ser atribuído à
34
força da publicidade, na medida em que influenciam os compradores com divulgações que
valorizam a qualidade desse empreendimento.
Loureiro & Amorim (2005) analisaram as peças promocionais de condomínios em
Recife e verificaram essa influência da publicidade, através de argumentos referentes à
localização, denominação e características arquitetônicas, formais ou programáticas que
são veiculadas de forma distorcida. Quanto à localização os anúncios analisados pelos
autores ressaltam as qualidades da vizinhança (paisagismo, proximidade da praia e
diversidade de usos), muitas vezes, com informações diferentes da realidade. A
denominação dos empreendimentos remete ao status e diferenciação social. As
características do condomínio revelam grande quantidade de serviços e instalações
coletivas e as características arquitetônicas são apresentadas como o sonho de moradia e o
sinônimo de progresso. Para os autores as campanhas publicitárias são instrumentos
poderosos que fortalecem o mercado imobiliário com fundamentos baseados nas
expectativas em torno do morar e de um estilo de vida.
Neste sentido, é possível verificar nos folders publicitários dos condomínios
horizontais da cidade de João Pessoa que as informações sobre a localização enfatizam a
valorização do imóvel com frases do tipo: “lotes na área de maior valorização imobiliária da
Paraíba”, “um bairro que cresce sem parar” e “localização perfeita para quem quer estar
próximo da natureza, das margens nobres do Atlântico, ao lado do Cabo Branco”.
Outro artifício utilizado nas propagandas dos condomínios da cidade de João Pessoa
são as imagens. Elas mostram a localização apresentando a proximidade a áreas
valorizadas como a praia e o logotipo que identifica o condomínio. As imagens destacam
também as pessoas se divertindo e se exercitando em áreas com vista para vegetação.
Contudo as maquetes divulgadas são em perspectivas o que pode dificultar a verificação da
proporção dos espaços. Nos anúncios, não é constante a presença de plantas baixas das
edificações coletivas, sendo encontrado apenas um folder (figura 7) com planta baixa de
edificação contendo salão de festas, cozinha, salão de jogos, sala de ginástica, sauna e
banheiros. Essa planta baixa permite perceber que o espaço da sala de ginástica não se
equipara as academias para atividades de musculação, pois oferece espaço reduzido para
máquinas.
Os empreendimentos lançados em 2010 utilizam do argumento sobre o sucesso da
execução e das vendas para promover a empresa e os condomínios da capital Paraíba. O
Alphaville em João pessoa teve vendas e entrega antecipada e fez o seguinte anúncio: “É
ótimo quando o que você espera ansiosamente é entregue assim: antes e melhor do que o
35
previsto”. A empresa Capuche, com sede em Natal-RN, vem investindo na Paraíba e após
execução de um condomínio faz a propaganda de outro condomínio com as seguintes
palavras: “Você escolhe: um já é um enorme sucesso, outro está a caminho dele”; “Seja
qual for a sua, será uma ótima escolha”.
Em seguida são apresentados imagens de folders de condomínio horizontal
localizado na cidade de João Pessoa (figuras 6 e 7).
Figura 6: Folder de um condomínio horizontal no bairro Portal do Sol – João Pessoa /PB
36
Figura 7: Folder de um condomínio horizontal no bairro Portal do Sol – João Pessoa /PB
37
CAPÍTULO 3: CONDICIONANTES PARA ADEQUAÇÃO DOS AMBIENTES
Apresentado o contexto sobre os condomínios horizontais, nas páginas seguintes
serão tratados os fundamentos sobre o pressuposto dessa pesquisa: os atributos físicos
definidos no projeto dos condomínios horizontais influenciam na adequação/ inadequação
de seus ambientes coletivos.
Nesse sentido, este capítulo apresenta: a definição do termo adequação, dimensão
de desempenho considerada nesta dissertação; informações acerca dos estudos da relação
ambiente-comportamento que apresenta referencial teórico para compreender a relação das
pessoas com os ambientes e os atributos físicos considerados para avaliação da adequação
de ambientes coletivos;
3.1 Adequação
A adequação é a correspondência entre o local e o comportamento dos usuários; é a
capacidade da forma e dos espaços apoiarem ações, comportamentos e atividades sociais.
Adequação é a situação em que a forma e a capacidade dos ambientes, canais e
equipamentos correspondem ao padrão e às ações em que as pessoas normalmente se
envolvem, ou desejam envolver-se, ou seja, a adequabilidade dos cenários
comportamentais, incluindo sua adaptabilidade a ações futura. A adequação representa uma
dimensão básica que está relacionada ao padrão do espaço e como ele corresponde ao
comportamento do cotidiano dos seus usuários (LYNCH, 1981).
Lynch (1981, p.117) sistematizou cinco dimensões genéricas e necessárias para a
execução de bons aglomerados populacionais: a vitalidade; o sentido; a adequação; o
acesso e o controlo. Ele é pioneiro na proposição de teorias para análise de aglomerados
populacionais.
A medida da adequação é o nível de congruência entre o comportamento diário e
intencional e o ambiente espacial. A adequação pode ser alcançada com a modificação do
local, do comportamento ou de ambos (LYNCH, 1981). Lerup (1972 apud Del Rio, 1990)
afirma que a adequação do espaço ao comportamento é um instrumento de medição do
desempenho de um ambiente. Desempenho, por sua vez, é uma propriedade que
caracteriza quantitativamente o comportamento de um produto em uso (ORNSTEIN, 1992).
38
O termo adequação também possui relação com conceitos como: conforto;
satisfação; eficácia; bom funcionamento que variam de acordo com as expectativas. Um
local adequado a sua função deixa óbvio o seu sentido de competência, a capacidade de
fazer algo bem, de ser adequado ou suficiente (LYNCH, 1981).
Lynch (1960) sugere duas formas para se avaliar a adequação:
Observar a ação das pessoas no local;
Fazer perguntas aos usuários;
Para Günther (2008) são três as formas de compreender o comportamento humano:
observação; experimento e survey. A primeira consiste em observar o comportamento que
ocorre naturalmente, a segunda cria situações e observa o comportamento ante tarefas
definidas para essas situações e a terceira faz perguntas às pessoas sobre o que fazem e
pensam.
A observação de comportamento pode ser direta, ou seja, registrada na hora das
ocorrências ou pode ser indireta feitas depois, identificando as pistas da ocorrência
(WHYTE, 1980). As interpretações realizadas na observação do espaço podem ser
documentadas através de mapas comportamentais e podem também ser documentados
através de vídeos ou fotografias (PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008; DEL RIO, 1990).
Segundo Zeisel (1981 apud ALCANTARA, 2002) a observação no ambiente físico,
externo ou interno, permite gerar dados sobre as atividades, as relações, as regularidades
de conduta, usos esperados, maus usos, oportunidades e limitações comportamentais que o
ambiente proporciona.
Quanto à importância do questionário, Lynch (1981, p. 53) afirma que: “os atos e os
pensamentos dos seres humanos são o terreno final onde se pode julgar a qualidade”, uma
vez que a observação do pesquisador poderá não perceber as dificuldades daqueles que
lidam com elas. Porém as entrevistas e os questionários, muitas vezes, não fornecem
informações confiáveis, pois muito do que as pessoas fazem em seu cotidiano passa
despercebido por elas, além de sofrer a influência do que elas gostariam de fazer
(PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008).
Duarte et al (2005) afirma que o espaço transmite mais informações sobre seus
usuários do que se poderia descobrir por meio de entrevistas e questionários. Mas as
mensagens impressas precisam de “intérprete” para serem desvendadas e os
pesquisadores com formação em arquitetura são aptos para essa tarefa de “tradução”.
39
Na seqüência, apresentam-se mais informações sobre os estudos da relação
ambiente-comportamento, que auxiliarão a compreender como essa área de conhecimento
pode colaborar na identificação dos atributos que influenciam na adequação dos ambientes.
3.2 Estudos da relação ambiente-comportamento9
Del Rio (1990) dividiu as categorias de análises dos espaços em:
Morfologia urbana;
Análise visual;
Percepção ambiental;
Comportamento ambiental;
Para esse autor a psicologia ambiental integra duas das categorias de análises: a
análise da percepção ambiental e a análise do comportamento ambiental. O objetivo
principal da percepção ambiental é a identificação de imagens públicas e da memória
coletiva, a partir do que os usuários percebem, sendo mais propicia para as pesquisas em
áreas urbanas extensas (DEL RIO, 1990).
O comportamento ambiental analisa os aspectos físicos de cenários de
comportamentos. Segue as definições sobre esta categoria de análise, pois a presente
pesquisa recorreu aos métodos e técnicas empregados neste tipo de estudo para a coleta
de dados.
Ao definir comportamento ambiental, Del Rio (1990) indica que o comportamento e
as ações são influenciados pelo ambiente físico-espacial que nos cerca, ou seja, de acordo
com o seu pensamento, o ambiente sugere, facilita, inibe ou define comportamentos. Lang
(1994) afirma que o entendimento destas relações: ambiente-comportamento e
comportamento-ambiente visa facilitar a construção de espaços mais adequados às
necessidades humanas. Gehl (1987) também declara que o estudo do comportamento
procura captar o espírito do lugar para aproximar o projeto do ambiente mais adequado ao
ser humano.
9 Existem outras denominações para caracterizar esse campo de pesquisa: comportamento ambiental;
comportamento pró-ambiente; projeto do lugar (DEL RIO, 1990; PINHEIRO, 2008; RHEINGANTZ et al, 2009). Essa relação do ambiente com a pessoa é objeto de estudo de profissionais da arquitetura, engenharia civil, desenho industrial, educação ambiental, ergonomia, antropologia, geografia, planejamento urbano, psicologia, sociologia, entre outros (PINHEIRO, 2008).
40
Nesse contexto Canter (1977 apud DEL RIO et al, 2002) sugere um esquema
representativo da formação do “sentido dos lugares”, na confluência das dimensões física,
comportamental e de percepções, entendendo que a qualidade físico-ambiental dos
espaços é gerada na sobreposição de três esferas: os atributos físicos; as atividades e as
concepções. Para melhor entender o que foi descrito segue o esquema representativo de
David Canter (Figura 8).
Figura 8: Esquema representativo de David Canter
Fonte: Del Rio et al (2002)
O esquema teórico de Canter (figura 8) possibilita compreender um espaço pela
inter-relação de três dimensões básicas: a física, a comportamental e a da percepção do
usuário. Para a primeira, contribuem os atributos físicos. Para a segunda, contribuem o
conjunto de atitudes e comportamentos que o lugar possibilita (comportamento dos
usuários). Para a terceira, contribuem os conceitos deste lugar formados na mente ao
processar as duas outras e ao recorrer às lembranças. Assim sendo, esse campo de
investigação tornar-se interesse de arquitetos que buscam comprovar a qualidade de um
lugar.
Quanto aos métodos empregados nos estudos sobre essas interações Gifford (1997
apud Tomasini, 2002) propõe que os pesquisadores podem utilizar de técnicas da ciência
social, a exemplo de observação, entrevistas, questionários, filmagens, mapas cognitivos e
mapas comportamentais. Tratando-se, portanto, de técnicas da Avaliação Pós-Ocupação
(APO).
41
Segundo Ornstein (1992), APO é um conjunto interdisciplinar de métodos e técnicas
para levantamento e análise de dados, podendo obter através da avaliação de fatores
técnicos, construtivos, funcionais e de conforto, econômicos, estéticos e comportamentais
de ambientes em uso diagnósticos de aspectos positivos e negativos, levando em conta o
ponto de vista dos especialistas (avaliadores e projetistas) e dos usuários. O objetivo é
definir recomendações para corrigir problemas detectados no ambiente (programas de
manutenção, alterações comportamentais) e utilizar os resultados das avaliações na
produção e uso de ambientes semelhantes.
Nas avaliações comportamentais de ambientes em uso o mapa comportamental
pode ser utilizado. Essa técnica pode ser suplementada por questionários, entrevistas ou
outros procedimentos que contribuam na compreensão dos motivos porque certos locais
são mais ocupados e outros evitados (PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008).
Esse tipo de mapa pode ser realizado em duas modalidades: centrado no lugar e
centrado na pessoa (PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008). No primeiro o ambiente é
representado de forma a mostrar as áreas e os elementos utilizados pelas pessoas. No
segundo o foco está nas pessoas, nos percursos e no modo de utilização do espaço.
No mapa comportamental centrado no lugar, o ambiente é representado em planta
baixa esquemática, incluindo os elementos que podem implicar nas ações dos usuários
como os degraus, mudança de texturas, assentos, etc. Esse mapa representa o local em
setores de comportamento (PINHEIRO; ELALI; FERNANDES, 2008).
Na presente pesquisa, foi aplicado o mapeamento comportamental centrado no
lugar. A seguir são apresentados exemplos de dois mapas comportamentais centrados no
lugar (Figuras 9 e 10).
42
Figura 9: Mapa-croqui do Parque Guinle com anotações de observações Fonte: Alcantara (2002)
43
Figura 10: Mapa comportamental para 11 períodos de observação em uma instituição para idosos. Fonte: Tomasini (2008)
44
Sommer & Sommer (1997) são autores referencias neste tipo de avaliação, com as
técnicas de observação, mais especificamente os mapas comportamentais provenientes da
observação naturalística do ambiente (Lee, 1977).
Segundo Rheingantz et al (2009) o mapa comportamental, proveniente da
observação, é empregado por pesquisadores da psicologia ambiental e do desenho urbano
para identificar usos, arranjos espaciais, fluxos, relações espaciais, movimentos e
distribuição das pessoas no espaço e no tempo que permanecem. Para esse autor:
A observação do ambiente físico, seja ele externo ou interno, natural ou construído, permite a produção de informações sobre os usos e atividades esperados ou novos, além das relações nele ocorridas; sobre as regularidades de conduta, bem como acerca da influência do ambiente sobre o comportamento dos usuários. (RHEIGANTZ et al, 2009, p. 35)
Os pesquisadores deste campo de conhecimento admitem que ao compreender as
relações entre as pessoas e o ambiente é possível colaborar na resolução de problemas.
Whyte (1988 apud Rheingantz et al, 2009) fez observações direta, filmes ou fotografias de
praças e parques e empregou mapas comportamentais e tabelas para sintetizar os registros.
Ele analisou graficamente os dados sobre as atividades e a vida social dos ambientes
observados e propôs algumas diretrizes básicas para o desenho de áreas públicas urbanas.
3.3 Atributos físicos que influenciam na adequação de ambientes coletivos
Essa pesquisa trata de uma avaliação qualitativa baseada em observações e
questionário aplicado junto aos moradores, abordando questões como: atividades
desenvolvidas; freqüência de uso; motivação dos usuários; necessidades; etc. Contudo,
como a avaliação de desempenho exige conhecimentos sobre os requisitos que atendem as
necessidades dos usuários e visando facilitar a elaboração do questionário, bem como a
discussão dos resultados das observações de traços físicos, foi estabelecido o que se
considerou como atributos físicos essenciais para o uso de espaços coletivos:
Acessibilidade;
Equipamentos de lazer;
Estética;
Acredita-se aqui que os ambientes coletivos são adequados quando possuem:
facilidade de acesso; possibilidade de ter alguma coisa para fazer naquele espaço e boas
áreas de permanência (GEHL,1987). As atividades de lazer exigem condições espaciais que
45
possibilitem as ações e, portanto, para se planejar espaços de lazer é necessário
providenciar áreas que favoreçam as atividades.
Para exemplificar essa definição foi elaborado o Quadro 3 contendo os atributos
considerados, subdivididos nos itens a serem avaliados, e as formas de avaliação utilizadas.
Quadro 3: Síntese dos atributos considerados
ATRIBUTOS CONSIDERADOS O QUE OBSERVAR? COMO OBSERVAR?
ACESSIBILIDADE
Facilidade de acesso
Largura da calçada e uso
Adaptação a pessoas com mobilidade reduzida
Iluminação noturna
Visibilidade às áreas de lazer
Percentual de pessoas inseridas em atividades de lazer
Observação de traços físicos
Levantamento de arquivo
Levantamento físico
Observações comportamentais
Questionário
EQUIPAMENTOS DE LAZER
Possibilidade de ter alguma coisa para fazer no espaço
Disposição e quantidade de mobiliário
Usos das áreas de lazer
ESTÉTICA
Satisfação com o espaço
Manutenção e limpeza
Presença de áreas verdes
3.3.1 Acessibilidade
O acesso é essencial para adequação e adaptação de um espaço, pois acessar um
local é condição inicial para poder usá-lo (ALEX, 2008).
Lynch (1981) define acesso como a capacidade de alcançar espaços e atividades,
recursos, serviços, informações ou locais, incluindo a quantidade e a diversidade dos
elementos que podem ser alcançados. Esse autor classifica o acesso em cinco tipos:
1. Acesso a outras pessoas;
2. Acesso às atividades (educacionais, recreativas, médicas, religiosas, financeiras,
etc.);
3. Acesso aos recursos materiais (alimentos e outros produtos);
4. Acesso a locais (espaços abertos, locais simbólicos, belos ambientes naturais,
etc.);
5. Acesso à informação;
46
Além desses tipos de acesso existem variações no meio de acesso. O acesso físico
é uma coisa, o acesso visual ou auditivo é outro diferente.
CARR (1995 apud ALEX, 2008) classifica o acesso ao espaço em três tipos: físico,
visual e simbólico ou social.
1. O acesso físico visa à facilidade de atingir os destinos desejados através de um
sistema de transportes.
2. O acesso visual ou visibilidade informa aos usuários sobre o local e propicia o
uso.
3. O acesso simbólico ou social refere-se à presença de sinais que sugerem quem
é bem vindo ao lugar. Porteiros e guardas na entrada podem significar ordem e
segurança, mas também impedimento e intimidação.
A seguir detalha-se o entendimento sobre a acessibilidade física e visual.
3.3.1.1 Acessibilidade física
O acesso físico refere-se às condições de travessias e a qualidade dos trajetos. Tem
relação com a ausência de barreiras espaciais ou arquitetônicas (construções, vegetação,
etc.), com as localizações e com as condições de se alcançar o destino desejado.
As vias de circulação são os espaços onde as pessoas realizam seus
deslocamentos. A via compreende a pista, a calçada, o acostamento e o canteiro central.
Para estabelecer condições favoráveis de circulação a NBR 9050 recomenda uma calçada
contínua e livre de obstáculos com 1,50 m de largura. Mascaró (2003) considera que as
características físicas das vias locais devem contemplar largura suficiente para tráfego
restrito de carros e bicicletas e um dimensionamento ideal para as calçadas, com largura de
3,00 m, conforme Figura 11.
47
Figura 11: Características físicas das vias locais com calçada ideal
Fonte: Mascaró (2003)
Diante do exposto, para a avaliação da acessibilidade física considera-se a
quantidade de espaço disponível para realização de deslocamento e a inexistência de
barreiras. Considera-se também que o acesso precisa prever as diversidades necessárias
de pessoas, de lazer e de cenários. Considerando a diversidade e preocupado com a
abundância de ofertas Lynch (1981, p.183 e 184) afirma que:
Um bom ambiente é um local que oferece um acesso óbvio e fácil a uma variedade moderada de pessoas, produtos e cenários, apesar de esta variedade poder ser expandida se uma pessoa desejar despender energia adicional – um mundo explorável, cujas vastas diversidades possam ser procuradas ou ignoradas perfeitamente à vontade.
Para Lynch, a variedade de cenários comportamentais disponíveis significa a
facilidade de o indivíduo encontrar alguém de quem gosta, ou ser mais competente em
certos aspectos, ou seja, melhorar a adequação. Porém à medida que os níveis de opções
continuam a aumentar, as pessoas começam a valorizar o isolamento e o controle do
acesso. Portanto, a capacidade de controlar o acesso também é um valor importante. O
contra argumento é que aumentar o controle pode aumentar os custos e diminuir as
vantagens do contato entre as pessoas.
Jacobs (2000) ao estudar espaços, como as ruas e as calçadas, defende a mistura
de funções e altas densidades de uso em ruas conectadas e acessíveis. A idéia colocada é
que as ruas quando intensamente utilizadas são informalmente vigiadas, permitindo a
sensação de segurança. A autora coloca os princípios de: ocupação densa, uso misto e
continuidade, e esclarece um princípio para o desenho dos espaços livres: o princípio de
que a maioria das quadras deve ser curta, ou seja, as ruas e as oportunidades de virar
esquinas devem ser freqüentes para favorecer o uso das ruas (Figura 12).
48
Figura 12 - Quadras curtas e sua rede de usos combinados
Fonte: Jacobs (2000)
Para Lynch (1981) os bons acessos são um dos dispositivos mais importantes para a
adaptação dos espaços às suas ações. A conexão entre as partes, organizando as
atividades em torno de pontos centrais fixos é uma estratégia colocada pelo autor.
3.3.1.2 Acessibilidade visual
A acessibilidade visual é a qualidade de ter uma visão ampla de um espaço, a partir
de um ponto de vista (HIGUCHI, 1989). Está relacionada com as possibilidades de
visualização e pode ser fruto do layout, dos elementos (iluminação, características
topográficas, etc.), da ausência de barreiras visuais e da proximidade com as rotas de
circulação (SERPA, 2007; ALEX, 2008).
Segundo Serpa (2007) locais escondidos pela vegetação, por exemplo, podem
implicar na segurança e trazer um receio e desconfiança. Por outro lado a visibilidade pode
ser contrária a privacidade, contudo é indiscutível que ver o espaço facilita a entrada e a
locomoção das pessoas neste espaço.
O acesso visual permite a vigilância, o senso de propriedade e territorialidade
tornando os usuários mais responsáveis pelo espaço (LYNCH, 2007; NEWMAN, 1973).
49
3.3.2 Equipamentos de lazer
Para adequar os espaços destinados ao lazer é necessário prover equipamentos e
estimular alternativas criativas para incentivar a utilização. Os equipamentos e mobiliário
adequados devem permitir a execução das diferentes atividades que abrangem os
interesses do lazer.
O lazer é, aqui, entendido como um conjunto de ocupações onde o indivíduo
entrega-se, de forma espontânea e livre de obrigações, para repousar, divertir-se, recrear-se
e desenvolver sua participação social voluntária ou sua capacidade criadora
(DUMAZEDIER, 1976).
Segundo Marcellino (2006) a realização de qualquer atividade de lazer busca a
satisfação de aspirações dos seus praticantes, seja uma satisfação estética, ou uma
satisfação do movimento (exercício físico). Na atividade de contemplação da natureza
predomina o aspecto estético, na atividade esportiva prevalece à satisfação do movimento.
Assim, o lazer pode ser classificado10 em seis conteúdos ou interesses:
1. Interesses artísticos;
2. Interesses intelectuais;
3. Interesses físicos;
4. Interesses manuais;
5. Interesses turísticos;
6. Interesses sociais.
Para Marcellino (2006), os interesses artísticos abrangem: imagem, beleza, emoção
e encantamento. Os interesses intelectuais englobam as informações e a leitura. Os físicos,
os passeios, a pesca, a ginástica e todas as atividades onde predomina o movimento. Os
manuais podem envolver o artesanato e a jardinagem. Os turísticos, o contato com outros
costumes. Por sua vez, os sociais envolvem os relacionamentos, o convívio social, os
contatos face a face.
Considerando os conteúdos do lazer, o ideal seria que cada pessoa praticasse
atividades que envolvessem os distintos grupos de interesses, procurando, exercitar, no
tempo disponível, o corpo, a imaginação, o raciocínio, a habilidade manual, o contato com
os outros costumes e o relacionamento social.
10
Essa classificação também está presente na obra: N.N. FOOTE & L. S. COTTREL, Identity and
interpersonal competerie. A new direction in family research. Chicago. The University of Chicago Press, 1955, 308p.
50
O interesse social é abordado em muitos trabalhos que avaliam a relação ambiente-
comportamento (ALEX, 2008; BECKER, 2005; ELALI, 2002). De acordo com Hultsman et al
(1987) a variedade de equipamentos e uma disposição que estimule o uso e a interação
entre as pessoas garantirão a adequação. Os bancos, por exemplo, se forem retos se
adéquam a utilização de poucas pessoas e permitem a observação de eventos a sua frente
e a conversa entre dois indivíduos. Já os bancos côncavos encorajam o contanto social
entre grupos de pessoas (COOPER & FRANCIS apud MORAES, 1996).
O desenho do espaço pode contribuir quanto aos atributos físicos proporcionando
áreas convidativas.
A praça pretende ser um foco de atividades no coração de alguma área “intensamente” urbana. Tipicamente, ela será pavimentada e definida por edificações de alta densidade e circundada por ruas ou em contato com elas. Ela contém elementos que atraem grupos de pessoas e facilitam encontros: fontes, bancos, abrigos e coisas parecidas. A vegetação pode ou não ser proeminente. (LYNCH, 1987, p.442)
Segundo Cooper & Sarkissian (apud MORAES, 1996) e Jacobs (2000) as calçadas
também devem ser desenhadas de forma a proporcionar espaços comunitários.
A faixa etária é relevante no estudo dos equipamentos de lazer por causa de
questões motivacionais e de mobilidade. Por exemplo, as pessoas com faixa etária mais
avançada praticam pouca atividade esportiva. Dumazedir (1976) verificou que, entre os
interesses físicos, as pessoas idosas praticam mais os passeios e as caminhadas do que os
esportes. Verificou também que as atividades manuais, a leitura e os lazeres sociais são
bastante citados pelas pessoas idosas.
Já os adolescentes costumam fazer atividades esportivas e utilizam as ruas e locais
que tenham oportunidades para grande socialização (SILVA, 2009). As crianças usam
espaços que transmitam a percepção de segurança (LYNCH, 1981).
3.3.3 Estética
A estética é uma das categorias consideradas no código de obras de João Pessoa,
contudo assim como a maioria das normas brasileiras essa abordagem é tratada apenas
para a construção de edificações, desconsiderando os ambientes abertos. Contudo,
segundo Reis & Lay (2006), o aspecto visual, na elaboração de um projeto arquitetônico ou
urbanístico, é considerado nas análises do ambiente porque influencia na qualidade do
51
espaço. Para Gehl (1987) e Lynch (1981) os locais que contêm qualidades visuais são
convidativos e motivam a utilização e permanência.
Neste atributo estão os elementos físicos (morfológicos) que estimulam os sentidos,
sobretudo, as sensações visuais. Dentre os aspectos que contribuem para a estética de
espaços abertos pode-se destacar a vegetação e a manutenção (MONTELLI, 2007). A
vegetação é um dos elementos físicos que contribuem para a boa aparência, e se estiver
sendo aplicada de forma conveniente também proporciona conforto térmico. Katzschner
(2003) verificou nas observações do uso dos espaços livres que a presença de vegetação e
água permite uma alta frequência de uso durante estações e tempos diferentes.
De acordo com Lynch (1981) um espaço monótono, onde suas formas se repetem,
seria pouco estimulante. A presença de diferentes vegetações (árvores e plantas de vários
tamanhos e cores), diferentes perspectivas e outros elementos que garantam um visual
mais rico tendem a chamar mais atenção das pessoas (REIS apud SILVA, 2009).
Os aspectos não físicos como a manutenção e o gerenciamento também tem
relações com a estética, pois a boa conservação dos espaços promove satisfação e cuidado
com o local (LANG, 1994) e os cuidados com a vegetação, com a limpeza, com a iluminação
e com os equipamentos são importantes para a percepção de um espaço atraente
esteticamente (REIS & LAY, 2002).
52
CAPÍTULO 4: DETALHAMENTO DOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
PARA OS ESTUDOS DE CASO
Para alcançar os objetivos propostos foram utilizados métodos e técnicas de coleta
de dados que fazem parte da área de estudos ambiente-comportamento. Assim a
adequação dos espaços coletivos nos condomínios horizontais foi analisada através de:
observações dos traços físicos; observações de comportamentos e questionário. Os
instrumentos utilizados foram fotos, desenhos, anotações de observações, mapas
comportamentais e questionário.
4.1 Contato com a administração do condomínio
O primeiro passo para iniciar a pesquisa de campo foi o contato com os síndicos dos
condomínios avaliados realizado em dezembro de 2010. O objetivo desse encontro foi
coletar informações sobre os condomínios e obter a autorização de acesso (apêndice A)
para a realização dos levantamentos in loco. Foram obtidos também documentos
(desenhos, convenção do condomínio, regimento interno e pesquisas realizadas pela
administração).
Com os consentimentos dos síndicos iniciou-se o levantamento físico e fotográfico
no local. A identificação para os residentes, durante o período de observações e medições,
se deu através do uso de crachá.
4.2 Observações dos traços físicos
As observações dos traços físicos consistem em examinar o espaço físico,
procurando identificar as características físicas e as atividades que o espaço sugere (REIS
& LAY, apud BECKER, 2005). Essas observações foram registradas em mapas, fichas e
fotografias. Os aspectos considerados foram: as condições das calçadas; a iluminação
noturna; a presença de equipamentos e mobiliário; a vegetação (árvores, arbustos e
canteiros); as atividades; a manutenção; os vestígios de uso e as adaptações de uso.
Essa etapa da pesquisa de campo iniciou-se após a autorização dos síndicos. Os
condomínios forneceram mapas, contudo foram necessários levantamentos físicos para
fazer um cadastro atualizado e representar as características observadas.
53
4.3 Observações de comportamentos
As observações comportamentais foram realizadas durante quatro meses (de janeiro
a abril de 2011), em vários dias e horários diferenciados. Durante essas observações pode-
se perceber, nos dois condomínios, que o horário típico (de maior utilização) é o horário da
tarde a partir das 16:30 horas às 18:00 horas. Esse horário foi escolhido para realização das
observações sistemáticas realizadas durante duas semanas (em todos os dias da semana) e
acrescentadas por mais uma semana em dias alternados, totalizando em cada condomínio
um registro sistemático de 15 horas.
Nas observações preliminares observou-se que no período da manhã o uso é muito
baixo (poucos adultos caminhando e duas a três crianças brincando no playground). Já no
período da noite observou-se maior uso da quadra poliesportiva no condomínio A e maior
uso do playground, do minicampo de futebol e da academia no condomínio B. Contudo, as
observações sistemáticas não foram realizadas no período noturno porque houve, em um
dos condomínios, restrição de acesso nesse turno. Além disso, procurou-se na pesquisa
interferir ao mínimo na rotina dos moradores. Assim os espaços de cada condomínio foram
observados de forma sistematizada conforme Tabela 1, em horário representativo das
16h30min às 18h00min, durante 10 dias. As observações foram realizadas em dias sem
intempéries para não haver alterações de comportamentos em consequência das mudanças
do tempo.
Tabela 1: Cronograma das observações comportamentais sistemáticas
CONDOMÍNIO
24/01/11 à 30/01/11(dias sem intempéries)
21/03/11 à 27/03/11
29/03/11 à 03/04/11 (dias alternados)
11/04/11 à 17/04/11
Percurso percorrido por observação (em
metros)
A 16h30min às 18h30min
16h30min às 18h30min
1.700
B 16h30min às 18h30min
16h30min às
18h30min
Recuperação dos dias de intempéries
1.400
Para a elaboração dos mapas comportamentais optou-se por utilizar como método
de procedimento a observação direta de comportamento através de “mapa comportamental
centrado no lugar”. Nessa observação foram anotadas informações sobre o que os usuários
estavam fazendo, se caminhando, sentado, brincando, parado ou andando de bicicleta. E
paralelamente desenhavam-se no mapa os grupos de pessoas e o arranjo físico. Assim
foram elaborados 10 mapas em cada condomínio com os registros das observações. O
resultado consiste em um mapa síntese de cada condomínio mostrando a utilização de
forma acumulada compreendendo a soma da utilização durante os dez períodos de
54
observação, de maneira a apresentar todos os registros comportamentais observados
sistematicamente.
O percurso percorrido por observação corresponde a um trajeto nas vias de
circulação que dão acesso as áreas de lazer, contudo vale salientar que a maior parte do
tempo das observações ocorria nas áreas onde se observava maior número de
comportamentos (playground, no condomínio A e via principal, no condomínio B).
Quanto à posição do observador em relação ao observado, acreditava-se que
poderia ser uma limitação para a pesquisa, pois a presença do observador pode inibir as
ações dos usuários. Contudo as observações puderam ser realizadas sem causar
incômodos aos moradores. Durante o período de observações, crianças e adultos
indagavam sobre o que estava sendo feito, mas com o tempo se familiarizaram com a
pesquisa. Quando conveniente acrescentavam-se fotos como documentos da observação
direta, tendo o cuidado de não constranger as pessoas que estavam sendo fotografadas.
4.4 Questionário
O questionário é uma técnica tradicional e, caracteriza-se como um instrumento de
pesquisa que contém uma seqüência ordenada de perguntas relacionadas a um problema
específico (RHEINGANTZ et al, 2009).“É um conjunto de perguntas sobre um determinado
tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua opinião, seus interesses,
aspectos de personalidade e informação bibliográfica” (Yaremko, Harari, Harrison & Lynn,
1986, p. 186 apud GÜNTHER, 2008)
Essa técnica foi escolhida porque possibilita um universo maior de respondentes e
também possui caráter impessoal favorecendo a liberdade de resposta, embora possa
ocorrer baixa taxa de retorno e/ou altas taxas de perguntas sem resposta.
No que diz respeito à maneira de administrar o questionário, Rheingantz et al (2009)
considera que o questionário deve ser respondido sem a presença do pesquisador enquanto
outros autores (GÜNTHER, 2008; ORNSTEIN, 1992) considera a possibilidade de ser
administrado em interação pessoal, em forma de entrevista individual.
Nesta pesquisa, para evitar a baixa taxa de retorno, utilizou-se como metodologia de
entrega dos questionários a visita a todos os domicílios. Assim, foi possível entregar o mesmo
nas residências onde os moradores estavam presentes durante o período de aplicação, que
55
se realizou no turno da noite, nos dias úteis e nos finais de semana (sábado e domingo)
durante os três turnos. O período de aplicação dos formulários com as questões propostas
ocorreu no intervalo de tempo compreendido entre os dias 16 de março e 17 de abril de
2011.
Foram entregues 68 questionários no condomínio A e 207 no condomínio B. Contudo
o retorno foi determinado pela aceitação e disponibilidade em participar da pesquisa. O
formulário era entregue ao morador e depois de aproximadamente duas horas voltava-se
para receber. Para aqueles que não podiam devolver no mesmo dia pedia-se para deixar na
portaria. Vale salientar que o retorno via portaria foi maior no condomínio A (10
questionários) do que no condomínio B (7 questionários). No final obteve-se 50
questionários respondidos no condomínio A e 102 no condomínio B. Esses números foram
considerados representativos, pois no condomínio A equivale a 57% do número de
residências construídas e no condomínio B corresponde a 35% do número de domicílios.
Salienta-se que, como filtro para a realização da avaliação, foi aceita uma pessoa de cada
residência. Além disso, como seleção da amostra foram abordadas apenas as pessoas com
idade a partir de 18 anos, sendo assim crianças e empregadas domésticas não
responderam questionário.
Por se tratar de uma pesquisa que envolve a participação das pessoas, o projeto de
pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
da UFPB (CEP). Seguindo o encaminhamento do CEP elaborou-se um termo de
consentimento livre e esclarecido (ver apêndice B) que foi entregue aos respondentes
juntamente com o questionário. Também foi realizado o cadastro no site do Sistema
Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa (SISNEP11). Esses procedimentos são
baseados na Resolução n° 196/96 do CNS.
O questionário foi elaborado segundo a fundamentação teórica e mediante avaliação
de outros questionários aplicados em pesquisas que procuraram avaliar adequação de
espaços (BECKER, 2005; LOPES, 2009; MORAIS, 1996; ALCANTARA, 2002; TOMASINI,
2002). Além disso, as visitas in loco, as entrevistas com a administração (síndicos e
supervisores) e a pesquisa12 de satisfação realizada em 2009 pela síndica do condomínio B
contribuíram para a elaboração das perguntas.
11
Sistema de informação via internet sobre pesquisas envolvendo seres humanos com a finalidade de proteger os direitos dos sujeitos através do Conselho Nacional de Saúde. 12
Essa pesquisa tinha como objetivo verificar os pontos fortes e fracos do condomínio. Foi aplicado a 150 moradores que avaliaram 21 pontos como bom, regular ou insatisfatório. Os quatros itens de
56
Assim as questões foram formuladas de forma fechada (dicotômicas e de múltipla
escolha) e de forma aberta na tentativa de obter informações não cobertas pelos itens
objetivos e considerando o caráter exploratório da pesquisa. Inicialmente foram colocadas
as perguntas mais gerais (sobre os ambientes) e no final as perguntas pessoais
(características do respondente).
O roteiro de questões13 foi testado em 10 respondentes para verificar a clareza das
perguntas. Durante esse estudo-piloto a autora presenciava o preenchimento do
questionário e solicitava a opinião quanto à compreensão das questões. Esse roteiro foi
dividido em cinco partes. Uma pequena introdução em que se procurou deixar evidente o
objetivo da pesquisa. A segunda parte compreende as informações sobre uso e atividades
desenvolvidas. A terceira corresponde às questões que servirão para a investigação das
qualidades, dificuldades e necessidades dos espaços coletivos. A quarta parte visa
compreender a importância atribuída a respeito dos ambientes analisados. Por fim pergunta-
se sobre alguns aspectos básicos de identificação como: a idade, o sexo, o tempo de
moradia, o número de crianças residentes e a área de conhecimento. A seguir apresenta-se
o Quadro 4 com o roteiro de perguntas e os respectivos objetivos.
maior insatisfação foram respectivamente: playground; salão de festas; assembléias e quadras esportivas. Os quatro itens de maior satisfação foram: coleta de lixo; valor da taxa do condomínio; limpeza e segurança. Após essa pesquisa o condomínio comprou novos brinquedos para o playground. 13
O questionário utilizado na pesquisa encontra-se no fim deste trabalho, apêndice D, pág. 151
57
Quadro 4: Roteiro de perguntas e objetivos
OBJETIVO PERGUNTA
ANALISAR A UTILIZAÇÃO
DOS AMBIENTES COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS
HORIZONTAIS
1. Enumere os ambientes coletivos que você utiliza, em
seu condomínio. Descreva as atividades desenvolvidas
e indique a freqüência de uso conforme a tabela
abaixo:
2. Enumere os ambientes coletivos que a(s) criança(s) de
sua moradia utiliza. Descreva as atividades
desenvolvidas e a freqüência de uso conforme a tabela
abaixo:
INVESTIGAR AS QUALIDADES,
AS DIFICULDADES E AS NECESSIDADES
PERCEBIDAS QUANTOS AOS AMBIENTES
COLETIVOS DE CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS
3. Indique até três características que favorecem a utilização dos ambientes coletivos em seu condomínio:
4. Indique até três características que dificultam a
utilização dos ambientes coletivos em seu condomínio:
5. O que você gostaria que fosse adaptado ou
acrescentado nos ambientes coletivos do seu condomínio? Por quê?
COMPREENDER A IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA
AOS AMBIENTES COLETIVOS DOS
CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS
6. Para você é importante ter áreas de lazer no
condomínio horizontal?
7. Porque você considera importante ter áreas de lazer no condomínio horizontal?
8. O que poderia ter em ambientes coletivos de
condomínios horizontais para que os moradores utilizassem mais esses espaços?
9. Você costuma visitar áreas de lazer fora do seu
condomínio? Quais?
10. O que foi mais importante na escolha deste condomínio para moradia?
OBTER O PERFIL DOS RESPONDENTES
11. Características dos respondentes: sexo; idade; tempo
de moradia; total de moradores na residência; existência de dificuldade de locomoção
58
4.5 Definição dos casos a serem analisados
4.5.1 Os condomínios horizontais na cidade de João Pessoa
A cidade de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, teve seu crescimento
populacional acelerado a partir da década de setenta do século XX. Nessa época a
população brasileira passou a residir predominantemente nas cidades devido principalmente
ao processo de emigração do campo. Na capital paraibana, a modernização e o
desenvolvimento urbano deslocaram a população residente no centro da cidade para as
áreas litorâneas. Nos anos noventa, a expansão imobiliária ocupou as áreas do litoral com a
construção de condomínios verticais transformando a orla marítima na “região nobre” da
cidade (GONÇALVES, 1999).
Verifica-se, nos últimos anos (2008 a 2010), o investimento do mercado imobiliário em
condomínios horizontais para a população de alta renda da cidade de João Pessoa. Pode-se
perceber na Figura 13 a distribuição dos condomínios de alto padrão nos bairros de João
Pessoa.
59
LEGENDA
Condomínios horizontais inaugurados
Condomínio horizontal em construção
Oceano Figura 13: Mapa de João Pessoa - distribuição dos condomínios horizontais de alto padrão Fonte: mapa do i3Geo da Prefeitura Municipal de João Pessoa Organização: Wilma Fernandes, 2010
60
A localização dos condomínios horizontais de alto padrão em João Pessoa
concentra-se no bairro Portal do Sol14, localizado no litoral sul. Esse bairro tem despertado o
interesse e a ação dos produtores imobiliários devido à presença de áreas não edificadas
(vazios urbanos) e a proximidade à praia. Além disso, essa área possui restrições quanto à
construção de condomínios verticais por estar próxima a Falésia do Cabo Branco,
patrimônio ambiental.
O bairro está em processo de ocupação e possui, portanto, poucos estabelecimentos
ligados ao comércio e serviços. Quanto aos equipamentos públicos destaca-se a Estação
Cabo Branco (Ciência, Cultura e Artes), obra projetada por Oscar Niemeyer.
A construção dos condomínios horizontais no bairro Portal do Sol e os investimentos
de infra-estrutura provenientes da implantação desses empreendimentos têm estabelecido
uma valorização nesta área da cidade. Se no litoral norte tem-se a valorização das
localizações que permitem a construção de condomínios verticais, no Portal do Sol, litoral
sul15, o mercado tem valorizado os condomínios horizontais de alto padrão como espaços
diferenciados e exclusivos. Porém é importante destacar que também existem, no bairro,
residências com baixo padrão construtivo.
14
O nome Portal do Sol ainda é pouco conhecido pela população. Sendo também denominado de Altiplano Cabo Branco (bairro vizinho) ou Cidade Recreio (antigo loteamento). O loteamento Portal do Sol tem ocupações irregulares, algumas invadindo ruas e por isso o projeto do loteamento foi, recentemente, refeito pela Prefeitura – Informações obtidas em visitas ao bairro e na Prefeitura Municipal de João Pessoa. 15
Atualmente o bairro do Altiplano, no litoral sul, está passado por um processo de verticalização.
61
Figura 14: Imagem Quickbird do bairro Portal do Sol com contornos dos condomínios horizontais Fonte: Prefeitura Municipal de João Pessoa, 2005 Organização: Wilma Fernandes, 2010
Considerando o padrão construtivo das casas e a localização, o município de João
Pessoa possui, no total, dez condomínios horizontais de alto padrão. Desses, sete estão
localizados no bairro Portal do Sol. Os dois condomínios do litoral sul que não estão
localizados no referido bairro estão situados na divisa do mesmo. Apenas um condomínio
não está localizado no litoral sul.
62
Quadro 5: Condomínios horizontais, significados interpretados pela autora dos nomes dos condomínios horizontais, data de aprovação na Prefeitura, localização dos condomínios horizontais direcionados à população de alta renda no município de João Pessoa
№
Denominação Significados dos nomes dos condomínios Data de
aprovação na
prefeitura
Localicação
1 Condomínio A Moradia 2001 Portal do Sol
2
Condomínio B
Nome de um bairro muito valorizado na cidade,
Moradia,
Exclusividade
1998
Altiplano
3 Condomínio C Lazer 2005 Portal do Sol
4 Condomínio D Proximidade da praia 2008 Portal do Sol
5 Condomínio E Moradia,
Exclusividade
2008 Portal do Sol
6 Condomínio F Lazer 2009 Portal do Sol
7 Condomínio G Moradia
Lazer
2009 Portal do Sol
8 Condomínio H Lazer 2010 Portal do Sol
9 Condomínio I Segurança 2010 Bairro dos Estados
10 Condomínio J Nome da empresa Em construção Bancários
Observa-se que a implantação de condomínios horizontais de alto padrão na cidade
de João Pessoa inicia-se em 1998 e se prolifera em 2008 e 2009, revelando que esta
tendência de mercado na Paraíba é recente comparando com outros estados brasileiros.
Quanto às denominações é possível verificar nomes que remetem ao status, a segurança e
ao lazer.
Esses condomínios atendem as características estabelecidas anteriormente, a
administração é realizada por um síndico, a infra-estrutura é particular, o acesso é restrito e
as áreas são privado-coletivas. Quanto à tipologia, trata-se de condomínios de uso
residencial, localizados na malha urbana, de pequeno e médio porte e de alto padrão.
63
4.5.2 Condomínios selecionados para avaliação
Foram selecionados dois condomínios horizontais de alto padrão (figura 15)
localizados no litoral sul para avaliação dos ambientes coletivos:
1. O condomínio A
2. O condomínio B
LEGENDA
Condomínios A e B selecionados para a pesquisa
Condomínios horizontais de alto padrão do litoral sul em processo de ocupação
Oceano
Figura 15: Condomínios horizontais de alto padrão no litoral sul selecionados para a pesquisa Fonte: mapa do i3Geo da Prefeitura Municipal de João Pessoa Organização: Wilma Fernandes, 2010
Esses dois condomínios representam os exemplos do lançamento desse tipo de
empreendimento na capital paraibana, pois foram os primeiros a serem implantados na
cidade e por isso se tornaram referencias para os novos condomínios horizontais
construídos no município de João Pessoa, nas cidades vizinhas e em outras cidades da
Paraíba.
A
B
64
O Condomínio B é o condomínio horizontal com maior número de casas construídas
(296) isso se justifica pelo seu tamanho e pelo seu tempo de implantação (1998). Foi a partir
desse condomínio horizontal que a população e os promotores imobiliários começaram a
investir nessa tipologia habitacional. O Condomínio A (com 87 residências construídas),
aprovado na Prefeitura em 2001, possui moradores desde 2002. Os outros condomínios
estão em processo de ocupação.
A opção de estudar tais objetos baseou-se nas recomendações, da literatura de
APO, para que as pesquisas na área não ocorram antes de um a dois anos de ocupação,
por isso optou-se por não considerar para os estudos de casos os condomínios em
processo de ocupação.
65
CAPÍTULO 5: AVALIAÇÃO DA ADEQUAÇÃO DOS AMBIENTES COLETIVOS EM
CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA – PB
Com a apresentação da fundamentação teórica e da metodologia, neste Capítulo,
são descritos os principais resultados. Apresenta-se o espaço físico de cada condomínio
avaliado revelando as características gerais, as características do entorno imediato e as
características das vias de circulação e das áreas de lazer. Apresentam-se também os
comportamentos dos ambientes coletivos de cada condomínio estudado. Com esses
diagnósticos são descritos os pontos mais relevantes quanto às semelhanças e diferenças
detectadas nos dois condomínios avaliados.
Nos diagnósticos obtidos através das observações são apresentadas as informações
sobre os cenários físicos e as funções que os ambientes coletivos dos condomínios
selecionados geram. Tais informações são frutos de visitas in loco, consulta a arquivos da
administração, plantas baixas obtidas e editadas em AutoCAD 2010 (Autodesk), entrevistas
com administradores dos condomínios, relatos dos moradores, levantamentos físicos,
levantamentos fotográficos e anotações de observações realizadas durante todo o período
da pesquisa de campo. O objetivo foi identificar os principais aspectos encontrados (sejam
positivos e/ou negativos) quanto à acessibilidade, equipamentos de lazer e estética e
verificar o que esses espaços sugerem quanto ao uso. Além disso, foram observados os
pontos negativos provenientes das adaptações realizadas.
Visando gerar, no leitor, uma imagem unitária de cada condomínio a avaliação dos
aspectos físicos e comportamentais é apresentada em três itens, o primeiro apresenta o
condomínio A (quanto ao espaço físico e análise do uso – resultados das observações
traços físicos e de comportamentos), o segundo item expõe as características do
condomínio B (também quanto à descrição física e análise do uso) e o terceiro item faz uma
análise dos aspectos encontrados nos dois condomínios.
Por fim são apresentados e analisados os dados provenientes do questionário
aplicado nos dois condomínios, neste caso os resultados são tratados de modo conjunto
para evitar a repetição de assuntos, tendo em vista que as perguntas foram as mesmas para
os dois condomínios.
66
5.1 O Condomínio A
5.1.1 Espaço físico 5.1.1.1 Características gerais
O projeto do condomínio A contempla seis quadras com 130 lotes residenciais (a
maioria com 435 m2), salão de festas, portaria e uma quadra poliesportiva. Além disso, o
condomínio possui uma área verde de 11.900 m2 e um sistema viário ocupando 24.104 m2.
Os 130 lotes são destinados apenas para moradia e foram reduzidos para 115 lotes porque
13 proprietários fizeram remembramentos. Em visitas in loco, foram verificadas 87
residências construídas, 6 obras e 22 terrenos vazios. Portanto, atualmente, o condomínio
possui 75% dos seus lotes ocupados. A seguir tem-se uma tabela resumindo as
características citadas.
Tabela 2: Características gerais do condomínio A
Número de quadras residenciais 06 Número de lotes 115 Residências construídas 87 Número estimado de moradores * 400 Área total 98.237 m² Área destinada aos equipamentos de lazer 5.600 m² Equipamentos de lazer Salão de festas, quadra poliesportiva e playground Fragmentos de mata 11.900 m
2
Área do sistema viário 24.104 m2
Fechamento do lote Permitido muro em alvenaria nas laterais e nos fundos
Fonte: levantamento de arquivo e pesquisa de campo, 2011. * Para calcular o número de moradores residentes, considerou-se as respostas do questionário aplicado que revelaram uma média de 4,6 pessoas por residência no condomínio A e uma média de 3,9 pessoas por domicíl io no condomínio B.
Na Figura 16 pode-se observar a posição das áreas de lazer, a distribuição dos
elementos que compõem os ambientes coletivos e a ocupação dos lotes.
67
Figura 16: Planta do condomínio A
68
5.1.1.2 Características do entorno imediato
O condomínio A está implantado entre vazios urbanos, existindo, em seu entorno
imediato, apenas um aglomerado subnormal, uma edificação abandonada, garagem de
ônibus, poucas residências e um condomínio horizontal em construção.
LEGENDA
Condomínio A Aglomerado subnormal Condomínio horizontal em construção
Figura 17: Entorno imediato do condomínio A Imagem Google Earth – data da imagem 1/19/2008
Av. asfaltada Acesso principal
Rua asfaltada Acesso secundário
Fálesia do Cabo Branco
69
5.1.1.3 Vias de circulação
Acessibilidade
O condomínio A possui uma malha ortogonal composta de vias privativas, sendo
uma via principal com canteiro central (com 1 metro de largura) e vias secundárias para
circulação de veículos e acessos às residências, como pode ser observado na Figura 18.
Figura 18: Forma das vias do condomínio A
70
Foi verificada nas vias de circulação deste condomínio a ausência de caminhos
contínuos destinados aos pedestres. Além disso, as calçadas dos condomínios não
possuem dimensionamento ideal e também não são adaptadas para pessoas com
mobilidade reduzida. Existem calçadas com a largura de 1,50 m (largura mínima
recomendável pela NBR 9050), porém há barreiras físicas como postes, rampas, guaritas,
jardins, bancos e jarros que dificultam as caminhadas nas calçadas (ver Figuras 19, 20, 21 e
22). Para reduzir a velocidade dos carros e permitir uma convivência pacífica entre
automóveis e pedestres foram colocados 23 lombadas nas pistas pavimentadas por
paralelepípedos.
Figura 19: Via principal do condomínio A
Figura 20: Corte da via principal do condomínio A
71
Figura 21: Poste na calçada
Figura 22: Jardim ocupando o espaço da calçada
Estética
As vias de circulação possuem áreas verdes provenientes dos jardins das casas e
canteiro central arborizado. Existe uma rotatória gramada com dois assentos e fonte
iluminada, porém este espaço não possui visualização para as outras áreas de lazer e
sombreamento que propicie a permanência nos horários de incidência solar.
72
5.1.1.4 Áreas de lazer
Localizados na entrada do condomínio as opções de lazer do condomínio A (Figura
23) oferecem salão de festas, uma quadra poliesportiva e brinquedos com permissão de uso
para crianças de até 10 anos.
Figura 23: Áreas de lazer do condomínio A
Playground
Salão de festas
Quadra esportiva
73
Acessibilidade
Nas observações, nos registros fotográficos e nos quadro resumos da caracterização
dos equipamentos de lazer (apêndice C - Roteiro das observações, pag. 142) foram
identificadas dificuldades quanto à acessibilidade visual e física. As principais deficiências
encontradas foram: iluminação insuficiente no playground com duas luminárias de 2m de
altura e ausência de adaptações para pessoas com mobilidade reduzida (idosos,
cadeirantes, obesos, gestantes, etc).
Figura 24: Iluminação noturna no Playground do condomínio A
O espaço do salão de festas composto por um ambiente coberto aberto, uma
cozinha com churrasqueira, dois banheiros e um depósito para guarda de mesas e cadeiras
não possui banheiros adaptados para portadores de necessidades especiais.
Estética
Ainda que o levantamento apresente mais as condições insatisfatórias dos espaços,
observou-se que houve neste condomínio planejamento para as áreas de lazer. As árvores
e os arbustos com flores no playground contribuem para a estética, a proteção das crianças
e o sombreamento no período da tarde (Figura 25 e Figura 26). Contudo, nas observações,
foi identificado que o padrão de acabamento e a vegetação dos ambientes coletivos são
inferiores ao das residências. A principal qualidade encontrada nos ambientes coletivos
deste condomínio foi à limpeza e a conservação das áreas verdes.
74
Figura 25: Árvores e arbustos no playground do condomínio A
Figura 26: Árvores e arbustos no playground do condomínio A
Foto registrada em uma tarde de quarta-feira (15 crianças pequenas brincando, 2 bebês e 6 adultos)
Equipamentos de lazer
A quadra poliesportiva mede 19 m x 33 m e assim como o salão de festas possui
estacionamento. Com piso em concreto, revestida em cimento queimado e pintura, é
cercada com tela em estrutura metálica. Possui boa iluminação noturna para os jogos
através de refletores.
Existem nove brinquedos coloridos: balanços; escada horizontal; trepa-trepa; etapa
argola; mini-tirolesa; dois tipos de balanços duplos; gangorras; casinha com escorregador e
escalada. Todos esses brinquedos são em madeira contendo algumas peças metálicas.
Vale salientar que não há brinquedos para bebês.
Adaptações
No salão de festas foi adaptada uma sala para a administração do condomínio e foi
também adaptado um vestiário e um refeitório para os funcionários. Essas modificações
revelam dois problemas quanto ao uso: o vestiário para os funcionários apresenta
dimensões insuficientes com largura inferior a 1,00 m e a adaptação da sala da
administração permanecendo com as janelas altas não proporciona ventilação na altura do
usuário (ver quadro resumo no apêndice D).
75
5.1.2 Análise do uso
De acordo com as observações comportamentais, podem-se perceber no
condomínio A que as atividades de lazer mais frequentes são as brincadeiras no
playground. Segue tabela e mapa comportamental com a identificação das atividades e dos
usuários:
Tabela 3: Quantidade de usuários observados em 10 dias de observação no condomínio A
Atividade Crianças Jovens e
Adultos Idosos Total
Caminhar/ deslocar 20 42 1 63 Andar de bicicleta 11 5 0 21 Brincar ou jogar 59 0 0 59
Ficar parado em pé 0 7 0 7 Sentar 0 24 0 24
Total de pessoas nas áreas comuns (em 10 períodos de observação)
90 93 1 174
76
Figura 27: Mapa comportamental do condomínio A
77
Neste condomínio, as observações indicam a pouca freqüência de atividades sociais
nas vias de circulação, pois não foram percebidas pessoas em atividade de permanência
nessas áreas. Foram verificados, neste condomínio, moradores caminhando como exercício
e caminhando com animais, porém considera-se que o maior número de pessoas em
deslocamento seja constituído de empregadas domésticas pelo fato de que muitas mulheres
se dirigiam para a parada de ônibus.
Observou-se que o playground é mais utilizado no horário da tarde, entre 16h30min
às 17h30min, pelas crianças e acompanhantes. Neste ambiente pode-se notar a maior
concentração de pessoas sentadas no banco e brinquedos que ficam sombreados pela
árvore, arbustos e edificações.
Figura 28: Uso do playground em uma tarde de sábado
Os ambientes internos da edificação do salão de festas são utilizados durante a
semana pela administração, crianças e funcionários. Já nos finais de semanas o salão de
festas é utilizado para os aniversários. Durante as observações, ficou evidente a ausência
de uma lixeira no playground e nas proximidades do salão de festa em virtude de se ter
verificado lixo jogado na grama.
78
Nas áreas remanescentes do salão e playground há espaços gramados e caminhos
em pedrisco. Foi observado a partir das 17h00min funcionários caminhando em um desses
caminhos ou caminhando na pista se dirigindo para a saída, portão de pedestre da portaria.
Próximo a essa saída de pedestre existe uma árvore de grande porte onde os funcionários
guardam suas bicicletas.
Observou-se que a quadra poliesportiva, durante a semana, é usada por crianças no
turno da noite e nos finais de semana é usada nos turnos da tarde e noite.
Figura 29: Uso da quadra poliesportiva em uma tarde de sábado