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TEORIA GERAL DO ESTADO Prof. Charles Duvoisin Aula nº. 7 ESTADO LIBERAL E SUAS IMPLICAÇÕES (Estado Social) O Estado como tal teve seu amadurecimento e consolidação nos séculos XVI e XVII, quando da formação dos Estados Nacionais e a consolidação da soberania, tanto enfatizada por Jean Bodin. Vivenciou-se neste período principalmente conflitos de ordem civil e religiosos, onde a primordial função do Estado era garantir a proteção à vida e à propriedade, impondo a lei e a ordem. Mantinha-se uma estrutura social injusta, com imensos privilégios e vantagens aos nobres ou quem estivesse perto do Rei, ou fosse seu protegido. Enfim, fatores que depois culminaram com o processo revolucionário francês, em 1789, rompendo com esses costumes feudais, que sustentavam uma sociedade estamental. Com a Revolução Francesa o povo passa a ter voz e vez e a classe burguesa a oportunidade que desejava. O Estado de Direito também ganha ênfase, com o positivismo jurídico. Surgem as Constituições e as Codificações que visavam regular a vida privada (vide Código Civil Napoleônico de 1806). Vencido o século XVIII, que encerrou-se com um sobressalto considerável dos direitos individuais, o século XIX e XX marcam uma nova ordem, vocacionada para a produção industrial e novamente recai numa dificuldade de se lidar com a coletividade. O Estado dito Moderno está envolvido agora com o processo de industrialização e convive com um aumento considerável da população nas cidades. De início não se visualiza uma preocupação do Estado com os abusos praticados pelos novos empreendedores. A exploração da mão de obra (da mais valia) passa à margem do Estado, que prefere não intervir. Assim, o cidadão que nos anos antes estavam presos aos reis e seus 1

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Estado: conceituao clssica

TEORIA GERAL DO ESTADO

Prof. Charles Duvoisin

Aula n. 7ESTADO LIBERAL E SUAS IMPLICAES (Estado Social)

O Estado como tal teve seu amadurecimento e consolidao nos sculos XVI e XVII, quando da formao dos Estados Nacionais e a consolidao da soberania, tanto enfatizada por Jean Bodin. Vivenciou-se neste perodo principalmente conflitos de ordem civil e religiosos, onde a primordial funo do Estado era garantir a proteo vida e propriedade, impondo a lei e a ordem. Mantinha-se uma estrutura social injusta, com imensos privilgios e vantagens aos nobres ou quem estivesse perto do Rei, ou fosse seu protegido. Enfim, fatores que depois culminaram com o processo revolucionrio francs, em 1789, rompendo com esses costumes feudais, que sustentavam uma sociedade estamental. Com a Revoluo Francesa o povo passa a ter voz e vez e a classe burguesa a oportunidade que desejava. O Estado de Direito tambm ganha nfase, com o positivismo jurdico. Surgem as Constituies e as Codificaes que visavam regular a vida privada (vide Cdigo Civil Napolenico de 1806). Vencido o sculo XVIII, que encerrou-se com um sobressalto considervel dos direitos individuais, o sculo XIX e XX marcam uma nova ordem, vocacionada para a produo industrial e novamente recai numa dificuldade de se lidar com a coletividade.

O Estado dito Moderno est envolvido agora com o processo de industrializao e convive com um aumento considervel da populao nas cidades. De incio no se visualiza uma preocupao do Estado com os abusos praticados pelos novos empreendedores. A explorao da mo de obra (da mais valia) passa margem do Estado, que prefere no intervir. Assim, o cidado que nos anos antes estavam presos aos reis e seus caprichos, passam a conviver com uma nova forma de espoliao; a do capitalismo.

Acontece que em tempos de revoluo francesa ou de defesa da liberdade, tambm se pregou a menor interveno do Estado, tanto quanto possvel. E essa mentalidade no intervencionista do poder pblico outorgou, ainda que tacitamente, poderes para que os burgueses e novos ricos da poca aplicassem as suas prprias regras. A busca dos lucros, por sua vez, transcende o mundo das oportunidades e do bom senso, e converte a sociedade do sculo XVIII e XIX a uma nova forma de escravido ou trabalho servil, com profundas sequelas. O liberalismo se apresentou como uma teoria antiestado. O aspecto central de seus interesses era o indivduo e suas iniciativas. A atividade estatal, quando se d, recobre um espectro reduzido e previamente reconhecido. Suas tarefas circunscrevem-se manuteno da ordem e segurana, zelando que as disputas porventura surgidas sejam resolvidas pelo juzo imparcial sem recurso fora privada, alm de proteger as liberdades civis e a liberdade pessoal e assegurar a liberdade econmica dos indivduos exercitada no mbito do mercado capitalista. O papel do Estado negativo, no sentido da proteo dos indivduos. Toda a interveno do Estado que extrapola estas tarefas m, pois enfraquece a independncia e a iniciativa individuais.

Analisando Sahid Maluf, o doutrinador trabalha com um conceito interessante, onde o Estado liberal, marcando o advento dos tempos modernos, correspondia nos seus lineamentos bsicos com as idias ento dominantes. Era a realizao plena do conceito de direito natural, do humanismo, do igualitarismo poltico que os escritores do sculo XVIII deduziram da natureza racional do homem, segundo a frmula conclusiva de que os homens nascem livres e iguais em direitos; a nica forma de poder que se reveste de legitimidade a que for estabelecida e reconhecida pela vontade dos cidados.

O liberalismo surge em tempos de extrema efervescncia poltica e social (revolues populares inglesa, norte americana independncia e francesa). Em todas a soberania passa a considerar a vontade do povo, com um governo no mais hereditrio e vitalcio, mas sim representativo e com alternncias no uso do poder, de acordo com os interesses polticos da sociedade. Surge o Estado Constitucional, onde a lei impera. Com esse novo modelo de governo o poder de mando assegurado a trs esferas; legislativo, executivo e judicirio. Invoca-se tambm um Estado laico e de certa neutralidade, pois ao homem cabia apenas seguir os ditames da lei, no a imposio do Estado, pura e simplesmente. Essa no interveno do Estado nos assuntos privados ou afastamento do mesmo da ordem social, deu origem ao que ficou conhecido como Estado Liberal. Um Estado, como bem ressalta o prprio Maluf baseado na concepo individualista. A limitao do Estado, por sua vez, estava calcada nesta nova ordem; a constitucionalizao dos direitos. A Constituio americana e francesa foi um marco de positivao no s dos direitos, mas tambm das atribuies do Estado. Uma vez que se enumera qual o papel do Estado, ao mesmo tempo se limita sua atuao. Tempos em que a liberdade era uma bandeira a ser seguida, sem objeo.

E a finalidade do Estado constitucional do sculo XIX e incio do sculo XX, at o final da Primeira Guerra Mundial, foi garantir a liberdade privada, poltica e econmica, assim como a segurana e propriedade. No plano poltico, caracteriza-se pela soberania de base popular ou nacional e pela centralizao da produo jurdica; com tais atributos volta-se consolidao da unidade nacional, expressa pela continuidade do territrio e das fronteiras naturais, por uma lngua, uma moeda, um sistema fiscal, uma Constituio e um sistema jurdico. A est a base do Estado-Nao, unidade jurdico-politica que se organiza em torno dos princpios da territorialidade e da nacionalidade. Em verdade, o liberalismo que se apresentara perfeito na teoria bem cedo se revelou irrealizvel por inadequado soluo dos problemas reais da sociedade, conclui o doutrinador. O sentimento individualista passou a se sobrepor ao coletivo, gerando confrontaes sociais. Norberto Bobbio chega a tecer crticas ao modelo do Estado Liberal pois Realiza-se historicamente em sociedades nas quais a participao no governo bastante restrita, ilimitada s classes possuidoras. Um governo democrtico no d vida necessariamente a um Estado Liberal: ao contrrio, o Estado liberal clssico foi posto em crise pelo progressivo processo de democratizao produzido pela gradual ampliao do sufrgio at o sufrgio universal. Liberalismo (econmico) e sua gnese

O liberalismo econmico tem seu incio, ainda que de forma superficial, identificado no sculo XVII. Desde ento se percebe que essa doutrina no est apenas interessada nos ditames financeiros, mas em fazer uso do poder no campo poltico e social, ainda que sob a gide de seus princpios. Defende a importncia da proteo dos direitos individuais dos cidados, onde a lei tem papel preponderante.

O liberalismo ganha destaque ao longo do processo revolucionrio francs e com o desenvolvimento da chamada democracia americana. O movimento iluminista tem grande ascenso sobre o Estado Liberal, justamente por ter sido a ncora ideolgica contrria ao ancien regime. A luta travada pela descentralizao do poder ou pela igualdade e maior liberdade ao povo, marca caracterstica do novo estado, ou Estado Liberal.

Depura-se da obra Os princpios filosficos do Direito Poltico Moderno de Simone Goyard Fabre, que logo aps a Revoluo Francesa, a exigncia mestra do humanismo liberal tomou aos olhos de B. Constant a forma de uma evidncia histrica: como o direito divino j no tem sentido, como o princpio de autoridade est caduco, chegou o tempo da liberdade dos homens. Isso, sem dvida alguma, significa que a soberania do povo doravante a mxima fundamental do direito poltico. Portanto, tem-se a razo em dizer, gosta de repetir B. Constant, que Rousseau compreendera magnificamente o sentido dessa premissa. Para Denilson Luis Werle se no existirem princpios e regras que assegurem a convivncia, coordenem as aes e estabeleam parmetros pblicos para julgar as reinvindicaes nos casos de conflito, perde-se a prpria autonomia dos indivduos livres. luz do pluralismo de planos de vida individuais e formas de vida culturais, a questo central do Liberalismo contemporneo passa a ser, ento, saber como possvel existir uma sociedade justa, boa e estvel de cidados que esto divididos entre si por interesses e valores no apenas divergentes, mas por vezes, irreconciliveis entre si.

Durante um bom tempo o homem se preocupou em regulamentar os direitos individuais e a garantir a proteo propriedade privada. A lei precisava ser respeitada. A atuao do Estado segue em segundo plano, uma vez que a prpria lei ou positivismo jurdico ganha nfase na sociedade contempornea.

O mundo caminha a passos largos e a modernizao chega impactando uma estrutura social que no estava preparada para assimilar a nova filosofia mercantil, onde a prevalncia dos lucros estava acima at mesmo da dignidade humana. A luta travada na Revoluo Francesa acaba sendo esquecida no passado, somente sendo resgatada em torno da metade do sculo XIX, mas agora com uma viso coletiva.

O Estado Liberal surge no seio da classe burguesa, que estava em ascenso no fim do sculo XVIII. Alm da valorizao dos direitos individuais do homem pregava o que mais tarde foi denominado como Estado mnimo ou Estado Polcia visto que suas funes deveriam ser bem restritas, no mximo a garantir uma ordem social atravs da vigilncia, represso policial (no aspecto interno) e manuteno da soberania frente aos demais pases (exrcito plano externo). Mas um detalhe interessante colhe-se de Aquaviva, o qual afirma que a Revoluo Francesa destruiu o conceito tradicional de poder poltico, exaltando o indivduo em detrimento do social. O doutrinador chama a ateno para o fato de que a vida em sociedade impe restries aos possveis excessos das liberdades cvicas e polticas. E mais a frente, conclui que A concepo de liberdade do liberalismo acabou por se autodestruir. O excesso de livre-concorrncia gerou a explorao dos fracos pelos fortes e, com esta, a formao de um capitalismo monstruoso e a proletarizao dos produtores, todas estas, paradoxalmente, condies propcias para o aparecimento dos totalitarismos e do socialismo exacerbado.

Com a Revoluo Industrial e a generalizao da pobreza a nveis antes desconhecidos, comea-se a pensar que pode haver situaes de pobreza que escapam ao controle do indivduo. Assim, o assistencialismo (at ento considerado desvio imoral do princpio a cada um segundo seu merecimento) passa a ser reivindicado por muitos como sendo um direito (social) e do Estado exigida uma maior ingerncia na ordem social e econmica, ou seja, suas estruturas devem intervir diretamente na melhoria do nvel de vida dos menos favorecidos, preocupao esta que pode ser encontrada nos pensamentos de Hegel e Weber.

Com efeito, a expresso que Hegel utilizava para a sociedade civil (burgerliche geselschaft sociedade burguesa), denota o carter burgus dessa sociedade emergente. A sociedade j no congrega os mesmos conceitos jusnaturalista, proposto pela Revoluo Francesa, impondo uma associao dos cidados segundo os interesses econmicos.

A ideologia Liberal, como ressalta Dalmo de Abreu Dallari, com um mnimo de interferncia na vida social, trouxe, de incio, alguns inegveis benefcios: houve um progresso econmico acentuado, criando-se condies para a revoluo industrial; o individuo foi valorizado, despertando-se a conscincia para a importncia da liberdade humana; desenvolveram-se as tcnicas de poder, surgindo e impondo-se a idia do poder legal em lugar do poder pessoal. Mas em sentido contrria, assevera Dallari, o Estado liberal criou as condies para a sua prpria superao. Em primeiro lugar, a valorizao do indivduo chegou ao ultra-individualismo, que ignorou a natureza associativa do homem e deu margem a um comportamento egosta, altamente vantajoso para os mais hbeis, mais audaciosos ou menos escrupulosos. Ao lado disso, a concepo individualista da liberdade, impedindo o Estado de proteger os menos afortunados, foi a causa de uma crescente injustia social, pois, concedendo-se a todos o direito de ser livre, no se assegurava a ningum o poder de ser livre. Na verdade, sob o pretexto de valorizao do indivduo e proteo da liberdade, o que se assegurou foi uma situao de privilgio para os que eram economicamente fortes. E, como acontece sempre que os valores econmicos so colocados acima de todos os demais, homens medocres, sem nenhuma formao humanstica e apenas preocupados com o rpido aumento de suas riquezas, passaram a ter o domnio da Sociedade. A ideologia pregada pelo liberalismo de liberdade total do indivduo e at mesmo da explorao do capital gerou um grande abismo social, que acabou por invocar a presena do Estado nos ditames sociais, com intuito de encontrar sadas para contornar o grave problema que se instalou na Europa como um todo.

Esses problemas sociais invocam duas idias ou teorias: de acordo com a primeira, dita liberal, o Estado deve ter pouco poder, pois apenas dessa maneira estaria assegurado o mximo de liberdade (econmica, religiosa, civil...) aos indivduos.

De acordo com a segunda noo, mais democrtica, o Estado deve ter bastante poder, de modo a distribu-lo e, assim, atenuar as desigualdades sociais.

Essa anttese, entre Estado Social/Estado Liberal, reflete, por sua vez, uma outra, mais profunda: a anttese entre as idias de igualdade e liberdade. Se tomadas apenas em seu sentido jurdico ou formal, no h coliso entre essas idias e a prpria democracia pode ser considerada como prosseguimento do liberalismo. Se tomadas num sentido mais substancial - igualdade como justa distribuio de riqueza -, por exemplo, a a contradio faz-se presente, principalmente no chamado regime capitalista.

Contudo, os defensores das idias liberais no consideraram que a aplicao destas caberia aos homens, sujeitos ganncia, egosmo, e todos os trejeitos daquelas pessoas que se deixam influenciar quando se detm o poder. Assim, a sociedade passa a se preocupar com o aparecimento dos movimentos proletrios e as grandes massas empobrecidas das cidades que, muitas vezes se constituam no por demrito pessoal ou simples preguia, mas por razes que escapavam a seu controle (baixa de preos de determinado produto devido a sua grande oferta, surgimento de novas mquinas que ocasionavam o aumento do desemprego, etc.). Como o Estado encontrava-se afastado da coordenao das atividades econmicas e sociais, a preocupao comeou a aumentar. Os distrbios e a violncia aumentaram consideravelmente. A sociedade estava adoentada e o grupo dos descontentes crescia assustadoramente. Aumentava o clamor pblico para que o Estado ampliasse as funes que a ele eram tradicionalmente atribudas pela doutrina liberal: alm da segurana, justia e construo de obras pblicas, ele deveria distribuir renda, melhorar o nvel de vida dos menos favorecidos. A explorao da classe operria precisava ter um fim ou pelo menos um regramento que amenizasse a situao. A to apregoada democracia liberal cede espao para um Estado Social ou Estado de Justia, que buscava reequilibrar a vida em sociedade, enfatizando a igualdade restringindo os excessos da liberdade. O Estado de Direito ou Liberal no atendia aos anseios de uma massa de trabalhadores, gerando um distanciamento social perigoso. Para Karl Marx, o maior crtico do capitalismo, alegava que sistema econmico liberal no racional, pois sua suposta racionalidade, que to somente a definio de seu interesse prprio, est impregnada de contradies: procura prosperidade atravs da gerao de pobreza; liberdade, atravs da subordinao e o bem comum, atravs da emancipao da preferncia prpria. Somente a regenerao do homem resultaria numa economia realmente racional.

Marx entendia que o Estado servia de proteo a uma minoria vencedora, frente a uma maioria vencida, sendo incapaz de zelar pela coletividade, evitando abusos do poder econmico.

O Estado Liberal foi ento perdendo espao para o Estado Social, onde a legislao que passava a ser produzida preocupava-se com direitos trabalhistas e previdencirios.

A nova faceta do Estado j pregava a necessidade de se tratar desigualmente os desiguais, fundamento no defendido ou invocado ao longo do movimento iluminista ou pelos doutrinadores do Estado Liberal. Como exemplo podemos citar a Lei 8.112/90, que prescreve, em art. 5, 2, cotas de at 20% para os portadores de deficincias no servio pblico civil da unio, cotas raciais em faculdades, vagas em estacionamento para deficientes ou idosos e a iseno de desconto na folha salarial para quem ganha baixos salrios.

Os defensores do liberalismo esqueceram de que o princpio associativo do homem, a convivncia em sociedade o que move a humanidade. O homem, na sua individualidade mera abstrao e sequer envolve a necessidade de se discutir direitos e deveres. As codificaes legais so tem utilidade ou aplicao quando se dirige a uma pluralidade, e nunca a uma nica pessoa. Uma concepo individualista no se coaduna com a convivncia social pois tende a acentuar as desigualdades sociais, com a eliminao dos chamados mais fracos.

Do Welfare State

O Estado Constitucional dos sculos XX e XXI difere da modalidade aplicada no sculo XIX. Segundo Nina Ranieri, sua finalidade, alm da garantia da liberdade, a ampliao da igualdade em sentido social. Da ser denominado Estado social (muito embora tal expresso s venha a ser constitucionalizada pel Lei Fundamental de Bonn de 1948, em seu art. 20, I). Tambm identificado como Estado intervencionista, Estado providncia, Estado do bem-estar ou Welfare State.

E prosseguindo a doutrinadora, atesta que o Estado Social equipara-se ao Estado liberal no que diz respeito ao imprio da lei, diviso de Poderes e expressa previso constitucional de direitos individuais. Dele se distingue em razo de duas alteraes principais:a) substituio da posio absentesta do Estado liberal por uma posio ativa, necessria efetivao dos novos direitos de crdito reconhecidos aos indivduos e traduzidos como poder de exigibilidade em face do Estado (sade, proteo social, vida familiar normal, instruo e cultura, solidariedade nacional, etc.);

b) adio, funo liberal de aplicao vinculada da lei como norma geral e abstrata, por meio de autorizaes, proibies, habilitaes etc., da funo de gesto direta de servios pblicos.

A esse processo que pode ser visto como extenso e aprofundamento do Estado garantidor clssico, sendo os direitos econmicos e sociais uma extenso dos direitos civis e polticos agrega-se a necessidade de serem corrigidos e compensados os desvios socioeconmicos por ele provocados. Em comparao com o tipo liberal, o Estado social bem mais complexo, em decorrncia, justamente, do reconhecimento ampliado dos direitos dos indivduos.

A interveno estatal no domnio econmico no cumpre papel socializante; antes, muito pelo contrrio, cumpre, dentre outros, o papel de mitigar os conflitos do Estado Liberal atravs da atenuao de suas caractersticas a liberdade contratual e a propriedade privada dos meios de produo - , a fim de que haja a separao entre os trabalhadores e os meios de produo. Decorre da a necessidade de impor uma funo social a estes institutos e a transformao de tantos outros.

Como inicialmente ressaltado, esta condiao de estado intervencionista foi denominada de Welfare State, de nomeclatura americana. Consiste em um Estado preocupado com o bem estar social de seus cidados, cujas atitudes so visualizadas por polticas de interveno. Trata-se de um modelo de Estado de conotao social, mas sem valorizar e respeitar as garantias individuais e a liberdade de seu povo. O carter intervencionista no deve ser confundido com polticas protecionistas ou ditatoriais. O regime democrtico no substituido, ao contrrio, maximizado neste modelo de administraao pblica. O compromisso com a sociedade, na concretizao de medidas tendentes a garantir uma gesto voltada para o social, a institucionalizao de um pas generoso e progressista.

A interveno, por sua vez, tem que prezar pelo equilbrio e respeito a ordem jurdica vigente. O Estado passa a ser um instrumento da aplicabilidade deste Estado Providncia, que trabalhar para garantir um desenvolvimento equilibrado, reduzindo as diferenas sociais existentes. Mas essa formataao de Estado no to recente. A Constituio de Weimar (1919 1933), uma das mais famosas e importante de toda a Europa, de concepo democrtica, tornou o papel do Estado mais ativo na administraao e organizaao dos chamados direitos sociais como a educao, sade, trabalho, previdncia social, etc. Papel que ficou configurado nas futuras Constituies. Claro que muita coisa foi revista aps a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, mas a vocao para o texto vocacionado para s questes sociais s foi aprimorado. J. M. Keynes (1883 1946), com sua filosofia social, voltada para a gerao de empregos e certa intervenao do Estado na economia, foi talvez o grande nome da economia no sculo XX. Ao doutrinador ingls a participao do Estado no fomento de linhas de trabalho, visando combater o desemprego, era muito importante. Enfim, mais um pensador que encontra no Estado um papel decisivo perante a sociedade, no intuito de se encontrar a felicidade ou harmonia social. Seu pensamento vai influenciar o New Deal (Novo Plano), implantando nos EUA, logo aps ao Crack da Bolsa de Nova Iorque. Em 1933, quando assumiu o governo norte americando, Flanklin Delano Roosevelt imps uma poltica agressiva e impactante, com forte interverncia do Estado no regramento economico. Na dcada de 70, com a crise do petrleo e outros problemas conjunturais da poca, Keynes acaba sendo criticado por outros economista, como Milton Fridmann (1912 2006), o qual entendeu nefasta uma maior interveno do Estado junto economia e outros setores ligados ao fomento mercantil. Pregava a defesa do livre mercado e claro, uma mnima interveno estatal. Considerado o segundo maior economista do sculo XX (o maior seria Keynes). No Brasil podemos atestar que no temos, de forma visvel, esse Welfare State, mas em alguns programas governamentais essa formatao reconhecida, em especial com os programas Bolsa Famlia, Fies ou Cincia Sem Fronteiras. So formas de transferncia de renda ou gerao de oportunidades, a pessoas de baixa renda.

Por fim, podemos citar que no Brasil, nos artigos 1, III dignidade da pessoa humana e IV os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, art. 3. Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil:

I construir uma sociedade livre, justa e solidria;

II garantir o desenvolvimento nacional; Cita-se ainda o artigo 6., So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados. Por fim, tambm no menos importante, o artigo 170 da CF, onde menciona que a ordem econmica brasileira fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, com intuito de assegurar a todos uma existncia digna, observados os seguintes princpios:I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - funo social da propriedade;

IV - livre concorrncia;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e servios e de seus processos de elaborao e prestao;

VII - reduo das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constitudas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administrao no Pas.

A justia social ou esse Estado Social luta por um equilbrio entre os membros de sua sociedade, principalmente no campo das oportunidades e direitos. Preza tambm por uma competente prestao de servios pblicos, visando atender a todos, indistintamente. A igualdade a regra e a liberdade, em excesso, deve ser coibida. ESSNCIA E ESTRUTURA DO ESTADO FINS DO ESTADO

Desde a Grcia Antiga a questo do fim do Estado constitui um problema fundamental para todas as doutrinas.

Estava reservado ao romantismo combater, pela primeira vez, a legitimidade deste modo de traar um plano do problema, afirmando que o Estado, como as plantas e os animais, um fim em si mesmo. A partir de ento a questo do fim do Estado aparece desatendida pela doutrina, que a rechaa por considera-la um problema fictcio e suprfluo, de impossvel soluo.

Se em algum caso reconhece que tal questo est justificada, sua resposta no , em geral, nada satisfatria cientificamente. E, em todo caso, a Teoria do Estado est muito longe de ver nela seu problema fundamental.

A eliminao do conceito de Estado deste momento teleolgico estava, sem dvida, justificada se tomada em considerao a concepo que do Estado teria o Direito Natural da Ilustrao em que a questo do fim aparecia unilateralizada de maneira racionalista ao considerar equivocadamente o Estado como uma criao arbitrria de indivduos para um fim consciente. tambm a exata objeo s os homens e em grupos podem propor fins subjetivos. No cabe por em dvida que o Estado no uma unidade de fim no sentido de que seus membros persigam nele e com ele os mesmos fins.

H que reconhecer a si mesmo que tem razo os que declaram que, desde o ponto de vista cientfico, no pode chegar-se a estabelecer objetivamente a misso poltica concreta de um Estado determinado. Pois esta misso, ainda que se queira deduzir, a maneira dos geopolticos do dia do dia, com uma pretendida objetividade, da situao geogrfica do Estado de que se trate depende sempre exclusivamente, o mesmo que aqueles fins psicolgicos, das ideologias, de maneira alguma unitrias, de determinados grupos humanos dentro do Estado. Por ltimo, h que considerar tambm como mal planejada a questo do fim transcendente-objetivo do Estado, em relao com a vontade divina e com o destino ltimo do gnero humano, porque essa questo se refere ao sentido universalmente vlido, verdadeiro e justo, do Estado, o problema de sua justificao, problema que no cabe confundir com o do fim do Estado.

Uma vez aceito que tais objees se encontram justificadas, h que reconhecer, sem contestao, que a questo do fim do Estado no s constitui um problema de importncia para a Teoria do Estado, mas a mais fundamental desta. Pois bem, certo que s os homens so capazes de propor conscientemente fins, no menos que o Estado, como toda instituio humana, tem uma funo objetiva chamada de sentido que nem sempre concorda com os fins subjetivos dos homens que o formam.

TEORIA DEL ESTADO HERMANN HELLER PG. 218

STRECK. Lenio Luiz. Cincia Poltica e Teoria do Estado. 8 edio. Editora Livraria do Advogado. Porto Alegre. 2014. Pg. 62.

MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 26 edio. Editora Saraiva. So Paulo. 2003.

RANIERI. Nina Beatriz Stocco. Teoria do Estado: do Estado de Direito ao Estado Democrtico de Direito. Editora Manole. Burueri, So Paulo 2013.

BOBBIO. Norberto. Liberalismo e Democracia. Editora Campus. So Paulo. 2000.

GOYARD-FABRE, Simone. Os princpios filosficos do direito politico moderno. Traduo Irene A. Paternot. Editora Martins Fontes. So Paulo. 1999.

WERLE, Denilson Luis. Manual de Filosofia Poltica. O liberalismo Contemporneo e seus Crticos. Editora Saraiva. So Paulo. 2012.

AQUAVIVA. Marcus Cludio. Teoria Geral do Estado. 3 edio. Editora Manole. Barueri-SP. 2010.

Somente em 1834 foram aprovadas na Inglaterra as primeiras Leis Fabris, que proibiam o trabalho de crianas com menos de nove anos e limitavam a doze horas por dia o perodo de trabalho de pessoas com menos de dezoito anos. Em 1844, uma lei proibiu as mulheres de trabalhar mais de doze horas por dia. Em 1847, o Parlamento ingls aprovou jornada de trabalho no excedente a dez horas por dia, contudo ela s foi aplicada a todas as fbricas a partir de 1874, ao passo que outros trabalhadores, principalmente os empregados em lojas e no servio domstico, s comearam a ter horrio de trabalho limitado no inicio do sculo XX. Os demais pases da Europa relutaram ainda mais para impor tais regras. A Alemanha, por exemplo, s implantou a limitao de doze horas por dia em 1871.

Fica evidenciado o importante papel que coube ao Estado, na regulamentao das condies de trabalho, dentro da esfera do bem-estar pblico.

Legislao sobre sade como a limpeza das ruas, obrigatoriedade de certas vacinas, fornecimento de gua potvel, etc, inicia tambm na mesma poca, por volta de 1848 (data da promulgao da primeira lei de sade pblica).

Georg Wilhelm Friedrich Hegel, nasceu em Stuttgart, em 1770. Vivenciou o chamado romantismo alemo. Juntamente com Schelling e outros romnticos da poca viam a razo mais profunda da existncia no chamado esprito do mundo. Quando Hegel fala de esprito do mundo ou razo do mundo, ele est se referindo soma de todas as manifestaes humanas. Isto porque, a seu ver, s o homem possui um esprito.

Devemos destacar que a grande maioria dos pensadores (filsofos) que antecederam Hegel procuraram estabelecer conceitos imutveis, criando estigmas e verdades, que com o passar dos anos tornaram-se totalmente obsoletas. Justamente neste ponto Hegel dispunha que as bases do conhecimento do homem mudavam de gerao para gerao. Assim, seu pensamento era no sentido de que no haviam verdades absolutas. O doutrinador germnico cita que a razo tambm algo dinmico, um processo. A verdade, ento, um processo de evoluo continuado, agregado a um contexto histrico. Neste sentido, no se pode afirmar que Plato se enganou ou que Aristteles tinha razo.

Hegel dizia que o esprito do mundo progredia rumo a uma conscincia cada vez maior de si mesmo. Os rios tambm ficam cada vez mais largos, medida que se aproximam do mar. Segundo o doutrinador, a histria descreve a saga do esprito do mundo, que pouco a pouco desperta para a conscincia de si mesmo. O mundo sempre existiu, mas por meio de cultura e da evoluo do homem o esprito do mundo se torna cada vez mais consciente de suas peculiaridades.

Para Hegel, a histria a nica e longa cadeia de pensamentos, cujos elos no se unem ao acaso, mas segundo determinadas regras. Quem se dedica ao estudo srio da histria percebe que geralmente um novo pensamento surge com base em outros formulados anteriormente. Uma vez formulado, porm, o novo pensamento ser inevitavelmente contradito por outro. Aparecem, assim, duas formas de pensar que se opem e entre elas h uma tenso. Esta tenso quebrada quando um terceiro pensamento formulado, dentro do qual se acomoda o que havia de melhor nos dois pontos de vista precedentes. isto que Hegel chama de evoluo dialtica.

BARBOSA. Vivaldo. O pensamento poltico do iluminismo aos nossos dias. Editora Revan. Rio de Janeiro. 2010.

RANIERI. Nina Beatriz Stocco. Teoria do Estado: do Estado de Direito ao Estado Democrtico de Direito. Editora Manole. Burueri, So Paulo 2013.

STRECK. Lenio Luiz. Cincia Poltica e Teoria do Estado. 8 edio. Editora Livraria do Advogado. Porto Alegre. 2014. Pg. 75 .

Em 1999, a revista Time mencionou Keynes como uma das cem pessoas mais influentes do sculo XX

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