2014 - frederico de almeida - por uma sociologia política das elites políticas brasileiras
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7/26/2019 2014 - Frederico de Almeida - Por uma sociologia poltica das elites polticas brasileiras
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Por uma sociologia poltica das elites jurdicas brasileiras: elementos tericos para
o estudo do campo poltico da justia e de seus grupos dirigentes
Frederico de Almeida1
O presente trabalho2busca sistematizar o referencial terico utilizado por mim em
um estudo sobre as elites jurdicas e a poltica da justia no Brasil. O argumento daquele
meu estudo foi o de que a compreenso das posies e relaes polticas entre agentes e
instituies do campo jurdico depende da reconstruo do processo de institucionalizao
dessas posies no processo de formao do Estado nacional; do processo de diviso do
trabalho e institucionalizao profissional dos grupos ocupacionais que atuam naadministrao da justia pblica; e das mediaes realizadas pelo sistema de ensino jurdico
nos efeitos, internos ao campo jurdico, das divises sociais de classe, reproduzidos nas
trajetrias de mobilidade social e diferenciao interna do campo jurdico. Segundo a
explicao que apresentei em meu estudo sobre as elites jurdicas, esses processos esto na
base da constituio do que chamo de campo poltico da justia, um espao de poder
relacionado ao controle poltico das organizaes profissionais e burocrticas de
administrao do sistema de justia estatal.3
Para demonstrar a existncia de um campo poltico da administrao da justia
estatal, procurei reconstruir os processos histricos de institucionalizao das divises e
hierarquias, formais e informais, que delimitam aquele campo. Tambm analisei as
trajetrias pessoais, profissionais e acadmicas de trs tipos de elites de juristas: as elites
institucionais, representadas pelas posies de cpula das instituies da administrao da
justia estatal (o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justia, os tribunais de
justia estaduais e federais, as chefias dos Ministrios Pblicos estaduais e federais, os
conselhos seccionais e federal da Ordem dos Advogados do Brasil, os Conselhos Nacionais
de Justia e do Ministrio Pblico); as elites profissionais, representadas pelas lideranas
corporativas dos grupos de profissionais do direito atuantes na administrao da justia
1Doutor em Cincia Poltica pela Universidade de So Paulo. E-mail:[email protected] O presente artigo uma verso modificada do captulo introdutrio de minha tese de doutoramento(Almeida, 2010a). Uma primeira verso deste artigo foi apresentada no colquioElites em diferentes escalas: teoriae metodologia no estudo de grupos dirigentes(Curitiba, 12 e 13 de setembro de 2013); agradeo ao professor FlvioHeinz (PUCRS) e aos demais participantes do evento pelos comentrios apresentados naquela ocasio, quetentei incorporar, na medida do possvel, a esta verso final do artigo. Por se tratar de uma verso preliminar,
peo a gentileza de no citar o presente trabalho sem autorizao do autor.3Para uma sntese dos resultados dessa pesquisa, ver Almeida (2010b).
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected] -
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estatal (entidades de classe como a Associao dos Magistrados Brasileiros, a Confederao
Nacional do Ministrio Pblico e a prpria Ordem dos Advogados); e as elites intelectuais,
representadas pelos grupos de especialistas em temas relacionados administrao da
justia estatal (especialmente os especialistas em direito processual, mas tambm
constitucionalistas, socilogos e cientistas polticos). A identificao das posies ocupadas
por essas elites e de seus recursos de poder se deu, ainda, pela reconstruo dos processos
histricos de institucionalizao burocrtica da justia estatal, de diferenciao profissional
dos grupos ocupacionais responsveis por sua administrao e de consolidao e
diferenciao do espao acadmico representado pelas faculdades de direito.
A reconstruo desses processos histricos e a seleo dos dados necessrios
minha anlise s foram possveis, contudo, com base em uma articulao especfica dediferentes perspectivas tericas em um modelo de anlise que chamei de sociologia poltica da
justia estatal. Creio que uma sociologia poltica da administrao da justia estatal brasileira
deva ser composta de quatro elementos principais: (1) uma teoria do poder e da ao
poltica; (2) uma compreenso acerca do papel do profissionalismo e da ideologia
profissional dos juristas na administrao da justia estatal; (3) uma compreenso acerca da
relao entre elites, poder e bases profissionais na administrao da justia; e, por fim, (4)
uma compreenso abrangente acerca da organizao do sistema de justia brasileiro, e de
suas mltiplas dimenses em termos de composio social, aparatos burocrticos, regras
constitucionais e de procedimento, e lgicas de funcionamento na prtica. Embora minha
pesquisa tenha mobilizado esses elementos na medida em que dialogam com meu objeto
especfico, acredito que eles correspondem a elementos de anlise teis para o estudo de
qualquer elite estatal, quais sejam: (1) uma abordagem sobre a produo e a circulao do
poder no Estado e na sociedade; (2) uma abordagem que considere as formas de diviso e
de organizao do trabalho desempenhado pela elite que se quer estudar; (3) a
compreenso das dinmicas prprias de produo e de reproduo de elites; e (4) a
compreenso das lgicas prprias do campo de poder no qual se situa a elite que objeto
de estudo.
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1. Para entender a origem e a circulao do poder: uma teoria do poder e da
ao
Para cada um desses elementos do que considero que deva ser uma sociologia
poltica da administrao da justia estatal brasileira, escolhi uma perspectiva terica que
orientasse meu trabalho de pesquisa e a construo de seu objeto. A primeira delas, que
serve de moldura terica mais ampla para a articulao das demais perspectivas e se
relaciona diretamente com os problemas do poder e da ao, a sociologia poltica de
Pierre Bourdieu.
Para Bourdieu (2007a), o processo de institucionalizao(ou simplesmente instituio)
caracterizado como um acmulo lento de conquistas histricas, fruto da ao de agentesem disputa por princpios de diviso e organizao do mundo social, capaz de restringir as
possibilidades de ao e transformao do mundo pela incorporao e reificaocontnua da
histria. Segundo o autor,
O processo de instituio, de estabelecimento, quer dizer, a objetivao ea incorporao como acumulao nas coisas e nos corpos de um conjunto deconquistas histricas, que trazem a marca das suas condies de produo e quetendem a gerar as condies da sua prpria reproduo (quanto mais no peloefeito de demonstrao e imposio das necessidades que um bem exerceunicamente pela sua existncia), aniquila continuamente possveis laterais. medida que a histria avana, estes possveis tornam-se cada vez maisimprovveis, mais difceis de realizar, porque a sua passagem existncia suporia adestruio, a neutralizao ou a reconverso de uma parte maior ou menor daherana histricaque tambm um capital, e mesmo mais difceis de pensar,porque os esquemas de pensamento e de percepo so, em cada momento,produto das opes anteriores transformadas em coisas. (Bourdieu, 2007a: 101)
A compreenso conjunta de processos formais/estatais e informais/societais de
institucionalizao para a construo do campo e do objeto de estudo possvel a partir da
ideia de que as estruturas do campo tm diferentes pesos relativos (Bourdieu, 2007a), tendoo Estado um papel especial na legitimao e oficializao de divises e hierarquias social e
politicamente construdas (Bourdieu, 1989); alm disso, segundo Bourdieu, essa
compreenso conjunta de processos temporalmente distintos de institucionalizao deve
constituir-se no foco de anlise do cientista social, apesar de muitas vezes reproduzirem-se
em tempos histricos diversos:
Para passar mais alm e romper com as filosofias da histria que, ao
situarem o processo histrico muito alto (ou muito profundo), produzem o efeito
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de pr fora de jogo os agentes e os seus desprendimentos insensveis efreqentemente imperceptveis, seria preciso analisar ao mesmo tempo asmudanas estruturais [...] e a srie infinita dos diferenciais sociais que, aoacumularem-se imperceptivelmente, do origem a um estado totalmente novo docampo... (Bourdieu, 2007a: 92, nota 23)
Bourdieu um dos autores da teoria social contempornea dedicados ao esforo
terico de conciliao entre ao e estrutura na explicao dos fenmenos sociais (Cohen,
1999; Vandenbergue, 2006). Seu conceito de habitusuma viso de mundo compartilhada
por indivduos com caractersticas sociais comuns, produzida pela ao de mecanismos
como a educao formal e familiar, ritos de passagem e prticas de sociabilidade que
incutem nos indivduos as estruturas objetivas de poder no campo e na sociedade e que
definem suas prprias posies (e posturas, prticas, gestual etc.) nesse campo (Bourdieu,
2007a, b), associado ao conceito de campoum espao social de estruturas e agentes com
caractersticas comuns e que disputam um tipo de capital prprio desse espao, como o
capital poltico ou o capital jurdico (Bourdieu, 2007a, b) , fornece uma importante teoria
da ao e, ao mesmo tempo, uma interessante soluo para o aparente dilema ao versus
estrutura na teoria social4, em geral, e para a anlise institucional, especificamente. O
aprofundamento da anlise do habitusconfere dinmica e substncia ao campo como objeto
de pesquisa ao identificar na ao dos agentes tanto a histria incorporadaem suas trajetrias
individuais como a histria reificada nas instituies, ou seja, ao revelar a presena de
elementos subjetivos e objetivos que determinam as estratgias, concebidas como o senso
prtico dessa ao, empiricamente verificado no caso concreto em estudo (Lamaison;
Bourdieu, 1986). Segundo Bourdieu (2007b: 164),
A teoria da ao que proponho (com a noo de habitus) implica emdizer que a maior parte das aes humanas tem por base algo diferente dainteno, isto , disposies adquiridas que fazem com que a ao possa e deva serinterpretada como orientada em direo a tal ou qual fim, sem que se possa,
entretanto, dizer que ela tenha por princpio a busca consciente desse objetivo [...].O melhor exemplo de disposio , sem dvida, o sentido do jogo: o jogador,tendo interiorizado profundamente as regularidades de um jogo, faz o que faz nomomento em que preciso faz-lo, sem ter a necessidade de colocarexplicitamente como finalidade o que deve fazer. Ele no tem necessidade desaber conscientemente o que faz para faz-lo, e menos ainda de se perguntarexplicitamente (a no ser em algumas situaes crticas) o que os outros podemfazer em resposta, como faz crer a viso do jogo de xadrez ou de bridge quealguns economistas (especialmente quando aderem teoria dos jogos) atribuemaos agentes.
4Sobre esse e outros dilemas (ou encruzilhadas) fundamentais da cincia social, ver T illy (2004). Busquei
enfrentar cada um desses dilemas na exposio mais detalhada do meu referencial terico de pesquisa, nocaptulo introdutrio de minha tese de doutoramento (Almeida, 2010a).
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O campo, porm, no uma estrutura politicamente neutra; ao contrrio, nele
que so produzidas formas de dominao especficas, bem como se reproduzem formas de
dominao prprias de outros campos sociais, que se traduzem na lgica especfica de cada
um desses espaos sociais. O problema da dominao est na base dos estudos de Weber
sobre a burocracia (Tragtenberg, 1974; Giddens, 1998) e tambm da anlise marxista de
classes (Miliband, 1999); o trabalho de Bourdieu, no que se refere dominao, pode ser
considerado uma forma de conciliao entre essas duas tradies, sntese possvel por meio
de sua teoria dos campos do poder e pela anlise do poder a partir das estruturas e dos
volumes de diversos capitais, que resultam em diferentes posies de poder (incluindo a de
classe), e na produo cultural como meio de violncia e dominao simblica:
O campo de produo simblica um microcosmos da luta simblicaentre as classes: ao servirem os seus interesses na luta interna do campo deproduo (e s nesta medida) que os produtores servem os interesses dos gruposexteriores ao campo de produo. (Bourdieu, 2007a: 12).
Para Bourdieu, ao menos em uma etapa inicial do projeto cientfico, a construo
de um campo como objeto de pesquisa deve se dar como construo prvia do esquema de
relaes dos agentes e instituies objeto do estudo, ou seja, entre as posies do campo. Essa
etapa define a problemtica do campo a partir de um modelo, no no sentido de
regularidades pr-definidas como leis ou formalizadas matematicamente, mas sim no
sentido de proposies a serem testadas, que antecedem a experimentao, um sistema
coerente de relaes, que deve ser posto prova como tal (Bourdieu, 2007a: 32). Aps a
reconstruo da lgica do campo, por meio de uma interpretao das causas estruturais que
escapam conscincia dos agentes (Thiry-Cherques, 2006: 45), obedecendo a um trabalho
de deduo e induo que corrige permanentemente o esquema inicial de anlise,
conferindo-lhe substncia com a incorporao dos resultados de pesquisa emprica, e do
habitus do campo, ou seja, a congruncia de elementos subjetivos e objetivos que determinam
as estratgiasdessa ao, a matriz relacional inicial de anlise deve ser corrigida, buscando-se
o que Hermano Thiry-Cherques (2006: 50) denomina sntese da problemtica geral do campo.
Essa etapa final encaminha o trabalho de pesquisa para suas concluses em termos
de recolocar os problemas iniciais, buscando respostas s questes por ele colocadas,
teorias que o expliquem e novos desdobramentos e hipteses de pesquisa futura a partir
desse novo estado de conhecimento do campo. O conhecimento da problemtica do
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campo orienta o analista para a identificao do senso do jogo que estrutura as prticas
naquele campo e do prprio trabalho de codificao e normatizao social que produz as
regras e as regularidades imediatamente apreensveis pelo cientista social. Em outras
palavras, a aparente oposio entre explicao e predio resolve-se, na epistemologia de
Bourdieu, pelo deslocamento do foco da anlise, das regras e regularidades, para o trabalho
de produo social e de codificao simblica dessas regras e regularidades:
A regra como simples regularidade que pode ser capturadaestatisticamente no necessariamente deriva da regra como regra jurdica ouprejurdica, um costume, mxima, provrbio ou frmula estabelecendo umaregularidade, ento formatado como um fato normativo. [] Restando clara essadistino, v-se que no suficiente apenas registrar a regra, de um lado, eestabelecer a regularidade, de outro. preciso construir uma teoria do trabalho de
formulao e codificao dos efeitos propriamente simblicos que a codificaoproduz. (Lamaison; Bourdieu, 1986: 115)5
A teoria dos campos tem, portanto, carter essencialmente metodolgico e, nas
palavras de Bourdieu (2007a: 31), o limite de um campo o limite de seus efeitos, ou, em
outro sentido, um agente ou uma instituio faz parte de um campo na medida em que nele
sofre efeitos ou nele os produz o que, de acordo com o programa de pesquisa escolhido,
s se define ao final da pesquisa.
Nesse sentido, minha opo por mesclar a anlise de processos histricos de longoprazo relacionados com a institucionalizao do campo acadmico em direito e das
estruturas burocrticas e profissionais da justia estatal com a reconstruo de processos
histricos conjunturais , mais especificamente o primeiro ciclo da Reforma do Judicirio
(2003 a 2004) e os conflitos conjunturais entre profisses e posies hierrquicas do campo
jurdico6, teve por objetivo justamente compreender a interao entre indivduos, e entre
eles e a estrutura social em dois contextos diversos, nos quais os horizontes das estratgias
e tomadas de deciso diferem no tempo e no grau de conscincia da ao. Assim, noacredito ser descabido afirmar que estratgias, no sentido dado por Bourdieu ou seja, de
aes semiconscientes ou inconscientes, adotadas conforme o senso do jogo ou o habitus
da posio social do agente, sejam melhor apreensveis, na anlise social, na reconstruo
5Traduzido livremente do original: The rule as a simple regularity that can be captured statistically does not necessaryderive from the rule qua rule of law or pre-law, a custom, maxim, proverb, or formula stating a regularity, thus formed into anormative fact.[]This distinction being clearly drawn, one sees that it is not enough just to record the explicit rules on theone hand, and to establish the regularities on the other. One needs to construct a theory of the work of formulation and
codification of the properly symbolic effect which the codification produces.6Ver Parte IV de minha tese de doutoramento (Almeida, 2010a).
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das trajetrias de longo prazo que definem as posies dos agentes no campo jurdico e dos
padres de conflito e interao entre os diversos grupos profissionais de juristas,
principalmente quando se analisam os deslocamentos intergeracionais de um mesmo grupo
de elite. Por outro lado, tambm no parece equivocado afirmar que, na anlise da ao dos
grupos de elites jurdicas no processo poltico conjuntural da Reforma do Judicirio e dos
conflitos interprofissionais e hierrquicos que analisei em minha pesquisa, estejam
presentes outras estratgias, no sentido dado pelos adeptos da escolha racional, ou seja, de
clculos conscientes e racionais. Sobre esse ponto, em especial, tecerei mais algumas
consideraes adiante, ao discorrer sobre o papel das elites em processos conjunturais.
Em suma, o importante de se apreender dessa escolha metodolgica inicial a
concepo do poder como resultado de processos histricos e relacionais, nos quaisagentes disputam posies tendo por recurso suas prprias quantidades de poder simblico
(seus capitais), em um contexto estruturado (o campo) e estruturante da ao poltica (por
meio do habitus), ele prprio capaz de produzir novas formas e posies de poder. Assim,
se verdade que o Estado uma organizao caracterizada pelo monoplio do uso
legtimo da violncia, nos termos weberianos, tambm verdade que esse monoplio se
apresenta como uma reivindicao (Weber, 1972: 56), um processo no qual a tendncia de
concentrao do poder pelo Estado se d em disputa e relao com os poderes privados
ou seja, um Estado constitudo como campo de foras e campo de lutas orientados para
o monoplio da manipulao legtima dos bens pblicos (Bourdieu, 2005: 41). No caso de
minha pesquisa sobre as elites jurdicas brasileiras, esse referencial me permitiu situar o
campo poltico da justia brasileira para alm das instituies formais do sistema de justia,
bem como identificar suas elites para alm dos detentores oficiais de cargos pblicos
naquelas instituies, como demonstrarei na sequncia.
2.
Para entender a diviso e a organizao do trabalho: uma sociologia das
profisses jurdicas
A segunda perspectiva que orientou meu estudo sobre as elites jurdicas e a
administrao da justia estatal foi a da sociologia das profisses, especialmente da maneira
como est nos estudos de Eliot Freidson (1996, 1998) e de Dietrich Rueschemeyer (1964,
1977, 1986). Embora eu no ignore a multiplicidade de abordagens sociolgicas sobre as
profisses e o profissionalismo (Diniz, 1996; Coelho, 1999; Bonelli, 1999a), creio que os
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autores escolhidos, em especial Freidson, enfrentam temas que so comuns ao debate mais
amplo da sociologia das profisses, ao mesmo tempo em que incluem, em suas anlises,
elementos relativamente consensuais na caracterizao sociolgica das profisses: (a) sua
constituio como grupo social e poltico a partir de um projeto poltico de autogoverno;
(b) a exigncia de diploma de nvel superior, o credencialismo e o controle sobre o
exerccio profissional monopolizado pelo grupo; (c) o papel da liderana profissional na
conduo daquele projeto poltico e na interao com o Estado, o mercado e a sociedade
na conquista e manuteno de seu monoplio profissional; (d) a diferenciao em relao a
outras formas de organizao do trabalho, como a burocracia e a livre concorrncia do
mercado.
Entendida, portanto, em perspectiva dinmica, a profissionalizaopode ser definidaento como oprocesso pelo qual uma ocupao empreende um projeto poltico de conquista de um abrigo
estvel no mercado de trabalho, caracterizado por negociaes e conflitos com consumidores, ocupaes
correlatas e principalmente o Estado na legitimao social e poltica de sua expertise, na definio de
competncias e ttulos distintivos de seu conhecimento especializado e de sua jurisdio e na construo de
artifcios institucionais de autogoverno e credencialismo dos pares (Rueschemeyer, 1986; Freidson,
1996, 1998).
Todas essas caractersticas esto presentes, em maior ou menor grau, na
organizao dos juristas brasileiros que analisei em meu estudo sobre as elites jurdicas
mesmo de magistrados e membros do Ministrio Pblico, que, ao contrrio da advocacia
(mais prxima do tipo-ideal de profisso liberal), organizam-se como carreiras de Estado.
Alis, creio que a partir da dinmica dos conflitos entre sua organizao burocrtica
(ligada ao Estado e sujeita a algum grau de controle hierrquico administrativo) e suas
caractersticas propriamente profissionais (a autonomia de suas funes e o grau de
controle prprio sobre o recrutamento e o exerccio profissional) que se pode compreender
a constituio da magistratura e do Ministrio Pblico, bem como de suas associaes
representativas, como atores polticos relevantes no campo poltico da justia. Da mesma
forma, mesmo a advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, mais prximas do modelo
de organizao profissional pura(ou seja, organizada fora do Estado), no podem ter
seu poder e sua atuao poltica explicadas sem recurso sua relao com o Estado, seja
por sua origem corporativa, seja pelos trnsitos de suas elites pelo campo poltico e pelo
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campo jurdico.7Assim, busquei seguir a agenda de pesquisa proposta por Maria da Glria
Bonelli em sua reviso dos estudos sobre profisses no Brasil:
Neste sentido, fundamental que se investigue as relaes entreprofissionalismo, Estado e sociedade utilizando os instrumentais que a Sociologiadas Profisses j desenvolveu, e o conhecimento acumulado pelos trabalhos quefocalizaram a temtica sob outras perspectivas. Esta alternativa representa umamudana substantiva para a Sociologia das Profisses no Brasil, na virada dosculo. (Bonelli, 1999a: 316)
Embora nem sempre na chave terica de autores consagrados e propriamente
identificados sociologia das profisses (como Freidson, Terence Halliday e Magali
Larson), mas especialmente no que se refere sociologia das profisses jurdicas, merecem
destaque alm dos trabalhos j citados de Freidson e Rueschemeyer, que tm nos
advogados (ou lawyers) objetos preferenciais de estudoo trabalho comparativo de Richard
L. Abel (1982); o estudo de Stephen Ellmann (1992) sobre os advogados de interesse
pblico e a mobilizao de causas coletivas nos Estados Unidos; e a pesquisa de John P.
Heinz e outros (2001) sobre a diversificao das prticas jurdicas de advogados e
escritrios de Chicago; a coletnea de artigos organizada por Scott L. Cummings (2011)
sobre o paradoxo das profisses jurdicas, entre sua funo pblica de realizao da justia
e os aspectos mercantis de sua lgica de funcionamento como prestao de servio.Estabelecendo uma articulao entre a sociologia do campo jurdico de Bourdieu e uma
sociologia das profisses jurdicas (ou dos juristas), possvel citar, ainda, os trabalhos de
Yves Dezalay (Dezalay, 1991; Dezalay; Trubek, 1996; Dezalay; Garth, 2000, 2002), que
enfocam o papel do conhecimento especializado dos juristas nas transformaes do Estado
e do poder na Europa e na Amrica Latina.
No que se refere sociologia das profisses jurdicas no Brasil, a principal
referncia de meu estudo foram os estudos coordenados ou com participao de Maria da
Glria Bonelli (Bonelli, 1999b; Bonelli, 2002; Bonelli, 2003; Bonelli e outros, 2006; Cunha e
outros, 2007; Bonelli, 2008; Bonelli e outros, 2008). Nesses estudos, a autora buscou
reconstruir o percurso por meio do qual magistrados, membros do Ministrio Pblico,
advogados e delegados de polcia construram seus projetos polticos de autonomia
profissional e suas prprias ideologias do profissionalismo, em conflitos e negociaes com
o Estado, o mercado e os demais grupos profissionais; identificou, ainda, as clivagens
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Sobre a profissionalizao do trabalho jurdico e suas relaes com o Estado brasileiro, ver captulo 6 deminha tese de doutoramento (Almeida, 2010a).
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internas que, em muitos casos, marcam as trajetrias de institucionalizao e construo
dos projetos profissionais desses grupos.
Por fim, na mesma linha dos trabalhos de Yves Dezalay, j citados, tive por
referncia importante para minha pesquisa tambm os estudos de Fabiano Engelmann
(2006a, b) sobre a institucionalizao e a diversificao das carreiras jurdicas e as lutas
entre grupos profissionais no campo jurdico brasileiro.
Como disse acima, esse referencial terico especfico mostrou-se til na medida em
que pode se caracterizar os juristas e suas elites como membros de grupos profissionais, no
sentido em que so definidas as profisses por sua sociologia especfica e no sentido em
que assim so caracterizadas as profisses jurdicas brasileiras pela ampla produo nacional
baseada nesse referencial terico. O recurso sociologia das profisses ajudou-me aentender a evoluo histrica da relao entre direito e poltica na constituio desses
grupos profissionais, mais especificamente, no sentido de uma progressiva mas nunca
total diferenciao de atividades estritamente profissionais das atividades tipicamente
polticas (Grfico 1); ajudou-me, tambm, na identificao dos conflitos interprofissionais
do campo jurdico brasileiro, como definidores de clivagens e hierarquizaes entre
profisses ao nvel das elites jurdicas e do campo poltico da justia estatal (Grfico 2) e na
identificao da importncia do associativismo profissional para a formao de capital
poltico prprio desse campo (Grfico 3).
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Grfico 1Porcentagens de ministros do Supremo Tribunal Federal com passagens por cargos polticoslegislativos e executivos (Brasil, 1827 a 2008)
Fonte: Almeida (2010a), a partir de Supremo Tribunal Federal (2009)
Grfico 2Porcentagens de ministros do Supremo Tribunal Federal de acordo as trajetrias profissionais(Brasil, 1827 a 2008)
Fonte: Almeida (2010a), a partir de Supremo Tribunal Federal (2009)
16,2 15,7
6,25
15,62
48,6
21
2521,87
10
40,5
21
6,25
21,8720
21,62
15,718,75
15,62
20
0
10
20
30
40
50
60
porcentagem
perodo
polticos municipais
polticosprovinciais/estaduais
polticos federais
ministros de Estado
31,08
84,21
50
78,1290
77,02
57,89 62,5
34,3725
47,2
31,537,5 34,37 35
010
2030405060708090
100
porcentagem
perodo
advogados
magistrados
Ministrio Pblico
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Grfico 3Porcentagens de ministros do Supremo Tribunal Federal com passagens por cargos de lideranacorporativa (Brasil, 1827 a 2008)
Fonte: Almeida (2010a), a partir de Supremo Tribunal Federal (2009)
3. Para entender a produo e a reproduo da liderana e da dominao: uma
sociologia das elites
A terceira perspectiva que orientou meu estudo sobre as elites jurdicas e a
administrao da justia estatal foi, obviamente, a da sociologia das elites. Ao estabelecer
interlocuo com a sociologia das elites, busquei situar meu estudo no esforo de retomada
desse tema pelas cincias sociais brasileiras (Perissinotto; Codato, 2008) e identificar bases
para a comparao das elites jurdicas com outras elites sociais, econmicas, intelectuais,
polticas e administrativas no Brasil.
A opo pela abordagem das elites justifica-se, segundo Jos Murilo de Carvalho
(2007: 25), porque uma das vantagens das abordagens clssicas do fenmeno das elites
polticas a vinculao que fazem entre elite e dinmica social. O autor identifica dois
mtodos de anlise das elites desenvolvidos pela literatura: o primeiro, de posio, identifica
a elite nas posies formais de poder, o que incluiria os cargos eletivos e burocrticos do
Estado e das organizaes econmicas e profissionais; o segundo, de deciso, identifica a
elite nos grupos e nas pessoas que exercem poder real, mais do que institucional-formal, na
estrutura social, podendo a fonte desse poder ser de natureza diversa da estatal, ou seja,
2,710,52
18,75
71,87
40
0
10
20
30
40
50
6070
80
lideranacorporativa
perodo
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pode ser de natureza social, econmica e cultural. Nesse aspecto, a opo adotada em
minha pesquisa pode se localizar entre aqueles estudos que, segundo Carvalho, buscam
articular os dois mtodos na definio das elites, j que, de acordo com Pierre Bourdieu
(2007b), as posies de elite so determinadas pela combinao cumulativa de capitais
econmicos, culturais, e dos capitais prprios de cada campo (como o jurdico, por
exemplo), que deve ser analisada em trs dimenses: (I) a distribuio dos agentes no
campo de acordo com o volume global do capital possudo, de qualquer modalidade; (II) o
peso relativo de um ou outro capital na estrutura do capital global (com destaque para as
relaes entre capitais econmicos e culturais); e (III) a evoluo, no tempo, do volume e
da estrutura desses capitais, perceptvel na reconstruo das trajetrias dos agentes no
campo.Para alm da contribuio especfica de Bourdieu, contudo, a leitura de trabalhos
diversos sobre diferentes aspectos ou grupos de elite expe elementos comuns dessa
tradio de estudos, que ajudaram na orientao de minha pesquisa. O primeiro deles,
como j sugerido acima, a articulao necessria que se deve buscar, na anlise dos grupos
de elites, entre esses indivduos e grupos e a prpria estrutura social, a partir da verificao
das divises sociais que permitem o destacamento e a identificao de um ou mais grupos
como elites. Essa orientao serve para advertir o analista das elites sobre os riscos do
radicalismo do mtodo prosopogrfico8e para for-lo a considerar, na identificao dos
atributos comuns de grupos sociais de elites, a partir das trajetrias individuais, a incidncia
de elementos estruturais e da relao entre agentes e estruturas na constituio das relaes
de poder e dominao, e de legitimao dessas relaes num dado contexto (campo) social
(Montagner, 2007; Perissinotto; Codato, 2008).
Em outras palavras, o risco do mtodo estritamente prosopogrfico, que a
metodologia do campo previne, o da nfase excessiva que se possa dar aos atributos
individuais como sendo efetivamente pessoais, essencialmente ligados aos sujeitos, sejam
esses atributos naturais ou adquiridos. O que a anlise sociolgica da trajetria dos
indivduos deve revelar, ao contrrio, a incorporao das estruturas objetivas nos indivduos e nos
esquemas subjetivos de percepo e representao, de construo de identidades e de ao social (Bourdieu,
2007a). Segundo Flvio M. Heinz (2006: 8),
8Miceli (2001) diz que: Essa metodologia requer a construo da biografia coletiva de um determinado setorde classe dirigente, com base numa estratgia de exposio e anlise que se vale do exame detido de casos
exemplares, alados condio de tipos ideais, e, com base nesse corpus de evidncias, de infernciasqualificadas acerca do grupo ou do setor de classe na mira do pesquisador.
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trata-se de compreender, atravs da anlise mais fina dos atores situados no topoda hierarquia social, a complexidade de suas relaes e de seus laos objetivoscom o conjunto ou com setores da sociedade.
Nesse sentido, para ser completado, esse tipo de anlise deve tambm relacionar a
compreenso dessa histria incorporada nos sujeitos compreenso da histria reificada nas
estruturas, ou seja, da objetividade das estruturas sociais, em perspectiva histrica(Bourdieu, 2007a).
No caso do meu estudo, buscou-se compreender no s como os juristas se inserem e so
produzidos a partir da estrutura social brasileira, mas tambm como uma minoria de
juristas domina os demais, no interior do campo jurdico e a partir do que chamo de campo
poltico da justia; esse esforo me obrigou a considerar, portanto, os desenvolvimentos da
estrutura social e das instituies polticas brasileiras e a incidncia de fatores relacionados a
classes sociais, raas, gnero, burocratizao etc. nas trajetrias desses agentes e na
estruturao do campo de poder jurdico. Veja-se, a ttulo ilustrativo, como o processo de
feminizaodas carreiras jurdicas brasileiras, apontado por Werneck Vianna e outros (1997)
como indicativo das mudanas mais amplas da estrutura social brasileira, tm seus efeitos
contidos ao nvel das elites do campo poltico da justia (Grfico 4).
Grfico 4Porcentagens de homens e mulheres entre magistrados, por grau de jurisdio (Brasil, 2005)
Fonte: Sadek (2006)
Uma segunda orientao que decorre da leitura de diversos trabalhos sobre elites, e
que est associada anterior, diz respeito s divises e hierarquias presentes no interior da
prpria elite (Bottomore, 1965), para alm da clssica distino entre elites e no elites
75,2
87,494,4
24,8
12,65,6
0
10
20
30
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60
70
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1 grau 2 grau tribunais superiores
porcentagem
posio na hierarquia/grau de jurisdio
homens
mulheres
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formulada por Vilfredo Pareto (1966). No meu estudo, busquei identificar conflitos entre
subgrupos de elites jurdicas na composio das instncias superiores de liderana da
administrao da justia estatal, sejam esses conflitos estabelecidos entre bases e cpulas de
organizaes profissionais, sejam eles deflagrados entre diferentes grupos profissionais que
vivenciam situaes de dominao entre ocupaes correlatas (Freidson, 1998). A anlise
da institucionalizao do Conselho Nacional de Justia (CNJ) como um espao de lutas
entre grupos de elites e entre elites e no-elites parece emblemtica dessa afirmao: o
Grfico 5 demonstra como profissionais de baixo escalo, associaes de bases
corporativas e ocupaes subalternas do sistema de justia foram os principais
demandantes do CNJ nas sesses analisadas; o Grfico 6 demonstra como os principais
demandados, nos procedimentos administrativos analisados nessas mesmas sesses, foramas cpulas de tribunais do Poder Judicirio.
Grfico 5Porcentagens de procedimentos de controle administrativos e de pedidos de providncias, somados,na pauta da 46, da 68 e da 88 sesses ordinrias do Conselho Nacional de Justia, por tipo derequerente (Brasil, 2007, 2008 e 2009)
Fonte: Almeida (2010a), a partir de Conselho Nacional de Justia (2010)
0
5
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46 68 88
porcentagem
sesso
juzes/servidores/serventurios extrajudiciaisassociao deservidores/serventuriosassociao de juzes
tribunais de justia
tribunais federais
desembargadores
CNJ
ONG/associaes civis
advogados
OAB/associao deadvogadosMP
Defensoria Pblica
s.i.
outros
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Grfico 6Porcentagens de procedimentos de controle administrativos e de pedidos de providncias, somados,na pauta da 46, da 68 e da 88 sesses ordinrias do Conselho Nacional de Justia, por tipo derequerido (Brasil, 2007, 2008 e 2009)
Fonte: Almeida (2010a), a partir de Conselho Nacional de Justia (2010)
Essas consideraes sobre diviso entre elite e no elite e sobre as hierarquias e
divises no interior das elites nos levam terceira contribuio dos estudos de elite para
meu prprio trabalho, qual seja a questo da circulaoepermeabilidadedas elites (Bottomore,
1965; Ferreira, 2001). Nesse sentido, busquei identificar como determinados espaos e
estruturas institucionais permitem certo grau de circulao de grupos de juristas entre
posies de elite, e como os conflitos intraprofissionais e interprofissionais do campopoltico da justia brasileira podem ser em grande parte entendidos a partir da
diversificao social das bases profissionais das carreiras jurdicas, em oposio menor
variao na composio do plo dominante do campo jurdico, ainda bastante associado s
estruturas tradicionais e aos processos de longo prazo que definiram as relaes de poder
entre instituies e profisses jurdicasalm dos dados sobre gnero, j expostos (Grfico
4, acima), dados sobre as faculdades de origem dos membros das elites jurdicas (Grfico 7,
0
10
20
30
40
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60
70
46 68 88
porcentagem
sesso
tribunal de justia
tribunal federal
tribunal superior
CNJ
juiz
s.i.
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abaixo) tambm ilustram essa impermeabilidade relativa do crculo de elites jurdicas em
relao aos processos de diversificao social das bases profissionais do campo.
Entre as divises no interior das elites jurdicas, uma em especial foi de
fundamental importncia para minha anlise e refere-se a uma quarta orientao dada pela
reviso de estudos de elite, concernente relao entre intelectuais e grupos dirigentes e
prpria caracterizao dos intelectuais como grupos de poder (Gramsci, s.d.; Mannheim, 1957,
1986; Bottomore, 1965; Miceli, 1979, 1999). Quanto a esse aspecto, busquei identificar e
analisar o papel dos intelectuais-juristas e de outros especialistas diretamente relacionados
administrao da justia estatal e sua contribuio para a definio de um discurso e de uma
ideologia legtimos para as formas oficiais de oferta de justia, alm de uma agenda para sua
reforma.9
O caso dos especialistas em direito processualassociados ao Instituto Brasileirode Direito Processual e chamada Escola Processual Paulista, e com participao
recorrente nas principais reformas processuais desde a dcada de 1970 ilustrativo desse
tipo de insero poltica de um grupo intelectual no campo poltico da justia brasileira
(Quadro 1).
9
Sobre o poder dos especialistas na poltica da justia, ver o captulo 5 de minha tese de doutoramento(Almeida, 2010a).
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Quadro 1Trajetrias acadmicas e participao em reformas dos membros do IBDP
Nome Trajetria acadmica Participao em reformas legislativas
Alfredo BuzaidBacharel (1935) e livre-docente(1946) pela FDUSP; professor ediretor da FDUSP
Autor do Cdigo de Processo Civil (1973);Coordenador da Comisso de Reviso de Cdigos(1967)
Jos Frederico MarquesBacharel (1933) e livre-docente(1953) pela FDUSP; professordas Faculdades de Direito daPUCSP e a USP
Membro da Comisso do Cdigo de Processo Civil(1973); relator do anteprojeto do Cdigo de ProcessoPenal (1970); membro de Comisso de elaborao deprojeto para a parte especial do Cdigo Penal (1970)
Cndido RangelDinamarco
Bacharel (1960), doutor (1970),livre-docente (1973) e professorpela FDUSP
Membro da Comisso do Ministrio Pblico de SoPaulo para anlise e emendas ao anteprojeto deCdigo de Processo Penal (1977); Membro deComisso de elaborao de anteprojeto da Lei daAo Civil Pblica (1985); redator do anteprojeto deLei de implantao do Juizado de Pequenas Causas noEstado de So Paulo (1985)
Ada Pellegrini Grinover
Bacharel (1958), especialista(1966), doutora (1970) e livre-docente (1973) da FSUSP;professora das Faculdades deDireito de Vitria e da USP
Membro de Comisso de elaborao de anteprojeto deLei da Ao Civil Pblica (1985); presidente dacomisso elaboradora do Anteprojeto do Cdigo deDefesa do Consumidor (1990) presidente da Comissode Reforma do Cdigo de Processo Penal (2000);
membro da Comisso de e Reviso da Lei da AoCivil Pblica (2008); autora do Projeto de Lei doPoder Executivo sobre quebra de sigilo telefnico(2008)
Kazuo Watanabe
Bacharel (1959), especialista(1969 e 1970), mestre (1978), edoutor (1985) pela FDSUP;professor das Faculdades deDireito de Guarulhos e da USP,e das FaculdadesMetropolitanas Unidas
Membro da Comisso elaboradora do Anteprojeto daLei Federal de Pequenas Causas (1984); membro deComisso de elaborao de anteprojeto da Lei daAo Civil Pblica (1985); membro da comisso dereviso do Cdigo de Processo Civil (1985); membroda comisso elaboradora do Projeto de Lei Estadualde Criao do Sistema dos Juizados Especiais dasPequenas Causas (1986); membro da comissoelaboradora do Anteprojeto do Cdigo de Defesa doConsumidor (1990); membro da Comissoelaboradora e revisora dos projetos de reforma doCdigo de Processo Civil (1994-1995);
Antnio MagalhesGomes Filho
Bacharel (1970), mestre (1982),doutor (1989) e livre-docente(1995) pela FDUSP; especialista(1973) pela PUCSP; professor evice-diretor da FDUSP;professor das Faculdades deDireito da Universidade deTaubat, de Osasco e deItapetininga
Membro de Comisso de elaborao de Anteprojetosobre Custdia Provisria formulado pela Secretariada Segurana Pblica de So Paulo (1983); membro daComisso formada pela Procuradoria Geral de Justiae Associao Paulista do Ministrio Pblico, com afinalidade de oferecer estudos e sugestes sobre oProjeto de Cdigo de Processo Penal (1983); membroda Comisso de Estudos sobre Alteraes naLegislao Processual Penal, instituda pela AssociaoPaulista do Ministrio Pblico (1992); membro daComisso Revisora da Reforma do Cdigo deProcesso Penal do Ministrio da Justia (1994);membro do Grupo de Trabalho da Secretaria daAdministrao Penitenciria do Estado de So Paulopara alteraes na Lei de Execuo Penal. (1995);membro da Comisso formada por professores daUniversidade de So Paulo e Juzes do Tribunal de
Alada Criminal, de So Paulo para elaborao deanteprojeto da Lei dos Juizados Especiais Cveis eCriminais (1995); membro da Comisso de Reformado Cdigo de Processo Penal do Ministrio da Justia(2000); membro da Comisso de Juristas do SenadoFederal para elaborao do Anteprojeto de Cdigo deProcesso Penal (2008)
Tereza Arruda AlvimWambier
Bacharel (1980), mestre (1985),doutora (1990) e livre-docente(2004) pela PUCSP; professorada PUCSP, da PUCPR, dasUniversidade Paranaense eTuiuti do Paran, e dasFaculdades Integradas deCuritiba
Relatora da Comisso de Juristas do Senado Federalpara elaborao do Anteprojeto de Cdigo deProcesso Civil (2009)
Fontes: Almeida (2010a), a partir de Supremo Tribunal Federal (2009); Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (2009); Moreira Alves (2003); Nalini (2003); Arantes (2002)
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Uma quinta orientao que vem da tradio dos estudos de elite diz respeito sua
escolarizao e ao papel das instituies de ensino no recrutamento, na socializao e na
reproduo dos grupos de elite (Gramsci, s.d.; Bourdieu, 1996, 2007b; Almeida; Nogueira,
2002; Brando; Lellis, 2003; Bourdieu; Passeron, 2008; Almeida, 2009). Considerando-se os
diferentes volumes e estruturas de capitais que definem as posies de elite, originalmente
derivados da posio social inicial dos agentes do campo (que dessa forma ingressam e se
posicionam nos campos, a princpio, apenas pela fora de suas heranas familiares,
entendidas em sentido amplo), estas podem, contudo, ser alteradas em sua composio
interna pelo efeito da entrada de novos grupos no interior do campo, mediada pelo sistema
escolar, que passam a disputar com as posies dominantes os recursos prprios de cada
campo de poder. De acordo com essa perspectiva, portanto, a diversificao social epoltica dos campos de poder seria resultado da mediao exercida pelo sistema escolar
sobre processos de diferenciao de classe produzidos no mbito do modo de produo e
dos processos de estratificao social decorrentes (Bourdieu, 1996; Bourdieu; Passeron,
2008).
Nesse sentido, escolas prestigiadas, voltadas para a instruo de membros das elites
sociais, polticas e econmicas, teriam seus diplomas muito valorizados no mercado de
especialistas, ao passo que a expanso do mercado de diplomas nas sociedades capitalistas
pode ser capaz de reduzir o valor relativo desses diplomas e criar tenses na composio
do campo e nas formas de reproduo das estruturas e dos agentes de dominao ao
permitir o acesso a esse mercado de grupos socialmente inferiores nas hierarquias e
divises de classes. Da mesma forma, o diploma de uma escola de prestgio pode ser, para
um agente socialmente marginal no campo, um importante capital que permita sua
ascenso num campo, independente da rede de relaes familiares e de seus capitais
herdados. Essa seria a chave de anlise para se entender as mudanas no interior das elites
sociais e polticas (basicamente, as mudanas associadas sua permeabilidade e sua
composio interna) e, dessa forma, para se compreender a conservao e a mudana na
ordem social moderna (Bourdieu, 2007b).
Minha pesquisa sobre as elites jurdicas confirmou essa hiptese, ao demonstrar que
a posse de diplomas superiores de certas faculdades de direito constitui o capital simblico
mais homogeneamente distribudo entre todos os indivduos e grupos de elite analisados. A
anlise de currculos e biografias de membros de diferentes grupos das elites jurdicas
permitiu identificar um conjunto de faculdades de direito de elite, cujo diploma confere aos
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seus egressos um acesso privilegiado ao campo poltico da justia: as faculdades de direito
fundadas no Imprio, as primeiras escolas livres fundadas por elites locais nos primeiros
anos da Repblica (todas ligadas a universidades pblicas, atualmente), e as confessionais
catlicas (privadas), fundadas nas dcadas de 1940 e 50, seguidas de outros poucos cursos
privados laicos criados antes da massificao do ensino na dcada de 1990 (Grfico 7).
Essa anlise tambm permitiu identificar como a posse de ttulos acadmicos de ps-
graduao torna-se um capital diferenciado nas lutas do campo jurdico, mais poderoso
quanto maior for a titulao (Grfico 8).10
Grfico 7
Nmero de ministros do Supremo Tribunal Federal, por instituio de ensino de origem (Brasil,1889 a 2008)
Fontes: Almeida (2010a), a partir de Consultor Jurdico (2008); Supremo Tribunal Federal (2009)
10
Nesse sentido, ver a Parte II de minha tese de doutoramento (Almeida, 2010a); especificamente sobre ovalor simblico dos ttulos de ps-graduao, ver tambm Almeida (2012).
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40
30
127
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9
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nmerodeministros
instituies de ensino
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Grfico 8Porcentagens de ministros do Supremo Tribunal Federal com ttulos de ps-graduao e dedicao docncia (Brasil, 1889-2008)
Fonte: Supremo Tribunal Federal (2009)
Por fim, ainda no que se refere sociologia das elites, a opo pelo foco em umprocesso poltico conjuntural bastante delimitado no tempo e no espao a Reforma do
Judicirio, especialmente seu ciclo poltico de 2003 a 2004 justifica-se a partir da
diferenciao entreperodos histricos cruciais, caracterizados por mudanas polticas abruptas
(guerras, revolues, transies de regime etc.), e perodos histricos rotineiros, nos quais as
decises das lideranas polticas ocorrem de acordo com regras ou rotinas estabelecidas, em
um contexto de alta previsibilidade (Perissinotto; Codato, 2008). De acordo com essa
diferenciao, bastante til para se dimensionar o papel das elites em processos polticos,
a natureza da elite poltica tanto mais importante quanto mais crucial for operodo histrico analisado: em momentos de mudana social h mais decises atomar, mais opes a fazer, mais alternativas a legitimar. (Perissinotto; Codato,2008: 10)
Meu argumento o de que a obteno de consensos mnimos para a aprovao da
Reforma do Judicirio, no perodo entre 2003 e 2004, aps treze anos de tramitao da
Proposta de Emenda Constitucional n 96/1992 no Congresso Nacional, deveu-se
0 0 0 3,12
35
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5,4 5,20
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articulao, pela liderana executiva da Reforma, de grupos de elites jurdicas associados a
trajetrias e posies bastante consolidadas no campo jurdico, em torno de uma agenda
reformista que acabou por fortalecer as posies do plo dominante do campo da
administrao da justia estatal; nesse sentido, a prevalncia da agenda racionalizadora
(central no resultado final da Reforma e voltada para a centralizao do sistema e o
aumento de sua eficincia decisria) sobre a agenda democratizante (associada
ampliao do acesso justia e presente em medidas marginais aprovadas no conjunto das
mudanas introduzidas) pode ser explicada pelo protagonismo desses grupos de juristas,
cujas trajetrias se associam a processos polticos de longo prazo na estruturao do campo
jurdico.
Em suma, creio que a caracterizao de um grupo de elite e sua anlise sociolgicadeve levar em conta necessariamente esses cinco fatores sua relao com a estrutura
social, suas divises e hierarquias internas, sua abertura para a circulao e a
permeabilidade, sua escolarizao e sua ao poltica em diferentes tempos histricos; do
contrrio, o estudo das elites corre o risco da tautologia(explicar a elite por sua j conhecida
posio social superior, quando o que se deve explicar justamente essa posio superior)
ou da apologia(simplesmente retratar as elites sem um esforo de anlise crtica que desnude
as formas de dominao das quais elas so produto, reforando essa dominao ao
expressar acriticamente sua superioridade).
4. Para entender a lgica do campo de poder: uma sociologia da administrao
da justia
Por fim, a quarta perspectiva analtica que orientou meu estudo sobre as elites
jurdicas e a poltica da justia estatal a da sociologia da administrao da justia, concebida
como o conjunto de estudos e pesquisas sobre as instituies e os profissionais da justia,
seus procedimentos de resoluo de conflitos, suas demandas e sua clientela, sua reforma e
sua gesto (Sousa Santos, 1996). Como referncia central para a organizao de um campo
to abrangente de objetos de estudos, alimentado por pesquisas oriundas de diferentes
cincias sociais, do prprio direito e da histria, parto do conceito, j consagrado na
literatura brasileira, de sistema de justia, para a construo de outro conceito, operacional
para os fins de minha pesquisa, de campo poltico da justia.
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Com maior ou menor rigor, com maior ou menor definio conceitual, as noes
de campo jurdico e sistema de justia vm sendo utilizadas em diversos estudos de cincias
sociais sobre o funcionamento da justia no Brasil, seus agentes e suas instituies. De uma
maneira bastante esquemtica e, consequentemente, um tanto imprecisa , possvel
dizer que a noo de campo jurdico mais comum em estudos de vis sociolgico ou
antropolgico, ao passo que a de sistema de justia caracterstica dos estudos poltico-
institucionais. Isso no quer dizer que no se verifique, na realidade, o uso combinado das
duas expresses, ora tidas como sinnimos, ora como noes complementarestal qual se
percebe, por exemplo, nos estudos de Maria da Glria Bonelli (1999b, 2002) e Jacqueline
Sinhoretto (2011). Ainda que sob risco de certo preciosismo, dedicarei algumas
consideraes, neste tpico, a fim de esclarecer de que maneira, a partir do conceitoinstitucional de sistema de justia, desenvolvi o conceito de campo poltico da justia, como
desdobramento daquele, e com o objetivo de criar um modelo de anlise poltica do
sistema de justia no qual variveis tradicionalmente associadas abordagem sociolgica
(como gnero, classe e prestgio) possam se integrar, desde os primeiros momentos da
pesquisa (ou seja, desde a formulao de suas hipteses iniciais), quelas variveis
institucionais decorrentes do desenho constitucional do sistema de justia.
Segundo Maria Tereza Sadek (2002), cientista poltica e uma das principais
mobilizadoras, no Brasil, da noo corrente de sistema de justia 11 nos trabalhos de
orientao poltico-institucional,
A constituio e o desenvolvimento de uma rea temtica centrada nasinstituies que compem o sistema de justia correlacionam-se fortemente como Estado de Direito, com a democracia formal e sua consolidao. [...] A agendada Cincia Poltica como das demais Cincias Sociais s passou a incorporarestudos sobre o Judicirio e sobre as outras instituies que compem o sistemade justia nos anos de 1990, quando o regime democrtico passou a serconsiderado um valor em si mesmo e quando os efeitos da Constituio de 1988
tornaram-se visveis. (Sadek, 2002: 236)
Prossegue a autora:
Entendemos por sistema de justia o conjunto de instituies estataisencarregadas de garantir os preceitos constitucionais, de aplicar a lei e dedistribuir justia. [...] [A]o se constituir como uma rea relativamente autnoma,tem invocado e chamado para si questes anteriormente tratadas por outras
11 No se poder ignorar, tambm, a influncia da expresso judicial system, utilizada em lngua inglesa, e
especialmente no Estados Unidos, como equivalente a Poder Judicirio, no s pelos cientistas polticas,como tambm pelos operadores do sistema.
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sociologias especializadas e outras disciplinas, quer do Direito quer das CinciasSociais e da Histria. Mas, ao incorporar essas questes, transforma-as,examinado-as sob uma tica distinta. Isto , prope que as anlises sobreaqueles temas tenham por eixo ou fio condutor as instituies judiciais. (Sadek,2002: 237)
Em outra passagem do mesmo artigo, Sadek refora dois aspectos sugeridos nas
passagens transcritas acima, os quais considero centrais na formulao do conceito de
sistema de justia: seu carter institucional-formal e sua vinculao organizao jurdico-
constitucional do poder. Afirma a autora:
A Constituio de 1988 e os papis atribudos ao Judicirio, aoMinistrio Pblico, Defensoria Pblica, Procuradoria da Repblica, Advocacia Geral da Unio, s polcias, aos advogados, enfim aos operadores doDireito, representam uma mudana radical, no apenas no perfil destasinstituies e de seus integrantes, mas tambm em suas possibilidades deatuao na arena poltica e de envolvimento com questes pblicas. [...] EsseJudicirio, com baixssima realidade poltica, ganhou vitalidade na ordemdemocrtica ou, ao menos, foram-lhe propiciadas condies de romper com oencapsulamento em que vinha vivendo desde suas origens. No que se refere sdemais instituies do sistema de justia, a converso foi ainda maior:conquistaram recursos de poder e um espao que extrapola (em excesso, diriamalguns) os limites de funes exclusivamente judiciais. (Sadek, 2002: 253-4)
De fato, uma anlise formal do modelo institucional-constitucional do sistema de
justia seria, do ponto de vista de qualquer anlise poltica, um passo importante, se no oprimeiro, de uma investigao sobre a justia estatal de qualquer pas. Meu objetivo, como
j dito, o de agregar anlise da organizao da justia brasileira, a partir de seu desenho
constitucional, consideraes relacionadas a outras formas de estruturao e organizao
do poder que no somente aquelas previstas nos desenhos institucionais e nas constituies
polticas, e que buscarei, justamente, na teoria dos campos de poder, de Bourdieu, e na
sociologia das elites.
Essas consideraes no so de todo ausentes nas anlises institucionais, j que,
como afirma Sadek (2002), a delimitao do chamado sistema de justia tem por objetivo
constituir-se em uma linha de anlise, um parmetro de organizao de uma vasta produo
de cincia social sobre o funcionamento da justia estatal em torno de um objeto comum,
qual seja, a qualidade de nossa democracia, afervel tambm por seu desempenho judicial
ou, em outras palavras, pelo desempenho de suas instituies de justia. Da, conforme
Sadek sugere na transcrio acima, a ideia de sistema de justia como eixo, oufio condutor, de
anlises desenvolvidas por diferentes disciplinas das cincias sociais, bem como da histria
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e do direito, em torno de um objeto que mais amplo do que o poder judicirio (Sa dek,
1999: 11).
Busquei avanar, portanto, na construo de um modelo de anlise abrangente, que
possa ser aplicado a outros objetos de pesquisa e que permita essa integrao de variveis
sociolgicas anlise institucional, possibilitando um dilogo metodologicamente
estruturado de diferentes vertentes da produo da cincia social brasileira sobre o
funcionamento da justia estatal.12 Segundo o modelo de anlise proposto no presente
estudo, portanto, variveis sociolgicas e institucionais articulam-se desde o primeiro
momento do trabalho de pesquisa, ou seja, desde o momento inicial de formulao das
primeiras hipteses de investigao, nas quais a origem, o exerccio e a distribuio do
poder no interior do sistema de justia devem necessariamente considerar processos efenmenos de origem social e simblica (mais especificamente, aqueles relacionados s
divises de classe, gnero e prestgio), bem como aqueles decorrentes das funes e
divises poltico-institucionais (mais especificamente aqueles relacionados ao desenho
constitucional formal e s funes e denominaes oficiais das instituies e dos agentes do
sistema). Para tanto, parto dos estudos de Sadek e seus colaboradores sobre o sistema de
justia (Sadek, 1999, 2001, 2002, 2003, 2004a, b, 2006; Sadek; Arantes, 2001; Sadek; Dantas,
2001; Sadek; Cavalcante, 2003), para, por meio de um dilogo com uma ampla literatura
sobre o funcionamento das instituies de justia no Brasil, construir um objeto (o campo
poltico da justia) que permita compreender as origens, a organizao e a distribuio do
poder de direo e controle da administrao da justia estatal.
Da mesma forma como a mera listagem de posies institucionais serviria para a
identificao das elites jurdicas, ela serviria tambm para a delimitao formal do espao
institucional do poder de administrao da justia estatal. Entretanto, como sugeri acima,
creio que o poder da administrao da justia estatal no exercido e delimitado apenas
por posies e arenas institucionais; em outras palavras, acredito que o espao de circulao
12Para importantes revises da literatura de cincias sociais sobre o funcionamento da justia no Brasil, seusdesenvolvimentos e divises disciplinares, ver Eliane Botelho Junqueira (1996) e Maria Tereza Sadek (2002).Por fim, importante mencionar o esforo de sistematizao da literatura levado a cabo por JacquelineSinhoretto (2011), que faz uma crtica das revises feitas por Junqueira e Sadek, citadas acima, e busca super-las, ao introduzir a reviso dos estudos sobre violncia e justia criminal e explorar as relaes entre sistemade justia e sistema de justia criminal, concluindo pela existncia de duas tendncias de estudos sobre ajustia no Brasil, conforme seus autores enfatizem mudanas ou continuidades nos padres de seufuncionamento, em termos de democratizao, perfil social e ideolgico e garantia de direitos; o esforo feitopor Sinhoretto, nesse sentido, tem o mesmo objetivo de meu estudo de articulao de explicaes
sociolgicas (chamadas por ela de microssociolgicas) e poltico-institucionais (classificadas pela autora comomacrossociolgicas).
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e exerccio desse poder que venho chamando de campo poltico da justia estruturado a
partir da concentrao de diversas formas de capitais no apenas institucionais, mas
tambm sociais e polticos, como demonstrado a partir das anlises de trajetrias com foco
em variveis como experincias profissionais e polticas, gnero e faculdades de origeme,
principalmente, da articulao que essas estruturas de capitais compartilhados permitem
entre diferentes posies institucionais, ocupadas por membros com trajetrias e perfis
semelhantes. Alm disso, como demonstrei na anlise do poder dos especialistas, esse
espao de poder inclui, tambm, posies margem do organograma do sistema de justia
embora as comisses de reforma processual, no mbito do Executivo e do Legislativo, e
de um conselho de pesquisas judicirias, no mbito do CNJ, apontem para considervel
grau de institucionalizao formal dessas posies de poder.A existncia desse espao de poder, no qual transitam agentes com estruturas de
capitais semelhantes, ajuda a entender como se d a unidade poltica nacional de um
sistema de justia formalmente fragmentado, tendo em vista sua estrutura federativa e dual.
Nesse aspecto, a criao do CNJ e do CNMP, bem como os mecanismos processuais que
aumentaram o poder jurisdicional do STF (smulas vinculantes e repercusso geral dos
recursos), apenas consolidaram, pela via da institucionalizao no aparato estatal da
administrao da justia, um poder j concentrado em um plo nacional dominante,
estruturado em torno das posies institucionais do STF, do STJ, da Procuradoria-Geral da
Repblica e da OAB e de suas relaes com as cpulas dos sistemas estaduais e federal de
justia, bem como de suas alianas com grupos intelectuais to bem delimitados e
concentrados como os especialistas em direito processual.
5. Consideraes finais
O presente trabalho teve por objetivo to somente compartilhar os referenciais
tericos que utilizei em minha pesquisa sobre as elites jurdicas e a poltica da administrao
da justia estatal. Contudo, como defendi acima, acredito que os referenciais que busquei
articular em um modelo de anlise das elites jurdicas brasileiras podem ser teis para a
compreenso de diferentes elites, em geral, e das elites estatais em especial.
Para isso, a ideia de um campo de relaes sociaisum campo de poderme parece
central para a articulao terica mais ampla dessas diferentes perspectivas. a partir dessa
moldura terica que possvel compreender a incidncia diferencial e simultnea de
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elementos explicativos tradicionalmente (e no raro, isoladamente) mobilizados pela
sociologia das profisses, pela sociologia das organizaes, pela sociologia das elites em
especial, e pela sociologia poltica em geral. Embora cada uma dessas sociologias especficas
tenha seus prprios instrumentais e tradies tericos, acredito que a articulao de suas
contribuies metodolgicas no conceito de campo no s possvel, como til, na medida
em que nos permite compreender as elites estatais a partir de elementos que considero
essenciais: a origem e a circulao do poder em torno do (mas no necessariamente no)
Estado, as formas de diviso social do trabalho e sua institucionalizao, os processos de
produo e reproduo de elites, e as lgicas especficas dos campos de poder nos quais
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