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EMPRESAS TRABALHAM PARA CALCULAR OS CUSTOS FINANCEIROS DO EFEITO DE SUA PRODUçãO SOBRE O MEIO AMBIENTE DA RIO+20 PROTAGONISTAS É PRECISO AUMENTAR A OFERTA DE ENERGIA, MAS OS INVESTIMENTOS EM FONTES RENOVáVEIS CRESCEM EM VELOCIDADE AQUÉM DO NECESSáRIO O FUTURO DA ENERGIA VALOR DO IMPACTO BRASIL SUSTENTÁVEL CORREIOS Impresso Especial 9912224192 3/8 - DR/RJ CEBDS JUNHO/JULHO EDIçãO 35 R$ 10 2012 UMA PUBLICAçãO DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL NUNCA A INICIATIVA PRIVADA ESTEVE TãO ENVOLVIDA E PREPARADA PARA PARTICIPAR DE UMA CONFERêNCIA DO PORTE DA QUE SERá REALIZADA EM JUNHO NO BRASIL. EMPRESARIADO COBRA REGRAS CLARAS DOS GOVERNOS E APRESENTA SUAS PROPOSTAS

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EmprEsas trabalham para calcular os

custos financEiros do EfEito dE sua produção sobrE o mEio ambiEntE

da rio+20 protagonistas

É prEciso aumEntar a ofErta dE EnErgia, mas os invEstimEntos Em fontEs rEnovávEis crEscEm Em vElocidadE aquÉm do nEcEssário

o futuro da EnErgia valor do

impacto

BRASILSUSTENTÁVEL CORREIOS

Impresso Especial

9912224192 3/8 - DR/RJCEBDS

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2012

u m a p u b l i c a ç ã o d o c o n s e l h o e m p R e s a R i a l b R a s i l e i R o p a R a o d e s e n v o lv i m e n t o s u s t e n t á v e l

nunca a iniciativa pRivada esteve tão envolvida e pRepaRada paRa paRticipaR de uma confeRência do poRte da que seRá

Realizada em Junho no bRasil. empResaRiado cobRa ReGRas claRas dos GoveRnos e apResenta suas pRopostas

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C â m a r a s t e m á t i C a s

Carlos eduardo Garrocho de almeida

Holcim

Franklin FederAlcoa

Gilbert Landsberg Shell Brasil

João Batista Ferreira Dornellas

Nestlé

marco simõesCoca-Cola

eduardo LeducBasf

Hélio ribeiro Duarte HSBC

meire Fidelis Grupo Abril

C O N s e L H O D e a D m i N i s t r a ç ã O

PRESIDENTE EXECUTIVA

Marina Grossi

CHAIRMAN

Marcos Bicudo

PRESIDENTE DE HONR A

Erling Sven Lorentzen

a s s O C i a D O s C e B D s

• abralatas• aes Brasil• anglo american• alcoa alumínio s.a. • allianz seguros• amanco Brasil s.a.• amBev – Companhia de Bebidas das américas• amil• arcelormittal Brasil• Bahia mineração• Banco do Brasil • Basf s.a.• Bayer s.a.

• BNDes• BP Brasil LtDa.• Bradesco s.a.• Brasil Foods• Braskem s.a.• Caixa econômica Federal• Capemisa• CCr• Chemtech• Chesf• Cia. Brasileira de Petróleo ipiranga• Cia. energética de minas Gerais – Cemig

• Coca-Cola• Copel• CPFL energia• DNV• Dow Brasil• eBX• ecofrotas • ecopart • eletrobras• eletronuclear – eletrobras termonuclear s.a.• energias do Brasil• Furnas – Centrais elétricas s.a.

• Ge• Gerdau açominas s.a. • Goodyear do Brasil • Grupo abril• Grupo Pão de açúcar • Grupo santander• Holcim Brasil s.a.• HsBC• instituto solví• itaú Unibanco• Lorentzen empreendimentos s.a. • michelin • monsanto do Brasil LtDa.

• Natura Cosméticos• Nestlé Brasil LtDa.• Organizações Globo• Petrobras – Petróleo Brasileiro s.a.• Pepsico• Philips• Pirelli Pneus• raízen• schneider electric• sebrae mG• shell Brasil LtDa.• sHV• siemens

• solvay do Brasil LtDa.• souza Cruz s. a.• suzano Papel e Celulose• syngenta seeds LtDa.• thyssenKrupp Csa• tim• Unimed• Usiminas – Usinas siderúrgicas de mG s.a.• Vale• Votorantim Participações s.a.• Walmart Brasil

D i r e t O r i a

Vânia somavillaVale

Jorge sotoBraskem

maria Luíza Pinto Grupo Santander Brasil

Wilson santarosa

Petrobras

v i n c u l a d o a o

Av. das Américas, 1.155 – grupo 208, 22631-000, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Tel.: 55 21 2483.2250, e-mail: [email protected], site: www.CEBDS.org

W O R L D B U S I N E S S C O U N C I L F O R S U S T A I N A B L E D E V E L O P M E N T ( W B C S D )

e Q U i P e C e B D s

Diogo mattos eduardo Nunes

Fernanda Gimenes Fernando malta

Juliana silva Leandro Batista Lia Lombardi Luciana Neto

marcelo Campos márcia Penna Firme mariana meirelles

Pablo Vázquez

Phelipe Coutinho silvana Nocito sueli mendes

tatiana Botelho

ÁGUA

PRESIDENTE: Josemar Picanço

Coca-Cola

VICE-PRESIDENTE: Cláudia Pires

Pepsico

BIODIVERSIDADE E BIOTECNOLOGIA

PRESIDENTE: ana Paula ramos

Petrobras

VICE-PRESIDENTE: Gabriela Burian

Monsanto

COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE

PRESIDENTE: eraldo Carneiro

Petrobras

VICE-PRESIDENTE: Helvio Kanamaru

Nestlé

CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL PRESIDENTE: Carlos eduardo

Garrocho de almeida Holcim

VICE-PRESIDENTE: Jean rodrigues Benevides

Caixa Econômica Federal

ENERGIA E MUDANÇA DO CLIMA

PRESIDENTE: David Canassa

Votorantim Participações

VICE-PRESIDENTE: Vivian macknight

Vale

FINANÇAS SUSTENTÁVEIS

PRESIDENTE: Wagner siqueira

Banco do Brasil

VICE-PRESIDENTE: marcela Cotrin

Allianz

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REPORT COMUNICAÇÃO

Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3.530 – 5º andar – Jd. Paulista – São Paulo – SP – CEP 01402-001 telefone: 55 11 3051.8400e-mail: [email protected]

direçãoÁlvaro Almeida (mtb: 45384)Estevam Pereira (mtb: 21302)

conselho editorialFlávia Tozatto (Basf)Carlos Eduardo Garrocho de Almeida (Holcim) Enio Viterbo Junior (Gerdau)Eraldo Carneiro (Petrobras) Luís César Stano (Petrobras)Sue Wolter Vianna (Petrobras) Yazmin Trejos (Amanco)Wagner Siqueira (Banco do Brasil)

coordenaçãoCEBDSMarina Grossi Lia LombardiEduardo NunesLuciana Neto Sueli MendesDiogo Mattos (estagiário) EdiçãoMichele Silva (redatora-chefe)Adriana Braz e Beto Gomes (editores)Aline Costa, André Chiarati, Carolina Cenciarelli, Guto Lobato e Pedro Michepud (repórteres)

[colaboraram nesta edição]

Eduardo Lima (edição), Antonio Carlos Sil, Eduardo Szklarz, Luiz Ribeiro, Gabriela Scheinberg e Luciana Zenti (reportagem)

Edição de imagensPC Pereira

direção de arteMENTES DESIGN

revisãoAssertiva Produções Editoriais

administrativoCristina Almeida (diretora)

financeiroCarlos Nascimento Silvia Castelan

publicidadeSÓLIDA CONCEITUAL Telefone: 55 21 3154.9453 – e-mail:[email protected] Alvaredo (diretora) Michel Santos (executivo de atendimento)

Jefferson Eduardo (marketing)Denise Barreto (gerente inanceira)

impressãoEdiouro

tiragem5 mil exemplares

assinaturas e números avulsos • Telefone: 55 21 2483.2250 • e-mail: [email protected] • www.CEBDS.org

nesta edição bRasil sustentável 35Jun/Jul 2012

foto dE capa: EP-SToCKPhoTo

A revista BRASIL SUSTENTÁVEL é uma publicação do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Os artigos não reletem necessariamente a opinião do CEBDS, sendo de responsabilidade dos articulistas e entrevistados.

imagEm

o CoTidiano doS índioS YawalaPiTi,

quE vivEm no alTo Xingu

notas

uRBaniSmo, BolSa vERdE,

nEgÓCioS

panorama

um guia PaRa a Rio+20, BanCo dE dadoS

aCadêmiCo E SuSTEnTaBilidadE no aR

fErramEnta

ESR avalia oS RiSCoS E oPoRTunidadES da

inTERação EnTRE EmPRESaS E mEio amBiEnTE

rEportagEm dE capa

EmPRESaS PaRTiCiPam

aTivamEnTE na Rio+20

o futuro da EnErgia

é PRECiS0 aumEnTaR a oFERTa, maS aS FonTES

REnovávEiS CRESCEm aBaiXo do nECESSáRio

artigo

david CanaSSa ESCREvE

SoBRE EFiCiênCia EnERgéTiCa

EntrEvista

BRáulio diaS Fala SoBRE Comando

da ConvEnção da divERSidadE BiolÓgiCa

lidErança

ClÓviS BoRgES: PaRCERia Com EmPRESaS

PaRa PRoTEção ao mEio amBiEnTE

inovação

nova TECnologia uTiliZa EnERgia

SolaR PaRa PuRiFiCaR a água

cadEia produtiva

EmPRESaS CalCulam o valoR EConômiCo

do SEu imPaCTo SoCioamBiEnTal

vida nova

CaSal dEiXa São Paulo PaRa moRaR Em uma

ComunidadE Com uma FiloSoFia BEm diFEREnTE

agEnda

oS PRinCiPaiS EvEnToS da Rio+20

PaRa o EmPRESaRiado

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323638404446

E X P E D I E N T EBRASILSUSTENTÁVEL

edição especial

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oBrasil tem nas mãos uma oportunidade ímpar para se posicionar como líder na corrida verde mundial. Não por ser o anfitrião da Rio+20, mas por reunir

vantagens competitivas incomparáveis que nos possibilitam traçar metas concretas e viáveis que viabilizem a transição para um modelo de desenvolvimento sustentável. Temos a matriz energética mais limpa, a maior reserva de água doce disponível e a mais rica biodiversidade do planeta.

Esse é o momento de aproveitar essa indiscutível vantagem competitiva e escrever nossa história com uma visão prospectiva e com medidas audaciosas, implantando um modelo de desenvolvimento capaz de atender efetivamente nossas demandas ambientais e sociais. Para tanto, precisamos deixar claro que as mudanças propostas são pensadas na direção da sustentabilidade, com visão integradora e de longo prazo, e não com medidas pontuais de curto prazo.

Um fator que certamente alavancará a implementação desse modelo no planejamento estratégico das empresas é a

determinação da obrigatoriedade da publicação do relatório de sustentabilidade para as grandes empresas, públicas e privadas, que atuam no Brasil, bandeira que está sendo levantada pelo CEBDS junto ao governo brasileiro. Outra questão é a inserção do custo ambiental no preço final dos produtos, com taxas mais altas para aqueles produtos que são menos verdes. Essa condição é fundamental para motivar o consumo deste tipo de produto, uma vez que vivemos numa economia de mercado, onde o que define nossas escolhas são os preços.

Nesse contexto, o papel do governo é estratégico, adotando políticas públicas que beneficiem as empresas a implementar práticas sustentáveis e punam aquelas que desconsideram valores sociais e ambientais. O atual modelo de desenvolvimento está defasado e é essencial investir numa nova forma de pensar e de fazer negócios.

c a R t a d a p R e s i d e n t e

Marina Grossi

ousadia paRa assumiR a lideRança

diReto do conselho

Engajar a cadeia de valoro programa gestão de Carbono na

Cadeia de valor do CEBdS capacitou

pequenas e médias empresas

fornecedoras de grupos empresariais

associados para fazerem seus

inventários de emissões de gases do

efeito estufa (gEE). as capacitações

foram realizadas no primeiro semestre

e as empresas participantes receberam

assessoria personalizada para utilizarem

a ferramenta de cálculo e gestão das

emissões. as empresas Banco do

Brasil, itaú unibanco, vale e votorantim

patrocinaram as primeiras capacitações.

o programa já prepara novas turmas

e também uma publicação com os

principais resultados, diiculdades e as

perspectivas para as próximas edições.

antecipando o visão brasil 2050mais de 500 convidados participaram

do Congresso Sustentável 2012,

realizado em maio, no Rio de janeiro.

o documento visão Brasil 2050 foi

debatido com empresas, governos,

sociedade civil e especialistas,

mediados pelos jornalistas william

waack e heraldo Pereira. Estiveram

presentes CEos e diretores de

empresas associadas como

Santander, Syngenta, vale, amil

Raízen e Siemens, além da ministra do

meio ambiente, izabella Teixeira, do

embaixador andré Corrêa do lago e

de representantes dos ministérios das

Cidades e do desenvolvimento Social.

parceria pela biodiversidadea Parceria Empresarial pelos Serviços

Ecossistêmicos (Pese) pretende incluir a

biodiversidade e os serviços ecossistêmicos

na estratégia de negócios das empresas.

Para isso, adaptará para o Brasil a

metodologia líder em avaliação dos serviços

prestados pela natureza e treinará gestores

para gerenciar riscos e oportunidades

decorrentes da dependência e do impacto

sobre os ecossistemas. anglo american,

grupo andré maggi, PepsiCo, vale,

votorantim e wal-mart já aderiram.

o CEBdS coordena a Pese com o Centro de

Estudos em Sustentabilidade da Fundação

getúlio vargas e o world Resources

institute. a Parceira tem o apoio da agência

dos Estados unidos para o desenvolvimento

internacional (leia mais na pág. 16).

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imaGem

a bela imagem do fotógrafo da Reuters ueslei marcelino mostra um momento de descontração de um menino Yawalapiti que mergulha a cabeça no rio Xingu, no parque nacional do Xingu (mt). a tribo Yawalapiti ica localizada ao sul do rio, região também conhecida como alto Xingu. no mês de agosto, eles realizam o quarup, um ritual de vários dias em honra à morte de pessoas de grande importância. neste ano, o quarup homenageará duas pessoas: um grande líder da aldeia e o antropólogo, professor e romancista darcy Ribeiro. morto em 1997, darcy foi reconhecido por priorizar a relação entre os povos indígenas e a educação no país.

FOTO: ueslei marcelino/reuters

purabElEZa

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Para traduzir a sustentabilidade em práticas, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) idealizou o Rio Cidade Sustentável, um projeto de infraestrutura urbana, transformação social e o uso de materiais que causam menor impacto ambiental.

Em uma articulação entre poder público, empresas e moradores, o projeto visa melhorar a qualidade de vida das comunidades da Babilônia e do Chapéu Mangueira, no Leme, na zona Sul do Rio.

As ações passam por reforma de habitações, agricultura urbana, turismo

sustentável, educação para a sustentabilidade, empreendedorismo e gerenciamento integrado de resíduos.

Definidas em conjunto com os moradores, essas ações oferecem soluções que, dentre outras coisas, geram desenvolvimento socioeconômico local. Como parte das iniciativas está a recuperação de 700 metros de calçada da Ladeira Ary Barroso, via de acesso às duas comunidades, com a aplicação de granulados de borracha derivados da reutilização de pneus.

Iniciado em 2011, o projeto reúne um grupo diversificado de empresas como Itaú, Bradesco, Philips, Michelin, Votorantim, Even, Dow Brasil, Goodyear, Souza Cruz, Vale, Coca-Cola e Hydronorth. Também tem o apoio do Sebrae, da Caixa Econômica Federal, da Firjan e do Instituto Pereira Passos (IPP). Os resultados do Rio Cidade Sustentável serão apresentados na Rio+20. O evento ocorre em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção, como um projeto piloto capaz de ser replicado em outras regiões do Brasil e do mundo. [andré chiarati]

Resultados do projeto fruto de uma articulação entre poder público, empresas e moradores serão apresentados na conferência

notasE d i ç ã o E S P E C i a l R i o + 2 0

u RBan iSm o

(E sustEntávEl)

cidadE maravilhosa

Edição EspEcial

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notas ESPaço CEBdSnEgÓCioS • BolSa vERdE

Construir um mapa que auxilie as empresas aprimorar sua estratégia de sustentabilidade é o principal objetivo do The Regeneration Project, iniciativa das consultorias GlobeScan e SustainAbility. Inspirado em entrevistas com pioneiros nesse tema, o projeto reúne o pensamento mais avançado sobre o papel do setor privado e desenvolve pesquisas e eventos para discutir o tema, de forma a ampliar a credibilidade e a velocidade com que os resultados são encontrados.

Na Rio+20, a iniciativa está organizando um diálogo com 50 executivos e formadores de opinião. Com parceria da agência Report Comunicação e apoio do jornal O Globo, o Diálogos Brasil discutirá como o mundo corporativo pode alcançar o desenvolvimento sustentável e divulgará pesquisa inédita sobre a necessidade de liderança empresarial para o tema. O evento ocorre no dia 20 de junho, às 9h30, no Hotel Windsor Barra. Informações: [email protected]. [pedro michepud]

A expressão bolsa de valores faz ainda mais sentido quando se refere a ações sustentáveis. Com esse espírito, foi criada a Bolsa Verde do Rio de Janeiro (BVRio). A BVRio negociará ativos ambientais como créditos de efluentes industriais, ações de logística reversa, de reciclagem, entre outras commodities. Um exemplo é que proprietários de áreas rurais com espaços florestais menores que o estipulado pelo Código Florestal poderão comprar Créditos de Reserva Legal (CRLs) para cumprir suas obrigações ambientais. Centenas de produtores rurais se cadastraram para participar desse mercado, que deve entrar em funcionamento até o fim do ano, quando serão finalizados os modelos de contratos e a plataforma de negociações.

A BVRio terá representantes do setor empresarial e acadêmico, de ONGs, do governo federal, estadual e municipal e de cidadãos envolvidos na promoção do desenvolvimento econômico sustentável do estado. E a primeira operação ocorrerá na Rio+20, ocasião em que se negociarão os créditos de carbonos emitidos durante o próprio evento. [aline costa]

para mElhorar a EstratÉgia

uma bolsa dE valor

O CEBDS terá um espaço de encontro para os associados e parceiros durante a Rio+20. O estande será instalado na entrada do Parque dos Atletas, no caminho de quem chega ao pavilhão dos governos e países, e terá na programação conversas e reuniões com as principais lideranças empresariais sobre as pautas mais relevantes do dia.

O local também está voltado para a divulgação das ações e projetos do CEBDS e empresas associadas que estejam em consonância com o Visão Brasil 2050, documento que propõe uma nova agenda para os negócios no país, assim como oferecer um espaço para discussões pontuais entre parceiros sobre os temas

relativos à sustentabilidade nas empresas e nas cidades.

Aberto à participação de todo os interessados, o estande funcionará de 13 a 24 de junho, das 11 às 19 horas. A estrutura foi construída com materiais de baixo impacto ambiental, como os reciclados, reaproveitados, madeira legal ou certificada. [andré chiarati]

ponto dE Encontro

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« p o R G u t o l o b a t o »

panoRamag u i a da R i o +20 • R á d i o • ava n ço S d E S d E 92 • P o R Ta l aC a d êm i Co

Para auxiliar o público na compreensão e no debate de temas da Conferência das nações unidas sobre desenvolvimento Sustentável, o CEBdS e a Fundação Brasileira para o desenvolvimento Sustentável (FBdS) criaram o guia Rio+20. a publicação reúne informações diversas sobre o evento com o histórico, os objetivos e as atribuições dos governos, das empresas e da sociedade civil na condução das discussões sobre sustentabilidade.

Semelhante a um manual, o guia apresenta e contextualiza os encontros de Estocolmo, em 1972, e do Rio de janeiro, de 1992, que serviram para lançar diretrizes e debates que hoje orientam o movimento global de promoção do desenvolvimento sustentável.

ao longo do texto, o leitor é apresentado a alguns conceitos que devem centralizar as atenções na Rio+20 – como o de Economia verde. outros temas críticos, como energia, cidades, governança, biodiversidade, desenvolvimento humano e indústria, também são discutidos com base em estatísticas e documentos de referência do Programa das nações unidas para o meio ambiente (Pnuma).

além do guia, que será distribuído aos associados do CEBdS e durante os eventos oiciais da programação, o comitê organizador da Rio+20 elaborou um guia de Participação com uma série de dicas e orientações. o download pode ser feito em http://tinyurl.com/835cyst

um guia para a rio+20 [ P u B l i C a ç ã o ]

sustentabilidade no ar [ R á d i o ]

Boletins com informações socioambientais relevantes podem, agora, ser ouvidos diariamente na rádio mPB Fm (90,3 mhz), do Rio de janeiro. o programa mais Sustentável, do CEBdS, entrou na grade de programação, de segunda-feira a sábado, às 9h.

Com apresentação de marina grossi, presidente do CEBdS, os boletins de maio e junho são focados em temas que estarão na pauta da Rio+20, como Economia verde, consumo, Produto

interno Bruto (PiB), selos verdes e o papel das empresas na promoção da sustentabilidade.

além do horário convencional, os programas são reprisados às 16h (segunda a sexta) e às 18h (aos sábados). Para quem não mora no Rio de janeiro, o conteúdo está disponível no site da mPB Fm (www.mpbbrasil.com). Sugestões de pauta podem ser enviadas à produção pelo e-mail: [email protected].

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ana esteira dos preparativos para a Conferência da onu, o consultor e engenheiro Fernando almeida lança mais um livro que pretende discutir as evoluções e perspectivas da sustentabilidade no mundo. intitulada desenvolvimento Sustentável 2012-2050: visão, Rumos e Contradições (Ed. Elsevier), a obra reúne artigos de diversos autores que tratam de temas como governança, urbanismo, educação e desaios de setores como o inanceiro.

Com textos de representantes de entidades como o world Business Council for Sustainable development (wBCSd), o instituto Brasileiro de governança Corporativa (iBgC) e o global Reporting initiative (gRi), além de universidades e empresas, a publicação relata os avanços das discussões socioambientais no mundo desde 1992, quando o Brasil sediou a segunda Conferência das nações unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento (Eco 92).

avanços desde a Eco 92 [ l i v R o ]

para incentivar a divulgação cientíica, a pró-reitoria de pós-graduação da universidade de são paulo (usp) lançou um portal que reúne cerca de 1,3 mil trabalhos acadêmicos que abordam temas ligados à conferência das nações unidas sobre desenvolvimento sustentável.

o endereço www.prpg.usp.br/usprio+20, lançado em maio, reúne teses e dissertações produzidas de junho de 1992 a setembro do ano passado – período que separa a eco 92 do início dos preparativos para a Rio+20. com quatro eixos temáticos – agenda 21 e Governança, biodiversidade, economia verde e mudanças climáticas –, é possível acessar e fazer o download dos trabalhos de vários campos do conhecimento, realizar buscas por autor, resumo e palavras-chave.

os especialistas da usp também divulgaram análises sobre os avanços e desaios das pesquisas brasileiras. com a aproximação da Rio+20, foi formado um grupo de trabalho que, além da compilação e avaliação do material, publicou um dossiê na edição de abril na revista estudos avançados, disponível no site.

banco de dados [ S i T E ]

Edição EspEcial

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i n d i C a d o R E S , S E l o S , n o R m a S , g u i a S , C E R T i F i C a d o S

E m é T o d o S d E F o m E n T o à i n o va ç ã o n a S C o R P o R a ç õ E S

c o R p o R at e e c o s Y s t e m s e R v i c e s R e v i e W ( e s R )

feRRamenta

o que é? Corporate Ecosystem Services Review (ESR) – ou Ava-liação Empresarial dos Serviços dos Ecossistemas – é uma metodologia que ajuda a identificar riscos e opor-tunidades decorrentes da interação entre empresas e meio ambiente. Foi criada pelo World Resources Ins-titute (WRI) com apoio do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). E será aplicada pela primeira vez no Brasil no âmbito da Parceria Em-presarial sobre os Serviços Ecossistêmicos (Pese), inte-grada pelo CEBDS, o WRI e o Centro de Estudos em Sus-tentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces). Seu lançamento ocorreu em maio, no Rio de Janeiro, com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desen-volvimento Internacional (USAID).

A ESR já foi usada por mais de 300 empresas de dife-rentes setores no mundo todo. Muitas, antes de aplicar a ferramenta, não faziam ideia de como são dependentes de um ou mais ecossistemas, nem do impacto que provo-cam sobre eles. Tampouco entendiam com clareza o con-ceito de serviços ambientais ou ecossistêmicos – benefí-cios proporcionados pela natureza, como oferta de água limpa, polinização e regulação do clima, entre outros. A ESR permitiu a elas enxergar esses serviços de uma maneira pró-ativa, que vai além da responsabilidade so-cial. “Trata-se, acima de tudo, de uma ferramenta estra-tégica”, diz Francisco Almendra, coordenador de proje-tos do WRI. “Ela ajuda a empresa a ser mais lucrativa em longo prazo. Isso significa torná-la sustentável não ape-nas para o ambiente, mas também para os acionistas.”

uma mETodologia uSada PoR maiS dE 300 EmPRESaS no mundo ajuda a CRiaR ESTRaTégiaS PaRa ToRná-laS maiS SuSTEnTávEiS E luCRaTivaS

oportunidadEscalculando Riscos e

“a ESR é uma ferramenta que permite às empresas realizar uma análise mais aprofundada de sua relação com o meio ambiente, indo além da avaliação de impactos e investigando sua dependência do ecossistema.Conhecer essa relação dará às empresas a possibilidade

de se antecipar a riscos e identificar oportunidades, o que invariavelmente resulta em vantagens estratégicas para seus negócios”, explica Renato armelin, do Centro de Estudos avançados em Sustentabilidade da Fundação getúlio vargas (gvCes). Segundo armelin, certas empresas representam

impacto direto sobre o meio ambiente, como as companhias mineradoras. há, no entanto, aquelas que não impactam, mas têm em sua cadeia produtiva fornecedores impactantes. “Por isso, todas deveriam considerar essa questão em planejamentos de médio e longo prazos.”

mÉtodo sErvE para qualquEr EmprEsa

« p o R e d u a R d o s z K l a R z »

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quais são os benefícios?Um exemplo das vantagens práticas proporcionadas pela ESR é o caso da Mondi, maior produtora europeia de papel e celulose. Ao aplicar a ferramenta em sua ope-ração na África do Sul, ela percebeu que o fornecimento de água para os projetos de reflorestamento era ameaça-do por espécies vegetais invasoras – ou seja, estranhas e prejudiciais àquele ecossistema. Constatado o problema, a empresa decidiu atacá-lo diretamente na cabeceira dos rios que abastecem a áreas reflorestadas. Resultado: a oferta de água aumentou, reduzindo o efeito dos perío-dos de seca e melhorando a produtividade.

A Mondi também percebeu que, ao combater as tais plantas alienígenas, poderia utilizá-las como biomas-sa na geração de energia. O benefício, dessa vez, foi redução dos custos de produção. De quebra, a empre-sa ainda conseguiu engajar parte da comunidade local na realização das tarefas, gerando empregos e abrindo um canal de comunicação muito mais eficiente com os stakeholders. “Ao transformar despesas em economia”, diz Almendra, “a Mondi conseguiu ampliar o investi-mento no combate às plantas invasoras em aproxima-damente 30% ao ano nos últimos dois anos.”

Algumas empresas utilizam a ESR para criar produ-tos adaptados a características específicas do ambiente no qual estão inseridas. É o caso, por exemplo, da Syn-genta, uma das líderes mundiais do agronegócio. Na Ín-dia, onde a pressão sobre os recursos hídricos é cada vez

maior, ela está desenvolvendo um tipo de semente que precisa de água em menor quantidade para germinar.

como funciona? A ESR é um treinamento que, no Brasil, será oferecido no formato de workshops. O programa inclui ainda acom-panhamento técnico personalizado para a adoção da ferramenta em cada empresa participante. A metodo-logia será aplicada pelos parceiros WRI, CEBDS e Fun-dação Getúlio Vargas (FGV). “O projeto foi apresentado em janeiro, em São Paulo, durante uma reunião com 28 empresas brasileiras de vários setores.”, diz Fernanda Gimenes, assessora da presidência do CEBDS. “Agora es-tamos na fase de realização dos workshops e assessoria técnica aos participantes.” Segundo Fernanda, a parce-ria prevê três workshops este ano e um em 2013, com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvi-mento Internacional (USAID). [bs]

Seguindo esses passos, é possível encontrar - e encurtar - o caminho para o desenvolvimento sustentável.

1. seleção do âmbitodefinem-se claramente os limites de aplicação da ferramenta – produto, mercado, clientes, fornecedores etc.

2. identificação dos serviçosdeterminam-se os serviços ecossistêmicos dos quais a empresa é mais dependente e seu impacto sobre eles.

3. análise de tendênciasinvestiga-se o estado dos serviços ecossistêmicos

prioritários e coletam-se subsídios para formular uma estratégia.

4. Especificação de oportunidadesavaliam-se os riscos e as oportunidades decorrentes do estado dos serviços ecossistêmicos avaliados na etapa anterior.

5. Elaboração de estratégiaPesados os riscos e avaliadas as oportunidades, traça-se um plano de ação que garanta desenvolvimento sustentável.

cinco Etapas fundamEntais

fonte: world Resources institute (wRi)

CoRPoRaTE ECoSYSTEm SERviCES REviEwinformações sobre os workshops – promovidos por CEBdS, wRi e Fgv – previstos para 2012Tel.: (21) 2483-2250E-mail: [email protected]

saiba mais

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rEportagEm Katia simões e michele silva

a agEndado EmprEsariado

Rio + 20C a P a

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A gigante esportiva Puma foi a primeira a lançar, no fi-nal do ano passado, um detalhado inventário sobre os im-pactos que a sua cadeia produtiva gera ao meio ambiente, principalmente por conta do uso dos recursos naturais para a fabricação de seus produtos. A reboque, diversas ou-tras companhias buscam fazer a mesma conta para orien-tar melhor as ações de redução dos seus efeitos negativos. Em outra frente, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e suas empresas associadas, em parceria com o poder público, pretendem transformar o modo de vida de duas comunidades do Rio de Janeiro, fazendo com que a sustentabilidade se transfor-me em uma realidade no local.

Ainda que iniciativas isoladas e sem a escala necessária, esses são apenas dois exemplos que comprovam o potencial da união das mentes criativas e altamente especializadas do mundo corporativo com agentes públicos na busca de so-luções para o estabelecimento de uma economia verde.

Nas duas décadas que separam os dois encontros so-bre desenvolvimento sustentável realizados no Rio – a Eco 92 e a Rio+20 que vai ocorrer de 13 a 22 de junho –, é possível perceber o envolvimento cada vez maior da so-ciedade como um todo, e do empresariado em especial. Naquela reunião, a participação da iniciativa privada foi quase nula e se resumiu ao discurso do suíço Stephan Sch-midheiny, que, meses mais tarde, criou o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD).

Com os governos distantes de um consenso a respeito das medidas necessárias a serem tomadas, é da iniciativa privada que nascem as ideias mais inovadoras para avançar rumo a um desenvolvimento mais sustentável. Na Rio+20, a conferência da ONU com maior participação do empresariado, o mundo dos negócios quer mostrar que pode dar sua contribuição, mas cobra medidas mais claras e objetivas do setor público.

uma governança global, que inclua as empresas ao lado de

governos e sociedade civil na tomada de

decisões é fundamental para se avançar no

desenvolvimento sustentável

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Hoje, a visão dominante é da necessidade de uma gover-nança global, em que as empresas, ao lado dos governos e da sociedade civil, ocupem uma posição fundamental na tomada de decisões. “Esperamos que a Conferência reno-ve o compromisso dos países com a sustentabilidade e que sirva para fortalecer a mobilização da sociedade. Será uma oportunidade de estreitar a relação com os governos para uma agenda comum e também de mostrar nossos projetos e ações que ajudem a responder a pergunta sobre ‘como’ in-corporar a sustentabilidade nos negócios”, afirma Marina Grossi, presidente do (CEBDS).

O “como”, nesse caso, encontra subsídios no documento Visão Brasil 2050. Ele foi elaborado ao longo do último ano e reúne uma série de diretrizes necessárias para a quali-dade de vida no planeta e a garantia de recursos para as gerações futuras. Baseado em documento homônimo in-ternacional, desenvolvido pelo WBCSD, ele foi ‘tropicali-zado’ com a participação de cerca de 500 pessoas, mais de 70 empresas e dezenas de instituições acadêmicas, ONGs e representantes governamentais.

Segundo o documento Visão Brasil 2050, o país alcançará a marca de 260 milhões de pessoas, sendo que 92,3% vive-rão em cidades. Para dar conta desse cenário desafiador que impõe a necessidade de mais alimentos, energia, sa-neamento e água potável, o Visão Brasil 2050 enumera os objetivos a serem alcançados por governos, empresas e so-ciedade civil. Entre eles, estão a criação de indicadores que incluam valores de ativos ambientais e sociais na contabi-lidade do governo e das empresas, a capacitação da socie-dade para os empregos verdes, o estímulo à emancipação econômica, ao acesso à educação, à saúde e à qualidade de vida, além do desenvolvimento de soluções que conduzam a meios de produção, estilos de vida e comportamentos ecoeficientes, a manutenção das taxas de redução do des-matamento da floresta amazônica, a redução das emissões de carbono nos mais diversos setores e a ampliação dos in-vestimentos em sistemas de transporte multimodais; o in-vestimento em processos de reciclagem e de reaproveita-mento de resíduos; aplicação de recursos na massificação do uso de fontes alternativas de energia, modificando a matriz energética do país de forma a diminuir os impac-tos ambientais e sociais e, por fim, instrumentalização do consumidor para que no ato da compra ele decida por pro-dutos e serviços de menores danos ambientais e sociais.

O Visão Brasil 2050 será lançado na Rio+20 e entregue à presidente Dilma Rousseff em uma tentativa de sinalizar

ao governo as transformações que o setor considera prio-ritárias para uma transição para a economia verde. Parte desses desafios também deve integrar os Objetivos do De-senvolvimento Sustentável, da ONU. Similar aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, esse conjunto de diretri-zes poderá concentrar os esforços nas demandas que são mais urgentes e impactantes, em escala mundial.

Além da mobilização das organizações setoriais, como o CEBDS, a Rio+20 conta pela primeira vez com uma partici-pação mais ativa dos Majors Groups. Um mecanismo apro-vado na Rio-92, por meio da Agenda 21 para promover a participação ativa de todos os segmentos da sociedade e ti-pos de pessoas. Trata-se de nove grupos temáticos que têm direito a comentar as minutas dos documentos oficiais e se pronunciar por alguns minutos na abertura e no encer-ramento do evento. Entre os grupos, há aquele destinado a Crianças e Jovens, aos Povos Nativos, às Autoridades Lo-cais, às ONGs e aos Negócios e Indústria. Esse último, reu-nindo representantes da iniciativa privada.

“buscar o ‘como’ chEgar ao dEsEnvolvimEnto sustEntávEl É dEsafio dE govErno, EmprEsas E sociEdadE”, marina grossi, do CEBdS

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ações concRetas e sançõesTraduzir a teoria em prática é um dos grandes anseios do em-presariado nacional, como comprova a pesquisa “Desenvol-vimento Sustentável no Brasil – Das visões do empresariado às práticas das organizações”, recém-divulgada pela Deloit-te, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo. O levantamento envolveu gestores de 108 organiza-ções, de variados portes e setores, que faturaram juntas no ano passado R$ 700 bilhões, o equivalente a 17% do PIB brasi-leiro. “Trinta por cento dos entrevistados indicam a necessi-dade de definir metas claras e impor sansões legais a países e empresas que não cumpri-las”, ressalta Lucilene Batista, ge-rente sênior da área de Sustentabilidade da Deloitte.

De acordo com a consultoria, a visão predominante do em-presariado sinaliza uma preocupação de ordem prática. As organizações entendem a importância de se discutir as me-lhores soluções para o desenvolvimento sustentável. Porém, o avanço do mercado e da sociedade nessa direção dependerá de definições objetivas, tempo de transformação, incenti-vos, fiscalização e métricas que permitam acompanhar o de-senvolvimento e assegurem que os acordos fechados durante o encontro se transformem em realidade.

daS EmPRESaS PESquiSadaS:

77% Têm a SuSTEnTaBilidadE FoRmaliZada Em SEu PlanEjamEnTo ESTRaTégiCo

51% Têm mETaS SoCioamBiEnTaiS ESTaBElECidaS

47% adoTam PolíTiCaS E diRETRiZES dE SuSTEnTaBilidadE

43% ElaBoRam RElaTÓRioS dE SuSTEnTaBilidadE

42% gEREnCiam oS imPaCToS amBiEnTaiS

27% aTRElam a REmunERação àS mETaS SoCioamBiEnTaiSfontE: dElloiTE

compromisso com dEsEnvolvimEnto sustEntávEl

“falta um lídEr”israEl Klabin, do FBdS

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lonGe do idealA realidade, entretanto, ainda está aquém da ideal. “Ape-sar do maior engajamento do setor empresarial às inicia-tivas de sustentabilidade, essas empresas ainda repre-sentam um percentual pequeno nos negócios”, observa Marina. O Pacto Global das Nações Unidas, por exemplo, conta com 7.000 empresas signatárias em 150 países, den-tro de um total de 80.000 multinacionais e milhões de pe-quenos negócios existentes.

Na visão do professor de economia da Universidade de São Paulo, Ricardo Abramovay, autor do livro Muito Além da Economia Verde (Planeta Sustentável, 2012), será pre-ciso desenvolver grandes inovações e ganhos enormes de eficiência econômica para, ao mesmo tempo, reduzir as desigualdades sociais a níveis aceitáveis e evitar os piores cenários de mudanças climáticas. “É essencial levar em conta os verdadeiros custos do crescimento, repensar o propósito do que a economia nos oferece e repetir dezenas de vezes: crescer para quem? E para que?”, dispara. “Fazer melhor é importante, mas é insuficiente.”

Segundo ele, a Rio+20 seria de extrema importância se seus membros reconhecessem que o Produto Interno Bru-to (PIB) é uma medida errada de riqueza porque induz a sociedade a uma produção equivocada de riqueza, deixan-do de lado o bem-estar de suas populações e os limites ecos-

sistêmicos. Também seria essencial que fossem estabele-cidos com clareza os indicadores do uso de recursos que a sociedade depende para sobreviver. “Ninguém prega a es-tagnação econômica, o que todos buscam nesse momento é o objetivo de crescimento sustentável apoiado em metas concretas, reconhecidas e adotadas por todos”, afirma.

As soluções existem, mas não são implementadas por-que faltam estadistas – aponta Israel Klabin, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Susten-tável (FBDS). “A falta de regulamentação, que puna as práticas insustentáveis e premie a inovação para a sus-tentabilidade, gera a indecisão. A Rio+20 vai reunir 140 chefes-de-estado, mas nenhum estadista. Espero que eles sejam insuflados pelo que vai acontecer ao redor de-les, com toda a sociedade cobrando soluções para um fu-turo sustentável”. [bs]

“ninguÉm prEga a Estagnação Econômica. busca-sE o crEscimEnto sustEntávEl apoiado Em mEtas concrEtas, rEconhEcidas E adotadas por todos”, ricardo abramovaY, EConomiSTa

a transparência das empresas no que se refere ao impacto socioambiental é uma das questões debatidas no grupo temático negócios e indústria e também chegou a fazer parte do draft Zero – a primeira versão do documento base de discussão da Conferência. o tema também é prioritário na agenda do CEBdS e de suas 74 empresas associadas.

às vésperas do início da Rio+20, o Conselho enviou uma carta à presidente dilma Rousseff sugerindo a obrigatoriedade da publicação de relatórios com os resultados anuais de desempenho e impacto econômico, social e ambiental.

apesar de o Brasil ser o país com o terceiro maior número de empresas que emitem relatório de sustentabilidade com base do gRi (global Reporting initiative, o modelo mais aplicado no mundo), 90% das empresas de capital aberto ainda não o fazem.

prEstação dE contas

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a humanidade vive um dilema: por um lado, a oferta de energia precisa aumentar – no

mínimo, para atender à demanda representada pelos 2 bilhões a mais de habitantes que o planeta ganhará até 2050; por outro lado, nossa dependência de fontes

energéticas como carvão e petróleo é fator determinante para o agravamento do quadro de mudanças climáticas. O que fazer?

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o futuro da EnErgiaCRESCEm oS invESTimEnToS Em FonTES REnovávEiS no BRaSil E no mundo – maS não na vEloCidadE nECESSáRia PaRa gaRanTiR o dESEnvolvimEnTo SuSTEnTávEl do PlanETa

painéis solares na Índia, um país que, ao contrário do brasil, investe pesado nesse tipo de geração

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Os investimentos em fontes alternativas e renováveis de energia avançam lentamente. E a atual crise finan-ceira, na qual estão mergulhadas principalmente as na-ções europeias, não ajuda em nada. Ao contrário: ela só faz retardar o processo, uma vez que coloca em cheque o mecanismo de subsídio largamente adotado para alavan-car empreendimentos de geração limpa. Nos países em maior dificuldade, como Grécia e Portugal, companhias de energia cogitam até a possibilidade de desinvestimen-to – demonstrando que, apesar de avanços, interesses econômicos ainda falam muito mais alto que responsa-bilidade ambiental. “Os países centrais estão reduzindo suas emissões por força da retração de suas economias”, avalia o consultor Eduardo Bernini, ex-presidente das empresas AES Brasil e Energias do Brasil (EDP). “Isso não tem quase nada a ver com sustentabilidade.

Foi por essas e outras razões que a ONU decidiu de-clarar 2012 o Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos. E mais: o dilema energético permeará toda a pauta de discussões da Rio+20, a conferência sobre desen-volvimento sustentável que a entidade promoverá no Rio de Janeiro em junho (leia mais na reportagem da pág. 18). Sem um entendimento global e a adoção de medidas urgentes que conduzam a uma economia mais verde, o futuro do planeta estará ameaçado.

situação confoRtávelNesse cenário profundamente inquietante, o Brasil até que está em situação confortável quanto à quali-dade de sua matriz elétrica – o suficiente para ser fre-quentemente apontado como parâmetro para o resto do mundo. Em tese, o medo maior de ter de frear uma economia em ascensão por causa do risco das emis-sões provenientes da geração de energia não assom-bra o país. A produção de origem hídrica continuará dominante, embora com algum recuo.

Nas contas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), os atuais 82.369 MW de capacidade instalada – que hoje representam pouco mais de 70% do total hi-dráulico – serão 115.123 MW em 2020 – ou 67%, confor-me projeção do Plano Decenal de Energia da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Além disso, a perspectiva é de que, ao longo desta década, ocorra por aqui uma disparada de empreendimentos eólicos, com um salto de apenas 831 MW em 2010 (aproximadamente 0,75% da capacidade instalada) para 11.532 MW (6,7%).

“O setor elétrico brasileiro emite cerca de 80 vezes menos gases de efeito estufa que o dos Estados Unidos e o da China”, afirma Maurício Tolmasquim, presidente da EPE. O desafio, segundo ele, é manter essa vantagem diferencial e impedir que as emissões cresçam mais que o Produto Interno Bruto (PIB). Na avaliação de Tolmas-

“atÉ a china, cuJo fornEcimEnto dE EnErgia ElÉtrica É garantido maJoritariamEntE pEla quEima dE carvão, vEm faZEndo aportEs EXprEssivos Em modalidadEs como a EÓlica E a solar”

José goldemberg, diretor do instituto de Eletrotécnica e Energia da universidade de São Paulo (iEE-uSP) e ambientalista.

nas contas da aneel, a capacidade éolica do brasil será multiplicada por 14 até 2020

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quim, a oferta por meio de leilões que garantam princi-palmente modicidade tarifária será mantida – uma polí-tica que continuará favorecendo a ampliação do segmento eólico graças à forte competição que se estabeleceu com a chegada de diversos fabricantes estrangeiros ao mercado nacional. Já as termelétricas a gás não terão maior espaço até que a disponibilidade de gás natural proveniente das reservas do pré-sal seja equacionada pela Petrobras.

Da mesma forma, a geração nuclear continuará de-sempenhando um papel coadjuvante na matriz elétrica brasileira – não só por causa de seu custo elevado, mas também pelo risco que ela pode representar (como de-monstrou a recente tragédia da usina de Fukushima, no Japão). A energia solar, por sua vez, tem merecido aten-ção especial da EPE. Além do crescente interesse que o setor privado vem demonstrando por essa modalidade, a Aneel já tem estudos adiantados sobre o uso de painéis fotovoltaicos em sistemas de geração distribuída que po-derão beneficiar consumidores residenciais.

Para Tolmasquim, o Brasil também acerta na estraté-gia de aproximação com países vizinhos, de olho no avan-ço de um programa regional de intercâmbio elétrico em que todos possam tirar proveito de suas complementari-dades e sinergias naturais para otimizar investimentos em geração e transmissão. Além das interconexões com Argentina, Paraguai e Venezuela, estão avançadas as negociações para implantação de empreendimentos no Peru, na Colômbia e na Bolívia.

diveRsidade de fontes“São as queimadas que colocam o Brasil na terceira posição do ranking mundial de emissores dos gases de efeito estu-fa”, diz Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Bra-

EXEmPloS dE CRiaTividadE ColoCada a

SERviço dE um FuTuRo SEm CRiSE EnERgéTiCa

garoto prodígioFoi observando árvores que aidam dwyer, um menino de apenas 13 anos, inventou um gerador de energia solar potencialmente revolucionário. Tudo aconteceu porque sua família, moradora de uma pequena cidade nos Estados unidos, queria instalar em casa painéis fotovoltaicos, mas não tinha dinheiro nem espaço para isso.

um dia, o garoto percebeu que as árvores do bairro eram os melhores exemplos de eiciência na conversão de luz solar em energia. levou para o computador a lógica matemática que descobriu na distribuição de galhos e folhas. E acabou criando um sistema muito mais compacto, barato e eiciente que os tradicionais painéis.

a criatividade de aidam rendeu-lhe um convite especialíssimo da onu. o garoto apresentou sua criação em um evento promovido pela entidade – a cerimônia que abriu, em janeiro, o ano internacional da Energia Sustentável para Todos.

simplEs E intEligEntE Pecuaristas do oeste do Paraná tinham uma dor de cabeça comum a todos os outros criadores do país: o que fazer com os desejos dos animais. a diferença é que eles tiveram uma ideia que transformou o problema em solução.

Com apoio técnico da geradora itaipu Binacional e da Companhia Paranaense de Energia (Copel), desenvolveram um sistema em que os resíduos são canalizados para um biodigestor, de onde sai um fertilizante biológico usado na lavoura e gás metano para alimentar geradores de energia ligados à rede da Copel. Parte da eletricidade gerada é consumida ali mesmo, pelos próprios pecuaristas. o restante é vendido para a companhia energética. Em suma: com uma iniciativa simples, os empresários saíram ganhando duplamente. livraram-se de um problema e evitaram que os dejetos fossem despejados nos rios, contaminando mananciais.

boas idEias são sEmprE bEm-vindas

“falta uma política mais assErtiva para o sEtor sucroEnErgÉtico, dEtEntor dE um potEncial dE gEração a biomassa dE cana prÓXimo dE 15.000 mW”adriano pires, diretor do Centro Brasileiro de infraestrutura (CBiE)

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sil. Com base em um estudo recente feito pela entidade, cuja missão é desenvolver ações e projetos destinados a aumen-tar o grau de transparência e sustentabilidade do setor elé-trico brasileiro, ele garante que a produção de eletricidade responde, hoje, por apenas 1,2% das emissões verificadas no país. A projeção para 2030, segundo Sales, é de que esse per-centual aumente, mas sem ultrapassar 3,2% das emissões to-tais. “O governo federal precisa coordenar com os estados a definição de políticas sobre mudanças climáticas.”

Na concepção de Adriano Pires, diretor do Centro Bra-sileiro de Infraestrutura (CBIE), o Brasil tem uma rara diversidade de fontes energéticas distribuídas estrategi-camente pelo território nacional – condição que, segundo ele, permite um equilíbrio ímpar sobre as ações de plane-jamento da oferta de energia. Mas o especialista adverte para o fato de que algumas excelentes oportunidades po-dem estar sendo desperdiçadas pelo governo. “Falta, por exemplo, uma política mais assertiva para o setor sucroe-nergético, detentor de um potencial de geração a partir de biomassa de cana próximo de 15.000 MW.”

Embora entenda que o Brasil possa até se dar ao luxo de “sujar” um pouco mais sua matriz, aproveitando o car-vão mineral da região sul e o gás natural do pré-sal, Pi-res defende um debate menos apaixonado e mais racional sobre grandes empreendimentos hidrelétricos como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio. De acordo com o diretor do CBIE, a opção por reduzir ao mínimo o tamanho do re-servatório dessas usinas pode se revelar um erro grave. “Principalmente se a complementação da energia que dei-xa de ser produzida por elas acabar sendo resolvida com a construção de termelétricas movidas a óleo.” [bs]

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a BaSF já aTingiu oS oBjETivoS

amBiEnTaiS PREviSToS aPEnaS PaRa 2020

Estar um passo à frente do mercado é palavra de ordem na Basf não só em desempenho comercial, mas principalmente no estabelecimento de metas ambientais. Referência em sustentabilidade no setor químico, o grupo alemão atingiu no ano passado, em âmbito global, objetivos que só eram esperados para 2020.

“Trabalhamos focados nas megatendências, como o aumento de população, a ampliação do consumo de energia e o consumo de recursos renováveis e não renováveis”, diz waldemílson muniz, gerente de Energia e utilidades da Basf américa do Sul. Somente na operação brasileira, foram investidos 79 milhões de reais em gestão ambiental de 2003 a 2010. Resultado: reduções de 23% no consumo de energia elétrica e de 67% nas emissões por tonelada produzida.

Como os objetivos traçados para 2020 já foram alcançados, a companhia tratou de estabelecer novas metas. até o im da década, a Basf espera obter um ganho de 35% em eiciência energética e uma redução de 40% na emissão de gases de efeito estufa.

mEtas EXistEm para sEr alcançadas

liberação de uma área atingida pelo vazamento nuclear de fukushima, no Japão, ocorrido em março do ano passado

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PaRa quE oS PRojEToS viREm REalidadE, PRECiSamoS dE EngEnhaRia FinanCEiRa, dESBuRoCRaTiZação E lEiS FaCiliTadoRaS

PoR david CanaSSa

aRtiGo

defende-se com frequência

a tese de que investimento em

eficiência energética é sempre um

bom negócio, pois ele reduz o custo

da produção e apresenta alta taxa

de retorno. Esse argumento, no

entanto, é uma simplificação. E

acaba contribuindo para que projetos

de eficiência energética tenham

muita dificuldade na obtenção,

por exemplo, de incentivos como os

créditos de carbono do Mecanismo

de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Sendo assim, cabe a pergunta: se as

vantagens desse tipo de investimento

são claras, por que ele é tão difícil de

ser feito pelas empresas?

As dificuldades começam na

falta de compreensão do processo de

decisão dos investimentos. O capital

disponível para investir provém da

capacidade de geração de caixa e de

pagamentos no longo prazo. Ao final

de cada ciclo orçamentário, verifica-

se qual é o Ebitda (ganhos antes dos

impostos), o endividamento,

as projeções de vendas para os

próximos anos, a capacidade

produtiva e os investimentos que

ainda estão em desembolso de caixa.

Com todas essas informações em

mãos, são determinados os recursos

financeiros para investimentos no

ano seguinte e nos subsequentes.

Nesse momento, inicia-se a

disputa pelos recursos. Uma primeira

parcela do dinheiro disponibilizado

é destinada aos projetos obrigatórios,

derivados de condicionantes de

licença, acordos voluntários e outras

obrigações que a empresa tem com a

operação. Depois, são contemplados

os projetos para manutenção da

capacidade instalada (sustaining),

que irão manter a integridade dos

equipamentos existentes. Tudo isso

feito, a projeção de vendas para os

próximos anos determinará se será

alocada uma quantidade maior de

capital nos investimentos de expansão

e de outros tipos – incluindo os gastos

relacionados à eficiência energética,

seja por meio de capital próprio ou por

outras fontes de financiamento.

Quando as projeções indicam

estagnação ou crise, os investimentos

não obrigatórios normalmente

são postergados, enquanto os de

sustaining acabam reduzidos ao nível

mínimo. Já quando elas refletem

crescimento da economia, a prioridade

é investir no reforço do sustaining e

no aumento de produção – seja em

instalações já existentes ou novas.

Seria possível, então, argumentar

que os investimentos em eficiência

energética são pequenos se comparados

aos demais. Vale lembrar, contudo,

que o caixa disponível para todos os

investimentos é um só e que a aplicação

de recursos em eficiência energética

concorre, na ordem de prioridades,

com outras melhorias.

Outra ideia corrente é a de que

as taxas de retorno em eficiência

energética se pagam rapidamente

e que esses investimentos alavancam

outros recursos, pois disponibilizam

mais caixa depois de implementados.

De novo, é preciso fazer uma ressalva,

pois há dois riscos embutidos

nessa lógica: primeiro, o de perder

espaço para a concorrência por

deixar de promover uma expansão

da produção; depois, o de ser obrigado

a lidar com problemas operacionais

relativos à nova configuração do

incEntivos à Eficiência EnErgÉtica

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equipamento. Além disso, o tempo de

parada da instalação é mais um fator

que não costuma ser contabilizado.

Para fazer modificações que

representem economia energética

significativa, é necessário promover

mudanças estruturais que exigem

intervenção nos equipamentos e

parada de produção.

financiamento baRatoSão várias, portanto, as dificuldades

na implantação de projetos de porte

em eficiência energética. Como

contorná-las? Financiamento barato

seria um caminho interessante,

desde que todos os custos estejam

incorporados aos cálculos e que

a carência para o pagamento

esteja vinculada ao período após a

implantação do projeto. Além do

prazo requerido para a chamada

curva de aprendizagem, é essencial

garantir ao empresário mais algum

tempo, de modo a que a economia

de energia proporcionada pelos

investimentos seja suficiente

para o pagamento das parcelas

do financiamento. Igualmente

importante é que o valor dessas

parcelas não exceda o limite

da economia mensal realizada

com a melhoria.

Contar com o financiamento

adequado, entretanto, não

significa estar livre de problemas,

pois há outros riscos inerentes

ao investimento em eficiência

energética. Exemplos: a nova

condição operacional pode requerer

mais tempo que o previsto até que

se alcance a condição de start-up e

estabilização; a parada de produção

para instalação da melhoria pode ser

maior que a inicialmente

planejada; e o resultado do

investimento pode não corresponder

ao esperado por causa de alguma

deficiência do projeto. É possível

minimizar o impacto dessas

situações com seguros e garantias

do fabricante e/ou do instalador

dos equipamentos. Já para a

burocracia na obtenção de crédito

não há remédio – ela é grande

e desestimula o investidor.

O modelo mais promissor

talvez seja o investimento direto

de fornecedores de energia em

projetos de eficiência energética

nas instalações de seus clientes.

Geralmente sai mais caro instalar

novas centrais de fornecimento que

disponibilizar a energia proveniente

de eficiência energética para outros

consumidores. Ou seja: em vez de

aumentar a geração, distribuir a

mesma energia para mais clientes.

Nesse caso, o desafio está em

criar mecanismos que possibilitem

o investimento direto das empresas

energéticas em seus clientes, sem

geração de cobrança de impostos

adicionais e sem questões fiscais.

O pagamento às empresas de energia

se daria por financiamento, nos

mesmos moldes já descritos, mas com

manutenção do valor da conta nos

patamares anteriores à melhoria até

que o investimento estivesse pago.

Para que possam virar realidade,

projetos de eficiência energética

necessitam de modelos inteligentes

de engenharia financeira, profunda

análise técnica, conhecimento de

processos fabris e desburocratização

– além de legislações fiscais e

contábeis facilitadoras.

david canassa

é presidente da Câmara Temática

de Energia e mudança do Clima

do Conselho Empresarial

Brasileiro para o desenvolvimento

Sustentável (CTClima-CEBdS)

e responsável pela gerência

geral de sustentabilidade da

votorantim industrial.

o modElo maiS PRomiSSoR TalvEZ SEja o invESTimEnTo diRETo dE FoRnECEdoRES dE EnERgia Em PRojEToS dE EFiCiênCia EnERgéTiCa naS inSTalaçõES dE SEuS CliEnTES

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B Ráu li o d iaS

entRevista

entRevista GabRiela scheinbeRG fotos aGência bRasil

na linha dE frEntE

um brasilEiro

ESColhido PElaS naçõES unidaS PaRa ComandaR a ConvEnção SoBRE divERSidadE BiolÓgiCa (CdB), ElE aCREdiTa quE não EXiSTE inComPaTiBilidadE EnTRE ConSERvação E CRESCimEnTo EConômiCo

Recém-nomeado secretário-executivo da cdb, dias integrava o ministério do meio ambiente

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no inÍcio deste ano, o bra-sileiro Bráulio Ferreira de Souza Dias foi o escolhido pelas Nações Unidas (ONU) para assumir o posto de secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica. Antes disso, ele ocupava o cargo de secretá-rio de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O especialista não terá dias fáceis pela frente. Suas tarefas são árduas – começando pela ratificação dos compromissos assumidos na 10ª Confe-rência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP-10), realizada em outubro de 2010 em Nagoya, no Japão. Entre eles, o Protocolo de Nagoya que prevê a repartição dos benefícios obtidos com o uso de espécies e do conhe-cimento tradicional de povos locais com os países de origem e as comunidades.

Dias tem ampla experiência na coordenação de políticas de biodiversidade. Foi membro do Painel Científico e Técnico Consultivo do Global Environ-ment Facility, vice-presidente da União Internacio-nal de Ciências Biológicas e coordenador do comitê gestor da Rede Interamericana de Informação so-bre Biodiversidade. É justamente por ter tanta ba-gagem e ser brasileiro que o secretário-executivo da CDB entende tão bem a dificuldade que os países em desenvolvimento enfrentam para assumir me-tas. Às vésperas de representar a CDB na conferên-cia Rio+20, Bráulio Dias conversou com a BS sobre esses e outros assuntos.

brasil sustEntávEl ao assumir o cargo de secretário-executivo da cdb, o senhor declarou que a nomeação era um reconhecimento da onu à forma como o brasil vem tratando as questões ambientais. quais são os exemplos que o país está dando para o resto do mundo?braulio dias O Brasil desenvolveu um abran-gente conjunto de metas para biodiversidade em 2010. Embora não tenha atingido todas, houve grandes avanços. Por exemplo: o desmatamento na Amazônia foi reduzido em cerca de 80%. E algo entre 70% e 80% das áreas protegidas no mundo entre 2002 a 2010 foram demarcadas no Brasil.

bs a ratificação do protocolo de nagoya é sua principal prioridade à frente da cdb?bd O Protocolo de Nagoya está preocupado com a re-alização de apenas um dos objetivos básicos da con-venção: a repartição justa e igualitária dos benefícios decorrentes da utilização dos recursos genéticos. Pre-tendo promover a rápida ratificação do protocolo, mas promoverei também – e com igual empenho – a con-cretização da estratégia de biodiversidade para o perí-odo 2011-2020, aprovada na COP-10 [10ª Conferência das Partes da ONU sobre Diversidade Biológica]. São coisas com-plementares, porque a repartição dos benefícios é um incentivo à conservação e ao uso sustentável.

acontecerá no próximo mês de outubro – em nova déli, na índia – a 11ª Conferência das Partes da Convenção sobre diversidade Biológica (CoP-11). E Bráulio dias, recém-nomeado secretário-executivo do organismo, estará no centro dos debates. Segundo dias, um dos principais assuntos em pauta será a mobilização de recursos financeiros que ajudem os países mais pobres a honrar os compromissos firmados na CoP anterior, realizada em 2010 na cidade japonesa de nagoya. “vou enfatizar o interesse comum de nações desenvolvidas e em desenvolvimento na

conservação e no uso sustentável da diversidade biológica”, diz o secretário. “afinal, a perda de biodiversidade, onde quer que ela ocorra, é sempre um prejuízo para toda a humanidade.”

Esse, contudo, não será o único tema prioritário da CoP-11. de acordo com Bráulio dias, outro assunto urgente e de extrema importância será a gestão sustentável do ambiente marinho. “muitas metas internacionais de proteção aos mares e oceanos estabelecidas para 2012 não foram nem serão atingidas”, afirma o brasileiro. “Teremos de avançar muito nessa área.”

aJuda para quEm prEcisaum doS TEmaS CEnTRaiS da CoP-11 SERá a moBiliZação dE RECuRSoS FinanCEiRoS quE ajudEm oS PaíSES Em dESEnvolvimEnTo a PRESERvaR a BiodivERSidadE

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bs a crise financeira que se arrasta desde 2008 coloca em risco os esforços pela preservação da biodiversidade?bd Não acredito que a crise tenha um impacto per-ceptível sobre o Protocolo de Nagoya. A implemen-tação do protocolo deve conduzir a uma maior uti-lização sustentável dos recursos genéticos, por meio do acesso facilitado, o que trará maiores benefícios tanto para os usuários como para os prestadores de tais recursos.

bs o 3º relatório do panorama global da biodiversidade (gbo3), lançado no ano passado, revela que o mundo não está sendo capaz de reverter uma situação preocupante: a perspectiva de que um terço das espécies desapareça nas próximas décadas. como mudar esse quadro?bd Precisamos definir com clareza os objetivos es-tratégicos e as metas adotadas na COP-10. Isso sig-nifica que os habitats naturais e os ecossistemas devem ser preservados por meio de diversas ações, tais como o desenvolvimento de uma rede de áreas protegidas. Ao mesmo tempo, é preciso por fim aos incentivos econômicos prejudiciais à biodiversida-de e convencer [governos e empresas] de que é neces-sário levar em conta a biodiversidade na tomada de decisões.

bs por que as empresas devem se preocupar com a utilização sustentável dos recursos da biodiversidade? E o que elas devem fazer para preservá-los?bd Todas as empresas dependem da biodiversida-de de uma maneira ou de outra. Essa dependência se dá pelos recursos naturais que elas utilizam ou pelo uso que fazem dos serviços ecossistêmicos. Se a biodiversidade não é preservada, esses recursos e serviços se tornam insustentáveis e o modelo de negócio das companhias acaba ficando ameaçado. É fundamental que as corporações compreendam sua conexão com a diversidade biológica, para ado-tar medidas que reduzam a pegada negativa de seus produtos e processos.

entRevista

“dE uma manEira ou dE outra, todas as EmprEsas dEpEndEm da biodivErsidadE. quando os rEcursos naturais E os sErviços Ecossistêmicos sE tornam insustEntávEis, o modElo dE nEgÓcio fica amEaçado”

para dias, é fundamental que as corporações compreendam sua conexão com a diversidade biológica

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bs qual deve ser o papel da classe empresarial para que sejam alcançadas as metas estipuladas em nagoya?bd As empresas precisam respeitar as legislações nacionais e adequar seus procedimentos ao Proto-colo de Nagoya, de modo a respeitar não apenas o patrimônio genético da biodiversidade, mas tam-bém o conhecimento tradicional associado a ele.

bs quais serão as maiores dificuldades para a ratificação do protocolo?bd Acredito que os princípios que o sustentam são bem aceitos pela maioria dos governos e das em-presas. As principais dificuldades são de natureza técnica. Os governos devem rever legislações e a estrutura administrativa para cumprir suas obri-gações no âmbito do protocolo. Isso leva tempo. E alguns governos, especialmente de países em de-senvolvimento, precisam de assistência para criar o quadro jurídico-administrativo necessário.

bs qual é sua expectativa para a rio+20?bd Será um grande evento. E uma oportunidade única para medir o progresso na realização dos objetivos que a comunidade internacional estabe-leceu em 1992, para examinar os principais obstá-culos e para ajustar os esforços à realidade do sé-culo 21. O objetivo mais importante, do ponto de vista da CDB, é fazer da biodiversidade um tema importante na discussão da economia verde. Es-peramos que os resultados do evento nos propor-cionem apoio político adicional para a ratificação do Protocolo de Nagoya e para transformar a pre-servação da diversidade biológica num dos pila-res do desenvolvimento sustentável.

bs a cdb apresentará algum trabalho ou estudo relevante durante a conferência?bd Estaremos presentes principalmente no Pavi-lhão de Convenções do Rio, onde será apresentado o trabalho conjunto de três convenções – Diversi-dade Biológica, Mudanças Climáticas e Combate à Desertificação. O pavilhão terá ainda um pro-

grama completo de eventos paralelos sobre temas como cidades, negócios, oceanos, gênero e desen-volvimento, o papel das comunidades indígenas e locais, entre outros. Além disso, a CDB apresentará sua avaliação inicial sobre os investimentos neces-sários para atingir os objetivos traçados até 2020 e os meios para integrar conservação da biodiversi-dade e desenvolvimento econômico.

bs o senhor acredita que crescimento econômico combina com meio ambiente e conservação da biodiversidade?bd Acredito que desenvolvimento e conservação não só podem como devem ser conciliados. A CDB reconhece a necessidade de progresso social e eco-nômico nos países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, qualquer crescimento econômico que destrói a biodiversidade é prejudicial para o mundo todo. Se aceitamos essa premissa, aceitamos também que, juntos, devemos buscar novos modelos de desen-volvimento. Temos de aprender a fazer as coisas de uma forma diferente. Em particular, precisamos encontrar o ponto de equilíbrio entre as nossas ne-cessidades de consumo e a necessidade de preservar o patrimônio natural da humanidade. [bs]

EXTinção dE ESPéCiES • Rio+20 SERviçoS amBiEnTaiS • ConSumo

saiba mais

convenção sobre diversidade biológicaResultado da Conferência da onu para o meio ambiente e o desenvolvimento, realizada no Rio de janeiro em 1992, a Convenção sobre diversidade Biológica (CdB) é o principal fórum mundial na definição dos marcos legais e políticos para questões relacionadas à biodiversidade. no total, 168 países assinaram a CdB e 188 já a ratificaram. outras informações no site: www.cbd.int.

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E X E m P l o S i n S P i R a d o R E S P a R a m u d a R o m u n d o

« p o R l u c i a n a z e n t i »

lideRança

em meados da década de 1980, o médico veterinário Clóvis Ricardo Shrappe Borges se juntou a 18 amigos para fundar uma ONG conserva-cionista, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). O grupo deu início as suas atividades prestando serviços voluntários a um pequeno museu de história natural de Curitiba, no Paraná. Em pouco tempo, no entanto, já estavam insatisfeitos. Que-riam fazer mais, muito mais pela cidade, pelo país e pelo mundo. Decidiram, então, abraçar uma causa global: a preservação de uma das florestas mais ricas em biodi-versidade do planeta, a Mata Atlântica.

De lá para cá, quase 30 anos se passaram. A determi-nação de Borges continua a mesma. Mas a concepção de como alcançar seus objetivos mudou bastante. Se antes ele achava que bastava idealismo, hoje é um sujeito prag-

mático, convencido de que seu trabalho à frente da SPVS só pode dar certo com o apoio dos grandes: poder público e, principalmente, iniciativa privada. Uma de suas prio-ridades é ganhar cada vez mais apoio de empresas que ele define como “oxigenadas” – aquelas que desejam ser reconhecidas pela preocupação com o meio ambiente. A estratégia de Borges é convencê-las de que, sem os ser-viços ambientais prestados pela natureza preservada, a perenidade de seus respectivos negócios estará ameaça-da; e, com a ajuda dessas corporações, viabilizar inicia-tivas que possam ser replicadas não apenas em território paranaense, mas no mundo todo.

tipo eXpoRtaçãoMais que pragmatismo, maturidade talvez seja a palavra que melhor traduz a mudança de atitude de Borges e seus

clÓvis boRGesquem? diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em vida Selvagem e Educação ambiental (SPvS), de Curitiba (PR).

o quê? Fundou e dirige uma das instituições de conservação da biodiversidade mais atuantes do Brasil.

poR quê? acredita que parceria com a iniciativa privada é o caminho para a preservação dos recursos naturais.

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ulg

ação

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companheiros nas últimas três décadas. “Quando come-çamos, em 1984, o mote era a conservação pela conserva-ção”, diz o ambientalista. “Hoje o desafio da preservação é parte do negócio das empresas. Se você souber dialogar, consegue fazê-las entender a importância disso.”

Um bom exemplo do papel determinante que a ini-ciativa privada pode ter, na opinião de Borges, é a par-ceria firmada entre a SPVS e o HSBC. O banco é um dos principais apoiadores do programa Desmatamen-to Evitado, que tem por objetivo compensar a emissão dos gases de efeito-estufa com a proteção de áreas natu-rais. De 2007 para cá, a divisão de seguros do HSBC vem adotando um pedaço de mata nativa em três estados – Paraná, Santa Catarina e Bahia – para cada apólice de automóvel e residência vendida. Resultado: enquanto a área protegida é ampliada continuamente, combate-se o aquecimento global e preserva-se a biodiversidade. A experiência deu tão certo que já foi até exportada. A ins-tituição financeira levou o projeto para a Argentina, o México e o Panamá, países nos quais ele também atua.

lonGa JoRnadaEstão envolvidos no programa Desmatamento Evitado, além do HSBC, outros pesos-pesados da iniciativa privada – entre eles, empresas como Souza Cruz, Grupo Positivo e O Boticário. Juntos, eles ajudam a preservar 25 áreas do bioma Mata Atlântica, totalizando 3,6 mil hectares de ve-getação nativa. Nas contas de Borges, o montante investi-do por essas companhias já chega a R$ 4,8 milhões. “Mas isso é só o começo”, diz o ambientalista. Segundo ele, é ur-gente aumentar a proteção sobre os campos naturais do Planalto Sul brasileiro e sobre as florestas de araucária, que quase foram riscadas do mapa. “Estamos a anos-luz de dar nossa missão por encerrada.”

Embora ainda exista uma longa jornada pela frente, os resultados colhidos pela SPVS até aqui sugerem que o ca-minho escolhido está correto. A ONG, que nasceu ocupan-do um espaço emprestado numa loja de cartões-postais, hoje tem mais de 100 funcionários e coleciona prêmios importantes. No papel de ambientalista, Borges foi eleito em 2002 um dos líderes sociais mais influentes do país. E viu a entidade que dirige ser reconhecida pela The Nature Conservancy como uma das mais atuantes em toda a Amé-rica Latina. Sua explicação para tão boa colheita? Firmeza e coerência. “Se a empresa realmente quer resultados em conservação, tem diálogo. Caso contrário, não. Somos vis-tos como intransigentes. E tenho orgulho disso.” [bs]

a“quando comEçamos, Em 1984, o motE Era a consErvação pEla consErvação. hoJE,

o dEsafio da prEsErvação É partE do nEgÓcio das EmprEsas. sabEndo dialogar, É possívEl

faZê-las EntEndEr a importância disso”

sElo dE garantiaum compromisso com a biodiversidade

Empresas comprometidas com a preservação da

biodiversidade já podem receber um selo que ateste

esse compromisso. Trata-se da primeira certificação

do gênero no mundo, concedida pelo instituto life, de

Curitiba (PR). E um dos pais dessa ideia é justamente

o ambientalista Clóvis Borges, diretor-executivo da

Sociedade de Pesquisa em vida Selvagem e Educação

ambiental (SPvS), também da capital paranaense.

Foi durantes as reuniões da entidade dirigida por

Borges que o próprio instituto life nasceu – fruto, em

2009, de uma união de esforços da SPvS e de alguns

parceiros da iniciativa privada. hoje, o instituto tem apoio

da onu e do governo federal. as primeiras empresas

certificadas por ele, todas brasileiras, devem receber o

selo ainda este ano. mas a intenção é conferi-lo também

a empresas de outros países. “isso não é apenas uma

inovação”, diz Borges. “é uma demanda de mercado.”

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um SiSTEma PuRiFiCadoR dESEnvolvido na uniCamP Elimina PoluEnTES da água uSando EnERgia SolaR

rEportagEm GabRiela scheinbeRG

Nas contas da ONU, cada habitante deste planeta faz uso, em média, de algo entre 20 e 50 litros de água todos os dias – seja para beber, cozinhar, tomar banho lavar o carro ou irrigar uma plantação. Ao olhar esses números mais de perto, no entanto, percebe-se que a história não é tão simples. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,5 bilhões de pessoas ainda vivem sem saneamento ao redor do mundo. Por causa dessa tragédia, calcula-se que uma criança morra a cada 20 segundos.Mas despoluição e tratamento de água não são apenas questões de saúde pública. Significam também reutili-zação de um precioso recurso natural. E é justamente nessa direção – a da sustentabilidade – que uma pesqui-

sa desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) parece estar dando um grande passo.

Sob a coordenação da professora Claudia Longo, foi de-senvolvido no Instituto de Química um sistema de purifi-cação de água que, utilizando-se apenas energia solar, con-segue eliminar qualquer traço de contaminação orgânica. “O processo não deixa resíduos”, diz a professora. “E é ali-mentado por uma energia totalmente renovável.”

efluentes industRiaisEmbora só tenha avaliado em ambiente laboratorial até agora, Claudia tem certeza de que, além de sustentável e economicamente viável, o sistema é altamente eficien-

Em dobrolimpEZa

R E P o R T a g E m

inovação

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te. Seu funcionamento é simples e se baseia no uso de um tipo específico de material, o eletrodo de TiO2 nanocrista-lino. Ligado a células solares, ele destrói os poluentes orgâ-nicos consumindo apenas energia solar.

Nos testes, os pesquisadores utilizaram como indica-dor de eficácia o fenol – uma substância de difícil degra-dação, nociva à saúde e relativamente comum em rejei-tos industriais. Os resultados explicam a empolgação da professora. O sistema mostrou-se capaz de eliminar quase 80% que qualquer poluente orgânico, ainda que seja mui-to persistente, nas primeiras três horas de purificação. Em seis horas, esse índice ultrapassa 90%.

É por isso que a coordenadora do projeto, desde já, en-xerga no novo sistema um enorme potencial para trata-mento de efluentes industriais. “E estamos investigando seu potencial para desinfecção”, diz a professora. “Se con-firmada, ele poderá ser empregado também na purifica-ção de água para consumo doméstico.”

vocação paRa o meRcadoClaudia reconhece que, para sair do laboratório e ganhar o mercado, o sistema purificador desenvolvido na Uni-camp ainda precisa ser melhorado. Um dos desafios será ampliar sua capacidade e reduzir seu custo ao mesmo tempo, até que ele se transforme numa alternativa van-tajosa em todos os aspectos, inclusive no preço. Outro será torná-lo ainda mais eficiente, diminuindo o tempo gasto para realizar a purificação. A professora espera chegar lá atraindo mais alunos para trabalhar no projeto e enge-nheiros que ajudem a viabilizá-lo em escala industrial.

Uma patente já foi solicitada ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). E a pesquisa, que faz parte do projeto de mestrado do aluno Haroldo Gregó-rio de Oliveira, foi recentemente publicada na revista Applied Catalysis B: Environmental, uma das mais concei-tuadas da área. Iniciado em 2004, o desenvolvimento do sistema contou até aqui com financiamento da Ca-pes, da Fapesp, do CNPq e do Inomat. [bs]

TECnologia dE ulTRaFilTRação dESEnvolvida PEla gE ajudaRá a EviTaR quE o ESgoTo dE 650 mil haBiTanTES dE CamPinaS SEja dESPEjado noS RioS da CidadE

um estudo recente feito pela global water intelligence (gwi) – agência internacional de análises de mercado – concluiu que a demanda mundial por sistemas de despoluição e tratamento de água crescerá mais de 250% até 2016. E que vivemos apenas o início de um longo período de expansão desse mercado. Segundo a gwi, o índice de reutilização de água há apenas três anos, em 2009, era de apenas 4%. Em 2025, será de 33%.

atenta a esse cenário, a gE – uma das grandes no segmento de filtros – vem investindo em desenvolvimento. uma das tecnologias mais recentes desenvolvida pela empresa são as membranas de ultrafiltração batizadas Zeeweed: fibras ocas que, imersas na água, separam até partículas microscópicas, incluindo vírus e bactérias. o esgoto que passa por pelos filtros vira água de alta pureza – pronta para ser reutilizada, por exemplo, em processos industriais.

as membranas de ultrafiltração da gE já foram adotadas em aproximadamente 650 estações de tratamento de esgoto e efluentes industriais ao redor do mundo. Em Campinas, no interior de São Paulo, elas serão aplicadas num grande projeto público que já está em operação tratando 180 litros de esgoto por segundo. a ideia, no entanto, é dobrar a capacidade. quando atingir essa meta, todo o esgoto produzido por cerca de 650 mil campinenses deixará de ser lançado in natura nos rios e córregos da cidade.

a naturEZa agradEcE

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sede da puma na alemanha: edifício projetado para favorecer uso racional de energia e baixo nível de emissões

cadeia pRodutivaR E P o R T a g E m

em maioR ou menoR GRau, todas as etapas da fabricação de um produto significam algu-ma agressão ambiental. Isso quer dizer que, ao exercer sua atividade, toda empresa impõe um determina-do prejuízo à sociedade. Como quantificá-lo para poder mitigá-lo? Uma das maneiras é traduzi-lo em di-nheiro. Sim, porque é perfeitamente possível atribuir um valor aos serviços prestados pelo meio ambiente a qualquer cadeia produtiva. Estimando-se em termos financeiros o impacto ambiental que ela provoca, fica mais fácil de identificar e atacar os entraves à sustentabilidade do negócio.

rEportagEm gaBRiEla SChEinBERg

ao CalCulaR Em TERmoS FinanCEiRoS o EFEiTo dE SuaS CadEiaS PRoduTivaS SoBRE o mEio amBiEnTE, EmPRESaS ConSEguEm TRaçaR ESTRaTégiaS maiS EFiCiEnTES dE dESEnvolvimEnTo SuSTEnTávEl

impactosna ponta do lápis

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É por isso que várias empresas no Brasil e no exte-rior já estão fazendo essa conta. Poucas, no entanto, conseguiram ir tão longe até agora quanto a Puma, uma das líderes mundiais do mercado de material es-portivo, com produtos distribuídos em mais de 120 pa-íses. No fim do ano passado, a companhia de origem alemã divulgou um relatório detalhado que converteu em valor monetário o efeito de toda a sua cadeia pro-dutiva sobre o meio ambiente. Segundo o documento, o impacto referente a 2010 foi equivalente a 145 mi-lhões de euros – ou cerca de 353 milhões de reais (com base no câmbio do início de abril).

Nesse cálculo, foram considerados fatores como emis-são de gases de efeito estufa, uso de água e solo para pro-dução de matérias-primas, poluição do ar e geração de re-síduos, entre outros. E considerou-se também toda a rede de fornecedores da empresa. São justamente eles, por sinal, os responsáveis pela maior parte do impacto esti-mado na valoração. De acordo com a Puma, descobriu-se que apenas 8 desses 145 milhões de euros dizem respeito ao seu core business (escritórios, depósitos e lojas, por exem-plo). Todo o restante – 137 milhões – corresponde à ativi-dade dos parceiros na cadeia produtiva.

“Esse custo ambiental não afeta o lucro líquido da empresa [que superou os 2 bilhões de euros em 2010] e o seu cálculo nos ajudará a mitigar a pegada da opera-ção”, diz Jochen Zeitz, CEO da holding PPR, da qual faz parte a marca de materiais esportivos. Para ele, a valo-ração econômica de impactos ambientais é uma ferra-menta essencial no planejamento estratégico de qual-quer empresa que almeje crescimento sustentável – e quanto mais abrangente, melhor. “Identificando onde é necessário aplicar medidas corretivas, não apenas ajudamos a proteger os serviços ecossistêmicos. Garan-timos a longevidade do nosso negócio.”

bonitas na fotoNão há como negar que, ao traduzir impactos ambien-tais em dinheiro, a valoração econômica fala a língua que o mundo corporativo mais compreende. Natural, portanto, que um número cada vez maior de empresas recorram a ela antes de tomar decisões na área de sus-tentabilidade. “Ao avaliar o impacto pela perspectiva mercadológica, o patrimônio ambiental passa a fazer parte do negócio de forma mais relevante”, afirma Da-niela Lerda, diretora-executiva da consultoria de gestão Padma e consultora do CEBDS.

Uma das empresas que entenderam a importância de contemplar os serviços ecossistêmicos em seu pla-nejamento é a Syngenta, líder mundial no mercado de agroquímicos. Ela desenvolveu um trabalho piloto de valoração de impactos na Índia, utilizando-se de uma metodologia denominada Ecosystem Services Review (leia mais na reportagem da pág. 16). Segundo Karla Camargo, gerente de relações institucionais da Syngenta Brasil, a iniciativa proporcionou um conhecimento profundo da cadeia – o que conduziu, inclusive, ao desenvolvi-mento de novos produtos, como sementes que neces-sitam de um volume menor de água para germinar e se desenvolver. “Explorando esse recurso de maneira cada vez mais racional, o agricultor ganha em rentabi-lidade”, diz Karla. “E incorpora padrões de ecoeficiên-cia que podem repercutir em toda a cadeia produtiva.”

Outro exemplo é o da Monsanto, multinacional ame-ricana que atua principalmente no segmento de ali-mentos transgênicos. Foi calculando o impacto de sua atividade sobre o meio ambiente que a companhia de-cidiu, em sua operação brasileira, investir na capaci-tação de pequenos agricultores. “É uma mudança de

embalagem sustentável desenvolvida pela puma: além de 100% biodegradável, sua produção consome metade do material consumido anteriormente porque, agora, a empresa dobra suas camisetas uma vez mais antes de embalá-las

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cadeia pRodutivaR E P o R T a g E m

paradigma”, afirma Gabriela Burian, gerente de sus-tentabilidade da Monsanto. “Ao valorar impactos, valo-rizam-se os investimentos e o futuro da empresa.”

Analistas de mercado e consultores acreditam que não deve demorar muito até que governos comecem a transformar em lei a valoração econômica dos impac-tos ambientais. Quando isso acontecer, companhias que se anteciparam a essa obrigatoriedade estarão al-guns passos à frente da concorrência. Sem contar a vantagem de que elas sairão mais bonitas na foto – afi-nal, serão vistas pela sociedade como companhias que não precisaram ser enquadradas por uma legislação ambiental para se preocupar com o desenvolvimento sustentável. Não por acaso, a holding da Puma já anun-cia que pretende, até 2015, adotar a valoração como procedimento padrão em todas as suas marcas – entre elas, grifes consagradas como Gucci, Yves Saint Lau-rent, Alexander McQueen e Stella McCartney. [bs]

Para escolher seus fornecedores, a natura utiliza uma valoração econômica de impactos ambientais muito parecida com a feita pela Puma. Trata-se do que a empresa chama de Estratégia de Suprimentos Sustentáveis, uma metodologia desenvolvida sob medida com o apoio da consultoria a.T. Kearney.

“Traduzimos os impactos gerados por nossos fornecedores em valores monetários de forma a que pudéssemos usá-los como parâmetros de avaliação de custo”, explica Ricardo Faucon, diretor de suprimentos da natura. ou seja, na hora de avaliar um

candidato a fornecedor, a empresa considera o custo socioambiental que ele representa – calculando em termos financeiros fatores como uso de água, nível de emissões, geração de resíduos, conservação da biodiversidade, relacionamento com a comunidade e investimento em educação; em seguida, cruza esses dados com os critérios tradicionais de seleção, como preço, qualidade e logística; no final, opta por aquele que apresente a melhor relação custo-benefício.

Segundo Faucon, a metodologia vem sendo aplicada na confirmação de contratos de médio e

longo prazos. depois de confirmados, os fornecedores que passaram pelo crivo se comprometem a trabalhar pela redução progressiva de seus impactos ambientais e, quando necessário, a criar um plano estratégico de desenvolvimento sustentável. a primeira onda do projeto, iniciada em 2010, contemplou 60% da cadeia produtiva e já foi positivo para a natura em aproximadamente 1 milhão de reais – com perspectiva de chegar a 4 milhões nos próximos quatro anos. já para a sociedade, a empresa calcula que o ganho em termos socioambientais chegará a 20 milhões de reais no mesmo período.

dE olho nos fornEcEdorEsnaTuRa uTiliZa CRiTéRioS SoCioamBiEnTaiS BaSEadoS na valoRação dE imPaCToS PaRa SElECionaR SEuS PaRCEiRoS

Karla: conhecimento incluiu desenvolvimento de novos produtos na syngenta

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“se eu tivesse ficado em

São Paulo, acabaria enlouquecendo.” A frase é de Kleever

Morgan Kincey, um brasileiro de 37 anos que, apesar do

nome estrangeiro, gosta mesmo é de ser chamado pelo

apelido – Porkão. A vida agitada que ele levava na capital

paulista parecia estar arruinando sua saúde. “Eu começa-

va a me sentir mal e piorava de um jeito que achava que

ia morrer”. As crises começaram em 2004. Mas os exames

feitos toda vez que ele visitava um hospital nunca indi-

cavam nada de errado. Até que, em 2007, a coisa piorou e

finalmente veio o diagnóstico: síndrome do pânico com

depressão. Era só o que faltava para desencadear-se uma

verdadeira revolução pessoal.

Antes de sucumbir ao estresse imposto pela metrópo-

le, Porkão fez carreira no cinema publicitário. Em 2003,

ele e sua esposa – Joana Leis Balsalobre – se associaram

a um amigo e abriram a Casa Belfiore, um bar e restau-

rante localizado na Barra Funda, zona oeste de São Pau-

lo. Joana era craque na cozinha. E Porkão aproveitou sua

queda por punk rock para dar estilo ao empreendimen-

to. “Nhoque com Sex Pistols” era o lema da Belfiore. Deu

certo. O lugar rapidamente conquistou um público fiel e

recebeu boas críticas na imprensa especializada.

Se os negócios e a família iam bem, por que Kleever aca-

bou às voltas com síndrome do pânico e depressão? “Porque

a vida estava ruim”, ele responde. “A gente trabalhava mui-

« p o R l u i z R i b e i R o »

vida novai n i C i aT i va S P E S S oa i S T R a n S F o R m a d o R a S

a noitE pElo diaa Família quE laRgou uma BEm-SuCEdida CaSa noTuRna Em São Paulo PaRa moRaR Em um BaiRRo “alTERnaTivo” dE uma CidadE do inTERioR

ElEs trocaram

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to e ganhava pouco. Eu comia mal, dormia pouco, bebia, fuma-

va bastante... Sem contar o trânsito e a violência de São Paulo.”

Segundo Porkão, seu ritmo era tão acelerado que ele e sua esposa

quase não se viam. “Um dia, resolvemos que não queríamos ver

nossa filha sendo criada por uma babá”, diz Joana.

A decisão foi tomada em meados de 2009: fugir da metrópole

e se mudar para Demétria, um destino aparentemente perfeito

para quem busca uma vida mais equilibrada. Localizado na zona

rural de Botucatu, a 235 km da capital, esse é um bairro diferen-

te. Ele tem duas fazendas de agricultura biodinâmica (um méto-

do orgânico e sustentável de produção de alimentos), uma escola

baseada na pedagogia Waldorf, um instituto de odontologia inte-

gral, uma loja de produtos orgânicos, duas pousadas, alguns res-

taurantes e uma marcenaria, entre outros estabelecimentos.

Cinco condomínios abrigam a maior parte dos moradores, que

compartilham uma visão de mundo voltada para o desenvolvi-

mento espiritual, cultural, ambiental e social das pessoas. Diversi-

dade é a regra: há budistas, cristãos, hinduístas, ateus... Professo-

res, médicos, jornalistas, artistas... Paulistas, gaúchos, paraenses,

pernambucanos... Argentinos, peruanos, alemães, espanhóis...

Enfim, gente de todo tipo e de toda parte do Brasil e do mundo.

qualidade de vidaFoi nesse ambiente, tão distinto daquele ao qual estava habitu-

ado, que Porkão diz ter encontrado seu lugar. A família alugou

uma casa e abriu um restaurante, o Celeiro – que foi erguido com

materiais de demolição, privilegia o uso de ingredientes locais

e orgânicos e emprega jovens do bairro. Os dejetos seguem para

duas fossas ecológicas. O lixo reciclável é 100% recolhido. E as so-

bras de comida são encaminhadas para um criador de porcos.

Agora, eles têm tempo de sobra para curtir um ao outro. E os

hábitos mudaram bastante. “Quando era dono do CB, às 8 horas

da manhã eu estava tomando a última cerveja para fechar o bar”,

lembra Porkão. “Hoje, nesse horário estou tomando um suco ver-

de.” A qualidade de vida melhorou tanto que as crises de pânico,

além de raras, tornaram-se bem mais leves – prova de que, às ve-

zes, o melhor remédio é uma guinada radical. [bs]

a RadaR

imagine passar 12 meses gerando o menor impacto possível no meio ambiente. foi isso o que o escritor colin beavan fez entre 2006 e 2007 – acompanhado de sua mulher, do ilho de apenas dois anos e do cachorro da família. mesmo vivendo numa grande metrópole como nova York, eles deixaram de usar carro, táxi e metrô, aboliram itens supostamente essenciais como creme dental e papel higiênico e começaram a plantar árvores. a iniciativa deu tanto o que falar que acabou virando livro e documentário. conira o blog de beavan: http://noimpactman.typepad.com.

um ano sEm impacto

Judith levine é uma mulher comum. escritora e jornalista, vive nos estados unidos, imersa na profusão de propagandas veiculadas em diversos meios – internet, televisão, rádio, cinema, outdoors etc. – para estimular o consumo. cansada dessa história de consumismo desenfreado, certo dia ela resolveu dar um basta e passar um ano inteiro sem comprar nada que pudesse ser classiicado como supérluo. no livro not buying it: my Year Without shopping, Judith conta, com relexões sobre temas como necessidade, desejo, escassez e sociabilidade, como foi essa experiência.

um ano sEm consumo

bloG do baiRRo demétRia: www.alobairrodemetria.blogspot.com

celeiRo RestauRante: www.celeirorestaurante.com.br

saiba mais

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lançamento do visão brasil 2050elaborado após um ano de debates com mais de 500 pessoas e 70 empresas, o documento visão brasil 2050 aponta os temas prioritários para que o país garanta a qualidade de vida daqui a quatro décadas. o debate discutirá a relevância nacional e a aplicabilidade do documento e é aberto a todos os credenciados no Riocentro.

confira todos os eventos voltados ao empresariado na Rio+20 no blog do cebds em: blogdocebds.wordpress.com

inovação • Rio CidadE SuSTEnTávEl • EConomia vERdE • EmiSSõES

E d i ç ã o E S P E C i a l R i o + 2 0

aGenda

22de Junho

horário: 11h às 12h30local: Riocentro - sala p3-6

rEaliZação: cebds

fórum de ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento sustentávelquando: de 11 a 15 de junho de 12local: PuC-Rj (Rua marquês de São vicente 225, gávea)rEaliZação: international Council for Science (iCSu)apresenta discussões da comunidade científica internacinal a respeito de temas variados. na programação, há paineis voltados a temas como o “Consumo e produção sustentáveis” (11 de junho, às 16h); “Serviços dos ecossistemas e biodiversidade” (13 de junho, às 14h) e “Economia verde e novos modelos econômicos e sociais” (15 de junho, às 9h). não é necessária inscrição prévia. Programação completa: www.icsu.org/rio20/science-and-technology-forum.

feira de inovação tecnológica quando: de 13 a 22 de junhoondE: Píer mauá (avenida Rodriguez alves, 10)rEaliZação: governo Federalno centro do Rio, os armazéns do píer serão destinados a apresentações sobre inovação, tecnologias sustentáveis e programas de sustentabilidade. Serão divulgados projetos do governo Federal, da

Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da sociedade civil.

rio cidade sustentávelquando: 17 de junho (15h30-17h) ondE: no Riocentro (av. Salvador allende, 6555, Barra da Tijuca)rEaliZação: CEBdSo projeto de infraestrutura urbana, transformação social e o uso de materiais que causam menor impacto ambiental será apresentado como case na Rio+20. Participam da apresentação marina grossi, presidente do CEBdS e Paulo Simão, da Câmara Brasileira da indústria da Construção.

making a green Economy happenquando: 20 de junhoondE: Riocentro (av. Salvador allende, 6555, Barra da Tijuca)rEaliZação: Câmara de Comércio internacionalo seminário reunirá CEos, líderes governamentais e especialistas para discutir a economia verde. os resultados dessa discussão devem dar origem a um guia para encorajar e acelerar a transição das empresas para uma economia mais inclusiva. o fórum é aberto para os credenciados no Riocentro.

financiando a Economia verde e o desenvolvimento sustentávelquando: 19 de junho, das 14h às 18hondE: auditório do BndES (av. República do Chile, 100, Centro)rEaliZação: BndESo seminário vai debater a economia de baixo carbono e o papel dos bancos e dos organismos multilaterais na promoção do desenvolvimento sustentável. as inscrições estão abertas até a data do evento pelo e-mail: [email protected]

Empresas globais: desafios e oportunidades na gestão estratégica emissões de gEEquando: 21 de junho, das 10h às 12h30ondE: Fgv-Barra (av. das américas, 3.693-bl 2, 2º andar)rEaliZação: Fundação getúlio vargas (Fgv)os desafios e oportunidades para empresas de diversos países no que se refere à mensuração, relato e gestão das emissões de gases de efeito estufa (gEE) são tema do evento. as inscrições estão abertas até o dia do evento, pelo e-mail: [email protected]

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