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BRASIL SUSTENTÁVEL CORREIOS Impresso Especial 9912224192 3/8 - DR/RJ CEBDS AGOSTO/SETEMBRO EDIçãO 30 R$ 10 2010 UMA PUBLICAçãO DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL “A SUSTENTABILIDADE é A BASE PARA O DESENVOLVIMENTO” MARINA SILVA “AGENDA AMBIENTAL NãO AMEAçA O FUTURO DO DESENVOLVIMENTO” JOSé SERRA “é POSSíVEL CRESCER E SER AMBIENTALMENTE SUSTENTáVEL” DILMA ROUSSEFF EXCLUSIVO: OS CANDIDATOS à PRESIDêNCIA MOSTRAM SEUS PROJETOS PARA UMA ECONOMIA VERDE NO BRASIL NAGOYA: COP-10 EMPRESAS SE MOBILIZAM PELA BIODIVERSIDADE INVESTIMENTOS DESASTRE NO GOLFO AUMENTA AVERSãO A RISCOS CEOS FALAM 768 EXECUTIVOS AVALIAM AVANçOS EM SUSTENTABILIDADE BIOELETRICIDADE Só 100 DAS 437 USINAS DE CANA VENDEM ELETRICIDADE TAMBéM NESTA EDIçãO

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BrasilSUSTENTÁVEL CORREIOS

Impresso Especial

9912224192 3/8 - DR/RJCEBDS

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u m a p u b l i c a ç ã o d o c o n s e l h o e m p R e s a R i a l b R a s i l e i R o p a R a o d e s e n v o lv i m e n t o s u s t e n t á v e l

“a sustentabilidade é a base paRa o desenvolvimento”

Marina silva

“agenda ambiental não ameaça o futuRo do desenvolvimento”

josé serra

“é possível cResceR e seR ambientalmente sustentável”

dilMa rousseff

eXclusivo: os candidatos à pResidência mostRam seus pRoJetos paRa uma economia veRde no bRasil

nagoya: CoP-10 empResas se

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investiMentos desastRe no

golfo aumentaaveRsão a Riscos

Ceos falaM 768 eXecutivos

avaliam avanços em sustentabilidade

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usinas de cana vendem eletRicidade

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C â m a r a s t e m á t i C a s

Carlos eduardo Garrocho de almeida

Holcim

Franklin FederAlcoa

Gilbert Landsberg Shell Brasil

João Batista Ferreira Dornellas

Nestlé

sidnei BasileAbril

marco simõesCoca-Cola

antonio Carlos manssour Lacerda

Basf

Hélio ribeiro Duarte HSBC

C O N s e L H O D e a D m i N i s t r a ç ã O

PRESIDENTE EXECUTIVA

Marina Grossi

CHAIRMAN

Marcos Bicudo

PRESIDENTE DE HONR A

Erling Sven Lorentzen

a s s O C i a D O s C e B D s

• 3m do Brasil LtDa.• abralatas• alcoa alumínio s.a. • allianz seguros• amanco Brasil s.a.• amBev – Companhia de Bebidas das américas• arcelormittal Brasil• Bahia mineração• Banco do Brasil • Basf s.a.

• Bayer s.a. • BP Brasil LtDa.• Bradesco s.a.• Braskem s.a.• Caixa econômica Federal• Chemtech• Cia. Brasileira de Petróleo ipiranga• Cia. energética de minas Gerais – Cemig• Coca-Cola• Copel

• DNV• eBX• ecopart • eletronuclear – eletrobras termonuclear s.a.• energias do Brasil• Furnas – Centrais elétricas s.a.• Gerdau açominas s.a.• Goodyear do Brasil • Grupo abril• Grupo santander• Holcim Brasil s.a.

• HsBC• itaú Unibanco• Lorentzen empreendimentos s.a. • michelin • monsanto do Brasil LtDa.• Natura Cosméticos• Nestlé Brasil LtDa.• Organização Odebrecht• Organizações Globo• Petrobras – Petróleo Brasileiro s.a.• Philips

• Pirelli Pneus• shell Brasil LtDa.• solvay do Brasil LtDa.• souza Cruz s. a.• suzano Papel e Celulose• syngenta seeds LtDa.• tim• Usiminas – Usinas siderúrgicas de mG s.a.• Vale• Votorantim Participações s.a.• Walmart Brasil

D i r e t O r i a

Vânia somavillaVale

Jorge sotoBraskem

altair assumpçãoGrupo Santander Brasil

Wilson santarosa

Petrobras

v i n c u l a d o a o

Av. das Américas, 1.155 – grupo 208, 22631-000, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Tel.: 55 21 2483.2250, e-mail: [email protected], site: www.cebds.org

W O R L D B U S I N E S S C O U N C I L F O R S U S T A I N A B L E D E V E L O P M E N T ( W B C S D )

e Q U i P e C e B D s

Beatriz Carneiro Fernanda Gimenes Fernanda resende

Juliana Queiroz Leandro Batista Lia Lombardi

mara Braile Pablo Vázquez

Phelipe Coutinho

silvana Nocito soia shellard sueli mendes

Verônica Oliveira

ÁGUA

PRESIDENTE: Yazmin trejos Amanco

VICE-PRESIDENTE: Josemar Picanço

Coca-Cola

BIODIVERSIDADE E BIOTECNOLOGIA

PRESIDENTE: Gloverson moro Syngenta Seeds

VICE-PRESIDENTE: maria Cláudia Grillo

Petrobras

COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE

PRESIDENTE: eraldo CarneiroPetrobras

CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL PRESIDENTE: Carlos eduardo

Garrocho de almeida Holcim

ENERGIA E MUDANÇA DO CLIMA

PRESIDENTE: David Canassa Votorantim Participações

VICE-PRESIDENTE: renata araújo

Vale

FINANÇAS SUSTENTÁVEIS

PRESIDENTE: Wagner siqueira Banco do Brasil

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

PRESIDENTE: enio Viterbo Junior

Gerdau

GESTÃO SUSTENTÁVEL PRESIDENTE: ana Lúcia suzuki

Basf

VICE-PRESIDENTE: sue Wolter Vianna

Petrobras

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REPORT COMUNICAÇÃO

Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3.530 – 5.o andar – Jd. Paulista – São Paulo – SP – CEP 01402-001 telefone: 55 11 3051.8400e-mail: [email protected]

direçãoÁlvaro Almeida (MTB: 45384)Estevam Pereira (MTB: 21302)

Conselho editorialAna Lúcia Suzuki (Basf)Carlos Eduardo Garrocho de Almeida (Holcim) Enio Viterbo Junior (Gerdau)Eraldo Carneiro (Petrobras) Luís César Stano (Petrobras)Sue Wolter Vianna (Petrobras) Yazmin Trejos (Amanco)Wagner Siqueira (Banco do Brasil)

CoordenaçãoCEBDSMarina Grossi Lia LombardiFernanda Resende e Sueli Mendes (Assessoria) ediçãoRicardo Arnt (redator-chefe)Alessandra Pereira, Álvaro Penachioni, Beto Gomes, Daniela Vianna, Fernando Badô, Raquel Sabrina e Rita Nardy (editores) Conrado Loiola, Michele Silva, Paula Andregheto, Paulo César Pereira, Pedro Michepud e Silvia Wargaftig (repórteres)

fotografiaRicardo Corrêa

direção de arteMENTES DESIGN

Marcel VotreMarcio Penna

revisãoAssertiva Produções Editoriais

administrativoCristina Almeida (diretora)Cícero Gomes

financeiroCarlos Nascimento

PublicidadeSÓLIDA CONCEITUAL Telefone: 55 21 3154.9450, e-mail:[email protected] Alvaredo (diretora) Melissa Canero e Michel Santos (executivos de atendimento)

Jefferson Eduardo (marketing)Denise Barreto (gerente inanceira)

impressãoEdiouro

tiragem5 mil exemplares

assinaturas e números avulsos • Telefone: 55 21 2483.2250 • e-mail: [email protected] • www.cebds.org

nesta edição bRasil sustentável 30ago/set 2010

fotos de CaPa: ricardo corrêa

A revista BRASIL SUSTENTÁVEL é uma publicação do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Os artigos não reletem necessariamente a opinião do CEBDS, sendo de responsabilidade dos articulistas e entrevistados.

54

iMageM

massacre de baleias nas

ilhas Faore, da dinamarca

notas

reFugiados climáticos, lei do lixo,

carros elétricos, biodiversidade

vida nova

eder JoFre, campeão

dos vegetarianos

ferraMenta

novo certiFicado:

produto orgânico brasil

PanoraMa

os economistas e a sustentabilidade

e a série os brasileiros

agenda

prepare-se para os eventos

de setembro e outubro

rePortageM de CaPa

bioeletricidade: há uma itaipu

adormecida nas usinas de cana-de-açúcar

entrevista

alice tepper marlin, pioneira da

responsabilidade social empresarial

leMe firMe

accenture e pacto global

mapeiam os compromissos dos ceos

lideranÇa

lester broWn: guru do

movimento ambientalista

CoP-10

brasil levará capital natural

à cop da biodiversidade

Crise nas florestas

certiFicação de madeira nativa

está em Queda na amaZônia

investiMentos

acidente da british petroleum

aciona alarme para investidores

gigante vulnerável

cenário climático é de aumento

de enchentes em são paulo

PrograMa de Candidatos

dilma rousseF, José serra e marina silva

Falam à bRasil sustentável

Controvérsia

o Que causa mais impacto,

vinho ou cerveJa?

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E X P E D I E N T EBrAsiLSUSTENTÁVEL

Pela primeira vez, a BRASIL SUSTENTÁVEL publica o pensamento dos principais candidatos à Presidência da República sobre

sustentabilidade. A novidade revela a importância das decisões políticas para o futuro desse tema no país, que tem a oportunidade histórica de assumir a liderança pela corrida verde no mundo, graças, principalmente, a seus ativos naturais. Mas para isso, é preciso que governo, empresas, cientistas e cidadãos estejam de um lado só, pensando e trabalhando juntos para ampliar nossas possibilidades e garantir o que ainda nos falta, como mais qualidade na educação, mais apoio à pesquisa e regulamentação adequada. Os três candidatos foram muito receptivos ao pedido do CEBDS e bastante criteriosos nas respostas. O resultado é uma mostra de como a sustentabilidade norteou cada plano de governo e serve como um registro do que poderemos cobrar no futuro.

É seguindo esse modelo de reunir representantes do governo, academia, empresas e sociedade civil nas discussões que o CEBDS trabalha. Na última semana de agosto, promovemos o encontro A Biodiversidade e a Nova Economia, mais uma etapa da nossa preparação para a Conferência da Biodiversidade, no Japão. O assunto também está nesta edição da revista e mostra como o viés econômico vem influenciando as discussões sobre biodiversidade. Na ocasião, alguns cientistas e representantes do governo se disseram surpresos e esperançosos por verem reunidos num mesmo fórum pessoas com as quais eles costumavam encontrar em lados opostos, no caso dos empresários. Esses são sinais de um novo tempo nas relações que podem ajudar o país a assumir essa liderança e servir de exemplo para um novo modelo de desenvolvimento econômico..

c o m a p a l a v R a , o c h a i R m a n

Marcos Bicudo

opoRtunidade de lideRança

diReto do conselho

novas associadas vision 2050 Controle social

o cebds recebeu este mês a adesão de mais duas empresas: pirelli pneus e allianz seguros. a fabricante de pneus, líder do setor, está no brasil há mais de 80 anos, foi uma sócio-fundadora do conselho, em 1997, e é signatária das diretrizes do pacto global das nações unidas desde 2004. a allianz atua no brasil há mais de 100 anos, tem 60 iliais e desenvolve produtos inovadores baseados em estudos e pesquisas sobre mudanças climáticas. as empresas ganham a contribuição do conselho na busca pela sustentabilidade e o conselho amplia sua força.

o cebds deve lançar em outubro a versão em português do último estudo do World business council for sustainable development (Wbcsd), o relatório vision 2050 – the new agenda for business. o cebds está difundindo o estudo que mapeia o caminho para uma população global de 9 bilhões de pessoas, em 2050, desfrutar de qualidade de vida dentro dos limites do planeta. o documento é resultado de um trabalho de 18 meses com executivos e especialistas de 200 empresas em 20 países, entre os quais o brasil.

marina grossi, presidente-executiva do cebds participou, em brasília, do lançamento do Índice de transparência, iniciativa da ong contas abertas para facilitar um maior controle social sobre a iscalização do dinheiro público. o Índice não é um indicador de probidade administrativa nem da eiciência na alocação de recursos, mas uma avaliação sobre quem divulga melhor as contas – o que já facilitará o seu controle social. a movimentação de receita e despesa de todas as esferas da administração pública poderá ser acompanhada em tempo real pelo site www.indicedetransparencia.org.br.

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carga macabra no cais de torshavn, nas ilhas Faroe, província dinamarquesa situada no atlântico norte, entre a islândia e a noruega: 120 baleias mortas por baleeiros no dia 23 de

julho. em junho, no marrocos, 74 dos 88 países membros da comissão internacional da baleia (cib) reuniram-se para pôr im à caça dos mamíferos. apesar da maioria favorável, Japão, noruega e islândia impediram a decisão. cerca de 1.900 baleias são caçadas anualmente.

embora a prática esteja banida por uma moratória instituída pela cib em 1986, alguns países valem-se do artifício de caçar para “ins cientíicos”. em outubro, a 10ª conferência de

partes da convenção de diversidade biológica será realizada na cidade japonesa de nagoya. aparentemente, o Japão não vê contradição entre apoiar a biodiversidade e caçar baleias.

FOTO: andrija ilic / reuters

CaMPo de batalHa

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A nova Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece regras para a coleta e o armazenamento do lixo produzido nas cidades. Cerca de 70% dos municípios brasileiros não dão destinação correta aos resíduos, e 59% desse material são depositados a céu aberto. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, das 170 mil toneladas de lixo produzidas diariamente no país, 48% vão para aterros sanitários, 12% são coletadas e 40%, enviadas para lixões condenados. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, boa parte dos resíduos recicláveis separados pela coleta seletiva tem destinação inadequada e também acaba em lixões. Simplesmente não há aterros apropriados para que a lei seja cumprida. O setor precisa de R$ 6 bilhões em investimentos, em quatro anos, para melhorar a infraestrutura sanitária. [Paula andregheto]

e agora? onde pôr o lixo?

reforma de obamao senado norte-americano e o presidente barack obama aprovaram nova lei regulando o sistema financeiro dos estados unidos. considerada a maior reforma em Wall street desde a grande depressão, em 1929, o texto prevê maior proteção aos contribuintes e consumidores e mais poder ao governo para intervir em empresas com dificuldades, evitando que o dinheiro público seja utilizado para saneá-las. com 2.300 páginas, a lei dodd-frank altera desde transações com cartões de crédito até restrições às instituições sobre investimentos especulativos. suas normas provavelmente replicarão pelo mundo todo. “o cumprimento das medidas será avaliado por uma nova entidade, cuja única função será proteger as pessoas, e não os grandes bancos, os credores ou as entidades hipotecárias”, explicou obama, na casa branca. [Pedro Michepud]

no que depender do acordo firmado entre a fundação procon-sp e seis empresas que atuam no mercado paulista – telefônica, itaú unibanco, eletropaulo, tim, net e medial –, os consumidores terão menos motivos para se queixar. as empresas firmaram metas para reduzir em 58% o número de reclamações junto ao órgão de defesa do consumidor no prazo de 12 meses. no ano passado, o procon convocou 31 empresas do setor para esclarecimentos. além das seis signatárias, outras 12 se comprometeram a reduzir o número de reclamações. Juntas, as 18 representam 59% de todas as reclamações recebidas pelo órgão. caso as metas sejam descumpridas, os signatários deverão realizar campanhas de educação para o consumo voltadas para o público em geral. [Conrado loiola]

Queixas de consumidores

«edição beto gomes»

notascli ma • F i nan ças • co nsu m o • san e am ento

o menino paquistanês da cidade de ghotki conseguiu salvar seu coelho

As enchentes no Paquistão são o maior desastre humano da história recente, segundo a Organização das Nações Unidas, com 14 milhões de vítimas – quase 10% da população do país –, número que supera o total de atingidos pelo tsunami no Sudeste Asiático (2004), pelo terremoto da Caxemira (2005) e pelo terremoto do Haiti (2010). Juntas, as três catástrofes afetaram 12 milhões de pessoas, embora tenham provocado muito mais mortes – 300 mil no Haiti,

200 mil no Sudeste Asiático e 1,6 mil no Paquistão. Seis milhões de paquistaneses precisam de ajuda urgente (2,7 milhões são crianças). Não se pode prever a correlação das enchentes com as mudanças climáticas na atmosfera. Mas o risco de degelo no Himalaia, temido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, prevê grandes enchentes nos rios que descem da cordilheira para o Paquistão, a Índia e Bangladesh. [beto gomes]

14.000.000 desabrigados

os lixões precisam de r$ 6 bilhões em quatro anos

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Contra a parede

Cerca de 800 milhões de veículos circulam pelo mundo, 98% dependem do petróleo, e 5 bilhões de toneladas de CO

2 são jogadas na atmosfera

por veículos rodoviários, por ano. O planeta consome 85 milhões de barris de “ouro negro” por dia. O resultado da equação indica que é preciso repensar a mobilidade rodoviária. O desafio mobilizou 5 mil pessoas para conferências, mesas-redondas e exposições do Challenge Bibendum 2010, organizado pela Michelin, no Rio de Janeiro. Uma das atrações foi o Peugeot BB1, movido por dois motores elétricos instalados nas rodas traseiras e alimentados por baterias de íon-lítio localizadas embaixo dos bancos. O veículo tem capacidade de rodar 110 km. A recarga, feita em tomada, é de quatro horas. Segundo Phil Got, diretor da consultoria IHS Global Insight, participante dos debates, o melhor atalho para a sustentabilidade é reduzir o consumo de combustíveis fósseis. Nos próximos vinte anos, os motores de combustão continuarão majoritários, enquanto os combustíveis alternativos avançarão com etanol, gases veiculares, eletricidade, veículos híbridos (com motor térmico e elétrico), pilhas de combustível e hidrogênio. “Não há uma solução universal, e sim uma variedade de tecnologias. Temos de pensar o que realmente pode ser feito para reduzir as emissões e superar a dependência do petróleo”, diz Got. [roberta Maia]

Menores e menos poluidores

o Peugeot bb1 roda 110 Km com

uma carga elétrica

para estimular o consumo de veículos elétricos, a dinamarca vai estender até 2015 descontos de até us$ 40 mil nos impostos sobre esses automóveis. o mercado para veículos “verdes” não deslanchou no país. a dinamarca é conhecida pela

elevada carga tributária sobre o setor automotivo. Quem quiser registrar um carro zero paga uma taxa de 180% sobre o preço de compra do veículo. ou seja, um modelo novo do popular aygo 1.0, da toyota, que vale 86 mil coroas (cerca de us$ 14,8 mil), custa,

para o comprador, mais 227 mil coroas (us$ 39 mil), ou seja, 313 mil coroas (u$ 53,8 mil) no total, além de outras taxas. não é à toa que esse é o país das bicicletas. a carga de impostos na dinamarca absorve quase 70% do salário dos cidadãos. [Conrado loyola]

imposto de 180%

dinamarca: bicicleta é bem mais barato

aldo Rebelo mexeu em vespeiro

notas mobilidade • ecoeFiciência bicicletas • Florestas

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o ministério do meio ambiente pretende elaborar uma nova proposta de alteração no código florestal para substituir o relatório do deputado aldo Rebelo (pc do b-sp), já aprovado pela comissão especial da câmara dos deputados. a proposta está prevista para ser votada em plenário após as eleições de outubro. segundo o mma, o texto atual pode prejudicar compromissos internacionais assumidos pelo país sobre a redução da emissão de gases de efeito estufa. a proposta de Rebelo gerou polêmica por prever anistia aos proprietários de terra que desmataram propriedades até julho de 2008 e reduzir a faixa de mata ciliar preservada de 30 para 15 metros. estima-se que só no estado do Rio de Janeiro cerca de 88% das terras protegidas de mata atlântica seriam perdidas. [Carolina Kanebley]

o instituto nacional de metrologia, normalização e Qualidade industrial (inmetro) propôs elevar as metas de eficiência energética dos produtos da chamada linha branca do programa brasileiro de etiquetagem (pbe). de acordo com o instituto, os índices de refrigeradores, fogões, fornos e máquinas de lavar roupas estão defasados. com a revisão, a quantidade de refrigeradores classificados como “a” deve cair de 65% para 20%. de acordo com marcos borges, coordenador do pbe, mesmo os refrigeradores de classificação “e” são 70% mais eficientes do que os aparelhos da década passada. “nos últimos dez anos, graças à regulação da eficiência, os consumidores tiveram uma economia de cerca de R$ 9 bilhões em energia, o equivalente à usina de angra i funcionando em potência máxima por 40 meses”, diz borges. [Carolina Kanebley]

Mais eficiência, menos custo

ecoeficiência energética já economizou R$ 9 bilhões em dez anos

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O Ministério da Indústria e da Tecnologia da Informação da China publicou uma lista de 2.087 indústrias, a maioria antiga e obsoleta, que correm o risco de ser fechadas, caso não atendam a critérios mínimos para o consumo de energia e a emissão de gases de efeito estufa. A China, hoje, é o maior consumidor de energia do

planeta, tendo ultrapassado os Estados Unidos em 2009. Seu PIB, o segundo do mundo, já ultrapassou o do Japão. Com a medida dura, as autoridades chinesas esperam cumprir as metas assumidas internacionalmente e pretendem reverter a alta do consumo energético registrada no primeiro semestre de 2010. Durante

anos seguidos, a China acumulou uma redução de 14,4% no consumo de energia, mas o reaquecimento da economia reverteu a tendência. As metas do país são reduzir a intensidade energética em 20% até 2020, em comparação aos dados de 2005, e diminuir as emissões de gases poluentes em 45%. [beto gomes]

Punho fechado chinês

fumaça de fábricas em Hefei, na província de anhui

o ministério do meio ambiente prepara o lançamento de uma plataforma para estimular o consumo consciente e o desenvolvimento de processos produtivos mais limpos. resultado da adesão do brasil ao processo de marrakech, iniciativa do pnuma da qual o país é signatário desde 2007, o plano de produção e consumo sustentáveis (ppcs) pretende unir órgãos do governo, setores privados e a sociedade civil para impulsionar a agenda ambiental. samyra crespo, secretária do ministério do meio ambiente, falou à BRASIL SUSTENTÁVEL

sobre o assunto:

Quais são as prioridades do PPCs?selecionamos seis prioridades-alvo: compras públicas sustentáveis, agenda ambiental na administração pública, educação para o consumo sustentável, aumento da reciclagem, varejo sustentável e construção sustentável. escolhemos essas ações para aumentar o engajamento do setor público e privado e melhorar as respostas dos consumidores.

Por que o lançamento do plano ocorre somente em 2010?

após a elaboração da primeira versão do ppcs, houve a chegada do ministro carlos minc ao mma e a prioridade foi dada ao plano nacional de mudança climática, por causa da proximidade da cop-15 e da cobrança que havia sobre o brasil. também não faria sentido lançar um novo plano que não tivesse relação com a redução de emissões de gases de efeito estufa. havia, ainda, necessidade de aprovar a política nacional de resíduos sólidos [sancionada em 1º de agosto de 2010].

a produção e o consumo sustentáveis estão avançando?sim. temos o programa de substituição um milhão de geladeiras, do governo federal; o protocolo verde, no qual os bancos públicos e privados levam em consideração critérios ambientais para a concessão de crédito; e o apoio governamental ao setor de catadores de lixo. no setor privado, há iniciativas do varejo para diminuir a utilização de sacolas plásticas e aumentar a reciclagem de embalagens, além da redução do consumo de água e energia. um dos objetivos do plano é articular iniciativas que parecem dispersas e dar a elas um sentido comum.

Pingue-Pongue samYra crespo

depois de Marrakech

notas energia • biodiversidade mudançås climáticas

ambicioso, mas não impossívelA Política Estadual de Mudanças Climáticas de São Paulo, regulamentada em junho, comprometeu o estado com uma meta mais rigorosa do que a estabelecida pelo Protocolo de Kyoto: reduzir 20% das emissões de gases de efeito estufa até 2020, em relação aos níveis de 2005. A politização do tema levou muitos especialistas a questionar a viabilidade do compromisso. Mas, para a pesquisadora Suzana Khan, do programa de Engenharia de Transporte da Coppe/UFRJ, a lei não prejudicará os negócios. Ao contrário, acredita, proporcionará uma reorientação do desenvolvimento em diversos setores da economia. “Há um espaço grande para reduzir as emissões de gases de efeito estufa sem prejudicar o crescimento de São Paulo. Na verdade, a restrição ambiental deve ser vista como reorientação de desenvolvimento”. No setor de transporte, diz Khan, “há uma folga para reduzir as emissões sem prejudicar a mobilidade das pessoas. À medida que se reordena, as emissões diminuem e geram ganhos, como investimentos em transporte público”.

são Paulo não vai parar

equador: biodiversidade em

vez de petróleo acordo pioneiroo governo do equador assinou um termo de compromisso com a organização das nações unidas (onu) comprometendo--se a não explorar, pelos próximos dez anos, as reservas de petróleo dentro da reserva Yasuní, na Floresta amazônica. em troca, receberá us$ 3,6 bilhões de um grupo de países ricos, que inclui alemanha, holanda, noruega e itália. a área preservada possui 10 mil km e pode produzir 846 milhões de barris

de petróleo. a região abriga grande quantidade de espécies, algumas endêmicas, além de grupos indígenas. o montante financeiro oferecido ao governo do presidente rafael correa corresponde à metade do que o país poderia ganhar, caso explorasse o petróleo da região. com a preservação do local, 407 milhões de toneladas de carbono deixarão de ser lançadas na atmosfera. [Pedro Michepud]

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Quando lhe peRguntam há quanto tempo deixou de comer carne, Eder Jofre responde: “Lembra quando Dom Pedro era vivo?”. Além do bom humor, o ex-pugilista e bicampeão mundial orgulha-se da sua dispo-sição física aos 74 anos de idade, que atribui ao vegetarianis-mo. Jofre aderiu à dieta aos 19 anos, quando decidiu se prepa-rar para a disputa pelo título mundial de boxe e queria uma alimentação saudável. Em sua pesquisa, foi convencido pelo livro A Saúde Depende da Cozinha!, abolindo totalmente a carne do cardápio. “O livro dizia que o alimento se putrefaz no nos-so organismo e acaba gerando doenças”.

A origem argentina do campeão não facilitou em nada a disposição. “Em casa, tinha carne no almoço e no jantar, to-

dos os dias, era difícil resistir. Todos insistiam para eu co-mer, mas eu estava convencido”, lembra-se. Filho do pugi-lista argentino Kid Jofre e sobrinho de mais cinco lutadores de boxe, o ingresso no esporte foi natural. Seu técnico era o próprio pai, que, embora não apoiasse a opção pelo vegeta-rianismo, também não se opunha. “Parei com a carne e me senti mais leve. Foi a mistura de vegetarianismo com talen-to que me tornou bicampeão mundial”, afirma.

Jofre frisa que é o único vegetariano que conhece no boxe. Quando viajava para competir, sua dieta sempre cha-mava a atenção. “Em todos os países – Japão, Filipinas, Es-tados Unidos, Colômbia, Venezuela –, só eu era vegetariano, e sempre vinham fazer reportagem comigo por causa disso.

Perguntavam: ‘Você é um campeão e não come carne? A carne dá energia!’. Eu respondia: ‘Dá, mesmo? Então vamos ver depois da luta quem vai ganhar’”, diverte-se o ex-pugilista.

No lugar da carne, o campeão come arroz e feijão quase todos os dias, macarronada duas vezes por semana – “acompanhada de vi-nho, porque faz bem para o coração” –, muitas verduras, legumes e frutas e adora doces. Segundo a Associação Médica Norte-America-na, a gordura existente na carne favorece a incidência de câncer e doenças cardiovasculares. Mas um estudo recente do Pnuma (Pro-grama das Nações Unidas para o Meio Ambiente) considera a roti-na de consumo das pessoas uma das principais responsáveis pelos impactos ambientais globais. Os vetores causadores de maior dano são o transporte por automóveis particulares, o consumo de carne vermelha, de leite e de derivados e o uso de eletrodomésticos.

A pesquisa destaca que a pecuária exige mais recursos e gera mais emissões de gases de efeito estufa do que a produção de ve-getais – embora o cultivo de frutas e verduras em estufas, seu armazenamento em refrigeradores e o transporte aéreo tam-bém gerem muitas emissões, e não adianta trocar o bife pelo filé de peixe, porque o impacto da pesca predatória também foi ressaltado no estudo Assessing the Environmental Impacts of

Consumption and Production.Contudo, apesar de os ambientalistas endossarem o vegetaria-

nismo, muitos profissionais contestam a pretensão da dieta. Para Silvia Cozzolino, professora de Nutrição Humana da Universidade de São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimen-tação e Nutrição, o abandono da carne só traz benefícios se a pes-soa souber manter um quadro nutricional adequado. “Geralmente, não é o que acontece. Muitas vezes, quem opta pelo vegetarianismo não sabe exatamente como equilibrar os alimentos, o que pode le-var a deficiências relacionadas a vitaminas, especialmente a B12, e minerais, como ferro, zinco e outros, que ficam no limiar”, adverte.

Em consequência, o sistema imunológico pode ficar compro-metido, resultando em infecções e gripes recorrentes. Em longo prazo, a falta de vitamina B12 pode levar a problemas neurológi-cos. A nutricionista também lembra que há diferentes tipos de dietas vegetarianas, inclusive algumas que incluem ovo e leite, que reduzem os riscos à saúde. “Ainda assim, pode haver defici-ência de alguns nutrientes, se não forem tomados os cuidados necessários”, salienta.

Eder Jofre, com certeza, deu-se muito bem. Foi campeão mun-dial de “peso galo” em 1965 e campeão mundial de “peso pena” em 1973. “Até hoje, me sinto bem sem carne, do momento em que acor-do até a hora de dormir. Raramente fico doente. Por isso, posso re-comendar o vegetarianismo para todo mundo.” Mas, dentre todos os familiares, amigos e colegas de boxe do campeão, somente um de seus dois filhos decidiu adotar a dieta. [bs]

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« e d i ç ã o R i c a R d o a R n t »

vida nova RadaRdieta engajadadesde que foi lançada, em outubro de 2009, a campanha segunda sem carne teve o número de apoiadores dobrado. “o objetivo é esclarecer que o vegetarianismo pode ser saudável, saboroso, econômico e ambientalmente mais correto”, diz marly Winckler, presidente da sociedade vegetariana brasileira (svb). segundo ela, se a carne for substituída por um cereal, o consumidor gastará 30% menos. mas é o apelo ambiental que tem agregado mais peso ao movimento. em são paulo, a secretaria municipal do verde e meio ambiente inseriu a campanha em sua política pública. em curitiba, a iniciativa irmou parceria com com as secretarias municipais de abastecimento, do verde e do meio ambiente.

“há uma cadeia embutida no hábito de pôr a carne no

centro do prato. a pecuária é a maior responsável pelo desmatamento da amazônia. até a soja lá plantada é destinada à alimentação das criações”, diz Winckler.

o termo “pegada ecológica” foi criado para mensurar os impactos ambientais causados por um produto, uma pessoa ou uma empresa. bem intencionada, mas abrangente demais, a ideia circula num labirinto de diferentes métodos de cálculo. por isso, a Water footprint network (Wfn), da holanda, criou um método para calcular a pegada hídrica de diversos produtos, que determina quanta água é necessária para a sua produção. veja, abaixo, algumas pegadas hídricas calculadas pela Wfn.

1 kg de carne bovina 15.500 l de água1 camiseta de algodão 2.700 l de água1 kg de soja 1.800 l de água1 xícara de café 140 l de água1 fatia de pão 40 l de água

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Pegada hídrica

RepoRtagem silvia WaRgaftig

eder Jofre foi campeão de boxe sem comer carne

noCaute vegetarianoo bicampeão mundial de boxe eder JoFre virou vegetariano por motivos de saúde. hoJe, a dieta controversa está sendo receitada para a redução de impactos ambientais globais

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« R e p o R t a g e m c o n R a d o l o Y o l a »

c e R t i f i c a ç ã o p R o d u t o o R g â n i c o b R a s i l

feRRamenta

o que é? A partir de 31 de dezembro, o consumidor brasileiro en-contrará, na embalagem dos produtos orgânicos, o selo oficial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-cimento (Mapa) – “Produto Orgânico Brasil” –, atestan-do que o artigo está de acordo com os critérios de pro-dução orgânica, aquela que não usa agrotóxicos nem substâncias sintéticas que possam contaminar o alimen-to ou o ambiente. Isso porque, até lá, estará em vigor o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgâ-nica (Sisorg), criado pela lei 10.831, de 2003, e submetido a discussões em câmaras técnicas até 2009.

Quais as vantagens? Além de orientar a escolha do consumidor, o selo deve via-bilizar o mercado de orgânicos, promovendo a padroniza-ção do setor, uma vez que o texto da lei determina os cri-térios de classificação de produto orgânico e indica quais os ingredientes não orgânicos proibidos. De acordo com a lei, um produto recebe o nome quando possui, no mínimo, 95% de ingredientes orgânicos e não contem transgênicos. O Sisorg classifica “produtos com ingredientes orgânicos”

(com 70% a 95% de substâncias orgânicas na composição) e “produtos não orgânicos” (com menos de 70% de ingre-dientes orgânicos). Até agora, as empresas privadas cer-tificadoras definiam seus próprios critérios, tendo como base padrões norte-americanos ou europeus.

Segundo Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Mapa, a aquisição do selo Sisorg será compulsória para os produtores orgânicos, assim como é o selo do Sis-tema de Inspeção Federal (SIF) para a produção animal. O Sisorg deverá baratear o processo de certificação, con-tribuindo para a redução do custo do produto final. “A certificação de orgânicos já era cobrada pelo mercado, e a tendência era todo produtor certificar sua produção”, explica. “Mas notávamos que, muitas vezes, a empresa certificadora cobrava também pelo uso de sua marca, além do próprio processo de certificação.”

Como funciona? O processo de obtenção do selo Produto Orgânico Brasil funciona como uma certificação comum, mas a empresa certificadora deve ser credenciada pelo Ministério e ca-dastrada junto com os produtores, numa lista disponível

certiFicadoorgâniCo

o governo Federal lançará, até deZembro, um selo

compulsório de certiFicação da produção orgânica

no site do ministério, acessível a qualquer cidadão, para aumentar a transparência do processo.

O Mapa também promove o “sistema participativo de garantia da qualidade orgânica”. Por esse sistema, qualquer elo da cadeia de orgânicos, incluindo produ-tores, técnicos, consumidores e organizações sociais, pode constituir uma pessoa jurídica certificadora, cre-denciada pelo Ministério – outra medida que prome-te baratear os custos de obtenção do selo. Conforme o caso, o selo deve especificar o modo de certificação do produto, ou seja, por “Certificação por Auditoria” ou por “Sistema Participativo”.

Há uma exceção prevista para produtos orgânicos sem o selo: os produtos originários de agricultura fami-liar destinados à venda direta em feiras. Segundo Dias, “esse tipo de produção é a base do mercado de orgâni-cos, mas não possui escala para compensar a aquisição do selo”. Ainda assim, o produtor deve ser cadastrado pelo Ministério por meio de uma associação. O governo quer estimular a “responsabilidade compartilhada” e a organização dos produtores. O produtor que comerciali-zar nessas condições precisará incluir, no rótulo ou em um cartaz, em seu ponto de venda, os dizeres “Produto orgânico para venda direta por agricultores familiares

organizados, não sujeito à certificação de acordo com a lei nº 10.831, de dezembro de 2003”. Caso o consumidor ma-nifeste interesse, o agricultor deve fornecer informações sobre a produção e até levá-lo ao local onde produz o orgâ-nico. “Essa é a relação de confiança entre produtor e con-sumidor, que deve estar na base da agricultura orgânica”, afirma Dias.

Produtores preparadosMarcio Stanziani, secretário executivo da Associação de Agricultura Orgânica, considera que boa parte dos produtores de orgânicos já conhece ou possui sistemas de certificação. A implementação do selo do Mapa e os critérios fixados pelo governo não devem causar altera-ções substanciais na produção. “Talvez o mais compli-cado seja o sistema de certificação participativa, que é uma novidade para o setor.” Segundo ele, o segmento de orgânicos tem boas expectativas a respeito do selo, e a sua imposição não deve acabar com os selos tradicionais. “Existem certificadoras com muita visibilidade e credi-bilidade. Os produtores teriam interesse em ostentar os selos dessas empresas, além do selo oficial”, diz ele.

O governo federal também está de olho na circulação dos orgânicos no mercado externo. “A partir do momento em que o sistema se estabilizar, vamos negociar acordos de equivalência do selo brasileiro com os selos internacio-nais”, diz Rogério Dias. No mercado interno, o governo aposta na divulgação de informações sobre os produtos or-gânicos para alavancar o consumo, especialmente entre as crianças. “Promovemos campanhas em parceria com os ministérios da Educação, da Saúde e do Meio Ambiente. Trabalhamos com foco especial nas crianças, como consu-midoras e indutoras de consumo familar.” [bs]

o novo selo certificará produtos naturais, como o mel e o cacau

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Jornalismo é sinônimo de más notícias?! Felizmente, nem sempre. a rede globo lançou, no canal aberto, a série brasileiros, que revela a face de um brasil solidário, participativo e voluntário, com histórias recheadas de superação e de força de vontade.

os jornalistas edney silvestre, neide duarte e marcelo canellas contam como cidadãos comuns se tornaram protagonistas do próprio destino e estão conseguindo mudar a realidade de algumas localidades brasileiras. idealizado por silvestre, o projeto foi dirigido por teresa cavalleiro e maria thereza pinheiro.

a primeira temporada, com nove programas, foi ao ar entre 17 de junho e 12 de agosto e será reprisada na globo news a partir do dia 19 de setembro, sempre aos domingos, às 15h30. todas as edições estão disponíveis no site http://brasileiros.globo.com/programa/. vale a pena icar de olho, porque de tiroteio, corrupção e celebridades a telinha já está cheia. [daniela vianna]

jornalismo ‘sangue bom’ [ t e l e v i s ã o ]

melhor prevenir do que remediar. esse é o principal recado do banco mundial (bird) para os governos e os mercados da américa latina e do caribe no que se refere às mudanças climáticas, segundo estudo inédito para a região: desenvolvimento com menos carbono – respostas da américa latina ao desaio da mudança climática (http://bit.ly/8ZaZzv).

segundo o banco, se não existir um compromisso efetivo dos governos locais e do mercado com a adoção de medidas compensatórias, como a cobrança de impostos da emissão do carbono, as emissões de gases de efeito estufa (gee) na região podem aumentar 33% até 2030.

diante de cenários otimistas e pessimistas sobre os efeitos das mudanças climáticas na biodiversidade e na produtividade agrícola, o bird recomenda aos governos latino-americanos que assumam compromissos efetivos desde já e estabeleçam programas de adaptação coerentes com suas políticas de desenvolvimento. se se prepararem para o pior cenário, melhor. [Carol Kanebley]

Hora de agir [ e s t u d o ]

os consumidores brasileiros perceberam que a rotulagem pode ser um bom indicativo de cidadania corporativa nos produtos. a conclusão é do estudo monitor de responsabilidade social corporativa 2010, realizado pela marketanalysis, que investiga se as informações estampadas nas etiquetas são verdadeiras ou apenas marketing para os produtos aparentemente corretos, a famosa maquiagem verde.

com o uso da metodologia da consultoria canadense terrachoice, a pesquisa apelos ambientais nos rótulos dos produtos, já realizada no canadá, eua, inglaterra e austrália, foi aplicada na grande Florianópolis, entre fevereiro e março. o marketanalysis descobriu que o segmento de cosméticos e de higiene pessoal apresenta a maior frequência de apelos “verdes” nos rótulos (26%), seguido pelos de produtos de limpeza (16%) e de artigos para casa (13%). no setor da construção civil, registraram-se apenas 3% de apelos, contra 19% nos demais países. [Carol Kanebley]

desvendando rótulos [ p e s Q u i s a ]

Caminhos da diferença[ l i v r o ]

diversidade. o termo resume bem o cenário de belas imagens, histórias comoventes e personagens marcantes apresentadas nas páginas de caminhos de um brasil solidário, o livro recém-lançado pelos irmãos e fotógrafos luis salvatore e ana elisa salvatore, netos de eduardo salvatore (1914-2006), igura emblemática na história da fotograia brasileira.

a publicação divide-se entre as cinco regiões geográicas e tem toda a vendagem revertida ao instituto brasil solidário, projeto de inclusão social criado em 2001 pelos autores. a união de imagens, de vivências e de costumes testemunha, sem assistencialismos nem rodeios, como uma legião de voluntários tem contribuído para melhorar a qualidade de vida de milhares de brasileiros. [álvaro Penachioni]

é possível, realmente, um desenvolvimento econômico que conserve os recursos naturais? para responder a essa pergunta, o jornalista Ricardo arnt reuniu opiniões de 15 renomados economistas. o resultado do trabalho está no livro o Que os economistas pensam sobre sustentabilidade – uma relexão sobre as propostas de sustentabilidade: o que é viável e o que é utópico e quais as percepções sobre a emergência do tema na agenda contemporânea.

durante cinco meses, o organizador entrevistou economistas – antonio delim netto, andré lara Resende, edmar bacha, eduardo

giannetti, luciano coutinho, gustavo franco, José Roberto mendonça de barros, José eli da veiga, luiz gonzaga belluzzo, maílson da nóbrega, aloizio mercadante, sérgio besserman vianna, pérsio arida, luiz carlos bresser-pereira e Ricardo abramovay – discutindo com eles os temas de sustentabilidade. as divergências e convergências são grandes, porém, há consenso de que a insustentabilidade é um grave problema global e de que é preciso aprofundar o tema e ampliar a discussão – frequentemente vaga, difusa e genérica –, para superar impasses e avançar. [Pedro Michepud]

Quinze lições [ l i v r o ]

o Que os economistas Pensam sobre sustentabilidade

organiZador: ricardo arnteditora: editora 34 ( 288 páginas)

preço sugerido: r$ 44

academia de dança em paracuru (ce)

Caminhos de um brasil solidárioautores: luis salvatore e ana elisa salvatore editora: melhoramentos (256 páginas)preço sugerido: r$ 129

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10ª Conferência das Partes da Convenção da diversidade biológica (CoP-10)milhares de participantes, autoridades governamentais, pesquisadores, organizações não-governamentais e observadores de 191 países tomarão parte dos eventos da cop-10 da diversidade biológica, destinada a discutir estratégias e metas globais e regionais para a promoção da conservação da biodiversidade. “a conferência pretende influir significativamente na vida das atuais e futuras gerações”, afirma masaaki Kanda, chairman do comitê de promoção da cop-10 e governador da província de aichi. uma grande variedade de conferências temáticas está prevista, junto com exibições, palestras, seminários, feiras e atrações culturais.

co p -1 0 • ed u cação F i nan cei ra • prêm i o • re vitaliZ ação am b i ental

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agenda

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Prêmio von Martius de sustentabilidade 2010realiZaÇão: câmara de comércio e indústria brasil–alemanhaloCal: são paulo (sp)Mais inforMaÇões: [site] www.premiovonmartius.com.br[e-mail] [email protected]

organizado pela câmara de comércio e indústria brasil–alemanha, o prêmio chega à 11ª edição reconhecendo iniciativas que promovam o desenvolvimento econômico, social e cultural no contexto da sustentabilidade. os projetos e ações podem ser inscritos em três categorias: humanidade, natureza e tecnologia. podem participar empresas, entidades, organizações não governamentais, indivíduos, governos e instituições nacionais. os resultados serão divulgados em 5 de novembro. a entrega ocorrerá em são paulo, em 25 de novembro. a

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o seminário busca ampliar a consciência dos profissionais de comunicação e marketing com relação ao papel que desempenham na promoção e estímulo das ações socioambientais adotadas pelas empresas e governos, principalmente em campanhas nacionais. entre os palestrantes estão alejandro pinedo (interbrand), elisa prado (tetrapak), eraldo carneiro (petrobras), Fábian echegaray (market analysis), Fernando rossetti (gife), hiran castello branco (giacometti propaganda) e luiz lara (lew’lara)

seminário unomarketing de Comunicação Consciente e fórum de empreendedorismo socialrealiZaÇão: sator eventos e Report comunicação loCal: fecomércio, são paulo (sp)Mais inforMaÇões: [tel] 55 (11) 3032-5633[site] www.unomarketing.com.br[e-mail] [email protected]

1º Congresso latino--americano de educação financeirarealiZaÇão: febraban e felabanloCal: hotel tívoli moffarej, são paulo (sp)Mais inforMaÇões: [site] www.febraban.org.br/eventos.asp[e-mail] [email protected]

o processo de inclusão bancária ocorrido nos últimos anos, nos países da américa latina, tornou essencial, para instituições financeiras, governos e entidades ligadas ao ensino público e privado, a discussão sobre o uso consciente do dinheiro e a orientação a respeito de produtos e serviços. promovido pela Febraban (Federação brasileira de bancos) e pela Felaban (Federação latino-americana de bancos), o congresso tem como objetivos conscientizar sobre a importância da educação financeira e promover um diálogo entre os setores da sociedade civil, identificando prioridades e compartilhando práticas. participarão do encontro especialistas brasileiros e internacionais com diferentes visões globais.

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rePortageM Julio santos

Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), o se-tor pode gerar 11 mil megawatts, praticamente a mesma potên-cia de geração de Itaipu, que ofereceu 10.809 megawatts em 2009. O crescimento da produção da bioeletricidade poderia chegar a 13.158 MW médios no período 2020/2021, atingindo 14% na ma-triz elétrica brasileira – quase três vezes a energia assegurada da futura hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu.

O Plano Decenal de Energia 2010-2019 mostra que a bioeletrici-dade, atualmente, soma uma capacidade instalada de 5.380 MW, 5% do parque brasileiro, hoje na casa dos 112 mil MW. Como ex-plicar que esse enorme potencial de crescimento, com inúmeras vantagens para o meio ambiente, para o sistema elétrico e para a preservação dos reservatórios das hidrelétricas no período seco, não seja aproveitado? A lista de entraves da bioeletricidade co-meça pelo alto custo para modernizar as plantas – que precisam de novas caldeiras de alta pressão para queimar bagaço de cana,

o Cenário eXterno favorável, a entrada de grandes grupos econômicos

no Brasil, a aposta nas fontes renováveis e a preocupação ambiental revigoraram o setor sucroenergético. Os números da Análise de Conjuntura dos Biocombustíveis, elaborados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), não deixam dúvidas. No ano passado, a produção de etanol bateu a marca de 26,1 bilhões de litros, crescendo 11,2% por ano, entre 2001 e 2009. O volume de cana moída ficou em 622,3 milhões de toneladas, um avanço de 10% ao ano, no mesmo período. A produção de açúcar saltou 13,9% em 2009, chegando a 34,6 milhões de toneladas. Mas, enquanto a produção de etanol e açúcar está em alta, a bioeletricidade, novo rico filão do setor, ainda tem muito que caminhar para aproveitar seu potencial.

a Hora da bioeletriCidade

apenas 100 das 437 usinas

de cana -de - -açúcar exportam eletricidade para

a rede pública; 337 desperdiçam o valor energético do

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empresa obteve um financiamento de R$ 711,4 milhões do BNDES para projetos de cogeração nas plantas de Univa-lem, Ipaussu, Barra e Bonfim. “Isso mostra que esse é um projeto economicamente viável”, argumenta.

Após concluir, neste ano, uma operação de combinação de ativos com a Brenco, a ETH Bionergia passou a ter nove usinas em operação nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás. Segundo a empresa, essas plantas terão ca-pacidade para produzir 3 bilhões de litros de etanol e 2.700 GWh por ano de energia, em 2012. No negócio já foram in-vestidos R$ 3,8 bilhões, e, até 2012, serão aplicados mais R$ 3,5 bilhões. “A conclusão dessa transação foi decisiva nos planos de crescimento da ETH e de se tornar líder no setor de bioenergia, combinando solidez financeira, competiti-

vidade e sustentabilidade”, diz José Carlos Grubisich, pre-sidente da ETH Bioenergia. A empresa já vendeu em lei-lões 1.609 GWh para entrega em 2012.

valoR estRatégicoNa avaliação de Pedro Mizutani, da Cosan, o reconheci-mento do valor da energia da biomassa é uma das maio-res dificuldades do setor. “Essa é uma energia limpa, re-novável e que pode ser gerada em períodos de seca, sendo complementar às hidrelétricas”, destaca. Também pode captar créditos pelo carbono absorvido da atmosfera du-rante o crescimento da cana – desde que não haja quei-mada posterior, na colheita. O executivo conta que o setor tem desenvolvido, com o Ministério de Minas e Energia, estudos para tornar o segmento mais competitivo, com a valorização da bioeletricidade, de maneira a mitigar os problemas de transmissão, diferenciando os preços para esse tipo de energia. A conexão das usinas ao sistema elé-trico também está na lista de entraves, na medida em que eleva os custos dos projetos localizados mais distantes do centro de carga, por exigir linhas de transmissão mais longas. Uma estimativa de mercado indica que os custos de conexão podem representar até 30% dos investimentos feitos em um projeto de retrofit.

O sinal de preço emitido pelos leilões de energia tem sido outro fator limitante para o avanço da cogeração. No leilão de energia de reserva de agosto, no qual a biomas-sa sucroenergética listou 55 projetos, com potência total de 3.158 MW, o preço-teto foi de R$ 156 MWh. Ao contrá-rio do primeiro certame, que aconteceu há dois anos, ago-ra a maioria é de usinas retrofits, que geralmente exigem um investimento mais elevado por MW instalado. Mar-cos Jank observa que o valor da energia para esse leilão, em preços atualizados, representa 90% do praticado em 2008. “O primeiro leilão desse tipo, realizado em agosto de 2008, teve preço-teto de R$ 157/MWh, o equivalente a R$ 173/MWh em valores de hoje”, ressalta Jank.

No leilão de agosto de 2008, dominado pelos investi-mentos nas usinas greenfields, o setor contava com uma linha de financiamento oficial e específica para a bioele-tricidade. Um dos pleitos da indústria de bioeletricidade é contar com uma nova linha de financiamento específica para a biomassa, para conquistar as mesmas vantagens oferecidas para geração eólica ou para os grandes proje-tos hidrelétricos, como Belo Monte. “É preciso atender às especificidades da fonte, pois ela envolve outra estrutura de negócio e de equipamentos”, observa Zilmar de Souza,

gerando eletricidade por cogeração –, passa pela falta de uma política específica de financiamento e acaba nos preços da energia praticados nos leilões do governo e no custo da conexão das usinas com a rede elétrica do Siste-ma Interligado Nacional (SIN).

Para o presidente da Unica, Marcos Jank, o setor tem capacidade de gerar 10 mil MW entre 2011 e 2020, viabili-zando uma oferta de 1 mil MW/ano. Espaço para crescer não falta. Das 437 usinas de cana-de-açúcar existentes no país, só 100 exportam energia para o sistema elétrico, ou seja, 22%. Para se ter uma ideia desse baixo aprovei-tamento, somente 30% das 182 usinas de cana-de-açúcar de São Paulo, principal centro consumidor de energia do país, exportam eletricidade para o sistema. “Esse é um número muito pequeno em relação ao potencial da bio-eletricidade”, diz Zilmar José de Souza, assessor de Bio-eletricidade da Unica. Na grande maioria das usinas, milhões de toneladas de bagaço que poderiam gerar ele-tricidade são desperdiçadas.

RetRofit e gReenfieldTanto a Unica quanto a Associação da Indústria de Co-geração de Energia (Cogen) apostam no chamado retrofit (modernização) das usinas de açúcar e álcool como alter-nativa para garantir o aumento da geração de bioeletri-cidade. Mais de 300 usinas passíveis de retrofit estão na região Centro-Sul, o principal centro de demanda de ele-tricidade do país. O diretor executivo da Cogen, Carlos Ro-berto Silvestrin, estima que só em São Paulo 115 plantas estão aptas a um upgrade. Segundo dados da entidade, 62% das caldeiras existentes no estado têm mais de 10 anos de uso, sendo que algumas chegam a mais de 30. A eficiên-cia energética das caldeiras também é outro ponto, pois a maioria opera com baixa pressão (21 bar), enquanto os equipamentos mais modernos operam com 90 bar.

“Nas caldeiras com mais de dez anos, o retrofit é mais difícil. A maioria dos equipamentos é de baixa pressão. O preço da energia que será gerada não paga o investimen-to. Com isso, é difícil estimular a modernização”, observa Zilmar de Souza, lembrando que, quando essa indústria nasceu há 30 anos, seu objetivo não era produzir energia elétrica para exportação, mas apenas atender ao consu-mo próprio das usinas. Para o professor da Universidade de São Paulo José Goldemberg, incansável defensor da bioeletricidade, o retrofit é, hoje, o grande gargalo para o aumento da produção da energia, não por falta de tecno-logia, mas sim por condições de financiamento.

As novas usinas já adotaram caldeiras de alta pressão, aproveitando os financiamentos favoráveis para equipa-mentos mais eficientes, diferentemente das plantas com mais tempo de uso, projetadas para uma época em que a produção de energia não fazia parte do modelo de negó-cio. “As usinas antigas precisariam trocar suas caldeiras. Esse é um processo complicado, que exige obras. Além disso, para essa troca, a indústria não conta com finan-ciamentos em termos favoráveis do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”, ressalta Goldemberg. Apesar de considerar positiva a entrada de grandes grupos econômicos no mercado, sobretudo pelo lado gerencial, o professor ressalta que essa participação ainda não é capaz de modernizar usinas em larga escala.

Com a entrada de novos players, o desenho do setor su-croenergético começou a ganhar um novo formato. De início, houve um boom de novas usinas, as chamadas greenfields, que já trazem a cogeração de energia atrela-da ao negócio, com caldeiras modernas. Alguns grupos atuaram nas duas pontas, investindo em novas plantas e também na modernização de outras. Das 11 usinas que comercializam energia elétrica hoje, o Grupo Co-san contabiliza nove projetos de retrofit e dois greenfiel-

ds. Com todas as unidades autossuficientes na geração, a empresa venderá, neste ano, um excedente de energia que chega a 1.200 GWh.

“Trata-se de um mercado com grande potencial de crescimento, principalmente com o aumento da deman-da do país por energia elétrica”, avalia o presidente da Co-san Açúcar e Álcool, Pedro Mizutani. No mês de junho, a

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a energia renovável do sol troPiCal, fonte da bioeletriCidade, Pode abasteCer 14% da MatriZ elétriCa brasileira

ressaltando que a linha específica de financiamento que havia no BNDES para cogeração migrou para uma linha genérica, voltada para fontes renováveis.

empuRRão decisivoÉ verdade que o setor ganhou um empurrão com o Pro-grama de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), que oferece contratos de energia fir-mados com a Eletrobras por prazo de 20 anos e financia-mento do BNDES. O programa prevê, até o final de 2010, a instalação de 144 novas usinas, sendo 54 eólicas, 63 pe-quenas centrais hidrelétricas (PCH) e 27 de biomassa. Do bloco total de 3.299,4 MW que serão agregados ao siste-ma, as eólicas respondem por 1.422,92 MW, as PCHs, por 1.191,24 MW e a biomassa, por apenas 685,34 MW. Somen-te a biomassa não atingiu a meta de adicionar os 1.100 MW inicialmente estabelecidos por fonte. “A biomassa não avançou no programa”, ratifica Zilmar de Souza.

A linha existente hoje no BNDES que atende também à cogeração trabalha com taxa de juros de 0,9% ao ano, mais TJLP e prazo de financiamento de 16 anos. Apesar de não existir uma linha específica, os números do seg-mento na carteira do banco revelam a evolução dos ne-gócios. O volume de recursos desembolsados passou de R$ 130 milhões, em 2004, para R$ 1,3 bilhão, em 2009. “É um aumento significativo”, destaca o gerente do Depar-tamento de Biocombustíveis do BNDES, Artur Yabe. No primeiro semestre de 2010, o nível de desembolso chegou a R$ 560 milhões. Segundo Yabe, o banco tem na carteira 83 projetos contratados, somando capacidade instalada de 2.500 MW. O número salta para 108 projetos, se incluir também os em aprovação, os em análise, os enquadrados e os em consulta, num total de 3.570 MW.

Falta um empurrão decisivo. Para Luiz Pereira, res-ponsável pela área de Sustentabilidade e Pessoas da ETH Bioenergia, o segmento precisa de uma política específica de médio e longo prazos para fazer a bioe-letricidade decolar de vez. “É preciso dispor de condi-ções próprias e de incentivos tributários para estimu-lar a geração desse potencial”, indica o executivo, que também defende, assim como o presidente da Unica, a realização de leilões específicos para garantir melho-res condições e segurança na venda da energia produ-zida. “A precificação de uma hidrelétrica não é a mes-ma de uma usina de biomassa”, compara Pereira.

Para o diretor de Planejamento da Comercialização da CPFL Energia, Marco Antonio Siqueira, o principal pro-

blema do setor é a falta de capacidade de investimento em novas plantas. Segundo ele, a questão central está nas ga-rantias exigidas para o financiamento. “As garantias não são suficientes para fazer frente aos investimentos para a maioria das usinas existentes”, destaca o executivo. A CPFL criou uma linha de negócios específica, de olho no potencial da bioeletricidade. O serviço permite que a em-presa de energia cuide de toda a estruturação do projeto – obras, equipamentos, conexão à rede –, deixando a ope-ração das usinas por conta dos seus proprietários. A CPFL fica com a tarefa de vender a energia produzida.

Com esse modelo de negócio, a CPFL já tem no portfó-lio 200 MW provenientes da biomassa da cana-de-açúcar, dos quais 140 MW exportáveis para o sistema, que podem ser vendidos no mercado livre, voltado para os grandes consumidores de energia, ou no mercado regulado, for-mado pelos leilões de energia do governo. Ao todo são cin-co projetos, sendo um no Rio Grande do Norte e quatro em São Paulo, totalizando um volume de investimento estimado em R$ 600 milhões. Marco Siqueira conta que a primeira usina, a Irmãos Baldin, em Pirassununga, São Paulo, entrará em operação na segunda quinzena de agosto. A unidade tem capacidade instalada de 45 MW, dos quais 30 MW comercializáveis. A meta da empresa é ter de 700 MW a 750 MW de capacidade instalada, até 2014, o que representará investimentos da ordem de R$ 1,8 bilhão. Aos poucos, apesar dos gargalos, o setor vai expandindo a oferta de bioeletricidade limpa, renová-vel e descentralizada. [bs]

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movida pela cRença de que o empreendedorismo tem um papel essencial na pro-moção de uma sociedade mais justa, a economista norte-americana Alice Tepper Marlin criou, duran-te décadas de ativismo, modelos inovadores de res-ponsabilidade social empresarial, catalisando o po-der de investidores, consumidores e trabalhadores. Atual presidente da Social Accountability International, organização responsável pelo certificado SA 8000 – norma global de cumprimento de critérios de direitos humanos no trabalho –, Tepper Marlin acredita que a certificação promove o desenvolvimento sustentável especialmente em países do bloco Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).

Nos anos sessenta, quando a opinião pública norte-americana se voltou contra a guerra no Viet-nã, a recém-formada Alice era uma das apenas seis mulheres analistas de mercado em Wall Street. Em-penhada na mobilização de investidores no movi-mento pacifista, desenvolveu o Peace Portfolio, uma carteira de investimentos reunindo empresas sem vínculos com o complexo industrial-militar. Hoje, a ideia de utilizar critérios sociais na escolha de inves-timento é comum, mas, na época, conta Tepper Mar-lin, era radical. Abriu-se, assim, um caminho para investidores ativistas usarem as ações nas bolsas de valores para promover uma causa.

Na década seguinte, Alice usou seu conhecimen-to de finanças e negócios para fundar o Council for Economic Priorities (CEP), que desenvolveu novos métodos de pesquisa, acessando dados inéditos de indústrias, usando critérios ambientais, de cida-dania e de transparência para elaborar ratings de desempenho empresarial. Dessa forma, passou a fornecer informações a investidores e consumido-res interessados em alinhar suas compras a valo-res. Seu livro Shopping for a Better World, com ava-

liações de 2 mil produtos nos EUA, resultou desse trabalho e virou referência no movimento pelo consumo consciente, vendendo 1 milhão de cópias.

Em 1997, Alice fundou a organização não gover-namental Social Accountability International. Por meio dela, liderou a discussão sobre a criação de padrões de gestão empresarial voltados à melhoria das con-dições de trabalho no mundo, conquistando o enga-jamento de empresários, de sindicalistas e de orga-nizações do terceiro setor. Como resultado, surgiu o SA 8000. Até março, o Brasil era o quinto país do mundo com maior número de certificações da nor-ma. No mundo todo, há 2.151 empresas certificadas em 60 países, impactando 1,2 milhão de trabalha-dores. Para a BRASIL SUSTENTÁVEL, Alice falou sobre a expansão do SA 8000 e seu papel social.

brasil sustentável o que é o sa 8000?aliCe tePPer Marlin O padrão SA 8000 é um código de conduta internacional cujo objetivo é melhorar as condições de trabalho no mundo. Pro-põe um sistema de gestão com base em 13 conven-ções de direitos humanos, cujas categorias-chave são: saúde e segurança, jornada de trabalho, tra-balho infantil, trabalho forçado, discriminação, liberdade de associação e de barganha coletiva, salários, disciplina e sistemas de gestão. Desenvol-vido por meio de um processo de participação mul-tistakeholder, o certificado é uma ferramenta para a implementação dos padrões da Organização Inter-nacional do Trabalho (OIT).

bs o que impulsiona a necessidade de padronização global?atM Até o fim dos anos 1980, todo o trabalho de avaliação de práticas corporativas acontecia no âmbito nacional, nos EUA, Europa e Japão. No en-

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“o público espera que as empresas assumam a responsabilidade pelas condições de trabalho, mesmo com produtos terceirizados”

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tanto, um crescente número de indústrias estava começando a produzir ou terceirizar sua produção para países em desenvolvimento. As classificações, feitas de acordo com os padrões e leis locais, avalia-vam as empresas em território nacional, mas não eram capazes de avaliar os fornecedores e plantas localizados em outros países, que faziam parte da cadeia produtiva. Ou seja, basicamente, ignora-vam os lugares onde a produção causava maior im-pacto nas pessoas e no planeta.

bs Mas os padrões mudam conforme as culturas.atM Essa questão está no centro das discussões, mas, há 20 anos, o movimento estava começando. O público espera que as empresas assumam a respon-sabilidade pelas condições de trabalho nas quais seus produtos são manufaturados, mesmo quando terceirizados. Antes, a preocupação era se havia al-gum componente tóxico no açúcar, ou se havia al-gum defeito no pacote que acarretasse desperdício, o que era, obviamente, responsabilidade de quem comercializava o açúcar. Mas o consumidor come-çou a questionar sobre o processo de produção do

açúcar. Por exemplo, quais eram as condições dos trabalhadores que cortam cana-de-açúcar no Brasil. Isso não seria responsabilidade da marca?

bs não é fácil universalizar padrões e expectativas culturais.atM Sabíamos que impor padrões seria quase como colonialismo. Seria o mesmo que dizer ao Brasil que ele deve agir em conformidade com os padrões, as leis, as expectativas culturais dos EUA ou Itália ou Alemanha. Que direito tínhamos? Por isso, pensa-mos em sistemas globais de gerenciamento que se-riam os mesmos em qualquer lugar do mundo, mé-todos modernos que auditores locais pudessem usar e os empresários, implementar. Diferententemente de áreas como meio ambiente, por exemplo, na área do trabalho tivemos muita sorte, pois a OIT desen-volveu padrões que cobrem tudo o que precisamos. Por isso, o SA 8000 foi criado nesses moldes.

bs o brasil participou?atM O Brasil faz parte do Conselho desde sua fun-dação. Quando estávamos apenas começando, uma das questões centrais era se deveria haver um padrão

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para os países desenvolvidos e outro para os emer-gentes. Os trabalhadores nos países em desenvolvi-mento não queriam ser cidadãos de segunda classe. As organizações consultadas acreditavam que todos os trabalhadores precisam ter os mesmos direitos.

bs o sa 8000 está crescendo no brasil.atM O Brasil é líder em instituições financeiras que usam o certificado como critério para conce-der empréstimo. Quando pergunto às empresas brasileiras por que aderiram ao SA 8000, a respos-ta mais frequente é que ela melhora as condições de empréstimo bancário. Não se ouve isso em ou-tros países. O Brasil também é bem mais avançado em utilizar o SA 8000 como uma ferramenta para gerenciar riscos e de gestão. O país é o quarto do mundo com o maior número de trabalhadores em empresas certificadas pela norma.

bs Quem tem o sa 8000 no brasil?atM Posso destacar a Personal Service Recursos Humanos Assessoria Empresarial, com 8.500 em-pregados, a Marcopolo S.A, com 6 mil emprega-dos, o Banco HSBC, com 1.800 empregados e a Alu-norte, com 1.500 empregados.

bs o brasil é o quinto país no mundo em número de empresas certificadas, mas o número de empresas na itália, Índia e China é bem maior. atM Não é surpreendente que a Índia e a China sejam os líderes em certificações, dado o seu rápido crescimento industrial, mas o caso italiano é espe-cialmente interessante. O governo regional de Tos-cana exerceu um papel importante em encorajar a certificação do SA 8000 em sua região. Na Índia e na Itália, há empresas grandes que lideraram o proces-so de certificação na sua cadeia de fornecedores. Na Índia, as principais foram a Tata e a Birla e, na Itália, a Coop Itália. Há anos, a Petrobras liderou um pro-cesso similar no Brasil, exigindo de seus parceiros comerciais a certificação SA 8000, mas, como a nor-ma não está autorizada no setor da indústria naval, retirou a exigência. Se decidisse usar o SA8000 no-vamente, a petroleira teria grande impacto positivo em muitas empresas brasileiras.

bs Há pressão internacional para as empresas brasileiras obterem a certificação?atM Essa é uma área na qual Brasil e Índia se diferenciam de outros países, combinando a de-manda interna com a externa. Se olharmos para a China, por exemplo, é só demanda externa. Eles não estariam trabalhando nessa área, se não fosse pelo negócio de exportação. No Brasil, esse não é o caso. Muitas das empresas certificadas não es-tão em negócios de exportação. Em São Paulo, visi-tei uma empresa de construção com grande parte de seus negócios no Brasil. Existem lideranças de grande influência, mas há menos envolvimen-to direto do governo do que na Índia, que é o país mais similar em termos de equilíbrio entre a de-manda interna e a externa. O governo na Índia tem mostrado maior interesse e apoio às práticas de responsabilidade social empresarial.

bs Como essas práticas podem contribuir para a erradicação da pobreza?atM A remuneração justa faz parte do que cha-mamos de responsabilidade social. Se o provedor da família recebe uma remuneração adequada, pode matricular seus filhos numa escola, passa a ter acesso a serviços de saúde, suas crianças não ficam subnutridas, e a família tem a chance de quebrar o ciclo da pobreza. A segurança no traba-lho é outro tema importante. Ser vítima de aci-dente de trabalho pode ser uma das piores arma-dilhas da pobreza. Para quem trabalha 60 horas ou mais por semana, o risco de acidentes de tra-balho aumenta drasticamente. A discriminação é outro exemplo.

bs Qual o papel das certificações sociais para o desenvolvimento sustentável nos países do bric?atM O fato de as empresas nacionais, no Brasil e na Índia, terem adotado o SA8000 voluntaria-mente, e não por pressão de clientes dos países do Norte, é muito auspicioso. Isso significa que o uso de padrões sociais está inserido no processo de produção doméstica e nas expectativas culturais. É um efeito sustentável em longo prazo.

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gestão

leme fiRmepesQuisa da consultoria accenture e do pacto global, realiZada em 100 paÍses, com 766 ceos, revela Que a recessão econômica mundial não diminuiu o compromisso das empresas com a gestão para a sustentabilidade

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lideRanças engaJadasEm empresas como a Basf, a Natura e a Alcoa, a sustentabilidade já se incorporou ao cotidiano. Na Basf do Brasil, uma das iniciativas mais recentes foi adotada em 2009: a Academia de Lideranças, um programa de educação corporativa para líderes com o objetivo de disseminar o conceito de forma sistêmica, permitindo o acesso de todos ao apren-dizado, bem como sua aplicação em todas as áreas da companhia. “A Basf tem na sustentabilidade um de seus pilares estratégicos”, diz Antonio Lacerda, vice-presidente sênior para a América do Sul e pre-sidente do Comitê de Sustentabilidade da empresa.

A companhia também investe na formação de colaboradores para uma nova geração de líderes na gestão para a sustentabilidade. O Time Virtual de Sustentabilidade, criado em 2008, surgiu como um grupo de trabalho para ampliar a estrutura de gestão da sustentabilidade da empresa na Améri-ca do Sul. Os Líderes Sustentáveis têm a missão de contribuir para concretizar a ambição de sustenta-bilidade da Basf, incorporada à sua Estratégia 2020: crescer de forma sustentável, focada nas oportuni-dades regionais, com competência e pioneirismo, sendo valorizada pelos stakeholders. “A guerra da concorrência tem de se dar em outro campo, não no da sustentabilidade. Afinal, a gente não cresce sozinho”, ressalta o executivo. [bs]

como as empResas atuam frente aos desafios da sustentabilidade? Com essa indaga-ção recorrente ecoando no mundo corporativo, a consulto-ria Accenture saiu a campo para buscar a opinião de um seleto grupo de 766 presidentes de empresas globais, repre-sentantes de 25 setores econômicos. Os resultados do maior estudo desenvolvido sobre o tema com a participação de CEOs foram apresentados na última reunião trienal do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, no final de junho.

Para elaborar a pesquisa “Uma nova era para a susten-tabilidade” a Accenture ouviu dirigentes de companhias como Natura, Nestlé, Alcoa, Diageo, Renault Nissan, No-vartis, Basf, Philips, Ericsson, Unilever e Santander. O tra-balho revela que está em curso, no mundo dos negócios, um movimento rumo a uma nova economia, apoiada em bases sustentáveis, embora ainda reflita realidades desiguais.

Os números mostram que 93% dos CEOs consideram a sustentabilidade “importante” ou “muito importante” para a evolução dos negócios. Regionalmente, porém, as opiniões dos altos executivos são distintas: na América Latina, 78% acreditam que se trata de um tema “muito importante”, enquanto no Oriente Médio e no Norte da África só 22% têm a mesma opinião.

Segundo o estudo, 88% dos dirigentes avaliam que é pre-ciso integrar a sustentabilidade à cadeia de valor, mas ape-nas 54% admitem já ter conseguido isso, num desempenho semelhante ao verificado entre as subsidiárias.

imagem e ReputaçãoA pesquisa revela aspectos interessantes sobre o que moti-va a consciência do alto escalão: 72% dos entrevistados cita-

ram a marca, a confiança e a reputação como os principais fatores que orientam a tomada de decisão no campo da sus-tentabilidade. O aumento da rentabilidade e a redução de custos foram citados por 44%, enquanto 42% declararam que se trata de motivação pessoal e 39%, de uma resposta à demanda do mercado.

“Alcançar a sustentabilidade social e ambiental leva tempo, exige grandes esforços e o comprometimento since-ro da liderança”, resumiu Georg Kell, diretor executivo do Pacto Global das Nações Unidas, durante o evento de apre-sentação do estudo. “Dois terços dos CEOs entrevistados en-xergam no Pacto Global um fórum para disseminar novas ideias e boas práticas em sustentabilidade. Estamos dispos-tos a colaborar com todas as iniciativas que procurem de-senvolver políticas e práticas eficazes e tangíveis.”

Os resultados da pesquisa conduzida pela Accenture indicam que as empresas começam a encarar a sustenta-bilidade mais a sério. Em um levantamento semelhante, realizado em 2007, metade dos CEOs entrevistados disse que a sustentabilidade se tornou parte das operações es-tratégicas da empresa. No estudo de 2010, o número sal-tou para 81%. Embora reconheçam a dimensão e a com-plexidade dos desafios globais, uma parcela significativa dos dirigentes avalia que ocorreram progressos, nos úl-timos três anos, no desenvolvimento de diversas estraté-gias de sustentabilidade.

Em síntese, o estudo conclui que a sustentabilidade representa um fator-chave para o êxito dos negócios. A previsão é de que, em uma década, o tema estará integra-do às atividades, aos processos e aos sistemas das organi-zações, abarcando não apenas o core business, mas toda a cadeia global de valor.

96% acreditam que a sustentabilidade deve ser inteiramente integrada à estratégia e às operações de uma companhia. em 2007, eram 72%.

93%dizem que sustentabilidade é muito importante para o sucesso dos negócios.

91%afirmam que suas empresas adotarão novas tecnologias, como energias renováveis, eficiência energética e sistemas de informação e comunicação.

88%acreditam que podem integrar a sustentabilidade na cadeia de suprimentos. apenas 54% admitem que isso já foi alcançado.

86% consideram que “a avaliação correta por parte dos investidores em investimentos de longo prazo” constitui o primeiro passo para avançar em sustentabilidade.

72%citam a marca, a confiança e a reputação como os principais fatores que orientam a tomada de decisão sobre sustentabilidade. o aumento de rentabilidade e a redução de custos vêm em segundo lugar.

72%consideram a educação um aspecto vital para o desenvolvimento e o sucesso dos negócios.

66%consideram as mudanças climáticas o segundo fator que as levou a adotar a sustentabilidade.

58%consideram os consumidores o grupo de stakeholders mais importante para adiministrar as expectativas da sociedade. para 45%, os empregados são o segundo grupo em importância.

49%consideram complexa a adoção da estratégia de sustentabilidade, de maneira integrada, em todas as áreas da empresa.

lacerda, da basf: “sustentabilidade é pilar estratégico”

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editoras New Content e Idea, com o patrocínio do Bra-desco. Com objetividade tipicamente norte-americana, o autor vai direto ao assunto. Para cortar 80% das emis-sões mundiais de carbono até 2020, estabilizar a po-pulação do planeta em 8 bilhões de pessoas, erradicar a pobreza e recuperar os sistemas naturais (solo, água, florestas, pastagens e estoques pesqueiros), são neces-sários US$ 187 bilhões por ano, afirma – 13% do orça-mento militar global. “Ninguém pode argumentar que não temos os recursos para realizar a tarefa”, afirma. “Isso seria mais do que o adequado para recolocar o pla-neta no caminho do crescimento sustentável.”

Para tanto, requer-se uma reestruturação econô-mica e uma reforma tributária que tornem o merca-do “ecologicamente honesto”, embutindo nos preços os custos indiretos das “externalidades”, isto é, dos impactos dos produtos e serviços. A ideia é aliviar a taxação sobre a renda e o trabalho e aumentar os im-postos sobre atividades destrutivas, como a queima de combustíveis fósseis. “O socialismo falhou por não deixar o mercado dizer a verdade econômica. O capi-talismo pode entrar em colapso por não deixar o mer-cado dizer a verdade ecológica”, diz Lester, citando uma frase de Oyster Dahle, o ex-vice-presidente da Exxon para o Mar do Norte.

Para o autor de Plano B 4.0, o mercado que oculta o custo real dos produtos é “irracional, ineficaz e au-todestrutivo”. Essa falha na precificação determi-na que um maço de cigarros custe US$ 4,25 em Nova York, quando, segundo o Centro de Controle de Doen-ças do governo norte-americano, deveria custar U$ 10,47 para cobrir as despesas com doenças e perdas de produtividade no trabalho. Idem com o preço da

gasolina, U$ 3,00 por galão, que deveria custar US$ 12,00 para cobrir o custo das mudanças climáticas e do tratamento das doenças derivadas das emissões. “O custo de queimar gasolina é muito mais alto, mas o mercado se apressa a afirmar que é barato, distor-cendo brutalmente a estrutura da economia.”

Lester Brown é acusado de alarmismo há anos, mas há cada vez mais gente repetindo o que ele afir-ma. Ao mesmo tempo, sabe que a reforma que prega tem alto custo político, que o consenso avança deva-gar e que as condições do planeta deterioram rapida-mente. O Painel Intergovernamental de Mudanças

Climáticas, por exemplo, afirma que “os 25 anos mais quentes já registrados ocorreram a partir de 1980”. A concentração atmosférica de carbono subiu de 280 partes por milhão (ppm), em 1760, quando a Revolu-ção Industrial começou, para 386 ppm, em 2008. Das 9,4 bilhões de toneladas de CO2 emitidas nesse ano, só 5 bilhões foram absorvidas pelo planeta. As 4,4 bi-lhões de toneladas restantes estão sendo bombeadas anualmente na atmosfera. “Se ficarmos no business as

usual, será mais do que viável, neste século, a eleva-ção da temperatura da Terra de 1,1 a 6,4 graus”, diz.

Para acelerar o advento da economia de baixo carbono, Brown sugere um plano como o decretado pelo presidente Franklin Roosevelt após o bombar-deio japonês a Pearl Harbour, em 1942. Um mês após o ataque, Roosevelt anunciou no rádio a meta pouco realista de produzir 60 mil aviões, 45 mil tanques e 20 mil canhões antiaéreros. Para tanto, proibiu a fa-bricação de automóveis novos durante três anos. Em 1944, os EUA acumularam 229.600 aviões e 5 mil na-vios. E ganharam a guerra. [bs]

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« R e p o R t a g e m R i c a R d o a R n t »

lideRança

lesteR bRoWn é “um dos pensadores mais influentes do mundo”, diz o jornal The Washington Post. “O guru do movimento ambientalista”, ecoa o Calcutta Telegraph, da Índia. Em 1974, quando mal se falava em ecologia, o economista fundou o Worldwatch Institute, em Washington, que presidiu por 26 anos, dirigindo a produção das séries de diagnósticos globais de sustentabilidade State of the World e Vital Signs. Premiado e condecorado por instituições de dezenas de países, em 2001, “após ter sido forçado a sair do Worldwatch por um vice-presidente que decidiu que era sua vez de dirigir a organização”, segundo a colega Reah Kauffman, fundou o Earth Policy Institute, com a meta de “fornecer um plano para salvar a civilização e um roteiro de como chegar lá”.

Apesar da ambição política e da abrangência dos dados que articula, Lester não escreve, não digita e não usa computador. Seu método de trabalho é impro-visar, usando notas de três ou quatro palavras como ideias-semente, com as quais mantém uma vasta agenda internacional de conferências. Quando traba-lha em um livro ou um artigo, lê muito, analisa gráfi-cos e tabelas elaborados por assistentes (a quem sem-pre pede mais pesquisas), faz um roteiro básico e dita parágrafos inteiros em um Dictaphone. Até suas car-tas são ditadas. Não usa e-mail.

Com a série Plano B, Lester lançou um novo conjun-to de diagnósticos globais, já traduzido em 24 idiomas e desdobrado em Plano B 2.0, Plano B 3.0 e Plano B 4.0. No Brasil, este último livro foi publicado em 2009, pelas

lesteR bRoWnQuem? presidente do earth policy institute e fundador do Worldwatch institute, que presidiu durante 26 anos.

o Quê? lançou e dirigiu as séries de diagnósticos globais de sustentabilidade the state of the World e vital signs, hoje traduzidas em quarenta idiomas.

poR Quê? um dos precursores do desenvolvimento sustentável e um dos analistas mais credenciados sobre a crise ecológica contemporânea.

“o soCialisMo falHou Por não deiXar o MerCado diZer

a verdade eConôMiCa. o CaPitalisMo Pode entrar eM ColaPso Por não deiXar o MerCado diZer a verdade eCológiCa”

oyster dahle, ex-vice-presidente da exxon para o mar do norte

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ceRtificação

o bRasil abRiga a maior flo-resta tropical do planeta e já foi um respeitado expor-tador de madeira certificada. Nos últimos anos, no entanto, o país vem regredindo, apesar de o mercado global não parar de crescer. A produção brasileira de madeira nativa certificada caiu pela metade, na últi-ma década. Números do WWF mostram que, em 1999, o país abasteceu o segmento com 28 milhões de metros cúbicos, em 2004, esse número caiu para 24,5 milhões e, em 2009, para 14 milhões.

As florestas nativas certificadas pelo selo FSC (Forest Stewardship Council) seguem na mesma direção e mos-tram que o país estagnou na aprovação de planos de ma-nejo. Em 2009, o Brasil registrou redução de 1,85% no total de hectares carimbados com o selo. Houve um pequeno crescimento em 2010, mas em ritmo lento, diante do vas-to potencial da região amazônica – passou de 2,69 mi-lhões de hectares, em 2008, para os atuais 2,72 milhões. “Em 15 anos, o Brasil certificou pouco mais de 2,5 milhões de hectares na Amazônia. Na bacia do Congo, mais de 4,7

milhões de hectares foram certificados, nos últimos três anos”, compara Roberto Waack, diretor do FSC.

Estima-se que a Amazônia disponha de 40 milhões de hectares para manejo, cerca de 10% de toda a floresta. Até 2020, porém, o país deve atingir apenas 13 milhões de hec-tares certificados. Más notícias para quem vê no manejo sustentável uma alternativa à exploração predatória da madeira amazônica. “A expectativa é de que a produção co-mece a crescer neste ano, mas devemos atingir os índices de 1999 apenas daqui a três anos”, avalia Estevão Braga, en-genheiro florestal do WWF. Segundo Braga, a atual queda na produção deve-se a vários fatores. “É reflexo da redução das áreas aptas, da maior fiscalização e da concorrência com a madeira de reflorestamento.”

A principal dificuldade para as empresas certifi-cadas é a precariedade da documentação de terras. Os problemas fundiários da Amazônia criam barreiras legais para o licenciamento ambiental, atribuição que passou do Ibama para os órgãos estaduais em 2007. Des-de então, o processo se tornou ainda mais lento e one-roso para as empresas que desejam explorar a madeira nativa de maneira sustentável. “A legislação não apoia as empresas certificadas. Somos tratados como desma-tadores, como exploradores quaisquer, e geralmente a fiscalização e os encargos recaem sobre quem é corre-to”, comenta Fábio de Albuquerque, diretor da Ecolog, que possui uma área de 22,5 mil hectares em Rondônia e produz madeira certificada pelo FSC.

A demanda por produtos certificados é maior do que a oferta, mas os produtores com o selo do FSC estão desis-tindo porque a atividade não é economicamente viável. Anos atrás, praticamente 100% da produção da Ecolog era exportada, mas a empresa desistiu porque não conseguia superar os gargalos legais e atender aos prazos dos clien-tes. “Chegamos a ficar 60 dias parados, esperando pela recertificação ou pela fiscalização da área de manejo”, diz Albuquerque. A saída foi voltar-se para o mercado in-terno, menor e mais restrito, pois o consumidor brasilei-ro tem pouco interesse por produtos comprovadamente sustentáveis, com atestado de origem.

O Brasil produz atualmente 17% da madeira tropical co-mercializada no mundo e responde pela oferta de 35% da madeira cerrada. Considerados todos os tipos de madeira, o país ocupa a primeira posição na produção de toras e o terceiro lugar na exportação de madeiras cerradas. Mas, quando a régua sobe para os produtos certificados, os nú-meros rolam ladeira abaixo. “Apenas 1% da madeira cerra-da brasileira é certificada”, diz Waack, do FSC.

mudança de planosO tempo para os órgãos estaduais aprovarem o licencia-mento de uma área florestal varia bastante e depende da qualidade do plano de manejo. Em média, o processo leva um ano, mas há casos de empresas que tiveram de esperar até três anos para iniciarem as operações. “Vivemos um momento de transição. Muitos estados ainda não estão aparelhados para executar a tarefa”, diz Roberto Waack.

Um exemplo é a Secretaria Estadual do Meio Am-biente do Pará (Sema-PA), que, quando começou a ana-lisar planos de manejo, em 2007, contava com apenas quatro profissionais para o trabalho. “Era uma atribui-ção nova, e tínhamos o mínimo necessário para traba-lhar. Hoje, as empresas já têm recebido a licença em 40 ou 50 dias, e a área aprovada voltou a crescer”, diz Ede-valdo Pereira, diretor de Gestão Florestal. “Em 2007, autorizamos a exploração de 75 mil hectares no estado. Em 2010, esse número já subiu para 171 mil hectares.”

Mesmo assim, ainda há muito a avançar no Brasil. O consumidor não cobra e não exige produtos com ori-gem comprovada. Mas os órgãos públicos podem dar uma contribuição. “Não existe estímulo à certificação. Não há incentivos tributários nem políticas econômi-cas para quem quer explorar a floresta de maneira sus-tentável”, afirma Virgílio Viana, da Fundação Ama-zônia Sustentável. Segundo Viana, há boas iniciativas e produtores certificados competentes, mas a falta de qualidade dos planos de manejo também emperra o licenciamento. “Os projetos pouco embasados tecnica-mente são comuns, falta profissionalização em muitos deles”, atesta Viana. [bs]

as empresas que investem em madeira certificada vivem um inferno astral fundiário na amazônia

rePortageM beto gomes

a produção de madeira nativa certiFicada caiu pela metade, no brasil, em deZ anos. a Questão Fundiária é o principal problema do setor, mas não o único

ceRtificação em Queda

Má notÍCia Para QueM Considera o Manejo sustentável uMa alternativa à eXPloraÇão

Predatória da Madeira nativa aMaZôniCa

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A Convenção sobre Diversidade Biológica ainda não alcançou a mesma ressonância global da Convenção do Clima, apesar de ambas serem chanceladas pela Organi-zação das Nações Unidas e aprovadas pela Rio-92. Mari-na Grossi, presidente-executiva do CEBDS, considera que as iniciativas da ONU contribuem para ampliar a sensi-bilização da sociedade sobre o assunto. Mas, apesar da sua relação direta com a vida das pessoas, o tema ainda é pouco compreendido. “Em um país megadiverso como o Brasil, é fundamental que cada segmento compreenda seus impactos e possa visualizar a importância dos ati-vos da biodiversidade para a manutenção da economia e da vida social”, explica Marina.

O CEBDS tem mobilizado empresas e promovido de-bates sobre o desenvolvimento de estudos e de ferra-mentas de valoração econômica da biodiversidade, es-senciais para a promoção do seu uso sustentável. Um exemplo é o novo Relatório Teeb (sigla em inglês para The Economics of Ecosystem and Biodiversity), produ-zido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Am-biente (Pnuma) e lançado no I Simpósio Global de Ne-gócios da Biodiversidade, em julho, em Londres. Para a presidente do CEBDS, o relatório é uma ferramenta glo-bal fundamental para a compreensão da importância econômica da biodiversidade. O trabalho foi apresenta-

do no Brasil por seu coordenador, o pesquisador indiano Pavan Sukhdev, que citou dados preocupantes. De acor-do com a metodologia TruCost, usada pelo relatório para calcular o valor das perdas impostas à biodiversidade pelos negócios, o impacto de 3 mil empresas globais pes-quisadas foi de US$ 2,2 trilhões só em 2008. A estimati-va é que o prejuízo anual do capital natural seja de US$ 2,5 a 4,5 trilhões de dólares, o equivalente ao PIB da Chi-na, a segunda maior economia do mundo. “O relatório Teeb é uma ferramenta de valoração que representa um salto em termos de linguagem relacionada a negócios e biodiversidade, evidenciando riscos, oportunidades e a necessidade de quebra de paradigmas nas atividades econômicas”, ressalta Marina Grossi.

Os impactos na biodiversidade estiveram em pau-ta, também, na reunião promovida pela Câmara Te-mática de Biodiversidade e Biotecnologia (CTBio) do CEBDS, em julho, em São Paulo. O evento mobilizou 18 participantes, entre técnicos e gestores de 14 em-presas associadas, reforçando a percepção de interes-se empresarial sobre a agenda.

Já nessa primeira reunião preparatória para a COP 10, os representantes das empresas manifestaram interes-se de medir o impacto de seus negócios na biodiversida-de. Essa disposição estará registrada como um compro-

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ano da biodiveRsidade

o Parque estadual da Costa do sol, na região dos lagos fluminense, abrange ecossistemas de litoral, de restinga e de campina, entre outros

goveRno e empResas mobiliZam-se paRa levaR pRopostas paRa a 10ª confeRência das paRtes da convenção sobRe diveRsidade biológica, em outubRo, em nagoYa, no Japão

RepoRtagem eliZabeth oliveiRa

caRtão-postal paRa nagoYa

a designação de 2010 como o Ano Internacional da Biodi-versidade e a realização da 10ª Conferência das Partes (COP-10) da Convenção sobre Diversidade Biológica, em outubro, em Nagoya, no Japão, geraram uma mobilização empresarial inédita, no Brasil, pela discussão do tema e pela con-servação do “capital natural”, fundamental para as atividades econômicas. Em São Paulo, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Susten-tável (CEBDS) promoveu, no fim de agosto, na sede do Grupo Abril, o encontro Biodiversidade e a Nova Economia, focado na discussão de boas práticas, de so-luções e de parcerias para a gestão da diversidade biológica.

lagoa de maricá, no parque da costa do sol, no Rio de Janeiro

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misso das empresas na publicação que o CEBDS prepara para levar a Nagoya, reunindo as melhores experiên-cias do setor privado brasileiro para reduzir seus impac-tos na diversidade biológica. O Conselho e as empresas associadas já começam, por meio da CTBio, a buscar a melhor ferramenta para a medição desses impactos. É grande a expectativa para conhecer melhor alguns ins-trumentos, como a Ecosystem Valuation Initiative (EVI) que será apresentada pelo World Business Council for Sustainable

Development (WBCSD) em Nagoya. Durante a COP 10, o CEBDS fará um evento paralelo,

no dia 28 de outubro, com o tema Biodiversidade Brasi-leira e Ação Empresarial, quando serão apresentados os melhores cases de redução de impactos em diversida-de biológica. Cientistas, ativistas, especialistas e nego-

ciadores esperam que esse ano a Conferência da Bio-diversidade alcance o mesmo nível de mobilização da Conferência do Clima

Outro sinal da mobilização empresarial em defesa da biodiversidade é a iniciativa de Alcoa, CPFL Energia, Natura, Vale e Walmart Brasil de aderir ao Movimento Empresarial pela Proteção e Uso Sustentável da Biodi-versidade, lançado em agosto, em São Paulo. Também participam da iniciativa o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, a Fundação Getulio Vargas e outras instituições. Entre as iniciativas, será elabora-da uma carta de compromissos, após ampla discussão, para ser entregue ao governo brasileiro e aos candidatos à Presidência da República.

dilemas e soluçõesA perda de habitats provocada pelas ações socioeconô-micas é uma das maiores ameaças à biodiversidade, na opinião de André Ilha, diretor de Biodiversidade e Áre-as Protegidas do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea). Uma das soluções para enfrentar o di-

ano da biodiveRsidades é r i e

lema, receita o ambientalista, é a criação e a manuten-ção de unidades de conservação, como parques, reservas biológicas e estações ecológicas. Mas não basta criar só no papel. O poder público precisa investir em pessoal, equi-pamentos e ferramentas de gestão das unidades.

A iniciativa privada pode contribuir para a manuten-ção das áreas protegidas não somente por exigência legal, como ocorre nos casos de compensação ambiental atrela-dos à instalação de projetos potencialmente impactantes, mas também de forma voluntária. Um exemplo, segundo André Ilha, é a adoção do Parque Estadual da Ilha Gran-de, em 2009, pela Vale, por cinco anos. A mineradora in-vestirá R$ 5 milhões em ações pela preservação da área de 12 mil hectares. Iniciativas semelhantes estão sendo ne-gociadas com outras duas empresas. “A participação em-presarial em ações pela proteção da biodiversidade é fun-damental e muito bem-vinda”, diz o diretor do Inea.

Desde 2007, as áreas estaduais de proteção integral da biodiversidade no Rio de Janeiro cresceram de 118 mil hectares para 177 mil hectares. Outra área protegida em processo de criação é o Parque Estadual da Costa do Sol, na Região dos Lagos fluminense, estimada em 8 mil hec-tares, abrangendo vários ecossistemas, distribuídos em sete municípios. O Rio de Janeiro vem liderando inicia-tivas de proteção da biodiversidade na Mata Atlântica. Com investimentos de cerca de R$ 12 milhões, está me-lhorando toda a infraestrutura das UCs estaduais. Os recursos são do próprio estado, oriundos de projetos de compensação ambiental e de parcerias e doações empre-sariais, como as que estão ocorrendo no âmbito do Proje-to de Proteção à Mata Atlântica (PPMA), financiado pelo banco alemão KfW.

lição de casa O Brasil não atingiu a meta assumida como signatário da Convenção sobre Diversidade Biológica de proteger 30% da área original da Amazônia com unidades de conser-vação e 10% dos demais biomas até 2010. Segundo Maria Cecília Wey de Brito, secretária de Biodiversidade e Flo-restas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), nenhum país chegará a COP-10 com metas cumpridas. Apesar da promessa quebrada, o Brasil tem avanços a relatar e as-sumiu compromissos até mais ambiciosos do que os que integram a própria CDB.

Um desses avanços é o fato de o país ser responsável pela criação de dois terços das áreas protegidas globais, de 2003 até hoje. O dado consta no 3o Relatório do Panora-

ma da Biodiversidade Global (GBO3, em inglês). “O Brasil contribuiu, sozinho, mais do que qualquer outro país do mundo para esse tipo de iniciativa”, afirma Wey de Brito. Outro ponto positivo é a queda de 75% na taxa anual de desmatamento da Amazônia, desde 2004.

Além de ter criado um arcabouço legal avançado de conservação, a secretária enfatiza que o Brasil chega à COP-10 com um balanço positivo, que inclui o moni-toramento por satélite de todos os biomas nacionais e a adoção de mudanças que tornarão dinâmica a lista de espécies ameaçadas de extinção. O país defenderá, na conferência, que os Planos Nacionais com metas da CDB sejam transformados em legislação nacional vinculante. “Também defenderemos a necessidade do aporte de no-vos recursos financeiros para a implementação das ações da CDB”, ressalta a secretária.

No que se refere à iniciativa privada, Maria Cecília Wey de Brito afirma que o governo brasileiro conside-ra importante a nova postura assumida pelas empre-sas mais avançadas. Apesar da pouca participação de setores empresariais cujas atividades provocam gran-des impactos ambientais, a secretária observa sinais positivos nos novos planos de sustentabilidade anun-ciados recentemente para a produção de carne, soja, madeira e outras commodities. [bs]

maria cecília Wey de brito: empresas podem ajudar a conservar os recursos naturais

• criar um mecanismo internacional de regulamentação do acesso aos recursos genéticos da biodiversidade e de repartição de seus benefícios.

• estabelecer metas de conservação da biodiversidade para os próximos 10 anos.

• criar a plataforma científica intergovernamental para a biodiversidade e serviços ecológicos (ipbes, na sigla em inglês), órgão provedor de dados e de análises, com a responsabilidade similar à que o painel intergovernamental de mudanças climáticas (ipcc) tem para a convenção do clima.

a convenção sobre diversidade biológica (cdb) visa conservar a biodiversidade, promover o uso sustentável de seus componentes e distribuir equitativamente os seus benefícios. a cdb possui 191 países signatários. em nagoya, a cop-10 discutirá três grandes temas:

teMas da CoP-10

o governo federal assinou, em agosto, com os estados unidos, o primeiro acordo brasileiro de conversão de dívida em conservação ambiental. a usaid (agência internacional de desenvolvimento dos estados unidos) abriu mão de uma dívida de us$ 21 milhões, paga regularmente pelo brasil, em troca de investimentos na mata atlântica, no cerrado e na caatinga. para administrar o recurso, será criado um fundo de nove membros, um deles da usaid. Quinze países já assinaram acordos similares com os eua desde a promulgação da lei norte-americana para proteção de florestas tropicais, em 1998. o embaixador luis alberto figueiredo, do itamaraty, explicou que o atraso brasileiro se deve à “complexidade dos meandros fiscais dos tesouros dos eua e do brasil”.

dÍvida e ConservaÇão

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vinte de abRil de 2010 talvez entre para a história corporativa. A explosão na platafor-ma Deepwater Horizon, a 77 quilômetros do litoral do esta-do norte-americano da Louisiana, provocou a morte de 11 pessoas, um vazamento de petróleo considerado o maior acidente ambiental dos EUA e uma mancha indelével na história da British Petroleum (BP). Desde o incidente, a BP perdeu 40% do seu valor de mercado e informou que irá se desfazer de US$ 30 bilhões em ativos. A venda de bens tem um motivo: no segundo trimestre, a petroleira britânica registrou prejuízo de US$ 17,15 bilhões, fruto da provisão de US$ 32,2 bilhões feita para cobrir os custos relacionados ao vazamento.

O vazamento tem feito empresas de todos os setores reforçar seus procedimentos ambientais e de gestão de riscos e deverá contribuir, também, para que a sustenta-bilidade ganhe espaço nas bolsas de valores e entre inves-

tidores. “O acidente no Golfo do México derrubou o valor das ações da BP, o que mostra que o mercado responde imediatamente aos impactos ambientais”, disse o secre-tário-adjunto da Federação Mundial de Bolsas, Peter Cli-fford, que participou, em julho, de uma reunião do órgão na BM&FBovespa, em São Paulo. “Há um movimento for-te, entre bancos e bolsas de valores, para aplicar critérios socioambientais na análise dos investimentos. Isso cres-cerá nos próximos anos”, ressaltou.

Segundo os dados da Federação Mundial das Bolsas, 11% dos recursos investidos em fundos nos EUA estão atre-lados a investimentos socialmente responsáveis. Na Euro-pa, o percentual é maior: 17%. Com o baque da BP, a ten-dência é de que esses números avancem mais, porque em outros países, como o Brasil, o interesse é cada vez maior.

“O acidente deverá reforçar a percepção dos investido-res de que obter bons resultados sociais, ambientais e eco-

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nômicos é peça fundamental de uma gestão bem-sucedi-da”, diz a diretora de Sustentabilidade da BM&FBovespa, Sonia Favaretto. No Brasil, os fundos atrelados à agenda sustentável movimentam cerca de R$ 1 bilhão, volume que poderá crescer ao longo dos próximos anos.

Prestes a completar cinco anos em novembro, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valo-res de São Paulo foi estabelecido no âmbito do movimento mundial, surgido na metade da década passada, de difu-são dos conceitos de triple bottom line no mercado de capi-tais. “Desde então, o indicador tem ganho espaço e sido utilizado pelas empresas como uma ferramenta para con-solidar práticas na área”, afirma Sonia.

Em sua última edição, anunciada no fim de 2009, o ISE reuniu 34 empresas negociadas na Bolsa. A próxima se-leção deverá ser divulgada na última semana de novem-bro. No ano passado, foram entregues questionários a 150 empresas, para participarem do processo de seleção para integrar o índice. Desse total, 51 responderam e 34 foram selecionadas. A participação das empresas brasileiras cor-responde ao que se vê em outros mercados: nos Estados Unidos, são enviadas perguntas a mais de 2.500 empre-sas, mas apenas 500 respondem aos questionários.

“O caminho da sustentabilidade da empresa é longo, assim como a percepção do investidor em relação ao tema. Trata-se de perceber que é um consumidor consciente, que, no supermercado, também deve selecionar os produ-tos nas prateleiras por critérios que não se refiram apenas aos preços”, diz Sonia.

Estudo da Federação Mundial das Bolsas aponta que, no mundo dos investidores institucionais, os fundos de pensão têm contribuído para reforçar as práticas susten-táveis nas empresas em que investem. No relatório (veja o site www.world-exchanges.org/sustainability), um exemplo destacado, no Brasil, é o do fundo de pensão Pre-

vi, dos funcionários do Banco do Brasil, que tem partici-pação direta ou indireta em diversas empresas brasileiras e é signatário do Protocolo de Investimento Responsável da Organização das Nações Unidas.

Com participação direta e indireta em cerca de 50 em-presas, que, juntas, representam 30% do PIB brasileiro, a Previ enxerga a sustentabilidade como peça essencial de sua estratégia de investimento. “Somos investidores de longo prazo, portanto selecionamos empresas que busquem se perenizar. Analisamos como elas lidam com as questões sociais, ambientais e se têm boa governança corporativa”, afirma o diretor de Investimentos do fun-do, René Sanda, que frisa que, ao lado dessa preocupação, a Previ não investe em empresas que atuam com arma-mentos e fumo.

Para Sanda, o acidente da BP no Golfo do México in-dica que os conselheiros precisam assumir um papel ainda mais estratégico nos conselhos das empresas, de-sempenhando papel mais ativo de gestor de riscos. “O conselheiro tem de buscar antecipar problemas”, ressal-ta. Atualmente, a Previ tem cerca de 200 conselheiros em empresas e, por meio deles, busca influenciar na ges-tão corporativa, reforçando as práticas sustentáveis. Há onze anos é feito um evento anual, de três dias, em que os conselheiros, reunidos, participam de palestras e se-minários. Em 2010, o foco do encontro foi empreendedo-rismo e sustentabilidade. [bs]

rePortageM roberto rocKmann

lá se vai a empResao vaZamento de petróleo na british petroleum no golFo do méxico abala o mercado e evidencia a importância da gestão de investimentos responsável

favaretto: triple bottom line garante bom investimento

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A análise dos riscos de São Paulo prevê que, se nada for feito, a mancha urbana da re-gião metropolitana dobrará nos próximos 20 anos – um crescimento que poderá elevar de 2 a 4 graus centígrados a temperatura média da região, entre os anos de 2070 e 2100. As novas ocupações deverão se concentrar justamente nas áreas mais vulneráveis, aumentando o número de pessoas vivendo em locais de ris-co, na maioria já em situação irregular. Pelo menos 20% da expansão urbana prevista se dará em regiões com potencial de acidentes naturais provocados pelas chuvas, e 11,17% ocorrerá em locais com risco de deslizamento (veja o mapa de riscos na página seguinte).

“A ocupação irregular é um dos mais gra-ves problemas que as grandes cidades en-frentam. É preciso parar já o aumento das moradias nessas áreas e deslanchar um gran-de programa de remoção das já existentes”, sentencia o climatologista Carlos Nobre, do Inpe, um dos coordenadores do estudo.

A urbanização é um fenômeno global em aceleração. Atualmente, mais de 50% da po-pulação mundial vive em cidades. No Bra-sil, entretanto, esse percentual já ultrapassa 80%. Aproximadamente 20 milhões de pes-

soas moram na Região Metropolitana de São Paulo, sendo 11 milhões na capital. A metró-pole concentra 40 mil indústrias, 21% da fro-ta nacional de veículos e 17% do consumo de energia do país.

A capital já vive crises periódicas com enchentes decorrentes de chuva intensa no verão. Entre dezembro de 2009 e março de 2010, a cidade registrou o período mais chu-voso dos últimos 15 anos, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da prefeitura, com 18 mortes por deslizamentos e enchentes, cinco vezes mais do que o regis-trado na temporada anterior. Mais de 2,5 mil pessoas ficaram desabrigadas. A Defesa Civil Estadual registrou recorde de vítimas fatais, no verão passado, em todo o estado, desde que passou a fazer a estatística das vítimas das chuvas: 78 mortes.

É problemático associar eventos climáti-cos, como os registrados no início deste ano, com as mudanças climáticas em curso na atmosfera, reconhece Carlos Nobre. “A Re-gião Metropolitana de São Paulo é uma das realidades climáticas urbanas mais críticas e insuficientemente estudadas do Brasil”, constata o relatório. Mas o aumento da fre-

estudo realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que, se seguir seu histórico de ocupação e urbanização, nas próximas décadas São Paulo sofrerá mais com eventos climáticos extremos de curta duração, como ondas de calor,

secas e temporais, aumentando o risco de enchentes e deslizamentos. O estudo, apresentado de forma preliminar e com exclusividade no primeiro encontro do Ciclo Sustentável promovido pelo Cebds, em maio, é do primeiro levantamento específico sobre os efeitos das mudanças climáticas em megacidades brasileiras. Até o fim do ano, o Inpe apresentará as conclusões sobre o Rio de Janeiro. Além do Centro de Ciência do Sistema Terrestre, do Inpe, participam do trabalho o Núcleo de Estudos de População, da Universidade de Campinas, a Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo, o Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo e a Universidade Estadual Paulista, de Rio Claro.

paredões de edifícios em ruas estreitas criam

ilhas de calor com microclima

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a metrópole concentra 21% da frota nacional de veículos

diagnóstico sobre riscos climáticos de são paulo revela Que chuva intensa, acima de 50 milÍmetros, era rara antes da década de 50. nos últimos deZ anos, precipitações de maior volume ocorreram de duas a cinco veZes por ano

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quência das inundações impressiona. Chuva intensa, acima de 50 mm, era algo raro antes da década de 50. Nos últimos dez anos, precipitações de maior volume ocorrem, em média, de duas a cinco vezes por ano. Chu-vas acima de 30 mm em um dia já são suficientes para causar enchentes graves.

O estudo mostra que São Paulo apresenta quadros dife-rentes de temperatura conforme as características de cada área, apontando para a existência de microclimas na ci-dade. A área central, em volta da Praça da Sé, com edifí-cios altos e próximos uns dos outros, ruas estreitas e pátios confinados, constitui o epicentro de uma ilha de calor. A impermeabilização do solo, o concreto e o asfalto irradiam 50% mais calor do que as superfícies com vegetação. É a re-gião mais quente da cidade. Bairros com altíssima densida-de populacional, como Mooca, Tatuapé, Água Rasa, Carrão, Vila Formosa, Penha e Vila Matilde, registram os maiores extremos de temperatura, entre 30º C e 33º C.

Por outro lado, bairros de maior renda, localizados em altitudes mais elevadas e privilegiados pelo verde, apre-sentam média de temperatura menor, como Cidade Jar-dim, Alto de Pinheiros e Morumbi, além das regiões pró-ximas às represas Billings e Guarapiranga (veja infográfico).

A desigualdade acompanha a concentração dos riscos. Aproximadamente 30% da população da cidade, cerca de 2,7 milhões, vivem em favelas, cortiços e habitações pre-cárias, que ocupam, na maioria, áreas ilegais. A zona sul, onde está metade das favelas da cidade, concentra a maio-ria dos locais com risco de deslizamentos, nas subprefeitu-ras de Jabaquara, Cidade Ademar, Pedreira, Cidade Dutra, Jardim Ângela, Capão Redondo e Campo Limpo.

Na região metropolitana, os municípios com mais pro-blemas são Guarulhos, Osasco, São Bernardo do Campo, Santo André e Barueri. “As áreas de risco de uma megaci-dade contituem um entrave enorme ao desenvolvimento. É fundamental não deixar a ocupação desordenada cres-cer. A necessidade de crescimento, principalmente da re-gião metropolitana como um todo, tem de ser ordenada e feita em outras bases”, analisa Nobre.

A construção de parques lineares nas margens de rios e córregos é umas das ações mitigadoras da prefeitura paulistana para prevenir enchentes, manter áreas ver-des e evitar que se tornem focos de ocupação irregular. Segundo o secretário municipal do Verde, Eduardo Jorge, mais de dez foram implantados desde 2005 e outros vinte estão em obras. “São Paulo saiu na frente no estabeleci-

mento de ações preventivas, na mitigação e na adaptação aos efeitos das mudanças climáticas, estabelecendo me-tas de redução das emissões.”

Mas as medidas tomadas não estão sendo implanta-das com o alcance e a velocidade necessários, segundo Carlos Nobre. “Temos iniciativas, mas são modestas. Ape-nas para reduzir a vulnerabilidade das pessoas que mo-ram em áreas de risco em São Paulo seria preciso gastar o equivalente a uns quatro ‘bolsas-família’ por ano. No Rio, precisaríamos de outros oito ou dez por ano”, estima.

mudanças climáticasr e p o r t a g e m

ideias simples

O urbanista paranaense Jaime Lerner concorda. Apon-tado pela revista Time como um dos 25 pensadores mais influentes do planeta, Lerner prega o fim da segmenta-ção das cidades por nichos – comercial e residencial, por exemplo – e a diminuição da desigualdade entre as regi-ões pobres e ricas, propondo alternativas mais simples. Acredita que não é difícil transformar uma megacidade e defende o investimento no sistema de ônibus, em detri-

mento da expansão de linhas de metrô. “É possível dar ao sistema de transporte de ôni-bus a mesma eficiência do metrô, organizan-do a rede de transporte público de maneira que todos funcionem melhor e não concor-ram no mesmo espaço”, afirma Lerner.

Segundo o urbanista, levam-se 20 a 30 anos discutindo e investindo na expansão do metrô, desconsiderando-se alternati-vas mais baratas e rápidas. “Nova York, por exemplo, levou 50 anos na discussão sobre a expansão da rede metroviária e levará ou-tros 20 na implementação. Sacrifica-se, as-sim, uma geração inteira”, argumenta. Em Curitiba, o sistema BRT (Bus Rapid Transit), implantado por Lerner quando foi prefeito, funciona em vias expressas interligadas por terminais, deslocando 2 milhões de pesso-as diariamente. “É a mesma quantidade de pessoas que o metrô de Nova York transpor-tará com a ampliação”, afirma.

A mobilidade é um dos grandes desafios das megacidades, aponta o estudo de vul-nerabilidade climática. Os veículos são res-ponsáveis por 40% das emissões de gases particulados e por 31% do dióxido de enxo-fre (SO2) existentes no ar de São Paulo. O as-falto e o concreto da abertura de novas vias impermeabilizam o solo, e a canalização de rios e córregos compromete a drenagem. Com a densa urbanização, multiplicam-se os cenários de ilhas de calor, elevação da temperatura e aumento de temporais e de inundações. Como consequência, cresce o número de vítimas por desabamentos, afo-gamentos e acidentes de trânsito.

O investimento em transporte público é a alterna-tiva insistentemente proposta pelo estudo, entregue ao governo e à prefeitura de São Paulo em junho. O do-cumento recomenda que os planos urbanísticos dei-xem de ser regidos fundamentalmente pelas decisões do setor imobiliário. Defende a modernização do setor de transportes, a ampliação das linhas de metrô e de trens interurbanos e a implementação de transportes intermodais, interligando ferrovias e rodovias, inclu-sive para o transporte de cargas. [bs]

Parque da serra da Cantareira

área de Proteção Capivari-Monos

Parelheiros

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represa billings

Cidade ademar

jabaquara

jardim ângela

Campo limpo

sé Mooca

Penha

vila formosa

represa guarapiranga

7

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alto Pinheiros

3

as vulnerabilidades do municÍpio mais populoso do brasil

são paulo: Riscos climáticos

mancha urbana em expansão: 11 milhões de habitantes

enchentes: 2 a 5 chuvas de 50 mm/dia geradoras de inundações

Fluxo de veículos nas marginais dos rios tietê e pinheiros: 1,2 milhão

de veículos por dia

bairros mais quentes e densos

centro da cidade: a maior ilha de calor

bairros mais arborizados e menos quentes

2,7 milhões de moradores de favelas e cortiços concentrados na zona sul

22% do município coberto por loteamentos irregulares,

como na bacia da billings

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7

8

• 39 municípios• 20 milhões de pessoas• 40 mil indústrias• 5,7 milhões de automóveis• 2,4 milhões de toneladas de poluentes emitidos por ano• 35,3 milhões de megawatts consumidos por hora (17% do total nacional)

região Metropolitana

Mapa da 28 subprefeituras

áRea uRbana

vegetação

maRginais

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os Candidatos

falaMestamos diante de um desafio de grandes proporções: construir as bases de uma nova ordem nas relações internacionais. Vemos a ascensão de novas potências, o surgimento de novos interlocutores e o surgimento de um novo mercado consumidor formado por populações que podem ser contadas aos bilhões. Os principais atores desse jogo já estão se preparando. A China, um dos maiores poluidores do mundo, tem orientado suas estratégias para liderar as inovações na área da economia verde. Países fortemente dependentes de combustíveis fósseis, como os EUA e a Rússia, buscam alternativas para superar essa condição. Velhos e novos players, como a União Europeia, a Índia e o Japão, potencializam seu capital humano para fazer valer as vantagens comparativas de uma economia baseada no conhecimento e na excelência educacional. A sustentabilidade já é um valor. A questão, agora, é como incorporá-la às estratégias de negócios e às políticas públicas.

Apesar da sua condição privilegiada, o Brasil ainda avança timidamente nesse cenário. Percebemo-nos menores do que o mundo nos percebe. Segundo o Relatório Vision 2050, do WBCSD (sigla em inglês do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável), dentre todas as potências velhas e ascendentes somos a mais próxima de se tornar uma “economia verde” detentora de um bom índice de desenvolvimento humano, com pequena pegada ecológica. Mas, para isso, carecemos de incentivo e de regulação adequada, de investimento em educação e inovação tecnológica e, sobretudo, de planejamento capaz de realizar as mudanças necessárias para manter e ampliar nossas vantagens.

O CEBDS reúne cerca de 40% do PIB brasileiro entre seus associados. Entendemos que, para sermos líderes na nova economia mundial, que adequará bem-estar, justiça social e respeito aos limites do planeta, devemos articular ações empresariais com políticas públicas capazes de consolidar nosso natural protagonismo. Não podemos nos omitir dessa responsabilidade, sob pena de perdermos uma oportunidade histórica única para consolidar nossa liderança global em um mundo que já sabe o tamanho dos desafios que enfrentaremos. Esta é a oportunidade de liderança que gostaríamos de ver os candidatos à Presidência da República assumir.

Marina Grossi, presidente-executiva do CEBDS

os três principais candidatos à presidência da república explicam, com exclusividade, à brasil sustentável, seus proJetos para

uma “economia verde”. as mesmas perguntas Foram enviadas a dilma rousseFF, José serra e marina silva com a carta da presidente-

-executiva do cebds, marina grossi, Que abre essa entrevista

dilMa rousseff No gover-

no Lula, demonstramos que é possível

crescer, distribuir renda e ser ambien-

talmente sustentável. Esse é o mode-

lo de desenvolvimento que persegui-

mos e que continuarei perseguindo.

Entendo ser fundamental, para isso,

avançar na agenda da sustentabilida-

de em todos os segmentos de políticas

públicas. Ao enfrentar o déficit habi-

tacional, por exemplo, devemos bus-

car maior eficiência na construção

civil, com empregos verdes, eficiência

energética, certificação de madeira,

redução nos custos socioambientais

da construção e da manutenção. Por

isso, previmos que os 2 milhões de mo-

radias populares a serem construídos

a partir de 2011 pelo programa Minha

Casa Minha Vida terão aquecimento

solar. Devemos valorizar o desenvolvi-

mento tecnológico para o incremento

da agricultura, em particular para o

aumento da produtividade e a redução

de custos, assegurando a expansão da

produção de alimentos sem provocar

novos desmatamentos. No Plano Safra

2010/2011, em linha com as propostas

defendidas pelo Brasil na COP-15, cria-

mos o Programa Agricultura de Baixo

Carbono, para apoiar o plantio direto

e aumentar a utilização do Sistema de

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.

Estamos implementando programas

de recuperação de áreas degradadas,

como é o caso do Programa de Produção

Sustentável de Óleo de Palma, lançado

na Amazônia e no Nordeste. Na área

de energia, o Brasil deve manter a sua

matriz energética limpa, incremen-

tando a participação das fontes reno-

váveis, hidroelétrica, biomassa, eólica

e solar. No PAC2, previmos investir R$

9,7 bilhões, entre 2011 e 2014, em fontes

alternativas, em especial eólica e bio-

massa. É possível promover geração de

eletricidade de forma sustentável, re-

duzindo os custos sociais e ambientais,

como é o caso da Usina Dardanelos, em

Mato Grosso, concebida como usina de

fio d’água, ou seja, aproveitando a va-

zão constante natural do rio, sem pre-

cisar represar a água. Quero reiterar

o compromisso com a implementação

da Política Nacional de Mudanças Cli-

máticas, bem como com a consolidação

dos acordos setoriais no âmbito do Pla-

bs - o brasil tem abundância de ativos naturais, como sol, água, solo e biodiversidade, a matriz energética mais limpa e excelência em setores-chave, como energia, agricultura e mineração. estamos próximos de alcançar a condição de “economia verde”. Como avançar para conquistar um bom índice de desenvolvimento humano com uma menor pegada ecológica?

serra: agenda ambiental não ameaça desenvolvimento futuro

Marina: a sustentabilidade é a base para o desenvolvimento

dilma: é possível crescer e ser ambientalmente sustentável

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pResidenciáveis

no Nacional de Mudanças Climáticas.

O grande avanço que tivemos nestes

oito anos, e que continuará sendo a

marca da nossa gestão, será vincular

as questões social e ambiental. Conso-

lidar esse modelo de desenvolvimento

nos levará a uma situação de maior

justiça social, de valorização dos nos-

sos recursos naturais e de preserva-

ção da nossa biodiversidade.

josé serra Em primei-

ro lugar, quero afirmar que a agen-

da ambiental não ameaça o futuro do

desenvolvimento, como algumas ma-

nifestações lamentáveis querem fazer

crer. Inexiste contradição entre pre-

servação do meio ambiente e desenvol-

vimento, seja econômica, seja social.

Quem diz que a defesa ambiental atra-

palha o crescimento do país mostra um

raciocínio atrasado e equivocado, deri-

vado da economia predatória que impe-

ra desde a revolução industrial. É possí-

vel, sim, fazer o país crescer e, ao mesmo

tempo, defender o meio ambiente, pre-

servar as florestas, a qualidade do ar e

da água, bem como reduzir as emissões

de gases de efeito estufa (GEE). Isso vale

tanto para a cidade quanto para o cam-

po, a indústria e a agropecuária. As fá-

bricas que controlaram suas emissões

de poluentes atmosféricos ou efluentes

não deixaram de ser competitivas no

mercado. Pelo contrário, agregaram va-

lor aos produtos e ganharam renovada

credibilidade junto ao consumidor, in-

ternamente e no exterior. Também não

são incompatíveis a proteção do meio

ambiente e o dinamismo extraordiná-

rio da agropecuária brasileira. É pos-

sível conseguir um acordo entre rura-

listas e ambientalistas e alcançar uma

moratória no desmatamento nos bio-

mas da Amazônia, do Cerrado e do Pan-

tanal, sem causar nenhum impacto à

produção agropecuária. Há como avan-

çar na proteção ambiental respeitando

os produtores rurais, sem atrapalhar a

produção no campo. Precisamos geren-

ciar bem nossos recursos hídricos. Nas

regiões mais habitadas e industrializa-

das, a fartura de água limpa se esgotou

há tempo, e, no Nordeste, o fenômeno

da seca afeta milhões de pessoas. Preci-

samos também avançar rápido numa

área em que o atual governo fracassou:

o controle da poluição atmosférica nas

regiões metropolitanas, com a reversão

dos métodos de transportes e, inclusive,

com programas de inspeção veicular.

Os fenômenos climáticos extremos que

têm ocorrido – ainda agora, São Paulo

está com um alerta vermelho na polui-

ção do ar – parecem antecipar o fenô-

meno do aquecimento global. Temos de

agir rapidamente, definindo políticas

de adaptação, mapeando as áreas de ris-

co e aplicando medidas inadiáveis para

preservar vidas humanas e a economia.

Marina silva A questão cen-

tral é a visão estratégica para o momen-

to que vivemos. O pensamento das lide-

ranças políticas dominantes hoje é de

que o Brasil pode crescer e se desenvol-

ver gerenciando os impactos ambien-

tais. Entendemos que essa visão, oriun-

da dos anos 90, já está ultrapassada. No

Brasil, a sustentabilidade é a base para

o desenvolvimento de longo prazo. A

inflexão do mundo para uma nova eco-

nomia, baseada em baixas emissões de

carbono e na conservação dos recursos

naturais, é uma oportunidade sem pre-

cedentes para o crescimento e o desen-

volvimento do Brasil. Temos o maior

potencial do mundo em energia eólica,

solar, hidroelétrica e de biomassa, asso-

ciado a uma sociedade naturalmente

empreendedora e de grande diversida-

de. Essa visão deve orientar todas as po-

líticas públicas, da reforma tributária

aos programas de incentivo econômi-

co, da saúde à agricultura, da reforma

do sistema previdenciário à política

de ciência e tecnologia. Por exemplo,

a reforma tributária deve ser capaz de

redistribuir o peso tributário de forma

a favorecer as alternativas de menor

emissão de GEE e desfavorecer as alter-

nativas de maior emissão. A chave para

tornar esse potencial uma realidade

pulsante está na educação de qualida-

de. É preciso fazer uma revolução na

educação, valorizando os profissionais

de ensino, repensando os conteúdos e

formas para atender às demandas con-

temporâneas, fazendo escolas onde os

jovens tenham gosto e interesse em

aprender e que atendam às demandas

da sociedade para uma economia sus-

tentável. Não podemos simplesmente

reproduzir mais escolas técnicas para

ensinar as profissões de 30 anos atrás.

Precisamos formar agora profissionais

contemporâneos, como gestores de re-

des sociais, designers de informação,

técnicos em reciclagem e reutilização

de materiais, engenheiros e técnicos de

energias renováveis e muito mais.

bs - Como avalia as iniciativas, as ações das empresas, do governo e da sociedade brasileira na busca pela sustentabilidade? dilMa rousseff O Brasil

experimenta um momento único de

desenvolvimento econômico e social,

com avanços expressivos na agenda da

sustentabilidade. Progressivamente,

essa agenda tem sido assumida e com-

partilhada pelo conjunto da sociedade.

Entendo que avançamos muito na cor-

responsabilidade das ações em torno da

sustentabilidade. Cito, por exemplo, o

apoio do setor produtivo ao Zoneamen-

to Agroecológico da Cana de Açúcar, que

cria um ambiente de maior sustentabi-

lidade e competitividade à produção na-

cional. O apoio à atividade produtiva e à

inclusão social dos catadores de material

reciclável também se alinha aos esfor-

ços que o governo e a sociedade têm feito

pela sustentabilidade. A nova política de

resíduos sólidos também nos dará, nos

próximos anos, oportunidade única de

estabelecer parcerias para a construção

de soluções permanentes em torno da

eliminação dos “lixões”, do reaproveita-

mento e da reciclagem dos resíduos sóli-

dos, da consolidação de cooperativas de

catadores e da adoção da responsabilida-

de compartilhada pelo ciclo de vida dos

produtos. Nos próximos anos, o Brasil

tem o desafio de aproximar a gestão pú-

blica ambiental da gestão ambiental pri-

vada, construindo as novas bases para a

sustentabilidade. Entendo que os com-

promissos devem ser públicos, trans-

parentes e voltados para uma realidade

que viabilize o alinhamento de todos em

torno da sustentabilidade do desenvolvi-

mento, da transição para uma economia

de baixo carbono e da conservação da

biodiversidade, segundo uma aborda-

gem de valoração dos ativos e dos servi-

ços ecossistêmicos.

josé serra A agenda am-

biental ganhou grande espaço nos úl-

timos anos, mas é preciso continuar

avançando. Ainda há bolsões atrasados.

É triste ver que somente em 2009 a Pe-

trobras se comprometeu a distribuir

o diesel S50, e só depois de acionada na

Justiça pelo governo de São Paulo. Não

deveria ser assim. Como segunda em-

presa do país e maior estatal brasileira,

a Petrobras deveria ter demonstrado

consciência ambiental antes que isso

lhe fosse cobrado. O papel do governo é

conduzir esse avanço. Para isso, no en-

tanto, tem de produzir medidas con-

cretas e se engajar na conscientização

de empresas e pessoas. Mitigar o aque-

cimento global, reduzindo as emissões

de GEE, representa a grande tarefa da

humanidade no século 21. A lei de mu-

danças climáticas que aprovamos em

São Paulo, propondo uma redução, com

base em 2005, de 20% nas emissões de

GEE até 2020, é ousada e radical. Mas a

postura do governo federal em Cope-

nhague, na COP-15, foi muito tímida e

atrasada. Outro aspecto em que o Brasil

retrocedeu nos últimos anos foi na ma-

triz energética. O governo atual deter-

minou que 60% da nova energia, entre

2012 e 2016, terá como fonte combustí-

veis fósseis. Isso é uma tragédia para

nossa população, é um retrocesso para

um país que aspira à liderança política

e econômica. O Brasil tem de construir

urgentemente projetos hidrelétricos,

sem se assustar e se apequenar com exi-

gências do licenciamento ambiental.

Projetos bem feitos conseguem licença

ambiental rápido. Quer dizer, deve fazer

o contrário do que fez em Belo Monte,

uma usina que será feita com dinheiro

do governo, sem risco empresarial, com

subsídios fortíssimos, muito discutíveis

do ponto de vista ambiental e obscuros

do ponto de vista econômico.

Marina silva Iniciativas

em prol da sustentabilidade nas instân-

cias governamentais, empresariais e da

sociedade civil têm sido determinantes

para pautar a necessidade de um novo

modelo de desenvolvimento. Os núcle-

os vivos da sociedade se multiplicam e

criam inúmeras experiências, que, ao se

consolidarem, vão abrindo o caminho

para as políticas públicas mais amplas.

Pelo lado do governo, precisamos supe-

rar o paradigma do Estado unicamente

provedor para o Estado mobilizador e fo-

mentador das transformações na socie-

dade. Em geral, hoje, no Brasil, a socie-

dade está muito à frente dos governos em

iniciativas de promoção da sustentabili-

dade. Por isso, as parcerias público-priva-

das envolvendo empresas e organizações

da sociedade civil são cada vez mais fun-

damentais. O Brasil tem uma enorme

oportunidade de materializar essa opor-

tunidade de cooperação em setores como

gestão de unidades de conservação, sane-

amento básico, captação de água de chu-

va e, principalmente, no estabelecimen-

to de planos setoriais para transição para

economia de baixo carbono, prevista na

Lei da Política Nacional de Mudanças Cli-

máticas. Cada setor terá de aplicar o me-

lhor das experiências das empresas e da

sociedade civil para montar políticas pú-

blicas que incentivem o crescimento dos

setores ao mesmo tempo em que redu-

zam as emissões de gases de efeito estufa.

bs - levando-se em conta o valor econômico dos ecossistemas e da biodiversidade apresentado pelo relatório teeb 2010 (the economics of ecosystems and biodiversity), como acredita que o brasil pode se beneficiar de sua enorme biodiversidade? dilMa rousseff O Relató-rio Teeb mostra que todos os países

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devem avançar na valoração da biodiversidade, com base numa economia que considere a equi-dade intergeracional, a ética e o bem-estar da atual geração. O Bra-sil é hoje um dos países com maior capacidade para lidar de forma sustentável com os três temas es-tratégicos para o mundo na próxi-ma década: clima, segurança ener-gética e segurança alimentar. Os compromissos que assumimos na COP-15 são desafiadores, mas viá-veis, e expressam nossa visão de desenvolvimento sustentável, de como podemos e iremos conciliar crescimento econômico com a nos-sa extraordinária biodiversidade. Precisamos consolidar o marco re-gulatório sobre pagamento por ser-viços ambientais, ampliar o mer-cado para os produtos da cadeia da sociobiodiversidade e induzir no-vos mercados para o uso sustentá-vel dos nossos recursos naturais. O mesmo deve ocorrer na repartição dos benefícios do acesso aos recur-sos da biodiversidade. É necessário, ainda, apropriar-se da economia dos ecossistemas e da biodiversida-de para incrementar o fluxo de re-cursos, consolidar o nosso sistema de áreas protegidas e aperfeiçoar a formulação de políticas públicas so-bre o uso da terra. josé serra De muitas ma-neiras. Em primeiro lugar, avan-çando no número de empresas exportadoras que adotaram os princípios da “economia verde” e tiveram uma forte agregação de valor em seus produtos, uma agre-gação notável, que é o reconhe-cimento e a legitimidade do res-

peito aos valores ambientais. Isso vale ouro no exterior e é cada vez mais considerado pelo consumi-dor brasileiro. Por outro lado, te-mos uma reserva notável de água – 12% da disponibilidade mundial de águas superficiais, sendo três quartos advindos dos rios da Ama-zônia, que estão em nosso territó-rio, e temos importantes aquífe-ros, muitos ainda não explorados. Num planeta em que a água doce escasseia, ficamos bem no filme, até porque o bom gerenciamento dessa água pode melhorar nossa capacidade de produção agrícola. E não vamos esquecer que 60,7% do nosso território são cobertos com florestas naturais. São 517 milhões de hectares, sendo 356 milhões (68,8%) na Amazônia, detentora de 10% da biodiversidade do plane-ta. Essa floresta, além de sua fun-ção nobre na absorção de carbono, guarda um extraordinário bioma, capaz de fornecer insumos nobres para várias indústrias do futuro, além de ser um permanente foco de pesquisas científicas. Por últi-mo, cabe ao governo estimular um avanço decisivo nas formas ener-géticas alternativas, frente ao pa-trimônio natural de que dispomos. A energia eólica, a energia solar e a energia da biomassa têm de sair da prancheta das curiosidades exóti-cas e virar realidade rapidamente.

Marina silva O Brasil é o país com a maior riqueza de biodi-versidade do planeta. Isso repre-senta um potencial enorme em valor econômico, que pode perma-necer apenas como potencial ou ser alavancado para se tornar um dos

pilares do desenvolvimento sus-tentável. Para isso, é fundamental um conjunto articulado de ações. Primeiro, é crucial o investimen-to em educação científica em to-dos os níveis do ensino, de forma a criar gerações de inovadores que transformem o potencial da biodi-versidade em produtos e serviços para a sociedade. Segundo, é fun-damental que se aprove um mar-co regulatório para o uso e o aces-so dos recursos da biodiversidade que estimule a ciência e a inovação e que, ao mesmo tempo, reconhe-ça e remunere os conhecimentos tradicionais associados ao seu uso. Apresentei um projeto de lei sobre a matéria que tramita há mais de dez anos no Congresso. Terceiro, é fundamental a articulação de polí-ticas de incentivo que promovam a inserção rápida de produtos e ser-viços da biodiversidade no merca-do e premiem a sustentabilidade ao longo da cadeia de produção, ge-rando um círculo virtuoso de pes-quisa, inovação, produção e consu-mo sustentável capaz de alimentar a economia de baixo carbono. Por fim, é fundamental a implementa-ção de uma política de pagamento por serviços ambientais, envolven-do os setores público e privado, que reconheça e remunere os serviços de proteção e manutenção dos re-cursos e os meios de sustentação da vida, como a biodiversidade e a água. Esse conjunto de ações deve ser enquadrado numa visão estra-tégica da biodiversidade como ati-vo impulsionador do desenvolvi-mento sustentável, e não apenas um item no checklist de “cuidados” do processo de desenvolvimento.

bs - o brasil deve passar por um período de grandes obras de infraestrutura urbana com os megaeventos previstos para os próximos seis anos no país. Como incorporar a questão da sustentabilidade ao planejamento dessas obras?

dilMa rousseff Nós já

incorporamos a questão da sustenta-

bilidade no planejamento e nas pro-

postas de investimento para a Copa

de 2014 e para as Olimpíadas de 2016.

No modelo de governança criado pelo

Governo Federal para a Copa de 2014,

já foi instalada uma Câmara do Meio

Ambiente para implementar a Agen-

da de Sustentabilidade do evento.

As obras dos estádios vão incorporar

princípios da construção sustentável

e da eficiência energética. As propos-

tas para mobilidade urbana estão vol-

tadas para soluções sustentáveis para

o transporte coletivo. Os investimen-

tos em saneamento nas cidades-sede

permitirão ampliar e qualificar os

sistemas de abastecimento de água

e de tratamento de esgotos, além da

adoção de práticas de aproveitamen-

to e reciclagem dos resíduos sólidos.

No caso da ampliação da rede hotelei-

ra, que será financiada pelo BNDES,

foram criadas condições mais favorá-

veis de crédito para os projetos que se

encaixem nas categorias “Hotel Sus-

tentável” e “Hotel Eficiência Ener-

gética”, conforme certificação do In-

metro. Avançaremos na estruturação

de nossos parques nacionais para o

turismo sustentável com a adoção do

Programa Parques do Brasil. Esses

eventos serão oportunidades únicas

para nosso país consolidar um novo

patamar para as cidades brasileiras

em torno da sustentabilidade.

josé serra Agindo com fir-

meza, recusando as tentações popu-

listas e resistindo aos apelos dos que

não têm compromisso com o dinhei-

ro público. Modernamente, a Copa

do Mundo de Futebol e as Olimpía-

das são grandes eventos de turismo

e marketing e, portanto, são financia-

dos por investidores privados, que

delas tiram lucros vultosos, e não

pelo dinheiro público. No Brasil,

existe sempre a tentação do dinhei-

ro público, que a essas pessoas pare-

ce fácil. É como abrir uma torneira

e deixar a água escoar. Num gover-

no sério, não é assim não. O governo

vai colaborar para o sucesso da Copa

do Mundo e das Olimpíadas, natu-

ralmente, mas sem comprometer

largas parcelas de recursos oficiais

que podem ser destinados à saúde e

à educação do povo brasileiro. Quem

deve investir mais nesses eventos é

quem terá lucros estratosféricos com

eles. Quanto à questão da sustentabili-

dade em si, basta aliar racionalidade e

rigor à gestão das licenças ambientais.

Marina silva O foco deve

ser aproveitar a realização dos me-

gaeventos no Rio e em outras cida-

des para impulsionar o crescimento

econômico sustentado. Essa meta

se traduz em diversos objetivos, tais

como: aumentar significativamente

o uso de energias renováveis na fro-

ta urbana de transporte e na infra-

estrutura esportiva a ser construída

para os eventos; alinhar os empregos

que serão necessários no curto prazo

com os empregos desejados no lon-

go prazo; oferecer oportunidades de

treinamento e educação aos traba-

lhadores da construção civil e de ou-

tros setores, para capacitá-los a atuar

nas áreas de tecnologia verde e baixo

carbono; criar novos polos de desen-

volvimento urbano; impulsionar o

desenvolvimento da indústria do tu-

rismo, tornando o Brasil um destino

prioritário para as famílias interes-

sadas na proteção do meio ambiente e

do planeta; fortalecer a indústria na-

cional, preferencialmente as micro

e pequenas empresas de produção de

materiais esportivos ambientalmen-

te sustentáveis, por meio de linhas de

crédito e mecanismos para desonerar

a cadeia produtiva, cumprindo a le-

gislação em vigor. Também podemos

criar um calendário permanente, a

partir de 2011, para a realização de

fóruns sobre o tema Esporte e Econo-

mia, estimulando a criação de cur-

sos de pós-graduação de Economia

Esportiva. Essas e outras demandas

devem ser tratadas em um fórum

permanente, aberto à participação

da sociedade civil, em especial nas

cidades-sede dos eventos, de forma a

compartilhar a definição do seu lega-

do com a sociedade. Por fim, é funda-

mental que haja total transparência

na definição, na execução e na fisca-

lização do uso dos recursos públicos

na preparação dos eventos. [bs]

r e p o r t a g e m

pResidenciáveis

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“A cerveja é um produto cada vez mais relevante para o Brasil, que já se tornou o terceiro maior produtor no mundo, tendo passado a Alemanha, atrás somente da China e dos Estados Unidos. O consumo per capita do país, porém, não é alto: 60 litros por ano, contra 160 litros na República Tcheca, o campeão. Do volume comercializa-do, 85% são cervejas comuns, do estilo pilsen, 10% são de baixo custo e 5% são nacionais de estilo premium ou im-portadas. O maior impacto da bebida vem das grandes indústrias, que lideram as iniciativas de sustentabilida-de no setor. Um exemplo é a inserção no mercado de bar-ris de cinco litros, chamados kegs, que reduzem a quan-tidade de embalagens e são úteis para consumidores de grande quantidade. Na produção, destacam-se as ações de reaproveitamento da água utilizada na lavagem dos tonéis. Vale ressaltar que a pegada hídrica da cerveja é de 75 litros de água para cada 250 ml da bebida, inferior à do café (140 litros de água para cada 125 ml), vinho (120 litros de água para cada 125 ml) e suco de maçã (190 litros de água para cada 200 ml), segundo o Water Footprint Network. Já o lúpulo, ingrediente essencial para a fer-mentação, é importado, mas seu alto rendimento e a im-portação em larga escala diminuem o impacto do trans-porte. Os resíduos orgânicos gerados no processo já têm destinação adequada e são transformados em adubo ou incorporados à ração animal. A distribuição do produto final é estratégica para as indústrias, já que distâncias superiores a 500 quilômetros encarecem a bebida em mais de 10%. Por isso, as grandes cervejarias buscam es-tar próximas dos principais centros de distribuição e de consumo, o que reduz a emissão de CO2.”

“A cadeia do vinho no Brasil é um exemplo de respon-sabilidade social. O Rio Grande do Sul é responsável por 90% da produção nacional, e 90% dela é feita por 750 vinícolas de pequeno e médio portes, de 20 mil fa-mílias, em propriedades de até dois hectares. O restan-te é produzido em Santa Catarina e no Vale do Rio São Francisco, na Bahia e em Pernambuco. A manutenção dos minifúndios gaúchos garante a rentabilidade de um modelo de negócio sustentável e evita problemas socioeconômicos como o êxodo rural, que gera desem-prego nas cidades. Quanto à agricultura da uva, além de não ser agressiva e seguir controles rigorosos de agrotóxicos, está em fase de adoção uma nova tecnolo-gia chilena contra pragas por meio de calor, a Thermal Pest Control (TPC), que utiliza ar quente para imunizar as plantas, diminuindo o consumo de água e de pesti-cidas. A embalagem também tem recebido atenção da indústria, utilizando menos volume de vidro nas garra-fas, o que reduz o consumo de combustível no transpor-te e as emissões de gás carbônico. Outra iniciativa é o uso de embalagens mais sustentáveis e com capacidade superior a 750 ml – o volume padrão das garrafas. As do tipo longa vida, por exemplo, são mais leves e compor-tam um litro. Já as bag-in-box chegam a comportar cinco litros e, depois de abertas, mantém a validade do pro-duto por 30 dias. O consumo brasileiro anual, per capita, é de 2 litros, enquanto na Argentina e no Uruguai é de 30 litros e de 20 litros, respectivamente. Mesmo assim, a produção nacional tem representatividade: dos 300 milhões de litros de vinho comercializados em 2009, 240 milhões foram produzidos no Brasil.”

o pi n i õ e s d iverg ente s so b re temas p o lêm i cos

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contRovéRsia

diego bertolini , diretor de marketing do instituto

brasileiro do vinho (ibravin)

marcelo cerQueira , presidente da associação

brasileira dos degustadores de cerveja (abradeg)

vinho X ceRveJa: Qual o mais sustentável?

vinHo Cerveja

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