2011/2 - rpcdhugo lovisolo (universidade gama filho) isabel fragoso niversidade técnica de lisboa)...

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ÍNDICE Nota Editorial — Sinais deste nosso tempo. Jorge Bento. Objectivos de realização, clima motivacional e ansiedade no Futebol: Um estudo com jogadores do escalão de Escolas. Simão Coroa, Cláudia Dias, Júlio Garganta, Nuno Corte-Real, António Manuel Fonseca. As representações pedagógicas de treinadores desportivos de jovens: Três estudos de caso no Basquetebol. Valmor Ramos, Amândio Graça, Juarez Vieira do Nascimento, Rudney da Silva. Análise exploratória e confirmatória à estrutura factorial da versão portuguesa do Self-Perception Profile for Adolescents (SPPAp). António Manuel Fonseca, Cláudia Dias, Nuno Corte-Real, Anabela Pereira, Robert Brustad. 9 16 33 50 67 84 96 111 Porque equacionam os jovens abandonar a prática desportiva? Estudo realizado com crianças e jovens, com idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos, das regiões Norte, Centro e Sul de Portugal Cláudia Dias, Nuno Corte-Real, Luís Catita, André Barreiros, Robert Brustad, António Manuel Fonseca. Caracterização da prática desportiva de voleibolistas portugueses em função do nível de expertise e do género. Patrícia Coutinho, Carolina Hax, Isabel Mesquita. Agregação familiar nos níveis e padrões de atividade física. Uma revisão breve do estado da arte. Thayse Gomes, Fernanda Santos, Raquel Chaves, Rui Garganta, André Seabra, José Maia. A propósito da prática desportiva e dos estilos de vida dos adolescentes... Nuno Corte-Real. 2011/2

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  • Índice

    Nota Editorial — Sinais deste

    nosso tempo.

    Jorge Bento.

    Objectivos de realização, clima

    motivacional e ansiedade no Futebol:

    Um estudo com jogadores do

    escalão de Escolas.

    Simão Coroa, Cláudia Dias, Júlio Garganta,

    Nuno Corte-Real, António Manuel Fonseca.

    As representações pedagógicas

    de treinadores desportivos

    de jovens: Três estudos de caso

    no Basquetebol.

    Valmor Ramos, Amândio Graça, Juarez Vieira

    do Nascimento, Rudney da Silva.

    Análise exploratória

    e confirmatória à estrutura factorial da

    versão portuguesa do Self-Perception

    Profile for Adolescents (SPPAp).

    António Manuel Fonseca, Cláudia Dias,

    Nuno Corte-Real, Anabela Pereira, Robert Brustad.

    9

    16

    33

    50

    67

    84

    96

    111

    Porque equacionam os jovens abandonar

    a prática desportiva? Estudo realizado

    com crianças e jovens, com idades

    compreendidas entre os 10 e os 18 anos,

    das regiões Norte, Centro e Sul de Portugal

    Cláudia Dias, Nuno Corte-Real, Luís Catita,

    André Barreiros, Robert Brustad, António Manuel Fonseca.

    Caracterização da prática desportiva

    de voleibolistas portugueses em função

    do nível de expertise e do género.

    Patrícia Coutinho, Carolina Hax, Isabel Mesquita.

    Agregação familiar nos níveis e padrões

    de atividade física. Uma revisão breve

    do estado da arte.

    Thayse Gomes, Fernanda Santos, Raquel Chaves,

    Rui Garganta, André Seabra, José Maia.

    A propósito da prática desportiva

    e dos estilos de vida dos adolescentes...

    Nuno Corte-Real.

    2011/2

  • Corpo editorial da rpCd

    Director
Jorge Olímpio Bento (UNIVERSIDADE DO PORTO)

    conselho
eDitorial
Adroaldo Gaya (UNIVERSIDADE FEDERAL RIO GRANDE SUL, BRASIL) António Prista (UNIVERSIDADE PEDAGóGICA, MOçAMBIqUE) Eckhard Meinberg (UNIVERSIDADE DESPORTO COLóNIA, ALEMANHA) Gaston Beunen (UNIVERSIDADE CATóLICA LOVAINA, BéLGICA) Go Tani (UNIVERSIDADE SãO PAULO, BRASIL) Ian Franks (UNIVERSIDADE DE BRITISH COLUMBIA, CANADá) João Abrantes (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA, PORTUGAL) Jorge Mota (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Alberto Duarte (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Michael Sagiv (INSTITUTO WINGATE, ISRAEL) Neville Owen (UNIVERSIDADE DE qUEENSLAND, AUSTRáLIA) Rafael Martín Acero (UNIVERSIDADE DA CORUNHA, ESPANHA) Robert Brustad (UNIVERSIDADE DE NORTHERN COLORADO, USA) Robert M. Malina (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE TARLETON, USA)

    eDitor
chefe António Manuel Fonseca (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

    eDitores
associaDos
Amândio Graça (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) António Ascensão (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) João Paulo Vilas Boas (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Oliveira (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)José Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Júlio Garganta (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Olga Vasconcelos (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Rui Garcia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

    consultores Alberto Amadio (UNIVERSIDADE SãO PAULO) Alfredo Faria Júnior (UNIVERSIDADE ESTADO RIO JANEIRO) Almir Liberato Silva (UNIVERSIDADE DO AMAzONAS) Anthony Sargeant (UNIVERSIDADE DE MANCHESTER) António José Silva (UNIVERSIDADE TRáS-OS-MONTES E ALTO DOURO) António Roberto da Rocha Santos (UNIV. FEDERAL PERNAMBUCO) Carlos Balbinotti (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) Carlos Carvalho (INSTITUTO SUPERIOR DA MAIA) Carlos Neto (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Cláudio Gil Araújo (UNIVERSIDADE FEDERAL RIO JANEIRO) Dartagnan P. Guedes (UNIVERSIDADE ESTADUAL LONDRINA) Duarte Freitas (UNIVERSIDADE DA MADEIRA) Eduardo Kokubun (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO) Eunice Lebre (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Francisco Alves (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Francisco Camiña Fernandez (UNIVERSIDADE DA CORUNHA) Francisco Carreiro da Costa (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA)Francisco Martins Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL PARAíBA) Glória Balagué (UNIVERSIDADE CHICAGO) Gustavo Pires (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Hans-Joachim Appell (UNIVERSIDADE DESPORTO COLóNIA) Helena Santa Clara (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Hugo Lovisolo (UNIVERSIDADE GAMA FILHO) Isabel Fragoso (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Jaime Sampaio (UNIVERSIDADE DE TRáS-OS-MONTES E ALTO DOURO)Jean Francis Gréhaigne (UNIVERSIDADE DE BESANçON) Jens Bangsbo (UNIVERSIDADE DE COPENHAGA) João Barreiros (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) José A. Barela (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)José Alves (ESCOLA SUPERIOR DE DESPORTO DE RIO MAIOR) José Luis Soidán (UNIVERSIDADE DE VIGO) José Manuel Constantino (UNIVERSIDADE LUSóFONA) José Vasconcelos Raposo (UNIV. TRáS-OS-MONTES ALTO DOURO)Juarez Nascimento (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA) Jürgen Weineck (UNIVERSIDADE ERLANGEN) Lamartine Pereira da Costa (UNIVERSIDADE GAMA FILHO) Lilian Teresa Bucken Gobbi (UNIV. ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)Luis Mochizuki (UNIVERSIDADE SãO PAULO) Luís Sardinha (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Luiz Cláudio Stanganelli (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA)Manoel Costa (UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO) Manuel João Coelho e Silva (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) Manuel Patrício (UNIVERSIDADE DE éVORA) Manuela Hasse (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Marco Túlio de Mello (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SãO PAULO) Margarida Espanha (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Margarida Matos (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Maria José Mosquera González (INEF GALIzA) Markus Nahas (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA) Mauricio Murad (UNIVERS. ESTADO RIO DE JANEIRO E UNIVERSO)Ovídio Costa (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

  • Pablo Greco (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS) Paula Mota (UNIVERSIDADE DE TRáS-OS-MONTES E ALTO DOURO) Paulo Farinatti (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO) Paulo Machado (UNIVERSIDADE MINHO) Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Ricardo Petersen (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) Sidónio Serpa (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Silvana Göllner (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) Valdir Barbanti (UNIVERSIDADE SãO PAULO) Víctor da Fonseca (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Víctor Lopes (INSTITUTO POLITéCNICO BRAGANçA) Víctor Matsudo (CELAFISCS) Wojtek Chodzko-zajko (UNIVERS. ILLINOIS URBANA-CHAMPAIGN)

    FiCha téCniCa da rpCd

    revista portuguesa de Ciências do desporto publicação quadrimestral da Faculdade de desporto da Universidade do porto [ISSN 1645-0523]

    DESIGN E PAGINAçãO

    rui
Mendonça

    IMPRESSãO E ACABAMENTO

    sersilito

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    © A REPRODUçãO DE ARTIGOS, GRáFICOS

    OU FOTOGRAFIAS DA REVISTA Só é PERMITIDA

    COM AUTORIzAçãO ESCRITA DO DIRECTOR.

    ENDEREçO PARA CORRESPONDêNCIA

    REVISTA PORTUGUESA DE CIêNCIAS DO DESPORTO faculdade
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Plácido
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    PREçO DO NúMERO AVULSO

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    A rpCd TEM O APOIO DA FCt

    PROGRAMA OPERACIONAL CIêNCIA,

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    COMUNITáRIO DE APOIO III

  • normas de pUbliCação na rpCd

    tiPos
De
PublicaçãoINVESTIGAçãO ORIGINAL

    RPCD publica artigos originais relativos a todas as áreas das ciências do desporto;

    REVISõES DA INVESTIGAçãO

    A RPCD publica artigos de síntese da literatura que contribuam para a generalização do conhecimento em ciências do desporto. Artigos de meta-análise e revisões críticas de literatura são dois possíveis modelos de publicação. Porém, este tipo de publicação só estará aberto a especialistas convidados pela RPCD.

    COMENTáRIOS

    Comentários sobre artigos originais e sobre revisões da investigação são, não só publicáveis, como são francamente encorajados pelo corpo editorial;

    ESTUDOS DE CASO

    A RPCD publica estudos de caso que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto. O controlo rigoroso da metodologia é aqui um parâmetro determinante.

    ENSAIOS

    A RPCD convidará especialistas a escreverem ensaios, ou seja, reflexões profundas sobre determinados temas, sínteses de múltiplas abordagens próprias, onde à argumentação científica, filosófica ou de outra natureza se adiciona uma forte componente literária.

    REVISõES DE PUBLICAçõES

    A RPCD tem uma secção onde são apresentadas revisões de obras ou artigos publicados e que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto.

    regras
gerais
De
PublicaçãoOs artigos submetidos à RPCD deverão conter dados originais, teóricos ou experimentais, na área das ciências do desporto. A parte substancial do artigo não deverá ter sido publicada em mais nenhum local. Se parte do artigo foi já apresentada publicamente deverá ser feita referência a esse facto na secção de Agradecimentos.Os artigos submetidos à RPCD serão, numa primeira fase, avaliados pelo editor-chefe e terão como critérios iniciais de aceitação: normas de publicação, relação do tópico tratado com as ciências do desporto e mérito científico. Depois desta análise, o artigo, se for considerado previamente aceite, será avaliado por 2 “referees” independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. A aceitação de um e a rejeição de outro obrigará a uma 3ª consulta.

    PreParação
Dos
ManuscritosASPECTOS GERAIS

    Cada artigo deverá ser acompanhado por uma carta de rosto que deverá conter:

    — Título do artigo e nomes dos autores; — Declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.

    FORMATO:

    — Os manuscritos deverão ser escritos em papel A4 com 3 cm de margem, letra 12 com duplo espaço e não exceder 20 páginas; — As páginas deverão ser numeradas sequencialmente, sendo a página de título a nº1.

    DIMENSõES E ESTILO: — Os artigos deverão ser o mais sucintos possível; A especulação deverá ser apenas utilizada quando os dados o permitem e a literatura não confirma; — Os artigos serão rejeitados quando escritos em português ou inglês de fraca qualidade linguística;

    — As abreviaturas deverão ser as referidas internacionalmente.

    PáGINA DE TíTULO:

    — A página de título deverá conter a seguinte informação: — Especificação do tipo de trabalho (cf. Tipos de publicação); — Título conciso mas suficientemente informativo; — Nomes dos autores, com a primeira e a inicial média (não incluir graus académicos) — “Running head” concisa não excedendo os 45 caracteres; — Nome e local da instituição onde o trabalho foi realizado; - Nome e morada do autor para onde toda a correspondência deverá ser enviada, incluindo endereço de e-mail

    PáGINA DE RESUMO:

    — Resumo deverá ser informativo e não deverá referir-se ao texto do artigo; — Se o artigo for em português o resumo deverá ser feito em português e em inglês — Deve incluir os resultados mais importantes que suportem as conclusões do trabalho; — Deverão ser incluídas 3 a 6 palavras-chave; — Não deverão ser utilizadas abreviaturas; — O resumo não deverá exceder as 200 palavras.

    INTRODUçãO:

    — Deverá ser suficientemente compreensível, explicitando claramente o objectivo do trabalho e relevando a importância do estudo face ao estado actual do conhecimento; — A revisão da literatura não deverá ser exaustiva.

    MATERIAL E MéTODOS:

    — Nesta secção deverá ser incluída toda a informação que permite aos leitores realizarem um trabalho com a mesma metodologia sem contactarem os autores; — Os métodos deverão ser ajustados ao objectivo do estudo; deverão ser replicáveis e com elevado grau de fidelidade; — quando utilizados humanos deverá ser indicado que os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínquia

  • de 1975); — quando utilizados animais deverão ser utilizados todos os princípios éticos de experimentação animal e, se possível, deverão ser submetidos a uma comissão de ética; — Todas as drogas e químicos utilizados deverão ser designados pelos nomes genéricos, princípios activos, dosagem e dosagem; — A confidencialidade dos sujeitos deverá ser estritamente mantida; — Os métodos estatísticos utilizados deverão ser cuidadosamente referidos.

    RESULTADOS:

    — Os resultados deverão apenas conter os dados que sejam relevantes para a discussão; — Os resultados só deverão aparecer uma vez no texto: ou em quadro ou em figura; — O texto só deverá servir para relevar os dados mais relevantes e nunca duplicar informação; — A relevância dos resultados deverá ser suficientemente expressa; — Unidades, quantidades e fórmulas deverão ser utilizados pelo Sistema Internacional (SI units). — Todas as medidas deverão ser referidas em unidades métricas.

    DISCUSSãO:

    — Os dados novos e os aspectos mais importantes do estudo deverão ser relevados de forma clara e concisa; — Não deverão ser repetidos os resultados já apresentados; — A relevância dos dados deverá ser referida e a comparação com outros estudos deverá ser estimulada; — As especulações não suportadas pelos métodos estatísticos não deverão ser evitadas; — Sempre que possível, deverão ser incluídas recomendações; — A discussão deverá ser completada com um parágrafo final onde são realçadas as principais conclusões do estudo.

    AGRADECIMENTOS:

    — Se o artigo tiver sido parcialmente apresentado publicamente deverá aqui ser referido o facto; — qualquer apoio financeiro deverá ser referido.

    REFERêNCIAS

    — As referências deverão ser citadas no texto por número e compiladas alfabeticamente e ordenadas numericamente; — Os nomes das revistas deverão ser abreviados conforme normas internacionais (ex: Index Medicus); — Todos os autores deverão ser nomeados (não utilizar et al.) — Apenas artigos ou obras em situação de “in press” poderão ser citados. Dados não publicados deverão ser utilizados só em casos excepcionais sendo assinalados como “dados não publicados”; — Utilização de um número elevado de resumos ou de artigos não “peer-reviewed” será uma condição de não aceitação;

    ExEMPLOS DE REFERêNCIAS:

    ARTIGO DE REVISTA

    1 Pincivero DM, Lephart SM, Karunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. Int J Sports Med 18: 113-117 LIVRO COMPLETO Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London: Academic Press Inc. Ltd. CAPíTULO DE UM LIVRO Balon TW (1999). Integrative biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURAS

    — Figuras e ilustrações deverão ser utilizadas quando auxiliam na melhor compreensão do texto; — As figuras deverão ser numeradas em numeração árabe na sequência em que aparecem no texto; - As figuras deverão ser impressas em folhas separadas daquelas contendo o corpo de texto do manuscrito. No ficheiro informático em processador de texto, as figuras deverão também ser colocadas separadas do corpo de texto nas páginas finais do

    manuscrito e apenas uma única figura por página; — As figuras e ilustrações deverão ser submetidas com excelente qualidade gráfico, a preto e branco e com a qualidade necessária para serem reproduzidas ou reduzidas nas suas dimensões; — As fotos de equipamento ou sujeitos deverão ser evitadas.qUADROS

    — Os quadros deverão ser utilizados para apresentar os principais resultados da investigação. — Deverão ser acompanhados de um título curto; — Os quadros deverão ser apresentados com as mesmas regras das referidas para as legendas e figuras; — Uma nota de rodapé do quadro deverá ser utilizada para explicar as abreviaturas utilizadas no quadro.

    subMissão
Dos
Manuscritos— A submissão de artigos para à RPCD poderá ser efectuada por via postal, através do envio de 1 exemplar do manuscrito em versão impressa em papel, acompanhada de versão gravada em suporte informático (CD-ROM ou DVD) contendo o artigo em processador de texto Microsoft Word (*.doc). - Os artigos poderão igualmente ser submetidos via e-mail, anexando o ficheiro contendo o manuscrito em processador de texto Microsoft Word (*.doc) e a declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.

    ENDEREçOS PARA ENVIO

    DE ARTIGOS

    Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa,Porto Portugal(+351) 914 200 450e-mail: [email protected]

  • pUbliCation norms

    Working
Materials
(ManuscriPts)ORIGINAL INVESTIGATION

    The PJSS publishes original papers related to all areas of Sport Sciences.

    REVIEWS OF THE LITERATURE

    (STATE OF THE ART PAPERS): State of the art papers or critical literature reviews are published if, and only if, they contribute to the generalization of knowledge. Meta-analytic papers or general reviews are possible modes from contributing authors. This type of publication is open only to invited authors.

    COMMENTARIES: Commentaries about published papers or literature reviews are highly recommended by the editorial board and accepted.

    CASE STUDIES: Highly relevant case studies are favoured by the editorial board if they contribute to specific knowledge within the framework of Sport Sciences research. The meticulous control of research methodology is a fundamental issue in terms of paper acceptance.

    ESSAyS: The PJSS shall invite highly regarded specialists to write essays or careful and deep thinking about several themes of the sport sciences mainly related to philosophy and/or strong argumentation in sociology or psychology.

    BOOK REVIEWS: the PJSS has a section for book reviews.

    general
Publication
rules:
All papers submitted to the PJSS are obliged to have original data, theoretical or experimental, within the realm of Sport Sciences. It is mandatory that the submitted paper has not yet been published elsewhere. If a minor part of the paper was previously published, it has to be stated explicitly in the acknowledgments section.

    All papers are first evaluated by the editor in chief, and shall have as initial criteria for acceptance the following: fulfilment of all norms, clear relationship to Sport Sciences, and scientific merit. After this first screening, and if the paper is firstly accepted, two independent referees shall evaluate its content in a

    “double blind” fashion. A third referee shall be considered if the previous two are not in agreement about the quality of the paper.After the referees receive the manuscripts, it is hoped that their reviews are posted to the editor in chief in no longer than a month.

    ManuscriPt
PreParation
GENERAL ASPECTS:

    The first page of the manuscript has to contain: — Title and author(s) name(s) — Declaration that the paper has never been published

    FORMAT:

    — All manuscripts are to be typed in A4 paper, with margins of 3 cm, using Times New Roman style size 12 with double space, and having no more than 20 pages in length. — Pages are to be numbered sequentially, with the title page as n.1.

    SIzE AND STyLE:

    — Papers are to be written in a very precise and clear language. No place is allowed for speculation without the boundaries of available data. — If manuscripts are highly confused and written in a very poor Portuguese or English they are immediately rejected by the editor in chief. — All abbreviations are to be used according to international rules of the specific field.

    TITLE PAGE:

    — Title page has to contain the following information: — Specification of type of manuscript (but see working materials-manuscripts). — Brief and highly informative title. — Author(s) name(s) with first and middle

    names (do not write academic degrees) — Running head with no more than 45 letters. — Name and place of the academic institutions. — Name, address, Fax number and email of the person to whom the proof is to be sent.

    ABSTRACT PAGE:

    — The abstract has to be very precise and contain no more than 200 words, including objectives, design, main results and conclusions. It has to be intelligible without reference to the rest of the paper. — Portuguese and English abstracts are mandatory. — Include 3 to 6 key words. — Do not use abbreviations.

    INTRODUCTION:

    — Has to be highly comprehensible, stating clearly the purpose(s) of the manuscript, and presenting the importance of the work. — Literature review included is not expected to be exhaustive.

    MATERIAL AND METHODS:

    — Include all necessary information for the replication of the work without any further information from authors. — All applied methods are expected to be reliable and highly adjusted to the problem. — If humans are to be used as sampling units in experimental or non-experimental research it is expected that all procedures follow Helsinki Declaration of Human Rights related to research. — When using animals all ethical principals related to animal experimentation are to be respected, and when possible submitted to an ethical committee. — All drugs and chemicals used are to be designated by their general names, active principles and dosage. — Confidentiality of subjects is to be maintained. — All statistical methods used are to be precisely and carefully stated.

    RESULTS:

    — Do provide only relevant results that are useful for discussion. — Results appear only once in Tables or Figures. — Do not duplicate

  • information, and present only the most relevant results. — Importance of main results is to be explicitly stated. — Units, quantities and formulas are to be expressed according to the International System (SI units). — Use only metric units.

    DISCUSSION:

    — New information coming from data analysis should be presented clearly. — Do no repeat results. — Data relevancy should be compared to existing information from previous research. — Do not speculate, otherwise carefully supported, in a way, by insights from your data analysis. — Final discussion should be summarized in its major points.

    ACKNOWLEDGEMENTS:

    — If the paper has been partly presented elsewhere, do provide such information. — Any financial support should be mentioned.

    REFERENCES:

    — Cited references are to be numbered in the text, and alphabetically listed. — Journals´ names are to be cited according to general abbreviations (ex: Index Medicus). — Please write the names of all authors (do not use et al.). — Only published or “in press” papers should be cited. Very rarely are accepted “non published data”. — If non-reviewed papers are cited may cause the rejection of the paper.

    ExAMPLES:

    PEER-REVIEW PAPER

    1 Pincivero DM, Lephart SM, Kurunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. In J Sports Med 18:113-117COMPLETE BOOK Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London:Academic Press Inc. Ltd.BOOK CHAPTER Balon TW (1999). Integrative

    biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURES

    — Figures and illustrations should be used only for a better understanding of the main text. — Use sequence arabic numbers for all Figures. — Each Figure is to be presented in a separated sheet with a short and precise title. — In the back of each Figure do provide information regarding the author and title of the paper. Use a pencil to write this information. — All Figures and illustrations should have excellent graphic quality I black and white. — Avoid photos from equipments and human subjects.TABLES — Tables should be utilized to present relevant numerical data information. — Each table should have a very precise and short title. — Tables should be presented within the same rules as Legends and Figures. — Tables´ footnotes should be used only to describe abbreviations used.

    ManuscriPt
subMission
The manuscript submission could be made by post sending one hard copy of the article together with an electronic version [Microsoft Word (*.doc)] on CD-ROM or DVD. Manuscripts could also be submitted via e-mail attaching an electronic file version [Microsoft Word (*.doc)] together with the declaration that the paper has never been previously published.

    ADDRESS FOR MANUSCRIPT SUBMISSION

    Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, Porto Portugal(+351) 914 200 450e-mail: [email protected]

  • nota
editorial

    Sinais deste

    nosso tempo

    1. a mitologia grega proclama que os humanos se distinguem dos outros seres por cultivarem

    a terra, viverem do seu esforçado labor e por terem lei. porém quando olhamos para as figuras

    ‘notáveis’, esta marca é cada vez mais rara e difícil de encontrar. ao invés, proliferam os enzo-

    neiros, espertalhões e vigaristas, oportunistas e trapaceiros. movem-se como o peixe na água,

    driblam com todo o descaramento, tranquilidade e desfaçatez os normativos legais e a obrigação

    de ganhar o pão com o suor do rosto (um mandamento estipulado por deus e registado na bíblia!).

    sobejam as mensagens, provas e revelações, trazidas por hermes (igual e cumulativa-

    mente deus dos comerciantes, jornalistas e ladrões!), de que, pouco a pouco, se instala e

    expande impunemente uma conjuração para o crime de colarinho branco, organizado e

    praticado, de modo obsceno e insolente, sem quaisquer rebates de consciência ou receio

    de violar e enfrentar o quadro jurídico constitucionalmente instituído. este vai ainda sub-

    sistindo no papel, mas assemelha-se progressivamente a um castiçal e ornamento ou a

    uma peça de museu; a sua observância e aplicação prática vão caindo em desuso ou então

    destinam-se quase exclusivamente às pessoas dotadas de apurada sensibilidade ética e

    moral, às que não têm notoriedade pública ou não dispõem de meios para contratar instru-

    mentos, expedientes e agentes de exploração, ludíbrio e distorção das leis.

    de resto o sistema judicial encarrega-se — não poucas vezes e salvo exceções que sur-

    preendem pela crescente raridade — de lançar achas para a fogueira da falta de transpa-

    rência e da acusação de não ser isento e equitativo para todos, mas antes cego, surdo e

    mudo para os abusos e desmandos dos omnipotentes e mediáticos, ateando assim as já

    altas labaredas do descrédito e da desconfiança.

    eJorge
olímpio
bento
1

    1
Diretor
da
revista
Portuguesa

de
ciências
do
Desporto

    É
preciso
que
lutemos
pela
lei
como
pelas
muralhas
da
cidade.

    heráclito,
cerca
De
544
—
484
a.c.

    9

—

RPcd 11 (2): 9-15

  • 2. a máxima de platão (“a verdade é a beleza no seu máximo esplendor”) vê-se substituída

    por estoutra: “a verdade oficial, oficiosa e pública é a mentira no seu máximo despudor”.

    Com efeito a mentira instalou-se, tornou-se rotina compulsiva e vem constituindo a base,

    o fuste e o capitel do sistema político e financeiro, apesar de a verdade continuar límpida e

    cristalina, estar bem à nossa frente e ser nítida à vista desarmada como o sol do meio-dia.

    no entanto parece inútil denunciar a primeira e afirmar a segunda. até porque quem a isso

    se atreve é apontado a dedo como conservador e retrógrado (ou coisa pior) e gerador de pro-

    blemas, é objecto de escárnio, de riso, insulto e maus-olhados; humilhado, desmoralizado e

    intimidado é coagido a encolher-se e recuar para o canto da depreciação e do desdém.

    Como resultado desta evolução, a descrença, a depressão e a resignação tomam conta

    de nós: indignar-se com o quê e denunciar para quê? Fazer o quê, a não ser assistir atónito

    ao estendal de imoralidade, fechar os olhos, sacudir os ombros, endurecer a consciência

    e cruzar os braços?

    em suma, olhamos para cima e vemos um deserto de gente honrada. ser honesto requer

    hoje uma grande ousadia e exige uma heroicidade acima dos mortais comuns e manifes-

    tamente fora de moda. por este andar, não tarda nada a ser considerado aberração, um

    anacronismo e um grave destrambelhamento, próprio de lunáticos e doidos varridos, care-

    cidos de internamento urgente.

    3. a democracia desfigura-se e degenera; é cada vez mais uma miragem e já nem sequer

    virtual é, como se isso fosse o seu destino inexorável e não houvesse possibilidades para a

    reabilitar e aperfeiçoar. sentimo-nos frustrados e impotentes e alijamos esta obrigação e

    responsabilidade, perante o paulatino alargamento do fosso entre os discursos e as inten-

    ções propaladas e as obras e constatações registadas. a veracidade dos factos não conta

    para nada; o que vale são as versões falsificadas da realidade, ardilosamente mistificadas,

    difundidas e impingidas.

    obviamente a corrupção já existia na ditadura; não é uma invenção da democracia. mas

    aumentou com esta e não é exagerado afirmar que se tornou uma das traves-mestras do

    regime em que vivemos.

    o que foi que nos aconteceu?

    presenciamos e tomamos conhecimento de acontecimentos que nos aviltam, agridem,

    ofendem e envergonham e não reagimos. as tropelias e pulhices sucedem-se e não têm

    consequências, nem nós as exigimos. as evidências são mais que muitas, mas não são

    tidas em consideração, nem geram ações de indignação e protesto. é como se não nos

    incomodassem e molestassem ou tivéssemos a convicção da inutilidade de assumirmos

    os nossos deveres cívicos. Calamos e engolimos, como se nada fosse, até porque o olho da

    censura, mais ou menos velada, está sempre à espreita para nos meter medo; e a vinda de

    represálias não se faz rogada.

  • 11

—

RPcd 11 (2)

    estamos sendo anestesiados de muitas e sofisticadas maneiras; o desinteresse apode-

    ra-se de nós e já nada nos choca, por mais escabroso que seja. é isto normal? é uma

    fatalidade nacional?

    Como foi possível chegarmos a este patamar da mais densa escuridão e omissão cívica e

    moral? Como é que as nossas lideranças em tantos e tantos campos se deixaram enlear nes-

    ta teia? Que estômago é o nosso para conseguirmos suportar tanta gangrena e iniquidade?

    os intestinos do país e do sistema político que o rege decompõem-se e cheiram a po-

    dridão. a vergonha e o decoro ausentam-se para parte incerta. os valores, os princípios e

    as noções do dever perderam o pio. a ética está sendo enterrada como um indigente: sem

    choro nem velas. e a um grande número de pessoas isto tanto se lhe dá como se lhe deu;

    apenas lhe interessam o bem-estar individual e o lema do salve-se quem puder. Às favas,

    malvas ou urtigas manda-se o bem coletivo e social e o imperativo de cuidar dele. o apagão

    da cidadania alastra a passos largos. o estado omite-se, anula-se e rende-se às corpora-

    ções dos poderosos e incensados. as autoridades incumbidas de zelar pelo cumprimento

    e primado da lei agem como se a sua função se tivesse invertido, contribuindo assim para

    a promoção da desmoralização.

    enfim, o país precisa, como de pão para a boca, de uma comprida e forte régua cívica e moral.

    4. todos os dias ficam conhecidas novas tramóias, são reveladas contas suspeitas no

    estrangeiro, vemos figurões impávidos e serenos a exibir sinais de gorda riqueza, a

    acumular fortuna pela calada da noite, nos labirintos das manhãs e no crepúsculo das

    tardes. há fartos indícios de que o país se transformou numa plataforma de negócios

    sórdidos e é generoso alfobre de uma vasta súcia de sabichões em montar escuras e

    intrincadas redes de operações e sucatas, com extensos e nebulosos tentáculos, difí-

    ceis de deslindar. os nomes e os dados são divulgados, nada acontece; os canais de

    televisão e as páginas dos jornais abrem-se de par em par para que os nobres barões

    nos inundem com a negação do óbvio. todos se dizem vítimas de cabalas, clamam por

    inocência e, por cima, ainda proferem ameaças e vinganças. sempre se acham inocen-

    tes ou vítimas do mundo, fazendo juras de inocência e licitude. de remorsos na alma e

    de vergonha na cara não se descortina o mais leve rasto.

    Figuras graúdas da advocacia e reluzentes escritórios de advogados auferem proventos

    gigantescos, especializando-se em novos ramos do florescente negócio dos pareceres e

    servindo de umbrela aos famosos e endinheirados.

    Vale tudo para desacreditar, denegrir, fragilizar, hostilizar, intimidar e transpor o espírito,

    a letra e o território da legalidade. o manancial de advertências, avisos e recados, intimi-

    dações e pressões, ‘influências’, ‘conselhos’ e ‘recomendações’ jorra donde menos seria de

    esperar, incorrendo — com todo o à-vontade e sem tirar nem pôr — no crime de corrupção

    sob a forma tentada.

    e

  • a cada dia que passa decrescem os meios para desnudar a hipocrisia e a falácia de

    pessoas dotadas da arte e do poder de contar com agentes e máquinas de fabricação e

    propaganda de uma imagem de reputação acima de qualquer suspeita.

    5. Quase tudo o que é delito grave é esquecido, arquivado, empacotado ou sujeito a delon-

    gas e remetido para as calendas gregas, acabando por prescrever. a lei parece regula-

    mentada para proteger a imoralidade. Jornalistas e formadores de opinião, ciosos da de-

    ontologia da função, ou são ‘dispensados’, saneados e vilipendiados ou sentem-se inúteis,

    pois a indignação tornou-se dispensável e supérflua. o que se pensa e diz não se escreve;

    e o que se escreve não usufrui de contexto favorável para se fincar, sustentar e medrar,

    enquanto a mentira vive num regabofe, engorda e sofre metamorfose. a anorexia ética e

    moral vive um clima de galopante expansão.

    sempre que a verdade eclode e é escrita ou dita em público, os figurões visados reagem

    como felinos acossados e com um inimaginável arsenal de astúcias, máscaras e ardis.

    Quando algum nome sonante cai no laço e é chamado à pedra por um juiz, este é rotula-

    do de ‘exibicionista’ e sedento de mediatismo. e corre o risco de ser malquisto e preterido

    nalguma avaliação e promoção.

    para cúmulo apregoa-se, alto e bom som, que vivemos num estado de direito. ah!, se ele

    fosse mesmo a sério, os diversos tipos de trafulhice e tramóia, de agitação e chantagem, de

    conluio e manobrismo, de jornalismo encomendado e de modo de ser ‘jornalista’ pombo-

    -correio ou pau-mandado não disporiam do ar viciado e opiáceo que tanto gostam de respirar

    e exalar; não contariam com o descaso e os favores do deus da (in)justiça, nem lhes valeriam

    os embustes de hermes para escapar ao banco da assunção de responsabilidades.

    6. mas… não haverá esperança de escapar a este plano inclinado para o abismo cívico e

    moral? não é lícito cultivar o otimismo e, em nome dele e da necessidade de o possuir e

    cultivar, acreditar que a esta onda avassaladora de aldrabice, ladinice, falsidade e hipocri-

    sia se seguirá um mar extenso e regenerador da autenticidade e verdade?

    a esperança, por si só, sem ser fecundada pela vontade e pelas ações e posições correspon-

    dentes, está longe de ser um amparo, um consolo, uma vantagem, um remédio ou bom presen-

    te para o desejado futuro. ao invés, pode ser inclusive uma desgraça e uma tensão negativa,

    geradoras de demissão e indiferença, em face da gritante ausência de alternativa. pode ser

    uma espera em vão e, assim, é continuar carente, é desejar o que não se tem e não se vê como

    alcançar, é prolongar o estado de insatisfação e infelicidade. Confiar apenas na esperança é,

    pois, equipará-la à fé ou religião. ora, diz o velho platão, a crença é o oposto do conhecimento.

    por outras palavras, a esperança constitui mais um mal do que um bem. Julgo que esta

    nuvem espessa paira sobre a vida do nosso país, a ponto de não ser perceptível se ainda há

    alguma esperança. Com efeito é pertinente perguntar se é significativo o número dos que

  • 13

—

RPcd 11 (2)

    não se calam, entregam e rendem perante a avalanche de desvario que ameaça soterrar

    definitivamente o modo de vida estribado na tradição do trabalho sério e honrado. ainda

    têm voz, capacidade e oportunidade de intervir no espaço público as pessoas amantes da

    ética e da decência e com vergonha na cara? serão capazes de aguentar as campanhas de

    calúnia, desconsideração e desmoralização do mais abjeto, sórdido e vil calibre?

    7. esta evocação é de sabor amargo e contém desabafos formulados com a tinta do aze-

    dume. reconheço que a aspereza e o ar carregado e sisudo não são de bom augúrio nem a

    maneira mais recomendável para seguir em frente, nesta conjuntura de labutas, trabalhos

    e canseiras. todavia há razões que arrastam o ânimo para um desvão, sim, pouco aconse-

    lhável, porém inevitável, nesta fase iníqua do campeonato.

    sucede que, nos últimos tempos, os sinais de mau funcionamento do fígado e da bílis são

    inequívocos: mau hálito, boca a saber a papel de música, preguiça intestinal, dificuldades

    em dormir, herpes e outras afecções cutâneas etc. em circunstâncias normais não daria

    para perceber de imediato as causas destas manifestações, tanto mais que me tenho pre-

    ocupado em adoptar e seguir a preceito um estilo de vida sensato e saudável: exercício cor-

    poral quanto baste, abundância de saladas e frutas, corte no álcool e nos doces, ingestão

    frequente de líquidos, cultivo do convívio familiar, prática sexual ajustada à idade, leitura

    de livros de filosofia atinentes à condução de uma existência em harmonia com o cosmos,

    à consolidação de um pensamento ampliado, a uma visão alargada e compreensiva do

    mundo e dos seres que o povoam etc.

    Como quer que seja, o mal-estar da bílis e do fígado não é de geração espontânea. basta pen-

    sar um pouco para concluir que talvez tenha muito a ver com a contemplação do entorno, com

    a leitura dos jornais e com o consumo acrescido da televisão e com o que isso avivou em mim.

    realmente não há maneira, faz muito tempo, de cessarem as notícias de uma escabrosa

    atualidade feita de incêndios e incendiários, ludíbrios e mistificações, vigarices e manipu-

    lações, cinzas e vítimas, aldrabões e vilões nos mais distintos sectores.

    8. para não meter a foice em seara alheia e manter os pés fincados no terreno caseiro,

    convido o leitor a examinar o largo campo do ensino superior com todo o incessante cortejo

    de reformas, de regimes jurídicos, regulamentos e demonstrações de nepotismo, tentando

    a todo o custo destruir a matriz da Universidade e a paixão pela docência e impor transfor-

    mações estatutárias e institucionais ao arrepio dos princípios e dimensões humanistas e

    iluministas fundadores da missão universitária.

    Quem é que ousou denunciar e questionar a insanidade dos centralistas, burocra-

    tas e fanáticos da gestão que sobrepõem esta e os seus ditames à atividade-fim da

    Universidade e, deste jeito, a colocam em lugar cimeiro e a missão tradicional em

    lugar último?

    e

  • Quem é que reagiu, na altura própria e visando impedir os irreparáveis danos e es-

    tragos, à operação cosmética que envolveu o famigerado e fraudulento ‘processo de

    bolonha’, urdida para vender gato por lebre, tratando todo mundo como se fosse um

    bando de asnos e mentecaptos?

    Quem é que levantou a caneta e a voz contra os fervorosos paladinos e ilusionistas, con-

    tra o arrasamento da espiritualidade e erudição, contra o abastardamento do pensamento

    e o atentado a uma sólida formação de base ocasionados por essa medida dolosa da luci-

    dez e sensatez?

    Como é que a razão foi torpedeada e tanta gente se deixou levar na enxurrada do popu-

    lismo e da intrujice? onde estavam as ordens profissionais, algumas finalmente tão des-

    pertas, enquanto a demência avançava?

    agora é tarde e inês é morta! se os académicos e toda a multidão de entidades

    com obrigação de ponderar e agir responsavelmente puseram na boca o adesivo da

    cobardia, se preferiram, por manifesto calculismo, comodismo, oportunismo ou de-

    missionismo — do tipo: não me comprometas! —, comportar-se como ingénuos, de-

    satentos e distraídos e fazer ouvidos de mercador, se pactuaram e foram ativa ou

    passivamente coniventes e cúmplices com a insidiosa lavagem ao cérebro da opinião

    pública, se aceitam participar na perversão do cerne da sua profissão e converter-se

    em servidores das enganosas estratégias e engenharias estatísticas, o que é que se

    pode legitimamente esperar das outras pessoas?!

    não restam dúvidas de que, sob o ponto de vista dos interesses em alta, as universidades

    cumprem, com luzidia proficiência e excelência, a nova missão que, de há uns tempos para

    cá, alguns dos magníficos líderes reitorais orgulhosamente proclamam e alegremente as-

    sumem. prescindiram de entender a instituição universitária como lugar de estudo, forma-

    ção, investigação e reflexão ao serviço das causas da sociedade e humanidade. atrai-os

    sobretudo a vinculação ao mercado, a suprema ambição de fornecer mão-de-obra alta-

    mente qualificada em ingenuidade e docilidade acrítica ao mundo empresarial, político e

    afim. os graus ‘à bolonhesa’ dão a ideia perfeita do câmbio operado na visão das finalida-

    des da Universidade.

    Como se isto não bastasse, o pior do futebol está de volta e revigorado: à parte a confu-

    são, o caos, a sujeira e a chafurdice dos bastidores e dos seus mandantes, intoxicadores,

    agitadores, subalternos, avençados, filhos e enteados, os canais televisivos regurgitam

    de programas e painéis prenhes de regougadores peritos em açular o bando e acordar

    nele os mais arcaicos e agressivos instintos. o circo reabriu e vai ficar e durar, para que

    a ‘democracia’ vigente siga avante, impávida e triunfante. enquanto o povo amedrontado,

    anestesiado apático, manipulado e alienado tudo engole; e o esclarecido abafa, em silêncio

    e resignação, o seu sacrifício e dor.

  • 15

—

RPcd 11 (2)

    9. sei que este texto é enfadonho, repetitivo, recorrente, desnecessário e vão, porquanto não

    vai além do óbvio. por isso as dúvidas e perguntas do leitor são legítimas. será o escrito moti-

    vado por algum sentimento especial? não morará no meu subconsciente algum despeito ou

    inveja? no capítulo pessoal não viso ninguém em particular. desejo sempre que as entidades

    e pessoas colham frutos abundantes, multiplicados e céleres do que plantam ou semeiam,

    que nada demore ou falte aos méritos e virtudes da sua ação e comportamento.

    mesmo assim não podia deixar de escrever estas linhas. Quanto mais não seja, para

    desagravar a consciência das minhas obrigações e para abrir as pesadas comportas da

    inquietude e do desassossego.

    todavia no plano superior e indeclinável do civismo o sentimento é de outro jaez, dado o

    funcionamento do nosso sistema político e dos proeminentes atores das suas ramificações

    e congregações. a existência da vasta e intocável estirpe de trafulhas, tartufos e mentiro-

    sos está corroendo e dissolvendo a nossa estrutura e postura cívica, ética e moral. está a

    contaminar-nos e, por via disso, a tornar-nos cínicos, falsos e hipócritas nos pensamentos

    e nas palavras, nas congeminações e nos atos. a linguagem que circula e se impõe no

    quotidiano vai criando uma realidade condizente. sem darmos por isso, tropeçamos nela a

    toda a hora, como quem dá topadas nas pedras do caminho e não presta grande atenção.

    as palavras vão sendo esvaziadas de sentido. está surgindo e ganhando foros de acei-

    tação e validade um estranho e inquietante idioma, uma ‘novilíngua’ prenhe de um léxico

    assaz predatório e transformador.

    o vocabulário corrente serve para nos habituar e conformar a um novo modelo de indiví-

    duo e a um novo ideal ‘educativo’: o dos sujeitos libertos de quaisquer controlos, desafios,

    freios, padrões, temores, inquietações e inibições civilizacionais e morais; abertos, flexí-

    veis, disponíveis e competentes para a falcatrua, a farsa, a insinceridade, a incoerência, a

    ordinarice e o embuste, sem o mínimo indício de escrúpulos, de decoro e vergonha.

    o aquém-homem surge na linha do horizonte, impante de arrogância, empáfia, verniz e

    vaidade, suscitando admiração, adulação, bajulação, aplauso e reconhecimento.

    o céu é de quem o ganha e o mundo de quem mais arrebanha — reza o ditado aprendido

    de minha mãe. a vida está para os arrivistas, espertos, oportunistas e sandeus. eis a nova

    elite inspiradora da conduta dos demais! eis o resultado e o marco altaneiros do avanço

    e progresso das reformas operadas nos nossos dias. bem hajam os ídolos, donos e fabri-

    cantes deste tempo!

    a avaliação de Camões permanece atualizada: portugal, uma terra que é mãe de vilões

    ruins e madrasta de homens honrados.

    e

  • Objectivos de realização,

    clima motivacional

    e ansiedade no Futebol:

    um
estudo
com
jogadores


    do
escalão
de
escolas.

    PalavRaS chave:

    Motivação.
ansiedade.
crianças.
futebol.

    resumo

    o objectivo deste estudo foi analisar as relações entre os objectivos de realização, o

    clima motivacional (na equipa e parental) e o traço de ansiedade em futebolistas do es-

    calão de escolas. participaram neste estudo 126 atletas do sexo masculino, com idades

    compreendidas entre os 8 e os 11 anos (9.77 0.91). os instrumentos utilizados foram

    as versões portuguesas do Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire, do Perceived

    Motivational Climate in Sport Questionnaire, do Parent-Initiated Motivational Climate

    Questionnaire-2 e da Sport Anxiety Scale. os resultados revelaram que os atletas eram

    mais orientados para a tarefa do que para o ego e que o clima motivacional percepciona-

    do junto da equipa e dos pais era orientado essencialmente para a aprendizagem. adicio-

    nalmente, níveis mais elevados de ansiedade estavam associados a uma maior orienta-

    ção para o ego e climas motivacionais voltados para o rendimento e/ ou que enfatizavam

    os erros ou o sucesso sem esforço.

    autOReS:

    simão
coroa
1

    cláudia
Dias
1

    Júlio
garganta
1

    nuno
corte-real
1

    antónio
Manuel
fonseca
1

    1
cifi2D,
faculdade
de
Desporto
universidade
do
Porto,
Portugal

    correspondência:
simão
coroa.
rua
Marquês
de
Pombal,
490,
4785-173
trofa,
Portugal


    ([email protected])

  • 01achievement goals, motivational climate

    and anxiety in soccer: a study with players

    from soccer schools.

    AbstrAct

    the aim of the present study was to analyze the relationship between

    young soccer players’ goal orientations, perceived and parent-initiated

    motivational climates, and trait anxiety. one-hundred and twenty-six

    male soccer players, aged between 8 and 11 years old (9,77 0,91)

    completed the portuguese versions of the task and ego orientation in

    sport Questionnaire, the perceived motivational Climate in sport Ques-

    tionnaire, the parent-initiated motivational Climate Questionnaire-2,

    and of the sport anxiety scale. results showed that athletes were

    more task-oriented than ego-orientated, and perceived mainly a learn-

    ing/ enjoyment climate (both regarding their teams and their parents).

    additionally, higher levels of anxiety were associated with a stronger

    ego-orientation and with motivational climates which emphasized per-

    formance, worry conductive and/ or success without effort.

    Key wORdS:

    Motivation.
anxiety.
children.
soccer.

    17

—

RPcd 11 (2): 16-32

  • intROduçãO

    o futebol, com quase 200 mil jogadores profissionais e 240 milhões de jogadores amado-

    res, a maioria jovens e adolescentes, é actualmente o desporto mais popular no mundo (31, 55). para as crianças e jovens, a prática de uma modalidade desta natureza torna-se

    extremamente positiva porque constitui uma oportunidade de desenvolvimento de compe-

    tências, procura da excelência e superação (11), podendo a vertente competitiva ser estru-

    turante para a sua formação e desenvolvimento, desde que organizada de forma adequada

    e ajustada às suas condições e características (32). todavia, o que se constata frequente-

    mente é que essa organização não é a encontrada nas competições desportivas de crian-

    ças e jovens, verificando-se pressões e expectativas excessivas, centradas unicamente na

    obtenção da vitória e do sucesso (51).

    neste contexto, a ansiedade pode ser encarada como um fenómeno perturbador no de-

    sempenho dos atletas desde idades muito precoces (7), estando o seu surgimento muitas ve-

    zes associado a factores relacionados com os adultos significativos, especialmente os pais

    e os treinadores (8). paralelamente, diversas investigações têm igualmente procurado rela-

    cionar os objectivos de realização com a ansiedade (28, 38), considerando-se que o impacto do

    clima motivacional percebido também poderá estar na origem da ansiedade competitiva (59).

    obJeCtiVos de realização,

    Clima motiVaCional e ansiedade

    de acordo com a teoria dos objectivos de realização, os sujeitos avaliam a sua competência

    e interpretam o seu sucesso de diferentes formas, existindo na literatura diversas concep-

    tualizações que procuram estruturar essas interpretações. no entanto, a nomenclatura de

    nicholls (35) pode ser considerada como uma das mais utilizadas em estudos realizados no

    contexto desportivo (12, 24). ainda segundo nicholls, os indivíduos são influenciados pelas

    suas crenças, as quais guiam as suas tomadas de decisão e comportamentos em contex-

    tos de realização (45, 56), podendo orientar-se para a tarefa (os níveis de habilidade são auto-

    -avaliados e dependentes da aprendizagem e do esforço despendido) ou para o ego (refe-

    renciando normativamente a habilidade, encarada como capacidade e não como resultado

    do treino) (35). por outras palavras, enquanto para alguns o sucesso é ser melhor que antes,

    para outros o sucesso é ser melhor que os outros (20). de uma forma geral, as investigações

    que se debruçaram sobre os objectivos de realização dos atletas reconheceram também

    valores superiores de orientação para a tarefa em comparação com a orientação para o

    ego (e.g., 36, 39, 52, 57, 60), revelando inclusivamente uma associação positiva entre orientação

    para a tarefa e maior esforço e satisfação na prática das respectivas modalidades (29, 46).

    importa porém salientar que apesar dos objectivos de realização poderem ser vistos

    preferencialmente como estáveis, estão sujeitos a alterar-se em função da informação ob-

  • 19

—

RPcd 11 (2)

    01tida em determinado contexto ou processo de socialização (15,
45). essas diferenças são in-

    fluenciadas por aspectos situacionais (41,
42,
49,
61) geralmente procedentes do envolvimento

    criado por outros significativos (e.g., pais, treinadores, pares), e podem estar na origem da

    percepção, por parte dos atletas, de determinado ambiente ou clima motivacional (13,
14). de

    forma semelhante aos objectivos de realização, o clima motivacional pode ser orientado

    para o ego (ou rendimento) ou para a tarefa (ou mestria) (1). Um clima orientado para o ego

    alimenta a comparação normativa, competição interpessoal e rivalidade entre elementos

    da equipa, adoptando a punição face aos erros e valorizando os que melhor desempenha-

    rem a tarefa. Já um clima orientado para a tarefa promove a cooperação e entreajuda en-

    tre os elementos da equipa, enfatizando o papel desempenhado por todos, a aprendizagem

    e a melhoria pessoal dos elementos da equipa (33,
54). estudos no domínio da psicologia da

    educação revelaram a importância de um clima motivacional orientado para a tarefa, quer

    no contexto escolar quer no desportivo, sendo que a promoção de tal clima promove não

    só o prazer e o divertimento como também melhora e desenvolve as percepções de com-

    petência pessoal e a motivação intrínseca dos indivíduos (9).

    por outro lado, em função da personalidade e carga afectiva que cada jogador coloca

    na competição, as vivências desportivas podem provocar reacções emocionais negativas,

    como a ansiedade (3). esta carga afectiva refere-se, segundo boyd e mi-sook (4), aos ob-

    jectivos de realização. de facto, vários estudos (e.g., 27, 37, 62) têm mostrado que um sujeito

    orientado para o ego tende a aplicar uma carga afectiva negativa na prática desportiva

    e que esse facto promove elevados níveis de ansiedade cognitiva e somática; em con-

    traste, pressão, ansiedade cognitiva ou preocupação pré-competitiva têm uma relação

    negativa com orientação para a tarefa. na mesma linha, nicholls (34) constatou que uma

    orientação para a tarefa e um clima orientado para a mestria estariam associados a res-

    postas como comprometimento e persistência na obtenção de resultados, enquanto uma

    orientação para o ego e um clima motivacional orientado para o rendimento estariam

    relacionados com falta de esforço, comprometimento e persistência na realização de

    uma tarefa. este descomprometimento era visível, segundo o autor, na ênfase exagera-

    da na competitividade, em detrimento do desenvolvimento das capacidades. Com estes

    dados, nicholls acabou por especular que estas respostas motivacionais negativas po-

    deriam levar a um aumento da ansiedade. Centrando-se também no clima motivacional

    percepcionado no seio da equipa, Vazou, ntoumanis e duda (58) referiram que atletas que

    percepcionavam, da parte dos pares, um clima orientado para a tarefa, manifestaram

    altos índices de esforço e gosto pela tarefa, enquanto os atletas que percepcionaram

    um clima direccionado para o ego manifestaram altos níveis de ansiedade competitiva.

  • o papel dos pais na partiCipação

    desportiVa dos seUs Filhos

    numa perspectiva mais global, podemos considerar que os pais, como principais agentes de

    socialização dos filhos (2, 5, 25), desempenham um papel fundamental na sua participação e su-

    cesso no desporto (2, 64, 65). anderson e colaboradores (2), por exemplo, identificaram uma corre-

    lação positiva entre o apoio parental e a satisfação dos filhos na prática desportiva e scanlan

    e lewthwaite (48) concluíram que uma percepção positiva do envolvimento dos pais, bem como

    uma grande satisfação dos mesmos, estavam associadas a um maior prazer na prática des-

    portiva em jovens praticantes de luta. elogios e compreensão por parte dos pais foram ainda

    associados a carreiras desportivas de sucesso entre jovens desportistas de elite (64).

    paralelamente, existem evidências de que as orientações dos filhos são significativamente

    semelhantes às dos seus pais (16), não parecendo subsistir também grandes dúvidas de que o

    clima motivacional parental se pode constituir como determinante na participação desportiva

    dos atletas e do prazer retirado dessa participação. assume-se que o clima motivacional que

    cada indivíduo percebe existir num determinado meio mais não é do que a percepção dos

    objectivos situacionais desse contexto (18). Com efeito, pelos feedbacks, instruções e recom-

    pensas fornecidas, os outros significativos expõem as suas concepções de habilidade e ob-

    jectivos preferidos e, assim, estabelecem um clima motivacional (psicológico) (1). no caso dos

    jovens atletas, quer os pais, quer os membros do grupo em que estes estão inseridos, podem

    influenciar o clima motivacional percebido: se os pais, a maioria dos membros, ou os líderes

    do grupo, são orientados para a tarefa, o clima será direccionado nesse sentido; o contrário

    poderá acontecer se esses elementos estiverem orientados para o ego (45).

    todavia, embora os pais possam desempenhar um papel muito positivo na carreira des-

    portiva dos filhos (64), parecem também existir algumas evidências dos efeitos menos po-

    sitivos do envolvimento parental a este nível. Com efeito, uma elevada pressão parental é

    muitas vezes apontada como um factor preponderante no abandono da prática desportiva (26), na promoção do stress (30) ou no aumento de ansiedade competitiva (2). a este propósito

    refira-se que, num estudo realizado por shields, bredemeier, lavoi e power (50) com pais

    de atletas norte-americanos, 14% admitiram terem gritado ou injuriado o árbitro e 13%

    assumiram terem criticado assertivamente os filhos durante a prática desportiva dos mes-

    mos; entre os jovens, 15% confessaram que os seus pais se zangavam quando não tinham

    um bom desempenho. paralelamente, orlick e botterill (40) estudaram 60 jovens atletas

    que abandonaram a prática de vários desportos, verificando que 31% das desistências se

    deveram a um exagero da ênfase na competição por parte dos pais. por último, pierce e

    stratton (44) constataram que as maiores preocupações sentidas por 62% de 543 jovens

    desportistas com idades compreendidas entre os 10 e os 17 anos eram “não jogar bem”

    e “cometer erros”; contudo, a preocupação com o que os pais diriam também foi um fac-

  • 21

—

RPcd 11 (2)

    01tor extremamente valorizado (11%). assim, encontram-se perfeitamente enquadradas as conclusões de White, duda e hart (63), que referem que os jovens que experimentam uma

    participação forçada e percepcionam uma avaliação negativa por parte dos pais relatam

    níveis de ansiedade mais elevados relativamente à participação e competição desportiva.

    Já aqueles que sentem os pais como indutores de satisfação e prazer na prática parecem

    ser influenciados para uma vinculação sustentada na actividade (6).

    a presente inVestigação

    a presente investigação procurou analisar as relações entre objectivos de realização, cli-

    ma motivacional percebido e clima motivacional parental e ansiedade, em futebolistas do

    escalão de escolas. este estudo constitui-se como relevante porque se, por um lado, o en-

    volvimento de crianças e jovens na prática desportiva, designadamente no futebol, é cada

    vez maior em número e mais precoce em idade, por outro lado, há uma escassez de inves-

    tigações no âmbito dos objectivos de realização, clima motivacional e ansiedade nas faixas

    etárias mais baixas do futebol, uma modalidade em que o investimento e envolvimento

    parental (e muitas vezes a pressão) são claramente superiores aos verificados noutras

    faixas etárias e modalidades.

    MateRial e MÉtOdOS

    partiCipantes

    participaram neste estudo 126 jogadores de futebol do sexo masculino, com idades com-

    preendidas entre os 8 e os 11 anos (9.77 0.91), que competiam no Campeonato distrital

    de Futebol de sete (escalão de escolas), da associação de Futebol do porto (portugal). os

    anos de prática dos atletas variavam entre um e oito (3.03 1.59).

    instrUmentos

    para a avaliação dos objectivos de realização dos jovens relativamente à sua prática

    desportiva foi utilizado o teosQp, que é a versão traduzida e adaptada para português

    por Fonseca (19) do Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire (17). o teosQp é

    constituído por 13 afirmações relativas ao sucesso no desporto, as quais se agrupam

    em duas dimensões que reflectem diferentes orientações para a prática desportiva: (a)

    orientação para o ego (seis itens; e.g., “sinto-me com mais sucesso no futebol quando

    sou o único que consegue executar as técnicas.”); e (b) orientação para a tarefa (sete

    itens; e.g., “sinto-me com mais sucesso no futebol quando trabalho realmente bastan-

    te.”). os sujeitos indicam a sua concordância relativamente ao modo como cada uma

  • das afirmações se aplica a si numa escala tipo likert de 5 pontos (1= discordo total-

    mente a 5= concordo totalmente). na presente investigação, o teosQp revelou valores

    elevados de consistência interna (α tarefa = .83; α ego = .84).

    para avaliar o clima motivacional percebido utilizou-se o pmCsQp (21), que é a versão por-

    tuguesa do Perceived Motivational Climate in Sport Questionnaire (49). este questionário

    tem como função avaliar as percepções dos desportistas sobre o clima motivacional

    da sua equipa, caracterizando-o em relação a duas orientações (clima orientado para

    a mestria e clima orientado para o rendimento). para tal, é constituído por 19 itens que

    descrevem situações relativas ao clima motivacional percepcionado pelos atletas nos

    seus treinos, em três dimensões: (a) mestria (nove itens; e.g., “nos meus treinos, os

    atletas aprendem coisas novas e ficam satisfeitos por isso.”); (b) rendimento (seis itens;

    e.g., “nos meus treinos, os atletas tentam fazer melhor que os outros.”); e (c) Ênfase nos

    erros (quatro itens; e.g., “nos meus treinos, os atletas têm medo de cometer erros."). os

    sujeitos indicam a sua concordância relativamente ao modo como cada uma das afir-

    mações se aplica a si numa escala tipo likert de 5 pontos (1= discordo totalmente a 5=

    concordo totalmente). na presente investigação, o pmCsQp revelou valores aceitáveis de

    consistência interna (α tarefa = .78; α rendimento = .74; α Ênfase nos erros = .75).

    para a avaliação da percepção do clima motivacional parental utilizou-se o pimCQ—2p,

    que é a versão portuguesa (22, 47) do Parent-Initiated Motivational Climate Questionnai-

    re-2 (63). este instrumento é constituído por um total de 36 afirmações, referentes ao

    que o pai (18 itens) e a mãe (18 itens) pensam acerca da actividade desportiva do atle-

    ta. estes itens avaliam três dimensões: (a) prazer na aprendizagem (nove itens; e.g.,

    “Fica mais satisfeito quando eu aprendo algo novo.”), (b) Ênfase nos erros (cinco itens;

    e.g., “Faz-me sentir medo de cometer erros.”) e sucesso sem esforço (quatro itens; e.g.,

    “diz que é importante para mim ganhar sem ter muito trabalho.”). os sujeitos indicam a

    sua concordância relativamente ao modo como cada uma das afirmações se aplica a si

    numa escala tipo likert de 5 pontos (1= discordo totalmente a 5= concordo totalmente).

    na presente investigação, o pimCQ-2p revelou valores elevados de consistência interna,

    tanto relativamente ao pai (α prazer na aprendizagem = .83; α Ênfase nos erros = .80; α sucesso sem esforço =

    .84), como à mãe (α prazer na aprendizagem = .85; α Ênfase nos erros = .86; α sucesso sem esforço = .86).

    para medir o traço de ansiedade competitiva foi utilizada a escala de ansiedade no des-

    porto (ead), versão traduzida e adaptada por Cruz e Viana (10) da Sport Anxiety Scale, um

    instrumento de avaliação multidimensional do traço de ansiedade desenvolvido por smi-

    th, smoll e schutz (53). a ead é uma escala que pretende medir diferenças individuais no

    traço da ansiedade somática e em duas dimensões do traço de ansiedade cognitiva: pre-

    ocupação e perturbação da concentração. a versão utilizada neste estudo engloba um

    total de 21 itens, distribuídos por três subescalas: (a) ansiedade somática (nove itens;

  • 23

—

RPcd 11 (2)

    01e.g., “sinto-me nervoso.”); (b) preocupação (sete itens; e.g., “tenho dúvidas acerca de mim próprio.”); e (c) perturbação da Concentração (cinco itens; e.g., “muitas vezes, quan-

    do estou a competir, não presto atenção ao que se está a passar.”). os sujeitos indicam

    a sua concordância relativamente ao modo como cada uma das afirmações se aplica a

    si numa escala tipo likert de 4 pontos (1= nunca a 4= quase sempre). os scores de cada

    subescala foram obtidos adicionando os valores atribuídos a cada um dos respectivos

    itens, podendo também obter-se um score total do traço de ansiedade competitiva, re-

    sultante do somatório dos scores das três subescalas. na presente investigação, a ead

    revelou valores elevados de consistência interna (α preocupação = .83; α perturbação da Concentração =

    .86; α ansiedade somática = .88).

    por último, pedimos aos atletas que preenchessem um pequeno questionário com dados

    biográficos (e.g., idade) e desportivos (e.g., anos de prática da modalidade).

    proCedimentos

    os questionários foram aplicados no decorrer da época 2008/ 2009, após autorização

    dos treinadores das diferentes equipas. todavia, considerando as idades dos atletas en-

    volvidos no presente estudo, optou-se por realizar uma pré-aplicação dos questionários

    a três atletas, no sentido de apurar eventuais dificuldades relacionadas com a compre-

    ensão e preenchimento dos mesmos. não tendo sido detectados problemas a este ní-

    vel realizou-se, no início de uma sessão de treino, a aplicação propriamente dita. antes

    do preenchimento dos questionários, foi explicado o objectivo do estudo, solicitando-se

    sinceridade nas respostas e garantindo-se o anonimato e confidencialidade dos dados

    recolhidos. Finalmente, importa salientar que o presente estudo foi realizado no âmbito

    de um projecto de investigação aprovado pelo laboratório de psicologia do desporto da

    Faculdade de desporto da Universidade do porto (portugal).

    análise estatístiCa

    para a análise estatística dos dados foi utilizado o programa estatístico Statistical Package

    for Social Sciences (spss; versão 17.0). o nível de significância foi estabelecido em 5% (43).

    os procedimentos estatísticos incluíram: (a) estatísticas descritivas, (b) correlação linear

    de pearson, e (c) análise de variância (one way ANOVA) e teste de comparações múltiplas

    de scheffé. as estatísticas descritivas (médias e desvios-padrão [dp]) visaram conhecer

    aspectos gerais das diferentes distribuições de valores. através da correlação de pearson

    procurou-se medir o grau de correlação entre os objectivos de realização, climas motivacio-

    nais e o traço de ansiedade. Finalmente, a análise de variância (one way ANOVA) foi utilizada

    para analisar a existência de diferenças nos climas motivacionais e/ ou nos objectivos de

    realização de atletas com diferentes níveis de ansiedade: baixo traço ansiedade (bta; n=38),

    moderado traço de ansiedade (mta; n=41) e elevado traço de ansiedade (eta; n=40).

  • ReSultadOS

    na Quadro 1 são apresentadas as estatísticas descritivas de todas as variáveis envolvidas

    no estudo. Como se pode verificar, os objectivos de realização dos atletas direccionavam-

    -se mais para a tarefa do que para o ego. Concomitantemente, o clima motivacional per-

    cepcionado no seio da equipa parecia ser direccionado para a mestria, em detrimento do

    rendimento ou da ênfase nos erros. relativamente ao pai e à mãe, os atletas percepcio-

    navam um clima mais voltado para a aprendizagem do que para a valorização do erro e

    do sucesso sem esforço. no que respeita ao traço de ansiedade, saliente-se o facto de os

    níveis de ansiedade somática serem mais elevados do que os níveis de ansiedade cognitiva.

    QuaDro
1 — Objectivos de realização, clima motivacional e ansiedade competitiva

    dos jogadores de futebol (estatísticas descritivas da amostra total).

    média dp mínimo máximo

    obJeCtiVos de realização

    tarefa 4.32 0.61 2.00 5.00

    ego 2.61 0.89 1.00 5.00

    Clima motiVaCional perCebido (eQUipa)

    mestria 4.36 0.55 1.89 5.00

    rendimento 3.28 0.87 1.00 5.00

    ênfase nos erros 3.72 0.89 1.75 5.00

    Clima motiVaCional parental

    pai

    aprendizagem 4.27 0.64 2.56 5.00

    ênfase nos erros 2.74 1.12 1.00 5.00

    sucesso sem esforço 2.84 1.33 1.00 5.00

    mãe

    aprendizagem 4.28 0.68 1.78 5.00

    ênfase nos erros 2.76 1.19 1.00 5.00

    sucesso sem esforço 2.84 1.33 1.00 5.00

    ansiedade traço

    ansiedade somática 20.38 7.15 9.00 36.00

    ans. cognitivapreocupação 16.75 5.16 7.00 28.00

    perturbação da concentração 10.69 4.19 5.00 20.00

    score total de ansiedade 47.83 15.54 23.00 84.00

  • 25

—

RPcd 11 (2)

    01de seguida, foi analisada a correlação entre objectivos de realização e climas motivacionais percepcionados pelos atletas com o traço de ansiedade (Quadro 2). os resultados revela-

    ram uma associação negativa entre a orientação para a tarefa e as diferentes dimensões

    da ansiedade. em contraste, a orientação para o ego estava positivamente correlacionada

    com a ansiedade (nas suas diferentes dimensões). relativamente ao clima motivacional

    percebido junto da equipa, os resultados revelaram uma associação negativa entre a per-

    cepção de um clima orientado para a mestria e as diferentes dimensões de ansiedade. Já

    a percepção de um clima orientado para o ego estava positivamente correlacionada com a

    ansiedade. Quanto ao clima motivacional parental, os resultados revelaram uma associa-

    ção negativa entre a percepção de um clima orientado para a aprendizagem e as diferentes

    dimensões de ansiedade. em contraste, as percepções de climas orientados para o erro

    e para o sucesso sem esforço estavam positivamente correlacionadas com a ansiedade.

    QuaDro
 2 — Correlações entre objectivos de realização, clima motivacional e

    traço de ansiedade.

    ansiedade somátiCa

    ansiedade CognitiVasCore total ansiedade

    preocupação pert. concent.

    Objectivos de realização

    tarefa -0.23 * -0.25 ** -0.26 ** -0.26 **

    ego 0.30 ** 0.32 ** 0.31 ** 0.33 **

    Clima motivacional (equipa)

    mestria -0.05 0.00 -0.05 -0.04

    rendimento 0.43 ** 0.40 ** 0.46 ** 0.45 **

    ênfase nos erros 0.25 ** 0.24 ** 0.18 * 0.24 **

    Clima motivacional parental (pai)

    aprendizagem -0.19 * -0.10 -0.18 -0.17

    erro 0.55 ** 0.46 ** 0.56 ** 0.56 **

    sucesso sem esforço 0.36 ** 0.26 ** 0.40 ** 0.36 **

    Clima motivacional parental (mãe)

    aprendizagem -0.09 -0.06 -0.16 -0.11

    erro 0.54 ** 0.43 ** 0.60 ** 0.55 **

    sucesso sem esforço 0.42 ** 0.27 ** 0.47 ** 0.41 **

    * p < 0.05; ** p < 0.01

    por último, procurando aprofundar a relação entre as variáveis em análise, analisou-se

    a existência de diferenças nos climas motivacionais e/ ou nos objectivos de realização

    de atletas com distintos níveis de ansiedade traço (baixo, médio e elevado). Como se

    pode verificar no Quadro 3, foram encontradas diferenças significativas no que respeita

    à orientação para a tarefa e para o ego, assim como no clima motivacional orientado

    para o rendimento, sendo que os atletas com níveis de ansiedade mais baixos eram mais

  • orientados para a tarefa que aqueles com um traço médio de ansiedade; adicionalmente,

    os atletas com elevados níveis de ansiedade eram mais orientados para o ego e percep-

    cionavam um clima motivacional mais voltado para o rendimento do que os atletas com

    ansiedade traço mais baixa.

    no que respeita à percepção do clima motivacional parental, só foram encontradas dife-

    renças significativas ao nível da ênfase nos erros e da valorização do sucesso sem esforço.

    de uma forma geral, os atletas que exibiam níveis mais elevados de traço de ansiedade

    percebiam que os seus pais e/ ou mães promoviam um clima motivacional mais orientado

    para os erros e para a valorização do sucesso sem esforço, do que os atletas com níveis de

    ansiedade mais baixos.

    QuaDro
3 — Objectivos de realização e clima motivacional em função do traço

    de ansiedade.

    ansiedade média dp F p

    obJeCtiVos de realização

    tarefa

    BTA 4.54* 0.54

    4.01 .02MTA 4.20* 0.63

    ETA 4.24 0.59

    ego

    BTA 2.34* 0.95

    6.79 .00MTA 2.52 0.86

    ETA 3.02* 0.75

    Clima motiVaCional (eQUipa)

    mestria

    BTA 4.43 0.56

    0.50 .61MTA 4.33 0,46

    ETA 4.32 0.59

    rendimento

    BTA 2.91* 0.99

    13.69 .00MTA 3.11 0.60

    ETA 3.80* 0.74

    ênfase nos erros

    BTA 3.50 1.01

    2.11 .13MTA 3.75 0.87

    ETA 3.91 0.81

    Clima motiVaCional parental (pai)

    aprendizagem

    BTA 4.47 0.54

    2.94 .06MTA 4.20 0.64

    ETA 4.12 0.68

  • 27

—

RPcd 11 (2)

    01ansiedade média dp F p

    erros

    BTA 2.10* 0.96

    18.64 .00MTA 2.55 0.95

    ETA 3.45* 1.05

    sucesso sem esforço

    BTA 2.40* 1.14

    5.46 .01MTA 2.67 1.26

    ETA 3.27* 1,15

    Clima motiVaCional parental (mãe)

    aprendizagem

    BTA 4.42 0.71

    1.23 .30MTA 4.28 0.60

    ETA 4.18 0.71

    erros

    BTA 2.18* 1.22

    17.52 .00MTA 2.48 0.95

    ETA 3.53* 1.01

    sucesso sem esforço

    BTA 2.40* 1.27

    10.03 .00MTA 2.55** 1,32

    ETA 3,56*/ ** 1,16

    */ ** grupos cujas médias diferem significativamente (teste post hoc de Scheffe)

    diScuSSãO e cOncluSÕeS

    o
presente
estudo
procurou
analisar
as
relações
entre
objectivos
de
realização,
clima
mo-

    tivacional
parental
e
da
equipa
e
ansiedade
em
futebolistas
do
escalão
de
escolas,
compre-

    endendo
assim
uma
faixa
etária
escassamente
estudada
e
na
qual
a
influência
parental
se


    pode
fazer
sentir
de
forma
preponderante.

    Um primeiro aspecto que importa realçar diz respeito ao facto de os atletas que integraram

    a amostra deste estudo se orientarem preferencialmente para a tarefa e não para o ego, con-

    firmando os dados de diversos estudos realizados em diferentes modalidades e níveis com-

    petitivos (e.g., 36, 39, 52, 57, 60). por outras palavras, do ponto de vista cognitivo os atletas pareciam

    orientar-se de forma mais intensa para a demonstração de competências relativamente a si

    mesmos do que para a comparação dos seus níveis de performance com os dos seus pares.

    assim, considerando que diversos investigadores (e.g., 29, 46) associam a orientação para a tarefa

    a um maior esforço e satisfação na prática das respectivas modalidades, os resultados obti-

    dos parecem revelar-se vantajosos em termos motivacionais para a prática do futebol, suge-

    rindo que este pode ser um bom meio para o desenvolvimento de competências, procura da

    excelência e superação (11). por outro lado, ainda que a competição no futebol se caracterize

    pela comparação e confrontação de competências, sendo assim natural, e porventura bené-

    fico, que os atletas apresentassem valores elevados de orientação para o ego (23), verificou-se

  • que a ansiedade estava associada positivamente à orientação para o ego e negativamente

    à orientação para a tarefa. estes resultados parecem ser consistentes com vários estudos

    realizados anteriormente, os quais, para além de terem encontrado uma relação negativa en-

    tre pressão, ansiedade cognitiva ou preocupação pré-competitiva e orientação para a tarefa,

    sugeriram que um sujeito orientado para o ego tende a aplicar uma carga afectiva negativa

    na prática desportiva, um facto que parece promover elevados níveis de ansiedade cognitiva

    e somática (27, 37, 63). de ressalvar ainda que, no presente estudo, foram encontradas diferen-

    ças nas orientações motivacionais entre atletas com diferentes níveis de ansiedade, as quais

    parecem confirmar os resultados anteriores; isto é, que níveis mais elevados de ansiedade

    estarão efectivamente associados a uma maior orientação para o ego, enquanto níveis mais

    baixos de ansiedade estão relacionados com uma maior orientação para a tarefa.

    Quanto ao clima motivacional percepcionado na equipa, a análise dos resultados revelou

    que este se direccionava primordialmente para a mestria, em detrimento do rendimen-

    to. estes resultados são positivos, uma vez que existem evidências de que a percepção

    de um clima de mestria está associada a padrões motivacionais adaptáveis e respostas

    afectivas positivas (37). na mesma linha, na presente investigação também pareceu existir

    uma relação negativa entre um clima orientado para a mestria e a ansiedade. além dis-

    so, numa investigação de Vazou, ntoumanis e duda (58), constatou-se que os atletas que

    percepcionavam, no seio do grupo, um clima orientado para a tarefa, manifestavam altos

    índices de esforço e gosto pela prática. paralelamente, a correlação positiva encontrada

    entre a ansiedade e um clima motivacional orientado para o rendimento e/ ou para os erros

    também é consistente com a investigação de Vazou e colaboradores (58), tendo os autores

    encontrado uma relação idêntica entre estas variáveis.

    Quanto ao clima motivacional parental, os resultados parecem ser semelhantes aos ve-

    rificados na equipa, na medida em que os atletas percepcionavam, relativamente aos pais,

    um clima motivacional mais orientado para a aprendizagem do que para os erros ou para

    o sucesso sem esforço. além disso, surgiram evidências de uma relação negativa entre o

    traço de ansiedade competitiva e um clima motivacional parental orientado para a aprendi-

    zagem. estes dados parecem ser positivos e corroboram a literatura existente, pois parece

    ser claramente aceite que a presença de um clima orientado para a tarefa proporciona

    prazer, divertimento, melhoria e desenvolvimento de percepções de competência pessoal

    e motivação intrínseca dos indivíduos (2, 9, 48). numa perspectiva mais global, saliente-se que

    diversos autores defendem que os pais podem desempenhar um papel positivo na carreira

    desportiva dos filhos (e.g., 2, 48, 64), sendo o seu apoio fundamental para a participação e suces-

    so dos mesmos no desporto (2, 65). porém, como referimos anteriormente, não obstante os

    aspectos positivos do envolvimento parental na participação desportiva dos atletas, a ver-

    dade é que muitas vezes este envolvimento tem efeitos adversos (2, 26, 30), podendo consti-

    tuir-se como uma pressão excessiva e gerando elevados níveis de ansiedade. o facto de, na

  • 29

—

RPcd 11 (2)

    01presente investigação, níveis mais elevados de traço de ansiedade estarem associados a um clima motivacional parental que enfatizava o erro e o sucesso sem esforço — relações

    evidentes não só nas análises correlacionais, mas também na comparação de atletas com

    diferentes níveis de ansiedade — não só corroboram estas afirmações, mas também são

    consistentes com diversos estudos que reconhecem uma relação entre a pressão exerci-

    da pelos pais e a presença de ansiedade competitiva (2, 48). neste contexto, os resultados

    do presente estudo sugerem que procurar incentivar os pais a promoverem um clima de

    aprendizagem, em vez de se centrarem unicamente no sucesso ou nos erros dos seus fi-

    lhos, pode ser um óptimo ponto de partida para uma participação desportiva positiva.

    em suma, a investigação realizada permitiu evidenciar a importância que um clima moti-

    vacional orientado para a tarefa, responsável pela modelagem de objectivos de realização

    concordantes (ver 15, 45), pode ter ao nível do traço de ansiedade em crianças que estão a ini-

    ciar a prática desportiva, designadamente o futebol. todavia, em termos futuros, constitui-

    -se naturalmente como urgente que se continue a perspectivar o desenvolvimento dos

    jogadores de futebol como um caminho que disseque todas as variáveis que o possam

    perturbar. a formação de um jogador de futebol é um continuum e há vários factores que

    podem, ou não, promover um desenvolvimento salutar do futebolista. neste contexto, no

    âmbito da psicologia do desporto, a ansiedade surge apenas como um dos factores que in-

    fluenciam o rendimento. neste estudo, optámos por estudar a relação entre os objectivos

    de realização, o clima motivacional e o traço de ansiedade em jogadores do escalão de es-

    colas. será que nos escalões de infantis, iniciados, juvenis e juniores se verificariam estes

    resultados? o treinador, em comparação com os pais e colegas de equipa, promoverá um

    clima motivacional distinto? em clubes de maior dimensão, haverá maiores ou menores

    níveis de ansiedade? o nível competitivo é, por si só, um factor indutor de ansiedade? e de

    que forma é que os pais, colegas e treinadores interagem com os atletas, em termos do

    clima motivacional que é gerado? adicionalmente, há outras áreas, no domínio da psicolo-

    gia do desporto, cuja relação com a ansiedade competitiva é merecedora de atenção (e.g.,

    competência percebida, coesão de grupo). pensamos assim ter contribuído para a com-

    preensão de uma pequena parte do “problema”, perspectivando para um futuro próximo

    novos “espantos” que contribuam para o desenvolvimento dos jovens que praticam futebol.

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