2008_psicomotricidade -histórico e conceitos

18
PSICOMOTRICIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS Ana Paula Jobim 1 Ana Eleonora Sebrão Assis 2 RESUMO Este artigo é o resultado de uma revisão bibliográfica sobre a psicomotricidade, desenvolvimento psicomotor, histórico, as origens da educação psicomotora, conceitos de esquema corporal, lateralidade, direcionalidade, percepção e orientação espacial. Aborda ainda a relação entre Psicomotricidade, Educação Física e Educação Psicomotora numa perspectiva de como e quando devem ser trabalhadas na escola. Palavras – chaves: Psicomotricidade, Esquema corporal, Lateralidade, Percepção espacial. INTRODUÇÃO A Psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal e tem como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança. Por meio de atividades as crianças, além de se divertir, criam, interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem. Nesse contexto a Educação Física tem como objetivo estimular o desenvolvimento psicomotor e, como princípio fundamental, despertar a criatividade dos educadores, além de contribuir para a formação integral do educando, utilizando-se das atividades físicas para o desenvolvimento de todas suas potencialidades. Tem ainda a finalidade de auxiliar no desenvolvimento físico, mental e afetivo do indivíduo, com o propósito de um desenvolvimento sadio. É importante assegurar o desenvolvimento funcional da criança e auxiliar na expansão e equilíbrio de sua afetividade, através da interação com o ambiente. O conhecimento das partes do corpo depende do meio, da educação, da aprendizagem e do exercício, e o melhor instrumento a ser utilizado seria o próprio corpo, sem qualquer outro material. BREVE HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE 1 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Luterana do Brasil 2 Professora da Universidade Luterana do Brasil – Campus Guaíba e orientadora deste trabalho.

Upload: ricardo-castro

Post on 05-Jul-2015

490 views

Category:

Documents


12 download

TRANSCRIPT

Page 1: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

PSICOMOTRICIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS

Ana Paula Jobim 1

Ana Eleonora Sebrão Assis 2

RESUMO

Este artigo é o resultado de uma revisão bibliográfica sobre a psicomotricidade,

desenvolvimento psicomotor, histórico, as origens da educação psicomotora, conceitos de

esquema corporal, lateralidade, direcionalidade, percepção e orientação espacial. Aborda

ainda a relação entre Psicomotricidade, Educação Física e Educação Psicomotora numa

perspectiva de como e quando devem ser trabalhadas na escola.

Palavras – chaves: Psicomotricidade, Esquema corporal, Lateralidade, Percepção espacial.

INTRODUÇÃO

A Psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do

esquema corporal e tem como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas

as etapas da vida de uma criança. Por meio de atividades as crianças, além de se divertir,

criam, interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem. Nesse contexto a Educação

Física tem como objetivo estimular o desenvolvimento psicomotor e, como princípio

fundamental, despertar a criatividade dos educadores, além de contribuir para a formação

integral do educando, utilizando-se das atividades físicas para o desenvolvimento de todas

suas potencialidades. Tem ainda a finalidade de auxiliar no desenvolvimento físico, mental e

afetivo do indivíduo, com o propósito de um desenvolvimento sadio. É importante assegurar o

desenvolvimento funcional da criança e auxiliar na expansão e equilíbrio de sua afetividade,

através da interação com o ambiente.

O conhecimento das partes do corpo depende do meio, da educação, da aprendizagem

e do exercício, e o melhor instrumento a ser utilizado seria o próprio corpo, sem qualquer

outro material.

BREVE HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE

1 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Luterana do Brasil 2 Professora da Universidade Luterana do Brasil – Campus Guaíba e orientadora deste trabalho.

Page 2: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

Historicamente o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso médico, mais

precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX, nomear as zonas

do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Só em pleno século XIX o corpo

começa a ser estudado, em primeiro lugar, por neurologistas, por necessidade de compreensão

das estruturas cerebrais, e posteriormente por psiquiatras, para a classificação de fatores

patológicos. É justamente a partir da necessidade médica de encontrar uma área que explique

certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, a palavra

PSICOMOTRICIDADE, no ano de 1870.

As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor correspondem a um

enfoque eminentemente neurológico.

No campo patológico destaca-se a figura de Dupré (1909), neuropsiquiatra, de

fundamental importância para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência

da debilidade motora (antecedente do sintoma psicomotor) de um possível correlato

neurológico e o termo ‘’Psicomotricidade’’, quando introduz os primeiros estudos sobre a

debilidade motora nos débeis mentais.

Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, é provavelmente o grande pioneiro da

psicomotricidade, pois ocupa-se do movimento humano dando-lhe uma categoria fundante

como instrumento na construção do psiquismo. Esta diferença permite a Wallon relacionar o

movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo. Para ele, o

movimento é a única expressão, e o primeiro instrumento do psiquismo, e que o

desenvolvimento psicológico da criança é o resultado da oposição e substituição de atividades

que precedem umas as outras. Através do conceito do esquema corporal, introduz,

provavelmente, dados neurológicos nas suas concepções psicológicas, motivo esse que o

distingue de outro grande vulto da psicologia, Piaget, que muito influenciou também a teoria e

prática da psicomotricidade. Wallon refere-se ao esquema corporal não como uma unidade

biológica ou psíquica, mas como a construção, elemento de base para o desenvolvimento da

personalidade da criança.

Em 1935, Eduard Guilmain, neurologista, a vê como campo científico e impulsiona as

primeiras tentativas de estudo da reeducação psicomotora, onde se sobressai e desenvolve um

exame psicomotor para fins de diagnóstico, de indicação da terapêutica e de prognóstico.

Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, líder da escola de psicomotricidade,

delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o

Page 3: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

psiquiátrico. Com estas novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras

disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia, desenvolve intensa atividade

científica, prosseguindo e continuando a obra de Wallon vai consolidando os princípios e as

bases da psicomotricidade.

A psicomotricidade, para Wallon e Ajuriaguerra, concebe os determinantes biológicos

e culturais do desenvolvimento da criança como dialéticos e não redutíveis uns aos outros.

Na década de 70, diferentes autores definem a psicomotricidade como uma

motricidade de relação. Começa então, a ser delimitada uma diferença entre uma postura

reeducativa e uma terapêutica que, ao despreocupar-se da técnica instrumentalista e ao

ocupar-se do "corpo de um sujeito" vai dando progressivamente, maior importância à relação,

à afetividade e ao emocional. Para o psicomotricista, a criança constitui sua unidade a partir

das interações com o mundo externo e nas ações do outro (mãe e substitutos) sobre ela.

A especificidade do psicomotricista situa-se assim, na compreensão da gênese do

psiquismo e dos elementos fundadores da construção da imagem e da representação de si. O

sintoma psicomotor instala-se, quando ocorre um fracasso na integração somatopsíquica,

conseqüente de fatores diversos, seja na origem do processo de constituição do psiquismo, ou

posteriormente em função de disfunções orgânicas e/ou psíquicas. A patologia psicomotora é,

portanto, uma patologia do continente psíquico, dos distúrbios da representação de si cuja

sintomatologia pode se apresentar no somático e/ou no psíquico.

O conceito de psicomotricidade ganhou assim uma expressão significativa, uma vez

que traduz a solidariedade profunda e original entre a atividade psíquica e a atividade motora.

O movimento é equacionado como parte integrante do comportamento. A psicomotricidade,

produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio, e instrumento privilegiado através

do qual a consciência se forma e materializa-se.

É na integração transdiciplinar das áreas do saber que provavelmente se colocará no

futuro a evolução e atualização do conceito de Psicomotricidade. A lateralização como

resultado da integração bilateral postural do corpo é peculiar no ser humano e está

implicitamente relacionada com a evolução e utilização de instrumentos, isto é, com

integrações sensoriais complexas e com aquisições motoras unilaterais muito especializadas,

dinâmicas e de origem social.

A Psicomotricidade é uma ciência que busca em muitos campos de pesquisa dados,

argumentos e teorias. Duas são as áreas de grande envolvimento com a evolução destas

Page 4: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

pesquisas. A Educação Física e a Psicologia buscam a cada dia um número maior de

resultados em pesquisa para que seus profissionais façam de sua atuação algo cada vez mais

competente e sólido no desenvolvimento do homem.

A PSICOMOTRICIDADE E A EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

Muitos pesquisadores definem ou apresentam a psicomotricidade para o mundo

científico. Segue algumas das mais importantes citadas pela literatura.

Segundo Le Boulch (1969), a Psicomotricidade:

“Se dá através de ações educativas de movimentos espontâneos e atitudes corporais da criança, proporcionando-lhe uma imagem do corpo contribuindo para a formação de sua personalidade. É uma prática pedagógica que visa contribuir para o desenvolvimento integral da criança no processo de ensino-aprendizagem, favorecendo os aspectos físicos, mental, afetivo-emocional e sócio-cultural, buscando estar sempre condizente com a realidade dos educandos.”

Para a língua portuguesa, Ferreira apresenta a seguinte definição: “É a capacidade de

determinar e coordenar mentalmente os movimentos corporais; a atividade ou conjunto de

funções psicomotoras.” (FERREIRA, 1988).

Fonseca (1988) comenta que a "psicomotricidade é atualmente concebida como a

integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o

meio.”

O pesquisador Saboya, 1988 conceitua psicomotricidade como:

“Uma ciência que tem por objeto o estudo do homem através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo. Em seu estudo, destaca justamente esta relação entre motricidade, mente e afetividade.”

Para Vanja Ferreira “Psicomotricidade é a ciência da educação que educa o

movimento e ao mesmo tempo coloca em jogo as funções da inteligência. “

“Psicomotricidade é a Interação de diversas funções neurológicas, motrizes e

psíquicas. É essencialmente, a educação do movimento, ou por meio do movimento, que

provoca uma melhor utilização das capacidades psíquicas.” (Francisco Rosa neto, 2002).

Primeiramente a psicomotricidade fixava-se somente no desenvolvimento motor; mais

tarde estudou a relação entre o desenvolvimento motor e intelectual da criança, e só agora

estuda a lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal e sua relação com o

desenvolvimento intelectual da criança. A psicomotricidade é a capacidade psíquica de

realizar movimentos, não se tratando da realização do movimento propriamente dito, mas sim

Page 5: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

da atividade psíquica que transforma a imagem para a ação em estímulos para os

procedimentos musculares adequados.

Enderle, 1987:

“A Psicomotricidade na sua essência, não é só a chave da sobrevivência, como se

observa no animal e na espécie humana, mas é igualmente, a chave da criação

cultural, em síntese a primeira e última manifestação da inteligência. A

Psicomotricidade, em termos filogenéticos, tem, portanto, um passado de vários

milhões de anos, porém uma história restrita de apenas cem anos. A motricidade

humana, a única que se pode denominar por psicomotora, é distinta da motricidade

animal por duas características: é voluntária e possui novos atributos de interação

com o mundo exterior”.

Conforme Roberto Moraes, 2002(Recreação e jogos escolares pg. 13):

“Toda educação é motora, tudo que falamos é Psicomotricidade. Psicomotricidade é a fala do corpo. Para desenvolver a criança globalmente, permitindo-lhe uma visão de um mundo mais real, através de suas descobertas, de sua criatividade, é fundamental deixar a criança se expressar, analisar e transformar sua realidade”.

Para Francisco Rosa Neto, 2002 “Educação psicomotora é a ação pedagógica e

psicológica que utiliza o movimento com o fim de normalizar ou melhorar o comportamento

da criança”.

As origens da educação psicomotora remontam aos estudos realizados com crianças

que apresentavam problemas de aprendizagem, mais especificamente, na leitura, na escrita, no

cálculo matemático. Essas crianças muitas vezes, eram também, portadoras de outros desvios

de conduta e de comportamento que em conseqüência também apresentam problemas de

aprendizagem, trabalhando com essas crianças, os franceses, passaram a utilizar métodos

pedagógicos denominados de reeducação psicomotora, cuja, ênfase era posta no domínio

corporal. E quando submetidas a programas de reeducação psicomotora passavam a ter um

desempenho satisfatório. A partir daí que o domínio corporal e as aprendizagens cognitivas

passaram a caminharem juntas.

Para Le Boulch, 2001:

“A Educação Psicomotora refere-se a uma formação de base indispensável a toda a criança, seja ela normal ou com problemas, pois responde a uma dupla finalidade: assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta as possibilidades da criança, e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibra-se através do intercambio com o ambiente humano. É ação pedagógica que tem como objetivo principal o desenvolvimento motor e mental da criança, com a finalidade de levá-la a dominar o próprio corpo e a adquirir uma inibição voluntária, propõe, tem no

Page 6: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

movimento espontâneo, sua diretriz fundamental, pois, em qualquer movimento, existe um condicionante afetivo que determina um comportamento intencional. Acredita-se que é sempre uma ação motriz, por menos que seja que regula o aparecimento e o desenvolvimento das formações mentais, é pelo aspecto motor que a criança estabelece os primeiros contatos com a linguagem socializada.”

A educação psicomotora se limitava a tentar tratar e solucionar os problemas revelados

através dos sintomas; trabalhava a nível preventivo e a nível corretivo-terapêutico. Estes dois

aspectos caminham juntos e se acham envolvidos com os problemas de instabilidade,

inibição, angústia, coordenação geral defeituosa, problemas de orientação espacial e temporal,

de ritmo, de consciência de si, da imagem de si, do esquema corporal. Na prática da

psicomotricidade, a relação mente-corpo passa pela ação motora e pela ação psíquica que

permitem efetuar o despertar da consciência corporal, através dos movimentos e dos

pensamentos, passando também pela história afetiva do indivíduo, a maneira de viver o seu

corpo dá origem à elaboração e a evolução da imagem do corpo e a psicomotricidade permite

descobrir, redescobrir e viver melhor o corpo, o mais importante não são os métodos, as

técnicas e os instrumentos, apesar de indispensáveis, mas sim permitir desabrochar a evolução

positiva do ser tanto na relação consigo mesmo, como com o mundo externo. Noções de aqui

e ali, esquerda, direita, frente, atrás, de cima, de baixo, de dentro e fora são fundamentais para

a orientação do ser humano, no sentido de sua autonomia e de sua independência. Portanto, a

Educação Psicomotora deve ser a ação pedagógica norteadora do trabalho, sobretudo na pré-

escola e nos primeiros anos escolares, pois existe uma necessidade de se introduzir este

conhecimento nestas idades, mas o que não significa que não possa se aplicar nas séries finais

ou em adultos que por sinal, muitas vezes são os que mais precisam, pois além de não se

controlarem, não dominam o seu corpo.

A expressão educar o físico tem uma dimensão bem mais ampla do que simplesmente

ensinar uma modalidade esportiva, melhorar o tônus muscular, melhorar a resistência aeróbia

e anaeróbia de uma pessoa, mas também, levá-la a dominar o corpo em toda a sua dimensão,

seja executando os movimentos mais precisos, sejam os mais amplos, evidenciando controle

neuromuscular.

Segundo Langlade apud Negrine “Educação Psicomotora é a ação psicológica e

pedagógica que utiliza os meios da educação física com o fim de normalizar ou melhorar o

comportamento da criança, e também o melhoramento da dimensão biológica”.

Le Boulch (2001) afirma que os movimentos espontâneos dependem das experiências

vividas anteriormente (mesmo não sendo pensadas), pois não se trata de uma memória

intelectual, mas de uma verdadeira memória corporal.

Page 7: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

Vayer apud Le Boulch (2001):

”A Educação psicomotora é uma educação global que, associando os potenciais intelectuais, afetivos, sociais e motores da criança, dá-lhe segurança, equilíbrio e permite o seu desenvolvimento, organizando corretamente as suas relações com os diferentes meios nos quais deve evoluir”.

“A psicomotricidade é, inicialmente, uma determinada organização funcional

da conduta e da ação; correlatamente, é certo tipo de prática da reabilitação gestual”. (Jacques

Chauzaud, 1987).

“A psicomotricidade se faz necessária para a prevenção e tratamento de problemas, a

fim de conseguir o máximo do potencial dos alunos, não só motor, mas em outros aspectos da

personalidade, que se inter-relacionem.” (Lorenzon, 1995)

IMAGEM, ESQUEMA, VIVÊNCIA E CONSCIÊNCIA CORPORAL

“A imagem do corpo representa uma forma de equilíbrio que, como núcleo central da

personalidade, se organiza em um contexto de relações mútuas do organismo e do meio.”

(Solange Valadares e Rogéria Araújo, 1999).

Vayer (1979) descreve a imagem corporal como:

“Resultado complexo de toda a atividade cinética, sendo a imagem do corpo a síntese de todas as mensagens, de todos os estímulos e de todas as ações que permitiram á criança se diferenciar do mundo exterior e de fazer do ‘’eu’’ o sujeito de sua própria existência. O esquema corporal pode ser definido no plano educativo como a chave de toda a organização da personalidade.”

Ajuriaguerra, 1972 diz que:

“A evolução da criança é sinônimo de conscientização e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo, a criança é o seu corpo, pois é através dele que ela elabora todas as suas experiências vitais e organiza toda a sua personalidade, integra e retêm a síntese das atitudes afetivas vividas e experimentadas significativamente.”

“Esquema corporal é a organização das sensações relativas ao próprio corpo em

conexão com os dados do mundo exterior a utilização da imagem do corpo.” (Solange

Valadares e Rogéria Araújo, 1999).

Para Solange Valadares e Rogéria Araújo a vivência corporal é a consciência das

sensações vinculadas ao próprio corpo, com ou sem segmentos e deslocamentos,

experimentados por um sujeito em uma ou em outra situação.

Kathleen Haywood, 2004:

”Consciência corporal é o reconhecimento, a identificação e a diferenciação da localização, do movimento e das inter-relações das partes do corpo e das

Page 8: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

articulações; também é a consciência que se tem da orientação espacial e da localização percebida do corpo no ambiente.”

Para Wallon apud Meur:

“O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança, é a representação relativamente global, cientifica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo”.

Segundo Meur, 1991:

“É a tomada de consciência, pela criança, de possibilidades motoras e de suas possibilidades de agir e de expressar-se. A própria criança percebe-se e percebe os seres e as coisas que a cercam. Em função de sua pessoa, sua personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de consciência de sue corpo, de seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo a sua volta“.

LATERALIDADE E DIRECIONALIDADE

O termo lateralização, vem do latim que quer dizer ‘’lado’’. São duas as teorias. Uma

refere-se à herança, isto é, a dominância lateral estaria diretamente relacionada com fatores

genéticos e a outra se refere à dominância de um lado do córtex cerebral sobre o outro, isto e,

a dominância hemisférica seria a determinante da lateralização corporal.

Em princípio, dois indivíduos de igual composição genética deveriam possuir a mesma

lateralização, mas o estudo de Zazzo (1960) encontrou contradições na teoria genética, essas

diferenças de lateralidade em gêmeos idênticos tendem a provar que existem também fatores

não genéticos determinantes da lateralidade corporal. Este autor estudou gêmeos

monozigóticos, isto é, indivíduos com a mesma composição genética, encontrando neles

lateralidades diferentes, sempre sem descartar as influências sócio-culturais que podem alterar

a lateralização dos indivíduos.

Quirós e Scharager dizem que: “a lateralidade se refere à prevalência motora de um

lado do corpo, e que esta lateralização motora coincide com a predominância sensorial do

mesmo lado e com as possibilidades simbólicas do hemisfério cerebral oposto.”

Conforme Le Boulch (2001):

”A lateralização é a manifestação de um predomínio motor relacionado com as

partes do corpo que integram suas metades direita e esquerda, predomínio este que,

por sua vez, se vincula á aceleração do processo de maturação dos centros sensório-

motores de um dos hemisférios cerebrais. Já para Defontaine a lateralidade refere-

se à dominância de um lado do corpo sobre o outro.”

Já Fonseca diz que “se trata de um fenômeno morfológico que representa uma forma

de assimetria funcional”.

Page 9: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

A lateralidade corporal refere-se ao esquema do espaço interno do indivíduo, que o

capacita a utilizar um lado do corpo com melhor desembaraço do que o outro, em atividades

que requeiram habilidade, caracterizando-se por uma assimetria funcional.

O corpo humano está caracterizado pela presença de partes anatômicas pares e

globalmente simétricas. Essa simetria anatômica se redobra, não obstante, por uma assimetria

funcional no sentido de que certas atividades só intervêm em uma das partes. Por exemplo,

escrevemos com uma mão só; os centros de linguagem se situam na maioria as pessoas, no

hemisfério esquerdo. A lateralidade é a preferência de uma das partes simétricas do corpo:

mão, olho, ouvido, perna; a lateralização cortical é a especialidade de um dos dois hemisférios

quanto ao tratamento da informação sensorial ou quanto ao controle de certas funções.

A ação educativa fundamental para colocar a criança nas melhores condições para

acender a uma lateralidade definida, respeitando fatores genéticos e ambientais, é a que lhe

permita organizar suas atividades motoras.

Gallahue, 2001:

“Uma área de grande interesse para muitos professores é a orientação direcional, pois é por ela que as crianças são capazes de dar a dimensão a objetos que estão no espaço externo. Os conceitos de esquerda/direita, para cima/para baixo, topo/fundo, dentro/fora e frente/trás aperfeiçoam-se por meio de atividades motoras que enfatizam a direção.”

O estabelecimento da orientação direcional é um processo de desenvolvimento

que se baseia tanto na maturação como na experiência. A lateralização manual surge no fim

do primeiro ano, sendo perfeitamente normal para a criança de 4- 5 anos experimentar

confusão na direção, devendo se preocupar com as de 6-7 anos que de forma consistente

experimenta esses problemas, pois é quando se inicia o ensino da leitura e escrita.

“Lateralidade é a consciência que temos de que o corpo tem dois lados distintos, que

podem se mover independentemente; trata-se de um componente da consciência corporal.”

(Kathleen Haywood, 2004).

Apesar das crianças tipicamente terem consciência do cima-embaixo e do em frente-

atrás antes dos três anos, elas desenvolvem o entendimento de que o corpo tem dois lados

distintos, ou lateralidade, com aproximadamente 4 ou 5 anos (Hecaen e Ajuriaguerra, 1964).

A criança aprende a se dar conta de que apesar de suas 2 mãos, 2 pernas e assim por diante

serem do mesmo tamanho e formato, ela pode posicioná-las diferentemente, isto é, denominar

ou identificar essas dimensões.

Page 10: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

Uma melhoria relacionada à idade na capacidade de discriminação esquerda-direita

ocorre entre os 4 e 5 anos, com a maioria das crianças respondendo quase que perfeitamente

só por volta dos 10 anos. (Aires, 1969; Swanson e Benton, 1955; Williams, 1973).

Direcionalidade é a capacidade de projetar as dimensões espaciais do corpo no espaço

imediato e de se apoderar de conceitos espaciais sobre o movimento ou localizações de

objetos no ambiente. E esta muitas vezes ligada à lateralidade, pois crianças com um senso de

lateralidade pobre também têm, em geral, pouca direcionalidade.

Para Jacques Chauzaud “a lateralização é definida a partir da confrontação do tônus,

da extensibilidade e do equilíbrio, distinguindo-se, desta forma, a mão e o pé dominante”.

Le Boulch, 2001:

”A lateralização é a tradução de uma assimetria funcional, os espaços motores do lado direito e do lado esquerdo não são homogêneos, esta desigualdade vai manifestar-se durante os reajustamentos práxicos de natureza intencional é o reflexo do predomínio motriz dos segmentos direito e esquerdo, isto é, a ‘’bússola’’ do esquema corporal. O lado esquerdo e o direito não são homogêneos e esta distinção se manifesta ao longo do desenvolvimento e da experimentação.”

Quirós e Scharager aceitam que, provavelmente, a lateralização final seja alcançada

somente após a plena aquisição da linguagem, por volta dos 10 anos de idade, isto porque a

área temporal da fala se desenvolve mais tarde que a área anterior e em relação mais estreita

com os aspectos acústicos, e possivelmente, também cognitivos e conceituais da linguagem.

Constataram que são poucas as crianças que apresentam uma lateralidade homogênea definida

antes dos 6 anos, aumentando consideravelmente o percentual a partir daquela idade.

A experimentação em atividade manual, pedal, ocular é que favorecerá uma

maturidade do sistema neurológico de acordo com o predomínio interior, favorecendo

sobremaneira a estruturação do esquema corporal. Em conseqüência, o desenvolvimento

psicomotor da criança vem a se constituir em um pré-requisito para as aprendizagens

cognitivas.

De acordo com Roberto Moraes, 2002:

”Lateralidade é a dominância de um lado em relação a outro, e a Reversibilidade é a possibilidade de reconhecer a mão direita ou esquerda de uma pessoa á sua frente, podendo ser abordada aos 6 anos de idade, e se processa na criança ao mesmo tempo em que a localização do próprio corpo e a organização do espaço.Para as crianças, a lateralidade normalmente se define entre os 5 e 7 anos.por isso,as crianças do Pré-escolar devem ter a sua disposição objetos grandes,como pneus,caixas e bolas,para ser transportados e manuseados.Deverão também trabalhar com objetos pequenos para desenvolver a coordenação motora fina,isto é, a coordenação funcional das mãos e dos dedos .É através de movimentos, rastejar, engatinhar e andar, que a criança adquire as primeiras noções de espaço: perto,

Page 11: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

longe, dentro, fora, em cima, embaixo, é, pois, partindo do seu próprio corpo e com referência a ele que a criança vai elaborar sua organização espacial”.

“É uma sensação interna de que o corpo tem dois lados e duas metades que não são

exatamente iguais”. Holle

Para Zazzo e Ajuriaguerra apud:

“A lateralidade representa o predomínio normal de um lado do corpo. O fortalecimento da lateralidade é importante para a criança, por constituir a base de orientação espacial e da coordenação geral. Esse fortalecimento pode ser treinado durante a evolução neurológica. Antes, a criança utiliza, indistintamente, os dois lados do corpo e, com a maturação do organismo, vai estabelecendo preferência por um dos lados. È uma fase que pode ser influenciada por estimulações do meio.”

Segundo Francisco Rosa neto, 2002:

“Lateralidade é a preferência lateral direita ou esquerda, dos seguimentos: corporal, sensorial e neurológico (mão, pé, olho, ouvido e hemisfério cerebral.). A maturação ocorre durante o processo evolutivo do ser humano e depende de fatores genéticos e ambientais. Por volta dos seis anos, um aluno tem condições de manifestar, como segurança, sua preferência lateral.”

Zangwill, 1975 apud Fonseca escreve: “a lateralização basicamente inata é governada

por fatores genéticos, embora a treinabilidade e os fatores de pressão social a possam

influenciar.” Razão esta pela qual é muito importante pesquisar os antecedentes da preferência

manual, principalmente quando em presença de crianças com preferência manual esquerda.

A preferência pela lateralidade manual à direita é superior à mista em 36% e essa

superior a manual esquerda em 26%.

A influência dos fatores evolutivos antropológicos e bioculturais como a caça, a

produção e a utilização de instrumentos, a guerra, a evolução tecnológica e

fundamentalmente, a invenção de códigos de comunicação e a linguagem, marcam a sua

influencia determinante quanto à preferência manual e a coordenação bimanual. A

lateralização pode ser causada por diferenças acidentais que ocorrem no desenvolvimento

embriológico dos dois lados do corpo e, por conseguinte, surgir como resultado do acaso.

Para Annett (1981): “o fato da distribuição humana pender para a direita reflete uma

influência sistemática de algo mais importante que a teoria do acaso.”

Ayres 1971, afirma que:

“Quando uma criança não atinge a dominância manual numa idade adequada, a presença de sinais disfuncionais intra ou inter-hemisféricos pode interferir com o desenvolvimento psicomotor e com o potencial cognitivo. Em resumo a lateralização, traduz a capacidade de integração sensório-motora dos dois lados do corpo, transformando-se numa espécie de radar endopsíquico de relação e de orientação com e no mundo exterior. Em termos de motricidade, relata uma

Page 12: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

competência operacional, que preside a todas as formas de orientação do individuo.”

“Nas diversas etapas do desenvolvimento da criança, diante da dificuldade da imitação

de um gesto, a resposta tende a ser dada, numa perspectiva de maior facilidade, pelo membro

dominante.” (Bergés, 1987)

Negrine, 1986, conceitua:

“Lateralidade é a dominância de um dos lados do corpo em todas as tarefas

propostas quanto à habilidade de mão, pé e de olho. Denominaram-se destros

aqueles com dominância do lado direito do corpo e canhotos os que apresentarem

dominância do lado esquerdo do corpo.”

O ESQUEMA CORPORAL

Para Holle, é necessário que a criança adquira primeiro, certo grau de

consciência corporal, antes que possa desenvolver a dominância manual e a lateralidade; que

a lateralidade é experimentada principalmente com o auxilio do sentido cinestésico reforçado

pela visão, levando a criança a distinguir a direita e a esquerda dentro de si mesma, e esta

consciência da lateralidade e da discriminação de direita e esquerda ajudará a perceber os

movimentos do corpo e no espaço e no tempo. A noção de direita e esquerda, na estruturação

do esquema corporal, refere-se ao espaço externo do indivíduo, isto é, noção espacial ou

direcionalidade, e em contrapartida a lateralidade refere-se ao espaço interno do indivíduo e

independe da discriminação de direita e esquerda. Isto significa que a lateralidade se afirma

apartir dos estímulos que nascem de dentro, e a organização espacial se estrutura a partir dos

estímulos exteriores.

Na estruturação do esquema corporal, existem indicadores que evidenciam que as

crianças que apresentam de forma precoce certa tendência manual são aquelas que indicam

maturação psicomotora geral; de forma inversa, uma lateralização retardada ou indefinida

vem acompanhada de sintomas de imaturidade cerebral e, especialmente, de uma aquisição

tardia ou perturbada da linguagem. É importante deixar claro que a lateralidade é uma das

variáveis do esquema corporal, e que o aspecto fundamental é que a criança não seja forçada a

adotar esta ou aquela postura, mas que se criem situações onde ela possa expressar-se com

espontaneidade, e a partir da experiência vivenciada com o corpo, defina o seu lado

dominante, sem pressões de qualquer ordem do meio exterior.

Wallon apud Meur, 1991:

Page 13: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

“O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança, é a representação relativamente global, cientifica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo. É a tomada de consciência, pela criança, de possibilidades motoras e de suas possibilidades de agir e de expressar-se.”

A própria criança percebe-se e percebe os seres e as coisas que a cercam, em função

de sua pessoa, sua personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de

consciência de seu corpo, de seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo a

sua volta. A criança se sentirá bem na medida em que seu corpo lhe obedece, em que o

conhece bem, em que pode utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas também para

agir.

A estruturação espaço-temporal fundamenta-se nas bases do esquema corporal sem o

qual a criança, não se reconhecendo em si mesma, só muito dificilmente poderia apreender o

espaço que a rodeia. Assim nos parece lógico abordar a Psicomotricidade através da

constituição do esquema corporal antes da estruturação espacial ou temporal. Além disso, a

forma como o sujeito se expressa com o corpo traduz sua disposição ou sua indisposição nas

relações com coisas ou pessoas. Esse aspecto psicológico muito importante ajuda-nos a

identificar melhor certas perturbações devidas a fatores afetivos, chamando também a atenção

para a possibilidade de melhorar a vida social e afetiva das crianças, tornando precisas a suas

noções corporais e fazendo com que adquiram gestos precisos e adequados.

A lateralidade corporal assim como a dominância hemisférica e a linguagem estão

geneticamente pré-determinadas em nossa espécie, ou seja, existe a possibilidade de se obter

estas capacidades, mas é preciso tempo para desenvolvê-las. O ambiente cultural parece ser

muito importante, podendo antecipar estas aquisições ou retardá-las, ou ate mesmo

proporcionar, no caso da lateralização, definições contrarias a predominância biológica.

O desenvolvimento psicomotor da criança, em primeiro lugar, é determinado por um

desenvolvimento neurológico normal e, em segundo lugar pela experiência vivenciada pelo

próprio corpo. As capacidades corporais são adquiridas pela experiência adquirida em

atividades diversificadas que vão constituindo um tipo de memória corporal, que é adquirida

através da experiência vivida pelo corpo, sendo pré-requisito para as aprendizagens

posteriores que requerem habilidades mais complexas. Para que isto ocorra, faz-se necessário

que, na ação educativa (pais) e na ação pedagógica (professores), a criança não seja tolhida na

sua exploração do espaço e, ao mesmo tempo, se crie um ambiente que favoreça o

desenvolvimento de potencialidades.

Page 14: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

Geralmente na maioria das tentativas de descobrir o mundo exterior evidenciadas

pelas crianças, ela é barrada pelos ‘’não’’ a isto e ‘’não” àquilo, e as conseqüências não são

somente de ordem psíquica, mas como o indivíduo constitui um todo, essas limitações se

tornam como que um ‘’freio’’ no desenvolvimento da criança.

Não devemos confundir lateralidade (dominância de um lado em relação ao outro, a

nível da força e da precisão) e conhecimento’’esquerda-direita’’ (domínio dos termos e

conhecimento de ’’esquerda’’ e ‘’direita’’ ).

O conhecimento’’esquerda-direita’’ decorre da noção de dominância lateral, é a

generalização, da percepção do eixo corporal, a tudo que cerca a criança; esse conhecimento

será mais facilmente apreendido quanto mais acentuada e homogênea for a lateralidade da

criança,com efeito se a criança percebe naturalmente, fazendo parte da estruturação espacial

por referir-se a situação dos seres e das coisas , mas estando vinculado a noção de dominância

lateral que colocamos essa aprendizagem imediatamente após a da lateralidade.

O conhecimento estável da esquerda e da direita só é possível aos 5 ou 6 anos e a

reversibilidade não pode ser abordada antes dos 6, 6 anos e meio. De fato esse estudo precede

os exercícios de simetria e orientação espacial.

A lateralidade e a orientação espacial são coisas distintas. A orientação espacial ou

direcionalidade, portanto, vai se estabelecendo em função dos estímulos externoceptivos,

vindos do meio onde a criança está inserida; já a lateralidade se estabelece em função dos

estímulos internos que nascem do corpo, os proprioceptivos. Quanto mais variadas forem as

experiências corporais de uma criança, mais rapidamente se processarão os ajustamentos das

praxias motoras, onde o movimento desempenha um papel prioritário.

À medida que se desenvolve a percepção, a orientação espacial da criança vai-se

tornando cada vez mais precisa, permitindo movimentos mais definidos, em que a

gestualidade passa a desempenhar um papel importante. As limitações que a criança apresenta

na orientação espacial podem tornar-se fator determinante nas dificuldades de aprendizagem

evidenciadas no período de alfabetização. Partindo da orientação espacial, a criança estrutura

seu espaço circundante na identificação e discriminação dos símbolos gráficos.

ORIENTAÇÃO ESPACIAL

De acordo com João Batista Freire a noção espacial se forma a partir da relação da

criança com o espaço.

Page 15: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

Conforme Francisco Rosa neto, 2002: “Organização espacial é o desenvolvimento das

capacidades vinculadas ao esquema corporal e a organização perceptiva tendentes ao domínio

progressivo das relações espaciais”.

“Percepção Espacial refere-se às noções de espaço que influem na capacidade para

lidar com noções referentes á dinâmica a orientação e estruturação espacial”. (Vayer)

Para Solange Valadares e Rogéria Araújo

”A organização espacial depende, ao mesmo tempo, da estrutura de nosso próprio corpo (estrutura anatômica, biomecânica, fisiológica e etc.,), da natureza do meio que nos rodeia e de suas características. A percepção que temos do espaço que nos rodeia e das relações entre os elementos que o compõem evolui e modifica-se com a idade e com a experiência. Essas relações chegam a ser, progressivamente, objetivas e independentes.”

ORGANIZAÇÃO TEMPORAL

É a capacidade de avaliar tempo dentro da ação, organizar-se a partir do próprio ritmo,

situar o presente em relação a um antes e a um depois; é avaliar o movimento no tempo,

distinguir o rápido do lento. É saber situar o momento do tempo em relação aos outros.

(Freire, 1999).

CONCLUSÃO

Depois de ler muito, concluí que a psicomotricidade favorece à criança uma relação

consigo mesma, com o outro e com o mundo que a cerca, possibilitando um melhor

conhecimento do seu corpo e de suas possibilidades. O desenvolvimento psicomotor depende

de fatores genéticos, aspectos do meio ambiente e influências psicológicas que a criança

experimenta durante o processo de desenvolvimento, e principalmente a estimulação

oferecida seja ela em casa, ou por um profissional na escola.

Creio que a educação psicomotora é muito útil para os que necessitam de ajuda em seu

comportamento e para o desenvolvimento não só de crianças com alguma dificuldade

cognitiva ou afetiva, mas também para se desenvolver socialmente todas as crianças.

Neste sentido acredito que a Educação Física deve ter como proposta educar através

do corpo, proporcionando o desenvolvimento das potencialidades da criança, norteando suas

atividades com a finalidade de oferecer a aprendizagem em um ou vários esportes, criar o

hábito da atividade física como meio de conservar a saúde física e mental, buscar o equilíbrio

sócio-afetivo, tendo como meta o desenvolvimento psicossocial de uma pessoa, buscando

desta forma integrá-la melhor no meio no qual está inserida.

Page 16: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

A criança tem que conhecer seu corpo, saber seus limites, para assim conhecer o

espaço que a cerca, podendo transformar não só este mundo, mas sua personalidade. Então,

uma criança que tenha desenvolvido adequadamente o conceito de lateralidade não necessita

basear-se só em indicações externas para determinar a direção, ela não precisa, por exemplo,

ter um laço de fita amarrado ao pulso para lembrar qual lado é o esquerdo e qual o direito.

Mas necessita de uma sensação das dimensões espaciais do corpo, tal como em cima e

embaixo, que elas normalmente dominam as dimensões em cima-embaixo primeiro, depois

frente - trás, e, finalmente, lateral, por ter que distinguir entre dois lados aparentemente iguais,

tornando este processo às vezes mais lento, pois existem muitos adultos que ainda encontram

dificuldades. Também acredito que a lateralidade corresponde a dados neurológicos, e que

também é influenciada por certos hábitos sociais e culturais.

Acredito que todas as modalidades sensoriais participam em certa medida na

percepção espacial, pois as informações recebidas designam nossa habilidade para avaliar

com precisão à relação física entre nosso corpo e o ambiente, e para efetuar as modificações

no curso de nossos deslocamentos. É da interação e integração das informações externas e

internas que provém nossa organização. As crianças elaboram pouco a pouco esta evolução da

aquisição de uma dimensão da orientação espacial (direita e esquerda), se estabelece de forma

progressiva à evolução mental da criança, a aquisição e a conservação das noções de

distância, superfície, volume, perspectivas e coordenadas que determinam suas possibilidades

de orientação e de estruturação do espaço em que vive. Não podemos então deixar que estas

noções tão importantes no desenvolvimento passem em branco; devemos proporcionar

situações que tenham estas vivências mesmo que mais tarde.

Crianças mais estimuladas terão um melhor desempenho. Uma criança que conhece

bem seu corpo, suas limitações, que utiliza os movimentos corretamente, melhora em

comportamento, podendo até sanar problemas de aprendizagem, sejam na leitura, na escrita,

cálculos matemáticos, ou em outros desvios de conduta e comportamento, pois para muitos o

que mais precisam é saber se controlar e dominar o próprio corpo. Por isto penso eu que aulas

que envolvam jogos e brincadeiras psicomotores são muito úteis no âmbito escolar, pois os

alunos devem tomar conhecimento destes conceitos de extrema importância para um melhor

rendimento em sala de aula, e nada melhor que aprender brincando, sem o comprometimento

com o aprender realmente.

Page 17: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Rogéria e VALADARES, Solange. Educação Física no cotidiano escolar. FAPI LTDA, 1999.

BERGÉS, J. e LEZINE, I. Teste de imitação de gestos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

ENDERLE, C. Psicologia do desenvolvimento: O processo evolutivo da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

FONSECA, Vítor da. Manual de Observação Psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artmed, 1995.

FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1999, 4ªedição (3ªimpressão).

GALLAHUE, D. L. & OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor. Bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2001.

HAYWOOD, Kathleen M.e GETCHELL, Nancy. Desenvolvimento motor ao longo da vida. Porto Alegre: Artmed, 2004.

CHAUZAUD, Jacques. Introdução à psicomotricidade. São Paulo: Manole, 1987.

LE BOULCH, Jean. Educação psicomotora: a psicocinética na idade pré-escolar. Porto Alegre: Artmed, 2001.

LORENZON, Agnes Michel e DELOBEL, Marie. Psicomotricidade: teoria e prática. Porto Alegre: EST, 1995.

MEUR A. de. & STAES, L. Psicomotricidade: Educação e Reeducação. São Paulo: Manole, 1991.

MORAES, Roberto Marques. Recreação e Jogos escolares: o movimento Infantil. Florianópolis: Ceitec, 2002, 8ªedição.

NEGRINE, Airton. Manual de Observação Psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artmed, 1986.

Page 18: 2008_Psicomotricidade -histórico e conceitos

ROSA NETO, Francisco. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre: Artmed, 2002. Capturado em: http://www.psicomotricidade.com.br/historico.htm, disponível em 02 de maio de 2008.