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ASTREINTES - TST -3 TURMATRANSCRIPT
PROCESSO Nº TST-RR-152800-16.2001.5.03.0019
Firmado por assinatura digital em 21/03/2011 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP
2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
A C Ó R D Ã O
3ª Turma
RMW/mf/ew/RMW/im
RECURSO DE REVISTA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
MOTOBOY. PRIMAZIA DA REALIDADE.
TERCEIRIZAÇÃO. DESVIRTUAMENTO. RELAÇÃO
DE EMPREGO. ELEMENTOS CONFIGURADORES
PRESENTES. AUTO DE INFRAÇÃO. PRESUNÇÃO
DE VERACIDADE. Os fatos descritos no
acórdão regional conduzem ao
entendimento de que delineada hipótese
de terceirização ilícita, presentes,
quantos aos "motoboys", formalmente
cooperados da CBTA, os elementos
caracterizadores da relação de emprego,
em afronta aos arts. 2º e 3º da CLT.
Recurso de revista conhecido e provido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso
de Revista n° TST-RR-152800-16.2001.5.03.0019, em que é Recorrente
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO e é Recorrida DROGARIA ARAÚJO
S.A.
Pelo acórdão das fls. 1.126-36, complementado às fls.
1.147-8, esta Corte deu provimento ao recurso de revista então interposto
pelo Ministério Público do Trabalho para, "anulando o acórdão regional que julgou
os embargos de declaração, determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem, a fim de que sane a
omissão apontada, como entender de direito. Prejudicado o exame dos demais tópicos".
Em cumprimento a essa decisão, o Tribunal Regional do
Trabalho da 3ª Região proferiu o acórdão das fls. 1.160-4, mediante o
qual deu parcial provimento aos embargos declaratórios opostos pelo autor
"para prestar os esclarecimentos constantes da fundamentação supra, sem atribuir efeito modificativo
ao julgado".
O Ministério Público do Trabalho interpõe recurso de
revista (fls. 1.168-203), com fundamento nas alíneas "a" e "c" do art.
896 da CLT.
fls.2
PROCESSO Nº TST-RR-152800-16.2001.5.03.0019
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
Despacho positivo de admissibilidade do recurso de
revista (fls. 1.273-6).
Contrarrazões às fls. 1.276-86.
Dispensada a remessa ao Ministério Público do Trabalho
(art. 83, IV, do RITST).
É o relatório.
V O T O
I - CONHECIMENTO
1. PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Tempestivo o recurso (fls. 1.167 e 1.168), regular a
representação e isento do preparo.
2. PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MOTOBOY. PRIMAZIA DA REALIDADE.
TERCEIRIZAÇÃO. DESVIRTUAMENTO. RELAÇÃO DE EMPREGO. ELEMENTOS
CONFIGURADORES PRESENTES. AUTO DE INFRAÇÃO. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE
O Tribunal Regional da 3ª Região, por meio do acórdão
das fls. 1.053-6, negou provimento ao recurso ordinário (fls. 1.034-45)
interposto pelo Ministério Público do Trabalho, confirmando a sentença
de improcedência na ação civil pública. Embora o Estatuto Social da
reclamada previsse como objeto o "serviço de entregas domiciliares de produtos de seu
comércio", entendeu não ser, a atividade terceirizada, por sua natureza,
inerente à finalidade comercial da empresa ré, a possibilitar a
terceirização.
Instado a se manifestar por meio de embargos de
declaração (fls. 1.059-63), o Tribunal de origem limitou-se a registrar
que adotou o critério da persuasão racional e, "atendo-se a todas as provas destes
autos, e não somente àquelas citadas pelo embargante, formou a sua convicção quanto aos fatos
alegados na preambular e na defesa, tendo, pois, concluído no sentido de válida a terceirização, eis que
a atividade de entrega de produtos não constituiria na finalidade comercial da empresa, mas apenas um
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plus a mais oferecido ao cliente (atividade meio), o que, desse modo, não configuraria vínculo
empregatício algum entre os motoqueiros e a recorrida" (fl. 1.067).
Pelo acórdão das fls. 1.126-36, complementado às fls.
1.147-8, esta Corte deu provimento ao recurso de revista do Ministério
Público do Trabalho para, "anulando o acórdão regional que julgou os embargos de
declaração, determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem, a fim de que sane a omissão
apontada, como entender de direito. Prejudicado o exame dos demais tópicos".
Julgo oportuno transcrever trecho da fundamentação
que levou esta 3ª Turma, em julgado da minha relatoria, a concluir pela
existência de negativa de prestação jurisdicional no caso. Verbis:
"Nas razões do recurso de revista interposto às fls. 1.071-85, o Parquet alega
que houve negativa de prestação jurisdicional, pois, inobstante opostos embargos de
declaração, o Tribunal a quo teria deixado de examinar aspectos essenciais ao
desate da controvérsia. Pondera que a omissão perpetrada no acórdão vergastado
impede seja perseguida, com eficácia, a caracterização da sustentada ofensa aos
arts. 2º e 3º da CLT. Aponta violação dos arts. 93, IX, da Magna Carta, 832 da CLT
e 458 do CPC.
Com efeito, tenho que são ponderosos os argumentos expendidos pelo Órgão
Ministerial, especialmente no que diz com a omissão do Tribunal de origem a
respeito do teor do relatório de inspeção da autoridade fiscal. Aludido documento,
porque emanado de agentes públicos competentes para exercer a fiscalização das
relações de trabalho – auditores fiscais do trabalho -, goza de presunção de
veracidade quanto aos fatos nele descritos, os quais podem inclusive conduzir, no
caso em testilha, ao reconhecimento de que os ditos ‘motoboys’, formalmente
cooperados da CBTA, são, na realidade, empregados da sociedade anônima
reclamada.
Nessa senda, observo que o acórdão regional apenas permite divisar que a
Delegacia Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, em fiscalização à
reclamada, lavrou auto de infração, o que culminou com a abertura de inquérito civil
pelo Ministério Público do Trabalho e ulterior propositura da presente ação civil
pública. Nenhuma linha se teceu a respeito dos fatos relatados no aludido auto de
infração, o que prejudica, sobremaneira, a exata compreensão dos contornos da
controvérsia.
A propósito da importância da atividade de fiscalização, para o combate de
diversas medidas de precarização das relações de trabalho, rememoro recente
debate travado na sociedade brasileira, quando do veto presidencial à emenda de nº
3 ao Projeto de Lei que criou a chamada Super-Receita. Referida emenda introduzia
o § 4º ao art. 6º da Lei 10.593/2002 e tinha a seguinte redação: ‘No exercício das
atribuições da autoridade fiscal de que trata esta Lei, a desconsideração da pessoa,
ato ou negócio jurídico que implique reconhecimento de relação de trabalho, com
ou sem vínculo empregatício, deverá sempre ser precedida de decisão judicial’
(destaquei).
Com o veto presidencial, prevalece, até o momento, a idéia de que, embora a
autoridade fiscal não seja investida de jurisdição, ela tem condições de
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desconsiderar o negócio jurídico que importe burla à legislação trabalhista,
impondo multa ao infrator.
Nessa esteira, destaco que a ANAMATRA protagonizou importante papel no
debate da aludida emenda nº 3, manifestando posição contrária à sua sanção,
precisamente por entender que esta coroaria cenário em que o prestador de serviços,
parte vulnerável, teria que provocar o Poder Judiciário, ainda no curso da relação de
trabalho, a fim de ver reconhecida a existência de subterfúgio destinado a mascarar
o vínculo de emprego. Com efeito, não vejo dificuldade em conceber que a
mencionada emenda, acaso sancionada, teria repercussão negativa no combate às
manobras de precarização do mundo do trabalho, porque, nessa hipótese, a
autoridade incumbida da fiscalização do trabalho, ainda que constatasse fraude
flagrante à legislação trabalhista, não poderia autuar empresa que, por exemplo,
contratasse empregados por meio de pessoa interposta.
Feita essa observação e tendo em vista que, no caso, há notícia de relatório de
inspeção dando conta de que havia autêntica relação de emprego entre os
‘motoboys’ cooperados e a suposta tomadora de serviços, entendo que o Tribunal a
quo deveria ter feito considerações à luz dos fatos narrados no referido documento,
até mesmo para verificar se a ré conseguiu infirmá-los, eis que, como recorda o
Ministério Público, revestem-se, as circunstâncias ali descritas, da presunção de
veracidade própria aos atos da Administração Pública.
De mais a mais, subscrevo, pela sabedoria e a justeza que espelham, as
considerações externadas, durante a sessão de julgamento, pelo eminente Ministro
Carlos Alberto Reis de Paula, no sentido de que, em se tratando de ação civil
pública, direcionada, pois, à defesa de interesses transindividuais, com ampla
repercussão na realidade social, afigura-se imprescindível, à exata compreensão da
controvérsia e à formação do convencimento do julgador, que sejam delineadas
todas as circunstâncias fáticas envolvendo o litígio.
Dessa forma, muito embora aspectos como a natureza da estratégia de
marketing desenvolvida pela reclamada ou o teor de determinadas cláusulas do
contrato firmado entre a tomadora de serviços e a CBTA possam parecer, à primeira
vista, desnecessários ao deslinde da controvérsia, tem-se que, em razão das
múltiplas facetas do presente litígio, considerada, ainda, a dimensão potencial de
sua repercussão na realidade social, convém o exame pormenorizado de todo acervo
fático-probatório coligido aos autos, ainda mais quando se tem em mira que, se a
controvérsia novamente vier ao escrutínio desta Corte, resultará imprescindível à
formação da convicção dos julgadores, ante o óbice da Súmula 126/TST, que o
Tribunal de origem tenha delineado todo o suporte necessário à aferição dos
argumentos expendidos pelas partes." (fls. 1.133-6)
Ainda, em resposta aos aclaratórios opostos pela
empresa ré (fls. 1.141-2), esta Turma os rejeitou, consignando que, "à
luz do livre convencimento motivado, não basta que o órgão julgador afirme que ‘examinadas as provas
dos autos, conclui pela inexistência de vínculo empregatício’. É preciso que, no ofício judicante, o
magistrado explicite e especifique as razões de seu convencimento. No caso em exame, sobretudo tendo
em vista a existência de relatório da fiscalização do trabalho, aliada ao fato de que o estatuto da
reclamada continha a previsão da entrega de medicamentos como atividade-fim, sem dúvida é
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necessário que o Tribunal a quo detalhe quais provas coligidas aos autos o levaram a concluir pela
ausência de vínculo empregatício entre os ‘motoboys’ e a reclamada." (fl. 1.148).
Em cumprimento a essa decisão, o Tribunal a quo
proferiu o acórdão das fls. 1.160-4, mediante o qual deu parcial
provimento aos embargos declaratórios opostos pelo autor, para prestar
os esclarecimentos em sucessivo:
"A 3ª Turma do TST, pelo acórdão de fls. 1.126/1.136, acolhendo a
preliminar de nulidade arguida, determinou o retorno dos autos a este Regional a
fim de que os embargos declaratórios apostos às fls. 1.059/1.063 fossem submetidos
a novo julgamento, como se entender de direito.
Isso ao fundamento de que, ‘inobstante a oposição de embargos de declaração
pelo Ministério Público do Trabalho, o Tribunal de origem não se manifestou a
respeito de aspectos fático relevantes ao desate da lide’ [sic, fl. 1.130].
Passa-se ao cumprimento da determinação.
Esta 5ª Turma manteve a sentença que julgou improcedente a presente Ação
Civil Pública, sob os seguintes fundamentos:
O MPT, instado a se manifestar sobre o auto de infração lavrado pela
DRT/MG, instaurou inquérito civil público contra a reclamada e, como esta
não acatou o termo de ajuste de conduta proposto, ingressou com a presente
ação civil pública, através da qual pretende que a ré abstenha-se de
terceirizar a mão-de-obra utilizada no serviço de entrega domiciliar dos
medicamentos e produtos comercializados, através de interposta pessoa
(empresa de prestação de serviços ou cooperativa), porquanto o mesmo é
inerente à sua atividade-fim, inclusive com previsão estatutária (f. 37).
Assevera que os motociclistas prestam serviços à ré de maneira
pessoal, não eventual, com subordinação e mediante salário, nos termos dos
artigos 2º e 3º da CLT, devendo ter assinadas suas CTPS e garantidos os
direitos sociais consagrados constitucionalmente (art. 7º, I, II, III, VII, VIII,
IX, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII e XXVI).
A ré se insurge, argumentando que a entrega domiciliar de
medicamentos não é atividade-fim da empresa, mas mera comodidade
oferecida ao cliente, e o fato de estar prevista no seu objeto social não faz
dela atividade principal do empreendimento. Sustenta que sempre
terceirizou esse tipo de serviço, através da Empresa Superboys Serviços
Auxiliares Ltda. e, agora, da Cooperativa Brasileira de Trabalhadores
Autônomos - CBTA, sociedades regularmente constituídas. Nega que os
motociclistas sejam subordinados a ela e afirma que, na condição de
cooperados, eles auferem ganhos superiores aos oferecidos pelo mercado
tradicional de trabalho.
A solução para o problema, pelo que se vê, está na verificação da
natureza da atividade terceirizada, se inerente à finalidade da empresa-ré ou
não. E, caso não seja, se a prestação de serviços está se dando de forma
impessoal e sem subordinação direta, vale dizer, sem configurar os
requisitos dos arts. 2º e 3º da CLT.
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Não há dúvida de que o Estatuto Social da reclamada, desde 14 de
julho de 1992, pelo menos, dispõe, no Capítulo I, Artigo 01, Parágrafo 01
‘Constitui objeto social: a) ...; b) ...; c) ...; d) Serviço de entregas
domiciliares de produtos de seu comércio, denominado ‘Drogatel Araújo’. (f.
37).
A ‘Drogatel Araújo’ é conhecida de todos, pois seu atendimento
funciona 24 horas e, apesar de cobrado, não deixa de facilitar a vida dos
consumidores.
Contudo, não se pode dizer que tal atividade seja uma atividade-fim da
Recorrida.
Como bem ressaltado pela r. sentença, a atividade primordial da
Drogaria Araújo é a de comercialização e manipulação de produtos
farmacêuticos, correlatos e veterinários, e não a de entrega desses produtos.
O que se observa nestes autos, na verdade, é a fundada preocupação
do i. Parquet com o modo de trabalho dos denominados ‘motoboys’ que,
desenvolvendo suas atividades atabalhoadamente e por longas jornadas,
correm sério risco de vida, além de colocar também em risco, a sociedade.
Mas, daí a entender que devam eles estar sujeitos ao contrato de
trabalho direto com a Recorrida, vai um longo percurso.
Como consta dos autos, o serviço de entregas da Recorrida, de há
muito, vem sendo realizado por terceiros, anteriormente por empresa de
prestação de serviço e, depois, passando o mesmo a ser realizado pela
CBTA.
Ao que consta, a transferência dessa atividade para a referida
Cooperativa (que não tem a sua condição ameaçada nestes autos) não
implicou em prejuízos aos trabalhadores, mas, pelo contrário,
assegurou-lhes melhores rendimentos e vantagens, o que não pode ser
olvidado.
Mas, o que mais deve ser verificado neste caso é que, de fato, não se
pode ter a atividade de entrega da Drogaria Araújo como um serviço
específico de sua finalidade comercial, mas apenas um plus a mais (SIC)
oferecido ao cliente.
A atividade, portanto, é passível de terceirização.
De outra ponta, e restando regular a terceirização, não se pode falar
em vínculo de emprego entre os motoqueiros e a Recorrida. [fls.
1.054/1.056]
Assim, como examinado na decisão hostilizada, embora no Estatuto Social da
reclamada, desde 14 de julho de 1992, disponha que ‘constitui objeto social da
requerida ‘Serviço de entregas domiciliares de produtos de seu comércio,
denominado ‘Drogatel Araújo’’, entendeu a Turma que não se pode dizer que tal
serviço se enquadra em sua atividade-fim, vez que sua atividade primordial é a
comercialização e manipulação de produtos farmacêuticos, correlatos e
veterinários, e não a de entrega desses produtos. Logo, a matéria foi examinada com
indicação das razões de convencimento, tendo sido atendida a imposição contida no
art. 131 do CPC.
No tocante à alegação de ausência de manifestação sobre o teor do relatório
de fiscalização, registre-se que no item 3 os auditores fiscais do trabalho
informaram que ‘foram encontrados 48 empregados contratados irregularmente
através da Cooperativa de Trabalho CBTA’ e que ‘exercem a função de
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motoqueiros (responsáveis por entregas em domicílio, dentro do sistema
denominado ‘Drogatel. Araújo’), estando presentes os pressupostos da relação de
emprego, previstos nos artigos 2º e 3º da Consolidação das Leis do Trabalho, em
relação à Drogaria Araújo S.A, conforme descrito no auto de infração nº
005406447’ (sic, fl. 18).
Constata-se do item 5 do referido auto (fl. 23) que o contrato de prestação de
serviços celebrado entre a Drogaria Araújo e a Cooperativa Brasileira de Trabalho
Autônomo Ltda. - CBTA tem como objeto ‘a prestação dos serviços de transporte
de cargas (...) compreendendo: entrega de documentos e produtos; pagamento de
contas; compra de pequenos produtos e transferência de produtos entre lojas’.
Os auditores noticiaram também a inexistência de identidade profissional
entre os integrantes da CBTA, porquanto segundo o art. 2º, § 2º, do Estatuto Social,
pode se filiar à cooperativa ‘qualquer pessoa física que exerça uma profissão na área
industrial, comercial ou de serviços, e que esteja apta para executar serviços de
qualquer especialidade ou natureza’, informando que:
Na ata de constituição da CBTA constam como sócios-fundadores
vinte cooperados, que exercem profissões diversas como: pedagoga,
secretária, contador, comprador, escriturário, bancário, soldador,
psicóloga, advogada, eletricista, técnico em telecomunicações e
administrador de empresas, dentre outras. Nenhum dos sócios fundadores
consta na referida ata com a função de motoqueiro, exercida pelos
trabalhadores encontrados em situação irregular. [sic, fl. 23]
É oportuno transcrever o disposto no item 5.6:
- os serviços a serem executados são determinados pela tomadora,
conforme cláusula 3.2 do contrato de prestação de serviços;
- têm sua atividade controlada por empregados da tomadora que
indicam os produtos a serem transportados e os respectivos locais de
entrega;
- são obrigados a cumprir os regulamentos da tomadora;
- são obrigados a cumprir procedimentos preestabelecidos para
execução das tarefas contratadas, conforme descrito em Manual de
Procedimentos Operacionais, anexo ao contrato de prestação de serviços;
- utilizam uniformes com a logomarca ‘Drogatel Araújo’. [sic, fl. 24]
Constou do mesmo auto de infração que os cooperados não podem prestar
serviços a outras empresas do mesmo ramo da tomadora, bem como que ‘as
atividades prestadas pelos ‘cooperados’ eram anteriormente exercidas por
empregados de empresa terceirizada (SB Serviços Auxiliares Ltda.), conforme
contrato de prestação de serviços datado de 01.01.96. Observou-se a gradual
substituição destes empregados terceirizados por ‘cooperados’’, tendo havido
indicação de 14 empregados que laboravam para a empresa SB Serviços Auxiliares
antes de se filiarem à Cooperativa, conforme dados obtidos no sistema FGTS (fls.
24/25).
Verifica-se, ainda, que ‘o critério de remuneração baseia-se no tempo à
disposição do tomador e não na produção por ele realizada. Conforme cláusula
sexta do contrato de prestação de serviços, o tomador repassa à CBTA R$5,36 por
homem/hora (dos quais R$3,70 são repassados aos ‘cooperados’)’ (sic, fl. 26).
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Nos documentos de fls. 81/85 e 979/981, referentes a cupons fiscais, fotos das
motocicletas usadas para entrega, adesivos magnéticos de geladeira, uniformes,
encartes e outras propagandas, há indicação da frase ‘Drogatel Araújo’ e ‘Araújo
Tem. Drogatel Entrega’, registrando-se que no encarte à fl. 83 há propaganda de
produtos típicos de farmácia, como medicamentos de venda livre, e também de
produtos de gênero alimentício.
No documento denominado manual de procedimentos operacionais há
previsão de que os cooperados devem apresentar-se ao trabalho ‘devidamente
uniformizados’ e, dentre outras orientações, ‘dirigir-se ao local da entrega no menor
tempo possível, observando sempre a legislação de trânsito vigente’ e ‘retornar ao
local de origem no menor tempo possível, observando sempre a legislação de
trânsito vigente’ (sic, fl. 34).
No item 2.2. do contrato de prestação de serviços cooperados foi ajustado que
é responsabilidade da contratada, ‘orientar o cumprimento das normas
administrativas e de segurança internas da contratante, comprometendo-se a atender
prontamente qualquer solicitação feita à mesma, quanto à substituição de
cooperados em virtude do descumprimento destas normas, da prestação de serviço
fora dos padrões estabelecidos no presente instrumento ou em decorrência de
comportamento inadequado’ (sic, fl. 28).
Na apólice de seguro constou a imposição de declaração de que o segurado
não praticava ‘esportes/atividades (de modo profissional ou amador), como;
balonismo, (...) motociclismo, boxe...’ e que estava ciente de que se viesse a ‘sofrer
acidentes por prática dos esportes ou atividades profissionais supraditas não teria
direito aos benefícios do presente seguro’ (sic, fls. 478/676), contudo tal fato não
contradiz a tese da defesa de que as ‘cooperativas celebram em seus nomes apólices
de seguro com ampla cobertura acidentária’ (fl. 107), pois a ressalva diz respeito à
prática de esportes e atividades totalmente diversas da função desempenhada para a
cooperativa.
Quanto à contraprestação pelos serviços prestados, referentes aos meses de
julho/01 a setembro/01, os recibos de contribuição previdenciária demonstram
recebimentos de valores mensais que não alcançam R$ 300,00 (fls. 677/906), isso
considerando o percentual de 20% referente à contribuição do cooperado.
Esses esclarecimentos atendem ao que determinam os arts. 93, IX, da CR e
832 da CLT, e, principalmente, o comando da Corte Superior." (fls.
1.160-4)
Irresignado, o Ministério Público do Trabalho
interpõe recurso de revista (fls. 1.168-203), ao argumento de que o
Tribunal de origem desconsiderou "expressamente o contrato social da recorrida, no qual
consta taxativamente ser sua atividade-fim (objeto) a entrega domiciliar do produto de seu comércio
(drogas e produtos farmacêuticos)" e a "presunção de veracidade e de legitimidade do auto de
infração não desconstituído do MTE, segundo o qual foram efetivamente constatados os pressupostos
da relação empregatícia entre os trabalhadores cooperados motoqueiros e a recorrida, bem como,
simultaneamente, não se averiguaram presentes os princípios do cooperativismo" (fls.
1.176-7). Sustenta que o objeto social expressamente declarado no
fls.9
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contrato social da sociedade anônima "vincula juridicamente o empresário/sociedade",
não podendo tais informações "ser ignoradas ou olvidadas pelo Judiciário" (fl.
1.178). Afirma que "o objeto social constante do estatuto da S.A. deve ser considerado como tal,
sem qualquer ‘redução’ ou interpretação jurisprudencial da atividade desenvolvida pela sociedade" e
que "as atividades constantes do estatuto/contrato social ... jamais podem ser consideradas
atividades-meio, passíveis de terceirização lícita" (fl. 1.178). Assevera que o Tribunal
Regional desconsiderou "o valor probante do auto de infração lavrado pelas autoridades
competentes do Ministério do Trabalho e Emprego, o qual não foi infirmado por prova em contrário" e
"ignorou por completo a constatação in loco dos requisitos da relação de emprego entre a recorrida e os
seus motoqueiros/cooperados, além de também ter olvidado que houve a constatação in casu, também
pelos agentes fiscais, de que não se trata de verdadeiro e legítimo cooperativismo, mas de real
precarização das relações de trabalho" (fl. 1.187). Argumenta que "o auto de infração do
MTE, dotado de presunção de validade, patenteou a verdadeira fraude trabalhista praticada pela
recorrida, fraude esta que foi narrada no acórdão de fls. 1160/1164" (fl. 1.189). Defende que
"a fraude trabalhista praticada pela recorrida, de terceirização de atividade-finalística à cooperativa de
trabalho, deveria ter sido repudiada" (fl. 1.198). Aponta violação dos arts. 2º e
3º da CLT e 2º, § 2º, da Lei nº 6.404/76 e contrariedade à Súmula 331/TST.
Colige arestos.
O recurso merece conhecimento.
Conforme se denota do excerto transcrito, a Corte de
origem, forte no princípio da persuasão racional, concluiu pela licitude
da terceirização dos serviços de entrega domiciliar de produtos de
comércio, ao fundamento de que, embora previstos no estatuto social da
empresa reclamada, tais serviços não se enquadram em sua atividade-fim,
uma "vez que sua atividade primordial é a comercialização e manipulação de produtos farmacêuticos,
correlatos e veterinários, e não a de entrega desses produtos" (fl. 1.162).
Cediço que a terceirização foi pensada pelos sistemas
produtivos como instrumento econômico capaz de minimizar os custos
operacionais decorrentes da contratação de mão de obra. Embora largamente
difundida, as graves implicações sociais na seara trabalhista conduzem
à necessidade de acurada análise do instituto, com vistas à preservação
da valorização do trabalho humano e à busca do pleno emprego, à luz dos
preceitos insculpidos nos artigos 1º, III e IV, e 170, caput e VIII, da
Constituição da República.
fls.10
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Faço breve digressão para recordar que, informada pela
constante preocupação com a mercantilização e precarização do trabalho
humano, esta Corte sempre se pautou pela cautela na admissão do fenômeno
terceirizante, em virtude, justamente, da inexistência de diploma legal
que regulamente o instituto em sua inteireza.
Nessa moldura, tem-se que, em um primeiro momento, com
a edição da Súmula 256/TST, em 1986, se reputou vedada a terceirização,
exceto nos casos de trabalho temporário e de serviços de vigilância,
hipóteses objeto de expressa previsão legal (Leis 6.019/74 e 7.102/83).
Ulteriormente, passou-se a admitir a terceirização de
atividade-meio, prática consagrada no seio da administração pública, nos
termos do art. 10, § 7º, do Decreto-lei 200/67, de seguinte teor:
"Art. 10. A execução das atividades da Administração Federal deverá ser
amplamente descentralizada.
(...)
§ 7º Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coordenação,
supervisão e controle e com o objetivo de impedir o crescimento desmesurado da
máquina administrativa, a Administração procurará desobrigar-se da realização
material de tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, à execução
indireta, mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada
suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos de
execução."
Densificando a previsão do referido § 7º do art. 10
do Decreto-lei 200/67, o parágrafo único do art. 3º da Lei 5.645/70 –
que veio a ser revogado pela Lei 9.527/97 – previa a possibilidade de
terceirização das atividades relativas aos serviços de "transporte,
conservação, custódia, operação de elevadores, limpeza e outras
assemelhadas".
Firme em tais balizas, e informado pelo princípio da
isonomia, este Tribunal, ao final do ano de 1993, editou a Súmula 331,
estendendo à iniciativa privada os contornos da terceirização autorizada
no âmbito da administração pública. Após alteração realizada em 2000,
o citado verbete passou a ostentar a atual redação:
"CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal,
formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de
trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).
II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não
gera vínculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou
fundacional (art. 37, II, da CF/1988).
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços
de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a
de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que
inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,
implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas
obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das
fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista,
desde que hajam participado da relação processual e constem também do título
executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993)."
Não descuro da jurisprudência perfilhada por este
Tribunal Superior no que diz com os serviços prestados por motoboys, a
qual orienta para o exame de cada caso concreto, com suas peculiaridades,
a fim de perquirir se atividade-fim, em que vedada a terceirização, ou
atividade-meio e, nesta hipótese, se presentes, ou não, os elementos
configuradores da relação de emprego. Exemplifico tal entendimento,
coligindo os seguintes julgados:
"RECURSO DE REVISTA. MOTOBOY TRABALHADOR DE
LANCHONETE. REQUISITOS PARA VERIFICAÇÃO DE VÍNCULO
EMPREGATÍCIO. CONFIGURAÇÃO. A subordinação jurídica, elemento cardeal
da relação de emprego, pode se manifestar em qualquer das seguintes dimensões: a
clássica, por meio da intensidade de ordens do tomador de serviços sobre a pessoa
física que os presta (o que não é o caso dos autos); a objetiva, pela correspondência
dos serviços deste aos objetivos perseguidos pelo tomador (harmonização do
trabalho do obreiro aos fins do empreendimento) - caso dos autos; a estrutural,
mediante a integração do trabalhador à dinâmica organizativa e operacional do
tomador de serviços, incorporando e se submetendo à sua cultura corporativa
dominante. Atendida qualquer destas dimensões da subordinação, configura-se este
elemento individuado pela ordem jurídica trabalhista (art. 3º, caput, da CLT). No
caso em análise, a subordinação jurídica faz-se presente em sua dimensão objetiva,
como acima analisado, diante da inserção do Reclamante na atividade-fim da
Reclamada, sujeitando-se ele ao direcionamento exercido pela Reclamada sobre seu
empreendimento e, via de conseqüência, sobre a forma de efetuação da prestação do
trabalho. Presentes, portanto, os elementos dos arts. 2º e 3º da CLT, sobretudo a
subordinação jurídica apta a autorizar a caracterização do vínculo de emprego.
Recurso de revista conhecido e provido."
(RR-89900-43.2009.5.03.0010, Relator Ministro
Mauricio Godinho Delgado, 6ª Turma, DEJT 15.10.2010)
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
"AGRAVO DE INSTRUMENTO. MOTOBOY. VIOLAÇÃO DO ARTIGO
3º DA CLT. REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA Nº 126. NÃO
PROVIMENTO. 1. Fixada a premissa fática de que presentes os elementos
caracterizadores da relação de emprego, visto que comprovado nos autos que as
atividades desenvolvidas pelo reclamante se inseriam na atividade-fim da
reclamada (empresa de transporte), a negativa do vínculo no julgamento da revista
demandaria o reexame de fatos e provas. 2. Incide o óbice da Súmula nº 126. 3.
Agravo de instrumento a que se nega provimento."
(AIRR-122940-86.2000.5.04.0015, Relator Ministro
Guilherme Augusto Caputo Bastos, 7ª Turma, DEJT
14.5.2010)
"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
TERCEIRIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO TOMADOR. A
decisão regional está de acordo com a jurisprudência sumulada do TST, porquanto,
conforme se extrai dos fundamentos do acórdão, a Recorrente foi a tomadora dos
serviços de ‘motoboy’ prestados pelo Reclamante, numa relação de trabalho
triangular. Agravo de Instrumento não provido."
(AIRR-102540-59.2007.5.03.0136 , Relatora Ministra
Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, DEJT 05.3.2010)
"AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. 1.
SERVIÇOS DE MOTOBOY. TERCEIRIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA. Coaduna-se com o disposto no item IV da Súmula nº 331/TST a
decisão regional que condenou a segunda e a terceira reclamada a responder
subsidiariamente pelos créditos trabalhistas devidos ao reclamante, na condição de
tomadoras de serviços. 2. LOCAÇÃO DE MOTOCICLETA. NORMA
COLETIVA. É entendimento desta Corte que, em se tratando de responsabilidade
subsidiária do tomador de serviços, não se aplica a Súmula nº 374/TST. Agravo de
instrumento conhecido e não provido."
(AIRR-130840-53.2005.5.04.0013, Relatora Ministra
Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DEJT 19.9.2008)
"RECURSO DE REVISTA. NÃO RECONHECIMENTO DE VÍNCULO
EMPREGATÍCIO. TRABALHADOR AUTÔNOMO. MOTOBOY. ÔNUS DA
PROVA. REEXAME DE FATOS E PROVA. Ainda que registrado pela v. decisão
recorrida que a atividade do autor estava vinculada ao objeto social da empresa, em
face da singularidade do serviço de motoboy afastou a existência de vínculo de
emprego, com base no depoimento do autor de que não trabalhava com
exclusividade, e que recebia percentual por pizza entregue. Não há se falar em
inversão do ônus da prova, quando a decisão recorrida tem como fundamento o
exame da prova, onde ficou constatado que o reclamante era trabalhador autônomo.
Ileso o inciso II do art. 333 do CPC. Reexame da matéria vedado em sede de recurso
de revista. Incidência da Súmula nº 126 do TST."
(RR-187500-80.2003.5.15.0094, Relator Ministro
Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, DJ 01.9.2006)
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
No caso em exame há elementos fáticos suficientes a
indicar o delineamento de vínculo de emprego, pela presença dos
requisitos legais, com a conclusão de que a contratação dos motoboys (48)
por meio de cooperativa se fez em fraude à legislação trabalhista,
configurada hipótese de terceirização ilícita.
Com efeito, restou consignado pelo Tribunal Regional,
reproduzindo o teor do auto de infração, que "os auditores fiscais do trabalho
informaram que ‘foram encontrados 48 empregados contratados irregularmente através da Cooperativa
de Trabalho CBTA’ e que ‘exercem a função de motoqueiros (responsáveis por entregas em domicílio,
dentro do sistema denominado ‘Drogatel. Araújo’), estando presentes os pressupostos da relação de
emprego, previstos nos artigos 2º e 3º da Consolidação das Leis do Trabalho, em relação à Drogaria
Araújo S.A, conforme descrito no auto de infração nº 005406447’ (sic, fl. 18)" (fl. 1.163). E,
como já destaquei no julgamento anterior, o relatório de inspeção da
autoridade fiscal, "porque emanado de agentes públicos competentes para exercer a
fiscalização das relações de trabalho – auditores fiscais do trabalho -, goza de presunção de veracidade
quanto aos fatos nele descritos" (fl. 1.134), com a conseqüente inversão do encargo
probatório.
Nessa linha, não infirmados pela ré, com meios de prova
hábeis a tanto, os fatos registrados pelos auditores fiscais do trabalho,
impõe-se a conclusão de que os "motoboys", formalmente cooperados da
CBTA, se fisionomizavam, no plano dos fatos, como empregados da sociedade
anônima reclamada, consabida a prevalência, no Direito do Trabalho, do
princípio da primazia da realidade, e com destaque à remuneração com base
na unidade de tempo, a par de executados serviços também de transferência
de mercadorias entre as lojas, e não apenas entregas a domicílio.
Basta a leitura, a propósito, do item 5.6 do auto de
infração, transcrito pela Corte de origem,verbis: "os serviços a serem executados
são determinados pela tomadora, conforme cláusula 3.2 do contrato de prestação de serviços"; os
"motoboys" "têm sua atividade controlada por empregados da tomadora que indicam os produtos a
serem transportados e os respectivos locais de entrega"; "são obrigados a cumprir os regulamentos da
tomadora" e "procedimentos preestabelecidos para execução das tarefas contratadas, conforme
descrito em Manual de Procedimentos Operacionais, anexo ao contrato de prestação de serviços" e
"utilizam uniformes com a logomarca ‘Drogatel Araújo’". Ainda, consta do relatório que
"os cooperados não podem prestar serviços a outras empresas do mesmo ramo da tomadora" (fl.
1.163), que o "contrato de prestação de serviços celebrado entre a Drogaria Araújo e a Cooperativa
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Brasileira de Trabalho Autônomo Ltda. - CBTA tem como objeto ‘a prestação dos serviços de transporte de
cargas (...) compreendendo: ... transferência de produtos entre lojas" e que "o critério de remuneração
baseia-se no tempo à disposição do tomador e não na produção por ele realizada".
Noutra parte, o Tribunal Regional assentou que "nos
documentos de fls. 81/85 e 979/981, referentes a cupons fiscais, fotos das motocicletas usadas para
entrega, adesivos magnéticos de geladeira, uniformes, encartes e outras propagandas, há indicação da
frase ‘Drogatel Araújo’ e ‘Araújo Tem. Drogatel Entrega’" e que "no documento denominado
manual de procedimentos operacionais há previsão de que os cooperados devem apresentar-se ao
trabalho ‘devidamente uniformizados’ e, dentre outras orientações, ‘dirigir-se ao local da entrega no
menor tempo possível, observando sempre a legislação de trânsito vigente’ e ‘retornar ao local de
origem no menor tempo possível, observando sempre a legislação de trânsito vigente’" (fl.
1.163).
Delineada a pessoalidade bem como a subordinação
jurídica definidora do vínculo empregatício, tanto em seu sentido
tradicional, em que se exterioriza, v.g., em ordens, fiscalização e
exigências incompatíveis com o trabalho por conta-própria, como o uso
de uniforme, quanto em seu sentido objetivo – ou estrutural, no expressivo
dizer de Maurício Godinho Delgado -, como participação integrativa da
atividade do trabalhador na atividade do credor do trabalho, a conclusão
que se impõe é a da irregularidade da terceirização, nos moldes encetados,
pela presença dos elementos caracterizadores da relação de emprego, em
afronta aos arts. 2º e 3º da CLT.
Conheço do recurso de revista por violação dos arts.
2º e 3º da CLT.
II – MÉRITO
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MOTOBOY. PRIMAZIA DA REALIDADE.
TERCEIRIZAÇÃO. DESVIRTUAMENTO. RELAÇÃO DE EMPREGO. ELEMENTOS
CONFIGURADORES PRESENTES. AUTO DE INFRAÇÃO. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE
Destaco, de plano, ao exame do mérito da presente ação
civil pública, o pedido deduzido pelo Ministério Público do Trabalho
à fl. 15, verbis:
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"...que a DROGARIA ARAÚJO S/A seja condenada a abster-se de contratar
serviço por intermédio de interposta pessoa, inclusive cooperativas de trabalho,
ligado às atividades fins de seu empreendimento, no conceito incluído a atividade
de entrega dos produtos que comercializa a seus clientes, utilizando para o
desempenho de tais atividades de empregados regularmente registrados, na forma
do art. 2º, 3º e 41 da CLT (sic), sob pena de multa de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a
favor do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador (art. 13 da Lei 7.347/85), por
cada trabalhador ‘cooperado’ ou sem o competente registro que for encontrado
prestando serviço à ré em atividade ligada à finalidade de seu empreendimento."
Ainda, registro a afirmação contida na peça de
ingresso (fl. 14), de que "não se pretende com a presente Ação Civil Pública a reparação
da lesão já causada aos 48 (quarenta e oito) ‘trabalhadores cooperados’ identificados quando da ação
fiscal. A pretensão do Ministério Público na presente ação tem natureza inibitória: pretende-se apenas
que seja cessada a irregular terceirização de serviços realizada pela ré".
Nessa senda, observads o teor do pedido, dou
provimento ao recurso de revista para determinar que a empresa ré se
abstenha de contratar o serviço de entregas domiciliares de produtos de
seu comércio mediante empresa interposta, incluindo cooperativas, sob
pena de multa diária no valor de R$ 200,00 – a fluir após o trânsito em
julgado da presente decisão -, por trabalhador irregular, multa esta a
ser revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT (art. 461, § 4º,
do CPC). Custas de R$ 19.660,00, pela ré, sobre o valor atualizado dado
à causa (R$ 983.000,00).
Recurso de revista provido.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Terceira Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do recurso de revista,
por violação dos arts. 2º e 3º da CLT, e, no mérito, dar-lhe provimento
para determinar que a empresa ré se abstenha de contratar o serviço de
entregas domiciliares de produtos de seu comércio mediante empresa
interposta, incluindo cooperativas, sob pena de multa diária no valor
de R$ 200,00 - após o trânsito em julgado da presente decisão -, por
trabalhador irregular, a ser revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador
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PROCESSO Nº TST-RR-152800-16.2001.5.03.0019
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
– FAT (art. 461, § 4º, do CPC). Custas de R$ 19.660,00, pela ré, sobre
o valor atualizado dado à causa (R$ 983.000,00).
Brasília, 02 de fevereiro de 2011.
Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)
ROSA MARIA WEBER CANDIOTA DA ROSA Ministra Relatora