2 págs. ana cecília rocha veiga - consumismo - oniomania

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Oniomania Ana Cecília Rocha Veiga Recentemente assisti a um excelente documentário sobre consumo e meio ambiente chamado “A história das coisas”. Alguns dados impressionantes foram apresentados: nunca se consumiu tanto! O consumo é o motor da economia mundial. O consumidor médio norte-americano consome hoje o dobro do que há cinquenta anos. Tudo conspira para isso: as propagandas avassaladoras, as celebridades e seus bens luxuosos, os valores materialistas do mundo (onde ter é mais importante do que ser), as modas e tendências que escravizam seus seguidores. Tal contexto contribui também para o agravamento de uma doença chamada oniomania, que consiste em um impulso desenfreado, uma vontade incontrolável de comprar e gastar dinheiro, sem necessariamente haver compromisso com a relevância da compra. Apesar de não causar dependência física, a oniomania acarreta uma série de problemas de ordem social, financeira e espiritual. Essa compulsão pode estar associada a outros vícios e doenças, como o consumo de drogas e a depressão: uma tentativa de preencher com as coisas deste mundo um vazio que só pode ser plenamente preenchido por Deus. Diante desse cenário, proponho quatro reflexões acerca do tema. A primeira nos remete à libertação da cruz. Não precisamos mais nos colocar sob a servidão do pecado. Livres de todas as amarras, prosseguimos para o alvo, que é Jesus Cristo. Ele é poderoso e misericordioso para curar nossa alma, bem como para aplacar a vaidade e a ansiedade, que estão na raiz do consumismo descontrolado. O cristão em tudo se domina, pela força e graça do Senhor. A segunda reflexão diz respeito às amizades, leituras, programas favoritos de televisão, conversas... Enfim, todos os aspectos que envolvem nossos hábitos e relacionamentos. Há uma tendência no ser humano, às vezes acentuada no cristão, de se considerar “imune ao meio”, não-influenciável. Queremos crer que nossa personalidade é forte o suficiente para não se deixar levar pelos outros, pelos anúncios e pelo mundo. Afinal, o consumismo exagerado é sinônimo de status na sociedade, não de problema ou doença. E isso é uma inverdade perigosa! Tanto os estudiosos do comportamento humano quanto a própria Bíblia nos advertem do perigo das más influências. Portanto, devemos ter alguns cuidados em nosso convívio social. Precisamos (e devemos) ter amigos não- cristãos, até mesmo para levarmos a luz do Evangelho a eles. Porém, é fundamental que nos cerquemos também de amigos fiéis à Cristo, que vivam uma vida aos pés da cruz, que nos ajudem na luta contra o pecado e o consumismo, que nos exortem quando estivermos falhando e que exerçam sobre nós uma influência divina. Davi, no Salmo 16.3, celebra: “Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer”. O terceiro ponto de reflexão diz respeito a sermos fiéis no dízimo e socorrermos aos necessitados. “A quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais e mais; ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda. A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado” (Pv 11.24-25). Em 2 Coríntios 8, Paulo deixa claro que quem recebeu de Deus muitas riquezas, mais do que o necessário, não o recebeu para si, mas para repartir, para promover a igualdade, para saciar o que tem fome, para fazer justiça. O que muito ganhou não teve demais, porque socorreu o próximo; e o que ganhou pouco, não teve

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Page 1: 2 Págs. Ana Cecília Rocha Veiga - Consumismo - Oniomania

OniomaniaAna Cecília Rocha Veiga

Recentemente assisti a um excelente documentário sobre consumo e meio ambiente chamado “A história das coisas”. Alguns dados impressionantes foram apresentados: nunca se consumiu tanto! O consumo é o motor da economia mundial. O consumidor médio norte-americano consome hoje o dobro do que há cinquenta anos. Tudo conspira para isso: as propagandas avassaladoras, as celebridades e seus bens luxuosos, os valores materialistas do mundo (onde ter é mais importante do que ser), as modas e tendências que escravizam seus seguidores. Tal contexto contribui também para o agravamento de uma doença chamada oniomania, que consiste em um impulso desenfreado, uma vontade incontrolável de comprar e gastar dinheiro, sem necessariamente haver compromisso com a relevância da compra. Apesar de não causar dependência física, a oniomania acarreta uma série de problemas de ordem social, financeira e espiritual. Essa compulsão pode estar associada a outros vícios e doenças, como o consumo de drogas e a depressão: uma tentativa de preencher com as coisas deste mundo um vazio que só pode ser plenamente preenchido por Deus. Diante desse cenário, proponho quatro reflexões acerca do tema.

A primeira nos remete à libertação da cruz. Não precisamos mais nos colocar sob a servidão do pecado. Livres de todas as amarras, prosseguimos para o alvo, que é Jesus Cristo. Ele é poderoso e misericordioso para curar nossa alma, bem como para aplacar a vaidade e a ansiedade, que estão na raiz do consumismo descontrolado. O cristão em tudo se domina, pela força e graça do Senhor.

A segunda reflexão diz respeito às amizades, leituras, programas favoritos de televisão, conversas... Enfim, todos os aspectos que envolvem nossos hábitos e relacionamentos. Há uma tendência no ser humano, às vezes acentuada no cristão, de se considerar “imune ao meio”, não-influenciável. Queremos crer que nossa personalidade é forte o suficiente para não se deixar levar pelos outros, pelos anúncios e pelo mundo. Afinal, o consumismo exagerado é sinônimo de status na sociedade, não de problema ou doença. E isso é uma inverdade perigosa! Tanto os estudiosos do comportamento humano quanto a própria Bíblia nos advertem do perigo das más influências. Portanto, devemos ter alguns cuidados em nosso convívio social. Precisamos (e devemos) ter amigos não-cristãos, até mesmo para levarmos a luz do Evangelho a eles. Porém, é fundamental que nos cerquemos também de amigos fiéis à Cristo, que vivam uma vida aos pés da cruz, que nos ajudem na luta contra o pecado e o consumismo, que nos exortem quando estivermos falhando e que exerçam sobre nós uma influência divina. Davi, no Salmo 16.3, celebra: “Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer”.

O terceiro ponto de reflexão diz respeito a sermos fiéis no dízimo e socorrermos aos necessitados. “A quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais e mais; ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda. A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado” (Pv 11.24-25). Em 2 Coríntios 8, Paulo deixa claro que quem recebeu de Deus muitas riquezas, mais do que o necessário, não o recebeu para si, mas para repartir, para promover a igualdade, para saciar o que tem fome, para fazer justiça. O que muito ganhou não teve demais, porque socorreu o próximo; e o que ganhou pouco, não teve falta, porque foi socorrido.

Por último, precisamos refletir sobre o amor ao dinheiro. Não se pode servir a dois senhores; não se pode servir a Deus e às riquezas. Pode parecer “lugar-comum” concluir com este provérbio popular, mas realmente o dinheiro não traz felicidade, tampouco o consumo que ele proporciona. Deus tem para nós prazeres muito mais verdadeiros, alegrias muito mais

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duradouras. Felicidade plena e profunda que só poderemos alcançar buscando primeiro o reino de Deus, vivendo uma vida de comunhão íntima com o Pai, rica do amor de Cristo. “Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares” (Isaías 55.1-2).

• Ana Cecília Rocha Veiga é assessora auxiliar da ABUB e editora do site Missionários do Cotidiano.