2 capítulos do livro estilo de vida positivo

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15 Não nos libertamos de um hábito, atirando-o pela janela; é preciso fazê-lo descer a esca- da, degrau a degrau. Mark Twain Quando Procuramos a Felicidade Nos Sítios Errados O desejo de “ser feliz” é, atrevo-me a dizer, uni- versal. Embora a felicidade se mascare de diferentes for- mas, consoante a cultura e as tradições de cada um, quase todos nós procuramos sentirmo-nos bem, em equilíbrio – connosco e com os outros. Existem muitos factores que influenciam este nos- so “equilíbrio fundamental”, que nos faz sentir com “saúde”, “vigorosos” e “activos”. Por exemplo: que- remos viver de acordo com as nossas crenças, com os

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2 capítulos do livro Estilo de Vida Positivo, de Vanessa R. Dias (2013)

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Page 1: 2 Capítulos do livro Estilo de Vida Positivo

15

Não nos libertamos de um hábito, atirando-o pela janela; é preciso fazê-lo descer a esca-

da, degrau a degrau. Mark Twain

Quando Procuramos a Felicidade

Nos Sítios Errados

O desejo de “ser feliz” é, atrevo-me a dizer, uni-

versal.

Embora a felicidade se mascare de diferentes for-

mas, consoante a cultura e as tradições de cada um,

quase todos nós procuramos sentirmo-nos bem,

em equilíbrio – connosco e com os outros.

Existem muitos factores que influenciam este nos-

so “equilíbrio fundamental”, que nos faz sentir com

“saúde”, “vigorosos” e “activos”. Por exemplo: que-

remos viver de acordo com as nossas crenças, com os

Page 2: 2 Capítulos do livro Estilo de Vida Positivo

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nossos sentimentos, mas também queremos viver em

consonância com os outros, com o grupo. Queremos

atingir as nossas próprias ambições e aspirações, mas

também queremos conquistar metas semelhantes às

das outras pessoas, para nos identificarmos e nos

podermos comparar com elas. São, no fim, paradoxos

atrás de paradoxos que justificam e embelezam a

complexidade da nossa existência.

Quando não conseguimos equilibrar as «balanças

da vida» (ou, nos casos mais graves, quando não te-

mos nada para pôr em cima das mesmas), a nossa

sensação de “felicidade” começa a dissipar-se – e, a

todo custo, tentamos recuperá-la; ou pelo menos

temos o desejo, bem lá no nosso íntimo, de sermos

felizes, de nos sentirmos novamente equilibrados.

Mas nem sempre as nossas acções ou reacções são

positivas, adequadas e adaptadas ao objectivo a que

nos propomos ou queremos atingir – neste caso, a

felicidade ou o “equilíbrio”.

Nem sempre aceitamos também que as dificulda-

des fazem parte da vida e que estas são motivos de

aprendizagem e preparação para o Futuro. Em vez de

aceitarmos o que não é de todo mutável, buscamos

incessante e obcessivamente a felicidade, pelos mais

Page 3: 2 Capítulos do livro Estilo de Vida Positivo

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variados meios e, às vezes, a todo o custo. E, assim,

tantas vezes cegos pelo desejo, deixamos que estes

meios nos conduzam a comportamentos, pensamen-

tos e emoções negativas, como a frustração e a ansi-

edade, simplesmente porque não criámos um mo-

mento para pensar e ponderar.

É a partir, então, de um ciclo vicioso de procura,

busca e frustração constantes que chegamos a com-

portamentos de dependência, como forma de obter

estados de bem-estar e «alívio». Muitas pessoas já

ouviram falar ou conhecem pessoas que se “perde-

ram” no vício do jogo, que não conseguem parar de

gastar dinheiro em compras desnecessárias, que

usam o álcool para “afogar” as mágoas, ou que pare-

cem verdadeiras chaminés ambulantes e compulsi-

vas.

Todas estas situações têm, muitas vezes,

um ponto em comum: há uma motivação intrínseca

para satisfazer uma determinada necessidade, neste

caso, a de se sentir bem, “feliz”, eliminando um pro-

blema ou tensão – mas esta necessidade surge mas-

carada ou é erradamente confundida, provocando

em nós uma tendência para agir de forma pouco

adaptativa e meramente impulsiva.

Page 4: 2 Capítulos do livro Estilo de Vida Positivo

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A não satisfação da necessidade real acaba por

prolongar em nós o vazio interior e a tensão que nos

impele para a resolução da descompensação ou da

perda que sentimos. É aqui que entra em acção o

ciclo dos comportamentos dependentes. O ciclo fun-

ciona da seguinte maneira: o nosso impulso conduz-

nos a um comportamento que a curto-prazo funciona

como uma “solução” para preencher o vazio interior

que sentimos e eliminar a nossa tensão. Este vazio

pode estar relacionado, por exemplo, com a falta de

auto-estima, falta de autoconfiança, escassez de rela-

ções interpessoais, existência de ansiedade e frustra-

ções pessoais – em suma, ausência de emoções e

avaliações cognitivas positivas.

Esta situação bloqueia-

nos e lesa-nos, em maior

ou menor grau, ao nível

das nossas emoções, bem

como ao nível da qualidade

dos nossos pensamentos e

comportamentos. As “solu-

ções fáceis” (e.g. comida

para compensar experiên-

cias negativas) e mais im-

pulsivas podem, portanto, acarretar, por vezes, con-

Sugestão

Realize exercício

n.º1 do conjunto de

actividades que se

encontram no final

deste livro, na sec-

ção “ACTIVIDADES

PARA CRESCER”.

Page 5: 2 Capítulos do livro Estilo de Vida Positivo

19

sequências negativas, atraindo mais problemas, já

que o seu “efeito atenuante” dura pouco tempo. Para

evitar o ciclo vicioso da dependência, é importante

que sejamos capazes de analisar as nos-

sas reacções, emoções e acções, momento a momen-

to, de forma não crítica – só assim poderemos, sem

culpa, esboçar soluções viáveis e positivas para nós.

Será que o facto de não conseguirmos comer sem

parar se deve a uma disfunção neurológica, a um de-

sequilíbrio do nosso organismo, ou a uma reacção

não adaptativa a um problema ou obstáculo na nossa

vida? Será que o desejo de nos embriagarmos para

esquecer é um motivo para atingir um certo prazer e

relaxamento, ou um sinal de que algo na nossa vida

está fora do nosso controlo e que, por isso, sentimos

uma grande tensão interior, a qual queremos fazer

desparecer?

Mantenha-se alerta e faça um rastreio constante

de si mesmo. O que pensa? O que sente? Como se

comporta?

Page 6: 2 Capítulos do livro Estilo de Vida Positivo

20

O passado serve para evidenciar as nossas falhas e dar-nos indicações para o progresso do futuro.

Henry Ford

Fazer as Pazes Com o Passado

Se calhar quase todos nós, em algum momento, ti-

vemos o desejo de apagar certos episódios ou cenas

do teatro, mais ou menos aberto, que é a nossa vida.

Com o tempo aprendemos a aceitar que isso não é

possível - simplesmente não podemos eliminar nada

do que quer que já tenha acontecido. E, curiosamen-

te, são as coisas que queremos apagar que mais ve-

zes nos vêm à memória, em certas ocasiões e com

tão pequenas pistas.

Mas do compreender que tal possibilidade não

existe ao encarar os "erros" ou os acontecimentos

que pretendemos esquecer com uma certa leveza,

com um certo jogo de cintura e de espírito, ainda

Page 7: 2 Capítulos do livro Estilo de Vida Positivo

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demora o seu tempo. Requer maturação, muitas re-

flexões, novas formas de ver e de aceitar; em suma,

requer que sejamos capazes de “largar” os ressenti-

mentos e as emoções negativas que nos vão consu-

mindo a cada dia que passa.

É preciso estarmos dispostos e ter vontade para

realmente fazer as pazes com o passado, para nos

soltarmos das amarras e das emoções negativas as-

sociadas às memórias que desejamos não recordar.

Este é o passo, talvez, mais difícil, mas também o

mais gratificante. Faz com que seja necessário perdo-

armos - a nossa pessoa e os outros. Não será tão sim-

ples como dizer cara a cara ou frente a um espelho

"eu perdoo-te" ou "eu perdoo-me"... Não! É algo que

tem um tempo próprio e é

pessoal.

Primeiro de tudo, é im-

portante internalizarmos.

É preciso sentirmos, cons-

truirmos diariamente o

perdão dentro de nós; é

preciso viver cá dentro

uma realidade que nos diz

«Tu já não precisas de

Sugestão

Realize o exercício

n.º2 do conjunto de

actividades que se

encontram no final

deste livro, na secção

“ACTIVIDADES PARA

CRESCER”.

Page 8: 2 Capítulos do livro Estilo de Vida Positivo

22

sentir mágoa ou ressentimento - tu fizeste o que

achaste ser certo na altura devida. És humano e, por

isso, tens o direito de errar e o dever de aprender

com isso, para depois poderes seguir em frente».

Em segundo lugar, devemos externalizar, sobretu-

do quando sabemos que o facto de reconhecermos

que perdoamos alguém tem um significado importan-

te e sentido para outra pessoa. Comunicar o perdão

pode ser, inclusivamente, uma forma de nos liber-

tarmos e de tornarmos válida a decisão de “deixar ir”

toda a bagagem negativa que nos bloqueia.

À medida que vamos aprendendo a perdoar, seja a

nós próprios, a outros ou a determinados aconteci-

mentos de vida, experimentamos paz e bem-estar.

Retiramos de dentro de nós a culpa, a vergonha e a

raiva que tanta energia nos retiram, para agir e nos

adaptarmos de forma equilibrada às exigências do

nosso dia-a-dia e das relações com os outros. No fun-

do… perdoar vem essencialmente de dentro e da

nossa decisão de abrir mão dos ressentimentos.