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DEZEMBRO 2013 | EDIÇÃO Nº 66 Afirma Joaquim Santos, Administrador do Bompiso “QUALIDADE, TRANSPARÊNCIA E PROFISSIONALISMO SÃO AS PEDRAS BASILARES DO BOMPISO”

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Qualidade, Transparência e Profissionalismo são as Pedras Basilares do Bompiso.

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Afirma Joaquim Santos, Administrador do Bompiso

“QUALIDADE, TRANSPARÊNCIA E PROFISSIONALISMO SÃO AS PEDRAS BASILARES DO BOMPISO”

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BOMPISO

4 Dezembro 2013

Qualidade, transparência e profissionalismoSÃO ESTAS AS PEDRAS BASILARES DO BOMPISO, UMA EMPRESA QUE TEM VINDO A EVOLUIR AO LONGO DOS TEMPOS E, HOJE, É A EMPRESA MELHOR POSICIONADA NO SETOR DA MOBILIDADE AUTOMÓVEL. NÃO PERCA A ENTREVISTA COM JOAQUIM SANTOS, AQUANDO DA COMEMORAÇÃO DO PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DAS NOVAS INSTALAÇÕES DO BOMPISO.

O Bompiso é uma empresa especia-lista em mobilidade automóvel criada em 1994, em Vila Nova de Gaia. Fruto de uma estratégia re-

vista, a empresa deslocalizou-se para Ermesin-de, posicionando-se num local de fácil acesso e marcando a diferença. Assim, no ano 2000, Joaquim Santos adquiriu uma loja que garantia

a qualidade de serviço que preconizava, mas a verdade é que rapidamente este espaço se revelou pequeno e houve necessidade de abrir uma filial, em Baguim do Monte, respondendo a dois públicos e dando uma resposta mais efi-caz a todos os clientes.No entanto, certo era que ambas as estrutu-ras estavam desadequadas face à postura do

Joaquim Santos, Administrador do Bompiso

Bompiso e a entrada no mercado internacional marcou a viragem. “Em 2008, decidimos que estava na altura de darmos um passo fulcral. Necessitávamos de uma estrutura que acom-panhasse o nosso crescimento no mercado internacional e, ao mesmo tempo, garantisse uma resposta mais eficaz e adequada aos nos-sos clientes e garantisse também condições de trabalho para os nossos funcionários, nomea-damente ao nível dos pesados”. Com esta ideia bem cimentada, em 2010, sur-giu a oportunidade de adquirir umas instala-ções situadas em Ermesinde e que garantiam a criação de valor acrescentado para o ser-viço disponibilizado, oferecendo qualidade a todos os níveis. De salientar que em 2010 o país já se encontrava em crise, mas a verda-de é que Joaquim Santos não hesitou na hora de investir quase três milhões de euros numa estrutura que lhe garantisse sustentabilidade e crescimento. Hoje, um ano voltado desde a inauguração das novas instalações, os núme-ros comprovam que o investimento foi acer-tado já que, segundo dados mais recentes, o Bompiso conta já com mais de dois mil novos clientes.Confrontado com estes números tão positi-vos, Joaquim Santos refere que “as perspe-tivas eram boas, mas a verdade é que nunca pensamos que chegássemos a estes números. Ultrapassamos todas as expetativas e penso que chegaremos, até ao final do ano, aos 2500 clientes novos”. Para comemorar o primeiro ob-jetivo rapidamente alcançado, o de 500 novos clientes, Joaquim Santos proporcionou um lan-che com o respetivo brinde a todos os seus co-laboradores como forma de os envolver nesta vitória alcançada.

Primeiro aniversárioA empresa celebrou, no passado dia 30 de No-vembro, um ano de novas instalações, uma es-trutura de cinco mil metros quadrados capaz de dar resposta a todas as solicitações, desde ligeiros a pesados, acrescentado a área de la-vagem automóvel, que alavancará o futuro e sustentabilidade do Bompiso. No entanto, as comemorações foram destinadas aos funcio-nários, com a degustação de um almoço onde todas as vitórias foram comemoradas e brin-dadas. “Comemorámos o aniversário das novas

instalações, mas também a própria evolução da própria empresa. Afinal, parte deste sucesso também a eles se deve. Não é só necessário ter uma boa gestão, também é preciso que as pes-soas que aqui trabalham se revejam no projeto e trabalhem todos os dias para que os serviços sejam cada vez melhores”.Os recursos humanos são, de facto, o ativo mais valioso desta empresa e é neles que se aposta todos os dias: “Investimos muito nos recursos humanos, quer ao nível da formação, quer ao nível das condições de trabalho. Penso que a riqueza desta empresa, além das instalações e dos equipamentos de topo, são as capacidades técnicas dos nossos colaboradores”, refere Joa-quim Santos.Neste momento, é notável a evolução da em-presa e o Bompiso é, sem dúvida, uma das melhores empresas do ramo. E porquê? “. A qualidade de serviço aliada às excelentes ins-talações fazem com que, neste momento, o Bompiso se destaque no panorama económico português”.

Qualidade, antes de maisAssumindo-se como um especialista em mo-bilidade automóvel, o Bompiso garante a máxima qualidade dos produtos que comer-cializa. Assim, rejeita, enquanto não existi-rem garantias reais e legislação adequada, a comercialização de pneus usados. “Muitas vezes chegam-nos clientes que pretendem comprar pneus usados, na maioria das vezes devido ao preço”. No entanto, “não envere-damos por essa área por considerarmos que não estão reunidas as condições para ga-rantirmos a qualidade que tanto prezamos. Assim, sempre que um cliente nos solicita pneus usados, tentamos sempre mostrar que os pneus usados não dão garantias de segu-rança e por alguns euros a mais conseguem colocar pneus novos, com pisos regulares e dentro das normas legais e que garantem uma segurança e proteção efetiva”. “Um pneu, para ter qualidade, não basta ter piso… É preciso ter bom piso” e um especia-lista em mobilidade não pode aconselhar um pneu usado, sem saber em que condições se encontra, se foi utilizado em condições cli-matéricas agrestes, sofreu toques e apresenta imperfeições.

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BOMPISO

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Certificação de QualidadeNesse momento, o Bompiso encontra-se em processo de certificação de qualidade. A apos-ta foi clara e essencial, na opinião de Joaquim Santos, já que este selo é, sem dúvida, uma garantia e uma mais-valia. “Uma empresa com esta dimensão no mercado, não estando cer-tificada é uma menos valia. Isto requer muito trabalho, tempo e investimento mas a verdade é que isso dá a garantia aos nossos clientes

A Ofiturbo nasceu como uma oficina de re-parações mecânicas, em 2009, fruto de uma necessidade latente. Muitas vezes, “os nossos clientes chegavam a nós com alguns proble-mas de mecânica que não podiam ser so-lucionados no Bompiso. Assim, e perante a nossa incapacidade, era comum pedirem o nosso aconselhamento relativamente a um mecânico de confiança. Como não conse-guíamos garantir os padrões de qualidade que praticávamos em outras oficinas, deci-dimos apostar na criação de uma oficina de reparações mecânicas e responder a esta ne-cessidade dos nossos clientes”. No entanto, e como as necessidades foram também evo-luindo, a Ofiturbo hoje oferece também ser-viços de chaparia e pintura. Equipada com o que de melhor existe a este nível, a Ofiturbo é, por si só, garantia de qualidade.

Ofiturbo

Joaquim Santos alerta: “Num veículo, o úni-co elemento em contacto com o solo são os pneus e a segurança passa por aqui. Infeliz-mente, muitos automobilistas descuram esta componente e aliam a segurança apenas à velocidade ou condições climatéricas. É pre-ciso que se entenda que a segurança come-ça, precisamente, em garantir que a pressão dos pneus é a correta, a sua manutenção é a ideal e que a qualidade dos pneus lhe garan-te a proteção desejada”.

Mobilidade Automóvel

de que os processos estão padronizados e não correm quaisquer riscos. Além disso, em termos internacionais, a certificação de qualidade dá--nos outra capacidade de competição”.

Sucesso além-fronteirasPresentes no Senegal, Zâmbia e Angola, o Bompiso tem tido uma experiência internacio-nal muito recompensadora. O fecho do tercei-ro trimestre revela que a Bompiso cresceu, no mercado externo, mais de sete por cento. “Esta-mos a crescer paulatinamente, continuamos a pensar que, apesar das condições existentes a nível internacional, continuaremos nesta linha

de crescimento e esse é mesmo o objetivo. Manter os padrões de crescimento para 2014 já que isso representa, para o Bompiso, uma faturação expressiva”. De salientar que, em Angola, o Bompiso possui uma empresa associada, a Offipeças, que tem vindo a ganhar terreno de forma sustentada e este crescimento irá revelar-se fundamental para a faturação do grupo. Mas os sucessos além-fronteiras são susten-tados pelos sucessos no mercado interno já que os dados revelam, também, que o Bompi-so teve crescimento na ordem dos 35% e isto é resultado de uma aposta contínua na qua-lidade, na abertura das novas instalações e na aposta forte em marketing e comunicação que são, indiscutivelmente o veiculo número um para “darmos a conhecer tudo aquilo que

temos”. Joaquim Santos pretende, também, dar a conhecer todos estes dados aos seus cola-boradores por forma a envolve-los na estraté-gia e no futuro, “pedindo-lhes, também, que se mantenham disponíveis, como até agora, para continuar a lutar pela empresa”.

20 anos de BompisoEm 2014 o Bompiso completará 20 anos de existência e a ideia é “continuar a apostar nos mercados internacionais, com crescimento sustentável e, no mercado nacional, a perspe-tiva é para manter os índices de crescimento que até agora se verificam, apesar de todas as condicionantes”. Ou seja, a aposta será sempre na qualidade, na honestidade e na transparên-cia, em prol de um crescimento sustentável e equilibrado.

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SAÚDE E BEM-ESTAR

Em Portugal, não há ainda um perfeito co-nhecimento sobre óleo de argan. Pode, por favor, falar sobre as origens e as ca-racterísticas do produto?

A árvore de argan é uma árvore endémica e sel-vagem que só cresce num único país do mundo: Marrocos. Todas as tentativas de a plantar noutros lugares falharam, O que a torna uma raridade e tem em conta as suas reconhecidas características ali-mentares e terapêuticas. Descrição do produto• Este óleo requintado é extremamente rico em produtos nutricionais e possui propriedades an-tioxidantes e anti radicais livres. A sua utilização combate eficazmente os sinais de velhice porque repara e revigora a pele cansada, melhorando a sua elasticidade, tornando-a mais suave firme e radiante. • O óleo de Argan cosmético da INWA é adequado para qualquer tipo de pele.Ingredientes ativos naturais• O Argan é quase inteiramente composto por áci-dos gordos, 80% destes ácidos são ácidos gordos insaturados que restauram e estabilizam as cama-das hidro-lipidas da pele.• Os ácidos oléico e linoléico têm propriedades anti-envelhecimento, anti-oxidantes sem radicais livres que podem ajudar a reduzir ou prevenir o aparecimento de rugas.• Vitamina E (tocoferol) torna a pele firme, macia e revitalizada. A cor da pele torna-se mais equilibra-da, clara e saudável. Cabelo e unhas beneficiam de uma melhoria da microcirculação.Cuidados e terapia Além de suas excelentes propriedades de humidi-ficação, o óleo de argan pode ser usado como um óleo de cuidados de saúde para, com cuidado, mas-sagear a pele no local desejado:• O óleo de argan é um óleo hidratante regular para feridas e pele seca e rachada.• Nutre e efetivamente acalma a pele danificada

Entrevista ao diretor da INWA NATURE

e cicatrizes, ou com queimaduras ou atacado por golpes de sol.• Reduz e previne estrias, celulite e varizes.• Trata doenças da pele como acne, eczema e psoríase.• Reduz dores musculares, dores reumáticas e artrite.

Um outro produto fabricado pela INWA NATURE é o óleo de sementes de figos de barbárie. Este óleo é praticamente desconhecido em Portugal, pode também fazer uma descrição do produto?A descrição do produtoProclamado como um botox natural, a pera espi-nhosa realmente faz milagres. Algumas gotas apli-cadas á noite num rosto cansado, revelará uma pele clara, lisa, brilhante e fresca na manhã seguinte. Este óleo é extremamente rico em nutrientes que protegem a pele contra elementos agressivos, tais como a radiação ultravioleta do sol, o fumo e a po-luição; mudanças climáticas devido à humidade. Estas reações oxidativas podem causar o envelhe-cimento prematuro da pele, tornando-a menos fir-me, aumentando as rugas e linhas finas e fazendo--o perder seu brilho.Uma pequena quantidade de óleo a pera espinhosa fará imediatamente a pele nutrida, escarlate, macia e suave.Óleo orgânico de Figo Barbary é apropriado para to-dos os tipos de pele, especialmente a pele sensível.Os ingredientes ativos naturais • Ácido graxo polinsaturado: com ele a pele fica mais macia, radiante, nutrida e protegida.• Ácido linoléico: pode ser o mais importante dos ácidos graxos essenciais à pele, o óleo biológico de figo de Barbary contém duas vezes a quantidade de ácido linoleico do óleo de argan e é usado para re-generar a camada Hidra-lipídicos da pele com uma doçura sublime.• Tocoferóis (vitamina E): O óleo INWA de figo de Barbary possui uma grande quantidade de vitami-na E, que é rica em antioxidantes e tem proprieda-des anti radicais livres que neutralizam os mesmos

evitando o aparecimento de rugas e linhas finas.• Esterol: Este importante elemento melhora a fun-ção da barreira da pele, protegendo-a de fatores ambientais estressantes e agressivos.• Insaponificáveis: Estas agem como anti-inflama-tórios que servem para regenerar e curar a pele.Cuidados e terapia• Além do seu excelente conteúdo de água, das suas propriedades antioxidantes e anti radicais li-vres; óleo de pera espinhosa é excelente para tra-tar a pele lesada e com cicatriz.• Este óleo de Figue de Barbarie pode curar signi-ficativamente pele seca e rachada e espinhas de febres, pele danificada, queimada ou afetada por queimaduras solares.

Quais são os outros produtos que a INWA NATURE está preparando para lançar no mercado?INWA NATURE lançará continuadamente uma nova gama de produtos cosméticos à base de óleo de ar-gan, óleo de figos de barbarie, mel e açafrão. Tratar--se-á principalmente de:• Creme de dia à base de óleo de semente de pera espinhosa• Creme de noite á Base óleo de argan e açafrão puro, • Champô fortificante de uso frequente com base em óleo de argan,• Creme esfoliante facial e corporal, com base no óleo barbarie, mel e açafrão

DRISS A EL AMRAMI

• Manteiga corporal com base em óleo de argan perfumado com almíscar, • Creme solar à base de óleo de semente de figos de barbarie. Estes produtos com 100% de ingredientes naturais foram muito apreciados por todas as mulheres que testaram como parte do nosso protocolo de valida-ção de final. Temos a certeza de que o público por-tuguês ficará agradavelmente surpreendido com esta nova gama de luxo.

Qual é a estratégia de negócios que INWA NATURE terá para a comercialização de seus produtos.INWA NATURE não trata apenas de produtos de alta qualidade, mas também valoriza a partilha e a solidariedade com os nossos parceiros rurais, es-sencialmente mulheres nas aldeias. No que respeita a Portugal e Espanha, encontra-mos na empresa situada no norte de Portugal, cujo representante consideramos o embaixador dos nossos valores e também o melhor representan-te dos nossos produtos. Assim, nós concedemos a esta entidade a exclusividade para os mercados de Portugal e Espanha, livre para escolher a estratégia comercial e de marketing que considere mais ade-quada e pertinente para estes países. INWA NATU-RE beneficiará o seu parceiro Português com todo o seu conhecimento e saber sobre óleos de argan e de semente de figos de barbarie.

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ocuparam a mesa para discutir a viabilidade dos projetos de aquicultura em Portugal. Da plateia sobressaíram muitas opiniões discordantes, pro-vando que a aquicultura não é ainda uma opção consensual entre os agentes do setor. A vertente de educação e investigação não foi esquecida pela organização, que reuniu vozes au-torizadas na área. João Coimbra, da Oceano XXI, Armando Teixeira Carneiro, do Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração (IS-CIA), Augustin Olivier, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto, e Cardoso da Silva, em nome da Universidade Itinerante do Mar, coincidem na visão de que o mar é uma fonte inesgotável de conhecimento e riquezas.

Armando Teixeira Carneiro defendeu ainda ação inovadora do ISCIA na área da formação superior de técnicos especializados ao nível da gestão de atividades relacionadas com o mar, transportes marítimos e da gestão portuária.No encerramento do dia de trabalhos, Bruno Bobo-ne não resistiu a defender a economia do mar como “um setor de renovada esperança para Portugal”.

Discutir a economia do mar “com os pés bem assentes na terra”

A ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cris-tas, não faltou à convocatória e frisou, perante uma plateia atenta, a vontade do governo em “au-mentar em 50 por cento o peso da economia do mar no Produto Interno Bruto (PIB) até 2020”. A Estratégia Nacional para o Mar será o instrumento desta ambição, comprometendo-se a “agilizar os investimentos na economia do mar, sobretudo na área da aquicultura”, garantiu a ministra. O congresso abriu com uma mensagem oficial remetida pelo Presidente da República, que insti-gou a uma “nação marítima europeia mais forte e mais desenvolvida”. Bruno Bobone, do Fórum Em-presarial da Economia do Mar, reafirmou o lema do congresso, afirmando que há que “impor o mar, em definitivo, como o grande desígnio nacional”. E porque os bons exemplos são motores de evo-lução, o congresso deu as boas-vindas à Noruega como país convidado. Com 30 por cento do seu PIB ligado às atividades do mar, o país escandi-navo assume-se, no plano da economia do mar, como um caso de desenvolvimento único, unin-do recursos e vontades que lhe permitem assu-mir a vice-liderança mundial nas exportações de peixe e marisco. 40 por cento do transporte ma-rítimo de petróleo e gás natural é, igualmente, norueguês e só com a aquicultura o país já fatu-rou mais de quatro biliões de euros. O historial é impressionante e o embaixador em Portugal, Ove

Thorsheim, manifestou o interesse do seu país em desenvolver parcerias com Portugal na áreas das renováveis offshore e da aquicultura.

Pescas e transportes marítimos: a lógica do valor-acrescentadoAs pescas e o transporte marítimo foram outros dos temas em debate. Com os portos nacionais a assumirem-se como fo-

cos de competitividade, João Franco, do Porto de Sines, frisou a necessidade de aumentar o hinter-land de Sines. José Luís Cacho, do Porto de Aveiro, defendeu a importância de “fazer de Portugal um hub marítimo”, o interposto de referência entre a Europa e o resto do mundo. Marco Vale, da MSC, e Miguel Paiva Gomes, da Transinsular, convergi-ram na receita para aumentar o shipping em Por-tugal: reduzir os custos dos serviços portuários, aumentar a competitividade dos portos, melhorar as soluções logísticas e cativar novos armadores. Miguel Paiva Gomes apontou ainda a necessida-de de “legislação e enquadramento fiscal ade-quados para a atividade dos transportes maríti-mos”. Em representação da Fileira do Pescado e da Gelpeixe, Manuel Tarré foi outro dos oradores a salientar as imensas oportunidades na área de

ORGANIZADO PELO FÓRUM EMPRESARIAL DA ECONOMIA DO MAR, O II CONGRESSO ÂNCORA DECORREU EM LISBOA, NA CULTURGEST, A 14 DE NOVEMBRO DE 2013. MAIS DE 700 ENTRADAS E TRÊS DEZENAS DE ORADORES DEMONSTRARAM O INTERESSE QUE O MAR DESPERTA NOS MAIS VARIADOS SETORES DA SOCIEDADE.

transformação do pescado, onde Portugal pode garantir produtos de valor-acrescentado. Carlos Macedo, da ArtesanalPesca, frisou a necessidade de valorizar a pesca artesanal e sustentável.

O futuro reside no turismo e na aquicultura“Com os pés bem assentes na terra”, o congres-so convocou ainda os protagonistas das áreas emergentes da economia do mar. Hugo Henriques apresentou o projeto do Centro Náutico de Algés, Luís Sá Couto, da OceanRevival, e Mário Ferreira, da DouroAzul, destacaram o potencial do país na área do turismo, um setor que cresce dez por cento ao ano. A Ilha dos Puxadoiros foi outro dos exem-plos apresentados na área do turismo sustentável. Francisco Lufinha, campeão mundial de kitesurf, foi o vencedor na categoria de aplausos. A plateia rendeu-se à apresentação dinâmica da aventura que o levou do Porto a Lagos. 300 milhas náuticas em 29 horas de viagem non stop, um feito que lhe concedeu um recorde mundial. Apaixonado pelo deporto náutico, Francisco Lufinha quer colocar Portugal no mapa destas modalidades. A aquicultura revelou-se um dos temas quentes da jornada. Renata Serradeiro, da Sea 8, Miguel Sequeira, da Direção-Geral de Recursos Natu-rais, Segurança e Serviços Marinhos, António Fa-rinha, da Companhia de Pescarias do Algarve, e Francisco Piedade, da Caixa Geral de Depósitos,

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Miguel Sequeira, Diretor Geral

DGRM:olhos voltados para o mar

A Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos é um interlocutor de peso quando falamos de economia do mar. Consciente da ne-

cessidade de agilizar processos e criar medidas práticas para o investimento, Miguel Sequeira, diretor do organismo, avança que “as soluções legislativas estão a caminho”.

A Direção-Geral de Recursos Naturais, Segu-rança e Serviços Marítimos (DGRM) assume um papel vital no fomento da economia do mar. Como encara o potencial económico deste se-tor de atividade?Nas últimas décadas esquecemos o mar, even-tualmente porque passamos a encarar as ativi-dades marítimas como demasiado tradicionais. A verdade é que a maioria das pessoas não tem noção do enorme impacto económico das ati-vidades marítimas, mesmo as mais tradicionais como o transporte marítimo ou a pesca.

Mas esse desconhecimento começa a mudar…Sim, felizmente as pessoas começam a aperce-ber-se da importância estratégica do mar e dos seus imensos recursos. O transporte marítimo como canal de comunicação e veículo da ativi-dade económica é cada vez mais valorizado. E, quanto às pescas, compreendemos que é uma área onde há muito a fazer. Uma das grandes dificuldades do mar é que a grande parte do seu potencial está abaixo da linha de água e, portanto, não é visível para os cidadãos e difí-cil de avaliar para as autoridades.

E é aí que entra a DGRM. Na avaliação das po-tencialidades e na sua divulgação. Sim, nós temos uma função relevante nesta comunicação e na identificação de oportuni-dades. Estamos sob a tutela do Ministério da Agricultura e do Mar, mas possuímos autono-mia administrativa. A nossa missão passa por executar políticas de preservação e conheci-mento dos recursos naturais marinhos e de-senvolver políticas relacionadas com a pesca, a aquicultura, a indústria transformadora e ati-vidades conexas. Assumimos ainda responsa-bilidade pela segurança e pelos serviços ma-rítimos, incluindo o setor marítimo-portuário, bem como garantir a regulamentação, a ins-peção, a fiscalização, a coordenação e o con-trolo das atividades desenvolvidas no âmbito daquelas políticas.

Olhando para as pescas, quais os principais de-safios que se impõem nesta área?Em primeiro lugar há que perceber que os re-cursos piscícolas não são infinitos e o governo português, assim como a União Europeia (UE), têm a incumbência de proteger a sustentabi-lidade dos stocks. E importa saber que a UE só impõe quotas quando os estados não são capazes de intervir sobre os limites de captura. Neste momento, a DGRM aplica-se na defesa de uma pesca mais seletiva.

Em que consiste este modo de pesca seletiva?No fundo, capturar as espécies alvo com as dimensões adequadas, evitando rejeições e capturas acessórias de espécies em risco ou proibidas. Mas para que isto aconteça importa garantir formação adequada aos pescadores, explicando de que modo se pode fazer uma captura mais sustentável. Por exemplo, o ano passado fizemos uma campanha promocional da cavala enquanto substituto da sardinha. E mesmo com menos sardinha capturada, os pescadores foram capazes de aumentar o seu rendimento, porque a sardinha existente foi altamente valorizada, e peixes como a cava-la viram aumentar o seu valor de mercado. Os pescadores conseguiram manter a sua rentabi-lidade e a sustentabilidade das espécies mari-nhas ficou a ganhar. São este tipo de soluções que importa valorizar.

Os portos nacionais demonstram ser entre-postos de desenvolvimento e competitivida-de. O transporte marítimo é uma oportunidade emergente?

O TRANSPORTE MARÍTIMO COMO CANAL DE COMUNICAÇÃO E VEÍCULO DA ATIVIDADE ECONÓMICA É CADA VEZ MAIS VALORIZADO.

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Os nossos portos são extremamente eficien-tes, mas têm limites de crescimento. Quando falamos de transporte marítimo estamos alta-mente dependentes do consumo interno e das exportações e, por isso, estamos limitados pela dinâmica do nosso próprio mercado.

Por falar em transporte marítimo, aumentar a frota marítima com bandeira portuguesa é também um dos objetivos deste executivo?A DGRM encontra-se empenhada no aumento da frota marítima com bandeira portuguesa, mas com qualidade. Este mercado revela um forte potencial económico, sobretudo porque

A NOSSA MISSÃO PASSA POR EXECUTAR POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO E CONHECIMENTO DOS RECURSOS NATURAIS MARINHOS E DESENVOLVER POLÍTICAS RELACIONADAS COM A PESCA, A AQUICULTURA, A INDÚSTRIA TRANSFORMADORA E ATIVIDADES CONEXAS.

E MESMO COM MENOS SARDINHA CAPTURADA, OS PESCADORES FORAM CAPAZES DE AUMENTAR O SEU RENDIMENTO, PORQUE A SARDINHA EXISTENTE FOI ALTAMENTE VALORIZADA, E PEIXES COMO A CAVALA VIRAM AUMENTAR O SEU VALOR DE MERCADO.

estes navios movimentam muitos serviços e são, igualmente, uma importante fonte recei-tas fiscais.

Para além das áreas tradicionais, assistimos agora ao surgimento de novas atividades como a aquicultura…Só para termos uma ideia do potencial deste setor importa dizer que 50 por cento do peixe consumido em todo o mundo é proveniente de aquicultura, enquanto em Portugal esse valor é só de três por cento. Por isso temos muito por onde crescer.

Contudo, neste caso, há muito a fazer do ponto de vista legislativo.É necessário que o estado facilite os negócios na área da aquicultura e estamos a trabalhar exatamente nesse sentido. Neste momento te-mos a modalidade chave-na-mão, que passa por apresentar aos investidores a proposta de negócio e identificar que espécies podem ser produzidas e em que circunstâncias. Caso os investidores cumpram os requisitos a obtenção da licença de atividade será célere. A Lei de Bases de Ordenamento e da Gestão do Espa-ço Marítimo é um instrumento regulatório im-prescindível, que se encontra atualmente para aprovação na Assembleia da República, e vai permitir dar seguimento aos projetos de inves-timento na área de aquicultura.

O projeto de extensão da plataforma con-tinental abre também a porta a inúmeras oportunidades e recursos marinhos de valor inestimável. Há ainda muito trabalho a fazer na exploração destes recursos. Quando falamos de recursos minerais, por exemplo, é essencial um forte trabalho de prospeção e empresas interessa-das em avançar para esse diagnóstico, tendo sempre em conta a necessidade de equacionar os impactos ambientais associados.

E a DRGM assume também competências ao

nível da preservação ambiental dos ambientes marinhos?Portugal comprometeu-se com importantes metas até 2020 e compete-se zelar pelo seu cumprimento. A água do nosso oceano deve ser preservada e monitorizada. Neste ponto, importa referir que o transporte marítimo é uma alternativa amiga do ambiente, especial-mente quando comparada com o transporte rodoviário.

A ação da DGRM tem por missão, no final de contas, a defesa constante dos interesses nacio-nais quando se trata da nossa relação como mar. Sim, é um trabalho árduo e constante, sempre na defesa dos interesses nacionais. Esta direção-geral conjuga interesses dos mais variados setores. É, por um lado, um facilitador da atividade económica, mas simultaneamente tem a obrigação de preservar o meio ambiente e assegurar a segurança de bens e pessoas. É um triângulo complicado, mas necessário. E ain-da bem que temos estas três componentes inte-gradas. Prefiro esgrimir estas três componentes internamente do que ter três organismos dife-rentes em constante procura de equilíbrio.

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O mar é Portugal!

Quando falamos do mar, falamos de Portugal. O mar é Portugal! Em primeiro lugar, convém su-blinhar que os grandes desafios futuros do mar requerem, obrigatoriamente, cooperação inter-nacional. O mar é um desígnio para todos os portugueses, mas esta vontade exige sustenta-bilidade e inovação. E esta visão traz benefícios para os portugueses, para a coesão social e para a integridade do território. Isto é o que já alguns consideram “hidroestratégia”.

Quais os principais desafios desta “hidroestratégia”?O mar é a última fronteira do planeta e impli-ca desafios imensos, comparáveis à chegada do homem à lua. Com uma grande diferença, é que da chegada à lua não resultaram ganhos

O mar é o desígnio nacional rumo ao futuro e a Direção-Geral de Po-lítica do Mar é o instrumento des-ta vontade. João Fonseca Ribeiro é

o homem forte por trás deste organismo e um otimista nato quanto ao potencial dos recursos marinhos. A “economia azul” elege o mar como protagonista e, a provar isso mesmo, Lisboa re-cebeu a Conferência do Atlântico, onde se lan-çaram as bases para uma visão estratégica co-mum no plano europeu.

Na sua missão, a Direção-Geral de Política do Mar (DGPM) reafirma o compromisso com o de-senvolvimento sustentável e o crescimento eco-nómico. Como se conjugam estas duas vertentes?

significativos para as populações, enquanto da exploração do fundo dos mares podem advir re-cursos com elevado potencial.

A Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020 assume-se como o instrumento de governação marítima, impondo a importância de Portugal como potência marítima, por excelência, no contexto europeu. O que significa, em concreto, esta visão?A Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020 foi aprovada na 10ª reunião da Comissão Intermi-nisterial para os Assuntos do Mar, presidida pelo primeiro-ministro e coordenada pela ministra da Agricultura e do Mar. Neste encontro o go-verno assumiu querer aumentar em 50 por cen-to o peso da economia do mar no Produto Inter-no Bruto até 2020. O nosso objetivo assente é este. Claro que se houver condições excecionais, e formos capazes de ultrapassar a fasquia dos 50 por cento, melhor ainda.

A crise económica não pode refrear este ímpeto dinamizador?Claro que, com a crise económica, o mar sofreu, tal como sofreu toda a atividade económica. Mas o facto é que a economia do mar provou ser mais resiliente e manteve-se num plano positivo.

A economia do mar demonstra um enorme potencial…Sem dúvida, aliás isso confirma-se pelas expeta-tivas do governo. Por exemplo, no caso do setor das pescas, e apesar de estarmos limitados pelas restrições das quotas, obteve-se um input eco-nómico extraordinário. A valorização do produto da pesca aumentou brutalmente, nas conservas e em toda a fileira de transformação do pesca-do. Como sabemos, a nossa balança comercial na pesca é altamente deficitária, em grande medida porque somos um grande consumidor de peixe e vemo-nos na obrigação de importar. Uma das so-luções poderá passar pela viabilização de áreas de aquicultura. Tendo em conta a capacidade de produção que reside nas nossas águas, nós te-mos todo o interesse em viabilizar esta explora-ção a pensar não só na exportação, mas também no equilíbrio da balança comercial.

O transporte marítimo assume-se, igualmente, como um importante componente da economia do mar. Como pode ser valorizado numa altu-ra em que os nossos portos são cada vez mais competitivos?Temos todo o interesse em que a linha de merca-dorias, especialmente do Porto de Sines, possa ligar-se com o interior da Europa, aumentando o seu hinterland e fomentando o transhipment. A ligação ferroviária é também vital económica

e ambientalmente. O caminho-de-ferro é crucial para reduzir a pegada de carbono e para refor-çar a ligação com a Europa e com o mercado ibérico. Só assim podemos assumir preponde-rância neste domínio. Neste ponto, a reparação naval também apresenta enorme potencial, mas deve adaptar-se às novas realidades, como a construção de plataformas offshore, e corres-ponder às novas exigências de design dos na-vios, ou da eficiência energética da propulsão.

Quando falamos de economia do mar, há tam-bém áreas de conhecimento emergentes que importa desenvolver.Sim, há áreas muito atrativas. A biotecnologia marinha, ou biotecnologia azul, por exemplo, é uma área de oportunidades infinitas, onde Portu-gal pode assumir papel de relevo caso seja capaz de desenvolver patentes próprias. Através da uti-lização de tecidos ou substâncias provenientes dos habitats aquáticos poderemos obter enor-mes mais-valias, numa altura em que os recursos terrestres se encontram sobre explorados. Outro domínio de interesse vital para Portugal é a náutica de recreio e o turismo, onde as opor-tunidades são mais que muitas. Temos ainda possibilidades de inovação ao nível dos recur-sos do mar profundo, da exploração da energia fóssil e das renováveis offshore.

Olhando agora para as infraestruturas. Quais as competências efetivas da DGPM na concretiza-ção desta estratégia?A DGPM é o órgão técnico de apoio à Comissão Interministerial dos Assuntos do Mar. Este or-ganismo conjuga duas grandes áreas, que são as direções de serviço de estratégia e de pro-gramação. A direção de serviços de estratégia ocupa-se da formulação de estratégias de di-namização da economia do mar, da sua moni-torização e dos projetos de cooperação inter-nacional. Por outro lado, a direção de serviços de programação é responsável pela implemen-tação dos programas de ação e pela captação de investimentos estratégicos. É um serviço im-prescindível ao desenvolvimento de uma eco-nomia do mar sustentável.

A Conferência do Atlântico 2013, que decorreu no Centro de Congressos de Lisboa nos dias 4 e 5 de dezembro, reuniu um grupo de países europeus para falar das potencialidades deste oceano. Quais as principais conclusões?Este fórum de debate elegeu o “crescimento azul do Atlântico” como mote e permitiu discu-tir a estratégia do Atlântico, que consiste numa visão macro partilhada pelos países atlânti-cos da Europa, envolvendo Portugal, Espanha, França, Irlanda e Reino Unido. É um modelo de cooperação que visa uma política maríti-ma integrada e a partilha de experiências, sem prescindir, igualmente do contributo de outros países banhados pelo Atlântico. Apraz-me dizer que nestes fóruns, a voz de Portugal é muito im-portante, devido à nossa posição estratégica e à extensão da nossa plataforma continental. É um orgulho saber que somos vistos como uma autoridade nos assuntos marítimos.

João Fonseca Ribeiro, Diretor Geral

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Comida Mediterrânea

A s terras que se encontram ao redor do Mediterrâneo partilham uma lon-ga história, em que intervieram vá-rios povos, e um clima muito espe-

cial, o que permite que exista uma culinária mediterrânea bem rica. Esta dieta é caracterís-tica dos países da bacia do Mediterrâneo.A designação “dieta mediterrânea” resultou de um estudo dos hábitos alimentares da popu-lação da bacia do mediterrâneo iniciado na década de 50. Este estudo revelou que essas populações apresentavam uma reduzida inci-dência de síndromes relacionados com a ali-mentação, nomeadamente um índice menor de doenças cardiovasculares e maior longevidade.

CaracterísticasDentro dos países do mediterrâneo, apesar de existirem diferenças em relação às dietas tra-dicionais, todas elas apresentam as seguintes características:• Consumo de alimentos frescos, da época e da região, sem qualquer tipo de processamen-to químico;• O pão é uma presença bastante frequente neste tipo de dieta, não só como acompanha-mento mas também como parte integrante de alguns pratos típicos de Portugal;• Os legumes, ervas aromáticas, frutas frescas e

os frutos secos são consumidos com frequência;• A gordura consumida neste tipo de dieta é maioritariamente de origem vegetal, quase toda sob a forma de óleos: azeite é a princi-pal fonte de gordura, óleos de frutos secos e óleo de peixe. A banha de porco é usada em percentagens bastante reduzidas, o mesmo se passando com a margarina e manteiga;• Existe um consumo bastante baixo rela-tivamente ao leite, iogurte, queijo e carne vermelha;• Existe um consumo moderado de ovos, aves e peixes, sendo este último a principal fonte de proteínas; • A principal sobremesa são as frutas frescas;• Açúcares refinados e mel são consumidos muito raramente;• O vinho é consumido com moderação, princi-palmente às refeições.

Benefícios• Frutas e hortaliças possuem grande quanti-dade de vitaminas, minerais, fibras e antioxi-dantes que ajudam a prevenir o cancro.• Cereais contém hidratos de carbono que for-necem energia para o nosso organismo, sendo que os integrais, além de fornecerem energia, também são fontes de fibras, nutrientes, mine-rais (zinco, fósforo, magnésio) e vitaminas.

• Leguminosas são fundamentais para uma alimentação saudável, possuem fibras e pro-teínas vegetais, e por isso, o consumo regular combate a obstipação, evitando o cancro do in-testino e diminuindo o nível do mau colesterol (LDL), prevenindo o aparecimento de doenças cardiovasculares.• Oleaginosas fornecem as gorduras boas (mono e polinsaturadas), que ajudam a reduzir o colesterol. Possuem vitamina E e selénio, que apresentam importante acção antioxidante.• Peixes são ricos em ácidos gordos ómega 3, proporcionando à nossa saúde diversos benefí-cios, como a diminuição dos riscos de doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral, redução da pressão arterial, acção anti-infla-matória, diminuição dos valores de triglicéri-dos e colesterol total no sangue.• Leite e derivados são fontes de cálcio que contribuem para a prevenção da osteoporose.• Vinho tinto possui na sua composição uma alta quantidade de flavonóides (antioxidan-tes). A bebida evita a formação de placas de gorduras na parte interna dos vasos san-guíneos, o que diminui o risco de doenças cardiovasculares.• Azeite é rico em ácidos gordos monoinsatu-rados, que auxiliam no aumento do colesterol “bom” (HDL), favorecendo o nosso coração.

A DESIGNAÇÃO “DIETA MEDITERRÂNEA” RESULTOU DE UM ESTUDO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DA POPULAÇÃO DA BACIA DO MEDITERRÂNEO INICIADO NA DÉCADA DE 50.

6 dosesValor calórico Total: 1598,5KcalValor calórico por porção: 266KcalValor calórico do acompanhamento (porção 100g): 127Kcal

Ingredientes300 g de camarão300 g de lula em anéis300 g de robalo5 unid. de tomate2 dentes de alho picado2 unid. de cebola picada50 ml de azeite30 g de salsa picada50 ml de vinho branco seco100 ml de caldo de peixeSal e pimenta q.b.

Aqueça o azeite. Refogue a cebola e o alho em fogo baixo. Use uma panela funda. Quan-do começar a dourar, adicione os tomates, o vinho branco e o caldo de peixe. Cozinhe por uns 10 minutos. Tempere com sal. Adicione primeiro o peixe, deixe cozinhar por três mi-nutos, adicione o camarão e a lula e deixe co-zinhar por mais três minutos ou até ficarem no ponto. Desligue o fogo, adicione a pimen-ta e, a salsa e sirva.Acompanhamento: arroz branco simples.

AutoraALICE COUTONutricionista – Holmes Place - Arrábida

Caldeirada Mediterrânea

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Garantia de qualidade

No contexto da sua missão de criar as condições adequadas e um serviço de qualidade para a produção e comercia-lização do pescado, a Docapesca desen-

volveu o CCL - Comprovativo de Compra em Lota, uma marca para o pescado fresco das lotas portu-guesas, materializado numa etiqueta para coloca-ção nos pontos de venda ao público. O principal ob-jetivo desta etiqueta é dar informação de valor acrescentado ao consumidor final, garantindo a ras-treabilidade do pescado, bem como a sua valoriza-ção quantitativa e qualitativa, contribuindo assim para a sustentabilidade e rentabilidade do sector da pesca Português. Lançada em 2010, a etiqueta CCL teve no presente ano, a sua imagem renovada, desta vez incluindo o nome da lota de origem do pescado, uma informação que aproxima o produto ao consu-midor, potenciando a decisão de compra. Este Proje-to tem atualmente protocolos com 6 grandes su-perfícies comerciais, 10 Câmaras Municipais e os cerca de 18.218 suportes com a insígnia CCL distri-buídos pela Docapesca podem ser encontrados em 1397 pontos de venda em todo o país. No passado mês de Outubro, o projeto Comprovati-vo de Compra em Lota - Valorização do Pescado Por-tuguês, foi distinguido nos Green Project Awards Portugal, com uma Menção Honrosa na categoria “Iniciativa de Mobilização SIC Notícias”, pelas ações de valorização do pescado nacional.

O projeto da Docapesca foi galardoado nesta cate-goria que premiou campanhas, ações e outras ini-ciativas que tenham produzido impacto na comuni-dade e que pretendam sensibilizar, informar e despertar a sociedade para um futuro sustentável. Efetivamente, a Docapesca tem vindo a desenvolver continuamente, desde 2012, as Campanhas de Valo-rização da Cavala e do Polvo, através de um conjun-to de ações nos mercados municipais e grandes su-perfícies, ao longo de todo o país, onde os visitantes podem participar em aulas de culinária gratuitas ministradas por Chefs das Escolas de Hotelaria e Turismo da região.Os resultados têm sido muito positivos, quer do ponto de vista ambiental, com a diminuição das re-jeições e aumento da procura, com mais de 20% de aumento nas transações de Cavala em lota, confe-rindo valor a esta espécie e promovendo uma ali-mentação mais saudável.O pescado é um dos alimentos predominantes na Dieta Mediterrânica, e a Cavala é um exemplo de uma espécie da nossa costa, mais ricas do ponto de vista nutricional. Rica em proteínas (com um teor idêntico ao da carne e constituída por todos os ami-noácidos essenciais e não essenciais) e em ácidos gordos da série ómega-3, reconhecidos em diversos estudos, pelo seu papel protetor sobre o sistema cardiovascular e cerebrovascular e preventivo sobre doenças como cancro, aterosclerose e Alzheimer. Os estudos revelam também que as propriedades dos ácidos ómega-3 são igualmente importantes no tratamento da artrite reumatoide, da asma e na re-dução do risco de diabetes tipo 2 em pessoas com obesidade. Para fornecer a dose diária recomendada de 500mg de ómega 3 (EPA+DHA), são necessários apenas 15 g de Cavala, o que reforça a posição des-ta espécie como uma alternativa alimentar rica, proveniente de um recurso nacional e económica.A Docapesca é uma empresa de capitais públicos e uma importante empresa do sector da pesca em Portugal, responsável por 21 lotas e mais de 40 postos de venda de pescado, distribuídos ao longo de todo o território continental português, prestan-do um variado leque de serviços de apoio à pesca, garantindo a segurança dos dados estatísticos e a eficácia de uma cadeia de valor que confere eficiên-cia e rentabilidade tanto para a própria empresa como para os seus parceiros sociais.

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Loja das Conservas: o sabor de Portugal ABERTA HÁ POUCOS MESES, A LOJA DAS CONSERVAS JÁ CONTA MUITOS CLIENTES FIÉIS. COM MAIS DE TRÊS CENTENAS DE CONSERVAS DIFERENTES, ESTE ESPAÇO QUER RECONCILIAR OS PORTUGUESES COM UM DOS SEUS PRODUTOS MAIS TÍPICOS. NÃO RESISTA E DEIXE-SE CONQUISTAR PELO SABOR DE PORTUGAL.

Mais de 300 variedades diferentes de conservas, 15 indústrias conservei-ras, preços que oscilam entre os 1,15 e os 15 euros, marcas únicas no mer-

cado português. Tudo isto está à sua espera na Loja das Conservas, na Rua do Arsenal, em pleno centro lisboeta. A iniciativa tem o carimbo da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) e pretende assumir-se como uma montra privilegia-da do que melhor se faz no nosso país no setor. Nos escaparates, a atenção recai no colorido que pinta as embalagens de sardinha, cavala ou atum. Fumadas, picantes, aromáticas ou com o toque sua-ve do azeite, as conservas são as verdadeiras pro-tagonistas deste espaço acolhedor. O vasto lote de indústrias é composto pela Belamar, pela Briosa, pela Cofisa, pela Comur, pela Conserveira do Sul, pela ESIP, pela La Gondola, pela Luças, pela Marina, pela Pinhais, pela Portugal Norte, ela Poveira, pela Ramirez, pela Freitas Mar e pela Vianapesca. Numa indústria que tem apostado forte na exporta-ção, a Loja das Conservas é o projeto que quer rea-proximar os portugueses de um dos seus produtos mais típicos. Reavaliadas no mercado gourmet, as conservas voltam a ser reconhecidas pelo seu eleva-do valor nutricional. Sem adição de corantes ou con-servantes, as conservas preservam as qualidades na-turais do peixe e potenciam o seu valor nutricional.

Conservas únicas em PortugalO mostruário dá a conhecer no mercado nacional marcas exclusivamente vendidas no estrangeiro. Casos como a The Queen of the Coast, orientada para o mercado dos EUA, e a Cocagne, dirigida aos países do Benelux, produzidas pela Ramirez, são alvo de muita procura. A Porthos é outra das mar-cas só disponível no mercado asiático, assim como a Marina, exportada unicamente para Itália. Estas ofertas atraem muitos turistas, mas também um número crescente de clientes portugueses. Os consumidores nacionais vão e regressam. A exce-lente relação qualidade/ preço dos produtos e a di-versidade são os principais atrativos da loja.

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O Cabo da Roca é o ponto mais oci-dental da Europa e o Cabo Norte, na Noruega, é vulgarmente considera-do o ponto mais setentrional do ve-

lho continente. Separados pela geografia, Por-tugal e Noruega, encontram-se no mar. Numa altura em que Portugal quer valorizar o impac-to da economia do mar no país, importa olhar para norte. 30 por cento do Produto Interno Bruto norueguês está ligado às atividades do

“O mar faz parte da nossa identidade nacional”

mar e o embaixador da Noruega em Portugal, Ove Thorsheim, explica-nos porquê.

Contas feitas, o bacalhau é a única coisa que une Portugal e Noruega?(Risos) O que une Portugal e a Noruega é, de facto, o mar! O bacalhau é apenas um produto que a Noruega exporta para Portugal, à seme-lhança de muitas outras espécies de peixes e fi-leiras de produtos. Da nossa parte, importamos

Ove Thorsheim, Embaixador da Noruega em Portugal

fundamentalmente têxteis e cada vez mais cal-çado, assim como produtos agrícolas, especial-mente peras e o incontornável vinho. Mas o mar é a nossa principal ligação e, a provar isso mesmo, estive presente na X Comissão Inter-ministerial para os Assuntos do Mar, que se reali-zou no Dia Nacional do Mar em Sines. A Noruega é um dos mais fortes parceiros deste ressurgi-mento da economia do mar em Portugal e que-remos assumirmo-nos como um aliado de futuro.

Ultrapassando as transações comerciais, o que têm em comum estes dois países aparente-mente tão distantes?Fundamentalmente o facto de sermos duas na-ções eminentemente costeiras. O contacto com o mar é vital para os nossos povos e é parte importante das nossas identidades nacionais. Os países de tradição costeira têm muito em comum. Revelam uma maior abertura face ao resto do mundo, porque estão habituados a

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comunicar através do mar. Isto une-nos muito mais do que os quilómetros que nos separam. Partilhamos, de certo modo, uma mesma cul-tura. Por exemplo, os muitos engenheiros que agora elegem as empresas norueguesas como destino de trabalho têm uma integração mui-to fácil. As próprias empresas assumem que é mais intuitivo trabalhar com portugueses do que com outros europeus, exatamente porque partilhamos a mesma visão e cultura de dois países voltados para o mar.

Mas a verdade é que Noruega foi capaz de de-senvolver a sua missão marítima de modo mui-to mais eficaz que Portugal. Como podemos fortalecer a nossa economia do mar guiados pelo exemplo norueguês?Começámos pelas pescas e só mais tarde de-senvolvemos a vertente do comércio marítimo. Nos anos ’60 encontramos petróleo no nosso mar e isso, claro, deu uma grande ajuda. Por-tugal foi pioneiro no comércio marítimo e só é necessário resgatar essa tradição. Penso que temos muitas áreas onde podemos desenvolver trabalho em comum, como na área das reno-váveis, já que Portugal tem investigação mui-to boa no campo da energia das ondas. A Blue Biotechnology é outro dos potenciais a explorar.

O que se pode esperar desta Blue Technology?Ainda temos pouco conhecimentos das suas reais potencialidades, mas, neste momento, Portugal e Noruega usufruem de conhecimen-tos complementares que podem partilhar para desenvolver trabalho conjunto. Os minerais existentes nas profundezas dos nossos mares eram totalmente desconheci-dos há apenas algumas décadas atrás. Ainda não temos tecnologia apta a efetuar uma ex-ploração eficiente, mas com apostas certeiras

“OS MINERAIS EXISTENTES NAS PROFUNDEZAS DOS NOSSOS MARES ERAM TOTALMENTE DESCONHECIDOS HÁ APENAS ALGUMAS DÉCADAS ATRÁS. AINDA NÃO TEMOS TECNOLOGIA APTA A EFETUAR UMA EXPLORAÇÃO EFICIENTE, MAS COM APOSTAS CERTEIRAS PODEMOS INVERTER ESTA SITUAÇÃO”

Situada na parte ocidental da penínsu-la da Escandinávia, a Noruega ocupa uma área 385 199 quilómetros quadrados e reú-ne uma população de mais de 4,9 milhões. Com uma paisagem continental dominada pelas montanhas, platôs e fiordes, a Norue-ga agrega mais de 150 mil ilhas. A sua ca-pital, Oslo, destaca-se como a cidade mais populosa, com mais de 830 mil habitantes. A base do poder político norueguês assen-ta numa monarquia constitucional unitá-ria com um sistema parlamentar de gover-no. Com o segundo maior PIB per capita do mundo, a Noruega é também exemplo no Ín-dice de Desenvolvimento Humano. Num país onde as atividades da economia do mar va-lem 30 por cento do PIB, a Noruega é o se-gundo maior exportador de peixe e marisco do mundo e tem a maior produção mundial de aquicultura, controlando dez por cento da frota pesqueira mundial e afirmando-se como uma potência na construção naval. Os recursos naturais em abundância, incluindo petróleo, energia hidroelétrica, espécies ma-rinhas e minerais, explicam os altos padrões de vida do país. Grandes reservas de petró-leo e gás natural foram descobertas na dé-cada de ‘60, o que levou a um boom econó-mico, responsável pela Noruega que temos hoje, assumidamente um dos países mais de-senvolvidos do mundo.

“O CONTACTO COM O MAR É

VITAL PARA OS NOSSOS POVOS

E É PARTE IMPORTANTE DAS NOSSAS

IDENTIDADES NACIONAIS”

“PORTUGAL E NORUEGA PARTILHAM

UMA IMPORTANTE CULTURA JUDAICA E

CONSIDERO QUE COM MAIS CONHECIMENTO

PODEREMOS CRIAR CONHECIMENTO E GERAR, INCLUSIVE,

NOVOS FLUXOS TURÍSTICOS”

podemos inverter esta situação. Basta pensar que há 50 anos explorar petróleo a grande profundidade parecia uma ideia completamen-te louca e hoje isso é uma realidade comum. Penso que se unirmos esforços conseguiremos encontrar o caminho para o filão de riquezas que habita no fundo dos nossos mares.

A Noruega também foi capaz de desenvolver uma poderosa indústria naval. Portugal tem condições para afirmar-se como uma potência logística de primeiro plano?Portugal abandonou o comércio marítimo a partir do momento em que se desligou das suas ex-colónias. Isso levou a que o imenso conhecimento adquirido se tenha perdido, de-pauperando o potencial marítimo português. O facto é que Portugal possui ótimos portos e é surpreendente que não tenha uma frota maior, mas a Noruega está disposta a colaborar com Por-tugal na revitalização deste património marítimo.

Portugal e Noruega possuem as maiores Zonas Económicas Exclusivas do continente europeu. Contudo, os noruegueses conseguiram valorizar este potencial, com a economia do mar a represen-tar 30 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), e em Portugal esta aposta permanece na sombra.Podemos trabalhar este enorme espaço através da investigação conjunta, explorando mais re-cursos marinhos para além do peixe. Na Norue-ga encontramo-nos agora a desenvolver o kri-ll, uma espécie de mini camarão, que serve de alimento para outros peixes, mas também pode vir a servir para alimentar os humanos. E Portu-gal possui uma ampla diversidade de algas que pode e deve ser otimizada e apta a um consumo de valor-acrescentado. Mas quero salientar que a Noruega está disponível para investir forte nas novas potencialidades da economia do mar em Portugal e são cada vez mais as empresas portuguesas a instalarem-se no país.

Como observa a vontade de Portugal expandir a sua plataforma continental?Penso que é algo que todos os países devem fazer, já que é permitido ao abrigo das leis in-ternacionais e dos regulamentos da própria ONU. A extensão da plataforma continental constitui um fator de estabilização, porque se define, em concreto, quem tem o direito e a responsabilidade de olhar por aquelas águas e pelos seus recursos.

O mar é o nosso elemento comum, mas temos outros pontos de encontro…Em primeiro lugar, o facto de termos uma po-pulação mais reduzida permite-nos desen-volver parcerias em áreas estratégicas como a saúde pública, onde espero que possamos partilhar mais experiências. Possuímos a mes-ma cultura europeia e um património comum. Atualmente, por exemplo, estamos a mapear a presença judaica em Portugal. Portugal e No-ruega partilham uma importante cultura ju-daica e considero que com mais conhecimento poderemos criar conhecimento e gerar, inclusi-ve, novos fluxos turísticos.

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C onsiderada uma empresa de referên-cia no mercado nacional de trans-formação e comercialização de ali-mentos ultracongelados, a Gelpeixe

nasceu e desenvolveu-se no seio da família Tarré. No mercado desde 1977, a empresa man-tém a estrutura familiar, mas a ambição, essa, já extravasou as fronteiras há muito. Manuel Tarré, presidente do Conselho de Administra-ção da Gelpeixe, é um homem de visão e uma voz de autoridade quando falamos de econo-mia do mar e da Fileira do Pescado. Ao País Po-sitivo falou das potencialidades do futuro, sem esquecer as fragilidades do presente.

Considerando a importância estratégica da Gelpeixe na Fileira do Pescado, qual a sua vi-são no que se refere à economia do mar?No essencial, defendo que a economia do mar precisa de uma grande reviravolta. Hoje em

Gelpeixe na defesa do “melhor peixe do mundo”

dia, estamos atolados em organismos que não fazem sentido, que prejudicam o desenvolvi-mento das empresas e da economia do mar. Há demasiadas burocracias e perde-se a nitidez do que é o supremo interesse do país.

Como se pode “dar a volta” a esta situação?Todos nós queremos que as estruturas se reve-lem mais ligeiras e que sejam orientadas por pessoas capazes de tomar decisões rápidas, ob-jetivas e concisas. Há muitos empresários inte-ressados em investir na economia do mar, mas o governo continua lento nas soluções legisla-tivas e na aprovação de projetos. Neste momen-to, as políticas estatais são autênticos veículos demolidores de entusiasmo. É indecente o tem-po que os projetos demoram a ser aprovados e uma falta de respeito por quem está disposto a investir. Precisamos de bom senso no país, na economia nacional e na economia do mar.

Apesar de tudo, as exportações de peixe portu-guês evidenciam um crescimento constante…Neste caso, falo em nome da Fileira do Pesca-do. Todos os produtores e indústria estão uni-dos na promoção do consumo do peixe portu-guês, pois trata-se do “melhor peixe do mundo”. E quando falo em peixe português não é só o peixe pescado em águas portuguesas, mas todo aquele que é preparado por mãos portu-guesas. Até porque a forma como confeciona-mos o peixe em Portugal é muito apreciada, por nós e pelos turistas que nos visitam.

A diferenciação reside também, então, no modo de preparação?Sim, o peixe que importamos, porque obvia-mente não conseguimos pescar todas as es-pécies em águas portuguesas, ganha valor--acrescentado, devido à preparação que recebe em Portugal. Por exemplo, o bacalhau, apesar

de proveniente da Noruega, é considerado um produto tipicamente português. O baca-lhau é património nacional, é transformado aqui e deve ser exportado como um produto português.

Como define o estado atual da indústria de transformação de pescado?Está em franco crescimento, sobretudo consi-derando que vivemos um período de crise e o consumo de conservas tende a aumentar. Mas o peixe fresco também se encontra em franca progressão nos mercados internacionais. Hoje em dia, a indústria deve preocupar-se em oferecer um produto diferenciado, propondo so-luções mais fáceis de cozinhar, mais económicas ou gourmet. Há a necessidade de desenvolver soluções aptas a corresponder às necessidades dos diversos nichos de mercado. Nós, empresá-rios, temos que ser todos os dias criativos.

Então foi a criatividade o segredo da Gelpei-xe, que é uma empresa histórica em Portugal e continua a ser um caso de sucesso quando passam mais de 36 anos da sua fundação?A nossa visão passa, fundamentalmente, por afirmar a Gelpeixe como um garante de quali-dade e confiança. A política de confiança junto dos clientes, os rigorosos padrões de qualida-de de seleção de fornecedores e as certifica-ções pela norma NP EN ISO 9001:2000 e pela norma NP EN ISO 22000:2005 fazem da Gel-peixe uma empresa de referência no mercado e um parceiro seguro. Mas, obviamente, tam-bém apostamos na inovação, desenvolvendo novos produtos e soluções mais adaptadas aos padrões de consumo da atualidade. A nos-sa preocupação diária é manter a nossa quota de mercado em Portugal e continuar a crescer nos mercados internacionais. Somos provavel-mente uma empresa de referência neste setor e desejamos continuar a oferecer qualidade ao melhor preço.

E no que se refere à exportação? Quais os vos-sos mercados prioritários?Estamos presentes na grande maioria dos paí-ses europeus e atuamos também nos PALOP, ou seja Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, assim como em Macau. Neste momento, estamos a tentar abrir novos mercados na América do Sul. Em termos de nú-meros, o nosso maior mercado de exportação é Angola, esperando este ano atingirmos 10% do valor da faturação total.

Manuel Tarré, Presidente do Conselho de Administração

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Considerando a importância do mercado angolano, a Gelpeixe prevê efetuar novos investimentos?Os PALOP, e especialmente Angola, são merca-dos determinantes para nós, não só devido ao potencial de crescimento, mas, fundamental-mente, pelo apreço pelas marcas portuguesas. Atualmente, estamos a avaliar a possibilidade de construir uma unidade local de produção em território angolano, mas ainda há muito trabalho a fazer.

A Gelpeixe assume-se também como um im-portante exportador de conhecimento, princi-palmente no caso dos PALOP?Certamente que neste contexto a Gelpeixe é responsável pela transferência de conheci-mento e know-how, contribuindo para o desen-volvimento da indústria do peixe nestes países irmãos. O mercado dos PALOP, ao contrário do que muita gente pensa, é bastante exigente. As empresas que subsistem são as que apos-tam no serviço de qualidade. Claro que nestes mercados o fator preço é determinante, mas a forma como se apresenta o produto é vital. A Gelpeixe, seja em que mercado for, pugna sem-pre por uma postura transparente e honesta. Só assim se conquista a confiança de fornece-dores e consumidores.

À postura combativa no mercado junta-se uma política de responsabilidade social efetiva. A Gelpeixe é uma empresa de pessoas para pessoas…A postura da Gelpeixe é de responsabilidade social, respeito total pelas normas laborais e pelos nossos colaboradores. Somos uma gran-de família e, porventura, foi por isso que rece-bemos o prémio Excelência no Trabalho, atri-buído pela Heidrick & Struggles e pelo ISCTE, em 2011/2012 e fomos considerados a me-lhor empresa para trabalhar em Portugal em

2010. Simultaneamente, a Gelpeixe assume um papel interveniente junto da comunidade de Loures, concelho onde estamos implanta-dos desde o início de atividade. Durante to-dos estes anos, desenvolvemos uma relação de proximidade com a população e o poder local. Conhecemos, de perto, as carências des-ta população e contribuímos para mitigar es-sas necessidades. Tentamos ser um veículo dinamizador da atividade social e empresa-rial desta região. Não estamos alheios às ca-rências que nos rodeiam e, por isso, apoiamos instituições e realizamos donativos. O prazer de dar é muito maior do que o de receber. Esta é a nossa visão.

HÁ MUITOS EMPRESÁRIOS INTERESSADOS EM INVESTIR NA ECONOMIA DO MAR, MAS O GOVERNO CONTINUA LENTO NAS SOLUÇÕES LEGISLATIVAS E NA APROVAÇÃO DE PROJETOS.

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De que forma é que veem o mar e quais são as potencialidades da economia do mar?O interesse pelo mar não é recen-

te, já há muitos anos que se tem vindo a con-cretizar algum investimento neste recurso. Relativamente à aquacultura em concreto, o que temos vindo a assistir é ao encerramento de algumas unidades e o investimento, como o da Sea8, por exemplo, é quase inexistente. No entanto, o potencial existe e existem áreas onde Portugal pode ser muito competitivo. Te-mos uma enorme plataforma marítima e temos que saber retirar o máximo de proveitos, mas a verdade é que também temos que nos focar bem naquilo que podemos ou não fazer. Por exemplo, existem áreas onde claramente não podemos apostar por não sermos competiti-vos, como por exemplo a produção de peixe em offshore. Comparativamente com a Grécia

O melhor linguado em produção sustentável

e a Turquia, Portugal não possui condições am-bientais que permitam este tipo de exploração a um custo competitivo, mas podemos apos-tar em outras formas de aquacultura que nos permitem retirar mais proveitos, rentabilidade e qualidade. Às vezes, é preocupante assistir ao que está a ser feito em termos de planea-mento das áreas costeiras porque só se fala em offshore. Realmente as explorações em offsho-re poderão ser muito proveitosas, mas apli-cam-se na sua maioria aos bivalves do Algarve.

E os investimentos onshore também são vitais para a economia do mar…Sem dúvida. As empresas têm que ser compe-titivas e nenhuma empresa vai produzir robalo e dourada em offshore quando noutros locais existem condições para a produção com muito menos custos. Podem existir tecnologias que garantam que o peixe não escapa ou que as

jaulas não sejam danificadas com o temporal, mas depois as pessoas conseguirem lá chegar diariamente para alimentar o peixe é muito complicado. Do ponto de vista operacional, es-tas explorações são menos rentáveis porque o peixe tem que ser alimentado todos os dias e se não for perde peso e quando isso acontece sobe o custo unitário e portanto se temos uma costa complicada, onde os temporais são fre-quentes e temos alguns dias por ano onde não é possível alimentar os animais, sem falar do perfil de temperaturas… Ou seja, existem um sem número de fatores naturais e ambientais que não são possíveis de contornar e isso mos-tra bem que, ao invés de pensarmos tanto em termos de offshore, devíamos apostar mais nos esteiros, nos sistemas onshore e na recircula-ção já que em offshore, existem outros locais com melhores condições do que Portugal e o investidor tem tudo isso em linha de conta.

Mas repare-se que a exploração offshore tam-bém se pode fazer em Portugal, existem exem-plos de áreas e espécies que não sofrem com os problemas das intempéries ou falta de ali-mentação, mas não podemos olhar para esta forma de aquacultura como sendo a única.

Aquacria e Sea8

Como surgiu a Aquacria?A Aquacria foi criada em 1996 com capital no-rueguês e começou a sua atividade no ano se-guinte, altura em que foi instalado um siste-ma de recirculação que começou por ser uma estrutura piloto e durante muitos anos fomos desenvolvendo tecnologicamente aquilo que foi instalado e isso não permitiu que a em-presa fosse viável, financeiramente. Durante cinco anos estivemos a desenvolver o sistema previsto para produzir pregado, mas em 2005,

André Bravo e Renata Serradeiro

ENTREVISTA A ANDRÉ BRAVO, MEMBRO DO COMITÉ DE DIREÇÃO, E RENATA SERRADEIRO, DIRETORA GERAL DA SEA8 PORTO.

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o grupo norueguês abandonou a empresa e o capital foi adquirido por duas empresas de ca-pital de risco e, nesse momento, a empresa so-freu uma reestruturação, assim como o próprio sistema tecnológico e, começamos, finalmente, a produzir pregado de forma estável, atingin-do as 120 toneladas/ano. Em 2010, a empresa faz um investimento de 2,5 milhões de euros e instala um novo equipamento e, em 2012, a Sea8 adquire a totalidade do capital e muda--se, novamente o paradigma. Passamos a intro-duzir, lentamente, o linguado na produção e, hoje, a nossa produção dedica-se totalmente ao linguado.

Em Abril de 2012, a Aquacria foi adquirida pela Sea8. O que terá sustentado o interesse deste investidor?Creio que o principal interesse da Sea8 foi o facto de termos uma tecnologia sustentável. A Sea8 pretendia investir no setor e valoriza a produção sustentável de alimentos de qualida-de. O facto de o projeto e a tecnologia assen-tarem nessa base despertou o interesse. Este tipo de produção mais controlada também permite uma melhor gestão do risco e da pró-pria produção, o que nem sempre acontece na aquacultura. A par, a Sea8 pretende afirmar-se como um player importante na produção de linguado em termos mundiais. E isso permite--nos um crescimento que, de outra forma, não seria possível. A Sea8 é o veículo de investi-mento para a área da aquacultura de um fun-do de investimento de capital espanhol. Existe um interesse estratégico e de longo prazo em investimentos sustentáveis e este fundo está, neste momento, focado em duas áreas distin-tas na produção primária: uma vertente é a de investimentos em aquacultura e a outra é a de produção de azeitona. A Sea8 tem ambições

muito grandes e esperamos conseguir concre-tizá-las. De momento, o nosso primeiro obje-tivo será elevar esta produção de linguado a um nível de duas mil toneladas, o que poderá suceder através de uma expansão do que te-mos atualmente em Portugal, através da cons-trução de novas unidades em Portugal ou em Espanha, por aquisição de outras empresas ou através de contratos de gestão. Há uma aposta muito grande neste projeto e uma confiança enorme nesta tecnologia, na espécie e na equi-pa que está no terreno a executar. A Sea8 está muito focada neste projeto e no seu sucesso!

Dedicando-se a Sea8 a uma aquacultura inten-siva, de que forma procura preservar a susten-tabilidade ambiental, minimizando os impactos negativos?O termo intensivo não significa mais poluen-te… Neste caso, sucede exatamente o contrário. O facto de se processar num sistema em re-circulação permite-nos controlar muito melhor o principal recurso que utilizamos, a água. O volume de água que utilizamos é cerca de dois por cento daquele que seria usado em circui-to aberto e, ao ser um volume muito pequeno, permite-nos tratar o efluente. Paralelamente, temos um projeto desenvolvido em parceria com a Universidade de Aveiro, a par de muitos outros que desenvolvemos com outras univer-sidades nacionais e estrangeiras, que consiste na implementação de um sistema multitrófico de tratamento do efluente. Temos poliquetas, que se alimentam de matéria orgânica produ-zida pelos peixes e outras plantas, algumas com interesse comercial como a Salicornia, e também estamos a realizar testes com micro--algas e com bivalves, seres vivos que vão, no fundo, “limpar a água” ao mesmo tempo que otimizam a utilização dos nutrientes.

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A riqueza do mar do Algarve compreende--se facilmente se olharmos para o re-corte da sua costa entre lagunas e es-tuários. A esta conjunção de dinâmicas,

associam-se ainda os movimentos ascendentes e descendentes das correntes quentes de África e frias do atlântico, conjugada com a entrada para o mediterrâneo, fazendo com que este mar possua caraterísticas excecionais.

Dos fenícios aos romanos, dos povos árabes à co-roa portuguesa, o Reino dos Algarves (o ocidente do Al Andaluz), na periferia da periferia da Europa, era sinónimo de uma fachada atlântica com uma posição estratégica para o Mediterrâneo e territó-rio de “…bons portos, bom peixe e bom sal…”.

Esta combinação de fatores competitivos: uma posição geográfica estratégica, portos de águas calmas, recursos naturais abundantes, transfor-maram a região num centro exportador para as diversas regiões do Império.

No entanto a partir dos anos 60 os elevados lu-cros que a atividade turística vai gerar modifi-ca definitivamente a estrutura socioeconómica e frustra qualquer tipo de investimento noutros sectores económicos a curto e a médio prazo. Mu-daram-se as funções, reconverteram-se profissões, passámos de exportadores de produtos a exporta-dores de serviços, mas não se perdeu a vocação e o potencial do Mar.

O Mar como horizonte…Um oceano de certezas na Estratégia 2020

Potenciar o Algarve, agilizando processos

A Estratégia do MAR Algarve no horizonte de uma Europa mais Inteligente, Sustentável e Inclusiva

O novo ciclo 2014-2020, não fugindo a esta di-nâmica, aponta como necessário o reforço da orientação para os processos de inovação e para as estratégias de especialização inteligente, mas também permite constatar que a região, conso-lidou um modelo que se mostra pouco eficaz na criação permanente de emprego e com grande sensibilidade à desaceleração económica induzi-da por fatores externos.

O Mar, mais do que um potencial regional, sur-ge assim como um desígnio estratégico de afir-mação e de valorização dos recursos endógenos, pela via da incorporação de mais-valias nas ati-vidades, produtos e serviços e pela necessária transferência do conhecimento para o mercado. Mais do que a aposta em setores revolucionários, devemos orientar-nos para fazer melhor o que já fazemos bem e fazer do velho, novo, com base na introdução de inovação e de recursos humanos mais qualificados.

Para atingir estes objetivos temos que recuperar o Mar na sua versão exportadora. Nestes domínios a aquacultura (in e offshore com particular relevo na produção de bivalves), a valorização e promoção dos produtos alimen-tares de origem marinha (de que a flor de sal é já um bom exemplo), a revitalização da indús-tria conserveira (inovando no produto e na co-mercialização), a aposta no leque alargado de atividades ligadas à náutica, ao lazer e despor-to e aos cruzeiros, o reforço da integração dos recursos e de produtos ou serviços associados ao mar em setores como o Turismo, a Saúde, as TIC’s e a Energia, a par da investigação aplicada e da utilização de tecnologias avançadas, são o caminho de afirmação do Algarve no horizonte 2014-2020.

Tendo o MAR como horizonte, estamos certos que a Região do Algarve, voltará a encontrar (tal como no passado) nos seus recursos endógenos a resposta para superação dos seus constrangi-mentos e um sinal de afirmação do seu potencial no contexto do Cluster Nacional do Mar.

David Jorge Mascarenhas dos Santos

Presidente da Comissão de Coordenação e De-senvolvimento Regional do Algarve

quer nas áreas mais longínquas, que nos levam às 200 milhas marítimas da nossa ZEE, quer na nossa orla costeira, não está convenientemente aproveita-do. De alguma forma, nalguns casos com excessos e desequilíbrios territoriais, foi aproveitada a faixa costeira com a imobiliária turística, em função do sol e praia, e algumas infraestruturas da náutica de re-creio. Mas existe um conjunto suficientemente vasto de outras atividades e recursos que não foram apro-veitados, designadamente nas áreas da indústria, do lazer e das várias atividades relacionadas com a área ambiental, energética e científica. Há mais de duas décadas, fizeram-se planos de ordenamento para a orla costeira que foram mais no sentido de conter ações e atividades, supostamente prejudiciais ao ambiente e à paisagem, mas com pouca visão para o investimento e o desenvolvimento sustentável, no aproveitamento das potencialidades da orla costei-ra e no fomento das atividades marítimas, como um contributo forte e determinante para a economia nacional e do Algarve. É tempo, portanto, de alterar paradigmas, com a revisão de planos de ordenamen-to e a alteração de estratégias. O Plano Estratégico Nacional do Mar 2013-2020 é já um bom indício de uma nova visão do mar e da economia associada, importa, por isso, concretizá-lo em ações práticas no território, com a participação pública e privada, num novo desafio.

Antes de mais, gostaria de saber qual a sua visão pessoal relativamente ao mar e à economia do mar português.A partir do momento em que somos o

país com a zona económica exclusiva mais alargada da União Europeia e das maiores ZEE mundiais, que somos um país periférico da Europa e portanto mais virado para o atlântico do que propriamente para a centralidade da zona terrestre europeia, sem dúvida alguma que Portugal tem que desfrutar de todo o potencial que constitui o mar, nas suas mais variadas vertentes de atividade e no aproveitamento desse potencial, quer na área da pesca, quer na investi-gação cientifica, no turismo e serviços associados, industria naval, náutica de recreio, comércio, etc..., num enorme manancial de serviços e produtos que podem ser explorados e extraídos do nosso mar. Te-mos que fazer deste vasto património, uma enorme janela de oportunidades do ponto de vista da econo-mia nacional. Do ponto de vista histórico, foi o mar que nos permitiu ser grandes, como país e percur-sores da globalização através dos descobrimentos. Contudo, penso que ao longo dos anos, em especial nas últimas três décadas, acabamos por negligen-ciar essa herança natural. É, no entanto, nos tempos atuais de globalização da economia e de competi-tividade mundial, a hora de nos virarmos objetiva-mente para esse potencial de oportunidade. O mar,

David Jorge Mascarenhas dos Santos

“SOU ALGARVIO E A MINHA RUA TEM O MAR AO FUNDO...” ANTÓNIO DA ENCARNAÇÃO PEREIRA

GILBERTO VIEGAS É O HOMEM POR TRÁS DO CARGO DE DIRETOR REGIONAL DE ECONOMIA DO ALGARVE E, EM ENTREVISTA AO PAÍS POSITIVO, APRESENTA-NOS A SUA VISÃO PESSOAL E INSTITUCIONAL SOBRE AS POTENCIALIDADES DO ALGARVE E DA ECONOMIA DO MAR.

Gilberto Viegas, , Diretor Regional de Economia do Algarve

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ENTRE O BARLAVENTO E SOTAVENTO ALGARVIO, ENCONTRAMOS UM RESTAURANTE QUE BUSCA NA RIA FORMOSA A SUA INSPIRAÇÃO E DAÍ RETIRA O QUE DE MELHOR SE PRODUZ. CONVERSAMOS COM CHEFE ALBERTO CARVALHO, DO RESTAURANTE RIA FORMOSO, DO HOTEL FARO, E ENCONTRAMOS A PÉROLA DA RIA.

Chefe Alberto Carvalho

Alberto Carvalho, chefe responsável pelo Restaurante Ria Formosa, em Faro, con-fidencia ao País Positivo que a sua ins-piração e criatividade vem da Ria, onde

“vamos buscar todos os produtos frescos que ela nos dá, nomeadamente os moluscos tão caracterís-ticos”. Mas consegue também inspirar-se na serra, onde os pequenos agricultores são procurados to-dos os dias para fornecer a este restaurante os pro-dutos mais frescos e mais característicos da região.Segundo o nosso entrevistado, Faro é uma terra rica em minifúndios que garantem a produção de excelentes legumes e frutas e “da minha parte, faço todos os possíveis para consumir produtos locais, frescos e da época”.Situado no centro de Faro e com uma esplanada de cortar a respiração, com a Ria Formosa como pano de fundo, o Hotel Faro caracteriza-se por ser um bu-siness hotel, ou seja, “o nosso cliente passa pouco tempo no hotel e, portanto, é um cliente que exige um bom pequeno-almoço, reforçado e com produtos

de qualidade, mas exige também um jantar rico, não em técnica, mas em termos de gastronomia típica e de qualidade”. Apesar de não apostar numa cozinha de grande transformação e técnica, Alberto Carva-lho aposta numa cozinha de altíssima qualidade, com toques de requinte: “Não vale a pena inventar muito em termos de sofisticação, temos que apostar sim, na criatividade e na qualidade. Esta é a base da minha ementa. A tradição, por um lado, e por outro a inovação, onde pegamos naquilo que já existia e transformamos em requinte. No entanto, a base do nosso serviço é precisamente dar a conhecer aquilo que mais nos caracteriza”.Apostados em ser um marco de qualidade e re-quinte na cidade de Faro, o Restaurante Ria For-mosa e o Hotel Faro é o parceiro de negócio que tanto procura, seja para empresas da cidade, como para empresas de outros cantos do país. Visite este espaço e não se irá arrepender. Prome-temos-lhe uma refeição com sabores únicos, com uma vista ímpar e um serviço 5 estrelas.

Saberes e sabores da RiaMas no Algarve, tentou-se fazer mais do que no resto do país. Foram construídas muitas estruturas e infraestruturas de apoio ao turismo que acaba-ram por conseguir aproveitar as mais-valias do mar e do espaço costeiro…Fizeram-se, de facto, algumas coisas, no entanto, não direi que se fez mais do que no resto do país. Claro que as nossas particularidades, como o cli-ma, esta proximidade com o mediterrâneo, diferen-ciam-nos do resto do continente de Portugal e isso faz com que a orla costeira do Algarve seja muito mais favorável a atividades relacionadas com o tu-rismo, e não só. Mas na minha opinião deveria e podia ter-se ido mais longe. O mar do Algarve devia ter sido muito mais aproveitado do que foi nestes últimos anos. Por exemplo, o Algarve tem algumas marinas, mas a verdade é que ainda existem dis-tancias enormes entre algumas delas. O facto é que um porto estratégico como a Baleeira, em Sagres, não oferece ainda condições de apoio à náutica tu-rística, nem de média, nem de pequena escala, o porto de cruzeiros de Portimão e o porto comercial de Faro, têm fortes condicionalismos, para os quais foram agora anunciados cerca de 15 milhões de investimento público pelo Ministério da Economia. É um facto que a aposta no potencial económico do mar também passa pelo investimento privado, mas a verdade é que os planos e estratégias públi-cas deviam ter ido muito mais nesse sentido, por-que a economia e a criação de emprego, a geração de riqueza será muito maior do que a aposta quase exclusiva no sol e praia. O Algarve tem um poten-cial enorme por si só e nós temos que ser capazes de o aproveitar, sem o destruir. Não penso que seja através da criação de santuários que conseguimos retirar as mais-valias económicas e sociais daquilo que a natureza nos deu e, simultaneamente, a salva-guarda dos valores naturais. Temos que ser capazes de transformar estas pérolas da natureza em mais--valias para o país e para a região. Não podemos fi-car muitos mais anos na dependência dos fundos da união europeia ou à sombra do sol e praia, mas ser-mos capazes de aproveitar todo o nosso potencial marítimo e avançar para projetos e investimentos estruturantes, quer a nível privado, como a nível pú-blico, que no caso do Algarve contribuam para esba-ter a forte sazonalidade da nossa economia.

Mas já tem existido esse cuidado, de mostrar que o Algarve é mais do que sol e praia?Sim, de facto têm existido muitos discursos nesse sentido. E temos de facto alguns exemplos concre-tos, como é o caso do afundamento dos navios de guerra em Portimão e a criação de corais artificiais e zonas de mergulho turístico, mas é preciso encon-trar mais formas de atração turística. Por outro lado, é necessário aproveitar mais as potencialidades dos nossos portos. Considero um absurdo as condições em que se encontram alguns portos, nomeadamen-te o porto da Baleeira, ou seja, existe um potencial enorme que está a ser desperdiçado por falta de in-vestimento estrutural e nós temos que ser capazes de alterar isso. E preciso criar mais infraestruturas e na orla costeira que dêem maior resposta a este tipo de turismo marítimo, seja com restaurantes, ofertas culturais, postos de abastecimento, pontos de lazer, ou seja, complementos a este género de turismo cada vez mais expressivo.

Existe, no entanto, a intenção de investir 15 mi-lhões de euros no Porto Comercial de Faro e no Porto de Cruzeiros de Portimão… Apesar do período que vivemos, onde a auste-ridade impera, a intenção de investir este valor nestes dois equipamentos é, de facto, um ex-celente sinal de como o Governo está realmen-te a valorizar o turismo de cruzeiros e encara a economia do mar como um vetor de futuro. Além disso, sabemos que este investimento público irá, com certeza, atrair investimento privado e é esta espiral de investimento que queremos ver cimentada no Algarve. Importante é que a inicia-tiva pública potencie o investimento privado, ao invés de o castrar, como aconteceu ao longo dos anos. Não estamos em altura de colocar entra-ves ao investimento, precisamos sim de todos os organismos em consonância, respondendo pron-tamente e sendo ágeis nas respostas necessá-rias. Não podemos cair no erro de demorar anos a aprovar um projeto, sob pena de o perdemos. É hora de eliminar burocracias e de criar mecanis-mos que facilitem o investimento, sem cair tam-bém numa onda de facilitismo. No entanto, essa componente é facilmente ultrapassável se todos os organismos envolvidos na aprovação dos pro-cessos estreitarem relacionamentos e encurta-rem procedimentos.

Mas os processos ainda são muito burocráticos? A atuação da DRE do Algarve tem sido feita numa base de cultura da eficácia, de resposta rápida às solicitações. Essa cultura existe, os propósitos e as orientações do ministério da economia vieram nesse sentido, mas apesar dis-so a cultura desta casa já era no sentido de uma resposta rápida a todos os seus clientes, no sen-tido de que os vários licenciamentos sejam fei-tos de forma célere, sem gerar grandes custos de contexto. Agora, parece-me que há aspetos que se repercutem nos organismos licenciado-res. Ou seja, o ordenamento do território impe-de que decisões mais acertadas sejam tomadas e que os licenciamentos sejam dados de forma mais célere e são estes aspetos que têm que ser vistos e revistos, de forma mais concreta e objetiva. Precisamos ter uma política de orde-namento do território que propicie o apareci-mento e a concretização do investimento, e com menores custos de contexto,que ainda existem em larga escala. São estes constrangimentos ao nível do ordenamento do território que ainda inviabilizam muitos investimentos e, portanto, é hora de agilizar também estes processos por-que corremos o risco de termos o tesouro e não podermos usufruir dele.

Gostaria de deixar uma mensagem aos nossos leitores? Este período de crise que estamos a atravessar deverá ser encarado como uma oportunidade. Te-mos que utilizar esta fase difícil e aproveitar para mudar mentalidades, métodos e formas de estar e de atuar, individual e coletivamente. Se o conse-guirmos fazer, e vamos consegui-lo seguramente, conseguiremos prevenir outra crise deste género e garantiremos uma economia mais sólida e susten-tada, para a região e para o país.

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N o sentido de melhor perceber quais as perspetivas de futuro para o Al-garve e de que forma se poderá aproveitar todas as potencialida-

des deste destino de excelência, entramos à conversa com Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve.

O Algarve está em mudança. Neste momento, trabalha-se no sentido de mostrar que o Algar-ve é mais do que sol e praia e que as potencia-lidades são muitas?Precisamente. O sol, praia e o golfe são o gran-de produto âncora da região, mas isso só não chega para um Algarve que queremos que te-nha uma vida 365 dias por ano. No Turismo do Algarve temos procurado alavancar produtos que consideramos complementares e que não estão a ser trabalhados com o enfoque neces-sário, mas consideramos esses mesmos produ-tos essenciais para a valorização da região no seu todo. Sabemos que, de novembro a feverei-ro, não podemos vender sol e praia, mas a ver-dade é que durante esses meses a capacida-de hoteleira de excelência continua lá, assim como os produtos de natureza ligados ao BTT, à observação de aves, às caminhadas, à apre-ciação da fauna e flora. Mas temos também o turismo cultural, gastronómico e vinícola. Ou seja, temos uma série de potencialidades que devem estar constantemente interligadas e é esse apelo que temos feito aos agentes eco-nómicos deste setor. Os tempos mudaram e é

Algarve:Aberto 365 dias por ano

necessário trabalhar em rede. Aqui há uns anos, um quarto de hotel valia por si, mas agora esse mesmo quarto de hotel tem que estar associa-do a produtos, experiências e inovação. É isto que o Algarve tem e precisa de ser trabalhado no sentido da sua promoção. Ou seja, diria que é tempo de continuar a valorizar o sol, a praia e o golfe, mas é também tempo de alavancar e valorizar outros produtos complementares.

E foi precisamente nesse sentido que foi apro-vado o Memorando do Turismo do Algarve…Exatamente. Preparamos um memorando sus-tentável, recolhendo contributos de várias pessoas e entidades. Procuramos, dentro des-se quadro, elaborar um documento dinâmico e dar uma maior dimensão a alguns produtos. É, também, nossa preocupação estreitar laços e relações de trabalho com as autarquias por-que entendemos que não existe turismo sem território e quem conhece o território são os autarcas, são aqueles que têm a responsabili-dade de zelar e valorizar o que têm. No Algar-ve, apesar das 15 milhões de dormidas por ano, tem ainda muitas zonas genuínas, muitos lo-cais onde não existe ainda intervenção huma-na, zonas calmas e tranquilas e capazes de nos proporcionar experiências únicas e nós temos que ser capazes de fazer um esforço para dar a conhecer e divulgar estas potencialidades.

Apesar de haver uma preocupação por par-te dos autarcas no sentido de manter o

património, não tem existido uma interligação. A verdade é exatamente essa, tem sido feita muita coisa mas não de forma interligada. Te-remos uma reunião com todos os autarcas no sentido de procurar que seja criada uma inter-ligação forte entre aquilo que são as interven-ções dos municípios, de dar uma ideia global da região, acertando horários, criando redes de património… Ou seja, é necessário trabalhar em rede para que não exista desfasamento en-tre os municípios e a Direção Regional da Cul-tura. Por exemplo, muitas vezes os museus só estão abertos a horas em que ninguém os visi-ta e quando é necessário ter as portas abertas, estas não o estão. Este trabalho está a ser feito e é, realmente hora, de os autarcas se envolve-rem e traçarem um caminho de futuro.

O plano de ação da região de turismo do Algar-ve para o próximo ano visa criar estes elos de ligação, criar estas redes, estas rotas?O nosso objetivo é que os parceiros trabalhem entre si, criando parcerias, interligando pro-dutos e dinamizando a região, promovendo-a. Temos uma região extraordinária, com muito potencial, mas que não se soube articular e or-ganizar. O nosso esforço é no sentido da orga-nização e é, no fundo, colocar todos a pensar numa estratégia para a região sob pena se ser-mos ultrapassados enquanto destino turístico de excelência. Assim, neste momento, estamos a trabalhar em conjunto com o Turismo de Por-tugal e os operadores no sentido de criar mais

É TEMPO DE CONTINUAR A VALORIZAR O SOL, A PRAIA E O GOLFE, MAS É TAMBÉM TEMPO DE ALAVANCAR E VALORIZAR OUTROS PRODUTOS COMPLEMENTARES.

rotas e atrair mais turistas. Por outro lado, é necessário criar condições para fidelizar os tu-ristas que já conhecem o Algarve e isso passa precisamente pela forma como os recebemos, ou seja, temos que trabalhar no sentido de for-mar os nossos recursos humanos, dando-lhes ferramentas para que eles saibam bem receber, informar ou esclarecer qualquer dúvida. Mas mais uma vez este trabalho tem que ser feito de forma global, colocando todos os atores em campo e trabalhando interligados. O Algarve tem todas as condições para ser ainda melhor e o Turismo do Algarve tem que saber retirar o melhor de todas as áreas. O Turismo do Algar-ve tem que intervir, de uma vez por todas. Tem que intervir ao nível da segurança, tem que in-tervir ao nível das questões de saúde, intervir ao nível dos instrumentos de ordenamento e organização do território. Temos tentado fazer isso, mas nem sempre é fácil. Temos também que contar com a ajuda de outras entidades no sentido de agilizar processos e simplificar procedimentos, mantendo, obviamente, a defe-sa do território.

Mas é preciso que também se entenda que é possível usufruir do território sem o des-truir. Há ainda necessidade de criar santuários protegidos?Há espaço para tudo. O Algarve teve uns anos complicados ao nível da organização, do inves-timento desorganizado ou desadequado. Nesta altura, não é tempo de construir novos hotéis, por exemplo, penso que ao nível das estrutu-ras base estamos bem posicionados. O levan-tamento de necessidades já foi feito e agora chegou a hora de requalificar, regenerar… A qualidade é um fator que, cada vez mais, se so-brepõe à quantidade e todos os agentes, pú-blicos e privados, têm esta perceção. Agora, é uma questão de nos unirmos e começarmos a trabalhar neste campo. Além disso, as menta-lidades mudaram e hoje já é possível avançar sem danificar. A consciência ambiental existe e, portanto, nenhum dos atores quer estragar as maravilhas escondidas no nosso território, mas sim potenciá-las.

Dieta Mediterrânica

Portugal foi responsável pela candidatura da Dieta Mediterrânica a Património da Huma-nidade. Poderá retirar-se mais- alias desta candidatura?Sim, penso que é mais uma ajuda. Tudo o que

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mostre e potencie a marca Algarve é bem--vindo. No entanto, a candidatura por si só não vale de muito, temos que trabalhar na promo-ção desta marca, na valorização e na divulga-ção. Por exemplo, nós recebemos prémios de Melhor Praia da Europa, Melhor Golfe da Eu-ropa…mas se não fizermos nada para divulgar estas atribuições, ninguém sabe que o temos. Não basta guardar o troféu numa prateleira, é preciso mostra-lo ao mundo.

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O mar é um produto do Algarve? Ou melhor, através do mar há uma quantidade de produtos que podem ser alavancados, quer ao nível do turismo, como da indústria...Claramente, mas mais uma vez vamos de en-contro ao que disse de início… é preciso existir interligação de todos os produtos do Algarve. O mar, por si só, é apenas um recurso. Cabe-nos a nós, agentes, tornar evidentes as potenciali-dades e criar as bases para a sua exploração sustentável. Por exemplo, a Universidade do Algarve tem trabalhado no sentido de reve-lar os recursos marinhos que possuímos, mas quando falamos em economia do mar, não nos podemos esquecer que a sustentabilidade da exploração do nosso mar passa muito pela in-tervenção do Estado ao nível das infraestru-turas portuários, por exemplo, e isso não tem acontecido nos últimos anos.

Mas já está previsto o investimento público no Porto de Portimão…É verdade, mas o Algarve é também Portimão. O Algarve tem muitos portos de pesca e de abrigo, onde a economia real mexe e que, neste momento, não têm qualquer capaci-dade porque o Estado simplesmente deixou de investir na sua manutenção. É preciso in-vestir na pesca, é certo, mas é preciso que se criem condições para a atividade piscatória sob pena de desmotivarmos o investimento e, mais uma vez, assistirmos ao abandono das frotas pesqueiras.

Mas o documento Mar 2020 aponta algumas áreas de intervenção chave. Quais são os inves-timentos prioritários para a região?Neste momento, todos os investimentos são prioritários desde que assumam um carater de diferenciação, complementaridade, inovação e formação. No que diz respeito a estruturas de raiz, o interesse no investimento pode existir

mas depois não vamos ter capacidade de dar uma resposta adequada ao investidor.

Como assim?Imaginemos que existe um empresário com vontade de construir uma unidade fabril não poluente. A primeira resposta vai ser efusiva, facilitadora. No entanto, ao nível do planea-mento e ordenamento do território, não vão existir áreas que permitam acolher essas in-dústrias e na altura em que for aprovado um novo PDM, já o investidor rumou a outras para-gem e perdemos o investimento.

No entanto, é também preciso mostrar aos pos-síveis investidores as áreas chave para a região…Claro que sim, mas a verdade é que temos que aproveitar as novas indústrias, as do conheci-mento, da inovação, da formação… É verdade que o mar é um potencial não aproveitado, mas temos que conseguir potenciá-lo. Já temos tido uma evolução positiva ao nível das embar-cações marítimo-turísticas e para isso muito contribuiu o aparecimento dos golfinhos, mas temos também tido muita procura ao nível do mergulho turístico. E isto são consequências

“A necessidade de definição (e implementa-ção) de uma estratégia da região algarvia para o mar é uma constatação recorrente, ainda que pareça ter dificuldades em passar disso mesmo – uma constatação do óbvio. O Algarve encon-tra-se indubitavelmente ligado ao mar, remon-tando as raízes desta relação (que não apenas por razões de ordem geográfica) à nossa pró-pria história. Dos descobrimentos, à indústria pesqueira, conserveira, ou ao turismo, este re-curso sempre foi apontado como um dos prin-cipais fatores de desenvolvimento da região.Tal importância, sendo continuamente reco-nhecida, parece ter vindo a reduzir-se a um as-piração, ou a uma expressão que, tal como “tu-rismo, setor vital para a economia nacional”, fica bem nos diversos discursos, mas que de-pois pouca consequência prática tem.Não gostaria que se inferisse deste meu co-mentário que acho que nada se tem feito. Efe-tivamente tal seria injusto, até porque o ainda vigente Quadro Comunitário de Apoio (QCA), que finda este ano, assumiu como prioritária esta ligação ao mar, definição esta que resul-tou de um aturado (e meritório) trabalho pre-paratório dinamizado pela Comissão de Coor-denação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDRAlgarve) em que foi apresenta-da uma Agenda Regional do Mar, com relevan-tes contributos para o Plano de Ação para o Cluster do Mar”.

“Numa região como o Algarve, qualquer es-tratégia de desenvolvimento do mar passará, incontornavelmente, pelo turismo que se as-sume como o garante da economia regional. Em si, a generalidade da cadeia de valor liga-da ao setor é sinónimo de exportação, por via dos serviços prestados aos turistas, algo a con-siderar até numa perspetiva de internacionali-zação e de captação de receitas externas. Ainda que a alavancagem no turismo represente em si uma vantagem competitiva cujo efeito não será de minimizar, também o efeito poderá ser em sentido contrário, havendo a oportunidade para se requalificar e rejuvenescer o produto sol e mar, bem como para potenciar e estrutu-rar outros elementos da oferta, como a vela ou o surf e outras atividades relacionadas à náu-tica, seja ela desportiva ou de recreio.

“Neste período conjunturalmente adverso, em que se buscam soluções para ultrapassar a crise, poucos setores parecem ser tão con-sensuais como o Turismo e o Mar, ambos com grande grau de transversalidade e nos quais o Algarve parece ter todas as condições para as-sumir papel preponderante. Se as prioridades estão definidas, as debilidades devidamente identificadas e os princípios de atuação devi-damente partilhados, cabe-nos a nós dinami-zar este mar de oportunidades”.

“O Mar e o Algarve no próximo período de programação”

de investimentos estruturados, pensados e or-ganizados e é precisamente aqui que temos que continuar a insistir.

A sazonalidadeQuando confrontado com a questão da sazo-nalidade, o nosso interlocutor refere que essa componente sempre existiu, mas existe no Al-garve como noutras zonas do país. No entanto, “procuramos que exista um aproveitamento das infraestruturas, criando produtos que potenciem o turismo de saúde e sénio. Temos as condições, agora resta-nos vender os produtos interligados”. Existe um Plano Estratégico para o Algarve, mas é necessário que se passe do plano para a prática sob pena de nada mudar. E a verdade é que o Algarve é um pouco contraditório. Senão vejamos: Sem turistas a oferta hoteleira en-cerra as portas na época baixa, mas sem estas unidades abertas, os turistas também não pro-curam o Algarve. E é precisamente este ciclo que se pretende encerrar. “Não tem sido fácil conseguir isso, mas a imagem do Algarve de hoje já é totalmente diferente da que existia há uns anos. Hoje já vê hotéis abertos no in-verno, assim como restaurantes”.

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Câmara de Albufeira – combinação entre tradição e inovação A PARTIR DOS ANOS 60 O TURISMO BALNEAR VIROU MODA EM ALBUFEIRA, MUITO POR CULPA

DOS INGLESES. O CONCELHO DESENVOLVEU-SE A PARTIR DAÍ.

Estivemos à conversa com Carlos Silva e Sousa, presidente da Câmara de Albufei-ra, que afirma que “temos um mar calmo, areia fina, boas temperaturas. Não vale a

pena falar em grandes teorias nem grandes dou-trinas sobre a matéria, porque foi o mar e a praia que fizeram o turismo em Albufeira e nesta zona. A partir daí foram-se associando e criando uma série de serviços e de negócios que se desenvol-veram todos com essa componente de atração praia e mar”. Porém, não pode ser só praia. O facto de ter uma costa com características como estas pressupõe outras atividades. “O mar também deve ser visto na perspectiva de lazer e prá-tica desportiva, por exemplo. Já existem algu-mas empresas que se dedicam exclusivamente a isso, fazendo passeios, visualização dos gol-finhos, festas em barcos, entre outras, e que estão a ter sucesso. Estas atividades podem ser feitas todo o ano, porque, em regra, é um mar calmo. Ou seja, tem um potencial de lazer que se estende também no Inverno”.

A pesca Apesar de saber o quão bom é o turismo, o nosso entrevistado lembra que Albufeira “não pode ser apenas isto. Existem outras áreas, ainda ligadas ao mar, que podem e devem ser exploradas, porque, e volto a frisar, o mar aqui tem características únicas: “O mar tem carac-terísticas que proporcionam pescados maravi-lhosos. Assim como outros pontos do país são fortes nas carnes, nos vegetais, pois têm condi-ções climatéricas e solos diferentes. Somos um país pequeno, mas com uma diversidade enor-me. No entanto, não temos dimensão, mesmo no turismo, para algo de massas. Na pesca há áreas que não estão bem exploradas por nós algarvios. A nossa grande base é a pesca arte-sanal, que não estraga. O que estraga são ou-tros que vêm para aqui pescar de arrastão, o que modifica o fundo do mar”.A partir do desenvolvimento das pescas exis-te uma indústria que terá condições de voltar à ribalta: a indústria conserveira. “Há que fo-mentar a indústria conserveira, que outrora, teve um peso significativo na economia da região”. Carlos Silva e Sousa, Presidente da Câmara Municipal de Albufeira

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Aliar tradição e inovaçãoA Universidade do Algarve é a grande fonte de conhecimento e inovação da região e que pode dar um grande contributo no desenvolvimento da economia do mar. “Temos que saber explorar melhor o mar sem o estragar. Utilizar o conhe-cimento, os jovens, a inovação em prol da me-lhor exploração do que temos ao dispor. Assim movimenta-se a economia, com empreendedo-rismo, criando novos projetos, novos negócios e mais emprego. Temos que saber conjugar o conhecimento ancestral com a tecnologia. A tradição é boa naquilo que ela apresenta de bom. Mas não podemos ficar agarrados a ela porque os tempos mudam. No entanto, também não podemos desperdiçar os saberes antigos. Temos que associar o conhecimento empírico ao científico”. Um grande exemplo da conjugação entre sa-ber antigo e inovação foi o medronho. Até há algum tempo atrás, este produto não podia ser exportado porque tinha um componente que fazia mal à saúde. No entanto, “uma investi-gadora da Universidade do Algarve conseguiu produzir medronho sem este componente e, hoje, já é possível exportar este produto e são já algumas as empresas que o fazem”.

A criseOs tempos que correm, em Portugal, são de mudança e apesar de viver do turismo estran-geiro, de pessoas com algumas posses, o Algar-ve também se ressentiu. “Com o aumento ex-ponencial do turismo, os algarvios viram novas oportunidades de negócio e foram abandonan-do a agricultura. Hoje, por causa dos tempos que se vivem, estão a retornar. A paisagem vai sofrendo alterações lentamente. Deixa-se de se ver os terrenos descurados, para se verem a ser cuidados, plantados”.

Planos futurosNum período difícil, numa região onde o tra-balho é sazonal, há que abolir barreiras e comprometer-se a fazer um esforço para que

HÁ QUE FOMENTAR A INDÚSTRIA CONSERVEIRA QUE, OUTRORA, TEVE UM PESO SIGNIFICATIVO NA ECONOMIA DA REGIÃO

haja uma mudança de mentalidades para que as coisas de facto mudem para melhor. Carlos Silva e Sousa refere que “existem infraestru-turas criadas para cativar novos visitantes. No entanto, é preciso mudar mentalidades. É pre-ciso acabar com a sazonalidade no Algarve. Te-mos que virar a terra para o mar. As pessoas têm que olhar mais para o mar e desfrutar mais dele. Nós, residentes, temos criar uma imagem não só como estância balnear, porque está per-feitamente divulgada, mas também como área propícia à prática de desportos náuticos, exis-tem aqui, uma série de possibilidades de des-frutar a natureza”. Deve-se mostrar, em Albufeira e no Algarve, o que de melhor tem a gastronomia, publicitar os produtos regionais e apostar mais numa imagem de complementaridade. No entan-to, “tem que haver um esforço por parte dos nossos comerciantes e da restauração. Há uma nova dinâmica que precisa de ser criada para que a economia, não só de Albufeira como da região, ganhe um novo ímpeto”.A grande batalha deste autarca é o desempre-go por causa, mais uma vez, da sazonalidade da região. Não é um problema só de Albufeira, mas sim do Algarve. “Se as mentalidades mu-darem, a pouco e pouco, vão existir condições para acabar com a sazonalidade. Ou seja, não podemos deixar que a cidade feche. Só que para isto tem que haver um esforço por parte de todos”, finaliza o nosso interlocutor.

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O que o levou apostar na construção naval? Quais os principais atrativos da área?Formei-me em Engenharia Naval e no de-correr da minha formação tive a oportuni-

dade, conjuntamente com alguns colegas, de desen-volver alguns projetos através de uma empresa criada nos últimos anos de curso e foi assim que surgiu, igual-mente, a hipótese de assumirmos uma posição num estaleiro de construção Naval em fibra de vidro em Vila Real de Santo António e este foi o primeiro passo que demos no âmbito da construção naval.A principal justificação para apostarmos neste setor deve-se, essencialmente, ao facto de existir uma boa perspetiva para a renovação da frota de pesca foi es-sencial. Além disso, penso que a construção em fibra de vidro é um setor muito específico e, portanto, com muito espaço para crescer.

A Nautiber é especializada em construção naval em poliéster reforçado a fibra de vidro. Quais as vantagens deste material em termos de perfor-mance, durabilidade e aerodinâmica?Os cascos construídos em poliéster reforçado a fibra de vidro (P.R.F.V), apresentam enormes vantagens sobre os cascos construídos em aço ou em madeira, onde se destacam: - Maior resistência á colisão.- Total impermeabilização.- Isenção de corrosão.- Embarcação mais leve.- Menores consumos de combustível.

“Os alfaiates da construção naval em fibra de vidro”

- Maiores velocidades.- Mais espaço interior disponível.- Menores custos de manutenção.

A reparação naval é outra das vossas áreas de atuação. Qual o seu potencial efetivo?A reparação naval não depende de mecanismos financeiros de apoio à mesma, sendo de carác-ter obrigatório para o armamento, é um mercado sempre presente. Para empresas como a nossa, este é um mercado muito importante já que nos permite ter fluxos de tesouraria permanentes, enquanto que na construção, embora de maior valor, os fluxos financeiros são pontuais, pelo que para a tesouraria da empresa é da maior im-portância. Além disso, a reparação naval garante o bom estado da frota e o bom funcionamento e segurança da mesma.

Quais os principais serviços oferecidos pela Nautiber?As atividades desenvolvidas pela nossa empresa são a Construção Naval em PRFV (poliéster reforçado a fibra de vidro), Pesca, aquacultura, passageiros, e cargas especiais; Reparação Naval, Parqueamento a seco de embarcações: Trabalhos diversos de acordo com a especificidade requerida.

Quais são os vossos principais clientes?Trabalhamos maioritariamente com Armadores de Pesca, empresas da Atividade Marítima- Turística, empresas de Tráfego Local de passageiros, empresas

de Aquacultura e entidades oficiais ligadas à fiscali-zação e investigação (Marinha, GNR, IPMA).

Quais as vantagens competitivas da Nautiber?Em termos tecnológicos, a Nautiber diferencia-se pelo fabrico de embarcações feitas à medida, ou seja, de acordo a especificidade requerida pelos Armado-res, com cascos com desenho muito próprio e identi-ficável como sendo da nossa empresa. Por outro lado, oferecemos mão obra especializada que mantêm o conhecimento tradicional mas que adotou as novas tecnologias, como seja a laminação por infusão.Em termos comerciais, a Nautiber destaca-se por pos-suir uma estrutura ligeira e vocacionada fundamen-talmente para a produção, que nos permite ser com-petitivos no valor da hora-homem e as embarcações maximizam o rácio investimento/produto final, nunca dissociando o produto físico do produto financeiro.

São apelidados de “os alfaiates da construção na-val em fibra de vidro”. A que se deve este “título”?A Nautiber constrói as suas embarcações para Arma-dores que por norma querem as mesmas de acordo com a especificidade do seu trabalho, com design e ergonomia ao seu gosto. Assim, procuramos utilizar cascos com moldes existentes quando tal é possível, caso contrário criamos um novo casco à medida do cliente e isso faz com que, nas cerca de 360 embar-cações construídas por nós, não existam duas iguais, exceção feita a encomendas de diversas embarca-ções para o mesmo cliente e do mesmo tipo.

Como define o mercado da construção naval em Portugal e quais as vantagens da Nautiber face à concorrência?O mercado da construção naval em PRFV em Por-tugal, tem funcionado, nos últimos 20 anos, de acordo com os mecanismos financeiros de apoio aos sectores para os quais trabalhamos. A vanta-gem da Nautiber é ter-se posicionado, no mercado, sempre de acordo com esses mecanismos e maxi-mizar sempre a sua utilização, acompanhando os Armadores na preparação dos processos de finan-ciamento, permitindo dessa forma a generalização do acesso aos mesmos.

FOI NO ALGARVE, MAIS PROPRIAMENTE EM VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO, CONCELHO INTIMAMENTE LIGADO AO SETOR DO MAR, DAS PESCAS E DOS NAVIOS, QUE ENCONTRAMOS UMA EMPRESA LÍDER NO SETOR DA CONSTRUÇÃO NAVAL EM POLIÉSTER REFORÇADO A FIBRA DE VIDRO E QUE POSSUI OS MELHORES ESTALEIROS DE REPARAÇÃO DE EMBARCAÇÕES DE RECREIO DA REGIÃO, A NAUTIBER.

ENTREVISTA DE RUI ROQUE, GERENTE DA NAUTIBER, AO PAÍS POSITIVO.

Quando passam 20 anos sobre a fundação da Nautiber, quais as prioridades rumo ao futuro? Crescer no mercado externo é uma das ambições?Com a quebra do mercado das novas construções nomeadamente para o setor da Pesca, torna-se ex-tremamente importante, para a empresa, reforçar a capacidade de reparação e parqueamento de em-barcações, sobretudo no setor da Pesca. Para tal, um processo de financiamento para criação de infraes-truturas e aquisição de equipamentos, situação fun-damental para o estaleiro manter a estrutura existen-te e poder aguardar no futuro, com capacidade para tal uma nova renovação da frota de pesca. Por outro lado, é muito importante inovar e romper com o de-sign tradicional nomeadamente nas embarcações de passageiros, para tal admitimos recentemente para o nosso quadro de pessoal dois arquitetos. Cada cons-trução aparece associada a um designer ou arquite-to. Hoje, neste setor, só conseguimos vender o que é diferente e inovador. É essencial, também, reforçar o trabalho comercial no exterior, nomeadamente em Angola, com possibilidade de poder inclusive produ-zir aí em parceria com empresas locais.

Quantos trabalhadores tem, neste momento, a Nautiber?Neste momento, a Nautiber emprega 32, como cola-boradores diretos, recorrendo ainda a uma média de oito colaboradores indiretos. Tem nos seus quadros sete Carpinteiros Navais, seis Serralheiros/Mecânicos, oito Laminadores, três Pintores, um Eletricista, uma Administrativa, um Gestor Financeiro, um engenheiro Mecânico, dois engenheiros Navais e dois Arquitetos. Por norma, laboram ainda em média nas nossas insta-lações oito colaboradores subcontratados a empresas de montagem de equipamentos diversos, nomeada-mente de frio, eletrónicos, eletricidade e hidráulicos.

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Fundada em 1983,a Associação Naval do Guadiana veio dar a Vila Real de Santo António um merecido espaço de-dicado à náutica desportiva e de com-

petição. Hoje congrega um porto de recreio com mais de 350 embarcações, “mais de metade das quais espanholas”, presta uma ampla gama de serviços de apoio à prática náutica, detém dois espaços de restauração que dinamizam a fren-te ribeirinha da cidade e assume-se como uma referência no desporto náutico nacional e inter-nacional. Com mais de 500 associados, dedica--se às modalidades de vela, canoagem, pesca desportiva de mar e alto mar, motonáutica e jet ski. Desenvolve ainda atividades subaquáticas, de recreio, campismo e formação náutica, pos-suindo, em plena atividade, as escolas de vela e de formação náutica.

Porto de recreio: polo de atraçãoLuís Madeira, presidente da Associação Naval do Guadiana, defende que “a plena integração entre o porto de recreio e a componente des-portiva é o grande segredo do nosso sucesso”. Apostado em conquistar o mercado externo, so-bretudo os vizinhos espanhóis, o porto de re-creio conjuga características que fazem dele um polo de atração e de desenvolvimento regional. “Temos preços altamente competitivos, um en-quadramento ótimo e serviços de qualidade

30 anos a liderar na paixão pela náutica

superior”, enuncia o responsável. Vantagens competitivas que trazem, todos os fins de sema-na, centenas de espanhóis a Vila Real de Santo António, “criando uma dinâmica económica úni-ca para a vila e para a região”, destaca. Atualmente com 47 funcionários em permanên-cia, a Associação Naval do Guadiana é responsá-vel pela gestão de todos os serviços, garantindo qualidade a toda a prova.

Aposta no desporto náutico A Associação Naval do Guadiana é um dos pe-sos pesados da vela nacional, tendo no cur-rículo a organização de vários campeonatos mundiais e do Europeu de 2008, que trouxe às águas do Guadiana embarcações dos cinco continentes. A motonáutica é outra das gran-des apostas, assim como o jet ski. “Orgulhámo--nos de deter vários títulos nacionais em vela e motonáutica e possuímos ainda um título de vice-campeão do mundo em pesca desportiva”, frisa Luís Madeira, sublinhando que o futuro avizinha-se promissor, já que “o ano passado fomos campeões nacionais de infantis em vela e este fomos vice-campeões”. O presidente nota que o clube não vive para os resultados, mas eles não deixam de ser demonstrativos do forte empenho da associação em promover o desporto náutico. “Fazemos muito investimen-to para obter estes resultados. Ainda há pouco

tempo adquirimos cinco embarcações de esco-la novas e três de competição”, aponta.

Rio e mar: oportunidades de futuroOs bons resultados do presente não fazem com que a Associação Naval do Guadiana descure o futuro. As prioridades passam por alargar o por-to de recreio e fazer nascer um centro de alto rendimento de atividades náuticas em Vila Real de Santo António. “Esta região tem um potencial enorme e condições naturais que permitem a qualquer equipa praticar 365 dias por ano”, des-taca Luís Madeira. Apostar na componente des-portiva, mas também no turismo de natureza, são soluções que permitem inverter a sazonalidade que afeta esta região do país. O aproveitamen-to da baía de Monte Gordo e a possibilidade de navegar no Guadiana até Mértola são vitais para revitalizar a economia regional, mas sobretudo para impor o Algarve como um ponto de atração durante todo o ano. Luís Madeira afirma que aqui não há segredos, só evidências. “Diz-nos a Histó-ria que sempre que Vila Real de Santo António se voltou para o mar e para o rio teve sucesso, sempre que lhes virou as costas esteve deprimi-da”. Abrir a cidade e a região ao turismo náutico é abraçar novas oportunidades. “O viajante de bar-co é um público altamente rentável e, com es-tas condições naturais, seria um erro crasso não desenvolver esta vertente”, conclui Luís Madeira.

COM 30 ANOS DE HISTÓRIA, A ASSOCIAÇÃO NAVAL DO GUADIANA É UMA REFERÊNCIA NO DESPORTO NÁUTICO E UM FOCO DE DESENVOLVIMENTO CRUCIAL EM VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO. LUÍS MADEIRA, PRESIDENTE EM EXERCÍCIO, REVELA COMO O MAR E O RIO SEMPRE SE REVELARAM “OPORTUNIDADES DE SUCESSO” PARA A REGIÃO.

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De acordo com o nosso interlocutor, Ro-cheta Cassiano, este clube possui duas modalidades relacionadas com o mar: a Vela e o Remo.

Além de potenciar o crescimento das modalidades de Vela e Remo, o Ginásio Club Naval de Faro é res-ponsável pela marina daquela cidade. Segundo Ro-cheta Cassiano, esta concessão, que leva já 20 anos, “é feita de forma irrepreensível. Temos cumprido todos os acordos e honrado todos os nossos com-promissos, mas a verdade é que, por outro lado, o Estado não tem cumprido as obrigações contratuais. E isto já vai sendo um hábito, assumirem, como dado adquirido, que o Estado não tem que ser uma pes-soa de bem. Eu penso que é ao contrário e que é o Estado que tem que dar o exemplo. E, na maior parte das vezes, isso não acontece, sobretudo no que respeita à manutenção dos fundos, que neste

Economia do mar, na prática…

momento, tornam esta doca muitas vezes difícil de operar, provocando-nos prejuízos, inclusivamente na conservação do material flutuante” Atualmente, a Marina de Faro tem 501 lugares de amarração e a taxa de ocupação é de quase cem por cento. No entanto, e apesar do sucesso, “a crise atingiu todas as classes sociais e a verdade é que muitas vezes temos problemas de cobrança. No en-tanto, vamos conseguindo gerir estes problemas da melhor forma e tentando encontrar soluções que se adequem a cada caso específico”.

Mar: Um desígnio nacional

Qual é a sua visão concreta do mar, quer a nível na-cional, quer a nível regional?Na minha perspetiva, o mar é, de facto, um recurso com grandes potencialidades, mas no fundo estas

são desconhecidas. Não sou um perito na matéria, mas a verdade é que estou ligado à náutica através de um clube que administra uma doca de recreio e promove modalidades ligadas ao mar. Além disso, somos também responsáveis por uma escola de na-vegação de recreio que forma centenas de marinhei-ros, de patrões locais, de costa e de alto mar, todos os anos. A nossa intervenção é a este nível. Apesar disso, refletimos, até devido à nossa natureza, sobre estas questões. Portanto, em relação ao concelho de Faro, à cidade de Faro e à Ria Formosa, que se en-quadra dentro do concelho, nós refletimos sobre o desenvolvimento potencial desta área, desta zona e gostaríamos de ser mais vezes auscultados sobre os investimentos que estão em curso ou que possam vir a estar, mas a verdade é que tal não acontece. Sa-bemos que, neste momento, não atravessamos um momento de grandes investimentos públicos, mas penso que era uma excelente altura para planear aquilo que pudesse ser feito numa altura mais fa-vorável, sob o ponto de vista económico e financeiro. Cada vez que temos oportunidade, fazemos sempre notar que temos propostas e ideias sobre o que deve ser feito. Sentimos que existem projetos em estudo que poderão por em causa toda a sustentabilidade futura da náutica no concelho de Faro e é impensá-vel que se façam estudos sem que se ouçam os res-ponsáveis por esta ligação entre terra e água. O Mar do Algarve é, realmente, um mundo de opor-tunidades, quer do ponto de vista turístico, quer do ponto de vista económico. Temos assistido, nos últi-mos anos, a um aumento do investimento na aqua-cultura, um exemplo das potencialidades aproveita-das no mar do Algarve. Mas temos também visto o aparecimento de novas embarcações e explorações, nomeadamente de petróleo. No entanto, a economia do mar foi posta em causa, nos anos 80, quando se pagou para abater frotas de pesca, se impulsionou o abandono da pesca, se obstaculizou o equipamen-to e apetrechamento da costa em termos turísticos. Ou seja, restringindo a construção de marinas e de portos de recreio, por exemplo, não se explorou de-vidamente, não se desenvolveu devidamente as po-tencialidades deste recurso que é o mar. Penso que temos sido demasiado radicais relativamente ao ambiente e não temos sabido analisar as situações com bom senso e equilíbrio. Se nós observarmos o que se passa em outros países, nomeadamente aqui na nossa vizinha Espanha, constatamos que esse equilíbrio tem sido muito mais patente do que cá.

Mas a Estratégia Nacional para o Mar acaba por abrir horizontes…Sinceramente, não conheço a estratégia nacional para o mar. Vi alguns trabalhos relativos ao mar e ao

ROCHETA CASSIANO, PRESIDENTE DA DIREÇÃO DO GINÁSIO CLUB NAVAL DE FARO, APRESENTA-NOS UM CLUBE QUE TRABALHA, HÁ 86 ANOS, NA ECONOMIA DO MAR, PROMOVENDO-A E PRESERVANDO-A E TRAÇA A SUA VISÃO SOBRE A RECENTE APOSTA NO MAR.

aproveitamento das suas potencialidades, alguns de-les bastante válidos, mas a verdade é que a grande maioria deles são mais específicos para a região de Lisboa. No que diz respeito ao mar do Algarve, todas as propostas e trabalhos são ainda muito vagos, apre-sentando alguns pontos de interesse, é certo, mas sem grande expressão ao nível de projetos concretos ou necessidades prementes. Era essencial, para mim, um estudo de fundo relativo ao mar e a todas as suas potencialidades, nomeadamente ao nível da náutica, do turismo e das atividades económicas.

Mas existem políticas definidas para o desenvolvi-mento do mar?Que eu tenha conhecimento, não. Atualmente, e relativamente ao mar, existe uma grande indefini-ção. Por exemplo, o IPTM foi extinto e não sabemos quem é o nosso interlocutor, quem faz a mediação entre agentes e Estado, no que respeita à tutela das marinas e dos portos de recreio e não sabemos, por exemplo, qual será o futuro das concessões. Ou seja, neste momento, não sabemos qual será o nosso fu-turo porque, de facto, não temos qualquer interlocu-tor junto do Governo e esta indefinição traz malefí-cios para economia do mar…

E esta indefinição não lhes permite traçar objetivos, projetar o futuro…Exatamente, é muito complicado.

E quando falamos de futuro, é inevitável falarmos de passado. O Ginásio Club Naval de Faro é responsável por feitos de relevo na área do desporto náutico.São centenas de velejadores, de remadores, de forman-dos de recreio náutico. Somos responsáveis por algu-mas medalhas olímpicas, por lançar campeões nacio-nais… Ou seja, este clube já deu muito ao país e prova disso são as inúmeras condecorações recebidas, mas a verdade é que não precisamos de condecorações for-mais, mas sim de consideração e respeito pelo trabalho que fizemos, fazemos e queremos continuar fazer.

A economia do mar sempre existiu? Estamos apenas a dar mais visibilidade às potencialidades do mar?Este Clube é o exemplo vivo daquilo que é a econo-mia do mar, dimensionado à nossa própria escala. Trabalhamos o mar como matéria-prima, fazemos da água o nosso local de trabalho e sempre fize-mos de tudo para potenciar a prática de náutica de recreio como forma de potenciar as mais-valias des-ta água que nos banha. Só não vamos mais longe porque, realmente, não nos permitem fazê-lo, mas encontramo-nos disponíveis para colaborar em prol da exploração das potencialidades do mar, fazendo deste, um recurso de futuro.

Rocheta Cassiano

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Como caracterizaria a CVA, quer em termos de obje-tivos, como de trabalho desenvolvido?

A história da organização tem o pon-to de partida com a então denominada Comissão Vitivinícola Regional Algar-via, constituída por escritura pública em 1991, iniciando a sua atividade em 1994, num processo complexo onde as explorações e entidades recém-cons-tituídas se viram confrontadas com um sector fortemente desprotegido e em fase de abandono. À data apenas se realizava a certificação dos vinhos com direito a Denominação de origem Controlada de Lagos Portimão, Lagoa e Tavira. A par desta situação as ade-gas cooperativas da região também passaram por dificuldades económi-co-financeiras, que culminou com o

“A região vitivinícola do Algarve encontra-se numa fase de afirmação e crescente notoriedade”

encerramento da Adega Cooperativa de Tavira (1992) e da Adega Cooperati-va de Portimão (1997). Mais tarde deu--se a fusão da Adega Cooperativa de Lagos com a de Lagoa, dando origem à ÚNICA – Adega Cooperativa do Algarve. A partir de 1998 a Comissão imprimiu uma nova dinâmica, visando a melho-ria e rejuvenescimento das estruturas vitivinícolas da região, através do apoio à elaboração e gestão de projetos (PA-MAF/VITIS), que levou à renovação até ao ano de 2005 de cerca de 600 ha de vinhas, em todo o Algarve. Na campa-nha de 2000/2001 e após a publicação da Portaria nº 364/2001 a Comissão passa também a assumir as funções de controlo e certificação dos vinhos com IG – Indicação Geográfica (Vinho Regional Algarve) e ainda o reconhe-cimento da utilização da indicação

geográfica “Algarve” no vinho licoroso produzido na mesma área. Com a pu-blicação do Decreto-Lei nº 212/2004, que veio estabelecer a organização institucional do setor vitivinícola, a Comissão entrou numa nova fase, que envolveu a alteração do nome da Co-missão que passou a designar-se por CVA – Comissão Vitivinícola do Algar-ve, a alteração dos estatutos em con-formidade com o referido Decreto-Lei, onde ficou estabelecida a constituição e composição do Conselho Geral e a eleição do Presidente da Direção, em substituição do representante do Es-tado e ainda a entrada num processo de acreditação junto do IPAC como “Or-ganismo de Certificação” pela NP EN 45011 para a certificação dos produtos vínicos com direito a DO e IG produzi-dos na região do Algarve. Atualmente, a CVA está acreditada pela NP EN 45011 como “Organismo de Certificação” dos produtos vínicos produzidos na região e a desenvolver as suas principais ati-vidades, das quais se destacam o con-trolo e certificação dos produtos víni-cos produzidos na região, a promoção e divulgação dos “Vinhos do Algarve” e a promoção da Rota dos Vinhos do Algarve. Existem ainda planos a curto prazo para o pedido da extensão da acreditação para a certificação de ou-tros produtos regionais, nomeadamen-te o medronho e o mel. Esta realidade iria permitir uma gestão mais susten-tável dos recursos da CVA e até talvez baixar os custos da certificação para os agentes económicos. Apesar dos fracos recursos disponíveis para a promoção, a CVA tem colaborado e participado em inúmeras ações, desde provas e mos-tras de vinhos em restaurantes, hotéis e outros estabelecimentos, até à parti-cipação em eventos regionais e nacio-nais subordinados ao tema “Gastrono-mia e Vinhos”, como sejam a ”ViniPax”, “Algarve Genuíno”, “Fatacil” “Semanas Gastronómicas” entre outros.Gostaria ainda de destacar os seguintes eventos e iniciativas como marcantes e signifi-cativos para a promoção e divulgação

da região e dos “Vinhos do Algarve”: O “Guia de Vinhos do Algarve”, editado pelo Turismo do Algarve, revestiu-se de uma grande importância, pois con-centra numa só edição toda a oferta vitivinícola da região, a nível de mar-cas e produtos, como pela oferta de produtos na área do enoturismo que potenciará a implementação da futura Rota dos Vinhos do Algarve; O “Torneio de Golfe AAUUAlg/Vinhos do Algarve”, patrocinado pela CVA e produtores da região visando a promoção e divulga-ção dos nossos vinhos num mercado de excelência; “Há Vinhos do Algarve” em Portimão, prova e mostra de vinhos na antiga lota de Portimão na zona ri-beirinha, evento realizado em parceria com a Casa Manuel Teixeira Gomes e que contou com um significativo nú-mero de participantes; “Porto Bay Wine Week” que decorreu no Algarve com “Vinhos do Algarve”.

Como Caracteriza a região e seus pon-tos de diferenciação;A localização única da região do Al-garve, com influência Mediterrânea e Atlântica, confere características espe-ciais aos vinhos aqui produzidos, de-terminadas essencialmente pelo “Ter-roir” e competência do vitivinicultor e enólogo, resultando assim néctares de excelência que se poderiam classificar de “vinhos de autor”. Obtêm-se assim vinhos bem produzidos, elegantes e fáceis de beber, provenientes da com-binação das melhores castas regionais com as novas variedades trazidas de outras regiões e continentes de no-toriedade reconhecida, como sejam: Negra Mole, Trincadeira, Crato Bran-co, Touriga Nacional, Shyra, Aragonês, Castelão e Cabernet Souvignon, entre outras. A produção de vinhos brancos e rosados está numa fase de grande ex-pansão, sendo estes praticamente con-sumidos durante o Verão em linha com o fluxo turístico da região. Estimamos que dentro de quatro a cinco anos, es-tes vinhos poderão ter uma quota de mercado na ordem dos 50 por cento.

AS PALAVRAS SÃO DE CARLOS GRACIAS, PRESIDENTE DA COMISSÃO VITIVINÍCOLA DO ALGARVE, EM ENTREVISTA AO PAÍS POSITIVO.

Quais os obstáculos encontrados no desenvolvimento da vossa atividade?Em termos gerais a conjuntura econó-mico-financeira por que passa o país é o principal obstáculo ao desenvol-vimento da nossa atividade, condi-cionando o crescimento e reduzindo a nossa capacidade financeira para apostar num forte “Plano de Marke-ting e Comunicação” que fomentas-se o consumo dos vinhos produzidos na região, a par de uma campanha de sensibilização da hotelaria e da restauração da região para o serviço dos mesmos. Este projeto poderia vir a inverter os atuais constrangimentos da colocação dos nossos produtos ví-nicos no “mercado”. Por outro lado, a recente inscrição no setor e na CVA de novos produtores de “vinho de quinta” e com a perspetiva de instalação de empresas vindas de outras regiões vi-tivinícolas de Portugal com planos de expansão e diversificação do seu por-tfólio de vinhos, pensamos que num futuro muito próximo estará consoli-dada a produção vínica de qualidade da região, estando garantida desta forma a sustentabilidade do setor, a afirmação da Região Vitivinícola do Algarve como produtora de vinhos de qualidade e consequentemente a no-toriedade dos “Vinhos do Algarve”. Qual a reação dos agentes económi-cos e do público em geral aos produtos apresentados?A região vitivinícola do Algarve en-contra-se numa fase de afirmação e crescente notoriedade, despertando o interesse de críticos, escanções, e de peritos nacionais e internacio-nais. De referir ainda que a estratégia da região tem sido definida de acor-do com os seus próprios objetivos e não em função do estado de desen-volvimento e tipo de produções das outras regiões. A apresentação anual dos novos vinhos gera sempre algu-ma curiosidade nos agentes do setor, nomeadamente no lançamento dos vinhos monocastas “Negra-Mole” que

Carlos Gracias, Presidente da Direção da CVA

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VINHOS DO ALGARVE

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têm recebido grandes elogios a par da apresentação dos vinhos reserva e colheita selecionada. Começa a sentir--se na população residente na região e também nos que nos visitam, uma maior apetência para a procura e con-sumo dos “Vinhos do Algarve” e tam-bém um certo “bairrismo” e orgulho no serviço dos nossos vinhos. Quanto à qualidade dos “Vinhos do Algarve” estamos no bom caminho e esta tem vindo a ser reconhecida de forma ge-neralizada, de onde se salientam as cerca de 50 distinções obtidas em 2013 nos seguintes prestigiados con-cursos: China Wine & Spirits Awards (CWSA com o troféu de “Produtor Por-tuguês do Ano 2013”), no “Sommelier Wine Awards”(“on-trade” - Reino Uni-do), no International Wine Challenge, no Concurso Mundial de Bruxelas, no Decanter World Wine Awards, no Challenge International du Vin, na 15ª Edição do Wine Masters Challen-ge, no International Wine and Spirit Competition, no Concurso “La Sele-zione del Sindaco”, no Concurso Vi-nhos de Portugal / Wines of Portugal Challenge, no Concurso de Vinhos da Fatacil e ainda no Berliner Wein Tro-phy 2013.

Que perspetivas, desafios e projetos para o futuro.Perspetivamos melhorias relativa-mente à produção e consumo dos “Vinhos do Algarve” através da con-quista generalizada de quotas de mercado em toda a cadeia, desde as grandes superfícies até à restauração e hotelaria. Esta convicção baseia-se, conforme já referido, na qualidade re-conhecida e no aumento sustentável das nossas produções. O maior desa-fio que temos pela frente é conseguir continuar a passar a mensagem da qualidade intrínseca dos “Vinhos do Algarve” e garantir a sua presença nas cartas de vinhos da restauração de referência e no mercado em ge-ral. Destacava ainda os 4 importantes projetos em que estamos envolvidos, com vista a consolidar a imagem dos “Vinhos do Algarve” e conquistar no-vos mercados. - O Projeto de Comunicação da Rota dos Vinhos do Algarve, que conta com o apoio do Turismo do Algarve e que comporta as seguintes ações: I. Lançamento dos Passaportes da Rota dos Vinhos do Algarve.II. Lançamento da Carta de Vinhos da

Rota dos Vinhos do Algarve.III. Produção do Website Rota dos Vi-nhos do Algarve.IV. Produção do Vídeo Promocional da Rota dos Vinhos do Algarve.V. Promoção da Rota dos Vinhos do Algarve no Aeroporto de Faro.- A nova publicação atualizada do “Guia de Vinhos do Algarve” a ser edi-tada pelo Turismo do Algarve, no final do ano de 2013.- A abertura da Casa da Rota no rés--do-chão da sede da CVA e de uma loja para promoção e venda de “Vi-nhos do Algarve”.- O Projeto de uma “Missão Inver-sa”, que consta no acolhimento de 3 peritos de 5 países (EUA, Canadá, Noruega, Suíça e Moçambique) que virão visitar a região, quintas e ade-gas e potencialmente estabelecer contactos comerciais com os Agentes Económicos da região, no sentido de promover a exportação dos produ-tos vínicos do Algarve. Para tal, foi

apresentada uma candidatura ao Si-PAV - Sistema de Apoio à Promoção de Vinho em Países Terceiros, da qual aguardamos aprovação. Em termos de conclusão insisto em referir, que a região do Algarve tem vindo a melhorar o seu desempe-nho, sustentado no crescimento e na qualidade da produção de vinhos de quinta. Necessitamos desmistificar o valor percebido dos nossos vinhos como alto, associando-o à produção em pequena escala e à sua qualidade

• ALCIONE - Comércio Alimentar Unipessoal, Lda• A.A.C. - Alcantarilha Agrícola e Comercial, Lda• Adega do Cantor - Sociedade de Vitivinicultura, Lda.• ANAZUL - Soc. Agro - Pecuária Lda• Carlos Eduardo Silva e Sousa• Convento do Paraíso, Lda• Cruz Alta Agricultura, Lda• Edwin Opstelten• Essential Passion Lda• Guillaume Abel Luís Leroux• Helwig Christian Ehlers• Herdade dos Pimenteis• J. Lopes, Lda• Jacobus Johannes Honekamp• José Manuel Cabrita• Luis Carlos Borges da Silva• Luis Miguel Tomé Pequeno• Nuno Magalhães• Paxá Wines, Lda• Pedro Cabrita• Quinta do Barranco Longo, Lda.• Quinta do Francês• Quinta do Morgado da Torre, Lda.• Quinta dos Vales• Ricardo Silva e Sousa• Sociedade Agrícola Herdade dos Seromenhos, Lda.• Sociedade Agrícola Quinta da Malaca, S.A.• Sociedade Agro-Industrial e Turística Monte das Laranjeiras, Lda.• Torre da Penina – Produção e Exportação de Vinhos, S.A.• TURINOX - Sociedade Industrial e Comercial de Equipamentos Hoteleiros, Lda• ÚNICA - Adega Cooperativa do Algarve, CRL• Vinciane Marie J.J. Nieuwenhuys

Agentes económicos

intrínseca, e por outro lado melhorar a sua relação preço qualidade. Temos interiorizado que o nosso “mercado” está na região, onde existe uma ofer-ta de serviços por excelência na área da hotelaria e restauração e onde estão os nossos potenciais clientes. No entanto, não descoramos o poten-cial de exportação dos nossos vinhos para nichos de mercado, que contri-buirão com certeza para o escoamen-to da produção e para a afirmação da região no mercado global.

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VINHOS DO ALGARVE

Dezembro 2013 31

VinhoDelicie-se com os néctares

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Page 32: País Positivo

O PAÍS POSITIVO ESTEVE À CONVERSA COM LUÍS PEQUENO, PROPRIETÁRIO DO RESTAURANTE “O BARRADAS” E PRODUTOR DOS VINHOS QUINTA DO BARRADAS.

MAIS DO QUE UM NEGÓCIO, O VINHO É UMA PAIXÃO. ASSIM SE PODERIA COMEÇAR POR FALAR DOS VINHOS MDS, DO PRODUTOR PEDRO CABRITA.

O restaurante foi a primeira aventura do nosso entrevistado que começou em 1991. Só depois se aventurou nos vi-nhos. Afirma que a gestão de um espa-

ço de restauração não é fácil já que “a restauração, hoje em dia, é um trabalho contínuo. Ao trabalhar-mos um ano inteiro temos que ter sempre um ser-viço constante. Não se pode falhar, nem em ter-mos de qualidade, nem no atendimento. “Eu e a minha mulher somos insubstituíveis: eu na sala e a minha mulher na cozinha e trabalhamos para que cada cliente que aqui entre, volte a entrar”.Para fidelizar clientes é necessário manter altos pa-drões de qualidade e, portanto, “optamos sempre por ter os melhores produtos. De início focamo-nos no peixe do Algarve, porque tínhamos alguma di-ficuldade em encontrar carnes de qualidade. Hoje em dia, já existe distribuição de carne de qualidade no Algarve, e hoje trabalhamos com carne de vitela mirandesa certificada e trabalhamos também com o borrego do Alentejo. Tudo carnes frescas”. No que diz respeito aos vinhos, a carta é composta pelos melhores néctares da região. “No entanto, selecionamos os melhores vinhos, até para não haver muitas referências à mesma casa. Por nor-ma, a maioria dos produtores algarvios só traba-lha com gama média e gama alta. A gama baixa raramente se vê porque pequenos produtores que somos, e aqui já estou a falar como produtor, te-mos sempre uma atenção especial com a vinha”.

A paixão pelos vinhosLuís Pequeno confessa-se um apaixonado por vi-nhos. Detentor de um terreno de família, o passo para a vinha foi rápido. “A propriedade era do meu pai e antes de termos citrinos, chegou a ter vinhas e amendoeiras. O meu sonho sempre foi poder pro-duzir o nosso próprio vinho, então, resolvemos em 2006 plantar a nossa vinha com as castas que mais nós satisfaziam – Touriga Nacional, Aragonés e Syrah. A nossa primeira produção foi em 2010. Por não termos adega própria alugamos uma empresa de vinificação e de enologia na adega do Cabrita”. Neste momento, a Quinta do Barradas produz vi-nho tinto, o Seleção e o Reserva, o rosé e este ano, pela primeira vez, foi produzido o vinho branco,

Em conversa com o País Positivo refere que “a paixão pelos vinhos já é antiga. O meu pai tem uma propriedade em Lagoa e porque gosta-mos de vitivinicultura decidimos avançar com o projeto. Plantamos as castas mais adequa-das ao solo e clima: touriga nacional, aragonês, syrah e cabernet sauvignon. Inicialmente toda a colheita ia para as adegas”.O ano de 2011 marca o ponto de viragem. É neste ano que surge o primeiro vinho tinto de-nominado MDS. “Hoje, uma pequena parte da colheita é para fabricar o nosso próprio vinho. No primeiro ano produzimos apenas 2200 gar-rafas. Em 2012 aumentamos para 6500. Para este ano estão previstas 15 mil garrafas”.

O Algarve para além do turismo A região algarvia é bem mais que sol e mar. Tem condições ótimas para a prática de agricultura, nomeadamente para a produção de vinho. “O Algarve é uma área de enorme potencial. Tem enormes aptidões para a produção de vinho, em termos de solos, clima. Já existiram grandes pro-duções de vinho no Algarve, mas com o turismo, com a ocupação de alguns solos mais indicados para vinhas pelos empreendimentos turísticos, a agricultura foi abandonada. Estamos numa zona privilegiada em termos de mostras de vi-nhos, onde circulam imensas pessoas, nacionais e estrangeiras. É preciso é que o vinho lhes seja mostrado. A nossa qualidade vai-se debater com outras zonas do país e podemos ter um grande crescimento. Para isso é preciso um esforço por parte da restauração para que inclua os vinhos da região nas suas cartas e que os indique, uma situação que tem vindo a melhorar. No entanto é também preciso um esforço dos vitiviniculto-res para conseguirem ter um vinho de qualidade a preços competitivos”.

todos eles sob a marca Quintado Barradas.“Apesar de ter tido apoio do programa Vitis para re-plantação da vinha, o nosso interlocutor considera que o grande investimento foi oriundo de receitas próprias, mostrando assim que “o vinho, para mim, é uma paixão e não é um negócio. Tento transmi-tir isto aos nossos clientes. No nosso restaurante a carta de vinhos representa quase todas as regiões dos vinhos portugueses. Todos eles com algumas caraterísticas diferentes, mas todos de qualidade. Nós tentamos oferecer aos nossos clientes a opor-tunidade de provar o melhor que se faz em Portu-gal em vinho. E disso muito nós orgulhamos.

A chave do sucessoOs vinhos Quinta do Barradas começam a tornar-se um caso de sucesso. Podem ser encontrados no res-taurante “O Barradas”, nos Intermarchés do Algarve e nos supermercados Apolónia. Muito por culpa da clientela que frequenta o restaurante, “homens de negócios”, estes vinhos vão começar a ser exportados para a Holanda e para a Alemanha. “O restaurante acaba por ser uma rampa de lançamento. É aqui que os clientes tomam conhecimento dos meus vinhos, passam a palavra e os negócios acontecem”. Isto também só acontece porque os produtos são bons e o atendimento é de qualidade. Só assim se consegue uma imagem impecável perante os con-sumidores. “A frescura dos nossos produtos, a qua-lidade da nossa confecção e o atendimento que damos aos clientes são fatores de diferenciação. É assim que os trazemos de volta e fazemos com que tragam amigos ”.

No futuroMesmo com esta evolução do negócio, Luís Peque-no não pretende aumentar hectares, apenas au-mentar a qualidade. “Estamos constantemente em busca de melhor e, para isso, o grande projeto da Quinta passaria por ter uma adega própria, situa-ção quase impossível já que a construção, nesta re-gião, é muito difícil devido à reserva agrícola”. O Restaurante “O Barradas” é símbolo de qualidade, assim como tudo o que nele se encontra. Símbolo de trabalho árduo, de conquista e aposta constante nos produtos frescos e na arte do bem receber.

Restaurante “O Barradas” MDS

[email protected]

O apoio das entidades públicasO produtor dos vinhos MDS enaltece o serviço prestado pelas entidades oficiais, nomeada-mente a C.V.A. (Comissão Vitivinícola do Algar-ve), porque mesmo residindo longe consegue manter-se informado. “São de muito fácil aces-so, daí a minha facilidade em conseguir, a esta distância, tratar das coisas. A C.V.A está mui-to atenta, muito próxima dos produtores, em constante contacto”.

A comercializaçãoOs vinhos MDS podem ser comprados direta-mente ao produtor ou então nos supermer-cados Intermarches da região algarvia. Pedro Cabrita frisa a importância de se dar a conhe-cer os vinhos da região do Algarve e de um aumento de produtores com sucesso. “Se nós pensarmos nas regiões mais importantes do país, o Douro também não tem relação preço/qualidade e consegue vender os seus vinhos. Eu penso que o problema do Algarve é por não ser conhecido. Eu tenho conseguido vender algum vinho fora do Algarve mas noto que é muito mais difícil. Agora o que é preciso é pro-mover os vinhos algarvios. E quantos mais viti-vinicultores no Algarve houver e com sucesso melhor para todos. É preciso que o Algarve ad-quira volume, dimensão”.

Um horizonte internacional?Apesar do crescimento gradual a exportação ainda não é a maior ambição, até porque “ a quantidade produzida não o justifica”. Porém, “se este projeto seguir, continuar a aumentar a produção própria será um caso a pensar. Não podemos é dar um passo maior que a perna”.

A NOSSA QUALIDADE VAI DEBATER-SE COM OUTRAS ZONAS DO PAÍS E PODEMOS TER UM GRANDE CRESCIMENTO

Dezembro 2013

VINHOS DO ALGARVE

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Page 33: País Positivo

Tradição e QualidadeMário Quintana sabe bem descrever o

prazer de um vinho, acompanhado por uma excelente companhia e com pano de fundo os sentimentos. Em busca da-

quilo que melhor se faz no nosso país, a nossa publica-ção encontrou a Quinta dos Correias e entrou à conver-sa com Ricardo Silva e Sousa, responsável pela Quinta.Desde o reinado de D. Maria que esta quinta faz parte da família. Apesar das diferenças visíveis, a verdade é que esta Quinta, localizada em Tavira, onde em tem-pos esta foi das mais importantes regiões vinícolas do nosso país, a Fuzeta, é pertença da família há várias gerações e, desde sempre, foi tratada com o carinho de quem gosta.O seu terroir característico, com solos arenosos, argi-losos, com pedras, e encostas pouco vincadas dá um corpo único a este vinho, forte e poderoso, do alto dos seus 14 graus de teor alcoólico.

O recomeçoFruto de um sonho e de uma visão de futuro, no ano 2000 foi feito um forte investimento na Quinta dos Correias, com a replantação da vinha, apostando em castas nobres e que dão ao vinho aqui produzido um sabor único. Hoje, a Quinta dos Correias conta com cas-tas como Castelão francês, Touriga Nacional, Aragonês e Cabernet Sauvignon e aposta numa produção con-trolada, de cerca de 30 mil litros anos, capaz de fazer

sobressair o melhor deste vinho que é dividido em duas marcas – Terras da Luz e Fuzeta.Apostados na qualidade, aqui não se descura a tradição e, nesse sentido, o vinho é produzido de acordo com técnicas ancestrais e a adega artesanal é parte inte-grante de todo o projeto.

ComercializaçãoPor ser uma Quinta que aposta na produção controla-da, a totalidade da produção é escoda no Algarve, com a restauração e hotelaria a receber grande parte dos vinhos Terras da Luz e Fuzeta. Segundo Ricardo Silva e Sousa, “hoje já é mais fácil entrar neste mercado mas a verdade é que quando iniciamos este projeto os vinhos do Algarve não gozavam de muita reputação e, por-tanto, foi preciso trabalhar muito para conseguir con-quistar um lugar no mercado. Hoje, grande parte dos restaurantes querem trabalhar com vinhos algarvios e isso mostra que os produtores têm feito um esforço para dotar os seus vinhos de uma qualidade extrema”.

O futuroPara o futuro, os projetos são poucos mas bem defini-dos. Antes de mais, o nosso interlocutor avança com o projeto de produzir vinhos brancos, “por ser um com-plemento e por termos capacidade para o fazer”. No en-tanto, na Quinta dos Correias irá continuar a apostar-se em vinhos de qualidade e com produções controladas.

“Por mais raro que seja, ou mais antigo,Só um vinho é deveras excelenteAquele que tu bebes, docemente,

Com teu mais velho e silencioso amigo”.

VINHOS DO ALGARVE

Sítio da Arroteia de Baixo · 8800-102 Luz de TaviraTelefone(+351) 918 621 595 · Correio Electrónico [email protected]

QUINTA DOS CORREIAS

Page 34: País Positivo

Herdade dos Pimenteis

Em conversa com o País Positivo reve-la que entrou neste ramo às escuras, seguindo quase como um sonho em comum com a mãe: “Tanto eu como a

minha mãe gostávamos de ter uma vinha e fo-mos um pouco ingénuas ao pensar que seria fá-cil consegui-la”. A verdade é que um projeto na área dos vinhos não é, de todo, simples. A pro-priedade existia, mas a verdade é que aqui só se tinha produzido, em tempos, leite e queijo e o conhecimento relativo ao vinho e à vinha era inexistente”. Com a ajuda de uma enólogo trans-montano, mãe e filha lançaram-se na aventura de criar, de raiz, uma vinha e a verdade é que no primeiro ano, “a nossa vinha foi atacada por tudo o que era maleita”. Mas Ana Sofia Pimentel não desistiu e perseguiu o sonho. A vinha foi plantada em 2004, com as castas touriga nacional, syrah, aragonês, tinto cão, ca-bernet sauvingon e moscatel. Com cerca de 15 hectares de vinha, a primeira vindima foi feita

em 2006 e o ano de 2007 foi o grande tes-te, já que começou, oficialmente, a época de comercialização. Tal como muitos produtores que tinham como projeto inicial enviar as uvas para as adegas, Ana Sofia também teve que optar entre o aban-dono da vinha ou iniciar a própria produção de vinho. “A adega de Lagos fechou e a adega de Lagoa não se revelou uma solução. Assim, co-meçamos a produzir as garrafas “Herdade dos Pimenteis”. Sendo assim, Ana Sofia Pimentel optou por en-garrafar toda a produção. “Lançamos o vinho em versão garrafa e bag in box, aumentando assim o escoamento. Não optámos pelo bag in box para aproveitamento de uvas de menor qualidade, mas sim como forma de escoar mais facilmente o produto”.

Os vinhosA Herdade dos Pimenteis tem, atualmente, três

vinhos tintos: o Regional (aragonês, touriga nacional e syrah), o Monocasta (touriga na-cional) e o Reserva (touriga nacional e syrah), que será o vinho mais elaborado. No entanto, depende sempre do gosto das pessoas, por-que, por exemplo, há pessoas que preferem um monocasta”. O monocasta touriga nacional e reserva foram premiados na Fatacil - Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria de Lagoa, e sendo que o reserva no ano passado foi considerado o melhor vinho do Algarve.No que diz respeito a vinho Branco, a Quinta dos Pimeiteis oferece aos seus clientes o mo-nocasta de moscatel, um vinho que foi premia-do o ano passado, assim como este ano.

A comercialização“Temos três distribuidores e até agora tem corrido bem. Os vinhos podem ser diretamen-te comprados a nós ou na região algarvia, por

exemplo, no Intermarché, assim como no El Cort Inglês de Lisboa. Além disso, os nossos vi-nhos estão colocados nos hotéis de Albufeira a Vilamoura, o que é um prestígio”.

A sazonalidadeÉ certo e sabido que a região algarvia é sazo-nal. Isso traz alguns problemas aos produtores. “A restauração, a partir de Outubro, começa a fechar e torna-se muito complicado vendermos o nosso produto”.

Projetos para o futuroA nossa entrevistada não tem grandes sonhos e é muito cautelosa no que toca à expansão do negócio. “Queremos aumentar a produção gra-dualmente como temos vindo a fazer ao longo dos tempos. Se o negócio corresse da melhor forma possível teríamos capacidade para plan-tar mais vinha. Agora resta-nos esperar para que a economia do país melhore”, refere e finaliza.

“TER UMA VINHA NÃO É BRINCADEIRA”, AS PALAVRAS SÃO DE ANA SOFIA PIMENTEL, PROPRIETÁRIA DA HERDADE DOS PIMENTEIS.

VINHOS DO ALGARVE

MEDALHA DE PRATA PARA A HERDADE DOS PIMENTEIS NO VI CONCURSO DE VINHOS DO ALGARVE NO ÂMBITO DA FATACIL 2013: VINHO TINTO REGIONAL ALGARVE TOURIGA NACIONAL E VINHO BRANCO REGIONAL ALGARVE.

HERDADE DOS PIMENTEISHerdade dos Pimenteis, Apartado 178 8501-910 Portimão

Telefone e Fax(+351) 282 411 962

Correio Electró[email protected]

Page 35: País Positivo

Quinta Morgado da Torre

João Mendes

João Mendes é um dos maiores produtores de vinho algarvio. Como muitos outros foi quase que ‘obrigado’ a produzir vinhos. Hoje, aposta na qualidade do produto.

Como começou este projeto?Aqui, na Quinta do Morgado da Torre já havia uma grande tradição ligada à vinha. Vendíamos as uvas para às adegas cooperativas. Depois houve atrasos em alguns pagamentos e eu, assim como outros pro-dutores, fui ‘obrigado’, incentivado a produzir vinho para não abandonar a vinha. Começamos por peque-nas quantidades e fomos aumentando gradualmente.

Para todos os efeitos, foi um risco?Sim, foi e tem sido um grande investimento. Para fa-zer a adega,foi reaproveitada uma edificação antiga e de resto, foi tudo feito de novo, em pavilhão modular.

Com que vinhos e castas começou?Comecei por fazer um vinho tinto com negra mole e castelão que são as castas regionais. Depois, e como

também já tínhamos plantado uma vinha de cabernet sauvignon, com a colheita de 1999 lançamos o pri-meiro vinho em garrafa com castelão, cabernet sau-vignon e trincadeira. Os tintos estavam sob a deno-minação “Tapada da Torre”. Com a colheita 2000, 2001 lançamos a marca “Alvor” com tinto, branco e rosé.

Com a evolução do negócio houve necessidade de plantar mais vinha?Sim, houve. E para o ano vamos voltar a plantar, des-ta vez mais quatro hectares e vamos apostar na uva branca.

Qual é a dimensão deste novo projeto?Estamos a falar de cerca de vinte hectares. Temos de pensar em áreas susceptíveis em termos de volume de vinho, muito área obriga a baixar preços e peque-na área inviabiliza pensar em economia de escala, penso que 20 hectares será a área mínima para uma pequena empresa agrícola.

Como é ser produtor de vinhos do Algarve?Eu comparo isto um pouco com a Califórnia. Temos um clima mediterrâneo temperado pela proximidade com o mar e a produção está espalhada por pequenas unidades vitícolas, entre um e 20 hectares. A maior das dificuldades prende-se com os custos de produ-ção. Nesta região só se pode vencer com qualidade e é isso que a Quinta Morgado da Torre está a fazer.

Quais são as características que desde o início preten-dem implementar nos vossos produtos?Eu não invento nada. Antigamente o consumidor be-bia tudo, hoje não é assim. As pessoas hoje estão mais atentas e sofisticadas. O consumidor europeu está ha-bituado a um tipo de vinhos que nós estamos a pro-curar nos adaptar, e o consumidor nacional já tem al-gum conhecimento a respeito de vinho. No Morgado da Torre faz-se vinho para agradar de uma forma ge-ral o consumidor, só assim é possível vender.

Como é a exportação?Exportamos pouca coisa. Mas queremos incrementar um pouco mais, através do cliente que vem cá e leva uma ou duas paletes, pois também não temos produ-ção para muito mais.

Qual é a gama de produtos que tem disponível?Temos a marca Tapada da Torre (tinto e branco

– reservas e dois Licorosos), o Alvor (tinto, branco, rosé e também um tinto reserva), Alcalar e o Foral da Albufeira.

Para além da loja na quinta, onde podem ser encon-trados os seus produtos?Podem ser encontrados no pequeno retalho, como garrafeiras e lojistas, na restauração e unidades ho-teleiras, basicamente aqui na região. Temos de algu-ma forma evitado as grandes superfícies. Não sei por quanto tempo o vamos conseguir fazer porque eles infelizmente estão a dominar o sector produtivo a ní-vel nacional. Trabalhamos mais com os distribuidores a nível regional.

Normalmente a produção é toda vendida?Sim, é. Até porque produzimos à medida das vendas. Assim vamos controlando também a produção. O mercado nacional está muito difícil, muito por culpa da conjuntura económica atual.

Qual é o grande problema dos vinhos do Algarve?Não são os vinhos propriamente. Todos têm qualida-de. Falta divulgação da marca” Vinhos do Algarve” e tempo, para afirmar a nossa qualidade.

Como é que faz o seu marketing?Participo em alguns eventos aqui na região e tento

concentrar-me mais na qualidade do produto.

Muitos dos seus colegas produtores queixaram-se que a restauração não ajuda em nada a divulgação do produto. Tem a mesma opinião?A restauração começa a se entusiasmar com os vi-nhos do Algarve, estavam muito renitentes no pas-sado, mas a imagem e qualidade está felizmente a mudar o sentido do mercado de vinhos na nossa região. Trabalhando todos em conjunto, podemos incrementar as vendas. Estando a restauração liga-da à gastronomia local tem um papel fundamental dando a conhecer os vinhos da região e claro tam-bém é necessário o cliente pedir os vinhos do Al-garve. Temos também que continuar a dar mais a conhecer o nosso produto à restauração, por vezes falta-nos alguma logística comercial. Temos produto com qualidade, no entanto note-se, produzir no Al-garve é muito caro.

Quais serão os próximos passos?Como já referi, para o próximo ano vamos plantar mais vinha. Tenho um projeto de agroturismo, para aproveitar edificações existentes, dando-lhes uma nova utilidade. Se “nos deixarem trabalhar” pensa-mos que os “Vinhos do Algarve” serão uma referência no futuro, não só no mercado interno, como no mer-cado internacional.

QUINTA DO MORGADODA TORRESitio da Penina, 8500-156 AlvorGPS - N 37º 10’ 06’’ W 08º 34’ 45’’

Telefone(+351) 282 476 866

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VINHOS DO ALGARVE

Page 36: País Positivo

Dezembro 2013

PORTUGAL SOU EU

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Pela União, pela Qualidade

O dia raiou cinzento e frio, mas a equipa do País Positivo rumou a Vi-seu com a expectativa de encontrar uma instituição onde a união faz a

força e a qualidade é impressão digital. Che-gados ao nosso destino, recebeu-nos Fernando Figueiredo que nos mostrou que a nossa ex-pectativa estava correta. Numa conversa informal e amena, o presidente da Udaca apresentou-nos a instituição e fez--nos perceber que juntos somos, verdadeira-mente, mais fortes. Foi em 1966 que se lançou a primeira pedra deste projeto estruturante para a região do Dão, criando uma entidade que se afirmasse como força comercial das adegas cooperativas da região. No entanto, “ao longo dos anos esta missão foi-se alterando, fruto de muitas condicionantes. Por um lado, a força cooperativa esmoreceu-se e, hoje, são apenas seis as adegas que compõem a Udaca, das dez iniciais. Por outro lado, as próprias adegas fo-ram alterando as suas missivas e, hoje, quase todas elas têm marca própria e uma força co-mercial que lhes permite escoar quase a tota-lidade do produto”. Pela necessidade, a Udaca teve de se reinventar e, hoje, a estratégia é cla-ra e está bem definida: “Acabar com a necessi-dade de existir tantas marcas próprias no Dão, evitando desperdícios e unindo esforços”, até porque, “o setor cooperativo tem tudo para dar bem já que os lucros são parte reinvestidos e distribuídos pelos associados, depois de pagos os custos de exploração”.

“OS VINHOS SÃO COMO OS HOMENS: COM O TEMPO, OS MAUS AZEDAM E OS BONS APURAM” CÍCERO

Ao longo dos anos, fruto de uma gestão menos rigorosa e apostas menos certeiras, a Udaca foi sofrendo machadadas quase fatais. Até a en-trada da nova direção, a Udaca não tinha qual-quer força na região e a sua situação financeira era demasiado frágil, demasiado instável. No entanto, “temos vindo a recuperar, quer a ima-gem, quer a situação financeira e isso deve-se fundamentalmente ao facto de termos, agora, uma estratégia bem definida”.Hoje, a Udaca dedica-se maioritariamente ao mercado internacional, estando presente em países como Angola, Brasil, China, EUA, Cana-dá, França, Suíça, Alemanha, entre outros, que garantem 70% da faturação da empresa. No mercado interno, podemos encontrar os vinhos comercializados pela Udaca na rede de distri-buição Sonae e em pequenas lojas locais”.

Um crescimento sustentadoNo ano de 2012 a Udaca garantiu a compra de três milhões de litros às adegas do Dão. Ape-sar de alto, este número não garante o escoa-mento da totalidade da produção das adegas associadas. No entanto, o crescimento é notó-rio: “Desde 2009, crescemos cerca de 42,6% em volume de vendas. Quando aqui chegamos, o mercado nacional representava 65% da fatu-ração e, hoje, essa realidade está totalmente invertida. Além de aumentarmos a produção e comercialização internacional, passamos a acrescentar mais valor ao vinho em garrafa e bag in box e apenas trabalhamos com garrafão

para mercados tradicionais como é o caso, por exemplo, de Angola e EUA, muito fruto das tra-dições e costumes levados pelos portugueses”. E a qualidade? Essa, é a mesma. “O vinho que é vendido em garrafa até porque os mercados para onde exportamos são bastante exigentes em termos de qualidade, mas todos eles têm as suas especificidades e nós tentamos adaptar-mo-nos a todas elas”.Muitos podem pensar que este crescimento paulatino foi fruto do acaso, mas a verdade é que a sorte dá muito trabalho: “Este cresci-mento foi fruto de muito trabalho e também do empenho das pessoas que fazem parte des-te projeto que, apesar de tudo, continuaram a acreditar e a rever-se nele. A verdade é que temos uma equipa bastante eficiente e muito profissional”.

Confiança e transparênciaA nova direção da Udaca instituiu na confiança e transparência como pedra basilar da ativi-dade da empresa. E é precisamente graças a esta postura que a Udaca tem vindo a crescer e a desenvolver-se no mercado internacio-nal. “Temos uma relação muito próxima com os nossos clientes, as nossas relações comer-ciais são construídas numa base de parceria e só assim temos conseguido manter este nível de crescimento. Tentamos criar relações com base na confiança e a nossa postura é mes-mo essa, fazer negócios sem o intuito de en-ganar ou vender um produto que pode não ser

bem o produto que estão a comprar. A base do nosso sucesso é a honestidade, a transparên-cia e a confiança. Por exemplo, já aconteceu detetarmos um problema com uma rolha e de imediato avisamos os nossos clientes e fize-mos questão de substituir os lotes, assumindo o prejuízo”.

As oportunidadesComo já foi referido, houve alturas em que as direções da Udaca tomaram decisões e postu-ras menos próprias e isso fez com que a mar-ca ficasse associada a uma imagem negativa. Assim, o mercado nacional apresenta-se, para Fernando Figueiredo, como uma oportunidade. “A marca Udaca é conhecida e reconhecida e portanto, o mercado interno ainda tem muita margem de crescimento. Acredito que a mar-ca Udaca bem trabalhada e bem divulgada pode ser uma marca de futuro. No entanto, temos que ser capazes de criar necessidades, ou seja, temos que ser capazes de mostrar que determinado vinho conjuga muito bem com determinado prato e que é feito de determi-nada maneira”. A verdade é que, internamen-te, a Udaca não pode competir pelo preço: “. Se compararmos por exemplo o preço de ex-ploração de um hectare no Dão ou no Douro, com o preço de exploração de um hectare no Alentejo, é impensável conseguir “vencer” pelo preço. É um facto que temos que apostar na diferenciação e é uma realidade que os nossos vinhos são completamente distintos de outros e, esta componente de marketing puro, traba-lhada pelos enólogos é essencial para mostrar as diferenças entre os nossos vinhos de outros. É precisamente nestes aspetos que temos que nos focar”.

Portugal Sou EuA Udaca foi uma das cem entidades aderentes ao selo Portugal Sou Eu que confere autenti-cidade aos produtos portugueses. Conscientes de que este selo terá mais impacto no mercado nacional e da saudade, a Udaca revê-se neste projeto e considera essencial esta aposta no produto português.Apesar disso, o selo ainda não faz parte da rotulagem dos vinhos da Udaca, mas a expli-cação é simples: “Os vinhos são produtos que têm uma rotulagem própria e carecem de um selo de origem, fornecidos pela CVR e, neste sentido, ainda não começamos a usar a marca Portugal Sou Eu, porque ainda não escoamos a totalidade da nossa rotulagem. Como o in-vestimento ainda é considerável, optamos por usar os rótulos que ainda temos e só quando for necessário fazer mais, colocaremos o selo”, considera Fernando Figueiredo.

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PORTUGAL SOU EU

Dezembro 2013 37

“Aproveito esta oportunidade para relembrar que é hora de tirar a linha de financiamento “PME Exportações” da gaveta porque é ne-cessário que as empresas exportadoras con-sigam ter acesso a uma almofada financeira que garanta a não existência de problemas de tesouraria pontuais. Ou seja, um dos gran-des problemas da exportação é o prazo de pagamento alargado que, muitas vezes, le-vam a fragilidades de tesouraria porque as empresas não têm capacidade de esperar pelos pagamentos. Com esta linha de finan-ciamento, a atividade das empresas melho-raria pelo impacto que teria na Tesouraria.

Mensagem

No próximo dia 7 de dezembro, no decorrer da Grande Prova de Vinhos das Adegas Coo-perativas, na Pousada de Viseu das 17 às 20 horas, será lançado um novo vinho da Udaca. O Invulgar é um vinho único, feito a partir da produção de quatro adegas associadas, sele-ção dos respetivos enólogos e que demons-trará de facto a excelência dos VINHOS DE COOPERATIVAS!

Um destaque Invulgar

A UDACA FOI UMA DAS CEM ENTIDADES ADERENTES AO SELO PORTUGAL SOU EU QUE CONFERE AUTENTICIDADE AOS PRODUTOS PORTUGUESES.

O futuroA finalizar, Fernando Figueiredo traça um ce-nário de futuro: “Os projetos são muitos e es-tamos no bom caminho, os próprios números assim o indicam. Nós, acima de tudo, o que queremos é continuar a recuperar a empresa que, infelizmente, ainda tem algumas lacunas para resolver. Queremos crescer para conse-guirmos remunerar bem as cooperativas e por conseguinte, os viticultores, continuando a honrar os nossos compromissos, deixados pe-las anteriores direções”.

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Dezembro 2013

BACALHAU DA NORUEGA

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ENTREVISTA A ANTÓNIO NOBRE, RECONHECIDO CHEFE DE RAÍZES ALENTEJANAS.

Chefe António Nobre

Ser seguidor da dieta mediterrânica sig-nifica saber escolher o que se come e o que se deve evitar. O bacalhau é um dos ingredientes que deve ser privilegiado?

Em Portugal encontramos os melhores ingredien-tes da dieta mediterrânica, uma dieta saudável e equilibrada. Todos eles combinam na perfeição com o bacalhau , um alimento nobre, que para além de delicioso contém nutrientes essenciais para uma dieta equilibrada, como as proteínas e a vitamina D, fundamentais para a absorção de cálcio e na formação de ossos fortes e saudáveis.

O bacalhau é um dos ingredientes mais conceitua-dos da nossa gastronomia. É mesmo verdade que existem 1001 receitas de bacalhau?Tenho a certeza que já ultrapassa esse número. O Bacalhau bem cortado dá para muitas refeições

O Bacalhau da Noruega na dieta mediterrânica

porque para cada corte há uma receita. É um ali-mento que dá para inventar e reinventar e confec-cionar de várias maneiras, adaptando-se ao gosto das várias gerações.

Quais as potencialidades do bacalhau?É um alimento em que tudo se aproveita, da ca-beça ao rabo. Pode ser consumido de diversas for-mas (inteiro, postas, lascas, desfiado, entre outros). Para além disso por ser bem seco e curado, o Ba-calhau da Noruega ganha volume depois de de-molhado, crescendo cerca de 35% de peso. Assim dá para preparar um maior número de refeições.

Porque prefere o Bacalhau da Noruega?Pelo sabor, pela origem, pelas suas características únicas…é na Noruega que o melhor bacalhau be-neficia das melhores condições ao longo da costa,

onde é pescado e preparado segundo a sabedoria ancestral. Uma preparação feita a partir de peixe fresco, que nos garante um bacalhau diferente e de origem, que passou pelos mais elevados pa-drões de qualidade.

Qual é a principal característica que distingue o Bacalhau da Noruega? São várias as características, mas acho que a que mais se destaca é a sua cor palha, uniforme e sem manchas. Para além disso, o Bacalhau da Noruega é bem seco e curado, o que lhe garante um sabor totalmente diferente dos outros e que o faz lascar na perfeição depois de cozinhado.

Como se deve demolhar o bacalhau?Ainda há quem pense que a demolha é um pro-cesso complicado, mas longe disso. Demolhar o

bacalhau é na realidade muito simples, com a vantagem de que se pode congelar logo após a demolha, estando sempre pronto a cozinhar quan-do necessário. Para começar sugiro que passem o bacalhau por água corrente. Depois, coloquem num recipiente com água fria, com a pele voltada para cima e troquem a água várias vezes ao dia. O tempo de demolha varia consoante a categoria do bacalhau, sendo que as postas mais finas deverão ser retiradas primeiro da água.

Com um bacalhau, é possível fazer várias refei-ções. Mas como se deve calcular a quantidade de bacalhau a utilizar em cada porção?Varia um pouco consoante o tipo de receita que se vai preparar. Por exemplo se for algo preparado com bacalhau desfiado, conte com 150 g de bacalhau demolhado, caso seja uma

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BACALHAU DA NORUEGA

Dezembro 2013 39

Qual a importância de Portugal para o Baca-lhau da Noruega?Portugal é o mercado mais importante para o Bacalhau da Noruega. Em média, Portugal representa cerca de 30% do valor total do bacalhau exportado pela Noruega. Nos últi-mos 15 anos, o Bacalhau da Noruega tem au-mentado passo a passo a sua quota de mer-cado. Chegámos a um nível em 2012 em que o consumo português de Bacalhau da Norue-ga é mais de 50% do total. 27 mil toneladas de bacalhau salgado seco chegam já pron-tas para consumir, enquanto 16 mil tonela-das chegaram apenas em salgado (bacalhau verde) para serem finalizadas por operadores portugueses. Em termos de origem, o baca-lhau da Noruega está a registar também este ano um novo crescimento.

O Papel da Norge em PortugalO nosso objetivo a longo prazo é o de con-tinuar a transmitir as tradições às gerações mais jovens. Eles poderão tender para o con-sumo de conveniência e preferirem o demo-lhado/ultracongelado, um processo apenas utilizado em Portugal. Neste caso, é impor-tante que os produtores usem bacalhau real (já seco e salgado e com menos de 47% de água) e não um bacalhau ligeiramente sal-gado. Este tipo de produto, feito sem ser com bacalhau bem curado, é um “falso ami-go” porque de facto não possui o caráter ex-clusivo de um bacalhau seco salgado. Aqui sentimos que os produtores portugueses (e alguns espanhóis) têm uma grande respon-sabilidade. Faço um apelo para que façam uma classificação do bacalhau demolhado/ultracongelado, tal como existe por lei para o bacalhau salgado seco. Em Espanha, come-çaram a “brincar” com o verdadeiro bacalhau, e hoje o resultado foi o dizimar do consumo de um produto tradicional. Devemos ser ho-nestos sobre o que nós produzimos e ven-demos. O bacalhau real tem uma cura de sal de pelo menos 4 a 5 semanas, sendo depois seco para um máximo de 47% de humidade. Se não for assim não é bacalhau, pelo menos como os portugueses o conhecem. O baca-lhau fresco é fantástico, mas deve ser vendi-do como tal. Bacalhau ligeiramente salgado também é bom, mas deve ser vendido como tal e não como bacalhau salgado seco.

Bacalhau da Noruega de novo Escolha do ConsumidorO Bacalhau da Noruega foi reconhecido pelo segundo ano consecutivo como Escolha do Consumidor na categoria Compras do Dia-a--dia. Este prémio que resulta da escolha di-reta do consumidor foi o resultado de in-quéritos que mediram o grau de satisfação

O verdadeiro bacalhau da Noruega

e aceitação dos consumidores perante vá-rios produtos de consumo, sendo estes que sugerem quais os produtos que devem ser escolhidos.Não é de estranhar esta escolha, uma vez que o Bacalhau da Noruega tem longa tradi-ção em Portugal. Os vikings, que pescavam este peixe abundante nas suas águas, comer-cializaram-no nas viagens que faziam pela Europa. Terão desembarcado na costa por-tuguesa antes do ano 1000, na que é hoje a região da Bairrada. Mais tarde foram os por-tugueses que o pescaram, durante séculos e que o levaram para a América do Sul e África. Mas, mesmo com as capturas nossa antiga frota, sempre houve necessidade de impor-tar bacalhau da Noruega, uma vez que o con-sumo de bacalhau salgado seco em Portugal é o maior do mundo. E nos últimos anos, por circunstâncias várias, o Bacalhau da Norue-ga ganhou a preferência entre os consumi-dores portugueses.Existem algumas razões para esta preferên-cia. O bacalhau norueguês é apanhado, prin-cipalmente, durante o período de inverno. Neste período o bacalhau migra do mar de Barents até à costa norueguesa. Nenhum ou-tro banco de bacalhau tem este comporta-mento. Crescendo lentamente durante 5 a 7 anos, o bacalhau, ao atingir o peso de 5 a 7 kg regressa ao local onde nasceu para come-çar a procriar, nadando mais de 600 km até à costa do Norte Noruega. É esta viagem de longa distância, em que faz uma dieta aper-tada, que «apura» a textura deste bacalhau que cresceu no mar de Barents a comer ca-marões, capelim e arenque, dando-lhe um sabor exclusivo e, acima de tudo, a sua ca-pacidade para lascar.O bacalhau norueguês é mais comprido e elegante que o Islandês, que é mais largo e mais pequeno. Esse bacalhau não é uma má escolha, mas o que nós dizemos é que o ba-calhau norueguês é único pela seu aprecia-do sabor e pela foram como lasca, enquan-to o islandês que é um bacalhau costeiro, se apresenta mais largo e de cor mais bran-ca. Mas ambos são «gadus morhua» e isto é a espécie de referência quando falamos de bacalhau real. O bacalhau do Canadá é da mesma espécie, mas quase não tem signifi-cado nos mercados, uma vez que a pesca ex-cessiva feita nos anos 80 do século passa-do quase dizimou aqueles bancos de peixe. Mas é justo dizer que o bacalhau do Pacífi-co (gadus machrocephalus) não tem as mes-mas características do bacalhau do Atlântico em geral, e muito menos do bacalhau da No-ruega em particular, uma vez que a sua tex-tura, por ser rija, não lasca, antes esfiapando quando se mastiga.

receita em que se utilize uma posta inteira, se-rão cerca de 200 g por pessoa.

Há segredos para a confecção de pratos de bacalhau?Sim claro que há, mas vamos desvendar alguns…Para cozer bacalhau, coloque um tacho com água fria e mergulhe-o. Quando estiver quase a ferver, desligue o fogão e tape o tacho. Deixe repousar 12 a 15 minutos. Assim ele vai lascar, conservan-do a sua gelatina e sucos nutritivos. Com baca-lhau frito por exemplo devemos utilizar sempre azeite bem quente. Um bom bacalhau assado na brasa, prepara-se pincelando primeiro com azeite e colocando o bacalhau apenas quando a grelha estiver bem quente. Para assar no forno, deve ir--se regando com os seus sucos e juntando alguma água. E por fim o bacalhau estufado, que deverá manter-se o tacho tapado o máximo de tempo possível, adicionando-se água ou vinho.

E já que o tema da nossa entrevista é dieta medi-terrânica, que outros ingredientes combinam com o bacalhau?Costuma-se dizer que o bacalhau vai bem com tudo. E é verdade! Com um alimento tão rico como este, atrevo-me a dizer que vai bem com batata, pimentos, tomate, azeitonas, alho, cebola, ovos, er-vas aromáticas…e pão alentejano.

De todas as receitas que conhece de Bacalhau, há alguma que destaque e queira partilhar com os nossos leitores?Como sabem adoro confeccionar bacalhau. Dá-me prazer brincar com os ingredientes. Destaco por

SOPA DE BACALHAU COM OVOS E ERVAS ALENTEJANAS

Ingredientes• 800 g de Bacalhau da Noruega (postas e abas)• 8 batatas grandes em rodelas• 1,5 kg de tomate maduro sem pele e sem sementes• 1 pão do dia anterior• 4 ovos• 1 pimento verde• 3 cebolas• 1,5 dl de azeite• 4 dentes de alho• hortelã da ribeira q.b.• poejos q.b.• sal grosso q.b.

PreparaçãoColoque um tacho ao lume com o azeite, as cebo-las e alhos em rodelas e o sal. Deixe alourar um pouco e junte o tomate esmagado com a mão. Adicione água suficiente para a sopa e quando começar a ferver junte as batatas. Quando estas estiverem quase cozidas, junte o pimento cor-tado em tiras e o bacalhau. Por fim coloque os ramos de hortelã da ribeira e os poejos. Rectifi-que temperos. Retire um pouco de caldo para um tacho e escalfe os ovos. Numa terrina coloque o pão cortado em fatias finas. Disponha o bacalhau e as batatas numa travessa e na terrina coloque o caldo. Sirva de imediato.

isso uma receita um pouco diferente do habitual, uma sopa. Aqui fica a receita para 4 pessoas.

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Dezembro 2013

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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No passado dia 15 de Novembro teve lugar no Salão Nobre do Ateneu Co-mercial do Porto um evento ligado à Cooperação Transfronteiriça Espanha-

-Portugal, iniciativa esta circunscrita ao Projeto de Cooperação TIMEPYME em fase final de exe-cução e que conta com seis parceiros, respetiva-mente, quatro espanhóis de dois portugueses.Tratou-se de mais um momento de reflexão e de afirmação sobre o trabalho desenvolvido por aqueles seis cooperantes no âmbito daquele pro-jeto transfronteiriço e neste caso em especial para dois dos promotores designadamente, a Di-putación Provincial de Ávila (DPA) e a (ADIRBA) Associação para o Desenvolvimento Integrado da Região do Barroso, que trouxeram a público mais uma iniciativa concreta de cooperação, consubs-tanciada na abertura de uma “Tienda na Cidade do Porto” de produtos genuínos do património gastronómico, dos territórios da interioridade ru-ral dos dois países, com especial ênfase para os de denominação “ÁVILA AUTÊNTICA”.

Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal … um dos caminhos para o desenvolvimento sustentável do território e das suas gentes … E, a “Tienda de Ávila Autêntica”, uma acção empreendedora no coração da Cidade do Porto …

Depois de ter sido criada no âmbito deste mesmo projecto de cooperação, uma “Tienda Virtual” com recurso às tecnologias de informação e comuni-cação, eis que aqueles mesmos promotores dese-nharam ensaiar simultaneamente um modelo de cariz tradicional, reconstruindo no número 466 da Rua da Alegria na Cidade Invicta um «espa-ço gourmet» de produtos autênticos e naturais, com o propósito de revitalizar o denominado co-mércio tradicional e subsequentemente validar um modelo de empreendedorismo que possa ser replicado noutros locais do território, nomeada-mente nas zonas interiores do País.Esta iniciativa contou com uma Comissão de Honra constituída por várias Entidades, de que se destacam respetivamente, o Governo da Di-putación Provincial de Ávila; o Consulado-Geral de Espanha na Cidade do Porto; a Câmara Mu-nicipal de Montalegre; a Câmara Municipal de Boticas; a Câmara Municipal de Chaves; o Turis-mo Porto e Norte de Portugal; a Reitoria da Uni-versidade Lusófona do Porto; e a Presidência do

Ateneu Comercial do Porto; e ainda, de uma Mesa de Honra, onde pontuaram designadamente Sua Excelência o Deputado do Governo Provincial de Ávila, D. José Maria Garcia Tiemblo; Sua Excelên-cia o Senhor Cônsul Geral de Espanha na Cidade do Porto D. José António Martinez Villarreal; Sua Excelência a Deputada do Município de Boticas Dr.ª Maria do Céu Fernandes; a Digníssima Re-presentante do Exmo Senhor Presidente do Ate-neu Comercial do Porto D. Cristina Henriques; a Digníssima Gestora dos Projetos Europeus no Governo Provincial de Ávila Dr.ª Luisa Martin; a Digníssima Gestora da Tienda Ávila Autêntica no Governo Provincial de Ávila Dr.ª Gemma López; e também, o Diretor-Executivo da Associação para o Desenvolvimento Integrado da Região do Bar-roso, Prof. Doutor Fernando Manuel Silva. Inúmeros foram os participantes convidados, en-tre autarcas, empresários e académicos registan-do-se ainda, uma presença jovem de potenciais empreendedores. Assim, no desenrolar da sessão solene, Fernando Manuel Silva fez questão de

salientar que “para além das vicissitudes que o País atravessa, importa olhar um território interior que está flagelado pela desertificação humana e cada vez mais empobrecido, com os seus jovens e velhos a abandonarem as terras da família e a par-tirem diariamente à procura de uma oportunidade, de uma vida mais digna e na busca de trabalho que lhes proporcione a sua realização profissional e o sustento dos seus. Por isso é que as entidades deverão juntar esforços e aprofundarem os seus laços de cooperação nos mais diversos domínios económico, cultural e social, que a todos nos ajude a travar este êxodo e nos permitam contribuir para dinamizar os territórios e as suas gentes e muito especialmente a Região do Barroso”.Também durante a primeira parte do evento re-gistaram-se outras intervenções, como foi o caso do Cônsul-Geral de Espanha na Cidade do Por-to, D. José Antonio Martínez Villarreal, que referiu que esta iniciativa de cooperação transfronteiriça resulta de “uma amizade entre dois povos, uni-dos pela história e por uma visão semelhante do

B I C - B U S I N E S S I N N O V A T I O N C E N T R E

Page 41: País Positivo

DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

Dezembro 2013 41

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fumeiro, os presuntos, os queijos, o mel, o azeite,

as compotas, a sidra, o vinagre, os feijões e os

grãos, os frutos secos e ainda, os espumantes

e as aguardentes velhas nacionais ... ... ...

mundo, bem como de uma capacidade de aven-tura, conquista e curiosidade. É importante em-preender hábitos de cooperação com as Regiões de Portugal que, geograficamente, estão mais próximas de Espanha. A raia deve ser algo que une, não que separa”.Todos os intervenientes destacaram a importân-cia da cooperação entre os povos como veículo fundamental para a sustentabilidade dos territó-rios e à sua coesão social. Foi realçada “a rique-za gastronómica e o património monumental e imaterial existente nos dois países, e a sua par-ticular importância para um desenvolvimento económico centrado numa matriz turística, que privilegia a inovação da oferta e a especialização da tradição. Os territórios têm riquezas que lhes são endógenas e que poderão constituir-se como alavancas ao seu desenvolvimento sustentado e amigo do ambiente”.Entre os oradores, foi unânime a ideia de que se deve passar “uma mensagem de esperança no fu-turo e um apelo a que se olhe o património rural

como uma das respostas alternativas ao desen-volvimento e sustentabilidade dos territórios, naturalmente acrescentando-lhe valor através do recurso às tecnologias da informação e co-municação e sobretudo, condimentando-o com o conhecimento partilhado pelos povos. É funda-mental empreender, para que a revitalização da economia local e regional possa acontecer, sen-do ainda indispensável rejuvenescer a ativida-de económica rural acrescentando-lhe inovação, modernidade e conhecimento”.Neste contexto, foi igualmente anunciado aos pre-sentes um conjunto de parcerias luso-espanholas que estão em fase final de preparação entre em-presários dos dois países, quer no sector do turis-mo rural, em particular no turismo de aventura, quer entre municípios portugueses de fronteira e atores do desenvolvimento local e regional, com congéneres seus em Espanha. Trata-se, pois, de um movimento natural que se tem afirmado pela positiva e que decorre das inúmeras experiências concretizadas e projetos desenvolvidos no âmbito

do POCTEP-Programa Operacional de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal e protagoniza-dos em boa hora por inúmeras organizações e ins-tituições de ambos os países. Nesta linha de ação, o futuro exige de todos nós “uma maior ambição, mais e melhor competência e acima de tudo um espírito empreendedor alicerçado na partilha do conhecimento e numa gestão sábia dos recursos naturais e do património rural e histórico”.Uma vez culminadas as alocuções pelos dife-rentes oradores, os presentes foram convidados a desfrutarem da beleza arquitetónica e monu-mental do Ateneu Comercial do Porto e ainda a deslumbrarem-se com a magnitude de alguns dos seus tesouros expostos (arte; pintura; ma-nuscritos; cerâmica; obras; etc.). Seguiu-se ainda uma degustação, com os convidados a serem sur-preendidos a seduzirem-se com os sabores e as emoções de uma mostra gastronómica e enófila, de produtos ibéricos de uma qualidade diferen-ciada e de autenticidade local e regional rastrea-bilizada pela história e tradição.

Assistiu-se a um momento gastronómico mag-nífico, onde o fascínio dos sabores e o encanto dos perfumes proporcionaram à generalidade dos presentes instantes de genuinidade e auten-ticidade. Para muitos dos convidados foi ainda um regresso às suas origens transformando-se numa verdadeira celebração à gastronomia de Ávila e aos seus excelentes empresários e produ-tores, como o foi igualmente soberba a amostra e degustação enófila portuguesa, protagonizada pelos espumantes e tintos bairradinos da Adega Cooperativa de Cantanhede e os verdes brancos da Quinta da Lixa Sociedade Agrícola, Lda.No final do evento, imperava uma sensação de satisfação e esperança por um futuro onde a ima-terialidade do património dos dois países mereça ser desfrutada e partilhada. E para isso urge, que a cooperação entre os povos se reverta num im-perativo de consciência e num verdadeiro ato de fé, em prol de uma sociedade que se deseja mais justa e de uma economia que se reclama de mais solidária e inclusa.

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O INSTITUTO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA (HTTP://IHC.FCSH.UNL.PT/) É UMA UNIDADE DE INVESTIGAÇÃO DA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CUJOS PRINCIPAIS OBJEC-TIVOS SÃO O ESTUDO DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA E DA CONTEMPORA-NEIDADE. O IHC É COMPOSTO POR UMA EQUIPA DE INVESTIGADORES DE QUALIDADE, COMPETITIVA E INTERNACIONALIZADA, QUE TEM GARANTIDO A RENOVAÇÃO E O ALARGAMENTO DO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO E DA PRODU-ÇÃO NO DOMÍNIO DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA. A ACTIVIDADE DA UNIDA-DE É ACOMPANHADA POR UMA COMISSÃO EXTERNA COMPOSTA POR ESPE-CIALISTAS INTERNACIONAIS.O IHC DESTACA-SE NO DOMÍNIO DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA JUNTO DA COMUNIDADE CIENTÍFICA E DA SOCIEDADE EM GERAL, COMBINANDO UMA FORTE PRESENÇA EM TERMOS DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA, PARTICIPAÇÃO PER-MANENTE NA FORMAÇÃO AVANÇADA DE INVESTIGADORES E CUMPRINDO UMA

CENTRO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEAENCONTROS CIENTÍFICOS

ASSINALÁVEL COLABORAÇÃO EM ACTIVIDADES SOCIAIS E CULTURAIS. AO LONGO DE MAIS DE DUAS DÉCADAS DE EXISTÊNCIA, O IHC TEM PROSSE-GUIDO COMO PROPÓSITO CENTRAL DA SUA INVESTIGAÇÃO CONCEPTUALIZAR, CONTEXTUALIZAR E INTERPRETAR, CRITICAMENTE, A REALIDADE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA, COMPREENDENDO O PERÍODO DESDE OS MEADOS DO SÉ-CULO XVII I ATÉ À ACTUALIDADE, INTEGRANDO, COMO SUGERE A NOVA TEN-DÊNCIA HISTORIOGRÁFICA, A HISTÓRIA DO PRESENTE.O IHC TEM SIDO COORDENADO POR FERNANDO ROSAS E POR MARIA FERNAN-DA ROLLO, ACTUAL PRESIDENTE DA DIRECÇÃO COMPOSTA POR LUÍS FARINHA, PEDRO OLIVEIRA, JOSÉ NEVES E ANA PAULA PIRES. ENTRE OS SEUS INVESTI-GADORES CONTAM-SE ANTÓNIO PEDRO VICENTE, ANTÓNIO REIS, INÁCIA RE-ZOLA, IRENE PIMENTEL, JOSÉ MEDEIROS FERREIRA, LUIS ESPINHA DA SILVEI-RA, MANUEL LOFF, NUNO SEVERIANO TEIXEIRA, FILIPE RIBEIRO DE MENEZES, RAQUEL VARELA, ENTRE MUITOS OUTROS.

A SEGUNDAGRANDE DEPRESSÃO

XII Curso Livre de História Contemporânea

dinâmicas e debates da crise

Coordenação científica:Prof. Doutor Francisco Louçã

Informações | Tel.: 21 790 83 00 (ext. 1545)

Com o apoio de:

FCSH-UNL, Av. Berna, 26-C, LisboaAuditório 1, Torre B, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

e Edifício do ex-DRM, 4º Piso, Sala Multiusos nº 2

FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES, Rua de S. Bento, 160, LisboaAuditório José Gomes Mota

de Novembrode 201318-22[ ]

I Encontro Anual A Europa no Mundo

“Pela Paz !”(1849-1939) Encontro Internacional

Programa

4 de Abril de 2013

Anfiteatro V, 6º Piso, FLUC 9h00 Recepção aos participantes 9h30 Sessão de Abertura 10h00 Conferência Inaugural De la paix du XIX siècle aux guerres du XXe Maurice Vaïsse, (Sciences Po)

Debate 11h15-13h00 Pensar a Paz Anfiteatro V, 6º Piso, FLUC La ‘Belle- Epoque’ du mouvement de la paix à Paris, à la veille de la Grande Guerre : discours et pratiques pacifistes et antimilitaristes pendant les guerres balkaniques de 1912-3 Nicolas Pitsos, (CEB / CREE-INALCO) Lectures de la guerre sous le prisme de la réconciliation: l’exemple de la commémoration de l’Armistice du 11 novembre 1918 après Locarno (1925-1932) Christina Theodosiou, (Université Paris I Panthéon-Sorbonne/IRSEM) Pacifismo, antifascismo y neutralidad: la Suiza en la guerra civil española (1936-1939) Francesco Scomazzon, (FMD) Debate

II ENCONTRO DEARQUIVOS CONTEMPORÂNEOS

22 e 23 OUTUBRO 2013

INVESTIGAÇÃO EARQUIVOS DIGITAIS

A investigação está, cada vez mais, interligada, ou mesmodependente, da disponibilização de arquivos na internet.Do mesmo modo, os arquivos definem a sua política deacesso, cada vez mais, em função da sua capacidade decolocar os respectivos fundos documentais à consulta nainternet.Esta dupla realidade não é, porém, linear:• Os arquivos digitais não compreendem muitas vezes atotalidade dos documentos existentes nos arquivostradicionais;• A organização dos arquivos digitais nem sempre seguea organização dos documentos originais;• Os instrumentos de pesquisa e/ou de contextualizaçãodos arquivos digitais são variáveis e nem sempre de acessoevidente ou fácil;• Os investigadores usam muitas vezes, no seu acessoaos arquivos em suporte digital, métodos de pesquisa econsulta mais próximos dos arquivos tradicionais.Na verdade, são frequentes as falhas de comunicação entreos investigadores e os gestores de portais de arquivos emsuporte digital, ignorando mutuamente necessidades einstrumentos pretendidos ou não criando interfacessuscetíveis de melhorar a rentabilização pelosinvestigadores do acesso aos portais de arquivos digitais.A relevância desta matéria e as experiências em cursojustificam que se dedique este II Encontro de ArquivosContemporâneos, que se realiza nos dias 22 e 23 deOutubro de 2013, no Auditório da Biblioteca Nacionalde Portugal, à apresentação e ao debate das soluçõesimplantadas e das suas perspetivas de afirmação,desenvolvimento e cooperação.O objetivo principal da escolha deste tema é o reforço daarticulação entre os investigadores e os arquivos digitais,visando especialmente a melhoria da compreensão daspotencialidades existentes, das respetivas necessidades ede eventuais projetos de colaboração.

AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL

II ENCONTRO DE ARQUIVOS CONTEMPORÂNEOS

APOIO

ORGANIZAÇÃO

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INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

Com 18 anos de actividade, o Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Ne-ves (CEABN), do Instituto Superior de Agronomia (ISA), aposta continua-

mente na produção de conhecimento científico para uma sociedade mais sustentável, partici-pando no Laboratório Associado INBIO, recen-temente criado para contribuir para a manuten-ção da Biodiversidade em Portugal.

Os trabalhos desenvolvidos em Gestão do Fogo, uma das áreas de investigação do CEABN (www.isa.utl.pt/ceabn) têm fornecido as bases cien-tíficas necessárias para a tomada de decisões políticas e de gestão relacionadas com o uso

O projecto Europeu MATRIX: a resiliência aos incêndios florestais

sustentado dos recursos florestais. Nesta pers-pectiva, a equipa deste centro coordenou o maior projecto europeu na área dos fogos flo-restais, o FIRE PARADOX, cujos resultados mui-to contribuíram para mudanças substanciais na utilização do fogo como ferramenta de preven-ção e combate aos incêndios florestais (consul-te-se o site www.fireparadox.org).

O CEABN tem também integrado projectos na-cionais e europeus com o objectivo de desenvol-ver investigação que minimize o risco de incên-dio florestal sendo os mais recentes exemplos o o projecto “ENHANCE – Potenciar parcerias para a gestão do risco das catástrofes naturais na

Europa” (www.enhanceproject.eu) e o projecto “MATRIX – Novos métodos de avaliação de mul-ti-riscos e multi-probabilidades para a Europa” (http://matrix.gpi.kit.edu/) em que o Centro de-senvolve a problemática dos incêndios no con-texto das outras catástrofes naturais.

De facto, ao analisar os incêndios florestais enquanto risco natural no conjunto de outros eventos naturais extremos como terramotos, derrocadas, erupções vulcânicas, inundações, tempestades, adopta-se uma abordagem inova-dora na melhoria das medidas de redução de risco e no aumento da resiliência das socieda-des aos desastres naturais.

Através do estudo da interdependência entre os diferentes tipos de fenómenos oferece-se uma visão abrangente das catástrofes naturais que frequentemente assolam as diferentes regiões da Europa e colocam em perigo as populações. Em Portugal, o destaque foi para a análise do ano de 2003, com 425 mil hectares de área ar-dida e 548 casas destruídas, das quais 23% pri-meira habitação, 39% segunda residência e só 19% não ocupadas. Estudaram-se em particular os concelhos da Chamusca, Mação e Monchique como os principais visados pelos incêndios flo-restais desse ano. Através do estudo da comparação de 80 casas destruídas pelo fogo com 80 outras casas nas mesmas condições que sobreviveram à passagem do fogo concluiu-se existirem algumas caracte-rísticas determinantes para a sua sobrevivência.

Por outro lado, com base em entrevistas à popu-lação e aos agentes intervenientes procurou-se estudar a vulnerabilidade social nas perspecti-vas de preparação, adaptação e recuperação a seguir ao incêndio.

Como é que a população se prepara face a um incêndio? Como se defende? Quais os custos as-sociados aos incêndios? Como se recuperam as habitações? Quanto tempo demora a recupera-ção? Todas estas questões foram investigadas no âmbito do projecto MATRIX por forma a au-mentar a resiliência física e social das popula-ções ao risco de incêndio.

Conclui-se que características como a liderança e inter-ajuda durante o incêndio e no processo de recuperação e o aumento da consciência do risco são condições fundamentais para a resi-liência das populações. Questões como partilha de custos e seguros foram abordadas e desen-volvimentos recentes estão a ser analisados.Estes temas serão apresentados e discutidos no Salão Nobre do Instituto Superior de Agro-nomia (Tapada da Ajuda) em Lisboa, no dia 11 de Dezembro às 14 horas no seminário “Incên-dios Florestais: multi-riscos e multi-parcerias”, sessão organizada pelo CEABN e a Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais (SPCF). Os in-teressados deverão contactar a SPCF através do e-mail: [email protected]

Francisco Castro RegoCoordenador do CEABN

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Mação, verde horizontenecessidades especiais, serviços básicos, habita-ção e urbanismo, educação e formação, transpor-tes, cultura, desporto, lazer e tempo livre, relações institucionais, cooperação e participação social.Vasco Estrela acedeu ao repto do País Positivo e serviu de guia num périplo pelo concelho cujos desígnios políticos lidera.

Em que medida se traduzirá a distinção de Ma-ção enquanto Município Mais Familiarmente Res-ponsável em qualidade de vida para os habitantes deste concelho?Esta distinção é, para nós, o reconhecimento de um esforço significativo que temos levado a efeito em prol do bem-estar das famílias e, naturalmen-te, da sua qualidade de vida. Entendemos que este é um bom exemplo, aquele que nos é possível dar, de apoio aos nossos Munícipes e, felizmente, hou-ve uma organização independente que também o entendeu. Temos feito esforços ao longo dos últi-mos anos, no sentido de podermos proporcionar às pessoas que vivem no concelho a maior quali-dade de vida possível, de forma a que se sintam bem e aqui possam fazer a sua vida, criar os seus filhos, ter as suas casas, os seus negócios e es-tabilizarem quer pessoal, quer profissionalmente.

Em que se traduzem esses esforços?Traduzem-se numa série de apoios transversais que são concedidos às famílias. Apoiamos as crianças quando nascem, no jardim-de-infância, nomeadamente com aulas gratuitas de educação física e de inglês a partir dos três anos, cedemos transportes gratuitos a partir do pré-escolar, ire-mos começar a oferecer refeições escolares, pre-miamos os melhores alunos, levando-os à Univer-sidade Júnior do Porto de forma gratuita, fazemos uma viagem à Europa para os estudantes do Con-celho do 9.º ao 12.º ano, podendo incluir também estudantes do ensino superior, temos o IMI mais baixo do país, com uma taxa de 0,25 por cento, temos um serviço de orientação psicológica e clí-nica gratuito para os estudantes, terapia da fala… Também apoiamos financeiramente a frequência da creche, trazemos os nossos idosos de fora da sede do concelho para frequentarem a piscina municipal, oferecemos ginástica de manutenção, complexos desportivos, campo de futebol relvado, pavilhão municipal e campo de ténis, tudo gra-tuito… Um conjunto de medidas que, agrupadas, representam algo substancial para um município como este e contribuem para que aqui se possa ter uma qualidade de vida muito aceitável a cus-tos mais baixos.

Calculo que exista na autarquia uma especialida-de designada engenharia financeira…Também passa por aí… Evidentemente, estas questões custam dinheiro, aliadas ao facto de não lançarmos derrama sobre o lucro das nossas em-presas e de a nossa comparticipação de IRS ser de apenas quatro por cento. Mas, como em tudo na vida, isto é feito de opções. Poderíamos optar por embelezar muito mais a nossa vila e por inves-tir no urbanismo de forma a tornar mais atractiva e, se não prescindíssemos de uns largos milha-res de euros materializados nos apoios que re-feri, poderíamos ter muitas dessas insuficiências

O Concelho de Mação, situado na sub--região do Médio Tejo, estende-se por uma área de 405 quilómetros quadra-dos, onde residem cerca de 7000 habi-

tantes. O concelho é servido pela linha ferroviária da Beira Baixa e pela E.N.3. Com a abertura da A23, que atravessa o seu território, o Mação me-lhorou muito as suas acessibilidades. A 77 quiló-metros de Santarém, para Norte a 30 quilómetros de Abrantes e a 170 quilómetros de Lisboa, fica Mação, situado no vértice de três regiões: Beira Baixa, Ribatejo e Alentejo. Toda esta região, ligada fisicamente à Beira Baixa, remonta ao período do Paleolítico, na Pré-história, era da qual se encon-tram muitos vestígios. Cabe neste momento a Vasco Estrela, edil local, a conjugação do necessário equilíbrio para, ao ser-viço da autarquia, potenciar a riqueza histórica e a preservação de um já muito aceitável nível de qualidade de vida que o município tem para ofe-recer, como o atesta o título de Município Mais Fa-miliarmente Responsável, atribuído em 2013 pelo Observatório das Autarquias Familiarmente Res-ponsáveis. Esta distinção premeia as autarquias que desenvolvem uma eficaz política de apoio e ajuda às famílias, sobretudo as mais numerosas. A selecção das edilidades premiadas tem em conta os mais diversos critérios, entre os quais o apoio à maternidade e paternidade, apoio às famílias com

Rico em paisagem, património histórico e cultural e em gastronomia – aqui se produz 70 por cento do presunto nacional mas tam-bém são afamadas as azeitonas, enchidos frios e o queijo de cabra e de ovelha. Os pratos de carne incluem o Cabrito Assa-do em forno a lenha à moda de Mação, o fei-jão de matança e o bucho recheado. Contem-plando a estreita relação com o rio temos o arroz de lampreia, o sável na telha, o achigã grelhado, a sopa à pescador, o ensopado de saboga e o ensopado de enguia, que se po-dem encontrar em restaurantes da especia-lidade na zona da barragem de Ortiga e em Mação. Como acompanhamentos nada me-lhor do que migas e/ou açorda de ovas e um bom vinho. No que respeita à doçaria não de-vem ser esquecidas as tigeladas de Cardigos, o mel, o bolo dos santos, as fofas de Mação (cavacas) e os torrados. Uma boa oportunidade para provar esta gastronomia, rica, saborosa e variada, com os seus pratos típicos, é o Festival do Azeite Novo, Migas e Almeirão que decorre em nove restaurantes do concelho até ao final do ano.

Vale a pena provar

Vasco Estrela, Presidente da Câmara Municipal de Mação

colmatadas. É uma questão de decisão política, sancionada pelos órgãos autárquicos e, recente-mente, nas últimas eleições, em que as pessoas entenderam que estávamos a gerir bem e a tomar as melhores opções. E, apesar de tudo isto, somos das câmaras menos endividadas do país.

Num mandato que se presume de continuidade, que principais novidades poderão esperar os mu-nícipes de Mação deste exercício?Eu acompanhei Saldanha Rocha nos últimos cin-co anos, enquanto Vereador, com muito orgulho e sou cúmplice naquilo que de bom e menos bom foi feito. Muitos projetos irão continuar, sendo certo que cada pessoa tem o seu estilo e a sua maneira de ser e trabalhar. Os tempos também vão evoluindo, neste caso e infelizmente, na parte económica, em sentido negativo, portanto, temos que nos ir adaptando. É evidente que muito do que foi feito é para continuar mas também exis-tem políticas e medidas a implementar. Estamos perto do início de um novo quadro comunitário de apoio em que cerca de 50 por cento dos fundos são destinados às empresas e é obrigação da câ-mara, cada vez mais, ser um embaixador e um par-ceiro ativo junto dos agentes económicos. Temos de ir ter com os nossos empresários, com aqueles milhares de maçaenses espalhados pelo país e pelo mundo, tentar convencê-los de que esta ter-ra está aberta para os receber, que poderão existir mecanismos para o fazer e que a câmara será um facilitador dessas medidas. Teremos que potenciar uma câmara cada vez mais aberta a este tipo de políticas de apoio concreto às empresas. Não exis-te outra forma de fixar pessoas se não houver em-prego. Também promoveremos políticas direccio-nadas para o território e para o que temos de mais importante, a nossa floresta, os produtos com esta relacionados, as fileiras mais importantes, o turis-mo de natureza e de nichos, os nossos rios e ribei-ras. Pretendemos compilar tudo isto de uma forma sistematizada e coerente para que possamos tirar partido do nosso território e, através de interven-ções concretas, criar e trazer riqueza.

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Montalegre, uma janela de oportunidadesdócil, frugal, que era carne que no século XVIII a corte inglesa se alimentava. O cabrito de barroso, o cordeiro de barroso, o fumeiro de barroso, há uma série de produtos com denominação de origem. A batata semente do barroso caiu, deixou de ter mer-cado, mas vamos retomá-la já no próximo plano de atividades e orçamento, criando uma base de pro-dutores a quem iremos oferecer a semente, iremos associar-nos a uma empresa de certificação, crian-do laboratórios onde seja feita uma análise per-manente da terra e dos produtos. Ou seja, há um conjunto de produtos com denominação de origem que não estão ainda, por mais esforços que tenha-mos feito, suficientemente valorizados, promovidos ou aproveitados comercialmente, e essa é a tarefa que agora nos espera e que nos iremos entregar de corpo e alma”.

A proximidade com EspanhaApesar da proximidade com os espanhóis, Orlando Alves afirma que não tem sido fácil comercializar lá os produtos da região. “Nós temos procurado in-tensificar relações a todos os níveis com os nossos vizinhos, mas não é fácil. A única coisa com que te-mos tido sucesso é com as provas do Campeonato da Europa de Ralicross e que em 2014 serão da Eu-ropa e do Mundo. Agora de resto, não conseguimos. Eles vão aparecendo e nós temos responsabilidade de os cativar. Ainda não descobrimos, ao nível da restauração, os nossos empresários da restauração ainda não descobriram como cativá-los, porque eles têm poder de compra. Nós não podemos abrir um restaurante a pensar só nos da terra, que es-tão empobrecidos, que estão sem dinheiro. Neste aspecto temos falhas. Obviamente que a autarquia assume as falhas que lhe cabem, mas também fri-so que temos feito ao longo dos anos uma grande campanha de sensibilização ao nível da restau-ração, mas que não tem tido o necessário suces-so que se impunha. Em Espanha há muita gente que gosta de comer bem, mas que também quer ser bem servido. Neste caso, o serviço é que falha”.

A desertificaçãoO interior do país está a viver uma grave crise de desertificação e esta crise que o país atravessa tem-se sentido particularmente na região. Orlando Alves refere que “as políticas do Estado não estão a ajudar em nada, apenas a agravar este problema”. O nosso entrevistado acaba por citar Sá de Miranda, que já no século XVI dizia: «Não me temo de Cas-tela / Donde guerra inda não soa, /Mas temo-me de Lisboa, / Que ao cheiro desta canela / O Reino nos despovoa.». Afirma também que “estamos a vi-ver exatamente uma situação semelhante. Com a façanha das descobertas, com a epopeia das des-cobertas, o interior do país despovoou-se. Lisboa, na altura, há documentos que o comprovam, che-gou a ser uma das oito maiores cidades do mun-do. A pujança económica do nosso país era notável. Hoje é igual, só que quem vai para Lisboa não vai para ficar melhor do que estaria se ficasse na sua

A gastronomiaSe há produto bem conhecido nacionalmente é a carne barrosã devido à sua qualidade. De forma a projetar os produtos da região, a autarquia pro-moveu em Lisboa e irá também fazê-lo no Porto, a Feira do Fumeiro, que se realizará entre os dias 23 e 26 de Janeiro. O nosso entrevistado justifica esta necessidade com a existência de mais de duzentos e trinta produtores de fumeiro. “Com tantos produ-tores, o produto não é homogéneo, porque cada produtor tempera de uma maneira, tem segredos que usa. Não é aquele produto que todos os dias sai da fábrica com o mesmo tempero, com a mes-ma cor, com o mesmo sabor. Foi este o nosso mote para se fazer a Feira do Fumeiro em Montalegre, que mobiliza cerca de setenta a oitenta mil pes-soas nesse fim-de-semana e que gera um bom fun-do de receitas, e que sobretudo tem a vantagem, ou a particularidade de evitar que pelo menos essas duzentas famílias tivessem emigrado”.No entanto, Montalegre não é só isto. Temos o monumento vivo que é o gado barrosão, um gado

terra, porque lá esta a indigência, lá esta a margi-nalidade, lá esta a criminalidade. Quem diz Lisboa, diz toda a faixa litoral que penso que é a faixa para onde esta toda a gente a querer encaminhar-se. Obviamente que isto resulta do mau tratamento que a República dá aos seus filhos”.O presidente da Câmara reforça a preocupação com o rumo que as coisas estão a tomar. “Chega-mos a um ponto perigoso, um ponto de ruptura e sem retorno. Neste momento o problema que se coloca ao interior do país é: Como vamos fixar ali as pessoas? Dois terços do território estão a ficar abandonados. Quem é que vai olhar por dois terços do território? São os espanhóis? Lisboa devia estar a começar hoje a pensar nestas coisas. Lisboa e as autarquias. Devíamos estar hoje todos de mãos da-das a pensar nisto. Não o fizemos, e se começarmos amanhã já vamos com muito atraso. Se o Estado se retira desse dois terços de território, se o Esta-do abandona as populações, é um mau exemplo, isso não é política, não é de salutar, não é estra-tégia. Vamos ter situações complicadas, vamos ter se calhar um mandato no interior em que vamos estar a reclamar do país, a protestar contra Lisboa e a dizer que a imbecilidade já é demasiado gran-de para que nos calemos. Vamos assistir ao reforço das políticas e das medidas que conduzem a um fim inevitável: vamos abandonar aquelas gentes, vamos abandonar o território, o Estado vai deixar de marcar ali a sua presença e ali já não é Portugal. Se é isso que se pretende, é para isso que estão a caminhar. Eu espero que não tenhamos necessi-dade de um segundo resgate, porque se assim for, certamente, que ai as coisas vão doer ainda muito mais e eu temo que os serviços no interior do país encerrem todos e nós fiquemos completamente abandonados à nossa sorte”.

Montalegre tem muito para ver e experimentar O nosso entrevistado enuncia as potencialida-des do concelho que preside, afirmando que “não é num dia que se vê Montalegre, mas pelo menos em oito dias. Temos duas realidades dis-tintas: o Alto Barroso e o Baixo Barroso, zonas com especificidades e características muito di-ferentes. No Baixo Barroso temos localidades a trezentos metros de altitude, já com azeitonas, laranjas, entre outras. O Alto Barroso, para quem goste de sentir a ruralidade basta fazer uma in-cursão, aleatoriamente, em cada uma das nos-sas aldeias, ir à procura do forno do povo e ter a sorte de encontrar um que tenha acabado de fa-zer uma fornada e sentir o cheirinho do pão, ter a sorte de encontrar os rebanhos ou gado a sair que vão para o monte, ter a sorte de encontrar pessoas no rossio da aldeia e entabular con-versação com elas, ter a sorte de poder entrar numa das muitas igrejas e capelas – algumas delas com valor patrimonial significativo -, ter a sorte de ir a Vilar de Perdizes e encontrar o Pa-dre Fontes a jogar a sueca e ter ali uma conver-sinha, ter a sorte de chegar a Pitões e apanhar

Orlando Alves, Presidente da Câmara de Montalegre

No Alto de Trás-os-Montes, entre Es-panha, Chaves, Boticas, Cabeceiras de Basto, Vieira do Minho e Terras de Bou-ro encontramos Montalegre, um local

privilegiado pela sua paisagem e tradição.Orlando Alves, presidente da Câmara de Montalegre, declara que “há qualidade de vida na região, porque tivemos a sorte de viver durante muitos anos isolados do todo nacional, aqui encastrados nas serranias que nos envolvem, soubemos manter e valorizar os nos-sos costumes, soubemos valorizar os nossos produtos, soubemos alimentar-nos como deve ser, temos bom ar, bom ambiente, património, paisagem, e até, qual cereja no topo do bolo, temos também um terço da área total do Parque Nacional Peneda Gerês”.Aqui, com estas condições, o turismo de massas é descartado, até porque “a parte do parque que é ter-ritório integrante do concelho de Montalegre e que é curiosamente, aquilo que o parque tem de am-biente rural mais profundo, é aquilo que pode ser potenciado para um aproveitamento turístico mais forte, mas direcionado para fora da massificação”.

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neve, ou de chegar a Tourém e de ter a oportu-nidade de ir visitar a casa dos Braganças, onde estão ainda os buracos na pedra onde estavam os canhões para as pessoas se defenderem nas guerras peninsulares”. Para quem efetivamente aprecia natureza, há o Parque Nacional Pene-da Gerês e ir ver, por exemplo, o Fojo do Lobo. “Não temos muitos monumentos de tirar muitas fotografias. Agora temos é uma ruralidade mui-to forte, muito vincada e é isso que temos para oferecer. Aqui faz-se pesca, caça. Quem quiser respirar ar puro não precisa de grandes incur-sões no território, mas quem quiser ir apanhar uma panorâmica de um território confinante com Espanha e com um número de concelhos à volta, sobe à Serra do Larouco que é o segun-do ponto mais alto de Portugal continental, e apanha, vê, sente o que é o frio de Montalegre”. Quem quiser pode ir a Fiães do Rio e ir ver a casa onde nasceu primeiro secretário-geral do Partido Comunista Português que foi morto no Tarrafal, Bento Gonçalves. Quem quiser ir ao Baixo Barroso e ver em Salto por onde andou D. Nuno Alvares Pereira e onde ele terá ensaiado, assim o diz a tradição, a tática do quadrado que usou em Aljubarrota, há na toponímia espaços que consagram toda essa passagem. Quem qui-ser pode ir ver o Pisão onde se fazia o borel, a capucha que se usava na serra. “O que é preciso é que venham pessoas que tenham vontade e olhos para ver, porque o território será sempre um território com um potencial turístico muito grande, mas para os aventureiros, para as pes-soas que gostem da montanha, que gostem de história, que saibam olhar a um pedra e saber que e granito puro e que ali uma forma que as encanta e que permite uma fotografia”.

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