19 - a interferencia da escrita e a importancia da retorica_com indentificação

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1 A INTERFERÊNCIA DA ESCRITA E A IMPORTÂNCIA DA RETÓRICA COMO INSTRUMENTO DE PODER NO DIREITO GREGO ANTIGO Haldrey Vicente Nascimento Silva 1 ; Almir Borba Neto 2 ; Leandro Marco Polo 3 ; Carleandro 4 ; Marco Aurélio 5 ; Juliana 6 ; Álvaro dos Santos Maciel (Orientador) 7 1 Discente de Direito Faculdade de Balsas/UNIBALSAS [email protected] 2 Discente de Direito Faculdade de Balsas/UNIBALSAS [email protected] 3 Discente de Direito Faculdade de Balsas/UNIBALSAS [email protected] 4 Discente de Direito Faculdade de Balsas/UNIBALSAS [email protected] 5 Discente de Direito Faculdade de Balsas/UNIBALSAS [email protected] 6 Discente de Direito Faculdade de Balsas/UNIBALSAS [email protected] 7 Docente de Direito Faculdade de Balsas/UNIBALSAS [email protected] RESUMO O artigo constitui uma contribuição ao estudo da história do direito, centrado no objetivo de destacar a importância do Direito grego no desenvolvimento das civilizações futuras. É demonstrado que ocorreu na Grécia, em especial em Atenas, a revolução intelectual que gerou o conceito de um direito igual para todos os cidadãos. A história da Grécia se revela importante para o Direito contemporâneo, devido às inovações e criações que contribuíram para uma constante evolução. Encontra-se na retórica grega um importante instrumento de persuasão jurídica. É visto que, o surgimento da escrita foi o responsável pela criação das codificações e das leis que também eram utilizadas como um meio de convencimento nas cidades. Conclui- se que essa revolução intelectual, juntamente a evolução política da polis, conduziu a uma séria democratização dos direitos dos cidadãos. Palavras-chave adicionais: História; Direito Grego; Escrita. INTRODUÇÃO O Direito Grego inicia com o surgimento da polis (cidade) e vai até o surgimento dos reinos helenísticos. Dentre as polis existentes na Grécia Antiga, a que mais se destacou foi Atenas. Foi nela que a democracia melhor se desenvolveu e o Direito atingiu sua mais perfeita forma quanto à legislação e processo. Logo após o surgimento da moeda na Grécia, a escrita foi quem surgiu como uma nova tecnologia, a qual possibilitou a codificação das leis e a sua divulgação nos muros das cidades. Cabendo assim a compilar as tradições e os costumes, modificá-los e apresentar uma estrutura legal em forma de leis codificadas. O Direito grego é antes de tudo um Direito retórico. E é aqui que reside à problemática. Afinal, para muitos doutrinadores, o Direito ser um instrumento apenas retórico em nada contribui para o avanço da disciplina. Ocorre que nesta época a escrita ainda estava em seu início, o que deflagrava grandes dificuldades, tais qual o custo do material para escritura e a produção de obras para consumo. Por volta do século IV a.C. o povo grego começou a exigir leis escritas para assegurar melhor justiça por parte dos Juízes. A finalidade deste clamor era remover a concretização das leis do controle de um grupo restrito de pessoas mais abastadas e colocá-la em lugar aberto e acessível a todos. Justifica-se, portanto, a presente pesquisa na medida em que se demonstra que o Direito se pratica através da eloqüência verbal e da escrita, tendo por sua gênese o Direito Grego. Para tanto os objetos principais é demonstrar de que maneira era praticada a persuasão jurídica na Grécia e como a escrita interferiu na criação dos primeiros compilados jurídicos. MATERIAL E MÉTODOS O livro base utilizado para a pesquisa foi “Fundamentos de História do Direito”, de Antonio Carlos Wolkmer, 3ª edição, Editora Del Rey, publicado em 2005.

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Page 1: 19 - A Interferencia Da Escrita e a Importancia Da Retorica_com Indentificação

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A INTERFERÊNCIA DA ESCRITA E A IMPORTÂNCIA DA RETÓRICA

COMO INSTRUMENTO DE PODER NO DIREITO GREGO ANTIGO

Haldrey Vicente Nascimento Silva 1

; Almir Borba Neto 2

; Leandro Marco Polo 3

;

Carleandro 4

; Marco Aurélio 5

; Juliana 6

;

Álvaro dos Santos Maciel (Orientador)7

1 Discente de Direito – Faculdade de Balsas/UNIBALSAS – [email protected]

2 Discente de Direito – Faculdade de Balsas/UNIBALSAS – [email protected]

3 Discente de Direito – Faculdade de Balsas/UNIBALSAS – [email protected] 4 Discente de Direito – Faculdade de Balsas/UNIBALSAS – [email protected]

5 Discente de Direito – Faculdade de Balsas/UNIBALSAS – [email protected]

6 Discente de Direito – Faculdade de Balsas/UNIBALSAS – [email protected] 7 Docente de Direito – Faculdade de Balsas/UNIBALSAS – [email protected]

RESUMO

O artigo constitui uma contribuição ao estudo da história do direito, centrado no objetivo de destacar a

importância do Direito grego no desenvolvimento das civilizações futuras. É demonstrado que ocorreu na

Grécia, em especial em Atenas, a revolução intelectual que gerou o conceito de um direito igual para todos

os cidadãos. A história da Grécia se revela importante para o Direito contemporâneo, devido às inovações e

criações que contribuíram para uma constante evolução. Encontra-se na retórica grega um importante

instrumento de persuasão jurídica. É visto que, o surgimento da escrita foi o responsável pela criação das

codificações e das leis que também eram utilizadas como um meio de convencimento nas cidades. Conclui-

se que essa revolução intelectual, juntamente a evolução política da polis, conduziu a uma séria democratização dos direitos dos cidadãos.

Palavras-chave adicionais: História; Direito Grego; Escrita.

INTRODUÇÃO

O Direito Grego inicia com o surgimento da polis (cidade) e vai até o surgimento dos

reinos helenísticos.

Dentre as polis existentes na Grécia Antiga, a que mais se destacou foi Atenas. Foi nela

que a democracia melhor se desenvolveu e o Direito atingiu sua mais perfeita forma quanto à legislação e

processo.

Logo após o surgimento da moeda na Grécia, a escrita foi quem surgiu como uma nova

tecnologia, a qual possibilitou a codificação das leis e a sua divulgação nos muros das cidades. Cabendo

assim a compilar as tradições e os costumes, modificá-los e apresentar uma estrutura legal em forma de leis

codificadas.

O Direito grego é antes de tudo um Direito retórico. E é aqui que reside à problemática.

Afinal, para muitos doutrinadores, o Direito ser um instrumento apenas retórico em nada contribui para o

avanço da disciplina. Ocorre que nesta época a escrita ainda estava em seu início, o que deflagrava grandes

dificuldades, tais qual o custo do material para escritura e a produção de obras para consumo.

Por volta do século IV a.C. o povo grego começou a exigir leis escritas para assegurar

melhor justiça por parte dos Juízes. A finalidade deste clamor era remover a concretização das leis do

controle de um grupo restrito de pessoas mais abastadas e colocá-la em lugar aberto e acessível a todos.

Justifica-se, portanto, a presente pesquisa na medida em que se demonstra que o Direito

se pratica através da eloqüência verbal e da escrita, tendo por sua gênese o Direito Grego. Para tanto os

objetos principais é demonstrar de que maneira era praticada a persuasão jurídica na Grécia e como a escrita

interferiu na criação dos primeiros compilados jurídicos.

MATERIAL E MÉTODOS

O livro base utilizado para a pesquisa foi “Fundamentos de História do Direito”, de

Antonio Carlos Wolkmer, 3ª edição, Editora Del Rey, publicado em 2005.

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Quanto aos objetivos, a pesquisa foi exploratória e descritiva.

O método utilizado no artigo foi o monográfico.

Resultado e discussão

Nos meados do século IV a.C., o povo grego começou a exigir que as leis fossem escritas

para assegurar uma justiça “justa” por parte dos Juízes. A nova tecnologia, a escrita, era um instrumento de

poder sobre o povo.

O acervo bibliográfico apresenta que os dois principais legisladores de Atenas foram

Drácon e Sólon.

Drácon fornece a Atenas o seu primeiro Código de leis, que ficou conhecido por sua

severidade nas leis relativas ao homicídio. Deve-se a Drácon a introdução dos importantes princípios de

Direito Penal como a distinção entre os diversos tipos de homicídio, diferenciando entre homicídio

voluntário, homicídio involuntário e o homicídio em legítima defesa.

Por sua vez, Sólon além de alterar alterado o Código de Drácon, fez também uma reforma

institucional, social e econômica. No campo econômico, Sólon reorganiza a agricultura, incentivando a

cultura da oliveira e da vinha e ainda a exportação do azeite. No aspecto social, entre as várias medidas, são

de particular interesse aquelas que obrigavam os pais a ensinarem um ofício aos filhos; caso contrário, estes

ficariam desobrigados de os tratarem na velhice; a eliminação de hipotecas por dívidas e a libertação dos

escravos pelas mesmas e a divisão da sociedade em classes. Atrai também artífices estrangeiros com a

promessa de concessão de cidadania.

Os gregos limitaram-se apenas à tarefa de legislar (criação de leis) e administrar a Justiça

pela resolução de conflitos (direito processual). As leis gregas foram categorizadas como crimes, família,

pública e processual.

A importância dada pelos gregos à parte processual do Direito é evidenciada por

Aristóteles em sua Constituição de Atenas quando, ao se referir às três mais populares reformas democráticas

de Sólon, declara:

Ao que parecem essas três constituem as medidas mais populares do regime de Sólon:

primeiro, e a mais importante, a proibição de se dar empréstimo incidindo sobre as pessoas;

em seguida, a possibilidade, a quem se dispusesse, de reclamar reparação pelos

injustiçados; e terceiro, o direito de apelo aos tribunais, disposição esta referida como a que

mais fortaleceu a multidão, pois quando o povo se assenhoreia dos votos, assenhoreia-se do

governo. (WOLKMER, 2005, p. 87.)

No direito processual, a forma de mover uma ação tinha uma diferenciação, pois existia a

ação pública (graphé) e a ação privada (diké). A ação pública podia ser iniciada, por qualquer cidadão que se

considerasse prejudicado pelo Estado. A ação privada era um debate jurídico entre dois ou mais litigantes,

reivindicando um direito ou contestando uma ação, e somente as partes envolvidas podiam dar início à ação.

Em um de seus livros, S. C. Todd, refere-se ao direito de Atenas declarando que:

Em Atenas, contudo, a administração da justiça foi mantida, tanto quanto possível, nas

mãos de amadores, com o efeito (e talvez também o objetivo) de permanecer barata e

rápida. Todos os julgamentos eram aparentemente completados em um dia, e os casos

privados muito mais rápido do que isso. Não era permitido advogado profissional; e embora

a arte dos logógrafos tendesse, na prática, a burlar essa regra, nenhum litigante corria o

risco de admitir que seu discurso fosse na realidade um discurso „fantasma‟ feito por um

orador profissional. O presidente da corte não era um profissional altamente remunerado,

mas um oficial designado por sorteio. (TODD, 1995, p. 77-78)

A retórica de persuasão é uma particularidade do Direito grego antigo. Tal mecanismo era

utilizado na parte processual, em que os litigantes se enfrentavam através da retórica, diante de um júri

popular.

A história revela que o Tribunal do Direito grego era formado por um júri composto por

centenas de cidadãos comuns. A votação era feita imediatamente após a apresentação dos litigantes, sem

deliberação. A decisão final do julgamento era dada por votação secreta, que refletia a vontade da maioria. O

julgamento resumia-se a um exercício de retórica e persuasão.

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Uma das grandes características do Direito grego foi o uso dos logógrafos. Sobre eles,

Wolkmer ao embasar-se em William Forsyth menciona:

As pessoas de Atenas que correspondem mais perto a nossa idéia de advogado, não eram os

oradores nos tribunais, mais aqueles que forneciam discursos para os clientes (logógrafos)

para serem apresentados pelas partes em seu próprio beneficio. (WOLKMER, 2005,

p.92)

A retórica dos logógrafos tornou-se um dos mais eficazes meios de persuasão e tem sido

discutida e analisada como uma das grandes fontes do Direito grego antigo que até os dias atuais influencia

os ordenamentos jurídicos mundiais.

É importante esclarecer ainda, que alguns fatores contribuíram para o obscurecimento do

Direito grego ao longo da história. O primeiro fator que cabe ressaltar, é a recusa do povo grego em aceitar a

profissionalização do Direito através da figura do advogado que, quando existia, não podia receber

honorários; o outro fator que merece destaque é que os gregos preferiam falar a escrever.

CONCLUSÃO

Conclui-se que o presente estudo é de grande relevância para os estudantes de direito,

pois traz em seu contexto as raízes do Direito grego e suas respectivas contribuições, ou seja, revela como

surgiram as primeiras legislações e os principais acontecimentos jurídicos.

Percebe-se que os gregos, se forem analisadas as condições da época, tiveram um Direito

evoluído. Deste modo, houve uma significativa contribuição para que o Direito Romano pudesse influenciar

os conceitos e as práticas jurídicas que são utilizadas até os dias atuais. Os maiores exemplos encontram-se

na instituição dos júris populares, e a figura do advogado, que ainda que não fosse “profissionalizado”

colaborou com o desenvolvimento do Direito e influenciou a história do ordenamento jurídico ocidental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de história de direito, 3. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Del

Rey, 2005.

TODD, S. C. The shape of Athenian Law. Oxford: Clarendon Press, 1995.