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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE O EFEITO DA INTERFERÊNCIA CONTEXTUAL NA AQUISIÇÃO DA HABILIDADE “SAQUE” DO VOLEIBOL EM CRIANÇAS: TEMPORÁRIO, DURADOURO OU INEXISTENTE? Cássio de Miranda Meira Jr. SÃO PAULO 1999

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA DE EDUCAO FSICA E ESPORTE

    O EFEITO DA INTERFERNCIA CONTEXTUAL NA

    AQUISIO DA HABILIDADE SAQUE DO

    VOLEIBOL EM CRIANAS: TEMPORRIO,

    DURADOURO OU INEXISTENTE?

    Cssio de Miranda Meira Jr.

    SO PAULO

    1999

  • O EFEITO DA INTERFERNCIA CONTEXTUAL NA

    AQUISIO DA HABILIDADE SAQUE DO

    VOLEIBOL EM CRIANAS: TEMPORRIO,

    DURADOURO OU INEXISTENTE?

    CSSIO DE MIRANDA MEIRA JR.

    Dissertao apresentada Escola de

    Educao Fsica e Esporte da Universidade

    de So Paulo, como requisito parcial para a

    obteno do grau de Mestre em Educao

    Fsica.

    ORIENTADOR: PROF. DR. GO TANI

  • Meira Jr., Cssio de Miranda O efeito da interferncia contextual na aquisio da

    habilidade saque do voleibol em crianas: temporrio, duradouro ou inexistente? Cassio de Miranda Meira Junior. So Paulo :

    [s.n.], 1999. xiii, 156p.

    Dissertao (Mestrado) - Escola de Educao Fsica e Esporte da Universidade de So Paulo. Orientador: Prof. Dr. Go Tani.

    1. Interferncia contextual 2. Aprendizagem motora I. Ttulo

  • SUMRIO

    Pgina

    AGRADECIMENTOS

    RESUMO

    ABSTRACT

    1 INTRODUO................................................................................. 11

    2 SOBRE O EFEITO DA INTERFERNCIA CONTEXTUAL.......... 13

    2.1 A prtica variada e a teoria de esquema motor.................................. 13

    2.2 O efeito da interferncia contextual................................................... 16

    2.3 Estudos que investigaram o efeito da interferncia contextual............ 19

    2.3.1 Sntese dos estudos sobre o efeito da interferncia contextual............ 71

    2.4 Por que se acredita que efeito da interferncia contextual ocorre?...... 77

    2.4.1 Hiptese da elaborao ou dos nveis de processamento.................... 77

    2.4.2 Hiptese do esquecimento ou da reconstruo do plano de ao........ 78

    2.4.3 Hiptese da elaborao e hiptese do esquecimento combinadas....... 80

    2.4.4 Hiptese da inibio retroativa.......................................................... 81

    2.4.5 Sntese dos estudos que testaram as hipteses explanativas............... 82

    3 PROBLEMA E JUSTIFICATIVA.................................................... 84

    4 OBJETIVO....................................................................................... 85

    5 HIPTESES..................................................................................... 85

    6 DELIMITAES............................................................................. 86

    7 LIMITAES.................................................................................. 87

    8 ESTUDOS PILOTO.......................................................................... 87

    9 MATERIAL E MTODOS............................................................... 89

    9.1 Sujeitos e grupos experimentais.......................................................... 89

  • 9.2 Variveis de estudo............................................................................ 90

    9.3 Instalao, material e equipamento..................................................... 91

    9.4 Tarefa motora..................................................................................... 93

    9.5 Procedimentos.................................................................................... 102

    9.6 Delineamento experimental................................................................ 103

    10 TRATAMENTO ESTATSTICO...................................................... 105

    11 RESULTADOS.................................................................................. 110

    11.1 Fase de aquisio................................................................................ 110

    11.1.1 Anlise de preciso............................................................................ 110

    11.1.2 Anlise de padro do movimento....................................................... 113

    11.2 Fase de transferncia e reteno......................................................... 117

    12 DISCUSSO E CONCLUSES....................................................... 120

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................... 133

    ANEXOS.......................................................................................... 151

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Go Tani, por orientar-me com imensa sabedoria e respeito.

    Aos meus familiares, pai, me, Fabiana e Norma.

    Rogria Keller, pela compreenso e auxlio.

    Ao Prof. Dr. Edison de Jesus Manoel e ao Prof. Dr. Jos Angelo Barela,

    por todas as contribuies.

    Aos amigos que me ajudaram na coleta dos dados: Rodrigo, Dalton,

    Andra, Carlos, Marina, Osni, Hairton e Edson. Aos avaliadores Herbert, Carlos,

    Rose e Fernando, que com muita pacincia analisaram os padres de movimento.

    Mosavi Aparecida Ribeiro, diretora do SESI de So Caetano do Sul, e

    Marina Dulce Siqueira, coordenadora do Centro Educacional 222 do SESI de So

    Caetano do Sul, que autorizaram o estudo nas dependncias da escola.

    Aos professores de educao fsica do SESI, Miriam e Silvio, e s alunas

    que participaram do estudo.

    Ao amigo Elzio Luiz Perez pelas correes no texto.

    Aos colegas do LACOM e da EEFEUSP (Andra Freudenheim, Andra

    Ximenes, Cssia, Clarisse, Emerson, Ernani, Inara, Lcia, Luciana, Luciano, Lus

    Dantas, Milena, Roberto, Rodolfo, Rose, Selma, Sueli, Umberto e Welber), pela

    contribuio acadmica.

    FAPESP que forneceu o suporte financeiro para a realizao deste

    trabalho (processo n 97/4423-9).

  • RESUMO

    O EFEITO DA INTERFERNCIA CONTEXTUAL NA AQUISIO DA

    HABILIDADE SAQUE DO VOLEIBOL EM CRIANAS: TEMPORRIO,

    DURADOURO OU INEXISTENTE?

    Autor: CASSIO DE MIRANDA MEIRA JNIOR

    Orientador: PROF. DR. GO TANI

    De acordo com o efeito da interferncia contextual (EIC), a prtica variada

    aleatria ou prtica com alta interferncia contextual (abcbcacbabac) proporciona

    pior desempenho de aquisio, porm melhor transferncia e reteno em

    comparao prtica variada em blocos ou prtica com baixa interferncia

    contextual (aaaabbbbcccc). Entretanto, muitas pesquisas no confirmaram

    totalmente o EIC, o que pe em dvida a aplicao do princpio no domnio motor.

    Atravs de um procedimento metodolgico que prolongou a transferncia (aumento

    do nmero de tentativas), o objetivo do presente estudo foi verificar se o EIC um

    fator duradouro, temporrio ou inexistente. Trinta e seis escolares do sexo feminino,

    com idades entre 12 e 14 anos, foram distribudas em dois grupos de prtica variada

    em funo dos resultados de um teste de entrada: grupo aleatrio e grupo em blocos.

    As tarefas de aquisio foram os saques de voleibol por baixo e por cima, a dois

    alvos afixados no solo. A tarefa de transferncia foi o saque japons a um terceiro

    alvo. Todos os saques foram executados a cinco metros da rede. O experimento

  • constou de quatro fases: teste de entrada (oito tentativas), fase de aquisio (288

    tentativas), fase de transferncia (84 tentativas) e fase de reteno (12 tentativas). Os

    resultados das medidas de preciso e de padro de movimento mostraram que no

    houve diferenas estatisticamente significantes entre os grupos em nenhum dos

    blocos do experimento. Logo, a estrutura da prtica variada no influiu de forma

    significante no desempenho da tarefa nova. Ademais, os resultados no deram

    suporte hiptese de MAGILL & HALL (1990), segundo a qual o EIC ocorre

    quando as variaes da tarefa pertencem a programas motores diferentes. Ainda, o

    presente estudo reforou a tendncia de que o EIC no ocorre com crianas e com a

    utilizao de tarefas de campo.

    Palavras-chave: Interferncia contextual, Aprendizagem motora, Saques do voleibol.

  • ABSTRACT

    THE CONTEXTUAL INTERFERENCE EFFECT IN THE ACQUISITION OF

    THE SKILL SERVE IN VOLLEYBALL IN CHILDREN: TEMPORARY,

    LASTING OR NON-EXISTENT?

    Author: CASSIO DE MIRANDA MEIRA JNIOR

    Adviser: PROF. DR. GO TANI

    According to the contextual interference effect (CIE), practicing several

    motor skills under random practice or high contextual interference practice

    (abcbcacbabac) facilitates retention and transfer in comparison to practicing the

    same tasks under blocked practice or low contextual interference practice

    (aaaabbbbcccc). This learning phenomenon has led to a considerable amount of

    research. However, no definite trend in the results has been found, which makes its

    acceptance in the motor learning domain questionable. By extending the transfer

    phase (increasing the number of transfer trials), the aim of this study was to assess

    whether the CIE is temporary, lasting or non-existent. Accordingly, based on the

    scores of the pre-test, thirty-six schoolgirls (12 -14 years of age) were allocated to

    either a blocked or a random group. The acquisition tasks were the underhand and

    overhand volleyball serves, to two targets placed on the floor. The transfer task was

    the round house (Asian floater) volleyball serve to a third target. All serves were

    performed five meters away from the net. The experimental design consisted of four

  • phases: pre-test (eight trials), acquisition (288 trials), transfer (84 trials) and

    retention (12 trials). The results of precision and movement pattern measures did not

    provide support to the CIE, since there were no significant statistical differences

    between the groups in any of the phases. The structure of variable practice did not

    affect the performance of the new task. Likewise, there was no support to the

    MAGILL & HALL (1990) hypothesis that, when task variations involve learning of

    different motor programs, the benefit of random practice over blocked practice

    would be found. Moreover, the present study reinforced the trend that the CIE does

    not take place in children as well as with field tasks.

    Keywords: Contextual interference, Motor learning, Volleyball serves.

  • 1 INTRODUO

    A principal razo pela qual uma pessoa pratica uma habilidade motora

    adquiri-la ou aumentar a capacidade de execut-la em situaes futuras como em

    testes de habilidade, jogos, competies, apresentaes e exibies. Por isso, quem

    planeja e organiza as condies de prtica deve proporcionar uma maior

    probabilidade de desempenho bem sucedido nas situaes futuras em que as

    habilidades que esto sendo aprendidas sero exigidas.

    Nessa perspectiva, o responsvel pelo ensino de habilidades motoras

    precisa mapear algumas questes importantes que permitam otimizar os tipos e a

    quantidade de variao que sero includas na prtica. A variabilidade de prtica,

    como as variaes no ambiente e as variaes da habilidade motora que est sendo

    praticada, tem sido vista como um tipo de prtica que aumenta a chance de sucesso

    no futuro. Por exemplo, quais aspectos da habilidade motora devem ser variados?

    Que quantidade de variao deve ser implementada? Como a variedade de

    experincias deve ser organizada nas sesses de prtica?

    A teoria de esquema motor (SCHMIDT, 1975) fornece subsdios para as

    duas primeiras questes. Os aspectos da habilidade que devem ser variados dizem

    respeito aos parmetros do movimento, como, por exemplo, a fora e a direo.

    Alm disso, essa variabilidade deve ser a mais ampla possvel. Da mesma forma,

    GENTILE (1972, 1987) afirmou que, na aprendizagem de habilidades motoras

    abertas (ambiente instvel), obtida a idia do movimento o aprendiz necessita de

    experincias variadas durante a prtica no que tange aos estmulos regulatrios do

    ambiente (diversificao). Mais recentemente, sob a tica do paradigma dos sistemas

    dinmicos aplicada ao comportamento motor, necessrio ao aprendiz obter

    informaes a respeito do ambiente perceptivo-motor e descobrir solues

    adequadas para resolver o problema dos graus de liberdade.

  • Destarte, partindo do pressuposto que a variabilidade de prtica benfica

    aprendizagem de habilidades motoras, como deve ser organizada a prtica variada

    numa sesso de prtica ou unidade de instruo? Um fenmeno de aprendizagem

    conhecido como o efeito da interferncia contextual (EIC) oferece subsdios para

    solucionar esse problema. Originalmente aplicado aprendizagem verbal, BATTIG

    (1966, 1972) introduziu o termo interferncia contextual para conceituar a

    interferncia que resulta da prtica de uma tarefa dentro do contexto da situao em

    que ela praticada. A interferncia normalmente interpretada como um fator

    negativo, e, portanto, uma situao de baixa interferncia traria mais benefcios de

    aprendizagem. No entanto, BATTIG props o EIC, segundo o qual enquanto a

    prtica com baixa interferncia contextual (prtica variada em blocos) provoca

    melhores performances de aquisio, a prtica com alta interferncia contextual

    (prtica variada aleatria) resulta em melhor reteno e transferncia.

    SHEA & MORGAN (1979) foram os primeiros a investigar o EIC na

    aprendizagem de tarefas motoras e obtiveram confirmao dos resultados

    encontrados por BATTIG (1972). Assim, surgiu a possibilidade de generalizao

    para outras situaes de aprendizagem motora. A partir de ento, com vistas a testar

    o EIC em novas situaes, foram realizadas vrias pesquisas. Todavia, nem todas as

    pesquisas confirmaram totalmente o EIC, indicando a existncia de alguns pontos

    obscuros no entendimento do efeito. Considerando os estudos realizados, o EIC no

    tem obtido confirmao sistemtica em conseqncia de fatores como a abordagem

    terica utilizada, as caractersticas das tarefas e dos sujeitos, as diferentes

    quantidades de prtica e de interferncia, o tamanho das amostras, a sensibilidade

    dos sistemas de pontuao, os testes utilizados, entre outros.

    De igual importncia, uma questo que permanece sem resposta o

    porqu da ocorrncia do EIC. Existem trs hipteses explanativas: a) hiptese da

    elaborao ou dos nveis de processamento, baseada no argumento de que diferentes

  • movimentos a serem aprendidos so armazenados na memria de curto prazo e que,

    em cada tentativa, o indivduo deve identificar quais das representaes de

    movimentos armazenados precisam ser executadas (SHEA & MORGAN, 1979;

    SHEA & ZIMNY, 1983); b) hiptese do esquecimento, do intervalo ou da

    reconstruo do plano de ao, sustentada na premissa de que a prtica aleatria

    proporciona ao sujeito o esquecimento da soluo para uma referida tarefa motora,

    fazendo com que a soluo seja gerada quando a tarefa apresentada novamente,

    melhorando a reteno e a transferncia (LEE & MAGILL, 1983); e c) hiptese da

    inibio retroativa, a qual explica o EIC em virtude das desvantagens da prtica em

    blocos e no das vantagens da prtica aleatria (pior reteno de uma tarefa devido

    interpolao de outra atividade entre a aquisio e a reteno; DAVIS, 1988; POTO,

    1988; SHEA & GRAF, 1994). Muitas pesquisas tiveram por objetivo testar quais das

    hipteses melhor explicaria o EIC. Em geral, h evidncia emprica dando suporte s

    trs, indcios de que as hipteses explanativas no so mutuamente exclusivas.

    Por conseguinte, a aplicao do EIC ao domnio motor questionvel,

    uma vez que h uma falta de consistncia e coeso nos resultados das pesquisas que

    o investigaram. A proposta do presente estudo introduzir um procedimento

    metodolgico adicional para verificar a durao do EIC, e assim poder caracteriz-

    lo, de fato, como um fenmeno de aprendizagem.

    2 SOBRE O EFEITO DA INTERFERNCIA CONTEXTUAL

    2.1 A prtica variada e a teoria de esquema motor

    O EIC parte do pressuposto que a prtica variada mais eficaz que a

    prtica constante. Esta hiptese um dos pontos principais da teoria de esquema

    motor, proposta por SCHMIDT (1975), a qual foi formulada com o intuito de

  • esclarecer algumas lacunas tericas da teoria de circuito fechado (ADAMS, 1971),

    sobretudo a noo de programas motores especficos (que no explicam como novos

    movimentos so executados com exatido) e a questo da capacidade limitada de

    armazenamento (armazenamento individual de cada programa motor especfico na

    memria).

    Segundo a teoria de esquema motor, a cada movimento discreto realizado,

    o sujeito armazena quatro informaes na memria de curto prazo, quais sejam: a) as

    condies iniciais, as quais so informaes a respeito do meio ambiente e do

    prprio corpo do executante antes que o movimento seja iniciado; b) as

    especificaes da resposta ou parmetros (por exemplo a fora, a velocidade e a

    direo); c) as conseqncias sensoriais, que so as informaes captadas pelos

    rgos sensoriais durante ou aps a execuo do movimento sobre o prprio e sobre

    as modificaes no meio ambiente produzidas pela realizao do movimento; e d) o

    resultado da resposta, obtido por meio do mecanismo perceptivo depois que o

    movimento foi executado e que indica a diferena entre o resultado desejado e o

    alcanado. Essas informaes so armazenadas por um breve perodo de tempo para

    que as relaes, e no as informaes de forma isolada, possam ser abstradas e

    armazenadas na memria de longo prazo. Quando movimentos de uma determinada

    categoria so executados, estas relaes so armazenadas e comparadas para formar

    uma estrutura de regras abstratas denominada de esquema motor, que constitudo

    por dois esquemas separados: o esquema de lembrana (responsvel pela produo

    de movimento) e o esquema de reconhecimento (responsvel pela correo de

    movimento). O primeiro resulta das relaes entre as condies iniciais, as

    especificaes da resposta e o resultado obtido. O segundo formado pela relao

    entre as condies iniciais, as conseqncias sensoriais e o conhecimento do

    resultado alcanado. Com a prtica variada, h uma maior probabilidade de

  • combinao das quatro informaes citadas anteriormente, o que fortalece ainda

    mais o esquema motor e permite o sucesso em movimentos nunca antes praticados.

    Entretanto, a prtica variada somente ser eficiente dentro de uma mesma

    classe de movimentos, ou seja, quando as variaes na prtica forem apenas de

    parmetros de um mesmo programa motor generalizado (PMG), que se apresentou

    como sendo mais econmico que os programas motores especficos em virtude de

    utilizar os esquemas para classes de movimentos que so definidas por

    caractersticas invariveis, tais como o tempo relativo, a fora relativa e a seqncia

    de eventos ou componentes. Para HORAK (1992), os esquemas podem ser

    considerados como um tipo de regresso mental, entre os parmetros requisitados

    para gerar o movimento e um resultado particular que permite ao indivduo abstrair

    as relaes nas experincias passadas.

    Uma quantidade consistente de pesquisa foi realizada no sentido de testar

    a variabilidade de prtica (FREUDENHEIM, 1992; FREUDENHEIM & TANI,

    1993; KELSO & NORMAN, 1978; MOXLEY, 1979; NEWELL & SHAPIRO,

    1976; PEASE & RUPNOW, 1983; PEDRINELLI, 1989). De uma forma geral,

    constatou-se que a prtica variada mais efetiva com crianas e com mulheres,

    provavelmente porque a quantidade de experincias motoras dessas populaes no

    foi suficiente para que as relaes entre as informaes se tornassem fortes para

    responder com sucesso a novas situaes. Provveis razes para a inconsistncia na

    confirmao das predies da teoria de esquema motor so: a falta de especificao

    sobre a natureza da variabilidade de prtica, a gnese do PMG e os limites da classe

    de movimentos que definem um PMG (CONNOLLY, 1977; HORAK, 1992; VAN

    ROSSUM, 1990).

    SCHMIDT (1975) conseguiu explicar quais aspectos da habilidade motora

    devem ser variados (parmetros de um mesmo programa motor generalizado) e qual

    a quantidade de variao que deve ser implementada (mximo de prtica variada

  • possvel), porm no fez referncia forma como a variabilidade da prtica variada

    deve ser organizada.

    2.2 O efeito da interferncia contextual

    A organizao ou estrutura da prtica variada foi um tema contemplado

    dentro da noo advinda da aprendizagem verbal denominada efeito da

    interferncia contextual (BATTIG, 1966, 1972, 1979). Segundo MAGILL &

    HALL (1990), o EIC refere-se ao grau em que a prtica de vrias habilidades

    interfere na aprendizagem das mesmas, e ocorre quando algumas variaes de uma

    tarefa devem ser aprendidas durante a prtica com altos nveis de interferncia

    (prtica variada aleatria). Em comparao com a prtica com baixos nveis de

    interferncia (prtica variada em blocos), a prtica aleatria proporciona pior

    performance de aquisio, porm melhor desempenho em testes posteriores de

    reteno e transferncia.

    Os estudos que investigaram o EIC lanaram mo de um delineamento

    experimental bem definido. Primeiramente, h uma prtica correspondente fase de

    aquisio, na qual os sujeitos so distribudos normalmente em dois grupos de

    prtica variada: aleatria e em blocos. Num segundo momento, os executantes

    participam de testes de aprendizagem que podem ser aplicados logo aps o trmino

    da fase de aquisio (imediatos) ou depois de um intervalo maior (prolongados).

    Existem dois tipos de testes: o teste de reteno e o teste de transferncia. No

    primeiro, o sujeito executa as mesmas tarefas que praticou na fase de aquisio. O

    segundo consta da realizao de tentativas em uma tarefa motora nova, portanto no

    vivenciada na fase de aquisio. Ao longo do experimento, o comportamento dos

    grupos sofre alteraes que resultam num paradoxo. Na fase de aquisio, o grupo

    de prtica em blocos executa as tarefas motoras com menos erros em comparao

  • com o grupo de prtica aleatria. Entretanto, nos testes, h uma inverso no

    comportamento dos grupos, ocorrendo um cruzamento das curvas de desempenho

    (FIGURA 1).

    PARADOXOPARADOXOValoresValoresdedePrecisoPreciso

    Bloco de TentativasBloco de Tentativas

    GBGB

    GAGA

    AquisioAquisioTransfernciaTransferncia RetenoReteno

    GAGA

    GBGB

    FIGURA 1 - Ilustrao do paradoxo causado pelo efeito da interferncia

    contextual.

    O comportamento clssico das curvas de desempenho, ou seja, o

    cruzamento na transio entre a fase de aquisio e a fase de testes, pode ser

    nitidamente verificado nos estudos de LEE & MAGILL (1983) e GOODE &

    MAGILL (1986).

    O EIC teve sua origem nos trabalhos de aprendizagem verbal feitos por

    BATTIG (1966), embora originalmente o autor o tenha denominado efeito da

    interferncia intra-tarefa. Mais tarde, o pesquisador afirmou que preferia o termo

    interferncia contextual porque mais apropriadamente indicava os importantes

    papis dos fatores contextuais intrnsecos e extrnsecos da tarefa a ser aprendida e as

  • atividades de processamento do aprendiz. Ento, o contexto de prtica completo,

    inclusive a tarefa do programa de prtica, e o processamento dedicado pelo aprendiz,

    so vistos como fontes potenciais de interferncia que poderiam aumentar a

    aprendizagem. Na literatura de aprendizagem motora, outros termos tambm tm sido

    utilizados, como variedade contextual e similaridade de tarefa.

    BATTIG (1972) realizou um experimento para observar se a manipulao

    do programa de prtica levaria a uma melhor performance no teste de reteno. A

    tarefa foi a de memorizar expresses similares. Cinco grupos de prtica foram

    formados. O grupo com menor quantidade de interferncia contextual foi denominado

    grupo 12, o qual recebeu todas as expresses de 12 listas em 12 blocos. No outro

    extremo, o grupo 1 recebeu expresses das 12 listas de forma aleatria. Os outros trs

    grupos intermedirios receberam as expresses em blocos de 2, 4 e 6 listas. Os

    indivduos praticaram at alcanar um nvel de performance de 60 respostas corretas

    nas tentativas. Os resultados mostraram que o grupo 12 conseguiu melhor

    performance durante a sesso de prtica, seguido pelos grupos 6, 4, 1 e 2. Entretanto,

    no teste de reteno, os grupos 1 e 2 apresentaram melhores performances, seguidos

    do grupos 6, 4 e 12. Os sujeitos do grupo 1 tiveram um regime de prtica aleatria.

    Os sujeitos dos outros grupos praticaram as tarefas em blocos, variando o tamanho do

    bloco de tentativas.

    Essas duas estruturas de prtica variada - aleatria e em blocos - foram

    largamente utilizadas nos estudos que investigaram o EIC. Entretanto, outros tipos de

    estruturao de prtica tambm foram criados, como por exemplo, a prtica seriada e

    a prtica mista. Esses tipos de prtica esto situados numa posio intermediria entre

    as prticas aleatria (alta interferncia contextual) e em blocos (baixa interferncia

    contextual) que so extremos do contnuo da estrutura de prtica. A seguir

    apresentado um quadro explicativo (QUADRO 1) das diferentes estruturas de prtica.

    As trs tarefas motoras hipotticas so representadas pelas letras A, B e C.

  • QUADRO 1 - Tipos de estrutura da prtica variada.

    Tipo de prtica variada Exemplo

    Aleatria (AL) ACBCABABCBCACBABACABCBCACABCBA

    Em blocos (BL) AAAAAAAAAABBBBBBBBBBCCCCCCCCCC

    Seriada (SE) ABCABCABCABCABCABCABCABCABCABC

    Em blocos aleatrios (BA) AAACCCBBBCCCAAABBBAAABBBCCC

    Mista (BL-AL) AAAABBBBCCCCABCBACBCACBACABCBA

    Mista (AL-BL) ABCBACBCACBACABCBAAAAABBBBCCCC

    Mista (SE-BL) ABCABCABCABCABCAAAAABBBBBCCCCC

    Mista (BL-SE) AAAAABBBBBCCCCCABCABCABCABCABC

    Na prtica em blocos, a ordem de apresentao das tarefas previsvel e

    sistemtica. J na prtica aleatria, a ordem de apresentao das tarefas imprevisvel

    e no sistemtica. A prtica seriada possui caractersticas das duas prticas anteriores

    visto que a ordem de apresentao previsvel, mas no h repetio da tarefa. A

    combinao dessas trs estruturas de prtica pode ser feita de vrias formas, dando

    origem s prticas mistas.

    2.3 Estudos que investigaram o efeito da interferncia contextual

    A reviso de literatura que segue foi realizada obedecendo uma ordem

    cronolgica crescente. Sero descritos vrios estudos que investigaram o EIC em

    situaes de aquisio de habilidades motoras.

    At a realizao do experimento pioneiro de SHEA & MORGAN (1979)

    aplicando o EIC em um contexto de aprendizagem motora, algumas poucas pesquisas

    foram conduzidas sob o espectro da estrutura da prtica variada. Umas apenas se

  • atendo ordem de prtica de duas ou mais habilidades motoras, comparando

    seqncias de prtica em blocos com seqncias aleatrias (DUNHAM, 1977), e

    outras com a preocupao de investigar a predio da variabilidade de prtica

    proposta por SCHMIDT (1975) na teoria de esquema motor (KERR & BOOTH,

    1978; MAGILL & REEVE, 1978; McCRACKEN & STELMACH, 1977; NEWELL

    & SHAPIRO, 1976; ZELAZNIK, 1977), porm sem o objetivo de manipulao da

    estrutura da prtica variada.

    A pesquisa clssica de SHEA & MORGAN (1979) contou com a

    participao de 72 estudantes universitrios de ambos os sexos, realizando uma tarefa

    de posicionamento em um aparelho construdo especificamente para o estudo. O

    objetivo da tarefa foi, aps o acendimento de uma lmpada, remover o membro

    superior direito de um boto, pegar uma bola de tnis de campo, derrubar seis tocos

    de madeira (trs de cada lado) seguindo uma ordem predeterminada, e colocar a bola

    em um orifcio. A seqncia foi manipulada de trs formas diferentes, portanto com

    variao do programa motor requisitado para a execuo das tarefas. As variveis

    dependentes foram: o tempo total, o tempo de reao e o tempo de movimento. Na

    fase de aquisio, tanto os sujeitos do grupo aleatrio quanto os do grupo em blocos

    efetuaram 54 tentativas. O teste de reteno imediato (aps 10 minutos) e o teste de

    reteno prolongado (aps 10 dias) foram aplicados com metade de cada grupo

    executando as tarefas de forma aleatria e a outra metade executando em blocos. Em

    ambos, os indivduos executaram seis tentativas. Ainda, depois do teste de reteno

    prolongado, houve um teste de transferncia, no qual trs tentativas em duas novas

    variaes de maior complexidade foram realizadas. Os resultados mostraram que,

    durante a fase de aquisio, a prtica em blocos provocou menos erros quando

    comparada prtica aleatria. Porm, nos trs testes, houve vantagem significativa

    para os sujeitos que aprenderam a tarefa em condies aleatrias. Por conseguinte, os

  • resultados deram total suporte ao EIC, estando em sintonia com os achados de

    BATTIG (1966, 1972).

    DEL REY (1982) utilizou uma tarefa de timing antecipatrio de

    laboratrio (Temporizador de Antecipao de Bassin) para estudar o EIC em 48

    mulheres idosas, com mdia de idade de 65 anos, distribudas em dois grupos de

    prtica: aleatrio e em blocos (grupos tradicionais nos experimentos que estudam o

    EIC). Na fase de aquisio, que constou de 64 tentativas, as variaes da tarefa foram

    manipuladas em quatro velocidades distintas (manipulao de parmetros de um

    mesmo programa motor). Houve trs testes de reteno, cada qual com 12 tentativas:

    um aps 10 minutos, outro na semana seguinte, e finalmente um aps 40 dias do

    trmino da aquisio. As variveis dependentes foram os erros absoluto, varivel e

    constante. Neste estudo, o EIC foi confirmado apenas parcialmente, visto que o grupo

    aleatrio executou as tentativas de teste com menos erros que o grupo em blocos

    somente para os sujeitos com maior nvel de atividade fsica. Vale ressaltar que o

    critrio dos pesquisadores para classificar o sujeito por nvel de atividade fsica foi a

    participao ativa em um programa de condicionamento fsico para idosos.

    No intuito de verificar a interao da interferncia contextual com os

    efeitos da experincia em habilidades esportivas abertas, DEL REY, WUGHALTER

    & WHITEHURST (1982b) recrutaram 60 estudantes universitrios do sexo feminino

    para uma pesquisa com a mesma tarefa de timing do estudo citado anteriormente.

    Afora os dois grupos tradicionais de prtica variada utilizados em estudos de

    interferncia contextual, um grupo de prtica constante foi formado. Dez minutos

    aps realizadas as 64 tentativas de aquisio, os sujeitos foram testados em 12

    tentativas de transferncia em duas velocidades dentro da amplitude praticada na fase

    inicial, com a ordem de apresentao contrabalanada dentro de cada grupo. Os

    resultados evidenciaram que o EIC ocorreu em apenas uma das velocidades de

    transferncia e somente em sujeitos com experincia em habilidades motoras abertas,

  • portanto confirmando parcialmente a predio de BATTIG (1966, 1972). Ademais,

    na fase de aquisio, o grupo em blocos e o grupo constante tiveram comportamento

    similar, o que no foi verificado na transferncia, na qual o grupo em blocos

    desempenhou com menos erros.

    DEL REY, WUGHALTER, DU BOIS & CARNES (1982a) elaboraram um

    estudo similar ao anterior (tarefa, medida de erro e grupos idnticos), no qual

    tomaram parte 54 estudantes universitrias que executaram 64 tentativas de aquisio

    e 12 de transferncia em cada um dos trs testes: aps 10 minutos, aps um dia e aps

    uma semana do trmino da aquisio. As duas variaes da tarefa de transferncia

    encontravam-se dentro da amplitude praticada na aquisio. Embora sem

    significncia estatstica, na fase de aquisio, o grupo em blocos, alm de variar

    menos a resposta, foi mais preciso que o grupo aleatrio. Ainda, o grupo de prtica

    constante teve desempenho similar aos outros dois grupos. Na fase de transferncia,

    no houve diferenas significantes entre o grupo aleatrio e o grupo em blocos. Os

    resultados de transferncia do grupo de prtica constante no foram apresentados.

    Logo, conclui-se que esta pesquisa no deu suporte ao EIC.

    DEL REY, WHITEHURST & WOOD (1983a) realizaram uma pesquisa

    similar anterior na qual participaram 80 crianas de ambos os sexos (mdia de 8,3

    anos) com diferentes nveis de experincia em habilidades motoras abertas. Na

    aquisio, obtiveram desempenho superior os sujeitos: do grupo em blocos,

    experientes e do sexo masculino. Na transferncia, a nica diferena significante foi

    que os sujeitos do grupo em blocos executaram a tarefa com menos erros.

    Com o mesmo delineamento experimental e a mesma tarefa, mas agora

    comparando atletas da equipe de futebol americano da Universidade da Gergia com

    sujeitos que haviam cessado as atividades da modalidade h quatro anos, dentro da

    mesma faixa etria, DEL REY, WHITEHURST, WUGHALTER & BARNWELL

  • (1983b) concluram que o EIC foi verificado, mas no houve diferenas entre os mais

    e os menos experientes em futebol americano.

    LEE & MAGILL (1983) realizaram trs experimentos no intuito de

    investigar mais profundamente o EIC. Segundo os autores, no experimento de SHEA

    & MORGAN (1979), a condio de prtica aleatria estava sustentada num

    paradigma de tempo de reao de escolha, enquanto que a condio de prtica em

    blocos baseava-se no paradigma de tempo de reao simples. Assim, colocou-se em

    dvida se o EIC ocorria em funo apenas da manipulao da estrutura de prtica ou

    dos diferentes tipos de tempo de reao, ou ainda, da combinao entre eles. Desse

    modo, no primeiro experimento, LEE & MAGILL (1983) distriburam 24 estudantes

    universitrios de ambos os sexos em quatro grupos de prtica na mesma tarefa

    utilizada por SHEA & MORGAN (1979): em blocos com e sem dicas, e aleatrio

    com e sem dicas. O fator dica se referiu ao acendimento ou no de uma luz de aviso

    informando a natureza do sinal iminente. Aps trs tentativas de familiarizao, os

    sujeitos efetuaram 54 repeties de aquisio nas trs variaes da tarefa. Em

    seguida, para que no houvesse ensaio mental das tarefas praticadas anteriormente, os

    sujeitos foram submetidos uma fase intermediria que constou da leitura e

    verbalizao (em voz alta e o mais rpido possvel) das cores em que vrias palavras

    estavam impressas em duas folhas de papel (tarefa de stroop). Ento, ocorreu a fase

    de reteno com trs tentativas arranjadas de forma aleatria. Demonstrou-se que, na

    fase de aquisio, a varivel tempo de reao foi afetada pelo tipo de tempo de

    reao, ao passo que a medida tempo de movimento foi afetada tanto pelo tipo de

    tempo de reao quanto pela interferncia contextual. Os resultados de aquisio

    foram ento influenciados pelo tipo de tempo de reao. Ao contrrio, isso no

    provocou diferenas nos resultados de reteno, os quais foram atribudos apenas ao

    EIC, uma vez que os grupos aleatrios tiveram desempenhos superiores aos grupos

    em blocos. No segundo experimento, os pesquisadores estavam interessados em

  • verificar a influncia da repetio e da previsibilidade no EIC. Para isso, uma nova

    estrutura de prtica variada foi criada: a prtica seriada, que combina elementos da

    prtica aleatria (no repetio) e da prtica em blocos (previsibilidade). Destarte, 30

    estudantes universitrios de ambos os sexos participaram do experimento que diferiu

    do primeiro em trs aspectos: o novo grupo de prtica variada seriada, o fornecimento

    de informaes mais detalhadas sobre o teste de reteno, e a realizao de um teste

    escrito aps o teste de stroop. Os resultados indicaram similaridade quase total

    entre a condies de prtica aleatria e prtica seriada tanto na fase de aquisio

    quanto na fase de reteno. Assim, visto que metodologicamente a similaridade entre

    esses dois tipos de prtica a ordem na qual os eventos so praticados, a aparente

    causa do EIC reside na natureza no repetitiva da estrutura de prtica. No terceiro

    experimento, no qual tomaram parte 30 estudantes universitrios do sexo feminino, a

    tarefa sofreu uma pequena modificao que consistiu no encobrimento do sinal de

    aviso e no uso de apenas um registrador de tempo (tarefa mais complexa). Os

    resultados foram similares aos experimentos anteriores com o grupo aleatrio se

    mostrando melhor no teste de reteno. Ainda, os autores afirmaram que o declnio de

    desempenho do grupo em blocos durante a reteno sugere a formao de uma

    memria pouco robusta para os padres de movimento, quando comparado aos

    grupos aleatrio e seriado. Ademais, a estrutura de prtica no apenas influencia o

    acesso aos planos de ao, mas tambm serve para fortalecer a qualidade da memria.

    WHITEHURST & DEL REY (1983) utilizaram 48 estudantes

    universitrias, sem experincia em habilidades motoras abertas, num experimento

    cuja tarefa era a de mover um cursor atravs de um alvo contnuo delimitado por uma

    figura quadrada, retangular ou circular (rotor de perseguio). Alm das diferentes

    seqncias, os sujeitos executaram em cinco variaes de velocidade. A varivel

    dependente foi o tempo no alvo. Ainda, antes do incio da aquisio, metade dos

    sujeitos em cada grupo classificaram as velocidades que seriam experimentadas numa

  • escala de 1 a 5 (1 para a mais lenta e 5 para a mais rpida), e a cada duas

    tentativas de aquisio, o experimentador pedia para o sujeito classificar a velocidade.

    A fase de aquisio constou de 50 tentativas, ao cabo que as fases de reteno e de

    transferncia constaram de cinco tentativas cada. Os grupos aleatrio e em blocos no

    apresentaram diferenas significantes em nenhum bloco de todo o experimento.

    Entretanto, os indivduos do grupo em blocos que classificaram as velocidades e

    perseguiram a rea circular obtiveram melhores resultados na reteno em relao aos

    que perseguiram o crculo mas no classificaram as velocidades. Da mesma forma, a

    transferncia foi facilitada para os sujeitos do grupo aleatrio que classificaram as

    velocidades e perseguiram o tringulo. Em vista disso, o que influenciou a reteno e

    a transferncia no foi a estrutura de prtica, mas sim a manipulao do nvel de

    processamento cognitivo na prtica da tarefa.

    O primeiro estudo que investigou a ocorrncia do EIC em uma situao de

    campo foi o de PIGOTT & SHAPIRO (1984), do qual participaram 64 crianas de

    ambos os sexos (mdia de 7,5 anos) distribudas em quatro grupos de prtica:

    constante, variado em blocos, variado aleatrio e variado misto (aleatrio-em blocos).

    A tarefa consistiu em arremessar, com os olhos vendados e com a mo no

    dominante, pequenos sacos de feijo em posio ajoelhada na direo de um alvo fixo

    a 183 centmetros de distncia. A varivel dependente foi o erro absoluto. O aspecto

    variado foi o peso do saco de feijo: de trs a seis onas na aquisio, e dois e sete

    onas na transferncia. A fase de aquisio constou de 24 tentativas e a fase de

    transferncia de trs arremessos. Os resultados indicaram que, na aquisio, apenas o

    grupo aleatrio teve desempenho inferior aos demais grupos. Na transferncia, a

    nica diferena significante foi a superioridade do grupo misto em relao aos

    demais. Em nvel de tendncia, o pior desempenho foi apresentado pelo grupo

    constante, seguido pelo grupo aleatrio e logo aps pelo grupo em blocos.

  • LEE (1985) estudou o comportamento de 30 estudantes universitrios de

    ambos os sexos que realizaram movimentos passivos de brao controlados pelo

    experimentador na execuo de oito figuras geomtricas sem conhecimento de

    resultados (CR). Esse procedimento eliminou a construo do plano de ao da

    seqncia dos traos por parte dos sujeitos. As 40 tentativas de aquisio antecederam

    os testes de reteno (seis tentativas) e de transferncia (uma tentativa), em que os

    sujeitos tinham de julgar os padres como j conhecidos ou novos. Segundo os

    resultados, os julgamentos na reteno e na transferncia no foram influenciados

    pelo tipo de prtica na aquisio. Logo, a natureza da estrutura de prtica no

    influenciou a aprendizagem da tarefa quando no houve envolvimento cognitivo e

    motor. Destarte, o planejamento e o processamento da informao sobre o erro so

    importantes para a ocorrncia do EIC.

    LEE, MAGILL & WEEKS (1985) realizaram dois experimentos que

    avaliaram a possibilidade da estrutura da prtica variada ser um indicador para a

    confirmao ou no da teoria de esquema motor (SCHMIDT, 1975) em adultos

    universitrios. Trinta e seis sujeitos participaram do primeiro experimento e 48 do

    segundo. Os dois experimentos apenas diferiram na ordem das tentativas do teste de

    transferncia dentro de cada grupo: no primeiro, 12 tentativas do inside transfer

    (tarefa dentro da amplitude praticada na aquisio) seguidas de 12 do outside

    transfer (tarefa fora da amplitude praticada na aquisio); no segundo, metade dos

    sujeitos idem ao anterior e metade dos sujeitos com 24 tentativas aleatrias de

    outside com inside transfer. Os sujeitos, que praticaram 60 tentativas de

    aquisio, foram distribudos em trs grupos de prtica: constante, variada em blocos

    e variada aleatria. A tarefa experimental foi similar de SHEA & MORGAN

    (1979), ou seja, a derrubada de pequenas barreiras de madeira, porm com a adio

    de um segundo movimento. As variveis dependentes foram os erros varivel e

    constante. Na fase de aquisio, os resultados evidenciaram que o grupo aleatrio

  • desempenhou as tarefas de modo mais impreciso e inconsistente em relao aos

    outros dois grupos. No entanto, o grupo aleatrio obteve desempenho superior na

    transferncia em relao aos outros dois grupos, que se equivaleram no outside

    transfer. No inside transfer, todos os grupos obtiveram desempenho similar, com

    leve vantagem para os grupos de prtica variada. Os resultados do segundo

    experimento foram similares aos do primeiro. Desse modo, o EIC foi apenas

    parcialmente confirmado.

    Investigando a generalizao do EIC para uma situao do mundo real,

    GOODE & MAGILL (1986) utilizaram o saque do badminton executado de duas

    formas distintas quanto ao parmetro fora, ou seja, curto e longo. Na fase de

    aquisio, as 30 universitrias voluntrias sem prvia experincia nessa modalidade

    esportiva praticaram os saques do lado direito da quadra com a freqncia de trs dias

    por semana durante trs semanas, sendo que em cada sesso eram executadas 36

    tentativas (324 no total). Foram formados trs grupos de prtica variada: aleatrio, em

    blocos e seriado. No dia seguinte ao trmino da aquisio, aconteceu o teste de

    reteno (seis tentativas) e o teste de transferncia (seis tentativas), esse ltimo com

    saques do lado oposto da quadra. Os resultados deram suporte parcial superioridade

    da prtica com altos nveis de interferncia contextual, uma vez que o grupo aleatrio

    apresentou melhores escores de preciso em comparao ao grupo em blocos, porm

    apenas nos saques curtos. Ademais, o grupo seriado apresentou comportamento

    similar ao grupo em blocos, resultado contrrio ao estudo clssico de LEE &

    MAGILL (1983), no qual o grupo seriado foi semelhante ao grupo aleatrio.

    Utilizando uma tarefa de posicionamento linear (controle de fora),

    TURNBULL & DICKINSON (1986) pesquisaram 70 estudantes universitrios de

    ambos os sexos, os quais tiveram quantidades diferentes de tentativas de aquisio:

    15, cinco e trs. Cinco grupos praticaram em diferentes quantidades em vrias

    posies, enquanto um grupo praticou em condio seriada e outro em condio em

  • blocos, ambos com a mesma quantidade de prtica. As variveis dependentes foram

    os erros constante e absoluto. Um teste de transferncia (inside transfer) foi

    aplicado aos sujeitos logo aps o trmino da sesso de aquisio, alm de um reteste

    aps uma semana, ambos com cinco tentativas. Os resultados no deram suporte ao

    EIC, porm h de se considerar o nmero extremamente pequeno de tentativas de

    aquisio. A quantidade de prtica influenciou a preciso no teste de transferncia, a

    despeito da ausncia de diferenas significantes entre os grupos seriado e em blocos.

    EDWARDS, ELLIOTT & LEE (1986) realizaram um estudo para verificar

    o EIC, no qual compararam indivduos portadores de sndrome de Down com

    crianas sem essa deficincia. A mdia da idade cronolgica dos 20 jovens portadores

    da deficincia foi de 18 anos, porm a mdia da idade mental foi de cinco anos. As

    crianas que tomaram parte nos grupos controle tinham em mdia 5,8 anos. Lanou-

    se mo do Temporizador de Antecipao de Bassin para realizar uma tarefa de

    timing antecipatrio. Quatro grupos de prtica foram formados e cada sujeito

    realizou 64 tentativas em quatro velocidades distintas na fase de aquisio, na qual foi

    fornecido CR a todos os indivduos. Aps 10 minutos, 16 tentativas de transferncia

    foram executadas: oito num regime de inside transfer e oito num regime de

    outside transfer. Os resultados da fase de aquisio mostraram que no houve

    diferenas significantes entre os quatro grupos em nenhuma das variveis

    dependentes: erro varivel e erro absoluto. No inside transfer, o erro varivel foi

    diminudo de forma significante pelo grupo controle aleatrio. J no erro absoluto,

    no houve diferenas significantes entre os grupos. No outside transfer, quanto ao

    erro varivel, os indivduos com sndrome de Down executaram a tarefa com

    menos erros que os indivduos controle. Quanto ao erro absoluto, no houve

    diferenas significantes entre os grupos. Nos dois tipos de erro, todos os sujeitos

    sentiram mais dificuldade para acertar a velocidade mais lenta. De um modo geral, os

    indivduos portadores da sndrome de Down superaram as crianas com idade

  • mental equivalente, porm o EIC no foi confirmado para essa populao especial. A

    anlise dos sujeitos controle permitiu inferir tambm que o grupo aleatrio foi melhor

    que o grupo em blocos apenas no inside transfer.

    Da pesquisa de GABRIELE, HALL & BUCKOLZ (1987), participaram 30

    estudantes universitrios de ambos os sexos que executaram uma tarefa de derrubada

    de pequenas barreiras similar de SHEA & MORGAN (1979). As variveis

    dependentes foram o tempo de movimento e o tempo de reao. Os sujeitos

    executaram as tentativas livremente at um critrio de acertos preestabelecido. Antes

    da realizao do teste de reteno, houve a fase de atividade interpolada com durao

    de 10 minutos, que consistiu da memorizao de duas listas de palavras, alm da

    resoluo de operaes algbricas. O teste de reteno constou de 12 tentativas e foi

    repetido aps uma semana. De acordo com os resultados, o grupo aleatrio obteve

    desempenho pior na aquisio, mas superou os outros dois grupos em blocos nas duas

    retenes. Estes achados confirmaram a ocorrncia do EIC.

    DEL REY et alii (1987) realizaram um experimento com estudantes

    universitrios similar ao de DEL REY et alii (1982b) adicionando-se um grupo em

    blocos executando as tarefas de timing com uma tarefa cognitiva interpolada

    (operao algbrica). Novamente os resultados indicaram que os sujeitos com

    experincia executaram as tarefas com menos erros que os sujeitos menos experientes

    em todas as fases do experimento. Quanto ao EIC, na aquisio, os grupos tiveram

    desempenho similar. Na transferncia, em apenas uma das velocidades o grupo

    aleatrio executou as tarefas com menos erros. No teste de reteno, o grupo aleatrio

    obteve desempenho melhor que o grupo em blocos com atividade interpolada. Assim,

    o EIC obteve confirmao parcial.

    WEIR (1988) estudou a influncia do intervalo ps-CR na ocorrncia do

    EIC. Vinte sujeitos distriburam-se em cinco grupos e praticaram uma tarefa de

    posicionamento em 54 tentativas. Aps 10 minutos do trmino da aquisio,

  • aconteceu o teste de reteno em nove tentativas. Os resultados mostraram que o EIC

    no obteve suporte. Na aquisio, o grupo seriado foi menos preciso que o grupo em

    blocos que praticava mentalmente durante o intervalo ps-CR. Ainda, o grupo

    aleatrio e o grupo em blocos sem a prtica mental obtiveram desempenhos

    semelhantes, sugerindo que quando o intervalo ps-CR permanece constante, no h

    superioridade da prtica aleatria. Na reteno, no houve diferena entre os grupos.

    WULF & SCHMIDT (1988), tentando diretamente determinar se a

    performance nos testes de aprendizagem uma funo da formao do esquema

    proposto por SCHMIDT (1975) ou uma funo das condies de interferncia

    contextual, submeteram 48 estudantes universitrios de ambos os sexos a uma tarefa

    de posicionamento, que consistiu em pressionar quatro botes em uma seqncia de

    percurso predeterminada (em trs segmentos) com objetivo de ser o mais preciso

    possvel em tempos de movimento predeterminados. Os sujeitos foram distribudos

    em dois grupos, e cada grupo ainda subdividido em trs subgrupos. No grupo

    esquema, as relaes de tempo entre os segmentos permaneceram as mesmas,

    enquanto o tempo absoluto por movimento variou. As relaes de tempo foram de

    4:3:2 para o primeiro, 3:2:4 para o segundo e 2:4:3 para o terceiro subgrupo. No

    grupo contexto, os sujeitos no s praticaram com tempos absolutos diferentes para

    cada verso da tarefa, como tambm com diferentes tempos relativos. O experimento

    foi dividido em quatro fases: a) aquisio com 126 repeties; b) reteno com 18

    tentativas na verso mdia diretamente aps a primeira aquisio; c) segunda

    aquisio com 72 tentativas; e d) fase de transferncia (outside transfer) com 18

    tentativas. As duas primeiras fases foram executadas no mesmo dia, ao passo que as

    duas ltimas aconteceram no dia seguinte. Os resultados mostraram que a prtica de

    variaes de um movimento governado pelo mesmo programa motor produz

    performance de aquisio mais precisa que a prtica de variaes de um movimento

    controlado por programas motores diferentes. Ainda, o grupo contexto no foi

  • superior ao grupo esquema na reteno. Pelo contrrio, o grupo esquema tendeu a

    realizar a tarefa de transferncia com mais eficcia quanto ao tempo absoluto, e

    claramente superou o grupo contexto no tempo relativo. Na fase de reteno, a teoria

    de esquema obteve suporte, pois os indivduos do grupo esquema desenvolveram

    representaes abstratas das informaes do movimento (esquema motor), as quais

    permitiram uma seleo mais apropriada dos parmetros do movimento em relao ao

    grupo contexto. Na fase de transferncia, tambm foi encontrado suporte para a

    hiptese de formao do esquema motor, visto que o grupo esquema (prtica variada)

    demonstrou maior preciso comparado ao grupo contexto (prtica com apenas uma

    variao de movimento). Ademais, esta pesquisa confirmou a hiptese de

    especificidade da aprendizagem.

    CARNAHAN & LEE (1989) distriburam 36 estudantes universitrios em

    trs grupos: aleatrio, em blocos e constante. A tarefa de posicionamento foi similar

    de SHEA & MORGAN (1979). Os sujeitos praticaram 120 tentativas de aquisio e

    oito de transferncia. Os resultados mostraram que o EIC no foi verificado.

    JELSMA & MERRINBOER (1989) verificaram a influncia da

    impulsividade na ocorrncia do EIC. Sessenta e quatro estudantes universitrios de

    ambos os sexos efetuaram uma tarefa de movimentao de um cursor em uma tela. A

    variao da tarefa foi a seqncia de pontos a serem interligados e as variveis

    dependentes foram o erro e o tempo de deciso. A aquisio constou de 40 tentativas

    e a reteno ocorreu em 12 repeties. Os resultados indicaram que, na aquisio, os

    indivduos mais reflexivos do grupo em blocos cometeram menos erros e obtiveram

    tempo de deciso mais longos. No grupo aleatrio, no houve diferena entre os

    sujeitos em nenhuma das medidas. Durante toda a fase de aquisio, o grupo aleatrio

    apresentou mais erros e maiores tempos de deciso. Na reteno, os mais reflexivos

    do grupo em blocos cometeram menos erros que os impulsivos. Resultado similar foi

    verificado no grupo aleatrio, porm menos marcante. Os pesquisadores concluram

  • que quanto maior o grau de reflexividade, menor a diferena observada entre as duas

    estruturas de prtica. Segundo os autores, os sujeitos reflexivos so capazes de

    aprender independentemente do tipo de prtica variada. SHEA e ZIMNY (1983) j

    haviam alertado para o fato de que indivduos reflexivos submetidos prtica em

    blocos tendem a criar sua prpria interferncia contextual.

    GABRIELE, HALL & LEE (1989) estudaram o EIC com a manipulao

    tanto da prtica fsica quanto da prtica mental. Do primeiro experimento, tomaram

    parte 40 estudantes universitrios de ambos os sexos praticando uma tarefa de

    posicionamento similar do estudo de SHEA & MORGAN (1979). As tentativas de

    aquisio foram executadas at o alcance de um critrio preestabelecido. A prtica

    mental foi realizada nas mesmas variaes da prtica fsica. Houve, em seguida, uma

    fase de atividade interpolada (idem a GABRIELE et alii, 1987), e logo aps um teste

    de reteno com 12 tentativas. O mesmo teste foi repetido aps uma semana.

    Segundo os resultados, a prtica mental aleatria, no importando se combinada com

    a prtica fsica em blocos ou aleatria, facilitou a reteno quando comparada

    prtica mental em blocos nos dois testes de reteno. No segundo experimento, do

    qual tomaram parte 50 universitrios, o delineamento experimental foi idntico ao

    primeiro, com a diferena de que a prtica mental aleatria foi comparada com a

    prtica fsica aleatria (normal e com intervalos de descanso). Os resultados

    mostraram que a prtica aleatria mental causou mais interferncia na aquisio, alm

    de beneficiar a reteno, em relao prtica aleatria normal. A prtica fsica

    aleatria, com intervalos de descanso, causou menos interferncia na aquisio,

    porm facilitou a reteno tanto quanto a outra condio aleatria. Conclui-se ento

    que os processos cognitivos so importantes na ocorrncia do EIC, que obteve

    confirmao nos dois experimentos.

    HEITMAN & GILLEY (1989) verificaram a influncia da estrutura da

    prtica variada em 20 indivduos portadores de deficincia mental com mdia de

  • idade cronolgica de 17,5 anos e com coeficientes de inteligncia (QI) de 51,8 em

    mdia. A tarefa foi o rotor de perseguio (WHITEHURST & DEL REY, 1983) com

    manipulao da velocidade. O tempo no alvo foi a varivel dependente nas 15

    tentativas de aquisio e nas 15 tentativas de transferncia (inside transfer)

    realizadas no dia seguinte. Os resultados indicaram a no ocorrncia do EIC, por

    conta da ausncia de diferena entre os grupos tanto na aquisio como na

    transferncia.

    DEL REY (1989) investigou a influncia da prtica em tarefas do mundo

    real na reteno de tarefas de laboratrio. Sessenta e quatro universitrias

    executaram uma tarefa de timing antecipatrio em 64 tentativas de aquisio e 12

    de reteno. Em seguida, os sujeitos praticaram habilidades do tnis de campo

    durante quatro semanas. Ento, foram submetidos novamente a outra reteno

    idntica anterior e a um teste de transferncia. Concluiu-se que a estrutura do teste

    de reteno imediato influenciou o resultado: quando as tentativas foram organizadas

    em blocos, o grupo em blocos obteve melhor desempenho; quando as tentativas eram

    aleatrias, o grupo aleatrio foi superior (especificidade de aprendizagem). Depois do

    treinamento nas habilidades do tnis de campo, o grupo aleatrio obteve melhora

    significante na reteno prolongada em relao ao grupo em blocos, confirmando o

    EIC.

    SHEA, KOHL & INDERMILL (1990) manipularam diferentes quantidades

    de prtica em 72 estudantes universitrios numa tarefa de posicionamento envolvendo

    controle de fora. Os sujeitos executaram as tarefas de formas aleatria e em blocos,

    porm dentro de cada grupo houve subgrupos de diferentes quantidades de prtica:

    50, 200 e 400 tentativas. A varivel dependente foi o erro total. Um dia aps o

    trmino da aquisio, os sujeitos foram submetidos a um teste de reteno em 50

    tentativas em ordem aleatria e em blocos. De acordo com os resultados, as

    performances de aquisio foram inferiores nos grupos aleatrios em relao aos

  • grupos em blocos com pequenas diferenas entre os grupos com diferentes

    quantidades de prtica. J na reteno, os sujeitos que praticaram aleatoriamente por

    400 vezes obtiveram desempenhos superiores na reteno (aleatria e em blocos) em

    relao aos sujeitos do grupo em blocos. Aumentar o nmero das tentativas de

    aquisio em blocos no melhorou a reteno em blocos, e ainda provocou efeito

    negativo na reteno organizada de forma aleatria. Aparentemente, os benefcios da

    prtica em blocos ocorreram nos estgios iniciais de prtica, mas ao longo do tempo

    as respostas foram ficando mais rgidas e inflexveis. Considerando os grupos de 50

    tentativas, o grupo em blocos obteve melhor desempenho na reteno que o grupo

    aleatrio.

    CARNAHAN, VAN EERD & ALLARD (1990) pesquisaram 48 estudantes

    universitrios de ambos os sexos em uma tarefa de timing antecipatrio. Foram

    formados dois grupos de movimento em blocos e aleatrio e dois grupos de no-

    movimento em blocos e aleatrio (apenas apertar o boto e estimar o tempo de

    movimento). A aquisio constou de 60 tentativas, ao cabo que a reteno (aps 10

    minutos) consistiu de oito repeties. Os resultados mostraram que o grupo de

    movimento em blocos desempenhou com menos erros durante a aquisio em

    comparao com o grupo de movimento aleatrio, situao que se inverteu na

    reteno (resultado tpico do EIC). Para os grupos de no-movimento, no houve

    diferenas entre os dois tipos de prtica na aquisio e na reteno.

    BOYCE & DEL REY (1990) pesquisaram 90 estudantes universitrios de

    ambos os sexos em dois grupos de alta e baixa interferncia contextual. A tarefa

    utilizada foi o tiro ao alvo em posio ajoelhada a diferentes alvos. A fase de

    aquisio foi realizada em quatro dias durante a qual os sujeitos executaram um total

    de 20 tiros (cinco em cada dia). Aps 15 minutos do trmino da ltima sesso de

    aquisio, e aps uma semana, os sujeitos foram submetidos a testes de reteno em

    10 tentativas. Ainda, foi aplicado um teste de transferncia em trs tentativas numa

  • posio nova. As pesquisadoras verificaram que, durante a aquisio, no houve

    diferenas significantes entre os grupos em nenhum dos blocos, porm as mdias do

    grupo em blocos sempre foram maiores que as do grupo aleatrio. Na reteno, do

    mesmo modo, no foram detectadas diferenas significantes entre os grupos. J no

    teste de transferncia, o desempenho do grupo de alta interferncia contextual foi, de

    forma significante, superior ao do grupo em blocos. Logo, o EIC obteve confirmao

    parcial. interessante salientar o comentrio que um maior nmero de erros na

    aquisio aumenta a capacidade de transferncia, o que implica na afirmao de que

    errar bom para transferir bem.

    FRENCH, RINK & WERNER (1990) realizaram uma pesquisa com 139

    estudantes colegiais de ambos os sexos distribudos em trs grupos: aleatrio, em

    blocos e misto (primeira metade de prtica em blocos e segunda metade de prtica

    aleatria). Os sujeitos praticaram os fundamentos do voleibol: manchete, toque e

    saque por cima. A progresso de ensino para as trs habilidades motoras foi planejada

    de acordo com quatro nveis de dificuldade para cada fundamento, com vistas a fazer

    com que os estudantes praticassem desde um nvel inicial progredindo at um nvel

    elevado. Todos os sujeitos praticaram o primeiro nvel de dificuldade por 15

    tentativas, o segundo nvel de dificuldade por 30 tentativas, o terceiro nvel de

    dificuldade por 30 tentativas, e a condio de teste (ou quarto nvel de dificuldade)

    por 15 tentativas. Cada grupo praticou nove sesses de uma hora durante 11 dias

    (quatro dias de prtica, dois dias de descanso e cinco dias de prtica). A cada dia, 30

    tentativas eram executadas (270 no total). Foi oferecido CR e conhecimento de

    performance (CP) de forma intermitente e direta para os estudantes menos

    habilidosos. Aps dois dias do final da aquisio, aconteceu o teste de reteno. Os

    resultados mostraram que, embora tenha havido melhora significante do incio da

    prtica para o teste de reteno, no foram constatadas diferenas significantes na

  • performance das habilidades motoras sob quaisquer condies de prtica oferecidas,

    fato que nega a superioridade da prtica aleatria.

    HUSAK, COHEN & SCHANDLER (1991) investigaram como os

    parmetros fisiolgicos contribuem para o EIC, uma vez que as variveis fisiolgicas

    so freqentemente usadas para inferir esforo cognitivo. As variveis dependentes

    utilizadas no estudo foram a freqncia cardaca e a palmar skin conductance, as

    quais refletem o pico de ativao. Vinte e nove estudantes universitrios realizaram

    uma tarefa de posicionamento em 192 tentativas. Os resultados estiveram de acordo

    com as previses de BATTIG (1966, 1972). A prtica aleatria provocou um estado

    de ativao em nveis mais altos que a prtica em blocos. Segundo SOKOLOV

    (1963)* apud HUSAK et alii (1991), a ativao fisiolgica estabiliza apenas depois

    que o organismo determina que um estmulo no requer mais ateno. Em um

    experimento de aprendizagem, o modelo de SOKOLOV prediz que a alta ativao

    perdura at que a resposta seja aprendida realmente. Com a prtica aleatria, o sujeito

    aprende mais devagar, aumentando a ativao.

    WRISBERG & LIU (1991) realizaram um estudo dentro de aulas de

    educao fsica com a participao de 52 universitrios, de ambos os sexos, inscritos

    em classes iniciais de badminton. As tarefas foram os saques longo e curto

    executados em uma quadra oficial da modalidade. As aulas aconteceram s segundas,

    quartas e sextas-feiras, com durao de 50 minutos cada. Houve um pr-teste para a

    formao de dois grupos homogneos: aleatrio e em blocos. Na aquisio, os

    sujeitos praticaram nove saques de cada tipo, em cinco perodos de aula, perfazendo

    um total de 90 saques. Durante a fase de testes, os indivduos realizaram 12 saques de

    reteno e 12 saques de transferncia (do lado oposto). Constatou-se, atravs dos

    resultados, que durante a aquisio, ocorreram melhoras significantes na performance

    dos dois tipos de saque para ambos os grupos. Houve tambm uma significante

    * Y.N. SOKOLOV, Perception and the conditioned reflex, Oxford, Pergamon, 1963.

  • superioridade do grupo em blocos nos dois ltimos dias de prtica para o saque curto.

    Ao contrrio, na reteno com saque curto e na transferncia para ambos os tipos de

    saque, o grupo em blocos obteve desempenho inferior ao grupo aleatrio com

    significncia estatstica. Assim, conclui-se, de uma forma geral, que o EIC foi

    verificado.

    WRISBERG (1991) realizou um experimento similar ao de WRISBERG &

    LIU (1991), com a diferena de que houve dois grupos sacando do mesmo local e

    dois grupos sacando de seis locais diferentes (da frente esquerda, da frente ao

    centro, da frente direita, de trs esquerda, de trs ao centro e de trs direita).

    Ainda, os sujeitos executaram 216 tentativas de aquisio. Na fase de reteno, os

    praticantes realizaram 12 tentativas de cada tipo de saque (curto e longo). Os

    resultados indicaram que nas duas condies aleatrias a preciso foi maior que nas

    duas condies em blocos. Houve superioridade significante dos dois grupos

    aleatrios para o saque curto, porm no para o saque longo.

    WOOD & GING (1991) elaboraram um estudo com o intuito de verificar

    se a similaridade das tarefas reforaria o EIC. Para tanto, 60 estudantes universitrios

    executaram por 72 vezes uma tarefa de posicionamento de uma caneta em um

    movimento contnuo, atravs do qual vrios pontos deveriam ser unidos. As tarefas

    de alta similaridade imitavam uma letra N e as outras no apresentavam padro de

    letra. As variveis dependentes foram o tempo de reao e o tempo de movimento.

    Foram formados cinco grupos: aleatrio e em blocos (ambos com alta e baixa

    similaridade) e controle. Aps cinco minutos do trmino da aquisio, foram

    realizadas 12 tentativas de reteno e 12 tentativas de transferncia. Segundo os

    resultados, o EIC no foi verificado para as tarefas com alta similaridade. Muitos

    sujeitos usaram a estratgia de dar significado aos padres. A familiaridade aumenta a

    lembrana do padro quando a estrutura de prtica fora o sujeito a armazenar vrios

  • itens na memria ativa. Em suma, os dados apoiam a viso de que a prtica aleatria

    melhora a reteno desde que os nveis de interferncia sejam apropriados.

    WRIGHT (1991) investigou o papel do processamento inter e intra tarefa

    na prtica em blocos. Quarenta e oito estudantes universitrios praticaram 54

    tentativas de aquisio de uma tarefa de derrubada de barreiras (similar de SHEA &

    MORGAN, 1979). Formaram-se quatro grupos de prtica em blocos: sem

    processamento adicional, com a visualizao de um diagrama com a seqncia

    praticada na tentativa anterior (processamento intra-tarefa), com a visualizao de um

    diagrama diferente da tentativa executada anteriormente (processamento intra-tarefa),

    e com a procura de similaridades entre o diagrama da tentativa executada

    anteriormente e outro diagrama com caractersticas diferentes (processamento inter-

    tarefas). Aps 10 minutos, os sujeitos efetuaram nove tentativas de reteno. Os

    resultados mostraram que o grupo com processamento inter-tarefas foi o nico que

    obteve desempenho superior na reteno. Em contrapartida, todos os grupos

    obtiveram desempenhos similares na aquisio. O engajamento inter-tarefas quando

    se pratica em blocos facilita a reteno sem comprometer a performance de aquisio.

    BORTOLI, ROBAZZA, DURIGON & CARRA (1992) realizaram um

    experimento utilizando as seguintes tarefas do voleibol: toque a trs metros da rede,

    manchete a quatro metros da rede e o saque por cima a cinco metros da rede a um

    alvo afixado no cho. Tomaram parte na pesquisa 52 adolescentes (mdia de 14,6

    anos) distribudos em quatro grupos: aleatrio, em blocos (em cada sesso apenas

    uma habilidade), seriado (blocos de seis repeties por habilidade) e seriado com alta

    interferncia contextual (blocos de duas repeties por habilidade). Os sujeitos, que

    faziam parte das turmas regulares de educao fsica, praticaram as habilidades em

    oito sesses, uma vez por semana, durante dois meses. Por sesso eram executadas 36

    tentativas (total de 216). Houve um teste de transferncia em seis tentativas por

    habilidade a um metro a mais e a um metro a menos em relao s tarefas de

  • aquisio. Segundo os resultados, observou-se uma melhora de desempenho da

    primeira para a ltima sesso em todos os grupos. Entrementes, no houve diferena

    entre os grupos em nenhuma fase do experimento, exceto no teste de transferncia

    longo, no qual o grupo aleatrio e o grupo seriado com alta interferncia contextual

    foram superiores aos outros dois na habilidade saque. Assim, obteve-se confirmao

    parcial para o EIC.

    WRIGHT, LI & WHITACRE (1992) realizaram um estudo similar ao de

    WRIGHT (1991) com a adio de um grupo de prtica aleatria e com um teste de

    reteno aps 21 dias do trmino da aquisio. Sessenta estudantes universitrios

    realizaram a tarefa de posicionamento em 54 tentativas. Os resultados replicaram os

    achados de WRIGHT (1991), no qual a prtica em blocos combinada com atividade

    de processamento inter-tarefas promoveu melhor reteno. Os grupos aleatrio e em

    blocos com atividade de processamento inter-tarefa foram equivalentes na reteno,

    apesar de apresentarem desempenhos diferentes na aquisio. Ainda, os grupos

    aleatrios com atividade de processamento (inter ou intra-tarefa) no diferiram do

    grupo aleatrio normal. Ademais, o grupo aleatrio com processamento inter-tarefas

    foi pior que os outros dois na aquisio, e na reteno obteve desempenho igual ao

    grupo em blocos normal. importante salientar que, sem levar em considerao o

    processamento adicional, o EIC foi verificado aps um extensivo perodo de intervalo

    (21 dias), principalmente na medida de tempo de movimento. Novamente, este estudo

    deu suporte superioridade da prtica em blocos com processamento inter-tarefas.

    Alm disso, o aumento dos nveis de atividade inter-tarefa para o grupo aleatrio foi

    prejudicial tanto na aquisio quanto na transferncia. Isto sugere um limite na

    magnitude da interferncia que pode ser induzida numa sesso de prtica para

    alcanar reteno tima.

    HORAK (1992) investigou a utilidade do coneccionismo (redes neurais ou

    processamento distribudo paralelo) na aprendizagem motora reinterpretando a

  • interferncia contextual com base na teoria de esquema motor. O coneccionismo tem

    alicerces numa estrutura paralela constituda de um grande nmero de unidades, ao

    invs de uma nica unidade complexa de processamento. A informao armazenada

    de forma distribuda como o estabelecimento de pesos nas conexes entre as

    unidades. Os pesos determinam a robustez das conexes que, por sua vez,

    contribuem para determinar a ativao de uma unidade. A aprendizagem envolve a

    mudana na relao entre os pesos, o que leva a padres de ativao diferentes

    atravs das unidades medida que a aprendizagem progride. Todo esse processo

    implcito alcanado pela prtica atravs de estmulos relevantes. Dois conceitos

    importantes do coneccionismo so: a) o feedforward, que um modelo inverso do

    objeto que ser controlado a fim de lanar mo de comandos motores que sero

    adequados para alcanar o objetivo desejado; e b) o forward model, uma

    representao interna da dinmica do objeto que prev seu comportamento e simula o

    resultado do movimento. A integrao dos dois modelos leva a uma unificao da

    rede neural atravs da qual os movimentos habilidosos so executados. Quando o

    movimento est sendo aprendido, apenas o modelo inverso de feedforward

    recrutado. O estudo de HORAK (1992) descreve uma simulao de uma rede neural

    que sugere como o esquema de lembrana pode ser representado e tambm tenta

    explicar a interferncia contextual. A teoria de esquema motor um bom ponto de

    partida para o modelo de redes neurais, visto que a relao entre o resultado do

    movimento e os parmetros so importantes. Para facilitar a utilizao do

    coneccionismo na hiptese da variabilidade de prtica e na interferncia contextual,

    HORAK utilizou uma tarefa padro e adaptou-a aos modelos do coneccionismo. A

    tarefa foi discreta com graus de liberdade simples e envolveu escolher a quantidade

    de fora necessria para atingir uma determinada distncia (similar a um arremesso).

    O autor no citou quais os sujeitos que participaram do estudo. Uma rede neural com

    trs unidades foi utilizada. A varivel dependente foi o erro medido atravs do total

  • da soma dos quadrados (padro nos estudos das redes neurais), o que seria

    equivalente ao erro varivel. O regime de prtica teve 600 tentativas seguidas de uma

    transferncia em uma nova distncia dentro da amplitude praticada anteriormente. A

    prtica foi manipulada de forma aleatria, em blocos e seriada. Depois, foi fornecida

    uma segunda fase de aquisio com um segundo tipo de arremesso com uma

    relao fora-distncia no-linear (diferente da primeira). Da mesma forma, 600

    tentativas foram executadas, e, logo aps, houve a transferncia idntica anterior. A

    caracterstica mais marcante dos resultados foi que a prtica em blocos foi superior s

    outras durante as fases de aquisio. A prtica seriada e a prtica aleatria foram

    equivalentes. A performance se tornou mais similar entre as prticas aps as 600

    tentativas, o que significa que os estados inadequados do sistema foram evitados. Isto

    pode ser interpretado como uma mistura entre os pesos no comeo da segunda

    aquisio combinados com uma forte capacidade de lidar com as dicas do

    feedback. Na transferncia, a prtica em blocos apresentou uma predominncia

    local para a ltima distncia praticada na aquisio. Nas prticas aleatria e seriada,

    houve uma disposio mais global fazendo com que a transferncia fosse facilitada. A

    teoria de esquema motor no especifica onde a informao mantida e como ela

    acessada para a produo do movimento. Nesse ponto, os modelos do coneccionismo

    podem ser teis, uma vez que a simulao do estudo representa a aquisio de um

    modelo inverso para um parmetro. Assim, presume-se que haja um objeto

    controlado com confiana e um modelo de forward que converte o erro em um

    comando motor de erro, fornecendo um sinal para o modelo inverso. O esquema de

    lembrana incrementado de duas formas: no modelo forward pelo mapeamento

    parmetro-resultado e no modelo inverso de feedforward com o mapeamento

    resultado-parmetro. Assim, a prtica variada proporciona um modelo que fornece

    informao para aprender o controle. Na prtica em blocos, o sistema fechou num

    estado estvel. As prticas seriada e aleatria, que foram expostas a uma maior

  • amplitude de variao dos pesos na aquisio proporcionaram melhor transferncia.

    O EIC interpretado do ponto de vista do coneccionismo tem um enfoque menor nos

    processos cognitivos de alto nvel.

    LEE, WULF & SCHMIDT (1992) elaboraram um estudo para testar a

    hiptese de que o EIC ocorre somente quando a prtica requer um diferente tempo

    relativo em uma tarefa de posicionamento similar do estudo de WULF &

    SCHMIDT (1988). Foram distribudos 48 estudantes universitrios de ambos os

    sexos em quatro grupos: em blocos e aleatrio praticando trs tarefas de timing

    com o mesmo tempo relativo e com diferentes tempos relativos. Os sujeitos

    praticaram em dois dias consecutivos. No primeiro dia, os indivduos realizaram 90

    tentativas (fase de aquisio), submetendo-se depois a dois testes de transferncia e a

    um teste de reteno. No dia seguinte, os sujeitos participaram de um teste de

    reteno seguido de outra fase de aquisio com mais 90 tentativas e dois testes de

    transferncia. Todos os testes consistiram de 12 tentativas. Os resultados mostraram

    que o EIC foi parcialmente confirmado. Nas fases de aquisio, reteno e

    transferncia, as diferenas entre os grupos aleatrio e em blocos no foram

    significantes quando o tempo relativo era o mesmo. No entanto, de acordo com a

    hiptese de MAGILL & HALL (1990), o EIC foi detectado quando as variaes da

    tarefa eram controladas por diferentes programas motores, ou seja, diferentes tempos

    relativos (sobretudo na fase de transferncia).

    WULF (1992) utilizando 48 universitrios de ambos os sexos em uma

    tarefa de posicionamento similar da pesquisa de LEE et alii (1985), quis verificar se

    o EIC pode tambm ser detectado se as verses da tarefa a ser aprendida so

    governadas pelo mesmo programa motor, requerendo apenas parmetros diferentes.

    Os sujeitos foram aleatoriamente distribudos em quatro grupos: aleatrio sem CR,

    em blocos sem CR, aleatrio com CR e em blocos com CR. Todos os grupos

    praticaram as mesmas trs verses da tarefa (A, B, C), no entanto, os grupos

  • denominados sem CR no receberam CR algum na verso B (com amplitudes

    mdias), mas tiveram 100% de CR nas outras duas verses. Os grupos denominados

    com CR receberam 100% de CR em todas as trs verses. O experimento consistiu

    de trs fases: aquisio, reteno imediata (aps cinco minutos) e reteno

    prolongada (no dia seguinte). Durante a fase de aquisio, todos os indivduos

    realizaram 90 tentativas, 30 de cada verso. Os testes de reteno consistiram de 12

    tentativas sem CR na verso de amplitudes mdias. Os resultados indicaram a

    ausncia de diferenas significantes entre os dois grupos aleatrios e entre os dois

    grupos em blocos na aquisio. Do mesmo modo, no teste de reteno imediato no

    houve diferenas significantes entre os grupos. Contudo, no teste de reteno

    prolongado, o grupo aleatrio sem CR foi, com significnica, mais preciso que o

    grupo em blocos sem CR. Destarte, quando no foi fornecido CR em uma das

    verses, a prtica aleatria foi mais eficaz, comparada prtica em blocos, apesar de

    as tarefas pertencerem mesma categoria de movimento (contradizendo a hiptese de

    MAGILL & HALL, 1990). Se a freqncia relativa de CR reduzida a zero numa

    verso da tarefa, os executantes podem aprender somente esta verso pela

    interpolao de suas experincias com as outras verses. Esta interpolao parece ser

    mais eficaz quando diferentes verses da tarefa so praticadas com alta proximidade

    temporal, como na prtica aleatria. Na prtica em blocos, apenas uma verso da

    tarefa praticada por vez, tornando as comparaes entre as tarefas mais difceis.

    No estudo de AL-AMEER & TOOLE (1993), 36 estudantes universitrios

    foram distribudos em quatro grupos: aleatrio, em blocos, em blocos aleatrios de

    duas tentativas e em blocos aleatrios de trs tentativas. A tarefa foi apertar botes

    como tarefas intermedirias entre o acionamento e o desacionamento de dois botes

    principais. As variveis dependentes foram o tempo de reao e o tempo de

    movimento, e o aspecto manipulado foi a seqncia em que os botes eram

    pressionados. Foram efetuadas 54 tentativas de aquisio e, aps 10 minutos, houve a

  • reteno com 24 tentativas em ordem aleatria. O grupo em blocos aleatrios de trs

    tentativas teve desempenho similar ao grupo em blocos na aquisio em ambas a

    medidas, e melhor que o grupo aleatrio na medida de tempo de reao. Na reteno,

    os grupos aleatrio e em blocos aleatrios de trs tentativas apresentaram

    desempenhos melhores que os outros dois grupos em ambas as medidas. Estes

    resultados forneceram suporte noo de que a performance de aquisio no precisa

    ser diminuda para se obter ganhos na reteno. O fato do teste de reteno ter sido

    estruturado de forma aleatria tambm foi discutido de forma positiva, uma vez que

    ambos os grupos de prtica mista, que nunca praticaram de forma totalmente

    aleatria, foram capazes de desempenhar bem sem degradao da performance, at

    aumentando os escores. Os autores argumentaram que quando pelo menos trs

    repeties de prtica em blocos so combinadas com a prtica aleatria, menos

    interferncia ocorre, e os sujeitos esquecem alguns dos planos de ao enquanto esto

    praticando o que os obriga a reconstruir o plano de ao. Em virtude de ocorrer

    menos interferncia e de o processo de reconstruo ser menos pronunciado em

    comparao com a prtica aleatria, a performance no deteriorou na aquisio.

    SHEA & TITZER (1993) estudaram a influncia das tentativas de

    lembrana no EIC em 64 estudantes universitrios. A tarefa experimental de

    posicionamento foi similar de SHEA & MORGAN (1979). Quatro grupos de

    prtica foram formados: aleatrio, em blocos, aleatrio com lembrana e em blocos

    com lembrana. Na aquisio, os sujeitos efetuaram 54 tentativas. Os testes de

    reteno aconteceram aps 10 minutos e aps 24 horas, cada qual com nove

    tentativas. Os resultados indicaram que as tentativas de lembrana no apenas

    eliminaram o EIC no teste de reteno imediato como tambm no prolongado.

    SMITH & RUDISILL (1993) recrutaram 120 estudantes universitrios que

    realizaram uma tarefa de timing antecipatrio no Temporizador de Bassin. Depois

    de distribudos em dois grupos de prtica variada (aleatrio e em blocos), os sujeitos

  • participaram de um pr-teste em cinco tentativas. Houve ento uma classificao de 1

    a 60 dentro de cada grupo de acordo com os escores de erro absoluto. Em seguida, os

    sujeitos foram pareados em nvel de habilidade da seguinte forma: dentro de cada

    grupo os 24 melhores classificados formaram o grupo nvel alto de habilidade e os 24

    piores constituram o grupo nvel baixo de habilidade (cada qual com o mesmo

    nmero de homens e mulheres). A fase de aquisio constou de 40 tentativas e aps

    cinco minutos os sujeitos executaram 10 tentativas (cinco em cada velocidade) de

    transferncia fora da amplitude praticada na aquisio. Os sujeitos que apresentaram

    menos erros na aquisio foram: do sexo masculino, com alto nvel de habilidade e do

    grupo em blocos. Na transferncia, as mulheres do grupo em blocos apresentaram

    mais erros que as do grupo aleatrio para os erros total e varivel. De um modo geral,

    os sujeitos do grupo em blocos obtiveram piores desempenhos que os do grupo

    aleatrio na menor velocidade de transferncia, porm no na maior. Destarte, o EIC

    foi detectado apenas para as mulheres na tarefa de transferncia que mais se afastou

    das tarefas de aquisio. A prtica aleatria no refletiu em rendimento superior na

    transferncia em relao prtica em blocos, mas possibilitou um menor decrscimo

    de performance.

    No experimento de WULF & LEE (1993), 64 universitrios submeteram-se

    realizao de uma tarefa de posicionamento idntica do estudo de WULF &

    SCHMIDT (1988). O objetivo foi investigar se, numa situao que requer a

    aprendizagem de movimentos com o mesmo tempo relativo (mesmo programa

    motor), porm com duraes totais diferentes (diferentes parmetros), a estruturao

    da prtica tem um efeito na aprendizagem dos parmetros. Os indivduos foram

    distribudos em quatro grupos: aleatrio e em blocos com 100% de CR, e aleatrio e

    em blocos com CR sumrio a cada trs tentativas. A fase de aquisio constou de 108

    tentativas. Os testes de reteno e de transferncia tiveram 12 tentativas e

    aconteceram no mesmo dia e no dia seguinte. Os resultados mostraram que no houve

  • interaes da estruturao de CR com a interferncia contextual (com exceo do CR

    sumrio que tende a degradar o desempenho na fase de aquisio). Outra

    possibilidade que a amplitude do CR sumrio (de trs em trs tentativas) foi

    insuficiente para produzir o efeito esperado, visto que existe uma amplitude tima

    para cada tarefa. Os erros de tempo relativo nos testes prolongados evidenciaram que

    a prtica aleatria beneficiou a aprendizagem do aspecto invarivel do programa

    motor. Os erros do tempo absoluto, por outro lado, foram freqentes no grupo

    aleatrio, indicando que a aprendizagem dos parmetros foi menor em comparao

    com o grupo em blocos. Os resultados indicaram a seguinte tendncia nos testes: a

    prtica aleatria foi mais eficaz na produo da estrutura bsica de movimento

    (aspecto invarivel), ao passo que a prtica em blocos beneficiou a produo dos

    parmetros do movimento. Concluiu-se, ento, que o EIC foi parcialmente

    confirmado.

    BLANDIN, PROTEAU & ALAIN (1994) estudaram o EIC e a prtica de

    observao em 84 estudantes universitrios que realizaram uma tarefa de

    posicionamento similar de SHEA & MORGAN (1979). Foram formados dois

    grupos experimentais: de prtica fsica e de prtica de observao. Os sujeitos de cada

    grupo praticaram com diferentes estruturas de prtica. A primeira fase de aquisio

    constituiu-se de 108 tentativas e a de reteno imediata de 18 tentativas. Depois,

    houve uma nova aquisio idntica anterior e dois testes de reteno, um imediato e

    outro aps 24 horas. Os resultados mostraram que a prtica de observao diminui a

    necessidade de prtica fsica. Ademais, a prtica fsica foi mais eficaz para a

    aprendizagem a longo prazo em relao combinao de prtica fsica com a

    observao. Ainda, o EIC foi apenas detectado no primeiro teste de reteno

    imediato.

    DEL REY, LIU & SIMPSON (1994) tiveram a preocupao de verificar a

    influncia da inibio retroativa no EIC. A inibio retroativa a fraca reteno de

  • uma atividade resultante de outra atividade interpolada entre a aquisio e a reteno.

    Setenta e cinco universitrias foram distribudas em cinco grupos de prtica em uma

    tarefa de posicionamento, na qual vrios botes tinham de ser pressionados em

    seqncias diferentes: controle (18 tentativas para o estmulo vermelho), em blocos

    sem inibio retroativa (18 azul, 18 branco e 18 vermelho), em blocos-18 (18 branco,

    18 vermelho e 18 azul), em blocos-36 (18 vermelho, 18 azul e 18 branco) e aleatrio

    (54 tentativas aleatrias nas trs cores). A reteno constou de 18 tentativas no

    estmulo vermelho. De acordo com os resultados, o grupo aleatrio e o grupo em

    blocos sem inibio retroativa apresentaram tempos de reao mais curtos que os

    outros grupos. Assim, os sujeitos que praticaram em blocos com inibio retroativa

    apresentaram um dficit de reteno comparados aos sem inibio. Entretanto, na

    transferncia, o EIC foi detectado apenas na primeira tentativa, sendo dissipado ao

    longo das tentativas. interessante notar que o nvel de interferncia contextual para

    todos os grupos em blocos foi o mesmo, o que mudou foi a quantidade de inibio

    retroativa. Esta inibio parece ser de natureza cognitiva porque produziu tempos de

    reao menores, a despeito de no ter afetado os tempos de movimento.

    SEKIYA, MAGILL, SIDAWAY & ANDERSON (1994) investigaram o

    EIC para variaes de tarefas motoras governadas pelos mesmos e por diferentes

    programas motores, realizando dois experimentos com uma tarefa de posicionamento

    similar utilizada por WULF & SCHMIDT (1988). No primeiro experimento, o EIC

    na reteno foi investigado na aprendizagem de variaes de tarefas tendo estruturas

    diferentes de tempo relativo, provavelmente