17º audhosp · 2018. 10. 15. · eliana calmon, valendo a transcrição de trechos do julgamento...
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17º AUDHOSP “Não controlamos o vento, mas podemos ajustar as
velas.”
Aprendendo a ler a carta de navegaçãoRelação Gestor, Prestador e demais tripulantes.
Contextualização do financiamento com a assistência hospitalar
-O que existe no mundo das normas e o que acontece na prática?
-Somos meros expectadores do nosso Sistema Universal de
Saúde?
-Se hoje você pudesse ajustar as velas para mudar os rumos do
SUS em prol de uma melhoria do atendimento para o cidadão, o
que faria?
Cenário Normativo
“No âmbito do SUS, a intensa pulverização das decisões
administrativas e políticas em favor dos municípios contrasta com
a concentração dos recursos financeiros na figura da União,
trazendo ao sistema uma realidade paradoxal. Os municípios se
empoderaram de atribuições na consecução das ações e serviços de
saúde, traduzindo, em inúmeros casos, esta necessidade em
disponibilização de determinados serviços em seus territórios, os
quais, por muitas vezes, se revelaram não sustentáveis.”
Fonte: Artigo publicado no Anuário 2018 da FEDERASSANTAS –
autoria Kátia Rocha
Cenário Normativo
Cenário Normativo – Constituição Federal 1988
Cenário Normativo – Lei 8080 de 1990
Cenário Normativo – Lei 8080 de 1990
Cenário NormativoLei 8080 de 1990
Cenário Normativo – Lei Complementar 141/2012
Cenário Real
Extraído da apresentação do Dr Mauro Junqueira – CONASEMShttp://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cssf/arquivos-de-
eventos/seminarios-2018/seminario-30-anos-do-sus/apresentacao-mauro
Como Hospitais tem resistido diante deste cenário?
Os hospitais conhecidos como “filantrópicos”
despontam, portanto, como herdeiros de uma
situação fática ilegal na maioria dos casos, o que
precariza a qualidade dos serviços e impõe
desafios por vezes insuperáveis aos gestores
hospitalares. Com efeito, nos últimos 30 anos,
tais organizações não tiveram oportunidade de
precificar seus serviços ou tampouco apontar os
custos operacionais mínimos.
Cenário Real do Financiamento Hospitalar
Omissão por mais de 20 anos do Ministério da Saúde, em dar
cumprimento ao disposto no artigo 26 da Lei Orgânica da Saúde (Lei
Federal n. 8.080, de 19/09/1990) com a finalidade de estabelecer
padrões uniformes de remuneração dos serviços prestados de forma
complementar ao SUS, de modo a fundamentar seus atos em
demonstrativos econômico-financeiros, indispensável para fins da
sustentabilidade econômico-financeira dos serviços contratados junto
aos prestadores em questão.
Cenário Real do Financiamento Hospitalar
Citar a auditoria da CGU
Cenário Normativo do financiamento hospitalar complementar – Lei 8080 8080
Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os parâmetros de
cobertura assistencial serão estabelecidos pela direção nacional do Sistema Único
de Saúde (SUS), aprovados no Conselho Nacional de Saúde.
§ 1° Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de pagamento da
remuneração aludida neste artigo, a direção nacional do Sistema Único de Saúde
(SUS) deverá fundamentar seu ato em demonstrativo econômico-financeiro que
garanta a efetiva qualidade de execução dos serviços contratados.
•
§ 2° Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técnicas e administrativas e
aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio
econômico e financeiro do contrato. (grifos nossos)
Cenário NormativoLei 8080 de 1990
Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete:
I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de
saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde;
II - participar do planejamento, programação e organização da rede
regionalizada e hierarquizada do Sistema Único de Saúde (SUS), em
articulação com sua direção estadual;
(…)
X - observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contratos e
convênios com entidades prestadoras de serviços privados de
saúde, bem como controlar e avaliar sua execução;
Cenário Normativo
Mandado de Segurança n. 13.230-DF, cuja relatoria coube à Exma. Ministra
Eliana Calmon, valendo a transcrição de trechos do julgamento ocorrido em
23/09/2009:
. Sendo assim, entendo que o ato tido por ilegal já detém contornos definitivos.
Depreende-se da leitura da Portaria GM/MS n° 2.488/07 (fl. 105/106), que este
ato infralegal reajustou, em caráter emergencial, todos os valores de
procedimentos ambulatoriais e hospitalares constantes das Tabelas dos
Sistemas de Informação Ambulatorial e Hospitalar, sem, contudo, vir
acompanhado de demonstrativo econômico-financeiro, fato, inclusive,
admitido pela autoridade apontada como coatora nas informações
prestadas. Assim, conforme frisado em obiter dictum no julgamento do MS
11.539/DF (Primeira Seção, DJ 06/11/2006), por mim relatado, entendo que a
autoridade reputada coatora, a partir do momento em que deixa de exibir o
demonstrativo econômico-financeiro (documento necessário para a
confecção da tabela de reajuste de valores dos serviços), descumpre
obrigação institucional prevista no art. 26, § 1°, da Lei 8.080/90, abaixo
transcrito, desafiando, portanto, a impetração de writ of mandamus (…)
(grifos nossos)
Cenário Real
Estados e municípios também não adotam práticas uniformes de
remuneração, a começar da própria aplicação das normas editadas pelo
Ministério da Saúde. Desde 2005, o Ministério da Saúde adotou para a
remuneração da média complexidade um parâmetro de orçamentação
global atrelado a uma análise de performance das instituições
contratadas, criando, ainda, um incremento financeiro baseado no
volume de produção destes serviços em lapsos temporais de 12 meses,
denominado de IAC.
CLASSE III – Plenário –TC 046.172/2012-2. Natureza: Consulta. Entidade: Ministério da Saúde. EMENDAS PARLAMENTARES PARA PAGAMENTO DE DESPESAS DE CUSTEIO A HOSPITAIS FILANTRÓPICOS E SANTAS CASAS.
Com relação ao posicionamento desta Corte de Contas sobre o tema,
entende-se que não há óbice legal ou manifestação contrária deste
Tribunal acerca da execução de emendas parlamentares para pagamento
de despesas de custeio. No entanto, é evidente que existem critérios e
condições previstos em normativos para que esses recursos sejam
executados, impedindo que os valores repassados criem discrepâncias
entre as unidades de saúde, favorecendo algumas em detrimento de
outras, bem como sejam empregados em finalidades diversas daquelas
expostas em plano de trabalho proposto em convênio.
Acrescenta-se, ainda, que eventuais demandas por recursos adicionais a
serem empregados por hospitais filantrópicos, santas casas ou outras
instituições de saúde devem ser necessariamente fundamentadas em
estudos e justificativas que comprovem que os valores remunerados pela
Tabela SUS estão realmente defasados e insuficientes para custear os
serviços prestados.
Cenário Real
• Comum a prática de remunerações distintas por Estados e Municípios
para a complementação da base remuneratória definida pelo Ministério
da Saúde, tendo-se como premissa um mesmo serviço sob as mesmas
condições de exigências técnicas e de singularidades de caráter
regional. Assim, um hospital poderá apresentar uma condição de
remuneração melhor que outro, o que muitas vezes gera, no mínimo,
dúvidas nos entes que fiscalizam a regularidade da prestação de
serviços de saúde, como o Ministério Público, ao se comparar condições
de endividamento de hospitais que comprometem a manutenção dos
serviços prestados ao SUS.
.
Como trabalhar a mudança em prol da melhoria do
financiamento hospitalar e propiciar um serviço de qualidade progressiva ao usuário?
Necessidade de adoção de um regramento normativo específico para as
contratações dos hospitais beneficentes que prestam serviços ao SUS e
que hoje respondem, só em Minas Gerais, por aproximadamente por
70% de todos os serviços prestados ao cidadão.
O Constituinte atribuiu ao Poder Legislativo tal competência e não ao
Executivo, no caso o Ministério da Saúde, conforme
inconstitucionalmente previu o artigo 16 da Lei 8080/90..
PROPOSTA DA FEDERASSANTAS
A adoção de um marco regulatórioora proposto para as contratações dos hospitais
beneficentes no SUS também avançaria na definição dos
parâmetros de participação financeira da União, estados
e municípios no custeio dos serviços ambulatoriais e
hospitalares de modo que a Tabela Nacional de
Procedimentos passasse a respeitar o disposto no
parágrafo único do art. 26 da Lei n. 8.080/90, sem, por
outro lado, significar obrigação de custeio exclusiva da
União
Já existem definições do MINISTÉRIO DA SAÚDE para concretizar o financiamento tripartite. Componente Básico da assistência farmacêutica.
Componente Especializado da Assistência Farmacêutica
SAMU É OUTRO EXEMPLOPortaria MS 1010/2012
PROPOSTA FEDERASSANTAS ROMPENDO PARADIGMAS EM PROL DA SUSTENTAILIDADE DO SUS
A tabela se transformaria em uma base real e matricial de valoração dos
serviços, com fundamentos em estudos técnicos que, de fato,
viabilizassem o financiamento adequado para os serviços que
permanecessem no modelo de pagamento por produção. O mesmo poderia
ser idealizado para o modelo de pagamento por orçamentação, ou valor
pré-fixado, definindo-se também neste âmbito as participações de estados
e municípios, ou, no mínimo, o que seria a participação da União.
Não será fácil!!!!!
O envolvimento de atores fundamentais no cenário nacional
de construção e efetivação do SUS como o Conselho
Nacional de Saúde, a Comissão Intergestores Tripartite, o
Ministério Público Brasileiro, o Tribunal de Contas da União
e a Confederação das Misericórdias do Brasil (com todas
suas federações filiadas), os Conselhos de Secretarias
Estaduais e Municipais, dentre outros, tornarão a proposta
capaz de ser concretizada junto ao Poder Legislativo.
Precisamos juntos romper paradigmas antes que o SUS seja desconstruído.
O adiamento desta construção coloca em risco não
apenas a continuidade da execução dos serviços
pelos hospitais beneficentes em todo o País, diante
do crescente endividamento dessas instituições, mas
aponta para a própria desconstrução e retrocesso do
histórico de tais instituições, que representam
verdadeiro patrimônio social e, portanto, figuram
como base sublime da participação popular na
execução do SUS, portando-se como reflexo de uma
sociedade civil organizada, capaz de implementar
uma verdadeira democracia participativa
Precisamos juntos romper paradigmas antes que o SUS seja desconstruído.
Os municípios e hospitais precisam estar juntos,
como representantes por excelência do cidadão, na
reconstrução do financiamento, não apenas da
assistência hospitalar, mas do nosso próprio Sistema
Único de Saúde.
O cidadão “mora no município” e quando a
prevenção não conquista os objetivos de evitar o
adoecimento ou quando o medicamento não é
fornecido, a única alternativa que desponta é o
Hospital, que, na conjuntura atual, pode também
pode falhar por falta de recursos e esgotamento da
capacidade de endividamento!
A LEI FEDERAL 13650/2018 e as responsabilidades da gestão municipal na contratação de serviços de
saúde
Dispõe sobre a certificação das entidades
beneficentes de assistência social, na
área de saúde, de que trata o art. 4º da
Lei nº 12.101, de 27 de novembro de
2009; e altera as Leis nºs 12.101, de 27 de
novembro de 2009, e 8.429, de 2 de
junho de 1992.
A LEI FEDERAL 13650/2018 e as responsabilidades da gestão municipal na contratação de serviços de
saúde
Art. 3º O art. 11 da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, passa a vigorar com as
seguintes alterações:
“Art. 11. .....................................................................
.............................................................................................
X - transferir recurso a entidade privada, em razão da
prestação de serviços na área de saúde sem a prévia
celebração de contrato, convênio ou instrumento congênere,
nos termos do parágrafo único do art. 24 da Lei nº 8.080, de
19 de setembro de 1990.” (NR)
A UNIÃO DO SETOR, POR MEIO DAS SUAS INSTITUIÇÕES REPRESENTATIVAS, POSSIBILIARÁ UMA MOBILIZAÇÃO NACIONAL, ORGANIZADA E ESTRATÉGICA, PARA QUE POSSAMOS AJUSTAR A
GRANDE VELA QUE PROMOVERÁ A SUSTENTABILIDADE DOS HOSPITAIS.
Katia Rocha
Advogada
Presidente da Federassantass/MG
Integrante do Comitê Saúde do CNJ em MG – representando a OAB
Contato – 031.987922823