14-naufrágio na ribeira

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 98 tintas. A feira, por seu lado, continuava os seus negócios. Comprava e vendia todos os tipos de mercadorias, recebia dezenas de barcos no seu cais e sobretudo ia engordando as suas reservas de dinheiro. As gavetas destinadas a guardar as notas e as moedas estavam tão cheias que o balconista era obrigado a pô-las no chão, atrás do balcão, e deixar que o seu ajudante as empilhasse por valores. Os carregadores andavam constantemente a transportar mercadorias do armazém para a feira, pois havia clientes a toda a hora, e a atender os que chegavam de barco. Quando esses clientes compravam coisas, os carregadores iam depois levar o dinheiro à feira. Se os clientes fossem vender coisas, os carregadores tinham que ir buscar dinheiro à feira, e por isso passavam o tempo todo a andar de um lado para o outro carregados com mercadorias e dinheiro. O director, tal como o da Casa da Moeda, era o que trabalhava menos na empresa. Limitava-se a andar de um lado para o outro, a vigiar os seus empregados e a ver as remessas de mercadorias e de dinheiro a crescerem rapidamente. A feira abrigava já milhares de euros em dinheiro vivo, e o armazém contava com algumas toneladas de mercadorias. A construção, no entanto, não estava fortificada como no caso da Casa da Moeda: se uma horda de funcionários invadisse a Quinta da Confusão, a feira seria facilmente saqueada, até porque não havia nenhuma maneira preparada para se evacuar o dinheiro. Era este o centro da economia da Quinta da Confusão, tal e qual como planeado quando se começara a construir a estrutura. Mas a feira nada seria sem os seus clientes, os animais da quinta. Dispersos um pouco por todo o território de 50 hectares, os animais trabalhavam sozinhos ou em pequenos grupos no cultivo de ervas, ou na extracção de ferro e de madeira, ou até no fabrico de instrumentos. Um agricultor que colhesse uma colheita da sua plantação vendia o que não precisava à feira, e depois usava algum desse dinheiro para comprar sementes ou para adquirir novos instrumentos agrícolas (a foice e o arado). O dinheiro ia depois para um madeireiro que vendesse a sua produção… E assim circulava o dinheiro pela Quinta da Confusão. 22:00 Até ali, os animais deitavam-se quando lhes apetecia, geralmente por volta da 22, 23 horas da noite. Mas a criação da feira e da Casa da Moeda vinha alterar isso. Com efeito, os directores de ambas as empresas tinham a noção de que tinham de estabelecer um horário de abertura e encerramento fixo, para que os clientes soubessem quando é que a feira estava aberta e para que os trabalhadores das empresas soubessem quando tinham de ir trabalhar e quando podiam sair do emprego. O director da Casa da Moeda decidiu então ir ver que horas eram. Saiu da sua empresa e foi à casa dos

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Páginas 98 a 101

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império

98

tintas. A feira, por seu lado, continuava os seus negócios. Comprava e vendia todos os tipos de mercadorias, recebia dezenas de barcos no seu cais e sobretudo ia engordando as suas reservas de dinheiro. As gavetas destinadas a guardar as notas e as moedas estavam tão cheias que o balconista era obrigado a pô-las no chão, atrás do balcão, e deixar que o seu ajudante as empilhasse por valores. Os carregadores andavam constantemente a transportar mercadorias do armazém para a feira, pois havia clientes a toda a hora, e a atender os que chegavam de barco. Quando esses clientes compravam coisas, os carregadores iam depois levar o dinheiro à feira. Se os clientes fossem vender coisas, os carregadores tinham que ir buscar dinheiro à feira, e por isso passavam o tempo todo a andar de um lado para o outro carregados com mercadorias e dinheiro. O director, tal como o da Casa da Moeda, era o que trabalhava menos na empresa. Limitava-se a andar de um lado para o outro, a vigiar os seus empregados e a ver as remessas de mercadorias e de dinheiro a crescerem rapidamente. A feira abrigava já milhares de euros em dinheiro vivo, e o armazém contava com algumas toneladas de mercadorias. A construção, no entanto, não estava fortificada como no caso da Casa da Moeda: se uma horda de funcionários invadisse a Quinta da Confusão, a feira seria facilmente saqueada, até porque não havia nenhuma maneira preparada para se evacuar o dinheiro. Era este o centro da economia da Quinta da Confusão, tal e qual como planeado quando se começara a construir a estrutura. Mas a feira nada seria sem os seus clientes, os animais da quinta. Dispersos um pouco por todo o território de 50 hectares, os animais trabalhavam sozinhos ou em pequenos grupos no cultivo de ervas, ou na extracção de ferro e de madeira, ou até no fabrico de instrumentos. Um agricultor que colhesse uma colheita da sua plantação vendia o que não precisava à feira, e depois usava algum desse dinheiro para comprar sementes ou para adquirir novos instrumentos agrícolas (a foice e o arado). O dinheiro ia depois para um madeireiro que vendesse a sua produção… E assim circulava o dinheiro pela Quinta da Confusão.

22:00

Até ali, os animais deitavam-se quando lhes apetecia, geralmente por volta da 22, 23 horas da noite. Mas a criação da feira e da Casa da Moeda vinha alterar isso. Com efeito, os directores de ambas as empresas tinham a noção de que tinham de estabelecer um horário de abertura e encerramento fixo, para que os clientes soubessem quando é que a feira estava aberta e para que os trabalhadores das empresas soubessem quando tinham de ir trabalhar e quando podiam sair do emprego. O director da Casa da Moeda decidiu então ir ver que horas eram. Saiu da sua empresa e foi à casa dos

Quinta da Confusão – O nascimento de um império

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donos, o único local da Quinta da Confusão onde havia relógios. Pela janela, viu que o relógio da cozinha mostrava 21:55. Depois, foi até à ribeira puxando a sua carroça, com o seu barco a remos em cima, e usou-o para ir até ao armazém. Avisou depois o seu amigo (já o eram antes da Fuga do Mercado e do Resgate dos Animais), o director da feira, de que eram já 22:00. O amigo agradeceu e decidiu encerrar a feira. Quando o barco do director da Casa da Moeda abandonou o armazém da feira, dois dos carregadores da empresa começaram a desatar as cordas que suspendiam a placa de madeira por cima da abertura do cais. Nessa altura, um barco vindo da Mina de Ferro carregado ao máximo, com mais de 400 kg de minério de ferro, entrou no armazém para vender o material. Os carregadores disseram ao único ocupante do veículo que a feira encerrara, e então este começou a recuar para regressar à ribeira. Quando os carregadores acharam que o barco já tinha saído (a fraca luz do luar só lhes permitia ver um vulto escuro no lugar do barco e do ocupante), largaram as cordas que sustinham a placa de madeira e deixaram-na cair livremente. Todavia, o barco ainda não tinha saído completamente do armazém, e a placa acertou-lhe em cheio na proa. A pancada foi tão forte que a popa do barco até se levantou da água, mas à primeira vista o barco não tinha grandes danos. Após uma rápida revisão ao veículo, o animal que o guiava constatou que os únicos danos eram fissuras no local da pancada, mas aparentemente nada de grave. Este pegou nos remos e começou então a remar para sul. Mas, para verificar se as fissuras não aumentavam com o navegar do barco, decidiu primeiro navegar até aos limites da quinta e só depois regressar à mina. Em vez de menos de 50 metros, o animal remaria mais de meio km.

Os primeiros 300 metros correram bem. O mineiro foi ao fundo da quinta e voltou para trás sem problemas. O problema veio depois. As fissuras tinham sido aumentadas pela viagem de 300 metros, e ao fim dessa distância começaram a deixar entrar água. Aí, o mineiro começou a preocupar-se, pois o barco estava no limite da sua capacidade de carga de meia tonelada, e tentou acelerar para chegar perto da Mina de Ferro mais depressa. Mas a pesada carga do barco atrasou-o fatalmente. Cinquenta metros mais tarde, as fissuras cresceram ainda mais, e quando o animal olhou para a proa do barco viu que esta estava rachada em vários sítios, e muitos deles deixavam entrar água. Por fim, aos 400 metros de viagem, a proa cedeu e desmanchou-se em vários pedaços, que ficaram a boiar na ribeira. Quanto ao barco, inclinou-se para a frente e afundou-se em poucos segundos, criando o primeiro naufrágio da Quinta da Confusão. Quando o mineiro se deu conta, estava a boiar na ribeira agarrado aos dois remos, com o que restava do barco e a sua carga de 400 kg de minério de ferro a 2,5 metros de profundidade. Essa quantidade de ferro era bastante valiosa (valia milhares de euros na feira), pelo que não podia ser simplesmente

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abandonada debaixo de água. O animal que a extraíra à custa de muito trabalho da Mina de Ferro (ao contrário da feira e da Casa da Moeda, a mina não tinha um proprietário, logo, o salário dos mineiros era aquilo que conseguissem obter com a venda do minério de ferro que obtivessem) tentou logo tirar as pedras de minério uma a uma, mas o facto de serem imensas e de a baixa temperatura da água dificultar o suster da respiração9 fez com que o mineiro acabasse por desistir. Era necessária alguma invenção que ajudasse os animais a aguentar mais tempo por debaixo de água. Mas o mineiro decidiu deixar isso para o dia seguinte. Foi para o abrigo nocturno, deitou-se num canto e adormeceu. Os restantes animais acabaram por fazer o mesmo. À meia-noite, todos os 260 animais da quinta estavam no abrigo nocturno, 150 no rés-do-chão e os restantes no andar de cima por falta de espaço no andar de baixo. Para os que estavam no 1º andar, a única diferença entre a sua nova cama e o chão onde dormiram durante anos era o colchão ser de madeira em vez de neve e terra. De resto, permaneciam ao relento.

Ilustração 13 – Percurso da última viagem (400 metros) do 1º barco a naufragar na

Quinta da Confusão. Legenda: Laranja – Local de partida do barco (armazém da

feira); Roxo – Local de naufrágio do barco (cerca de 100 metros a sudeste da Mina de

Ferro, entre a casa dos donos e a ribeira); Tracejado branco – Percurso do barco;

Cores restantes – Ver legenda da ilustração 12, pág. 97

9 Verídico.

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Saldo do Dia 4

População e densidade populacional

Saldo da população: +120 habitantes Saldo da densidade populacional: +240 hab.\km2

140

75

260

0

50

100

150

200

250

300

01:3007:

30

10:30

Po pulação 280

150

520

0

100

200

300

400

500

600

01:3

0

07:3

0

10:3

0

Densidadepopulacional