127 pasto apicola

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Pasto Apícola: Volume, Concentração e Açúcar Total do Néctar Secretado por Flores de Distintos Materiais Genéticos de Cajueiro (Anacardium oc-

cidentale L.) BRENO MAGALHÃES FREITAS1

Resumo

O trabalho investigou se as diferentes constituições genéticas do cajueiro (Anacardium occidentale L.) influen-ciam no volume, concentração de açúcar e açúcar total do néctar produzido por suas flores, bem como possíveis alterações nas características do néctar ao longo do tempo. Amostras do néctar foram coletadas de flores de 1 e 2 dias de idade, não ensacadas e ensacadas, no momento da antese e quando as abelhas (Apis mellifera L.) apre-sentavam maior freqüência às flores. Para o néctar coletado logo após a antese, houve diferenças significativas no volume, concentração e açúcar total do néctar dos materiais genéticos CC2 (1.10 ± 0.02 µl; 19.85 ± 0.35%; 0.232 ± 0.003 mg), CCP 09 (0.94 ± 0.03 µl; 14.01 ± 0.33%; 0.134 ± 0.002 mg) e CC1 (0.31 ± 0.18 µl; 19.70 ± 0.55%; 0.060 ± 0.002 mg) respectivamente. Em outros momentos do dia o volume do néctar não permitiu leituras no refractômetro e apenas o volume foi calculado. Uma análise de variância com três fatores mostrou diferenças entre os tipos de caju-eiro (F2,948 = 263.087, P<0.001), e que a quantidade de néctar amostrada de flores de um dia e de flores ensacadas foi significativamente superior ao volume amostrado de flores de dois dias e de flores não ensacadas (F1,948 = 234.217, P<0.001 e F1,948 = 81.523, P<0.001) respectivamente, além de diferenças significativas em todos os níveis de interações. Concluiu-se que existe uma significante variabilidade no volume, concentração e conteúdo de açúcar no néctar produzido por flores de cajueiros com constituições genéticas distintas e que interações entre esses pa-râmetros, o volume inicial de néctar no momento da antese e padrões de evaporação e/ou reabsorção do néctar, é que determinam o volume de néctar disponível para coleta pelas abelhas a cada momento do dia.

Palavras -chave: abelha, Apis mellifera, néctar, flora apícola, planta apícola, potencial apícola.

BEE PLANTS: VOLUME, CONCENTRATION AND TOTAL SUGAR OF NECTAR SECRETED BY FLOWERS OF

DISTINCT GENETIC MATERIALS OF CASHEW (ANACARDIUM OCCIDENTALE L.).

Abstract

The work investigated whether different genetic constitutions of cashew (Anacardium occidentale L.) trees af-fected volume, concentration and total sugar (sucrose equivalents) of nectar secreted by their flowers, as well as pro-bable changes with time in nectar characteristics. Samples of nectar were collected from 1- and 2-day-old flowers, bagged and unbagged, at anthesis and when bees (Apis mellifera L.) were more frequent to the flowers. For nectar collected soon after anthesis, there were significant differences in volume, concentration and total sugar of nectar from the genetic materials CC2 (1.10 ± 0.02 µl; 19.85 ± 0.35%; 0.232 ± 0.003 mg), CCP 09 (0.94 ± 0.03 µl; 14.01 ± 0.33%; 0.134 ± 0.002 mg) and CC1 (0.31 ± 0.18 µl; 19.70 ± 0.55%; 0.060 ± 0.002 mg) respectively. At other moments of the day nectar volume did not allow refractometer readings and only the volume was assessed. A three-way analy-ses of variance showed differences among cashew types (F2,948 = 263.087, P<0.001), and that the amount of nectar s ampled from 1 -day-old flowers and bagged flowers was significantly greater than the volume sampled from 2-day-old flowers and unbagged flowers (F1,948 = 234.217, P<0.001 and F1,948 = 81.523, P<0.001) respectively, besides significant differences at all levels of interaction. It was concluded that there is a significant variability in volume, concentration and sugar contents of nectar secreted by flowers of cashew trees of distinct genetic constitution and that these parameters, the initial nectar volume at anthesis and patterns of evaporation and/or reabsorption of nectar de-termined nectar volume available for collection by bees at each momento of the day.

Keywords: Apis mellifera, bee, bee flora, bee plants, beekeeping potential, nectar.

1 Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia - CCA, Universidade Federal do Ceará, C.P. 12168, CEP 60355-970, Fortaleza - CE.

Introdução Flora apícola é o nome dado ao conjunto de plantas

que fornecem alimento às abelhas em uma determinada regi-ão, sendo a qualidade deste pasto um dos fatores determi-nantes da eficiência da atividade apícola naquela localidade. Porém, a espécie de abelhas mais explorada com finalidades econômicas no Brasil, Apis mellifera L., procura concentrar esforços em poucas espécies vegetais cujas floradas prop i-

ciem altos ganhos energéticos via néctar (SCHIMID-HEMPEL, 1987). Tal pref erência faz com que muitos apicultores do Nordeste do Brasil levem periodicamente suas colmeias para plantações de cajueiro (Anacardium occidentale L.). Esta espécie vegetal possui um período de florescimento superior a cinco meses e a alta concentração de flores por área torna os pomares locais propícios à produção de mel, mas a produ-tividade tem sido bastante variada (FREITAS, 1994). Embora

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largamente cultivado em muitos países tropicais, existem poucas variedades de cajueiro e a maioria dos pomares ainda são constituídos de plantas originadas de sementes e, portanto, de diversas composições genéticas (WUNNACHIT et al., 1992) o que pode refletir no néctar produzido por suas flores. Além disso, o néctar das flores normalmente varia ao longo do tempo em função da evaporação, reabsorção de açúcares e/ou coletas de visitantes florais (CORBET, 1978), muitas vezes fazendo com que as características do néctar no momento de coleta pelas abelhas seja bastante distinto daquele presente quando da antese da flor. Assim, a atrativ i-dade das flores de cajueiro para as abelhas melífera poderia variar tanto entre plantas do mesmo pomar e de pomares diferentes, como entre horários do dia. No presente trabalho objetivou-se investigar se as diferentes constituições genéti-cas de cajueiros em áreas apícolas influenciam no volume, concentração de açúcar e açúcar total produzido por suas flores, no momento da antese, bem como verificar possíveis alterações nas características do néctarao longo do tempo e discutir as conseqüências no potencial apícola das áreas de cajueirais. Além disso, o trabalho também forneceu as prime i-ras informações a respeito das características do néctar desta planta de grande importância para a apicultura brasile i-ra.

Material e Métodos O trabalho foi conduzido durante a estação de flores-

cimento do cajueiro na estação experimental do Centro Na-cional de Pesquisa da Agroindústria Tropical (EMBRAPA/CNPAT) em Pacajus, 55 km ao Sudeste de Forta-leza, no Ceará. Amostras do néctar de flores de cajueiros normais (tipos CC1 e CC2) e anões (variedade CCP 09) foram coletadas de flores de 1 e 2 dias de idade, não ensacadas e ensacadas em sacos de tela plástica (malha de 1 x 1 mm), no momento da antese e quando as abelhas apresentavam maior freqüência às flores (hora de pico). O volume do néctar produzido foi obtido pela introdução na corola da flor, em direção a base das pétalas, de uma micropipeta de 3 cm de comprimento (5 µl de volume interno). O tamanho da coluna do fluido dentro da micropipeta foi medido com uma régua apropriada e o volume calculado (DAFNI, 1992). Nos casos em que o volume de néctar foi suficiente, o néctar foi coloc a-do em um refractômetro para néctar e o índice de refração foi convertido em uma concentração de açúcar (equivalentes de sacarose) de acordo com BOLTEN et al. (1979) e WOLF et al. (1979). A partir do volume concentração do néctar, o total de açúcar nele contido (equivalentes de sacarose) foi calculado (BOLTEN et al., 1979; WOLF et al., 1979). Todos os dados foram analisados por análises de variância e as mé-dias comparadas por testes Tukey-B.

Resultados e Discussão Para todos os materiais genéticos de cajueiro estuda-

dos, a maior quantidade de néctar sempre estava disponível logo após a antese das flores. Depois o seu volume diminuía rapidamente provavelmente devido a evaporação e/ou reab-sorção, até o horário de maior visitação pelas abelhas, entre 10:00 e 11:00 h. Houve diferenças significativas entre a variedade CCP 09 e os tipos CC1 e CC2 em relação ao volu-me do néctar (F2,237 = 425.321, P < 0.001), concentração do néctar (F2,231 = 70.265, P < 0.001) e conteúdo total de açúcar do néctar (F2,237 = 1239.571, P < 0.001) no momento da antese das flores (Tabela 1). O tipo comum CC2 produziu significativamente mais néctar e mais açúcar em seu néctar do que o tipo CC1 e a variedade CCP 09, e maior concentra-ção de néctar do que a variedade CCP 09 (Tabela 1). A menor produção de néctar e açúcar na antese foi encontra-

da no tipo CC1. Mas a concentração do seu néctar não diferiu da concentração do néctar do tipo CC2, e foi signific a-tivamente maior do que a concentração do néctar da varie-dade CCP 09 (Tabela 1). A pequena quantidade de néctar encontrada nas flores dos três materiais genéticos de cajue i-ro quando estudados a outros momentos do dia não permitiu acessar a concentração e quantidade de açúcar nele conti-do. Portanto, apenas o volume foi investigado nesses casos. Uma análise de variância com os três fatores principais (tipo ou variedade de cajueiro, idade da flor e ensacamento) mostrou que a quantidade de néctar amostrada de flores de um dia e de flores ensacadas foi significativamente superior ao volume amostrado de flores de dois dias e de flores não ensacadas respectivamente, além de diferenças significati-vas em todos os níveis de interações (Tabela 2). As quanti-dades de néctar obtidas de cada material genético de cajue i-ro quando flores ensacadas e não ensacadas foram amo s-tradas no mesmo dia da antese e no dia seguinte são mo s-tradas na Tabela 3.

As diferenças no volume, concentração e conteúdo de açúcar do néctar amostrado de flores recem-abertas dos três materiais genéticos de cajueiro indica que estas variá-veis são influenciadas pela constituição genética das pla n-tas, o que pode afetar a atratividade para as abelhas de certos “tipos” de cajueiro. Embora não tenha sido possível medir a concentração e açúcar total do néctar no momento de maior visitação às flores pelas abelhas, devido às dimin u-tas quantidades encontradas, é prov ável que as abelhas tenham preferido visitar as flores nesta hora quando o néctar é mais concentrado. Ambientes secos aumentam a concen-tração do néctar (CORBET, 1978). Pequenas quantidades de néctar são normalmente descritas em flores de cajueiro (HEARD et al., 1990; REDDI, 1993), mas a ausência de gran-des quantidades de néctar não constitui problema para os insetos já que eles são capazes de regurgitar saliva, dissol-ver o açúcar e ingerir a solução (HEARD et al., 1990). A quantidade de néctar amostrada de flores ensacadas foi significativamente superior ao volume amostrado de flores não ensacadas provavelmente porque as abelhas remov e-ram parte do néctar das flores não ensacadas. Isso sugere que sob condições naturais as flores de cajueiro são fre-qüentemente visitadas pelas abelhas e outros visi tantes florais. Também, o volume do néctar amostrado de flores de um dia foi significativamente maior que o volume do néctar obtido de flores de dois dias, talvez porque a produção de néctar foi pequena ou o néctar produzido evaporou rapid a-mente. A quantidade de néctar encontrada em flores de diferentes materiais genéticos de cajueiro diferiu significat i-vamente provavelmente devido a diferenças no volume total do néctar secretado, taxa de secreção do néctar e/ou ev a-poração e remoção pelas abelhas. As signif icativas intera-ções entre os três fatores principais a vários níveis mostrou que diferenças no volume do néctar de flores de cajueiro depende de interações entre a quantidade de néctar produ-zida inicialmente pelas flores de cada tipo de cajueiro, a idade da flor (1 ou 2 dias) e se a flor foi visitada por insetos ou não (Tabela 2). Os resultados sugerem que o tipo CC2 pode ser mais atrativo para as abelhas por produzir mais néctar e maior quantidade de açúcar em seu néctar que os demais tipos estudados. Isto explicaria a existência de cajueirais bem e pouco visitados por abelhas, e aumentaria o potencial para polinização de abelhas em áreas com cajueiros tipo CC2. Porém, trabalhos de comportamento de pastejo de abelhas nesses três materiais genéticos de cajueiro são necessários para que se possa confirmar a existência de uma maior atração das abelhas por algum desses “tipos” de cajueiros.

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Conclusões Conclui-se do presente trabalho que existe uma signi-

f icante variabilidade no volume, concentração e conteúdo de açúcar no néctar produzido por flores de cajueiros com constituições genéticas distintas (CC2 > CCP 09 > CC1). Conclui-se também que a quantidade de néctar nas flores de cajueiro diminui rapidamente após a antese, com a sua remo-ção por outros visitantes florais e com a idade da flor, e interações entre esses parâmetros e o volume inicial de néctar no momento da antese, é que determinam o volume de néctar disponível para coleta pelas abelhas a cada momento do dia.

Referências Bibliográficas 1 - BOLTEN, A.B.; FEINSINGER, P.; BAKER, H.G.; BAKER, I.

On the calculation of sugar concentration in flower nectar. Oecologia (Berlin), v. 41, p. 301-304. 1979.

2 - CORBET, S.A. Bee visits and the nectar of Echium vulgare L. and Sinapsis alba L. Ecological Entomology, v. 3, p. 25-37. 1978.

3 - DAFNI, A. Pollination ecology: A practical approach. New York: Oxford University Press, 1992. p. 250.

4 - FREITAS, B.M. Beekeeping and cashew in north-eastern Brazil: The balance of honey and nut production. Bee World, v. 75, p. 160-168. 1994.

5 - HEARD, T.A.; VITHANAGE, V.; CHACKO, E.K. Pollination biology of cashew in the northern territory of Austra-lia. Aust. J. of Agric. Res., v. 41, p. 1101-1114. 1990.

6 - REDDI, E.U.B. Pollination studies of cashew in India: an overview. In Proceedings of the International Sym-posium on Pollination in the Tropics. Bangalore, 1993. pp. 321-324.

7 - SCHIMID-HEMPEL, P. Efficient nectar-collecting by honey-bees. I. Economic models. J. Anim. Ecol., v. 56, p. 209-218. 1987.

8 - WOLF, A.V.; BROWN, M.G.; PRENTISS, P.G. Concentrati-ves properties of aqueous solutions: conversion ta-bles. In: WEAST. R.C.; ASTLE, M.J. CRC Handbook of chemistry and physics. 60 ed. Florida: CRC Press, 1979. p. D-227, D-238 e D-239, D-270..

9 - WUNNACHIT, W.; PATTISON, S.J.; GILES, L.; MILLINGTON, A.J.; SEDGLEY, M. Pollen tube growth and genotype compatibility in cashew in relation to yield. J. Hort. Sci., v. 67, p. 67-75. 1992.

TABELA 1 - Volume, concentração e açúcar total do néctar de flores recem-abertas de três materiais genéticos de cajueiro.

Cajueiro

Número de flores

Volume (µl)

(± e.p.)

Conc. do néctar g sacarose/ 100 g solução (± e.p.)

Açúcar total (mg) em equiva-lentes de sacarose (± e.p.)

CCP 09

80

0.94 ± 0.03 b

14.01 ± 0.33 b

0.134 ± 0.002 b

CC 1

80

0.31 ± 0.18 c

19.70 ± 0.55 a

0.060 ± 0.002 c

CC 2

80

1.10 ± 0.02 a

19.85 ± 0.35 a

0.232 ± 0.003 a

e.p. = erro padrão da média Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem a P<0.05 (teste de Tukey-B).

TABELA 2 - Análise de Variância do volume do néctar coletado de flores ensacadas e não ensacadas (ensacamento), de diferentes

idades (dias) e pertencendo a cajueiros da variedade e tipos CCP 09, CC 1 e CC 2 respectivamente (variedade). Fonte de variação Soma dos

quadrados Quadrado

médio F g.l. Significado

de F Ensacamento

1.533 1.533 81.523 1, 948 <0.001

Dia

4.404 4.404 234.217 1, 948 <0.001

Variedade 9.893 4.947 263.087 2, 948 <0.001 Ensacamento x dia

1.680

1.680

89.354

1, 948

<0.001

Ensacamento x variedade

0.173

0.086

4.500

2, 948

0.010

Dia x variedade

7.009

3.505

186.392

2, 948

<0.001

Ensacamento x dia x variedade

0.339

0.170

9.024

2, 948

<0.001

Resíduo 17.824 0.019 948 F = Valor do teste g.l. = graus de liberdade

TABELA 3 - Volume do néctar de flores de três materiais genéticos de cajueiro mantidas ensacadas ou não ensacadas, no momento

de maior freqüência das abelhas (pico das abelhas), durante até dois dias. Tratamento dado à flor N volume (µl) do néctar (± e.p.) CCP 09 CC 1 CC 2 1°dia, pico das abelhas (10-11h)

80

0.15 ± 0.01

0.05 ± 0.01

0.42 ± 0.02

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1°dia, ensacadas (10-11h)

80

0.33 ± 0.02

0.12 ± 0.01

0.65 ± 0.01

2°dia, pico das abelhas (10-11h)

80

0.13 ± 0.01

0.14 ± 0.01

0.18 ± 0.01

2°dia, ensacadas (10-11h)

80

0.12 ± 0.01

0.15 ± 0.01

0.17 ± 0.01

e.p. = erro padrão da média