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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Pós Graduação “lato sensu” – A VEZ DO MESTRE Processo Civil RENATA SERBER TAVARES VERÍSSIMO A Tutela Antecipada e a Medida Cautelar Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDESPós Graduação “lato sensu” – A VEZ DO MESTRE

Processo Civil

RENATA SERBER TAVARES VERÍSSIMO

A Tutela Antecipada e a Medida Cautelar

Rio de Janeiro2006

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RENATA SERBER TAVARES VERÍSSIMO

A Tutela Antecipada e a Medida Cautelar

Monografia apresentada como parte dos quesitos para obtenção do título de especialista em Processo Civil – Curso de Direito – Pós Graduação.Orientador: Jean Almeida

Rio de JaneiroUNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - CAMPUS CENTRO

2006

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RENATA SERBER TAVARES VERÍSSIMO

A TUTELA ANTECIPADA E A MEDIDA CAUTELAR

Monografia apresentada para obtenção do Título de Especialista em Processo Civil, Pós Graduação A vez do Mestre, no dia 26/01/2006.

Aprovado em ___/___/2006.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________Presidente: Professor Mestre

______________________________________________1º examinador:

______________________________________________

2º examinador:

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A todos que participaram da minha caminhada até aqui, meu muito obrigada.

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“Para que repetir os erros antigos,

quando há tantos erros novos a cometer!?”

(Bertrand Russel).

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RESUMO

O direito processual, para amenizar os efeitos nocivos da eternização dos processos,

faculta uma gama variada de medidas de urgência, dentre as quais a antecipação da tutela e as

medidas cautelares, capazes de conceder ao titular do direito lesado ou ameaçado de lesão,

uma proteção prévia que assegure a restauração provisória da ordem jurídica quebrantada, até

que se dê o provimento jurisdicional final, solucionador do conflito de interesses.

Muitos são aqueles, porém, que, com excessiva freqüência, confundem os diferentes

institutos da tutela antecipada, que tem índole meritória, satisfatividade finalística, intuito

exauriente, com o instituto da tutela cautelar, de nítida feição acautelatória de jurisdição. Isso

contribui, para o efetivo estabelecimento de uma aparente similitude entre ambos os institutos

processuais que, em sua essência, possuem objetivos completamente distintos.

Embora apresentem relevantes e numerosos pontos de contato e imponham à parte

postulante a comprovação de requisitos e pressupostos similares, a exigir a urgência incomum

da atividade judicante, diferem a tutela cautelar e a tutela antecipada em sua natureza jurídica,

especialmente em razão da finalidade a que se destinam.

Essas semelhanças e diferenças merecem análise mais detida. Ambas as espécies de

tutela pressupõem cognição sumária, regem-se pela instrumentalidade, são precárias e

fundadas em juízo de probabilidade. Na tutela antecipada, a precariedade exige um requisito

especial: só pode ser concedida se puder ser revogada a qualquer tempo, de forma eficaz.

Enquanto o juízo de probabilidade é mínimo na tutela cautelar, apresenta-se máximo na tutela

antecipada.

O presente trabalho analisará aspectos referentes à tutela antecipada e à medida

cautelar, destacando as suas características e requisitos, bem como suas semelhanças e

diferenças, demonstrando, também, a importância da lei 10.444/2002, que acrescentou o § 7º

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7ao artigo 273 do Código de Processo Civil, tornando fungíveis as tutelas de urgência

antecipada e cautelar. O fato de serem essas duas modalidades de tutela jurisdicional de

urgência ontologicamente distintas, não significa que não possa haver um sistema unificado

de prestação das mesmas. É o que se pretende estudar.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................09

CAPÍTULO 1. NOÇÕES GERAIS SOBRE TUTELA ANTECIPADA E MEDIDA

CAUTELAR............................................................................................................................12

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRIA...................................................................................................12

CAPÍTULO 2. CARACTERÍSTICAS DAS MEDIDAS CAUTELARES.........................15

2.1 Requisitos Específicos das Medidas Cautelares

2.2 Classificação das Medidas Cautelares

CAPÍTULO 3. TUTELAS CAUTELARES E TUTELAS ANTECIPATÓRIAS.............22

3.1 FUNGIBILIDADE..............................................................................................................31

3.2 POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS .................................................................................33

CONCLUSÃO.........................................................................................................................34

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................36

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INTRODUÇÃO

Antes de se realizar qualquer estudo sobre o processo cautelar, mister se faz, entender

de que forma e por que o jurisdicionado demonstrou necessidade de receber uma tutela

jurisdicional diferenciada.

É de conhecimento geral que, no âmbito do processo civil, a condição humana de

viver em sociedade, levou o desenvolvimento da jurisdição privada à jurisdição pública.

Como muito bem sintetiza o eminente professor baiano J. J. Calmon de Passos: “se a

liberdade é a marca eminente da condição individual do homem a sociabilidade é a marca de

sua humanidade”1. Ou seja, a aplicabilidade do conceito de justiça se transmudou do

particular, que normalmente se impunha pela força bruta, para o ente público que, de forma

imparcial e coerente, aplica a norma existente ao caso concreto.

Surge, desta maneira, o direito como um ordenamento das relações humanas, derivado

da convivência social, objetivando regulamentá-la via de um sistema de limitações entre os

interesses, vontades e ações do indivíduo.

Segundo Calamandrei, em uma síntese muito feliz, afirma que se for observado, sob

um aspecto puramente empírico, de que forma pode manifestar-se externamente a vontade do

Estado, dirigida no sentido de regular a conduta dos indivíduos em suas mútuas relações,

observa-se que todos os sistemas de produção de direito podem ser reduzidos a dois: o que se

pode chamar de formulação do direito para o caso singular e o que se denominaria de

formulação do direito por categorias ou da formulação legal”2.

Pelo primeiro sistema, o Estado somente intervem quando se configurasse uma

ameaça concreta à paz social, resolvendo um conflito de interesses existente entre indivíduos.

1 PASSOS, J.J.Calmon de. Comentários ao código de processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1984, p. 7.2 PASSOS, J.J.Calmon de, op. cit., p. 18-19.

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10Já no segundo, e mais difundido entre a civilização ocidental, o Estado não aguarda que se

apresente a necessidade singular de intervenção, mas se antecipa no sentido de regulamentar

as relações entre os indivíduos antes mesmos que apareça a necessidade de intervenção.

Desta idéia é que chegou-se à conclusão de que o Estado é que teria a função e

obrigação de disseminar o “direito” ao caso concreto e normatizar, de forma antecipada, as

relações sociais. O que se poderia chamar de Jurisdição.

Assim, se o particular não deveria mais fazer justiça pelas próprias mãos, deveria ele

solicitar do ente público que o fizesse. Para movimentar esta máquina estatal o jurisdicionado

deveria buscar um meio pelo qual a norma seria aplicada ao seu caso concreto. Esse meio

denomina-se de processo.

E a busca do particular pela prestação jurisdicional almejada via do processo é a

corporificação do que viria a ser o direito de provocação deste jurisdicionado. A possibilidade

que este indivíduo tem de provocar no órgão jurisdicional uma atitude que venha a solucionar

seu problema, denomina-se ação.

Assim, segundo Ramiro Podetti, pode-se conclui que “jurisdição, processo e ação são

três elementos indissoluvelmente ligados a representam a triologia estrutural dos conceitos

básicos ou fundamentais do direito processual civil”3.

Da aplicação desta triologia estrutural, o jurisdicionado pode buscar a aplicação da

norma ao seu caso concreto. Contudo, em função da especificidade da matéria e o tecnicismo

processual, por vezes, a atuação do Estado se apresenta tardia. O transcurso natural e temporal

de um processo, da fase postulatória a fase decisória pode levar um certo tempo que, por

circunstâncias especiais, gera uma possibilidade de insegurança ao próprio direito postulado.

3 PODETTI, Ramiro apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo cautelar. São Paulo: Universitária de Direito, 1976, p. 50.

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Talvez o verdadeiro sentido de efetividade do processo esteja ligado diretamente ao

problema da celeridade em que a prestação jurisdicional chega ao jurisdicionado que, ao

tomar a decisão de recorrer a tutela jurisdicional, teme que ela chegue tardia. Este problema

da morosidade, e que é vivido por todos os sistemas de administração de Justiça, demonstra,

dia a dia, a necessidade de se adequar e desenvolver, cada vez mais, as várias formas de

tutela, como um fator de relevante importância na aplicação da verdadeira Justiça.

Por isso a presente pesquisa será dirigida a este propósito maior: o de buscar meios

alternativos mais céleres de prestação jurisdicional. E, nessa ótica, se coloca o Processo

Cautelar ora analisado.

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CAPÍTULO 1. NOÇÕES GERAIS SOBRE TUTELA ANTECIPADA E MEDIDA

CAUTELAR

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRIA

As medidas urgentes já eram conhecidas à época do direito romano. Contudo, todas

elas, postuladas via das fórmulas sacramentais, ainda não possuíam a autonomia do atual

Processo Cautelar como forma especial de jurisdição. Havia a l’operis novi nuntiatio, que

figurava como uma fase extrajudicial que precedia a judicial, e que funcionava como uma

notificação prévia de proibição de continuidade de uma obra. Também existia a cautio damni

infecti, que permitia ao requerente obter uma garantia de ressarcimento nos casos de perigo de

dano. Chegou-se a ter, até, uma figura similar ao nosso seqüestro, que consistia no depósito de

uma coisa em poder de uma terceira pessoa, a fim de que fosse conservada até o final da lide.

Foi na Alemanha que apareceram as primeiras tentativas de fixar uma concepção

processual dessa classe de medidas e de sistematiza-las. Contudo, foram os grandes

processualistas italianos que elaboraram, dentre posições divergentes, a doutrina da

autonomia do processo cautelar, diferenciando-o totalmente do processo cognitivo e o de

execução4.

Dentre estes processualistas italianos, e que teorizaram sobre o tema, se despontaram,

pelas abordagens realizadas, contribuindo sensivelmente para o aperfeiçoamento das

legislações mais modernas, Chiovenda, Calamandrei e Carnelutti.

4 CHIOVENDA. Instituições do direito processual civil (trad. Menegale). São Paulo: Saraiva, 1958, p. 270.

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Na Teoria de Chiovenda, as medidas cautelares já são consideradas ação, isto é, “ação

asseguradora”. Segundo o eminente mestre, “a medida provisória corresponde à necessidade

efetiva e atual de afastar o temor de um dano jurídico”5. Contudo, conforme avaliações

posteriores, faltou a Chiovenda completar o conceito de medida cautelar, ligando-a a condição

de que o receio do dano deve originar-se do perigo da demora na obtenção da tutela

jurisdicional comum.

Já Calamandrei, por seu turno, deu um grande passo no sentido de defender a condição

de instrumentalidade da medida cautelar. Como anotou Castro Villar, para Calamandrei as

providências cautelares nunca constituem um fim em si mesmas, pois estão preordenadas à

emanação de uma ulterior providência definitiva, cujo resultado prático asseguram

preventivamente. Dessa forma, nas medidas cautelares, segundo o mestre, mais que a

“finalidade de atuar o direito, existe a finalidade imediata de assegurar a eficácia prática da

providencia definitiva”6 .

Contudo, “a opinião de Carnelutti, sem dúvida a mais avançada sobre o tema de tutela

cautelar, sofreu sensível mutação ao longo de sua obra. Inicialmente entendeu que a ação

cautelar produzia “a sistematização de fato durante a lide”7. Depois passou a concebê-la como

uma “composição provisória da lide”. Mais tarde esse entendimento foi substituído pelo de

que o processo cautelar “serve à tutela do processo”, como instrumento não só para garantir

“a utilidade prática do processo definitivo”.

Por fim, aperfeiçoou a concepção do processo cautelar, concluindo que sua finalidade

é assegurar “o equilíbrio inicial das partes”, isto é, a tutela cautelar destina-se a “evitar no

limite do possível, qualquer alteração no equilíbrio inicial das partes, que possa derivar da

duração do processo”. Destacou, outrossim, o grande processualista, com rigor científico, a

5 CHIOVENDA, op. cit. p. 274.6 CALAMANDREI apud VILLAR, Castro. Medidas cautelares. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 53.7 CARNELUTTI apud THEODORO JÚNIOR, Humberto, op. cit., p. 52-53.

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14posição do processo cautelar como destinado a realizar um dos fins da jurisdição – a

prevenção – figurando, assim, como um tertium genus do processo contencioso, ao lado do

processo de cognição e do processo de execução.

De tal arte, Carnelutti conseguiu libertar a tutela cautelar da imprópria conceituação de

que seria ela antecipação provisória da tutela definitiva, mesmo porque tal afirmação, por si

só, é insuficiente para explicar a razão de ser ou a finalidade ultima da cautela: por que

merece ser antecipada a tutela de mérito, se não se sabe, ainda, se a parte faz juz, realmente, à

proteção substancial? Essa explicação que encontrou com precisão foi, sem dúvida, o notável

Carnelutti, ao colocar o processo cautelar como instrumento de realização da tutela

jurisdicional, isto é, como meio hábil para garantir o exercício eficiente do monopólio da

Justiça.

Assim, para Carnelutti, a tutela cautelar existe não para assegurar antecipadamente um

suposto e problemático direito da parte, mas para tornar realmente útil e eficaz o processo

como remédio adequado à justa composição da lide”8. Nesta esteira é que se desenvolveu, até

os dias atuais, toda a problemática do processo cautelar.

8 THEODORO JÚNIOR, Humberto,op. cit., p 53.

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CAPÍTULO 2. CARACTERÍSTICAS DAS MEDIDAS CAUTELARES

Ao se analisar as principais peculiaridades do processo cautelar, deve-se, de início,

refletir se existe ou não um efeito satisfativo inserido nas pretensões cautelares.

O eminente professor Ovídio Baptista da Silva, em monografia específica sobre a

matéria, defende a existência de um direito substancial de cautela, invocando as lições de

Allorio e Pontes de Miranda, concluindo pela existência do caráter satisfativo da medida. “Se

devemos aceitar a autonomia da tutela cautelar, referindo-a não ao direito cautelado, mas a

uma situação objetiva de perigo, cremos que nos será lícito dizer que a ação assecurativa

protege sem satisfazer9.

Há um interesse de direito material que é satisfeito, qualquer que seja o resultado do

chamado processo principal; se devemos afirmar a existência de uma “res in judicium

deducta” da ação cautelar, somos levados a supor que essa tutela direta e imediata

correspondente à pretensão à segurança, tenha uma peculiar função satisfativa enquanto

atende a pressupostos específicos e acerta, de modo definitivo, sobre a “res in judicium

deducta”10.

Portanto, bastante razoável aceitar tal efeito sobre esta ótica, podendo ser considerado

como uma característica específica do processo cautelar.

Agora, como características amplamente reconhecidas do processo cautelar, podemos

citar a instrumentalidade, a provisoriedade, a revogabilidade e a autonomia.

Considerando que o processo cautelar tem por objetivo assegurar o bom resultado do

processo principal, podemos afirmar que ele tem natureza instrumental.

9 SILVA,Ovídio Batista da. Ações cautelares e o novo processo civil.São Paulo: Saraiva, 1974, p. 35-36.10 Ibidem, p. 32.

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A medida cautelar também está revestida da nota da provisoriedade, uma vez que seu

provimento não se reveste de caráter definitivo, já prevendo que seu fim está ligado ao

provimento definitivo.

Como a medida cautelar serve para prevenir uma situação de perigo, uma vez que o

risco venha a desaparecer, justificável a revogação ou modificação da medida, decorrendo

disso a sua revogabilidade.

A inegável autonomia do processo cautelar está vinculada ao seu fim, ao objetivo que

é almejado. Seu procedimento, por mais que esteja ligado ao provimento definitivo postulado

no processo principal, ocorre independentemente deste, possuindo uma função própria.

Contudo, podemos ainda extrair da medida cautelar outras características inerentes à

sua função. Como bem descreve o professor Luiz Guilherme Marinoni, em sua obra sobre a

tutela cautelar e antecipatória, pode-se enumerar outras características, tais como a urgência, a

preventividade, a sumariedade formal e material, a aparência, e a fungibilidade das medidas11.

Urgente porque se não existir tal característica, desnecessária a própria medida

cautelar. Preventiva é uma característica inerente ao processo cautelar uma vez que se busca

assegurar algo atempadamente. A sumariedade, tanto formal como material, é traço

indispensável para que a medida cautelar atinja a sua efetividade, seu procedimento deve

ocorrer de forma abreviada, e a análise do direito deve se dar de forma superficial.

A tutela cautelar tem como pressuposto o “fumus boni iuris”, ou seja, a aparência do

bom direito, devendo ser considerado como limite caracterizador deste tipo de tutela pois, se

tivermos mais que uma aparência, poderemos afirmar da desnecessidade da própria cautelar,

uma vez que o processo de cognição exauriente poderá ser deflagrado. Com relação à

fungibilidade das medidas cautelares, podemos afirmar que, como leciona o ilustre prof.

11 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela antecipatória e julgamento antecipado da lide. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 72.

Page 17: 1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Pós … SERBER TAVARES VERÍSSIMO.… · 3.1 FUNGIBILIDADE ... figurava como uma fase extrajudicial que precedia a judicial, e que funcionava como

17Donaldo Armelin, “o juiz não está adstrito rigorosamente ao pedido da parte porque não se

cuida de direito material tutelável engastado no patrimônio do requerente”, mas sim de

garantir a eficácia do instrumento da prestação jurisdicional satisfativa, podendo, desta forma,

adequar ao pedido a tutela necessária.

Como pode-se observar, vários são os traços que distinguem a medida cautelar,

podendo-se afirmar, desde já, que esta tem papel preponderante na aplicação da verdadeira

Justiça.

2.1 Requisitos Específicos das Medidas Cautelares

Para que a tutela cautelar possa ser invocada e admitida, deverá ela preencher, além

das condições de qualquer ação, condições específicas. Tais requisitos, que se acham

consagrados uniformemente pela doutrina, costumam ser identificados nos conceitos de

“fumus boni iuris” e do “periculum in mora”.

Entende Calamandrei que o fim do processo cautelar é a antecipação dos efeitos da

providência definitiva, antecipação que se faz para prevenir o dano que pode advir da demora

natural da solução do litígio. Dada a urgência da medida preventiva, não é possível o exame

pleno do direito material do interessado, mesmo porque isto é objetivo do processo principal e

não do cautelar. Para a tutela cautelar, portanto, basta a provável existência de um direito a ser

tutelado no processo principal. E nisto constituiria o “fumus boni iuris”12.

Entretanto, segundo visão mais moderna, a presença do “fumus boni iuris”, ultrapassa

esta conceituação para concluir que a verificação que o juiz tem que fazer não está adstrita à

probabilidade da existência do direito material, mas sim à verificação efetiva de que

realmente a parte dispõe do direito de ação, direito ao processo principal a ser tutelado. 12 THEODORO JÚNIOR, Humberto,op. cit., p. 1976, p. 74.

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Quanto ao “periculum in mora”, segundo o entendimento de Liebman, “para a

obtenção da tutela cautelar, a parte deverá demonstrar fundado temor de que, enquanto

aguarda a tutela definitiva, venham a faltar as circunstâncias de fato favoráveis à própria

tutela”13. Deve-se lembrar, ainda, que a avaliação deste perigo, que tem de ser fundado, se

dará também de forma sumária e rápida, pois não se admite, pela própria natureza da medida,

a produção de prova exaustiva quanto à existência do perigo.

2.2 Classificação das Medidas Cautelares

Ao tratar da classificação a ser imposta sobre as medidas cautelares, encontramos

vários desencontros entre os doutrinadores, não só em razão da disparidade de fins que cada

um atribui à sua função, mas principalmente em virtude dos contornos imprecisos que cada

legislação atribui ao quadro prático das medidas cautelares do direito positivo de cada nação.

Para Calamandrei, as medidas cautelares devem ser dividas em quatro espécies:

a) Providências instrutórias antecipatórias, destinadas a assegurar provas;

b) Providências destinadas a assegurar o resultado prático de uma futura execução

forçada, cujo objetivo primordial é o de evitar a dispersão dos bens sobre que deve incidir a

execução;

c) Providências que decidem provisoriamente uma situação controvertida, com as

quais se procura evitar o advento de um dano irreparável em razão da demora na obtenção da

providência definitiva;

13 THEODORO JÚNIOR, Humberto, op. cit., p. 1976, p. 75.

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d) Providências cuja finalidade consiste na imposição de uma caução, que são

dirigidas a assegurar os eventuais danos que a concessão de outra medida cautelar possa

eventualmente acarretar para a parte contrária.

Já Carnelutti, em sua última análise do processo cautelar, classificou-as como:

a) Processo cautelar inibitório: quando a medida visa impedir a mutação de uma

situação;

b) Processo cautelar restitutório: quando a medida procura eliminar uma alteração da

situação já ocorrida;

c) Processo cautelar antecipatório: quando a medida importa antecipação da mutação

provável ou possível da situação das partes.

Para Zanzuchi a melhor classificação é a que leva em conta o objetivo visado, sendo

distribuída em:

a) Medidas que visam assegurar um estado de fato com vistas à futura execução

forçada ou à cognição;

b) Medidas que visam a por em prática preventivamente certas providências que,

realizadas mais tarde, careceriam de oportunidade e que, em suma, tendem a dar satisfação

antecipada ao direito controvertido;

c) Medidas que tendem a assegurar preventivamente a igualdade em que as partes

devem ser mantidas no processo ou a conservar a situação que devem gozar pelo fato de estar

na posse da coisa que se discute, ou a retificar, por razões de interesse social aquela que, em

última análise, poderia redundar em prejuízo de uma das partes.

Na visão de Rosenberg, a tutela cautelar se classifica em:

a) o arresto, como meio de assegurar futura execução por quantia certa;

b) medidas provisionais de segurança para garantir a realização de um direito, diverso

da dívida de dinheiro;

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c) medidas cautelares para regular um estado provisional, diante de uma relação

jurídica controvertida.

Uma classificação bastante difundida é a de Ramiro Podetti que considera a finalidade

e o objeto sobre o qual deve incidir o provimento, dividindo-os em três espécies:

a) Medidas para assegurar bens, compreendendo as que visam a garantir uma futura

execução forçada e as que apenas procuram manter um estado de coisa;

b) Medidas para assegurar pessoas, compreendendo providências relativas à guarda

provisória de pessoas e as destinadas a satisfazer suas necessidades urgentes;

c) Medidas para assegurar provas, compreendendo antecipação de coleta de elementos

de convicção a serem utilizados na futura instrução do processo principal.

A legislação processual civil brasileira, com relação ao momento de sua propositura,

divide as medidas cautelares em:

a) medidas cautelares preparatórias, sendo aquelas que são propostas antes da

propositura da ação principal;

b) medidas cautelares incidentais, compreendendo aquelas que são propostas já no

curso da ação principal, ou seja, durante o tramite da ação principal.

E no que diz a sua forma, o nosso código de Processo Civil distribuiu as medidas

cautelares em seu texto, classifica-as em:

a) medidas cautelares típicas ou nominadas, que englobam as medidas cautelares já

previstas pelo Código;

b) medidas cautelares atípicas ou inominadas, que prevêem a possibilidade de

surgimento de provimentos cautelares ainda não previstos pela legislação, que dependerão da

aplicabilidade do poder geral de cautela previsto ao magistrado.

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A presente pesquisa abordará, utilizando a primeira forma de classificação prevista por

nossa legislação processual em vigor, aspectos relativos às inovações previstas para as

denominadas tutelas antecipatórias.

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CAPÍTULO 3. TUTELAS CAUTELARES E TUTELAS ANTECIPATÓRIAS

A discussão que ora se apresenta parte da análise da hipótese de se admitir ou não que

uma medida cautelar possa alcançar um efeito satisfativo.

Foi a necessidade de se receber uma tutela jurisdicional efetiva face à existência de um

perigo que lhe comprometa é que levou a utilização da tutela cautelar como uma forma de se

atingir antecipadamente a satisfação pretendida via do processo principal. Contudo, desde já,

é certo dizer que a medida cautelar não pode ser satisfativa.

Como bem explica o prof. Luiz Rodrigues Wambier, “a expressa satisfatividade pode

ter uma série de sentidos, dos quais três são os importantes:

a) a satisfatividade pode consistir na coincidência entre o provimento principal e o

cautelar. Esta coincidência só pode haver no plano empírico, pois, juridicamente, a cautelar é

sempre provisória;

b) a satisfatividade pode referir-se à irreversibilidade dos efeitos da medida no plano

empírico;

c) a satisfatividade pode significar a prescindibilidade da ação principal.

A característica b, de regra, não pode mesmo estar presente se de processo cautelar se

trata, já que se trata de decisão proferida com base em “fumus” e, portanto, não deixaria

produzir efeitos insuprimíveis do mundo fático.

Todavia, ainda que a medida a ser concedida seja irreversível, mas seja a única forma

de proteger o direito provável do autor, deve-se concede-la, pois se deve sacrificar o direito

eventual (não provado) da outra parte em função da necessidade de proteger um direito que

aparenta ser bom, o do autor. Este é o princípio da proporcionalidade, a respeito do qual

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23discorre a boa doutrina. Quanto às características a e c, não nos parecem façam desaparecer o

caráter da medida, ainda que presentes”14.

Afirma Luiz Guilherme Marinoni que “é imprescindível que a tutela não satisfaça a

pretensão própria do “processo principal” para que possa adquirir o perfil de cautelar”.

Continua o professor dizendo que “a sentença cautelar, realmente, não pode antecipar os

efeitos próprios da sentença do processo principal. Deveras, como escreveu Donaldo Armelin,

uma das formas de distorção do uso da tutela cautelar, “verifica-se sempre que se dá ao

resultado de uma prestação de tutela jurisdicional cautelar uma satisfatividade que não pode

ter”15.

Contudo, entende-se que tal discussão deve ir mais além. É evidente que uma

declaração judicial que gera um efeito satisfativo está adentrando no campo material, objeto

de discussão a ser apreciado via procedimento cognitivo ou de execução. Mas não se pode

negar que, caso ocorra a distorção salientada por Armelin, por mais que a tutela se dispa da

roupagem de uma medida cautelar, não deixa de atingir o seu objetivo, ou seja, o de acautelar

um suposto direito arraigado de probabilidade.

Tais distorções geraram em nosso ordenamento jurídico uma alteração substancial, e

de suma relevância, para a distribuição da prestação jurisdicional no menor espaço de tempo

possível, conseguindo atender, de início, o clamor do jurisdicionado por uma Justiça rápida e

eficaz.

Arruda Alvim sustenta que:

há uma tendência universal, também verificada no Brasil, no sentido de, por meio da lei, engendrarem-se institutos com essa finalidade de precipitar no tempo a satisfação da pretensão. A decisão proferida dentro de um sistema, mais célere, em que se prescinda da audiência, sem lesão às partes, corresponde à ambição generalizada de uma Justiça mais célere. A demora dos processos é um mal

14 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, P. 34.15 MARINONI, Luiz Guilherme, op. cit.,p. 77.

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universal. Essa tendência continuada dos legisladores, de tentarem agilizar a Justiça, tem sido a resposta correspondente ao grande aumento do acesso à Justiça, mercê do qual o aparato estatal tradicional, seja tendo em vista o seu tamanho, a sua eficiência, não tem logrado atender com a rapidez desejável. As motivações decorrente do tema do acesso à Justiça tendo em vista o tempo gasto no processo –maior ou menor interregno verificado entre a consumação da lesão a determinado patrimônio jurídico e sua recomposição – são as que informam basicamente a tutela antecipatória do art. 27316.

Buscando esta tão desejada prestação jurisdicional, o legislador brasileiro introduziu

em nosso Código de Processo Civil, mais especificamente no Título VII (Do Processo e do

Procedimento), Capítulo I (Das Disposições Gerais), artigo 273, a denominada tutela

antecipatória. Diz o referido artigo que “o juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,

total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo

prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I – haja fundado receio de

dano irreparável ou de difícil reparação; ou II – fique caracterizado o abuso de direito de

defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu”.

Pois bem, poder-se-ía iniciar a discussão analisando se a antecipação de tutela,

prevista no referido art. 273 do CPC brasileiro, tem características de cautelar ou não. Sem

embargo dos que meditam sobre o assunto, achamos tal discussão de menor relevância.

Acreditamos sim ter traços de cautelar o citado procedimento, uma vez que garante a eficácia

da sentença almejada. Contudo, estamos analisando a hipótese de se antecipar o mérito, a

questão de fundo, e não simplesmente a garantia do processo principal.

A prof. Teresa Arruda Alvim Wambier17, em trabalho sintético, porém, de profunda

reflexão, assevera que “a antecipação de tutela vem prevista no art. 273 do CPC, com a sua

nova redação, determinada pela Lei 8.952/94. Trata-se de uma das mais expressivas e

polêmicas inovações trazidas por aquilo que se convencionou chamar de A Reforma do CPC.

16 ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, vol. 3, p. 384.17 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Da liberdade do juiz na concessão de liminares e a tutela antecipatória. Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 257.

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25Quer na hipótese de aplicação do inc. I, quer na do inc. II, é necessário que a parte apresente

prova inequívoca da verossimilhança das alegações que faz.

O juiz, pois, para conceder ou não o pedido formulado pelo autor no sentido de que

sejam antecipados os efeitos da tutela pretendida, ou alguns deles, deve verificar se os

requisitos previstos no art. 273 e em seus incisos, ou num deles, estão presentes na situação.

Trata-se de uma inovação corajosa, em que o legislador assumiu o risco de permitir

que o juiz profira decisão com base em prova não exauriente.

O conceito de prova não exauriente (fumus boni iuris ou prova quantum satis) é

correlato ao de cognição sumária ou superficial. Nestas hipóteses, o juiz tem uma forte

impressão de que o autor tem razão mas não certeza absoluta, como ocorre na cognição

exauriente18.

Esse risco é, por assim dizer, compensado com a exigência expressa e explícita no

sentido de que a decisão, que concede a medida, seja fundamentada de modo claro e preciso e

de que também o seja a decisão que modifique ou revogue aquela anteriormente proferida

(art. 273, §§ 1o e 4o).

Hoje, à luz dos valores e das necessidades contemporâneas, se entende que o direito à

prestação jurisdicional é o direito a uma prestação efetiva e eficaz. Na verdade, pouco importa

se tenha sido concedida por meio de sentença transitada em julgado.

É, de fato, interessante observar que um mesmo princípio jurídico possa comportar

diferentes leituras, possa ter diversos significados ao longo do tempo.

Continua a professora dizendo que:

18 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, op. cit., p. 258.

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a função da tutela antecipatória é a de tornar a prestação jurisdicional efetiva. A necessidade dessa efetividade é a contrapartida que o Estado tem que dar à proibição da autotutela. A função da tutela cautelar é a de gerar tutela jurisdicional eficaz. Na clássica definição de Chiovenda, tem-se que o processo será efetivo se for capaz de proporcionar ao credor a satisfação da obrigação como se ela tivesse sido cumprida espontaneamente e, assim, dar-se ao credor tudo aquilo a que ele tem direito. A eficácia do provimento jurisdicional é a possibilidade de a decisão produzir transformações no mundo empírico, no plano real e concreto dos fatos, com o objetivo de gerar a satisfação do credor19.

Portanto, pode-se concluir que também a tutela cautelar tem fundamento

constitucional. É intuitivo que garantir às pessoas a tutela jurisdicional e prestar-lhes tutela

inefetiva e ineficaz é quase que o mesmo que não prestar a tutela. A tendência vem sendo, ao

longo do tempo, e principalmente nos últimos 30 anos, a de criar meios para que o processo

possa gerar resultados mais rapidamente.

As alterações introduzidas no CPC pela reformar envolvem, sem dúvida, certa dose de

risco. A tutela antecipada, tal qual esculpida no art. 273 do CPC, consiste indubitavelmente

numa das alterações mais importantes introduzidas pela Reforma do CPC.

Desta forma, exige-se, para antecipação de tutela, uma veemente aparência de bom

direito, somada, no caso do art. 273, I, ao periculum in mora, ou seja, ao perigo de que, não

sendo concedida a medida, venha a decisão final a ser ineficaz, ou haja grande risco de isto

ocorrer. No caso do art. 273, II, exige-se, ao lado do fumus boni iuris, que haja defesa

protelatória ou abuso do direito de defesa. Trata-se de uma quase inexorabilidade diante da

situação de uma real prova inequívoca da verossimilhança do direito.

Tentando traçar as diferenças e semelhanças entre a tutela cautelar e a tutela

antecipatória, pode-se dizer que “trata-se de tutela satisfativa no sentido de que o que se

concede ao autor liminarmente coincide, em termos práticos e no plano dos fatos (embora

reversível e provisoriamente), com o que está sendo pleiteado.

19 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, op. cit., p. 280.

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É importante que se observe que expressão satisfatividade comporta vários sentidos.

Um deles é o que se mencionou acima. Outro diz respeito à irreversibilidade da medida

concedida, no plano empírico. Outro, ainda, está ligado a prescindibilidade da ação principal

(ou de outra decisão, posterior, que confirme ou infirme a medida concedida).

Só no primeiro sentido é que se pode considerar satisfativa a tutela antecipatória. A

decisão interlocutória, através da qual o juiz antecipa os efeitos da tutela pleiteada, é

provisória, baseada em cognição sumária e passível de ser posteriormente confirmada ou

infirmada.

O art. 273 contem duas expressões aparentemente inconciliáveis, mas que não querem

senão dizer que o fumus, para que possam ser adiantados os efeitos da sentença final, há de

ser mais robusto, mais veemente, mais expressivo do que aquele exigido para a concessão de

liminar em ação cautelar.

E a razão evidente dessa diferença de graus consiste em que o caráter de

excepcionalidade das decisões liminares, através das quais se concede tutela antecipatória no

processo de conhecimento, parece ser efetivamente muito mais acentuado do que os das

decisões liminares proferidas no bojo de ações cautelares.

A probabilidade de que o autor tenha mesmo o direito que assevera ter há de ser

bastante acentuado para que possa ser concedida a tutela antecipatória. Disse o legislador que

da verossimilhança deve haver prova cabal (não do direito).

Trata-se, todavia, de cognição sumária, incompleta, não exauriente. Este é o principal

ponto em comum entre ambas as medidas, a cautelar e a antecipatória de tutela.

Como traço distintivo predominante não temos dúvida de que este reside no

pressuposto e na correlata finalidade da medida cautelar: seu pressuposto é o periculum in

mora (risco de dano à eficácia da providencia pleiteada), e sua finalidade ou função é a de

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28evitar ou a de minimizar este risco. A tutela antecipatória pressupõe direito que, desde logo,

aparece como evidente e que por isso deve ser tutelado de forma especial pelo sistema.

Existe, todavia, um outro critério de que freqüentemente tem lançado a doutrina que,

no nosso entender, não é o principal. É justamente o da satisfatividade (no sentido da

coincidência entre a providência adiantada e aquilo que de fato se quer, isto é, o mérito).

Medida tipicamente cautelar é aquela em que se concede providência consistente em

pressuposto para a viabilização da eficácia da ação principal ou do provimento final, e não a

própria eficácia. Não são medidas coincidentes com o que se pleiteia afinal o arresto ou o

seqüestro. São, portanto, segundo esse critério, medidas cautelares.

Pode ocorrer, todavia, que a antecipação dos próprios efeitos da sentença seja

pressuposto para sua própria eficácia.

O art. 273, I, indubitavelmente introduziu em nosso sistema um tipo de tutela

antecipatória com feições nitidamente cautelares, pois que, embora de exija, para a sua

concessão, fumus robusto, reforçado, veemente, se requer também que haja perigo de eficácia

do pronunciamento final, pressuposto que corresponde à função cautelar.

O art. 273, II, consagra hipótese de tutela antecipatória pura: exige-se só o fumus. Na

verdade, defesa protelatória ou abuso de direito de defesa nada mais são do que circunstâncias

que vem a reforçar o fumus: os argumentos do autor são tão sólidos e tão convincente é a

prova documental juntada à inicial que a defesa não pode ser senão protelatória ou abusiva.

Portanto, tem-se que, tanto com base no n. I quanto com fulcro no n. II, pode a tutela

antecipada ser concedida inaldita altera parte. Pode, a fortiori, ser concedida depois da

contestação e, na verdade, a qualquer tempo, até na própria sentença, o que deve equivaler, no

plano prático, a uma decisão judicial no sentido de que a apelação não seja recebida no efeito

suspensivo, passando a sentença a produzir, desde logo, efeitos.

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Essa necessidade surge, por exemplo, no caso de a tutela antecipatória ser concedida

com base no art. 273, II, após a contestação, e de ser uma hipótese de julgamento antecipado

da lide, em que não deve haver audiência e o juiz deve, logo, sentenciar.

A tutela antecipada, embora, ao que tudo indica, deva ser instituto predominantemente

usado no 1o grau de jurisdição, pode ser concedida no tribunal, se já tiver sido proferida a

sentença de 1o grau de jurisdição.

No entendimento de Luiz Rodrigues Wambier, ainda que esta hipótese não venha a ser

comum, não vemos óbice a que se possa conceder a tutela antecipada no tribunal, tendo em

vista seus pressupostos e a sua finalidade”20.

Humberto Theodoro Júnior sustenta que a antecipação de tutela aplica-se, em tese, “a

qualquer procedimento de cognição, sob a forma de liminar deferível sem necessidade de

observância do rito das medidas cautelares. O texto do dispositivo legal em questão (art. 273

do CPC) prevê que a tutela antecipada, que poderá ser total ou parcial em relação ao pedido

formulado na inicial, dependerá dos seguintes requisitos:

a) requerimento da parte;

b) produção de prova inequívoca dos fatos arrolados na inicial;

c) convencimento do juiz em torno da verosimilhança da alegação da parte;

d) fundado receio do dano irreparável ou de difícil reparação; ou

e) caracterização de abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do

réu; e

f) possibilidade de reverter a medida antecipada, caso o resultado da ação venha a ser

contrário à pretensão da parte que requereu a antecipação satisfativa.

20 Luiz Rodrigues Wambier, op. cit., p. 352.

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Tanto a medida cautelar propriamente dita (objeto da ação cautelar) como a medida

antecipatória (objeto de liminar na própria ação principal) representam providências, de

natureza emergencial, executiva e sumária, adotadas em caráter provisório.

O que, todavia, as distingue, em substância, é que a tutela cautelar apenas assegura

uma pretensão, enquanto que a tutela antecipatória realiza de imediato a pretensão. A

antecipação de tutela somente é possível dentro da própria ação principal. Já a medida

cautelar é objeto de ação separada, que pode ser ajuizada antes da ação principal ou no seu

curso. Urge, pois, não confundir o regime legal das medidas cautelares (sempre não-

satisfativas) com o das medidas liminares de antecipação de tutela (de caráter satisfativo

provisório por expressa autorização da lei).

O prof. José Frederico Márquez afirma que, com a aplicação da regra do art. 273 do

CPC,

“o que se opera é a antecipação mesma dos efeitos da tutela pretendida pelo

demandante, realizando-se em momento procedimental prévio o direito objetivo que, não

fosse esse mecanismo, somente na fase executória do provimento jurisdicional se operaria.

Por isso mesmo, quem a invoca não se posiciona no pleito de medida que impeça o

perecimento do direito, ou que lhe assegure a possibilidade de exerce-lo no futuro. É que essa

antecipação dos efeitos da tutela, diversamente, já proporciona à parte o exercício imediato do

conteúdo do próprio direito por ela deduzido em juízo. Destarte, desde que preenchido os

pressupostos traçados nos incs. I e II, e no § 2o, a contrário sensu, do art. 273 do Código de

1973, poderá o legitimado ativo obter antecipadamente os efeitos do provimento jurisdicional

de mérito. Não será provimento jurisdicional liminar acautelatório, mas provimento decisório

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31antecipatório do provimento sentencial, com idêntico ou menor teor quanto à matéria fática,

com o discrime único na provisoriedade21

Portanto, e como sustenta Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery, a tutela

antecipatória é, com relação aos efeitos da sentença de mérito “providência que tem natureza

jurídica mandamental, que se efetiva mediante execução lato sensu, com o objetivo de

entregar ao autor, total ou parcialmente, a própria pretensão deduzida em juízo ou os seus

efeitos. É tutela satisfativa no plano dos fatos, já que realiza o direito, dando ao requerente o

bem da vida por ele pretendido com a ação de conhecimento.

Com a instituição da tutela antecipatória dos efeitos da sentença de mérito no direito

brasileiro, de forma ampla, não há mais razão para que seja utilizado o expediente das

impropriamente denominadas ‘cautelares satisfativas’, que constitui em si uma contradictio in

terminis, pois as cautelares não satisfazem: se a medida é satisfativa, é porque, ipso facto, não

é cautelar. É espécie do gênero tutelas diferenciadas22.

Assim, claro ficou a diferença existente entre a tutela cautelar e a tutela antecipatória

ora prevista pela legislação brasileira.

3.1 FUNGIBILIDADE

A respeito do tema, não se pode deixar de mencionar a grande última novidade do

nosso Código de Processo Civil no que tange a Tutela Antecipatória do Mérito e a Medida

Cautelar.

Trata-se de substancial alteração no instituto da tutela antecipada, visto que o § 7º,

introduzido pela Lei nº 10.444/02, estabelece a fungibilidade entre a tutela antecipada e a

21 MÁRQUEZ, José Frederico. Código de processo civil comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 546.22 Ibidem,p. 547.

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32medida cautelar. A partir de agora, o causídico não precisará ter receio em requerer uma tutela

em lugar de outra, uma vez que, conforme a novel redação do art. 273, § 7º, do Código

Processual Civil, fica autorizado ao órgão julgador conhecer e deferir a medida cautelar no

caso do autor requerer a antecipação de tutela quando, na verdade, é cabível a tutela cautelar,

desde que, obviamente, estejam presentes os pressupostos legais e imprescindíveis para a

concessão do provimento.

Assim, basta que o advogado tenha se equivocado ao pedir uma medida cautelar

dentro de um processo de conhecimento, atribuindo-lhe o rótulo de “tutela antecipada”. Isto

fará com que o juiz, analisando tal requerimento e verificando que a medida pretendida tem a

natureza cautelar, e, ainda estando presentes os requisitos desta, deverá concedê-la.

É necessário salientar que alguns doutrinadores pátrios têm entendido que este

parágrafo veio, praticamente, mitigar a aplicabilidade do processo cautelar na atividade

jurisdicional, pois é muito mais conveniente, cômodo e barato utilizar a antecipação da tutela.

Depreende-se, portanto, que, no tocante ao ponto de vista processual, não há óbice

algum no conhecimento de um pedido de liminar como antecipação de tutela ou como medida

cautelar, haja vista que o que define a natureza jurídica do pedido é a essência da pretensão

deduzida em juízo e não o eventual nomem juris que o requerente tenha, porventura, atribuído

em sua peça. Assim, cumpre ao magistrado, com lastro na instrumentalidade, na efetividade

do processo e na fungibilidade que tem sua razão de ser apenas na realização efetiva dos

direitos, conhecer do pedido segundo a sua natureza jurídica em função da essência do que é

postulado e não pelo rótulo que vem externando, uma vez que no ordenamento jurídico

brasileiro não há a chamada tipicidade de ações.

Em outras palavras, a regra do § 7º do artigo 273, proíbe ao juiz indeferir uma medida

cautelar sob o fundamento de que ela deveria ter vindo através de processo autônomo, bem

como indeferir tutela sumária satisfativa sob o fundamento de que esta não deve ser postulada

Page 33: 1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Pós … SERBER TAVARES VERÍSSIMO.… · 3.1 FUNGIBILIDADE ... figurava como uma fase extrajudicial que precedia a judicial, e que funcionava como

33em demanda autônoma. Não se pode negar o quanto importante foi essa modificação, a luz da

Celeridade e Eficiência da prestação jurisdicional que hoje tanto são buscadas.

3.2 POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS

Estando bastante claro que a tutela antecipatória prevista pela legislação brasileira não

se confunde com a tutela cautelar, uma vez que requerida pela parte, e preenchendo os

requisitos específicos, o julgador estará deferindo, de imediato, a possibilidade deste

postulante receber os efeitos da sentença que sentiria somente após o julgamento do mérito,

podemos desenvolver alguns raciocínios.

Se este tipo de tutela diferenciada veio a responder os anseios de uma sociedade que

clama por uma Justiça rápida, e sendo que este instituto permite ao jurisdicionado

experimentar conseqüências de seu direito postulado logo no início ou no curso de um

processo cognitivo, podemos imaginar que no âmbito das medidas cautelares, presenciaremos

uma alteração substancial no que se refere ao momento da propositura destas cautelares.

Sabe-se que as medidas cautelares podem ser propostas antes da ação de conhecimento

ou de execução, ou no seu curso. Contudo, se possível postular a antecipação de tutela

prevista pelo art. 273 do CPC brasileiro em qualquer momento do processo principal, até

mesmo após a sentença ou em grau de recurso, não verificaremos a necessidade de utilização

das medidas cautelares incidentais. Se tornarão, com o passar do tempo, de pouca utilização

prática. Caso haja necessidade de se assegurar uma situação de perigo durante o curso do

processo de conhecimento ou de execução, o postulante o poderá faze-lo via pedido de

antecipação de tutela.

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E mais, se possível este requerimento em qualquer momento do procedimento

cognitivo, podemos considerar que poderá ser formulado por qualquer um dos litigantes,

desde que preenchidos os requisitos indispensáveis para a sua autorização, vez que a Lei

concede este direito à parte.

Concluindo, toda a busca realizada no sentido de dar ao cidadão uma Justiça mais

célere, via de inovações introduzidas em nosso ordenamento, desde que não atue sobre a

segurança jurídica, é proveitosa. Evidentemente, a novidade demanda de um certo tempo para

se verificar ser ela proveitosa ou não. Oxalá tenhamos certeza, amanhã, de que este tipo de

tutela diferenciada tenha vindo para ficar, a fim de prestar seus serviços ao Direito e a Justiça.

CONCLUSÃO

A antecipação da tutela ingressou no ordenamento jurídico nacional para purificar o

processo cautelar - antes utilizado indiscriminadamente para assegurar o direito, sem

satisfazê-lo, bem como para obtenção de medidas satisfativas de antecipação do mérito - de

sorte que, desde a sua vigência, a ação cautelar se destinará exclusivamente às medidas

cautelares típicas.

Não teria sentido que o legislador inserisse no mundo jurídico um instrumento

processual sem uma finalidade própria. Daí ser intuitiva a distinção, seja quanto aos

pressupostos, seja quanto à finalidade, entre antecipação da tutela e liminar em cautelar.

A tutela antecipada (de natureza cautelar - art. 273, I, do CPC) tem como requisitos,

a exemplo das liminares em cautelar, o fundado receio de dano irreparável ou difícil

reparação e a urgência do provimento, exigindo, além disso, prova que leve à quase certeza

do direito alegado, e se destina não apenas a assegurar o resultado útil de outro processo, mas

Page 35: 1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Pós … SERBER TAVARES VERÍSSIMO.… · 3.1 FUNGIBILIDADE ... figurava como uma fase extrajudicial que precedia a judicial, e que funcionava como

35a realização imediata do próprio direito material reivindicado, em caráter provisório. E nesse

ponto repousa sua característica fundamental.

Essa poderosa arma contra os males corrosivos do tempo no processo, traz em si a

possível natureza cautelar, e, embora não se confunda com as medidas cautelares, pode e

deve ser recebida como cautelar incidental, uma vez não satisfeitos os requisitos da

antecipação da tutela, uma vez que a lei 10.444/2002 acrescentou o § 7º ao artigo 273 e

trouxe a Fungibilidade. Augura-se que essa nova regra, seja o primeiro passo na formação de

uma nova cultura jurídica, que dispense a formação de dois processos (cognitivo e cautelar)

para que se obtenha um resultado que pode ser alcançado em um único processo.

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REFERÊNCIAS

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