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1 1. Prosseguir a caminhada com a Palavra A vida da Arquidiocese estrutura-se através da repetição de determinadas inicia- tivas e a novidade que o programa pastoral lhe confere. Com a aliança, na pastoral ordinária, entre o habitual e uma ideia nova, para um determinado período, conse- guimos suscitar unidade e encanto a tudo quanto acontece no dinamismo de toda a Arquidiocese. Situados num novo ano, não encerramos uma caminhada para dar corpo a outra nova. Articulamos a vida e prosseguimos uma caminhada que confirma o percurso percorrido e sobre ele lança novos desafios. Daí que não encerramos o ciclo desti- nado à Família para nos encontrarmos num novo de três anos a dedicar à Palavra. Vamos abrir novos horizontes. Num mundo onde o matrimónio e a família se encontram em profunda e contínua transformação pretendemos, até agora, escutar a vida do quotidiano das famílias. Ouvindo o exterior, não esquecemos que o mistério do amor que a família é chamada a acolher (como dom) e a reviver (como compromisso) tem a sua origem e plena com- preensão em Deus. Deus é o núcleo central da boa e alegre notícia que (Ele mesmo) quer oferecer à Família e, por esta, ao mundo. Nesta convicção, a Igreja tem a respon- sabilidade, para anunciar o Evangelho da Família, de aproximar todas as famílias da Bíblia no duplo sentido de a colocar em todas as casas e de levar – pais e filhos – a aprender a ler, conhecer, rezar, amar e viver a Palavra de Deus. Deste modo estamos a prosseguir a caminhada fazendo com que, depois de ter escutado as famílias, faça- mos com que elas escutem a Palavra de Deus. Atingindo este objectivo, conseguire- mos colocar a Palavra no centro das comunidades e da Arquidiocese. Tomar conta da Palavra É este o grande objectivo que acolhemos para este próximo triénio. Sintetizámo- lo dum modo provocante: Tomar conta da Palavra – que toma conta de nós. Não se trata dum jogo de palavras de difícil entendimento. Urge aproximar-se – pessoas e comunidades – da Palavra para que ela nos acompanhe e caracterize o nosso ser e agir. Não temos outro programa nem outro itinerário. Talvez o saibamos. Só que a ac- ção pastoral ainda continua longe desta referência contínua e a vida dos cristãos não consegue ser interpelada a partir destes critérios evangélicos. Continua a ser mais fácil repetir rotinas para fugir à responsabilidade de situar-se numa única escola que dá, dum modo exclusivo, as orientações necessárias para a renovação da pastoral e para uma vivência em tempos diferentes e repletos de interpelações.

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Page 1: 1. Prosseguir a caminhada com a Palavra · 2016-09-15 · 1 1. Prosseguir a caminhada com a Palavra A vida da Arquidiocese estrutura-se através da repetição de determinadas inicia-

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1. Prosseguir a caminhadacom a Palavra

A vida da Arquidiocese estrutura-se através da repetição de determinadas inicia-tivas e a novidade que o programa pastoral lhe confere. Com a aliança, na pastoral ordinária, entre o habitual e uma ideia nova, para um determinado período, conse-guimos suscitar unidade e encanto a tudo quanto acontece no dinamismo de toda a Arquidiocese.

Situados num novo ano, não encerramos uma caminhada para dar corpo a outra nova. Articulamos a vida e prosseguimos uma caminhada que confirma o percurso percorrido e sobre ele lança novos desafios. Daí que não encerramos o ciclo desti-nado à Família para nos encontrarmos num novo de três anos a dedicar à Palavra. Vamos abrir novos horizontes.

Num mundo onde o matrimónio e a família se encontram em profunda e contínua transformação pretendemos, até agora, escutar a vida do quotidiano das famílias. Ouvindo o exterior, não esquecemos que o mistério do amor que a família é chamada a acolher (como dom) e a reviver (como compromisso) tem a sua origem e plena com-preensão em Deus. Deus é o núcleo central da boa e alegre notícia que (Ele mesmo) quer oferecer à Família e, por esta, ao mundo. Nesta convicção, a Igreja tem a respon-sabilidade, para anunciar o Evangelho da Família, de aproximar todas as famílias da Bíblia no duplo sentido de a colocar em todas as casas e de levar – pais e filhos – a aprender a ler, conhecer, rezar, amar e viver a Palavra de Deus. Deste modo estamos a prosseguir a caminhada fazendo com que, depois de ter escutado as famílias, faça-mos com que elas escutem a Palavra de Deus. Atingindo este objectivo, conseguire-mos colocar a Palavra no centro das comunidades e da Arquidiocese.

Tomar conta da Palavra

É este o grande objectivo que acolhemos para este próximo triénio. Sintetizámo-lo dum modo provocante: Tomar conta da Palavra – que toma conta de nós. Não se trata dum jogo de palavras de difícil entendimento. Urge aproximar-se – pessoas e comunidades – da Palavra para que ela nos acompanhe e caracterize o nosso ser e agir. Não temos outro programa nem outro itinerário. Talvez o saibamos. Só que a ac-ção pastoral ainda continua longe desta referência contínua e a vida dos cristãos não consegue ser interpelada a partir destes critérios evangélicos. Continua a ser mais fácil repetir rotinas para fugir à responsabilidade de situar-se numa única escola que dá, dum modo exclusivo, as orientações necessárias para a renovação da pastoral e para uma vivência em tempos diferentes e repletos de interpelações.

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Com estes três anos, as comunidades e os seus membros, sabendo que devem “tomar conta” como atitude activa e a exigir trabalho persistente, devem aceitar que a meta reside no permitir que a Palavra “tome conta” das vidas e de todas as iniciativas pastorais.

Quanta conversão pessoal a fazer? Quanta conversão pastoral a fazer? Quanto trabalho pessoal a efectuar? Quanta alegria a descobrir na atitude de quem penetra num tesouro? Não pensemos que está tudo delineado ou projectado. Os caminhos para o encontro com a Palavra, e a percorrer por causa da Palavra, são inéditos e abertos à surpresa que o Espírito reserva a quem se decide a caminhar. Nada é dado a quem fica à porta. Só numa aproximação responsável surgirão as opções que importa concretizar. Da minha parte, resta-me convocar a Arquidiocese, nos seus membros e nas suas estruturas, para percorrer os caminhos da Palavra, qual aventura que parte duma decisão pessoal para chegar onde o Espírito pretende. Aqui está a nossa meta.

Três etapas

Tentaremos concretizar a nossa aventura percorrendo três etapas, correspondentes a outros tantos anos, servindo cada um para sublinharmos um aspecto particular como expressão desse “tomar” e “deixar-se tomar”. São aspectos interligados e com muitos pontos de convergência. A caminhada saberá dar a novidade que a pastoral necessita.

1. No ano pastoral 2008-2009, como Ano Paulino, conheceremos melhor a per-sonalidade de Paulo para, mergulhando nos seus escritos, nos deixarmos encontrar pela Palavra. Com efeito, “Encontrados pela Palavra” é um lema que conduzirá a um maior conhecimento da Bíblia, nos seus conteúdos e organização, nunca numa perspectiva meramente teórica, embora não descurando esta dimensão dum “livro” a saber manusear e entender, mas em atitude de permanente escuta para amar com paixão uma Palavra oriunda do seio da Trindade. No peregrinar da vida humana en-contramo-nos com uma variedade imensa de mensagens. Vemos e assistimos a um barulho que confunde e gera perplexidade. É no meio desta amálgama de orienta-ções que a Palavra terá de entrar para promover um encontro de perfeita identidade. Nunca se tratará dum exercício académico. Importa ser encontrado pela Palavra, o que se consegue com o silêncio e através dum criar condições em experiências indi-viduais ou de grupo.

A catequese, a liturgia, a acção social, as actividades dos grupos são, deste modo, os lugares onde colocar a Palavra para que, como consequência, todos sejam encontrados pela mesma.

“Encontrar-se pela Palavra” acontecerá quando quisermos que ela se torne vida e quando nos habituarmos a partilhar as experiências que o encontro suscita. É Pa-lavra de Vida que exige que a mesma vida seja comungada duma maneira familiar. “Encontrar-se” torna-se, deste modo, estímulo e anúncio que cada um acolhe e dá.

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2. No ano pastoral 2009-2010 seremos conduzidos pela mesma Palavra para a acolher e viver. “Acolhemos a Palavra” é o lema que nos acompanhará suscitando outras iniciativas.

Importa que o acolher se oriente para o viver. Não pretendemos saborear egoistica-mente um dom oferecido. Sabemos que tudo se projecta na vida e que o mundo neces-sita de ler a Palavra divina no quotidiano dos nossos pensamentos e acções. No cristão, o contemplativo une-se ao activo e sabemos fazer deserto para ouvir em profundidade e, ao mesmo tempo, acolhemos para gritar com o testemunho e a coerência.

A história do Cristianismo, infelizmente, não apresenta muito esta necessidade de viver a Palavra. Num contexto de pluralismo cultural, que não quer considerar as referências religiosas, o único caminho capaz de mostrar a diferença é a vida – dos cristãos e das comunidades – que acabará por “pressionar”. Por outro lado, o viver a Palavra não deve ser interpretado só como anúncio. Antes de mais, a vida gera alegria em quem ousa acreditar na Palavra e a passa para o dia-a-dia nos mais variados ambientes. Quem mais beneficia é aquele que trabalha para a colocar em prática.

3. No ano pastoral 2010-2011 vamos reconhecer outra dimensão importantíssi-ma da Palavra que “tomou conta” de nós. “Vivemos da Palavra” é a síntese duma caminhada iniciada no encontro que converteu para acolher na integridade e viver em todos os momentos. A vida será sempre anúncio e deverá conduzir a uma maior responsabilidade no repensar a maneira de comunicar a Palavra na actualidade.

Com o “anúncio” e para o “anúncio” teremos de descobrir e concretizar formas novas capazes de entrar no pensamento hodierno. Nada deve ser desconsiderado desde que proporcione uma proclamação das verdades em que acreditamos.

Temos consciência que se impõe uma atenção especial aos meios tradicionais de anúncio. Mas, há caminhos novos que passam pela cultura, arte, música, tempos livres, etc., que não podemos ignorar ou desconsiderar. O mundo mudou e o anúncio deve ser diferente para chegar a ambientes que abandonaram o pensar cristão, que o ignoram ou desconsideram.

O anúncio adquire, deste modo, um rosto missionário que situamos no interior da comunidade crente e que alargamos a franjas que necessitam dum encontro com Cristo. Tomados pela Palavra não podemos permitir que a fé se encerre no privado ou nos espaços estritamente eclesiais. O mundo é o nosso horizonte e teremos de partir para um encontro de diálogo com tudo e com todos.

Responsabilidades novas

Com estes pensamentos sobre o plano pastoral – “Tomar conta da Palavra que toma conta de nós” – e sobre os programas pastorais para cada ano: 2008-2009 (Ano Paulino) – “Encontrados pela Palavra”; 2009-2010 – “Acolhemos a Palavra”; 2010-201 – “Vivemos da Palavra”, pretendi, como referia no início, apontar um caminho. Importa

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que cada comunidade descortine o seu trajecto e queira testemunhar a vitalidade de Cristo através da Palavra. A Igreja necessita de se mostrar neste mundo de indiferen-ça. Só que não o pode fazer através de cerimónias e ritos que sendo imprescindíveis para a fé já não conseguem mostrar a vitalidade de Cristo e da mesma Igreja a quem pretende ignorar o mesmo Cristo e a mesma Igreja.

Nos primórdios do Cristianismo, São João, no Prólogo do seu Evangelho, aponta o caminho:

«No começo a palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus e a Palavra era Deus. No começo Ela estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio d’Ela, e, de tudo o que existe, nada foi feito sem Ela. N’Ela estava a Vida, e a Vida era a luz dos homens. Essa luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la. Apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João. Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas apenas a testemunha da luz. A luz verdadeira, aquela que ilumina todo o homem, estava a chegar ao mundo. A Palavra estava no Mundo, o mundo foi feito por meio d’Ela, mas o mundo não A conheceu. Ela veio para a sua casa, mas os seus não A receberam. Ela, porém, deu o poder de se tornarem filhos de Deus a todos aqueles que A receberam, isto é, àqueles que acreditam no seu Nome. Estes não nasceram do sangue, nem do desejo do homem, mas nasceram de Deus. E a Palavra fez-se Homem e habitou entre nós. E nós contemplámos a sua glória: glória do Filho único do Pai cheio de amor e fidelidade. João dava testemunho d’Ele, proclamando: “Este é Aquele a respeito de quem eu disse: Aquele Homem que vem depois de Mim passou à minha frente, porque existia antes de Mim”. Porque da sua plenitude todos nós rece-bemos, e um amor que corresponde ao seu amor. Porque a Lei foi dada por Moisés, o amor e a fidelidade vieram através de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho único que está junto do Pai» (Jo 1, 1-18).

As trevas adensam-se; a eloquência duma Palavra tornada vida é a única hipóte-se que permitirá a subsistência do Cristianismo. Com Cristo não podemos temer. Daí que as iniciativas devem multiplicar-se no sentido de mostrar uma Igreja viva onde resplandece o Amor de Cristo.

Onde nos conduzirá a Palavra? Cada cristão e cada comunidade saberão res-ponder.

D. Jorge Ortiga – Arcebispo de Braga

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2. Música do Triénio Pastoral

“Jesus é a Palavra de Deus”

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2. Acolhendo a Palavra De coração sempre aberto, Recebemos Jesus Cristo E teremos rumo certo

3. Viveremos da Palavra Que nos revelou Jesus; Dando fruto abundante, Também nós seremos luz.

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Estrofes para coro a 3 v. m.

Estrofes para coro a 4 v. m.

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3. Encontrados pela Palavra1. Um Paulo nascido do sangue, do zelo e do esforço meticuloso

As páginas autobiográficas que se seguem mostram-nos um Paulo orgulhoso da sua raça, das suas raízes religiosas e culturais, que recorda e ostenta com vivo entusiasmo e emo-ção, ao mesmo tempo que nos deixam ver o entranhado empenho com que se devotou a elas a tempo inteiro e de corpo inteiro, defendendo ciosa, enérgica e violentamente o seu tesouro judaico de tudo aquilo que lhe parecia hostil, nomeadamente a jovem Igreja de Cristo1:

«11,22 São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São descendentes de

Abraão? Também eu» (2 Cor 11, 22).

«11,1 Eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim» (Rm 11, 1).

«3,5 Circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu, filho de hebreus, quanto à lei fariseu, 6 quanto ao zelo, perseguidor (diôkôn) da Igreja, quanto à justiça que há na Lei, irrepreensível» (Fl 3, 5-6).

«1,13 Ouvistes certamente da minha conduta de outrora no judaísmo, de como com excesso (kath’ hyperbolên) perseguia (edíôkon: imperf. de diôkô) a Igreja de Deus e a de-vastava, 14 e progredia no judaísmo mais do que muitos da minha idade e da minha raça, sendo muito mais zeloso das tradições dos meus pais» (Gl 1, 13-14).

Por estes breves acenos autobiográficos, podemos entrever um retrato de Paulo, sem meias tintas – «Ninguém pode servir a dois senhores» (Mt 6, 24) vale para o homem oriental; nós, ocidentais, arranjamos sempre maneira de o conseguir fazer! –, organizado, deter-minado e apaixonado, de acordo com a descrição precisa de Amédée Brunot, que refere que Paulo se apresenta como «homem de razão como o grego, homem de acção como o romano, homem de paixão como o oriental»2.

2. Uma luz que vem de fora

Encontram-se no Livro dos Actos dos Apóstolos três descrições da reviravolta (evitemos o termo «conversão») operada na vida de Paulo: Act 9, 1-19 (em terceira pessoa), Act 22, 1-21 e 26, 2-23 (em forma autobiográfica). A mencionada em Act 26, 2-23 constitui o último discurso que Paulo faz em sua defesa, em Cesareia Marítima, diante do rei Agripa, e é a mais rica em acenos autobiográficos. Deixando de lado aspectos inverosímeis como, por exemplo, a per-

1 Ver também C. M. MARTINI, Il Vangelo di Paolo, Milão, Àncora, 2007, p. 12-15.2 A. BRUNOT, Le génie littéraire de Saint Paul, Paris, Cerf, 1955, p. 227.

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seguição em cidades estrangeiras (26, 11-12; cfr. 9, 2; 22, 5) movida a partir de Jerusalém3, retenhamos apenas aquela luz nova, vinda de fora, em pleno meio-dia, que envolve Paulo (Act 9, 3; 22, 6; 26, 13), e o recria, desde o coração (2 Cor 4, 6)4. Novo conhecimento de Deus, que se declina na passiva: conhecer Deus é ser conhecido por Deus (ver também Gl 4, 9, em que Paulo corrige: «Tendo conhecido Deus, ou melhor, tendo sido conhecidos por Deus»)5.

3. Três textos aurorais

A aurora é a metáfora de uma luz nova, que vem de fora, e que se contrapõe à metá-fora da luz que em nós mora, a luz da nossa pequena razão. A iniciativa gratuita de Deus precede sempre a nossa pesquisa, o nosso pequeno esforço, meditação, exercícios espiri-tuais, longas orações, jejuns6. Vejamos os três lugares clássicos em que Paulo diz, em jeito autobiográfico, esta novidade:

«15,3 Transmiti-vos (parédoka: aor. de paradídômi), na verdade, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi (parélabon: aor de paralambánô): que Cristo morreu (apéthanen: aor2 de apothnêskô) pelos nossos pecados segundo as Escrituras,4 e que foi sepultado (etáphê: aor2 pass. de thápô) e que foi ressuscitado (egêgertai: pf. pass. de egeírô)7 ao terceiro dia segundo as Escrituras,5 e que SE FEZ VER (ôphthê: aor. pass. de horáô) a Cefas (Kêphã)8, e depois aos Doze. […] 8 Em último lugar, FEZ-SE VER (ôphthê) também a mim (emoí)9, (…) o mais pequeno dos apóstolos (ho eláchistos tôn apostólôn) (…);10 é pela graça de Deus (cháriti dè theoû) que sou o que sou (eimi hó eimi), e a sua graça em mim não ficou vazia (kenê)» (1 Cor 15, 3-5. 8-10).

«1,11 Dou-vos a conhecer (gnôrízô), irmãos, o Evangelho evangelizado por mim (tò euaggé-lion tò euaggelisthèn hyp’ emoû), que não é segundo o homem (ouk éstin katà ánthrôpon),12 nem, na verdade, eu o recebi de homem (oudè gàr egô parà anthrôpou parélabon autó), nem fui en-sinado (oúte edidáchthên: aor. pass. de didáskô), mas por REVELAÇÃO de Jesus Cristo (allà di’ apokalýpseôs Iêsoû Christoû). […] 15 Quando, pois, aprouve (eudókêsen) a Deus – aquele que me separou (aphorísas) desde o ventre de minha mãe, e me chamou (kaléô) por meio da sua graça –, 16 REVELAR (apokalýpsai) o seu Filho em mim, a fim de o evangelizar (hína euaggelízomai autón)» (Gl 1, 11-12. 15-16).

3 Ver, por exemplo, G. BORNKAMM, Pablo de Tarso, Salamanca, Sígueme, 1979, p. 48; C. M. MARTINI, Il Vangelo di Paolo, p. 10.

4 C. M. MARTINI, Il Vangelo di Paolo, p. 11.5 D. MARGUERAT, La mystique de l’Apôtre Paul, in J. SCHLOSSER (ed.), Paul de Tarse. Congrès

de l’ACFEB (Strasbourg, 1995), Paris, Cerf, 1996, p. 317.6 C. M. MARTINI, Il Vangelo di Paolo, p. 18-19.7 A formulação no perfeito, depois de dois aoristos, indica que Cristo foi ressuscitado (passivo

teológico) e vive para sempre. K. STOCK, I Racconti Pasquali dei Vangeli Sinottici, Roma, Pontificio Istituto Biblico, 2.ª impressão, 2002, p. 11.

8 Trata-se do dativo dito «do beneficiário» usado com o passivo, com significado intransitivo (que sublinha a iniciativa soberana de Deus), do verbo «ver» (ôphtê), que deve traduzir-se por «fez-se ver a», e não por «foi visto por». J. DELORME, La Résurrection de Jésus dans le langage du Nouveau Testament, in H. CAZELLES, J. DELORME, L. DEROUSSEAUX, J. LE DU, R. MACÉ, Le langage de la foi dans l’Écriture et dans le monde actuel. Exégèse et catéchèse, Paris, Cerf, 1972, p. 143; K. STOCK, I Racconti Pasquali dei Vangeli Sinottici, p. 11.

9 Outra vez o dativo do beneficiário, nas mesmas condições do anterior.

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«3,12 Não que eu já a tenha obtido ou já tenha chegado à perfeição, mas persigo (diôkô) para a agarrar (katalábô), pois também FUI AGARRADO (katelêmphthên: aor. pass. de ka-talambánô) por Jesus Cristo.13 Irmãos, eu mesmo não penso tê-la agarrado (kateilêphénai), mas as coisas atrás esquecendo, para as coisas à frente me atirando» (Fl 3, 12-13).

É grandemente significativo que, para falar deste começo novo, imprevisível e não pro-gramável – que não é «segundo o homem» nem o «recebeu de homem» nem «foi ensinado» (Gl 1, 11 e 12) –, Paulo recorra a dois verbos de REVELAÇÃO (ôphthê, aor. pass. de horáô, e apokalý_ptô) e a um de LUTA (katelêmphthên, aor. pass. de katalambánô), desenhando este novo início como uma epifania, fruto da iniciativa gratuita de Deus que se manifesta a Paulo e a nós, de acordo com a confissão colocada na boca de Deus na Carta aos Romanos, e que Paulo foi buscar a Isaías 65, 2: «Fui encontrado por aqueles que não me procuram; manifestei-me aos que não perguntam por mim» (Rm 10, 20).

Neste sentido, acentua bem Gérard Claudel que Paulo não apresenta a sua adesão ao Cristianismo como uma «conversão», mas como uma uma REVELAÇÃO. De resto, ano-ta outra vez bem Gérard Claudel que o motivo da «conversão» está quase ausente nos escritos de Paulo, comparecendo apenas em Rm 2, 4; 2 Cor 7, 9-10 e 12, 21. Quem está completamente ausente é João Baptista, e percebe-se porquê10.

Não admira ainda, neste contexto, que Paulo se diga a partir da GRAÇA, sua nova iden-tidade recebida de fora: «É pela GRAÇA de Deus que sou o que sou» (1 Cor 15, 10). Tão-pouco admira que inicie sempre as suas cartas com a GRAÇA e a PAZ e as termine com a GRAÇA. Também não admira que, tomado pela GRAÇA e pelo COMPRAZIMENTO (eudokía de Deus [Gl 1, 15] ou syneudokía do Pai e do Filho e do Espírito Santo) nunca manifeste ran-cor ou amargura estéreis – ainda que, por vezes, tenha de manifestar reprovação –, mas que saiba ver sempre em primeiro lugar o bem e o belo11.

É ainda importante notar que o «perseguidor» da Igreja de Deus (Gl 1, 13) se transfor-mou em «perseguidor» da perfeição e da ressurreição de Cristo (Fl 3, 12).

E não se pode descurar que operou na sua vida uma viragem de 180º, esquecendo o tesouro a que estava tão agarrado, e que agora não passa de lixo (Fl 3, 8), e atirando-se para tesouro novo que tinha agora à sua frente, e que é Cristo (Fl 3, 13).

4. A força nova de uma testemunha

No seu discurso aos Membros do Consilium de Laicis, proferido em 2 de Outubro de 197412 , Paulo VI fez uma importante afirmação, que depois retomou na Exortação Apos-tólica Evangelii Nuntiandi (08 de Dezembro de 1975), n.º 41: «O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas».

Paulo entra bem nesta catalogação do mestre que é testemunha. Ele sabe bem que foi cha-mado desde o ventre materno (Gl 1,15; cf. Jr 1,5). Que foi agarrado por Jesus Cristo (Fl 3,12). Que foi amado por Jesus Cristo (Gl 2,20). Que o amor de Cristo tomou conta dele (2 Cor 5,14). Que para ele viver é Cristo (Fl 1,21), pois é Cristo que vive nele (Gl 2,20).

10 G. CLAUDEL, L’héritage Chrétien de Paul, in J. SCHLOSSER (ed.), Paul de Tarse, p. 263.11 C. M. MARTINI, Il Vangelo di Paolo, p. 38-39.12 AAS, 66, 1974, p. 568.

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É por isso que Paulo estava tomado pela Palavra, dando testemunho aos judeus de que Jesus era o Cristo (Act 18,5). Tomava conta da Palavra, que tomou conta dele.

A abrir o Capítulo nono da Primeira Carta aos Coríntios, Paulo apresenta as suas cre-denciais apostólicas, servindo-se de uma série de perguntas retóricas que reclamam outras tantas respostas afirmativas enfáticas13 :

«9,1Não sou livre? Não sou apóstolo? Não VI (heôraka) Jesus, o Senhor nosso?» (1 Cor 9,1).

Este VER, no tempo perfeito grego, indica que Paulo não se refere apenas a uma experiên-cia do passado, que não afecta o presente, mas a uma experiência cujo efeito continua no pre-sente14 . Empregando este tempo gramatical, Paulo afirma que viu e que continua a ver Jesus, apresentando-se, portanto, como uma testemunha credível e convincente. O tempo perfeito é o tempo da testemunha. Só alguém com a vida cheia de Jesus pode dar testemunho de Jesus.

Mas quem, como Paulo, tem a vida cheia de Jesus e vive de Jesus, esse tem de dar testemu-nho de Jesus. Eis como Paulo expressa essa necessidade:

«9,16Evangelizar (euaggelízomai) não é para mim um título de glória, mas uma neces-sidade que se me impõe. Ai de mim (ouaì gár moí estin) se não evangelizar! (eàn mê eua-ggelízomai)» (1 Cor 9,16).

E também fica esclarecida a afirmação forte de Paulo VI na Exortação Apostólica Evan-gelli Nuntiandi, n.º 14:

«A missão de evangelizar é a graça e a vocação própria da Igreja, de toda a Igreja, a sua identidade mais profunda. A Igreja existe para evangelizar».

E também se entendem bem as palavras de João Paulo II na Carta Apostólica Novo

Millenio Ineunte (06 de Janeiro de 2001), n.º 40:

«Esta paixão (“Ai de mim se não evangelizar!”: 1 Cor 9,16) não deixará de suscitar na Igreja uma nova missionariedade, que não poderá ser delegada a um grupo de “especialis-tas”, mas deverá corresponsabilizar todos os membros do povo de Deus. Quem verdadeira-mente encontrou Cristo, não pode guardá-l’O para si; tem de O anunciar».

5. Metodologia maternal e paternal: – evangelizar um a um a tempo inteiro

Quem, como Paulo, foi encontrado por Cristo e vive de Cristo a tempo intei-ro, tem também de dar testemunho de Cristo a tempo inteiro, com CORAÇÃO MA-TERNO e PATERNO, gerando filhos, dando-os à luz na dor, acalentando-os, exortan- do-os e consolando-os um a um, portanto, com tempo e total dedicação e persistência e paci-ência, como ele próprio testemunha, escrevendo às comunidades cristãs por ele fundadas:

13 A. C. THISELTON, The First Epistle to the Corinthians. A Commentary on the Greek Text, Grand Rapids – Cambridge, Eerdmans – Paternoster, 2000, p. 667.

14 A. C. THISELTON, The First Epistle to the Corinthians, p. 668.

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« ,14Não querendo envergonhar-vos escrevo estas coisas, mas como meus filhos ama-dos admoestando. 15Ainda que tivésseis tido dez mil pedagogos em Cristo, não tendes muitos pais, pois em Cristo Jesus, por meio do Evangelho, eu vos GEREI (gennáô)» (1 Cor 4,14-15).

«10Rogo-te pelo meu filho, Onésimo, que GEREI (gennáô) na prisão» (Flm 10).«4,19Meus filhos, que DOU À LUZ SOFRENDO (ôdínô), até que seja formado Cristo em

vós» (Gl 4,19).«2,2Confiados (parrêsiázomai) no nosso Deus, decidimos falar a vós do evangelho

(euaggélion) de Deus no meio de muita luta.3 Na verdade, a nossa exortação (parák-lêsis) não nasce do erro nem da impureza nem do engano, 4 mas, como fomos tidos como idóneos da parte de Deus para nos confiar o evangelho (euaggélion), assim falamos, não como aos homens querendo agradar, mas a Deus, que perscruta os nossos corações. 5Tão-pouco nos apresentámos com palavras de adulação, como sabeis, nem com pretexto de lucro, Deus é testemunha, 6nem procurando dos homens glória, nem de vós, nem de outros, 7podendo estar na qualidade e autoridade de apóstolos de Cristo. Pelo contrário, tornámo-nos crianças no meio de vós, COMO UMA MÃE que acalenta (thálpô) os próprios filhos. 8Tanto bem vos queríamos, que desejá-vamos dar-vos, não apenas o evangelho de Deus, mas também a nossa própria vida, pois tornastes-vos queridos (agapêtoí) para nós. 9Recordais-vos, de facto, irmãos, da nossa fadiga e do nosso esforço, trabalhando de noite e de dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Foi assim que vos pregámos o evangelho de Deus. 10Vós sois testemunhas, e Deus também o é, de quão puro, justo e irrepreensível tem sido o nosso modo de proceder para convosco, os que acreditais. 11Bem sabeis como exor-támos (parakaléô) a cada um de vós (héna ékaston hymôn), COMO UM PAI aos seus próprios filhos. 12Exortando-vos (parakaléô) e consolando (paramythéomai) e dando testemunho (martyromai), para que caminheis de modo digno a Deus, que vos está a chamar (kaloûntos) ao seu Reino e à sua glória» (1 Ts 2,2-12).

Não são precisas muitas explicações. Mas esta atitude carinhosa e próxima, familiar, produz naturalmente os seus efeitos, derrubando todo o tipo de barreiras, e fazendo nascer atitudes novas de afecto entranhado (Fl 1,7-8)15 . O afecto é uma linguagem que todos entendem e apreciam. No seguimento de Paulo, temos de nos perguntar se amamos as pessoas, as comunidades cristãs e a Igreja.

6. A outra rede da missão: muitos e bons cooperadores

Foi assim que o amor de Cristo tomou conta dele (2 Cor 5,14). E dele transvasava. Não admira que Paulo tenha sabido rodear-se de MUITOS e BONS COOPERADORES (syner-goí), presbíteros (presb_teroi) que «trabalham (kopiôntes) na palavra e na instrução (en lógô kaì didaskalía)» (1 Tm 5,17), cristãos, mulheres e homens, empenhados no «trabalho do amor» (ho kópos tês agápês) (1 Ts 1,3), a quem Paulo trata com elevada estima e en-tranhado afecto, como documenta o chamado «Capítulo das Saudações» no final da Carta aos Romanos:

15 C. M. MARTINI, Il Vangelo di Paolo, p. 67-68.

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«16,1Recomendo-vos Febe, nossa irmã (adelphê hêmôn), diaconisa (diákonos) da Igreja de Cêncreas, 2para que a recebais no Senhor (en kyríô), de modo digno dos santos (hágioi), e a assistais em tudo o que de vós necessitar, pois também ela foi benfeitora (prostátis) de mui-tos, e até de mim próprio. 3Saudai Prisca (diminuitivo: Priscila) e Áquila, meus cooperadores (synergói) em Cristo Jesus (en Christô Iêsoû), 4os quais, para salvar a minha vida, expuseram a sua cabeça; e não sou apenas eu que lhes estou agradecido, mas também todas as igre-jas dos gentios. 5Saudai também a Igreja que se reúne em sua casa. Saudai o meu querido (agapêtós) Epéneto, que constitui as primícias da Ásia para Cristo. 6Saudai Maria, que muito trabalhou (kopiáô) por vós. 7Saudai Andrónico e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão, que se distinguiram entre os apóstolos (apóstoloi), e me precederam em Cristo (en Christô). 8Saudai Ampliato, que me é muito querido (agapêtós) no Senhor (en kyríô). 9Saudai Urbano, nosso cooperador (synergós) em Cristo (en Christô), e o meu querido (agapêtós) Estáquio. 10Saudai Apeles, provado em Cristo (en Christô). Saudai os da casa de Aristóbulo. 11Saudai Herodião, meu parente. Saudai os da casa de Narciso, que estão no Senhor (en ky-ríô). 12Saudai Trifena e Trifosa, que trabalharam (kopiáô) no Senhor (en kyríô). Saudai a querida (agapêtê) Pérside, que muito trabalhou (kopiáô) no Senhor (en kyríô). 13Saudai Rufo, o eleito no Senhor (en kyríô), e sua mãe, que é também a minha. 14Saudai Assíncrito, Flegonte, Her-mes, Pátrobas, Hermas, e os irmãos (adelphói) que estão com eles. 15Saudai Filólogo e Júlia, Nereu e sua irmã, e Olimpas, e todos os santos (hagíoi) que estão com eles» (Rm 16,1-15).

Na peugada de Paulo, o desafio da formação séria, cuidada e alargada dos ministros orde-nados e dos fiéis leigos não pode deixar de nos ocupar e preocupar também hoje. Vê-se bem que a coesão desta premurosa rede eclesial assenta, não apenas em sentimentos humanos, mas «em Cristo» ou «no Senhor», locução que atravessa o texto de lés a lés, fazendo-se ouvir por dez vezes. Em outro lugar, Paulo advertirá que Jesus Cristo é o único fundamento (1 Cor 3,11).

7. Evangelizar é a nossa maneira de ser

Diz Paulo a Timóteo, mas nós podemos também receber estas palavras oportunas:

«1,6Recordo-te (anamimnêskô) que reavives (anazôpyreîn) o carisma (tò chárisma) de Deus que está em ti» (cf. 2 Tm 1,6).

Reavivar o carisma é reacender o dom de Deus, como o fogo que se reacende das cin-zas, como se vê pelo verbo grego, e como bem explica o Papa João Paulo II na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis (1992), n.º 70. Para que o dom de anunciar o Evangelho arda no nosso coração, mas arda também no coração de cada baptizado, dado que evangelizar é a nossa maneira de ser, é também a maneira de ser da Igreja, de toda a Igreja (Evangelii Nuntiandi, n.º 14; Redemptoris Missio, n.º 62), isto é, de todos os cristãos, de todas as dioce-ses e paróquias, instituições e associações eclesiais (Redemptoris Missio, n.º 2 e 61-76; Novo millenio Ineunte, n.º 40; Diálogo e Anúncio, n.º 82; Diálogo e Missão, n.º 10 e 14).

O nosso serviço de evangelização já não pode consistir simplesmente em evangelizar o outro até um certo ponto, mas em evangelizá-lo até que ele sinta a necessidade de se constituir em evangelizador. Então sim, evangelizar será a nossa (de todos) maneira de ser. E estaremos sintonizados com o Apóstolo Paulo.

D. António Couto

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4. Encontros com São PauloUma iniciativa que se concretizará ao longo de todo o ano pastoral 2008-2009,

também designado como Ano Paulino, tem por título genérico: ENCONTROS COM SÃO PAULO. Trata-se de um conjunto de reflexões sobre São Paulo e seus escritos. Serão orientadas por D. António Couto e decorrerão em três locais diversos da Ar-quidiocese, a saber: no Auditório Vita (em Braga); na Igreja de Nossa Senhora da Conceição (em Guimarães); e na Igreja de Balasar (Póvoa de Varzim).

Os encontros decorrerão entre as 21,30h e as 23h, às quintas-feiras, conforme o calendário que se segue:

OUTUBRO DE 2008Dia 16 - Auditório Vita (Braga)Dia 23 – Balasar (Póvoa de Varzim)Dia 30 – Igreja Nª S.ora da Conceição (Guimarães)

NOVEMBRO DE 2008Dia 13 - Auditório Vita (Braga)Dia 20 – Balasar (Póvoa de Varzim)Dia 27 – Igreja Nª S.ora da Conceição (Guimarães)

DEZEMBRO DE 2008Dia 4 - Auditório Vita (Braga)Dia 11 – Balasar (Póvoa de Varzim)Dia 18 – Igreja Nª S.ora da Conceição (Guimarães)

JANEIRO DE 2009Dia 15 - Auditório Vita (Braga)Dia 22 – Balasar (Póvoa de Varzim)Dia 29 – Igreja Nª S.ora da Conceição (Guimarães)

FEVEREIRO DE 2009Dia 5 - Auditório Vita (Braga)Dia 12 – Balasar (Póvoa de Varzim)Dia 19 – Igreja Nª S.ora da Conceição (Guimarães)

MARÇO DE 2009Dia 5 - Auditório Vita (Braga)Dia 12 – Balasar (Póvoa de Varzim)Dia 19 – Igreja Nª S.ora da Conceição (Guimarães)

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ABRIL DE 2009Dia 2 - Auditório Vita (Braga)Dia 23 – Balasar (Póvoa de Varzim)Dia 30 – Igreja Nª S.ora da Conceição (Guimarães)

MAIO DE 2009Dia 14 - Auditório Vita (Braga)Dia 21 – Balasar (Póvoa de Varzim)Dia 28 – Igreja Nª S.ora da Conceição (Guimarães)

JUNHO DE 2009Dia 4 - Auditório Vita (Braga)Dia 18 – Balasar (Póvoa de Varzim)Dia 25 – Igreja Nª S.ora da Conceição (Guimarães)

Os interessados podem escolher o local que mais lhes convém, uma vez que o tema a desenvolver será o mesmo durante um mês, repetido nos três locais assinala-dos. Possibilitará isso que quem, por qualquer razão, não possa comparecer a uma sessão no arciprestado onde se inscreveu, colmatará facilmente a lacuna acorrendo a algum dos outros dois locais, durante aquele mês.

As inscrições – importantes por razões logísticas - poderão efectuar-se, ou nos Serviços Centrais da Arquidiocese, ou junto dos párocos de Nossa Senhora da Con-ceição - Arciprestado de Guimarães, e de Balasar - Arciprestado de Vila do Conde / Póvoa de Varzim.

Os encontros destinam-se: aos catequistas; aos membros dos Conselhos Econó-micos; aos animadores de grupos; aos membros das Confrarias e Irmandades; aos Ministros Extraordinários da Comunhão; aos membros das Equipas de Liturgia; aos orientadores de Grupos Corais; aos membros das Comissões de Festas; aos mem-bros das Direcções dos Centros Sociais e Paroquias; aos membros dos vários Movi-mentos, Associações e Obras; a todos quantos procuram aprofundar a sua fé.

Participando, cresceremos no conhecimento de São Paulo e da Palavra de Deus; entraremos na imprescindível dinâmica da formação contínua; sentiremos o coração a pulsar ao ritmo da Igreja Arquidiocesana e Universal; e colheremos do Apóstolo entusiasmo para a missão que hoje nos desafia.

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5. Hino do Ano Pastoral2008 – 2009

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6. Calendário Pastoral2008-2009

JUNHO 0829 | Abertura do Ano Paulino30 | Retiro para o Clero

JULHO 0801-04 | Retiro para o Clero15-20 | XXIII Jornada Mundial da Juventude18 | Aniversário da tomada de posse do Arcebispo D. Jorge Ortiga22 | Peregrinação Diocesana da Pastoral de Jovens a S. Bento 28 | Conselho Arquidiocesano da Pastoral de Jovens

SETEMBRO 0810 | Conselho Episcopal 17 | Conselho de Arciprestes17 | Acção de Formação para o Clero13 | CAPJ (Conselho Arquidiocesano da Pastoral de Jovens)13 | Dia Arquidiocesano do Catequista20 | Encontro com Coordenadores Arciprestais de Catequese e Serviços do DAC27 | Encontro de Animadores (Departamento da Pastoral de Jovens)

OUTUBRO 0804 | Início da Semana da Educação Cristã08 | Conselho Episcopal 11 | Conselho Arquidiocesano da Família18-19 | Formação para novos Ministros Extraordinários da Comunhão19 | Dia Mundial das Missões22 | S. Martinho de Dume, padroeiro da Diocese

NOVEMBRO 0805 | Conselho Episcopal 08 | Conselho Pastoral Diocesano08 | Formação para os Ministros Extraordinários da Comunhão - Barcelos (para os

arciprestados de Barcelos e Esposende)09-16| Semana dos Seminários 14-16 | Jornadas Nacionais da Pastoral Familiar17-21 | Retiro para o Clero19 | Conselho de Arciprestes22 | Formação para os Ministros Extraordinários da Comunhão - Fafe (para os

arciprestados de Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Fafe, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro e Vieira do Minho)

22 | Assembleia Arquidiocesana de Movimentos e Obras25 | Conselho Presbiteral

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DEZEMBRO 0805 | S. Geraldo (900 anos do seu falecimento)06 | Formação para os Ministros Extraordinários da Comunhão – Vila Nova de

Famalicão (para o arciprestado de Vila Nova de Famalicão)10 | Conselho Episcopal 23 | Acção de formação para o clero 28 | Dia da Sagrada Família (Celebração das Bodas de Ouro e de Prata Matrimoniais)

JANEIRO 0903 | Encontro com Coordenadores Arciprestais de Catequese e Serviços do DAC03 | Formação (e recondução) para os Ministros Extraordinários da Comunhão

- Guimarães (para os arciprestados de Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Gui-marães e Póvoa de Lanhoso)

09 | Ceia de Reis do DAPJ com EAPJ /Movimentos13-18 | Encontro Mundial das Famílias com o Papa Bento XVI14 | Conselho Episcopal 17 | Formação para os Ministros Extraordinários da Comunhão – Vila do Conde

(para os arciprestados de Esposende e Vila do Conde/Póvoa de Varzim)18-25 | Oitavário de Orações pela Unidade dos Cristãos.21 | Conselho de Arciprestes24 | CAPJ (Conselho Arquidiocesano da Pastoral de Jovens)24 | Formação (e recondução) para os Ministros Extraordinários da Comunhão -

Braga (para os arciprestados de Amares, Braga, Cabeceiras de Basto, Fafe, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro e Vila Verde)

25 | Instituição do ministério de Acólitos28-30 | Acção de formação para o clero (Semana de Estudos Teológicos)

FEVEREIRO 0901 | Dia da Universidade Católica Portuguesa08 | Formação (e recondução) para os Ministros Extraordinários da Comunhão -

Braga (para os arciprestados de Amares, Braga, Cabeceiras de Basto, Fafe, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro e Vila Verde)

11 | Conselho Episcopal 14 | Conselho Pastoral Diocesano20-22 | Retiro para Catequistas

MARÇO 0911 | Conselho Episcopal 15 | Dia da Caritas 18 | Conselho de Arciprestes28 | Conselho Arquidiocesano da Família

ABRIL 0901 | Conselho Episcopal05 | Dia Mundial da Juventude18 | Encontro com Coordenadores Arciprestais de Catequese e Serviços do DAC19 | 4º Aniversário da tomada de posse do Papa Bento XVI

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26 | Dia Arquidiocesano da Juventude26 | XLVI Semana de Oração pelas Vocações Consagradas.28 | Acção de formação para o clero

MAIO 0901 | Encontro com todos os membros das Equipas Arciprestais de Catequese02-03 | Fátima Jovem 200903 | Dia Mundial de Oração pelas Vocações. 06 | Conselho Episcopal 09 | Conselho Pastoral Diocesano10 | Ordenações de diáconos10-17 | Semana da Vida16 | Jornadas Arquidiocesanas da Pastoral Familiar 17 | Dia Arquidiocesano da Família20 | Conselho de Arciprestes24 | Dia Mundial dos Meios de Comunicação Social31 | Instituição do ministério de leitor

JUNHO 0903 | Conselho Episcopal 06 | Festa da «Palavra de Deus» (para todos os Departamentos da Comissão

Arquidiocesana da Educação Cristã)13 | Encontro com Coordenadores Arciprestais de Catequese e Serviços do DAC17 | Conselho de Arciprestes27 | CAPJ (Conselho Arquidiocesano da Pastoral de Jovens)29 | Encerramento do «Ano Paulino»

JULHO 0906-10 | Retiro para o Clero08 | Conselho Episcopal 18 | Aniversário da tomada de posse do Arcebispo D. Jorge Ortiga19 | Ordenações de Presbíteros25-26 | Encerramento do ano com uma peregrinação (Departamento da Pastoral

de Jovens)

ENCONTROS COM SÃO PAULO | calendarização OUTUBRO DE 2008DIA 16 – Auditório Vita [Braga]DIA 23 – Igreja de Balasar [Póvoa de Varzim]DIA 30 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Guimarães]

NOVEMBRO DE 2008DIA 13 – Auditório Vita [Braga]DIA 20 – Igreja de Balasar [Póvoa de Varzim]DIA 27 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Guimarães]

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DEZEMBRO DE 2008DIA 04 – Auditório Vita [Braga]DIA 11 – Igreja de Balasar [Póvoa de Varzim]DIA 18 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Guimarães] JANEIRO DE 2009DIA 15 – Auditório Vita [Braga]DIA 22 – Igreja de Balasar [Póvoa de Varzim]DIA 29 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Guimarães] FEVEREIRO DE 2009DIA 05 – Auditório Vita [Braga]DIA 12 – Igreja de Balasar [Póvoa de Varzim]DIA 19 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Guimarães] MARÇO DE 2009DIA 05 – Auditório Vita [Braga]DIA 12 – Igreja de Balasar [Póvoa de Varzim]DIA 19 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Guimarães] ABRIL DE 2009DIA 02 – Auditório Vita [Braga]DIA 23 – Igreja de Balasar [Póvoa de Varzim]DIA 30 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Guimarães] MAIO DE 2009DIA 14 – Auditório Vita [Braga]DIA 21 – Igreja de Balasar [Póvoa de Varzim]DIA 28 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Guimarães] JUNHO DE 2009DIA 04 – Auditório Vita [Braga]DIA 18 – Igreja de Balasar [Póvoa de Varzim]DIA 25 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Guimarães]