1 histÓria do islamismo

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SUMÁRIO RESUMO..........................................................5 INTRODUÇÃO......................................................6 1 PERSPECTIVA HISTÓRICA DO ISLAMISMO...........................10 2 PERSPECTIVA DOUTRINÁRIA DO ISLAMISMO........................19 3 AFINIDADES ENTRE ISLAMISMO E CRISTIANISMO E A PERSPECTIVA DE DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO ENTRE AS TRADIÇÕES...............................................29 3.1 Caminhos para o diálogo entre Cristianismo e Islamismo.....33 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................... .........................................40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................... .............................45

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Page 1: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

SUMÁRIO

RESUMO..........................................................................................................................5

INTRODUÇÃO..................................................................................................................6

1 PERSPECTIVA HISTÓRICA DO ISLAMISMO............................................................10

2 PERSPECTIVA DOUTRINÁRIA DO ISLAMISMO......................................................19

3 AFINIDADES ENTRE ISLAMISMO E CRISTIANISMO E A PERSPECTIVA DE

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO ENTRE AS TRADIÇÕES...............................................29

3.1 Caminhos para o diálogo entre Cristianismo e Islamismo........................................33

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................45

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RESUMO

A presente pesquisa pretende apontar como possível o diálogo inter-religioso

entre cristãos e mulçumanos a partir de pontos convergentes entre essas tradições

religiosas. Esse diálogo deverá favorecer o reconhecimento do que há de verdadeiro

nas duas religiões, proporcionando a aproximação. Será imprescindível em pleno

século 21 marcado por grandes transformações, a valorização da relação dialogal entre

Islamismo e Cristianismo. Dessa forma haverá a possibilidade de coexistir em um

mundo mais fraterno. A pesquisa tem como estrutura destacar a compreensão do

panorama histórico e doutrinário do Islã como fundamental para que cristãos

compreendam as possibilidades de construções de caminhos de respeito mútuo,

tolerância, coexistência pacífica e de diálogo inter-religioso. Verdadeiro.

PALAVRAS-CHAVE: Islamismo, Cristianismo, Diálogo inter-religioso.

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Page 3: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tratará de uma abordagem de relacionamento entre

cristãos e muçulmanos sugerindo uma aproximação entre ambos para um possível

diálogo inter-religioso. Para que isso aconteça, será necessária a observância das

afinidades existentes entre Islamismo e Cristianismo, pois haverá a possibilidade de se

perceber no outro, semelhanças. No momento em que as religiões cristãs e islâmicas

buscarem pontos em comum para tornarem o ambiente em que vivem mais fraternos,

então haverá a possibilidade de se construir caminhos que as conduzirão ao diálogo.

Por isso, se faz necessário conhecer a história do Islamismo e sua doutrina e

compreender valores existentes nesta religião. Assim como no Cristianismo, o islã teve

como finalidade levar pessoas a crer na existência de um único Deus através do seu

líder religioso, contribuindo assim para a propagação do monoteísmo.

A pesquisa mostrará que em nome da religião, o cristão e o muçulmano

necessitarão focar-se no exemplo de seus líderes, pois como ocorreu no passado

Maomé e Jesus continuam sendo exemplos de pessoas que mantiveram diálogo com

seus dessemelhantes apesar de qualquer diferença religiosa e social. Maomé por ter

mantido contato com judeus e cristãos em sua época e Jesus por sempre ter estado a

disposição do diálogo e acessível a qualquer pessoa que dele se aproximasse sem

qualquer discriminação. Ambos tiveram como meta, conduzir pessoas à presença de

um único Deus, dedicando-se a Ele. Porém, no início de suas vidas como anunciadores

da mensagem de Deus, não foram compreendidos pelas pessoas de seu convívio,

sendo estas, até seus próprios familiares. No entanto, a convicção desses líderes

religiosos em suas crenças, possibilitou o crescimento tanto do Islamismo como do

Cristianismo. Igualmente tinham em comum a proposta de um caminho de fraternidade,

sendo que este, deverá transpor um simples desejo humano de alcançá-lo para a real

necessidade de uma coexistência pacífica ultrapassando barreiras e sobrepondo-se

aos conflitos ideológicos existentes no contexto atual. È verídico que as diferenças

existem, não há como ocultá-las. Porém de uma maneira sábia, cristãos e muçulmanos

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deverão se posicionar empenhando-se para que prevaleça o amor ao próximo, pois

tanto no Cristianismo como no Islamismo há pontos enriquecedores de aproximação.

A atual pesquisa tem como principal fundamento teórico os seguintes autores:

Michael Coogan1, Ali Kamel2, Muhammad Jaafar Khalil e Omar Nasser Filho3, Hans

Küng4, Charles Caldwell Ryrie5. E a principal obra a ser abordada para conhecimento de

seus textos, O Alcorão6.

O primeiro capítulo apresentará um panorama histórico onde será possível

compreender o surgimento do Islamismo como religião monoteísta sendo este

acontecimento vinculado ao profeta Maomé. A pesquisa abordará algumas questões

relacionadas a vida do profeta e sua influência iniciando-se na Arábia, e se expandindo

à regiões vizinhas, sendo que a maior contribuição de Maomé foi o ensino religioso.

Notar-se-á que essa mudança na crença do povo árabe, que anteriormente era

politeísta, é iniciada pelo profeta do islã assinalando um crescimento da religião

islâmica não somente na península arábica, mas transpondo-se à outros continentes.

Outro ponto a ser abordado será o surgimento de correntes ideológicas dentro do

Islamismo. Não seria essa a pregação de Maomé dentro do islã, pois o mesmo propõe

a unidade do povo, entretanto é inevitável ocorrência da divisão, sendo que, o enfoque

deste acontecimento se dá por causa da luta pela liderança na representatividade da

comunidade islâmica após a morte do profeta. A pesquisa ainda tratará do assunto que

envolve o histórico 11 de Setembro de 2001 e mostrará que não é pela violência que o

Islamismo deseja ser lembrado, pois o Alcorão não aprova a prática do terror, sendo

essas atitudes provenientes de líderes radicais religiosos, pessoas que “em nome de

Deus” e por causa do poder político querem se posicionar diante da sociedade mundial

pela força. Não é essa imagem que o islã quer propagar e sim o conceito de uma

religião que prega a paz, sendo as atitudes terroristas contrárias a proposta do

Islamismo induzindo pessoas a um julgamento errôneo da religião.

1 Religiões. São Paulo: Publifolha, 2007, p.288.22 Sobre o Islã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. p.319.33 Um diálogo sobre o Islã: Curitiba, Criar Edições, 2003. p.167.44 Religiões do Mundo. Em busca dos pontos em Comum. Campinas: Verus Editora, 2004. p.283. 55 A Bíblia anotada. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1991 p.1835.66 Tradução do sentido nobre do Alcorão. Al-Madinah Al-Munauarah. Complexo do Rei Fahd, s.d. p.1065.

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Page 5: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

A pesquisa abordará ainda um assunto que causa certa tensão no que diz

respeito a descendência de Ismael, pois segundo a Bíblia, Deus tinha promessas feitas

ao filho primogênito de Abraão de torná-lo uma grande nação. A pesquisa apontará a

possibilidade disso ser verdade, sendo que, os muçulmanos crêem serem da

descendência de Ismael, porém este enfoque será restringido a nação árabe.

O segundo capítulo discorrerá sobre a temática doutrinária onde serão

abordados assuntos ligados à crença islâmica. Uma das tais crenças se referirá a

adoração a um único Deus pelos muçulmanos. O Islamismo anuncia uma mensagem

monoteísta para que os seus seguidores abandonem a idolatria. A pesquisa mostrará a

importância do Alcorão, o livro sagrado no islã, que rege toda a vida do muçulmano

desde questões religiosas até mesmo morais, éticas, sociais e políticas, sendo este

livro revelado ao profeta Maomé de acordo com os escritos alcorânicos. Este capítulo

apontará também os princípios que conduzem o muçulmano a práticas religiosas que o

ajudarão a tornarem-se submissos a Deus e serem melhores consigo mesmos e no

relacionamento para com o próximo. A pesquisa apontará os lugares sagrados e

acessíveis aos muçulmanos, sendo que um dos tais passa a ser igualmente de grande

significância para outras nações. Destacar-se-á também alguns ramos do Islamismo

dentro das questões doutrinárias que influenciam a fé dos muçulmanos, sendo que

apesar destas divisões, todos os fiéis islâmicos compartem do mesmo livro sagrado e

os mesmos centros espirituais. A pesquisa falará ainda sobre a temática feminina, onde

serão abordados alguns direitos das mulheres no islã. Serão apresentadas passagens

do Alcorão sobre o que a religião pensa a respeito da mulher. Se estas disposições não

são observadas por alguns, então contradizem os escritos do Alcorão.

O terceiro capítulo apontará as afinidades existentes entre as religiões

monoteístas, Cristianismo e Islamismo sendo que, através destas semelhanças, haverá

a possibilidade de aproximação entre as religiões. A pesquisa fará notável algumas

similitudes existentes nas duas religiões, ressaltando os elementos de unidade.

Apresentar-se-á também a pessoa de Jesus com atributos especiais tanto no Islamismo

como no Cristianismo. Ambas religiões mantêm respeito e profunda admiração por sua

pessoa. Apesar da representatividade que Jesus tem, sua conotação para os cristãos é

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Page 6: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

diferente da conotação para os muçulmanos. No entanto, ele é tratado de forma

especial pelas duas religiões. A pesquisa tratará ainda de assuntos que dizem respeito

ao ato da criação, o pecado da humanidade, dentro do conceito bíblico e o alcorânico.

Partindo da realidade de que a afinidade é algo concreto e que promove a

aproximação, a pesquisa sugerirá um diálogo inter-religioso. No entanto, é necessário

haver condições de coexistência, tolerância e respeito mútuo. A tolerância conduz a

uma coexistência pacífica. O diálogo entre Cristianismo e Islamismo proporcionará um

processo de aprendizagem onde um perceberá o mundo do outro e poderá inserir-se

nele. Para haver diálogo será necessário que cada um venha a despojar-se de posturas

exclusivistas. A busca pela paz deverá ser muito maior que as características próprias

de cada tradição. A pesquisa mostrará que a liderança eclesiástica de ambas religiões

tem dado passo a caminho do diálogo, promovendo encontros onde se estabeleçam

posições que satisfaçam a ambos. Tão somente a partir de propostas de uma melhor

coexistência será possível viver num mundo harmonioso.

A pesquisa mostrará que em pleno século 21 marcado por expressivas

transformações, será necessário valorizar o dessemelhante, pois diante de um mundo

globalizado, a informação só pode ser vista como meio de transpor barreiras com

relação ao próximo respeitando seus valores e compreendendo que por detrás de uma

religião, se encontram pessoas. Será necessário se aproximar delas para compreendê-

las. Só é possível adentrar o mundo do dessemelhante com uma visão construtiva,

através do real conhecimento e não do ponto de vista da mídia que se focaliza em uma

minoria dos que se enquadram numa postura extremista.

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Page 7: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

1 PERSPECTIVA HISTÓRICA DO ISLAMISMO

O surgimento do Islamismo está vinculado a vida do profeta Maomé, seu

fundador. Segundo KAMEL (2007, p.63), Maomé nasceu no ano 570 d.C, na cidade de

Meca, um importante centro comercial que situava-se na encruzilhada das rotas de

comércio internacional o qual ligava a África à Ásia e o Golfo Pérsico à Europa, sendo

essa região conhecida hoje como Arábia Saudita. Maomé era filho de uma família de

comerciantes sendo o pai Abdulah bin Abdu L’Muttalib e a mãe Aminah. Ficou órfão aos

6 anos de idade, sendo adotado por seu tio Abu Talib que era mercador. Aos 12 anos,

fez, ao lado do tio, a sua primeira caravana à Síria, onde foi vender e comprar

mercadorias. De acordo com ABDALLA (1998, p.14), através de suas viagens, teve

contato com o Judaísmo e o Cristianismo, religiões essencialmente, monoteístas. Seu

tio não pôde dar condições melhores ao sobrinho, que teve que cuidar de si bem cedo.

Dependia do comércio e viajava em caravanas para as áreas de fronteiras com a

Arábia. Conforme KÜNG (2004, p.258), “mais importante do que o comércio com todas

as suas preciosidades passa a ser para ele, com o correr do tempo, a oração e a

meditação”. Aos 25 anos, Maomé, por indicação do tio, passou a trabalhar para

Khadija, uma viúva, rica comerciante de Meca.

Khadija se apaixonou por ele e propôs casamento. Deu a Maomé seis filhos e o

prestígio dele cresceu muito em Meca. Na concepção de KAMEL (2007, p.71),

Depois da morte de Khadija, Maomé, ao longo de sua vida, casou-se outras dez vezes, uma delas com uma mulher judia, que se converteu ao islã. Tinha também suas concubinas, uma cristã e outra judia. Alguns casamentos foram por afinidade pessoal, outros para proteger viúvas de companheiros e alguns em decorrência de alianças políticas.

Segundo o mesmo autor, no Alcorão, o muçulmano pode obter até quatro

mulheres, porém deve ter eqüidade, do ponto de vista afetivo, sexual e financeiro, em

relação as mesmas para não cair em pecado. Assim estabelece o Alcorão:

E, se temeis não ser eqüitativos para com os órfãos, esposai aos que vos aprazam das mulheres: sejam duas, três ou quatro. E se temeis não ser justos, esposai uma só, ou contentai-vos com as escravas que possuís. Isso é mais adequado, para que não cometais injustiça (Surata 4.3).

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Somente a Maomé era concedido o direito de se casar com mais de quatro

mulheres, o Alcorão afirma:

Ó Profeta! Por certo, tornamos licitas, para ti, tuas mulheres, às quais concedeste seus prêmios; e as escravas que possuís, entre as que Allah te outorgou... se o Profeta deseja esposá-la, sendo isto privilégio, com exclusão dos demais crentes - com efeito, sabemos o que lhes preceituamos em relação a suas mulheres e às escravas que possuem, para que não haja constrangimento sobre ti. E Allah é Perdoador, Misericordiador (Surata 33.50).

Além dessa permissão especial de ter várias mulheres dentro do Islamismo,

Maomé também teve o privilégio de ser considerado o profeta mais importante que

surgiu. Conforme SMITH (1991, p.218),

Seguindo a linhagem de Ismael na Arábia, chegamos, na segunda metade do século VI d.C, até Maomé, o profeta por meio de quem o islamismo alcançou sua forma definitiva, acreditam os muçulmanos. Houve autênticos profetas antes dele, mas ele foi o apogeu; por isso é chamado de “O Selo dos Profetas”. Nenhum profeta genuíno surgirá depois dele.

Segundo COOGAN (2007, p.106), Maomé chamou os seus compatriotas para

um novo modo de vida, sendo que no começo o movimento evoluiu lentamente, e mais

tarde obteve um público maior alcançando toda a Arábia. Maomé dá início ao

monoteísmo, encontrando oposição muito forte em Meca até de sua família e tribo

coraixita à qual pertencia. De acordo com o mesmo autor, tão importante quanto aceitar

a alegação de Maomé de ser um mensageiro de Deus, seria aceitá-lo também como

governante de Meca, algo que a oligarquia dos ricos mercadores de Meca não queria. A

Caaba, local sagrado dos muçulmanos, localizada na cidade de Meca, era centro de

adoração politeísta. De acordo com KÜNG (2004, p.261):

Abraão e seu filho Ismael levantaram a Caaba e purificaram o lugar de culto aos deuses. É preciso contornar por sete vezes aquele antiqüíssimo santuário de Meca e, enquanto isso, saudar, tocar ou mesmo beijar a Pedra Negra, certamente um meteorito basáltico. A Caaba é considerada pelos muçulmanos como um lugar de presença especial de Deus.

Segundo o mesmo autor, ela é o templo primordial erigido por Abraão, os

muçulmanos acreditam ser o local onde Ismael foi levado para ser sacrificado a Deus

em obediência. Segundo o islã, este santuário passou a ser lugar de adoração a um

único Deus, Alá.

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Na compreensão do Islamismo, Maomé começou a pregar o monoteísmo, aos

40 anos de idade, apesar de ser um homem iletrado. Isto se encontra no Alcorão:

Os que seguem o Mensageiro, O Profeta iletrado - que eles encontram escrito junto deles, na Tora e no Evangelho - o qual lhes ordena o que é conveniente e os que coíbe do reprovável, e torna lícitas, para eles, as cousas benignas e torna ilícitas, para eles, as cousas malignas e os livra de seus fardos e dos jugos a eles impostos. Então, os que crêem nele e o amparam e o socorrem e seguem a luz, que foi descida, e está com ele, esses são os bem-aventurados (Surata1 7.157).

Segundo a Tradução do sentido nobre do Alcorão (s.d, p.265), a palavra luz se

refere ao Alcorão. Na visão islâmica, os escritos alcorânicos são revelações

provenientes de Deus ao anjo Gabriel que as apresentava a Maomé quando o visitava.

Conforme ABDALLA (1998, p.8), “E, este, mesmo sendo iletrado, de forma milagrosa,

reteve o ensino transmitido as seus idôneos seguidores, transformando a revelação em

livro”. Esses escritos virão a constituir-se no livro sagrado dos muçulmanos o chamado

Alcorão, palavra que significa “A Leitura”. As tribos árabes seguiam até então uma

religião politeísta. Por causa da pregação de Maomé, de acordo com KÜNG (2004,

p.259), o profeta começou a ser perseguido em Meca e teve que emigrar para a cidade

de Medina no ano de 622.

Este acontecimento é conhecido como Hégira e marca o início do calendário

muçulmano. Em Medina, o profeta foi bem acolhido e reconhecido como líder religioso

e conseguiu unificar e estabelecer a paz entre as tribos árabes. Milhões de

muçulmanos memorizam o Alcorão completo; assim são educados desde cedo. O

profeta do islã era um homem reflexivo que cultivava o hábito da meditação, vigílias

solitárias e jejuns. De acordo com o Alcorão, Maomé foi o primeiro a se islamizar: “Dize:

Tomarei eu por protetor outro que Allah, O Criador dos céus e da terra, enquanto Ele é

quem alimenta e não é alimentado? Por certo, foi-me ordenado ser o primeiro dos que

se islamizam! E não sejas de modo algum, dos idólatras” (Surata 6.14). Segundo

KAMEL (2007, p.75), após a morte do profeta em 632, aos 62 anos, seus seguidores se

espalharam rapidamente pelas regiões vizinhas. Abu Bakr foi o primeiro califa ou

sucessor do profeta (KAMEL, 2007, p.74).

1 Equivale a capítulo segundo (KAMEL, 2007,p.74).

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Page 10: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Maomé tinha unido toda península arábica sob o seu domínio, algo jamais feito

antes. Sua gestão estabelecera as bases de um império brilhante cujo desenvolvimento

se daria ao longo dos quatro séculos seguintes. De acordo com KÜNG (2004, p.263), a

primeira expansão árabe ocorre com muitas conquistas. Enormes regiões passam a ser

muçulmanas: a Síria, antes cristã, com Damasco e Jerusalém; o reino persa

sassânidas, com a Mesopotâmia e o Azerbaijão e, por último, o Egito cristão. Nenhuma

outra religião teve tão grande difusão em tão pouco tempo e de forma tão duradoura

como o islã. Mas a maior contribuição de Maomé foi o ensinamento religioso que dá a

base para tudo o que vem depois (PETERS, 2007, p.122). Maomé trouxe uma visão de

mundo totalmente nova de onde surgiu uma das tradições espirituais mais ricas e

dinâmicas da história. Para os muçulmanos, profecia é um meio pelo qual Deus

comunicou Sua vontade e orientação à humanidade ao longo das eras e o fez por

intermédio de seu profeta. Conforme KHALIL (2003, p.20), o islã não é apenas a

revelação ao derradeiro dos mensageiros, Maomé, mas a todos eles: Adão, Noé,

Abraão, Moisés e Jesus. A palavra islã é árabe, originada de um radical que significa

“paz, solidez, segurança” e também é uma expressão religiosa que se refere ao estado

da alma, significando assim uma atitude interna de obediência inequívoca a Deus,

rendição, submissão, resignação, (COOGAN, 2007, p.90). Muçulmano é aquele que se

submete à vontade de Deus. A misericórdia de Deus não se limita a um lugar, a uma

época, ou a um povo determinado. “Ó homens! Por certo, Nós vos criamos de um varão

e de uma varoa, e vos fizemos como nações e tribos, para que vos conheçais uns aos

outros...” (Surata 49.13).

De acordo com COOGAN (2007, p.99), os séculos XV a XVII viram surgir no

mundo islâmico três impérios enérgicos e bem-sucedidos. Governando de Istambul

(antes Constantinopla, a capital bizantina), os sultões otomanos, no auge de sua

autoridade, controlaram um domínio que abarcava o norte da África, o Oriente Próximo,

a Anatólia e a maior parte do sudeste europeu. A dinastia de xás sefévidas trouxe uma

transformação fundamental com a conversão da sociedade iraniana do Islamismo

sunita para o xiita duodecimano. Na Índia, o império igualmente centralizado da dinastia

mongol foi oficialmente um Estado islâmico, mas resultou sua legitimação do apoio da

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Page 11: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

cultura hindu. O período entre o século XVIII e o atual, contudo, testemunhou uma

mutação rápida e freqüentemente árdua no mundo islâmico. Os três, dos otomanos,

sefévidas e mongóis, foram perturbados por problemas internos e pela consternação

dos Estados crescentemente imperialistas da Europa, sobretudo Grã-Bretanha, França

e Rússia. Conforme o mesmo autor, o confronto entre Europa cristã e o mundo islâmico

remonta no mínimo às Cruzadas realizadas pelas forças cristãs latinas, que iniciaram

no século XI, um conflito que levou ao fim determinante do domínio muçulmano na

Espanha em 1492. Mais recentemente, várias fases de imperialismo europeu induziram

à ocupação, na década de 1920, de quase todo o mundo islâmico, do oeste e do norte

da África até as Índias Orientais, atual Indonésia. Movimentos de renovação social e

política ajudaram a assentar as bases de um ressurgimento do islã no século XX.

Segundo COOGAN (2007, p.92), “Em 1923, Kemal Ataturk declara o Estado turco

secular; em 1932 ocorre a criação da Arábia Saudita; em 1947, há a criação do Estado

muçulmano do Paquistão”. Conforme WINTER (2009, p.376), “Após a Primeira Guerra

Mundial, a medida que as novas nações árabes foram alcançando sua independência,

cresceu o sentimento nacionalista e a reafirmação dos valores islâmicos”. Após a

Segunda Guerra Mundial os paises muçulmanos declararam sua independência e

afirmaram sua soberania com: a libertação política dos paises islâmicos da dominação

colonial das décadas de 1950 e 1960 e na década de 1970, os êxitos militares e

econômicos alcançados a partir da guerra árabe-israelense, do embargo do petróleo e

da vitória do aiatolá Khomeini sobre o xá e sobre os Estados Unidos em 1979 (KÜNG,

2004, p.277).

Contando com mais de 900 milhões de fiéis numa população global de seis bilhões, [...] uma pessoa em cada cinco ou seis pertence a religião islâmica que direciona o pensamento humano e a vida prática com uma riqueza de detalhes que não encontra paralelos no mundo. E a proporção de muçulmanos está aumentando, (SMITH, 1991, p.256).

Segundo GEORGE (1999, p.15), um fator de crescimento do islã é o aumento

natural da população nos paises muçulmanos. O maior número de muçulmanos está no

subcontinente indiano, formado por Índia, Paquistão e Bangladesch. Na concepção de

WINTER (2009, p.376), a nação com maior número de muçulmanos é a República da

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Indonésia, onde mais de 100 milhões de pessoas, ou seja, 90% da população

professam a fé islâmica. De acordo com KÜNG (2004, p.260), ”Maomé colocou toda a

península arábica sob seu controle, fazendo da Arábia o coração do islã”. Atualmente a

maioria da sua população é muçulmana. No século XX a vasta maioria dos

muçulmanos vivia no sul e sudeste Asiático, dentro ou ao leste do Paquistão. Na

concepção de COOGAN (2007, p.91), “Com mais de um bilhão de pessoas, os

muçulmanos são hoje maioria em 50 países e uma minoria considerável em muitos

outros. Na Europa e nas Américas do Norte e do Sul há vibrantes comunidades em

expansão”. A maioria dos muçulmanos vive em regiões como: norte da África, Oriente

Próximo e Ásia. Conforme COOGAN (2007, p.120), “A comunidade islâmica cresce

tanto em regiões onde existe há muito tempo, quanto naquelas em que sua presença é

mais recente, sobretudo, na Europa e na América do Norte”. Na Europa os muçulmanos

formam a maior comunidade religiosa depois dos cristãos, (KÜNG, 2004, p.250).

Dentro da expressiva comunidade muçulmana há uma divisão importante entre

os que se denominam sunitas e xiitas. Segundo SMITH (1991, p.248),”Geograficamente

os xiitas se agrupam no Irã e no Iraque, enquanto os sunitas os flanqueiam pelo oeste

(Oriente Médio, Turquia, África) e pelo leste (em todo subcontinente indiano, que inclui

o Paquistão e Bangladesh, passando pela Malásia e chegando até a Indonésia, onde

há mais muçulmanos do que em todo mundo árabe”. Essa divisão surgiu de lutas pela

liderança após a morte de Maomé, alguém que na ausência do profeta, o representaria

legitimamente como dirigente na comunidade islâmica. De acordo com KAMEL (2007,

p.95), No espaço de 28 anos após a morte de Maomé, ocorre o irremediável: a divisão

do islã. Segundo os sunitas, o profeta jamais indicou quem seria o seu sucessor;

segundo os xiitas, Maomé teria deixado seu primo Ali como sucessor. Conforme o

mesmo autor, com a morte de Ali, essa divisão no islã consolidou-se. Os sunitas, a

maioria naquela época, acreditam que a revelação acabou com a morte de Maomé e o

que deveria ser feito era viver o Alcorão seguindo os ditos do profeta. Segundo

MCCURRY (1999, p.103), “Algumas destas divisões podem ter suas raízes em

questões políticas e lutas pelo poder, outras podem ter raízes étnicas, e algumas

podem ser simplesmente resultado de diferentes maneiras de entender Deus, o Profeta,

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Page 13: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

revelação e tradição. Ou podem ser o resultado da combinação de qualquer um

destes”. De acordo com KÜNG ( 2004, p.266), “Depois de grandes lutas contra o

partido xiita, com graves perdas, termina se impondo a família dos omíadas de Meca,

originalmente contrária a Maomé. Com eles o partido majoritário dos sunitas sai

vencedor. Os omíadas transferem a residência do califa para Damasco e fazem da Síria

a potência islâmica predominantemente”. Segundo o mesmo autor, o partido xiita de Ali,

primo e genro de Maomé constituiu-se a minoria dos muçulmanos. No entanto no

Alcorão não há base para nenhuma divisão, mas promove o vínculo uns aos outros e

todos a Deus, assim diz:

E agarrai-vos todos à corda de Allah, e não vos separeis. E lembrai-vos da graça de Allah para convosco, quando éreis inimigos e Ele vos pôs harmonia entre os corações, e vos tornastes irmãos, por Sua graça. E estáveis a beira do abismo do fogo e Ele, deste, vos salvou. Assim, Allah torna evidentes, para vós Seus sinais, para vos guiardes (Surata 3.103).

Outra passagem diz:

E que seja formada de vós uma comunidade, que convoque ao bem, e ordene o conveniente, e coíba o reprovável. E esses são os bem-aventurados. E não sejais como os que se separaram e discreparam, após lhes haverem chegado as evidências. E esses terão formidável castigo (Surata 3.104, 105).

Na concepção de SMITH (1991, p.256), Por longo tempo desde que Maomé

convocou o seu povo para a unidade de Deus, os muçulmanos se apartaram do espírito

do Profeta. Seus líderes são os primeiros a admitir que a prática religiosa foi

repetidamente substituída por uma mera profissão de fé, e que o fervor diminuiu.

Entre os séculos 10 e 11 d.C, uma tendência para o misticismo surgiu entre os

muçulmanos. Esse movimento místico chamado sufismo cresceu rapidamente dentro

do islã, (COOGAN, 2007, p.103). De acordo com SADLER (2001, p.294), “O sufismo se

espalhou por toda a Arábia e Pérsia, chegando até a Índia, Indonésia, África ocidental

e, mais recentemente, aos Estados Unidos”. Dentro do sufismo existe a prática do

dhikr, traduzido por “lembrança” ou “invocação” de Deus e seus nomes pelos

muçulmanos, é realizado através de meditação silenciosa ou cantando serenamente

sendo o dhikr um meio de atingir o êxtase onde o devoto é levado a contemplação de

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Page 14: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Deus. Isso é fundamental para a busca espiritual no sufismo. No Alcorão e nos hadits

do profeta Maomé está a origem do dhikr (COOGAN, 2007, p.103). Os sufis buscavam,

segundo o islã, a purificação para que seus pensamentos permanecessem somente em

Deus, para isso renunciavam a todos os desejos e apegos físicos. Segundo KÜNG

(2004, p.273), No século XIII os sufis, que geralmente exercem uma profissão e

possuem uma família, progrediram à condição de guias mais respeitados do povo, em

lugar dos juristas das escolas. O sufismo aprofunda-se às necessidades religiosas do

povo muçulmano através da poesia, do canto, da música e da festa. O islã está muito

vivo atualmente e é uma poderosa força religiosa no mundo.

Conforme KAMEL (2007, p.227), com o impacto causado ao mundo através do

ataque terrorista às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 11 de Setembro de 2001, na

cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos da América, cujo mandante foi Osama Bin

Laden, o Islamismo passou a ser visto, por não islâmicos, como uma religião violenta.

Na concepção de KAMEL (2007, p.175), Bin Laden pega trechos isolados do Alcorão

unindo o versículo de uma surata a outro versículo de outra surata dando outra

conotação ao Alcorão, criando versículos que não existem, aplicando-os a uma massa

de iletrados, sendo que o efeito dessas informações incita à violência. O Alcorão afirma:

“E combatei, no caminho de Allah, os que vos combatem e não cometais agressão. Por

certo, Allah não ama os agressores” (Surata 2.190). De acordo com a Tradução do

sentido do nobre Alcorão (s.d., p.51), a expressão combater no caminho de Deus quer

dizer lutar pela religião de Deus, para salvar o descrente do julgo da descrença. Não só

para defender o Islã, mas para extinguir a idolatria. Não é pela violência que o

Islamismo deseja ser lembrado, pois o Alcorão, não ensina e tampouco aprova a prática

do terror a seus seguidores. Segundo CALIXTO (2006, p.44), “apesar das batalhas

ocorridas na história do início do Islamismo na forma de Jihad2 (guerra santa), a

expansão da crença não só partiu para uma pregação debaixo dessa logística bélica”.

Alguns líderes radicais religiosos islâmicos têm usado da prática da violência para

impressionar o mundo. De acordo com CALIXTO (2006, p.52), “mais de 90% dos

muçulmanos no mundo não são identificados como extremistas ou terroristas”. Assim

2 “Luta no caminho de Deus, ou seja, trabalhar para atingir uma ordem moral perfeita na sociedade e também na vida individual” (COOGAN, 2007, p. 288).

17

Page 15: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

como muitos outros povos, os muçulmanos igualmente aspiram pela paz, e no Alcorão,

buscam diretrizes para viver um caminho pacífico.

De acordo com esta busca pela paz, os muçulmanos também têm como

exemplo para suas vidas, nos escritos de Maomé, personagens que são importantes

para a história do islã e que foram obedientes a Deus e submissos a sua vontade,

sendo que um dos tais é Ismael filho de Abraão, o qual tanto é citado na Bíblia quanto

no Alcorão. Alguns estudiosos acreditam serem os árabes, em sua maioria

muçulmanos, descendentes de Ismael. Segundo MCCURRY (1999, p.45), eles são

descendentes de Ismael. A Bíblia diz: “a sua mão será contra todos, e a mão de todos

contra ele; e habitará fronteiro a todos os seus irmãos” (Gênesis 16.12). De acordo com

RYRIE (1991, p.27), “os descendentes de Ismael viveriam a leste dos demais

descendentes de Abraão, ou ainda que viveriam em constante desafio contra os demais

descendentes de Abraão. Sendo a hostilidade entre árabes e judeus bem conhecida”.

Outra passagem diz: “E os anos da vida de Ismael foram cento e trinta e sete; e morreu,

e foi reunido ao seu povo. Habitaram desde Havilá até Sur, que olha para o Egito como

quem vai para a Assíria. Ele se estabeleceu fronteiro a todos os seus irmãos” (Gênesis

25.17,18). Conforme RYRIE (1991, p.40), “Havilá estava localizada na Arábia central,

ao norte da atual Iêmem, Sur”. A palavra árabe quer dizer gente de terra árida

(ABDALLA, 1998, p.9). Na perspectiva bíblica Deus tinha promessas à Ismael: “ Quanto

a Ismael, eu te ouvirei: abençoa-lo-ei, fa-lo-ei fecundo e o multiplicarei

extraordinariamente; gerará doze príncipes, e dele farei uma grande nação” (Gênesis

17.20).

A Bíblia registra que:

[...] Deus ouviu a voz do menino; e o anjo de Deus chamou Agar desde o céu, e lhe disse: Que há contigo, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino do lugar onde está. Levanta-te, toma o menino e leva-o pela tua mão, porque farei dele uma grande nação. BÍBLIA A.T. RA Gênesis 21.17,18

18

Page 16: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

2 PERSPECTIVA DOUTRINÁRIA DO ISLAMISMO

Segundo ABDALLA (1998, p.7), a palavra Allah não é o nome de um deus e sim,

é a palavra árabe para Deus. O Alcorão afirma: Ó vós que credes! Crede em Allah e em

seu mensageiro e no Livro que Ele fez descer sobre seu mensageiro...” (Surata 4.136).

Maomé não veio trazer uma nova divindade, porém afirmar a divindade de Deus contra

a idolatria.

Dizes, Muhammad: “Ó humanos! Por certo, sou, para todos vós, o Mensageiro de Allah de Quem é a soberania dos céus e da terra. Não existe deus senão Ele. Ele dá a vida e dá a morte. Então, crede em Allah e em seu Mensageiro, o Profeta iletrado, que crê em Allah e em Suas palavras, e segui-o, na esperança de vos guiardes (Surata 7.158).

Para os muçulmanos, cujo nome significa, aquele que se submete à vontade de

Deus, Maomé é visto somente como um profeta mensageiro de Deus. Assim como

ocorre em algumas religiões, também no Islamismo os fiéis dão os seus testemunhos

de fé repetindo a fórmula da Shahada3. Este termo significa observar, testemunhar,

reconhecer como verdade, onde declaram sua adoração a Deus e não a Maomé. A

declaração é a seguinte: “Em nome de Allah, o beneficente, o misericordioso, dou

testemunho de que não há outra divindade além de Allah e que Maomé é o seu

mensageiro”. De acordo com KÜNG (2004, p.258), “ninguém se torna realmente

muçulmano só por fazer a profissão de fé”. Porém, na prática, tenta viver a vontade de

Deus. E isso de acordo com o modelo do profeta Maomé.

Segundo o pensamento islâmico, Deus é o autor das revelações e o Alcorão

relata que Maomé as recebeu, e o intermediário entre os dois foi um anjo identificado

como Gabriel. “Dize, Muhammad: Quem é o inimigo de Gabriel o é de Allah, pois, por

certo, foi ele quem o fez descer sobre teu coração, com a permissão de Allah, para

confirmar o que havia antes dele, e para ser orientação e alvíssaras para os crentes”

(Surata 2.97). O Alcorão é aproximadamente do mesmo tamanho que o Novo

Testamento e está dividido em 114 suratas ou capítulos, possui 6.200 versos e 120.000

palavras. Este livro aborda todos os aspectos da vida islâmica, procurando combinar

3 Profissão de fé. (ABDALLA, 1998, p.57).

19

Page 17: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

seus ideais religiosos com a questão política, sendo assim, considerado a constituição

do Estado. A lei islâmica procura estabelecer a vontade de Alá na vida humana. Para

os muçulmanos o problema fundamental de todas as pessoas é a limitação como

criaturas: o ser humano é ignorante com relação ao modo certo de viver e incapaz de

continuar sua caminhada neste mundo com apenas seus recursos e pela tendência de

se afastar dos caminhos divinos.

Na concepção de KÜNG (2004, p.257), “o que a Torá é para os judeus e o

Cristo para os cristãos, isso é o Alcorão para os muçulmanos: o caminho, a verdade e a

vida”. Segundo Hans Küng, essa verdade é a fonte original da experiência de Deus e

da piedade e o critério obrigatório da fé, o caminho seria a verdadeira possibilidade de

vencer o mundo, e a vida é o fundamento permanente do direito islâmico. O Alcorão

diz: “E, quando ouvem o que foi descido, para o Mensageiro, tu vês seus olhos se

marejarem de lágrimas, pelo que reconhecem da Verdade. Dizem: Senhor nosso!

Cremos. Então, inscreve-nos entre as testemunhas da verdade (Surata 5.83). Segundo

ABDALLA (1998, p.23), “os muçulmanos dizem que Deus enviou 104 livros, dos quais

quatro são considerados os mais importantes: O livro da Lei de Moisés (Taurah), os

Salmos de Davi (Zalm), o Evangelho de Jesus (Injil), e o Alcorão de Maomé”. Conforme

KÜNG (2004, p.256), os muçulmanos acreditam ser o Alcorão a própria palavra de

Deus e resistem a traduzí-lo. Quando ele é traduzido para as línguas do mundo

muçulmano, como o persa ou o turco, se imprime o texto árabe junto com a tradução,

isso igualmente ocorre com a tradução para a língua portuguesa. O Alcorão, segundo o

islã, foi preservado de mudanças, distorções e erros até o último sinal de pontuação. Os

muçulmanos o tratam com extremo zelo, pois para eles todo seu aspecto é sagrado.

Nunca o colocam no chão e nunca pode tocar uma substância suja. Consideram-no um

livro celeste que sempre esteve com Deus, sendo Sua fala. “É não é admissível que

este Alcorão seja forjado por fora de Allah, mas é a confirmação do que havia antes

dele e aclaração do Livro, indubitável, do Senhor dos mundos” (Surata 10.37).

De acordo com COOGAN (2007, p.95), entre Abraão e Maomé, conforme o

Alcorão, houve muitos outros profetas, dos quais 28 foram escolhidos para propagar a

palavra de Deus; entre os mais importantes estão Noé (Nuh, em árabe), Davi (Dawud),

20

Page 18: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Moisés (Musa) e Jesus (Issa). Por meio dos dois últimos a mensagem divina foi levada

à comunidades de judeus e cristãos, e assim ambas pertencem, como o Islamismo, a

uma tradição abraâmica comum. Os muçulmanos crêem que com o advento de

Maomé, o ciclo de mensageiros proféticos chegou ao seu ápice e final. Na doutrina

islâmica, de acordo com o Alcorão, Maomé foi o último dos profetas.

Por certo, nós te fizemos revelações, Muhammad, como fizemos a Noé e aos profetas, depois dele. E fizemos revelações a Abraão e a Ismael, e a Isaque e a Jacó, e as tribos e a Jesus, e a Jó e a Jonas, e a Aarão e a Salomão; e concedemos os Salmos a Davi (Surata 4.163).

O islã possui preceitos religiosos denominados de Sharia4 onde se definem

suas práticas de vida, com relação ao comportamento, atitudes e alimentação. Segundo

ABDALLA (1998, p.3), “Debaixo de Sharia é proibido a Bíblia, considerado um material

corrompido. Muitos dos muçulmanos convertidos ao Cristianismo são condenados à

morte”. Ela interpreta os ensinos de dois livros islâmicos, o Alcorão e o Hadith ou Suna5.

Na concepção de KÜNG (2004, p.279), embora a Arábia Saudita pertença às Nações

Unidas, não concorda com os padrões internacionais para direitos humanos e vive

através da lei islâmica rígida, negando qualquer estilo de adoração não muçulmana.

Segundo COOGAN (2007, p.114), a Sharia instrui que todo muçulmano deve seguir

cinco princípios: O primeiro de todos é prestarmos testemunho de que não existe outra

divindade além de Deus, e de que Maomé é o seu mensageiro. O Alcorão diz: “Allah

testemunha - e, assim também, os anjos e os dotados de ciência, que não existe deus

senão Ele, que tudo mantém, com eqüidade. Não existe deus senão Ele, o Todo-

Poderoso, o Sábio” (Surata 3.18). O segundo princípio é a prática das orações, o

Alcorão afirma: “Em nome de Allah, o Misericordioso, o Misericordiador. Com efeito,

bem-aventurados os crentes, que são humildes em suas orações, e que dão de ombros

à frivolidade” (Surata 23.1-3). Outra passagem mostra o rito da purificação: “Ó vós que

credes! Quando vos levantardes para a oração, lavai as faces e as mãos até os

cotovelos, e, com as mãos molhadas, roçai as cabeças e lavai os pés até os

tornozelos...” (Surata 5.6). De acordo com KHALIL (2003, p.66),

4 Lei que regula a conduta ritual, código moral.5 Palavras e atos do profeta Maomé a serem seguidas pelos fiéis islâmicos.

21

Page 19: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

A prostração na oração muçulmana é a forma mais bela de render culto ao Criador e Benfeitor. Na prostração reconhecemos nossa absoluta dependência de d’Ele, nossa absoluta necessidade d’Ele e Seu absoluto senhorio.

O Alcorão declara: “Por certo, os que recitam o Livro de Allah e cumprem a

oração e despendem, secreta ou manifestamente, do que lhes damos por sustento,

esperam por comércio, que não perecerá” (Surata 35.29). Segundo a Tradução do

sentido do nobre Alcorão (s.d, p.713), “Comércio, aqui, é a troca entre Deus e o

homem. Aquele oferecendo graças, e este praticando o bem. Desta forma, todo crente

verdadeiro almejará esta troca, que é imperecível”. O terceiro princípio é a paga do

tributo social, assim diz os escritos alcorânicos: “Por certo, os que crêem, e fazem boas

obras, e cumprem a oração, e concedem az-zakah, terão seu prêmio junto de seu

Senhor; e nada haverá que temer por eles, e eles não se entristecerão” (Surata 2.277).

Conforme ABDALLA (1998, p.74),

Em árabe AZ-ZAKAT, “significa pagamento, purificação e aumento, uma vez que, mediante o pagamento de uma taxa fixa ao estado, para ser usada em prol dos pobres e necessitados, o doador purifica a alma, ao mesmo tempo que fatalmente terá os seus bens aumentados pelas mercês de Deus”.

O quarto princípio é a peregrinação à casa de Deus em Meca uma vez na vida,

para aqueles que têm condições físicas e financeiras. “E noticia aos homens a

peregrinação. Eles te virão a pé ou montados em todo magro camelo, vindo de cada

desfiladeiro distante” (Surata 22.27). De acordo com KHALIL (2003, p. 67), O Hajj, ou

seja, peregrinação, é uma obrigação que o muçulmano tem, se possuir condições para

tal, de poder pelo menos uma vez na vida visitar a Caaba que se encontra no centro do

santuário em Meca na Arábia Saudita. Os escritos alcorânicos declaram: “Allah fez da

Kaabah, a Casa Sagrada, arrimo para os homens e, assim também, o Mês Sagrado, e

os animais em oferenda e as guirlandas. Isso para que saibais que Allah sabe o que há

nos céus e o que há na terra, e que Allah, de todas as cousas, é Onisciente” (Surata

5.97). Segundo KÜNG (2004, p.261), A “pequena” peregrinação consiste em rodear a

Caaba, porém a “grande” peregrinação ocorre em direção a planície de Arafat, subindo

22

Page 20: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

até o monte sagrado Rahma, onde se obtem o perdão dos pecados. O quinto princípio

é o mês de jejum, o Ramadã, desde o nascer ao pôr do sol.

De acordo com o islã, a prática do Ramadã insta os seus fiéis a um ritual onde

a prece islâmica é feita durante cinco vezes ao dia. Assim diz o Alcorão:

Ramadan é o mês em que foi revelado o Alcorão, como orientação para a humanidade e como evidências da orientação do critério de julgar. Então quem de vós presenciar este mês, que jejue; e quem estiver enfermo ou em viagem, que jejue o mesmo número de outros dias. Allah vos deseja a facilidade, e não vos deseja a dificuldade. E fê-lo para que inteireis o número prescrito, e para que magnifiqueis a Allah, porque vos guiou, e para serdes agradecidos (Surata 2.185).

As orações são feitas tendo seu início antes da aurora, ao meio dia, à tarde, no

crepúsculo e ao cair da noite onde os muçulmanos se voltam na direção de Meca, isto

ocorre durante o calendário lunar do Oriente Médio. Segundo COOGAN (2007, p.116),

O estado de pureza ritual exigido dos muçulmanos antes das cinco sessões de prece diárias é conhecido como tahara. Os rituais de purificação acompanham a oração, os ritos da principal peregrinação e atividades como segurar e ler o Alcorão, que um muçulmano não deve realizar sem estar puro.

Existem outras práticas de purificação não são exigidas pelo Alcorão, porém

são feitas em algumas culturas no mundo, sendo a circuncisão praticada em meninos e

em alguns lugares em meninas. Conforme COOGAN (2007, p.116), para os meninos

costuma ocorrer aos dez anos ou, em algumas sociedades, quando já é evidente a sua

capacidade de ler o Alcorão. A contestação em torno da circuncisão feminina continua

aumentando dentro e fora do mundo islâmico. Os eruditos muçulmanos divergem

quanto à exigência de circuncisão das mulheres por não ter base no Alcorão ou nos

hadiths e muitos se contrapõem ao rito afirmando ser uma pratica cultural local. Esse

ato é proibido em alguns paises muçulmanos. Na concepção de COOGAN (2007,

p.105), “Os hadiths geraram muitos debates no começo da época medieval, pois ficou

claro para os eruditos que eles freqüentemente refletiam opiniões e posições doutrinais

posteriores à morte de Maomé”. De acordo com COOGAN (2007, p.112),

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Page 21: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

A unidade de fé e prática das culturas que desde a época medieval compõem a comunidade islâmica expressa-se na forma do principal local: a mesquita (em árabe masjid, “lugar de prostração”). Todas elas têm o mesmo projeto básico, mas muitas possuem outros traços que refletem seu contexto cultural.

Segundo KHALIL (2003, p.35), “A própria mesquita é uma instituição ou faz

parte de uma instituição. As atividades que normalmente se levam a cabo são

educativas, de culto, sociais, de beneficência, desportivas ou de entretenimento”. No

Alcorão está escrito: “E para onde quer que saias, volta a face rumo à Mesquita

Sagrada; e por certo, esta é a Verdade de teu Senhor. E Allah não está desatento ao

que fazeis” (Surata 2.149). Conforme COOGAN (2007, p.114), “Embora seja desejável

que todos os muçulmanos se congreguem na mesquita para a prece, isso só é exigido

dos homens, obrigados a participar das orações do meio dia às sextas-feiras”. Mesmo

sendo este lugar de adoração uma bela arquitetura islâmica, ela não é o único espaço

em que os muçulmanos podem orar, sendo assim, sua oração diária pode ser realizada

em um ambiente que lhes proporcione tranqüilidade, longe de distrações. O líder

religioso designado para administração da mesquita é o xeique. Conforme KHALIL

(2003, p.50),

Xeique (sheikh) é uma palavra árabe que significa “ancião” e também é empregada com o significado de chefe ou, no contexto religioso, sacerdote. Ser um xeique religioso constitui em fazer estudos islâmicos em um centro teológico, o que implica em ter um correspondente diploma, que avaliza seus estudos e conduta, que o habilitam, por exemplo, a dirigir uma mesquita em suas tarefas de culto, ensinamento e difusão do Islam.

Segundo KÜNG (2004, p.265), diante do conceito de lugar sagrado além de

Meca e Medina, os muçulmanos consideram Jerusalém como um santuário do Deus de

Abraão, sendo o terceiro lugar mais sagrado do mundo e a protegem como a pupila dos

olhos. De acordo Hans Küng, o islã acredita que debaixo da cúpula dourada do Domo

do Rochedo, seja um lugar onde pode ser lembrado o Deus único de Abraão, sendo um

recinto de oração silenciosa. Nele o profeta Maomé teria ascendido ao céu e onde

acontecerá um dia o juízo final. Precisamente debaixo da cúpula se encontra o

gigantesco e irregular rochedo nu do monte Moriá. Sobre a cidade de Meca o Alcorão

afirma: “E lembrai-vos de quando Abraão disse: “Senhor meu, faze desta uma cidade

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Page 22: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

de segurança e dá dos frutos, por sustento, a seus habitantes, àqueles, dentre eles,

que crêem em Allah e no Derradeiro Dia ...” (Surata 2.126). Conforme a Tradução do

sentido do nobre Alcorão (s.d, p.33),

Referência à cidade de Makkah, a cidade da Paz, que, desde então, tornou-se a Cidade Sagrada, depositária de paz permanente, onde é proibido o derramamento de sangue, a caça ou qualquer violação à vida. É local de prece e veneração.

Na doutrina islâmica é possível destacar duas principais correntes: xiitas e

sunitas. Segundo KHALIL (2003, p.103), “compartem o mesmo livro sagrado, o modelo

profético contido na suna (ou tradição do profeta), os mesmos centros espirituais

(Meca, Medina e Jerusalém)”. De acordo com MCCURRY (1999, p.103), os

muçulmanos se distinguem por meio destas correntes doutrinárias com base em sua

lealdade a certa convicção teológica, podendo ter suas raízes em questões teológicas e

lutas pelo poder, questões étnicas ou resultados de diferentes maneiras de entender

Deus. Os sunitas reconhecem o material escrito, o Alcorão, como autoridade final. Ele

vem em primeiro lugar, depois as coletâneas formais da Suna, caminho bastante

trilhado, dela procede o codinome “sunitas”. Nela se baseiam coisas que Maomé disse

ou fez. Conforme KÜNG (2004, p.266), Mais de 90% dos muçulmanos do mundo são

sunitas, sendo que, a grande maioria dos muçulmanos quer conservar a Suna e os

quatro califas6 legais. Uma das passagens do Alcorão declara:

E inspiramo-lhe: “Ó Davi! Por certo, Nós te fizemos califa na terra; então julga, entre os homens, com a justiça, e não sigas a paixão: senão, descaminhar-te-ia do caminho de Allah”. Por certo, os que se descaminham do caminho de Allah terão veemente castigo, por seu esquecimento do Dia da Conta (Surata 38.26).

Na sucessão política, o estadista Maomé é substituído na comunidade primitiva

pelo califa, porém do ponto de vista religioso, não há qualquer autoridade doutrinal

suprema. Na ausência do Profeta, segundo o islã, permanece o Alcorão como eterna

palavra de Deus sendo o lugar de Maomé ocupado pelo Livro Sagrado dos

muçulmanos como palavra de Deus e a Suna, ambas autoridade religiosa (KÜNG,

2004, p.263). 6 “Sucessor político-religioso do profeta no governo da comunidade” (KÜNG, 2004, p. 263).

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Page 23: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Os sunitas mantém uma visão ortodoxa do islã. Não existe desacordo entre

muçulmanos sunitas e xiitas sobre as doutrinas básicas do islã, todos pregam a

unidade de Deus e que o Alcorão é um livro celeste. Na concepção de KHALIL (2003,

p. 103), a divisão entre sunitas e xiitas surgiu de lutas pela liderança após a morte de

Maomé. Os xiitas, segundo MCCURRY (1999, p.104), se preocupam com a sucessão

apostólica. Para eles, Ali, primo e genro assassinado de Maomé, foi o seu sucessor. A

palavra xiita significa “facção” ou “partido”. Segundo KÜNG (2004, p.266), “constitui a

minoria, 10% dos muçulmanos (no Irã, Iraque e Líbano)”. Acreditam que Deus jamais

deixará o mundo ficar sem um guia espiritual infalível, o imã, podendo manter a

excelência profética, pois entendem que um intérprete e um guia com autoridade são

necessários para as gerações posteriores. De acordo com a Revista Islâmica

Evidências (2009, p.38), O Iman mantém a preservação das leis e das mensagens

Divinas do desvio de mudança, atendendo às necessidades das pessoas em todas as

épocas, convocando-as para Deus e para se afeiçoarem à religião. O Alcorão exorta:

“Ó vós que credes! Temei a Allah e permanecei com os verídicos” (Surata 9.119). Os

imãs são guias espirituais para os muçulmanos xiitas e dele procede a orientação às

pessoas nas questões espirituais e materiais. Conforme a Revista Islâmica Evidências

(2009, p.38), “Esse alto cargo o Deus Altíssimo concedeu ao Profeta Abraão, após este

percorrer sua jornada profética e missionária, vencendo muitas provas”. Os escritos

alcorânicos afirmam: E lembrai-vos de quando Abraão foi posto à prova por seu

Senhor, com certas palavras, e ele as cumpriu. O Senhor disse: “Por certo, farei de ti

dirigente para os homens...” (Surata 2.124). Os xiitas acreditam que a linha do imanato

permanece infalível aos da descendência de Maomé. Segundo COOGAN (2007,

p.108), “O imã precisa ser descendente direto do profeta Maomé”.

De acordo com KÜNG (2004, p.273), o sufismo, outro ramo do Islamismo

dentro da doutrina islâmica é um movimento místico, porém sem a presença de califas.

No sufismo se busca um ritual de pureza do coração. Neste movimento há um dirigente

espiritual, o xeique. As irmandades sufistas se organizam como ordens religiosas, com

regras, superiores, hábitos monásticos. O sufismo possui uma teologia, práticas e

instituições religiosas próprias. Formam centros com atividades sociocaritativas e

26

Page 24: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

missionárias. No século XIII os sufis avançaram à condição de guias respeitados do

povo.

Ainda dentro da questão doutrinária, o islã ensina que os fiéis devem alcançar a

recompensa por sua submissão a Deus tanto neste mundo quanto no além. Na

concepção de COOGAN (2007, p.109) o Islamismo, mesmo se concentrando num

único Deus, tolera a veneração dos santos, onde a crença em indivíduos e linhagens

familiares tem poderes espirituais especiais. Conforme o mesmo autor, os eruditos

religiosos possuem constrangimento com relação a essas crenças. Porém muitos

muçulmanos chegam a venerar essas figuras como parte de suas crenças.

Diante do conceito de igualdade, a doutrina islâmica ensina que o homem

muçulmano e a mulher muçulmana não deve viver uma relação de dessemelhança, o

Alcorão afirma:

Por certo, aos muçulmanos e muçulmanas, e aos crentes e às crentes, e aos devotos e as devotas, e aos verídicos e as verídicas, e aos perseverantes e as perseverantes, e aos humildes e às humildes, aos homens e mulheres que fazem caridade, aos homens e mulheres que jejuam, aos homens e mulheres que guardam a castidade, aos homens e mulheres que se comprometem em louvar a Allah, para todos eles Allah preparou o perdão e uma grande recompensa (Surata 33.35).

Na visão do Alcorão o homem não difere da mulher, nem mesmo no ato de

adoração a Alá. Conforme KHALIL (2003, p.81),

não há dúvida de que a mulher, ao longo da história, sofreu todo o tipo de injustiças e abusos, devido a sua menor força física e a sua bondade e inocência, em geral muito pouco valorizadas, compreendidas e aproveitadas.

No entanto o islã, dentro da concepção igualitária entre homem e mulher diante

dos escritos do Alcorão, reconhece alguns direitos da mulher, tais como: o direito de

estudar, a independência da mulher diante do direito de trabalhar, o direito a herança,

pois segundo o mesmo autor, na época em que viveu Maomé, a mulher na Arábia não

tinha nenhum direito. Segundo KHALIL (2003, p.83),

27

Page 25: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

a Sharia anulou o casamento que se realiza sem o consentimento da mulher e estipulou que a esposa é a única proprietária do dote que deve outorgar-lhe o marido. Ademais, deu a mulher o direito ao divórcio e a uma novidade muito mais surpreendente, que foi o direito ao voto.

O Alcorão enfatiza o valor da mulher, como diz: “A quem faz o bem, seja varão

ou varoa, enquanto crente, certamente fá-lo-emos viver vida benigna. E Nós

recompensá-los-emos com prêmio, melhor do que aquilo que faziam” (Surata 16.97).

Se estas disposições não são observadas por alguns, então contradizem o islã.

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Page 26: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

3 AFINIDADES ENTRE ISLAMISMO E CRISTIANISMO E A PERSPECTIVA DE

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO ENTRE AS TRADIÇÕES

O que caracteriza as duas religiões monoteístas, Cristianismo e Islamismo, é a

crença em um único Deus. O Cristianismo assegura: “E a vida eterna é esta: que te

conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste“ (João

17.3). O Alcorão também afirma não haver outro Deus senão Alá, e Maomé ser o seu

profeta. “O que quer de bom que te alcance é de Allah, e o que quer de mal que te

alcance é de ti mesmo. E te enviamos, Muhammad, como Mensageiro para a

humanidade. E basta Allah por testemunha” (Surata 4.79). Maomé é para o Islamismo o

último portador da mensagem de salvação para quem crer e obedecer.

Nas duas religiões, Cristianismo e Islamismo, Jesus é apresentado como um

grande profeta. Segundo KHALIL (2003, p.19), o Islamismo é a única religião posterior

ao Cristianismo a reverenciar as figuras sagradas de Jesus Cristo e da Virgem Maria.

“Lembra-lhes de quando os anjos disseram: “Ó Maria! Por certo Allah te alvissará um

Verbo, vindo dEle; seu nome é o Messias, Jesus, filho de Maria, sendo honorável na

vida terrena e na Derradeira Vida, e dos achegados a Allah” (Surata 3.45). Para os

cristãos, os muçulmanos consideram Maria, mãe de Jesus, uma mulher muito especial

e tem algumas citações no Alcorão a seu respeito que são similares a citações bíblicas.

O Alcorão afirma: “Ela disse: “Senhor meu! Como hei de ter um filho, enquanto nenhum

homem me tocou?” Ele disse: Assim é! Allah cria o que quer. Quando decreta algo,

apenas, diz-lhe: ‘Sê’, então, é” (Surata 3.47). No islã ela é considerada uma mulher de

uma tão grande pureza e exemplo a ser seguido pelas mulheres muçulmanas. Visando

este aspecto da vida de Maria, seu filho Jesus nasceu de uma virgem por meio de uma

intervenção divina sendo assim considerado um milagre de Deus na explicação

islâmica. De acordo com KAMEL (2007, p.61), “para os muçulmanos, Jesus está acima

dos profetas que o antecederam”. “Desses mensageiros, preferimos uns a outros.

Dentre eles, há aqueles a quem Allah falou; e a alguns deles Ele elevou em escalões; e

concedemos a Jesus, Filho de Maria, as evidências, e amparamo-lo com o Espírito

Sagrado...” (Surata 2.253). Fora Maomé não há outro personagem mais respeitado no

29

Page 27: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Alcorão. Jesus é muito especial no islã, por isso, não é aceita de forma alguma a sua

crucificação, pois um profeta jamais passaria por este ato. Apesar disto, Jesus é

mencionado como um ser ressuscitado. Jesus é o único profeta, na crença islâmica, ao

qual se menciona a dádiva da ressurreição. Nos escritos islâmicos diz: “E que a paz

seja sobre mim, no dia em que nasci, e no dia em que morrer e no dia em que for

ressuscitado, vivo” (Surata 19.33). Na visão da Bíblia, o livro sagrado dos cristãos,

como Filho de Deus, Jesus pagou um alto preço na cruz, mas ressuscitou para salvar a

humanidade da condenação eterna. Apesar de ambas as religiões pronunciarem o

nome de Jesus, tendo isso como uma afinidade, o que as distingue é a importância que

a Sua pessoa tem. O Alcorão faz referências a Jesus como: “o Filho de Maria” (Surata

2.87); “o Messias” (Surata 3.45); “o Verbo de Deus” (Surata 4.171); “o Mensageiro de

Deus” (Surata 3.49); “o Profeta de Deus” (Surata 19.30); “o Servo de Deus” (Surata

19.30); “a Palavra da Verdade” (Surata 19.34); “um Espírito de Deus” (Surata 4.171);

“um filho puro” (Surata 19.19), “um sinal para os homens” (Surata 19.21).

Assim como o islã ressalta a pessoa de Jesus, também enfatiza a crença no

Deus único, Criador do céu e da terra, origem e retorno da vida, em seus profetas, nos

anjos e no dia do juízo final. Alguns desses elementos são comuns as duas religiões

monoteístas. No Alcorão há referência ao que Deus criou, e em umas das passagens

diz: “E, com efeito, criamos os céus e a terra e o que há entre ambos, em seis dias, e

não nos tocou exaustão” (Surata 50.38).

No Antigo Testamento, em Gênesis, Deus disse: “Façamos o homem à nossa

imagem, conforme a nossa semelhança”. “Viu Deus tudo quando fizera, e eis que era

muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia”. (Gênesis 1.26a, 31). Ambas as religiões

consideram a idéia do Deus criador de todas as coisas. Segundo o Alcorão, a origem

do ser humano se deu dessa forma:

E, com efeito, criamos o ser humano da quintessência de barro, em seguida fizemo-lo gota seminal, em lugar estável, seguro. Depois, criamos, da gota seminal, uma aderência, embrião; e criamos, do embrião, ossos; e revestimos os ossos de carne; em seguida, fizemo-lo surgir em criatura outra. Então, Bendito seja Allah, o Melhor dos criadores! (Surata 23.12-14).

É interessante observar que, assim como a Bíblia, o Alcorão enfatiza a ação de

Deus, no entanto a Sua pessoa não está sendo conjugada na primeira pessoa do

30

Page 28: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

singular e sim na terceira pessoa do plural. Porém, no Islamismo, Alá, em hipótese

alguma admitiria a presença de Jesus no ato da criação por não compreendê-lo como

divindade.

Com relação ao pecado, o pensamento islâmico, o conceitua como algo

adquirido pelo ser humano quando pratica alguma coisa que não devia. “Então, Adão

recebeu palavras de seu Senhor, e Ele Se voltou para ele, remindo-o. Por certo, Ele é

O Remissório, O Misericordiador” (Surata 2.37). Segundo os textos da Tradução do

sentido do nobre Alcorão (s.d, 11),

Este versículo explicita que Adão foi perdoado. Com isso o Islão demonstra que não reconhece o pecado original, pois vê o pecado como ato individual, exclusivo de quem age incorretamente. O pecado e o arrependimento não podem ser impostos: surgem de dentro do indivíduo. E ninguém deve arcar com os erros dos outros nem se arrepender pelo que o outro fez de mau.

De acordo com o pensamento islâmico, a declaração de que cada um de nós

vem a este mundo carregando um pecado cometido por alguém que nos antecedeu é

negar os atributos de Deus quanto à justiça e à absolvição. Assim diz os escritos

alcorânicos: “Quem se guia se guiará, apenas, em benefício de si mesmo, e quem se

descaminha se descaminhará, apenas, em prejuízo de si mesmo. E nenhuma alma

pecadora arca com o pecado de outra...” (Surata 17.15). Conforme KAMEL (2007,

p.28), “muitos exegetas muçulmanos dizem que, na verdade, a principal culpa pela

expulsão do Paraíso recai sobre o demônio e não sobre Adão”. Na visão islâmica,

Satanás é evidenciado como o culpado por ter instigado o ser humano ao erro. Assim

diz o Alcorão: “E Satã sussurrou-lhes perfídias, para mostrar a ambos o que lhes fora

acobertado de suas partes pudendas, e disse: Vosso Senhor não vos coibiu desta

árvore senão para não serdes dois anjos ou serdes dos eternos” (Surata 7.20).

Segundo o Alcorão, Adão foi proibido de se aproximar da árvore: “E, ó Adão!

Habita, tu e tua mulher, o paraíso; e comei onde ambos quiserdes, e não vos

aproximeis desta árvore; pois, seríeis dos injustos” (Surata 7.19). As histórias tanto

islâmicas como bíblicas se põem um pouco similares diante dos textos relatados,

devido aos personagens e os acontecimentos. As escrituras bíblicas relatam que a

criação de Deus ficou sujeita ao pecado em decorrência da desobediência. Sendo

31

Page 29: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

assim ambos, cristãos e muçulmanos crêem na existência do pecado. Na concepção do

Cristianismo, o homem desobedeceu claramente a ordem de Deus, ocorrendo deste

modo, o pecado, e por isso teve que deixar o paraíso, lugar este, tão almejado por

cristãos, muçulmanos.

O que vem a assinalar o Cristianismo e o Islamismo como religiões e tornar-se

mais importante para elas é o fato de que; para cristãos, a Bíblia é a palavra de Deus e

Jesus Cristo é o Messias e Filho de Deus; para o islã o importante é evidenciar o

Alcorão como livro e palavra de Deus. Os muçulmanos também crêem na Torá e no

Evangelho. O Alcorão diz: “E ensinar-lhe-á a Escritura, e a sabedoria, e a Torá, e o

Evangelho” (Surata 3.48). Segundo o Islã, os muçulmanos não poderiam ter nenhum

preconceito contra o que é sagrado nas religiões cristã e judaica. “Ele fez descer sobre

ti o Livro, com a verdade, para confirmar o que havia antes dele. E fizera descer a Torá

e o Evangelho” (Surata 3.3). Segundo AL-ÁMILY (2007, p.11), “É possível que o

muçulmano possa divergir com alguém de seu convívio, com judeus ou cristãos. No

entanto, este muçulmano não pode, absolutamente, difamar o que é sagrado nas

religiões deles”. O Islamismo também reconhece alguns profetas do Cristianismo, como

Abraão, Moisés, Davi e Jesus. É na figura de Abraão que se dá a sustentação do

Islamismo, por causa de Ismael. Contudo, na fé cristã, sua figura é muito importante por

ser reconhecido como o pai da fé. São duas religiões monoteístas contendo muitos

profetas e um só Deus.

De acordo com MCCURRY (1999, p.268), O Alcorão é a afirmação das

Escrituras antecedentes a ele. “E, antes dele, houve o Livro de Moisés, como diretrizes

e misericórdia. E este é um Livro confirmador dos outros, em língua árabe, para

admoestar os que são injustos; e é alvíssaras para os benfeitores” (Surata 46.12). O

Alcorão aceita plenamente como revelados por Deus alguns ensinamentos, como os de

Moisés. Há semelhanças entre a lei Mosaica e o Alcorão, assim como algumas

proibições alimentares presentes em outros livros do Pentateuco, sendo que,

muçulmanos não podem comer carne de porco por considerá-la impura. O Alcorão

proíbe este ato, dizendo: “Ele vos proibiu, apenas, o animal encontrado morto, e o

sangue, e a carne de porco, e o que é imolado com a inovação de outro nome que

32

Page 30: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Allah” (Surata 16.115). No entanto, no Cristianismo, Jesus ensina que, não é o que

entra pela boca que torna o homem impuro, e sim o que sai dela. (Mateus 15.11).

È importante ressaltar que tanto no Cristianismo como o Islamismo há uma

perspectiva de que haverá um fim para todas as coisas. O islã acredita que Jesus irá

voltar, e esse retorno precederá o dia do juízo final, quando os mortos ressuscitarão e,

como os vivos, serão julgados merecendo a vida eterna ou a condenação eterna. De

acordo com KAMEL (2007, p.62), “Este é o sinal que trará Jesus de volta. Ele, chegará

à terra por uma das torres da mesquita de Omíada, em Damasco, na Síria. E em seu

retorno, derrotará o anticristo”. De igual modo, com relação a volta de Jesus na visão do

Cristianismo, esse momento é muito almejado por cristãos.

3.1 Caminhos para o diálogo entre Cristianismo e Islamismo

O episódio de 11 de Setembro de 2001 fez mudar a história da relação entre

muçulmanos e cristãos. De acordo com CALIXTO (2006, p.31), “o diálogo fechado por

tantos anos entre essas religiões tornou-se emergente, pois se descobriu o quão pouco

se conheciam entre si”. Ambas tiveram que priorizar a ponderação e buscar a

diplomacia para que não se instalasse uma guerra desastrosa para a humanidade. De

forma catastrófica, pela queda dos edifícios do World Trade Center, reiniciou-se a

possibilidade de aproximação. O Cristianismo e Islamismo podem conviver e cooperar

mutuamente se cada um deles se recusar a impor-se ao outro. Uma maneira do cristão

se colocar no meio islâmico é buscando os pontos positivos e em comum para que, a

partir desse princípio, haja meios de coexistência. O Alcorão registra palavras positivas

acerca do Cristianismo, há frases elogiosas sobre Jesus, Maria e os profetas.

Ao longo da história do Islamismo e sua relação com o Cristianismo e assim

reciprocamente, houve conflitos. No entanto, é necessário haver condições de

coexistência, tolerância e respeito mútuo. De acordo com DEMANT (2004, p.353), “A

tolerância e a celebração da diferença já estão embutidas como valores-chave da

modernidade multicultural. Contudo, a tolerância conduz a uma coexistência passiva e,

portanto, suscetível de erosão no caso de fortes tensões”. Então é preciso que cristãos

e muçulmanos se conheçam para que saibam quais são os motivos que os aproximam

33

Page 31: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

e as possíveis divergências que os distanciam. Sendo assim, através do diálogo inter-

religioso, se inicia um processo de aprendizagem. Uma ilimitada abertura e disposição

para o diálogo em relação ao outro não excluem o profundo envolvimento com a própria

religião, onde é preciso conhecer como o outro pensa, como funciona seu mundo, e

assim, buscar os elementos identitários que são compatíveis entre Islamismo e

Cristianismo. Na concepção de KHALIL (2003, p.21),

O diálogo, no Islam, significa uma interação entre pessoas, que trocam informações entre si, na busca do aperfeiçoamento do ser humano. Por intermédio do diálogo, o ser humano pode descobrir a realidade dos outros, especialmente quando eles oferecem idéias fundamentadas em sólidos argumentos e razões.

É importante ressaltar que, quanto mais conhecimento da doutrina islâmica,

mais possibilidade de inserir-se ao mundo muçulmano. A grande maioria dos

muçulmanos acredita que o Alcorão é a palavra direta de Deus. Sendo assim, os

cristãos podem iniciar um diálogo religioso com muçulmanos através do seu

conhecimento do Alcorão. O mundo ocidental tem tido grande possibilidade, através da

globalização, de maior conhecimento do Islamismo, pois há a necessidade de

relacionamento político e social. Os meios de comunicação fazem aproximação dos

dois mundos tão distintos. Por isso, a busca do diálogo inter-religioso deve favorecer o

reconhecimento do que há de verdadeiro nas diferentes tradições religiosas. É chegado

o momento em que dois caminhos se cruzam, sendo preciso admitir e respeitar as

diferenças, mas, ao mesmo tempo, ressaltar os elementos de unidade. Portanto, as

religiões devem sair de si e acolher o outro.

O Cristianismo necessariamente deve ter consciência de que é uma religião

dialogal. Jesus Cristo em todo seu ministério ensinou que seus seguidores deveriam

ser como Ele, ir de encontro ao diferente, sendo esta diferença em raça, religião ou

cultura. O Alcorão prega uma cultura de antiviolência e respeito, é contra a guerra, a fim

de salvaguardar a vida, arraigada na ética muçulmana. Assim dizem os escritos:

Por causa disso, prescrevemos aos filhos de Israel que quem mata uma pessoa, sem que esta haja matado outra ou semeado corrupção na terra, será como se matasse todos os homens. E quem lhe dá a vida será como se desse a vida a todos os homens. E, com efeito, Nossos

34

Page 32: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Mensageiros chegaram-lhes com as evidências; em seguida, por certo, muitos deles, depois disso, continuaram entregues a excessos na terra (Surata 5.32).

Diante disso, há que se considerar um ponto importante que aproxima o

Cristianismo do Islamismo: a busca pela paz que deve ser muito maior que as

características próprias de cada tradição, por vezes divergentes.

Somente assim haverá a possibilidade de dialogar e lutar por uma ética

mundial. De acordo com DEMANT (2004, p.354), “há autênticos problemas de

convivências entre o Islã e a modernidade ocidental, mas que existem igualmente

recursos e precedentes de comunicação e coexistência intercivilizacional. Não há

incompatibilidade de antemão”. Segundo Peter Demant, o que leva cada vez mais

muçulmanos a posições que tornam inviável a coexistência das civilizações, é que o

Islamismo lhes proporciona ser o único caminho ainda não testado. Se ambas religiões

querem buscar pontos em comum para tornar o mundo um ambiente mais fraterno,

devem despojar-se do desejo de poder, de posturas exclusivistas e lutar pela

verdadeira unidade. De acordo com o Islamismo, sua doutrina preza pela construção da

justiça, da solidariedade e da paz, bem como o Cristianismo. Nisso é possível

reconhecer grande semelhança.

Para o Islamismo, é difícil considerar um diálogo doutrinal sem haver choques,

sendo que as possíveis trocas com os cristãos são culturais ou éticas. Não há nenhuma

dúvida de que há as opções incondicionais na fé cristã que não podem ser aceitas

pelos mulçumanos, por exemplo, a encarnação de Deus ou a trindade. Cada uma das

religiões tem preservado suas crenças. Na concepção de DEMANT (2004, p.355), “a

conversa com o islã só dará oportunidade à despolarização das tensões se evitarem

armadilhas opostas”. Segundo o mesmo autor, uma delas seria principiar o diálogo por

meio de uma agenda política que se proponha a converter o interlocutor muçulmano, ou

a convencê-lo de alterar o islã, para tornar esta religião mais palatável ao Ocidente.

Seria uma utopia acreditar que os muçulmanos deixariam de crer nos ditos de Maomé

sem que houvesse uma conversão. Cristãos e muçulmanos não podem mais evitar as

diferenças fundamentais que distinguem suas religiões.

35

Page 33: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Sendo assim, a melhor esperança de paz e tolerância genuínas entre o

Cristianismo e o Islamismo é ter uma discussão teológica adequada sobre a essência

de Deus e a natureza da paz e da justiça. Por meio de um compromisso comum com a

verdade e a sabedoria, cristãos e muçulmanos devem ter discussões sólidas que sejam

teologicamente informadas e politicamente francas. Segundo DEMANT (2004, p.354),

“uma política meramente repressiva frente ao fundamentalismo, no melhor dos casos,

apenas o empurrará para a clandestinidade sem modificar o ímpeto de seus

argumentos”. Em decorrência disso, só seria viável dialogar diante da ocorrência de

reformas estruturais, a fim de começar a melhorar o desequilíbrio de forças entre o

Ocidente poderoso e o mundo muçulmano impotente.

De acordo com CALIXTO (2006, p.17), “os islâmicos não são bandos de

extremistas e terroristas. A grande maioria dos diversos ramos islâmicos é constituída

de pessoas pacíficas, comprometidas com sua fé em Allah”. A importância do diálogo

consiste em contrariar aqueles que incitam as novas gerações ao ódio e ao

extremismo. Porém, é necessário que o islã eduque os seus jovens e prepare-os para

viver o respeito mútuo para que, desse modo, se dissipem os conflitos. O que a mídia

mais tem divulgado é o fato de que jovens muçulmanos têm sido preparados para

morrer guerreando em nome do Islamismo. Na concepção de KHALIL (2003, p.117),

“as pessoas que conhecem o islã, que tiveram uma oportunidade de manter contato

com a cultura islâmica e com os muçulmanos, não possuem esta imagem negativa que

costuma difundir-se nos grandes meios de comunicação”. O homem é anterior à

religião; respeitar o homem vem antes do respeitar a religião. E isto é um problema

para o sistema islâmico, que é um conjunto de política e religião, sem possibilidade de

separação. O islã também está presente em todos os momentos da vida do muçulmano

como: no rádio, na televisão, na escola, no cinema, nos noticiários, na música, nos

jornais e todas as matérias ensinadas nas escolas fazem referência a ele. Os

muçulmanos não conseguem ver um ser humano sem religião e sem compromisso com

ela. No entanto, os cristãos entendem que as pessoas têm livre arbítrio para escolher

que religião seguir, sem que o estado interfira na opção religiosa de cada um.

36

Page 34: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Com tanta informação acessível às pessoas e em uma era de constante

transformação, é imprescindível valorizar a relação dialogal entre a religião cristã e

islâmica. Em alguns paises muçulmanos já há abertura para tal. Conforme CALIXTO

(2006, p.47), os países do Oriente mais abertos para esse momento de diálogo são o

Líbano e Jordânia, e o mais fechado é o Irã, no entanto, este tem levantado a voz para

o diálogo. No meio cristão, o catolicismo tem promovido fóruns e reuniões para esse

propósito. O papa João Paulo II foi promotor de aproximação às outras grandes

religiões monoteístas do mundo, assim como o Islamismo. Este papa foi o primeiro

representante da Igreja Católica a entrar descalço em uma mesquita. Essa atitude com

certeza assinalou o relacionamento entre as duas religiões pela humildade

demonstrada por intermédio do papa. Derrubou barreiras, onde pouco a pouco os dois

mundos distintos começaram a se abrir um para o outro. João Paulo II foi a expressão

de um bom Cristianismo, vivido e representado por este líder eclesiástico. De acordo

com KHALIL (2003, p.150),

É em nome de Deus que os muçulmanos esperam ansiosos com seus irmãos cristãos, poder construir juntos, com a ajuda do Altíssimo, o Reino de Deus na terra... Graças a Deus existem muitos cristãos que compartem esta idéia e sentimento. Muçulmanos e cristãos, temos que estar alertas contra as mentes estreitas que podem existir em ambas as fileiras e que não estão a altura do espírito profético da autêntica religiosidade, nem a altura da urgente demanda dos tempos.

Essa agradável atitude do papa João Paulo II demonstrada ao povo

muçulmano, foi relatada no Alcorão, como diz os escritos:

Em verdade, encontrarás, - dentre os homens, - que os judeus e os idólatras são os mais violentos inimigos dos crentes. E, em verdade, encontrarás que os mais próximos aos crentes, em afeição, são os que dizem: ‘Somos cristãos’. Isso, porque há dentre eles clérigos e monges, e porque não se ensoberbecem (Surata 5.82).

Segundo KHALIL (2003, p.149), Saiid Khatami, presidente da república islâmica

do Irã e presidente da Organização dos Países Islâmicos, visitou o papa João Paulo II

em março de 1999 no Vaticano. Ambos instituíram uma comissão conjunta para

aprofundar o diálogo e a aproximação. Por causa desses acontecimentos, construiu-se

uma ponte de ligação entre ambas as religiões. Em 13 de Outubro de 2007, 138

37

Page 35: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

intelectuais muçulmanos de 43 países se reuniram pela primeira vez desde os tempos

do Profeta para declarar o solo comum entre Cristianismo e Islamismo, enviando ao

papa Bento XVI uma carta de convite ao diálogo. Entre os signatários do documento

estão representadas as grandes tradições islâmicas, sunitas e xiitas, bem como as

outras menores. Intitulado “Uma palavra comum entre nós e vocês”, o documento

afirma que os princípios comuns dos muçulmanos e cristãos de amar a um só Deus e

amar ao próximo oferecem o tipo de terreno comum entre as duas religiões que é

necessário para se ter respeito, tolerância e compreensão mútuas. Os signatários

adotaram uma corrente central e uma posição tradicional do Islamismo de respeito às

Escrituras cristãs. Uma palavra em Comum entre Nós pode não apenas dar um ponto

de partida para cooperação e coordenação internacional como ainda o faz no solo

teológico mais sólido possível: os ensinamentos do Alcorão e do Profeta e os

mandamentos descritos por Jesus Cristo na Bíblia. Por fim, a despeito de suas

diferenças, Islamismo e Cristianismo não apenas partilham a mesma Origem Divina e a

mesma hereditariedade abraâmica, como também os dois maiores mandamentos7 O

Alcorão afirma: “E não discutais com os seguidores do Livro senão da melhor maneira -

exceto com os que, dentre eles, são injustos - e dizei: Cremos no que foi descido para

nós e no que fora descido para vós; e nosso Deus e vosso Deus é Um só. E para ele

somos moslimes” (Surata 29.46). De acordo com a Tradução do sentido nobre do

Alcorão (s.d, p.650), o termo, seguidores do Livro, se refere a judeus e cristãos. Do

ponto de vista teológico, isto omite diferenças elementares entre o Deus cristão e o

Deus muçulmano.

No Cristianismo, é visto como um Deus é um ser relacional e encarnado. Na

teologia cristã, especificamente no Novo Testamento fala-se em Deus como uma única

divindade com três pessoas igualmente divinas sendo: Pai, Filho e Espírito Santo.

Segundo CALIXTO (2006, p.101), para um diálogo produtivo, é fundamental que os

muçulmanos compreendam que cristãos não adoram três deuses. É importante que

conheçam seriamente a teologia da Trindade, desenvolvida sob a perspectiva da

essência divina presente em Deus, na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O

7 Disponível em: <http://www.acommonword.com/index.php?lang=en&page=downloads> acesso em: 23/10/ 2009

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Page 36: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

Cristianismo em hipótese alguma pregou a existência de três deuses. Os muçulmanos

precisam entender que a Bíblia jamais foi adulterada e que seus escritos são mais do

que confiáveis, são sagrados. Para se desenvolver diálogo do ponto de vista teológico

também é importante manter literalmente o foco em Jesus.The Qur'an mentions Jesus

approximately 95 times. O Alcorão menciona Seu nome cerca de 95 vezes. Christians,

therefore, have a natural bridge to discuss the core of our faith, the person and ministry

of Jesus. Os cristãos, portanto, têm uma ponte natural para discutir o cerne de sua fé, a

pessoa e o ministério de Jesus.

39

Page 37: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos objetivos desta pesquisa foi mostrar a importância de se construir

caminhos para que haja diálogo inter-religioso entre cristãos e muçulmanos, através de

pontos convergentes que promovam a aproximação. Para tanto, isso só é possível

através da compreensão do outro, o sistema em que vive, seus valores, sua maneira de

perceber o mundo e se inserir nele. Demonstrou-se ainda que tem havido interesse da

parte do Cristianismo e Islamismo em promover uma aproximação entre ambas

religiões, pois as mesmas anelam por uma convivência pacífica, onde através do

respeito, da tolerância, é possível conviver e cooperar mutuamente. Procurou-se

demonstrar nesta pesquisa que se cristãos e muçulmanos, querem buscar pontos em

comum para tornar o mundo um ambiente mais fraterno, devem despojar-se do desejo

de poder, de posturas exclusivistas e lutar pela verdadeira unidade.

Uma maneira que a pesquisa apresentou do cristão se tornar participante do

meio islâmico foi buscando caminhos de afinidade e a partir desse princípio,

evidenciou-se ser admissível haver meios de coexistência. Foi possível avaliar a

postura dos líderes de cada religião, onde se percebeu que Jesus foi um líder acessível

ao diálogo apesar de qualquer diferença religiosa e social. Em decorrência disso, o

Cristianismo é uma religião dialogal e seus seguidores devem estar inseridos nesta

proposta. Maomé, no islã, foi um homem que manteve contato com judeus e cristãos

em sua época e o Alcorão faz referência a eles. Foi possível perceber que a mensagem

desses dois líderes alcançou seus dessemelhantes, pois ambos acreditaram que

através de suas convicções poderiam contribuir para se construir um mundo fraternal.

A pesquisa mostrou que em pleno século 21 marcado por expressivas

transformações, líderes cristãos e muçulmanos tem dado passos em direção ao

diálogo, promovendo encontros para tratar do relacionamento entre Cristianismo e

Islamismo onde se estabeleçam posições que satisfaçam a ambos e venham a transpor

40

Page 38: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

barreiras com relação ao próximo respeitando seus valores e compreendendo que por

detrás de uma religião, se encontram pessoas.

Procurou-se demonstrar no primeiro capítulo um panorama histórico onde foi

possível compreender o surgimento do Islamismo como religião monoteísta sendo este

acontecimento vinculado ao profeta Maomé. A pesquisa abordou algumas questões

relacionadas a vida do profeta e sua influência sendo iniciada na Arábia, e se

expandindo à regiões vizinhas onde a maior contribuição de Maomé foi o ensino

religioso. Notou-se que essa mudança na crença do povo árabe, que anteriormente era

politeísta, foi iniciada pelo profeta do islã assinalando um crescimento da religião

islâmica não somente na península arábica, mas transpondo-se à outros continentes. A

pesquisa tratou também do surgimento de correntes ideológicas dentro do Islamismo.

Maomé não pregou divisões no islã, pois o mesmo propôs a unidade do povo,

entretanto foi inevitável a ocorrência da divisão, sendo que, o enfoque deste

acontecimento se deu por causa da luta pela liderança na representatividade da

comunidade islâmica após a morte do profeta. A pesquisa ainda abordou o assunto que

envolve o histórico 11 de Setembro de 2001 e mostrou que não é pela violência que o

Islamismo deseja ser lembrado, pois o Alcorão não aprova a prática do terror, sendo

essas atitudes provenientes de líderes radicais religiosos, pessoas que “em nome de

Deus” e por causa do poder político querem se posicionar diante da sociedade mundial

pela força. Não é essa imagem que o islã quer propagar e sim o conceito de uma

religião que sempre pregou a paz, sendo as atitudes terroristas contrárias a proposta do

Islamismo induzindo pessoas a um julgamento errôneo da religião.

A pesquisa abordou ainda um assunto que causa certa tensão no que diz

respeito a descendência de Ismael, pois segundo a Bíblia, Deus tinha promessas feitas

ao filho primogênito de Abraão de torná-lo uma grande nação. A mesma apontou a

possibilidade disso ser verdade, sendo que, os muçulmanos crêem serem da

descendência de Ismael, porém este enfoque foi restringido a nação árabe.

O segundo capítulo discorreu sobre a temática doutrinária onde foram

abordados assuntos ligados à crença islâmica. Uma das tais crenças se referiu a

adoração a um único Deus pelos muçulmanos. O Islamismo anunciou uma mensagem

41

Page 39: 1 HISTÓRIA DO ISLAMISMO

monoteísta para que os seus seguidores abandonassem a idolatria. A pesquisa

mostrou a importância do Alcorão, o livro sagrado no islã, que rege toda a vida do

muçulmano desde questões religiosas até mesmo morais, éticas, sociais e políticas,

sendo este livro revelado ao profeta Maomé de acordo com os escritos alcorânicos.

Este capítulo apontou também os princípios que conduzem o muçulmano a práticas

religiosas ajudando-o a tornarem-se submissos a Deus sendo melhores consigo

mesmos e no relacionamento para com o próximo. Ainda apontou-se, nesta pesquisa,

os lugares sagrados e acessíveis aos muçulmanos, sendo que um dos tais passou a

ser igualmente de grande significância para outras nações. Destacou-se também

alguns ramos do Islamismo dentro das questões doutrinárias que influenciaram a fé dos

muçulmanos, sendo que apesar destas divisões, todos os fiéis islâmicos

compartilharam do mesmo livro sagrado e os mesmos centros espirituais. A pesquisa

abordou também sobre a temática feminina, onde foram vistos alguns direitos das

mulheres no islã. Foram apresentadas passagens do Alcorão sobre o que a religião

pensa a respeito da mulher. Se estas disposições não são observadas por alguns,

então contradizem os escritos do Alcorão.

O terceiro capítulo apontou as afinidades existentes entre as religiões

monoteístas, Cristianismo e Islamismo sendo que, através destas semelhanças, houve

a possibilidade de aproximação entre as religiões. A pesquisa fez notáveis algumas

similitudes existentes nas duas religiões, ressaltando os elementos de unidade.

Apresentou-se também a pessoa de Jesus com atributos especiais tanto no Islamismo

como no Cristianismo. Ambas religiões mantiveram respeito e profunda admiração por

sua pessoa. Apesar da representatividade que Jesus tem, sua conotação para os

cristãos é diferente da conotação para os muçulmanos. No entanto, ele é tratado de

forma especial pelas duas religiões. A pesquisa tratou ainda de assuntos que dizem

respeito ao ato da criação, o pecado da humanidade, dentro do conceito bíblico e o

alcorânico.

Partindo da realidade de que a afinidade é algo concreto e que promove a

aproximação, a pesquisa sugeriu um diálogo inter-religioso. No entanto, é necessário

haver condições de coexistência, tolerância e respeito mútuo. A tolerância conduz a

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uma coexistência pacífica. O diálogo entre Cristianismo e Islamismo proporciona um

processo de aprendizagem onde um percebe o mundo do outro e pode inserir-se nele.

Para haver diálogo é necessário que cada um venha a despojar-se de posturas

exclusivistas. A busca pela paz deve ser muito maior que as características próprias de

cada tradição. A pesquisa mostrou que a liderança eclesiástica de ambas religiões tem

dado passo a caminho do diálogo, promovendo encontros onde se estabeleçam

posições que satisfaçam a ambos. Tão somente a partir de propostas de uma melhor

coexistência é possível viver num mundo harmonioso.

A pesquisadora compreendeu a importância de se caminhar em direção ao

diálogo em um século marcado por expressivas transformações, onde é necessário

valorizar o dessemelhante, pois diante de um mundo globalizado, a informação só pode

ser vista como meio de transpor barreiras com relação ao próximo respeitando seus

valores. É necessário se aproximar das pessoas para compreendê-las e ter uma visão

construtiva do outro através do real conhecimento e não do ponto de vista da mídia que

se focaliza em uma minoria dos que se enquadram numa postura extremista.

Tendo em vista os assuntos tratados, a pesquisadora tem a consciência de que

nem tudo foi abordado. Pois a mesma se limitou a alguns temas que considera serem

necessários para a atualidade. No entanto é importante aprofundar-se em questões

relacionadas a mulher e seu papel ao longo da história do islã. Outro tema que poderia

ser desenvolvido é a questão da veneração de santos, a crença em indivíduos e

linhagens familiares para poder compreender melhor a raiz dessa prática efetuada por

alguns no islã. Também considera importante a aquisição de mais informações acerca

da vida de Ismael e sua descendência, pois seguramente existem outros

acontecimentos que podem contribuir para o enriquecimento da pesquisa. Este assunto

é de grande importância não só para islâmicos como para cristãos. No entanto, o que

foi apontado nesta pesquisa é de grande relevância.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Periódicos

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