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1 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Profª. Renata Orsi 1. DO PROCESSO JUDICIÁRIO DO TRABALHO: PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO TRABALHISTA (APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CPC). O Direito Processual do Trabalho corresponde ao conjunto de regras, princípios e instituições disciplinadoras do processo do trabalho , i.e., do instrumento por meio do qual são conciliados e julgados os conflitos individuais e coletivos pertinentes às relações de trabalho. Trata-se de ramo instrumental, pois suas regras não se bastam em si mesmas, mas constituem meio de realização do direito material. Compreende-se, hoje, como ramo autônomo do direito, vez que apresenta legislação, princípios, institutos, organização jurisdicional, didática e fins próprios. A índole socialdo direito do trabalho também se faz sentir no processo, vez que este também visa a corrigir desigualdades inerentes às partes da relação trabalhista mediante a proteção da parte mais fraca. Ademais, na maior parte de seus dissídios, lida com créditos de natureza alimentar por isso, é mais célere, simples (menor refinamento técnico?) e eficaz do que o processo comum. Tanto é verdade que, por vezes, o processo civil abeberou-se do processo do trabalho em seus aspectos mais modernos, como veremos a seguir. Classificação dos conflitos ou dissídios trabalhistas: i. Individuais: envolvem interesses concretos de sujeitos determinados. ii. Coletivos: envolvem interesses abstratos de grupo ou categoria (indeterminação de sujeitos).

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Page 1: 1. DO PROCESSO JUDICI RIO DO TRABALHO: PRINC PIOS GERAIS ... · 1 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Profª.Renata Orsi 1. DO PROCESSO JUDICIÁRIO DO TRABALHO: PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO

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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Profª. Renata Orsi

1. DO PROCESSO JUDICIÁRIO DO TRABALHO: PRINCÍPIOS GERAIS DO

PROCESSO TRABALHISTA (APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CPC).

O Direito Processual do Trabalho corresponde ao conjunto de regras, princípios e

instituições disciplinadoras do processo do trabalho, i.e., do instrumento por meio do qual são

conciliados e julgados os conflitos individuais e coletivos pertinentes às relações de trabalho.

Trata-se de ramo instrumental, pois suas regras não se bastam em si mesmas, mas constituem meio

de realização do direito material.

Compreende-se, hoje, como ramo autônomo do direito, vez que apresenta legislação,

princípios, institutos, organização jurisdicional, didática e fins próprios.

A índole “social” do direito do trabalho também se faz sentir no processo, vez que este

também visa a corrigir desigualdades inerentes às partes da relação trabalhista mediante a

proteção da parte mais fraca. Ademais, na maior parte de seus dissídios, lida com créditos de

natureza alimentar – por isso, é mais célere, simples (menor refinamento técnico?) e eficaz do que

o processo comum.

Tanto é verdade que, por vezes, o processo civil abeberou-se do processo do trabalho em

seus aspectos mais modernos, como veremos a seguir.

Classificação dos conflitos ou dissídios trabalhistas:

i. Individuais: envolvem interesses concretos de sujeitos determinados.

ii. Coletivos: envolvem interesses abstratos de grupo ou categoria (indeterminação de

sujeitos).

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a. Natureza Jurídica – visam à aplicação ou interpretação de norma existente (e.g.,

ação de cumprimento)

b. Natureza Econômica (de interesse) – visam à criação ou alteração de condições de

trabalho (e.g.: reajuste salarial)

Saliente-se que o número de indivíduos pouco importa para tal classificação (e.g., art. 842

da CLT – dissídio individual plúrimo).

Art. 842, CLT - Sendo várias as reclamações e havendo identidade de matéria,

poderão ser acumuladas num só processo, se se tratar de empregados da mesma

empresa ou estabelecimento.

Há questionamentos quanto à diferenciação de interesses de grupo ou de indivíduos

determinados, já que todos os direitos trabalhistas apresentam um cunho social. Ex.: ação

pleiteando reintegração de dirigente sindical.

PRINCÍPIOS DO PROCESSO DO TRABALHO

Não há consenso quanto ao número de princípios do DPT – alguns autores falam em 20,

outros em 3, outros em apenas 1. Ademais, muitos autores incluem entre eles princípios gerais do

processo, e não específicos do direito processual do trabalho.

Quanto aos princípios específicos, lição mais utilizada é a de Wagner Giglio:

a. Princípios reais: protecionista, simplificação, jurisdição normativa e despersonalização

do empregador;

b. Princípios ideais (tendências do DPT): ultra ou extrapetição, iniciativa de ofício e

coletivização de ações

A. Princípios reais

1. Princípio da proteção

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Único que é consenso na doutrina – também no direito instrumental do trabalho, o Estado

tenta corrigir a desigualdade econômica entre as partes a partir da proteção jurídica do

hipossuficiente (empregado). Isso porque também no processo o empregado está em situação de

desvantagem – tem maior dificuldade para encontrar testemunhas, sofre mais com a delonga do

processo, etc.

Diversos exemplos:

1. Gratuidade do processo apenas para o empregado (art. 790, §3º, CLT)

§ 3º É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho

de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça

gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário

igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou declararem, sob as penas da lei, que

não estão em condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do sustento

próprio ou de sua família

ATENÇÃO: Hoje já há decisões dos tribunais pátrios reconhecendo a justiça gratuita ao

empregador (incluindo TST), desde que comprovada a impossibilidade de recursos. Com a

promulgação da LC nº 123/09, que alterou o art. 3º da Lei 1060//50, há discussões em doutrina e

jurisprudência sobre se a concessão da justiça gratuita isenta o empregador também do pagamento

do depósito recursal, ou apenas das custas.

Acerca do benefício da justiça gratuita, importa ressaltar que este pode ser requerido em

qualquer tempo ou grau de jurisdição. Porém, na fase recursal, deve o requerimento ser formulado

no prazo alusivo ao recurso (OJ-SDI1-269, TST). Para a concessão do benefício, ademais, basta

juntar declaração de pobreza ao processo, a qual pode ser firmada pelo próprio advogado,

independentemente de mandato com poderes específicos – OJ-SDI1-331, TST.

2. Exigência de depósito recursal apenas para o empregador (art. 899, §4º da

CLT).

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ATENÇÃO: segundo entendimento majoritário da atual jurisprudência, o empregador doméstico

também está sujeito ao depósito recursal.

3. Assistência jurídica gratuita obrigatória prestada pelo sindicato apenas ao

empregado (Lei nº 5.584/70)

4. Inversão do ônus da prova: registros de controle de ponto do trabalhador

em alegação de hora extra (Súm. 338), dispensa (Súm. 212), etc

2. Princípio da simplificação do procedimento

Estando-se diante de verbas de natureza alimentar, o trabalhador deve recebê-las mais

rapidamente – daí a necessidade de simplificar procedimentos.

Atualmente, vem sendo buscado por outros ramos do processo.

Peculiaridades:

5. Ius postulandi (art. 791 da CLT – não apenas o empregado, mas também o

empregador).

Art. 791, CLT - Os empregados e os empregadores poderão reclamar

pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações

até o final.

§ 1º - Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão fazer-se

representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou provisionado,

inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 2º - Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência por

advogado.

§ 3º - A constituição de procurador com poderes para o foro em geral poderá ser

efetivada, mediante simples registro em ata de audiência, a requerimento verbal

do advogado interessado, com anuência da parte representada.

Dúvida: art. 133 da CF/88 estabelece que advogado é indispensável à administração da justiça.

Porém, TST e STF já se pronunciaram no sentido de que não foi extinto o ius postulandi.

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Atenção: conforme se verá a seguir com mais vagar, nos tribunais superiores (incluindo TST),

exige-se a participação de advogado, vez que se trata de matéria estritamente jurídica. Veja-se, a

respeito, a Súm. 425, TST:

SUM-425, TST. JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO.

ALCANCE

O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas

do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação

rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de

competência do Tribunal Superior do Trabalho.

6. Comunicações dos atos processuais feitas pelo correio, com presunção de

recebimento em 48h

SUM-16 NOTIFICAÇÃO Presume-se recebida a notificação 48 (quarenta e

oito) horas depois de sua postagem. O seu não-recebimento ou a entrega após o

decurso desse prazo constitui ônus de prova do destinatário.

7. Oficial de justiça é também avaliador (faz penhora e avalia o bem)

8. Audiência una

9. Recursos só têm efeito devolutivo, não suspensivo – art. 899, CLT.

10. Art. 841: citação automática

2. Princípio da despersonalização (ou despersonificação) do empregador

Como o empregador é empresa, na relação processual os bens perseguidos são os da

atividade empresarial, e não dos sócios ou empresários. Corolário do conceito de empregador, do

direito material.

3. Princípio da jurisdição normativa

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Justiça do trabalho tem competência para estabelecer normas e condições de trabalho nos

dissídios coletivos (ao contrário dos demais órgãos judiciários, que apenas analisam a aplicação do

direito já vigente ao caso concreto).

B) Princípios ideais

4. Princípio da ultra (além) ou extrapetição (fora do pedido)

Possibilidade de o magistrado julgar fora ou além do pedido ou da causa de pedir.

Em regra, vedada no processo civil (Art. 460, CPC: É defeso ao juiz proferir sentença, a

favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior

ou em objeto diverso do que lhe foi demandado). No processo trabalhista, há hipóteses expressas, e

outras vêm sendo admitidas pela jurisprudência e doutrina. Hipóteses:

11. Art. 467 da CLT: pagamento das verbas incontroversas com acréscimo de

50% caso não pagas na primeira audiência

Art. 467, CLT. Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo

controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado

a pagar ao trabalhador, à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a

parte incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinqüenta

por cento.

12. Art. 496 da CLT: substituição da reintegração por indenização de estável

Art. 496, CLT. Quando a reintegração do empregado estável for

desaconselhável, dado o grau de incompatibilidade resultante do dissídio,

especialmente quando for o empregador pessoa física, o tribunal do trabalho

poderá converter aquela obrigação em indenização devida nos termos do artigo

seguinte.

SUM-396, TST. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. PEDIDO DE

REINTEGRAÇÃO. CONCESSÃO DO SALÁRIO RELATIVO AO PERÍODO

DE ESTABILI-DADE JÁ EXAURIDO. INEXISTÊNCIA DE JULGAMENTO

"EXTRA PETITA"

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I - Exaurido o período de estabilidade, são devidos ao empregado apenas os

salários do período compreendido entre a data da despedida e o final do período

de estabilidade, não lhe sendo assegurada a reintegração no emprego.

II - Não há nulidade por julgamento “extra petita” da decisão que deferir salário

quando o pedido for de reintegração, dados os termos do art. 496 da CLT.

13. Súm. 211 – juros e correção monetária são devidos ainda que não pedidos

SUM-211, TST. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA.

INDEPENDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL E DO TÍTULO EXECUTIVO

JUDICIAL

Os juros de mora e a correção monetária incluem-se na liquidação, ainda que

omisso o pedido inicial ou a condenação.

14. Guias de seguro desemprego – obrigação de pagamento de indenização ao

trabalhador caso não fornecidas (indenização correspondente aos valores

do seguro desemprego).

SUM-389, TST. SEGURO-DESEMPREGO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA

DO TRABALHO. DIREITO À INDENIZAÇÃO POR NÃO LIBERAÇÃO DE

GUIAS

I - Inscreve-se na competência material da Justiça do Trabalho a lide entre

empregado e empregador tendo por objeto indenização pelo não-fornecimento

das guias do seguro-desemprego.

II - O não-fornecimento pelo empregador da guia necessária para o recebimento

do seguro-desemprego dá origem ao direito à indenização.

2. Princípio da iniciativa ex officio

Exceção ao princípio do dispositivo (art. 262, CPC), corresponde à possibilidade de o

magistrado iniciar o andamento processual (não confundir com impulso oficial, que é dever do

magistrado):

15. Art. 39, CLT: procedimento de anotação de CTPS proveniente da SRTE

Art. 39, CLT - Verificando-se que as alegações feitas pelo reclamado versam

sobre a não existência de relação de emprego ou sendo impossível verificar essa

condição pelos meios administrativos, será o processo encaminhado a Justiça do

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Trabalho ficando, nesse caso, sobrestado o julgamento do auto de infração que

houver sido lavrado.

16. Art. 878, CLT: execução trabalhista pode ser promovida de ofício pelo juiz

Art. 878, CLT - A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou

ex officio pelo próprio Juiz ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do

artigo anterior.

17. Art. 114, inciso VIII da CF/88: execução de ofício das contribuições das

empresas sobre folha de salários (art. 195, I, a, CF/88) e dos segurados

decorrentes das sentenças trabalhistas (art. 195, II, CF/88)

Art. 114, CF/88. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...)

VIII – a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a ,

e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir.

2. Princípio da coletivização das ações

17. Sindicato como substituto processual

18. ACP proposta pelo MPT

19. Mandado de segurança coletivo – L. 12016/09

Outros princípios aplicáveis ao processo do trabalho:

• Devido Processo Legal; Contraditório; Acesso à Justiça; Juiz Natural;

Motivação das decisões; Publicidade; Proibição de provas ilícitas; Dispositivo,

Economia Processual

• Oralidade e Imediatidade: predomínio da palavra falada sobre a escrita (petição

verbal, contestação e razões finais em audiência).

• Concentração: todos os atos se concentram na audiência (Art. 849, CLT)

• Duplo Grau de Jurisdição: exceção para os procedimentos de alçada (valor da

causa de até 2 s.m.).

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• Celeridade: notável importância no processo do trabalho, dada natureza alimentar

das verbas.

• Identidade física do juiz: mesmo juiz que colhe as provas deve julgar.

Anteriormente, era de difícil aplicação no processo do trabalho, por conta dos juízes

classistas, que tinham alta rotatividade (Súm. 136 do TST e 222 do STF). Dúvidas

sobre sua aplicação hoje.

SUM-136, TST. JUIZ. IDENTIDADE FÍSICA Não se aplica às Varas do

Trabalho o princípio da identidade física do juiz

SUM-222, STF. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ - JUNTAS

DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DA JUSTIÇA DO TRABALHO -

APLICAÇÃO

O princípio da identidade física do juiz não é aplicável às Juntas de Conciliação

e Julgamento da Justiça do Trabalho.

APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CPC

Trata-se de método de integração, i.e., preenchimento de lacunas existentes no

ordenamento, previsto no art. 769 da CLT:

Art. 769, CLT - Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte

subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for

incompatível com as normas deste Título.

Dois requisitos, cumulativos:

- Omissão da CLT (e da legislação processual trabalhista extravagante);

- Compatibilidade.

Especificamente no que concerne ao processo de execução, aplicam-se subsidiariamente as

regas da Lei 6830/80 (Lei dos Executivos Fiscais):

Art. 889, CLT - Aos trâmites e incidentes do processo da execução são

aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que

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regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa

da Fazenda Pública Federal.

2. DA JUSTIÇA DO TRABALHO: ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA.

ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Quando criada (década de 1920), a Justiça do Trabalho no Brasil fazia parte do Poder

Executivo. Por tal razão, à época, não eram aplicadas as regras sobre prerrogativas de magistrados

e competências da Justiça Comum. Ainda hoje, vemos resquícios de tal sistema na CLT (exemplo é

a denominação da ação “inquérito para apuração de falta grave” – típica do Poder Executivo – ou a

previsão contida no art. 707, j da CLT, que estabelece a obrigatoriedade de o Presidente do TST

apresentar ao Ministro do Trabalho relatório das atividades do Tribunal e dos demais órgãos da

Justiça do Trabalho).

Com a CF/46, a Justiça do Trabalho passa a integrar o Poder Judiciário e a contar com

organização constitucional em três níveis, a qual se mantém nos dias atuais (art. 111, CF/88):

• Tribunal Superior do Trabalho (TST)

• Tribunais Regionais do Trabalho (TRT)

• Juízes ou Varas do Trabalho (anteriormente, Juntas de Conciliação e Julgamento)

Características importantes da JT atual:

1. Não há divisão em entrâncias (como ocorre na Justiça Comum, em razão do maior

número de processos).

2. Não há Varas especializadas.

3. Os tribunais são criados por Regiões, e não por Estado.

4. Desde 1999 (EC nº 24), não há mais representação classista na Justiça do Trabalho –

permite-se, dessa maneira, maior independência aos sindicatos.

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A. DAS VARAS DO TRABALHO (JUÍZES DO TRABALHO)

Órgãos de 1º grau da Justiça do Trabalho – juízos monocráticos.

Art. 116, CF/88. Nas Varas do Trabalho, a jurisdição será exercida por um juiz

singular.

Varas são criadas por lei ordinária federal, e podem ter jurisdição sobre várias cidades

(desde que estejam a um raio máximo de 100 km e haja meios de acesso e comunicação entre elas -

Lei nº 6.947/81).

Onde não há Varas Especializadas, a jurisdição trabalhista é conferida aos juízes de direito,

com recursos ao respectivo TRT (art. 112 da CF/88 e art. 668 da CLT):

Art. 112, CF/88. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas

comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com

recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho

Art. 668, CLT - Nas localidades não compreendidas na jurisdição das Juntas de

Conciliação e Julgamento, os Juízos de Direito são os órgãos de administração

da Justiça do Trabalho, com a jurisdição que lhes for determinada pela lei de

organização judiciária local.

Onde houver mais de um juiz de direito, a competência será determinada por lei estadual a

um juiz cível. Caso lei estadual não disponha sobre o tema, será competente o juiz cível mais

antigo.

Importante, ainda, é a Súmula 10 do STJ:

SÚMULA 10, STJ. INSTALADA A JUNTA DE CONCILIAÇÃO E

JULGAMENTO, CESSA A COMPETENCIA DO JUIZ DE DIREITO EM

MATERIA TRABALHISTA, INCLUSIVE PARA A EXECUÇÃO DAS

SENTENÇAS POR ELE PROFERIDAS.

Para criação de uma vara trabalhista, segundo a Lei nº 6.947/81, é preciso haver mais de

24.000 empregados no local ou terem sido ajuizadas 240 reclamações trabalhistas por ano, em

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média, nos três últimos anos. A criação de vara adicional está condicionada à vara pré-existente

julgar mais de 1.500 processos por ano.

De dois em dois anos, o TST analisa propostas de criação de varas adicionais,

encaminhando projeto de lei ao governo

Segundo o art. 113 da CF/88:

Art. 113. A lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição, competência,

garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho

Nesse sentido, também a CLT disciplinava que a jurisdição de cada Vara somente poderia

ser alterada por lei federal. Entretanto, visando a uma maior celeridade da prestação jurisdicional

trabalhista, desde 2003 (Lei 10.770/03), conferiu-se aos TRTs a competência de estabelecer a

jurisdição das Varas do Trabalho. Isso permitiu reorganizar as Varas então existentes (muitas das

quais inoperantes):

Art. 28, L. 10.770/03. Cabe a cada Tribunal Regional do Trabalho, no âmbito de

sua Região, mediante ato próprio, alterar e estabelecer a jurisdição das Varas do

Trabalho, bem como transferir-lhes a sede de um Município para outro, de

acordo com a necessidade de agilização da prestação jurisdicional trabalhista.

As varas são integradas por um JUIZ, que ingressa na carreira como juiz substituto,

mediante concurso público realizado pelo TRT respectivo (com validade de 2 anos e prorrogável

por igual período), e é promovido por antiguidade e merecimento, alternadamente (art. 654, CLT).

O juiz titular, segundo o art. 93, V, da CF/88, deverá residir na comarca, salvo autorização

do tribunal (não há determinação quanto ao juiz substituto).

Outras peculiaridades inseridas pelo art. 93 da CF/88:

Art. 93, CF/88. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal,

disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante

concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos

Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no

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mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à

ordem de classificação;

II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antigüidade e

merecimento, atendidas as seguintes normas:

a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou

cinco alternadas em lista de merecimento;

b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva

entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antigüidade desta,

salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago;

c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de

produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela freqüência e

aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento;

d) na apuração de antigüidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais

antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme

procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até

fixar-se a indicação;

e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder

além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho

ou decisão.

O juiz do trabalho, ainda, goza das garantias inerentes à magistratura (vitaliciedade – após

dois anos de exercício da magistratura, só pode ser destituído por sentença judicial transitada em

julgado –, inamovibilidade – só podendo ser removido por interesse público – e irredutibilidade

de subsídios). Também se aplicam integralmente a ele as vedações constitucionais (proibição de

cumulação de cargos, de dedicação à atividade político-partidária, de receber custas ou

participação no processo, etc). Tais regras são estudadas pela Teoria Geral do Processo.

B. TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO

Competência

• Julgamento de recursos ordinários (e corolários; e.g., embargos de declaração) +

competência originária (dissídio coletivo, AR, MS, HC, CC).

Art. 678, CLT - Aos Tribunais Regionais, quando divididos em Turmas, compete:

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I - ao Tribunal Pleno, especialmente:

a) processar, conciliar e julgar originariamente os dissídios coletivos;

b) processar e julgar originariamente:

1) as revisões de sentenças normativas;

2) a extensão das decisões proferidas em dissídios coletivos;

3) os mandados de segurança;

4) as impugnações à investidura de vogais e seus suplentes nas

Juntas de Conciliação e Julgamento;

c) processar e julgar em última instância:

1) os recursos das multas impostas pelas Turmas;

2) as ações rescisórias das decisões das Juntas de Conciliação

e Julgamento, dos juízes de direito investidos na jurisdição

trabalhista, das Turmas e de seus próprios acórdãos;

3) os conflitos de jurisdição entre as suas Turmas, os juízes de

direito investidos na jurisdição trabalhista, as Juntas de

Conciliação e Julgamento, ou entre aqueles e estas;

d) julgar em única ou última instâncias:

1) os processos e os recursos de natureza administrativa

atinentes aos seus serviços auxiliares e respectivos servidores;

2) as reclamações contra atos administrativos de seu

presidente ou de qualquer de seus membros, assim como dos

juízes de primeira instância e de seus funcionários.

II - às Turmas:

a) julgar os recursos ordinários previstos no art. 895, alínea a;

b) julgar os agravos de petição e de instrumento, estes de decisões

denegatórias de recursos de sua alçada;

c) impor multas e demais penalidades relativas e atos de sua competência

jurisdicional, e julgar os recursos interpostos das decisões das Juntas dos juízes

de direito que as impuserem.

Parágrafo único. Das decisões das Turmas não caberá recurso para o

Tribunal Pleno, exceto no caso do item I, alínea "c", inciso 1, deste artigo.

Art. 679, CLT - Aos Tribunais Regionais não divididos em Turmas, compete o

julgamento das matérias a que se refere o artigo anterior, exceto a de que trata o

inciso I da alínea c do Item I, como os conflitos de jurisdição entre Turmas

Organização

Até a CF/88, existiam apenas 9 TRTs, cada qual abrangendo determinada Região.

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A CF/88, então, estabeleceu a obrigatoriedade de instituição de um tribunal por Estado –

determinação injustificada, pois em muitos Estados o baixo volume de processos não justifica a

instituição de um tribunal. Portanto, com a EC/45, essa determinação foi retirada da CF/88.

Hoje, há 24 TRTs no Brasil (não têm TRT: Amapá – 8ª Região, Tocantins– 10ª Região,

Roraima – 11ª Região, Acre – 14ª Região).

• Justiça itinerante:

Art. 115, §1º, CF/88: Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça

itinerante, com a realização de audiências e demais funções de atividade

jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de

equipamentos públicos e comunitários.

• Câmaras Regionais (instituídas por deliberação do TRT):

Art. 115, §2º, CF/88: Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar

descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o

pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.

Composição:

• Mínimo de 7 (sete) juízes;

• Brasileiros (natos ou naturalizados):

• 30 a 65 anos, pertencentes à respectiva Região (quando possível);

• Promoção por antiguidade e merecimento, alternadamente (aplicadas todas as regras

acima mencionadas);

• Nomeação pelo Presidente da República, a partir de lista tríplice elaborada pelo

próprio Tribunal;

• Observância do quinto constitucional (ambos: mais de dez anos de carreira, salvo se

ninguém preencher tal condição; advogados: notório saber jurídico e reputação

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ilibada). Lista tríplice é elaborada pelo Tribunal a partir de lista sêxtupla

encaminhada pela OAB e pelo MPT.

Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete

juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo

Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de

sessenta e cinco anos, sendo:

I – um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade

profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos

de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;

II – os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antigüidade e

merecimento, alternadamente.

Funcionamento

• Tribunais com mais de 25 membros podem ter Órgão Especial, para exercício das

competências do Pleno (composto por 11 a 25 membros, metade por antiguidade,

metade por eleição do Pleno);

• Pleno: delibera com metade mais um dos juízes + presidente

• Turmas (Justiça comum: Câmaras): compostas por 5 juízes, funcionam com pelo

menos 3.

• Mesmo os tribunais de composição mínima podem ser organizados em turmas.

Nesse caso, competência para julgar dissídios coletivos pode ser destinada a turma

especializada (caso contrário, são julgados pelo Pleno).

• O RI dos tribunais disporá sobre substituição de seus juízes

C. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

Competência: Lei 7.701/88

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• Recursos de revista, recursos ordinários e agravos de instrumento contra decisões de TRTs

e dissídios coletivos de categorias organizadas em nível nacional, além de mandados de

segurança, embargos opostos a suas decisões e ações rescisórias.

Composição (art. 111-A, CF/88)

• Na redação original da CF/88, TST era composto por 27 ministros, sendo 10

classistas. Com a extinção dos classistas, TST passou a ter apenas 17 ministros, mas

a EC/45 restabeleceu o número de 27 ministros;

• Brasileiros natos ou naturalizados (art. 12, §3º, CF/88) entre 35 e 65 anos;

• Nomeação pelo Presidente da República, após aprovação prévia pela maioria

absoluta do Senado Federal;

• Respeitado quinto constitucional (6 ministros). Os juízes de carreira são escolhidos a

partir de listra tríplice elaborada pelo próprio TST;

• Não há sistema de promoção por antiguidade e merecimento;

Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete

Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de

sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação

pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:

I – um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade

profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos

de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;

II – os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da

magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.

§ 1º A lei disporá sobre a competência do Tribunal Superior do Trabalho (...).

• Órgãos:

a. Tribunal Pleno

b. Órgão Especial (desde 2007)

c. Seção Especializada em Dissídios Coletivos

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d. Seção Especializada em Dissídios Individuais (Subseções 1 e 2)

e. Turmas

• Pleno: integrado por todos os membros, funciona com pelo menos 14 ministros e delibera

por maioria absoluta. Competência, em síntese: escolha e nomeação de ministros, eleição

de cargos de direção, elaboração do RI, aprovação de tabela de custas e emolumentos,

aprovação de Súmulas e homologação de precedentes da SDC, julgamento de incidentes de

uniformização de jurisprudência.

• Órgão Especial: composto por 14 ministros – 7 (sete) Ministros mais antigos, incluídos

Presidente, Vice-Presidente e Corregedor-Geral, e por 7 (sete) Ministros eleitos pelo

Tribunal Pleno. Funciona com pelo menos 8 ministros. Competência, em síntese:

julgamento de MS contra membros do tribunal (ressalvada a competência das Seções

Especializadas), de reclamações destinadas a preservar a competência dos órgãos do

Tribunal, etc.

• SBDI-I: composta por 14 ministros (funciona com pelo menos 8 ministros). Presidente +

Vice + Corregedor + Presidentes das Turmas. Competência, em síntese: embargos de

divergência; agravos e agravos regimentais interpostos em processos de sua competência.

• SBDI-II: composta por 10 ministros (funciona com pelo menos 6 ministros). Presidente +

Vice + Corregedor + 7 ministros. Competência, em síntese:

1. Originária

a) ações rescisórias

b) mandados de segurança contra atos praticados pelo Presidente do Tribunal ou por

qualquer dos Ministros integrantes da SDI

c) ações cautelares

2. Em única instância

a) agravos e agravos regimentais interpostos em processos de sua competência

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b) conflitos de competência em dissídios individuais

3. Em última instância

a) RO contra decisões originárias dos TRT (em dissídio individual)

b) agravos de instrumento interpostos contra despacho denegatório de recurso

ordinário em processos de sua competência.

• SDC: composta por 9 ministros (funciona com pelo menos 5 ministros). Presidente + Vice +

Corregedor + 6 ministros mais antigos. Competência, em síntese:

1. Originária

a) julgar, conciliar e homologar conciliações em dissídios coletivos que excedam a

jurisdição dos TRT;

b) estender ou rever suas próprias sentenças normativas;

c) julgar ações rescisórias propostas contra suas sentenças normativas;

d) julgar mandados de segurança contra atos praticados pelo Presidente do Tribunal

ou por Ministro da SDC, em matéria coletiva;

e) julgar conflitos de competência entre TRT em dissídio coletivo.

2. Em última instância

a) RO de decisões dos TRT em dissídios coletivos;

b) RO de decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho em ações rescisórias e

mandados de segurança pertinentes a dissídios coletivos;

c) embargos infringentes;

d) embargos de declaração de seus acórdãos e agravos regimentais pertinentes aos

dissídios coletivos;

e) suspeições arguidas contra o Presidente e demais Ministros da SDC; e

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f) agravos de instrumento interpostos contra despacho denegatório de recurso

ordinário nos processos de sua competência.

• Turmas: compostas por 3 ministros (hoje, há 8 turmas). Competência, em síntese: julgar

RR; julgar agravos de instrumento dos despachos de Presidente de TRT que denegarem

seguimento a recurso de revista; julgar agravos regimentais em última instância e julgar

embargos de declaração opostos aos seus acórdãos.

Ainda, podem-se citar os órgãos constantes do §2º do art. 111-A da CF/88 (OBS: ambos os

órgãos contam com juízes de varas, do TRT e ministros do TST):

§ 2º Funcionarão junto ao Tribunal Superior do Trabalho:

I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do

Trabalho, cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais

para o ingresso e promoção na carreira;

II - o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, cabendo-lhe exercer, na forma

da lei, a supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da

Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema,

cujas decisões terão efeito vinculante (controle interno do Judiciário).

D. ÓRGÃOS AUXILIARES DA JUSTIÇA DO TRABALHO

i. Secretarias das varas

Equivalem aos cartórios da Justiça Comum.

Cada vara ou turma de tribunal possui uma secretaria, responsável por receber as

petições, fazer autuações e demais serviços determinados pelo Juiz Titular. Referidas funções vêm

previstas no art. 711 (secretarias das varas) e 719 (secretarias das turmas dos tribunais) da CLT.

Art. 711, CLT - Compete à secretaria das Juntas:

a) o recebimento, a autuação, o andamento, a guarda e a conservação dos

processos e outros papéis que lhe forem encaminhados;

b) a manutenção do protocolo de entrada e saída dos processos e demais papéis;

c) o registro das decisões;

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d) a informação, às partes interessadas e seus procuradores, do andamento dos

respectivos processos, cuja consulta lhes facilitará;

e) a abertura de vista dos processos às partes, na própria secretaria;

f) a contagem das custas devidas pelas partes, nos respectivos processos;

g) o fornecimento de certidões sobre o que constar dos livros ou do arquivamento

da secretaria;

h) a realização das penhoras e demais diligências processuais;

i) o desempenho dos demais trabalhos que lhe forem cometidos pelo Presidente

da Junta, para melhor execução dos serviços que lhe estão afetos.

Art. 719, CLT - Competem à Secretaria dos Conselhos, além das atribuições

estabelecidas no art. 711, para a secretaria das Juntas, mais as seguintes:

a) a conclusão dos processos ao Presidente e sua remessa, depois de

despachados, aos respectivos relatores;

b) a organização e a manutenção de um fichário de jurisprudência do Conselho,

para consulta dos interessados.

Parágrafo único - No regimento interno dos Tribunais Regionais serão

estabelecidas as demais atribuições, o funcionamento e a ordem dos trabalhos de

suas secretarias.

Responsável pela direção dos serviços é o diretor de Secretaria, servidor nomeado pelo Juiz

Titular que receberá gratificação de função fixada em lei. Suas funções encontram-se no art. 712,

CLT:

Art. 712, CLT - Compete especialmente aos secretários das Juntas de

Conciliação e Julgamento:

a) superintender os trabalhos da secretaria, velando pela boa ordem do serviço;

b) cumprir e fazer cumprir as ordens emanadas do Presidente e das autoridades

superiores;

c) submeter a despacho e assinatura do Presidente o expediente e os papéis que

devam ser por ele despachados e assinados;

d) abrir a correspondência oficial dirigida à Junta e ao seu Presidente, a cuja

deliberação será submetida;

e) tomar por termo as reclamações verbais nos casos de dissídios individuais;

f) promover o rápido andamento dos processos, especialmente na fase de

execução, e a pronta realização dos atos e diligências deprecadas pelas

autoridades superiores;

g) secretariar as audiências da Junta, lavrando as respectivas atas;

h) subscrever as certidões e os termos processuais;

i) dar aos litigantes ciência das reclamações e demais atos processuais de que

devam ter conhecimento, assinando as respectivas notificações;

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j) executar os demais trabalhos que lhe forem atribuídos pelo Presidente da

Junta.

Parágrafo único - Os serventuários que, sem motivo justificado, não realizarem

os atos, dentro dos prazos fixados, serão descontados em seus vencimentos, em

tantos dias quantos os do excesso.

ii. Oficiais de justiça

Têm por atribuição mais corriqueira a realização de citações nas execuções, podendo

também notificar testemunhas, fazer citações em processos com problemas na localização das

partes, etc. Na JT, o oficial de justiça é também avaliador, pois competente, na execução, para

realizar a penhora do bem e já avaliá-lo (prescinde-se da figura do perito avaliador).

Segundo o art. 721 da CLT, os oficiais de Justiça têm nove dias para cumprir o mandado, e

dez dias para efetuar a avaliação, contados da penhora. Ademais, segundo o §5º desse mesmo

artigo, na falta ou impedimento do Oficial de Justiça, o Juiz Titular poderá atribuir a realização do

ato a qualquer serventuário.

Art. 721, CLT - Incumbe aos Oficiais de Justiça e Oficiais de Justiça Avaliadores

da Justiça do Trabalho a realização dos atos decorrentes da execução dos

julgados das Juntas de Conciliação e Julgamento e dos Tribunais Regionais do

Trabalho, que lhes forem cometidos pelos respectivos Presidentes.

§ 1º Para efeito de distribuição dos referidos atos, cada Oficial de Justiça

ou Oficial de Justiça Avaliador funcionará perante uma Junta de Conciliação e

Julgamento, salvo quando da existência, nos Tribunais Regionais do Trabalho, de

órgão específico, destinado à distribuição de mandados judiciais.

§ 2º Nas localidades onde houver mais de uma Junta, respeitado o disposto

no parágrafo anterior, a atribuição para o comprimento do ato deprecado ao

Oficial de Justiça ou Oficial de Justiça Avaliador será transferida a outro Oficial,

sempre que, após o decurso de 9 (nove) dias, sem razões que o justifiquem, não

tiver sido cumprido o ato, sujeitando-se o serventuário às penalidades da lei.

§ 3º No caso de avaliação, terá o Oficial de Justiça Avaliador, para

cumprimento da ato, o prazo previsto no art. 888.

§ 4º É facultado aos Presidentes dos Tribunais Regionais do Trabalho

cometer a qualquer Oficial de Justiça ou Oficial de Justiça Avaliador a

realização dos atos de execução das decisões desses Tribunais.

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§ 5º Na falta ou impedimento do Oficial de Justiça ou Oficial de Justiça

Avaliador, o Presidente da Junta poderá atribuir a realização do ato a qualquer

serventuário.

iii. Distribuidores

Responsáveis pela distribuição equitativa dos processos nos locais em que há mais de uma

Vara. Também existe nos tribunais.

O distribuidor é designado pelo Presidente do Tribunal Regional e tem por funções:

Art. 714, CLT - Compete ao distribuidor:

a) a distribuição, pela ordem rigorosa de entrada, e sucessivamente a cada

Junta, dos feitos que, para esse fim, lhe forem apresentados pelos interessados;

b) o fornecimento, aos interessados, do recibo correspondente a cada feito

distribuído;

c) a manutenção de 2 (dois) fichários dos feitos distribuídos, sendo um

organizado pelos nomes dos reclamantes e o outro dos reclamados, ambos por

ordem alfabética;

d) o fornecimento a qualquer pessoa que o solicite, verbalmente ou por

certidão, de informações sobre os feitos distribuídos;

e) a baixa na distribuição dos feitos, quando isto lhe for determinado pelos

Presidentes das Juntas, formando, com as fichas correspondentes, fichários à

parte, cujos dados poderão ser consultados pelos interessados, mas não serão

mencionados em certidões.

OBS: Não se aplica mais a regra constante da alínea “a” do art. 714 – para evitar fraudes, a

distribuição, hoje, é feita por sorteio.

E. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO (MPT)

O Ministério Público do Trabalho é órgão vinculado ao Ministério Público da União

(juntamente com Ministério Público Federal, Ministério Público Militar e Ministério Público do

DF e Territórios).

A partir da CF/88, o Ministério Público adquire plena autonomia funcional, administrativa e

financeira (art. 127, §§2º e 3º) – assim também o MPT. Como parte integrante do Ministério

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Público da União, assim, todas as regras constitucionais e legais relativas a este órgão também lhe

são aplicáveis.

Sua atuação é correlata à da Justiça do Trabalho – atua na defesa dos interesses sociais e

interesses individuais indisponíveis em controvérsias decorrentes da relação de trabalho – art. 114,

CF/88 (atuação antes mais ampla é agora legitimada). Sua intervenção é justificada pelo interesse

público.

CARREIRA: Procurador do Trabalho

Procurador Regional do Trabalho

Subprocurador-Geral do Trabalho (atuam junto ao TST)

Organização

a. Procurador-Geral do Trabalho: Nomeado pelo PGR entre integrantes da

instituição com mais de 35 anos de idade e 5 de carreira, eleitos em lista

tríplice elaborada pelo Colégio de Procuradores, com mandato de 2 anos,

permitida uma recondução. Na falta de membros com mais de 5 anos de

carreira, poderá concorrer ao cargo quem tiver mais de 2 anos. O PGT

nomeará o Vice-Procurador entre os Subprocuradores-Gerais. O PGT atua

junto ao Plenário do TST;

b. Colégio de Procuradores: presidido pelo PGT e integrado por todos os

membros da carreira em exercício, responsável pela formação da lista

tríplice para escolha do PGT e lista sêxtupla para quinto constitucional em

TRTs e TST.

c. Conselho Superior do MPT: órgão deliberativo que edita diretrizes

gerais de atuação do MPT e de gestão de seu pessoal. Composto pelo PGT

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+ Vice + 4 Subprocuradores Gerais eleitos pelo Colégio de Procuradores

(mandato: 2 anos) + 4 Subprocuradores Gerais eleitos por seus pares

(mandato: 2 anos).

d. Câmara de Coordenação e Revisão do MPT: órgão que promove

interação e coordenação entre os órgãos integrantes do MPT. Composta

por 3 Subprocuradores-Gerais (1 indicado pelo PGT e 2 pelo Conselho

Superior);

e. Corregedoria do MPT: órgão fiscalizador das atividades funcionais e da

conduta dos membros. Corregedor é nomeado entre os Subprocuradores-

Gerais, integrantes de lista tríplice votada no Conselho Superior, para

mandato de 2 anos, renovável uma única vez.

Princípios institucionais:

Art. 127, CF/88. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à

função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do

regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

§ 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a

indivisibilidade e a independência funcional.

• Unidade: MPT é órgão único, submetido à direção de apenas um procurador-geral. A

manifestação de um membro, portanto, é tida como manifestação de todo o órgão.

• Indivisibilidade: decorre do princípio da unidade. Membros podem ser substituídos sem

prejuízo da atuação comum, exatamente por comporem um único órgão;

• Independência funcional: inexiste hierarquia funcional entre os membros do MP – podem

atuar segundo os ditames da lei, do seu entendimento pessoal e da sua consciência.

Membros do MPT têm garantias idênticas aos juízes do trabalho: vitaliciedade,

inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.

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ATUAÇÃO:

1. Atividades extrajudiciais (administrativas)

1. Fiscalização;

2. Procedimento Preparatório;

3. Instauração de inquérito civil público;

4. Realização de audiências conciliatórias;

5. Celebração de Termos de Ajustamento de Conduta – título executivo extrajudicial

(L. 9958/00);

2. Atividades judiciais

1. Custos legis: emissão de pareceres, em qualquer face do processo trabalhista, sempre

que solicitado pelo juiz ou por iniciativa própria, quando entender existente interesse

público que justifique a intervenção; participação de um Subprocurador-Geral nas

sessões do TST, sendo-lhe assegurado direito de vista do processo.

2. Parte

a. ACP (Lei nº 7347/85);

b. Ações anulatórias de cláusulas de contrato, ACT e CCT que violem as

liberdades individuais ou coletivas ou os direitos individuais indisponíveis

dos trabalhadores (ex: contribuição assistencial cobrada de todos da

categoria);

c. Ações em defesa dos direitos e interesses trabalhistas dos menores,

incapazes e índios;

d. Ação Rescisória (Súm. 407, TST)

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SUM-407 AÇÃO RESCISÓRIA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE

"AD CAUSAM" PREVISTA NO ART. 487, III, "A" E "B", DO CPC. AS

HIPÓTESES SÃO MERAMENTE EXEMPLIFICATIVAS

A legitimidade "ad causam" do Ministério Público para propor ação rescisória,

ainda que não tenha sido parte no processo que deu origem à decisão

rescindenda, não está limitada às alíneas "a" e "b" do inciso III do art. 487 do

CPC, uma vez que traduzem hipóteses meramente exemplificativas.

Art. 487, CPC. Tem legitimidade para propor a ação: (...)

III - o Ministério Público:

a) se não foi ouvido no processo, em que lhe era obrigatória a intervenção;

b) quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de fraudar a lei.

e. Ajuizamento de dissídio coletivo em caso de greve que envolva serviço

essencial, desde que haja perigo de lesão ao interesse público (§3º, art.

114, CF/88)

Art. 114, CF/88. § 3º - Em caso de greve em atividade essencial, com

possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho

poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o

conflito

OBS: Segundo a OJ-SDI1-338 do TST, o MPT tem legitimidade para recorrer de decisão que

declara a existência de vínculo empregatício com sociedade de economia mista ou empresa pública,

sem a prévia aprovação em concurso público. Porém, não tem legitimidade para recorrer na defesa

de interesse patrimonial privado, inclusive de empresas públicas e sociedades de economia mista

(OJ-SDI1-237, TST).

Ainda, o Ministério Público do Trabalho poderá atuar como árbitro em dissídios da

competência da Justiça do Trabalho, quando assim solicitado pelas partes em litígio (art. 83, XI da

LC nº 75/93). Também compete ao Ministério Público do Trabalho promover mandado de

injunção, quando a competência for da Justiça do Trabalho. Veja-se, a respeito, o at. 83 da LC nº

75/93, que contempla outras importantes atribuições do MPT:

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Art. 83 - Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das

seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho:

I - promover as ações que lhes sejam atribuídas pela Constituição

Federal e pelas leis trabalhistas;

II - manifestar-se em qualquer fase do processo trabalhista,

acolhendo solicitação do juiz ou por sua iniciativa, quando entender

existente interesse público que justifique a intervenção;

III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do

Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados

os direitos sociais constitucionalmente garantidos;

IV - propor as ações cabíveis para declaração de nulidade de

cláusula de contrato, acordo coletivo ou convenção coletiva que

viole as liberdades individuais ou coletivas ou os direitos individuais

indisponíveis dos trabalhadores;

V - propor as ações necessárias à defesa dos direitos e interesses dos

menores, incapazes e índios, decorrentes das relações de trabalho;

VI - recorrer das decisões da Justiça do Trabalho quando entender

necessário, tanto nos processos em que for parte, como naqueles em

que oficiar como fiscal da lei, bem como pedir revisão dos

Enunciados da Súmula de Jurisprudência do Tribunal Superior do

Trabalho;

VII- funcionar nas sessões dos Tribunais Trabalhistas, manifestando-

se verbalmente sobre a matéria em debate, sempre que entender

necessário, sendo-lhe assegurado o direito de vista dos processos em

julgamento, podendo solicitar as requisições e diligências que julgar

convenientes;

VIII - instaurar instância em caso de greve, quando a defesa da

ordem jurídica ou o interesse público assim o exigir.

IX - promover ou participar da instrução e conciliação em dissídios

decorrentes da paralisação de serviços de qualquer natureza,

oficiando obrigatoriamente nos processos, manifestando sua

concordância ou discordância, em eventuais acordos firmados antes

da homologação, resguardado o direito de recorrer em caso de

violação à lei ou à Constituição Federal;

X - promover mandado de injunção, quando a competência for da

Justiça do Trabalho;

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XI - atuar como árbitro, se assim for solicitado pelas partes, nos

dissídios de competência da Justiça do Trabalho;

XII - requerer diligências que julgar convenientes para o correto

andamento dos processos e para a melhor solução das lides

trabalhistas;

XIII - intervir obrigatoriamente em todos os feitos nos segundo e

terceiro graus de jurisdição da Justiça do Trabalho, quando a parte

for pessoa jurídica de Direito Público, Estado estrangeiro ou

organismo internacional.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

A. CONCEITO DE JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

Jurisdição: juris + diccio = poder-dever do Estado de dizer o direito nos casos concretos a

ele submetidos. É una e indivisível, pois expressão do poder estatal – cada juiz ou tribunal é

integralmente investido de jurisdição.

Competência: é a medida da jurisdição – parcela da jurisdição atribuída a cada juiz pela

lei ou pela Constituição.

Espécies de competência:

a. Material (ratione materiae): natureza da relação jurídica controvertida

b. Territorial (ratione loci): local da relação controvertida

c. Em razão da pessoa (ratione personae): qualidade das partes envolvidas no

processo

d. Funcional (ou hierárquica): função desempenhada por cada juiz ou tribunal

e. Normativa: típica da JT, corresponde à possibilidade de criar condições de

trabalho.

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Referidas espécies podem ser classificadas como hipóteses de competência absoluta ou

relativa:

a. Absoluta: orientada pelo interesse público – improrrogável, deve ser pronunciada de

ofício. No caso de incompetência absoluta, todos os atos decisórios são nulos, salvando-

se apenas os demais atos, que serão aproveitados pelo juiz competente.

b. Relativa: orientada pelo interesse das partes – prorrogável, conforme a ocorrência de

determinados fatores (e.g., silêncio das partes). Incompetência não pode ser

pronunciada de ofício pelo juiz – deve ser oposta exceção na primeira oportunidade que

a parte tiver de se manifestar.

De acordo com a classificação acima, temos que é absoluta a competência material, em

razão das pessoas e funcional. Por outro lado, é relativa a competência territorial.

B. COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO (EX RATIONE

MATERIAE)

Desde a EC nº 45/2004, tem sido alvo de freqüentes debates doutrinários, vez que tal

emenda representou um sensível alargamento da competência da Justiça do Trabalho.

Para o estudo da competência material da JT, vamos analisar cuidadosamente o art. 114 da

CF/88:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito

público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;

III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e

trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato

questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;

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V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista,

ressalvado o disposto no art. 102, I, o;

VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da

relação de trabalho;

VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos

empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;

VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e

II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;

IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.

§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

§ 2º - Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem,

é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza

econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as

disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as

convencionadas anteriormente.

§ 3º - Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do

interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio

coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

I - Ações oriundas da relação de trabalho

Antes da EC-45, a JT era competente para julgar apenas dissídios decorrentes da relação de

emprego e outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho previstas em lei.

Segundo a doutrina, a relação de trabalho é mais ampla do que a relação de emprego, na

medida em que aquela se refere a qualquer forma de prestação de serviços e esta apenas à relação

subordinada entre empregado e empregador, nos termos dos arts. 2º e 3º da CLT. Envolve, além

da subordinação, a habitualidade, a pessoalidade e a onerosidade.

Porém, evidentemente, essa não é a única forma de se trabalhar. A relação de trabalho é o

gênero da qual a relação de emprego é a espécie. Há o trabalho eventual, o trabalho avulso,

trabalho temporário, trabalho autônomo, estágio estudantil, trabalho voluntário – são todas

relações jurídicas de trabalho em que não há a relação de emprego.

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Todas as controvérsias envolvendo tais relações, portanto, hoje são analisadas

exclusivamente pela JT – o que é muito mais coerente, dada a especialização dos magistrados e

tribunais trabalhistas.

OBS: Antes, outras relações de trabalho já eram julgadas pela JT, como a do empreiteiro operário

ou artífice (art. 652, III, CLT) e do trabalhador avulso. Porém, era necessária expressa previsão

legal para tanto.

------------ Relações de consumo

A doutrina diverge sobre a competência da JT para julgar relações de consumo, pois o CDC

(Código de Defesa do Consumidor) permite que a relação de consumo tenha por objeto a prestação

pessoal de serviços (art. 3º, § 2º). Hoje, entretanto, prevalece entendimento de que a competência é

da Justiça Comum.

1) Entes de direito público externo

Quem são: Estados estrangeiros, por meio de suas embaixadas, ou Organizações

Internacionais que contratem trabalhador no Brasil, e.g..

Problema: a tais entes, aplica-se o conceito do direito internacional público de imunidade

de jurisdição – estão imunes à jurisdição do Estado brasileiro.

Atualmente, entretanto, entende a jurisprudência que os tribunais pátrios são, sim,

competentes para julgar Estados estrangeiros em questões trabalhistas – a imunidade absoluta de

outrora foi convertida em relativa, para reconhecer que os atos de gestão dos entes internacionais

estão sujeitos à jurisdição brasileira. Os atos de império (funções diplomáticas ou consulares),

entretanto, continuam a gozar de tal imunidade.

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Limite: ainda há imunidade de execução – embora possa julgar o caso, a JT não pode,

e.g., penhorar bens do ente externo. A solução, aqui, deve ser buscada pelas vias diplomáticas. Em

algumas decisões, entretanto, tem-se reconhecido a possibilidade de penhora de bens não afetos à

administração diplomática (e.g., conta corrente destinada exclusivamente a fins de especulação).

2) Entes da administração pública direta e indireta

Pelo texto do inciso I do art. 114 da CF/88, os funcionários públicos estariam abrangidos

pela competência da JT – já que sua relação de trabalho justifica a atuação da JT.

Porém, o STF, em ADIN proposta pela AJUFE em 2005, suspendeu liminarmente a

eficácia dessa parte do dispositivo (decisão monocrática de Nelson Jobim), para excluir da

apreciação pela JT de causas de servidores públicos estatutários.

Portanto, hoje:

a. Ações envolvendo servidores públicos estatutários: julgadas pela Justiça

Comum (Federal ou Estadual, dependendo da competência);

b. Reclamações envolvendo servidores celetistas: julgadas pela JT

OBS: Importante, no tema, é a OJ-SDI1-138 do TST, que regula a competência da JT em face da

instituição do regime jurídico único na Administração federal pela Lei nº 8.112/90:

OJ-SDI1-138 COMPETÊNCIA RESIDUAL. REGIME JURÍDICO ÚNICO.

LIMITAÇÃO DA EXECUÇÃO

Compete à Justiça do Trabalho julgar pedidos de direitos e vantagens previstos

na legislação trabalhista referente a período anterior à Lei nº 8.112/90, mesmo

que a ação tenha sido ajuizada após a edição da referida lei. A superveniência

de regime estatutário em substituição ao celetista, mesmo após a sentença, limita

a execução ao período celetista.

II - ações que envolvam exercício do direito de greve

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Antes da EC-45, a JT apenas era competente para julgar o dissídio coletivo de greve. Hoje,

tem competência para julgar qualquer tipo de ação envolvendo a greve. Ex: ações possessórias,

ações indenizatórias “pós-greve” (e.g., greve que causa danos ao patrimônio da empresa), etc.

Existiam dúvidas sobre a amplitude de tal competência; porém, com a recente publicação

da Súmula vinculante nº 23 do STF, a matéria tornou-se pacificada:

Súmula Vinculante nº 23, STF: A Justiça do Trabalho é competente para

processar e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do

direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada.

E a greve do servidor público?

No MI 670/07, STF decidiu que se aplica aos servidores públicos a Lei de Greve (Lei

7.783/89). Porém, a competência ainda causa celeuma.

Se a greve no serviço público for praticada por celetistas, a competência será da JT. Em se

tratando do estatutário, será competência do juízo comum.

Porém, a doutrina trabalhista questiona tal entendimento, afirmando que a JT estaria mais

apta a julgar tais conflitos, dada sua especialidade.

III - Ações envolvendo conflitos sindicais

Aqui, também houve ampliação sensível da competência da JT. Incluem-se conflitos entre

sindicatos envolvendo representatividade sindical, organização interna do sindicato, eventual

conflito entre sindicato e trabalhadores (contra a cobrança de determinada contribuição ou contra a

limitação de participação nas assembleias, e.g.) e ações que envolvem sindicatos e empregadores

(se a empresa deixa de repassar a contribuição do sindicato).

IV – Mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado

envolver matéria sujeita à sua jurisdição

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Mandado de segurança: remédio constitucional destinado a tutelar direito líquido e certo não

amparado por HC ou HD – fazer cessar ou impedir abuso praticado por autoridade pública. Sempre

que envolver matéria trabalhista, será julgado pela JT – ex: MS impetrado contra ato do juiz

trabalhista no julgamento de uma causa ou contra auditor-fiscal do trabalho (atenção: não é o

sujeito, e sim a natureza da matéria que determina a competência da JT);

Habeas Corpus: remédio constitucional destinado a fazer cessar ou impedir ameaça ao direito de

locomoção de alguém. Sempre que envolver matéria trabalhista, será julgado pela JT – ex: prisão

do depositário infiel dos bens da empresa, determinada por juiz do trabalho.

Habeas Data: remédio constitucional destinado a tomar conhecimento ou retificar as informações

pessoais, constantes nos registros e bancos de dados de órgãos públicos. Sempre que envolver

matéria trabalhista, será julgado pela JT – ex: negativa de informações por órgãos da JT, ou do

MTE.

V - Conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista

Compete à própria JT resolver conflitos de competência: assim, se duas varas do trabalho

(ou juízes de direito investidos na jurisdição trabalhista) se julgam incompetentes para a apreciação

de determinada causa, quem solucionará o conflito será o TRT respectivo. O conflito será

apreciado pelo TST quando suscitado entre TRTs, varas do trabalho e juízes de direito investido na

jurisdição trabalhista vinculados a tribunais de diferentes regiões.

EXCEÇÕES: conflito de competência entre órgãos de tribunais quando um deles não pertence à

JT e nem está investido de jurisdição trabalhista – competência será do STJ (art. 105, I, d da

CF/88) + conflito de competência entre tribunais superiores – competência será do STF (art. 102, I,

o da CF/88).

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ATENÇÃO: Não há conflito de competência entre órgãos que tenham relação hierárquica (ex.:

TRT e Vara do Trabalho). Nesse sentido, a Súmula nº 420 do TST:

SUM-420, TST. COMPETÊNCIA FUNCIONAL. CONFLITO NEGATIVO. TRT

E VARA DO TRABALHO DE IDÊNTICA REGIÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO

Não se configura conflito de competência entre Tribunal Regional do Trabalho e

Vara do Trabalho a ele vinculada.

VI - Ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho

Mesmo anteriormente à EC-45, entendia-se que a JT era competente para julgar ações de

indenização decorrentes da relação de emprego (e.g., alegação de assédio moral). Com a alteração

constitucional, esse procedimento restou legitimado e ampliado para abarcar também as relações de

trabalho. Veja-se a Súmula 392 do TST, que pacificou o tema:

SUM-392 DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Nos termos do art. 114 da CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para

dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando decorrente

da relação de trabalho.

Questão importante refere-se às ações de indenização decorrentes de acidentes de trabalho,

que restou pacificada na Súmula Vinculante nº 22 do STF:

Súmula Vinculante nº 22, STF: A Justiça do Trabalho é competente para

processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais

decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador,

inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau

quando da promulgação da Emenda Constitucional no 45/04.

A Súmula consolida mudança de posicionamento na jurisprudência do STF, que sempre

adotou o entendimento de que as ações de indenização envolvendo acidentes de trabalho eram de

competência da justiça comum (Justiça Estadual – art. 109, I, CF/88).

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Porém, com a promulgação da Súmula, hoje as ações propostas por empregados em

relação a seus empregadores são de competência da JT, por força do art. 114 da CF/88 (apenas

permanecem na Justiça Comum as ações dirigidas ao INSS).

No que tange, de outra parte, às ações em trâmite, a Súmula determinou o envio à JT

apenas daquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da

promulgação da EC-45.

Exemplo de ação de indenização movida pelo empregado contra o empregador pode ser o

pedido de pagamento de pensão mensal em decorrência do acidente. A esse respeito, ressalte que a

OJ-SDI1-26 do TST já previa, mesmo antes da Súmula Vinculante do STF, a competência da JT

para apreciar pedido de complementação de pensão postulada por viúva de ex-empregado.

VII - Ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores

Também representa ampliação sensível da competência.

Penalidades administrativas são impostas às empresas pelos órgãos do MTE (SRTE e

respectivos auditores-fiscais do trabalho).

Todos os questionamentos relativos a essas penalidades (quer antes da declaração de

subsistência do auto ou depois) serão endereçados à JT, inclusive a execução fiscal da dívida

(CUIDADO: aqui também se aplica marco temporal da EC-45).

Grande exemplo são MS para impedir depósito recursal, ações anulatórias de autos de

infração por vício formal, etc.

OBS: A respeito do MS para impedir depósito recursal, cf. a Súmula nº 424 do TST, que entendeu

não recepcionado pela CF/88 o §1º do art. 636 da CLT:

SUM-424, TST. RECURSO ADMINISTRATIVO. PRESSUPOSTO DE

ADMISSIBILI-DADE. DEPÓSITO PRÉVIO DA MULTA

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ADMINISTRATIVA. NÃO RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

DO § 1º DO ART. 636 DA CLT

O §1º do art. 636 da CLT, que estabelece a exigência de prova do depósito

prévio do valor da multa cominada em razão de autuação administrativa como

pressuposto de admissibilidade de recurso administrativo, não foi recepcionado

pela Constituição Federal de 1988, ante a sua incompatibilidade com o inciso LV

do art. 5º.

VIII - execução, de ofício, de contribuições sociais

Medida de economia processual, implementada já em 1998.

Se a JT analisa causas envolvendo empregado e empregador, contribuintes obrigatórios da

Previdência Social, é natural que incidam contribuições previdenciárias sobre suas decisões.

Assim, está autorizada a executar, de ofício, contribuições das empresas incidentes sobre a folha de

salários e dos trabalhadores.

Problema: forma da execução favorece muito o INSS, que apenas deve concordar ou não

com os cálculos apresentados no processo trabalhista. Ademais, por conta da possibilidade de este

órgão ingressar com recurso da decisão do juiz que homologa os cálculos, o processo pode se

estender. No caso de acordo, ainda, as partes vão discriminar quais as parcelas salariais e parcelas

indenizatórias – se o INSS não concordar, provavelmente vai recorrer, e o processo que já estava,

em tese, acabado continuará.

IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.

Aparentemente, está fora de lugar, já que o inciso I já diz que compete à JT julgar ações

oriundas da relação de trabalho, de maneira geral. Trata-se de resquício histórico do texto anterior,

em que a competência básica da JT era julgar a relação de emprego – mas outros conflitos

decorrentes da relação de trabalho poderiam ser inseridos na competência da JT, se previstos em lei

(e.g., trabalhador avulso, trabalhador temporário).

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C. COMPETÊNCIA TERRITORIAL (EX RATIONE LOCI)

Uma vez identificada a competência material da Justiça do Trabalho, é preciso determinar o

local de processamento da causa – daí a competência territorial, que encontra previsão no art. 651

da CLT:

Art. 651, CLT - A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é

determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado,

prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou

no estrangeiro.

§ 1º - Quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a competência

será da Junta da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o

empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Junta da

localização em que o empregado tenha domicílio ou a localidade mais próxima.

§ 2º - A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabelecida neste

artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro,

desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional

dispondo em contrário.

§ 3º - Em se tratando de empregador que promova realização de atividades fora

do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado apresentar

reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação dos

respectivos serviços.

Regra fundamental: competência se dá em razão do último local da prestação de serviços,

ainda que a contratação tenha ocorrido em outro local.

Hipóteses específicas:

§1°: agente ou viajante comercial – competência é da Vara da localidade à qual está

vinculado à empresa ou, na falta desta vinculação, vara da localidade em que ele tenha domicílio

ou a mais próxima de seu domicílio.

§2°: dissídios ocorridos no estrangeiro – competência da JT (desde que o empregado seja

brasileiro e não haja tratado ou acordo internacional dispondo em contrário – independentemente

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da nacionalidade do empregador), mas com aplicação da lei do local da prestação de serviços.

Súmula 207, TST:

SUM-207 CONFLITOS DE LEIS TRABALHISTAS NO ESPAÇO. PRINCÍPIO

DA "LEX LOCI EXECUTIONIS"

A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de

serviço e não por aquelas do local da contratação.

Doutrina e jurisprudência divergem quanto à Vara competente no Brasil; porém, prevalece

o entendimento de que o trabalhador poderá escolher entre a Vara da localidade em que foi

assinado o contrato, em que se situa a filial da empresa no Brasil ou de seu domicílio. Ainda, pode

optar por ingressar com a ação diretamente no estrangeiro, se preferir.

§3°: empregador que realiza atividades fora do local da contratação – no caso de empresa

itinerante, empregado pode escolher foro para apresentação da reclamação trabalhista, se da

celebração do contrato ou da última prestação de serviços (ex.: circo). Hoje também aplicado ao

empregado que se desloca, e não apenas à empresa.

OBS: Não se admite eleição de foro no direito do trabalho, pois norma do art. 651 é de ordem

pública.

D. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA PESSOA (EX RATIONE PERSONAE)

No direito processual do trabalho, a maior expressão dessa competência encontra-se no

julgamento de Mandados de Segurança – já que a competência é determinada a partir da

autoridade coatora. Assim:

1. MS impetrado contra auditor-fiscal do trabalho: Vara do Trabalho

2. MS impetrado contra juiz do trabalho (Vara ou TRT): TRT correspondente

3. MS impetrado contra Ministro do Trabalho ou ministro do TST: TST

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OBS: Parte da doutrina associa a competência em relação às pessoas aos sujeitos das causas de

competência da justiça do trabalho (assim, e.g., empregado e empregador, excluídos funcionários

públicos). Tal entendimento, entretanto, não se coaduna com a acepção teórica da competência ex

ratione personae, i.e., competência específica de julgamento determinada por força da qualidade do

sujeito envolvido no conflito.

E. COMPETÊNCIA FUNCIONAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Para conhecer a fundo a competência funcional da Justiça do Trabalho, é preciso estudar os

regimentos internos de seus tribunais. Portanto, apontaremos abaixo apenas os casos de

competência funcional mais pedidos em concursos.

• DISSÍDIOS COLETIVOS: competência originária do TRT ou do TST, dependendo

da abrangência do conflito (abrangência da base territorial do sindicato envolvido).

Será competência do Pleno ou, se houver, da Seção Especializada em Dissídios

Coletivos.

• INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA: competência

originária do Pleno do TST. Destinado a pacificar determinada questão trabalhista,

mediante promulgação de Súmula ou Orientação Jurisprudencial.

• AÇÕES RESCISÓRIAS: competência originária do TRT ou do TST, dependendo

da proveniência da decisão que será revista. Destinada a rever decisão já transitada

em julgado. Como regra, compete ao pleno do TRT o julgamento de ação rescisória

das decisões das Varas, dos juízes de direito investidos de jurisdição trabalhista, das

turmas e de seus próprios acórdãos. No TST, compete à SBDI-2 ou à SDC julgar

ações rescisórias propostas contra decisões de turmas do TST e de suas próprias

decisões (a depender da natureza do conflito, se individual ou coletivo).

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• MANDADOS DE SEGURANÇA E CONFLITOS DE COMPETÊNCIA: conforme

regras acima mencionadas.

• AÇÃO DE CUMPRIMENTO: competência da Vara do Trabalho. Ação destinada a

compelir o empregador a cumprir determinada cláusula de convenção ou acordo

coletivo.

• AÇÃO CIVIL PÚBLICA: competência da Vara do Trabalho. Destinada a tutelar

interesses transindividuais.

F. COMPETÊNCIA NORMATIVA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Prerrogativa da Justiça do Trabalho de estabelecer novas condições de trabalho, no

julgamento de dissídio coletivo do trabalho – em última análise, a JT exerce função legislativa

(fato que costuma ser severamente criticado pela doutrina).

Hoje, o poder normativo é regulado pelo §2º do art. 114 da CF/88:

§ 2º - Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem,

é facultado às mesmas (sic), de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de

natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito,

respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as

convencionadas anteriormente.

O poder normativo é previsto pela primeira vez na CF/46, tendo por objetivo inibir a luta

entre classes, em razão da proibição da greve. Nessa ocasião, atribui-se à lei a competência para

estabelecer limites do poder normativo (a qual, entretanto, nunca foi promulgada).

Atualmente, o poder normativo é criticado por enfraquecer a atuação do sindicato (que fica

“acomodado” com a possibilidade de qualquer litígio ser resolvido pela JT). Por isso, houve nítida

tentativa da EC 45/2004 em reduzir a amplitude de tal poder.

Aspectos relevantes:

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- Recusa à negociação coletiva ou arbitragem: dissídio só pode ser proposto após esgotadas

todas as tentativas de solução negociada pelas partes. Deve-se demonstrar que houve tentativa de

negociação infrutífera. Nesse sentido:

Art. 616, CLT

§ 4º - Nenhum processo de dissídio coletivo de natureza econômica será admitido

sem antes se esgotarem as medidas relativas à formalização da Convenção ou

Acordo correspondente.

- Comum acordo (pleonasmo?): partes devem chegar a um consenso para levar o dissídio à

JT. Questionamentos em doutrina e jurisprudência sobre a constitucionalidade de tal dispositivo

(violação ao acesso à justiça? – art. 5º, XXXV, CF/88) – ADIN pendente de julgamento no STF.

Na prática, muitos tribunais têm simplesmente ignorado tal exigência – a ação de dissídio coletivo

transforma-se em via arbitral institucional.

- Respeito às disposições mínimas e às convencionadas anteriormente: disposições

envolvendo direitos indisponíveis do trabalhador ou cláusulas já existentes no instrumento coletivo.

Ademais, nos termos da Súm. 190 do TST, “ao julgar ou homologar ação coletiva ou acordo nela

havido, o Tribunal Superior do Trabalho exerce o poder normativo constitucional, não podendo

criar ou homologar condições de trabalho que o Supremo Tribunal Federal julgue iterativamente

inconstitucionais”.

A sentença normativa pode ser considerada uma fonte heterônoma de direito do trabalho,

de natureza estatal. Questiona-se, porém, se se trata de ato jurisdicional ou legislativo (natureza

jurídica). Segundo Carnelutti, a decisão normativa tem alma de lei e corpo de sentença – portanto,

é dotada de natureza híbrida. Para outros autores, entretanto, tem natureza jurisdicional, já que

depende de uma provocação, de uma pretensão resistida.

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Problemas:

- Vedação à atividade legislativa pelo Poder Judiciário, em razão da Separação de Poderes?

Há limitação do conteúdo das sentenças normativas: poder normativo não pode ser

exercido onde não houver previsão legal para tanto – só pode disciplinar o que já está previsto na

lei (não pode, e.g., criar uma nova estabilidade, ou estabelecer a obrigação de a empresa avisar por

escrito a dispensa do empregado (segundo entendimento do STF).

Assim, o poder normativo atua no espaço em branco deixado pela lei – não poderá, jamais,

contrariar a legislação em vigor, mas poderá complementá-la. Daí a CF/88 fazer menção à

necessidade de se respeitarem “as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como

as convencionadas anteriormente”.

Em outros países (e.g., México), JT pode interferir em questões relevantes da própria

organização empresarial (como, e.g., no número de empregados).

- Intuito de pacificação social

Justificado quando o Estado tentava trazer o sindicato para junto de si e evitar as greves – e

agora? Como hoje a greve é permitida, autores defendem a revogação do poder normativo.

OBS: Não se reconhece o direito de o servidor público ajuizar dissídio coletivo de natureza

econômica para discutir reajustes salariais. Isso porque, segundo os artigos 37, caput e incisos X,

XI, XII e XIII e 39, §3ª da CF/88, a Administração Pública direta, autárquica ou fundacional só

pode conceder vantagem ou aumento de remuneração, a qualquer título, ao seu pessoal, mediante

autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias e prévia dotação orçamentária, nos

limites previstos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Nesse sentido, a OJ-SDC-5, TST:

OJ-SDC-5. DISSÍDIO COLETIVO CONTRA PESSOA JURÍDICA DE

DIREITO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA. Aos servidores

públicos não foi assegurado o direito ao reconhecimento de acordos e

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convenções coletivos de trabalho, pelo que, por conseguinte, também não lhes é

facultada a via do dissídio coletivo, à falta de previsão legal.

Admite-se, tão somente, o ajuizamento de dissídio coletivo para discussão de cláusulas

sociais.

3. ATOS, TERMOS E PRAZOS PROCESSUAIS

Ato processual é todo ato jurídico, praticado pelas partes, juiz e órgãos auxiliares da

justiça, no curso do processo. Ex: petição inicial, contestação, ata da audiência, sentença, etc.

Art. 770, CLT: Os atos processuais são públicos e praticados em dias úteis, das 6h às 20h.

Mediante a autorização do juiz, porém, é possível a prática de atos fora desse horário (e.g., perícia

em empresa com atividade noturna). É possível, ainda, seja decretado o segredo de justiça em

relação a determinado processo (e.g., se este pode expor a parte a procedimento vexatório –

assédio moral, dispensa discriminatória, etc).

Art. 770, CLT - Os atos processuais serão públicos salvo quando o contrário

determinar o interesse social, e realizar-se-ão nos dias úteis das 6 (seis) às 20

(vinte) horas.

OBS: Segundo o par. un. do art. 770 da CLT, “A penhora poderá realizar-se em domingo ou dia

feriado, mediante autorização expressa do juiz ou presidente”.

Termo processual é a redução a escrito do ato processual (e.g., termo de audiência,

reclamação verbal reduzida a termo, etc). Segundo a CLT, podem ser feitos a tinta, datilografados

ou a carimbo:

Art. 771, CLT - Os atos e termos processuais poderão ser escritos a tinta,

datilografados ou a carimbo.

Porém, embora não haja omissão da CLT, é razoável concluir-se pela aplicação do art. 170

do CPC para realização dos atos por outros meios idôneos, como estenotipia, computador, etc.

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Acerca dos termos que devem ser assinados pelas partes, dispõe o art. 772:

Art. 772, CLT - Os atos e termos processuais, que devam ser assinados pelas

partes interessadas, quando estas, por motivo justificado, não possam fazê-lo,

serão firmados a rogo, na presença de 2 (duas) testemunhas, sempre que não

houver procurador legalmente constituído.

Ainda, dispõe o art. 773 da CLT que os termos relativos ao andamento dos processos

corresponderão a simples notas:

Art. 773, CLT - Os termos relativos ao movimento dos processos constarão de

simples notas, datadas e rubricadas pelos secretários ou escrivães

Prazos processuais são o período de tempo em que o ato processual deve ser praticado.

Podem ser:

a. Legais: fixados em lei. E.g., prazo unificado dos recursos trabalhistas (8 dias).

b. Judiciais: fixados pelo juiz. E.g., prazo maior para elaboração de um laudo complexo.

c. Convencionais: convencionados pelas partes. E.g., suspensão do processo para tentativa

de acordo, que não pode exceder 6 meses (art. 265, II e §3º do CPC).

Na inexistência de prazo expresso ou determinado pelo juiz, este será de 5 dias.

a. Peremptórios: não podem ser prorrogados pela vontade das partes (e.g., prazo para

recursos). Em situações extremas, poderão ser prorrogados pelo juiz (art. 182, CPC: em

comarcas de difícil transporte, o juiz pode prorrogar os prazos, mas nunca por mais de

60 dias; art. 182, parágrafo único, CPC: em casos de calamidade pública, pode ser

excedido tal limite; art. 183, CPC: se a parte provar que não realizou o ato por justa

causa, o juiz poderá abrir novo prazo).

b. Dilatórios: prorrogação é feita conforme a vontade do juiz, a partir de requerimento das

partes (e.g., laudo pericial complexo).

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a. Próprios: se não observados, implicam perda do direito de praticar ato (e.g., perda do

prazo para recurso implica perda do próprio direito de interpor o recurso).

b. Impróprios: ainda que não observados, não há consequências processuais (e.g., prazo

para manifestação do MPT).

Os prazos iniciam a partir da data em que for feita pessoalmente, ou recebida a notificação,

ou da publicação do edital (art. 774, CLT). Para a contagem do prazo, há a exclusão do dia do

começo e a inclusão do dia do vencimento – como no CPC. Ademais, se os prazos iniciam-se ou

acabam em dia não útil, prorrogam-se para o primeiro dia útil subseqüente.

Art. 775, CLT - Os prazos estabelecidos neste Título contam-se com exclusão do

dia do começo e inclusão do dia do vencimento, e são contínuos e irreleváveis,

podendo, entretanto, ser prorrogados pelo tempo estritamente necessário pelo juiz

ou tribunal, ou em virtude de força maior, devidamente comprovada.

Parágrafo único - Os prazos que se vencerem em sábado, domingo ou dia feriado,

terminarão no primeiro dia útil seguinte

Entre os dias 20/12 e 06/01, ocorre o recesso da Justiça do Trabalho. Nesse período, os

prazos processuais permanecem suspensos, a teor da Súmula 262, II, do TST:

SÚMULA 262, TST: PRAZO JUDICIAL. NOTIFICAÇÃO OU INTIMAÇÃO EM

SÁBADO. RECESSO FORENSE.

I - Intimada ou notificada a parte no sábado, o início do prazo se dará no primeiro

dia útil imediato e a contagem, no subseqüente.

II - O recesso forense e as férias coletivas dos Ministros do Tribunal Superior do

Trabalho (art. 177, § 1º, do RITST) suspendem os prazos recursais.

OBS1: Se a notificação for recebida no sábado, a teor da Súm. 262, I, o prazo iniciar-se-á no

primeiro dia útil imediato (segunda) e a contagem no subsequente (terça).

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OBS2: Não há prazo em dobro para litigantes com diferentes procuradores, conforme entende o

TST:

OJ-SDI1-310, TST. LITISCONSORTES. PROCURADORES DISTINTOS.

PRAZO EM DOBRO. ART. 191 DO CPC. INAPLICÁVEL AO PROCESSO DO

TRABALHO

A regra contida no art. 191 do CPC é inaplicável ao processo do trabalho, em

decorrência da sua incompatibilidade com o princípio da celeridade inerente ao

processo trabalhista.

No caso da Administração Pública, o prazo é contado em quádruplo para contestar e em

dobro para recorrer. Esse prazo se aplica à União, Estados, Municípios, DF e autarquias e

fundações que não explorem atividades econômicas – em relação a empresas públicas ou

sociedades de economia mista, o prazo será normal (Decreto-Lei nº 779/69).

É necessário haver a comunicação dos atos processuais. A CLT usa indistintamente a

palavra “notificação” para se referir tanto à citação (chama o réu ao processo para se defender)

quanto à intimação (dá-se ciência às partes dos termos do processo).

As comunicações no processo do trabalho são feitas pelo correio – não há exigência de

comunicação pessoal. Expedida a notificação, presume-se seu recebimento em 48h, cabendo à

parte fazer prova em contrário, conforme Súmula nº 16 do TST:

SUM-16, TST. NOTIFICAÇÃO.

Presume-se recebida a notificação 48 (quarenta e oito) horas depois de sua

postagem. O seu não-recebimento ou a entrega após o decurso desse prazo

constitui ônus de prova do destinatário.

Apresentada a reclamação trabalhista, a citação do reclamado é automática – feita pela

Secretaria da vara no prazo de 48h a partir do recebimento da reclamação (não é necessário o

despacho do juiz). No mais, estabelece o art. 841 da CLT que, entre a data do recebimento da

citação e a da realização da audiência, deve haver um prazo mínimo de 5 dias:

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Art. 841, CLT - Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou secretário,

dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da petição, ou do

termo, ao reclamado, notificando-o ao mesmo tempo, para comparecer à audiência

do julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de 5 (cinco) dias.

§ 1º - A notificação será feita em registro postal com franquia. Se o reclamado

criar embaraços ao seu recebimento ou não for encontrado, far-se-á a notificação

por edital, inserto no jornal oficial ou no que publicar o expediente forense, ou, na

falta, afixado na sede da Junta ou Juízo.

Se frustrada a citação pelo correio, parte-se imediatamente à citação por edital (Art.

841,§1º, CLT). Não existe citação por hora certa no processo do trabalho. Portanto, as

hipóteses de utilização do Oficial de Justiça para realização de notificações são reduzidíssimas

(ex.: citação no processo de execução – art. 880, §2º, CLT; citação do MPT – art. 84 da LC nº

75/93).

No caso de distribuição por dependência, a citação não é automática, pois o juiz deve se

manifestar sobre a distribuição.

OBS: É possível a comunicação de atos processuais por fax, desde que apresentados os originais

em 5 dias, conforme dispõe a Súm. 387, TST:

SÚMULA 387, TST. RECURSO. FAC-SÍMILE. LEI Nº. 9.800/1999

I – A lei nº. 9.800/1999 é aplicável somente a recursos interpostos após o início de

sua vigência.

II – A contagem do qüinqüídio para a apresentação dos originais de recurso

interposto por intermédio de fac-símile começa a fluir do dia subseqüente ao

término do prazo recursal, nos termos do art. 2º da Lei 9.800/99, e não do dia

seguinte à interposição do recurso, se esta se deu antes do termo final do prazo.

III – Não se tratando a juntada dos originais de ato que dependa de notificação,

pois a parte, ao interpor o recurso, já tem ciência de seu ônus processual, não se

aplica a regra do art. 184 do CPC quanto ao dies a quo, podendo coincidir com o

sábado, domingo ou feriado.

IV – A autorização para utilização do fac-símile, constante do art. 1º da Lei n.º

9.800/1999, somente alcança as hipóteses em que o documento é dirigido

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diretamente ao órgão jurisdicional, não se aplicando à transmissão ocorrida entre

particulares.

(OBS: Súmula alterada em 2011)

Ademais, também é admitida a transmissão eletrônica de petições, por meio do E-DOC

ou SISDOC. Nesse caso, não é preciso entregar os originais. Finalmente, por força da Lei nº

11.419/06, permite-se a utilização de assinatura eletrônica e a criação de Diários de Justiça

eletrônicos com intimações feitas por meio eletrônico.

A CLT é omissa no caso de comunicação processual por carta (feita em relação à pessoa

que se encontra fora da jurisdição da Vara) – assim, aplica-se o CPC, admitindo-se:

• Carta de ordem: de um juiz hierarquicamente superior a outro, determinando o

cumprimento de algum ato;

• Carta rogatória: comunicação processual dirigida a autoridade estrangeira;

• Carta precatória: citação ou prova devem ser feitas fora do juízo.

4. DISTRIBUIÇÃO

Ato pelo qual é designado o órgão jurisdicional responsável pelo julgamento de

determinado feito. Existe apenas nas localidades com mais de uma vara trabalhista ou juízo de

direito.

A CLT estabelece, no art. 783, que a distribuição será feita pela ordem rigorosa de sua

apresentação. Entretanto, tal procedimento – por ser propício a fraudes – foi abandonado pelas

principais varas trabalhistas, efetuando-se a distribuição por sorteio.

É admissível a distribuição por dependência, nos termos do art. 253 do CPC:

Art. 253, CPC. Distribuir-se-ão por dependência as causas de qualquer natureza:

I - quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada;

II - quando, tendo sido extinto o processo, sem julgamento de mérito, for reiterado

o pedido, ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que sejam

parcialmente alterados os réus da demanda;

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III - quando houver ajuizamento de ações idênticas, ao juízo prevento.

No caso de distribuição por dependência, a citação não é automática, pois o juiz deve se

manifestar sobre distribuição.

A reclamação será registrada em livro próprio (art. 834, CLT), fornecendo o distribuidor,

ao interessado, recibo com informações sobre o processo e a distribuição (art. 835, CLT –

normalmente, substituído pela cópia da petição inicial).

Efeitos da distribuição

Como a citação no processo do trabalho é automática, a distribuição representa o início da

ação – portanto, esta torna litigiosa a coisa, gerando os seguintes efeitos: prevenção do juízo,

indução da litispendência, interrupção da prescrição (que retroagirá à data da propositura da

ação) e constituição do devedor em mora (art. 219 do CPC)

ATENÇÃO: Segundo entendimento do TST, não é admissível o reconhecimento de ofício, pelo

órgão julgador, da prescrição trabalhista, em razão da natureza alimentar que reveste os créditos

nela envolvidas (diferentemente da previsão contida no §5º do art. 219 do CPC). Veja-se, a

respeito, a Súmula nº 153 do TST:

SUM-153 PRESCRIÇÃO

Não se conhece de prescrição não argüida na instância ordinária

Ainda, colacione-se julgado do TST a respeito do tema:

“PRESCRIÇÃO. DECLARAÇÃO DE OFÍCIO. INCOMPATIBILIDADE COM

O PROCESSO DO TRABALHO. A prescrição consiste na perda da ação (no

sentido material) para o titular de um direito, em virtude do esgotamento do

prazo para seu exercício. Nesse contexto, não se mostra compatível com o

processo do trabalho a nova regra processual inserida no art. 219, § 5º, do CPC,

que determina a aplicação da prescrição, de ofício, em face da natureza

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alimentar dos créditos trabalhistas. E manifesta a incompatibilidade do novo

dispositivo com a ordem justrabalhista (arts. 8º. e 769 da CLT). É que, ao

determinar a atuação judicial em franco desfavor dos direitos sociais laborativos,

a novel regra civilista entra em choque com vários princípios constitucionais,

como da valorização do trabalho e do emprego, da norma mais favorável e da

submissão da propriedade à sua função socioambiental, além do próprio

princípio da proteção”.

(TST – (RR-88700-18.2008.5.05.0612) – 6ª Turma – Rel. Min. Mauricio Godinho

Delgado – DJ em 10.02.2011, p. 899-900.)

5. CUSTAS E EMOLUMENTOS

São valores pagos pelas partes em decorrência da utilização, no processo, do aparato

estatal. As custas são regidas pelo art. 789 da CLT, e aplicam-se a todos os processos de

competência da JT (os emolumentos vêm previstos no art. 789-B da CLT, sendo de

responsabilidade do requerente):

Art. 789, CLT. Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas

ações e procedimentos de competência da Justiça do Trabalho, bem como nas

demandas propostas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição

trabalhista, as custas relativas ao processo de conhecimento incidirão à base de

2% (dois por cento), observado o mínimo de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro

centavos) e serão calculadas:

I – quando houver acordo ou condenação, sobre o respectivo valor;

II – quando houver extinção do processo, sem julgamento do mérito, ou julgado

totalmente improcedente o pedido, sobre o valor da causa;

III – no caso de procedência do pedido formulado em ação declaratória e em ação

constitutiva, sobre o valor da causa;

IV – quando o valor for indeterminado, sobre o que o juiz fixar.

§ 1o As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da decisão. No

caso de recurso, as custas serão pagas e comprovado o recolhimento dentro do

prazo recursal.

§ 2o Não sendo líquida a condenação, o juízo arbitrar-lhe-á o valor e fixará o

montante das custas processuais.

§ 3o Sempre que houver acordo, se de outra forma não for convencionado, o

pagamento das custas caberá em partes iguais aos litigantes.

§ 4o Nos dissídios coletivos, as partes vencidas responderão solidariamente pelo

pagamento das custas, calculadas sobre o valor arbitrado na decisão, ou pelo

Presidente do Tribunal.

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As custas serão calculadas à base de 2% sobre as ocorrências mencionadas no artigo,

respeitado o valor mínimo de R$10,64:

Ocorrência Base de cálculo

Acordo Valor do acordo

Condenação Valor da condenação

Improcedência total do pedido Valor da causa

Extinção sem julgamento do mérito Valor da causa

Procedência de pedido formulado em ação

declaratória ou constitutiva

Valor da causa

Valor indeterminado Valor que o juiz fixar

As custas serão pagas pelo vencido (ATENÇÃO: empregado somente é vencido se sua

pretensão é julgada totalmente improcedente – não se aplica o art. 21 do CPC, que trata da

proporcionalidade da condenação ao pagamento de custas) ou, no caso de acordo, igualmente pela

partes (salvo disposição em contrário).

Época de pagamento: trânsito em julgado da decisão ou antes da interposição de recurso.

No caso de recurso, o prazo para pagamento das custas é contado da intimação do cálculo (Súm.

53, TST).

Se a parte é beneficiária da justiça gratuita, estará dispensada do pagamento de custas.

Ademais, são isentos do pagamento de custas: União, Estados, Distrito Federal, Municípios e

respectivas autarquias e fundações públicas federais, estaduais ou municipais que não explorem

atividade econômica (não o são as sociedades de economia mista e empresas públicas – Súm. 170,

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TST), assim como o MPT. Não o são, porém, as entidades fiscalizadoras do exercício profissional.

Nesse sentido, o art. 790-A da CLT:

Art. 790-A, CLT. São isentos do pagamento de custas, além dos beneficiários de

justiça gratuita:

I – a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e respectivas

autarquias e fundações públicas federais, estaduais ou municipais que não

explorem atividade econômica;

II – o Ministério Público do Trabalho.

Parágrafo único. A isenção prevista neste artigo não alcança as entidades

fiscalizadoras do exercício profissional, nem exime as pessoas jurídicas referidas

no inciso I da obrigação de reembolsar as despesas judiciais realizadas pela

parte vencedora.

Nos dissídios coletivos, as partes vencidas respondem solidariamente pelo pagamento das

custas.

Nas ações plúrimas, as custas incidem sobre o valor global da ação (Súm. 36, TST).

As custas na execução vêm previstas no art. 789-A e serão a seguir analisadas.

Ademais, se a parte é vencedora em primeira instância e vencida na segunda, deverá pagar

as custas, independentemente de intimação (mesmo já tendo essas sido pagas pelo vencido em

primeira instância):

SUM-25 CUSTAS

A parte vencedora na primeira instância, se vencida na segunda, está obrigada,

independentemente de intimação, a pagar as custas fixadas na sentença originária,

das quais ficará isenta a parte então vencida.

Porém, veja-se a redação da OJ-SDI1:

OJ-SDI1-186 CUSTAS. INVERSÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. DE-

SERÇÃO. NÃO-OCORRÊNCIA

No caso de inversão do ônus da sucumbência em segundo grau, sem acréscimo ou

atualização do valor das custas e se estas já foram devidamente recolhidas,

descabe um novo pagamento pela parte vencida, ao recorrer. Deverá ao final, se

sucumbente, ressarcir a quantia.

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6. NULIDADES

Nulidade é sanção que priva o ato jurídico de seus efeitos normais, caso este detenha

alguma irregularidade que impeça sua validade.

Os atos podem ser absoluta ou relativamente nulos (anuláveis). A nulidade absoluta será

declarada quando o ato processual violar normas de ordem pública, caso em que poderá ser

declarada ex officio. Já a decretação de nulidade relativa dependerá de provocação das partes, pois

relacionada diretamente com seu interesse próprio.

Princípios gerais das nulidades no processo do trabalho

• Princípio da instrumentalidade das formas: ressalvados os casos expressos em lei, a

formalidade não é essencial para a validade do ato processual; portanto, se o ato atingir a

finalidade ainda que por meio diverso do previsto em lei, é considerado válido. Ex: réu não

é citado, mas comparece espontaneamente à audiência.

• Princípio do prejuízo ou da transcendência (pas de nullitè sans grief): não há decretação

de nulidade se o ato não causar prejuízo às partes (art. 794, CLT);

• Princípio do interesse de agir, no caso de nulidade relativa (e atuação ex officio no caso de

nulidade absoluta) (art. 795, CLT);

• Princípio do interesse: não pode a parte se valer da própria torpeza para arguir a nulidade a

que deu causa (art. 796, b, CLT);

• Princípio da lealdade processual: parte deve argüir a nulidade no primeiro momento em

que tiver de se manifestar nos autos (art. 795, CLT).

• Princípio da economia processual: serão anulados apenas atos que não podem ser

aproveitados, e não todo o processo (art. 797, CLT);

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• Princípio da utilidade: nulidade prejudicará apenas atos posteriores que dele dependam ou

sejam conseqüência (art. 798, CLT);

• Princípio da conversão: nulidade somente será declarada se não for possível supri-la (art.

796, a, CLT)

OBS: Aplica-se, aqui, subsidiariamente o §4º do art. 515 do CPC:

Art. 515, § 4º, CPC. Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal

poderá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as

partes; cumprida a diligência, sempre que possível prosseguirá o julgamento da

apelação.

Vejamos a aplicação de tais princípios na legislação trabalhista:

Art. 794 - Nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do Trabalho só haverá

nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuízo às partes

litigantes.

Art. 795 - As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das

partes, as quais deverão argüi-las à primeira vez em que tiverem de falar em

audiência ou nos autos.

§ 1º - Deverá, entretanto, ser declarada ex officio a nulidade fundada em

incompetência de foro. Nesse caso, serão considerados nulos os atos decisórios.

§ 2º - O juiz ou Tribunal que se julgar incompetente determinará, na mesma

ocasião, que se faça remessa do processo, com urgência, à autoridade competente,

fundamentando sua decisão.

Art. 796 - A nulidade não será pronunciada:

a) quando for possível suprir-se a falta ou repetir-se o ato;

b) quando argüida por quem lhe tiver dado causa.

Art. 797 - O juiz ou Tribunal que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela

se estende.

Art. 798 - A nulidade do ato não prejudicará senão os posteriores que dele

dependam ou sejam conseqüência.

1. PARTES E PROCURADORES. ASSISTÊNCIA. REPRESENTAÇÃO.

SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. JUS POSTULANDI.

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I. Partes e procuradores

Partes da reclamação trabalhista são reclamante (autor) e reclamado (réu) –

denominações vêm de uma tentativa de conferir autonomia ao DPT.

No dissídio coletivo, denominam-se suscitante e suscitado e, no inquérito para apuração de

falta grave, requerente e requerido. As demais denominações são as mesmas do processo em geral,

como agravante e agravado, excipiente e excepto, etc.

Capacidade de ser parte, capacidade processual e capacidade postulatória

Capacidade de ser parte é a possibilidade de ocupar um dos pólos de determinada relação

processual – para tanto, é suficiente que a pessoa seja dotada de personalidade jurídica.

Capacidade de estar em juízo (capacidade processual) é a possibilidade de praticar, por si

só, atos processuais, sem necessidade de assistência ou representação. Na JT, inicia-se aos 18 anos

(arts. 792 e 793, CLT):

Art. 792. Os maiores de 18 (dezoito) e menores de 21 (vinte e um) anos e as

mulheres casadas poderão pleitear perante a Justiça do Trabalho sem a assistência

de seus pais, tutores ou maridos.

Art. 793. A reclamação trabalhista do menor de 18 anos será feita por seus

representantes legais e, na falta destes, pela Procuradoria da Justiça do Trabalho,

pelo sindicato, pelo Ministério Público estadual ou curador nomeado em juízo

OBS: segundo alguns autores – que pautam seu entendimento no CC/2002 – até aos 16 anos, o

menor trabalhador será representado por seus pais ou tutores; porém, dos 16 aos 18 anos, será

apenas assistido. No segundo caso, o assistente apenas supre a deficiência da declaração de

vontade do assistido, mas não a substitui (simplesmente ratifica ou não sua declaração de vontade).

Capacidade postulatória é a possibilidade de manifestação processual qualificada – em

regra, é privativa de advogado inscrito na OAB. No processo do trabalho, entretanto, há relevante

exceção: o IUS POSTULANDI.

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IUS POSTULANDI

Direito de empregados e empregadores postularem em juízo sem o patrocínio de advogado.

Art. 791, CLT. Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente

perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final.

§ 1º - Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão fazer-se

representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou provisionado,

inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 2º - Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência por

advogado.

§ 3º - A constituição de procurador com poderes para o foro em geral poderá ser

efetivada, mediante simples registro em ata de audiência, a requerimento verbal do

advogado interessado, com anuência da parte representada.

Conforme visto anteriormente, referida prerrogativa suscita questionamentos:

• Art. 133 da CF/88 estabelece que advogado é indispensável à administração da justiça;

questionamentos foram agravados após promulgação do Estatuto da OAB (Lei nº

8.906/94). Porém, TST e STF (em ADIN) já se pronunciaram no sentido de que não foi

extinto o ius postulandi.

• Nos tribunais superiores (incluindo TST, por força de decisão de 2009), exige-se a

participação de advogado, vez que se trata de matéria estritamente jurídica. Veja-se, a

respeito, a Súmula nº 425 do TST:

SUM- 425 JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO. ALCANCE

O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas do

Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação

rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência

do Tribunal Superior do Trabalho.

• Também nos dissídios coletivos admite-se o ius postulandi, por força da redação do §2º do

art. 791 (“é facultada”);

• Embora possa acompanhar suas reclamações até o fim, à parte que se vale do ius postulandi

não assiste a prerrogativa de retirar os autos do cartório, pois esta é privativa de advogado;

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• Caso a parte opte pelo ius postulandi, é, ainda assim, admitida a constituição de advogado a

qualquer tempo. Nesse sentido, o §3º do art. 791 (inserido em 2011) estabelece que tal

constituição de tal procurador, com poderes para o foro em geral, pode ocorrer inclusive em

audiência, mediante simples registro em ata de audiência, a requerimento verbal do

advogado interessado, com anuência da parte representada.

Embora exista o ius postulandi na JT, as partes podem, se preferirem, fazer-se representar

por advogado. Nesse caso, devem ser observadas algumas peculiaridades:

• É admitido o mandato tácito: advogado que comparece à audiência e representa a

parte está apto a defender o seu cliente, embora sem procuração nos autos – a

regularização da representação processual deve ocorrer no prazo de 15 dias, nos

termos do art. 13 do CPC (CUIDADO: é diferente do mandato apud acta, conferido

pelo juiz em audiência). Importante, nesse tema, é a Súmula nº 383 do TST, que

veda a utilização do mandato tácito na fase recursal:

SUM-383, TST. MANDATO. ARTS. 13 E 37 DO CPC. FASE RECURSAL.

INAPLICABILIDADE

I - É inadmissível, em instância recursal, o oferecimento tardio de procuração, nos

termos do art. 37 do CPC, ainda que mediante protesto por posterior juntada, já

que a interposição de recurso não pode ser reputada ato urgente.

II - Inadmissível na fase recursal a regularização da representação processual, na

forma do art. 13 do CPC, cuja aplicação se restringe ao Juízo de 1º grau.

Ressalte-se que, segundo a OJ-SDI1-200, TST, é inválido o substabelecimento de

advogado investido de mandato tácito.

OJ-SDI1-200, TST. MANDATO TÁCITO. SUBSTABELECIMENTO

INVÁLIDO.

É inválido o substabelecimento de advogado investido de mandato tácito.

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• A juntada de nova procuração aos autos, sem mencionar os poderes conferidos ao

antigo advogado, implica revogação tácita do mandato anterior (OJ-SDI-I nº 349,

TST).

OJ-SDI1-349 MANDATO. JUNTADA DE NOVA PROCURAÇÃO. AUSÊNCIA

DE RESSALVA. EFEITOS

A juntada de nova procuração aos autos, sem ressalva de poderes conferidos ao

antigo patrono, implica revogação tácita do mandato anterior.

• Admite-se mandato com prazo determinado, estabelecendo a prevalência dos

poderes para atuar até o final da demanda (Súm. 395, I, TST) Ainda, acerca do

substabelecimento, duas regras importantes vêm previstas na Súm. 395 do TST:

SUM-395 MANDATO E SUBSTABELECIMENTO. CONDIÇÕES DE

VALIDADE

I - Válido é o instrumento de mandato com prazo determinado que contém cláusula

estabelecendo a prevalência dos poderes para atuar até o final da demanda.

II - Diante da existência de previsão, no mandato, fixando termo para sua juntada,

o instrumento de mandato só tem validade se anexado ao processo dentro do

aludido prazo.

III - São válidos os atos praticados pelo substabelecido, ainda que não haja, no

mandato, poderes expressos para substabelecer (art. 667, e parágrafos, do Código

Civil de 2002).

IV - Configura-se a irregularidade de representação se o substabelecimento é

anterior à outorga passada ao substabelecente.

• União, Estados, Municípios e Distrito Federal, suas autarquias e fundações públicas,

quando representados em juízo, ativa e passivamente, por seus procuradores, estão

dispensados da juntada de instrumento de mandato:

OJ-SDI1-52, TST. MANDATO. PROCURADOR DA UNIÃO, ESTADOS,

MUNICÍPIOS E DISTRITO FEDERAL, SUAS AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES

PÚBLICAS. DISPENSÁVEL A JUNTADA DE PROCURAÇÃO.

A União, Estados, Municípios e Distrito Federal, suas autarquias e fundações

públicas, quando representadas em juízo, ativa e passivamente, por seus

procuradores, estão dispensadas da juntada de instrumento de mandato.

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• Acerca da intimação, destaca-se a regra da Súmula 427 do TST:

SUM-427, TST. INTIMAÇÃO. PLURALIDADE DE ADVOGADOS.

PUBLICAÇÃO EM NOME DE ADVOGADO DIVERSO DAQUELE

EXPRESSAMENTE INDICADO. NULIDADE

Havendo pedido expresso de que as intimações e publicações sejam realizadas

exclusivamente em nome de determinado advogado, a comunicação em nome de

outro profissional constituído nos autos é nula, salvo se constatada a inexistência

de prejuízo.

(OBS: Súmula inserida em 2011)

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

Nos termos do art. 5º, LXXIV da CF/88, é direito fundamental do cidadão receber a

assistência judiciária integral e gratuita do Estado, desde que comprove insuficiência de recursos

para demandar perante o Judiciário:

Art. 5º, LXXIV, CF/88 - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita

aos que comprovarem insuficiência de recursos;

Tradicionalmente, a assistência judiciária é prestada pela Defensoria Pública. No direito

processual do trabalho, é característica a assistência gratuita prestada pelo sindicato, prevista na Lei

nº 5584/70.

Consiste no patrocínio gratuito, pelo sindicato, de causas envolvendo trabalhadores por ele

representados, associados ou não, desde que o empregado perceba salário igual ou inferior ao

dobro do mínimo legal ou, no caso de salário superior, declare que não tem condições de demandar

sem prejuízo de seu sustento próprio ou de sua família (arts. 14 e ss da Lei nº 5584/70) – OBS: o

critério é idêntico ao da concessão da justiça gratuita.

Trata-se de obrigação do sindicato, nos termos da Lei (diferentemente da substituição – a

seguir estudada –, que é facultativa). Entende-se que a contribuição sindical stricto sensu também

se destina a financiar referida prestação pelo sindicato:

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Art 14, L. 5584/70. Na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere

a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, será prestada pelo Sindicato da categoria

profissional a que pertencer o trabalhador.

§ 1º A assistência é devida a todo aquêle que perceber salário igual ou inferior ao

dôbro do mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de maior

salário, uma vez provado que sua situação econômica não lhe permite demandar,

sem prejuízo do sustento próprio ou da família.

§ 2º A situação econômica do trabalhador será comprovada em atestado fornecido

pela autoridade local do Ministério do Trabalho e Previdência Social, mediante

diligência sumária, que não poderá exceder de 48 (quarenta e oito) horas.

§ 3º Não havendo no local a autoridade referida no parágrafo anterior, o atestado

deverá ser expedido pelo Delegado de Polícia da circunscrição onde resida o

empregado (segundo a doutrina, tais dispositivos estão revogados em razão de a Lei

1060/50 prever, tão somente, a necessidade de comprovação da pobreza por meio

de declaração de pobreza – veja-se, a respeito, a OJ-SDI-304 do TST, a qual dita:

“Atendidos os requisitos da Lei nº 5.584/70 (art. 14, § 2º), para a concessão da

assistência judiciária, basta a simples afirmação do declarante ou de seu advogado,

na petição inicial, para se considerar configurada a sua situação econômica”).

Art. 18, L. 5584/70. A assistência judiciária, nos têrmos da presente lei, será

prestada ao trabalhador ainda que não seja associado do respectivo Sindicato.

O sindicato não é obrigado a prestar assistência judiciária gratuita ao empregador,

apenas ao empregado (e desde que comprove o preenchimento das condições acima). Porém, por

óbvio, nada impede de fazê-lo se desejar.

Não prestada a assistência judiciária, os diretores do sindicato podem sofrer aplicação de

multa, salvo se comprovadas dificuldades financeiras da entidade sindical:

Art 19, L. 5584/70. Os diretores de Sindicatos que, sem comprovado motivo de

ordem financeira, deixarem de dar cumprimento às disposições desta lei ficarão

sujeitos à penalidade prevista no art. 553, alínea a da Consolidação das Leis do

Trabalho.

Observe-se que a Lei nº 5584/70 não excluiu outras formas de prestação de assistência

judiciária gratuita, prevendo que, se na comarca não houver Vara do Trabalho ou Sindicato da

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categoria, a assistência será atribuída aos Promotores ou Defensores Públicos, sendo os honorários

revertidos ao Estado.

Art 17, L. 5584/70. Quando, nas respectivas comarcas, não houver Juntas de

Conciliação e Julgamento ou não existir Sindicato da categoria profissional do

trabalhador, é atribuído aos Promotores Públicos ou Defensores Públicos o

encargo de prestar assistência judiciária prevista nesta lei.

Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo, a importância proveniente da

condenação nas despesas processuais será recolhida ao Tesouro do respectivo

Estado.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Como regra geral, decorrem da sucumbência – a parte vencedora tem direito à reparação

dos valores gastos com a postulação judicial. No processo do trabalho, porém, prevalece

entendimento de que, em dissídios envolvendo relação de emprego, apenas são devidos se a parte

estiver assistida pelo sindicato profissional, nos termos da Lei 5584/70, e comprovar sua

miserabilidade (limitados a 15% do valor da condenação, nos termos da Lei 1.060/50 – não há

aplicação subsidiária do CPC).

SUM-219, TST. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. HIPÓTESE DE

CABIMENTO

I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários

advocatícios, nunca superiores a 15% (quinze por cento), não decorre pura e

simplesmente da sucumbência, devendo a parte estar assistida por sindicato da

categoria profissional e comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do

salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita

demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família.

II – É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação

rescisória no processo trabalhista.

III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical

figure como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de

emprego.

(OBS: Súmula alterada em 2011)

Da mesma forma, manifesta-se o STF com relação a RE interposto em processo trabalhista:

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STF Súmula nº 633 - Cabimento - Condenação em Verba Honorária - Recursos

Extraordinários - Interposição em Processo Trabalhista - Exceção

É incabível a condenação em verba honorária nos recursos extraordinários

interpostos em processo trabalhista, exceto nas hipóteses previstas na Lei 5.584/70.

Os honorários, pagos pelo vencido, reverterão em favor do sindicato que prestou a

assistência judiciária:

Art. 16, L. 5584/70. Os honorários do advogado pagos pelo vencido reverterão em

favor do Sindicato assistente.

Problema: após a caracterização, pela CF, do advogado como essencial à Justiça e o

surgimento do EAOAB (Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil),

questionamentos surgem em relação à Súm. 219 – especialmente porque os honorários visam a

remunerar os trabalhos prestados pelo advogado.

Segundo a Súmula 329 do TST (e jurisprudência pacífica dessa Corte), porém, permanece

válido o entendimento consubstanciado pela Súm. 219:

SUM-329 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ART. 133 DA CF/1988

Mesmo após a promulgação da CF/1988, permanece válido o entendimento

consubstanciado na Súmula nº 219 do Tribunal Superior do Trabalho.

II. Representação

Hipótese em que outra pessoa (representante) atua no processo em nome alheio e na defesa

de direito alheio.

OBS: Não há precisão terminológica ou tecnicidade jurídica na CLT quando esta se refere à

representação ou à assistência. As expressões são utilizadas indistintamente.

Além da hipótese de representação do menor, a representação no processo do trabalho vem

disciplinada pelo art. 843 da CLT:

Art. 843, CLT - Na audiência de julgamento deverão estar presentes o reclamante

e o reclamado, independentemente do comparecimento de seus representantes

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salvo, nos casos de Reclamatórias Plúrimas ou Ações de Cumprimento, quando os

empregados poderão fazer-se representar pelo Sindicato de sua categoria.

§ 1º - É facultado ao empregador fazer-se substituir pelo gerente, ou qualquer

outro preposto que tenha conhecimento do fato, e cujas declarações obrigarão o

proponente.

§ 2º - Se por doença ou qualquer outro motivo poderoso, devidamente comprovado,

não for possível ao empregado comparecer pessoalmente, poderá fazer-se

representar por outro empregado que pertença à mesma profissão, ou pelo seu

sindicato.

Assim:

1. Como regra geral, reclamante e reclamado devem comparecer, pessoalmente, à

audiência, independentemente da presença de seus representantes.

2. EXCEÇÃO: nas Reclamações Plúrimas e Ações de Cumprimento, a representação

do empregado pode ser feita pelo sindicato (especialmente importante nas hipóteses

em que há muitos reclamantes).

3. Caso o empregado não possa comparecer à audiência, por doença ou outro motivo

ponderoso, poderá enviar outro empregado em seu lugar, pertencente à mesma

profissão, ou o sindicato (objetivo: evitar o arquivamento da reclamação, e não

efetuar acordo, nem tomar ciência da data da próxima audiência – pois não há

verdadeira representação, apenas justificativa de não-comparecimento).

4. Empregador poderá se fazer substituir na audiência por preposto, desde que este

tenha conhecimento dos fatos (não necessariamente precisa estar na empresa à

época dos fatos – basta ter conhecimento). De suma importância, aqui, é a Súmula

nº 337 do TST:

SUM-377, TST. PREPOSTO. EXIGÊNCIA DA CONDIÇÃO DE EMPREGADO

Exceto quanto à reclamação de empregado doméstico, ou contra micro ou pequeno

empresário, o preposto deve ser necessariamente empregado do reclamado.

Inteligência do art. 843, § 1º, da CLT e do art. 54 da Lei Complementar nº 123, de

14 de dezembro de 2006.

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OBS: No caso de litisconsórcio passivo de empresas, cada qual deve ser representada por um

preposto, ainda que pertencentes ao mesmo grupo econômico.

OBS 2: Em matéria de assistência, importante a Súmula nº 82 do TST

SUM-82, TST. ASSISTÊNCIA

A intervenção assistencial, simples ou adesiva, só é admissível se demonstrado o

interesse jurídico e não o meramente econômico.

Embora doutrina e jurisprudência admitam a assistência no Processo do Trabalho, não são

comuns as hipóteses de sua ocorrência (e.g., sócio que ingressa como assistente para ajudar a

empresa ou empresa do mesmo grupo econômico que venha ajudar a reclamada no processo).

III. Substituição Processual

Trata-se de atuação em juízo em nome próprio, buscando garantir direito alheio.

A substituição difere da representação processual, pois o representante não é parte,

enquanto o substituto é. Ademais, o substituto postula direito alheio em nome próprio; o

representante postula direito alheio em nome alheio (não é parte).

Trata-se, pois, de hipótese de legitimação extraordinária, em que o substituto é parte, mas

atua em busca de direito alheio.

No âmbito do DPT, é exercida, notadamente, pelo sindicato.

Inicialmente, entendia-se que, por força da Súmula 310 do TST, o sindicato somente

poderia atuar como substituto processual nas hipóteses expressamente previstas em lei, uma vez

que tal Súmula expressamente afastava aplicação do art. 8º, III da CF/88 à substituição processual:

SUM-310 SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. SINDICATO (cancelada)

I - O art. 8º, inciso III, da Constituição da República não assegura a substituição

processual pelo sindicato.

II - A substituição processual autorizada ao sindicato pelas Leis nºs 6.708, de

30.10.1979, e 7.238, de 29.10.1984, limitada aos associados, restringe-se às

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demandas que visem aos reajustes salariais previstos em lei, ajuizadas até

03.07.1989, data em que entrou em vigor a Lei nº 7.788/1989.

III - A Lei nº 7.788/1989, em seu art. 8º, assegurou, durante sua vigência, a

legitimidade do sindicato como substituto processual da categoria. (...)

Entretanto, após reiteradas manifestações do STF, o TST cancelou referida Súmula, para

entender que a substituição processual é ampla, podendo envolver qualquer matéria que diga

respeito a interesses coletivos ou individuais homogêneos da categoria (e não apenas dos

associados).

Assim, desde que o direito não seja individualizado, pode o sindicato atuar em sua defesa.

Veja-se, a respeito o art. 8º, III da CF/88 – o qual, segundo o STF, consagra a possibilidade ampla

de substituição processual pelo sindicato:

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...)

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da

categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;

De outra parte, são expressamente previstas as seguintes hipóteses pela legislação

ordinária:

• Art. 195, §2º da CLT: argüição de insalubridade ou periculosidade pelo sindicato

(sendo este legitimado também para pleitear diferença de adicional de insalubridade,

nos termos da OJ-SDI1-121, TST):

Art. 195, § 2º, CLT - Argüida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por

empregado, seja por Sindicato em favor de grupo de associado, o juiz designará

perito habilitado na forma deste artigo, e, onde não houver, requisitará perícia ao

órgão competente do Ministério do Trabalho.

OJ-SDI1-121, TST. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. DIFERENÇA DO

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. LEGITIMIDADE

O sindicato tem legitimidade para atuar na qualidade de substituto processual para

pleitear diferença de adicional de insalubridade.

• Art. 872, par. un., CLT: ação de cumprimento

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Art. 872, Parágrafo único, CLT. Quando os empregadores deixarem de satisfazer o

pagamento de salários, na conformidade da decisão proferida, poderão os

empregados ou seus sindicatos, independentes de outorga de poderes de seus

associados, juntando certidão de tal decisão, apresentar reclamação à Junta ou

Juízo competente, observado o processo previsto no Capítulo II deste Título, sendo

vedado, porém, questionar sobre a matéria de fato e de direito já apreciada na

decisão.

• Art. 3° da Lei 8073/90: lei de política salarial do governo Collor – porém, os dois

primeiros artigos foram vetados, e sobrou somente o 3°, que afirma que “as

entidades sindicais poderão atuar como substitutos processuais dos integrantes da

categoria”. Hoje, se entende de abrangência ampla.

• Art. 25 da Lei 8036/90: Sindicato pode acionar a empresa para compeli-la aos

depósitos do FGTS.

Características da substituição

• Substituição é facultativa (e não obrigatória como a assistência judiciária gratuita);

• Substituto não precisa de autorização do substituído para ajuizar a ação, basta preencher

condições legais.

• Substituto pode praticar todos os atos processuais, salvo transigir ou renunciar (deve, para

tanto, ter autorização expressa do substituído, pois o direito material discutido não lhe

pertence).

• Substituído pode, sempre que desejar, integrar a lide como assistente, desistir da ação,

transacionar ou renunciar ao direito, independentemente de concordância do sindicato, pois

titular do direito material.

• Substituto pode atuar nas fases de conhecimento e de execução, assim como ingressar com

ação rescisória nos processos de sua atuação.

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• A ação movida por sindicato, na qualidade de substituto processual, interrompe a

prescrição, ainda que tenha sido considerado parte ilegítima ad causam (OJ-SDI1-359,

TST).

OJ-SDI1-359, TST. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. SINDICATO.

LEGITIMIDADE. PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO.

A ação movida por sindicato, na qualidade de substituto processual, interrompe a

prescrição, ainda que tenha sido considerado parte ilegítima “ad causam”.

• Segundo a jurisprudência do TST, a apresentação do rol dos substituídos não é condição

de procedibilidade para a substituição processual.

• Desde 2011, em virtude de alteração da Súmula nº 219 do TST, haverá condenação em

honorários advocatícios quando o sindicato atuar como substituto processual:

SUM-219, TST. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. HIPÓTESE DE

CABIMENTO

(...)

III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical

figure como substituto processual (...).

• Segundo entendimento do TST, o sindicato pode atuar como réu em ação rescisória,

quando atuou como autor do processo cuja sentença se busca rescindir:

SUM- 406, TST. AÇÃO RESCISÓRIA. LITISCONSÓRCIO. NECESSÁRIO

NO PÓLO PASSIVO E FACULTATIVO NO ATIVO. INEXISTENTE

QUANTO AOS SUBSTITUÍDOS PELO SINDICATO

(...)

II - O Sindicato, substituto processual e autor da reclamação trabalhista, em

cujos autos fora proferida a decisão rescindenda, possui legitimidade para

figurar como réu na ação rescisória, sendo descabida a exigência de citação de

todos os empregados substituídos, porquanto inexistente litisconsórcio passivo

necessário.

8. FASE PRÉ-PROCESSUAL: COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

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Instituição: Lei nº 9.958/2000 – artigos 625-A a 625-H, CLT. Surgem, juntamente com a Lei nº

9957/2000 (que instituiu o procedimento sumaríssimo na JT), em um contexto de busca por formas

alternativas de solução de controvérsias – trata-se de mecanismo extrajudicial de conciliação das

partes.

Vantagens para o empregador: não ser surpreendido com a propositura de RT; eficácia liberatória

dos acordos realizados perante a Comissão.

Vantagens para os empregados: solução mais rápida dos litígios; termo de conciliação é título

executivo extrajudicial.

Constituição: podem ser: a) de empresa; b) de grupo de empresas; c) sindicais, instituídas por meio

de convenção coletiva ou acordo entre o sindicato e a empresa ou empresas interessadas; e d)

intersindicais. A constituição de uma CCP é facultativa. Porém, uma vez constituída no âmbito

empresarial, a CCP ganha vida própria, tornando-se impossível sua dissolução por ato unilateral do

empregador.

Atuação: conflitos individuais de trabalho (não nos coletivos). Ela não impõe aos litigantes uma

solução para a contenda, mas simplesmente formula proposta de conciliação – órgão mediador.

Composição (art. 625-B, CLT): PARITÁRIA. No âmbito da empresa – mínimo de dois e máximo

de dez membros titulares, com número igual de suplentes (o número total de membros da

Comissão, dentro desses limites, será estabelecido pelo empregador e seus empregados).

Metade dos membros é eleita pelos empregados (escrutínio secreto, fiscalizado pelo

sindicato) e a outra metade é indicada pelo empregador.

Os membros possuem mandato de um ano, com possibilidade de uma única recondução.

OBS: O limite de membros é fixado apenas para as Comissões instituídas no âmbito da empresa –

no âmbito do sindicato, a composição será definida no ACT ou CCT.

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Estabilidade: representantes dos empregados (titulares e suplentes) gozam de estabilidade até um

ano após o término do mandato, apenas podendo ser dispensados por cometimento de falta grave (§

1º do art. 625-B, CLT).

Tempo de serviço: é contado normalmente quando o empregado tiver de se ausentar de suas

funções normais para servir à CCP.

Condição da ação? (Art. 625-D, caput, CLT): a teor da lei, passagem pela CCP é condição da

ação, salvo se inexistir Comissão em dada localidade, ou quando houver motivo relevante a

impedir a submissão da demanda a esta.

Muito se questionou, em doutrina e jurisprudência, a respeito da constitucionalidade de tal

disposição, face à previsão de inafastabilidade do Poder Judiciário, constante no art. 5º, XXXV.

Após discussões, firmou-se em jurisprudência o entendimento de que a passagem pela CCP

não é condição da ação – pacificado no próprio TST. Em 2009, o STF, no julgamento de duas

ADIN’s, concedeu liminares para assegurar a interpretação do art. 625-D conforme a Constituição,

i.e., tornando facultativa a passagem pela CCP.

Procedimento (com base na disciplina da CLT): submetido o litígio à CCP, a demanda será

formulada por escrito ou reduzida a termo e será fornecida cópia desse termo, assinada e datada,

aos interessados (art. 625-D, §1º da CLT). É desnecessário que o empregado deduza sua pretensão

por meio de advogado.

Se constituídas, na mesma localidade, tanto a Comissão da empresa quanto a do sindicato,

caberá ao empregado escolher a qual submeterá a demanda (art. 625-D, §4º).

Recebida a demanda, a Comissão tem o prazo de dez dias para realizar a tentativa de

conciliação (art. 625-F), sob pena de, esgotado tal prazo, ficar o trabalhador liberado para acionar

diretamente o órgão jurisdicional (art. 625-F, par. un.).

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Se aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregador (ou preposto), pelo

empregado e por todos os membros da Comissão. Tal termo conterá todas as cláusulas do acordo

firmado e terá força de título executivo extrajudicial; por essa razão, devem, obrigatoriamente,

ser entregues cópias a ambas as partes (art. 625-E).

Caso a conciliação não logre êxito, será fornecida ao empregado e ao empregador

declaração da tentativa frustrada de conciliação, a qual deverá conter a especificação do objeto da

demanda e a assinatura de todos os membros da Comissão. Tal documento deverá ser juntado à

reclamação trabalhista (art. 625-D, §2º).

Eficácia Liberatória do acordo: Termo de conciliação obtido no procedimento perante às CCP tem

força de título executivo extrajudicial; destarte, caso não seja cumprido o acordo, permite-se a

propositura, pelo empregado, de processo de execução fundado no termo, a teor do que dispõe o

art. 876 da CLT.

Ademais: tem o efeito de liberar o devedor de suas obrigações trabalhistas, exceto quanto às

parcelas nele expressamente ressalvadas (par. un. do art. 625-E, CLT.).

Prescrição (art. 625-G da CLT): o prazo prescricional suspende-se quando da provocação da

Comissão, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a partir da tentativa frustrada de conciliação ou

do esgotamento do prazo de 10 dias para realização da tentativa de conciliação.

Art. 625-A. As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação

Prévia, de composição paritária, com representante dos empregados e dos

empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do

trabalho.

Parágrafo único. As Comissões referidas no caput deste artigo poderão ser

constituídas por grupos de empresas ou ter caráter intersindical.

Art. 625-B. A Comissão instituída no âmbito da empresa será composta de, no

mínimo, dois e, no máximo, dez membros, e observará as seguintes normas:

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73

I - a metade de seus membros será indicada pelo empregador e outra metade eleita

pelos empregados, em escrutínio, secreto, fiscalizado pelo sindicato de categoria

profissional;

II - haverá na Comissão tantos suplentes quantos forem os representantes titulares;

III - o mandato dos seus membros, titulares e suplentes, é de um ano, permitida uma

recondução.

§ 1º É vedada a dispensa dos representantes dos empregados membros da

Comissão de Conciliação Prévia, titulares e suplentes, até um ano após o final do

mandato, salvo se cometerem falta, nos termos da lei.

§ 2º O representante dos empregados desenvolverá seu trabalho normal na

empresa afastando-se de suas atividades apenas quando convocado para atuar

como conciliador, sendo computado como tempo de trabalho efetivo o despendido

nessa atividade.

Art. 625-C. A Comissão instituída no âmbito do sindicato terá sua constituição e

normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo coletivo.

Art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão

de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido

instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria.

§ 1º A demanda será formulada por escrito ou reduzida a termo por qualquer dos

membros da Comissão, sendo entregue cópia datada e assinada pelo membro aos

interessados.

§ 2º Não prosperando a conciliação, será fornecida ao empregado e ao

empregador declaração da tentativa conciliatória frustrada com a descrição de seu

objeto, firmada pelos membros da Comissão, que devera ser juntada à eventual

reclamação trabalhista.

§ 3º Em caso de motivo relevante que impossibilite a observância do procedimento

previsto no caput deste artigo, será a circunstância declarada na petição da ação

intentada perante a Justiça do Trabalho.

§ 4º Caso exista, na mesma localidade e para a mesma categoria, Comissão de

empresa e Comissão sindical, o interessado optará por uma delas submeter a sua

demanda, sendo competente aquela que primeiro conhecer do pedido.

Art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado,

pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se

cópia às partes.

Parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá

eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas.

Art. 625-F. As Comissões de Conciliação Prévia têm prazo de dez dias para a

realização da sessão de tentativa de conciliação a partir da provocação do

interessado.

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Parágrafo único. Esgotado o prazo sem a realização da sessão, será fornecida, no

último dia do prazo, a declaração a que se refere o § 2º do art. 625-D.

Art. 625-G. O prazo prescricional será suspenso a partir da provocação da

Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a partir

da tentativa frustrada de conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no art.

625-F.

Art. 625-H. Aplicam-se aos Núcleos Intersindicais de Conciliação Trabalhista em

funcionamento ou que vierem a ser criados, no que couber, as disposições previstas

neste Título, desde que observados os princípios da paridade e da negociação

coletiva na sua constituição.

9. O PROCESSO NA JUSTIÇA DO TRABALHO – FASE DE CONHECIMENTO

A. PETIÇÃO INICIAL

Instrumento formal que dá início à relação processual, por conter os pedidos da parte.

A petição inicial tem requisitos objetivos e subjetivos:

1. Requisitos subjetivos

• Precisão: os fatos devem ser narrados de forma precisa, para permitir a resposta do réu e a

compreensão, pelo juiz, da dimensão do litígio. Ex: pleito de horas extras – deve informar o

horário de trabalho, o número de horas extras diárias, os intervalos, etc.

• Clareza: a linguagem utilizada na inicial deve ser simples, de maneira a se fazer entender.

• Concisão: a inicial deve ser curta, concisa, expondo apenas os fatos que ensejaram o

dissídio.

2. Requisitos objetivos

Contidos no art. 840 da CLT, c/c art. 282 do CPC.

Art. 840, CLT - A reclamação poderá ser escrita ou verbal.

§ 1º - Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do Presidente da

Junta, ou do juiz de direito a quem for dirigida, a qualificação do reclamante e do

reclamado, uma breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, a

data e a assinatura do reclamante ou de seu representante.

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§ 2º - Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em 2 (duas) vias datadas e

assinadas pelo escrivão ou secretário, observado, no que couber, o disposto no

parágrafo anterior.

Aspectos relevantes:

• A reclamação pode ser verbal ou escrita – celeridade processual.

• Sendo verbal a reclamação, deverá ser reduzida a termo, em duas vias datadas e

assinadas – porém, a distribuição será realizada antes da redução a termo. O art.

786 da CLT estabelece que o reclamante deve comparecer em 5 dias após a

distribuição da reclamação para reduzi-la a termo, sob pena de não poder ajuizar

outra ação por seis meses:

Art. 786, CLT - A reclamação verbal será distribuída antes de sua redução a

termo.

Parágrafo único - Distribuída a reclamação verbal, o reclamante deverá, salvo

motivo de força maior, apresentar-se no prazo de 5 (cinco) dias, ao cartório ou à

secretaria, para reduzi-la a termo, sob a pena estabelecida no art. 731.

• Nos dissídios coletivos e no inquérito para apuração de falta grave, não se

admite reclamação verbal, apenas escrita.

• Na reclamação escrita e no termo de reclamação verbal, os seguintes requisitos

devem ser observados:

• Designação do presidente da vara ou juiz de direito ao qual será dirigida.

• Qualificação das partes (nome, prenome, domicílio, profissão, estado civil, RG,

CPF, CNPJ do empregador, etc).

• Breve exposição dos fatos (corolário do ius postulandi, não exige a

fundamentação jurídica)

• Pedido (a seguir analisado)

• Data e assinatura do reclamante ou de seu representante

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• Inicial deve ser apresentada em duas vias (ou mais, dependendo do número de

reclamados)

• Valor da causa: não é mencionado pelo art. 840 da CLT – por isso, para grande

parte da doutrina, não é requisito da petição inicial, já que pode ser fixado de

ofício pelo juiz. Outros autores, entretanto, pugnam por sua imprescindibilidade,

especialmente para determinação do procedimento.

De qualquer maneira, se não fixado o valor da causa, o juiz deverá determiná-lo antes de

passar à instrução, nos termos do art. 2º da Lei nº 5584/70:

Art. 2º, L. 5584/70. Nos dissídios individuais, proposta a conciliação, e não

havendo acordo, o Presidente, da Junta ou o Juiz, antes de passar à instrução da

causa, fixar-lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado

no pedido.

§ 1º Em audiência, ao aduzir razões finais, poderá qualquer das partes, impugnar

o valor fixado e, se o Juiz o mantiver, pedir revisão da decisão, no prazo de 48

(quarenta e oito) horas, ao Presidente do Tribunal Regional.

§ 2º O pedido de revisão, que não terá efeito suspensivo deverá ser instruído com a

petição inicial e a Ata da Audiência, em cópia autenticada pela Secretaria da

Junta, e será julgado em 48 (quarenta e oito) horas, a partir do seu recebimento

pelo Presidente do Tribunal Regional

OBS: Não há necessidade de colocar o jargão a respeito das provas, nem pedir a citação do

reclamado (pois esta é automática). Ainda, nos termos da OJ-SDI1-255, é desnecessária a juntada

do contrato social da empresa para comprovar a condição de procurador, salvo se houver

impugnação da parte contrária.

OJ-SDI1-255, TST. MANDATO. CONTRATO SOCIAL. DESNECESSÁRIA A

JUNTADA.

O art. 12, VI, do CPC não determina a exibição dos estatutos da empresa em juízo

como condição de validade do instrumento de mandato outorgado ao seu

procurador, salvo se houver impugnação da parte contrária.

Pedido – aplicação subsidiária do CPC

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Art. 286, CPC: pedido deve ser certo e determinado (pedido determinado em sua

qualidade e quantidade). Não há previsão de que o valor deve ser indicado (liquidez), salvo no

procedimento sumaríssimo.

Art. 286, CPC. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular

pedido genérico:

I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens

demandados;

II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do

ato ou do fato ilícito;

III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser

praticado pelo réu.

Hipóteses de formulação de pedido genérico no art. 286:

I – ações universais: não se aplica ao processo do trabalho;

II - se, no momento da propositura da ação, o autor não tem condições de dizer quais as

conseqüências do ato ou fato ilícito praticado. Ex: pedido de indenização por danos morais.

III - determinados atos processuais que deverão ser praticados pelo réu para estabelecer o

valor da condenação. Assim, e.g., pleito de horas extras exige apresentação de cartão de ponto

(procedimento de exibição de documentos - art. 355 e ss do CPC).

Art. 287 do CPC: obrigações de fazer. No caso de pedido em obrigações de fazer ou não

fazer, pode o autor cumular pedido de multa pecuniária. Ex: obrigação de anotar CTPS do

empregado, com pedido de multa diária, caso a empresa não cumpra a determinação.

Art. 287, CPC. Se o autor pedir que seja imposta ao réu a abstenção da prática de

algum ato, tolerar alguma atividade, prestar ato ou entregar coisa, poderá requerer

cominação de pena pecuniária para o caso de descumprimento da sentença ou da

decisão antecipatória de tutela (arts. 461, § 4o, e 461-A).

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Arts. 288 e 289 do CPC: é possível falar em pedidos alternativos e pedidos sucessivos no

processo do trabalho. No caso dos pedidos alternativos, a prestação pode ser cumprida pelo

devedor de mais de uma forma (ex.: empregado retém ferramenta de trabalho do empregador:

devolução do bem ou pagamento do valor). No caso dos sucessivos, os pedidos são elaborados de

forma sucessiva e, se o juiz não puder acolher o anterior, poderá acolher o posterior (ex.:

reintegração no emprego ou indenização por dispensa de empregado estável).

Art. 288, CPC. O pedido será alternativo, quando, pela natureza da obrigação, o

devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo.

Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o

juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda

que o autor não tenha formulado pedido alternativo.

Art. 289, CPC. É lícito formular mais de um pedido em ordem sucessiva, a fim de

que o juiz conheça do posterior, em não podendo acolher o anterior.

Art. 290 do CPC: trata de prestações periódicas (prestações que vencem no curso da

lide), afirmando a desnecessidade de constarem expressamente do pedido. Possíveis no processo do

trabalho, especialmente no caso em que o empregado ajuíza ação enquanto ainda está trabalhando

(e.g., diferenças salariais por promoção que deveria acontecer ou pedido de insalubridade).

Art. 290, CPC. Quando a obrigação consistir em prestações periódicas,

considerar-se-ão elas incluídas no pedido, independentemente de declaração

expressa do autor; se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de

consigná-las, a sentença as incluirá na condenação, enquanto durar a obrigação.

Art. 292 do CPC: cumulação de pedidos – é absolutamente freqüente no processo do

trabalho. Requisitos de admissibilidade dessa cumulação:

• Pedidos compatíveis;

• Juiz competente para apreciar todos os pedidos;

• Procedimento seja adequado para todos os pedidos.

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Art. 292, CPC. É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo

réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.

Art. 293 do CPC: pedidos implícitos. Por vezes, admitidos no processo do trabalho. Ex.: juros

de mora (Súm. 211 do TST), atualização monetária, art. 467 da CLT (verbas incontroversas).

Art. 293, CPC. Os pedidos são interpretados restritivamente,

compreendendo-se, entretanto, no principal os juros legais.

Aditamento da inicial: no processo do trabalho, pode-se aditar a inicial antes da contestação (i.e., na

própria audiência). Nesse caso, será devolvido o prazo para a reclamada contestar.

Também no processo do trabalho se aplica o art. 462 do CPC, o qual dita que “se, depois da

propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no

julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte,

no momento de proferir a sentença”:

SUM-394, TST. ART. 462 DO CPC. FATO SUPERVENIENTE

O art. 462 do CPC, que admite a invocação de fato constitutivo, modificativo ou

extintivo do direito, superveniente à propositura da ação, é aplicável de ofício aos

processos em curso em qualquer instância trabalhista.

Indeferimento da inicial: causas de indeferimento arroladas no CPC se aplicam ao processo do

trabalho (Art. 295 do CPC – inépcia, ilegitimidade de parte, falta de interesse de agir, etc). Em

outros casos, entretanto, o juiz pode “salvar” o processo, intimando a parte para suprir a

irregularidade:

SUM-263, TST. PETIÇÃO INICIAL. INDEFERIMENTO. INSTRUÇÃO

OBRIGATÓRIA DEFICIENTE

Salvo nas hipóteses do art. 295 do CPC, o indeferimento da petição inicial, por

encontrar-se desacompanhada de documento indispensável à propositura da ação

ou não preencher outro requisito legal, somente é cabível se, após intimada para

suprir a irregularidade em 10 (dez) dias, a parte não o fizer.

B) AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO, INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

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A audiência na Justiça do Trabalho é UNA e CONTÍNUA – i.e., contempla tanto a

conciliação, quanto a instrução e o julgamento e não pode ser interrompida.

A CLT prevê, entretanto, a possibilidade de ser adiada a audiência – por motivo de força

maior (o que nem sempre é realidade na JT). Nesse caso, não é necessária nova notificação das

partes:

Art. 849, CLT - A audiência de julgamento será contínua; mas, se não for possível,

por motivo de força maior, concluí-la no mesmo dia, o juiz ou presidente marcará a

sua continuação para a primeira desimpedida, independentemente de nova

notificação.

As regras para a realização da audiência se encontram no art. 813 da CLT:

Art. 813, CLT - As audiências dos órgãos da Justiça do Trabalho serão públicas e

realizar-se-ão na sede do Juízo ou Tribunal em dias úteis previamente fixados, entre

8 (oito) e 18 (dezoito) horas, não podendo ultrapassar 5 (cinco) horas seguidas,

salvo quando houver matéria urgente.

§ 1º - Em casos especiais, poderá ser designado outro local para a realização das

audiências, mediante edital afixado na sede do Juízo ou Tribunal, com a

antecedência mínima de 24 (vinte e quatro) horas.

§ 2º - Sempre que for necessário, poderão ser convocadas audiências

extraordinárias, observado o prazo do parágrafo anterior.

O comparecimento das partes à audiência é regulado pelo art. 843 da CLT, já analisado.

Devemos estudar, agora, o caso de não comparecimento das partes:

Art. 844, CLT - O não-comparecimento do reclamante à audiência importa o

arquivamento da reclamação, e o não-comparecimento do reclamado importa

revelia, além de confissão quanto à matéria de fato.

Parágrafo único - Ocorrendo, entretanto, motivo relevante, poderá o presidente

suspender o julgamento, designando nova audiência.

Tem-se, aqui, clara aplicação do princípio protetor no processo do trabalho: o não-

comparecimento do reclamante importa arquivamento; do reclamado, revelia (ausência de defesa) e

confissão quanto à matéria de fato (presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial).

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Segundo a Súmula 122 do TST, será decretada a revelia da empresa se o preposto não

comparecer, ainda que presente advogado devidamente constituído. Ademais, o fato de o preposto

não ser empregado da reclamada importa sua revelia, bem como o desconhecimento, por este, dos

fatos narrados, importa aplicação da pena de confissão.

SUM-122, TST. REVELIA. ATESTADO MÉDICO

A reclamada, ausente à audiência em que deveria apresentar defesa, é revel, ainda

que presente seu advogado munido de procuração, podendo ser ilidida a revelia

mediante a apresentação de atestado médico, que deverá declarar, expressamente,

a impossibilidade de locomoção do empregador ou do seu preposto no dia da

audiência.

Também é aplicada a pena de revelia no caso de atraso na audiência:

OJ-SDI1-245 REVELIA. ATRASO. AUDIÊNCIA.

Inexiste previsão legal tolerando atraso no horário de comparecimento da parte

na audiência.

Porém, a realidade demonstra que nem sempre as audiências trabalhistas são unas. Nesse

caso, aplicam-se as Súmulas 9 e 74 do TST:

SUM-9 AUSÊNCIA DO RECLAMANTE

A ausência do reclamante, quando adiada a instrução após contestada a ação em

audiência, não importa arquivamento do processo.

SUM-74 CONFISSÃO

I - Aplica-se a confissão à parte que, expressamente intimada com aquela

cominação, não comparecer à audiência em prosseguimento, na qual deveria

depor.

II - A prova pré-constituída nos autos pode ser levada em conta para confronto com

a confissão ficta (art. 400, I, CPC), não implicando cerceamento de defesa o

indeferimento de provas posteriores

III - A vedação à produção de prova posterior pela parte confessa somente a ela se

aplica, não afetando o exercício, pelo magistrado, do poder/dever de conduzir o

processo.

(OBS: OJ alterada em 2011)

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Ademais, caso o reclamante dê causa ao arquivamento da reclamação por duas vezes

seguidas, fica impedido de postular em juízo pelo prazo de 6 meses (mesma pena atribuída a quem

faz reclamação verbal e não comparece para sua redução a termo):

Art. 731, CLT - Aquele que, tendo apresentado ao distribuidor reclamação verbal,

não se apresentar, no prazo estabelecido no parágrafo único do art. 786, à Junta ou

Juízo para fazê-lo tomar por termo, incorrerá na pena de perda, pelo prazo de 6

(seis) meses, do direito de reclamar perante a Justiça do Trabalho. [prazo de 5 dias]

Art. 732, CLT - Na mesma pena do artigo anterior incorrerá o reclamante que, por

2 (duas) vezes seguidas, der causa ao arquivamento de que trata o art. 844.

OBS: a revelia também é aplicável à pessoa jurídica de direito público:

OJ-SDI-I 152, TST. REVELIA. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.

APLICÁVEL. (ART. 844 DA CLT)

Pessoa jurídica de direito público sujeita-se à revelia prevista no artigo 844 da

CLT.

OBS 2: Havendo rescisão do contrato de trabalho, no caso de revelia do empregador, deve ser este

condenado ao pagamento das verbas rescisórias não quitadas na primeira audiência com acréscimo

de 50%. Veja-se, a redação da Súm. 69 do TST:

SUM-69 RESCISÃO DO CONTRATO

A partir da Lei nº 10.272, de 05.09.2001, havendo rescisão do contrato de

trabalho e sendo revel e confesso quanto à matéria de fato, deve ser o

empregador condenado ao pagamento das verbas rescisórias, não quitadas na

primeira audiência, com acréscimo de 50% (cinqüenta por cento).

A CLT dispõe, ainda, que, se até quinze minutos após o horário da audiência o juiz não

comparecer, as parte poderão se retirar, notificando o ocorrido à secretaria (OBS: a matéria

também é tratada pelo EAOAB; entretanto, este estabelece prazo de 30 minutos).

Art. 815, CLT - À hora marcada, o juiz ou presidente declarará aberta a audiência,

sendo feita pelo secretário ou escrivão a chamada das partes, testemunhas e demais

pessoas que devam comparecer.

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Parágrafo único - Se, até 15 (quinze) minutos após a hora marcada, o juiz ou

presidente não houver comparecido, os presentes poderão retirar-se, devendo o

ocorrido constar do livro de registro das audiências.

Rito da audiência:

Art. 846 - Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação.

§ 1º - Se houver acordo lavrar-se-á termo, assinado pelo presidente e pelos

litigantes, consignando-se o prazo e demais condições para seu cumprimento.

§ 2º - Entre as condições a que se refere o parágrafo anterior, poderá ser

estabelecida a de ficar a parte que não cumprir o acordo obrigada a satisfazer

integralmente o pedido ou pagar uma indenização convencionada, sem prejuízo do

cumprimento do acordo.

Primeira providência: proposta de conciliação, mesmo antes de as partes exporem seus

argumentos. Essa tentativa de conciliação é obrigatória ao juiz em dois momentos: na abertura da

audiência e após a apresentação de razões finais (art. 850, CLT).

§1°: se houver acordo, será lavrado termo contendo suas condições (qual o valor, se em

parcelas, como será o pagamento das parcelas).

§2°: Ao celebrar-se o acordo, poderá ser fixada pelo juiz, de acordo com a manifestação

das partes, multa por inadimplemento. Ademais, nesse acordo, deverão as partes indicar as verbas

que sofrem incidência de contribuições previdenciárias.

Se houver acordo, o termo lavrado é irrecorrível, salvo quanto às contribuições

previdenciárias (apenas pode ser revisto por ação rescisória – Súm. 259, TST):

Art. 831, CLT (...)

Parágrafo único. No caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como

decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que

lhe forem devidas.

Não havendo acordo, passa-se à defesa, que pode ser oral (embora na prática seja rara). A

leitura da reclamação também costuma ser dispensada, pois todos já têm ciência do que foi

pedido.

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Art. 847, CLT - Não havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para aduzir

sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por

ambas as partes.

Em seguida, passa-se à instrução (produção de provas). Ressalte-se, aqui, que o art. 845 da

CLT estabelece a concentração das provas na audiência.

Primeiramente, realiza-se a oitiva dos litigantes (reclamado e reclamante), que pode ser

efetuada ex officio, pelo próprio juiz, ou mediante requerimento das partes. Posteriormente, passa-

se à oitiva das testemunhas e, se houver necessidade, dos peritos e técnicos (OBS: antes de tal

procedimento, é possível ao juiz adiar a audiência para a realização de perícia).

Art. 848, CLT - Terminada a defesa, seguir-se-á a instrução do processo, podendo

o presidente, ex officio ou a requerimento de qualquer juiz temporário, interrogar os

litigantes.

§ 1º - Findo o interrogatório, poderá qualquer dos litigantes retirar-se,

prosseguindo a instrução com o seu representante.

§ 2º - Serão, a seguir, ouvidas as testemunhas, os peritos e os técnicos, se houver.

Após a conclusão da instrução, às partes é assegurado o direito de apresentação de razões

finais, nos termos do art. 850 da CLT. Como regra geral, as razões finais serão orais, tendo alguns

juízes admitido a forma escrita:

Art. 850 - Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo

não excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente

renovará a proposta de conciliação, e não se realizando esta, será proferida a

decisão.

Após a renovação da proposta de conciliação, será proferida a sentença.

OBS: Caso não seja realizada a última tentativa conciliatória, é permitido ao juiz reabrir a

instrução para realizá-la – e, assim, evitar a nulidade.

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OBS 2: O juiz detém o poder-dever de manter a ordem na audiência; por tal razão, pode mandar

retirar do recinto quem a perturbar (art. 816, CLT).

C) RESPOSTAS DO RÉU

Segundo o art. 291 do CPC, as respostas do réu no processo do trabalho são:

a) exceção: discussão dos pressupostos essenciais para o andamento do processo;

b) contestação: defesa direta e indireta do mérito da causa; e

c) reconvenção: novo pedido formulado pelo réu em face do autor

a. Exceção

A exceção envolve a discussão dos pressupostos para o válido andamento do processo e

vem prevista no art. 799 da CLT:

Art. 799, CLT - Nas causas da jurisdição da Justiça do Trabalho, somente podem

ser opostas, com suspensão do feito, as exceções de suspeição ou incompetência.

§ 1º - As demais exceções serão alegadas como matéria de defesa.

§ 2º - Das decisões sobre exceções de suspeição e incompetência, salvo, quanto a

estas, se terminativas do feito, não caberá recurso, podendo, no entanto, as partes

alegá-las novamente no recurso que couber da decisão final.

Referido dispositivo contempla duas espécies de exceção capazes de suspender o feito:

exceção de suspeição e exceção de incompetência. Outras exceções devem ser alegadas como

matéria de defesa, sem suspensão do processo.

A menção à “exceção de suspeição”, contida no artigo, deve ser interpretada como

compreendendo a suspeição (causas subjetivas que comprometem a imparcialidade do juiz) e o

impedimento (causas objetivas).

É possível a arguição simultânea de ambas as exceções. Nesse caso, a exceção de

impedimento e suspeição do juiz deverão ser apreciadas antes da exceção de incompetência.

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O impedimento é caracterizado pelo art. 134 do CPC, e a suspeição pelo art. 801 da CLT

(c/c art. 135 do CPC):

Art. 134, CPC. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso

ou voluntário:

I - de que for parte;

II - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou

como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha;

III - que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou

decisão;

IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou

qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral

até o segundo grau;

V - quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha

reta ou, na colateral, até o terceiro grau;

VI - quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na

causa.

Parágrafo único. No caso do no IV, o impedimento só se verifica quando o

advogado já estava exercendo o patrocínio da causa; é, porém, vedado ao

advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento do juiz.

Art. 801, CLT - O juiz, presidente ou vogal, é obrigado a dar-se por suspeito, e

pode ser recusado, por algum dos seguintes motivos, em relação à pessoa dos

litigantes:

a) inimizade pessoal;

b) amizade íntima;

c) parentesco por consangüinidade ou afinidade até o terceiro grau civil;

d) interesse particular na causa.

Parágrafo único - Se o recusante houver praticado algum ato pelo qual haja

consentido na pessoa do juiz, não mais poderá alegar exceção de suspeição, salvo

sobrevindo novo motivo. A suspeição não será também admitida, se do processo

constar que o recusante deixou de alegá-la anteriormente, quando já a conhecia, ou

que, depois de conhecida, aceitou o juiz recusado ou, finalmente, se procurou de

propósito o motivo de que ela se originou.

Preclusão: segundo o parágrafo único do art. 801, a suspeição é passível de preclusão nos

seguintes casos: a) aceitação do juiz pelo recusante; b) silêncio do recusante; c) motivo ocasionado

pelo recusante. De outra parte, não ocorre preclusão nas causas de impedimento.

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Procedimento: A parte deve apresentar sua defesa em audiência, em 20 minutos – nesse período,

também deverá arguir a exceção.

Se feita por escrito, deverá ser apresentada em peça separada (a incompetência relativa deve

ser alegada por meio de exceção; porém, a absoluta pode ser arguida na contestação, como

preliminar).

Apresentada a exceção de suspeição ou impedimento, o juiz designará audiência de

instrução e julgamento em 48h. É possível a abertura de prazo para a outra parte se manifestar.

Julgada procedente a exceção, será convocado para a mesma audiência o suplente, que

funcionará no feito até o final.

Julgada improcedente, deverá o juiz, no prazo de 10 dias, encaminhar os autos, com suas

razões e eventuais provas que deseja produzir, ao TRT respectivo.

Art. 802, CLT - Apresentada a exceção de suspeição, o juiz ou Tribunal designará

audiência dentro de 48 (quarenta e oito) horas, para instrução e julgamento da

exceção.

§ 1º - Nas Juntas de Conciliação e Julgamento e nos Tribunais Regionais,

julgada procedente a exceção de suspeição, será logo convocado para a mesma

audiência ou sessão, ou para a seguinte, o suplente do membro suspeito, o qual

continuará a funcionar no feito até decisão final. Proceder-se-á da mesma maneira

quando algum dos membros se declarar suspeito.

§ 2º - Se se tratar de suspeição de Juiz de Direito, será este substituído na

forma da organização judiciária local.

Oferecida a exceção de incompetência, abre-se o prazo de 24h para o excepto contestá-la (o

que pode ocorrer na própria audiência). A decisão será proferida na primeira audiência ou sessão

que se seguir.

Julgada procedente a exceção, o juiz determinará a remessa dos autos à autoridade

competente, fundamentando sua decisão.

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Art. 800, CLT - Apresentada a exceção de incompetência, abrir-se-á vista dos

autos ao exceto, por 24 (vinte e quatro) horas improrrogáveis, devendo a decisão

ser proferida na primeira audiência ou sessão que se seguir.

Segundo o §2° art. 799 da CLT, das decisões sobre exceção de suspeição e incompetência

não caberá recurso de imediato. Porém, há ressalva no que tange às exceções de incompetência

terminativas do feito na Justiça do Trabalho (caso em que a JT se declara incompetente e remete os

autos à Justiça Comum).

OBS: A Súm. 214 do TST afirma serem recorríveis de imediato as decisões que acolhem exceção

de incompetência territorial, com a remessa dos autos para outro TRT. Entretanto, a doutrina critica

tal entendimento, em razão de não se estar diante, in casu, de decisão terminativa do feito:

SUM-214 DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. IRRECORRIBILIDADE

Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões

interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a)

de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação

Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação

mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de

incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional

distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no

art. 799, § 2º, da CLT.

b. Contestação

Contempla a defesa indireta e direta do mérito.

A defesa indireta envolve matérias prejudiciais ao exame do mérito (preliminares de

mérito e ao mérito), tais como: inexistência ou nulidade da citação, inépcia da inicial,

litispendência, prescrição, etc (art. 301 do CPC).

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OBS: A compensação e a retenção, segundo a CLT (art. 767 – Súm. 48 do TST) devem ser

discutidas já na defesa, não podendo ser postergadas para a execução. Ademais, nos termos da

Súmula 18 do TST, a compensação é restrita às dívidas de natureza trabalhista.

Art. 767, CLT - A compensação, ou retenção, só poderá ser argüida como

matéria de defesa.

SUM-48, TST. COMPENSAÇÃO

A compensação só poderá ser argüida com a contestação.

SUM-18, TST. COMPENSAÇÃO

A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de natureza

trabalhista.

A defesa direta de mérito envolve propriamente os pedidos do reclamante. Importante

ressaltar que não pode ser efetuada por meio de negação geral (ônus da impugnação especificada

dos fatos).

c. Reconvenção

Embora existam entendimentos diversos, a reconvenção é admitida no processo do trabalho

pela doutrina majoritária. Mais do que uma espécie de defesa do réu, entretanto, é um pedido deste

em face do autor. E.g., reclamante ajuíza ação pleiteando verbas rescisórias; reclamado aduz a

ocorrência de justa causa e apresenta reconvenção pleiteando ressarcimento dos atos dolosos

causados pelo empregado.

A JT deve ser competente para apreciar a matéria envolvida na reconvenção, e é necessário

que esta matéria seja autônoma (i.e, não possa ser alegada na contestação).

Apresentada a reconvenção, deve o juiz abrir prazo para o reclamante dela se defender

(apresentar contestação). O processo segue seu andamento normal, devendo a sentença pronunciar-

se sobre a ação e a reconvenção conjuntamente.

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C) FASE PROBATÓRIA

No processo do trabalho, a doutrina majoritária pugna pela aplicação combinada dos arts.

818 da CLT e 333 do CPC:

Art. 818, CLT - A prova das alegações incumbe à parte que as fizer.

Art. 333, CPC. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do

direito do autor.

Portanto, ao reclamante cumpre fazer prova dos fatos constitutivos de seu direito; ao

reclamado, prova de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor.

Todavia, diante da aplicação do princípio da proteção ao processo do trabalho, em algumas

hipóteses é prevista a inversão do ônus da prova a favor do empregado. Ex.:

• Pleito de horas extras

SUM-338, TST. JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA PROVA

I - É ônus do empregador que conta com mais de 10 (dez) empregados o registro da

jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da CLT. A não-apresentação

injustificada dos controles de frequência gera presunção relativa de veracidade da

jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário.

II - A presunção de veracidade da jornada de trabalho, ainda que prevista em

instrumento normativo, pode ser elidida por prova em contrário

III - Os cartões de ponto que demonstram horários de entrada e saída uniformes

são inválidos como meio de prova, invertendo-se o ônus da prova, relativo às horas

extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele

não se desincumbir.

• Dispensa

SUM-212, TST DESPEDIMENTO. ÔNUS DA PROVA

O ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação

de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da

relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado.

• Relação de trabalho subordinado: se a reclamada negar a prestação de serviços, cabe ao

empregado o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito. Todavia, se a reclamada

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admitir que houve a prestação de serviços, mas que esta ocorreu de maneira diversa da

alegada pelo reclamante (ex.: trabalho autônomo), é do empregador o ônus da prova.

OBS: O ônus de provar recolhimentos do FGTS sempre foi do empregador, nos termos da OJ-

SDI1-301 do TST:

OJ-SDI1-301, TST. FGTS. DIFERENÇAS. ÔNUS DA PROVA. LEI Nº

8.036/90, ART. 17 (cancelada)

Definido pelo reclamante o período no qual não houve depósito do FGTS, ou

houve em valor inferior, alegada pela reclamada a inexistência de diferença nos

recolhimentos de FGTS, atrai para si o ônus da prova, incumbindo-lhe, portanto,

apresentar as guias respectivas, a fim de demonstrar o fato extintivo do direito do

autor (art. 818 da CLT c/c art. 333, II, do CPC).

Entretanto, em 2011, referida Súmula foi cancelada, e o ônus de referida prova é transferido

novamente ao empregado (já que a este é possível obter extrato analítico junto à CEF, mediante

simples requerimento).

Para apreciação das provas, vige o princípio do livre convencimento motivado do juiz (art.

131 do CPC – juiz pode valorar livremente as provas, desde que justifique seu convencimento).

Meios de prova

São admitidos, basicamente, os mesmos meios de prova aceitos pelo processo civil. No que

a CLT não disciplinar a matéria especificamente, assim, aplicam-se os dispositivos do CPC

referentes a tais meios de prova.

i. Documental

Regra geral: prova escrita deve ser trazida com a inicial e a contestação (não há prazo para

apresentação de documentos – exceção: documento novo ou cuja existência a parte desconhecia).

Na fase recursal, a juntada de documentos vem regulada pela Súm. 8, do TST:

SUM-8 JUNTADA DE DOCUMENTO

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A juntada de documentos na fase recursal só se justifica quando provado o justo

impedimento para sua oportuna apresentação ou se referir a fato posterior à

sentença.

OBS: a CLT continha previsão de que os documentos só seriam aceitos se juntados no original ou

em cópia autenticada. Porém, esse artigo foi revogado (2009), e atualmente encontra-se assim

redigido:

Art. 830, CLT. O documento em cópia oferecido para prova poderá ser declarado

autêntico pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal.

Parágrafo único. Impugnada a autenticidade da cópia, a parte que a produziu será

intimada para apresentar cópias devidamente autenticadas ou o original, cabendo

ao serventuário competente proceder à conferência e certificar a conformidade

entre esses documentos

Ressalte-se que, desde 1996, já se entendiam válidos os documentos apresentados por

pessoa jurídica de direito público em fotocópia não autenticada (OJ-SDI1-134). Da mesma

maneira, entende-se que o instrumento normativo em cópia não autenticada possui valor probante,

desde que não haja impugnação ao seu conteúdo, eis que se trata de documento comum às partes

(OJ-SDI1-36).

A CLT elenca documentos imprescindíveis para provar determinados fatos:

• Condições de trabalho: prova feita por meio da CTPS (presunção relativa – Súm. 12,

TST) ou instrumento escrito

• Pagamento de salários: a teor do art. 464 da CLT, deve ser comprovado mediante recibo.

• Acordo para prorrogação de jornada: a teor do art. 59 da CLT, deve haver acordo por

escrito, seja individual ou coletivo.

• Verbas rescisórias: a teor do art. 477, §6°, da CLT, é necessária a apresentação do TRCT

(termo de rescisão do contrato de trabalho), que contém a discriminação de todas as verbas

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pagas e deve ser homologado ou no sindicato ou na SRTE (só se aplica para empregado

com mais de um ano de casa que teve seu contrato rescindido).

• Pagamento das férias: a teor dos arts. 135 e 145 da CLT, deve ser demonstrado por escrito.

• Questões referentes a normas coletivas, acordos coletivos de trabalho: como o juiz não

é obrigado a conhecê-las, cabe à parte trazer essa documentação aos autos.

ii. Depoimento das partes

Ocorre após frustrada a tentativa de conciliação.

REGRA: a parte que ainda não foi ouvida não pode ouvir o depoimento da outra. Assim,

em regra, ouve-se primeiramente o reclamante, pedindo-se que o preposto saia da sala. Entretanto,

essa situação não se aplica se uma das partes estiver sem advogado, pois, no exercício do ius

postulandi, tem direito a fazer perguntas.

As perguntas são formuladas pelo juiz à parte, e podem ser indeferidas se impertinentes ou

irrelevantes. Também o pedido de oitiva, formulado pela parte, pode ser negado, de forma

fundamentada, pelo juiz, sem ocorrer cerceamento de defesa (livre convencimento).

Objetivo maior do depoimento pessoal é a obtenção da confissão, que pode ser:

a. Real: parte confirma, expressamente, os fatos alegados pela parte contrária.

b. Ficta: presunção de veracidade dos fatos alegados pela parte contrária (e.g.,

preposto não tem conhecimento dos fatos, não comparecimento da parte à audiência

em que deveria depor – Súm. 74, I, TST).

A parte que sofre os efeitos da confissão ficta perde o direito de produzir novas provas sobre

os fatos admitidos como verdadeiros, pois, segundo a Súmula 74, II do TST, a confissão só pode

ser elidida por meio de prova em contrário já existente nos autos.

iii. Testemunhas

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É a prova mais importante da JT, visto viger no direito do trabalho o princípio da primazia

da realidade. Ao contrário do que dispõe o CPC, assim, é admitida, em qualquer caso, a prova

exclusivamente testemunhal.

Art. 401, CPC. A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo

valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo em

que foram celebrados.

Partes podem levar até três testemunhas à audiência, independentemente de intimação (por

óbvio, o juiz pode determinar a oitiva de outras pessoas, se entender necessário). No inquérito para

apuração de falta grave, esse número é majorado para 6 testemunhas, e, no procedimento

sumaríssimo, reduzido para 2.

Se a testemunha não comparece, juiz deve ordenar sua intimação.

Art. 821, CLT - Cada uma das partes não poderá indicar mais de 3 (três)

testemunhas, salvo quando se tratar de inquérito, caso em que esse número poderá

ser elevado a 6 (seis).

Art. 825, CLT - As testemunhas comparecerão a audiência independentemente de

notificação ou intimação.

Parágrafo único - As que não comparecerem serão intimadas, ex officio ou a

requerimento da parte, ficando sujeitas a condução coercitiva, além das

penalidades do art. 730, caso, sem motivo justificado, não atendam à intimação.

Em princípio, qualquer pessoa pode ser testemunha. Entretanto, segundo o art. 829 da CLT,

pessoas com grau de parentesco ou amizade prestarão depoimento como informantes:

Art. 829, CLT - A testemunha que for parente até o terceiro grau civil, amigo

íntimo ou inimigo de qualquer das partes, não prestará compromisso, e seu

depoimento valerá como simples informação.

Importante, a esse respeito, é a Súmula 357, do TST, que trata da possibilidade de a

testemunha já ter litigado com o empregador em outro processo:

SÚM-357, TST. TESTEMUNHA. AÇÃO CONTRA A MESMA RECLAMADA.

SUSPEIÇÃO.

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Não torna suspeita a testemunha o simples fato de estar litigando ou de ter

litigado contra o mesmo empregador.

A parte pode apresentar contradita da testemunha. Ressalte-se, ainda, que o juiz

providenciará para que o depoimento de uma testemunha não seja ouvido pelas demais que tenham

de depor no processo (art. 824, CLT).

Art. 824 - O juiz ou presidente providenciará para que o depoimento de uma

testemunha não seja ouvido pelas demais que tenham de depor no processo.

As perguntas são formuladas pelo juiz à testemunha, e podem ser indeferidas se

impertinentes ou irrelevantes.

iv. Prova pericial

Será necessária quando o juiz depender de conhecimento técnico ou específico para

deslinde da causa.

O art. 3º da Lei 5.584/70 estabelece que os exames periciais serão realizados por perito

único, a ser designado pelo juiz (o qual também fixará o prazo para a entrega do laudo). A lei,

ainda, permite às partes a nomeação de assistente técnico, cujo laudo deverá ser entregue no

mesmo prazo determinado para a entrega do laudo pericial, sob pena de ser desentranhado dos

autos.

Art. 3º Os exames periciais serão realizados por perito único designado pelo Juiz,

que fixará o prazo para entrega do laudo.

Parágrafo único. Permitir-se-á a cada parte a indicação de um assistente, cujo

laudo terá que ser apresentado no mesmo prazo assinado para o perito, sob pena

de ser desentranhado dos autos.

A perícia pode romper com a concentração de provas em audiência.

Há casos em que a própria lei exige a produção da prova técnica, vez que ela é

indispensável. Assim, o caso de pleito de insalubridade ou periculosidade, em que a perícia deve

ser realizada (nesse sentido, a OJ-SDI1-165 do TST admite seja o laudo de caracterização e

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classificação da insalubridade ou periculosidade elaborado por médico ou engenheiro do trabalho

devidamente qualificados):

Art. 195, CLT - A caracterização e a classificação da insalubridade e da

periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de

perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no

Ministério do Trabalho.

(...)

§ 2º - Argüida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por empregado, seja

por Sindicato em favor de grupo de associado, o juiz designará perito habilitado na

forma deste artigo, e, onde não houver, requisitará perícia ao órgão competente do

Ministério do Trabalho.

Tal regra, entretanto, restou mitigada com a edição da OJ-SDI1-406, que trata da situação

em que o empregador realiza o pagamento espontâneo do adicional de periculosidade:

OJ-SDI1-406 ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. PAGAMENTO

ESPONTÂNEO. CARACTERIZAÇÃO DE FATO INCONTROVERSO.

DESNECESSÁRIA A PERÍCIA DE QUE TRATA O ART. 195 DA CLT.

O pagamento de adicional de periculosidade efetuado por mera liberalidade da

empresa, ainda que de forma proporcional ao tempo de exposição ao risco ou em

percentual inferior ao máximo legalmente previsto, dispensa a realização da

prova técnica exigida pelo art. 195 da CLT, pois torna incontroversa a existência

do trabalho em condições perigosas.

Veja-se, ainda, o entendimento jurisprudencial consolidado do TST acerca da situação em

que o local de trabalho já foi fechado:

OJ-SDI1-278 ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. PERÍCIA. LOCAL DE

TRABALHO DESATIVADO

A realização de perícia é obrigatória para a verificação de insalubridade.

Quando não for possível sua realização, como em caso de fechamento da

empresa, poderá o julgador utilizar-se de outros meios de prova.

Finalmente, ressalte-se que a constatação, mediante perícia, de prestação de serviços em

condições nocivas, mas em relação a agente insalubre diverso do apontado na inicial, não prejudica

o pleito de adicional de insalubridade:

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SUM-293, TST. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. CAUSA DE PEDIR.

AGENTE NOCIVO DIVERSO DO APONTADO NA INICIAL.

A verificação mediante perícia de prestação de serviços em condições nocivas,

considerado agente insalubre diverso do apontado na inicial, não prejudica o

pedido de adicional de insalubridade.

Os honorários periciais serão arcados pela parte sucumbente na ação, salvo se beneficiária

da justiça gratuita. Já os honorários dos assistentes técnicos serão suportados pela parte que os

contratou:

Art. 790-B, CLT. A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da

parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, salvo se beneficiária de justiça

gratuita.

SÚM- 341, TST. HONORÁRIOS DO ASSISTENTE TÉCNICO.

A indicação do perito assistente é faculdade da parte, a qual deve responder pelos

respectivos honorários, ainda que vencedora no objeto da perícia.

Caso a parte seja beneficiária da justiça gratuita (art. 790, §3º da CLT), os honorários

periciais serão arcados pela União, conforme dispõe a OJ-SDI1-387 do TST:

OJ-SDI1-387 HONORÁRIOS PERICIAIS. BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA

GRATUITA. RESPONSABILIDADE DA UNIÃO PELO PAGAMENTO.

RESOLUÇÃO Nº 35/2007 DO CSJT. OBSERVÂNCIA.

A União é responsável pelo pagamento dos honorários de perito quando a parte

sucumbente no objeto da perícia for beneficiária da assistência judiciária gratuita,

observado o procedimento disposto nos arts. 1º, 2º e 5º da Resolução n.º 35/2007

do Conselho Superior da Justiça do Trabalho – CSJT.

Segundo entendimento do TST (OJ nº 98 da SDI-II), é ilegal a exigência de depósito

prévio dos honorários para realização da perícia, em demandas envolvendo relação de emprego.

Porém, tal entendimento restou mitigado após a EC-45/2004, especificamente no que concerne às

demandas envolvendo relações de trabalho.

OJ-SDI2-98, TST. MANDADO DE SEGURANÇA. CABÍVEL PARA ATACAR

EXIGÊNCIA DE DEPÓSITO PRÉVIO DE HONORÁRIOS PERICIAIS.

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É ilegal a exigência de depósito prévio para custeio dos honorários periciais, dada

a incompatibilidade com o processo do trabalho, sendo cabível o mandado de

segurança visando à realização da perícia, independentemente do depósito

OBS: A inspeção judicial é admitida no processo do trabalho. Porém, como a CLT não regulou a

questão, aplicam-se s dispositivos do CPC (Arts. 440 a 443).

OBS2: A prova emprestada é, por vezes, aceita no processo do trabalho. Exemplo está nas ações

envolvendo adicional de insalubridade, em relação a estabelecimento já fechado.

G. FASE DECISÓRIA

Após a instrução, como visto, abre-se prazo para a apresentação de razões finais:

Art. 850 - Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo

não excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente

renovará a proposta de conciliação, e não se realizando esta, será proferida a

decisão.

Nas razões finais, podem as partes argüir eventuais nulidades que tenham ocorrido durante a

instrução processual (princípio da lealdade quanto às nulidades processuais). Ademais, podem

abordar eventuais fatos controvertidos da matéria de fato, utilizando os elementos probatórios para

comprovar as alegações iniciais.

Em seguida, de acordo com a regra da CLT, o juiz tentará nova conciliação e, se não

obtiver sucesso, julgará a causa – na prática, contudo, normalmente não é observado tal

procedimento: o juiz adia o julgamento para outra oportunidade.

A sentença, de qualquer maneira, será publicada em audiência, iniciando a contagem do

prazo recursal a partir da notificação das partes, não havendo intimação via postal.

O conteúdo das audiências será resumido em ata, na qual constará a decisão. A ata deverá

ser assinada pelo juiz no prazo improrrogável de quarenta e oito horas, contados da audiência de

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julgamento. O reclamante e o reclamado serão notificados pessoalmente, ou por meio de seus

representantes, na própria audiência, salvo no caso de revelia, quando a notificação será feita por

via postal ou por edital.

Estabelece a Súmula nº 197 do TST que o prazo para interposição do recurso pela parte

que, mesmo intimada, não comparecer à audiência de prolação da sentença, conta-se da

publicação:

SÚM-197, TST PRAZO

O prazo para recurso da parte que, intimada, não comparecer à audiência em

prosseguimento para a prolação da sentença conta-se de sua publicação.

Entretanto, se a ata não for juntada ao processo no prazo de 48 horas da audiência de

julgamento, o prazo recursal será contado a partir da data em que a parte for intimada da sentença,

de acordo com a Súmula nº 30 do TST:

SÚM-30, TST INTIMAÇÃO DA SENTENÇA

Quando não juntada a ata ao processo em 48 horas, contadas da audiência de

julgamento (art. 851, § 2º, da CLT), o prazo para recurso será contado da data

em que a parte receber a intimação da sentença

---------- Sentença

No processo do trabalho, admite-se a classificação tradicional das sentenças em

declaratórias, constitutivas e condenatórias, bem como em decisões com ou sem resolução do

mérito.

A sentença deve atender às determinações do art. 832 da CLT:

Art. 832, CLT - Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido

e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva

conclusão.

§ 1º - Quando a decisão concluir pela procedência do pedido, determinará o prazo

e as condições para o seu cumprimento.

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§ 2º - A decisão mencionará sempre as custas que devam ser pagas pela parte

vencida.

§ 3º As decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre indicar a natureza

jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo homologado,

inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da

contribuição previdenciária, se for o caso.

§ 4º A União será intimada das decisões homologatórias de acordos que

contenham parcela indenizatória, na forma do art. 20 da Lei no 11.033, de 21 de

dezembro de 2004, facultada a interposição de recurso relativo aos tributos que lhe

forem devidos.

§ 5º Intimada da sentença, a União poderá interpor recurso relativo à

discriminação de que trata o § 3º deste artigo.

§ 6º O acordo celebrado após o trânsito em julgado da sentença ou após a

elaboração dos cálculos de liquidação de sentença não prejudicará os créditos da

União.

§ 7º O Ministro de Estado da Fazenda poderá, mediante ato fundamentado,

dispensar a manifestação da União nas decisões homologatórias de acordos em

que o montante da parcela indenizatória envolvida ocasionar perda de escala

decorrente da atuação do órgão jurídico.

A sentença, que é ato decisório por excelência, deverá ser clara, precisa quanto à

condenação e exaustiva. Não poderá ser ultrapassado o pedido (salvo nas hipóteses anteriormente

estudadas).

Será a sentença divida em:

1. Relatório: narrativa dos fatos que ocorreram ao longo da instrução processual.

2. Fundamentação: corolário do art. 93, IX da CF/88, que trata da necessidade da motivação de

todas as decisões do Judiciário. O juiz, destarte, analisará as provas, valorando-as, e demonstrará

sua convicção, fundamentando-a. Primeiramente, deverá analisar as preliminares ao mérito (e.g.,

inépcia da inicial, incompetência, etc). Posteriormente, passará às questões prejudiciais de mérito

(e.g., prescrição total ou parcial). Em seguida, poderá adentrar o exame do mérito.

Sem fundamentação, a sentença é nula.

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3. Dispositivo (decisum): conclusão da sentença (que, no futuro, vai guiar a execução). Na prática,

contém a síntese da decisão, indicando seus limites objetivos e subjetivos.

Sem dispositivo, a sentença é inexistente.

A CLT assegura ao magistrado a possibilidade de corrigir, de ofício, erros de escrita,

digitação ou cálculo, ou a requerimento das partes ou do Ministério Público. Eventuais omissões,

contradições ou obscuridades serão sanadas por embargos de declaração, a seguir estudados:

Art. 833, CLT - Existindo na decisão evidentes erros ou enganos de escrita, de

datilografia ou de cálculo, poderão os mesmos, antes da execução, ser

corrigidos, ex officio, ou a requerimento dos interessados ou da Procuradoria da

Justiça do Trabalho.

---------- Coisa Julgada

A coisa julgada – que ocorre após o esgotamento de todas as vias recursais – torna

imutáveis as questões decididas no processo, impedindo seja rediscutido, pelas partes, o dispositivo

da sentença (sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito, nos termos do art. art.

267, V, c/c art. 301, VI e §3º, do CPC).

OBS: É importante lembrar que, de acordo com o CPC, só o dispositivo da sentença faz coisa

julgada, e não a fundamentação (art. 469).

A coisa julgada pode ser formal ou material.

Forma-se a coisa julgada formal pelo esgotamento das vias recursais – porém, ao contrário

da coisa julgada material, a coisa julgada formal permite o ajuizamento de nova ação, uma vez

supridos os vícios que ensejaram a extinção do processo

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Por seu turno, na coisa julgada material, a sentença torna-se imutável e indiscutível, não

mais sujeita a recurso (apenas é admissível a ação rescisória). Isso porque esta se forma com o

trânsito em julgado da decisão com resolução do mérito.

Aplicam-se integralmente ao processo do trabalho os limites subjetivos e objetivos da coisa

julgada, previstos pelos arts. 468 e ss da CLT.

Ademais, é admitida a aplicação da cláusula rebus sic stantibus em processos envolvendo

condições de trabalho fixadas por sentença normativa, condenação ao pagamento de adicionais de

insalubridade e periculosidade, etc.

E) Procedimento Sumaríssimo

Criação: Lei n° 9957/00, que inseriu os arts. 852-A a I na CLT. Visa a propiciar maior

celeridade aos processos de menor valor.

Âmbito de aplicação: econômico – valor atribuído à causa não superior a 40 salários

mínimos (considerado o valor na data do ajuizamento da ação).

Exclusão: demandas envolvendo Administração Pública direta, autárquica e fundacional.

Pedido: deve ser certo ou determinado, indicando o valor correspondente (valor

aproximado). Caso não cumprido, importa arquivamento do feito e condenação do reclamante ao

pagamento de custas sobre o valor da causa. Aqui, importa ressaltar o veto do §2º do art. 852-I,

que previa a necessidade de a sentença ser líquida.

Citação por edital: não é admitida, incumbindo ao autor a indicação do endereço do réu

(questionamentos quanto à constitucionalidade). Caso não cumprido, importa arquivamento do

feito e pagamento de custas sobre o valor da causa.

Prazo: 15 dias para apreciação da reclamação. Porém, o próprio legislador, prevendo que

tal prazo não seria viável, estabeleceu, no art. 852-H, §7°, a possibilidade de se relegar o

julgamento para o prazo de 30 dias.

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Audiência: é una, como no procedimento comum. A audiência pode ser realizada

simultaneamente com um juiz titular e um substituto. Juiz está apto a conduzir o processo com

liberdade para determinar as provas a serem produzidas, bem como para apreciá-las e “dar especial

valor às regras de experiência comum ou técnica”.

Também no procedimento sumaríssimo a tentativa de conciliação é obrigatória e o

primeiro ato da audiência. Todos os incidentes e exceções que interferirem no julgamento serão

decididos em audiência, quando também serão realizadas todas as provas.

Provas:

a. Se apresentados documentos, abrir-se-á imediatamente vista à outra parte (para

manifestação), salvo absoluta impossibilidade.

b. Testemunhas: máximo de 2 para cada parte, comparecerão independentemente

de intimação.

c. Juiz só defere a intimação de uma testemunha ausente se a parte comprovar que

ela foi convidada. Não comparecendo a testemunha intimada, o juiz pode

determinar sua imediata condução coercitiva.

d. Somente haverá perícia se esta for absolutamente indispensável. No projeto

original da lei, havia regra que proibia a apresentação de assistentes técnicos,

mas esta foi vetada.

e. Apresentado o laudo pericial, as partes têm o prazo comum de 5 dias para

manifestação.

Sentença: Deve conter a fundamentação, porém é dispensado o relatório. O juiz está

autorizado a julgar por equidade e a parte já sai intimada da audiência.

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Na fase recursal, há distinções do procedimento sumaríssimo, que estudaremos em outra

oportunidade.

Art. 852-A. Os dissídios individuais cujo valor não exceda a quarenta vezes o

salário mínimo vigente na data do ajuizamento da reclamação ficam submetidos

ao procedimento sumaríssimo.

Parágrafo único. Estão excluídas do procedimento sumaríssimo as demandas em

que é parte a Administração Pública direta, autárquica e fundacional.

Art. 852-B. Nas reclamações enquadradas no procedimento sumaríssimo:

I - o pedido deverá ser certo ou determinado e indicará o valor correspondente;

II - não se fará citação por edital, incumbindo ao autor a correta indicação do

nome e endereço do reclamado;

III - a apreciação da reclamação deverá ocorrer no prazo máximo de quinze dias

do seu ajuizamento, podendo constar de pauta especial, se necessário, de acordo

com o movimento judiciário da Junta de Conciliação e Julgamento.

§ 1o O não atendimento, pelo reclamante, do disposto nos incisos I e II deste

artigo importará no arquivamento da reclamação e condenação ao pagamento

de custas sobre o valor da causa.

§ 2o As partes e advogados comunicarão ao juízo as mudanças de endereço

ocorridas no curso do processo, reputando-se eficazes as intimações enviadas ao

local anteriormente indicado, na ausência de comunicação.

Art. 852-C. As demandas sujeitas a rito sumaríssimo serão instruídas e julgadas

em audiência única, sob a direção de juiz presidente ou substituto, que poderá

ser convocado para atuar simultaneamente com o titular.

Art. 852-D. O juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a

serem produzidas, considerado o ônus probatório de cada litigante, podendo

limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias,

bem como para apreciá-las e dar especial valor às regras de experiência comum

ou técnica.

Art. 852-E. Aberta a sessão, o juiz esclarecerá as partes presentes sobre as

vantagens da conciliação e usará os meios adequados de persuasão para a

solução conciliatória do litígio, em qualquer fase da audiência.

Art. 852-F. Na ata de audiência serão registrados resumidamente os atos

essenciais, as afirmações fundamentais das partes e as informações úteis à

solução da causa trazidas pela prova testemunhal.

Art. 852-G. Serão decididos, de plano, todos os incidentes e exceções que possam

interferir no prosseguimento da audiência e do processo. As demais questões

serão decididas na sentença.

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Art. 852-H. Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e

julgamento, ainda que não requeridas previamente.

§ 1º Sobre os documentos apresentados por uma das partes manifestar-se-á

imediatamente a parte contrária, sem interrupção da audiência, salvo absoluta

impossibilidade, a critério do juiz.

§ 2º As testemunhas, até o máximo de duas para cada parte, comparecerão à

audiência de instrução e julgamento independentemente de intimação.

§ 3º Só será deferida intimação de testemunha que, comprovadamente

convidada, deixar de comparecer. Não comparecendo a testemunha intimada, o

juiz poderá determinar sua imediata condução coercitiva.

§ 4º Somente quando a prova do fato o exigir, ou for legalmente imposta, será

deferida prova técnica, incumbindo ao juiz, desde logo, fixar o prazo, o objeto da

perícia e nomear perito.

§ 5º (VETADO)

§ 6º As partes serão intimadas a manifestar-se sobre o laudo, no prazo comum de

cinco dias.

§ 7º Interrompida a audiência, o seu prosseguimento e a solução do processo

dar-se-ão no prazo máximo de trinta dias, salvo motivo relevante justificado nos

autos pelo juiz da causa.

Art. 852-I. A sentença mencionará os elementos de convicção do juízo, com

resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório.

§ 1º O juízo adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime,

atendendo aos fins sociais da lei e as exigências do bem comum.

§ 2º (VETADO)

§ 3º As partes serão intimadas da sentença na própria audiência em que

prolatada.

10. RECURSOS TRABALHISTAS

A. CONCEITO DE RECURSOS

Recurso é remédio voluntário destinado a provocar o reexame de uma decisão, visando a

reformar ou modificar o julgamento. Assim, o inconformismo em face de decisão proferida pelo

juiz pode ensejar a interposição de recurso pela parte.

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Os recursos admissíveis no processo do trabalho encontram-se previstos no art. 893 da CLT

– lembrando-se que, por força do art. 769 da CLT, outros recursos do direito processual civil serão

admitidos subsidiariamente no processo do trabalho.

Art. 893, CLT - Das decisões são admissíveis os seguintes recursos:

I - embargos;

II - recurso ordinário;

III - recurso de revista;

IV - agravo.

§ 1º - Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou Tribunal,

admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente

em recursos da decisão definitiva.

§ 2º - A interposição de recurso para o Supremo Tribunal Federal não prejudicará

a execução do julgado.

Outros recursos admitidos no processo do trabalho são: recurso adesivo (art. 500 do CPC),

recurso extraordinário (art. 102, III, CF) e embargos de declaração (art. 897-A, CLT). No processo

do trabalho, não cabe recurso especial.

B. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Para a interposição de recurso, é necessário que existam determinados pressupostos, que

podem ser divididos em objetivos e subjetivos. A inexistência de qualquer desses pressupostos,

verificada no chamado juízo de admissibilidade realizado pelo tribunal, impede seja-lhe dado

prosseguimento.

Assim, o recurso será interposto perante o órgão prolator da decisão impugnada. Este fará

um primeiro juízo de admissibilidade e, se constatar que está ausente qualquer pressuposto recursal,

negará seguimento ao recurso.

Caso entenda, ao contrário, que os pressupostos estão preenchidos, abrirá vista para a parte

contrária (para apresentação de contrarrazões). Vindas aos autos as contrarrazões, poderá o juiz

realizar novo juízo de admissibilidade.

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Posteriormente, outro juízo de admissibilidade será feito pelo órgão que julgará o recurso.

Observe-se que o órgão superior não está vinculado ao juízo realizado pelo órgão inferior,

conforme Súm. 285 do TST (embora esta trate, precipuamente, do recurso de revista):

SUM-285. RECURSO DE REVISTA. ADMISSIBILIDADE PARCIAL PELO

JUIZ-PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO. EFEITO

O fato de o juízo primeiro de admissibilidade do recurso de revista entendê-lo

cabível apenas quanto a parte das matérias veiculadas não impede a apreciação

integral pela Turma do Tribunal Superior do Trabalho, sendo imprópria a

interposição de agravo de instrumento.

Em sentido análogo, a OJ-SDI1-282, TST:

OJ-SDI1-282 AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

“AD QUEM”

No julgamento de Agravo de Instrumento, ao afastar o óbice apontado pelo TRT

para o processamento do recurso de revista, pode o juízo “ad quem” prosseguir no

exame dos demais pressupostos extrínsecos e intrínsecos do recurso de revista,

mesmo que não apreciados pelo TRT.

OBS: Da decisão que nega seguimento a recurso, no processo do trabalho, cabe agravo de

instrumento, conforme a seguir veremos com mais vagar.

O art. 896, §5º da CLT estabelece a possibilidade de o ministro relator, em decisão

monocrática, negar seguimento ao recurso de revista, aos embargos ou ao agravo de instrumento, se

a decisão recorrida estiver em consonância com Súmula do TST:

Art. 896, § 5º, CLT. Estando a decisão recorrida em consonância com enunciado

da Súmula da Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, poderá o

Ministro Relator, indicando-o, negar seguimento ao Recurso de Revista, aos

Embargos, ou ao Agravo de Instrumento. Será denegado seguimento ao Recurso

nas hipóteses de intempestividade, deserção, falta de alçada e ilegitimidade de

representação, cabendo a interposição de Agravo.

Da mesma forma, o art. 557 do CPC estabeleceu outras hipóteses em que o juiz relator do

recurso, pertencente ao órgão superior, negar seguimento aos recursos. Ademais, previu a

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possibilidade de este dar provimento ao recurso se a decisão confrontar Súmula ou jurisprudência

dominante do STF ou Tribunal Superior:

Art. 557, CPC. O relator negará seguimento a recurso manifestamente

inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com

jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal,

ou de Tribunal Superior.

§ 1º-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com

jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior,

o relator poderá dar provimento ao recurso.

§ 1º Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente

para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará

o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá

seguimento.

§ 2º Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal

condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do

valor corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso

condicionada ao depósito do respectivo valor.

Segundo o TST, tal artigo é plenamente aplicável ao processo do trabalho. Portanto, o

relator poderá negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado

ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo TRT, do STF ou do

TST. Nesse sentido, a Súmula 421 e a OJ 73 da SDI2, TST:

SÚM-421, TST. EMBARGOS DECLARATÓRIOS CONTRA DECISÃO

MONOCRÁTICA DO RELATOR CALCADA NO ART. 557 DO CPC.

CABIMENTO.

I - Tendo a decisão monocrática de provimento ou denegação de recurso,

prevista no art. 557 do CPC, conteúdo decisório definitivo e conclusivo da lide,

comporta ser esclarecida pela via dos embargos de declaração, em decisão

aclaratória, também monocrática, quando se pretende tão-somente suprir

omissão e não, modificação do julgado.

II - Postulando o embargante efeito modificativo, os embargos declaratórios

deverão ser submetidos ao pronunciamento do Colegiado, convertidos em agravo,

em face dos princípios da fungibilidade e celeridade processual.

OJ-SDI2-73, TST. ART. 557 DO CPC. CONSTITUCIONALIDADE.

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Não há como se cogitar da inconstitucionalidade do art. 557 do CPC, meramente

pelo fato de a decisão ser exarada pelo Relator, sem a participação do

Colegiado, porquanto o princípio da publicidade insculpido no inciso IX do art.

93 da CF/1988 não está jungido ao julgamento pelo Colegiado e sim o acesso ao

processo pelas partes, seus advogados ou terceiros interessados, direito

preservado pela Lei nº. 9.756/1998, ficando, outrossim, assegurado o acesso ao

Colegiado através de agravo.

C. PRESSUPOSTOS RECURSAIS

Como dito, no juízo de admissibilidade dos recursos, será averiguado o preenchimento dos

pressupostos recursais, que podem ser objetivos (extrínsecos) ou subjetivos (intrínsecos).

São pressupostos recursais objetivos:

a) Cabimento e adequação

b) Tempestividade

c) Preparo

De outra parte, são pressupostos subjetivos:

a) Legitimidade e Capacidade

b) Interesse

Analisemos cada um desses pressupostos, iniciando pelos objetivos.

PRESSUPOSTOS RECURSAIS OBJETIVOS

a. Cabimento e adequação

Às partes, é assegurada a interposição dos recursos previstos por lei, conforme o ato

impugnado. Assim, e.g., tem-se que o recurso cabível da sentença proferida pelo juiz é o recurso

ordinário; da decisão do tribunal, por outro lado, admite-se interposição de recurso de revista.

Aplica-se, aqui, o princípio da unirrecorribilidade: para cada decisão há apenas um recurso

cabível. Tal princípio, ainda, se acopla a outro, conhecido como fungibilidade recursal: Judiciário

pode receber um recurso por outro desde que não haja erro grosseiro ou má-fé (assim, e.g., se a

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parte interpõe embargos de declaração pretendendo, na realidade, interpor recurso ordinário),

exista fundada dúvida sobre o recurso cabível e seja respeitado o prazo recursal.

A OJ-SDI2 nº 69 contempla hipótese de aplicação do princípio da fungibilidade:

OJ-SDI2-69, TST. FUNGIBILIDADE RECURSAL. INDEFERIMENTO

LIMINAR DE AÇÃO RESCISÓRIA OU MANDADO DE SEGURANÇA. RE-

CURSO PARA O TST. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL E

DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO TRT

Recurso ordinário interposto contra despacho monocrático indeferitório da petição

inicial de ação rescisória ou de mandado de segurança pode, pelo princípio de

fungibilidade recursal, ser recebido como agravo regimental. Hipótese de não

conhecimento do recurso pelo TST e devolução dos autos ao TRT, para que aprecie

o apelo como agravo regimental.

Com efeito, entende-se que do despacho monocrático que indefere petição inicial de ação

rescisória ou de mandado de segurança cabe agravo regimental – porém, caso a parte ingresse

com recurso ordinário (o qual seria adequado caso a ação rescisória ou o mandado de segurança

efetivamente tivessem sido apreciados), admite-se sua conversão em agravo, por força da

fungibilidade recursal.

b. Tempestividade

Todo recurso, para ser conhecido, deve ser interposto no prazo estabelecido por lei. No

processo trabalhista, salvo raras exceções, há unicidade de prazo para recorrer (e contra arrazoar): 8

(oito) dias. Algumas exceções: a) Embargos de declaração: 5 dias; b) Recurso extraordinário: 15

dias (e agravo de instrumento contra decisão que nega seguimento a RE – 10 dias – art. 544 do

CPC); c) Agravo regimental: conforme RI do Tribunal.

Problema: feriado local ou dia útil em que não haja expediente forense deve ser

comprovado pela parte, pois tribunal não e obrigado a conhecer.

SUM-385, TST. FERIADO LOCAL. AUSÊNCIA DE EXPEDIENTE FORENSE.

PRAZO RECURSAL. PRORROGAÇÃO. COMPROVAÇÃO. NECESSIDADE

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Cabe à parte comprovar, quando da interposição do recurso, a existência de

feriado local ou de dia útil em que não haja expediente forense, que justifique a

prorrogação do prazo recursal.

Conforme já ressaltado, não se aplica à JT o prazo em dobro para recorrer no caso em que

as partes têm diferentes procuradores (OJ-SDI1-191). As pessoas jurídicas de direito público têm

prazo em dobro para recorrer, com exceção das empresas públicas e sociedades de economia mista

(pois dotadas de personalidade jurídica de direito privado).

Ainda, ressalte-se que, nos termos da OJ-SDI1-357, TST, é extemporâneo recurso

interposto antes de publicado o acórdão impugnado.

c. Preparo

O preparo envolve o pagamento das custas e do depósito recursal. Caso não efetuado tal

pagamento, o recurso é julgado deserto.

Custas: são pagas pelo vencido no prazo de interposição do recurso (Art. 789, §1º, CLT).

Nos termos da OJ-SDI1-104 do TST, não ocorre deserção se o valor da condenação foi

revisto, mas não houve cálculo das custas e nem intimação da parte para complementar o preparo.

Nesse caso, as custas deverão ser pagas ao final:

OJ-SDI1-104 CUSTAS. CONDENAÇÃO ACRESCIDA. INEXISTÊNCIA DE

DESERÇÃO QUANDO AS CUSTAS NÃO SÃO EXPRESSAMENTE CAL-

CULADAS E NÃO HÁ INTIMAÇÃO DA PARTE PARA O PREPARO DO

RECURSO, DEVENDO, ENTÃO, SER AS CUSTAS PAGAS AO FINAL

Não caracteriza deserção a hipótese em que, acrescido o valor da condenação,

não houve fixação ou cálculo do valor devido a título de custas e tampouco

intimação da parte para o preparo do recurso, devendo, pois, as custas ser pagas

ao final.

OBS: No processo do trabalho, também se admite a condenação da parte ao pagamento de multa

por litigância de má-fé, nos termos do art. 18 do CPC:

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Art. 18, CPC. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o

litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da

causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os

honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou.

§ 1º Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um

na proporção do seu respectivo interesse na causa, ou solidariamente aqueles

que se coligaram para lesar a parte contrária.

§ 2º O valor da indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não

superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, ou liquidado por

arbitramento

Porém, segundo a OJ-SDI1-409 do TST, o recolhimento dessa multa não é pressuposto objetivo

para interposição de recursos trabalhistas, sendo inaplicável o art. 35 do CPC (o qual dita que tal

multa integra as custas), em face da inexistência de omissão na legislação específica:

OJ-SDI1-409 MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. RECOLHIMENTO.

PRESSUPOSTO RECURSAL. INEXIGIBILIDADE.

O recolhimento do valor da multa imposta por litigância de má-fé, nos termos do

art. 18 do CPC, não é pressuposto objetivo para interposição dos recursos de

natureza trabalhista. Assim, resta inaplicável o art. 35 do CPC como fonte

subsidiária, uma vez que, na Justiça do Trabalho, as custas estão reguladas pelo

art. 789 da CLT.

Depósito recursal: pagamento feito pelo empregador (incluindo doméstico), no mesmo

prazo de interposição do recurso, para garantir o juízo (empregado não paga depósito recursal – art.

899, §4º da CLT). O valor é depositado na conta vinculada do FGTS do empregado e, ao final do

processo, será utilizado para pagar o crédito do autor, ou, no caso de improcedência do pedido do

reclamante, devolvido para a empresa.

Não se trata de taxa recursal, mas depósito para garantir a execução.

O valor do depósito recursal é fixado anualmente pelo TST. Desde 01/08/2011, é de R$

6.290,00 para RO e R$ 12.580,00 para RR, embargos, RE e RO em ação rescisória.

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OBS: A Lei nº 12.275, de 29 de junho de 2010, instituiu o depósito recursal (no montante de 50%

do valor do depósito do recurso que se pretende destrancar) como requisito de admissibilidade do

agravo de instrumento – art. 899, §7º da CLT.

O depósito recursal deve ser feito dentro do prazo para interposição do recurso:

SÚMULA Nº. 245. DEPÓSITO RECURSAL. PRAZO.

O depósito recursal deve ser feito e comprovado no prazo alusivo ao recurso. A

interposição antecipada deste não prejudica a dilação legal.

O depósito recursal deve ser efetuado por meio da GFIP, salvo na hipótese de o trabalhador

não estar submetido ao FGTS:

SUM-426, TST. DEPÓSITO RECURSAL. UTILIZAÇÃO DA GUIA GFIP.

OBRIGATORIEDADE

Nos dissídios individuais o depósito recursal será efetivado mediante a utilização

da Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social – GFIP,

nos termos dos §§ 4º e 5º do art. 899 da CLT, admitido o depósito judicial,

realizado na sede do juízo e à disposição deste, na hipótese de relação de

trabalho não submetida ao regime do FGTS.

(OBS: Súmula inserida em 2011)

Se não houver condenação em pecúnia, não é exigido o depósito recursal (pois não há

crédito a se garantir – Súm. 161 do TST).

SÚMULA Nº. 161. DEPÓSITO. CONDENAÇÃO A PAGAMENTO EM

PECÚNIA.

Se não há condenação a pagamento em pecúnia, descabe o depósito de que

tratam os §§ 1º e 2º do art. 899 da CLT.

Ademais, se o valor da condenação for inferior ao teto fixado pelo TST, o empregador

somente terá de depositar tal valor – nesse sentido, a Súmula nº 128 do TST, que traz outros

regramentos do depósito recursal:

SUM-128 DEPÓSITO RECURSAL

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I - É ônus da parte recorrente efetuar o depósito legal, integralmente, em relação a

cada novo recurso interposto, sob pena de deserção. Atingido o valor da

condenação, nenhum depósito mais é exigido para qualquer recurso.

II - Garantido o juízo, na fase executória, a exigência de depósito para recorrer de

qualquer decisão viola os incisos II e LV do art. 5º da CF/1988. Havendo, porém,

elevação do valor do débito, exige-se a complementação da garantia do juízo.

III - Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o depósito recursal

efetuado por uma delas aproveita as demais, quando a empresa que efetuou o

depósito não pleiteia sua exclusão da lide.

OBS: Havendo diferença no pagamento das custas ou do depósito, ainda que irrisória, o recurso

será declarado deserto, segundo a OJ nº 140 da SBDI-1 do TST:

OJ-SDI1-140 DEPÓSITO RECURSAL E CUSTAS. DIFERENÇA ÍNFIMA.

DESERÇÃO. OCORRÊNCIA

Ocorre deserção do recurso pelo recolhimento insuficiente das custas e do depósito

recursal, ainda que a diferença em relação ao “quantum” devido seja ínfima,

referente a centavos.

A massa falida não é obrigada a efetuar o pagamento do depósito ou de custas:

SUM-86 DESERÇÃO. MASSA FALIDA. EMPRESA EM LIQUIDAÇÃO

EXTRAJUDICIAL

Não ocorre deserção de recurso da massa falida por falta de pagamento de custas

ou de depósito do valor da condenação. Esse privilégio, todavia, não se aplica à

empresa em liquidação extrajudicial.

Entretanto, segundo entendimento do TST, referido privilégio não se estende às empresas

em recuperação judicial:

“DESERÇÃO. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AUSÊNCIA DE

DEPÓSITO RECURSAL. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA Nº 86 DESTA

CORTE. Consoante o entendimento majoritário do Tribunal Superior do Trabalho,

o privilégio de isenção do pagamento de custas e depósito recursal aplicável à

massa falida, previsto na Súmula nº 86 desta Corte, não é extensível às empresas

em recuperação judicial, pelo que, não realizado o depósito recursal relativo ao

recurso de revista, caminho outro não há senão declará-lo deserto”.

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(TST – (AIRR-356-45.2010.5.10.0000) – 2ª turma - Relator Min. José Roberto

Freire Pimenta – DJ em 10.02.2011, p. 304).

PRESSUPOSTOS RECURSAIS SUBJETIVOS

a. Legitimidade e capacidade

Qualquer parte que se sentir lesada pela decisão tem legitimidade para recorrer. Segundo o

art. 499 do CPC, podem recorrer a parte, o terceiro interessado e a Procuradoria do Trabalho

(tanto nos processos em que for parte quanto naqueles que oficiar como custos legis).

OBS: Relembre-se que a Previdência Social tem legitimidade para recorrer de acordos ou decisões

que ensejem recolhimento de contribuições previdenciárias (art. 831, p.un., CLT) – porém, cabe-

lhe discutir apenas a fixação dos valores salariais ou indenizatórios, e não o mérito da demanda em

si.

Ademais, para recorrer, a parte necessita ter capacidade processual, conforme visto

anteriormente.

Nos termos da OJ-SDI1-318, TST, as autarquias devem ser representadas por seus próprios

procuradores, e não pelos procuradores do Estado ou do Município, pois dotadas de personalidade

jurídica própria:

OJ-SDI1-318 REPRESENTAÇÃO IRREGULAR. AUTARQUIA

Os Estados e os Municípios não têm legitimidade para recorrer em nome

das autarquias detentoras de personalidade jurídica própria, devendo ser

representadas pelos procuradores que fazem parte de seus quadros ou por

advogados constituídos.

b. Interesse

Tem interesse em recorrer a parte que se sente prejudicada por algum aspecto da decisão.

Basta que a decisão não atenda às suas expectativas totais ou parciais para ensejar a possibilidade

de recurso.

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No caso de terceiro, este deve demonstrar a interdependência de seu interesse e a relação

jurídica.

OBS: Pode o vencedor de uma demanda recorrer? Sim – e.g., se o processo é extinto sem

julgamento do mérito, mas a parte quer uma decisão de mérito, ou se a sentença exclui do polo

passivo o litigante com melhores condições financeiras.

D. EFEITOS DOS RECURSOS

Segundo a doutrina, os efeitos do recurso são: a) devolutivo; b) suspensivo; c) substitutivo;

d) extensivo ou regressivo; e) translativo.

Como regra geral, os recursos trabalhistas possuem apenas efeito devolutivo – i.e.,

possibilitam a devolução da matéria ao órgão responsável pelo julgamento do recurso, sem

prejuízo da execução provisória. Não há, destarte, efeito suspensivo (suspensão dos efeitos da

sentença).

Art. 899, CLT - Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito

meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a

execução provisória até a penhora.

OBS: Exceção a tal regra refere-se à interposição de medida cautelar para obter-se o efeito

suspensivo, tal como admitido pelo inciso I da Súmula 414 do TST.

SUM-414 MANDADO DE SEGURANÇA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA (OU

LIMINAR) CONCEDIDA ANTES OU NA SENTENÇA

I - A antecipação da tutela concedida na sentença não comporta impugnação pela

via do mandado de segurança, por ser impugnável mediante recurso ordinário. A

ação cautelar é o meio próprio para se obter efeito suspensivo a recurso.

(...)

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Ademais, a Lei nº 10.192/01 (art. 14), que disciplina o reajuste salarial, assegura o direito de

o presidente do TST conceder efeito suspensivo, pelo prazo improrrogável de 120 dias, ao recurso

ordinário interposto em face de sentença normativa prolatada pelo TRT.

OBS: Caso seja conferido efeito suspensivo a recurso interposto de sentença normativa, a cassação

de tal efeito retroage à data do despacho que o deferiu (Súm. 279, TST).

SUM-279, TST. RECURSO CONTRA SENTENÇA NORMATIVA. EFEITO

SUSPENSIVO. CASSAÇÃO

A cassação de efeito suspensivo concedido a recurso interposto de sentença

normativa retroage à data do despacho que o deferiu.

Portanto, mesmo se interposto recurso, admite-se a execução provisória da sentença (i.e.,

execução que vai até a penhora, a seguir analisada).

Também se admite no processo do trabalho o denominado “efeito devolutivo em

profundidade”, que permite ao julgador analisar todos os fundamentos da defesa, ainda que não

apreciados em sentença ou renovados nas razões recursais. Veja-se, a respeito:

SUM-393, TST. RECURSO ORDINÁRIO. EFEITO DEVOLUTIVO EM

PROFUNDIDADE. ART. 515, § 1º, DO CPC.

O efeito devolutivo em profundidade do recurso ordinário, que se extrai do § 1º do

art. 515 do CPC, transfere automaticamente ao Tribunal a apreciação de

fundamento da defesa não examinado pela sentença, ainda que não renovado em

contra-razões. Não se aplica, todavia, ao caso de pedido não apreciado na

sentença.

Diz-se, ainda, que os recursos são dotados de efeito substitutivo, já que, segundo dispõe o

artigo 512 do CPC, o julgamento de mérito proferido em sede recursal substitui a sentença ou

decisão recorrida naquilo que tiver sido objeto de recurso.

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O efeito translativo permite ao tribunal conhecer de ofício questões de ordem pública,

ainda que não constem das razões recursais (arts. 515 e 516 do CPC).

O efeito extensivo refere-se a demandas envolvendo litisconsórcio (quando a decisão deve

ser uniforme para todos os litigantes). Com efeito, dita o art. 509 do CPC que o recurso interposto

por um dos litisconsortes a todos aproveita, ressalvados interesses distintos ou opostos.

O efeito regressivo consiste na possibilidade de retratação ou reconsideração pela mesma

autoridade prolatora da decisão. No processo trabalhista, é admitido em agravo de instrumento e

agravo regimental.

OBS: Por força do §3º do art. 515 do CPC, admite-se que o tribunal, nos casos de extinção do

processo sem julgamento de mérito, julgue desde logo a lide, desde que esta verse questão

exclusivamente de direito e esteja em condições de imediato julgamento. Embora existam

entendimentos contrários em doutrina, o TST tem admitido a aplicação de tal preceito.

E. OUTROS ASPECTOS RELEVANTES

Antes de adentrar-se o estudo dos recursos trabalhistas em espécie, é importante fazer

menção a outros aspectos relevantes da matéria, constantemente cobrados em concursos.

i. Remessa ex officio

Primeiramente, é importante ressaltar que, no processo do trabalho, também vige o

princípio da voluntariedade, que determina ser a interposição de recursos ato voluntário das

partes, sem qualquer obrigação legal.

Porém, aplica-se ao processo do trabalho a regra do reexame necessário (remessa ex

officio), nos casos de demanda envolvendo pessoas jurídicas de direito público (União, Estados,

DF, Municípios, autarquias e fundações públicas) ou sentença que julgue procedentes, no todo em

parte, embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública. Tal reexame não terá cabimento

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quando a condenação ou o direito controvertido for de valor inferior a 60 salários mínimos e

quando a sentença estiver de acordo com jurisprudência do STF ou tribunal superior competente.

Ressalte-se, entretanto, que a doutrina majoritária não considera o reexame necessário

como

exceção ao princípio da voluntariedade, pois não se trata de recurso propriamente dito.

Veja-se o regramento legal da matéria:

Art. 475, CPC. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito

senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:

I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as

respectivas autarquias e fundações de direito público;

II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida

ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI).

§ 1º Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao

tribunal, haja ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do tribunal

avocá-los.

§ 2º Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito

controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos,

bem como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida

ativa do mesmo valor.

§ 3º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver

fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em

súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.

SUM-303, TST. FAZENDA PÚBLICA. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO.

I - Em dissídio individual, está sujeita ao duplo grau de jurisdição, mesmo na

vigência da CF/1988, decisão contrária à Fazenda Pública, salvo:

a) quando a condenação não ultrapassar o valor correspondente a 60 (sessenta)

salários mínimos;

b) quando a decisão estiver em consonância com decisão plenária do Supremo

Tribunal Federal ou com súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal

Superior do Trabalho.

II - Em ação rescisória, a decisão proferida pelo juízo de primeiro grau está sujeita

ao duplo grau de jurisdição obrigatório quando desfavorável ao ente público,

exceto nas hipóteses das alíneas "a" e "b" do inciso anterior.

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III - Em mandado de segurança, somente cabe remessa "ex officio" se, na relação

processual, figurar pessoa jurídica de direito público como parte prejudicada pela

concessão da ordem. Tal situação não ocorre na hipótese de figurar no feito como

impetrante e terceiro interessado pessoa de direito privado, ressalvada a hipótese

de matéria administrativa.

OJ-SDI1-334 REMESSA "EX OFFICIO". RECURSO DE REVISTA.

INEXISTÊNCIA DE RECURSO ORDINÁRIO VOLUNTÁRIO DE ENTE

PÚBLICO. INCABÍVEL

Incabível recurso de revista de ente público que não interpôs recurso ordinário

voluntário da decisão de primeira instância, ressalvada a hipótese de ter sido

agravada, na segunda instância, a condenação imposta.

ii. Princípio do non reformatio in peius

Também se entende plenamente aplicável ao processo do trabalho o princípio do non

reformatio in peius, que proíbe o Tribunal de proferir decisão menos favorável ao recorrente. Vige,

aqui, a ideia de que o recorrente não pode ser prejudicado pelo recurso interposto.

iii. Irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias

Característica marcante do processo trabalhista é a irrecorribilidade imediata das decisões

interlocutórias, i.e., a impossibilidade de se interpor recurso, de imediato, de decisão que não

extingue o feito (com ou sem julgamento de mérito).

Tal regra encontra-se prevista no art. 893, §1º da CLT:

Art. 893, § 1º, CLT - Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo

ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões

interlocutórias somente em recursos da decisão definitiva.

Assim, se a parte discorda de determinada decisão proferida pelo juiz no curso do processo

(e.g., indeferimento de determinada prova, não concessão dos efeitos da tutela antecipada, etc),

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somente poderá contra ela se insurgir quando da interposição de recurso discutindo o mérito da

ação (em preliminar ao recurso).

O advogado pode requerer a consignação de seus protestos quando de uma decisão

desfavorável proferida pelo juiz no curso da instrução processual – porém, a negativa do juiz em

consignar tais protestos não constitui nulidade, haja vista a inexistência de previsão legal.

Importante, nesse tema, é a Súmula nº 214 do TST, que traz exceções à regra da

irrecorribilidade, quando se está diante de decisão:

a. De TRT contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do TST;

b. Suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal;

c. Que acolhe exceção de incompetência territorial, com remessa dos autos a outro

TRT, nos termos do art. 799, § 2º, da CLT.

SÚM-214. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. IRRECORRIBILIDADE.

Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões

interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de

Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial

do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso

para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a

remessa dos autosL para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o

juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT.

Afora tais hipóteses, não é admitido o recurso interposto de decisão que não põe fim ao

processo.

iv. Inexigibilidade de fundamentação

Segundo o já mencionado art. 899 da CLT, os recursos trabalhistas serão interpostos

mediante simples petição:

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Art. 899, CLT - Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito

meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a

execução provisória até a penhora.

Dessa maneira, os recursos no processo do trabalho, como regra geral, independem de

fundamentação ou, até mesmo, de razões recursais – entende-se que, na ausência de

fundamentação, toda a matéria é devolvida ao tribunal.

Tal regra, entretanto, vem sendo questionada pela doutrina, pois impede a adequada

delimitação da controvérsia e, consequentemente, o exercício de defesa pelo recorrido.

Ademais, conforme assevera a doutrina, a inexigibilidade de fundamentação não se estende

aos recursos técnicos, em que é preciso demonstrar a violação da lei (por exemplo, recurso de

revista e de embargos).

Com base em tais argumentos, o TST já pacificou entendimento no sentido de que o recurso

a ele dirigido não será processado se apresentado sem fundamentação:

SÚM-422, TST. RECURSO. APELO QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS

DA DECISÃO RECORRIDA. NÃO CONHECIMENTO. ART. 514, II, DO CPC.

Não se conhece de recurso para o TST, pela ausência do requisito de

admissibilidade inscrito no art. 514, II, do CPC, quando as razões do recorrente

não impugnam os fundamentos da decisão recorrida, nos termos em que fora

proposta.

OBS: nos termos da OJ-SDI1-120, TST, o recurso sem assinatura será tido por inexistente, sendo,

porém, considerado válido o apelo assinado, ao menos, na petição de apresentação ou nas razões

recursais.

F. RECURSOS EM ESPÉCIE

Conforme acima asseverado, o art. 893 da CLT contempla os recursos admissíveis no

processo trabalhista. Tal rol, ainda, é complementado pelo direito processual civil, como fonte

subsidiária.

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Estudaremos, a seguir, as espécies de recursos admitidos no processo do trabalho.

1. Recurso Ordinário

É o “recurso de apelação” do processo civil – utilizado genericamente em caso de

inconformismo com a decisão.

Segundo o art. 895 da CLT, é cabível, no prazo de 8 dias:

a) das decisões definitivas ou terminativas de Varas e Juízos de direito investidos de

jurisdição trabalhista;

b) das decisões definitivas ou terminativas de Tribunais Regionais em processos de sua

competência originária (ex: AR, MS, dissídio coletivo, etc).

Art. 895, CLT - Cabe recurso ordinário para a instância superior:

I - das decisões definitivas ou terminativas das Varas e Juízos, no prazo de 8 (oito)

dias; e

II - das decisões definitivas ou terminativas dos Tribunais Regionais, em processos

de sua competência originária, no prazo de 8 (oito) dias, quer nos dissídios

individuais, quer nos dissídios coletivos.

OBS: Embora a redação anterior do art. 895 previsse o cabimento do RO apenas de decisões

definitivas (ou seja, que implicam julgamento de mérito), toda a doutrina se manifestava no sentido

do cabimento do RO também nas decisões terminativas (i.e., de extinção do processo sem

julgamento do mérito). Tal entendimento foi, então, positivado na CLT pela Lei nº 11.925/09.

Também cabe RO de decisões interlocutórias terminativas do feito, nos termos do art. 799,

§2º da CLT e da Súmula 214 do TST.

Interposto o recurso (razões + comprovante de depósito e custas), o juiz fará o primeiro

juízo de admissibilidade e abrirá vista à parte contrária, para contrarrazoar no prazo de 8 dias

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(facultativo). Em seguida, pode realizar novo juízo de admissibilidade e, se não reformar sua

decisão, encaminhar o processo ao órgão superior. Após o parecer do MPT e dos votos do relator e

o revisor (os quais também farão o juízo de admissibilidade), os autos são colocados em mesa para

julgamento. Após o julgamento pela turma, será publicado o acórdão.

---------- Procedimento sumário (Lei nº 5584/70) e sumaríssimo (arts. 852-A e ss da CLT)

No procedimento sumário (de alçada), que envolve demandas trabalhistas cujo valor da

causa não supere 2 salários mínimos, não caberá qualquer recurso, salvo se a matéria debatida for

de natureza constitucional – questionamentos quanto à constitucionalidade (por violação a suposto

princípio do duplo grau de jurisdição).

Ressalte-se que a fixação da alçada com base no salário mínimo é considerada

constitucional (em face do art. 7º, IV da CF/88):

SUM-356 ALÇADA RECURSAL. VINCULAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO

O art. 2º, § 4º, da Lei nº 5.584, de 26.06.1970, foi recepcionado pela CF/1988,

sendo lícita a fixação do valor da alçada com base no salário mínimo.

Quando da instituição do procedimento sumaríssimo, pela Lei nº 9.957/00, pretendeu-se

limitar o cabimento do recurso ordinário apenas aos casos de violação literal de lei, contrariedade à

Súmula do TST ou violação direta da Constituição. Porém, referida disposição (art. 895, §1º da

CLT) foi vetada, e hoje o RO tem ampla admissibilidade no procedimento sumaríssimo.

Em contrapartida, foi previsto procedimento mais célere para a apreciação de tal recurso:

• Imediata distribuição;

• Prazo de 10 dias para apresentação do voto pelo relator;

• Inexistência de revisor;

• Parecer oral do MPT na seção;

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125

• Acórdão consistente unicamente na certidão de julgamento, com as razões de

decidir do voto prevalente, podendo ser a sentença confirmada pelos próprios

fundamentos;

• É possível instituir-se turma especializada apenas para o julgamento de recursos em

demandas envolvendo o procedimento sumaríssimo

Art. 895, § 1º, CLT - Nas reclamações sujeitas ao procedimento sumaríssimo, o

recurso ordinário:

I - (VETADO).

II - será imediatamente distribuído, uma vez recebido no Tribunal, devendo o

relator liberá-lo no prazo máximo de dez dias, e a Secretaria do Tribunal ou Turma

colocá-lo imediatamente em pauta para julgamento, sem revisor;

III - terá parecer oral do representante do Ministério Público presente à sessão de

julgamento, se este entender necessário o parecer, com registro na certidão;

IV - terá acórdão consistente unicamente na certidão de julgamento, com a

indicação suficiente do processo e parte dispositiva, e das razões de decidir do voto

prevalente. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a certidão de

julgamento, registrando tal circunstância, servirá de acórdão.

§ 2º Os Tribunais Regionais, divididos em Turmas, poderão designar Turma para o

julgamento dos recursos ordinários interpostos das sentenças prolatadas nas

demandas sujeitas ao procedimento sumaríssimo

2. Recurso de Revista

É recurso trabalhista de natureza extraordinária, admissível apenas nas hipóteses elencadas

pelo art. 896 da CLT:

Art. 896, CLT - Cabe Recurso de Revista para Turma do Tribunal Superior do

Trabalho das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em dissídio

individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, quando:

a) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da que lhe

houver dado outro Tribunal Regional, no seu Pleno ou Turma, ou a Seção de

Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, ou a Súmula de

Jurisprudência Uniforme dessa Corte;

b) derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, Convenção Coletiva de Trabalho,

Acordo Coletivo, sentença normativa ou regulamento empresarial de observância

obrigatória em área territorial que exceda a jurisdição do Tribunal Regional

prolator da decisão recorrida, interpretação divergente, na forma da alínea a;

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126

c) proferidas com violação literal de disposição de lei federal ou afronta direta e

literal à Constituição Federal.

O recurso de revista, julgado por uma das turmas do TST, não se destina à reapreciação de

provas ou fatos, apenas da matéria jurídica. Tem por função promover a uniformização de

jurisprudência e a guarda da CF/88 e de lei federal. Nesse sentido, a Súmula nº 126 do TST:

SÚMULA Nº. 126. RECURSO. CABIMENTO.

Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts. 896 e 894, "b", da CLT) para

reexame de fatos e provas.

É admitido apenas em dissídios individuais, das decisões proferidas em grau de recurso

ordinário pelos TRT, em três hipóteses (em dissídio coletivo, o recurso cabível é o RO):

• Interpretação divergente de lei federal entre o tribunal que proferiu a decisão e Súmula do

TST, ou decisão da SDI do TST, ou decisão de outro TRT. Também é admissível o RR

envolvendo Orientação Jurisprudencial do TST – nesse sentido, a OJ-SDI1-219, TST:

OJ-SDI1-219 RECURSO DE REVISTA OU DE EMBARGOS FUNDAMEN-

TADO EM ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL DO TST

É válida, para efeito de conhecimento do recurso de revista ou de embargos, a

invocação de Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior

• Interpretação divergente de lei estadual, acordo ou convenção coletiva, regulamento de

empresa e sentença normativa com abrangência superior a um TRT.

• Violação de lei federal ou afronta direta e literal da CF/88.

ATENÇÃO: no RR interposto com base em dissídio jurisprudencial, não é servível aresto do

próprio Tribunal prolator da decisão – nesse caso, admite-se apenas a utilização do incidente de

uniformização de jurisprudência. Veja-se o entendimento pacificado do TST:

OJ-SDI1-111 RECURSO DE REVISTA. DIVERGÊNCIA

JURISPRUDENCIAL. ARESTO ORIUNDO DO MESMO TRIBUNAL

REGIONAL. LEI Nº 9.756/1998. INSERVÍVEL AO CONHECIMENTO

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127

Não é servível ao conhecimento de recurso de revista aresto oriundo de mesmo

Tribunal Regional do Trabalho, salvo se o recurso houver sido interposto

anteriormente à vigência da Lei nº 9.756/1998.

O preenchimento de uma das alíneas do art. 896 da CLT também representa um pressuposto

recursal, que será analisado logo no juízo de admissibilidade. No caso de divergência

jurisprudencial, é preciso juntar cópias dos acórdãos que ensejaram a divergência, além de indicar

expressamente em que ela consiste:

SUM-337 COMPROVAÇÃO DE DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL.

RECURSOS DE REVISTA E DE EMBARGOS

I - Para comprovação da divergência justificadora do recurso, é necessário que

o recorrente:

a) Junte certidão ou cópia autenticada do acórdão paradigma ou cite a fonte

oficial ou o repositório autorizado em que foi publicado; e

b) Transcreva, nas razões recursais, as ementas e/ou trechos dos acórdãos

trazidos à configuração do dissídio, demonstrando o conflito de teses que

justifique o conhecimento do recurso, ainda que os acórdãos já se encontrem nos

autos ou venham a ser juntados com o recurso.

II - A concessão de registro de publicação como repositório autorizado de

jurisprudência do TST torna válidas todas as suas edições anteriores.

III – A mera indicação da data de publicação, em fonte oficial, de aresto

paradigma é inválida para comprovação de divergência jurisprudencial, nos

termos do item I, “a”, desta súmula, quando a parte pretende demonstrar o

conflito de teses mediante a transcrição de trechos que integram a

fundamentação do acórdão divergente, uma vez que só se publicam o dispositivo

e a ementa dos acórdãos;

IV – É válida para a comprovação da divergência jurisprudencial justificadora

do recurso a indicação de aresto extraído de repositório oficial na internet, sendo

necessário que o recorrente transcreva o trecho divergente e aponte o sítio de

onde foi extraído com a devida indicação do endereço do respectivo conteúdo na

rede (URL – Universal Resource Locator).

Ainda, nos termos da Súmula 23 do TST, não se conhece de RR se a decisão recorrida

contiver fundamentos diversos e a jurisprudência transcrita não abarcar todos:

SUM-23 RECURSO

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128

Não se conhece de recurso de revista ou de embargos, se a decisão recorrida

resolver determinado item do pedido por diversos fundamentos e a jurisprudência

transcrita não abranger a todos.

OBS: É incabível recurso de revista interposto de acórdão regional prolatado em agravo de

instrumento (Súm. 218, TST).

É mister, ademais, seja indicado o dispositivo da lei ou da CF/88 violado – ressaltando-se

que somente a afronta enseja conhecimento do RR, e não a interpretação razoável:

SUM-221 RECURSOS DE REVISTA OU DE EMBARGOS. VIOLAÇÃO DE

LEI. INDICAÇÃO DE PRECEITO. INTERPRETAÇÃO RAZOÁVEL

I - A admissibilidade do recurso de revista e de embargos por violação tem como

pressuposto a indicação expressa do dispositivo de lei ou da Constituição tido

como violado.

II - Interpretação razoável de preceito de lei, ainda que não seja a melhor, não dá

ensejo à admissibilidade ou ao conhecimento de recurso de revista ou de embargos

com base, respectivamente, na alínea "c" do art. 896 e na alínea "b" do art. 894 da

CLT. A violação há de estar ligada à literalidade do preceito.

Como visto, se o ministro relator identificar que a decisão recorrida está em consonância

com Súmula do TST, pode, monocraticamente, negar seguimento ao recurso:

§ 5º, art. 876, CLT - Estando a decisão recorrida em consonância com enunciado

da Súmula da Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, poderá o Ministro

Relator, indicando-o, negar seguimento ao Recurso de Revista, aos Embargos, ou

ao Agravo de Instrumento. Será denegado seguimento ao Recurso nas hipóteses de

intempestividade, deserção, falta de alçada e ilegitimidade de representação,

cabendo a interposição de Agravo.

SÚMULA Nº. 333. RECURSOS DE REVISTA. CONHECIMENTO.

Não ensejam recurso de revista decisões superadas por iterativa, notória e atual

jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho.

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129

Ademais, é requisito para interposição do RR o prequestionamento: é necessário que a

decisão recorrida tenha se manifestado expressamente sobre a matéria do recurso; caso contrário, o

recurso não será admitido.

No caso de a decisão não apreciar a matéria de que se pretende recorrer de revista, deve o

impugnante opor embargos de declaração com finalidade de prequestionar a matéria. Nesse

sentido, o entendimento sumulado do TST:

SUM-297, TST. PREQUESTIONAMENTO. OPORTUNIDADE.

CONFIGURAÇÃO.

I. Diz-se prequestionada a matéria ou questão quando na decisão impugnada haja

sido adotada, explicitamente, tese a respeito.

II. Incumbe à parte interessada, desde que a matéria haja sido invocada no recurso

principal, opor embargos declaratórios objetivando o pronunciamento sobre o

tema, sob pena de preclusão.

III. Considera-se prequestionada a questão jurídica invocada no recurso principal

sobre a qual se omite o Tribunal de pronunciar tese, não obstante opostos

embargos de declaração.

Algumas orientações jurisprudenciais do TST explicitam outras questões envolvendo o

prequestionamento:

OJ-SDI1-62 PREQUESTIONAMENTO. PRESSUPOSTO DE

ADMISSIBILIDADE EM APELO DE NATUREZA EXTRAORDINÁRIA.

NECESSIDADE, AINDA QUE SE TRATE DE INCOMPETÊNCIA

ABSOLUTA

É necessário o prequestionamento como pressuposto de admissibilidade em re-

curso de natureza extraordinária, ainda que se trate de incompetência absoluta.

OJ-SDI1-118 PREQUESTIONAMENTO. TESE EXPLÍCITA.

INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 297

Havendo tese explícita sobre a matéria, na decisão recorrida, desnecessário

contenha nela referência expressa do dispositivo legal para ter-se como

prequestionado este.

OJ-SDI1-119 PREQUESTIONAMENTO INEXIGÍVEL. VIOLAÇÃO

NASCIDA NA PRÓPRIA DECISÃO RECORRIDA. SÚMULA Nº 297.

INAPLICÁVEL

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130

É inexigível o prequestionamento quando a violação indicada houver nascido na

própria decisão recorrida. Inaplicável a Súmula n.º 297 do TST.

OJ-SDI1-151 PREQUESTIONAMENTO. DECISÃO REGIONAL QUE

ADOTA A SENTENÇA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO

Decisão regional que simplesmente adota os fundamentos da decisão de primeiro

grau não preenche a exigência do prequestionamento, tal como previsto na

Súmula nº 297.

OBS: Desde 2001, vem sendo exigida pelo TST, também, a comprovação do requisito da

transcendência – i.e., repercussão geral da causa, nos termos do art. 896-A da CLT:

Art.896-A, CLT - O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista,

examinará previamente se a causa oferece transcendência com relação aos

reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica.

Contudo, a alteração da CLT foi operada por meio de medida provisória – o que leva a

doutrina a questionar sua constitucionalidade, haja vista a inexistência de relevância e urgência.

Ademais, ao contrário do STF, não há autorização constitucional para o TST aplicar o princípio da

transcendência.

---------- Procedimento sumaríssimo (arts. 852-A e ss da CLT)

O recurso de revista é também admitido no procedimento sumaríssimo; contudo, as

hipóteses de seu cabimento são mais restritas: contrariedade a Súmula do TST e violação direta da

Constituição Federal:

Art. 896, § 6º, CLT Nas causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, somente

será admitido recurso de revista por contrariedade a súmula de jurisprudência

uniforme do Tribunal Superior do Trabalho e violação direta da Constituição da

República.

Porém, diferentemente do procedimento ordinário, no procedimento sumaríssimo não é

cabível RR calcado em contrariedade a OJ do TST:

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131

OJ-SDI1-352 PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO. RECURSO DE REVIS-TA

FUNDAMENTADO EM CONTRARIEDADE A ORIENTAÇÃO JURIS-

PRUDENCIAL. INADMISSIBILIDADE. ART. 896, § 6º, DA CLT, ACRES-

CENTADO PELA LEI Nº 9.957, DE 12.01.2000

Nas causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, não se admite recurso de re-

vista por contrariedade à Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do

Trabalho (Livro II, Título II, Capítulo III, do RITST), por ausência de previsão no

art. 896, § 6º, da CLT.

3. Embargos de declaração

Previstos no art. 897-A da CLT, os embargos de declaração são cabíveis para suprir

omissão, obscuridade ou contradição do julgado. Por força de seu caráter não-substitutivo, há

discussões sobre se consistiriam recursos propriamente ditos.

Os embargos serão julgados pela própria autoridade prolatora da decisão; por tal razão,

sujeitam-se, apenas, a um juízo de admissibilidade.

PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO: 5 dias

Art. 897-A, CLT. Caberão embargos de declaração da sentença ou acórdão, no

prazo de cinco dias, devendo seu julgamento ocorrer na primeira audiência ou

sessão subseqüente a sua apresentação, registrado na certidão, admitido efeito

modificativo da decisão nos casos de omissão e contradição no julgado e manifesto

equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso.

Parágrafo único. Os erros materiais poderão ser corrigidos de ofício ou a

requerimento de qualquer das partes.

Opostos os embargos, o juiz os julgará no prazo de cinco dias, sem necessidade de

intimação do embargado para apresentação de contrarrazões.

Muito se discutiu sobre a admissibilidade do efeito modificativo dos embargos de

declaração no processo do trabalho. O art. 897-A dirimiu a questão, afirmando o efeito

modificativo dos embargos nos casos de omissão e contradição do julgado ou manifesto equívoco

no exame dos pressupostos recursais. No mesmo sentido, manifesta-se a Súm. 278 do TST:

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132

SÚM- 278, TST. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO NO JULGADO.

A natureza da omissão suprida pelo julgamento de embargos declaratórios pode

ocasionar efeito modificativo no julgado.

Nesse caso, de acordo com entendimento do TST, é preciso abrir vista para a parte contrária

se manifestar (OJ-SDI-I nº 142).

OJ nº. 142. Embargos declaratórios. Efeito modificativo. Vista à parte contrária.

A SDI-plena decidiu, por maioria, que é passível de nulidade decisão que acolhe

embargos declaratórios com efeito modificativo, sem oportunidade para a parte

contrária se manifestar.

A oposição dos embargos de declaração interrompe o prazo para interposição de outros

recursos (Art. 538, CPC). No caso de embargos meramente protelatórios, à parte será aplicada

multa de 1% do valor da causa (ou 10% na reiteração dos embargos).

Art. 538, CLT. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a

interposição de outros recursos, por qualquer das partes.

Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o

tribunal, declarando que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado

multa não excedente de 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Na reiteração

de embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por cento), ficando

condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor

respectivo.

OBS: Conforme acima já mencionado, os embargos podem ser utilizados também para fins de

prequestionamento (Súm. 297 do TST). Ademais, podem ser destinados a atacar decisão

monocrática do relator calcada no art. 557 do CPC:

SÚM-421, TST. EMBARGOS DECLARATÓRIOS CONTRA DECISÃO

MONOCRÁTICA DO RELATOR CALCADA NO ART. 557 DO CPC.

CABIMENTO.

I - Tendo a decisão monocrática de provimento ou denegação de recurso,

prevista no art. 557 do CPC, conteúdo decisório definitivo e conclusivo da lide,

comporta ser esclarecida pela via dos embargos de declaração, em decisão

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133

aclaratória, também monocrática, quando se pretende tão-somente suprir

omissão e não, modificação do julgado.

II - Postulando o embargante efeito modificativo, os embargos declaratórios

deverão ser submetidos ao pronunciamento do Colegiado, convertidos em agravo,

em face dos princípios da fungibilidade e celeridade processual.

É em dobro o prazo para a interposição de embargos declaratórios por pessoa jurídica de

direito público (OJ-SDI1-192, TST). Ademais, segundo a OJ-SDI1-377, TST, não cabem embargos

de declaração interpostos contra decisão de admissibilidade do recurso de revista, não tendo o

efeito de interromper qualquer prazo recursal.

4. Agravo de instrumento e de petição

Conforme visto anteriormente, o processo do trabalho é marcado pelo princípio da

irrecorribilidade das decisões interlocutórias. Portanto, o agravo de instrumento tem única função,

qual seja, impugnar decisões que denegam o seguimento de recursos:

Art. 897, CLT. Cabe agravo, no prazo de oito dias:

b) de instrumento, dos despachos que denegarem a interposição de recursos.

O agravo de instrumento, até agosto de 2010, independe de preparo (observar a já

mencionada alteração operada pela Lei 12275/10). Será competente para seu julgamento o tribunal

que seria competente para conhecer o recurso cuja interposição foi denegada (art. 897, §4º da

CLT).

O agravo de instrumento admite juízo de retratação, permitindo ao juiz a reconsideração

da decisão agravada. Se a decisão, entretanto, for mantida, o agravado será intimado para que, no

prazo de oito dias, ofereça resposta ao agravo.

Importante previsão sobre a representação no agravo de instrumento vem contida na OJ-

SDI1-110, do TST:

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134

OJ-SDI1-110 REPRESENTAÇÃO IRREGULAR. PROCURAÇÃO APENAS

NOS AUTOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

A existência de instrumento de mandato apenas nos autos de agravo de

instrumento, ainda que em apenso, não legitima a atuação de advogado nos

processos de que se originou o agravo.

OBS: a impugnação de decisões que denegarem seguimento ao recurso de embargos no TST é

feita por meio de agravo regimental, e não agravo de instrumento.

O agravo de petição, por seu turno, é recurso destinado ao questionamento de decisões

terminativas ou definitivas proferidas no processo de execução, consoante o art. 897 da CLT:

Art. 897, CLT. Cabe agravo, no prazo de oito dias:

a) de petição, das decisões do Juiz ou Presidente, nas execuções;

Assim, e.g., é cabível de decisões que julgam embargos à execução ou embargos de

terceiros. A competência para julgamento vem explicitada no §3º do art. 897 da CLT:

Art. 897, § 3º. Na hipótese da alínea a deste artigo, o agravo será julgado pelo

próprio tribunal, presidido pela autoridade recorrida, salvo se tratar de decisão de

Juiz do Trabalho de 1ª Instância ou de Juiz de Direito, quando o julgamento

competirá a uma das Turmas do Tribunal Regional a que estiver subordinado o

prolator da sentença, observado o disposto no artigo 679, a quem este remeterá as

peças necessárias para o exame da matéria controvertida, em autos apartados, ou

nos próprios autos, se tiver sido determinada a extração de carta de sentença.

Requisito específico de admissibilidade do agravo de petição é a delimitação justificada das

matérias e valores impugnados, conforme disposto no art. 897, §1º da CLT, devendo os valores

remanescentes ser executados:

Art. 897, § 1º, CLT O agravo de petição só será recebido quando o agravante

delimitar, justificadamente, as matérias e os valores impugnados, permitida a

execução imediata da parte remanescente até o final, nos próprios autos ou por

carta de sentença.

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135

O agravo de petição independe de depósito recursal, sendo suficiente que o juízo esteja

previamente garantido com a penhora ou nomeação de bens:

SUM-128, TST. DEPÓSITO RECURSAL.

(...)

II- Garantido o juízo, na fase executória, a exigência de depósito para recorrer de

qualquer decisão viola os incisos II e LV do art. 5º da CF/88. Havendo, porém,

elevação do valor do débito, exige-se a complementação da garantia do juízo.

(...)

5. Agravo regimental e embargos no TST

Agravo regimental é recurso previsto nos regimentos internos dos Tribunais, destinado a

questionar decisões destes órgãos não amparadas por outros recursos. Assim, poderá ser utilizado

em face de decisões monocráticas ou decisões em matérias administrativas. Os prazos para

interposição são fixados pelos próprios Tribunais em seus regimentos internos.

É admitida, no TST, a propositura de embargos de divergência e embargos infringentes, nos

termos do art. 894 da CLT:

Art. 894, CLT. No Tribunal Superior do Trabalho cabem embargos, no prazo de 8

(oito) dias:

I – de decisão não unânime de julgamento que:

a) conciliar, julgar ou homologar conciliação em dissídios coletivos que excedam a

competência territorial dos Tribunais Regionais do Trabalho e estender ou rever as

sentenças normativas do Tribunal Superior do Trabalho, nos casos previstos em lei;

e

II – das decisões das Turmas que divergirem entre si, ou das decisões proferidas

pela Seção de Dissídios Individuais, salvo se a decisão recorrida estiver em

consonância com súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do

Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal.

Os embargos infringentes são opostos perante a SDC, das decisões não-unânimes

proferidas em processos de sua competência originária (e.g., dissídio coletivo que excede a área de

um Tribunal Regional). Já os embargos de divergência são opostos perante a SDI, das decisões

divergentes de Turmas ou destas com a SDI.

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136

Em nenhum dos casos admitir-se-á a oposição de embargos se a decisão recorrida estiver

em consonância com a jurisprudência sumulada do TST ou do STF.

OBS: Segundo a OJ-SDI1-95, TST, acórdãos oriundos da mesma Turma, embora divergentes, não

fundamentam divergência jurisprudencial a ensejar o conhecimento dos embargos de divergência.

Também não cabem embargos em face de decisão monocrática de relator, mas apenas decisão

colegiada proferida pelo TST (OJ-SDI1-378, TST).

Como regra geral, não é possível opor embargos de divergência de decisão proferida em

sede de agravo – exceção feita às hipóteses contempladas pela Súm. 353 do TST:

SUM-353 EMBARGOS. AGRAVO. CABIMENTO

Não cabem embargos para a Seção de Dissídios Individuais de decisão de Turma

proferida em agravo, salvo: a) da decisão que não conhece de agravo de

instrumento ou de agravo pela ausência de pressupostos extrínsecos; b) da

decisão que nega provimento a agravo contra decisão monocrática do Relator,

em que se proclamou a ausência de pressupostos extrínsecos de agravo de

instrumento; c) para revisão dos pressupostos extrínsecos de admissibilidade do

recurso de revista, cuja ausência haja sido declarada originariamente pela

Turma no julgamento do agravo; d) para impugnar o conhecimento de agravo de

instrumento; e) para impugnar a imposição de multas previstas no art. 538,

parágrafo único, do CPC, ou no art. 557, § 2º, do CPC; f) contra decisão de

Turma proferida em Agravo interposto de decisão monocrática do relator,

baseada no art. 557, § 1º-A, do CPC.

No procedimento sumaríssimo, importante é a OJ-SDI1-405 do TST:

OJ-SDI1-405 EMBARGOS. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO. CONHE-

CIMENTO. RECURSO INTERPOSTO APÓS VIGÊNCIA DA LEI Nº 11.496,

DE 22.06.2007, QUE CONFERIU NOVA REDAÇÃO AO ART. 894, II, DA

CLT.

Em causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, em que pese a limitação

imposta no art. 896, § 6º, da CLT à interposição de recurso de revista, admite-se

os embargos interpostos na vigência da Lei nº 11.496, de 22.06.2007, que

conferiu nova redação ao art. 894 da CLT, quando demonstrada a divergência

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137

jurisprudencial entre Turmas do TST, fundada em interpretações diversas acerca

da aplicação de mesmo dispositivo constitucional ou de matéria sumulada.

6. Recurso adesivo

Trata-se de recurso que irá aderir a outro interposto pela parte contrária – assim, interposto,

e.g., RO pelo reclamante, pode a reclamada interpor recurso adesivo a este.

Havia discussões sobre seu cabimento na JT (aliás, a Súm. 175 do TST, hoje cancelada,

expressamente ditava ser ele incompatível com o processo do trabalho); porém, a dúvida foi

dirimida pela Súmula nº 283 do TST:

SUM-283 RECURSO ADESIVO. PERTINÊNCIA NO PROCESSO DO

TRABALHO. CORRELAÇÃO DE MATÉRIAS

O recurso adesivo é compatível com o processo do trabalho e cabe, no prazo de 8

(oito) dias, nas hipóteses de interposição de recurso ordinário, de agravo de

petição, de revista e de embargos, sendo desnecessário que a matéria nele

veiculada esteja relacionada com a do recurso interposto pela parte contrária.

Observe-se que o recurso adesivo será interposto no prazo de 8 dias após a interposição do

recurso principal e não necessita, necessariamente, ter relação com a matéria nele veiculada. De

qualquer maneira, seguirá a sorte do principal – se este não for conhecido, o recurso adesivo

também não será.

No prazo de 8 dias, a parte apresentará simultaneamente – porém em peças separadas – o

recurso adesivo e as contrarrazões. Abre-se, então, novo prazo de 8 dias para a parte contrária

contrarrazoar o recurso adesivo.

Também deverá ser feito o depósito recursal e o pagamento das custas.

11. EXECUÇÃO TRABALHISTA

A. CONCEITO

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138

Procedimento que visa a assegurar o direito que foi proferido pela sentença condenatória, ou

seja, transferir ao patrimônio do credor o valor que lhe foi assegurado na decisão – atividade juris-

satisfativa.

A CLT tem um capítulo tratando da execução trabalhista – arts. 876 a 892. Como nem todos

os incidentes que podem surgir durante o processo de execução estão fundamentados na CLT,

deve-se recorrer a fontes subsidiárias: Lei dos Executivos Fiscais (Lei 6830/80). Nesse sentido, o já

mencionado art. 889 da CLT:

Art. 889, CLT - Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis,

naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem o

processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda

Pública Federal.

Também o CPC pode ser utilizado como fonte subsidiária, nos termos da própria Lei nº

6830/80, que prevê a aplicação subsidiária desse diploma.

B. TÍTULOS EXECUTIVOS

Para se iniciar, toda execução depende de um título executivo. Os títulos executivos no

processo do trabalho encontram-se previstos no art. 876 da CLT:

Art. 876, CLT - As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido

recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de

ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos

de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão

executada pela forma estabelecida neste Capítulo.

Portanto, são títulos executivos:

a. Sentenças transitadas em julgado ou das quais não tenha sido interposto recurso com efeito

suspensivo (título executivo judicial);

b. Acordos não cumpridos (título executivo judicial);

c. TAC firmado pelo MPT (título executivo extrajudicial);

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d. Termos de conciliação firmados na CCP (título executivo extrajudicial).

A competência para apreciação dos títulos executivos judiciais e extrajudiciais vem definida,

respectivamente, nos arts. 877 e 877-A da CLT:

Art. 877 - É competente para a execução das decisões o Juiz ou Presidente do

Tribunal que tiver conciliado ou julgado originariamente o dissídio.

Art. 877-A - É competente para a execução de título executivo extrajudicial o juiz

que teria competência para o processo de conhecimento relativo à matéria.

C. MODALIDADES DE EXECUÇÃO

1. Execução provisória

Execução promovida com base em título executivo que ainda não transitou em julgado

(sobre o qual ainda pende exame de um recurso sem efeito suspensivo). Obviamente, títulos

executivos extrajudiciais não comportam execução provisória.

Não pode ser promovida de ofício pelo juiz – deve partir de requerimento da parte.

No caso, os autos do recurso são enviados ao tribunal, para apreciação do recurso, mas é

extraída a Carta de Sentença, composta por cópias dos principais atos processuais e documentos

(art. 475-O, §3º, CPC – principais atos são sentença ou acórdão, certidão de interposição do

recurso, procurações, decisão de habilitação, se for o caso, outras peças que o exequente julgar

necessárias).

O limite da execução provisória é a penhora, ou seja, vai até a garantia do pagamento dos

valores decorrentes da condenação, mas não chega à expropriação dos bens.

Segundo entendimento do TST, a despeito da ordem contida no art. 655 do CPC, não é

adequada a penhora de dinheiro na execução provisória, por força de sua precariedade. Por isso, na

execução provisória, cabe mandado de segurança da decisão que determina a penhora de dinheiro

se o executado nomeou outros bens à penhora:

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SUM-417 MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA EM DINHEIRO

(...)

III - Em se tratando de execução provisória, fere direito líquido e certo do

impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados outros bens

à penhora, pois o executado tem direito a que a execução se processe da forma que

lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620 do CPC.

OBS: Se o julgamento do tribunal reforma a sentença, a atividade de execução provisória ficará

sem efeito. Ademais, se o recurso abordar apenas parte da decisão, proceder-se-á à execução

definitiva do restante.

2. Execução definitiva

Movida com base num título executivo contra o qual não existe recurso. Permite o

constrangimento patrimonial do devedor e a expropriação de seus bens, se necessário for.

3. Execução por prestações sucessivas

As prestações sucessivas são dividas em prestações por tempo determinado e por tempo

indeterminado, nos termos dos arts. 891 e 892 da CLT:

Art. 891, CLT - Nas prestações sucessivas por tempo determinado, a execução

pelo não-pagamento de uma prestação compreenderá as que lhe sucederem.

Art. 892, CLT - Tratando-se de prestações sucessivas por tempo indeterminado, a

execução compreenderá inicialmente as prestações devidas até a data do

ingresso na execução.

O art. 891 da CLT determina que, nas prestações sucessivas por tempo determinado, a

execução pelo não pagamento de uma prestação compreenderá as que lhe sucederem. Assim, e.g.,

no caso de parcelamento judicial da obrigação, determinado em 5 parcelas, não sendo paga a

primeira prestação, as seguintes serão consideradas vencidas, passando a execução a abranger o

valor integral da dívida.

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No caso de prestações sucessivas por tempo indeterminado (e.g., prestação decorrente do

contrato de trabalho ainda em vigor), a execução compreenderá, inicialmente, as prestações

devidas até a data do ingresso na execução. Porém, por aplicação analógica do art. 290 do CPC, as

prestações que se vencerem após o início da execução serão incluídas na execução, desde que

subsistente o vínculo contratual.

4. Execução contra a Fazenda Pública

A execução contra a Fazenda Pública é diferenciada, em virtude da qualidade do devedor.

Como regra geral, os pagamentos devidos pela Fazenda Pública serão realizados por meio

de precatório (art. 100, CF/88). Porém, questiona-se a aplicação de tal regra no processo do

trabalho, em virtude da natureza alimentícia das verbas nele envolvidas.

Atualmente, entretanto, prevalece o entendimento de que tais créditos também devem ser

pagos por precatório, gozando, contudo, de ordem privilegiada se dotados de natureza alimentícia

(assim, créditos indenizatórios não têm preferência).

Destaquem-se, nesse sentido, as alterações operadas pela EC-62/09 no art. 100 da CF/88 –

as quais inseriram nova categoria de créditos privilegiados antes dos trabalhistas:

Art. 100, CF/88. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,

Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão

exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta

dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas

dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.

§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de

salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios

previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em

responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e

serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles

referidos no § 2º deste artigo.

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§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos

de idade ou mais na data de expedição do precatório, ou sejam portadores de

doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre

todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os

fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa

finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de

apresentação do precatório.

Essa espécie de execução vem regulada, especialmente, pelas Orientações Jurisprudenciais

do Tribunal Pleno do TST – as quais contemplam outros aspectos peculiares:

• A Fazenda não fica sujeita à penhora e praceamento de seus bens; por isso, os embargos por

ela apresentados, nos termos do art. 730 do CPC, independem de garantia da execução;

• A citação da União deve ser feita na pessoa do advogado da União;

• Ao término da execução, o juiz oficiará o presidente do TRT para que requisite o

pagamento integral por meio do precatório.

• Se o credor for preterido no seu direito de preferência, o presidente do tribunal regional que

expediu a ordem poderá, depois de ouvido o MPT, ordenar o seqüestro da quantia

necessária para a satisfação do débito.

• O seqüestro só será admitido na hipótese de preterição do direito de precedência do credor,

a ela não se equiparando as situações de não inclusão da despesa no orçamento ou de não-

pagamento do precatório até o final do exercício, quando incluído no orçamento.

• De qualquer forma, será indevido o sequestro quando o exequente não se encontrar em

primeiro lugar na lista de ordem cronológica para pagamento de precatórios ou quando não

demonstrada essa condição.

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• O Presidente do TRT, em sede de precatório, não tem competência funcional para declarar

a inexigibilidade do título judicial exequendo, ante a natureza meramente administrativa do

procedimento.

• Cabe mandado de segurança contra atos praticados pela Presidência dos Tribunais

Regionais em precatório em razão de sua natureza administrativa.

• Há dispensa da expedição de precatório quando a execução for definida como obrigação

de pequeno valor (inexistindo ilegalidade na determinação de seqüestro da quantia devida

pelo ente público). Tratando-se de reclamações trabalhistas plúrimas, a aferição do que

vem a ser obrigação de pequeno valor deve ser realizada considerando-se os créditos de

cada reclamante.

• Em sede de precatório, por se tratar de decisão de natureza administrativa, não cabe

remessa de ofício em caso de decisão judicial desfavorável a ente público.

• Sobre a incidência de juros de mora, dispõe a OJ-TP-7 (alterada em 2011):

OJ-TP-7, TST. JUROS DE MORA. CONDENAÇÃO DA FAZENDA

PÚBLICA.

I - Nas condenações impostas à Fazenda Pública, incidem juros de mora

segundo os seguintes critérios:

a) 1% (um por cento) ao mês, até agosto de 2001, nos termos do § 1º do art. 39

da Lei n.º 8.177, de 1.03.1991;

b) 0,5% (meio por cento) ao mês, de setembro de 2001 a junho de 2009,

conforme determina o art. 1º - F da Lei nº 9.494, de 10.09.1997, introduzido pela

Medida Provisória nº 2.180-35, de 24.08.2001;

II - A partir de 30 de junho de 2009, atualizam-se os débitos trabalhistas da

Fazenda Pública, mediante a incidência dos índices oficiais de remuneração

básica e juros aplicados à caderneta de poupança, por força do art. 5º da Lei n.º

11.960, de 29.06.2009.

III - A adequação do montante da condenação deve observar essa limitação

legal, ainda que em sede de precatório.

5. Execução contra a massa falida

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A execução trabalhista contra a massa falida segue trâmite peculiar, pois a Lei nº 11.101/05

estabelece que a decretação da falência ou recuperação judicial suspende o curso da prescrição e

execuções em face do devedor (ressalte-se, entretanto, que tal suspensão, na recuperação judicial,

não poderá se estender por mais de 180 dias).

Há entendimento, entre os tribunais pátrios, de que a execução contra a massa falida

poderia prosseguir no processo do trabalho, em virtude do privilégio concedido às verbas de

natureza trabalhista. Porém, atualmente – em conformidade com a Lei nº 11.101/05 – prevalece o

entendimento de que os créditos da massa falida são executados pelo Juízo de Falência – assim, a

atuação da Justiça do Trabalho limita-se à liquidação dos créditos, cabendo ao empregado

habilitá-los na falência.

Com efeito, há de haver unidade na execução contra a massa falida, impedindo-se que o

crédito trabalhista seja dotado de um “super-privilégio”, que o torne alijado da execução comum.

Ademais, embora o crédito trabalhista tenha privilégio em relação aos demais, ele há de ser

rateado entre os credores trabalhistas (na ordem das prelações – i.e., da anterioridade das penhoras).

Liquidados os créditos, portanto, será expedida certidão de habilitação e encaminhada ao

Juízo Falimentar, para ser executada perante a massa falida.

Se, por ocasião da decretação da falência, os bens estiverem em praça, o produto da

arrematação será revertido à massa falida. Ao contrário, se já tiver se operado a arrematação,

apenas o que restar após o pagamento do exequente será destinado à massa falida.

OBS: Como dito, o crédito trabalhista tem preferência em relação aos demais, conforme art. 83 da

Lei nº 11.101/05:

Art. 83, L. 11.101/05. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte

ordem:

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I - os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e

cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de

trabalho; (...).

Relembre-se, ademais, que, segundo decisão recente do STF, não há sucessão trabalhista no caso

de alienação de ativos da empresa em falência ou recuperação judicial.

6. Execução de contribuições previdenciárias

Como visto, desde 1998, a Justiça do Trabalho tem competência para executar, de ofício, as

contribuições previdenciárias (das empresas sobre folha de salários e dos segurados) decorrentes

das sentenças que proferir. Ressalte-se que tal competência se refere também às parcelas

previdenciárias das decisões meramente declaratórias de vínculo de emprego.

Nesse sentido, o parágrafo único do artigo 876, da CLT:

“Art. 876, par. un., CLT. Serão executadas ex-officio as contribuições

sociais devidas em decorrência de decisão proferida pelos Juízes e

Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de

acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual

reconhecido”.

A seguir, serão colacionadas algumas súmulas e orientações jurisprudenciais sobre o tema:

SUM-368 DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA.

RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO

I. A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A

competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-

se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado,

que integrem o salário-de-contribuição.

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II. É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e

fiscais, resultante de crédito do empregado oriundo de condenação judicial, devendo incidir, em

relação aos descontos fiscais, sobre o valor total da condenação, referente às parcelas tributáveis,

calculado ao final, nos termos da Lei nº 8.541, de 23.12.1992, art. 46 e Provimento da CGJT nº

01/1996.

III. Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de apuração encontra-se disciplinado no

art. 276, §4º, do Decreto n º 3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991 e determina que a

contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja calculada mês a mês, aplicando-se

as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição.

OJ-SDI1-363 DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. CONDENAÇÃO DO

EMPREGADOR EM RAZÃO DO INADIMPLEMENTO DE VERBAS

REMUNERATÓRIAS. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADO PELO PAGAMENTO.

ABRANGÊNCIA

A responsabilidade pelo recolhimento das contribuições social e fiscal, resultante de condenação

judicial referente a verbas remuneratórias, é do empregador e incide sobre o total da condenação.

Contudo, a culpa do empregador pelo inadimplemento das verbas remuneratórias não exime a

responsabilidade do empregado pelos pagamentos do imposto de renda devido e da contribuição

previdenciária que recaia sobre sua quota-parte.

OJ-SDI1-368 DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS. ACORDO HOMOLOGADO EM JUÍZO.

INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. PARCELAS INDENIZATÓRIAS.

AUSÊNCIA DE DISCRIMINAÇÃO. INCIDÊNCIA SOBRE O VALOR TOTAL

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147

É devida a incidência das contribuições para a Previdência Social sobre o valor total do acordo

homologado em juízo, independentemente do reconhecimento de vínculo de emprego, desde que

não haja discriminação das parcelas sujeitas à incidência da contribuição previdenciária,

conforme parágrafo único do art. 43 da Lei nº 8.212, de 24.07.1991, e do art. 195, I, “a”, da

CF/1988.

SUM-401 AÇÃO RESCISÓRIA. DESCONTOS LEGAIS. FASE DE EXECUÇÃO.

SENTENÇA EXEQÜENDA OMISSA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À COISA JULGADA

Os descontos previdenciários e fiscais devem ser efetuados pelo juízo executório, ainda que a

sentença exeqüenda tenha sido omissa sobre a questão, dado o caráter de ordem pública ostentado

pela norma que os disciplina. A ofensa à coisa julgada somente poderá ser caracterizada na

hipótese de o título exeqüendo, expressamente, afastar a dedução dos valores a título de imposto de

renda e de contribuição previdenciária.

D. LEGITIMIDADE

A legitimidade para promover a execução deve ser analisada sob dois aspectos: legitimidade

ativa e passiva.

1. Legitimidade ativa

Principal legitimado é o CREDOR (aquele que figura no título executivo como detentor do

direito a ser executado). Porém, veja-se a redação do art. 878 da CLT:

Art. 878, CLT - A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex

officio pelo próprio Juiz ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do

artigo anterior.

Parágrafo único - Quando se tratar de decisão dos Tribunais Regionais, a

execução poderá ser promovida pela Procuradoria da Justiça do Trabalho.

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O dispositivo confere legitimidade ativa para promoção da execução aos seguintes sujeitos:

a. Juiz, de ofício: aqui, tem-se exceção ao princípio do dispositivo, já estudado.

Também é competência de ofício do juiz a execução das contribuições previdenciárias,

segundo o inciso VIII do art. 114 da CF, já visto.

b. Qualquer interessado: hipótese regulamentada pelo art. 567 do CPC:

Art. 567, CPC. Podem também promover a execução, ou nela prosseguir:

I - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste,

lhes for transmitido o direito resultante do título executivo;

II - o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe foi transferido

por ato entre vivos;

III - o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional.

O inciso I se aplica ao processo do trabalho, no caso de falecimento do reclamante – tais

pessoas são legitimadas ainda que não constem do título executivo, bastando comprovar a

sucessão. O inciso II também é aplicável, no caso em que o trabalhador cede seu crédito a alguém

– porém, trata-se de possibilidade teórica, sem aplicabilidade prática (e questionável pela

doutrina). O inciso III também representa hipótese mais teórica do que prática – transferência dos

direitos do empregado à pessoa que liquidou uma obrigação ou emprestou dinheiro para saldá-la.

c) Ministério Público do Trabalho: o MPT é legitimado para executar decisões de

competência originária do TRT (greve considerada abusiva, com imposição de multa) e decisões

das varas do trabalho em que este atue como parte (e.g., TAC).

OBS: É possível, também, a execução pelo próprio devedor – embora não seja tão comum.

Ocorre quando o devedor pretende evitar conseqüências da demora da execução (juros de mora,

correção monetária, etc). Parte da jurisprudência entende, ademais, que há legitimação do próprio

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advogado para executar seus honorários em decorrência do processo trabalhista. Ainda, o perito é

legitimado para cobrar honorários decorrentes de sua atuação no processo.

2. Legitimidade passiva

É regulada pelo art. 568 do CPC:

Art. 568, CPC. São sujeitos passivos na execução:

I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo;

II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;

III - o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação

resultante do título executivo;

IV - o fiador judicial;

V - o responsável tributário, assim definido na legislação própria.

Principal legitimado é o DEVEDOR (inciso I), i.e., aquele que figura no título executivo

como obrigado ao pagamento do direito do credor. Normalmente, é o empregador ou o tomador de

serviços, mas também pode ser o empregado (e.g., pagamento de custas, reconvenção, etc).

Considerando a despersonalização do empregador pelo Direito do Trabalho, todos os bens

imateriais e materiais pertencentes à empresa (crédito, renome, marca etc.) podem ser executados,

pouco importando quem são as pessoas físicas deles detentoras. Assim, no caso de sucessão, a

empresa sucessora responderá pelos débitos da sucedida, independentemente de ter participado da

relação de emprego. EXCEÇÃO: Lei de Recuperação e Falências (Lei nº 11.101/05) exclui a

sucessão trabalhista de empresas em processo de falência ou recuperação judicial (entendimento

sufragado pelo STF em 2009).

Responsabilidade de empresas componentes do grupo econômico: segundo o art. 2º, §2º da CLT, a

responsabilidade é solidária entre todas as empresas do grupo:

Art. 2º, § 2º, CLT - Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma

delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou

administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer

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outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego,

solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas.

ATENÇÃO: Com o cancelamento da Súmula nº 205 do TST, em 2003, as empresas do grupo não

necessitam mais participar do processo desde o início para serem executadas.

SUM-205 GRUPO ECONÔMICO. EXECUÇÃO. SOLIDARIEDADE (cancelada)

O responsável solidário, integrante do grupo econômico, que não participou da

relação processual como reclamado e que, portanto, não consta no título executivo

judicial como devedor, não pode ser sujeito passivo na execução.

Responsabilidade de empresa tomadora de serviços, em terceirização regular: segundo a Súmula

nº 331 do TST, é subsidiária:

SUM-331 CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,

implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas

obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias,

das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia

mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do

título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993).

Aqui, entretanto, a empresa tomadora deve constar do pólo passivo desde o processo de

conhecimento, para ser incluída no título executivo judicial. Ademais, a empresa que paga o crédito

tem ação regressiva contra a devedora.

Por óbvio, se houver fraude na contratação, a responsabilidade será direta da tomadora.

Responsabilidade pessoal dos sócios: a desconsideração da personalidade jurídica da empresa, para

fazer recair a execução sobre o patrimônio dos sócios, é frequentemente utilizada pela Justiça do

Trabalho. Gera, porém, muitos questionamentos, pois juízes normalmente passam por cima do art.

50 do Código Civil de 2002, considerando que a simples insolvência já basta para determinar a

desconsideração:

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Art. 50, CC/2002. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo

desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a

requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no

processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam

estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

OBS: A jurisprudência oscila sobre a necessidade de se desconsiderar a personalidade jurídica do

devedor principal antes de se executar o subsidiário.

E. LIQUIDAÇÃO

Na execução por quantia certa, é pressuposto fundamental a existência de liquidez do título

executivo (i.e., a prestação pecuniária deve ser definida no próprio título).

No entanto, muitas vezes, a obrigação se apresenta ilíquida, razão pela qual é necessária

uma fase preparatória da execução, a liquidação da sentença, regida pelo art. 879 da CLT:

Art. 879, CLT - Sendo ilíquida a sentença exeqüenda, ordenar-se-á, previamente, a

sua liquidação, que poderá ser feita por cálculo, por arbitramento ou por artigos.

§ 1º - Na liquidação, não se poderá modificar, ou inovar, a sentença liquidanda

nem discutir matéria pertinente à causa principal.

§ 1º-A. A liquidação abrangerá, também, o cálculo das contribuições

previdenciárias devidas.

§ 1º-B. As partes deverão ser previamente intimadas para a apresentação do

cálculo de liquidação, inclusive da contribuição previdenciária incidente.

§ 2º - Elaborada a conta e tornada líquida, o Juiz poderá abrir às partes prazo

sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentada com a indicação dos

itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão.

§ 3º - Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do

Trabalho, o juiz procederá à intimação da União para manifestação, no prazo de

10 (dez) dias, sob pena de preclusão.

§ 4º - A atualização do crédito devido à Previdência Social observará os critérios

estabelecidos na legislação previdenciária.

§ 5º - O Ministro de Estado da Fazenda poderá, mediante ato fundamentado,

dispensar a manifestação da União quando o valor total das verbas que integram o

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salário-de-contribuição, na forma do art. 28 da Lei no 8.212, de 24 de julho de

1991, ocasionar perda de escala decorrente da atuação do órgão jurídico.

Vejamos o rito da fase de liquidação da sentença:

i. A liquidação pode ser realizada por cálculo, por arbitramento ou por artigos. Na

liquidação por cálculo, efetuam-se as operações aritméticas necessárias à

apuração do valor da liquidação, já que todos os elementos já estão nos autos

(mais comum). Na liquidação por artigos, antes de se fazer qualquer cálculo é

preciso apresentar provas de fatos ainda não esclarecidos nos autos (ex.: dias

trabalhados com gratificação de função, realização de horas extras). Na

liquidação por arbitramento, não se têm elementos para a determinação do

valor, que é, então, arbitrado, a partir de análise ou exame pericial (ex.: pedido

de comissões em empresa informal, trabalhador que não recebeu salário).

ii. A liquidação é de responsabilidade do autor, que é intimado para apresentar os

cálculos, devendo neles incluir as contribuições previdenciárias correspondentes

(art. 879, §1º-B).

iii. Após apresentação de cálculos pelo autor, pode o magistrado abrir vista de dez

dias para o reclamado. Observe-se: a vista às partes trata-se de faculdade do juiz

– se não abrir, parte poderá discutir o crédito após a garantia do juízo – por meio

dos embargos à execução (art. 879, §2º).

iv. No caso de haver diferença de cálculos, o juiz pode, ele próprio, resolver a

contenda ou designar perícia contábil.

v. No caso de ser apresentado novo laudo pelo contador, com valor diferente, o juiz

pode abrir novo prazo para as partes se manifestarem. Depois, pode invocar o

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contador para prestar esclarecimentos e, depois, proferirá sua decisão, a

SENTENÇA DE LIQUIDAÇÃO (que, por ser interlocutória, não é recorrível

de imediato).

Vejamos o que estabelecem os demais parágrafos do art. 879:

O §1° contempla a regra genérica de que, na liquidação, apenas se atribuem valores

líquidos àquilo que foi decidido na sentença – a causa já está decidida.

O §1°-A, acrescido em 2000, dita que as partes também devem efetuar os cálculos das

contribuições sociais devidas – o que é muito conveniente para o INSS.

O §3° estabelece a obrigatoriedade de intimação do INSS antes de ser proferida a sentença

de liquidação, para manifestação no prazo de 10 dias. Porém, o órgão previdenciário pode não se

manifestar se os valores forem reduzidos (§5º).

Impugnação da sentença de liquidação: poderá ser efetuada em 5 dias após a garantia do juízo,

em sede de embargos à execução, pelo devedor, ou impugnação, pelo credor (art. 884 da CLT). Da

decisão dos embargos ou da impugnação, cabe agravo de petição (art. 897, “a”, da CLT).

OBS: Se a sentença contiver parte ilíquida e outra líquida, proceder-se-á à execução provisória da

parte líquida simultaneamente à liquidação da parte ilíquida.

OBS 2: Importantes, no tema de juros e correção monetária, as Súms. 187 e 304, do TST:

SUM-187 CORREÇÃO MONETÁRIA. INCIDÊNCIA

A correção monetária não incide sobre o débito do trabalhador reclamante.

SUM-304 CORREÇÃO MONETÁRIA. EMPRESAS EM LIQUIDAÇÃO. ART.

46 DO ADCT/CF

Os débitos trabalhistas das entidades submetidas aos regimes de intervenção ou

liquidação extrajudicial estão sujeitos a correção monetária desde o respectivo

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vencimento até seu efetivo pagamento, sem interrupção ou suspensão, não

incidindo, entretanto, sobre tais débitos, juros de mora.

F. PROCEDIMENTO DA EXECUÇÃO

Tendo a liquidez do título, dá-se início à execução.

A execução se inicia com a ordem do juiz para que seja expedido o mandado de citação ao

executado, para dar-lhe ciência do início da execução e determinar o pagamento dos valores

devidos, em 48 horas:

Art. 880, CLT. Requerida a execução, o juiz ou presidente do tribunal mandará

expedir mandado de citação do executado, a fim de que cumpra a decisão ou o

acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações estabelecidas ou, quando se tratar

de pagamento em dinheiro, inclusive de contribuições sociais devidas à União,

para que o faça em 48 (quarenta e oito) horas ou garanta a execução, sob pena de

penhora.

§ 1º - O mandado de citação deverá conter a decisão exeqüenda ou o termo de

acordo não cumprido.

§ 2º - A citação será feita pelos oficiais de diligência.

§ 3º - Se o executado, procurado por 2 (duas) vezes no espaço de 48 (quarenta e

oito) horas, não for encontrado, far-se-á citação por edital, publicado no jornal

oficial ou, na falta deste, afixado na sede da Junta ou Juízo, durante 5 (cinco) dias.

Segundo o §1°, o mandado deve conter a descrição de qual é o título líquido que o devedor

está obrigado a cumprir. Ademais, a citação será realizada por oficial de Justiça (exceção à

notificação via postal), determinando a lei que, após duas tentativas frustradas de citação do

devedor, esta se realizará por edital, publicado no jornal oficial ou afixado na sede do Juízo, durante

5 dias (§§2º e 3º).

Pergunta-se: aplica-se, ao processo do trabalho, a regra do art. 475-J do CPC, que determina a

citação via postal do devedor, na pessoa de seu advogado? Embora se trate de regra mais simples, a

doutrina entende que não é aplicável ao processo do trabalho, por não haver omissão da CLT.

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O art. 881 estabelece a possibilidade de o devedor efetuar espontaneamente o pagamento do

título, comparecendo em juízo ou depositando a quantia devida na conta do juízo:

Art. 881, CLT - No caso de pagamento da importância reclamada, será este feito

perante o escrivão ou secretário, lavrando-se termo de quitação, em 2 (duas) vias,

assinadas pelo exeqüente, pelo executado e pelo mesmo escrivão ou secretário,

entregando-se a segunda via ao executado e juntando-se a outra ao processo.

Parágrafo único - Não estando presente o exeqüente, será depositada a

importância, mediante guia, em estabelecimento oficial de crédito ou, em falta

deste, em estabelecimento bancário idôneo.

Porém, evidentemente, a hipótese de pagamento espontâneo não é a mais comum. Aplica-

se, então, o art. 882 da CLT:

Art. 882, CLT - O executado que não pagar a importância reclamada poderá

garantir a execução mediante depósito da mesma, atualizada e acrescida das

despesas processuais, ou nomeando bens à penhora, observada a ordem

preferencial estabelecida no art. 655 do Código Processual Civil.

O artigo regulamenta a garantia do juízo, que deverá ser realizada caso o executado ainda

deseje discutir os termos da execução. Nesse caso, ele poderá depositar a quantia correspondente

ou nomear bens à penhora – ressaltando-se que, em nenhuma das hipóteses, os bens serão

executados, já que se trata de mera garantia.

Discute a doutrina trabalhista sobre qual seria o prazo para garantia do juízo. Hoje, por força

do art. 880 da CLT, entende-se que este é de 48 horas a partir da citação do devedor.

Após a nomeação de bens à penhora, o exequente será notificado para pela se manifestar –

poderá impugná-la fundamentadamente, enumerando outros bens sobre os quais deve recair a

penhora. Se o executante aceitar a nomeação dos bens, não será necessária a avaliação pelo

Oficial de Justiça.

OBS: Na nomeação de bens à penhora, deve ser observada a regra do art. 655 do CPC:

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Art. 655, CPC. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:

I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;

II - veículos de via terrestre;

III - bens móveis em geral;

IV - bens imóveis;

V - navios e aeronaves;

VI - ações e quotas de sociedades empresárias;

VII - percentual do faturamento de empresa devedora;

VIII - pedras e metais preciosos;

IX - títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em

mercado;

X - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;

XI - outros direitos.

Se o executado não efetuar o pagamento ou garantir a execução, realizar-se-á a penhora:

Art. 883, CLT - Não pagando o executado, nem garantindo a execução, seguir-se-á

penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da importância da

condenação, acrescida de custas e juros de mora, sendo estes, em qualquer caso,

devidos a partir da data em que for ajuizada a reclamação inicial.

A penhora nada mais é do que a apreensão dos bens do executado para que esses bens

sejam transformados em dinheiro vivo, após a venda em leilão.

No ato da penhora, o Oficial de Justiça já fará a avaliação dos bens, não se aplicando o art.

887 da CLT.

OBS: Aqui, novamente, existe dúvida relativa às alterações recentes sofridas pelo CPC. Assim, o

art. 475-J desse diploma estabelece que, citado o devedor, aplica-se imediatamente multa de 10%

caso ele não efetue o pagamento em 15 dias. Embora alguns juízes venham aplicando tal regra, a

atuação é questionável, em razão da ausência de omissão da CLT.

A penhora, na Justiça do Trabalho, pode se dar na forma de penhora on-line, i.e., mediante o

bloqueio de contas bancárias do devedor, até o limite da execução. Segundo o TST (Súmula nº

417), este deve ser o método preferencial para a penhora do executado, justificado pelo inciso I do

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art. 655 do CPC. Hoje se permite que o próprio devedor cadastre no sistema BACEN-JUD a conta

corrente a ser penhorada.

A penhora, que é o ato principal praticado pelo Estado na busca da satisfação do credor,

não retira a propriedade dos bens – apenas é expropriada a faculdade de o devedor dispor desses

bens. Por tal razão, o devedor pode, a qualquer tempo, garantir o juízo e recuperar os bens

penhorados.

O art. 649 do CPC estabelece rol dos bens absolutamente impenhoráveis

Art. 649, CPC. São absolutamente impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à

execução;

II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do

executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns

correspondentes a um médio padrão de vida;

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de

elevado valor;

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de

aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por

liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os

ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado

o disposto no § 3o deste artigo;

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros

bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;

VI - o seguro de vida;

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem

penhoradas;

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada

pela família;

IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação

compulsória em educação, saúde ou assistência social;

X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em

caderneta de poupança.

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por

partido político.

§ 1º A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a

aquisição do próprio bem.

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§ 2º O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de penhora

para pagamento de prestação alimentícia.

§ 3º (VETADO).

Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos

dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia.

Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).

G. EMBARGOS À EXECUÇÃO

Regulados pelo art. 884, representam a possibilidade de o devedor questionar atos da

execução, desde que garantido o juízo ou penhorados os bens:

Art. 884, CLT - Garantida a execução ou penhorados os bens, terá o executado 5

(cinco) dias para apresentar embargos, cabendo igual prazo ao exeqüente para

impugnação.

§ 1º - A matéria de defesa será restrita às alegações de cumprimento da decisão ou

do acordo, quitação ou prescrição da divida.

§ 2º - Se na defesa tiverem sido arroladas testemunhas, poderá o Juiz ou o

Presidente do Tribunal, caso julgue necessários seus depoimentos, marcar

audiência para a produção das provas, a qual deverá realizar-se dentro de 5

(cinco) dias.

§ 3º - Somente nos embargos à penhora poderá o executado impugnar a sentença

de liquidação, cabendo ao exeqüente igual direito e no mesmo prazo.

§ 4º - Julgar-se-ão na mesma sentença os embargos e as impugnações à

liquidação apresentadas pelos credores trabalhista e previdenciário.

§ 5º - Considera-se inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo

declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal ou em aplicação ou

interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal.

Regra importante vem contemplada no §1º de referido dispositivo: os embargos de

declaração não se prestam a discutir matéria da fase de conhecimento, mas apenas da execução.

Porém, a doutrina majoritária entende que as matérias previstas em tal artigo (cumprimento da

decisão ou do acordo, quitação ou prescrição da divida) não são taxativas, podendo outras serem

alegadas pela parte.

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Ademais, nos termos do §5º do mesmo dispositivo legal, é inexigível o título judicial

fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal ou em

aplicação ou interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal.

Caso não sejam arroladas testemunhas nos embargos, o juiz proferirá sua decisão em 5 dias,

julgando subsistente ou insubsistente a penhora e notificando as partes por via postal. Sendo

arroladas testemunhas, poderão ser ouvidas antes da prolação da decisão.

OBS: Até o advento das Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006, os embargos à execução eram

recebidos com efeito suspensivo e processados em autos apartados, por força do art. 739, § 1º, do

CPC. Porém, tal dispositivo foi revogado e, em seu lugar, foi acrescido o art. 739-A, dispondo que

os embargos do executado NÃO terão efeito suspensivo. Embora ainda existam dúvidas, este

posicionamento hoje prevalece na doutrina trabalhista.

Da decisão que julga os embargos, caberá agravo de petição (art. 897, “a” da CLT).

OBS: a única hipótese de se questionar a execução sem garantia do juízo é a exceção de pre-

executividade, destinada à argüição de vícios e nulidades formais (atualmente admitida no

processo do trabalho).

Art. 885, CLT - Não tendo sido arroladas testemunhas na defesa, o juiz ou

presidente, conclusos os autos, proferirá sua decisão, dentro de 5 (cinco)

dias, julgando subsistente ou insubsistente a penhora.

Art. 886, CLT - Se tiverem sido arroladas testemunhas, finda a sua

inquirição em audiência, o escrivão ou secretário fará, dentro de 48

(quarenta e oito) horas, conclusos os autos ao juiz ou presidente, que

proferirá sua decisão, na forma prevista no artigo anterior.

§ 1º - Proferida a decisão, serão da mesma notificadas as partes

interessadas, em registrado postal, com franquia.

§ 2º - Julgada subsistente a penhora, o juiz, ou presidente, mandará proceder

logo à avaliação dos bens penhorados.

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OBS: Reitere-se que, na execução por quantia certa, a Fazenda Pública não precisa garantir

previamente o juízo para só então oferecer embargos.

Julgada procedente a penhora, o juiz ordenará a imediata avaliação dos bens – a qual,

relembre-se, poderá ser realizada pelo próprio Oficial de Justiça responsável pela penhora já que,

na JT, este é também avaliador. Será, então, designado depositário da penhora (normalmente, o

próprio devedor).

É possível ao credor protocolar petição informando os bens do devedor – e a penhora, nesse

caso, será a eles direcionada.

OBS: É admitida a penhora na renda da empresa, desde que não comprometa o desenvolvimento

de suas atividades:

OJ nº. 93. Mandado de segurança. Possibilidade da penhora sobre parte da renda

de estabelecimento comercial.

É admissível a penhora sobre a renda mensal ou faturamento de empresa, limitada

a determinado percentual, desde que não comprometa o desenvolvimento regular

de suas atividades.

H. EXPROPRIAÇÃO

Após a avaliação do bem, segue-se sua alienação, regida pelo art. 888 da CLT:

Art. 888, CLT - Concluída a avaliação, dentro de dez dias, contados da data da

nomeação do avaliador, seguir-se-á a arrematação, que será anunciada por edital

afixado na sede do juízo ou tribunal e publicado no jornal local, se houver, com a

antecedência de vinte (20) dias.

§ 1º A arrematação far-se-á em dia, hora e lugar anunciados e os bens serão

vendidos pelo maior lance, tendo o exeqüente preferência para a adjudicação.

§ 2º O arrematante deverá garantir o lance com o sinal correspondente a 20%

(vinte por cento) do seu valor.

§ 3º Não havendo licitante, e não requerendo o exeqüente a adjudicação dos bens

penhorados, poderão os mesmos ser vendidos por leiloeiro nomeado pelo Juiz ou

Presidente.

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§ 4º Se o arrematante, ou seu fiador, não pagar dentro de 24 (vinte e quatro) horas

o preço da arrematação, perderá, em benefício da execução, o sinal de que trata o

§ 2º dêste artigo, voltando à praça os bens executados.

A alienação é o ato público de execução que visa a transformar em dinheiro os bens do

devedor, e transferi-lo ao credor. É chamada arrematação quando terceiro adquire o bem;

adjudicação quando o bem é adquirido pelo próprio credor e remição quando o executado

deposita o valor da condenação, para recuperar o bem.

A arrematação será anunciada por edital, com antecedência mínima de 20 dias.

Os bens serão vendidos pelo maior lance, independentemente da avaliação. O exeqüente

tem preferência para adjudicação. Porém, se não houver licitante e nem requerer o exequente a

adjudicação dos bens, poderão ser vendidos por leiloeiro nomeado pelo juiz.

O arrematante deverá garantir o lance com sinal de 20% no ato da arrematação –

posteriormente, terá o prazo de 24 horas para completar o pagamento. Caso contrário, perderá o

sinal dado, em favor do Juízo, e os bens voltarão à praça.

A adjudicação poderá ser feita até a assinatura do auto de arrematação, mas será realizada

após a praça, pelo maior lance. Se não houver lance, será utilizado o valor da avaliação.

O executado (devedor ou terceiro) pode pedir a remição dos bens – nesse caso, deverá

oferecer preço igual ao da condenação, e não da avaliação, acrescido de juros e correção

monetária e demais despesas do processo. Pode ser realizada a qualquer tempo, e prefere à

adjudicação.

Será, então, lavrado o auto de alienação, assinado pelo juiz, pelo arrematante e pelo

serventuário da Justiça. Deste, caberá a oposição de embargos à expropriação pelo devedor. Após

a rejeição destes – ou se não forem opostos – é expedida a carta de arrematação e ordenado o

levantamento do valor do depósito em favor do credor.

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I. EMBARGOS À EXPROPRIAÇÃO

São embargos destinados à alegação de nulidade ou causa extintiva da expropriação, desde

que superveniente à penhora (e.g., pagamento).

A CLT e a Lei nº 6.830/80 são omissas – razão pela qual a matéria é regida pelo art. 746 do

CPC:

Art. 746, CPC. É lícito ao executado, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da

adjudicação, alienação ou arrematação, oferecer embargos fundados em nulidade

da execução, ou em causa extintiva da obrigação, desde que superveniente à

penhora, aplicando-se, no que couber, o disposto neste Capítulo.

§ 1º Oferecidos embargos, poderá o adquirente desistir da aquisição.

§ 2º No caso do § 1º deste artigo, o juiz deferirá de plano o requerimento, com a

imediata liberação do depósito feito pelo adquirente (art. 694, § 1o, inciso IV).

§ 3º Caso os embargos sejam declarados manifestamente protelatórios, o juiz

imporá multa ao embargante, não superior a 20% (vinte por cento) do valor da

execução, em favor de quem desistiu da aquisição.

J. EMBARGOS DE TERCEIRO

Não são disciplinados pela CLT ou pela Lei nº 6.830/80 – portanto, aplicam-se as regras do

CPC (art. 1046 e ss).

Trata-se de incidente processual oposto por aquele que, não sendo parte no feito, tiver

sofrido turbação ou esbulho em sua posse, ou direito, pela penhora ou qualquer ato de apreensão

judicial.

São legitimados para propor os embargos de terceiros:

Art. 1.046, CPC. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho

na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora,

depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento,

inventário, partilha, poderá requerer lhe sejam manutenidos ou restituídos por

meio de embargos.

§ 1º Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor.

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§ 2º Equipara-se a terceiro a parte que, posto figure no processo, defende bens que,

pelo título de sua aquisição ou pela qualidade em que os possuir, não podem ser

atingidos pela apreensão judicial.

§ 3º Considera-se também terceiro o cônjuge quando defende a posse de bens

dotais, próprios, reservados ou de sua meação.

Ademais, admite-se a oposição de embargos de terceiros pelo credor com garantia real,

visando a obstar alienação judicial do objeto da hipoteca, penhor ou anticrese (art. 1.047, II, CPC).

Podem ser opostos tanto no processo de conhecimento, a qualquer tempo, como no processo

de execução, até cinco dias após a arrematação, adjudicação ou remição, mas sempre antes da

assinatura da respectiva carta. Poderão ser contestados pelo exequente em 10 dias – caso contrário,

os fatos serão considerados verdadeiros.

É possível ao juiz a determinação de audiência para comprovação da posse. Também é

possível o deferimento liminar dos embargos e a expedição do mandado de manutenção.

Inicialmente, havia dúvidas sobre se a JT era competente para processá-los, já que

envolviam um terceiro que não era empregado ou empregador. Porém, hoje, firmou-se o

entendimento de que devem ser apreciados pelo juiz que determinou a constrição dos bens.

Finalmente, acerca dos embargos de terceiro apresentados em execução por carta precatória,

observe-se a Súm. 419 do TST:

SUM-419 COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO POR CARTA. EMBARGOS DE TER-

CEIRO. JUÍZO DEPRECANTE

Na execução por carta precatória, os embargos de terceiro serão oferecidos no

juízo deprecante ou no juízo deprecado, mas a competência para julgá-los é do

juízo deprecante, salvo se versarem, unicamente, sobre vícios ou irregularidades da

penhora, avaliação ou alienação dos bens, praticados pelo juízo deprecado, em que

a competência será deste último.

K. RECURSO DE REVISTA

Regido pela Súmula nº 266 do TST:

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SUM-266 RECURSO DE REVISTA. ADMISSIBILIDADE. EXECUÇÃO DE

SENTENÇA

A admissibilidade do recurso de revista interposto de acórdão proferido em agravo

de petição, na liquidação de sentença ou em processo incidente na execução,

inclusive os embargos de terceiro, depende de demonstração inequívoca de

violência direta à Constituição Federal.

L. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

Prescrição intercorrente é aquela verificada no curso da ação, por paralisação dos atos de

execução. Segundo entendimento do STF, a prescrição da execução dá-se no mesmo prazo de

prescrição da ação.

Sua aplicabilidade no processo do trabalho é bastante questionada por doutrina e

jurisprudência; veja-se, a respeito a Súmula nº 327 do STF:

Súmula nº. 327. O direito trabalhista admite a prescrição intercorrente

Porém, o TST editou Súmula em sentido contrário, asseverando expressamente que não há

aplicação da prescrição intercorrente na JT, com fulcro no art. 40 da Lei nº 6.830/80:

Súmula nº. 114. É inaplicável na Justiça do Trabalho a prescrição intercorrente.

Ainda assim, o assunto gera discussões em doutrina (alguns autores entendem que a

prescrição é aplicável no caso de a execução ser paralisada exclusivamente por culpa do credor).

Todavia, prevalece a aplicação da Súmula acima mencionada.

M. CUSTAS NA EXECUÇÃO

As custas no processo de execução são sempre de responsabilidade do executado e pagas ao

final, de acordo com os valores previstos no art. 789-A da CLT:

Art. 789-A, CLT. No processo de execução são devidas custas, sempre de

responsabilidade do executado e pagas ao final, de conformidade com a seguinte

tabela:

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I – autos de arrematação, de adjudicação e de remição: 5% (cinco por cento)

sobre o respectivo valor, até o máximo de R$ 1.915,38 (um mil, novecentos e quinze

reais e trinta e oito centavos);

II – atos dos oficiais de justiça, por diligência certificada:

a. em zona urbana: R$ 11,06 (onze reais e seis centavos);

b. em zona rural: R$ 22,13 (vinte e dois reais e treze centavos);

III – agravo de instrumento: R$ 44,26 (quarenta e quatro reais e vinte e seis

centavos);

IV – agravo de petição: R$ 44,26 (quarenta e quatro reais e vinte e seis

centavos);

V – embargos à execução, embargos de terceiro e embargos à arrematação:

R$ 44,26 (quarenta e quatro reais e vinte e seis centavos);

VI – recurso de revista: R$ 55,35 (cinqüenta e cinco reais e trinta e cinco

centavos);

VII – impugnação à sentença de liquidação: R$ 55,35 (cinqüenta e cinco reais

e trinta e cinco centavos);

VIII – despesa de armazenagem em depósito judicial – por dia: 0,1% (um

décimo por cento) do valor da avaliação;

IX – cálculos de liquidação realizados pelo contador do juízo – sobre o valor

liquidado: 0,5% (cinco décimos por cento) até o limite de R$ 638,46 (seiscentos e

trinta e oito reais e quarenta e seis centavos).

Há, entretanto, discussões sobre o acerto do artigo, já que se obriga o pagamento, pelo

executado, de custas referentes a atos que não foram por ele praticados (e.g., embargos de terceiros,

recursos interpostos pelo exequente ou pelo INSS). Por isso, para parte da doutrina, as custas na

execução deveriam ser pagas pela parte responsável pela protelação do feito.

12. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

B. Inquérito judicial para apuração de falta grave

Objetivo: rescindir o contrato de empregado estável que praticou falta grave.

Beneficiários: estáveis decenais e dirigentes sindicais (Súm. 379, TST – prevê a obrigatoriedade de

instauração de inquérito judicial para dispensa do dirigente sindical).

Procedimentos: o inquérito é proposto pelo empregador (requerente), em ação apresentada por

escrito, em face do empregado (requerido).

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166

O empregador tem a faculdade de suspender o empregado, e, nesse caso, terá prazo de 30

dias para propor o inquérito (prazo decadencial) – caso não respeitado esse prazo, o empregado

pode pedir sua reintegração. Ademais, pode restar caracterizado o perdão tácito da falta (no caso

de o empregador não suspender o empregado).

No caso de o inquérito ser decorrente de abandono de emprego, o prazo decadencial de 30

dias é contado a partir do momento em que o empregado pretende seu retorno ao serviço (Súm. 62,

TST).

Nos termos da OJ-SDI2-137 do TST, é direito líquido e certo do empregador a suspensão

do empregado até a decisão final do inquérito:

OJ-SDI2-137 MANDADO DE SEGURANÇA. DIRIGENTE SINDICAL. ART.

494 DA CLT. APLICÁVEL

Constitui direito líquido e certo do empregador a suspensão do empregado, ainda

que detentor de estabilidade sindical, até a decisão final do inquérito em que se

apure a falta grave a ele imputada, na forma do art. 494, “caput” e parágrafo único,

da CLT.

O procedimento é o mesmo do ordinário, com a ressalva de que podem ser ouvidas até 6

testemunhas.

Sentença: se procedente o inquérito, o contrato de trabalho é rescindido desde a data da suspensão

ou, se continuar trabalhando, da data da propositura da ação (sendo considerada, nesse caso, a

existência de novo contrato de trabalho). Se improcedente, o contrato de trabalho seguirá

(devendo o empregado ser reintegrado se tiver sido suspenso, sendo devidas todas as vantagens

referentes ao período de suspensão), sob pena de multa aplicada ao empregador.

É possível, ainda, a conversão da reintegração em indenização pelo juiz, nos termos do art.

496 da CLT

Fundamentação legal:

Art. 853, CLT - Para a instauração do inquérito para apuração de falta grave

contra empregado garantido com estabilidade, o empregador apresentará

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reclamação por escrito à Junta ou Juízo de Direito, dentro de 30 (trinta) dias,

contados da data da suspensão do empregado.

Art. 854, CLT - O processo do inquérito perante a Junta ou Juízo obedecerá às

normas estabelecidas no presente Capítulo, observadas as disposições desta Seção.

Art. 855, CLT - Se tiver havido prévio reconhecimento da estabilidade do

empregado, o julgamento do inquérito pela Junta ou Juízo não prejudicará a

execução para pagamento dos salários devidos ao empregado, até a data da

instauração do mesmo inquérito.

C. Ação rescisória

Objetivo: desconstituir ou anular decisão transitada em julgado (sentença ou acórdão, com

julgamento de mérito), em razão de vícios nela existentes. Antes, era considerada incabível na

Justiça do Trabalho (Súm. 144, TST), mas hoje é plenamente admitida.

Fundamentação legal: como existe omissão na CLT, aplicam-se integralmente as disposições do

CPC.

Limites: a AR ataca a coisa julgada formal – por isso, não haverá reapreciação de provas e fatos,

será julgada a própria decisão.

Competência: originária dos tribunais. Como regra, compete ao pleno do TRT o julgamento de

ação rescisória das decisões das Varas, dos juízes de direito investidos de jurisdição trabalhista,

das turmas e de seus próprios acórdãos (incluindo no caso de não conhecimento dos recursos de

revista e de embargos). No TST, compete à SBDI-2 julgar ações rescisórias propostas contra

decisões de turmas do TST e de suas próprias decisões; à SDC compete julgar AR de suas decisões

normativas.

Prazo decadencial: 2 anos, contado do dia subsequente ao trânsito em julgado da última decisão na

causa

Cabimento: hipóteses do art. 485 do CPC, a saber:

Art. 485, CPC. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida

quando:

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168

I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;

II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;

III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de

colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;

IV - ofender a coisa julgada;

V - violar literal disposição de lei;

Vl - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou

seja provada na própria ação rescisória;

Vll - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava,

ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento

favorável;

VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em

que se baseou a sentença;

IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;

§ 1º Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar

inexistente um fato efetivamente ocorrido.

§ 2º É indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido controvérsia,

nem pronunciamento judicial sobre o fato.

Também no processo do trabalho, a AR é condicionada ao depósito de 20% do valor da

causa, salvo prova da miserabilidade jurídica do autor, nos termos do art. 836 da CLT.

Recurso cabível: RO (Súm. 158, TST), cabendo depósito recursal quando for julgado procedente o

pedido e imposta condenação em pecúnia (Súm. 99 do TST). No caso de despacho monocrático

indeferitório de petição inicial, cabível é o agravo regimental, nos termos da OJ-SDI-2-69:

OJ-SDI2-69, TST. FUNGIBILIDADE RECURSAL. INDEFERIMENTO

LIMINAR DE AÇÃO RESCISÓRIA OU MANDADO DE SEGURANÇA. RE-

CURSO PARA O TST. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL E

DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO TRT

Recurso ordinário interposto contra despacho monocrático indeferitório da petição

inicial de ação rescisória ou de mandado de segurança pode, pelo princípio de

fungibilidade recursal, ser recebido como agravo regimental. Hipótese de não

conhecimento do recurso pelo TST e devolução dos autos ao TRT, para que aprecie

o apelo como agravo regimental.

Algumas súmulas importantes sobre a matéria:

• Cabimento de AR em face de acordo judicial

SUM-259 TERMO DE CONCILIAÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA

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169

Só por ação rescisória é impugnável o termo de conciliação previsto no

parágrafo único do art. 831 da CLT.

• Cabimento de AR contra decisão que não conhece RR

SUM-413, TST AÇÃO RESCISÓRIA. SENTENÇA DE MÉRITO. VIOLAÇÃO

DO ART. 896, "A", DA CLT

É incabível ação rescisória, por violação do art. 896, "a", da CLT, contra

decisão que não conhece de recurso de revista, com base em divergência

jurisprudencial, pois não se cuida de sentença de mérito (art. 485 do CPC).

• Prequestionamento

SUM-298 AÇÃO RESCISÓRIA. VIOLÊNCIA DE LEI.

PREQUESTIONAMENTO

I - A conclusão acerca da ocorrência de violação literal de lei pressupõe

pronunciamento explícito, na sentença rescindenda, sobre a matéria veiculada.

II - O prequestionamento exigido em ação rescisória diz respeito à matéria e ao

enfoque específico da tese debatida na ação e não, necessariamente, ao

dispositivo legal tido por violado. Basta que o conteúdo da norma, reputada como

violada, tenha sido abordado na decisão rescindenda para que se considere

preenchido o pressuposto do prequestionamento.

III - Para efeito de ação rescisória, considera-se prequestionada a matéria

tratada na sentença quando, examinando remessa de ofício, o Tribunal

simplesmente a confirma.

IV - A sentença meramente homologatória, que silencia sobre os motivos

de convencimento do juiz, não se mostra rescindível, por ausência de

prequestionamento.

V - Não é absoluta a exigência de prequestionamento na ação rescisória.

Ainda que a ação rescisória tenha por fundamento violação de dispositivo

legal, é prescindível o prequestionamento quando o vício nasce no próprio

julgamento, como se dá com a sentença "extra, citra e ultra petita".

• Litisconsórcio e atuação do sindicato como substituto processual

SUM-406 AÇÃO RESCISÓRIA. LITISCONSÓRCIO. NECESSÁRIO NO

PÓLO PASSIVO E FACULTATIVO NO ATIVO. INEXISTENTE QUANTO

AOS SUBSTITUÍDOS PELO SINDICATO

I – O litisconsórcio, na ação rescisória, é necessário em relação ao pólo passivo

da demanda, porque supõe uma comunidade de direitos ou de obrigações que

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170

não admite solução díspar para os litisconsortes, em face da indivisibilidade do

objeto. Já em relação ao pólo ativo, o litisconsórcio é facultativo, uma vez que a

aglutinação de autores se faz por conveniência e não pela necessidade

decorrente da natureza do litígio, pois não se pode condicionar o exercício do

direito individual de um dos litigantes no processo originário à anuência dos

demais para retomar a lide.

II - O Sindicato, substituto processual e autor da reclamação trabalhista, em

cujos autos fora proferida a decisão rescindenda, possui legitimidade para

figurar como réu na ação rescisória, sendo descabida a exigência de citação de

todos os empregados substituídos, porquanto inexistente litisconsórcio passivo

necessário

• AR por violação de lei

SUM-83 AÇÃO RESCISÓRIA. MATÉRIA CONTROVERTIDA

I - Não procede pedido formulado na ação rescisória por violação literal de lei

se a decisão rescindenda estiver baseada em texto legal infraconstitucional de

interpretação controvertida nos Tribunais.

II - O marco divisor quanto a ser, ou não, controvertida, nos Tribunais, a

interpretação dos dispositivos legais citados na ação rescisória é a data da

inclusão, na Orientação Jurisprudencial do TST, da matéria discutida.

SUM-410 AÇÃO RESCISÓRIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS.

INVIABILIDADE

A ação rescisória calcada em violação de lei não admite reexame de fatos e

provas do processo que originou a decisão rescindenda.

OJ-SDI2-25 AÇÃO RESCISÓRIA. EXPRESSÃO "LEI" DO ART. 485, V, DO

CPC. NÃO INCLUSÃO DO ACT, CCT, PORTARIA, REGULAMENTO,

SÚMULA E ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL DE TRIBUNAL

Não procede pedido de rescisão fundado no art. 485, V, do CPC quando se

aponta contrariedade à norma de convenção coletiva de trabalho, acordo

coletivo de trabalho, portaria do Poder Executivo, regulamento de empresa e

súmula ou orientação jurisprudencial de tribunal.

• AR de AR

SUM-400 AÇÃO RESCISÓRIA DE AÇÃO RESCISÓRIA. VIOLAÇÃO DE

LEI. INDICAÇÃO DOS MESMOS DISPOSITIVOS LEGAIS APONTADOS

NA RESCISÓRIA PRIMITIVA

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171

Em se tratando de rescisória de rescisória, o vício apontado deve nascer na

decisão rescindenda, não se admitindo a rediscussão do acerto do julgamento da

rescisória anterior. Assim, não se admite rescisória calcada no inciso V do art.

485 do CPC para discussão, por má aplicação dos mesmos dispositivos de lei,

tidos por violados na rescisória anterior, bem como para argüição de questões

inerentes à ação rescisória primitiva.

• Ausência de defesa

SUM-398 AÇÃO RESCISÓRIA. AUSÊNCIA DE DEFESA. INAPLICÁVEIS

OS EFEITOS DA REVELIA

Na ação rescisória, o que se ataca na ação é a sentença, ato oficial do Estado,

acobertado pelo manto da coisa julgada. Assim sendo, e considerando que a coisa

julgada envolve questão de ordem pública, a revelia não produz confissão na

ação rescisória.

• Atuação do Ministério Público

SUM-407 AÇÃO RESCISÓRIA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE

"AD CAUSAM" PREVISTA NO ART. 487, III, "A" E "B", DO CPC. AS

HIPÓTESES SÃO MERAMENTE EXEMPLIFICATIVAS

A legitimidade "ad causam" do Ministério Público para propor ação rescisória,

ainda que não tenha sido parte no processo que deu origem à decisão

rescindenda, não está limitada às alíneas "a" e "b" do inciso III do art. 487 do

CPC, uma vez que traduzem hipóteses meramente exemplificativas.

• Petição inicial

SUM-408 AÇÃO RESCISÓRIA. PETIÇÃO INICIAL. CAUSA DE PEDIR.

AUSÊNCIA DE CAPITULAÇÃO OU CAPITULAÇÃO ERRÔNEA NO ART.

485 DO CPC. PRINCÍPIO "IURA NOVIT CURIA"

Não padece de inépcia a petição inicial de ação rescisória apenas porque omite

a subsunção do fundamento de rescindibilidade no art. 485 do CPC ou o capitula

erroneamente em um de seus incisos. Contanto que não se afaste dos fatos e

fundamentos invocados como causa de pedir, ao Tribunal é lícito emprestar-lhes

a adequada qualificação jurídica ("iura novit curia"). No entanto, fundando-se a

ação rescisória no art. 485, inc. V, do CPC, é indispensável expressa indicação,

na petição inicial da ação rescisória, do dispositivo legal violado, por se tratar

de causa de pedir da rescisória, não se aplicando, no caso, o princípio "iura novit

curia".

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172

• Depósito recursal em RO de AR

SUM-99 AÇÃO RESCISÓRIA. DESERÇÃO. PRAZO

Havendo recurso ordinário em sede de rescisória, o depósito recursal só é

exigível quando for julgado procedente o pedido e imposta condenação em

pecúnia, devendo este ser efetuado no prazo recursal, no limite e nos termos da

legislação vigente, sob pena de deserção.

• Decadência

SUM-100 AÇÃO RESCISÓRIA. DECADÊNCIA

I - O prazo de decadência, na ação rescisória, conta-se do dia imediatamente

subseqüente ao trânsito em julgado da última decisão proferida na causa, seja de

mérito ou não.

II - Havendo recurso parcial no processo principal, o trânsito em julgado dá-se

em momentos e em tribunais diferentes, contando-se o prazo decadencial para a

ação rescisória do trânsito em julgado de cada decisão, salvo se o recurso tratar

de preliminar ou prejudicial que possa tornar insubsistente a decisão recorrida,

hipótese em que flui a decadência a partir do trânsito em julgado da decisão que

julgar o recurso parcial.

III - Salvo se houver dúvida razoável, a interposição de recurso intempestivo ou a

interposição de recurso incabível não protrai o termo inicial do prazo

decadencial.

IV - O juízo rescindente não está adstrito à certidão de trânsito em julgado

juntada com a ação rescisória, podendo formar sua convicção através de outros

elementos dos autos quanto à antecipação ou postergação do "dies a quo" do

prazo decadencial.

V - O acordo homologado judicialmente tem força de decisão irrecorrível, na

forma do art. 831 da CLT. Assim sendo, o termo conciliatório transita em julgado

na data da sua homologação judicial.

VI - Na hipótese de colusão das partes, o prazo decadencial da ação rescisória

somente começa a fluir para o Ministério Público, que não interveio no processo

principal, a partir do momento em que tem ciência da fraude.

VII - Não ofende o princípio do duplo grau de jurisdição a decisão do TST que,

após afastar a decadência em sede de recurso ordinário, aprecia desde logo a

lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições

de imediato julgamento.

VIII - A exceção de incompetência, ainda que oposta no prazo recursal, sem ter

sido aviado o recurso próprio, não tem o condão de afastar a consumação da

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173

coisa julgada e, assim, postergar o termo inicial do prazo decadencial para a

ação rescisória.

IX - Prorroga-se até o primeiro dia útil, imediatamente subseqüente, o prazo

decadencial para ajuizamento de ação rescisória quando expira em férias

forenses, feriados, finais de semana ou em dia em que não houver expediente

forense. Aplicação do art. 775 da CLT.

X - Conta-se o prazo decadencial da ação rescisória, após o decurso do prazo

legal previsto para a interposição do recurso extraordinário, apenas quando

esgotadas todas as vias recursais ordinárias.

• Competência

SUM-192 AÇÃO RESCISÓRIA. COMPETÊNCIA E POSSIBILIDADE

JURÍDICA DO PEDIDO

I - Se não houver o conhecimento de recurso de revista ou de embargos, a

competência para julgar ação que vise a rescindir a decisão de mérito é do

Tribunal Regional do Trabalho, ressalvado o disposto no item II.

II - Acórdão rescindendo do Tribunal Superior do Trabalho que não conhece de

recurso de embargos ou de revista, analisando argüição de violação de

dispositivo de lei material ou decidindo em consonância com súmula de direito

material ou com iterativa, notória e atual jurisprudência de direito material da

Seção de Dissídios Individuais (Súmula nº 333), examina o mérito da causa,

cabendo ação rescisória da competência do Tribunal Superior do Trabalho.

III - Em face do disposto no art. 512 do CPC, é juridicamente impossível o pedido

explícito de desconstituição de sentença quando substituída por acórdão do

Tribunal Regional ou superveniente sentença homologatória de acordo que puser

fim ao litígio.

IV - É manifesta a impossibilidade jurídica do pedido de rescisão de julgado

proferido em agravo de instrumento que, limitando-se a aferir o eventual

desacerto do juízo negativo de admissibilidade do recurso de revista, não

substitui o acórdão regional, na forma do art. 512 do CPC.

V - A decisão proferida pela SBDI, em sede de agravo regimental, calcada

na Súmula nº 333, substitui acórdão de Turma do TST, porque emite juízo

de mérito, comportando, em tese, o corte rescisório.

• Comprovação do trânsito em julgado

SUM-299 AÇÃO RESCISÓRIA. DECISÃO RESCINDENDA. TRÂNSITO EM

JULGADO. COMPROVAÇÃO. EFEITOS

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174

I - É indispensável ao processamento da ação rescisória a prova do trânsito em

julgado da decisão rescindenda.

II - Verificando o relator que a parte interessada não juntou à inicial o documento

comprobatório, abrirá prazo de 10 (dez) dias para que o faça, sob pena de

indeferimento.

III - A comprovação do trânsito em julgado da decisão rescindenda é pressuposto

processual indispensável ao tempo do ajuizamento da ação rescisória. Eventual

trânsito em julgado posterior ao ajuizamento da ação rescisória não reabilita a

ação proposta, na medida em que o ordenamento jurídico não contempla a ação

rescisória preventiva.

IV - O pretenso vício de intimação, posterior à decisão que se pretende rescindir,

se efetivamente ocorrido, não permite a formação da coisa julgada material. Assim,

a ação rescisória deve ser julgada extinta, sem julgamento do mérito, por carência

de ação, por inexistir decisão transitada em julgado a ser rescindida.

• Alçada

SUM-365 ALÇADA. AÇÃO RESCISÓRIA E MANDADO DE SEGURANÇA

Não se aplica a alçada em ação rescisória e em mandado de segurança.

• AR de decisão proferida em ação de cumprimento de sentença normativa

SUM-397 AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, IV, DO CPC. AÇÃO DE CUMPRI-

MENTO. OFENSA À COISA JULGADA EMANADA DE SENTENÇA

NORMATIVA MODIFICADA EM GRAU DE RECURSO. INVIABILIDADE.

CABIMENTO DE MANDADO DE SEGURANÇA

Não procede ação rescisória calcada em ofensa à coisa julgada perpetrada por

decisão proferida em ação de cumprimento, em face de a sentença normativa, na

qual se louvava, ter sido modificada em grau de recurso, porque em dissídio

coletivo somente se consubstancia coisa julgada formal. Assim, os meios

processuais aptos a atacarem a execução da cláusula reformada são a exceção de

pré-executividade e o mandado de segurança, no caso de descumprimento do art.

572 do CPC.

• AR de decisão homologatória de adjudicação ou arrematação

SUM-399 AÇÃO RESCISÓRIA. CABIMENTO. SENTENÇA DE MÉRITO.

DE-CISÃO HOMOLOGATÓRIA DE ADJUDICAÇÃO, DE ARREMATAÇÃO

E DE CÁLCULOS

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175

I - É incabível ação rescisória para impugnar decisão homologatória de

adjudicação ou arrematação.

II - A decisão homologatória de cálculos apenas comporta rescisão quando

enfrentar as questões envolvidas na elaboração da conta de liquidação, quer

solvendo a controvérsia das partes quer explicitando, de ofício, os motivos pelos

quais acolheu os cálculos oferecidos por uma das partes ou pelo setor de

cálculos, e não contestados pela outra.

• Documento novo em dissídio coletivo envolvendo sentença normativa

SUM-402 AÇÃO RESCISÓRIA. DOCUMENTO NOVO. DISSÍDIO

COLETIVO. SENTENÇA NORMATIVA

Documento novo é o cronologicamente velho, já existente ao tempo da decisão

rescindenda, mas ignorado pelo interessado ou de impossível utilização, à época,

no processo. Não é documento novo apto a viabilizar a desconstituição de

julgado:

a) sentença normativa proferida ou transitada em julgado posteriormente à

sentença rescindenda;

b) sentença normativa preexistente à sentença rescindenda, mas não exibida no

processo principal, em virtude de negligência da parte, quando podia e deveria

louvar-se de documento já existente e não ignorado quando emitida a decisão

rescindenda.

• AR calcada em dolo processual

SUM-403 AÇÃO RESCISÓRIA. DOLO DA PARTE VENCEDORA EM

DETRIMENTO DA VENCIDA. ART. 485, III, DO CPC

I - Não caracteriza dolo processual, previsto no art. 485, III, do CPC, o simples

fato de a parte vencedora haver silenciado a respeito de fatos contrários a ela,

porque o procedimento, por si só, não constitui ardil do qual resulte cerceamento

de defesa e, em consequência, desvie o juiz de uma sentença não-condizente com

a verdade.

II - Se a decisão rescindenda é homologatória de acordo, não há parte

vencedora ou vencida, razão pela qual não é possível a sua desconstituição

calcada no inciso III do art. 485 do CPC (dolo da parte vencedora em detrimento

da vencida), pois constitui fundamento de rescindibilidade que supõe solução

jurisdicional para a lide.

• AR para invalidar confissão

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176

SUM-404 AÇÃO RESCISÓRIA. FUNDAMENTO PARA INVALIDAR

CONFISSÃO. CONFISSÃO FICTA. INADEQUAÇÃO DO

ENQUADRAMENTO NO ART. 485, VIII, DO CPC

O art. 485, VIII, do CPC, ao tratar do fundamento para invalidar a confissão

como hipótese de rescindibilidade da decisão judicial, refere-se à confissão real,

fruto de erro, dolo ou coação, e não à confissão ficta resultante de revelia.

• Pedido de liminar em AR

SUM-405 AÇÃO RESCISÓRIA. LIMINAR. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

I - Em face do que dispõe a MP 1.984-22/2000 e reedições e o artigo 273, § 7º,

do CPC, é cabível o pedido liminar formulado na petição inicial de ação

rescisória ou na fase recursal, visando a suspender a execução da decisão

rescindenda.

II - O pedido de antecipação de tutela, formulado nas mesmas condições, será

recebido como medida acautelatória em ação rescisória, por não se admitir

tutela antecipada em sede de ação rescisória.

• AR questionando prescrição parcial

SUM-409 AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO PRESCRICIONAL. TOTAL OU

PAR-CIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 7º, XXIX, DA CF/1988. MATÉRIA

INFRACONSTITUCIONAL

Não procede ação rescisória calcada em violação do art. 7º, XXIX, da CF/1988

quando a questão envolve discussão sobre a espécie de prazo prescricional

aplicável aos créditos trabalhistas, se total ou parcial, porque a matéria tem

índole infraconstitucional, construída, na Justiça do Trabalho, no plano

jurisprudencial.

• AR de decisão de TRT que confirma decisão monocrática

SUM-411 AÇÃO RESCISÓRIA. SENTENÇA DE MÉRITO. DECISÃO DE

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO EM AGRAVO REGIMENTAL

CONFIRMANDO DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR QUE,

APLICANDO A SÚMULA Nº 83 DO TST, INDEFERIU A PETIÇÃO

INICIAL DA AÇÃO RESCISÓRIA. CABIMENTO

Se a decisão recorrida, em agravo regimental, aprecia a matéria na

fundamentação, sob o enfoque das Súmulas nºs 83 do TST e 343 do STF, constitui

sentença de mérito, ainda que haja resultado no indeferimento da petição inicial

e na extinção do processo sem julgamento do mérito. Sujeita-se, assim, à reforma

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pelo TST, a decisão do Tribunal que, invocando controvérsia na interpretação da

lei, indefere a petição inicial de ação rescisória.

• AR de questão processual

SUM-412 AÇÃO RESCISÓRIA. SENTENÇA DE MÉRITO. QUESTÃO

PROCESSUAL

Pode uma questão processual ser objeto de rescisão desde que consista em

pressuposto de validade de uma sentença de mérito.

• AR de sentença não transitada em julgado

OJ-SDI2-21 AÇÃO RESCISÓRIA. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO.

TRÂNSITO EM JULGADO. INOBSERVÂNCIA. DECRETO-LEI Nº 779/69,

ART. 1º, V. INCABÍVEL

É incabível ação rescisória para a desconstituição de sentença não transitada

em julgado porque ainda não submetida ao necessário duplo grau de jurisdição,

na forma do Decreto-Lei nº 779/69. Determina-se que se oficie ao Presidente do

TRT para que proceda à avocatória do processo principal para o reexame da

sentença rescindenda.

• AR em face de sentença citra petita

OJ-SDI2-41 AÇÃO RESCISÓRIA. SENTENÇA “CITRA PETITA”. CA-

BIMENTO

Revelando-se a sentença "citra petita", o vício processual vulnera os arts. 128 e

460 do CPC, tornando-a passível de desconstituição, ainda que não opostos

embargos declaratórios.

D. Mandado de segurança

Objetivo: remédio constitucional destinado a amparar direito líquido e certo não protegido por HC

ou HD.

Regramento legal: Lei 12.106/09, aplicável subsidiariamente ao processo do trabalho

Competência:

Do Juiz do Trabalho: MS impetrado em face de auditor-fiscal do trabalho

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178

Do TRT: MS impetrado em face de: juiz da Vara do Trabalho, titular ou suplente, diretor de

secretaria e demais funcionários; juiz de Direito investido na jurisdição trabalhista; juízes e

funcionários do próprio TRT.

Do TST:

a. SDC: mandados de segurança contra os atos praticados pelos Ministros integrantes desta

seção;

b. SDI: mandados de segurança de sua competência originária, na forma da lei;

c. Pleno: mandados de segurança impetrados contra atos do Presidente ou de qualquer

Ministro do Tribunal, ressalvada a competência Seções Especializadas.

Recurso cabível: RO, no prazo de 8 dias (Súm. 201, TST)

Algumas súmulas importantes:

• MS em face de antecipação de tutela

SUM-414 MANDADO DE SEGURANÇA. ANTECIPAÇÃO DE

TUTELA (OU LIMINAR) CONCEDIDA ANTES OU NA SENTENÇA

I - A antecipação da tutela concedida na sentença não comporta

impugnação pela via do mandado de segurança, por ser impugnável

mediante recurso ordinário. A ação cautelar é o meio próprio para se

obter efeito suspensivo a recurso.

II - No caso da tutela antecipada (ou liminar) ser concedida antes da

sentença, cabe a impetração do mandado de segurança, em face da

inexistência de recurso próprio.

III - A superveniência da sentença, nos autos originários, faz perder o

objeto do mandado de segurança que impugnava a concessão da tutela

antecipada (ou liminar).

• MS em face de decisão transitada em julgado

SUM-33 MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO JUDICIAL

TRANSITADA EM JULGADO

Não cabe mandado de segurança de decisão judicial transitada em

julgado.

• Impossibilidade de emenda da inicial de MS

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179

SUM-415 MANDADO DE SEGURANÇA. ART. 284 DO CPC.

APLICABILIDADE

Exigindo o mandado de segurança prova documental pré-constituída,

inaplicável se torna o art. 284 do CPC quando verificada, na petição

inicial do "mandamus", a ausência de documento indispensável ou de sua

autenticação.

• MS em execução (diante de agravo de petição que não atende a pressuposto de

admissibilidade)

SUM-416 MANDADO DE SEGURANÇA. EXECUÇÃO. LEI Nº

8.432/1992. ART. 897, § 1º, DA CLT. CABIMENTO

Devendo o agravo de petição delimitar justificadamente a matéria e os

valores objeto de discordância, não fere direito líquido e certo o

prosseguimento da execução quanto aos tópicos e valores não

especificados no agravo.

• Penhora em dinheiro

SUM-417 MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA EM DINHEIRO

I - Não fere direito líquido e certo do impetrante o ato judicial que

determina penhora em dinheiro do executado, em execução definitiva, para

garantir crédito exeqüendo, uma vez que obedece à gradação prevista no

art. 655 do CPC.

II - Havendo discordância do credor, em execução definitiva, não tem o

executado direito líquido e certo a que os valores penhorados em dinheiro

fiquem depositados no próprio banco, ainda que atenda aos requisitos do

art. 666, I, do CPC.

III - Em se tratando de execução provisória, fere direito líquido e certo do

impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados

outros bens à penhora, pois o executado tem direito a que a execução se

processe da forma que lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620 do

CPC.

• MS visando à concessão de liminar ou homologação de acordo

SUM-418 MANDADO DE SEGURANÇA VISANDO À CONCESSÃO

DE LIMINAR OU HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO

A concessão de liminar ou a homologação de acordo constituem faculdade

do juiz, inexistindo direito líquido e certo tutelável pela via do mandado de

segurança.

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E. Dissídios coletivos

Partes: normalmente, são entidades sindicais. Há discussões quanto à possibilidade de a empresa

ingressar com o dissídio coletivo, conforme analisado adiante.

Classificação: os dissídios coletivos podem ser classificados em

a. Originários: quando se destinam à criação de condições de trabalho ou à interpretação de

normas coletivas (art. 867 da CLT);

b. De revisão: quando se destinam a rever condição de trabalho preexistente que tenha se

tornado injusta ou ineficaz por fato superveniente (arts. 873 a 875, CLT);

c. De declaração: quando destinados à apreciação da abusividade da greve;

d. De extensão: quando se destinam a estender condições de trabalho a pessoas não

originalmente contempladas no dissídio (arts. 868 a 871 da CLT).

Competência: originária dos tribunais (critério: base territorial dos sindicatos envolvidos)

a. TRT: quando o conflito envolve sindicato atuante na respectiva região. Como regra, a

competência é do Pleno, se não houver turma especializada.

b. TST: quando a base territorial do sindicato for superior ao TRT (competência pertence à

Seção de Dissídios Coletivos)

EXCEÇÃO: conflito envolvendo todo o Estado de SP é julgado pelo TRT da 2ª Região

(tribunal mais antigo – art. 12 da Lei nº 7520/86, que criou o TRT da 15ª Região)

Art. 12. Compete exclusivamente ao Tribunal Regional do Trabalho da 2ª

Região processar, conciliar e julgar os dissídios coletivos nos quais a decisão a

ser proferida deva produzir efeitos em área territorial alcançada, em parte,

pela jurisdição desse mesmo Tribunal e, em outra parte, pela jurisdição do

Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região.

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Condição da ação: realização de assembleia aprovando a instauração do dissídio:

Art. 859, CLT - A representação dos sindicatos para instauração da instância

fica subordinada à aprovação de assembléia, da qual participem os associados

interessados na solução do dissídio coletivo, em primeira convocação, por

maioria de 2/3 (dois terços) dos mesmos, ou, em segunda convocação, por 2/3

(dois terços) dos presentes.

Atualmente, prevalece o entendimento de que “associados interessados” são todos os

pertencentes à categoria. Ademais, segundo entendimento do TST e do STF, a regra se aplica tanto

aos dissídios de natureza econômica, quanto jurídica.

Com relação aos dissídios de natureza econômica, ainda, é condição da ação a tentativa

frustrada de negociação (tal como previsto pelo art. 114, §2º da CF/88).

Prazo para instauração: previsto no art. 616, §3º da CLT

Art. 616, § 3º, CLT - Havendo convenção, acordo ou sentença normativa em

vigor, o dissídio coletivo deverá ser instaurado dentro dos 60 (sessenta) dias

anteriores ao respectivo termo final, para que o novo instrumento possa ter

vigência no dia imediato a esse termo

Se não for possível terminar as negociações antes desse prazo, a entidade poderá formular

protesto judicial ao Presidente do Tribunal, para garantir a eficácia da decisão a partir do termo do

acordo/convenção coletiva. Deferido o protesto, o dissídio deverá ser instaurado no prazo máximo

de 30 dias a contar da intimação.

Legitimidade ativa: sindicato (assegurado direito da federação e confederação, caso inexistente

sindicato representativo da categoria)

Art. 857, CLT - A representação para instaurar a instância em dissídio coletivo

constitui prerrogativa das associações sindicais, excluídas as hipóteses

aludidas no art. 856, quando ocorrer suspensão do trabalho.

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182

Parágrafo único. Quando não houver sindicato representativo da categoria

econômica ou profissional, poderá a representação ser instaurada pelas

federações correspondentes e, na falta destas, pelas confederações respectivas,

no âmbito de sua representação

Ressalte-se que, se o dissídio envolver categoria diferenciada, todos os sindicatos das

empresas às quais os integrantes da categoria prestem serviços devem ser citados, no esteio da

Súmula 374 do TST:

SUM-374. NORMA COLETIVA. CATEGORIA DIFERENCIADA.

ABRANGÊNCIA

Empregado integrante de categoria profissional diferenciada não tem o direito

de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo no

qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria.

A CLT, porém, prevê possibilidades de instauração de ofício do dissídio:

Art. 856, CLT - A instância será instaurada mediante representação escrita ao

Presidente do Tribunal. Poderá ser também instaurada por iniciativa do

presidente, ou, ainda, a requerimento da Procuradoria da Justiça do Trabalho,

sempre que ocorrer suspensão do trabalho.

Entretanto:

a. Entende-se revogada a possibilidade de o Presidente do Tribunal instaurar de

ofício o dissídio, por força da previsão contida no art. 8º da Lei nº 7783/89;

b. Quanto ao MPT, este pode ajuizar dissídio coletivo apenas em caso de greve

que envolva serviço essencial, desde que haja perigo de lesão ao interesse

público (§3º, art. 114, CF/88). OBS: as atividades consideradas essenciais são

listadas pelo art. 10 da Lei 7783/89.

É admissível a instauração de dissídio coletivo pela empresa?

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183

Segundo entendimento majoritário, sim – em virtude da garantia da eficácia dos ACT pela

CF/88 e da redação do §2º do art. 114 da CF/88 (o qual diz competir às “partes” – e não aos

sindicatos – o ajuizamento do dissídio coletivo de interesse).

OBS: Vigia entendimento no TST no sentido de que o sindicato profissional não poderia requerer

judicialmente a qualificação legal da greve por ele deflagrada (OJ-SDC-12) – entretanto, tal OJ foi

cancelada, suscitando discussões sobre tal legitimidade.

Procedimento

Inicialmente, ressalte-se que, para a propositura de dissídio coletivo, o sindicato não

necessita de procuração, bastando a autorização pela assembleia (afinal, não se trata de

substituição processual, e sim de legitimação ordinária).

A petição inicial deve ser escrita (exceção à regra do art. 840, CLT):

Art. 856, CLT - A instância será instaurada mediante representação escrita ao

Presidente do Tribunal. (...)

Ademais, deve ser apresentada em tantas vias quantos forem os reclamados, contendo:

a) designação e qualificação dos reclamantes e dos reclamados e a natureza do

estabelecimento ou do serviço;

b) os motivos do dissídio e as bases da conciliação (art. 858, CLT).

Como condição de procedibilidade, deve-se comprovar a realização da assembleia prévia

(cópia da ata da assembleia + lista de comparecimento) e a tentativa frustrada de negociação, no

caso dos dissídios econômicos (correspondências, atas, registros, etc).

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Autuada a petição, será encaminhada ao Presidente do Tribunal ou magistrado competente

(na forma do RI) para análise dos pressupostos de admissibilidade. É possível emenda no prazo de

10 dias, nos termos da Súmula 263, TST.

Será agendada, então, audiência de conciliação – em regra, dentro de dez dias do

recebimento do dissídio:

Art. 860, CLT - Recebida e protocolada a representação, e estando na devida

forma, o Presidente do Tribunal designará a audiência de conciliação, dentro do

prazo de 10 (dez) dias, determinando a notificação dos dissidentes, com

observância do disposto no art. 841 (correio + edital – não há citação por hora

certa).

Parágrafo único - Quando a instância for instaurada ex officio, a audiência deverá

ser realizada dentro do prazo mais breve possível, após o reconhecimento do

dissídio.

Segundo dita a CLT, o empregador poderá se fazer representar, na audiência, pelo gerente,

ou por qualquer outro preposto que tenha conhecimento do dissídio, e por cujas declarações será

sempre responsável (art. 861, CLT). Como no dissídio individual, entende-se que o preposto deve

ser empregado (Súm. 377, TST).

Duas situações podem ocorrer na audiência de conciliação:

a. Ambas as partes comparecem

O Presidente do Tribunal (que atua como mediador) tentará a conciliação; não sendo

aceitas as bases propostas, submeterá aos interessados outra solução (que lhe pareça capaz de

resolver o dissídio – art. 862, CLT).

Havendo acordo, o Presidente o submeterá à homologação do Tribunal na primeira sessão

(art. 863, CLT). Da homologação do acordo pelo TRT, caberá recurso do MPT (no caso de

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cláusula violadora de lei, da CF ou de orientação jurisprudencial predominante no TST – art. 7º,

§5º, da Lei 7701/88), mas não das partes, salvo se houver exclusão de uma das cláusulas.

Quando o dissídio ocorrer fora da sede do Tribunal, poderá o presidente, se julgar

conveniente, delegar à autoridade local (vara do trabalho ou juiz de direito investido de jurisdição

trabalhista) a tentativa de conciliação (Art. 866, CLT). Nesse caso, não havendo conciliação, a

autoridade delegada encaminhará o processo ao Tribunal, fazendo exposição circunstanciada dos

fatos e indicando a solução que lhe parecer conveniente – o juiz, portanto, não seguirá na instrução

do feito.

Não havendo acordo, segue-se o procedimento abaixo.

b. Uma das partes não comparece

Aplica-se art. 864 da CLT:

Art. 864, CLT - Não havendo acordo, ou não comparecendo ambas as partes ou

uma delas, o presidente submeterá o processo a julgamento, depois de realizadas

as diligências que entender necessárias e ouvida a Procuradoria.

Não haverá arquivamento, revelia ou confissão quanto à matéria de fato, pois não há

remissão ao art. 844 da CLT. Assim, superada a tentativa de conciliação, o processo será

distribuído mediante sorteio.

Poderá ser apresentada defesa pela parte (embora não haja previsão expressa nesse sentido

– apenas em alguns RI). Da mesma forma, poderá o juiz determinar a instrução do feito, realizando

as “diligências que entender necessárias”.

Porém, é obrigatória a intimação do MPT para emitir parecer – por escrito (prazo: 8 dias)

ou oralmente na sessão de conciliação ou julgamento (Lei nº 7701/88).

Relator tem prazo de 10 dias para apresentar seu voto, encaminhando processo ao revisor.

Este tem prazo de 5 dias para encaminhar os autos a julgamento.

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A sentença normativa deverá analisar cada cláusula do dissídio separadamente (permitida

a aplicação da teoria do conglobamento). Deve ser publicada no prazo de 15 dias da decisão do

Tribunal, notificando-se as partes pelo correio.

Sobre o momento da vigência da decisão, v. par. un. do art. 867 da CLT:

Art. 867, parágrafo único, CLT - A sentença normativa vigorará:

a) a partir da data de sua publicação, quando ajuizado o dissídio após o prazo do

art. 616, § 3º, ou, quando não existir acordo, convenção ou sentença normativa

em vigor, da data do ajuizamento (60 dias antes do término da vigência da

sentença, acordo ou convenção anterior);

b) a partir do dia imediato ao termo final de vigência do acordo, convenção ou

sentença normativa, quando ajuizado o dissídio no prazo do art. 616, § 3º.

Ressalte-se que a sentença normativa tem prazo determinado, não podendo ser superior a 4

anos (normalmente, vige por um ano – pois, segundo o art. 873 da CLT, somente após um ano é

cabível a revisão da sentença):

Art. 868, parágrafo único, CLT - O Tribunal fixará a data em que a decisão deve

entrar em execução, bem como o prazo de sua vigência, o qual não poderá ser

superior a 4 (quatro) anos.

PN-120. SENTENÇA NORMATIVA. DURAÇÃO. POSSIBILIDADE E

LIMITES

A sentença normativa vigora, desde seu termo inicial até que sentença normativa,

convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho superveniente

produza sua revogação, expressa ou tácita, respeitado, porém, o prazo máximo

legal de quatro anos de vigência.

OBS: A OJ-SDC-7 do TST estabelece os limites da interpretação operada em dissídio coletivo de

natureza jurídica:

OJ-SDC-7 DISSÍDIO COLETIVO. NATUREZA JURÍDICA.

INTERPRETAÇÃO DE NORMA DE CARÁTER GENÉRICO.

INVIABILIDADE.

Não se presta o dissídio coletivo de natureza jurídica à interpretação de normas

de caráter genérico, a teor do disposto no art. 313, II, do RITST.

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187

Eficácia da sentença: erga omnes, em virtude da indeterminação dos sujeitos. Assim, aplica-se em

relação a todos aqueles que pertençam ou venham a pertencer à categoria.

Custas: há solidariedade das partes vencidas na condenação

Art. 789, § 4º, CLT. Nos dissídios coletivos, as partes vencidas responderão

solidariamente pelo pagamento das custas, calculadas sobre o valor arbitrado

na decisão, ou pelo Presidente do Tribunal.

Sendo totalmente improcedente o pleito, o suscitante arcará com as custas. Normalmente, as

custas são calculadas sobre valor simbólico, diante da impossibilidade de se mensurar o valor

envolvido no dissídio.

Recurso: recurso cabível é o ordinário (art. 895, b, CLT)

Como se sabe, os recursos trabalhistas, em regra, possuem apenas efeito devolutivo – assim

também nos dissídios coletivos. Exceção a tal regra refere-se à interposição de medida cautelar

para obter-se o efeito suspensivo, tal como admitido pelo inciso I da Súmula 414 do TST.

SUM-414 MANDADO DE SEGURANÇA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA (OU

LIMINAR) CONCEDIDA ANTES OU NA SENTENÇA

I - A antecipação da tutela concedida na sentença não comporta impugnação pela

via do mandado de segurança, por ser impugnável mediante recurso ordinário. A

ação cautelar é o meio próprio para se obter efeito suspensivo a recurso.

Ademais, a Lei nº 10.192/01 (art. 14), que disciplina o reajuste salarial, assegura o direito de

o presidente do TST conceder efeito suspensivo, pelo prazo improrrogável de 120 dias, ao recurso

ordinário interposto em face de sentença normativa prolatada pelo TRT (apenas para dissídio de

natureza econômica).

OBS: A CLT previa expressamente possibilidade de o presidente do tribunal conferir efeito

suspensivo a recurso (art. 896, §2º, CLT), mas essa possibilidade foi revogada.

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Extensão, cumprimento e revisão da sentença normativa

A sentença normativa (decisão proferida pelo tribunal em dissídios coletivos) pode ser

estendida em relação a pessoas que não participaram do dissídio, nos termos do art. 868 e ss da

CLT:

Art. 868, CLT - Em caso de dissídio coletivo que tenha por motivo novas condições

de trabalho e no qual figure como parte apenas uma fração de empregados de uma

empresa, poderá o Tribunal competente, na própria decisão, estender tais

condições de trabalho, se julgar justo e conveniente, aos demais empregados da

empresa que forem da mesma profissão dos dissidentes.

Parágrafo único - O Tribunal fixará a data em que a decisão deve entrar em

execução, bem como o prazo de sua vigência, o qual não poderá ser superior a 4

(quatro) anos.

Art. 869, CLT - A decisão sobre novas condições de trabalho poderá também ser

estendida a todos os empregados da mesma categoria profissional compreendida na

jurisdição do Tribunal:

a) por solicitação de 1 (um) ou mais empregadores, ou de qualquer sindicato

destes;

b) por solicitação de 1 (um) ou mais sindicatos de empregados;

c) ex officio, pelo Tribunal que houver proferido a decisão;

d) por solicitação da Procuradoria da Justiça do Trabalho.

Duas são, pois, as hipóteses de extensão previstas por lei:

f. De ofício, aos demais empregados da empresa que forem da mesma

profissão dos dissidentes (categoria diferenciada pode ou não ser

abrangida, a critério do juiz) – ideia de tratar igualmente todos os

empregados, sem prejudicar os não dissidentes. Porém, tal extensão só

pode ocorrer em relação a dissídios de natureza econômica (“dissídio

coletivo que tenha por motivo novas condições de trabalho”). Nada impede

que as partes interessadas requeiram essa extensão no curso do dissídio.

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189

Essa extensão é feita na própria sentença, não havendo necessidade de

novo procedimento, tampouco concordância dos interessados.

g. De ofício ou por solicitação das pessoas previstas nas alíneas do art.

869, a todos os empregados da mesma categoria profissional,

compreendida na jurisdição do tribunal. Novamente, tal extensão só pode

ocorrer em relação a dissídios de natureza econômica (decisão sobre novas

condições de trabalho). Nesse caso, deve ser observado o art. 870 (no

anterior não):

Art. 870, CLT - Para que a decisão possa ser estendida, na forma do artigo

anterior, torna-se preciso que 3/4 (três quartos) dos empregadores e 3/4 (três

quartos) dos empregados, ou os respectivos sindicatos, concordem com a extensão

da decisão.

§ 1º - O Tribunal competente marcará prazo, não inferior a 30 (trinta) nem

superior a 60 (sessenta) dias, a fim de que se manifestem os interessados.

§ 2º - Ouvidos os interessados e a Procuradoria da Justiça do Trabalho, será

o processo submetido ao julgamento do Tribunal.

Portanto, nesse segundo caso, deve haver concordância dos interessados,

manifestando-se no prazo de 30 a 60 dias previsto no §1º. É obrigatória,

também, a oitiva do MPT – instaura-se, então, novo dissídio coletivo.

Sempre que o Tribunal estender a decisão, marcará a data em que a extensão

deva entrar em vigor (art. 871, CLT) – e.g., a partir da publicação no DO ou,

em questões urgentes, do próprio julgamento.

A sentença normativa, transitada em julgado, é passível de revisão em razão da mudança

das condições econômicas (apenas em dissídios econômicos). Para tanto, deve estar em vigor há

mais de um ano, e suas condições se tornado injustas ou inaplicáveis.

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190

Art. 873, CLT - Decorrido mais de 1 (um) ano de sua vigência, caberá revisão das

decisões que fixarem condições de trabalho, quando se tiverem modificado as

circunstâncias que as ditaram, de modo que tais condições se hajam tornado

injustas ou inaplicáveis.

OBS: Também é possível a propositura de ação rescisória, nos termos da Lei nº 7701/88.

Se a sentença normativa não mais estiver em vigor, é necessária a propositura de novo

dissídio, não sendo admitida a revisão. Também não será admitido o acréscimo de condições não

previstas no dissídio originário.

A legitimidade para propositura da revisão, bem como o procedimento a ser seguido, vem

prevista nos arts. 874 e 875 da CLT:

Art. 874, CLT - A revisão poderá ser promovida por iniciativa do Tribunal

prolator, da Procuradoria da Justiça do Trabalho, das associações sindicais ou de

empregador ou empregadores interessados no cumprimento da decisão.

Parágrafo único - Quando a revisão for promovida por iniciativa do Tribunal

prolator ou da Procuradoria, as associações sindicais e o empregador ou

empregadores interessados serão ouvidos no prazo de 30 (trinta) dias. Quando

promovida por uma das partes interessadas, serão as outras ouvidas também por

igual prazo.

Art. 875, CLT - A revisão será julgada pelo Tribunal que tiver proferido a decisão,

depois de ouvida a Procuradoria da Justiça do Trabalho.

F. Ação de Cumprimento

O cumprimento das sentenças normativas vem previsto no art. 872 da CLT:

Art. 872, CLT - Celebrado o acordo, ou transitada em julgado a decisão, seguir-se-

á o seu cumprimento, sob as penas estabelecidas neste Título.

Parágrafo único - Quando os empregadores deixarem de satisfazer o pagamento de

salários, na conformidade da decisão proferida, poderão os empregados ou seus

sindicatos, independentes de outorga de poderes de seus associados, juntando

certidão de tal decisão, apresentar reclamação à Junta ou Juízo competente,

observado o processo previsto no Capítulo II deste Título, sendo vedado, porém,

questionar sobre a matéria de fato e de direito já apreciada na decisão.

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191

O meio idôneo para promover-se o cumprimento da sentença normativa pelo empregador é

a ação de cumprimento (e não a execução, como ocorre nos dissídios individuais), que é de

competência da Vara do Trabalho. Esta, porém, não poderá alterar a sentença normativa, vez que

lhe falta competência para tanto – por isso, é vedado discutir matéria já decidida no dissídio.

Não se trata de dissídio coletivo, mas individual (caso contrário, seria de competência

originária do TRT).

Ressalte-se que, sendo a decisão em dissídio coletivo simplesmente constitutiva ou

declaratória, não comporta execução - daí a utilização da ação de cumprimento. Esta, por seu

turno, tem natureza condenatória, pois visa a garantir a efetividade ao quanto decidido no dissídio

coletivo.

A ação será instruída com cópia da sentença normativa e destina-se ao cumprimento de

qualquer condição de trabalho prevista em sentença normativa (e não apenas o salário, como

previsto em lei). Também pode ser utilizada para determinar o cumprimento de acordo homologado

não cumprido, ou mesmo para cumprimento de ACT ou CCT:

SUM-286 SINDICATO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. CONVENÇÃO E

ACORDO COLETIVOS

A legitimidade do sindicato para propor ação de cumprimento estende-se também

à observância de acordo ou de convenção coletivos.

A juntada da sentença normativa (ou do acordo ou do ACT/CCT) é requisito essencial ao

processamento da ação, já que o juiz não é obrigado a conhecê-los (art. 337 do CPC). Portanto,

aplica-se a Súmula 263 do TST sobre emenda da inicial.

A legitimidade para propositura da ação de cumprimento é conferida: ao empregado,

individualmente ou em reclamação plúrima, ou ao empregado, em substituição processual.

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Haverá realização de audiência, nos moldes do procedimento ordinário, incluindo tentativa

de conciliação, defesa e fase instrutória. É possível, porém, a utilização do rito sumaríssimo, caso

a causa possua valor inferior a 40 salários mínimos.

É facultado aos empregados se fazerem representar pelo sindicato em audiência, nos termos

do art. 843, §1º da CLT.

É admissível, na defesa, a alegação de insuficiência econômica superveniente à sentença

normativa? Segundo entendimento majoritário, sim – desde que esta seja superveniente.

É dispensável o trânsito em julgado da decisão para propositura da ação (embora a redação

do artigo leve a crer que é necessário) – Súm. 246 do TST.

O prazo de prescrição da ação de cumprimento de decisão normativa flui apenas da data de

seu trânsito em julgado (SUM-350, TST).