1 apostila metodologia de técnicas de exame psicológico prof. lele 12010

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METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO Prof. Álvaro José LELÉ METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO DEFINIÇÃO Metodologia de Técnicas de Exame Psicológico é a arte de dirigir o intelecto na investigação da verdade através de um estudo lógico e sistemático para examinar e averiguar os princípios de criação, fundamentação e utilização de Técnicas de Exame Psicológico. (LELÉ, agosto1999) Adaptado pelo Prof. LELE (janeiro, 2009) do Material de MÉTODOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA de Prof. Álvaro José LELÉ e Profª. Wilma M. G. Lopes (maio, 2000) ÍNDICE DEFINIÇÃO DE METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO.......................... p.1 PARTE - INTRODUÇÃO................................................................ ......................................................... p.2 1 . 2 . 3 . 4 . BREVE HISTÓRICO DA MEDIDA EM PSICOLOGIA ............................................................ ........ FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS DA MEDIDA ................................................................ ................ FUNDAMENTAÇÃO EPISTEMOLÓGICA DA MEDIDA EM GERAL E PSICOLÓGICA ................ PARÂMETROS PSICOMÉTRICOS ......................................................... ....................................... p.2 p.3 p.3 p.5 PARTE II - MÉTODOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ............................................... p.7 1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . OBJETO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ........................................................... ......................... OBJETIVO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ........................................................... ...................... ÁREAS DE APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ........................................................... AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA e PSICODIAGNÓSTICO ...................................................... ........... ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES NO PROCESSO AVALIATIVO ......................... TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO ............................................................. ............ GUIA DE PROCEDIMENTOS ÉTICOS PARA AVALIAÇÃOPSICOLÓGICA ................................. p.7 p.7 p.7 p.7 p.7 p.8 p.1 0 p.1 0 p.1 0 p.1 1 p.1 1 p.1 1 1

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METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICOProf. Álvaro José LELÉ

METODOLOGIADE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO

DEFINIÇÃO

Metodologia de Técnicas de Exame Psicológico é a arte de dirigir o intelecto na investigação da verdade através de um estudo lógico e sistemático para examinar e averiguar os princípios de criação, fundamentação e utilização de Técnicas de Exame Psicológico. (LELÉ, agosto1999)

Adaptado pelo Prof. LELE (janeiro, 2009)do Material de MÉTODOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

de Prof. Álvaro José LELÉ e Profª. Wilma M. G. Lopes (maio, 2000)

ÍNDICE

DEFINIÇÃO DE METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO.......................... p.1PARTE - INTRODUÇÃO......................................................................................................................... p.21.2.3.4.

BREVE HISTÓRICO DA MEDIDA EM PSICOLOGIA ....................................................................FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS DA MEDIDA ................................................................................FUNDAMENTAÇÃO EPISTEMOLÓGICA DA MEDIDA EM GERAL E PSICOLÓGICA ................PARÂMETROS PSICOMÉTRICOS ................................................................................................

p.2p.3p.3p.5

PARTE II - MÉTODOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ............................................... p.71.2.3.4.5.6.7.

8.

OBJETO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ....................................................................................OBJETIVO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA .................................................................................ÁREAS DE APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ...........................................................AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA e PSICODIAGNÓSTICO .................................................................ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES NO PROCESSO AVALIATIVO .........................TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO .........................................................................GUIA DE PROCEDIMENTOS ÉTICOS PARA AVALIAÇÃOPSICOLÓGICA .................................Apresentação ..................................................................................................................................

I. Princípios gerais da avaliação psicológica .................................................................II. O uso dos instrumentos psicológicos ........................................................................III. A seleção de testes psicológicos ................................................................................IV. Aplicação dos testes psicológicos ..............................................................................V. Correção e interpretação dos resultados de testes psicológicos ...............................VI. Relato e devolução dos resultados da avaliação psicológica ....................................VII. Princípios de construção dos testes psicológicos .....................................................VIII. Considerações gerais ................................................................................................

TESTES PSICOLÓGICOS .............................................................................................................A. DEFINIÇÃO ............................................................................................................................B. OBJETIVOS ............................................................................................................................C. CLASSIFICAÇÃO ....................................................................................................................D. A ESCOLHA DO TESTE .........................................................................................................E. VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DOS TESTES .................................................

p.7p.7p.7p.7p.7p.8p.10p.10p.10p.11p.11p.11p.12p.12p.13p.13p.13p.13p.13p.13p.16p.17

PARTE III - METODOLOGIA PROJETIVA .............................................................................................

p.17

1.2.3.

FORMAÇÃO EM METODOLOGIA PROJETIVA ............................................................................A SITUAÇÃO PROJETIVA: CLÍNICA DOS TESTES PROJETIVOS .............................................INDICAÇÕES E CONTEXTOS DA CONSULTA PROJETIVA ......................................................

p.17p.17p.18

PARTE IV - RECOMENDAÇÕES BÁSICAS PARA A APLICAÇÃO DOS TESTES PSICOLÓGICOS .. p.19PARTE V – PSICODIAGNÓSTICO ........................................................................................................ p.201.2.3.4.

CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO PSICODIAGNÓSTICO .....................................................OBJETIVOS DO PSICODIAGNÓSTICO ........................................................................................OPERACIONALIZAÇÃO .................................................................................................................PASSOS DO DIAGNÓSTICO .........................................................................................................

p.20p.21p.23p.23

PARTE VI - SUGESTÕES PARA ESCOLHA DAS TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICOS E SUAS APLICAÇÕES .............................................................................................. p.24PARTE VII - RESOLUÇÕES CFP ......................................................................................................... p.26PARTE VIII – REFERÊNCIAS ................................................................................................................

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METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICOProf. Álvaro José LELÉ

PARTE I - INTRODUÇÃO

1. Breve histórico da medida em Psicologia1

Carrol (1978) - fixa 2 grandes períodos na história da medida em Psicologia:

I- Período de desenvolvimento · início no final do séc. XIX (1869), data das primeiras publicações de Francis Galton até 1935.Período onde se desenvolveram os fundamentos teóricos e práticos da Psicometria.

II- Período Moderno · por volta de 1935 com a fundação da Sociedade Psicométrica e sua revista Psycometrika.Período caracterizado pela realização de um amplo refinamento na tecnologia dos testes.

ßSéc XVIII - Filósofo alemão Christian Wolff- já aparece enquanto projeto a possibilidade de submeter os fenômenos psíquicos à matematização.

Psicofísica - séc. XIX o filósofo Weber com seus experimentos permitiram pela 1ª vez medidas precisas entre diferenças na intensidade de um estímulo e a sensação destas diferenças- “limiares diferenciais”. Ex: medições de limiares de audição, visão, etc...

Fechner (1883) expandindo os trabalhos de Weber, realiza estudos experimentais das sensações, através de medidas indiretas via comportamento verbal ® com isto demonstra a possibilidade de se utilizar a lógica da ciência na medida psicológica.

A psicofísica exerceu grande influência no desenvolvimento das medidas em psicologia.

Em 1879 - 1º laboratório de y experimental de Wundt, onde a investigação e quantificação se voltam mais para fenômenos mentais e não mais para o estabelecimento de equivalências psicofísicas Þ atenção voltava-se mais para a uniformidade do que para as diferenças individuais.

Final do séc. XIX e início deste é que irá surgir um forte movimento de PSICOMETRIA - “medidas sensório-motoras”

® Galton (1869) - laboratório antropométrico, cria instrumentos “régua de Galton” para medir a altura audível, “série graduadas de pesos” para mensuração e discriminação cinestética, etc...Influenciado pelo associacionismo tradicional, postulou que “bons sentidos corresponderiam a um bom intelecto”. ®Cattell (1880) - foi o 1º a usar a expressão “Teste Mental”. Inteligência associada à velocidade e acuidade sensorial e perceptiva, atenção e memória.

· estas medidas apresentavam baixa correlação com os desempenhos acadêmicos.

Binet e Simon (1905) · Criam a 1ª escala de inteligência com o intuito de investigar as possíveis causas do fracasso na escola. Em 1908, a escala foi agrupada em níveis de idade. Em 1916, “Binet-Terman” e, em 1937, “Escala Stanford-Binet”. No Brasil, em 1913, pelo pediatra Fernandes Figueira.Em 1912, com Stern - o termo QI.

Spearman (1904) - 1ª contribuição metodológica para análise funcional da inteligência. Fator “G” (recorre ao estudo das correlações).

Em 1907 - testes de interesse “Inventário de interesse de Strong”.

Em 1915 - 1º teste de aptidão específica foi o de Seashore “Teste de talento Musical”.

Thrustone (1937) - aptidões primárias “Primary Mental Abilites” a bateria PMA.

Guilford (1967) - tantas aptidões quantos os cruzamentos possíveis de vários processos ou operações mentais ( 150 aptidões ).

Gardner (1983) - mente humana estruturada em 7 inteligências “teoria das inteligências múltiplas”.

1 PASQUALI, Luiz. Psicometria. Teoria dos testes na psicologia e educação. Petrópolis: Vozes, 2004.

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Þ Os últimos testes a serem construídos foram os testes de PERSONALIDE, devido à complexidade teórica e prática.

Rorschach na década de 20TAT na década de 30Szondi na década de 40

MMPI (Inventário Multifásico de Personalidade Minnesota) início da década de 40.

2. Fundamentos Científicos da Medida

Os testes psicológicos são instrumentos que pretendem apresentar caráter de legitimidade, isto é, instrumentos que produzem resultados confiáveis. Daí duas suposições:

a) Os testes precisam ter embasamento científico e devem demonstrar isso.b) Os testes precisam ser apropriadamente utilizados.

Os testes psicológicos em sua maioria são testes psicométricos, isto é, medidas do comportamento humano que se enquadram dentro da teoria quantitativa em ciências. Eles se fundamentam na teoria da medida e, mais particularmente na teoria da medida em psicologia e psicometria.

O que se mede em psicologia é uma variável psicológica definida como uma característica que cada indivíduo tem em diferentes níveis.

Só a partir do séc. XIX é que o ser humano se volta para si, para mensurar os processos psíquicos e o comportamento deles decorrentes. Assim, os testes psicológicos são medidas de processos psicológicos.

Psicometria

Conjunto de técnicas que permite a quantificação dos fenômenos psicológicos. Seu objetivo é aplicar métodos científicos no estudo do comportamento humano. É a ciência que estuda os princípios e métodos da medida psicológica. É a medida de construtos psicológicos ou traços latentes (estruturas latentes) através de comportamentos “verbais” ou “motores” que seriam a representação daqueles traços.A Psicometria® veio atender à necessidade de medidas quantitativas conseqüência da influência científica da época. Com isto, a Psicologia aproximou-se de fato das ciências empíricas, atendendo às exigências do modelo científico.® veio atender à necessidades socioculturais, associadas a preocupações mais práticas ligadas a melhoria do rendimento dos sujeitos.® realçou a questão das diferenças individuais. A visão de homem subjacente ao modelo psicométrico (no seu início ), implicava a existência de características genéricas de comportamento humano. Essas características de ordem genética e constitucional, eram consideradas relativamente imutáveis. Os testes visavam identificá-las, classificá-las e medí-las. Hoje, os fatores genéticos não são suficientes para explicar tais diferenças, mas estes acrescidos de fatores experiências e sócio-culturais.® O instrumento psicométrico mais típico é o “TESTE”.

3. Fundamentação epistemológica da medida em geral e psicológica

Base axiomática da medida (Base evidente da medida)

Só será valido o uso de números na observação dos fenômenos naturais se levarmos em consideração as propriedades estruturais tanto da ciência quanto da matemática.

Há legitimidade no uso do número para a descrição dos fenômenos naturais se houver ISOMORFISMO (intercâmbio entre 2 sistemas de saber mantendo-se as propriedades dos mesmos)

É legitimo representar com números os fenômenos naturais, se nesta designação se manterem tanto as propriedades dos números, quanto as características próprias dos atributos dos fenômenos empíricos.

NÚMERO (possui 27 axiomas = definem um atributo do número = postulado assumido como verdade sem qualquer necessidade de comprovação)

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São propriedades básicas do sistema métrico:

IDENTIDADE (igual a – o número é idêntico a si mesmo e somente a si) ORDEM (baseia-se na desigualdade dos números – seqüência monotônica crescente ou

decrescente de valor) ADITIVIDADE (os números podem ser somados para se obter outros números)

MEDIR→ atribuir números as propriedades das coisas, segundo certas regras. A medida deve garantir que as operações empíricas (com base na experiência ou na observação direta) assegurem os axiomas dos números. A maioria das medidas deve salvar o AXIOMA DE ORDEM

A natureza da medida implica em alguns problemas básicos:

a) o problema da representação ou isomorfismob) o problema da unicidade da representação Uma representação “x” de um atributo seria a melhor e a mais viável? Para os físicos não há maneira melhor para descrever: m (comprimento); Kg (massa); s (tempo); A (corrente elétrica); K (temperatura); Cd (intensidade da luz)Quando utilizamos QI busca-se esta unicidade. Mas será o QI a única e melhor forma de representar a inteligência?c) o problema do erro: na matemática não existe possibilidade de erro, mas o próprio uso do método científico tem erros.

Funções da medida:a) Quantificação – A medida permite uma descrição precisa do fenômeno e o símbolo que garante a

maior precisão é o número.b) Comunicação – Condensa informações; é mais precisa e objetiva.c) Padronização – Assegura a equivalência entre objetos com características diversas.d) Objetividade – Permite-se classificação com menos ambigüidade.

Escalas de medida

A) Escala de razão: possui “zero absoluto”. Por ex: peso zero é um conceito definível baseado na força da gravidade. Esta medida não é usada na Psicologia, pois não existe zero absoluto nos fenômenos psicológicos.

B) Escala intervalar: possui “zero arbitrário” como também apresenta distâncias (intervalos iguais) na propriedade que está sendo medida. Por ex: a diferença da temperatura entre 10°C e 30°C é a metade da diferença entre 40°C e 80°C. Neste tipo de medida os símbolos numéricos expressam não só a ordem como também o tamanho da diferença relativa entre as categorias das características medidas.

C) Escala nominal: os números podem servir meramente de nomes ou rótulos. Ex: código por região do telefone (BH é 31/ Rio é 21).

D) Escala ordinal: nela o objetivo é estabelecer graduações entre os fenômenos. Em Psicologia dificilmente se ultrapassa esse nível de medida. Os testes de inteligência, personalidade, aptidão, atitudes, etc.... são basicamente ordinais, pois fornecem uma posição numa ordem de resultados.

Tipos de medida:a) Medida fundamental – Obtida como resultado da mensuração direta. Medir aqui é verificar a

coincidência de pontos. Ex.: comprimentob) Medida derivada – Produto de uma operação de mensuração baseada em indícios que se supõe

estarem relacionados com o atributo do objeto medido. Ex.: m (massa) é igual a volume (metro cúbico) X densidade (kg por metro cúbico).

c) Medida por teoria – Pode ser por “lei” ou “teoria”. A medida em Ciências Sociais e do Comportamento é:Por lei – Quando se quer demonstrar empiricamente que dois ou mais atributos estruturalmente diferentes mantêm entre si relações sistemáticas. Os elementos envolvidos na mensuração são descobertas científicas – é o fato. Ex: lei do reforço em Psicologia, ou seja, mede-se por lei quando se demonstra empiricamente que dois ou mais atributos estruturalmente diferentes mantêm entre si relações sistemáticas. Em Psicologia - psicofísica e análise experimental do comportamento.

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Por teoria – quando não existem leis relacionando variáveis, daí recorre-se a teorias que hipotetizam relações entre os atributos da realidade, permitindo assim a medida indireta de um atributo através de fenômenos a ele relacionados via teoria. A teoria, por exemplo, versa sobre processos mentais (estrutura psicológica hipotética), conceituando sua estrutura e sua dinâmica e define o conjunto de comportamentos que os expressa.

Complexidade da medida em psicologia:

● Falta de consenso sobre alguns construtos.● Medimos “construtos hipotéticos” (abstrações de relações).● Medimos uma variável psicológica definida como uma característica que cada indivíduo possui em diferentes níveis.● O fator humano está sempre presente na operação de mensuração.● A medida em psicologia é uma “medida indireta”, através de indícios que se supõe estarem ligados às características medidas.● Medimos manifestações do comportamento que mudam ao longo do tempo.● Por mais controlado que seja o processo, inúmeros fatores podem influenciar as características medidas, alterando o resultado, tornando-o menos confiável.● Saber que é impossível abranger a totalidade de cada um dos fenômenos psicológicos.

4. Parâmetros psicométricos

Para garantir legitimidade e cientificidade aos testes psicológicos, que são instrumentos de medida em psicologia e, como qualquer instrumento de medida, deve apresentar certas características para podermos confiar nos dados que produzem. Tais características são: validade e fidedignidade.

I – VALIDADE

A validade de um teste está relacionada à questão se de fato ele mede o que pretende medir, e é verificada através de análise estatística.

A análise deve ser feita em cada item do instrumento, verificando se estão medindo o mesmo construto (fator). Caso o instrumento pretenda medir mais de um fator, as análises estatísticas devem ser feitas independentemente para cada fator.

Existem várias técnicas para viabilizar a demonstração da validade dos testes, mas três são dominantes:

1- Validade de conteúdoÉ o exame sistemático do conteúdo do teste com o objetivo de verificar se este realmente constitui uma amostra representativa do comportamento que deseja mensurar.

2- Validade de critérioConcebe-se como validade de critério de um teste o grau de eficácia que ele tem em predizer um desempenho específico do sujeito.Existem dois tipos:a) Validade preditiva – critério coletado após a coleta de informação do teste.b) Validade concorrente – coleta simultânea ou concorrente.

Critérios normalmente utilizados:· Outros testes já validados (que meçam o mesmo construto)· Desempenho acadêmico· Desempenho em treinamento especializado ou em desempenho profissional· Diagnóstico psiquiátrico· Diagnóstico subjetivo

3- Validade de construtoÉ usada quando o psicólogo crê que seu instrumento reflete um “construto particular”, ao qual estão ligados certos significados. A validade de construto envolve-se com os problemas de definição de termos e de conceitos. Conceitos ou construtos são cientificamente pesquisáveis somente se forem, pelo menos, passíveis de representação comportamental adequada. Do contrário são conceitos metafísicos e não científicos. Assim, na validação de construto há validação de definição de construto e da teoria que lhe dá origem. Pode ser trabalhada sob dois ângulos:

a) Análise de representação comportamental do construto

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São usadas duas técnicas:· Análise de consistência interna do teste – Calcula a correspondência que existe entre cada item

do teste e o restante dos itens ou total (escore total) dos itens.· Análise fatorial – Verifica quantos construtos são necessários para explicar as intercorrelações

dos itens.

b) Análise por hipótese Fundamenta-se no poder de um teste psicológico ser capaz de discriminar ou predizer um critério externo a ele mesmo; por exemplo, discriminar grupos critério, os quais difiram especificamente no traço que o teste mede. Ex.: idade.

II – FIDEDIGNIDADE (PRECISÃO)

A fidedignidade de um teste ou precisão diz respeito à característica que ele deve possuir, que é medir sem erros. Está intimamente ligada ao conceito de variância erro, sendo este definido como a variabilidade nos escores produzida por fatores estranhos ao construto.

1- Fatores que interferem na precisão dos resultados de um teste psicológico: - Condições de situação de aplicação - Condições do próprio examinando - Condições do próprio teste

2- Técnicas de estimação do coeficiente de fidedignidade:Existem três tipos de delineamento (procedimentos experimentais de coleta de informação) e dois tipos ou modelos de análises estatísticas dos dados coletados (correlação e técnica alfa).

2.1- Delineamentos a) Uma amostra de sujeitos, um mesmo teste e uma ocasião. Ex.: Método das duas metades e método das técnicas alfa - Método das técnicas alfa – no teste que a resposta ao item pode assumir mais de duas alternativas. A análise de cada item é feita individualmente. b) Uma amostra de sujeitos, dois testes e uma única ocasião (correlação entre as distribuições de dois testes ou formas paralelas). Ex.: Método das formas paralelas ou formas alternativas c) Uma amostra de sujeitos, um mesmo teste e duas ocasiões (correlação entre dois conjuntos de dados)

2.2- Técnicas estatísticas Há basicamente duas técnicas estatísticas para estimação do coeficiente de precisão de um teste psicológico: a correlação simples e as técnicas de consistência interna.

a) Correlação simplesa.1) Método das duas metades: divide-se um único teste em duas partes equivalentes e a correlação é calculada entre os escores obtidos nas duas partes. (coeficiente de consistência)

Fórmula de Spearman – Brown

a.2) Método das formas paralelas ou formas alternativas: os sujeitos respondem a duas formas paralelas do mesmo teste e a correlação entre as duas distribuições de escores constitui o coeficiente de precisão do teste. (coeficiente de equivalência)

a.3) Método do teste-reteste: consiste em calcular a correlação entre as distribuições de escores obtidos num mesmo teste, pelos mesmos sujeitos, em ocasiões diferentes. (coeficiente de estabilidade)

b) Técnica de consistência internab.1) Técnica Kunder – Richardson: se baseia na análise da cada item individual do teste. Só se aplica quando a resposta ao item é dicotômica: certo e errado, por exemplo.

b.2) Alfa de CronbachÉ utilizada quando a resposta ao item pode assumir mais de duas alternativas. Visa verificar a consistência interna do teste pela análise da consistência interna dos itens, verificando a congruência que cada item tem com o restante dos itens do mesmo teste.

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III- NORMATIZAÇÃO (padronização)

É útil para a interpretação dos resultados, pois constitui uma simples transformação dos resultados brutos do instrumento em resultados de alguma maneira padronizados.

PARTE II - MÉTODOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA2

Defini-se Avaliação Psicológica como sendo “é um processo de coleta de dados e interpretação de informações, realizada por meio de instrumentos psicológicos, tendo por finalidade o maior conhecimento do indivíduo a fim de serem tomadas determinadas decisões” (Wechsler, 1999)3.

Um processo avaliativo inclui dados quantitativos e qualitativos, já que a avaliação consiste em dar qualidade à um valor numérico obtido através da medida.

1.OBJETO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Constitui-se objeto da avaliação psicológica o seguinte conjunto de dimensões psicológicas: capacidade cognitivas e sensorio-motoras, componentes sociais, emocionais e afetivos da personalidade, dimensões interpessoais e motivacionais, atitudes, aptidões e valores. Estas dimensões podem ser estudadas em conjunto ou em parte de acordo com o problema e o motivo da avaliação.

2.OBJETIVO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

A avaliação psicológica pode ser utilizada para diferentes finalidades, tais como : diagnóstico, intervenção, encaminhamento, orientação psicopedagógica e vocacional, seleção, prevenção e pesquisa.

3.ÁREAS DE APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

· Psicologia Clínica;· Escolar;· Organizacional;· Social, Forense; Trânsito · Comunitária, etc.

4. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA e PSICODIAGNÓSTICO

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PSICODIAGNÓSTICO ß ß · é mais ampla do que o psicodiagnóstico · + vinculado à clínica· objeto de estudo pode ser: · está vinculado à temas - um sujeito de interesse: - um grupo - nosologias psicopatológicas - uma instituição/ comunidade - critérios de saúde psíquica

® O objeto a avaliar é sempre um SISTEMA COMPLEXO, caracterizado por fenômenos determinado por processos onde entram em interação elementos que pertencem ao domínio de distintas disciplinas. Importância de trabalhos interdisciplinares.

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA É SEMPRE UMA AVALIAÇÃO PARCIAL DO OBJETO

5.ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES NO PROCESSO AVALIATIVO:

1- Ter sempre presente a realidade sociocultural em que o sujeito vive e sua história pessoal.2- Lembrar que uma avaliação psicológica é sempre um meio, um recurso, para compreender e explicar os

comportamentos humanos.

2 Material de Prof. Álvaro José LELÉ e Profª. Wilma M. G. LOPES (maio, 2000).3 WECHESLER, S.M.&GUZZO, R.S.L. Avaliação Psicológica. Perspectiva Internacional. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

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3- Realizar estudos sobre validação lingüística e conceitual assim como elaborar normas estatísticas locais, quando se utiliza testes elaboradas em contextos sociocultural diferente do nosso.

4- Superar falsas confrontações entre dados qualitativos e quantitativos e buscar sua integração.5- Propiciar a construção de novos testes e não só sua adaptação.6- O uso de testes psicológicos num processo avaliativo nunca pode ser feito sem o auxilio de outros

testes e outras técnicas de avaliação (Exemplo: entrevistas). 7- Propor “Testes” não se trata efetivamente de um forcing, como alguns imaginam, pois “O próprio

psicólogo acredita, freqüentemente e implicitamente, poder fazer dizer o que o sujeito não quer dizer, quando não deveria jamais esquecer que está ali, pelo contrário, para favorecer a expressão do que não pode ser dito numa linguagem clara” (RAUSCH de TRAUBENBERG, Nina, 1975)

6. TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO4

· Técnicas de avaliação: método de se obter informações desejadas· Instrumentos de avaliação: recurso usado para este fim. Devem ser bem escolhidos, levando em

conta cada caso e cada situação.

De acordo com Mediano (1976 apud ERTHAL, 2001, p. 39) existem 3 técnicas de coleta de informação:1. Observação;2. Inquirição; e3. Testagem.

1. OBSERVAÇÃO

OBSERVAÇÃO: ponto de partida para qualquer estudo científico. : Objetivo – estabelecer e validar conhecimentos adquiridos.

1) Observação vulgar: simples constatação de um fato, exatamente como se apresenta ao indivíduo.

2) Observação científica: caráter científico e para tal é necessário que se explicitem hipótese e que a observação seja suscetível à repetição.Existem 2 tipos de observação cientifica:

1. observação assistemática que se realiza sem qualquer planejamento prévio.2. observação sistemática exige planejamento e requer instrumentos adequados para o seu registro,

impedindo assim o risco de observações puramente subjetivas. É + controlada com propósitos previamente determinados.

A observação pode se realizar de formas diferentes:®Observação direta: observador olha ou registra os fenômenos ou os comportamentos sem intervenção que vise modificá-los;®Observação provocada: o sujeito é colocado perante uma tarefa ou uma prova determinada (pelo observador). Podemos comparar: os comportamentos ou os resultados (produções ou respostas); e®Observação indireta: dois aspectos:

1. exame ou análise das produções espontâneas; e2. entrevistas por ex. com pessoas que conheçam o sujeito.

2. INQUIRIÇÃO

INQUIRIÇÃO: Muitas informações sobre o domínio afetivo podem ser rapidamente obtidas através de uma inquirição sistemática. Sempre que possível associar a inquirição à observação.

1. Questionário: lista de perguntas para obter informações sobre opiniões e atitudes dos indivíduos.

a) Inventários : diante de uma série de afirmações o indivíduo é solicitado a marcar aquelas com que concorda. É um instrumento de auto- avaliação. Temos: os inventários de personalidade (preocupam em traçar um diagnóstico do sujeito; medem diferenças individuais dentro da faixa normal) e os inventários de interesse (avalia interesses profissionais e vocacionais).

b) Escalas de atitude : ordenar aspectos qualitativos com correspondente numérico. O sujeito é solicitado a expressar sua atitude em relação a determinada afirmação, assinalando na escala (do tipo Thurstone e Likert).

4 ERTHAL, Tereza Cristina. Manual de Psicometria. Rio de Janeiro: Editora Zahar,2001, p. 39-56.

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c) Levantamento de opinião : indaga apenas informações específicas sobre determinado assunto. Costuma ser apresentada sob forma de questão única com alternativas sim ou não.

2. Entrevista: É mais um processo de obtenção de informação do que propriamente de um instrumento, pois o inquiridor ao mesmo tempo efetiva e avalia o processo.

“É preciso reconhecer que o principal propósito da entrevista é de caráter investigatório” (LELE).

Utilização ® Pesquisa® Psicoterapia® Aconselhamento® Clínica (atingir um diagnóstico )® Na empresa (admissão, transferência, promoção, desligamento )® Exame psicológico em geral

Existem 3 formas de realizá-la :

· Entrevista estruturada: as perguntas são elaboradas anteriormente. É algo parecendo com um questionário aplicado oralmente.Ex: Anamnese· Entrevista não-estruturada: as perguntas são de caráter geral. Apesar de não ter ordenação rígida, existe um objetivo específico a ser atingido: “Você pode falar mais sobre esse assunto” (“Fale mais sobre isso”). Ex: Na clínica: “Que traz você aqui?” ou Na empresa: “Gostaria que falasse um pouco sobre sua experiência profissional até o presente momento” · Entrevista mista: se não se conseguiu obter todas as informações necessárias através da entrevista não estruturada, deve-se esclarecê-los através de investigação sistemáticas.

Alguns problemas em relação à entrevista

· subjetividade;· lacunas, dissociações, contradições tornando menos confiável;· o entrevistado pode oferecer diferentes histórias ou diferentes esquemas de sua vida atual que manterão entre si, relação de complementação ou de contradição;· cada ser humano tem organizado uma história e dela tem que deduzir o que ele não sabe;· o que não pode dar como conhecimento explícito, nos é oferecido ou emerge do comportamento não-verbal;· os conflitos trazidos pelo entrevistado podem não ser os conflitos fundamentais, assim como as motivações que alega são geralmente racionalizadas.

Entrevista inicial e entrevista devolutiva(consultar pasta de entrevista)

3. TESTAGEMÉ a técnica que produz resultados mais eficientes. O instrumento utilizado é o teste (prova). “Um teste é um procedimento sistemático para observar o comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou categorias fixas” (CRONBACH, 1996, p. 51). Através dele se obtêm informações acerca do domínio cognitivo, afetivo e psicomotor.São dois os tipos de testes:

Testes não-padronizados ou construídos pelo professor; Testes Padronizados – são construídos por especialistas

ReferênciaCRONBACH, Lee J. Fundamentos da testagem psicológica. 5ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1996.ERTHAL, Tereza Cristina. Manual de Psicometria. 6ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

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7. GUIA DE PROCEDIMENTOS ÉTICOS PARA AVALIAÇÃOPSICOLÓGICA

Solange Muglia Wechsler5

Apresentação

A necessidade da criação de um guia de procedimentos éticos para a avaliação psicológica já foi há muito reconhecida por diversas entidades internacionais. Destaca-se o trabalho da American Psychological Corporation, que desde 1966 elaborou um código de ética, já agora na sua terceira versão, relacionando as dúvidas que existem desde o processo de construção de testes psicológicos até a sua seleção, correção, interpretação e devolução de dados obtidos (APA, 1974,1985). Posteriormente, a Associação de Psicólogos Portugueses (APPORT, 1991) organizou também um guia ético para a avaliação psicológica, baseado nos princípios norteadores da APA, indicando assim a importância desta informação para os profissionais de seu país.

Deve-se destacar, da mesma maneira, outros esforços realizados mais recentemente no sentido de melhorar a área da avaliação psicológica, tanto a nível nacional quanto internacional. No Conselho Regional de Psicologia-06, por exemplo, foi elaborado uma minuta pela Comissão de Normas para Procedimentos em Avaliação Psicológica (CRP, 1996) no sentido de estabelecer alguns parâmetros para esta área de atuação, que infelizmente não foi divulgada amplamente devido a posições políticas internas. Em nível internacional, a International Test Commission (ITC) encontra-se em fase de discussão de um guia internacional para profissionais que utilizam de testes psicológicos em diferentes contextos culturais (Bartram, 1999), mostrando assim a relevância deste tema para a Psicologia.

Na nossa realidade existe um Código de Ética, estabelecido pelo Conselho Federal de Psicologia, que orienta de maneira geral as ações dos psicólogos nas suas mais diversas áreas de atuação. Falta, entretanto, a proposta de um guia específico para a áreas de avaliação psicológica, assim como acontece em outros países, que apresente diretrizes específicas para o diversos passos envolvidos no processo de avaliação psicológica.

É neste sentido que decidimos elaborar a proposta de um guia ético para avaliação psicológica, baseando-se nas experiências anteriores, a fim de dirimir algumas possíveis dúvidas durante o exercício desta atividade, considerada como sendo de alta relevância para a profissão, na medida em que é citada na nossa lei (4119/1962, parágrafo 1, art. 13) como sendo uma atividade exclusiva do profissional de Psicologia. Em pesquisa realizada para verificar a aceitação deste guia entre psicólogos de Estado de São Paulo que trabalhavam em diferentes contextos, obtivemos uma concordância de 90,7% para as propostas nele apresentadas, demonstrando assim a necessidade de uma orientação para os profissionais brasileiros que se utilizam da avaliação psicológica como ferramenta básicas (Wechsler, Guzzo, et al. 1997).

Deve-se notar, entretanto, que o guia apresentado não pretende substituir, de modo algum, o código geral de ética da classe, mas sim complementar e direcionar atitudes e ações que devem existir durante a processo de avaliação psicológica, a fim de lhe garantir a maior responsabilidade e qualidade possível.

Ressaltamos também que este guia se refere mais detalhadamente ao uso de instrumentos psicológicos do tipo objetivo, não podendo, portanto, responder a dúvidas que possam existir relacionadas ao uso de várias outras técnicas envolvidas no processo de avaliação psicológica, tais como: entrevistas, observações, provas situações, etc. ...

I- Princípios gerais da avaliação psicológica

1. A avaliação psicológica é tarefa exclusiva dos psicólogos, tal como definida na lei brasileira 4.119, em agosto de 1962.2. A avaliação psicológica é um processo de coleta de dados e interpretação de informações, realizada por meio de instrumentos psicológicos, tendo por finalidade o maior conhecimento do indivíduo a fim de serem tomadas determinadas decisões. 3. Constitui-se objeto da avaliação psicológica o seguinte conjunto de dimensões psicológicas: capacidade cognitivas e sensorio-motoras, componentes sociais, emocionais e afetivos da personalidade, dimensões interpessoais e motivacionais, atitudes, aptidões e valores. Estas dimensões podem ser estudadas em conjunto ou em parte de acordo com o problema e o motivo da avaliação.

5 WECHESLER, S.M.&GUZZO, R.S.L. Avaliação Psicológica. Perspectiva Internacional. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999,

p.133-141.

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4. A avaliação psicológica pode ser utilizada para diferentes finalidades, tais como : diagnóstico, intervenção, encaminhamento, orientação psicopedagógica e vocacional, seleção, prevenção e pesquisa. Seus princípios aplicam-se às áreas da Psicologia Clínica, Escolar, Organizacional, Social, Forense, Comunitária, etc. 5. A avaliação psicológica deve estar preferencialmente inserida em um quadro mais amplo de prevenção e intervenção. Este princípio conduz a um estudo prévio sobre a adequação da própria avaliação, sua inserção nos objetivos a serem alcançados e o planejamento das estratégias a serem empregadas.

II- O uso dos instrumentos psicológicos

1. Define-se por instrumento psicológico toda e qualquer prova que integre um conjunto de estímulos ou questões específicas, estruturadas dentro do corpo de conhecimento científico da Psicologia

2. Existem vários tipos de instrumentos utilizados na avaliação psicológica, tais como: testes, escalas, questionários, entrevistas, observações, provas situacionais, etc...

3. O teste psicológico é um instrumento objetivo e padronizado baseado em uma amostra de comportamento.

Entende-se por:· instrumento objetivo e padronizado onde existem procedimentos uniformizados para

aplicação e correção do mesmo;· amostra de comportamento onde estão representadas partes significativas do constructo a

ser medido. O teste psicológico deve ser aplicado em condições previamente definidas, a fim de possibilitar o esclarecimento das dimensões psicológicas do(s) indivíduo(s) estudado(s).

4. Os testes psicológicos podem ser classificados em dois grandes grupos: clínicos e psicométricos.· testes clínicos: aqueles que se fundamentam em uma teoria psicológica que permite a sua

interpretação aliada à experiência pessoal do psicólogo examinador;· testes psicométricos: baseiam-se em teoria psicológica e critérios estatísticos que direcionam a

sua interpretação por meio de pesquisas que atestam a sua validade e precisão para uma determinada população.

5. A utilização dos testes psicológicos é de inteira competência e responsabilidade do psicólogo, pois somente ele tem o treinamento e experiência necessária para assumir esta responsabilidade de maneira profissional, ética e técnica.

6. É vedado ao psicólogo ceder, emprestar ou vender testes psicológicos ou materiais integrantes destes (folha de correção, manual, tabelas de normatização, etc.) a outros profissionais que não sejam psicólogos. Esta regra também se aplica às editoras e distribuidoras de instrumentos psicológicos, devendo qualquer infração ser denunciada ao CFP, que tornará as medidas necessárias.

7. Aos estudantes de psicologia será permitido o acesso aos testes psicológicos, desde que orientados e supervisionados por docentes psicólogos.

8. É vedado ao psicólogo prolongar desnecessariamente o tempo da avaliação psicológica, de acordo com o regulamento do Código de Ética da classe.

III-A seleção de testes psicológicos

1. Ao selecionar um teste psicológico, o psicólogo deve:· definir os atributos e características a serem avaliados, a fim de poder escolher um instrumento que seja

adequado ao objetivo desejado;· investigar na literatura especializada as fontes de informação e pesquisas realizadas sobre os

instrumentos a serem utilizados.1. Considerar a idade, sexo, nível de escolaridade, nível socioeconômico, origem (rural ou urbana),

condições físicas gerais, presença de deficiências físicas, nacionalidade, e a necessidade de equipamentos especiais para aplicação dos instrumentos.

2. Considerar as características psicométricas do instrumento a ser utilizado, tais como: sensibilidade, validade, precisão e existência de normas específicas ou gerais para a população brasileira.

3. Investigar na literatura especializada outros testes que sirvam aos mesmos objetivos e exigências, tentado encontrar o teste mais adequado à avaliação.

4. Verificar se o manual do teste possui informações necessárias para aplicação, correção e interpretação dos resultados do mesmo.

5. Caso o psicólogo não possua alguma destas informações, ele poderá solicitar a ajuda de outro psicólogo para esta atividade.

IV - Aplicação dos testes psicológicos

1. Cabe exclusivamente ao psicólogo a responsabilidade pela qualidade da aplicação dos testes psicológicos, sendo esta condição essencial para a obtenção de um resultado fidedigno.

2. O sujeito deverá ser informado quanto à natureza e o objetivo da avaliação e dos testes a serem empregados.

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3. O psicólogo deverá seguir rigorosamente as instruções, os exemplos, o tempo e outras orientações que se encontrem no manual ou no próprio caderno do teste, evitando quaisquer improvisações que possam comprometer todo o processo de validade do instrumento.

4. O psicólogo deverá estar atento ao comportamento do sujeito na situação de avaliação, observando a sua forma de resposta e o seu envolvimento na situação de teste.

5. Antes de iniciar uma aplicação, o psicólogo deve não somente organizar o material que irá utilizar, como também verificar se as condições ambientais são adequadas para a avaliação psicológica.

6. É vedado ao psicólogo o uso de material de teste fotocopiado ou em outras formas que não sejam as originais do teste, a fim de que seja garantida a qualidade padronizada do instrumento.

7. O psicólogo deverá motivar o sujeito para realizar a tarefa, tendo, entretanto, o cuidado para não interferir no desempenho do mesmo.

8. O desenvolvimento de um relacionamento de confiança (rapport) é essencial no processo de aplicação de instrumentos psicológicos de forma individual.

9. O psicólogo deverá estar atento durante todo o período da avaliação psicológica, não se ausentando da sala, conversando com outras pessoas, atendendo ao telefone ou realizando quaisquer outros comportamentos que o possam desviar do processo da avaliação.

10. É vedado o uso da avaliação psicológica em situações onde não ocorra uma relação interpessoal, como, por exemplo, correios, telefone ou internet.

11. A avaliação psicológica só deverá ser gravada com o consentimento do sujeito. O uso de tal registro deverá manter o anonimato da pessoa em questão.

12. O psicólogo não deverá realizar uma avaliação psicológica que interfira no trabalho de outro colega. Em caso de dúvidas consultar o órgão competente da classe (CFP).

13. Os mesmos critérios estabelecidos acima se referem também à aplicação de testes já informatizados.

V - Correção e interpretação dos resultados de testes psicológicos

1. Cabe ao psicólogo a responsabilidade do trabalho de correção dos testes psicológicos, seguido os critérios e as tabelas apropriadas para cada finalidade.

2. O psicólogo deverá avaliar quantitativamente os comportamentos e respostas do sujeito, integrando estes dados com a avaliação qualitativa.

3. Os resultados de uma avaliação psicológica devem ser interpretados de forma dinâmica e serem considerados como uma estimativa de desempenho do examinando sob um dado conjunto de circunstâncias.

4. A interpretação dos resultados dos testes deve ser feita com referência a um conjunto de normas apropriadas ao indivíduo testado, levando-se sempre em consideração a atualidade dos dados apresentados nas tabelas dos manuais e a finalidades da avaliação.

5. A análise computadorizada deve ser vista somente como instrumento de apoio à interpretação dos resultados realizada pelo psicólogo.

6. Nos procedimentos estatísticos para finalidade de pesquisa, o psicólogo poderá recorrer a outro profissional que não seja psicólogo, assumindo, entretanto, inteira responsabilidade pela interpretação e divulgação dos resultados obtidos.

VI - Relato e devolução dos resultados da avaliação psicológica

1. Ao elaborar as conclusões, o psicólogo não deverá ser influenciado por preconceitos, distinções sociais, valores, religião ou características físicas do sujeito.

2. A elaboração de um relatório síntese deve ser clara, abrangendo o indivíduo em todos os seus aspectos, enfatizando a natureza dinâmica e circunstancial dos dados apresentados.

3. O relatório síntese deve ser apresentado em linguagem adequada aos destinatários de modo a evitar interpretações errôneas das informações, devendo sempre incluir recomendações específicas.

4. Ao fornecer os resultados dos testes psicológicos para o examinando, o psicólogo não deverá informar quais eram as respostas esperadas ou os critérios utilizados para a avaliação dos mesmos, considerando que tal comportamento inviabilizará o uso futuro destes instrumentos.

5. O sujeito tem o direito de conhecer os resultados da avaliação psicológica, as interpretações feitas e as bases nas quais se fundamentam as conclusões retiradas. Mesmo em trabalhos de pesquisa, devem ser igualmente criadas condições para que os interessados possam obter informações sobre os seus resultados.

6. Quando o sujeito é menor e estiver na dependência de um responsável, cabe ao mesmo zelar pelos direitos do sujeito.

7. É imprescindível o sigilo da informação obtida e das conclusões elaboradas. Na sua divulgação, quer seja em congressos, reuniões científicas, entrevistas à rádio ou televisão, situações da prática profissional, ensaio ou pesquisa, o anonimato deverá ser sempre mantido.

8. A guarda da informação obtida no processo de avaliação deve seguir as normas descritas no Código de Ética da classe.

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9. O psicólogo deve estar atento quando prestar informações de forma oral e/ou escrita ao sujeito ou para outros interessados, a fim de evitar que a mesma seja desvirtuada na sua utilização.

VII - Princípios de construção dos testes psicológicos

1. Cabe aos psicólogos construtores de testes o dever de oferecer as seguintes informações para a utilização dos instrumentos estudados:

· Definição do objetivo e utilização do instrumento desenvolvido.· Apresentação detalhada das características, utilidades e limitações do teste.· Esclarecimento sobre os parâmetros psicométricos utilizados na construção do teste.· Descrição do processo de desenvolvimento do teste, explicando como o conteúdo e as habilidades a

serem testadas foram selecionadas.· Apresentação de evidências indicando que o teste é válido(a) e preciso(a) para o objetivo desejado.· Fornecimento de informações sobre as amostras coletadas.· Provimento de manual e cópias completas das questões, folha de resposta e crivo de correção.· Oferecimento de normas atualizadas para diferentes populações, baseadas em pesquisas recentes,

sempre que possível.2. Quando viável, devem ser apresentadas formas modificadas ou procedimento de aplicação disponíveis

aos sujeitos portadores de deficiência.3. Os construtores e editores de testes devem zelar pela qualidade científica do material e da informação

nele contida. Tal informação deve evitar toda ambigüidade possível.4. Os editores de testes devem zelar para que o circuito comercial dos seus produtos não contrarie os

princípios expressos no presente documento.

VIII - Considerações gerais

1. Qualquer infração aos princípios enunciados nos pontos anteriores, quer por parte das editoras, distribuidoras ou por parte dos próprios psicólogos, deve ser denunciada e ser objeto de procedimentos disciplinares, de acordo com a lei geral e os regulamentos do órgão competente da classe (CFP).

2. Aos próprios psicólogos cabe o cumprimento destes princípios, sua divulgação e a exigência de que os mesmos sejam respeitados pelos colegas e por outros profissionais.

3. Cabe ao psicólogo, na sua prática diária, contribuir para a melhoria qualitativa e quantitativa da avaliação psicológica, incentivando a pesquisa de novos instrumentos.

4. Para fins que não sejam de pesquisa, fica vedada a reprodução de testes psicológicos (fotocópia, fotografia, etc.).

5. Em aspectos da avaliação psicológica omissos neste documento, devem os psicólogos informar-se junto ao órgão da classe (CFP).

8. TESTES PSICOLÓGICOS

A. DEFINIÇÃO

“Um teste psicológico é essencialmente uma medida objetiva e padronizada de uma amostra do comportamento” (ANASTASE; URNINA, 2000, p.18).

B. OBJETIVOS

“Medir diferenças entre os indivíduos ou entre as reações do mesmo indivíduo em diferentes circunstâncias” (ANASTASE; URNINA, 2000).

C. CLASSIFICAÇÃO6

Não existe um modo inteiramente satisfatório de classificar os testes que seja adotado por unanimidade pelos diversos autores. Diferentes critérios podem ser adotados.

6 ERTHAL, T.C. Manual de Psicometria. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1.987.

PASQUALI, L. Psicometria: Teoria e Aplicações. Brasília: Editora UnB, 1.997.ALMEIDA,L.S. Inteligência. Definição e Medida.Aveiro:CIDInE,1994.

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Cerdá (1972) classifica os testes segundo três abordagens: o modo de administração (individual e coletivo), o modo de expressão (verba, impresso, gráfico e de manipulação) e aquilo que medem (de eficiência e de personalidade).

Anastasi (1975), apesar de não ser tão sistemática, apresenta os critérios de classificação existentes e elabora críticas a respeito. Divide-os de acordo com o objetivo (de inteligência geral, de aptidão específica, de aproveitamento e de personalidade), o instrumento (lápis-e-papel e execução), o conteúdo dominante (verbal, numérico, espacial, etc.), o examinando (individual e coletivo) e a utilização da linguagem (verbal e não-verbal).

Yela (1979) especifica os testes ainda mais, classificando-os de acordo com as normas gerais do método (psicométrico e projetivo), o fim que se deseja atingir (de investigação, prático, de velocidade e de potência), quem os aplica (pessoais e impessoais), a forma de aplicação (individual e coletivo), o material empregado ( de execução ou impresso) e a característica que se pretende mensurar (de rendimento, de aptidão e de personalidade).

O que será feito a seguir é definir cada uma dessas características, integrando-as em uma única classificação.

a) Método utilizado:

Psicométricos: - ao procedimento estatístico sobre o qual se baseia a construção dos testes - normas gerais utilizadas quantitativas. - o resultado é um número ou medida, grau, tipologia, traço. - itens são objetivos (computação independentes uns dos outros). - ex.: testes de inteligência, personalidade, etc.Projetivos: - normas qualitativas. - o resultado é do funcionamento psíquico individual. - itens não podem ser medidos em separado. - ex.: testes de personalidade em geral.Obs.: essas diferenças não são absolutas, pois existem aspectos qualitativos e quantitativos em ambos.

b) Finalidade:

· Velocidade ou rapidez : medem rapidez de raciocínio ou execução de determinada tarefa. Caracterizam-se pelo tempo certo de administração e pelo fato de serem homogênios.Itens apresentam o mesmo grau de dificuldade. Seus resultados expressam-se em forma numérica, embora também se possa avaliar a qualidade da tarefa. Ex.: testes de atenção concentrada.

· Potência : medem não a rapidez da execução, mas a qualidade da mesma.Avaliam a potencialidade do indivíduo em relação a alguma característica. Teste heterogêneo - dificuldade crescente e a questão do tempo ser limitado é porque se considera suficiente para completar a tarefa proposta.

c) Influência do examinador:

· Pessoais : quando a influência do examinador é bem evidente.· Impessoais : examinador se limita a administrar o rapport (são geralmente auto-administrativo)Em principio, todos os teste são pessoais – o que varia é o grau de influencia. Os testes projetivos, em maior grau, e os psicométricos em menor grau.

d) Modo de administração:

· Individuais : suas instruções são mais complexas, exigindo maior treino por parte do aplicador, principalmente no que diz respeito à coleta das informações não-verbais expressas pelo examinando. Ex.: Rorschach; TAT; PMK; desenhos, etc.

· Coletivos : não exigem contato tão direto entre examinando e examinador. Podem ser mais simples e mais fáceis de serem administrados. Aqui, perde-se o caráter particular do sujeito. Realizados em grupo de no máximo 30 pessoas - vantagem na economia de tempo.

· Auto-administrados: possuem instruções na capa, não determinam tempo e dispensam a presença do aplicador, tamanha facilidade com que são executados. Podem ser coletivamente aplicados ou mesmo de forma individual. Ex.: Inventários de personalidade, Interesse.

· Grupal : os membros de um grupo reúnem-se e respondem ao teste, discutindo os itens e um dos membros do grupo anota a resposta do grupo na folha de resposta do teste. Ex: Diagnóstico Tipológico Organizacional (DTO).

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e) Modo de Expressão:

· Verbais : o sujeito dá respostas verbalmente, e o examinador tem que estar atento ao registro das mesmas.

· Impressos: (lápis-e-papel) o examinando precisa registrar suas próprias respostas. · Não-verbais : Testes gráficos (HTP; PLG; PMK) o sujeito tem de realizar algum traçado ou desenho.Testes de execução ou manipulação: são os que se utilizam de objetos para execução de uma tarefa específica. Ex.: Cubos, armar objetos, etc (Escalas Wechsler)

f) Organização

· Testes isolados : o que se precisa saber é que nenhum teste isolado medirá todas as capacidades ou características dos indivíduos.

· Baterias : conjunto de testes que se destinam a medir a capacidade de diferentes indivíduos. Ex: BPR-5.· Escalas : são séries graduadas de provas que permitem uma classificação dos indivíduos, geralmente

por nível de desenvolvimento. Ex.: Escalas Wechsler g) Atributo Medido :

· Rendimento : - escolares (medem o grau de aprendizagem de determinada disciplina). - profissionais (medem a competência de profissionais em determinadas ocupações).· Aproveitamento : medem o grau de eficiência na realização de uma tarefa aprendida.· Aptidão : medem o “potencial” do sujeito para aprender ou realizar uma tarefa. : refletem influências acumulativas de numerosas experiências da vida diária. : dividem em - aptidão geral ou testes de inteligência geral - aptidão específica - aptidão especial

Aptidão geral (fator g) medem a inteligência como um todo. Ex.: Raven, G 36, etc.

Aptidão específica :Thurstone em 1948, pela análise fatorial, identificou diferentes fatores intelectuais: compreensão verbal, fluência verbal, rapidez de percepção , memória, raciocínio indutivo, facilidade numérica e visualização espacial. Formam os diferentes testes de aptidão diferenciada, pois medem esses fatores individualmente: BPR-5.

Aptidão psicomotora Aptidão visual Aptidão perceptivo-visuo-motora Aptidão especial : são testes de aptidão mais específica que tem aplicação

única para propósitos particulares.· Personalidade :

Nesta categoria, convencionalmente, podemos agrupar as provas destinadas a explorar os aspectos caracteriais e afetivos, isto é, os aspectos não cognitivos.

O termo “personalidade” é aqui, portanto, bastante impróprio na medida em que a dimensão intelectual que apreendem os testes de eficiência é também um componente importante da personalidade. No entanto, o termo é consagrado pelo uso, e, por esta razão nós continuaremos a empregá-lo.

É clássico, mas um pouco arbitrário, dividir as técnicas de avaliação da personalidade em grupos. De acordo com o processo em que elas são efetuadas, podemos dividi-las em dois grande grupos:

Projetivos psicométricos

As técnicas projetivas apoiam-se numa teoria holística da personalidade. Elas ambicionam apreender a personalidade na sua globalidade, dando-lhes uma descrição qualitativa. Essas técnicas de avaliação da personalidade não seguem a metodologia psicométrica utilizada pela maioria dos testes, utilizando-se de referências próprias de uma abordagem clínica. Como foi dito, a preocupação é com uma investigação global e holística da personalidade e não psicométrica.

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As outras técnicas fundam-se numa concepção analítica em que a personalidade é considerada como um conjunto de dimensões mais ou menos independentes. Os questionários, por exemplo, têm por objetivo apreender essas dimensões e fornecê-las uma descrição quantitativa, psicométrica.

De acordo com a orientação francesa (ANZIEU), classificou-se os procedimentos de avaliação da personalidade em dois grandes grupos:

TÉCNICAS ANALÍTICAS7 TÉCNICAS SINCRÉTICAS8 OU PROJETIVAS· São baseadas em concepção analítica· Acentuam o aspecto quantitativo e estatístico · Abordam a personalidade do ponto de vista

quantitativo e analítico· Possibilidade de determinar o sujeito em grau· Trabalha com os traços9 de personalidade

· São fundadas numa concepção globalista· Colocam ênfase no aspecto qualitativo e

psicológico· Abordam a personalidade do ponto de vista

intuitivo e global, que permite detectar um tipo, caracterizar uma pessoa, estabelecer uma síndrome.

PRINCIPAIS PONTOS DE DIFERENÇA ENTRE OS DOIS GRUPOSAs técnicas analíticas focalizam aspectos mais de periferia ou de superfície da personalidade:· Interesses· Atitudes· Traços de personalidade em sua expressão mais

direta no comportamento individualFocalizam motivações extrínsecas (o que está no exterior, o que não pertence a essência de uma coisa)

As técnicas sincréticas ou projetivas focalizam aspectos mais profundos, em seus níveis centrais.

Focalizam motivações intrínsecas (o que está no interior, o que pertence a essência de uma coisa)

Na maior parte das vezes, as técnicas analíticas solicitam informes sobre aquilo que o sujeito tem conhecimento.O procedimento é mais quantitativo e estatístico.As técnicas analíticas pertencem aos grupos dos métodos experimentais (abordagem psicométrica)

Na maior parte das vezes, as técnicas sincréticas ou projetivas solicitam aspectos daquilo que o sujeito não tem conhecimento.O procedimento é mais qualitativo e descritivo.As técnicas sincréticas ou projetivas pertencem aos grupos dos métodos clínicos (abordagem intuitiva e clínica)

Questionários/inventários: QUATI, CPS, etc. Rorschach, TAT, HTP, CAT, Fabula de DUSS

D. A ESCOLHA DO TESTE

O objetivo do estudo e/ou a relevância do teste para o problema em questão é o primeiro fator a ser considerado. Se o objetivo é realizar uma seleção profissional, por exemplo, através da descrição do cargo chega-se à escolha dos testes que irão compor a bateria.

Em segundo lugar, deve-se estar atento às características dos sujeitos que sofrerão a aplicação - sexo, idade, escolaridade, etc., as quais determinam o tipo de teste a ser utilizado. Como exemplo disso, pode-se mencionar os testes de inteligência não-verbal que, como o nome indica, não necessita do uso da linguagem, sendo por isso indicado para pessoas de baixo nível de escolaridade. O TAT (Teste de Apercepção Temática) leva em conta a variável sexo, já que dispõe de pranchas comuns aos sujeitos de ambos os sexos e pranchas que são usadas separadamente para sexos diferentes.

Existem requisitos básicos em relação ao próprio teste que são extremamente relevantes: trata-se da validade, fidedignidade e da padronização do instrumento. São qualidades primárias, pois delas depende a confiança que se deposita na escolha do teste. Diz-se que um teste é válido quando ele mede realmente o que pretende medir. Por fidedignidade entende-se a capacidade do teste de repetir os resultados em ocasiões diferentes. Padronização é o processo de fixação das normas do teste, para que este possa ser usado de forma uniforme e inequívoca.As qualidades secundárias, que também devem ser consideradas sempre que possível, dizem respeito à simplicidade técnica, à economia, à facilidade e à rapidez de aplicação, ao interesse despertado pela tarefa, ao tempo que poderá ser despendido na administração, à avaliação e interpretação, etc.

7 Analítica: percepção de uma parte, clara, de uma parte complexa que é o ser humano. Exame de cada elemento de uma totalidade.8 Sincrética: percepção do conjunto, confuso, de uma totalidade complexa que é o ser humano.9 Traços : o que persiste no comportamento: socialização, dominação, extroversão, etc.

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E. VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DOS TESTES Deve-se reconhecer o fato de que os testes não são infalíveis e não devem ser considerados como os únicos instrumentos para o fim a que se destinam. Seu uso é necessário, mas não dispensa a observação e a entrevista, que complementam sua interpretação. Por ser uma amostra de comportamento, o teste é relativamente econômico quanto ao tempo, sendo útil e prático quando se trata de avaliar grande número de pessoas simultaneamente. Seu emprego é útil para formular prognósticos e também como técnica de investigação.

Entretanto, apresenta algumas desvantagens. Não se pode abranger a totalidade do comportamento medido por um teste. Além do mais, a menos que se complementem os dados com outras técnicas.

Trabalhar satisfatoriamente com os testes e, consequentemente nos beneficiarmos de suas vantagens torna-se necessário conscientizarmos de suas limitações e da complexidade que é a mensuração em Psicologia, pois toda técnica de avaliação é uma ferramenta mediadora entre um modelo teórico e os fenômenos empíricos que procuramos compreender. E Kaufman (1982) diz: “ o valor do teste é instrumental e tudo depende da competência de quem usa e esse alguém tem que ser melhor que os testes que usa.”

PARTE III – METODOLOGIA PROJETIVA

1. FORMAÇÃO EM METODOLOGIA PROJETIVA10

A formação em metodologia projetiva se inscreve num procedimento global, específico do cursus dos psicólogos clínicos. A hipótese central da metodologia projetiva é que as operações mentais utilizadas durante a aplicação das provas projetivas são capazes de manifestar as modalidades de funcionamento psíquico próprios a cada sujeito (examinando e examinador) na sua especificidade mas também nas suas articulações singulares11. Ela consiste, portanto, em demarcar as condutas psíquicas subjacentes às operações mobilizadas pelas provas projetivas.

Como os franceses, pretendemos nos inscrever dentro das perspectivas abertas por Roy Schafer nos Estados Unidos e desenvolvidas na França nos anos 70 por Didier Anzieu, Nina Rausch de Traubenberg, Vica Shentoub, nós privilegiamos os modelos do funcionamento psíquico construídos pela psicanálise. As noções de conteúdos manifestos e de conteúdos latentes são aplicados à análise do material dos testes, essencialmente aos dois métodos projetivos os mais utilizados e logicamente os mais conhecidos, quer dizer, o Rorschach e o TAT. Os franceses propõem uma análise destas duas provas e sublinham sua complementaridade, apresentando os grandes eixos que estruturam o procedimento e o método de interpretação. O procedimento e o método de interpretação se inscrevem numa perspectiva clínica que define a situação em sua especificidade intrasubjetiva e intersubjetiva em termos de movimentos transferenciais (no sentido amplo) mobilizados numa situação específica, cujos componentes devem ser levados em conta.

A concepção do funcionamento psíquico, tal como a transmite o corpus freudiano na afirmação da continuidade do normal e do patológico, constitui o fundamento de nosso procedimento. No seio da psicopatologia Psicanalítica, nós escolhemos, primeiramente, três essenciais sistemas de conflitos : o da neurose, o da patologia dos limites e do narcisismo, o da psicose, considerando para cada um as problemáticas que dele constituem o núcleo. É nesta perspectiva que nós mostramos a pertinência dos métodos projetivos em termo de diagnóstico no sentido amplo, isto é, no sentido em que as problemáticas podem colocar em evidência os pontos de apoio e as potencialidades de mudança do funcionamento psíquico.

2. A SITUAÇÃO PROJETIVA

CLÍNICA DOS TESTES PROJETIVOS

Desde vários anos, os psicólogos estão interessados em destacar as principais características que organizam a situação projetiva, a “situação” projetiva, como o mesmo título que puderam ser definidos a situação psicanalítica ou a situação da entrevista.

O ponto comum a todas as provas projetivas reside na particular qualidade do material proposto, ao mesmo tempo concreto e ambíguo, na solicitação de associações verbais a partir deste material e enfim na criação

10 CHABERT, Catherine. Psicanálise e métodos projetivos. Tradução de Álvaro José Lelé e Eliana Maria Almeida Costa e Silva. São Paulo, Vetor, 2004.CHABERT, Catherine; ANZIEU, Didier (1961). Les méthodes projectives. 1ere ed. ‘Quadrige”, Paris: PUF, 2004.11ANZIEU, Didier. Os métodos projetivos. 5ª ed., São Paulo: Editora Campos, 1986

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METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICOProf. Álvaro José LELÉ

de um campo relacional original entre o sujeito e o psicólogo clínico graças ao objeto mediador que representa o teste.

O objetivo das provas projetivas é de permitir um estudo do funcionamento psíquico individual numa perspectiva dinâmica, isto é, se esforçando em apreciar ao mesmo tempo as condutas psíquicas possíveis de serem localizadas, mas também suas articulações singulares e suas potencialidades de mudança. A questão primordial que ordena todo trabalho sobre os testes projetivos volta a ser interrogada sobre as operações mentais empregadas durante a aplicação, com a hipótese que elas traduzem o modo de funcionamento psíquico do sujeito. É aqui que intervêm as referências teóricas que constituem o quadro de interpretação dos dados. Os testes projetivos, de fato, não contêm intrinsecamente um modelo teórico específico mesmo se seus respectivos autores dispusessem de uma orientação fenomenológica, genética, caracterológica, cognitivista ou uma abordagem sociológica, etnológica, psiquiátrica, psicopatológica podem ser aplicadas.

A escolha do modelo psicanalítico decorre de uma posição nitidamente definida que concernem os fundamentos teóricos do estudo do funcionamento psíquico: nós nos situamos no domínio da psicanálise aplicada, que nos conduz reconsiderar os conceitos que nós emprestamos a fim de utilizá-los no campo particular da psicologia projetiva. Mas, além disto, é necessário sublinhar severamente que a participação do estudo projetivo a fins de avaliação diagnóstica em psicopatologia, introduz este procedimento de investigação dentro de uma conduta terapêutica a meio termo: compreendemos bem que a aplicação das provas projetivas não constitui uma etapa de “cura”; ela permite recolher informações profundas, dificilmente acessíveis nos quadros clínicos complexos e, a este título, se associa aos métodos de investigação cujo objetivo é estabelecer um projeto terapêutico pertinente. Neste ponto de vista, a utilização de provas projetivas oferece um recurso precioso toda vez que a clínica estiver vaga ou que se coloca a questão de um diagnóstico diferencial, essencial para estabelecer modalidades de tratamento terapêutico específico.

De fato, as indicações de exame projetivo são múltiplas e variadas e se pode ter alguma dificuldade em destacar das mesmas as suas características comuns. O mais evidente parece ser, para empregar um apalavra que está na moda, a “demanda” de um indivíduo que sofre e a manifesta por sintomas, condutas ou queixas que desencadeiam uma consulta ou uma hospitalização. Nestes contextos, propor testes projetivos é completamente justificável.

Por outro lado, a utilização das provas projetivas no domínio da pesquisa em psicologia clínica e em psicopatologia oferece uma metodologia extremamente preciosa e fecunda. As provas projetivas inscrevem-se numa situação clínica relativamente estável e controlada (o material proposto aos sujeitos é o mesmo para todos e as condições de aplicação igualmente), se bem que se espera que se destacam um certo número de constantes características desta ou daquela população. A análise rigorosa do material em termos de conteúdos manifestos e latentes permitiu circunscrever, de um lado, os produtos cognitivos considerados como perceptivelmente adequados, de um outro, as problemáticas susceptíveis de ser ativadas ou melhor reativadas por cada um dos testes. Enfim, o sistema de análise dos protocolos, pelo recurso de cotação, permite um tratamento ao mesmo tempo quantitativo e qualitativo.

3. INDICAÇÕES E CONTEXTOS DA CONSULTA PROJETIVA

Evidentemente, a qualidade do investimento da situação projetiva e da transferência são primeiramente associadas às condições dentro das quais a aplicação das provas é proposta.

Nas consultas por dificuldades e transtornos psíquicos, o exame psicológico é, de modo geral, prescrito por um psiquiatra e inscreve-se num contexto de investigação cujo objetivo essencial é de ordem diagnóstica com todas suas implicações terapêuticas próprias. Não se trata de estabelecer uma etiqueta psicopatológica, mas de apreciar o conjunto das condutas psíquicas do sujeito a fim de propor um tratamento o mais adequado possível: o tipo de transtorno, a idade, a situação familiar, social, profissional, enfim, a história do sujeito constituem elementos que devem ser levados em consideração. A especificidade do exame psicológico reside na oferta de um momento e de um espaço inteiramente consagrados ao sujeito, na perspectiva claramente formulada para tentar esclarecer, com sua ajuda e sua participação efetivas, os elementos subjacentes às dificuldades que ele apresenta.

Neste sentido e até mesmo quando há prescrição médica, o acordo do sujeito para aplicação é indispensável, ao mesmo tempo para respeitar as convenções estabelecidas pelo código de ética (código deontológico) dos psicólogos e para responder às exigências éticas pessoais que regem o compromisso clínico do psicólogo, quer dizer, seu compromisso como pessoa além de seu compromisso dentro de suas funções. O exame psicológico, em todas situações de exploração do funcionamento psíquico à fins de consulta e de tratamento terapêutico decorre, no entanto, claramente deste tempo necessário de “observação” e de investigação prévias à toda decisão terapêutica. A este ponto de vista, ele constitui um método associado à outros, e encontra aí suas indicações as mais freqüentes como as mais pertinentes. É a

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razão pela qual os psicólogos, que utilizam as provas projetivas com fins diagnósticos nos diferentes domínios da saúde, devem ser psicólogos clínicos diplomados e ter seguido uma formação especializada em metodologia projetiva, o que já é feito na França e que tentamos fazer aqui em Minas Gerais.

Na pesquisa em psicologia clínica e em psicopatologia, a situação relacional é mais complexa: os sujeitos não são abertamente requerentes, mesmo se eles aceitaram ativamente participar de uma pesquisa que os concerne, necessariamente. As características de investimento da situação e as modalidades de relação com o clínico estão evidentemente em declínio. No entanto, as situações as mais freqüentes reencontradas em psicopatologia condensam demanda de ajuda e colaboração à pesquisa: número de pesquisas feitas em psiquiatria sobretudo (França), solicitam os sujeitos que estão consultando ou hospitalizados : curiosidade pessoal, implicação voluntária no desejo de compreender, sentimento de obrigação pelo reconhecimento de cuidados positivos (no caso de estudos após tratamento). A condensação destes diferentes elementos e de muitos outros intervêm de maneira singular e tem efeitos essencialmente individuais, aos quais o clínico será justamente sensível na relação com o sujeito.

Para a admissão e a seleção profissional, a metodologia projetiva não tem lugar. Essencialmente centrada sobre o funcionamento psíquico, ela propõe dele uma análise fina e profunda que decorre da intimidade da vida privada. A nosso ver, as provas projetivas não devem ser utilizadas, no domínio dos testes profissionais, nem no nível da seleção, nem no nível de admissão ou demissão de pessoal. Neste domínio, as únicas utilizações permitidas aparecessem nos serviços de psicopatologia profissional e são, então, propostas afins de orientação terapêutica por um psicólogo clínico.

O princípio essencial que deve ordenar qualquer aplicação projetiva é que ela se faz a serviço do

sujeito.

PARTE IV - RECOMENDAÇÕES BÁSICAS PARA A APLICAÇÃO DE TESTES PSICOLÓGICOS

(Associação Brasileira de Psicologia Aplicada)

I. ANTES DA APLICAÇÃO

1. Estar seguro do objetivo visado pela aplicação;2. Planejar a aplicação em época oportuna (por exemplo : não imediatamente antes ou após as férias

escolares ) e horários convenientes;3. Ter-se submetido previamente ao teste;4. Conhecer bem o manual de instruções;5. Conseguir a cooperação do professor da turma (em se tratando de escolas, firmas comerciais ou

industriais);6. Verificar se os examinandos estão em boas condições para serem submetidos às provas (boas

condições de saúde, interesse, compreensão do que irão fazer, etc...);7. Verificar se os examinandos estão suficientemente motivados e informados dos objetivos das provas;8. Praticar a leitura das instruções;9. Verificar se há em estoque número suficiente de teste, lápis e de todo material necessário à aplicação,

inclusive cronômetro;10. Verificar se o local de aplicação tem cadeira suficiente para acomodar todos os examinandos, números

de pessoas;11. Verificar se há folha de respostas em número suficiente e se os cadernos de provas estão em boas

condições;12. Antecipar as perguntas que lhe serão feitas, tendo prontas as respostas;13. Verificar se o local de aplicação tem boas condições de arejamento;14. Providenciar para que a aplicação não seja interrompida por avisos, visitas, chamadas, etc... (sugere-se

preparar um cartaz com os dizeres:

EM TESTEFAVOR NÃO INTERROMPER

II. DURANTE A APLICAÇÃO

1. Se nem todos os examinandos estiverem presentes na hora de iniciar a prova, retardar o começo para evitar interrupções;

2. Aplicar os testes de maneira, calma e objetiva, para que os examinandos não considerem a aplicação uma crise, mas também não levem em brincadeira;

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3. Seguir rigorosamente as instruções da aplicação, sem no entanto, assumir uma atitude antipática e rígida;

4. Não tentar dar as instruções complementares de memória. Ter sempre à mão as instruções escritas para o caso de dúvidas;

5. Ler as instruções clara e pausadamente, tomando o devido cuidado para que todos, mesmo os que se assentam no fundo da sala, possam compreender exatamente o que se pede;

6. Dentro dos limites permitidos pelo manual de instruções, esclarecer os pontos principais por meio de esboços ou diagramas no quadro negro;

7. Evitar conversar a meia voz com qualquer pessoa que porventura esteja assistindo à aplicação;8. Não iniciar a prova sem estar seguro de que todos compreenderam exatamente o que se deve fazer;9. Não iniciar a prova sem que todos tenham completado os exemplos porventura incluídos no teste e dar

a cada examinando oportunidade de fazer um exemplo sem ajuda do examinador;10. Dar para cada prova o limite exato de tempo preconizado pelo autor da prova;11. No caso de um teste de duração longa (acima de 15 minutos) escrever no quadro negro a hora em que

o teste deve terminar;12. Evitar olhar para o teste de determinado examinando por um período de tempo prolongado para não

perturba-lo;13. Andar silenciosamente pela sala para poder substituir lápis sem ponta, responder às perguntas

permitidas e manter a ordem;14. Evitar sair da sala de aplicação por qualquer motivo, mesmo durante os testes mais prolongados;15. Ao terminar a prova, recolher prontamente os cadernos de testes, não permitindo a nenhum examinando

que folheie as provas dos outros;16. inspecionar todos os cabeçalhos para ver se foram corretamente preenchidos.

III. DEPOIS DA APLICAÇÃO

1. Se o comportamento de algum examinando durante a prova sugerir que o teste deve ser invalidado, anotar imediatamente o fato;

2. Verificar quais os examinandos que não compareceram às provas e providenciar para que possam fazer outro dia;

3. Verificar se os testes foram completados por todos os examinandos em caso de não haver limite de tempo fixo;

4. Dar às pessoas que vão corrigir as provas todos os esclarecimento que se fizerem necessários;5. Arrumar os cadernos de provas em envelopes com as informações necessárias escritas na capa: nome

do teste, nome do aplicador, data da aplicação, grupo a que foi aplicado, observação, etc.;6. Se outras pessoas corrigirem as provas fazer uma revisão antes de usar resultados, se o próprio

aplicador fez a correção, pedir a outrem que faça a revisão;7. Se for necessário somar resultados parciais, conferindo as somas com todo cuidado;8. Se os resultados devem ser transcritos em relatórios ou fichas apropriadas, conferir se no caderno da

prova constam os dados essenciais: nome do examinando, idade, sexo, data de aplicação, nome do aplicador, resultado alcançado, valor equivalente em percentis ou em outras normas que forem usadas, grau de instrução do examinando, etc.;

9. Anotar imediatamente após a aplicação, qualquer observações que lhe ocorra ou qualquer fato que julgue de importância;

10. Guardar cuidadosamente este roteiro para usá-lo devidamente em cada aplicação de provas. Trata-se de recomendações imprescindíveis, mas que não devem ser memorizadas, e sim consultadas no momento oportuno.

11. Devolução dos resultados.

PARTE V- PSICODIAGNÓSTICO

1.CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO PSICODIAGNÓSTICO12

DEFINIÇÃO

“Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos, a nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos ou para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados.”

12 CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico-R. 4ª ed. ver.- Porto Alegre : Artes Médicas, 1993, Cap. 1.

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O Psicodiagnóstico é caracterizado como um processo científico porque deve partir de um levantamento prévio de hipóteses que serão confirmadas ou anuladas através de passos predeterminados e com objetivos precisos.

A avaliação psicológica é mais ampla que o psicodiagnóstico, e seu objeto de estudo pode ser um sujeito, um grupo, uma instituição, uma comunidade, daí a importância dos trabalhos interdisciplinares já que o objeto a avaliar é sempre um sistema complexo, integrado por subsitemas diversos: biológico, psicológico, social, cultural, em interação permanente.

O psicodiagnóstico está mais vinculado com a clínica, está vinculado com temas de interesse: nosologias psicopatólogicas, critérios de saúde psíquica, enfoques patogênicos e saudáveis. Logo, diagnosticar supõe situarmo-nos no plano do processo saúde-enfermidade e poder determinar em que medida se está ou não em presença de uma patologia ou transtorno que necessita de um determinado tipo de intervenção.

O processo do Psicodiagnóstico é limitado no tempo porque ele é baseado num contrato de trabalho entre paciente ou responsável e o psicólogo, tão logo os dados iniciais permitam estabelecer um plano de avaliação e, portanto, uma estimativa do tempo necessário para sua realização (número aproximado de sessões de exame).

O plano de avaliação é estabelecido com base nas perguntas ou hipóteses iniciais, definindo-se não só quais os instrumentos necessários, mas como e quando utilizá-los.

Pressupõe-se, evidentemente, que o psicólogo saiba que instrumentos são eficazes, isto é, quais instrumentos podem ser eficientes, se aplicados com propósitos específicos, para fornecer respostas a determinadas perguntas ou testar certas hipóteses. Por este grande motivo, é que o psicólogo deve conhecer os diferentes instrumentos de avaliação psicológica.

Depois da administração de uma bateria de testes, nós obtemos dados que devem ser articulados com as informações da história clínica, da história pessoal ou com outras, a partir do elenco das hipóteses iniciais, para permitir uma seleção e uma integração, rodeada pelos objetivos do psicodiagnóstico, que determinam o nível de inferências que deve ser alcançado.

2.OBJETIVOS DO PSICODIAGNÓSTICO

O processo psicodiagnóstico pode ter um ou vários objetivos que dependem das perguntas ou hipóteses inicialmente levantadas.

Os objetivos do psicodiagnóstico podem ser de: · classificação simples (descritivo);· classificação nosológica;· diagnóstico diferencial;· avaliação compreensiva;· entendimento dinâmico;· prevenção;· prognóstico; · perícia forense.

As perguntas mais elementares que podem ser formuladas em relação a uma capacidade, um traço, um estado emocional, seriam: “Quanto?” ou “Qual?” Aqui, o objetivo seria de classificação simples. Um caso comum de exame com este objetivo seria o de avaliação do nível intelectual. O examinando é submetido a testes, adequados à sua idade e nível de escolaridade. São levantados escores (valor quantitativo obtido pela soma ou total de pontos creditados a um indivíduo em situação de prova ou teste), consulta de tabelas e os resultados são fornecidos em dados quantitativos, classificados sinteticamente (resumidamente).

Mas, é raro que um exame psicológico se restringe a este objetivo, uma vez que os resultados dos testes, os escores dos subtestes e as respostas intratestes praticamente nunca são regulares e as diferenças encontradas são susceptíveis de interpretação. Pode-se, então, identificar forças e fraquezas, dizer como é o desempenho do paciente do ponto de vista intelectual. Neste caso, o objetivo do psicodiagnóstico é descritivo. Mas, se o exame visasse a examinar as funções cognitivas, não restritas somente à inteligência, um exemplo comum do psicodiagnóstico, com o objetivo de descrição, seria a avaliação neuropsicológica.

É também descritivo, o exame do estado mental do paciente que é um tipo de recurso diagnóstico que envolve a exploração da presença de sinais e sintomas, eventualmente utilizando provas muito simples, não padronizadas, para uma estimativa sumária de algumas funções, como a atenção e memória. Este constituiria um exame subjetivo de rotina em clínicas psiquiátricas (o exame subjetivo se baseia em

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informações dadas pelo paciente e em observações de seu comportamento), muitas vezes completado por um exame objetivo.

Freqüentemente dados resultantes desse exame, da história clínica e das história pessoal permitem atender ao objetivo de classificação nosológica. Esta avaliação com tal objetivo é realizada pelo psiquiatra e, também, pelo psicólogo quando o paciente não é testável. Quando está sob a responsabilidade do psicólogo, sempre que possível, além desses recursos o psicólogo lança mão de outros instrumentos psicológicos, como testes e técnicas, para poder testar cientificamente as suas hipótese. A classificação nosológica, além de facilitar a comunicação entre profissionais, contribui para o levantamento de dados epidemológicos de uma população.

Outro objetivo do psicodiagnóstico é o do diagnóstico diferencial, praticamente associado ao objetivo de classificação nosológica. O psicólogo investiga irregularidades e inconsistências do quadro sintomático e/ou dos resultados dos testes para diferenciar categorias nosológicas, níveis de funcionamento mental. Naturalmente, para trabalhar neste objetivo (diagnóstico diferencial), o psicólogo, além de experiência e de sensibilidade clínica, deve ter conhecimentos avançados de psicopatologia e de técnicas sofisticadas de diagnóstico.

O objetivo de avaliação compreensiva considera o caso numa perspectiva mais global, determinando o nível de funcionamento da personalidade, examinando funções do ego (controle da percepção e da mobilidade; prova da realidade; antecipação, ordenação temporal; pensamento lógico, coerente, racional; elaboração das representações pela linguagem, etc), em especial quanto há insight, para indicação terapêutica ou, ainda, para estimativa de progressos ou resultados de tratamento. Não chega necessariamente à classificação nosológica, embora esta possa ocorrer subsidiariamente (auxiliar), uma vez que o exame pode revelar alterações psicopatólogicas. Mas, de qualquer forma, envolve algum tipo de classificação, já que a determinação do nível de funcionamento (compreensão o funcionamento psíquico do paciente) é especialmente importante para a indicação terapêutica, definindo limites da responsabilidade profissional. Assim, um paciente em surto poderia requerer hospitalização e prescrição farmacológica sob os cuidados de um psiquiatra. Um paciente que enfrenta uma crise vital pode se beneficiar de uma terapia breve com um psicoterapeuta. Para isto, pressupõe-se que certas funções do ego (controle da percepção e da mobilidade; prova da realidade; antecipação, ordenação temporal; pensamento lógico, coerente, racional; elaboração das representações pela linguagem, etc) estejam relativamente intactas para que haja uma resposta terapêutica adequada para determinados tipos de tratamento. Princípio de realidade: “Desenvolvimento das funções conscientes, atenção, julgamento, memória, substituição da descarga motora por uma ação que visa uma transformação apropriada da realidade, nascimento do pensamento, sendo este definido como uma “atividade de experiência” onde são colocadas pequenas quantidades de investimento (Laplanche; Pontalis, 1983, pp. 471-474).

Basicamente, podem não ser utilizados testes. A não utilização de testes é um objetivo explícito ou implícito nos contatos iniciais do paciente com psiquiatras, psicanalistas e psicólogos de diferentes linhas de orientação terapêutica. Ao passo que, se o objetivo é atingido através de um psicodiagnóstico, obtêm-se evidências mais objetivas e precisas, que podem, inclusive, servir de parâmetro para avaliar resultados terapêuticos, mais tarde, através de um reteste.

O objetivo do psicodiagnóstico como entendimento dinâmico, em sentido lato (amplo/restrito), pode ser considerado como uma forma de avaliação compreensiva, já que enfoca a personalidade de maneira global, mas pressupõe um nível mais elevado de inferência clínica (dedução, conclusão, julgamento clínico). Através do exame, se procura entender a problemática de um sujeito, com uma dimensão mais profunda, na perspectiva histórica do desenvolvimento, investigando fatores psicodinâmicos, identificando conflitos e chegando a uma compreensão do caso com base num referencial teórico.

Um exame deste tipo requer entrevistas muito bem conduzidas, cujos dados nem sempre são consubstanciados pelos passos específicos de um psicodiagnóstico, portanto, não sendo um recurso privativo do psicólogo clínico. Freqüentemente, se combina com os objetivos de classificação nosológica e de diagnóstico diferencial. Porém, quando é um objetivo do psicodiagnóstico, leva não só a uma abordagem diferenciada das entrevistas e do material de testagem, como a uma integração dos dados com base em pressupostos psicodinâmicos.

Um psicodiagnóstico também pode ter um objetivo de prevenção. Tal exame visa a identificar problemas precocemente, avaliar riscos, fazer uma estimativa de forças e fraquezas do ego, bem como da capacidade para enfrentar situações novas, difíceis, conflitivas ou ansiogênicas. Em sentido lato, pode ser realizado por outros profissionais de uma equipe de saúde pública.

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Não obstante, num exame individual, que pode requerer uma dimensão mais profunda, especialmente envolvendo uma estimativa de condições do ego frente a certos riscos ou no enfrentamento de situações difíceis, seria indicado um psicodiagnóstico.

Outro objetivo é o prognóstico, que depende fundamentalmente da classificação nosológica e, neste sentido, não é privativo do psicólogo.

Por fim, o psicodiagnóstico com o objetivo de perícia forense. Com esta finalidade, o exame procura resolver questões relacionadas com “insanidade”, competência para o exercício de funções de cidadão, avaliação de incapacidade ou de comprometimentos psicopatológicos que etiologicamente (na sua origem) possam se associar com infrações da lei, etc.

Geralmente, é colocada uma série de quesitos (interrogações) que o psicólogo deve responder para instruir um determinado processo. Suas respostas devem ser claras, precisas e objetivas. Portanto, deve haver um grau satisfatório de certeza quanto aos dados dos testes, o que é bastante complexo, porque “os dados descrevem o que uma pessoa pode ou não fazer no contexto da testagem, mas o psicólogo deve ainda inferir (concluir, julgar, deduzir) o que ele acredita que ela (pessoa) poderia ou não fazer na vida cotidiana” (Groth-Marnat, 1984, p.25).

As respostas fornecem subsídios para instruir decisões de caráter vital para o indivíduo. Conseqüentemente, a necessidade de chegar a inferências que tenham tais implicações pode se tornar até certo ponto ansiogênica para o psicólogo.

Na realidade, comumente o psiquiatra é nomeado como perito e solicita o exame psicológico para fundamentar o seu parecer. Não obstante, muitas vezes o psicólogo é chamado para colocar com a justiça, de forma independente.

3. OPERACIONALIZAÇÃO Para operacionalizar o psicodiagnóstico é necessário considerar os comportamentos específicos do psicólogo e os passos para a realização do diagnóstico com um modelo psicológico de natureza clínica.

COMPORTAMENTOS ESPECÍFICOS1. determinar motivos do encaminhamento, queixas e outros problemas iniciais;2. levantar dados de natureza psicológica, social, médica, profissional e/ou escolar, etc. sobre o sujeito e

pessoas significativas, solicitando eventualmente informações de fontes complementares;3. colher dados sobre a história clínica e história pessoal ou anamnese, procurando reconhecer

denominadores comuns com a situação atual, do ponto de vista psicopatológico e dinâmico;4. realizar o exame do estado mental do paciente (exame subjetivo), eventualmente complementado por

outras fontes (exame objetivo);5. levantar hipóteses iniciais e definir os objetivos do exame;6. estabelecer um plano de avaliação;7. estabelecer um contrato de trabalho com o sujeito ou responsável;8. administrar testes e técnicas psicológicas;9. levantar dados quantitativos e qualitativos;10. selecionar, organizar e integrar todos os dados significativos para os objetivos do exame, conforme o

nível de inferência (dedução, conclusão, julgamento) previsto;11. comunicar os resultados (entrevista devolutiva, relatório, laudo, parecer e outros informes); e12. encerrar o processo psicodiagnóstico.

4. PASSOS DO DIAGNÓSTICO13

1. levantamento de perguntas relacionadas com os motivos da consulta e definição das hipóteses iniciais;2. seleção e utilização de instrumentos de exame psicológico;3. levantamento quantitativo e qualitativo dos dados;4. formulação de inferências pela integração dos dados, tendo como pontos de referências as hipóteses

iniciais e os objetivos do exame; e5. comunicação de resultados e enceramento do processo.

13 Consultar: CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico-R. 4ª ed. ver.- Porto Alegre : Artes Médicas, 1993, Cap 5.SIQUIER de OCAMPO, M.L. e outros. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. 6ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 1990.

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PARTE VI- SUGESTÕES PARA ESCOLHA DAS TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICOS E SUAS APLICAÇÕES CLÍNICA

ADULTO INFANTIL

ENTREVISTASDESENHO LIVRE

ENTREVISTASHORA DO JOGO DIAGNÓSTICA

DESENHO LIVREDESENHO DA FAMÍLIA

PSICOMÉTRICOSAVALIAÇÃO COGNITIVA

WAIS WPPSI

RAVEN WISC

G-36 RAVEN

R1 R2

D-70 DESENHO DA FIGURA HUMANA

Bateria de Provas de raciocínio – BPR-5

AVALIAÇÃO PSICOMOTORABENDER Bateria Psicomotora

FIGURA DE REY BENDER

Bateria Psicomotora FIGURA DE REY

ORGANIZAÇÃO TEMPO-ESPACIAL

PERSONALIDADEPSICOMÉTRICOS PROJETIVOS PSICOMÉTRICOS PROJETIVOS

IFP RORSCHACH ESCALA RORSCHACH

TAT DE TAT/CAT

CPS HTP STRESS FABULA DE

DUSS

QUATI EXPRESSIVO HTP

PLG

PMK

ORGANIZACIONALENTREVISTAS

DINÂMICA DE GRUPOPROVAS SITUACIONAIS

PSICOMÉTRICOSAVALIAÇÃO COGNITIVA

RAVEN ADULTOG36D-70R-1IHS

PERSONALIDADEPSICOMÉTRICOS/INVENTÁRIOS PROJETIVOS

IFP Z-TESTE (Zulliger)

CPS PFISTER

QUATI PMK

DTO

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ESCOLAAPRENDIZAGEM ORIENTAÇÃO VOCACIONAL

ENTREVISTASHORA DE JOGO DIAGNÓTICA DINÂMICA DE GRUPO

AVALIAÇÃO COGNITIVA

RAVENFIGURA HUMANA

WPPSI

INVENTÁRIOSDE INTERESSE

WISC EMEP

WAIS BBT-Br

PERSONALIDADE

CAT/TAT HTP

HTP

FÁBULA DE DUSS RAVEN

ESCALA DE STRESS G-36

AVALIAÇÃO PSICOMOTORA D-70

BENDER

TESTE METROPOLITANO DE PRONTIDÃO

EXAME DA DISLEXIA

TRÂNSITO1º EXAME

ENTREVISTA (rapport)PMK

AC (se não passou voltar uma semana depois : causas = ansiedade cansaço.)

INAPTO temporárioVOLTAR DEPOIS DE UMA SEMANA : APLICAR SÓ O TRAÇADO DE DIFICULDADE DO PMK

2º INAPTO : volta depois de 1 mês dá o retorno o que de achou do testePMK reduzido

2º INAPTO temporárioCONVERSA COM O CANDIDATO O QUE ESTA ACONTECENDO 2 MESES E VAI SER UM OUTRO

INTERVALO ESTÁ TENDO CERTA DIFICULDADE COM O TRAÇADO 2 MESES2 MESES DEPOIS

PFISTERENTREVISTA

3º INAPTO ESTRUTURAL DISTINTOENCAMINHADO PSICOTERAPIA

VOLTAR 6 MESES DEPOISRORSCHACH (raro)

4º INAPTO APÓS 1 ANO REAPLICA PMKMUDANÇA DE CATEGORIA AMADOR PROFISSIONAL

(TEM CARTEIRA PARA CARRO E QUER MOTOR)1º EXAME

RAVEN QUANDO NÃO PASSA R1 ENTREVISTA PMK AC1º INAPTO entra no mesmo esquema

INSTRUTOR DE RUAENTREVISTA REFORÇA A PRÁTICA DE DIREÇÃO, HISTORIA COMO MOTORISTA.

ENTREVISTA.REDAÇÃO.

ACPMK

RAVEN/G-36

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PARTE VII - RESOLUÇÃO CFP

RESOLUÇÃO CFP N.º 002/2003

Define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos e revoga a Resolução CFP n° 025/2001.

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso das atribuições legais e regimentais que lhe são conferidas pela Lei nº 5.766, de 20 de dezembro de 1971, e

CONSIDERANDO o disposto no § 1o do Art. 13 da Lei no 4.119/62, que restringe ao psicólogo o uso de métodos e técnicas psicológicas;

CONSIDERANDO a necessidade de aprimorar os instrumentos e procedimentos técnicos de trabalho dos psicólogos e de revisão periódica das condições dos métodos e técnicas utilizados na avaliação psicológica, com o objetivo de garantir serviços com qualidade técnica e ética à população usuária desses serviços;

CONSIDERANDO a demanda social e a necessidade de construir um sistema contínuo de avaliação dos testes psicológicos, adequado à dinâmica da comunidade científica e profissional, que vem disponibilizando com freqüência novos instrumentos dessa natureza aos psicólogos;

CONSIDERANDO as deliberações do IV Congresso Nacional de Psicologia acerca do tratamento a ser dispensado aos testes psicológicos;

CONSIDERANDO as propostas encaminhadas por psicólogos, delegados das diversas regiões, que participaram do I Fórum Nacional de Avaliação Psicológica, realizado em dezembro de 2000;

CONSIDERANDO a necessidade de agilizar e de tornar público o processo de avaliação desses instrumentos;

CONSIDERANDO a função social dos Conselhos de Psicologia em buscar a qualidade técnica e ética dos produtos e serviços profissionais do psicólogo;

CONSIDERANDO a necessidade de divulgação prévia aos psicólogos dos requisitos mínimos que devem ter os testes psicológicos, conforme disposto no Anexo I da presente Resolução;

CONSIDERANDO que a divulgação dos requisitos mínimos proporcionará as condições para a adoção de providencias imediatas para a qualificação dos testes;

CONSIDERANDO a deliberação da Assembléia das Políticas Administrativas e Financeiras em reunião realizada no dia 14 de dezembro de 2002 e

CONSIDERANDO decisão deste Plenário no dia 16 de março de 2003,

RESOLVE:

Art. 1º - Os Testes Psicológicos são instrumentos de avaliação ou mensuração de características psicológicas, constituindo-se um método ou uma técnica de uso privativo do psicólogo, em decorrência do que dispõe o § 1o do Art. 13 da Lei no 4.119/62.

Parágrafo único. Para efeito do disposto no caput deste artigo, os testes psicológicos são procedimentos sistemáticos de observação e registro de amostras de comportamentos e respostas de indivíduos com o objetivo de descrever e/ou mensurar características e processos psicológicos, compreendidos tradicionalmente nas áreas emoção/afeto, cognição/inteligência, motivação, personalidade, psicomotricidade, atenção, memória, percepção, dentre outras, nas suas mais diversas formas de expressão, segundo padrões definidos pela construção dos instrumentos.

Art. 2º - Os documentos a seguir são referências para a definição dos conceitos, princípios e procedimentos, bem como o detalhamento dos requisitos estabelecidos nesta Resolução:

I - International Test Commission (2000). ITC Guidelines on Adapting Tests. International Test Commission. Disponível On-line em: http://www.intestcom.org.

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II - American Educational Research Association, American Psychological Association & National Council on Measurement in Education (1999). Standards for Educational and Psychological Testing. New York: American Educational Research Association.

III - Canadian Psychological Association (1996). Guidelines for Educational and Psychological Testing. Ontário, CA: CPA. Disponível on-line em: http://www.cpa.ca/guide9.html

Art. 3o - Os requisitos mínimos que os instrumentos devem possuir para serem reconhecidos como testes psicológicos e possam ser utilizados pelos profissionais da psicologia são os previstos nesta Resolução.

Art. 4o - Para efeito do disposto no artigo anterior, são requisitos mínimos e obrigatórios para os instrumentos de avaliação psicológica que utilizam questões de múltipla escolha e outros similares, tais como "acerto e erro", "inventários" e "escalas":

I - apresentação da fundamentação teórica do instrumento, com especial ênfase na definição do construto, sendo o instrumento descrito em seu aspecto constitutivo e operacional, incluindo a definição dos seus possíveis propósitos e os contextos principais para os quais ele foi desenvolvido;

II - apresentação de evidências empíricas de validade e precisão das interpretações propostas para os escores do teste, justificando os procedimentos específicos adotados na investigação;

III - apresentação de dados empíricos sobre as propriedades psicométricas dos itens do instrumento;

IV - apresentação do sistema de correção e interpretação dos escores, explicitando a lógica que fundamenta o procedimento, em função do sistema de interpretação adotado, que pode ser:

a) referenciada à norma, devendo, nesse caso, relatar as características da amostra de padronização de maneira clara e exaustiva, preferencialmente comparando com estimativas nacionais, possibilitando o julgamento do nível de representatividade do grupo de referência usado para a transformação dos escores.

b) diferente da interpretação referenciada à norma, devendo, nesse caso, explicar o embasamento teórico e justificar a lógica do procedimento de interpretação utilizado.

V - apresentação clara dos procedimentos de aplicação e correção, bem como as condições nas quais o teste deve ser aplicado, para que haja a garantia da uniformidade dos procedimentos envolvidos na sua aplicação ;

VI - compilação das informações indicadas acima, bem como outras que forem importantes, em um manual contendo, pelo menos, informações sobre:

a) o aspecto técnico-científico, relatando a fundamentação e os estudos empíricos sobre o instrumento;

b) o aspecto prático, explicando a aplicação, correção e interpretação dos resultados do teste ;c) a literatura científica relacionada ao instrumento, indicando os meios para a sua obtenção.

Art. 5º - São requisitos mínimos obrigatórios para os instrumentos de avaliação psicológica classificados como "testes projetivos":

I - apresentação da fundamentação teórica do instrumento com especial ênfase na definição do construto a ser avaliado e dos possíveis propósitos do instrumento e os contextos principais para os quais ele foi desenvolvido;

II - apresentação de evidências empíricas de validade e precisão das interpretações propostas para os escores do teste, com justificativas para os procedimentos específicos adotados na investigação, com especial ênfase na precisão de avaliadores, quando o processo de correção for complexo;

III - apresentação do sistema de correção e interpretação dos escores, explicitando a lógica que fundamenta o procedimento, em função do sistema de interpretação adotado, que pode ser:

a) referenciada à norma, devendo , nesse caso , relatar as características da amostra de padronização de maneira clara e exaustiva, preferencialmente comparando com estimativas nacionais, possibilitando o julgamento do nível de representatividade do grupo de referência usado para a transformação dos escores;

b) diferente da interpretação referenciada à norma, devendo , nesse caso , explicar o embasamento teórico e justificar a lógica do procedimento de interpretação utilizado;

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METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICOProf. Álvaro José LELÉ

IV - apresentação clara dos procedimentos de aplicação e correção e das condições nas quais o teste deve ser aplicado para garantir a uniformidade dos procedimentos envolvidos na sua aplicação;

V - compilação das informações indicadas acima, bem como outras que forem importantes, em um manual contendo, pelo menos, informações sobre:

a) o aspecto técnico-científico, relatando a fundamentação e os estudos empíricos sobre o instrumento;

b) o aspecto prático, explicando a aplicação, correção e interpretação dos resultados do teste ec) a literatura científica relacionada ao instrumento, indicando os meios para a sua obtenção .

Art. 6º - Os requisitos mínimos obrigatórios são aqueles contidos no Anexo I desta Resolução, Formulário de Avaliação da Qualidade de Testes Psicológicos.

Parágrafo Único – O Anexo que trata o caput deste Artigo é parte integrante desta Resolução.

Art. 7o - Também estão sujeitos aos requisitos estabelecidos na presente Resolução os testes estrangeiros de qualquer natureza, traduzidos para o português, que devem ser adequados a partir de estudos realizados com amostras brasileiras, considerando a relação de contingência entre as evidências de validade, precisão e dados normativos com o ambiente cultural onde foram realizados os estudos para sua elaboração.

Parágrafo Único - Os requerentes, autores, editores, laboratórios e responsáveis técnicos de testes psicológicos, comercializados ou não, poderão encaminhar os mesmos ao CFP a qualquer tempo, protocolando requerimento dirigido ao presidente do CFP, acompanhado de 2 (dois) exemplares completos do instrumento.

Art. 8º - O CFP manterá uma Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica integrada por psicólogos convidados, de reconhecido saber em testes psicológicos, com o objetivo de analisar e emitir parecer sobre os testes psicológicos encaminhados ao CFP, com base nos parâmetros definidos nesta Resolução, bem como apresentar sugestões para o aprimoramento dos procedimentos e critérios envolvidos nessa tarefa, subsidiando as decisões do Plenário a respeito da matéria.

§ 1º - A Comissão de que trata o caput deste artigo, nomeada Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, será composta por, no mínimo, 4 (quatro) membros, podendo valer-se da colaboração de pareceristas Ad hoc.

§ 2º - Os pareceristas Ad hoc serão psicólogos convidados pelo CFP, escolhidos por notório saber na área.

§ 3º - O trabalho da Comissão e dos pareceristas Ad hoc não será remunerado, e não representará vínculo empregatício com o CFP.

Art. 9º - Os testes recebidos terão tramitação interna de acordo com as seguintes etapas, cujo procedimento se descreve:

I – Recepção;II – Análise;

III – Avaliação; IV – Comunicação da avaliação aos requerentes, com prazo para recurso;V – Análise de recurso;VI – Avaliação Final .§ 1º – A recepção consiste no protocolo de recebimento, inclusão no banco de dados e

encaminhamento para análise.

§ 2º – A análise é feita com a verificação técnica do cumprimento das condições mínimas contidas no Anexo I desta Resolução, realizada inicialmente pelos pareceristas Ad hoc e posteriormente, pela Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, resultando em um parecer a ser enviado para decisão da Plenária do CFP.

§ 3º – A avaliação poderá ser favorável quando, por decisão do Plenário do CFP, o teste é considerado em condições de uso , ou desfavorável quando, por decisão do Plenário do CFP, a análise indica que o teste não apresenta as condições mínimas para uso. Nesse caso, o Parecer deverá apresentar as razões, bem como as orientações para que o problema seja sanado.

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§ 4º - A comunicação de avaliação ocorre quando do recebimento desta pelo requerente, podendo o mesmo apresentar recurso no prazo de 30 dias, previsto no Art. 12 inciso IV desta Resolução, a contar da data que consta no Aviso de Recebimento (AR).

§ 5º - A análise do recurso à avaliação desfavorável, realizada pela Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, ocorre quando do recebimento do recurso do requerente.

§ 6º – A avaliação final desfavorável ocorre quando, mediante análise, a avaliação desfavorável prevalece diante da resposta de que trata o parágrafo anterior, ou quando esta resposta não for apresentada no prazo estabelecido nesta resolução, caso em que o teste será considerado sem condições de uso.

Art. 10 - Será considerado teste psicológico em condições de uso, seja ele comercializado ou disponibilizado por outros meios, aquele que, após receber Parecer da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, for aprovado pelo CFP.

Parágrafo único– Para o disposto no caput deste artigo, o Conselho Federal de Psicologia considerará os parâmetros de construção e princípios reconhecidos pela comunidade científica, especialmente os desenvolvidos pela Psicometria.

Art. 11 – As condições de uso dos instrumentos devem ser consideradas apenas para os contextos e propósitos para os quais os estudos empíricos indicaram resultados favoráveis.

Parágrafo Único – A consideração da informação referida no caput deste artigo é parte fundamental do processo de avaliação psicológica, especialmente na escolha do teste mais adequado a cada propósito e será de responsabilidade do psicólogo que utilizar o instrumento.

Art. 12 – Os prazos para cada etapa descrita no Art. 9º desta Resolução são de até:

I – 30 (trinta) dias, a partir da data de recebimento do teste psicológico pelo CFP, para os procedimentos de recepção e encaminhamento à Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica ou parecerista Ad hoc por esta indicado;

II – 60 (sessenta) dias, a partir do recebimento do teste para análise, para emissão de parecer pelo parecerista Ad hoc;

III – 30 (trinta) dias, a partir do recebimento do parecer, para emissão do parecer pela Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica;

IV – 30 (trinta) dias, a partir da notificação, para apresentação de recurso pelo responsável técnico pelo teste psicológico;

V – 30 (trinta) dias, a partir do recebimento, para análise e parecer da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica ao recurso do requerente.

§ 1º – Caso haja desacordo entre o parecer do parecerista Ad hoc e o da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, o instrumento será enviado para outro parecerista Ad hoc, que terá o prazo de até 40 (quarenta) dias para emissão de novo parecer.

§ 2º - Em quaisquer dos casos, o Plenário do CFP apreciará o parecer da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica na sessão subsequente à data do seu recebimento.

§ 3º - Os prazos previstos no caput deste artigo serão calculados em dias úteis, seguindo a rotina de funcionamento do Conselho Federal de Psicologia.

Art. 13 – Os testes com avaliação final desfavorável por não atenderem às condições mínimas poderão, após revisados, ser reapresentados a qualquer tempo e seguirão o trâmite normal como disposto no artigo 90 desta Resolução.

Art. 14 - Os dados empíricos das propriedades de um teste psicológico devem ser revisados periodicamente, não podendo o intervalo entre um estudo e outro ultrapassar: 10 (dez) anos, para os dados referentes à padronização , e 20 (vinte) anos, para os dados referentes a validade e precisão.

§ 1o - Não sendo apresentada a revisão no prazo estabelecido no caput deste artigo, o teste psicológico perderá a condição de uso e será excluído da relação de testes em condições de comercialização e uso.

§ 2o - O estudo de revisão deve concluir:

I - se houve alteração na validade dos instrumentos requerendo mudanças substanciais no mesmo;

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II - se houve alteração nos dados empíricos requerendo revisões menores ligadas às interpretações dos escores ou indicadores como, por exemplo, alterações de expectativas normativas , ou

III - se não houve mudanças substanciais e os dados antigos continuam sendo aplicáveis.

§ 3o - Caso haja necessidade de mudança substancial no instrumento, a versão antiga não poderá ser utilizada pelos psicólogos até que se estabeleçam as propriedades mínimas definidas nesta Resolução.

§ 4o - Caso haja necessidade de mudanças menores, ou não haja necessidade de mudança, uma nova publicação do manual ou um anexo ao manual original deve ser preparada pelo psicólogo responsável técnico pela edição do mesmo, relatando este estudo de revisão, fornecendo os novos dados, as conclusões e as alterações produzidas.

§ 5o - Os resultados da revisão deverão ser apresentados ao Conselho Federal de Psicologia pelos autores, psicólogos responsáveis técnicos ou editoras de testes psicológicos, no prazo estabelecido no caput deste artigo.

Art. 15 - A responsabilidade pela revisão periódica dos testes será do autor, do psicólogo responsável técnico pela edição e da Editora, que responderão individual e solidariamente em caso de desrespeito à Lei e ao disposto nesta Resolução, no âmbito de suas respectivas competências e responsabilidades.

§ 1o - A revisão dos testes psicológicos deverá ser realizada por pesquisadores ou laboratórios de pesquisa, com competência comprovada na área da Psicometria, que deverão publicar os estudos nos veículos de comunicação científica disponíveis.

§ 2o - Autores e editores poderão utilizar a compilação de diversos estudos para consubstanciar um estudo de revisão de um determinado teste, desde que incluam os aspectos fundamentais e críticos do instrumento, notadamente as evidências de validade, precisão e expectativas normativas.

§ 3o - O CFP manterá relação de testes em condições de uso em função da análise da documentação apresentada.

Art. 16 - Será considerada falta ética, conforme disposto na alínea c do Art. 1 º e na alínea m do Art. 2º do Código de Ética Profissional do Psicólogo, a utilização de testes psicológicos que não constam na relação de testes aprovados pelo CFP, salvo os casos de pesquisa.

Parágrafo Único - O psicólogo que utiliza testes psicológicos como instrumento de trabalho, além do disposto no caput deste artigo, deve observar as informações contidas nos respectivos manuais e buscar informações adicionais para maior qualificação no aspecto técnico operacional do uso do instrumento, sobre a fundamentação teórica referente ao construto avaliado, sobre pesquisas recentes realizadas com o teste, além de conhecimentos de Psicometria e Estatística.

Art. 17 – O CFP disponibilizará , em seus veículos de comunicação, informações atualizadas sobre as etapas de cada teste psicológico em análise e a relação de testes aprovados com inclusão e/ou exclusão de instrumentos em função do cumprimento ou não do que dispõe esta Resolução, especialmente por meio de divulgação na página www.pol.org.br, na rede mundial de comunicação (internet).

Art. 18 - Todos os testes psicológicos estão sujeitos ao disposto nesta Resolução e deverão:

I - ter um psicólogo responsável técnico, que cuidará do cumprimento desta Resolução;II - estar aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia;III - ter sua comercialização e seu uso restrito a psicólogos regularmente inscritos em Conselho

Regional de Psicologia.

§ 1o - Os manuais de testes psicológicos devem conter a informação, com destaque, que sua comercialização e seu uso são restritos a psicólogos regularmente inscritos em Conselho Regional de Psicologia, citando como fundamento jurídico o § 1o do Art. 13 da Lei no 4.119/62 e esta Resolução.

§ 2o - Na comercialização de testes psicológicos, as editoras , por meio de seus responsáveis técnicos , manterão procedimento de controle onde conste o nome do psicólogo que os adquiriu, o seu número de inscrição no CRP e o(s) número(s) de série dos testes adquiridos.

§ 3o – Para efeito do disposto nos parágrafos anteriores deste artigo, considera-se manual toda publicação, de qualquer natureza, que contenha as informações especificadas nos incisos VI do artigo 40 e V do artigo 50.

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Art. 19 - Os Conselhos Regionais de Psicologia adotarão as providências para o cumprimento desta Resolução, em suas respectivas jurisdições, procedendo à orientação, à fiscalização e ao julgamento, podendo:

I - notificar o autor ou o psicólogo responsável técnico a respeito de irregularidade, dando prazo para regularização;

II - apreender lote de testes psicológicos não autorizados para o uso;III - representar contra profissional ou pessoa jurídica por falta disciplinar;IV - dar conhecimento às autoridades competentes de possíveis irregularidades.

§ 1o - Os Conselhos Regionais de Psicologia manterão cadastro atualizado das pessoas físicas e jurídicas que, em sua jurisdição, disponibilizam para uso os testes psicológicos.

§ 2o - O cadastro de que trata o parágrafo anterior será encaminhado ao Conselho Federal de Psicologia ao término de cada ano ou sempre que haja alteração que justifique o fato .

Art. 20 - O descumprimento ao que dispõe a presente Resolução sujeitará o responsável às penalidades da lei e das Resoluções editadas pelo Conselho Federal de Psicologia.

Art. 21 - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação. Revogam-se as disposições em contrário, em especial a Resolução CFP nº 025/2001, e altera-se o § 2 o do art. 1o da Resolução CFP no

01/2002 .

Brasília-DF, 24 de março de 2003.

ODAIR FURTADOConselheiro Presidente

ANEXO 1 DA RESOLUÇÃO CFP N 002/2003

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE TESTES PSICOLÓGICOS

Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica do Conselho Federal de Psicologia14

Este instrumento, adaptado de Prieto e Muñiz15 (2000), tem por objetivo operacionalizar os requisitos mínimos definidos na Resolução CFP N° 02/2003 editada pelo Conselho Federal de Psicologia. Ele permite apreciar um conjunto de propriedades básicas que os instrumentos devem possuir, de acordo com os parâmetros internacionalmente definidos para que sejam reconhecidos pela comunidade científica e profissional.

O formulário está divido em três partes:

A) Descrição geral do teste

B) Requisitos Técnicos

C) Consideração e análise dos requisitos mínimos.

Nas primeiras duas seções, você analisará uma série de propriedades dos instrumentos. Na terceira e última parte são apresentados os indicadores mínimos (forma do manual, precisão, validade e padronização) que você deverá considerar para elaborar seu parecer final, informando se o instrumento atende ou não os requisitos mínimos.

No caso de o instrumento não atender às condições mínimas, solicitamos que o seu parecer final deixe claro quais as condições que não foram atendidas e as sugestões visando à sua

14 A Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica é formada pelos integrantes: Álvaro José Lelé, Audrey Setton de Souza, José

Carlos Tourinho e Silva, Regina Sônia Gattas Fernandes do Nascimento, Ricardo Primi.

15 Prieto, G. & Muñiz, J. (2000). Un modelo para evaluar la calidad de los tests utilizados en España.

http://www.cop.es/tests/modelo.htm, 04/12/00.

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melhoria. Caso seja observada alguma limitação no instrumento, mesmo que ele atenda os requisitos mínimos, solicitamos que indique também sugestões de melhoria. Tais sugestões serão encaminhadas ao responsável técnico pelo teste.

RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003

Institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica e revoga a Resolução CFP º 17/2002.

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei no 5.766, de 20 de dezembro de 1971;

CONSIDERANDO que o psicólogo, no seu exercício profissional, tem sido solicitado a apresentar informações documentais com objetivos diversos;

CONSIDERANDO a necessidade de referências para subsidiar o psicólogo na produção qualificada de documentos escritos decorrentes de avaliação psicológica;

CONSIDERANDO a freqüência com que representações éticas são desencadeadas a partir de queixas que colocam em questão a qualidade dos documentos escritos, decorrentes de avaliação psicológica, produzidos pelos psicólogos;

CONSIDERANDO os princípios éticos fundamentais que norteiam a atividade profissional do psicólogo e os dispositivos sobre avaliação psicológica contidos no Código de Ética Profissional do Psicólogo;

CONSIDERANDO as implicações sociais decorrentes da finalidade do uso dos documentos escritos pelos psicólogos a partir de avaliações psicológicas;

CONSIDERANDO as propostas encaminhadas no I FORUM NACIONAL DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA, ocorrido em dezembro de 2000;

CONSIDERANDO a deliberação da Assembléia das Políticas Administrativas e Financeiras, em reunião realizada em 14 de dezembro de 2002, para tratar da revisão do Manual de Elaboração de Documentos produzidos pelos psicólogos, decorrentes de avaliações psicológicas;

CONSIDERANDO a decisão deste Plenário em sessão realizada no dia 14 de junho de 2003,

RESOLVE:

Art. 1º - Instituir o Manual de Elaboração de Documentos Escritos, produzidos por psicólogos, decorrentes de avaliações psicológicas.

Art. 2º - O Manual de Elaboração de Documentos Escritos, referido no artigo anterior, dispõe sobre os seguintes itens:

I. Princípios norteadores;II. Modalidades de documentos;III. Conceito / finalidade / estrutura;IV. Validade dos documentos;V. Guarda dos documentos.

Art. 3º - Toda e qualquer comunicação por escrito decorrente de avaliação psicológica deverá seguir as diretrizes descritas neste manual.

Parágrafo único – A não observância da presente norma constitui falta ético-disciplinar, passível de capitulação nos dispositivos referentes ao exercício profissional do Código de Ética Profissional do Psicólogo, sem prejuízo de outros que possam ser argüidos.

Art. 4º - Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação.

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Art. 5º - Revogam-se as disposições em contrário.Brasília, 14 de junho de 2003.

ODAIR FURTADOConselheiro Presidente

MANUAL DE ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOSDECORRENTES DE AVALIAÇÕES PSICOLÓGICAS

Considerações Iniciais

A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a formulação da demanda até a conclusão do processo de avaliação psicológica.

O presente Manual tem como objetivos orientar o profissional psicólogo na confecção de documentos decorrentes das avaliações psicológicas e fornecer os subsídios éticos e técnicos necessários para a elaboração qualificada da comunicação escrita.

As modalidades de documentos aqui apresentadas foram sugeridas durante o I FÓRUM NACIONAL DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA, ocorrido em dezembro de 2000.

Este Manual compreende os seguintes itens:

I. Princípios norteadores da elaboração documental;II. Modalidades de documentos;III. Conceito / finalidade / estrutura;IV. Validade dos documentos;V. Guarda dos documentos.

I - PRINCÍPIOS NORTEADORES NA ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS

O psicólogo, na elaboração de seus documentos, deverá adotar como princípios norteadores as técnicas da linguagem escrita e os princípios éticos, técnicos e científicos da profissão.

1 – PRINCÍPIOS TÉCNICOS DA LINGUAGEM ESCRITA

O documento deve, na linguagem escrita, apresentar uma redação bem estruturada e definida, expressando o que se quer comunicar. Deve ter uma ordenação que possibilite a compreensão por quem o lê, o que é fornecido pela estrutura, composição de parágrafos ou frases, além da correção gramatical.

O emprego de frases e termos deve ser compatível com as expressões próprias da linguagem profissional, garantindo a precisão da comunicação, evitando a diversidade de significações da linguagem popular, considerando a quem o documento será destinado.

A comunicação deve ainda apresentar como qualidades: a clareza, a concisão e a harmonia. A clareza se traduz, na estrutura frasal, pela seqüência ou ordenamento adequado dos conteúdos, pela explicitação da natureza e função de cada parte na construção do todo. A concisão se verifica no emprego da linguagem adequada, da palavra exata e necessária. Essa “economia verbal” requer do psicólogo a atenção para o equilíbrio que evite uma redação lacônica ou o exagero de uma redação prolixa. Finalmente, a harmonia se traduz na correlação adequada das frases, no aspecto sonoro e na ausência de cacofonias.

2 – PRINCÍPIOS ÉTICOS E TÉCNICOS

a. Princípios Éticos

Na elaboração de DOCUMENTO, o psicólogo baseará suas informações na observância dos princípios e dispositivos do Código de Ética Profissional do Psicólogo. Enfatizamos aqui os cuidados em relação aos deveres do psicólogo nas suas relações com a pessoa atendida, ao sigilo profissional, às relações com a justiça e ao alcance das informações - identificando riscos e compromissos em relação à utilização das informações presentes nos documentos em sua dimensão de relações de poder.

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Torna-se imperativo a recusa, sob toda e qualquer condição, do uso dos instrumentos, técnicas psicológicas e da experiência profissional da Psicologia na sustentação de modelos institucionais e ideológicos de perpetuação da segregação aos diferentes modos de subjetivação. Sempre que o trabalho exigir, sugere-se uma intervenção sobre a própria demanda e a construção de um projeto de trabalho que aponte para a reformulação dos condicionantes que provoquem o sofrimento psíquico, a violação dos direitos humanos e a manutenção das estruturas de poder que sustentam condições de dominação e segregação.

Deve-se realizar uma prestação de serviço responsável pela execução de um trabalho de qualidade cujos princípios éticos sustentam o compromisso social da Psicologia. Dessa forma, a demanda, tal como é formulada, deve ser compreendida como efeito de uma situação de grande complexidade.

b. Princípios Técnicos

O processo de avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste procedimento (as questões de ordem psicológica) têm determinações históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas elementos constitutivos no processo de subjetivação. O DOCUMENTO, portanto, deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo.

Os psicólogos, ao produzirem documentos escritos, devem se basear exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos, bem como sobre outros materiais e grupo atendidos e sobre outros materiais e documentos produzidos anteriormente e pertinentes à matéria em questão. Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições mínimas requeridas de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que se propõem a investigar.

A linguagem nos documentos deve ser precisa, clara, inteligível e concisa, ou seja, deve-se restringir pontualmente às informações que se fizerem necessárias, recusando qualquer tipo de consideração que não tenha relação com a finalidade do documento específico.

Deve-se rubricar as laudas, desde a primeira até a penúltima, considerando que a última estará assinada, em toda e qualquer modalidade de documento.

II - MODALIDADES DE DOCUMENTOS

1. Declaração *2. Atestado psicológico3. Relatório / laudo psicológico 4. Parecer psicológico *

* A Declaração e o Parecer psicológico não são documentos decorrentes da avaliação Psicológica, embora muitas vezes apareçam desta forma. Por isso consideramos importante constarem deste manual afim de que sejam diferenciados.

III - CONCEITO / FINALIDADE / ESTRUTURA

1 – DECLARAÇÃO

1.1. Conceito e finalidade da declaração

É um documento que visa a informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas relacionados ao atendimento psicológico, com a finalidade de declarar:

a) Comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando necessário;b) Acompanhamento psicológico do atendido;

c) Informações sobre as condições do atendimento (tempo de acompanhamento, dias ou horários).

Neste documento não deve ser feito o registro de sintomas, situações ou estados psicológicos.

1.2. Estrutura da declaração

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METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICOProf. Álvaro José LELÉ

a) Ser emitida em papel timbrado ou apresentar na subscrição do documento o carimbo, em que conste nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de sua inscrição profissional (“Nome do psicólogo / N.º da inscrição”).

b) A declaração deve expor: - Registro do nome e sobrenome do solicitante; - Finalidade do documento (por exemplo, para fins de comprovação); - Registro de informações solicitadas em relação ao atendimento (por exemplo: se faz

acompanhamento psicológico, em quais dias, qual horário); - Registro do local e data da expedição da declaração; - Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou carimbo com as mesmas

informações.

Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.

2 – ATESTADO PSICOLÓGICO

2.1. Conceito e finalidade do atestado

É um documento expedido pelo psicólogo que certifica uma determinada situação ou estado psicológico, tendo como finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de quem, por requerimento, o solicita, com fins de:

a) Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante;b) Justificar estar apto ou não para atividades específicas, após realização de um processo de

avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético que subscreve esta Resolução;c) Solicitar afastamento e/ou dispensa do solicitante, subsidiado na afirmação

atestada do fato, em acordo com o disposto na Resolução CFP nº 015/96.

2.2. Estrutura do atestado

A formulação do atestado deve restringir-se à informação solicitada pelo requerente, contendo expressamente o fato constatado. Embora seja um documento simples, deve cumprir algumas formalidades:

a) Ser emitido em papel timbrado ou apresentar na subscrição do documento o carimbo, em que conste o nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de sua inscrição profissional (“Nome do psicólogo / N.º da inscrição”).

b) O atestado deve expor: - Registro do nome e sobrenome do cliente;- Finalidade do documento;- Registro da informação do sintoma, situação ou condições psicológicas que justifiquem o

atendimento, afastamento ou falta – podendo ser registrado sob o indicativo do código da Classificação Internacional de Doenças em vigor;

- Registro do local e data da expedição do atestado;- Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou carimbo com as

mesmas informações; - Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.

Os registros deverão estar transcritos de forma corrida, ou seja, separados apenas pela pontuação, sem parágrafos, evitando, com isso, riscos de adulterações. No caso em que seja necessária a utilização de parágrafos, o psicólogo deverá preencher esses espaços com traços. O atestado emitido com a finalidade expressa no item 2.1, alínea b, deverá guardar relatório correspondente ao processo de avaliação psicológica realizado, nos arquivos profissionais do psicólogo, pelo prazo estipulado nesta resolução, item V.

3 – RELATÓRIO PSICOLÓGICO

3.1. Conceito e finalidade do relatório ou laudo psicológico

O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo DOCUMENTO, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame

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psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo.

A finalidade do relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e conclusões gerados pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.

3.2. Estrutura

O relatório psicológico é uma peça de natureza e valor científicos, devendo conter narrativa detalhada e didática, com clareza, precisão e harmonia, tornando-se acessível e compreensível ao destinatário. Os termos técnicos devem, portanto, estar acompanhados das explicações e/ou conceituação retiradas dos fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam.

O relatório psicológico deve conter, no mínimo, 5 (cinco) itens: identificação, descrição da demanda, procedimento, análise e conclusão.

1.Identificação 2.Descrição da demanda 3. Procedimento 4. Análise 5. Conclusão

3.2.1. Identificação

É a parte superior do primeiro tópico do documento com a finalidade de identificar: O autor/relator – quem elabora; O interessado – quem solicita; O assunto/finalidade – qual a razão/finalidade.

No identificador AUTOR/RELATOR, deverá ser colocado o(s) nome(s) do(s) psicólogo(s) que realizará(ão) a avaliação, com a(s) respectiva(s) inscrição(ões) no Conselho Regional.

No identificador INTERESSADO, o psicólogo indicará o nome do autor do pedido (se a solicitação foi da Justiça, se foi de empresas, entidades ou do cliente).

No identificador ASSUNTO, o psicólogo indicará a razão, o motivo do pedido (se para acompanhamento psicológico, prorrogação de prazo para acompanhamento ou outras razões pertinentes a uma avaliação psicológica).

3.2.2. Descrição da demanda

Esta parte é destinada à narração das informações referentes à problemática apresentada e dos motivos, razões e expectativas que produziram o pedido do documento. Nesta parte, deve-se apresentar a análise que se faz da demanda de forma a justificar o procedimento adotado.

3.2.3. Procedimento

A descrição do procedimento apresentará os recursos e instrumentos técnicos utilizados para coletar as informações (número de encontros, pessoas ouvidas etc) à luz do referencial teórico-filosófico que os embasa. O procedimento adotado deve ser pertinente para avaliar a complexidade do que está sendo demandado.

3.2.4. Análise

É a parte do documento na qual o psicólogo faz uma exposição descritiva de forma metódica, objetiva e fiel dos dados colhidos e das situações vividas relacionados à demanda em sua complexidade. Como apresentado nos princípios técnicos, “O processo de avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste procedimento (as questões de ordem psicológica) têm determinações históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas elementos constitutivos no processo de subjetivação. O DOCUMENTO, portanto, deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo”.

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METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICOProf. Álvaro José LELÉ

Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o instrumental técnico utilizado, bem como princípios éticos e as questões relativas ao sigilo das informações. Somente deve ser relatado o que for necessário para o esclarecimento do encaminhamento, como disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo.

O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem sustentação em fatos e/ou teorias, devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se referir a dados de natureza subjetiva, expressando-se de maneira clara e exata.

3.2.4. Conclusão

Na conclusão do documento, o psicólogo vai expor o resultado e/ou considerações a respeito de sua investigação a partir das referências que subsidiaram o trabalho. As considerações geradas pelo processo de avaliação psicológica devem transmitir ao solicitante a análise da demanda em sua complexidade e do processo de avaliação psicológica como um todo.

Vale ressaltar a importância de sugestões e projetos de trabalho que contemplem a complexidade das variáveis envolvidas durante todo o processo.

Após a narração conclusiva, o documento é encerrado, com indicação do local, data de emissão, assinatura do psicólogo e o seu número de inscrição no CRP.

4 – PARECER

4.1. Conceito e finalidade do parecer

Parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo.

O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-problema”, visando a dirimir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência no assunto.

4.2. Estrutura

O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando os aspectos relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com fundamento em referencial teórico-científico.

Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e convincente, não deixando nenhum quesito sem resposta. Quando não houver dados para a resposta ou quando o psicólogo não puder ser categórico, deve-se utilizar a expressão “sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver mal formulado, pode-se afirmar “prejudicado”, “sem elementos” ou “aguarda evolução”. O parecer é composto de 4 (quatro) itens:

1. Identificação2. Exposição de motivos3. Análise4. Conclusão

4.2.1. Identificação

Consiste em identificar o nome do parecerista e sua titulação, o nome do autor da solicitação e sua titulação.

4.2.2. Exposição de Motivos

Destina-se à transcrição do objetivo da consulta e dos quesitos ou à apresentação das dúvidas levantadas pelo solicitante. Deve-se apresentar a questão em tese, não sendo necessária, portanto, a descrição detalhada dos procedimentos, como os dados colhidos ou o nome dos envolvidos.

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METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICOProf. Álvaro José LELÉ

4.2.3. Análise

A discussão do PARECER PSICOLÓGICO se constitui na análise minuciosa da questão explanada e argumentada com base nos fundamentos necessários existentes, seja na ética, na técnica ou no corpo conceitual da ciência psicológica. Nesta parte, deve respeitar as normas de referências de trabalhos científicos para suas citações e informações.

4.2.4. Conclusão

Na parte final, o psicólogo apresentará seu posicionamento, respondendo à questão levantada. Em seguida, informa o local e data em que foi elaborado e assina o documento.

V – VALIDADE DOS CONTEÚDOS DOS DOCUMENTOS

O prazo de validade do conteúdo dos documentos escritos, decorrentes das avaliações psicológicas, deverá considerar a legislação vigente nos casos já definidos. Não havendo definição legal, o psicólogo, onde for possível, indicará o prazo de validade do conteúdo emitido no documento em função das características avaliadas, das informações obtidas e dos objetivos da avaliação.

Ao definir o prazo, o psicólogo deve dispor dos fundamentos para a indicação, devendo apresentá-los sempre que solicitado.

VI - GUARDA DOS DOCUMENTOS E CONDIÇÕES DE GUARDA

Os documentos escritos decorrentes de avaliação psicológica, bem como todo o material que os fundamentou, deverão ser guardados pelo prazo mínimo de 5 anos, observando-se a responsabilidade por eles tanto do psicólogo quanto da instituição em que ocorreu a avaliação psicológica.

Esse prazo poderá ser ampliado nos casos previstos em lei, por determinação judicial, ou ainda em casos específicos em que seja necessária a manutenção da guarda por maior tempo.

Em caso de extinção de serviço psicológico, o destino dos documentos deverá seguir as orientações definidas no Código de Ética do Psicólogo.

PARTE VIII - REFERÊNCIAS

ANZIEU, Didier. Os métodos projetivos. 5ª ed., São Paulo: Editora Campos, 1986

ALMEIDA,L.S. Inteligência. Definição e Medida. Aveiro: CIDInE,1994.

CHABERT, Catherine. Psicanálise e métodos projetivos. Tradução de Álvaro José Lelé e Eliana Maria Almeida Costa e Silva. São Paulo, Vetor, 2004.

CHABERT, Catherine; ANZIEU, Didier (1961). Les méthodes projectives. 1ere ed. ‘Quadrige”, Paris: PUF, 2004.

CRONBACH, Lee J. Fundamentos da testagem psicológica. 5ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1996.

CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico-R. 4ª ed. ver.- Porto Alegre : Artes Médicas, 1993

ERTHAL, Tereza Cristina. Manual de Psicometria. 6ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

PASQUALI, Luiz. Psicometria. Teoria dos testes na psicologia e educação. Petrópolis: Vozes, 2004.

PASQUALI, L. Psicometria: Teoria e Aplicações. Brasília: Editora UnB, 1.997.

SIQUIER de OCAMPO, M.L. e outros. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. 6ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 1990.

WECHESLER, S.M.&GUZZO, R.S.L. Avaliação Psicológica. Perspectiva Internacional. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

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