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LFG – PROCESSO PENAL – Aula 08 – Prof. Renato Brasileiro – Intensivo I – 15/04/2009 Súmula 78, do STJ: “Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa.” Se o cara é policial militar, como ele praticou um crime no outro Estado? Poderia ser em um caso de perseguição. Imagine que um policial de SP, que atravessa a divisa e entra no Estado do Paraná, só que lá pratica um crime militar. Será, nesse caso, julgado pela Justiça Militar do Estado de São Paulo. Se ele é um policial de São Paulo, será julgado pela Polícia Militar de São Paulo. O melhor exemplo disso é o da Força Nacional de Segurança. Essa Força Nacional de Segurança é regulamentada por um Decreto Federal e é composta por integrantes das várias polícias (civil, militar, federal, inclusive das Forças Armadas). Imaginem que um policial militar do Estado de São Paulo, seja integrante dessa Força Nacional (eu disse “Força Nacional” e não “Força Federal”, porque se fosse federal, tudo bem você pensar que a competência seria da Justiça Federal). Então, esse policial militar de SP, integrante dessa Força Nacional pratica um delito na cidade de Maceió. Se é um crime militar, a competência será da Justiça Militar do Estado de São Paulo. Cuidado! Eu disse crime militar! Porque se ele está de folga e pratica um delito comum, será julgado pela Justiça Estadual de Maceió. Outra Súmula importante é a de número 172, do STJ: Súmula 172, do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.” Cuidado com isso! O abuso de autoridade praticado por militar, mesmo que em serviço será julgado pela justiça comum. Por que? Essa súmula às vezes cai em prova. Porque o crime de abuso de autoridade não é crime militar. A Justiça Militar julga crimes militares. Se você tem a percepção de que o crime de abuso de autoridade não é um crime listado no Código Penal Militar, mas sim na legislação especial (Lei 4898/65) vc chega à conclusão que será julgado pela justiça comum. No mesmo sentido: crimes ambientais e crime de tortura porque não são crimes militares, devendo ser julgados pela justiça comum. 11

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Súmula 78, do STJ: “Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa.”

Se o cara é policial militar, como ele praticou um crime no outro Estado? Poderia ser em um caso de perseguição. Imagine que um policial de SP, que atravessa a divisa e entra no Estado do Paraná, só que lá pratica um crime militar. Será, nesse caso, julgado pela Justiça Militar do Estado de São Paulo. Se ele é um policial de São Paulo, será julgado pela Polícia Militar de São Paulo.

O melhor exemplo disso é o da Força Nacional de Segurança. Essa Força Nacional de Segurança é regulamentada por um Decreto Federal e é composta por integrantes das várias polícias (civil, militar, federal, inclusive das Forças Armadas). Imaginem que um policial militar do Estado de São Paulo, seja integrante dessa Força Nacional (eu disse “Força Nacional” e não “Força Federal”, porque se fosse federal, tudo bem você pensar que a competência seria da Justiça Federal). Então, esse policial militar de SP, integrante dessa Força Nacional pratica um delito na cidade de Maceió. Se é um crime militar, a competência será da Justiça Militar do Estado de São Paulo. Cuidado! Eu disse crime militar! Porque se ele está de folga e pratica um delito comum, será julgado pela Justiça Estadual de Maceió.

Outra Súmula importante é a de número 172, do STJ:

Súmula 172, do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.”

Cuidado com isso! O abuso de autoridade praticado por militar, mesmo que em serviço será julgado pela justiça comum. Por que? Essa súmula às vezes cai em prova. Porque o crime de abuso de autoridade não é crime militar. A Justiça Militar julga crimes militares. Se você tem a percepção de que o crime de abuso de autoridade não é um crime listado no Código Penal Militar, mas sim na legislação especial (Lei 4898/65) vc chega à conclusão que será julgado pela justiça comum. No mesmo sentido: crimes ambientais e crime de tortura porque não são crimes militares, devendo ser julgados pela justiça comum.

Cuidado com essa súmula por um simples detalhe: se esse militar for das forças armadas, competência da Justiça Federal, se for militar do Estado, é da Justiça Comum estadual. Abuso de autoridade praticado por militar do Exército, Justiça Federal. Abuso de autoridade praticado por PM, justiça comum estadual.

Súmula 90, do STJ: “Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar, e à Justiça Comum compete processar e julgar o crime comum simultâneo àquele.”

Essa parte final não tem das melhores redações (o professor deu uma arrumada no texto). Vou dar um exemplo pra ficar mais fácil entender o que diz a Súmula: Militar em serviço pratica abuso de autoridade e, ao mesmo tempo, pratica lesão corporal. Há dois crimes praticados por militar em serviço. O abuso de autoridade será julgado por quem? Justiça comum. Acabamos de ver isso? E o crime de lesão corporal praticado por militar em serviço? Esse é crime militar sem dúvida alguma. Será que o crime militar pode ser julgado pela Justiça Comum? Não. O que

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vamos fazer? Separação de processos. O crime militar será julgado pela Justiça Militar, enquanto que o crime comum será julgado pela Justiça Comum.

Próxima Súmula:

Súmula 53 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais.”

Qual a justificativa dessa súmula? Ela nem precisava, mas está aí. Por que diz que a Justiça Comum estadual deve julgar crimes em que o civil é acusado de causar dano a um veículo militar ou que tenha invadido um quartel da PM? Por que essa súmula diz isso? Porque civis não são julgados pela Justiça Militar estadual. Ao contrário do que acontece com a Justiça Militar da União, que pode julgar civis. Então, por isso, se eu subtraio um fuzil da Polícia Militar, vou ser julgado pela Justiça Comum. Se subtraio um fuzil das Forças Armadas, serei julgado pela Justiça Militar da União.

Súmula 47, do STJ: “Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por militar contra civil, com emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço.”

Então, vamos imaginar um policial militar de folga no final de semana, pega sua arma e pratica um crime. Essa súmula está ultrapassada diante da Lei 9.299/96. Eu comentei isso e até dei um exemplo. Hoje, crime cometido por militar com arma da corporação, não estando em serviço, já não é mais crime militar. Tem treze anos que deixou de ser.

Súmula 75, do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover ou facilitar a fuga de preso de Estabelecimento Penal.”

Cuidado com essa súmula. Esse crime a que se refere é o crime do art. 351, do Código Penal. Esse é um crime comum e será julgado pela Justiça Comum.

        “Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva:”

Como é crime comum, Justiça Comum. Mas, cuidado! “Se essa facilitação ocorrer em favor de alguém preso num quartel, ou em qualquer outro estabelecimento sob a administração militar, trata-se de crime militar a ser julgado pela Justiça Militar.” esse é um bom exemplo para cair em prova. A pessoa decora a súmula e acha que promover e facilitar a fuga é sempre crime comum. Mas se o estabelecimento não é comum, se ela estiver presa em estabelecimento militar, o julgamento será feito pela Justiça Militar.

Súmula 06, do STJ: “Compete á Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de atividade.”

Cuidado com essa súmula porque olha o que ela diz: se o policial militar em uma ronda estiver dirigindo em alta velocidade e atropela um civil, a competência é da justiça comum porque o autor é militar e a vítima civil. A única hipótese de julgamento pela justiça militar é se

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autor e vítima forem militares. Então, o exemplo muda: estou dirigindo em um exercício, perco o controle do veículo e atropelo um militar.

Importante: essa súmula está ultrapassada! Um julgado que demonstra isso: STJ: CC 34749. Cuidado com isso! Se o militar está em serviço, não faz diferença nenhuma se ele está lesionando um civil ou um militar. A competência será sempre da Justiça Militar.

OBS.: O professor, nesse ponto do áudio, começa falar em competência da Justiça Federal, só que chega no final desta aula e se dá conta que, antes, deveria ter explicado eleitoral e militar. Aí interrompe a explicação da federal para falar dessas competências. Eu trouxe, pois, a explicação do final da aula para aqui (1h e14 min).

8. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL

Em relação á Justiça eleitoral, o raciocínio é tranquilo. Ela vai julgar os crimes eleitorais e conexos. Mas aí eu chamo a atenção de vocês. Quais crimes conexão, que mesmo em virtude da conexão, não são julgados pela Justiça eleitoral?

Crimes militares, de modo algum serão julgados pela eleitoral. Você vai separar os processos.

Outro exemplo bom (já caiu em prova): Crimes dolosos contra a vida. A justiça eleitoral não julga crimes dolosos contra a vida.

A competência da Justiça eleitoral está na Constituição, por isso julga os crimes eleitorais, mas a competência do júri para julgar os crimes dolosos contra a vida também está na Constituição. Então, neste caso, respeitando ambas as competências, você vai ter que separar o processo.

Sobre Justiça Eleitoral, era tudo isso o que eu tinha para falar.

9. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

A Justiça do trabalho possui competência criminal? Cuidado com essa pergunta porque aqui você tem que ficar atento à EC 45/04, que trouxe mudanças importantes, art. 114, IV, da CF, que é o julgamento pela Justiça do Trabalho de habeas corpus:

“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;”

Que fique bem claro: Não é qualquer habeas corpus. O habeas corpus tem que estar relacionado à jurisdição trabalhista. Aí eu pergunto a vocês: Qual é o melhor exemplo, então, de matéria criminal envolvendo prisão de alguém que possa autorizar o manejo de habeas corpus na Justiça do trabalho? Quando a Justiça do Trabalho pode prender alguém para você entrar com habeas corpus? O melhor exemplo é quando o juiz do trabalho decreta a prisão de um depositário infiel. Mas nesse ponto há uma novidade importante, que é o fato de essa prisão ter caído por terra. O Supremo no julgamento do famoso RE 466343 pos um fiz a essa prisão de depositário

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infiel pelo fato de não e encontrar compatibilidade com a convenção interamericana de direitos humanos, que só prevê a prisão civil do devedor de alimentos, o Supremo afastou a prisão do depositário infiel. Então, esse habeas corpus da Justiça do Trabalho perdeu sua razão de ser, já que eu só consigo pensar em hipótese de prisão decretada por juiz de trabalho nesse caso.

Última competência: e aí na próxima aula a gente volta para a Justiça Federal para eu concluir de onde parei.

Pergunto a vocês: Justiça do trabalho tem competência criminal genérica? Olha o detalhe: quando a Constituição foi alterada, um procurador do trabalho de SC, por contra da EC-45, achou que a Justiça do Trabalho passou a ter competência criminal genérica. Como assim? Ele ofereceu denúncia perante um juiz do trabalho por crime de redução à condição análoga de escravo. E começaram a tocar o processo na justiça do trabalho.

“Atenção para a ADI 3684: A Justiça do Trabalho não possui competência criminal genérica.”

10. JUSTIÇA POLÍTICA OU JURISDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA

Aqui, o que eu quero analisar é a competência do Senado Federal prevista na constituição no art. 52, I:

“Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;”

Eu pergunto, será que isso é um crime (crime de responsabilidade)? Cuidado com isso. A expressão crime de responsabilidade pode ser compreendida em dois sentidos:

Pode ser compreendido em sentido amplo – crime de responsabilidade em sentido amplo é aquele crime em que a qualidade de funcionário público é uma elementar do crime. Aqui é bem tranqüilo você enxergar isso. Basta raciocinar comigo em relação aos crimes previstos entre o art. 312 e o art. 326. Por exemplo: prevaricação é um crime de responsabilidade em sentido amplo, corrupção passiva, condescendência criminosa.

O que eu devo entender por crime de responsabilidade em sentido estrito? Crime de responsabilidade em sentido estrito não é, na verdade, um crime. É apenas uma infração político-administrativa. Só alguns agentes políticos podem praticar esse crime de responsabilidade em sentido estrito, infração político-administrativa. O detalhe é que aqui não há pena de reclusão, detenção, prisão simples. Você aqui é submetido à sanções político-administrativas: impeachment, você fica inabilitado por oito anos, perda do cargo e assim por diante.

Quando a Constituição diz “nos crimes de responsabilidade” está usando a expressão em sentido amplo ou em sentido estrito? Então, o que eu quero deixar bem claro é que esta competência do Senado prevista no art. 52, I, não é uma competência criminal propriamente dita. Na verdade, o Senado estará julgando infração político-administrativa.

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11. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL

Esse tema é um tema extremamente importante para quem tem a pretensão de fazer concursos federais. E vamos examinar isso com muita calma, notadamente porque alguns manuais passam batido por isso. Muitos alunos acham que a polícia federal investiga obrigatoriamente será julgado pela Justiça Federal.

Cuidado para não confundir a competência da Justiça Federal, que está prevista no art. 109, da Constituição Federal com as atribuições de polícia investigativa da Polícia Federal.

Aí eu pergunto: Qual é mais ampla, a atribuição da Polícia Federal para investigar delitos ou a competência da Justiça Federal para processar e julgar crimes. Cuidado com isso. A própria Constituição nos demonstra que as atribuições da Polícia Federal são mais amplas: § 1º, do art. 144:

“§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

       I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

A primeira fase desse inciso I refere-se a crimes investigados pela Polícia Federal que são julgados pela Justiça Federal. Se eu pratico um crime contra a União, serei julgado pela Justiça Federal. Agora, o que está em negrito não são crimes da competência da Justiça Federal. Por exemplo: roubo de carga praticado por uma organização que atua em vários Estados é um crime que pode ser investigado pela Polícia Federal mas que não será julgado pela Justiça Federal. A

As atribuições da Polícia Federal são mais amplas. Você vai olhar o art. 144, § 1º, I e se quiser ter uma idéia desses crimes terá que dar uma olhada na Lei 10.443/02 que traz crimes que tem repercussão interestadual que são investigados pela Polícia Federal, crimes esses tais como o roubo de carga que não necessariamente serão julgados pela Justiça Federal, mas pela Justiça Estadual.

       II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;

       III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

        IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.”

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a) Análise do art. 109, IV, da Constituição :

 “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;”

Crimes Políticos - O primeiro exemplo de crime político é aquele dado pelo Lula: Está lá o Lula e sua quadrilha jogando futebol. De repente o Lula tem um desentendimento com um desses jogadores e ele acaba desferindo um soco no Lula. Isso é um crime político? Imagine se alguém durante uma partida de futebol matasse o presidente.

Esses crimes políticos estão previstos na Lei 7.170/83. O exemplo do futebol seria um crime político? Não porque falta ao agente a motivação política. Cuidado com isso porque para dizer se é ou não crime político, primeiro é preciso dar uma olhada nessa lei e depois tem que dizer qual é o móvel do agente porque se ele tiver motivação política, aí sim, é crime político. Vamos ao art. 1º, da Lei 7.170/83:

“Art. 1º - Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão:

I - a integridade territorial e a soberania nacional;

Il - o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito;

Ill - a pessoa dos chefes dos Poderes da União.”

É preciso lembrar que alguns crimes que estão previstos nessa lei também tem previsão no Código Penal (calúnia, difamação, injúria...). Olha o que diz o art. 2º:

“Art. 2º - Quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal, no Código Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta, para a aplicação desta Lei:

I - a motivação e os objetivos do agente;II - a lesão real ou potencial aos bens jurídicos

mencionados no artigo anterior.”

O raciocínio é o seguinte: Se o crime em questão está previsto na lei e se tem motivação política.

Vamos imaginar então, que um cidadão qualquer, aproveitando a visita do Presidente Lula, resolva praticar um crime político contra o Presidente Lula. Ele vai ser julgado onde? Na Justiça Federal de primeira instância. Você pratica um crime de calúnia contra o Presidente da República, será julgado pela Justiça Federal de 1ª instância. Imaginemos que foi proferida contra esse cidadão uma sentença condenatória. Qual é o recurso cabível? O aluno vê a sentença e raciocina automaticamente que o recurso é apelação. Mas em se tratando de crimes políticos, tem que ficar atento porque não é apelação. Qual é o recurso? É o famoso ROC, Recurso Ordinário Constitucional.

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Crimes políticos, o recurso cabível é o ROC e quem julga? É o Supremo Tribunal Federal (art. 102, II, da CF). Ele é basicamente uma apelação. Você pode devolver para o Supremo toda matéria de direito, toda matéria de fato e toda matéria probatória. Só que o recurso correto é o Recurso Ordinário Constitucional:

“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: II - julgar, em recurso ordinário: b) o crime político;”

b) Crimes contra a União, Autarquias Federais e Empresas Públicas Federais

Quando eu digo “crimes contra a União”, eu pergunto se isso envolve a União como Administração Pública direta e indireta ou somente como Administração Pública direta? Se o próprio inciso já está separando as coisas, quando fala em União, estamos aqui referindo à União como a Administração Pública Direta. De modo algum o inciso da Constituição se refere aos entes da Administração Indireta porque quanto a isso, foi expresso. Falou em autarquias e empresas públicas federais.

Então, por exemplo, se eu praticar um crime contra o Ministério da Justiça, contra a Polícia Federal, são órgãos da Administração Direta, serei julgado pela Justiça Federal.

Exemplos de autarquias federais: INSS, Banco Central do Brasil, Ibama, Bacen.

Exemplos de empresa pública federal: CEF, ECT, BNDES, Casa da Moeda do Brasil.

Aqui eu quero fazer duas observações: O cidadão entra na agência dos correios e manda passar a grana. De quem é a competência? Justiça estadual ou federal? Esse exemplo é ótimo porque está lá escrito na prova: Correios e você lembra que é empresa pública federal e se é assim, a competência é da justiça federal. Mas tem que tomar cuidado porque se o crime foi praticado contra uma franquia, a coisa muda. Cuidado com isso.

Observação importante: “Se o crime for praticado em detrimento de uma agência dos correios (franquia), a competência será da Justiça Estadual. Porém, se o serviço estiver sendo explorado diretamente pela EBCT, competência da Justiça Federal.”

Segundo exemplo: Caixa Econômica Federal. É ótimo para cair em prova. Caiu, inclusive no TRF 4ª Região. O exemplo são essas fraudes cometidas por meio da internet. As pessoas compram pela internet, sua senha é captada por esse vírus e o sujeito começa a sacar valores de sua conta-corrente. Olha o exemplo: eu tenho uma conta-corrente numa agência da CEF em São Paulo. Um cidadão em Manaus tem acesso à minha senha e começa a efetuar os saques de valores da minha conta. De quem será a competência? Esse exemplo é um exemplo básico e tranquilo. E é bom pelo seguinte porque podem perguntar: 1) Qual é o crime e 2) A competência seria de que Justiça? E a competência territorial de quem seria? O crime é de furto qualificado pela fraude, sem dúvida alguma. No delito de furto qualificado pela fraude, a fraude é utilizada para afastar a vigilância exercida sobre a coisa. E uma vez afastada a vigilância, o próprio agente subtrai a coisa. O exemplo clássico é o sujeito que se faz passar por agente de empresas de telefonia. Naquele caso em que o sujeito para com o carro de luxo no condomínio de luxo, buzina, o porteiro abre e lá dentro ele pratica o delito, é outro exemplo de furto qualificado pela fraude. Há o uso da fraude para burlar a vigilância e aí tem-se o furto do objeto. No meu exemplo, é furto porque você pratica a fraude para retirar a vigilância exercida pelo banco sobre aqueles valores. E no caso do golpe do falso abadá? Qual é o crime? Esse golpe foi dado antes do carnaval. Estavam vendendo na internet por R$ 400, quando custa R$ 1.000. Nesse caso, qual

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é o crime? Nesse é estelionato. Você é induzido a erro e é vítima voluntariamente. Você, voluntariamente, entrega para o agente a quantia. Ficou clara a diferença? E qual é a justiça competente? Estadual, militar, federal ou eleitoral? Esse caso, pode parecer bobagem, mas você tem que perguntar quem é a vítima porque a competência será determinada em razão da vítima. No meu exemplo, a vítima, sem dúvida alguma é a CEF porque é a CEF que tem o seu sistema de vigilância quebrado e o acesso facilitado para que o agente possa subtrair. Sem dúvida, o delito é praticado contra a Caixa. Se você está dentro da agência, sacando dinheiro e é enganado por alguém, nesse caso, a vítima é a pessoa física. Se a Caixa é a vítima, a competência é da Justiça Federal. Para poder concluir o raciocínio. E a competência territorial? Foi isso que caiu no TRF da 4ª Região. Quem julga? A Justiça de São Paulo, onde fica a agência, ou de Manaus? “O delito de furto consuma-se no local em que a coisa é retirada da esfera de disponibilidade da vítima, ou seja, no local onde fica a agência bancária da vítima.

Último ponto: EU pergunto: quanto a Constituição faz menção à crimes cometidos contra autarquias será que ela abrange também as fundações públicas federais? Positivo. Você vai entender que autarquia é o gênero que também vai abranger a fundação pública federal. Apesar da controvérsia do direito administrativo, aqui, para fins de competência, entende-se que a fundação pública federal seria a espécie do gênero autarquia. Então, eventual crime cometido contra a fundação pública federal seria de competência da Justiça Federal. Exemplo: Fundação Nacional de Saúde.

c) Crimes cometidos contra entidades de fiscalização profissional

Essas entidades de fiscalização profissional (Crea, CRM) têm natureza de autarquia federal e eventuais crimes cometidos contra elas será de competência da Justiça Federal.

Cuidado com os exemplos, mais uma vez: Imagine que um hacker desses da vida consiga entrar no sistema do Crea e pegar dados de engenheiros para usar esses dados para praticar estelionatos contra os engenheiros. De quem é a competência? Tem que tomar esse cuidado: quem é a vitima? É o Crea? De modo algum. Então, a competência é da Justiça Estadual. STJ: CC – 61.121: julgado nesse sentido.

A OAB tem todo aquele problema relacionado à ADI 3026 em que o STF disse que a OAB seria uma categoria ímpar no elenco da personalidade jurídica existente no ordenamento jurídico brasileiro. A jurisprudência diz o seguinte: “Infrações penais praticadas em detrimento da OAB continuam sendo julgadas pela Justiça Federal.” Falsificação de carteira da OAB é o melhor exemplo.

d) Crimes cometidos contra sociedade de economia mista, concessionárias e permissionárias de serviço publico federal

Exemplos: Banco do Brasil, Petrobras, etc. Se eu praticar um crime contra o Banco do Brasil, um assalto contra uma agência do Banco do Brasil. De quem é a competência. Sem dúvida alguma, sendo o BB uma sociedade de economia mista, a competência será da Justiça Estadual.

Súmula 42, do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.”

Se eu praticar um crime contra o Banco do Brasil, a competência será da Justiça Estadual.

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Concessionárias e permissionárias de serviço público federal. De quem é a competência? Pode anotar o exemplo da prova: “Dano contra um telefone público pertencente à Telecom.” De quem é a competência? Tem doutrinador que diz que nesse caso, o dano contra o orelhão seria julgado contra a Justiça Federal. Mas por quê? Apesar de ter sido cometido contra a Telecom, a doutrina diz que é um crime que atenta contra o serviço de telecomunicações que é de interesse da União. Dizer que quebrar um orelhãozinho é interesse da União é forçar a barra. A competência, neste caso, é da Justiça Estadual. Isso de forma alguma atinge bens ou serviços da União. STJ – CC: 37751.

Outro exemplo bom para cair em prova: Crime de concussão praticado por médico em hospital credenciado ao SUS. Você chega lá morrendo, consegue ser atendido pela enfermeira, depois de 8 horas ela te leva ao médico e o médico diz que só opera se contribuir com a caixinha. Cuidado com esse exemplo porque a jurisprudência entende que a competência é da Justiça Estadual e não pela federal.

e) Bens, serviços ou interesses da União, Autarquias e Empresas Públicas federais

Se na hora da prova, você lembrar disso, ou seja, que a competência da justiça Federal está baseada em dois tripés; um composto pela União, autarquias (abrangendo as fundações) e as empresas públicas federais; e o outro composto por bens, serviços ou interesses, já ajuda bastante porque você sempre tem que raciocinar? Será que esse crime atentou contra um bem de uma empresa pública federal? Então a competência é da Justiça Federal. Será que esse crime atentou contra um interesse da União? Competência da Justiça Federal. Vamos analisar cada um desses conceitos:

Bens – Em relação aos bens, você vai entender que abrange o patrimônio de cada um dos entes federados. Se eu pratico um crime contra o patrimônio do INSS eu estou lesando um bem de uma autarquia, Justiça Federal. Se eu subtraio um bem de um órgão público federal, estou lesando um bem da União, a competência é da Justiça Federal. Em relação aos bens da União, ficar atento ao art. 20, da Constituição Federal, que nos lista os bens da União. Sempre que você visualizar um crime cometido contra um desses bens da União, a competência será da Justiça Federal. Isso não vai cair na prova porque é muito fácil. Mas olha os exemplos:

Crime cometido contra consulado estrangeiro. Quem julga? Você invadiu o consulado dos Estados Unidos e lá praticou um delito. Os exemplos são bons porque o aluno vê consulado estrangeiro e pensa logo em competência federal. Mas é competência da Justiça Estadual. Consulado não tem nada a ver com a União, com autarquias ou empresas públicas federais. Crime cometido contra consulado estrangeiro, competência da Justiça Estadual.

Quer ver um outro exemplo bom para cair em prova? Crime de dano cometido contra bens tombados. De quem é a competência? Concurso federal eles adoram perguntar sobre isso. Teve uma prova que perguntaram se uma dança baiana poderia ser tombada. No caso dos bens tombados, de quem é a competência? “Se o bem foi tombado pela União, competência da Justiça Federal.” Se a União tombou o bem é óbvio que o crime cometido contra esse bem está atentando contra o interesse da União. Se o bem foi tombado por um Estado-membro, competência da Justiça Estadual.

Outro exemplo: desvio de verbas. Vamos imaginar que você numa cidade pequena recebeu um dinheirinho de um convênio, um fundo qualquer. Você desvia uma dessas verbas que a União mandou para o município. De quem é a competência? Há duas situações: “Se esta verba estiver incorporada ao patrimônio municipal, competência da Justiça Estadual. Se, todavia,

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essa verba estiver sujeita à prestação de contas perante órgão federal, nesse caso, há o interesse da União, competência da Justiça Federal.”

Súmulas importantes sobre o tema:

Súmula 208 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.”

Súmula 209, do STJ: “Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.”

Serviço: Isso está relacionado ao serviço público prestado pela respectiva entidade federal. Sempre que você imaginar um delito que venha lesar um serviço prestado pela União, por uma autarquia ou por uma empresa pública.

Interesse: da União, das empresas públicas federais e autarquias federais. Aqui tomar cuidado porque a jurisprudência faz interpretação bastante restritiva disso: Se esse interesse for específico, particular ou direto de um desses entes (União, autarquia, empresa pública), aí a competência será da Justiça Federal. Mas se você estiver diante de um interesse genérico, remoto ou não imediato, neste caso, a competência será da Justiça Estadual.

(Fim da 1ª parte da aula)Exemplos:

Contrabando ou descaminho – está no art. 334, do Código Penal e são delitos diferentes.

        “Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria:”

No contrabando você importa ou exporta mercadoria proibida. O melhor exemplo, é a máquina de caça-níqueis. Descaminho é o que o Bóris Casoy chama de contrabando. Descaminho é quando você introduz no país sem a cobertura da nota fiscal. Quem julga isso? Justiça Federal. Obviamente, a União tem interesse na fiscalização dessa importação de mercadorias proibidas e também na circulação de mercadorias sem a nota fiscal. É isso que cai na prova? Não. O que cai é o seguinte: imagine um exemplo em que alguém entre no Brasil por Foz do Iguaçu trazendo mercadorias sem nota fiscal, mas foi preso na 25 de março (SP). Qual Justiça irá julgá-lo? A Justiça Federal de Foz do Iguaçu ou a Justiça Federal de São Paulo? Teoricamente, o delito deveria ser julgado em Foz porque foi lá que o crime de descaminho se consumou. Mas já imaginou se todos os crimes fossem julgados em Foz do Iguaçu? Ninguém ia querer ser juiz em Foz do Iguaçu por causa da quantidade de processo.

“A competência para processar e julgar o crime de descaminho e de contrabando será do local da apreensão dos bens.” A súmula 151 trata do tema:

Súmula 151: “A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.”

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Sonegação de correspondência em portaria de condomínio residencial – esse crime está previsto no Código Penal e no art. 151, §1º. É o delito de violação de correspondência.

“Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.”

§ 1º - Na mesma pena incorre: I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói;”

Olha o caso concreto que chegou ao STJ: UM processo criminal foi instaurado contra um determinado carteiro que se recusava a entregar a correspondência no domicílio. Ele entregava no condomínio. Olha o que o STJ tem que julgar. Foi suscitado o conflito de competência se o porteiro não quer entregar na casa e sim na portaria?

“Não há interesse direto e específico da EBCT, mas sim dos particulares, razão pela qual a competência é da Justiça Estadual.”

Quando a gente fala em serviço e interesse da União, é possível extrair o significado disso a partir da análise de algumas competências administrativas da União. Nesse sentido, eu vou fazer com você a análise, para fins criminais, de alguns incisos do art. 21, da Constituição Federal. Veremos algumas competências administrativas da União e vocês vão perceber como é que eu chego na competência criminal da Justiça Federal.

        “Art. 21. Compete à União: VII - emitir moeda;”

Se compete à União emitir moeda, eu pergunto, quem é que julga o delito de moeda falsa? Justiça Federal. Seja essa moeda de procedência nacional ou estrangeira. E por que? Porque é a União que emite moeda e porque cabe ao Banco Central a fiscalização da movimentação de moeda estrangeira. Então, mesmo em se tratando de moeda estrangeira, a competência será da Justiça Federal. Mas aí eu pergunto: E se por acaso eu pegar um papel, vou no comércio e consigo passar uma nota de 100 reais grosseiramente falsa para um comerciante humilde. Nesse caso da nota de 100 reais falsa, de quem é a competência? Em se tratando de falsificação grosseira, não há crime de moeda falsa. Qualquer crime de falsificação que seja, a falsificação precisa ter idoneidade para enganar. Mas, no meu exemplo, apesar da falsificação ser grosseira, não sendo capaz de induzir a erro o chamado homem médio, subsistiria o delito de estelionato. Obviamente, o estelionato vai depender se a vítima aceita ou não aquela nota porque no estelionato eu tenho que analisar a fraude sob a perspectiva da vítima. Se o comerciante recebeu a nota de 100 reais é porque essa nota teve idoneidade para enganá-lo. Então, subsiste o estelionato. Quem julga esse estelionato cometido contra o comerciante humilde? É a Justiça Estadual. Súmula 73, do STJ:

Súmula 73, STJ: “A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.”

Correio Aéreo Nacional: Artigo 21, X, da CF.

       “Art. 21. Compete à União: X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;”

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Se compete à União manter o serviço postal e o correio aéreo nacional, a qual conclusão eu chego? Crimes contra o serviço postal previstos na Lei 6.538/78 são de competência da Justiça Federal. E isso é importantíssimo, primeiro porque você atenta contra o interesse da União e depois porque atenta contra a ECT.

Quer ver outro exemplo? Carteiro que se apropria de algum objeto postal. Mesma coisa. Então, se um carteiro se apropria há interesse da empresa pública, competência da Justiça Federal. Para vocês verem como há relação entre a competência administrativa da União e a competência da Justiça Federal para julgar o delito.

       “Art. 21. Compete à União: XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações.”

Quais crimes que, por conta desse inciso são julgados pela Justiça Federal? Desenvolvimento clandestino de telecomunicações, vulgo, rádio-pirata. Aí eu chamo a atenção para vocês não caírem em pegadinha de prova. Esse da rádio-pirata já está meio batido. Agora, quer ver um exemplo interessante? Quem é que julga o delito de instalação clandestina de TV a cabo? O próprio instalador, em troca de um cafezinho, coloca todos os canais e você paga a assinatura básica. Um caso desses, de quem é a competência? Esse crime não atenta contra os serviços de telecomunicações. Está atentando contra o interesse patrimonial da NET, SKY, TVA... Então, obviamente, a competência será da Justiça Estadual.

Incitação ao crime ou apologia ao crime praticado em programa de televisão. Será que o crime é da competência da Justiça Federal? Atenta contra os serviços de telecomunicações? Não. É da Justiça Estadual.

Crimes previstos no Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03). Justiça Federal ou Estadual? A pergunta pode parecer ridícula à primeira vista, mas eu chamo a atenção de vocês para o art. 1º desta lei:

“Art. 1o O Sistema Nacional de Armas (SINARM), instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem circunscrição em todo o território nacional.”

A Lei 10826 criou esse SINARM que funciona dentro da Polícia Federal e tem basicamente a função de fiscalizar o comércio de armas, emitir porte, uma série de atribuições. Eu pergunto: Se sou pego com uma arma na rua, de quem é a competência? Essa lei, no seu art. 1º, criou o SINARM, órgão que funciona dentro da PF. Só que essa lei é de 2003. Quando ela saiu, pelo fato de ela ter criado o SINARM alguns artigos começaram a dizer que havia o interesse da União, já que se trata de Polícia Federal. Eu pergunto: Há o interesse da União que justificaria a competência da Justiça Federal para processar e julgar esse delito? Não. Lembre-se aí que o bem jurídico protegido pela lei 10.826 é a incolumidade pública, ou seja, a competência aqui continua sendo da Justiça Estadual. Com um detalhe para cair em prova que confunde: mesmo que a arma de fogo seja de uso restrito ou privativo das Forças Armadas. Isso é engraçado. Cai na prova ‘uso privativo’, você pensa logo que é da Justiça Federal. Fuzil AR-15 é de uso privativo e os traficantes do morro são julgados pela Justiça Estadual. Geralmente, quando a pessoa subtrai uma arma, ela raspa a arma. Vou dar um exemplo em que a origem da arma não foi raspada.

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Olha o exemplo: arma apreendida com um sujeito. Três desdobramentos: Se na arma estava escrito: arma do Exército Brasileiro (eu não estou dizendo que é arma de uso privativo porque arma de uso privativo eu vou lá no Paraguai e compro fácil). No exemplo, a arma é de propriedade do Exército. Foi roubada de um quartel e caiu na mão desse cara que foi pego em flagrante. A arma do segundo exemplo é da Polícia Militar do Estado de São Paulo. A arma do terceiro exemplo é da PF. Três exemplos. Eu pergunto: Quem julga?

A primeira é do Exército. Vai responder por qual delito? Pelo estatuto de desarmamento, Lei 10.826, imaginando que seja uma arma de fogo de uso restrito, você vai jogar no art. 16, que é o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Vai ser julgado onde? Incolumidade pública. O fato de ser de uso restrito, pouco interessa. Vai ser julgado na Justiça Estadual. Mas o aluno precisa ter um pouco mais de maldade para perceber que não é só esse o delito por ele praticado, no caso, o do art. 16, que atinge a incolumidade pública. Mas se eu recebi e estou vendo escrito na arma “Exército Brasileiro” estou praticando um outro delito, que é o crime de receptação (que é um crime contra o patrimônio). Aqui incide o crime de receptação do CPM porque eu estou praticando a receptação de um patrimônio sob a administração militar. Então vou responder pelo art. 251 que é um crime militar de classificação indireta. Isso significa que tem que ser combinado com o art. 9º, III, ‘a’, todos do Código Penal Militar. Você tem que dizer que é receptação, mas também porque que é um crime militar. A resposta é porque foi praticado por um civil contra um patrimônio sob a administração militar. Então, esse é um crime militar. Vai ser julgado por quem? Justiça Militar da União. Nesse caso, o crime de porte, será julgado pela Justiça Estadual e o crime de receptação, pela JMU.

E no caso da arma da PM, quem julga? O raciocínio é o mesmo. O crime de porte vai ser julgado pela Estadual e o de receptação será julgado Justiça Estadual. Isso não pode ser julgado pela Justiça Estadual Militar porque ela não julga civis. A receptação aqui seria do CP mesmo.

E no último caso: a arma pertencia à Polícia Federal. Quem julga o delito? Mesma coisa. O porte será julgado pela Justiça Estadual porque o bem jurídico protegido é a incolumidade pública, mas quem vai julgar a receptação de bens que pertenciam à União? Crime patrimonial contra bens da União? Justiça Federal. Sem dúvida alguma.

São três exemplos campões para a prova porque medem o seu conhecimento. Só que aí tem um porém. Nesse caso, eu posso enxergar que entre esses dois delitos haja conexão porque o cara foi preso em uma mesma circunstância. O detalhe interessante é que quando há conexão entre crime federal e estadual, de acordo com a Súmula 122, do STJ, prevalece a competência da Justiça Federal. Se houver conexão entre os delitos (conexão probatória, instrumental), prevalece sempre a competência da Justiça Federal.

Súmula 122, STJ: “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do Art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal.”

f) Crimes contra a Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral, e a Justiça Militar da União

Quem julga? Durante uma audiência trabalhista, o cidadão pratica falso testemunho. As Justiças Eleitoral, a Militar e a do Trabalho fazem parte do Poder Judiciário da União. Eventuais cometidos contra essas três justiças será de competência da Justiça Federal. Há uma súmula relacionada ao tema:

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Súmula 165, STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista.”

Aí, essa súmula limitou, mas a gente poderia acrescentar: cometido na Justiça Eleitoral, contra a Justiça Militar da União porque lá está o interesse da União justificando a atuação da JF.

g) Crime de desacato cometido contra juiz estadual no exercício de funções eleitorais

Quem julga? Teoricamente, iria para a Justiça estadual, mas neste caso, ele está no exercício de funções eleitorais, se é assim, é óbvio que sobressai dali o interesse da União justificando a atuação da Justiça Federal. Então, cuidado com isso. Se ele está no exercício de funções eleitorais, há interesse da União, competência da Justiça Federal.

h) Crime praticado contra funcionário público federal

Quem julga? Agente da Polícia Federal, saindo da aula é assaltado na Paulista. Tem que ter maldade. O fato de eu ter falado em funcionário público federal a competência automaticamente é federal. O crime aqui, deve estar relacionado à função. Se o crime foi cometido em razão do exercício da função, aí, nesse caso, a competência é da Justiça Federal. Lá em Salvador um APF foi entregar um mandado de intimação e foi morto em uma favela. Neste caso, funcionário público federal no exercício da função, Justiça Federal. Outro exemplo: Fiscais do Ministério do Trabalho no exercício da função assassinados em MG.

Súmula 147, STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.”

Exemplos: Crime praticado contra funcionário público federal aposentado de quem é a competência? Se o cara já está aposentado, não há mais interesse da União. Competência da Justiça Estadual. Crime cometido contra dirigente sindical. Quem julga? Justiça Estadual.

i) Crime cometido por funcionário público federal

Aqui é o mesmo raciocínio. Para que esse crime seja processado e julgado pela Justiça federal, deve ter alguma coisa a ver com o exercício da função. Se esse delito guarda relação com o exercício da função, a competência da Justiça Federal. Se não tem nada a ver com sua função federal, a competência é da Justiça Estadual.

Exemplo: Crime cometido por oficial de justiça do TJ/DFT. Quem julga? Você sabe que quem mantém a justiça e as polícias do DFT é a União e, por isso, você poderia ser levado a pensar que se é a União que banca, a competência seria da Justiça Federal. Negativo. A competência é da Justiça do Distrito Federal e Territórios e não da Justiça Federal. Apesar de os recursos serem provenientes da União, isso não atinge interesse direto da União.

j) Tráfico de influência

Esse crime ocorre quando você solicita uma vantagem a pretexto de exercer influência sobre um funcionário.

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“Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:”

“O crime de tráfico de influência será de competência da Justiça Federal sempre que o funcionário público objeto da suposta influência for federal.”

Cuidado com isso. Se você pede dinheiro a pretexto de exercer influencia no funcionário federal, Justiça Federal, mesmo que você, que está pedindo dinheiro, não seja funcionário público federal.

l) Abuso de autoridade cometido por militares das Forças Armadas

Esse militar latu senso é um funcionário público federal. Como abuso de autoridade não é crime militar, ele será julgado pela Justiça Federal. Exemplo do Morro da Providência. Onze militares estão sendo processados perante a 7ª Vara Federal do Rio (levaram moradores ao morro rival onde foram mortos). Homicídio doloso praticado por militares das forças armadas em serviço será julgado por um Tribunal do Júri federal.

m) Estelionato praticado por acusado que se atribui falsa qualidade de funcionário público federal

Você, civil, se faz passar por funcionário público federal. Já vi pessoas colocando fardas, vão para a cidade pequena e impressionam. Pegam um empréstimo, fazem corrida de táxi. A competência aqui é da Justiça Estadual, já que não há interesse da União.

n) Crimes contra o meio ambiente

Aqui, antes de mais nada, é importante que você tenha em mente a Súmula 91, do STJ.

Súmula 91, do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a fauna.”

Cuidado com essa Súmula porque está ultrapassada. Foi cancelada. Não é competência exclusiva da união a proteção da fauna. Se você pega a Constituição, vê que é competência comum entre os três entes. Crime contra o meio ambiente, em regra, é da Justiça estadual. Se a Súmula 91 foi cancelada, em se tratando de crimes ambientais, qual é a regra? Em regra, a competência para processar e julgar crimes ambientais será da Justiça Estadual.

Em quais hipóteses esses delitos vão para a federal? Quais são as exceções a essa regra? Geralmente o que cai na sua prova é isso, caiu para Defensor Público da União. Só para dar para vocês alguns exemplos:

Caso concreto: O sujeito criava numa gaiola no quintal de casa 1 babuíno e 7 tigres-de-bengala. É crime ambiental? É óbvio que é crime ambiental! Quem julga?

“Crimes relacionados à apreensão em cativeiro de animais da fauna exótica (não é da fauna silvestre), como o do babuíno e dos trigres-de-bengala, a competência é da Justiça Federal.”

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Sabe por que? Porque cabe ao IBAMA autorizar o ingresso e a posse desses animais no Brasil. O STJ, julgando conflito de competência entendeu que, como compete ao IBAMA autorizar a posse desses animais exóticos no Brasil, a competência seria da Justiça Federal e não estadual.

Outro exemplo: crime de pesca do camarão no período de defeso (que é proibido) no mar territorial. Quem julga esse delito? Sempre que um crime ambiental for praticado em um bem da União, a competência é federal. O mar territorial é da União, portanto, a competência é federal.

Já caiu no Cespe: Crime ambiental praticado no Rio Real (que é o rio que faz a divisa entre Sergipe e Bahia). De quem é a competência. Rio que faz a divisa entre dois Estados, entre outro país, a competência é da União, crime de competência da Justiça Federal.

Crime de extração ilegal de recursos minerais: vamos imaginar que você tenha uma fazenda e haja recurso mineral na sua fazenda e você resolve explorar. De quem é a competência? A quem pertencem os recursos minerais, inclusive os do subsolo? À União, então, a competência é da Justiça Federal. Então, se vocês lembrarem do artigo 20 da CF, lembrando quais são os bens da União, fica fácil dizer quando esse crime será de competência da Justiça Federal.

Crime ambiental relacionado com organismos geneticamente modificados. O melhor exemplo é o cultivo da soja transgênica em desacordo com a legislação ambiental vigente. Onde está esse crime? No art. 13, V, da Lei 8.974/95. A quem compete processar e julgar esse delito? Justiça Federal. Por que motivo? Compete à União a regulamentação do manejo de semente de organismos geneticamente modificados.

Crime ambiental praticado na Floresta Amazônica. Constituição Federal, art. 225, § 4º:

§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

Extração de pau-brasil na Mata Atlântica. Megapegadinha. Quem vai processar e julgar esse crime é a justiça estadual. Um aluno lê patrimônio nacional e acha que pertence à União. Isso não pertence à União. Você não pode querer confundir um bem federal (os bens da União estão listados no art. 20) com patrimônio nacional. Mas cuidado que tem doutrinador que acha que é da União. STF: RE 349.189.

o ) Crimes contra a fé pública

Esse é ótimo para cair em prova. Como fica a competência para processar e julgar delitos cometidos contra a fé pública?

OBS: Depois da Justiça Militar, eu não deveria ter passado diretamente para a Justiça Federal (confesso que foi minha culpa). Eu tinha que ter falado antes, da Justiça eleitoral e da Justiça do Trabalho. Eu vou fazer um parêntesis aqui pra gente fazer. Eu coloquei essa transcrição lá atrás.

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