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ARENA, Associação de Arte e Cultura. www.arena.org Ministrante: Maria Helena Bernardes

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ARENA, Associação de Arte e Cultura. www.arena.org.br

Ministrante: Maria Helena Bernardes

ARTE BRASILEIRA NO SÉCULO XIX

DO BARROCO À CHEGADA DA MISSÃO FRANCESA

O BRASIL ANTES DA MISSÃO FRANCESA

Albert Eckhout, Dança dos Tapuias, (meados séc. 17)

Frans Post, Vista de Fazenda de Açúcar

O artista holandês Frans Post foi o primeiro europeu a

pintar paisagens brasileiras, algumas delas doadas

por Maurício de Nassau a Luís XIV, em 1679.

Toda sua produção conhecida – 155 pinturas a óleo e 57

desenhos – trata de um único tema, o Nordeste

brasileiro.

A capivara no primeiro plano do quadro Rio São

Francisco era um roedor desconhecido para os

europeus no século 17.[site: www.bbc.co.uk ]

Frans Post, Rio São Francisco

De volta à Holanda, (1644), Post seguiu

pintando paisagens brasileiras.

Mas existem diferenças entre as obras

pintadas no Brasil e na Europa, como o

quadro Vista de Plantação , que faz parte

dos objetos brasileiros oferecidos a Luís

XIV por Nassau.

Fra

ns P

ost,

Vis

ta d

e P

lant

ação

Frans Post, O Forte dos Reis Magos

Frans Post, Igreja e Mosteiro de Igaraçu, Pernambuco

Frans Post, Engenho de Cana,1650

Frans Post, Plantação de Cana,1650

Aleijadinho

Atlante Sustentando a Tribuna do Coro

capela de Nossa Senhora do Carmo,

Ordem Terceira do Carmo, Sabará, MG

Aleijadinho

São Joaquim

1800-1810

Madeira dourada policromada

Museu de Arte Sacra

de Mariana

Aleijadinho

Santa Luzia

s/ data

Profeta Joel, Igreja Bom Jesus do Matosinhos, Congonhas, MG

Profeta Joel, Igreja Bom Jesus do Matosinhos, Congonhas, MG

Profeta Joel, Igreja Bom Jesus do Matosinhos, Congonhas, MG

Em 1796, no apogeu de sua vida artística Aleijadinho inicia

em Congonhas do Campo seu mais importante ciclo.

Em menos de dez anos, cria 66 figuras esculpidas em

cedro, que compõem os Passos da Paixão de Cristo e,

em pedra-sabão, esculpe os 12 profetas, deixando, em

Congonhas, o maior conjunto estatutário barroco do

mundo.

[camaracongonhas.mg.gov.br ]

Uma das seis capelas dos Passos da Paixão , Congonhas, MG

As seis capelas dos Passos da Paixão estão situadas

abaixo do Santuário do Bom Jesus do Matosinhos.

Trata-se da representação das cenas do calvário de

Jesus Cristo e, acima das escadarias, dos seus

profetas. Assim, Aleijadinho representou as

estações da Via Sacra: a Santa Ceia, o Horto das

Oliveiras, a Prisão de Cristo, a Flagelação e Coroação

de Espinhos, a Subida ao Calvário e a Crucificação.

A partir de 1796, Aleijadinho e seu atelier esculpiram 66 imagens de madeira, durante um período de três anos e meio. Para isso, contaram com o apoio dos pintores Francisco Xavier Carneiro e Manoel da Costa Athaíde.

A policromia das imagens iniciou em 1808, após a instalação das obras nas respectivas capelas. Algumas das capelas tiveram suas obras paralisadas por quase 50 anos, o que pode ser visível pela qualidade da obra, um pouco inferior a dos artistas Francisco Xavier Carneiro e Athaíde. Foram então reiniciadas em 1864 e concluídas em 1875.

Aleijadinho

Passos da Paixão

Congonhas

Aleijadinho, Passos da PaixãoDetalhe

Aleijadinho

Dilmas, O Bom Ladrão

(Passos da Paixão)

Aleijadinho

Cena dos

Passos da Paixão

Aleijadinho

Figura do Passo da Prisão

(Passos da Paixão)

Aleijadinho, Passo do Horto

Aleijadinho, Passo da Subida ao Calvário

Aleijadinho, Flagelação

Aleijadinho, Coroação

Aleijadinho, Passo da Crucificação, (Passos da Paixão)

Aleijadinho

Passo da Flagelação

(Passos da Paixão)

Aleijadinho, A Última Ceia, (Passos da Paixão)

A última ceia [detalhe], final do século XVIII

A última ceia [detalhe], final do século XVIII

O Nascimento da Missão Artística Francesa

Alexander von Humboldt "Viagem às regiões equinociais do Novo Continente“, 1826

PERSONAGENS DA MISSÃO

Humboldt indicou

Joaquim LeBreton,

secretário recém-

demitido da Classe de

Belas Letras do

Instituto de França

devido a suas ligações

com Bonaparte.

Joachim Lebreton propôs a

vinda de um pequeno grupo de

artistas dispostos a migrar para o

Brasil recebendo, em troca,

passagens e auxílio para sua

instalação. Após um ano de

negociações, a missão foi

constituída, sob a chefia do

próprio Lebreton.

• Novembro de 1807: navios portugueses

partem para o Brasil

• 08 de março de 1808: desembarcam, no

Rio de Janeiro, 15.000 pessoas, quase um

terço da população existente.

• 1815: é fundado o Reino de Portugal, Brasil e Algarves. O

Rio se torna capital do maior império colonial existente.

Joaquim Lebreton é designado a reunir artistas franceses

que deveriam acompanhá-lo ao Brasil e constituir, aqui,

uma Academia de Belas Artes nos moldes parisienses. A

introdução do pensamento ilustrado na Corte visava a

acelerar o processo de modernização.

• Março de 1816: chega ao Rio a Missão Francesa.

Liceu de Artes e

Ofícios do Rio de

Janeiro, já

demolido.

Fachada voltada

para o Largo da

Carioca.

Arquiteto:

Bithencourt da

Silva.

Operário

Semeando as

Artes no Brasil

(Gravura de

Carlos Osvald)

Grandjean de Montigny

retratado por Augusto Müller

Arquitetura Neoclássica

Chega ao Brasil:

Grandjean de Montigny

(1776-1850)

Principais obras:

•Alfândega (atual Casa França-Brasil)•Mercado (demolido )

•Senado (projeto não executado)•Biblioteca Imperial (projeto não executado)

•Escola Real de Ciências Artes e Ofícios (demolida; resta o frontão no Jardim Botânico)

•Residência na Gávea (Solar Grandjean de Montigny –PUC-Rio)

•Realizou trabalhos como urbanista e paisagista

Casa de Grandjean de Montigny, desenho de Debret, 1826

Solar Grandjean de Montigny - Vista do telhado e clarabóia ano 2008

Solar Grandjean de Montigny - Vista do telhado e clarabóia ano 2008

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Grandjean de Montigny, Casa França-Brasil

Grandjean de Montigny conseguiu construir

muito pouco do que projetou e muito de sua obra

foi destruída. Sobraram apenas o pórtico da

Academia Imperial de Belas Artes, a sua casa

particular (Solar Grandjean de Montigny), a

antiga Praça do Comércio e um chafariz,

atualmente no Alto da Boa Vista.

O edifício onde hoje funciona a Casa França-

Brasil foi palco de eventos importantes de nossa

história. Mandado erguer em 1819 por D. João VI

ao arquiteto Grandjean de Montigny, é o primeiro

registro do estilo neoclássico no Rio de Janeiro,

estilo que, a partir daí, invadiu a cidade e tingiu o

barroco de suas casas coloniais de um tom

cosmopolita, à moda européia.

fonte: www.fcfb.rj.gov.br

Grandjean de Montigny, Paço do Senado, 1848

O prédio onde atualmente funciona a Casa França-Brasil, foi

projetado por Grandjean de Montigny para ser a Praça de

Comércio do Rio de Janeiro, uma espécie de Bolsa de

Valores inaugurada em 13 de maio de 1820.

Um ano depois, foi palco de repressão violenta, sob o

comando de D. Pedro I, que invadiu o prédio para

dispersar a multidão que exigia a permanência da Corte

Portuguesa no Brasil e foi fechado, depois do

acontecimento.

Grandjean de Montigny, Chafariz do Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro

Planta da Academia Imperial de Belas Artes, Gravura de Debret. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. Vol. 3

O ensino das Belas Artes funcionou neste edifício até 1908.

Com a demolição da Academia em 1938, o portal foi

montado no Jardim Botânico, ao final da Aléia Barbosa

Rodrigues, conhecida também como Aléia das Palmeiras.

Academia Imperial de Belas-Artes(fotografia: Marc Ferrez,1891)

Portal da antiga

Academia de Belas Artes

Jardim Botânico

Rio de Janeiro

Casa França-Brasil

Quando Napoleão foi para o exílio em

Santa Helena, D. João precisou voltar a

Lisboa, não hesitando em levar para

Portugal, além de sua corte, toda a riqueza

acumulada no período em que esteve na

mais rica de suas possessões ultra

marinhas, bem como em deixar leis rígidas

que garantissem controle jurídico e

financeiro sobre a colônia.

Antiga Praça do Comércio, com a Casa Brasil-França, ao fundo

Outros ventos, porém, sopravam em nossa

costa, vindos da recente independência

norte-americana e da Revolução Francesa.

Às vésperas da partida do Rei, em 1821,

numa reunião à Praça do Comércio, o povo

rebelou-se, solicitando, entre outras coisas, a

promulgação de uma constituição liberal. A

ousadia foi gravemente reprimida pelas

tropas reais, com a invasão do prédio e o

ataque a tiros e baionetas contra os

amotinados.

Nicolas Antoine Taunay

(Auto-retrato)

Nicolas Taunay, Vista do Outeiro, Praia e Igreja

Nicolas Taunay, Morro de Santo Antonio, em 1816

João Francisco Muzzi, Mestre Valentim entrega o Projeto de Recolhimento da Nossa Senhora do Parto a Dom Luís de Vasconcelos e Souza, 1790

Mestre Valentim, (1745-1813) e Leandro Joaquim (1738-98)

Leandro Joaquim, Vista da Igreja da Praia da Glória, fins século XVIIIMuseu Histórico Nacional, RJ

Leandro Joaquim, Vista da Lagoa do Boqueirão e Aqueduto, 1790

Museu Histórico Nacional, RJ

A grande ênfase da obra está na integração da grande

obra de construção civil à vida cotidiana da cidade. A

metade inferior é toda ocupada com a atividade

intensa que transcorre em torno da lagoa: um carro

de boi, homens, mulheres e crianças que atravessam

a água, lavadeiras com trouxas à cabeça. A parte

superior é destinada às construções do poder

simbólico e civil e a inferior, à população simples,

oferecendo um ponto de vista integrado da sociedade

existente.[Rafael Cardoso, Arte Brasileira em 25 quadros: 1790-1930]

Leandro Joaquim, Vista de uma Esquadra Inglesa na Baía de Guanabara, fins do

século XVIII, Museu Histórico Nacional, RJ

Leandro Joaquim, Revista Militar no Paço, fins século XVIII Museu Histórico Nacional, RJ

Jean-Baptiste Debret, Vista do Largo do Carmo,(em primeiro plano, chafariz do Carmo, de Mestre Valentim), 1834

Jean-Baptiste Debret, retratos de Dom João VI e Pedro I (Viagem Pitoresca ao Brasil)

Jean-Baptiste Debret

Retrato de El Rei

Dom João VI

1817

Antoine-François Callet

Retrato de Luís XVII

1779

Van Dyck

Retrato de Charles I

1635

Jean-Baptiste Debret

Coroação de Dom Pedro I

1822

"O bordado de estilo largo

lembra, pela sua forma,

grupos de folhas de

palmeira e frutos da

mesma árvore; grandes

estrelas de oito pontas,

semeadas no fundo,

completam a riqueza

desse manto, cuja

execução merece justos

elogios" (Debret)

RUGENDAS Viagem Pitoresca ao Interior do Brasil

THOMAS ENDERAtlas de Viagem ao Brasil, com Spix e Martius

JEAN BAPTISTE DEBRETViagem Pitoresca e histórica ao Brasil

A expedição científica que veio ao Rio de Janeiro,

em 1817, enviada pelos governos da Áustria e da

Baviera, traduz a efervescência cultural que

caracterizava as missões deste tipo no Brasil do

século XIX.

Entre os particpantes estão: Professor Johhann

Christof Mikan, botânico e entomólogo; Dr.

Johann Emanuel Pohl, Médico, mineralogista e

botânico; Johann Buchberger, pintor de plantas;

de Johann Natterer, zoólogo; de Rochus Schüch,

mineralogista e bibliotecário; eo jardineiro

botânico Heinrich Schott.

A estes se juntaram dois pesquisadores que se

celebrizariam por seus escritos sobre o Brasil : o

zoólogo Johann Baptista Spix e o botânico Karl

Friedrich Philip Von Martius.

Thomas Ender era o único componente sem

formação nas chamadas “Ciências Duras” e com

uma inserção no campo das Belas Artes.

Desta expedição, surgiu o Atlas de Viagem ao

Brasil, de Spix e Martius, ilustrado por Ender,

produzido entre 1817-20.

THOMAS ENDER

(1793-1875)No Brasil: 1817-1818

Thomas Ender, retratado em 1835

Thomas Ender, Chafariz do Terreiro do Paço, 1817

Thomas Ender, Chafariz do Largo do Moura, 1817

Thomas Ender, Aspecto da rua Principal do Rio de Janeiro

“Logo lembra ao viajante que ele sê

acha numa parte estranha do mundo,

é sobretudo a turba variegada de

negros e mulatos, a classe operária

com que ele topa por toda a parte,

assim que põe o pé em terra. Este

aspecto foi-nos mais de espanto do

que de agrado”.

[Atlas de Viagem ao Brasil, de Spix e Martius]

Thomas Ender, Palácio de São Cristóvão, 1817-18

Thomas Ender, Val-Longa

Thomas Ender

Tropeiros

1817

Thomas Ender, A rua do Piolho em 1817, (atual Rua da Carioca)

“Quem chega é convencido de encontrar uma parte

do mundo descoberta só desde três séculos, com

a natureza inteiramente rude, forte e não vencida;

poder-se-ia julgar, ao menos na Capital do Brasil,

o quanto fez a influência da cultura da velha e

educada Europa para remover deste ponto da

Colônia os característicos da selvajaria americana

e dar-lhe o cunho da mais alta civilização”.

Atlas de Viagem ao Brasil, de Spix e Martius

Thomas Ender, Rio Maranhão e a Serra das Figuras

Thomas Ender, Tropa no Caminho do Mar, 1827

Thomas Ender

Catarata

1835

Thomas Ender, Vila Rica no início do século 19, (atual Ouro Preto)

Johann Moritz

Rugendas

(1802-1858)

No Brasil: 1821-25

Como esclarecer um mundo que não se converte em

impressões ordenáveis? De um lado, uma natureza

incompreensível em exuberância e escala, além de uma

urbanidade inabordável em sua associação de padrões

civilizados e ausência de civismo. De outro, um artista

estrangeiro, incapaz de demonstrar intimidade com o Novo

Mundo. A solução se apresenta na adoção dos

procedimentos objetivos da classificação científica.

Brasiliana da Biblioteca Nacional

Rugendas, Capoeira ou a Dança da Guerra, 1835

O exotismo tropical exercia fascínio sobre os

europeus. Os relatos de viagens dos

naturalistas Spix e Martius, bem como os

desenhos e pinturas de Thomas Ender,

inspiraram o jovem Rugendas que veio

para o Brasil com apenas dezenove anos

de idade, em 1821. Ele integrava a

expedição científica comandada pelo

Barão Langsdorff.

No lugar de um conhecimento íntimo da

natureza, Rugendas documenta a

impossibilidade da realidade brasileira de se

converter em impressão.

Brasiliana da Biblioteca Nacional

Rugendas, A Rua Direita, no Rio de Janeiro, 1824

Quando Martius pisou, pela primeira vez o

Terreiro do Paço, teve grande dificuldade em

romper a multidão que aí estacionava,

formada por negros, mulatos, que, “com a

inoportunidade que lhes é peculiar, ofereciam

seus serviços”.[GUIMARÃES, 16]

Escravos procedentes do Moçambique, residentes em Sorocaba, SP

Escrava de origem senegalesa, encontrada em Minas

Rugendas, Família Indígena

Rugendas, Punições Públicas

Rugendas, Serra dos Órgãos

Rugendas, Venda em Recife, 1830

Rugendas, Porão de um Navio Negreiro

Johan Moritz Rugendas, Matosinho, 1835

Rugendas, Sabará, 1835

JEAN-BAPTISTE DEBRETVIAGEM PITORESCA E HISTÓRICA AO BRASIL (1734-39)

A bandeira brasileira concebida por Debret tinha um campo

verde com um losango amarelo inscrito, observando a

recomendação do imperador no que dizia respeito às

cores.

Dentro do losango, um escudo e uma coroa.

Inscrita no escudo, em campo verde, a esfera de ouro

atravessada pela cruz da Ordem de Cristo. A circundá-la,

dezenove estrelas de prata sobre a orla azul

representavam as províncias. Ladeavam o escudo um ramo

de café e um de tabaco, símbolos das riquezas agrícolas do

País.

Debret viveu no Brasi entre 1816-31. De volta à França,

publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, obra em 26

volumes, entre 1834-39, dividida em 3 volumes:

• Volume 1: consagrado aos indígenas e à flora;

• Volume 2: trata dos escravos, práticas agrícolas e cenas

históricas testemunhadas pelo pintor.

• Volume 3: dedicado a cenas da vida cotidiana do Rio de

Janeiro e outros aspectos das manifestações culturais.

Jean-Baptiste DebretChefe Camacan Mongoto

VOLUME 1

Não raro fui, com naturais do país, buscar no seio de suas famílias o complemento que se fazia indispensável ao primeiro volume que ora publico.

Jean-Baptiste Debret

Jean-Baptiste DebretIndia Camacã

Nas tribos mais selvagens, (camacãs, por exemplo),

deixam os doentes errar enquanto podem prover

à sua própria alimentação; mas se as forças vêm

a traí-los, fogem deles e os abandonam à morte,

que os surpreendem desprovidos de quaisquer

cuidados.

[DEBRET, vol. I, p. 35]

Jean-Baptiste DebretMúmia de um Chefe Coroado

Os Coroados enterravam seus chefes de modo

peculiar: os despojos do cacique venerado eram

enfeixados dentro de um grande vasilhame de

barro, chamado “camucim”, que se enterrava

profundamente, aos pés de uma árvore grande.

Essas múmias, revestidas de suas insígnias e que

se encontram perfeitamente intactas, eram

colocadas na urna com a atitude de um homem de

cócoras, posição natural do índio que descansa. [SEGUE]

Será uma alusão voluntária à morte, esse

eterno repouso? É o que o

desenvolvimento diminuto de sua

inteligência não permite absolutamente

supor. O pequeno espaço que o corpo

ocupa, nessa posição, talvez explique

melhor a preferência por essa atitude.

[DEBRET, VOL 1]

Jean-Baptiste Debret, Aldeia de Caboclos em Cantagalo

Jean-Baptiste Debret, Bugres, Provincia de Santa Catarina

Os bororenos, chamados bugres pelos habitantes da parte sul

do Brasil - que temem sua atividade guerreira - realizam

freqüentes excursões contra as habitações rurais dos

cultivadores. [Em um desses ataques], a guarda viu-se

cercada por um número pequeno de bárbaros que, lançados

de todos os lados e empregando todos os meios de morte,

massacraram os soldados durante o sono, estes, envolvidos

pelas chamas e pela fumaça não puderam proteger os

poucos fugitivos que logo caíram em armadilhas colocadas

no caminho.[vol. I, p. 50]

Debret, Guerreiro Indígena

Em uma província do Rio Uruguai, existe uma raça de

índios completamente selvagens chamados Charruas,

que acampam em uma terra tomada por pântanos e

bosques. É no meio dos caniços, quase deitados na

lama, que realizam seus repugnantes festins. Os

charruas civilizados andam sempre a cavalo,

envolvidos em ponchos. O resto de suas vestimentas é

copiado dos hispano-americanos; como estes, andam

sempre armados com um facão, ou simplesmente

enfiado numa das botas.[vol. I, p. 61]

Os Guaicurus se encontram nas províncias do mato

Grosso e também de Goiás. Excelentes cavaleiros,

são conhecidos pela habilidade em domar cavalos

selvagens que pastam em liberdade nessa parte da

América.[vol. I, p. 63]

Jean-Baptiste Debret, Família de um chefe Camacan se preparando para Festa, 1820-1830

Jean-Baptiste Debret, Familia de Botocudos em Marcha

Belicosos e turbulentos, os botocudos mantém-se em

constante luta com seus vizinhos. Reúnem-se em

grupos numerosos, para rechaçar, e o mais das vezes

para atacar as outras tribos. Temidos com razão,

vivem, por assim dizer, unicamente da carne de seus

inimigos, que devoram com ódio, insultando suas

vítimas com danças em torno dos restos

ensangüentados.

[vol. I, p. 35]

Jean-Baptiste Debret, Caboclo (índio civilizado)

Esses hábeis caçadores são muito procurados pelos

naturalistas estrangeiros, que os utilizam como

companheiros indispensáveis de suas excursões

através das florestas virgens, não somente a fim de

obter animais selvagens, mas ainda par prover de

alimentação toda a caravana. Para isso, basta dividir

com eles uma pequena provisão de aguardente.

[vol. I, p. 48]

Jean-Baptiste Debret, Soldados Índios de Moji das Cruzes

Jean-Baptiste Debret, Caçador de Escravos

Debret, Engenho Manual que faz Caldo de Cana

VOLUME 2

O negro é indolente, vegeta aonde se encontra,

compraz-se com sua nulidade e faz da preguiça

sua ambição.

Os negros não passam de grandes crianças, cujo

espírito é demasiado estreito para pensar no

futuro e demais insolente para se preocupar com

ele.[Debret citado por NAVES:81]

Jean-Baptiste Debret, Desembarque da Princesa Leopoldina, no Rio de Janeiro

Jean-Baptiste Debret

Traje adotado pelas

mulheres

da corte imperial do Brasil

(cerc a de 1822)

As penas vermelhas cederam às penas brancas e de

ponta verde, em honra da Imperatriz Leopoldina.

A maior parte das damas da corte usavam somente

penas brancas; a combinação de ouro e verde

aparecia em seu turbante e no manto verde bordado

a ouro, acompanhado de saia branca o que

constituía a vestimenta de gala para dias solenes.

[DEBRET, vol. III]

Jean-Baptiste DebretTraje adotado pelos oficiaisda corte de D. Pedro I, 1827

Jean-Baptiste DebretTraje dos ministros e oficiais de Estado corte de D. Pedro I, 1826

Jean-Baptiste Debret,

Cerimônia de Sagração

do Imperador D. Pedro I

1822

Jean-Baptiste Debret, Segundo Matrimônio

do Imperador D. Pedro I com a Imperatriz Marie-Amélie,

Jean-Baptiste Debret, Painel de Fundo do Teatro da Corte por Ocasião da Coroação de D. Pedro I, 1822

Jean-Baptiste Debret, Painel de Fundo do Teatro da Corte em 1818

Debret, Família Jantando

O angu, de consumo generalizado no Brasil, compõe-se de diversos

pedaços de carne, como coração, fígado, bofe, língua, amídalas

e outras partes da cabeça, em pedaços cortados miúdos, aos

quais se ajuntam banha de porco, azeite de dendê, quiabos,

folhas de nabo, pimentão, cebola, louro, sálvia e tomate. O

conjunto é cozido até adquirir a consistência necessária. Eis a

iguaria - aliás suculenta e gostosa - que figura, não raro, às

mesas brasileiras tradicionais e abastadas, que com ela se

regalam, embora entre chacotas destinadas a resguardar o

amor-próprio.[DEBRET: vol. II]

“Depois de dez anos de serviço, todo o escravo que possa oferecer ao

seu senhor a importância equivalente ao preço de sua aquisição in

loco, pode, mediante requerimento entregue à aprovação do

soberano, forçar seu amo a vender-lhe um certificado de alforria”.

(Lei em vigor no Império). [Apesar da Lei], há, ainda, nas fazendas

uma quarta geração negra que se extingue no cativeiro.

São comuns os exemplos de generosidade dos artífices franceses

vivendo no Rio de Janeiro que, quando regressam à Pátria, dão

liberdade a seu escravo mais hábil, bem como à negra que serviu

de ama ao seu filho

[DEBRET: vol. II]

Debret, Berimbau

A perspectiva do castigo, unida a uma atividade com

forte apelo pessoal – a venda de quitutes, refrescos e

frutas, a oferta de serviços em que a aparência

individual desempenhava o seu papel – conduzia os

escravos a atitudes forçosamente capciosas.

[NAVES, p. 75]

Debret, Pelourinho

As cenas de violência e punição provocaram a revolta dos

pareceristas do Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro: “Pode ser que o Sr. Debret presenciasse

semelhante castigo, porque em todas as partes há

senhores bárbaros; mas isso não é senão um abuso. É

comprovado por escritores de nota que, entre todos os

senhores de escravos, os portugueses ainda eram os

mais humanos”.

[NAVES]

Debret, Colar de Ferro para Punição

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Não é extraordinário encontrar, entre a multidão de

escravos, alguns grandes dignitários etiópicos e mesmo

filhos de soberanos de pequenas tribos selvagens.

É digno de nota que essas realezas ignoradas e privadas de

sua insígnias continuem veneradas por seus antigos

vassalos, hoje companheiros de infortúnio no Brasil.

Esses homens de bem, que na sua maioria prolongam sua

carreira até a caducidade morrem em geral estimados

por seus senhores. [DEBRET: Vol. III]

Jean-Baptiste Debret, Acampamento Noturno dos viajantes, aquarela

Mais difícil se faz, ainda, o isolamento do viajante

acampado nos confins de São Paulo, Rio Grande do

Sul e Santa Catarina. Nesses desertos, ele é

obrigado a acampar atrás de canastras e dos

arreios de seus animais, conservando durante toda

a noite uma fogueira, cujo clarão a onça teme.

[DEBRET: Vol. II]

Jean Baptiste Debret, Cortejo de Batismo da Princesa Maria da Glória , 1819

Jean Baptiste Debret, Aceitação Provisória da Constituição Portuguesa, 1821

VOLUME 3

Jean-Baptiste Debret, Frutas do Brasil, 1820

Jean-Baptiste Debret, Dança Lundu, gravura em metal

Jean-Baptiste Debret, Vale da Serra do Mar

Jean-Baptiste Debret, Cidade de Castro (Iapó), 1827

Pedreira, Jean-Baptiste Debret

Jean-Baptiste Debret, Funcionário do Estado em Mudança com Família e Escravos

Jean-Baptiste Debret, Os Refrescos no Largo do Paço

A convivência entre trabalho civil e escravo,

além de um certo desembaraço no trato,

marcava a cidade do Rio de Janeiro. A

conquista dos fregueses, a combinação de

negócio e sedução tingiam o trabalho

compulsório de uma ‘denguisse’.

[NAVES, 74]

Jean-Baptiste Debret, Mercado de Charque no RS

ACADEMIA IMPERIAL DE BELAS ARTES

DOCUMENTOS DA ACADEMIA:Estatuto, por Joaquim

Le Breton, 1816

A Academia e Escola de Belas-Artes abriu os

cursos em novembro de 1826, dez anos após

a chegada da Missão Francesa. Os principais

acadêmicos foram:

• Félix-Émile Taunay

• Araújo de Porto Alegre

• Vítor Meireles

• Almeida Junior

• Pedro Américo de Figueiredo

Félix-Émile Taunay(1785-1881)

Félix-Emile Taunay, retratado por Nicolas Taunay

Quando seu pai, Nicolas

Taunay, retornou à

França, (1821), Félix o

sucedeu na cadeira de

pintura de paisagem

da Escola Real de

Ciências, Artes e

Ofícios, futura Academia

Imperial de Belas Artes

(AIBA)

Felix-Émile Taunay

Vista da Mãe d´’água

s/d

Em 1834, após a morte de Henrique José da Silva,

Félix assumiu a direção da Academia de Belas

Artes, implementando o ensino em moldes mais

próximos do previsto pela Missão

Francesa. Durante sua gestão, criou: as

Exposições Gerais de Belas Artes (1840), a

pinacoteca da Academia (1843) e os prêmios de

viagem ao exterior (1845). Em 1854, foi substituído

na direção da academia por Araújo de Porto-

Alegre.

Felix-Emile Taunay, Descoberta das Águas Termais de Piratininga

“Setenta léguas a sudeste da

cidade de Goyaz, ao lado da

Serra das Caldas, existem as

Caldas de Piratininga,

descobertas pelos gritos dos

cães do caçador Martinho

Coelho, que primeiro nellas se

escaldaram por acaso, há mais

de cem annos. E’ um lago cuja

temperatura chega quase á da

agua fervendo – Martinho

Coelho, sem attender aos

latidos de seus cães, parece

enlevado na admiração das

maravilhas da natureza, ou na

previsão do bens que aos

pobres enfermos resultam hoje

desse phenomeno”.

Felix-Emile Taunay, Vista de um Mato Virgem Prestes a Virar-se em Carvão

“A desapparição dos mais belos

exemplares do reino vegetal nos

arredores da cidade ameaça a esta,

segundo calculos irretragaveis, com

diminuição das aguas vivas, e elevação

do grão medio do calor da atmosphera,

dous males reciprocamente activos”.

Felix-Émile Taunay

“Turenne, em vesperas de acommeter aos Imperiaes, indo

visitar uma bateria, é atravessado por uma bala que o

estende morto abaixo de seu cavallo, levando ao mesmo

tempo uma braço ao general de artilharia Saint Hilaire; e

como o filho deste ultimo se lhe lançasse ao pescoço com

lamentações e altos gritos, o pai, mostrando o corpo

inanimado de Turenne, pronunciou as seguintes heroicas

palavras: - Eis alli por quem a França deve chorar

eternamente”.

Felix-Émile Taunay